anarquismo contemporaneo, pós-anarquismo e neo-anarquismo
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Anarquismo Contemporaneo, Pós-Anarquismo e Neo-AnarquismoTRANSCRIPT
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121ecopoltica, 10: set-dez, 2014
Anarquismo contemporneo..., 121-130
A anarquia, como prtica e
pensamento poltico de contestao
e revolta, e os anarquismos, como
movimento poltico e social, nunca
foram passveis de dissociao.
Envolvidos nas lutas de seu tempo
e produzindo prticas e interesses
diversos, os anarquistas, ao longo da
histria moderna, jamais se apoiaram
em uma autoria que os fundasse e
justificasse, como tambm recusaram
a filiao exclusiva a um conjunto
de prticas ou a um mtodo de
validade universal. Tambm por isso,
encontram-se entre os anarquistas
os debates acalorados, as batalhas
por verdades e os rompimentos que
fazem com que ningum que esteja
contaminado pelo vrus da anarquia
possua um lugar seguro ou superior
ainda que em seu interior no deixe
de haver disputas por hegemonias
como nos convencionais movimentos
de resistncias. At seus intrpretes
se vm em apuros quando decidem
produzir snteses historiogrficas ou
generalizaes filosficas. H sempre
algo que escapa.
Declarados malditos por sua
associao s prticas terroristas no
final do sculo XIX, os anarquismos
se transformam e se apresentaram,
no comeo do sculo XX, ora como
anarcossindicalismo, ora como anarco-
individualismo, em um momento em
que so vistos como incapazes de
Anarquismo contemporneo, ps-anarquismo, neoanarquismo...
Para travar neologismos
Toms Ibez. Anarquismo es movimiento. Anarquismo, neoanarquismo y postanarquismo. Barcelona: Virus Editorial, 2014, 151 pp.
Accio AugustoPesquisador no Nu-Sol e no Projeto Temtico FAPESP Ecopoltica. Doutor em Cincias Sociais pela PUC-SP, Brasil. Publicou, em co-autoria com Edson Passetti, Anarquismos e Educao, pela editora Autntica, e autor de Poltica e Polcia. Cuidados, controles e penalizao de jovens, pela editora Lamparina. Contato: [email protected].
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122ecopoltica, 10: set-dez, 2014
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influir nas grandes transformaes,
uma vez que o movimento operrio
se encontrava sob forte influncia dos
partidos socialistas revolucionrios
creditado ao sucesso da Revoluo
Russa de 1917.
No tardou para que a emergncia
da Revoluo Espanhola, em 1936,
voltasse a expressar a pujana das
prticas libertrias. E novamente,
aps o massacre promovido pelo
fascismo em terras espanholas no
ano de 1939, historiadores como
George Woodcock vieram a pblico
para declarar a morte do anarquismo.
Outros, como James Joll, diriam que
no incio dos anos 1960 a anarquia
ocupava no mais o lugar de
uma fora poltico-social capaz de
transformao radical, mas o de uma
forma de expresso cultural com
potencial para alimentar uma constante
crtica aos efeitos da modernidade,
agindo como uma espcie de corretor
radical aos desvios da era das luzes.
Essas e outras interpretaes da
histria dos anarquismos perduraram
at a ecloso do acontecimento
1968, quando novamente as prticas
libertrias voltaram a se tornar
relevantes para alm dos que j
estavam evolvidos com elas. Essa
curta exposio de acontecimentos
pontuais e transformadores apenas
um limitado panorama do nomadismo
prprio do pensamento e prticas
anrquicas na histria recente.
Hoje, na segunda dcada do
sculo XXI, j possvel encontrar
um volume considervel de escritos,
pesquisas e ensaios que apontam
para um novo ressurgir transformador
dos anarquismos e da anarquia.
Cabe questionar em que medida
se trata de uma transformao, um
ressurgimento ou mesmo uma nova
configurao das lutas anrquicas em
relao s lutas atuais e contribuies
analticas contemporneas. O livro
de Toms Ibez, Anarquia es
movimiento, lanado em abril de
2014, uma dessas produes que se
dedicam a problematizar a anarquia
contempornea. Junta-se, assim, a
trabalhos como os de Daniel Barret
(Rafael Spsito), Oswaldo Escribano,
M. Ricardo de Sousa, Ricahard
J. F. Day, Saul Newman, David
Graeber entre outros, dedicados a
expor e pensar os anarquismos no
presente em torno das influncias
e transformaes que suas lutas
histricas vm sofrendo e, ao mesmo
tempo, influenciando os novssimos
movimentos sociais e o que se
convencionou chamar de pensamento
ps-estruturalista. Cada um deles
chega a resultados diversos, mas que
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123ecopoltica, 10: set-dez, 2014
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se encontram por se ocuparem do
mesmo problema: a afirmao da
anarquia e dos anarquismos hoje.
Ibaez um anarquista de primeira
hora. Filho de um integrante das
juventudes libertrias espanholas
exilado na Frana aps o domnio
das foras polticas ligadas ao general
Franco; seguiu sempre atuando nos
meios libertrios entre a Frana e a
Espanha. Quando ainda era estudante
em Paris, fez parte do movimento
22 de maro, junto a Daniel Cohn-
Bendit e Jean-Pierre Duteuil, tendo
participado ativamente nas revoltas do
maio de 1968 na Frana. Em 1973,
participou da refundao da CNT,
atuando na FIJL (Federao Ibrica das
Juventudes Libertrias). Foi professor
no Departamento de Psicologia da
Universidade Autnoma de Barcelona,
onde desenvolveu pesquisas que
aproximavam os anarquismos aos
estudos e anlises de Michel Foucault.
Argumenta que a relevncia em
aproximar Foucault e a anarquia est
na possibilidade em atacar os guardies
do templo anarquista, buscando situ-la
no debate intelectual contemporneo.
Est, desde 2007, aposentado de suas
atividades docentes e dedica-se hoje a
escrever livros e artigos sobre anarquia,
os anarquismos e o pensamento ps-
estruturalista.
Ibaez argumenta que os
anarquismos, como movimento e
pensamento radical iniciado com
Joseph Djaque e Pierre-Joseph
Proudhon, encontra-se hoje em um
ressurgimento que , tambm, uma
renovao. Destaca que esse movimento
de ressurgimento-renovao se deu
por trs acontecimentos surpresas,
no esperados: o maio de 1968;
o movimento anarquista ps-
Franco na Espanha; e o movimento
antiglobalizao dos anos de 1990.
Delimitao que, de sada, denota o
carter eurocentrista de sua leitura,
na medida em que se esquece da
efervescncia anarquista em pases
latino-americanos aps o fim das
ditaduras civis-militares, ainda que
faa breves referncias produo
e atuao anarquistas em pases de
lngua espanhola como a Argentina.
Em todo caso, argumenta a renovao
como condio necessria para que
o seu ressurgimento [do anarquismo]
seja possvel, mas, ao mesmo tempo,
dado que esse ressurgimento se
articula sobre a necessria adaptao
a novas condies (...) Isto significa
dizer que o ressurgir do anarquismo
condio necessria para que sua
renovao seja possvel (p. 49).
O autor apresenta esse ressurgir/
renovao em trs formas: o
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124ecopoltica, 10: set-dez, 2014
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neoanarquismo, o ps-anarquismo
e o anarquismo extramuros. Elas
seriam favorecidas por mudanas
tecnolgicas, em especial as NTIC
(Novas Tecnologias de Informao
e Comunicao) mudanas sociais
e histricas, como o surgimento de
movimentos de contestao que no
mais remetem s formas tradicionais
de luta contra o poder e o capitalismo,
mas que apresentam-se como formas
contemporneas de luta contra a
dominao e mudanas culturais que
favoreceram as prticas e anlises
dos anarquismos em detrimento das
teorias totalizantes, como o marxismo.
Em resumo, seu argumento que
justifica um ressurgir do anarquismo
gira em torno do pressuposto de
que as transformaes do mundo
atual favorecem uma forma de luta
e de crtica que se encontrava entre
os anarquistas.
As definies que o autor
emprega para lidar com as formas
contemporneas de anarquismo no
so, necessariamente, novas correntes.
Argumenta no haver uma doutrina
ou identidade que se reivindique
atualmente como neoanarquista, e
no tenho o menor interesse em
promover uma nova adjetivao
uma mais para o anarquismo.
Recorro a essa expresso como uma
maneira cmoda e provisria para
designar esse anarquismo, um pouco
diferente, que encontramos nesse
comeo de sculo (p. 24).
A comear pelo que entende
como anarquismo extramuros, Ibaez
v uma certa incorporao das
prticas anarquistas por parte de
grupos e associaes envolvidos em
lutas sociais diversas. Localiza essa
incorporao, ou certa relao com
o anarquismo, desde o movimento
de maio de 1968, quando uma srie
de crticas s polticas de dominao
se aproximam dos postulados do
anarquismo sem, necessariamente,
estarem filiados a eles ou citarem
seus reconhecidos autores. Segundo
sua argumentao, no aos escritos
de Proudhon ou de Bakunin que eles
aderem, mas sim a um determinado
imaginrio (p. 29).
Ele v nesse movimento no
apenas um ressurgimento, mas uma
renovao das prticas e ideias
anarquistas, enriquecendo o que
chama de imaginrio antiautoritrio,
e provendo uma troca, ou mesmo
uma mestiagem (p. 28), entre o
anarquismo e as lutas levadas a cabo
por outras tradies de lutas sociais,
culturais e polticas. O que tem
sido incorporado nos ltimos anos,
por exemplo, so as barricadas, as
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125ecopoltica, 10: set-dez, 2014
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ocupaes e os slogans de Maio de
68 e, depois de 68, uma srie de
fenmenos, tais com o movimento
anarco-punk (que se desenvolveu
com fora a partir dos anos 1980 e
foi um autntico viveiro de jovens
anarquistas), ou como o movimento
dos okupa, com sua esttica e estilo
de vida peculiar (p. 29). Destaca
ainda, em relao aos dias atuais, uma
srie de lutas contra diversas formas
de dominao (que, sem pretender
ser exaustivo, vo desde Chiapas
em 1994 at a Praa Taksim em
2013, passando por Seattle em 1999,
Quebec, Gotemburgo e Gnova em
2001, o acampamento No Boders em
2002, o bairro ateniense de Exarchia
desde 2008 e initerruptamente at
hoje e Madrid, Barcelona e Nova
York em 2011) que vm revitalizando
o atual imaginrio anarquista (p.
29). Dessa maneira, o ressurgir atual
do anarquismo passaria pela relao
dos anarquistas e suas prticas
como movimentos que no so
declaradamente anarquistas, mas que
se desenvolvem a partir de prticas
antiautoritrias como a democracia
direta, a horizontalidade e o no
reconhecimento de lideranas.
Esse anarquismo extramuros toma
forma pelo que Ibaez localiza como
neoanarquismo. Este se forma como
produo de um novo imaginrio
revolucionrio que abonadona a
escatologia de uma revoluo redentora
caraterstica do anarquismo derivado
de Bakunin, para se apresentar como
prtica constitutiva do presente e
crtica ao messianismo revolucionrio.
Assim, o conceito de revoluo
redefinido profundamente desde uma
tica plenamente presentista: segue-
se mantendo a ideia de uma ruptura
radical, mas sem nenhuma perspectiva
escatolgica. Pelo contrrio, nada
pode ser proposto para o dia seguinte
da revoluo, porque esta no se
encontra no porvir, mas tem apenas
o presente como nica morada e
se produz em cada espao e cada
instante em que se consegue subtrair
o sistema (p. 32). Essa concepo
de produo de um presente que seja
ele mesmo a forma de vida que se
quer produzir encontra-se na prpria
histria dos anarquismos, em autores
como Proudhon, Gustav Landauer,
Colin Ward e nos individualistas
franceses como mile Armand, que
elaboram a anarquia e suas lutas
menos como uma viso de mundo e
mais como uma forma de vida.
Nos dias atuais, essa concepo
que dar corpo ao que o autor
nomeia como neoanarquismo est
presente tanto no inssurreicionalismo,
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126ecopoltica, 10: set-dez, 2014
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derivado das propostas de Hakim
Bey e Alfredo Bonano, quanto
no municipalismo libertrio e/ou
ecologia social de Murray Bookchin,
a despeito das polmicas e disputas
que se do hoje entre o que se
nomeia como anarquismo social
e anarquismo como estilo de vida.
Ainda que se apresentem como
inconciliveis, o autor argumenta que
ambas se aproximam pela aposta em
se construir e experimentar espaos de
liberdade no presente, independente
do sucesso ou no da revoluo no
futuro.
Como nos enfretamentos de rua que
caracterizam as lutas contemporneas,
essas formas do neoanarquismo
partem do pressuposto de que no
h futuro, mas apenas o presente no
qual se pode experimentar o que se
entende como uma vida apartada das
formas de dominao e dos processos
de subjetivao caratersticos das
contemporneas formas de exerccio
do poder. Nesse sentido, ainda que
se encontre uma srie de grupos
e associaes que reivindiquem o
chamado anarquismo organizado
herdeiro da proposta plataformista
dos anarquistas ucranianos e das
polmicas sobre organizao levadas
adiante por Luigi Fabri e Errico
Malatesta no comeo do sculo XX
, o neoanarquismo se caracteriza
pela pluralidade de tticas de
enfretamentos e pela multiplicidade
das formas de organizao. Assim,
encontra-se em relao a uma srie
de lutas radicais do presente e
dissemina-se por contgio, segundo
a formulao de Christian Ferrer.
Ademais, o anarquismo encontra-
se em conversao com as formas
atuais de pensamento crtico que no
se identifica necessariamente com
o anarquismo, como os escritos de
Gilles Deleuze e Michel Foucault, que
no s contribuiro para anlises do
anarquismo atual como possibilitaro
uma terceira forma do anarquismo
contemporneo, o ps-anarquismo.
Ibaez no se esfora em
mostrar que existe no pensamento
de Foucault uma teoria ou uma
formulao analtica que , ao fim
e ao cabo, tributria do pensamento
anarquista. Ao contrrio, destaca o
que nas anlises das relaes de
poder realizadas pelo filsofo francs
possvel depreender para uma
formulao atual do anarquismo.
Argumenta que, ao mostrar que as
relaes de poder se forjam no vnculo
social e criam incessantemente no
prprio tecido social, as pesquisas
de Michel Foucault contradizem a
crena anarquista na possibilidade
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127ecopoltica, 10: set-dez, 2014
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de eliminar radicalmente o poder,
obrigando-o a reconsiderar bastante
essa problemtica (p. 58). Na leitura
de Ibaez, enquanto as prticas do
neoanarquismo produziram uma nova
insero social dos anarquismos nas
lutas sociais contemporneas e, por
seguinte, novas prticas anrquicas de
luta contra dominao, a vinculao
que alguns autores buscaro entre
anarquismo e pensamento ps-
estruturalista produzir uma nova
formulao terica para o anarquismo
contemporneo.
O termo ps-anarquismo aparece
pela primeira vez em maro de
1987, em um texto de Hakim Bey
chamado Anarquia ps-anarquista.
No entanto, as formulaes de um
anarquismo associado ao pensamento
ps-estruturalista que desembocaram
no que atualmente se nomeia por ps-
anarquismo so localizadas por Ibaez
no artigo de Todd May, publicado
em 1989, intitulado anarquista
a teoria poltica ps-estruturalista?
resposta que ele mesmo dar no
livro de 1994, A filosofia poltica
do anarquismo ps-estruturalista
(p. 64). Demarcadas essas duas
referncias, Ibaez apresenta uma
produo fundamentalmente anglo-
sax de autores que reivindicam uma
teoria ps-anarquista (Lewis Call,
Andrew Koch, Jesse Cohn, entre
outros), tendo em Saul Newman
seu principal defensor e difusor. A
proposta consiste em uma tentativa
de casar os melhores aspectos da
filosofia ps-estruturalista e da
tradio anarquista (p. 66). Para
Ibaez, o que autores do ps-
anarquismo faro ser uma reviso
crtica dos postulados anarquistas a
partir de uma crtica modernidade e
ao carter libertador da razo, legado
pelos ps modernos, e presente no
pensamento anarquista clssico.
A proposta consiste em libertar
o anarquismo da crena na razo,
da centralidade do papel do Estado
na luta contra o poder, e da crena
de que o anarquismo nutre numa
natureza humana corrompida pelo
mundo moderno. Ser por essa
formulao crtica modernidade
que muitos dos autores do ps-
anarquismo recorrero aos escritos
de Max Stirner a fim de aproximar
anarquismo e ps-estruturalismo, o
que levar muitos dos crticos do
ps-anarquismo a apontar para o
fato de que essa crtica ao sujeito
e modernidade j poderia ter sido
encontrada em autores libertrios
como Proudhon e o prprio Stirner.
De toda maneira, Ibaez destaca o
mrito dos autores ps-anarquistas
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128ecopoltica, 10: set-dez, 2014
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em colocar o anarquismo nos debates
acadmicos contemporneos, fazendo
com que deva se considerar a
contribuio histrica dos anarquistas
para atuais teorias crticas dominao
derivadas de outras tradies
polticas, como o marxismo, ou de
lutas e estudos sobre os direitos
de minorias, como a teoria queer
(pp. 76-78). Mesmo assim, Ibaez
rechaa o termo ps-anarquismo,
argumentando que transformaes,
revises e reformulaes derivadas
das conversaes com lutas e teorias
diversas so caratersticas histricas
do anarquismo como movimento.
Concluir que o anarquismo
contemporneo, como mescla ou
mestiagem do neoanarquismo,
anarquismo extramuros e ps-
anarquismo , em conjunto, uma nova
poltica radical que substituir, em
maior ou menor prazo, as polticas
radicais herdadas do sculo XIX,
instaurando uma nova perspectiva
de transformao radical. Isso j
se mostraria pela formao de um
novo imaginrio revolucionrio
no mais projetado para o futuro,
mas pela constatao de que no
h futuro. Assim, os modos de
luta devem se apresentar tambm
como modos de vida e serem
capazes de produzir transformaes
no presente, fazendo com que se
viva o mais prximo possvel do
que se postula como transformao
radical. Isso denota o que nomear
como capacidade construtiva do
anarquismo contemporneo, expressa
em formas alternativas de habitar,
produzir e coexistir entre diversas
formas e posicionamentos, mesmo
sob a continuidade do Estado e do
capitalismo, mas tendo em oposio
a eles uma realidade plural e
heterognea (p. 89). Assim, se trata,
certamente, de uma nova compreenso
que conduz o anarquismo a ter que
matizar e, por vezes, reconsiderar em
profundidade suas prprias concepes
de poder. E isto tem contribudo
para sua renovao, mesmo que o
peso de suas antigas concepes siga
sendo importante (p. 90). Aponta
para um trabalho de esclarecimento
crtico que problematize a prpria
herana iluminista do anarquismo
e sua procedncia europeia, com
influncias do cristianismo.
O livro traz ainda trs textos
anexos nos quais o autor discute
longamente, e sem uma necessria
referncia aos anarquismos, os
efeitos contemporneos da crtica
modernidade e a emergncia de
uma ps- modernidade (pp. 95-111),
as transformaes do pensamento
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129ecopoltica, 10: set-dez, 2014
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ps estruturalistas (pp. 113-125)
e a importncia da formulao de
um relativismo crtico que, segundo
o autor, liberta do pensamento
universalista como herana crist no
pensamento moderno (127-142).
Conforme j indicado, o trabalho
de Ibaez se filia a uma srie de
outros que, de maneiras diferentes,
objetivam mapear e expor a pertinncia
e a presena dos anarquismos na
poltica contempornea. Compartilha
com esses trabalhos um certo esforo
de convencimento para provar que,
de um lado, vivemos um ressurgir
das prticas anarquistas em meio
s lutas contemporneas contra
dominao, ainda que estas no
se nomeiem como anarquistas e,
de outro lado, faz um esforo em
argumentar que os anarquismos so
a nica via possvel de formulao
crtica radical, ainda que passvel de
revises luz das anlises e conceitos
contemporneos. Talvez por sua
formao como psiclogo, Ibaez
demonstra demasiada preocupao
em estabelecer o que seria uma
identidade anarquista hoje, recorrendo
a neologismos como neoanarquismo.
Sua contribuio se faz importante
para caracterizar as formas
contemporneas da anarquia, porm,
repete velhos mtodos ao separar
as prticas (neoanarquismo) das
formulaes tericas (ps-anarquismo).
Recai, muitas vezes, no mesmo
eurocentrismo que criticar no final,
ao ignorar uma vasta produo de
prticas que podem ser notadas ao sul
de equador, inclusive de aproximaes
inventivas entre anarquia e as
anlises de Foucault e Deleuze, sem
a necessidade de fundao de uma
nova escola terica, ou de uma nova
corrente anarquista, como possvel
notar, desde o incio dos anos 1990,
em trabalhos como os de Edson
Passetti e Margareth Rago.
Se anarquismo movimento, a
transformao a prpria condio
de sua existncia. E so muitas as
experincias, s vezes desconhecidas,
s vezes imperceptveis, que a
anarquia possibilita. E estas no so
nem intra, nem extramuros, nem pr,
nem ps, nem neoanarquistas. A
anarquia uma atitude de afronta
autoridade e aos poderes constitudos
onde quer que se apresentem. A
potncia da anarquia est em formular
questes, em criar problemas. A partir
do momento em que ela for vista
ou apresentada como soluo, seja
para movimentos, seja para teorias,
perder sua potncia revoltada, se
transformar em abrigo seguro.
Anarquia combate!
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130ecopoltica, 10: set-dez, 2014
Anarquismo contemporneo..., 121-130
Se h alguma necessidade em
analisar e mapear o que somos, no
que nos tornamos, precisamente
para colocarmos contra o que somos.
Nada de novo nessa batalha que
a vida, finita e nica experincia de
cada um.
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