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1Discente do Curso de Engenharia Ambiental do Centro Universitário La Salle – Unilasalle, matriculado na
disciplina de Trabalho de Conclusão II, sob orientação do Prof. Tiago José Pereira Neto. E-mail:
ANÁLISE DA VIABILIDADE DE UTILIZAÇÃO DOS RESÍDUOS DE SEMENTES
DE COENTRO (Coriandrum sativum L.) E CENOURA (Daucus carota L.), DO
PROCESSO DE BENEFICIAMENTO, COMO FONTE ENERGIA DE BIOMASSA,
PORTO ALEGRE – RS.
Diego Gaspar Diel1
RESUMO
À medida que a indústria de sementes recebe sua produção bruta, colhida no
campo, este material passa por processo de beneficiamento onde as impurezas
são separadas. Todo o resíduo gerado é descartado, aproximadamente 15 % do
total produzido de semente de coentro e 35% de cenoura. O objetivo do presente
trabalho é verificar a análise de viabilidade técnica da utilização dos resíduos
destas sementes como fonte de energia de biomassa, a serem utilizados para
produção de energia térmica e consequentemente geração de energia. Como
metodologia será realizado um levantamento quantitativo dos resíduos gerados na
empresa ISLA Sementes LTDA, no período de 2005 a 2012, determinação do Grau
de Umidade, do Poder Calorífico Superior (PCS) e Poder Calorífico Inferior (PCI) X
PCS e PCI da madeira de Eucalipto, avaliando a quantidade de energia potencial
produzida, comparando à outra fonte de energia. Os resíduos se sementes tem o
PCS e PCI maior que o eucalipto e eficiência energética de 49% acima, quando
comparado ao carvão mineral. Contudo mostrou-se viável a utilização dos resíduos
de sementes de cenoura e coentro para a produção de energia de biomassa.
Palavras Chave: Cenoura. Coentro. Resíduos de sementes. Energia de biomassa.
1 INTRODUÇÃO
O Rio Grande do Sul apesar de praticamente não consumir coentro
(Coriandrum sativum L.), apresenta condições climáticas favoráveis para a sua
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produção (ISLA, 2001a). Na região da Campanha, em cidades como Bagé e
Candiota, o clima seco é importante para o sucesso da produção de sementes.
A metade sul do estado possui um clima frio e seco no inverno, o que é
propício para o cultivo de uma grande parte das variedades de sementes, assim
como coentro e cenoura. “Quanto mais frio e seco o clima, maior será a floração na
chegada da primavera, e consequentemente maior será a produção de sementes”
(ISLA, 2001b).
Toda a atividade, seja industrial ou não, traz como consequência a geração
de resíduos, o que também ocorre no processo de produção de sementes. Após
ser realizada a colheita no campo de produção, ocorre o processo de
beneficiamento na indústria, onde são separadas as impurezas, também chamados
de resíduos.
No Brasil, os resíduos sólidos são classificados quanto a sua origem e
quanto a sua periculosidade, esta é dividida em duas classes: os Perigosos e os
Não Perigosos. Os não perigosos estão divididos em não inertes, classe II A, que
podem apresentar propriedades como biodegradabilidade, combustibilidade ou
solubilidade em água e os inertes, classe II B.
Definição de Resíduos Sólidos: Resíduos nos estados sólido e semi-sólido, que resultam de atividades de origem industrial, doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de serviços e de varrição. Ficam incluídos nesta definição os lodos provenientes de sistemas de tratamento de água, aqueles gerados em equipamentos e instalações de controle de poluição, bem como determinados líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou corpos de água, ou exijam para isso soluções técnica e economicamente inviáveis em face a melhor tecnologia disponível (BRASIL, 2004, p.1).
Os resíduos de sementes de coentro e cenoura são gerados em todo o seu
ciclo, que vai desde o plantio até processo de beneficiamento. Quanto a sua
origem, esses resíduos classificam-se como agrossilvipastoris. “Resíduos
Agrossilvipastoris: Os gerados nas atividades agropecuárias e silviculturais,
incluídos os relacionados a insumos utilizados nestas atividades” (BRASIL, 2010,
p. 960).
Conforme a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), a Norma
ABNT NBR Nº. 10.004 (2004, p. 3), classifica os resíduos de sementes de coentro
e cenoura na classe II A - Não Perigosos e Não Inertes, pois apresentam
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propriedades como biodegradabilidade e combustibilidade.
Embora os resíduos de sementes não sejam considerados perigosos eles
apresentam uma grande preocupação para a empresa, pois geram volumes
significativos implicando em despesas para a sua destinação, onde poderiam ser
utilizados como fonte de energia. O mesmo ocorre com resíduos oriundos de
fontes de biomassa florestais e agrícolas, estima-se que no Brasil é gerado uma
quantidade de 250 milhões de toneladas anuais (QUIRINO et al., 2004 apud
PROTÁSIO et al., 2011).
Segundo Pereira (2008), atualmente quase todos os tipos de resíduos de
biomassa podem ser reutilizados como fonte de energia. Cascas e galhos,
serragem, bagaço de cana-de-açúcar, entre outros resíduos que já vem sendo
empregados.
A silvicultura contribui para a produção de energia através do carvão vegetal.
Assim como a silvicultura, a agricultura pode realizar esta contribuição através da
utilização de seus resíduos.
As crescentes restrições sobre os combustíveis de fontes não renováveis
motivam o interesse pela energia de biomassa, isso, pois são menos poluentes
quando comparadas aos combustíveis fósseis (PINHEIRO; SÉYE, 1998). Outro
aspecto ambientalmente positivo está relacionado à emissão de CO2, liberada
durante a queima, geralmente é compensada em um novo plantio de biomassa
(INGHAM, 1999 apud PROTÁSIO et al., 2011). Com a preocupação cada vez maior
em buscar fontes de energias renováveis, estes resíduos das mais variáveis
origens, tornam-se alternativas como fontes de energia de biomassa.
Conforme Lei 9.921/1993 (RIO GRANDE DO SUL, 1993, p.2) é de
responsabilidade da indústria todo o seu resíduo gerado, mesmo quando
encaminhado para terceiros, como por exemplo, aterros sanitários. No entanto,
quando ele é utilizado para a produção de outro produto, deixa de ser resíduo e
passa a ser matéria-prima, assim o gerador exime-se de responsabilidade.
Portanto, a utilização de resíduos de sementes de coentro e cenoura torna-se
matéria-prima para a produção de energia de biomassa.
A indústria, à medida que recebe a semente bruta do campo de produção
encaminha para a unidade de beneficiamento, onde são separados os resíduos.
Nesse processo a separação dos resíduos de sementes de coentro e cenoura é
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totalmente mecânica, onde o principal equipamento é a mesa gravimétrica,
resíduos de coentro resultantes nesta etapa podem ser observados na Figura 1 (b).
As sementes ainda passam pelo laboratório de análises para verificação
quanto a padrões exigidos pelo MAPA, como germinação e pureza, atendendo
estas exigências as mesmas podem ser comercializadas, caso contrário, são
encaminhadas para descarte. Este tipo de resíduo pode ser observado na Figura 1
(a), onde um determinado lote de sementes de cenoura, após passar pelo
processo de beneficiamento, não obteve aprovação nos testes laboratoriais.
A Figura 1 detalha os resíduos de sementes de cenoura e coentro após os
processos de beneficiamento.
Figura 1- Resíduos de Cenoura (a) e Coentro (b).
Fonte: autoria própria, 2013.
Os resíduos de cenoura e coentro são formados por folhas, galhos e cascas,
o que fica evidenciado na Figura 1 (b). O tamanho pode variar de um a trinta
milímetros.
Ao encerrar o processo de beneficiamento, que ocorre em Porto Alegre –
RS, todo o resíduo gerado retorna para a região da Campanha, cerca de 410 km
de distância, onde acontece a disposição final. Conforme descrito anteriormente os
resíduos de sementes de coentro e cenoura são classificados como Classe II A,
não perigosos e não inertes, sendo assim, eles acabam sendo dispostos em solo
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como composto orgânico.
Portanto, o objetivo do presente trabalho é verificar a viabilidade técnica de
utilização de resíduos de sementes de coentro e cenoura como fonte de energia de
biomassa, a serem utilizados para produção de energia térmica e
consequentemente geração de energia.
2 METODOLOGIA
Os resíduos de sementes de cenoura e coentro, gerados no processo de
beneficiamento, empregados para o estudo de viabilidade de utilização como fonte
de energia de biomassa, não apresentam tratamento químico, o que normalmente
é realizado em sementes destinadas a um público profissional, ou seja, agricultores
que cultivam com o objetivo de vender a sua produção. Estas sementes possuem
tratamento, como por exemplo, inseticidas, além do corante.
Após os processos de beneficiamento, mecânico e laboratorial, foi realizada
a coleta dos resíduos de sementes de cenoura para realização das análises deste
trabalho. Para a análise de Percentual de Umidade utilizou-se os resíduos na sua
forma bruta, no entanto, para a análise do Poder Calorífico Superior foi necessário
realizar uma moagem, que foi executado pelo próprio laboratório.
Conforme Brito e Barrichelo (1978) apud Quirino et al. (2004, p.174), “o
poder calorífico, o teor de umidade e a densidade são importantes propriedades a
serem observadas em um material para sua utilização como combustível”.
Desta forma, como metodologia será realizado um levantamento quantitativo
dos resíduos gerados na empresa ISLA Sementes LTDA, no período de 2005 a
2012, determinação do Grau de Umidade, do Poder Calorífico Superior (PCS) e
Poder Calorífico Inferior (PCI) X PCS e PCI da madeira de Eucalipto, avaliando a
quantidade de energia potencial produzida, comparando a outra fonte de energia.
2.1 Levantamento Quantitativo de Resíduos de Sementes de Coentro e
Cenoura
A geração de resíduos depende totalmente da matéria-prima beneficiada, ou
seja, quanto mais, maior será a geração de resíduos, o que vem ocorrendo nos
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últimos anos.
O levantamento quantitativo de resíduos de sementes de coentro e cenoura
foi realizado no período de 2005 a 2012. A escolha por este período explica-se pelo
registro de informações detalhadas relacionada a sua geração, além de ter ocorrido
um crescimento pela empresa na participação no mercado sementeiro,
possibilitando assim uma análise da quantidade de resíduos gerados.
2.2 Grau de Umidade
A umidade é uma informação importante de se conhecer quando objetiva-se
utilizar um resíduo de biomassa como combustível. Isso porque quanto maior a
umidade, mais energia é consumida para a evaporação da água e,
consequentemente, menor será o poder calorífico inferior.
O grau de umidade de uma amostra é representado pela perda de peso
quando submetido a um método de análise, sendo expresso em percentagem do
peso da amostra original. Para a sua determinação utilizou-se o método oficial do
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Método de Estufa a 105°C
(BRASIL, 2009, p. 307).
2.3 Poder Calorífico Superior (PCS)
O poder calorífico superior traz informações superficiais sobre os resíduos
de sementes de coentro e cenoura, mas torna-se importante para realizar a
comparação com o poder calorífico inferior, verificando se há perdas significativas
para a evaporação da água.
Segundo Briane e Doat (1985) apud Quirino et al. (2004, p.174), o poder
calorífico superior é a quantidade de energia liberada por unidade de massa sem
descontar a energia necessária para a evaporação da água. Neste trabalho o PCS
foi determinado pelo Laboratório de Processamento Mineral (LAPROM), Centro de
Tecnologia – UFRGS, a partir da norma ASTM D 5865.
Para realização das análises deste trabalho foi definida a relação de três
amostragens: resíduo de cenoura (100%); resíduo de coentro (100%); e uma
blenda com resíduo de cenoura (66,66%) + resíduo de coentro (33,33%). A
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proporção de amostragem da blenda foi definida a partir da obtenção dos dados
quantitativos dos resíduos de sementes e cenoura que obedecem esta
proporcionalidade.
2.4 Poder Calorífico Inferior (PCI)
O poder calorífico inferior é a energia liberada por unidade de massa após
descontar as perdas com a evaporação da água (JARA, 1989 apud PROTÁSIO et
al. 2011). O PCI é fundamental para chegar-se ao resultado da energia potencial
para combustão, ou como aqui mencionado, potência calorífica.
A obtenção do poder calorífico inferior pode ser a partir de análise
laboratorial ou através de cálculo matemático. Neste trabalho foi obtida a
informação do PCI pelo cálculo matemático, onde se obteve a energia necessária
(Q) para a evaporação da água, com base no percentual de umidade para um
grama de material, através da análise de Calor Sensível e Calor Latente, sendo
estabelecida desse modo a relação aproximada do PCS e do PCI.
A quantidade de calor (Q) é o Poder Calorífico Inferior (PCI), que foi
calculado, descrito em Joules por quilo grama (J/kg), através da relação
(NUSSENZVEIG, 2002):
(1)
2.4.1 Quantidade de Calor Sensível
De acordo com Hallidey et al. (2009, p. 191 - 193), consiste na quantidade
de calor associado à característica do material, calor específico (c), a variação de
temperatura (ΔT) para com uma determinada massa (m).
(2)
2.4.2 Quantidade de Calor Latente
Conforme Hallidey et al. (2009, p. 191 - 193), consiste na quantidade de
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calor associado à característica do material, calor latente (L), para que uma
determinada massa (m) mude de fase.
(3)
2.5 Relação entre Potência e Energia Potencial
A Energia Potencial é a energia associada ao resíduo que será transformado
em calor, num processo contínuo, para isso utilizamos uma potência (HALLIDEY et
al., 2009, p. 200). A determinação da Potência (P) é através do resultado do
quociente da quantidade de calor (Q) e o tempo (T), expresso em Watt (W) ou
Quilo Watt (KW).
(4)
A Energia Potencial ou Potência Calorífica foi calculada a partir do
levantamento quantitativo de resíduos de cenoura de coentro do ano de 2011.
3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
3.1 Levantamento Quantitativo de Resíduos de Sementes de Cenoura e
Coentro
O aumento na demanda de sementes pela empresa, causado naturalmente
pelo crescimento na participação no mercado, traz consequentemente uma maior
geração de resíduos de sementes de cenoura e coentro. Isso ocorre, pelo simples
fato de ser necessário um maior volume de matéria-prima, ou seja, a semente.
A partir do Gráfico 1 podemos identificar um aumento na geração de
resíduos de cenoura e coentro, entre 2005 a 2012. Em ambas as linhas constatam-
se oscilações na geração dos resíduos, podendo estar relacionado a uma série de
fatores, como frustrações de safras ou excelentes safras em anos anteriores.
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Gráfico 1 – Geração de Resíduos de Coentro e Cenoura entre 2005 e 2012
(Kg/Ano).
Fonte: autoria própria, 2013.
Anos sem a geração de resíduos de coentro como 2005, 2006 e 2008,
explicam-se, pois não houve uma produção interna de sementes, onde se buscou
matéria-prima no mercado externo, que já vem beneficiada. Outro motivo que pelo
qual leva a não ter uma produção interna, ou uma redução na produção, são anos
em que a produção ultrapassa a necessidade, o que certamente ocorreu antes de
2005. Isso também fica evidenciado em 2011, onde a necessidade de sementes foi
menor que a produção, ocorrendo uma queda no ano seguinte.
O clima está diretamente relacionado à produtividade, então, em anos onde
a produção é maior que a necessidade de sementes a condição clima está
relacionada, tanto para uma excelente produção quanto para uma frustração de
safra. O que explica em 2007 e 2012, ter um aumento significativo na geração de
resíduos de cenoura.
Levando em consideração o primeiro ano, a geração de resíduos teve
crescimento significativo, chegando a 290% em 2012.
A geração de resíduos de cenoura é mais expressiva que a de coentro, em
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torno de 35% e 15% respectivamente, em relação a semente bruta (ISLA, 2013).
Para o cálculo da amostra blenda foi observado o total gerado de resíduos de
coentro e cenoura nos anos de 2005 a 2012, representando 29,84% e 70,16%,
respectivamente. De forma geral, temos uma parte de resíduos de coentro para
duas de partes de resíduos de cenoura, então, para facilitar os cálculos, a amostra
blenda é formada por 33,33% de resíduos de coentro e 66,66% de resíduos de
cenoura.
3.2 Grau de Umidade
Segundo Vale et al. (2000) quanto menor o grau de umidade maior será a
produção de calor produzido por unidade de massa, ou seja, a variável umidade é
fundamental a ser observada quando se quer a geração de energia a partir da
biomassa. De maneira geral a umidade está de forma inversamente proporcional
ligada ao poder calorífico.
A utilização das três amostras, resíduos de cenoura (100%), resíduo de
coentro (100%) e blenda, resíduo de cenoura (66,66%) + resíduo de coentro
(33,33%), foram importantes para identificar que mesmo alternando o resíduo o
percentual de umidade variou muito pouco, 3,42% do resíduo de coentro para a
blenda, 2,56% do resíduo de cenoura para blenda e 0,87% do resíduo de cenoura
para o resíduo de coentro, como mostra o Quadro1.
Quadro 1 – Resíduo × Umidade.
PARTICIPAÇÃO NO VOLUME UMIDADE (%)
Cenoura 100% 11,41
Coentro 100% 11,31
Cenoura + Coentro 66,66% + 33,33% 11,71
Fonte: autoria própria 2013.
O Quadro1 detalha a umidade por resíduo de semente de cenoura, coentro
1 Dados obtidos através do Laboratório de Análises (LAS) – ISLA, 2013.
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e blenda, sendo possível constatar um menor percentual de umidade para estes
resíduos quando comparada à lenha convencional, que fica entre 30 a 40%
(SILVEIRA, 2008).
3.3 Poder Calorífico Superior (PCS) e Poder Calorífico Inferior (PCI)
O Quadro 2 mostra o comparativo do poder calorífico superior e inferior dos
resíduos de cenoura, coentro e blenda à madeira de eucalipto.
Quadro 2 – Avaliação do PCS dos Resíduos X o PCS da madeira de Eucalipto.
Nome Científico Nome Comum PCS (kcal kg-¹) PCI (kcal kg-¹)
Daucus carota L. Cenoura 4.9912 4919
Coriandrum sativum L. Coentro 4.6952 4624
Daucus carota L. +
Coriandrum sativum L.
Cenoura + Coentro 5.0002 4926
Eucalyptus grandis W.
Hill
Eucalipto 4.5013 2.534,44
Eucalyptus sp. Eucalipto 4.5255 3.8545
Fonte: autoria própria, 2013.
Os valores de PCS encontrados dos resíduos de sementes de coentro,
cenoura e blenda, ficam em média 8,17% maiores que a madeira de eucalipto. No
entanto, as perdas de calor são maiores para madeira, pois de maneira geral a
umidade da madeira é superior que a umidade de resíduos de sementes.
Quando submetemos o PCS dos resíduos a uma análise com o PCS de
serragem de eucalipto, temos uma diferença ainda maior, 43,9% superior a
serragem de eucalipto, que apresenta 3.400 kcal/kg (Diniz et al. 2004).
Quanto maior forem as perdas de calor, para a evaporação da água, menor
será o PCI, o que fica evidente quando compararmos o poder calorífico inferior da
2 Dados obtidos através do Centro de Tecnologia - Laboratório de Processamento Mineral (LAPROM)
UFRGS (2013). 3 Dados obtidos através de (JARA), 1989 apud QUIRINO, W. F. et al. (2004).
4 Dados obtidos através de QUIRINO, W. F. et al. (2004).
5 Dados obtidos através de SANTIAGO (2007).
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madeira de eucalipto (Eucalyptus sp. e Eucalyptus grandis W. Hill) ao poder
calorífico dos resíduos de sementes, isso se explica pelo fato do grau de umidade
destes resíduos ser menor.
3.4 Avaliação da Energia Potencial (Potência Calorífica)
A avaliação da Potência Calorífica é a verificação da quantidade de energia
produzida, em ciclo contínuo, na qual, a unidade aqui utilizada será Quilo Watt
(KW).
Através do cálculo descrito na metodologia do trabalho chegou-se ao valor
de potência P = 142,88 KW, para isso é necessário uma massa (blenda) = 6,17 ×
10-3 kg + massa (cenoura) = 7,58 × 10-4 kg. Sendo assim, podemos dizer que para
cada 6,93 gramas de resíduos é possível produzir 142,8 KW, pensando em uma
eficiência ideal.
Para o correto resultado dos cálculos acima descritos é fundamental o
balanço das unidades no Sistema Internacional (SI).
A eficiência de uma usina termelétrica fica em torno de 34% a 45%,
dependendo da tecnologia empregada (MARRECO, 2006), assim uma termelétrica
alimentada por resíduos de sementes de coentro e cenoura pode gerar 48,5 KW a
64,2 KW com 6,93 gramas do resíduo. A mesma usina, agora movida a carvão
mineral oriundo da Mina de Candiota, no Rio Grande do Sul, apresentando um
poder calorífico de 3.300 cal/g (BORBA, 2001), pode gerar 32,5 KW a 43 KW, com
a mesma quantia de carvão. Assim, a geração de energia elétrica a partir de
resíduos, comparado ao carvão, pode ser de até 49% acima, levando em conta a
mesma quantidade de matéria-prima.
4 CONCLUSÕES
O crescimento na geração de resíduos, demonstrado no levantamento
quantitativode resíduos de sementes de coentro e cenoura, é consequência de um
aumento na demanda pela empresa, causado naturalmente pela maior participação
no mercado de sementes, o que nos faz prever que nos próximos anos teremos
volumes ainda maiores desses resíduos.
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O principal responsável pela diminuição do poder calorífico é o percentual de
umidade, pois é necessário o consumo de energia para a evaporação da água. Os
resíduos de cenoura e coentro apresentam teor de umidade menor que a madeira
utilizada como fonte de energia, assim o poder calorífico inferior tende a não ser
afetado significativamente, quando comparado com a madeira.
Uma grande parcela de energia da biomassa provém da madeira, como o
eucalipto. Estas espécies florestais são comumente cultivadas pelo crescimento
rápido, adaptação a diversos tipos de clima e solo além de apresentar poder
calorífico satisfatório. As três análises realizadas dos resíduos de cenoura (4.991
kcal kg-¹), coentro (4.695 kcal kg-¹) e blenda (5.000 kcal kg-¹) comprovam que os
poderes caloríficos apresentam níveis superiores à madeira de eucalipto (4.525
kcal kg-¹) e a de serragem de eucalipto (3.400 kcal kg-¹), sendo viável a sua
utilização como fonte de energia de biomassa.
Foi comprovada a viabilidade de utilização dos resíduos de sementes de
cenoura para a produção de energia térmica e geração de energia elétrica, ficando
claro na avaliação da energia potencial, onde a partir destes resíduos é possível
produzir 49% a mais de energia elétrica, utilizado a mesma quantidade de carvão
mineral.
Em se tratando de abastecimento de energia elétrica para uma cidade, o
volume de resíduos de cenoura e coentro é insignificante, ou seja, muito pequeno.
No entanto, estes resíduos, podem ser utilizados para geração de energia em
processos internos da própria empresa.
A energia potencial foi obtida através de equações matemáticas, para a sua
comprovação torna-se necessário o resultado piloto obtido em uma usina
termelétrica, utilizando resíduos de coentro e cenoura como combustível.
FEASIBILITY ANALYSIS OF THE USE OF WASTE CORIANDER SEEDS
(Coriandrum sativum L.) AND CARROT (Daucus carota L.), PROCESS
IMPROVEMENT AS A SOURCE OF BIOMASS ENERGY, PORTO ALEGRE - RS.
ABSTRACT
As the seed industry receives its crude production, harvested in the field, this
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material passes through the beneficiation process where impurities are separated.
All waste generated is disposed, approximately 15 % of total production of
coriander seed and 35 % carrot. The objective of this study is to verify the technical
feasibility analysis of using waste as a source of these seeds of biomass energy, to
be used for the production of thermal energy and thus energy generation.
Methodology as a quantitative survey of the waste generated in the company ISLA
Seeds LTD will be held in the period from 2005 to 2012, determining the degree of
humidity, the Calorific Value (GCV) and Lower Calorific Value (CIP) and CIP X GCV
Wood eucalyptus, assessing the amount of potential energy produced compared to
other energy source. Waste seeds have higher PCS and the Eucalyptus and energy
efficiency of 49 % above PCI when compared to coal. However, the use of waste
from carrot seeds and cilantro for the production of biomass energy was feasible.
Keywords. Carrot.Coriander. Waste seeds. Biomass Energy.
REFERÊNCIAS
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