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ANÁLISE DA COMPOSIÇÃO VEGETAL DE ESPAÇOS VERDES URBANOS DAS CIDADES DE BELÉM E CASTANHAL, ESTADO DO PARÁ ANALYSIS OF THE VEGETABLE COMPOSITION OF URBAN GREEN SPACES OF THE CITIES OF BELÉM AND CASTANHAL, STATE OF PARÁ Laise de Souza de Oliveira 1 ; Fernanda Paula Sousa Fernandes 2 ; Larissa da Costa Brito 3 ; Kamila Pereira da Silva 4 ; Rubens de Oliveira Meireles 5 DOI: https://doi.org/10.31692/2526-7701.IIICOINTERPDVAGRO.2018.00010 Resumo A vegetação urbana desempenha funções essenciais nos centros urbanos e como qualquer ser vivo, cada planta é dependente de condições ambientais favoráveis à sua sobrevivência e desenvolvimento. Desta forma, a arborização deve ser incorporada à prática de planejamento urbano, levando-se em consideração os benefícios que esta proporciona à cidade e à população. Nesse sentido, objetivo deste trabalho foi efetuar uma análise das principais espécies vegetais implantadas em espaços verdes urbanos das cidades de Belém e Castanhal/Pa, de modo a fornecer contribuições que possam servir de base no planejamento e elaboração de leis municipais que visem orientar e regulamentar projetos de arborização urbana. A presente pesquisa foi desenvolvida no mês de abril de 2017, nas cidades de Castanhal e Belém por meio de registros fotográficos das espécies ornamentais e arbóreas de maior predominância nos locais, para posterior identificação, realizada através de observação da morfologia externa e comparação com a literatura. Foram identificadas, ao todo, 33 espécies vegetais, entre árvores, arbustos, arvoretas e palmeiras, pertencentes a 21 famílias, encontradas nos espaços públicos das duas cidades estudadas. A espécie que mais se destaca nas duas cidades é a Mangifera indica, além da maior ocorrência de plantas exóticas nos locais, algumas consideradas tóxicas. A ausência de um planejamento adequado durante a implantação de arborização nas duas cidades pode ser o fator que levou ao plantio de espécies inapropriadas para este fim, causando diversos problemas durante os anos. Os espaços verdes urbanos, tanto do município de Castanhal quanto de Belém apresentam, em sua maioria, espécies exóticas à flora brasileira, fato esse que se repete em boa parte das cidades do país. Palavras-Chave: Arborização urbana, plantas tóxicas, planejamento urbano. Abstract Urban vegetation plays an essential role in urban centers, and like any living being, each plant 1 Bacharelado em Agronomia, Instituto Federal do Pará, [email protected] 2 Bacharelado em Agronomia, Instituto Federal do Pará, [email protected] 3 Bacharelado em Agronomia, Instituto Federal do Pará, [email protected] 4 Bacharelado em Agronomia, Instituto Federal do Pará, [email protected] 5 Prof. Dr. em Ciências Agrárias, Instituto Federal do Pará, [email protected]

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Page 1: ANÁLISE DA COMPOSIÇÃO VEGETAL DE ESPAÇOS VERDES …

ANÁLISE DA COMPOSIÇÃO VEGETAL DE ESPAÇOS VERDES URBANOS DAS

CIDADES DE BELÉM E CASTANHAL, ESTADO DO PARÁ

ANALYSIS OF THE VEGETABLE COMPOSITION OF URBAN GREEN SPACES

OF THE CITIES OF BELÉM AND CASTANHAL, STATE OF PARÁ

Laise de Souza de Oliveira1; Fernanda Paula Sousa Fernandes

2; Larissa da Costa Brito

3;

Kamila Pereira da Silva4; Rubens de Oliveira Meireles

5

DOI: https://doi.org/10.31692/2526-7701.IIICOINTERPDVAGRO.2018.00010

Resumo A vegetação urbana desempenha funções essenciais nos centros urbanos e como qualquer ser

vivo, cada planta é dependente de condições ambientais favoráveis à sua sobrevivência e

desenvolvimento. Desta forma, a arborização deve ser incorporada à prática de planejamento

urbano, levando-se em consideração os benefícios que esta proporciona à cidade e à

população. Nesse sentido, objetivo deste trabalho foi efetuar uma análise das principais

espécies vegetais implantadas em espaços verdes urbanos das cidades de Belém e

Castanhal/Pa, de modo a fornecer contribuições que possam servir de base no planejamento e

elaboração de leis municipais que visem orientar e regulamentar projetos de arborização

urbana. A presente pesquisa foi desenvolvida no mês de abril de 2017, nas cidades de

Castanhal e Belém por meio de registros fotográficos das espécies ornamentais e arbóreas de

maior predominância nos locais, para posterior identificação, realizada através de observação

da morfologia externa e comparação com a literatura. Foram identificadas, ao todo, 33

espécies vegetais, entre árvores, arbustos, arvoretas e palmeiras, pertencentes a 21 famílias,

encontradas nos espaços públicos das duas cidades estudadas. A espécie que mais se destaca

nas duas cidades é a Mangifera indica, além da maior ocorrência de plantas exóticas nos

locais, algumas consideradas tóxicas. A ausência de um planejamento adequado durante a

implantação de arborização nas duas cidades pode ser o fator que levou ao plantio de espécies

inapropriadas para este fim, causando diversos problemas durante os anos. Os espaços verdes

urbanos, tanto do município de Castanhal quanto de Belém apresentam, em sua maioria,

espécies exóticas à flora brasileira, fato esse que se repete em boa parte das cidades do país.

Palavras-Chave: Arborização urbana, plantas tóxicas, planejamento urbano.

Abstract Urban vegetation plays an essential role in urban centers, and like any living being, each plant

1Bacharelado em Agronomia, Instituto Federal do Pará, [email protected]

2Bacharelado em Agronomia, Instituto Federal do Pará, [email protected]

3Bacharelado em Agronomia, Instituto Federal do Pará, [email protected]

4Bacharelado em Agronomia, Instituto Federal do Pará, [email protected]

5Prof. Dr. em Ciências Agrárias, Instituto Federal do Pará, [email protected]

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is dependent on favorable environmental conditions conducive to its survival and

development. In this way, afforestation should be incorporated into urban planning practice,

taking into account the benefits it provides to the city and the population. In this sense, the

objective of this work was to analyze the main plant species implanted in urban green spaces

of the cities of Belém and Castanhal/Pa, in order to provide contributions that can serve as a

basis in the planning and elaboration of municipal laws aimed at guiding and regulatory urban

afforestation projects. The present research was carried out in April 2017, in the cities of

Castanhal and Belém by means of photographic records of the ornamental and arboreal

species of greater predominance in the localities, for later identification, realized through

observation of the external morphology and comparison with the literature . A total of 33

plant species were identified, including trees, shrubs, small trees and palm trees, belonging to

21 families, found in the public spaces of the two cities studied. The species that stands out

most in the two cities is Mangifera indica, in addition to the greater occurrence of exotic

plants in the places, some considered to be toxic. The absence of adequate planning during the

implantation of afforestation in the two cities may be the factor that led to the planting of

species inappropriate for this purpose, causing several problems during the years. Urban green

spaces, both in the municipality of Castanhal and Belém, have mostly exotic species to the

Brazilian flora, a fact that is repeated in many of the cities of the country.

Keywords: Urban afforestation, toxic plants, urban planning.

Introdução

Desde muito tempo, o homem vem trocando o meio rural pelo urbano. As cidades

cresceram de forma muito rápida e desordenada, sem um planejamento adequado de

ocupação, provocando vários problemas que interferem sobremaneira na qualidade de vida do

homem que vive na cidade. A maioria da população vive nos centros urbanos necessitando,

cada vez mais, de condições que possam melhorar a convivência dentro de um ambiente

muitas vezes adverso (PIVETTA; SILVA FILHO, 2002).

De forma mais intensa, sobretudo nas últimas décadas, a discussão dos problemas

ambientais vem se tornando uma temática obrigatória no cotidiano citadino. Assim sendo, as

áreas verdes tornaram-se os principais ícones de defesa do meio ambiente pela sua

degradação, e pelo exíguo espaço que lhes é destinado nos centros urbanos (LOBODA, 2005).

Belém foi uma das primeiras cidades brasileiras a ter seus logradouros públicos

arborizados, mesmo que de modo pontual, a partir da segunda metade do século XVIII.

Quando do início das romarias do Círio de Nossa Senhora de Nazaré, em 1793, foi estimulada

a arborização da antiga Estrada de Nazaré com mangueiras, sob as quais as pessoas

acompanhavam a procissão (PORTO et al., 2013).

Emer et al. (2011) afirmam que a maioria das cidades brasileiras não apresentaram um

planejamento prévio de arborização urbana, tornando-se isso um problema que gera prejuízos

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econômicos, devido a estragos nas calçadas, conflitos com fiação elétrica, morte e

substituição das plantas não apropriadas para esse fim. Apesar de apresentar grande

importância no planejamento das cidades, a arborização urbana ainda é pouco estudada,

principalmente no que diz respeito à utilização de espécies nativas do bioma local para o

paisagismo urbano.

Nesse contexto, percebe-se a grande importância de se ter um conhecimento prévio

das espécies vegetais a serem utilizadas para arborização e ornamentação de praças e vias

públicas, levando-se em consideração as características morfofisiológicas das mesmas, além

de suas exigências ambientais. Logo, o objetivo deste trabalho foi efetuar uma análise das

espécies vegetais implantadas em espaços verdes urbanos das cidades de Belém e Castanhal,

localizadas no estado do Pará, de modo a fornecer contribuições que possam servir de base no

planejamento e elaboração de leis municipais que visem orientar e regulamentar projetos de

arborização urbana.

Fundamentação Teórica

A vegetação urbana desempenha funções essenciais nos centros urbanos. Do ponto de

vista fisiológico, melhora o ambiente urbano por meio da capacidade de produzir sombra;

filtrar ruídos, amenizando a poluição sonora; melhorar a qualidade do ar, aumentando o teor

de oxigênio e de umidade, e absorvendo o gás carbônico; amenizar a temperatura

(GRAZIANO, 1994).

Como qualquer ser vivo, cada espécie vegetal é dependente de condições ambientais

favoráveis à sua sobrevivência e também, ao seu adequado desenvolvimento. Na criação de

paisagens de locais públicos, várias espécies, exóticas ou não, são utilizadas. Em muitos casos

as condições de clima não são favoráveis para o bom desenvolvimento de algumas espécies.

Para se evitar contínuas verificações das plantas encontradas em locais públicos, é necessário

escolher espécies adaptadas às condições do local que serão inseridas (CAMARGO et al.,

2007)

Segundo Ziller (2001), a utilização de plantas exóticas é muito presente na arborização

urbana. A introdução de espécies que não são nativas pode alterar as características dos

ecossistemas, ocasionando mudanças nas paisagens naturais, como também a perda da

biodiversidade.

A presença de fiação aérea ou subterrânea é um dos fatores mais importantes no

Page 4: ANÁLISE DA COMPOSIÇÃO VEGETAL DE ESPAÇOS VERDES …

planejamento da arborização urbana, pois pode acarretar conflitos entre as árvores e os

elementos urbanos (VELASCO et al., 2006).

A arborização deve ser incorporada à prática de planejamento urbano, levando-se em

consideração os benefícios que esta proporciona à cidade e à população que nela habita,

considerando, porém, o aspecto vegetativo e físico da árvore, de modo a obter o convívio

harmonioso entre esta e o meio urbano (PORTO et al., 2013).

Metodologia

A presente pesquisa foi desenvolvida no mês de abril de 2017, nas cidades de

Castanhal e Belém, situadas, respectivamente, entre as coordenadas geográficas 1º 17’ 26”,

latitude Sul 47º 55’ 28”, longitude Oeste e 1° 27′ 18″ latitude Sul, 48° 30′ 9” longitude Oeste,

pertencentes ao estado do Pará, mesorregião do Nordeste Paraense.

O clima do município de Castanhal segundo a classificação de Köppen é do subtipo Af

que pertence ao clima tropical chuvoso (úmido). A umidade relativa do ar anual é em média

de 85% e a precipitação pluviométrica média anual é de 2.604,4 mm (FERREIRA et al.,

2011).

O clima em Belém é classificado como Afi (quente e úmido), segundo a classificação

de Köppen, considerado clima de floresta tropical, permanentemente úmido, com ausência de

estação fria e temperatura média anual igual a 25°C. A precipitação média anual é de 2.834

mm (IDESP, 2011).

Os locais visitados na cidade de Castanhal foram a Praça do Cristo Redentor, Diocese

de Castanhal (Catedral), Praça da Escola SESI e Praça da Matriz de São José. Na cidade de

Belém foram visitados a Praça Batista Campos, Estação das Docas, Portal da Amazônia e

Mangal das Garças. Foram realizados registros fotográficos das espécies ornamentais e

arbóreas de maior predominância nos locais, para posterior identificação, realizada por meio

de observação da morfologia externa e comparação com a literatura (LORENZI, 2002, 2015;

LORENZI et al. 2001, 2003), não necessitando de consultas a exsicatas, por se tratarem de

espécies comumente utilizadas em arborização urbana. Uma vez feita a identificação, buscou-

se avaliar a situação na qual as plantas foram inseridas.

Resultados e Discussão

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Foram identificadas, ao todo, 33 espécies vegetais (Tabelas 1 e 2), entre árvores,

arbustos, arvoretas e palmeiras, pertencentes a 21 famílias, encontradas nos espaços públicos

das duas cidades estudadas. Destas, 13 espécies são nativas do Brasil e 20 espécies são

consideradas exóticas. As famílias mais frequentes observadas foram Asparagaceae, com 5

espécies; Apocynaceae, com 4; Arecaceae, com 3 e Rubiaceae também com 3 espécies, sendo

que destas as três primeiras foram observadas tanto nas áreas verdes da cidade de Castanhal

quanto de Belém.

Dentre as espécies identificadas, verificou-se uma maior ocorrência de plantas

exóticas nos locais. Esta observação condiz com a afirmação de Lorenzi et al. (2003) de que

as espécies exóticas são muito utilizadas na arborização pelo fato de apresentarem

exuberâncias de florescimentos.

Na busca por espécies exóticas para a implantação de áreas verdes nas cidades, deixa-

se um pouco de lado as espécies nativas locais que poderiam ser bem mais utilizadas para este

fim, uma vez que possuem a vantagem de serem adaptadas às condições climáticas, além de

apresentarem potencial paisagístico, podendo ser empregadas na arborização urbana como

forma de valorização das espécies nativas e caracterização fitogeográfica da região. Espécies

nativas como Cenostigma tocantinum Ducke (pau-pretinho), Clitoria fairchildiana R.A.

Howard (sombreiro) e Brownea grandiceps Jacq. (rosa-da-mata) são bastante recomendadas

para a arborização de praças e vias públicas, tanto por sua beleza ornamental, quanto pela

capacidade de fornecer sombra.

O Plano Municipal de Arborização Urbana de Belém, instituído pela Lei Nº 8909, de

29 de março de 2012, determinou a utilização predominantemente de espécies nativas da

região Amazônica para a arborização urbana, adequadas a cada situação específica, com o

intuito de promover a biodiversidade.

Tabela 1: Famílias botânicas e espécies catalogadas na cidade de Belém-PA. Fonte: Própria

Nome popular Nome científico Família Origem

Alamanda-de-cerca Allamanda polyantha Mull. Arg. Apocynaceae Nativa

Alamanda-rosa Allamanda blanchetti A. DC. Apocynaceae Nativa

Alamanda-do-sertão Allamanda puberula A. DC. Apocynaceae Nativa

Alamanda-amarela Allamanda cathartica L. Apocynaceae Nativa

Ixora-rosa Ixora undulata Roxb. Rubiaceae Exótica

Ixora Ixoria coccínea L. Rubiaceae Exótica

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Mussaenda-rosa Mussaenda alicia Hort. Rubiaceae Exótica

Gravatinha Chlorophytum comosum Baker Asparagaceae Exótica

Caeté-fino Heliconia densiflora subsp.

Angustifolia L. Anderson Heliconiaceae Nativa

Ananás-vermelho Ananas bracteatus (Lindl) Schult.

& Schult. F. Bromeliaceae Nativa

Bela-emília Plumbago auriculatalam Lam. Plumbaginaceae Exótica

Margaridão Sphagneticola trilobata (L.) Pruski Asteraceae Nativa

Banana-de-imbé Philodendron bipinnatifidum

Schott Araceae Nativa

Palmeira-areca Dypsis lutescens (H. Wendl.)

Beentje & J.Dransf. Arecaceae Exótica

Palmeira-azul Bismarckia nobilis Hildebrandt &

H. Wendl. Arecaceae Exótica

Palmeira imperial Roystonea oleracea (Jack.) Cook Arecaceae Exótica

Cavalinha Equisetum hyemale L. Equisetaceae Nativa

Hibisco Hibiscus rosa-sinensis L. Malvacea Exótica

Primavera Bougainvillea spectabilis Willd. Nyctaginaceae Nativa

Árvore-do-Viajante Ravenala madagascariensis Sonn. Strelitziaceae Exótica

Cuieira Crescentia cujete L. Bignoniaceae Exótica

Saritéia Saritaea magnifica (Sprague ex

Steenis) Dugand Bignoniaceae Exótica

Samambaia Nephrolepis brownii (Desv.)

Hovenkamp & Miyam. Lomariopsidaceae Nativa

Mangueira Mangifera indica L. Anarcadiaceae Exótica

Jambo-vermelho Syzygium malaccense (L.) Merr. &

L.M. Perry. Myrtaceae Exótica

Jambo-rosa Syzygium jambolana DC. Myrtaceae Exótica

Periquito Alternanthera ficoidea (L.) Beauv. Amaranthaceae Nativa

Tabela 2: Famílias botânicas e espécies catalogadas na cidade de Castanhal-PA. Fonte: Própria

Nome popular Nome científico Família Origem

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Jambo-vermelho Syzygium malaccense (L.)

Merr. & L.M. Perry. Myrtaceae Exótica

Mangueira Mangifera indica L. Anarcadiaceae Exótica

Caetê-bravo Stromanthe sanguinea Sond. Marantaceae Nativa

Palmeira-sagu Cycas revoluta Thunb Cycadaceae Exótica

Bambu-da-sorte Dracaena sanderiana Hort Asparagaceae Exótica

Pau-d’água Dracaena reflexa Lam. Asparagaceae Exótica

Espada-de-são-jorge Sansevieriatri fasciata Prain Asparagaceae Exótica

Piteira-do-caribe Agave angustifolia Haw. Asparagaceae Exótica

Palmeira-azul Bismarckia nobilis

Hildebrandt & H. Wendl. Arecaceae Exótica

Palmeira imperial Roystonea oleracea (Jack.)

Cook Arecaceae Exótica

Alamanda-amarela Allamanda cathartica L. Apocynaceae Nativa

Periquito Alternanthera ficoidea (L.)

Beauv. Amaranthaceae Nativa

No que diz respeito ao posicionamento das espécies foi possível notar má distribuição

das mesmas nas áreas verdes visitadas em Castanhal, visto que em alguns locais há maior

presença de árvores e espécies ornamentais em detrimento de outros. Verificou-se uma maior

concentração de árvores nas Praças do Estrela e Cristo Redentor, enquanto que os demais

locais detinham pouca quantidade.

A espécie que mais se destaca nos espaços das duas cidades é a Mangifera indica.

Quanto a sua utilização para a arborização de locais públicos há certas divergências entre as

opiniões dos autores. De acordo com Parry (2012), árvores como mangueira, coqueiro,

jambeiro possuem características morfológicas (formato de copa, tamanho e troca das folhas,

frutos grandes e sistema radicular superficial) inapropriadas para o plantio em vias públicas,

principalmente as que estão próximas demais aos portes de rede de fiação elétrica e telefônica.

A escolha dessas árvores é desaconselhada pelos especialistas em arborização urbana, sob a

alegação de que se tornam objeto de depredação, em virtude do hábito de pessoas que

procuram apanhar os frutos (PIVETTA; SILVA FILHO, 2002).

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Bessa et al. (2013), em estudo qualiquantitativo de espécies arbóreas presentes na

Praça Batista Campos em Belém, apontou que as mangueiras são inadequadas para a

arborização, uma vez que, por serem frutíferas, causam sérios acidentes aos pedestres que

circulam pelas calçadas, ocasionando também danos aos carros estacionados às margens da

praça.

Por outro lado, Duarte (2001) afirma que as mangueiras utilizadas na arborização

urbana de Belém são de suma importância no meio sociocultural, por isso são consideradas

elementos do patrimônio histórico e um bem de uso comum e preservação permanente. Não é

a toa que a cidade de Belém é conhecida por “cidade das mangueiras”.

Outra espécie verificada em ambas as cidades foi a Roystonea oleracea, palmeira que

pode atingir altura de até 40 m. Por se tratarem de árvores de grande porte, estão muito

próximas aos fios elétricos, o que oferece risco de problemas nas fiações elétricas.

Recomenda-se que em calçadas onde exista fiação de rede elétrica, o plantio seja realizado

por espécies arbustivas que não ultrapassem a altura de 3 m com distância de 3 a 4 m dos

postes. Nas calçadas sem presença de fiação, pode-se plantar árvores de médio porte,

mantendo o mesmo espaçamento de recuo dos postes de fiação (IES, 2011).

Nas praças visitadas em Castanhal, verificou-se a presença de Cycas revoluta que,

segundo Botha et al. (1991), trata-se de uma planta palatável que apresenta todas as suas

partes tóxicas, sendo que as sementes apresentam maiores concentrações de cicasina. A

cicasina é a toxina convertida à metilazoximetanol, podendo causar necrose hepática

centrolobular, distúrbios coagulativos e irritação gastrointestinal. É atribuída à cicasina, ação

cancerígena, mutagênica e teratogênica (Kinghorn, 1983).

De acordo com Matos et al. (2011) as espécies Allamanda cathartica e Allamanda

blanchetii, são amplamente cultivadas como plantas ornamentais. Todas as partes da planta

são tóxicas, principalmente o látex para os seres humanos. O autor cita que estudos

experimentais com bovinos demonstraram que animais intoxicados pela planta apresentaram

cólicas, anorexia e atonia ruminal. Não sendo apropriadas, portanto, para a utilização em

locais públicos, bem como Sansevieriatri fasciata que, de acordo com Lorenzi (2011), sua

toxidade se deve ao princípio ativo oxalato de cálcio que, por meio da ingestão de suas folhas

ou rizomas, pode causar irritação na boca, obstrução da garganta, dermatite, entre outros

sintomas. Ambas, portanto, podem oferecer risco principalmente às crianças e aos animais

que frequentam esses espaços.

Page 9: ANÁLISE DA COMPOSIÇÃO VEGETAL DE ESPAÇOS VERDES …

Algumas espécies da família Araceae também apresentam toxicidade, como é caso de

Philodendron bipinnatifidum. De acordo com Ladeira (1981), intoxicações pela ingestão

acidental desta espécie por humanos têm sido descritas, promovendo sintomas como inchaço

da boca e glote, com sensação de picadura ou queimadura, e intensa salivação. Como

consequência da formação do edema na glote, mortes podem ocorrer por asfixia, em especial

em crianças não socorridas rapidamente. Em relação às demais espécies verificadas, não

foram encontrados em estudos científicos relatos precisos de presença de toxicidade.

Em estudo realizado por Vieira et al. (2016), na cidade de Paraisópolis-MG, verificou-

se também a presença de plantas tóxicas na arborização. Segundo Vasconcelos (1998), cerca

de 20% das espécies ornamentais nas vias públicas de Belém/PA apresentam características

tóxicas. Bochner (2006) alega que as plantas tóxicas não devem ser removidas desses espaços,

sendo necessário alertar a população do perigo potencial que tais espécies representam. Ele

cita que uma possível solução a fim de se evitar acidentes seria a identificação dessas espécies

com placas informando os riscos, além de atividades educativas que informem crianças sobre

os riscos de brincarem ou colocarem certas plantas na boca.

A ausência de um planejamento adequado durante a implantação de arborização das

duas cidades pode ser o fator que levou ao plantio inadequado de espécies inapropriadas para

este fim, causando diversos problemas durante os anos.

De acordo com o Plano Municipal de Arborização Urbana de Belém os projetos de

arborização devem ser adequados à estrutura viária existente, levando-se em consideração

suas características de uso e ocupação. Diferentemente de Belém, o município de Castanhal

ainda não possui um Plano Diretor de Arborização Urbana, o que reflete em manejo

ineficiente das plantas e má distribuição das espécies em vias e praças públicas do município.

Conclusões

Os espaços verdes urbanos, tanto do município de Castanhal quanto de Belém

apresentam, em sua maioria, espécies exóticas à flora brasileira, fato esse que se repete em

boa parte das cidades do país. Nesse sentido, as plantas nativas do estuário amazônico devem

ser melhor difundidas nas áreas públicas das duas cidades, com vistas à valorização da

biodiversidade local.

Page 10: ANÁLISE DA COMPOSIÇÃO VEGETAL DE ESPAÇOS VERDES …

Na cidade de Castanhal, a distribuição das espécies nos locais públicos não se dá de

maneira regular, o que merece uma maior atenção dos planejadores urbanos, com vistas a

promover o estabelecimento de árvores nas áreas mais deficientes.

Dentre as espécies identificadas, algumas são consideradas tóxicas, não sendo

recomendadas para a utilização em locais públicos, uma vez que podem ocasionar danos tanto

em humanos quanto em animais domésticos. Cabe aos órgãos públicos, portanto, promover o

conhecimento da população a cerca dos riscos que estas plantas podem causar.

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