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1 ANÁLISE COMPARATIVA DO PERFIL PSICOLÓGICO DOS PROFISSIONAIS COM ATIVIDADES QUE EXIGEM CRIATIVIDADE E DOS PROFISSIONAIS QUE ATUAM EM ATIVIDADES CONSIDERADAS NÃO CRIATIVAS COMPARATIVE ANALYSIS OF THE PSYCHOLOGICAL PROFILE OF PROFESSIONALS WITH ACTIVITIES THAT REQUIRE CREATIVITY AND PROFESSIONALS WHO ACT IN ACTIVITIES CONSIDERED NOT CREATIVE Anielly Goulart Gomes Costa 1 Dusan Schreiber 2 RESUMO A presente pesquisa tem como objetivo comparar o perfil psicológico, abordando fatores cognitivos e comportamentais dos profissionais que atuam na área criativa, em diferentes empresas situadas na região do Vale dos Sinos, no Rio Grande do Sul, Brasil. Para a sua realização foram utilizados os seguintes instrumentos de avaliação psicológica: Teste Palográfico para avaliar os fatores comportamentais através da compreensão da personalidade; Teste D2 para avaliar a capacidade de atenção concentrada, oscilação da atenção, velocidade e precisão em trabalhos que exigem atenção; Teste Não-Verbal de Inteligência Beta – III, para avaliar a inteligência através do raciocínio lógico e da velocidade de processamento de informações. Este estudo foi de abordagem qualitativa, descritivo e aplicado. Para a coleta de dados foram utilizados os instrumentos de avaliação psicológica, supracitados e entrevista estruturada, realizada com 10 profissionais, sendo cinco da área criativa e 5 de outras áreas. Através dos dados coletados verificou-se que existem algumas controvérsias entre as características dos profissionais ccriativos citadas na literatura e as apresentadas pelos profissionais avaliados no que diz respeito aos atributos comportamentais, enquanto nos atributos cognitivos os resultados enontrados estão de acordo com os apresentados na literatura. Palavras-chave: Criatividade, Perfil Psicológico, Avaliação Psicológica, Profissionais Criativos. 1 Graduada em Psicologia – Universidade Católica de Pelotas e pós-graduanda em Comportamento Organizacional e Liderança Universidade Feevale ( Novo Hamburgo/Brasil). E-mail: [email protected]. 2 Doutor em Administração – UFGRS (Porto Alegre/Brasil). Professor na Universidade Feevale (Novo Hamburgo/Brasil). E-mail: [email protected].

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ANÁLISE COMPARATIVA DO PERFIL PSICOLÓGICO DOS PROFISSIONAIS

COM ATIVIDADES QUE EXIGEM CRIATIVIDADE E DOS PROFISSIONAIS QUE

ATUAM EM ATIVIDADES CONSIDERADAS NÃO CRIATIVAS

COMPARATIVE ANALYSIS OF THE PSYCHOLOGICAL PROFILE OF PROFESSIONALS

WITH ACTIVITIES THAT REQUIRE CREATIVITY AND PROFESSIONALS WHO ACT IN

ACTIVITIES CONSIDERED NOT CREATIVE

Anielly Goulart Gomes Costa 1

Dusan Schreiber2

RESUMO

A presente pesquisa tem como objetivo comparar o perfil psicológico, abordando fatorescognitivos e comportamentais dos profissionais que atuam na área criativa, em diferentesempresas situadas na região do Vale dos Sinos, no Rio Grande do Sul, Brasil. Para a suarealização foram utilizados os seguintes instrumentos de avaliação psicológica: TestePalográfico para avaliar os fatores comportamentais através da compreensão dapersonalidade; Teste D2 para avaliar a capacidade de atenção concentrada, oscilação daatenção, velocidade e precisão em trabalhos que exigem atenção; Teste Não-Verbal deInteligência Beta – III, para avaliar a inteligência através do raciocínio lógico e da velocidadede processamento de informações. Este estudo foi de abordagem qualitativa, descritivo eaplicado. Para a coleta de dados foram utilizados os instrumentos de avaliação psicológica,supracitados e entrevista estruturada, realizada com 10 profissionais, sendo cinco da áreacriativa e 5 de outras áreas. Através dos dados coletados verificou-se que existem algumascontrovérsias entre as características dos profissionais ccriativos citadas na literatura e asapresentadas pelos profissionais avaliados no que diz respeito aos atributos comportamentais,enquanto nos atributos cognitivos os resultados enontrados estão de acordo com osapresentados na literatura.

Palavras-chave: Criatividade, Perfil Psicológico, Avaliação Psicológica, ProfissionaisCriativos.

1

Graduada em Psicologia – Universidade Católica de Pelotas e pós-graduanda em ComportamentoOrganizacional e Liderança – Universidade Feevale (Novo Hamburgo/Brasil). E-mail:[email protected]

Doutor em Administração – UFGRS (Porto Alegre/Brasil). Professor na Universidade Feevale (NovoHamburgo/Brasil). E-mail: [email protected].

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ABSTRACT

This research aims to evaluate the psychological profile, addressing cognitive and behavioral

factors of professionals working in the creative area, in different companies located in the

Sinos Valley region, in Rio Grande do Sul, Brazil. The following psychological evaluation

instruments were used: Palographic Test to evaluate the behavioral factors through the

understanding of the personality; D2 test to assess the ability of concentrated attention,

attention oscillation, speed and accuracy in work requiring attention; Non-Verbal Beta-III

Intelligence Test to assess intelligence through logical reasoning and information processing

speed. This study was qualitative, descriptive and applied. For the collection of data, the

psychological evaluation instruments mentioned above were used and structured interviews

were carried out with 10 professionals, five of them from the creative area and 5 from other

areas. Through the collected data it was verified that there are some controversies between the

characteristics of the professionals mentioned in the literature and those presented by the

professionals evaluated with respect to the behavioral attributes, whereas in the cognitive

attributes the results are in agreement with those presented in the literature.

Keywords: Creativity, Psychological Profile, Psychological Evaluation, Creative

Professionals.

1 INTRODUÇÃO

Se pensarmos em uma linha do tempo do trabalho, encontraremos inicialmente o

homem trabalhando com a força física e sendo valorizado por isso. Ao longo dos anos, com o

desenvolvimento sociedade, da economia e das tecnologias, o trabalho braçal começa a ser

substituído pelo trabalho intelectual e por sua vez, este passa a ser mais valorizado. Com essa

mudança, a criatividade que antes era considerada um dom de poucos, concedida por Deus

passa a ser vista como um diferencial profissional muito cobiçado, devido a sua grande

contribuição nos processos de inovação (SOUZA, 2001),

Com esta grande aspiração do mercado por profissionais criativos, as universidades

passaram a incluir em seus currículos disciplinas que estudam a criatividade, os processos

criativos e as técnicas para desenvolver mentes criativas em seus alunos. Desta forma,

passando a suprir a demanda de profissionais criativos do mercado e formando estudantes

com padrões cognitivos estimulados por produção constante de novas ideias e inquietos pela

necessidade de criar (ZILLI, et al.,2010).

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O assunto criatividade tem estado em pauta em diversos estudos nos últimos anos e, as

organizações tem buscado desenvolver ações criativas em todos os contextos possíveis.

Entretanto, foi percebido que ainda existem poucas pesquisas a respeito do profissional

criativo e suas de suas características particulares.

Valendo-se desta falta, surge a necessidade de compreender com mais profundidade

quem é e, como é o profissional que atua na área criativa. Para embasar esta pesquisa, foi feito

uso de uma revisão de literatura centrada na psicologia da criatividade e seus desdobramentos,

chegando à avaliação psicológica como base para a realização deste estudo, pois esta é capaz

de proporcionar respostas adequadas aos questionamentos aqui presentes.

Esta pesquisa teve como objetivo avaliar o perfil cognitivo e comportamental de

profissionais que atuam em áreas que exigem criatividade. Para isto, foi realizada uma

pesquisa descritiva e aplicada, utilizando-se de amostra por conveniência, formada por

sujeitos que estudam na Universidade Feevale e atuam profissionalmente na área da

criatividade.

2 REVISÃO TEÓRICA

Para a elaboração deste estudo foram realizadas buscas de embasamento teórico sobre

os temas criatividade, perfil profissional, perfil psicológico, avaliação psicológica e

instrumentos de avaliação psicológica.

O embasamento deste estudo advém da revisão da literatura nacional e internacional,

abrangendo as seguintes áreas: psicologia, recursos humanos, engenharia e administração.

2.1 CRIATIVIDADE

Ao longo das ultimas décadas, a criatividade vem sendo alvo de inúmeros estudos

científicos, das diferentes áreas do conhecimento, utilizando-se de diversos instrumentos de

avaliação. Também existem incontáveis modelos teóricos desenvolvidos e em

desenvolvimento acerca do tema, o que torna o conceito de criatividade bastante vasto,

abrangendo um grande número de definições. (MEUSBURGER, 2009)

As primeiras definições sobre criatividade, vieram a partir das Teorias Filosóficas da

Criatividade, quando encontramos Platão defendendo a ideia de que a criatividade é uma

manifestação divina através de alguns poucos escolhidos para manifestar pensamentos do

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próprio Deus. Pressuposto este, que permaneceu sendo defendido por cientistas do século XX

quando afirmam que o poder criativo reside em um préconsciente espiritual e não no

inconsciente freudiano. (SOUZA, 2001)

Considerada um potencial inerente ao ser humano, trata-se do poder de formar algo

novo através dos processos internos do sujeito, da forma de ver o mundo e da capacidade de

recriar o externo, perpassando questões culturais e individuais. O criar, não está desvinculado

do viver, já que o ato da vida já é por si só criação e, a criatividade não pode ser pensada

como dom de poucos artistas que promovem espetáculos, pintam, esculpem, compõem,

dramatizam… mas sim uma potencialidade contida em cada indivíduo, esperando o estímulo

adequado para ser realizada. (OSTROWER, 1977)

Semelhantemente, Cave (1999) diz que a criatividade se traduz nos talentos humanos

expressados na realidade exterior de forma útil e inovadora, recombinando as formas como os

objetos se inter-relacionam.

Considerando a definição de Torrance (1965) de que a criatividade é a habilidade de

tornar-se sensível a problemas, identificando dificuldades e buscando soluções, encontramos

uma sólida conexão com o pressuposto de Gardner (1982) de que a criatividade é a

capacidade de resolver problemas e criar produtos – quer sejam materiais ou intelectuais –

valorizados pelos demais. Também Souza (2001) entende a criatividade como uma ferramenta

para resolução de problemas complexos, afirmando ser ela totalmente humana, sendo

impossível que uma máquina possa ser criativa.

Assim sendo, pode ser considerada uma habilidade cognitiva que detém o potencial de

produzir algo novo, através do pensamento divergente, propondo funções incomuns ao que já

existe, ou incrementando o que é usual para gerar algo diferente. Sabe-se que a criatividade

abrange aspectos pessoais, tais como personalidade, competências e estados emocionais; e

também envolve o contexto social, e as características da tarefa a ser desempenhada.

(TIEPPO, REIS; PICCHIAI, 2016)

Keneller (1978) define as quatro dimensões da criatividade. O primeiro é o pessoal,

que evolve a fisiologia e o temperamento, alcançando os hábitos pessoais, os valores e as

atitudes do indivíduo. A segunda dimensão são os processos mentais que o ato de criar

mobiliza, a saber, a motivação, a percepção, o aprendizado, o pensamento e a comunicação. A

terceira, abrange questões da cultura e do ambiente. E a quarta dimensão, refere-se aos

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produtos da criatividade, que anteriormente caracterizavam-se pelas obras de arte em geral e

hoje estão ligados também à inteligência, que leva a resolução de problemas e à inovação, que

gera produção de conteúdos relevantes nas mais diferentes áreas.

A quarta dimensão da criatividade, tem sido imensamente desejada pelas organizações

contemporâneas, já que pode ser geradora de lucros e viabilizadora de soluções para os mais

diversos tipos de problemas. Além da criatividade ser considerada um fator fundamental para

o desenvolvimento social, também é vista como propulsora da inovação organizacional, que

leva ao crescimento econômico (GARCÊS, et al. 2013). De acordo com um artigo da Pesquisa

Brasileira em Psicologia do Trabalho e Organizacional, o estudo da criatividade nas

organizações é um dos temas mais investigados no Brasil (BORGES-ANDRADE, 2010). A

criatividade vem alcançando espaço nas organizações no âmbito tecnológico, na área de

gestão e liderança e como fator de escolha profissional (GARCÊS, et al. 2013).

Esta habilidade humana de adaptar-se e criar novas realidades a partir de seu contexto

inicial tem sido responsável por avanços sociais, econômicos e tecnológicos sem fim. Os

profissionais pertencentes a todas as áreas de atuação, que contribuem com a criação de algo

novo dentro de seu domínio de conhecimento, fugindo do convencional e propondo ideias

inovadoras ou surpreendentes são chamados por Flórida (2011) de “classe criativa”. Desta

forma, sugerindo que os profissionais criativos podem ser considerados um grupo a parte,

com suas peculiaridades e um perfil próprio.

Este grupo necessita de um ambiente propício para expressar suas habilidades, ou

seja , é possível destacar alguns dos aspectos fundamentais para o desenvolvimento da

criatividade no ambiente organizacional. Além da estimulação cognitiva do individuo e da

própria subjetividade, a configuração do ambiente organizacional, as condições do grupo em

que está inserido são fatores fundamentais para que os mecanismos cerebrais saiam do estado

de repouso e inicie a intensificação das conexões funcionais (TIEPPO, REIS; PICCHIAI,

2016). As organizações que proporcionam um ambiente de trabalho flexível, que valorizam

novas ideias ao invés de punir fracassos e se comprometem com o desenvolvimento de seus

colaboradores através de desafios para os quais os mesmos estão devidamente preparados,

gera um espaço favorável à manifestação da criatividade.

Flórida (2011) assume que cenário corporativo atual está mais aberto aos profissionais

criativos. Profissionais estes que apresentam características de personalidade diferentes do

modelo mecanicista de antigamente, já que na atualidade as organizações buscam aqueles que

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ousam romper as barreiras do comum, tanto em sua forma de trabalhar como também em seus

relacionamentos e na relação com os colegas de trabalho.

Estudos teóricos apontam que profissionais que trabalham com a criatividade também

são os que revelam maior vulnerabilidade na saúde mental, apresentando maior nível de

estresse, ansiedade e depressão (GARCÊS, 2013). Contudo, estudos empíricos recentes

apontam que a criatividade é um dos fatores que protegem o psiquismo dos indivíduos, pois

com esta habilidade, o individuo é capaz de encontrar novas respostas para situações

problema, bem como, usa esta sua habilidade para resolver conflitos internos de forma mais

adaptativa. (WECHSLER, 2008)

Questões relacionadas a saúde mental não são os únicos desafios dos criativos. Outra

dificuldade que surge é o deficit de atenção, ou em melhores palavras atenção instável.

Segundo Silva (2014) a criatividade se relaciona profundamente com as irregularidades no

âmbito da atenção. Este funcionamento mental inquieto e acelerado, é capaz de produzir

ideias brilhantes, contudo em muitos momentos se mostram de maneira desorganizada, pela

dificuldade de encontrar direcionamento, que sucede pela falta de autoconhecimento.

2.2 AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA

A avaliação psicológica é um procedimento exclusivo dos profissionais da área da

Psicologia, que tem como objetivo coletar dados específicos a cerca de determinado

individuo. O processo de avaliação é realizado através de instrumentos padronizados e

específicos para cada fim avaliativo. (NORONHA, et al.,2003).

Segundo o Conselho Federal de Psicologia (2003), um instrumento de avaliação

psicológica pode ser considerado adequado para o processo avaliativo quando apresenta

especificação do constructo avaliado, a fundamentação teórica, evidências empíricas de

validade e fidedignidade e, por fim, um sistema de correção e interpretação.

Desta forma, através das técnicas de avaliação psicológica a Psicologia vem dando

suporte à demais áreas do conhecimento no âmbito de análises de características da

personalidade, capacidades e dificuldades do ser humano. Contribuindo com a mensuração de

aspectos emocionais, intelectuais, interpessoais, intrapessoais e comportamentais

(ANASTASI; URBINA, 2000).

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No âmbito da criatividade, existem algumas escalas que avaliam o potencial criativo

dos sujeitos, mas poucas catalogadas, já que é comum serem criadas escalas específicas para

avaliações de determinadas características. Entretanto, são encontradas certas dificuldade para

criar um instrumento de media da criatividade verdadeiramente confiável. Esta dificuldade se

dá principalmente pela ausência de uma definição absoluta do termo criatividade. (JESUS, et

al., 2012)

Contudo, é possível destacar algumas contribuições para fortalecer o acervo de

instrumentos de avaliação psicológica na área da criatividade: Corbalán e colaboradores

(2003) com o Teste de Inteligência Criativa, que aborda a avaliação da criatividade como

produto. Alencar e Fleith (2004) contribuem com a promoção da criatividade através da

criação do Inventário de Práticas Docentes que Influenciam na Criatividade. Também

Wechsler (2006) que desenvolver a Escala Estilos de Pensar e Criar, viabilizando categorizar

as formas de expressão da criatividade com as seguintes distinções: cautloso reflexivo,

inconformista transformador, lógico objetivo, emocional intuitivo e relacional divergente.

Estes e outros instrumentos objetivam avaliar a criatividade expressa, mas ainda não há um

instrumento específico para avaliação da personalidade criativa. (JESUS, et al., 2012)

Os instrumentos de avaliação psicológica subdividem-se em dois tipos: os projetivos,

que revelam características da personalidade através da expressão subjetiva e, os testes

psicométricos que apresentam valores mensuráveis sobre os aspectos avaliados (NORONHA;

VENDRAMINI, 2003).

Os testes psicométricos, definidos como testes objetivos são utilizados para medir

aptidões e determinar escores que podem ser comparados com outros, servindo como medida

padrão para determinar a classificação do avaliado. Enquanto os testes projetivos, definidos

como testes impressionistas, apontam aspectos da personalidade como a presença de

transtornos psicológicos, conflitos internos, tendências comportamentais, interesses e

motivação (FRANÇA, 2012).

A psicometria nasceu a partir da necessidade de avaliar objetivamente as aptidões

humanas, fazendo usos dos processos mentais e comportamentais. Iniciando no final do

século XIX e se desenvolvendo até os dias atuais, é formada principalmente por escalas e

questionários se encarregam de medir atributos como inteligência, memória, imaginação,

compreenção, julgamento, raciocínio, atenção, entre outros. Após a Segunda Guerra Mundial,

que contribuiu para difundir o uso dos testes psicológicos por utilizá-los como critério

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avaliação na seleção de soldados, a psicometria desenvolveu-se ainda mais, abrindo espaço

para os testes de personalidade, inventários e testes projetivos (PASQUALI, 2017).

Testes projetivos, apesar de utilizarem escalas e números em alguns momentos, são

baseados na linguagem e na interpretação qualitativa, caracterizando os indivíduos com base

em seus atributos. Realizados a partir de tarefas não estruturadas e com interpretação e

codificação baseada na subjetividade no aplicador.. Valorizando o simbólico, engloba fatores

sócio-culturais e variáveis internas, como principal objetivo de compreender o sujeito. As

técnicas projetivas de avaliação psicológica exigem do avaliado que expresse sua criatividade

dentro das delimitações solicitadas, possibilitando assim, uma compreenção psicodinâmica

da personalidade. (FORMIGA; MELLO, 2000)

Entre os testes projetivos, pode-se citar o Palográfico, criado pelo Prof. Salvador

Escala Milá, do Instituto Psicotécnico de Barcelona, que se mostra muito eficaz na avaliação

da personalidade. Por se tratar de um teste expressivo da personalidade, é baseado no estilo de

resposta, pois diante de um mesmo estímulo, cada sujeito observa e interpreta a tarefa de

forma individual, revelando suas características internas, e sua forma de se relacionar com o

mundo externo. (SENDEN, et al., 2013)

O objetivo do teste é que o avaliando risque no papel traços iguais ao modelo

impresso, do mesmo tamanho e com a mesma distancia entre os traços. Estes traços, aqui

denominados palos, apresentam tamanho de 7mm de altura e distância de 2mm entre si. Como

o teste de refere à expressões subjetivas, a avaliação acontece através do conteúdo produzido

na folha, que representa a maneira como o sujeito se relaciona com o ambiente onde está

inserido e também expressa conteúdos de seu mundo interno. Através deste teste podem ser

avaliadas as variáveis de produtividade, ritmo e qualidade de trabalho, energia, temperamento,

impulsividade, relacionamento interpessoal, autoestima, organização, motivação intrínseca,

flexibilidade, sensibilidade, relação com figuras de autoridade, interesses, capacidade de

enfrentamento, senso de humor, extroversão/introversão, visão a respeito de si mesmo, entre

outras características da personalidade. (ALVES; ESTEVES, 2004)

Entre os testes psicométricos, temos como uma excelente referência o Teste de

Atenção Concentrada D2, criado pelo Professor Rolf Brickenkamp, indicado para sujeitos de

9 a 52 anos de idade, que tem como objetivo avaliar a atenção concentrada, o nível de

oscilação da atenção, a velocidade em trabalhos que exigem atenção e a precisão do sujeito

nessas tarefas (BRICKENKAMP, 2000).

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O teste de atenção concentrada D2 é apresentado em 14 linhas contendo diversos

símbolos, onde devem ser assinalados aqueles que forem iguais ao exemplo indicado.

Segundo Brickenkamp (2000) a atenção concentrada pode ser avaliada por meio do percentil

obtido com o resultado líquido do teste, que é a soma de todos os códigos apontados pelo

avaliando. O nível de oscilação é avaliado a partir da diferença entre o maior e o menos

número de símbolos encontrados em cada linha.

De acordo com Davidoff (2001) a atenção é um processo psicológico básico, que

funciona como uma janela que se abre para conteúdos selecionados de forma consciente ou

inconsciente, para estímulos sensoriais que podem estar no centro da atenção, desencadeando

intensa atividade cerebral ou na atenção periférica, formando um segundo plano.

Tendo em vista que a forma mais adequada de avaliar a atenção é através de estímulos

visuais, pois a atenção sensorial e espacial podem selecionar com maior precisão o foco da

atenção, excluindo estímulos desnecessários (GONÇALVES; MELO, 2009). O teste D2

mostra-se eficaz para este fim.

Os testes que avaliam habilidades cognitivas objetivam mensurar a inteligência, nas

formas em que esta se apresenta. Embora seja um tema muito estudado, ainda existem

divergências nas definições de avaliação da inteligência, já que tanto os estudos realizados,

como o conceito inteligência sofre influência dos valores sociais e culturais da época e da

localização geográfica. (KELLOG;MORTON, 2011).

Conforme Kellog e Morton (2011) a avaliação da inteligência passou por diversos

momentos, bem como as teorias sobre a inteligência. Sendo inicialmente considerada como a

habilidade de adaptar-se, julgar, compreender e raciocinar bem, passando pelas teorias que a

transformaram de um fator unidimencional a um fator multidimencional e, chegando ao

modelo mais atual proposto de que a inteligência subdivide-se em três estratos:

Estrato I – contendo mais de 70 fatores e capacidades específicos que podem ser

medidos pelos testes de inteligência;

Estrato II – que aborda a existência de 10 fatores principais (inteligência fluída,

inteligência cristalizada, conhecimento quantitativo, leitura e escrita, memória de curto prazo

imediata, processamento visual, processamento auditivo, capacidade de armazenamento e

recuperação de memória de longo prazo, velocidade cognitiva geral, velocidade de

processamento ou rapidez de decisão).

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Estrato III – modelo de funcionamento intelectual geral, que associa todas as

capacidades presentes nos três estratos.

Kellog e Morton (2011) afirmam que os instrumentos voltados à avaliação da

inteligência se relacionam diretamente à habilidades específicas de algumas manifestações da

inteligência, como por exemplo a capacidade de resolver problemas, capacidade de aprender,

dedução e indução, generalização, velocidade de processamento de informações, entre outros.

Com o objetivo de avaliar a habilidade de resolver novos problemas e medir a

velocidade processamento de informações foi criado o Teste Não-Verbal de Inteligência Geral

Beta III, que contém dois subtestes: raciocínio matricial e códigos. O teste raciocínio

matricial envolve a capacidade de resolver problemas, relacionar ideias, induzir conceitos

abstratos e compreender implicações. Capacidades estas que implicam na criação de

estratégias a partir de informações disponíveis. Assim sendo, o subteste raciocinio matricial

visa avaliar o raciocinio abstrato através de padrões contínuos e discretos, classificação,

raciocínio analógico e raciocínio em série. O subteste códigos abrange as atividades

visomotoras, a organização espacial e visual, a rapidez de resposta e a capacidade de manter a

tenção em atividades automatizadas. (KELLOG;MORTON, 2011)

2.3 PERFIL PSICOLÓGICO

A definição do perfil psicológico é uma tarefa complexa e inclui inúmeras variáveis.

Estas variáveis podem ser especificadas de acordo com as características que serão avaliadas

ou definidas por esta avaliação. O perfil psicológico pode englobar modelos comportamentais,

relacionados a personalidade, temperamento e respostas do indivíduo aos fatores externos a

partir de suas estruturas internas, configuradas por sua identidade, história regressa e história

atual, relações interpessoais, habilidades e interesses. Bem como envolve modelos cognitivos,

que estão relacionados à características mentais, como processos psicológicos básicos, a saber

atenção, sensopercepção, memória, linguagem, pensamento, motivação. E ainda fatores

relacionados à inteligência, tais como, raciocínio lógico, capacidade de resolver problemas,

compreensão, julgamento, rapidez de decisão, associação, aptidão numérica, aptidão verbal,

conhecimento geral, habilidade psicomotora, entre outros tantos. Para que o perfil psicológico

seja traçado, é necessário que seja realizado uma série de testes que avaliem esses padrões

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comportamentais, habilidades cognitivas e modelos de personalidade. Os instrumentos

escolhidos para realizar o levantamento do perfil psicológico devem ser definidos de acordo

com o foco da investigação, dando preferência para aqueles que contemplem as habilidades a

serem avaliadas (MAHL; RAPOSO, 2007).

Existem inúmeros estudos na área da psicologia do esporte que avaliam o perfil

psicológico, com foco em atletas, em sua maioria jogadores de futebol, através de um

instrumento padronizado chamado Perfil Psicológico de Prestação (PPP), mensurando fatores

como autoconfiança, negativismo, atenção, visualização mental, motivação, pensamentos

positivos, atitude competitiva. (MELO; GIOVANI, 2010). Ainda existem outros estudos

avaliando o perfil psicológico de atletas paraolímpicos, ginastas, nadadores, .

Na área da saúde podem ser encontrados outros tantos estudos apontam o perfil

psicológico de pessoas com determinadas patologias ou transtornos psicológicos, tais como

bulimia, anorexia e diabetes. Estudos a respeito do perfil psicológico de profissionais também

são encontrados, predominantemente, daqueles que atuam na área da saúde, como médicos,

enfermeiros e fisioterapeutas. O perfil psicológico dos empreendedores também tem sido

estudado. Entretanto, nas buscas realizadas nas bases de dados não foram encontrados estudos

que mencionem o perfil psicológico de profissionais que atuam em áreas que exigem o uso da

criatividade.

3 MÉTODO

O estudo apresentado avaliou as características cognitivas e comportamentais de

profissionais que atuam na área criativa, a saber, designers de diferentes organizações

presentes na região do Vale dos Sinos. Os profissionais que fizeram parte do presente estudo

são discentes da Univerdade Feevale, cursando graduação ou pós graduação.

A pesquisa realizada foi descritiva e aplicada, de abordagem qualitativa. A pesquisa

descritiva é caracterizada pela observação, registro e análise de determinadas populações ou

fenômenos, porém sem a interferência do pesquisador, visando registrar os fatores

relacionados, com a utilização de técnicas padronizadas de coleta de dados (PEROVANO,

2014). Quanto à natureza, classifica-se como pesquisa aplicada, tendo em vista que visa

construir conhecimento para aplicação prática (GERHARDT; SILVEIRA, 2009).

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Para a coleta de dados foram utilizados instrumentos de avaliação psicológica

padronizados e regulamentados pelo SATEPSI – Sistema de Avaliação de Testes Psicológicos.

Foram utilizados para o estudo os seguintes instrumentos:

Teste Palográfico: Instrumento projetivo de avaliação da personalidade criado porSalvador Escala Milá. Através da expressão de características subjetivas pelatonicidade muscular, este teste avalia aspectos da personalidade como motivaçãointerna, impulsividade, ansiedade, tendência a diversos transtornos mentais, relaçõesinterpessoais, organização, produtividade, ritmo de trabalho, propensõescomportamentais. O testando recebe uma folha contendo espaço para preenchimentodos dados pessoais e logo abaixo o modelo impresso da tarefa que realizará. Estemodelo refere-se ao desenho de três traços verticais na linha superior e um traço napróxima linha. A orientação dada é para que continue a desenhar os traços, de acordocom o modelo, mantendo o mesmo tamanho, distância entre os traços e distânciasentre as linhas. De tempo em tempo o avaliador diz a palavra “sinal” e neste momentoo testando deve desenhar um O tempo total de realização do teste é de 7 minutos e 30segundos, sendo os primeiros 2 minutos e 30 segundos para adaptação à tarefa eapenas o conteúdo registrado nos 5 minutos finais utilizado na avaliação. (ALVES;ESTEVES, 2004)

Teste D2: Instrumento psicométrico utilizado para avaliação neuropsicológica daatenção. A tarefa proposta é apresentada em forma de uma sequência de símbolos ondeé solicitado que o avaliado encontre aqueles que foram especificados no exemplo. Nafrente da folha de respostas, é apresentada uma sequencia de 22 símbolos, para quedentre eles sejam marcados pelo avaliado os indicados. Sendo esta etapa de adaptaçãorealizada com tempo livre. No verso da folha serão encontradas 14 linhas, contendocada uma delas 47 símbolos dentre os quais deverão ser marcados os mesmosexemplificados anteriormente, com o tempo cronometrado de 20 segundos para cadalinha. O teste avalia a atenção concentrada, a precisão em tarefas que exigem atenção,o nível de oscilação da atenção e a velocidade na realização de tarefas que exigematenção. ( BRICKENKAMP,2000)

Teste Beta-III: Instrumento de avaliação não-verbal da inteligência geral. Contém dois

subtestes denominados respectivamente, raciocínio matricial e códigos. O primeiro é

apresentado em forma um de problema matemático visual, e tem como objetivo

identificar entre cinco opções a correta para completar a sequência lógica do

problema. São apresentados 25 problemas para serem realizados em até 5 minutos. O

segundo, tem como objetivo avaliar a velocidade de processamento de informações.

Para isso, é apresentada uma sequência de símbolos sucessivamente numerados como

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padrão inicial e, posteriormente solicitado ao avaliado que preencha um grade com os

respectivos números dos símbolos que aparecem em ordem aleatória. O tempo para

realização da tarefa é de 2 minutos e a avaliação se dá levando em conta a quantidade

de símbolos numerados neste tempo. (KELLOG;MORTON, 2011)

Os instrumentos foram aplicados em dez profissionais, sendo cinco deles atuantes em

áreas que exigem o uso da criatividade em suas atividades cotidianas, a saber, atuando como

designers, onde realizam atividades como criação e edição de marcas e produtos, pesquisa de

referências, apresentação de projetos, entre outras atividades pertinentes a área. Os outros

cinco profissionais, atuantes em outras áreas, realizam atividades administrativas e

burocráticas, tais como: atendimento ao público, gestão financeira, controle de ponto

eletrônico e faturamento.

A aplicação dos testes psicológicos foi realizada presencialmente e individualmente,

nas dependências da Universidade Feevale no período de agosto à dezembro de 2017.

Foi solicitado a cada participante que comparecesse ao local designado, havendo

recebido previamente as devidas orientações sobre o processo de avaliação psicológica. As

avaliações foram realizadas em cada um dos participantes em um período de 30 – 40 minutos,

tempo previsto nos manuais de aplicação, não havendo nenhuma interrupção de pudesse

causar prejuízos ao procedimento. Além de realizar os testes de avaliação psicológica, os

participantes também descreveram as atividades que realizam rotineiramente em seus

trabalhos.

4 ANÁLISE DOS RESULTADOS

Sequencialmente à realização dos procedimentos de avaliação psicológica, bem como

revisão de literatura, a seguir são apresentadas as principais características cognitivas e

comportamentais dos profissionais que atuam em áreas que exigem criatividade, bem como a

exposição dos resultados das avaliações, manifestando as características presentes ou não nos

profissionais avaliados.

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Características Cognitivas dos Profissionais que Atuam na Área Criativa

Quadro I

Gardner(1995)

Teoria das Inteligencias Múltiplas: Inteligência lógico-matemática.De acordo com o autor, a inteligência possui uma grandeabrangência e pode ser definida como a capacidade de resolverproblemas. Esta definição se assemelha com a definição decriatividade do mesmo autor. A inteligência lógico matemática secaracteriza pela facilidade para análise e para detalhes ecompreensão de padrões, entre outros

Silva (2012) Atenção Instável. Segundo a autora, a criatividade e instabilidadede atenção estão fortemente relacionadas, pois a mente que sedispersa com facilidade tende a ser mais criativa. Isto acontece, poisa perda do foco em um único tema, possibilita maior abertura anovas ideias.

Características Comportamentais dos Profissionais que Atuam na Área Criativa

Quadro II

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Flórida(2011)

Flexibilidade

Busca de ambiente propício a criatividade

Vínculo frágil com a Organização

Independência

Autenticidade

Jesus (2012) Produtividade baseada nas emoções

Interesse por novas ideias

Não tem medo de coisas novas

Otimista

Questionador de regras

Entusiasmo

Energia

Senso de humor

Alencar(1998)

Autoconfiança

Motivação

Instabilidade nos contatos sociais

Sensibilidade

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Características dos Profissionais Avaliados – Quadro III

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De acordo com Silva (2012) os indivíduos que possue atenção instável ou até mesmo deficit

de atenção, tendem a ter alto nível de criatividade, já que a inquietação mental os proporciona

uma propensão a novas ideias, característica menos comum aos indivíduos que possuem

capacidade de atenção normal. Entretanto, ao realizar uma atividade prazerosa, onde estejam

plenamente envolvidos e entusiasmados, os criativos mais desatentos encontram em si uma

nova capacidade de prestar atenção, até então desconhecida, que torna a tarefa envolvente e

anula qualquer tipo de dispersão.

Este dado vai ao encontro dos resultados encontrados no estudo, visto que a

maior parte dos profissionais criativos obtiveram resultado inferior ou médio no teste de

atenção, indicando também oscilação na atenção ou ainda pouca precisão nos trabalhos que

exigem atenção.

Outro fator concernente à criatividade é a inteligência, que proporciona a

resolução de problemas e a criação de novas estruturas como resposta à situações repetidas.

Ao solucionar um problema utilizando conhecimento já adquirido, o mecanismo usual é a

memória, porém ao construir uma nova forma de resolver algo, a criatividade está em ação

(SOUZA, 2001).

Sabe-se que a criatividade envolve toda a inteligência humana, mas ao levar em

conta os pressupostos de Gardner (1995), este estudo avaliou a capacidade de resolução de

problemas lógicos e a velocidade mental de processamento de informações dos profissionais

criativos. Os resultados obtidos foram superior e médio, reafirmando as declarações dos

autores.

Flórida (2011) afirma que os profissionais criativos apresentam grande

flexibilidade em seu trabalho, evitando ambientes rígidos para buscar um espaço de trabalho

que propicie o desenvolvimento de ações criativas. O autor também afirma que a classe

criativa procura independência no seu trabalho, para que possa realizar suas tarefas sem a

interferência de outros, podendo até mesmo buscar romper o vínculo com as organizações

para buscar mais autonomia no que faz.

Afirmação esta que se confirma através deste estudo, visto que a flexibilidade

foi apresentada por quatro dos cinco profissionais da área criativa, enquanto dentre os

profissionais de outras áreas, apenas um dos cinco apresentou a característica. Já o fator

independência, foi apresentado por apenas dois dos cinco profissionais criativos e, por apenas

um dos profissionais de outras áreas, contradizendo a afirmação do autor e demonstrando que

a característica independência é rara de ser encontrada entre os profissionais.

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Jesus, et al. (2012) declara que os profissionais criativos relacionam sua

produtividade no trabalho ao seu estado emocional, produzindo mais quando sentem-se bem e

diminuindo a produção quando experimentam sentimentos negativos. Este dado também foi

confirmado pelo estudo, pois quase a totalidade dos profissionais da área criativa

entrevistados, quatro de cinco, apresentaram baixa produtividade e oscilações no ritmo de

trabalho. Enquanto dos profissionais de outras áreas apenas dois de cinco apresentaram esta

característica. Alves e Esteves (2004) postularam que ambos os fatores quando apresentados

em conjunto remetem a interferência emocional na realização das tarefas.

A busca por inovação é uma característica marcante dos profissionais criativos,

porém Jesus, et al (2012) vai além e alega que não há receio frente ao novo nem mesmo medo

da mudança, ao contrário, ela é um fator motivador e promotor de entusiasmo. Neste

estudo,quatro dos cinco profissionais da área criativa demonstraram interesse pela novo,

enquanto apenas dois dos cinco profissionais de outras áreas a apresentaram, confirmando a

ideia dos autores.

A a energia e o otimismo também são apontados pelos mesmos autores como

atributos daqueles que trabalham nos setores criativos. Enquanto a energia se fez presente

com frequência dentre os participantes deste estudo que exercem atividades que exigem o uso

da criatividade, o otimismo, que foi apresentado por apenas um dos cinco profissionais de

ambas as categorias, discordando dos autores neste quesito. Em contrapartida, a energia foi

apresentada por quatro dos cinco profissionais da área criativa, enquanto pelos profissionais

de outras áreas apresentadas por apenas um dos cinco. E neste ponto, o presente estudo

confirma a posição dos autores supracitados.

É comum observar nos profissionais criativos uma certa dificuldade em seguir

regras, pois a busca por liberdade e autonomia os impele a quebrar os padrões estabelecidos

pelas organizações e pelos líderes (JESUS, et al, 2012). No presente estudo, este

comportamento não foi apresentado por nenhum dos avaliados, ao contrário, todos indicam

uma boa relação com os líderes e demais figuras de autoridade, bem como, tendência a seguir

regras e orientações.

Os profissionais criativos são considerados detentores de um excelente senso de

humor por Jesus, et al (2012). Característica esta relacionada com a leveza construída no

ambiente de trabalho e, principalmente pelas particularidades da personalidade dos criativos, .

Entretanto, neste estudo o senso de humor não se apresentou com frequência entre o grupo

dos profissionais da área criativa, apenas dois dos cinco apresentam esta característica e entre

os profissionais de outras áreas, apenas um dos cinco.

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Alencar (1998) afirma que a autoconfiança é uma característica comum entre os

profissionais da área criativa. Pois sem ela não conseguiriam enfrentar os desafios de elaborar

uma ideia do nada, apresentá-la, com o risco de não ser aceita e, dar a volta por cima diante de

fracassos, que também são comuns quando se cria algo. Esta afirmação foi confirmada pelo

presente estudo, tendo em vista que três dos cinco profissionais criativos apresentaram

autoconfiança, enquanto apenas um dos cinco profissionais de outras áreas a apresentaram.

Outra característica apresentada pela autora como sendo parte da personalidade

dos profissionais criativos é a motivação intrínseca, ou seja, a motivação que se expressa

como um interesse apaixonado pelo que faz, sem depender fatores externos. Atributo este que

se fez presente com frequência dentre os participantes deste estudo que exercem atividades

que exigem o uso da criatividade, totalizando quatro de cinco entre os entrevistados, já ente os

profissionais de outras áreas, apenas um apresentou motivação intrínseca no trabalho.

Os profissionais criativos demonstram certa instabilidade nos contatos sociais,

indicando períodos de aproximação e outros de isolamento. Este afastamento social é parte do

processo criativo, que é marcado por horas de trabalho individual e horas de trabalho em

equipe, para buscar feedback e proporcionar uma melhor construção da criação. (ALENCAR,

1998). Neste estudo, a instabilidade nos contatos sociais se apresentou em apenas dois dos

cinco profissionais criativos entrevistados. Em contrapartida, sou apresentada por três dos

cinco profissionais de outras áreas. Isto indica que a instabilidade nos contatos sociais no

trabalho não é uma característica atribuída apenas aos criativos, mas predominante em outros

setores.

A sensibilidade também é um traço dos criativos segundo Alencar (1998), pois

colocam no criam parte de si, e se relacionam com o mundo de forma mais profunda e

conectada quando investem toda sua força mental na criação. Este traço dos criativos foi

apresentado por quatro dos cinco entrevistados da área criativa, enquanto dentro os

profissionais de outras áreas não foi apresentada por nenhum deles, confirmando a afirmação

da autora.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nos últimos anos a busca por autoconhecimento tem se tornado um fator muito

relevante nas organizações. As empresas e os profissionais dividem o foco entre a busca pelo

conhecimento para promover inovações, e a busca pelo autoconhecimento para promover o

desenvolvimento pessoal, que por sua vez, contribui para a construção de profissionais mais

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produtivos e competentes. Isto ocorre, pois o profissional que conhece suas potencialidades e

suas limitações é capaz de gerenciar-se com maior eficácia do que aqueles que não possuem

autoconhecimento. A criatividade também tem sido um dos focos que interesse das

organizações, visto que, esta tem sido impulsionadora dos avanços que vivenciamos na

sociedade e no mundo corporativo.

Compreender o perfil psicológico do profissional que atua em áreas que exigem

criatividade, foi o objetivo contemplado por este estudo. Abordando inicialmente as

características cognitivas e em seguida as características comportamentais, foi possível traçar

um perfil consideravelmente significativo acerca de tais profissionais.

Ao compreender que os profissionais criativos apresentam em sua maioria

capacidade de atenção instável e capacidade de raciocínio lógico dentro da média ou superior,

pode-se estabelecer um perfil cognitivo para os profissionais criativos, demonstrando que a

inteligência e o pensamento rápido são acompanhados por certa desatenção.

Da mesma forma, verificar que os profissionais criativos apresentam

características de personalidade tão diferenciada dos demais profissionais, é possível perceber

que a classe criativa possui uma forma autêntica de se relacionar com o a realidade

profissional. Ao demonstrarem flexibilidade, motivação, autoconfiança e energia, se destacam

consideravelmente dos profissionais de outras áreas que não apresentam as mesmas

características. E, diferente do que outros autores propõem, os profissionais criativos não

demonstram dificuldade com regras e lideranças, fato que provavelmente esteja relacionado

às mudanças que vem ocorrendo nas organizações, que efetivamente têm buscado estabelecer

uma nova visão sobre o relacionamento dos líderes com os profissionais, provendo mais

segurança e confiança para estas relações tão substanciais.

Há ainda, outras tantas características a serem analisadas perante a vastidão do

comportamento humano, contudo, este estudo pôde apresentar alguns dos pontos mais

significativos da personalidade profissional dos indivíduos que trabalham com a criatividade,

dando margem para outros estudos que objetivem compreender em maior profundidade o

perfil psicológico dos profissionais da área criativa, como também de outras áreas.

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