anÁlise da composiÇÃo vegetal de espaÇos verdes …
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ANÁLISE DA COMPOSIÇÃO VEGETAL DE ESPAÇOS VERDES URBANOS DAS
CIDADES DE BELÉM E CASTANHAL, ESTADO DO PARÁ
ANALYSIS OF THE VEGETABLE COMPOSITION OF URBAN GREEN SPACES
OF THE CITIES OF BELÉM AND CASTANHAL, STATE OF PARÁ
Laise de Souza de Oliveira1; Fernanda Paula Sousa Fernandes
2; Larissa da Costa Brito
3;
Kamila Pereira da Silva4; Rubens de Oliveira Meireles
5
DOI: https://doi.org/10.31692/2526-7701.IIICOINTERPDVAGRO.2018.00010
Resumo A vegetação urbana desempenha funções essenciais nos centros urbanos e como qualquer ser
vivo, cada planta é dependente de condições ambientais favoráveis à sua sobrevivência e
desenvolvimento. Desta forma, a arborização deve ser incorporada à prática de planejamento
urbano, levando-se em consideração os benefícios que esta proporciona à cidade e à
população. Nesse sentido, objetivo deste trabalho foi efetuar uma análise das principais
espécies vegetais implantadas em espaços verdes urbanos das cidades de Belém e
Castanhal/Pa, de modo a fornecer contribuições que possam servir de base no planejamento e
elaboração de leis municipais que visem orientar e regulamentar projetos de arborização
urbana. A presente pesquisa foi desenvolvida no mês de abril de 2017, nas cidades de
Castanhal e Belém por meio de registros fotográficos das espécies ornamentais e arbóreas de
maior predominância nos locais, para posterior identificação, realizada através de observação
da morfologia externa e comparação com a literatura. Foram identificadas, ao todo, 33
espécies vegetais, entre árvores, arbustos, arvoretas e palmeiras, pertencentes a 21 famílias,
encontradas nos espaços públicos das duas cidades estudadas. A espécie que mais se destaca
nas duas cidades é a Mangifera indica, além da maior ocorrência de plantas exóticas nos
locais, algumas consideradas tóxicas. A ausência de um planejamento adequado durante a
implantação de arborização nas duas cidades pode ser o fator que levou ao plantio de espécies
inapropriadas para este fim, causando diversos problemas durante os anos. Os espaços verdes
urbanos, tanto do município de Castanhal quanto de Belém apresentam, em sua maioria,
espécies exóticas à flora brasileira, fato esse que se repete em boa parte das cidades do país.
Palavras-Chave: Arborização urbana, plantas tóxicas, planejamento urbano.
Abstract Urban vegetation plays an essential role in urban centers, and like any living being, each plant
1Bacharelado em Agronomia, Instituto Federal do Pará, [email protected]
2Bacharelado em Agronomia, Instituto Federal do Pará, [email protected]
3Bacharelado em Agronomia, Instituto Federal do Pará, [email protected]
4Bacharelado em Agronomia, Instituto Federal do Pará, [email protected]
5Prof. Dr. em Ciências Agrárias, Instituto Federal do Pará, [email protected]
is dependent on favorable environmental conditions conducive to its survival and
development. In this way, afforestation should be incorporated into urban planning practice,
taking into account the benefits it provides to the city and the population. In this sense, the
objective of this work was to analyze the main plant species implanted in urban green spaces
of the cities of Belém and Castanhal/Pa, in order to provide contributions that can serve as a
basis in the planning and elaboration of municipal laws aimed at guiding and regulatory urban
afforestation projects. The present research was carried out in April 2017, in the cities of
Castanhal and Belém by means of photographic records of the ornamental and arboreal
species of greater predominance in the localities, for later identification, realized through
observation of the external morphology and comparison with the literature . A total of 33
plant species were identified, including trees, shrubs, small trees and palm trees, belonging to
21 families, found in the public spaces of the two cities studied. The species that stands out
most in the two cities is Mangifera indica, in addition to the greater occurrence of exotic
plants in the places, some considered to be toxic. The absence of adequate planning during the
implantation of afforestation in the two cities may be the factor that led to the planting of
species inappropriate for this purpose, causing several problems during the years. Urban green
spaces, both in the municipality of Castanhal and Belém, have mostly exotic species to the
Brazilian flora, a fact that is repeated in many of the cities of the country.
Keywords: Urban afforestation, toxic plants, urban planning.
Introdução
Desde muito tempo, o homem vem trocando o meio rural pelo urbano. As cidades
cresceram de forma muito rápida e desordenada, sem um planejamento adequado de
ocupação, provocando vários problemas que interferem sobremaneira na qualidade de vida do
homem que vive na cidade. A maioria da população vive nos centros urbanos necessitando,
cada vez mais, de condições que possam melhorar a convivência dentro de um ambiente
muitas vezes adverso (PIVETTA; SILVA FILHO, 2002).
De forma mais intensa, sobretudo nas últimas décadas, a discussão dos problemas
ambientais vem se tornando uma temática obrigatória no cotidiano citadino. Assim sendo, as
áreas verdes tornaram-se os principais ícones de defesa do meio ambiente pela sua
degradação, e pelo exíguo espaço que lhes é destinado nos centros urbanos (LOBODA, 2005).
Belém foi uma das primeiras cidades brasileiras a ter seus logradouros públicos
arborizados, mesmo que de modo pontual, a partir da segunda metade do século XVIII.
Quando do início das romarias do Círio de Nossa Senhora de Nazaré, em 1793, foi estimulada
a arborização da antiga Estrada de Nazaré com mangueiras, sob as quais as pessoas
acompanhavam a procissão (PORTO et al., 2013).
Emer et al. (2011) afirmam que a maioria das cidades brasileiras não apresentaram um
planejamento prévio de arborização urbana, tornando-se isso um problema que gera prejuízos
econômicos, devido a estragos nas calçadas, conflitos com fiação elétrica, morte e
substituição das plantas não apropriadas para esse fim. Apesar de apresentar grande
importância no planejamento das cidades, a arborização urbana ainda é pouco estudada,
principalmente no que diz respeito à utilização de espécies nativas do bioma local para o
paisagismo urbano.
Nesse contexto, percebe-se a grande importância de se ter um conhecimento prévio
das espécies vegetais a serem utilizadas para arborização e ornamentação de praças e vias
públicas, levando-se em consideração as características morfofisiológicas das mesmas, além
de suas exigências ambientais. Logo, o objetivo deste trabalho foi efetuar uma análise das
espécies vegetais implantadas em espaços verdes urbanos das cidades de Belém e Castanhal,
localizadas no estado do Pará, de modo a fornecer contribuições que possam servir de base no
planejamento e elaboração de leis municipais que visem orientar e regulamentar projetos de
arborização urbana.
Fundamentação Teórica
A vegetação urbana desempenha funções essenciais nos centros urbanos. Do ponto de
vista fisiológico, melhora o ambiente urbano por meio da capacidade de produzir sombra;
filtrar ruídos, amenizando a poluição sonora; melhorar a qualidade do ar, aumentando o teor
de oxigênio e de umidade, e absorvendo o gás carbônico; amenizar a temperatura
(GRAZIANO, 1994).
Como qualquer ser vivo, cada espécie vegetal é dependente de condições ambientais
favoráveis à sua sobrevivência e também, ao seu adequado desenvolvimento. Na criação de
paisagens de locais públicos, várias espécies, exóticas ou não, são utilizadas. Em muitos casos
as condições de clima não são favoráveis para o bom desenvolvimento de algumas espécies.
Para se evitar contínuas verificações das plantas encontradas em locais públicos, é necessário
escolher espécies adaptadas às condições do local que serão inseridas (CAMARGO et al.,
2007)
Segundo Ziller (2001), a utilização de plantas exóticas é muito presente na arborização
urbana. A introdução de espécies que não são nativas pode alterar as características dos
ecossistemas, ocasionando mudanças nas paisagens naturais, como também a perda da
biodiversidade.
A presença de fiação aérea ou subterrânea é um dos fatores mais importantes no
planejamento da arborização urbana, pois pode acarretar conflitos entre as árvores e os
elementos urbanos (VELASCO et al., 2006).
A arborização deve ser incorporada à prática de planejamento urbano, levando-se em
consideração os benefícios que esta proporciona à cidade e à população que nela habita,
considerando, porém, o aspecto vegetativo e físico da árvore, de modo a obter o convívio
harmonioso entre esta e o meio urbano (PORTO et al., 2013).
Metodologia
A presente pesquisa foi desenvolvida no mês de abril de 2017, nas cidades de
Castanhal e Belém, situadas, respectivamente, entre as coordenadas geográficas 1º 17’ 26”,
latitude Sul 47º 55’ 28”, longitude Oeste e 1° 27′ 18″ latitude Sul, 48° 30′ 9” longitude Oeste,
pertencentes ao estado do Pará, mesorregião do Nordeste Paraense.
O clima do município de Castanhal segundo a classificação de Köppen é do subtipo Af
que pertence ao clima tropical chuvoso (úmido). A umidade relativa do ar anual é em média
de 85% e a precipitação pluviométrica média anual é de 2.604,4 mm (FERREIRA et al.,
2011).
O clima em Belém é classificado como Afi (quente e úmido), segundo a classificação
de Köppen, considerado clima de floresta tropical, permanentemente úmido, com ausência de
estação fria e temperatura média anual igual a 25°C. A precipitação média anual é de 2.834
mm (IDESP, 2011).
Os locais visitados na cidade de Castanhal foram a Praça do Cristo Redentor, Diocese
de Castanhal (Catedral), Praça da Escola SESI e Praça da Matriz de São José. Na cidade de
Belém foram visitados a Praça Batista Campos, Estação das Docas, Portal da Amazônia e
Mangal das Garças. Foram realizados registros fotográficos das espécies ornamentais e
arbóreas de maior predominância nos locais, para posterior identificação, realizada por meio
de observação da morfologia externa e comparação com a literatura (LORENZI, 2002, 2015;
LORENZI et al. 2001, 2003), não necessitando de consultas a exsicatas, por se tratarem de
espécies comumente utilizadas em arborização urbana. Uma vez feita a identificação, buscou-
se avaliar a situação na qual as plantas foram inseridas.
Resultados e Discussão
Foram identificadas, ao todo, 33 espécies vegetais (Tabelas 1 e 2), entre árvores,
arbustos, arvoretas e palmeiras, pertencentes a 21 famílias, encontradas nos espaços públicos
das duas cidades estudadas. Destas, 13 espécies são nativas do Brasil e 20 espécies são
consideradas exóticas. As famílias mais frequentes observadas foram Asparagaceae, com 5
espécies; Apocynaceae, com 4; Arecaceae, com 3 e Rubiaceae também com 3 espécies, sendo
que destas as três primeiras foram observadas tanto nas áreas verdes da cidade de Castanhal
quanto de Belém.
Dentre as espécies identificadas, verificou-se uma maior ocorrência de plantas
exóticas nos locais. Esta observação condiz com a afirmação de Lorenzi et al. (2003) de que
as espécies exóticas são muito utilizadas na arborização pelo fato de apresentarem
exuberâncias de florescimentos.
Na busca por espécies exóticas para a implantação de áreas verdes nas cidades, deixa-
se um pouco de lado as espécies nativas locais que poderiam ser bem mais utilizadas para este
fim, uma vez que possuem a vantagem de serem adaptadas às condições climáticas, além de
apresentarem potencial paisagístico, podendo ser empregadas na arborização urbana como
forma de valorização das espécies nativas e caracterização fitogeográfica da região. Espécies
nativas como Cenostigma tocantinum Ducke (pau-pretinho), Clitoria fairchildiana R.A.
Howard (sombreiro) e Brownea grandiceps Jacq. (rosa-da-mata) são bastante recomendadas
para a arborização de praças e vias públicas, tanto por sua beleza ornamental, quanto pela
capacidade de fornecer sombra.
O Plano Municipal de Arborização Urbana de Belém, instituído pela Lei Nº 8909, de
29 de março de 2012, determinou a utilização predominantemente de espécies nativas da
região Amazônica para a arborização urbana, adequadas a cada situação específica, com o
intuito de promover a biodiversidade.
Tabela 1: Famílias botânicas e espécies catalogadas na cidade de Belém-PA. Fonte: Própria
Nome popular Nome científico Família Origem
Alamanda-de-cerca Allamanda polyantha Mull. Arg. Apocynaceae Nativa
Alamanda-rosa Allamanda blanchetti A. DC. Apocynaceae Nativa
Alamanda-do-sertão Allamanda puberula A. DC. Apocynaceae Nativa
Alamanda-amarela Allamanda cathartica L. Apocynaceae Nativa
Ixora-rosa Ixora undulata Roxb. Rubiaceae Exótica
Ixora Ixoria coccínea L. Rubiaceae Exótica
Mussaenda-rosa Mussaenda alicia Hort. Rubiaceae Exótica
Gravatinha Chlorophytum comosum Baker Asparagaceae Exótica
Caeté-fino Heliconia densiflora subsp.
Angustifolia L. Anderson Heliconiaceae Nativa
Ananás-vermelho Ananas bracteatus (Lindl) Schult.
& Schult. F. Bromeliaceae Nativa
Bela-emília Plumbago auriculatalam Lam. Plumbaginaceae Exótica
Margaridão Sphagneticola trilobata (L.) Pruski Asteraceae Nativa
Banana-de-imbé Philodendron bipinnatifidum
Schott Araceae Nativa
Palmeira-areca Dypsis lutescens (H. Wendl.)
Beentje & J.Dransf. Arecaceae Exótica
Palmeira-azul Bismarckia nobilis Hildebrandt &
H. Wendl. Arecaceae Exótica
Palmeira imperial Roystonea oleracea (Jack.) Cook Arecaceae Exótica
Cavalinha Equisetum hyemale L. Equisetaceae Nativa
Hibisco Hibiscus rosa-sinensis L. Malvacea Exótica
Primavera Bougainvillea spectabilis Willd. Nyctaginaceae Nativa
Árvore-do-Viajante Ravenala madagascariensis Sonn. Strelitziaceae Exótica
Cuieira Crescentia cujete L. Bignoniaceae Exótica
Saritéia Saritaea magnifica (Sprague ex
Steenis) Dugand Bignoniaceae Exótica
Samambaia Nephrolepis brownii (Desv.)
Hovenkamp & Miyam. Lomariopsidaceae Nativa
Mangueira Mangifera indica L. Anarcadiaceae Exótica
Jambo-vermelho Syzygium malaccense (L.) Merr. &
L.M. Perry. Myrtaceae Exótica
Jambo-rosa Syzygium jambolana DC. Myrtaceae Exótica
Periquito Alternanthera ficoidea (L.) Beauv. Amaranthaceae Nativa
Tabela 2: Famílias botânicas e espécies catalogadas na cidade de Castanhal-PA. Fonte: Própria
Nome popular Nome científico Família Origem
Jambo-vermelho Syzygium malaccense (L.)
Merr. & L.M. Perry. Myrtaceae Exótica
Mangueira Mangifera indica L. Anarcadiaceae Exótica
Caetê-bravo Stromanthe sanguinea Sond. Marantaceae Nativa
Palmeira-sagu Cycas revoluta Thunb Cycadaceae Exótica
Bambu-da-sorte Dracaena sanderiana Hort Asparagaceae Exótica
Pau-d’água Dracaena reflexa Lam. Asparagaceae Exótica
Espada-de-são-jorge Sansevieriatri fasciata Prain Asparagaceae Exótica
Piteira-do-caribe Agave angustifolia Haw. Asparagaceae Exótica
Palmeira-azul Bismarckia nobilis
Hildebrandt & H. Wendl. Arecaceae Exótica
Palmeira imperial Roystonea oleracea (Jack.)
Cook Arecaceae Exótica
Alamanda-amarela Allamanda cathartica L. Apocynaceae Nativa
Periquito Alternanthera ficoidea (L.)
Beauv. Amaranthaceae Nativa
No que diz respeito ao posicionamento das espécies foi possível notar má distribuição
das mesmas nas áreas verdes visitadas em Castanhal, visto que em alguns locais há maior
presença de árvores e espécies ornamentais em detrimento de outros. Verificou-se uma maior
concentração de árvores nas Praças do Estrela e Cristo Redentor, enquanto que os demais
locais detinham pouca quantidade.
A espécie que mais se destaca nos espaços das duas cidades é a Mangifera indica.
Quanto a sua utilização para a arborização de locais públicos há certas divergências entre as
opiniões dos autores. De acordo com Parry (2012), árvores como mangueira, coqueiro,
jambeiro possuem características morfológicas (formato de copa, tamanho e troca das folhas,
frutos grandes e sistema radicular superficial) inapropriadas para o plantio em vias públicas,
principalmente as que estão próximas demais aos portes de rede de fiação elétrica e telefônica.
A escolha dessas árvores é desaconselhada pelos especialistas em arborização urbana, sob a
alegação de que se tornam objeto de depredação, em virtude do hábito de pessoas que
procuram apanhar os frutos (PIVETTA; SILVA FILHO, 2002).
Bessa et al. (2013), em estudo qualiquantitativo de espécies arbóreas presentes na
Praça Batista Campos em Belém, apontou que as mangueiras são inadequadas para a
arborização, uma vez que, por serem frutíferas, causam sérios acidentes aos pedestres que
circulam pelas calçadas, ocasionando também danos aos carros estacionados às margens da
praça.
Por outro lado, Duarte (2001) afirma que as mangueiras utilizadas na arborização
urbana de Belém são de suma importância no meio sociocultural, por isso são consideradas
elementos do patrimônio histórico e um bem de uso comum e preservação permanente. Não é
a toa que a cidade de Belém é conhecida por “cidade das mangueiras”.
Outra espécie verificada em ambas as cidades foi a Roystonea oleracea, palmeira que
pode atingir altura de até 40 m. Por se tratarem de árvores de grande porte, estão muito
próximas aos fios elétricos, o que oferece risco de problemas nas fiações elétricas.
Recomenda-se que em calçadas onde exista fiação de rede elétrica, o plantio seja realizado
por espécies arbustivas que não ultrapassem a altura de 3 m com distância de 3 a 4 m dos
postes. Nas calçadas sem presença de fiação, pode-se plantar árvores de médio porte,
mantendo o mesmo espaçamento de recuo dos postes de fiação (IES, 2011).
Nas praças visitadas em Castanhal, verificou-se a presença de Cycas revoluta que,
segundo Botha et al. (1991), trata-se de uma planta palatável que apresenta todas as suas
partes tóxicas, sendo que as sementes apresentam maiores concentrações de cicasina. A
cicasina é a toxina convertida à metilazoximetanol, podendo causar necrose hepática
centrolobular, distúrbios coagulativos e irritação gastrointestinal. É atribuída à cicasina, ação
cancerígena, mutagênica e teratogênica (Kinghorn, 1983).
De acordo com Matos et al. (2011) as espécies Allamanda cathartica e Allamanda
blanchetii, são amplamente cultivadas como plantas ornamentais. Todas as partes da planta
são tóxicas, principalmente o látex para os seres humanos. O autor cita que estudos
experimentais com bovinos demonstraram que animais intoxicados pela planta apresentaram
cólicas, anorexia e atonia ruminal. Não sendo apropriadas, portanto, para a utilização em
locais públicos, bem como Sansevieriatri fasciata que, de acordo com Lorenzi (2011), sua
toxidade se deve ao princípio ativo oxalato de cálcio que, por meio da ingestão de suas folhas
ou rizomas, pode causar irritação na boca, obstrução da garganta, dermatite, entre outros
sintomas. Ambas, portanto, podem oferecer risco principalmente às crianças e aos animais
que frequentam esses espaços.
Algumas espécies da família Araceae também apresentam toxicidade, como é caso de
Philodendron bipinnatifidum. De acordo com Ladeira (1981), intoxicações pela ingestão
acidental desta espécie por humanos têm sido descritas, promovendo sintomas como inchaço
da boca e glote, com sensação de picadura ou queimadura, e intensa salivação. Como
consequência da formação do edema na glote, mortes podem ocorrer por asfixia, em especial
em crianças não socorridas rapidamente. Em relação às demais espécies verificadas, não
foram encontrados em estudos científicos relatos precisos de presença de toxicidade.
Em estudo realizado por Vieira et al. (2016), na cidade de Paraisópolis-MG, verificou-
se também a presença de plantas tóxicas na arborização. Segundo Vasconcelos (1998), cerca
de 20% das espécies ornamentais nas vias públicas de Belém/PA apresentam características
tóxicas. Bochner (2006) alega que as plantas tóxicas não devem ser removidas desses espaços,
sendo necessário alertar a população do perigo potencial que tais espécies representam. Ele
cita que uma possível solução a fim de se evitar acidentes seria a identificação dessas espécies
com placas informando os riscos, além de atividades educativas que informem crianças sobre
os riscos de brincarem ou colocarem certas plantas na boca.
A ausência de um planejamento adequado durante a implantação de arborização das
duas cidades pode ser o fator que levou ao plantio inadequado de espécies inapropriadas para
este fim, causando diversos problemas durante os anos.
De acordo com o Plano Municipal de Arborização Urbana de Belém os projetos de
arborização devem ser adequados à estrutura viária existente, levando-se em consideração
suas características de uso e ocupação. Diferentemente de Belém, o município de Castanhal
ainda não possui um Plano Diretor de Arborização Urbana, o que reflete em manejo
ineficiente das plantas e má distribuição das espécies em vias e praças públicas do município.
Conclusões
Os espaços verdes urbanos, tanto do município de Castanhal quanto de Belém
apresentam, em sua maioria, espécies exóticas à flora brasileira, fato esse que se repete em
boa parte das cidades do país. Nesse sentido, as plantas nativas do estuário amazônico devem
ser melhor difundidas nas áreas públicas das duas cidades, com vistas à valorização da
biodiversidade local.
Na cidade de Castanhal, a distribuição das espécies nos locais públicos não se dá de
maneira regular, o que merece uma maior atenção dos planejadores urbanos, com vistas a
promover o estabelecimento de árvores nas áreas mais deficientes.
Dentre as espécies identificadas, algumas são consideradas tóxicas, não sendo
recomendadas para a utilização em locais públicos, uma vez que podem ocasionar danos tanto
em humanos quanto em animais domésticos. Cabe aos órgãos públicos, portanto, promover o
conhecimento da população a cerca dos riscos que estas plantas podem causar.
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