anÁlise temporal dos focos de queimadas no estado
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ANÁLISE TEMPORAL DOS FOCOS DE QUEIMADAS NO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL NOS ÚLTIMOS CINCO ANOS
Cléo Lindsey Machado Ramos
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Programa de Pós Graduação em Geografia
INTRODUÇÃO
Diversas conferências globais têm como foco da discussão questões ambientais e
climáticas, entre eles o aumento do CO2 tem sido amplamente discutido por
pesquisadores do mundo inteiro, pois diversos estudos demonstram que nos últimos 650
mil anos, o teor de CO2 nunca foi tão alto como na atualidade.
A crise ambiental do século XXI traz à tona questões como a elevação do nível
dos mares, as secas prolongadas, alterações no regime de chuvas, redução de geleiras.
As atenções estão voltadas às variabilidades climáticas e inconstâncias naturais.
Devido a essa discussão surgiu o interesse de fazer uma análise dos focos de
queimadas no estado do Rio Grande do Sul do ano de 2008 a 2012, observando as
oscilações nesses cinco anos.
Uma grande parcela das queimadas são provocadas pelo homem, por muitas
razões, incêndios criminais, disputas fundiárias, protestos, porém destaca-se a limpeza
de pastos, preparo de plantio, desmatamentos...
No Brasil de acordo com os mapas a seguir (figuras 1, 2, 3, 4, 5) foram
detectados de 2008 a 2012, 756.896 mil focos de calor, cobrindo milhões de km² e
assim ocupando lugar de destaque como um grande poluidor (INPE).
OBJETIVO
O objetivo do trabalho é realizar uma análise dos focos de queimadas do estado
do Rio Grande do Sul, dos anos de 2008 a 2012, observando as oscilações no espaço
temporal.
Fonte: INPE – Instituto Espacial de Pesquisas Espaciais, 2012. Portal do Monitoramento de Queimadas e
Incêndios.
No período de Julho a Novembro, ocorrem queimadas em todas as regiões
brasileiras, porém os meses mais críticos são os meses de Agosto e Setembro.
Observa-se claramente nos mapas que os estados de Mato Grosso, Mato Grosso
do Sul, Pará, Tocantins e Maranhão são seriamente afetados pelas queimadas, trazendo
impactos diretos aos biomas do Cerrado e Amazônia.
Em áreas de campo, as queimadas representam uma tradição muito forte, seja
para limpeza de terrenos a serem cultivados, ou para o preparo de pastagens. Nos
campos nativos, a vegetação nasce aparentemente mais forte, porém ao longo dos anos
as queimadas provocam a degradação gradativa do solo e das plantas.
De acordo com o gráfico 1 observamos que não ocorreram grandes oscilações no
número de queimadas no Rio Grande do Sul no período de 2008 a 2012, em média
foram registrados 2500 focos, diferentemente do restante do país que o número teve um
aumento principalmente nos anos de 2010 e 2012, em média no período foram
registrados 151.379 focos de queimadas.
Gráfico 1 – Focos de queimadas de 2008 a 2012 no Estado do Rio Grande do Sul.
MATERIAIS E MÉTODOS
Para realização de uma análise temporal dos focos de queimadas no Rio Grande
do Sul no período de 2008 a 2012 foram utilizados informações disponibilizadas pelo
INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), e processadas operacionalmente na
DAS (Divisão de Satélites e Sistemas Ambientais).
Os satélites adotados para a detecção dos focos de queimadas possuem sensores
ópticos que operam na faixa do termal-média de 4um. As imagens AVHRR (Advanced
Very High Resolution Radiometer) dos satélites polares NOAA-15, NOAA-16, NOAA-
18 e NOAA-19 e imagens MODIS dos satélites NASA TERRA e AQUA produzem
pelo menos um conjunto de imagens por dia, também são utilizados satélites
geoestacionários GOES-12, GOES-13 e MSG-2, que produzem algumas imagens por
hora sendo que o INPE processa por dia mais de 100 imagens para detecção da queima
da vegetação.
Os satélites detectam as queimadas em frentes de fogo a partir de 30 m de
extensão por 1 m de largura, portanto, muitas queimadas não são notificadas em nosso
Estado. Além do mais, a detecção das queimadas ainda pode ser prejudicada quando há
fogo somente no chão de uma floresta densa, nuvens cobrindo a região, queimada de
pequena duração ocorrendo no intervalo de tempo entre uma imagem e outra (3 horas)
e, fogo em uma encosta de montanha enquanto. Outro fator de subnotificação é a
imprecisão na localização do foco da queima.
Na geração dos produtos foi utilizado o software ArcGis 9.3.
Como uma alternativa para análise optou-se em representar com o Mapa de
Kernel, ferramenta do ArcTollbox na Spatial Analyst Tools, pois é um método
estatístico de estimação de densidade por suavização, servindo para identificação de
pontos quentes (hot spots). Esse método se mostrou eficiente, pois quando há uma
concentração grande de pontos a análise fica prejudicada.
Em primeiro momento foi realizado download dos shapes referentes aos focos
de queimadas do estado do Rio Grande do Sul de 2008 a 2012 no site
http://www.dpi.inpe.br/proarco/bdqueimadas/.
O sistema de coordenadas utilizado foi SIRGAS 2000.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Para avaliação dos Focos de Queimadas do estado, optou-se em uma análise de
acordo com Guasselli 2006 onde propõem um Macrozoneamento do Estado do Rio
Grande do Sul.
“Constitui-se em uma síntese das informações relativas à compartimentação do
relevo, da cobertura vegetal e do uso do solo, apresentando-se como uma proposta de
zoneamento do Estado”. (GUASSELI, 2006.)
Todas informações analisadas conjuntamente nos permite fazer uma análise das
possíveis causas da grande incidência de queimadas no estado nos últimos cinco anos.
O Mapa 1 traz o Macrozoneamento do Rio Grande do Sul com as zonas de uso e
cobertura do solo, auxiliando na análise dos focos de queimadas do estado.
Mapa 1 – Macrozoneamento do Rio Grande do Sul
Fonte: Revista de Geociências, 2006.
Mapa dos Focos de Queimadas no RS – 2008 a 2012
Total: 2.270 Total: 2.528
Ano 2012
Total: 2.860
“A espacialização dos temas apresentados no Macrozoneamento está de acordo
com os limites das cinco províncias geomorfológicas, Cuesta do Haedo; Planalto
Meridional; Escudo Sul-riograndense; Depressão Central e Planície Costeira. O
seu detalhamento inclui as relações das diferentes formas de relevo com as variações
altimétricas e do uso do solo e cobertura vegetal (Guasselli, 2001)”.
Analisando os mapas percebemos que a Custa de Haedo que abrange os
municípios de Alegrete, Quarai, Uruguaiana, Santana do Livramento, basicamente é
caracterizada por áreas de campos limpos, pastagens, zonas agrícolas onde se pratica um
uso intensivo no verão.
Nessa região observamos um número menor de focos de queimadas, com
destaque para os anos de 2009 e 2011 onde ocorreu um aumento nos índices, vale
destacar que nesses anos estiagens deixam mais de 100 municípios em situação de
emergência, agrando ainda mais o cenário.
O Planalto Meridional apresenta uma variação altimétrica entre 700 e 1389m,
onde abrange áreas de florestas, campos e zonas agrícolas, nos últimos cinco anos a
região caracterizada pela predominancia no cultivo de soja e milho no verão e trigo no
inverno apresenta um número alto de queimadas, com aumento no ano de 2009.
A queimada de campos é uma prática muito antiga, principalmente na Região
dos Campos de Cima da Serra. Esta prática perpetuou ao longo do tempo, mas passou a
ser muito questionada nos últimos anos devido à intensificação do debate em torno da
exaustão dos recursos naturais, degradação do meio ambiente e desenvolvimento
sustentável. Nesta perspectiva, a queimada sistemática de campo nativo tornou-se alvo
de grandes controvérsias. O ano de 2008 foi uma exceção no número de queimadas,
pois os anos seguintes ocorreu uma intensificação no número de focos, São Francisco
de Paula é o município que apresenta o maior número de focos no estado, nos anos
analisados.
Escudo Sul-riograndense apresenta atividades econômicas voltadas a
agricultura, pecuária e extração de pedras para exploração, também destaca-se a
silvicultura que nos últimos anos tem ganhado grande importância econômica com o
florestamento das áreas de campo, através do plantio de eucaliptos, pinhos, acácias,
principalmente na indústria madeireira. Observamos um número expressivo de
queimadas nessa região principalmente nos anos de 2011 e 2012, destaca-se novamente
a queima do campo como prática de limpeza dos pastos, associado aos anos com menos
precipitação.
Depressão Central caracterizada pelas terras baixas com altitudes entre 100 a
300m, esta unidade está dividida por campos, predominância no cultivo do arroz e
cultivos como feijão, hortifrutigranjeiros, milho, tabaco. Em todos os anos analisados os
números de focos de queimadas na região onde as zonas de uso e cobertura do solo são
diversificados se localizam próximos a capital, são consideráveis. Uma faixa de focos
de queimadas foram detectadas, fale ressaltar a expansão da fronteira agrícola, onde
cada vez mais áreas de campo e florestas estão sendo suprimidas para o avanço da
agricultura.
Planície Costeira foi subdividida em quatro classes, áreas agrícolas com
predominância do cultivo de arroz, outros cultivos variados, áreas de dunas com
presença de campos arenosos intercalados com dunas ativas e as lagoas. O número de
focos de queimadas nessa região é consideravelmente mais baixo comparando com o
Planalto Meridional, porém destaca-se o município de Santa Vitória do Palmar onde as
atividades mais importantes são a pecuária bovina de corte, pecuária ovina de lã e o
plantio do arroz. Nos anos de 2008, 2010 e 2011 o município teve em média 76 focos de
queimadas.
Na agricultura ocorreram processos de desenvolvimento que levaram uma
especialização do agricultor e uma grande dependência de insumos externos, a tão
conhecida modernização da agricultura, todo esse processo tem consequências
ambientais, a média ao longo dos últimos cinco anos ficou em 2.587 focos.
BIBLIOGRAFIA
Guasselli, L.A, Suertegaray, D.M.A.; Ducati, J.R.; Saldanha, D.L.; Fontana, D. C.;
2006. Macrozoneamento do Rio Grande do Sul. In: Revista de geociências, 33 (1):
Instituto de Geociências, UFGRS. Porto Alegre, RS.
INPE – Instituto Espacial de Pesquisas Espaciais, 2012. Portal do Monitoramento de
Queimadas e Incêndios. Disponível em
http://peassaba.cptec.inpe.br/queimadas/qmanova/sitAtual.php . Acessado em:
02/01/2013.