anexo 1 - diÁrio de campo...trabalho de campo, pedido que foi aceite com a afirmação: “estás...
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ANEXO 1 - DIÁRIO DE CAMPO
ÍNDICE DE DATAS
02 de Maio de 2011 ..................................................................................................................... 2
08 de junho de 2011 ..................................................................................................................... 7
09 de junho de 2011 ................................................................................................................... 28
16 de setembro de 2011 ............................................................................................................ 42
07 de novembro de 2011 ........................................................................................................... 55
08 de novembro de 2011 ............................................................................................................ 67
09 de novembro de 2011 ............................................................................................................ 78
10 de novembro de 2011 ............................................................................................................ 91
11 de novembro de 2011 .......................................................................................................... 100
18 de novembro de 2011 .......................................................................................................... 105
07 de dezembro de 2011 .......................................................................................................... 112
09 de dezembro de 2011 .......................................................................................................... 119
16 de janeiro de 2012 ............................................................................................................... 125
17 de janeiro de 2012 ............................................................................................................... 129
18 de janeiro de 2012 ............................................................................................................... 137
19 de janeiro de 2012 ............................................................................................................... 143
20 de janeiro de 2012 ............................................................................................................... 151
30 de janeiro de 2012 ............................................................................................................... 158
31 de janeiro de 2012 ............................................................................................................... 161
01 de fevereiro de 2012 ............................................................................................................ 169
02 de fevereiro de 2012 ............................................................................................................ 175
03 de fevereiro de 2012 ............................................................................................................ 179
01 de março de 2012 ................................................................................................................. 185
11 de abril de 2012 .................................................................................................................... 189
30 de outubro de 2012 .............................................................................................................. 195
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Dados da realização das observações
Data: 02 de Maio de 2011
Horário: 11H00 às 13H00
Local: Centro de Treino da Produção
Atividade: Reconhecimento do espaço e da equipa do Centro de Treino da Produção (CTP)
Duração: Cerca de 2H
Participantes: Coordenador; 3 formadores
Registo de Observações Ideias-Chave/
Temáticas
Visitei o Centro de Treino com os objetivos de conhecer a equipa do CTP,
familiarizar-me com o espaço em que decorre a formação, captar o
ambiente geral do Centro, dar a conhecer a minha atividade de investigação
e os seus propósitos. No fundo, lançar as bases para uma boa relação de
colaboração com os elementos que orientam a formação.
Trabalham no centro 12 pessoas, entre o coordenador e os formadores, com
diferentes níveis de experiência profissional e na formação; um deles está
encarregue sobretudo das funções de apoio administrativo e logístico. Do
que foi explicado, o objetivo é que todos façam de tudo um pouco, sem
haver uma grande especialização de funções: dar formação, organizar os
grupos, tratar das questões administrativas relacionadas com a organização
da formação, estabelecer a ligação com as necessidades formativas da
Produção que seja o mais rápida possível, criar materiais e ferramentas para
a formação.
Pretendia também estabelecer uma primeira agenda de observações com o
coordenador, de acordo com a disponibilidade demonstrada pelos
formadores. Essa colaboração foi total, o ambiente foi informal e cordial.
Todos, sem exceção, se colocaram à disposição no caso de querer assistir a
uma das “suas formações”.
Já conhecia alguns dos formadores de vista, nomeadamente de outros
momentos em que visitei o Centro e dos Processos de RVCC. Este fator
Objetivos da
visita
Caraterização
da equipa
pedagógica do
CTP
Base de
colaboração
Ambiente
informal
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ajudou à nossa interação; parte do tempo das apresentações foi ocupado a
trocar impressões sobre os Processos de RVCC.
No momento da visita, não havia formandos no Centro, uma vez que
estavam em período de almoço. Esse facto permitiu conhecer e conversar
um pouco com todos os elementos e observar à vontade o espaço e os
meios disponíveis no Centro. O coordenador e dois formadores foram
guiando a minha visita de forma mais próxima, explicando a funcionalidade
dos espaços, das bancadas de trabalho da formação, dos instrumentos
disponíveis, do tipo de “trabalho de bastidores” que o tipo de formação do
Centro obriga a desenvolver.
Contíguo ao espaço do centro há uma oficina de trabalho, onde a maioria
dos meios técnicos e equipamentos ao dispor da formação são construídos,
a partir de peças disponibilizadas pela área da Produção da fábrica.
O CTP ocupa cerca de 900m2 e consiste:
Numa zona de estar e de trabalho da equipa de formadores e em
salas de formação mais “teórica”. Existe uma sala de trabalho para
a equipa do Centro, com secretárias, quadros de registo e material
informático; e duas salas de formação que o coordenador designa
por “salas da componente teórica” de dimensões razoáveis, com
secretárias e cadeiras, quadros para as atividades de formação,
cartazes informativos sobre conceitos da Produção. Todas as salas
têm janelas amplas viradas para o espaço “exterior” da formação; a
esse espaço chamam de “espaço da formação prática”.
Um espaço amplo para a realização as atividades de formação de
índole prática, com bancadas de trabalho, quadros brancos
apoiados em tripés, alguns rotativos, computadores, caixas
catalogadas com ferramentas, vários armários. Algumas das
bancadas para as atividades práticas têm uma estrutura composta
pela bancada de trabalho em si mesma e um quadro vertical com
alguns materiais pedagógicos para utilização na formação
Descrição do
espaço físico:
- salas de
formação
teórica
- espaço da
formação
prática
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(magnetes, canetas, cordas, entre outros). Há também uma zona
que, segundo o que me foi explicado, reproduz o “supermercado”
de peças que é utilizado na zona de construção das carroçarias, com
peças de carro arrumadas em prateleiras próprias (feitas pelos
elementos do CTP), catalogadas e organizadas por cores. Está ainda
disponível um “carro de treino”, para além de uma estrutura
robotizada que reproduz um produto em construção, estrutura essa
que é conduzida através de uma fita magnética colocada no chão,
reproduzindo o percurso dos carros na linha.
Não é fácil descrever todas as estruturas e materiais que compõe o CTP, mas
pode afirmar-se que há uma grande quantidade e diversidade de material
de trabalho prático e que a maior parte do espaço do CTP é ocupado por
esta área, porque “a formação tem uma forte componente prática”
(palavras de um dos formadores).
Existe informação dispersa por todo o espaço relativamente ao sistema de
produção do Grupo Automóvel, com destaque para alguns dos seus
conceitos mais emblemáticos, já mencionados por alguns adultos em
Processos de RVCC, nomeadamente os 5S, o Kaizen, os sistemas Poke Yoke,
entre outros. Os cartazes que dizem respeito a estes conceitos são
ilustrados e apelativos, estão colocados por cima das bancadas de trabalho
do espaço aberto e igualmente nas salas de formação.
Pedi ao coordenador se podia tomar algumas notas sobre o conteúdo dos
cartazes informativos afixados pelo CTP, pela relevância da informação
neles contida, uma vez que não me foi permitido gravar/filmar durante o
trabalho de campo, pedido que foi aceite com a afirmação: “Estás
totalmente à vontade”. Um desses cartazes diz respeito aos objetivos e à
missão do Centro, apresentado como sendo um Centro de Treino Lean.
Em traços gerais, esta foi a informação compilada no momento, com a ajuda
do coordenador que foi explicando algumas questões particulares:
Quantidade e
diversidade de
material
Sistema de
Produção
Limitações
sobre registos
vídeo e áudio
Objetivos/miss
ão do CTP
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Missão do CTP:
Criar uma linguagem única e um entendimento comum para a
implementação do sistema de produção tendo como objetivo o
sincronismo e o valor acrescentado.
Permitir um suporte sistemático ao KVP Kascate através de um amplo
e gradual desenvolvimento de competências em todos os níveis da
hierarquia.
Assegurar continuamente o trabalho com standards nos processos
organizacionais sob o ponto de vista do trabalho de equipa, com o
objetivo de se alcançar e manter um desenvolvimento sustentável para
assegurar a competitividade e simultaneamente os postos de trabalho.
Segundo o que me foi explicado pelo coordenador, a perspetiva global é a
de descentralizar estes centros de treino em todo o mundo e em todas as
fábricas do Grupo, sobretudo ao nível da formação, para que trabalhem os
conceitos lean, que implicam o treino das tarefas básicas e do trabalho com
standards. Ao mesmo tempo, pretende-se que as estratégias aqui
trabalhadas sejam implementadas ao nível da fábrica, enquanto conceitos
generalizados, e que sejam reportadas as ideias de melhoria contínua que
forem surgindo ao Group Lean Centre, que funciona na empresa-mãe. É
nesse Centro que são definidos os módulos, materiais de apoio à formação
(em termos teóricos e informáticos) e os referenciais genéricos da formação
dos Centros lean, que depois são traduzidos e adaptados às realidades
específicas de cada país/empresa.
Outro cartaz que me mereceu especial atenção diz respeito aos objetivos
dos módulos de formação do CTP, que pretendem contemplar:
Entendimento único e uniforme sobre o sistema de
produção.
Sistemática estrutura de competências de tarefas
necessárias ao dia a dia.
Estandardização de componentes da formação prática.
Campos de ação e reconhecimento de mensagens a
considerar nas tarefas.
Relação do
CTP com o
Grupo Lean
Central
(o local e o
global)
Objetivos
gerais dos
módulos de
formação
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Aprender a atuar de acordo com o ciclo PDCA.
Extensão sistemática de competências para as áreas da
produção, nomeadamente em assuntos lean.
A estratégia de formação é implementada através dos módulos práticos e
as estações que são desenvolvidas/trabalhadas no Centro para cada área
estão em conformidade com um método de produção definido (standard).
O principal objetivo é estabelecer métodos efetivos e estáveis em prática,
através do trabalho de equipa.
No decorrer desta visita de observação, o coordenador informou que o
Centro foi inicialmente concebido em 2008 e começou a dar formação em
pleno em 2009, altura em que começou ele próprio a trabalhar no CTP,
vindo de um percurso de várias funções desempenhadas na empresa,
nomeadamente na linha de produção. Informou também que os
formadores que ali trabalham foram todos selecionados pela direção da
empresa em função da experiência em vários postos de trabalho e setores
da fábrica; ou seja, que a aposta no CTP é uma aposta na experiência
adquirida, nos trabalhadores e no know-how por eles desenvolvido ao longo
da vida profissional, sobretudo na empresa, não havendo recurso a
formadores externos.
Estratégias/m
etodologia de
formação
História do
Centro
Critérios de
seleção dos
formadores
Observações adicionais:
Em função da calendarização da formação, e de acordo com a opinião do coordenador sobre
qual o melhor tipo de formação para iniciar as observações, agendei a primeira observação
para o módulo Lean Games, nos dias 8 e 9 de junho.
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Dados da realização das observações
Data: 08 de junho de 2011
Horário: 7H00 às 15H30
Local: Centro de Treino da Produção
Atividade: Observação não participante do módulo Lean Games (Jogos Lean)
Duração: 7H (de 14H) (1º de dois dias)
Participantes: 3 formadores; 13 formandos
Registo de Observações Ideias-Chave/
Temáticas
Antes da formação começar, travei uma breve conversa com os três
formadores que irão ser responsáveis pela formação. Fiquei a saber que
serão 2 formadores principais e o terceiro estará presente para ir dando
apoio nas atividades, mas também como parte da sua formação como
formador, uma vez que entrou recentemente para a equipa do CTP.
Seguindo a sugestão deles, sentei-me num dos lugares destinados aos
formandos (que irão ser menos que os lugares disponíveis, segundo os
formadores), dizem que assim serei vista como mais uma formanda pelos
formandos e que isso fará com que sejam mais espontâneos. Também me
informaram que a formação do CTP tem tido muitos observadores – de
formadores em aprendizagem, de pessoas de diferentes áreas da fábrica, de
equipas de Centros Lean de empresas do Grupo de outros países e de
pessoas de outras empresas -, assim como as diferentes áreas da fábrica vão
tendo muitos observadores, pelo que é normal que os formandos se sintam
à vontade com pessoas “de fora”.
Perguntei quem são/de que áreas da fábrica virão e quantos serão os
formandos, ao que me responderam que “isso só sabemos quando a
formação começar”, porque nem sempre as pessoas são informadas, no dia
anterior, de que vão ter formação; na maior parte das vezes é de manhã que
os team leaders e as chefias decidem quem vem à formação, em função dos
fluxos da produção e do trabalho. Anoto este facto e transcrevo tão
fielmente quanto possível as palavras do formador, porque acho que é um
dado a reter para mais tarde analisar.
Formação dos
formadores
Presença
habitual de
observadores
no CTP
Constituição
dos grupos
Fluxos da
produção/sele
ção dos
formados
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A sala está disposta em U; eu fiquei num dos cantos da fila de
carteiras/cadeiras, com visão na diagonal, parece-me que assim consigo
visualizar melhor todos os formandos, formadores, quadros/placards de
trabalho. Ou seja, estou como que integrada no grupo de formação; não sei
se será a melhor posição, mas se achar que não favorece a observação ou
que não favorece o normal desenvolvimento da formação, aproveitarei um
intervalo para mudar de local.
Conversei também com os formadores sobre as condições da minha
assistência: que não irei intervir, mas irei explicar a minha presença, solicitar
o consentimento das pessoas e garantir o anonimato dos observados. Os
formadores concordaram, embora considerem que ninguém se irá opor,
nem mesmo a serem identificados. Já na visita inicial tinha falado com a
equipa do CTP sobre as caraterísticas e objetivos das minhas observações, e
o que me foi dito na altura coincide com esta postura descontraída dos
formadores, mas era importante retomar e esclarecer estas questões.
Explicaram-me os contornos metodológicos gerais da formação:
inicialmente, pretende ser uma formação mais “teórica”, expositiva, ao que
se segue um conjunto de exercícios práticos, de jogos, cujo objetivo será o
de demonstrar na prática, através de trabalho em equipas, como se pode
melhorar uma série de operações elementares na organização da produção
e do trabalho. A ideia é que sejam dois dias “diferentes dos dias de
trabalho”, que sejam lúdicos, mas que fomentem “o espírito de equipa na
resolução de problemas com que alguns dos trabalhadores lidam no dia-a-
dia”.
Achei importante registar desde já estas considerações de caráter mais ou
menos prévio porque me parecem revelar algumas situações de interesse
para o estudo. Aproveitei os momentos “mortos”, em que os formandos vão
chegando espaçadamente, a partir das 7H15, para tomar estas notas rápidas
em manuscrito, que terei de transcrever depois, uma vez que não me foi
autorizada a entrada de computador por ter câmara fotográfica integrada;
o coordenador garantiu que iria tentar contornar essa questão, por ser
Configuração
da sala
Apresentação
da
investigadora
e do objetivo
da observação
Metodologia
da formação:
a teoria e a
prática
Objetivo
lúdico
Restrições da
observação
9
sensível ao trabalho adicional que isto implica. Ainda assim, refletindo sobre
estas questões, também me parece que a minha presença vá ser encarada
com maior naturalidade por estar acompanhada de um caderno e não de
um computador; a minha presença terá um ar mais informal, talvez.
Os trabalhadores-formandos vão chegando entre as 7h15 e as 7h30, hora
em que inicia a formação. A formação começa em sala. No total são 13
pessoas; só alguns estão vestidos com fardas de trabalho, o que parece
indicar que, ou não são todos de áreas de trabalho em que a farda é exigida,
ou apenas alguns foram informados antecipadamente sobre a formação,
conforme um formador havia comentado comigo anteriormente.
A formação começou pelas apresentações pessoais, sem informações muito
pormenorizadas – apenas nome, idade, local de trabalho, funções
desempenhadas que, em alguns casos, foram mais desenvolvidas por
iniciativa dos próprios. Dos 13 formandos, 9 são homens (com funções nas
áreas da montagem final, pintura, prensas e carroçarias) e 4 são mulheres
(duas vêm da montagem final, uma das finanças e outra da área da
logística).
A maioria não se cruzou em nenhuma área de trabalho, outros só se
conhecem de vista, alguns afirmam mesmo nunca terem sequer “visto”
determinado colega; o formador faz notar que a empresa é muito grande e
que são mais de 3000 trabalhadores, pelo que é normal que não se conheça
muita gente, nem de vista. Acrescenta que um dos objetivos da formação é
também de que as pessoas conheçam melhor os colegas e as diferentes
áreas de trabalho na fábrica, “partilhar experiências”. Ao longo das
apresentações, os formadores foram reagindo de forma a identificarem-se
com alguns dos postos de trabalho referidos – como também já tendo
trabalhado em diferentes áreas -, o que me parece ter contribuído para criar
um ambiente de empatia e confiança com a equipa de formadores.
Também eu me apresentei, de acordo com o que tinha definido e
combinado com os formadores. A reação dos trabalhadores foi, no geral, de
Composição
do grupo de
formação
Apresentações
dos
formandos
Postos de
trabalho de
origem
Objetivos da
heterogeneida
de dos grupos
Apresentação
da
investigadora/
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grande naturalidade e aceitação, alguns desejaram-me bom trabalho. Um
dos formandos fez uma observação curiosa: que já estavam habituados que
viessem pessoas de fora aprender com eles.
Apenas um dos formadores falou, sempre num tom de voz tranquilo, usou
linguagem clara e incentivou a que fizessem comentários sobre a sua
exposição. Apoiou-se na projeção de alguns dispositivos, não em demasia e
sem excesso de informação. Todos os diapositivos têm a marca do Grupo
Automóvel em rodapé, facto salientado pelo formador: tudo o que é dito
em Portugal sobre a empresa (aos trabalhadores), o seu percurso e os seus
objetivos, é dito em Espanha, na Polónia, no México, na Alemanha; em
todas as empresas do grupo.
A exposição centrou-se em questões de conjuntura económico-financeira
global, no momento de crise mundial, analisando o mercado neste setor da
indústria e apresentando o Grupo Automóvel e o seu posicionamento nesse
mercado no momento atual. Salientou a imagem de qualidade dos produtos
da marca, a preocupação com a coesão e coerência de estratégias entre as
empresas do grupo, os objetivos de liderança no mercado e apresentou
alguns números que revelam a evolução nesses objetivos.
Foi feita uma comparação persistente com as marcas concorrentes,
sobretudo no que diz respeito à relação entre o número de carros
produzidos ao longo dos anos, o número de vendas e a evolução do
emprego nas diferentes marcas que dominam o setor de mercado.
Mencionaram-se alguns dos desaires de outras marcas como também
estando na base do sucesso do Grupo, mas salienta-se que foi a forma como
a empresa soube desenvolver-se ao longo dos tempos que tem marcado a
diferença. O formador refere-se à atividade em Desenvolvimento e
Investigação como sendo da inteira responsabilidade da empresa-mãe, pelo
que todas as empresas do Grupo seguem standards de desenvolvimento e
de evolução que estão de acordo com as orientações emanadas da sede.
reação do
grupo
Postura do
formador
Apresentação
em
diapositivos
Conteúdos da
apresentação
do Grupo
Automóvel
Standards
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Durante esta primeira parte da formação foi notória a insistência em
informação que tem a ver com a “cultura de empresa”, cimentada num
acordo com os trabalhadores que segue a lógica do “compromisso mútuo”:
os trabalhadores conseguem mais eficiência e produtividade, a empresa
consegue mais emprego, melhores condições de trabalho e mais segurança
e apoio aos trabalhadores. A apresentação do sistema de produção
concebido pelo Grupo também revela essa preocupação, em demonstrar
que a produção depende das pessoas que a asseguram e que estas
dependem da forma como a produção decorrer.
O sistema de produção do Grupo foi apresentado ao pormenor. Por respeito
às questões éticas que se colocam na investigação, mencione-se apenas
alguns dos conceitos gerais em que este sistema assenta: a produção
sincronizada apoiada no valor acrescentado; a importância de uma
organização de trabalho em constante processo de melhoria contínua, mas
em que se procura a produção nivelada e estável; a valorização das ações
de proteção do ambiente. Alguns conceitos de produção são salientados
pelo formador como sendo os pilares do sistema de produção e que
subjazem à formação no CTP: os princípios de ciclo, de fluxo, de pull e de
procura da perfeição; todos, balanceados pela estação mais lenta. Em
simultâneo, a empresa pretende ser uma organização assente no
desenvolvimento dos empregados, na gestão de conhecimentos e na
melhoria contínua, como formas de garantir o desenvolvimento global da
organização, e não apenas de obter lucro rápido.
O formador salienta que o objetivo da empresa, ao implementar conceitos
de produção que promovem a redução do tempo de fabrico, com menos
defeitos e menos desperdícios, não é simplesmente que se acelere o tempo
de produção da empresa, o que explica em parte o tempo de espera que
existe com alguma regularidade para a entrega de alguns dos modelos da
marca. São várias as referências à ideia de que a empresa não pretende
apenas rapidez de construção; quer um equilíbrio entre a qualidade e a
rapidez, considerando que alguns dos conceitos lean implementados
permitem ajudar os trabalhadores a conseguir esse objetivo.
Cultura de
empresa
Compromisso
mútuo
Sistema de
produção e
conceitos
metodológicos
aplicados na
empresa
Conceitos de
produção e
redução do
tempo de
fabrico
Rapidez/equilí
brio da
produção
Enfoque nos
conceitos lean
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Um dos formandos reagiu dizendo que se “o cliente tiver de esperar
demasiado tempo, pode muito bem comprar um carro de outra marca”, ao
que o formador responde: ”Isso nunca acontece. Quem escolhe um carro da
nossa marca não quer outro qualquer só porque é mais rápido a chegar às
mãos. Mas nós temos de nos preocupar se a espera for demasiada. Pelo
cliente.”. De um modo geral, os restantes formandos concordam com a
observação do formador na defesa da empresa, apresentando razões que
levam as pessoas a preferir a “nossa marca”, como dizem com frequência.
Percebe-se que há uma identificação das pessoas com a empresa e os seus
valores, alguns formandos expressam-se como estando orgulhosos,
considerando “uma sorte pertencer a uma empresa assim”. Anotei a noção
de “pertença” à empresa.
Foi notório que, cerca de meia hora depois de a formação começar, os
formandos já participavam de forma constante. Estabeleceu-se uma
dinâmica dialogada, em que as pessoas colaboraram abertamente com as
suas perceções e as suas experiências na fábrica e não só. A minha presença
não pareceu em nenhum momento inibi-los, talvez funcionasse mesmo
como motivo pelo qual pretendessem expressar-se mais e melhor. Esta
observação foi-me feita pelo formador ao intervalo, embora salientasse
que, normalmente, as formações do Lean Games fossem assim, muito
participadas, e que a componente prática os estimula bastante, sendo que
alguns dos trabalhadores têm expressado até vontade de repetir a
formação. Segundo o formador, isso não é possível, uma vez que toda a
população a empresa tem de fazer esta formação, objetivo que ainda está
longe de ser atingido.
…………………………………………………………………………….
Cerca das 9h a formação recomeçou, mantendo o teor predominantemente
expositivo embora dialogado. Desta vez, optei por ir tomando notas (mais
pormenorizadas) à medida que a formação se foi desenrolando, uma vez
que verifiquei como o ambiente de formação era descontraído e a minha
integração como observadora era encarada com naturalidade.
Identificação
entre os
trabalhadores
e a empresa
Nível de
participação
dos
formandos
Motivação
pela
componente
prática
Métodos de
formação
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O formador dá muitos exemplos de situações ocorridas na linha de
produção, muitos deles advenientes da sua própria experiência profissional.
Isso incita os formandos a acrescentarem exemplos próprios, comentados
por outros que anuem ou adicionam mais exemplos. Foram abordados
conceitos que dificultam o processo de Just in Time, como a sobreprodução,
a manutenção de stocks, os tempos de espera, a distância entre as
peças/componentes e as estações de trabalho, as formas de transporte de
peças e componentes, os processos não ergonómicos, os processos
desnecessários e a comunicação ineficaz. A este propósito, anotei um
comentário específico do formador: “Foi talvez das coisas que mais
formação tivemos na ATRP, foi sobre comunicação, mas curiosamente é a
que mais falha”.
Sobre as falhas de comunicação, formadores e formandos apresentaram
várias razões: a inexistência de standards formalizados, a introdução de
alterações na engenharia da produção sem informação prévia, a falta de
auxiliares visuais em alguns postos de trabalho, a diferença de metodologias
de trabalho entre turnos. Segundo o formador, estas falhas estão na base
de alguns dos erros mais comuns e de retrabalhos, com custos para a
produção e para a organização do trabalho pelos próprios operadores de
linha.
Este é o mote para apresentar o primeiro exercício prático ou jogo
pedagógico. A realização do exercício seguiu algumas etapas de preparação,
a notar:
1 – Alteração da configuração do espaço e equipamentos da sala, com o
apoio dos outros dois formadores. Os formandos mantiveram-se de pé,
junto a uma das paredes, observando as alterações.
2 – Distribuição de cartões representando diferentes zonas/áreas da fábrica.
3 – Distribuição de caixas de diferentes tamanhos e de outros materiais
necessários para a atividade pelas diferentes mesas da sala, agora com uma
disposição diferente da inicial.
Conceitos lean
Questões da
comunicação
Importância
dos standards
Introdução da
1ª atividade
prática
14
O formador principal enuncia o objetivo do exercício: vislumbrar e
experimentar o processo de Push (empurrar), um conceito de organização
do trabalho que designa o facto da estação seguinte determinar o ritmo do
trabalho a realizar pela seguinte (por oposição a Pull, em que a estação
seguinte define o ritmo da anterior). Segundo é explicado, o exercício
envolve 5 zonas de trabalho com funções distintas, representadas pela
reorganização das mesas, agora distribuídas pela sala numa lógica
aparentemente aleatória. Existem, assim, funções ligadas ao armazém (de
peças em bruto), à logística, à montagem final, à qualidade e à
armazenagem final.
O formador explica que a ideia é que todas as zonas se articulem da melhor
maneira possível para dar conta de encomendas específicas. O exercício
será feito em 4 rondas, de 5 minutos cada; o objetivo é ir melhorando o
processo a cada ronda, cronometrando-o e assinalando as falhas de cada
uma das rondas, propondo o que melhorar de uma para a outra. A cada um
é atribuída uma função, associada a uma das zonas.
O formador sai por momentos da sala com o grupo que designou como os
“observadores externos ao processo”, para informar sobre os critérios da
observação a realizar; eu acompanhei esse grupo em particular. O formador
explica que há, no meio das caixas normais, encomendas especiais que
estão assinaladas com uma sinalética específica - bolas de diferentes cores
coladas nas caixas; cada cor passa a corresponder a um dos observadores.
Os observadores têm de seguir o processo das caixas assinaladas com a cor
que lhe foi designada, sem revelar o que está a fazer, e ir cronometrando
essas encomendas à medida que passam pelos diferentes postos de
trabalho. O objetivo do exercício é ver a evolução do processo de produção,
ver quantas das encomendas assinaladas (com a cor de cada observador)
chegam ao final do processo, e tomar nota do que correu menos bem e pode
ser melhorado, apresentando pistas de melhoria contínua.
De volta à sala, há 5 formandos que estão em postos de trabalho, 4
formandos que verificarão a qualidade dos produtos e 4 observadores
Conceitos lean
Explicação da
atividade/seq
uencialidade
das operações
Metodologia
da atividade
15
externos com os critérios “secretos” de observação. Os postos de trabalho
atribuídos foram: 1 elemento no posto de abastecimento, 1 operador de
logística, um operador em cada uma das mesas com caixas (1 nas caixas
grandes; 1 nas caixas pequenas), 1 operador na montagem final; a qualidade
e a armazenagem não tem operadores atribuídos. A função do operador da
montagem final é colocar um objeto pequeno dentro de cada uma das
caixas pequenas, que depois têm de ser colocadas em caixas maiores,
colando no topo de cada caixa grande um post-it que assinala o final a
montagem de cada produto. Os elementos da zona da qualidade verificarão
se a montagem as caixas está feita de acordo com os critérios definidos para
a montagem.
Reproduz-se o mais aproximadamente possível a configuração que a sala
passou a ter, com as posições de cada zona, funções e movimentações
definidas para cada formando/operador:
Reconfiguraçã
o da sala para
realização da
atividade
Zona de abastecimento geral
(com todo o material)
Abastecimento de caixas grandes
(1 operador)
Abastecimento de caixas pequenas
(1 operador)
1 operador
de logística
Zona da montagem final
(1 operador)
Zona da qualidade
(4 operadores)
Zona da armazenagem final
(sem operador atribuído)
16
No final da ronda, foi assinalado como primeiro erro o facto do operador de
logística ter carregado a montagem final em excesso, na medida em que
transportava muitas caixas de cada vez para poder ser mais rápido a
fornecer a linha; com isso, foi empurrando – segundo o princípio de push - a
montagem para um ritmo acelerado e quase caótico de trabalho.
São marcados, num quadro especifico para o efeito, os tempos das
encomendas especiais marcadas com as cores dos observadores (foi para
esse efeito que foram assinaladas, para permitir que os observadores
fossem controlando o processo e o ritmo), das peças que ficaram nas
diferentes zonas de trabalho, notando-se que muitas caixas ficaram na
montagem intermédia (51), enquanto que finalizadas apenas foram 15.
Todos os pormenores desta ronda são assinalados: o espaço utilizado (cerca
de 40m2), o número de operadores funcionais (5), o tempo de ciclo (20
segundos), a média de peças por operador e do tempo de peças por cada
operador. Estes dados são registados no quadro referido, enquanto o
formador vai explicando que o objetivo era experienciarem os efeitos
negativos do push, dos problemas que surgem.
Nesta fase, cerca de 20 minutos são dispensados para o diálogo sobre os
diferentes aspetos importantes do exercício; os formandos são incitados a
identificar os problemas surgidos, os formadores (sobretudo os 2 mais
experientes) vão-se apoiando no que os formandos vão referindo para
introduzir alguns “elementos metódicos da produção”, nomeadamente o
pull e o fluxo. Formador principal explica que numa relação entre o cliente
e o fornecedor segundo esta lógica, há uma redução substancial de stocks,
com fases de armazenagem mais reduzidas e com fornecimentos de elevada
frequência (ou seja, mais fornecimentos de menos peças de cada vez).
A propósito destes conceitos, o formador vai perspetivando a evolução que
os modelos de produção têm tido até chegar à ideia do kanban, que designa
um ciclo de abastecimento numa lógica de “supermercado”, que permite
Conceitos lean
Análise da
atividade
pelos
formadores e
pelo grupo
Análise/reflex
ão
pormenorizad
a sobre a
atividade
Reflexão sobre
a ação
Conceitos lean
17
controlar a cadeia logística, para que as componentes que entram no
processo de produção estejam próximas da linha como uma espécie de
“buffets estandardizados” (expressão do formador), integrando o sistema
pull.
No final desta primeira ronda e da subsequente discussão, ficam
preenchidos dois quadros distintos: um, em que se registam os tempos da
produção e o número de peças, nos diferentes postos e zonas de trabalho
simulados; outro, em que se identificam os tipos de desperdício –
sobreprodução, tempos de espera, transporte, stocks, movimentos,
defeitos/falhas e retrabalhos.
Segue-se uma segunda ronda, desta vez numa lógica pull: apenas poderão
transportar 3 caixas de cada vez e só são fornecidas mais caixas à montagem
final quando não houver caixas por montar. Ou seja, é a montagem final que
decide as necessidades de abastecimento de componentes.
Ao longo desta ronda, o formador vai dando dicas sobre a melhoria do
processo aqui e ali: forma de montar as caixas, de colocar uma dentro da
outra, de as transportar, entre outros pormenores de organização. No fim
da ronda, voltam a discutir os resultados e a registá-los nos dois quadros
anteriormente referidos.
Na terceira ronda, o operador de logística passa a fornecer as caixas uma a
uma (e não 3 de cada vez). Altera-se também a posição em que se colocam
as peças para a montagem final trabalhar, no sentido de ficarem mais perto
do local onde o operador vai retirar cada componente a montar (em vez de
aleatoriamente, como em ambas as rondas anteriores).
Nota-se perfeitamente que, no final desta ronda, os formandos já
perceberam a natureza do exercício e se envolvem mais ativamente na
discussão sobre os processos e formas de os melhorar. O ambiente é
estimulante e até eu fico com vontade de experimentar o exercício. O
formador teve de relembrar que teriam de fazer uma pausa, e cerca de 10
Sistematização
/racionalizaçã
o dos
resultados
2ª ronda da
atividade
prática
3ª ronda da
atividade
Relação do
grupo com a
atividade
18
minutos, embora os formandos insistissem em fazer de imediato a quarta
ronda.
No regresso do intervalo, o formador salienta mais alguns conceitos de
produção envolvidos no exercício de simulação que têm estado a fazer,
salientando que os tempos de ciclo têm de ser nivelados por um conjunto
de fatores: as caraterísticas das encomendas dos clientes, as oscilações
dessas encomendas, o nivelamento e a sincronização desses ciclos com a
linha, até se chegar a um tempo de ciclo constante. O exemplo que é dado
sobre estas questões é a dos próprios produtos construídos na fábrica: se
fabrica um produto mais complexo, a seguir tem de colocar na linha (que é
única para todos os modelos fabricados) dois ou três produtos mais simples,
para que os tempos de produção continuem nivelados e constantes.
Para estes processos produtivos é fundamental a implementação de
standards, o auxílio de informação visual e a implementação de rotinas de
trabalho. Para isso, salienta o formador, é preciso que haja um
treino/formação eficiente dos trabalhadores, nomeadamente dos novos
trabalhadores e dos trabalhadores em regime temporário.
Esta questão suscita algumas opiniões da parte dos formandos, salientando-
se a importância que dão à formação prévia desses operadores,
nomeadamente em Fundamental Skills (outro módulo do CTP). Os
formadores concordam e afirmam que é muito complicado conseguir essa
“situação ótima”; para além disso opinam sobre o tempo de produção de
cada estação da linha, que consideram ser demasiado exigente para os
trabalhadores e ainda mais se forem inexperientes. Referem-se ainda casos
de pessoas que têm saído com bastante experiência, know-how, e
formação. A atitude de todos os participantes é muito descontraída, com
imensa vontade de participar e acrescentar exemplos práticos.
Notoriamente, a minha presença não tem sido obstáculo ao normal
desenvolvimento da formação, conforme os formadores assinalaram no
último intervalo.
Forma de
organização
da produção
Standards
Relação com
outros
módulos de
formação
Ambiente da
formação
19
O tom de conversa é informal mas os formadores não se desviam dos
objetivos da formação: vão fazendo pontes entre as práticas
experimentadas com as do trabalho em contexto real, entre os conteúdos a
que a formação se reporta e as estratégias da empresa para a produção. Um
dos formandos comenta que “toda a gente da fábrica devia estar a fazer
esta formação”, ao que o formador responde que essa é a intenção; outro
formando acrescenta que todas as formações deviam ser “assim práticas e
tipo jogo”, comentário com que outros formandos concordam
abertamente.
Uma das questões da organização do trabalho que o formador introduz na
última ronda da atividade da formação é a de “espinha de peixe”; ou seja,
para uma linha principal, condutora da produção, há várias operações e
operadores secundários que contribuem. Salienta a importância crescente
que os operadores de logística terão, sendo um suporte cada vez maior para
a melhoria e rapidez dos processos produtivos. O formador informa que a
empresa está a melhorar os sistemas de abastecimento e que estão a ser
calculadas e implementadas rotas cíclicas de abastecimento em redor da
linha.
Depois desta breve introdução e novos conceitos e métodos de trabalho,
realiza-se a 4ª ronda. Desta feita, o formador lança o desafio para que os
formandos percam o tempo que acharem necessário para definir os
processos de melhoria, desde as posições, os postos de trabalho, a
configuração das bancadas de trabalho, às sequências de tarefas e formas
de organização da linha de montagem.
O formador transforma-se, neste período da formação, num mediador do
processo de melhoria, totalmente da responsabilidade dos formandos; vai
alertando para alguns aspetos e vai sugerindo que experimentem as ideias
parcialmente antes de montarem toda uma sequência de ações da ronda
final. O layout da sala foi mudado quatro vezes, como resultado desta
sugestão; nota-se uma influência sobre a configuração em “espinha de
Tom informal
Reação de
adesão dos
formandos às
atividades da
formação
Última ronda
da atividade
prática
Conceitos e
métodos Lean
Discussão/intr
odução de
melhorias no
processo
Reconfiguraçã
o do espaço
20
peixe”, de que o formador falou antes, mas igualmente por ser a que a linha
de produção “real” também segue. Nas sugestões que fazem os formadores
utilizam a terminologia concetual que têm vindo a explicitar ao longo da
manhã, quer na teoria quer na prática, de modo que rapidamente os
formandos começam também a utilizar os conceitos de pull, fluxo, ciclo,
entre outros.
Esta é uma fase muito interessante da formação: todos os elementos se
envolvem na discussão, dando propostas, testando hipóteses, mudando de
opiniões, construindo novas ideias para o processo. Ao final de cerca de 30
minutos, os formandos tinham redefinido a organização da sala,
redistribuído as funções de trabalho e eliminado 2 postos de trabalho. Dos
5 operadores iniciais ficaram 3, o que também originou o comentário de que
“isto é uma tática para eliminar postos de trabalho”. A este comentário o
formador respondeu que, apesar das muitas reestruturações que a empresa
tem tido, ninguém tinha ainda sido despedido e que havia sempre funções
(diferentes) para desempenhar.
Esta ronda final, a que o formador chamou de “ronda de otimização”, foi a
mais bem-sucedida em termos dos indicadores analisados a cada
experiência realizada e assinalados nos quadros. Os formandos
manifestaram a sua satisfação por terem passado de 15 caixas feitas na
primeira ronda, 18 na segunda e na terceira, para 42 na última ronda. Esta
questão levou a discussão de volta à questão da eliminação de postos de
trabalho. O formador deu o exemplo de um exercício similar realizado num
Centro de Treino de uma fábrica na Alemanha, em que um grupo decidiu
fazer o exercício com apenas 1 operador, obtendo como resultado apenas
20 caixas. O exemplo gerou vários sorrisos e o formador acrescentou com o
que já tinha afirmado no início da formação: que o objetivo da empresa era
encontrar um equilíbrio entre a qualidade e o tempo de produção, não era
simplesmente fazer mais carros.
Perante a questão do formador sobre “qual o fator que acharam que mais
ajudou a melhorar o processo”, os formandos foram respondendo que a
Discussão de
propostas de
melhoria em
grupo
Tensões: a
eliminação de
postos de
trabalho
Realização da
ronda final da
atividade
Resultados das
melhorias
implementada
s/Eliminação
de postos de
trabalho
(Tensão)
Reflexão
conjunta
sobre
21
troca de ideias, a partilha da experiência que já tinham em determinadas
tarefas, a união do grupo foram os fatores de melhoria. O formador
aproveitou as opiniões para salientar a importância do trabalho em equipa
na procura de soluções para os problemas do quotidiano do trabalho e para
a sugestão de melhorias.
Terminado este exercício, a formação interrompeu para almoço entre as
11.50 e as 12.35.
…………………………………………………………………………….
No período de almoço, em conversa com os formadores, foram-me dizendo
que todos os grupos dos Lean Games são muito interventivos e criativos,
porque a própria natureza dos exercícios apela a isso. Vão trocando ideias
comigo sobre a alternância que tentam imprimir entre os conteúdos
teóricos e os exercícios práticos, sobre a importância de motivar as pessoas
não só para aquela formação mas para as outras; uma vez gostando de
umas, esforçam-se por estar noutras, falam nisso aos team leaders, que nem
sempre têm disponibilidade de realizar um trabalho prévio de selecionar
“este ou aquele” que precisa mais de formação e na maioria das vezes
escolhem ou quem está com menos trabalho numa dada altura, ou quem se
oferece para ter formação.
Perguntei-lhes se não notavam que isso incentivava a que quem mais
formação tivesse, mais formação iria procurar ter, em detrimento de outros
com menos oportunidades de formação que iriam procurar menos tê-la; um
dos formadores respondeu que não têm sentido muito isso; outro referiu
que têm tido sempre muita gente que nunca fez formação no CTP, embora
alguns afirmem que vão com mais agrado porque “já ouviram dizer que a
formação do CTP é diferente, que não é seca”.
A satisfação dos formadores sobre aquilo que fazem e a forma como fazem
é evidente. A conversa vai-se desenvolvendo em tom natural, sobre coisas
da vida na fábrica e objetivos pessoais. Também me questionam sobre o
meu interesse pela formação do CTP, sobre os Processos de RVCC, entre
alterações/me
lhorias do
processo
Caraterísticas
dos grupos
dos Jogos Lean
Dificuldades
de
seleção/dispo
nibilização dos
formandos (da
linha)
Efeito
Mateus?
Imagem da
formação do
CTP na
população da
fábrica
22
outros assuntos. Procuro não centrar a conversa muito nas minhas
atividades.
Em tom algo provocatório perguntei-lhes se não tinham saudades de
trabalhar na linha. Um disse de imediato que não; outro respondeu que às
vezes o stress da linha lhe fazia falta e o mais velho respondeu que antes do
CTP já não trabalhava diretamente na linha, mas do que se lembra não tem
muita saudade. Uma coisa que parece haver em comum com estes três
formadores foi o facto de terem tido vontade de voltar a estudar depois de
entrarem para o CTP, sendo que um deles está a terminar o ensino
secundário através do Processo de RVCC e os outros manifestaram vontade
de concorrer ao ensino superior.
…………………………………………………………………………….
O período da tarde começou às 12.35, com uma componente mais teórica.
A sala estava já reorganizada como inicialmente, em U.
A primeira temática abordada foi a dos 5S, entendidos como a base de uma
gestão lean. Formador principal continua a ser o mesmo; um segundo
continua a ser mais de apoio às questões colocadas e o terceiro mantém-se
como observador. Reparei que este terceiro formador está a tirar algumas
notas enquanto a formação decorre.
O formador aborda a origem dos 5S de passagem, associando-os ao
toyotismo e à filosofia de produção japonesa nos anos após a 2ª Grande
Guerra, que rapidamente se disseminaram pelo mundo da construção de
automóveis. A tradução que é feita dos conceitos japoneses é:
1- Arrumar
2- Limpar
3- Organizar
4- Estandardizar
5- Disciplinar
Trabalhadores
/formadores:
relação com
os postos de
origem
Percursos
experienciais e
motivações
para a
aprendizagem
Organização
prévia do
espaço da
formação
5S
Toyotismo e
sua base
histórica
23
O formador passa à descrição de procedimentos a adotar para cada um dos
5S com base em imagens elucidativas (fotografias de locais de trabalho
antes e depois da aplicação dos 5S). É salientada a sua aplicação a vários
níveis e com muitas vantagens. Se os conceitos forem colocados em prática:
no local de trabalho apenas deve estar o que é necessário;
tudo se encontra no local definido;
o local de trabalho estará limpo e organizado;
as não-conformidades podem ser detetadas com maior facilidade;
os operadores conseguem treinar o ato de “agarrar sem olhar”;
há uma maior simplificação do trabalho, de um modo geral.
Este preâmbulo sobre os 5S introduziu um segundo jogo prático. Desta vez,
realiza-se fora da sala de formação, no espaço de trabalho prático contíguo
às salas do CTP. Este exercício tem um espaço próprio previamente
preparado, assinalado com um placard que diz “5S”. São formadas duas
equipas, de 6 e 7 pessoas. Num placard branco estão cartões de papelão
plastificado que são magnéticos (já tinha reparado neste placar quando fiz
a visita de reconhecimento do espaço). Cada cartão tem um número, são
várias dezenas e estão todos fora de qualquer ordem numérica ou tipo de
organização. Muitos deles estão tortos, ou “de cabeça para baixo”. O
objetivo do exercício é conseguir encontrar e assinalar com uma seta os
cartões do número 1 ao 50, sendo que a seta deve seguir a direção que o
número tem (ou seja, se o número estiver para cima, a seta segue esse
sentido, se estiver noutra posição, como diagonal, ou virado para baixo, a
seta a desenhar deve seguir sempre o sentido em que os número estão
colocados).
Os formandos não podem alterar a posição dos cartões, não podem retirar
nenhum; apenas identificar os números pretendidos e desenhar uma seta
no sentido em que surgem. O exercício terá a duração e 60 segundos. A
equipa A começou por conseguir assinalar 19 cartões e a equipa B assinalou
9. Na sequência desta primeira tentativa, os formandos foram incitados a
aplicar os dois primeiros “S”: arrumar e limpar. Assim, retiraram os cartões
Demonstração
de aplicação
de 5S ao posto
de trabalho
Introdução do
segundo jogo
Espaço/mater
ais (pré-
organizados
Descrição/real
ização da
atividade
24
com números acima do 50, sem retirar os restantes das posições em que
estavam anteriormente, e limparam as setas que tinham desenhado. Agora,
o tempo diminuiu para 50 segundos.
Numa segunda tentativa, a equipa A conseguir assinalar 25 e a B conseguir
14. Depois desta tentativa, formador pediu que observassem o “caos” dos
cartões com alguma atenção, para ver se posteriormente conseguiam
encontrar a sequência de números com maior facilidade. Desta vez, o tempo
dado foi de 40 segundos, a equipa A assinalou 30 cartões e a B conseguiu
22.
No final da terceira tentativa, o formador pediu que os formandos
encontrassem a organização dos cartões que mais facilitasse a tarefa. Já
podem alterar a posição com que os cartões de 1 a 50 estão dispostos no
quadro. É de notar que os cartões têm diferentes tamanhos e formatos, os
números também têm tamanhos diferentes, o que dificulta a tarefa de
desenhar a seta por cima dos números, ainda que agora os formandos os
possam colocar todos numa posição mais favorável, ou seja, direitos.
Um dos formandos sugeriu que em vez de uma seta, agora que os cartões
estavam todos colocados na mesma direção, pudessem desenhar apenas
um risco, sugestão que foi aceite. Assim, a última ronda foi realizada em 30
segundos e ambas as equipas conseguiram assinalar os 50 cartões. No final
da atividade, o formador estabeleceu o paralelo com as imagens de locais
de trabalho que havia mostrado antes do exercício prático e solicitou as
opiniões sobre o que tinha melhorado após a aplicação dos 5S no exercício.
As opiniões foram todas no sentido de que, de outra forma, nunca teriam
conseguido assinalar os cartões todos. Alguns deram exemplos de situações
do quotidiano em que, mesmo sem que ninguém tivesse pedido, sentiram
necessidade de organizar o local de trabalho segundo aquela lógica. De um
modo geral, no entanto, o conceito do Kaizen está presente ao longo de
toda a linha de produção e é aplicado em todas as zonas, incluindo externas
à produção, segundo o testemunho das formandas das finanças e da
logística.
Várias
tentativas de
melhorar a
atividade
Discussão de
ideias sobre
como fazer a
atividade
Kaizen
25
Foi feito um curto intervalo, de apenas 5 minutos, entre as 13.50 e as 13.55.
Alguns dos formandos mantiveram-se no mesmo local a trocar opiniões com
outros sobre situações familiares, comuns, formas de agir no trabalho com
a aplicação dos 5S. Alguns referiram-se inclusive à forma como aplicam o
conceito em casa (na cozinha, na despensa e no escritório, foram os
exemplos dados), desde que o começaram a usar na fábrica.
Depois do intervalo, a formação prossegue na zona de trabalho prático,
desta vez com um exercício de montagem de parafusos numa porta. O
chamado “jogo da porta” foi lançado sem muita orientação inicial, apenas
foi facultada uma ajuda visual de como proceder ao aparafusamento. Para
a atividade, os formandos dispunham de uma porta de carro numa estrutura
que facilitava o seu manuseamento, uma série de peças, entre parafusos,
ferramentas e colunas de som.
Foi notório que a equipa A não começou por arrumar nem limpar o espaço
previamente: a estratégia seguida foi escolher um elemento com
experiência na montagem final, enquanto os colegas forneciam as peças.
Também não utilizaram a ajuda visual. Demoraram algum tempo a
encontrar os primeiros parafusos, pequenos, no meio de muitos outros de
vários tamanhos. Lentamente, foram-se organizando: uns procuravam as
peças necessárias, outros passavam as peças, outros ajudavam aquele que
tinha sido designado de operador principal. No caso da equipa B, houve
alguma atenção e tempo dispensado à ajuda visual que foi fornecida. Em
qualquer dos casos, o tempo cronometrado de ambas as equipas não diferiu
muito, rondando os 5 minutos.
O grupo de formação regressou à sala, onde foram discutidos os erros
cometidos na montagem da porta e na organização prévia, tentando
relacionar ambas as questões. As sugestões que foram elencadas nessa
discussão (registadas no quadro pelo formador) foram:
aplicar os 5S à organização dos parafusos nas caixas;
Introdução de
nova atividade
Jogo da porta
– dimensão
mais
operacional do
que os jogos
anteriores
Estratégia das
equipas
Reflexão
conjunta
sobre o “erro”
26
separar por caixas o tipo de peças e a quantidade necessária para a
montagem da porta;
sequenciar a utilização das peças;
acrescentar mais duas Powertools (aparafusadoras) aos
equipamentos disponíveis;
atentar às ajudas visuais.
É de atentar que, uma vez mais, a atitude do formador é de instigar ao
questionamento sobre as práticas, convocando não só as práticas na
formação como as que os trabalhadores têm no quotidiano do trabalho. Dá
igualmente muito valor aos exemplos da realidade da fábrica, expressa nas
suas experiências e nas dos formandos, a quem solicita frequentemente
exemplos concretos do local de trabalho.
As equipas voltam a realizar a tarefa, aplicando os procedimentos
anteriormente definidos (que demoraram cerca de 20 minutos em
preparativos), e o tempo de execução melhorou em 3 minutos. Estes factos
são realçados por um formando, no sentido de que se “perdeu mais tempo
do que aquele que foi ganho”. O formador salienta que, ainda que se
demore algum tempo a preparar o local de trabalho, essa preparação vai ser
útil para a repetição de muitas atividades e diferentes tarefas, pelo que
nunca é “tempo perdido”.
O formador pede a opinião sobre a análise que os formandos fazem do
processo de melhoria e o investimento feito nesse processo. Os formandos
salientam algumas questões como o facto do investimento material ter sido
pouco (apenas mais duas caixas e duas aparafusadoras), de se ter obtido
uma melhoria significativa. Um dos formandos diz que o tempo ganho “dava
para montar outra porta, mas este posto, na linha, tem de ser feito ainda
em metade deste tempo”; os colegas riem-se e concordam com a
observação.
De regresso à sala de formação, o formador faz uma síntese das atividades
do dia e uma sistematização dos conceitos que foram trabalhados através
Motivação
para o
questionamen
to das práticas
Repetição da
atividade/aplic
ação das
propostas de
melhoria
discutidas
Reflexão sobre
o
questionamen
to e a ação
Sistematização
dos conceitos
da produção
27
dos jogos: refere-se em particular à prática de “aprender a ver”, de observar
o local de trabalho e de o organizar segundo a lógica dos 5S e da eliminação
de desperdícios - de produção, de tempo, de espaço, de movimentos do
operador, de peças disponíveis e do transporte dessas peças, de retrabalhos
por causa dos erros). Enfatiza que cada ação deve ter valor para o processo
e evitar ações desnecessárias. Reforça a ideia de que a comunicação (sobre
problemas e soluções) entre elementos da equipa e entre as equipas é
fundamental; dessa forma pode partilhar-se experiência e conhecimento,
numa lógica em que “todos ganham”.
Encerra a sessão afirmando que “espera que tenham gostado” e que
“amanhã voltem ainda com mais vontade, e ainda mais cedo. Tentamos
começar às 7.10 no máximo?”
Os formandos sorriem, confirmam que gostaram muito, que o dia passou “a
correr” e que amanhã chegam mais cedo. Alguns referem que hoje
chegaram “àquela hora porque só depois de chegar à linha é que o chefe
me disse para ir para a formação”. Após mais alguns comentários
apreciativos da formação e algo críticos sobre a forma de seleção e
organização dos grupos de formação, termina a sessão.
aplicados nas
atividades
Reações de
adesão à
metodologia
da formação
Opinião crítica
sobre a forma
de constituir
os grupos
Observações adicionais:
Tentei não tirar demasiadas notas durante a observação, para não inibir os formandos e os
formadores; no fundo, observo mas não quero que se “sintam observados”, ou que isso
molde demasiado as atitudes que têm. Aproveitei os intervalos para sistematizar o melhor
possível o que observei.
Os trabalhadores parecem aderir mais às metodologias da formação – por serem lúdicas e
funcionarem em equipas – do que à aplicação dos conceitos lean, propriamente.
28
Dados da realização das observações
Data: 09 de junho de 2011
Horário: 7H00 às 15H30
Local: Centro de Treino da Produção
Atividade: Observação não participante do módulo Lean Games (Jogos Lean)
Duração: 7H (de 14H) (2º de dois dias)
Participantes: 3 formadores; 13 formandos
Registo de Observações Ideias-Chave/
Temáticas
Cheguei ao CTP às 7h. Já estavam dois formandos em conversa com um
formador e o coordenador; todos me cumprimentaram efusivamente. Um
dos formandos perguntou “então e a Sandra não faz a formação connosco
porquê?”. Respondi que apenas estava com eles para observar, que não
queria interferir, mas que estava a ser muito interessante a experiência. O
coordenador disse de imediato que se eu quisesse fazer a formação, estava
à vontade, era só dizer que isso se arranjava. Não me tinha ocorrido essa
possibilidade, foi o que respondi e fui sincera. Disse que ia pensar no
assunto, e por aqui ficou esta questão.
Às 7h10 estavam já todos os formandos e formadores presentes. A
formação recomeça em sala, o formador não perde muito tempo com trocas
de palavras iniciais e projeta um filme de teor cómico – um polícia na
autoestrada tenta apanhar um porco, que fugiu de um camião de transporte
de animais.
Após o vídeo, entre os risos e comentários dos formandos sobre as imagens
e sem explicar a intenção da projeção, o formador apresenta o tema central
do dia: o trabalho com standards. Só depois lança o primeiro desafio:
desenhar um porco. Cada formando recebe uma folha em branco e deverá
desenhar o animal o melhor que conseguir. O formador vai percorrendo a
sala e, olhando os desenhos de cada um, faz comentários como “isso parece
um gatinho”, “isso é um cão salsicha, oh Sousa”, “você está a aborregar o
seu porco”. Diz o formador: “Estão a ver? Um porco é um porco. Mas não é
fácil desenhar um porco.”
Desafio para a
investigadora
fazer a
formação
Visionamento
de filme –
motivação
para a
atividade
posterior
Atividade
lúdica –
“desenhar
porco com
standards”
Ambiente
informal e
envolvente
29
Depois de pedir que todos mostrem os seus desenhos e de um primeiro
momento de risota e comentários jocosos, o formador pergunta: “Digam lá,
o que é que aconteceu?”. Cada um vai justificando a sua forma de desenhar
o animal, normalmente com a referência à falta de jeito para o desenho. O
formador salienta que cada um desenhou um porco sem standards nem
procedimentos definidos, pelo que cada um fez apelo à memória da imagem
que tem do animal e à sua competência para desenhar. Associando estas
questões com o que sucede na linha, o formador narra uma experiência
pessoal: quando chegou à linha, à estação de “laterais”, não sabia soldar,
pelo que foram os colegas que o ensinaram. Não conhecia os standards e só
ao final de uma semana é que conseguiu começar a soldar “mais ou menos”.
Por esta altura, e depois de um dia inteiro de formação, percebo que o
formador nunca se senta, circula muito em redor e no interior do U que as
carteiras fazem no meio da sala; fala em tom suave, nunca eleva a voz para
se fazer ouvir melhor, optando por esperar que os formandos acabem de
falar/conversar quando pretende retomar a palavra. É bastante bem
disposto e assertivo nos comentários que faz.
De volta ao tema/conteúdo em exposição: apresenta-se a noção de
standards – “são normas vinculativas para os processos de trabalho”;
“trabalhar com standards significa que as normas são conhecidas,
partilhadas e acordadas entre todos” (expressões do formador a partir de
informação projetada de alguns diapositivos). O formador esclarece que
trabalhar com base em standards não significa que os processos sejam
imutáveis: as ideias de melhoria mudam os standards, que permitem “falar
a mesma língua”, “detetar falhas e desvios”.
Refere-se ao psicólogo americano que originou o designado “ciclo de
Deming”: planear, executar, verificar, atuar (ou ciclo PDCA - Plan, Do, Check,
Act - no original). Explica que a existência de documentos de apoio à criação
de standards (como gráficos, procedimentos, diagramas e folhas de
trabalho standard) são exemplos que estão pela fábrica que revelam a
Ambiente da
formação
Standars
Postura do
formador
Standards
Melhoria
contínua e o
ciclo de
Deming
30
importância de se adotar uma lógica PDCA nos processos de melhoria da
produção.
De seguida, o formador centra-se nas folhas de trabalho standard, ou SAB
(do alemão Standard-Arbeitsblätter), como vulgarmente são referidas na
fábrica), salientando a sua importância na sistematização da informação
sobre os processos e na clareza da linguagem utilizada, para que todos que
as leiam possam entender e reproduzir os passos de uma tarefa ou conjunto
de tarefas, que constituem os standards.
Passa-se à explicação de todos os campos de preenchimento da folha de
trabalho standard, com enfoque no que diz respeito ao espaço reservado
para os “motivos” de uma dada operação. Esta questão leva à troca de ideias
sobre a importância dos operadores saberem a razão de ser de uma
determinada operação, nomeadamente o porquê de ser realizada de uma
determinada forma. Alguns formandos salientam que a ausência desse
campo de informações faria com que se sentissem alienados das suas
funções e que isso não daria espaço para a proposta de melhorias.
Esta observação dá origem a uma troca de argumentos, no fundo em defesa
do esclarecimento dos trabalhadores e do domínio sobre as funções que
exercem. Os formados chamam a atenção para o facto de, apesar destas
folhas e informações existirem um pouco por toda a linha de produção, nem
sempre a linguagem usada é esclarecedora nem uniformizada, fazendo com
que cada um intérprete de diferentes formas a mesma informação.
Como forma de testarem a eficácia do trabalho com standards, o formador
apresenta uma proposta de exercício prático com uma SAB, através da qual
se explica como desenhar um porco. A reação do grupo é imediata: risos e
comentários do género “essa é boa”, “não sabia que havia standards para
porcos”, ao que o formador reage de forma tranquila dizendo que “todos
nós somos um pouco a repetição de um standard, com hipóteses de ser
melhorado”. Novo conjunto de risos, percebe-se que a analogia é bem-
humorada e consegue os seus objetivos.
Folha de
Trabalho
Standard
(SAB)
Informação
sobre a SAB
Discussão em
torno da
utilização das
SAB
Exercício
prático com
SAB
Desenho de
porco a partir
de SAB
31
O desenho do porco com apoio numa SAB é feito no exterior da sala de
formação, em duas equipas, idênticas às do dia anterior. O quadro em que
a atividade é realizada tem uma imagem bastante aumentada da SAB e uma
folha com quadrículas numeradas para ir desenhando o porco de acordo
com as instruções que, pelo teor e pormenor das descrições, se tornam
extremamente cómicas. As instruções são muito precisas nos passos a dar,
como por exemplo “desenhar um M entre 1 e 2; um W entre 7 e 8 e entre 8
e 9”. No final, ambas as equipas tinham desenhado um porco praticamente
igual, sendo que as diferenças existentes foram atribuídas à falta de
melhores especificações em determinados traços.
Como segundo exercício com standards, os formadores (agora os três são
bastante ativos na formação, dois deles mais ao nível as explicações sobre
as tarefas, o mais novo ajuda ao nível da organização dos espaços, do
fornecimento dos materiais da formação e pequenas explicações a dúvidas
colocadas pelos grupos) propõem que cada equipa construa uma das duas
partes que constituem um porta-rolo de fita-cola e que criem a SAB
respetiva depois da operação feita. A equipa A terá como tarefa construir o
suporte metálico da fita-cola e a equipa B terá de construir o rolo que vai
suportar a fita-cola.
À disposição, as equipas têm um quadro com uma SAB aumentada, como a
do “standard do porco”, imagens (magnéticas) para colocar na SAB, uma
bancada de trabalho e material variado.
Os espaços de trabalho de cada equipa são distantes um do outro, para que
não possam acompanhar o processo desenvolvido pela outra equipa. No
final da atividade, haverá uma segunda ronda, em que as equipas trocam de
bancadas e terão de reproduzir a operação descrita na SAB da equipa
contrária. Desse modo, poderão verificar se, na prática, a SAB é inteligível e
reproduzível em operações por qualquer pessoa.
Em cada equipa fica um formador a apoiar os passos iniciais de montagem
do objeto em causa e a redação da SAB; após os primeiros 2 ou 3 passos, os
formadores afastam-se das equipas e deixam-nas trabalhar em autonomia.
Espaços/mater
iais da
formação
Exercício de
orientação
com SAB
construída por
outra equipa
32
De vez em quando, regressam aos grupos para verem como o trabalho vai
evoluir; fazem alguns comentários orientadores, do género “Já pensaram
que os vossos colegas ao ler isto podem não perceber bem?”
O exercício demora cerca de 1 hora, com um pequeno intervalo pelo meio.
Quando as equipas tiveram de montar a peça com a ajuda da SAB da equipa
contrária, a montagem foi conseguida em cerca de 8 a 10 minutos. Ainda
assim, apesar do espanto geral pela simplicidade com que executaram esta
segunda parte da atividade, todos denotam que há partes da SAB que
podiam ser mais especificadas.
Cerca das 10h o grupo volta para a sala de formação, conversam bastante
entre si. Nota-se que os formandos estão ainda mais soltos e descontraídos,
interessam-se pelo que estão a fazer, comentam os processos, as vantagens;
também fazem algumas críticas à excessiva objetividade dos processos de
estandardização. As pessoas que não trabalham na linha de montagem
estão surpreendidas com o tipo de formação e a forma como se envolvem
nas atividades, os colegas da linha de montagem e de outras áreas da
produção elogiam as prestações dos elementos das finanças e da logística.
O ambiente é de grande empatia entre formandos e formadores, bem como
de aceitação sobre os conteúdos e os métodos da formação.
Após este momento de troca de palavras, o formador apresenta um novo
tema de formação: a troca rápida de ferramentas, ou SMED (Single-Minute
Exchange of Dies), um conceito também emanado da produção lean.
Segundo é dito, o objetivo principal da componente teórica, nesta matéria,
é a de conhecer o método, as medidas organizacionais e técnicas de redução
de tempo na troca de ferramentas, os elementos metódicos e os formatos
standard a serem utilizados. O formador principal volta a estabelecer uma
associação entre as questões referidas e o sistema de produção do Grupo.
Uma das justificações para a importância da SMED tem a ver com a
diversidade de produtos com caraterísticas diferentes que o Grupo constrói,
de uma forma geral, e que a linha, em particular, produz; para além disso, a
Conceito de
SMED
33
lógica da produção em massa tem mudado para uma lógica de produção de
pequenos lotes de produtos que têm de ser cada vez mais diversificados.
O formador dá como exemplo da importância das técnicas de troca rápida
de ferramentas a diferença entre mudar os 4 pneus de um carro doméstico
(mais ou menos 1H) e a mudança de pneus num carro de corrida (cerca de
4,6 segundos). Isso só é conseguido através da eliminação sucessiva de
desperdícios, da estandardização de processos de trabalho, permitindo
acelerar o processo de troca, nesse caso.
Salienta também que há uma grande diversidade de tipos de ferramentas:
nas prensas, cada ferramenta pesa cerca de 40 toneladas (o trabalhador-
formando das prensas confirmou este dado), pelo que as técnicas de troca
são diferentes das trocas feitas na montagem. São feitas referências por
vários formandos a diferentes tipos, dimensões e funções de ferramentas
na fábrica.
Segundo a explicação feita pelo formador, e partilhada por alguns
formandos que revelam ter bastante conhecimento sobre esta questão, a
SMED é conseguida porque se transfere o máximo possível de trocas
internas para trocas externas às operações, que podem inclusive ser feitas
em simultâneo com outras operações. Isto implica um processo de
otimização, para além de observação e acompanhamento prolongados dos
processos de SMED e de muito treino específico.
Muito frequentemente, implica ferramentas muito caras e muita formação;
os trabalhadores com experiência neste tipo de operações salientam que
essa experiência é fundamental, mas que as pessoas mais velhas estão a
começar a sair da fábrica e que já deviam ter começado antes a transmitir o
conhecimento que têm sobre estas técnicas. Levanta-se novamente a
questão do investimento na formação dos novos operadores; a conversa
gira em torno deste assunto durante alguns minutos. O formador não
interrompe.
Quando a troca de ideias termina, o formador aproveita para salientar que
tem havido alguma preocupação em garantir a aprendizagem destas
Estandardizaç
ão dos
processos
Postura dos
formados face
ao trabalho
desenvolvido
(autocritica/m
elhoria)
Investimento
na formação
34
técnicas e a sua melhoria; regularmente, são feitos filmes sobre as trocas
mais complexas de ferramentas como forma de registar os processos, para
posterior análise pelas equipas com vista à melhoria contínua e à passagem
de testemunho, também. É de notar que as imagens (seja fotografias ou
filmes) que têm sido projetadas, de bons e menos bons exemplos de várias
operações e processos, são recolhidas na própria empresa.
De novo, a conversa desenrola-se em torno da importância de cada um nos
problemas a resolver e nas melhorias a propor, combatendo uma “atitude
mais passiva por parte dos operadores” (palavras do formador). Com esta
observação, o formador aproveita para regressar à questão da melhoria de
movimentos dos operadores e a redução desse tipo de desperdício.
Outro dos elementos que contribui para a troca rápida de ferramentas é o
procedimento afeto à TPM (Total Productive Maintenance). Através da
identificação dos problemas prioritários, as equipas de melhoria contínua
detetam as suas causas, elaboram planos de ação e executam as medidas e
apresentam as melhorias conseguidas.
São vários os vídeos que o formador passa sobre propostas de melhoria de
processos em diferentes zonas da fábrica, que foram aceites e
implementadas, com ênfase para o facto de serem operações de melhoria
de baixo custo. No entanto, o formador refere-se a algumas melhorias em
postos de trabalho que foram motivadas por razões de segurança e
ergonómicas, cujas soluções foram de custo significativamente maior do
que os exemplos mostrados. Formandos concordam e vão dando alguns
exemplos que conhecem.
O formador parece ter noção de que está há já algum tempo (cerca de 1H)
a dar informações e trocar opiniões/exemplos com os formandos sobre
conceitos e sua aplicação na linha, mas sem exercícios práticos associados,
uma vez que afirma (quase de repente) “Bem, depois desta grande seca,
vamos lá para fora”, referindo-se ao início de outra atividade prática. Antes
de a apresentar, no entanto, é feito um intervalo de cerca de 5 minutos.
Combate à
passividade
dos
operadores
Conceito de
TPM
Exposição/exe
mplificação
acerca da
atividade de
troca de
ferramentas
35
Iniciando-se cerca das 11h10, a atividade lançada é sobre técnicas de troca
rápida de ferramentas; implica o trabalho em equipa de forma a conseguir
mudar uma ferramenta “pesada” no decorrer de uma etapa do processo de
produção, com as mesmas duas equipas anteriormente formadas, apoiadas
pelos dois formadores mais experientes (o terceiro formador continua a ter
um papel sobretudo de apoio à formação). O formador principal explica a
tarefa, no que diz respeito aos diferentes passos, medidas de segurança e
ferramentas a utilizar, apresentando os equipamentos (bancadas de
trabalho e ferramentas). O instrumento central é um carro de treino –
apenas uma carroçaria sustentada numa estrutura construída para o efeito.
Cada equipa designa o executor da troca; há uma discussão prévia em cada
equipa sobre os passos a dar, notando-se que os formandos estão já muito
alertados para pormenores de preparação prévia, segundo as
aprendizagens de atividades anteriores. Há, portanto, uma aplicação prática
de conceitos e uma aplicação de aprendizagens a novos contextos.
Um operador, designado como o principal, irá dar os passos da tarefa,
orientado e apoiado pelos colegas, que distribuem funções entre si, como a
passagem de peças, sequência de procedimentos e correção do trabalho à
medida que for sendo feito. A tarefa implica um aparafusamento com
medidas e aturas concretas de parafusos, uma peça de carroçaria que está
presa num torno. A todo o tempo, os formandos têm de ir medindo a altura
de parafusos e furações. No final da primeira experiência, a equipa A
demora 2m26seg e a equipa B excede os 6 minutos.
No fim da experiência, os formadores pedem para que sejam identificados
os fatores de desperdício que motivaram a diferença de tempos de
execução, bem como os que podem ainda ser melhorados na equipa que foi
mais rápida. Como forma de realizarem uma nova experiência, o formador
disponibiliza outros recursos, que estão numa mala e que as equipas podem
escolher utilizar ou não.
Preparação de
exercício com
aplicação do
conceito de
SMED
Metodologia
da formação
36
É de assinalar que os elementos que menos participaram na 1ª ronda, foram
incitados a ser mais ativos na segunda pelos próprios colegas e não pelos
formadores.
Sem serem pressionados quanto ao tempo de preparação para a segunda
tentativa, as equipas demoram cerca de 30 minutos a escolher previamente
as ferramentas, seccionando-as, discutem o melhor processo, tendo em
conta os tipos de desperdício que identificaram, para além de que testam
as opções que vão fazendo, às vezes sobre os mais pequenos detalhes.
Finda a preparação da segunda experiência, e dado que são 11.35, é feita a
interrupção para almoço, que se irá estender até às 12.30.
…………………………………………………………………………….
Cerca das 12h30 a formação é retomada. Um pouco antes disso, combino
com o formador que me ceda uns minutos no final da formação para poder
entregar um pequeno questionário aos formandos e aos formadores.
Segue-se mais algum tempo de discussão nos grupos, testes sobre detalhes;
treinam alguns passos intermédios, ferramentas; em alguns casos repetem
o treino. Um dos formandos afirma “Isto é que é treinar! Agora é que vamos
lá!”; outro diz que “Somos uma equipa, não somos? Então podemos decidir
que em vez de um só operador, precisamos de dois!”. Cerca de 20 minutos
depois começam as segundas rondas da atividade, completamente
diferentes das primeiras, sendo que todos ficam espantados, formadores
inclusive, uma vez que houve trocas de ferramentas que não chegaram a
demorar um segundo. Os formadores incentivaram os autores das ideias a
“registarem a patente e apresentar à administração”. Foi mais um momento
de grande descontração e troca de ideias sobre o que foi bem-sucedido,
desta vez.
Como uma nova atividade prática lançada, a tarefa principal recai sobre a
melhoria das ações a desenvolver em torno das atividades externas e
internas de trocas de ferramentas, a partir de uma simulação de sequências
de funções. Desta vez, as equipas distribuíram tarefas entre o
Discussão em
grande grupo
Noção de
equipa
Relação
formação/apli
cabilidade das
técnicas
abordadas
37
manuseamento de uma empilhadora manual, a cronometragem do tempo,
a contagem dos passos/movimentos e o desenho dos movimentos em
diagrama de esparguete.
Nesta atividade, as equipas começaram de imediato não só com a discussão
sobre a distribuição de tarefas, sobre as ferramentas necessárias e se
deviam pedir mais algumas ou não aos formadores, como também
decidiram treinar a melhor forma de executar a tarefa, nomeadamente
alguns dos movimentos necessários, tentando evitar os que não o fossem.
Percebe-se que já entenderam plenamente a postura que se pretende
deles.
Após o primeiro ensaio, não muito bem sucedido por ambas as equipas,
seguiram-se as etapas habituais sobre a troca de opiniões sobre o que
correu bem e o que pode ser melhorado. A tarefa era bastante complexa,
implicando muitas movimentações, transporte, mudanças de ferramentas
(desde pequenas a outras de maior porte). Os formadores apelam aos
conhecimentos prévios dos trabalhadores e à sua experiência de trabalho
para implementar mais melhorias. Denota-se algum cansaço por parte dos
formandos; dois deles estão mesmo mais afastados do centro das
atividades.
Segundo o que conclui o grupo, de uma forma geral, a solução para alguns
dos problemas passa por ter já algumas das ferramentas pré-preparadas
(com cabos, peças, parafusos), de modo a que ao retirar uma, se coloque a
outra e seja só necessário ligar os cabos e aparafusar o que é necessário.
Alguns dos formandos dão exemplos de situações da montagem em que a
rapidez de uma estação só é possível porque as peças e as ferramentas de
troca já vêm pré-preparadas; formador afirma que aqui o princípio é o
mesmo.
Passam a tratar da mudança o layout do espaço do exercício prático,
formadores e formandos, de modo a poderem implementar as alterações
sugeridas e aceites por todos. É de realçar que, desta vez, não se trata de
concretizar alterações realizadas no seio de cada equipa, mas de adaptar
Diagrama de
esparguete
Nova
atividade
Distribuição
de tarefas nas
equipas
Treino
Conceito de
TPM
Apelo à
experiência
dos
trabalhadores
Soluções para
os problemas
(organização o
trabalho)
Mudança do
espaço
38
todo o “cenário” de acordo com a opinião dos dois grupos/equipas. Desde
bancadas com rodas, para serem mudadas a meio da atividade, a sistemas
de calhas por onde correm peças mais pesadas, vários são os processos
melhorados em conjunto para se chegar a uma nova forma de fazer as
operações. Na repetição do exercício, várias são as melhorias
implementadas, sendo que são também várias as situações que os
formandos vão assinalando que podiam ser alteradas (apenas dois realizam
a tarefas e todos os outros que observam vão comentando).
Alguns formandos comentam que na linha nem sempre há tempo para
encontrar este tipo de soluções para os problemas e que valia a pena perder
um bocado para resolver algumas situações mais complicadas.
Aproveitando este comentário, o formador aproveita para chamar a
atenção dos restantes formandos sobre o facto de ser por essa razão que a
formação insiste tanto nos processos de melhoria do trabalho, e afirma:
“Porque no trabalho, na maior parte das vezes, não há tempo para pensar
nestas coisas e faz-se como sempre se fez, mesmo que não funcione bem”.
É feito um intervalo cerca das 14.10, de 10 minutos, uma vez que também
o formador nota que alguns formandos estão a aparentar cansaço.
De regresso à sala de formação, são projetados pequenos filmes de sessões
de formação no mesmo módulo, com vários exemplos de diferentes opções
sobre a forma de trocar rapidamente de ferramentas de pequena e média
dimensão. Vão sendo feitos comentários sobre os exemplos visionados,
tanto por formandos como por formadores.
De seguida, é projetado um filme sobre a zona das prensas que revela todo
o processo de modelagem e corte das peças, bem como as ferramentas
gigantescas a que já se tinha feito alusão em momentos anteriores da
formação. Neste momento, são sobretudo os trabalhadores das prensas
presentes na formação que explicam o que se vai vendo, mais que os
formadores (e a pedido destes). Informam, inclusive, que a área das prensas
tem uma Unidade de Negócios que desenha e corta peças para outras
marcas de automóveis.
Repetição da
atividade
depois de
implementada
s as melhorias
propostas
Diferenças
entre
formação e
trabalho
Exigência da
linha de
produção
Visionamento
de filmes
alusivos às
ferramentas
metodológicas
em foco
39
Após o visionamento deste último filme, com cerca de 20 minutos, o
formador anuncia que o módulo está prestes a terminar, pedindo que os
formandos preencham um questionário de avaliação da formação. Neste
questionário, que é anónimo, é solicitada a opinião dos formandos
(classificada de 1 a 4) sobre a adequação da duração da formação, do
equipamento, do espaço, do material usado, dos métodos, bem como a
aplicabilidade dos conhecimentos adquiridos; para além disso, é pedida
uma avaliação sobre o formador, respeitante à clareza do discurso, ao
domínio dos assuntos abordados, à gestão do tempo, à relação e qualidade
da interação com o grupo e aos métodos utilizados, solicitando ainda um
balanço global sobre a sua prestação. Segundo o formador, esta avaliação é
depois analisada pelo CTP e partilhada com a área de que depende o seu
funcionamento (Área da Produção).
Formadores despedem-se e agradecem aos formandos a presença e a
participação; o formador principal encerra formalmente o módulo
agradecendo e acrescentando “foi um prazer”, desejando que o trabalho
que fizeram ali tenha sido útil de algum modo. Afirma também que tem
consciência de que para uns, a “formação se encaixará melhor no seu posto
de trabalho”, mas que a informação passada pretende ser transversal a
todos os setores da empresa. Elementos que não fazem parte da área da
produção afirmam que foi muito útil para perceber todo o processo de
produção da fábrica e para valorizar a forma como os operadores
desenvolvem o seu trabalho. Afirmam ainda que muitos dos conceitos que
foram apresentados ou já são ou podem vir a ser aplicados nos seus locais
de trabalho, embora de uma forma diferente da produção.
Por fim, o formador passa-me a palavra, terminando com um
agradecimento pela minha presença e interesse na formação do CTP. Eu
agradeço a aceitação da minha presença e a simpatia que todos
demonstraram, reforço a importância de ter podido observar a formação e
o facto de terem sido todos tão naturais, apesar de estar ali um elemento
exterior ao ambiente, da formação e da fábrica. Um formando afirma que já
me conhecia de sessões de esclarecimento sobre o RVCC, outro diz que já
me tinham visto “pela empresa”, e reforçam, de uma maneira geral, que já
Avaliação (da
satisfação) da
formação
Fundamentaçã
o dos
exercícios de
melhoria na
formação, em
relação com o
trabalho
Agradeciment
o pela
disponibilidad
e em “serem
observados”
Reação dos
trabalhadores
à observação a
formação
40
estão habituados a serem observados. Riem-se, eu agradeço novamente e
peço mais uma pequena colaboração, através do preenchimento de
questionários. Reagem bem, preenchem o questionário, despedem-se de
mim amavelmente.
Observações adicionais:
Desta vez, decidi não almoçar com o grupo de formadores e ficar na sala de formação para
“afinar” alguns pormenores da descrição sobre as observações feitas. Acrescento também
alguma reflexão pessoal que a releitura de algumas passagens me sugere.
Tratou-se de uma manhã com muita informação, não sendo tão simples como parecia
inicialmente decidir o que vou descrever pormenorizadamente e o que vou mencionar sem
maior profundidade. Os conteúdos e temáticas da formação parecem estar a predominar nas
descrições que vou fazendo. Por outro lado, este segundo dia dos Lean Games tem sido mais
preenchido com conceitos, que convocam outros (nomeadamente os que foram trabalhados
ontem). Ou seja, a formação tem estado também mais centrada nos conceitos, e em conceitos
mais complexos.
Considerando que devo olhar melhor para os métodos, atitudes, meios utilizados, ocorre-me
que os métodos são predominantemente ativos, alternando com momentos expositivos e
demonstrativos. Há uma grande assertividade por parte dos formadores, sobretudo aquele
que assume um papel mais central na formação. O clima é de empatia generalizada, de
colaboração com a equipa de formadores e entre todos os que fazem parte do grupo de
formação.
Denota-se que há práticas cimentadas de trabalho em equipa nas funções desempenhadas
no dia-a-dia que os trabalhadores-formandos facilmente transportam para a formação,
quando a isso são desafiados; os formadores também contam com isso. As decisões são
tomadas em conjunto, senão nas primeiras rondas das atividades - sendo que nestas os
formadores também não atribuem um tempo específico para a sua preparação, talvez para
que haja matéria para discussão e melhoria posterior -, sem dúvida nas segundas experiências
sobre a mesma atividade.
As atividades práticas são lúdicas e estimulantes, reportam-se diretamente a situações do
quotidiano da produção, com enfoque para tarefas da montagem final e algumas das
carroçarias. As prensas e a pintura não têm sido muito abordadas e/ou ilustradas, mas são
41
áreas muito específicas, que exigem uma preparação muito concreta e o seu treino exige,
também, equipamentos diferentes e mais exigentes dos que aqueles que o CTP detém. Sobre
isto mesmo falava com um dos formadores num dos intervalos.
Há uma preocupação constante em associar as atividades, por um lado, ao exercício
quotidiano do trabalho e, por outro, aos conceitos do sistema de produção do Grupo, que são
fundamentalmente influenciados pela lógica lean. Ou seja, há uma forte articulação entre a
formação, o trabalho em concreto e a produção enquanto sistema estruturante das ações do
trabalho. Isto pode querer dizer que a formação serve de suporte à apreensão dos conceitos
da produção que, de alguma forma, parecem não estar ainda a ser aplicados em pleno na
organização do trabalho. Os exemplos dados pelos formadores e pelos formandos são
exemplo de preocupações sobre a uniformização nos processos e procedimentos; a ênfase
colocada sobre a necessidade dessa uniformização e otimização - sobre a estandardização, a
aplicação dos 5S, a eliminação de desperdícios, por exemplo -, tem sido uma constante da
formação neste módulo.
42
Dados da realização das observações
Data: 16 de setembro de 2011
Horário: 7H00 às 15.30
Local: Centro de Treino da Produção
Atividade: Observação não participante do módulo L.E.G.O. Line (Linha L.E.G.O.)
Duração: 7 horas
Participantes: 2 formadores; 12 formandos
Registo de Observações Ideias-
Chave/Temáticas
A formação começa cerca das 7H10 e decorre em sala. Esta sala é, tal como
a outra que já conhecia, grande e bem iluminada. O centro da sala é
ocupado por uma estrutura feita de barras de alumínio que sustentam um
tapete rolante na horizontal, à altura da cintura, onde estão vários
tabuleiros dispostos em fileira; à volta dessa estrutura estão várias racks
com caixas de material variado, que percebo serem sobretudo peças de
Lego.
A estrutura é notada por todos os formandos que vão chegando, que se
aproximam para ver melhor de que se trata. Uns comentam “São mesmo
peças de Lego”, “Olha, vamos montar Legos” ou “Isto é uma linha de
montagem, tal e qual”. No fundo da sala estão cadeiras encostadas à
parede, em que os formandos se vão sentando segundo a orientação dos 2
formadores presentes. Há 15 cadeiras disponíveis, sento-me a uma das
pontas da fileira. Os formandos são 12.
Durante cerca de 20 minutos, os formandos apresentam-se a pedido dos
formadores – nome, idade, situação na empresa, estado civil, são alguns dos
dados pessoais referidos. A maioria dos trabalhadores não se conhece,
sendo que há pessoas pertencentes à Pintura, às Carroçarias, à Montagem
Fina, Qualidade (a maioria), Finanças, Logística e Recursos Humanos. Depois
disso, um formador informa que estão dois observadores externos: eu (que
me apresento e esclareço as razões da observação) e um outro elemento,
que se apresenta de seguida. Trata-se de um responsável pela melhoria
contínua numa empresa, que tem estado a observar alguma da formação
na ATRP e noutras empresas para construir um plano de melhoria para
aquela em que trabalha. Só depois os formadores se apresentam. Referem
Materiais da
formação
(peças lego;
estrutura feita
propositadament
e para este
módulo)
Reação positiva
dos trabalhadores
aos materiais da
formação
Apelo ao lado
lúdico
Apresentação dos
formandos
Caraterização do
grupo de
formação
Observadores
(outro, para além
de mim; de uma
empresa)
43
a experiência profissional na fábrica, comentam que estão ali alguns colegas
de postos em que já trabalharam.
Um dos formadores começa por explicar a agenda do dia de formação e
salienta os objetivos da formação: reconhecer as noções de desperdício, de
otimização e de qualidade, para além de alguns dos princípios basilares de
organização e desenvolvimento das tarefas do trabalho na empresa, como
o trabalho em equipa, a qualidade e os processos de melhoria contínua.
Explica o significado da designação do módulo, de origem alemã:
L – Lernen (aprender)
E – Erleben (viver)
G – Ganzheitlicher (global)
O – Optimieren (otimizar)
O formador explica que o objetivo é que todos os trabalhadores façam esta
formação, de todas as áreas e independentemente do tipo de vínculo à
empresa: cerca de 3.000 pessoas já o fizeram (muitas delas, antes de existir
CTP) e faltam cerca de 500.
Segue-se um momento expositivo, muito semelhante ao que já havia
observado no início dos Lean Games. Para além da evolução do Grupo
Automóvel e da empresa e dos seus objetivos no mercado a médio prazo, a
exposição refere-se à importância dos mercados em crescimento (Índia,
Brasil, China). Formadores explicam que todos os dados relativos à empresa
são dados oficiais, compilados pela empresa-mãe e enviados a todos os
Centros de Treino de todas as empresas do Grupo que têm estes Centros. A
exposição prossegue com a explicação dos conceitos de base e princípios do
sistema de produção do Grupo, apoiada em diapositivos (em tudo
semelhantes ao dos Lean Games).
Após cerca de 30 minutos de exposição, sem interrupções por parte dos
formandos (que, embora não participando, parecem interessados e alguns
Apresentação do
planeamento da
formação
Significado de
L.E.G.O.
Abrangência da
formação –
destina-se a
todos os
trabalhadores
Apresentação do
Grupo e dos
conceitos de
produção da
empresa
44
tomam notas), os formadores passam a explicar em que consistem as
estruturas que estão no meio da sala, cujo esquema se tenta reproduzir no
essencial:
Depois da explicação dada, um dos formadores lança uma questão ao grupo:
“O que consideram ser importante para que uma linha de montagem
funcione bem?”. A esta questão, os formandos vão dando algumas
respostas que vão sendo anotadas num quadro flipchart, que foram as
seguintes:
Informação
Afluência de peças
Treino
Boa disposição dos operadores
Especificações e instruções no local de trabalho
Ergonomia
Coordenação entre equipas
Organização do
espaço/materiais
Funcionamento
da linha de
montagem/organ
ização do
trabalho
Zon
a d
a Lo
gíst
ica
(rac
ks c
on
ten
do
cai
xas
com
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od
e p
esso
as
Zon
a d
e p
ost
os
de
trab
alh
o
45
Boa liderança
Depois de alguns minutos de troca de opiniões e esclarecimentos sobre a
importância e cada item assinalado, um dos formadores passa à explicação
da tarefa. Neste caso, como até aqui tinha intervindo apenas um formador,
é explicado que um deles assumirá mais a componente teórica e o outro a
componente prática da formação.
Depois de um curto intervalo, cerca das 8H30 a formação é retomada. O
formador da componente prática apresenta a atividade, na qual o grupo se
irá organizar como uma equipa de trabalho para fazer a simulação de uma
sequência de operações. Formador explica que cada posto de trabalho tem
uma carta de especificação no local, com um exemplo (imagem e texto
explicativo) de cada uma das partes do carro já construídas com essas
especificações.
No que diz respeito à zona da logística, o grupo deve decidir o que entra e
sai da linha, sendo que isso faz parte da organização do trabalho de equipa.
O objetivo inicial é construir dois carros: um amarelo com o volante à direita
e um preto com o volante à esquerda.
O formador explica que as peças disponíveis na logística estão classificadas
com códigos que distinguem as peças dos carros com volante à esquerda
dos carros com volante à direita. É explicado que a primeira tentativa de
montagem é apenas uma experimentação inicial: serve para repararem nos
pequenos detalhes, nas dificuldades surgidas, para depois poderem
preparar melhor a simulação.
É visualizado um filme que retrata todos os passos da montagem, com a
devida explicação das operações. De seguida, apenas 1 formando faz a
testagem do exercício. Esse formando é o que vai assumir o papel de team
leader do grupo, que é acompanhado de perto pelos formandos que
assumirão os diferentes postos de trabalho. A ideia é que o team leader seja
o primeiro a experimentar as dificuldades do exercício e que dê o exemplo
aos elementos que fazem parte a sua equipa. É de notar que o formando
Partilha de
opiniões
Apresentação/ex
plicação da
atividade
Logística
Organização de
materiais da
atividade
Visualização de
filme
exemplificativo
da atividade
Experimentação
do exercício
46
escolhido como team leader não tem qualquer experiência como tal, nem
trabalha na área da produção, mas nos recursos humanos.
Esta analogia é notada pelos formandos, ao que o formador confirmam: “na
formação como na realidade, deve ser o líder a dar o exemplo”. Apesar da
simulação de linha ter autómatos, esta está parada enquanto se vão
realizando as tarefas de cada posto de trabalho assinalado. O formador
também vai acompanhando o treino de perto, alertando para alguns
pormenores das operações.
Os formandos que desempenharão o papel de operadores de logística
observam todas as operações realizadas e vão tomando notas sobre as
peças e os códigos a elas associados para decidir que peças irão alimentar a
linha. Enquanto isso, o segundo formador vai alertando também para alguns
procedimentos da logística (como separar as peças, dividindo-as por caixas
e, eventualmente, decidir novas formas de codificação, mais evidentes para
os operadores).
Após esta experimentação, todos os passos da atividade são preparados
com muita cautela, sendo que o grupo reúne cerca de 5 minutos para:
Definir um nome para a equipa.
Decidir o número de carros que terão como meta de produção. O
grupo define que a meta será de 4 a 6 carros e o formador irá depois
balancear a velocidade da linha em função desse objetivo.
Fazer uma “limpeza” da linha, retirando de lá tudo o que foi
colocado no exercício de treino prévio.
O formador faz notar que, depois de iniciada a tarefa, a linha só é parada
por ordem do team leader, através da frases “Para a linha”. Depois, a
produção só reiniciará com a frase “Arranca a linha”. Estas ordens são
gravadas num autómato pelo team leader. A velocidade da linha é
balanceada para 6 carros, 12 minutos. Toda a sequência será filmada pelo
formador, para posterior análise pelo grupo.
Importância da
liderança
Atividade de
observação e
análise
Preparação da
atividade
1ª ronda da
atividade
47
A primeira simulação completa do exercício é então realizada. Nos minutos
iniciais tudo decorre com tranquilidade, mas a partir dos 2 minutos iniciais
começam a surgir os primeiros problemas. Há carros cujas peças vêm mal
montadas de estações anteriores e os operadores do meio da linha acabam
por ter de perder mais tempo com cada um. Num tom divertido, começam
a trocar comentários entre si, como “eu já sabia que ias fazer asneira, pá”,
“oh, estava-se mesmo à espera!”, “Isto já estava a correr bem demais”. O
team leader vai intervindo, tentando ajudar na correção das peças. Pelo
meio, vai incitando a equipa, dizendo “Vá lá, vá lá, o tempo está a passar”,
“Oh Nunes, vê lá se consegues dar ali uma mãozinha ao Zé”, “Isto também
não é o fim do mundo, tudo se arranja, a gente consegue”.
Depois dos 12 minutos passados, a linha para automaticamente. O grupo
reúne-se em redor da bancada final, que representa a zona de
armazenamento dos carros, para observar a obra feita. O formador verifica
a qualidade dos carros: 4 estão bem construídos, 2 têm pequenos defeitos.
Vai brincando com os defeitos encontrados: “Epa, estas portas nunca na
vida iam abrir”, “Eu gostava de saber para que serve um carro onde não se
consegue entrar!”. Todos os formandos se riem, enquanto vão comentando
o que poderá ter corrido mal na montagem de algumas peças. Ninguém do
grupo está distraído, todos dão atenção ao que se vai analisando e vão
dando opiniões.
Depois de assinalar os defeitos com bolas autocolantes coloridas, que
distinguem o tipo de gravidade dos defeitos, o grupo dirige-se para a linha:
contam-se os carros que ficaram a meio da construção, são 11. O formador
vai fazendo notar alguns problemas de organização do trabalho. Por
exemplo, a linha estava sobrelotada, levando a que o formador comentasse:
“ainda não eram carros e já havia trânsito”, sendo que 6 estações tinham 11
tabuleiros de trabalho. O formador revela um ótimo sentido de humor,
cativando facilmente os formandos. O ambiente é muito descontraído e
informal.
Com base no panorama da linha simulada, o formador refere-se ao princípio
pull e afirma que o mesmo não foi aplicado; os formandos acabaram por
Ambiente da
formação
Relação
interpessoal
Análise/reflexão
sobre a atividade
Sinalização do
erro
Conceitos da
produção
Introdução do
princípio push
48
aplicar o push, ou seja, “empurraram” trabalho demais na linha de uma
estação para a seguinte. O grupo concorda, alguns formandos afirmam que
mesmo na linha de montagem da fábrica todos conhecem o princípio pull,
mas normalmente o que cada estação quer é despachar trabalho. O
formador afirma que não adianta de grande coisa, porque na linha de
montagem real não se consegue “empurrar os carros”, mas que o princípio
de push é mais grave ainda no abastecimento das linhas e noutras zonas.
O formador observa que a logística está pouco organizada, pelo que desafia
os responsáveis dessa zona a repensarem o espaço e a forma de
abastecimento das peças à linha. É depois feito um intervalo de cerca de 10
minutos, durante o qual os formandos, apesar de saírem do espaço da
formação, continuam a comentar entre si a atividade e os detalhes a
melhorar.
No regresso do intervalo, o formador projeta o filme que fez da atividade,
pedindo que o grupo tome notas sobre o que vão vendo, o que lhes parece
menos bem e onde é que os problemas começaram, para “depois reunirem
com a administração e fazerem as vossas sugestões e pedidos, ok?” (todos
se riem).
No final do filme, é anotado num flipchart um conjunto de
problemas encontrados:
Algumas ações de operadores são dispensáveis; outros estão
sobrecarregados de trabalho.
Aceleração excessiva dos tabuleiros na linha.
Há erros de produção que são provocados pela
sobreprodução/sobrealimentação da linha.
Na logística, a divisão de peças pelas caixas e das caixas pelas racks
está mal concebida, não facilita a alimentação racional da linha.
O formador mais vocacionado para a componente teórica aproveita estas
“deixas” para introduzir mais alguns conceitos ligados à otimização dos
processos produtivos, tais como:
Tipos de desperdícios
Autoscopia
Reflexão sobre a
atividade me
conjunto
Formador
“vocacionado”
para as questões
teóricas –
apresentação de
conceitos lean
49
Noção de valor acrescentado
One touch/one motion
Poka Yoke
Espaço necessário para uma estação
Espaço de trabalho sem sobreposição
Distância das peças/componentes
Enquanto este formador explica estes conceitos, são várias as intervenções
dos formandos, ora por quererem mais esclarecimentos, ora para dar
exemplos concretos que conhecem, ora para acrescentar informação.
Denota-se que a maioria já está familiarizada com os termos, alguns dão
mesmo exemplos da vida pessoal para os ilustrar. Parece mais uma partilha
de informações do que uma exposição de caráter teórico. Enquanto isso, o
outro formador (da componente prática) vai arrumando todo o espaço da
atividade, recolocando as peças nos locais iniciais, sem intervir.
Depois da breve exposição “teórica”, que durou cerca de 30 minutos,
definem-se alguns objetivos de base para a reformulação da nova ronda da
atividade: reorganizar os postos de trabalho, reduzir os desperdícios,
identificar melhorias que permitam “zero falhas” e melhorar a ergonomia
de algumas posturas dos operadores. O formador lança as regras para esse
trabalho:
Podem alterar a posição das racks da logística.
Não podem alterar a posição a linha de montagem.
Não podem alterar as peças atribuídas a cada posto.
O posto número 5 pode ser a “cobaia” das alterações, que depois
são estandardizadas.
Não podem transferir operações para outros postos.
É feito novo intervalo, após o que o grupo se reúne e, sem a intervenção dos
formadores, constroem propostas de melhoria para o exercício. Um dos
elementos do grupo anota as alterações a propor no flipchart. O formador
Debate em torno
dos
conceitos/exempl
os da linha
Preparação de
reformulação da
2ª ronda do
exercício
Construção
conjunta de
proposta de
reformulação a
organização do
grupo
50
faz notar que, depois de almoço, o “administrador” (papel que ele assume,
no roleplay) irá analisar as propostas e decidir quais são aceites.
Cerca de 45 minutos depois o grupo interrompe as tarefas para almoço,
entre as 11H45 e as 12H30.
………………………………………………………………………………
De volta do almoço, são debatidas as propostas apresentadas pelo grupo
para melhorar o exercício. O formador vai estabelecendo paralelismos entre
as propostas que os formandos apresentaram e os conceitos anteriormente
apresentados (que agora estão afixados num quadro de cortiça, que o
formador trouxe para poder ir fazendo a análise das propostas).
O formador faz associações com as situações e postos de trabalho que
conhecem, enfatizando a possibilidade de transporem a “postura de
melhoria contínua para o trabalho real”. Ao conjunto de propostas dos
formandos, o formador acrescenta mais algumas sugestões, que são
aceites, como a introdução de ajudas visuais que ajudem a distinguir as
peças para abastecimento mais rápido da linha. Na prática, etiquetas com
cores diferentes para os diferentes tipos de peças/postos. No final desta
parte do trabalho, o formador insiste na ideia de que, no posto de trabalho
real, as equipas devem sempre fazer sugestões de melhoria, “que algumas
hão-de ser aceites”.
O formador sai então da sala com o team leader, para fazerem as ajudas
visuais, pedindo que todos fiquem a aguardar enquanto o fazem. O grupo
sugere que podem ir avançando com o trabalho, mas o formador que ficou
na sala insiste que devem esperar. Nem dois minutos depois, o outro
formador e o team leader regressam, já com todo o material necessário
etiquetado e reorganizado, que na verdade estava uma sala contígua,
pronto para ser usado nesta parte da formação. Todos se riem. Um dos
formandos comenta:” olha se na linha fosse assim tão rápido alterar as
coisas!”. O formador insiste: “Pode não ser tão rápido como aqui, mas
devem sempre tentar mudar as coisas”.
Debate sobre as
propostas de
melhoria
Associação com
os postos de
trabalho
Incentivo à
melhoria
contínua no
posto de trabalho
Reorganização
dos
materiais/espaço
s da atividade
51
O formador e a team leader reorganizam a zona da logística, substituindo as
caixas, dando algumas explicações sobre a nova organização do espaço.
Algumas das melhoria parecem implicar custos, conforme é notado por
alguns elementos, mas o formador explica que na maioria dos casos se trata
de materiais reciclados de outras operações e equipamentos.
De seguida, os formadores atribuem 30 minutos para que o grupo
reorganize os postos de trabalho de acordo com as melhorias discutidas e
aceites. Um dos formadores ajuda na gestão das alterações. O outro
formador faz cálculos com um dos “engenheiros” designados (o formando
que na primeira ronda tinha cronometrado os tempos por posto). Decidiram
propor realizar 16 carros em 12 minutos, o que o grupo aceitou. A
velocidade da linha foi balanceada segundo esse objetivo.
A segunda ronda foi, de facto, um sucesso: sem “entupimentos” e
“retrabalhos” ao longo da linha, todas as operações se simplificaram
bastante com as alterações feitas, a meta foi cumprida e nenhum dos 16
carros tinha defeito. Uma das melhorias mais significativas foi o facto da
zona de abastecimento ter sido colocada por detrás da linha de montagem,
para que os operadores apenas tivessem de esticar os braços para alcançar
as peças necessárias, que se tornaram igualmente mais fáceis de identificar
através das etiquetas distintivas.
A disposição da estrutura de apoio à atividade passou a ser a seguinte:
Realização da 2ª
ronda: otimização
Zon
a d
a Lo
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ica
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on
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do
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ma
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sad
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ro
lan
te)
Zon
a d
e p
ost
os
de
trab
alh
o
52
Depois de finalizada a segunda ronda, os formadores assinalaram a evolução
que o grupo conseguiu; também foram referidas questões que ainda
podiam melhorar, se houvesse uma terceira ronda. Os formandos também
foram acrescentado opiniões, algumas delas reportaram-se à 1ª ronda e à
experiência na linha de montagem real.
Todo o grupo ajudou o formador da componente prática, de seguida, na
arrumação da sala, repondo o layout inicial (para o próximo grupo de
formação), seguindo as orientações precisas dos formadores, “para não
deixar pistas para os outros”.
No final da arrumação da sala, o formador teórico encerrou os trabalhos da
formação com a apresentação de diapositivos com os resultados do grupo,
que ficou manifestamente espantado com o facto de o formador ter feito
gráficos e tabelas com os tempos e resultados da atividade. Mostrou
também alguns gráficos comparativos com outros grupos de 2011, por
exemplo: do número de tabuleiros em excesso, do número de carros
construídos, com e sem defeitos, a média de tempo por carro.
No final do conjunto de diapositivos, havia ainda um conjunto de imagens
dos formandos e da atividade do dia. Os formandos demonstraram o agrado
e verbalizaram que se percebia que os formadores tinham tanto ou mais
trabalho que eles naquela formação.
Numa ronda rápida de opiniões sobre o dia de formação, os formandos
assinalaram a boa disposição geral, o nível de participação de todos, o
dinamismo dos exercícios, a competência dos formadores e o espaço para
partilha de opiniões. Um deles afirmou que “até se tinham esquecido que
estavam lá mais pessoas”, referindo-se a mim e ao outro observador; todos
os formandos concordaram e os formadores agradeceram o nosso interesse
em observar a formação. Agradeci e elogiei a formação.
Depois de distribuídas e preenchidas as folhas de avaliação da formação (tal
como nos Lean Games), um dos formadores despediu-se com a frase: “E não
Análise/reflexão
sobre melhorias
Arrumação dos
espaços
Apresentação dos
resultados
“operacionais” do
grupo de
formação
Reconhecimento
do empenho dos
formadores
Ambiente da
formação
Reação aos
observadores
Apelo à
transposição da
formação para o
trabalho
53
se esqueçam do que aqui fizeram hoje: reduziram desperdício, aumentaram
a produção, melhoraram a qualidade dos carros e divertiram-se a trabalhar
em equipa!”. Todos se riram e saíram da sala, alguns comentando o quanto
a formação tinha sido “diferente de todas as outras”.
Observações adicionais:
Optei por ficar na sala, em vários dos intervalos, para completar algumas anotações que fiz. Há
bastante informação que é importante dar conta, entre os conteúdos e a forma como são
trabalhados, as metodologias e a reação dos formandos às mesmas. Os meios técnicos e
tecnológicos disponíveis são muito acima da média, tendo em conta a formação profissional que
conheço. Impressiona o facto de haver todo um automatismo criado para simular uma linha de
montagem “em ponto pequeno”, que funciona na perfeição e reproduz um conjunto de
operações que as pessoas executam no trabalho real.
As metodologias são criativas e envolventes, os formandos comentam que se sentem “a brincar
com carrinhos”, como na infância. As pessoas que constituem o grupo de formação pertencem
a diferentes setores da fábrica, alguns não relacionados com a produção, e quase ninguém se
conhecia previamente. A meio da manhã foi notória a facilidade com que se constituíram como
uma equipa de trabalho, o ambiente tornou-se rapidamente descontraído e bem-humorado. A
metodologia utilizada faz com que os formandos se identifiquem facilmente com as tarefas, que
criem laços entre si. Os formadores, por seu turno, têm uma atitude de “colegas” com os
formandos, independentemente da hierarquia que se lhes pudesse ser reconhecida ou que
pudessem ter antes de serem formadores, uma vez que trabalharam em diversas funções na
fábrica (a maioria como team leaders, figura que é altamente respeitada pelos operadores de
linha, pelo que já pude perceber).
É de notar a escolha do team leader para a atividade proposta: foi feita pelo grupo, e não pelos
formadores, sendo que a pessoa em causa se ofereceu precisamente por nunca ter trabalhado
na área e gostar de ter essa experiência. Os colegas apoiaram a ideia, nomeadamente um que
exerce essas funções numa das zonas da linha de montagem, e os formadores corroboraram que
as diferentes áreas deviam conhecer as diferentes funções, sobretudo experienciá-las. Foi
mencionado o quanto isso melhorava a comunicação entre as áreas e as hierarquias.
Há alguma repetição de métodos – entre o expositivo, dialogado e prático/ativo, nesta ordem –
entre esta formação e a que vi anteriormente, dos Lean Games. Há sempre momentos
posteriores à prática para refletir sobre o que fizeram e pensar em melhorias, em conjunto e
54
numa lógica de trabalho de equipa. A repetição de métodos revela uma coerência interna na
metodologia de formação do CTP, procurando ligar a teoria e as práticas, a reflexão com a ação.
Há também repetição dos conceitos trabalhados. Também na sessão dos Lean Games a que
assisti anteriormente, os conceitos ligados ao sistema de produção e da organização do trabalho
foram debatidos. Foram também colocados em prática, antes ou depois de serem debatidos.
Nessa sessão como nesta, os formadores têm consciência de quais os resultados dos exercícios
iniciais relativamente a alguns dos conceitos a introduzir, aproveitando para os debater com as
pessoas e fazer associações com as suas consequências no trabalho real.
De um modo geral, os trabalhadores não só confirmam que algumas das situações
demonstradas/simuladas acontecem na produção, como assumem que são práticas a melhorar.
Parece-me que um dos métodos do CTP é ir insistindo nas mesmas questões, nos diferentes
módulos, sobre os conceitos que são fundamentais para a organização do trabalho, até que os
conceitos do sistema de produção estejam a ser implementados por todos. Já tinha reparado
nessa recorrência nos referenciais da formação, mas seria impossível saber como são
operacionalizados sem assistir à formação.
O outro observador da sessão trocou algumas impressões comigo durante a formação, no
sentido de realçar o dinamismo da formação e a boa relação entre todos. Também comentou
que “infelizmente, nem todas as empresas têm os meios para fazer formação assim”.
55
Dados da realização das observações
Data: 07 de novembro de 2011
Horário: 7H00 às 15H30
Local: Centro de Treino da Produção
Atividade: Observação não participante do módulo Fundamental Skills – Montagem final e
Body (Competências Fundamentais de Montagem Final e Carroçarias)
Duração: 7H (de 40H) (1º de cinco dias)
Participantes: 3 formadores; 12 formandos
Registo de Observações Ideias-Chave/
Temáticas
Nota prévia
Os moldes em que esta formação ocorre merecem uma explicitação prévia.
Numa primeira fase o grupo de formação é um só. Será uma parte mais
teórica e genérica da formação, idêntica para os dois públicos-alvo:
operadores da Montagem Final e operadores das Carroçarias (ou Body,
como costumam designar internamente). Num segundo momento, os
grupos irão separar-se, de acordo com essa especificação.
Por se tratar de uma formação longa (5 dias seguidos, num total de 40
horas), e muito especializada, decidi acompanhar/observar o grupo geral e,
depois da sua divisão, tentarei observar os dois grupos de formação
alternadamente, uma vez que a formação se desenrola em espaços muito
próximos no CTP. Após esta experiência, considerarei se faz sentido
observar novamente estes módulos, desta feita dois grupos
separadamente.
A formação começa cerca das 7.10, numa das duas salas que já conheço de
outras observações. É feita uma apresentação básica dos formandos, como
de costume: nome, idade, situação na empresa e alguns interesses pessoais.
Também me apresento, agradecendo a possibilidade de observar a
formação.
O grupo é composto por 12 pessoas e estão 3 formadores em sala. Nem
todos os formandos têm experiência das áreas em que vão ter formação,
mas têm a expetativa de virem a trabalhar nelas. Vêm das áreas das Prensas,
Organização dos grupos da formação Apresentação dos formandos Caraterização dos grupos
56
Carroçarias, Montagem Final, Qualidade, Recursos Humanos e Planeamento
e Infraestruturas. Alguns já se conhecem de formações anteriores. De um
modo geral, todos mencionam terem feito o módulo L.E.G.O. Line e
manifestam o desejo de que seja uma formação “parecida”. Há sorrisos, o
grupo parece dinâmico, falam com desenvoltura.
Um dos formadores toma a palavra para apresentar a estrutura da formação
ao longo dos 5 dias. Informa sobre a divisão em dois grupos, que será feita
a partir do 2º dia. Inicia depois a exposição, apoiada em diapositivos, sobre
diversas questões relacionadas com a empresa e com o seu sistema de
produção.
Explica previamente que o sistema de produção foi concebido pelo Grupo
Automóvel com a participação de um elemento com experiência prévia
numa empresa de automóveis da concorrência (a Toyota), de quem surgiu
a ideia de criar os Centros de Treino nas empresas do Grupo para
disseminação dos conceitos e princípios básicos.
Não posso deixar de anotar que é a primeira vez que os formadores referem
a origem dos conceitos trabalhados de forma tão sistematizada e explícita,
apesar de serem claras as influências do toyotismo nos conceitos do sistema
de produção do Grupo.
É apresentada a organização interna do CTP, a sua integração na estrutura
da empresa, as formações existentes e as que estão planeadas (por
exemplo, o Fundamental Skills de Pintura). É igualmente apresentada a
história da empresa e do Grupo a que pertence, a sua expansão pelo mundo,
principais concorrentes e objetivos a médio prazo, os valores e diretrizes
que unificam a multinacional, enquanto “medidas necessárias para criar
uma consciência comum” (palavras do formador).
Noto que há 2 formandos que conversam entre si sobre questões paralelas,
mas ainda assim sobre carros, durante 2 ou 3 minutos. O formador não
interrompe nem os interrompe; os formandos acabam por se silenciar.
Estrutura da formação Apresentação do sistema de produção do Grupo Automóvel/posição no mercado Conceitos toyotistas Diretrizes da multinacional Consciência comum
57
Durante algum tempo, o formador discorre sobre os desafios atuais e
permanentes das empresas, dos quais realça (porque os escreve no quadro
branco):
• Agressividade dos mercados globais.
• Concorrência a nível global.
• Exigência dos clientes baseadas na excelência, na qualidade, no tempo
de entrega, nos custos.
Para estas questões, o formador avança com algumas medidas que têm sido
implementadas pelo Grupo:
• Melhoria dos processos e das estruturas
• Aumento da produtividade, da competitividade
• Aumento das garantias dadas pelas fábricas e empresas do Grupo.
Cerca das 9H o formador faz uma curta pausa na formação. Noto que
durante este tempo, e desde as apresentações, não houve participação
voluntária ou solicitada por parte dos formandos.
No regresso no intervalo, o formador prossegue a exposição, desta vez
sobre a temática ambiental, salientando os esforços da empresa
relativamente à preservação do ambiente no local em que as fábricas são
colocadas. Nesta altura, há 2 ou 3 formandos que participam, referindo a
ETAR da empresa, o sistema de tratamento da pintura. Salientam também
o reaproveitamento de peças e componentes e a separação dos resíduos
nas carroçarias. Estas ações têm permitido
reciclar toneladas de material. Muitos formandos revelam-se espantados.
O formador refere-se depois alguns dos princípios que mais são referidos na
formação: o pull e o push, a melhoria contínua, o trabalho em equipa, os 5S,
os desperdícios, solicitando a intervenção dos formandos para darem
exemplos que conheçam da sua própria experiência. Alguns referem alguns
postos de trabalho, outros fazem menção à formação do L.E.G.O. O
Desafios atuais das empresas Competitividade Qualidade Exigências do Cliente Medidas da empresa para o seu desenvolvimento Questões ambientais
58
formador refere a formação que está a ser desenvolvida ao nível e toda a
fábrica, o KVP – Cascata -, em formato de Workshops, para criar cadeias de
melhoria contínua em todas as zonas.
Seguem-se as apresentações da zona da Montagem Final e do Body por dois
formadores diferentes, partindo de mapas projetados que revelam a
estrutura das linhas, os responsáveis pelas estações e os pontos de
verificação de qualidade. Um dos formandos mais jovens manifesta não
conhecer a estrutura hierárquica das linhas, uma vez que foi integrado na
empresa há pouco tempo.
Um dos formadores explica que as equipas normalmente têm entre 8 a 12
elementos, “as equipas respondem aos team leaders, os team leaders
respondem aos supervisores”, e depois à hierarquia superior. Acrescenta
que os turnos são dois – das 7H às 15H30 e das 15H30 às 24H -, com dois
intervalos por turno de 7 minutos cada, 30 minutos de almoço e 30 minutos
por semana para reunião de equipa. Esta explicação é dirigida aos
trabalhadores mais recentes da empresa, sobretudo. Os mais antigos vão
anuindo à medida que a explicação é dada.
Às 10H30 é feito novo intervalo e no regresso o tema é o trabalho de equipa.
O formador que tinha falado antes do intervalo refere que “Uma equipa é
mais do que o somatório das performances individuais”. Parece uma frase
citada, mas não estou certa e o formador não a apresenta como tal.
Continua a usar o mesmo tom pausado e baixo que anteriormente e capta
facilmente a atenção de todos.
Lança a pergunta: “Então e o que é para vocês trabalhar em equipa?”. São
várias as opiniões dadas, das quais retive: “ conhecer bem os colegas”,
“funcionar bem em conjunto”, “respeitar as hierarquias”, “cada um saber o
seu lugar e a sua função”, “ajudar os colegas”. O formador vai comentando
e colocando outras questões, algumas em provocação, tal como: “então e
não têm de respeitar os colegas tanto como o team leader?”, ou “e se
houver mais que uma função para cada um?”.
Conceitos do sistema de produção Estrutura hierárquica da linha de montagem Reuniões de equipa Trabalho de equipa
59
Salienta que é preciso saber que funções cada um tem mas também é
fundamental estar apto para fazer todas as funções da equipa, para
substituir e/ou ajudar os colegas e para que possa haver rotatividade dentro
da equipa.
Segue-se um conjunto de enunciados em diapositivos, que o formador vai
lendo e comentando; no essencial:
• Objetivos do team leader: representar, coordenar e informar sobre os
problemas e sugestões da equipa.
• Objetivos da reunião semanal da equipa: coordenar tarefas, articular
com as tarefas a montante e a jusante da sua equipa e de cada
operação da equipa.
Sobre a reunião semanal de equipa, o formador salienta que faz parte do
horário de trabalho, mas nem sempre é compatível como fluxo de trabalho.
Muitas equipas dividem em 3 reuniões semanais de 10 minutos cada. O
formando mais jovem comenta que lhe parece que esse tempo é curto;
outros formandos vão dando opiniões diferentes: que nem sempre se
cumprem quaisquer reuniões, que depende das dinâmicas do líder ou que,
mesmo sendo pouco tempo, as experiências que têm demonstram serem
frutíferas.
O formador salienta que esta metodologia de trabalho – o trabalho de
equipa - tem várias vantagens, para os operadores e para a empresa:
• Permite fazer uma formação e uma qualificação contínuas dos
operadores.
• Há uma maior identificação com todo o trabalho feito pela equipa.
• O trabalho torna-se menos monótono. Havendo mais rotatividade de
funções há também menos problemas de saúde, porque há menos
repetição de operações.
Funções na equipa de trabalho Vantagens do trabalho em equipa
60
• As equipas tornam-se mais versáteis se cada um detiver as
competências para, pelo menos, dois postos de trabalho.
• A tendência é a de haver cada vez mais rotatividade de funções (como,
assinala o formador, acontecia há alguns anos, em que todos faziam
todos os postos).
• Para a empresa, há uma maior redução de custos, enquanto aumenta
a produtividade.
Algumas destas vantagens foram enunciadas pelos formandos e, depois,
complementadas pelo formador. Há alguma dinâmica de partilha de
opiniões. Noto que há dois ou três formandos que, de vez em quando, fazem
comentários paralelos entre si, em voz baixa. Nunca são interrompidos pelo
formador.
A sessão prossegue em torno da temática da qualidade. São vários os
conceitos e normas que o formador apresenta em diapositivos. Apresenta
várias noções de qualidade, que vai comentando, assim como os formandos:
• Qualidade é quando o cliente regressa e não o produto.
• Qualidade é a ausência de erro.
• Qualidade é a concordância entre o real e a teoria – e a teoria é
definida pelo cliente.
• Qualidade é adaptada às necessidades, é um produto adequado e
fiável.
Um dos formandos intervém, dando vários exemplos de falhas de
qualidade, não só na fábrica como em outras marcas de automóveis. Tem
experiência na área. Referem-se casos mais graves do que outros, todos vão
dando um pouco a sua opinião sobre os exemplos dados. Formador alerta
que a qualidade atribuída a uma marca define a procura dos produtos dessa
marca e o seu estatuto junto da opinião pública. Muitos dos exemplos dados
sobre marcas com qualidade são de automóveis considerados de luxo,
formador vai referindo que “esta” e “aquela” marca já pertencem ao Grupo
Reações dos formandos Conceitos e normas de qualidade Exemplos do quotidiano de trabalho
61
da empresa em que trabalham; o grupo é unânime em reconhecer que,
junto de família e amigos e na opinião pública em geral, a marca desta
empresa é reconhecida pela segurança e pela qualidade.
O formador pergunta: “Como é que produzimos qualidade, então?”. Das
respostas, retém-se que é importante seguir os processos predefinidos
(standards), e o trabalho em equipa. Durante esta troca de ideias, o grupo
estava muito participativo, mas volta a ficar em silêncio pouco tempo
depois.
O formador continua a apresentar alguns sistemas de controlo de
qualidade, salientando a importância das normas definidas por cada
sistema. De seguida, volta a interpelar o grupo, pedindo que indiquem
algumas das exigências que eles próprios, como clientes, colocam quando
compram um automóvel. As respostas são as seguintes:
• Frequência de reparação reduzida
• Ausência de falhas
• Fiabilidade
• Bons acabamentos
• Consumo reduzido
• Durabilidade
• Conforto na condução
• Individualidade
• Equipamentos interiores funcionais
• Standards de segurança elevados
• Novas tecnologias
Formador volta à exposição, referindo mais uma norma/sistema de
qualidade. Até ao momento já referiu a DIN ISSO 8402, o FIS, o FIS-eQs, a
ISSO 9001, VDA 6.1 e vários tipos de auditorias internas que vão sendo feitas
na fábrica.
Há muita informação a ser passada; no entanto parece-me que a postura do
formador – interpelando os formandos –, o facto de dar muitos exemplos
Qualidade Sistemas de controlo da qualidade Normas de qualidade
62
do trabalho real e de convocar a experiência dos formandos, acaba por
“aligeirar” esta parte da formação.
Nota-se, também, que desde que o formador começou a falar sobre
qualidade, e quando é menos “teórico” sobre o assunto, os formandos
dialogam muito mais. Uma vez que estão colocados em diferentes partes da
fábrica e têm diferentes níveis de experiência (alguns trabalham mesmo nas
equipas de controlo da qualidade), esta parte da formação começou a
tornar-se mais dinâmica.
Algumas questões são comentadas pelo formador sem “pudor”, por
exemplo, a forma como os dados são manipuláveis pela linha para que
pareça que a produção está a decorrer sem anomalias nem defeitos,
situação que é depois “desmentida” pela quantidade de carros que estão na
zona das reparações. Este assunto anima ainda mais alguns formandos, que
dão exemplos de como essa manipulação é fácil de fazer.
Durante cerca de 5 minutos, várias são as conversas paralelas que
decorrem: o formador com um dos formandos que trabalha na qualidade,
vários parceiros de carteira, os outros dois formadores. É interessante, no
entanto, a forma como ninguém se interrompe, nem o formador, e como
ninguém se incomoda com este momento que poderia ser lido como mais
“caótico” da formação.
Quando o formador informa que são horas de almoço, alguns dos
formandos ficam ainda em sala, continuando a conversa que estavam a ter
antes.
Noto que o 3º formador ainda não interveio, apesar de se ter mantido de
pé, em diferentes locais da sala.
………………………………………………………………………………
De regresso do almoço, a exposição voltou a ser feita pelo primeiro
formador da manhã. Desta vez, insistiu-se nos conceitos associados ao
Metodologia da formação Reação dos formandos à componente teórica Questões da produção
63
sistema de produção, tal como já tinha acontecido nos Lean Games e no
L.E.G.O Line. Assim, durante cerca de duas horas, falou-se de:
• 5S
• Tipos de desperdício
• Processos pull
• Tempos de ciclo
• Just in Time
• Valor acrescentado
• Comunicação
• Standards
• Ciclo de Deming – PDCA
• Folhas de trabalho standard (SAB)
Não me pareceu relevante transcrever toda a informação transmitida sobre
estes conceitos. No entanto, houve algumas questões de relevo pelo meio,
nomeadamente no que diz respeito à intervenção do formador.
Uma delas tem a ver com o método do formador para introduzir cada bloco
de informação: iniciou sempre pelos conhecimentos prévios dos formandos.
Depois de os questionar sobre o que sabiam e se aplicavam no local de
trabalho, desenvolvia então os conceitos, com base em diapositivos. Por
essa razão, conseguiu que os formandos não se dispersassem muito e
participassem com alguma regularidade.
Outro elemento a considerar é o espirito autocrítico revelado em várias
situações. Por exemplo, ao começar a falar dos tipos de desperdício,
comentou com o grupo “Isto é a sequência do costume, não é? Pode ser
maçador, mas vamos falando do que sabemos primeiro.”. Numa outra
ocasião, e como 3 formandos insistiam em manter uma conversa paralela,
o formador interrompeu e sugeriu uma pausa que, pelo que percebo, foi
antecipada. Para além disso, revelou sentido de humor e soube aproveitar
os comentários dos formandos para complementar as ideias.
Conceitos de produção Apelo à experiência/conhecimento dos trabalhadores Espírito autocrítico dos formadores
64
O grupo foi-se mantendo medianamente participativo, por vezes mantendo
algumas conversas paralelas. Praticamente nenhum tomou notas, só 3
formandos trouxeram caderno e caneta.
Um dos assuntos que mais animou o grupo foi a comunicação, em que vários
foram os exemplos dados, mais e menos positivos, da experiência na
fábrica. O formador insistiu que essa era uma meta da empresa, melhorar a
comunicação, e os formandos foram apontando as maiores dificuldades
sentidas para chegar a essa meta, como a falta de tempo na linha.
………………………………………………………………………………
Aproveitei o intervalo para analisar toda a informação anotada desde a hora
de almoço; acabei por optar resumir os conteúdos, muitos deles repetidos
de outras formações, e concentrar-me nas “formas”.
………………………………………………………………………………
Depois de um intervalo entre as 14H30 e as 14H45, o grupo reuniu-se, sob
indicação prévia do formador, no exterior da sala. Segundo foi explicado,
até ao final do dia de formação o objetivo é conhecer o espaço do CTP e a
zona em que cada grupo fará formação.
Depois de apresentarem o espaço em que cada grupo irá desenvolver o
resto da formação, o formador (que passarei a designar por A) informa que
ficará com um outro (o que não interveio até ao momento, que será o
formador B) com o grupo da Montagem Final e que o formador que falou
mais sobre as questões da qualidade (formador C) ficará responsável pelo
grupo do Body.
Ficarão 8 pessoas na Montagem Final e 4 no Body, formador C explica que
o espaço que vão ocupar não comporta mais formandos de cada vez, porque
o material que usam ocupa mais espaço (como se viu antes durante a visita).
Antes ainda de encerrar o dia de formação, o formador A pede a atenção
para o facto da reunião do grupo ser sempre na chamada “zona de treino”.
Conforme vai explicando nessa mesma zona, há um conjunto de exercícios
Comunicação na empresa À parte Divisão do trabalho pelos formadores Divisão dos formandos pelas áreas de formação
65
que todos os formandos terão de fazer antes de se dividirem e começarem
os trabalhos.
Na zona de treino há quatro exercícios, cujo objetivo é fazer um
aquecimento de músculos e articulações de mãos, braços, ombros e tronco.
1. Bolas maleáveis: colocando três bolas em cada mão, os formandos
devem fazê-las rodar durante um minuto, sem as deixar cair.
2. Enrolar cabo: numa bancada vertical estão pregados alguns tubos de
plástico. Os formandos têm de enrolar o cabo à volta de cada um dos
tubos, num sentido e sequência predefinidos. Sempre que a sequência
não é respeitada, o exercício tem de ser reiniciado. Como desafio
pessoal, cada um pode contar o tempo que demora para ir verificando
a sua evolução, em termos de rapidez e destreza.
3. Enrolar cabo com peso: implica o manuseamento de um instrumento
feito com duas varas, que se juntam numa das extremidades, ficando
uma perpendicular à outra. Nessa vara perpendicular estão
penduradas duas cordas, a uma distância entre si que permite segurar
a vara com as duas mãos; na extremidade das cordas estão dois sacos
com cerca de 1Kg. O objetivo é rodar a vara com as mãos de modo a
que as cordas vão enrolando à sua volta e trazendo os sacos atrás, para
depois as desenrolar lentamente, através do movimento inverso,
repetindo o exercício algumas vezes.
4. Passar cabo: numa bancada horizontal estão pregados tubos de
plástico, em posições assimétricas entre si, cada um deles com uma
argola aplicada na ponta. Os formandos terão de fazer passar um cabo
por cada uma das argolas, numa sequência predeterminada,
implicando movimentos de mãos em sentidos variados. Tal como no
exercício “Enrolar cabo”, a atividade tem de ser reiniciada se a
sequência não for respeitada; cada um pode cronometrar o tempo de
execução.
Os exercícios de aquecimento acabam por funcionar como desafios
pessoais: vários são os formandos que treinam e cronometram, sobretudo
Zona de treino/zona de aquecimento
66
o 2º e o 4º exercício. O formador mostra que, por cima da bancada destes,
está uma tabela onde podem ir registando os tempos. Todos acham graça à
ideia.
Depois de encerrada a formação, falei um pouco com os formadores,
explicando qual seria a minha estratégia para os dias seguintes, sobre
acompanhar ambos os grupos alternadamente. Demonstram toda a
disponibilidade e acrescentam que estou totalmente à vontade para
observar as vezes que quiser, colocar questões e até experimentar a
formação. Esta questão já me foi colocada antes.
Desafio/competividade da zona de treino
Observações adicionais:
Almocei com um grupo alargado de formadores do CTP. O formador que orientou a parte final
da manhã de formação perguntou-me o que estava a achar. Comentei com ele a animação final,
a propósito das questões da qualidade e das reparações finais, e o formador conversou comigo
bastante tempo sobre isso. Explicou-me que no grupo de formação há várias pessoas que
trabalham na qualidade e outros que trabalham nas reparações, pelo que os diálogos a que
assisti são naturais e “também são formação”. As questões da qualidade são, segundo o
formador, um dos pontos críticos da fábrica, nomeadamente na Montagem Final, pelo que a
direção da produção quer inverter a tendência e insistir muito na qualidade dos processos e dos
produtos.
67
Dados da realização das observações
Data: 08 de novembro de 2011
Horário: 7H00 às 15H30
Local: Centro de Treino da Produção
Atividade: Observação não participante do módulo Fundamental Skills – Montagem final e Body
(Competências Fundamentais de Montagem Final e Carroçarias)
Duração: 7H (de 40H) (2º de cinco dias)
Participantes: 3 formadores; 12 formandos
Registo de Observações Ideias-Chave/
Temáticas
Conforme combinado no dia anterior, o grupo reúne-se na zona de treino e
realiza os exercícios de aquecimento. O ambiente de início do dia de formação
torna-se mais dinâmico, na medida em que os exercícios são lúdicos e apelam
a alguma disputa entre os formandos. Quando todos completam os
exercícios, o formador B (que no dia anterior tinha estado sobretudo como
espetador) refere algumas normas de segurança que terão de cumprir: usar
roupa de trabalho, incluindo as botas de biqueira de aço, cobrir os cintos e
não usar relógio (ou usar a proteção própria que costuma ser usada por alguns
operadores na fábrica), fios, anéis ou pulseiras. Uma vez que há pessoas que
não usam farda de trabalho, é-lhes pedido que tragam calçado que proteja os
pés de algum objeto que possa cair e magoar.
Enquanto os formandos se vão dividindo pelas duas zonas de formação
prática, o formador C desafia-me a experimentar os exercícios de enrolar o
cabo e passar o cabo, os dois exercícios mais complexos, dizendo “vá lá que
ninguém está a ver, isso é engraçado”.
Perante a insistência e amabilidade do formador, resolvo fazer a experiência.
Efetivamente, não é fácil reproduzir os movimentos na sequência pedida,
sobretudo tentando ser rápida. De acordo com o formador, quanto mais se
faz, melhor e mais rápido se consegue fazer.
Montagem Final
O espaço desta formação está organizado de maneira a que os formandos
tenham, cada um, um posto de trabalho; 8 postos, ao longo de um corredor
formado pelas próprias bancadas de trabalho, 4 de cada lado do corredor. Por
Zona de treino
Competitividade/
desafio pessoal
Regras de
segurança
Organização do
espaço de
formação da
Montagem Final
68
cima de cada bancada de trabalho há um monitor de computador e um
teclado. O formador B explica que no computador apenas corre um programa
de apoio àquela formação, “por isso escusam de tentar ir à net”. Risos.
Por debaixo da bancada de trabalho estão vários materiais (parafusos,
estruturas metálicas com furações, chaves, porcas, entre outros). O formador
explica que as bancadas foram imaginadas e construídas pela equipa do CTP
com materiais da fábrica (a admiração é generalizada), “Menos os
computadores”. Risos novamente.
Acima das bancadas, numa das paredes existem placards com informações
sobre os conceitos do sistema de produção: 5S, tipos de desperdício,
elementos básicos do sistema; SAB. Enquanto o formador apresenta todos os
meios e materiais disponíveis, pergunta quem já fez os Lean Games. Uma vez
que todos afirmam ter feito o módulo, o formador apela à memória que têm
sobre a troca rápida de ferramentas, que irão treinar ali.
Segundo explica o formador, o treino que irão fazer pretende ir
complexificando as operações gradualmente. Afirma que tem a noção que os
formandos já dominam muitas das operações complexas que ali irão treinar,
mas que algumas delas não são feitas de acordo com os procedimentos
instituídos, levando a falhas de qualidade na produção que originam
retrabalhos e mais custos para a empresa. O formador acrescenta “Eu sei
porque também já lá trabalhei e sei que nem sempre é fácil fazer melhor.”
Passa depois a explicar as fases de cada exercício/operação:
Terão sempre um vídeo de apoio para cada operação, que devem
visualizar previamente no computador.
No mesmo programa, têm as diversas fazes de cada operação,
explicada e demostrada. Podem visualizar as vezes que quiserem.
Depois de treinada cada operação, devem realizá-la de novo com o
cronómetro próprio do programa, que têm uma espécie de semáforo
e vai avisando, com a cor, se o tempo está a ser cumprido ou não,
passando de verde, a amarelo e a vermelho, cor que significa que não
Tecnologias na
formação
Materiais
Placards
informativos
Interrelação entre
os módulos de
formação
Treino/complexifi
cação crescente
Qualidade
Melhoria
contínua
Explicação da
sequência de
atividades
69
conseguiram fazer a operação no tempo necessário e, por isso, devem
treinar um pouco mais.
Se não conseguiram fazer a operação no tempo necessário, devem
treinar um pouco mais e voltar a usar o “semáforo” para verificação
final.
Pede-lhes depois para irem experimentado o programa de computador,
verificando os materiais que têm, para estarem familiarizados com as
bancadas de trabalho quando começarem os exercícios. Enquanto fazem isso,
eu sigo para a zona do Body.
Body
O espaço é em tudo semelhante ao da Montagem Final, embora com
bancadas diferentes. O programa de computador é idêntico, mas versa sobre
operações realizadas nas carroçarias. Um dos formadores está a explicar que
os programas vêm da empresa-mãe e depois são traduzidos para Português,
porque o objetivo é estandardizar a preparação/formação que os
trabalhadores do Grupo têm em todo o mundo. Um formando diz que isso lhe
faz “um bocado impressão”; o formador responde “Mas tem vantagens, olhe
se quiser ir trabalhar para uma fábrica noutro país qualquer? Tem a mesma
preparação que os outros”. A discussão não desenvolve.
As diferenças mais significativas entre este espaço e o da Montagem Final são
o número de bancadas e o tipo de materiais que estão disponíveis: perto das
bancadas de trabalho, estão armazenadas de forma metódica várias peças de
carros, como para-choques e portas. Para além disso, há uma carroçaria
inteira de um carro num dos cantos do espaço da formação que o formador
apresenta como sendo a sua mascote.
………………………………………………………………………………
Cerca das 8.45 ambos os grupos fizeram uma pausa, de cerca de 15 minutos.
Eu aproveito para organizar as anotações. Por enquanto, parece-me
exequível acompanhar os dois grupos. Resolvo começar a trocar impressões,
esporadicamente, com alguns dos formandos e formadores em momentos de
Organização do
espaço de
formação do
Body
Estandardização
ao nível global
Questões do
emprego
Materiais da
formação
70
pausa, porque já percebi pelas experiências de observação anteriores que há
sempre informação interessante que passa – impressões, opiniões, reações à
formação que me interessa captar.
………………………………………………………………………………
Body
Tal como no grupo da Montagem Final, o formador explica a metodologia de
trabalho a seguir na execução dos exercícios, que chama de “aprendizagem e
treino”. Percebo que o grupo da Montagem final já estava mais adiantado nas
explicações sobre as atividades.
Para além das recomendações de segurança prévias, o formador distribui
luvas de proteção. Segundo explica, os formandos irão trabalhar com
ferramentas perigosas, como os selantes e a soldadura. Por outro lado, as
luvas que distribuiu pelos formandos (deu-me umas a mim também, para
poder confirmar o que ele ia dizendo; disse-o com um ar bem disposto) são
feitas de um material que é sensível às rebarbas e outras saliências que as
peças do carro possam ter, pelo que têm uma dupla função: proteger e
verificar a qualidade.
Antes de avançar, o formador refere que as atividades terão uma lógica cíclica
e uma complexidade crescente: explicação da operação; visionamento do
filme; conjunto de passos a dar; ir buscar materiais; treinar com apoio do
formador e da ajuda visual; testagem final. Diz o formador que “pode haver
variações pessoais, desde que não saiam fora dos standards das orientações
visuais e auditivas.”. Enquanto vai explicando as questões relativas à
sequência das operações, resolvo ver o que se vai fazendo na Montagem
Final.
Montagem Final
Neste momento, estão a treinar a operação de apanhar 4 peças – parafusos -
de cada vez e analisar se têm defeito. Trata-se de treino puramente mecânico
que integra um exercício mais complexo. Quando me vê aproximar, é o
Metodologia de
“aprendizagem e
erro”
Questões de
segurança
Complexificação
crescente dos
exercícios
Standards
Treino mecânico
de operações
71
formador que me explica o que os formandos estão a treinar. Explica que é
fundamental que os operadores aprendam a segurar de uma só vez várias
peças na mão, de preferência sem olhar, para que todo o resto do trabalho
seja mais agilizado; é uma operação simples que entra em várias operações
complexas. Diz o formador que, apesar de ser repetitivo, “parece mais seca
do que é” na realidade.
Fico a observar o grupo durante alguns minutos e confesso que fico
impressionada. Ao final de algum tempo, conseguem pegar em 4 parafusos
de cada vez, sem olhar, levá-los à ponteira da aparafusadora e aparafusar na
furação. Isto, sem demorar muito tempo. Nem todos os formandos trabalham
na montagem final, pelo que a destreza que observo não tem só a ver com a
experiência que já trazem. O formador vai incentivando bastante, sobretudo
os que não tinham experiência prévia.
Body
Por aqui, fazem a análise de defeitos de uma chapa pintada com a ajuda da
contraluz. Formador vai explicando técnicas para usar a luz na identificação
de detalhes e defeitos. Aproxima-se de cada um dos formandos, à vez,
colocando-se de forma a ver a chapa do mesmo ângulo e corrigi-lo, para que
possam encontrar melhor os defeitos. Vão dizendo “Ah, pois é, está ali um
defeito”, “Bem, eu não via ali nada, mas está lá uma mossa, está”.
Outro exercício caricato consiste em colocar uma mão em cima de uma
balança, com a palma da mão virada para baixo e fazendo uma pressão
constante, com que pese sempre entre 5 e 10 kg. Explica o formador que o
treino de sensibilidade manual é muito importante. De outra forma, não vão
conseguir “colocar por exemplo, 80 cm de sealer com espessura e cadência
corretas”.
Um dos formandos, que tem experiência em colocação de sealer, realiza o
exercício com mais facilidade. Concorda com o formador e diz que o sealer é
das coisas mais importantes no carro, porque é como o cimento para as casas.
O formador sorri e concorda.
Consequências da
repetição do
treino
Qualidade
Técnicas de
verificação de
qualidade
72
………………………………………………………………………………
Do que é possível observar, cada tarefa é básica, no sentido em que implica
apenas uma ação/operação. No entanto, percebe-se que a ideia é que as
tarefas evoluam em complexidade, implicando a aplicação das ações mais
básicas treinadas anteriormente.
A postura dos formadores é de apoio e esclarecimento constantes. Vão
explicando aos formandos, um de cada vez, a importância das ações que estão
a realizar, ainda que lhes pareçam irrisórias no contexto geral das tarefas que
já executam no trabalho.
………………………………………………………………………………
Montagem Final
Neste momento, a sequência de operações do primeiro exercício está a ser
testada. O tempo ideal seria de 2 minutos, mas vários são os semáforos que
ficam a vermelho antes dos formandos concluírem a tarefa. A reação dos
formandos é curiosa, porque reclamam com o semáforo, dizem piadas sobre
“nunca terem sido bons condutores” e coisas do género. O formador A
assinala que só um deles conseguiu fazer a sequência corretamente no tempo
definido, e que não era operador da montagem final. Todos se riem da
situação.
Formador pede para tentarem novamente. Desmontam as peças todas e
voltam a coloca-las nos locais iniciais. Agora o tempo será o da linha de
montagem: 1m25seg. Novamente, é o mesmo formando que consegue
cumprir o tempo, mas com algumas falhas na qualidade das operações
De seguida, o formador acompanha um a um os formandos na execução das
operações, assinalando os passos em que alguma coisa está a falhar. Os
formandos vão dialogando com o formador e repetindo as operações. Cerca
de 20 minutos depois, todos conseguem executar a tarefa no tempo previsto
e com a sequência pretendida. Um formando comenta: “Não é fácil conjugar
tempo, qualidade e sequência obrigatória”; os outros concordam e o
Nível de
dificuldade das
tarefas/operaçõe
s
Postura dos
formadores
Treino/teste
Treino de rapidez
Objetivo do
treino
Tempo, qualidade
e sequência
73
formador afirma que “esse deve ser o objetivo mas requer treino”. Outro dos
formandos comenta que a entreajuda foi fundamental e o formador repete:
“esse deve ser o objetivo mas requer treino”.
Body
O formador explica alguns cuidados a ter na colocação do sealer,
acrescentando que é um material fundamental na ligação dos componentes
da carroçaria, para além da soldadura, e que deve ser bem colocado.
Formandos vão visionando as diferentes etapas do exercício, no computador;
formador vai a cada posto confirmar que estão a entender o que se pretende.
Por vezes, explica por outras palavras e exemplifica os modos de colocação
da pistola do sealer, inclinação, espessura, entre outros pormenores.
………………………………………………………………………………
Quando terminam cada operação completa, os formandos preenchem uma
folha, designada “Folha de confirmação de técnicas básicas”, onde vão ser
registados os progressos individuais. Estas folhas de registo individuais
acompanham toda a formação e no final são assinadas pelo formador e pelo
formando. É, segundo os formadores, uma forma de lhes conferir valor pelo
que fizeram. A folha fica com as pessoas e assim podem sempre relembrar o
que fizeram na formação.
………………………………………………………………………………
Body
No regresso do almoço, começam por treinar a aplicação de sealer, após o
visionamento filme do programa de computador e as explicações passo a
passo pelo formador. Numa primeira operação, as linhas sobre as quais têm
de colocar o sealer são retas, com espessuras diferentes: 3, 5 e 8 milímetros.
Todo o equipamento necessário está na bancada de trabalho, incluindo a
pistola e o tubo que transporta o sealer. A espessura depende da inclinação e
da pressão. A linha tem de ser uniforme e não ficar com bolhas. Rapidamente
Verificação dos
progressos
individuais
Complexificação
das atividades
74
os formandos percebem o quando a tarefa é complicada, à exceção do que já
trabalha com aquele material no dia-a-dia. O formador pede, nas diferentes
tentativas, que este formando o ajude a orientar os colegas. O treino repete-
se durante cerca de 10 minutos.
………………………………………………………………………………
Montagem Final
A sequência de treino das operações prossegue, numa nova atividade, mais
complexa que a anterior. Implica o aparafusamento de várias espessuras de
parafusos, mudança de ponteiras, furações de diferentes diâmetros.
Noto como os formandos retiram 3 e 4 parafusos de cada vez das caixas de
material, conforme tinham treinado num exercício anterior. As orientações
que visualizam são claras, os formandos vão treinando. De vez em quando,
um formando pede ajuda ao formador, às vezes chama-o só para confirmar
que estão a fazer bem. O que se observa e o ambiente que se sente é mais de
trabalho do que de formação, e o formador faz parte do trabalho de equipa.
Observo as testagens do semáforo, que passou a ser um momento desafiante
para os formandos. Querem sempre fazer mais rápido e tentam que a cor não
chegue a mudar para o amarelo. Depois de várias tentativas, todos
conseguem executar as operações no tempo definido e o formador diz: “Estão
a ver? Qualidade, tempo e sequência. É tudo uma questão de treino e de
trabalho em equipa.” Os sorrisos e comentários de satisfação dos formandos
confirmam que estão interessados e envolvidos na atividade.
No final da atividade um dos formandos pergunta qual é a operação seguinte.
O formador responde: “A próxima operação é, como sempre, arrumar a
bancada.”.
………………………………………………………………………………
Body
Repetição/treino
Complexificação
das atividades
Treino
Vantagens do
treino de
operações
Organização do
trabalho na
formação
75
Estão a finalizar o treino de colocação e sealer em três linhas verticais, com as
mesmas espessuras que as anteriores (horizontais). O formador vai
chamando a atenção para a ergonomia e para conjugarem a perfeição da
colocação do cordão de sealer com as posturas mais vantajosas para o corpo,
de modo a prevenir algumas doenças profissionais.
Observo as atividades durante alguns minutos, impressionada com a minucia
necessária para a operação. O relacionamento entre os formandos é já de
uma grande familiaridade, ajudam-se mutuamente. Quando um consegue
fazer a tarefa dentro do prazo do semáforo, os outros batem palmas.
De seguida, têm de colocar sealer sobre riscas onduladas. Quando veem as
ondas sobre as quais terão de colocar o sealer, riem-se enquanto um deles diz
“Eia, agora é que vai ser!”. Antes de avançarem, decidem que é altura de
fazerem um intervalo.
………………………………………………………………………………
Montagem Final
O exercício para o qual se preparam implica a utilização e uma chave
dinamométrica, ou chave de torques. O formador demora-se algum tempo a
explicar como funciona a chave, alguns dos formandos não conheciam a
ferramenta.
Enquanto visualizam o filme sobre a operação a realizar (estão em redor de
um só computador), o formador vai acrescentando explicações. Esta
operação será mais complexa e implica as anteriores: agarrar 4 parafusos,
porcas, trocar de ferramentas, diferentes furações e aperto com chave
dinamométrica.
Body
O formador explica que a tarefa que irão realizar de seguida requer cuidados
especiais, porque provoca um grande campo magnético. Conta a história de
um colega da fábrica a quem não foram dadas as instruções sobre os cuidados
Qualidade/ergon
omia
Interajuda
Nova
atividade/novo
treino de
operações
Complexificação
de atividades
Saúde dos
operadores
76
a ter na utilização da máquina e acabou com os parafusos que tinha numa
perna todos desaparafusados. Teve de ser operado novamente.
Vai explicando como se utiliza uma máquina de soldar por pontos enquanto
visionam o filme no computador. Tal como no outro grupo, a dinâmica evoluiu
de um trabalho individual (cada um com o seu computador) para um trabalho
em grupo, sobretudo na fase da explicação dos exercícios.
Pouco tempo depois, o formador informa que já não terão tempo para
começar a atividade, pelo que pede para se sentarem numa mesa de grupo
que está perto do espaço da formação prática para fazerem o ponto de
situação sobre o dia e preencherem as folhas de confirmação as técnicas
básicas. Os formandos demonstram-se satisfeitos com o dia, afirmam ser
importante experimentar as técnicas e treiná-las e elogiam a forma como a
formação está organizada e os materiais disponíveis.
O formador dá a formação do dia como finalizada. Terminam um pouco mais
cedo que os da Montagem Final.
Montagem Final
Já finalizaram as operações que estavam a treinar antes e estão em redor de
uma outra mesa de grupo, também no espaço da formação prática.
Preenchem a folha de confirmação de técnicas e o formador pede para que
expressem a opinião sobre a utilidade do dia de formação.
Formandos salientam fatores como: saber o que se passa na linha; saber as
funções dos operadores e as exigências colocadas. Alguns levaram os
exercícios mais a sério e outros encararam as operações como um jogo, um
desafio pessoal.
Trabalho
individual/grupo
Reunião de final
do dia (balanço
das atividades da
formação)
Opiniões/reações
dos formandos
sobre a formação
Observações:
Na pausa para almoço, entre as 11H45 e as 12H30, tive oportunidade de falar com a única mulher
do grupo, que confessou o interesse pessoal nas formações do CTP, uma vez que já fez várias e
gostou sempre bastante. Não é uma formação tradicional, é mais prática e os grupos interagem
mais, foram estas as razões que deu. Não pertence à produção da fábrica, pelo que não está
77
habituada ao peso de algumas ferramentas, mas diz que até isso acha importante, para que todos
compreendam a dificuldade daquilo que os operadores fazem.
Conversei um pouco com o formador que intervém menos na formação e está a dar apoio aos
Fundamental Skills da Montagem Final. Explicou-me que está a fazer formação nos métodos do
CTP, através do acompanhamento dos módulos, para em 2012 passar a orientar o módulo de
Fundamental Skills de Pintura, função para a qual já teve formação em Pintura, embora trabalhe
há cerca de 15 anos nessa área como team leader. Também já esteve na Alemanha a acompanhar
módulos do mesmo género, que agora terá de implementar e adaptar ao CTP. Percebe-se que
admira o trabalho dos colegas do CTP e confessou estar ansioso por começar.
78
Dados da realização das observações
Data: 09 de novembro de 2011
Horário: 7H00 às 15H30
Local: Centro de Treino da Produção
Atividade: Observação não participante do módulo Fundamental Skills – Montagem final e Body
(Competências Fundamentais de Montagem Final e Carroçarias)
Duração: 7H (de 40H) (3º de cinco dias)
Participantes: 3 formadores; 12 formandos
Registo de Observações Ideias-
Chave/Temáticas
O grupo junta-se na zona de aquecimento. Alguns repetem várias vezes o
exercício de passar o cabo e enrolar o cabo. Os tempos começam a ser mais
rápidos, os formandos desafiam-se uns aos outros.
A zona do Body sofreu uma pequena inundação, por causa da chuva forte,
situação que, segundo os formadores, tem acontecido algumas vezes e ainda
não foi resolvida. Por isso, não é possível utilizar a máquina de soldar por
pontos de imediato, porque é essa a zona inundada. Formador pede aos
formandos para voltarem daí a uma hora, para que possam limpar a zona
antes de começar a formação.
Montagem Final
Os exercícios implicam, desta vez, materiais mais complexos: tubos de várias
dimensões, alicates, abraçadeiras. Para além disso, precisam de óculos
especiais de proteção, porque, segundo explica o formador A, os alicates
fazem muita força nas abraçadeiras, que costumam saltar e podem provocar
algum acidente.
Depois de escolhidos os materiais necessários para as operações, começam a
colocar os materiais numa placa própria (que está debaixo da bancada de
trabalho). Começam depois a visualizar o filme, seguindo a mesma lógica
sequencial das outras atividades. Os formandos revelam estar muito à
vontade com esta metodologia.
Body
Zona de
treino/aquecimen
to
Materiais
Proteção dos
operadores para
a atividade
Sequência de
tarefas da
atividade
79
Cerca das 9H15 foi possível aos formandos voltarem às bancadas de trabalho.
A atividade a realizar implica afixação e soldadura com pistola. O formador
explica quais são os materiais necessários e os formandos de imediato tratam
de os colocar à mão.
O formador pergunta: “Porque será que têm duas caixas na bancada de
trabalho, uma do lado direito e outra do lado esquerdo?”. Após várias
tentativas de acertarem na resposta certa, sem sucesso, o formador
responde: “É uma para cada mão”. Todos se riem do que devia ser óbvio, mas
não é, conforme fazem notar.
Tanto no Body como na Montagem Final, os formadores revelam
preocupação com as questões ergonómicas, chamando a atenção para os
pequenos detalhes e as consequências, a médio prazo, para a saúde. Para
além disso, a correta posição do corpo nas tarefas favorece a sua execução,
como alertam.
Várias são as situações em que, antes dos formandos começarem a realizar
as operações pedidas, alertam para a posição do corpo, as precauções com a
qualidade (evitar riscos, por exemplo, com o manuseamento das
ferramentas).
Montagem Final
Depois de cerca de 20 minutos a treinar a utilização do alicate de abraçadeira,
como o apoio e a demonstração repetida dos formadores, os formandos
passam finalmente para a execução a tarefa.
Enquanto treinam para o teste do semáforo, o formador A alerta que podem
pôr em prática as noções de one touch, one motion, posicionando
previamente as peças segundo a forma mais eficaz de utilização, assim como
para se lembrarem sempre de verificar se as bancadas de trabalho estão de
acordo com os 5S.
Prosseguem com o treino. Os formadores seguem-nos de perto,
acompanhando um de cada vez na tarefa e ajudando a corrigir pormenores.
Organização dos
Materiais
Questões
ergonómicas
Treino/testagem
Conceitos de
produção
80
Body
Finalizada a operação com as pistolas de soldar, segue-se uma tarefa que
implica agarrar 4 parafusos ao mesmo tempo, numa operação idêntica à que
a Montagem Final já realizou.
O formador explica os perigos de não se conseguir agarrar a quantidade
pretendida, sobretudo se forem a mais na mão, porque se corre o risco de
deixar cair algum. Isso pode provocar acidentes. Ou então podem ficar caídos
dentro da estrutura do carro, com consequências para a qualidade do
produto final.
Passam à visualização e treino da operação.
Montagem Final
A atividade que está a ser treinada implica o encaixe de conectores elétricos
de vários tipos, finalidades e dimensões numa placa onde estão os terminais
desses conetores.
Novamente, o formador opta por ir explicando a todos enquanto vão
visionando, apelando depois a que visionem mais uma vez ou duas antes de
começarem a tentar. Assinala que nesta operação está envolvido o conceito
de poka yoke (uma só cor, uma só posição, uma só correspondência).
Enquanto treinam, percebo que os formandos do Body fizeram intervalo.
Continuo a acompanhar a MF até ao teste da operação, no final da qual o
formador chama a atenção para o facto de alguns dos formandos não terem
preparado previamente a tarefa, por exemplo, ao não definirem a sequência
para as ligações, fazendo com que os fios acabassem muito enleados. Os
formandos não contestam, concordam que deviam ter sido mais cuidadosos.
Um deles afirma inclusive que se aquilo fosse assim num carro a sério, podia
ter problemas elétricos. Riram-se, mas perceberam a questão.
Passam a arrumar novamente as bancadas de trabalho e fazem um intervalo.
Treino
Qualidade/segura
nça no trabalho
Treino
Explicação de
atividade
Conceitos da
produção
Qualidade
81
Body
Depois do intervalo a atividade roda à volta do alinhamento de portas com
torque. A rotina das tarefas parece estar totalmente interiorizada. O
formador apoia nas explicações, centradas no visionamento das imagens
próprias para o efeito; os formandos treinam, apoiam-se uns aos outros,
solicitam a ajuda do formador em algumas operações.
Montagem Final
Para as operações que se seguem, o formador pede que os formandos deixem
de usar as bancadas habituais e utilizem outras, em que não vão ter a ajuda
do programa do computador.
Trata-se de bancadas algo idênticas, mas com ajudas visuais em formato de
portefólio, com várias páginas de instruções, ilustradas com imagens.
Conforme o formador explica, agora não vão fazer todos a mesma operação,
mas sim uma cadeia de operações distintas. Cada portefólio é diferente e
contém especificações de cada conjunto de tarefas para cada operador.
Cada um vai buscar os materiais necessários às diferentes caixas que
abastecem o espaço de formação, de acordo com essas especificações. Vão
trocando opiniões entre si sobre a melhor forma de se articularem; fazem isso
sem que o formador tenha pedido para que se articulassem. O formador sorri
e afirma: “É isso mesmo, se são uma equipa têm de trabalhar em conjunto.”.
Body
Decorrem várias atividades que implicam a colocação de parafusos em
diferentes diâmetros de furações, com chapas de metal que não reconheço
de imediato como sendo peças da carroçaria de um carro, uma porta e a
ombreira em que a porta é aparafusada.
Trata-se de fazer o alinhamento de portas com ferramentas de torques,
colocando uma “galga” que tem a espessura exata, referente à folga que a
porta tem de ter para que as placas de chapa não rocem uma na outra ao
Interiorização/aut
omatização das
rotinas da
formação
Entreajuda nos
grupos
Ajudas
visuais/portefolio
s
Cadeias de
operações
Trabalho em
equipa
82
abrir a porta. Os formandos vão evoluindo na tarefa por tentativa e erro:
apertam ou alargam os parafusos, e experimentam abrir a porta; se as peças
de chapa tocam uma na outra, têm de voltar a mexer no parafuso, até que a
porta tenha a folga exata. A atividade é complexa, um dos formandos refere
isso mesmo; outro comenta que “comparado com a linha, isto não é nada”; o
formando anterior responde que “não é bem assim, na linha tu não fazes esta
sequência toda”, e o diálogo entre ambos prossegue em torno das diferenças
entre a formação e as práticas que têm no trabalho. Formador intervém para
dizer que às vezes as coisas que parecem muito complexas se tornam simples,
“basta treinar muito”; compara com outras atividades, nomeadamente
desportivas. Os formandos vão concordando com os exemplos dados e com
a ideia de que “só treinando muito se consegue a excelência” (palavras de um
formando).
As tentativas e erros são várias, o formador vai alertando para a utilização
correta da galga, sem interferir diretamente nas operações, que demoram
mais algum tempo. Só 3 formandos conseguem fazer a tarefa no “verde” do
semáforo; o formador não dá muita importância ao facto de um deles ser
menos rápido e afirma: “Isso vai com o tempo.”. De seguida, dá mais algumas
orientações técnicas sobre o processo de alinhamento de portas e das
dificuldades que surgem.
Montagem Final
Durante cerca de 15 minutos, os formandos estiveram sempre a treinar os
diferentes passos a partir de cada um dos portefólios. Neste momento, o
formador está a acompanhar o desempenho individual, cronometrando-o.
Terão 2 minutos para fazer cada posto.
Reparei agora que todas as aparafusadoras das estações estão colocadas na
lateral das bancadas, com uma legenda com o título “ergonomia”, e com
algumas imagens sobre a correta forma de as utilizar.
Enquanto um dos formandos realiza as operações que lhe foram atribuídas,
repara que uma das luzes que eram suposto acender num painel não
acendem. O formador informa que a falha é propositada, que ao escolherem
Tentativa e erro
Comparação com
as rotinas do
trabalho
Defesa do treino
para
aperfeiçoamento
Excelência
Treino
83
as peças têm de as testar previamente, conforme já tinha sido referido no dia
anterior. Riem-se ambos, e o formando procura uma outra peça, testa-a e
utiliza-a.
Assim que dois operadores completam as suas estações, têm como missão
explicar a sua estação um ao outro sem interferência do formador. Esta
estratégia é fundamentada na necessidade de, numa equipa, cada um ter de
saber fazer mais do que um posto. O objetivo, neste exercício, é que todos
aprendam todos os postos, se isso for possível e houver tempo.
Um dos formandos relaciona essa tarefa com as questões abordadas em sala
e comenta: “Pois, está bem feito, sim senhor”. Suponho que se refira à
metodologia de formação, e ao alinhamento entre a teoria e as práticas.
Body
Aqui treina-se a deteção de defeitos numa porta real de um carro, retirada da
linha do Body por ter vários defeitos.
O repto do formador é que, em conjunto, identifiquem os defeitos que, avisa,
são de vários tipos, Pede-lhes para se lembrarem das coisas que foram
falando em sala e ao longo da formação.
Durante cerca de 15 minutos, observam, tocam, veem a contraluz, e vão
trocando opiniões sobre o que vão detetando: fissuras, espessura desigual da
chapa, mossas, furações defeituosas.
………………………………………………………………………………
Pouco antes do intervalo para almoço, reparei que vários formandos da
Montagem Final, finalizando o exercício, se dedicam a treinar o “enrolar
cabo” e “passar cabo” da zona de aquecimento. Parece ter-se tornado um
entretém entre vários formandos, vão assinalando os tempos e comentando
a posição que alcançaram no “ranking”.
O intervalo para almoço é, como de costume, entre as 11H45 e as 12H30.
Qualidade
Entreajuda/rotati
vidade de funções
Teoria/práticas
Zona de
treino/aquecimen
to
Competitividade
entre formandos
84
………………………………………………………………………………
Montagem Final
Nesta altura, já os formandos começam a trocar de estações. Os que estão
mais avançados nos exercícios de treino/testagem, vão ajudando os colegas
nos diferentes passos de cada treino até realizarem o teste final, com
cronómetro. O ambiente é de entreajuda; alguns vão comentando que se
tivessem mais tempo para treinar assim, fora da linha, depois era mais fácil
trabalhar mais rapidamente. Um dos formandos comenta que assim ainda
lhes pediam mais trabalho em menos tempo; outro responde que preferia ir
rodando de tarefas, para o trabalho não ser tão rotineiro, que para isso tem
de saber fazer as estações, e que nem sempre há tempo na linha para estarem
a aprender novos postos.
Body
A tarefa que agora executam implica vários tipos de operações, desde a
deteção de defeitos ao aparafusamento e confirmação de alinhamentos.
Os formandos explicam uns aos outros cada passo da operação: parece que o
computador é já pouco utilizado, apenas o é para as instruções básicas, e o
formador pouco intervém na explicação das operações. De vez em quando,
um dos formandos pede ajuda para compreender alguma instrução, ao que o
formador acede de imediato. O clima é de trabalho dinâmico e entreajuda.
Não se vê ninguém de parte ou desinteressado.
Montagem Final
Num momento que parece ser de pausa, mas em que ninguém saiu do espaço
de formação, o formador B conversa com os formandos sobre a
aprendizagem que está a fazer e sobre o projeto de Fundamental Skills de
Pintura, comentando a formação que fez no estrangeiro, as semelhanças e
diferenças.
Rotatividade de
estações
Vantagens do
treino
Dificuldades de
aprendizagem de
tarefas na linha
de produção
Dinamismo/inter
esse na formação
Fundamental
Skills de pintura
(previsão)
85
Body
Tal como no último exercício da Montagem Final, a atividade que se está a
preparar é feita com base num portefólio, dentro da mesma lógica: diferentes
postos, diferentes especificações, treino de cada passo, execução da tarefa;
troca com os colegas e aprendizagem com a explicação dos colegas. Trata-se
de um exercício de inspeção e qualidade.
………………………………………………………………………………
Ocorre-me que o que se torna mais pertinente observar não é tanto o tipo de
conteúdos específicos que são trabalhados – alguns deles muito técnicos e
dificilmente passíveis de serem descritos sem um conhecimento adicional
sobre a matéria – mas antes o espírito de equipa e as exigências colocadas
aos operadores.
Desse ponto de vista, não me parece imprescindível observar as duas
formações em separado, esta metodologia resulta até melhor no sentido em
que não estou constantemente a observar o mesmo grupo, posso encontrar
semelhanças e diferenças entre as posturas e métodos dos formadores,
analisar as coerências ou incoerências dos módulos de formação de forma
mais imediata.
Tornou-se evidente que, apesar das diferenças de conteúdos e técnicas
específicas, os métodos são consistentes, seguem uma mesma lógica,
respondem a um conjunto de preocupações e envolvem conceitos que são
semelhantes, como a qualidade, a ergonomia, o treino para a perfeição e
rapidez das operações executadas, os 5S e a eliminação de desperdícios.
Percebe-se que a formação pretende fomentar um forte espírito de equipa e
de entreajuda. Expõe as questões da rotina, potencia a rotatividade e alerta
para os efeitos da rotina causada pelo trabalho rotineiro e estandardizado,
sobretudo se não houver cuidados ergonómicos. Mas isto são considerações
ainda preliminares que terei de ir confirmando com mais observações.
Enquanto tomo nota destas observações mais reflexivas, numa mesa entre os
dois espaços de formação, vejo que na Montagem Final continuam a trocar
Sequência
repetitiva de
atividades
Conteúdos
técnicos
Métodos ativos
Semelhanças/dife
renças entre as
formações das
duas áreas de
produção
Rotina/rotativida
de
Trabalho
rotineiro e
estandadardizado
Questões
ergonómicas
86
de estações, treinar e testar, e no Body estão praticamente no mesmo ponto,
apesar das operações serem tecnicamente diferentes.
Noto que o ambiente na Montagem Final é um pouco mais agitado, animado,
mas provavelmente isso deve-se ao facto de serem o dobro dos formandos.
É de registo que, de vez em quando, um formando cantarola ou assobia
baixinho, tal como se estivesse no seu posto real, numa zona familiar. Às vezes
também se dizem piadas, contam-se histórias sobre a linha a propósito de
uma ou outra ação que executam.
É raro os formadores dizerem alguma coisa, normalmente quando o fazem é
para entrarem na brincadeira ou na história, mas vão verificando se o
trabalho está a ser feito. Nunca se afastam ou se encostam em algum lado,
estão sempre a circular pelo espaço; uma vez por outra, os formadores vão
espreitar uma e outra área, para ver em que ponto estão os formandos do
outro grupo.
………………………………………………………………………………
Body
Após um curto intervalo, o grupo debruça-se sobre as indicações de uma
outra atividade (de novo, com apoio nas instruções do computador). Trata-se
de um tipo de alinhamento de painéis do carro que é bastante complexo,
segundo o formador, e que, segundo ele “nem toda a gente consegue fazer
na linha do Body”. Trata-se de um alinhamento de fender entre painéis
laterais de uma porta.
O formador vai relembrando uma série de operações simples, que treinaram
antes, que agora vão ser necessárias; ou seja, “terão de usar todas as técnicas
anteriores e ter muito espirito de equipa”, segundo as palavras do formador.
Todo o processo de alinhamento é, com efeito, bastante complexo e é todo
manual; ou seja, não há máquinas envolvidas para além de aparafusadoras.
O alinhamento tem medidas específicas, que são dadas, mas tem de ser feito
com tempo e por tentativa e erro.
Treino/troca de
estações
Ambiente na
formação
Acompanhament
o dos formadores
Repetição da
metodologia
Trabalho de
equipa
87
O formador vai observando o que cada um vai fazendo e ajuda sem fazer pelos
formandos. Vai questionando: “Então, o que é que pode estar a correr mal?”,
“Qual será o parafuso que lhe está a causar esse problema?”, tentando
potenciar o raciocínio dos formandos sem lhes dar a chave da resposta.
Montagem Final
O grupo continua o processo de aprendizagem e repetição das operações
associadas a cada um dos postos de trabalho. Uns ajudam outros, esperam
que outros acabem para poderem aprender as estações que lhe faltam.
Durante um longo período de tempo, os formandos organizam-se sem a
interferência dos formadores. De vez em quando estes dizem-lhes para irem
olhando para os procedimentos do portefólio, ao que os formandos
respondem que preferem a ajuda dos colegas. Isto sucede várias vezes.
A intervenção dos formadores, nesta fase da formação, limita-se às questões
da ergonomia e da qualidade; sobretudo corrigem posturas, explicando a
importância de o fazerem – pela qualidade e/ou rapidez do trabalho, mas
também por razões de saúde. Só lhes pedem para repetirem o exercício
quando excedem muito o tempo definido para as operações (2 minutos). O
formador avisa o grupo que só terá mais meia hora; apesar de não fazerem
outra atividade hoje, amanhã não poderão continuar com este exercício.
Body
Às 15.10 o grupo termina as atividades por hoje, o formador acaba por decidir
que terão de continuar o exercício na manhã seguinte, uma vez que ainda
ninguém conseguiu completar a sua estação.
Reúnem-se em redor da mesa de reunião do grupo, como no dia anterior e
preenchem a folha de confirmação de aprendizagens técnicas. O formador
pede para que digam o que sentiram e como avaliam o trabalho do dia, qual
o ponto forte e o fraco. Os formandos apontam como ponto forte “tudo”,
dizendo-o quase em uníssono; como ponto fraco, referem a execução das
tarefas de verificação da qualidade, que consideram as mais difíceis.
Reflexão sobre o
erro
Autonomia e
auto-orientação
nas tarefas
Ergonomia e
qualidade
Testagem (não
tão valorizada
como o treino)
Balanço do dia de
formação
88
O formador refere que, na linha real, o tempo de ciclo por operador é de
1m25sg, o que significa que têm de fazer operações daquelas nesse período
de tempo (os formandos que não trabalham na linha de produção
demonstram espanto). Acrescenta ainda que a fábrica já fez 700 carros por
dia, num período que foi considerado o que tinha melhores índices de
qualidade. Coloca, por isso, a questão: “Porque será?”.
A explicação dada pelo formador concentra-se no número de operações por
operador: quanto menos operações, menor é a probabilidade de defeito,
maior a qualidade. Quando um tempo de ciclo é maior, isso significa que um
só operador tem de fazer várias operações, aumentando a probabilidade de
erro em alguma das operações que faz. Os formandos discutem um pouco em
redor desta ideia, nem todos concordam mas acabam por compreender o
ponto de vista.
O formador aproveita o tempo que falta para dar uma ideia sobre o que serão
as atividades do dia seguinte, em que irão nomear os operadores do dia, um
escrivão e um team leader e fazer a inspeção de uma carrinha com apoio
numa grelha com coordenadas, em equipa. Terão de repetir essa atividade
em fases sucessivas até detetarem todas as falhas de qualidade, na traseira,
no interior e no exterior da carrinha de treino. Um dos formandos reage
dizendo “Ah, mais exercícios de inspeção!”, ao que outro acrescenta que só
treinando várias vezes é que conseguem fazer o mesmo tipo de trabalho na
linha. Formador afirma que “era isso mesmo que ia dizer”, relembrando que
o objetivo das repetições é o de automatizar algumas atitudes, de atenção ao
pormenor. O primeiro formando explica que, apesar da reação “contra”, até
tem achado a formação divertida e percebe porque é importante treinar.
Informa ainda que, segundo a planificação, na sexta-feira irão à linha para
analisar uma estação e construir a SAB dessa estação. Formandos expressam
algum desconforto relativamente a estas folhas de trabalho standard; alguns
já as conhecem do trabalho na linha. Os três formandos concordam que é
importante tentarem uniformizar os métodos e os passos das operações que
realizam; um deles considera que às vezes a descrição destas folhas standard
é excessiva e nem sempre as orientações correspondem à realidade das
Tempo de ciclo
por operador
Historial de
produção da
fábrica
Relação entre
qualidade e
tempos de
ciclo/rapidez
Planeamento das
atividades
Reação às
repetições das
atividades
Proximidade com
a linha de
produção
Standards
89
operações feitas. Formador explica que a formação do dia seguinte tem o
objetivo de se aproximar do que é feito da linha para tentar melhorar os
procedimentos, a partir da observação que vão fazer e dos standards que eles
próprios vão propor.
O formador despede-se dos formandos, que ainda ficam algum tempo a
treinar o enrolamento e a passagem de cabos, na zona de aquecimento
(parece ter-se tornado num concurso).
Montagem Final
Formadores e formandos arrumam os espaços, deixando tudo como estava à
chegada.
Durante a reunião de final de dia, informa que, como não tiveram tempo para
aprender todas as estações, terão uma parte do período da manhã de
amanhã para o fazer.
Questionados sobre a forma como decorreu o dia, a opinião generalizada é
de que a formação foi “muito motivante”, “como um dia de trabalho mas
agradável”, “bem estruturada”. O ambiente entre todos é referido como um
dos pontos fortes e ninguém assinalou pontos fracos. Referem-se aos
objetivos da formação, afirmando que está bem organizada, consegue
motivar para o treino sem ser cansativo.
O formador recorda alguns dos objetivos principais da formação, como sendo
o de reorganizar os postos de trabalho – e não de os eliminar -, identificar
melhorias que permitam alcançar as “zero falhas” e melhorar a ergonomia de
algumas posturas dos operadores.
O formador A faz um resumo do que será o dia de amanhã: depois de
terminarem a atividade de hoje, irão executar uma sequência de operações
em equipa numa simulação de linha, com um autómato balanceado para a
velocidade da linha de montagem da fábrica. Os formandos manifestam
bastante agrado com a ideia.
(vantagens e
limitações)
Zona de
treino/aquecimen
to
Balanço do dia de
formação
Objetivos da
formação:
reorganização e
não eliminação
dos postos de
trabalho
90
Após preencherem a folha de confirmação de técnicas, alguns formandos
dedicam-se ao treino do enrolamento e passagem de cordas (um verdadeiro
entretém para a maioria, sem dúvida).
Zona de
Treino/aquecime
nto
Observações:
A sequência de atividades parece-me repetitiva; monótona, para quem está de fora, pelo menos.
No entanto, os formandos reagem às atividades com naturalidade. Aplicam as formas de trabalhar
em equipa que usam na linha, essa familiaridade dá-lhes maior à vontade com as tarefas.
Estão já rotinados com a sequência de operações em cada exercício, a formação “flui”. Os
formadores intervêm o mínimo indispensável, mas estão sempre presentes. O ambiente de
formação é dinâmico e de entreajuda.
91
Dados da realização das observações
Data: 10 de novembro de 2011
Horário: 7H00 às 15H30
Local: Centro de Treino da Produção
Atividade: Observação não participante do módulo Fundamental Skills – Montagem final e
Body (Competências Fundamentais de Montagem Final e Carroçarias)
Duração: 7H (de 40H) (4º de cinco dias)
Participantes: 3 formadores; 12 formandos
Registo de Observações Ideias-Chave/
Temáticas
O grupo junta-se na zona de aquecimento. Como tem vindo a ser hábito, há
exercícios em que os formandos se divertem a treinar a rapidez e a destreza,
competindo entre si e demorando-se neles algum tempo. Os formadores
comentam que “é sempre assim, em todos os grupos”, “isto vira um vício”.
Após a divisão dos grupos entre os dois espaços, terminam os exercícios de
aprendizagem, treino e testagem de um conjunto de estações. Essa
atividade decorre até às 9H00.
No final desta tarefa, e depois de uma pausa de 10 minutos, os dois grupos
juntam-se numa mesma sala de formação. Durante algum tempo, os
formandos continuam a conversar entre si; são eles próprios que pedem uns
aos outros para se calarem e darem atenção aos formadores.
Os dois formadores principais começam por informar que a ideia é que os
dois grupos percebam que, apesar das diferenças entre as zonas -
Carroçarias e Montagem Final – há questões que são comuns e que vêm a
propósito de alguns exercícios que fizeram “nas práticas”. Assim,
enfatizaram questões relacionadas com a responsabilidade do produto e
com a segurança:
utilização normal dos materiais e ferramentas; segurança do
operador e segurança do produto; avisos do fabricante; noção de
risco; noção de call-back (quando os produtos têm de ser retirados
do mercado por falhas graves);
importância das auditorias internas e externas;
testagem de peças dos carros por amostragem;
Zona de
treino/aquecim
ento
Treino/testage
m
2 grupos
reúnem-se
Questões de
qualidade e
segurança
92
fragilidade dos componentes elétricos e eletrónicos;
importância da recolha de reclamações de campo (a 3meses, a 6
meses, a 1 ano);
papel das task-forces: equipas de reparações e qualidade, que andam
pela Alemanha, pelos concessionários, recolhendo e resolvendo
problemas;
consequências jurídicas e não jurídicas de produtos defeituosos;
função da carta viageira (especificações, controlos de qualidade, tudo
é nela registado): formadores enfatizam a importância deste
documento que acompanha a construção do carro (“É o bilhete de
Identidade do carro”, segundo afirma um deles)
Após alguma discussão em torno das questões mencionadas, o formador A
informou que o dia será dedicado sobretudo à construção de folhas SAB, ao
que uns e outros foram respondendo que já sabiam, uma vez que os
formadores tinham informado sobre isso no dia anterior.
No regresso a cada uma das zonas, um dos formandos confessa ao formador
do Body que nunca viu uma carta viageira. O formador comenta que isso
não devia acontecer, mas o formando explica que acabou de entrar na
empresa, ainda “está a aprender”.
O formador pede-lhe para esperar um pouco, vai à sala de formadores e
depois de alguns minutos (enquanto outros formandos se distribuem,
alguns vão enrolando e passando as cordas nos exercícios de aquecimento)
volta com uma carta viageira, que lhe mostra e explica. Os outros dois
formadores, que entretanto se aproximaram, também vão dando umas
achegas na explicação: que nem sempre a carta viageira é como aquela, que
algumas ficam nas próprias áreas, mas há sempre uma genérica que
acompanha o carro ao longo do processo de construção.
Body
Primeiro auditam o exterior da traseira de uma carroçaria de carrinha, tal
como o formador tinha informado. Depois, o interior. O grupo faz a
atividade em conjunto, dividindo as zonas a observar entre cada um. Depois,
SAB
Carta viageira
Novos
trabalhadores
Exemplificação
de carta
viageira
93
trocam 2 a 2 e verificam as zonas auditadas antes, para confirmar se não
passou nenhum defeito aos colegas. O formador comenta: “Boa estratégia,
sim senhor. É assim mesmo, quantos mais olhos e mãos, melhor”.
Quando encontram os defeitos, assinalam-nos numa grelha de coordenadas
do carro, semelhante à carta viageira daquela área de produção. A tarefa é
demorada, não só porque os defeitos são muitos como porque implica
entrarem para dentro da carroçaria e partilharem esse espaço.
Ao final de algum tempo, são os próprios formandos que concluem que,
uma vez que já não devem faltar muitos defeitos no interior, o melhor é só
verem dois a dois. Ideia aceite.
Montagem Final
Formador está a apresentar a estrutura automatizada que será “o carro para
montar” da linha simulada. A linha é, neste caso, uma linha magnética no
chão que faz mover a estrutura que está por cima. Os formandos pedem
explicações de como é que aquilo foi feito, quem fez, parecem muito
interessados. Um deles pergunta: “O que é que eu tenho de fazer para vir
trabalhar para o CTP?”. Os formandos riem-se e dizem que de vez em
quando há pessoas que são convidadas para entrar, outras saem para outras
áreas da empresa, é uma questão de ”ir falando e estar atento”.
Vai explicando que terão de encontrar a melhor forma de montar as peças
que têm de montar, definidas por ajudas visuais. Depois da operação feita,
terão de construir a folha de trabalho standard (SAB). Pergunta se já
conhecem a SAB; alguns nunca viram nenhuma, formador vai buscar uma e
começa a explicar os diferentes campos de preenchimento. Os formandos
ficam reunidos em volta da mesa de grupo com o formador A, que explica a
SAB, enquanto o formador B está a organizar o espaço e os equipamentos
necessários para a atividade, a pedido do outro formador.
Body
Organização do
grupo
Qualidade
Carta viageira
Metodologia/m
ateriais da
formação
(sofisticação)
SAB
94
Cerca de 20 minutos depois de iniciada a auditoria, o formador verifica os
defeitos encontrados, guiado pela grelha de coordenadas. Num ou outra
situação, brinca com a forma como assinalaram o defeito: “Então mas este
defeito está na esquerda ou na direita?”. Aponta alguns defeitos que
deixaram passar, coisas mínimas, diz, mas que na pintura fariam com que a
peça pudesse ficar mal pintada, por exemplo.
A propósito de cada defeito assinalado, o formador vai dialogando com os
formandos sobre as causas, fazendo apelo às operações e atividades que
fizeram no dia anterior: “este parafuso ficou torto”, “isto está assim porque
o ponto de soldadura foi mal feito”, “aqui estão soldaduras a mais”, “este
sealer está grosso demais, via-se notar na pintura”, entre outras.
Os formandos estão atentos. O formador demonstra domínio total sobre as
matérias de que fala e os formandos reconhecem-lhe esse conhecimento.
Vão dizendo “a si não lhe passa nada ao lado”, “não há nada como a
experiência”, ou “quem sabe, sabe”.
Montagem Final
Os formandos discutem sobre os materiais que precisam, experimentam,
repetem, discutem novamente; dividem-se pelas laterais da estrutura
automatizada, trocam impressões sobre a melhor forma de cada operador
se movimentar sem se atrapalharem. Os formadores estão apenas a
observar a uma curta distância. Comentam comigo que “este grupo é muito
autónomo”, mas também que, apesar de “nem todos serem assim”, a
formação da montagem final é “sempre muito ativa”.
Em cada grupo (um por cada lateral) há um “escrivão”, que toma notas de
cada passo, tendo em conta todos os pormenores, para redigirem depois
em conjunto a SAB. Passado algum tempo, os dois grupos voltam a reunir-
se, bem como os escrivães, e discutem sobre o que devem colocar na SAB.
Qualidade
Domínio dos
conteúdos pelo
formador
Organização do
grupo para
execução da
atividade
Autonomia dos
grupos
95
Entretanto, os dois formadores deixam o grupo sozinho, informando que
voltam dentro de cerca de 20 minutos, para “trabalharem à vontade”.
Body
Depois da tarefa da auditoria, o grupo analisou o correu bem e o que podia
ter sido mais bem organizado. Formador frisa a importância da equipa ser
autónoma mas saber organizar-se. Diz, em tom brincalhão: “Vocês eram
bons para trabalharem juntos. Não podiam era fazer todos a mesma coisa!”.
Riem-se e concordam que essa questão nem sempre foi respeitada.
O formador aproveita a deixa para definir as funções da próxima atividade:
um escrivão, dois operadores e um team leader. Terão de montar um fender
e garantir o alinhamento, realizando a SAB “de forma muito clara e
objetiva”. Relembra algumas questões básicas sore a comunicação na
fábrica, dentro de equipas e entre as mesmas.
A tarefa é complexa, implica muita organização entre todos. O formando
que assume o papel de team leader é o mais jovem e com menos
experiência, de acordo com a opinião de todos. O formador concorda, mas
diz que terão de ver, ao longo da atividade, se isso resulta, porque um “team
leader tem sempre de ter muita experiência para comandar os outros”.
………………………………………………………………………………
A pausa para almoço decorreu entre as 11H30 e as 12H30.
No regresso à formação, vou alternando entre os dois grupos (estão a 4 ou
5 passos um do outro); os formandos não perderam tempo e dirigiram-se
de imediato “aos seus postos”.
Reparei que o método de construção a SAB é diferente nos dois grupos: no
Body, vão construindo a SAB enquanto vão realizando as operações,
sobretudo a partir do trabalho do “escrivão”. Na Montagem Final, primeiro
discutem muito sobre o processo de montagem e o como o deverão
reproduzir, ajudando o escrivão a tomar as notas; depois de um
Trabalho em
equipa
SAB
Organização dos
grupos
Métodos de
construção da
SAB
96
determinado conjunto de operações, sentam-se para ir redigindo a SAB, por
partes.
Em qualquer dos casos, os formadores vão supervisionando e
aconselhando. Não evitam que os formandos cometam erros, nas
operações como na SAB, surgindo situações em que têm de reformular, não
só parte das operações como parte da SAB. É um trabalho de construção de
práticas e orientações técnicas subjacentes que demora bastante tempo e
é feito com grande autonomia.
Montagem Final
Cerca das 14.45 o grupo inicia a operação, que o formador designa por
“elementar” por integrar várias das operações “básicas” dos dias anteriores.
Depois de iniciado o autómato, que se começa a movimentar ao longo da
linha magnética colocada no chão, as duas equipas trabalham nas duas
laterais do “carro”.
Pormenor importante: antes de começarem a atividade, o formador pediu
que dois operadores das diferentes equipas trocassem entre si; ou seja,
teriam de se reger pela SAB que o colega fosse lendo, que não correspondia
àquela que a sua equipa original tinha feito. Isto dificultou bastante as
operações mas foi um fator de maior interesse, verbalizado pelos
formandos. O formador explicou: “Isto não é para ver se vocês são bons a
fazer, que isso eu já vi. É para vocês perceberem a dificuldade de seguir uma
SAB.”
Os escrivães de ambas as equipas vão lendo a SAB como orientação para a
execução das operações. Notam-se diferenças na atuação das duas equipas,
no que diz respeito às soluções encontradas para a produção das duas
laterais:
Uma das equipas assinalou os locais de aparafusamento com fita-cola
de cores (aplicando o poka yoke, conforme depois o formador
salienta) e teve em consideração uma sequência lógica de colocação
das peças (por exemplo, de cima para baixo; de trás para a frente);
Aprendizagem
pelo erro
Atividade de
“operação
elementar”
Papel da SAB
Estandardização
dos processos
Conceitos da
produção
97
no entanto, os auxiliares eram muitos e a equipa acabou por “se
perder” entre as várias indicações. Para além disso, o operador que
tinha trocado de equipa não teve muito tempo para se familiarizar
com a sinalética.
a outra, usou menos auxiliares visuais, mas foi mais eficaz na sua
utilização. O operador que chegou de novo à equipa teve, por isso,
mais facilidade em adaptar-se às sinaléticas. Este facto é assinalado
pelo formador durante a análise que faz do processo, salientando que
na linha as orientações “não podem ser de menos nem de mais”.
Ao final de alguns minutos, nota-se que os operadores nem sempre seguem
as orientações da SAB que fizeram, saltando ou alterando alguns passos. De
vez em quando um formando diz para o escrivão: “Isso já está, segue”. Ou o
contrário: o escrivão lê uma determinada orientação, mas o operador ainda
está na tarefa anterior e diz: ”Espera aí, que ainda não acabei esta”.
Também surgem comentários como: “O quê? Lê lá isso outra vez.”, sendo
que o autómato vai circulando, para o qual o formando diz: “Espera aí que
ainda não percebi onde é que aparafuso isto!”. Isto gera uma risada geral,
incluindo os formadores. Numa outra situação, um deles diz: “Olha lá, mas
quem é que escreveu isso? Isso não se percebe”; o escrivão responde: “Eu
não fui à escola, vim pra fábrica quando era pequenino”. Todos se vão
divertindo visivelmente ao longo da atividade pelas situações caricatas que
vão surgindo.
A operação demora muito mais do que o previsto e quando o autómato
parou as equipas continuaram a realizar as operações que faltavam. O
formador diz: “Epa, então esse carro já está na estação a seguir e tu ainda aí
estás?”. O formando responde: “Não interessa, chefe, isto é para ser bem
feito.”
No ponto de situação posterior, o formador salienta que, tratando-se de
trabalhadores na linha real, iriam ter de retificar a SAB até que fosse
inequívoca e que a operação estivesse alinhada com a SAB, no tempo de
ciclo pretendido. Ainda assim, as equipas retificam o que reconheceram não
Ambiente da
formação
98
estar conforme os processos, enquanto alguns elementos do grupo vão
desmontando os materiais usados para poderem repetir a operação.
A segunda tentativa é muito mais rápida, nota-se uma maior concentração,
não fazem muitos comentários entre si. Conseguem fazer a operação no
tempo de ciclo (1m25) e no final até batem palmas e dizem “Yes”, “agora
sim”, “quando a gente quer, isto vai”.
De forma organizada desmontam novamente as peças do autómato e
arrumam o espaço. O formador vai lembrando os 5S. Reúnem-se na mesa
de grupo e preenchem a folha de confirmação de técnicas, enquanto vão
conversando sobre as maiores dificuldades e motivações do exercício do
dia.
Body
Finalizada a sequência das operações, que foi acompanhada pela
construção e retificação, passo a passo, da SAB, fazem a reunião do fim do
dia. Noto que não repetiram a atividade para que confirmassem as
retificações feitas, não tendo completado as operações dentro do tempo de
ciclo pretendido. A questão do tempo de ciclo parece não ser tão valorizada
por este formador, que foi mais insistente na questão da clareza e
objetividade da linguagem da SAB.
Durante a reunião final, comparam a SAB feita com outras duas, feitas em
formações anteriores. De novo, referem os pontos fortes e frágeis, do ponto
de vista de cada um, sendo que a criação de standards é apontada como a
questão mais complexa, embora reconheçam a importância de haver
standards na linha real. De novo referem o bom ambiente entre todos e a
orientação do formador como pontos fortes.
Depois de preencherem a folha de confirmação de técnicas, os formandos
dirigem-se à zona de aquecimento e repetem o que já se tornou uma rotina
e, em definitivo, uma espécie de competição entre eles: os exercícios
“enrolar cabos” e “passar cabos”. Os formandos da Montagem Final
procedem da mesma forma, cronometram e registam os tempos. O
Repetição da
mesma
operação
“elementar”,
para melhoria
Rapidez
Competitividade
Conceitos da
produção
Balanço final do
dia de formação
Comparação de
SAB
Importância dos
standards na
linha
Zona de
treino/aquecim
ento
99
formador elogia um deles, dizendo que já está no “top 10” dos formandos
que têm passado pelo CTP. Competitividade
latente
Observações adicionais:
Almocei com o grupo de formadores, desta vez a conversa rodou em volta de situações de
trabalho na fábrica, mencionando-se preocupações sobre a relação entre equipas, a
rotatividade e a preparação dos operadores mais novos.
Voltei mais cedo para a sala de formação de maneira a rever as anotações antes do período da
tarde começar. Reparo que ainda não me referi à linguagem usada pelos formadores: é clara,
acessível, não evita os conceitos mais técnicos. De vez em quando, há formandos que pedem
esclarecimentos sobre um dado termo, que é prontamente esclarecido com exemplos práticos
da sua aplicação.
Não noto constrangimento dos formandos pela minha presença. Estão, provavelmente, tão
envolvidos nas atividades que sinto que se esquecem que ali estou. Tento não estar demasiado
“em cima” das situações, para não atrapalhar nem alterar o funcionamento dos grupos.
Os grupos são dinâmicos, parecem ter prática de autogestão, organizam-se com facilidade para
executar as tarefas; os formadores funcionam como mediadores entre a explicação e a teoria
e as práticas que têm de desenvolver. A formação “flui” e é muito interessante de se observar.
Para além disso, os espaços são tranquilos, têm todo o material necessário à mão e muitos
meios disponíveis.
Tenho a noção de que seria interessante experimentar as práticas, experienciar a forma como
os grupos se organizam para trabalhar na formação, embora receie que a minha presença possa
ser um obstáculo na organização interna dos grupos. Vou partilhar esta ideia com o
coordenador no final desta formação e ver que perceção tem de situações semelhantes, uma
vez que sei que há observadores com frequência e que, em alguns casos, fazem algumas das
atividades precisamente para experimentar o lado mais prático da formação. Dessa forma,
poderia também observar mais uma formação de cada um destes Fundamental Skills, dessa vez
separadamente.
100
Dados da realização das observações
Data: 11 de novembro de 2011
Horário: 7H00 às 15H30
Local: Centro de Treino da Produção
Atividade: Observação não participante do módulo Fundamental Skills – Montagem final e
Body (Competências Fundamentais de Montagem Final e Carroçarias)
Duração: 7H (de 40H) (5º de cinco dias)
Participantes: 3 formadores; 12 formandos
Registo de Observações Ideias-
Chave/Temáticas
Após a rotina diária na zona de aquecimento (competição incluída), o grupo
reúne-se em sala: os formadores explicam o objetivo de filmarem estações da
linha, reforçam a importância das SABs e salientam alguns cuidados a ter na
visita às linhas.
No caso do grupo do Body, o formador optou por não filmar estações por
duas razões: pretende repetir o exercício do dia anterior e retificar melhor a
SAB que fizeram, para além de que só há uma máquina de filmar, pelo que
terão de sabem ainda se vai haver tempo para que ambos os grupos cumpram
essa parte das atividades.
………………………………………………………………………………
Visito a linha com o grupo da Montagem Final e verifico que muitos deles
conhecem os operadores com que se vão cruzando. Comentam entre si o
local em que trabalham e demoram algum tempo até decidir quais as
estações a filmar, uma vez que terão de ter complexidade média e não ser o
posto de trabalho de nenhum dos formandos.
Após algum tempo, decidem-se por uma estação, filmam, conversam um
pouco com os operadores de linha, que nunca deixam de trabalhar. O ritmo
de trabalho é acelerado e cada operador realiza várias operações, enquanto
troca impressões com os colegas a propósito de alguns dos carros que
chegam. Há bastante barulho na linha, nem sempre consigo acompanhar as
conversas.
Zona de
treino/aquecim
ento
Atividade de
filmagens de
estações da
linha de
produção para
construção e
SAB
Relação entre
os operadores
de
linha/formando
s
Ambiente e
ritmo de
trabalho na
linha
101
………………………………………………………………………………
Cerca das 9H o grupo da Montagem Final regressa da visita à linha. Os
formadores conferenciam enquanto os formandos fazem intervalo.
Concluem que o grupo do Body não vai ter tempo para filmar uma estação e
realizar todo o trabalho subsequente.
O formador do Body decide ir com o grupo à zona dos alinhamentos, uma vez
que essas foram as operações que suscitaram mais dúvidas, curiosidade e
nem sempre os operadores têm a oportunidade de as visitar. É o próprio
formador que me convida a acompanhá-los.
………………………………………………………………………………
Na zona do Body, tivemos de ter alguns cuidados adicionais de segurança: o
cabelo não pode estar solto, os olhos têm de estar protegidos com óculos
espaciais, por causa das fagulhas da soldadura. Todas as zonas de soldadura
estão, aliás, isoladas com placas altas e nenhum do material utilizado pode
ser inflamável. O formador cumprimenta todos os operadores; aquele foi o
seu local de trabalho durante quase 20 anos.
Aproveita a visita para dar esclarecimentos sobre algumas questões teóricas
a propósito da visualização das práticas e responder às muitas perguntas que
os formandos colocam, nomeadamente sobre:
a programação dos robots e o investimento que tem sido feito na
formação dos operadores para essa função;
o sincronismo necessário entre as diferentes operações;
a importância dos standards;
os pontos de verificação da qualidade;
a evolução da relação homem/máquina ao longo dos tempos na
fábrica, sobretudo no sentido da máquina substituir o homem nas
operações mais perigosas. O formador deu exemplo de vários
acidentes nesta zona da fábrica, que levaram a algumas decisões sobre
a alteração do processo de produção e a maior intervenção de robots.
Diferença de
opção
metodológica
entre o FS Body
e Montagem
Final
Visita à zona do
Body
Cuidados de
segurança
Relação
formador/zona
de trabalho
Questões
teórico/práticas
da zona do Body
102
………………………………………………………….
Depois do almoço acompanhei a formação da Montagem final.
Montagem Final
O grupo visualizou o filme que fez, tomando notas de todos os detalhes.
Depois redigiram a SAB, melhorando-a por fases.
Neste momento, estão a transpor a SAB para um formato digital, em que vão
incluir imagens retiradas das fotografias que também tiraram da estação
observada. O objetivo é criar uma SAB final ilustrada.
O formador informa o grupo que é frequente o departamento da Engenharia
Industrial pedir estas SABs ao CTP, sobretudo as imagens captadas, mas
também as ideias. Dessa forma, tem uma base para construção de SABs ainda
mais especificadas.
Os formandos mencionam que acham interessante essa relação entre o que
se faz na formação e a melhoria na produção, aproveitando os materiais que
ali se fazem. O formador concorda e acrescenta que “esse é um dos objetivos
da formação do CTP, colaborar com a área da produção e levar à melhoria
contínua”.
Body
A tarefa de criar uma SAB em formato digital é ligeiramente diferente, porque
não filmaram uma estação. O formador fornece imagens relativas à atividade
que fizeram no dia anterior e que completaram de manhã. Será essa a SAB a
passar para ficheiro digital.
Todo o procedimento é idêntico ao da Montagem Final; até as informações
sobre a relação entre o CTP e a Engenharia Industrial é idêntica.
………………………………………………………………………………
É de registar a forma como, apesar do contratempo com a máquina de filmar,
os dois grupos conseguiram manter-se a par e passo no planeamento feito,
Atividade de
explicitação dos
saberes
Relação entre a
formação e a
Engenharia
Industrial
Objetivo do
CTP:
colaboração
com a produção
para melhoria
dos processos
103
ajustando-se aos contratempos. O trabalho do grupo do Body é mais
aligeirado, mas fazem o mesmo tipo de procedimento final.
Depois dessa fase da formação, que decorreu durante o resto da tarde, os
grupos voltaram a sentar-se nas respetivas mesas de reunião de grupo e
finalizaram o preenchimento das folhas de confirmação de técnicas.
Cada formador responsável entregou uma folha a cada formando para que a
juntassem ao processo anterior, com uma fotografia de grupo ampliada. Foi
uma espécie de surpresa aos formandos: a fotografia tinha sido tirada no
regresso do almoço e os formadores tinham feito aquele trabalho enquanto
os formandos terminavam as SABs.
Não é a primeira vez que os formadores têm uma ação deste género. Lembro-
me que no L.E.G.O. Line um dos formadores fez uma coisa idêntica, que incluía
o tratamento de dados da formação, apresentando-o ao grupo no final a
formação.
O processo pedagógico da formação fica concluído com a folha de avaliação
da formação, segundo explicam os formadores. Guardam as folhas de
confirmação de técnicas, a avaliação e a fotografia de grupo num dossier já
com uma lombada identificativa do grupo, ficando um exemplar da fotografia
aos formandos. Dessa forma, no final e cada formação fica também finalizado
o processo pedagógico formal.
A formação finaliza-se cerca das 15H, uma vez que os formadores tinham
agendada uma reunião de departamento para as 15H15. As despedidas são
efusivas, com elogios à formação pelo meio, retribuídos pelos formadores no
sentido de incentivar os formandos a continuarem “o bom trabalho”.
Os formandos ainda repetem os exercícios de aquecimento que os têm
aliciado ao longo dos dias de formação, o formador regista um deles no top
10 do CTP. Um outro formando pede ajuda ao formador da Montagem Final
num exercício que lhe foi pedido na Faculdade: percebo que ambos estão a
fazer o mesmo curso superior, em anos diferentes.
Organização das
tarefas
Empenho dos
formadores na
motivação dos
formandos
104
………………………………………………………………………………
O encerramento da formação teve de ser rápido, uma vez que ia haver uma
reunião da equipa do CTP com a Área da Produção.
Zona de
treino/aquecim
ento
Relação
CTP/Área de
Produção
Observações adicionais:
Depois da visita à linha do Body, almocei com o grupo de formação na cantina. A conversa entre
o formador e os formandos girou em torno da visita à linha, de forma natural e descontraída,
demonstrando uma relação de colegas de trabalho; denota-se a confiança depositada no colega
mais velho e mais experiente (o formador) para obter mais (in)formação.
No final do dia, não tive oportunidade de falar com o coordenador sobre a minha ideia de
participar em alguns módulos do CTP, uma vez que se preparava para a reunião referida
anteriormente. Decidi que irei contactá-lo mais tarde para falar com ele sobre esse assunto.
105
Dados da realização das observações
Data: 18 de novembro de 2011
Horário: 7H00 às 15H30
Local: Centro de Treino da Produção
Atividade: Observação participante do módulo L.E.G.O. Line (Linha L.E.G.O.) Duração: 7H
Participantes: 2 formadores; 12 formandos
Registo de Observações Ideias-
Chave/Temáticas
Notas prévias
A ideia de participar na formação como formanda foi surgindo ao longo das
observações não participantes. Foi um desafio pessoal sobre o qual refleti ao
longo de algum tempo, nomeadamente na sequência de alguns comentários
dos próprios formadores e formandos de sessões que observei
anteriormente. Partilhei a ideia com a orientadora e com o coordenador do
CTP e defini que faria a experiência em duas ou três ações de formação.
Pareceu-me fundamental, sentir na prática, as práticas que me tinha
proposto estudar.
Também é importante registar que, apesar de haver uma grande abertura da
parte do coordenador para que eu esteja nas formações como observadora,
a verdade é que tenho de justificar a reincidência das observações num
mesmo módulo; esta é (também) uma forma de estar como observadora nos
mesmos módulos uma segunda vez, tentando confirmar perceções e
diversificar as pistas de análise.
Nas últimas semanas já me foi sido permitido utilizar o computador no
espaço do CTP, mas optei por registar as impressões sobre este módulo do
LEGO cerca de 2 a 3 dias depois, por me parecer que teria uma memória mais
objetiva do desenrolar da formação. Tomei apenas algumas notas no
desenrolar da formação, tentando não ser muito notada nessa tarefa, para
também não constranger os outros formandos.
A maior dificuldade sentida foi o facto de já conhecer as atividades, porque
já tinha observado este módulo de formação. Um conhecimento prévio
Observação
participante
Vantagens da
Observação
participante
Uso do
computador e
tomada de notas
106
sobre as atividades não facilita a lógica de “aprendizagem pelo erro” ou de
“ação-reflexão-ação”, porque já observei como se faz.
Não omiti a minha motivação e a razão de ser da minha presença nesta
formação. Não sei se por essa razão ou por não ser da empresa, senti que os
formandos não tinham mantido uma relação comigo de “igual para igual”;
foi evidentemente diferente daquela que mantêm entre si. Senti alguma
reserva sobre a minha inclusão na organização das tarefas e na minha
inserção no grupo, em termos de trabalho de equipa.
Pode ter acontecido que a minha presença tenha alterado o que seria a
relação pedagógica sem a minha intervenção, mas essa também é uma
questão que tenho de contemplar quando estou apenas como observadora.
Seja como for, parece-me que com o decorrer do dia, os trabalhadores se
foram habituando à minha presença e a minha participação acabou por ser
frutífera para conferir um olhar diferente sobre as minhas observações.
……………………………………………………………………………………
O dia de formação começou às 7H. Como ainda não estavam instalados os
meios tecnológicos necessários, compostos por computador e projetor,
houve um pequeno compasso de espera, de cerca de 15 minutos, enquanto
os formadores preparavam o que faltava. Os formandos foram chegando,
foram mantendo conversas entre si; alguns já se conhecem de trabalharem
na mesma zona.
A sala é composta por um conjunto de cadeiras alinhadas no fim da sala,
encostadas à parede do fundo, de modo a deixar livre todo o centro da sala,
onde estão as estruturas que reproduzem a linha de montagem para a
realização a atividade, com racks dispostas ao longo dessa linha, tal como na
sessão em que observei mas não participei.
Sentados no fundo da sala, começou-se a formação pela apresentação
pessoal dos formadores e formandos: nome, idade, funções
desempenhadas, hobbies. Dos 12 formandos, apenas duas pessoas são da
montagem final, incluindo um team leader; as restantes são de outras áreas,
Exposição dos
objetivos da
observação
participante aos
formandos
“Efeito do
observador”
Meios e
materiais
Configuração do
espaço
Constituição do
grupo de
formação
107
como os Recursos Humanos, a Qualidade e a Logística. Eu apresentei-me
também nessa altura, expliquei ao que vinha, as minhas motivações e
agradeci a possibilidade de estar com todos os outros formandos. Os
formadores apresentaram-se depois. Foram dois os formadores
responsáveis pela formação: um orientou a generalidade das atividades; o
outro, deu apoio na organização da sala, no desenvolvimento das atividades
e foi dando um ou outro conselho ao longo do desenvolvimento da atividade.
Foi feita uma breve exposição com o objetivo de caraterizar o Grupo
Automóvel, os seus objetivos e missão a médio prazo, o sistema de produção,
alguns conceitos de melhoria contínua – como os 5S, tipos de desperdício,
noções básicas de otimização e de standars. Esta parte da formação durou
cerca de 1H30.
Após uma série de sessões de formação observadas, concluo que em todas
esta é a chave que abre os trabalhos da formação, passando depois para as
atividades práticas, tentando associar alguns conceitos apresentados a essas
práticas, implementando-os nos exercícios. Por outro lado, como os
trabalhadores passam por todas as formações do CTP (à exceção dos
módulos de Fundamental Skills, que são destinados aos operadores de cada
área específica da produção), ou pelo menos esse é o objetivo do CTP, é
possível que estes conceitos vão ficando mais solidamente inculcados nas
pessoas que fazem parte da empresa, consolidando uma “cultura de
empresa”.
Quando se passa à explicação dos exercícios, todos os formandos se
levantam e aproximam da linha. Denoto o agrado crescente por sentirem
que afinal não vamos estar sentados e que vai ser uma formação prática.
Primeiro a tarefa é explicada na íntegra, sendo feita por um dos formadores,
do princípio ao fim. Depois, distribuem-se os postos de trabalho na linha e
algumas funções externas à linha, como a de observadores, que irão tomar
nota do que acharem que merece ser registado para ser discutido e
melhorado.
Heterogeneidade
do grupo
Apresentação do
Grupo
Automóvel
Sistema de
produção da
empresa
Sequência
consistente de
atividades
Cultura de
empresa
Explicação da
atividade
108
Designa-se um team leader, um operador de qualidade e lança-se o desafio:
“Quantos carros se conseguirão fazer em 12 minutos?” Em função da meta
definida, é alinhado o automatismo da linha, que irá estar a andar ao ritmo
definido e não poderá ser parada, a não ser que o team leader indique que
isso tem de ser feito. A atividade é filmada por um dos formadores.
O exercício inicia-se com calma, eu estou no primeiro posto de trabalho, que
consiste em colocar um tabuleiro na linha, que tenho de agarrar na parte
inferior da linha, rente ao chão, colocar uma base de feita de Lego, onde
encaixo oito peças mais pequenas. Este conjunto será o apoio onde os outros
operadores de linha irão montando as restantes peças do carro, cada um
deles com uma sequência de encaixes e operações simples de 2 ou 3 passos
cada. No entanto, denota-se que a meio da linha as operações se
complexificam, porque são mais peças e que requerem mais atenção.
Sensivelmente a meio da atividade, a linha teve mesmo de ser parada,
porque o posto do meio da linha acumulou 3 carros por montar, por não
conseguir montar um outro que vinha mal montado de trás.
Ainda assim, conseguiram montar-se 8 carros - apesar de 2 terem pequenos
defeitos -, que tinha sido a meta definida pelo grupo.
A parte seguinte da formação é dedicada a visualizar o vídeo feito pelos
formadores sobre a primeira ronda da atividade, anotando-se os problemas
que foram surgindo e as possíveis razões dessas ocorrências; os que fizeram
de observadores, emitem as suas opiniões; o mesmo sucede com todos os
outros formandos. Eu ainda me sinto inibida, sobretudo porque já presenciei
aquela formação e sei que há pormenores simples que serão mencionados
mais adiante. Não quero mudar a dinâmica do exercício estragando o “efeito
surpresa”.
É feita uma lista de alterações a fazer, no que diz respeito à organização e
sequência de trabalho e, sobretudo, à reorganização ao nível da logística,
uma vez que se detetou que o maior problema tem a ver com o fornecimento
de peças. Daqui que as caixas vão ser reorganizadas, as peças de Lego serão
dispostas de forma mais ergonómica e acessível à linha e aos operadores. Há
Distribuição de
tarefas no grupo
1ª ronda de
atividade
Dificuldades na
linha
Autoscopia
Atividade de
melhoria
Reflexão sobre a
ação
109
recurso, por exemplo, a etiquetas coloridas para as diferentes fases do
processo de montagem, para que os operadores possam ser mais rápidos nas
suas montagens.
Eu faço esse registo num flipchart, a partir das opiniões concertadas de
todos. Todo este processo, de observação, discussão e concertação de
estratégias (no fundo, processo de melhoria contínua) ocupa cerca de 1H30
da formação. Entre o primeiro exercício e a discussão de melhorias, a
formação é interrompida para almoço. O intervalo de almoço é de 45
minutos.
No regresso do almoço, e após mais um curto período de reflexão, discussão
e propostas de melhoria, estas são implementadas, mantendo-se a maioria
das funções do roleplay, com exceção dos observadores, que passam a ser
operadores de logística, alimentando a linha de produção com as peças que
vão faltando.
O número de problemas diminuiu significativamente, não havendo
ocorrências que obriguem, por exemplo, a parar a linha. São feitos 12 carros,
sendo que um deles tem um defeito. Mesmo ali, ao redor da linha, as
situações de melhoria são debatidas. Desta vez foram feitos 12 carros em 12
minutos, ou seja um carro por minuto. O automatismo da linha é afinado
para esse espaçamento e a atividade é novamente repetida, com pequenas
alterações ao nível da organização, a pedido dos próprios formandos. Sente-
se um grande entusiasmo, os formandos verbalizam que “isto é mesmo
engraçado”; vão também falando mais comigo, perguntando sobretudo
como é que me “estou a dar com isto”.
De novo, foram feitos 12 carros, desta vez sem defeitos. Há quem sugira mais
alterações, que são bem acolhidas mas que não podem ser implementadas,
uma vez que o exercício não vai poder ser repetido. A lógica debatida é que
“nada está tão bem que não possa ser ainda mais melhorado” e que “essa é
uma das grandes responsabilidades das equipas de trabalho e não apenas de
cada um”. Estes dois formadores são, talvez, mais pragmáticos do que outros
que tenho encontrado na formação. Denota-se que têm um grande domínio
2ª ronda do
exercício –
otimização
Resultados da
otimização
Reação positiva
dos formandos
aos métodos da
formação
Melhoria
contínua
110
da atividade e sabem onde querem que os formandos cheguem, mas fico a
pensar, como elemento do grupo de formação, que o entusiasmo
demonstrado pelo exercício poderia ter sido melhor aproveitado, para
concretizar mais algumas das propostas que foram feitas.
Após a finalização da atividade, os formadores orientam os formandos para
que se possa arrumar a sala tal como ela estava no início da formação. O
tempo das atividades reserva esta meia hora para este efeito, uma vez que
cerca das 15H30 termina esta ação, mas inicia-se outra, do turno da tarde.
Ou seja, a sala terá de ficar tal qual estava quando entrámos. É de assinalar
que todos seguem a lógica dos 5S na arrumação da sala. Tudo é feito
eficazmente, sem confusões e de forma célere.
Ainda há cerca de 15 minutos para um balanço final da formação. Neste
balanço final, os formandos referem com frequência o quanto se divertiram,
que foi um dia diferente, que os problemas ali detetados refletem em muito
os problemas que vão surgindo na linha, que toda a gente deveria passar por
esta formação e implementar alguns daqueles princípios na linha, se bem
que não se consegue prever tudo o que acontece na linha. Uma das questões
que é levantada pelos formadores é o facto de todos terem no seu horário
de trabalho, formalmente, meia hora semanal para discussão de problemas
e proposta de melhorias.
As opiniões são mais ou menos concordantes com a importância de uma
organização metódica no posto de trabalho, mas os formandos assinalam a
dificuldade de a pôr em prática, em virtude do stress que se vive na
verdadeira linha de montagem, referindo que muitos problemas não estão
previstos e não há tempo para “ir ver os procedimentos”. Esta problemática,
das diferenças entre ideias e teorias defendidas na formação e as práticas
postas em funcionamento na empresa, é uma das que mais entusiasmaram
a discussão do grupo de formação. É salientado por diversas vezes que, na
maioria dos casos, a meia hora de reunião semanal não chega a ser cumprida,
porque há assuntos mais urgentes para tratar na linha, ou mesmo porque é
usada em trabalho nas estações.
Controlo da
atividade pelos
formadores
Arrumação do
espaço do
espaço após
atividade
Conceitos da
produção
Balanço final da
formação
Reunião de
equipa (da linha)
Práticas vs
procedimentos
Dificuldades da
linha de
produção
111
É claramente uma formação lúdica e divertida, consegue esse objetivo com
facilidade, pela própria natureza dos exercícios e até pelos materiais usados.
Para além disso, a sequência de atividades promove a discussão e a vontade
de melhorar, apelando a um sentido de união da equipa.
Um dos formandos enuncia algo desse género, acrescentando que a empresa
sabe bem como “treinar gente competitiva”, mas que é uma “competição
saudável, em equipa”, no sentido de que põe as pessoas a pensar em
conjunto e a encontrar soluções em conjunto. Outro formando acaba por
afirmar que “às vezes é pena que seja só assim na formação”, ao que outro
responde que “não é bem assim, isso depende muito do teu chefe”.
Antes de finalizar, há ainda tempo para que os formandos façam a avaliação
da formação, nos mesmos moles de todas as outras que tenho observado.
Natureza lúdica
da formação
Trabalho de
equipa
Formação para a
competitividade
Observações:
Senti que o grupo era um pouco menos dinâmico do que os outros que observei. Não sei isso
está relacionado com a minha presença, a verdade é que com o avançar do dia o grupo tornou-
se mais “solto” e integraram-me progressivamente no grupo.
Achei a experiência positiva e a continuar, pelo menos até rever todos os Módulos principais do
CTP.
112
Dados da realização das observações
Data: 07 de dezembro de 2011
Horário: 7H00 às 15H30
Local: Centro de Treino da Produção
Atividade: Observação participante do módulo Lean Games (Jogos Lean) Duração: 7H (de 14H) (1º de dois dias)
Participantes: 2 formadores; 12 formandos
Registo de Observações Ideias-Chave/
Temáticas
A formação sofreu um ligeiro atraso no seu início, uma vez que os formadores
tiveram de esperar que chegassem alguns operadores de linha até cerca das
7h30, hora sensivelmente a que chegaram mais três formandos, todos da
linha de montagem. A justificação dada foi a de que só tinham sido
informados há 10 minutos de que tinham formação. De facto, vêm vestidos
com a farda de trabalho.
A disposição da sala repete a que observei na sessão não participante dos
Lean Games: em U, com vários placards expostos pela sala, nomeadamente
alguns que agora já sei que servirão para anotar os resultados de cada
atividade. As apresentações são breves, restringem-se a alguns dados
pessoais genéricos – nome, idade, zona de trabalho e funções
desempenhadas –, referindo-se às áreas de origem, que vão da Montagem
Final e Pintura, aos Recursos Humanos e Logística. Quando me apresentei, a
reação foi de grande interesse; houve quem me questionasse se já não estava
no RVCC, porque me conhecia dessas funções, apesar de não ter feito o
processo comigo. Demonstrei surpresa por me conhecer; um outro formando
afirmou que “sim, um dia destes é como se fosses da empresa”, ao que um
dos dois formadores respondeu que eu já era do CTP.
Seguiu-se a apresentação sobre os conceitos relacionados com o sistema de
produção do Grupo, tal como noutras sessões a que assisti. Este grupo
manifestou algumas opiniões mais críticas sobre os objetivos da empresa: são
estratégias para um crescimento mais rápido a menor custo; há trabalhadores
que estão na empresa numa base de “vai-vém”, ou seja, que são
Influência da
Produção na
formação
Espaço da
formação
Constituição do
grupo
Interesse pela
investigadora e
pelo estudo
Conceitos do
sistema de
produção
Trabalhadores
precários
113
trabalhadores temporários mas que fazem as mesmas funções que outros
efetivos, sem nunca chegarem a ter as mesmas regalias.
Também há opiniões em linha com o discurso da organização: que as
estratégias acabam por assegurar os postos de trabalho; que o que os
trabalhadores desta empresa ganham está muito acima da média de outras
empresas no país; que outras empresas têm “caído” e esta “vai-se
aguentando”; que as condições de trabalho não se comparam com as de
outras empresas. Achei muito interessante esta discussão, que foi sendo
intercalada com os diversos conceitos apresentados pelos formadores. Desta
vez, ambos os formadores foram falando, não se notando que houvesse um
“principal”. Em nenhum momento os formadores interromperam as
interpelações dos formandos, foram mesmo seguindo o fio das conversas e
tentando mediar a discussão, embora com uma tendência para representar
os ideais da empresa.
No decorrer do primeiro exercício prático, foi-me destinada a função de
fornecer as caixas grandes à linha (em tudo idêntica à primeira observação
dos Lean Games). A agitação foi enorme, o grupo de formação é
extremamente participativo e gosta de dar opiniões sobre todas as etapas, o
que por vezes dificulta a tarefa dos formadores, que precisam que a atividade
siga um determinado caminho. Desde o início que houve alguns formandos a
chamar a atenção sobre a forma como as caixas iam ser fornecidas à linha,
que não podiam “entupir” a linha.
As diferentes rondas da mesma atividade vão revelando sensivelmente o
mesmo tipo de melhorias que já tinha tido oportunidade de observar.
Considero que não será uma mais-valia em observar de novo a mesma
formação e focar-me novamente nos conteúdos e metodologias de formação,
que por esta altura já conheço bem. As dinâmicas de grupo são, talvez, a
estratégia mais bem conseguida através deste tipo de atividades, bem como
a proximidade das práticas do trabalho através de simulações, role play,
gravações e visionamento das ações, entre outras.
Funções dos
trabalhadores
precários
Vantagens da
empresa face ao
emprego
Mediação da
discussão
Caraterísticas
do grupo de
formação
Melhoria
contínua
Dinâmicas de
grupo
Metodologia da
formação
114
A postura dos formadores também é de relevo nestas observações. Apenas
uma vez encontrei um formador que já tinha estado numa formação
previamente observada, em todos os casos tenho-me cruzado com
formadores novos. Esse tem sido um critério para escolher as formações a
observar, com toda a abertura do coordenador. Estes dois formadores
revelam uma atitude muito semelhante aos que já conheci: falam em tom de
voz suave, não interrompem as conversas paralelas nem as discussões em
grupo, embora não percam o controlo da formação em nenhuma altura,
reconduzindo as deambulações para os conteúdos da formação de forma
natural. Os formadores apoiam muita da informação que transmitem em
exemplos pessoais de situações experienciadas em diferentes postos de
trabalho.
Revelam, também, uma experiência profissional consideravelmente
diversificada, dentro e fora da empresa, o que se nota através dos exemplos
que dão ou pela forma como contrapõem um exemplo dado pelos formandos.
Tal como outros formadores que conheci antes, têm um perfil polivalente,
adaptam-se rapidamente ao estilo do grupo. Essa tem sido uma caraterística
evidente na equipa de formadores, apesar de diferentes e com diferentes
grupos de formação, nomeadamente quanto aos níveis de adesão e
participação nas atividades, postura crítica e capacidade de trabalho em
equipa. Funcionam como mediadores e moderadores.
A discussão em grande grupo sobre as melhorias a implementar para a última
ronda da atividade foi bastante animada e participada: alguns dos formandos
demonstraram já conhecer a técnica da “espinha de peixe”, enquanto os
formadores a iam explicando, o que fez com que a sugestão de alterações
fosse no sentido de reproduzir a forma como dois deles já trabalhavam nas
suas estações. Um dos formadores aproveitou para salientar que as sugestões
demonstravam não só que alguns conceitos ali trabalhados já eram postos em
prática nas linhas, como a evolução da organização do trabalho seguia no
sentido da estandardização que a empresa pretendia.
Um dos formandos emitiu a opinião de que a excessiva uniformização dos
processos os tornava rotineiros, ao final de algum tempo, causando alguma
Postura dos
formadores
Importância do
know-how dos
formadores
Perfil
polivalente
Melhoria
contínua
Conceitos da
produção e
implementação
na linha
Excessiva
uniformização
115
desmotivação nos operadores, que “tal como toda a gente precisa de fazer
coisas novas de vez em quando”. A troca de ideias prosseguiu em redor das
vantagens e desvantagens da estandardização, com o formador a defender
que não se tratava de normalizar para estagnar, mas para poder “evoluir num
sentido comum a todos”. A diferença de posições foi aparentemente
respeitada por ambas as partes e aceite em alguns dos argumentos. O
formando que anteriormente tinha emitido uma opinião mais crítica
terminou dizendo que “pois, não é possível trabalhar em conjunto se cada um
fizer à sua maneira”.
Aproveitando a deixa sobre o trabalho em conjunto, os formadores incitaram
a que se terminasse o trabalho de sugestão e melhorias e que se repetisse o
exercício, alertando que faltava apenas cerca de 20 minutos para a hora de
almoço.
O exercício foi repetido, os processos revelaram-se, de facto, mais eficazes.
Nova discussão surgiu, desta vez em torno da otimização, não só dos
processos, mas da “força de trabalho”. A questão da diminuição dos postos
de trabalho como consequência de práticas de gestão lean ocupou cerca de 5
minutos, antes da pausa para almoço. Um dos formadores referiu que essa é
uma questão que surge inevitavelmente quando se fazem estes exercícios no
Lean Games, mas que os trabalhadores que ali estavam podiam testemunhar
se alguém tinha sido despedido na sequência de alterações na gestão das
estações de trabalho. Um dos formandos concordou, afirmando que conhecia
quem tivesse perdido “um posto de trabalho mas ganhou outro melhor”.
Aproveitando a afirmação, um dos formadores fez algumas afirmações
pertinentes, que aqui tento reproduzir o mais fielmente possível, partindo das
notas que tirei: “Aliás, essa é uma resposta àquilo que vocês há pouco se
queixavam, da rotina e da repetição de tarefas. Esta é também uma maneira
de provocar alterações nos postos de trabalho e nas funções dos
trabalhadores. Assim, também ganham experiência em mais funções. É isso
que a empresa pretende: polivalência, e não estagnação.”
………………………………………………………………………………….
dos processos e
o trabalho
rotineiro
Vantagens/desv
antagens da
estandardização
Noção de
trabalho de
equipa
Eficácia dos
processos
Otimização
Conceitos da
produção
Tensão:
Reconfiguração
dos postos de
trabalho
Melhoria
contínua/otimiz
ação como
solução para a
rotina
Entre a
polivalência e a
estabilidade
116
………………………………………………………………………………….
De regresso à sala de formação, a formação seguiu uma componente mais
teórica, em redor dos conceitos dos 5S, seguida da atividade prática com os
cartões magnéticos que já tinha registado na sessão de observação não
participante. A atividade foi muito animada, os grupos perceberam
rapidamente que se tratava de uma questão de “arrumação, limpeza e
organização”, embora os formadores não permitissem que se saltasse
nenhum dos passos da atividade. Pensei que essa opção talvez fosse rígida
demais, mas, por outro lado, essa é a visão de quem já conhece a atividade e
não de quem a faz pela primeira vez. Os formadores não saltam nenhuma
etapa e repetem as metodologias, embora se adaptem aos ritmos e opiniões
dos grupos.
No jogo da porta, um dos formandos do grupo em que estava inserida sugeriu
logo na primeira ronda que se fizesse uma escolha dos materiais necessários,
aplicando os 5S, afirmando que a “caixa dos parafusos é mais confusa que o
quarto do meu filho”. O formando que estava responsável pela organização
dos materiais sugeriu que primeiro se fizesse como estavam habituados,
depois se via o era necessário escolher. Um dos formadores percebeu a
conversa e concordou que era melhor que se fizesse alguma seleção prévia,
mas não forneceram mais material que permitisse fazer uma melhor
separação. O formando acabou por realizar a atividade sem separar
previamente os materiais; a discussão em torno desta decisão demorou
algum tempo. Quem fez as funções de operador de linha acabou por decidir
colocar os parafusos nos bolsos, dividindo pelos dois os tipos de parafusos
necessários. O formador percebeu a estratégia e comentou: “Pois é. É por isso
que depois na linha aparecem carros riscados. Se isso cai dos bolsos, lá se vai
a pintura!”. O formando sorriu mas não alterou a forma de proceder, apesar
de os outros elementos do grupo chegarem a insistir para usar outro método.
No restante da atividade, o grupo seguisse a metodologia definida.
Seguiu-se a estratégia habitual, de reflexão sobre os problemas surgidos e
sugestão de alterações. Parece-me que este grupo é mais dinâmico na forma
Conceitos da
produção
Metodologia de
trabalho vs
metodologia da
formação
Aplicação dos
5S
Qualidade
Resistência dos
formandos à
mudança de
práticas
117
como age e reage, mas pode ser uma impressão de quem está “de dentro” e
não ser tão objetiva como quem é exterior às atividades.
A formação terminou depois da segunda ronda de aperfeiçoamento. Os
formandos ainda ficaram algum tempo no exterior em conversa sobre as
atividades e sobre situações da fábrica suscitadas pelos exercícios que tinham
feito durante o dia. Um dos formadores esteve também nessa conversa, de
forma totalmente informal, corroborando algumas opiniões. Nestas
situações, os formadores voltam a ser mais um dos trabalhadores das linhas.
Reflexão sobre a
atividade
Identificação
profissional
entre os
formadores e os
formandos
Observações:
As atividades são divertidas, sem dúvida; participar nestes jogos é mais interessante do que
simplesmente observar, conforme já me tinha ocorrido noutros momentos. Em simultâneo,
sentem-se “na pele” as dificuldades de executar as tarefas propostas, sobretudo quando se tem
de articular ideias e práticas com outros, com ritmos ou formas de fazer diferentes entre si. As
discussões a propósito das melhorias a implementar revelaram isso mesmo, sendo que estar
“dentro” das discussões lhes dá uma dimensão mais realista estar de fora a registá-las.
Almocei com os formandos, na cantina da empresa. Penso que perceberam que não queria falar
muito das minhas intenções de estudo, falaram comigo sobretudo sobre os Processos RVCC e,
alguns deles, sobre as formas de prosseguimento de estudos. O interesse pelo meu
conhecimento sobre alguns assuntos que os motivam acabou por dominar a conversa. No final
do almoço, alguns deles agradeceram-me os esclarecimentos, afirmando que “quando não é
alguém que sabe a informar-nos, a gente bem pode ficar à espera que a informação nos chegue”.
Penso que seria uma crítica indireta à divulgação que a empresa faz sobre os Processos RVCC,
em que já não tenho papel ativo, conforme lhes expliquei.
Tive oportunidade de falar com os dois formandos que são trabalhadores em contrato
temporário, para perceber melhor algumas questões. Do que me foi dito, não sentem
diferenciação quanto ao acesso à formação interna, mas não têm as mesmas hipóteses que os
outros de fazer outro tipo de formações enquanto estão a trabalhar, porque não se podem
ausentar do local de trabalho e porque o trabalho por turnos não é compatível com a realização
de formações no exterior, mais longas e com horários fixos.
Explicaram-me que, em períodos em que a empresa os dispensa, não perdem totalmente o
vínculo; normalmente são colocados a fazer formação na academia de formação do parque
118
Industrial. Um deles tinha feito um Curso EFA para terminar o secundário num desses períodos
de interregno das funções na empresa, comentando que “não tinha sido tudo em vão”. Preferiam
ser efetivos da empresa, mas ainda assim sentem que estão melhor do que “muita gente que
não tem emprego nenhum”. Esta questão é fundamental para perceber os contornos do
emprego estável na empresa.
119
Dados da realização das observações
Data: 09 de dezembro de 2011
Horário: 7H00 às 15H30
Local: Centro de Treino da Produção
Atividade: Observação participante do módulo Lean Games (Jogos Lean) Duração: 7H (de 14H) (2º de dois dias)
Participantes: 2 formadores; 12 formandos
Registo de Observações Ideias-Chave/
Temáticas
O segundo dia de formação, com início cerca das 7.15, começou com a
visualização do filme sobre o porco na autoestrada e o exercício do desenho
do porco sem e com standards. O ambiente foi totalmente descontraído e
informal, todas as situações ocorridas foram motivo de boa disposição. Pude
experimentar a dificuldade de desenhar um porco, e a facilidade de
reproduzir um standard ao desenhá-lo. Estas questões são pertinentes, na
medida em que, sem experimentar, talvez não compreendesse a defesa que
alguns dos formadores fazem do trabalho com standards. De facto, os carros
têm de sair todos idênticos, apesar das especificações dos clientes. O que me
leva ao questionamento sobre como é que o exercício daquele tipo de
trabalho pode ser motivador e como é que há espaço para fazer sugestões
criativas de alteração aos standards.
Coloquei essas questões, na sequência da atividade e no momento em que se
estava a discutir algumas das aprendizagens feitas, assumindo o papel de
formanda que não tem experiência naquele trabalho. Fui acompanhada na
minha dúvida por vários formandos, nomeadamente dois que vinham dos
recursos humanos. O formando que, no dia anterior, tinha feito uma
observação no mesmo sentido, concordou.
Desta vez, o formador optou por enfatizar as mais-valias de se trabalhar com
o que é seguro e conhecido, em vez de estar sempre a reinventar, porque a
fábrica precisa de processos estáveis e “não se pode fazer um carro diferente
todos os dias” (palavras do formador). No entanto, o formador realçou que a
empresa incentiva à criatividade, que muitas das sugestões de alteração dos
trabalhadores, nomeadamente da linha, têm sido aceites e implementadas.
Também referiu novamente que há muito mais facilidade de mobilidade
Standards
Limitações/vant
agens do
trabalho por
standards
Formadores
enquanto
intermediários
da mensagem
que a empresa
quer passar
120
dentro da empresa, de modo a que os operadores façam mais funções e
sejam mais polivalentes do que na maioria das empresas deste ramo.
De um modo geral, os formandos concordaram. Mesmo as pessoas dos
recursos humanos realçaram que há funções que fazem que também são
repetitivas e rotineiras, embora não “tão pesadas”, mas que se estiverem
descontentes há sempre forma de mudarem de tarefas. Nessa altura, o
formador afirmou perentoriamente: “Acreditem que a empresa prefere
mudar de procedimentos do que mudar de trabalhadores”. A discussão
continuou em redor destas questões: o investimento que é feito na formação,
a abertura à mobilidade interna e até as hipóteses de trabalho em outras
empresas do grupo no estrangeiro, como sendo grandes vantagens de
trabalhar na empresa, comparativamente com a “maioria das outras que
conhecemos”.
Segue-se a atividade em que cada equipa tem de conceber uma das duas
partes de um porta-rolo de fita-cola e que criem a respetiva SAB. Esta é uma
atividade mais complexa de executar do que parece à partida, ou pelo menos
do que me pareceu na observação não participante. Temos apenas uma
imagem final do que deverá ser construído e os materiais. Os materiais são
todos para utilizar, não pode sobrar nem se pode pedir mais nenhum. Aqui,
percebem-se as competências criativas e operacionais que alguns dos
trabalhadores têm.
A atividade desenvolve-se como é pretendido, as equipas trocam de lugares
e conseguem facilmente reproduzir o objeto a partir da SAB da outra equipa.
São feitas algumas sugestões de melhoria, por ambas as equipas, sobre as
SAB’s. A formação é interrompida para cerca de 10 minutos de intervalo.
De regresso, cerca das 10H30, a formação prossegue em sala. Segue-se uma
exposição sobre as SMED, trocas rápidas de ferramentas, e sua centralidade
no processo de produção da fábrica. São dados vários exemplos e visualizados
vários filmes de operações de troca de ferramentas feitas na linha de
montagem. A propósito desta temática, o formador refere a TPM, dando
vários exemplos de sugestões de melhoria na fábrica. Faz algumas referências
Rotatividade/po
livalência
Compromisso
mútuo
Empresa
depende dos
trabalhadores
SAB
Criatividade dos
formandos
Predefinição da
atividade
Método SMED
Método TPM
121
às discussões anteriores sobre os standards e as rotinas, reforçando que há
espaço para alterações e que os trabalhadores não devem assumir uma
atitude passiva. Esta questão já tinha sido mencionada na outra sessão dos
Lean Games que observei.
Desta vez pareceu-me que esta parte da formação foi mais rápida, ou talvez
estivesse mais envolvida. Os outros formandos não aparentam cansaço nem
desmotivação apesar de ser um período longo dentro da sala, com muita
informação e explicações técnicas. Continuam a ser participativos, colocam
questões que se reportam a situações concretas de trabalho. Os formadores
revelam um conhecimento alargado sobre várias estações e zonas de
trabalho, desde a pintura, às prensas, logística, carroçarias e montagem final.
As pessoas dos recursos humanos vão comentando que “nunca imaginavam
que isto fosse assim”. Eu penso exatamente o mesmo, aliás, lembro-me de
ficar espantada aquando das primeiras explicações sobre o processo
produtivo. Talvez a minha perspetiva seja próxima da das pessoas que vêm
dos Recursos Humanos, na medida em que também elas nunca trabalharam
na produção da fábrica.
Cerca das 11H15, saímos para a zona exterior de formação, onde é explicada
a nova atividade, de troca rápida de ferramentas, com a utilização do carro
de treino. Cada equipa designa o operador a fazer a troca; num dos casos fica
alguém dos recursos humanos como operador, afirmando “Eu quero mesmo
ver o que é que isto custa.”. Após a prévia organização e divisão de funções,
a atividade é executada sem grandes dificuldades para ambas as equipas.
No caso da equipa em que me inseri, as pessoas mantiveram uma atitude de
“colegas” para comigo, tal como o formador, que me tratou como a outros
trabalhadores da empresa. Durante a atividade, foi perguntando a todos nós
“como estava ir” e corrigiu a minha postura, por estar muito inclinada na
bancada de trabalho. Colocou-me algumas questões sobre as opções da
equipa e os outros elementos do grupo foram intercalando a resposta ao
formador com a minha, sem tentarem responder por mim.
Tensões em
torno do
trabalho por
standards
Perfil
participativo do
grupo
Heterogeneidad
e
Criação de uma
imagem
abrangente da
empresa
Melhoria vs
Custos
Reação do
grupo à
investigadora
122
Uma vez que são 11.45, o grupo concorda que será melhor interromper para
ir almoçar, deixando as sugestões de melhoria para depois do almoço.
………………………………………………………………………………….
De regresso, cerca das 12.45, segue-se o período de sugestões em grande
grupo. Cerca de meia hora depois (são todos muito interventivos e nem
sempre é fácil chegar a um consenso; mas fazem cada passo da atividade com
enorme empenho).
A atividade é repetida com apoio em mais materiais; o tempo de execução é
mais rápido e o trabalho em si mesmo torna-se menos pesado, o que leva um
formador a salientar que é frequente que as alterações feitas não sejam
apenas por uma questão de ganhar tempo, mas sobretudo por questões de
saúde e de ergonomia. Diz um dos formandos: “Pois, é uma chatice se a gente
adoece”. Percebendo a intenção do formando, o formador responde que a
empresa investe no apoio à saúde e em melhor ergonomia no local de
trabalho também por questões económicas, mas não só.
As duas pessoas dos recursos humanos referem que é muito importante
garantir que quem ali trabalha tem todo o apoio possível em termos de saúde,
até porque se os operadores ficarem incapacitados, por alguma razão, a
empresa perde mais com a sua saída, por exemplo, do que em evitar
problemas de saúde ou dar condições de acompanhamento médico. Mas
acreditam que o investimento feito na saúde é sobretudo para garantir
“melhores condições físicas e psicológicas de trabalho”, porque assim
“também se trabalha melhor”. O formando anterior concorda, dizendo, “Lá
isso é verdade”, parecendo-me que, apesar de crítico relativamente a uma
série de assunto, é também bastante assertivo em aceitar a opinião dos
outros.
É de registar que, quando surgem diferenças de opinião, os próprios
formandos vão apresentando argumentos e contra-argumentos,
frequentemente sem a interferência dos formadores. Não há um clima de
conflito quando algumas questões mais delicadas são discutidas; é
importante igualmente registar isto. Sente-se que as pessoas têm uma visão
Atitude
crítica/participa
tiva do grupo
Tempo de
execução das
atividades
Saúde dos
operadores e
custos para a
empresa
Importância dos
trabalhadores
para a empresa
Condições de
trabalho
123
realista sobre a empresa e também um espírito crítico fundamentado sobre
algumas situações de trabalho, que expõem com à vontade.
O tempo dedicado às sugestões, à repetição do exercício e às conclusões
gerais acabou por se prolongar até às 14.30. O formador refere essa questão,
dizendo que não vão ter tempo para realizar uma outra atividade (de facto,
na observação não participante havia uma outra atividade de troca de
ferramentas), justificando que prefere que se “gaste mais tempo a discutir
ideias sobre os conceitos aplicados, já que esse é também o objetivo da
formação”.
Regressados à sala, visualizamos o filme sobre o trabalho realizado nas
prensas (que já tinha visto na outra sessão observada). Desta vez, o formador
vai fazendo algumas pausas no visionamento para explicar algumas questões
suscitadas pelas imagens; em duas situações, são os formandos que pedem
esclarecimentos. O formador explica, no fim do filme, que para a área de
produção e para o CTP é muito importante que toda a gente que faz formação
no CTP tenha uma noção geral sobre todo o processo de produção, das
prensas à montagem final. Segundo diz, grande parte das pessoas que
trabalha na empresa não conhece a área das prensas, nunca lá foi; é como se
fosse uma área à parte. Alguns formandos anuem com a cabeça, de facto não
conheciam. As pessoas dos recursos humanos confessam-se muito
surpreendidas pelo tipo de trabalho que é feito nas prensas, confirmando que
pouca gente sabe “o que lá se faz”.
Cerca das 15.15, os formadores distribuem as folhas de avaliação da formação
e explicam a sua função avaliação, como é hábito. De seguida, os formadores
dão por encerrada a formação. Agradecem a presença de todos, um deles faz
uma referência específica à minha presença na formação. Alguns formandos
afirmam que eu estou “aprovada para trabalhar na empresa”. Eu agradeço a
colaboração, dizendo-lhes que gostei imenso da experiência e da forma como
todos me integraram. Vários formandos elogiaram a prestação dos
formadores. No final, bateram-se palmas à formação, coisa que não tinha
assistido fazerem antes, embora o coordenador já me tivesse dito que às
vezes acontece.
Objetivos da
formação:
discussão em
torno dos
conceitos da
produção
Visionamento
de filme
exemplificativo
do trabalho nas
prensas
Fechamento de
algumas áreas
da produção,
até para os
próprios
trabalhadores
Reação do
grupo à
investigadora e
à formação
124
Observações:
Prosseguindo a ideia de que a observação participante poderia dar um novo enfoque sobre a
realidade da formação, combinei a minha presença num grupo de formação de Lean Games. Fiz
a formação durante os dois dias, fazendo os horários e tarefas do grupo de formação. Todas as
impressões foram registadas cerca de 2 a 3 dias depois do fim da formação, a partir de notas
tomadas sobretudo em momentos de pausa da formação.
Ao contrário do que tinha sentido inicialmente no grupo de formação do L.E.G.O. Line, este grupo
acolheu-me e integrou-me de forma calorosa e imediata. Comecei por não referir que já tinha
assistido àquele módulo de formação, tal como fiz na minha participação no L.E.G.O Line. No
segundo dia essa questão surgiu, no meio de uma conversa informal sobre as minhas
observações anteriores, e eu referi que já conhecia o módulo e os exercícios, mas afirmei (e segui
esse intuito) que não iria partilhar soluções que tivesse visto anteriormente noutros grupos de
formação; concordaram, de outra forma os exercícios perdiam “a piada”.
Mais uma vez, subsistiu a dúvida sobre se a minha presença alterou o que seria a relação
pedagógica sem a minha intervenção, mas essa é uma questão que não há como alterar neste
momento. Os trabalhadores habituaram-se rapidamente à minha presença e foi interessante
sentir que me viam como “um deles”, na medida em que os comentários sobre as atividades, o
seu interesse e pertinência, foram mais espontâneos que no grupo da L.E.G.O. Line e mesmo com
os grupos em que apenas observei.
Faz-me refletir sobre a importância de, neste caso, serem dois dias de formação, em vez de um
só, como no L.E.G.O., na medida em que o contato é mais prolongado e a habituação à minha
presença torna o ambiente mais descontraído e “real”, ou seja, próximo do que seria se eu não
estivesse presente e/ou mais próximo de um contexto real de equipa.
Fez-me concluir, também, que o tempo de aprofundamento do contacto e das relações
interpessoais é um fator fundamental no desenvolvimento da formação. Apesar do L.E.G.O ser,
à partida, mais divertido, os Jogos Lean transmitiram-me uma maior sensação e pertença e
partilha no grupo; a equipa funcionou melhor e a procura de soluções para os problemas foi mais
dialogada. Senti também uma maior pressão para aplicar os conceitos do sistema de produção,
tanto mais que mais tempo de formação significa mais conceitos para pôr em prática.
125
Dados da realização das observações
Data: 16 de janeiro de 2012
Horário: 7H00 às 15H30
Local: Centro de Treino da Produção
Atividade: Observação participante do módulo Fundamental Skills – Montagem Final
(Competências Fundamentais de Montagem Final)
Duração: 7H (de 40H) (1º de cinco dias)
Participantes: 3 formadores; 12 formandos
Registo de Observações Ideias-Chave/
Temáticas
Notas prévias
Farei a formação dos Fundamental Skills com o grupo da Montagem Final. O
facto de já ter observado este módulo pode trazer vantagens – uma vez que
os exercícios são muito técnicos e eu não tenho qualquer prática em nenhuma
das competências que a formação trabalha, ter visto antecipadamente pode
dar-me um maior à vontade com os materiais e os equipamentos; e pode ser
uma desvantagem, porque já observei os exercícios – com efeitos na
motivação, postura face aos exercícios -, e porque a metodologia me parece
repetitiva e pouco motivante, apesar dos grupos que observei parecerem
sempre muito envolvidos com as atividades. O facto de não ter nenhuma
experiência associada a este tipo de operações suscita-me algumas dúvidas
sobre o que conseguirei fazer.
No entanto, algumas destas questões também se colocavam à partida
noutros módulos em que participei: a experiência na participação no L.E.G.O
Line e nos Lean Games foi bastante positiva. No fundo, para construir uma
visão diferente sobre o que é a formação integrada na empresa e as suas
dinâmicas na relação com o trabalho real.
………………………………………………………………………………..
Os formandos de Montagem Final e de Carroçarias (Body) estão juntos, neste
primeiro dia. Conforme explicam os formadores, nos dias seguintes o grupo
será separado em dois espaços distintos do CTP, para o desenvolvimento da
formação específica de cada uma daquelas áreas da produção. O dia é
Vantagens/desv
antagens da
observ.
Participante
Especificidade/t
ecnicidade do
módulo
Balanço sobre a
participação
prévia noutros
módulos
Apresentação
do Grupo
Automóvel e
126
dedicado à explicitação de conceitos fundamentais do sistema de produção
do Grupo, em tudo idêntico ao que observei na semana de Dezembro, na
observação não participante.
A exposição é feita com apoio em recursos audiovisuais, fazendo apelo à
opinião e práticas profissionais dos formandos. A disposição das carteiras e
cadeira é feita em U, na direção da parede branca onde os diapositivos de
apoio à exposição são projetados.
Os formadores estão sempre de pé, vão alternando entre os diferentes cantos
da sala, sobretudo o formador de apoio. O formador principal fica sempre
mais num canto da sala, numa posição diagonal relativamente às mesas dos
formandos.
A formação começa pela apresentação dos formadores e formandos,
começando pelos primeiros. Nome, idade, experiência na fábrica, setores em
que trabalham e já trabalharam, hobbies, são as características a que cada um
se refere nessa apresentação
São 12 formandos, contando comigo; 2 formadores e outros 2 que estão em
formação. A maioria dos formandos vem da Montagem Final, de zonas
distintas, há um de Pintura e outro de Prensas. Foi referido o alargamento do
número de formadores como uma necessidade urgente, tendo em conta o
volume crescente de formação atribuído ao CTP, sobretudo com a previsão
do início de mais duas áreas de Fundamental Skills – Pintura e Logística.
………………………………………………………………………………..
O grupo é participativo e argumentativo, os formandos dão várias vezes
exemplos de casos da linha de produção que confirmam o que vai sendo dito,
mas também dão exemplos que contrariam alguns conceitos que são
mencionados. Por exemplo, quando se fala do trabalho de equipa, há quem
concorde com os fundamentos apresentados, mas há quem refira práticas
diferentes daquelas que são indicadas como sendo preferenciais.
dos conceitos
do sistema de
produção
Materiais e
espaço
Postura dos
formadores
Apresentação
do grupo
Constituição do
grupo
Volume
crescente da
formação no
CTP
Caraterísticas
do grupo
Confronto entre
as praticas e as
teorias
127
Desde cedo que a formação se tornou bastante dialogante, observando-se
que os formandos são interessados e sentem necessidade de dar a sua
opinião, de mostrar qual é a sua experiência e que práticas também eles
observam na linha de produção, por contraste ao que vão ouvindo e sobre a
“teoria” das práticas que vai sendo exposta.
Denota-se que há 2 ou 3 formandos com características de advogado do
diabo, com opiniões tendencialmente provocatórias e com uma fraca opinião
e expetativa sobre a empresa.
Alguns dados e conceitos explicitados são a repetição do que costuma ser o
início dos módulos de formação a que já assisti, nomeadamente:
Dados da evolução do grupo/marca
Projetos e planos da empresa para o futuro
Otimização
Melhoria contínua
Trabalho em equipa
Relação cliente/fornecedor em várias as dimensões
Qualidade na produção e exigências do cliente
Sistema de produção, de informação, de controlo e de qualidade
Diretivas, normas e auditorias
Segurança e ergonomia
5S, one touch, one motion, poka yoke (entre outros métodos)
Tipos de desperdício
Trabalho por standards e folha de trabalho por standards (SAB)” Antes de
finalizar o dia de formação, que tal como nos módulos de Fundamental Skills
que tinha observado é muito teórico-concetual, o formador chama a atenção
que no dia seguinte terão de vir com roupa de trabalho ou, pelo menos, que
devem cumprir as regras básicas de segurança – sem fios, pulseiras, relógios,
fivelas de cintos protegidos e com uso de botas de trabalho ou com biqueira
reforçada (que terá de ser o meu caso, uma vez que não tenho botas de
trabalho).
Formandos
argumentativos
Conceitos da
produção
Standards
SAB
Regras de
segurança
Apresentação
dos espaços e
128
Vamos depois aos espaços específicos da formação prática. Os formadores
mostram os espaços e explicam a organização das bancadas de trabalho
prático, das mesas de reunião de grupo; mostram onde estão os cacifos e os
armários de material. Questionam o grupo sobre a forma como sentiram este
primeiro dia de formação; grupo é unânime em dizer que, apesar de ser mais
teórico (coisa que os formadores tinha avisado no início), não foi muito
maçador. Permitiu-lhes refletir sobre algumas práticas do dia-a-dia.
divisão dos
grupos
(MF/Body)
Reação dos
formandos à
metodologia
Observações:
Optei por estar mais envolvida com a formação do que a tomar notas, coisa que fiz no primeiro
momento de pausa. Penso que terá sido útil para a minha integração no grupo, que me pareceu
reagir bem à minha presença, sabendo os objetivos da minha participação. Alguns elogiaram a
minha “coragem”, um afirmou qualquer coisa como “é importante sentir estas coisas na pele e
não só estudá-las”. Achei curioso.
129
Dados da realização das observações
Data: 17 de janeiro de 2012
Horário: 7H00 às 15H30
Local: Centro de Treino da Produção
Atividade: Observação participante do módulo Fundamental Skills – Montagem Final
(Competências Fundamentais de Montagem Final)
Duração: 7H (de 40H) (2º de cinco dias)
Participantes: 2 formadores; 8 formandos
Registo de Observações Ideias-Chave/
Temáticas
Os dois grupos de FSkills (MF e Body) juntam-se num espaço comum da
formação prática; fazem-se os exercícios de aquecimento dos músculos e
tendões das mãos, pulsos, braços e costas (conforme já foi descrito na sessão
observada de 8 de novembro).
Enquanto isso, os formadores vão conversando com os trabalhadores sobre
exemplos de problemas de saúde provocados por movimentos repetitivos e
formas de evitar certas patologias; apesar de não haver este tipo de
instrumentos acessórios na linha de produção, os formadores sugerem
movimentos que podem ser feitos antes de começarem a trabalhar ou
durante o trabalho, sempre que sentem desconforto.
Segue-se exercício de enrolar cordas à volta de pequenos tubos numa
determinada sequência, na vertical, e de passar cordas em cabos, na
horizontal. Tal como tinha acontecido na outra formação deste módulos,
estes exercícios de “passar cordas” e “enrolar cordas” foi um sucesso.
Os dois formadores em formação também estão presentes e vão auxiliando
na distribuição de materiais e na explicação dos movimentos.
Cerca das 8H, os grupos dividem-se pelo espaço do Body e pelo da Montagem
final.
O 1º posto da Montagem Final é-me atribuído; dessa forma, consigo utilizar
mais facilmente o computador pessoal ou o caderno de apontamento, se tiver
oportunidade de ir tirando notas.
Zona de
treino/aquecim
ento
Saúde dos
operadores
Definição da
estratégia para
fazer obsv. part.
130
O formador juntou todos em redor de um dos computadores de apoio, que
estão em cada um dos postos de trabalho simulados. Explica o menu dos
exercícios, que serão 7. Mostra como estão organizados os layouts do
programa que irão usar: lado esquerdo do ecrã há um submenu para cada
exercício; lado direito estão disponíveis itens de segurança e qualidade
relacionados com o exercício; ao centro, há fotografias do exercício e/ou
filmes.
O formador principal chama atenção para diversos elementos importantes de
segurança e manutenção de aparafusadoras. Em todas as informações que o
formador vai dando, os formandos vão dando exemplos de boas e más
práticas de utilização e manuseamento das aparafusadoras na linha. O
formador refere-se ainda a questões ergonómicas e de qualidade.
Após um intervalo de 20 minutos, cerca das 8H30, iniciamos a rotina dos
exercícios: ver o vídeo, ir passo a passo, no programa de computador;
experimentar cada passo já co os materiais; começar a montagem de acordo
com as etapas definidas; executar e treinar toda a operação para, por fim,
realizar o teste do semáforo.
O formador verifica com cada um dos formandos se conseguem fazer todos
os passos corretamente e em segurança. No meu caso, noto que tem especial
cuidado na forma como explica o exercício e vai acompanhando a sua
evolução. Os colegas de grupo volta e meia perguntam-se se quero ajuda,
respondo que “está a ir bem”, ou coisa parecida.
No exercício seguinte, todos têm de ir buscar material ao armário, material
esse que está arrumado em caixas com a indicação de cada posto de trabalho.
Não tinha dado conta deste pormenor na sessão anterior a que assisti. Para
além disso, cada posto está identificado com uma cor, para além do número
da estação.
Nesta altura, o formador chama a atenção como cada um colocou as duas
caixas nas suas bancadas: são duas, uns puseram-nas no lado direito, outros
no esquerdo, e outros ainda colocaram uma na esquerda e outra na direita.
O formador aproveita para referir a falta de standard e relembra que “vamos
Materiais de
apoio à
formação
Segurança e
manutenção
dos materiais
Qualidade e
ergonomia
Sequência dos
exercícios
Aprendizagem,
treino e
testagem
Reação dos
formandos à
investigadora
Organização do
trabalho e
aplicação dos
131
trabalhar com ambas as mãos; logo, o mais lógico será uma em cada lado da
bancada”.
Há outro formando que argumenta que prefere as 2 do mesmo lado, o
esquerdo, e o formador coloca-o perante algumas em situações hipotéticas
de utilização dos parafusos que lá estão dentro. Chama a atenção para a
importância dos standars e de todos, na mesma equipa, terem uma
determinada lógica de funcionamento. Este formando acaba por concluir que
é melhor uma de cada lado, enquanto o primeiro a ser alertado acaba por
colocar uma caixa de cada lado.
Neste exercício é preciso agarrar em 4 clips de expansão de uma só vez,
confirmar o bom estado; isto, com a mão esquerda e a direita. Há um
formando que contesta o porquê dos 4, acha que deverão levar logo mais,
para não perder tempo. Dá exemplo de como funciona na linha. Formador
fornece dado curioso de qualidade: reclamações ao nível da montagem final
têm em grande parte a ver com peças soltas dentro da estrutura do carro,
nomeadamente parafusos.
Este formando é extremamente argumentativo; o formador vai pedindo
diferentes exemplos de prós e contras de se terem muitos parafusos ou
poucos de cada vez na mão. Há uma troca de opiniões acesa, mas de forma
assertiva. No fim, acabam a troca de opiniões de forma natural e sem haver
conflito.
Grande parte dos alertas dos formadores, nesta altura, têm a ver com
ergonomia e qualidade. Existe diálogo, exemplificação no momento e
exemplificação através das práticas de cada operador na linha.
Formador refere que está a passar à frente de alguns subpassos em cada
exercício porque, para quem já tem experiência de linha, pode tornar-se
“infantil”, e faz com que os exercícios se tornem repetitivos, quer nos passos
a seguir quer nos alertas de segurança e qualidade. O formador acrescenta
que os exercícios vão sendo adaptados aos grupos e também em função das
críticas que vão sendo feitas.
conceitos de
produção
Standards de
trabalho dentro
da equipa
Treino e
repetição e
operações para
aperfeiçoament
o técnico
Formando
argumentativo
Ergonomia e
qualidade
Teor simplista
de alguns
exercícios
programados
Adequação da
formação à
realidade dos
grupos
132
………………………………………………………………………………..
Às 10H10min faz-se nova pausa, de 10 minutos. Segundo o que o próprio
formador diz, estar parado no mesmo sítio faz com que se fique com mais frio
e isso provoca dores de pernas. É um facto que esta parte dos exercícios
práticos implica estar parado no mesmo lugar durante muito tempo. O espaço
é amplo e um pouco frio, por se tratar de um pavilhão.
Durante o intervalo anoto algumas coisas e reflito sobre as sensações que vou
tendo: a crescente dificuldade dos exercícios tem feito com que o formador
desvie um pouco a atenção que tem tido para comigo para dar resposta aos
pedidos de ajuda de outros formandos, o que é positivo. Isso demonstra que
as dificuldades que sinto são idênticas às de outros formandos.
Outro dado curioso tem a ver com o efeito do treino repetitivo: se, por um
lado, parece maçador, tem sido interessante sentir que mesmo as coisas que
pareciam difíceis se conseguem fazer ao final de algum treino, como a
questão de agarrar vários objetos pequenos, ao mesmo tempo e sem olhar,
que tanto me tinha impressionado na observação que fiz anteriormente deste
módulo. De facto, consegue-se, depois de algum treino.
………………………………………………………………………………
Cerca das 10H24 regressa-se à formação. Um formador que está em formação
é agora quem explica o exercício seguinte. Agora trata-se de inserir parafusos,
que primeiro são retirados da caixa em conjuntos de 4 de uma só vez. Há
explicação, depois treino, tanto para mão esquerda como para mão direita.
No final de toda a sequência, todos têm a descrição do exercício total, que se
trata de uma sequência de operações básicas em sequência. Há depois um
teste final, cujo tempo é medido através do método MTM (methods of time
measurement. Trata-se de sistemas com tempos predefinidos que servem
para descrever os processos de trabalho e para associar os tempos
predefinidos aos processos. O formador vai falando sobre este método, onde
Dificuldades
colocadas pelos
exercícios – ao
nível a postura e
das condições
de trabalho
Dificuldade
crescente dos
exercícios
Reação da
investigadora às
atividades de
treino repetitivo
Efeitos do treino
Treino
Conceitos da
produção
133
surgiu (indústria têxtil) e as suas vantagens. O próprio programa de treino tem
um slide informativo sobre este método.
Este exercício final é medido através do teste do semáforo; esta sinalética é
entusiasmante, todos os formandos tentam fazer o exercício enquanto a
barra temporal ainda está verde (1m25sg); depois há 10 segundos de
tolerância (amarelo), entrando depois em zona vermelha, ou seja, fora do
tempo máximo de execução da sequência de operações básicas. Por várias
vezes o meu exercício (e não só o meu) ficou no vermelho.
Todos fazem o exercício como treino e depois são visionados, um a um, pelos
formadores. As únicas questões que assinaladas têm a ver com normas de
segurança, qualidade e ergonomia; quanto ao tempo de execução, não é lhe
dada demasiada importância.
No final, todos nós desmontamos os parafusos e os clipes de expansão da
placa onde foram colocados e arrumamos tudo. Os formadores vão
chamando a atenção para a aplicação dos 5S no processo de organização dos
materiais.
O exercício seguinte segue a mesma lógica, com sequências de 4 parafusos
(direita/esquerda) aparafusados em placas de aço específicas, com furação
própria. Desta vez, são 3 medidas de parafuso diferentes, que exigem
ponteiras diferentes na aparafusadora. No final de algum treino, fez-se o teste
do semáforo. Os formandos fazem notar que estão a conseguir ser mais
rápidos. Alguns deles elogiam a minha evolução, que até “já nem precisa de
ajuda”.
As atividades interromperam-se às 12H para almoço.
………………………………………………………………………………
Os trabalhos retomaram às 12H45m, em volta da mesa de trabalho do espaço
de formação prática. Fez-se o ponto de situação e preencheram-se os espaços
nas folhas de auto verificação, relativos aos exercícios já feitos.
Testagem
(lúdica)
Treino/testage
m
Qualidade e
ergonomia
Aplicação dos
conceitos da
produção ao
método de
arrumação dos
materiais
Treino/testage
m
Verificação das
aprendizagens
134
Prossegue-se para outro exercício, que introduz as porcas. Neste caso, porcas
sextavadas. Formadores referem alguns dos perigos reais de má colocação
deste material, quer na linha quer no produto final, ou seja, o carro.
Denota-se agora um pouco menos de intervenção dos formandos, talvez por
se tratar do período pós-almoço, ou porque os exercícios vão repetindo uma
mesma lógica, de introdução, visionamento de imagens/vídeo de explicação,
avisos de segurança e itens de qualidade a ter em consideração.
Quando os exercícios e testes práticos recomeçam, nota-se maior ânimo por
parte do grupo, de uma forma geral.
O formador vai buscar uma chave dinamométrica, explicando como funciona,
sobretudo para mim, porque todos os formandos já conhecem a ferramenta.
Exercita-se, chamando-se a atenção para o excesso de aperto, o que aumenta
os newtons na porca, provocando quebra do parafuso, mais tarde. Neste caso,
como noutros já referidos, são mencionadas consequências reais que um
trabalho menos correto com estas ferramentas pode ter num carro, com
retrabalhos maiores do que um erro com uma simples porca poderia levar-
nos a pensar. Os outros formandos dão vários exemplos que confirmam esta
questão.
Feitos os testes sobre este exercício, com aparafusamento de porcas de 8 e 6
mm com aparafusadora de bateria e com chave dinamométrica, e após
desmontagem do material usado, é feito novo intervalo, cerca das 14H.
Nesta altura, há dois formandos que comentam um com o outro o que estão
a achar da formação, concordando que “está a correr bem, umas partes mais
seca que outras, mas a correr bem”.
Segue-se novo exercício depois do intervalo de cerca de 10 minutos, desta
feita sobre tampas de vedação e passa-cabos. Estes materiais são feitos de
plástico mole, pelo que a sua colocação tem técnicas específicas. São
responsáveis pela vedação de águas, por exemplo, pelo que é muito
importante ficarem bem colocados. E, de facto, requerem perícia e treino
para a colocação, facto comprovado com as minhas inúmeras tentativas até
Treino
Repetitividade
da sequência de
operações em
cada exercício
Reação positiva
do grupo aos
exercícios de
treino e
testagem
Explicações
técnicas
Treino/testage
m
Opinião dos
formandos
sobre a
formação
Treino
135
conseguir. Quando finalmente consegui, houve quem batesse palmas. A
atitude dos colegas continua a ser de incentivo e sente-se uma maior
entreajuda entre todos, não só comigo.
Segue-se um diálogo sobre a importância de auto-verificações de qualidade
por parte de cada operador, na linha, para evitar retrabalhos ou, pior, para
evitar que problemas subsistam até ao cliente final, podendo provocar
estragos ou mesmo perigos reais, relacionados com a segurança e não só com
o conforto.
Muitos são os exemplos, mais uma vez, de boas e más práticas de verificação
de qualidade na linha de produção que cada formando vai dando; refere-se a
carta viageira, documento que acompanha o carro ao longo da sua
construção, os diversos problemas advenientes do seu não preenchimento
quando é necessário e quais os constrangimentos que o trabalho na linha
coloca para quem reporta um erro na carta viageira.
Estas questões internas, de diferença e até polémicas entre teoria e práticas
são frequentes na formação, tal como os formadores me têm referido em
conversas informais e como tenho podido observar. Esta é uma questão
importante a assinalar.
Seguem-se os testes individuais deste exercício, visualizados pelos
formadores, que fazem um ou outro reparo, sobretudo relativos à qualidade,
que parece ser um dos temas chave destas formações.
Quando este exercício finaliza, cada um de nós arruma os seus materiais e
ferramentas, as chapas de trabalho; fomos buscar uma vassoura e uma pá e
deixámos o local de trabalho limpo e arrumado.
De seguida, na mesa de reunião do grupo preenchem-se as folhas de
confirmação das técnicas e faz-se um ponto de situação. No geral, todos
sentem que foi útil para melhorar técnicas e repensar “vícios”, mas também
fazem o contraponto com a realidade da linha de montagem, mais acelerada
e com outras exigências.
Ambiente de
entreajuda no
grupo
Autorregulação
no trabalho
Custos/perigos
Carta viageira
Tensões em
torno das
diferenças entre
teoria e práticas
Qualidade
Arrumação e
limpeza do
espaço
Balanço final do
dia de formação
Diferenças entre
a linha de
produção e a
formação
136
Há um formando que se refere especificamente aos conteúdos da formação,
referindo que são um pouco repetitivos, tal como as sequências e as lógicas
de evolução dentro de cada exercício se tornam um pouco repetitivos. Outro
formando concorda mas justifica isso com a ideia de que é repetindo algumas
técnicas que se vai apreendendo, pelo que alguns corroboram a 1ª opinião e
outros, a 2ª.
O formador salientou que foram pulados passos em muitos exercícios para
que não fossem mais repetitivos; por outro lado, para quem nunca trabalhou
na linha, talvez seja mesmo esta a melhor forma de aprender as técnicas. Um
formando salientou o meu caso, aliás, e eu confirmei que só repetindo
algumas coisas é que consegui fazê-las.
Repetitividade
dos conteúdos e
sequências
Justificação da
repetição e do
treino
Observações:
Almocei com o grupo de formação, distante dos formadores. Comentaram a minha postura,
acham curioso que me dê “ao trabalho” de experimentar o que eles fazem. Na brincadeira,
prometem: “Não te vamos deixar mal, esta vai ser a melhor equipa da Montagem Final”. Senti
que aquela conversa foi importante para a minha integração no grupo.
137
Dados da realização das observações
Data: 18 de janeiro de 2012
Horário: 7H00 às 15H30
Local: Centro de Treino da Produção
Atividade: Observação participante do módulo Fundamental Skills – Montagem Final
(Competências Fundamentais de Montagem Final)
Duração: 7H (de 40H) (3º de cinco dias)
Participantes: 2 formadores; 8 formandos
Registo de Observações Ideias-Chave/
Temáticas
Entre as 7H05 e as 7H30 todos repetiram os exercícios de aquecimento, em
especial aqueles que têm feito “as delícias” dos formandos. Até eu já tento
passar e enrolar o cabo mais depressa, mas estou longe dos rankings.
O exercício inicial do dia implica manuseamento de alicates de abraçadeiras.
É uma ferramenta que pode ser perigosa, daí ter de se usar óculos de
proteção, para além das medidas de segurança habituais.
O formador principal exemplifica com dois tipos de alicates (para diferentes
medidas de tubo), enquanto o formador em formação vai ajudando
individualmente, sobretudo aqueles que nunca usaram esta ferramenta,
como eu. São experimentados vários tubos e os formadores vão confirmando
se as abraçadeiras foram bem colocadas, assim como se, no ato de colocação
das abraçadeiras, houve cuidado com as normas de segurança.
Temos cerca de 15 minutos de treino individual antes dos formadores
assistirem ao teste do semáforo. Uma vez mais, o que é realçado são questões
de qualidade ou de segurança, não se dando relevância ao tempo demorado
na tarefa. Os formadores observam as prestações de cada um e depois disso
as bancadas são arrumadas por cada um de nós, como é habitual; noto que já
ninguém tem de alertar para o facto, cada um fá-lo automaticamente no final
de cada operação concluída. Enquanto arrumam os materiais, os formandos
vão trocando opiniões sobre o nível de dificuldade das operações e sobre a
semelhança destes procedimentos finais com aquilo que fazem.
É feito um intervalo de cerca de 20 minutos (entre as 8H40 e as 9H).
Zona de
treino/aquecim
ento
Competitividade
e motivação
intrínseca dos
exercícios
Material de
proteção e
normas de
segurança
Treino/testage
m
Procedimentos
automatizados
de arrumação
do local
Semelhanças
entre os
exercícios e as
operações de
trabalho
138
No regresso do intervalo, o grupo de formação ficou um pouco a conversar
sobre questões da eletrónica na fábrica. Nota-se à vontade e bom ambiente
entre todos.
Neste 3º dia, nota-se uma intervenção crescente do formador em formação,
quer nas explicações dos exercícios, quer no acompanhamento da execução
dos exercícios pelos formandos.
O último exercício da estação fixa de trabalho simulado tem a ver com a
ligação de conetores eletrónicos. Há uma pequena explicação de algumas das
características destas fichas, que seguem uma lógica poka yoke, o que diminui
a margem de erro nas ligações, uma vez que só há uma posição,
normalmente, para a ligação de fichas. São feitos vários alertas de segurança
e qualidade, novamente; exemplifica-se com problemas reais que podem
advir de más ligações eletrónicas.
Novamente há tempo de treino, com os formadores a acompanharem
individualmente cada um, alertando, corrigindo e, por fim, verificando o teste
final
NOTA: Os textos do programa de apoio aos exercícios é simples, básico,
mesmo. Tem muitas imagens e vídeos de demonstração. É bastante intuitivo.
Este programa de treino é standard para as fábricas do Grupo.
Nesta fase, a formação deixa de ser apoiada em computador para ser apoiada
em portefólio. O formador explica os exercícios e a forma como devem ler e
consultar o portefólio.
Os postos de trabalho simulados são agora num conjunto de 8 bancadas, cada
uma com o seu portefólio, que orienta os diferentes passos a seguir com texto
muito simples e com imagens; antes, temos de abastecer o nosso posto, indo
buscar as ferramentas e os materiais necessários para o efeito, que estão
armazenados no armário (que agora é outro), mais uma vez organizados por
cores, de acordo com a cor de cada posto.
Ambiente da
formação
Formador em
formação
Conceitos de
produção
Treino/testage
m
Nível de
dificuldade dos
textos de apoio
aos exercícios
Portefólio de
apoio
Trabalho
individual/equip
a
139
Os postos têm uma sequência de operações básicas, que são treinadas e
depois testadas; cada posto tem um tempo específico para a realização do
teste destas tarefas. Antes de começar a fase de treino, os formadores
explicam cada posto, exemplificando, e adiantam que há 4 postos que são
idênticos na sequência e nas operações realizadas, pelo que esses formandos
apenas terão de treinar num dos postos e trocar com o colega do lado para
realizar um treino apenas e o respetivo teste. O formador acrescenta que,
normalmente, até fazem todos os postos, mas como são idênticos fizeram
esta alteração. Finaliza dizendo: “A questão aqui é a de otimizar os passos
para não se perder tempo.”
Os treinos não me parecem maçadores, mas talvez o sejam para quem já tem
experiência de trabalho na área. Alguns colegas queixam-se disso, mas
também acrescentam que “pelo menos assim tomam mais atenção às
questões da qualidade e da segurança”.
Após cerca de 6 rotações de postos de trabalho, é feita uma pausa para
almoço, entre as 11H45 e as 12H30.
Nota-se que há espírito de entreajuda, não só entre formadores/formandos,
mas entre os formandos entre si, mesmo relativamente a mim.
No regresso do almoço, continuam as atividades até aqui descritas, com os
formandos a rodarem de posto; nesta altura, os que antes já fizeram as
operações de determinado posto, ajudam e dão dicas precisas sobre os
postos que dominam, tornando o trabalho mais fácil e rápido.
Senti que é muito mais simples reproduzir uma sequência de operações
quando ela nos é descrita por quem já a fez e tem experiência do que quando
temos de ler as instruções e segui-las passo a passo.
Formadores continuam a observar, aconselhando, corrigindo técnicas,
posturas e chamando a atenção para questões de qualidade, sempre. É caso
para dizer que os formadores não têm “mãos a medir” no acompanhamento
que fazem, e que há preocupação em corrigir certas práticas por parte dos
trabalhadores de linha, com muita experiência de trabalho na empresa na sua
Treino de
operações em
sequência
Rotatividade
Otimização
Rapidez
Perceção sobre
o interesse das
atividades de
treino
Qualidade e
segurança
Entreajuda no
grupo
Rotatividade
Simplicidade da
reprodução de
operações
quando
explicadas por
alguém que já
sabe executar
as tarefas
Acompanhamen
to dos
formadores
140
maioria. São dados muitos exemplos, quer pelos formandos quer pelos
formadores, de postos de trabalho concretos em que uma determinada
técnica, postura ou distração tem dado origem a pequenas falhas ou
retrabalhos.
Ao final de cerca de 1H, existe alguma discrepância de tempos de execução,
fazendo com que alguns formandos estejam à espera durante algum tempo e
se confessem uns com os outros dizendo-se desmotivados. A razão apontada
para esta sensação tem a ver com a repetitividade de operações, com o
tempo de espera, e com o facto curioso de notarem que os formadores não
sabem ao certo que formandos já fizeram que estações de trabalho. Estes
comentários surgem sobretudo entre 3 formandos, precisamente os que
estão mais desocupados.
Com efeito, essa é uma sensação que também eu, no papel de formanda,
sinto um pouco: apesar da motivação natural de ser uma atividade prática,
para além de ser novidade total para mim, há um excessivo compasso de
espera entre os treinos e testes das diferentes estações.
Depois dos testes feitos, todos os materiais e ferramentas são arrumados e é
feito um intervalo de 15 minutos, entre as 14H e as 14H15.
A formação prossegue depois com um submódulo de “torques de segurança”,
que se trata de um módulo que também é dado à parte, pontualmente, em
alguns setores da fábrica, pela importância que parece ter para a qualidade
dos produtos. Esta é uma parte mais teórica da formação, que irá demorar
até ao final do dia (15H30).
A formação é apoiada num powerpoint que é projetado, na mesma sala onde
inicialmente o grupo se juntou no primeiro dia de formação.
Os principais tópicos sobre os conteúdos desta fase da formação foram:
Noção de torque
Relação com as questões físicas (incluindo a equação física; princípios
simples de alavanca)
Repetitividade
das operações e
desmotivação
dos formandos
Conceitos
técnicos
141
Classificação de torques (classes A, B e C)
Importância dos torques em alguns dos elementos constitutivos do
carro: motor, ABS, travões, entre outros.
Relação entre as condições de segurança e dependência entre os
apertos corretos de diferentes parafusos.
Formas de registo das tentativas de torques
Formandos animam-se numa troca de exemplos sobre as formas de
ultrapassar os problemas de torques que surgem na linha, por exemplo
através da lubrificação dos parafusos, com vaselina ou mesmo com o óleo do
carro.
O formador refere a importância do registo de torques imputados a um
operador em concreto, sendo que um formando dá o exemplo do seu posto
de trabalho; trata-se de uma equipa de 6 pessoas, o login da powertool é feito
apenas por um, que é que “tem o código de barras à mão”. Ou seja, em caso
de erro no torque, estariam 6 pessoas envolvidas, o que poderá trazer
problemas.
É referida a questão da confiança entre os elementos da equipa, mas também
as consequências de se assumir o trabalho de todos por todos. O mesmo se
coloca à questão dos carimbos de confirmação de operações: muitas vezes
são colocados vários por um só operador. Formador alerta para as
consequências e a importância do team leader estabelecer um código de
conduta para a equipa e o seu comportamento relativamente a estas
questões de responsabilização do trabalho individual dentro das equipas. Um
dos formandos, que é team leader, dá exemplos da forma como o trabalho na
linha obriga à união e à responsabilização, afirmando que “de outra maneira
era impossível trabalhar bem àquele ritmo”.
Este momento é bastante dialogado e as questões são amplamente
debatidas. O formador que está em sala é o que está em aprendizagem, o
outro teve de se ausentar para uma reunião. Mantem sempre uma atitude de
quem está em aprendizagem com as experiências dos colegas/formandos,
referindo mesmo “Ok, já aprendi mais umas coisitas hoje”, apesar de se
Dinâmica do
grupo por via do
apelo à
experiência
Confiança entre
elementos da
equipa
Código de
conduta na
equipa de
trabalho
142
denotar uma vasta experiência em diferentes setores da fábrica. Os
formandos estiveram sempre concentrados e envolvidos nos exemplos e
conselhos dados, não se denotando cansaço por se estar sentado e em sala.
Esta exposição decorreu até cerca das 15h20, altura em que o formador
dispensou o grupo, relembrando que no dia seguinte nos esperava às 7H00
na sala de formação.
Na saída, vários formandos ficaram a treinar o “passar corda” e “enrolar
corda”.
Zona de
treino/aquecim
ento
Observações:
As atividades tornam-se repetitivas e rotineiras, sobretudo para os trabalhadores que já têm
experiência na área. Para mim, para quem tudo é novo, não se tornou tão rotineiro, mas ainda
assim percebo a razão de alguns comentários. É uma formação sentida como mais pertinente
para quem não sabe executar ainda as tarefas; para os que têm experiência, trata-se de alterar
modos e hábitos de trabalho à luz de técnicas definidas pelo sistema de produção. Talvez daqui
advenham maior resistência, também.
143
Dados da realização das observações
Data: 19 de janeiro de 2012
Horário: 7H00 às 15H30
Local: Centro de Treino da Produção
Atividade: Observação participante do módulo Fundamental Skills – Montagem Final
(Competências Fundamentais de Montagem Final)
Duração: 7H (de 40H) (4º de cinco dias)
Participantes: 2 formadores; 8 formandos
Registo de Observações Ideias-Chave/
Temáticas
O dia começa em sala; não passamos pelo aquecimento com bolas, sacos e
cordas, possivelmente porque a formação será agora um pouco mais teórica.
Com efeito, em sala, os formadores explicitam, alguns conceitos e regras
relativos à “Responsabilidade do Produto”, conceito que atravessa todos os
níveis hierárquicos e fases de construção/produção do carro. Fala-se muito
de como às vezes as equipas se protegem entre si, nomeadamente porque
assumem em equipa um conjunto de operações que seriam imputáveis a
operadores em concreto. O que significa que, em caso de falha, às vezes é
impossível determinar um culpado específico, mas é “dele” que se vai à
procura quando se quer responsabilizar alguém sobre o produto.
Deram-se exemplos concretos de áreas fora da fábrica, como o acidente
aéreo do avião francês Concorde, há alguns anos, em que se apurou que o
culpado seria um técnico do avião que partiu antes (uma roda desse avião é
que terá causado a queda do outro); o exemplo atual do navio italiano que
naufragou e da responsabilidade do seu comandante, para já.
Estas questões geraram bastante discussão, mas sempre num tom assertivo,
sobretudo por parte dos formadores, que aceitaram todas as opiniões,
integrando-as nos exemplos que pretendiam fazer passar. Isto durou cerca de
1H30, após o que se fez um intervalo.
De seguida, fomos novamente para o espaço da formação prática. O formador
explicou o exercício a realizar: existe um carrinho automatizado no centro
desse espaço, que, segundo o formador principal explica, está preparado para
Formação mais
teórica
Responsabilidad
e sobre o
Produto
Corresponsabiliz
ação da equipa
Sofisticação dos
meios e
materiais da
formação
144
perfazer um ciclo de produção, através de uma banda magnética no chão. Em
grupos de 4, teremos de reproduzir um conjunto de ligações com cabos e
tubos, numa operação complexa, idêntica a uma outra que já está montada
no carro automatizado (AGV – Auto Guidance Vehicle).
Este será uma espécie de “problema” para o qual cada grupo terá de
encontrar uma solução. Cada grupo está de um dos lados do AVG, a operação
é a mesma, mas ambos os grupos são exortados a fazer a atividade sem
trocarem demasiadas informações entre si, para que se veja que tipo de
soluções cada grupo encontrou para o mesmo problema. Essa será uma
questão também a debater no final a atividade. Formador principal informa
que teremos tempo suficiente para a atividade, a solução tem de encontrada
e descrita por volta das 13H.
Consoante formos definindo os passos da montagem, temos de construir uma
SAB, ou seja, uma folha de trabalho standard. A tarefa - organização,
reconstrução dos passos, folha SAB, realização da operação em movimento e
troca de lugar entre equipas - será complexa e durará o resto do dia.
O grupo de 8 foi dividido em 2 equipas de 4, cada uma trabalhou numa das
laterais do carro. Cada equipa teve direito a um carrinho de apoio, onde foram
colocados todos os materiais e ferramentas necessárias à reconstrução da
operação.
De cada um dos lados do AGV, cada formador repetiu, mais resumidamente,
o que teremos de fazer. Relembrou que esta atividade irá colocar em ação as
competências básicas que se treinaram nos 2 dias anteriores.
E assim, colocámos “mãos à obra”, observando o conjunto-modelo,
selecionando peças, organizando sequências; fomos também descodificando
o que precisavamos descrever na SAB, que não é uma folha totalmente nova
para os formandos, ou porque já se usam em alguns lugares da linha, ou
porque já foram confrontados com ela na formação, logo no primeiro dia.
Os formadores, a partir dessa fase, afastaram-se um pouco de nós, deixando-
nos organizar o trabalho autonomamente. De vez em quando aproximaram-
Resolução de
problemas em
equipa
SAB
Autonomia do
grupo
145
se para confirmar se precisávamos de apoio; normalmente as respostas foram
do género: “Tudo controlado” ou “Está a ir”. De facto, sente-se um grande
envolvimento em redor da atividade.
Os termos usados foram muito técnicos, uma vez que vários formandos
assumem as funções que têm na linha, ou seja, de operadores; estão a
trabalhar numa área que dominam, tratando-se aqui de melhorar técnicas e
otimizar processos mais do que apreender técnicas. A experiência de trabalho
denota-se agora bastante, através da linguagem usada, das opções que
tomam, das opiniões apresentadas para resolver o “problema” colocado.
A intenção é fomentar as práticas de melhoria contínua, de reestruturação de
processos mentais, aproximação entre as pessoas, discussão e concertação
de ideias em trabalho de equipa. Parece ser mais isso que está em causa neste
dia de formação.
Com o tempo, a discussão entre todos os formandos foi-se centrando mais na
dificuldade em descrever os processos de forma sintética e simples na SAB do
que, propriamente, na dificuldade dos processos. Afirmam que já estão
habituados a fazer operações semelhantes de forma intuitiva, e que “fazer é
mais fácil do que explicar como se faz”. Frase curiosa. Ofereci-me para fazer
a SAB em conjunto com um deles, porque não domino as técnicas, sugestão
que foi bem acolhida.
Enquanto trabalhámos na atividade, os formadores ora nos apoiaram, ora iam
fazendo pequenas reparações em equipamentos da formação; por exemplo,
no dia anterior os formadores detetaram uma falta de ligação de um fio
elétrico, pelo que agora um deles substitui a peça danificada.
Cada um de nós foi fazendo pequenas pausas à vez, nunca se ausentando mais
que um de cada equipa ao mesmo tempo; foi essa a orientação que os
formadores deram. Ou seja, os intervalos são determinados por nós, quando
sentimos necessidade. Quando um de nós se ausenta avisa os formadores e
os colegas. Há como que uma norma implícita de cidadania a este respeito.
Motivação pela
atividade (apelo
à criatividade e
ao trabalho de
grupo)
Melhoria
contínua e
otimização
Dificuldade de
explicitação dos
processos
Autonomia do
grupo na
realização das
tarefas
146
Uma das questões que levanta mais complexidade no preenchimento da SAB
tem a ver com especificidades, por exemplo, sobre com que mão pegar em
parafusos (esquerda ou direita) para uma determinada operação básica que
compõe o problema a resolver. Os formandos desabafam: “Nunca tinha
pensado na importância de pegar na aparafusadora com a esquerda ou com
a direita ou quantos parafusos levar logo na mão.”.
Aparentemente, apesar de já conhecerem e dominarem as competências
básicas quanto a utilizações, esta formação está a servir para lhes dar algum
rigor, técnica e sequencialidade, no sentido de melhorar as performances e
protegerem-se ergonomicamente, bem como assegurarem a qualidade dos
produtos. Fui conversando sobre isso sobretudo com um dos colegas,
enquanto fomos preenchendo a SAB.
Mais do que uma vez, os formadores referiram que a verdadeira importância
destas formações para os operadores não é a aprendizagem de operações,
porque isso eles já fazem há muito tempo, e nas condições mais stressantes.
O objetivo é que pensem sobre o que fazem, como fazem e como deveriam
fazer.
A intervenção dos formadores dirigiu-se progressivamente mais à
preocupação com a linguagem usada na SAB, colocando perguntas como “E
já escreveste isso na SAB?”, “Como é que o operador sabe qual o parafuso a
usar?”, “ Não chega dizer que é um parafuso.”, “Já disseste na SAB que antes
ligas a ficha? Isso também é um passo na SAB.”
Em alguns momentos, o formador em aprendizagem tornou-se quase um dos
elementos de cada equipa: discutiu, ajudou a encontrar a melhor linguagem
a usar na SAB; depois afastou-se e retornou passado algum tempo.
………………………………………………………………………………
Cerca das 11H45 a atividade foi interrompida para almoço, durante cerca de
45m. Este é mais do que o tempo que normalmente os operadores de linha
têm para almoçar (apenas 30 minutos). Note-se que, para almoçar, temos de
nos deslocar mais de 500 metros, demoram-se alguns minutos a pé, o que
Questionament
o das práticas
instaladas
Qualidade e
ergonomia
Objetivos da
formação:
pensar como e
feito e como se
devia fazer
SAB
Ajuda do
formador na
explicitação da
SAB
147
significa que, mesmo em formação, há apenas cerca de 30 minutos para
almoçar. E raramente há atrasos.
Os formandos – a quem volta e meia já chamo de colegas – têm sido
incansáveis comigo e com a minha integração. Parecem sempre preocupados
se me estão a “deixar de fora”, e mesmo na atividade da SAB, penso que se
tivesse pedido para ficar numa função mais técnica, teriam acedido de bom
grado.
Não obstante, sinto que são competitivos e querem fazer a atividade o melhor
possível no tempo destinado; seria impossível com uma pessoa inexperiente
como operadora. Está a ser uma experiência muito interessante,
nomeadamente em termos humanos. Sente-se que estas pessoas estão
habituadas a trabalhar em equipa e a lidar com as vantagens e desafios desse
método de trabalho.
………………………………………………………………………………
De regresso do almoço, cerca das 12.35, ainda passámos cerca de 30 minutos
de volta do problema, selecionando peças e definindo sequência, após o que
nos sentámos, em duas mesas distintas (uma está no espaço exterior –
práticas, outro grupo está na sala de formação teórica). O objetivo foi o de
melhorar a SAB que cada grupo foi construindo enquanto resolviam o
problema dado. É como “passar a limpo” um rascunho, melhorando-o.
Raramente se pede auxílio aos formadores, que só se aproximaram de vez em
quando para perguntar se precisávamos de ajuda, que foi declinada na maior
parte das vezes.
É feito um intervalo de 10 minutos, entre as 14H e as 14.10.
Quando regressámos do intervalo, seguiu-se o momento do teste das
operações elementares (nome que atribuem ao conjunto de operações
básicas necessárias para resolver o problema colocado).
Formador principal deu as orientações para teste. Cada equipa designou
quem seria o operador e quem ia ler a SAB. Mas, à última da hora, o formador
Competitividade
Hábitos de
trabalho em
equipa e de
resolução dos
problemas da
linha
Melhoria da SAB
Teste da
atividade
148
informou que iria haver uma troca: ou seja, cada equipa teve de realizar a
atividade com base na SAB que a outra equipa construiu, para testar a
objetividade e clareza de cada SAB. Formandos reagiram rindo e um
comentou: “Eu não dizia?”.
Às 14H20 arrancou o primeiro teste. A equipa A, que estava responsável pela
montagem do mecanismo no lado esquerdo do AVG, leu a SAB ao operador
da equipa B, a da direita do AVG. O teste foi feito por uma equipa de cada vez.
A primeira equipa ultrapassou o tempo de andamento do AVG, sendo que o
operador denotou de imediato que havia passos descritos que não eram
inteligíveis para ele. Afirmou que sabia um ou outro passo porque já sabia que
ele era necessário mas que não estava na SAB que lhe estavam a ler.
Finalizada a tarefa, o formador assinalou essas questões e uma ou outra
questão de qualidade que não foi acautelada. Os formandos concordaram
com os reparos feitos e até acrescentaram outros, mais relativamente à
técnica e à descrição da SAB.
Às 14H30, as equipas trocaram de posição: a equipa B leu a sua SAB ao
operador que era da equipa A. Também neste caso foram assinaladas, ainda
durante a execução, questões de menor clareza que atrapalharam quem não
conhecia a SAB; também esta equipa ultrapassou o tempo destinado à tarefa.
Essa, no entanto, não foi a questão mais vincada pelo formador, mas antes a
da linguagem das SABs e as questões de qualidade e segurança que têm de
ser acauteladas.
Formador diz que, provavelmente, se as equipas agora juntassem as duas
folhas iriam encontrar uma terceira, mais aperfeiçoada, mais rigorosa do que
ambas as que foram construídas. Refere que esse é um método importante
na melhoria contínua.
Depois, cada operador voltou a reunir-se à equipa a que inicialmente
pertencia. O objetivo era repetir a operação em simultâneo na esquerda e na
direita, sem SAB e apenas a partir dos passos memorizados, sendo designados
operadores diferentes para cada equipa. Esta operação foi cronometrada.
Desafio da
atividade
(verificação do
grau de
explicitação a
SAB)
Reflexão sobre a
tarefa
Qualidade e
segurança
Nova testagem
da atividade
149
As operações ultrapassaram o tempo, mas, mais uma vez, essa questão não
foi salientada pelos formadores. Um de cada lado e com cada equipa,
discutiram as falhas que subsistiram; voltam a pegar nas SABs e assinalam,
tanto formadores como formandos, as questões que poderiam ser
melhoradas.
Por fim, ainda houve uma terceira repetição da atividade, desta feita apenas
para apreciar as questões relativas à qualidade. Apontaram-se questões de
postura, também, mas centraram-se no posicionamento das ponteiras
quando apontados os parafusos e os riscos que podem ter para o carro e para
os operadores, a importância dos torques na verificação dos
aparafusamentos com qualidade, associando-se ao que foi discutido no final
do dia anterior, em sala.
Referiu-se, ainda, o conceito dos 5s para a preparação do posto de trabalho e
o quanto isso promove a qualidade do produto e diminui o risco de erro ou
de acidentes.
Após o final da atividade, o formador principal Informou que no dia seguinte
iriamos à linha de montagem final, escolher um posto de trabalho real,
fotografá-lo e filmá-lo para depois se construir uma SAB.
Regressámos à mesa de reuniões do grupo depois de guardar os materiais e
ferramentas usados. Preencheram-se os campos do dia relativos à folha de
confirmação das técnicas e fez-se o ponto de situação. A opinião geral foi de
que este foi o dia mais desafiante de formação, de que todos gostaram, não
se sentiram muito desocupados como no final do dia anterior. Referiu-se a
dificuldade se construir as SABs e formador principal referiu a importância
desta metodologia para o trabalho com Standards, que está a ser
implementada em toda a fábrica e difundida em todas as fábricas da marca.
Fez-se referência à importância das tomadas de decisão conjuntas, quer seja
em equipa quer seja ao nível da fábrica. Daqui que os engenheiros da fábrica
tenham, inclusive, solicitado já por diversas vezes as SABs que vão sendo
Melhoria
contínua
Qualidade
Conceitos de
produção e
promoção da
qualidade
Planeamento
das atividades
do dia seguinte
Balanço final do
dia de formação
Standards
Relação da
formação com a
Engenharia
Industrial
150
feitas na formação do CTP para implementar na fábrica, depois de revistas e
melhoradas.
Eram cerca de 15H20 quando a formação do dia foi dada como encerrada.
Observações:
Tive de fazer toda a descrição anterior da tarefa de grupo durante o período de almoço, para não
me esquecer das coisas mais importantes. Nos outros exercícios consigo ir pausando e tirado
notas; neste, é impossível. O ritmo e a envolvência das atividade não era compatível com
interrupções para tirar notas. Esta atividade teve maior recetividade dos formandos, envolveu
maior criatividade e espaço de manobra.
No entanto, denotou-se que a estandardização pretendida obtém resistências, limita-lhes a
criatividade nas operações, o “jeito pessoal” é como que anulado em função das normas.
151
Dados da realização das observações
Data: 20 de janeiro de 2012
Horário: 7H00 às 15H30
Local: Centro de Treino da Produção
Atividade: Observação participante do módulo Fundamental Skills – Montagem Final
(Competências Fundamentais de Montagem Final)
Duração: 7H (de 40H) (5º de cinco dias)
Participantes: 2 formadores; 8 formandos
Registo de Observações Ideias-Chave/
Temáticas
A formação recomeça cerca da 7H10, no espaço exterior da formação prática,
junto à mesa de trabalho. O formador principal explica qual é a atividade do
dia: o grupo irá à linha da montagem final observar postos de trabalho dos 3
modelos produzidos pela fábrica, pelo que subdividirá em 3 grupos diferentes
(dois de dois elementos e um com quatro, uma vez que um dos modelos é
mais complexo). O objetivo será o de observar, registar movimentos,
materiais usados e ferramentas, para posteriormente construir SABs dos
postos observados.
Para completar esta tarefa, o formador principal filma e fotografa os postos,
conversa com os operadores de linha para esclarecimento de alguns
movimentos e materiais usados (como quais as ponteiras de aparafusadoras,
como recebem as especificações de materiais a colocar em determinado
posto, etc.).
Os formandos recebem um cartão identificador de “Formação”, é confirmado
que todos trazem botas de trabalho, incluindo eu, que também tenho de
apanhar o cabelo, no cumprimento de uma norma que abrange quem
trabalha na linha.
Chegados à linha, especificamente à chamada zona “A”, os formadores falam
entre si para decidir quais serão os postos a observar para cada modelo de
carro e falam com o team leader da zona nesse sentido. Depois das
conversações, os formadores dividem os grupos pelos postos a observar. O
espaço em questão não é muito, pelo que uma das preocupações é posicionar
os formandos em locais que não interfiram com o trabalho dos operadores de
Organização da
atividade
principal do dia
Standards
Proximidade da
linha de
montagem para
realização a
atividade
152
linha mas que, ao mesmo tempo, garantam uma boa observação dos seus
movimentos.
Fiquei no grupo de 4 pessoas; é designado um elemento que tome notas e os
restantes contribuem para que se vão anotando todos os passos observáveis,
ferramentas utilizadas e materiais usados. Sinto alguma dificuldade em
nomear os materiais e ferramentas, uma vez que não tenho experiência de
linha de montagem, mas os passos e movimentos são observáveis e simples
de descrever.
Os outros formandos, no entanto, sentem a dificuldade inversa, aceitando as
sugestões que vou dando e achando graça quando não sei nomear alguma
coisa. Denota-se satisfação em poderem ajudar-me nessa questão. Vão-me
contando situações que ocorrem na linha, pormenores da construção dos
veículos nos postos por que já passaram.
Uma das coisas que mais impressiona é a rapidez quase tranquila com que os
operadores de linha executam as tarefas, apesar do espaço apertado daquela
zona em particular, da velocidade a que a linha anda e da proximidade entre
os carros na linha. Os movimentos de cada operador são precisos e repetidos
a cada carro que passa pela estação; os elementos da equipa cooperam nas
operações e conversam enquanto trabalham, sobre pormenores do trabalho,
sobre as ferramentas, ou sobre coisas da vida.
Entre formandos e formadores (o que está em aprendizagem está bastante
ativo) existe uma colaboração constante na atividade, o formador vai
chamando a atenção para um ou outro pormenor, para perceber se alguma
coisa nos está a escapar.
Esta atividade demora cerca de 1H30, entre o ir e vir à linha, a definição dos
postos, conversas com os operadores e team leader e observação, registo e
filmagem dos postos. É de registar, que enquanto o grupo andava pelas
laterais da linha de montagem, ia havendo comentários de quem estava a
trabalhar no sentido de fazerem graça pelo facto dos que estavam no grupo
de formação estarem “de passeio” ou “no descanso”, comentários que são
Observação dos
operadores de
linha para
estandardização
dos processos
Articulação de
tarefas no grupo
Aprendizagem
em contexto
com a
experiência dos
operadores
Precisão,
rapidez e
sequência dos
movimentos
dos operadores
de linha
Filmagem para
reflexão/estand
ardização
153
levados com descontração. Também se vão cumprimentando, porque muitas
vezes conhecem quem está a trabalhar.
No caminho de regresso, o formador principal vai comentando comigo o
quanto este dia de formação é exigente para os formadores: têm de filmar e
fotografar, acautelar as questões de segurança quando as pessoas vão à linha,
porque não podem acontecer nem acidentes nem situações que prejudiquem
o normal funcionamento dos postos de trabalho a observar.
Por outro lado, quando regressam da linha, têm de passar as imagens para
computador, tratá-las, colocá-las em sistema para depois serem usadas nas
SABs digitais que os formandos irão construir. Muitas vezes os formandos não
conhecem bem o Excell, casos em que ainda têm de intervir, ensinando as
questões mais básicas deste programa.
De regresso ao CTP, os formadores pedem para que os formandos se juntem
para tirar uma fotografia ao grupo. É depois feito um intervalo e às 9H
regressa-se ao espaço exterior da formação prática, e todos se sentam na
mesa do grupo. Durante este tempo, os formadores estiveram na sala de
formadores no computador, fazendo as tarefas referidas anteriormente.
Nesta altura, o formador pede para que os formandos enumerem as questões
ou conceitos que acharam mais pertinentes na formação, o que sentem que
“levam” da formação. De uma forma geral, todos concordam que as questões
de qualidade e responsabilidade pessoal são as coisas mais importantes, para
as quais estarão mais alerta; referem-se também algumas técnicas treinadas,
nomeadamente a confirmação do torque, a estandardização, e alguns passos
que faziam naturalmente de um modo na linha, em virtude da experiência e
de alguns “vícios”, mas que perceberam que seria mais vantajoso,
nomeadamente em termos ergonómicos, fazer de outra forma. No entanto,
conforme um deles afirma, “Resta saber se depois, na linha, me lembro ou
tenho tempo para fazer as coisas desta maneira”.
A propósito disto, outro formando refere que essa questão é muito
importante e que às vezes “a teoria e a prática não são a mesma coisa”. São
debatidas algumas situações que ocorrem na fábrica, em postos de trabalho
Exigência da
atividade de
formação
Balanço da
formação
Rotinas
instaladas vs
aquisição e
novas rotinas
Teoria/prática
154
que conhecem ou que neste momento fazem, em que é muito complicado
mudar rotinas. O formador reforça a necessidade de o fazerem, até que
também essa nova técnica ou postura se torne numa rotina.
De seguida, o formador pergunta que tipo de formação achavam importante
terem, e alguns dos formandos referem que todos deviam saber e aplicar os
5s, os princípios de ergonomia, de qualidade, de responsabilidade do
produto.
O formador faz o resumo do que foi dito por todos e de seguida sugere que
os grupos façam a SAB na sala de formação, por estar mais quente. De facto,
o espaço exterior da formação prática torna-se muito frio quando estamos
parados, por se tratar de um pavilhão muito amplo e alto, sem ar
condicionado e cujas portas/portões estão frequentemente abertos.
São 9H30 quando vamos para a sala, formador informa que podemos fazer as
pausas quando entendermos, tal como no dia anterior durante a atividade do
AVG. O objetivo é construir SAB de cada operação observada, quer para o lado
direito, para o lado esquerdo do carro.
A função de escrever é distribuída entre mim e um outro elemento do grupo.
A linguagem a usar tem de ser objetiva, “chã”, mesmo, e dar conta do
processo observado passo por passo. Trocam-se ideias e vai-se estruturando
o processo, registando em campos específicos da SAB.
Cerca de 20 minutos depois, o formador principal vem à sala e liga o
computador, uma vez que já colocou as fotos e os vídeos em rede; é-nos
possível rever os processos observados. Uma vez mais, o formador resume os
diferentes passos das estações observadas. Também traz as fotos em
miniatura, impressas em duas páginas, para que consigamos ir visualizando e
escolhendo as imagens ilustrativas da SAB.
A construção da SAB é um processo muito discutido entre os elementos do
grupo e vai sendo feita entre comentários sobre várias situações de trabalho
na produção: dificuldades, postos mais ou menos fáceis, desequilíbrio quanto
à responsabilidade que cada estação implica, evolução que a linha de
Transformação
de novas
técnicas em
rotinas, através
do treino
Elaboração da
SAB
Definição das
tarefas em
grupo
Articulação
entre os
formadores e o
trabalho dos
formandos
Exigência do
trabalho de
explicitação
155
montagem tem tido em termos de organização, limpeza, estrutura e
distribuição dos postos de trabalho.
Enquanto os grupos se envolvem nesta tarefa, o formador principal ausenta-
se, para tratar das questões logísticas do resto da formação, enquanto o
formador em aprendizagem continua em sala, alternando o seu apoio aos
diferentes grupos. Senta-se, discute os diferentes passos que se vão
descrevendo e ele próprio expressa as suas dúvidas sobre algumas questões.
Alguns formandos expressam o descontentamento sobre o nível de
especificidade da folha SAB, que lhes parece demasiado “infantil” para o
trabalho que é feito. Reclamam quando o formador principal, um pouco antes
da pausa para almoço, informa que teremos de passar o rascunho feito a
limpo, tanto para o lado direito como para o lado esquerdo. Isto porque a SAB
será transposta para formato digital, pelo que lhes parece desperdício de
tempo e esforço fazer duas SABs à mão.
Cerca das 11H45 é feito o intervalo para almoço, de 45 minutos, como de
costume.
No regresso de almoço, dentro do tempo definido, continuamos a passar a
limpo a SAB de rascunho que fizemos de manhã, tanto para o lado esquerdo
como para o lado direito das estações observadas. Os formadores tomam
nota de quais as fotografias que cada grupo selecionou para ilustrar os
diferentes passos da SAB, ausentando-se de seguida para prepararem as
imagens e os computadores que os formandos irão usar.
Um dos formandos diz que preferia estar na linha a montar “cockpits” do que
estar a fazer SABs desde 4ª feira, coisa que os outros estranham e até se riem.
Confessa estar cansado de fazer SABs quando acha que não são práticas nem
aplicáveis. Alguns colegas referem que há setores da fábrica onde já se usa
essa metodologia. O outro colega diz que, pelo menos, que o fizessem só a
computador.
Às 13H30 o grupo em que me insiro termina a parte manuscrita da tarefa e
seguimos para o computador. Pedem-me para ser eu a passar “a limpo”, eu
Reação à SAB
Excessiva
simplicidade da
linguagem vs
complexidade
das operações
156
acedo; o ambiente entre colegas é muito descontraído e de entreajuda,
mesmo comigo, coisa que tenho denotado em crescendo desde 3ª feira.
Construíram-se as SABs dos dois lados do ponto de trabalho observado em
cerca de 30 minutos. Esta tarefa implicou o manuseamento de programas
diversos: de imagens, excell e word. A primeira SAB fiz eu, com apoio de um
dos formandos do grupo; a segunda, troquei com o colega que me havia
ajudado antes (a ditar); tinha muito boas competências em TIC. Os outros dois
colegas continuaram a colar as imagens nas folhas SABs manuscritas, que
ficam para os formadores arquivarem no dossier técnico pedagógico do
módulo.
Finalizadas as atividades, cerca das 14H55 regressamos à sala teórica, onde
se fez a avaliação da ação e se trocaram algumas opiniões finais, no fundo, na
sequência do que foram sendo os comentários solicitados pelos formadores
ao longo da formação. Eis alguns dos comentários:
É sempre bom fazer formação um pouco fora da linha.
É também uma semana de descanso.
Estabelecem-se novas ligações e laços, o que facilita a comunicação
dentro da empresa.
Serve para ter novas ideias sobre coisas que até já se conhecem.
Gosta-se sempre de ter formação.
A formação acabou por superar as expetativas.
Houve quem desse os parabéns à prestação do formador em formação, que
se envolveu muito com o trabalho dos grupos e esteve sempre disponível para
ajudar. Desejaram-lhe as melhores felicidades para a nova função.
Os formadores agradeceram a entrega e o esforço de todos e despediram-se
até outra formação. Ainda distribuíram por todos uma cópia da fotografia de
grupo, informando que será enviada para um determinado setor da empresa,
responsável pela newsletter, onde que por vezes as fotografias da formação
são publicadas.
Tecnologias na
formação
Balanço final da
formação
Reações do
grupo à
metodologia e
profissionalismo
do formador
Observações:
157
Percebo que há descontentamentos, mas também há uma espécie de orgulho pelo estatuto e
estabilidade que a fábrica tem alcançado. É impossível reproduzir aqui os diálogos entre as
pessoas dos grupos, pelo que se tenta reproduzir, em alternativa, o ambiente e as intenções.
Sobre esta questão em particular, é notório que há tensões na reação dos trabalhadores à
empresa entre alguns descontentamentos face à rotina do trabalho e à exigência da linha, em
confronto com o reconhecimento da estabilidade e estatuto que a empresa lhes oferece.
158
Dados da realização das observações
Data: 30 de janeiro de 2012
Horário: 7H00 às 15H30
Local: Centro de Treino da Produção
Atividade: Observação participante do módulo Fundamental Skills – Body (Competências
Fundamentais de Carroçarias)
Duração: 7H (de 40H) (1º de cinco dias)
Participantes: 1 formadores; 4 formandos
Registo de Observações Ideias-Chave/
Temáticas
A formação começa pela apresentação dos formadores e formandos,
começando pelos primeiros, referindo-se ao nome, idade, experiência na
fábrica, setores em que trabalham e já trabalharam e algumas atividades de
lazer mais habituais.
São 12 formandos, contando comigo; o grupo tem 10 homens e 1 mulher,
para além de mim, que vem dos Recursos Humanos. Os outros formandos
pertencem às áreas das Prensas, Carroçarias e Montagem Final. Serão 2
formadores a orientar a formação. Um dos formadores que há duas semanas
estava em formação (no Fundamental Skills de Montagem Final) parece agora
exercer o papel de formador com maior intervenção e será um dos dois
formadores a acompanhar a formação de montagem final.
Como é habitual, os formadores estão sempre de pé, vão alternando entre os
diferentes cantos da sala, sobretudo o formador auxiliar. O formador principal
fica normalmente num canto da sala, numa posição diagonal relativamente
às mesas dos formandos.
Mais uma vez, à semelhança da semana de 16 a 21 de Janeiro, e outras
formações já observadas, o dia é dedicado à explicitação de conceitos
fundamentais do sistema de produção.
Como de costume no módulo de Fundamental Skills, os formandos da
Montagem Final e os do Body estão juntos, neste primeiro dia e nos dias
seguintes o grupo será separado em dois espaços distintos do CTP, de acordo
com a formação nas duas áreas distintas da produção.
Caraterísticas
do grupo
Postura dos
formadores
Explicitação dos
conceitos da
produção
159
A exposição a que assisto é a mesma que foi feita nos outros Fundamental
Skills. A informação é alternada com demonstração, fazendo apelo à opinião
e experiência dos formandos.
O grupo é bastante participativo desde o início, sendo que o formador que
comanda a exposição é o mesmo que há duas semanas. Colocam muitas
questões, dão muitos exemplos, tanto quando lhes é solicitado como por
iniciativa própria.
Os formadores vão alternando nas respostas às questões colocadas e
integram os exemplos que os formados dão relativamente nos conceitos
expostos.
A cada introdução de um conjunto de conceitos, como o de auditoria, o de 5
S, de tipos de desperdícios, entre outros que são explorados ao longo deste
dia, o formador principal começa por questionar se estes são familiares aos
formandos; alguns vão dizendo o que se lembram, outros vão avançando que
até se lembram mas que “não são muito seguidos na linha”.
Os formadores vão também perguntando se há dúvidas; mesmo não
havendo, repetem sempre uma vez mais, resumindo e sistematizando a
exposição mais alargada que é feita anteriormente sobre um conceito ou
conjunto de conceitos.
Há 2 formandos que revelam cansaço (fecham os olhos com sono, com
frequência) cerca das 14.30. Estamos a uma hora do final do dia de formação.
Nesta altura, ambos os formadores estão no lado direito da sala, não
conseguindo ver as caras dos formandos que estão nesse lado da sala, porque
lhe ficam de costas. No entanto, cada vez que, em vez de exposição com base
em diapositivos, há tendencialmente mais troca de opiniões ou
exemplificação de situações do trabalho na fábrica, esses formandos reagem;
remexem-se na cadeira e retomam a atenção por mais algum tempo.
Isto acontece ciclicamente, até que, cerca de 20 minutos depois, o formador
principal se coloca mais a meio da sala, passando a conseguir visualizar todos
os formandos de frente. Apesar do cansaço evidente, aqueles formandos
Nível de
participação e
adesão do
grupo
Associação dos
conteúdos da
formação às
práticas de
trabalho
Conceitos de
produção já
conhecidos
pelos
formandos
Metodologia da
formação
160
ficam mais despertos. Mas não dura muito, há um deles que chega mesmo a
adormecer. Cerca das 14H55 o formador principal pergunta: “Quem é que
está a dormir?”, os formandos riem-se, incluindo aquele que dorme; de
seguida o formador diz: “Está mesmo quase a terminar, é só mais um
bocadinho.”.
Coincidência ou não, o 2º formador, nesse exato momento, sai do fundo do
lado direito da sala, onde está desde o último intervalo, e vai posicionar-se no
lado esquerdo da sala, atrás dos formandos, ficando em posição de ver de
frente todos os que estão do lado direito do “U”.
Cerca das 15.05 o formador principal diz:” Está mesmo quase; só faltam mais
300 slides!”; formandos riem, “Estou a brincar, já terminei a apresentação.”.
O 2º formador pergunta se alguém quer alfinetes para acordarem, os
formandos voltam a rir; ou seja, existe a noção de que, por esta altura, a
formação teórica já se tornou pesada ou maçadora e tentam brincar com o
assunto.
Antes de finalizar a formação de hoje, ainda vão aos espaços dos dois
Fundamental Skills, para apresentar os equipamentos e explicar um pouco
como vão decorrer os dias que se seguem.
Como tem sido observado em outras formações, os intervalos foram
realizados a cada hora e meia de formação, sensivelmente. Cerca da 15.25 a
formação termina.
Desmotivação
do grupo face
ao conteúdo
teórico do
primeiro dia de
formação
Postura dos
formadores face
aos conteúdos
teóricos
Observações:
Este dia de observação confirma a repetitividade inicial das formações, em torno dos conceitos
e métodos do sistema de produção do Grupo e da empresa. Em simultâneo, sinto que estarei a
chegar ao ponto em que mais observações dos mesmos módulos não me vão fornecer muito
mais informações novas sobre a formação. Revendo algumas notas de campo, as observações
estão a confluir com frequência na direção dos mesmos tópicos (saturação).
161
Dados da realização das observações
Data: 31 de janeiro de 2012
Horário: 7H00 às 15H30
Local: Centro de Treino da Produção
Atividade: Observação participante do módulo Fundamental Skills – Body (Competências
Fundamentais de Carroçarias)
Duração: 7H (de 40H) (2º de cinco dias)
Participantes: 1 formadores; 4 formandos
Registo de Observações Ideias-Chave/
Temáticas
A formação começa cerca das 7H10, mas às 7H05 os formandos já estão no
espaço do CTP. Os 5 minutos de espera têm a ver com o facto de os
formadores terem de ligar os computadores de apoio à formação.
Hoje, o formador que esteve como auxiliar no dia anterior já não está
presente, está um 3º formador, que irá assegurar a formação prática do Body.
Trata-se de um formador mais velho, que assegurou a formação de um dos
Lean Games que observei.
Este formador toma as rédeas da formação no início do dia, dando algumas
explicações sobre a importância do aquecimento dos membros superiores
para a execução de certas funções, tanto do Body como da Montagem Final.
Ainda estão juntos os dois grupos. Seguem-se os jogos de aquecimento já
descritos noutras observações, com o mesmo interesse especial pelo desafio
de “passar cordas” e “enrolar cordas”.
Cerca das 8H, os grupos dividem-se. Vou com o grupo para o espaço destinado
à formação prática do Body. Os formandos sentam-se na mesa, o formador
fica de pé e começa por explicar que o módulo se divide em operações básicas
e operações elementares. Explica de que forma os postos ou estações de
trabalho estão organizados: trata-se de um corredor, com 4 postos do lado
direito; cada um tem uma bancada, com prateleiras por baixo, com um ecrã
de computador à altura da cabeça de cada operador. Em frente, no mesmo
corredor, estão os respetivos “armazéns de peças”; cada estação tem o seu.
Zona de
treino/aquecim
ento
Operações
básicas/operaçõ
es elementares
Espaço/materiai
s
162
Resume um pouco quais são as operações básicas que irão ser treinadas (com
apoio em exercícios orientados pelo computador) e quais serão as operações
elementares (conjunto organizado de operações básicas, e que serão
orientadas através de Portefólios).
O índice de conteúdos desta parte da formação é:
1. Identificar Defeitos de Qualidade
2. Aplicação de Sealer
3. PSW Clamping e Soldadura
4. Montagem e Alinhamentos
5. Inspeção Final
6. Reparações
Cada um destes itens vai subdividir-se em vários, com momentos de
explicação, exemplificação com vídeos e fotos, itens de qualidade e de
segurança, testes parciais e um teste de semáforo no final.
O formador explica também como estão compostas as bancadas de treino. Dá
exemplos de como alguns exercícios se irão desenvolver. Depois refere-se a
uma parte de uma carroçaria que está no espaço da formação, cujo exercício
consistirá na inspeção interior e exterior da traseira do veículo.
De seguida, convida os formandos a verem de que forma o armário de
material está arrumado, segundo uma lógica de “visual management”, ou
seja, cada estação tem uma etiqueta com uma cor; os respetivos materiais
estão arrumados no armário em prateleiras com etiquetas da mesma cor e
caixas com o mesmo tipo e cor de etiqueta. Refere-se ao poka yoke e aos 5S,
como sendo conceitos que estão ali sempre em funcionamento.
De seguida, os formandos vão para os postos de trabalho e inicia-se o
primeiro exercício.
Detetar defeitos visualmente, seja ângulos de peças de chapa dobrada, seja
rebarbas ou dimensões de furações, não é fácil. Os exercícios de computador
pareceram-me simples, de “navegação” intuitiva; são repetitivos quanto à
Conteúdos
específicos da
formação
Organização dos
conteúdos/ativi
dades
Conceitos de
produção
Dificuldades da
tarefa de
inspeção de
qualidade
163
sequência e às lógicas de aprofundamento; o formador é que vai dando
indicação de quando se pode avançar no treino assistido.
Neste primeiro exercício, o formador chama a atenção que é importante
treinar a deteção das falhas nos materiais, falha por falha, um tipo de cada
vez, para melhor as detetar depois no conjunto.
São vários os exercícios simples, com o mesmo tabuleiro de peças, em que
umas têm falhas outras não. Inicialmente, trata-se de falhas a detetar apenas
com o auxílio da visão.
Cerca das 8H55 é feito um intervalo de cerca de 15 minutos. Cerca das 9H10
o grupo retorna.
De volta às bancadas de treino, passa-se a um conjunto de exercícios sobre
deteção de falhas, agora usando o tato.
Depois, troca-se de tabuleiro. Neste, será feito o teste deste primeiro
conjunto de operações básicas: encontrar 5 peças OK, inspecionando de entre
um conjunto de 20 peças, utilizando as técnicas visuais e manuais explicadas
e experimentadas. O teste é o do “semáforo”, e o tempo máximo é de 1m35
segundos, com 10% de tolerância. De uma forma geral, os formandos
esquecem-se de um dos tipos de teste, que é da medição da furação com um
instrumento a que chama de “passa/não-passa”. Findo o teste, arruma-se os
tabuleiros e passamos a um exercício dedicado a detetar mossas e bicos em
chapas, pintadas e em cru.
Trata-se de treinar a visão em contraluz; para o efeito, as bancadas têm uma
lâmpada fluorescente que nos ajuda a posicionar e visualizar a peça em
contraluz. Durante esta atividade, que tem um conjunto de exercícios de
treino de deteção deste tipo de falhas em crescendo de dificuldade, são
inúmeras as vezes que o formador conversa com o grupo sobre as
consequências deste tipo de defeitos na produção dos carros. Um dos
formandos com mais experiência na linha do Body dá vários exemplos de
peças em que este tipo de defeitos tem provocado problemas.
Programa de
computador
(Repetitividade
e excessiva
simplicidade)
Qualidade
Treino/testage
m
Deteção de
falhas de
qualidade
164
Cerca das 10H10 é feita uma pequena pausa de 10 minutos. No regresso, há
dois formandos que vêm mais cedo e conversam um pouco com o formador
sobre questões relacionadas com furos e soldadura. Este grupo é constituído
por trabalhadores das carroçarias que estão nessa área da fábrica desde o seu
início. Um dos formandos confessa que já está a ficar cansado deste tipo de
funções, porque é um trabalho que se torna pesado ao final de tantos anos.
De regresso, passa-se ao teste do semáforo: mossas e bicos numa chapa;
baixa espessura e fissuras, noutra; tudo em 58 segundos. O teste é simples,
mesmo para mim que não tenho prática, o mesmo já tendo sucedido com o
anterior.
De seguida, o exercício implica a utilização de uma balança, onde se treina a
pressão mais ou menos constante com a mão esquerda e a mão direita. Esta
é uma das técnicas usadas para treinar a pressão, inclinação e precisão
necessárias para a colocação do sealer, uma cola especial para a chapa.
A atividade seguinte implica tocar em pedaços de chapa com ângulos,
aparafusadas a um tabuleiro. O formador explica a atividade, salientando que
devemos usar as duas mãos, garantindo uma posição ergonómica das mãos e
braços; a mão esquerda é usada para o lado esquerdo das peças e a mão
direita, para o lado direito das mesmas.
À medida que se encontram os defeitos, colocam-se ímanes vermelhos, que
depois são verificados pelo formador. Sou elogiada pela precisão a encontrar
os defeitos, mesmo sem treino nem prática de linha. Tenho consciência que
é uma técnica de motivação. Este conjunto de exercícios tem a ver com uma
zona do Body designado por Metal Finish, em que as questões da qualidade
da chapa são verificadas.
De seguida, o conjunto de exercícios envolve a aplicação sealer. O formador
demora cerca de 20 minutos a explicar as precauções a ter, pela perigosidade
de algumas colas pelos produtos químicos e pela temperatura que podem
atingir. Demonstra algumas das suas aplicações através do programa de
Caraterização
do grupo de
formação
Dificuldades do
trabalho na
linha
Treino
Treino
Treino
Perigosidade de
alguns materiais
165
apoio, em computador; nós estamos em volta de um dos postos de trabalho,
observando e ouvindo as suas explicações.
Um dos elementos do grupo trabalha com sealer e dá vários exemplos de
tipos de cola, de questões a ter em atenção; o formador agradece a
intervenção e salienta a importância de irem relacionando os exercícios da
formação com as suas práticas e dando exemplos, uma vez que ele próprio já
está fora da linha há algum tempo.
O intervalo para o almoço decorre entre as 11H50 e as 12H40
Retomando as atividades, temos de colocar sealer sobre o tracejado
desenhado em tabuleiros próprios, em linhas retas verticais de 3, 5 e 6mm. O
formador vai depois a todos os postos para verificar a espessura, a aderência
da cola, entre outros aspetos da qualidade da aplicação. A tarefa não é nada
fácil, as linhas de sealer saem muito tortas, pelo menos no início.
O exercício repete-se depois com linhas de diferentes espessuras, na
horizontal, notando-se maior complexidade na aplicação. Formador vai
visionando e comentando, corrigindo posturas e técnicas de aplicação. Segue-
se um tabuleiro com riscas onduladas, de diferentes espessuras, para
preencher com sealer.
Note-se que, antes de se trabalhar com a pistola do sealer (sobre a qual o
formador também deu explicações e indicações de segurança), coloca-se uma
película transparente sobre o tabuleiro com as riscas, a vermelho, e é sobre
essa película que se trabalha. Depois, é deitada fora para um caixote de lixo
industrial, de reciclagem de resíduos tóxicos.
Após o treino de colocação de sealer na vertical, horizontal e ondulado, em
todos os casos tanto com a mãe esquerda como com a mão direita, segue-se
o teste do semáforo. O último tabuleiro a usar tem agora uma combinação de
todos os tipos de riscas, quanto à espessura e direção, e o teste consiste em
colocar sealer por cima de todas elas em 1m25sg, seguindo ainda uma
sequência de alternâncias entre a mão direita e a mão esquerda.
Participação dos
formandos com
o seu know-how
Treino
Treino
Testagem
166
Apesar de todos os formandos concordarem que o desafio é grande, pela
complexidade e quantidade de operações em tão pouco tempo, na realidade
todos conseguem realizá-lo, ainda que ultrapassando um pouco o tempo
destinado. O exercício é feito à vez, o formador vai observando a colocação
do sealer, salienta o que está a ser bem feito e as técnicas que ainda não estão
totalmente corretas.
Após este conjunto de exercícios, passamos a uma outra técnica de trabalho
em carroçarias, desta vez montagem e alinhamento. Segundo a sequência de
atividades do programa de computador de apoio à formação, deveríamos
trabalhar a soldadura, mas o formador informa que se irá passar à frente, mais
tarde voltar-se á a esse item, dizendo apenas que não teremos tempo para
aquele exercício para já.
O formador demora algum tempo a explicitar questões relativas à
aparafusadora: função da etiqueta de identificação, importância de uma boa
utilização, posicionamento na mão por questões ergonómicas. Estas questões
foram também abordadas na formação de Montagem Final com o mesmo
nível de pormenor.
Enquanto explica a operação, vai demonstrando com uma aparafusadora,
complementando com observações sobre a qualidade que estão explicadas
no programa de computador. A este respeito, o formador confessa que alguns
dos vídeos do programa e exercícios só lá estão por uma questão de
estandardização entre fábricas da marca, sendo que alguns se tornam
demasiado básicos para quem já trabalha há algum tempo na área. Por outro
lado, às vezes a simplicidade e a repetição do tipo de exercícios ajuda a
despertar os trabalhadores, já rotinados a certas práticas menos rigorosas, a
reverem os seus modos de trabalho.
Cerca das 14H15 é feito um intervalo de 15 minutos. Estar de pé a ouvir e
observar o que o formador apresenta torna-se, agora, um pouco cansativo,
não só nem especificamente para mim; o cansaço é visível e comentado entre
os formandos. Este também foi o motivo que o formador deu para fazer uma
paragem, dizendo: “Eu já sei que isto da parte da tarde é mais difícil.”.
Complexificação
das tarefas
Qualidade de
execução
Técnica,
qualidade e
ergonomia
Estandardização
entre fábricas
Alteração de
rotinas do
trabalho
Exigência da
formação
167
…………………………………………………………………………..
Findo o intervalo, pratica-se o aparafusamento em várias direções, com o
formador constantemente a chamar a atenção para a ergonomia ao pegar na
ferramenta e a mudá-la de mão.
A atividade fica a meio, o formador opta por interrompê-la para deixar cerca
de 20 minutos finais para fazer o ponto de situação sobre o dia e o
planeamento das atividades do dia seguinte. O formador resume a forma
como a atividade que ficou a meio se irá desenvolver no dia de amanhã,
chamando a atenção que apesar de trabalharem na linha, há ferramentas que
serão usadas pela primeira vez, em alguns casos.
Distribui a folha de confirmação de técnicas (a que chama de “caderneta dos
formandos”) e pergunta se há dúvidas que queiram colocar. Os formandos
não expressam dúvidas, apenas mencionam que estão a achar a formação
interessante, que muitas das ações que fazem no seu posto de trabalho têm
a ver com estas operações básicas e que é bom para corrigirem hábitos e
posturas menos corretos.
A formação termina cerca das 15H20; alguns formandos ficam “em
competição” com os da Montagem Final nos exercícios da zona de
aquecimento.
Treino
Ergonomia
Reorganização
da sequência de
atividades da
formação
Formandos têm
noção de que
estão a corrigir
técnicas e
hábitos
Zona de
treino/aquecim
ento
Competitividade
Observações:
Fazer a formação e registar o que vai acontecendo não é uma tarefa simples, sobretudo por se
tratar de uma formação fundamentalmente prática. Ainda assim, há sempre momentos em que
é possível tomar notas, sobretudo nos intervalos, acabando por se tornar muito exigente
também por isso.
O ambiente é bastante amistoso, o formador é muito pormenorizado nas explicações que dá
sobre os passos dos exercícios. É muito preocupado com as questões da segurança e ergonomia,
para além da qualidade. Preocupa-se em verificar se eu percebo os exercícios e em motivar-me
quando os realizo.
Os formandos, de uma forma geral, não trabalhavam juntos na mesma zona, apesar de 2 deles
já se terem cruzado em tempos numa zona de trabalho. Rapidamente encontraram pontos de
168
interesse comum, trocam experiências e mantêm conversas sobre as funções desempenhadas
com frequência. Também me acolheram bem, manifestam frequentemente a vontade de me
ajudar e, tal como o formador, vão dando conta dos meus avanços. A aplicação de sealer em
diferentes direções e com diferentes espessuras, usando ambas as mãos, foi o exercício em que
mais dificuldades senti. Ainda assim, notei (e foi notado pelos outros formandos) a evolução no
traço e na espessura, depois de várias experimentações. O treino e a sua repetição têm, de facto,
esse efeito. E contrapartida, torna-se cansativo ao final e algum tempo.
169
Dados da realização das observações
Data: 01 de fevereiro de 2012
Horário: 7H00 às 15H30
Local: Centro de Treino da Produção
Atividade: Observação participante do módulo Fundamental Skills – Body (Competências
Fundamentais de Carroçarias)
Duração: 7H (de 40H) (3º de cinco dias)
Participantes: 1 formadores; 4 formandos
Registo de Observações Ideias-Chave/
Temáticas
O dia de formação começa cerca das 7H35, após os habituais exercícios de
aquecimento; no caso dos exercícios de enrolar e passar cabos, tiram-se
tempos, confirmando uma espécie de tradição em tentar entrar no ranking
dos mais rápidos, que está afixado em cada uma das respetivas bancadas.
Segue-se a continuação do exercício deixado a meio no dia de ontem. Agora
trabalham-se os alinhamentos de chapas e a verificação de espaços entre
peças (Gap e Flush) e a utilização de chaves de torque e chaves
dinamométricas (para confirmar torques). Formador explica os perigos dos
parafusos terem mais ou menos newtons do que era suposto e salienta a
necessidade de se seguirem as especificações dos apertos para cada situação.
Os exercícios, por si só, são interessantes e dinâmicos; sente-se a evolução
das operações e o quanto as técnicas treinadas antes foram importantes para
depois irem sendo integradas a cada nova atividade.
O programa de apoio, em computador, é simplista. Segue passo a passo cada
operação, e se para quem já tem prática pode parecer absurdo, mesmo para
mim, que não a tenho, torna-se “infantil” e repetitivo seguir alguns dos passos
descritos.
De seguida, segue-se o teste do semáforo, que passa por fazer um conjunto
de aparafusamentos em placas de diferentes espessuras, aplicando os
conhecimentos de alinhamentos e torques. No final, o formador salienta que
o importante é reter novos conceitos que possam aplicar no trabalho e
Zona de
treino/aquecim
ento
Competitividade
Exercícios
técnicos
Qualidade/segu
rança
Treino e
evolução das
técnicas
Excessiva
simplicidade do
programa de
computador
que apoia a
formação
Testagem
Retenção dos
conceitos
170
melhorar a qualidade, do trabalho e do produto, “mais do que fazer os
exercícios dentro do verde do semáforo”.
É feito um intervalo de 15 minutos, entre as 8H50 e as 9H05.
Passa-se ao tema da soldadura: neste capítulo, o formador explica que muitas
das imagens e exercícios propostos pelo programa de computador que estão
a seguir são desadequadas para a realidade da fábrica. Os vídeos são de uma
outra fábrica, em Espanha, e os equipamentos aí utilizados são diferentes.
Por outro lado, muito do treino proposto pelo referido programa seria
importante para quem entrasse de novo na fábrica, não para quem já aqui
trabalha e tem tanta experiência. Esta questão foi, até ao momento, referida
por várias vezes e nota-se que o formador faz uma adaptação muito “sua” dos
exercícios propostos pelo programa. Os formandos concordam.
É de assinalar que são referidos, com alguma frequência, conceitos bastante
teóricos de física e de química, sobretudo na explicação do que são os pontos
de soldadura e como são feitos. Um dos formandos revela muitos
conhecimentos sobre o assunto, uma vez que trabalha em soldadura; refere
alguns cuidados a ter sobre a qualidade das cápsulas de soldadura, o sistema
de arrefecimento que lhes garante um bom funcionamento, entre outras
questões, umas mais práticas e outras mais teóricas. O formador agradece,
vai dizendo “eu ia falar nisso a seguir, mas obrigado por teres dito isso”.
Nesta fase, e desde o regresso do intervalo, a formação tornou-se mais
expositiva, também vai sendo dialogada, com momentos de demonstração e
exemplificação. Estamos de pé em frente a um dos computadores, que o
formador utiliza para orientar este momento de formação; não é a posição
mais confortável para se estar durante cerca de uma hora. No entanto, os
formandos parecem não se importar, demonstram-se atentos e
participativos; comentam comigo que o estão habituados a estar de pé o dia
inteiro.
O formador demonstra domínio sobre todos os conteúdos da formação, quer
quanto a conceitos teóricos – o que, neste módulo, implica muitos
Ênfase na
qualidade
Desadequação
do programa de
computador
Adaptação das
atividades pelo
formador
Conceitos
teóricos
Metodologia da
formação
171
conhecimentos de física, química e mecânica, entre outras áreas do
conhecimento -, quer quanto a situações da realidade da fábrica, que lhe vão
servindo sempre para exemplificar questões. Este vaivém entre a teoria e as
práticas é convocado com muita frequência na formação, quer pelos
formadores quer pelos formandos. Mesmo não tendo nenhuma formação nas
áreas mencionadas, percebo os exemplos dados das experiências de alguns
dos operadores, sobretudo nas consequências que algumas das questões
físicas e químicas têm nas operações que estão a ser explicadas.
Cerca das 10H voltamos aos exercícios práticos, desta feita sobre inspeção
final de defeitos: torques de parafusos, pontos de soldadura, aplicações de
sealer, defeitos de gap e flush. Num só tabuleiro, há várias peças que são
sujeitas à apreciação dos formandos. Formador explica, pede para
posicionarmos o programa do computador nesse exercício prático, verifica se
os formandos detetaram todos os defeitos possíveis. A mim, falharam-me 2.
De seguida, passamos para um exercício de inspeção final em peças
interiores, num tabuleiro, onde estão vários tipos de defeitos de chapa e de
pontos de soldadura. A repetição deste tipo de exercício, a um nível de
pormenor tão fino, faz com que se consigam identificar progressivamente
cada vez mais defeitos, facto assinalado pelos formandos. Formador confirma
que esse é o objetivo da repetição.
Cerca das 11H é feito um intervalo de 10 minutos. Os formandos ficam pelo
espaço interior do pavilhão do CTP, nomeadamente para treinar os exercícios
de aquecimento de enrolar e passar corda, com o objetivo de os fazer cada
vez mais depressa. O ambiente é descontraído e quase “familiar”.
No regresso, é feito o teste do semáforo, mais uma vez trata-se de identificar
as falhas dos diferentes tipos num conjunto de peças que estão fixas num
tabuleiro próprio.
Depois da verificação e das observações de correção do formador, como é
costume, arrumam-se os tabuleiros no local próprio das racks e os materiais
no armário.
Teoria/prática
Tecnicidade dos
exercícios
Treino e
repetição
Ambiente da
formação
172
Antes da pausa para almoço, o formador desabafa comigo que neste módulo
do Fundamental Skills é muito difícil fazer uma boa gestão de tempo, porque
basta aparecer alguém com mais dificuldades ou que converse mais, para já
não se conseguir cumprir um plano. No entanto, diz que “o grupo está com
bom tempo”.
Cerca das 11H45 faz-se uma pausa para almoço, de cerca de uma hora.
No regresso do almoço, o formador informa que nesta fase da formação já
terminámos as operações básicas e iremos passar às operações elementares,
com peças e subconjuntos mais próximos da realidade e do dia-a-dia do
trabalho na fábrica. Esses subconjuntos de peças apresentam defeitos, que já
não são a um nível básico, e que podem causar muitos problemas na
construção dos carros.
O formador pega num dos tabuleiros de trabalho e coloca-o numa das
estações de treino, explicando de seguida a atividade: trata-se de analisar um
conjunto de peças de vários tipos e formatos, que irão encaixar nas galgas que
têm os tabuleiros de trabalho, para identificar as que estão OK ou NOK (não
ok). Isto vai ser feito para um conjunto de 3 peças diferentes. Formador vai
avisando que estas são as peças que geram geralmente mais polémica, mas
diz: “Não faz mal, a gente quer é polémica desta, ou não se aprende nada.”
O primeiro exercício de inspeção sobre estes três conjuntos de peças é
aparentemente simples, mas a deteção de defeitos revela-se mais complicada
do que poderia parecer inicialmente: muitos dos defeitos só pode ser
detetado por comparação entre peças, demonstrando o quanto pode ser
importante o conhecimento que se tem dos materiais com que se está a
trabalhar.
O exercício de teste é a inspeção sobre uma peça mais complexa que as
anteriores, com mais subconjuntos implicados, e com defeitos muito mais
difíceis de detetar. Formador chama a atenção que este é o tipo de defeitos
que acontece nas linhas, que causam prejuízos elevados; um simples parafuso
Adequação do
ritmo da
formação aos
grupos
Operações
básicas e
elementares
Ideia de que a
polémica é
positiva
Defeitos de
qualidade
Treino/testage
m
173
pode implicar horas de retrabalhos. Desta vez, o teste é feito apenas com
ajuda visual e táctil, sem recorrer a nenhum equipamento específico.
Esta parte da formação é agora orientada, para além do formador, por um
portefólio, cujo texto, imagens e sequências orientam os exercícios que se
irão fazer. No entanto, as indicações são sempre dadas primeiro pelo
formador. Existe um portefólio por cada bancada de trabalho, a linguagem é
simples e as imagens elucidativas. No entanto, com as indicações dadas pelo
formador, poucas vezes os portefólios são usados.
De seguida, trata-se de um conjunto de exercícios de aplicação de sealer
sobre peças reais, em chapa, em áreas que são cobertas por tiras de fita
adesiva de papel para não estragar as peças, para que estas possam ser
reutilizadas. As peças têm rebordos e inclinações, pelo que se torna mais
difícil fazer a aplicação de sealer.
A última atividade do dia implica desmontar um conjunto de peças e voltar a
montar, para que fiquem montadas de forma exatamente igual e com as
mesmas funcionalidades. Este conjunto é complexo: implica desaparafusar
numa sequência obrigatória, bem como voltar a montar nessa sequência. São
usadas várias ferramentas, que fomos buscar ao armário, praticamente todas
as que até aqui já tinham sido experimentadas, assim como todas as técnicas
envolvidas.
Na montagem deste conjunto, vários problemas surgiram: o alinhamento das
peças tem especificidades, não é tarefa simples. Esta atividade despoleta uma
maior entreajuda entre os colegas de formação, de forma a conseguirmos
voltar a montar a peça do mesmo modo. O formador observou, não interferiu
muito, deixou que os formandos fossem descobrindo e que fossem trocando
opiniões sobre a montagem. Muito interessante, mesmo para quem não tem
experiência na área; para quem já tinha experiência, foi comentando que “às
vezes, na área, é mesmo assim: temos de desmontar e montar até ficar bem.”
Cerca das 15H10 terminou a formação do dia, e repete-se o procedimento de
preenchimento da “caderneta do formando”, assim como da troca de
opiniões sobre as atividades e discussão sobre algumas questões que foram
Portefólio
orientador
Pouca utilização
do Portefólio
Treino
Entreajuda no
grupo
Comparação
entre as
atividades da
formação e os
postos de
trabalho
174
surgindo. A questão mais assinalada foi o gosto em descobrirem sozinhos a
forma como a peça final teria de ser montada e o espírito de entreajuda, que
se tem notado cada vez mais.
Mais uma vez, é referido que o facto de estarem a treinar operações que
aparecem no dia-a-dia é proveitoso, mesmo que já as saibam fazer, porque
há técnicas que se vão esquecendo e rotinas instaladas que é bom rever,
melhorar e estar mais de acordo com o que a empresa pretende.
Este diálogo final, a troca de opiniões e experiências, parece ser a rotina de
final de dia em todas as formações que são mais prolongadas (2 dias ou mais).
Os formadores preferem deixar um exercício a meio para cumprir esta fase
do dia de formação.
Cerca das 15H25 deu-se por terminada a formação do dia.
Treino de
operações do
dia-a-dia
Balanço final do
dia de formação
Observações:
Nota apenas para o elevado nível de tecnicidade dos exercícios, persistência na sequência entre
treino e testagem, embora o formador substitua muitas das indicações do programa de
computador e do Portefólio pelas suas próprias indicações ou pela entreajuda no grupo.
175
Dados da realização das observações
Data: 02 de fevereiro de 2012
Horário: 7H00 às 15H30
Local: Centro de Treino da Produção
Atividade: Observação participante do módulo Fundamental Skills – Body (Competências
Fundamentais de Carroçarias)
Duração: 7H (de 40H) (4º de cinco dias)
Participantes: 1 formadores; 4 formandos
Registo de Observações Ideias-Chave/
Temáticas
A formação hoje começa dentro da sala “das teóricas”, como alguns
formandos designam. Não passamos pelo aquecimento com bolas, sacos e
cordas. O tema da formação é idêntico ao que foi observado no dia 19 de
Janeiro, aquando da minha observação e participação no Fundamental Skills
da Montagem Final. Mais uma vez, os grupos de Montagem Final e do Body
estão juntos na sala.
Trata-se de rever as questões relacionadas com a “Responsabilidade do
Produto”. Esta matéria é interessante para os formandos, que participam
ativamente na exposição, contribuindo com exemplos dos perigos de
“carimbar às escuras”, de se responsabilizarem pelas suas ações e, por vezes,
pelas dos colegas.
Não reproduzirei aqui os assuntos referidos, porque os exemplos dados pelo
formador foram os mesmos que na sessão da Montagem Final e nas sessões
de Fundamental Skills em que observei e não participei. Este grupo é mais
participativo do que o de 16 a 20 de Janeiro, no que toca a exemplos práticos
a partir de conceitos mais teóricos.
Nestas trocas de ideias, como noutras situações, o meu estatuto junto deles
não é o mesmo que teria se fosse colega de linha, nomeadamente porque não
tenho exemplos de trabalho para dar que vão ao encontro do que estão a
treinar. Mantenho-me, no entanto, sempre atenta ao que vão dizendo e
percebo que a minha presença não os inibe de falarem, mesmo sobre as
questões mais polémicas da linha.
Formação
teórica
Responsabilidad
e do Produto
Semelhança
com FSkills da
Montagem Final
Participação e
adesão do
grupo aos temas
Reação do
grupo à
investigadora
176
Cerca das 8H30 é feito um intervalo, de cerca de 15 minutos.
Cerca das 8H55, regressamos do intervalo diretamente para a zona da
formação prática. Começamos por assinar as folhas de presença dos dias
anteriores e passamos ao exercício seguinte. Trata-se de alinhar uma porta,
apenas desapertando e apertando 3 parafusos. Isto reproduz uma das
operações que é feita na linha, das que exige mais sensibilidade e não só
técnica.
No caso da porta que me calhou, o alinhamento é extremamente complicado:
um dos pilares parece estar mesmo danificado. Depois de uma série de
apertos e desapertos, o formador chama outro formador para tentar
perceber como é que se pode alinhar aquele conjunto de peças. Formador
comenta que o problema é que a balança está danificada.
A atividade que se segue implica inspeção geral de uma parte de uma
carroçaria – o tamanho e a complexidade das peças e conjunto de peças a
analisar tem vindo a crescer. Agora, em pares, cada equipa inspeciona metade
da carroçaria traseira de uma carrinha. O metal está em cru.
A inspeção divide-se em: gap, flush e alinhamentos; inspeção visual e manual
exterior de mossas e outras imperfeições; inspeção visual e manual interior,
de pontos de soldadura, cordões de soldadura e de sealer. Temos uma grelha
com coordenadas para ir assinalando os defeitos encontrados. O trabalho a
pares corre bastante bem, com muito espírito de equipa.
A meio da atividade é feito um intervalo de 10 minutos. Durante a primeira
parte da atividade o formador ausentou-se; as equipas colaboram entre si, e
há mesmo operações que só podem ser efetuadas e defeitos que só são
detetados se as equipas cruzarem opiniões e ações. No regresso do intervalo,
o formador observa o que já foi detetado e informa que há mais defeitos por
encontrar. De seguida, ausenta-se novamente e as equipas retomam o
trabalho, agora já totalmente em conjunto, em grupo de 4 e não em pares.
Cerca das 11H20 o formador verifica os defeitos detetados. Pelo meio vai
fazendo algumas piadas e em algumas situações trata-nos por “meus
Novo exercício
de treino
Complexidade
crescente das
tarefas
Tecnicidade da
formação
Entreajuda no
grupo
Autonomia do
grupo
Postura do
formador
177
meninos”, como quem ralha, mas ninguém leva a mal. O tom de brincadeira
é inequívoco.
Depois desta verificação, passamos à atividade seguinte: agora, a partir da
ação de demonstrar e montar um front fender (painel que fica entre a roda e
a porta dianteira), o grupo terá de construir também uma folha de trabalho
standard, ou SAB (iniciais do alemão, como se disse numa observação
anterior, e que é a designação mais usada na fábrica).
É utilizada uma carroçaria praticamente completa para o efeito, é colocada
uma pequena bancada construída num carrinho-rack (construído pelos
formadores do CTP, como, aliás, todos os materiais didáticos e de apoio à
formação) mesmo junto à carroçaria.
Formador explica toda a atividade, exemplificando que tipo de frases (curta e
simples) devem ser usadas na SAB, os seus objetivos e importância. Os
formandos vão observando e ouvindo com atenção, questionando alguns
campos da SAB. Formador resume, dizendo que, no fundo, esta folha deve
descrever: “O quê”, “Como”, “Porquê”, e ter imagens elucidativas e tempos
de execução de cada parte da operação.
Fornece as ferramentas necessárias, pergunta se há dúvidas e informa que a
atividade terá de terminar cerca das 14H30, uma vez que a formação
terminará hoje mais cedo por haver uma reunião dos formadores do CTP. De
seguida, afasta-se e diz que se tiverem dúvidas deverão chamá-lo. Vai arrumar
material e verificar ferramentas.
Como sucedeu na outra formação de Fundamental Skills em que participei,
eu colaboro ao nível do preenchimento da SAB, a pedido dos formandos, que
como me viram a tirar notas durante e a semana consideram que “estarei em
melhores condições para o fazer”.
A tarefa revela-se muito mais exigente do que se pensava, porque não se trata
de dominar técnicas, por um lado, nem de conseguir uma linguagem objetiva:
trata-se de saber descrever a realidade das ações que são feitas, numa
determinada sequência de montagem e alinhamento, que é, ela própria, um
SAB
Materiais da
formação
Linguagem da
SAB
Postura do
formador
SAB
Exigência da
explicitação da
SAB
178
desfio para os formandos. Ou seja, tudo é feito com a colaboração de todos;
questiono muitas vezes os colegas sobre o que fizeram e como fizeram; torna-
se complicado para eles descreverem as ações que repetem quase
instintivamente. Por outro lado, às vezes até agradecem que eu pergunte,
porque de outra forma iam-se esquecer do que acabaram de fazer.
Cerca das 11H45 fez-se paragem para almoço, de cerca de 45 minutos, e no
regresso retoma-se a atividade, com a mesma participação ativa de todos. O
formador volta a procurar-nos, assinala uma ou outra questão, mas de
seguida ausenta-se novamente. Segundo verbaliza: “Não posso aqui estar
senão estou sempre a meter o bedelho.”
A tarefa demora cerca de 1H30, após o que chamamos o formador, que revê
os passos descritos tentando reproduzir as operações através da SAB feita.
Vai deparando com algumas situações que é preciso melhorar. Esta fase gera
muita discussão entre formandos e formador, ora por questões de linguagem
ora pela necessária exatidão dos passos descritos. É uma discussão animada
e produtiva.
Começa-se a passar “a limpo” a SAB, para que fique arquivada no dossiê
técnico-pedagógico, mas esta tarefa é interrompida pela necessidade de
terminar a formação mais cedo. Como se registou anteriormente, o CTP tem
uma reunião com a coordenação da Área de Produção. Assim, às 14H45 a
formação é interrompida.
Dificuldade da
explicitação dos
saberes
individuais
Postura do
formador
Relação entre a
Produção e o
CTP
Observações:
A questão da dificuldade de explicitação dos saberes dos trabalhadores, de modo a construir a
SAB, parece-me a mais pertinente neste dia de formação. A linguagem tem de ser simples e a
SAB segmenta as operações complexas em fragmentos da ação que é feita, o que dificulta
bastante. Por outro lado, essa explicitação tem como objetivo orientar outros operadores; ou
seja, disseminar o conhecimento interno, mas com a orientação do formador, que vai
encaminhando para as aprendizagens feitas, nomeadamente no que diz respeito à inclusão dos
métodos do sistema de produção.
179
Dados da realização das observações
Data: 03 de fevereiro de 2012
Horário: 7H00 às 15H30
Local: Centro de Treino da Produção
Atividade: Observação participante do módulo Fundamental Skills – Body (Competências
Fundamentais de Carroçarias)
Duração: 7H (de 40H) (5º de cinco dias)
Participantes: 1 formadores; 4 formandos
Registo de Observações Ideias-Chave/
Temáticas
O grupo reuniu-se diretamente na zona de treino prático do CTP, para
terminar a SAB do dia anterior. O formador faz as últimas correções e levanta
mais algumas questões, pacíficas, e termina-se a tarefa do dia anterior. De
seguida, teremos de aguardar que o grupo de Fundamental Skills da
Montagem Final regresse da atividade da manhã, que é ir à linha de produção
observar e gravar/fotografar uma estação para depois escrever a SAB. Isto
porque, tal como já tinha sucedido quando fiz a observação não participante
deste módulo, o CTP só tem 1 máquina de filmar. Isto significou cerca de 45
minutos de espera para que este grupo de Fundamental Skills do Body
pudesse também ele realizar o mesmo tipo de atividade.
Enquanto se espera, os formandos conversam sobre temas variados: o frio
(trata-se de uma das semanas mais frias desde que o inverno começou); o que
vão fazer no fim de semana; experiências da tropa (a propósito do frio). O
ambiente, conforme se tem feito notar várias vezes, é descontraído, familiar
até.
Entre as 9H00 e as 10H15 fomos à linha observar um posto. A caminhada até
à zona chamada de “doors to body” é longa, pelo caminho vamos observando
outros postos, de passagem, referindo-se algumas questões que foram
faladas em formação.
Chegados à zona em causa, o formador vai pedindo opinião a um dos
formandos, que trabalha precisamente naquela zona da fábrica, sobre um
posto que seja interessante de observar, que não seja muito complicado nem
demasiado simples. Formador explica que se for demasiado simples não vai
SAB
Dificuldades na
gestão de
alguns materiais
da formação e
consequências
na organização
da formação
Ambiente da
formação
Observação de
posto de
trabalho
Confiança no
know-how dos
formandos
180
representar desafio nenhum, e se for demasiado complicado, terá de ajudar
demasiado na elaboração da SAB. O objetivo é que o grupo seja o mais
autónomo possível.
Dois dos formandos tiram notas, outro simplesmente observa e a mim cabe-
me a tarefa de fotografar as etapas que aquela estação implica, os passos que
o operador dá, os materiais e ferramentas que utiliza.
A estação em causa coloca a porta esquerda, da frente, com recurso a uma
ferramenta altamente tecnológica designada jig. Durante cerca de 30 minutos
observamos, trocamos impressões sobre os passos que observamos,
decidimos que momentos e ações fotografar.
Neste caso, nem sempre é fácil fotografar, uma vez que o espaço de atuação
do operador está calculado apenas para que o próprio lá esteja. Não que seja
apertado, mas não está pensado para que haja mais pessoas naquele posto;
logo, a nossa movimentação tem de ser calculada de forma a não interromper
as operações e não causar danos nem obstrução de movimentos do operador,
que ainda assim consegue ser extremamente empático.
O operador vai explicando algumas das operações que vai fazendo, sobretudo
quando o formador o questiona. Explica a razão de ser de as fazer numa
determinada sequência, alguns pormenores de utilização da ferramenta
automatizada (jig), entre outros pormenores técnicos, de segurança e de
qualidade. Apenas o formador interage diretamente com o operador de linha,
para que se interfira o menos possível com as operações e tempos da estação,
mas o operador fala olhando diretamente para as várias pessoas do grupo.
Depois das observações concluídas, regressamos ao CTP. De caminho,
fazemos um pequeno intervalo de 10 minutos. O formador trata de imprimir
as fotos tiradas; eu tomo as notas necessárias para mais tarde compilar a
descrição da atividade. O formador pergunta: “então, isso está a ir bem? E
tens gostado?”. Respondo-lhe que sim, tem sido muito frutífero e
interessante. Agradeço o seu interesse.
Desafio como
motivador da
atividade
Divisão de
tarefas
Organização do
local de
trabalho
Colaboração dos
operadores de
linha com a
formação
Relação com a
investigadora
181
De seguida sentamo-nos à volta da mesa de reunião do espaço dos
Fundamental Skills do Body. Com as fotos impressas em tamanho bastante
pequeno, explica que primeiro devemos descrever passo por passo as
operações da estação observada e, em função disso, selecionar as fotos que
achamos mais ilustrativas.
Como o formador também tomou notas, e inclusivamente questionou
diversas vezes o operador de linha, tem dados mais concretos que os que
foram fruto da simples observação. Lê as suas notas, formandos vão trocando
opiniões sobre um ou outro passo. Há uma operação que suscita especial
dúvida; formandos e formador chegam a deslocar-se à carroçaria que está no
CTP, para treino, para tirar uma dúvida relativamente às dobradiças e aos
parafusos usados. Formador diz que, quando não há consenso sobre o que
cada um observou e concluiu, tem de se ir novamente à linha, coisa que
acontece muitas vezes neste momento da formação.
Os formandos e o formador trabalham sobre as questões de igual para igual,
como se de uma tarefa de trabalho real se tratasse e fossem colegas de
estação; é o que me ocorre pensar. Todas as ideias são tidas em consideração,
em caso de dúvida, opta-se, quase sempre, por exemplificar na prática, com
gestos e movimentações que representam o que observaram. Vão, inclusive,
ao armário, procurar algumas das ferramentas que foram utilizadas na
estação observada, para confirmar opiniões divergentes. A atitude face à
formação é a atitude face ao trabalho: ativa, experimental e de tomada de
decisões conjuntas. Em determinada altura o formador salienta essa mesma
ideia: “a formação tem de reproduzir o melhor possível aquilo que se faz na
linha, senão não interessa grande coisa.”
Como está frio no pavilhão do CTP, porque o espaço da formação prática é
muito amplo e aberto, o formador sugere que se faça aquele trabalho numa
das salas de formação teórica; no dia de hoje, só os Fundamental Skills de
Montagem Final e de Body estão CTP, pelo que as salas teóricas (que são
duas) estão livres.
Dificuldade de
análise e
explicitação da
observação
Relação entre o
formador e os
formandos
(identidade
profissional)
Trabalho de
reflexão em
equipa
182
Nos outros dias da semana, aquelas salas estão normalmente ocupadas por
grupos de Lean Games, que vão à sala teórica com mais frequência; nessas
situações, a segunda sala de formação é usada pelos 2 grupos de Fundamental
Skills para fazer esta atividade de construção da SAB.
A atividade de construção da SAB, manualmente e depois em computador,
ocupa o resto do dia; segundo o formador, conta que tudo fique terminado
às 15H10. O intervalo para almoço é feito, como de costume, entre as 11H45
e as 12H30.
……………………………………………………………….
No regresso do almoço, a tarefa continua com o mesmo empenho de todos.
Alguns confessam que não está a ser a parte favorita da formação, mas que
têm “pena de estar a acabar”.
Após o preenchimento e correção de pormenores da SAB pelo grupo e pelo
formador, passa-se à sua transposição para um documento excell. Se na
manual não fui eu a escrever, por insistência minha, no caso desta transcrição
foi eu a fazê-la, com apoio total dos formandos. Nenhum se ausentou e, direta
ou indiretamente, todos colaboraram.
Pelo meio da atividade, o formador veio com um 2º formador para nos tirar a
habitual fotografia de grupo e, coisa que não tinha reparado antes, questiona
cada um sobre “O que vão levar da formação para o posto de trabalho?”.
É curioso que esta é a 4ª vez que estou em contacto com um grupo de
Fundamental Skills e nunca me tinha apercebido deste pormenor e que essas
frases são apostas na folha de rosto do dossiê técnico-pedagógico, na mesma
folha em que irá aparecer a fotografia de grupo. Há sempre coisas que
escapam, sendo que é por isso também que é importante observar o mesmo
tipo de situação mais do que uma vez. No entanto, sinto que agora estarei a
chegar ao ponto em que pouco mais teria a retirar de futuras observações,
todas as situações já são demasiado familiares.
Neste caso, as frases do grupo em resposta à questão foram as seguintes:
SAB
Reação dos
formandos à
formação
SAB
Trabalho
colaborativo
Balanço final da
formação
Vantagens da
observação
participante
183
Conhecer a SAB.
Melhoria da qualidade através dos detalhes.
Conhecimento de práticas standard.
Troca de experiências de várias áreas.
Aplicações de várias técnicas.
Segue-se o preenchimento individual da folha de avaliação da formação.
Depois disso, o formador pede a opinião sobre a forma como decorreu a
formação. Anotei as frases:
gostaram muito do trabalho em equipa;
o melhor foi a construção do espírito de ajuda entre todos;
pela duração, permite fazer mais coisas que outras mais curtas;
o material é adequado, permite fazer tudo o que fazem na linha.
O formador disponibiliza-se ainda para esclarecer sobre alguma questão que
algum deles necessite, tanto a mim, para o meu trabalho, como aos
formandos, sempre que se cruzarem ou se o procurarem no CTP. Cerca das
15H25 terminou a formação. Os formandos ainda ficam algum tempo no
espaço do CTP, em conversas com os colegas sobre a formação.
Reações do
grupo à
formação
Trabalho de
equipa como
mais-valia
Duração da
formação
Ambiente da
formação
Observações:
No intervalo para almoço, acrescento algumas descrições e reflexões pessoais sobre o que foi
sendo feito. Tenho repetido este procedimento com frequência como forma de tentar registar o
mais possível, antes que a memória apague alguns pormenores importantes. Nem sempre é fácil
distinguir entre as descrições e as reflexões, sobretudo no papel de participante.
A troca de opiniões sobre o que foi visto por diferentes pessoas sobre o mesmo processo é muito
interessante, rica, mesmo. Denota-se que há diferentes perspetivas sobre a mesma operação,
nomeadamente para quem conhece as operações em causa através da própria pática, como é o
caso de um dos formandos que trabalha na área da estação observada.
Daqui que seja motivo de tensão a implementação de standards rígidos, que pretendem que
todos trabalhem da mesma forma, que analisem segundo os mesmos padrões. Isto aponta para
184
uma racionalização talvez excessiva do trabalho e para o facto de a formação ter um papel de
apoio a essa forma de trabalhar.
Relativamente às observações, creio ter chegado ao ponto em que não necessitarei de repetir as
observações dos módulos centrais do CTP. A informação recolhida é significativa, revela dados
substanciais (que já se corroboram entre observações) e permite cruzar perceções. Irei ainda
observar os módulos que têm menor expressão, como a Oficina Profissional e a Paixão pelo
Detalhe, mais para verificar semelhanças de orientação para a formação.
185
Dados da Realização das observações
Data: 01 março de 2012
Horário: 13H00 às 15H00
Local: Centro de Treino da Produção
Atividade: Observação não participante do módulo Anmutung (Paixão pelo Detalhe)
Duração: 2H
Participantes: 1 formadores; 10 formandos
Registo de Observações Ideias-Chave/
Temáticas
Esta formação decorre durante duas horas, dentro do horário laboral. Os
trabalhadores a frequentar o módulo são identificados quando se
apresentam no local de trabalho, apesar de já haver uma seleção prévia que
tem em conta quem ainda não fez esta formação. O formador explicou-me
que esta questão decorre do facto do módulo já existir há algum tempo na
empresa, pelo que a grande maioria dos trabalhadores já o realizou,
acrescentando que em breve o módulo, nos moldes em que é desenvolvido,
deixará de existir.
O coordenador referiu a possibilidade de haver um alargamento desta
formação de 2H para 2 dias, que significa incluir muitas alterações e abranger
mais conteúdos e atividades, porque a empresa está muito “centrada nas
questões da qualidade”; nomeadamente, deverá incluir a visita à linha, para
ver os detalhes, que são o cerne da formação, in loco. Esse trabalho de
reformulação está ainda a ser pensado e trabalhado, segundo as palavras do
coordenador. Diz que os formandos gostam sempre muito da formação mas
queixam-se de ser curta, de não permitir fazer trabalho prático nem colocar
muitas questões.
Assisti a uma formação que decorreu entre as 13 e as 15H, o grupo era de 10
pessoas, composto por 5 elementos da produção e 5 dos recursos humanos,
com um formador apenas. As apresentações foram muito rápidas, realizadas
de pé (toda a formação é feita de pé); a minha apresentação foi breve, feita
pelo próprio formador. Alguns formandos manifestaram já saber quem eu
era; dois deles já tinham estado em formações que observei.
Forma de
constituição do
grupo
Módulo prévio à
existência do
CTP
Possibilidade de
reconfiguração
do Módulo no
futuro
Constituição do
grupo
Espaço e
materiais da
formação
186
O espaço foi especificamente criado para esta formação, dentro pavilhão do
CTP mas isolado dos outros espaços de formação com paredes de pladur. As
paredes têm muitos posters e placards colados, alusivos ao tema. O título dos
posters é sempre Anmutung – Prazer pelo detalhe e o subtítulo “Precisão,
carinho, perfeição, excelência”. Este é o lema da formação, que vai ser
explorado com exemplos concretos e objetos do dia-a-dia. O slogan que está
em muitos dos cartazes e em alguns vídeos que são passados é “A Excelência
constrói-se pelo detalhe”, relacionando diretamente as questões da
qualidade com a importância a dar aos detalhes. Os cartazes da parede
mostram como isso é importante em cada área, desde a produção aos
serviços indiretos, salientando a importância de se construir uma empatia
com o produto com que se lida, como contributo para o detalhe e qualidade
finais.
O espaço da formação está estruturado em “zig-zag”, ou seja, percorre-se
através de posters verticais ou de biombos, e o grupo vai circulando e parando
pelos espaços, de acordo com as diferentes atividades que o formador
propõe. Há um espaço que reproduz uma de sala de estar, para simular o
espaço em que um cliente poderá ter de aguardar numa compra de uma
viatura. Um outro espaço simula uma bancada de supermercado, com 3 ou 4
espécimes do mesmo produto e cerca de 10 produtos diferentes. A ideia é
explorar o que os formandos sentiriam num determinado espaço, olhando
aos detalhes e tentando consciencializar sobre o que é importante para cada
um, salientando os detalhes que marcam a diferença, que produtos
escolheriam e por que motivos, chamando a atenção para essas razões.
Detalhes como o estado do produto, o vasilhame, o preço, o aspeto visual, a
forma como está disposto, tudo isso é analisado.
É feito o visionamento de alguns filmes: um deles segue os pensamentos de
um trabalhador que se serve na cantina da empresa, explorando as razões
pelas quais faz as suas escolhas, desde o que usa para comer até ao que
escolhe para comer. Um outro vídeo mostra a perspetiva da empresa sobre a
importância nos detalhes, estabelecendo um paralelo com a produção de
Lema da
formação
Empatia com o
produto
Organização do
espaço
Reprodução de
cenários
quotidianos
Trabalhadores
colocados no
papel dos
consumidores
Visionamento
de filmes de
sensibilização
para a influência
dos detalhes
Vídeo
promocional da
empresa
187
vidro, sua evolução até ao cristal e os cuidados a ter. Trata-se de um vídeo
promocional da empresa, dedicado a esta temática.
O final do corredor em zig-zag desemboca numa sala grande, onde estão
desde peças de cristal a posters de carros produzidos na empresa. A pedido
do formador, os formandos identificam nos cartazes aquilo que são os
detalhes importantes para cada um, como um cliente que procura um carro,
relativamente aos exteriores e aos interiores do veículo. Os cristais parecem
funcionar aqui como uma metáfora da perfeição, na medida em que estão até
expostos em vitrinas, conjuntamente com miniaturas de carros da marca e do
Grupo Automóvel.
O formador pede dois voluntários para realizar um exercício: com apoio em
dois cockpits de dois produtos da fábrica, que têm 8 anos de diferença de
produção, dois trabalhadores fingem que vão de viagem ao volante. Em
conjunto com os outros colegas, motivados pelo formador, todos vão
identificando os detalhes de cada um dos exemplares, nomeadamente as
evoluções nos pormenores.
Visualizam-se depois spots publicitários, alguns deles não estão traduzidos
para Português, mas cujos diálogos o formador vai explicando. A questão dos
detalhes a que as campanhas dão valor e realce são apontadas, mais pelo
formador que pelos formandos, que vão anuindo com a cabeça. O grupo não
é muito participativo, o formador fala mais do que os formandos. Talvez esta
questão esteja diretamente relacionada com a curta duração da formação e
o facto de nãos e poder demorar muito tempo com cada observação ou
exercício. No entanto, o formador é bastante expressivo, bem-disposto na
forma como fala, fala muito e um pouco depressa, embora inteligível.
Nesse ponto da formação, o formador faz uma breve consideração sobre
como são os diferentes povos da Europa que compram carros da empresa e
como é distinta a sua relação com os carros. Estabelece relações com os
detalhes que são importantes para cada tipo de cliente e o papel que as
opções dadas têm na relação entre o cliente e a marca.
Perfeição
Comparação
com a Marca
Evolução dos
acabamentos
Vídeos
promocionais
Caraterísticas
do grupo
Perfil do
formador
Empresa e sua
expressão
global
Relação com os
produtos
internos
188
Por fim, há um espaço no fundo da sala onde estão várias portas de carro,
cada uma representando uma fase da sua construção: prensas, onde as peças
são moldadas e feitas; carroçarias, onde são soldadas umas às outras para
fazer as carroçarias dos carros; pintura, com as diferentes tintas e
componentes que lhe são aplicados; e montagem final, onde a porta é
montada com tudo o que precisa para ser funcional.
Formador vai explicando estas questões, chamando a atenção para detalhes
específicos e gerais que estão envolvidos em cada fase da produção. Por
exemplo, uma peça mal cortada nas prensas não se consegue montar, nas
carroçarias. Um grão de areia que entre no momento da peça ser cortada,
amolga a peça e estraga a ferramenta que a corta, o que significa que há
detalhes micro com proporções macro e vice-versa, a que cada trabalhador
deve ter atenção, numa lógica quer individual quer de coletivo.
A formação termina de forma rápida; formador agradece a presença de todos
e encerra a formação.
Focalização nos
detalhes
Observações:
Esta formação pareceu-me demasiado rápida para os conteúdos que aborda e até mesmo para
criar um dinamismo as atividades que o tema parece potenciar, se houvesse mais tempo.
Comentei esta questão com o coordenador que afirmou que “não podia estar mais de acordo”.
Diz que é por essa razão que pretendem alargá-la para dois dias, mas que o processo de conceção
dos referenciais e materiais ainda estava demorado.
189
Dados da realização das observações
Data: 11 abril de 2012
Horário: 7H00 às 15H30
Local: Centro de Treino da Produção
Atividade: Observação não participante do módulo Profiraum (Oficina Profissional) Duração: 7H
Participantes: 1 formadores; 1 tutor; 2 formandos
Registo de Observações Ideias-Chave/
Temáticas
Nota prévia
Para que esta formação aconteça, os líderes de equipa têm de poder
dispensar trabalhadores da linha, seja para a realizarem, seja para fazerem
tutoria a quem a está a realizar. Apenas 2 ou 3 formandos a fazem numa
sessão, e nem todos os dias se realiza. Esta foi a segunda vez que me desloquei
à fábrica para tentar observar esta modalidade de formação, uma vez que, na
maioria das vezes, só no próprio dia o CTP sabe se vai ter ou não trabalhadores
para a fazer. Questionado sobre as formas de organização deste módulo, o
coordenador apenas esclareceu que a sua realização depende das
necessidades sentidas na linha - de mais pessoal ou de mudança de funções,
por exemplo - e à medida dos pedidos da direção da Produção. Quer isto dizer
que é a Produção que define em que áreas/setores da produção se justifica
esta formação; os referenciais vão sendo criados à medida dessas
contingências, não me tendo sido explicado se esse trabalho de conceção é
feito antes ou depois da identificação das necessidades da produção.
……………………………………………………………………………………
Cerca das 7H00 o formador designado para o Profiraum obteve a informação
vinda da linha em como terá formandos.
Cerca das 7.15 reúnem-se no espaço da fábrica destinado ao efeito. Trata-se
de uma zona específica para o efeito na própria fábrica e não no CTP, num
dos extremos da linha de produção da montagem final. Os carros passam,
inclusive, por cima das nossas cabeças em linhas suspensas que os
transportam de uma zona para outra.
Dificuldades da
organização e
observação
deste módulo
Dependência da
Produção
Criação de
referenciais à
medida
Espaço da
formação na
linha de
produção
190
O espaço é de cerca de 50 m2, delimitado por placards informativos e de
trabalho (com grelhas para preenchimento), que funcionam como biombos
que delimitam o espaço destinado à formação. Existe um ruído de fundo
caraterístico do funcionamento da fábrica, mas que não impede a
comunicação. Apareceram dois trabalhadores para aprenderem estações
novas.
O espaço tem equipamentos específicos para a componente mais formal da
formação: um carro de treino; duas portas para simulação de estações da
Montagem Final – Doors; um banco de carro montado numa estrutura
construída para o efeito, para treino de torques (segundo o formador, de
tanto treinarem os torques no carro de treino, os parafusos e furações já não
estão em condições, dai a solução de colocar um banco de treino fora do
carro); algumas racks com materiais e ferramentas, organizadas na lógica dos
5S.
Segundo o que me é explicado, todo este equipamento é utilizado apenas na
versão estática do Profiraum, ou seja, quando a empresa encomenda a
formação específica de alguns postos de trabalho para alguns operadores, no
sentido de os preparar para a rotatividade de funções na linha. De outro
modo, a versão dinâmica do Profiraum não utiliza estes equipamentos,
porque os trabalhadores vão para os postos de trabalho que irão aprender
durante o dia. É o caso do Profiraum de hoje, pelo que o formador informa os
trabalhadores que terão de escolher uma estação que não conheçam para
aprenderem durante o dia.
Formador e formandos definem em conjunto as áreas e os postos de trabalho
para onde estes últimos se irão deslocar; formador distribui dois tipos de
identificadores, um para os que estão em formação e outro para entregarem
ao colega que o team leader designar como tutor. Só quando chegarem à
estação definida para treino é que o team leader respetivo designará o tutor
on the job para esse dia, que pode ser ele próprio ou não. O formador regista
num quadro de grandes dimensões (um dos placards já referidos)
informações recolhidas dos formandos: nome, posto de origem, posto de
Materiais e
equipamentos
Diferentes
versões do
Módulo
Organização
conjunta do
modo de
desenvolver a
formação
191
treino, data do Profiraum. Desse modo, qualquer pessoa que por ali passe fica
a saber onde pode encontrar os trabalhadores em formação on the job.
O ambiente é informal, o formador apenas salienta algumas questões
logísticas e técnicas sobre o que devem ter em consideração quando estão a
aprender um novo posto. De pé junto a um dos placards informativos, o
formador relembra algumas questões básicas, como terem de saber que
estação vão aprender, que ferramentas têm de saber usar e os materiais de
montagem, a que sequência da produção essa estação corresponde, entre
outros dados da linha de produção. Alguns dos conceitos que estão na base
destes cerca de 15 minutos de informação são os 5S, a utilização das folhas
de trabalho standard (SAB), os conceitos específicos do processo de produção
e objetivos da formação em causa.
O principal objetivo da formação, salientado pelo formador e registado num
dos placards informativos, é a “extensão sistemática de competências para as
áreas da produção”, a flexibilização de competências profissionais para
promover a rotatividade de postos, seja por razões levantadas pelos
operadores de linha, seja por questões de saúde ou ergonomia, seja pelas
exigências do próprio sistema de produção, do ciclo de encomendas e de
produção da fábrica.
Depois destas curtas informações, os trabalhadores dirigem-se sozinhos para
as estações previamente definidas, após terem definido como hora de
retorno ao espaço do Profiraum as 15H15, para balanço e feedback do dia de
formação. Não há qualquer interferência deste formador no modo como os
postos de trabalho vão ser ensinados aos trabalhadores em formação.
O formador troca algumas impressões comigo sobre a forma como esta
formação se desenrola. Salienta que a maior dificuldade é que a linha liberte
os trabalhadores, quer para fazerem quer para tutorarem o Profiraum. Referi
o risco destes trabalhadores em formação assumirem uma espécie de
substituição de operador por um dia, libertando o colega-tutor das suas
funções, mas o formador informou que, ao longo do dia, passa pelos postos
para ver como está a decorrer o treino.
Ambiente da
formação
Conceitos de
produção
Objetivo do
Módulo:
extensão
sistemática das
competências
Flexibilização e
suas motivações
(Produção,
saúde)
Dificuldades de
disponibilização
dos
trabalhadores
da linha para a
formação
No posto de
trabalho: treino
192
Por outro lado, quando as tarefas são mais simples, o trabalhador em
formação pode aprender vários postos de trabalho em vez de um só.
Salientou ainda o facto de agora os trabalhadores já se começarem a habituar
a esta formação e que é uma questão de mentalidade, que vai mudando
lentamente. Mas garantiu que nunca teve queixas de que os operadores-
tutores se “encostem” ao trabalho que está a ser aprendido pelos colegas em
formação.
De seguida, o formador passa por diversos espaços da fábrica, aproveitando
o tempo e o percurso de volta para o CTP para rever alguns placards de
auditorias de 5S, pela qual é responsável. Esta prática, que ele coordena,
desenvolve-se na fábrica há algum tempo, e implica responsabilizar as
equipas de trabalho pela organização, limpeza e tudo o que os 5S definem
para a otimização do posto de trabalho. Ciclicamente, ele passa pelas
estações de trabalho e confirma se um determinado nível dos 5S está a ser
conseguido ou não, assinala em folha própria, visível num placard perto dessa
estação de trabalho, e define com o team leader o prosseguimento da
metodologia para o nível seguinte dos 5S.
O formador refere que a intenção deste método é consciencializar, de forma
direta e objetiva, as equipas para a importância das metodologias de trabalho,
nomeadamente os 5S, referindo-se aos resultados (custos vs qualidade) da
sua implementação noutras empresas, bem como responsabilizar as equipas
pela implementação da técnica de organização dos postos de trabalho.
Passámos depois pelos dois postos designados para o Profiraum, confirmando
que o team leader de ambas as estações em aprendizagem tinha designado
um tutor; num dos casos era o próprio team leader. Em ambos os casos, os
operadores (tutores e em formação) não se conheciam. O trabalhador em
formação, num dos casos, estava já com as ferramentas de trabalho a
executar algumas operações guiado pelo colega tutor; no outro caso, o team
leader explicava os passos da operação a realizar. O formador do CTP não
interveio, apenas cumprimentou toda a gente, trocou algumas palavras (que
Aprendizagem
de vários postos
no mesmo dia
Mudança de
mentalidades
face à formação
Formador
coordenador da
implementação
dos 5S
Aplicação em
face dos
resultados
alcançados
Custos/qualidad
e
Funções do
tutor
193
não consegui perceber) com os tutores e ficou a observar durante alguns
minutos.
Já conheço bem este formador do CTP: dinamizou duas das sessões de
formação a que assisti e foi um dos formadores que entrevistei. É um dos que
há mais tempo está no CTP e que mais responsabilidades assume,
nomeadamente a do controlo da implementação dos 5S na fábrica. Esta
metodologia revela a íntima relação que existe entre o CTP e a gestão da área
da produção.
De regresso ao CTP, combinei com o formador regressar por duas vezes aos
postos de trabalho em que os trabalhadores estão a realizar o Profiraum: às
11H e às 14H.
Nas visitas à linha, pude confirmar aquilo que o formador me tinha dito antes:
num dos casos, o trabalhador já estava a aprender uma segunda operação da
linha, com um segundo tutor. O formador conversou por alguns minutos com
ambos e de seguida comentou comigo “Está tudo a correr bem”. No outro
caso, o trabalhador em formação continuava na mesma estação, mas estava
já a aprender outro posto de trabalho, orientado pelo mesmo tutor.
Na sequência destas visitas, questionei o formador sobre as formas de avaliar
esta estratégia de formação. Foi-me explicado que não fazem nenhuma
avaliação formal, mas que os tutores registam a formação. O CTP fica com a
informação e quem já teve formação em que posto de trabalho e, em caso de
necessidade, isso pode ajudar a reposicionar um trabalhador. Comenta ainda
que o Profiraum não acontece tantas vezes como seria desejável, mas que
isso tem tendência a mudar, até porque os team leaders têm verificado que
essa é uma “boa forma de aprender” e têm ficado mais abertos à
metodologia.
Às 15H15 é a hora do balanço final da formação. Os trabalhadores-formandos
reúnem-se com o formador do CTP no espaço do Profiraum, na fábrica. O
balanço feito é positivo: os trabalhadores sentem que, dessa forma,
aprenderam “a prática na prática”, e que se sentem aptos a desempenhar
essas funções. Não referem “abusos” por parte dos colegas que os tutoraram,
Relação entre a
Produção e o
CTP
Regresso aos
postos de
trabalho/treino
para observação
Avaliação da
formação
Avaliação
informal
Grau de adesão
ao Módulo
Dependência
dos team
leaders
Balanço final da
formação
194
antes pelo contrário, assinalam a boa vontade com que a tutoria foi feita e
expressam a opinião que “esta é a melhor forma de aprenderem novos postos
de trabalho”.
Cerca das 15H25 o formador deu por encerrado o dia de formação. Perguntei
se via algum impedimento para que pudesse ver mais uma formação destas,
uma vez que se desenrolava no espaço da linha e não queria ser vista como
intrusa. Sobre essa questão, o formador afirmou que estaria sempre
disponível para me acompanhar, dizendo que já ninguém me “estranha” pela
fábrica.
Falei um pouco mais sobre isso com o formador, assim como sobre o caráter
prático da formação do Profiraum. O formador confirmou que é a modalidade
em que há menos componente teórica, sendo quase totalmente uma
formação em ação. Referiu ainda que, para a aprendizagem sobre os
conceitos e as questões mais teóricas do sistema de produção, os
trabalhadores já passam pelos outros módulos do CTP, que apesar de serem
práticos têm sempre momentos mais teóricos, para ajudar a implementar
novos conceitos. Estas observações corroboram algumas das minhas
impressões sobre as formações que observei no CTP.
Reação da
empresa à
investigadora
Predomínio da
componente
prática
Implementação
de conceitos
Observações:
A intenção de voltar a observar este módulo prende-se sobretudo com a importância de
corroborar algumas impressões. Nomeadamente, verificar que diferenças existem em cada
sessão do módulo, uma vez que o formador referiu que o Profiraum vai sendo realizado à medida
das necessidades, que parecem estar dependentes da decisão da área de Produção e não de uma
calendarização predefinida.
No entanto, o teor da formação afasta-se nos restantes módulos, segue uma lógica de treino no
posto de trabalho, pelo que não integra o design da investigação. Seria praticamente impossível
acompanhar diretamente as atividade de formação realizadas no posto, saindo fora do âmbito
do protocolo, e levantava questões de restrição de observações que seriam de difícil resolução.
Seria, talvez, uma outra investigação, com outro enquadramento.
195
Dados da realização das observações
Data: 30 outubro de 2012
Horário: 7H00 às 15H30
Local: Centro de Treino da Produção
Atividade: Observação não participante do módulo Profiraum (Oficina Profissional) Duração: 7H
Participantes: 1 formadores; 1 formando
Registo de Observações Ideias-Chave/
Temáticas
Nota prévia
Tem sido muito difícil agendar uma segunda observação desta formação, tal
como foi complicado conseguir fazer a primeira (dia 11 de abril) porque só no
próprio dia é que o CTP sabe se vai ter pessoas para a realizar. Por esse
motivo, e porque pretendia seguir a metodologia de observações dos
restantes módulos e observar também duas sessões do Profiraum, combinei
com o coordenador para me informar no dia em que soubesse que ia decorrer
esta formação. Assim, cerca das 7H15 o coordenador contactou-me e cerca
de 30 minutos depois consegui estar na empresa para fazer a observação.
……………………………………………………………………………………
Quando cheguei, estava apenas um trabalhador-formando numa sala do CTP
com um formador. O formador apresentou-me ao formando e explicou-me
que esperava dois formandos mas que a produção não dispensou o segundo
elemento. Referiu-se às questões da dificuldade em articular a gestão da
produção com a formação. Pôs-me a par do que já tinham abordado: os
conceitos do sistema de produção do Grupo e que este Profiraum era
dedicado aos postos de trabalho relacionados com as cablagens (ligações
elétricas).
Estavam a comentar uma série de diapositivos projetados no quadro branco
da sala, um ao lado do outro, numa atitude bastante informal. E assim
prosseguiram, passando pelos 5S, os tipos de desperdício, os standards. O
formando é bastante interventivo, conversando naturalmente sobre o que vai
sendo projetado, dando exemplos que conhece da prática da linha. Parece já
ter alguma experiência na área.
Dificuldade de
planeamento na
observação
Contingências
da produção
afetam
organização da
produção
Espaço da
formação
Especificidade
desta sessão do
módulo
Componente
teórica centrada
nos conceitos
lean da
produção
196
À semelhança dos diapositivos usados noutras formações, estes são de
natureza ilustrativa, com imagens e pouco texto. O formador vai relacionando
as questões da qualidade com os custos e a segurança no trabalho,
nomeadamente para a saúde dos trabalhadores, mencionando algumas das
práticas mais comuns na fábrica e a forma como poderiam ser feitas com mais
eficácia.
O formando vai concordando com algumas observações e discordando de
outras, afirmando: “Não é fácil fazer isso dessa forma”, “Não deve haver duas
pessoas da linha que façam isso da mesma maneira”, “ Não é fácil pelo tempo
de demora numa estação”. Ou seja, contrapõe com as suas práticas e com
algumas realidades, vai dando outros pontos de vista sobre as mesmas
questões, com algumas das quais o formador também vai concordando. O
formador nunca deixa “cair” um comentário do formando, aproveitando
sempre o que este diz para avançar.
No final da conversa sobre os seis ou sete diapositivos projetados, o formador
resume aquilo que vai ser o resto do dia, salientando que é mais um dia de
sensibilização do que formação ativa, propriamente dita. Observo como este
início de Profiraum é diferente daquele que tinha observado antes.
O formador encerra o momento de formação em sala com um pequeno vídeo
sobre as consequências de trabalhos realizados com defeitos em cablagens.
No final o formando afirma “ Nós devíamos ver todas as estações da cablagem
para ter a noção do que se faz em todo o processo, isso evitava muita coisa.”
De seguida, cerca das 10H30, saímos para a zona da fábrica para observar
diversas estações e para que o formando possa propor alguns standards que
ajudem a melhorar os processos envolvidos. Na zona das cablagens,
observam e comentam as práticas de alguns postos e estações em que há
maior quantidade de fios para colocar, pelo que há maior probabilidade de
haver problemas, como cortes em fios ou passagens mal feitas. Durante
algum tempo, o formando fica com um dos elementos das equipas
observadas (fazendo o papel de tutor, embora durante muito menos tempo
do que na primeira observação que fiz deste módulo; não há intervenção
Semelhança
entre a
exposição e o
observado no
momento
expositivo de
outros módulos
Resistência aos
standards no
trabalho
Postura do
formador
Formação de
sensibilização
(diferente do
outro Profiraum
que observei)
Visionamento
de vídeo
ilustrativo do
tema da
formação
Standards
Discussão sobre
as práticas de
trabalho
197
direta no processo de trabalho); isto acontece por 2 vezes, em duas estações
diferentes.
Depois de uma pausa na visita às estações, o formador faculta documentação,
a saber:
• protocolo de roteamento da cablagem de uma zona em que verificaram
mais problemas;
• estudo sobre as fichas mais danificadas, com base nas zonas do carro com
maior incidência de problemas em cablagens;
• número de reparações da semana anterior, com gráfico de incidências
superiores a 2 e um outro gráfico relativo aos números de 2012;
• um exemplar de matriz de seguimento de problemas que surgem na linha.
O formador explica que estes documentos existem não só para identificar e
estudar os problemas, mas também para os partilhar com os operadores.
Dessa forma, procura criar-se uma maior sensibilização. Explica ainda que
estes momentos formativos são importantes para fazer um levantamento de
problemas, que o CTP procura passar ao Pilot Plant. Essa é a área da empresa
que faz o estudo sobre as possibilidades de melhoria nos processos. Formador
refere que as propostas de melhoria por vezes se arrastam muito tempo até
serem implementadas, porque implicam procedimentos, orçamentos e
custos.
Vai lendo os processos já elencados como sendo a melhorar nos documentos
que deu ao formando, comenta que departamentos são responsáveis por
cada alteração. Formando vai comentando e refere que já houve testes sobre
alguns dos problemas mencionados, no fundo confirmando que as questões
“não ficam só no papel”.
Antes de almoço, o formador ainda troca mais algumas ideias com o
formando, pedindo-lhe que dissemine a informação, uma vez que são poucos
os operadores a fazer esta ação de sensibilização. Formando responde que
“Primeiro é preciso cativar o team leader.” Riem-se ambos e concordam que
Análise de
documentos de
trabalho sobre
cablagens
Melhoria
contínua
Influência do
team leader na
mudança das
práticas
198
esse, por vezes, é o primeiro obstáculo a transpor nas melhorias que
pretendem.
……………………………………………………………………………………
Cerca das 12H30 regressamos os três ao espaço do CTP e encaminhamo-nos
para o espaço do Profiraum da fábrica, onde tinha estado na anterior
observação. Depois de mais uma referência aos pontos críticos da cablagem,
fazem (tanto o formando como o formador, talvez para que aquele não se
sinta tão observado; não coloquei essa questão) alguns exercícios práticos nos
equipamentos de treino disponíveis neste espaço (ver descrição do Profiraum
1), durante cerca de 1H de exercícios. Enquanto o fazem, trocam ideias sobre
as melhores formas de executar algumas operações sem danificar os fios e as
ligações.
Depois destes exercícios, o formador segue comigo e com o formando para
algumas das estações que observámos de manhã, com o intuito de filmar e
analisar o processo. A partir das imagens deste vídeo, com a duração de cerca
de 3 minutos, e já no CTP, o formador e o formando anotam alguns dos pontos
críticos num quadro flipchart, com algumas sugestões de melhoria. Uma vez
mais, a ideia que transmitem é a de dois colegas de trabalho à procura de
soluções para serem implementadas; aliás, o formador refere isso mesmo no
final do dia de formação, agradecendo a colaboração do colega.
Visita a postos
de trabalho de
cablagens, para
observação e
análise
Espaço do
Profiraum na
fábrica: treino
de operações de
cablagens
Objetivo de
sensibilização
para a melhoria
contínua
Relação de
identificação e
confiança
profissional
entre formador
e formando
Observações:
Este Profiraum não tem nenhuma semelhança com o outro a que assisti, que era totalmente
prático. Este centrou-se na observação, na análise de documentação, na reflexão do trabalhador
que foi moderada pelo formador e encaminhada para os conceitos de produção e as vantagens
da melhoria contínua.
Num momento de pausa, comentei isto com o formador que me disse que é uma outra estratégia
da empresa, que tem surtido algum efeito. No entanto, apenas 4 operadores, contando com o
formando de hoje, realizaram este Profiraum sobre cablagens. Esclarece-me que estas oficinas
profissionais são, no fundo, de metodologia livre, de acordo com as necessidades sentidas pela
Produção, incidindo em áreas em que mais problemas têm de ser resolvidos. Este esclarecimento
199
foi bastante pertinente e terei de tê-lo em consideração na caraterização desta modalidade de
formação.
Ambas se integram numa lógica de formação no e para o exercício de trabalho (como a tradução
do alemão indicia, aliás: profiraum = espaço profissional) mas têm métodos muito distintos.
Enquanto no primeiro caso observado, o objetivo evidente era que os trabalhadores
aprendessem novos postos de trabalho, neste segundo caso tratou-se de uma espécie de
“reciclagem” sobre ligações elétricas, focada na importância da qualidade e da melhoria
contínua. Foi notório que o formador se preocupou em proporcionar uma visão de conjunto
relativamente a todas as estações e postos de trabalho relacionados com as cablagens, de
maneira a sensibilizar o trabalhador para os problemas que afetam a qualidade dessas ligações.
Depois de ter observados dois exemplos tão diferentes de metodologias sob a mesma
designação, comentei com o formador que provavelmente iria encontrar um tipo de formação
diferente a cada observação, impressão eu o formador corroborou. A primeira que observei foi
mais prática, mergulhada no posto de trabalho, um exemplo de training on the job; esta segunda,
promoveu a reflexão para a mudança partindo dos espaços e situações do trabalho mas sem o
contacto direto, apenas baseada na experiência prévia.
Considerando que se integra numa outra tipologia de formação e que ia exigir outra metodologia
de investigação, não irei observar novas sessões deste módulo.
Também no que diz respeito aos restantes módulos, considero ter já um manancial de dados
diversificado, por um lado, e que se repete, por outro, pelo que não deverei realizar mais
observações, como já tinha percecionado antes de realizar a observação desta modalidade de
formação.
1
ANEXO 2 – ENTREVISTA AO COORDENADOR DO CENTRO DE TREINO DA PRODUÇÃO
Investigadora: Bom dia António1. Como já sabes, esta entrevista tem um carácter bastante
informal, a ideia é confirmar algumas coisas que … algumas perceções que eu tenho tido da
observação que tenho feito aqui na formação do CTP. Queria primeiro agradecer a tua
disponibilidade, queria explicitar que é, de facto, uma entrevista muito importante, na medida
em que vou confirmar algumas ideias e vou complementar outras, e portanto agradeço muito a
tua disponibilidade. Queria também assegurar-te que os dados que são aqui referidos são
confidenciais, são usados apenas no âmbito do estudo, não vão ser usados para mais nada e
inclusivamente o teu nome será mantido no anonimato. Queria começar por te perguntar uma
coisa muito simples, que é … basicamente, como é que vieste parar aqui ao CTP?
António: Então como é que eu vim parar ao CTP? (pausa) O CTP, como a gente já tem falado,
mas para ficar registado, começou a ser fundado nos finais de 2008, na altura só por um
manager, na altura pelo Amilcar Oliveira, começou a definir a estrutura, o que é que íamos fazer,
como é que íamos fazer. Ele trabalhou durante cerca de 3 meses sozinho, e depois ao fim desses
3 meses, portanto em dezembro, mais ou menos, dezembro de 2008, começou por convidar as
pessoas para a equipa que ele queria formar, para preencher as vagas da estrutura que tinha
criado. E o convite surgiu da parte dele, eu na altura trabalhava já noutro departamento, que
tem muito a ver … aliás, agora faz parte da mesma área, na altura não, agora já fazem parte da
mesma área, que eram os sistemas de produção, que ao fim e ao cabo é um departamento que
aborda toda a temática do sistema de produção, que depois nós tentamos também aqui
transmitir aos formandos. E foi nessa perspetiva que eu vim para cá, por já ter conhecimento da
produção, algum conhecimento de logística e também ter nos últimos anos o conhecimento do
1 Todos os nomes de pessoas e empresas mencionadas ao longo da entrevista foram substituídos por nomes fictícios.
Data de realização da entrevista: 29 de novembro de 2012
Duração: 44m 26seg
Local: Centro de Treino da Produção (CTP)
Entrevistado: Coordenador do CTP
2
sistema de produção, que depois me convidaram para vir para aqui. E para cá vim, na altura
como … como especialista, ou seja, como formador e ao mesmo tempo developer de ações de
formação, entretanto depois o Amilcar Oliveira, ao final de um ano, mais ou menos, a
organização achou por bem, e a meu ver com alguma razão, que não era um departamento que
necessitasse de uma posição de manager, e decidiram que o Amilcar iria ocupar outra posição e
que, dentro da equipa, se iria arranjar uma pessoa para coordenar o departamento e agora cá
estou, desde essa altura, desde outubro … outubro/novembro de 2010, cá estou como
coordenador, tendo entrado como formador.
Investigadora: Hum, hum… Olha, e a tua experiência profissional aqui dentro até aqui chegares,
achas que teve alguma influência na escolha da tua pessoa?
António: Teve … teve, teve, teve, porque toda a estrutura do CTP, atualmente, e desde o início,
é formada por pessoas que começaram na produção, ou seja, são todas pessoas que …uns
numas áreas, outros, noutras, que têm muita experiência de produção e que conhecem a
produção de fio a pavio, como se costuma dizer. E daí que eu diga que tem influência, porque
eu passei, desde que entrei para a ATRP, passei mais ou menos 8 anos na produção, depois
estive 2 anos e meio no planeamento logístico, depois estive mais 2 anos e meio a 3 anos nos
sistemas de produção, e depois com essa experiência toda acumulada acharam que era pessoa
indicada para ocupar este lugar. Tal e qual como os meus colegas, nós quando viemos eramos
… 12, todos vieram da produção. Todos eles. E inclusive o Amilcar Oliveira também era uma
pessoa que tinha estado muito tempo na produção, e também foi a pessoa que veio lançar o
departamento.
Investigadora: Hum, hum… E o teu percurso académico? Ou seja, o teu percurso escolar, até
chegares ao CTP e às funções que exerces e depois daí até ao momento, achas que tem alguma
influência?
António: Antes, o percurso anterior, eu acho que não teve grande influência. Porque eu quando
vim para aqui, aliás, quando vim para aqui acho que era na altura que estava a acabar o RVCC …
Investigadora: Hum, hum…
António: Ou seja, não teve grande influência…
Investigadora: O RVCC do secundário?
António: O RVCC do secundário, exatamente. Portanto, não teve grande influência na escolha.
3
Investigadora: Hum, hum…
António: Penso eu. Depois disso, o meu percurso, estou agora a tentar fazer a licenciatura, agora
já tem … agora já tem influência. Derivado à posição que ocupo, era necessário.
Investigadora: Hum, hum… Mas foi-te aconselhado, é isso?
António: Foi-me aconselhado. Foi-me aconselhado. E tive … dos vários … dos vários chefes que
já tive enquanto aqui neste departamento, um deles, uma das coisas que me aconselhou, se
bem que eu já tinha isso na ideia, quando acabei o RVCC, o próximo passo … (barulho de fundo
de carros em teste interrompe por uns segundos a conversa) pronto, isto não estava…
Investigadora: Não faz mal.
António: Já tinha planeado isso, eu, sozinho, e depois ainda tive mais um empurrãozinho, desse
chefe, na altura foi o Gilberto, o Dr. Gilberto, que deu o empurrãozinho final, mas já era, já era
minha começar a tirar a licenciatura.
Investigadora: E estás a fazer licenciatura em quê?
António: Tecnologia e Gestão Industrial, portanto é um curso noturno, no IPS, em Setúbal, e é
um curso que eu acho que … não só se adequa à minha posição aqui, mas …quase toda a ATRP
encaixa que nem uma luva.
Investigadora: É?
António: É, é um curso que tem, como o nome indica, gestão e depois tem as tecnologias, ou
seja, não é um curso de Engenharia pura, onde nós vamos aprender, ou ficar com mais
conhecimento ao nível das engenharias e daqueles pormenores da engenharia, não. Aborda,
vários temas, mas depois, por outro lado, dá-te os conhecimentos para gerir, gestão de equipas,
gestão de recursos humanos, gestão financeira, ou seja, é uma mistura que depois se adapta a
estas posições que nós temos aqui na ATRP, que são as posições de coordenação, de chefia, e
por aí a fora.
Investigadora: Ok. Então achas que também essa formação de nível superior te está a ajudar
nestas funções que agora desempenhas?
António: Sem dúvida …
Investigadora: Ou estas funções que desempenhas estão a ajudar-te lá…
4
António: São as duas coisas. Eu posso dizer que é as duas coisas. Há muita coisa que eu faço
aqui no meu dia-a-dia que depois me ajuda nos meus estudos, e há muita coisa que eu oiço
durante os estudos e depois vou estudando e depois me ajuda aqui no dia-a-dia. Portanto, há
um mix, que é muito interessante, e que dá bons resultados.
Investigadora: Só mais uma coisa relativamente a esta questão da tua formação prévia e da tua
formação contínua, no desempenho das tuas funções. Das formações que tu tiveste, porque eu
sei que tiveste algumas formações específicas para exerceres estas funções, o que é que
destacarias como tendo sido as formações mais marcantes, ou que mais importantes foram para
desenvolveres estas funções?
António: Bem, em primeiro lugar toda a formação que têm, a formação técnica, no início, por
parte da produção. Mas depois, agora já mais próximo da transição, toda a formação …e pode-
se dizer que a formação também é a experiência e depois o desenvolvimento daquilo que nós
absorvemos na formação, tudo o que tem a ver com o sistema de produção.
Investigadora: E tiveste essa formação onde?
António: Parte dela aqui na ATRP e parte dela na Alemanha. Algumas semanas numa fábrica da
AD, e depois mais algumas nas fábricas da Marca, mas foi por aí que …foi por aí que começou
tudo com o sistema de produção. É claro que depois, quando foi o arranque do CTP, nós … e
também como tu sabes e como se vê, as formações aqui no CTP são todas um bocadinho
importadas da Alemanha e depois adaptadas à nossa realidade. É óbvio que depois a parte da
formação que eu tive de ter nessa altura foi toda nas fábricas alemãs, para ver como é que
funcionava, qual era … qual era a dinâmica das formações lá para adaptarmos para aqui. É óbvio
que essa é a parte mais importante da formação toda, que eu tive aqui enquanto empregado da
ATRP para a função eu desempenho agora, se formos falar na outra formação toda, é óbvio que
se calhar já não me lembro nem de 50%, mas tive muita formação. Principalmente logo na
entrada, formação cá em Portugal, formação no estrangeiro, depois, já depois da produção
arrancar …
Investigadora: Desculpa interromper, estás a falar da tua entrada para a ATRP…
António: Estou a falar da entrada para a ATRP, exatamente. No início sem termos sequer
produção a decorrer, nós tivemos … eu, no meu caso, tive à volta de ano e meio só de formação.
Investigadora: E estás aqui desde o início…
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António: Estou aqui desde o início. Desde … 17 de maio de 93. Há muito tempo. Já vai fazer 20
anos que aqui trabalho. Nós … eu tive ano e meio só de formação, só formação. Entre o
estrangeiro e aqui dentro na ATRP, no IEFP em Setúbal, no IPS, em Lisboa… Nós tínhamos
formação em todo o lado. Técnica e comportamental. Depois, já depois de termos a produção a
andar, e com a evolução que nós fomos tendo na nossa carreira, eu entrei como team leader,
ou seja como chefe de equipa para a produção, depois passado um ano fui … passei a supervisor,
ou seja, já não tinha só uma equipa para chefiar, já tinha várias equipas para chefiar, e depois a
partir daí … a organização achava por bem que nós devíamos ter mais formação
comportamental, por causa da liderança e por aí fora, e tive também depois, é óbvio que
espaçado no tempo, mas muita, muita formação comportamental. Tive também formação
técnica, fiz o REFA … eu não sei se conheces o REFA, é um curso que é dado pela … Academia
luso … não é Academia … Associação de Comércio Luso-Alemã.
Investigadora: Hum, hum…
António: Que é um curso que é … alemão, mas que foi adaptado para nós, e é um curso que tem
muito também a ver com a gestão e com a otimização, tudo o que são processos de trabalho e
por aí a fora. Aborda o MTM, aborda as cargas de trabalho, a gestão do dia a dia, e foi um curso
que nos foi dado aqui dentro, na altura nós tínhamos 4 horas por dia, era um bocadinho durinho,
porque entravamos às 7 da manhã e à uma da tarde tínhamos de ir para sala ter formação, até
às 5 e tal da tarde, e era um bocadinho durinho, ainda levou cerca de 9 meses, portanto sempre
nesse regime, mas foi um curso que nos deu, a mim e aos meus colegas, conhecimentos muito
úteis para depois utilizarmos no dia a dia na produção. Pronto, e depois há os cursos que a ATRP
vai desencadeando, seja a nível técnico, seja a nível comportamental, ao longo dos anos, que
são dados em parceria com a Academia de Formação, e que normalmente são cursos que
abrangem os vários níveis, ou seja, os cursos para operadores, os cursos para especialistas, para
coordenadores, depois para managers e quase todos os anos há um tipo de curso desses, nós
costumamos chamar os pacotes, que é o que está a acontecer agora, o que eles chamam a
gestão avançada com liderança e a gestão avançada sem liderança, ou seja, com liderança é para
coordenadores e managers, e sem liderança será para os especialistas, mas são cursos que
abordam todas as temáticas, a resolução de problemas, o trabalho em equipa, e nos vamos
tendo constantemente atualizações nestes temas.
Investigadora: Hum, hum… Ok. António, então vamos mergulhar um bocadinho agora no CTP e
falar um bocadinho mais sobre esta estrutura. Lançava-te assim uma pergunta muito genérica.
Qual é a importância que tu achas que esta estrutura tem na empresa?
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António: Eu acho que tem, tem, tem muita importância, ou seja, tem ajudado, nos últimos anos
a empresa, não só a suportar a formação técnica que é necessária, porque, a meu ver, é muito
uma formação do tipo que nós ministramos aqui no CTP do que ter formação técnica…ela pode
ser técnica e dada por fornecedores, ou por entidades externas, mas a formação dada aqui, no
âmbito do Sistema de Produção é sempre coordenada com os elementos da produção, eu acho
que consegue preparar as pessoas para aquilo que depois encontram no dia-a-dia na linha de
produção, sendo que o nosso grupo alvo não só os operadores de produção, mas
maioritariamente são eles que vêm aqui ter a formação.
Investigadora: Hum, hum, certo.
António: E nesse aspeto tem contribuído também um bocadinho para a evolução das pessoas
no seu posto de trabalho e na sua carreira… e vai-lhes dando alguns conhecimentos que
eles…alguns já trabalham há tanto tempo como eu, se calhar, cá dentro, não faziam a mínima
ideia que havia coisas que se passavam no dia-a-dia deles que eles poderiam fazer um
bocadinho…de maneira diferente, tendo melhores resultados e principalmente, que é um ponto
forte que nós abordamos aqui, poupando-os a eles no aspeto ergonómico. Porquê? Porque as
pessoas habituam-se a fazer certa operação de tal maneira, e fazem-na durante anos, sem
sequer imaginarem que estão a causar problemas para eles. Eles fazem-na assim só porque lhes
dá mais jeito fazerem-na assim, e podem estar a criar graves problemas para a saúde, a nível
ergonómico, para eles. Quando vêm aqui têm uma perceção de que, se fizerem um bocadinho
diferente, não é preciso ser muito diferente, se mudarem ali qualquer coisa, podem atenuar os
efeitos prejudiciais que isso pode ter.
Investigadora: Dentro do plano de formação da empresa, há mais formação sem ser esta aqui
do CTP. Como é que tu distingues essas formações, ou como é que as articulas? Ou seja, dentro
do plano geral da formação da ATRP, para além desta formação, sabes, obviamente, que há
outras, como é que elas se distinguem e como é que elas se articulam?
António: Como é que elas se distinguem? Portanto, toda a formação aqui do CTP é da
responsabilidade da ATRP, minha enquanto coordenador do departamento e, é obvio, que os
Recursos Humanos têm aqui a sua responsabilidade também, mas é dada aqui. A que é externa
ao CTP, ou seja, externa à ATRP, ou seja, que é dada na Academia de Formação, que é dada por
fornecedores, é toda coordenada pelos Recursos Humanos e não passa nada pelo CTP. Essa é a
primeira distinção. Depois, nós aqui no CTP temos a formação…não podemos dizer que é a
formação do CTP, que é dada no âmbito geral, e depois temos a, a, a formação particular. Ou
seja, nós temos formação que é dada no CTP que é só dada internamente na ATRP, ou seja, não
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há comunicação para mais lado nenhum. Mas temos formação que é dada aqui no CTP e que
depois é submetida através da Academia de Formação ao IEFP. Essa é a formação que faz parte
toda…desde que esteja debaixo chapéu do sistema de produção é a formação que, como nós
costumamos dizer, que sai para fora. A grande distinção é aquela que é coordenada por nós e a
que é coordenada pelos Recursos Humanos. Os Recursos Humanos, neste momento, ficaram
um bocadinho, entre aspas, com tudo o que é formação comportamental e de línguas.
Basicamente, tudo o que é formação técnica passa por aqui. É óbvio que se for formação técnica
de um equipamento novo que venha para a fábrica, não somos nós que vamos dar a formação.
São contratados os fornecedores do equipamento e são eles que vão dar formação. Tudo o que
seja a outra formação técnica, normalmente é dada por aqui.
Investigadora: Vamos agora focar-nos um bocadinho nos grupos. De uma forma assim
resumida, porque também tenho essa informação de outras fontes e da minha informação, mas
como é que vocês costumam organizar os grupos de formação?
António: Os grupos de formação. Nós tentamos sempre, nem sempre isso é possível, mas nós
tentamos sempre… Se for uma formação que seja transversal à empresa, e convém explicar
porquê: nós temos as formações específicas, os Fundamental Skills da Montagem, são só,
maioritariamente, para pessoas da Montagem, os das prensas, para os das prensas, os do Body
para o Body, e por aí fora. Depois, temos outro tipo de formações, que nós chamamos de Lean
Training, ou seja, os Lean Games, a LEGO Line, o Truck Game, que são transversais à empresa. E
quando digo transversais, é de topo, e é do operador até ao plano médio. Se for uma formação
dessas, que é transversal, nós tentamos sempre que as equipas sejam multifuncionais, ou seja,
que tenham pessoas de todas as áreas. Até porque depois a experiência vivida durante os
módulos de formação é completamente diferente, se tivermos pessoas de várias áreas ou se
tivermos pessoas só de duas ou três áreas. A experiência conta muito para enriquecer a
formação. Porque depois eles trocam ideias e falam nas experiências que têm e é muito
enriquecedor. Portanto, nós tentamos sempre que seja, nem sempre conseguimos. Porque as
pessoas que vêm à formação do CTP têm que ser pessoas, principalmente as da produção, têm
que estar disponíveis na produção, ou seja, têm que ser pessoas em que eles têm um allowance
para as disponibilizar para a formação, e têm que as disponibilizar. E nem sempre isso é possível,
com a variação da produção e dos problemas que vão acontecendo no dia-a-dia, eles num dia
podem disponibilizar mais pessoas, noutros dias menos. Ou à semana. Umas semanas podem
disponibilizar mais, noutras podem menos. Agora, o que nós tentamos sempre é que sejam
multifuncionais. Nas outras formações que são específicas, como é óbvio, vêm as pessoas que
são selecionadas pela produção e vêm para essa formação só as daquela área. Quando eu digo
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selecionadas por eles, e é assim que funciona, nós na semana anterior aos módulos de formação
acontecerem, nós disponibilizamos uma série de vagas e são … as chefias das pessoas que as
vão nomear para virem à formação.
Investigadora: Quer da Produção, quer das outras áreas?
António: Quer da Produção, quer das outras áreas, sim.
Investigadora: E que outras áreas é que são chamadas?
António: Todas as áreas: as finanças, a logística, os recursos humanos, todas as áreas vêm fazer
formação aqui, principalmente as formação…o LEGO Line, os Lean Games, que são as formações
que são transversais a todo o pessoal da empresa e esse vêm, vêm cá todos.
Investigadora: E até que nível e hierarquia, tens noção?
António: Eu posso dizer que as primeiras sessões da LEGO Line começaram por ser dadas ao
Plant Manager e depois por aí abaixo.
Investigadora: Explica-me um bocadinho melhor o que é o Plant Manager…
António: O Plant Manager é … nós podemos chamar isso, portanto é o Diretor da fábrica, agora,
nesta altura, é o Miguel Almeida, na altura em que começámos com a LEGO Line, era o Heinz, e
que na altura, ele e os managers todos, foram as primeiras pessoas a terem, a experimentar. É
óbvio que, e nós tentamos fazer isso nos módulos todos, portanto, antes do módulos
começarem, vir cá…se não puder vir o Plant Manager, que venham, no mínimo, os managers
das áreas, para nós termos também um feedback da parte deles porque, como eu dizia há
bocado, as formações são importadas e depois adaptadas, e eles têm sempre um input positivo,
ou seja, têm sempre uma ideia de que é preciso “afinar aqui”, se calhar é melhor dizer ”isto”
antes de dizer “aquilo”, e há sempre…há sempre essas sessões…
Investigadora: Esse diálogo existe, então…
António: Esse diálogo existe. Há sempre essas sessões piloto antes das formações arrancarem
oficialmente, para haver aqui um acerto e para todos depois estarmos em sintonia quando a
formação é dada, para estarmos em sintonia com o que é a estratégia da fábrica. Porque, apesar
da formação ser maioritariamente técnica, passam-se aqui muitos conceitos que são conceitos
que são utilizados pela organização e que são conceitos estratégicos. E que é isso que se tenta
incutir nas pessoas, portanto, convém nós estarmos alinhados com aquilo que é pensamento da
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chefia, porque senão depois podemos estar a ir por um caminho errado. Daí que se faça isso no
início da cada formação.
Investigadora: Hum, hum. Bom, António, tenho tido a perceção de que, porque já tenho vindo
a acompanhar o CTP praticamente desde o início, não é, não foi logo em 2009, mas em 2010, e
tenho tido a noção de que o volume da formação tem vindo em crescendo. Isso confirma-se?
António: Sim, sim.
Investigadora: E como é que está agora previsto o futuro do peso do CTP no plano geral da
formação da empresa?
António: É verdade que tem vindo em crescendo, mas não … eu posso dizer que temos vindo
em crescendo, não porque tenhamos mais importância, não porque tenhamos mais formação,
mas sim por causa dos altos e baixos que a nossa indústria, que é a indústria automóvel, tem,
que é… nós temos os altos e baixos a nível de volume de produção e de necessidades de
produção. Sempre que nós temos pessoas disponíveis na produção para formação, as pessoas
vêm. Mas também com a identificação das necessidades que a produção de vez em quando
identifica e nos pede para nós desenvolvermos novos módulos de formação. Daí que tenha
vindo a crescer. O futuro? Eu prevejo um futuro risonho para o CTP, até porque já para o ano,
vamos arrancar agora logo no início do próximo ano com muita gente aqui, tal e qual como
arrancámos este ano, para o ano vamos arrancar também, um bocadinho devido à baixa de
volume, vamos ter agora no início do ano… ou seja, vamos baixar o volume de produção, vamos
ter mais pessoas disponíveis para frequentar o CTP. Eu acho que a razão do aumento de
formação aqui no CTP é uma mistura de duas coisas, ou seja, a identificação de necessidades de
formação diferentes, e daí terem vindo mais pessoas, e também depois a razão dos altos e
baixos. Fazendo um bocadinho o resumo deste ano, nós começámos, e eu tenho falado isso com
a minha equipa, nós começámos em janeiro, janeiro, fevereiro e março, foram três meses
caóticos …
Investigadora: Sim, eu acompanhei essa fase…
António: Não tínhamos mãos a medir!
Investigadora: Sim, sim…
António: Tínhamos muita gente aqui em formação. Depois, posso dizer que de abril a junho
estabilizou, e depois, como já se esperava, quase todos os anos é assim, a partir de julho
começou a decrescer. E a decrescer porquê? Por uma necessidade de reajustar os números da
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Produção, houve uma necessidade maior de pessoas na Produção, e se as pessoas já estavam
dentro a ATRP, não havia necessidade de se estar a contratar pessoas novas, então… Também
os números da formação pode-se dizer que estavam mais ou menos atingidos, ou seja, havia
uma previsão de que, com aquele ritmo, até ao fim do ano, se ia atingir os números sem
problemas nenhuns, então começou-se a cortar um bocadinho, entre aspas, na formação.
Decresceu um bocadinho de julho para cá. Agora, no final do ano, tem estado a aumentar outra
vez, mas pronto, agora falta-nos uma semana, já não vai haver grandes, grandes modificações.
Investigadora: Ok. Olha, ainda falando um bocadinho da formação, mas agora já de outro ponto
de vista, tendo mais a ver com as questões das metodologias, com a forma como a formação é
feita e se desenvolve. Tu que tens também formação nessa área, da gestão da formação e da
metodologia da formação, diz-me uma coisa: em que é que tu achas que a metodologia da
formação aqui no CTP é diferente do resto da formação que sabes que é promovida pela
empresa? Que é que tu destacarias como sendo assim a mais-valia nesta metodologia que vocês
usam?
António: A principal diferença que eu identifico aqui, e identifico em relação à ATRP e identifico
em relação às formações onde já participei nas empresas e de que tenho conhecimento, é o
dinamismo que nós empregamos na formação aqui diariamente. Ou seja, quando eu digo
dinamismo é porquê? Nós não temos, basicamente, nenhuma formação que as pessoas
cheguem aqui e se sentem 8 horas numa sala e estejam 8 horas a ouvir o formador a expor, a …
a fazer exposição de matéria. Não temos nenhuma. Todas as formações dadas aqui são
formações dinâmicas, quando eu digo dinâmicas, é óbvio, as pessoas vêm à sala, têm a parte
teórica, ouvem os conceitos, mas depois têm sempre aquilo que nós chamamos os jogos, que é
fora de sala, ou dentro de sala, alguns deles são feitos dentro de sala, mas têm os jogos para
conseguirem colocar em prática aquilo que ouvem na teoria. Ou seja, as pessoas durante a
formação têm logo um contacto com aquilo que estão a ouvir e que … estão, ou não, a
apreender. Mas têm um contacto direto. Alguns desses jogos têm relação direta com aquilo que
é a nossa Produção, ou seja, espelham aquilo que se passa no dia-a-dia da Produção, outros
deles não têm nada ver com … são, são jogos criados para que o conceito passe melhor para as
pessoas, mas que não têm nada a ver com fazer carros. Outros sim, como é a LEGO Line, que é
uma simulação autêntica de uma linha de produção. O jogo das caixas, já nem por isso, não é?
Portanto, este dinamismo que é empregue durante a formação é que aquilo que eu acho que é
… é aquilo que nos diferencia.
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Investigadora: Hum, hum. Ok. Existe uma espécie de dinâmica constante de melhoria contínua,
eu já percebi. Quer no vosso trabalho, quer na formação. E relativamente aos referenciais? O
que é que eu quero dizer com isto? Vocês têm referenciais, esses referenciais não são
construídos aqui, vocês recebem-nos, aplicam-nos, e como é que depois acontece? Vocês
adaptam-nos e informam a “casa mãe”? Não existe esse diálogo, por exemplo, sugestão de
melhoria daqui para lá? Como é que isso se processa?
António: Existe, existe. E fazes bem em fazer essa pergunta. Porque é assim, nós enquanto CTP,
pertencemos à ATRP. Todas as outras fábricas têm, com outro nome, não serão os CTPs, mas
serão Lean Centres, nós também vamos mudar o nosso nome agora para Lean Centre…
Investigadora: Ai é? Ah. Ok.
António: Agora no início do ano. Mas são os Lean Centres, serão os Lean Center Konzern, serão
centros de treino, todas as fábricas têm um. E depois nós temos um departamento central, que
é o Lean Center Konzern, que é em Wolfsburg, que é aí que, não são eles sozinhos que
desenvolvem as formações, é em coordenação com as fábricas, mas são eles que são, que
coordenam depois a distribuição das formações. Cada formação que é criada, ou seja, cada
módulo que é criado, tem sempre um “master”, ou seja, um “master” é o tal referencial por
onde nós nos vamos guiar. Não quer dizer que ele esteja em Wolfsburg. Eu posso dar um
exemplo: a LEGO Line foi desenvolvida em Ingolstadt2 e o referencial está lá, mas por exemplo
os Fundamental Skills da Montagem Final foi desenvolvido em Hanover, e ele está lá. Os Lean
Games foram desenvolvidos no Lean Center Konzern em Wolfsburg, e é lá que está o referencial.
Depois, nós, os coordenadores dos vários CTPs ou dos vários centros de treino das fábricas, têm
duas reuniões anuais a … a … em que se deslocam a uma das fábricas e vão visitar um dos centros
de treino, dessa fábrica, e vão ver as inovações, as melhorias feitas, e por aí fora. E estão em
constante …constantemente a contactar, até porque temos a nível informático uma aplicação
que é chamada o eRoom, ou seja, é uma sala electrónica, onde são depositados todos os
conteúdos das formações. Sempre que há uma atualização de qualquer conteúdo, ela é
colocada, depois de ser revista obviamente pelo Lean Center Konzern, é colocado lá. Depois aqui
há duas situações: ou é uma alteração que faz sentido para todas as fábricas e toda a gente
adapta, e informa que realmente adaptou e está a seguir aquela metodologia, ou não adapta,
porque pode ser uma coisa que não faça sentido para alguma das fábricas, mas normalmente
faz. Nós, enquanto contribuidores para esse processo, também quando fazemos aqui alguma
alteração, também informamos, e se, caso seja aprovado, também lá colocamos a nossa
2 “Casa mãe” da AD, que pertence ao Grupo Automóvel.
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alteração. Se bem que é um bocadinho difícil, porque, maioritariamente, o que lá está é em
Língua Alemã (risos), nós para importarmos ainda importamos em Alemão e traduzimos para o
Português, e tudo bem, quando é daqui para lá, das duas uma, ou colocamos lá em Inglês, ou se
vamos colocar em Português, quando muito, os colegas brasileiros vão usar. Todos os outros,
ninguém vai tocar naquilo. Mas pronto, a nível das melhorias, é assim que funciona. É óbvio que
nós também somos autónomos aqui para implementar melhorias. Nós estamos agora com …
para todos os Fundamental Skills, temos estado em conversa e mostrámos ao nosso
departamento de Recursos Humanos, que tem a parte da ergonomia, mostrámos tudo aquilo
que temos disponível ao nível da ergonomia, e de segurança, e vamos agora, dentro em breve,
fazer algumas pequenas alterações, não é muita coisa. Mas vamos fazer pequenas alterações a
tudo o que é os Fundamental Skills, para falarmos um bocadinho mais e mais especificamente
em segurança e em ergonomia.
Investigadora: Hum, hum…
António: Se bem que nós, nós … já era … já fazia parte dos conteúdos, mas eles acham que há
ali alguns melhoramentos a fazer, e é isso que nós vamos fazer.
Investigadora: Interessante. E entre os formadores do CTP, vocês têm momentos de reflexão
para melhoria contínua? É uma coisa mais informal de … vão passando, vão conversando …
António: Eu diria que é mais informal. Eu não posso dizer que, uma vez por mês, ou duas vezes
por mês, nos sentamos e vamos … não, isso não acontece. O que acontece, e é no dia-a-dia, e
tu, como sabes, a equipa aqui contacta constantemente, no dia-a-dia os formadores, eles
próprios vão vendo necessidade … epa temos ali alguma informação, ou que já está
desatualizada, ou que alguém falou nisto e deu esta ideia, e era bom … e depois falam uns com
os outros. E se houver ali …digamos que isto aqui é uma democracia sempre com direito à última
palavra! Mas desde que haja ali uma concordância ali da maior parte deles, em relação à
alteração, a alteração faz-se e atualiza-se. Uma das coisas que nós deixámos de fazer, porque
isto depois chegou a uma altura em que achámos que era exagerado, estabelecemos períodos
para as alterações. E isto porquê? Porque eles realmente achavam que havia necessidade de
alteração e depois começavam a alterar, a alterar… Ou seja, havia conteúdos, nomeadamente
nas apresentações, não na parte prática, mas na parte teórica, havia conteúdos que eram
alterados de semana a semana. E isso não faz muito sentido. Então o que é que estabelecemos?
As alterações, eles vão tomando nota daquilo que querem fazer e mais ou menos de dois em
dois, de três em três meses, faz-se uma alteração, altera-se a versão do documento. Isto para a
parte teórica. Quando é na parte prática, às vezes é mais rápido, porque são coisas, até porque
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têm de ser testadas depois … a parte teórica, eles chegam aqui e uma parte … para expor, na
parte prática eles têm que o testar antes. Ou seja, testam, deu resultado, já não se vai voltar
para trás, fica, fica, fica assim. Mas realmente eles têm essa autonomia. Agora quando eu digo
que é uma democracia com direito à última palavra, isso é assim: como eu digo, são uma equipa,
eles são muito coesos, uns percebem mais disto, outros percebem mais daquilo, mas depois
todos falam uns com os outros, todos partilham as ideias e normalmente chegam sempre a bom
entendimento. Uma das questões que levou a que se fizesse ele tal período de atualização, é
porque eles são todos muitos versáteis, não quer dizer que não haja uma pessoa que não tenha
mais experiência numa formação ou noutra, mas quase todos dão todas as formações. O que é
que poderia acontecer? Havia um que mexia numa apresentação, alterava qualquer coisa e por
alguma razão, outro colega que até estava no outro turno, não tinha conhecimento. Na semana
seguinte ia pegar naquilo e quando chegava ali, ups… E então decidiu-se fazer as coisas de uma
maneira, para já, mais espaçada, para não haver tanta alteração e também para dar tempo para
eles falarem uns com os outros e todos saberem a que nível é que as coisas estavam.
Investigadora: hum, hum… Por acaso há uma questão que eu acho que nunca te coloquei,
mesmo a título informal. Sabendo eu que a formação decorre nos dois turnos, tal como a
produção, nunca me foi possível assistir, por razões pessoais, não porque vocês não o tivessem
disponibilizado, assistir ao período da tarde/noite, mas os grupos são igualmente dinâmicos …
as atitudes são idênticas? Ou vocês notam diferença?
António: São, são. Com uma pequena diferença. É óbvio que o turno da tarde, não é, o turno
que começa às três e meia, tem muito pouca gente das áreas de apoio, ou seja, quando eu digo
as áreas de apoio são as logísticas …
Investigadora: Sim, sim.
António: Os Recursos Humanos, as Finanças, essas pessoas trabalham maioritariamente no
turno da manhã. Isso obriga a que os grupos da parte da tarde sejam maioritariamente da
produção, ou seja, o que é que depois de vez em quando nos falta aqui nesses grupos? Faltam-
nos as pessoas do Planeamento, faltam-nos as pessoas da Logística … não é que não venham,
vêm é com menos …porque eles também têm alguns a trabalhar, vêm é com menos frequência.
Então esses grupos são mais homogéneos, não são tão multifuncionais, são mais homogéneos,
é mais produção. E então aí as coisas de vez em quando, não é que não corram bem, mas não
há tanta partilha de ideias, não há tanta partilha de experiência, porque eles são todos
produção, partilham as experiências da produção e ficam por ali. Quando há os outros, há a
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partilha daquilo que é, que é feito fora da produção e por aí fora. Basicamente é essa a diferença,
mas não … não nos levanta grandes problemas.
Investigadora: Certo, hum, hum… António, um último conjunto de questões e que agora têm
mais a ver com a relação entre os objetivos da formação e os objetivos da empresa. Destes anos
em que isto se tem vindo a desenvolver, achas que a formação do CTP está simplesmente ao
serviço dos objetivos da produção, ou, a … existe outra, outra estratégia?
António: Não, a … a estratégia principal é, é, é a formação de … não só da produção, mas na, na,
na fábrica toda. Portanto, para todas as áreas. É óbvio que, como o nome indica e quando foi
formado, “centro de treino da produção”, ou seja, maioritariamente é produção. Os objetivos
da formação dada aqui é … é óbvio que é maioritariamente para a produção, para passar os
conceitos e as técnicas, mas também para o resto da fábrica para passar os conceitos, porque,
como eu digo, a maior parte dos conceitos que são aqui passados são conceitos do Sistema de
Produção que são estratégicos, não só para a fábrica, para a ATRP, mas também para o grupo
da Marca. Portanto, o objetivo principal dos centros de treino, não só deste, mas os das outras
fábricas também, é passar os conceitos e … e, do Sistema de Produção a todos os níveis, não só
para a produção.
Investigadora: Então quais é que são para ti as grandes finalidades do CTP?
António: Termos pessoas focadas naquilo que são os objetivos do Mach18… o Mach18 é uma
estratégia, que a Marca desenvolveu para atingir uma série de objetivos até 2018, e os quatro
principais são: ser o maior construtor a nível mundial, ter as melhores equipas, ou seja, os
melhores empregados, ter pessoas satisfeitas e ter a melhor qualidade. E é óbvio, no meio disso
tudo depois vêm os lucros, não é? (risos de ambos) Como não podia deixar de ser. Ou seja,
quando se definiu esta estratégia, que já foi definida já em dois mil e … sete, para aí, que se
começou a falar nisto, começaram-se a desenvolver algumas … algumas entidades e alguns
departamentos que dessem suporte a … a … ao desenvolvimento dessa estratégia. Um deles, foi
o Sistema de Produção. Depois do Sistema de Produção começou-se a ramificar uma série de
departamentos, alguns deles, os Centros de Treino. E esse é o principal objetivo de nós
existirmos, é estarmos aqui para que consigamos fazer com que as pessoas trabalhem de outra
maneira, não vou dizer que não, nós queremos que as pessoas trabalhem de outra maneira, a
questão do trabalho estandardizado, a questão dos 5S, da melhoria contínua, a … esse é o
principal objetivo do CTP.
Investigadora: Hum, hum… E esses objetivos são definidos anualmente? Semestralmente?
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António: Esses objetivos normalmente … anualmente. Não é normalmente, são mesmo
anualmente. Eu posso dizer que em 2007, quando se começou a falar nisto, a … a produção
anual, acho que na altura era de seis milhões e qualquer coisa, mas como nós entretanto
ultrapassamos esse número rapidamente, agora o objetivo para 2018 já não são os seis milhões,
já são dez milhões e qualquer coisa de carros.
Investigadora: Os objetivos também vão subindo…
António: Os objetivos também vão subindo, também vão a subir. Ou, e não era a primeira vez,
ou descendo se, se, se se verificar que eles são utópicos. Não é o caso. É tudo tangível, até ver.
Investigadora: Até ver, hum, hum. E os objetivos daqui do CTP, são definidos anualmente?
António: São definidos anualmente.
Investigadora: Por que área?
António: Pela área da Engenharia Industrial, à qual, à qual nós pertencemos.
Investigadora: Exato… e articula com os Recursos Humanos?
António: Articula com os Recursos Humanos, articula com a Academia de Formação, porque
tem que articular com a parte do IEFP, ou seja, a parte de construções de metal, porque nós …
portanto, toda a formação que é submetida ao IEFP é porque tem, tem …
Investigadora: É financiada …
António: É financiada. Daí que tenha de ser tudo articulado. Esse é um dos problemas que nós
também temos tido agora nos últimos anos, que é, com os cortes sucessivos … houve em 2011
logo, em 2012 houve mais cortes, para o ano ainda não tive notícia, mas provavelmente vai
haver na mesma, e quando eu digo cortes, são os cortes no total de horas que nós podemos dar,
ou seja, que nós podemos submeter para serem financiadas, são as tais horas que são dadas em
Pilar 1, que eu acho … que tens mais conhecimento ainda que eu disso. Tudo o que é Pilar 1 tem
vindo a ser cortado ao longo dos anos. E nós aqui, principalmente todas as que estão debaixo
do chapéu do Sistema de Produção, são, são … fazem parte do Pilar 1 e depois nós vamos
encolhendo o leque. Não nós, porque nós, as horas dadas aqui são uma fatia daquilo que é
atribuído à ATRP, e quando é atribuído à ATRP é atribuído aos Recursos Humanos, nós depois
vamos lá buscar a nossa fatia. A nossa fatia tem-se mantido igual todos os anos, não tem descido
nem subido, são as 40.000 horas por ano.
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Investigadora: Hum, hum…
António: 40.000 horas de formação. É óbvio que nós damos muito mais. Este ano, e eu não
posso dar o número com certeza, mas andamos à volta das sessenta e poucas mil já. Ou seja …
Investigadora: E isso no final do ano é acertado, ou é um número informal?
António: Não, não, no final do ano é tudo contabilizado e publicado. E publicado.
Investigadora: Publicado onde? Já agora …
António: Publicado nos números internos.
Investigadora: Ah, certo.
António: Portanto, não é, não é para fora, números internos.
Investigadora: Certo. A administração tem noção …
António: Tem noção daquilo que é feito …
Investigadora: … desse trabalho…
António: Aliás, têm que ter mesmo, principalmente na parte em que me diz a mim respeito e às
minhas pessoas. Nós, um dos objetivos, ou seja, os objetivos do CTP, também são os objetivos
das pessoas que estão no CTP, portanto …
Investigadora: Eu ia-te perguntar isso mesmo a seguir.
António: Um dos meus objetivos anuais é eu conseguir que sejam dadas aqui as 40.000 horas.
No mínimo.
Investigadora: Isso entra na tua avaliação? Como trabalhador …
António: Isso faz parte da minha avaliação de desempenho.
Investigadora: Certo …
António: Nós temos uma avaliação de desempenho anual, onde tem vários critérios e onde há
uma parte dos critérios que são os objetivos traçados no início do ano, portanto … eu, esse, o
das 40.000 horas, já sei que ele é certinho todos os anos. Não tem mexido, é certinho todos os
anos. Depois há outros objetivos, mas esse, das 40.000 horas, ou seja, a quantidade de horas de
formação que se dão aqui, é um dos objetivos que faz parte da minha avaliação de desempenho.
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Investigadora: E tu vês os formadores que trabalham contigo a … preocupados com essa
questão também, ou porque o volume de formação é tão grande, nem lhes ocorre?
António: A … eu não os vejo, ou seja, não os vejo preocupados com isso da mesma maneira que
eu. É … pode ser um bocadinho da mesma maneira que eu, mas porque eu também vou ao
encontro daquilo que eles pensam, que é … e isto, eu tenho dito isto desde o início que nós
viemos para cá, a … o CTP só existe enquanto houver formandos para o frequentarem. No dia
em que o … no dia em que a produção, ou no dia em que as outras áreas não colocarem aqui
pessoas, nós não estamos cá a fazer nada. E a preocupação deles, e nomeadamente nas fases
em que a formação decresce um bocadinho, essa é a preocupação dele, é “O que é que nós
vamos fazer agora, porque não estão cá a colocar pessoas, qualquer dia tiram-nos daqui,
qualquer dia acabam com isto …”. Eu tenho tentado, até porque, pronto, tenho provavelmente
… não é provavelmente, é porque de certeza tenho uma visão a …diferente da deles, porque,
para já porque tenho mais informação do que eles, e porque sei porque as coisas que
acontecem, provavelmente sei-as antes, muito antes deles, tenho tentado sempre mantê-los
a… descansados com isso, porque não vejo … desde que começámos até agora nunca vi perigar
a existência do CTP. Mesmo nas alturas em que isto está…está mais fraco, ou seja, que há menos
afluência de formandos aqui, mesmo nessas alturas eu tenho, eu sei que é temporário, porque
… e sei quais são as razões. E tento-lhes passar essa mensagem. Não é fácil. Há alturas em que
não é fácil, nomeadamente depois quando as pessoas trabalham cá dentro mas, e … e nós
sabemos que o trabalhar cá dentro às vezes não … não equivale a, a ter a informação toda. E
quando se vê certas notícias em jornais lá fora …
Investigadora: Hum…
António: As pessoas tremem um bocadinho. Porquê? Quando há que haver cortes, onde é que
há cortes? De certeza absoluta que não é nas pessoas da produção que têm de fazer os carros,
porque isso é o nosso core business, nós temos que fazer carros aqui todos os dias, e temos de
vender carros. Se há cortes a fazer ou se há reduções a fazer, será nas áreas de apoio. E o CTP
não deixa de ser uma área de apoio.
Investigadora: Hum, hum …
António: Apesar de dar muito apoio à produção, mas é uma área de apoio. E é esse, de vez em
quando, é esse sentimento que eu vejo nas pessoas, eu tento descansá-los, a… Eu nunca vi,
posso mesmo dizer que desde, desde 2009 que cá estou, nunca vi problemas nenhuns em
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relação a isso, ou seja, perigar a existência disto, ou saírem pessoas daqui, não, não há… Agora
que... que, pronto, às vezes leva-nos a pensar um bocadinho, leva.
Investigadora: De qualquer das maneiras, todos os… toda a equipa que está aqui no CTP é
constituída por pessoas que são efetivas da fábrica…?
António: Sim, sim, sim, não há nenhum que não…
Investigadora: O receio das pessoas é voltarem à linha?
António: O receio das pessoas … não, o voltarem à linha não, eles são todos pessoas de
produção, se em dois dias tivessem de voltar à linha e a fazer as suas antigas funções …
Investigadora: Voltavam…
António: Voltavam, sem problemas nenhuns e nós, mesmo os especialistas, a mesma coisa. Não,
não. A questão é, é mesmo o que é, o que é que isto pode dar?
Investigadora: De uma forma geral?
António: De uma forma geral, não é … Porque … ou seja, se tivermos numa fase de produção
alargada, e alguém que tenha uma estratégia diferente e diga “O CTP, toda a formação que é
dada no CTP, vai ser dada noutro lado, e o CTP a partir de agora é extinto”, eu não tenho dúvidas
nenhumas que não iriam despedir as pessoas que estão aqui. Iriam a …reintegrá-las nas equipas
e sem problema nenhum. Numa fase normal. Se for numa fase que estamos em redução, a gente
não sabe o que, o que é que pode acontecer, porque é assim, se estão a reduzir, estão a reduzir
em todo o lado, logo não iriam ter lugar para estas pessoas. Esse é o sentimento das pessoas e
é aquilo que eles às vezes podem … “o que é que nos vai acontecer?”. Não vai acontecer nada.
(risos)
Investigadora: Tranquilo.
António: Tranquilo.
Investigadora: António, olha, da minha parte, estou super esclarecida, agradeço-te imenso a
disponibilidade. Queria-te perguntar se queres colocar alguma questão, se tens alguma dúvida
…?
António: Não …
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Investigadora: Se queres acrescentar algum dado, que aches importante? Tendo em conta a
orientação da conversa…
António: Eu acho que … Acho que dissemos tudo.
Investigadora: Não? Achas que disseste tudo?
António: Acho que dissemos tudo. Sim.
Investigadora: Então, olha, agradeço-te mais uma vez a tua disponibilidade, está bem? E teres
aceite este desafio…
António: De nada. E não tenhas problemas…
Investigadora: E acho que isto vai ser mesmo importante para …
António: Se te esqueceste de alguma coisa …
Investigadora: Para o cruzamento dos dados.
António: Estamos cá na mesma. Não vamos embora.
Investigadora: Obrigada. (risos de ambos)
1
ANEXO 3 – ENTREVISTA A FORMADOR DO CENTRO DE TREINO DA PRODUÇÃO
Investigadora: Paulo1, em primeiro lugar queria-te agradecer a disponibilidade para fazeres esta
entrevista, a … e vocês têm sido extraordinários a acompanhar-me aqui pelo CTP nas formações
e tudo o mais, e a possibilidade de fazer esta entrevista no final das observações é muito
importante para o estudo, permite-me confirmar algumas coisas, a … ainda recolher alguns
dados que eu entretanto não teria apanhado pelo caminho, e portanto é mais uma entrevista
final de confirmação e de organização de ideias do que propriamente de levantamento de
dados, porque para isso eu também estive cá, a fazer as observações e a participar em algumas
formações. Mas é de facto um momento muito importante e agradeço-te muito a tua
disponibilidade, foste um dos formadores com quem estive …
Paulo: Sempre, sempre, sempre à vontade e já viste que foi com … com todo o gosto que eu tive
em dar o meu melhor …
Investigadora: … é verdade, é verdade …
Paulo: … de forma a que a coisa corresse …
Investigadora: … corresse bem, não é? A … queria-te assegurar que os dados são confidenciais,
são apenas utilizados no âmbito do estudo, portanto não vão ser utilizados para mais nada,
inclusivamente irei alterar, irei alterar o teu nome, para se manter no anonimato, isto para te
garantir que de facto é … é uma entrevista no âmbito do meu estudo e nada mais. Então se
calhar começava, Paulo, por te fazer uma pergunta muito geral mas que se calhar te vai dar
muito pano para … para mangas, para tu responderes, e que tem a ver com a forma como tu
vens parar ao CTP. Pedia-te para falares um bocadinho do teu percurso dentro e, e se quiseres
começar um bocadinho antes, do percurso profissional até chegares aqui à ATRP …
1 Todos os nomes de pessoas e empresas mencionadas ao longo da entrevista foram substituídos por nomes fictícios.
Data de realização da entrevista: 04 de dezembro de 2012
Duração: 31m 33seg
Local: Centro de Treino da Produção (CTP)
Entrevistado: Formador do CTP
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Paulo: … dentro da, daqui …
Investigadora: … e depois na ATRP, até chegares aqui ao, ao CTP …
Paulo: … estou quase a fazer o RVCC.
Investigadora: Ah! (risos)
Paulo: Queres antes, da ATRP, ou…
Investigadora: Um bocadinho, sim
Paulo: … antes da ATRP …
Investigadora: Sim, de uma forma resumida, de uma forma resumida.
Paulo: Antes da ATRP eu … trabalhei já noutra fábrica de automóveis. Na antiga Renault de
Setúbal.
Investigadora: Hum, hum.
Paulo: Trabalhei e estudei, até ao 9º ano, portanto o mundo automóvel para mim já não foi uma
estreia.
Investigadora: Hum, hum.
Paulo: Trabalhei como operador de linha de montagem final. Embora depois o meu estudo, eu
tirei o 9º ano, mas a …à noite, que era o antigo 3º ano do Curso geral de Mecânica.
Investigadora: Hum, hum. Ok.
Paulo: Portanto a minha formação é na base da mecânica.
Investigadora: Da mecânica. Hum, hum.
Paulo: Quando concorri para a ATRP, concorri como técnico de manutenção mecânico.
Investigadora: Hum, hum.
Paulo: Entrei, fui admitido em junho de 1993, mas não entrei a desempenhar as funções de
técnico de manutenção mecânico. Aproveitaram a minha experiência, dado que eu tinha já
trabalhado numa fábrica de automóveis, e colocaram-me como team leader.
Investigadora: Hum, hum.
3
Paulo: … a liderar uma equipa na altura de 54 pessoas.
Investigadora: Ena! (risos)
Paulo: Algo que não tinha nada a ver com aquilo que eu vinha à espera.
Investigadora: Hum, hum.
Paulo: Enfrentei o desafio com a maior naturalidade, dado que também me facultaram alguns
cursos a nível comportamental para liderar equipas …
Investigadora: Tiveste formação inicial, então …
Paulo: Exatamente.
Investigadora: Hum, hum.
Paulo: A … tive inclusive formação no estrangeiro, tive numa fábrica em Espanha mês e meio,
na FD Valência, depois estive mês e meio numa fábrica no México, em Hermosillo, para ver as
formas diferentes de comunicação entre equipas …
Investigadora: Hum, hum.
Paulo: …e dentro, mesmo dentro da fábrica
Investigadora: … da fábrica, hum, hum.
Paulo: Foi muito interessante e uma mais-valia, depois poder arrancar aqui na ATRP. Eu
desempenhei as funções de team leader até cerca mais ou menos de o ano 2000. A … a área
onde eu estava, que era o antigo underbody surge, que eu liderava 54 pessoas, era uma área
muito problemática na altura, com muitos acidentes, o trabalho era muito pesado e então a
forma que encontraram de melhorarmos foi automatizando. Conseguimos passar de equipas de
54 pessoas para 6 operadores,
Investigadora: Ena!
Paulo: … com o automatismo que fizemos.
Investigadora: Hum, hum.
Paulo: E então não fazia sentido um grande número de team leaders para tão poucas pessoas.
Eu aí vi a oportunidade de execu … , de, vá lá, de … fazer aquilo para o qual eu concorri para esta
casa, que foi como técnico manutenção mecânico.
4
Investigadora: Tu preferias?
Paulo: Preferia.
Investigadora: Que engraçado.
Paulo: Porque eu sempre fui uma pessoa do campo …
Investigadora: Hum, hum.
Paulo: Da ação.
Investigadora: Da ação. (risos)
Paulo: E então, tive a oportunidade de desenvolver os meus conhecimentos, dado que a
tecnologia é muito avançada, como tiveste oportunidade de ver.
Investigadora: Hum, hum.
Paulo: E tirei muita coisa dessas formações, a nível técnico. Programação de robots, de
Eletrónica, Eletricidade, Pneumática … a …Hidráulica, PLC’s, já podes ver o mundo …
Investigadora: … pois …
Paulo: … de formação que eu tive, que eu acrescentei já à minha experiência profissional. Enfim,
depois, a … mantive-me como técnico de manutenção nessas áreas, fiz depois o arranque das
linhas do Rodis, das linhas novas também como técnico de manutenção, e fiz o arranque das
linhas novas do Rapidus. E cheguei a uma altura que digo assim, a … eu agora precisava, sentia
que precisava de algo diferente. Já tinha liderado equipas, já tinha passados por tudo que era
manutenções nesta casa, sentia necessidade de algo diferente. E vi a oportunidade da formação.
Investigadora: Hum, hum.
Paulo: Soube que iria haver este departamento, concorri, fui aceite … cá estou.
Investigadora: Concorreste em que altura, no início em nov … em 2009?
Paulo: Em 2009. Dado que eu vim para este departamento logo … o departamento foi criado em
janeiro e eu entrei em final de fevereiro.
Investigadora: Ok. E ficaste com que formações? Nessa altura?
Paulo: Nessa altura, a … nós não tínhamos formação dada específica para cada área.
5
Investigadora: Certo.
Paulo: Estava, sabíamos que … o departamento estava de início, sabíamos que iria haver uma
formação de Body, uma formação de Montagem Final, não se falava sequer em formação de
Prensas nem de Pintura, mas pronto, a … e arrancamos com a formação do L.E.G.O.
Investigadora: Ah, ah.
Paulo: Que era para toda a gente da fábrica. E aí eu entrei com, com os meus colegas a dar
aquele tipo de formação, depois passamos para os Lean Games, e depois é que nasceu os
Fundamental Skills. Fundamental Skills Montagem Final, foi o primeiro, depois o de
Fundamental Skills Body. E agora estão a desenvolver o Fundamental Skills de Prensas e de
Pintura.
Investigadora: De Prensas?
Paulo: De Prensas.
Investigadora: E estás também ligado ao do Body, ou é impressão minha?
Paulo: A … sim, dado que eu, costumo dizer, fui o pai…
Investigadora: Pois… da área também, não é?
Paulo: O pai daquilo que ali está feito, eu conheço aquilo … de olhos fechados,
Investigadora: Hum, hum.
Paulo: … como tu já tiveste oportunidade de ver.
Investigadora: Sim, sim, sim.
Paulo: Ali não há segredos para mim.
Investigadora: Certo.
Paulo: Foi feito, foi construído por mim.
Investigadora: A zona toda das carroçarias, não é?
Paulo: Exatamente.
Investigadora: Hum, hum.
6
Paulo: Tal como vai acontecer o mesmo com as prensas, como eu vou fazer a certificação, como
eu estou a desenvolver da mesma forma como desenvolvi a de Body, também não vai haver
segredos algum …
Investigadora: Segredos. Hum, hum. Sentes de alguma forma que a tua experiência profissional
está a ser posta ao serviço da formação?
Paulo: Exatamente.
Investigadora: E isso é gratificante?
Paulo: É muito. A … fico muito satisfeito, inclusive agora com aquele colega que ali está…
Investigadora: A … o senhor brasileiro?
Paulo: O brasileiro.
Investigadora: Com quem estavas a conversar.
Paulo: Ele veio cá fazer a certificação, está a fazer o mesmo que eu fui fazer há 9 anos, ele veio
cá fazer connosco. E é muito gratificante ter algo assim do género.
Investigadora: Hum, hum. Passar o testemunho …
Paulo: Passar a nossa informação, aquilo que nós temos …
Investigadora: Certo.
Paulo: … de bom aos nossos colegas.
Investigadora: Hum, hum, muito interessante de facto. Olha, Paulo, agora pedia-te para con …
falares um bocadinho do teu percurso escolar ou académico, se não te importares. (risos)
Paulo: O meu percurso escolar …
Investigadora: Já percebi que até ao 9º ano fizeste um curso geral de Mecânica, não foi?
Paulo: Sim.
Investigadora: Ok. E depois disso?
Paulo: E depois parei, não estudei mais.
Investigadora: Paraste. Hum, hum.
7
Paulo: A … todas as formações que eu tirei para além, foram todas dentro desta casa.
Investigadora: Hum, hum.
Paulo: Complemento … comportamentais, ou profissionais a … na área …
Investigadora: …técnicas? Hum, hum.
Paulo: … técnicas. É isso. Não sei o que é que poderei acrescentar mais. Estou … iniciei o RVCC.
Investigadora: Hum, hum.
Paulo: Parei,
Investigadora: Hum, hum.
Paulo: … por questões familiares, infelizmente, parei.
Investigadora: Hum, hum.
Paulo: Tenciono acabá-lo. Não desisto … eu sou daquelas pessoas que pode levar tempo mas
nunca desiste de um objetivo.
Investigadora: Hum, hum.
Paulo: Pode levar tempo, mas … se eu tenho aquele objetivo eu tenho de chegar ao fim.
Investigadora: Hum, hum. Mas, a … é impressão minha ou também tinhas entrado através dos
Maiores de 23 para um curso superior?
Paulo: Não.
Investigadora: Foi impressão minha. Ok
Paulo: Foi impressão. Tive um familiar que entrou, mas não … não é que os meus familiares
diretos …
Investigadora: Então?
Paulo: … não me estejam a pressionar nesse aspeto, dado que veem em mim, não sei, talvez as
pessoas que estejam de fora julguem que eu tenha capacidades para tal.
Investigadora: Hum, hum.
8
Paulo: E, a … principalmente a minha esposa me esteja a pressionar para que eu acabe o ensino
…
Investigadora: O ensino secundário.
Paulo: O 12º, e concorra aos Mais de 23 ao ensino superior. É um desafio a pensar …
Investigadora: … a pensar …
Paulo: … mas eu primeiro quero que a minha filha acabe, para o ano há-de …
Investigadora: Ah.
Paulo: Felizmente há-de acabar este ano.
Investigadora: Hum, hum.
Paulo: E depois eu logo penso um bocadinho mais em mim. O meu objetivo principal é que ela
acabe agora o dela.
Investigadora: Hum… Muito bem. Mas de qualquer das maneiras, Paulo, isso significa que não
te sentes pressionado aqui pelo CTP para fazeres algum tipo de formação académica. Portanto,
isso não vos é … exigido.
Paulo: Não. Não. Não. Nunca, nunca foi posto em causa a minha escolaridade.
Investigadora: Hum, hum.
Paulo: A minha entrada no CTP tem a ver com … a minha grande experiência profissional.
Investigadora: Certo.
Paulo: Dado que passei de team leader, liderança de equipas e depois como técnico de
manutenção, e manutenção do Body é algo que abrange …
Investigadora: Claro.
Paulo: É um mundo.
Investigadora: É um mundo.
Paulo: Quem pertencer à manutenção do Body trabalha numa manutenção de qualquer fábrica.
9
Investigadora: Hum. Das formações que tu referiste há pouco, e tiveste muitas no âmbito aqui
da ATRP, a … destacavas assim alguma que te foi mais marcante, ou que achas que foi mais
importante para o teu desempenho profissional?
Paulo: Sim. A … Programação Robótica.
Investigadora: Hum, hum.
Paulo: É um desafio muito interessante, a … e cativa as pessoas. Motiva. Cativa e motiva as
pessoas, é uma formação muito interessante e dado que eu também acompanhei a evolução
dos robots.
Investigadora: Hum, hum.
Paulo: Começamos com um modelo muito antigo, fomos evoluindo até chegar aos dias de hoje.
E eu também fui acompanhando …
Investigadora: … foste acompanhando…
Paulo: … esse tipo de formação.
Investigadora: E para o desempenho das funções de formador? Que formação é que tu
destacavas assim mais?
Paulo: A … achei muito interessante o CAP.
Investigadora: O CAP. Hum, hum.
Paulo: O CAP para mim, a … se calhar foi das formações mais difíceis que eu tive.
Investigadora: Fizeste aqui na Academia de Formação?
Paulo: Trabalhosas.
Investigadora: Também fizeste aqui na Academia de Formação, foi isso?
Paulo: A … fiz na Academia de Formação e ATRP. A … difícil em questão de trabalho, porque nós
não fizemos pós laboral …
Investigadora: Certo …
Paulo: Fizemos com a … as horas, 8 horas contínuas
Investigadora: Certo …
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Paulo: Foi um bocadinho trabalhoso dado que tínhamos muito trabalho pós as 8 horas de
formação aqui …
Investigadora: Hum, hum…
Paulo: Preparar os trabalhos para apresentar dentro daquele período, que era um período
muito curto que tínhamos para fazer o … o curso.
Investigadora: O curso. Mas foi uma exigência aqui da … da … do CTP?
Paulo: Sim. Foi …
Investigadora: Para poderes passar a dar formação…
Paulo: Foi. Ninguém pode dar formação sem o CAP.
Investigadora: Hum.
Paulo: Essa sim, é uma exigência.
Investigadora: Hum, hum. Certo.
Paulo: Agora de resto …
Investigadora: De resto, não. Olha, vamos agora falar um bocadinho do CTP no âmbito do … da
empresa. Gostava de te perguntar qual é que é a importância que tu vês que o CTP tem para a
empresa, para o desenvolvimento da empresa, para o funcionamento da empresa?
Paulo: A … dado que esta empresa tem como o ponto forte o trabalho em equipa …
Investigadora: Hum, hum…
Paulo: O CTP tem sido importante aí dentro desse âmbito. Porquê? Porque como tem algumas
formações … conforme tiveste oportunidade de participar, viste que focamos muito o trabalho
em equipa.
Investigadora: Hum, hum.
Paulo: Portanto, a forma como as pessoas trabalham.
Investigadora: Hum, hum.
Paulo: E, se não conseguirmos trabalhar em equipa esta empresa não consegue chegar a lado
nenhum.
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Investigadora: Pois…
Paulo: É muito importante o trabalho em equipa. Eu costumo usar aqueles termos que por vezes
achas engraçado e costumo dizer que nós podemos ter o melhor jogador do mundo numa
equipa de 11 elementos, mas todos têm que jogar.
Investigadora: Pois …
Paulo: Porque senão ele sozinho não consegue fazer nada.
Investigadora: Hum, hum.
Paulo: E o CTP aí contem um papel muito importante. Foca muito o trabalho em equipa, junta
muito as pessoas e através disso conseguimos passar a nossa mensagem.
Investigadora: Mensagem… ok. A … Como é que tu distinguias a formação que é dada aqui da
formação que é promovida, por exemplo, pelos Recursos Humanos, e dada por … em articulação
com outras entidades formadoras, por exemplo a Academia de Formação? Tu que já passaste
por essas formações também, como é que tu distinguirias?
Paulo: A diferença … bom, a diferença principal para já que eu acho da … da… da entre o CTP e
a, as outras formações, é que esta é mesmo direcionada para as áreas específicas. Temos
formações direcionadas para aquele tipo de pessoas …
Investigadora: Hum, hum …
Paulo: As pessoas da Montagem Final têm uma formação específica para a Montagem Final;
pessoas de Body têm uma formação específica para o Body. Não é aquela … aquele tipo de
formação generalista …
Investigadora: Hum, hum …
Paulo: … em que não sei bem se se aplica a mim se para o meu colega.
Investigadora: Certo.
Paulo: A … é específico, aquela pessoa. Isto é a grande diferença que eu vejo neste tipo de …do
CTP …
Investigadora: Hum, hum …
12
Paulo: … para, por exemplo, uma Academia de Formação em que dão boa formação, mas é mais
generalista, vá lá.
Investigadora: Hum, hum.
Paulo: E esta é mais específica.
Investigadora: E essa também é a perceção que tens através dos formandos?
Paulo: Exato.
Investigadora: Dos … trabalhadores que vêm aqui fazer formação.
Paulo: Exato, exato.
Investigadora: Também é essa a sensação que eles transmitem?
Paulo: É.
Investigadora: Certo. Ok. Olha, tu sabes como é que são organizados os grupos de formação, eu
também sei, mas …vamos falar só um bocadinho sobre isso mais só para esclarecer algumas
coisas, sobretudo no que diz respeito às dificuldades que por vezes surgem. Portanto, os grupos
são constituídos, a ... tu sabes como, a ... fala-me um bocadinho disso. Como é que eles são
constituídos e que problemas é que problemas é que isso às vezes traz?
Paulo: Grupos de formação ou de formadores?
Investigadora: Formandos. Estamos a falar de grupos de formação …
Paulo: Formandos …
Investigadora: Sim.
Paulo: A … no nosso caso, e … é muito difícil es … dado que, são operadores de linha …
Investigadora: Hum, hum …
Paulo: Que estão des … destinados a um certo e determinado posto de trabalho. Para retirar
uma pessoa de um posto de trabalho e colocar, por exemplo, 5 dias em Fundamental Skills, é
muito. Tem que haver alguém que o vá substituir.
Investigadora: Hum, hum.
Paulo: Se eu necessito de 10 pessoas diárias, tem que haver um excedente de dez pessoas …
13
Investigadora: O que pode ser complicado …
Paulo: Exatamente. O que se torna muito complicado muitas vezes, é não haver pessoas que
possam substituir naqueles postos de trabalho para libertar esse grupo para ter formação. É aí
a nossa grande dificuldade. Por vezes.
Investigadora: E … e sobre a heterogeneidade do grupo, ou seja o facto de às vezes o grupo ser
constituído por pessoas … não estou a falar dos Fundamental Skills, estou a falar das outras mais
genéricas, não …
Paulo: Mais genéricas …
Investigadora: … serem constituídos por pessoas que vêm de outras áreas, para além da
Produção. Achas isso uma mais-valia …?
Paulo: É, eu acho uma mais-valia, porque dá a conhecer a … a áreas de departamento de apoio
aquilo, a nossa realidade, aquilo que se passa no nosso dia-a-dia, têm acesso a determinados
pontos da fábrica porque, por exemplo, uma pessoa dos Recursos Humanos não tem noção de
certos e determinados problemas que se passam no Body ou na Pintura, e assim ao termos um
grupo que abrange todas as áreas da fábrica, conseguimos focar um bocadinho de cada área e
aí as pessoas tomarem conhecimento, vá lá … generalista, sobre alguns problemas do chão de
fábrica.
Investigadora: Do chão de fábrica, e isso é importante …
Paulo: É muito importante.
Investigadora: Achas que melhora também a …
Paulo: Melhora …
Investigadora: … a visão e … o desempenho das pessoas …
Paulo: … melhora, até mesmo o diálogo por vezes entre áreas.
Investigadora: Hum, hum… Pois de facto isso é …
Paulo: As áreas conheçam os pro …a … umas às outras de forma diferente.
Investigadora: Certo. E isso é …
Paulo: “Ah, eu pensava que aquela área era melhor que a minha” … não.
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Investigadora: Hum.
Paulo: Às vezes é um engano.
Investigadora: Portanto, a formação também serve um bocadinho para as pessoas dialogarem
sobre a realidade da fábrica …
Paulo: Exatamente. E terem um conhecimento geral de todas as áreas da fábrica. Porque …
sabes que há áreas restritas nesta fábrica …
Investigadora: Claro …
Paulo: … que nem toda a gente tem acesso, e através da formação conseguimos abrir um
bocadinho a janela …
Investigadora: … hum, hum …
Paulo: … e transmitir um pouco daquilo que se passa em todas as áreas.
Investigadora: Boa, boa. Olha, a … como é que tu vês o futuro do CTP em termos de volume de
formação? Achas que vai continuar a crescer? Ele tem vindo a crescer, não é?
Paulo: Tem vindo a crescer a … não sei se tiveste dados, os dados deste ano se tiveste acesso,
mas quando chegámos a meio do ano já tínhamos …
Investigadora: … já tinham ultrapassado as metas.
Paulo: … hum, a meta …
Investigadora: Já sei, já sei …
Paulo: … a, o que é muito bom a … vejo um bom futuro, muito trabalhoso para nós. (risos)
Investigadora: (risos)
Paulo: Muito trabalhoso para nós, mau para a fábrica.
Investigadora: Certo. Explica lá um bocadinho melhor isso …
Paulo: Porquê? Vai … vai haver um decréscimo de Produção, vai haver um excedente de pessoas.
Investigadora: Hum, hum. Portante aquele problema que tu colocavas há bocadinho …
Paulo: … há pouco, vai deixar de existir.
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Investigadora: E vai ser o problema ao contrário …
Paulo: Vai, exato. Onde é que essas, onde é que o excedente de pessoas virá cair? Virá cair na
formação. O que é muito bom, o que é muito bom para nós e para as pessoas, o que é mau para
a fábrica.
Investigadora: Hum, hum.
Paulo: Temos que ver as coisas do ponto de vista global. Para mim, a … seria bom era estarmos
sempre com o mesmo nível e Produção e termos cá as pessoas em formação.
Investigadora: Hum, hum.
Paulo: Para termos um excedente de pessoas em formação, algo corre mal na produção…
Investigadora: … na produção. Ninguém sabe. Vocês têm essa noção, da relação entre a
formação e a …
Paulo: Exatamente. Exato …
Investigadora: … e a Produção.
Paulo: Epa, somos pessoas que viemos de lá de dentro …
Investigadora: Claro.
Paulo: Eu costumo dizer que estamos um bocadinho de fora, mas não.
Investigadora: Hum.
Paulo: Estamos lá fora cá dentro!
Investigadora: … lá fora cá dentro!
Paulo: E então temos essa noção, a gente sabe, daí … uma vantagem das pessoas de linha,
pessoas de Produção que estão na formação, sabem sempre os problemas que existem nas
áreas em mandarem pessoas para a formação!
Investigadora: Claro.
Paulo: A gente já sabe, só vêm pessoas para a formação se houver excedente. Não há área
nenhuma que vá libertar pessoas para formação e depois não tenha pessoas para produzir.
Investigadora: Precisamente. É evidente …
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Paulo: Não faz sentido!
Investigadora: Claro, claro …
Paulo: Então o futuro, o futuro próximo e que espero que seja não muito prolongado, mas os
dois próximos anos vão ser dois anos com muita formação nesta casa.
Investigadora: Hum, hum. A … Paulo, queria-te agora falar um bocadinho sobre … a forma como
esta, como esta formação chega até ao CTP. São vocês na … ou melhor, eu tenho conhecimento
que não são vocês que definem os referenciais de formação, portanto os planos de formação
vêm …
Paulo: Vêm de Wo … vêm da casa-mãe.
Investigadora: Da casa-mãe.
Paulo: Da casa-mãe … a … pegando um pouco no conceito da TT …
Investigadora: Hum …
Paulo: … e já que quer ser líder mundial, tem que ser …
Investigadora: … convém aprender …
Paulo: … exactamente, com aqueles que já o atingiram há algum tempo …
Investigadora: Pois …
Paulo: … chegou à conclusão que para atingir um elevado número de produção com um certo
grau de qualidade, as pessoas têm que ter formação. E têm que ter formação segundo uns
princ… uns padrões.
Investigadora: Hum, hum.
Paulo: E então criou em todas as fábricas os Centros de Treino, com formações específicas,
standard. A formação que é dada na ATRP, é dada em todas as fábricas do Grupo. Nos mesmos
moldes.
Investigadora: E é igual?
Paulo: Igual. Varia a linguagem.
Investigadora: Varia a linguagem. E os instrumentos de treino?
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Paulo: São precisamente iguais. Adaptados apenas aos modelos de cada fábrica …
Investigadora: Hum, hum …
Paulo: Mas, é precisamente igual. Aquilo que tiveste oportunidade de ver aqui, vais a Hannover
vês igual, vais a Espanha vês igual, e agora tens o exemplo dos colegas do Brasil …
Investigadora: Que vieram cá …
Paulo: … que vieram cá ver o que é que nós temos para fazer igual e dar da mesma forma.
Investigadora: Certo. Ok. Então e vocês quando detetam que alguma coisa poderia ser mudada
na formação, relativamente aos padrões que vos chegam às mãos, fazem essas adaptações, ou
não?
Paulo: às vezes, se não fugir muito do standard …
Investigadora: … do standard … exato, hum, hum …
Paulo: … fazemos as nossas, ou seja metemos a nossa … o nosso toque pessoal.
Investigadora: Certo.
Paulo: Mas não podemos fugir muito do standard.
Investigadora: Certo.
Paulo: … do standard da Marca.
Investigadora: Isso numa lógica de melhoria contínua, é isso?
Paulo: Sim.
Investigadora: E depois vocês reportam? A … à casa-mãe antes de … ou sugestões de melhoria…
Paulo: Sim. Viste a nossa linha de LEGO?
Investigadora: Sim, fiz. Vi e fiz, sim.
Paulo: Gostaste?
Investigadora: Muito. Achei muito interessante.
Paulo: Aquela linha foi construída … também tem lá o meu toque pessoal.
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Investigadora: Hum, hum …
Paulo: E viste que o carro anda num tapete?
Investigadora: Certo.
Paulo: Foi a primeira fábrica do Grupo em que a linha, o carro anda num tapete.
Investigadora: Ai que engraçado, não andava num tapete?
Paulo: Não, os tabuleiros eram passados de mão em mão …
Investigadora: À mão. Certo.
Paulo: E eu disse assim: “Não faz sentido estarmos a fazer uma simulação de uma linha real,
dado que vamos arrancar com uma linha única com um tapete, porque é que nós não colocamos
o carro a andar no tapete?”. “Olhe, boa ideia.” Fizemos o tapete, automatizamos a linha, só que
depois tivemos que participar à casa-mãe.
Investigadora: Certo.
Paulo: A casa-mãe achou uma ideia excelente, pediu-nos todos os dados, todo, todo o esquema
do processo …
Investigadora: Certo.
Paulo: … e mandou implementar nas outras fábricas …
Investigadora: Muito interessante.
Paulo: …aquilo que nós fizemos com a nossa linha de L.E.G.O.
Investigadora: Muito interessante, porque isso é mesmo então uma lógica de diálogo …
Paulo: … e de melhoria.
Investigadora: De melhoria contínua.
Paulo: E de melhoria contínua.
Investigadora: Certo.
Paulo: Aproveitar aquela ideia e desenvolver para todas as outras fábricas.
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Investigadora: Vocês têm muito essa preocupação metodológica? Quando detetam que alguma
coisa não é muito adaptável aqui à realidade, têm a preocupação e dialogar uns com os outros?
Paulo: Sim.
Investigadora: … para melhorar?
Paulo: Temos, temos. Esse é um ponto que é muito importante.
Investigadora: Também existe trabalho de equipa entre os formadores …
Paulo: Exatamente. Não faz sentido estarmos a falar de algo que não, que não tem assim grande
cabimento.
Investigadora: Certo.
Paulo: Temos que ajustar e … sermos objetivos.
Investigadora: Hum, hum.
Paulo: Adaptar aquilo que nos faz falta.
Investigadora: Portanto, não faz sentido falar de coisas que não têm cabimento, melhor é
ajustar.
Paulo: Claro, ajustar.
Investigadora: Não é? Dialogando entre vocês … ok. A … olha, como é que feita aqui a avaliação
da formação?
Paulo: A avaliação da formação, logo … a primeira logo a avaliação da formação é feita pelos
formandos.
Investigadora: Certo.
Paulo: Eles são os primeiros a avaliar a formação, através daquele feedback …
Investigadora: … que é feito no final, que eu vi …
Paulo: … através de um formulário que eles têm que preencher …
Investigadora: Hum, hum …
Paulo: … que depois é entregue nos Recursos Humanos …
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Investigadora: Hum, hum …
Paulo: … aquele feedback passa por nós mas é entregue nos Recursos Humanos, com a avaliação
do formador.
Investigadora: Certo.
Paulo: Depois, a nível de fábrica, a … ainda há pouco o meu colega do Brasil me perguntou como
é que nós sabíamos se estávamos a ter resultados ou não.
Investigadora: Isso é uma questão muito importante, como é que vocês sabem?
Paulo: Como é que nós sabemos…? Nós sabemos através dos resultados finais da Qualidade …
Investigadora: Hum … hum, hum.
Paulo: … e conseguimos passar de … CRC de, são carros bem feitos à primeira, de 75% para 84%,
por exemplo.
Investigadora: E acham que isso tem uma relação direta …
Paulo: E … Exatamente, com a formação.
Investigadora: Hum, hum.
Paulo: Através da formação nós conseguimos melhorar bastante os nossos padrões superiores.
Investigadora: Interessante. E relativamente à vossa própria avaliação enquanto trabalhadores?
Paulo: A … no feedback também que os formandos fazem, está a avaliação da formação e tem
uma parte que faz a avaliação do formador.
Investigadora: Do formador. (em simultâneo com o Paulo)
Paulo: Através daquele feedback nós conseguimos ver quais são os pontos que temos a
melhorar.
Investigadora: E vocês são avaliados em função disso?
Paulo: Também.
Investigadora: Também?
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Paulo: Também, dado que a … faz parte vais chegar à nossa chefia a avaliação dos formandos e
através disso, dessa avaliação dos formandos eles conseguem fazer o plano de avaliação…
Investigadora: Certo.
Paulo: dos formadores…
Investigadora: Dos formadores, não é? Portanto, vocês são avaliados pelas metas concretas …
Paulo: Exatamente …
Investigadora: …pelo volume de formação, que como disseste há bocadinho é ultrapassado logo
a meio do ano … não é?
Paulo: Exato, o que é muito bom.
Investigadora: E depois … e depois também pela … reação dos formandos à própria …
Paulo: … dos formandos à própria a … à própria formação.
Investigadora: Hum… formação.
Paulo: Como é que o formador reage perante um …
Investigadora: … hum, hum. OK. Depois por outro lado há então esse lado da avaliação dos
resultados que é vocês perceberem na linha como é que os resultados melhoraram …
Paulo: Exatamente, no campo.
Investigadora: … em termos de qualidade, em função da formação.
Paulo: … no campo, no campo.
Investigadora: Certo. Muito interessante. Olha, a … eu penso que tu já focaste um bocadinho
esta questão, mas queria só aprofundar um bocadinho mais, a … quais são para ti as grandes
finalidades aqui da formação do CTP?
Paulo: A finalidade principal de todas estas formações, tem como objetivo o Sistema de
Produção … da Marca …
Investigadora: Hum … em termos quê, de conceitos …?
Paulo: De conceito, ideologia …
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Investigadora: Hum, hum …
Paulo: … e há um ponto que é muito focado em todas as formações que tem a ver com a
estandardização.
Investigadora: Certo …
Paulo: A … existe um grande, um … como é que hei-de dizer... (pausa prolongada) falta-me a
palavra … um dos objetivos da Marca é que todas as fábricas trabalhem de uma forma standard.
Investigadora: Hum, hum …
Paulo: Standard seja aplicado em todas as fábricas, todos os processos sejam, sejam iguais em
todas as fábricas dado que … é que vamos ter agora uma plataforma standard para todos os
carros.
Investigadora: Uma plataforma? Como assim?
Paulo: A … igual, todos os carros vão partir, vão nascer da mesma plataforma, foi criado um
standard para todas as plataformas dos carros da Marca, daí veres a importância que eles dão
aos standards. Portanto, estandardizar o produto, estandardizar a fábrica e estandardizar os
meios de fabrico.
Investigadora: Certo.
Paulo: Aí é que está o grande objetivo da, da Marca, e é o grande objetivo da formação, é
trabalharmos os standards.
Investigadora: E na lógica … e qual é o objetivo que tu achas que está por detrás disso? Paulo,
já agora, perguntava a tua opinião.
Paulo: Eu diria que é uma melhoria a nível de qualidade …
Investigadora: Hum, hum …
Paulo: … e produzir a mais baixo custo.
Investigadora: Hum, ok.
Paulo: Tem a ver com custos de produção e melhoria dos padrões de qualidade. Se trabalharmos
com uma base em standards, conseguimos rapidamente identificar os nossos problemas.
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Investigadora: Pois, faz sentido… ok. A … olha a … vocês têm conhecimento, enquanto
formadores, como é que são definidas as metas anuais de formação para o CTP?
Paulo: Sim. A … geralmente no início do ano fazemos, temos uma reunião com, com a chefia,
onde é apresentado o programa anual … (barulho de fundo não permite perceber uma palavra)
e lá aparecem os números, os objetivos da … para a formação do nosso, para o ano inteiro.
Investigadora: Ok. Depois o António divide por …
Paulo: Exatamente…
Investigadora: … pela equipa de formadores…?
Paulo: … por áreas
Investigadora: Por áreas.
Paulo: Por áreas. Cada área, é claro que estou a falar nas formações específicas … das áreas …
Investigadora: Sim …
Paulo: … nem todas as áreas têm o mesmo número de pessoas, há áreas que têm mais horas de
formação, outras que têm menos.
Investigadora: Como a Montagem Final …
Paulo: Exato.
Investigadora: … por exemplo…
Paulo: … têm duas mil e, dois mil e tal operadores …
Investigadora: Claro …
Paulo: … e as Prensas têm 120.
Investigadora: Pois com certeza. Hão-de ter menos …
Paulo: … horas de …
Investigadora: …horas de formação.
Paulo: … horas de formação (investigadora e Paulo em simultâneo). Têm que ser divididas …
Investigadora: Claro.
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Paulo: … mediante o público-alvo.
Investigadora: Certo. Olha, assim antes de acabar ia-te fazer um desafio. Se te, se tu quisesses
caracterizar a formação do CTP numa ou duas palavras, quais é que tu escolhias, por exemplo,
se quisesses completar a frase: ” A formação do CTP é …”
Paulo: Best in Class.
Investigadora: É quê?
Paulo: Best in Class.
Investigadora: Best in Class… Explica lá um bocadinho isso.
Paulo: A … é muito boa.
Investigadora: É muito boa. Muito bem.
Paulo: É muito boa. A … fiquei satisfeito com este tipo de formação, e a forma como nós estamos
a passar e, fico muito satisfeito com o feedback de algumas pessoas.
Investigadora: Das pessoas …
Paulo: Isso é o fundamental, já que a formação é para as pessoas a … fico, sinto-me realizado
quando chego ao fim de uma formação e vejo que o feedback é muito positivo, as pessoas …
Investigadora: O que é que eles costumam dizer?
Paulo: Ficam satisfeitos, nunca … para já a pessoa quando entra aqui entra pouco recetivo,
porque julga que é daquelas formações de “encher balão”, de “encher pneu”, como se diz na
gíria (risos de ambos). É! A … estou a falar na linguagem, de linha…
Investigadora: Sim …
Paulo: … e depois veem que são abordados aqueles assuntos que eles nunca imaginariam e que
são usados no dia-a-dia!
Investigadora: Certo.
Paulo: Eles ficam extremamente satisfeitos, e toda a gente diz, mesmo as pessoas que cá estão
há 20 anos como eu nesta casa, “Eu aprendi algo.” Isso …
Investigadora: Isso é muito importante, não é?
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Paulo: É muito importante. E deixa-me muito satisfeito.
Investigadora: É para continuares aqui?
Paulo: É para continuar, exato.
Investigadora: Se tivesses que escolher entre continuares aqui e voltares à linha?
Paulo: A … a linha tinha de me fazer uma proposta muito interessante!
Investigadora: Tinha de te fazer uma proposta muito interessante, não é? (em simultâneo com
o final da frase do Paulo, entre sorrisos de ambos.) Olha, Paulo, queres acrescentar alguma
coisa?
Paulo: A … não.
Investigadora: Não?
Paulo: Desejo-te as maiores felicidades.
Investigadora: Ah, obrigada, obrigada.
Paulo: Que tudo corra bem…
Investigadora: Eu é que tenho a agradecer, Paulo, que isto… sei que às vezes pode ser …
Paulo: Espero que o meu contributo que tenha sido …
Investigadora: Foi, foi, seguramente!
Paulo: … uma mais-valia …
Investigadora: Como formador, e foste o “meu” formador (risos)…
Paulo: Como mais valia espero que o meu contributo …
Investigadora: Agradeço imenso. Agradeço imenso a disponibilidade. Agradeço imenso a
objetividade com que respondeste às coisas que eu te fui perguntando …
Paulo: (ininteligível o que diz)
Investigadora: Foste bastante sintético e muito, e muito concreto naquilo que disseste …
Paulo: Isso a … não sei se é uma particularidade minha, não gosto muito da (faz movimentos
circulares com as mãos, indicando conversa “enrolada”)
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Investigadora: Não, foi …
Paulo: …mesmo, como te disse …
Investigadora: … não, foi excelente.
Paulo: … eu a dar a formação, eu a dar a formação, a …
Investigadora: És um homem das práticas, como tu dizes, não é?
Paulo: Exato, exato. Temos que ser práticos e objetivos.
Investigadora: Sim, sim … isso nota-se. Muito obrigada, está bem?
Paulo: De nada.
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1
ANEXO 4 – ENTREVISTA A FORMADOR DO CENTRO DE TREINO DA PRODUÇÃO
Investigadora: Marco1, olha … em primeiro lugar queria-te agradecer a disponibilidade para
fazeres esta entrevista, queria-te explicar que a entrevista não é propriamente uma entrevista
de recolha extensiva de dados, na medida em que já estive aqui cerca de um ano e meio a
observar. É mais uma entrevista de confirmação de algumas coisas que eu fui percebendo e
também de recolha de alguma informação mais a título pessoal. Queria-te garantir que os dados
são confidenciais, são apenas usados para o estudo em causa, não vou usar os dados para mais
nada e que o teu nome será substituído e mantido no anonimato, portanto, as entrevistas
seguem esta lógica e … e é para te assegurar mesmo essa confidencialidade e o anonimato. Ok?
A primeira questão eu te queria colocar, é uma questão muito genérica, e que tem a ver com o
teu percurso até chegares aqui ao CTP. Se tu não te importares, falavas-me um bocadinho sobre
esse percurso até chegares aqui?
Marco: A pergunta que eu te faço também é, o meu percurso a nível só, a nível da ATRP, ou o
meu percurso externo, antes da ATRP? Também é importante, se calhar, não sei se será, se não
é.
Investigadora: A mim interessam-me as duas coisas …
Marco: As duas coisas.
Investigadora: Começas por onde achares melhor.
Marco: Bom, digamos que o meu percurso profissional começou há muitos anos atrás, comecei
por trabalhar na Força Aérea, onde tirei um curso de mecânico de material aéreo e digamos que
foi a minha escola para tudo aquilo que, ou grande parte daquilo que eu faço nos dias de hoje.
Tive lá cinco anos, fui mecânico de motores, C730, depois fui para o voo, andei, fui tripulante
1 Todos os nomes de pessoas e empresas mencionadas ao longo da entrevista foram substituídos por nomes fictícios.
Data de realização da entrevista: 04 de dezembro de 2012
Duração: 39m 37seg
Local: Centro de Treino da Produção (CTP)
Entrevistado: Formador do CTP
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durante dois anos e meio, e digamos que foi uma grande escola que eu tive, mesmo a nível de
disciplina e de rigor para aquilo que nós fazemos aqui, que é o que se pretende transmitir às
pessoas. Depois, andei dois anitos um bocado perdido, ou seja, saí da Força Aérea e fui para o
Aeroporto trabalhar, mas aquilo não correu lá muito bem. Digamos que aí foi só mais o
conhecer, o ter o know-how de como é que funciona o Aeroporto … a, existe muita pressão lá,
não tenho dúvidas nenhumas, se aqui existe, lá também existe, até que, em 96, eu vim para a
ATRP. Vim às escuras, posso dizer que nunca tinha visto uma fábrica de automóveis, concorri à
ATRP e, a … apresentei o meu currículo. Poderá ter sido uma mais-valia, de tal forma que, eu fiz
os psicotécnicos e depois … vim logo para uma área de reparações. Ou seja, eu não entrei
diretamente para uma linha, entrei para uma área de reparações, que era o LCD, onde me
mantive um ano e tal a trabalhar, e que fazia grandes reparações, ou seja, fazia reparações do
género de substituir caixas de velocidades, motores, tudo o que tinha a ver com mecânica, nós
cá dentro chamamos chassi. A … depois essa área foi absorvida pela zona 15, que é uma área
idêntica a esta que eu tinha falado, onde me mantive a trabalhar praticamente até vir para o
CTP. O que aconteceu durante estes anos todos em que eu estive na zona 15, digamos que passei
por vários, dentro da zona 15, que era uma área de reparações, passei por várias áreas, ou seja,
tive em reparações de chassi, em reparações de tream, reparações elétricas, reparações de ar
condicionado, portanto isto sempre relacionado com o carro. Em, 2005, a … fui para a linha, não
quer dizer que eu nunca tivesse estado na linha, mas fui para a linha três meses, porque havia
excesso de pessoas na zona onde eu estava e, para não mandarem as pessoas embora, íamos
para a linha. Estive três meses, foram três meses que foram esgotantes a nível físico, mas foram
… digamos muito interessantes a nível profissional, porque deu para assimilar o que é a linha. A
linha, existe um grande espírito de camaradagem, estamos muito restritos ao tempo, sete horas
são sete horas, não é sete e um nem sete e dois, e cá está, talvez daí a tal história de disciplina
que eu trouxe da Força Aérea, para mim isto não me ser estranho, a … depois estive três meses
lá e regressei novamente à zona 15. Em setembro desse ano, o meu chefe disse-me que eu ia
começar a fazer reparações nos carros matriculados, ou seja, desde 2005 até 2009, eu estive a
fazer reparações nos carros matriculados. O que é que são os carros matriculados? São aqueles
carros que foram produzidos na nossa fábrica, eram matriculados por mim, fazia as revisões,
fazia as reparações de avarias, e estive neste serviço até 2009, altura em que ingressei no CTP,
e desde 2009, vai agora em janeiro fazer 4 anos, estou aqui como formador a … para mim é uma
experiência nova e se me perguntassem há 5 anos que eu iria ser formador, garantidamente a
resposta era não. Era, de certeza absoluta, era isso que eu responderia.
Investigadora: E agora? Se te perguntassem se tu querias voltar…
3
Marco: Se eu queria voltar à produção?
Investigadora: Ao teu trabalho anterior …
Marco: Claro que não vou dizer que não, nem vou dizer que sim. Como perspetiva de carreira,
não … para voltar para a produção e eventualmente fazer aquilo que fazia … não diria que não,
mas gostaria de subir um pouquinho mais,
Investigadora: Hum, hum …
Marco: Porque isto a gente tem objetivos na vida. Enquanto estava nas reparações, o meu
objetivo era chegar ao topo de carreira como reparador, mas a partir do momento que venho
para aqui, o topo de carreira já passa a ser um bocadinho mais acima, claro que a gente vai
tentar atingir esse degrau. Se eu gostava de voltar à produção? A … não.
Investigadora: Não. (risos de ambos)
Marco: Digamos que … não, porquê? Eu estive desde 2005 até agora, embora tivesse ligado à
produção, eu já não trabalhava para a produção.
Investigadora: Hum, hum …
Marco: Eu estava a trabalhar para os Recursos Humanos em que … as coisas não estavam
dependentes de outras pessoas, eu sabia o que é que tinha de fazer, a equipa com quem eu
trabalhava era uma equipa pequena, mas todos nós sabíamos o que é que tínhamos de fazer,
não precisava que me mandassem fazer algo, eu sabia que tinha de fazer aquilo, acabava, ia
buscar outro serviço …
Investigadora: Pois …
Marco: … e assim sucessivamente. Ou seja, havia um bom espírito de equipa. Só que este serviço
depois passou para a alçada da AVSN, e eu vim para este departamento.
Investigadora: Olha, consegues resumir-me agora um pouco o teu percurso escolar ou
académico?
Marco: Sim, posso dizer que … mais ou menos … portanto eu tenho o 12º, concluí-o com o RVCC,
faltava-me uma disciplina de 11º e as três de 12º, na altura em que eu fiz o 12º eram só três
disciplinas. A … comecei na altura, fiz até ao 9º ano sem grandes problemas, embora as médias
não fossem assim grandes … grandes médias, mas andava na ordem dos 13, 14, a … e depois fui
para o 10º ano, e esse 10º ano digamos que … obcecado pela história da Força Aérea, fui para
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uma área que era a Saúde, na altura era Científico-Naturais, a Área A, a … não correu bem, não
correu porque … eu queria ser piloto, tinha que ter a Área A, só que as disciplinas eram muito
duras, tinha … duras, quer dizer, difíceis, e tinha que ter por exemplo Matemática, Física e
Química, digamos que não são disciplinas fáceis. Resolvi voltar atrás, ou seja, considerei aquele
ano como perdido, voltei ao 10º ano novamente para a Área B, e entrei na altura para uma área
de Científico-Tecnológica, que era a área de Construção Civil, entrei na área de construção civil,
mas como, sempre com segunda intenção de ir para a Força Aérea, e depois para,
eventualmente, ir para um técnico. Só que as médias eram muito altas, e apesar de eu ter uma
média de … à opção de específica de 15 … 15, não … 15, exatamente, 15 ou 17, agora já não me
lembro, mas tinha as outras disciplinas por trás, que eram Matemáticas e Físicas, que andavam
dos 12 e 13 e não deu para entrar no técnico, que eram 16 ou 17 na altura …
Investigadora: Hum, hum…
Marco: Era muito alto, Não entrei, ficou por aí. Inscrevi-me na Força Aérea e pronto, a partir daí
… foi o meu percurso.
Investigadora: Fizeste o RVCC há quanto tempo?
Marco: Olha, fiz o RVCC na altura em que vim aqui para o departamento, foi em 2009, e foi salvo
erro com a equipa da “Bússola” do CNO do Seixal.
Investigadora: Hum, hum… ok. Fizeste mesmo o RVCC ou fizeste substituição das disciplinas em
falta por módulos de formação?
Marco: Não, não, não fiz em módulos. É, o meu objetivo seria fazer por módulos, eu poderia de
fazer, salvo erro, quatro, até cinco módulos, mas eu não optei porquê? Porque cada módulo,
salvo erro, eram 50 horas …
Investigadora: Sim …
Marco: E eu teria de disponibilizar 200 horas. Ora na altura estava a arrancar aqui no Centro de
Treino, sempre à tarde, os módulos eram à tarde, ou seja, era incompatível, o horário que eu
tinha aqui com o horário que eu teria que frequentar lá no CNO, neste caso, seria no Seixal …
optei por fazer o RVCC. Eu preferia ter feito os módulos …
Investigadora: Hum, hum.
Marco: Garantidamente teria tido algo mais interessante, assim tive que expor ... expor, não,
não vou dizer expor, tive que contar a história da minha vida …
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Investigadora: Certo.
Marco: … a ver se … se era certificado, não é certificado, se era reconhecido.
Investigadora: Sim, sim. Reconhecido, validado, certificado.
Marco: Exatamente … de, as equivalências, e fui, pronto. Pensei que era mais complicado, mas
não…
Investigadora: Não foi muito complicado. Olha, Marco, e aqui, e no âmbito do teu trabalho na
ATRP, até chegares ao CTP, e depois do CTP … podes-me falar um bocadinho da formação
profissional eu foste tendo? Do que te, agora, recordares?
Marco: A nível interno?
Investigadora: Sim.
Marco: É assim, eu posso dizer que em 97 eu fiz uma formação de 80 horas de hidráulica,
pneumática e eletrónica. Tudo isto porquê? Na altura estava na área de reparações, como eu te
disse, e foi uma altura em que … a … para subir de … de … de nível salarial eu teria de ter alguma
formação deste género.
Investigadora: Hum, hum.
Marco: E fui fazer essa formação. Tirando essa, tive algumas formações ministradas pela
Academia de Formação, na altura, por colegas meus que trabalhavam cá, que foi o PQO,
também tive 16 horas, a … tive o TPM, tive os 5s, as URQs, são aquelas que me … aquelas
formações de que eu me recordo agora. Tirando isso, depois há aquelas formações do TOJ, que
é o Training on Job, mas que não … é apenas aprender um posto de trabalho.
Investigadora: Hum, hum.
Marco: E depois de estares aqui no CTP? Ou melhor, para desenvolveres estas funções, tiveste
alguma formação específica?
Marco: Exatamente. Portanto, para ser formador, tive que ir tirar o CAP.
Investigadora: Ok…
Marco: Foram 92 horas, portanto eu primeiro vim para cá e depois logo nessa semana fui tirar
o CAP. Foi uma formação que eu achei interessante, mas também, a … foi muito concentrada e
muito, muito teórica. Achei a formação … stressante, para mim foi muito stressante, uma
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formação stressante. Foram três semanas seguidas, afeta … digamos que eu sou uma pessoa um
pouco nervosa, vá, vamos dizer assim, e afetou-me com o sistema nervoso. Mas consegui, mas
foi a formação eu tive para vir a ser formador.
Investigadora: E fizeste essa formação onde? Desculpa interromper-te.
Marco: Aqui na ATRP, mas foi a Academia de Formação que a ministrou.
Investigadora: Certo, hum, hum…
Marco: Depois disso, a nível interno, não fiz mais nenhuma formação, ou seja, tenho muita
formação, mas sou eu que a ministro.
Investigadora: Hum, hum. (risos de ambos)
Marco: Depois, fiz agora há relativamente pouco tempo, há um ano, estive duas semanas em
Pamplona, a receber informação, ou formação, sobre uma formação eu estou a desenvolver
agora aqui no Centro de Treino, e em maio deste ano também fui três dias à Alemanha ter uma
formação de moderador de Kascade. Portanto, é mais ou menos as formações que eu tenho
tido aqui na ATRP. De resto, mais ou menos… não tenho tido mais nada.
Investigadora: Hum, hum. Destacas assim alguma que tenha sido mais importante, ou que tenha
influenciado mais o teu desempenho como formador?
Marco: O CAP foi importante.
Investigadora: Hum, hum …
Marco: O CAP é importante porque nos ensina técnicas de … como gerir uma formação, quebrar
alguns conflitos, porque existem às vezes nas formações, principalmente essas técnicas. O resto
depois vem com a experiência. E também … transmitiu-nos como é que as coisas funcionam, o
que é que são os conteúdos programáticos, o que é que são … o plano de sessão, coisas desse
género. Na altura não fazia a mínima ideia, como te disse eu vim de uma área de reparações,
duma produção, que não, nem sonhava a mínima ideia que viria a ser formador, agora
considero-me formador, na altura diria que não. A … agora mais recentemente, e lembrei-me
agora, ando a frequentar aulas de Inglês, tinha algum conhecimento de Inglês, mas achava que
estava um bocadinho fraquinho e então estou a tirar … os níveis de Inglês, já fiz o A1, agora
estou no A2, quero ver se faço as 40 horas de Conversação e o B2, ou seja, mas aqui mais como,
a nível pessoal do que a nível de formação, embora … tem ajudado bastante, porque quando fui
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à Alemanha, na Alemanha não falam alemão, como é óbvio, a formação lá foi em Inglês e já me
ajudou bastante. Porque a gente fala, fala, fala, mas …
Investigadora: É diferente, não é, é um Inglês mais, mais aperfeiçoado. Olha, e essa formação
de Inglês estás a fazê-la através aqui da ATRP com a Academia de Formação, é isso?
Marco: É, é. Estou a fazer a da ATRP, digamos que não me convidaram, eu fiz-me de convidado.
Investigadora: Certo. Hum, hum.
Marco: Mostrei interesse e estou a tirar na ATRP, também ali no edifício 10, a … o António
propôs-me, digamos que oficialmente foi assim que se passou e estou a tirar na Academia de
Formação com a formadora que é a Ana Fortunato.
Investigadora: Ok. Olha e que tipo de formação é que tu achas que poderias ou deverias ter, ou
que já sentiste falta ter, para aperfeiçoar ainda mais a tua função como formador aqui no CTP?
Ou achas que não … que neste momento não faz sentido ter mais formação?
Marco: Eu acho que … não, sentido faz sempre, formação é sempre bem-vinda, costumo dizer
até mesmo aos meus formandos …
(o barulho de fundo, decorrente de uma formação que se desenvolve no espaço contíguo àquele
em que estamos a realizar a entrevista, faz com que se interrompa a entrevista durante alguns
momentos)
Marco: A formação, a formação que eventualmente … (o barulho continua, embora com menos
intensidade) as formações todas elas fazem falta. Eu digo aos meus formandos quando estou
aqui, é assim: nós … (mais barulho de fundo) a … a formação … todas as formações são
importantes, eu costumo dizer que até uma formação de corte e costura pode ser importante,
o importante é que a gente a possa aplicar …
Investigadora: Aplicar …
Marco: Por exemplo, uma formação eu que gostava de ter aqui, e que não tive, talvez Gestão
de Conflitos, embora não tenha tido muitos conflitos…
Investigadora: Hum, hum…
Marco: Mas não deixa de ser algo … (mais barulho de fundo, novamente mais elevado; um outro
formador entra na sala onde estamos a realizar a entrevista, pede desculpa porque não sabia
que estávamos aqui; formador Marco pede ao colega que peça aos outros para se acalmarem
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um pouco, porque “está a ser gravado, o que ele disse está a ser gravado”. Trocam mais algumas
palavras sobre a formação desse dia e o outro formador sai, pedindo desculpa pela interrupção.)
Investigadora: Estávamos a falar sobre a formação que gostavas de ter. Que achavas …
Marco: A Gestão de Conflitos, a … por exemplo, nós falamos muito aqui em MTM, que é o
Método de Medição de Tempos, neste caso, na indústria automóvel, a … não tenho nenhuma,
já se falou nisso, provavelmente virei a ter mas para já não a tenho. E o que é que isto é
interessante? Porque nós falamos muito em MTM, as linhas funcionam à base de MTM, e eu
não tenho essa formação, e às vezes estou a falar com os formandos e … como é que hei-de
dizer … sei, mas não tenho a certeza 100% …
Investigadora: Não tens conhecimento de causa, não é?
Marco: Não tenho conhecimento de causa. Embora, temos ali uma tabela, para calcular, mas a
gente não utiliza, só mostramos, só mostramos.
Investigadora: O MTM é exatamente o quê?
Marco: É um método, aquilo em inglês quer dizer Method Time Mesurement, ou seja medições
de tempo … métodos de medição de tempo. E isto … as linhas, hoje em dia, tudo funciona assim.
Para resumir é o seguinte: a Engenharia Industrial, que é a área onde eu pertenço, calcula que,
para montar esta peça, baseado neste estudo, demora 30 segundos, independentemente de eu
ser mais ágil ou menos ágil, eu tenho 30 segundos para montar aquela peça, ou seja, e a partir
deste momento aquela estação fica analisada por este estudo, tem 30 segundos para montar
aquela peça. Então, toda a gente tem de montar a peça em 30 segundos. E o MTM é um
bocadinho isto, é … o cálculo das cargas de trabalho, digamos assim.
Investigadora: Sim, sim. E em termos, só para encerrar este capítulo da formação pessoal e
profissional, em termos académicos, tens alguma perspetiva? Gostavas de voltar… um
bocadinho a uma escola de outro tipo, ou não passam por aí as tuas perspetivas?
Marco: Olha, eu vou-te dizer uma coisa … se a nível profissional me fizer falta, se calhar estou
predisposto a isso. Se eu achar que não me vai fazer falta, não.
Investigadora: Não.
Marco: Não. O que é que eu quero dizer com isto? Quer dizer que imaginemos que dizem isto:
“Olha, há uma possibilidade de seres promovido para isto”, algo deste género, “mas, tens de
começar a frequentar uma licenciatura.” Então aí, estou predisposto, não é. Agora, para já não.
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E posso explicar porquê. Como eu te disse o CAP foi algo que me custou um bocadinho, não
estava habituado já a este ambiente de estudo, embora agora as coisas já estejam melhores, e
foi porque eu tive vinte e tal anos sem estudar, desde … 89, 89 não, 86/87 foi quando estudei e
quando foi o tempo … digamos que o maior … a maior concentração de estudo foi nessa altura,
ou seja quando estive na Força Aérea, e posso dizer que em cinco meses, cinco meses, fiz 29
testes …
Investigadora: Meu Deus …
Marco: 29 testes. Foi nessa altura. Nessa altura não estudava, nessa altura já era aquilo que hoje
em dia chamamos computadores, eu memorizava, eu escrevia numa folha … só que estava
habituado a esse ritmo. Deixei isso, parei. Quando fiz o CAP, temos que ter algum estudo, temos
que preparar aquelas atividades para sermos avaliados, a … isso afetou um pouco comigo. Se eu
fosse começar a estudar agora, o que é que isto iria requerer? Um grande estudo novamente a
nível de Matemática, que está para trás e esquecida, Física e Química, porque sempre fui uma
pessoa digamos que uma pessoa ligada a este tipo de áreas, a … se eu tivesse que fazer isso, ou
seja, teria que perder muito tempo e garantidamente iria afetar a … a minha saúde. Eu não tenho
dúvidas nenhumas que ia afetar.
Investigadora: Certo, hum, hum…
Marco: E afeta, porque vim para cá, por exemplo agora já estou mais … mas ao princípio afetou.
Por exemplo, eu agora não concorri a uma vaga, que apareceu cá, porque, por isso mesmo,
porque tinha que … não quer dizer fosse aceite, mas não concorri porque me disseram logo
“Olha, atenção que existe muito stress aqui”, e eu não fui para lá por causa disso. E se calhar
podia ganhar ligeiramente mais do que ganho aqui, mas não concorri, só porque …
Investigadora: Não compensava …
Marco: Se calhar não compensaria. Agora se me disserem que, “Sim senhor, há esta perspetiva,
mas tens que frequentar, ou deverás …”, portanto, então aí tenho e pensar duas vezes. Mas em
condições normais…
Investigadora: Não.
Marco: Digamos que não.
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Investigadora: Certo. Olha, vamos mudar agora um bocadinho para o CTP, propriamente dito.
Do teu ponto de vista, e daquilo que tu tens conhecido do CTP desde que cá estás, e estás cá
desde o início, não é? Certo?
Marco: Sim, sim.
Investigadora: Qual é que é a importância que tu vês que o CTP tem na empresa? Enquanto
papel, funções…
Marco: Bem, primeiro que tudo é importante porque as pessoas tinham pouca formação e agora
têm algo aqui dentro da própria empresa, e uma das mais-valias do Centro de Treino é que os
formadores que cá estão são oriundos da empresa. E depois é transmitir às pessoas aquilo que
a empresa pretende, neste caso, o Grupo, qual é a estratégia do grupo, neste caso até 2018 e
esperamos que mais à frente. Eu acho que é importante por isso mesmo. Ou seja, além de
termos muito conhecimento das nossas linhas, transmitimos às pessoas o que é que a empresa
quer. Eu acho que nesse sentido é uma mais valia. Tínhamos antigamente muitos formadores
que vinham, externos … a … vêm falar de temas que, na teoria as coisas funcionam bem, mas
depois na prática não funcionam, só que eles não têm esse conhecimento de causa. Eu aqui
quando estou com … com as pessoas, eu digo-lhes “Isto é o ideal, mas sei que às vezes não se
passa, eu conheço o processo”. E de facto isso é importante e as pessoas que vêm cá às
formações gostam e é uma coisa que lhes agrada, é que os formadores que cá estão são oriundos
da casa, porque sabem o que é que se cá passa. Embora, as coisas, na teoria é uma coisa e na
prática, são outra. Mas os formadores externos, já não gostam tanto. Mas … eu acho que é
importante para a empresa, para já para dar a formação às … para formar as pessoas que cá
têm, em vez de mandarmos a formadores externos, tentamos formá-los. Há pessoas que
gostam, há outras que não gostam.
Investigadora: Há outras que não gostam…
Marco: É o caso de hoje então…
Investigadora: É? Hoje em particular, não?
Marco: De uma pessoa que está ali…
Investigadora: Ah. Certo.
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Marco: Porque … ontem chegou lá, a gente faz aquela apresentação inicial, “Então, diz-me...”,
portanto ele deu-me o percurso dele, o que é que fez, “Ah, mas as formações aqui é sempre a
mesma coisa, e querem é queimar horas, querem…”
Investigadora: Hum…
Marco: Pronto, “isto tudo porque recebem regalias do estado” … e eu assim “Pronto, está bem,
concordo contigo. Então, mas que tipo de formação é que gostarias de ter, era uma formação
técnica, era?”, “Sim, uma formação técnica.”; “Então dá-me lá um exemplo de uma formação
técnica que gostasses de ter?”, “Ah, agora não me lembro.”
Investigadora: Hum, hum…
Marco: Ou seja, a …
Investigadora: Hoje está a decorrer os Lean Games, é isso?
Marco: Os Lean Games, exatamente. Ou seja, as pessoas, muitas vezes, não gostam, dizem que
não gostam, mas quando lhes perguntamos algo que gostassem de ter, também…
Investigadora: Também não sabem dizer?
Marco: Também não sabem responder. Ou seja, eu costumo dizer que são aquelas pessoas que
são do contra, e se calhar, há pouco quando eu falei de uma formação de Gestão de Conflito,
seria …
Investigadora: Nesse sentido, não é?
Marco: Nesse sentido. Isto não é fácil de gerir, e depois às vezes entre uns e outros, uns
concordam, outros não concordam e gera-se ali conflito e a gente tem que se pôr lá no meio,
mas … é importante, eu acho que é importante o Centro de Treino.
Investigadora: E, como tu sabes, melhor que eu, não é, há mais formação promovida pela
empresa, não é? De que modo é que tu achas que se distingue esta formação, da formação que
a empresa, através do Recursos Humanos, também promove?
Marco: De que forma se distingue? Bem, eu continuo a dizer eu isto não é uma formação técnica,
no geral, ou seja, salvo raras exceções, por exemplo, eu acho que a formação do Body, é uma
formação mais técnica, ensina as pessoas a trabalhar, tirando isso … a maior parte das formações
estão vocacionadas para mostrar os elementos metódicos que estão a ser aplicados atualmente
na empresa.
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Investigadora: Hum, hum.
Marco: Quer conceitos de ergonomia, de 5S, de estandardização, trocas rápidas de ferramenta,
e aqui não são formações técnicas, mas transmitir aquilo que nós fazemos cá na fábrica. Uns
fazem determinadas áreas, outros fazem noutras. Não vamos é ensinar as pessoas a reparar
carros, não vamos ensinar as pessoas a montar carros, damos é os conteúdos, neste caso os
elementos metódicos, que estão a ser implementados, ou seja, o simples facto de uma peça na
linha estar numa determinada posição é benéfico para o operador … do que antes estava, ou
seja, o elemento metódico, eu vou dizer “É preferível estar assim, porque vocês não vão mexer
na peça …” E isto é o elemento metódico que é o “one touch, one motion”, ou seja, pegamos na
peça uma vez e vamos montar. É conteúdos assim, não, não formações técnicas. Eu considero
que nós não damos formação técnica.
Investigadora: Hum, hum. Portanto, isso é uma das diferenças, não é, relativamente ao resto da
formação.
Marco: Embora a grande maioria de certeza preferisse formações técnicas, hidráulica,
pneumática, eletricidade …
Investigadora: Certo.
Marco: VAS, coisas deste género.
Investigadora: Mas essas continuam a ser dadas? Ou não? Pela empresa, via Academia de
Formação?
Marco: Eu penso que sim. Eu penso que sim, mas … não em grande quantidade. Não em grande
quantidade. A empresa está mais vocacionada agora em, tudo o que puder, enviar aqui para o
Centro de Treino. Neste caso, a empresa do Grupo, ATRP.
Investigadora: Diz-me, da tua experiência de formador, nós sabemos como é que são
organizados os grupos, também já conversei com o António sobre essa questão, e para ti a
questão era mais … era mais outra, que é: em termos da forma como são organizados os grupos,
que constrangimentos ou que problemas é que por vezes surgem e que vocês, como
formadores, têm de lidar? Os grupos são formados chamando pessoas da linha …
Marco: Sim…
Investigadora: Isso nem sempre é simples … e depois quando vocês recebem as pessoas, como
é que vocês fazem essa gestão?
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Marco: É assim, nós tentamos, por exemplo, eu pessoalmente, depende da formação, eu
prefiro, gosto de ter grupos mesclados, ou seja, Recursos Humanos, Finanças, Planeamento,
Linha, Body, Linha, quer dizer, Linha não, Montagem Final, Body …
Investigadora: Sim, sim…
Marco: E de preferência uma a duas pessoas destas áreas, de cada área destas, Porquê? A …
porque, para mostrar uns aos outros que todos nós temos problemas nas respetivas áreas. Os
Recursos Humanos, que está nos Recursos Humanos, tem problemas que não passa pela cabeça
às pessoas da linha de produção, as pessoas da linha de produção têm problemas, que não passa
na cabeça … e estas formações são vantajosas, para mim, e esses grupos assim, a … gosto de
trabalhar com esses grupos porque acaba por haver um diálogo, “Ah, isso é assim? Não pensei
que fosse assim.”. Nem sempre isso é possível, porque nós não, não, não somos nós que
escolhemos as pessoas, é aquilo que nos aparece cá. Ou seja, os coordenadores das áreas é que
definem quem é que vai mandar, só como título de curiosidade, por exemplo, o grupo que, neste
momento, tenho na sala, tenho 16 pessoas, são 5 da área de Body, 10 da Montagem Final, sendo
todos da mesma zona, portanto, ‘tás a ver …
Investigadora: Hum, hum.
Marco: O que é, o que é que isso contribui para uma formação … são 10 pessoas que têm todos
o mesmo problema …
Investigadora: Certo.
Marco: … que se queixam todos, e que vêm até com o chefe à formação (risos de ambos).
Investigadora: Estou a ver. Portanto …
Marco: Às vezes não é fácil de gerir isto, embora a gente tente proporcionar um bom diálogo
ali, é … tem que se mandar uma piada ou outra para quebrar o gelo, porque às vezes aquilo …
começa a fugir do caminho que nós traçamos, mas … para eles, para mim tem sempre interesse,
mas para eles não tem grande interesse porque são 10 pessoal do qual lidam todos os dias, do
outro lado tenho 5 pessoas, com o qual lidam todos os dias, 5 pessoas de produção, 10 pessoas
de produção. Uma pessoa das compras. Se esta pessoa das compras não for muito faladora …
Investigadora: Pois, os outros absorvem, não é?
Marco: Absorvem e não se apercebem.
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Investigadora: Mas os grupos não costumam ser tão grandes. Estás-me a falar de 16?
Marco: Estou a falar de 16 … depende dos dias.
Investigadora: Ah.
Marco: Depende dos dias.
Investigadora: Mas nos grupos que eu assisti …
Marco: Não.
Investigadora: … o número de pessoas era mais reduzido…
Marco: Claro que nós...
Investigadora: … rondava os 10, 12.
Marco: 10, 12.
Investigadora: Hum, hum.
Marco: Às vezes temos 16, às vezes temos 17, o meu record é 17, a … perde-se um bocado.
Quando temos muita gente perde-se as pessoas.
Investigadora: Pois. Mas estão dois formadores sempre, não é?
Marco: Dois formadores. Mas não é por isso que se perde, os exercícios normalmente estão
divididos, sempre divididos em dois grupos…
Investigadora: Certo.
Marco: E normalmente só uma pessoa é que tem parte ativa no exercício.
Investigadora: Certo.
Marco: Embora nós motivemos a … tentamos motivar que a pessoa, as outras também
participem, mas é difícil, e quando os grupos são grandes, por exemplo, do género de hoje, que
temos 8 de um lado, 8 do outro, estão dois ou três a trabalhar e o que vai acontecer é que estão
os outros com conversas paralelas e a gente tenta que isso não aconteça, mas não é fácil.
Investigadora: Não é fácil. A … tu tens alguma ideia sobre … como é que será o futuro do volume
de formação aqui no CTP, achas que a tendência será de crescer? Será de manter? Será de
diminuir? Isso é conversado entre vocês, no CTP, com, com o coordenador, ou não?
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Marco: Nós, a … falamos, às vezes, não falamos muito, o que a gente sabe, normalmente, é
pelas reuniões de comunicação pelo Diretor da fábrica, e posso dizer que o volume de formação
previsto para o ano que vem vai ser muito, mesmo.
Investigadora: Hum, hum.
Marco: Porquê? A produção vai baixar, é do conhecimento público, a produção vai baixar e … o
que é que vai acontecer, as linhas vão diminuir a velocidade, vão ter pessoas a mais e eles não
querem despedir ninguém, felizmente, não querem manter ninguém, como tal estão a optar
por enviar as pessoas para formação. Vão enviar, de certeza, para aqui muitas pessoas, mas nós,
eu, não sou o chefe aqui do Centro de Treino, mas tenho a certeza que nós não vamos ter
capacidade para absorver todas as pessoas que vão ficar livres. Mas sei que vamos ter muito
trabalho agora … no próximo ano. Mas não é um tema que a gente debata muito.
Investigadora: Não?
Marco: Sabemos, estimamos, e tal, mas não é um tema que a gente …
Investigadora: Mas é para continuar em força, não é?
Marco: Para já, sim.
Investigadora: Para já, sim. Ok. Já te fiz um bocadinho esta questão, tem a ver com o facto da
formação aqui do CTP ser diferente do resto da empresa, mas agora queria virar um bocadinho
mais para os, para os referenciais. Ou seja, os programas que vocês utilizam como … orientação
para, para ministrarem as formações, a … são, são, são programas que vos chegam às mãos já
feitos. Certo?
Marco: Sim, a grande maioria, sim.
Investigadora: O que é que vocês depois fazem com esses referenciais quando os recebem?
Marco: É assim, a gente tenta, normalmente recebemos esses programas e … normalmente vêm
sempre com uma linha condutora da Alemanha.
Investigadora: Certo…
Marco: Isto, nas formações que eles lá têm. E quando nós recebemos esses programas a gente
tenta adaptar às nossas, à nossa realidade, temos que fazer a produção das apresentações, e
nós tentamos adaptar à nossa realidade. O exemplo que eu te posso dar daquela que estou a
desenvolver, que é o Jogo do Camião, por exemplo, que eu fui assistir à formação em Espanha,
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e ele, e lá … como é que as coisas funcionavam? Lá as coisas foram ministradas mais ou menos
igual àquilo que têm na … Alemanha.
Investigadora: Certo…
Marco: Não foi? Eu disse que fui à Alemanha, não, eu fui a Espanha.
Investigadora: A Espanha.
Marco: A Espanha. Só que quando chego aqui, digamos que aquilo que se fala naquela formação
já está um bocadinho … obsoleto.
Investigadora: Hum, hum.
Marco: Então eu tentei ser um bocadinho criativo, e estou a tentar criar nesta formação,
mantendo a linha condutora que eles lá têm, que é, na última ronda, eu criar um pick to light,
ou seja, nós não temos nenhuma formação, não temos … com pick to light, ou seja, pegar a peça
por onde a luz acende, e como neste momento a linha…
Investigadora: Ah, isso é que quer dizer pick to light.
Marco: Exatamente.
Investigadora: É pegar a peça por onde a luz acende.
Marco: Quando a luz acende, ou seja …
Investigadora: Ok. (risos de ambos)
Marco: pick to light, ou seja, o operador vai pegar na peça, ele lê com o código de barras, e ele
ao ler o código de barras, vai acender várias luzes nas racks …
Investigadora: Certo…
Marco: … e eles apenas têm de tirar as peças onde as luzes estão acesas. Na Alemanha, ou na,
em Espanha, quando eu lá estive, ele, a … a quarta ronda, neste caso, não era feita assim, a
quarta ronda era um painel e o operador teria que escolher sempre a peça por um papel. Então
eu aqui já adaptei essa formação à nossa realidade. Nós já temos muitos “supermercados” …
Investigadora: Sim, sim …
Marco: … próximo da produção, temos pick to lights, então nesta formação eu já utilizo o pick
to light.
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Investigadora: Já faz sentido, claro…
Marco: Embora nenhuma formação lá fora o tenha. Mas, nós também temos que ir…
Investigadora: Adaptando, não é?
Marco: Eu digo que temos que nos adaptar à nossa realidade, isto é formações o qual recebemos
os conteúdos lá de fora. Também temos formações em que não recebemos os conteúdos lá de
fora e que são criadas por nós. Nesta, estamos a falar por exemplo da Qualidade, que é a que o
João Ferreira está agora a fazer, esta formação digamos que foi desenvolvida por nós, e aqui
com o foco sempre daquilo que o Grupo quer, que é carros bem feitos à primeira, mas todos os
conteúdos teóricos, todos os conteúdos práticos foram desenvolvidos por nós …
Investigadora: … por vocês. Hum, hum. Essa formação do Camião é uma formação que, digamos
assim, recebeste a incumbência de pôr de pé, é isso?
Marco: Mais ou menos, sim. Eu fui ter, fui, fui receber a formação lá em Pamplona e digamos,
fiquei incumbido de … desenvolver a formação, está praticamente pronta para arrancar, já fiz
um try run aqui com …
Investigadora: Hum, hum.
Marco: … com a Engenharia Industrial, com alguns supervisores, e penso que para o ano, no
início do ano, vamos arrancar com ela, um bocadinho semelhante à do LEGO, com algumas
diferenças … com muitas diferenças, não vale a pena …
Investigadora: Já vi o LEGO, já vi o Camião, o Camião é um bocadinho maior que o, que era o
(risos de ambos) carro do LEGO…
Marco: É ligeiramente maior.
Investigadora: Mas é …
Marco: O princípio é a mesmo.
Investigadora: … a lógica é a mesma…
Marco: Embora, eu penso que se calhar vai causar polémica, a nível dos operadores. O LEGO era
organizar o posto de trabalho com coisas extremamente simples, são, eram sete postos de
trabalho em linha, e não pretendíamos nenhuma otimização a nível de postos de trabalho. O do
Camião, as coisas já não são bem assim. Começamos com 6 postos de trabalho, são postos, são
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postos de trabalho muito desequilibrados, ou seja, há postos de trabalho com muita carga de
trabalho, tem muitas tarefas, há outros que têm pouca, então as pessoas vão ter que fazer um
balanceamento a … de forma a que aquilo fique uniforme. Mas ao fazermos este
balanceamento, deixa de ser 6 postos e passam a ser 4, e aqui … (formador suspira)
Investigadora: Nos tempos que correm isso é um tema difícil …
Marco: Nos tempos que correm … é um tema difícil e digamos que se calhar não é o timing mais
certo para a formação, mas temos que a passar, é …
Investigadora: Certo.
Marco: Tenho é que a tentar passar da melhor forma, mostrar às pessoas que se calhar é
importante que as empresas sejam produtivas, vou-lhes tentar dar a hipótese … a hipótese, não,
mostrar-lhes que aquilo que eu estou aqui a fazer é um bocadinho aquilo que se passa na nossa
fábrica, nós estamos a reduzir, estamos a otimizar a linha, mas não estamos a mandar ninguém
embora.
Investigadora: Hum.
Marco: E foi aquilo que o nosso chefe da fábrica está a fazer e ele, apesar de baixarmos a
produção, continua a insistir e a bater o pé para não mandar ninguém embora, porque se eles
quisessem mandar as pessoas embora, tinham mandado, e eu vou dizer que é isso, se calhar
não é o timing mais correto, mas…
Investigadora: Daí se calhar a tal formação de Gestão de Conflitos …
Marco: Se calhar talvez aí …
Investigadora: Dava-te outra … bagagem, não é?
Marco: Dava-me outra bagagem, neste tipo de situação
Investigadora: Certo. Hum, hum. Marco, relativamente aqui à … às metas que vocês têm para a
formação, há aqui uma curiosidade que eu tenho. Vocês são avaliados, como qualquer outro
trabalhador da fábrica, pela vossa … por metas, não é? E as vossas metas, aqui no CTP, são
definidas e depois avaliadas em função da execução da vossa formação, que vocês
desenvolvem?
Marco: Sim, a … O António, é o António que é o nosso chefe, ele, digamos que atribui tarefas.
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Investigadora: Hum, hum.
Marco: De acordo com o nosso desempenho, se calhar também de acordo com as avaliações
que ele recebe, quer por escrita quer por …
Investigadora: Certo …
Marco: … quer por via verbal, e penso que tudo isso tem … influência na nossa avaliação.
Investigadora: Estás a falar das avaliações que os formandos fazem da ação, das ações que …
Marco: …que os formando fazem, eu penso que …
Investigadora: … que vêm aqui desenvolver.
Marco: Eu penso que terá, eu nunca falei, eu nunca falei com ele sobre isto.
Investigadora: Ai não? Nunca conversaram sobre …
Marco: Não, não, sobre essa, se aquela avaliação, ele olha para aquilo. Agora, uma coisa tenho
a certeza: aquilo que nós fazemos aqui, a nível teórico e a nível prático, que tem peso, tem.
Agora a avaliação dos formandos, ou dos meus formandos, se tem peso para a minha avaliação,
nunca falei com ele sobre isso …
Investigadora: Hum, hum…
Marco: … mas, penso que também se tiver deve ser muito pouco. Agora, aquilo que nós
fazemos, por exemplo … por exemplo, o António atribuiu-me a, o Camião, sozinho a mim.
Investigadora: Hum, hum…
Marco: Inicialmente estava cá o André e o Mariano Félix, eles foram-se embora, ele poderia ter
atribuído, ou seja, digamos que isto é, eu acho que é um voto de confiança da parte dele e eu
tento retribuir da melhor maneira possível, mas … no fundo é uma maneira dele me avaliar
também … o percurso que eu vou fazendo cá dentro. Eu acho que é a forma que ele avalia, deve
ser essa.
Investigadora: Hum, hum…
Marco: Eu nunca discuto muito as minhas avaliações.
Investigadora: Não?
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Marco: Desde que eu concorde.
Investigadora: A … dá-me só aqui um bocadinho para ver se não me perco, não me esqueço de
nada. Não. Penso que está … penso que está tudo. Marco, diz-me agora tu se queres acrescentar
alguma coisa que aches que seja importante, a … se queres colocar alguma questão extra. Se
queres falar um pouco mais de alguma formação que aqui seja desenvolvida e que tu aches que
é mais pertinente …
Marco: Posso falar das formações que nós estamos a desenvolver e de todo o Centro de Treino.
Não sei se o António falou sobre isso contigo se não, mas atualmente a gente está a desenvolver
Profiraums em todas as áreas da fábrica, ou seja prensas, body, pintura, montagem final …
Investigadora: Hum, hum…
Marco: Estamos a criar os Fundamental Skills de Prensas, que é o Manuel Rodrigues que o está
a fazer, e o Fundamental Skills de Pintura, que é o Otávio e o José que o estão a fazer, ou seja,
não arrancaram as formações, mas está-se a desenvolver. Depois, também se está a fazer uma
formação de Logística e de NLK, no qual o António também me pediu para participar, mas
infelizmente não posso participar por questões pessoais, a minha mulher vai ser operada
brevemente, senão eu teria muito gosto, ou seja, para a semana eu era para vir, mas não posso,
mas gostava de o fazer. Temos as formações da Qualidade, que é ministrada … aquela que
criámos ou aquela que o Duarte também está a fazer … Nós temos aqui muitas formações. A …
todas elas são importantes. É preciso é termos formandos.
Investigadora: Hum. (risos)
Marco: Eu costumo, também costumo dizer às pessoas é: eu tenho a noção que isto é uma
fábrica de automóveis, não é uma fábrica de fazer formação.
Investigadora: Hum, hum … hum, hum.
Marco: E tudo isso tem um grande peso aqui no nosso Centro. Se nós tivermos muita gente cá
no nosso Centro de Treino, para nós é bom, mas para a fábrica em si não é bom, porque temos
pouca produção. Se não temos cá ninguém no nosso Centro de Treino, a … é sinal que a fábrica
está a produzir bem, mas também é mau para nós porque não temos formandos, logo também
não estamos cá a fazer o papel para o qual a … para o qual fomos solicitados. Mas pronto, isto
…
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Investigadora: Mas têm, mas existe essa noção entre os formadores, que a formação aqui está
ao serviço da produção? Têm essa noção?
Marco: Eu acho que 100% das pessoas que cá estão têm essa noção.
Investigadora: Sabem isso.
Marco: Eu acho. Mas eu tenho, eu sei disso. Não sei, agora os outros não sei, só … eles é que
podem responder.
Investigadora: Olha Marco, só mesmo para encerrar, se te pedisse para tu classificares ou
caracterizares o tipo de formação, a metodologia de formação que vocês usam aqui, para
classificares isso numa palavra ou duas, no máximo, quais eram as palavras que tu escolhias?
Marco: Essa é uma pergunta fácil para uma resposta difícil …
Investigadora: Se alguém te perguntasse: “Como é que é a formação no CTP?”, tu respondias
“A formação no CTP é…”?
Marco: Pá, eu tento … eu tento, não, as formações no CTP tentam ser dinâmicas e que haja
muita interatividade entre os formandos.
Investigadora: Hum, hum.
Marco: Principalmente isto, ou seja, dinâmicas e tem que haver interatividade.
Investigadora: Interação. Hum, hum.
Marco: Para mim, principalmente, e agora isto já são as duas palavras.
Investigadora: Duas palavras. (risos) Mas essa é uma boa resposta.
Marco: São as duas. Portanto, dinâmica e tem que haver interatividade. Depois, é uma das mais-
valias que dizem que há, ou seja, os módulos não serem muito teóricos, alguns são teóricos, mas
têm sempre uma componente teórica e uma componente prática …
Investigadora: Certo …
Marco: … que põe em prática aquilo que fazemos na teoria.
Investigadora: Certo, certo, certo …
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Marco: E isso é uma das vantagens do CT … ia eu a dizer que tem que haver dinâmica e tem que
haver interatividade, ou seja, tem que haver atividade entre as pessoas e … com formandos e o
formador para que isto corra bem, isto é o que eu …
Investigadora: Ok. Achas que queres dizer mais alguma coisa?
Marco: Não. Se não tiveres aí no teu … agradeço.
Investigadora: Acho que não.
Marco: Agradeço a entrevista que me fizeste. Espero …
Investigadora: Eu é que tenho a agradecer, Marco.
Marco: … que corra tudo bem para o teu mestrado …
Investigadora: Para o doutoramento?
Marco: Doutoramento, peço desculpa.
Investigadora: Não faz mal.
Marco: E pronto, fico muito contente por participar, e olha … desejo-te toda a sorte do mundo.
Investigadora: E eu agradeço imenso, mais uma vez, Marco, agradeço imenso porque sei que
nem sempre é muito fácil, as pessoas não só terem tempo e disponibilidade para se prestarem
a estas coisas, como a ultrapassar algum receio, alguns receios que vocês … têm sido de facto
extraordinários a envolver-me na formação e tudo mais.
Marco: Volto a dizer que se fosse aqui …
Investigadora: E nas entrevistas, mais numa vez, tenho a agradecer.
Marco: Se fosse aqui há 5 anos atrás, se calhar era mais complexo. Ou seja, o facto de estar isto
(aponta para o gravador)…
Investigadora: A máquina a gravar … (risos de ambos)
Marco: … isto aqui, a … era complexo. Mas no fundo não deixa de ser aquela experiência que a
gente vai ganhando na sala…
Investigadora: Sim …
23
Marco: … ao princípio estar lá, pronto, não era fácil, mas pronto a gente vai ganhando, pronto,
a gente vai … é … é o treino. Acima de tudo, é o treino.
Investigadora: Obrigada, Marco. Está bem?
Marco: ‘Tá, obrigado eu. Vá.
ANEXO 5 - GUIÃO DE ENTREVISTA
Destinatários: Coordenador e 2 Formadores do Centro de Treino da Produção da ATRP
Objetivos Gerais:
1. Caraterizar os percursos profissionais e formativos de elementos da equipa de formação do
CTP.
2. Compreender o papel do CTP no âmbito das oportunidades de formação da empresa.
3. Descrever os modos de organização e funcionamento do CTP.
4. Caraterizar as metodologias de formação implementadas pelo CTP.
5. Relacionar a função de formação do CTP com os objetivos da empresa.
Blocos/Subtemas Objetivos
Específicos Questões
A. Apresentação/Informação/ Acolhimento Pertinência e adequação da entrevista
- Explicitar objetivos do estudo e da entrevista. - Reforçar a importância de respostas honestas, personalizadas. - Estabelecer empatia, assegurando a confidencialidade da informação prestada.
Acolher e informar o entrevistado sobre os
objetivos do estudo e da entrevista Explicar a importância da entrevista para o
estudo em causa
Solicitar disponibilidade para uma participação ativa durante a entrevista
Assegurar a confidencialidade
B. Coordenador/Formadores Percurso profissional e formativo: - Relação entre a experiência prévia e as funções atuais - Relação entre a formação e as funções atuais (objetivo 1.)
- Conhecer o percurso profissional, académico e formativo do entrevistado; - Relacionar esse percurso com a prática profissional atual; - Compreender a visão do entrevistado sobre a formação que a empresa lhe proporcionou.
Questão de enquadramento: - Como é que veio parar ao CTP? Como foi o seu percurso profissional até ao
momento (dentro e fora da ATRP)?
Consegue resumir como foi até agora o seu percurso académico/formativo?
Que funções desempenha atualmente na
empresa? O que faz, concretamente? Considera que a sua experiência profissional e
formativa o têm ajudado no desempenho das funções atuais? Em que medida/pode dar exemplos concretos?
Das formações que tem tido, qual (ais)
destacaria como sendo a(s) mais determinante(s) no desempenho das suas funções?
Que tipo de formação considera que ainda o poderia ajudar mais nas suas funções?
Questão de enquadramento:
C. CTP Relevância, organização e funcionamento do CTP (objetivos 2 e 3)
- Enquadrar o CTP no plano geral da formação da empresa. - Compreender a relevância do CTP no panorama formativo da empresa. - Compreender os modos de organização e funcionamento do CTP.
- Qual é a importância do CTP na empresa? Que tipo de formação é desenvolvida no CTP
e de que modo se distingue do resto do Plano de Formação da empresa? Existe alguma articulação entre ambas?
Como é que são organizados os grupos de
formação? Com que objetivo? Porque é que são envolvidas outras pessoas
na formação, para além dos trabalhadores da linha de produção?
Que vantagens e constrangimentos tem
reconhecido neste modo de organização?
Que futuro prevê para o CTP, no panorama geral da formação da empresa?
D. CTP Metodologias de formação (objetivo 4.)
- Caracterizar as metodologias de formação do CTP. - Distinguir os métodos de formação do CTP dos que são preconizados pelas restantes oportunidades de formação promovidas pela ATRP. - Entender a relação entre os referenciais da formação e os referenciais da prática – dinâmicas de melhoria contínua.
Questão de enquadramento:
- Em que é que a formação do CTP é diferente da restante formação promovida pela empresa?
Os referenciais que são utilizados são construídos por que entidade(s)?
Existe alguma dinâmica de melhoria contínua
relativamente aos referenciais, por exemplo, no que diz respeito a sugestões de alteração? Lembra-se de algum caso concreto em que essa dinâmica tenha existido?
Que tipo de preocupações metodológicas têm os formadores do CTP na condução da formação?
Existem momentos de reflexão sobre a formação entre os elementos do CTP? Se assim for, com que finalidades e aplicabilidade?
Como é que é feita a avaliação da formação?
E. CTP – Empresa Relação estratégica entre Formação e Produção (objetivo 5.)
- Perspetivar a relação entre a função de formação do CTP com os objetivos da empresa. - Compreender os modos e objetivos de gestão da formação do CTP por parte da empresa.
Questão de enquadramento: - A formação do CTP está simplesmente ao
serviço dos objetivos da produção? Quais são, para si, as grandes finalidades da
formação do CTP? Como é que são definidos os objetivos anuais
(ou outra periodicidade) de formação do CTP?
Que fatores podem levar à alteração desses objetivos?
Essas metas têm sido atingidas? Que
constrangimentos tem sentido?
As metas da formação refletem-se na avaliação dos elementos do CTP? De que forma?
F. Questões finais/Agradecimentos
- Esclarecer dúvidas finais por parte do entrevistado. - Relembrar importância da colaboração prestada e encerramento da entrevista.
Tem alguma questão que queira colocar,
alguma dúvida sobre as finalidades destas questões que coloquei?
Agradecer a disponibilidade de ter aceitado
realizar a entrevista, reforçando a importância da colaboração prestada.
ANEXO 6 – QUESTIONÁRIO AOS FORMANDOS DO CENTRO DE TREINO DA PRODUÇÃO
Destinatários: Formandos
Local e Data: Centro de Treino da Produção da ATRP; ____ / ____ / _________
Módulo de formação em que se insere o formando: ____________________________
1. Sexo: Masculino Feminino
2. Idade: _________
3. Assinale a sua área de trabalho, colocando um X.
Áreas de trabalho
Montagem final
Carroçarias
Pintura
Prensas
Qualidade
Direção de Produção
Logística
PEI (Planeamento e Infraestruturas)
Finanças
Administração
Recursos Humanos
Engenharia Industrial & Gestão Otimizada
Outra (indique qual):
4. Indique há quanto tempo trabalha na empresa, colocando um X.
a. Até 4 anos
b. Entre 5 e 10 anos
c. Há mais de 10 anos
5. Já frequentou outros módulos de formação do PTC para além deste?
Sim Não
5.1. Em caso de resposta afirmativa, indique qual/quais:
Nota: Este questionário insere-se numa investigação no âmbito de uma Tese de doutoramento
em Formação de Adultos, que tem como base o estudo de caso sobre o Centro de Treino da
Produção. A sua colaboração é muito importante e totalmente voluntária. Todos os dados
serão mantidos anónimos.
ANEXO 7 – QUESTIONÁRIO AOS FORMADORES DO CENTRO DE TREINO DA PRODUÇÃO
Destinatários: Formadores
Local e Data: Centro de Treino da Produção da ATRP; ____ / ____ / _________
1. Sexo: Masculino Feminino
2. Idade: _________
3. Qualificações Académicas:
Assinale com uma cruz Risque o que não se aplica e indique o ano
concluído/frequentado
Ensino Básico
Ensino Secundário
Ensino Superior
Conclusão/frequência de: _________
Conclusão/frequência de: _________
Conclusão/frequência de: _________
4. Assinale as áreas de trabalho por onde já passou, excluindo a actual, colocando um X.
Áreas de trabalho
Montagem final
Carroçarias
Pintura
Prensas
Qualidade
Direção de Produção
Logística
PEI (Planeamento e Infraestruturas)
Finanças
Administração
Recursos Humanos
Engenharia Industrial & Gestão Otimizada
Outra (indique qual):
5. Indique há quanto tempo trabalha na empresa, colocando um X.
a. Até 4 anos
b. Entre 5 e 10 anos
c. Há mais de 10 anos
6. Orienta ou já orientou outros módulos de formação do PTC, para além deste?
Sim Não
5.1. Em caso de resposta afirmativa, indique qual/quais:
7. Para orientar esta formação, teve formação prévia?
Sim Não
6.1. Em caso de resposta afirmativa, indique quais foram as entidades formadoras.
Nota: Este questionário insere-se numa investigação no âmbito de uma Tese de doutoramento
em Formação de Adultos, que tem como base o estudo de caso sobre o Centro de Treino da
Produção. A sua colaboração é muito importante e totalmente voluntária. Todos os dados
serão mantidos anónimos.