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Webartigos.com - Publicação de artigos e monografias Título: ANÁLISE ESTRUTURALISTA DO CONTO TEORIA DO MEDALHÃO Autor(a): Manoel Huires Alves Endereço da publicação: http://www.webartigos.com/artigos/analise-estruturalista-do-conto-teoria-do-medalhao/70979/ Publicado em 10 de julho de 2011, às 00h00min em Literatura ANÁLISE ESTRUTURALISTA DO CONTO TEORIA DO MEDALHÃO ANÁLISE ESTRUTURALISTA DO CONTO TEORIA DO MEDALHÃO DE MACHADO DE ASSIS Manoel Huires Alves Teoria do medalhão O conto - Teoria do Medalhão - foi escrito pelo escritor (já realista) Machado de Assis e originalmente publicado na Gazeta de Notícias, no ano de 1881, onde posteriormente, em 1882, foi integrado ao livro - Papéis Avulsos - uma coletânea de contos. Neste conto, o autor, por meio de um discurso bivocal, apresenta conselhos inescrupulosos de um pai para um filho visando alcançar prestígio em uma sociedade de aparências. O início do conto é marcado pelo rito de passagem do qual o pai aconselha o filho para a maioridade, centrando o diálogo nas "qualidades" do filho para lhe dar forças aos obstáculos a serem superados, pois para o pai, por mais que um filho tenha um diploma, herde posses e possa nesse mundo seguir uma dessas carreiras, ele quer que o filho realize um sonho seu: o de "Medalhão" ? que aqui representa ascensão social. Contexto Histórico e o Texto Foi no final dos mil e oitocentos, onde a sociedade brasileira ainda se encontrava com uma economia essencialmente agrícola, que Machado de Assis apresenta-se como um escritor realista, investindo nas relações psicológicas dos personagens, retratando detalhadamente as características do realismo literário, fazendo uma análise profunda e realista do ser humano e dando ênfase em suas necessidades, qualidades, vontades e defeitos. No período em que o conto foi escrito a produção de café estava em alta, o principal exportador era a província do Rio de Janeiro. No entanto, outras províncias - como Minas Gerais, São Paulo e Rio Grande do Sul - tinham suas economias centradas ou no mesmo produto, o café, ou diversificava na suas produções, quando ainda predominava as fazendas de gado, lavouras e engenhos de açúcar. No Nordeste, o que se podia constatar era o atraso em relação ao centro-sul, basicamente representado pelo rearranjo econômico e o tráfico interprovincial. No contexto político, este se encontrava as "vésperas" da proclamação da ANÁLISE ESTRUTURALISTA DO CONTO TEORIA DO MEDALHÃO

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  • Webartigos.com - Publicao de artigos e monografiasTtulo: ANLISE ESTRUTURALISTA DO CONTO TEORIA DO MEDALHOAutor(a): Manoel Huires AlvesEndereo da publicao: http://www.webartigos.com/artigos/analise-estruturalista-do-conto-teoria-do-medalhao/70979/

    Publicado em 10 de julho de 2011, s 00h00min em Literatura

    ANLISE ESTRUTURALISTA DO CONTO TEORIA DOMEDALHOANLISE ESTRUTURALISTA DO CONTO TEORIA DO MEDALHO DE MACHADO DE ASSIS

    Manoel Huires Alves

    Teoria do medalho

    O conto - Teoria do Medalho - foi escrito pelo escritor (j realista) Machado de Assis e originalmentepublicado na Gazeta de Notcias, no ano de 1881, onde posteriormente, em 1882, foi integrado ao livro -Papis Avulsos - uma coletnea de contos. Neste conto, o autor, por meio de um discurso bivocal, apresentaconselhos inescrupulosos de um pai para um filho visando alcanar prestgio em uma sociedade deaparncias.

    O incio do conto marcado pelo rito de passagem do qual o pai aconselha o filho para a maioridade,centrando o dilogo nas "qualidades" do filho para lhe dar foras aos obstculos a serem superados, poispara o pai, por mais que um filho tenha um diploma, herde posses e possa nesse mundo seguir uma dessascarreiras, ele quer que o filho realize um sonho seu: o de "Medalho" ? que aqui representa ascenso social.

    Contexto Histrico e o Texto

    Foi no final dos mil e oitocentos, onde a sociedade brasileira ainda se encontrava com uma economiaessencialmente agrcola, que Machado de Assis apresenta-se como um escritor realista, investindo nasrelaes psicolgicas dos personagens, retratando detalhadamente as caractersticas do realismo literrio,fazendo uma anlise profunda e realista do ser humano e dando nfase em suas necessidades, qualidades,vontades e defeitos.

    No perodo em que o conto foi escrito a produo de caf estava em alta, o principal exportador era aprovncia do Rio de Janeiro. No entanto, outras provncias - como Minas Gerais, So Paulo e Rio Grande doSul - tinham suas economias centradas ou no mesmo produto, o caf, ou diversificava na suas produes,quando ainda predominava as fazendas de gado, lavouras e engenhos de acar. No Nordeste, o que sepodia constatar era o atraso em relao ao centro-sul, basicamente representado pelo rearranjo econmicoe o trfico interprovincial. No contexto poltico, este se encontrava as "vsperas" da proclamao da

    ANLISE ESTRUTURALISTA DO CONTO TEORIA DO MEDALHO

  • repblica. Ensastas e Intelectuais escreviam acerca da "identidade nacional", visando explicar a formaodo Brasil, influenciados por teorias europias.

    Proposio do Texto

    Como proposio o texto se desenvolve em torno dos seguintes pontos:

    a) O conto traz uma anlise do comportamento de alguns membros da sociedade. Descreve-os de maneiraextremamente clara, precisa, com um humor recatado, ironizando-os usando como pano de fundo umaconversa "inocente" como a de um pai com um filho.

    b) A obra, edificada sobre as bases da ironia, aponta para a valorizao do parecer acima do ser, analisandoo comportamento medocre por meio do qual se pode ascender socialmente sem grandes esforos.

    c) Sendo um dos contos mais deliciosos libelos do escritor, mostra Machado de Assis como um crtico afiadocontra a mediocridade intelectual e social, onde, satrico por excelncia, lembra a ironia filosfica dos relatos

    curtos de Voltaire

    d) A narrativa, praticamente sem ao, mostra o seu ncleo temtico girando em torno de uma exposio deidias cnicas, atravs do dilogo entre pai e filho.

    Desenvolvimento do Texto

    O conto Teoria do Medalho desenvolve-se com muita ironia as mesmas questes levantadas por outroconto machadiano - O Espelho - integrado no mesmo livro "Papis Avulsos".

    O autor cede seu espao reproduo das falas das duas nicas personagens: Pai e Filho. A fala do pai,terrivelmente irnica, revela, obviamente, a denncia feita pelo autor por trs do conto em relao a umasociedade burguesa medocre e arrogante, que prega o sucesso a qualquer preo, mesmo custa doempobrecimento da vida interior e das relaes humanas.

    O dilogo familiar acontece, portanto, numa noite s vinte e trs horas, aps um jantar comemorativo damaioridade (21 anos) do filho. Quando pai e filho ficam a ss na sala, este aconselha o filho a se tornar umMedalho, ou seja, um homem que ao chegar velhice, tenha adquirido respeito e fama na sociedade doRio de Janeiro do sculo XIX. Para tanto, ser necessrio que ele mude seus hbitos e costumes e passe aviver sob uma mscara, anulando os seus gostos pessoais e suas atitudes. E nisso disserta sobre anecessidade do filho de sempre manter-se neutro, usar e abusar de palavras sem sentido, conhecer pouco,ter vocabulrio limitado etc. Ao final, uma bela ironia machadiana sobre como se encontram os valores dasociedade de sua poca.

    Teoria do medalho, por assim dizer, um dos contos que mostra a sociedade brasileira no que ela tem demais profundo: a mediocridade condecorada, a troca de favores como motor bsico das relaes sociais, a

    ANLISE ESTRUTURALISTA DO CONTO TEORIA DO MEDALHO

  • hipocrisia, tudo aquilo que perduraria para alm da troca de regime. Portanto, o medalho, tipo criado peloautor neste conto, se caracteriza por aparentar ser o que no . Ou metaforicamente, como nos medalhes,por ter uma face oculta e sem atrativos, voltada apenas para o corpo do dono, e outra, vistosa, virada para oexterior, para ser vista e admirada, respeitada.

    Narrao do Texto

    Apresentando o texto apenas a fala de duas personagens - pai e filho - o conto no tem um narrador. Vemosde um lado, a presena de um pai que quer projetar seus ideais frustrados de sucesso no jovem filho; deoutro lado, o filho que se sujeita a aceitar passivamente as imposies do pai, anulando-se.

    Certamente, no conto machadiano os papis sociais pertencem, num primeiro momento, a um grupo restrito:pai e filho. As personagens no possuem nomes e so, portanto, caracterizadas somente pela posio queocupam no grupo familiar e, num segundo momento, no decorrer da narrativa, h a construo de umterceiro papel social, este pertencente a um grupo mais amplo: o Medalho.

    Neste conto, no dilogo estabelecido, h a presena das formas de tratamento, ou seja, o pai dirige-se aofilho sempre utilizando a 2 pessoa pronominal - tu, te, contigo, teu, etc. - o filho, por sua vez, utiliza-se a 3

    pessoa pronominal, com valor de 2 pessoa: vosmec, lhe, o senhor, etc. No primeiro caso, a presena da 2pessoa d um valor de proximidade ao discurso, dando um maior sentimento de intimidade. J no segundocaso, o uso da 3 pessoa, mostra uma aceitao do discurso paterno, como se no houvesse outro meio dediscusso.

    Enredo do Texto

    Sinteticamente, um exemplo extremante bem sucedido da reflexo tica e esttica machadiana, o contosatrico Teoria do medalho. Em forma de dilogo entre um pai e o filho, a narrativa expe cruamente,atravs das palavras do pai, o que seria adequado aos tempos para que o filho realizasse o desejo paternode tornar-se "grande e ilustre, ou pelo menos notvel".

    Para caracterizar e valorizar o enredo da narrativa dialogada machadiana, focalizando o contedo danarrativa, ser mostrado, detalhadamente, a desenvoltura do dilogo entre pai e filho na celebrao damaioridade filial.

    Pargrafos: 1 a 9

    Logo aps o jantar de aniversrio de maioridade do filho, que completa 21 anos, o pai inicia uma conversacom este, falando que na vida uns so conhecidos ou reconhecidos e outros so annimos, sendo estesltimos a maioria. No dilogo o pai fala que vai ensinar ao filho uma profisso para recompensar o esforodurante a vida, caso as outras profisses falhem.

    ANLISE ESTRUTURALISTA DO CONTO TEORIA DO MEDALHO

  • Pargrafos: 10 a 14

    O pai, ento, aconselha ao filho o ofcio de medalho, onde fala que o filho moo e que deve moderar osimpulsos, para que aos quarenta e cinco anos - a idade que o medalho se manifesta (alguns com mais eoutros com menos) - nele se manifeste.

    Pargrafos: 15 a 23

    Agora, entrando na "profisso" de medalho e devendo abster-se de ter idias, diz o pai a seu filho, que elese enquadra na carreira por no ter muitas idias prprias. Com a idade pode ser que elas venham, e omodo de preveni-las fazer atividades que no permitam o surgimento delas, tais como jogos de bilhar, lerretricas, passeio na rua, desde que seja acompanhado para que a solido no d margem a idias. Pode irtambm a uma livraria, para contar uma piada, um caso, um assassinato, mas no para outro fim, pois a

    solido no convm ao fim do ofcio. Com isso, em at dois anos pode se reduzir bastante o intelecto.

    Pargrafo: 24 a 28

    Enfim, quando o filho reclama que no se pode enfeitar muito o que fala ou escreve, o pai ensina que podeusar mximas e citaes, ou empregar figuras, discursos prontos e frases feitas. Por exemplo, Se for feitauma lei e esta no der certa, apenas dir: "Antes das leis, reformemos os costumes", pois isso pouparproblemas e futuras discusses. Em resposta, o filho diz que o pai no gosta da aplicao de processosmodernos, porem o pai responde que condena a aplicao, mas louva que se fale sobre a modernidade. Econvm, continua ele, saber das descobertas e interesses das cincias do momento, com o tempo seussignificados e terminologia sendo aprendidos, sem ter que aprender com os professores e mestres dacincia, pois com eles perigoso formular idias.

    Pargrafos: 29 a 36

    Nestes pargrafos o pai fala dos benefcios da publicidade. Primeiramente, diz ele, em vez de escrever um"tratado cientfico sobre carneiros", deve d-lo em forma de um jantar aos amigos e fazer com que a notciase espalhe. Em seguida, deve fazer festas, ter figuras da imprensa nelas para que se torne pblica oacontecimento. Caso a imprensa no possa est presente, deve ele mesmo redigir uma matria para serdivulgada. O objetivo disso que se torne conhecido e que, com o passar do tempo, passe ele ento a serchamado para outras, tornando a figura dele indispensvel nelas.

    Pargrafos: 37 a 41

    ANLISE ESTRUTURALISTA DO CONTO TEORIA DO MEDALHO

  • Pode-se, ento, entrar na poltica, ficar ligado a algum partido, contando que no adote a idia de nenhum -continua o pai - caso descida entrar nela, bom usar a tribuna para chamar a ateno pblica. E quanto aosdiscursos melhor que sejam sobre algum assunto que incite debates ou discusses, mas sem que surjamnovas idias, como, por exemplo, falar de assuntos ligados metafsica poltica, pois neste ramo tudo jest pensado, devendo a pessoa s recorrer memria para eventuais comentrios.

    Pargrafos: 42 a 53

    Nestes pargrafos finais o filho indaga se no deve ter nenhuma imaginao ou filosofia. O pai responde queno, mas que deve se souber falar sobre "filosofia da histria", mas se no sab-la, deve fugir a tudo queleve reflexo. J quanto ao humor, ser medalho no sinnimo de ser srio, podendo-se brincar, massem usar de ironia, mas usar da chalaa. Por fim, vendo o pai que j meia noite, pede ao filho para que vdormir e pense bem no que foi conversado, pois, guardadas as propores, a noite valeu pelo "Prncipe" deMaquiavel.

    Diante de tudo isso, podemos ver o conto como um tipo de "parbola", onde o autor d a "receita" mostrando

    o que no deve ser feito, se quisermos construir uma sociedade em que possamos mud-la, question-la,avanar "intelectualmente", e tambm sabermos identificar os medalhes para que no possam nosmanipular.

    Com esse intrito, viso entender em "Teoria do Medalho", como o escritor deixa implicitamente, sinais deque o seu conto no esta desvinculado do processo histrico, do qual resumidamente explanei no comeo.Cabe ainda dizer que o discurso do texto estava associado a uma sociedade pautada nos valores de umasociedade agrria e senhorial, remanescentes de uma mentalidade luso-brasileira e colonial. O medalhoque a cordialidade como smbolo e representativo de uma "sobrevivncia" de uma sociedade paternalistado sculo XIX.

    Por Manoel Huires Alves

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