aneis de crescimento arvore

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Relação Sol-Terra estudada através de anéis dos crescimento de coníferas do holoceno recente e do triássico. Alan Prestes Tese de Doutorado em Geofísica Espacial, orientada pelos Drs. Nivaor Rodolfo Rigozo e Daniel Jean Roger Nordemann. INPE São José dos Campos 2006

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Os anéis de crescimento das árvores na região da AMAS, anomalia, magnética do atlântico sul.

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  • Relao Sol-Terra estudada atravs de anis dos crescimento de conferas

    do holoceno recente e do trissico.

    Alan Prestes

    Tese de Doutorado em Geofsica Espacial,

    orientada pelos Drs. Nivaor Rodolfo Rigozo e Daniel Jean Roger Nordemann.

    INPE

    So Jos dos Campos

    2006

  • Aos meus pais, Valderi (In memorium) e Antoninha, e

    meus irmos, Alex e Adelton, por terem me incentivado e me apoiado em todos os

    momentos. Por todo amor e carinho que me deram e o esforo que fizeram para que eu

    conseguisse mais esta conquista. A minha mulher, Alexandra, e filha, Ana Jlia, pelo amor

    e carinho, compreenso, estmulo e fora para concluir este trabalho. As minhas conquistas

    so conquistas de vocs.

  • AGRADECIMENTOS

    Agradeo a Deus por ter me dado o privilgio da vida.

    Agradeo aos meus orientadores, Dr. Daniel Jean Roger Nordemann e Dr. Nivaor Rodolfo

    Rigozo, por terem me proporcionado a valiosa oportunidade de enriquecer meu

    conhecimento nestes quatro anos de estudo, pelo apoio e incentivo.

    Um agradecimento especial a todos os meus amigos e colegas pela amizade e pelo

    companheirismo ao longo desta jornada. Por estarem constantemente me incentivando e

    desejando o melhor.

    Agradeo ao Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, INPE So Jos dos Campos (SP),

    INPE - Santa Maria (RS) e a Universidade Federal de Santa Maria - UFSM, pela infra-

    estrutura disponibilizada para a realizao desta Tese.

    Ao CNPq pela bolsa de doutorado e a CAPES pelo auxlio das verbas.

    A Dra. Damaris Kirsch Pinheiro e ao Laboratrio de Cincias Espaciais de Santa Maria -

    LACESM/UFSM, pelo apoio e pela infra-estrutura disponibilizada para a realizao desta

    Tese.

    Ao Dr. Nelson Schuch e ao Centro Regional Sul de Pesquisas Espaciais - CRSPE /INPE,

    pela assistncia.

    Ao Dr. Mario Tomazello Filho e Dr. Cludio Sergio Lisi pela ajuda e discusses que

    contriburam muito para o desenvolvimento desse trabalho, e a Escola Superior Agricultura

    Luis de Queiroz ESALQ pela infraestrutura.

    Ao meu colega e amigo Juliano Antunes Guimares Leite, pela ajuda na coleta das

    amostras do lenho de rvores de araucrias nas unidades de conservao.

    Ao Departamento Nacional de Produo Mineral DNPM - pela autorizao de coleta das

    amostras do lenho de rvores petrificadas.

  • Ao IBAMA pela doao das amostras de rvores nas Florestas e Parques Nacionais, e aos

    Chefes e funcionrios das unidades pelo auxilio nas coletas.

    Ao Museu Municipal de So Pedro do Sul pela colaborao.

    A empresa de pedras preciosas Primmaz & Cia. Ltda. pelo corte e polimento das amostras

    de rvores petrificadas.

    As unidades de conservao florestal dos estados do Paran, Santa Catarina e Rio Grande

    do Sul, pelo auxilio prestado nas coletas das amostras do lenho de rvores.

    A todas as pessoas que auxiliaram no trabalho.

  • RESUMO

    O estudo do Sol e das variaes de seu fluxo de energia inteiramente experimental e

    tambm muito recente, o que restringe a compreenso de seus efeitos sobre o clima do

    planeta e sua possvel predio para o futuro. Assim torna-se necessrio um monitoramento

    indireto das variaes solares e de outros fenmenos geofsicos em uma escala de tempo

    maior no passado, possvel graas existncia de registros naturais que cobrem extensos

    intervalos de tempo passado, como por exemplo, os anis de crescimento das rvores.

    Desenvolveu-se um estudo das relaes Sol-Terra no passado, atravs dos anis de

    crescimento de rvores de araucrias (Araucaria angustifolia) do presente e de madeiras

    silificadas Mesozica (rvores petrificadas de 200 milhes de anos atrs), coletadas no

    estado do Rio Grande do Sul, Brasil. Das rvores de araucria atuais obtiveram-se

    cronologias mdias das amostras dos lenhos coletados em Severiano de Almeida e Passo

    Fundo, em torno de 359 e 264 anos, respectivamente. As amostras dos lenhos petrificados,

    coletados em So Pedro do Sul e Mata, apresentaram de 28 a 159 anis de crescimento.

    No estudo das sries temporais dos anis de crescimento das rvores do presente e do

    passado (amostras petrificadas) utilizou-se o mtodo da anlise espectral clssica e

    regresso iterativa, na procura de periodicidades e tendncias neles contidas e o mtodo da

    ondeleta para verificar o comportamento das periodicidades e amplitudes encontradas em

    funo do tempo.

    As anlises das sries temporais da espessura dos anis de crescimento das rvores

    (amostras petrificadas e no petrificadas) pelo mtodo da regresso iterativa apresentou

    perodos representativos da atividade solar de 11 (ciclo de Schwabe), 22 (ciclo de Hale), 52

    (quarto harmnico do ciclo de Suess) e 80 (ciclo de Gleissberg) anos, com uma

    significncia estatstica de 95%. Isso pode indicar uma possvel influncia da atividade

    solar no crescimento das rvores tanto no passado recente, nos ltimos 300 anos, como no

    mais distante, em torno de 200 milhes de anos. Tambm foram encontrados baixos

    perodos de 2 a 7 anos, que podem representar uma resposta das rvores s condies

  • climticas locais. Verificou-se atravs do estudo dos anis de crescimento das rvores do

    trissico e do presente, que a atividade solar apresentou os mesmos perodos fundamentais.

    As anlises por ondeletas das sries temporais dos anis de crescimento das rvores

    mostraram que existe uma boa concordncia com o ciclo solar de 11 anos para as pocas de

    mxima e mnima atividade solar, tais como o Mnimo de Dalton e o Mximo Moderno. J

    as anlises por ondelata-cruzada, entre as cronologias de anis de crescimento de Passo

    Fundo e de Severiano de Almeida com as sries da anomalia de temperatura e do ndice da

    Oscilao Sul (SOI), mostraram que a temperatura e o SOI esto influenciando o

    crescimento das rvores de araucria em perodos de 2-8 anos.

  • Sun-Earth Relationship studied by tree growth rings in conifers from

    Holocene and Triassic

    ABSTRACT

    The study of the Sun and of its energy flux variations is recent and fully experimental.

    For this reason , if is very important develop studies in order to understand the past and

    predict the future using natural records at the Earth surface to monitor solar variations

    and their effects on climate. The studies about the Suns variations and Sun-Earth-

    Climate relationships are possible because there exists natural records that cover long

    time interval, such as, for example, tree growth rings, which may represent good records

    of climate variations in the past.

    In this work a study of Sun-Earth relationships was developed using tree growth rings

    of araucarias (Araucaria angustifolia) in the present time and in silicified Mesozoic

    wood ("petrified trees" of 200 million years ago), both collected in the Rio Grande do

    Sul State, Brazil. From the Araucaria angustifolia collected in Severiano de Almeida

    and Passo Fundo were obtained chronology average for 359 and 264yr respectively.

    The petrified samples, collected in So Pedro do Sul and Mata, lead to 15 time series,

    with 28 to 159 tree growth rings.

    In the study of tree rings time series of the present and of the past (petrified samples),

    the method of classical spectral analysis, iterative regression, was used for the search of

    periodicities and trends contained in tree growth. The wavelet method was also used to

    verify the periodicities and amplitudes found as a function on time.

    The analysis of the time series of the tree growth rings thicknesses (petrified and not

    petrified samples), using the method of the iterative regression indicates representative

    periods of the solar activity of 11 (Schwabe cycle), 22 (Hale cycle), 52 (4th harmonic of

    the Suess cycle) and 80 (Gleissberg cycle) years, with a significance statistics of 95%.

    This may show a possible influence of the solar activity in the growth of the trees in the

    recent past, in last the 300 years, as in the distant past, at about 200 million years ago.

    Also low periods at 2 to 7 years, were found that can represent a response of the trees to

    local climatic conditions at their respective epochs of life. It was verified through the

  • study of tree growth rings from Triassic and from the present times that the solar

    activity presented basically the same periods.

    The wavelet analysis has shown that it exist a good agreement of the time series of tree

    growth rings with the 11 year solar cycle, for the Minimum and Maximum solar activity

    periods, such as the Minimum of Dalton and the Modern Maximum. The cross-wavelet

    analysis between the chronologies of Passo Fundo, Severiano de Almeida and the series

    of the anomaly of temperature and of the South Oscillation Index (SOI), have shown

    that the temperature and the SOI are both influencing the araucaria growth in the

    periods between 2-8 years.

  • SUMRIO

    LISTA DE FIGURAS.......................................................................................................

    LISTA DE TABELAS......................................................................................................

    CAPTULO 1.................................................................................................................... 19

    INTRODUO................................................................................................................ 19

    CAPTULO 2.................................................................................................................... 25

    RELAES SOL-TERRA............................................................................................... 25

    2.1 Atividade solar............................................................................................................ 25

    2.2 Causas das mudanas climticas................................................................................ 31

    2.3 A conexo Sol-Clima................................................................................................. 33

    2.4 Estudo da relao Sol-Terra por registros naturais.................................................. 39

    2.5 Variaes de longo perodo na atividade solar e clima: evidncias

    dendrocronolgicas...........................................................................................................

    43

    CAPTULO 3.................................................................................................................... 47

    MATERIAl E MTODOS................................................................................................ 47

    3.1 Descrio do material empregado no estudo.............................................................. 47

    3.1.1 Amostras do presente Araucaria angustifolia....................................................... 51

    3.1.2 Amostras do passado amostras petrificadas.......................................................... 53

    3.2 Consideraes sobre os locais de coleta...................................................................... 55

    3.2.1 Locais de coleta das Araucrias............................................................................... 56

    3.2.2 Locais de coleta de amostras de rvores petrificadas............................................... 60

    3.3 Coleta das amostras..................................................................................................... 63

    3.3.1 Amostras de araucrias............................................................................................ 63

    3.3.2 Amostras petrificadas............................................................................................... 66

    3.4 Tratamento das amostras............................................................................................. 67

    3.4.1 Amostras de araucrias............................................................................................ 67

    3.4.2 Amostras petrificadas............................................................................................... 67

    3.5 Obteno das sries cronolgicas................................................................................ 68

    3.5.1 Obteno atravs da mesa de mensurao............................................................... 69

    3.5.2 Obteno por imagens.............................................................................................. 71

  • 3.6 Dados climticos e solares.......................................................................................... 75

    3.7 Mtodos de anlises................................................................................................... 76

    3.7.1 Anlise espectral..................................................................................................... 76

    3.7.2 Anlise por ondeletas.............................................................................................. 77

    CAPTULO 4.................................................................................................................... 81

    ANLISE E RESULTADOS........................................................................................... 81

    4.1 Sries temporais dos anis de crescimento de rvores e geofsicas............................ 81

    4.1.1 Amostras de araucrias............................................................................................ 81

    4.1.2 Amostras petrificadas............................................................................................... 85

    4.1.3 Sries geofsicas e climatolgicas............................................................................ 88

    4.2 Anlises das sries dos anis de crescimento e das sries geofsicas......................... 88

    4.2.1 Anlise espectral clssica utilizando o mtodo de regresso iterativa (ARIST)...... 89

    4.2.1.1 Anlises das amostras do presente - Araucrias................................................... 89

    4.2.1.2 Anlises das amostras do passado amostras petrificadas................................... 98

    4.2.2 Anlises por ondeletas (wavelets) ........................................................................... 102

    4.2.2.1 Anlise de ondeleta das amostras de araucrias do presente................................ 102

    4.2.2.2 Espectros de ondeletas-cruzadas das amostras de araucria do presente............. 105

    4.2.2.3 Anlise de ondeleta das amostras de rvores petrificadas.................................... 117

    4.3 Semelhanas e diferenas das amostras de araucrias do passado recente e do

    passado distante.................................................................................................................

    122

    CAPTULO 5.................................................................................................................... 125

    CONCLUSES................................................................................................................. 125

    BIBLIOGRAFIA............................................................................................................... 129

    APNDICE A FUNES DE AJUSTES..................................................................... 143

  • LISTA DE FIGURAS

    1.1 Nmero anual de ciclones ocenicos na ndia de Meldrum e o nmero de grupos de

    manchas solares..............................................................................................................20

    2.1 Variao na mdia anual do nmero de manchas solares, mostrando os ciclos solares e

    um possvel perodo de longa durao............................................................................27

    2.2 Imagem mostra uma seqncia de imagens em raios-X do Sol do mximo ao mnimo

    solar.................................................................................................................................29

    2.3 Valores medidos da concentrao de 14C (curva slida) plotado junto com o nmero de

    manchas solares. O mnimo de Maunder (1645-1715) claramente evidente, Mas o

    Mnimo de Dalton (1795-1825) menos claro. A lente resposta do 14C no tempo tende a

    obscurecer variaes mais fracas tais como o mnimo de Dalton. Tambm notado o

    mnimo de Spoerer em torno de 1500, e outro grande mnimo em torno de 1350.

    Crculos pretos so dados de manchas solares vistas a olho nu......................................31

    2.4 Reconstruo do nmero de manchas solares para o ltimo milnio, obtido da srie

    temporal do nmero de manchas solares (Rz) para o perodo de 1700-1999, mostrando

    os grandes mximos e mnimos na atividade solar, pocas de mnimos de Oort, Wolf,

    Sprer, Maunder e Dalton, e mximos Medieval e Moderno.........................................36

    2.5a Temperatura da rea continental do hemisfrio norte plotado com o comprimento do

    ciclo solar........................................................................................................................37

    2.5b Temperatura mdia global da superfcie do mar plotado com o nmero de manchas

    solares. Na similaridade dessas curvas evidente que o Sol tem influenciado o clima

    dos ltimos 150 anos. Tanto o nmero de manchas solares e o comprimento do ciclo

    solar so representativos da quantidade de energia solar que a Terra recebe.................38

    2.6 Estrutura dos anis de crescimento de conferas apresentando (a) o lenho inicial

    (earlywood) com clulas de paredes finas e grande dimetro, em cores claras, (b) o

  • lenho tardio (latewood) com clulas de paredes grossas e dimetro pequeno, em cores

    escuras.............................................................................................................................42

    3.1 Ilustrao mostrando a fragmentao do PANGEA dando origem aos continentes

    eursia e gondwana h 225 milhes de anos atrs. A partir da, o Gondwana e a Eursia

    se fragmentam e comea a migrao continental, com o afastamento da Amrica do

    continente africano/europeu........................................................................48

    3.2 Escala de tempo geolgico..............................................................................................49

    3.3 Ocorrncia de representantes da famlia Araucariaceae durante o Tercirio..................50

    3.4 Fotomacrografia (A) e fotomicrografia-100X (B) do lenho de Araucaria angustifolia e

    anis de crescimento ausentes (C)...................................................................................53

    3.5 Xilema secundrio e os anis de crescimento das amostras petrificadas (a) e atuais (b)

    de araucrias ...................................................................................................................55

    3.6 Distribuio da Araucaria angustifolia na Amrica do Sul............................................56

    3.7 Exemplares de Araucaria angustifolia localizados em Severiano de Almeida..............57

    3.8 Classificao climtica do estado do Rio Grande do Sul..............................................58

    3.9 Faixas de precipitao sazonal e anual...........................................................................59

    3.10 Comportamento da temperatura sazonal e anual.........................................................60

    3.11 Localizao dos stios paleontolgicos.........................................................................61

    3.12 Fragmentos de tronco fssil rolado na superfcie (Jardim Paleobotnico - Mata)........62

    3.13: (A) Lenhos fsseis utilizados no calamento e como monumento na praa em frente

    Igreja Luterana da cidade de Mata. (B) Amostra com seus anis de crescimento..........63

  • 3.14 Partes componentes de um trado e as amostras de lenho de Araucaria angustifolia

    coletadas .........................................................................................................................64

    3.15 Obteno de amostra de lenho do restante do tronco enraizado, seo transversal de

    tronco de Araucaria angustifolia....................................................................................65

    3.16 Disco adiamantado onde foram realizados os cortes das amostras...............................68

    3.17 Mesa de mensurao marca Lintab III, com deslocamento horizontal e preciso de

    1/100 mm, e sistema de iluminao de fibra tica Leica modelo KL 1500.................70

    3.18 Fragmentao que se d atravs das linhas de fraqueza representadas pelo cmbio e

    pelos limites dos anis de crescimento. (a) amostra AEI, (b) amostra BR287I..............71

    3.19 Exemplo de uma imagem bitmap digitalizada de uma amostra do Pinus taeda,

    coletada na regio sul do Brasil. Imagem foi digitalizada com uma resoluo de 900

    dpi....................................................................................................................................72

    3.20 Janela inicial do programa TIIAA, que apresenta o tratamento aplicado na imagem

    para salientar melhor os contornos dos anis de crescimento........................................ 73

    3.21 Janela final do programa TIIAA que contm a imagem dos anis de crescimento de

    rvores (A), para digitalizar cada anel movimenta-se a posio de cada um. Em (B)

    mostrado o grfico dos tons de cinza em funo da sua posio na imagem (em pixel),

    juntamente com a posio de cada anel (representado pelo smbolo ). Como exemplos so mostrados os anis de crescimento nmeros 11, 12, 13 e 14 (A), e suas

    respectivas posies (B)..................................................................................................74

    4.1 Sries temporais da espessura dos anis de crescimento das 12 amostras do lenho das

    rvores coletadas em Passo Fundo..................................................................................82

    4.2 Sries temporais da espessura dos anis de crescimento das 10 amostras do lenho das

    rvores coletadas em Severiano de Almeida...................................................................82

  • 4.3 Sries temporais da espessura dos anis de crescimento das 12 amostras do lenho das

    rvores coletadas em Passo Fundo (curvas pretas) e suas tendncias (curvas

    vermelhas).......................................................................................................................83

    4.4 Sries temporais da espessura dos anis de crescimento das 10 amostras do lenho das

    rvores coletadas em Severiano de Almeida (curvas pretas) e suas tendncias (curvas

    vermelhas).......................................................................................................................83

    4.5 Cronologias de cada rvore de Passo Fundo e cronologia mdia do local.....................84

    4.6 Cronologias de cada rvore de Severiano de Almeida e cronologia mdia do local......85

    4.7 Sries temporais da espessura dos anis de crescimento das 15 amostras do lenho das

    rvores coletadas em Mata e So Pedro do Sul. .............................................................86

    4.8 Sries temporais da espessura dos anis de crescimento das 15 amostras do lenho das

    rvores coletadas em Mata e So Pedro do Sul (curvas pretas) e suas tendncias (curvas

    vermelhas).......................................................................................................................86

    4.9 Cronologias dos anis de crescimento de cada amostra do lenho de Mata e So Pedro do

    Sul....................................................................................................................................87

    4.10 Mdia anual do nmero de manchas solares (a), ndice geomagntico anual aa (b),

    anomalia da temperatura entre a latitude 24o a 44o sul (c), ndice de oscilao sul, SOI

    (d)....................................................................................................................................88

    4.11 Espectros das 12 sries cronolgicas das amostras do lenho de Passo Fundo e da

    cronologia mdia do local...............................................................................................91

    4.12 Ocorrncia dos perodos encontrados nas 12 amostras do lenho de Passo Fundo........92

    4.13 Espectros das sries cronolgicas das amostras do lenho de Severiano de Almeida e da

    cronologia mdia do local...............................................................................................93

  • 4.14 Ocorrncia dos perodos encontrados nas amostras do lenho de Severiano de

    Almeida...........................................................................................................................94

    4.15 Espectros de amplitude em funo da freqncia das cronologias mdias das amostras

    de Passo Fundo (a), de Severiano de Almeida (b), da srie temporal do nmero de

    manchas solares (c), da srie temporal do ndice geomagntico aa (d), da srie temporal

    da anomalia da temperatura entre 24o a 44o sul (e) e do ndice de oscilao sul SOI

    (f).....................................................................................................................................96

    4.16 Espectro de amplitude das sries cronolgicas das amostras do lenho petrificado de

    Mata e So Pedro do Sul...............................................................................................100

    4.17 Ocorrncia dos perodos encontrados nas amostras dos lenhos petrificados..............101

    4.18 (a) Cronologia mdia da largura dos anis de crescimento de rvores de Passo Fundo.

    (b) Espectro de ondeleta com o cone de confiana (curva preta) e nvel de confiana de

    95% (contorno branco)..................................................................................................104

    4.19 (a) Cronologia mdia da largura dos anis de crescimento de rvores de Severiano de

    Almeida. (b) Espectro de ondeleta com o cone de confiana (curva preta) e nvel de

    confiana de 95% (contorno branco). ..........................................................................104

    4.20 Espectro de potncia cruzado entre o nmero de manchas solares e a srie cronolgica

    mdia dos anis de crescimento de Passo Fundo, com o cone de confiana (curva

    branca) e o nvel de confiana de 95% (contorno branco)............................................106

    4.21 Espectro de potncia cruzado entre o nmero de manchas solares e a srie cronolgica

    mdia dos anis de crescimento de Severiano de Almeida, com o cone de confiana

    (curva branca) e o nvel de confiana de 95% (contorno branco).................................107

    4.22 Espectro de potncia cruzado entre o ndice geomagntico aa e a srie cronolgica

    mdia dos anis de crescimento de Passo Fundo, com o cone de confiana (curva

    branca) e o nvel de confiana de 95% (contorno branco)............................................110

  • 4.23 Espectro de potncia cruzado entre o ndice geomagntico aa e a srie cronolgica

    mdia dos anis de crescimento de Severiano de Almeida, com o cone de confiana

    (curva branca) e o nvel de confiana de 95% (contorno branco).................................111

    4.24 Espectro de potncia cruzado entre a anomalia da temperatura entre 24o e 44o sul e a

    srie cronolgica mdia dos anis de crescimento de Passo Fundo, com o cone de

    confiana (curva branca) e o nvel de confiana de 95% (contorno branco)................112

    4.25 Espectro de potncia cruzado entre a anomalia da temperatura entre 24o e 44o sul e a

    srie cronolgica mdia dos anis de crescimento de Severiano de Almeida, com o cone

    de confiana (curva branca) e o nvel de confiana de 95% (contorno branco)...........113

    4.26 Espectro de potncia cruzado entre o ndice SOI e a srie cronolgica mdia dos anis

    de crescimento de Passo Fundo, com o cone de confiana (curva branca) e o nvel de

    confiana de 95% (contorno branco)........................................................................... 114

    4.27 Espectro de potncia cruzado entre o ndice SOI e a srie cronolgica mdia dos anis

    de crescimento de Severiano de Almeida, com o cone de confiana (curva branca) e o

    nvel de confiana de 95% (contorno branco)..............................................................115

    4.28 Espectros de ondeletas das sries cronolgicas das amostras AEI (painel esquerdo)

    AEII (painel direto)......................................................................................................118

    4.29 Espectros de ondeletas das sries cronolgicas das amostras AEIII (painel esquerdo)

    AEIV (painel direto).....................................................................................................118

    4.30 Espectros de ondeletas das sries cronolgicas das amostras AEV (painel esquerdo)

    AEVI (painel direto).....................................................................................................119

    4.31 Espectros de ondeletas das sries cronolgicas das amostras BRII (painel esquerdo)

    BRI (painel direto)........................................................................................................119

    4.32 Espectros de ondeletas das sries cronolgicas das amostras SPSa325 (painel

    esquerdo) SPSr2 (painel direto)....................................................................................120

  • 4.33 Espectros de ondeletas das sries cronolgicas das amostras SPSb (painel esquerdo)

    SPSp (painel direto)......................................................................................................120

    4.34 Espectros de ondeletas das sries cronolgicas das amostras MataCap (painel

    esquerdo) Mata M1 (painel direto)...............................................................................121

    4.35 Espectro de ondeleta da srie cronolgica da amostra Mata M2................................121

  • LISTA DE TABELAS

    3.1 Informaes sobre a altitude, latitude e longitude dos locais de coleta....................... 57

    3.2 Nomenclatura das amostras de araucrias em relao aos locais de coleta................. 64

    3.3 Informaes sobre as amostras dos lenhos coletados em cada cidade........................ 66

    3.4 Nomenclatura das amostras petrificadas em relao aos locais de coleta................... 66

  • CAPTULO I

    INTRODUO

    O meio ambiente da Terra como ns o conhecemos s existe entre outros motivos por causa

    da energia que o planeta recebe do Sol. A radiao solar influencia as circulaes

    atmosfricas e ocenicas que, por sua vez, influenciam a biosfera (National Research

    Council, 1994). O estudo das variaes solares associadas ao seu fluxo de energia

    inteiramente observacional e, tambm, muito recente, o que restringe muito a compreenso

    de seus efeitos sobre o clima do planeta e uma possvel predio do mesmo para o futuro

    (Hoyt e Schatten, 1997). Dados obtidos por satlites, desde o incio de 1980, indicam uma

    variao percentual de 0.1% na luminosidade solar durante o ciclo de 11 anos, com uma

    emisso maior para o perodo do mximo em relao ao mnimo no nmero de manchas

    solares (Wilson e Hudson 1988).

    A pesquisa desenvolvida habitualmente sobre as relaes Sol-Terra-Clima realizada

    principalmente pela aquisio e anlise de dados observacionais numa escala de tempo que

    vai do passado recente ao presente. Entre os dados observacionais mais usados, podem ser

    citados: as manchas solares, dados geomagnticos e ionosfricos, dados meteorolgicos,

    climticos e hidrolgicos.

    Na Terra, vrios fenmenos geofsicos ou biolgicos propiciam a possibilidade de se

    recolher amostras, cuja anlise fornece dados sobre o passado (Rigozo, 1994). Fenmenos

    naturais, como descritos na geologia, registram sua prpria histria em grande escala de

    tempo, da ordem de bilhes de anos. Na escala de milhes de anos, os sedimentos marinhos

    e ocenicos fornecem dados importantes sobre a evoluo da Terra nos aspectos

    climatolgicos, paleomagntico e biolgicos. Em escalas menores, de sculos a milhares de

    anos, possvel, por exemplo, investigar o passado atravs das rvores que registram, em

    seus anis de crescimento, a memria das variaes do ambiente onde vivem. Nessas

    variaes possvel identificar, dentre outras, as que so devidas a mudanas climticas

    associadas as variaes da atividade solar j conhecida, atravs de observaes do nmero

    das manchas solares (Nordemann e Rigozo, 2003).

    19

  • Alguns fenmenos terrestres parecem ser influenciados pelas variaes da atividade solar

    de curto e longo perodos (Murphy, 1990). Meldrum, um meteorologista britnico na ndia,

    em 1885, encontrou uma forte relao entre o nmero de manchas solares e o nmero de

    ciclones, como mostrado na Figura 1.1. O resultado encontrado por Meldrum convenceu

    muitos cientistas da real relao entre Sol-Terra, e as investigaes comearam. Dezenas de

    artigos relacionando mudanas no Sol a variaes na Terra apareceram: relaes entre a

    variao do Sol e a temperatura; precipitao e seca, fluxo de rios, ciclones; populao de

    insetos; destruies; preos de cereais, e muitos outros tpicos (Hoyt e Schatten, 1997).

    Figura 1.1: Nmero anual de ciclones ocenicos na ndia de Meldrum e o nmero de

    grupos de manchas solares.

    FONTE: Hoyt e Schatten, 1997.

    Os registros isotpicos em rvores apresentam informaes significativas sobre as

    mudanas ambientais e as relaes Sol-Terra no passado (Mori, 1981). Um monitoramento

    indireto dessas variaes no passado foi feito por Stuiver e Quay (1980), atravs de

    medidas das variaes (14C) do carbono 14C produzido na atmosfera terrestre pela

    incidncia da radiao csmica e assimilado pelas rvores. Mudanas na razo de produo

    do 14C esto associadas s variaes da atividade solar, que apresentam uma relao inversa

    nas pocas que a atividade solar mxima existe uma baixa produo do 14C e nas pocas

    que a atividade solar mnima existe uma maior produo do 14C. Estas flutuaes se

    apresentam em escalas seculares bem como em escalas de dcadas, incluindo o ciclo solar

    de 11 anos. O comportamento de longo perodo do Sol tambm mostra transientes

    dinmicos tais como o mnimo de Maunder de 1645 a 1715 DC, caracterizado por um

    20

  • surpreendente decrscimo da atividade solar. Novos mtodos de medida tm, recentemente,

    permitido compreender mais profundamente as variaes solares nos ltimos 10000 anos.

    O prximo desafio buscar informaes sobre pocas mais antigas (Kurths et. al., 1993).

    A escassez de registros climticos continentais e a qualidade dos registros em anis de

    crescimento de rvores originaram o desenvolvimento da dendrocronologia e da

    dendroclimatologia (Fritts, 1976). O aproveitamento do estudo dos anis de crescimento de

    rvores para a pesquisa em Cincias Ambientais e, em particular, sobre a atividade solar no

    passado mais recente (Dutilleul e Till, 1992; Kurths, 1993; Murphy et al., 1996; Rigozo,

    1998; Rigozo et al., 2001; Nordemann et al., 2002). Ela se justifica pela excelente definio

    temporal, devida presena de anis de crescimento anuais que providencia uma excelente

    escala de tempo, e, dentro de certas condies, pela sensibilidade de parmetros analisados

    (espessura dos anis, composio elementar ou isotpica) aos fatores ou condies

    ambientais citadas (luz, temperatura, disponibilidade de gua e de nutrientes e condies

    adversas) (Fritts, 1976).

    Embora a conexo entre variaes solares e anis de crescimento seja mais complexa do

    que entre variaes solares e radioistopos cosmognicos, vrios estudos sugerem que tais

    conexes podem existir. Primeiramente, anis de crescimento de rvores tm sido usados

    para reconstruir o clima. Segundo, a evidncia da influncia solar no clima tambm tem

    sido encontrada em escala de tempo de sculos bem como em escala mais curta, de 11 anos.

    Terceiro, evidncias de ciclos solares em anis de rvores recentes tm sido observadas

    (Kurths et. al., 1993; Rigozo et. al, 2002; 2004; 2006; Nordemann et. al, 2005).

    Tradicionalmente, inferncias paleoclimticas baseadas em plantas tm focado no

    crescimento caracterstico e/ou em uma aproximao bioclimtica que fiam-se no uso de

    material taxonomicamente identificvel sob a hiptese que os requerimentos climticos dos

    fsseis so mais ou menos similares queles de seus relativos vivos mais prximos hoje

    (Poole et al, 2005). Um nmero de tcnicas tambm tem sido inventado por meio do qual

    dados paleoclimticos quantitativos podem ser derivados de materiais de plantas fsseis

    sem confiar muito na identificao taxonmica do material sob estudo. Grupos de folhas

    21

  • fsseis tm recebido a maior parte da ateno por meio da qual tcnicas utilizam a

    correlao conhecida entre a fisionomia da folha e parmetros do clima (Poole et al, 2005).

    Um tipo de material biolgico que tem sido pouco utilizado a este respeito a madeira

    fssil. A madeira freqentemente espalhada e abundante atravs do tempo geolgico, e

    unido com sua robustez natural, pode dar um arquivo potencialmente rico de dados

    paleoecolgico e paleoclimtico (Poole et al, 2005). Informaes podem ser determinadas

    da anlise dos anis de crescimento na madeira fssil (paleodendrocronologia) e da

    investigao de caracteres anatmicos especficos que so associados com certos aspectos

    do clima (Francis e Poole, 2002).

    O campo da paleoclimatologia tem se desenvolvido substancialmente e aumentado o nosso

    conhecimento sobre as dcadas passadas. Isto se deve necessidade de se entender e

    estimar as mudanas ambientais de longos perodos ou paleo-perspectivas que ocorreram

    ou ocorrero. claro que o clima varia em todas as escalas de tempo, de estaes do ano a

    milnios. E tambm claro que registros instrumentais de mudanas do clima so

    insuficientes para observar e estudar como o sistema do clima opera em escalas de tempo

    muito maiores do que umas poucas dcadas, ou sob forantes climticos diferentes do

    presente. A paleo-perspectiva permite fazer uso hbil de registros paleoclimticos,

    paleoceanogrficos e paleoecolgicos podendo ser a ligao do presente e futuro dentro do

    amplo contexto de muitas realizaes do sistema dinmico do clima passado (Overpeck,

    1995).

    O objetivo deste trabalho analisar a atividade solar, fenmenos geofsicos e fatores

    climticos nos anis de crescimento de rvores e suas inter-relaes atravs de anlises

    matemticas. Este trabalho se justifica pelo fato das cronologias de anis de crescimento de

    rvores representarem um registro natural, que so teis no estudo de possveis conexes

    entre variveis solares/geofsicas/climticas e porque elas podem ser usadas para inferir a

    sua evoluo durante perodos passados sem registros instrumentais. Isto nos conduz a

    investigar registros de anis de rvores de conferas atuais, nos ltimos 400 anos

    aproximadamente, e do passado, h cerca de 200 milhes de anos. As cronologias

    analisadas neste estudo so de amostras de rvores petrificadas e araucrias (Araucaria

    22

  • angustifolia) da regio Sul do Brasil (Rio Grande do Sul). Com este objetivo organizou-se

    o trabalho como segue:

    No Captulo II apresenta-se uma reviso bibliogrfica da literatura que descreve a relao

    Sol-Terra; registros e observaes da atividade solar e climtica; e como estas podem e so

    estudadas nas sries temporais de anis de crescimento de rvores;

    No captulo III descrevem-se, passo a passo, as metodologias empregadas no estudo, desde

    as escolhas das amostras e dos locais, os procedimentos de coleta das amostras, bem como

    o tratamento dado a elas. Tambm so mostradas a obteno e o tratamento das cronologias

    dos anis de crescimento das amostras de rvores.

    No Captulo IV apresentam-se os resultados das anlises das sries cronolgicas dos anis

    de crescimento. Os procedimentos detm-se na obteno da melhor curva de ajuste para

    cada srie, de modo que as tendncias de longo perodo, tais como, tendncia de

    crescimento e processos de distrbios dentro e/ou fora da floresta (por ex., derrubada de

    rvores, fogo, insetos, etc.) sejam eliminadas, a fim de se obter a cronologia mdia do local.

    No Captulo V apresentam-se as concluses obtidas e as observaes feitas durante a

    realizao de cada etapa do trabalho.

    No Apndice A apresentam-se as funes de ajustes representativas das longas tendncias

    dos anis de crescimento na obteno das cronologias dos anis de crescimento de rvores.

    23

  • 24

  • CAPTULO II

    RELAES SOL-TERRA

    A interao Sol-Terra e os aspectos ligados aos efeitos geofsicos e climticos da

    variabilidade da atividade solar representam um dos mais importantes problemas da

    Geofsica Espacial atual. As observaes diretas do Sol, o monitoramento de sua atividade

    atravs de ndices como o nmero de manchas solares, as medidas de parmetros de

    fenmenos ambientes (temperaturas do ar e do oceano, pluviometria, nveis de rios etc.) so

    os meios mais utilizados para se conhecer as variaes desses fenmenos e servem de base

    para analisar suas correlaes e realizar previses. Um monitoramento indireto das

    variaes solares e de outros fenmenos geofsicos, numa escala de tempo maior no

    passado, possvel devido existncia de registros naturais, que so capazes de gravar e

    reter informaes, melhorando a compreenso de seus efeitos sobre o clima do planeta e

    uma possvel predio do mesmo para o futuro, contribuindo para melhorar as previses e

    validar modelos.

    Neste Captulo so apresentados conceitos bsicos sobre a atividade solar e seus efeitos no

    clima da Terra em grandes escalas de tempo, bem como, os meios de estudo desta relao

    ao longo de milnios, os registros naturais, no caso, os anis de crescimento de rvores.

    2.1: Atividade Solar

    O Sol tem aproximadamente 4.5 bilhes de anos. Ele composto de 92.1% de hidrognio e

    7.8% de hlio, bem como de 0.1% dos demais elementos. Estima-se que, desde o seu incio,

    a luminosidade do Sol tem gradualmente aumentado por aproximadamente 30%. Acredita-

    se que a energia gerada no Sol seja devido a uma cadeia de reaes nucleares ocorrendo

    dentro do Sol, com quatro tomos de hidrognio fundindo-se para formar um tomo de

    hlio. Como os quatro tomos de hidrognio tm mais massa do que um tomo de hlio, o

    excesso de massa convertido em energia. Esta energia transportada do interior do Sol,

    primeiro por radiao e ento por conveco para camadas mais externas, por ltimo

    levando deposio de energia na camada superficial (fotosfera). Na fotosfera a energia

    finalmente radiada para o espao (Hoyt e Schatten, 1997).

    25

  • A emisso de energia do Sol em todas as suas formas no constante, ela varia tanto no

    tempo (de segundos a sculos) quanto com a posio no Sol. Quando se observa o Sol em

    alta resoluo, em comprimentos de onda em H ou raios-X, a fotosfera e tambm a atmosfera solar revelam, estruturas que mudam dinamicamente de muitas maneiras. Estas

    estruturas so observadas em todas as latitudes no disco e em todos os nveis na atmosfera,

    e elas se manifestam em todas as regies do espectro eletromagntico. A atividade solar

    tem influncia sobre a distribuio dos campos magnticos e partculas carregadas no meio

    interplanetrio e tem importantes conseqncias no estado fsico da atmosfera superior da

    Terra e para a atividade geomagntica (Priest, 1987).

    A camada de conveco completa o transporte de energia e de sua irradiao do centro do

    Sol para o espao pela fotosfera, e mais importante para o vento solar. Ela determina as

    escalas temporais e espaciais da estrutura do campo magntico coronal que controla as

    propriedades do vento solar. O campo magntico gerado pelo processo de dnamo na zona

    convectiva. Deste campo resultam as manchas solares, solar flares, ejeo de massa

    coronal (Coronal Mass Ejections - CME) e outros tipos de atividade magntica, bem como

    o ciclo solar. Os ciclos solares, monitorados pelo nmero de manchas solares, so variaes

    peridicas na atividade, com uma durao dentro de um perodo mdio de 11 anos. Estas

    caractersticas resultam quando o campo magntico na superfcie do Sol ganha intensidade

    suficiente para inibir o fluxo de calor convectivo do interior do Sol (Hoyt and Schatten,

    1997).

    O nmero das manchas solares varia com periodicidade mdia de 11 anos. Proeminncias

    podem durar 200 dias, ao passo que um grande grupo de manchas pode durar metade do

    tempo e Solar Flares duram minutos a horas. Estas mudanas esto relacionadas ao ciclo

    de atividade solar o qual tradicionalmente medido pelo nmero de manchas solares (e.g.,

    Priest, 1987; Kivelson e Russell, 1995; Hoyt and Schatten, 1997).

    Com exceo das granulaes, quase todas as caractersticas observveis na atmosfera solar

    devem sua existncia ao campo magntico, isto , elas representam diferentes maneiras em

    que o plasma solar est respondendo ao desenvolvimento do campo magntico, do qual as

    manchas solares so exemplos mais contundentes (Priest, 1987; Hoyt and Schatten, 1997).

    26

  • A Figura 2.1 apresenta a srie do nmero de manchas solares (Rz), em mdias anuais, desde

    1700.

    Figura 2.1: Variao na mdia anual do nmero de manchas solares, mostrando os ciclos

    solares.

    O ciclo das manchas solares apresenta uma considervel variao no perodo de

    aproximadamente 11 anos. Por exemplo, entre 1750 - 1958 a mdia temporal entre os

    mximos foi de 10.9 anos, com um intervalo de 7.3 a 17.1 anos; ao passo que o perodo

    mdio entre os mnimos foi de 11.1 anos, com uma variao entre 9 a 13.6 anos. Outra

    caracterstica do ciclo solar que o tempo de aumento do mnimo para o mximo menor

    do que o de declnio para o mnimo novamente: a mdia no tempo de aumento de 4.5

    anos, enquanto o tempo de decaimento 6.5 anos, com a assimetria temporal entre a fase

    ascendente e a descendente sendo maior quanto maior o mximo. Tambm, um amplo

    intervalo no valor de mximo e mnimo na amplitude das manchas solares encontrado

    (Priest, 1987).

    Variaes de curto perodo no nmero de manchas solares tm magnitudes considerveis e

    parecem ocorrer de forma aleatria, embora uma variao de 27 dias esteja presente; isto

    corresponde ao perodo de rotao do Sol e causado parcialmente pela persistncia de

    grandes manchas solares por mais de uma rotao, e parcialmente pelas longitudes

    27

  • preferidas para seu aparecimento. Uma outra tendncia pode ser vista na Figura 2.1 pelos

    picos do nmero de manchas solares variar a cada sete ou oito ciclos (picos altos e baixos),

    o que sugere que um longo ciclo pode estar acontecendo ciclo de Gleissberg de

    aproximadamente 90 anos (Priest, 1987; Kivelson e Russell, 1995).

    Alguns fatos observacionais intrnsecos sobre grupos de manchas bipolares so que a

    polaridade das manchas a mesma, para todo um ciclo de 11 anos, revertendo seu sentido

    no incio do novo ciclo. Esta regra da polaridade das manchas solares foi proposta por Hale

    e Nicholson em 1925 e foi mostrado que ela obedecida por 97% dos grupos de manchas

    solares. Dois ciclos de manchas solares so necessrios para o Sol retornar ao mesmo

    estado de polaridade, resultando numa periodicidade de 22 anos que conhecido como

    ciclo de Hale (Priest, 1987).

    Em funo da atividade solar variar com o perodo de 11 anos, as estruturas do meio

    interplanetrio e o campo magntico interplanetrio tambm variam sistematicamente com

    este mesmo perodo. Com o congelamento das linhas de campo ao plasma, devido ao fato

    do vento solar ser altamente condutor, o campo magntico do Sol arrastado com o vento

    solar ao longo do meio interplanetrio, cuja intensidade prxima a Terra da ordem de 5

    nT. O vento solar e o campo magntico interplanetrio (Interplanetary magnetic field -

    IMF) interagem com o campo magntico terrestre configurando uma regio chamada

    magnetosfera. Perturbaes no campo magntico interplanetrio podem ser causadas por

    fenmenos solares como buracos coronais, exploses solares e ejees de massa coronal, e

    assim propiciar alteraes no campo magntico terrestre. As exploses solares e as ejees

    de massa coronal so formas de atividade solar de pequena durao, mas cujas freqncias

    seguem o ciclo de atividade solar (Parks, 1991; Kivelson e Russell, 1995).

    A energia mdia radiada para a Terra, conhecida como irradincia total do Sol ou constante

    solar, foi por muito tempo considerada invariante, mas sabe-se agora que ela varia em

    escalas de tempo de dias a dcadas e provavelmente escalas maiores. No topo da atmosfera

    da Terra a irradincia total do Sol aproximadamente 1366 W/m2. Durante o curso do ciclo

    solar de 11 anos, a energia mdia emitida pelo Sol muda por aproximadamente 0.1%.

    28

  • Assim, a constante solar varia entre 1365 a 1367 W/m2 (Lean, 1991; Frlich e Lean,

    1998).

    No mximo do ciclo solar quando as manchas solares escuras so mais numerosas no disco

    solar, o Sol emite energia com uma intensidade maior. A energia extra liberada no mximo

    das manchas solares vem das reas brilhantes rodeando as manchas ativas, as Faculae,

    reas mais brilhante do que a superfcie que as rodeiam, que aumenta a sada radiativa total.

    Durante o mnimo de Maunder, que ocorreu na ltima metade do sculo 17, tem sido

    postulado que a superfcie do Sol no foi somente desprovido de manchas e faculae, mas

    tambm foi menos brilhante (Hoyt and Schatten, 1997; Reid, 1995; Seinfeld and Pandis,

    1998).

    Em outros comprimentos de onda tais como UV e EUV a variabilidade solar pode ser

    muito maior. Em comprimentos de onda em raios-X, o Sol pode mudar por um fator de 100

    ou mesmo 1000 em poucos minutos, mas estes comprimentos de ondas somente afetam a

    alta atmosfera (Lean, 1991). A Figura 2.2 mostra uma seqncia de 5 anos de imagens em

    raios-X do Sol do mximo ao mnimo solar.

    Figura 2.2: Imagem mostra uma seqncia de imagens em raios-X do Sol do mximo ao

    mnimo solar.

    FONTE: NGDC NOAA, satlite YOHKOH Telescpio Raios-X.

    Pensa-se que a energia total que sai do Sol tem mudado significativamente sobre uma longa

    escala de tempo. Existe evidncia que a energia total do Sol pode ter sido mais baixa do que

    1360 W/m2 durante o sculo 19 e, mesmo mais baixa durante o sculo 17. Sobre esta escala

    29

  • de tempo de centenas de anos, a sada de energia do Sol pode ter mudado por 0.5% (Lean e

    Rind, 1994; Seinfeld and Pandis, 1998).

    O comportamento da atividade solar no passado baseado em dados histricos de auroras e

    catlogos de observaes a olho nu das manchas solares. Atravs destes catlogos foram

    encontrados perodos em torno de 11, 90, 200, 400 anos. De um catlogo de 2000 anos de

    observaes das manchas solares feitas na China foi obtido o espectro de potncia de

    variaes de longos perodos da atividade solar e foi encontrado um perodo de 210 anos

    (Dergachev e Raspopov, 2000).

    A existncia de periodicidades solares de aproximadamente 210 e 90 anos em sinais

    climticos obtidos de dados de crescimento de anis de rvores, sedimentos marinhos,

    varves, 18O em testemunhos de gelo etc. mostra que a irradncia solar e a entrada de energia solar na Terra podem estar variando com as variaes e tendncias de longos

    perodos da atividade solar (Dergachev e Raspopov, 2000).

    Medidas feitas por satlites desde 1979 fornecem um registro preciso da sada de energia do

    sol, em escala de tempo de minutos a dcadas. No existem medidas diretas da radiao

    solar estendendo-se alm do ltimo sculo ou mais. Os registros, indicadores, mais longos

    da atividade solar so derivados da abundncia de istopos atmicos que so produzidos na

    atmosfera pelo impacto de raios csmicos, a taxa de incidncia pela qual a Terra afetada

    pelas condies do Sol, e assim fornecem uma histria da mudana solar (Stuiver, 1980).

    Quando o Sol est mais ativo, seu prprio campo magntico blinda mais efetivamente os

    raios csmicos que caso contrrio chocar-se-iam com a atmosfera da Terra reduzindo assim

    a produo de 14C; contrariamente, quando o Sol est menos ativo, a Terra recebe mais

    raios csmicos, produzindo mais 14C. Istopos de 14C, encontrado em anis de rvores, e 10B, aprisionado em depsitos de gelo, so sensveis ao influxo de raios csmicos. Os

    registros desses istopos existem h milhares de anos. Eles exibem variaes cclicas em

    torno de 2300, 210 e 88 anos, bem como os ciclos de 11 anos das manchas solares, todos

    atribudos ao Sol (Murphy et al., 1996; Bucha, 1998; Seinfeld and Pandis, 1998; Raspopov

    et al., 2001). A Figura 2.3 mostra a concentrao de 14C de anis de rvores proporcional

    30

  • atividade solar e plotado junto com o nmero de manchas solares. Os ltimos mil anos

    revelam dois ou possivelmente trs grandes mnimos: (1) o mnimo de Maunder de 1645 a

    1715, (2) o mnimo de Spoerer em torno de 1500, e (3) o mnimo de Wolf em torno de

    1350. O Grande Mximo na atividade solar prximo de 1200 tambm evidente (Eddy,

    1976).

    Figura 2.3: Valores medidos da concentrao de 14C (curva slida) plotado junto com o

    nmero de manchas solares. O mnimo de Maunder (1645-1715) claramente

    evidente, Mas o Mnimo de Dalton (1795-1825) menos claro. A lenta

    resposta do 14C no tempo tende a obscurecer variaes mais fracas tais como o

    mnimo de Dalton. Tambm notado o mnimo de Spoerer em torno de 1500,

    e outro grande mnimo em torno de 1350. Crculos pretos so dados de

    manchas solares vistas a olho nu.

    FONTE: Eddy, 1976.

    A presente produo de 14C e 10B perece estar prxima aos nveis historicamente baixos,

    como um resultado da persistncia da alta atividade solar que inibe a taxa com a qual estes

    istopos so produzidos. Existe um aumento na radiao solar total de ~0.25% sobre os

    ltimos 300 anos (Seinfeld and Pandis, 1998).

    2.2: Causas das mudanas climticas

    A atmosfera no esttica. Ao contrrio, ela est sempre em constante agitao. As

    caractersticas atmosfricas mudam de lugar para lugar e com o decorrer do tempo em

    qualquer lugar e em escalas de tempo que variam desde os microssegundos at centenas de

    anos. Existem interaes importantes dentro da atmosfera, que podem ser resultantes ou

    mesmo causadoras de tais mudanas. Essas so apropriadamente denominadas mecanismos

    31

  • de realimentao, pois no existem processos simples unidirecionais de causa e efeito, uma

    vez que os efeitos freqentemente retornam para alterar suas causas. Assim, as mudanas

    dentro da atmosfera podem ser internamente induzidas dentro do sistema Terra-atmosfera

    ou externamente induzidas por fatores extraterrestres (Ruddiman, 2001; IPCC, 1995;

    Ayoade, 1998).

    Uma mudana no clima implica em uma mudana na circulao geral da atmosfera, da qual

    o clima depende em ltima anlise. Contudo, o clima envolve no somente a atmosfera

    como tambm a hidrosfera, a biosfera, a litosfera e a criosfera. Estes so os cincos

    componentes que formam o sistema climtico. Este sistema tambm est sujeito a

    influncias extraterrestres, particularmente do Sol. Portanto, o clima depende de, ou

    determinado por, dois fatores principais: 1) a natureza dos componentes que formam o

    sistema climtico e as interaes entre vrios componentes; 2) a natureza das condies

    geofsicas exteriores ao sistema climtico e as influncias que exercem sobre o sistema

    climtico (Hoyt e Schatten, 1997; Seinfeld and Pandis, 1998).

    O estado climtico em qualquer perodo depende de trs fatores cruciais que so: a) a

    quantidade de energia proveniente do Sol recebida pelo sistema climtico; b) a maneira

    pela qual esta energia distribuda e absorvida sobre a superfcie da Terra; c) a natureza da

    interao dos processos entre os vrios componentes do sistema climtico.

    As teorias de mudana climtica tentam explicar as variaes temporais nos trs fatores

    acima. Contudo, as variaes no clima ocorrem em diferentes escalas de tempo e, portanto,

    podemos requerer diferentes teorias para explicar tais variaes. Esta a razo por que

    nenhuma teoria isolada de mudana climtica foi considerada satisfatria na explicao de

    todas as variaes que ocorreram no clima mundial. Alm disso, acredita-se que vrios

    fatores atuam para causar uma mudana no clima. As vrias teorias de mudana climtica,

    que foram formuladas no decorrer dos anos, podem ser discutidas sob trs amplas

    categorias, a saber: causas terrestres, astronmicas e extraterrestres (Ayoade, 1998; Hoyt e

    Schatten, 1997; Seinfeld and Pandis, 1998).

    32

  • A. Causas terrestres: 1) Migrao polar e deriva continental, 2) Mudanas na topografia da

    Terra, 3) Variaes na composio atmosfrica, 4) Mudanas na distribuio das

    superfcies continentais e hdricas, 5) Variaes na cobertura de neve e de gelo,

    B. Causas astronmicas: 1) Mudanas na excentricidade da rbita terrestre, 2) Mudanas na

    precesso dos equincios, 3) Mudanas na obliqidade do plano de eclptica.

    C. Causas extraterrestres: 1) Variaes na quantidade de radiao solar emitida (output

    solar), 2) Variaes na absoro da radiao solar exterior atmosfera terrestre.

    Dos vrios mecanismos que tm sido propostos para explicar mudanas de longos perodos

    no clima devido a efeitos de fenmenos solares, trs diferentes aspectos da variabilidade

    solar podem, de modo concebvel, ter um impacto direto no ambiente da superfcie da

    Terra. So: 1) Variaes na irradincia espectral, especialmente prximo ao UV e no UV

    mdio, levando a mudanas no UV ambiente na superfcie da Terra, e possivelmente

    conduzindo variaes na dinmica troposfrica; 2) Variao da irradincia total do Sol (a

    constante solar), levando a mudanas no balano de radiao planetria, e a variaes no

    clima regional e global; 3) Variaes no vento solar, levando a mudanas na ionizao

    atmosfrica por raios csmicos e no circuito eltrico global, com potencial conseqncia

    para a nucleao e desenvolvimento de nuvens (Reid, 1999).

    2.3: A conexo Sol-Clima

    Os primeiros registros da relao entre o Sol e Terra datam de 400 anos antes de Cristo, na

    Grcia Antiga, quando Meton registrou o nascer do Sol e da Lua, durante 20 anos, com

    esperana de encontrar mudanas na suas localizaes. Atravs de suas observaes, ele

    percebeu manchas na face do Sol. Ao examinar seus registros pareceu confirmar-se suas

    crenas que quando o Sol tem mais manchas, o tempo tende a ser mido e chuvoso (Hoyt

    and Schatten, 1997).

    Manchas solares, flares, ejees de massa coronal, e outros tipos de atividade magntica,

    bem como o ciclo solar de 11 anos, devem sua existncia ao campo magntico solar. Junto

    com as variaes de 11 anos esto mudanas com durao mais longa, tais como o ciclo de

    33

  • Gleisssberg, com variaes de escala de tempo de aproximadamente 100 anos. Estas

    variaes solares de longo perodo fazem do Sol um candidato para influenciar nosso clima

    sobre longas escalas de tempo (Kivelson e Russell, 1995).

    A quantidade de radiao solar que alcana a Terra e as mudanas na orientao da Terra

    ao Sol tm sido as maiores causas de mudanas climticas atravs de sua histria. Se a

    intensidade da radiao do Sol diminuir 5 a 10% e no existir outro fator compensatrio, o

    gelo tragaria o planeta em menos de um sculo. Durante os milhes de anos passados, a

    Terra experimentou 10 grandes e 40 pequenas pocas de glaciaes. Todas parecem ter sido

    controladas por trs elementos orbitais que variam ciclicamente sobre o tempo. Primeiro,

    mudanas na inclinao da Terra de 22o a 24.5o a cada 41000 anos. Segundo, quando a

    Terra est mais prxima do Sol tambm varia com ciclos de 19000 e 24000 anos. Terceiro,

    a forma de rbita da Terra varia de uma forma mais circular para uma mais elptica com um

    perodo de 100000 anos (Seinfeld and Pandis, 1998).

    Os ciclos climticos causados por estes fatores orbitais so chamados de ciclos de

    Milankovitch. Superposto aos ciclos de Milankovitch esto mudanas no Sol que ocorrem

    sobre dias ou meses ou poucos anos. Mudanas orbitais sozinhas perecem no ter causado

    as vastas mudanas do clima associadas com glaciaes e no glaciaes. Realimentaes,

    tais como mudanas na refletividade da Terra, quantidade de partculas na atmosfera, e o

    contedo de dixido de carbono e metano da atmosfera, atuam juntos com as mudanas

    orbitais para aumentar o aquecimento e o resfriamento global. Os nveis de dixido de

    carbono e metano, como mostrado nas medidas dos testemunhos de gelo, decrescem

    durante tempos de glaciaes e aumentam durante perodos de aquecimento, embora no se

    saiba exatamente como ou por que suas concentraes crescem ou decrescem (Seinfeld and

    Pandis, 1998).

    Outras variaes terrestres (ex., aerossis vulcnicos) podem influenciar o clima por

    poucos anos, mas no podem dirigir o sistema do clima como forante de longa escala de

    tempo necessrio para fornecer qualquer coisa alm de distrbios temporrios e irregulares.

    34

  • A reduo de energia de aproximadamente 0,1% provavelmente no seja suficiente para

    influenciar o clima. Talvez mais crticas do que a variao de 0,1% na constante solar

    sejam as variaes na irradincia espectral. Curtos comprimentos de onda no UV e EUV

    variam mais do que 10% atravs do ciclo solar. Estas variaes podem influenciar

    significativamente as camadas mais sensveis e rarefeitas da atmosfera da Terra e assim

    podem ter importantes implicaes para mudanas do clima (Lean, 1991; Seinfeld and

    Pandis, 1998).

    Registros da atividade solar antigamente podem ser deduzidos de istopos cosmognicos

    (10Be, 18O, 14C, etc.) os quais mostram que registros da temperatura da Terra

    freqentemente, parecem estar correlacionados diretamente com a atividade solar: quando a

    atividade alta, a Terra quente (Hoyt and Schatten, 1997).

    Durante a pequena era do gelo, no sculo 17, o clima foi notavelmente mais frio em todo o

    mundo. Este est correlacionado com o mnimo de Maunder, um intervalo com poucas

    manchas solares e auroras (tempestades geomagnticas). Nos sculos 11 e 12, um mximo

    medieval na atividade solar corresponde a condies climticas mais favorveis. No final

    de 1700 e incio dos anos de 1800, mnimo moderno ou de Dalton, a atividade solar

    diminuiu, e esta era provocou frio (Hoyt and Schatten, 1997). A Figura 2.4 mostra os

    grandes mximos e mnimos na atividade solar para o ltimo milnio, pocas de mnimos

    de Oort, Wolf, Sprer, Maunder e Dalton, e mximos Medieval e Moderno (Rigozo et al.

    2001). agora aceito que o resfriamento global durante a Era do Gelo o resultado de

    mudanas na distribuio e quantidade de luz do Sol que alcana a Terra. Durante a ltima

    era do gelo, a temperatura mdia global da Terra foi de aproximadamente 6 oC mais fria do

    que hoje (Seinfeld and Pandis, 1998).

    35

  • Figura 2.4: Reconstruo do nmero de manchas solares para o ltimo milnio, obtidos da

    srie temporal do nmero de manchas solares (Rz) para o perodo de 1700-1999,

    mostrando os grandes mximos e mnimos na atividade solar, pocas de

    mnimos de Oort, Wolf, Sprer, Maunder e Dalton, e mximos Medieval e

    Moderno.

    FONTE: Adaptado de Rigozo et al. 2001.

    Nos ciclos recentes, a atividade solar apresenta-se em nveis relativamente elevados. O

    aumento da temperatura global est aproximadamente paralela a atividade solar (Hoyt and

    Schatten, 1997). Dados da temperatura global esto disponveis desde aproximadamente

    1860 at o presente. As Figuras 2.5a e 2.5b mostram a comparao da temperatura mdia

    global e a atividade solar. Estas correlaes so evidncias que o Sol tem contribudo para o

    aquecimento global do sculo 20. Estima-se que aproximadamente 1/3 do aquecimento

    global pode ser o resultado de um aumento na energia solar. Ento, no est claro que a

    atividade humana esteja mudando o clima hoje. A atividade solar pode tambm estar

    contribuindo para mudanas no clima e provavelmente mudado o clima no passado (Reid,

    2000; NGDC NOAA).

    36

  • As mudanas da temperatura mdia da superfcie da Terra para os ltimos 150 anos

    mostram uma boa correlao com tendncias de longos perodos da atividade solar, levando

    em conta as variaes solares cclicas dos perodos de aproximadamente 210 a 90 anos.

    Assim, uma significante parte do aumento da temperatura da superfcie da Terra durante os

    ltimos 150 anos poder estar relacionada a ciclicidade de longos perodos nos processos do

    Sol (Dergachev e Raspopov, 2000).

    De acordo com pesquisas de Crowley (2000), entre 40-65% das variaes de temperatura

    na escala de dcadas durante os 1000 anos antes de 1850 foram causadas por mudanas na

    irradincia solar e vulcanismo. Enquanto que vulces individuais, usualmente, somente

    causam impactos no clima por um ano ou mais, erupes conjuntas podem perturbar o

    sistema climtico por perodos mais longos de tempo.

    Figura 2.5a: Temperatura da rea continental do hemisfrio norte plotado com o

    comprimento do ciclo solar.

    FONTE: Friss-Christensen and Lassen, 1991.

    37

  • Figura 2.5b: Temperatura mdia global da superfcie do mar plotado com o nmero de

    manchas solares. Na similaridade dessas curvas evidente que o Sol tem

    influenciado o clima dos ltimos 150 anos. Tanto o nmero de manchas

    solares e o comprimento do ciclo solar so representativos da quantidade de

    energia solar que a Terra recebe.

    FONTE: Reid, 1999.

    A Terra tem esquentado aproximadamente 0,8oC desde o sculo 17. Estimativas da

    temperatura da superfcie do hemisfrio norte de 1600 a 1800 se correlacionam bem com

    uma reconstruo das mudanas na radiao solar total, sugerindo uma influncia solar

    predominante no clima durante estes 200 anos, perodo pr-industrial.

    A radiao solar aumentou de 0,14% nestes 200 anos enquanto a temperatura subiu 0,28

    oC. A sensibilidade do clima indicado neste registro 2oC por 1% de mudana na emisso

    de radiao solar. Aplicando esta sensibilidade para o perodo desde 1850, o aumento de

    0,13% na radiao solar total nos ltimos 140 anos teria produzido um aquecimento de 0,26 oC. Isto , aproximadamente metade do que tem sido observado. Se aplicarmos a mesma

    sensibilidade nos ltimos 25 anos, mudanas solares podem dar conta por menos do que um

    tero do aquecimento observado (Seinfeld and Pandis, 1998).

    38

  • 2.4: Estudo da Relao Sol-Terra por Registros Naturais

    Os estudos cientficos sobre o passado so baseados em medidas feitas sobre registros

    naturais que, de uma maneira geral, fornecem informaes sobre fenmenos do passado

    acontecidos antes de o homem comear a estud-los. Os registros naturais permitiram

    desenvolver muitas cincias do passado como: paleomagnetismo e arqueomagnetismo,

    paleoclimatologia, paleontologia, arqueologia etc. (Nordemann e Rigozo, 2003).

    As mudanas climticas do passado, nas diferentes escalas de tempo, so estudadas com a

    utilizao de diferentes tcnicas e evidncias. As discusses dos climas passados esto

    organizadas em duas partes. A primeira trata dos climas passados durante um perodo

    geolgico anterior histria registrada. A segunda trata dos climas durante a histria

    registrada. Nosso conhecimento do clima predominante na fase anterior histria registrada

    vem de fontes indiretas de evidncia na crosta terrestre. Tais evidncias de climas passados

    so muito variadas (Ayoade, 1998).

    Variaes paleoclimticas envolvem um amplo intervalo de escala de tempo, e suas causas

    associadas operam em diferentes freqncias. Muitos trabalhos paleoclimticos tm

    focalizado que as variaes de longos perodos no clima esto envolvidas com mudanas

    das placas tectnicas. Outros trabalhos evidenciam variaes intermedirias, associadas s

    caractersticas orbitais da rotao da Terra, causando ciclos glaciais e interglaciais.

    Variaes mais curtas, de sculos a milnios, como os ciclos de eroso, de mudana

    vegetacional, e da histria da humanidade tm sido reconstrudos e correlacionados a ciclos

    da atividade vulcnica, das variaes nos gases atmosfricos e da atividade solar.

    Informaes paleoclimticas enfatizando variaes de escalas de tempo de estaes a

    sculos podem ser obtidas em registros de testemunhos de gelo, sedimentos de varves,

    corais e anis de crescimento de rvores. Variaes com freqncias maiores tm sido

    identificadas como os eventos El Nio/ Southern Oscillation (ENSO), as variaes solares

    anuais, o vu de poeira vulcnica, oscilao bienal da atmosfera e variabilidade climtica

    aleatria (Fritts, 1991).

    Os efeitos do fenmeno El Nio no clima da Amrica do Sul so importantes e tipicamente

    induzem secas no nordeste do Brasil e fortes chuvas com inundaes no sul. A cronologia

    39

  • dos anis de crescimento de rvores representa um dos registros naturais e pode ser usada

    para inferir a evoluo de tais eventos durante perodos passados, sem registros climticos

    instrumentais, bem como a influncia da atividade solar na taxa de crescimento da rvore

    (Nordemann et al., 2002).

    H muitos anos que os especialistas avaliam a idade das rvores pela contagem de seus

    anis de crescimento anuais, a dendrocronologia. Essa palavra tem origem na associao de

    trs palavras do grego antigo: dendro-crono-logia rvore-tempo-estudo.

    A dendrocronologia determina a idade das rvores pela anlise dos anis de crescimento

    formados em seu tronco ano a ano e estabelece relaes com eventos climticos

    (Schweingruber, 1988). A dendrocronologia uma tcnica que caracteriza os anis de

    crescimento anuais de rvores, que registram tambm na celulose de suas clulas a

    atividade do 14C (Stuiver and Quay, 1980).

    Inmeras so as aplicaes desta cincia. Dentre elas destacam-se os estudos que

    comprovaram o ciclo das manchas solares, pois foram observados valores das larguras de

    anis de crescimento de diferentes espcies arbreas, que relacionaram-se aos perodos de

    maior e menor atividade solar (Dergachev e Raspopov, 2000; Raspopov et al., 2001,

    Rigozo et al., 2004).

    A dendroarqueologia tem auxiliado na datao de peas de madeira encontradas em stios

    arqueolgicos e de obras de arte. A dendroclimatologia relaciona os anis de crescimento

    anual com as condies climticas, permitindo reconstrues e caracterizaes de

    mudanas na temperatura global e da alternncia de perodos secos e midos que ocorreram

    no passado. A dendroecologia possibilita determinar o desenvolvimento das rvores em

    plantaes, definir os processos de manuteno das reas plantadas para a obteno da

    rentabilidade desejada, bem como caracterizar os efeitos do desmatamento sobre o

    restabelecimento das populaes nativas. A Dendrogeologia relaciona as dataes de

    eventos geolgicos passados como erupes vulcnicas, terremotos, movimento de dunas,

    entre outros (Seitz e Kannimen, 1989).

    40

  • As primeiras descries sobre anis de crescimento foram feitas por Leonardo da Vinci no

    sculo XV, ao verificar a relao entre os perodos de chuva e o crescimento das rvores

    (Fritts, 1976).

    Com o advento do microscpio os estudos anatmicos se desenvolveram de tal forma que

    em 1855 j se conhecia como os lenhos das rvores se desenvolviam (Schweingruber,

    1988). Com estas observaes estavam criados os princpios bsicos da dendrocronologia,

    possibilitando associar os anis de crescimento anuais de rvores com os eventos

    ambientais e sua devida datao.

    Dados de anis de crescimento de rvores podem ser analisados para revelar padres

    espacial e temporal da variao do clima em resposta a forantes naturais, tais como ENSO,

    erupes vulcnicas, e ciclos solares (Fye, 2001).

    Com a largura dos anis de crescimento de rvores pode-se estudar a variabilidade anual de

    crescimento e correlacionar com temperatura e precipitao. Devido a extensa localizao

    das rvores sobre o globo, os registros dos anis de crescimento revelam padres de

    oscilaes que diferem de regio para regio. Um registro de anis de rvores de 2290 anos

    da Tasmnia documenta um modo oscilatrio relativamente estvel com perodos mdios

    de 31, 56, 79 e 204 anos (Schimel e Sulzman, 1995).

    Os anis de crescimento de conferas aparecem em cortes transversais do tronco sob a

    forma de uma sucesso de zonas claras e zonas escuras. As primeiras correspondem

    madeira formada no incio do perodo de crescimento (lenho inicial ou primaveril), com

    clulas caracterizadas por paredes celulsicas finas e grandes dimetros citoplasmticos. A

    madeira produzida no final do perodo de crescimento (lenho tardio ou outonal),

    constituda por clulas com paredes celulsicas espessas e reduzidos dimetros

    citoplasmticos (Amaral, 1994; Lisi, 2000).

    A transio entre o lenho inicial e o tardio de um nico ano progressiva, com as

    dimenses das clulas variando de maneira quase contnua do incio ao fim do perodo de

    crescimento. A passagem do lenho tardio de um ano para o inicial do ano seguinte

    abrupta, permitindo a determinao anatmica dos anis sucessivos e a medio de sua

    41

  • largura (Amaral, 1994). Na Figura 2.6 mostrada a estrutura dos anis de crescimento de

    conferas (corte transversal) apresentando o lenho inicial ou primaveril e o lenho tardio ou

    outonal.

    Figura 2.6: Estrutura dos anis de crescimento de conferas apresentando: o lenho inicial

    (earlywood) apresenta clulas com paredes finas e grande dimetros,

    aparecendo em cores claras, (b) o lenho tardio (latewood) apresenta clulas

    com paredes grossas e dimetro pequeno, aparecendo em cores escuras.

    FONTE: University of Arizona.

    Os estudos dendrocronolgicos utilizam rotineiramente espcies arbreas que se

    desenvolvem em regies de clima temperado, pois o inverno rigoroso ocasiona a parada de

    crescimento do lenho dessas rvores, formando anis de crescimento anuais. No entanto,

    particularmente interessante o uso de espcies de regies de clima sub-tropical e/ou

    tropical, visto que tratam-se de regies com a maior biodiversidade atualmente e por serem

    pouco estudadas (Lisi, 2000).

    Nas regies de contraste bem fortes entre as estaes, latitudes mdia e elevada, os anis

    so geralmente bem marcados. Algumas espcies de rvores apresentam anis bem ntidos

    enquanto em outras as transies so pouco aparentes. Entre as rvores que apresentam

    anis bem visveis destacam-se as conferas como, por exemplo, os pinheiros, as araucrias

    e os ciprestes. Estas rvores apresentam anis bem visveis mesmo em regies de menor

    contraste entre as estaes (Nordemann e Rigozo, 2003). Regies de montanhas so

    excelentes fontes de registros paleoambientais por que seus sistemas fsico e biolgico so

    42

  • altamente sensveis a variaes climticas e estes sistemas fornecem registros atravs de um

    intervalo de resolues espacial e temporal. Anis de rvores de lugares de altas elevaes

    fornecem registros climaticamente sensveis que podem estender-se sobre mil anos ou mais

    com resoluo anual a sazonal (Luckman, 1994).

    Cronologias dos ndices de espessuras dos anis de crescimento de rvores tm sido usadas

    como registro das variaes dos ciclos solares no passado. Os modelos das variaes da

    espessura dos anis de crescimento geralmente indicam a presena de longos e curtos

    perodos na fase de crescimento. Em alguns casos, um significante ciclo de 11 anos

    evidente, com um pequeno atraso de tempo em relao ao ciclo solar. Normalmente,

    qualquer sinal solar superposto sobre outros sinais mais importantes, que so as

    periodicidades climticas (no relacionadas atividade solar), que possuem uma influncia

    intensa nos fatores de crescimento das rvores, tornando difcil a identificao direta da

    atividade solar, a partir das anlises do ndice da espessura do anel (Rigozo, 1999).

    2.5: Variaes de longo perodo na atividade solar e clima: Evidncias

    dendrocronolgicas

    Longas cronologias de variaes cclicas na atividade solar tm sido reconstrudas de uma

    ampla variedade de fontes de dados. Entre estas esto os anis de crescimento de rvores.

    Variaes de curtos e longos perodos da atividade solar parece exercer influncia em

    alguns fenmenos terrestres (Murphy, 1990).

    evidente que qualquer conjunto de dados de anis de rvores ser influenciado somente

    pelo clima local e que o grau de resposta a diferentes fatores climticos variar de acordo

    com a espcie, idade e localizao de rvores individuais. Entretanto, espera-se alguma

    resposta mudanas no Sol para variar similarmente entre os conjuntos de dados. Portanto,

    ao todo, possvel que mudanas climticas globais serem perceptveis se o conjunto de

    dados cobrir uma rea geogrfica suficientemente grande (Keqian e Butler, 1998).

    O clima global no necessariamente responde rapidamente a mudanas na entrada de

    energia solar. Prximo a grandes oceanos, a inrcia trmica do mar prolongar e adiar o

    efeito das mudanas do forante solar, em outras palavras, os oceanos suavizam e atrasam

    43

  • as mudanas climticas. O atraso no efeito pode ser da ordem de uma ou mais dcadas

    dependendo do tamanho do oceano e sua latitude. Assim, rvores individuais estaro

    sujeitas a diferentes funes de atraso e suavizao de acordo a sua localizao (Keqian e

    Butler, 1998).

    Nos ltimos tempos, estudos de anis de rvores esto sendo usados para determinar ou

    verificar fatores climticos que prevalecem em um dado lugar ou regio que pode causar

    variaes na largura dos anis de rvores, e empregados para inferir fenmenos solares

    (Rigozo, 1999; Rigozo et al., 2004; Raspopov et al., 2004; etc).

    A relao entre a largura dos anis de crescimento de rvores e variaes nas atividades

    solares tem sido estabelecida em numerosos estudos no crescimento de rvores em

    condies climticas crticas. Dados dendrocronolgicos e outros dados paleoclimticos

    indicam que o efeito mais pronunciado de variaes na atividade solar no clima

    observado para processos solares com periodicidades de 20 anos e maiores (Raspopov et

    al., 2001). Raspopov et al., (2001) realizaram anlises espectrais da concentrao de 14C em

    anis de rvores para os ltimos 8000 anos e variaes na largura dos anis em madeiras

    dos hemisfrios norte e sul para vrias centenas de anos encontrando variaes climticas

    de longos perodos correspondendo a oscilaes na atividade solar. Os perodos

    encontrados por eles foram: 2400, 720, 420, 210, 90, e 22-23 anos.

    Um monitoramento indireto das variaes de curto e longo perodos da atividade solar no

    passado foi feito por Stuiver e Quay (1980), atravs de medidas de 14C induzidos na atmosfera terrestre e registros em rvores. Mudanas na taxa de produo de 14C so

    inversamente associadas magnitude da atividade solar. Em pocas quando a atividade

    solar mxima existe uma produo mais baixa de 14C e em pocas quando a atividade

    solar mnima existe uma produo maior de 14C. Estas flutuaes esto presentes em

    escalas de tempo de sculos bem como em escalas de tempo de dcadas, incluindo o ciclo

    solar de 11 anos. Em sries temporais mais recentes de 14C estudadas em anis de

    crescimento de rvores de Bashkiria, Rssia, Kocharov et al. (1995) encontraram perodos

    prximos de 21 anos, 9.4-13.5 anos e 5.5 anos em suas anlises espectrais por Fourier e

    mtodos de mxima entropia. Damon et al. (1998) estudando uma srie temporal de 14C

    44

  • em anis de rvores, para o intervalo de tempo entre 1065 e 1250 D.C., encontraram

    perodos em 24.3, 9.8-13.9 e 5.5 anos. Eles tambm encontraram um perodo prximo a 52

    anos, que foi atribudo a uma possvel influncia do quarto harmnico do ciclo de Suess.

    No inicio do ltimo sculo o astrnomo A. E. Douglass comeou a estudar a largura de

    anis de rvores do Arizona e encontrou variaes cclicas de 11.3, 21.2 e 32.8 anos,

    atribuindo o ciclo de 11.3 anos ao ciclo do nmero de manchas solares (Hoyt and Schatten,

    1997). Evidncias do ciclo solar de 11 anos tambm foram encontrados em sries de anis

    de crescimento de rvores de Formosa por Mori (1981), com uma defasagem aproximada

    de 2.8 anos. Kurths et al. (1993) estudando duas conferas do Mioceno da Alemanha, de

    idade absoluta de 15-20x106 anos, tambm encontrou forte indicao do ciclo solar de 11

    anos registrado nos anis de crescimento destas amostras. Murphy (1990) observou

    periodicidades de 9-13 anos, 22 anos, relacionado ao ciclo solar de Hale, e 90 anos, ao ciclo

    solar de Gleissberg, em anis de rvores da Austrlia, que ele atribuiu a uma possvel

    influncia solar. Rigozo (1999) estudando a espessura dos anis de crescimento de rvores

    do Sul do Brasil e do Chile encontrou perodos em torno dos ciclos solares de 11, 22 anos,

    e de amostras de Concrdia (SC) foi encontrado o ciclo solar de Gleissberg em torno de 90

    anos.

    45

  • 46

  • CAPTULO III

    MATERIAIS E MTODOS

    Para a realizao deste trabalho, sobre o estudo das relaes Sol-Terra empregando anis de

    crescimento de rvores, foram desenvolvidos os seguintes passos: Primeiro: pesquisa

    bibliogrfica do estudo da atividade solar e da variabilidade climtica em registros de anis

    de rvores do presente e em fsseis; Segundo: levantamento dos locais e das possveis

    amostras a serem coletadas; Terceiro: aquisio das licenas para a coleta das amostras de

    rvores petrificadas e amostras de araucrias, junto aos rgos responsveis; Quarto:

    pesquisas de campo para a coleta de amostras de rvores atuais e petrificadas.

    Neste captulo so apresentados, passo a passo, os procedimentos de seleo do material e

    mtodos que foram utilizados na coleta e tratamento das amostras, bem como os mtodos

    de anlises dos dados empregados.

    3.1 Descrio do material empregado no estudo

    O emprego de anis de crescimento de conferas no estudo das relaes Sol-Terra, no

    passado, deve-se a estudos preliminares apresentarem fortes indcios de sinais climticos e

    do ciclo solar de 11 anos (Stuiver and Quay, 1980; Ammons et. al, 1983; Murphy, 1990;

    Kurths et. al., 1993; Nordemann et. al., 2002; Nordemann e Rigozo, 2003; Rigozo et. al,

    2004). Neste estudo empregaram-se amostras da flora gimnosprmica, conferas, do

    presente, araucria, e do passado, rvores petrificadas de aproximadamente 200 milhes

    de anos atrs. As localizaes no espao (localizao dos continentes) e no tempo (tempo

    geolgico) das amostras empregadas neste trabalho so mostradas nas Figuras 3.1 e 3.2,

    respectivamente.

    47

  • Figura 3.1: Ilustrao mostrando a fragmentao do PANGEA dando origem aos

    continentes EURSIA e GONDWANA h 225 milhes de anos. A partir

    da, o Gondwana e a Eursia se fragmentam e comea a migrao

    continental, com o afastamento da Amrica do continente africano/europeu

    FONTE: http://pubs.usgs.gov/publications/text/historical.html (U.S.

    Geological Survey)

    48

  • Figura 3.2: Escala de tempo geolgico. FONTE: U.S. Geological Survey

    A maior independncia da gua garantiu s gimnospermas seu grande sucesso adaptativo

    no Mesozico (Era Mesozica (do grego: meso = meio + zoe = vida) durou de 248,2 a 65

    milhes de anos), um perodo caracterizado por extensas e contnuas massas de terra

    (Figura 3.1) favorecedoras da disperso da flora, mas tambm pela existncia de reas secas

    e quentes no interior. Durante este tempo da histria da Terra, numerosos grupos de

    plantas, especialmente as conferas, puderam espalhar-se por ambos os hemisfrios, uma

    situao bastante distinta daquela que caracteriza seus grupos modernos (Dutra e Stranz, 2000, Dutra et al., 2002).

    A partir do final do Trissico inicia-se o segundo momento significativo da vida das

    gimnospermas. Sua diversidade to expressiva em tipos e rgos preservados que poderia

    ser comparada com a atualidade. Os fsseis, embora de difcil atribuio taxonmica

    devido mescla de caracteres de diferentes famlias modernas, permitem avaliar a presena

    das Cycadophyta, Ginkgophyta e de muitos grupos de Coniferophyta (Araucariaceae,

    49

  • Podocarpaceae, Cupressaceae e Cheirolepidiaceae) (Stockey, R. A. 1990; Dutra et al., 2002).

    As Coniferophyta (Carbonfero ao Recente) so o grupo moderno de gimnospermas mais

    abundante e de distribuio mais ampla. Conhecidas popularmente como "pinheiros",

    parecem ter sido as nicas a resistir presso exercida pela chegada das angiospermas,

    refugiando-se em nichos onde estas no se adaptavam to bem. A partir do Tercirio, com a

    separao dos continentes e o surgimento de condies globais menos aquecidas, passaram

    a se distribuir preferencialmente em latitudes subtropicais e temperadas ou em altitude, em

    zonas caracterizadas pela presena de boa umidade atmosfrica (Figura 3.3) (Taylor e

    Taylor, 1993; Enright e Hill, 1995; Dutra e Stranz, 2000; Dutra et al., 2002).

    Figura 3.3: Ocorrncia de representantes da famlia Araucariaceae durante o Tercirio.

    FONTE: Dutra et al., 2002.

    Fragmentos de lenho silicificado com afinidades coniferides so comuns nas bacias

    brasileiras. Para o Trissico, no sul do Brasil, onde compem verdadeiras "florestas

    petrificadas", foram atribudos ao morfognero Araucarioxylon, um lenho secundrio de

    estrutura gimnosprmica araucariide (picnoxlico com traquedeos unisseriais e

    pontuaes areoladas), sem medula preservada (Guerra-Sommer et. al., 2000; Dutra et al.,

    2002).

    50

  • As amostras de gimnosperma do presente e do passado distante empregadas neste trabalho

    so descritas a seguir:

    3.1.1 Amostras do presente - Araucaria angustifolia

    A espcie florestal foi selecionada em funo de suas (i) caractersticas morfolgicas e

    anatomia da madeira, (ii) rea de ocorrncia e (iii) potencial dendrocronolgico. Atendendo

    a estes critrios foi selecionada a espcie Araucaria angustifolia, cujas caractersticas so

    apresentadas a seguir:

    Segundo paleontlogos, as espcies de araucrias surgiram na Era Mesozica, h cerca de

    200 milhes