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ANÁLISE DE MODALIDADES
DIFERENTES DE COBRANÇA DE
FRETE: UM ESTUDO DE CASO PARA A
DISTRIBUIÇÃO FÍSICA DE PRODUTOS
DERIVADOS DE CAFÉ
Marcelo Piola Ferreira (UFSCar)
Joao Eduardo Azevedo Ramos da Silva (UFSCar)
Este trabalho tem o objetivo de comparar modalidades diferentes de
cobrança de frete na distribuição física de produtos acabados, além de
analisar o nível de serviço logístico por meio de um estudo de caso. A
empresa estudada é uma multinaccional do ramo de produtos
derivados de café com grande representatividade no país. Sua
distribuição física, com vendas pelo custeio CIF, é realizada com
empresas prestadoras de serviço logístico via cobrança de frete com
preço fixo por veículo. Este tipo de movimentação pode gerar maiores
custos, uma vez que é comum o transporte com cargas incompletas. O
estudo faz a comparação da modalidade atualmente em uso com uma
nova proposta de modalidade de frete, considerando o frete por peso
transportado, levando em conta a atualização do nível de serviço
quanto a exigências. Como resultado, o custeio na modalidade frete-
peso proporcionaria ganhos financeiros em relação ao sistema em uso,
condicionados à distância a ser transportada
Palavras-chaves: Transporte, custos logísticos; frete; café;
distribuição física
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Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012.
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1. Introdução
O avanço na produção de produtos derivados do café tem crescido de forma consistente,
elevando os números de 8,2 milhões de sacas por ano em 1990 para 19,1 milhões de sacas por
ano em 2010. O Brasil encontra-se como primeiro produtor e segundo maior consumidor do
café, entretanto há uma tendência do país assumir a liderança em 2012 (ABIC, 2010).
Com essa demanda estabelecida, as empresas de industrialização de produtos derivados de
café precisam conservar a manutenção desses níveis de consumo com qualidade e preço
atrativos.
Em relação aos custos do produto, a distribuição física é elemento significativo a ser
considerado nas decisões estratégicas, devido aos altos valores praticados. BALLOU (2006)
apresenta que o valor de frete da distribuição física corresponde a 60% do valor de toda a
atividade logística das indústrias. Além disso, é necessário manter níveis de serviço logístico
elevados para corresponder às expectativas dos clientes.
Segundo LIMA (2006, p.1), “custos e nível de serviço são duas variáveis que tangem o
sucesso (ou fracasso) de qualquer empresa”, uma vez que sofrem influência direta e decisiva
da gestão do transporte de cargas. Estabelecer um trade-off sustentável entre essas duas
variáveis é uma necessidade para o setor logístico.
O presente estudo aborda a distribuição física de produtos derivados de café em uma empresa
multinacional que detém marcas com participação expressiva no mercado. Por meio de um
estudo de caso, este trabalho tem como objetivo avaliar modalidades diferentes de cobrança
de frete na distribuição física dos produtos da empresa. Para tal, foi considerado o transporte
realizado por caminhões contratados tanto na modalidade por veículo, como por peso
carregado. Analisou-se as duas formas para verificar qual proposta seria mais interessante e
viável para o contratante, sem ser prejudicial ao prestador de serviço contratado.
Complementarmente, levantou-se as exigências feitas pela empresa quanto ao nível de serviço
logístico exigido na seleção de seus transportadores contratados.
2. Referencial teórico
Segundo Ballou (2006), existem cinco modais básicos de transporte: aeroviário, aquaviário,
dutoviário, ferroviário e rodoviário. Conforme apontado por Davidsson et al. (2004), a
diferença entre os modos de transporte está relacionada principalmente com: tipo, volume,
velocidade, forma, e flexibilidade de atendimento.
O transporte é uma área de suma importância no âmbito da logística, uma vez que
normalmente o montante dos custos logísticos estarão mais associados a esta atividade do que
às demais, como armazenagem e processamento de pedidos. Para Ballou (2006), o transporte
representa entre metade e dois terços dos custos das atividades logísticas totais.
Como apresentado por Nazário (2000) citado por Ribeiro e Ferreira (2002), na Tabela 1 é
possível comparar os modais em diferentes características, em que a menor pontuação
significa maior excelência no quesito.
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Fonte: NAZÁRIO, 2000 apud RIBEIRO e FERREIRA, 2002
Tabela 1: Características operacionais dos modais
Em relação aos resultados da Tabela 1, a pontuação geral indica preferência para o uso do
transporte rodoviário, possuindo bons valores nas características indicadas, exceto em
capacidade.
O transporte rodoviário, como apresentado por Ribeiro e Ferreira (2002), destina-se
principalmente ao transporte de curtas ou médias distâncias de produtos acabados e semi-
acabados, e por possuir um custo de transporte relativamente caro, é recomendado para a
movimentação de mercadorias de alto valor ou perecíveis.
Para Monteiro et al. (2009), a escolha do melhor modal considerando tempo de trânsito,
logística oferecida, confiabilidade, capacidade, acessibilidade e segurança, para produtos
acabados derivados do café, que possuem shelf-life curto, o sistema de transporte rodoviário
de carga é mais interessante e viável, apesar de conferir um elevado frete.
Conforme apresenta Ballou (2006), o transporte rodoviário é caracterizado por possibilitar a
movimentação “porta a porta”, sem precisar ocorrer mudança intermodal durante o percurso.
O modal rodoviário é amplamente utilizado pela flexibilidade da quantidade a ser carregada,
com diversos tipos de veículos e diferentes capacidades de cubagem. Esta praticidade de
diferentes tipos de carregamento é altamente desejável no transporte dos produtos finais
derivados do café, pois é comum haver diferentes necessidades para cada cliente e região.
Para Ballou (1993), o ideal para as entregas é fechar cargas completas (TL – truckload), uma
vez que pode ser aproveitado o máximo do carregamento do veículo, pois maior será o rateio
dos custos ao produto transportado, reduzindo os custos indiretos. Para isso é importante focar
em CDs em locais estratégicos, a fim de condicionar entregas com cargas cheias para os CDs
e em cargas fracionadas (LTL – less than truckload) para os clientes finais.
Ângelo (2005) apresenta dados da ASLOG (Associação Brasileira de Logística) que indicam
que o impacto da logística no custo final do produto no Brasil é de 7,2%, enquanto nos
Estados Unidos esse valor é de 4%. O setor da logística representa cerca de 12% do PIB e tem
uma tendência de crescimento de 10% ao ano no país. Logo, um controle logístico mais
apurado é um fator chave para a competitividade dos produtos no mercado.
Conforme a NTC (2001, p.30), “todas as atividades econômicas têm como objetivo produzir
uma receita capaz de proporcionar remuneração dos seus custos de produção e de seus
investimentos, gerar um lucro operacional e compensar os riscos envolvidos em tal
atividade”. Segundo REIS (2001), a valoração do preço de transporte é dada pela tarifa
rodoviária, que é o somatório de cinco componentes apresentados na Tabela 2.
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Tabela 2: Componentes da tarifa de frete rodoviário
Para REIS (2001), os custos operacionais do veículo se dividem em custos de transferência
(relacionadas à operação do veículo), despesas administrativas e de terminais (relacionadas à
estrutura da empresa e à operação dos terminais).
Os custos de transferências (operacionais) são diretos e divididos entre custos fixos e custos
variáveis. Os custos fixos não variam com a quilometragem percorrida pelos veículos, já os
custos variáveis são proporcionais a esta quilometragem. Já nas despesas administrativas e de
terminais todos os custos são indiretos. Os custos fixos e variáveis operacionais, como
apresentado por REIS (2001), constam a seguir na Tabela 3:
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Fonte: adaptado de Reis, 2001
Tabela 3: Custos operacionais fixos e variáveis
Segundo Transporte Moderno (2011), dos custos totais de um caminhão pesado de transporte
de carga, cerca de 60%, na média, são variáveis; e 40%, fixos. O principal item de custo
variável é o combustível, com cerca de 35% de participação nos custos totais. No caso dos
custos fixos, a remuneração e os custos trabalhistas dos motoristas se sobressaem com cerca
de 17% de participação.
Na teoria, conforme REIS (2001), nas despesas administrativas e de terminais, os custos não
estão relacionados diretamente com a operação do veículo, variando então pelo peso
transportado, rateando seu valor total pela quantidade movimentada. Para a NTC (2001), estes
custos indiretos estão divididos em duas parcelas: salários e encargos das pessoas que não são
diretamente envolvidas com a operação e outras despesas necessárias para o funcionamento
da empresa.
3. Metodologia
A metodologia utilizada para a pesquisa aplicada emprega informações tanto de natureza
qualitativa, quanto quantitativa. O trabalho consistiu em um estudo de caso de caráter
exploratório, conforme define MIGUEL (2010, p.129):
“O estudo de caso é um trabalho de caráter empírico que investiga um dado
fenômeno dentro de um contexto real contemporâneo por meio da análise
aprofundada de um ou mais objetos de análise (casos). Essa análise
possibilita amplo e detalhado conhecimento sobre o fenômeno, permitindo
inclusive a geração de teoria.”
A empresa selecionada para estudo de caso está presente há 13 anos no mercado brasileiro de
café e tem como característica o domínio da cadeia produtiva, desde a entrada do café cru, até
o setor de armazenamento.
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O trabalho consistiu de duas partes. A primeira parte avaliou o nível de serviço logístico
exigido pela empresa e a proposição de novos elementos com base no questionário utilizado.
Já a segunda parte focou na análise comparativa de duas metodologias de cobrança de frete.
Para o estudo foram levantadas informações de como é a realização do frete com as
prestadoras de serviço logístico, e o desempenho mantido por meio de elementos de nível de
serviço. Para isso, aplicou-se um questionário (ANEXO A) durante as entrevistas com o
gerente de serviços customizados e fretes da área de logística e com o supervisor de logística
da empresa.
A empresa adota três modalidades de distribuição física e custeio dos produtos: CIF, FOB e
por meio de centros de distribuição. Segundo Freitas e Meireles (2010) a modalidade CIF
ocorre com as despesas de seguro e transporte por conta do vendedor; já a modalidade FOB é
quando as despesas do transporte e seguro são por conta do comprador. Na movimentação
para centros de distribuição (CDs) a empresa utiliza frota própria ou estabelece parcerias com
outras empresas alimentícias em circuito. No sistema de custeio CIF, que é a mais comum
para entrega direta aos clientes, é contratada uma empresa prestadora de serviço logístico para
a realização do transporte. O sistema FOB é realizado apenas para alguns grandes varejistas
que possuem capacidade própria de operação logística.
Atualmente, a empresa utiliza o sistema de faturamento de entregas através de preços fixos
por veículo contratado, procurando sempre a transportadora que ofereça melhores condições
de pagamento. Entretanto, o que ocorre em muitas situações é o caminhão não viajar com sua
capacidade máxima, ocasionando prejuízos para a empresa, uma vez que não é aproveitado
todo o potencial do transporte contratado.
Para contornar tal situação, o estudo levantou como seriam os custos de transporte caso fosse
contratado o frete considerando o peso carregado, podendo ser uma situação mais justa, uma
vez que o valor cobrado seria apenas o peso que efetivamente está sendo transportado, e
possivelmente ser uma condição mais econômica para a empresa.
A análise foi restrita às mesorregiões de Campinas, Ribeirão Preto e São José do Rio Preto. O
levantamento dos dados atuais foi feito com base em dados históricos do faturamento de frete
(frete veículo). A partir dessa base foi possível relacionar as diferentes regiões, com seus
respectivos volumes e o custo líquido de transporte. Na análise foram consideradas as
transações de distribuição física dos meses de abril, maio e junho de 2011.
A partir desses mesmos volumes foi consolidada a nova proposta, de frete-peso. Ela consistiu
primeiramente no levantamento de preços por faixa de peso por microrregião com prestadoras
de serviço. Para esse levantamento foram requisitadas as novas premissas determinadas na
primeira etapa do trabalho quanto ao nível de serviço logístico. Após o custeio, foram
comparados os custos de transporte das duas propostas.
4. Resultados e discussões
4.1. Análise do questionário
Com base no questionário aplicado verificou-se que a modalidade de faturamento de frete
praticado, na modalidade CIF, é feita por veículo, em que há a contratação de uma empresa
prestadora de serviço logístico (transportadora) para efetivação da entrega do produto ao
cliente. O frete faturado por veículo impõe uma prática que independe se o carregamento é
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fracionado ou completo, pois é realizada a contratação do veículo a um valor fixo para a
realização da entrega.
Entretanto, para fazer o pedido é verificada a necessidade de transporte, isto é, a quantidade a
ser transportada, e é definido o tipo de veículo que tenha cubagem suficiente. Para a seleção
adequada do tipo de carregamento, a empresa possui um setor que analisa e determina o
modelo de veículo a expedir, com base no volume a ser transportado.
Em relação ao nível de serviço logístico a empresa exige os seguintes elementos, conforme
Tabela 4.
Tabela 4: Elementos de nível de serviço exigidos pela empresa.
Nos elementos de pré-transação, as políticas são definidas em contrato das operações
logísticas, como o lead time de entrega do produto e o tempo limite de devolução do produto.
Já a política de entrada do veículo na fábrica exige a utilização de um veículo em bom estado,
sem vazamentos de óleo, pneus em bom estado e com ausência de emissões, pois impedirá o
motorista de carregar/descarregar os produtos. Há também o controle do trajeto percorrido
que obriga a prestadora de serviço avisar à empresa todas as saídas de rotas feitas pelos
motoristas. Caso não haja cumprimento destas políticas a transportadora contratada estará
sujeita a multa.
O elemento de maior controle é o nível de ONTIME, onde é exigido pela empresa aos
transportadores, que pelo menos 95% do total da carga transportada seja realizada segundo
lead-time de entrega conforme especificado em contrato.
4.2. Proposição do nível de serviço
Além do índice ONTIME e dos demais elementos de nível de serviço, outros elementos são
importantes serem inseridos e acompanhados, pois poderiam garantir melhor qualidade de
serviço à empresa e aos clientes.
A partir dos resultados obtidos pelos questionários, novos índices foram incluídos no nível de
serviço (Tabela 5) Eles serão exigidos no levantamento para cálculo do frete-peso às
prestadoras de serviço logístico e proporcionarão melhor qualidade de entrega dos produtos
aos clientes.
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Tabela 5: Novos elementos do nível de serviço
O tempo de carregamento influencia o tempo de ciclo do pedido, que está entre a colocação
do pedido e a entrega dos produtos. Seu monitoramento ocasionará tempos de carregamento
menores e mais consistentes.
O controle da porcentagem de avaria possibilitará melhor controle da empresa e maior
qualidade dos operadores logísticos, pois deve reduzir perdas com causas comuns, como o
descuido no transporte da carga, danificando os produtos.
O tempo entre solicitação de transporte e sua realização, exige do operador logístico um
tempo limite pré-determinado para entrega do produto, a fim de garantir ao cliente uma data
máxima para o recebimento. Esse elemento confere maior confiabilidade de recebimento do
pedido aos clientes.
4.3. Análise de Frete
Na análise de frete, os valores considerados no cálculo são líquidos, ou seja, não são
considerados os impostos (PIS, COFINS e ICMS), o pedágio, a taxa de entrega e também o
GRIS, pois este último é negociado à parte, direto com uma empresa seguradora.
4.3.1. Frete Veículo
Os valores levantados de frete veículo foram compilados do banco de dados da empresa.
Esses valores apresentados são do histórico de distribuição com sistema de custeio CIF, dos
meses de abril a junho de 2011, das quatro mesorregiões (Tabela 6).
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Tabela 6: Valores de Frete Veículo por Mesorregião
Com os valores obtidos na Tabela 6, verifica-se uma grande distribuição de carga na
mesorregião Macrometropolitana Paulista. Entretanto, apresenta menores valores de frete
líquido para cada quilograma transportado, devido a sua proximidade ao ponto de origem
(Jundiaí).
As mesorregiões de Ribeirão Preto e de São José do Rio Preto foram as que apresentaram o
menor volume de distribuição, devido ao menor consumo desses locais. Já os valores de frete
líquido para cada quilograma transportado foram maiores, uma vez que a distância da
empresa é maior, cerca de 300 quilômetros e 450 quilômetros, respectivamente.
4.3.2. Frete Peso
Os preços estipulados para o cálculo do frete-peso são derivados de negociações entre a
empresa contratante e a empresa contratada segundo regras de livre concorrência do mercado,
que exige flexibilidade para negociação de valores devido à grande concorrência existente no
ramo.
Para calcular o frete líquido, foram utilizados os valores de frete-peso fornecidos por três
transportadoras. Entretanto, quando havia o mesmo destino para duas transportadora foi
escolhida a que apresentava o menor preço. Os valores fornecidos incluem a definição de
atualização do nível de serviço (novos requisitos), realizado na primeira fase do trabalho,
quando foram incluídos três novos elementos.
Logo, com o frete-peso definido, foi feito o cálculo de cada transporte realizado no período de
abril a junho de 2011 (Tabela 7).
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Tabela 7: Valores de Frete Peso por Mesorregião
Com os valores da Tabela 7 observa-se que a Mesorregião Macrometropolitana Paulista
possui o menor frete líquido para cada quilograma transportado. Já as mesorregiões de
Ribeirão Preto e São José do Rio Preto têm os maiores valores de frete líquido para cada
quilograma transportado.
4.4. Comparativo de Fretes
A partir dos valores coletados para as modalidades de cobrança de frete por frete-veículo e
frete-peso, foi feita a tabela 8 de acordo com a distância média da fábrica.
Tabela 8: Comparativo entre modalidades de frete
Nas duas modalidades de frete observa-se que quanto maior for a distância da origem, maior
será o frete cobrado. Portanto, a Mesorregião de São José do Rio Preto é a que possui o maior
frete por peso transportado. Em contrapartida, é visto que existe uma diminuição do custeio
por frete veículo para o custeio por frete peso, nas quatro Mesorregiões.
Conforme definido, no custeio por frete-peso foram incluídas as novas exigências de nível de
serviço logístico, definidas na primeira parte do trabalho. Ao adicionar elementos que
contribuem com a qualidade do serviço, isto impactaria em maiores custos, uma vez que
existe o trade-off entre qualidade e custo. Entretanto, constata-se que mesmo com as novas
exigências, o custeio por frete-peso indicou economia de custo.
Considerando o somatório dos três meses, é possível verificar a economia das modalidades de
frete na empresa em cada mesorregião (Figura 1).
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Figura 1: Valores de redução de R$/kg no frete por Mesorregião
A Figura 1 considera a média total do valor por quilo transportado e a economia de custo de
uma modalidade para outra, indicada percentualmente.
Fica evidente que quanto maior a distância da origem do transporte até o destino final, maior
será a redução de cobrança de frete, visto que São José do Rio Preto e Ribeirão Preto teriam
economia de cerca da metade do custo no frete-peso, enquanto Campinas e
Macrometropolitana Paulista também tiveram uma pequena redução, como se pode verificar
na regressão apresentada na Figura 2.
Figura 2: Valores de redução de frete por quilômetro
Entretanto, para a distribuição física realizada por frete peso, é indicado o aproveitamento de
toda a capacidade do veículo para gerar maior lucratividade à transportadora contratada. No
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caso de se trabalhar com cargas incompletas, sugere-se criar um sistema de rotas com outras
empresas para agregação de cargas e, consequentemente, redução do custo de transporte.
O maior lucro existiria para a empresa operadora de serviço, uma vez que ao consolidar um
transporte com carga completa no custeio por frete-peso esta obteria maior lucro em
comparação ao custeio por frete-veículo. No entanto, para que o operador logístico possa
completar a carga, com frete-peso, é necessário que a empresa contratante se prive de
exclusividade no transporte.
Por ser do ramo alimentício, para privar-se da exclusividade no transporte é provável gerar
transtornos em relação à qualidade do produto, pois o café é um produto com alta capacidade
de retenção de odores e umidade. Nesse caso, deve-se exigir que a transportadora agregue
apenas produtos que não influenciem na qualidade dos produtos derivados de café.
5 Considerações finais
Neste estudo foi analisada uma nova proposta de custeio de transporte, além da adição de
novos elementos para mensuração do nível de serviço logístico para uma empresa de produtos
derivados de café. Tais propostas visam obter melhorias na qualidade do transporte e gerar
economias de ordem logística que beneficiariam a relação empresa-cliente.
Na situação atual da empresa em estudo, que realiza a distribuição física por frete-veículo,
obtiveram-se valores de economia superiores com a nova proposta de frete-peso. Os valores
de economia chegam a ser superiores a 50% do frete-peso, considerando a região mais
distante.
Verifica-se pelo estudo a existência uma tendência da economia entre o custeio por frete-
veículo e o custeio por frete-peso dependendo da distância. Há um crescente ganho até cerca
de 350 quilômetros, distância a partir da qual há uma estabilização do ganho em cerca de
R$0,20/km. Logo, independente da região avaliada há esse comportamento de redução de
custos, o que merece atenção e incentivo para expandir o estudo.
Como abordado, a modalidade de frete-peso apresenta dificuldades para a empresa em deter
exclusividade do veículo. Porém, isto pode ser eliminado a partir de um controle de quais
cargas também serão agregadas. Assim, limitaria ao prestador de serviço transportar apenas
produtos que não alterem a qualidade do produto.
Visto os resultados obtidos, constata-se a importância de realizar uma análise que mescle
operações e seu custo, uma vez que a distribuição física de cargas possui altos valores
praticados, sendo um elemento significativo a ser considerado nas decisões estratégicas das
empresas.
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ANEXO A - Questionário
1) Como é feito o faturamento do frete pela empresa?
2) Existe a diferenciação em tipos de cargas fracionadas ou cargas completas?
3) Existe outro cenário que é considerado ideal para realização dessa cobrança para a
empresa que ainda não é realizado?
4) Como é realizado o modo de cobrança no faturamento atualmente? E como seria nessa
circunstância ideal?
5) Existem diferentes tipos de carretas para o transporte dos produtos? Marque as utilizadas
abaixo:
Fiorino (400kg) Van (1,5 ton) Toco (6 ton) Carreta Sider (27 ton)
Kombi (900kg) ¾ ( 3 ton) Truck (12 ton) Carreta Baú (27 ton)
6) Como é feita a seleção da carreta necessária, e como se mensura os cálculos para os
diferentes tamanhos de carreta?
7) Considerando como frete-peso, como é feita essa seleção de tipo de carreta?
8) Como é feita a unitização da carga para transporte desses PAs? Como é realizada a
cubagem da carga no caminhão?
9) Como é realizada a cobrança nas diferentes distâncias para a entrega? E sua mensuração,
existe alguma fórmula?
10) Quais são as regiões com maior volume de carga?
11) Em relação ao nível de serviço, quais índices são considerados para a empresa, e quais
mais importantes dentre eles em relação a:
a. Pré-transação (são os elementos dados ao ambiente para um bom nível de serviço –
políticas, estrutura organizacional, sistema)?
b. Transação (diretamente envolvido com o resultado do transporte)?
c. Pós-Transação (elementos pós venda para satisfação do cliente)?
12) Como é realizado o contrato com as transportadoras para exigir esse nível de serviço
segundo a empresa em questão?
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13) Existem outros elementos de nível de serviço logístico que a empresa espera agregar
futuramente