anÁlise criminal: perfil do analista nos eua. · ii alÉcio filipe anÁlise criminal: perfil do...
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UNIÃO PIONEIRA DE INTEGRAÇÃO SOCIAL - UPIS PÓS-GRADUAÇÃO
MBA EM GESTÃO DE SEGURANÇA PÚBLICA E DEFESA SOCIAL
ALÉCIO FILIPE
ANÁLISE CRIMINAL: PERFIL DO ANALISTA NOS EUA.
Brasília/DF 2007
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ALÉCIO FILIPE
ANÁLISE CRIMINAL: PERFIL DO ANALISTA NOS EUA.
Monografia apresentada para conclusão do Curso de Especialização em Gestão de Segurança Pública e Defesa Social, promovido pela UPIS/DF.
Orientador:
Professor Doutor George Felipe de Lima Dantas
Brasília/DF 2007
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Filipe, Alécio. Análise Criminal: Perfil do Analista nos EUA. George Felipe de Lima Dantas (Orientador). – Brasília: União Pioneira de União Social - UPIS, 2006. Monografia na área de gestão da segurança pública, válida como pré-requisito para aprovação no Curso MBA em Gestão de Segurança Pública e Defesa Social.
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ALÉCIO FILIPE
ANÁLISE CRIMINAL: PERFIL DO ANALISTA NOS EUA.
Monografia apresentada à União Pioneira de Integração Social (UPIS) para fins de conclusão do Curso de especialização em Gestão de Segurança Pública e Defesa
Social, orientado pelo Professor Doutor George Felipe Dantas.
23 de fevereiro de 2007.
BANCA EXAMINADORA
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DEDICATÓRIA
À minha esposa, Rachel
Aos meus filhos, Júlia e Gabriel
Aos meus pais, Mário e Ruth
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AGRADECIMENTOS
Aos meus amigos e colegas de curso, por terem aberto a porta da amizade
sincera, quando eu era um elemento de fora do mundo da segurança pública. Ao Professor Doutor George Felipe de Lima Dantas, pela amizade,
compreensão, apoio e paciência. Por me abrir ampla visão sobre a segurança pública e o mundo acadêmico.
A Deus, por tudo.
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"Somente a consciência individual do agente dá testemunho dos atos sem testemunha, e não há ato mais desprovido de testemunha externa do que o ato de conhecer."
Olavo de Carvalho
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ALÉCIO FILIPE
ANÁLISE CRIMINAL: PERFIL DO ANALISTA NOS EUA.
Monografia apresentada para conclusão do MBA em Gestão de Segurança Pública e Defesa Social, promovido pela UPIS/DF.
Orientador:
Professor Doutor George Felipe de Lima Dantas
Brasília/DF 2007
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RESUMO
A questão da Segurança Pública tem se tornado uma preocupação prioritária no mundo atual, e particularmente afetado a vida da sociedade brasileira. Novas formas de se cometer os crimes, um novo perfil de criminosos, novas áreas de atuação, tudo isso requer o aperfeiçoamento e a modernização das entidades de segurança pública. Este trabalho procura descrever a função e o perfil do Analista Criminal dentro deste novo cenário perturbador da insegurança pública, buscando nos Estados Unidos da América, país paradigmático em segurança, o suporte para esta descrição, mostrando que esta função de análise é uma arma poderosa contra o crime e a criminalidade e o crescimento desta função neste país.
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ABSTRACT
The matter of the Public Safety has become a priority preoccupation in the current world, and particularly affected the Brazilian society life. New ways of committing crimes, a new criminal profile, new areas of performance, all of this requires the improvement and the modernization of the public safety entities. This work seeks describe the function and Crime Analyst profile inside this new scenario disturber of the public insecurity, seeking in the United States of America, a model country in safety, a support for this description, showing that this analysis function is a powerful weapon against the crime and the criminality and the growth of this function in this country.
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LISTA DE FIGURAS, GRÁFICOS E QUADROS
Gráficos
Gráfico 1 - Graduação universitária solicitada .................................................................. 59 Gráfico 2 - Tipos de análise criminal requerida ................................................................ 59 Gráfico 3 - conhecimento em ferramentas de TI requeridas .......................................... 60 Gráfico 4 - Faixas salariais ................................................................................................... 62
Figuras
Figura 1 – Mapas de um símbolo ........................................................................................ 39 Figura 2 – Mapa de tamanhos graduais ............................................................................ 40 Figura 3 – Mapa gradual de cores ...................................................................................... 41 Figura 4 - Mapa combinado ................................................................................................. 42
Quadros
Quadro 1 - Quadro de identificação das instituições pesquisadas ................................ 51 Quadro 2 - Formação acadêmica ....................................................................................... 53 Quadro 3 - Faixas Salariais .................................................................................................. 55 Quadro 4 - Tipos de análise por instituição ....................................................................... 56 Quadro 5 - Ferramentas de TI ............................................................................................. 57
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SUMÁRIO 1. DESENVOLVIMENTO .......................................................................................................... 1 1.1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 1 2. DESENVOLVIMENTO. ......................................................................................................... 7 2.1. ANÁLISE CRIMINAL COMO DISCIPLINA POLICIAL .................................................. 7 2.1.1. Definição de Análise Criminal ........................................................................................ 7 2.1.2. Justificativas para analisar crimes ................................................................................ 8 2.1.3. Tipos de análise criminal .............................................................................................. 10 2.1.3.1. Análise Criminal Tática.............................................................................................. 10 2.1.3.2. Análise Criminal Estratégica .................................................................................... 11 2.1.3.3. Análise Criminal Administrativa ............................................................................... 12 2.1.3.4. Análise de Inteligência .............................................................................................. 13 2.1.3.5. Análise Criminal Investigativa .................................................................................. 14 2.1.3.6. Análise de Operações ............................................................................................... 15 2.2. Situação atual da Análise Criminal nos EUA ............................................................... 15 2.2.1 – Adoção da análise criminal nos EUA ....................................................................... 15 2.2.2 – Fatores para adoção da análise criminal e mapeamento ..................................... 16 2.2.3 – Pesquisa da University of South Alabama .............................................................. 17 2.2.4 – Preocupação dos analistas dos EUA ....................................................................... 19 2.2.5 – Sworn personnel versus profissional civil ................................................................ 19 2.2.6 – TI nas agências policiais nos EUA ........................................................................... 20 2.2.7 – PISTOL ......................................................................................................................... 22 2.2.8 – Entidades representativas ......................................................................................... 25 2.3. Ferramentas para análise criminal ................................................................................. 28 2.3.1. Equipamentos ................................................................................................................ 28 2.3.2. GIS – Geography Information Systems ..................................................................... 29 2.3.2.1 – Escolas criminológicas ............................................................................................ 30 2.3.3. Data Mining .................................................................................................................... 31 2.3.3.1 – Outras ferramentas de análise de dados ............................................................. 32 2.3.4. Estatística Aplicada ....................................................................................................... 33 2.3.4.1 – Classificação da estatística .................................................................................... 34 2.4. Produtos da Análise Criminal.......................................................................................... 36 2.4.1 – Características dos boletins ...................................................................................... 36 2.4.2 – O que não colocar nos boletins ................................................................................ 37 2.4.3 – Relatórios de mapeamento........................................................................................ 38 2.4.3.1. Mapas de um único símbolo (Single Symbol Map) .............................................. 39 2.4.3.2. Mapas de tamanhos graduais (Graduated Size Maps); ...................................... 40 2.4.3.3. Mapas de graduação de cores (Graduated Color Maps); ................................... 41 2.4.3.4. Mapas combinados (Combination Maps); .............................................................. 42 2.5. Perfil do Analista Criminal visto pelo mercado ............................................................. 43 2.5.1. Atitudes, habilidades e conhecimentos ...................................................................... 43 2.5.2. SKA’s ............................................................................................................................... 44 2.5.3. Os dez mandamentos do analista .............................................................................. 46 2.5.4. A carreira do analista criminal ..................................................................................... 47 2.5.4 – Níveis funcionais ......................................................................................................... 48 2.6. Ofertas e demandas ......................................................................................................... 50 3. Conclusão ............................................................................................................................. 63 BIBLIOGRAFIA ......................................................................................................................... 67 ANEXOS .................................................................................................................................... 68
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1. DESENVOLVIMENTO
1.1. INTRODUÇÃO
Segundo Boba (2005) análise criminal é um campo de estudo e prática pertencente
à justiça criminal, que utiliza métodos sistemáticos de pesquisa em base de dados,
que permite o suporte às ações policiais através da geração de informação para
diversos usuários. Coloca ainda que esta disciplina é um novo tópico a ser
observado para o treinamento em justiça criminal. O operador da análise criminal
deve possuir uma série de características substantivas que permitam efetividade em
suas atribuições. Como se trata de disciplina emergente, necessário se faz
compreender quais as características inerentes à função do analista criminal.
Este trabalho tem como objetivo a descrição das características profissionais do
Analista Criminal nos Estados Unidos da América (EUA), um novo profissional que
está se incorporando às polícias, outras instituições de segurança pública e
organizações privadas, principalmente indústrias de tecnologia de ponta. Este
profissional vem continuamente, ao longo do tempo, assumindo posição destacada
nas polícias e ocupando espaço no cenário da segurança pública norte-americana.
Através do presente estudo, espera-se criar um ambiente propício para a reflexão
sobre a realidade brasileira comparada com a de um país paradigmático em
segurança pública no que tange à análise criminal em si e ao analista em particular.
Diante do crescimento quase exponencial da violência no Brasil, e o surgimento de
novas práticas criminais, este trabalho procura contribuir para que os novos
paradigmas, que estão sendo adotados nos EUA, na especificidade da análise
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criminal e de seu operador, sejam percebidos pelos operadores brasileiros da
segurança pública com vistas à implantação e aprimoramento da prática entre nós.
Identificar as demandas por informações no ambiente investigativo e de
planejamento para o aumento da segurança nas sociedades e como se apresenta a
criminalidade frente às novas oportunidades no mundo, são fatores impositivos a um
novo paradigma de profissional nas instituições policiais. A descrição contida neste
estudo se propõe vislumbrar o cenário em que este profissional permeia as suas
ações, os desafios propostos e o que as instituições esperam de seu trabalho. Após
a fundamentação conceitual sobre análise criminal e, consultando o que se está
requerendo nas instituições americanas, almeja o presente estudo, traçar o perfil e
aptidões desejáveis em um analista criminal nos EUA.
A falta de informações disponíveis e confiáveis a respeito desse tópico, uma vez que
o mesmo é extremamente recente, e a percepção da necessidade deste profissional
ser ainda incipiente, trouxe certa dificuldade na elaboração deste estudo. Este
trabalho objetiva, além da descrição e identificação de um perfil profissional
desejável, instigar os gestores da segurança pública à reflexão e encaminhamento
prático do reconhecimento deste profissional e da disciplina nas instituições que
atuam direta ou indiretamente com a causa da insegurança pública nas sociedades
pós-modernas, incluindo o Brasil.
O presente estudo trará uma parte conceitual, que visa contextualizar o objeto do
mesmo em relação à atividade de análise criminal. A análise criminal é descrita
sumariamente, conforme suas classificações, de acordo com o pensamento de
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acadêmicos, estudiosos e policiais norte-americanos. Esta parte é fundamentada em
bibliografia específica de autores norte-americanos que estão modelando a moderna
análise criminal nos EUA e brasileiros que estudam o tema. Após a conceituação de
análise criminal e descrição de suas características, será apresentada a situação da
mesma no cenário norte-americano de segurança pública, que serve de pano de
fundo para o entendimento sobre o profissional, policial ou não, que se dedica à
análise criminal. Serão ainda descritas quais os atributos procurados em um analista
criminal, listando quais as habilidades, conhecimentos, atitudes e técnicas que
envolvem esta expectativa. Fechando o estudo são apresentados e descritos dados
oriundos de pesquisa conduzida através da Internet sobre as ofertas de vagas para
analistas criminais, as quais contêm subsídios que permitem o entendimento sobre
como o mercado vê e procura o analista criminal nos EUA.
Este trabalho, por se focar sobre uma área ainda incipiente no Brasil, tem sua
elaboração suportada por pesquisas bibliográficas e Internet para busca de
subsídios em sites de polícias norte-americanas, tanto as federais quanto as
estaduais ou de condados. Ainda, esta pesquisa virtual se debruça sobre os sites
das associações internacionais, regionais e estaduais de analistas criminais, sendo
as duas últimas exclusivamente dos EUA. Ainda buscou-se informações nas
empresas especializadas em recrutamento de mão de obra técnica, que no mercado
americano trabalham também para as agências de segurança pública fazendo, não
apenas o recrutamento, mas ainda a seleção. Outras fontes de pesquisa são as
universidades americanas e empresas de treinamento, de cujos conteúdos
programáticos obtêm-se uma ampla visão pragmática da formação e alinhamento
entre capacitação e função do analista criminal naquele país.
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Após a coleta de informações através das pesquisas mencionadas no parágrafo
anterior foi traçado o conjunto de especificações exigidas nos fatores KSA para a
função de analista criminal.
1.2. Justificativa
O mundo passa por transformações profundas em suas mais variadas concepções e
percepções, sejam econômicas, políticas e sociais, metamorfoseadas pelo uso de
novas e mais abrangentes tecnologias (principalmente as que envolvem a
informação e as telecomunicações), o que vem quebrando sistematicamente antigos
paradigmas que norteavam a conduta, a moral, a ética e a legalidade das relações
interpessoais, interorganizacionais, interestaduais e internacionais. Trocando, nas
expressões referidas na frase anterior, o sufixo “inter” pelo “intra”, expande-se mais
ainda o universo em transformação e a complexidade cognitiva para se compreender
o tempo atual e pensar o futuro de curto e longo prazo, dentro de um processo de
planejamento estratégico e desenvolvimento social.
As tecnologias da informação e das telecomunicações, que através da convergência
tecnológica, se fundem na disciplina TELEMÁTICA, são, sem dúvida, onipresentes,
indispensáveis e ditadoras na sociedade produtiva do século XXI, entendendo-se
esta sociedade como da informação, ou seja, que tem como seu produto principal,
na produção e no consumo, a informação. Esta sociedade se encontra em mutação
para um novo patamar conceitual que a reconhece como a Sociedade do
Conhecimento, que a exemplo da Era da Informação, agora produz e consome
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conhecimento, sendo este o ativo de mais alto valor e diferencial competitivo nas
arenas das mais diversas disputas, apesar de ainda abstrato.
Obviamente que estes cenários, o atual e o previsto, são demasiadamente obscuros
para as sociedades, as quais vivem constantemente reestruturando seu modelo
econômico, político, de gestão e governança e modelo social. Neste ambiente de
pouca solidez no pacto social e institucional, os países se vêem forçados a participar
do processo de inclusão num mundo globalizado, isto imposto pela evolução do
conjunto dos países que estão na liderança da economia mundial. Neste contexto,
observam-se lacunas no tecido social que induz à violência, vitima e coloca, por falta
de opções, pessoas no mundo do crime, que se organiza e passa a ter um ciclo
próprio de evolução e revolução.
Percebe-se que o novo desafio enfrentado pelas instituições de segurança pública
está centrado na preparação para o controle da criminalidade neste novo mundo,
que apresentam padrões e tendências até então não mapeados, e só sendo
possível serem observados através do uso das tecnologias da informação e das
telecomunicações (telemática no conjunto convergente). Operar estas tecnologias de
modo a se obter o conhecimento estratégico, tático e administrativo, requer um
profissional que se desgarra do perfil tradicional do policial, pois atua com dados,
informação, conhecimento, estatística, e tecnologia da informação ao invés de
armas, carros e munições. Não se exclui a importância das ações tradicionais, as
quais são vitais nas operações de mitigação e supressão, do crime e da
criminalidade.
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Este trabalho, baseado em pesquisas em instituições policiais americanas, visa
projetar este profissional descrevendo sua interação com o mundo desafiador e as
práticas policiais modernas.
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2. DESENVOLVIMENTO.
2.1. ANÁLISE CRIMINAL COMO DISCIPLINA POLICIAL
2.1.1. Definição de Análise Criminal
Análise criminal se refere ao conjunto sistemático de processos analíticos que provê
em tempo, informações pertinentes sobre a correlação entre padrões de crimes e
tendências de crimes. É primariamente uma ferramenta tática. Relatórios de
patrulhas e dados sobre crimes que fornecem dados sobre cenas de crimes, modus
operandi, armas, roubos, veículos de fuga e suspeitos. Analisando e comparando
dados nos arquivos com estas informações, na investigação de um caso, podem os
investigadores obter informações importantes sobre as atividades nestas áreas
patrulhadas. Contempla ainda a análise do desenvolvimento do padrão de crime,
descrição de propriedades roubadas e identificação de suspeitos. Usando estas
informações, as forças táticas podem dispor melhor os seus recursos. (Boba 2005,
apud Emig, Heck, & Kravitz, 1980, p. v).
Análise Criminal é o processo de análise sistemática de dados pertinentes aos
serviços policiais, crimes, criminosos e vítimas para: (i) identificar tendências e
padrões de crimes e criminalidade, (ii) gerar conhecimento para as ações táticas e
estratégicas de como os problemas podem ser resolvidos da melhor maneira
possível, bem como alimentar os programas de polícia comunitária, (iii) avaliar as
ações planejadas e as teorias envolvidas para os crimes e a criminalidade e, (iv)
produzir relatórios de domínio reservado ou público. (Boba, COPS, 2001).
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A Análise Criminal é uma disciplina orientada ao detalhe através da qual o analista
se empenha na busca da verdade de uma determinada situação, utilizando métodos
e informações boas para confirmar a verdade de forma que um plano de ação efetivo
possa ser formulado. (Boba 2005, apud Vellani & Nahoun, 2001, p. 8).
Esclarece Boba (2005) que as diversas definições, sobre análise criminal, utilizadas
e aceitas nos meios acadêmicos e policiais, diferem nas particularidades umas das
outras, mas que compartilham vários componentes comuns: Todos os autores
concordam que a análise criminal dá suporte às missões policiais, utiliza métodos
sistemáticos e informações, e gera conhecimento para diversos usuários.
“Crime analysis is the systematic study of crime and disorder problems as well as other police-related issues – including socio-demographic, spatial, and temporal factors – to assist the police in criminal apprehension, crime and disorder reduction, crime prevention, and evaluation.” (Boba, 2005)
A definição de análise criminal, como disciplina pertinente ao contexto da segurança
pública, é importante na busca da definição do perfil do profissional que está sob
análise neste trabalho. Para que possam ser vislumbrados quais sejam os requisitos
necessários para o desempenho da função no contexto atual, faz-se necessária a
conceituação de forma abrangente e baseada nas colocações dos pensadores
norte-americanos, conforme apresentado acima.
2.1.2. Justificativas para analisar crimes
A justificativa primária, segundo Osborne & Wernicke (2003), para a existência de
um analista criminal nas instituições da segurança pública, frente aos gestores, que
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não estão ainda sensibilizados por esta necessidade de alta relevância, ou não
entenderam o que o analista criminal faz ou o que este pode prover, está ressaltada
pelos pontos fundamentais que fazem sentido à análise criminal, respondendo ao
por que analisar:
Analisar para obter as vantagens da abundância de informações existentes
no sistema de justiça criminal, nos sistemas de chamadas e despachos, nos
boletins de ocorrência e em fontes de domínio público;
Analisar para maximizar o uso dos escassos recursos das instituições de
segurança pública;
Analisar para informar ao sistema de segurança pública sobre aspectos gerais
e específicos das tendências dos crimes, padrões e séries de crimes de forma
tempestiva;
Analisar para ter um meio objetivo no acesso aos problemas criminais de
forma local, regional, estadual, nacional e global, através da integração entre
as diversas agências de segurança pública;
Analisar crimes para pro-atividade nas ações de detecção e prevenção do
crime e,
Analisar os crimes para atender às necessidades das polícias diante de uma
sociedade em dinâmica e em constante mutação.
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2.1.3. Tipos de análise criminal
2.1.3.1. Análise Criminal Tática
A Análise Criminal Tática (ACT), de acordo com (Osborne & Wernicke, 2003), se
refere à análise de dados e informações relativas ao “onde”, “quando” e “como” o
crime ocorreu e foi perpetrado, objetivando assistir aos investigadores na
identificação e compreensão dos problemas específicos e imediatos do crime. O
objetivo final da ACT é promover rápida resposta em relação a uma série de crimes
que estão ocorrendo. A busca de padrões na atividade criminal para predição de
ocorrências futuras é um dos papéis fundamentais deste tipo de análise.
Os padrões de crimes são geralmente definidos para uma determinada área
geográfica, processo este conhecido como “clusterização” em uma área específica.
Padrões implicam em similaridade que são observadas em vários fatos ocorridos ao
longo do tempo. Desta maneira, para existir um padrão em um dado conjunto de
crimes, uma das seguintes variáveis deve se repetir: localidade, hora, alvo ou modus
operandi.
Compreende-se que existe uma série criminal quando um determinado padrão é
observado, levando à clara possibilidade de ser a mesma pessoa ou grupo que
venha praticando, ou haja praticado os crimes.
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2.1.3.2. Análise Criminal Estratégica
A Análise Criminal Estratégica (ACE), segundo Dantas & Ferro (2006), se refere
aos problemas de longo alcance, grande abrangência e gerais, bem como ao
planejamento de longo prazo em segurança pública e reflete diretamente sobre a
elaboração de políticas públicas, através de análise do comportamento dos crimes
durante uma longa série temporal, observando as acelerações e desacelerações na
freqüência e quantidade das ocorrências dos fenômenos em determinados lugares,
de forma a se obter uma visão clara das tendências dos crimes.
“É o estudo de informações sobre o crime e a atividade policial, integradas a fatores sócio-demográficos e espaciais, com a finalidade da determinação de padrões de atividade criminal de longo prazo, contribuindo para a resolução de problemas e realização de pesquisas de avaliação de respostas e procedimentos.” (Dantas & Ferro, 2006).
“Análise Criminal Estratégica é o estudo da criminalidade e outros assuntos relacionados à polícia para determinar padrões das atividades criminais ao longo de um dado tempo como também avaliar as respostas policiais e os procedimentos das instituições de segurança pública.” (Dantas & Ferro, 2006).
Devido ao escopo da ACE, este tipo de análise se concentrar em informações de
longo prazo, sendo primariamente quantitativa, apesar de que ao se focar nos
detalhes de determinado fenômeno, dados e métodos qualitativos podem e devem
ser utilizados na agregação de valor analítico.
A ACE, devido à sua característica e definição, se realiza através do uso de vários
métodos estatísticos com intuito de examinar bases de dados eletrônicas nas quais
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residem milhares de registros de crimes contendo data, hora, localidades, dados
sócio-demográficos e tipos dos incidentes ocorridos.
Os dois principais propósitos da ACE são: (i) para ajudar na identificação e no
exame da criminalidade ao longo de um tempo representativo e (ii) para avaliar as
respostas das instituições de segurança diante dos diversos fenômenos criminais
sob análise.
2.1.3.3. Análise Criminal Administrativa
“A atividade de análise criminal administrativa consiste basicamente na apresentação dos resultados de pesquisas e análises sobre o fenômeno do crime e questões conexas, tendo por base necessidades políticas, legais e práticas que motivem a necessidades de informações da parte do público interno e/ou externo.” (Dantas & Ferro, 2006)
A Análise Criminal Administrativa (ACA), segundo Osborne & Wernicke (2003), se
foca no fornecimento de informações sumarizadas, estatísticas e informações gerais
sobre tendências criminais para os gestores das instituições de segurança pública.
Este tipo de análise provê informação de modo descritivo sobre crimes, para
subsidiar os departamentos administrativos, assessoria dos comandos e oficiais,
apresentando inclusive estes resultados para outras cidades e estados e, também,
para a comunidade em geral. Os relatórios desta análise subsidiam os
administradores da segurança pública para que os mesmos possam determinar e
alocar recursos que ajudem a comunidade na compreensão da criminalidade e
problemas relativos à desordem que a afeta. Esta análise se utiliza basicamente da
estatística descritiva para avaliar a criminalidade e os chamados para atendimentos
localmente. Nos EUA, em algumas localidades, esta disciplina ainda se
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responsabiliza pela compilação de estatísticas para o FBI1, baseada no UCR
(Uniform Crime Report)2.
Criar cenários para comparação de crimes mostrando o total destes em uma cidade
no ano corrente comparado com o ano anterior, este mês versus o mês anterior ou
ainda este mês contra este mesmo mês do ano passado, são exemplos de ACA.
Esta modalidade de análise se encarrega ainda de comparar os níveis de
criminalidade entre cidades, ajustando estes valores por 1.000, 10.000 ou 100.000
habitantes, dependendo do tamanho das cidades a serem comparadas. Este
procedimento é denominado bench-marking.
2.1.3.4. Análise de Inteligência
“É o estudo da atividade criminal “organizada”, tenha ela sido ou não relatada à polícia, de maneira a apoiar o esforço da investigação policial na identificação de vínculos entre pessoas, eventos e patrimônio”. (Dantas & Ferro, 2006)
A Análise de Inteligência (AI) ocorre normalmente nos níveis estadual e federal,
uma vez que o seu objeto de investigação e compreensão está vinculado com os
crimes do “colarinho branco”, lavagem de dinheiro, crimes digitais, terrorismo, tráfico
de drogas, redes de prostituição e roubo de carga, entre outros, que convergem, em
sua maioria, para o crime organizado como definição, além de investigações
específicas, as quais são auxiliadas com as informações e apresentações que se
constituem o produto desta modalidade de análise.
1 www.fbi.org
2 www.fbi.gov/ucr/ucr.htm
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Grande parte das informações coletadas para suprir este processo de análise vem
de procedimentos diferenciados, tais como vigilância, gravações, informantes,
infiltração, listagem de telefonemas das operadoras, rastreamento de e-mails e
endereços IP na grande rede mundial, entre outros.
2.1.3.5. Análise Criminal Investigativa
A Análise Criminal Investigativa (ACI) foca sua atenção nos perfis das vítimas e
dos suspeitos, perfilando-os para o investigador, com base nos dados e informações
disponíveis, de cunho sócio-demográfico e antropológico. Esta análise é
normalmente efetivada no nível local de polícia, nas agencias locais e se difere do
alinhamento mais profundo feito pelo FBI em relação aos serial killers e
seqüestradores, mas levanta hipóteses gerais sobre o tipo de pessoa ou grupo que
possam estar cometendo determinada série de crimes. (Osborne & Wernicke, 2003)
Os métodos de análise, neste caso, levam o analista a avaliar cuidadosamente os
aspectos taxonômicos das séries de crimes que estão ocorrendo subordinadas à
determinado tempo e região, tais como furtos e roubos entre outros. Faz parte da
metodologia afeita e este tipo de análise, entrevistar os investigadores em várias
agências policiais para levantamento de informações sobre os tipos de pessoas que
possam estar cometendo semelhantes crimes em outras jurisdições, e ainda ir aos
locais onde os crimes foram cometidos para fazer observações pessoais. O
resultado é um relatório sumarizado das análises e pesquisas, realizadas pelo
analista, que subsidiarão as investigações e é um item muito útil do arsenal de
ferramentas disponíveis para a investigação criminal. (Osborne & Wernicke, 2003)
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2.1.3.6. Análise de Operações
A Análise de Operações (AO) é o tipo de análise que visa demonstrar como as
agencias policiais estão empregando seus recursos no cumprimento de suas
atribuições legais. Foca-se essencialmente sobre aspectos como desenvolvimento
das ações, gastos, orçamento e redistribuição de atividades e tarefas. Normalmente
esta análise se dá quando uma agência assume outro território para atuar, em
momentos de contingência ou reestruturação política. Faz-se importante quando
novas políticas públicas são implantadas e passam a gerar demandas novas.
(Osborne & Wernicke, 2003)
2.2. Situação atual da Análise Criminal nos EUA
A análise criminal é um campo em crescimento que ainda procura auto-afirmar-se no
cenário da segurança pública, já sendo, porém, reconhecida a sua importância, tanto
pelas agências policiais quanto pela comunidade acadêmica. Esta disciplina,
contudo, continua se desenvolvendo nos EUA, onde novos temas como
criminalidade escolar e médica, sobre os quais está sendo criado um corpo de
literatura, testes e confirmações sobre técnicas de análise, treinamento, educação,
etc., estão sendo focados com interesse e tidos como a nova fronteira do
aperfeiçoamento das análises criminais.
2.2.1 – Adoção da análise criminal nos EUA
Observa-se, ainda, que várias agências policiais, principalmente as menores,
resistem à adoção da disciplina, e não enxergaram ainda o valor desta para a
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prevenção e repressão da criminalidade. Grande parte das agencias policiais médias
e grandes nos EUA, porém, já possuem a função de análise criminal em seus
quadros. Isso significa que estão contratando profissionais, policiais ou analistas
especialmente treinados, especificamente para conduzir ao menos um tipo de
análise criminal. Nos anos 90, pesquisas nacionais indicaram que um número
representativo de agências de polícias investiu em tecnologia para análise criminal e
mapeamento do crime. (Boba, 2005)
2.2.2 – Fatores para adoção da análise criminal e mapeamento
Segundo FRITZ (2001), a análise criminal e mapeamento de crimes nos EUA vêm
crescendo exponencialmente nos últimos quinze anos e propões cinco fatores que
podem explicar o porquê deste crescimento acentuado:
A popularização e o barateamento dos computadores e softwares levaram ao
uso intensivo destas ferramentas tanto pela sociedade como pelas instituições
de segurança pública;
A conceituação de policiamento comunitário, voltado para a resolução de
problemas, e subseqüentes publicações de estudos acadêmicos, culminou
com a legitimação do papel da pesquisa e análise na segurança pública;
O governo federal norte-americano tem incentivado estas iniciativas através
de financiamentos, pessoal e tecnologia;
Os chefes de polícias e xerifes abraçaram o conceito e a prática de
policiamento comunitário, tendo esta adoção proporcionado o sucesso do
COMSTAT e do ICAM e, os resultados associados a estes esforços apontam
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para a queda constante na criminalidade nos distritos que se utilizam deste
estilo de policiamento;
Padrões profissionais foram identificados e estabelecidos de acordo com
requisitos da segurança pública, tendo, especificamente, a Commission for
the Accreditation of Law Enforcement Agencies (CALEA)3 oferecido suporte
às iniciativas da análise criminal nos EUA.
2.2.3 – Pesquisa da University of South Alabama
Outra evidência clara do desenvolvimento e da importância da prática da análise
criminal nos EUA se observa através de um sistemático estudo conduzido em 2002
pela University of South Alabama’s Center for Public Policy. Observou-se, em duas
pesquisas com agências policiais dos EUA, que os analistas criminais estão sendo
demandados mais em análise criminal tática, que trás resultados de curto prazo, em
cima de uma série criminal sob investigação e menos demandados em análise
criminal estratégica, que se objetiva à planificação de longo prazo, sendo essa
primariamente interessante para casos mais complexos e renitentes nas
comunidades. Esta observação demonstra que muitas agências policiais norte-
americanas não se utilizam da análise criminal em sua amplitude e potencial, fato
explicado pelo padrão de curto prazo para a realização efetiva da análise e ainda os
processos em real time que não se abriram ainda para outras funções, cumprindo
apenas as obrigatoriedades tradicionais de uma agência policial. Este cenário
demonstra que a análise criminal está sendo utilizada mais para propósitos
investigativos que de pesquisa e planejamento de longo prazo.
3 www.calea.org
-
18
Algumas razões podem ser alinhadas para corroborar com o que foi explicitado
acima:
a) O processo investigativo é o mais tradicional, mais arraigado e estabelecido
processo no meio policial norte-americano, fato que determina o mind-share
policial, com seus valores e prioridades.
b) O tempo é um ativo valioso para as agencias policiais, sendo um dos
determinantes para a preferência pela análise investigativa, uma vez que a
polícia norte-americana tradicionalmente atua reativamente e sofre pressão
da comunidade e de toda a sociedade para apresentar respostas rápidas. Os
processos investigativos, comparado com pesquisa e processos para
resolução de problemas de forma preventiva, são imensamente mais rápidos,
atendendo aos anseios da sociedade por respostas rápidas e visíveis.
c) Outra razão reside nos perfis e habilidades dos analistas que se apresentam,
muitas das vezes, mais focados na condução da análise investigativa. Muitos
dos analistas foram ou são agentes policiais de rua, que se formaram nas
patrulhas e nas investigações criminais, nas quais funções trabalharam por
longo período de tempo. Estes profissionais não dominam metodologias
formais de pesquisa, programas de avaliação baseados em informática ou
experiências em estatística que os habilitariam à condução de pesquisas e
avaliações analíticas de forma mais efetiva. Além do que são constantemente
demandados para elaborar listas de incidentes ou relatórios simples, e
preenchimento de formulários, os quais, na realidade, não se constituem em
análise de fato.
-
19
2.2.4 – Preocupação dos analistas dos EUA
Observa Boba (2005), que nos EUA os analistas criminais estão aparentemente
preocupados com (i) disponibilidade de treinamento e educação relevante; (ii) o uso
efetivo do conhecimento gerado pelas análises; (iii) o reconhecimento pela alta
gestão policial da importância da análise criminal nas agencias policiais; (iv)
disponibilidade de dados e informações adequadas nos aspectos de quantidade e
qualidade; (v) a possibilidade de comunicação efetiva como outros analistas
criminais de outras jurisdições e cidades e (vi) a disponibilidade de tempo ideal para
conduzir suas análises.
2.2.5 – Sworn personnel versus profissional civil
Ainda segundo a pesquisa realizada pela University of South Alabama’s Center for
Public Policy focada (primeira parte) em departamentos e agências policiais com 100
ou mais policiais investidos (sworn personnel), atuando diretamente em ações fim,
foi possível observar um fato importante no perfil da nova policia nos EUA. Observa-
se que tem ocorrido uma quebra de paradigma em relação às tradicionais práticas
de colocação exclusiva de policiais investidos nas diversas tarefas e funções
policiais, mesmo as de retaguarda e suporte operacional, representada pelas
contratações de civis para o desempenho de diversas atividades nas polícias, e em
particular para a função de análise criminal. Nos últimos 10 ou 15 anos têm sido
contratados muitos analistas civis. Este fato tem causado muita polêmica, mas se
justifica pelos dois aspectos seguintes: (i) Econômica: os analistas civis tendem a
perceber salários inferiores aos dos policiais juramentados (sworn personnel); e (ii)
-
20
Organizacional: as unidades de análise criminal tendem a ser mais estáveis com
trabalhadores civis, uma vez que os policiais precisam deixar a função de analista
criminal após um tempo devido às possíveis promoções ou realocações, situações
típicas nas instituições e carreiras policiais. Como mostra o Gráfico 1, de um
universo de 409 instituições que responderam possuir pessoal designado
primariamente para a função de analista criminal, 78% disseram que possui ao
menos um analista civil.
Gráfico 1 – Análise criminal nas agências dos EUA
Fonte: University of South Alabama
2.2.6 – TI nas agências policiais nos EUA
A qualidade da análise criminal está diretamente relacionada com a capacidade da
agência ou departamento policial em armazenar e acessar informações. Como
atualmente existe uma grande massa de dados, crescendo a cada momento, o uso
de computadores e softwares como ferramentas são primordiais para o analista
Posição da Análise Criminal nas agências
78%72%
22%
28%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
Caso tenha pessoal exclusivo para
Análise Criminal, possui algum civil no
quadro?
A agência possui unidade separada para
análise criminal (especialização)?
Sim
Não
-
21
criminal desempenhar a sua função de modo eficiente dentro do equilíbrio qualidade
dos produtos gerados versus o tempo para estes serem produzidos. Foi
determinante, na mesma pesquisa conhecer, um pouco do que existe nestas
agências policiais, e o que se viu, apresentado na tabela abaixo, é que perto de
nove entre dez agências reportaram que usam sistemas automatizados para
armazenamento de informações primárias (relatórios de ocorrência, chamadas para
serviço e prisões). Observa-se que os índices vão decaindo na medida em que fatos
mais complexos vão sendo apresentados. Esta queda, em relação a itens mais
complexos, contribui para uma análise criminal limitada, aquém de suas reais
possibilidades.
Tabela 1 – Uso da informática nas agências policiais dos EUA
Quais dos seguintes relatórios e informações têm entrada em sistemas baseados em computadores?
sim não
Registro de ocorrência 94% 6%
Prisões 90% 10%
Chamadas para serviços 87% 13%
Investigações 75% 25%
Acidentes de trânsito 72% 28%
Evidências 73% 27%
Apelidos 65% 35%
Entrevistas de campo 65% 35%
Pawn Shop 54% 46%
Caso de vícios 50% 50%
Inteligência 42% 58%
O departamento tem sistema de informação totalmente on-line, sem papéis?
14% 86%
O departamento possui um sistema para gerenciamento de registros?
91% 9%
Fonte: University of South Alabama
-
22
2.2.7 – PISTOL
Observa-se ainda acima que, um sistema totalmente independente do uso de papel
e on-line (Paperless Information System, Totally Online - PISTOL), está presente em
apenas 14% das agências que responderam ao questionário da pesquisa, sendo,
porém que 91% dos entrevistados responderam possuir sistema formalizado para
gestão das informações, englobando planejamento, design e execução das
operações globais de processamento de dados da instituição, conforme gráfico
abaixo:
Gráfico 2 – PISTOL e sistema de gestão
Fonte:Pesquisa da University of South Alabama - Anexo
Relatando a situação da análise criminal nos EUA, a pesquisa aqui referenciada
volta a sua atenção para a descrição do uso sistemático e específico das estruturas
computacionais em prol da realização da função, através da amostragem de como
está distribuído, entre os participantes da mesma, o uso efetivo de softwares que
agregam consistência, qualidade, volume e velocidade às análises criminais. É
Sistemas baseados em computadores
sim; 14%
sim; 91%não; 86%
não; 9%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
O departamento tem sistema de
informação totalmente online, sem
papéis?
O departamento possui um sistema
para gerenciamento de registros?
sim
não
-
23
avaliado o potencial adicional de levar aos níveis de gestão e de comando dos
departamentos policiais, a capacidade de tomada de decisão baseada no
conhecimento. Estas ferramentas capacitam as instituições para a realização plena
do policiamento comunitário, a elaboração de políticas públicas de prevenção e
movimentação tático-operacional focada no resultado, com uso adequado dos
restritos recursos disponíveis frente às demandas sempre crescentes de
policiamento.
No Gráfico 3 está representado o conjunto de software que faz parte do universo de
um departamento de análise criminal e demonstra como as mesmas estão sendo
adotadas entre a série amostral da pesquisa em questão. Nota-se a clara tendência
para o uso de geo-referenciamento (GIS) e o uso de planilhas eletrônicas, como os
dois segmentos mais expressivos. A utilização destas ferramentas possui
significados diferentes, uma vez que o GIS vem crescendo, é de uso recente e de
alto custo de compra e implantação, e se mostra bem representado no universo das
ferramentas utilizadas, porém o uso das planilhas eletrônicas surpreende pela baixa
densidade, uma vez que seu uso se tornou corriqueiro em quaisquer organizações
modernas.
Observa-se também que alguns sistemas produzidos com especialidade para a
análise criminal e gestão operacional, possivelmente como captadores de
informações sobre os processos e procedimentos policiais, são citados como
razoavelmente utilizados, sendo uma tendência, inclusive no Brasil, a adoção
sistemática destes programas. Na área de inteligência, também se nota uma boa
-
24
representatividade, diante do crescimento da análise de inteligência frente à
globalização, o crime organizado e lavagens de dinheiro.
Gráfico 3 – Softwares usados na análise criminal
Fonte: Pesquisa da University of South Alabama - Anexo
Outro fator demonstrado pela pesquisa se refere aos níveis de uso da estatística no
universo da análise criminal dentro das agências pesquisadas, e, conforme o Gráfico
4 retrata, na medida em que se tornam mais complexas as funções estatísticas
colocadas, cai o número de agências que responderam que as praticam em seus
procedimentos de análise criminal. Este fato pode ser explicado diante da inovação,
mesmo nos EUA, que a análise criminal representa. Esta realidade recente ainda
não permitiu a formação ou contratação de pessoal especializado para a realização
de tarefas estatísticas mais complexas.
Uso de softwares para Análise Criminal
61%
45%
35%
27%
65%
20%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
GIS (Mapping) Crime
Analysis
Intelligence Operations
Analysis
Spreadsheet Statistical
Package
-
25
Gráfico 4 – Estatística na análise criminal
Fonte: Pesquisa da University of South Alabama - Anexo
Como dito anteriormente, este quadro mostra claramente a não formação adequada
dos policiais em estatística, e por isso o fator humano, e sua capacitação para
operar esta disciplina dentro do cenário da segurança pública, e os desafios atuais
são considerados fatores básicos para a boa prática da análise criminal, além das
questões estruturais, de infra-estrutura de computadores e softwares operacionais
ou aplicativos de apoio.
2.2.8 – Entidades representativas
Uma demonstração do crescente posicionamento da análise criminal nos EUA está
na quantidade de associações que surgiram nos últimos anos para representar os
analistas criminais. Estas associações são internacionais, estaduais ou regionais, e
se propõem a serem centros de pesquisas, pontos de encontros, realizadoras de
Uso de Estatística para Análise Criminal nas Agências
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
Frequências Média, Mediana,
Moda
Cluster Analysis Correlation Desvio Padrão Regressão
Nunca Às vezes Freqüêntemente Muito freqüêntemente
-
26
eventos, congressos, gerenciadoras de listas de discussões entre membros,
fornecedoras de informações sobre ferramentas, publicadoras de artigos e livros,
além de idealizadoras e executoras de treinamentos específicos para os associados.
Algumas destas atividades são oferecidas aos demais interessados no tema, como
acadêmicos, estudantes, políticos e pesquisadores, além de empresas
desenvolvedoras de soluções para uso no trabalho do analista criminal. Estas
associações normalmente possuem na internet um portal para acesso às
informações disponíveis aos associados e outros. Entre as diversas associações
destacam-se:
Internacionais
IACA – International Association of Crime Analysts
IALEIA - International Association of Law Enforcement and Intelligence
Analysts
Estaduais
MACA – Massachusetts Association of Crime Analysts
AACA – Arizona Association of Crime Analysts
TACIA – Texas Association of Crime and Intelligence Analysts
CCIAA – California Crime and Intelligence Analysts Association
Regionais
Northern Valley Crime & Intelligence Analysts Association
Bay Area Crime & Intelligence Analysts Association
Central Valley Crime & Intelligence Analysts Association
http://www.novciaa.org/http://www.baciaa.org/http://cvciaa.org/
-
27
Inland Empire Crime & Intelligence Analysts Association
Southern California Crime & Intelligence Analysts Association
San Diego Crime & Intelligence Analysts Association
Existem ainda várias entidades voltadas para a Análise Criminal, para dar suporte às
agências policiais com conhecimento, ferramentas e consultorias, entre as quais se
destacam duas pela excelência e singularidade nos serviços prestados: CMAP -
Crime Mapping & Analysis Program4 e CALEA - Commission on Accreditation for
Law Enforcement Agencies5, sendo esta uma organização que infere sobre a
qualidade dos trabalhos prestados pelas instituições em relação aos seus métodos,
procedimentos, padrões e, conseqüentemente, apóia direta e indiretamente a
análise criminal e seus operadores.
4 http://www.crimeanalysts.net
5 http://www.calea.org
http://www.ieciaa.org/http://www.scciaa.net/http://www.sdciaa.org/
-
28
2.3. Ferramentas para análise criminal
Segundo Osborne & Wernicke (2003), as grandes ferramentas do analista criminal
são: (i) a sua vocação para a pesquisa e (ii) a sua capacidade analítica, uma vez que
o analista terá que ler centenas ou milhares de relatórios sobre crimes durante o
ano. Ser um leitor cuidadoso e atento é uma exigência para o sucesso da função.
Acrescentam ainda que boa memória e curiosidade são características obrigatórias,
além do que o profissional deve ter prazer no trabalho de levantar relacionamentos
nas muitas variáveis sob análise e habilidade para mostrar esses relacionamentos
como caminho para esclarecimentos investigatórios.
2.3.1. Equipamentos
Qualquer analista criminal deve possuir um computador para poder executar suas
análises, com uma configuração conforme segue:
O mais potente Processador Central disponível para desktops ou notebooks,
com máxima memória e disco rígido possível
Um monitor grande, o maior possível, para que possam ser apresentados
mapas e grandes bases de dados
Acesso à Internet através de tecnologia de alta velocidade
Dispositivo para leitura e gravação em CD’s e/ou DVD’s
Dispositivo externo para efetuar cópias de segurança de seu trabalho
Impressora disponível, de preferência a cores
Plotter para impressão de mapas
-
29
2.3.2. GIS – Geography Information Systems
Segundo Davis (2001), GIS é conceituada como a tecnologia e a metodologia
baseada em computação para coleta, gerenciamento, análise, modelagem e
apresentação de dados e informações geográficas para variadas aplicações.
Entrando na área de análise criminal, Harries (1999) coloca que o Mapeamento de
Crimes, usando GIS, é parte integrante e disciplina substancial para a moderna
análise criminal. Cita o exemplo histórico da Polícia de Nova Iorque que faz
mapeamento desde os idos anos do início do século XX, inicialmente através do uso
de pinos colocados sobre um mapa de papel emoldurado em uma parede. Estes
mapas de pinos mostravam onde os crimes ocorriam, mas com muitas limitações,
inclusive para se manter um histórico sobre os padrões de crimes, uma vez que ao
se atualizar os pinos, se perdia o histórico daquele padrão. Outra limitação era o fato
de que a visualização dos diversos tipos de crimes, representados por pinos de
diferentes cores, era dificultada quando uma quantidade representativa de crimes
estava mapeada no quadro.
O uso da moderna tecnologia GIS, permite o uso de pinos “virtuais”, representados
na tela de um computador, sobrepostos a um mapa da região sob análise, ou
mesmo outro tipo de representação gráfica (ícones e símbolos) com significados
mais próximos daquilo que se quer mostrar, criando assim uma flexibilidade e maior
capacidade de análise por parte do analista criminal. Pode-se “pedir” para o sistema
apresentar apenas determinado tipo de crime, e imediatamente os outros são
“apagados” da tela, e ainda o tipo escolhido pode ser filtrado por data, hora,
-
30
localidade, etc., facilitando a tarefa de se analisar ocorrências envolvendo estas
variáveis.
2.3.2.1 – Escolas criminológicas
O uso de mapas marcados para visualização das ocorrências criminais vem de
longa data, como dito anteriormente e, segundo Phillips (1972), centenas de estudos
sobre a espacialidade do crime e delinqüência foram escritos por sociólogos e
criminólogos desde 1830, e são reconhecidas, no meio acadêmico, três escolas de
maior influência:
A Escola Cartográfica ou Geográfica, que dominou entre 1830 e 1880,
iniciando na França e expandindo para a Inglaterra. Seu trabalho era baseado
em dados sociais, que os governos da época começavam a obter. As análises
tenderam a se concentrar na influência das variáveis riqueza e densidade
populacional sobre os níveis de ocorrência dos fenômenos criminais.
A Escola Tipológica dominou entre o período cartográfico e o período
ecológico que a sucedeu no século XX. Os tipologistas focavam suas análises
na relação entre as características mentais e físicas das pessoas e o crime.
A Escola da Ecologia Social concentrou suas bases sobre as variações
geográficas das condições sociais como condições relacionadas com os
padrões de crimes. Os ecologistas sociais reconhecem e classificam áreas
nas cidades com condições sociais similares e associam com tipos de crimes
relacionados a estas condições.
-
31
2.3.3. Data Mining
Mineração de dados ou Data Mining é o processo de varrer grandes bases de dados
a procura de padrões como regras de associação, sequências temporais, para
classificação de ítens ou agrupamento (clustering). Esse é um tópico recente em
ciência da computação, mas utiliza várias técnicas da estatística, recuperação de
informação, inteligência artificial e reconhecimento de padrões. (Wikipedia, 2007)
Segundo Fayyad (1996), Data Mining é visto como um processo não trivial de
identificação de padrões válidos, novos, úteis e implicitamente presentes em
grandes volumes de dados.
Encontrar padrões freqüentes, associações, correlações, ou estruturas causais a
partir de conjuntos de itens ou objetos em bases de dados transacionais, relacionais,
ou em outros repositórios de informações, é ainda um conceito bastante razoável
sobre esta disciplina que emerge no final dos anos 90, e muito difundido e aceito na
comunidade de analistas de sistemas e acadêmicos que estudam e influenciam a
gestão do conhecimento.
Data Mining envolve, segundo McCue (2006), a análise sistemática de grandes
bases de dados através do uso de métodos automatizados. Sondando dados desta
forma, é possível provar ou contestar hipóteses ou idéias existentes sobre um
conjunto de dados ou informações, enquanto se descobrem novas ou conhecidas
informações. Através do uso de gráficos exploratórios em combinação com
estatística avançada, ferramentas de geração de conhecimento e inteligência
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ci%C3%AAncia_da_computa%C3%A7%C3%A3o
-
32
artificial, áreas críticas da informação, podem ser minadas de um grande repositório
de dados, dando sentido e mostrando um novo cenário sobre objetos ou fatos
analisados.
Fazendo parte da análise criminal a busca por padrões nos fatores relativos à
criminalidade e, o processo de Data Mining focado na busca de padrões ocultos em
grandes massas de dados, a correlação daquela com este procedimento liga-se
naturalmente. O uso intensivo da Tecnologia da Informação nas diversas atividades
humanas, incluindo aí a segurança pública, gerou um cenário povoado por extensas
bases de dados relativas a diversos fenômenos de interesse da comunidade policial
para elucidação e compreensão dos crimes e da criminalidade.
2.3.3.1 – Outras ferramentas de análise de dados
Buscar em extensas bases de dados um padrão baseado no cruzamento de
diversas informações residentes em diversas fontes, torna-se uma tarefa sobre-
humana, e, portanto, o uso de computadores e softwares que realizem estas
complexas tarefas é imprescindível. Existe um conjunto grande de ferramentas que
auxiliam na análise de dados e busca de padrões em uma extensa base de dados.
Nos EUA, onde a análise criminal tem crescimento acentuado no pós-setembro de
2001, algumas ferramentas foram concebidas para permitir uma interação direta
entre os fenômenos criminais e o policial analista criminal. Uma delas tem se tornado
padrão para algumas agências policiais, tornando-se até um diferencial para
contratação de analista criminal. Esta ferramenta é um software chamado ATAC –
-
33
Automated Tactical Analysis of Crime, da Bair Software6. Esta ferramenta foi
desenvolvida por um ex-policial e MBA pela University of Denver – EUA chamado
Sean Bair. Este ex-policial que detém bom conhecimento sobre mundo policial e
suas demandas, e facilidade no uso da informática, o que proporcionou uma fusão
interessante entre as duas áreas do conhecimento e preencheu uma lacuna no
arsenal de ferramentas para a análise criminal sistematizada. Este fato demonstra a
interação entre o mundo privado especialista e as agências de segurança pública
americanas na área de análise criminal.
Outra solução encontrada pelos órgãos de inteligência dos EUA são os Wikis,
conceito perpetrado pela conhecida enciclopédia colaborativa chamada Wikipedia,
sobre a qual, qualquer pessoa pode apor sua contribuição sobre determinado
assunto. A tecnologia permite que o conceito Wiki torne-se uma poderosa
ferramenta de agregação e fusão de informações oriundas de várias fontes, através
da geração de um repositório único, chamado knowledge base, ou base de
conhecimento, que na verdade se torna um poderoso sistema de data mining
policial.
2.3.4. Estatística Aplicada
A estatística é uma ferramenta essencial para o analista criminal, pois através de
amostragem de uma série de dados e as análises feitas sobre a mesma, é permitido
ao analista compreender o comportamento da criminalidade, do criminoso ou grupo
criminoso organizado, em determinado tempo e localidade. É possível ainda aferir o
6 www.bairsoftware.com
-
34
modus operandi, os padrões das vitimas e outros fatores que levem a polícia à
elucidação de uma série de crimes, ou ainda à prevenção através de estratégias e
ações de relevância social, e mais, à mobilização tática das forças policiais para uma
efetiva repressão.
2.3.4.1 – Classificação da estatística
De acordo com Stevenson (1981), a estatística geral é classificada em: (i) estatística
descritiva, (ii) teoria da probabilidade e, (iii) amostragem (inferência). Estes três
ramos da estatística se utilizam do método científico dividido em cinco etapas:
Definição cuidadosa e acurada do problema;
Plano para coleta dos dados adequados;
Coligir os dados
Analisar e interpretar os dados;
Relatar as conclusões de modo a ser compreendidas de forma clara para
auxiliar na tomada de decisões.
A estatística descritiva utiliza números para descrever fatos e compreende a
organização, o resumo e, em geral, a simplificação de informações que podem ser
muito complexas. A teoria das probabilidades é utilizada para se tratar de situações
que envolvam o acaso, e o terceiro ramo, a inferência diz respeito à análise e
interpretação de dados amostrais, sendo a idéia básica da amostragem a realização
de determinada mensuração sobre uma parcela pequena, mas típica, de
-
35
determinada população e utilizar essa informação para fazer inferência sobre a
população inteira.
-
36
2.4. Produtos da Análise Criminal
Os resultados finais das atividades de análise criminal são considerados os
“produtos” que justificam a existência desta disciplina dentro das instituições de
segurança pública nos EUA. Segundo OSBORNE & WERNICKE (2003), estes
“produtos” incluem boletins de análise criminal tática, relatórios administrativos e
mapas dos crimes, todos em uma grande variedade de formatos.
Os boletins de análise criminal tática são normalmente editados diariamente,
semanalmente, quinzenalmente ou mensalmente, e visam auxiliares os oficiais de
polícia e os investigadores na identificação de padrões existente em uma série de
crimes que está ocorrendo e, ainda, outras atividades criminais de relevância no
distrito ligado àquela agência policial.
OSBORNE & WERNICKE (2003) ainda explicitam que o uso da tecnologia da
informação disponível facilita a criação de boletins mais apresentáveis em questão
de estética e aparência, mas que os mesmos podem ser feitos até com uma
máquina de escrever, pois o importante é o conteúdo do boletim, o qual deve
atender às seguintes questões básicas:
2.4.1 – Características dos boletins
Com que freqüência o boletim deverá ser criado/disseminado?
Qual o público alvo desta publicação?
O que deverá constar do boletim?
-
37
o Informações sobre as pessoas envolvidas no crime
o Informações sobre propriedades envolvidas no crime
o Informações sobre prisões efetuadas
o Informações autorizadas
o Provas e escutas
o Informações criminais recorrentes
o Informações sobre pessoas procuradas
o Informação dobre furto de veículos
o Informação sobre série de crimes e tendências de crimes
o Relatório sobre atividades suspeitas
o Boletins de ocorrências criminais
Existe a possibilidade de o analista prover mais que um dos tópicos acima em
cada boletim?
Qual a origem da informação e quanto tempo ela existe?
Tendo em mente o número de boletins a serem editados e qual a freqüência
escolhida para esses boletins, a lista acima, com os tipos de informação, pode ser
combinada em um número de boletins que o analista escolhe para ser publicado.
2.4.2 – O que não colocar nos boletins
Quando o analista avalia uma informação para decidir se a coloca num boletim ou
não, deve verificar se a mesma faz sentido para o público alvo deste, caso contrário
deve ser omitida a informação por não ter valor inteligente para quem vai utilizar o
referido boletim. Deve-se evitar colocar o que segue nos boletins:
-
38
Cartoons;
Palavras mal escritas e erros gramaticais;
Brincadeiras implícitas e ironias;
Rumores
Insultos
Informações não confirmadas ou incertas
Opiniões pessoais
Os boletins de análise estratégica e administrativa devem ter sempre gráficos
descritivos que apontem as tendências de crimes e da criminalidade apontadas
dentro de uma linha de tempo e de um espaço geográfico sob análise, contendo
detalhes que faça a informação neles contidas sejam agregadoras e disseminadoras
de conhecimento, principalmente se o boletim for para o público externo, todos os
cuidados devem ser redobrados.
2.4.3 – Relatórios de mapeamento
Os relatórios de mapeamento do crime são especialmente importantes e têm uma
formatação muito própria, e representam uma tecnologia que está sendo adotada
com forte crescimento pelas instituições de segurança pública, visto o poder analítico
que permite o seu uso. Segundo Velasco & Boba (2000), os relatórios de
mapeamento do crime se dividem nos seguintes tipos:
-
39
2.4.3.1. Mapas de um único símbolo (Single Symbol Map)
Similar aos mapas de parede tradicionais com pinos, que historicamente têm sido
utilizados pelas agências de polícia para mapear a criminalidade, no qual um pino
individualmente representa o local da ocorrência de um crime ou ainda um
acidente de trânsito. Linhas representam ruas ou avenidas e os polígonos, partes
da cidade ou ainda a jurisdição daquela agência.
Abaixo vemos na Figura 1 um exemplo de mapa de símbolos únicos usando
tecnologia da computação, que veio facilitar o uso deste tipo de mapa pelo uso
de diferentes símbolos gráficos para diferentes ocorrências e pela possibilidade
de exclusão de um conjunto de símbolos em uma análise específica, deixando o
mapa mais limpo e fácil de realizar analises por tipo de ocorrência.
Figura 1 – Mapas de um símbolo
Fonte: Manual of Crime Analysis Map Production
-
40
2.4.3.2. Mapas de tamanhos graduais (Graduated Size Maps);
Nos mapas com tamanhos graduados, os dados são sumarizados em cada
símbolo (pontos ou linhas) fazendo com que estes tenham seu tamanho alterado
para refletir a freqüência destes dados em determinado local, assim um símbolo
maior representa uma maior incidência de um determinado crime no local onde o
símbolo foi aposto no mapa, como pode se notar na figura 2 abaixo:
Figura 2 – Mapa de tamanhos graduais
Fonte: Manual of Crime Analysis Map Production
No exemplo acima, a tecnologia de mapeamento eletrônico, permitiu ainda que
se obtivesse a imagem fotométrica do local onde se analisava a incidência de um
determinado crime, no caso, furto de veículos. Esta união de imagens e de
técnicas permite uma análise mais detalhada de pormenores locais que estariam
contribuindo, ambientalmente, para as ocorrências sob investigação, além de
-
41
permitir ao analista de mapeamento de crime, apresentar para a sua audiência,
um produto mais elaborado e que atenda às necessidades reais das
investigações.
2.4.3.3. Mapas de graduação de cores (Graduated Color Maps);
Em um mapa com graduação de cores os pontos, linhas e polígonos são
coloridos de acordo com fórmulas estatísticas pré-definidas ou manualmente,
programados pelo analista ou ainda, tendo um valor único definido. Existem
várias formas de classificação ou de agrupamento de informações quando se cria
um mapa graduado por cores, que devem ser utilizadas de acordo com o objetivo
que o analista pretende alcançar.
Figura 3 – Mapa gradual de cores
Fonte: Manual of Crime Analysis Map Production
-
42
2.4.3.4. Mapas combinados (Combination Maps);
Como o nome sugere, mapas combinados envolvem o uso de mais que um tipo
de mapa, como os de graduação de tamanho e os de graduação de cores, para
poder mostrar múltiplos tipos de dados em um mesmo mapa. O uso mais comum
deste tipo de mapa é para analise de mais de um tipo de dado ao mesmo tempo,
e permite que haja clareza nas informações que estão sendo oferecidas. Abaixo
observa-se um exemplo deste tipo de amostragem gráfica:
Figura 4 - Mapa combinado
Fonte: Manual of Crime Analysis Map Production
Para cada motivo de criação do mapa e para cada perfil de audiência que receberá
este documento, o analista escolherá qual o tipo de mapa mais adequado para
atingir o objetivo determinado que deverá ser inserido no boletim de análise criminal.
-
43
2.5. Perfil do Analista Criminal visto pelo mercado
2.5.1. Atitudes, habilidades e conhecimentos
Tem se observado atualmente, segundo FRITZ (2001), o aparecimento de novos
chefes de polícia e xerifes em todo o território norte-americano, com uma nova
mentalidade voltada para o policiamento comunitário, novos estilos de gestão e
conceitos sobre o papel da segurança pública na sociedade, os quais são
incorporados em seus cotidianos, na administração e nas operações. Esses novos
líderes gerenciam suas agências como se fossem empresas, baseando,
efetivamente, suas decisões em dados e em pesquisas aplicadas. Esta evolução no
policiamento, através das duas últimas décadas permitiu a preparação e a criação
de um staff voltado e dedicado à pesquisa, análise e planejamento.
Ainda, segundo FRITZ (2001), na medida em que as polícias vão evoluindo no
contexto profissional, elas têm confiado cada vez mais em padrões profissionais,
contratado com base em padrões de proficiência, e exigido mais conhecimentos
básicos diversos e, observado com atenção um conjunto pré-estabelecido de
habilidades nos policiais ou profissionais civis para o desempenho de atividades de
segurança pública, incluindo análise criminal.
A análise criminal envolve uma abordagem multidisciplinar sobre o crime e a
criminalidade, o que leva à igualdade de valor entre as habilidades analíticas inatas
do analista para o trabalho e o treinamento para formação profissional do mesmo.
Prosseguindo, fica explicitada a necessidade que o analista tem em conhecer uma
variedade de softwares aplicativos, conhecimento entre intermediário e avançado em
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estatística, mapeamento suportado por computador (cartografia eletrônica), fluência
verbal e habilidade para falar em público, criatividade na resolução de problemas,
raciocínio lógico, conhecimento em história, criminologia, sociologia, psicologia,
legislação e justiça criminal – fundamentos para um bom analista criminal. Como um
profissional normalmente não detém conhecimento profundo em tantas áreas do
saber humano, deve ser assistido por profissionais especialistas em uma ou mais
disciplinas, ou mesmo por um generalista. Como nem todas as agências possuem
condições de contar com especialistas em seus quadros para cada uma das
disciplinas envolvidas, o analista criminal tende a focar sua atenção e realizar um
melhor trabalho, na área em que domina e tem experiência. (Osborne & Wernicke,
2003).
Seguindo a linha de pensamento das autoras, a disseminação do conhecimento
obtido pelas análises, através de relatórios objetivos, se constitui no principal tributo
que recai sobre um analista criminal, o qual deve ser hábil em juntar e resumir
informações úteis em uma forma compreensível para o usuário e dentro de um
tempo aceitável.
2.5.2. SKA’s
Continuando, Osborne & Wernicke (2003) descrevem os SKA’s apontados como
indispensáveis para o profissional de análise criminal, sendo o que se observa
também nos anúncios de ofertas de posições para esta função nos EUA, nas mais
variadas instituições, sendo estes listados abaixo:
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Atitudes desejáveis de um analista criminal:
Curiosidade
Automotivação
Trabalhar individualmente
Autoconfiança
Objetividade
Diplomacia
Capacidade para assumir riscos
Determinação
Criatividade
Iniciativa
Admitir e corrigir erros
Vontade de aprender
Mente aberta
Habilidades que um analista deve possuir ou adquirir pelo estudo e
treinamento:
Habilidade para pesquisa
Habilidade para escrever
Habilidade para reconhecer padrões
Habilidade em análise estatística
Capacidade em gerenciar tempo
Pensamento crítico e conclusivo
Habilidade para falar e fazer apresentações em público
Capacidade de comunicação e inter-relacionamento pessoal
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Facilidade de trabalhar em grupo
Conhecimentos básicos normalmente exigidos (não todos simultaneamente):
Conhecimento em informática
Conhecimento em estatística básica
Planilhas eletrônicas
Processadores de texto
Banco e dados
Geo-referenciamento
Aplicativos específicos de gestão operacional
2.5.3. Os dez mandamentos do analista
Osborne & Wernicke (2003) citam o que chamaram de “Os dez mandamentos da
Análise Criminal”, o que de modo indireto demonstra o núcleo de visão
comportamental de um analista criminal7:
I. “Tua tarefa é análise criminal, não tenhas mais nenhuma outra”.
II. “Todo dia tu deverás ler o relatório de análise criminal do teu departamento”.
III. “Tu deverás acompanhar e controlar as tuas próprias informações”.
IV. “Honrai teus oficiais patrulheiros e os investigadores”.
V. “Não deverás apresentar somente estatísticas (ou mapas)”.
VI. “Tu deverás conhecer a tua jurisdição inteiramente”.
VII. “Tu não poderás parar tua análise criminal na margem de tua jurisdição”.
7 Tradução livre
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VIII. “Quem, O que, Quando, Onde, Como e Por que, são teus filhos. Não
favoreças um mais que os outros”.
IX. “Lembre sempre de tua comunidade e a tenha como sagrada”.
X. “Não ambicione a rede neural de teu vizinho”.
2.5.4. A carreira do analista criminal
Segundo BOBA (2005), existe uma discordância ainda sobre qual seria o analista
criminal ideal: o policial que assume a função ou o que possua formação acadêmica
para tal função, mesmo sem a experiência de um policial (sworn personnel). Assim o
debate sobre qual a educação (formação) e a experiência necessárias ao bom
desempenho da função permanece. Aparentemente parece estar claro que a melhor
situação é aquela em que o analista é um policial com formação acadêmica
específica sobre o assunto. Coloca ainda que o analista criminal ideal deva possuir
conhecimentos específicos sobre operações policiais, capacidade de pesquisa e
conhecimentos tecnológicos. A tendência atual, nas agências de policia nos EUA,
contudo, é a contratação de analistas criminais civis, dadas características de
carreira do policial que influencia na carreira de analista criminal, uma vez que
aquela se sobrepõe a esta.
As diversas polícias norte-americanas possuem diferentes posições e níveis de
analistas criminais, sendo que algumas delas possuem apenas um funcionário
encarregado da função de análise criminal, enquanto outras possuem uma equipe
agrupada em uma unidade, normalmente conhecida como CAU – Crime Analysis
Unit.
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2.5.4 – Níveis funcionais
BOBA (2005) ainda traça distinção entre os diversos níveis funcionais dos analistas
criminais nas instituições policiais, descrevendo uma trajetória de carreira, dentro do
cenário norte-americano:
Interns/Volunteers
Crime Analysis Assistant/Technician
Entry-Level Crime Analyst
Experienced Crime Analyst
Specialty Crime Analyst
Crime analysis Supervisor
Constata Boba (2005) que existe uma diferenciação entre o analista criminal, cujas
funções estão afetas ao que foi tratado até aqui neste documento, ou seja, realiza a
análise criminal estratégica, tática e administrativa, de forma geral, utilizando-se de
base de dados relacionais e tabulares, funções estatísticas e gráficas, e o analista
de GIS ou Crime Mapping Analyst, que atua diretamente no mapeamento do crime
para a análise espacial da criminalidade. Nos EUA, este segundo profissional
percebe um salário maior que o primeiro, tendo em vista a sua especialização e
habilidades diferenciadas que são exigidas, além de que as instituições de
segurança pública o disputam com empresas privadas, por se tratar de profissionais
altamente qualificados e haver pouca disponibilidade no mercado.
Comparando-se o analista de GIS com o analista criminal clássico, observa-se que
existe oferta de vagas significantemente menor para aquele, tendo-se em vista os
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seguintes pontos: (i) As agências menores possuem apenas uma posição para o
analista criminal, e normalmente não é ocupada por um especialista; (ii) a falta de
percepção, nas instituições, de que ocupar uma vaga com uma pessoa que operará
apenas em análise espacial do crime seja vantajoso e traga resultados que
justifiquem esta especialização; (iii) o número de candidatos potenciais a ocuparem
uma vaga dessas, isso é, profissionais que possuam conhecimentos em GIS e
justiça criminal, é muito pequeno no mercado norte-americano.
Estes aspectos são agravados pelo fato de que os profissionais com conhecimento
em geo-referenciamento concorrem a vagas em instituições que não são de
segurança pública, uma vez que os salários são mais compensadores e a
possibilidade de carreira mais nítida, além do que estão fora dos modelos de gestão
de pessoal, operacional e de investimentos, inerentes às organizações públicas de
segurança.
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2.6. Ofertas e demandas
Avaliando uma série de ofertas de vagas para analistas criminais, foi possível traçar
determinados padrões de formação, capacidades e habilidades que se sobressaem
para um número representativo de agências e departamentos policias. Ficou
evidente ainda que, existem empresas privadas que estão buscando estes
profissionais para desempenharem funções de valor agregado, de alta
competitividade, dentro do mercado extremamente acirrado, pelas disputas para
prover soluções de segurança, em que estas corporações estão inseridas,
especialmente os mercados financeiro, farmacêutico e de seguros.
As informações coletadas pela pesquisa estão representadas nos quadros de I a V
reproduzidos nas próximas páginas deste documento, sendo que o Quadro I lista
todas as instituições consultadas, o site pesquisado e a data da pesquisa, é
basicamente um quadro de identificação das fontes de informações. Os demais
quadros não possuem o nome da instituição, porém o número do item nestes
referenciam o número da instituição aposto no Quadro I.
De cada quadro foi plotado um gráfico para que visualmente fossem possível
observar e se analisar as informações neles contidas. Estas amostragens foram
baseadas em informações de relevância para o estudo aqui apresentado,
procurando explicitar características que permeiam a atividade de análise criminal
nos EUA e os seus operadores.
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Quadro 1 - Quadro de identificação das instituições pesquisadas
Instituição Fonte Data Cargo
1 Overland Park Police Department
IACA 15/05/07 Crime Analyst
2 Birmingham (AL) Police Department
IACA 21/09/06 Crime Analyst
3 City of Glendale, CA http://www.ci.glendale.ca.us/job.asp?liquid=true&JobID=1210 16/01/07 Crime Analyst
4 Los Angeles, CA https://personline.lacity.org/job_app/ 08/12/06 Crime and Intelligence Analyst
5 New Jersey Transit IACA 15/01/07 Crime Analyst
6 Opa-Locka (FL) Police Department
IACA 31/10/06 Police Crime Analysis Specialist I
7 County of San Bernardino, CA
http://www.jobaps.com/sbr/sup/B07-03121-01.asp?RecruitNum1=07&RecruitNum2=03121&RecruitNum3=01#The%20Job#The%20Job
05/03/07 Crime Analyst
8 Town of Gilbert, AZ http://www.aacaonline.org/job_descriptions.html#Crime%20Analyst:%20Town%20of%20Gilbert
12/02/07 Crime Analyst
9 City of Tempe, AZ http://www.aacaonline.org/job_descriptions.html#Crime%20Analyst:%20City%20of%20Tempe
12/02/07 Crime Analyst I
10 City of Tempe, AZ http://www.aacaonline.org/job_descriptions.html#Crime%20Analyst:%20City%20of%20Tempe
12/02/07 Crime Analyst II
11 City of Mesa, AZ http://www.aacaonline.org/job_descriptions.html#Crime%20Analyst:%20City%20of%20Mesa
12/02/07 Crime Analyst
12 City of Phoenix, AZ http://www.aacaonline.org/job_descriptions.html#Police%20Statistical%20Research%20Aide:%20City%20of%20Phoenix
12/02/07 Police Statistical Research Aide
13 City of Phoenix, AZ http://www.aacaonline.org/job_descriptions.html#Criminal%20Intelligence%20Analyst:%20City%20of%20Phoenix
12/02/07 Criminal Intelligence Analyst
14 City of Scottsdale, AZ http://www.aacaonline.org/job_descriptions.html#Police%20Analyst:%20City%20of%20Scottsdale
12/02/07 Police Analyst
http://www.ci.glendale.ca.us/job.asp?liquid=true&JobID=1210https://personline.lacity.org/job_app/http://www.jobaps.com/sbr/sup/B07-03121-01.asp?RecruitNum1=07&RecruitNum2=03121&RecruitNum3=01#The%20Job#The%20Jobhttp://www.jobaps.com/sbr/sup/B07-03121-01.asp?RecruitNum1=07&RecruitNum2=03121&RecruitNum3=01#The%20Job#The%20Jobhttp://www.jobaps.com/sbr/sup/B07-03121-01.asp?RecruitNum1=07&RecruitNum2=03121&RecruitNum3=01#The%20Job#The%20Jobhttp://www.aacaonline.org/job_descripti