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Análise das características mecânicas de amostras de
argamassas pré-doseadas
Micael João da Encarnação Ferreira
Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em
Engenharia Civil
Júri
Presidente: Prof. Luís Manuel Alves Dias
Orientadora: Profª. Inês dos Santos Flores Barbosa Colen
Orientador: Prof. Jorge Manuel Caliço Lopes de Brito
Vogal: Profª. Maria Paulina Santos Forte de Faria Rodrigues
Vogal: Prof. João Pedro Ramôa Ribeiro Correia
Novembro de 2012
Análise das características mecânicas de amostras de argamassas pré-doseadas
i
Resumo
A resistência à compressão de betões e argamassas é considerada uma das propriedades fundamentais
e está directamente relacionada com a capacidade de resposta às solicitações mecânicas, essencialmente
esforços estáticos e dinâmicos.
Ao longo dos anos, vários autores têm procurado focar as suas investigações nesta característica de
desempenho. A resistência à compressão em serviço é avaliada indirectamente através de técnicas de ensaio
complementares ou a partir do ensaio em laboratório de amostras recolhidas, existindo, contudo, necessidade
de aprofundar o conhecimento desta propriedade em argamassas de revestimento. Neste sentido, o trabalho
desenvolvido pretende analisar a resistência à compressão de rebocos aplicados, a partir da recolha de
carotes, efectuando o estudo detalhado dos vários parâmetros que podem influenciar os resultados.
Na campanha experimental, as argamassas foram aplicadas em modelos de tijolos, os quais permitiram
a recolha de carotes através do ensaio pull-off. Paralelamente, foram produzidas amostras de comparação,
sem suporte mas de formato idêntico ao das carotes extraídas do ensaio de aderência, e provetes prismáticos
de dimensões normalizadas, para melhor avaliação dos aspectos que condicionam a resistência à compressão,
como o tipo de suporte, a secção e a espessura.
Desta forma, foram estabelecidas várias formas de avaliar a resistência à compressão, não só através
da relação com a tensão de aderência, como também a partir da medição directa com os ensaios de
compressão das diversas amostras recolhidas.
De acordo com os objectivos inicialmente definidos, a presente dissertação apresenta bases e futuras
propostas de desenvolvimento no que diz respeito à resistência à compressão de amostras recolhidas in-situ
em rebocos aplicados.
Palavras-chave:
Argamassas pré-doseadas; resistência à compressão; ensaio de aderência pull-off; carotes; amostras
Analysis of the mechanical characteristics of factory made mortars samples
iii
Abstract
Concrete`s or render`s compressive strength is considered one of the fundamental properties and it is
directly related to the ability to fulfill the mechanical requests, mainly static and dynamic action-efforts.
All over the years, several authors have tried to focus their investigations on this performance
characteristic. In-service compressive strength is indirectly assessed through complementary in-situ
techniques or evaluated in laboratory, using collected samples, although there is a need to develop the
knowledge of this propriety in renders. Therefore, this work seeks to analyze the compressive strength of
applied renders, doing the detailed study of various parameters which need to be considered when tests of
core renders` compressive strength are carried out and may affect the results.
In this experimental work, renders were applied on bricks. In order to obtain cores to test compressive
strength, pull-off adhesion tests on bricks surfaces were undertaken. Simultaneously, comparative samples of
the same size of the test cores and normalized samples were produced, in order to achieve a better evaluation
of the factors that affect compressive strength, such as the support system, type of section, and thickness.
Thus, several ways to evaluate compressive strength were established, not only through a relationship
with adhesion tension, but also through direct compressive strength measurement of cores.
According to the original aims, this dissertation establishes bases for future developments proposals
regarding compressive strength of cores collected in-situ.
Key-words:
Factory made mortars; compressive strength; pull-off adhesion test; cores; samples
Análise das características mecânicas de amostras de argamassas pré-doseadas
v
Agradecimentos
Sendo este trabalho uma etapa tão importante do meu percurso pessoal e académico, quero deixar aqui
os meus sinceros agradecimentos a todas as pessoas que me acompanharam e que, directa ou indirectamente,
deram o seu contributo à realização do mesmo.
Aos Professores Inês Flores-Colen e Jorge de Brito, meus orientadores científicos da dissertação,
expresso o meu agradecimento pelos conhecimentos partilhados, pelos constantes apoio e disponibilidade
demostrados e, principalmente, por todo o incentivo e paciência revelados ao longo de todo o trabalho.
Ao Sr. Leonel Silva e ao Sr. João Lopes, técnicos do Laboratório de Construção do IST, por toda a
ajuda, amizade e conhecimentos transmitidos, principalmente durante o período de ensaios laboratoriais.
À Weber, pela oferta de nove sacos de argamassa industrial, utilizados para a produção de todas as
amostras de teste.
A todos os colegas que fui encontrando no laboratório ao longo do trabalho experimental, pela
amizade revelada e total disponibilidade para auxiliar nas várias tarefas.
A todos os meus colegas e amigos, dos de longa data aos mais recentes, pela enorme amizade, pelo
incentivo e preocupação, a todos vós o meu obrigado.
A toda a minha família, com agradecimento especial aos meus pais e ao meu irmão, por toda a
motivação, apoio, preocupação e exemplo.
Análise das características mecânicas de amostras de argamassas pré-doseadas
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Simbologia
1,5 circ - carotes circulares com 1,5 cm de espessura
2,5 circ - carotes circulares com 2,5 cm de espessura
1,5 quad - carotes quadradas com 1,5 cm de espessura
2,5 quad - carotes quadradas com 2,5 cm de espessura
AD - rotura adesiva no ensaio de aderência pull-off
CA - rotura coesiva na argamassa ensaio de aderência pull-off
CS - rotura coesiva no suporte ensaio de aderência pull-off
D - argamassa de impermeabilização
fu - tensão de aderência [MPa]
GP - argamassas de uso geral
h/d - relação entre a altura (h) e o diâmetro (d)
IR – índice de resistência
M - argamassa monocamada
OC - monocamada, segundo designação da norma EN 998
R2 - coeficiente de determinação
RC - argamassa mineral de regularização para suporte de revestimentos de camada fina
Rcomp - resistência à compressão [MPa]
RD - argamassa mineral de regularização para suporte de revestimentos colados
Índices
viii
Índice de texto
1 - Introdução ............................................................................................................................................... 1
1.1 - Enquadramento e justificação ........................................................................................................... 1
1.2 - Objectivos e metodologia ................................................................................................................. 1
1.3 - Estrutura e organização do texto ....................................................................................................... 2
2 - Características mecânicas de argamassas pré-doseadas ............................................................................. 3
2.1 - Introdução ....................................................................................................................................... 3
2.2 - Argamassas industriais para reboco .................................................................................................. 3
2.2.1 - Considerações iniciais .............................................................................................................. 4
2.2.2 - Comparação com as argamassas tradicionais ............................................................................ 7
2.2.3 - Exigências funcionais de rebocos exteriores ............................................................................. 8
2.2.4 - Características e requisitos de desempenho ............................................................................... 8
2.3 - Avaliação da aderência .................................................................................................................. 10
2.3.1 - Aderência de argamassas ........................................................................................................ 10
2.3.2 - Ensaio de aderência pull-off ................................................................................................... 11
2.3.2 - Factores que influenciam a aderência ..................................................................................... 12
2.4 - Avaliação da resistência à compressão ........................................................................................... 19
2.4.1 - Resistência à compressão ....................................................................................................... 19
2.4.2 - Influência da dimensão e secção do provete ............................................................................ 20
2.4.3 - Influência da relação altura/dimensão lateral .......................................................................... 22
2.4.4 - Estimativa da resistência à compressão a partir do ensaio de arrancamento ............................. 24
2.4.5 - Tipo de argamassa .................................................................................................................. 27
2.4.6 - Comparação da resistência à compressão de carotes com a de provetes normalizados ............. 29
2.5 - Síntese do capítulo ......................................................................................................................... 30
3 - Campanha experimental......................................................................................................................... 33
3.1 - Considerações gerais ...................................................................................................................... 33
3.2 - Caracterização das argamassas ....................................................................................................... 33
3.3 - Descrição do plano de ensaios ........................................................................................................ 34
3.3.1 - Considerações iniciais ............................................................................................................ 34
3.3.2 - Fase preliminar ...................................................................................................................... 35
3.3.3 - Fase experimental .................................................................................................................. 36
3.4 - Caracterização das argamassas no estado seco ................................................................................ 38
3.4.1 - Análise granulométrica .......................................................................................................... 38
3.4.2 - Baridade ................................................................................................................................ 40
3.5 - Produção das argamassas ............................................................................................................... 41
3.6 - Preparação dos provetes normalizados ........................................................................................... 43
3.7 - Preparação das amostras ................................................................................................................ 44
3.7.1 - Modelos reduzidos tijolo+argamassa (carotes) ........................................................................ 45
3.7.2 - Provetes de comparação ......................................................................................................... 46
3.8 - Armazenamento e cura ................................................................................................................... 47
3.9 - Caracterização das argamassas no estado fresco ............................................................................. 48
3.9.1 - Massa volúmica aparente ....................................................................................................... 48
3.9.2 - Consistência por espalhamento ............................................................................................... 49
3.10 - Caracterização das argamassas no estado endurecido .................................................................... 50
3.10.1 - Aderência através do ensaio pull-off ..................................................................................... 51
3.10.2 - Resistência mecânica à tracção em provetes normalizados .................................................... 53
Análise das características mecânicas de amostras de argamassas pré-doseadas
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3.10.3 - Resistência mecânica à compressão ...................................................................................... 54
3.11 - Síntese do capítulo ....................................................................................................................... 56
4 – Análise e discussão dos resultados......................................................................................................... 59
4.1 – Introdução ..................................................................................................................................... 59
4.2 - Caracterização das argamassas nos estados seco e fresco ................................................................ 60
4.2.1 - Estado seco ............................................................................................................................ 61
4.2.2 - Estado fresco.......................................................................................................................... 63
4.3 - Resistência de aderência ................................................................................................................ 64
4.3.1 - Evolução do tipo de rotura até aos 91 dias .............................................................................. 64
4.3.2 – Influência da secção e da espessura no tipo de rotura ............................................................. 65
4.3.3 - Tensão de aderência das carotes ............................................................................................. 67
4.3.4 - Comparação entre carotes quadradas e circulares .................................................................... 69
4.3.5 - Resistência à compressão a partir da aderência ....................................................................... 71
4.4 - Resistência à compressão ............................................................................................................... 72
4.4.1 - Resistência dos provetes normalizados ................................................................................... 72
4.4.2 - Relação entre as resistências à compressão das carotes extraídas dos tijolos e das
amostras de comparação.................................................................................................................... 77
4.4.3 - Resistência à compressão das carotes ..................................................................................... 80
4.4.4 - Influência da relação h/d na resistência à compressão ............................................................. 83
4.4.5 - Comparação da resistência à compressão de carotes com a de provetes normalizados ............. 89
4.5 - Análise crítica dos resultados ......................................................................................................... 91
4.6 - Conclusões do capítulo .................................................................................................................. 92
5 - Conclusões e propostas de desenvolvimento .......................................................................................... 95
5.1 - Considerações finais ...................................................................................................................... 95
5.2 - Conclusões gerais .......................................................................................................................... 95
5.3 - Desenvolvimentos futuros .............................................................................................................. 98
6 - Bibliografia ........................................................................................................................................... 99
ANEXOS ..................................................................................................................................................... I
A - Análise granulométrica .......................................................................................................................... II
B - Resultados dos ensaios de aderência pull-off por argamassa ................................................................... III
C - Resultados dos ensaios de compressão (carotes recolhidas) por idades .................................................... V
D - Resultados dos ensaios de compressão (amostras de comparação) por idades ..................................... VIII
E - Provetes normalizados em todas as argamassas......................................................................................XI
F - Comparação da relação entre carotes e amostras de comparação ......................................................... XIII
Índices
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Índice de figuras
Figura 2.1 - Tendência das argamassas industriais (APFAC, 2008)................................................................ 4
Figura 2.3 - Esquema ilustrativo de um aparelho para ensaio de tracção pull-off (Santos, 2008) .................. 11
Figura 2.4 - Diferentes tipos de rotura nos ensaios de aderência (CEN, 2000) .............................................. 11
Figura 2.2 - Relação entre a tensão de aderência de carotes de secção circular e quadrada de secção circular
(Soares, 2011) ............................................................................................................................................. 18
Figura 2.5 - Provete cilíndrico de betão sujeito a uma carga de compressão (Kim et al., 1998) .................... 20
Figura 2.6 - Modos de rotura em função da geometria do provete de betão (Kim et al., 1998) ...................... 20
Figura 2.7 - Roturas satisfatórias de provetes cúbicos e cilíndricos de betão (IPQ, 2003) ............................. 20
Figura 2.8 - Relação entre duas formas de estudar a relação entre a altura e o diâmetro dos provetes (Soares,
2011) .......................................................................................................................................................... 22
Figura 2.9 - Relação entre a h/d e índice de resistência (Soares, 2011) ......................................................... 23
Figura 2.10 - Relação entre h/d e IR em reboco industrial (Soares, 2011) .................................................... 24
Figura 2.11 - Relação entre h/d e IR em reboco industrial (secção quadrada à esquerda e secção circular à
direita) (Soares, 2011) ................................................................................................................................. 24
Figura 2.12 - Relação entre a relação h/d e a resistência à compressão em amostras de betão (Tuncan et al.,
2008) .......................................................................................................................................................... 25
Figura 2.13 - Relação entre a relação h/d e a resistência à compressão em amostras de betão (Nikbin et al.,
2009) .......................................................................................................................................................... 25
Figura 2.14 - Relação de correlação entre a tensão de tracção e a resistência à compressão em betão (Bungey
& Madandoust, 1992, citado por Pereira, 1999) ........................................................................................... 25
Figura 2.15 - Correlação típica entre a tensão de tracção pull-off e a resistência à compressão em cubos de
betão (Long et al., 1987, citado por Nepomuceno, 1999) ............................................................................. 26
Figura 2.16 - Relação entre tensão de aderência e resistência à compressão de reboco industrial (Soares,
2011) .......................................................................................................................................................... 26
Figura 3.1 - Barrica de plástico ................................................................................................................... 35
Figura 3.2 - Identificação de um tijolo ......................................................................................................... 36
Figura 3.3 - Identificação das carotes .......................................................................................................... 36
Figura 3.4 – Moldes metálicos .................................................................................................................... 37
Figura 3.5 - Amostras de comparação da argamassa M ................................................................................ 37
Figura 3.6 - Amostras de comparação da argamassa RC .............................................................................. 37
Figura 3.7 - Amostras de comparação da argamassa RD .............................................................................. 37
Figura 3.8 - Amostras de comparação da argamassa D ................................................................................ 37
Figura 3.9 - Provetes normalizados ............................................................................................................. 38
Figura 3.10 - Conjunto de peneiros ............................................................................................................. 39
Figura 3.11 – Estufa de secagem ................................................................................................................. 39
Figura 3.12 - Registo da massa do material retido ....................................................................................... 40
Figura 3.13 - Compactação do material ....................................................................................................... 41
Figura 3.14 - Pesagem do conjunto ............................................................................................................. 41
Figura 3.15 - Enchimento do recipiente ....................................................................................................... 41
Figura 3.16 - Equipamento para recolha do material .................................................................................... 42
Figura 3.17 - Colocação do produto no recipiente........................................................................................ 43
Figura 3.18 - Junção da água ao produto ..................................................................................................... 43
Figura 3.19 - Mistura mecânica ................................................................................................................... 43
Figura 3.20 - Mistura manual ...................................................................................................................... 43
Figura 3.21 - Repouso durante 10 minutos .................................................................................................. 43
Análise das características mecânicas de amostras de argamassas pré-doseadas
xi
Figura 3.22 - Molde para provetes normalizados ......................................................................................... 44
Figura 3.23 - Aplicação de óleo descofrante no molde ................................................................................. 44
Figura 3.24 - Preenchimento do compartimento .......................................................................................... 44
Figura 3.25 - Uniformização com auxílio de uma espátula........................................................................... 44
Figura 3.26 - Aplicação de 60 pancadas para compactação .......................................................................... 44
Figura 3.27 - Tijolo cerâmico ...................................................................................................................... 45
Figura 3.28 – Moldagem de um tijolo ......................................................................................................... 45
Figura 3.29 – Humedecimento do tijolo ...................................................................................................... 46
Figura 3.30 - Execução do revestimento ...................................................................................................... 46
Figura 3.31 - Aspecto final do revestimento ................................................................................................ 46
Figura 3.32 - Peças para moldagem das amostras de comparação ................................................................ 46
Figura 3.33 - Suporte das amostras de comparação ...................................................................................... 46
Figura 3.34 - Compactação da amostra ........................................................................................................ 47
Figura 3.35 - Aspecto final da amostra ........................................................................................................ 47
Figura 3.36 - Desmoldagem das amostras de comparação............................................................................ 47
Figura 3.37 - Armazenamento dos tijolos na câmara de temperatura e humidade controladas ....................... 47
Figura 3.38 - Equipamento para realização do ensaio .................................................................................. 48
Figura 3.39 - Enchimento do recipiente ....................................................................................................... 48
Figura 3.40 - Oscilação lateral..................................................................................................................... 48
Figura 3.41 - Nivelamento da superfície ...................................................................................................... 49
Figura 3.42 - Pesagem do conjunto ............................................................................................................. 49
Figura 3.43 - Equipamento necessário à realização do ensaio ...................................................................... 49
Figura 3.44 - Introdução da argamassa no molde ......................................................................................... 50
Figura 3.45 - Compactação com recurso a varão metálico ........................................................................... 50
Figura 3.46 - Aplicação de 25 pancadas ...................................................................................................... 50
Figura 3.47 - Medição dos vários diâmetros ................................................................................................ 50
Figura 3.48 - Equipamentos para corte de carotes e colagem de pastilhas .................................................... 51
Figura 3.49 - Realização de carotes circulares ............................................................................................. 51
Figura 3.50 - Rasgos com rebarbadora para carotes quadradas..................................................................... 51
Figura 3.51 - Colagem das pastilhas metálicas............................................................................................. 52
Figura 3.52 - Ensaio de aderência pull-off ................................................................................................... 52
Figura 3.53 - Rotura coesiva no reboco ....................................................................................................... 52
Figura 3.54 - Rotura coesiva no suporte ...................................................................................................... 52
Figura 3.55 - Rotura adesiva na interface reboco / suporte (carote da esquerda) ........................................... 52
Figura 3.56 - Máquina para ensaios de flexão e compressão ........................................................................ 53
Figura 3.57 - Posicionamento de um provete de dimensões normalizadas sobre os apoios da máquina ......... 53
Figura 3.58 - Ensaio à flexão....................................................................................................................... 54
Figura 3.59 - Registo da força durante um ensaio ........................................................................................ 54
Figura 3.60 - Ensaio à compressão de um provete de dimensões normalizadas ............................................ 55
Figura 3.61 - Descolagem da pastilha .......................................................................................................... 55
Figura 3.62 - Rectificação da face irregular ................................................................................................. 55
Figura 3.63 - Ensaio à compressão de uma carote circular ........................................................................... 56
Figura 3.64 - Ensaio à compressão de uma carote quadrada ......................................................................... 56
Figura 3.65 - Ensaio à compressão de uma amostra de comparação ............................................................. 56
Figura 4.1 - Curvas granulométricas das argamassas estudadas ................................................................... 62
Figura 4.2 - Relação entre as baridades com compactação e sem compactação ............................................ 62
Figura 4.3 - Relação entre o espalhamento e a relação água / produto .......................................................... 64
Figura 4.4 - Tipo de rotura aos 6 dias em todas as argamassas ..................................................................... 65
Índices
xii
Figura 4.5 - Tipo de rotura aos 27 dias em todas as argamassas ................................................................... 65
Figura 4.6 - Tipo de rotura aos 90 dias em todas as argamassas ................................................................... 65
Figura 4.7 - Tipo de rotura nas carotes circulares (diâmetro = 5 cm) aos 27 dias .......................................... 66
Figura 4.8 - Tipo de rotura nas carotes quadradas (lado = 4 cm) aos 27 dias ................................................ 66
Figura 4.9 - Tipo de rotura nas carotes de 1,5 cm aos 27 dias....................................................................... 66
Figura 4.10 - Tipo de rotura nas carotes de 2,5 cm aos 27 dias ..................................................................... 66
Figura 4.11 - Relação entre tensão de aderência de carotes de secção circular e quadrada em todas as
argamassas ................................................................................................................................................. 70
Figura 4.12 - Relação entre tensão de aderência e a resistência à compressão em todas as argamassas ......... 71
Figura 4.13 - Evolução da massa volúmica ao longo do tempo .................................................................... 73
Figura 4.14 - Resistência à compressão e flexão aos 28 dias ........................................................................ 74
Figura 4.15 - Relação entre as resistências à compressão e flexão ................................................................ 75
Figura 4.16 - Evolução da resistência à tracção com a idade ........................................................................ 76
Figura 4.17 - Evolução da resistência à compressão com a idade ................................................................. 76
Figura 4.18 - Relação entre a resistência à compressão de carotes e amostras de comparação ...................... 77
Figura 4.19 - Relação entre a resistência à compressão de carotes e amostras de comparação de secção
quadrada ..................................................................................................................................................... 78
Figura 4.20 - Relação entre a resistência à compressão de carotes e amostras de comparação de secção
circular ....................................................................................................................................................... 79
Figura 4.21 - Relação entre a resistência à compressão nas carotes quadradas e circulares das argamassas RC,
M e RD....................................................................................................................................................... 81
Figura 4.22 - Relação entre a resistência à compressão nas carotes quadradas e circulares das argamassas D81
Figura 4.23 - Relação entre a resistência à compressão nas carotes de 1,5 cm e 2,5 cm das argamassas RC, M
e RD ........................................................................................................................................................... 81
Figura 4.24 - Relação entre a resistência à compressão nas carotes de 1,5 cm e 2,5 cm das argamassas D .... 81
Figura 4.25 - Evolução da resistência à compressão das carotes ao longo do tempo da argamassa RC .......... 82
Figura 4.26 - Evolução da resistência à compressão das carotes ao longo do tempo da argamassa M ........... 82
Figura 4.27 - Evolução da resistência à compressão das carotes ao longo do tempo da argamassa RD ......... 83
Figura 4.28 - Evolução da resistência à compressão das carotes ao longo do tempo da argamassa D ............ 83
Figura 4.29 - Relação entre h/d e o índice de resistência .............................................................................. 84
Figura 4.30 - Relação entre h/d e o índice de resistência em função da idade (argamassa RC, à esquerda;
argamassa M, à direita) ............................................................................................................................... 85
Figura 4.31 - Relação entre h/d e o índice de resistência em função da idade (argamassa RD, à esquerda;
argamassa D, à direita) ................................................................................................................................ 86
Figura 4.32 - Relação entre h/d e o índice de resistência em função da secção na argamassa RC .................. 87
Figura 4.33 - Relação entre h/d e o índice de resistência em função da secção na argamassa M.................... 88
Figura 4.34 - Relação entre h/d e o índice de resistência em função da secção na argamassa RD .................. 88
Figura 4.35 - Relação entre h/d e o índice de resistência em função da secção na argamassa D .................... 89
Figura 4.36 - Relação entre a resistência à compressão em provetes normalizados medidos na campanha e
estimados através das expressões 4.1 e 4.2 .................................................................................................. 91
Figura F1 - Relação entre a resistência à compressão de carotes e amostras de comparação de argamassa RC
em função da idade (secção circular, à esquerda; secção quadrada, à direita) ............................................ XIII
Figura F2 - Relação entre a resistência à compressão de carotes e amostras de comparação de argamassa M
em função da idade (secção circular, à esquerda; secção quadrada, à direita) ............................................ XIII
Figura F3 - Relação entre a resistência à compressão de carotes e amostras de comparação de argamassa RD
em função da idade (secção circular, à esquerda; secção quadrada, à direita) ............................................ XIV
Figura F4 - Relação entre a resistência à compressão de carotes e amostras de comparação de argamassa D
em função da idade (secção circular, à esquerda; secção quadrada, à direita) ............................................ XIV
Análise das características mecânicas de amostras de argamassas pré-doseadas
xiii
Figura F5 - Relação entre a resistência à compressão de carotes e amostras de comparação de argamassa RC
em função da espessura (secção circular, à esquerda; secção quadrada, à direita) ....................................... XV
Figura F6 - Relação entre a resistência à compressão de carotes e amostras de comparação de argamassa M
em função da espessura (secção circular, à esquerda; secção quadrada, à direita) ....................................... XV
Figura F7 - Relação entre a resistência à compressão de carotes e amostras de comparação de argamassa RD
em função da espessura (secção circular, à esquerda; secção quadrada, à direita) ...................................... XVI
Figura F8 - Relação entre a resistência à compressão de carotes e amostras de comparação de argamassa D
em função da espessura (secção circular, à esquerda; secção quadrada, à direita) ...................................... XVI
Índices
xiv
Índice de quadros
Quadro 2.1 - Classificação das argamassas segundo os três critérios (CEN, 2010a; 2010b) ............................ 4
Quadro 2.2 - Classificação das argamassas segundo o local de produção (CEN, 2010a; 2010b) ..................... 5
Quadro 2.3 - Classificação das argamassas segundo a concepção (CEN, 2010a; 2010b) ................................ 5
Quadro 2.4 - Classificação das argamassas segundo as propriedades e utilização (CEN, 2010a; 2010b) ......... 5
Quadro 2.5 - Exigências funcionais de rebocos exteriores (Flores-Colen, 2009)............................................. 8
Quadro 2.6 - Características de desempenho (Regulamento (UE), 2011) ....................................................... 9
Quadro 2.7 - Requisitos para propriedades mecânicas das argamassas e normas de ensaio ........................... 10
Quadro 2.8 - Classificação das argamassas pré-doseadas tendo em conta a resistência à compressão (CEN,
2010a) ........................................................................................................................................................ 10
Quadro 2.9 - Número de ensaios de arrancamento a realizar em revestimentos de fachadas (Flores-Colen,
2009, citado por Soares, 2011) .................................................................................................................... 11
Quadro 2.10 - Factores que influenciam a aderência (adaptado de Gaspar, 2011) ......................................... 13
Quadro 2.11 - Resultados da resistência de aderência (Gomes et al., 2005) .................................................. 14
Quadro 2.12 - Resultados da resistência de arrancamento (fu) (Flores-Colen, 2009) ..................................... 17
Quadro 2.13 - Relação entre as resistências à compressão observadas em diferentes provetes (adaptado de
Malaikah, 2005) .......................................................................................................................................... 21
Quadro 2.14 - Factores de correcção obtidos para diferentes relações h/d para provetes de betão (Tokyay &
Ozdemir, 1997) ........................................................................................................................................... 23
Quadro 2.15 - Resultados de resistência à compressão de argamassas (Malanho & Veiga, 2010) ................. 27
Quadro 2.16 - Resistência à compressão de argamassas de revestimento de base cimentícia (Santos, 2009),
(Gonçalves, 2010) ....................................................................................................................................... 28
Quadro 2.17 - Resistência à compressão das várias argamassas aos 28 dias (Flores-Colen, 2009) ................ 28
Quadro 2.18 - Resultados da resistência à compressão em argamassas impermeabilizantes (Costa, 2008) .... 28
Quadro 2.19 - Relação entre as resistências à compressão de provetes normalizados e carotes recolhidas .... 29
Quadro 3.1 – Argamassas seleccionadas ..................................................................................................... 33
Quadro 3.2 - Algumas características das argamassas selecionadas, segundo catálogo do fabricante ............ 34
Quadro 3.3 - Características mecânicas das argamassas selecionadas, segundo catálogo do fabricante ......... 34
Quadro 3.4 - Resultados do ensaio de resistência à compressão (Soares, 2011) ............................................ 36
Quadro 3.5 - Espessuras mínimas e máximas indicadas pelo fabricante para as argamassas de revestimento
estudadas, segundo catálogo dos produtos ................................................................................................... 36
Quadro 3.6 - Número total de amostras e provetes normalizados produzidos ............................................... 38
Quadro 3.7 - Distribuição de ensaios à compressão por data de ensaio......................................................... 38
Quadro 3.8 – Massa da amostra (Pinto & Gomes, 2009) .............................................................................. 39
Quadro 3.9 - Recipiente de aço cilíndrico (Pinto & Gomes, 2009) ............................................................... 40
Quadro 3.10 - Relações água / produto adoptadas........................................................................................ 42
Quadro 4.1 - Número total de ensaios de aderência pull-off ......................................................................... 60
Quadro 4.2 - Número de ensaios de compressão .......................................................................................... 60
Quadro 4.3 - Resultados da análise granulométrica...................................................................................... 61
Quadro 4.4 - Valores de baridade para cada uma das argamassas ................................................................. 62
Quadro 4.5 - Massa volúmica aparente das argamassas ............................................................................... 63
Quadro 4.6 - Resultados do ensaio da consistência por espalhamento .......................................................... 63
Quadro 4.7 - Tensões de aderência na argamassa RC .................................................................................. 67
Quadro 4.8 - Tensões de aderência na argamassa M .................................................................................... 68
Quadro 4.9 - Tensões de aderência na argamassa RD .................................................................................. 69
Quadro 4.10 - Tensões de aderência na argamassa D ................................................................................... 70
Análise das características mecânicas de amostras de argamassas pré-doseadas
xv
Quadro 4.11 - Massa volúmica das argamassas no estado endurecido .......................................................... 72
Quadro 4.12 - Características mecânicas das argamassas em estudo aos 28 dias .......................................... 74
Quadro 4.13 – Estimativa e valor médio da resistência à compressão de provetes normalizados .................. 90
Quadro 4.14 – Relações entre a resistência à compressão de provetes normalizados e de carotes
recolhidas……………………………………………………………………………………………………..91
Quadro A1 - Análise granulométrica das argamassas RC e M ...................................................................... II
Quadro A2 - Análise granulométrica das argamassas RD e D ....................................................................... II
Quadro B1 - Resultados do ensaio de aderência na argamassa RC ............................................................... III
Quadro B2 - Resultados do ensaio de aderência na argamassa M ................................................................. III
Quadro B3 - Resultados do ensaio de aderência na argamassa RD ............................................................... III
Quadro B4 - Resultados do ensaio de aderência na argamassa D .................................................................IV
Quadro C1 - Resultados do ensaio à compressão de todas as carotes recolhidas aos 7 dias ............................ V
Quadro C2 - Resultados do ensaio à compressão de todas as carotes recolhidas aos 28 dias .........................VI
Quadro C3 - Resultados do ensaio à compressão de todas as carotes recolhidas aos 91 dias ....................... VII
Quadro D1 - Resultados do ensaio à compressão de todas as amostras de comparação aos 7 dias.............. VIII
Quadro D2 - Resultados do ensaio à compressão de todas as amostras de comparação aos 28 dias ...............IX
Quadro D3 - Resultados do ensaio à compressão de todas as amostras de comparação aos 91 dias ................ X
Quadro E1 - Resultados dos provetes normalizados de argamassa RC .........................................................XI
Quadro E2 - Resultados dos provetes normalizados de argamassa M ...........................................................XI
Quadro E3 - Resultados dos provetes normalizados de argamassa RD ....................................................... XII
Quadro E4 - Resultados dos provetes normalizados de argamassa D.......................................................... XII
Análise das características mecânicas de amostras de argamassas pré-doseadas
1
1 - Introdução
1.1 - Enquadramento e justificação
Esta dissertação surge no âmbito do estudo do desempenho em serviço de fachadas rebocadas de
edifícios correntes na óptica da manutenção preditiva. Os revestimentos exteriores são elementos de elevada
importância nas fachadas dos edifícios, pois asseguram a protecção contra os muitos agentes de degradação
de ordem física, mecânica e química, contribuindo assim para as condições de durabilidade e habitabilidade
dos edifícios.
As argamassas de revestimento, quer sejam tradicionais quer industriais, são também importantes na
garantia da aparência das fachadas e na regularização dos suportes, dependendo o seu desempenho,
sobretudo, das características dos constituintes.
Uma argamassa de revestimento é uma mistura de um ou mais ligantes inorgânicos e agregados, sendo
usada em paramentos interiores ou exteriores. Nos rebocos industriais, de constituição idêntica à dos
tradicionais, são, normalmente, introduzidas adições e adjuvantes. Este tipo de argamassas é formado a partir
da selecção e controlo rigorosos em fábrica, bastando ao utilizador adicionar em obra a percentagem de água
recomendada à correcta amassadura do produto. No plano teórico, este rigor permite cumprir os requisitos de
desempenho com menor quantidade de camadas, apresentando outras vantagens, como um menor
desperdício de material e a redução do tempo de execução e dos custos de mão-de-obra.
Todos os rebocos aplicados estão sujeitos a processos de degradação ao longo da sua vida útil,
independentemente do seu tipo ou função, existindo, portanto, uma gama diversa de produtos no mercado
que procura responder às diversas necessidades do utilizador. Neste sentido, na presente dissertação,
procura-se fazer uma análise de soluções que tenham, actualmente, uso corrente e características de aplicação
próximas da realidade, nomeadamente a espessura e o tipo de suporte.
Com a aplicação das técnicas de diagnóstico adequadas, é possível avaliar com maior rigor o nível de
desempenho de um revestimento. De entre as características que condicionam esse desempenho, as
referentes ao seu comportamento mecânico, ainda que não sejam os parâmetros mais relevantes face às
anomalias correntes, são também valorizadas, pelo que, no seguimento desta temática, será avaliada a
resistência à compressão.
Muitas vezes, a caracterização física e mecânica não é fácil de se realizar, principalmente devido à
necessidade de se recorrer a uma elevada quantidade de amostras e de estas se apresentarem friáveis, o que
impossibilita a aplicação directa dos métodos normalizados. Neste cenário, a análise do desempenho dos
rebocos aplicados deve incluir a introdução de outras técnicas complementares.
1.2 - Objectivos e metodologia
O presente estudo pretende aprofundar o conhecimento na área da resistência à compressão de
argamassas de revestimento, a partir da avaliação de amostras recolhidas de diferentes tipos de argamassa,
tendo também em conta estudos abordados por outros autores.
Pretende-se, então, averiguar a sensibilidade a vários parâmetros e a eficácia das diferentes técnicas de
ensaio, essenciais para a avaliação da resistência mecânica dos rebocos aplicados.
Para cumprir o objectivo, fez-se um estudo a partir dos valores de resistência resultantes do ensaio de
arrancamento pull-off e dos valores resultantes do ensaio à compressão das mesmas amostras e relacionou-se
ainda estes últimos com a resistência à compressão de provetes normalizados. Com isto, é possível avaliar a
consistência dos ensaios realizados e a sua capacidade de representar algumas das características dos
produtos e ainda estabelecer critérios que possam prever o comportamento e o desempenho dos
revestimentos quando aplicados em obra, em termos de resistência à compressão.
Introdução
2
A análise de resultados começou com o início do trabalho experimental para melhor compreensão dos
mesmos, verificando-se tendências expectáveis, possíveis correlações e sensibilidades distintas a vários
parâmetros entre ensaios. Em suma, são definidos os seguintes objectivos:
estudar a resistência de aderência obtida através do ensaio de aderência pull-off em carotes, variando
a secção e a espessura das amostras;
avaliar a possibilidade de obter a resistência à compressão a partir dos valores da tensão de aderência
recolhidos com o ensaio de aderência pull-off;
estudar a resistência à compressão de argamassas de revestimento com diferentes classes de
resistência à compressão, aplicadas em suportes típicos de tijolo cerâmico;
identificar os parâmetros que influenciam a resistência à compressão de argamassas e de que forma
estes contribuem para os resultados obtidos;
contribuir para um maior conhecimento e aprofundamento dos produtos a usar, recorrendo a outras
formas de avaliar a resistência à compressão, como a produção de amostras de comparação e de
provetes normalizados.
1.3 - Estrutura e organização do texto
A presente dissertação encontra-se estruturada em 5 capítulos, formato que melhor permite entender os
objectivos pretendidos. Dessa forma, o texto está delineado em Introdução, Características mecânicas de
argamassas pré-doseadas, Campanha experimental, Análise e discussão dos resultados e Conclusões e
propostas de desenvolvimento.
No capítulo 1, é feito o enquadramento e a justificação do tema, onde são abordados os primeiros
conceitos sobre argamassas de revestimento e é explicado o interesse de desenvolver a presente investigação
no âmbito da caracterização das prestações mecânicas. São também descritos, de forma sucinta, os objectivos
que motivaram a planificação do estudo e a estrutura dos vários capítulos da dissertação.
No capítulo 2, são essencialmente apresentados os conceitos fundamentais à avaliação da resistência à
compressão. Focam-se também os princípios relativos aos ensaios de aderência pull-off, dada a necessidade
de recolha de carotes, abordando-se, também, os factores que afectam não só este ensaio, como o da
resistência à compressão. São expostas conclusões de alguns estudos realizados na temática da resistência à
compressão, de forma a compreender o efeito de alguns parâmetros envolvidos. Simultaneamente,
apresentam-se alguns conceitos e requisitos das argamassas de revestimento, fundamentalmente em torno das
suas funções e respectivas prestações mecânicas.
O capítulo 3 procura descrever toda a planificação da vertente experimental. São descritos todos os
ensaios realizados na campanha, explicadas as várias considerações tomadas e analisados alguns factores
com influência nos resultados finais.
O capítulo 4 pretende expor todos os resultados obtidos, não só os de caracterização física, mas,
sobretudo, os de carácter mecânico. A apresentação dos resultados é acompanhada da respectiva análise e
discussão dos mesmos, avaliando-se de que forma factores como a geometria da secção, a relação h/d, a
idade, e mesmo o tipo de argamassa, podem influenciar os valores obtidos. Esta análise decorre
fundamentalmente do estabelecimento de relações entre várias grandezas e análise estatística dos resultados,
e, por vezes, da comparação directa com valores recolhidos das fichas técnicas dos produtos.
O capítulo 5 apresenta as conclusões gerais da dissertação, de acordo com os objectivos inicialmente
definidos, e as propostas de desenvolvimento em estudos futuros, tendo em conta várias questões de interesse
relevante nesta área.
Finalmente, são apresentadas todas as referências consultadas, essenciais ao desenvolvimento da
presente dissertação e os Anexos, onde são indicados todos os resultados individuais obtidos.
Análise das características mecânicas de amostras de argamassas pré-doseadas
3
2 - Características mecânicas de argamassas pré-doseadas
2.1 - Introdução
Os revestimentos exteriores são elementos importantes de um edifício pois asseguram a protecção
contra os agentes de degradação de diversa natureza (física, mecânica ou química), contribuindo assim para a
durabilidade das construções (Flores-Colen, 2009). Segundo o mesmo estudo, são indicadas a resistência
coesiva, a capacidade de deformação, a aderência e a resistência superficial como as principais características
de desempenho para o comportamento mecânico dos rebocos aplicados.
As argamassas de revestimento são também importantes na aparência das fachadas e na regularização
dos suportes e o seu desempenho depende não só das características das componentes, como também de
outros factores, como a proporção entre constituintes e os procedimentos de execução do produto.
A utilização de técnicas de diagnóstico permite avaliar com mais rigor o nível de desempenho de um
revestimento. De entre as características que condicionam esse desempenho, as referentes ao comportamento
mecânico são das mais importantes.
Neste âmbito, e no presente capítulo, são expostos e desenvolvidos os principais conceitos
fundamentais para a avaliação da resistência à compressão. A necessidade de avaliar mecanicamente
amostras de pequena dimensão levou a que se recorresse a uma técnica de ensaio adequada para obtenção
das mesmas. Deste modo, no desenvolvimento do presente capítulo, dá-se especial destaque aos princípios
básicos relativos ao ensaio de aderência pull-off, aos factores que podem influenciar a aderência e às
potenciais limitações do ensaio em amostras de pequena dimensão. Uma vez que o procedimento de
recolhas e ensaio de amostras é o habitualmente utilizado na avaliação da resistência à compressão do betão,
este capítulo também procura expor algumas conclusões referentes a esta matéria e ajudar a perceber de que
forma os parâmetros envolvidos podem aparecer e influenciar os resultados nos casos em estudo.
Paralelamente a este conjunto de desenvolvimentos, é feita uma abordagem às argamassas industriais
de reboco, na qual são discutidos os principais conceitos que as caracterizam, os requisitos essenciais para a
sua marcação CE e as propriedades exigidas no seu desempenho, nomeadamente em questões da sua função
e das suas características mecânicas.
No final do capítulo, é feita uma síntese da matéria exposta, na qual são abordadas as exigências
normativas que asseguram os requisitos de desempenho de um reboco e discutidas as conclusões dos
diferentes autores, nomeadamente em termos de influência de diversos factores nos resultados da tensão de
aderência e da resistência à compressão.
2.2 - Argamassas industriais para reboco
Durante muitos anos, todas as argamassas eram produzidas em obra, o que implicava o transporte das
matérias-primas para o local de construção (Regattieri & Silva, 2006). Além de serem necessários locais para
o seu armazenamento e mistura (Quintela, 2006), este modo de produção acarretava problemas como a
racionalização dos custos, cumprimento de prazos, qualidade e durabilidade do trabalho e limpeza e
arrumação do estaleiro (Paulo, 2006).
O aparecimento das primeiras argamassas industriais em Portugal data da década de 80, numa altura
em que as constantes exigências em matéria de prazos e qualidade de execução impulsionaram o
desenvolvimento de tecnologias para produção industrial de argamassas (Duarte, 2007). De acordo com a
mesma publicação, a partir da década de 90, houve uma intensificação do fabrico de argamassas pré-
doseadas, fruto de uma série de projectos com elevado volume de trabalhos. Segundo a APFAC (2008), a
crescente utilização destes produtos ao longo dos últimos anos deve-se à concorrência no mercado e às
enormes vantagens que trazem relativamente às argamassas tradicionais. As actuais exigências da construção
Características mecânicas de argamassas pré-doseadas
4
proporcionaram o desenvolvimento de novas tecnologias na produção de novos produtos. Para os próximos
anos, o cenário tende para o crescimento da produção de argamassas de carácter industrial, como sugere a
Figura 2.1.
Figura 2.1 - Tendência das argamassas industriais (APFAC, 2008)
2.2.1 - Considerações iniciais
Uma argamassa de revestimento é uma mistura de um ou mais ligantes inorgânicos, agregados e
eventualmente adições e adjuvantes, usada para rebocos interiores e exteriores (Garcia, 2005). A mistura,
que será homogénea, deve apresentar plasticidade na fase de aplicação e oferecer resistência e aderência na
fase de endurecimento (Paulo, 2006).
Estas argamassas podem apresentar várias aplicações e utilizações, quer a nível tradicional ou
industrial. Neste contexto, existem diversas classificações para as argamassas consoante o local de produção,
a concepção e as propriedades e utilização, referidas nas normas EN 998-1 (CEN, 2010a) e EN 998-2 (CEN,
2010b). No Quadro 2.1, encontra-se sumarizada a classificação das argamassas, segundo os vários critérios.
Quadro 2.1 - Classificação das argamassas segundo os três critérios (CEN, 2010a; 2010b)
Argamassas de revestimento interiores e exteriores
Critérios de classificação Tipos de argamassas
Local de produção
Tradicional
Industrial
Industrial semi-acabada
Concepção Desempenho
Formulação
Propriedades e utilização
Uso geral
Leve
Colorida
Monocamada
Renovação
Isolamento térmico
Os Quadros 2.2 a 2.4 mostram a definição das várias classificações, para cada um dos critérios. A
classificação das argamassas tem ainda em conta o critério da aplicação (Gonçalves, 2010), segundo o qual
as argamassas podem ser consideradas de revestimento, de assentamento, cimentos-cola, de juntas e de
regularização (betonilha).
O presente estudo é focado nas argamassas de revestimento, assim designadas porque têm como
função o acabamento e protecção de superfícies verticais (EMO, 2001). Todas as argamassas estudadas são
compostas a partir de constituintes secos seleccionados e controlados em fábrica, bastando ao aplicador
adicionar a quantidade de água necessária à amassadura. Neste sentido, não será estabelecida qualquer
diferenciação entre as classificações indicadas, pelo que, no âmbito da presente dissertação, todas as
argamassas são denominadas por “pré-doseadas” ou “industriais”. Enquadram-se nas argamassas de
desempenho, dado que, na vertente experimental da presente dissertação, tentou seguir-se criteriosamente as
Análise das características mecânicas de amostras de argamassas pré-doseadas
5
recomendações do fabricante, nomeadamente em questões como as características de utilização e a aplicação
do produto.
Quadro 2.2 - Classificação das argamassas segundo o local de produção (CEN, 2010a; 2010b)
Classificação Definição
Argamassas tradicionais Constituídas por primários (por exemplo: ligantes, agregados e água) doseados
e misturados em obra
Argamassas industriais Doseados e misturados em fábrica, podendo apresentar-se em pó ou em pasta. No primeiro caso, requer-se a adição de água e, no segundo caso, a argamassa
está pronta a aplicar
Argamassas industriais semi-
acabadas
Pré-doseadas
Pré-doseadas, a modificar em obra
Componentes doseados em fábrica e fornecidos em obra, onde são misturados
segundo instruções do fabricante
Pré-misturadas
Componentes doseados e misturados em fábrica, fornecidos em obra, onde são
adicionados outros componentes
especificados pelos fabricantes
Quadro 2.3 - Classificação das argamassas segundo a concepção (CEN, 2010a; 2010b)
Classificação Definição
Argamassas de desempenho A sua composição e o processo de fabrico estão
definidos pelo fabricante com o objectivo de obter propriedades específicas
Argamassas de formulação São fabricadas de acordo com uma composição pré-
determinada, para a qual as propriedades obtidas dependem da proporção entre componentes
Quadro 2.4 - Classificação das argamassas segundo as propriedades e utilização (CEN, 2010a; 2010b)
Classificação Definição
Argamassas de uso geral (GP) Argamassa de desempenho ou formulação sem possuir
características especiais
Argamassas de reboco leve (LW) Argamassa de desempenho cuja densidade após endurecimento é inferior ou igual a 1300 kg/m3
Argamassas coloridas (CR) Argamassa de desempenho, especialmente pigmentada,
para funções decorativas
Monocamada (OC)
Argamassa de desempenho concebida para revestimento, aplicada numa só camada, e que cumpre
as funções de protecção e decoração tal como um sistema multicamada
Argamassa de renovação (R) Argamassa de desempenho utilizada em alvenaria com
presença de sais solúveis
Argamassas de isolamento térmico (T) Argamassa de desempenho com propriedades
específicas de isolamento térmico
A composição de uma argamassa pré-doseada é um factor decisivo no seu rendimento e raramente é
revelada a proporção relativa entre constituintes. Segundo Martins & Assunção (2010), as argamassas pré-
doseadas são um misto de diversos elementos, cuja percentagem vai sendo afinada em laboratório em função
do seu destino.
De acordo com a APFAC (2008), este tipo de argamassas pretende desempenhar as funções de um
reboco tradicional de várias camadas. A constituição é semelhante, com a diferença de a dosagem ser feita de
acordo com uma composição estudada, resultando numa mistura de constituintes seleccionados e corrigidos
com a introdução de adjuvantes em pequenas quantidades, sendo que, muitas vezes, estas argamassas são
aplicadas numa única camada, sobretudo monocamadas.
i) Ligante
Os ligantes são materiais finos, que podem ser aéreos ou hidráulicos. Os primeiros só endurecem ao
ar, enquanto que os segundos, ao reagirem com a água, formam uma pasta que ganha presa e endurece
Características mecânicas de argamassas pré-doseadas
6
(Coutinho, 2002). Segundo vários autores citados por Paulo (2006), nomeadamente diversos estudos de
Moropoulou e Warren (2009), o tipo de ligante a implementar nas argamassas define a sua classificação em
grupos e subgrupos. Os principais ligantes são o cimento (revestimentos e assentamento), a cal
(revestimento) e o gesso (revestimento e decoração).
Em argamassas pré-doseadas, o tipo de ligante é de natureza idêntica ao utilizado para a produção de
argamassas tradicionais e é seleccionado em função das propriedades a atingir (Rodrigues, 1993, citado por
Santos, 2009). Este constituinte assume elevada importância, de tal forma que o tipo e dosagem a escolher
têm sido objecto de diversas investigações, principalmente em questões que envolvam a sua resistência
mecânica. Geralmente, são seleccionados cimentos com resistência e calor de hidratação adequados (Varela
& Vieira, 2005), para se obter boa resistência mecânica e reduzida retracção do produto (LNEC, 2004).
O ligante mais utilizado é o cimento, composto hidráulico e de elevado poder aglomerante, que ganha
presa e endurece através de reacção de hidratação, tanto ao ar como dentro de água (Paulo, 2006). Na
generalidade dos casos, recorre-se a cimentos de cor cinzenta, tendo os cimentos brancos maior incidência
em monocamadas, embora com custos superiores (Santos, 2009). Esse tipo de argamassas tem grande
utilização como revestimento final, uma vez que há grande facilidade em conferir a cor desejada com adição
de pigmentos naturais. Os cimentos brancos são, habitualmente, mais finos e apresentam resistências à
compressão superiores, para as mesmas classes (Varela & Vieira, 2005).
A cal é um material de mais baixo custo e com larga utilização na construção, sobretudo na pintura.
Como ligante, sempre desempenhou uma função importantíssima nas construções antigas (Margalha et al.,
2006), ao contrário do cimento, uma vez que, apesar da sua maior facilidade de preparação e manuseamento
e do seu melhor comportamento mecânico, tem o inconveniente da sua grande rigidez e tendência para
fendilhar, traduzindo-se em argamassas que não conferem permeabilidade suficiente ao vapor de água e com
elevado módulo de elasticidade (Penas, 2008).
Segundo diversos estudos, são usadas, com bastante frequência, combinações de ligantes, embora com
predominância de um deles (LNEC, 2004). Esta opção potencia as propriedades de cada ligante e oferece um
melhor desempenho, nomeadamente em termos de aderência e fissuração por retracção.
É fundamental seguir rigorosamente as recomendações do fabricante em termos de produção da
argamassa, uma vez que a adição de ligante e consequente alteração da sua composição traz consigo
consequências para o seu desempenho, como maior fissuração nas primeiras idades.
ii) Agregados
Os agregados são materiais particulados e de actividade química quase nula (Bauer, 1994 citado por
Paulo, 2006), sendo obtidos por fragmentação ou desintegração das rochas (Coutinho, 1998). Geralmente,
são o componente maioritário numa composição e qualquer variação na sua qualidade tem efeitos nas
propriedades finais de uma argamassa. As suas características inertes, de durabilidade e de reduzida
actividade química são importantes, mas a sua forma e dimensão têm grande influência no comportamento
das misturas (Marques, 2005).
Para uma boa argamassa, é essencial uma adequada envolvência de todos os agregados por parte da
pasta de ligante (Paulo, 2006). O uso de agregados com granulometria e formas adequadas minimiza o
volume de vazios e aumenta a compacidade, levando a rebocos mais funcionais e económicos (Margalha et
al., 2007). É corrente as fichas técnicas dos produtos indicarem a adopção de granulometria calibrada. No
entanto, esta questão não assume a mesma importância que normalmente tem em argamassas industriais,
uma vez que a introdução de cargas ligeiras ou adições permite modificar esta característica.
Problemas como lavagem ou secagem deficientes não se verificam nas argamassas pré-doseadas, uma
vez que a grande maioria dos fabricantes exige o fornecimento dos agregados certificados com a marcação
CE (Santos, 2009).
Análise das características mecânicas de amostras de argamassas pré-doseadas
7
iii) Adjuvantes e adições
Um adjuvante é todo o material orgânico ou inorgânico adicionado em pequenas quantidades com a
finalidade de modificar certas propriedades da argamassa fresca ou endurecida (EMO, 2001). A introdução
destes elementos é um factor decisivo para obter melhores rendimentos em termos de manuseamento,
aplicação e desempenho (Martins & Assunção, 2010). Os efeitos mais procurados pela indústria das
argamassas são a melhoria da trabalhabilidade, a aceleração e retardação de presa e a aceleração do
endurecimento nas primeiras idades (Paulo, 2006).
As adições são materiais inorgânicos finamente divididos que, adicionados à argamassa, permitem
obter ou melhorar determinadas propriedades (EMO, 2001). Podem ser praticamente inertes, como é o caso
das cargas ligeiras, fibras e pigmentos, ou pozolânicas, tal como cinzas volantes ou sílica de fumo (Paulo,
2006). As cargas ligeiras melhoram a trabalhabilidade, reduzem o módulo de elasticidade e baixam a massa
volúmica aparente da argamassa (Coutinho, 1988; LNEC, 2004); as fibras promovem resistência à tracção e
fendilhação e aumentam a ductilidade do revestimento (Quintela, 2006); e os pigmentos, tipicamente usados
em monocamadas, conferem cor à argamassa (Paulo, 2006; Quintela, 2006). A vantagem da utilização de
materiais pozolânicos prende-se, essencialmente, com a melhoria da resistência aos sulfatos e às reacções
sílica-agregados (Veiga, 1988). As pozolanas substituem parte do cimento e fazem baixar o calor de
hidratação sem reduzir a tensão de rotura (Shannag & Yeginobali, 1995; Targan et al., 2003, citado por
Paulo, 2006)
iv) Água
A água não deve conter substâncias que possam afectar as propriedades da argamassa. Uma vez que a
quantidade de água a adicionar é um aspecto fundamental, deve ser adoptada a relação água / produto
recomendada nas fichas técnicas.
2.2.2 - Comparação com as argamassas tradicionais
As argamassas tradicionais são ainda bastante utilizadas, nomeadamente em fachadas de edifícios de
habitação, apresentando durabilidade aceitável ao longo do tempo (Gonçalves, 2010). O desempenho deste
tipo de argamassas ao longo do tempo é necessariamente determinado a partir do modo como os vários
materiais se combinam das técnicas de execução e aplicação adoptadas. Face à tentativa de melhorar
algumas características da argamassa, por vezes recorre-se ao uso de adjuvantes ou adições, sendo que, em
Portugal, a aplicação deste tipo de produtos é pouco significativa.
Apesar de muito utilizadas, as argamassas tradicionais apresentam grandes desvantagens (Garcia,
2005). A utilização de matérias-primas inadequadas, a medição pouco rigorosa dos constituintes e o baixo
controlo da operação levam a desperdícios de material e a tempo, mão-de-obra e custos elevados (Gomes,
2009). Para inverter este quadro, o sector da construção tem investido em novas tecnologias que visam um
melhor controlo da operação e da qualidade, o que leva, naturalmente, a uma procura crescente pelas
argamassas industriais.
As argamassas industriais são objecto de uma rigorosa investigação por parte dos seus fabricantes e
apresentam diversas vantagens relativamente às argamassas tradicionais preparadas em obra. Além de serem
composições rigorosas, estudadas e testadas em fábrica, estas argamassas oferecem melhores condições de
produção e aplicação (Duarte et al., 2008). Permitem misturas mais cuidadas, utilização de adjuvante e
adições com fins específicos, diminuição dos tempos de execução e dos desperdícios, redução dos custos,
sem esquecer as melhorias das condições de estaleiro que proporcionam em termos de espaço e limpeza
(Quintela, 2006). A preferência por estas soluções permite grandes ganhos de eficiência e a potencialização
de todas as suas características (Regattieri & Silva, 2006).
Características mecânicas de argamassas pré-doseadas
8
Da opção por argamassas tradicionais feitas em obra resultam, à partida, soluções mais económicas,
desde que a produção decorra da experiência e conhecimento de quem procede à mistura, nas condições de
produção e aplicação, que exigem conhecimentos que merecem ser respeitados (Rodrigues et al., 2005). A
grande desvantagem das argamassas industriais está relacionada com a reduzida informação dada fornecida
pelos fabricantes sobre as composições.
2.2.3 - Exigências funcionais de rebocos exteriores
Os edifícios devem apresentar características que satisfaçam as necessidades dos seus utentes e, dada a
importância que os elementos de revestimento têm na protecção destes, o estabelecimento de exigências
funcionais é fulcral, pois é uma forma de impor requisitos aos materiais que garantam um adequado
desempenho dos elementos em serviço (Veiga, 2005).
As funções referidas anteriormente podem ser consideradas adequadas ao uso do desempenho de
reboco exteriores em condições em serviço. Uma boa adequabilidade contribui para o estabelecimento de
exigências nas fachadas. O Quadro 2.5 sintetiza as exigências funcionais das fachadas e dos rebocos
exteriores, de acordo com os objectivos a cumprir na aplicação dos últimos.
No âmbito dos revestimentos exteriores, são essenciais, fundamentalmente, exigências de higiene,
saúde e ambiente, bem como de segurança na utilização, considerando-se ainda que a durabilidade e a
adequabilidade ao uso são aspectos a ter em conta (Veiga, 2005).
Quadro 2.5 - Exigências funcionais de rebocos exteriores (Flores-Colen, 2009)
Objectivos na aplicação de rebocos exteriores (funções)
Exigências funcionais dos rebocos exteriores
Exigências funcionais das fachadas
Protecção das alvenarias contra as acções externas (climáticas e
decorrentes da utilização normal)
Resistência mecânica interna
Resistência mecânica e estabilidade Resistência a deformações e variações dimensionais
Resistência aos impactos Segurança na utilização
Protecção e impermeabilização das alvenarias
Aderência ao suporte
Resistência à água nas várias formas: chuva, humidade e vapor de
água
Higiene, saúde e ambiente
Proporcionar adequados padrões visuais aos utentes, valorizando a
fachada
Regularização da superfície Qualidade estética
Aspecto da superfície
Garantir as funções anteriores durante um período de tempo
compatível com as acções de manutenção e custos
Capacidade de manter níveis
adequados de desempenho em
condições de serviço, com a realização das necessárias acções de
manutenção
Durabilidade
Manutenbilidade
Economia e custos globais
2.2.4 - Características e requisitos de desempenho
O novo Regulamento dos Produtos de Construção da UE (2011), que revoga a DPC (Directiva dos
Produtos de Construção) estabelece condições harmonizadas para a comercialização dos produtos,
recorrendo a dois tipos de especificações técnicas para aplicação da marcação CE, através da comprovação
de conformidade dos mesmos: as normas EN e as aprovações técnicas europeias.
Antes de serem lançadas no mercado, as argamassas pré-doseadas devem ser alvo de um controlo
interno de produção e qualidade por parte dos seus fabricantes através de ensaios tipo apropriados, a partir
dos quais é emitida a declaração de conformidade e efectuada a marcação CE, de modo a que os valores
obtidos estejam dentro das características previstas na norma EN 998-1 (CEN, 2010a).
A marcação CE significa que o produto está “Conforme os Requisitos Essenciais”. Não é uma marca
de qualidade, mas sim um passaporte para que os produtos possam circular livremente e ser comercializados
Análise das características mecânicas de amostras de argamassas pré-doseadas
9
na União Europeia, assumindo-se como uma garantia mínima de segurança, saúde e qualidade para os
utilizadores (LNEC, 2012). Apesar dos custos e necessidades de controlo que exige, a aplicação da marcação
promove a qualidade da produção e valorização dos produtos, leva a um maior conhecimento das argamassas
por parte dos utilizadores e oferece a conformidade dos produtos para as suas utilizações (AIMINHO, 2009).
Os fabricantes dos produtos têm a obrigatoriedade de testar os produtos e garantir conformidades de
acordo com as normas e de implementar sistemas de controlo de qualidade (Gomes, 2009). São eles os
responsáveis pela afixação da marcação e devem assegurar a colocação de uma etiqueta bem visível na
embalagem ou em documentação de acompanhamento, em função das características dos produtos. Como
conteúdo, devem ser incluídos o nome e endereço do fabricante, os dois últimos dígitos do ano de aplicação
da marca, o número de certificado de conformidade CE, o número da norma aplicável, a descrição e
características de conformidade do produto e as indicações para condições de utilização (Almeida, 2005). Os
elementos a incluir são a norma harmonizada que serve de base à certificação da argamassa, o nome da
empresa produtora, os últimos dois dígitos do ano em que foi feita a marcação e a marcação CE (Santos,
2009). Eventuais certificações adicionais devem estar referenciadas na embalagem.
Nos vários documentos interpretativos do Regulamento da UE 2011), são mencionadas as
características aplicáveis a rebocos exteriores e integradas nas várias exigências essenciais, as quais podem
ser observadas no Quadro 2.6.
Quadro 2.6 - Características de desempenho (Regulamento (UE), 2011)
Exigência essencial Características
Resistência mecânica e estabilidade
Massa volúmica após colocação e endurecimento
Estabilidade dimensional à humidade
Resistência à tracção e à compressão
Durabilidade ao gelo / degelo, cloretos e sulfatos
Segurança no caso de incêndio Reacção ao fogo
Higiene, saúde e ambiente
Impermeabilidade
Resistência à humidade
Permeabilidade ao vapor de água
Resistência à penetração da precipitação
Segurança na utilização
Presença de esquinas cortantes
Natureza das superfícies (dureza, rugosidade…)
Comportamento após impacto (resistência, fragmentação…)
Aspecto visual aceitável
Protecção contra o ruído Poderá ser necessário considerar a dimensão, massa
volúmica, estabilidade…
Poupança de energia e isolamento térmico Características térmicas e controlo da humidade
As especificações para argamassas de revestimento, em aplicações nos paramentos interiores e
exteriores, são abordadas na norma EN 998-1 (CEN, 2010a), no que concerne às propriedades no estado
fresco e endurecido, existindo assim um conjunto de requisitos, relacionado com ensaios iniciais dos
produtos, a que o material deve obedecer.
Para cada tipo de argamassa, esta norma estabelece os requisitos, as respectivas normas de ensaio e o
enquadramento dos valores obtidos. No Quadro 2.7, são apresentados os requisitos exigidos relativamente a
argamassas de reboco (GP) e a monocamadas (OC), no estado endurecido. Apesar de existirem mais
requisitos, apenas são focados os com relevância no âmbito da presente dissertação.
Relativamente à resistência à compressão aos 28 dias, as argamassas de base cimentícia apresentam
valores normalmente entre 2 E 10 MPa (Flores-Colen, 2009). O limite inferior é adequado a suportes de
resistência mais fraca; em alvenaria corrente, a resistência à compressão dos rebocos deve ser média, com
valores acima de 4 MPa. Valores mais baixos, mesmo inferiores a 2 MPa, ou limitados superiormente a 5
MPa poderão ser utilizados, no caso de argamassas mais específicas. Os valores obtidos na resistência à
compressão devem ser declarados nas respectivas classes, como sugere o Quadro 2.8.
Características mecânicas de argamassas pré-doseadas
10
Quadro 2.7 - Requisitos para propriedades mecânicas das argamassas e normas de ensaio
Propriedades Norma de ensaio Tipo de argamassa
GP OC
Massa volúmica (kg/m3) EN 1015 - 10 Intervalo de valores declarados
Resistência à compressão (categorias)
EN 1015 - 11 CS I a CS IV
Aderência (N/mm3) e tipo
de fractura (A, B, C) EN 1015 - 12
≥ Valor declarado e tipo
de fractura -
Aderência após ciclo de cura (N/mm3) e tipo de
fractura (A, B, C) EN 1015 - 21 -
Valor declarado e tipo de fractura
Quadro 2.8 - Classificação das argamassas pré-doseadas tendo em conta a resistência à compressão (CEN,
2010a)
Classe de resistência à compressão Valor de resistência à compressão aos 28 dias (MPa)
CS I 0,4 a 2,5
CS II 1,5 a 5
CS III 3,5 a 7,5
CS IV ≥ 6
2.3 - Avaliação da aderência
A aderência ao suporte é a propriedade que possibilita à camada de revestimento absorver as tensões e
deve ser garantida não só no momento da aplicação da argamassa, como também a longo prazo. São vários
os factores que a afectam, como o tipo de superfície, a execução do revestimento, as condições de humidade
ou o tipo de argamassa, sendo uma propriedade que, geralmente, é quantificada através de ensaios de
arrancamento à tracção.
2.3.1 - Aderência de argamassas
A durabilidade de um revestimento é bastante condicionada pela aderência e é tanto maior quanto
melhor a adequação desse revestimento ao suporte (Rodrigues, 2004, citado por Martins, 2008). Durante a
sua vida útil, os revestimentos devem garantir os valores adequados de aderência e, com isso, evitar situações
de descolamentos e desprendimentos de elementos da fachada (Flores-Colen et al., 2007).
A aderência é a capacidade do revestimento de resistir a tensões normais e tangenciais na interface
com o suporte (Santos, 2008). É um fenómeno essencialmente mecânico devido, basicamente, à penetração e
endurecimento da pasta nos poros ou entre as rugosidades e saliências do suporte. Muitas vezes, o suporte
não favorece a ancoragem nas irregularidades e são utilizados produtos que promovem a aderência química e
melhoram a união dos revestimentos (Soares, 2011).
Uma boa aderência garante as funções de impermeabilização do revestimento e contribui para a
resistência à fendilhação, sendo fundamental que o suporte apresente rugosidade e absorção adequadas
(Veiga, 1997). Em argamassas ricas em ligante, poderão ser conseguidos maiores valores de aderência com o
aumento da plasticidade, pois a penetração dos finos no suporte é mais eficaz. Em argamassas pobres em
ligante, a optimização da aderência é conseguida apenas no ponto óptimo da relação água / cimento (Martins,
2008).
Análise das características mecânicas de amostras de argamassas pré-doseadas
11
2.3.2 - Ensaio de aderência pull-off
A aderência ao suporte deve ser avaliada segundo uma perspectiva de durabilidade e resistência. Esta
última pode ser quantificada com base no valor da tensão de aderência, obtida através de ensaios de
arrancamento. O ensaio de aderência pull-off é uma técnica de ensaio destrutiva que permite avaliar a
resistência ao arrancamento por tracção. É utilizado para verificar a aderência de um revestimento colado e
consiste em fazer uma carote, sem a destacar e à qual se cola um disco, aplicar uma tracção crescente até à
rotura e registar a tensão de ligação entre as diferentes camadas.
Figura 2.2 - Esquema ilustrativo de um aparelho para ensaio de tracção pull-off (Santos, 2008)
Apesar de destrutivo, o ensaio revela importância na quantificação da tensão de aderência e na
caracterização do tipo de rotura. Segundo a norma EN 1015-12, existem três tipologias de rotura nos ensaios
de aderência. O arrancamento pode ocorrer por perda de aderência na interface entre o suporte e o
revestimento (adesiva), por rotura do próprio material de revestimento (coesiva no revestimento) ou por
rotura no próprio suporte (coesiva no suporte), como ilustram a Figuras 2.4.
Rotura adesiva Rotura coesiva no revestimento
Rotura coesiva no suporte
Figura 2.3 - Diferentes tipos de rotura nos ensaios de aderência (CEN, 2000)
A avaliação de aderência em revestimentos deve ser realizada periodicamente, permitindo detectar
potenciais problemas de desprendimentos. De acordo com diferentes referências bibliográficas, é
recomendada, consoante o tipo de análise, a realização do número de ensaios apresentados no Quadro 2.9.
Quadro 2.9 - Número de ensaios de arrancamento a realizar em revestimentos de fachadas (Flores-Colen,
2009, citado por Soares, 2011)
N.º de ensaios recomendados Tipo de análise Referências
3 por paramento Inspecção detalhada in-situ (ASTM, 2005)
5 para o mesmo material de revestimento
Em laboratório (LNEC, 1986; CEN, 2000)
6 no mínimo In-situ (RILEM, 2004)
3 por cada 50 m2 de paramento Ensaios em obra (LNEC, 1986)
Características mecânicas de argamassas pré-doseadas
12
O ensaio de aderência apresenta vantagens e desvantagens. A seu favor tem o facto de se usar um
aparelho de custo médio e simples de manusear, facilmente se obter informações sobre as características de
aderência e os resultados serem fiáveis e de fácil interpretação. No entanto, apresenta algumas desvantagens,
tais como a duração de ensaio de 1 a 2 dias, ser uma técnica destrutiva e exigir reparação do revestimento e
ser recomendada a presença de 2 pessoas, no mínimo, para a realização da mesma. Apesar dos
inconvenientes, a técnica continua a ser largamente recomendada em normas e utilizada na avaliação da
aderência em revestimentos, estudando-se, actualmente, formas e procedimentos de maximizar as suas
potencialidades e minimizar os danos que provoca.
2.3.2 - Factores que influenciam a aderência
A falta de aderência dos revestimentos conduz a destacamentos, que poderão ser agravados pela acção
dos agentes de degradação (Flores-Colen et al., 2007). São vários os factores que influenciam esta
propriedade entre os quais o tipo de suporte, a porosidade e teor de humidade, a limpeza do suporte, o tipo de
argamassa, a espessura e idade do reboco e as condições atmosféricas durante a aplicação. O Quadro 2.10
mostra, de uma forma sintética, os factores que exercem influência na aderência e, dentro de cada factor, os
vários aspectos que promovem uma melhor aderência.
A aderência processa-se, basicamente, pela penetração da pasta de argamassa nos poros ou entre as
rugosidades do suporte (Santos, 2008). Quanto melhor for o contacto entre a argamassa e o suporte, maior
será a aderência. Dessa forma, a aderência está directamente relacionada com a trabalhabilidade, a energia de
impacto no processo de execução, as características e propriedades do suporte ou até as diferentes condições
climatéricas.
A interpretação dos resultados deve ter em conta a variabilidade expectável para esta técnica de
ensaio. Precisamente devido a factores inerentes ao procedimento, como o ângulo ou o equipamento de
corte, Costa et al. (2007) apontou para coeficientes de variação a oscilar entre 10 e 35%. Gomes et al.
(2005), citado por Flores-Colen (2009), refere que a precisão dos resultados é aceitável para valores de
coeficiente de variação inferiores a 50%, tendo a própria autora obtido coeficientes de 36%, valor, portanto,
aceitável para este tipo de técnicas, existindo, apesar disso, casos em que o coeficiente foi mais elevado. Na
ordem de valores dos autores referidos, está também Soares (2011), cujos resultados oscilaram entre 8,63 e
36,7%.
2.3.2.1 - Tipo de suporte
A aderência depende, em grande parte, do tipo de suporte e da sua preparação (Estrela, 2008).
Suportes mais rugosos permitem melhores ligações mecânicas do que os mais lisos. A escolha por suportes
demasiado porosos tende a dessecar o revestimento, impedindo a hidratação dos constituintes da argamassa.
Nos últimos anos, foram realizados diversos estudos com o objectivo de verificar a influência das
características do suporte na aderência. Segundo Miranda & Veiga (2004), as texturas rugosas conferem
melhor aderência pois aumentam a área de contacto entre o reboco e o suporte. Scartezini & Carasek (2003),
utilizando blocos de betão e tijolos cerâmicos, constataram que o tipo de suporte é o principal responsável
pela resistência de aderência. De acordo com os seus resultados, foram obtidos valores de aderência em
blocos de betão muito superiores aos alcançados em suportes cerâmicos, fundamentalmente devido à
diferença de rugosidade entre eles. A aplicação do chapisco é essencial quando a superfície é muito lisa e
tem capacidade de sucção baixa. Segundo estes mesmos autores, o chapisco aplicado nos revestimentos de
tijolos cerâmicos melhorou as características do suporte, aumentando a aderência na ordem de 20%.
No seu estudo sobre aderência de argamassas à base de cimento portland, Carasek (1997) abordou
diferentes tipos de suportes porosos de alvenaria, sendo estes blocos de betão, tijolos cerâmicos, sílico-
calcários, betão celular e betão leve. Os valores de aderência obtidos foram submetidos a uma análise
Análise das características mecânicas de amostras de argamassas pré-doseadas
13
estatística de variâncias, segundo um modelo factorial. Registou-se um coeficiente de correlação de 0,87 e
um coeficiente de variação de 34% que, apesar de elevado, é considerado aceitável, uma vez que a
resistência de aderência é a medida de interacção entre a argamassa e o suporte, dependendo, portanto, das
propriedades associadas a estes dois elementos. Os blocos de betão levaram a maiores aderências, ao
contrário dos suportes cerâmicos e de betão celular, que apresentaram os piores desempenhos. Dadas as
correlações e regressões significativas, constatou-se também que a influência do suporte não é independente
da argamassa nem do teor de humidade.
Quadro 2.10 - Factores que influenciam a aderência (adaptado de Gaspar, 2011)
Factores que influenciam a aderência
Elementos Propostas para aumentar a
aderência
Composição das argamassas
Teor de cimento Aumentar o teor de cimento
Finura do cimento e adição de outros finos
Incorporar cimento com maior finura
Teor da cal Incorporar pequenas
percentagens de cal em argamassas de cimento
Composição da cal Incorporar cal com maiores percentagens de hidróxido
de magnésio
Teor da areia Aumentar ou diminuir teor
de areia
Granulometria da areia Utilizar módulos de finura
distintos
Natureza da areia Introduzir argila
Forma dos grãos de areia Grãos mais angulosos
Outras adições Recorrer a fibras de vidro
Adjuvantes Reduzir a utilização de
introdutores de ar e aceleradores de presa
Propriedades do reboco
Resistência intrínseca Utilizar argamassas
resistentes
Consistência Recorrer a argamassas mais
fluidas
Retenção de água Utilizar rebocos com
capacidade de retenção de água
Camadas de revestimento Aplicar pelo menos duas
camadas
Espessura do revestimento Evitar rebocos muito
espessos
Idade do revestimento Aplicar cura húmida para
evitar fissurações nas primeiras idades
Suporte
Textura superficial Utilizar suporte rugosos
Porosidade e absorção inicial Utilizar suportes com sucção
média e uniforme
Teor de humidade inicial Humedecer previamente o
suporte
Limpeza Remover sujidades dos
suportes
Tratamento das superfícies Aplicar aditivo de aderência
Exterior
Modo de aplicação da argamassa Projecção mecânica
Cura húmida Cura húmida nas primeiras
idades
Condições atmosféricas Evitar tempo muito seco ou
muito húmido
Kazmierczak et al. (2007) avaliaram a aderência de uma argamassa industrial quando aplicada em
suportes de características diferentes. Além dos tipos de suporte distintos (tijolos cerâmicos, blocos de betão
e tijolos maciços), os autores introduziram outras variáveis, como o uso de chapisco e diferentes idades de
Características mecânicas de argamassas pré-doseadas
14
ensaio. O melhor desempenho verificou-se na aplicação em tijolos cerâmicos e, como previsto, o uso de
chapisco favoreceu a aderência. Neste suporte, houve aumento de 66% na resistência de aderência,
observando-se ainda que a rotura de tracção foi sempre coesiva no revestimento ou adesiva, o que corrobora
as conclusões de Scartezini et al. (2002) e Angelim et al. (2003) para tijolos cerâmicos.
A utilização de diferentes preparações do suporte, como forma de favorecer o aumento da aderência
em rebocos de argamassa industrial, foi um dos aspectos desenvolvidos por Scartezini et al. (2002). Os
suportes sem aplicação de chapisco apresentaram valores baixos de aderência, tendo o autor considerado a
textura e rugosidade inadequadas para a aderência e que a própria qualidade dos blocos não seria a melhor.
Dessa forma, sem a aplicação desta camada, obteve-se valores de 0,15 MPa, aumentando para a ordem de
0,25 MPa, no caso de a mesma ser utilizada.
Candia & Franco (1998) desenvolveram um estudo que visava a influência do tipo de suporte, tendo-
se introduzido variação no tipo de suporte, de argamassa e de preparação de suporte. Os melhores
desempenhos corresponderam aos suportes de blocos de betão, seguidos pela alvenaria de blocos cerâmicos,
restando para a estrutura de betão armado moldado in-situ os piores resultados. Constatou-se que a
rugosidade superficial e o índice de absorção inicial influenciam a resistência de aderência e que a aplicação
de chapisco resultou em acréscimos de resistência, como já defendido em outros estudos.
2.3.2.2 - Execução do revestimento
No seu trabalho sobre procedimentos de execução de rebocos correntes, Gomes et al. (2005)
procuraram avaliar a influência de diversos factores relacionados com esta temática, dando destaque ao
método de cura, entre quatro factores considerados decisivos para o futuro comportamento dos rebocos. O
Quadro 2.11 apresenta os resultados relativos ao ensaio de aderência, para quatro rebocos analisados.
Quadro 2.11 - Resultados da resistência de aderência (Gomes et al., 2005)
Característica Reboco 0 Reboco 1 Reboco 2 Reboco 3
Aderência ao suporte
Resistência (MPa)
0,37 0,44 0,51 0,72
Tipo de rotuta
Adesiva
Coesiva (através da
camada de base)
Coesiva (entre a camada de base e a camada de acabamento)
Coesiva (através da
camada de base)
Nota: Reboco 0 - reboco-base com cura normalizada; Reboco 1 - reboco-base sem cura normalizada; Reboco 2 - 3
camadas, sem cura normalizada, trabalhabilidade normal, sem adjuvantes; Reboco 3 - 2 camadas, cura a 2 dias com
água, trabalhabilidade normal, sem adjuvantes
A aderência é claramente influenciada pelo processo de cura, observando-se um aumento significativo
da resistência no reboco 3, com cura a 2 dias com água, e um pior desempenho do reboco 0, cuja cura era
feita através da manutenção da humidade com sacos de polietileno.
Com o objectivo de caracterizar a aderência de diferentes rebocos constituídos por argamassas
tradicionais, Valente (1996) chegou a conclusões sobre a influência do processo de cura nas resistências de
aderência. Na face Norte dos paramentos em estudo, foram atingidos valores mais elevados, possivelmente
associados a uma melhor cura das argamassas, visto estas estarem abrigadas dos raios solares, ao contrário
da face Sul que, apesar das pulverizações diárias, se sujeitou a dessecações prematuras e, portanto, ofereceu
piores resultados.
Segundo dados presentes em diversos estudos (Fernandes e John, 2007), constatou-se que
revestimentos produzidos por projecção mecânica de argamassa apresentam maior resistência de aderência
do que os produzidos por aplicação manual de argamassas similares. A substituição da técnica manual pela
projecção mecânica tem mostrado uma tendência para crescer devido também ao aumento da produtividade.
Sendo a aderência uma propriedade tão importante e, sabendo que a mesma depende, teoricamente, da
Análise das características mecânicas de amostras de argamassas pré-doseadas
15
energia de aplicação, a adopção de sistemas mecânicos favorece a obtenção de revestimentos mais
homogéneos e de maiores resistências de aderência.
Santos e Bauer (2003) concluem que a execução de revestimentos por projecção, além de proporcionar
maior produtividade, permite revestimentos de grande qualidade de acabamento e maior uniformidade das
suas características. A mesma opinião é partilhada por Duailibe et al. (2005), onde os revestimentos
produzidos por projecção apresentam, em média, resistências de aderência 55% superiores à dos
revestimentos aplicados manualmente.
Fernandes & John (2007) abordou o sistema de projecção de argamassas com recurso a ar
comprimido, questionando se a energia de projecção seria a principal causa das alterações no comportamento
mecânico entre os dois métodos de aplicação, uma vez que conclusões de Duailibe et al. (2005) apontam
para acréscimos de resistência de aderência. Mais recentemente, também Fernandes et al. (2009) obtiveram
esta tendência, mas estes na ordem de 58%. Assim, introduzindo factores como diferentes tipos de argamassa
e de teores de água, concluíram que a aplicação manual oferece velocidades de aplicação de 6 m/s, enquanto
que a aplicação por projecção tem variações entre 0,56 e 7,87 m/s, pelo que as alterações nas propriedades
mecânicas não se devem ao aumento de energia, mas sim à melhor acomodação das partículas no suporte por
parte do método de projecção.
O estudo conduzido por Gonçalves & Bauer (2005), citado por Gaspar (2011), provou que as
aderências são fortemente influenciadas pelo operador, dado que, quando a aplicação do revestimento é feita
manualmente, a resistência de aderência tem grandes variações em altura. Os dados recolhidos permitem
concluir que, entre 1,2 e 1,5 m de altura, são atingidas as melhores tensões, resultado natural de uma posição
mais “ideal” do operador.
2.3.2.3 - Humidade do suporte
A aderência ao suporte pode ser melhorada efectuando a correcta preparação do suporte, através da
sua molhagem, para evitar que o mesmo absorva a água de amassadura (Estrela, 2008). Esta humidificação
prévia evita a dessecação prematura da água de amassadura, aspecto que assume particular importância no
caso de superfícies muito absorventes ou em caso de condições de tempo seco (Santos, 2009).
No seu estudo sobre influência deste parâmetro na aderência de argamassas, Carasek (1997) introduziu
como variáveis três teores diferentes de humidade e concluiu que, para cada um deles, se obtêm resistências
de aderência diferentes para a mesma combinação tipo de argamassa / tipo de suporte. Os resultados gerais
indicam que a resistência de aderência reduz à medida que se aumenta o teor de humidade, se bem que os
teores de baixa e alta humidade não apresentaram um comportamento definido. De acordo com o modelo de
análise, constatou-se que a interacção tipo de argamassa / teor de humidade não é significativa, o que quer
dizer que, quando o tipo de suporte não é levado em conta, as maiores resistências são obtidas com os
suportes secos e que a molhagem dos mesmos leva a uma queda de resistência, seja qual for a argamassa
aplicada.
O trabalho desenvolvido por Alves et al. (2010) procurou investigar a influência da humidade nos
valores de resistência superficial em suportes de betão, mediante três técnicas de ensaio, entre as quais se
destaca o ensaio de aderência pull-off. Ao longo da pesquisa, fez-se uso de uma argamassa industrial e uma
tradicional e os revestimentos foram preparados para se enquadrarem em condições distintas de humidade,
sendo as mesmas, seca (U1), meio ambiente (U2), húmida (U3) e saturada (U4). Os resultados verificados
foram submetidos à análise estatística de variâncias, tendo-se obtido um coeficiente de correlação de 0,85 e
0,71 para argamassa industrial e tradicional, respectivamente, o que quer dizer que o factor humidade exerce
influência nas resistências de aderência. À medida que se aumenta o teor de humidade do suporte, ocorre
redução significativa da resistência de aderência. Os autores sugerem a presença de água na pasta de cimento
causa a dilatação do gel do cimento, provocando o enfraquecimento dos elementos que compõem a matriz
cimentícia, daí a queda de valores para maiores humidades.
Características mecânicas de argamassas pré-doseadas
16
A campanha experimental de Arromba (2011) tratou também do efeito da humidade no desempenho
de rebocos aplicados em suportes de tijolos e de betão. Como conclusão sobre a influência da humidade no
suporte, verificou-se que a aplicação de dupla pulverização em suportes de tijolo ofereceu, de modo geral, os
melhores resultados.
2.3.2.4 - Tipo de argamassa
Segundo vários autores, o tipo de argamassa influencia muito a resistência de aderência. No seu estudo
em que fez variar o tipo de suporte, o teor de humidade e o tipo de argamassa, Carasek (1997) verificou que
o tipo de argamassa era o factor que maior influência tinha. Características como a resistência intrínseca da
argamassa, a trabalhabilidade ou a capacidade de retenção da água são apontados como os principais
factores. Carasek (1997) e Prudencio et al. (1999) concordaram na ideia do efeito favorável da resistência à
compressão e à tracção das argamassas sobre a resistência de aderência. Sobre a trabalhabilidade, casos em
que esta propriedade apresente deficiências, é natural que surjam extensões de aderência mais baixas, pois a
argamassa não penetra nas reentrâncias do suporte, deixando vazios. Argamassas com elevada retenção leva
a boas resistências, principalmente em casos de suportes muito absorventes, uma vez que, conservando a
água de amassadura, permite-se facilmente as reacções de hidratação do ligante e a obtenção das devidas
resistências.
A composição de uma argamassa é, naturalmente, factor directo no seu comportamento a nível da sua
aderência. No estudo de Veiga & Carvalho (1994), as argamassas com teor de cimento apresentaram elevada
resistência de aderência, quando comparadas com argamassas à base de cal, aplicada em suportes de
alvenaria de tijolo. Acerca da tipologia de rotura, verificou-se uma tendência para as argamassas de cimento,
mais fortes, apresentarem roturas adesivas, verificando-se nas argamassas mais fracas maior tendência de
roturas coesivas no reboco. Segundo Miranda & Veiga (2004) existem três aspectos a considerar
relativamente à influência do cimento, sendo estes a sua dosagem, finura e tipo. Carasek et al. (2001)
verificaram que, quanto maior a finura do cimento, maior a resistência de aderência, apesar de a dosagem do
ligante ser o parâmetro que melhor explica as variações de aderência (Carasek, 1997).
Também Veiga (1997) abordou a influência do teor de cimento e a sua finura em argamassas
tradicionais. A autora referiu que estes factores afectam as forças induzidas na argamassa, sendo difícil
ultrapassar valores de resistência de aderência de 0,3 MPa em aplicações sobre alvenaria de tijolo,
registando-se, muitas vezes, valores de apenas 0,1 MPa em argamassas mais fracas. No caso de argamassas
industriais, a introdução de adjuvantes permite a melhoria de aderência sem prejudicar as características das
mesmas.
Mendonça (2007) avaliou duas argamassas com ligante hidráulico, sendo uma de cal e outra de
cimento, obtendo resultados de 0,02 a 0,14 MPa e de 0,2 a 0,6 MPa, respectivamente. Valores semelhantes
foram registados nas argamassas pré-doseadas analisadas em Santos (2009), tendo sido verificadas
aderências entre 0,3 e 1 MPa, também enquadrado no intervalo de valores obtido por Veiga (1997.
Flores-Colen (2009) analisou cinco produtos pré-doseados monocamada, cujas relações água / cimento
foram variando de 1,2 a 1,47, e outros dois produtos pré-doseados, um de base cimentícia e outro contendo
cal e cimento como ligantes, registando resultados médios de aderência na ordem de 0,3 a 0,5 MPa em todos
eles. O Quadro 2.12 mostra esses resultados da resistência de arrancamento, do qual se conclui que todos os
produtos cumprem os requisitos de aderência do relatório 427 do LNEC (2005), apresentando valores
mínimos de 0,3 MPa ou roturas coesivas e resultados concordantes com o mercado (0,25 a 0,30 MPa).
Nos produtos mais resistentes, a tipologia de rotura foi predominantemente adesiva, sendo coesiva na
maioria dos casos, pelo que a análise deve ter em conta os valores de rotura por tipologia.
Análise das características mecânicas de amostras de argamassas pré-doseadas
17
Quadro 2.12 - Resultados da resistência de arrancamento (fu) (Flores-Colen, 2009)
Produto Média % coesiva
M1 0,43 30
M2 0,53 90
M3 0,34 50
M4 0,31 50
M5 0,30 90
PP 0,54 0
PL 0,38 100
2.3.2.5 - Geometria das carotes
A influência da espessura na resistência de aderência foi estudada por Prudêncio et al (1999), que
analisaram espessuras de 0,5, 1 e 2 cm para uma argamassa semi-pronta, quando aplicada em blocos de
betão, e espessuras de 0,5 e 1 para duas argamassas industriais, também com suporte de betão. No caso das
argamassas industriais, o comportamento do revestimento foi influenciado pelo teor de humidade do suporte.
Perante um suporte seco, a resistência de aderência diminuiu com o aumento da espessura, comportamento
que se inverte com a humidificação do suporte.
No trabalho desenvolvido por Costa et al. (2007), foram abordados os factores que intervêm na
aderência de revestimentos em suportes porosos e procurou-se verificar de que forma aspectos como a
geometria e forma das amostras, o tipo de cola e a excentricidade da carga afectam esta resistência.
Utilizando modelação numérica, os autores destacaram a concentração de tensões nas extremidades das
carotes de formato quadrado, facto que leva a valores mais baixos de aderência. Dessa forma, os resultados
confirmaram a tendência para as carotes circulares apresentarem maiores valores de resistência devido,
precisamente, à ausência de tensões nos seus bordos. Observou-se uma redução de 52% de resistência das
carotes circulares para as quadradas, conclusões semelhantes às de Gonçalves (2004), mas este com valores
de 58%.
No estudo de Flores-Colen (2009) sobre a mesma temática, apesar de existirem diferenças nos
resultados com pastilhas de 50 e 100 mm de lado, não foi possível estabelecer uma tendência de resultados
como seria expectável, apesar de alguns dos casos irem ao encontro do observado por Costa et al. (2007), em
que pastilhas de menor secção conduziram a maiores valores de resistência. No entanto, o inverso também
ocorreu, tendo a autora apontado o processo de corte e a heterogeneidade do material como factores que
podiam justificar alguns resultados não esperados.
Com os resultados provenientes do ensaio de aderência pull-off, Soares (2011) observou as relações
entre as tensões de aderência das várias secções, analisando a influência deste parâmetro na resistência de
aderência. Num mesmo tijolo, recolheram-se carotes quadradas e circulares, estabelecendo-se, deste modo,
relações de tensão entre as duas secções, como se observa na Figura 2.2.
De acordo com os resultados, nota-se que a utilização de pastilhas quadradas com 40 mm de lado
conduz a valores de tensões próximos dos obtidos com pastilhas circulares de 50 mm de diâmetro, facto que
mostra que a utilização de diferentes secções não influencia os resultados, desde que a área de pastilhas
diferentes seja equivalente. Para este caso, foi obtida uma relação linear com declive de 1,22 e coeficiente de
determinação de 0,74 entre as duas secções.
Ao avaliar a influência da espessura na tensão de aderência, Soares (2011) verificou uma diminuição
entre 16 e 68% de resistência com o aumento da espessura do reboco de 15 mm para o de 30 mm. Não
considerando a repartição de valores de acordo com o tipo de rotura, foi possível constatar um coeficiente de
variação máximo de 35%, facto bem elucidativo da forte dependência da aderência relativamente à
espessura.
Características mecânicas de argamassas pré-doseadas
18
2.3.2.6 - Idade do revestimento
A idade do revestimento exerce influência na resistência de aderência, não existindo correlações
sólidas sobre o comportamento do revestimento ao longo do tempo. Segundo Scartezini (2002), o
comportamento da resistência de aderência dos revestimentos em suportes de blocos de betão e em
cerâmicos são bastante distintos ao longo do tempo. No primeiro caso, a resistência mantém-se nas primeiras
idades até aproximadamente aos 20 dias e sofre pequenos aumentos ao longo do tempo, enquanto em blocos
cerâmicos, é visível uma queda e estabilização de resistência a partir dos 28 dias.
Secção quadrada Coeficiente de determinação (R2)
40 x 40 mm2 0,742
50 x 50 mm2 0,641
Legenda: fu
quadrada - tensão de aderência de carotes com secção quadrada; fu circular - tensão de aderência de carotes com
secção circular; T17 - conjunto de carotes do mesmo tijolo excluídas da relação
Figura 2.4 - Relação entre a tensão de aderência de carotes de secção circular e quadrada de secção circular
(Soares, 2011)
Este estudo focou-se num revestimento de argamassa bastarda, tendo o autor concluído que a queda de
resistência aos 28 dias é atenuada pela cura húmida dos rebocos, que minimiza o efeito da retracção. No que
concerne à tipologia de rotura, verificou-se diferentes ocorrências para os dois tipos de suporte. Nos blocos
de betão, ocorreram sempre roturas coesivas no suporte, ao contrário dos suportes cerâmicos, nos quais as
roturas adesivas foram recorrentes. Tratando-se de argamassas fracas, é inicialmente expectável uma maior
incidência de roturas coesivas no reboco, enquanto, para idades mais avançadas, ocorram sobretudo roturas
adesivas.
Em Flores-Colen (2009), todos os produtos cumpriram os requisitos de aderência do relatório 427 do
LNEC (2005) aos 28 dias, pois apresentaram valores superiores a 0,3 MPa ou roturas coesivas e
concordantes com os valores de mercado referidos nas especificações do fabricante. Não foi possível
caracterizar a tendência da tensão média de arrancamento ao longo do tempo; no entanto, para todas as
idades em estudo, a tensão média e os valores mínimos situaram-se acima do requisito de 0,3 MPa,
justificando as boas aderências de todos os revestimentos.
Na sua análise em rebocos industriais, Soares (2011) verificou que o tipo de rotura varia,
principalmente, em função da idade do ensaio, não se concluindo que a forma da secção e a espessura da
carote fossem factores que potenciassem a ocorrência de roturas coesivas no suporte. Com isto, ficou claro
que a estrutura interna do reboco adquire resistência ao longo do tempo. Na argamassa tradicional, observou-
se, principalmente, um crescimento de tensão entre os 7 e os 14 dias. A permanência de humidade entre as
superfícies de reboco e do suporte foi apontada como uma forte razão para o aparecimento de tensões mais
reduzidas.
Análise das características mecânicas de amostras de argamassas pré-doseadas
19
2.4 - Avaliação da resistência à compressão
A resistência à compressão é considerada uma das propriedades fundamentais do betão e está
relacionada com a capacidade de resistir a esforços estáticos e dinâmicos (Nsambu, 2007). Vários autores
têm procurado focar os seus estudos nesta característica, existindo, ainda assim, pouca informação relativa à
avaliação desta propriedade em argamassas de revestimento. O presente sub-capítulo procura abordar os
principais factores de influência na resistência à compressão e expor as principais conclusões de diversos
autores.
2.4.1 - Resistência à compressão
A resistência mecânica à compressão em betões e argamassas é uma propriedade fundamental na
maioria das normas. No que se refere às argamassas, a resistência à compressão é usualmente determinada
em ensaios de laboratório, estando mais associada às argamassas de assentamento pela forma como estas são
solicitadas, ao contrário das argamassas de revestimento, cujas maiores solicitações são a tracção e o corte.
Segundo Sabbatini (1992), a resistência mecânica diz respeito à propriedade dos revestimentos
possuírem um estado de consolidação interna, capaz de suportar as movimentações do suporte e resistir às
acções mecânicas das mais diversas naturezas, que se traduzem, geralmente, por tensões simultâneas de
tracção, compressão e corte.
Os principais factores que influenciam a resistência mecânica são a natureza dos agregados, a
execução do revestimento e a quantidade de ligante, dependendo ainda de aspectos como a utilização ou não
de adjuvantes, as condições de cura e a idade. Em argamassas de cimento, a resistência à compressão
diminui quando a proporção de agregados aumenta. A técnica de aplicação dos produtos com uma maior
compactação dá origem a uma estrutura mais densa e compacta, o que resulta numa camada de maior
resistência. A resistência de uma argamassa cresce com o aumento da quantidade de cimento, apesar de não
ser conveniente usar quantidades de cimento até determinados limites, uma vez que, para dosagens elevadas
deste ligante, aumentam as acções de retracção que levam a fendilhação e a acréscimos de resistência pouco
significativos.
De acordo com Dumêt (2008), o rácio água / cimento e o tipo de cimento são factores a ter em conta
na resistência à compressão do betão. Uma menor porosidade proporciona maior área de contacto entre as
partículas, levando a uma maior resistência, enquanto o tipo de cimento influencia, principalmente, as
características nas primeiras idades (Mehta & Monteiro, 1994). A idade, a compactação e a cura são também
apontadas como factores de influência. A compactação torna o elemento mais denso, provoca a saída de ar e
facilita o arranjo interno das partículas e uma cura inadequada ou a altas temperaturas podem ocasionar
perda de água, deixar vazios e reduzir a resistência.
A norma NP EN 206-1 (IPQ, 2007) estabelece que a resistência à compressão deve ser determinada
em provetes cúbicos de 150 mm ou cilíndricos de 150 x 300 mm. Estes são submetidos a solicitação axial
num ensaio de curta duração e os métodos a seguir são normalizados, uma vez que a forma dos provetes, a
velocidade de carregamento e factores como a idade e as condições de cura têm influência nos resultados
obtidos (Costa & Appleton, 2002).
Quando um provete está sujeito a carregamento uniaxial de compressão em elementos de betão, tende
a expandir lateralmente. A resistência obtida em cilindros é cerca de 80% da obtida em cubos devido ao
atrito, existente entre as faces dos provetes e os pratos das prensas, que impede a deformação transversal do
betão e conduz a maiores valores de resistência em elementos menos esbeltos. Nos provetes cilíndricos, este
fenómeno origina uma força de compressão lateral que é responsável pela formação de um cone no momento
da rotura, como sugere a Figura 2.5. Quando o atrito é eliminado, a força lateral desaparece, obtendo-se uma
rotura por fendas (Kim et al., 1998).
Características mecânicas de argamassas pré-doseadas
20
Figura 2.5 - Provete cilíndrico de betão sujeito a uma carga de compressão (Kim et al., 1998)
Actualmente, os investigadores aceitam como conclusão que a rotura do betão é causada por uma
tensão localizada, resultando numa pequena zona de fractura (Kim & Yi, 2002). Desta forma, surge uma
distribuição de fendas na direcção de compressão enquanto a peça deforma e expande lateralmente. Como
mostra a Figura 2.6, se h < d, o confinamento da peça leva à rotura por esmagamento e, se h > d, a rotura
ocorre por fractura.
Figura 2.6 - Modos de rotura em função da geometria do provete de betão (Kim et al., 1998)
Os ensaios de resistência à compressão de provetes de betão realizam-se de acordo com a norma NP
EN 12390-3 (IPQ, 2003), a qual refere também as roturas satisfatórias que devem ocorrer para que o ensaio
seja considerado válido (Figura 2.7). No caso das carotes de argamassa, não é aplicada a mesma norma,
cabendo essa função à EN 1015-11 (CEN, 1999). Ainda assim, o tipo de roturas a considerar é o mesmo, de
modo que o conjunto de roturas apresentado na Figura 2.7 é igualmente aplicado na situação dos ensaios
mecânicos à compressão em argamassas.
Figura 2.7 - Roturas satisfatórias de provetes cúbicos e cilíndricos de betão (IPQ, 2003)
2.4.2 - Influência da dimensão e secção do provete
Os primeiros estudos sobre o efeito do tamanho e da forma das amostras em betões foram iniciadas
por Gonnerman (1925). Na avaliação da resistência à compressão, geralmente são utilizados provetes
cilíndricos com 15 cm de diâmetro e 30 cm de altura. Segundo Yi et al. (2006), para questões de
dimensionamento, a resistência à compressão de cilindros com estas dimensões é considerada a propriedade
Análise das características mecânicas de amostras de argamassas pré-doseadas
21
mais importante do betão, justificando-se o uso de diferentes dimensões quando se necessite de testar
elementos de betão de alta resistência (Malaikah, 2005).
Quando se pretende recolher e avaliar amostras in-situ, nem sempre é possível utilizar provetes com
estas dimensões, sendo assim importante relacionar as resistências de provetes com diferentes tamanhos e
secções (Gonnerman, 1925). O modo mais comum de determinar a resistência in-situ é executar e ensaiar
carotes. Tuncan et al. (2008) referem que é recorrente o uso de amostras de 50 mm de diâmetro devido à sua
fácil perfuração, manuseamento e armazenamento, e de permitir maior área de teste, apesar de várias normas
internacionais especificarem um diâmetro mínimo de 100 mm. Segundo Indelicato (1997), a escolha de
diâmetros maiores é justificada pela necessidade de obter amostras com estrutura tão homogénea quanto
possível, sendo a opção por menores diâmetros explicada pela necessidade de reduzir custos, de minimizar
danos na estrutura e de utilizar equipamentos de menores dimensões e mais práticos.
Vários investigadores têm comparado resistências obtidas a partir de amostras cúbicas e cilíndricas de
diferentes dimensões. Os resultados devem ser cuidadosamente interpretados, pois as resistências são
afectadas por factores como o diâmetro, relação altura / dimensão lateral ou a classe do betão. Indelicato
(1997), ao estudar a influência do diâmetro na resistência à compressão de provetes de betão, concluiu
existirem fortes correlações lineares entre os valores médios obtidos para cubos e os obtidos para cilindros
com os vários diâmetros estudados. Malaikah (2005) testou a influência da dimensão e forma das amostras
para diferentes betões, tendo chegado às relações observadas no Quadro 2.13, do qual se conclui a influência
da dimensão e secção das amostras na resistência à compressão.
Quadro 2.13 - Relação entre as resistências à compressão observadas em diferentes provetes (adaptado de
Malaikah, 2005)
Provete 1 Provete 2 Relação RP1/RP2 Tipo Dimensões (mm) Tipo Dimensões (mm)
Cilindro
150 x 300 Cubo 150
0,80
100 x 200 0,93
150 x 300 Cilindro 100 x 200 0,86
Legenda: RP1 - resistência à compressão do provete 1; RP2 - resistência à compressão do provete 2
Vários autores, citados neste estudo, focaram as suas pesquisas na influência da dimensão das
amostras de formato circular. Carraquillo et al. (1981) estudaram amostras cilíndricas nas mesmas condições
do que Malaikah (2005), obtendo uma relação de 0,9, independentemente da força e da idade do ensaio.
French et al. (1993) e Aitcin et al. (1993) também concluíram que os cilindros de menor dimensão originam
maiores resistências, tendo sido observada uma superioridade de cerca de 6% no primeiro estudo.
Yi et al. (2006) analisaram três formas de provetes, variando a dimensão mas fixando a relação da
altura com a dimensão lateral. De acordo com os seus resultados, os provetes de maior dimensão resistem
menos do que os de menor dimensão. Foram estabelecidos modelos de regressão a partir da análise dos
resultados em cilindros, cubos e prismas, os quais verificaram valores de coeficiente de correlação de 0,98,
0,94 e 0,95, respectivamente, o que confirma a influência da dimensão, com maior efeito nos cubos do que
nos cilindros e nos prismas.
Viso et al. (2008) estudaram o efeito da dimensão e da forma na resistência à compressão, notando
grande efeito nos provetes cúbicos. As amostras maiores resistiram menos do que as amostras menores e o
efeito é menos perceptível à medida que o provete aumenta de dimensão. Nos provetes cilíndricos, não há
variações significativas de resistência à compressão em dimensões diferentes, observando-se apenas que a
resistência à compressão é cerca de 10% menor do que a determinada nos provetes cúbicos.
A partir dos resultados e tendências obtidas com os dois tipos de secção estudadas, Soares (2011)
verificou que a forma geométrica das amostras de argamassa não influencia significativamente os resultados
da resistência à compressão, sendo aconselhável o recurso a carotes de secção quadrada devido à sua
execução mais fácil, em particular nas argamassas de menor resistência.
Características mecânicas de argamassas pré-doseadas
22
2.4.3 - Influência da relação altura/dimensão lateral
Chung (1979), citado por Mohiuddin (1995), estudou o efeito da relação h/d na resistência à
compressão do betão e concluiu que o confinamento, exercido pelas placas da máquina, durante o ensaio de
compressão, limita a expansão lateral da amostra e cria um estado triaxial de tensão no betão, que provoca o
aumento da resistência à compressão à medida que a relação h/d diminui.
Soares (2011) abordou a influência desta relação na resistência à compressão aplicada a provetes de
argamassa. O autor apresentou a comparação entre dois métodos diferentes de obter a relação h/d dos
provetes (Figura 2.8), um proposto por Kim et al. (1998) e Kim & Yi (2002), que utilizam a relação “1+ (h-
d)/50”, e outro proposto pela BS 1881: Part 120 (BSI, 1983), que utiliza a relação “h/d”, tendo concluído que
conduziam a resultados semelhantes. Os resultados basearam-se no método da BSI (1983), não só por ser
proposto pela norma, como também por ser o mais utilizado pelas diversas referências.
Figura 2.8 - Relação entre duas formas de estudar a relação entre a altura e o diâmetro dos provetes (Soares,
2011)
No estudo desenvolvido, todas as relações h/d foram inferiores a 1, sendo registadas roturas
satisfatórias, de acordo com a norma NP EN 12390-3 (IPQ, 2009), excepto em alguns casos com a relação
h/d < 0,4. Nestas situações, a elevada tensão verificada levou ao esmagamento dos provetes, não se
registando roturas satisfatórias. Por ter em conta que eram esperados elevados valores de resistência à
compressão dos provetes com menores relações h/d, e tendo por base diversos estudos, o autor baseou-se na
aplicação de um índice de resistência, o qual traduz o acréscimo de resistência de cada provete em relação à
obtida para provetes normalizados.
Nas pesquisas feitas por Manninger et al. (1968), sugere-se que as amostras com relação h/d menor do
que 2 oferecem maiores resistências do que as amostras com esta relação igual a 2, pelo que a força deve ser
multiplicada por um factor de correcção para “normalizar” a resistência. Yokyay & Ozdemir (1997) também
abordaram esta questão, testando cilindros com relações h/d variáveis e cubos de diferentes tamanhos. Como
mostra o Quadro 2.14, há uma significativa diferença entre os factores obtidos neste estudo e os dados pela
ASTM (1992).
Kim et al. (1998) levaram a cabo investigações para compreender a diminuição da resistência à
compressão de amostras cilíndricas com a sua dimensão, com base em variáveis como o diâmetro e a relação
h/d. Quando o valor da relação h/d tende para 1, a dispersão dos dados vai aumentando devido aos efeitos do
confinamento, sendo que estes mesmos efeitos por força de atrito são desprezáveis para relações h/d cada vez
maiores.
Tomando como ponto de partida as várias correlações observadas, Soares (2011) obteve relações do
mesmo género, não realizando, contudo, uma comparação directa, uma vez que as argamassas utilizaram
uma relação h/d = 1 como referência, que corresponde, precisamente, à relação encontrada nos ensaios à
compressão de provetes normalizados.
Análise das características mecânicas de amostras de argamassas pré-doseadas
23
Quadro 2.14 - Factores de correcção obtidos para diferentes relações h/d para provetes de betão (Tokyay &
Ozdemir, 1997)
Estudo Relação obtida Relação h/d
0,5 1 1,5 2
ASTM C42 (1992) 1,302 1,137 1,050 0,992
Tokyay & Ozdemir (1997)
1,025 1,014 1,007 1,002
Legenda: y - factor de correcção; x - relação h/d
Na situação das carotes recolhidas, existem limitações, uma vez que a altura das amostras é sempre
pequena, nomeadamente entre 1,5 e 3 cm no caso do reboco industrial. O autor recorreu ao índice de
resistência (IR), que traduz o acréscimo de resistência de uma amostra em relação à resistência obtida para
provetes normalizados do mesmo produto, para descrever a diminuição de resistência com o aumento da
relação h/d através de uma tendência de potência, como sugere a Figura 2.9.
Eq. 2.1
Onde
IR - índice de resistência;
Rcompcarotes/amostras
- resistência à compressão de carotes ou amostras de comparação (MPa);
RcompPN
- resistência à compressão de provetes normalizados (MPa).
Tipo de reboco Relação Coeficiente de determinação
Industrial 0,6163
Legenda: I
R - índice de resistência; h/d - relação entre a altura (h) e o diâmetro (d)
Figura 2.9 - Relação entre a h/d e índice de resistência (Soares, 2011)
Esta análise teve em conta somente os diferentes produtos, na qual não se fez distinção entre idades de
ensaio ou tipo de secção. Como o índice de resistência aumenta com a redução da relação h/d, é possível
determinar gamas de h/d para as quais as resistências correspondem às obtidas em provetes normalizados.
Características mecânicas de argamassas pré-doseadas
24
Legenda: I
R - índice de resistência; h/d - relação entre a altura (h) e o diâmetro (d)
Figura 2.10 - Relação entre h/d e IR em reboco industrial (Soares, 2011)
O estudo do autor estendeu-se ao efeito da idade e da secção na relação h/d. Como se pode observar na
Figura 2.10, foi observada uma tendência constante a partir de valores h/d superiores a 0,5,
independentemente da idade. Na Figura 2.11, constata-se que, independentemente da secção considerada, a
tendência é semelhante, de modo que o critério da secção é indiferente na determinação da resistência à
compressão em função da relação h/d.
Legenda: I
R - índice de resistência; h/d - relação entre a altura (h) e o diâmetro (d)
Figura 2.11 - Relação entre h/d e IR em reboco industrial (secção quadrada à esquerda e secção circular à
direita) (Soares, 2011)
No seu estudo sobre estimativa da resistência à compressão do betão com pequenas amostras, Tuncan
et al. (2008) avaliaram seis relações h/d para dois diâmetros distintos. Mais recentemente, Nikbin et al.
(2009) testaram amostras com quatro relações h/d. As Figuras 2.12 e 2.13 descrevem aos resultados obtidos
nos dois estudos, os quais são coincidentes na conclusão de que a resistência à compressão aumenta quando
a relação h/d diminui, sendo este efeito mais elucidativo nas carotes mais pequenas.
2.4.4 - Estimativa da resistência à compressão a partir do ensaio de arrancamento
Os primeiros estudos no desenvolvimento dos ensaios de tracção directa para determinar a resistência
do betão foram realizados na Universidade de Queen, Belfast, nos anos 70. Estes ensaios são usados para
medir a resistência superficial do betão ou a aderência entre elementos separados (Pereira, 1999).
As relações de correlação entre a força de tracção directa e a resistência à compressão são
estabelecidas através de ensaios pull-off em provetes normalizados e da resistência destes à compressão,
sendo recomendado efectuar os ensaios em cubos de 150 ou 200 mm.
Análise das características mecânicas de amostras de argamassas pré-doseadas
25
Res
istê
nci
a à
com
pre
ssão
(MP
a)
h/d
Figura 2.12 - Relação entre a relação h/d e a
resistência à compressão em amostras de betão
(Tuncan et al., 2008)
Res
istê
nci
a à
com
pre
ssão
(MP
a)
h/d
Figura 2.13 - Relação entre a relação h/d e a
resistência à compressão em amostras de betão
(Nikbin et al., 2009)
Um par de discos deve ser colado em faces verticais opostas de cada cubo de modo a que o ensaio de
compressão possa ser aplicado nas outras faces. As correlações são normalmente do tipo de potência, como
ilustra a Figura 2.14, ou do tipo exponencial com coeficientes de correlação entre 0,94 e 0,98, como sugerido
por Bungey & Madandoust (1992) e Leshchinsky, A (1991). Gonçalves (1986) referiu que, de um modo
geral, as correlações obtidas entre a tensão de rotura à compressão e a força de tracção são representadas por
uma função de potência (Equação 2.1).
Eq. 2.1
Onde
fcm – valor médio da tensão de rotura à compressão;
F – força de tracção;
A e B são constantes.
Figura 2.14 - Relação de correlação entre a tensão de tracção e a resistência à compressão em betão (Bungey &
Madandoust, 1992, citado por Pereira, 1999)
A norma britânica BS 1881: Part 207 (BSI, 1992) estabelece alguns parâmetros quanto à configuração
e precisão do equipamento de ensaio pull-off e aos procedimentos a adoptar para obter o valor de resistência
e estabelecer correlações entre esta grandeza e a resistência à compressão. A variabilidade do ensaio e os
intervalos de confiança de 95% para as correlações com a resistência são igualmente tratados nesta norma.
Em ensaios in-situ, o coeficiente de variação é próximo de 10% e, em ensaio sob condições laboratoriais, a
Características mecânicas de argamassas pré-doseadas
26
mesma norma admite que os limites de confiança de 95% se situem num intervalo de variação de ±15% em
relação ao valor médio. A Figura 2.15 ilustra uma curva de correlação proposta por Long et al. (1987).
Dentro desta temática, no caso de argamassas de revestimento, Flores-Colen (2009) estudou a hipótese
de relacionar directamente a tensão de aderência das carotes com a resistência à tracção e à compressão. Com
base no considerado por Coutinho & Gonçalves (1994), que considera tensões de tracção pura no betão na
ordem de 1/10 a 1/20 da sua resistência à compressão, Flores-Colen (2009) aplicou este conceito em todas as
argamassas estudadas e concluiu que a extrapolação da resistência dos valores de aderência pode ser uma via
de análise in-situ, uma vez que a correlação obtida apresentou R2 de 0,7. A autora estudou, também, a
hipótese de relacionar directamente a tensão de aderência das carotes extraídas com a sua resistência à
compressão. Os dados analisados mostraram que a relação foi possível, tendo a mesma apresentado um R2 de
0,81.
Figura 2.15 - Correlação típica entre a tensão de tracção pull-off e a resistência à compressão em cubos de
betão (Long et al., 1987, citado por Nepomuceno, 1999)
Na mesma perspectiva de avaliar a resistência à compressão a partir dos valores de tensão de aderência
para carotes com rotura coesiva no reboco, Soares (2011) analisou a relação entre as duas tensões em reboco
industrial de resistência média. Do seu estudo, apenas surgiram dados relativos aos 7 e 14 dias de idade, uma
vez que, em idades mais avançadas, a ocorrência de ensaios nulos ou a falta de roturas coesivas no reboco
limitaram uma análise mais detalhada.
Estudo Coeficiente de determinação
Soares (2011) aos 14 dias 0,86
Flores-Colen (2009) aos 28 dias 0,81
Legenda: fu - tensão de aderência; RC
CT - resistência à compressão de carotes; RCPN - resistência à compressão de provetes
normalizados
Figura 2.16 - Relação entre tensão de aderência e resistência à compressão de reboco industrial (Soares, 2011)
Análise das características mecânicas de amostras de argamassas pré-doseadas
27
No estudo de Soares, a Figura 2.16 sugere uma relação linear entre a tensão de aderência e a
resistência à compressão com R2 de 0,86 aos 14 dias, situação próxima do verificado em Flores-Colen
(2009). Apesar da diferença nos resultados de resistência à compressão nos dois estudos, as boas correlações
levam a concluir que este método de avaliação da resistência à compressão é viável.
2.4.5 - Tipo de argamassa
No actual mercado português, as argamassas de base fundamentalmente cimentícia apresentam valores
de resistência à compressão entre 2 e 10 MPa (Flores-Colen, 2009), largamente superiores aos 0,5 a 2,5 MPa
recomendados para revestimentos de edifícios antigos (Veiga et al., 2004).
Em Flores-Colen et al. (2011), foram discutidas as potencialidades de várias técnicas de ensaio para a
caracterização de argamassas aplicadas em edifícios recentes e antigos, tomando como base conclusões
referentes a dois estudos: Flores-Colen (2009) e Magalhães & Veiga (2006). O ensaio à compressão de
amostras de edifícios recentes em Flores-Colen (2009), cujos resultados de compressão são referidos mais à
frente, permitiu coeficientes de determinação superiores a 0,7 entre carotes e provetes prismáticos, embora os
resultados não tivessem em conta factores de influência como a variação de espessura ou o número de
camadas e daí os elevados coeficientes de variação registados. A extracção de amostras pequenas e
irregulares em fachadas antigas em Magalhães & Veiga (2006) obrigou à aplicação do método de
confinamento, o qual consistiu na utilização de uma argamassa de resistência superior à das amostras, a
partir da qual se obteve correlações aceitáveis aos 90 dias (R2 > 0,7).
A análise do comportamento mecânico de revestimentos pré-doseados com base em cimento foi
abordada em Malanho & Veiga (2010), através de ensaios laboratoriais e in-situ. A avaliação da resistência à
compressão cingiu-se ao ensaio em laboratório de provetes de dimensões normalizadas de três revestimentos
monocamada, sujeitos a cura húmida nos primeiros 7 dias e a cura seca nos restantes 21 dias. O Quadro 2.15
mostra as resistências à compressão obtidas nos três produtos ensaiados.
Quadro 2.15 - Resultados de resistência à compressão de argamassas (Malanho & Veiga, 2010)
Produto Adjuvantes Resistência à compressão (MPa)
1 Plastificantes e agentes promotores de aderência
9,3
2 8,5
3 Hidrófugo e introdutor de ar 7,6
Os valores de resistência à compressão mostram diferenças pouco significativas, que podem, no
entanto, ser justificadas pelo introdutor de ar do produto 3 ou pelas idades superiores dos outros dois
produtos, uma vez que há tendência para os revestimentos cimentícios aumentarem a rigidez e a resistência
com a idade em ambientes exteriores.
Em Santos (2009), caracterizou-se mecanicamente argamassas pré-doseadas adequadas ao
revestimento de edifícios recentes. A determinação da resistência à compressão de provetes prismáticos
(Quadro 2.16) levou a valores da ordem de grandeza dos referidos nas fichas técnicas e concordantes com o
intervalo referenciado em Flores-Colen (2009). Recorde-se que as condições adoptadas não foram as
previstas pela norma EN 1015-11 (CEN, 1999), acrescentadas ao facto de a espessura dos provetes avaliados
e o método de compactação ser distante do aplicado em obra, à semelhança do que sucede na maioria dos
estudos sobre caracterização mecânica de argamassas (Gonçalves, 2010), resultados também indicados no
mesmo Quadro 2.16.
A avaliação da resistência à compressão de produtos pré-doseados de uso geral e monocamada foi
também abordada em Flores-Colen (2009), tendo todas as argamassas cumprido os requisitos, enquadrando-
se as respectivas resistências nas classes seguidas pela norma EN 998-1 (CEN, 2010). O Quadro 2.17 refere
Características mecânicas de argamassas pré-doseadas
28
os valores obtidos no ensaio de compressão aos 28 dias, em carotes e provetes normalizados. Os resultados
verificados nas diversas monocamadas apontam para uma clara influência da relação água / produto
Quadro 2.16 - Resistência à compressão de argamassas de revestimento de base cimentícia (Santos, 2009),
(Gonçalves, 2010)
Estudo Argamassa Resistência à compressão
28 dias 60 dias
Santos (2009)
M 1 3,5 -
M 2 3,2 -
AR 1 6,1 -
AR 2 3,2 -
Gonçalves (2010) Tradicional 8,3 7,7
Monocamada 8,2 7,4
Legenda:
M - monocamada; AR - argamassa de revestimento
Das argamassas M1 à M5, a diferença passa pela redução da relação água / produto, concluindo-se
que, para baixos valores deste parâmetro, são atingidas melhores resistências à compressão. Destaque, ainda,
para os mais baixos valores da PL, o que se deve à presença de cal na sua composição. A aplicação dos
produtos em laboratório foi manual, pelo que se prevêem melhores características mecânicas em obra,
resultantes da aplicação por projecção (Flores-Colen, 2009).
Quadro 2.17 - Resistência à compressão das várias argamassas aos 28 dias (Flores-Colen, 2009)
Argamassas Resistência à compressão (MPa)
Provetes normalizados Carotes
M1 7,06 4,56
M2 7,03 4,96
M3 3,98 3,80
M4 2,83 2,24
M5 2,67 1,93
PP 12,56 14,14
PL 1,32 2,11
Legenda:
Mi - monocamada i; PP - pré-doseada pesada; PL - pré-doseada leve
Num outro patamar de classe de resistência, surgem as argamassas de carácter impermeabilizante.
Com o objectivo de verificar o desempenho mecânico deste tipo de produtos, Costa (2008) realizou ensaios
de compressão em provetes normalizados, analisando três argamassas tradicionais e uma pré-doseada. O
Quadro 2.18 refere os resultados obtidos, os quais mostram um excelente comportamento das argamassas
tradicionais com incorporação de impermeabilizante face à argamassa industrial, tendo o autor concluído que
a elevada resistência se deve ao baixo teor de água.
Quadro 2.18 - Resultados da resistência à compressão em argamassas impermeabilizantes (Costa, 2008)
Argamassa Resistência à compressão (MPa)
7 dias 28 dias
Tradicional
Sem impermeabilizante 44,4 45,5
Com impermeabilizante 44,5 51,0
Com impermeabilizante 43,0 47,0
Pré-doseada - 24,2
Todos os quadros apresentados no presente sub-capítulo pretendem mostrar a existência de argamassas
fracas e fortes. É expectável que o tipo de argamassa seja o principal impulsionador das diferentes
resistências apresentadas, até devido à função de cada argamassa. Na prática, argamassas mais fracas ou
menos resistentes, susceptíveis a funções de carácter mais leve, normalmente com cal na sua formulação,
apresentam resistências mais baixas, ao passo que argamassas fortes ou mais resistentes surgem num
Análise das características mecânicas de amostras de argamassas pré-doseadas
29
intervalo de resistências superior. Noutro expoente bem superior, surgem as argamassas de reparação de
betão e as de tratamento das humidades que, por norma, apresentam resistências bastante elevadas.
2.4.6 - Comparação da resistência à compressão de carotes com a de provetes
normalizados
No caso de roturas coesivas na argamassa, existe sempre a possibilidade de se obter amostras
irregulares, o que torna a avaliação das propriedades mecânicas muito difícil. É precisamente o que ocorre na
recolha de amostras de edifícios antigos, uma vez que, do processo de recolha de amostras, surgem carotes
friáveis. Para contornar este problema, foi desenvolvido um projecto do LNEC (Magalhães & Veiga, 2006),
em conjunto com a Universidade de Ljubljana e o Instituto de Mecânica Aplicada (Rep. Checa), onde se
estudou um método de ensaio para avaliar a resistência à compressão das amostras. O método criado consiste
em criar uma argamassa de confinamento, de resistência superior à da amostra, e aplicá-la nas faces
irregulares.
Cinco provetes de comparação, com dimensões de cerca de 20 x 40 x 80 mm3 resultantes do corte de
prismas com as dimensões de 40 x 40 x 160 mm3, foram sujeitos a ensaios de resistência à compressão
através da técnica desenvolvida e os seus resultados foram comparados com os valores de compressão
obtidos em ensaios preconizados pela norma EN 1015-11 (CEN, 1999).
Numa perspectiva de comparar a resistência à compressão entre carotes recolhidas in-situ e provetes
normalizados de um mesmo produto de base cimentícia, Flores-Colen (2009) testou amostras com 50 mm de
lado e 15 mm de altura e provetes de dimensões normalizadas. Segundo a autora, os resultados à compressão
das carotes extraídas (50 x 50 x 15 mm3) apresentaram coeficientes de variação entre 25 e 51%, tendo sido
considerados o estado da amostra após remoção da pastilha, o controlo e sensibilidade da máquina de
ensaios, a variação da espessura das amostras e a sua degradação como factores com relevância nos dados
obtidos.
Quadro 2.19 - Relação entre as resistências à compressão de provetes normalizados e carotes recolhidas
Estudo Relação Coeficiente de determinação
Magalhães & Veiga (2006) 0,956
Flores-Colen (2009) 0,78
Legenda:
RCPN - resistência à compressão de provetes normalizados; RCcarotes - resistência à compressão das carotes
recolhidas das fachadas
O Quadro 2.19 sintetiza as correlações obtidas nos dois estudos. Em Magalhães & Veiga (2006), a
análise dos resultados permitiu concluir que a técnica de ensaio contribui de forma válida para a
determinação da resistência à compressão de revestimentos com prestações mecânicas fracas de edifícios
antigos, embora sem resultados rigorosos. A relação obtida em Flores-Colen (2009) aponta para uma
tendência de potência com R2 = 0,78, tendo o estudo sido concludente sobre o facto de a relação entre a
altura e o diâmetro (h/d) poder afectar a resistência; de facto, a utilização de espessuras dos provetes na
ordem de 15 mm em vez de 40 mm dos provetes fez com que a relação h/d diminuísse e, consequentemente,
a resistência à compressão fosse maior.
Num estudo posterior, Soares (2011) aconselha a comparação directa da resistência à compressão de
carotes com a dos provetes normalizados, tendo sempre em conta o conhecimento prévio da tendência de
resistência em função da relação h/d. Ficou presente que, independentemente do tipo de produto ou do tipo
de provete, a resistência à compressão aumenta significativamente para relações h/d inferiores a 0,4, pelo que
é aconselhável a utilização de provetes com h/d superior a este valor no âmbito da resistência à compressão.
Características mecânicas de argamassas pré-doseadas
30
2.5 - Síntese do capítulo
Uma argamassa de reboco é uma mistura de um ou mais ligantes inorgânicos, agregados, adições e
adjuvantes, usada para rebocos interiores e exteriores. Apesar de muito utilizadas, as argamassas tradicionais
apresentam grandes desvantagens, como a utilização de matérias-primas inadequadas, o baixo controlo da
operação e a medição pouco rigorosa dos constituintes. A procura e a introdução de argamassas industriais
resultam do investimento em novas tecnologias que visam um melhor controlo da operação e da qualidade
dos produtos. Para que estes produtos possam circular livremente e ser comercializados no Espaço
Económico Europeu, os seus fabricantes devem emitir a declaração de conformidade e solicitar a marcação
CE, que define as exigências a satisfazer pelos produtos, em termos de segurança e saúde, remetendo os
requisitos a assegurar para as especificações técnicas.
A aderência representa a capacidade de resistir às tensões normais e tangenciais actuantes na interface.
A falta desta propriedade pode levar a destacamentos e são vários os factores que a influenciam, como o tipo
de suporte, o tipo de argamassa, as condições climáticas e a execução do revestimento. A aderência pode ser
avaliada a partir do ensaio de arrancamento pull-off que, apesar de destrutivo, permite a quantificação da
tensão de aderência e a caracterização do tipo de rotura. O tipo de suporte tem grande influência devido à
capacidade que as texturas rugosas têm de conferir maior aderência, sendo notório, também, que a aplicação
de chapisco melhora as características do suporte, favorecendo a aderência. A execução do revestimento é
também um dos factores de maior relevância que interfere na aderência, nomeadamente nas questões de
aplicação da argamassa. Vários autores são da opinião de que a aplicação por projecção, além de
proporcionar maior produtividade, permite revestimentos com maiores resistências de aderência. Nos seus
estudos sobre a influência da humidade, alguns autores introduziram, como variáveis, diferentes condições
de humidade. Entre as diversas observações, conclui-se que, em geral, à medida que se aumenta o teor de
humidade do suporte, a resistência de aderência diminui. O tipo de argamassa é também um factor a ter em
conta, nomeadamente características como a resistência intrínseca da argamassa. Composições com base
cimentícia tendem a apresentar maior resistência, o que leva à ocorrência de roturas adesivas, ao contrário
das roturas coesivas nos casos de argamassas mais fracas (com ligante à base de cal). No que se refere à
geometria das carotes, é consensual que as carotes circulares apresentam melhores resultados de resistência
de aderência. Apesar de se obter um maior grau de certeza com estas carotes, as de secção quadrada também
possibilitam resultados aproximados. Sobre a influência da espessura, e de acordo com os vários estudos,
ficou esclarecido que a resistência diminui com o aumento da espessura. Observando a idade, apesar de não
se ter caracterizado a tendência de resistência ao longo do tempo, verificou-se que, dentro das argamassas
industriais, os produtos adquirem resistência em poucos dias, cumprindo assim os requisitos de resistência de
aderência.
A resistência mecânica diz respeito à propriedade de resistir às diversas solicitações mecânicas de
tracção, compressão e corte. Segundo diversos estudos, foram verificadas fortes correlações nas relações
entre as resistências à compressão avaliadas em provetes de diferentes dimensões. De acordo com as muitas
conclusões nos vários estudos sobre betão, embora não se verificando em todos os estudos, a dimensão das
amostras tem influência nos resultados, diminuindo a resistência com o aumento deste factor, com menor
significado nas geometrias cilíndricas. A relação h/d é outro factor de influência relevante nos valores de
resistência à compressão, verificando-se um aumento de resistência através de uma tendência de potência
com a redução deste factor. Num dos estudos sobre argamassas, que se estendeu ao efeito da idade e da
secção, constatou-se uma tendência constante a partir da relação h/d superior a 0,4, independentemente da
secção considerada. Este fenómeno deve-se ao confinamento, exercido pelas placas da máquina, que limita a
expansão lateral da amostra e provoca o aumento da resistência com a diminuição da relação h/d. Estudos
comprovam que, além do efeito directo na resistência, a influência deste factor é mais determinante em
carotes de menor diâmetro.
Análise das características mecânicas de amostras de argamassas pré-doseadas
31
No presente capítulo, foi apresentada, também, a possibilidade de relacionar directamente a tensão de
aderência com a resistência à compressão, após o ensaio pull-off. Várias correlações foram propostas por
diversos autores, revelando-se satisfatórias mas ainda pouco rigorosas no que se refere ao estudo das
argamassas de revestimento. Vários estudos foram levados a cabo na área das argamassas sobre esta
temática, os quais foram concludentes sobre a viabilidade deste método de avaliação da resistência à
compressão, face às boas correlações obtidas. No entanto, principalmente no caso de roturas adesivas ou
coesivas no suporte, perde-se parte da informação, ficando apenas a conhecer-se o limite inferior da
resistência. Nos últimos anos, foram desenvolvidos diversos estudos que abordam a resistência à compressão
de diferentes tipos de argamassa. É inegável que as argamassas de base cimentícia apresentam maiores
valores de resistência à compressão, com especial destaque as argamassas de carácter impermeabilizante, em
comparação com as restantes argamassas de uso geral e as próprias argamassas pigmentadas.
Na tentativa de comparar a resistência à compressão de amostras recolhidas in-situ com a resistência à
compressão de provetes normalizados, apesar de se ter verificado evidentes coeficientes de variação dos
resultados in-situ, foi possível observar correlações bastante razoáveis. Ficou bem patente a possibilidade de
avaliar a resistência à compressão de amostras por meio do método de confinamento que, sendo aplicado em
alguns estudos, contribui de forma válida para a determinação da resistência à compressão em amostras
irregulares, embora sem resultados com muito rigor.
Análise das características mecânicas de amostras de argamassas pré-doseadas
33
3 - Campanha experimental
3.1 - Considerações gerais
A campanha experimental foi desenvolvida no Laboratório de Construção do DECivil do Instituto
Superior Técnico. Na presente dissertação, procurou-se fazer uma análise em revestimentos que fossem
prática corrente nos dias de hoje e com características de aplicação próximas da realidade. Concretamente
em relação aos materiais de estudo, a escolha recaiu em argamassas pré-doseadas com fornecimento,
produção e aplicação semelhantes, mas com funções e prestações distintas, e que facilitassem a obtenção,
análise e comparação de resultados. As fichas técnicas assumem grande importância devido ao contributo
que dão na indicação da composição, características de utilização, prestações mecânicas e recomendações de
aplicação.
Neste capítulo, pretende-se descrever os ensaios e procedimentos executados na campanha
experimental que levaram ao estudo da resistência à compressão de cada uma das argamassas. Sendo esta
uma característica muito importante para o seu desempenho, procurou-se introduzir algumas variáveis com
influência nos resultados, como o tipo de argamassa de revestimento (reboco), variações de espessura, forma
e dimensão das amostras e tipos de suporte.
No final do capítulo, é feita uma análise crítica a esta fase, na qual são abordadas e discutidas todas as
considerações tomadas ao longo da campanha experimental e os principais factores com relevância nos
resultados finais.
3.2 - Caracterização das argamassas
Para a realização do trabalho em laboratório, foram analisadas as seguintes argamassas pré-doseadas,
com características mecânicas distintas: uma argamassa mineral pigmentada, duas argamassas minerais de
regularização e uma de impermeabilização. Ao longo da presente dissertação, as argamassas em estudo serão
designadas pelas identificações sugeridas no Quadro 3.1.
Quadro 3.1 – Argamassas seleccionadas
Argamassas pré-doseadas
Tipo Função Identificação
Monocamada Regularização, protecção e
decoração de fachadas M
Mineral de regularização
Regularização e protecção de paredes, como suporte
de revestimentos em camada fina
RC
Mineral de regularização Regularização e protecção de fachadas, como suporte de revestimentos colados
RD
Impermeabilização Impermeabilizações de suportes submetidos a
pressões e sub-pressões D
Nos Quadros 3.2 e 3.3, são apresentadas algumas características importantes dos produtos
seleccionados, de acordo com as fichas técnicas dos produtos. Destacam-se os ligantes referidos na sua
composição e o intervalo recomendado de valores da relação água / produto.
Além disso, são apresentadas as características físicas e mecânicas essenciais ao objectivo da presente
dissertação, fundamentalmente a resistência mecânica à compressão e a aderência.
Campanha experimental
34
Quadro 3.2 - Algumas características das argamassas seleccionadas, segundo o catálogo do fabricante
Argamassa Tipo Ligante Relação água /
produto
Massa volúmica
aparente (kg/m3)
Massa
volúmica do
produto
endurecido
(kg/m3)
M OC Cimento
branco [0,2; 0,23] 1500 1400
RC GP
Cimento;
cal
hidratada
[0,167; 0,2] 1650
(pasta) 1400
RD GP Cimento [0,167; 0,2] 1800
(pasta) 1500
D GP Cimento [0,14; 0,16] 1900
(densidade)
1900
(densidade)
Legenda:
OC - monocamada; GP - de uso geral
Deste grupo de argamassas pré-doseadas, é possível fazer a distinção entre argamassas fracas e fortes.
Pelas características apresentadas no Quadro 3.3, a argamassa RC, utilizada sobretudo como suporte de
revestimentos de pintura, e a argamassa D, que tem como função a impermeabilização de suportes sujeitos à
pressão de água, encontram-se em polos distintos de resistência.
Quadro 3.3 - Características mecânicas das argamassas seleccionadas, segundo o catálogo do fabricante
Argamassa Resistência à flexão
(MPa)
Resistência à
compressão (MPa) Aderência (MPa)
M > 1,5 - > 0,25
RC > 0,75 >1,25 > 0,25
(rotura coesiva)
RD > 1,5 >3,5 > 0,3
D 5 20 1,4 (sobre betão)
Legenda:
OC - monocamada; GP - de uso geral
A um nível intermédio de resistência, com características semelhantes, estão as argamassas M e RD.
Do ponto de vista da aderência, prevê-se valores mais altos na argamassa D, ao passo que, nas restantes
argamassas, se esperam valores mais baixos e semelhantes entre eles.
3.3 - Descrição do plano de ensaios
3.3.1 - Considerações iniciais
Todas as argamassas foram fornecidas em sacos e conservadas em barricas de plástico, como
exemplifica a Figura 3.1, desde o momento da sua recepção até à finalização de todos os trabalhos de
produção de argamassa.
O plano de ensaios englobou a caracterização de todas as argamassas no estado seco, com a avaliação
da granulometria e da baridade, a caracterização no estado fresco, com a avaliação da massa volúmica
aparente e da consistência por espalhamento, e ainda a caracterização no estado endurecido, na qual foram
avaliadas a aderência ao tijolo e a resistência mecânica à tracção por flexão e compressão. A caracterização
de todas as argamassas em estudo baseou-se na norma EN 998-1 (CEN, 2010), a qual aborda as
especificações para argamassas de revestimentos a aplicar em interiores e exteriores.
O facto de todas as argamassas serem de carácter industrial levou a que se tivesse em consideração as
indicações dadas pelas fichas técnicas dos fabricantes, nomeadamente a quantidade de água a utilizar em
cada amassadura, as características de produção e as recomendações de manuseamento e aplicação.
Análise das características mecânicas de amostras de argamassas pré-doseadas
35
Figura 3.1 - Barrica de plástico
3.3.2 - Fase preliminar
Antes do início das primeiras produções de argamassa e respectivos ensaios, foi necessário realizar
alguns ensaios preliminares para aumentar o conhecimento de algumas técnicas dos procedimentos a fazer e
ainda averiguar o estado de todos os materiais e equipamentos a usar durante a campanha experimental. No
âmbito da presente dissertação, esta etapa passou, essencialmente, pela verificação de equipamentos
necessários ao corte de carotes, bem como a consulta, ou até a realização, de ensaios de aprendizagem ou
ajuste de técnicas. Neste sentido, o trabalho desenvolvido por Soares (2011) tornou-se essencial, visto que
algumas decisões tomadas na presente dissertação basearam-se em algumas das suas conclusões.
Dois aspectos que levantaram de início mais dúvidas prendiam-se com o tipo de tratamento húmido a
dar à superfície do tijolo cerâmico antes da aplicação das argamassas e com qual a melhor forma de remover
as pastilhas metálicas das carotes resultantes do ensaio de arrancamento pull-off.
Com o objectivo de estabelecer um tratamento adequado à superfície do tijolo, Soares (2011)
estudou situações diferentes de humedecimento em quatro tijolos, utilizando uma argamassa cimentícia. Os
rebocos foram armazenados em ambiente controlado de temperatura de 20 ± 2 ºC e humidade relativa de 65
± 5%. Após cura de 61 dias, cada reboco foi submetido ao ensaio de arrancamento pull-off (carotes de secção
quadrada de 50 mm), tendo sido registadas as maiores tensões médias no tijolo sujeito a apenas uma
pulverização antes da amassadura, seguidas, respectivamente, pelas registadas nos tijolos sujeitos a duas e a
três pulverizações a meio da amassadura, em que cada pulverização consiste em humedecer toda a superfície
do tijolo.
Apesar de as maiores tensões terem sido registadas para uma só pulverização em Soares (2011), o
facto de as duas pulverizações terem garantido boas aderências, não só neste estudo como também em
Arromba (2011), associada às recomendações do fabricante de fazer duas pulverizações, levou a que, nesta
campanha experimental, se tenha procedido a um humedecimento com duas aspersões durante o tempo de
repouso de cada amassadura (cerca de 10 minutos após produção). Estas foram aplicadas em dois momentos
distintos, cerca de 5 minutos antes da aplicação e imediatamente antes da mesma, de modo que cada
humedecimento cobrisse na totalidade a área da superfície do tijolo, evitando o excesso de água.
Uma vez que, também em Soares (2011), foram ensaiadas carotes recolhidas do ensaio de aderência,
o autor realizou um estudo para determinar qual o melhor método para a remoção da pastilha metálica colada
ao reboco. Assim, foram comparadas as resistências à compressão de provetes em cinco situações diferentes,
as quais podem ser consultadas no Quadro 3.4.
Os dois métodos que conduziram a resultados próximos e satisfatórios foram a remoção da pastilha
com acetona sem ir a estufa e com a permanência na estufa a 100º C durante 24 horas. Dado que se obteve
um menor desvio padrão no segundo caso estudado, foi esse o método escolhido nesta campanha
experimental para remover a pastilha metálica.
Campanha experimental
36
Quadro 3.4 - Resultados do ensaio de resistência à compressão (Soares, 2011)
Método de preparação Resistência à compressão
média (MPa)
Provetes removidos com acetona
(sem ir à estufa) 6,4
Provetes removidos com acetona (colocados posteriormente na estufa
a 100 ºC durante 24 horas) 5,6
Provetes removidos após permanência na estufa a 100 ºC
durante 24 horas 6,7
Provetes colocados na estufa a 100 ºC durante 24 horas (sem pastilha
metálica) 6,9
Provetes ainda com pastilha metálica colada
9,5
Provetes de controlo 7,0
3.3.3 - Fase experimental
Finda a fase preliminar, procedeu-se à análise das quatro argamassas pré-doseadas. Em cada uma
delas, foi estudada a resistência à compressão, nas idades de 7, 28 e 91 dias. As espessuras encontram-se no
intervalo indicado nas fichas técnicas dos produtos. Segundo o fabricante, as espessuras mínimas e máximas
para cada um dos revestimentos são as indicadas no Quadro 3.5.
Quadro 3.5 - Espessuras mínimas e máximas indicadas pelo fabricante para as argamassas de revestimento
estudadas, segundo catálogo dos produtos
Argamassas Espessura mínima (mm) Espessura máxima (mm)
M 12 40
RC 10 20 (por camada)
RD 8 20 (por camada)
D 10 5 a 10 (por camada)
Para ter em consideração as características de aplicação e as recomendações indicadas nas fichas
técnicas dos produtos, foram adoptados e avaliados os rebocos com 15 mm e 25 mm de espessura.
Para cada tipo de argamassa, foi necessário recorrer a oito tijolos. No mesmo tijolo, extraíram-se três
carotes do mesmo tipo, correspondendo cada uma delas a uma data de ensaio diferente. A identificação do
tijolo foi feita atribuindo o código da argamassa, a data de produção da mesma e a espessura a ensaiar, como
ilustra a Figura 3.2. A identificação e posição das carotes em cada tijolo podem ser visualizadas na Figura
3.3.
Figura 3.2 - Identificação de um tijolo
Figura 3.3 - Identificação das carotes
No sentido de avaliar o comportamento mecânico dos diferentes rebocos com ausência de suporte,
criaram-se amostras com forma e dimensão semelhantes às carotes extraídas de cada tijolo, as quais foram
Análise das características mecânicas de amostras de argamassas pré-doseadas
37
submetidas aos ensaios de compressão também nas idades de 7, 28 e 91 dias. À semelhança do que se fez em
Soares (2011), estas amostras de comparação foram produzidas a partir de peças metálicas, resultantes do
corte de tubos de secção definida, de acordo com a espessura desejada. Para a fixação das duas metades de
cada molde (Figura 3.4), recorreu-se a pequenos elásticos.
Figura 3.4 – Moldes metálicos
Por fim, estes provetes resultantes destes moldes foram colocados em base revestida com película
aderente para impedir a absorção da água de amassadura (Figuras 3.5 a 3.8).
Figura 3.5 - Amostras de comparação da
argamassa M
Figura 3.6 - Amostras de comparação da
argamassa RC
Figura 3.7 - Amostras de comparação da
argamassa RD
Figura 3.8 - Amostras de comparação da
argamassa D
Como modo de complementar o estudo, a campanha experimental incidiu também na produção de
provetes normalizados de dimensão 40 x 40 x 160 (mm3) (Figura 3.9), os quais foram ensaiados à tracção por
flexão e compressão nas mesmas idades das amostras reduzidas.
De acordo com as variáveis referidas, foram produzidas as quantidades apresentadas no Quadro 3.6.
Campanha experimental
38
Figura 3.9 - Provetes normalizados
Quadro 3.6 - Número total de amostras e provetes normalizados produzidos
Suportes Amassaduras Espessuras Idades Forma dos provetes
N.º de repetições
Total
Carotes e amostras
2 4 2 3 2 2 192
Provetes normalizados
- 4 - 3 - 3 36
228
Numa fase inicial, e atendendo ao número de amostras e provetes normalizados produzidos, estava
prevista a distribuição de ensaios à compressão indicada no Quadro 3.7. A campanha experimental não se
processou da forma indicada, uma vez que, do ensaio de aderência pull-off, nem sempre resultaram amostras
susceptíveis de serem testadas ao ensaio de compressão, principalmente pelo facto de surgirem amostras com
pouca espessura. No capítulo 4, é indicado o número total de ensaios de aderência e à compressão que
efetivamente foram realizados.
Quadro 3.7 - Distribuição de ensaios à compressão por data de ensaio
Secção
Amostras reduzidas (resultantes do ensaio
pull-off)
Amostras de comparação
Provetes normalizados Total de
ensaios Argamassa Argamassa Argamassa
M RC RD D M RC RD D M RC RD D
Circular D = 50 mm 4 4 4 4 4 4 4 4 - - - - 32
Quadrada L = 40 mm 4 4 4 4 - - - - 6 6 6 6 40
L = 45 mm - - - - 4 4 4 4 - - - - 16
N.º de ensaios 8 8 8 8 8 8 8 8 6 6 6 6 88
3.4 - Caracterização das argamassas no estado seco
A caracterização das argamassas em estudo no estado seco permite obter mais alguma informação
relativa às suas composições, apesar de se afastar do âmbito dos objetivos centrais da presente dissertação.
Neste sentido, estudou-se a análise granulométrica e a baridade de cada uma das argamassas pré-doseadas.
3.4.1 - Análise granulométrica
A análise granulométrica consiste na peneiração a seco do agregado através de uma série de peneiros
de abertura normalizada, pesagem das parcelas do agregado e cálculo das respectivas fracções
granulométricas. Esta caracterização engloba não só a peneiração dos agregados como também de outros
constituintes e é baseada na norma EN 1015-1 (CEN, 2010).
.
Análise das características mecânicas de amostras de argamassas pré-doseadas
39
Figura 3.10 - Conjunto de peneiros
O conjunto de peneiros a utilizar tem aberturas nominais de malha 0,063; 0,125; 0,250; 0,500; 1,00;
2,00; 4;00 [mm], como ilustrado na Figura 3.10. A massa da amostra a avaliar é dada em função da máxima
dimensão do agregado a ensaiar. Tendo todas as argamassas pré-doseadas apresentado 4,75 mm como
máxima dimensão do agregado, a massa de teste a ensaiar foi escolhida de acordo com o mesmo Quadro 3.8.
Quadro 3.8 – Massa da amostra (Pinto & Gomes, 2009)
Máxima dimensão do agregado (mm) Massa da amostra (kg)
200 150
150 100
100 50
75 30
30 15
37,5; 25,0 10
19,0; 12,5; 9,50; 6,30 3
< 4,75 1
Inicialmente, recolheram-se amostras de 1 kg de cada um dos tipos de argamassa. Cada um deles foi
previamente colocado na estufa para secagem em condições de temperatura entre 100 ± 5º C (Figura 3.11),
considerando-se concluído o processo quando se registasse uma diferença entre duas pesagens consecutivas
(intervalos de 2 horas) de 0,2 g.
Figura 3.11 – Estufa de secagem
Após introdução das amostras no conjunto de peneiros referido procedeu-se à peneiração, fase esta
concluída quando, durante um minuto, não passasse mais de 0,2% do material retido num determinado
peneiro. Por fim, foram registadas todas as massas de material retido em cada peneiro de ensaio, como ilustra
a Figura 3.12.
Campanha experimental
40
Figura 3.12 - Registo da massa do material retido
A percentagem de agregado retido em cada peneiro (R) foi obtida através da equação 3.1.
Eq 3.1
Onde
M1 - massa do material retido em determinado peneiro (kg);
M2 - massa da amostra seca (kg);
Para se definir a curva granulométrica, é essencial o cálculo da percentagem de material acumulado
passado em cada um dos peneiros, bastando para tal somar a percentagem do material retido no peneiro em
causa às percentagens registadas em todos os peneiros de malha inferior.
3.4.2 - Baridade
A baridade é a massa volúmica aparente do material, dada pelo quociente da massa do agregado seco
pelo volume por este ocupado em condições de compactação definidas. Esta caracterização baseou-se na
norma NP 955 (IPQ, 1973), que especifica os procedimentos dos ensaios para a determinação da massa
volúmica em agregados.
Na avaliação desta característica, recorreu-se a uma balança, a uma estufa para secagem a 100 ± 5º C,
a um varão de compactação e a um recipiente de aço. Em função da máxima dimensão do agregado, tal como
indicado no Quadro 3.9, é escolhido o recipiente a utilizar.
Quadro 3.9 - Recipiente de aço cilíndrico (Pinto & Gomes, 2009)
Máxima dimensão do
agregado (mm)
Capacidade nominal (dm3)
Diâmetro interior (mm)
Altura interior (mm)
Espessura mínima (mm)
Parede Fundo
< 12,5 3 155 160 2,5 5,0
19,0; 25,0 10 205 305 2,5 5,0
37,5 15 255 295 3,0 5,0
50,0; 75,0; 100,0
30 355 305 3,0 5,0
3.4.2.1 - Agregado compactado
Neste procedimento, o agregado foi colocado, em pequenas quantidades, dentro do recipiente em 3
camadas iguais. Em cada camada, a superfície foi regularizada com a mão e o material compactado com 25
Análise das características mecânicas de amostras de argamassas pré-doseadas
41
pancadas distribuídas uniformemente, como evidencia a Figura 3.13. É importante o facto de não se ter
percutido o fundo do recipiente na primeira camada e de se ter evitado atingir as camadas inferiores com as
penetrações verticais do varão de compactação. Após enchimento do recipiente e respectivo nivelamento,
procedeu-se à pesagem (Figura 3.14).
Figura 3.13 - Compactação do material
Figura 3.14 - Pesagem do conjunto
3.4.2.2 - Agregado não compactado
Na determinação da baridade sem compactação, o agregado foi colocado com uma colher, deixando-o
cair de um nível não superior a 5 cm acima da boca do recipiente (Figura 3.15). Após enchimento completo e
correspondente nivelamento da superfície, pesou-se o recipiente.
Figura 3.15 - Enchimento do recipiente
Em qualquer um dos casos estudados, a baridade (B) é calculada através da equação 3.2.
Eq. 3.2
Onde
M2 – massa do recipiente cheio com agregado (kg);
M1 – massa do recipiente (kg);
V – capacidade do recipiente (m3).
3.5 - Produção das argamassas
A produção das diferentes argamassas industriais baseou-se nas recomendações do fabricante e nas
indicações presentes na norma EN 1015-2 (CEN, 1998), variando apenas a altura de colocação do produto no
recipiente, tendo o mesmo sido colocado antes da junção da água, ao contrário do que sugere a norma.
Campanha experimental
42
Inicialmente, recolheu-se quantidade suficiente de material para pesagem. Dos diversos equipamentos
utilizados nesta fase, fizeram parte 2 pequenos baldes de plástico, uma colher para recolha de material, 1
proveta, tal como evidencia a Figura 3.16, e uma balança com 0,1 g de precisão.
Figura 3.16 - Equipamento para recolha do material
A quantidade de argamassa a adoptar em cada amassadura foi escolhida em função da aplicação em
causa (tijolos, sem suporte ou provetes normalizados), à qual se adicionou a água necessária para respeitar
sempre as relações água / produto apresentadas nas fichas técnicas. Estas relações, para cada argamassa, são
indicadas no Quadro 3.10.
Quadro 3.10 - Relações água / produto adoptadas
Argamassa Relação água / produto conforme
recomendação
M 0,216
RC 0,183
RD 0,183
D 0,15
Após pesagem de todos os constituintes, procedeu-se à produção da argamassa, cuja sequência de
passos é descrita de seguida:
i - colocação do produto em pó no recipiente misturador, tendo o cuidado de se evitar perdas de
material (Figura 3.17);
ii - junção da água ao produto em pó (Figura 3.18);
iii - mistura prévia com uma pequena colher de pedreiro, como primeira homogeneização da
argamassa;
iv - mistura mecânica em velocidade baixa durante 30 segundos (Figura 3.19);
v - recolha e junção das partes não misturadas;
vi - mistura manual durante 1 minuto, para averiguar a existência de pequenas proporções mal
amassadas (Figura 3.20);
vii - mistura mecânica em velocidade baixa durante 1 minuto;
viii - repouso durante 10 minutos (Figura 3.21).
Análise das características mecânicas de amostras de argamassas pré-doseadas
43
Figura 3.17 - Colocação do produto no recipiente
Figura 3.18 - Junção da água ao produto
Figura 3.19 - Mistura mecânica
Figura 3.20 - Mistura manual
Figura 3.21 - Repouso durante 10 minutos
3.6 - Preparação dos provetes normalizados
Na execução dos provetes normalizados, foram utilizados moldes prismáticos de aço, com as
dimensões 4 x 4 x 16 (cm3) e ilustrados na Figura 3.22, mediante os procedimentos indicados pela norma EN
1015-11 (CEN, 1999).
Numa primeira fase, no que concerne à moldagem dos provetes, o primeiro passo foi a aplicação de
óleo descofrante nas superfícies internas do molde (Figura 3.23), para garantir uma melhor desmoldagem.
Após posicionamento e fixação do molde à mesa de compactação, procedeu-se ao preenchimento de
cada compartimento com o auxílio de uma colher de pedreiro (Figura 3.24). Esta distribuição foi realizada
em duas camadas muito semelhantes. Na primeira, a argamassa foi colocada até, sensivelmente, metade da
altura e distribuída uniformemente com o auxílio de uma espátula metálica (Figura 3.25).
Campanha experimental
44
Figura 3.22 - Molde para provetes normalizados
Figura 3.23 - Aplicação de óleo descofrante no molde
De seguida, aplicaram-se 60 pancadas para compactação (Figura 3.26). O processo continuou com a
distribuição da segunda camada e nova aplicação de 60 pancadas, com a diferença de se ter controlado a
quantidade de argamassa com uma espátula menor.
Figura 3.24 - Preenchimento do compartimento
Figura 3.25 - Uniformização com auxílio de uma
espátula
Figura 3.26 - Aplicação de 60 pancadas para compactação
Por fim, com o desprendimento do molde, remoção do excesso de argamassa e alisamento das
superfícies, os provetes foram armazenados na câmara de condicionamento em ambiente de temperatura e
humidade controlado, os quais foram de 20 ± 2 ºC e 65 ± 5 %, respectivamente.
3.7 - Preparação das amostras
A realização dos ensaios de arrancamento pull-off foi efectuada em superfícies resultantes da aplicação
das argamassas como camadas de revestimento de tijolos. A preparação destes modelos e a produção de
amostras similares às carotes do ensaio de tracção são abordadas de seguida.
Análise das características mecânicas de amostras de argamassas pré-doseadas
45
3.7.1 - Modelos reduzidos tijolo+argamassa (carotes)
O tijolo cerâmico (Figura 3.27) surge como um dos elementos de alvenaria mais usados na construção
e é um produto técnico com normas específicas.
Figura 3.27 - Tijolo cerâmico
Inicialmente, teve-se o cuidado de escolher o lado do tijolo menos fissurado e em melhor estado de
conservação. Para todos os rebocos, a moldagem dos tijolos foi executada com tábuas de madeira e grampos
metálicos (Figura 3.28). Neste sentido, segundo as duas direcções dos tijolos, foram colocadas as tábuas, as
quais foram fixas com o aperto dos grampos. Para a definição e ajuste das diferentes espessuras a testar,
foram marcadas, em cada tábua, linhas de referência de cada espessura, apoiadas pela utilização da craveira
digital.
Figura 3.28 – Moldagem de um tijolo
A preparação do suporte é uma operação que se reveste de grande importância, de forma a não
prejudicar a aderência. As diversas normas exigem a limpeza cuidada, a realização de operações que
garantam boa aderência e o humedecimento do suporte antes da aplicação do revestimento (APFAC, 2008).
Além de plano, resistente e limpo, o suporte foi humedecido previamente, uma vez que o tijolo é um
elemento poroso e facilmente absorve a água de amassadura. Desta forma, o tijolo foi limpo com ar
comprimido para eliminação das impurezas e, no que se refere ao humedecimento do suporte, questão esta
abordada no presente capítulo, foram executados dois humedecimentos durante o tempo de repouso de cada
amassadura (Figura 3.29).
Todos os rebocos foram aplicados manualmente com uma colher de pedreiro. Na sua aplicação,
pressionou-se a argamassa contra o suporte e dispuseram-se sucessivas camadas até preenchimento total do
molde (Figura 3.30). Como acabamento final, nivelou-se o reboco pelas tábuas do molde e conferiu-se um
aspecto liso com o auxílio de uma régua metálica (Figura 3.31).
Campanha experimental
46
Figura 3.29 – Humedecimento do tijolo
Figura 3.30 - Execução do revestimento
Figura 3.31 - Aspecto final do revestimento
Os tijolos foram desmoldados aos 2 dias e armazenados em ambiente controlado de 20 ± 2º C de
temperatura e 65 ± 5% de humidade relativa.
3.7.2 - Provetes de comparação
No sentido de efectuar um estudo mais detalhado de resistência à compressão de pequenas carotes,
produziram-se amostras sem qualquer tipo de suporte. Estas amostras, de espessura e secção idênticas às
amostras (carotes) resultantes do ensaio pull-off, foram moldadas em pequenas peças de metal e aplicadas
numa base em madeira revestida com plástico, impedindo-se assim a absorção de água (Figuras 3.32 e 3.33).
Figura 3.32 - Peças para moldagem das amostras de
comparação
Figura 3.33 - Suporte das amostras de comparação
Em termos de tratamento da superfície e dos moldes, apenas houve o cuidado de usar moldes limpos,
aos quais se aplicou uma camada de óleo descofrante. Usando pequenos elásticos para fecho correcto dos
moldes, procedeu-se à aplicação da argamassa com uma colher de pedreiro. Todas as amostras foram
compactadas com a mesma colher e com o auxílio de um varão de compactação, imprimindo-se movimentos
verticais que permitissem a distribuição uniforme das argamassas pelo molde (Figura 3.34). Como
acabamento, conferiu-se um aspecto liso, idêntico ao ilustrado na Figura 3.35.
Análise das características mecânicas de amostras de argamassas pré-doseadas
47
Figura 3.34 - Compactação da amostra
Figura 3.35 - Aspecto final da amostra
As amostras foram desmoldadas aos 2 dias, retirando-se os elásticos que suportavam o formato do
molde e introduzindo uma espátula na ranhura de ligação entre as duas “metades” do molde metálico (Figura
3.36). Em termos das condições de armazenamento e cura, estas foram em tudo idênticas às adoptadas para
as amostras reduzidas e provetes prismáticos, as quais são especificadas de seguida.
Figura 3.36 - Desmoldagem das amostras de comparação
3.8 - Armazenamento e cura
A norma EN 1015-11 (CEN, 1999), para ensaios de provetes aos 28 dias, prevê que o processo de cura
e armazenamento decorra 2 dias dentro do molde, 5 dias após desmoldagem em ambiente com teor de
humidade de 95 ± 5% (cura húmida) e os restantes 21 dias em condições de cura seca, com teor de humidade
de 65 ± 5%.
No entanto, as condições de cura adoptadas em todos os provetes diferem ligeiramente das referidas,
como forma de obter uma comparação com as várias referências bibliográficas. Desta forma, todos os
provetes passaram a estar sujeitos às condições de cura unicamente seca nos dias seguintes à desmoldagem
(Figura 3.37), com temperatura de 20 ± 2 ºC e humidade relativa de 65 ± 5%, até à realização do ensaio à
compressão, sem influência do factor cura.
Figura 3.37 - Armazenamento dos tijolos na câmara de temperatura e humidade controladas
Campanha experimental
48
3.9 - Caracterização das argamassas no estado fresco
A caracterização das argamassas no estado fresco foi realizada após a conclusão das respectivas
amassaduras, destacando-se a massa volúmica aparente e a consistência por espalhamento.
3.9.1 - Massa volúmica aparente
Este ensaio permite avaliar de forma eficiente a massa volúmica aparente de uma argamassa no seu
estado fresco. Os procedimentos a adoptar nesta análise são os descritos na norma EN 1015-6 (CEN, 1998).
Os equipamentos necessários à realização do ensaio foram um recipiente metálico, de massa e capacidade
conhecidas, uma régua metálica, uma colher de pedreiro e a balança, os quais estão ilustrados nas Figura
3.38 e 3.42.
Figura 3.38 - Equipamento para realização do ensaio
O ensaio foi iniciado com a pesagem do recipiente metálico vazio, o qual fora utilizado na
determinação da baridade. De seguida, com recurso a uma colher de pedreiro, encheu-se o recipiente até
cerca de metade da sua capacidade (Figura 3.39) e procedeu-se à sua compactação. Esta consistiu na
aplicação de 10 pancadas, deixando cair o recipiente sobre um suporte de apoio, o que provoca oscilações da
argamassa no interior do mesmo (Figura 3.40). O ensaio prosseguiu com o enchimento da restante
capacidade do recipiente e compactação idêntica à descrita. Por fim, retirou-se o excesso de argamassa e
nivelou-se a superfície pelo bordo superior do recipiente (Figura 3.41). O processo foi finalizado com a
pesagem do conjunto e cálculo da massa volúmica aparente (Figura 3.42).
Figura 3.39 - Enchimento do recipiente
Figura 3.40 - Oscilação lateral
Análise das características mecânicas de amostras de argamassas pré-doseadas
49
Figura 3.41 - Nivelamento da superfície
Figura 3.42 - Pesagem do conjunto
O valor da massa volúmica aparente é calculado através da equação 3.3
Eq. 3.3
Onde
M2 – massa do recipiente cheio de argamassa no estado fresco (kg);
M1 – massa do recipiente vazio (kg);
V – volume do recipiente (m3).
3.9.2 - Consistência por espalhamento
A consistência das argamassas no estado fresco foi avaliada recorrendo ao ensaio do espalhamento. Os
procedimentos inerentes a este ensaio foram semelhantes aos descritos na norma EN 1015-3 (Ed.1) (CEN,
1999). O ensaio consiste na medição do diâmetro médio de espalhamento da argamassa e permite tirar
conclusões acerca da trabalhabilidade da mesma. Para a realização deste ensaio, foram necessários diversos
equipamentos, entre os quais se destacam a mesa de compactação, o molde cónico, o varão de compactação,
a craveira e a colher de pedreiro (Figura 3.43).
Inicialmente, procedeu-se à limpeza e humedecimento da superfície da mesa de espalhamento e do
molde cónico. Após este primeiro tratamento, colocou-se o molde centrado na mesa de espalhamento e
introduziu-se uma primeira camada de argamassa até cerca de metade da capacidade (Figura 3.44). A
compactação foi realizada com recurso a um varão metálico, com o qual se aplicou 25 pancadas
uniformemente distribuídas pela superfície (Figura 3.45).
Figura 3.43 - Equipamento necessário à realização do ensaio
De seguida, completou-se a restante capacidade do molde com argamassa e compactou-se de modo
igual ao descrito, tendo o cuidado de não atingir a primeira camada. Por fim, retirou-se o excesso de
argamassa e a superfície foi nivelada. Após remoção e limpeza de todos os detritos, retirou-se o molde,
Campanha experimental
50
aplicou-se 25 pancadas, durante cerca de 15 segundos e com frequência constante (Figura 3.46), e mediram-
se os diâmetros nas três direcções diferentes (Figura 3.47).
Figura 3.44 - Introdução da argamassa no molde
Figura 3.45 - Compactação com recurso a varão
metálico
Figura 3.46 - Aplicação de 25 pancadas
Figura 3.47 - Medição dos vários diâmetros
De referir que houve apenas uma alteração do equipamento, tendo sido utilizado o prato mais antigo
que, apesar de seguir outra especificação, permitiu a avaliação rigorosa da consistência de todas as
argamassas com recorrência a aplicação dos procedimentos descritos.
O espalhamento é expresso em percentagem e é calculado através das equações 3.4 e 3.5.
Eq 3.4
Eq. 3.5
Onde
Dméd – diâmetro médio de espalhamento (mm);
D1, D2 e D3 – diâmetros de espalhamento medidos segundo as várias direcções (mm).
3.10 - Caracterização das argamassas no estado endurecido
A realização dos ensaios de arrancamento pull-off em argamassas aplicadas em tijolo e dos vários
ensaios mecânicos de resistência à compressão está no âmbito principal da presente dissertação. A partir
destes ensaios no estado endurecido, foi efectuada a caracterização de todas as argamassas aos 7, 28 e 91
dias de idade.
Análise das características mecânicas de amostras de argamassas pré-doseadas
51
3.10.1 - Aderência através do ensaio pull-off
O ensaio de aderência pull-off é uma técnica de ensaio destrutiva que tem por objectivo avaliar, por
meio de uma força de tracção, a capacidade de aderência de um revestimento a um suporte.
De acordo com a EN 998-1 (CEN, 2010), os procedimentos são diferentes caso se trate de argamassas
de revestimento de uso geral ou monocamada, às quais estão associadas, respectivamente, as normas EN
1015-12 (CEN, 2000) e EN 1015-21 (CEN, 2002). Para a monocamada (OC), a norma referida prevê a
execução de ciclos de cura, avaliação mais exigente. No entanto, apesar das diferenças de cada uma delas,
aplicou-se unicamente a norma EN 1015-12 (CEN, 2000) como critério uniformizador a todas as
argamassas, uma vez que se recorreu a este ensaio devido, principalmente, à recolha de amostras para
ensaios de compressão e não apenas à avaliação das tensões de aderência.
De um modo geral, o ensaio consiste na extracção de uma pastilha metálica, com a máquina de
arrancamento pull-off, previamente colada ao revestimento com uma resina epóxida. Para se garantir
arrancamentos apenas na área da pastilha e no sentido de se “isolar” a carote do restante revestimento,
efectuaram-se cortes com profundidades ligeiramente superiores à espessura do reboco, um pouco abaixo da
superfície do tijolo.
Os equipamentos necessários à execução do ensaio foram uma escova de aço, cola epóxida, pastilhas
circulares e quadradas, berbequim com respectivos acessórios e rebarbadora de coroa diamantada (Figura
3.48).
Figura 3.48 - Equipamentos para corte de carotes e colagem de pastilhas
Começou-se por marcar as zonas sobre as quais se efectuaram as furações. Naturalmente, para cada
secção em estudo, os equipamentos de corte foram distintos.
Figura 3.49 - Realização de carotes circulares
Figura 3.50 - Rasgos com rebarbadora para carotes
quadradas
Campanha experimental
52
No caso de carotes circulares, recorreu-se a um berbequim (Figura 3.49) e, para as carotes quadradas,
os rasgos foram efectuados com recurso a uma rebarbadora de disco diamantado (Figura 3.50). De realçar as
diferenças referentes aos procedimentos na argamassa D, devido à disponibilidade de equipamento. Este
reboco é um produto que apresenta excelentes prestações mecânicas, adquirindo elevada resistência logo
após os primeiros dias de aplicação. Esta situação revelou-se um obstáculo para os equipamentos de corte,
uma vez que, apesar de os rasgos quadrados terem sido possíveis com a rebarbadora, o berbequim e broca
circular disponíveis foram insuficientes para perfurar a camada de reboco. Desta forma, a solução passou por
moldar directamente as amostras circulares nos tijolos, usando os moldes metálicos.
A fase seguinte passou pela colagem das pastilhas às carotes efectuadas. Para uma aplicação adequada
da cola, foram seguidas as recomendações do seu fabricante, o qual refere que a mistura das duas
componentes deve estar homogénea, o espalhamento da cola na superfície deve ser uniforme e a colagem é
considerada de máxima resistência após 24 horas (Figura 3.51). Findo o tempo de secagem, procedeu-se ao
arrancamento por intermédio de uma carga axial (100 N/s) aplicada à pastilha metálica, registando-se a força
e a tensão de ligação entre as diferentes camadas (Figura 3.52).
Figura 3.51 - Colagem das pastilhas metálicas
Figura 3.52 - Ensaio de aderência pull-off
A rotura pode ocorrer de várias formas que são facilmente distinguidas pela zona onde ocorrem. Se
ocorrer na interface entre revestimento e suporte, a rotura é adesiva e, no caso de ocorrer no suporte ou no
revestimento, a rotura é coesiva no suporte ou no reboco, respectivamente. Os três tipos de rotura estão
ilustrados nas Figuras 3.53, 3.54 e 3.55.
Figura 3.53 - Rotura coesiva no
reboco
Figura 3.54 - Rotura coesiva no
suporte
Figura 3.55 - Rotura adesiva na
interface reboco / suporte (carote
da esquerda)
O valor de tensão de aderência é dado através da equação 3.6.
Eq. 3.6
Análise das características mecânicas de amostras de argamassas pré-doseadas
53
Onde
σced – tensão de aderência (N/mm2);
Fced – força de arrancamento (N);
A – área da carote (mm2).
3.10.2 - Resistência mecânica à tracção em provetes normalizados
O ensaio da resistência à flexão em provetes normalizados foi realizado com base nos procedimentos
indicados na norma EN 1015-11 (CEN, 1999). Para a avaliação desta característica, recorreu-se ao
equipamento ilustrado na Figura 3.56, o qual apresenta uma célula de carga de 10 kN para ensaios de tracção
por flexão.
Figura 3.56 - Máquina para ensaios de flexão e compressão
O ensaio iniciou-se com o posicionamento dos provetes sobre os apoios da máquina e de forma
centrada relativamente ao ponto de aplicação da força (Figura 3.57). Após a correcta colocação dos provetes,
accionou-se a máquina de ensaio, com a aplicação de uma carga gradualmente crescente até à rotura e
registou-se o correspondente valor máximo da força aplicada (Figuras 3.58 e 3.59).
Figura 3.57 - Posicionamento de um provete de dimensões normalizadas sobre os apoios da máquina
A tensão de rotura à flexão é dada pela equação 3.7.
Eq. 3.7
Campanha experimental
54
Onde
Fmáx – carga máxima aplicada (N);
l – distância entre apoios (mm);
b – largura do prisma (mm);
d – espessura do prisma (mm).
Figura 3.58 - Ensaio à flexão
Figura 3.59 - Registo da força durante um ensaio
Todos os provetes ensaiados têm as mesmas dimensões iguais, pelo que as variáveis l, b e d se mantêm
constantes e a expressão indicada atrás pode ser simplificada da seguinte forma:
Eq. 3.8
3.10.3 - Resistência mecânica à compressão
A avaliação da resistência à compressão para as diferentes amostras foi baseada nos pressupostos
indicados na norma EN 1015-11 (CEN, 1999).
O ensaio consiste em aplicar uma força crescente e contínua sobre o provete, pressionando-o entre as
duas faces da máquina e levando-o até à rotura. O equipamento utilizado na avaliação desta propriedade foi a
máquina de ensaios usada no ensaio de flexão, apresentando, para este caso, uma célula de carga de 200 kN.
A tensão de rotura à compressão é dada pela equação 3.9.
Eq. 3.9
Onde
Fmáx – carga máxima de compressão (N);
A – área de secção comprimida (mm2).
3.10.3.1 - Provetes normalizados
O ensaio de resistência à compressão dos provetes de dimensão normalizada foi realizado após o
ensaio de tracção por flexão. Daqui resultam duas metades por cada provete ensaiado, as quais são
Análise das características mecânicas de amostras de argamassas pré-doseadas
55
submetidas ao ensaio de compressão. A Figura 3.60 ilustra o ensaio à compressão de um provete de
dimensão normalizada.
Figura 3.60 - Ensaio à compressão de um provete de dimensões normalizadas
3.10.3.2 - Carotes resultantes do ensaio de aderência
Antes de solicitar as amostras resultantes do ensaio de aderência à compressão, foi necessário proceder
à remoção das pastilhas metálicas coladas às carotes. Uma vez que a cola epóxida tem excelentes
características, pois resiste a tensões de 3200000 kg/m2 e a temperaturas de 65 ºC, o procedimento adequado
para remover as pastilhas foi o seu aquecimento na estufa a 100º C ou, na impossibilidade deste, num
fogareiro eléctrico. Nas primeiras idades, utilizou-se primeiramente a estufa, mas com o decorrer do trabalho
experimental, o fogareiro eléctrico surgiu como primeira opção, pela grande facilidade com que permitiu
remover a pastilha sem prejuízo de danificar a amostra. Com a aplicação deste método, a elevada
temperatura permitiu derreter a cola e separar facilmente a carote da pastilha, com o auxílio de uma espátula
(Figura 3.61). Foi sempre necessário rectificar a face irregular das amostras com uma lima, para uma
distribuição uniforme da força de compressão pela área solicitada (Figura 3.62).
Figura 3.61 - Descolagem da pastilha
Figura 3.62 - Rectificação da face irregular
As Figuras 3.63 e 3.64 ilustram os ensaios à compressão em amostras geometricamente diferentes. Um
aspecto importante tem a ver com o ensaio das carotes circulares. Dado que a máquina tem faces de
dimensões quadradas 4 x 4 (cm2), foi necessário recorrer a duas pequenas chapas metálicas, de espessuras
próximas de 3 mm e de área superior à das amostras, colocá-las nas duas faces dos provetes e, desta forma,
distribuir a força de compressão por toda a área (Figuras 3.63 e 3.64).
Campanha experimental
56
Figura 3.63 - Ensaio à compressão de uma carote
circular
Figura 3.64 - Ensaio à compressão de uma carote
quadrada
3.10.3.3 - Provetes de comparação
No caso das amostras de comparação, o tratamento a dar foi similar ao aplicado nas amostras
resultantes do ensaio de aderência. Antes de submeter as amostras à compressão, regularizou-se a superfície
para eliminar eventuais defeitos e recorreu-se, novamente, às duas chapas metálicas, devido ao facto de os
pratos da máquina não cobrirem toda a área comprimida. A Figura 3.65 ilustra o ensaio à compressão de uma
amostra circular de comparação.
Figura 3.65 - Ensaio à compressão de uma amostra de comparação
3.11 - Síntese do capítulo
Na produção de argamassa, tentou respeitar-se rigorosamente a relação água / produto. No entanto,
factores como as pequenas variações nas pesagens de água e de produto, as perdas durante a mistura ou a
amassadura mecânica menos rigorosa podem contribuir para desvios nesta relação.
O tijolo cerâmico é um produto técnico com normas específicas que deve cumprir determinados
requisitos. Apesar de os tijolos utilizados terem declaração de conformidade CE, alguns deles apresentavam
pequenas fissuras, quebras ou defeitos geométricos, que são consequência da deficiente produção dos
mesmos. A presença destas imperfeições não permitiu, por um lado, a perfeita moldagem dos tijolos e, por
outro, pode ter ocasionado maiores absorções de água por parte do tijolo. Foram utilizadas tábuas de madeira
na moldagem e as suas alturas foram controladas com a marcação a lápis e com uma craveira metálica,
método que se revelou uma boa solução pois permitiu espessuras sem desvios significativos.
A produção de amostras sem suporte teve algumas diferenças relativamente aos tijolos, principalmente
nas questões de aplicação e compactação. Neste sentido, envolveu-se o suporte em madeira com plástico
para impedir qualquer absorção de água e a compactação foi realizada com recurso a um varão de
compactação, diferindo consideravelmente da argamassa aplicada em tijolos.
O ensaio de aderência pull-off é um método muito utilizado na avaliação da aderência de
revestimentos e continua a ser o recomendado pelas normas. Além desta vertente, um dos propósitos de se
Análise das características mecânicas de amostras de argamassas pré-doseadas
57
ter recorrido a este ensaio prendeu-se com a necessidade de recolher amostras e submetê-las ao ensaio de
compressão. Para as obter, houve necessidade de recorrer a equipamentos de corte. No caso das amostras
quadradas, a solução passou por efectuar rasgos com uma rebarbadora, método que, apesar de ser o mais
prático, permitindo facilmente cortes ao longo da camada de revestimento, se revelou algo complicado
devido à dificuldade em efectuar esses mesmos cortes perfeitamente direitos e até a uma profundidade o
mais ideal possível, um pouco além da superfície do suporte. Naturalmente, esta última situação também foi
verificada no caso das amostras circulares, em que a broca circular surgiu como a opção mais óbvia de corte.
Além disso, outra das dificuldades encontradas prendeu-se com a forte vibração da broca, dada a própria
instabilidade do berbequim de corte, a qual tornou impossível a realização de carotes com 5 cm exactos de
diâmetro. Com o equipamento disponível, todas as carotes de secção circular apresentaram 4,7 cm de
diâmetro.
As pastilhas metálicas foram coladas com uma resina bicomponente, cujo elemento principal é um
epóxido, que permitiu excelentes desempenhos de aderência e resistência. Não houve necessidade de repetir
ensaios de aderência, quer por insuficiência de cola, quer por fraqueza da mesma, de modo que todos os
arrancamentos pull-off foram considerados válidos. Há a registar muitas roturas coesivas pelo reboco, o que
reduziu o número de amostras esperadas, e também muitas coesivas pelo tijolo, concluindo-se que, em todos
os casos, se obteve sempre um limite mínimo de tensão de aderência.
Antes de submeter as amostras ao ensaio de compressão, todas as superfícies irregulares foram
rectificadas. Para pequenas imperfeições ou no caso de roturas coesivas pelo reboco, a lima mostrou ter
grande utilidade, uma vez que permitiu obter resultados bastante satisfatórios. No caso de roturas coesivas
pelo tijolo mais irregulares, inicialmente idealizou-se desgastar a superfície com a serra ou a rebarbadora
mas, dada a pouca espessura das amostras e a possibilidade das mesmas ficarem danificadas, utilizou-se
também uma lima.
Na campanha experimental desenvolvida em laboratório, foram analisadas quatro argamassas
industriais com prestações e utilizações distintos. Com a produção de provetes e amostras, avaliou-se a
resistência à compressão em todas elas. Os respectivos resultados foram registados, permitindo a análise
detalhada dos dados no capítulo 4, os quais são essenciais para estudar os principais factores que influenciam
a resistência à compressão.
Análise das características mecânicas de amostras de argamassas pré-doseadas
59
4 – Análise e discussão dos resultados
4.1 – Introdução
O presente capítulo destina-se a expor e a analisar os resultados obtidos na campanha experimental,
que tem como principal finalidade o estudo da resistência à compressão de quatro argamassas pré-doseadas
com desempenhos mecânicos distintos. Sabendo que esta análise é focada nos resultados à compressão de
carotes resultantes do ensaio de aderência pull-off, são definidos os seguintes objectivos:
estudar a resistência de aderência de argamassas pré-doseadas, de finalidades e prestações
mecânicas muito distintas;
perceber de que forma a secção e a forma das carotes podem influenciar a resistência de
aderência;
estudar a hipótese de obter a resistência à compressão a partir dos valores obtidos no ensaio de
aderência pull-off, aplicada somente no caso da ocorrência de roturas coesivas na argamassa;
avaliar a resistência à compressão das quatro argamassas, tendo em conta a influência de
factores como a espessura ou o tipo de secção das amostras;
analisar a hipótese de relacionar a resistência à compressão de carotes extraídas de tijolos com
a obtida através de amostras de comparação de geometria semelhantes, mas sem a influência
do suporte;
estudar a evolução da resistência à compressão ao longo do tempo;
compreender de que forma a relação h/d das amostras influencia os resultados da resistência à
compressão.
Outros objectivos, como o conhecimento um pouco mais aprofundado acerca das argamassas em
termos das suas características físicas, a análise das potencialidades da técnica de ensaio de aderência pull-off
e possíveis influências dos factores associados, bem como a compreensão da influência de outros factores
como o tipo de equipamento ou o procedimento adoptado nos resultados, também devem ser tidos em conta.
Inicialmente, são abordados os resultados obtidos nas várias análises das argamassas no que se refere
às suas características físicas. Posteriormente, são apresentados os resultados referentes ao ensaio de
aderência pull-off e ao ensaio de resistência à compressão, procedendo-se à discussão dos mesmos.
Os Quadros 4.1 e 4.2 mostram a distribuição detalhada sobre os ensaios de aderência e de resistência à
compressão, os quais indicam a quantidade de ensaios de acordo com a secção do provete e com as
diferentes argamassas.
No total, foram realizadas 96 carotagens, as quais levaram a mais de metade de ocorrência de roturas
coesivas na argamassa. Nos ensaios de resistência à compressão, realizaram-se 202 válidos, entre carotes,
amostras de comparação e provetes normalizados, de um total de 264.
Dos 48 ensaios à compressão realizados nas carotes recolhidas dos tijolos, a maior parte diz respeito às
que apresentaram rotura coesiva no suporte ou rotura coesiva na argamassa. Como foi possível verificar
durante a campanha experimental, grande parte das carotes resultantes de roturas coesivas na argamassa
apresentou pouca ou nenhuma espessura que permitisse o ensaio à compressão, além de que algumas carotes
ficaram danificadas ao ser removida a pastilha metálica.
Análise e discussão dos resultados
60
Quadro 4.1 - Número total de ensaios de aderência pull-off
Secção Argamassa
Ensaio de aderência pull-off
Rotura coesiva no reboco
Rotura coesiva no suporte
Rotura adesiva
Total Por
argamassa Total
Por
argamassa Total
Por
argamassa Total
Circular D = 50
mm
RC 10
23
1
23
1
2 48 M 8 3 1
RD 5 7 0
D 0 12 0
Quadrada L = 40
mm
RC 12
33
0
13
0
2 48 M 6 4 2
RD 10 2 0
D 5 7 0
Total 56 36 4 96
Legenda: D - diâmetro da carote circular; L - largura da carote quadrada; RC - argamassa RC; M - argamassa M; RD - argamassa RC; D - argamassa D
Das roturas coesivas no reboco, resultaram carotes com espessura muito pequena, na ordem dos mm,
principalmente nas argamassas mais resistentes, uma vez que, nestes casos, a rotura deu-se muito próxima da
interface cola/reboco. Os ensaios nulos na compressão dizem respeito carotes que se danificaram na remoção
da pastilha ou às que esmagaram sem que a força de aplicação da carga de compressão cessasse. No Anexo
B, são apresentados os resultados individuais de aderência em todas as argamassas. As resistências à
compressão obtidas nas carotes, amostras de comparação e provetes normalizados estão expostas,
respectivamente, nos Anexos C, D e F.
Quadro 4.2 - Número de ensaios de compressão
Secção Argamassa
Ensaio de compressão
Ensaio nulo Ensaio válido
total Por argamassa
total Por
argamassa total
Circular D = 50 mm
RC 0
4
7
24 28 M 0 3
RD 0 7
D 4 7
Quadrada
L = 40 mm
RC 0
0
5
20 20 M 0 5
RD 0 3
D 0 7
L = 45 mm
RC 3
10
21
86 96 M 5 19
RD 0 24
D 2 22
PN Todas 0 72 72
Total 14 202 216
Legenda: D - diâmetro da carote circular; L - largura da carote quadrada; PN - provetes normalizados; RC - argamassa RC;
M - argamassa M; RD - argamassa RC; D - argamassa D
4.2 - Caracterização das argamassas nos estados seco e fresco
No capítulo anterior foram descritos os procedimentos e ensaios necessários à caracterização das
várias argamassas, sendo, de seguida, apresentados e analisados os resultados experimentais obtidos.Esta
fase do trabalho experimental consistiu na realização de ensaios normalizados e análise dos possíveis
factores que têm influência em características relevantes para o comportamento das argamassas em estudo.
Análise das características mecânicas de amostras de argamassas pré-doseadas
61
4.2.1 - Estado seco
A composição de uma argamassa pré-doseada é um factor decisivo no seu rendimento. Com os ensaios
da análise granulométrica realizada na campanha experimental, obteve-se o Quadro 4.3, que apresenta os
resultados recolhidos em todas as argamassas, representando-se as respectivas curvas na Figura 4.1.
Quadro 4.3 - Resultados da análise granulométrica
Malha (mm)
RC M RD D
Resíduo (g)
Resíduo acumulado
passado (%)
Resíduo (g)
Resíduo acumulado
passado (%)
Resíduo (g)
Resíduo acumulado
passado (%)
Resíduo (g)
Resíduo acumulado
passado (%)
8,00 0 100 0 100 0 100 0 100
4,00 0 100 0 100 0 100 0 100
2,00 0,1 99,99 2,1 99,78 0 100 0 100
1,00 6,1 99,35 138,6 85,16 6,7 99,29 26,6 97,31
0,5 75,9 91,38 140,2 70,36 395,4 57,21 87 88,51
0,25 683,5 19,58 531,7 14,26 440,9 10,30 666,5 21,09
0,125 122,9 6,67 74,6 6,39 77,4 2,06 108,1 10,16
0,063 51,6 1,25 39,5 2,23 16,6 0,30 77,4 2,33
Refugo 11,9 0 21,1 0 2,8 0 23 0
Legenda: RC - argamassa RC; M - argamassa M; RD - argamassa RD; D - argamassa D
A análise do Quadro 4.3 permite verificar uma percentagem quase idêntica de finos (< 0,063 mm) nas
argamassas M e D, sendo estas também a apresentar a maior percentagem desses constituintes. Pelo
contrário, a análise das curvas granulométricas da Figura 4.1 é bem elucidativa da granulometria mais grossa
por parte da argamassa RD. A mesma Figura 4.1 mostra que as argamassas RC e D apresentam curvas quase
coincidentes, distinguindo-se essencialmente, pela maior percentagem de elementos finos da argamassa D.
As argamassas M e RD apresentam uma tendência semelhante para uma maior percentagem de elementos
grossos, destacando-se a argamassa M, que mostra uma quantidade considerável de elementos com dimensão
superior a 1 mm. No Anexo A, mostra-se em maior detalhe a análise granulométrica realizada em todas as
argamassas.
A composição de uma argamassa influencia directamente o seu desempenho, nomeadamente em
características como a compacidade, a quantidade de água ou a trabalhabilidade.
Os resultados obtidos no ensaio da baridade encontram-se no Quadro 4.4. Para cada uma das
argamassas, o ensaio foi realizado três vezes, sendo o valor final dado pela média dos três valores
individuais.
O maior valor de baridade foi registado na argamassa D, seguida da argamassa RD. As argamassas RC
e M apresentam os valores mais reduzidos, tendo a RC a baridade mais baixa e igual a 1460 kg/m3. As
argamassas RD e D apresentam resultados superiores, provavelmente devido à maior percentagem de
cimento relativamente às restantes. Os menores valores registados na argamassa RC e M apontam para a
possibilidade de inclusão de agregados ou outros elementos de menor massa volúmica. Constata-se que o
resultado de 1514 kg/m3 verificados na argamassa M é largamente superior aos 1334 kg/m
3 registados no
produto pré-doseado de Gonçalves (2010), mas encontra-se enquadrado na gama de baridades medidas nas
duas monocamadas em Santos (2009
Análise e discussão dos resultados
62
Legenda: RC - argamassa RC; M - argamassa M; RD - argamassa RD; D - argamassa D
Figura 4.1 - Curvas granulométricas das argamassas estudadas
No cálculo das baridades, utilizou-se a expressão 3.2 referida no capítulo 3, sendo o volume do molde
igual a 1 dm3 e a sua massa igual a 1,179 kg.
Quadro 4.4 - Valores de baridade para cada uma das argamassas
Argamassas
Baridade (kg/m3) RC M RD D
Sem compactação 1460 1514 1664 1779
Com compactação 1616 1696 1872 1914
Figura 4.2 - Relação entre as baridades com compactação e sem compactação
A baridade depende da curva granulométrica e do tipo de compactação, representando a massa de
agregado seco que preenche um recipiente de capacidade conhecida, consoante determinadas condições de
compactação. A Figura 4.2 pretende dar mais alguma informação sobre a caracterização física das
argamassas, a qual mostra a diferença entre utilizar ou não compactação no cálculo da baridade. Os
resultados mostram um R2 de 0,95, o que indica que a aplicação de compactação tem um impacte idêntico
em todas as argamassas. Deste estudo, convém realçar a maior proximidade dos dados com os resultados de
Santos (2009), entre 1410 e 1620 kg/m3, o que está relacionado com o tipo de compactação realizada no
estudo, tendo sido usado o mesmo equipamento.
0,00
20,00
40,00
60,00
80,00
100,00
0,0625 0,125 0,25 0,5 1 2 4 8
Mate
ria
l acu
mu
lad
o p
ass
ad
o [
%]
Abertura do peneiro [mm]
RC
M
RD
D
1500
1600
1700
1800
1900
2000
1400 1900
co
m c
om
pacta
ção
sem compactação
Baridade
Linear
(Baridade)
Linear
(y=x)
Análise das características mecânicas de amostras de argamassas pré-doseadas
63
4.2.2 - Estado fresco
A caracterização das argamassas no estado fresco consistiu na determinação da massa volúmica
aparente e na consistência por espalhamento. A quantidade de água a introduzir na produção de argamassas
pré-doseadas é determinada experimentalmente pelo fabricante com vista a atingir determinadas
características harmonizadas da EN 998-1 (CEN, 2010). As fichas técnicas referem um intervalo de valores
que podem ser utilizados para efectuar a amassadura de cada saco de argamassa. A escolha recaiu sobre o
valor médio desse intervalo, de modo que, caso fossem realizados ensaios com outras quantidades de água,
seria expectável alguma variabilidade nos valores.
Os resultados relativos à massa volúmica aparente encontram-se no Quadro 4.5.
Quadro 4.5 - Massa volúmica aparente das argamassas
Argamassa Massa volúmica aparente (kg/m3) Massa volúmica aparente (kg/m3)
(fichas técnicas)
RC 1743 1650
M 1498 1500
RD 1770 1800
D 1983 1900
Analisando os resultados, todas as argamassas em estudo apresentaram valores de massa volúmica
perto do esperado. Constata-se que a argamassa M apresenta o valor mais baixo de massa volúmica e as
argamassas RC e RD valores na ordem dos 1770 kg/m3.
Segundo o estudo de Veiga (1997), as argamassas pré-doseadas são, por norma, menos compactas do
que as argamassas tradicionais, o que, por vezes, pode ser justificado pela presença de introdutores de ar. No
estudo de Gonçalves (2010), foram determinados valores de argamassa tradicional e de pré-doseada na
ordem de 2000 kg/m3 e 1660 kg/m
3, respectivamente. Em Santos (2009), foram obtidos resultados
condizentes, uma vez que as mesmas apresentaram massas volúmicas de 1640 kg/m3. No mesmo estudo,
analisaram-se duas argamassas, as quais apresentaram valores próximos de 1850 kg/m3, resultados que
tendem para os da argamassa RD.
A argamassa D apresenta massa volúmica próxima de 2000 kg/m3, em consequência, provavelmente,
da maior quantidade e constituição de cimento, o que explica as suas maiores prestações mecânicas.
Quadro 4.6 - Resultados do ensaio da consistência por espalhamento
Argamassa Relação água/produto
Consistência por espalhamento (%)
Valores Valor médio
RC 0,183
58,43
59,03 59,23
59,43
M 0,217
108,17
104,28 101,23
103,43
RD 0,183
86,33
85,76 88,73
82,20
D 0,150
49,03
51,40 50,63
54,53
Os resultados do ensaio de consistência por espalhamento encontram-se no Quadro 4.6. Segundo os
valores obtidos, apenas as argamassas RD e M, mas sobretudo esta última, apresentaram uma maior
homogeneidade e trabalhabilidade, permitindo manuseamento e aplicação mais fáceis. No caso das
argamassas RC e D, a menor trabalhabilidade das mesmas requereu uma aplicação mais cuidada e com maior
Análise e discussão dos resultados
64
compactação. Ainda assim, a análise desta propriedade parece indiciar boa aptidão para o uso e aplicação de
todas as soluções para reboco. O espalhamento surge apresentado em percentagem para uma melhor
comparação com os valores apresentados pelas várias referências.
Nas características de aplicação de todos os produtos, o fabricante recomenda a utilização de um
intervalo possível de dosagens de água. Como mostra o Quadro 4.6, são originadas argamassas com
consistências bastante diferentes, oscilando os valores entre 51 e 105%. Constata-se que os valores de
espalhamento obtidos para M e RD se encontram condizentes com os resultados verificados em Santos
(2009), que verificou consistências a oscilar entre 80 e 104%.
Figura 4.3 - Relação entre o espalhamento e a relação água / produto
As argamassas produzidas com dosagens de água semelhantes obtiveram valores de espalhamento
algo distintos. Tendo em conta que as argamassas têm finalidades diferentes e a recomendação de cada
relação água / produto é adequada a cada função, observa-se, através da Figura 4.3, que a fluidez aumenta
com a dosagem de água.
De salientar que é aconselhada a aplicação com projecção mecânica da argamassa RC e que todas as
recomendações de aplicação dos produtos, sobre quantidade de água e número ou espessuras das camadas,
presentes nas fichas técnicas, devem ser respeitadas, no sentido de obter revestimentos adequados à sua
função.
4.3 - Resistência de aderência
A partir do ensaio de aderência, foram recolhidas carotes em três idades diferentes, utilizando várias
secções e espessuras como factores a ter em conta. Com os resultados provenientes do ensaio, tentou-se
estabelecer relações entre as várias tensões de aderência e verificar a relação entre estes valores e a
resistência à compressão. De referir que, nos próximos sub-capítulos, são referenciadas as idades de 6, 27 e
90 dias como as datas de ensaio, quando o normal seria 7, 28 e 91 dias (precisamente os dias de ensaio à
compressão), uma vez que, na maioria das situações, foi necessário um dia de permanência das carotes na
estufa a 100 ºC para remoção das pastilhas metálicas.
4.3.1 - Evolução do tipo de rotura até aos 91 dias
Através da análise da Figura 4.4, é possível destacar, já nos primeiros dias, as argamassas a nível do
seu comportamento mecânico. Do grupo de argamassas em estudo, a RC é a mais fraca, tal como sugere a
quantidade de roturas coesivas na argamassa, e a D apresenta-se como a mais forte, pois observa-se a quase
0
20
40
60
80
100
120
0 0,1 0,2 0,3
co
nsi
stên
cia
po
r e
spalh
am
en
to (
%)
relação água / ligante
consistência por
espalhamento
Linear (consistência por
espalhamento)
Análise das características mecânicas de amostras de argamassas pré-doseadas
65
totalidade de roturas no suporte de tijolo e acrescenta-se o facto de as roturas na argamassa terem ocorrido
muito próximo da interface revestimento / cola, não existindo qualquer rotura pela própria carote.
Num nível intermédio, surgem as argamassas M e RD. Nestes primeiros dias, metade das carotes da
argamassa RD apresentou roturas coesivas no reboco, o que justifica a capacidade de a mesma adquirir
resistência cedo. A argamassa M não apresentou qualquer rotura coesiva no suporte, mas todas as roturas
coesivas na argamassa ocorreram na proximidade da interface revestimento / cola e ainda ocorreram duas
roturas adesivas, facto que sugere, também, resistência logo nas primeiras idades.
Figura 4.4 - Tipo de rotura aos 6
dias em todas as argamassas
Figura 4.5 - Tipo de rotura aos 27
dias em todas as argamassas
Figura 4.6 - Tipo de rotura aos 90
dias em todas as argamassas
Legenda: RC - argamassa RC; M - argamassa M; RD - argamassa RD; D - argamassa D; CS - rotura coesiva no suporte; CA - rotura coesiva na argamassa; AD - rotura adesiva
As Figuras 4.5 e 4.6 procuram mostrar a evolução do tipo de rotura com a idade. Verifica-se que a
idade parece não influenciar a argamassa RC, embora se registe uma rotura coesiva no suporte aos 90 dias, o
que é consistente com a ideia de que a argamassa ganha resistência ao longo do tempo. Há tendência para
ocorrerem cada vez menos roturas adesivas na argamassa M em cada dia de ensaio, aumentando as roturas
coesivas no suporte, o que remete para um aumento de resistência ao longo do tempo, comparativamente aos
primeiros dias. Na argamassa RD, o facto de terem ocorrido apenas roturas coesivas no suporte ou coesivas
no reboco, próximo da interface revestimento / cola, à excepção de um só caso, leva a concluir da boa
resistência que esta ganha logo ao início. O mesmo comportamento apresenta a argamassa D, uma vez que a
percentagem de roturas coesivas no suporte se mantém praticamente inalterável nas três idades de ensaio.
4.3.2 – Influência da secção e da espessura no tipo de rotura
No sentido de visualizar de que forma aspectos como a secção e a espessura das amostras afectam o
tipo de rotura, são apresentadas as Figuras 4.7 a 4.10, que mostram esses factores aos 27 dias de ensaios.
Como se pode verificar nas figuras referidas, a rotura coesiva na argamassa foi predominante em todas as
carotes da RC, independentemente da secção ou espessura das mesmas. Esta argamassa apresenta bastante
fragilidade, que se assume como o principal factor que leva a um elevado número de roturas coesivas.
As Figuras 4.7 e 4.8 mostram que as carotes quadradas estão mais associadas a roturas adesivas e
coesivas no suporte na argamassa M, sendo, assim, mais consistentes do que as carotes circulares. A análise
das mesmas figuras mostra que houve duas roturas coesivas no suporte nas secções quadradas da argamassa
RD, contra apenas uma nas secções circulares; no entanto, observando todas as idades, verificou-se que a
maior parte deste tipo de roturas ocorreu nas carotes de secção circular, pelo que o tipo de secção não é
determinante nos resultados. No que se refere à argamassa D, a mais forte, não há alterações significativas do
tipo de rotura, ao testar diferentes secções e espessuras.
0
2
4
6
8
CS CA AD
Nº
de r
otu
ras
Tipo de rotura
RC
M
RD
D 0
2
4
6
8
10
CS CA AD
Nº
de r
otu
ras
Tipo de rotura
RC
M
RD
D 0
2
4
6
8
CS CA AD
Nº
de r
otu
ras
Tipo de rotura
RC
M
RD
D
Análise e discussão dos resultados
66
A análise do tipo de rotura em função da secção, face a cada uma das diferentes argamassas, não é
totalmente conclusiva sobre a influência deste factor, mas, à partida, a utilização de uma ou outra secção não
levará a resultados com diferença relevante.
Figura 4.7 - Tipo de rotura nas carotes circulares
(diâmetro = 5 cm) aos 27 dias
Figura 4.8 - Tipo de rotura nas carotes quadradas
(lado = 4 cm) aos 27 dias
Legenda: RC – argamassa RC; M – argamassa M; RD – argamassa RD; D – argamassa D; CS – rotura coesiva no suporte;
CA – rotura coesiva na argamassa; AD – rotura adesiva
Pelas análises das Figuras 4.9 e 4.10, o tipo de rotura parece variar significativamente em função da
espessura nas carotes de argamassa M, e em menor escala na argamassa RD, como se pode verificar pelo
aumento de roturas coesivas no suporte nas carotes de 2,5 cm de espessura. No entanto, o facto de as roturas
coesivas se terem dado muito na proximidade da interface revestimento / cola, leva a crer que a tendência é
para a espessura influenciar o tipo de rotura.
Figura 4.9 - Tipo de rotura nas carotes de 1,5 cm aos
27 dias
Figura 4.10 - Tipo de rotura nas carotes de 2,5 cm
aos 27 dias
Legenda: RC - argamassa RC; M - argamassa M; RD - argamassa RD; D - argamassa D; CS - rotura coesiva no suporte; CA - rotura coesiva na argamassa; AD - rotura adesiva
No Anexo B, Quadros B1 a B3, são mostrados os resultados de todos os ensaios de aderência
realizados em todas as argamassas, com destaque para as tensões de aderência e a tipologia de rotura
registadas em cada carote.
0
1
2
3
4
5
CS CA AD
Nº
de r
otu
ras
Tipo de rotura
RC
M
RD
D 0
1
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3
4
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CS CA AD
Nº
de r
otu
ras
Tipo de rotura
RC
M
RD
D
0
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3
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CS CA AD
Nº
de r
otu
ras
Tipo de rotura
RC
M
RD
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1
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4
5
CS CA AD
Nº
de r
otu
ras
Tipo de rotura
RC
M
RD
D
Análise das características mecânicas de amostras de argamassas pré-doseadas
67
4.3.3 - Tensão de aderência das carotes
O Quadro 4.7 procura mostrar as tensões de aderência médias obtidas nas carotes de argamassa RC.
Observa-se que, nas duas secções em estudo, existe uma tendência para a tensão de aderência aumentar com
a idade e para se obter melhores resultados com as maiores espessuras.
Em geral, as carotes de secção quadrada oferecem melhores aderências do que as de secção circular.
Exceptuando os casos em que as tensões são muito próximas nas duas secções, as carotes quadradas
verificam um aumento entre 46 e 63%, relativamente às circulares.
A dispersão dos valores obtidos varia até 34,54%, o que vai de encontro ao coeficiente de variação
verificado por Cincotto et al. (1995), citado por Costa et al. (2007), que registaram valores enquadrados
entre 10 e 35% para o ensaio de aderência pull-off, resultados justificados pelos factores inerentes ao
procedimento de ensaio, nomeadamente o ângulo e os equipamentos de corte.
A tipologia de rotura foi predominantemente coesiva na argamassa, o que é expectável em argamassas
mais fracas (Scartezini, 2002) (Veiga & Carvalho, 1994), cumprindo os requisitos de aderência do relatório
427 do LNEC (2005), tal como verificou Flores-Colen (2009) nas argamassas menos resistentes.
Todos os resultados individuais das argamassas RC são apresentados no Quadro B1 do Anexo B.
Quadro 4.7 - Tensões de aderência na argamassa RC
Secção Circular Quadrada
Idade (dias) 6 27 90 6 27 90
Rotura Espessura
(cm) 1,5 2,5 1,5 2,5 1,5 2,5 1,5 2,5 1,5 2,5 1,5 2,5
CA Média
(MPa) 0,31 0,28 0,19 0,57 0,24 0,47 0,29 0,41 0,30 0,52 0,39 0,71
CS Média
(MPa) - - - - - 0,52 - - - - - -
AD Média
(MPa) 0,14 - - - - - - - - - - -
Legenda: CA - rotura coesiva na argamassa; CS - rotura coesiva no suporte; AD - rotura adesiva; ( - ) - sem valores
De acordo com o apresentado no Quadro 4.8, em ambas as secções, a resistência de aderência da
argamassa M regista o seu valor mais alto aos 27 dias, baixando aos 90 dias, de onde se conclui que terá um
pico de resistência de aderência entre 6 e 90 dias. Além de se ter conseguido uma tendência ao longo do
tempo, o que não se verificou em Flores-Colen (2009), todos os valores com coeficientes de variação
aceitáveis registaram tensões médias acima dos requisitos 0,3 MPa.
O Quadro 4.8 também mostra que as maiores espessuras registaram as maiores aderências, com maior
evidência nas carotes circulares. Neste caso, enquanto as carotes de maior espessura apresentam resistências,
em média, 2 vezes superior, as secções quadradas registam resistências 1,4 vezes superiores. Além disso,
também se pode constatar que são as carotes de secção quadrada as que apresentam os maires valores de
aderência, verificando uma melhoria de cerca de 46% relativamente às carotes circulares, independentemente
da espessura e da idade.
Apesar das tendências verificadas na argamassa M, são obtidos, em alguns casos, dispersão dos
valores além de 35% (Cincotto et al. (1995), que são resultado da disparidade de valores entre duas carotes
de secção e espessura idênticas. Esta argamassa não mostrou roturas pelo interior das carotes, o que
corrobora a forte coesão das mesmas e a tendência de as argamassas de cimento mais fortes apresentarem
roturas adesivas ou coesivas no suporte, conforme verificado por Veiga & Carvalho (1994).
O Quadro B2 do Anexo B mostra todos os resultados das carotes de argamassa M.
Atendendo a que, na ocorrência de roturas coesivas no suporte, a tensão de aderência registada será
inferior à tensão em roturas coesivas na argamassa, conclui-se que essa argamassa apresentará maior
resistência do que o próprio suporte.
Análise e discussão dos resultados
68
Os resultados obtidos no Quadro 4.9 não são totalmente conclusivos sobre o efeito da espessura,
apenas se verificando que a tensão de aderência tende a manter-se na mesma ordem de grandeza, esperando-
se melhores resultados nas carotes quadradas.
Quadro 4.8 - Tensões de aderência na argamassa M
Secção Circular Quadrada
Idade (dias) 6 27 90 6 27 90
Rotura Espessura
(cm) 1,5 2,5 1,5 2,5 1,5 2,5 1,5 2,5 1,5 2,5 1,5 2,5
CA Média
(MPa) 0,15 0,44 0,34 - 0,25 0,42 0,22 0,45 0,57 - 0,49 -
CS Média
(MPa) - - - 0,48 - 0,36 - - - 0,59 - 0,50
AD Média
(MPa) - 0,49 - - - - - 0,57 0,50 - - -
Legenda: CA - rotura coesiva na argamassa; CS - rotura coesiva no suporte; AD - rotura adesiva; ( - ) - sem valores
Nas duas secções, as espessuras de 2,5 cm só apresentam maiores valores de tensão aos 6 dias de
idade. Aos 27 dias, os resultados são muito próximos nas duas espessuras e, só aos 90 dias, as maiores
espessuras apresentam os piores resultados. Nesta última idade, constata-se uma diminuição de entre 12 e
28% de resistência com o aumento de espessura da argamassa de 1,5 cm para 2,5 cm, em concordância com
o intervalo 16-68% verificado no estudo de Soares (2011), para a argamassa pré-doseada analisada, de
características muito semelhantes à argamassa RD.
Existe, desta forma, tendência para as carotes de menor espessura apresentarem tensões de aderência
muito próximas e para as de maior espessura sofrerem redução das tensões ao longo do tempo, o que pode
estar relacionado com a maior probabilidade de fissuração do revestimento de maior espessura ao longo do
tempo. A comparação entre as duas secções mostra que as carotes quadradas apresentam um aumento de
resistência de 50%, situação que pode ser, em parte, explicada pelo método de furação, uma vez que o
mesmo introduz maior vibração nas carotes circulares, daí a possibilidade de sofrer rotura com menores
tensões.
Nas secções circulares, as tensões entre carotes semelhantes dispersaram até valores a rondar os 45%.
Por seu lado, nas secções quadradas, apenas as carotes dos 90 dias apresentaram valores um pouco mais
elevados, excedendo os 35%, que são resultado da disparidade das tensões medidas em amostras similares.
Os resultados resultantes do ensaio de aderência da argamassa RD são mostrados no Quadro B3 do
Anexo B.
O Quadro 4.10 mostra que todas as carotes circulares sofreram roturas coesivas no suporte, sugerindo
que as tensões de aderência reais sejam superiores às obtidas, à semelhança do que se verificou na argamassa
D.
Segundo os resultados, as carotes de 2,5 cm de espessura permitiram maiores aderências apenas aos 6
dias de análise, ao contrário das carotes aos 27 e 90 dias, cujas menores espessuras registaram maiores
valores. Apesar de todas as roturas terem ocorrido no suporte, consequência da fraca resistência do tijolo,
foram verificadas aderências satisfatórias em todos os casos, sendo, no entanto, impossível afirmar se a
resistência de aderência tende a crescer ou a decrescer com a idade.
Verificam-se, claramente, melhores resultados das carotes quadradas, diferença que se explica,
sobretudo, pela superfície de rotura. Uma vez que as carotes circulares foram moldadas isoladamente nos
tijolos, surgiu uma maior área de tijolo a sofrer rotura, situação que não se verificou nas carotes quadradas.
Cingindo a análise apenas às roturas coesivas no suporte, verifica-se a tendência das carotes de maior
espessura apresentarem as menores resistências de aderência.
Análise das características mecânicas de amostras de argamassas pré-doseadas
69
Quadro 4.9 - Tensões de aderência na argamassa RD
Secção Circular Quadrada
Idade (dias) 6 27 90 6 27 90
Rotura Espessura
(cm) 1,5 2,5 1,5 2,5 1,5 2,5 1,5 2,5 1,5 2,5 1,5 2,5
CA Média
(MPa) - - 0,42 0,42 - 0,33 0,68 0,77 0,60 - 0,60 0,53
CS Média
(MPa) 0,40 0,46 0,42 - 0,46 - - - - 0,54 - -
AD Média
(MPa) - - - - - - - - - - - -
Legenda: CA - rotura coesiva na argamassa; CS - rotura coesiva no suporte; AD - rotura adesiva; ( - ) - sem valores
Observando, exclusivamente, os dados disponíveis no caso de roturas coesivas na argamassa,
exceptuado o desenquadrado valor de 0,27 MPa, parece claro que a argamassa D atinge a sua resistência logo
nas primeiras idades e esta se vai mantendo até aos 90 dias de idade na mesma ordem de valores.
Independentemente da idade, era expectável que as carotes circulares apresentassem menores
resistências, devido ao facto de as mesmas terem sido aplicados directamente no tijolo com recurso aos
moldes metálicos e, portanto, sujeitas a compactações menos rigorosas.
Como também mostra o Quadro 4.10, a rotura coesiva no tijolo foi predominante, à semelhança do
verificado na argamassa mais forte em Flores-Colen (2009) que, além de registar as maiores aderências,
apresentou rotura 100% coesiva no suporte. Apesar das diferentes ordens de grandeza entre as argamassas
estudadas em Flores-Colen (2009) e a argamassa D em termos de resistência à compressão (resistências entre
1,32 e 12,56 MPa contra 25,41 MPa do presente estudo), é evidente a tendência de as argamassas de maiores
prestações mecânicas apresentarem roturas maioritariamente coesivas no tijolo. Esta argamassa D é,
claramente, a mais forte e respeita sempre os requisitos mínimos de aderência.
No Quadro B4, Anexo B, são apresentados os resultados recolhidos do ensaio de aderência pull-off das
carotes de argamassa D.
4.3.4 - Comparação entre carotes quadradas e circulares
Analisou-se a relação entre a tensão de aderência de carotes circulares e quadradas para se perceber de
que forma as diferentes secções influenciam os valores de aderência e se proceder a uma posterior
comparação com a resistência à compressão, também afecta a este factor. De modo a restringir as variáveis,
compararam-se apenas as tensões obtidas em carotes cujas roturas fossem idênticas, resultando o gráfico da
Figura 4.11.
Na argamassa RC, a análise cingiu-se apenas às muitas roturas coesivas na argamassa. É nítida a boa
relação entre as duas secções, a qual apresenta uma tendência linear com declive pouco superior a 0,5 e R2 de
0,68, estando este último enquadrado na ordem de valores obtidos por Soares (2011).
Na argamassa M, as secções quadradas analisadas têm maiores aderências do que as secções
circulares, apontando para um R2 baixo de 0,2. A presença de dois pares de valores que contrariam a
tendência leva a alguma dispersão dos dados, mas não deixa dúvidas, como referido, da superioridade das
carotes quadradas.
Pela análise da mesma Figura 4.11, verifica-se que a tensão de aderência na argamassa RD é muito
influenciada pela geometria da secção. De acordo com os dados disponíveis, a tensão medida nas carotes
quadradas é 1,5 vezes superior à tensão medida nas carotes circulares. Apesar de apenas três pares de valores
formarem a relação, é bem elucidativa a forte correlação linear, para a qual se verificou um R2 de 0,93.
Os resultados mostram uma maior influência da secção na argamassa D. Segundo estes, a resistência
de aderência das carotes quadradas é 1,5 a 1,9 vezes superior à das carotes circulares, com R2 de 0,41; no
entanto, claramente valor muito influenciado pela presença de um ponto disperso que corresponde a mais do
dobro da resistência por parte das carotes circulares. Independentemente disso, a diferença apresentada pelas
Análise e discussão dos resultados
70
duas secções deve-se em muito ao processo das carotes circulares que, por ter ser diferente, levou a amostras
menos compactas, o que leva a valores mais baixos de resistências.
Quadro 4.10 - Tensões de aderência na argamassa D
Secção Circular Quadrada
Idade (dias) 6 27 90 6 27 90
Rotura Espessura
(cm) 1,5 2,5 1,5 2,5 1,5 2,5 1,5 2,5 1,5 2,5 1,5 2,5
CA Média
(MPa) - - - - - - 0,57 0,65 0,53 - 0,27 0,64
CS Média
(MPa) 0,32 0,44 0,35 0,32 0,43 0,32 0,84 0,68 0,53 0,70 0,65 0,48
AD Média
(MPa) - - - - - - - - - - - -
Legenda: CA - rotura coesiva na argamassa; CS - rotura coesiva no suporte; AD - rotura adesiva; ( - ) - sem valores
Em geral, todas as argamassas reflectem a superioridade das carotes quadradas face às circulares, de
forma mais evidente do que no estudo de Soares (2011), para as mesmas dimensões de carotes. Apesar da
semelhança entre as áreas das suas secções (maior a das carotes circulares), os resultados seguem as
conclusões de Soares (2011) e Costa et. al (2007), segundo os quais há tendência para as carotes de menor
área apresentarem as maiores resistências. A maior diferença será consequência também do processo de
corte, uma vez que a aplicação da broca na extracção de carotes circulares introduz maior vibração.
Restringindo as relações obtidas apenas ao intervalo de valores registados nos ensaios em cada uma das
argamassas, verifica-se que as argamassas M e D têm tendência para apresentar as maiores diferenças entre
as duas secções, com resistências, em média, 1,9 e 1,7 vezes superiores nas quadradas, respectivamente nas
argamassas M e D. Nas restantes argamassas, a análise comparativa entre as diferentes secções mostra uma
superioridade das carotes quadradas de 1,3 e 1,5 vezes em termos médios, para as argamassas RC e RD
respectivamente.
Estudo Secção das carotes (mm2) Relação R2
Soares (2011) Quadradas 40 x 40
0,742
Quadradas 50 x 50
0,641
RC
Quadradas 40 x 40
0,679
M
0,202
RD
0,933
D
0,406
Legenda:
fuquadrada - tensão de aderência de carotes com secção quadrada; fu
circular - tensão de aderência de carotes com secção circular
Figura 4.11 - Relação entre tensão de aderência de carotes de secção circular e quadrada em todas as
argamassas
0
0,2
0,4
0,6
0,8
1
1,2
0 0,5 1 1,5
f u q
ua
dra
da [
MP
a]
fu circular [MPa]
RC
M
RD
D
Linear (RC)
Linear (M)
Linear (RD)
Linear (D)
Linear (y=x)
Análise das características mecânicas de amostras de argamassas pré-doseadas
71
No entanto, apesar de todas estas as relações levarem a resistências de aderência, por vezes, numa
ordem de valores diferentes em secções de geometria diferente, as boas correlações de R2 levam a concluir
que a realização de ensaios de aderência com pastilhas de dimensões 40 x 40 mm2 poderá ser uma opção
viável, mas tendo sempre em conta as expressões obtidas.
4.3.5 - Resistência à compressão a partir da aderência
Na tentativa de avaliar a resistência à compressão a partir dos valores de tensão de aderência para
carotes com rotura coesiva na argamassa, analisaram-se as possíveis relações entre a resistência de aderência
e a resistência à compressão das mesmas carotes. Do grupo de argamassa em estudo, apenas foi possível
avaliar as argamassas RC e RD, uma vez que as argamassas M e D não registaram quaisquer roturas coesivas
na argamassa, não resultando, deste modo, amostras possíveis de testar e analisar. Na análise efectuada, foi
necessário aguardar um dia entre os ensaios de aderência pull-off e à compressão devido à necessidade de
remoção das pastilhas, daí que sejam agora referidos 7, 28 e os 91 dias.
Como observado na Figura 4.12, aos 7 e aos 28 dias, é difícil chegar a relações directas entre a
resistência à compressão e a tensão de aderência na argamassa RC, devido não só à pequena quantidade de
dados, como, sobretudo, às relações lineares muito fracas observadas. Já aos 91 dias de idade, obteve-se uma
relação linear muito razoável entre as duas tensões com R2 de 0,77, valor próximo do verificado por Soares
(2011) para as mesmas características mecânicas aos 14 dias, o qual registou R2 de 0,86, e por Flores-Colen
(2009) na relação entre a aderência e a compressão de provetes normalizados aos 28 dias, que obteve R2
igual a 0,81; no entanto, não deve ser feita uma comparação directa, uma vez que, como verificado na Figura
4.12, são avaliadas grupos de argamassas com prestações mecânicas largamente melhores nos estudos
citados, comparativamente à verificada na argamassa RC estudada, concluindo-se, essencialmente, que o
método apresentado é viável para a avaliação da resistência à compressão.
Estudo Relação R2
Flores-Colen (2009) aos 28 dias 0,806
Soares (2011) aos 14 dias 0,856
RC aos 91 dias 0,768
Legenda: fu - tensão de aderência; RC
PN - resistência à compressão de provetes normalizados; RCcarotes - resistência à compressão de
carotes
Figura 4.12 - Relação entre tensão de aderência e a resistência à compressão em todas as argamassas
0
5
10
15
20
25
30
35
40
0 0,2 0,4 0,6 0,8 1
Resi
stên
cia
à c
om
press
ão [
MP
a]
fu [MPa]
RC aos 7 dias
RC aos 28 dias
RC aos 91 dias
RD aos 7 dias
Linear (RC aos 91 dias)
Linear (RCPN aos 28
dias (Flores-Colen,
2009))
Linear (RCCAR aos 14
dias (Soares, 2011))
0
1
2
3
4
5
0 0,2 0,4 0,6 0,8 1Resi
stên
cia
à c
om
press
ão
[MP
a]
fu [MPa]
Análise e discussão dos resultados
72
Em relação às restantes argamassas, apenas a RD apresentou uma carote com rotura coesiva na
argamassa e espessura suficiente para ser submetida à compressão. O único ponto disponível na Figura 4.12
representa essa carote ensaiada, de formato quadrado e com espessura de 2,5 cm, a qual apresenta aderência
de 0,69 MPa e resistência à compressão de 3,52 MPa aos 7 dias de idade. Desta forma, a resistência à
compressão é cerca de 5 vezes superior à resistência de aderência, relação esta pouco rigorosa, tendo em
conta que se trata de apenas um par de valores. Ainda assim, este ponto da argamassa RD segue a mesma
tendência da argamassa RC, sendo expectável que este método de avaliar a resistência à compressão seja
também viável, até pelas conclusões de Flores-Colen (2009) e Soares (2011).
4.4 - Resistência à compressão
Com os resultados obtidos nos vários ensaios de resistência à compressão, estudou-se a hipótese de
relacionar a resistência à compressão in-situ de amostras recolhidas de revestimento com a obtida a partir de
amostras de comparação, produzidas com o mesmo produto e com dimensões semelhantes.
Como forma de entender a influência da secção e da espessura dos provetes na resistência à
compressão, procedeu-se à obtenção de linhas de influência e consequente comparação entre provetes de
diferentes secções e espessuras.
Por último, foi estudada a evolução da resistência à compressão ao longo do tempo, tendo sempre em
linha de conta a influência de factores como a secção e a espessura de provetes.
O ensaio de provetes normalizados serve como primeira abordagem às características mecânicas das
argamassas, os quais permitem também o estudo da massa volúmica endurecida nas várias idades.
4.4.1 - Resistência dos provetes normalizados
O objectivo principal da presente dissertação centra-se no estudo relativo à avaliação da resistência à
compressão a partir de amostras recolhidas in-situ, pelo que, nesta fase, pretende-se complementar e
aprofundar o estudo com a apresentação dos resultados referentes aos ensaios mecânicos de provetes
normalizados em idades similares às carotes recolhidas.
Antes de se abordar a caracterização mecânica de todas as argamassas, apresentam-se os valores da
massa volúmica, os quais permitem obter mais alguma informação relativa à estrutura interna de todos os
produtos. A massa volúmica das argamassas foi determinada em todas as idades dos ensaios mecânicos à
compressão e flexão a partir dos provetes prismáticos. O Quadro 4.11 mostra os valores registados,
indicando as prestações referidas nas fichas técnicas, e a Figura 4.33 representa a evolução desta
característica ao longo do tempo.
Quadro 4.11 - Massa volúmica das argamassas no estado endurecido
Massa volúmica (kg/m3)
Idade (dias) Argamassas
RC M RD D
7 1523 1618 1646 2013
28 1567 1588 1617 1947
91 1539 1598 1583 1957
Fichas técnicas
Massa volúmica
do produto endurecido
1400 1400 1500 1900
Legenda: RC - argamassa RC; M - argamassa M; RD - argamassa RD; D - argamassa RD
Como indicado no Quadro 4.11, nas três idades analisadas, todas as argamassas apresentam massa
volúmica no estado endurecido superior à indicada nas fichas, o que pode ser resultado das relações água /
produto adoptadas e das condições de amassadura e compactação.
Análise das características mecânicas de amostras de argamassas pré-doseadas
73
Figura 4.13 - Evolução da massa volúmica ao longo do tempo
O estudo da evolução da massa volúmica surge em consequência da análise realizada em 4.2.2, uma
vez que é de todo o interesse verificar o comportamento das argamassas em idades distintas. Analisando a
evolução desta característica ao longo do tempo, representada na Figura 4.13, verifica-se que as argamassas
baixam a massa volúmica desde o momento da sua produção até aos 7 dias de idade, o que faz sentido, uma
vez que os provetes vão perdendo água ao longo do tempo.
A argamassa M registou uma massa volúmica da pasta de 1500 kg/m3, que coincide exactamente com
as indicações das fichas. Esta argamassa revela inicialmente o valor mais alto desta propriedade, que será
consequência do facto de os provetes perderem menos água por estarem nos moldes nos dois primeiros dias.
Tal como nos estudos de Santos (2009) e Gonçalves (2010), verificaram-se resultados mais baixos em
argamassas pigmentadas, sendo que a introdução de ar nas composições pode ser uma das causas para a
redução da massa volúmica, principalmente quando comparadas com as argamassas RD e D, como mostra o
Quadro 4.11.
A argamassa D revela valores acentuados devido, essencialmente, à compactação, que a torna bastante
consistente. Até aos 28 dias, a perda de água surge como a razão para o abaixamento gradual da massa
volúmica. Os valores registados, sobretudo a partir dos 28 dias, são muito próximos dos verificados nas
diversas argamassas estudadas por Costa (2008), o qual observou uma massa volúmica de 1967 kg/m3 na
argamassa pré-doseada impermeabilizante.
No geral, a partir dos 2 dias, em consequência da desmoldagem e da perda da água, a tendência é para
a redução da massa volúmica aos 28 dias e para uma certa estabilização até aos 91 dias em todas as
argamassas, situação natural em consequência da perda de água dos provetes a partir das primeiras idades.
No entanto, destaque para o incremento de massa volúmica aos 28 dias na argamassa RC, provocada pelas
reacções de hidratação e formação de novos compostos, tal como no estudo de Penas (2008), o qual verificou
comportamento semelhante em argamassas de cal hidráulica.
A caracterização das propriedades mecânicas dos provetes normalizados compreende a avaliação da
resistência à compressão e flexão. O Quadro 4.12 apresenta os resultados desta caracterização aos 28 dias,
mostrando as tensões médias e os respectivos valores do desvio-padrão obtidos nos ensaios de rotura à
compressão e flexão em cada argamassa e a Figura 4.14 expõe a representação gráfica dessas características.
Os provetes normalizados em estudo não estiveram sob as condições de cura indicadas na norma EN-
1015-11 (CEN, 1999), a qual prevê 2 dias no molde, 5 dias em ambiente de humidade de 95 ± 5% e os
restantes 21 dias em ambiente de humidade de 65 ± 5%. A opção por esta cura foi a mesma utilizada nos
tijolos, passando os provetes a estar sujeitos às condições de cura seca nos 5 dias seguintes à desmoldagem,
para uma melhor comparação dos resultados, sem influência do factor cura. Desta forma, julga-se ser
possível obter uma melhor caracterização dos reais desempenhos das argamassas em estudo.
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1550
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Mass
a v
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mic
a [
kg/m
3]
Idade (dias)
RC
M
RD
D
Análise e discussão dos resultados
74
Quadro 4.12 - Características mecânicas das argamassas em estudo aos 28 dias
Argamassa
Flexão (MPa) Compressão (MPa) Ductilidade
(RF/RC) Média DP Fichas
técnicas Média DP
Fichas técnicas
RC 1,57 0,08 >0,75 3,67 0,15 >1,25 0,43
M 2,36 0,04 >1,5 6,01 0,26 - 0,39
RD 2,45 0,02 >1,5 6,80 0,13 >3,5 0,36
D 4,97 0,26 5 25,41 2,16 20 0,20
Legenda: DP - desvio-padrão; RF - resistência à flexão; RC - resistência à compressão; RC - argamassa RC; M - argamassa M; RD - argamassa RD; D - argamassa RD; ( - ) - sem valores
Figura 4.14 - Resistência à compressão e flexão aos 28 dias
Os ensaios mecânicos à compressão e flexão fornecem valores muito indicativos do desempenho das
argamassas sendo, desta forma, incluídos em ensaios harmonizados no âmbito da marcação CE.
Os valores de resistência à compressão aos 28 dias apresentados no Quadro 4.12 permitem separar as
argamassas por 3 categorias distintas de resistência. A argamassa RC revela características compatíveis com
a categoria CS II, a qual define como intervalo 1,5 a 5 MPa, embora este produto se apresente muito próximo
da classe de compressão CS III. As argamassas M e RD, de prestações bastante semelhantes, mostram-se
enquadradas na categoria CS III, com valores de mínimo e máximo de 3,5 e 7,5 MPa, respectivamente,
apesar de entrarem no limite da classe CS IV. A argamassa D, muito mais forte em termos mecânicos,
encontra-se incluída na categoria CS IV.
Os valores obtidos aos 28 dias, para a argamassa RC de 3,67 MPa e para a argamassa RD de 6,8 MPa,
permitem enquadrá-los nos valores referenciados por Flores-Colen (2009). Segundo esta análise efectuada,
os valores de resistência à compressão encontram-se dentro do intervalo de valores geralmente apresentados
por argamassas cimentícias aos 28 dias, entre 2 e 10 MPa. A argamassa RC é a menos resistente
mecanicamente mas apresenta a melhor ductilidade. Na sua ficha técnica, é referida a presença de fibras
sintéticas, o que justifica o seu desempenho, uma vez que a inclusão destas adições promove resistência à
fendilhação e aumenta a ductilidade do revestimento. A composição da argamassa RD apenas refere a
presença de adjuvantes além do cimento e dos agregados. Como este produto apresenta boas prestações logo
aos 7 dias, o adjuvante em causa estará relacionado com a aceleração do endurecimento nas primeiras idades.
A argamassa M apresenta valores de resistência superiores aos indicados pelo fabricante, o qual
fornece valores de resistência à flexão de 1,5 MPa e à compressão de 3,5 MPa, que coincidem com os
resultados obtidos por Santos (2009). No entanto, de acordo com o estudo de mercado feito por Flores-Colen
(2009), e verificado por Gonçalves (2010), os valores obtidos são muito próximos dos mínimos do intervalo
[2,7; 4,1] para a flexão e do intervalo [5,7; 8,6] para a compressão. É expectável que o processo de mistura
seja sensível à presença de introdutores de ar, o que torna as argamassas menos coesas, logo menos
resistentes. Ainda assim, esta argamassa evidencia resistências elevadas, que estarão relacionadas com o
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RC M RD D
Ten
são
[M
Pa]
Argamassas
Flexão
Compressão
Análise das características mecânicas de amostras de argamassas pré-doseadas
75
processo de produção dos provetes normalizados (maior compactação). Este revestimento evidencia
características mecânicas intermédias no grupo de argamassas analisadas. O fabricante refere na sua
composição a presença de cargas ligeiras, que melhoram a trabalhabilidade, e de pigmentos, composto
tipicamente usado em monocamadas, para conferir tonalidade à argamassa.
A argamassa D, utilizada sempre que se necessite de impermeabilizar e regularizar suportes
submetidos a pressões de água (pavimentos, paredes e tectos), tem na sua composição areias siliciosas e
calcárias, as quais em muito contribuem para o seu comportamento mecânico excelente. No entanto, este
comportamento acarreta problemas na aplicação de fachadas, uma vez que esta argamassa tem tendência
para fendilhar, à qual não são alheias as recomendações de a mesma ser aplicada mecanicamente e de se
efectuar a molhagem nos 4 dias seguintes. Em Costa (2008), o estudo conduzido levou a valores de
resistência à compressão muito elevados nas argamassas tradicionais e a valores praticamente coincidentes
entre a argamassa pré-doseada e o valor de 25,41 MPa obtido na presente dissertação. O baixo teor em água
é apontado como uma forte razão para as excelentes prestações mecânicas verificadas.
A Figura 4.15 mostra a relação entre as resistências à compressão e flexão em cada argamassa,
independentemente da idade. Os resultados indicam uma maior diferença entre compressão e tracção à
medida que a argamassa se apresenta mais resistente mecanicamente, o que leva a concluir da maior
capacidade de deformação da argamassa mais fraca, um desempenho intermédio das M e RD e uma menor
deformabilidade da argamassa de impermeabilização D.
Na mesma Figura 4.15, são indicadas as relações entre as resistências das duas características obtidas
para cada argamassa. De todas as argamassas, verifica-se que apenas a argamassa RD oferece correlações
muito boas, atingindo um coeficiente de determinação de 0,87, pelo que a expressão indicada traduz, com
grau de certeza, a relação entre as resistências mecânicas à compressão e flexão. No caso das argamassas RC
e D, são obtidos valores de R2 de 0,68 e 0,60, respectivamente, de onde se conclui que as expressões
indicadas são um meio de estimar uma resistência a partir de outra.
Produto Relação R2
RC 0,677
M 0,551
RD 0,869
D 0,606
Figura 4.15 - Relação entre as resistências à compressão e flexão
No que concerne à argamassa M, verifica-se uma maior dispersão dos valores, o que resulta num
coeficiente R2 mais baixo. Com a introdução de ar, é expectável que a porosidade das argamassas seja
alterada, o que leva a revestimentos com poros de maiores dimensões, de tal modo que estes vazios sejam
locais de expansão quando a argamassa se encontre sobre pressão (Botas & Rato, 2010). Ao ser uma
argamassa mais deformável e elástica, é provável que o seu comportamento resulte em resistências com
alguma variabilidade e daí o valor de R2 de 0,55, não sendo, no entanto, de excluir a relação apresentada.
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[MP
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Resistência à compressão [MPa]
RC
M
RD
Linear
(y=x)
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o
[MP
a]
Resistência à compressão [MPa]
D
Linear
(y=x)
Análise e discussão dos resultados
76
Figura 4.16 - Evolução da resistência à tracção com a
idade
Figura 4.17 - Evolução da resistência à compressão
com a idade
As Figuras 4.16 e 4.17 mostram a evolução das resistências à flexão e à compressão com a idade. Nas
duas resistências em análise, todas as argamassas aumentam a resistência de 7 para 28 dias, à excepção da
argamassa M, revelando esta um comportamento atípico de redução da sua resistência a 28 dias,
nomeadamente à compressão.
As argamassas RC e RD apresentam a mesma tendência em flexão e compressão, já que o pico de
resistência se verifica a 28 dias e, desta idade até a 91 dias, as resistências baixam. Entre estas duas
argamassas, verifica-se que, de 7 para 28 dias, o aumento é mais significativo na argamassa RD e, a 91 dias,
a redução é mais evidente na argamassa RC.
Na argamassa M, as resistências à compressão a 7 e 91 dias são muito próximas, existindo uma baixa
de valores a 28 dias, que contrasta com a tendência crescente de resistência à flexão. Gonçalves (2010)
verificou uma diminuição de resistência à compressão na monocamada de 28 para 60 dias, tendo a mesma
autora admitido a hipótese de a argamassa sofrer microfissuração durante esse período. Não parece ser o caso
no presente estudo, uma vez que a argamassa M sofre um ligeiro aumento de resistência de 28 para 91 dias.
A queda de resistência, ainda que pequena, pode ficar a dever-se à presença do introdutor de ar, uma vez que
a consequência directa da sua aplicação origina materiais mais porosos, levando à redução das resistências
mecânicas (Seabra et al. 2007). Ainda assim, a dispersão dos dados é pouco significativa, tendo a argamassas
apresentados valores muito consistentes em todas as idades.
A nível das prestações mecânicas, as argamassas RC, M e RD estão enquadradas no intervalo de
valores de resistência à compressão referidos por Flores-Colen (2009) para argamassas de base
fundamentalmente cimentícia em todas as idades avaliadas. A argamassa RC apresenta valores mais
próximos do limite superior do intervalo apontado por Veiga et al. (2004) para revestimentos de edifícios
antigos (resistência à compressão entre 0,5 e 2,5 MPa), facto que se justifica, em parte, por apresentar uma
pequena percentagem de cal hidratada na sua composição.
Sobre a argamassa D, verifica-se que a sua resistência aumenta ao longo do tempo devido ao facto de
ser um produto técnico de impermeabilização e ao qual são exigíveis grandes prestações mecânicas. Como se
verá nos resultados nas amostras reduzidas, as resistências apontam para valores quase coincidentes nas três
idades. Uma vez que a relação h/d é mais baixa nas amostras (variável entre 0,375 e 0,625 nas carotes
quadradas e entre 0,3 e 0,5 nas circulares), seriam previsíveis resistências mais baixas nos provetes
normalizados (relação h/d igual a 1). Desta forma, é provável que o tipo de compactação aplicado tenha
influência nos resultados e seja o principal responsável pela variabilidade dos resultados, no caso de
amostras com relações h/d idênticas.
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Idade (dias)
RC
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[MP
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Idade (dias)
RC
M
RD
D
Análise das características mecânicas de amostras de argamassas pré-doseadas
77
4.4.2 - Relação entre as resistências à compressão das carotes extraídas dos tijolos e das
amostras de comparação
Com o objectivo de avaliar se a resistência à compressão de amostras de comparação com o mesmo
produto e dimensões semelhantes às das carotes extraídas do tijolo era correlacionável, organizaram-se todas
as amostras e carotes nas três idades de ensaio em estudo, por secção, de modo a verificar quais as melhores
relações em cada produto.
Tendo em conta as limitações que o material de moldagem e equipamentos de corte disponíveis
ofereciam, foram produzidas amostras circulares e quadradas de dimensões ligeiramente superiores às das
carotes extraídas dos tijolos. Concretamente em relação às geometrias, o diâmetro das amostras circulares
apresenta 5,3 cm de lado e a largura das amostras quadradas tomava o valor de 4,5 cm.
Pela análise da Figura 4.18, a comparação entre as resistências à compressão obtidas em amostras e
carotes leva a crer que a produção de amostras de comparação pode ser uma via de avaliação de resistência à
compressão. As relações obtidas não deixam dúvidas que a menor resistência de carotes conduz a
resistências superiores nas amostras quadradas, sendo, no entanto, esta análise geral, uma vez que não é
contemplada a separação por argamassas, por idade e por espessura.
As maiores resistências à compressão por parte das amostras quadradas não vão de encontro às
conclusões de Soares (2011), que sugere resistências de provetes circulares ligeiramente superiores, para as
duas argamassas de prestações mecânicas idênticas estudadas, de modo que o tipo de argamassas poderá ser
um factor importante na relação entre resistências à compressão obtidas em carotes e amostras de
comparação.
Secção Relação R2
Circular
0,84
Quadrada
0,91
Legenda: Rcomp
carotes - resistência à compressão de carotes; Rcompamostras - resistência à compressão de amostras
Figura 4.18 - Relação entre a resistência à compressão de carotes e amostras de comparação
Como se pode observar nas Figuras 4.19 e 4.20, para o mesmo valor de resistência à compressão de
carotes na argamassa RC, as amostras quadradas oferecem resultados superiores aos das amostras circulares.
Nas secções quadradas, foi excluído o valor obtido referente a 91 dias por se apresentar ligeiramente
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Rco
mp a
most
ras
[MP
a]
Rcomp carotes [MPa]
circulares
quadradas
Linear (circulares)
Linear (quadradas)
Linear (quadradas)
Linear (y=x)
Análise e discussão dos resultados
78
desenquadrado, tendo os restantes pontos em estudo apresentado uma tendência linear muito boa, com
declive de 1,25 e R2 igual a 0,81. A introdução deste valor levaria a uma relação diferente, sendo de prever
que a idade ou a espessura podem influenciar as correlações com algum significado. A relação obtida nas
amostras circulares apresenta um declive próximo de 0,5 mas um R2 baixo e igual a 0,23, como mostra a
Figura 4.20.
Com base numa análise mais detalhada por cada data de ensaio, apresentada no Anexo F, Figura F1,
observa-se que a exclusão dos valores registados aos 91 dias nas carotes circulares da argamassa RC leva a
correlações muito satisfatórias, com declive na ordem de 0,7 e R2 de 0,98. É conclusivo que apenas os
ensaios realizados a 7 e 28 dias possibilitam o estabelecimento de relações entre as resistências à compressão
em carotes e amostras de comparação, portanto 91 dias de idade não parece ser a mais adequada para a
avaliação da resistência à compressão da argamassa RC a partir de amostras de comparação produzidas em
laboratório, uma vez que sugerem declives negativos.
No mesmo Anexo F, Figura F5, são apresentados os gráficos que permitem perceber a
influência da espessura na argamassa RC. Além da escassez de resultados para a espessura de 1,5 cm, que
não permitiu observações conclusivas, a maioria dos resultados é respeitante a 91 dias. Dessa forma, foram
apenas incluídos os dados referentes a 7 e 28 dias, tendo sido obtidos declives de 0,97 e 0,7 nas amostras
quadradas e circulares, respectivamente. O valor de R2, apesar de baixo nas amostras quadradas (0,26) e alto
nas circulares (0,98), pode não traduzir a real tendência das amostras, uma vez que é apenas constituído por
três valores. Na verdade, os poucos dados são inconclusivos sobre qual a razão que possa justificar as
diferenças, pelo que seria necessário a recolha de mais valores. No entanto, parece que a produção de
amostras de comparação se afigura possível como uma forma de avaliar a resistência à compressão, sendo
que a opção pelas espessuras de 2,5 cm parece ser a mais razoável.
Produto Relação R2
RC
0,8085
M
0,1219
RD
0,5583
D
0,3513
Legenda: Rcomp
carotes - resistência à compressão de carotes; Rcompamostras - resistência à compressão de amostras
Figura 4.19 - Relação entre a resistência à compressão de carotes e amostras de comparação de secção
quadrada
Segundo os dados relativos à argamassa M indicados na Figura 4.19, as amostras quadradas conduzem
a maiores valores de resistência à compressão, para os mesmos valores de carotes, em comparação com as
amostras circulares. As duas secções sugerem boas relações, tendo sido obtidos declives de 0,82 e 1,02 para
as secções circulares e quadradas, respectivamente. Também nesta argamassa, as amostras circulares
registam valores de R2 superiores aos apresentados pelas amostras quadradas, igualmente com alguma
insuficiência de dados.
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Rco
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Pa]
Rcomp carotes [MPa]
RC
M
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RC
(excluído)
Linear
(y=x)
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Rco
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Pa]
Rcomp carotes [MPa]
D
Linear
(y=x)
Análise das características mecânicas de amostras de argamassas pré-doseadas
79
O estudo acerca da influência da idade e da espessura na argamassa M é apresentado no Anexo F,
respectivamente nas Figuras F2 e F6. Pela análise dos resultados verificados, conclui-se que surgem boas
relações ao englobar todas as idades. A espessura surge como o parâmetro a ter em conta, constatando-se
boas relações por parte das amostras de 2,5 cm, principalmente nas de formato circular. Nesta situação, o
declive de 1,02 indica que, à partida, a adopção por amostras circulares com espessuras de 2,5 cm na
argamassa M é a opção mais aceitável para a avaliação da resistência.
De acordo com a análise feita à argamassa RD, foram obtidos apenas declives negativos na análise das
amostras, resultantes da não separação por idade ou espessura, da qual não surtiram boas correlações. Só a
partir de um estudo mais detalhado em cada idade, presente no Anexo F, Figura F3, se verificou que os
dados se apresentaram muito dispersos a 7 dias, não sendo possível estabelecer correlações de interesse
relevante. Por outro lado, os dados referentes a 28 e 91 dias das secções circulares apresentaram uma relação
linear muito satisfatória com declive 1 e R2 de 0,89 para espessuras de 1,5 cm e daí que sejam estas amostras
os melhores objectos de estudo.
A análise geral do comportamento da argamassa D mostra que as resistências das amostras quadradas
são superiores às obtidas com amostras circulares, uma vez que o parâmetro do declive das primeiras é
significativamente superior, apesar de o R2 ser inferior. Com a inclusão de todas as idades, pela análise da
Figura 4.20, constata-se que o declive da relação entre as carotes e as amostras é próximo de 0,5,
apresentando, no entanto, um valor muito elevado de ordenada na origem. No que se refere às amostras
quadradas, o declive obtido foi próximo de 0,9, apesar de uma maior dispersão dos dados e, portanto, menor
R2.
Produto Relação R2
RC
0,230
M
0,777
RD
0,048
D
0,561
Legenda:
Rcompcarotes - resistência à compressão de carotes; Rcomp
amostras - resistência à compressão de amostras
Figura 4.20 - Relação entre a resistência à compressão de carotes e amostras de comparação de secção circular
Em Anexo, Figura F4, apresenta-se uma análise mais detalhada por idades, verificando-se que, a 7
dias, a secção não tem influência, uma vez que o declive varia entre 1,9 e 2,4, nas secções quadradas e
circulares, respectivamente. Desta forma, testar amostras de comparação a 7 dias leva a resultados
significativamente superiores aos obtidos a partir de carotes recolhidas. A 28 dias, pouco se pode interpretar
no caso das secções circulares, devido a apenas ter sido possível comparar um par carote / amostra de
comparação, ao contrário das secções quadradas, as quais apresentam uma relação interessante com declive
de 0,65 e R2 igualmente de 0,65. A 91 dias, parece haver influência da secção. Nas secções quadradas, a
resistência à compressão de amostras é claramente superior e esta diferença acentua-se com o aumento da
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Rco
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Pa]
Rcomp carotes [MPa]
RC
M
RD
Linear
(y=x)
0
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0 20 40 60
Rco
mp a
mo
stra
s [M
Pa]
Rcomp carotes [MPa]
D
Linear
(y=x)
Análise e discussão dos resultados
80
resistência à compressão das carotes. O declive é excessivo, na ordem de 2,5, e bastante diferente do declive
de 0,76 registado nas secções circulares.
O estudo das diferentes espessuras, indicado no Anexo F, Figura F8, mostra, essencialmente, que
apenas as amostras de 2,5 cm de espessura propiciam relações que podem ser estudadas. As diferentes idades
estão repartidas pelas duas espessuras, independentemente da secção considerada. Assim, acredita-se que não
é tanto a idade que define o comportamento das amostras, mas sim a espessura. Para a espessura de 1,5 cm,
são obtidos apenas declives negativos, ao passo que, para a maior espessura, foram obtidos declives de 0,17 e
0,37, respectivamente em secções quadradas e circulares.
No estudo sobre esta temática abordada em Soares (2011), concluiu-se que as mesmas resistências de
carotes conduziram a resistências de provetes circulares ligeiramente superiores às obtidas em provetes
quadrados, com base na análise em dois rebocos tradicionais de uma camada e multi-camada e em um
reboco industrial. Verificou-se que o tipo de secção não influenciou significativamente os resultados, de
forma que as conclusões obtidas nos provetes quadrados podem ser aplicadas nos circulares. Em termos de
reboco industrial, constatou-se inclinações próximas de 0,5 e valores de R2 próximos de 1 a 7, 28 e 90 dias
de idade.
No presente estudo, verificam-se declives superiores aos observados em Soares (2011). Este autor
defende que o método possa ser sensível ao tipo de argamassa e a questões de geometria, pelo que é possível
que este factor possa afectar significativamente. De acordo com os resultados, o método não é totalmente
conclusivo, pelo que seria necessária uma análise mais detalhada, especialmente com a utilização de uma
maior quantidade de dados.
4.4.3 - Resistência à compressão das carotes
A ausência de carotes em algumas idades ou os ensaios nulos de compressão levaram a uma
diminuição das relações entre os tipos de secção em estudo. Pela análise da Figura 4.21, as amostras de
secção circular da argamassa RC oferecem maior resistência à compressão, embora esta tendência seja
revelada apenas a 7 e a 28 dias.
Para a argamassa M, como mostra a mesma Figura 4.21, são obtidos resultados muito próximos,
verificando-se que as duas secções apresentam resistências à compressão praticamente na mesma ordem de
valores, de modo que a secção parece não influenciar significativamente os resultados.
No que se refere à argamassa RD, destaque apenas para um ponto de comparação possível, segundo o
qual se constata uma maior resistência à compressão por parte das secções circulares, isto sem grande
certeza, em consequência da escassez de dados.
A argamassa D reforça a ideia dos melhores resultados por parte das secções circulares, tal como
observado na Figura 4.22. Os dados disponíveis sugerem um declive de 0,2 e um R2 muito baixo de 0,3. A
relação não é a mais adequada, mas não deixa dúvidas do melhor desempenho por parte das carotes
circulares.
Análise das características mecânicas de amostras de argamassas pré-doseadas
81
Legenda: RC - argamassa RC; M - argamassa M; RD - argamassa RD; Rcomp
quadradas - resistência à compressão das carotes quadradas; Rcomp
quadradas - resistência à compressão das carotes quadradas
Legenda: D - argamassa D; Rcomp
quadradas - resistência à compressão das carotes quadradas; Rcomp
quadradas - resistência à compressão das carotes quadradas
Figura 4.21 - Relação entre a resistência à
compressão nas carotes quadradas e circulares das
argamassas RC, M e RD
Figura 4.22 - Relação entre a resistência à
compressão nas carotes quadradas e circulares das
argamassas D
Apesar da maior resistência oferecida pelas amostras de secção circular em todas as argamassas,
excepto na argamassa M, a utilização de uma ou outra secção, independentemente da espessura ou da idade,
não parece influenciar os resultados de forma significativa, pelo que a avaliação da resistência à compressão
é viável com qualquer secção, isto para diâmetros semelhantes e, consequentemente, de área equivalente.
As Figuras 4.23 e 4.24 procuram mostrar as relações obtidas entre as carotes de diferentes espessuras
em todas as argamassas. Os dados recolhidos na argamassa RC revelam um maior número de pontos em que
as carotes de maior espessura apresentam maior resistência à compressão; no entanto, com base numa análise
mais detalhada por idades, verifica-se que essa tendência apenas se notou nas idades mais avançadas,
nomeadamente aos 91 dias.
Legenda: RC - argamassa RC; M - argamassa M; RD - argamassa
RD; Rcomp quadradas - resistência à compressão das carotes
quadradas; Rcomp quadradas - resistência à compressão das
carotes quadradas
Legenda: D - argamassa D; Rcomp
quadradas - resistência à
compressão das carotes quadradas; Rcomp
quadradas - resistência à compressão das carotes quadradas
Figura 4.23 - Relação entre a resistência à
compressão nas carotes de 1,5 cm e 2,5 cm das
argamassas RC, M e RD
Figura 4.24 - Relação entre a resistência à
compressão nas carotes de 1,5 cm e 2,5 cm das
argamassas D
0
1
2
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Rcomp circulares [MPa]
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Rcomp circulares [MPa]
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Rcomp 2,5 cm
RC
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0 20 40
Rco
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Rcomp 2,5 cm
D
Linear
(y=x)
Análise e discussão dos resultados
82
Apenas a argamassa D permitiu obter uma relação bastante interessante entre as duas espessuras. De
acordo com os dados disponíveis, é obtida uma tendência linear com um R2 muito satisfatório de 0,85 e uma
resistência das carotes de 1,5 cm de 1,3 vezes superior à resistência das carotes de 2,5 cm.
Em relação às argamassas M e RD, os resultados corroboram a tendência para maiores resistências por
parte das carotes de 1,5 cm, sendo verificadas resistências à compressão cerca de 5% superiores às
verificadas nas maiores espessuras.
Legenda: 1,5 circ - carotes circulares de 1,5 cm; 2,5 circ - carotes circulares de 2,5 cm; 1,5 quad - carotes quadradas de 1,5
cm; 2,5 quad - carotes quadradas de 2,5 cm
Legenda: 1,5 circ - carotes circulares de 1,5 cm; 2,5 circ - carotes circulares de 2,5 cm; 1,5 quad - carotes quadradas de 1,5 cm;
2,5 quad - carotes quadradas de 2,5 cm
Figura 4.25 - Evolução da resistência à compressão
das carotes ao longo do tempo da argamassa RC
Figura 4.26 - Evolução da resistência à compressão das
carotes ao longo do tempo da argamassa M
As Figuras 4.25 e 4.26 mostram a evolução da resistência à compressão nas argamassas RC e M,
respectivamente, verificando-se que apenas as carotes de maiores espessuras permitiram estabelecer a
evolução da resistência ao longo do tempo.
Todos os resultados respeitam o mínimo mencionado nas fichas técnicas dos produtos, pelo que o
desempenho das duas argamassas é adequado a nível das suas prestações mecânicas. Independentemente da
secção, os dados indicam que a resistência aumenta ao longo do tempo, verificando-se que apenas nas idades
mais avançadas se registam resistências mais condizentes com as apresentadas pelos provetes normalizados.
Sobre a argamassa RC, a Figura 4.25 mostra um significativo aumento de resistência aos 91 dias. A
diferença para os provetes normalizados será causada, provavelmente, pelas menores relações h/d das carotes
extraídas. Ao contrário desta, a argamassa M apresenta resistências sem grandes variações, registando
valores entre 3,8 e 4,2 MPa, sem ter em conta as diferentes secções e espessuras, como mostra a Figura 4.26.
As Figuras 4.27 e 4.28 dizem respeito à evolução da resistência à compressão ao longo do tempo nas
argamassas RD e D, respectivamente, nas quais se observa, novamente, o melhor comportamento das carotes
de menores espessuras.
0
1
2
3
4
5
7 28 91
Resi
stên
cia
à c
om
press
ão
[MP
a]
Idade (dias)
1,5 circ
2,5 circ
1,5 quad
2,5 quad 3,4
3,6
3,8
4
4,2
4,4
4,6
7 28 91
Resi
stên
cia
à c
om
press
ão
[MP
a]
Idade (dias)
1,5 circ
2,5 circ
1,5 quad
2,5 quad
Análise das características mecânicas de amostras de argamassas pré-doseadas
83
Legenda: 1,5 circ - carotes circulares de 1,5 cm; 2,5 circ - carotes circulares de 2,5 cm; 1,5 quad - carotes quadradas de 1,5 cm; 2,5 quad - carotes quadradas de 2,5 cm
Legenda: 1,5 circ - carotes circulares de 1,5 cm; 2,5 circ - carotes circulares de 2,5 cm; 1,5 quad - carotes quadradas de 1,5 cm; 2,5 quad - carotes quadradas de 2,5 cm
Figura 4.27 - Evolução da resistência à compressão das
carotes ao longo do tempo da argamassa RD
Figura 4.28 - Evolução da resistência à compressão das
carotes ao longo do tempo da argamassa D
Na argamassa RD, as carotes circulares de 1,5 cm foram as únicas que permitiram a obtenção da linha
de evolução da resistência. Por outro lado, nas carotes de maior espessura, além de se obterem poucos
valores, os que foram obtidos foram iguais ou menores às resistências referidas na ficha técnica da
argamassa, de modo que revestimentos com esta espessura terão, à partida, piores desempenhos mecânicos
comparativamente aos revestimentos de menores espessuras. Ao longo do tempo, como observado na Figura
4.27, a resistência tende a crescer consideravelmente até a 28 dias, à semelhança do que acontece com os
provetes normalizados, embora estes com menor significado. Até aos 91 dias, a resistência estabiliza para
valores na mesma ordem de valores dos provetes normalizados. De realçar que, em teoria, as menores
relações h/d levariam a maiores resistências, de modo que o tipo de compactação, o facto de estarem
associadas a um suporte e o processo de extracção das carotes são factores importantes nas menores
resistências nas carotes extraídas.
Pela análise da Figura 4.28, verifica-se que, das quatro argamassas em estudo, a argamassa D foi a que
permitiu recolher mais informações sobre o seu comportamento. As carotes quadradas revelam um
comportamento muito idêntico, ou seja, a resistência à compressão aumenta até a 28 dias e diminui até a 91
dias. As carotes de 1,5 cm permitem resultados muito bons nas duas primeiras avaliações, mas sofrem uma
quebra acentuada no último dia de análise, sendo que as carotes de maior espessura registam valores de
resistência inferiores aos indicados pelo fabricante. Deste modo, os revestimentos de menor espessura terão
tendência para ganhar resistência mais rapidamente nos primeiros dias e a manter-se estável, ainda que
decrescente, até a 91 dias. Sobre as carotes circulares, exceptuando o baixo valor de 9,16 MPa obtido a 28
dias na argamassa D, ambas as espessuras mostram que a resistência aumenta bastante de 7 aos 91 dias. No
entanto, não foi aqui aplicado revestimento nas faces do tijolo, pelo que o desempenho obtido em cada carote
circular será, muito provavelmente, diferente daquele que se obteria para a situação com carotagem. Na
presente situação, a recolha de carotes passou pela colocação directa das amostras no tijolo, variando a
aplicação e a compactação da argamassa e os possíveis danos provocados pelos equipamentos de corte.
4.4.4 - Influência da relação h/d na resistência à compressão
Diversos autores observaram que, para valores inferiores a uma determinada relação h/d, a resistência
à compressão cresce rapidamente. Tendo em conta as diversas correlações observadas e, principalmente, os
resultados de Soares (2011) no âmbito das argamassas de revestimento, estudou-se a influência da relação
h/d na resistência à compressão de carotes e amostras de comparação. Tal como no estudo de Soares (2011),
0
1
2
3
4
5
6
7
7 28 91
Resi
stên
cia
à c
om
press
ão
[MP
a]
Idade (dias)
1,5 circ
2,5 circ
1,5 quad
2,5 quad 0
10
20
30
40
50
7 28 91
Resi
stên
cia
à c
om
press
ão
[MP
a]
Idade (dias)
1,5 circ
2,5 circ
1,5 quad
2,5 quad
Análise e discussão dos resultados
84
recorreu-se ao índice de resistência (IR) (Equação 4.1), parâmetro já abordado e que traduz o acréscimo de
resistência de uma amostra em relação à resistência obtida para provetes normalizados do mesmo produto.
Eq. 4.1
Como mostra a Figura 4.29, o desempenho de todos os produtos pode ser descrito através de uma
tendência de potência. Não é efectuada qualquer distinção entre idades de ensaio, tipo de secção ou mesmo
tipo de amostra (carotes extraídas e amostras de comparação). Desta forma, pretende-se, sobretudo, obter o
comportamento geral das diversas argamassas, tendo sido possível verificar fracas relações nas argamassas
RC e RD, enquanto que as argamassas M e D apresentaram valores de R2 mais razoáveis.
A partir do índice de resistência, é possível constatar que há tendência para os provetes normalizados
apresentarem resistências à compressão superiores às das carotes ou amostras de comparação,
independentemente da secção ou idade. Em relações h/d mais baixas, as resistências das carotes / amostras
aproximam-se dos valores registados pelos provetes normalizados, sendo que, facilmente, se verifica o efeito
do tipo de argamassa. A análise do gráfico da Figura 4.29 permite verificar que é na argamassa D, mais forte,
que muitas das resistências das carotes / amostras superam as resistências dos provetes normalizados,
enquanto que na argamassa RC, mais fraca, a tendência é inversa.
Argamassa Relação R2
RC 0,046
M 0,624
RD 0,278
D 0,467
Legenda: I
R - índice de resistência; h/d - relação h/d; RC - argamassa RC; M - argamassa M; RD - argamassa RD; D - argamassa D
Figura 4.29 - Relação entre h/d e o índice de resistência
Devido à dispersão dos dados, não é possível clarificar a partir de que valor de h/d a resistência à
compressão aumenta mais ou menos significativamente, tal como Soares (2011) estudou para um tipo de
0
0,2
0,4
0,6
0,8
1
1,2
1,4
1,6
1,8
2
0 0,2 0,4 0,6 0,8
IR
relação h/d
RC
M
RD
D
Potencial (RC)
Potencial (M)
Potencial (RD)
Potencial (D)
Análise das características mecânicas de amostras de argamassas pré-doseadas
85
argamassa; no entanto, não há dúvida que, quanto menor a relação h/d, maior a resistência das carotes /
amostras. No presente estudo, a análise do gráfico mostra que a resistência à compressão é sensível ao tipo
de argamassa, verificando-se maior influência nas argamassas de maiores resistências. Independentemente da
relação h/d, notam-se variações no índice de resistência, o que significa que a avaliação da resistência à
compressão deve ser cuidadosamente estudada, especialmente quando estão envolvidas relações h/d dentro
desta ordem de valores (entre 0,2 e 0,6), intervalo no qual também se insere a relação de 0,4 obtida por
Soares (2011).
4.4.4.1 - Influência da idade
A análise da Figura 4.30 permite concluir que, apesar dos baixos valores de R2 observados na
argamassa RC, o seu comportamento parece ser diferente consoante a idade. De facto, verifica-se que o
efeito da relação h/d parece ter maior efeito a 7 dias, notando-se, também uma grande estabilidade a 28 e 91
dias, embora associada a valores de R2 muito baixos.
Também a argamassa M merece atenção acerca da influência da relação h/d, como se pode verificar na
mesma Figura 4.30. Para valores de h/d inferiores a 0,5, nota-se uma possível influência nos valores de
resistência; no entanto, os baixos valores de R2 expressam alguma incerteza nas relações.
Tal como mostra a Figura 4.31, que apresenta apenas as argamassas RD e D, é visível o efeito da
relação h/d na resistência à compressão, mas não se observa influência ao serem estudadas diferentes idades.
Sobre a argamassa RD, apenas se pode afirmar uma maior proximidade das resistências à compressão das
carotes / amostras às resistências dos provetes normalizados a 7 dias, enquanto que na argamassa D, essa
tendência é visível a 91 dias. Além disso, na argamassa RD, é clara a estabilização da tendência de potência
em todas as idades, o que contrasta com o comportamento da argamassa D, na qual o efeito da relação h/d é
bem visível, apesar dos valores de R2 verificados.
Argamassa Idade (dias) Relação R2
RC
7 0,415
28 0,124
91 0,071
M
7 0,526
28 0,405
91 0,819
Legenda: I
R - índice de resistência; h/d - relação h/d; RC - argamassa RC; M - argamassa M
Figura 4.30 - Relação entre h/d e o índice de resistência em função da idade (argamassa RC, à esquerda;
argamassa M, à direita)
0
0,5
1
1,5
2
0 0,5 1
IR
relação h/d
7 dias
28 dias
91 dias
Potencial (7 dias)
Potencial (28 dias)
Potencial (91 dias) 0
0,5
1
1,5
0 0,5 1
IR
relação h/d
7 dias
28 dias
91 dias
Potencial (7 dias)
Potencial (28 dias)
Potencial (91 dias)
Análise e discussão dos resultados
86
Argamassa Idade (dias) Relação R2
RD
7 0,157
28 0,556
91 0,475
D
7 0,456
28 0,374
91 0,680
Legenda: I
R - índice de resistência; h/d - relação h/d; RD - argamassa RD; D - argamassa D
Figura 4.31 - Relação entre h/d e o índice de resistência em função da idade (argamassa RD, à esquerda;
argamassa D, à direita)
No estudo de Soares (2011) em reboco industrial, ficou bem presente que, para valores de h/d < 0,4,
independentemente do produto ou tipo de provete, o valor de resistência aumenta significativamente,
apresentando elevadas oscilações para pequenas variações de h/d. No presente estudo, seriam expectáveis
resultados semelhantes, principalmente nas argamassas mais resistentes, tal como a argamassa RD, uma vez
que apresenta características semelhantes às estudadas em Soares (2011). De facto, principalmente as
argamassas mais fortes seguem de perto as tendências desse estudo, no entanto seria necessário uma maior
quantidade para avaliar quais os valores h/d que mais influenciam a resistência à compressão. Apesar de ser
elucidativa a influência das relações h/d nas argamassas M e D, a avaliação carece de uma maior
variabilidade deste factor, na medida em que permitiria o estabelecimento de valores concretos de h/d que
mais influenciassem o índice de resistência. Esta dificuldade em obter valores é ainda mais visível nas
argamassas RC e RD, uma vez que as tendências de potência sofrem poucas variações.
4.4.4.2 – Influência da secção
Ao serem comparadas as curvas obtidas com carotes e com amostras de comparação na argamassa RC,
na Figura 4.32, verifica-se uma grande dispersão dos dados, com maior visibilidade na situação das carotes
(gráfico da esquerda). Originaram-se coeficientes R2 muito insatisfatórios em ambos os casos, apesar de mais
altos no caso das amostras de comparação, o que se pode justificar, essencialmente, pela possível fractura das
carotes, uma maior irregularidade da sua geometria ou até alguma dificuldade em controlar a espessura.
Analisando as relações obtidas nas amostras de comparação, constatam-se tendências de potência
muito semelhantes, o que indica que a diferença entre a resistência à compressão em amostras quadradas e
circulares é pouco significativa, em função da relação h/d. Em relação à situação das carotes, seria
expectável que, para as maiores relações h/d, se verificassem as menores resistências à compressão,
resultando em tendências de potência decrescentes com o aumento da relação h/d. Esta ocorrência acaba por
0
0,5
1
1,5
0 0,5 1
IR
relação h/d
7 dias
28 dias
91 dias
Potencial (7 dias)
Potencial (28 dias)
Potencial (91 dias) 0
0,5
1
1,5
2
0 0,5 1
IR
relação h/d
7 dias
28 dias
91 dias
Potencial (7 dias)
Potencial (28 dias)
Potencial (91 dias)
Análise das características mecânicas de amostras de argamassas pré-doseadas
87
não se verificar na argamassa RC, situação que mostra que nem sempre é possível avaliar a influência da
relação h/d na resistência à compressão, sendo que argamassas mais fortes são as ter em conta.
Tipo de provete Secção Relação R2
Carotes
Circular 0,001
Quadrada 0,151
Todos 0,062
Amostras de comparação
Circular 0,203
Quadrada 0,263
Todos 0,204
Legenda: I
R - índice de resistência; h/d - relação h/d
Figura 4.32 - Relação entre h/d e o índice de resistência em função da secção na argamassa RC
Da recolha de carotes de argamassa RC, foi recorrente a ocorrência de roturas coesivas na argamassa,
resultado da fraca coesão da mesma. Em consequência da dispersão dos dados nesta argamassa, a aplicação
do método de confinamento para melhor avaliação da resistência à compressão poderia ser uma opção, até
pelo facto de as carotes resultantes do ensaio de aderência pull-off surgirem com geometria irregular. Ainda
que a regularização seja um processo fácil de executar (o que tornaria desnecessária o recurso às argamassas
de confinamento), as carotes apresentariam pouca espessura e, consequentemente, aumentaria a
probabilidade de as mesmas sofrerem esmagamento quando solicitadas à compressão.
É de aconselhar, sobretudo, que, na avaliação da resistência in-situ da argamassa RC, a espessura de
teste seja a maior possível, dada a possibilidade de surgirem carotes partidas ou de espessura inadequada.
Como se verificou no estudo sobre a idade na argamassa M, a relação h/d de 0,5 surgiu como uma
hipótese limite, em que, para valores inferiores a esse valor, a resistência à compressão poderia dispersar
bastante. Contudo, segundo a Figura 4.33, a separação em carotes e amostras de comparação não é
esclarecedora sobre este facto. Ambos os gráficos não contemplam a análise por idades, já que são
meramente apresentados os comportamentos para cada tipo de secção.
Para as carotes (gráfico da esquerda, na Figura 4.33), verifica-se pouca extensão de dados, o que
resulta em fracas relações, mas está explícito que a resistência surge condicionada pela relação h/d, ainda que
haja alguma estabilidade dos valores no intervalo de relações h/d estudado. Além disso, observam-se valores
de IR sempre abaixo de 0,7, o que significa que as carotes apresentaram, no máximo, 70% da resistência dos
provetes normalizados.
0
0,5
1
1,5
2
0 0,5 1
IR
relação h/d
circulares
quadradas
Potencial
(circulares)
Potencial
(quadradas) 0
0,2
0,4
0,6
0,8
1
1,2
0 0,5 1
IR
relação h/d
circulares
quadradas
Potencial
(circulares)
Potencial
(quadradas)
Análise e discussão dos resultados
88
Tipo de provete Secção Relação R2
Carotes
Circular -
Quadrada 0,187
Todos 0,12
Amostras de comparação
Circular 0,679
Quadrada 0,728
Todos 0,618
Legenda: I
R - índice de resistência; h/d - relação h/d
Figura 4.33 - Relação entre h/d e o índice de resistência em função da secção na argamassa M
Por fim, analisando apenas os resultados das amostras de comparação (gráfico da direita, na Figura
4.33), constata-se que, tanto para as secções circulares como para as quadradas, é possível representar o IR
através de linhas de tendência semelhantes, sem variação significativa do valor de R2, concluindo-se que a
avaliação da resistência à compressão não sofre grandes alterações em função da secção utilização, desde que
as áreas sejam equivalentes.
Tipo de provete Secção Relação R2
Carotes
Circular 0,151
Quadrada 0,936
Todos 0,734
Amostras de comparação
Circular 0,201
Quadrada 0,097
Todos 0,129
Legenda: I
R - índice de resistência; h/d - relação h/d
Figura 4.34 - Relação entre h/d e o índice de resistência em função da secção na argamassa RD
0
0,2
0,4
0,6
0,8
0 0,5 1
IR
relação h/d
circulares
quadradas
Potencial
(quadradas)
0
0,2
0,4
0,6
0,8
1
1,2
0 0,2 0,4 0,6
IR
relação h/d
circulares
quadradas
Potencial
(circulares)
Potencial
(quadradas)
0
0,5
1
0 0,5 1
IR
relação h/d
circulares
quadradas
Potencial
(circulares)
Potencial
(quadradas) 0
0,5
1
1,5
0 0,5 1
IR
relação h/d
circulares
quadradas
Potencial
(circulares)
Potencial
(quadradas)
Análise das características mecânicas de amostras de argamassas pré-doseadas
89
A Figura 4.34 mostra o índice de resistência em função da relação h/d na argamassa RD. Segundo os
dados disponíveis, verifica-se estabilidade na tendência de potência das amostras de comparação (gráfico da
direita), em contraste com as tendências mais pronunciadas das carotes (gráfico da esquerda), resultado de
uma maior influência da relação h/d na avaliação da resistência à compressão. Esta influência praticamente
não se faz sentir na situação das amostras de comparação. Na situação das carotes, apesar da notória
diferença entre as situações com secções circulares e quadradas, foi possível chegar a uma interessante
relação com R2 de 0,73, sendo que esta poderá ser uma forma de avaliar o índice de resistência para as
diversas relações h/d.
Tipo de provete Secção Relação R2
Carotes
Circular 0,373
Quadrada 0,729
Todos 0,312
Amostras de comparação
Circular 0,897
Quadrada 0,647
Todos 0,705
Legenda: I
R - índice de resistência; h/d - relação h/d
Figura 4.35 - Relação entre h/d e o índice de resistência em função da secção na argamassa D
Verifica-se, ainda, que a representação de carotes e amostras de comparação pode ser representada
através de linhas de tendência muito semelhantes, ainda que o índice de resistência apresentado nas amostras
de comparação seja tendencialmente maior no segundo caso. Além disso, esses valores apresentam tendência
para serem superiores a 1, o que remete para valores de resistência à compressão em amostras de comparação
superiores às resistências observadas em provetes normalizados, surgindo a relação h/d como a principal
razão para este facto.
4.4.5 - Comparação da resistência à compressão de carotes com a de provetes
normalizados
Na perspectiva de comparar a resistência à compressão entre carotes recolhidas in-situ e provetes
normalizados do mesmo produto, recorreu-se às relações obtidas nos estudos de Magalhaes & Veiga (2004)
e Flores-Colen (2009), com o objectivo de averiguar a viabilidade das mesmas para o cálculo da resistência à
compressão dos provetes normalizados nas várias argamassas estudadas.
Eq. 4.1
Eq. 4.2
0
0,5
1
1,5
2
0 0,5 1
IR
relação h/d
circulares
quadradas
Potencial
(circulares)
Potencial
(quadradas) 0
0,5
1
1,5
2
0 0,5 1 IR
relação h/d
circulares
quadradas
Potencial
(circulares)
Potencial
(quadradas)
Análise e discussão dos resultados
90
Onde
RCPN - resistência à compressão de provetes normalizados [MPa];
RCcarotes - resistência à compressão de carotes [MPa].
Aplicaram-se as expressões 4.1 e 4.2 para a estimativa da resistência à compressão dos provetes
normalizados, comparando-se os resultados com as resistências reais medidas durante a campanha
experimental. O Quadro 4.13 mostra as resistências à compressão estimadas a partir das resistências obtidas
nas carotes.
Os gráficos da Figura 4.36 mostram a análise da argamassa RC, com aplicação do método de
Magalhães & Veiga (1994) e das argamassas M, RD e D, de acordo com a hipótese proposta por Flores-
Colen (2009), que resultam da comparação directa entre as resistências à compressão estimadas pelas
fórmulas e medidas em laboratório, as quais estão apresentadas no Quadro 4.13.
A Figura 4.36 mostra que só foi possível avaliar as carotes de maiores espessuras das argamassas RC e
M, mas sem possibilidade de estabelecer relações entre as diferentes resistências de provetes normalizados
de argamassa RC, pelo que a utilização do método de Magalhães & Veiga (1994) na obtenção de relações
que comparem resistências à compressão medidas e estimadas fica sem efeito nesta argamassa mais fraca. A
mesma figura mostra os resultados da argamassa M que, apesar de sugerir resistências distintas entre
provetes normalizados (estimados e medidos), permite a obtenção de relações entre a resistência de carotes e
a de provetes normalizados a partir das expressões indicadas na Figura 4.36, as quais são indicadas no
Quadro 4.14.
Quadro 4.13 – Estimativa e valor médio da resistência à compressão de provetes normalizados
Argamassa Secção Espessura
(cm)
Resistência à compressão
Carotes PN (estimada) PN (medida)
Idades
7 28 91 7 28 91 7 28 91
RC
Circular 1,5 - - 3,07 - - 2,45
3,07 3,67 3,02 2,5 2,62 2,68 3,77 2,07 2,12 3,05
Quadrada 1,5 - 2,76 - - 2,19 -
2,5 1,35 1,78 4,36 0,99 1,36 3,55
M
Circular 1,5 - - - - - -
6,6 6,01 6,99 2,5 - 3,78 4,38 - 3,14 3,52
Quadrada 1,5 - 3,91 - - 3,22 -
2,5 - 3,82 3,89 - 3,16 3,21
RD
Circular 1,5 4,19 5,59 6,1 3,40 4,26 4,56
5,69 6,8 6,49 2,5 4,2 - - 3,41 - -
Quadrada 1,5 - - - - - -
2,5 3,52 3,36 - 2,97 2,86 -
D
Circular 1,5 20,74 - 41,89 11,85 - 20,45
23,14 25,41 28,03 2,5 14,06 9,16 25,41 8,75 6,26 13,88
Quadrada 1,5 24,93 30,34 22,31 13,68 15,94 12,54
2,5 13,53 19,98 17,59 8,49 11,50 10,42
Legenda: RC - argamassa RC; M - argamassa M; RD - argamassa RD; D - argamassa D; PN - provetes normalizados
Análise das características mecânicas de amostras de argamassas pré-doseadas
91
Argamassa Secção Espessura (cm) Relação R2
M Circular
2,5
1
Quadrada
1
RD Circular 1,5
0,748
D Circular
2,5
0,478
Quadrada
0,359
Legenda: RC - argamassa RC; M - argamassa M; RD - argamassa RD; D - argamassa D; RCPN
(medida) - resistência à compressão medida nos ensaios; RCPN
(estimativa) - resistência à compressão estimada a partir das equações de Flores-Colen (2009)
Figura 4.36 - Relação entre a resistência à compressão em provetes normalizados medidos na campanha e
estimados através das expressões 4.1 e 4.2
Quadro 4.14 – Relações entre a resistência à compressão de provetes normalizados e de carotes recolhidas
Argamassa Secção Espessura (cm) Relação
M Circular
2,5
Quadrada
RD Circular 1,5
D Circular
2,5
Quadrada
Legenda: RC - argamassa RC; M - argamassa M; RD - argamassa RD; D - argamassa D; RCPN - resistência à compressão dos provetes normalizados; RCcarotes - resistência à compressão das carotes
No gráfico da direita da Figura 4.36, os resultados mostram que é igualmente possível aplicar o
mesmo método nas carotes das argamassas RD e D, considerando a utilização da expressão proposta por
Flores-Colen (2009) (Equação 4.2). No Quadro 4.14, são apresentadas as relações finais entre as resistências
dos provetes normalizados e das carotes recolhidas das fachadas para estas argamassas.
4.5 - Análise crítica dos resultados
A composição de uma argamassa é um factor muito importante, com bastante influência no seu
rendimento. O estudo de aspectos como a análise granulométrica e a baridade, apesar de secundários na
presente dissertação, são fundamentais para entender algumas diferenças entre propriedades das argamassas,
não só físicas, como até a nível do seu desempenho mecânico.
As características no estado fresco são importantes, sobretudo, para indicar a aptidão e capacidade das
argamassas para determinado fim, nomeadamente em termos de aptidão para uso e aplicação como
revestimentos em fachadas. A avaliação do espalhamento com as relações adoptadas levou a boas
trabalhabilidades, nomeadamente nas argamassas M e RD; no entanto, a escolha por maiores relações água /
produto tornaria as argamassas ainda mais fluidas, mas sem alterações das prestações mecânicas.
As propriedades avaliadas no estado endurecido englobam as características mecânicas, dentro das
quais os valores mais indicativos são a aderência e a resistência à compressão. Esta última foi o principal
0
2
4
6
8
0 5
RC
PN
(med
ida) [M
Pa]
RCPN(estimativa) [MPa]
RC (circ 2,5)
RC (quad 2,5)
M (circ 2,5)
M (quad 2,5)
Linear (y=x) 0
5
10
15
20
25
30
0 20 40
RC
PN (m
edid
a) [
MP
a]
RCPN (estimativa) [MPa]
RD (1,5 circ)
D (2,5 circ)
D (1,5 quad)
D (2,5 quad)
Linear (y=x)
Análise e discussão dos resultados
92
alvo de interesse na presente dissertação, cujo objectivo passou por verificar se todas as argamassas, de
propriedades tão variadas, apresentavam condições para garantir prestações mecânicas adequadas ao uso,
isto considerando factores importantes como a idade, a espessura do revestimento ou as condições de cura
(não estudadas no âmbito da presente dissertação). A análise da resistência de aderência mereceu também
atenção, dada a importância da capacidade do revestimento resistir a tensões na interface com o suporte.
Na fase de recolha de carotes, foram testadas três idades, mas a possibilidade de testar este tipo de
argamassas em idades ainda mais avançadas surge como uma hipótese interessante, de modo a acompanhar a
evolução da sua resistência, uma vez que a estes produtos estão associados muitos anos de utilização. Nas
argamassas mais fortes, foram frequentes roturas coesivas no suporte; alguns tijolos surgiram com ligeiras
fissuras, padecendo de alguma fraqueza, ainda que as aderências associadas não ponham em causa o
desempenho das argamassas. A ocorrência de roturas coesivas na argamassa mais fraca mostra que estudar a
resistência a partir de amostras recolhidas pode ser uma opção viável. No entanto, como se verificou nos
ensaios de compressão, as carotes apresentaram tendência para sofrer roturas por esmagamento durante o
ensaio (principalmente nos casos de menores espessuras), pelo que nestes casos a obtenção de resultados é
dificultada. A alternativa de aplicar argamassas de confinamento poderá ser uma técnica adequada, uma vez
que foi recorrente o surgimento de amostras friáveis mas, sobretudo, irregulares.
Na tentativa de relacionar a aderência e resistência à compressão, apenas foi possível avaliar a
argamassa mais fraca e uma carote da argamassa RD, isto atendendo a que apenas interessam situações de
rotura coesiva na argamassa. As argamassas fortes apresentaram unicamente roturas coesivas no suporte, o
que é desvantajoso, na medida de não ter sido possível a recolha de um valor quantitativo da tensão de
aderência e respectiva associação à tensão de compressão. Por outro lado, a coesão que apresenta é um
aspecto vantajoso, no sentido em que existe a garantia do bom comportamento destes tipos de argamassas de
revestimento.
Em consequência do material de laboratório disponível, as amostras de comparação utilizadas
apresentaram as dimensões superiores às verificadas nas carotes, das quais resultaram maiores variações,
permitindo uma maior amplitude de resultados para estudos de relação h/d na resistência à compressão.
A recolha de carotes de tijolos levou a um número escasso de carotes a ensaiar, dadas as diversas
roturas na proximidade da interface revestimento / cola. Esta ocorrência não pareceu dever-se ao facto de os
cortes realizados serem insuficientes ou a aplicação da pastilha ter sido incorrecta, notando-se sim uma forte
coesão entre carotes e o suporte, consequência das boas aderências conseguidas. Nestes casos, o problema
esteve na ocorrência de roturas pela película superficial da camada, pelo que seria interessante a avaliação da
resistência em idades mais avançadas. Ainda assim, apesar das relações obtidas não serem totalmente
conclusivas, são elucidativas das diversas tendências, em função da secção e da espessura.
No estudo da resistência à compressão em função da relação h/d, ficou claro que a pouco extensão de
valores h/d limitou a avaliação da influência, resultado de as carotes e amostras de comparação ensaiadas
apresentarem pouco variabilidade nas suas dimensões. Com isso, foram obtidas relações com valores de R2
relativamente baixos, mas interessantes para o estudo da influência da relação h/d na resistência à
compressão. Apesar disso, verificou-se uma maior influência da relação h/d nas argamassas mais fortes, mas
não foi possível avaliar em que intervalos de relação h/d a resistência é mais afectada.
4.6 - Conclusões do capítulo
Na caracterização das argamassas no estado seco, foi possível apurar curvas granulométricas quase
coincidentes das argamassas RC e D, embora a última apresente maior percentagem de finos. Verificaram-se,
também, tendências semelhantes nas argamassas M e RD, mostrando a M uma quantidade considerável de
elementos com dimensão superior a 1 mm.
Na avaliação das características no estado fresco, constatou-se que a monocamada apresentou o valor
mais baixo de massa volúmica e a argamassa de impermeabilização o valor mais alto, a rondar 2000 kg/m3.
Análise das características mecânicas de amostras de argamassas pré-doseadas
93
Todas as argamassas apresentaram valores de massa volúmica perto do esperado. Os resultados da
consistência por espalhamento são concludentes acerca das diferentes trabalhabilidades de todas as
argamassas. A monocamada apresentou excelente fluidez, enquanto que as argamassas RC e D se mostraram
difíceis de manusear e aplicar.
Para a elaboração da parte experimental do presente capítulo, recorreu-se ao ensaio de aderência pull-
off e aos ensaios de tracção por flexão, como forma de obter carotes e provetes para avaliar a resistência à
compressão. Paralelamente à recolha de carotes, foram produzidas amostras de comparação de dimensões
não totalmente semelhantes, com ligeiras diferenças nas dimensões, sem influência do suporte, Foi possível,
deste modo, retirar conclusões sobre os resultados obtidos, analisando as influências do tipo de produto,
espessura e secção dos provetes e idade.
A partir do tipo de rotura verificada nas várias argamassas, foi possível verificar uma clara diferença a
nível mecânico entre a argamassa RC, menos compacta, e as restantes, com a D a surgir como a mais forte e
M e a RD intermédias. Na argamassa RC, quase todas as roturas foram coesivas no reboco, oferecendo
poucas hipóteses de adquirir amostras com espessura adequada ao ensaio de compressão. Neste sentido,
como é difícil o estudo das características físicas e mecânicas em resultado da extração de poucas carotes ou
de pouca coesão, é expectável que a aplicação de argamassa de confinamento possa melhorar esta questão. A
aplicação do método nestas argamassas é difícil, dada a forte tendência das carotes de argamassa RC com
pouca espessura sofrerem rotura por esmagamento. Nas restantes argamassas, foi notória a capacidade de
resistência, justificada pela ocorrência de roturas próximas da interface revestimento / cola e de roturas
coesivas no suporte. Na argamassa mais forte, a idade não parece influenciar o tipo de rotura; no caso das
argamassas mais fortes, foi clara a capacidade de adquirir resistência a partir das primeiras idades de análise.
Verificou-se a tendência para a tensão de aderência revelar melhores resultados nas idades mais
avançadas e para um melhor desempenho nas carotes de maior espessura em todas as argamassas, apesar de
na argamassa RD as maiores espessuras sofrerem quedas de resistência. Do estudo realizado, também se
constatou que a utilização de pastilhas de 40 mm de lado conduz a valores de aderência ligeiramente
superiores aos obtidos com pastilhas circulares de 50 mm de diâmetro. O facto das carotes quadradas terem
menor área e o método de extracção de carotes introduzir maior vibração leva a concluir que a forma da
secção não é significativamente influente nos resultados, desde que as áreas sejam equivalentes, pelo que
podem ser utilizadas carotes sugeridas pela RILEM (2004) para avaliação da tensão de aderência.
Apenas foi possível chegar a boas relações entre as resistências de aderência e de compressão para
idades mais tardias da argamassa RC; nas restantes argamassas, apenas se recolheu uma amostra com rotura
coesiva na argamassa, não tendo sido possível estabelecer relações nas argamassas M, RD e D.
Como a resistência à compressão é uma das principais características a avaliar, foram produzidos e
testados provetes normalizados, como forma de complementar o estudo das diferentes argamassas. Esta
análise englobou, fundamentalmente, a determinação da resistência mecânica à compressão. Os valores
obtidos nos ensaios, face aos presentes nas fichas técnicas, assumem uma ordem de valores largamente
superior em todas as argamassas. Aos 28 dias, a argamassa D apresenta uma resistência à compressão cerca
de quatro vezes superior às argamassas M e RD e aproximadamente sete vezes superior em relação à
argamassa RC. A nível da evolução ao longo do tempo, verificou-se que todas as argamassas, à excepção da
argamassa D, se apresentam na mesma ordem de valores em todas as idades.
Foi estudada a hipótese de produzir amostras de comparação, de dimensões semelhantes às amostras,
com o objectivo de avaliar a resistência à compressão in-situ. A partir desta análise, ficou presente que, para
as argamassas RC, M e RD, as amostras quadradas de 2,5 cm, as circulares de 2,5 cm e as circulares de 1,5
cm surgiram como as melhores opções, respectivamente. Apesar destas verificações, os resultados obtidos
não são conclusivos sobre a possibilidade de obter resistências em amostras de comparação na mesma ordem
de valores, independentemente da secção e espessura.
Após a análise feita às carotes extraídas, procedeu-se de forma similar para as amostras de
comparação. Verificou-se que se consegue avaliar a resistência à compressão na mesma ordem de valores em
Análise e discussão dos resultados
94
carotes utilizando amostras circulares e quadradas, ficando bem evidente que as amostras de menor espessura
resistem mais do que as de maior espessura. Independentemente da secção, a resistência à compressão das
argamassas RC, M e RD aumenta ao longo do tempo, verificando-se um melhor comportamento das carotes
de menor espessura. Na argamassa D, as carotes de menor espessura terão tendência a ganhar resistência
mais rapidamente. De acordo com os resultados mais consistentes, os de secção quadrada, obteve-se a maior
resistência à compressão aos 28 dias.
Na avaliação da resistência à compressão em função da relação h/d, constatou-se que esta se traduziu
numa linha de potência, tal como sugerido em estudos anteriores. Devido à elevada dispersão dos dados, não
foi possível clarificar a partir de que valor h/d a resistência à compressão se dispersa nos valores; no entanto,
não houve dúvida de que, quanto menor a relação h/d, maior a resistência à compressão de carotes /
amostras, com maior relevância nas argamassas M e D. Apesar de não ter sido possível definir valores de
relação h/d limite, parece que, independentemente da idade, existe uma forte influência deste factor, de modo
que este deve ser tido em conta na resistência à compressão de amostras recolhidas. No estudo por idades,
notou-se, principalmente, o efeito na argamassa RC, enquanto nas restantes argamassas, as tendências foram
bastante próximas nas diferentes idades. Na comparação entre as duas secções, não se verificaram diferenças
significativas nas carotes, tendo sido observada alguma influência da secção do lado das carotes, excepto na
argamassa D. Tomando como base a relação h/d de 0,4 em Soares (2011), valor abaixo do qual a resistência
aumenta significativamente, os resultados mostram que a relação h/d é mais condicionante em argamassas
mais fortes, sendo que ocorrerá um aumento significativo de resistência para maiores relações h/d. Não tendo
sido possível estabelecer valores concretos da relação h/d, os dados mostram que, para um valor no intervalo
[0,4; 0,6], a resistência sofre um aumento acentuado, essencialmente nas argamassas mais resistentes.
Análise das características mecânicas de amostras de argamassas pré-doseadas
95
5 - Conclusões e propostas de desenvolvimento
5.1 - Considerações finais
A presente dissertação consistiu na análise das características mecânicas de amostras recolhidas de
diferentes tipos de argamassa, mais concretamente a avaliação da resistência à compressão, considerada uma
propriedade fundamental pelas diversas normas, sendo uma das características mais vezes determinada em
laboratório.
Na campanha experimental, foram realizados ensaios de aderência pull-off a um grupo de argamassas
de prestações distintas, aplicadas em tijolo, como meio de obter directamente carotes possíveis de testar à
compressão. Paralelamente às carotes extraídas, foram produzidas amostras de comparação com a mesma
constituição, a partir de moldes de dimensões definidas, para uma análise mais detalhada sobre os aspectos
que podem influenciar os valores de resistência à compressão, tais como o suporte e a esbelteza.
Ao longo do trabalho desenvolvido, foram considerados vários parâmetros de estudo,
fundamentalmente diferentes espessuras de reboco, várias formas geométricas das carotes e amostras de
comparação, bem como distintas idades de ensaio. Com base nos vários resultados obtidos em laboratório,
apoiados pelas diversas bibliografias pesquisadas, foi possível estabelecer relações e chegar a várias
conclusões.
Todos os produtos concebidos na fase experimental permitiram estudar meios de avaliar a resistência à
compressão, não só através do ensaio directo nas carotes, amostras de comparação e provetes normalizados,
como também a partir da via indirecta com a tensão de aderência obtida com o ensaio de arrancamento pull-
off (válida apenas para situações de rotura coesiva na argamassa).
Do grupo de argamassas em estudo, fizeram parte quatro argamassas pré-doseadas: uma argamassa
mineral pigmentada (M), duas argamassas minerais de regularização (RC e RD) e uma de impermeabilização
(D).
5.2 - Conclusões gerais
Parte das carotes e amostras de comparação apresentam dimensões superiores aos pratos da máquina
de ensaios à compressão, o que originaria a rotura por corte. Para contornar este problema, recorreu-se a
chapas de metal, de modo a abranger toda a área de carotes e daí recolher a correspondente tensão de
compressão.
Nas situações de remoção das pastilhas, recorreu-se, por vezes, à estufa a 100 ºC e, noutras, ao
fogareiro eléctrico. Não se tendo registado diferenças acentuadas entre os dois métodos nos correspondentes
resultados de resistência à compressão, foi utilizado o fogareiro eléctrico devido, essencialmente, à menor
probabilidade de danificação das carotes, sobretudo, das referentes às argamassas mais friáveis.
A partir da realização da campanha experimental, foi possível obter diversos resultados,
essencialmente respeitantes a tensões de aderência e de resistência à compressão, os quais conduziram a um
conjunto de conclusões sobre a temática da avaliação das características mecânicas em rebocos aplicados. De
início, são expostas as conclusões referentes ao ensaio de aderência pull-off, as quais se focam, sobretudo, na
influência de vários factores nos resultados da tensão de aderência. De seguida, são abordadas as questões
fundamentais da resistência à compressão, não só sobre o efeito de alguns factores nos resultados, como a
tendência de evolução ao longo do tempo. Além disso, foca-se também o estudo no estabelecimento de
relações entre a aderência e a resistência à compressão, segundo o qual puderam ser recolhidas diversas
conclusões.
Ao analisar o tipo de rotura ocorrido nas quatro argamassas até a 91 dias, verificaram-se
comportamentos diferentes entre a argamassa mais fraca e as restantes argamassas. Foi comum a ocorrência
Conclusões e propostas de desenvolvimento
96
de roturas coesivas na argamassa no produto menos compacto, o que mostra que a idade parece não
influenciar o tipo de rotura neste produto. Do lado das argamassas mais resistentes, não ocorreram roturas
coesivas pela argamassa, apenas roturas no suporte, justificadas não só por alguma fragilidade pelo tijolo,
como fundamentalmente pela elevada coesão e boa aderência apresentadas por todas elas.
A análise sobre o efeito da secção e da espessura não é totalmente conclusiva, mas permite recolher
tendências importantes, algumas comuns a todas as argamassas. No geral, os resultados mostram aderências
muito aceitáveis, independentemente da secção e da espessura, tendo as maiores espessuras e as secções
quadradas apresentado as melhores aderências, à excepção da argamassa RD. Em termos de valores sobre o
efeito da secção, apenas foi possível apurar melhores aderências nas carotes quadradas de argamassa RC
(entre 46 e 63%); apesar de não se ter avaliado percentagens nas restantes argamassas, os resultados mostram
a tendência para se obter melhores resultados nas carotes quadradas do que nas circulares, apresentando as
primeiras 4 cm de lado e as segundas 5 cm de diâmetro. No que concerne ao efeito da espessura, foram
testadas espessuras de 1,5 e 2,5 cm, verificando-se melhores aderências nas carotes de maiores espessuras
das argamassas RC e M, redução da resistência entre 12 e 28% com aumento da espessura na argamassa RD
e reduções entre 9% e 35% nas carotes de maior espessura, na maioria dos casos de rotura coesiva no suporte
da argamassa D. Independentemente da secção, da espessura e do tipo de argamassa, importa referir que
praticamente todas as carotes apresentaram boas aderências, levando a concluir que todas as argamassas se
assumem como boas soluções como camadas de revestimento.
A comparação directa entre os resultados da aderência obtidos em carotes quadradas e circulares
reflecte o melhor comportamento das secções quadradas. Apesar de, por vezes, serem atingidas resistências
de aderência num patamar superior de valores, nomeadamente nas argamassas RD e D, a realização de
ensaios de aderência pull-off poderá ser viável também com pastilhas quadradas de 40 x 40 mm2 (com área
semelhante à das pastilhas circulares), mas tendo sempre em consideração as relações estabelecidas entre as
duas secções, mas também factores como o processo de corte e a geometria das carotes.
A 91 dias de idade, foi estabelecida uma relação linear que permitiu uma comparação directa entre a
resistência de aderência de carotes (situação apenas válida para roturas coesivas na argamassa) e a resistência
à compressão das mesmas com um R2 de 0,77 na argamassa RC. Devido a relações lineares muito fracas a 7
e 28 dias na mesma argamassa e à ausência de resultados nas restantes argamassas, não houve possibilidade
de avaliar a hipótese de aplicar o método nestas situações. Outros autores verificaram a viabilidade do
método em argamassas com prestações distintas e em idades de análise diferentes, o que não invalida a
abordagem feita aos 91 dias da argamassa RC.
Uma vez que factores como a forma do provete, a idade e as condições de cura têm influência
significativa nos valores, a produção de provetes normalizados e amostras de comparação, que obviamente
não representam o real comportamento das argamassas, pretende, fundamentalmente, averiguar a viabilidade
de determinar a resistência à compressão em laboratório, considerando os muitos aspectos que a
condicionam. As várias condicionantes intrínsecas à produção dos dois tipos de provetes afastam-se das reais
condições de aplicação, pelo que, neste sentido, é natural que a extracção de carotes em tijolos cerâmicos se
assuma como a fonte fundamental de recolha dos reais comportamentos em serviço de um revestimento.
O estudo da resistência à compressão, de acordo com as normas, levou à produção e ensaio de
provetes normalizados nas várias idades. Os resultados obtidos permitiram verificar concordâncias com as
fichas técnicas dos produtos e enquadrar os valores no intervalo geralmente apresentados por argamassas
cimentícias, o que resulta, teoricamente, no bom desempenho de todas as argamassas, essencialmente aos 28
dias de idade.
A comparação entre as amostras de comparação e carotes sugere que as amostras de secção quadrada
revelam maiores resistências à compressão, isto num plano muito geral, uma vez que não é contemplada a
separação por tipo de argamassa, idade ou espessura. Numa análise mais detalhada, que engloba estas
variáveis, verificou-se que a produção deste tipo de amostras não ofereceu bons resultados, apesar de
algumas amostras de formato específico terem revelado tendência para tal; assim, para as argamassas RC, M
Análise das características mecânicas de amostras de argamassas pré-doseadas
97
e RD, surgiram como opções de análise as amostras quadradas de 2,5 cm (idades mais jovens), as amostras
circulares de 2,5 cm (qualquer idade) e as amostras circulares de 1,5 cm (idades mais avançadas),
respectivamente. De acordo com as conclusões de Soares (2011), as amostras de comparação são mais
indicadas a resistências à compressão de reboco tradicional, verificando-se uma menor aptidão em
argamassas pré-doseadas. O estudo das amostras de comparação mostrou variações na definição das
melhores dimensões das amostras e idades de estudo. Contudo, independentemente do tipo de argamassa,
estas amostras podem trazer vantagens relativamente aos provetes normalizados. Além de permitirem o
estudo de diferentes secções e de relações h/d próximas das carotes recolhidas em paramentos, é possível a
produção de amostras o mais semelhante possível ao revestimento aplicado, nomeadamente em termos das
suas características (camadas, acabamento e tempos de aplicação). Por outro lado, a análise de provetes
normalizados tem a vantagem da normalização dos métodos e critérios de avaliação. No entanto, salienta-se
que estas duas alternativas partilham a desvantagem, diferindo das carotes, de que a argamassa analisada não
sofreu a influência do suporte, pelo que a análise de carotes permite uma análise mais fidedigna das
características do revestimento aplicado e em condições reais de serviço. Pelas razões anteriores, os métodos
referidos são complementares.
Apesar da pouca quantidade de resultados de resistência à compressão de carotes, que limitou a
obtenção de relações, realça-se a tendência mostrada pelas carotes circulares de revelar melhores
resistências; constata-se, no entanto, que esta diferença não é significativa nos resultados, pelo que a
avaliação da resistência à compressão apresenta viabilidade em qualquer secção estudada, desde que as áreas
das duas secções diferentes sejam semelhante. Sobre o efeito da espessura nos resultados, com excepção das
carotes de argamassa RC nas idades mais avançadas, todas as argamassas revelaram resistências superiores
com a diminuição da espessura, na ordem de 5% para as argamassas M e RD e cerca de 30% nas carotes de
argamassa D. Embora o ensaio com carotes circulares seja o normalizado, é aconselhável o ensaio com
carotes de secção quadrada, particularmente em argamassas mais fracas, dada a mais fácil execução e menor
probabilidade de introduzir vibração nas carotes (possibilidade de rotura ou degradação das mesmas).
Analisando a evolução da resistência à compressão ao longo do tempo das argamassas RC e M,
verifica-se que os resultados respeitam o mínimo indicado nas fichas técnicas dos produtos, com tendência
para a resistência aumentar ao longo do tempo, comportamento que apenas se regista nas carotes de menor
espessura da argamassa RD. Um comportamento distinto ao longo do tempo é revelado pela argamassa D,
uma vez que mostra tendência para apresentar os melhores resultados aos 28 dias, concretamente nas carotes
quadradas. Nas secções circulares, verifica-se um aumento pronunciado de 7 para 91 dias, situação que pode
estar relacionada com o método de aplicação e, principalmente, com a ausência de possíveis danos
resultantes da acção de corte.
O factor de maior importância no estudo da resistência à compressão é a relação h/d, sendo corrente
verificar o aumento de resistência com a redução desta relação em todas as argamassas através de séries de
potência. Os resultados são fortemente influenciados pelo tipo de argamassa, uma vez que se mostrou que as
tendências são mais pronunciadas para argamassas mais fortes, existindo mesmo casos em que as resistências
das carotes / amostras superam as dos provetes normalizados, particularmente em relações h/d mais baixas.
No estudo mais detalhado sobre a influência da idade no comportamento das carotes em função da
relação h/d, observou-se estabilização das tendências de potência nas argamassas RC e RD, embora se tenha
verificado um grande efeito da relação h/d nas idades mais jovens da RC. O efeito da relação h/d fez-se
sentir mais nas argamassas M e D, com maior evidência na última; para idades mais jovens da argamassa M,
nota-se um maior efeito da relação h/d, verificando-se que, para relações próximas de 0,5, todas as carotes /
amostras tendem a apresentar valores idênticos de índice de resistência, que representa o acréscimo de
resistência de cada amostra em relação à resistência dos provetes normalizados. Na análise da influência da
secção, não se verificam alterações significativas com a utilização de uma ou outra secção, excepto a
argamassa RD, na que se observa alguma diferença entre carotes circulares e quadradas. De todas as
Conclusões e propostas de desenvolvimento
98
argamassas em estudo, a argamassa D é a mais influenciada pelo efeito da relação h/d na resistência à
compressão.
Da recolha de carotes da argamassa menos compacta, foi recorrente a ocorrência de roturas coesivas
pela argamassa, o que reflecte bem a fraca coesão interna da mesma. Todas as carotes desta argamassa
resultantes do ensaio pull-off foram facilmente rectificadas ambas as faces, perdendo-se no entanto parte da
amostra. Em estudos anteriores, ficou provado que a aplicação do método de confinamento é viável em
situações de argamassas mais fracas (revestimentos antigos), em que as carotes surgem friáveis. Assim, a
utilização desta técnica na argamassa de prestações mais baixas surge como forte possibilidade,
especialmente para espessuras muito baixas (entre 1 e 2 cm), visto que as carotes apresentam probabilidade
de sofrerem rotura por esmagamento. Por conseguinte, a comparação entre ensaiar amostras idênticas com e
sem confinamento deve ser considerada em estudos futuros.
Com o apoio em estudos realizados por alguns autores, foram comparadas as resistências à
compressão obtidas em carotes e em provetes normalizados, tendo sido estabelecidas relações directas entre
as duas tensões.
5.3 - Desenvolvimentos futuros
Em virtude da análise realizada aos diferentes tipos de argamassa em termos das suas características
mecânicas, nomeadamente a resistência à compressão, sugerem-se os seguintes tópicos de investigação em
futuros estudos a desenvolver:
aplicar as argamassas em modelos reais de parede com área significativa (em ambiente exterior) pelo
método de projecção e daí recolher amostras, fazendo a avaliação da influência das condições de
aplicação e das agressões exteriores nos resultados de resistência à compressão e a comparação com
modelos reduzidos produzidos em laboratório;
averiguar a possibilidade de realizar o ensaio de aderência pull-off a revestimentos com acabamento
final, atendendo a que existe um elevado número de argamassas que têm função de regularização e
suporte de revestimento (pinturas, elementos cerâmicos…);
ensaiar as argamassas a idades mais avançadas, uma vez que os revestimentos devem garantir
prestações mecânicas adequadas durante o seu tempo de vida útil;
executar revestimentos com espessura próxima dos limites máximos recomendados pelo fabricante,
testando carotes com um intervalo superior de espessuras, dada a possibilidade de ocorrência de
roturas por esmagamento devido às baixas relações h/d apresentadas;
tendo sido utilizadas relações água / produto de valor médio entre o mínimo e máximo apresentados
pelo fabricante, seria interessante estudar as relações extremas e quantificar a influência deste factor
nos resultados de resistência à compressão, em carotes de geometria idêntica;
estudar o método do confinamento ou outro alternativo para as argamassas mais fracas ou de menor
espessura;
como foram estudadas as características mecânicas de argamassas industriais aplicadas em suporte
de tijolo cerâmico, é imprescindível averiguar relações com a aplicação dos produtos noutros
suportes, fundamentalmente os compatíveis, como os suportes de betão, verificando se as mesmas
são semelhantes às obtidas nos estudos desenvolvidos nesta área.
Análise das características mecânicas de amostras de argamassas pré-doseadas
99
6 - Bibliografia
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Anexos
II
A - Análise granulométrica
Quadro A1 - Análise granulométrica das argamassas RC e M
Argamassa RC Argamassa M
Malha
[mm]
Resíduo Material acumulado Resíduo
passado
Material acumulado
Passado Retido Passado Retido
[g] [%] [%] [%] [g] [%] [%] [%]
8 0 0,00 100,00 0,00 0 0,00 100,00 0,00
4 0 0,00 100,00 0,00 0 0,00 100,00 0,00
2 0,1 0,01 99,99 0,01 2,1 0,22 99,78 0,22
1 6,1 0,64 99,35 0,65 138,6 14,62 85,16 14,84
0,5 75,9 7,97 91,38 8,62 140,2 14,79 70,36 29,64
0,25 683,5 71,80 19,58 80,42 531,7 56,10 14,26 85,74
0,125 122,9 12,91 6,67 93,33 74,6 7,87 6,39 93,61
0,063 51,6 5,42 1,25 98,75 39,5 4,17 2,23 97,77
Refugo 11,9 1,25 - - 21,1 2,23 - -
Amostra
final [g] 952
-
947,8
- Amostra
inicial [g] 1000,7 1001,3
Quadro A2 - Análise granulométrica das argamassas RD e D
Argamassa RD Argamassa D
Malha
[mm]
Resíduo Material acumulado Resíduo
passado
Material acumulado
Passado Retido Passado Retido
[g] [%] [%] [%] [g] [%] [%] [%]
8 0 0,00 100,00 0,00 0 0,00 100,00 0,00
4 0 0,00 100,00 0,00 0 0,00 100,00 0,00
2 0 0,00 100,00 0,00 0 0,00 100,00 0,00
1 6,7 0,71 99,29 0,71 26,6 2,69 97,31 2,69
0,5 395,4 42,07 57,21 42,79 87 8,80 88,51 11,49
0,25 440,9 46,91 10,30 89,70 666,5 67,42 21,09 78,91
0,125 77,4 8,24 2,06 97,94 108,1 10,93 10,16 89,84
0,063 16,6 1,77 0,30 99,70 77,4 7,83 2,33 97,67
Refugo 2,8 0,30 - - 23 2,33 - -
Amostra
final [g] 939,8
-
988,6
- Amostra
inicial [g] 1001 1000,9
Análise das características mecânicas de amostras de argamassas pré-doseadas
III
B - Resultados dos ensaios de aderência pull-off por argamassa
Quadro B1 - Resultados do ensaio de aderência na argamassa RC
Carotes de argamassa RC Datas de ensaio [dias]
6 27 90
Secção Espessura
[mm] Designação
Força de
tracção
[kN]
Tensão
de
tracção
[MPa]
Tipologia
de rotura
Força
de
tracção
[kN]
Tensão
de
tracção
[MPa]
Tipologia
de rotura
Força de
tracção
[kN]
Tensão
de
tracção
[MPa]
Tipologia
de rotura
Circular
15 A 0,53 0,31 CA 0,33 0,19 CA 0,51 0,30 CA
B 0,24 0,14 AD 0,32 0,19 CA 0,31 0,18 CA
25 A 0,54 0,31 CA 0,97 0,56 CA 0,90 0,52 CS
B 0,44 0,25 CA 1,02 0,59 CA 0,82 0,47 CA
Quadrada
15 A 0,41 0,25 CA 0,50 0,31 CA 0,69 0,43 CA
B 0,53 0,33 CA 0,45 0,28 CA 0,54 0,34 CA
25 A 0,73 0,46 CA 0,84 0,52 CA 1,41 0,88 CA
B 0,57 0,35 CA 0,83 0,52 CA 0,86 0,54 CA
Legenda: RC - argamassa RC; A e B - distinção entre duas carotes com a mesma secção e espessura; AD - rotura adesiva; CA - rotura coesiva na argamassa;
CS - rotura coesiva no suporte
Quadro B2 - Resultados do ensaio de aderência na argamassa M
Carotes de argamassa M Datas de ensaio [dias]
6 27 90
Secção Espessura
[mm] Designação
Força de
tracção
[kN]
Tensão
de
tracção
[MPa]
Tipologia
de rotura
Força
de
tracção
[kN]
Tensão
de
tracção
[MPa]
Tipologia
de rotura
Força
de
tracção
[kN]
Tensão
de
tracção
[MPa]
Tipologia
de rotura
Circular
15 A 0,45 0,26 CA 0,71 0,41 CA 0,55 0,32 CA
B 0,08 0,05 CA 0,48 0,28 CA 0,34 0,19 CA
25 A 0,76 0,44 CA 0,83 0,48 CS 0,73 0,42 CA
B 0,85 0,49 AD 0,83 0,48 CS 0,62 0,36 CS
Quadrada
15 A 0,17 0,11 CA 0,91 0,57 CA 0,84 0,52 CA
B 0,53 0,33 CA 0,79 0,50 AD 0,74 0,46 CA
25 A 0,72 0,45 CA 0,52 0,32 CS 0,44 0,28 CS
B 0,91 0,57 AD 1,36 0,85 CS 1,15 0,72 CS
Legenda:
M - argamassa M; A e B - distinção entre duas carotes com a mesma secção e espessura; AD - rotura adesiva; CA - rotura coesiva na argamassa;
CS - rotura coesiva no suporte
Quadro B3 - Resultados do ensaio de aderência na argamassa RD
Carotes de argamassa RD Datas de ensaio [dias]
6 27 90
Secção Espessura
[mm] Designação
Força de
tracção
[kN]
Tensão
de
tracção
[MPa]
Tipologia
de rotura
Força
de
tracção
[kN]
Tensão
de
tracção
[MPa]
Tipologia
de rotura
Força
de
tracção
[kN]
Tensão
de
tracção
[MPa]
Tipologia
de rotura
Circular
15 A 0,64 0,37 CS 0,73 0,42 CA 0,80 0,46 CS
B 0,74 0,43 CS 0,74 0,42 CS 0,81 0,47 CS
25 A 0,53 0,31 CS 0,72 0,42 CA 0,43 0,25 CA
B 1,05 0,60 CS 0,74 0,42 CA 0,73 0,42 CA
Quadrada
15 A 1,03 0,65 CA 0,96 0,60 CA 1,39 0,87 CA
B 1,15 0,72 CA 0,97 0,60 CA 0,53 0,33 CA
25 A 1,36 0,85 CA 0,67 0,42 CS 0,60 0,38 CA
B 1,10 0,69 CA 1,08 0,67 CS 1,08 0,68 CA
Legenda: RD – argamassa RD; A e B – distinção entre duas carotes com a mesma secção e espessura; AD – rotura adesiva; CA – rotura coesiva na argamassa;
CS – rotura coesiva no suporte
Anexos
IV
Quadro B4 - Resultados do ensaio de aderência na argamassa D
Carotes de argamassa D Datas de ensaio [dias]
6 27 90
Secção Espessura
[mm] Designação
Força de
tracção
[kN]
Tensão
de
tracção
[MPa]
Tipologia
de rotura
Força
de
tracção
[kN]
Tensão
de
tracção
[MPa]
Tipologia
de rotura
Força
de
tracção
[kN]
Tensão
de
tracção
[MPa]
Tipologia
de rotura
Circular
15 A 0,50 0,23 CS 0,61 0,28 CS 0,96 0,43 CS
B 0,89 0,40 CS 0,91 0,41 CS 0,95 0,43 CS
25 A 0,82 0,37 CS 0,33 CS 0,71 0,32 CS
B 1,12 0,51 CS 0,69 0,31 CS 0,72 0,32 CS
Quadrada
15 A 0,92 0,57 CA 0,85 0,53 CS 0,44 0,27 CA
B 1,35 0,84 CS 0,84 0,53 CA 1,05 0,65 CS
25 A 1,04 0,65 CA 1,36 0,85 CS 1,02 0,64 CA
B 1,10 0,68 CS 0,86 0,54 CS 0,77 0,48 CS
Legenda:
D - argamassa D; A e B - distinção entre duas carotes com a mesma secção e espessura; AD - rotura adesiva; CA - rotura coesiva na argamassa;
CS - rotura coesiva no suporte
Análise das características mecânicas de amostras de argamassas pré-doseadas
V
C - Resultados dos ensaios de compressão (carotes recolhidas) por
idades
Quadro C1 - Resultados do ensaio à compressão de todas as carotes recolhidas aos 7 dias
Argamassa Secção da carote Espessura da
carote [mm] Designação
Espessura de teste
[mm]
Força de
compressão [kN]
Tensão de
compressão [MPa]
RC
Circular
15 A - - -
B - - -
25 A 20 5,72 3,30
B 20 3,34 1,93
Quadrada
15 A - - -
B - - -
25 A - - -
B 20 2,16 1,35
M
Circular
15 A - - -
B - - -
25 A - - -
B - - -
Quadrada
15 A - - -
B - - -
25 A - - -
B - - -
RD
Circular
15 A 15 6,96 4,01
B 15 7,59 4,37
25 A 25 1,82 1,05
B 25 7,29 4,20
Quadrada
15 A - - -
B - - -
25 A - - -
B 20 5,63 3,52
D
Circular
15 A - - -
B 15 45,75 20,74
25 A 25 32,96 14,94
B 25 29,05 13,17
Quadrada
15 A - - -
B 15 39,88 24,93
25 A - - -
B 25 21,65 13,53
Legenda:
RC - argamassa RC; M - argamassa M; RD - argamassa RD; D - argamassa D; A e B - distinção entre duas carotes com a mesma secção e espessura;
( - ) - sem valores
Anexos
VI
Quadro C2 - Resultados do ensaio à compressão de todas as carotes recolhidas aos 28 dias
Argamassa Secção da carote Espessura da
carote [mm] Designação
Espessura de teste
[mm]
Força de
compressão [kN]
Tensão de
compressão [MPa]
RC
Circular
15 A - - -
B - - -
25 A - - -
B 20 4,65 2,68
Quadrada
15 A - - -
B 10 4,27 2,67
25 A 20 2,82 1,76
B 20 2,86 1,79
M
Circular
15 A - - -
B - - -
25 A 25 5,81 3,35
B 25 7,20 4,20
Quadrada
15 A - - -
B 15 6,26 3,91
25 A 25 6,29 3,93
B 25 5,92 3,70
RD
Circular
15 A - - -
B 15 9,70 5,59
25 A - - -
B - - -
Quadrada
15 A - - -
B - - -
25 A 25 5,18 3,24
B 25 5,55 3,47
D
Circular
15 A - - -
B - - -
25 A - - -
B 25 20,21 9,16
Quadrada
15 A 15 48,55 30,34
B - - -
25 A 25 36,41 22,76
B 25 27,51 17,19
Legenda:
RC - argamassa RC; M - argamassa M; RD - argamassa RD; D - argamassa D; A e B - distinção entre duas carotes com a mesma secção e espessura;
( - ) - sem valores
Análise das características mecânicas de amostras de argamassas pré-doseadas
VII
Quadro C3 - Resultados do ensaio à compressão de todas as carotes recolhidas aos 91 dias
Argamassa Secção da carote Espessura da
carote [mm] Designação
Espessura de teste
[mm]
Força de
compressão [kN]
Tensão de
compressão [MPa]
RC
Circular
15 A 10 6,00 3,46
B 12 4,62 2,67
25 A 25 7,24 4,17
B 20 5,84 3,37
Quadrada
15 A - - -
B - - -
25 A 20 6,97 4,36
B 10 - -
M
Circular
15 A - - -
B - - -
25 A - - -
B 25 7,60 4,38
Quadrada
15 A - - -
B - - -
25 A 25 5,79 3,62
B 25 6,65 4,16
RD
Circular
15 A 15 10,52 6,06
B 15 10,65 6,14
25 A - - -
B - - -
Quadrada
15 A - - -
B - - -
25 A - - -
B - - -
D
Circular
15 A 15 92,42 41,89
B - - -
25 A 25 60,49 27,42
B 25 51,63 23,40
Quadrada
15 A - - -
B 15 35,70 22,31
25 A - - -
B 25 28,15 17,59
Legenda:
RC - argamassa RC; M - argamassa M; RD - argamassa RD; D - argamassa D; A e B - distinção entre duas carotes com a mesma secção e espessura;
( - ) – sem valores
Anexos
VIII
D - Resultados dos ensaios de compressão (amostras de comparação)
por idades
Quadro D1 - Resultados do ensaio à compressão de todas as amostras de comparação aos 7 dias
Argamassa Secção da carote Espessura da
carote [mm] Designação
Espessura de teste
[mm]
Força de
compressão [kN]
Tensão de
compressão [MPa]
RC
Circular
15 A
15 -
B -
25 A
25 4,73 2,14
B 2,62 1,19
Quadrada
15 A
15 6,42 3,17
B - -
25 A
25 4,43 2,19
B 2,49 1,23
M
Circular
15 A
15 - -
B - -
25 A
25 10,91 4,95
B 8,96 4,06
Quadrada
15 A
15 - -
B - -
25 A
25 9,53 4,71
B 8,45 3,83
RD
Circular
15 A
15 15,15 6,87
B 11,45 5,19
25 A
25 12,60 5,71
B 8,82 4,00
Quadrada
15 A
15 13,92 6,87
B 9,80 4,84
25 A
25 11,70 5,78
B 8,08 4,00
D
Circular
15 A
15 83,08 37,66
B - -
25 A
25 49,06 22,24
B 44,41 20,13
Quadrada
15 A
15 86,53 42,73
B - -
25 A
25 43,71 21,59
B 42,64 21,06
Legenda:
RC - argamassa RC; M - argamassa M; RD - argamassa RD; D - argamassa D; A e B - distinção entre duas carotes com a mesma secção e espessura;
( - ) - sem valores
Análise das características mecânicas de amostras de argamassas pré-doseadas
IX
Quadro D2 - Resultados do ensaio à compressão de todas as amostras de comparação aos 28 dias
Argamassa Secção da carote Espessura da
carote [mm] Designação
Espessura de teste
[mm]
Força de
compressão [kN]
Tensão de
compressão [MPa]
RC
Circular
15 A
15 3,32 1,50
B 5,88 2,67
25 A
25 2,47 1,12
B 4,05 1,84
Quadrada
15 A
15 2,89 1,43
B 5,70 2,81
25 A
25 2,39 1,18
B 4,10 2,02
M
Circular
15 A
15 - -
B 11,47 5,20
25 A
25 10,70 4,85
B 7,94 3,60
Quadrada
15 A
15 12,17 6,01
B 11,97 5,91
25 A
25 9,78 4,83
B 9,46 4,67
RD
Circular
15 A
15 11,37 5,15
B 10,33 4,68
25 A
25 9,69 4,39
B 9,83 4,46
Quadrada
15 A
15 10,50 5,13
B 9,88 4,88
25 A
25 9,73 4,80
B 9,46 4,67
D
Circular
15 A
15 90,14 40,86
B 76,18 34,53
25 A
25 55,18 25,01
B 50,86 23,05
Quadrada
15 A
15 67,85 33,51
B 57,00 28,15
25 A
25 47,28 23,35
B 51,60 25,48
Legenda:
RC - argamassa RC; M - argamassa M; RD - argamassa RD; D - argamassa D; A e B - distinção entre duas carotes com a mesma secção e espessura;
( - ) - sem valores
Anexos
X
Quadro D3 - Resultados do ensaio à compressão de todas as amostras de comparação aos 91 dias
Argamassa Secção da carote Espessura da
carote [mm] Designação
Espessura de teste
[mm]
Força de
compressão [kN]
Tensão de
compressão [MPa]
RC
Circular
15 A
15 7,10 3,22
B 6,51 2,95
25 A
25 5,17 2,34
B 4,16 1,89
Quadrada
15 A
15 5,83 2,88
B 5,49 2,71
25 A
25 3,92 1,94
B 3,88 1,92
M
Circular
15 A
15 16,14 7,32
B 16,88 7,65
25 A
25 9,80 4,44
B 12,02 5,45
Quadrada
15 A
15 13,98 6,90
B 13,36 6,60
25 A
25 10,78 5,32
B 11,09 5,48
RD
Circular
15 A
15 11,09 5,03
B 11,76 5,33
25 A
25 8,65 3,92
B 10,27 4,66
Quadrada
15 A
15 9,28 4,58
B 11,40 5,17
25 A
25 9,16 4,53
B 9,72 4,41
D
Circular
15 A
15 85,18 38,61
B 102,58 46,50
25 A
25 51,90 23,52
B 65,56 29,72
Quadrada
15 A
15 72,66 35,88
B 94,01 46,43
25 A
25 54,10 26,72
B 64,48 31,94
Legenda:
RC - argamassa RC; M - argamassa M; RD - argamassa RD; D - argamassa D; A e B - distinção entre duas carotes com a mesma secção e espessura;
( - ) - sem valores
Análise das características mecânicas de amostras de argamassas pré-doseadas
XI
E - Provetes normalizados em todas as argamassas
Quadro E1 - Resultados dos provetes normalizados de argamassa RC
Datas de ensaio
[dias]
Designação dos
provetes Massa [g]
Tensão de flexão [MPa] Tensão de compressão [MPa]
Por provete Média Por metade de um
provete Média
7
P1 383,50 1,21
1,25
2,93
3,07
2,94
P2 390,80 1,30 3,38
2,94
P3 393,50 1,22 3,22
3,04
28
P1 403,30 1,55
1,57
3,47
3,67
3,55
P2 399,80 1,51 3,91
3,71
P3 400,70 1,67 3,66
3,71
91
P1 393,40 1,32
1,37
3,28
3,02
2,54
P2 393,00 1,41 3,07
3,02
P3 395,40 1,39 3,20
3,04
Quadro E2 - Resultados dos provetes normalizados de argamassa M
Datas de ensaio
[dias]
Designação dos
provetes Massa [g]
Tensão de flexão [MPa] Tensão de compressão [MPa]
Por provete Média Por metade de um
provete Média
7
P1 414,8 2,25
2,30
6,80
6,59
6,28
P2 414,1 2,45 6,18
6,94
P3 414,1 2,19 6,83
6,53
28
P1 401,2 2,33
2,36
5,87
6,01
5,80
P2 410,0 2,35 5,73
6,20
P3 408,7 2,40 6,39
6,08
91
P1 410,7 2,56
2,61
7,28
6,99
6,91
P2 409,8 2,57 6,65
7,03
P3 406,5 2,70 6,61
7,49
Anexos
XII
Quadro E3 - Resultados dos provetes normalizados de argamassa RD
Datas de ensaio
[dias]
Designação dos
provetes Massa [g]
Tensão de flexão [MPa] Tensão de compressão [MPa]
Por provete Média Por metade de um
provete Média
7
P1 423,9 1,44
1,71
5,12
5,69
5,54
P2 417,3 1,93 5,71
5,73
P3 422,6 1,77 6,27
5,81
28
P1 418,1 2,46
2,45
6,95
6,80
6,69
P2 412,8 2,43 6,78
6,77
P3 410,7 2,47 6,64
6,96
91
P1 405,5 2,29
2,40
6,46
6,49
6,18
P2 408,0 2,55 7,18
6,82
P3 402,2 2,38 6,57
5,76
Quadro E4 - Resultados dos provetes normalizados de argamassa D
Datas de ensaio
[dias]
Designação dos
provetes Massa [g]
Tensão de flexão [MPa] Tensão de compressão [MPa]
Por provete Média Por metade de um
provete Média
7
P1 510,5 3,94
3,79
22,54
23,14
20,69
P2 517,8 3,56 23,99
22,51
P3 517,6 3,79 23,95
23,74
28
P1 502,1 5,32
4,97
26,18
25,41
20,71
P2 498,5 4,86 26,10
25,01
P3 495,0 4,97 25,28
25,54
91
P1 505,7 4,96
5,41
27,69
28,03
27,81
P2 498,7 6,12 29,38
28,26
P3 498,4 5,41 28,84
26,89
Análise das características mecânicas de amostras de argamassas pré-doseadas
XIII
F - Comparação da relação entre carotes e amostras de comparação
Secção Estudo (dias) Relação R2
Circular 7 e 28
0,98
Quadrada
0,81
Figura F1 - Relação entre a resistência à compressão de carotes e amostras de comparação de argamassa RC
em função da idade (secção circular, à esquerda; secção quadrada, à direita)
Secção Estudo (dias) Relação R2
Circular 7 e 28
0,78
Quadrada 28 e 91
0,12
Figura F2 - Relação entre a resistência à compressão de carotes e amostras de comparação de argamassa M
em função da idade (secção circular, à esquerda; secção quadrada, à direita)
0
1
2
3
4
5
6
0 5 10
Rco
mp
am
ost
ras [
MP
a]
Rcompcarotes [MPa]
7 dias
28 dias
91 dias
Linear (y=x)
0
1
2
3
4
5
6
0 5 10
Rco
mp
am
ost
ra
s [M
Pa]
Rcompcarotes [MPa]
7 dias
28 dias
91 dias
Linear (y=x)
0
1
2
3
4
5
6
0 5 10
Rco
mp
am
ost
ras [
MP
a]
Rcompcarotes [MPa]
7 dias
28 dias
91 dias
Linear (y=x)
0
1
2
3
4
5
6
7
0 5 10
Rco
mp
am
ost
ras [
MP
a]
Rcompcarotes [MPa]
7 dias
28 dias
91 dias
Linear (y=x)
Anexos
XIV
Secção Estudo (dias) Relação R2
Circular 28 e 91
0,89
Figura F3 - Relação entre a resistência à compressão de carotes e amostras de comparação de argamassa RD
em função da idade (secção circular, à esquerda; secção quadrada, à direita)
Secção Estudo (dias) Relação R2
Circular 7
0,987
91
0,955
Quadrada
7
1
28
0,648
91
1
Figura F4 - Relação entre a resistência à compressão de carotes e amostras de comparação de argamassa D em
função da idade (secção circular, à esquerda; secção quadrada, à direita)
0
2
4
6
8
10
0 5 10
Rco
mp
am
ost
ra
s [M
Pa]
Rcompcarotes [MPa]
7 dias
28 dias
91 dias
Linear (y=x)
0
1
2
3
4
5
6
0 5 10
Rco
mp
am
ost
ra
s [M
Pa]
Rcompcarotes [MPa]
7 dias
28 dias
91 dias
Linear (y=x)
0
10
20
30
40
50
60
0 50 100
Rco
mp
am
ost
ra
s [M
Pa]
Rcompcarotes [MPa]
7 dias
28 dias
91 dias
Linear (y=x)
0
10
20
30
40
50
60
0 50 100
Rco
mp
am
ost
ra
s [M
Pa]
Rcompcarotes [MPa]
7 dias
28 dias
91 dias
Linear (y=x)
Análise das características mecânicas de amostras de argamassas pré-doseadas
XV
Secção Estudo
(espessuras) [mm]
Relação R2
Circular 15 e 25
0,98
Quadrada 25
0,257
Figura F5 - Relação entre a resistência à compressão de carotes e amostras de comparação de argamassa RC
em função da espessura (secção circular, à esquerda; secção quadrada, à direita)
Secção Estudo
(espessuras) [mm]
Relação R2
Circular 25
0,78
Quadrada
0,15
Figura F6 - Relação entre a resistência à compressão de carotes e amostras de comparação de argamassa M
em função da espessura (secção circular, à esquerda; secção quadrada, à direita)
0
1
2
3
4
5
6
0 5 10
Rco
mp
am
ost
ra
s [M
Pa]
Rcompcarotes [MPa]
1,5
2,5
Linear (y=x)
0
1
2
3
4
5
6
0 5 10
Rco
mp
am
ost
ra
s [M
Pa]
Rcompcarotes [MPa]
1,5
2,5
Linear (y=x)
0
1
2
3
4
5
6
0 5 10
Rco
mp
am
ost
ras [
MP
a]
Rcompcarotes [MPa]
1,5
2,5
Linear (y=x)
0
1
2
3
4
5
6
7
0 5 10
Rco
mp
am
ost
ras [
MP
a]
Rcompcarotes [MPa]
1,5
2,5
Linear (y=x)
Anexos
XVI
Figura F7 - Relação entre a resistência à compressão de carotes e amostras de comparação de argamassa RD
em função da espessura (secção circular, à esquerda; secção quadrada, à direita)
Secção Estudo
(espessuras)
[mm]
Relação R2
Circular 25
0,590
Figura F8 - Relação entre a resistência à compressão de carotes e amostras de comparação de argamassa D em
função da espessura (secção circular, à esquerda; secção quadrada, à direita)
0
2
4
6
8
10
0 5 10
Rco
mp
am
ost
ras [
MP
a]
Rcompcarotes [MPa]
1,5
2,5
Linear (y=x)
0
1
2
3
4
5
6
0 5 10
Rco
mp
am
ost
ras [
MP
a]
Rcompcarotes [MPa]
1,5
2,5
Linear (y=x)
0
10
20
30
40
50
60
0 50 100
Rco
mp
am
ost
ras [
MP
a]
Rcompcarotes [MPa]
1,5
2,5
Linear (2,5)
Linear (y=x)
0
10
20
30
40
50
60
0 50 100
Rco
mp
am
ost
ras [
MP
a]
Rcompcarotes [MPa]
1,5
2,5
Linear (y=x)