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UNIVERSIDADE POTIGUAR – UnP
PRÓ-REITORIA ACADÊMICA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO – PPGA
MESTRADO PROFISSIONAL EM ADMINISTRAÇÃO - MPA
ANTONIO ALFREDO DE CARVALHO NOBRE
RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA EM UMA EMPRESA
PRESTADORA DE SEVIÇOS DE SAÚDE
NATAL
2015
ANTONIO ALFREDO DE CARVALHO NOBRE
RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA EM UMA EMPRESA
PRESTADORA DE SEVIÇOS DE SAÚDE
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Administração da Universidade
Potiguar, como requisito para obtenção do título de
Mestre em Administração.
Área de Concentração: Gestão Estratégica de Pessoas.
ORIENTADOR: Prof.º Dr.º Manoel Pereira da Rocha
Neto
NATAL/RN
2015
N754r Nobre, Antônio Alfredo de Carvalho.
Responsabilidade Socioambiental em uma empresa prestadora de
serviços de saúde/ Antônio Alfredo de Carvalho Nobre.- Natal, 2015.
119p
Dissertação – (Mestrado em Administração)- Universidade Potiguar - Pró-
Reitoria Acadêmica – Núcleo de Pós-Graduação.
1.Administração. 2. Responsabilidade Social Empresarial. 3. Serviço
de Saúde. Indicadores Ethos. I. Título.
RN/UnP/BCNC CDU: 65
ANTONIO ALFREDO DE CARVALHO NOBRE
RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA EM UMA EMPRESA
PRESTADORA DE SEVIÇOS DE SAÚDE
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Administração da Universidade
Potiguar – UnP, como requisito para obtenção do
título de Mestre em Administração.
Aprovado em: ____/____/2015
BANCA EXAMINADORA
_________________________________________________
Prof.º Dr.º Manoel Pereira da Rocha Neto
Orientador
Universidade Potiguar - UnP
__________________________________________________
Prof.ª Dr.ª Hilderline Câmara de Oliveira
Examinadora Interna
Universidade Potiguar - UnP
___________________________________________________
Prof.ª Drª Fernanda Fernandes Gurgel
Examinadora Externa
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
Dedico este trabalho ao meu pai Severino Guimarães
(in memoriam), e a minha mãe Francisca Diva, que
souberam fazer germinar em seus filhos o prazer da
busca do conhecimento.
AGRADECIMENTOS
A Deus, pela existência de todas as coisas.
A minha esposa Miriam Lúcia, pelo companheirismo em todos os momentos e em especial pelo
apoio e incentivo no transcurso desta jornada.
As minhas filhas, Cintia Mirela, Regina Lúcia e Camila Cristina que vibraram ao tomarem
conhecimento que teriam em casa um companheiro de estudos acadêmicos, e em muito
contribuíram, com compreensão e carinho, para o bom andamento e conclusão deste estudo.
Aos irmãos Marco Aurélio (in memoriam), Suely Magna, Soraya Cely, Sebastiao Neto, Jorge
Guimarães e Severino Júnior, pela amizade sincera.
A Professora Fernanda Gurgel, que, com sabedoria, dedicação e paciência guiou este seu aluno,
oriundo das ciências biomédicas, pelos férteis campos das ciências humanas, contribuindo de
forma decisiva para o êxito deste trabalho.
Ao Professor Manoel Pereira, que assumindo a função de orientador deste trabalho, em um
momento crucial de definições, conduziu-o com sabedoria e discernimento até o seu término.
A todos os que fazem o Mestrado Profissional em Administração da UnP, pela dedicação e
profissionalismo.
Aos colegas de turma pelo incentivo e companheirismo.
Ao IFRN pela disponibilização do tempo para estudo, e de um modo especial aos colegas de
trabalho, do setor de saúde, pela compreensão e palavras de encorajamento.
Aos Sócios, funcionários e clientes da intuição pesquisada, que com suas participações
voluntárias, tornaram possível a realização deste estudo.
RESUMO
A Responsabilidade Social Empresarial (RSE) é um conceito que ganha adeptos e robustez, à
medida que o empresariado percebe, que a institucionalização de práticas e ações de
responsabilidade socioambiental, gerando valor para a sociedade e para o meio ambiente, ao
invés de ser apenas custos, representa um diferencial competitivo, capaz de produzir resultados
positivos para a empresa e para a sociedade como um todo. Este trabalho verificou, qual o atual
estágio de engajamento com a RSE de uma empresa de serviços de saúde, especializada em
traumato-ortopedia, localizada na Zona Norte da cidade do Natal, Rio Grande do Norte – RN,
por meio das percepções de gestores, funcionários e clientes. O modelo, Indicadores Ethos de
Responsabilidade Social Empresarial, na sua versão 2013, foi empregado na análise dos
resultados. Esta pesquisa adotou uma abordagem qualitativa, descritiva e foi desenvolvida
como um estudo de caso. Foram utilizados, dados primários, coletados por meio de entrevista
semiestruturada individualizada. Na análise e tratamento dos dados foi utilizada a técnica de
análise de conteúdo. Os resultados evidenciaram uma percepção convergente, de gestores e
funcionários, quanto ao entendimento, de que existe uma responsabilidade da empresa com o
meio ambiente, comunidade de entorno e público interno. Em relação à questão ambiental a
percepção dos gestores encontra-se focada na problemática do correto manejo dos resíduos e
cumprimento das exigências legais, enquanto os funcionários além de demonstrarem
preocupação com a questão dos resíduos, destacam outros importantes aspectos da
responsabilidade ambiental das empresas como a reciclagem, coleta seletiva, ações para a
comunidade, arborização e preservação da qualidade do ar. Gestores e funcionários, percebem
a necessidade de uma maior interação da empresa, com a comunidade onde está localizada, e
relatam a inexistência de ações formais desenvolvidas nessa direção. Gestores e funcionários
percebem a carência de ações de RSE destinadas pela empresa para o seu público interno.
Quanto aos clientes, estes demonstram conhecimento em torno da temática RSE, e percebem a
responsabilidade ambiental das empresas, com foco na problemática do correto manejo dos
resíduos e seus aspectos legais. Os clientes desconhecem ou não percebem a existência de ações
de RSE da empresa em parceria com organizações da comunidade. Em relação ao público
interno, percebem práticas, relacionadas a diversidade e a não discriminação e condições
adequadas de trabalho. Com base nos resultados dessa pesquisa, pode-se inferir que a empresa
alvo deste estudo, encontra-se em um processo evolutivo de conscientização em torno dos
pressupostos da RSE, estando em um momento de transição de um estágio básico para um
estágio intermediário de RSE como proposto pelo Instituto Ethos.
Palavras-chave: Responsabilidade Social Empresarial. Serviço de Saúde. Indicadores Ethos.
ABSTRACT
Corporate Social Responsibility (CSR) is a concept that has gained acceptance and robustness,
as the business community realizes that the institutionalization of social and environmental
responsibility initiatives, generating value for society and the environment, rather than just
costs, represents a competitive advantage, able to produce positive results for the company and
for society as a whole. This study aimed to verify what is the current stage of engagement with
CSR of a healthcare company, specialized in traumatology and orthopedics, located in the North
Zone of Natal, Rio Grande do Norte - RN, through the perceptions of managers, employees and
clients. Ethos Indicators of Corporate Social Responsibility Model, version 2013, was used in
results analysis. This research adopted a qualitative, descriptive approach and was developed
as a case study. Primary data was collected in individualized semi-structured interview. To
analyze and treat this data, technic of content analyze was used. The results show a convergent
perception of managers and employees concerning the understanding that there is a corporation
responsibility with the environment, surrounding community and internal public. Regarding the
environment, perception of managers is focused on the problem of correct management of waste
and compliance with legal requirements, while employees not only showed concern for the
issue of waste managements but also highlighted other important aspects of environmental
responsibility as recycling, waste sorting, services for the community, afforestation and
preservation of air quality. Managers and employees realize the need for greater interaction of
the company and the surrounding community, and reported the absence of formal actions taken
in this direction. Managers and employees perceive the lack of CSR actions by the company to
its internal public. Considering the clients, those demonstrated knowledge about CSR and they
perceived corporations environmental responsibility with focus on the correct management of
residues and its legal aspects. Clients were not aware of or did not perceive the existence of
CSR actions of the corporation in partnership with local community organizations. Internal
public perceived practices related to diversity and non-discrimination, they also observed
adequate work conditions. Based on this research results, it can be inferred that the company
studied, is in an evolutionary process of awareness around the CSR assumptions, being in a
transition from a basic stage for an intermediate stage of CSR as proposed by the Ethos Institute.
Keywords: Corporate Social Responsibility. Healthcare Service. Ethos Indicators.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1 - Pirâmides da Responsabilidade Social Empresarial.............................. 29
Figura 2 - Modelo de Responsabilidade Corporativa – CED................................ 41
Figura 3 - Modelo Tridimensional de Performance Social Corporativa............... 43
Figura 4 - Categorias de Responsabilidade Social................................................. 44
Quadro 1 - Temas e Indicadores de Responsabilidade Social................................ 49
Quadro 2 - Indicadores de profundidade................................................................. 50
Quadro 3 - Classificação dos Indicadores Ethos para Negócios Sustentáveis e
Responsáveis..........................................................................................
51
Quadro 4 - Caracterização dos participantes da pesquisa...................................... 67
Quadro 5 - Objetivos específicos, categorias e subcategorias analíticas e roteiro
das entrevistas (Gestores e funcionários).............................................
69
Quadro 6 - Objetivos específicos, categorias e subcategorias analíticas e roteiro
das entrevistas (Clientes).......................................................................
71
Quadro 7 - Principais resultados encontrados – Meio Ambiente............................. 88
Quadro 8 - Principais resultados encontrados – Comunidade de Entorno............... 93
Quadro 9 - Principais resultados encontrados – Público Interno............................. 101
Quadro 10 - Síntese final dos principais resultados encontrados.............................. 103
LISTA DE SIGLAS
ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas
ADCE Associação de Dirigentes Cristão de Empresas
AMA Atendimento Multi Assistencial
ANAHP Associação Nacional dos Hospitais Privados
ANS Agência Nacional de Saúde Suplementar
ANVISA Agencia Nacional de Vigilância Sanitária
BS Balanço social
CBPG Comitê Brasileiro do Pacto Global
CED Comittee for Economic Development
CONASS Conselho Nacional dos Secretários de Saúde
DS Desenvolvimento Sustentável
EUA Estados Unidos da América
GIFE Grupo de Institutos Fundações e Empresa
GRI Global Reporting Iniciative
GO Goiânia
IBASE Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
INMETRO Instituto Nacional de Metrologia Qualidade e Tecnologia
INPS Instituto Nacional de Previdência Social
IPEA Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas
ISO International Organization for Standardization
MS Ministério da Saúde
ODM Objetivos de Desenvolvimento do Milênio
OIT Organização Internacional do Trabalho
OMS Organização Mundial de Saúde
ONU Organização das Nações Unidas
OSCIP Organização da Sociedade Civil de Interesse Público
PNBE Pensamento Nacional das Bases empresariais
RS Responsabilidade Social
RSE Responsabilidade Social Empresarial
SAS Secretaria de Atenção à Saúde
SGA Sistema de Gestão Ambiental
SIS Instituto Sueco de Normatização
SUS Sistema Único de Saúde
UNIAPC União Internacional de Dirigentes Católicos de empresas
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO............................................................................................... 13
1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO................................................................................... 15
1.2 PROBLEMA E QUESTÃO DE PESQUISA..................................................... 20
1.3 OBJETIVOS....................................................................................................... 21
1.3.1 Geral................................................................................................................. 21
1.3.2 Específicos.......................................................................................................... 21
1.4
1.5
JUSTIFICATIVA................................................................................................
ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO..................................................................
22
23
2 REFERÊNCIAL TEÓRICO........................................................................... 24
2.1 RESPONSABILIDAE SOCIAL EMPRESARIAL: EVOLUÇÃO DO
CONCEITO.......................................................................................................
24
2.1.1 Responsabilidade Social Empresarial no Brasil............................................ 31
2.1.2 Pacto Global...................................................................................................... 36
2.1.3 Certificação de Responsabilidade Social........................................................ 38
2.1.4 Modelo de Responsabilidade Social Corporativa.......................................... 40
2.1.4.1 Modelo Tridimensional de Performance Social................................................ 42
2.1.4.2 Indicadores Ethos de Responsabilidade Social Empresarial.............................. 47
2.2 SAÚDE E DOENÇA: BREVE HISTÓRICO................................................... 53
2.2.1 Serviços de saúde no Brasil.............................................................................. 58
2.2.2 Estudos sobre RSE em serviços de saúde...................................................... 61
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS................................................. 65
3.1 TIPOLOGIA DA PESQUISA........................................................................... 65
3.2 PARTICIPANTES DA PESQUISA.................................................................. 66
3.3 COLETA DE DADOS........................................................................................ 68
3.4 INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS.................................................... 69
3.5 CATEGORIAS ANALÍTICAS.......................................................................... 69
3.6 TRATAMENTO DOS DADOS......................................................................... 71
3.7 CARACTERIZAÇÃO DO CAMPO DA PESQUISA...................................... 73
4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS.......................................... 75
4.1 RESPOSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL E O MEIO AMBIENTE... 75
4.1.1 Questão ambiental na percepção de gestores e funcionários........................ 76
4.1.1.1 Responsabilidade ambiental............................................................................... 76
4.1.1.2 Qualidade ambiental.......................................................................................... 77
4.1.1.3 Proteção ambiental.............................................................................................. 79
4.1.1.4 Uso consciente de água, energia e material de consumo.................................... 80
4.1.1.5 Coleta seletiva e reciclagem............................................................................... 81
4.1.1.6 Plano de Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde (PGRSS)........... 82
4.1.1.7 Certificação ambiental....................................................................................... 84
4.1.2 Questão ambiental na percepção dos clientes............................................... 85
4.1.2.1 Responsabilidade ambiental............................................................................... 85
4.1.2.2 Qualidade ambiental........................................................................................... 87
4.2 RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL E COMUNIDADE DE
ENTORNO.........................................................................................................
89
4.2.1
4.2.1.1
Percepção de gestores e funcionários sobre RSE e a comunidade de
entorno..............................................................................................................
Política de Relacionamento com a Comunidade de entorno.............................
90
90
4.2.1.2 Campanhas educacionais e/ou de interesse público – Projetos sociais............. 91
4.2.1.3 Avaliar reclamações com origem na comunidade de entorno.......................... 92
4.2.1.4 Estimulo ao trabalho voluntário...................................................................... 92
4.2.2 Relacionamento com a comunidade de entorno – Percepção dos clientes 93
4.3
4.3.1
RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL E PÚBLICO INTERNO
Percepção de gestores e funcionários em relação a RSE e o público
interno..............................................................................................................
94
94
4.3.1.1 Mecanismos de participação............................................................................ 94
4.3.1.2 Valorização da diversidade............................................................................... 96
4.3.1.3 Saúde, segurança e condições de trabalho......................................................... 97
4.3.1.4 Desenvolvimento e capacitação......................................................................... 98
4.3.1.5 Ações de RSE direcionadas à família do funcionário........................................ 99
4.3.1.6 Outras ações de RSE direcionadas ao público interno...................................... 99
4.3.2 Ações de RSE direcionadas ao público interno – Percepção dos clientes... 100
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................... 106
REFERÊNCIAS................................................................................................ 109
APÊNDICES.......................................................................................................
117
13
1 INTRODUÇÃO
Este trabalho encontra-se inserido na temática Responsabilidade Social Empresarial1
(RSE), conceito que tomou consistência a partir da década de 1970 e vem aos poucos sendo
incorporado à filosofia administrativa das empresas, seja na área da indústria seja na área de
serviços. De acordo com Guimarães (1984, p. 01):
As pressões exercidas sobre as empresas para que estas se tornem mais sintonizadas
com os problemas sociais se constitui num movimento que, ultrapassando a mera
consideração das obrigações legais e econômicas, pôs em xeque o próprio conceito de
legitimidade que servia de suporte aos negócios empresariais.
Desta maneira, a RSE com seus pressupostos, muda e amplia o conceito de empresa,
que passa a perceber as ações de cunho social, não como um fardo a ser carregado por pressão
da sociedade e imposição legal, onerando seu balanço e diminuindo o lucro dos seus acionistas,
mas sim como uma nova ferramenta capaz de trazer um diferencial competitivo e aumentar a
lucratividade, fato esse comprovado por estudos recentes que de acordo com Orellano e Quiota
(2011. p. 4), “[...] confirmam a hipótese de correlação positiva entre desempenho financeiro e
desempenho socioambiental”.
O setor de serviços e, de maneira mais específica os serviços de saúde por sua dimensão
financeira e relevância social não podia ficar à margem desse movimento, e, embora de maneira
tardia quando comparado ao setor industrial foi aos poucos incorporando os conceitos da RSE
nos seus planejamentos de gestão. Esse novo olhar para a questão socioambiental vem
ocorrendo de uma forma mais incisiva nas grandes unidades hospitalares, não havendo uma
literatura de vulto sobre a internalização dessas práticas em empresas de saúde que fornecem
serviços classificados pelo Sistema Único de Saúde (SUS), como, atendimento ambulatorial de
média complexidade. Corroborando esse pensamento Toledo (2011, p.121) afirma que ainda é
escassa a bibliografia envolvendo a atividade hospitalar e a questão ambiental e relata que: “O
que se percebe é que as ações da atividade hospitalar em relação ao meio ambiente estão
concentradas no tema, resíduos e riscos ocupacionais, e outros aspectos e impactos são
negligenciados ”.
1 Por não haver na literatura especializada diferenças substanciais entre os termos, responsabilidade social
empresarial e responsabilidade social corporativa, os mesmos serão tratados como sinônimo neste trabalho.
14
Abordando a temática do desenvolvimento sustentável, Toledo (2011), trata do conceito
de ecoeficiência, filosofia de gestão empresarial que incorpora a gestão ambiental, como uma
estratégia organizacional a ser implementada levando-se em consideração tanto a questão
ambiental como àquelas relacionadas a produção e afirma que “O sistema já é utilizado por
grande parte das organizações industriais em detrimento das atividades de serviços hospitalares,
que negligenciam seus impactos ambientais e não usam a ecoeficiência como instrumento
gerencial” (TOLEDO, 2011, p. 121).
Os danos socioambientais causados pela instalação de uma unidade de saúde em uma
determinada localização da área urbana podem se apresentar de diversas formas como:
estéticos, desvalorização imobiliária, prejuízo ao turismo, contaminação ambiental (lençol
freático, solo, flora e fauna) e risco à saúde pública por contaminação de vetores. O correto
manejo e a minimização desses problemas surgem, então, como uma possibilidade da empresa
buscar um diferencial competitivo através da implementação de ações relacionadas à RSE que
de forma ética possa vir a ser utilizada nas campanhas de marketing empresarial (MIA, 1999;
SILVA, 2003).
As clínicas de traumato-ortopedia são unidades de saúde que prestam serviços
ambulatoriais de média complexidade2 (BRASIL, 2007) e, por suas características e fins
apresentam um potencial de gerar danos socioambientais, visto que em suas dependências são
realizados uma série de procedimentos que produzem resíduos 3 de serviço de saúde que
necessitam ser adequadamente tratados através de um plano gerencial que inclua: segregação,
acondicionamento, identificação, abrigo temporário, transporte, tratamento e destinação final.
Essas medidas, se não forem implementadas de modo apropriado, podem gerar situações de
risco ambiental, com prejuízo para a comunidade onde se localiza, pôr em risco a saúde dos
funcionários e a vida dos pacientes.
A RSE a muito deixou de ser uma prática meramente filantrópica e as empresas
atualmente se vêm forçadas pelos mais diversos agentes com quem se relacionam, a adotarem
um novo modelo de gestão, orientado pelos princípios da ética e da transparência. Diante da
atualidade e relevância do tema, decidiu-se por estudá-lo no contexto do setor de serviços, mais
2 As ações de média complexidade caracterizam-se por demandarem a necessidade de profissionais especializados
e a utilização de recursos tecnológicos para o apoio ao diagnóstico. 3 Embora do ponto de vista econômico, tenham conotações distintas, as palavras lixo e resíduos tendem a ter o
mesmo significado, e neste trabalho serão tratados como sinônimo.
15
especificamente em um serviço de saúde prestador de procedimentos ambulatoriais de média
complexidade, tendo em vista a importância socioeconômica desses estabelecimentos.
Este trabalho pretende estudar e produzir conhecimentos, acerca da percepção de
gestores, funcionários e clientes, de uma empresa prestadora de serviços de saúde, especializada
em traumato-ortopedia, localizada na cidade do Natal/RN, no tocante a temática,
Responsabilidade Social Empresarial.
1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO
Desde os primórdios da civilização, os seres humanos passaram a conviver com um
aumento progressivo da produção de resíduos, a princípio de caráter orgânico e em pequena
quantidade facilmente absorvido pelo ambiente em volta dos núcleos populacionais. Com o
crescimento das diversas civilizações, florestas foram destruídas, rios assoreados e terras
tornadas inférteis pela ação do homem. A princípio, essa interferência destrutiva do homem no
ambiente não foi percebida, em parte pela possibilidade de obtenção de recursos em novas áreas
ainda não exploradas e em parte pela capacidade de recuperação das áreas degradadas pelo
modo de produção de uma cultura pré-industrial. A partir da Revolução Industrial, no século
XVII, passa a ocorrer uma mudança drástica no padrão de produção de agentes nocivos ao meio
ambiente, com o aparecimento de uma gama de substancias criadas artificialmente pelo homem
que têm como características o difícil processo de degradação pela natureza, e serem capazes
de causar danos ambientais os mais diversos com impacto negativo na saúde das populações
(BARBIERI, 2011).
Embora a preocupação com os impactos negativos do desenvolvimento tecnológico
para a sociedade e para o meio ambiente venha percorrendo um longo caminho, que tem seu
início nos primórdios da Revolução Industrial, só a partir da década de 1960, setores
organizados da sociedade civil passam a se engajar de uma forma mais incisiva em movimentos
voltados para a melhoria da qualidade de vida das pessoas e preservação do meio ambiente. Por
essa época, uma parcela significativa da produção acadêmica passa a disseminar o conceito de
que a RSE vai além da dimensão econômica e das exigências legais, não havendo, entretanto,
entre os estudiosos do assunto, um consenso sobre o alcance dessa responsabilidade, que
permanecia restrita à filantropia e às obras de caridade. Contrapondo-se a essas ideias, o
pensamento neoliberal continuava a advogar que as forças do mercado continuariam a
impulsionar a economia e a promover o bem-estar social.
16
Para uma grande parcela da classe empresarial, as ações de responsabilidade
socioambiental seriam da alçada do setor público e de instituições como a Igreja. Defensor da
teoria neoclássica, Friedman (1970) advoga que a gestão que persegue um retorno social ou
ambiental é incompatível com o principal objetivo da empresa de maximização do retorno
financeiro aos acionistas. A partir dessa época, e de forma mais aguda após a divulgação do
conceito de Desenvolvimento Sustentável (DS) extraído do relatório Brundtland, publicado em
1987 pela Organização das Nações Unidas (ONU), avolumaram-se os trabalhos que defendiam
que a implantação dos conceitos de responsabilidade socioambiental podia proporcionar
resultados positivos para as empresas. Dentro desse novo contexto, as empresas começam a
reconhecer que iniciativas que geram valor para a sociedade e para o meio ambiente podem
trazer vantagem competitiva em longo prazo, o que está de acordo com estudos que têm
confirmado a hipótese de correlação positiva entre desempenho financeiro e desempenho
socioambiental (BRUNDTLAND, 1987; ORELLANO; QUIOTA, 2011).
Após o fim da Segunda Grande Guerra, um número significativo de nações capitaneadas
pelos Estados Unidos da América (EUA), passaram a experimentar um acelerado processo de
crescimento populacional e de desenvolvimento econômico, baseado em parte na exploração
ao extremo dos recursos naturais e tendo como matrizes energéticas o petróleo, o gás e o carvão,
bens naturais não renováveis e finitos.
Uma conscientização da população em geral, da classe empresarial e política em relação
à magnitude dos problemas sociais e ambientais que estavam sendo gerados pelo modo de
produção capitalista, só se tornaram evidentes quando sérios problemas de poluição da água,
do ar e da terra, por contaminantes físicos, químicos e biológicos, passaram a impactar de forma
negativa a qualidade de vida das populações que viviam no entorno dos grandes complexos
industriais (BARBIERI, 2011).
O ritmo acelerado de degradação ambiental provocada pelo modus operandi capitalista
de produzir, com o intuito de satisfazer uma sociedade ávida por adquirir novos bens e agora
denominada sociedade de consumo, passou aos poucos a ocupar a atenção dos estudiosos, dos
meios de comunicação e da sociedade civil organizada Estes agentes, gradativamente,
começaram a cobrar dos governantes uma intervenção do Estado com o objetivo de buscar
soluções que de alguma forma contribuíssem para reduzir o impacto negativo do
desenvolvimento tecnológico no meio ambiente e no tecido social.
Após o fim da Segunda Guerra Mundial, o temor provocado pelas incertezas do alcance
da poluição causada por radiação fez com que o movimento ambientalista tomasse novo
17
impulso o que veio a ser reforçado pela publicação em 1962, do livro de Rachel Carson, ‘A
Primavera Silenciosa’, que faz um alerta acerca dos riscos, para a saúde humana e para os
ecossistemas do uso indiscriminado de pesticidas químicos e sintéticos na agricultura.
Saindo da periferia das discussões, a questão socioambiental passou a ocupar de maneira
crescente a agenda dos líderes mundiais, até que em 1972, a Organização das Nações Unidas
(ONU) convocou e instalou a primeira grande conferência mundial sobre o meio ambiente
intitulada de ‘Conferência Mundial sobre o Homem e o Meio’, que se realizou na cidade de
Estocolmo, capital da Suécia, e é um marco na história da luta pela preservação do meio
ambiente pelo homem. A partir dessa conferência passou a ser propagado o conceito de
Desenvolvimento Sustentável (DS), que foi ganhando consistência e penetração na sociedade
civil organizada.
Em 1983 a ONU instala a ‘Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e
Desenvolvimento’, presidida pela médica e ex Primeira Ministra da Noruega Gro Harlem
Brundtland, cujos trabalhos foram concluídos em 1987 com a publicação do relatório
denominado, ‘Nosso Futuro Comum’, também conhecido como ‘Relatório Brundtland’,
documento este, que trouxe o conceito de DS para o discurso público. Esse documento, dentre
outras iniciativas, elenca uma série de providências a serem tomadas pelos estados membros da
ONU, no que tange ao desenvolvimento de políticas de proteção sócio ambiental (ONU
BRASIL, 2014). Discorrendo sobre os fundamentos do Desenvolvimento Sustentável, Fiorillo
(2011, p. 83) relata que:
[...] o princípio do desenvolvimento sustentável tem por conteúdo a manutenção das
bases vitais da produção e reprodução do homem e de suas atividades, garantindo
igualmente uma relação satisfatória entre os homens e destes com o seu ambiente,
para que as futuras gerações também tenham oportunidade de desfrutar os mesmos
recursos que temos hoje à nossa disposição.
Tendo como marco inicial a Conferência de Estocolmo, em 1972, as nações signatárias
cada uma no seu próprio ritmo, passaram a erigir um arcabouço legislativo com o intuito de se
adequarem aos novos tempos em que a preocupação com o meio ambiente adentrava na esfera
de preocupações dos governantes e dos níveis diretivos das grandes corporações capitalistas
que, a partir de então teriam, que pensar sobe o desenvolvimento atrelado à preservação do
meio ambiente e à melhoria da qualidade de vida das pessoas (FIORILLO, 2011).
Inicialmente associada ao setor industrial, à noção de desenvolvimento sustentável foi
paulatinamente sendo incorporada aos demais setores da economia, como os serviços públicos
e o setor de serviços. O setor de serviços assume, atualmente uma grande importância na
18
economia mundial, entretanto quando comparado com o setor industrial é pouco pesquisado
pela academia, quantos aos impactos ambientais gerados pela sua atividade (TOLEDO, 2011).
Dentro do setor de serviços, a atividade de saúde em hospitais e clinicas especializadas,
contribuiu ao longo do tempo com sua quota para o dano socioambiental e só recentemente vem
incorporando, nas suas diretrizes administrativas, ações de responsabilidade socioambiental,
sendo a internalização dessas ações mais visível nas grandes unidades hospitalares.
Corroborando com essa assertiva, Viégas e Faria Filho (2007), em trabalho em que abordam o
tema gestão hospitalar e responsabilidade social nos Hospitais vinculados à Associação
Nacional dos Hospitais Privados (ANAHP), relatam que a maioria desses hospitais já
contempla, nos seus planos de gestão, projetos sociais voltados ao atendimento à comunidade
na qual estão inseridos.
Os serviços de saúde no Brasil são organizados a partir de princípios emanados da
Constituição Federal de 1988, que criou o SUS e encontra-se regulamentado pela Lei Federal
nº 8.080/1990, Lei Orgânica da Saúde (BRASIL, 1990). O SUS organiza-se ancorado nos
princípios da regionalização e da hierarquização, estando na atualidade suas ações e
procedimentos dispostos em dois blocos, sendo que um contempla a atenção básica e outro as
ações de média e alta complexidade, ambulatorial e hospitalar. A atenção ambulatorial de média
complexidade é definida pela Secretaria de Atenção à Saúde (SAS), do Ministério da Saúde
(MS), em seu site na internet, nos seguintes termos:
A média complexidade ambulatorial é composta por ações e serviços que visam
atender aos principais problemas e agravos de saúde da população, cuja complexidade
da assistência na prática clínica demande a disponibilidade de profissionais
especializados e a utilização de recursos tecnológicos, para o apoio diagnóstico e
tratamento (BRASIL, 2014).
As ações de média e alta complexidade têm relevante importância para a garantia da
resolutividade e da integralidade da assistência à saúde, e, segundo dados de 2007 do Conselho
Nacional dos Secretários de Saúde (CONASS) consomem em torno de 40% dos recursos da
União alocados no orçamento da saúde. Na grande maioria dos estados brasileiros os
procedimentos de média e alta complexidade são contratados/conveniados junto aos serviços
de saúde privados com fins lucrativos, bem como junto a serviços de saúde filantrópicos ou
universitários, que passam dessa forma a participar do sistema complementar de saúde do SUS.
A atenção de média complexidade no âmbito do SUS foi instituída pelo decreto nº 4.726, de
2003, e contempla entre outros procedimentos do sistema de informações ambulatoriais da
19
média complexidade, os procedimentos traumato-ortopédicos de radiodiagnóstico e fisioterapia
(BRASIL, 2007).
Diferente do setor público de saúde, organizado pela Constituição Federal de 1988, em
um sistema único de saúde de viés social democrata, o setor privado de saúde no Brasil cresceu
e fortificou-se ao longo do século XX sob a influência das políticas liberais e com a instalação
dos governos militares, após o golpe de março de 1964, o setor passou a apresentar uma grande
expansão e fortalecimento. Essa expansão foi incentivada por uma série de medidas
governamentais, como a concessão de incentivos fiscais às empresas, para a contratação de
companhias privadas ou cooperativas médicas para prestarem serviços de saúde a seus
funcionários, o fornecimento de empréstimos subsidiados para o crescimento do setor, bem
como o incentivo a contratação desses serviços de saúde para o atendimento aos beneficiários
do Instituto Nacional de Previdência Social (INPS) (PAIVA; TEIXEIRA, 2014; RODRIGUES,
2014).
Ao criar o SUS, o Congresso Constituinte de 1988 não extinguiu os serviços privados
de saúde, nem tampouco as políticas de incentivo a esse segmento da economia, que passou a
ser denominado a partir de então, setor suplementar de saúde. Esse setor passou a ser regulado
pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), órgão vinculado ao Ministério da Saúde,
e criado pela Lei nº 9.961, de 28 de janeiro de 2000 (BRASIL, 2000), sendo a regulação
entendida como um conjunto de medidas e ações do Governo que envolve a criação de normas,
o controle e a fiscalização de segmentos de mercado explorados por empresas para assegurar o
interesse público.
De acordo com dados de 2010 da ANS, o Brasil conta com um dos maiores setores
privados de saúde de todo o mundo, com as empresas de seguro privado de saúde, detendo uma
parcela de aproximadamente 24% desse mercado, com cerca de 45 milhões de segurados numa
população de 190 milhões de pessoas. O setor suplementar de saúde, apesar de ser
regulamentado pelo SUS, quanto às condições de seu funcionamento, não mantem relações
operacionais diretas com o sistema público de saúde, sendo formado pelas operadoras de planos
de saúde, consumidores e prestadores privados de serviços de saúde.
A relevância econômica e social crescente do mercado suplementar de saúde fica
evidente a partir de dados de 2013 da ANS que mostram a existência no país de 50,3 milhões
de segurados ou beneficiários dos planos ou seguros privados de saúde que nesse ano,
realizaram entre outros procedimentos, 262,2 milhões de consultas médicas e 709,2 milhões de
exames complementares, bem como pela receita de contraprestações (mensalidades) das
20
operadoras médico hospitalares que atingiu a cifra de R$ 108.1 bilhões nesse mesmo ano (ANS,
2013; BRASIL, 1990; PAIVA; TEIXEIRA, 2014; RODRIGUES, 2014).
Este estudo foi realizado em uma empresa privada de prestação de serviços de saúde
ambulatorial de média complexidade, na especialidade de traumato-ortopedia, que participa do
setor suplementar de saúde, por intermédio de convênios com cooperativas médicas e
operadoras de planos privados de assistência à saúde. A empresa está instalada desde 1997 no
bairro de Igapó, pertencente ao Distrito Administrativo Norte, ou Zona Norte, da cidade do
Natal. No ano de 2014 foram realizadas na instituição, 42.328 consultas médicas em traumato-
ortopedia e 8.982 procedimentos de radiologia (RX) entre outros, como pequenas cirurgias,
imobilizações gessadas e curativos.
Diante do exposto, contextualiza-se este trabalho em um momento histórico de
crescente preocupação da sociedade em relação às práticas de responsabilidade social
empresarial, associada à importância socioeconômica dos serviços de saúde ambulatoriais de
média complexidade, que são ofertados a população brasileira por empresas privadas,
integrantes do setor suplementar de saúde.
1.2 PROBLEMA E QUESTÃO DE PESQUISA
As questões relativas à RSE há muito deixaram de ser uma preocupação das grandes
empresas do setor industrial e hoje permeia as preocupações das empresas da área de serviços,
ai incluídos os serviços de saúde. No contexto de um mercado altamente competitivo e da
crescente exigência por parte de um público consumidor ávido por bens e serviços prestados
dentro de altos padrões de responsabilidade socioambiental, as empresas prestadoras de
serviços de saúde em especial as de grande porte como os hospitais, vêm paulatinamente se
adaptando as novas exigências legais, e as pressões oriundas de um mercado consumidor cada
vez mais consciente e esclarecido quanto a essas questões.
Os serviços de saúde, com suas peculiaridades comportam uma gama de modelos
organizacionais, sendo as clínicas médicas especializadas uma das formas que esse setor lança
mão para se organizar com o objetivo de prestar serviços diferenciados a população. As
instituições de saúde são de uma forma geral potenciais produtoras de impacto socioambiental
e, dentre esses serviços, podemos destacar as clínicas prestadoras de serviços de traumato-
ortopedia. Embora na literatura existam trabalhos que procuram identificar como se encontra
a implantação das políticas de responsabilidade socioambiental no setor de saúde, estes estão
21
concentrados em pesquisas envolvendo unidades hospitalares e focados em temas como
qualidade de vida no trabalho e gerenciamento dos resíduos de saúde, sendo escassa na
literatura trabalhos tratando de RSE em outras formas de organização empresarial relacionadas
aos serviços de saúde e potencialmente capazes de causar dano socioambiental, como são as
clinicas prestadoras de serviços ambulatoriais de traumato-ortopedia, que geralmente são
instituições localizadas em ambiente físico diferente da unidade hospitalar (TOLEDO, 2011).
As clínicas de traumato-ortopedia são unidades de saúde especializadas, que pela
natureza de suas atividades, produzem resíduos de serviço de saúde e coexistem com o risco
potencial de causar dano socioambiental. Dada a atualidade, importância do tema e a
exiguidade de trabalhos na literatura pesquisada tratando da RSE no setor de saúde, salvo
aqueles realizados em grandes unidades hospitalares, este estudo se propõe a responder o
seguinte problema: Qual o atual estágio de engajamento com a Responsabilidade Social
Empresarial (RSE), de uma empresa prestadora de serviços de saúde, de média complexidade,
especializada em traumato-ortopedia, por meio das percepções de gestores, funcionários e
clientes?
1.3 OBJETIVOS
1.3.1 Geral
Verificar o atual estágio de engajamento com a Responsabilidade Social Empresarial
(RSE), de uma empresa prestadora de serviços de saúde, especializada em traumato-ortopedia,
por meio das percepções de gestores, funcionários e clientes.
1.3.2 Específicos
Mapear ações e programas de Responsabilidade Social Empresarial direcionados ao
meio ambiente;
Verificar a existência de ações e programas de Responsabilidade Social Empresarial
direcionados para a comunidade de entorno;
Identificar ações e programas de Responsabilidade Social Empresarial desenvolvidos
pela empresa, direcionados ao seu público interno.
22
1.4 JUSTIFICATIVA
Esta dissertação tem como motivação a preocupação do mestrando com a questão
socioambiental, e de modo mais específico, com essa problemática na sua área de atuação, qual
seja, os serviços de saúde. Apesar de bem assimilados pelo setor industrial os novos conceitos
que envolvem a RSE demoraram a ser incorporados às rotinas administrativas do setor de
serviços, havendo certa negligência quanto aos potenciais danos ambientais provenientes dessas
atividades.
Em se tratando setor de saúde, os poucos trabalhos encontrados na literatura se atêm de
modo predominante aos estudos do impacto socioambiental das unidades hospitalares, com
ênfase no tratamento dos resíduos de saúde, sendo relegados outros aspectos inerentes a essa
temática. A produção acadêmica se torna ainda mais escassa quando procura-se estudar a RSE
em serviços de saúde que não unidades hospitalares (TOLEDO, 2011).
Este trabalho se propõe, portanto, a estudar a RSE em uma unidade de saúde de média
complexidade especializada na prestação de serviços de traumato-ortopedia, que, por suas
características, é potencialmente capaz de acarretar danos socioambientais. As clínicas médicas
que prestam serviços de média complexidade em traumato-ortopedia, geralmente agregam ao
atendimento médico propriamente dito, serviço de radiologia, serviço de imobilização gessada,
serviço de pequenas cirurgias e curativos, entre outros.
Nessas unidades de saúde, são realizados procedimentos médicos e de enfermagem,
capazes de gerar riscos físicos, químicos e biológicos, além da produção de lixo comum e
resíduos sólidos de serviços de saúde, que se não segregados, acondicionados e armazenados
de forma correta, colocam em risco a vida dos gestores, funcionários e clientes, além de poder
infligir danos à população e ao meio ambiente, caso não tenham um tratamento e destinação
final adequados.
Dentro deste contexto, pretende-se com a realização deste trabalho contribuir para a
academia com novos conhecimentos em torno da RSE nos serviços de saúde, e proporcionar
oportunidade para que os gestores, funcionários e a comunidade se apropriem desses
conhecimentos, enriquecendo suas percepções em torno dessa temática. Pretende-se ainda
contribuir para que novos estudos sejam realizados, propiciando a criação de um conhecimento
mais denso em torno da RSE e serviços de saúde.
23
1.5 ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO
Este trabalho encontra-se estruturado em cinco seções como se segue: introdução,
referencial teórico, procedimentos metodológicos, análise e discussão dos resultados e
considerações finais.
No primeiro capítulo apresenta-se a introdução do trabalho, sua contextualização, o
problema de pesquisa, seus objetivos, a justificativa e a sua estrutura.
No segundo capítulo contempla-se o referencial teórico, que na primeira seção
secundária, trata da Responsabilidade Social Empresarial: Evolução do conceito,
Responsabilidade Social Empresarial no Brasil, Pacto Global, Certificação de Responsabilidade
Social, Modelos de Responsabilidade Social Corporativa, Modelo Tridimensional de
Performance Social, Indicadores Ethos de Responsabilidade Social Empresarial e na segunda
seção secundaria aborda o processo Saúde e Doença: Breve Histórico, Serviços de Saúde no
Brasil e Estudos sobre RSE em Serviços de Saúde.
No terceiro capítulo é apresentado o procedimento metodológico utilizado no
desenvolvimento da pesquisa com as seções secundarias: Tipologia da pesquisa; participantes
da pesquisa; coleta de dados; instrumento de coleta de dados; categorias analíticas; tratamento
dos dados e caracterização do campo de pesquisa.
O quarto capítulo trata da análise e discussão dos resultados, e pôr fim, o quinto capítulo,
que se detém nas considerações finais desta dissertação, contendo a conclusão, recomendações,
limitações e sugestões de trabalhos futuros.
24
2 REFERÊNCIAL TEÓRICO
Esta seção discorre sobre aspectos relevantes para um melhor entendimento do tema
central deste trabalho, através de uma análise sucinta da evolução e formação do conceito de
RSE ao longo do tempo, e em especial a partir do início do século XX até os dias atuais, além
de um breve histórico sobre o complexo saúde e doença, serviços de saúde no Brasil e sua
aproximação com os pressupostos da RSE.
Neste intuito, busca-se contextualizar as principais correntes de pensamento com o
momento histórico em que alguns dos principais estudiosos envolvidos com esta temática
publicaram seus trabalhos contributivos para o desenvolvimento e evolução teórica do conceito.
Destaca-se ainda, um curto relato, da introdução dos princípios da RSE no Brasil, da origem e
desenvolvimento do Pacto Global, da evolução e consolidação da certificação socioambiental,
além de uma análise dos principais modelos de Performance Social Corporativa surgidos a
partir da década de 1970, dando-se ênfase ao modelo do Instituto Ethos de Empresas e
Responsabilidade Social, que será o modelo utilizado como suporte teórico para este estudo.
2.1 RESPONSABILIDAE SOCIAL EMPRESARIAL: EVOLUÇÃO DO CONCEITO
O conceito de Responsabilidade Social Empresarial vem sendo formado ao longo da
história do desenvolvimento econômico da humanidade, sendo possível encontrar evidências
da preocupação dos detentores do poder, com os problemas sociais ao longo desse percurso.
Segundo Fellenberg (1980), existem registros demonstrando, que na antiguidade clássica, tanto
na Grécia como em Roma, o exercício da atividade produtiva dependia de autorização
governamental, que exigia como contrapartida, obrigações de cunho social por parte das
organizações. Por sua vez, Ashley et al (2005), relatam que até o século XIX, a ética e a
responsabilidade social estavam incorporadas como doutrina, na condução dos negócios
corporativos pelos Governos, que tinham como prerrogativa, a expedição de alvarás para o
funcionamento das corporações de capital aberto, as quais deveriam, em contrapartida,
proporcionar benefícios de alcance público.
Essa primazia dos governos sobre as corporações econômicas passou a perder força a
partir do crescimento e fortalecimento da iniciativa privada, dentro de um contexto de expansão
do sistema capitalista industrial no século XIX nos Estados Unidos da América (EUA) e em
alguns países da Europa, nos quais, foi ganhando consistência uma legislação corporativa que
25
tinha como premissa que o propósito primeiro de uma empresa seria a geração e maximização
do lucro, em benefício dos seus acionistas (ASHLEY et al, 2005).
Dentro desse ambiente de efervescência e expansão acelerada do modo capitalista de
produção, passa a ganha forma a preocupação com a responsabilidade social, o que tornou-se
evidente, quando um dos pioneiros na disseminação das ideias da função social da empresa,
Andrew Carnegie, publicou, em 1889, sua obra “O Evangelho da Riqueza”, na qual essa
responsabilidade é exposta, baseada nos princípios da caridade e da custódia. O princípio da
caridade prega que os indivíduos mais afortunados devem ajudar aqueles menos favorecidos,
enquanto que o princípio da custodia baseia-se na doutrina bíblica que prega que os indivíduos
mais favorecidos sejam guardiões de suas propriedades, as quais devem ser mantidas em
custodia em benefício da sociedade como um todo.
A consecução desses princípios deveria ser posta em prática pelo empresário,
considerando suas convicções individuais e não estava atrelada às práticas de gestão
empresarial. Embora uma crescente preocupação com a responsabilidade social das empresas
começasse a ganhar corpo a partir dessa época, naqueles países que estavam à frente do
processo de expansão industrial capitalista, uma literatura formal em torno desse assunto só
passa a ser produzida a partir do início do século XX e, de uma maneira mais profusa, a partir
da sua segunda metade (CARROLL, 1999; OLIVEIRA, 2010).
As grandes injustiças sociais que marcaram o processo de expansão do sistema
capitalista a partir da Revolução Industrial e o surgimento da moderna corporação não poderiam
deixar de sensibilizar estudiosos do assunto quanto à ética na gestão desses empreendimentos.
Já no final do século XIX, começaram a surgir os primeiros relatos documentados, tratando de
aspectos das relações entre a empresa e a sociedade. Nos EUA, onde primeiro se desenvolveu
uma literatura consistente sobre RSE, as discussões que se apresentavam favoráveis ao
delineamento de uma função social para a empresa sofreu um grande revés após o julgamento,
em 1919, pela Suprema Corte de Michigan do caso Dodge vs Ford Motor Company que criou
jurisprudência favorável a perpetuação do paradigma da economia neoclássica que via a função
da empresa restrita a sua busca pela maximização dos lucros, que não podiam ser destinados
a qualquer outro objetivo que não em benefício dos acionistas ( VASCONCELOS; ALVES;
PESQUEUX, 2012).
Com o fim da Segunda Grande Guerra, as corporações capitalistas, sobretudo nos EUA,
passaram a experimentar um grande crescimento, aumentando o seu poder de influência sobre
a sociedade. Nessa época, diversas ações julgadas pelas Cortes norte-americanas foram
26
favoráveis às ações filantrópicas das corporações, sendo emblemático desse período, o caso A.
P Smith Manufacturing Company versus Barlow, julgado pela Suprema Corte de Nova Jersey,
que se pronunciou favorável à doação de recursos para a Universidade de Princeton,
contrariamente ao interesse de um grupo de acionistas, definindo então que uma corporação
poderia buscar o desenvolvimento social, estabelecendo, em lei, a filantropia corporativa
(ASHLEY et al, 2005).
Embora o conceito envolvendo a responsabilidade social das empresas começasse a se
fortalecer, ao longo da primeira metade do século XX até o início da década de 1970, o
pensamento neoclássico da teoria da firma prevaleceu, tendo Friedman (1962), após a
publicação de seu livro Capitalism and Freedom, em que corrobora e fortalece as concepções
neoliberais defendidas por Levitt (1958), assumido a posição de expoente maior dessa corrente
de pensamento, que defende através de seus trabalhos que a única responsabilidade social da
empresa é gerar lucro, reduzindo à responsabilidade dos gestores à maximização dos ganhos
dos acionistas. De acordo com Friedman (1970), a responsabilidade social da empresa
completa-se na busca do crescimento, na administração eficiente que proporcione a geração de
empregos e o pagamento dos impostos, ficando as ações sócias propriamente ditas na alçada de
instituições como a Igreja e o Estado (FRIEDMAN, 1970; VASCONCELOS; ALVES;
PESQUEUX, 2012).
Na sua crítica aos que defendem a responsabilidade social da empresa, Friedman (1970),
argumenta que a empresa, como ente jurídico, possui responsabilidades jurídicas, consistindo
sua responsabilidade social em aumentar os lucros dos acionistas. Ainda para Friedman (1970,
p. 6, tradução nossa), aqueles que abraçam os conceitos da RSE, “[...] não diferem em seus
aspectos filosóficos dos que defendem uma doutrina explicitamente coletivista, diferenciando-
se desses apenas por acreditarem e professarem que fins coletivistas podem ser alcançados sem
meios coletivistas”. Essa corrente de pensamento foi chamada, em seu livro Capitalism and
Freedom, de ‘doutrina fundamentalmente subversiva em uma sociedade livre’ (FRIEDMAN,
1970).
Tratando dessa temática, Carroll (1999) aponta que os primeiros trabalhos tratando da
RSE se reportam apenas ao termo Responsabilidade Social (RS), fato esse provavelmente
decorrente da falta de percepção da crescente importância das corporações no setor de negócios
e aponta a publicação do livro de Bowen (1953), intitulado Social Resposibilities of the
Businessman, como um marco na moderna literatura envolvendo a RS. Ao contrário das
décadas anteriores, em que foram poucos os trabalhos científicos publicados, a década de 1960
27
foi marcada pelo aumento de estudos que buscaram formalizar e definir, de maneira mais
acurado o significado de RSE. Embora o termo businessman utilizado por Bowen (1953), ainda
estivesse sendo usado na literatura especializada na segunda metade da década de 1960, os
novos conceitos envolvendo a RSE, passam, nessa época, aos poucos a deixarem de ser
pensados como uma responsabilidade do dono ou gerente do empreendimento, ou seja uma
responsabilidade pessoal, e, gradativamente, passam a ser substituídos pela noção de
responsabilidade corporativa, evoluindo assim, de uma perspectiva individualista, para uma
perspectiva organizacional (CARROLL, 1999).
A partir do início da década de 1970 as empresas passam a sofrer uma maior pressão no
tocante as suas responsabilidades com a sociedade e com o meio ambiente onde estão inseridas,
levando-as a repensar a teoria da firma, dentro de um novo contexto mundial, no qual a agenda
socioambiental passa a ocupar espaço cada vez maior na academia, nos meios de comunicação
e na agenda dos executivos. O cumprimento dos pressupostos dessa agenda tornou-se parte dos
anseios de uma sociedade mais esclarecida que, através de organizações não governamentais e
das diversas instâncias de pressão características dos países democráticos de economia liberal,
cobrava ações e resultados efetivos. Esses anseios da sociedade passaram de forma definitiva
a fazer parte da preocupação dos líderes mundiais e dos gestores de empresa a partir da
instalação da assembleia da ONU denominada, Primeira Conferência Mundial sobre o Homem
e o Meio Ambiente, realizada em Estocolmo, no ano de 1972 (FIORILLO, 2011).
A partir desse momento, diversos estudiosos, entre eles Manne e Wallich (1972), Davis
(1973), Stone (1975), Carroll (1979) e Frederick (1987) passaram a questionar a primazia dos
interesses dos acionistas sobre o conjunto da sociedade, e, em seus trabalhos defenderam que a
responsabilidade social e obrigações das empresas estavam além das econômicas, contratuais e
legais. No pensamento desses autores a Responsabilidade Social Corporativa corresponde à
identificação e à satisfação dos interesses de todos aqueles que são afetados pelas atividades da
empresa como: funcionários assalariados, consumidores, fornecedores, detentores dos capitais
da sociedade, clientes etc., além dos acionistas. Ainda durante o decorrer da década de 1970, as
novas teorias organizacionais passaram a defender a ideia de que as empresas têm identidade
moral, e como tal, são responsáveis pelos seus atos, passando assim a responsabilidade social a
migrar de uma perspectiva individualista para uma perspectiva organizacional (KREITLON,
2004; VASCONCELOS; ALVES; PESQUEUX, 2012).
A preocupação no mundo acadêmico com todos os agentes que, de uma forma ou de outra
possam ser afetados pela atividade da empresa fez com que em 1978 Emshoff e Freeman
28
resgatassem o termo stakeholder de uma publicação de 1963, do Stanford Research Institute
(SRI) que definiram como “ qualquer grupo cujo comportamento coletivo pode afetar de modo
direto o futuro da organização, mas que não está subordinado ao seu controle direto”
(ACQUIER; AGGERI, 2008 apud VASCONCELOS; ALVES; PESQUEUX, 2012, p. 149).
A teoria dos stakeholder, defendida por Freeman (1984), questiona a separação entre um
mundo econômico – dominado pelo interesse e pelo oportunismo – e um mundo ético marcado
pela busca do bem comum e da equidade. Pensando um novo modelo de gestão – stakeholder
model – Freeman define o gestor como um avalista dos interesses de todas as partes envolvidas
mesmo que isso traga, como consequência potencial, redução de retorno financeiro aos
acionistas. Nesse modelo, a organização passaria também a ter outras responsabilidades e a RSC
seria considerada como condição essencial para uma boa gestão, ou seja, uma gestão estratégica
e ética que reconheceria as necessidades de todos os atores que têm um interesse na empresa e
percebem as implicações de seus procedimentos. De acordo com Vasconcelos, Alves e Pesqueux
(2012, p. 149), “Mais do que representar um avanço considerável na RSC, os trabalhos de
Freeman permitiram identificar o outro, aquele sujeito ou grupo para quem a empresa deve
alguma satisfação”.
Questionando o velho paradigma da economia neoclássica e caminhando em sentido
contrário às ideias de Friedman, Carroll (1979, 1991) propõe um modelo piramidal com o
objetivo de auxiliar os executivos na tarefa de conciliar os interesses dos acionistas com os
interesses dos demais stakeholder. O modelo piramidal de Carroll constitui-se da base para o
topo das dimensões econômicas, legal, ética e discricionária ou filantrópica. Segundo Carroll
(1979, 1991) da dimensão econômica, que encontra-se na base do seu modelo, dependem todas
as outras responsabilidades da empresa, que deve procurar ser lucrativa, maximizar vendas,
minimizar custos e ter uma política de dividendos. A dimensão legal refere-se ao cumprimento
da lei e suas regulamentações. A dimensão ética pauta-se pelas práticas da sociedade no tocante
ao que é permitido e ao que é proibido pelos seus membros em relação à honestidade, à justiça
e ao respeito aos direitos. A dimensão filantropia está no topo da pirâmide e caracteriza-se por
ser uma resposta voluntária/discricionária da empresa às expectativas da sociedade de que as
empresas possam patrocinar ações que promovam o bem-estar humano, por meio de recursos
financeiros ou ações voluntárias de seus integrantes (BORGES; MIRANDA; VALADÃO
JÚNIOR, 2007; CARROLL, 1979,1991). O modelo proposto por Carroll (1979,1991) encontra-
se apresentado de forma gráfica na Figura 1:
29
Figura 1 Pirâmides da Responsabilidade Social Empresarial
Fonte: Carroll (1979,1991).
Embora, na atualidade as discussões em torno do conceito de RSE, que tem como pilares
fundamentais a ética empresarial, a preservação dos recursos naturais e o respeito aos
trabalhadores, tenham se tornado um tema recorrente no âmbito das organizações e estejam
incorporadas aos seus processos gerenciais, ainda há autores que questionam esse movimento
e chamam a atenção para o discurso contraditório frente a uma postura socialmente responsável,
às injustiças sociais e à degradação do meio ambiente. O sistema capitalista vem desde o início
da década de 1970, apresentando uma crise estrutural que se caracteriza por ser demasiadamente
longa e, dentro dessa conjuntura, a RSC pode ser entendida como uma resposta do capital às
novas exigências de um mercado globalizado, em que cresce o poder de retaliação da sociedade
contra as empresas que não se adequam aos novos paradigmas. Para Soares (2004), são
diferentes os discursos das empresas em relação à questão que envolvem a RSE, e classifica
esses discursos em discurso explicitado, discurso pronunciado reservadamente e o discurso não
dito, como definido no texto a seguir:
30
O discurso explicitado, através do qual são divulgadas as informações a respeito da
responsabilidade social que se pretende que sejam do conhecimento dos trabalhadores
e do grande público, normalmente composto da massa de consumidores das empresas
patrocinadoras das ações sociais; o discurso pronunciado reservadamente, que
contempla as informações que, embora públicas, não são divulgadas no âmbito da
população em geral e se encontra preponderantemente em trabalhos acadêmicos e
livros especializados; e o discurso não-dito, revelado a partir de uma análise crítica
dos discursos explicitado e pronunciado reservadamente (SOARES, 2004, p. 8).
Seguindo a linha dos críticos do conceito e do discurso da Responsabilidade Social,
Jones (1996 apud BORGES; MIRANDA; VALADÃO JÚNIOR, 2007), a partir de uma
perspectiva marxista enfatiza que o conceito e o discurso da RS são viáveis somente na ausência
de uma compreensão historicamente fundamentada da lógica da economia política capitalista
na sua busca por legitimação e pode ser compreendida como ideologia legitimadora, na medida
em que é essencialmente orientada para a gestão do sistema ou regulação em vez de sua
negação.
O surgimento da RSE no meio empresarial tem, portanto, como pressuposto básico o fato
de que as companhias não devem ser conduzidas levando-se em consideração de forma
exclusiva os interesses dos acionistas (shareholders), mas necessitam levar também em
consideração as expectativas, desejos e necessidades de outros agentes envolvidos, mesmo que
de forma indireta, nas atividades e resultados da empresa (stakeholders).
Apesar dessa corrente de críticos, os conceitos concernentes à responsabilidade
socioambiental, ganharam força com a divulgação, em 1987, do relatório da ONU, ‘Nosso Futuro
Comum’, também conhecido como Relatorio Brundtland, oriundo dos desdobramentos da
Conferência de Estocolmo (1972). Esse relatório definiu novas bases para o desenvolvimento
humano, listando políticas e comportamentos para que o planeta se desenvolva dando igual
importância às políticas econômicas, ambientais e sociais. Durante os trabalhos da comissão,
nasceu à expressão ‘Desenvolvimento Sustentável’ que foi definido, como o desenvolvimento
que procura satisfazer as necessidades da geração atual, sem comprometer a capacidade das
gerações futuras de satisfazer as suas próprias necessidades (BRUNDTLAND, 1987).
A partir da sua divulgação e consolidação o sucesso do conceito de DS passa a se
constituir um eixo filosófico popular do final do século XX e início do século XXI, fazendo com
que o conceito de RSC saísse do campo meramente teórico e passasse a representar uma nova
postura a ser adotada pelas empresas que passaram a buscar de forma espontânea junto com seus
stakerholders, formas de contribuir para a melhoria dos aspectos sociais e ambientais do meio
onde estão inseridas. No atual momento do desenvolvimento econômico e social as práticas de
RSC fazem parte das preocupações dos governos das populações e dos gestores de empresas
31
estando incorporada ao modo de agir e pensar de uma sociedade em franca globalização
(VASCONCELOS; ALVES; PESQUEUX, 2012).
Em linhas gerais, pode-se inferir que, na atualidade, a RSE deixou de ser vista como
algo teórico, restrito às discussões da academia, para se incorporar de forma definitiva às práticas
de gestão das corporações dos países desenvolvidos, como também das empresas daqueles países
que, em processo de desenvolvimento, começam a participar de forma mais ativa do competitivo
comércio global.
2.1.1 Responsabilidade Social Empresarial no Brasil
Em um contexto histórico de industrialização tardia, as discussões sobre RSE, que já na
década de 1950 era motivo de debates no meio acadêmico e empresarial dos EUA, tardaram a
ocupar a agenda do empresariado brasileiro, e segundo Oliveira (2010, p. 154) “[...] até o fim
do regime militar, não há indícios muito significativos de que preocupações sociais mais amplas
estivessem presentes na agenda empresarial [...]”. No Brasil as discussões acerca do efetivo
papel social a ser desempenhado pelas empresas, só passa a tomar vulto com o término do
regime militar e a redemocratização4 do país a partir de 1985.
Os primeiros relatos da preocupação do empresariado brasileiro em torno da RSE datam
do início da década de 1960 e surgiram a partir da influência da igreja católica e protestante,
que questionavam a conduta ética e a responsabilidade dos dirigentes empresariais frente ao
excesso de lucro, a distribuição da riqueza, á qualidade de vida e a democratização do capital
(PERTILE, 2008). Esse movimento tem como núcleo propagador a Associação de Dirigentes
Cristão de Empresas (ADCE), sociedade civil de caráter cultural e educativo, que nasceu sob a
inspiração de associações de empresários católicos que passaram a surgir na Europa a partir do
fim da Primeira Grande Guerra, com o intuito difundir a Doutrina Social Cristã com o objetivo
de estimular esses agentes sociais a participarem da recuperação física, econômica e espiritual
de uma Europa devastada.
Essas associações com o tempo se congregaram no que viria a ser a União Internacional
de Dirigentes Católicos de empresas (UNIAPC). A primeira ADCE foi fundada por um grupo
de empresários paulistas em 1961(ADCE/SP), e, posteriormente, o movimento foi levado a
4 Redemocratização é o processo de recuperação das instituições democráticas, abolidas pelo Regime Militar,
instaurado no Brasil após o golpe de estado de 1964.
32
outros estados da federação. No ano de 1977, foi criada a Associação de Dirigentes Cristãos de
empresa do Brasil, com o intuito de coordenar o movimento em âmbito nacional. A ADCE tem
como princípio filosófico, a Doutrina Social Cristã e tem como missão:
Unir, orientar e motivar os dirigentes de empresa para a prática efetiva do pensamento
social cristão, comprometendo-se com seu melhoramento pessoal, com a
transformação do ambiente empresarial e com a edificação de uma sociedade mais
justa, que promova a dignidade da pessoa e objetive o bem comum (ADCE/RS, 2014).
Não obstante, a ADCE ter exercido um importante papel na história da difusão das
noções dos conceitos de RSC no Brasil, a perspectiva com que esta temática foi tratada a
princípio por essa associação teve como norte o dever e a caridade cristã, e não uma nova
filosofia a ser incorporada às práticas de gestão empresarial (OLIVEIRA, 2010).
Os debates envolvendo a RSE começam a ganhar um maior espaço no meio trabalhista,
empresarial e nas ações governamentais a partir da década de 1970 quando a classe trabalhadora
começa a se reorganizar e cobrar das empresas ações a serem desenvolvidas na área social e
essas por sua vez cobravam do estado uma contrapartida ao pagamento de altos impostos em
forma de medidas que viessem ao encontro dos anseios por melhoria dos serviços prestados à
população.
Durante o processo de redemocratização do Brasil, no final da década de 1970 e início
da década de 1980, foi promulgada a Lei nº 6.683, de 28 de agosto de 1979, também conhecida
como Lei da Anistia, que permitiu a volta ao país dos exilados pelo Regime Militar. Ao
retornarem do exílio, Herbert de Souza, Carlos Afonso e Marcos Arruda fundam em 1981, o
Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (IBASE) que adota como princípios, a
liberdade, igualdade, solidariedade, participação, diversidade e justiça socioambiental. O
IBASE desenvolve desde a sua criação diversas campanhas de alcance social como a campanha
contra a fome comandada por Herbert de Souza (Betinho) e tem entre uma de suas principais
ações a luta pela conscientização dos empresários para a necessidade da realização de um
balanço social (BS) através de uma modelo desenvolvido pelo instituto em conjunto com
representantes de empresas públicas e privadas. Para Betinho, (2014), “Realizar o Balanço
Social significa uma grande contribuição para a consolidação de uma sociedade
verdadeiramente democrática”. A ideia de um relatório produzido pelas empresas dando conta
de suas ações sociais surgia na Europa na década de 1970, e a França, já no ano de 1977,
aprovou uma lei que tornava obrigatório a realização de balanços sociais periódicos para as
empresas com mais de 700 funcionários. No Brasil os primeiros documentos produzidos por
33
empresas mostrando sua atuação na área social foram realizados pela Nitrofertil na Bahia em
1984, Sistema Telebrás em meados da década de 1980 e do Banespa, em 1992. O Ibase (2014)
define balanço social como:
[...] um demonstrativo publicado anualmente pela empresa reunindo um conjunto de
informações sobre os projetos, benefícios e ações sociais dirigidas aos empregados,
investidores, analistas de mercado, acionistas e à comunidade. É também um
instrumento estratégico para avaliar e multiplicar o exercício da responsabilidade
social corporativa.
No ano de 1997, o IBASE desenvolveu um modelo de BS que logo passou a ser adotado
por diversas empresas que após a divulgação do seu balanço, passaram a receber um selo da
instituição. A distribuição do selo Ibase/Betinho foi suspensa em 2008 embora o modelo de
balanço social continue disponível para as empresas. Para esse instituto a importância da
realização do BS está na sua capacidade de medir e comparar o desempenho social ao longo de
uma série histórica, bem como de servir para comparação entre as empresas, se prestando, pois,
como um meio que a sociedade pode dispor para avaliar o que essas instituições estão fazendo
na área da RS. Como ferramenta útil a esses estudos o instituto lançou em 2008 a publicação
Balanço Social. O desafio da transparência. Em 2009 foi lançada a plataforma Ibase, que
através de seminários com os parceiros, procura traçar novos rumos para a instituição, dentro
de um contexto de novos desafios, tanto mundiais quanto locais, e, assim, contribuir com novos
paradigmas civilizatórios (IBASE, 2014).
Acompanhando o movimento de redemocratização do Brasil um grupo de jovens
empresários paulistas, insatisfeitos com as lideranças do setor, criou um movimento que
denominaram de “Pensamento Nacional das Bases empresariais (PNBE) ”, com o propósito de
participarem de uma forma mais efetiva das discussões em torno do processo de modernização
econômica do país. No ano de 1990, o PNBE se institucionalizou como entidade representante
de uma parcela do empresariado brasileiro e promoveu esforços para a efetivação de um pacto
nacional pelo controle da inflação e a retomada do desenvolvimento envolvendo a classe
empresarial, os trabalhadores e o governo federal.
O PNBE tem como eixo ideológico uma economia baseada na iniciativa privada e no
livre mercado, defendendo o lucro como instrumento de desenvolvimento e a eficiência
econômica como um meio para a obtenção da qualidade de vida bem como o respeito aos
patrimônios nacionais, sejam humanos, materiais ou ambientais. Propondo o debate nacional
em um ambiente que permitisse a participação de todos os segmentos da sociedade na
construção de um projeto de desenvolvimento para o Brasil, o PNBE se constituiu um marco
34
do início do desenvolvimento das preocupações do empresariado brasileiro com a
responsabilidade social (OLIVEIRA, 2010; PNBE, 2014).
Com a consolidação do processo democrático e uma maior abertura comercial do
mercado brasileiro à concorrência internacional a partir da década de 1990, as políticas de RSE
passam a ser inseridas de forma definitiva na agenda dos empresários brasileiros, que desta
forma buscam melhorar a imagem das empresas nacionais tanto para o público interno como
para o externo, em um momento crucial de mudanças de práticas e processos empresariais na
luta pela permanência em um mercado competitivo e globalizado (OLIVEIRA, 2010).
A partir da década de 1980, cresce a conscientização no meio empresarial brasileiro de
que as políticas de estado, por si só, não são suficientes para que se possa atingir o objetivo de
diminuir as grandes desigualdades econômicas e sociais presentes no país. Dentro desse
contexto um grupo de organizações empresariais criou em São Paulo, em 1989 um grupo de
trabalho para discutir as práticas de filantropia. Esse grupo de trabalho viria a dar origem ao
Grupo de Institutos Fundações e Empresa (GIFE), que teve sua assembleia de constituição
realizada em 1995 com a presença de 25 organizações empresariais.
O GIFE nasce em um momento de preocupação mais ampla do empresariado brasileiro
em torno da função social da empresa e passa a propagar a ideia de que o empresariado necessita
participar com sua parcela de responsabilidade para a redução das desigualdades sociais através
do investimento social privado (GIFE, 2014). Para Oliveira (2010, p. 157):
Na direção de atuação preconizada pelo GIFE, é possível identificar sinais de uma
ligação mais efetiva do empresariado com a temática da responsabilidade social, bem
como a abertura das empresas à incorporação de mecanismos de gestão que
considerem como elementos importantes a humanização da empresa e a promoção de
canais de relacionamento entre empresa e sociedade.
Ainda dentro do processo de consolidação e ampliação da divulgação dos conceitos de
RSE no ambiente empresarial brasileiro, um grupo de empresas funda em São Paulo, no ano de
1998 o Instituto Ethos de Empresas e responsabilidade social, Organização da Sociedade Civil
de Interesse Público (OSCIP), que entre outros objetivos, busca disseminar as práticas de RSE
e tem como missão “[...] mobilizar, sensibilizar e ajudar as empresas a gerir seus negócios de
forma socialmente responsável, tornando-as parceiras na construção de uma sociedade justa e
sustentável” (ETHOS, 2014). O Instituto Ethos realiza anualmente desde 1999 a Conferência
Ethos, que é o maior evento do gênero na América Latina, tendo a última edição, ocorrido em
São Paulo em setembro de 2013, com o objetivo de discutir, junto à academia, à sociedade civil,
35
ao governo e ao meio empresarial, as tendências nacionais e globais do desenvolvimento
sustentável para aplica-las a realidade das organizações.
O Instituto Ethos surgiu, com o intuito maior, de promover a adesão das empresas às
práticas de RSE. Com a consolidação dos conceitos abrangendo essa temática, o instituto
desenvolveu, no ano 2000, a primeira geração dos indicadores Ethos de responsabilidade social
empresarial, ferramenta de gestão, que se propunha, auxiliar às organizações, a mensurar e
acompanhar o resultado de seus esforços na implantação de suas políticas de RSE. Os
indicadores Ethos de responsabilidade social empresarial vêm sofrendo atualizações ao longo
do tempo e têm se mostrado uma importante ferramenta para as empresas que os utilizam para
o estabelecimento de comparações entre o que elas vêm implementando de um período para
outro no campo da RSE.
Além das instituições que tiveram origem na iniciativa privada, o governo brasileiro,
por intermédio do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (IPEA), fundação pública
federal, vinculada à Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República vem
realizando ao longo de sua existência, uma série de pesquisas envolvendo o meio empresarial
e as práticas de responsabilidade social. O IPEA, se propõe como missão, “Aprimorar as
políticas públicas essenciais ao desenvolvimento brasileiro, por meio da produção e
disseminação de conhecimentos e de assessoria ao Estado nas suas decisões estratégicas”.
O IPEA, com atuação na produção e disseminação de conhecimentos nas áreas
econômica e social, realizou entre os anos de 1999 e 2002 a primeira edição da ‘Pesquisa Ação
Social das Empresas’, um estudo que envolveu as cinco regiões brasileiras e deu origem ao
livro ‘A iniciativa privada e o espírito público – Um retrato da ação social das empresas no
BRASIL’, publicado em 2002, sendo essa a primeira pesquisa a mapear a ação social das
empresas de todos os portes, setores e regiões do Brasil. Dando continuidade aos estudos
envolvendo RSE e tendo como foco inicial as regiões Sudeste e Nordeste do Brasil, o IPEA,
publicou em 2006, a segunda edição da Pesquisa Ação Social das Empresas, aprofundando o
conhecimento sobre o envolvimento do setor empresarial com a área social, criando uma série
histórica de informações para serem utilizadas pelo Governo Federal, pelas empresas e
organizações da sociedade civil (IPEA, 2014).
Esses estudos realizados pelo IPEA nas regiões Nordeste e Sudeste do Brasil
demonstraram ser bastante significativo o envolvimento do empresariado dessas regiões com a
RSE, chegando entre as grandes empresas a alcançar patamares de 90%. Na região Nordeste,
as empresas que declararam alguma forma de atuação social para o público externo, aumentou
36
em 35% entre os anos de 1999 e 2003, e, na região Sudeste esse aumento foi de 6% entre 1998
e 2003. Em 2003, na região Nordeste o setor de serviços foi o que apresentou menor percentual
de participação em ações sociais para a comunidade entre os setores pesquisados. Os dados da
pesquisa demonstram que, embora o envolvimento do empresariado venha crescendo, essa
participação ainda tem caráter predominantemente informal, assistencialista e personalizado,
com aspectos de caridade e assistência social, estando o retorno dessas ações ainda percebido
no campo das gratificações pessoais. Permanece muito presente embora com algumas exceções
a ideia de que as questões sociais são da alçada do poder público e que a responsabilidade social
do empresário centra-se na criação de postos de trabalho, no pagamento de seus tributos e na
garantia da qualidade do seu produto (IPEA, 2005).
Os dados da pesquisa ‘Ação Social das Empresas’, na sua segunda edição foram
publicados em 2006 e demonstraram, entre outras coisas, que os empregados continuam
participando pouco da atuação social das empresas, que a responsabilidade pela realização das
ações sociais permanecem nas mãos dos donos ou da diretoria da empresa. A pesquisa destaca
o aumento expressivo do número das micro e pequenas empresas que praticam algum tipo de
ação social junto à comunidade e demonstra que, entre 1990 e 2004, aconteceu um aumento
generalizado na proporção de empresas que declaram realizar ações sociais para a comunidade
onde está inserida. Esses dados revelaram a crescente consciência e participação do
empresariado brasileiro na implantação de ações no campo da responsabilidade social
empresaria (IPEA, 2006).
Sendo assim, percebe-se que, a partir da década de 1990 até a contemporaneidade, a
RSE torna-se de forma definitiva parte das preocupações dos mais diversos segmentos da
sociedade brasileira, sobretudo do segmento empresarial, que de maneira gradativa e
consistente, passa a perceber que as ações de responsabilidade socioambiental proporcionam
um diferencial competitivo importante em um ambiente empresarial globalizado.
2.1.2 Pacto Global
Vindo ao encontro dos anseios de uma sociedade globalizada e esclarecida que passava
a exigir dos governantes e das empresas um maior compromisso com o desenvolvimento
sustentável a ONU, por iniciativa do seu secretário geral Kofi Annan lança de forma oficial em
26 de julho de 2000, um documento denominado ‘Pacto Global’, propondo um conjunto de
ações com o objetivo de mobilizar o empresariado internacional para a prática de suas
37
atividades agregada a princípios fundamentais e internacionalmente aceitos, baseados na
Declaração Universal dos Direitos Humanos, Declaração da Organização Internacional do
Trabalho (OIT) sobre Princípios e Direitos Fundamentais no Trabalho, na Declaração do Rio
sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento e na Convenção das Nações Unidas Contra a
Corrupção. São os seguintes os princípios norteadores do Pacto Global: respeito e proteção aos
direitos humanos; não violação dos direitos humanos; apoio a liberdade de associação e
reconhecimento do direito a negociação coletiva; eliminação do trabalho forçado; abolição do
trabalho infantil; eliminar a discriminação no emprego; apoio a uma abordagem preventiva aos
desafios ambientais; promover a responsabilidade ambiental; incentivar o uso de tecnologias
que não tragam agressão ao meio ambiente; combater a corrupção em todas as suas formas,
inclusive extorsão e propina.
Endossado por uma significativa parcela do empresariado mundial, o Pacto Global da
ONU é na atualidade a maior iniciativa de responsabilidade corporativa voluntária do mundo,
com mais de 8.700 empresas participantes e partes interessadas (stakerholders) em mais de 140
países. O Pacto Global não fiscaliza nem se propõe a ser um instrumento regulatório
obrigatório, e sim um conjunto de diretrizes a serem utilizadas pelas lideranças empresariais
que buscam alinhar seu negócio, de forma voluntária, aos pressupostos do crescimento
sustentável e da promoção da cidadania. O escritório do Pacto Global da ONU entende que a
implementação dos dez princípios deve ser pensada como um processo de longo prazo, que
reque da empresa um compromisso contínuo com a mudança e com o aprimoramento
organizacional, na busca pelo alcance da sustentabilidade empresarial. Esse documento foi à
base para a criação da ISO 26000 de RSE e das diretrizes para a criação de relatórios de
sustentabilidade como o Global Reporting Iniciative (GRI) que é na atualidade referência
mundial para a elaboração de balanços sociais (OLIVEIRA, 2010; GLOBAL COMPACT,
2014).
No primeiro semestre do ano 2000, o Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade
Social passou a divulgar e a buscar a participação e adesão do empresariado brasileiro ao Pacto
Global proposto pelas Nações Unidas. Em dezembro de 2003, com a participação do setor
privado, sociedade civil organizada, academia e agências do Sistema das Nações Unidas no
Brasil foi criado o Comitê Brasileiro do Pacto Global (CBPG). Desde a sua criação a CBPG
vem participando ativamente de eventos internacionais realizados pelas Nações Unidas ao
mesmo tempo em que busca a divulgação e a ampliação da adesão das empresas brasileiras aos
princípios do Pacto Global (PACTO GLOBAL, 2014).
38
A partir da realização do segundo Global Compact Leaders Summit realizado em julho
de 2007 em Genebra na Suíça que contou com uma significativa participação da Rede Brasileira
do Pacto Global foram definidos pelo comitê do Pacto Global do Brasil os seguintes objetivos
a serem alcançados: massificar de seus princípios no pais; ampliar a adesão de empresas e
organizações Brasileiras; apoiar as empresas na implantação de tais princípios; incentivar a
troca de experiências e aprendizados; permitir a articulação internacional com as demais redes
do Pacto Global, bem como com o escritório em Nova Iorque; promover o vínculo entre os
princípios do Pacto Global e os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM), e assessorar
a diretoria do CBPG. Em 18 de junho de 2012, durante o fórum de Sustentabilidade
Corporativa, realizado durante a Rio+20, as empresas participantes da Rede Brasileira do Pacto
Global entregaram ao Governo Brasileiro e às Nações Unidas a carta ‘Contribuição Empresarial
para a Promoção da economia verde e Inclusiva’, composta por dez compromissos baseados
nos princípios da sustentabilidade ambiental (PACTO GLOBAL, 2014).
Atualmente, o Pacto Global do Brasil vem trabalhando com o objetivo de fazer com que
um número crescente de empresas passe a adotar os princípios da cidadania empresarial como
padrão na gestão de seus negócios, e, de intensificar esse movimento nas instituições em que
ele já esteja consolidado.
2.1.3 Certificação de Responsabilidade Social
A partir da disseminação do conceito de desenvolvimento sustentável as empresas e a
sociedade como um todo passaram a sentir a necessidade de instrumentos que fossem capazes
de avaliar o desempenho social das organizações e estas, por sua vez, pressionadas por seus
stakeholders, começaram a perceber a incorporação dos conceitos de responsabilidade social e
desenvolvimento sustentável aos seus processos gerenciais como instrumento de vantagem
competitiva capaz de influenciar sua capacidade de atrair trabalhadores, manter uma moral
elevado por parte dos empregados e influenciar de modo positivo, a percepção dos diversos
agentes econômicos com quem se relacionam, inclusive a comunidade onde estão estabelecidas.
Em consonância com os anseios da sociedade a International Organization for Standardization
(ISO), federação internacional que congrega organismos de normalização de diversos países e
tem sua sede em Genebra na Suíça, em conferência realizada em Estocolmo na Suécia decidiu
pela elaboração de uma Norma Internacional de Responsabilidade Social, sendo a Associação
39
Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) e o Instituto Sueco de Normatização (SIS), eleitos para
presidir o grupo de trabalho encarregada de sua elaboração (INMETRO, 2014).
A Norma Internacional ISO 26000 – Diretrizes sobre Responsabilidade Social foi
publicada no dia 1º de novembro de 2010, tendo seu lançamento ocorrido em Genebra na Suiça.
De acordo com a ISO 26000:
[...] a responsabilidade social se expressa pelo desejo e pelo propósito das
organizações em incorporarem considerações socioambientais em seus processos
decisórios e a responsabilizar-se pelos impactos de suas decisões e atividades na
sociedade e no meio ambiente. Isso implica um comportamento ético e transparente
que contribua para o desenvolvimento sustentável, que esteja em conformidade com
as leis aplicáveis e seja consistente com as normas internacionais de comportamento.
Também implica que a responsabilidade social esteja integrada em toda a
organização, seja praticada em suas relações e leve em conta os interesses das partes
interessadas (INMETRO,2014).
A ISO 26000 é vista como uma das mais importantes iniciativas internacionais no
campo das normas de conduta em RS, tanto pela relevância da entidade que promove quanto
pela amplitude das representações que tomaram parte de sua elaboração. A norma apresenta
orientações no tocante à responsabilidade social para todos os tipos de organizações,
independente do seu porte ou localização e se apresenta como um conjunto de diretrizes de uso
voluntário, não se propondo a fins de certificação. A norma tem entre seus objetivos, estimular
as organizações a irem além da conformidade legal e complementar outros instrumentos e
iniciativas relacionadas à responsabilidade social.
Essa norma, tem como princípios basilares a Accountability (que pode ser traduzido de
forma aproximada como responsabilização), a transparência, o comportamento ético, o respeito
pelos interesses das partes interessadas (Stakeholders), o respeito pelo estado de direito, o
respeito pelas normas internacionais de comportamento e o respeito aos direitos humanos
(INMETRO, 2014).
No Brasil, a ABNT antecipando-se a publicação da ISO 26000, aprovou em dezembro
de 2004 a primeira edição da norma da ABNT NBR 16001 – Responsabilidade Social – Sistema
da Gestão, passando essa norma a partir de então a fazer parte do sistema brasileiro de
certificação. Em 2012 após trabalho de revisão que ocorreu no âmbito da Comissão Especial
de Estudos de Responsabilidade Social da ABNT, foi editada uma nova Versão da NBR 16001,
dessa vez baseada na ISO 26000 que havia sido publicada em novembro de 2010. Enquanto a
ISO 26000 é uma norma de diretrizes, a NBR 16001 é uma norma de sistema de gestão, passível
de auditoria e certificação da organização por uma terceira parte (IMETRO, 20014).
40
Na atualidade a implementação dessas ferramentas normativas de responsabilidade
social e sua posterior certificação, passa a ser encarada pelo mundo empresarial, como um
mecanismo de gestão capaz de diferenciar a empresa, agregando valor à Marca, garantindo a
conformidade, qualidade e segurança dos produtos e serviços, proporcionando vantagem
competitiva em um mercado exigente e globalizado.
2.1.4 Modelos de responsabilidade social corporativa
As discussões em torno da RSC ganharam vulto a partir da década de 1950, após a
publicação da obra de Bowen (1953), intitulada Social Responsabilities of the Businessman,
que, de acordo com Carroll (1999, p. 269), marcou o início da moderna literatura em torno
desse temática. Desde então, as discussões em torno da RSC passaram de forma crescente a
ocupar um espaço cada vez mais amplo no debate acadêmico, no meio empresarial, bem como
na esfera do poder público e na sociedade civil organizada como um todo. Embora inúmeros
trabalhos tenham sido produzidos e o conceito de RSC tenha evoluído ao longo das décadas de
1950 e 1960, só a partir do início da década de 1970 passam a ser identificados na literatura
especializada trabalhos tratando de modelos de RSC.
A partir do início da década de 1970 até a contemporaneidade, diversos modelos foram
propostos pelos teóricos da RSC, com o objetivo de compreender e sintetizar, de uma forma
prática, o alcance das obrigações econômicas e não econômicas das empresas. Um dos
primeiros modelos de RSC foi desenvolvido pelo Comittee for Economic Development (CED)
(1971), em resposta a uma pesquisa de opinião pública conduzida pelo Opinion Research
Corporation em 1970, na qual dois terços dos entrevistados acreditavam que a empresa tem a
obrigação moral de ajudar outras instituições com o objetivo de se alcançar o progresso social,
mesmo em detrimento de sua rentabilidade (CARROLL, 1999).
O modelo proposto pelo CED (1971) estrutura-se graficamente em três círculos
concêntricos (Figura 2). O círculo interno trata da dimensão econômica do empreendimento,
que para seus teóricos deve ser executada de forma responsável e eficiente com foco no produto,
no emprego e no crescimento econômico. O círculo intermediário trata do exercício da função
econômica com responsabilidade e uma consciência sensível e aberta para as mudanças de
valores sociais tendo como prioridade, por exemplo: a conservação do meio ambiente, a relação
com os empregados e o atendimento das expectativas dos clientes. O círculo exterior trata de
responsabilidades ditas amorfas, que são aquelas que as empresas devem assumir para que
41
possam efetivamente envolver-se de uma forma mais ampla na melhoria do ambiente social
com ações relacionadas a pobreza, a exclusão e a degradação urbana (CARROL, 1999; CED
1971).
Figura 2 - Modelo de Responsabilidade Corporativa – CED
Fonte: CED (1971).
As limitações da aplicação prática do modelo de RSC proposto pelo CED (1971), logo
mostrou suas fragilidades, como a não identificação dos stakeholders, quais interesses são
relevantes e como equilibra-los, além de apresentar uma impermeabilidade entre os três
círculos. Essas fragilidades encontradas no modelo proposto pelo CED (1971) fizeram com que
os estudiosos do assunto passassem a desenvolver e a defender novos modelos.
Ainda no início da década de 1970, Ackerman (1973) divulga seu modelo, cuja ênfase
não se encontra na aceitação moral da obrigação e sim na atitude gerencial para fazer frente às
demandas sociais. O modelo de Sethi (1975) foi denominado de Esquema de Três Estados e
apresenta como limitação não abarcar nas suas dimensões de comportamento corporativo todos
os aspectos do comportamento das empresas. Dessa mesma década temos os modelos RSC
propostos por Preston e Post (1975), e o Modelo Conceitual Tridimensional Social Corporativo
de Carroll (1979), que tem como característica marcante a preocupação com o desempenho
social corporativo e sugere a incorporação de novas dimensões, como a ética e a discricionária
ou filantrópica aos modelos de RSC. A partir da década de 1980 a influência do modelo
42
tridimensional de performance social proposto Carroll (1979), faz-se sentir na maioria das
novas propostas de modelos de RSC (FREIRE; SOUZA, 2010).
Freire e Souza (2010), em seu trabalho, encontraram publicações tratando de modelos
de RSC que vão desde o início da década de 1970, com a publicação do CED (1971), até a
publicação do Modelo VBA de Schhwartz e Carroll (2007). Embora não sendo o objetivo dos
autores da pesquisa, esse trabalho demonstrou a profunda influência do pensamento de Archir
B. Carroll nesta área do conhecimento humano a partir da publicação dos seus artigos A Three-
Dimension Conceptual Modelo of Corporate Performance (CARROLL, 1979) e The Pyramid
of Corporate Social Responsibility: Toward the Moral Management Stakeholders (CARROL,
1991). Segundo esses autores desde a sua publicação até os dias atuais o modelo de Carroll
(1991) tem exercido grande influência na academia, tornando-se um paradigma de RSC na área
da administração.
2.1.4.1 Modelo Tridimensional de Performance Social
O conceito de Responsabilidade Social (RS) tem sido explicitado de diversas maneiras
ao longo das últimas décadas a depender do momento histórico vivenciado pelos estudiosos do
assunto. A partir da década de 1970, a questão da RS veio se juntar à econômica, a legal e a
voluntaria nos modelos de RSC. Nessa época, Carroll (1979), desenvolveu seu modelo
Tridimensional de Performace Corporativa, que enfatiza a necessidade de um comportamento
socialmente responsavel por parte das organizações, e que exerce até os dias atuais uma forte
influência nos estudos envolvendo essa área do conhecimento, sendo considerado por Welzel
et al (2008) como um modelo explicativo fundamental sobre a temática Performance Social
Corporativa ( PSC).
Tentando agregar em um único modelo de RSC diversos conceitos que julgou
pertinetes, Carrol (1979), propõe o seu modelo de perfomace social, no qual se destaca sua
grande preocupação com os aspectos relativos ao desempenho social, com ênfase nos aspectos
éticos e socialmente responsavel das corporações, procurando agegar essas dimensões à
dimensão econômica. O modelo de Carroll (1979) procura, dessa forma, integrar as questões
econômicas àquelas relacionadas com a responsabilidade social, como as categorias ética e
descricionaria, dentro de um ambiente de racionalidade econômica e legalidade juridica.
Discorrendo que seu modelo é uma tentativa de relacionar aspectos chaves relativos aos
conceitos de RSC em um quadro conceitual que possa ser útil tanto para acadêmicos como para
43
gestores, que passam então a contar com um instrumento que poderá auxilia-los na melhora
do diagnóstico e do planejamento no ambito do desempenho social corporativo, Carroll (1979),
chama a atenção para essa necessidade de sistematizaçao dos conceitos de maior relevancia em
torno da RSC e defende que, atravéz do entendimento das três dimensões do modelo
tridimensional de performace social, os acadêmicos e gerentes passem a utilizar esse
instrumento agora padronizado, como ferramenta para a avaliação da performace social
empresarial.
O modelo de Carroll (1979) propõem a integração entre três aspectos que se
interralacioanm quais sejam 1- Responsabilidade social, 2- tipo de comportamento de resposta
e 3 - áreas de ação/programas. Dentro dessas três dimensões, concentram-se as principais
questões que devem ser investigados quando da análise da performace social de uma empresa
e estão de forma esquemática representados no cubo explicativo proposto por Carroll (1979),
como pode ser visto na Figura 3:
Figura 3- Modelo Tridimensional de Performance Social Corporativa
Fonte: Carroll (1979, p. 503).
A seguir para que fique mais claro os aspectos teóricos do modelo, será feito um breve
relato explicativo de cada uma das dimensões propostas por Carroll (1979).
No modelo de Carroll (1979) a dimensão responsabilidade sócia da RSC está
subdividida em quatro categorias que são a responsabilidade Econômica, Legal, Ética e
44
discricionária e está graficamente representada pela figura 4 que sugere a importância
proporcional de cada uma dessas categorias.
Figura 4- Categorias de Responsabilidade Social
Fonte: Carroll (1979, p. 499).
De acordo com Carroll (1979, p. 499-500), as quatro categorias de RS não são
mutuamente excludentes bem como não são cumulativas ou aditivas e a sua representação
gráfica apenas sugere o grau de importância de cada uma ao longo do desenvolvimento histórico
empresarial, que na sua origem priorizava os aspectos econômicos e legais e só mais tarde
passou a apresentar uma maior preocupação no tocante aos aspectos éticos e discricionários de
suas atividades.
O estudo dessas quatro categorias de RS pode identificar o grau de comprometimento
de uma empresa com suas ações sociais a partir da ênfase dada a cada uma das categorias no
desenvolvimento de suas atividades. Para Carroll (1991) as duas primeiras categorias da RS são
exigidas pela sociedade e são denominadas responsabilidade de ação das empresas, a terceira
categoria é esperada pela sociedade, e a quarta e desejada pela sociedade.
Em seu modelo de RS contrariando alguns estudiosos do assunto com destaque para
Friedman (1970) que advogava não haver no modelo capitalista de produção, espaço para o
comprometimento com ações sociais por parte das empresas, posto que, por natureza a
administração deve centrar e direcionar seus objetivos e esforços para a questão econômica na
busca de proporcionar lucros aos seus acionistas, Carroll (1979), procurou estabelecer uma
visão distinta agregando a responsabilidade econômica à responsabilidade social. Segundo
Macedo (2010, p. 36) os estudos de Carroll (1979) podem ser sintetizado no seguinte
enunciado:
45
[...] a empresa deve ser economicamente viável, produzir bens, prover serviços que a
sociedade precisa; cumpri as leis; adotar comportamento que não estão propriamente
codificados nas leis, mas são esperados pela sociedade; e voluntariamente contribuir
com projetos sociais que beneficiem a comunidade.
No modelo de Carroll (1979), a responsabilidade econômica é a primeira e principal
responsabilidade social da empresa, já que, na nossa sociedade, alicerçada no modelo de
economia liberal capitalista, a empresa se configura como unidade econômica básica, e, como
tal, tem como principal responsabilidade produzir bens e serviços que a sociedade deseja e
vendê-los com lucro. Todas as demais funções a serem desempenhadas pela empresa derivam
desse pressuposto fundamental. A responsabilidade legal se sustenta no arcabouço jurídico
erigido ao longo do tempo com o intuito de disciplinar as inter-relações dos seus diversos atores,
inclusive do setor empresarial, que espera-se que cumpra sua missão econômica dentro do
âmbito das exigências legais desse contrato social.
Não obstante, as categorias econômica e legal comportem aspectos éticos, há, por parte
dos mais diversos atores sociais, uma expectativa de que as empresas pratiquem atitudes e
comportamentos que não necessariamente estejam contidos nos códigos legais, mas que
estejam de acordo com os padrões éticos da sociedade onde estão inseridas. Por suas próprias
características, a responsabilidade ética apresenta dificuldade de definição e não tem sido fácil
para as empresas trabalharem com o conceito do que é ético e do que não é ético, porém o que
está posto é que a sociedade tem expectativas em relação à responsabilidade social da empresa,
que vão além do cumprimento das suas obrigações legais.
Concluindo seu modelo de RSE, no que tange às categorias de responsabilidade social,
Carroll (1979) trata da responsabilidade discricionária, que tem como principal característica,
ser uma ação da empresa em benefício da sociedade que está além das suas obrigações éticas e
legais e pauta-se pela realização de ações filantrópicas e envolvimento voluntário em programas
de cunho social. Cada vez mais, as empresas precisam estar em sintonia com os anseios e as
expectativas da sociedade, no que diz respeito ao desenvolvimento de suas atividades, de modo
que possam agir de maneira proativa no intuito de promover ações que venham beneficiar a
comunidade onde estão inseridas.
Para Carroll (1979, p. 500), mesmo que a responsabilidade discricionária seja por
essência uma atividade voluntária, fruto de escolhas individuais, e o fato desse tipo de
responsabilidade não estar contemplada nas ações da empresa não seja considerado por si só
uma atitude antiética, existe uma crescente expectativa por parte da sociedade para que as
empresas assumam papeis que vão além das suas responsabilidades econômicas e éticas e
46
participem cada vez mais de iniciativas que visem atenuar os problemas sociais das
comunidades onde estão inseridas.
A dimensão ‘ações e programas’ do modelo de Carroll (1979) trata de questões onde as
categorias de responsabilidade social podem ser ou estar envolvidas em questões como o
consumo, o meio ambiente, a discriminação, a segurança do produto e do trabalho e a
expectativa dos acionistas. A depender da área de atuação da empresa, sua cultura
organizacional e sua relação com os diversos agentes sociais, são definidas as ações e
programas a serem desenvolvidos.
A ênfase dada a cada aspecto da questão social vai depender do segmento de mercado
em que a empresa exerce sua atividade e sofre grande influência do momento histórico, tendo
em vista que as preocupações sociais do início da década de 1970, por exemplo, não são as
mesmas vivenciadas na contemporaneidade. Exemplificando essa questão, Carroll (1979)
afirma que, a segurança do produto, a segurança e saúde ocupacional e a ética nos negócios não
apresentam tanto interesse na atualidade como há uma década, ao contrário das preocupações
com o meio ambiente, o consumismo e a discriminação no emprego que são hoje temas de
maior relevância.
Completando o seu modelo tridimensional de responsabilidade social, Carroll (1979)
introduz um terceiro componente, ‘filosofia da resposta’, que aborda as questões filosóficas, o
modo ou estratégia de resposta que está por trás da maneira como a empresa reage as pressões
da sociedade. Para Carroll (1979), o termo geralmente usado para descrever este aspecto é
‘resposta social’, que caracteriza-se pela possibilidade de ir de uma não resposta até uma
resposta proativa a depender do tipo e grau de ação gerencial adotada pela empresa em resposta
às demandas da sociedade. Carroll (1979), descreve alguns trabalhos que há seu tempo
procuraram estabelecer conceitos para que pudessem definir a maneira de como se dá a resposta
das empresas quando confrontada com as aspirações sociais e se deteve de forma mais profunda
na abordagem de Ian Wilson (1974, apud CARROLL, 1979) que caracteriza a resposta da
empresa frente as demandas sociais em reativa, defensiva, acomodativa e proativa, e incorporou
esses conceitos ao seu modelo tridimensional de performance social ( CARROLL,1979;
MACEDO, 2010).
A seguir descreve-se de forma sucinta os tipos de estratégias de resposta que as empresas
estabelecem quando confrontadas com as mais variadas formas de pressão oriundas da
sociedade:
47
a) - Reativa - A empresa encontra-se em um estágio em que a administração dos riscos
e a atividade econômica são prioridades, ficando a questão social em segundo plano. Neste
estágio, a empresa só responde as questões sociais quando se sente ameaçada em seus objetivos
ou quando algum problema passa a interferir em seu funcionamento.
b) - Defensiva – Neste estágio, a empresa embora não concordando de maneira plena
que tenha obrigações sociais, admite essas obrigações no intuito de se proteger ou se defender
de um desafio ou problema.
c) - Acomodativa – A empresas nesse momento aceita suas responsabilidades sociais e
se alinha as exigências do governo e da opinião publica
d) - Proativa – Nesse estágio a empresa adota posturas visando à prevenção dos impactos
negativos de suas atividades e, por iniciativa própria, antecipa-se na busca por respostas e
soluções para as questões sociais emergentes, antecipando-se dessa maneira as exigências da
sociedade (CARROLL, 1979; MACEDO, 2010).
O referencial teórico pesquisado demonstra a aceitação e o alto conceito alcançado pelo
modelo de Carroll (1979) para o estudo e avaliação da performace social empresarial, que
desde a sua elaboração, passou a ser utilizado tanto na academia, no embate teórico, como na
prática diária como uma ferramenta eficaz de auxilio aos gestores e pesquisadores na busca de
melhor compreenderem o nível de comprometimento das empresas com a RSC.
2.1.4.2 Indicadores Ethos de Responsabilidade Social Empresarial
O Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social foi criado em 1998 por um
grupo de empresários e executivos da iniciativa privada com o objetivo de ser um polo de
organização de conhecimento, troca de experiência e desenvolvimento de ferramentas que
possam auxiliar as empresas nas suas práticas de gestão, incorporando o compromisso com a
responsabilidade social e o desenvolvimento sustentável às suas rotinas administrativas. O
Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social é uma Organização da Sociedade Civil
de Interesse Público, que se propõe como missão, mobilizar, sensibilizar e ajudar as empresas
a gerir seus negócios de forma socialmente responsável, tornando-as parceiras na construção
de uma sociedade justa e sustentável.
O Instituto, que na atualidade é uma referência tanto em âmbito nacional quanto
internacional, vem participando ativamente, desde a sua criação, da disseminação dos conceitos
de responsabilidade social empresarial, por entender que a responsabilidade social é um fator
48
de sucesso empresarial e que as empresas são importantes agentes de promoção de
desenvolvimento econômico, devendo juntar esforços ao lado do Estado e da sociedade civil
para a construção de um mundo melhor (ETHOS, 2014).
Ao longo das duas últimas décadas, a prática da Responsabilidade Social (RS) passou
de forma gradativa e consistente a ser incorporada aos processos de gestão empresarial, tendo
as grandes corporações papel fundamental nesses resultados, ao estimularem suas cadeias de
fornecedores e clientes a adotarem os princípios da RS na administração de seus negócios.
Dentro desse contexto passou a existir um anseio do meio empresarial por uma ferramenta que
pudesse permitir o diagnóstico e a comparabilidade das ações desenvolvidas de um período
para outro, no tocante às ações implementadas envolvendo responsabilidade social e
desenvolvimento sustentável. Como resposta a essa necessidade o Instituto Ethos desenvolveu
os ‘Indicadores Ethos de Responsabilidade Social Empresarial’, como uma ferramenta capaz
de auxiliar os empresários no processo de aprofundamento de seu comprometimento com a
responsabilidade social e com o desenvolvimento sustentável. Os indicadores Ethos se
apresentam em forma de questionários e se propõe a ser um instrumento de conscientização,
aprendizado e monitoramento da RSE (ETHOS, 2013).
Na sua segunda geração, o questionário dos Indicadores Ethos de Responsabilidade
Social encontra-se organizado de acordo com os seguintes temas: Valores, transparência e
governança; público interno; meio ambiente; fornecedores; consumidores e clientes;
comunidade e, governo e sociedade. Cada um desses temas encontra-se estruturado em uma
questão de profundidade (permite avaliar o estágio atual da gestão da empresa em relação a
determina prática), questões binárias (sim ou não) que qualificam a resposta escolhida no
indicador de profundidade e por questões quantitativas para alguns indicadores e que visão o
levantamento sistemático de determinados dados, que podem ser avaliados segundo séries
anuais e cruzados com outros (ETHOS, 2013).
A seguir, para um melhor entendimento da proposta do Instituto Ethos na sua segunda
geração, versão 2013, apresenta-se o Quadro 1 com os temas e seus respectivos indicadores de
responsabilidade social.
49
Quadro 1 – Temas e Indicadores de Responsabilidade Social Tema: Valores, Transparência e Governança
Indicador 1 – Compromissos Éticos
Indicador 2 – Enraizamento na Cultura Organizacional
Indicador 3 – Governança Corporativa
Indicador 4 – Relações com a Concorrência
Indicador 5 – Diálogo e Engajamento de Partes Interessadas (Stakerholders)
Indicador 6 – Balanço Social
Tema: Público Interno
Indicador 7 – Relações com Sindicatos
Indicador 8 - Gestão Participativa
Indicador 9 - Compromisso com o Futuro das Crianças
Indicador 10 – Compromisso com o Desenvolvimento Infantil
Indicador 11 – Valorização da Diversidade
Indicador 12 – Compromisso com a Não-Discriminação e Promoção da Equidade Social
Indicador 13 – Compromisso com a promoção da Equidade de Gênero
Indicador 14 – Relações com Trabalhadores Terceirizados
Indicador 15 – Política de Remuneração, Benefícios e Carreira
Indicador 16 – Cuidado com a Saúde, Segurança e Condições de Trabalho
Indicador 17 – Compromisso com o Desenvolvimento Profissional e a Empregabilidade
Indicador 18 – Comportamento nas Demissões
Indicador 19 – Preparação para a Aposentadoria
Tema: Meio Ambiente
Indicador 20 – Compromisso com a Melhoria da Qualidade Ambiental
Indicador 21 – Educação e Conscientização Ambiental
Indicador 22 – Gerenciamento dos Impactos sobre o Meio Ambiente e do Ciclo de Vida
Produtos e Serviços
Indicador 23 – Sustentabilidade da Economia Florestal
Indicador 24 – Minimização de Entradas e Saídas de Materiais
Tema: Fornecedores
Indicador 25 – Critério de Seleção e Avaliação de Fornecedores
Indicador 26 – Trabalho Infantil na Cadeia Produtiva
Indicador 27 – Trabalho Forçado (ou análogo ao escravo) na Cadeia produtiva
Indicador 28 – Apoio ao Desenvolvimento de Fornecedores
Tema: Consumidores e Clientes
Indicador 29 – Política de Comunicação Comercial
Indicador 30 – Excelência no Atendimento
Indicador 31 – Conhecimento e Gerenciamento dos Danos Potenciais de Produtos e Serviços
Tema: Comunidade
Indicador 32 – Gerenciamento do Impacto da Empresa na Comunidade de Entorno
Indicador 33 – Relações com Organizações Locais
Indicador 34 – Financiamento de Ação Social
Indicador 35 – Envolvimento com a Ação Social
Tema: Governo e Sociedade
Indicador 36 – Contribuições para Campanhas Políticas
Indicador 37 – Construção da Cidadania pelas Empresas
Indicador 38 – Praticas Anticorrupção e Antipropina
Indicador 39 – Liderança e Influência Social
Indicador 40 – Participação em Projetos Sociais Governamentais
Fonte: Adaptado. Ethos (2013).
50
Na proposta do Instituto Ethos para avaliar o estágio evolutivo da empresa em relação
a RSE, cada indicador é contemplado com uma questão de profundidade (ou Indicador de
Profundidade) que permite avaliar o estágio atual da gestão da empresa em relação às práticas
de RSE. Esses indicadores são apresentados em quadros contíguos, sendo que, cada quadro
representa um estágio dessas práticas, cujo nível de desempenho, parte de um estágio básico e
evolui até um estágio de ações proativas, como demonstrado no Quadro 2 a seguir.
Quadro 2 – Indicadores de profundidade ESTÁGIO 1 ESTÁGIO 2 ESTÁGIO 3 ESTÁGIO 4
Representa um estágio
básico de ações da
empresa, no qual ela
ainda se encontra em
nível reativo as
exigências legais.
Representa um estágio
intermediário de ações,
no qual a empresa
mantém uma postura
defensiva sobre os temas,
mas já começa a
encaminhar mudanças e
avanços em relação a
conformidade de suas
práticas.
Representa um estágio
avançado de ações, no
qual já são reconhecidos
os benefícios de ir além
da conformidade legal,
preparando-se para novas
pressões
regulamentadoras do
mercado, da sociedade,
etc. A responsabilidade
social e o
desenvolvimento
sustentável são tidos
como estratégico para o
negócio.
Representa um estágio
proativo, no qual a
empresa atingiu padrões
considerados de
excelência em suas
práticas, envolvendo
fornecedores,
consumidores, clientes, a
comunidade e também
influenciando políticas
públicas de interesse
social.
Fonte: Adaptado, Ethos (2013).
Os indicadores Ethos são uma ferramenta de gestão de uso gratuito, sendo preservada a
confidencialidade das informações das empresas que respondem ao questionário e tem como
foco principal, avaliar o quanto a sustentabilidade social tem sido incorporada nos negócios,
trazendo apoio para a definição de estratégias, políticas e processos. Os indicadores Ethos
encontram-se em permanente processo de aprimoramento e sua segunda geração, publicada em
2007, trouxe como inovação a adaptação do software de preenchimento dos indicadores para
um sistema on-line de amplo acesso. A segunda geração dos indicadores Ethos (2007), passou
por um processo de revisão que teve início em 2010 e chegou ao fim, com a publicação da
versão 2013, que manteve o conteúdo das versões anteriores. Essa versão traz uma maior
integração desses indicadores com as diretrizes da Global Reporting Initiative (GRI), e com a
Norma de Responsabilidade Social ABNT NBR ISSO 26000 (ETHOS, 2014).
Uma nova geração dos indicadores, que agora passa a denominar-se Indicadores Ethos
para Negócios Sustentáveis e Reesposáveis, foi publicada em 2014 e procura a integração de
princípios e comportamentos da RSE com os objetivos da sustentabilidade, tendo como base
51
um conceito de negócios sustentáveis e responsáveis ainda em desenvolvimento. Para o
Instituto Ethos, um negócio sustentável e responsável é definido como:
É a atividade econômica orientada para a geração de valor econômico-financeiro,
ético, social e ambiental, cujos resultados são compartilhados com os públicos
afetados. Sua produção e comercialização são organizadas de modo a reduzir
continuamente o consumo de bens naturais e de serviços ecossistêmicos, a conferir
competitividade e continuidade à própria atividade e a promover e manter o
desenvolvimento sustentável da sociedade (ETHOS, 2014, p. 8).
O conteúdo dos Indicadores Ethos está disponível para todas as empresas,
independentemente de seu porte, e, nesta nova geração, a classificação do questionário passa a
ser agrupado em dimensões, que são desdobradas em temas, subtemas e indicadores, com
inspiração na Norma ISSO 26000. Este novo modelo preserva a estrutura do anterior com suas
características questões de profundidade, questões binárias e questões quantitativas. As
questões de profundidade estão representadas por cinco quadros contíguos e apresentam a
evolução de práticas em cada indicador, as questões binárias são perguntas com respostas “sim”
ou “não”, que orientam com clareza a escolha do estágio e as questões quantitativas são
questões numéricas para apoiar a definição de objetivos e metas claras para o próximo ciclo de
aplicação dos indicadores Ethos.
As dimensões dos Indicadores Ethos para Negócios Sustentáveis e Responsáveis, em
que se agrupam temas subtemas e indicadores classificam-se em: Dimensão Visão e estratégia,
dimensão governança e gestão, dimensão social e dimensão ambiental como demonstrado no
Quadro 3 a seguir:
Quadro 3 - Classificação dos Indicadores Ethos para Negócios Sustentáveis e Responsáveis. Dimensão Tema Subtema Nº Indicador
Visão e Estratégia Visão e Estratégia Visão e Estratégia 1 Estratégia para a sustentabilidade
2 Proposta de valor
3 Modelo de negócio
Governança e Gestão Governança
Organizacional
Governança e
Conduta
4 Código de conduta
5 Governança da Organização
6 Compromisso voluntário e Participação em iniciativas de RSE /Sustentabilidade
7 Engajamento das partes interessadas
Prestação de Contas 8 Relação com investidores e relatórios financeiros
9 Relatos de sustentabilidade e relatos integrados
10 Comunicação com responsabilidade social
Práticas de Operação
e Gestão
Concorrência Leal 11 Concorrência Leal
Práticas
Anticorrupção
12 Práticas Anticorrupção
Envolvimento Político Responsável
13 Contribuições para Campanhas Políticas
14 Envolvimento no Desenvolvimento de Políticas
Públicas
Sistema de Gestão 15 Gestão Participativa
52
16 Sistema de Gestão Integrado
17 Sistema de Gestão de Fornecedores
18 Mapeamento dos Impactos da Operação e Gestão de Riscos
19 Gestão da RSE/ Sustentabilidade
Social Direitos humanos Situações de Risco
para os Direitos Humanos
20 Monitoramento de Impactos do Negócio nos Direitos
Humanos
21 Trabalho Infantil na Cadeia de Suprimentos
22 Trabalho Forçado (ou Análogo ao Escravo) na Cadeia
de Suprimentos
Ações Afirmativas 23 Promoção da Diversidade e Equidade
Práticas de Trabalho Relações de Trabalho 24 Relação com Empregados (Efetivos, Terceirizados, Temporários ou Parciais)
25 Relações com Sindicatos
Desenvolvimento Humano, Benefícios e
Treinamento
26 Remuneração e Benefícios
27 Compromisso com o Desenvolvimento Profissional
28 Comportamento frente a Demissões e
Empregabilidade
Saúde e Segurança no
Trabalho e Qualidade de Vida
29 Saúde e Segurança dos Empregados
30 Condições de Trabalho, Qualidade de Vida e Jornada
de Trabalho
Questões relativas ao
consumidor
Respeito ao Direito
do Consumidor
31 Relacionamento com o Consumidor
32 Impacto decorrente do Uso dos Produtos ou Serviços
Consumo Consciente 33 Estratégia de Comunicação Responsável e Educação para o Consumo Consciente
Envolvimento com a
comunidade e seu desenvolvimento
Gestão de Impactos
na Comunidade e Desenvolvimento
34 Gestão dos Impactos da Empresa na Comunidade
35 Compromisso com o Desenvolvimento da Comunidade e Gestão das Ações Sociais
36 Apoio ao Desenvolvimento de Fornecedores
Ambiental Meio Ambiente Mudanças Climáticas 37 Governança das Ações Relacionadas às Mudanças
Climáticas
38 Adaptação às Mudanças Climáticas
Gestão e
Monitoramento dos
Impactos sobre os Serviços
Ecossistêmicos e a
Biodiversidade
39 Sistema de Gestão Ambiental
40 Prevenção da Poluição
41 Uso Sustentável de Recursos: Materiais
42 Uso Sustentável de Recursos: Água
43 Uso Sustentável de Recursos: Energia
44 Uso Sustentável da Biodiversidade e Restauração dos Habitats Naturais
45 Educação e Conscientização Ambiental
Impactos do
Consumo
46 Impactos do Transporte, Logística e Distribuição
47 Logística Reversa
Fonte. Ethos (2014).
Para o Instituto Ethos, a empresa precisa atuar de forma socialmente responsável com o
seu público interno, procurando investir no seu desenvolvimento pessoal e profissional,
considerando o funcionário um dos seus mais importantes stakeholders, proporcionando-lhe
melhorias nas condições de trabalho e não se atendo apenas em respeitar os direitos garantidos
pela legislação. Nesse novo cenário que se apresenta ao meio empresarial, o público interno
necessita estar inserido nas decisões estratégicas que visem tornar a empresa detentora de uma
gestão socialmente responsável para a sociedade como um todo (ETHOS, 2015). Outro
importante foco de preocupação e atuação do Instituto Ethos diz respeito ao meio ambiente,
que considera pedra fundamental das atuais discussões sobre o direcionamento do processo
produtivo e a busca por soluções para a substituição de insumos.
Para o Instituto Ethos, existem indícios de que a principal causa dos problemas sociais
e ambientais são os padrões insustentáveis de produção e consumo, que dependem de diversos
53
fatores e cuja solução deve ser buscada através de ações envolvendo o setor empresarial o setor
público e os consumidores. Um dos aspectos que se sobressaem nessa temática é a geração de
resíduos e a correta administração de sua destinação final, bem como os níveis de
responsabilidade dos atores envolvidos. Outro aspecto deste debate é a origem dos insumos a
degradação ambiental e a perda da biodiversidade que segundo registros já há perda de 35%
dos mangues do planeta, de extinção total de florestas em 25 países e de degradação de 50%
das áreas úmidas da terra, bem como de 30% dos recifes de corais, que chegaram a um ponto
onde é impossível sua recuperação. Esses dados mostram que as empresas necessitam trabalhar
com foco na identificação dos seus impactos negativos, forma de neutraliza-los, gerenciando
riscos e mapeando oportunidades (ETHOS, 2015).
De acordo com o Instituto Ethos as empresas são importantes agentes de promoção do
desenvolvimento econômico e do avanço tecnológico e possuem importante influência nas
transformações do planeta e, por isso, a sua participação e engajamento são cruciais para a
construção de um mundo melhor, ao lado dos esforços do Estado e da sociedade civil, sendo
que, aquelas que têm seus valores percebidos como positivo pela sociedade tendem a ter uma
vida longa. No atual contexto do desenvolvimento econômico, uma atuação cidadã e
responsável da empresa, deve considerar o seu envolvimento e o impacto de suas atividades
sobre todos aqueles com os quais se relacionam: funcionários e seus familiares, clientes,
fornecedores, o governo e a comunidade do entorno entre muitos outros stakehoslders, pois a
responsabilidade social está se tornando cada vez mais fator de sucesso empresarial, o que cria
novas perspectivas para a construção de um mundo economicamente mais próspero e
socialmente mais justo (ETHOS, 2015). O momento atual, nas empresas que lançam mão dos
instrumentos propostos pelo Instituto Ethos é de transição da aplicação dos indicadores como
proposto na sua segunda geração, para o novo modelo denominado, Indicadores Ethos para
Negócios Sustentáveis e Responsáveis.
2. 2 SAÚDE E DOENÇA: BREVE HISTÓRICO
O conceito de saúde ao longo do tempo, apresenta diferentes conotações, a depender do
momento histórico, da cultura e do estágio evolutivo das civilizações, sofrendo influência de
valores individuais, concepções científicas, religiosas e filosóficas. Nas civilizações da
antiguidade, predominantemente politeístas, o complexo saúde-doença, se revestia de
conotação mágico-religiosa, na qual as doenças, tanto individuais, como coletivas, eram
54
percebidas, como transgressões de pactos com suas divindades. Para essas civilizações o
retorno ao estado de saúde passava por realizações de rituais, liderados por xamãs, sacerdotes
ou feiticeiros, com características próprias à cada cultura, que tinham o objetivo de expulsar os
demônios e os maus espíritos causadores das enfermidades. Para os antigos Hebreus com sua
cultura monoteísta a doença não necessariamente era causada por maus espíritos e demônios,
já que poderia ser fruto da ira do seu Deus único, diante dos pecados humanos. Para essa cultura,
Deus também é o grande médico de onde provêm toda a cura (SCLIAR, 2007).
No mundo ocidental, essas formas de encarar o complexo saúde-doença vieram a
modificar-se, quando o pensamento médico, afastando-se dos aspectos sobrenaturais, passa, de
forma racional, a perceber a doença como um fenômeno natural, capaz de ser compreendido
fora do contexto do complexo mágico-religioso. Essa nova forma de pensar, floresceu na Grécia
Antiga, no século V a.C., época que hoje conhecemos como ‘Século de Péricles’, quando sob
influência do racionalismo e do naturalismo filosófico, que nessa época passou dominar o
pensamento no mundo Grego, Hipócrates de Cós (460-377 a.C.), passou a defender que as
doenças não são causadas por demônios ou por deuses e sim por causas naturais, e propôs uma
terapêutica com bases na observação e no raciocínio dedutivo, dando início dessa forma, ao
afastamento da prática médica do seu passado mágico-religioso. Hipócrates, na sua explicação
do complexo saúde-doença considerou a existência de quatro fluidos (humores), bile amarela,
bile negra, fleuma e sangue, e pensou a saúde como a expressão harmoniosa entre esses
humores corporais e a doença o desequilíbrio entre os mesmos (ALBUQUERQUE;
OLIVEIRA, 2002; BARROS, 2042).
A prática médica hipocrática, chegou a considerar que fatores externos ambientais como
s estações do ano e o estilo de vida de uma pessoa, podiam agir causando desequilíbrio nos
humores, influenciando seu estado de saúde, e procurou entender o homem como uma unidade
organizada e a doença como uma desorganização desse estado. Nos textos Hipocráticos,
sobretudo em ‘Sobre os Ares, as Águas e os Lugares’, há discussões envolvendo as inter-
relações entre fatores ambientais e doença, que reconhece a influência do ambiente geográfico
nas condições de saúde das populações.
Essa nova forma de pensar, que procura demonstrar uma relação causal entre fatores
ambientais e doenças, forneceu os primeiros fundamentos racionais para o entendimento do
desenvolvimento das doenças endêmicas e epidêmicas. Esse esboço, de um conceito ecológico
do processo saúde-doença, presente no pensamento hipocrático, influenciou seus seguidores,
55
que passaram a buscar no ambiente os caminhos para a identificação da origem e da solução
dos problemas relacionados à saúde (RIBEIRO, 2004; SCLIAR, 2007).
Na sua expansão pelo mundo mediterrâneo, o Império Romano conquistou a Grécia,
por volta do ano 146 a.C., herdando da cultura helenista suas concepções de saúde. A influência
da cultura Grega, quanto aos aspectos relacionados a saúde fez-se presente no mundo romano
através da preocupação com a saúde pública, evidenciada pela construção de sistemas de coletas
de esgotos, organização da destinação do lixo, banheiros públicos e rede de abastecimento de
água, através de diversos aquedutos que abasteciam a cidade de Roma, que por volta do século
II d.C., chegou a ter uma população estimada em um milhão de habitantes (RIBEIRO, 2004).
Dentro do contexto do império romano e expansão do cristianismo, o médico romano,
Galeno (122-199 d.C.), partindo dos princípios da escola hipocrática, realiza uma síntese do
conhecimento médico de então, e avança nas concepções diagnostico-terapêuticas, tendo como
ideia central de sua filosofia médica, que a doença seria provocada por desequilíbrios no fluxo
permanente dos humores, causado tanto por agentes internos, como a predisposição individual,
quanto por fatores externos, como os excessos alimentares e sexuais (BARROS, 2002).
A queda do Império Romano do Ocidente, no século V d.C., dá início ao período
histórico conhecido como Idade Média, que caracterizou-se por um declínio da cultura urbana,
e consequente ruralização da vida social e econômica, bem como pela valorização de fatores
espirituais no desencadeamento e cura das doenças e subsequente decadência das práticas de
saúde pública. Durante esse período histórico, o saber médico difundido por Galeno, foi
assimilado pela filosofia escolástica, servindo de base para a prática médica cristã, hegemônica
na Europa por todo o período Medieval. Apesar da assimilação de princípios da filosofia médica
de Galeno, o complexo saúde-doença na Europa Cristã, deixa de ser pensado com base na
racionalidade hipocrática, e torna-se assunto da alçada dos sacerdotes, que entediam a doença
como resultado do pecado, e a cura como uma questão de fé, estando a assistência aos doentes
e necessitados em sua grande parte entregues aos cuidados de suas ordens religiosas.
Representando um modelo de transição entre a escola galênica e o modelo biomédico
encontra-se os princípios difundidos por Paracelso (1493-1541), médico Suíço, que propôs um
conjunto de ideias que formavam um sistema médico complexo e sincrético com uma visão
holística e mística do mundo (BARRO, 2002; SCLIAR, 2007).
No início da Idade Moderna, ganha força uma concepção mecanicista e reducionista do
mundo, sendo essa concepção extrapolada para o corpo humano, que passou a ser estudado de
forma fragmentada e comparado a uma máquina, em que cada peça tem uma função
56
diferenciada a executar. Este modelo filosófico, desenvolvido por Galileu, Descartes e Newton
entre outros pensadores da época, passou a ser conhecido por Modelo Cartesiano e influenciou
de forma significativa os estudos e o desenvolvimento teórico e prático da investigação médica.
Mesmo passível de críticas, esse modelo proporcionou, há seu tempo, um grande progresso no
desenvolvimento da ciência biomédica em um momento crucial para o desenvolvimento da
humanidade (ALBUQURQUE; OLIVEIRA, 2002).
A Revolução Industrial, que tem seu início na Inglaterra por volta das últimas décadas
do século XVIII, traz no seu bojo graves consequências para a saúde de um grande contingente
de pessoas, causadas por migrações forçadas, desequilíbrios ambientais, proletarização em
massa de camponeses e artesãos. A esses fatores se associavam as péssimas condições de
salubridade das cidades, que cresciam de forma desordenada em face da ausência do poder
público e da falta de percepção dos empresários do então nascente complexo industrial
capitalista, no que tange aos danos causados por suas atividades às pessoas, à sociedade e ao
meio ambiente.
No século XIX, dentro do contexto de expansão do capital, do nascente movimento
operário, que passa a reivindicar melhores condições de vida e de trabalho, e do adoecimento
de grandes contingentes populacionais, decorrentes de doenças infectocontagiosas como a
tuberculose, sarampo, difteria e varíola, que grassavam de forma epidêmica nos grandes centros
populacionais dos países que estavam à frente do processo de industrialização, passa a se
desenvolver um conhecimento em torno da higiene pública. O pensamento higienista,
baseando-se em teorias que relacionavam a doença com as condições ambientais, fortaleceu-se
e passou a propor normas de comportamento individual e coletivo, além da reorganização do
espaço urbano como forma de prevenção e controle das doenças. Sob a influência desse
movimento, países como a Inglaterra, França, Alemanha e Estados Unidos da América (EUA)
passam a desenvolver projetos de reforma sanitária, que preconizam, intervenções na
localização de equipamentos urbanos como hospitais, cemitérios e matadouros, higienização
dos ambientes de trabalho, fornecimento de água potável a população e a adequada coleta do
lixo, como forma de prevenção e alteração no padrão de adoecimento da população.
Ainda no século XIX, com a descoberta de que organismos microscópicos vivos, são
os agentes causadores das doenças, como demostrado nos trabalhos do cientista francês Louis
Pasteur (1822-1895) e do médico alemão Robert Kock (1843-1910), inicia-se a era microbiana,
que tem como suporte científico a teoria do germe, na qual preceitua-se, que para cada doença
está associado um organismo patogênico específico (BARROS, 2002; RIBEIRO, 204).
57
As ações de saúde pública com base no desenvolvimento e na aplicação dos conceitos
científicos que davam suporte a bacteriologia e, posteriormente, da antibioticoterapia, ficaram
conhecidas como a Primeira Revolução da Saúde. A aplicação prática desses conceitos obteve
grande sucesso, proporcionando significativa redução do adoecimento decorrente de doenças
infectocontagiosas, proporcionando melhoria nas condições de saúde pública das populações
dos países industrializados da Europa e dos Estados Unidos da América (EUA). O predomínio
da teoria bacteriana, com seu sucesso no controle das doenças infectocontagiosas nesses países,
teve como efeito secundário, um refluxo na propagação das concepções médicas que
procuravam demonstrar a multicausalidade das doenças ou que defendiam que na sua eclosão
participavam fatores de ordem socioeconômica.
Esse novo modelo, capaz de explicar o complexo saúde-doença, passou a ser
conhecido por, ‘modelo biomédico’ e foi desenvolvido sob forte influência do espirito
cartesiano, perdurando hegemônico, até meados do século XX, quando os estudos
epidemiológicos passaram a identificar um novo padrão de morbidade e de mortalidade,
relacionados a fatores como aumento da longevidade, estilo de vida, distúrbios
socioeconômicos e ambientais que não podiam ser explicados dentro dos preceitos da teoria
dos germes. Essa constatação por parte da comunidade cientifica, ensejou novos desafios à
saúde pública, produzindo rupturas no paradigma biomédico (BARROS, 2002; MATOS,
2004).
A Organização Mundial de Saúde (OMS), agência da ONU para a saúde, foi fundada
em 1948, sob influência dos movimentos sociais do pós-guerra, do fim do colonialismo e da
ascensão do socialismo. A OMS, em seu documento constituinte define que ‘Saúde é o estado
de mais completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de enfermidade’. A
amplitude do conceito com aspectos de ideal inatingível não tendo objetivos práticos a ser
buscado pelos serviços de saúde, foi passível de críticas, tanto técnicas como políticas e deu
margem a interpretações como a que propunha, que a saúde é a ausência de doença, podendo
os seres humanos, dentro desse conceito, serem classificados de forma objetiva em saudáveis e
doentes (SCLIAR, 2007).
Procurando dar respostas a essas questões, a Declaração de Alma-Ata, elaborada e
divulgada na Conferência Internacional de Assistência Primária à Saúde, promovida pela OMS,
no ano de 1978, na cidade de Alma-Ata, Cazaquistão, fornece as bases ideológicas para a
Segunda Revolução da Saúde, e rompe com os paradigmas do modelo biomédico cartesiano.
Com foco nos conceitos de promoção a saúde e na meta de Saúde Para Todos no Ano 2000, se
58
estabelece uma nova maneira de pensar o complexo saúde-doença, passando a saúde a ser
percebida como um estado positivo de bem-estar e não só a ausência de doença. Esse
movimento, passa a valorizar às práticas de promoção da saúde individual e coletiva, tendo
como foco de estudo o comportamento dos indivíduos, que passa a ser vistos como uma das
principais causas de adoecimento e mortalidade humana.
Dentro desse contexto, a Carta de Ottawa (OMS, 1986) consolida o conceito de
promoção da saúde, e define como prioridade uma política de saúde pública, o desenvolvimento
de competências sociais e pessoais, uma ação comunitária, um ambiente protegido e protetor,
bem como, uma reorganização dos serviços de saúde de modo a torná-los mais eficazes nas
respostas aos novos desafios.
Desde que o estabelecimento das diretrizes básicas das políticas sobre cuidados
primários de saúde e de promoção da saúde, foram definidas na Declaração de Alma-Ata
(1978) e na Carta de Ottawa (1986) a OMS tem promovido periodicamente Conferências
Internacionais com o objetivo de discutir a promoção da saúde, sendo a última dessas
conferencias, a 8ª Conferência Internacional de Promoção da Saúde, realizado na cidade de
Helsinqui, Finlândia em 2013, que elaborou e divulgou o documento denominado, ‘Declaração
de Helsinque sobre Saúde em Todas as Políticas’ (ALBUQUERQUE; OLIVEIRA, 2002;
MATTOS, 2004; RIBEIRO, 2015).
Pode-se inferir, que, não obstante o modelo biomédico com suas bases nos princípios
da filosofia cartesiana, ainda hoje, permearem de forma consistente o complexo saúde-doença,
percebe-se o surgimento e desenvolvimento de novos paradigmas que rompendo com um
passado dominado pelo mecanicismo e reducionismo, passa a pensar esse complexo de forma
muiticausal, na qual aspectos psicológicos, socioeconômicos e ambientais são trabalhados de
forma integrada na busca da saúde do indivíduo e do bem estar da sociedade.
2.2.1 Serviços de saúde no Brasil
A organização dos serviços de saúde no Brasil contemporâneo tem seus fundamentos
legais alicerçados na Constituição Federal promulgada em outubro de 1988, marco do retorno
do país ao regime democrático, após o período de ditadura militar que perdurou de 1964 a 1985.
Dentro de um contexto histórico mundial de ascensão da doutrina econômica neoliberal com
sua defesa do estado mínimo e ampla liberdade de mercado, que atingiu seu auge após a chegada
ao poder na Inglaterra, do partido conservador, com a eleição de Margareth Thatcher, em 1979,
59
como Primeira Ministra, e do partido republicano nos EUA, com a eleição, em 1980, de Ronald
Reagan para presidente, o Congresso constituinte debatia o modelo de saúde a ser incluído no
texto constitucional sob influência do pensamento social democrata de importantes segmentos
da sociedade brasileira.
No que tange à formulação das políticas sociais, e em especial as políticas de saúde, o
Congresso constituinte sofreu forte pressão dos movimentos sociais organizados, de uma
parcela da intelectualidade universitária e dos profissionais ligados à área de saúde, que
orientados ideologicamente à esquerda eram defensores da prestação estatal dos serviços de
saúde. Essas forças sociais emergiram no cenário político brasileiro, ao longo das décadas de
1970 e 1980, marcando posição contra as políticas neoliberais do regime militar, através do
movimento que ficou conhecido como Movimento da Reforma Sanitária Brasileira. Os
sanitaristas procuravam implantar e consolidar o processo de expansão da cobertura de saúde a
população, tendo como princípios norteadores aqueles emanados da Conferência de Alma-Ata
(1978), que preconizavam de modo primordial a realização de investimentos na Atenção
Primária a Saúde como estratégia para alcançar as metas de ‘Saúde para todos no ano 2000’
estabelecidas pela OMS em 1977 (OMS, 1978).
O movimento sanitarista participou de forma decisiva na difusão da noção de direito a
saúde como parte da cidadania, tendo entre seus objetivos a luta pela redemocratização do país
e a formulação de um projeto de saúde que representasse uma alternativa ao sistema vigente,
pela construção de uma nova política de saúde, efetivamente democrática que levasse em
consideração a descentralização, universalização e unificação como elementos essenciais para
a reforma do setor.
Um marco rumo à criação do Sistema Único de Saúde foi à oitava conferência nacional
de saúde, no ano de 1986, em que foram discutidas e aprovadas as principais demandas do
movimento sanitarista brasileiro, base do futuro sistema de saúde. Esse movimento advogava
o fortalecimento do setor público de saúde e sua extensão a todos os cidadãos além da
integração da medicina previdenciária à saúde pública.
Foi dentro desse contexto de embate ideológico entre as correntes neoliberais, e social
democráticas que o Congresso constituinte aprovou o Sistema Único de Saúde, que traz em seu
bojo os princípios da social democracia como; a equidade, integralidade e universalidade,
passando a saúde a ser tratada na nova constituição, como um direito do cidadão e um dever do
estado. Atendendo as pressões das correntes de pensamento neoliberais, o Congresso
constituinte, ao criar o SUS não extinguiu o sistema privado de saúde, que passou a ser definido
60
pela legislação brasileira como sistema suplementar de saúde, e caracteriza-se por transações
diretas envolvendo consumidores, empresas de seguro privado prestadores e privados de
serviços de saúde e pela inexistência de relações diretas com SUS. A Constituição Federal de
1988, não extinguindo o setor privado de saúde, permite que este mediante contrato ou
convênio possa prestar serviços ao SUS de maneira complementar (HOBSBAWN, 1995;
RODRIGUES, 2014; PAIVA; TEIXEIRA, 2014).
A Lei Federal nº 8.080, Lei Orgânica da Saúde, promulgada em setembro 1990,
disciplina o SUS, e tendo como base os princípios fundamentais da regionalização e
hierarquização, organiza o cuidado à saúde em níveis de Atenção Básica, Média e Alta
Complexidade. A atenção básica à saúde envolve ações tanto no âmbito da coletividade como
no plano individual com o objetivo de resolver de solucionar os agravos de saúde mais
frequentes e de maior relevância para a população e definida na Portaria nº 2.488, de 21 de
outubro de 2011 que estabelece a Política Nacional de Atenção Básica como:
[...] um conjunto de ações de saúde, no âmbito individual e coletivo, que abrange a
promoção e a proteção à saúde, a prevenção de agravos, o diagnóstico, o tratamento,
a reabilitação, redução de danos e a manutenção da saúde com o objetivo de
desenvolver uma atenção integral que impacte na situação de saúde e autonomia das
pessoas e nos determinantes e condicionantes de saúde das coletividades.
As ações de média complexidade caracterizam-se por demandarem a necessidade de
profissionais especializados e a utilização de recursos tecnológicos para o apoio ao diagnóstico
como os procedimentos de traumato-ortopédia, rádio diagnóstico, fisioterapia, patologia
clínica, entre outros. A alta complexidade se compõe de um rol de procedimentos que implicam
a utilização de alta tecnologia e alto custo tendo como exemplos a assistência ao paciente
oncológico, à cirurgia cardiovascular e os procedimentos de neurocirurgia (BRASIL, 2014).
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA, 2014), autarquia vinculada ao
Ministério da saúde e integrante do Sistema único de Saúde (SUS) define serviços de saúde
como: “[...] estabelecimentos destinados a promover a saúde do indivíduo, protege-lo de doença
e agravos, prevenir e limitar os danos a ele causados e reabilita-lo quando sua capacidade física,
psíquica ou social for afetada”. Dados de 2005 do Departamento de Informática do SUS
(Datasus), demonstram que a transferência de recursos federais para os serviços de saúde de
média e alta complexidade representaram R$ 12,82 bilhões, sendo esse valor o dobro do
transferido para a atenção básica (R$ 6,07 bilhões). Esses valores demonstram a importância
econômica dos serviços de saúde, no entanto, esses serviços que por suas especificidades
61
convivem com um potencial de afetar de forma negativa os diversos atores com que se
relacionam, ainda têm sido pouco estudados no que concerne à implantação de políticas de
RSC.
Na atualidade não se contesta mais a importância do progresso econômico como gerador
de dano socioambiental, dano este que tem alcançado proporções de implicações de alcance
global como e caso das discussões de sua implicação na rarefação da camada de ozônio e no
aquecimento global. Apesar da sociedade como um todo pareça está consciente da problemática
socioambiental e os serviços de saúde pela sua dimensão e especificidade participe com sua
quota de responsabilidade, segundo Camponogara; Ramos e Kirchhof (2009. P. 3562) “[...]
alguns setores ainda mantém uma aproximação tímida com esta questão, dentre eles o da
saúde”. Corroborando com o pensamento de que o setor de saúde ainda não incorporou, de uma
forma ampla os conceitos inerentes às políticas de RSE, a grande maioria dos estudos
envolvendo a responsabilidade social no setor de saúde ainda concentra-se em aspectos
relacionados à gestão dos resíduos sólidos de serviços de saúde, bem como nos riscos biológicos
inerentes a essa atividade, por imposição de uma legislação com origem na ANVISA, e em
portarias oriundas do Ministério do Trabalho (BRASIL, 2014; TOLEDO, 2011).
Percebe-se que o setor de saúde no Brasil, tanto privado com vínculos ou não com a
saúde suplementar, como o setor público, pela sua importância social e pela dimensão
econômica, necessita estar mais engajado às demandas socioambientais, procurando incorporar
os princípios da RSE aos seus planos de gestão, passando a atuar de uma forma mais consistente
com ações proativas em prol da coletividade e do meio ambiente.
2.2.2 Estudos sobre RSE em serviços de saúde
Discorrendo sobre a RSE em serviço de saúde hospitalar, Gomes et al (2008), destacam
o limitado número de estudos publicados sobre a temática levando-se em consideração a
importância econômica dessas instituições no mundo desenvolvido e sua capacidade de gerar
impactos negativos ao meio ambiente e a sociedade. Ainda sem uma internalização adequado
do conceito mais amplo de RSC, os serviços de saúde, em especial os hospitais, a partir de
meados da década de 1990, passam a preocupar-se com sua inserção no novo ambiente
empresarial no qual a RSE passa a ser importante fator diferencial de sobrevivência em um
mercado altamente competitivo.
62
Em um primeiro momento, o que se tem visto são ações pontuais que mais vinculam a
responsabilidade social à ação social e a filantropia, restando, portanto, um longo caminho a
ser percorrido por essas instituições na busca da incorporação às suas rotinas administrativas
dos conceitos de sustentabilidade empresarial, gerenciando suas atividades com foco não só nos
aspectos econômicos, mas também nos resultados ambientais e sociais (GOMES et al, 2008).
Em pesquisa realizada com gestores de hospitais do Estado da Paraíba, Gomes et al (2008),
chegaram à conclusão de que a maioria dos gestores pesquisados consideravam que a
responsabilidade social está na alçada do Estado e das ONG’s, ficando sob responsabilidade de
suas instituições as dimensões econômica e ambiental da RSE, o que demonstra a falta de
incorporação dos conceitos e estratégias de RSE por parte dessas instituições.
Chamando a atenção para a importância das questões ambientais em uma instituição
hospitalar dentro do contexto do desenvolvimento sustentável Naime, Ramalho e Naime
(2008), relatam que, ao contrário de outros segmentos que já avançaram bastante nessa
temática, a área de saúde necessita de iniciativas que contribuam para a sua inserção nessa nova
realidade, com implantação de sistemas de gestão ambiental onde todos os seus aspectos
fundamentais sejam atendidos. Em um estudo denominado, Avaliação do Sistema de Gestão
dos Resíduos Sólidos do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, envolvendo médicos e equipe
de enfermagem, Naime, Ramalho e Naime (2008) constataram que, em geral, esses funcionários
possuem alguma informação sobre o manejo adequado dos Resíduos de Serviços de Saúde
(RSS) e estão sensibilizados para a geração de resíduos em suas áreas de trabalho, bem como
para o impacto desses resíduos para o meio ambiente.
A instituição hospitalar de caráter privado, encontra-se inserida em uma realidade
mercadológica na qual a fidelização da clientela é uma busca permanente, que na atualidade,
passa pela excelência da prestação dos serviços e pelo compromisso da instituição com as
questões socioambientais. Em estudo realizado no Hospital Samaritano com sede no município
de São Paulo e integrante da Associação Nacional de Hospitais Privados (ANAHP), que aborda
a participação dessa instituição em práticas de responsabilidade social, durante o período de
2000 a 2004, Viegas e Faria Filho (2007), tratam do projeto de Atendimento Multi Assistencial
(AMA), desenvolvido pela instituição com o objetivo de prevenir doenças por meio de
programas de informação educacional em comunidades da região de Itaquera e Vila Nhocuné.
Discorrendo sobre o sucesso do programa, os autores concluem que o Hospital
Samaritano, alinhado com as novas diretrizes da gestão empresarial tem uma forte atuação
socioambiental, que se reverte em efeitos benéficos como: aumento da fidelidade dos
63
funcionários à organização, aumento da produtividade e descoberta de novos talentos,
fortalecimento da imagem da instituição junto já comunidade, ao mesmo tempo em que
constatam não haver ainda, uma consciência no setor hospitalar da necessidade de uma
divulgação mais agressiva de suas ações de responsabilidade social como forma de marketing
empresarial (VIEGAS; FARIA FILHO, 2007).
As clinicas médicas especializadas, localizadas em ambiente não hospitalar, de acordo
com suas especificidades, são capazes de gerar dano socioambiental. Em trabalho que trata do
gerenciamento dos resíduos biológicos em serviços de dialise, Eliam et al (2004) chamam a
atenção para os riscos a que os profissionais de saúde que trabalham nesses serviços estão
expostos, e analisam o gerenciamento dos resíduos infectantes e perfurocortantes nos serviços
de dialise do município de Goiânia (GO). Os autores concluem, apontando falhas no
cumprimento das exigências legais pelas instituições pesquisadas no tocante ao correto manejo
dos resíduos de serviços de saúde (RSS), e apontam as vantagens da segregação dos resíduos,
que quando realizada de forma efetiva, permite, minimizar a contaminação do meio ambiente,
e os riscos à saúde dos trabalhadores e pacientes (ELIAM et al, 2004).
A penetração e aceitação do conceito de desenvolvimento sustentável no seio da
sociedade contemporânea faz com que as grandes empresas mundiais também passem a se
preocupar de uma forma mais incisiva com a sustentabilidade de seus negócios, passando a
incorporar as suas rotinas gerenciais as diretrizes da responsabilidade socioambiental
empresarial. A necessidade de agir com o fim de permanecer no mercado por um longo prazo,
enfrentando os desafios ambientais e as exigências de uma sociedade esclarecida é o novo
desafio que se apresenta as empresas, não importando seu tamanho e área de atuação. Mais
recentemente administradores e acionistas passaram a perceber que a dimensão social do
desenvolvimento sustentável necessita ser contemplada nas suas decisões como requisito de
grande importância para a sobrevivência de seus empreendimentos (TOLEDO, 2011).
Diante do exposto, depreende-se que, apesar do setor privado hospitalar já ter
despertado para os benefícios da incorporação aos seus planos de gestão, dos princípios que
norteiam a responsabilidade social empresarial, ainda resta um longo caminho a ser
percorrido, para que as empresas de serviços de saúde, em sua totalidade, não negligenciando
a questão do correto manejo dos resíduos, possam ir além, e passem a encarar a
responsabilidade social empresarial como um objetivo explícito da gestão empresarial, na
busca da sustentabilidade ambiental, da contínua melhoria da qualidade de vida das pessoas, e
64
de um diferencial, que proporcione sua permanência em um mercado globalizado e
competitivo.
65
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Este capítulo descreve a abordagem metodológica utilizada com o propósito de se
alcançar a resposta ao questionamento proposto neste trabalho. Procura-se, primeiramente
contextualizar, definir e justificar a escolha do tipo de pesquisa e a seguir, abordam-se os
aspectos referentes a caracterização do ambiente de pesquisa, procedimentos de coleta dos
dados, instrumentos de pesquisa e pôr fim a forma de tratamento dos dados coletados.
3.1 TIPOLOGIA DA PESQUISA
Este trabalho adotou a classificação proposta por Silva e Menezes (2005), que considera
as formas clássicas de classificação na seguinte sequência: quanto a natureza, quanto a forma
de abordagem, quanto aos objetivos e quanto aos procedimentos técnicos adotados.
Quanto à forma de abordagem, esta é uma pesquisa qualitativa, pois o que se pretendeu
foi procurar entender o fenômeno a partir da percepção dos participantes da pesquisa o que
implica em trabalhar com aspectos subjetivos e não quantificáveis, o que justifica a forma de
abordagem escolhida, que tem como apoio teórico o pensamento de Godoy (1995, p. 58)
quando afirma que “a pesquisa qualitativa não procura enumerar e/ou medir os eventos
estudados, nem emprega instrumental estatístico na análise dos dados,” de maneira diversa da
pesquisa quantitativa que tem seu objetivo voltado para a medição objetiva e quantificação dos
resultados. Nessa mesma linha de raciocínio Marconi e Lakatos (2004, p. 267) aprofundam a
definição e ressaltam que:
O método qualitativo difere do quantitativo não só por não empregar instrumentos
estatísticos, mas também pela forma de coleta e análise dos dados. A metodologia
qualitativa preocupa-se em analisar e interpretar aspectos mais profundos,
descrevendo a complexidade do comportamento humano. Fornece análise mais
detalhada sobre as investigações, hábitos, atitudes, tendências de comportamento etc.
Ainda sobre a pesquisa qualitativa, infere-se que o seu objetivo único não é apenas os
resultados, mas a verificação de como determinado fenômeno se manifesta o que torna essa
metodologia apropriada quando pretende-se realizar estudos de caráter descritivo quando o que
se busca é o entendimento do fenômeno (GODOY, 1995).
Para o desenvolvimento deste trabalho foram utilizadas técnicas da pesquisa descritiva,
que de acordo com Gil (2008, p. 28), “[...] têm como objetivo primordial a descrição das
características de determinada população ou fenômeno [...]”. Também se enquadram nesse tipo
66
de pesquisa aquelas “[...] que tem por objetivo levantar as opiniões, atitudes e crenças de uma
população” (GIL, 2008, p. 28).
Como estratégia metodológica para o desenvolvimento da pesquisa optou-se pela
técnica de estudo de caso. De acordo com Gil (2008, p. 57), “O estudo de caso é caracterizado
pelo estudo profundo e exaustivo de um ou de poucos objetos, de maneira a permitir o seu
conhecimento amplo e detalhado, [...]”, podendo ser utilizado tanto em pesquisas exploratórias
quanto descritivas e explicativas. Para Yin (2010) os estudos de caso representam a estratégia
preferida quando: se colocam questões do tipo “como e “por que”; o pesquisador tem pouco
controle sobre os eventos; e o foco se e encontra em fenômenos contemporâneos inseridos em
algum contexto da vida real.
Em síntese, o caminho percorrido com o objetivo de responder a proposição deste
trabalho, passou pela utilização de uma abordagem cientifica qualitativa, de cunho descritiva,
com a utilização da técnica de estudo de caso.
3.2 PARTICIPANTES DA PESQUISA
Esta pesquisa foi realizada em uma empresa prestadora de serviços de saúde, mais
especificamente em uma clínica privada de traumato-ortopedia, prestadora de serviços de saúde
ambulatoriais de média complexidade, integrante do setor suplementar de saúde, localizada na
Zona Norte da cidade do Natal/RN. A classificação dessa empresa como prestadora de serviços
ambulatoriais de média complexidade tem como fundamento, diretrizes emanadas do SUS. O
quadro de pessoal da empresa no momento da pesquisa era composto por 15 funcionários.
Participaram da pesquisa 12 funcionários e um dos sócios proprietários que no momento da
pesquisa exercia a função de Sócio Gestor. Dentre os 12 funcionários entrevistados 02 exerciam
funções de gestão, sendo que um desses funcionários é responsável pela gestão de Recursos
Humanos e o outro pela Gestão Financeira. Dois funcionários se negaram a participar da
pesquisa e um encontrava-se de licença médica. Além dos gestores e demais funcionários,
foram entrevistados 14 clientes, selecionados por acessibilidade, forma de amostragem não
probabilística, sendo condição para que participassem da pesquisa já ter tido um contato anterior
com o serviço de saúde objeto do estudo. O número de 14 clientes entrevistados foi definido
levando-se em consideração que as respostas começaram a se repetir denotando-se um processo
de saturação que de acordo com Cherques (2009, p. 21), “[...] designa o momento em que o
67
acréscimo de dados e informações em uma pesquisa não altera a compreensão de fenômeno
estudado”.
Visando a preservação do sigilo da empresa, e de todos os indivíduos entrevistados, que
contribuíram para a realização deste trabalho, a mesma não foi identificada. Quanto aos
participantes da pesquisa, estes foram identificados por letras como se segue: o sócio gestor e
os dois funcionários que exercem cargos de gestão, foram identificados, pela letra G, os demais
funcionários pela letra F e os clientes pela letra C. Além das letras os entrevistados foram
identificados por um numeral que corresponde a ordem sequencial em que foram realizadas as
entrevistas; assim G 1 identifica o primeiro gestor entrevistado, F 1 o primeiro funcionário
entrevistado, C 1 o primeiro cliente entrevistado e assim sucessivamente.
A seguir, no Quadro 4, são caracterizados os participantes da pesquisa.
Quadro 4 - Caracterização dos participantes da pesquisa
CARGO/FUNÇÃO TOTAL DE ENTREVISTADOS
Sócio Gestor 01
Gestor de Recursos Humanos 01
Gestor Financeiro 01
Técnico em Raio X 02
Auxiliar Administrativo 02
Recepcionista 05
Auxiliar de Serviços Gerais 01
Cliente 14
Fonte: Elaboração do autor (2015).
Percebe-se, por meio da análise do número de participantes, e de suas atribuições
profissionais, que houve uma ampla participação neste estudo, dos diversos setores da
instituição, bem como de parte do seu público externo, representado, nesta pesquisa, pelos
clientes, o que contribuiu de forma decisiva para a realização desta pesquisa.
68
3.3 COLETA DE DADOS
Tendo como finalidade o aprimoramento e validação do instrumento de pesquisa, foi
realizado, no mês de setembro de 2014, um pré-teste em uma empresa prestadora de serviço de
saúde que não a empresa objeto deste trabalho porém de porte semelhante, e que envolveu um
de seus gestores e cinco de seus funcionários, Segundo Marconi e Lakatos (2003, p. 203), “o
pré-teste deve ser aplicado em populações com características semelhantes , mas nunca naquela
que será alvo de estudo”, e a sua realização se justifica pela necessidade de se verificar a
presença de elementos de fidedignidade, validade e operatividade. No tocante ao número de
participantes do pré-teste, Hair (2005, p. 130) destaca que “a amostra do pré-teste deve incluir
um número mínimo de quatro a cinco indivíduos e um máximo de trinta indivíduos”.
Durante a aplicação do pré-teste o gerente entrevistado não encontrou dificuldades de
responder aos questionamentos, porém chamou à atenção para algumas palavras e termos
técnicos que, a seu ver, poderiam trazer prejuízo ao entendimento das questões. Após a
aplicação do pré-teste aos funcionários da empresa, foi identificada a dificuldade na compressão
de algumas palavras e mesmo sobre alguns questionamentos mais específicos em torno do tema
RSE, o que tornou necessário adaptações no instrumento de pesquisa, como a substituição de
algumas palavras por sinônimos de mais amplo entendimento, bem como o desdobramento de
algumas questões, com o intuito de tornar mais adequado a compreensão dos objetivos
específicos.
Em comum acordo com a gestora de pessoas da instituição pesquisada, as entrevistas
foram realizadas nas manhãs de quintas-feiras dos meses de outubro e novembro de 2014.
Todos os gestores e funcionários foram previamente orientados quanto aos motivos e teor da
pesquisa e foi solicitado aqueles que se dispuseram a participar, assinar um termo de
consentimento esclarecido. As entrevistas foram realizadas pelo pesquisador de forma
presencial em uma sala disponibilizada nas dependências da empresa alvo deste estudo, bem
como dentro do seu horário normal de funcionamento. As gravações das entrevistas foram
realizadas a partir da autorização expressa por parte dos entrevistados e, posteriormente, foram
integralmente transcritas com o objetivo de organização das respostas dentro de suas categorias
para posterior interpretação através da técnica de análise de conteúdo.
69
3.4 INSTRUMENTOS DE COLETA DE DADOS
O instrumento de coleta de dados utilizado para a consecução deste trabalho foi a
entrevista, que de acordo com Yin (2010, p.133) é “uma das fontes mais importantes de
informação para o estudo de caso [...]”, assertiva esta corroborada por Gil (2008, p. 100) quando
afirma que “muitos autores consideram a entrevista como a técnica por excelência na
investigação social”. Quanto ao nível de estruturação da técnica optou-se pela entrevista
semiestruturada que nos dizeres de Laville e Dionne (199, p. 188), “[...]é uma série de perguntas
abertas, feitas verbalmente em uma ordem prevista, mas na qual o entrevistador pode
acrescentar perguntas de esclarecimento”.
O instrumento de pesquisa utilizado neste trabalho foi adaptado a partir de enunciações
contidas em publicação do Instituto Ethos (2007), na sua versão 2013, denominada, Indicadores
Ethos de Responsabilidade Social Empresarial. Tanto para gestores como para funcionários, as
entrevistas foram realizadas utilizando-se um roteiro envolvendo aspectos da RSE relacionados
ao meio ambiente, comunidade de entorno e público interno. Aos clientes foi aplicado um
roteiro de entrevista específico, porém com as mesmas categorias temáticas daquelas aplicadas
aos gestores e funcionários.
3.5 CATEGORIAS ANÁLITICAS
Com o objetivo de identificar ações e práticas de RSE desenvolvidas pela empresa
estudada, foram definidas categorias e subcategorias de análises, que proporcionaram uma
melhor compreensão do tema em estudo. Para um melhor entendimento do objetivo da pesquisa
e sua temática, o Quadro 5, a seguir, demonstra os objetivos específicos, categorias e
subcategorias analíticas e o roteiro das entrevistas desenvolvida para gestores e funcionários.
Quadro 5 - Objetivos específicos, categorias e subcategorias analíticas e roteiro das entrevistas
(Gestores e funcionários).
Objetivos
Específicos
Categorias
de análise
Subcategorias Roteiro de entrevista para gestores
e funcionários.
Mapear ações e
programas de
RSE
direcionados ao
meio ambiente
Meio
Ambiente
Responsabilidade
ambiental.
Qualidades ambiental.
Proteção ambiental
Uso consciente de água,
energia e material de
consumo.
1 – O que você entende por responsabilidade
ambiental da empresa?
2 – Existe na empresa uma política de
compromisso com a qualidade ambiental? Se
sim, poderia descrevê-la?
3 – A empresa participa de projetos de
proteção ambiental? Se positivo poderia
descrevê-lo?
70
Coleta seletiva e reciclagem.
Plano de Gerenciamento de
Resíduos de Serviços de
Saúde (PGRSS).
Certificação ambiental.
4 – A empresa desenvolve campanhas
internas de educação para o uso consciente de
água, energia e outros e material de
consumo?
5 – A empresa possui um Plano de
Gerenciamento de Resíduos de Serviços de
Saúde (PGRSS)?
6 – A empresa possui alguma certificação
ambiental? Qual?
Verificar a
existência de
ações e
programas de
RSE
direcionados
para a
comunidade de
entorno
Comunidade Política de Relacionamento
com a Comunidade de
entorno.
Campanhas educacionais
e/ou de interesse público –
Projetos sociais.
Avaliar reclamações com
origem na comunidade de
entorno.
Estimulo ao trabalho
voluntário.
7 – A empresa possui uma política de
relacionamento com a comunidade onde está
localizada?
8 – A empresa desenvolve em conjunto com
organizações da comunidade campanhas
educacionais e/ou de interesse público?
9 – A empresa desenvolve algum projeto
social próprio?
10 – Em algum momento você presenciou
reclamações da comunidade relacionadas aos
seguintes motivos: a) excesso de lixo ou
outras formas de poluição; b) transtorno
causado pelo excesso de tráfego de veículos
e c) outros motivos?
11 – A empresa estimula a participação de
seus funcionários em trabalho voluntário?
Identificar
ações e
programas de
RSE
desenvolvidas
pela empresa,
direcionados ao
seu público
interno
Público
Interno
Mecanismos de
participação.
Valorizações da diversidade.
Saúde, segurança e
condições de trabalho.
Desenvolvimento e
capacitação.
Ações de RSE direcionadas
a família do funcionário.
Outras ações de RSE
direcionadas ao público
interno.
12 - Existe na empresa mecanismos para a
participação dos funcionários com sugestões
e críticas? Se sim essas sugestões e/ou
críticas são geralmente acatadas?
13 - Você tem conhecimento se a empresa
possui políticas direcionadas a valorização da
diversidade e não discriminação e promoção
da equidade racial?
14 – A empresa desenvolve ações
relacionadas à saúde, segurança e condições
de trabalho de seus funcionários? Se sim,
poderia falar sobre essas ações?
15 – A empresa tem uma política de
desenvolvimento e capacitação direcionada
aos seus funcionários? Comente.
16 – A empresa oferece algum benefício
social direcionado às famílias dos
funcionários?
17 – A empresa possui ações de RSE
direcionadas aos seus funcionários e que não
foram contempladas nas perguntas
anteriores? Se sim, poderia falar sobre essas
ações?
Fonte: Elaboração do autor (2015).
O Quadro 6, a seguir, trata dos objetivos específicos das categorias e subcategorias de
análise, bem como do roteiro das entrevistas para os clientes.
71
Quadro 6 - Objetivos específicos, categorias e subcategorias analíticas e roteiro das entrevistas
(Clientes).
Objetivos
Específicos.
Categorias
de análise.
Subcategorias. Roteiro de entrevista para os
clientes.
Mapear ações e
programas de RSE
direcionados ao
meio ambiente
Meio
Ambiente
Responsabilidade
ambiental da
empresa.
Compromisso com a
qualidade ambiental.
1- O que você entende por responsabilidade
ambiental da empresa?
2 - Durante o seu contato com esta empresa
(Clínica), você percebeu alguma forma de
compromisso da mesma com a qualidade
ambiental? Se sim, poderia discorrer sobre o
que foi percebido?
Verificar a
existência de ações e
programas de RSE
direcionados para a
comunidade de
entorno
Comunidade Ações sociais
desenvolvidas em
parceria com
organizações da
comunidade.
Projeto social próprio
3 - Você conhece alguma ação social
desenvolvida por esta empresa em parceria
com organizações da comunidade? Se sim,
poderia descrevê-la?
4 - Você tem conhecimento de algum projeto
social próprio da empresa? Se sim, poderia
descrevê-lo?
Identificar ações e
programas de RSE
desenvolvidas pela
empresa,
direcionados ao seu
público interno.
Público
interno
Mecanismos de
participação.
Valorizações da
diversidade.
Saúde, segurança e
condições de trabalho
5 - Em seu contato com esta empresa, você
percebeu no que se refere ao seu quadro de
funcionários, uma política de valorização da
diversidade, da não discriminação e da
promoção da igualdade racial?
6 - Você conseguiu perceber algum tipo de
preocupação desta empresa em relação à
saúde, segurança e condições de trabalho de
seus funcionários? Poderia comentar?
7 - Além do que já foi perguntado, você
conseguiu identificar alguma outra forma de
ação de responsabilidade social, direcionada
pela empresa aos seus funcionários?
Fonte: Elaboração do autor (2015).
As categorias de análise, meio ambiente, comunidade e público interno, bem como suas
subcategorias e roteiro de entrevistas foram adaptados a partir dos Indicadores Ethos de
Responsabilidade Social Empresarial (2007), na sua versão 2013 e organizados de maneira a
facilitar o entendimento e desdobramentos do estudo proposto.
3.6 TRATAMENTO DOS DADOS
A análise de conteúdo, entendida como um conjunto de técnicas de análise das
comunicações, foi a metodologia utilizada neste trabalho para o tratamento e análise dos dados
coletados a partir da aplicação do instrumento de pesquisa. Para Bardin (2011, p. 15), a análise
de conteúdo é “Um conjunto de instrumentos metodológicos cada vez mais sutis, em constante
72
aperfeiçoamento, que se aplicam a “discursos” (conteúdos e continentes) extremamente
diversificados”, e ainda, para o referido autor, essa técnica enquanto esforço de interpretação
oscila entre o rigor da objetividade e a fecundidade da subjetividade (BARDIN, 2011).
Segundo Mozzoto e Grzybovski (2011), a análise de conteúdo vem apresentando nível
crescente de interesse e aplicação na produção científica em administração, ganhando
legitimidade no tratamento dos dados da pesquisa qualitativa, tendo nos trabalhos de Laurence
Bardin seu principal suporte teórico. Ainda segundo Mozozto e Grzybovski (2011) a análise de
conteúdo pode ser usada tanto na pesquisa qualitativa quanto quantitativa e mesmo na pesquisa
mista e na atualidade a análise dos dados qualitativos é facilitada pelo tratamento através de
programas computacionais.
A análise de conteúdo vem se desenvolvendo como técnica da pesquisa social desde o
início do século XX quando era aplicada essencialmente a material jornalístico. É considerada
uma técnica para tratamento de dados que visa identificar o que está sendo dito a respeito de
determinado tema, e hoje vem sendo utilizada na análise de entrevistas e documentos
institucionais entre outras aplicações (VERGARA, 2010).
A interpretação dos dados deste trabalho seguiu as seguintes etapas cronológicas em que
se organiza a técnica de análise de conteúdo: 1) Pré-análise; 2) Exploração do material e 3)
Tratamento dos dados, a Inferência e a interpretação. A pré-análise constitui-se em fase de
organização do material coletado que neste trabalho corresponde às entrevistas
semiestruturadas realizadas com gestores, funcionários e clientes. Para Bardin (2011, p.125)
essa fase “[...]tem por objetivo tornar operacionais e sistematizar as ideias iniciais, de maneira
a conduzir a um esquema preciso do desenvolvimento das operações sucessivas, num plano de
análise”.
A exploração do material consiste essencialmente em operações de codificação,
decomposição ou enumeração, em função de regras previamente estabelecidas, sendo a
codificação uma conversão dos dados brutos do texto, que agregados em unidades, , que neste
trabalho são representadas de uma forma mais ampla pelas categorias público interno , meio
ambiente e comunidade de entorno, vão permitir uma descrição precisa das características
pertinentes do conteúdo, enquanto que a enumeração diz respeito ao modo de contagem da
unidade de registro (palavra, tema frase, etc.). Na fase de tratamento dos dados, Inferência e
interpretação, os resultados brutos foram analisados de maneira a tornarem-se significativos e
válidos, o que trouxe à tona informações que permitiram propor inferências e realizar
interpretações a propósito dos objetivos estabelecidos pela pesquisa (BARDIN, 2011).
73
3. 7 CARACTERIZAÇÕES DO CAMPO DE PESQUISA
O campo de pesquisa deste trabalho encontra-se inserido no setor de serviços, mais
especificamente no âmbito dos serviços privados de saúde e suas inter-relações com a saúde
suplementar. Segundo a Agência Nacional de Saúde Suplementar, esse segmento da economia
(saúde suplementar), contava, no primeiro trimestre de 2014 com quase 51 milhões de
beneficiários de planos privados de assistência médica. O atendimento a esses beneficiários
gerou uma despesa de R$23,3 bilhões em assistência à saúde entre janeiro e março de 2014.
Dados de março/2014 demonstram que o Rio Grande do Norte tinha nessa época uma taxa de
cobertura de assistência médica de 16,85%, sendo que em Natal essa cobertura chegava a
41,2%. Ainda de acordo com dados de março de 2014 atuam no Rio Grande do Norte, 115
estabelecimentos de saúde caracterizados como clínica ou ambulatório especializado, que
atendem a planos privados de saúde. Dados de 2009 do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), demonstram a existência de 14 estabelecimentos privados de saúde com
atendimento de emergência em traumato-ortopedia, na cidade do Natal/RN (ANS, 2015; IBGE,
2015).
A unidade de saúde pesquisada caracteriza-se por ser uma empresa privada que participa
do sistema suplementar de saúde, através da prestação de serviços aos beneficiários de diversas
operadoras de planos privado de saúde, que atuam na cidade do Natal/RN. A empresa, encontra-
se localizada, na Região Administrativa Norte, ou Zona Norte, desta capital, que, segundo dados
do IBGE (2013), caracteriza-se por ser a maior entre as cinco áreas administrativas em que a
cidade está dividida, tanto no tocante a sua extensão territorial, quanto em relação a sua
população. Dados de 2013 do IBGE, estimarão a população da cidade do Natal/RN, em 862.044
mil habitantes sendo que, o distrito administrativo norte, contribui com 39,635% deste
contingente populacional. Esse distrito, tem na sua composição os bairros de Igapó, Lagoa
Azul, Nossa Senhora da Apresentação, Pajuçara, Potengi, Redinha e Salinas.
A empresa de saúde pesquisada, estende sua área de influência aos municípios da região
metropolitana do Natal, como, São Gonçalo do Amarante e Extremoz, que fazem limite
geográfico, com essa região administrativa. A empresa pesquisa é uma sociedade LTDA,
composta por quatro sócios, todos com formação acadêmica em medicina e com especialidade
em traumato-ortopedia, os quais se revezam a cada dois anos na função de gestor da instituição.
No momento desta pesquisa, a empresa possuía um quadro de 15 funcionários, sendo que
destes, dois exercem funções de gestão. Dados fornecidos pela gestão financeira a partir de
74
sistema informatizado, revelam que no ano de 2014 foram realizadas 42.328 consultas de
traumato-ortopedia e 8. 982 procedimentos de RX, o que evidencia a importância sócio
econômica da instituição pesquisada para a região onde está inserida. Por problemas
operacionais, dados quanto ao número de pequenas cirurgias e procedimentos envolvendo
imobilizações gessadas, não puderam ser disponibilizados durante o desenvolvimento desta
pesquisa.
75
4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Neste capítulo, serão apresentados os resultados da pesquisa, sua análise e discussão.
Este capitulo está dividido em três seções que, de forma sequencial contemplam as categorias
de análise: meio ambiente, comunidade de entorno e público interno. A análise de cada
categoria contempla, em um primeiro momento e de forma simultânea o discurso de gestores e
funcionários, e, em um segundo momento, o discurso dos clientes.
4.1 RESPOSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL E O MEIO AMBIENTE
Nesta seção, analisa-se os resultados das entrevistas realizados com gestores,
funcionários e clientes, abordando o tema meio ambiente, buscando-se identificar as suas
percepções em torno da responsabilidade ambiental empresarial, além de se fazer uma análise
dos seus relatos em relação à presença na empresa pesquisada, de ações e programas
relacionados a essa temática.
A preocupação com a responsabilidade ambiental ganhou impulso a partir da década de
1970, e teve como marco a Conferência da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre o
meio ambiente, realizada em Estocolmo, em 1972. Em 1987, com a publicação do relatório
Brundtland, consolida-se o conceito de desenvolvimento sustentável, que servirá de base para
a conferência da ONU, Rio-92.
A questão ambiental passou a ser tema frequente de estudos acadêmicos e está
presente na obra de Carroll (1979), compondo uma das áreas temáticas do seu modelo
tridimensional de performance social, proposição pioneira e fundamental nesse campo de
estudo. Esta temática também encontra-se presente nos trabalhos desenvolvidos no Brasil, pelo
Instituto Ethos de Responsabilidade Social.
Dentro dessa perspectiva, analisa-se, nesta seção, a percepção dos gestores,
funcionários e clientes da empresa pesquisada, sobre a RSE com foco na Responsabilidade
Ambiental, tema atual e de grande importância socioeconômica, que, vem nos últimos anos,
ocupando um espaço crescente na agenda empresarial, demonstrando capacidade a partir de sua
implementação, de se criar valor para clientes, acionistas e demais stakerholders.
76
4.1.1 Questão ambiental na percepção de gestores e funcionários.
4.1.1.1 Responsabilidade ambiental
Quando confrontados com a questão que procura identificar as suas percepções em torno
do tema Responsabilidade Ambiental da Empresa, os gestores entrevistados demonstram
compreender que existe essa responsabilidade, como fica evidente nas falas de G-1 “[...] aos
pouquinhos vai se engatinhando a questão da responsabilidade e da consciência ambiental”, G-
2 quando este relata que as empresas “além de ter a responsabilidade, têm a obrigação de cuidar
bem do meio ambiente, fazer políticas de preservação e com a coleta do lixo, se preocupar onde
esse lixo fica armazenado” e G 3 “Os resíduos, os resíduos que são gerados na clínica... a nossa
preocupação é separa-los adequadamente, inclusive os contaminados a gente entrega para uma
empresa própria”.
Quando o mesmo questionamento foi aplicada aos funcionários, evidencia-se que
apesar de não conseguirem expressar um conceito em relação ao tema, há uma percepção por
parte dos entrevistados quanto à responsabilidade ambiental da empresa, o que pode ser
observado nos seguintes fragmentos de textos extraídos das entrevistas: F1 “[...] ter a
consciência de implantar o que é certo na sua empresa para que não venha a destruir o meio
ambiente”; F 2 “Prestar serviços à comunidade e cuidar da melhoria do que está em volta”; F
3 “ Ter mais responsabilidade com a reciclagem... arborização para melhorar o ar”; F 4 “A
empresa tem que ter cuidado com o manuseio de materiais para não agredir o meio ambiente”;
F 6 “ Todos nós temos que ter responsabilidade com o meio ambiente principalmente as
empresas” e F 9 “Tem que ter essa responsabilidade”.
Procurando entender a questão ambiental no ambiente hospitalar, estabelecimento de
saúde com características semelhantes àquelas encontradas no local de realização desta
pesquisa, Toledo (2011), comenta em seu trabalho que, embora as atividades de serviço, gerem
impactos ambientais de maior ou menor monta, pouco tem sido escrito a respeito das relações
entre as atividades desse setor e a problemática ambiental, e discorrendo de modo especifico
sobre o setor de saúde, afirma: “O que se percebe é que as ações da atividade hospitalar em
relação ao meio ambiente estão concentradas no tema resíduo e riscos ocupacionais, e outros
aspectos e impactos são negligenciados” (TOLEDO, 2011. p. 121).
Pode-se creditar, que o foco da percepção dos gestores no tocante à responsabilidade
ambiental esteja direcionado para a problemática dos resíduos, ao fato da empresa atuar na
77
prestação de serviços de saúde, setor da economia disciplinado por rígida legislação
governamental de regulação e fiscalização (BRASIL, 2015). A preocupação dos gestores, e
em menor grau dos funcionários, quanto à questão dos resíduos encontra-se em consonância
com conceitos presentes na terceira diretriz de responsabilidade social empresarial do Instituto
Ethos/Sebrae, que trata dessa temática. Para estas organizações, “Gerenciar com
responsabilidade ambiental é procurar reduzir as agressões ao meio ambiente e promover a
melhoria das condições ambientais” (ETHOS/SEBRAE, 2003. p. 25).
Do que foi exposto fica evidente uma percepção tanto de gestores quanto de
funcionários em torno do tema, responsabilidade ambiental da empresa, no entanto, percebe-se
nas suas falas, que o foco das preocupações dos gerentes está atrelado às questões relacionadas
com a adequada coleta, armazenamento e destinação final dos resíduos produzidos pela
empresa. Quanto os funcionários, estes apresentam uma visão mais ampla em relação as
questões relacionadas à responsabilidade ambiental das empresas, pois além de se reportarem
ao problema do lixo, demonstram preocupação com temas como à destruição ambiental,
arborização, prestação de serviço à comunidade e à melhoria da qualidade do ar.
4.1.1.2 Qualidades ambiental
Abordando a questão da qualidade ambiental percebe-se a existência de conhecimento
por parte dos gestores e funcionários, de aspectos da responsabilidade da empresa em relação a
preservação da qualidade do meio ambiente, no entanto nota-se nos seus discursos, que à
empresa pesquisada, ressente-se de uma política formal direcionada a essa questão, muito
embora fique claro a existência de práticas e ações de responsabilidade ambiental na rotina da
empresa, o que pode ser evidenciado através das falas dos gestores quando tratam da questão
da coleta, armazenamento e destino final dos resíduos gerados pela empresa: G 1 “[...] mas
voltando a questão dos perfuro cortantes creio que seja uma preocupação”; G 2 “[...] nós temos
uma empresa que é responsável pela coleta do nosso lixo hospitalar e G 3 “São os cuidados
com o que a clínica gera que possa contaminar o meio ambiente”.
Dentre os 10 funcionários entrevistados, 05 responderam que a empresa pesquisada não
tinha uma política de compromisso com a qualidade ambiental, 03 responderam que sim, a
empresa tinha compromisso com a qualidade ambiental e 02 responderam de maneira tal que
não foi possível detectar suas opiniões. Aqueles que responderam “sim” tiveram como
embasamento para as suas respostas a percepção de práticas e ações de responsabilidade
78
ambiental no tocante ao correto manejo dos resíduos, embora procurem destacar que essas
práticas vão de encontro ao cumprimento, por parte da empresa, de suas obrigações legais
perante os órgãos de fiscalização dos serviços de saúde no tocante ao correto manejo dos
resíduos de serviços de saúde. Essa assertiva pode ser percebida nas seguintes falas: F 1 “Eu
acredito que sim, assim tudo que é exigido pelos órgãos como Covisa, essas coisas, eles estão
dentro dos padrões que eles pedem e a empresa faz de tudo para obedecer e trabalhar de acordo
com o que eles pedem”; F 3” Sim. Existe essa preocupação importante. O material das agulhas
e seringas. Responsabilidade de não ir para o lixão”; F 10 “Existe sim, quanto a isso ai a gente
tem esse cuidado. Eu vejo assim, que aqui tem o cuidado de não tá jogando... pronto,
principalmente ali, que tem essa parte de seringa, de [...] não jogar no lixo, a gente separa o
pessoal vem pegar”.
Apesar da existência de ações e práticas de responsabilidade com a qualidade ambiental,
como ficou claro nos discursos de gerentes e funcionários, não foi possível perceber que a
empresa desenvolva programas internos de melhoramento ambiental, requisito presente na
primeira questão de profundidade do indicador 20 - compromisso com a melhoria da qualidade
ambiental, do documento intitulado indicadores Ethos de responsabilidade social empresaria.
Para que se alcance o estágio 01, dentre os quatro estágios, desse indicador é necessário que a
empresa além de cumprir rigorosamente os parâmetros e requisitos exigidos pela legislação
nacional, desenvolva programas internos de melhoramento ambiental (ETHOS, 2007).
O atual nível de percepção de gestores e funcionários encontra-se em consonância com
o pensamento de Barbieri (2011) quando este relata que apesar da questão da qualidade
ambiental ser um tema atual e amplamente disseminado, tendo ganhado a imprensa, as ruas e
os auditórios, passando a fazer parte das preocupações de políticos, administradores e
empresários, na verdade “[...] para a maioria das empresas, essa preocupação ainda não se
transformou em práticas administrativas e operacionais efetivas[...]” (BARBIERI, 2011, p. 7).
Apesar dessas ressalvas, percebe-se que o entendimento dos gestores e funcionários vai
ao encontro do seguinte enunciado do Instituto Ethos, que trata da questão da qualidade
ambiental: “Um dos aspectos que se sobressaem nessa temática é a geração de resíduos e a
correta administração de sua destinação final, bem como os níveis de responsabilidade dos
atores envolvidos”, (ETHOS, 2015). Fica evidente, que tanto os gestores como uma parte dos
funcionários percebem a existência de práticas e ações de responsabilidade ambiental
desenvolvidas pela empresa, estando esta preocupação direcionada a questão dos resíduos.
Pode-se intuir, que o direcionamento de práticas e ações relacionadas a qualidade ambiental
79
para a questão dos resíduos, deve-se a atividade fim da empresa pesquisada, qual seja, prestação
de serviços de saúde, segmento da economia, amplamente regulamentado e fiscalizado por
órgãos governamentais, nas esferas federal, estadual e municipal.
4.1.1.3 Proteção ambiental
Na atualidade, decorrente da crescente conscientização ambiental, disseminada a partir
da consolidação da noção de desenvolvimento sustentável, que ganhou força a partir dos
resultados da Conferência Rio-92, patrocinada pela ONU, aumenta o engajamento empresarial
em projetos de proteção do meio ambiente, com investimentos que visam à compensação
ambiental pelo uso de recursos naturais e pelo impacto causado por suas atividades, sendo este
comportamento um dos pilares da Responsabilidade Social Empresarial. Segundo o Instituto
Ethos:
Cabe à empresa ambientalmente responsável apoiar e desenvolver campanhas,
projetos e programas educativos voltados para seus empregados, para a comunidade
e para públicos mais amplos, além de envolver-se em iniciativas de fortalecimento da
educação ambiental no âmbito da sociedade como um todo (ETHOS, 2015).
Ao se analisar os discursos dos gestores, estes são unânimes em afirmar que a empresa
não participa de qualquer projeto de proteção ambiental, fato que segundo o G 3 pode ser
computado a “falta de informações e a uma falta de estimulo da área governamental”. A
percepção dos funcionários em relação a este tema, converge para o que se evidenciou nas falas
dos gestores, sendo que dos 10 funcionários entrevistados 05 responderam de forma categórica
que a empresa não participa de projetos de proteção ambiental e 05 relataram não ter
conhecimento da participação da empresa neste tipo de projeto.
Fica evidente, portanto, um nível ainda incipiente de conscientização ambiental por
parte dos gestores, fato este, que é detectado pelos funcionários nas suas percepções no tocante
a essa questão. A conscientização ambiental é a base para uma gestão proativa no âmbito das
ações de proteção ambiental, sendo lícito supor do que foi exposto, que a empresa pesquisada
ainda não assimilou, na sua cultura organizacional, os valores concernentes a responsabilidade
ambiental empresarial.
80
4.1.1.4 Uso consciente de água, energia e material de consumo
Para o Instituto Akatu (2015), praticar o consumo consciente “é consumir
solidariamente, buscando os impactos positivos do consumo para o bem-estar da sociedade e
do meio ambiente; é consumir sustentavelmente, deixando um mundo melhor para as próximas
gerações” A preocupação com essa temática está no centro das atenções das autoridades
governamentais, setor privado, sociedade civil organizada e de forma paulatina e consistente
vem sendo incorporada pelas pessoas nas suas rotinas individuais. A importância do consumo
consciente de água, energia e demais insumos fez com que o instituto Ethos (2007)
contemplasse essa temática nos questionamentos do Indicador 24 – Minimização de Entradas
e Saídas de Materiais, dos Indicadores Ethos de Responsabilidade Social.
Percebe-se no discurso do G 3, a existência de uma preocupação quanto ao uso
consciente de agua e energia, o que fica evidente quando este diz que “Existe a preocupação
com o uso consciente tanto de agua como de energia, isso é uma preocupação permanente
nossa” no entanto essa preocupação parece não permear as rotinas administrativas como pode-
se inferir da fala de G2 “Nós temos uma vez no ano uma palestra sobre isso” e na afirmação
de G 1 quando diz que “algo documentado uma rotina, não existe”. Quando solicitados a falar
sobre essas questões 09 dentre os 10 entrevistados responderam que a empresa não desenvolve
campanhas internas de educação para o uso consciente de água, energia e material de consumo,
evidenciando uma dissociação entre a preocupação presente na fala de G 3 e a realidade do dia
a dia evidenciada no discurso dos gestores G 1 e G 2 e reverberada nas falas dos funcionários.
Pode-se supor, que embora exista uma clara preocupação de G 3 quanto a essa temática,
prováveis falhas no processo de comunicação interna, esteja contribuído para que essa questão
ainda não esteja institucionalizada nos processos de gestão da empresa.
Quando analisa-se os discursos dos funcionários, fica patente em seus comentários que
a empresa não desenvolve campanhas internas de educação para o uso consciente de água,
energia e material de consumo, sendo as ações envolvendo essa temática realizadas de forma
pontual, como percebe-se no seguinte comentário de F 9 “Eles chegam, desligue o ventilador,
apague a luz”. Os funcionários procuraram salientar que, de forma individualizada, têm a
percepção da necessidade de um consumo consciente e tomam atitudes que vão ao encontro
dessa faceta da questão ambiental, como pode-se concluir das seguintes falas F 4” A gente
própria mesmo que faz, utiliza o menos possível”; F 6 “A gente faz a nossa parte, sai apagando
as luzes, economiza agua”; F 8 “Eu tomo essa atitude. Há um individualismo entre os
81
funcionários”; F 10 “É uma coisa mais assim, dos próprios funcionários, de livre e espontânea
vontade a gente faz”.
Percebe-se que, embora gestores e funcionários tenham entendimento de aspectos
relacionados a questão do uso racional de agua, energia e demais insumos, a empresa
pesquisada, ressente-se de uma política de educação continuada para o consumo sustentável,
não obstante, evidencia-se uma conscientização, embora individualizada, em relação a essa
temática, que redunda em ações proativas de consumo sustentável. Do que foi exposto, fica
evidente, que a instituição, necessita avançar no seu envolvimento com a questão ambiental,
para que possa estar alinhada com as diretrizes do Plano de Ação para Produção e Consumo
Sustentáveis - PPCS – documento com origem no Ministério do Meio Ambiente, que visa dar
aplicabilidade concreta aos conceitos de Produção e Consumo Sustentáveis como estabelecidos
pela ONU nas diretrizes do processo de Marrakesh (BRASIL, 2015).
Em relação ao conhecimento da população brasileira no que se refere ao consumo
consciente, pesquisa do Instituto Akatu em 2010, demonstrou que naquele momento 5% dos
consumidores brasileiros podiam ser considerados “consumidores conscientes” segundo alguns
critérios estabelecidos como apagar luzes dos cômodos vazios e separar o lixo para reciclagem
(AKATU, 2015).
4.1.1.5 Coleta seletiva e reciclagem
Um dos grandes desafios da nova economia diz respeito à correta administração dos
resíduos gerados no processo de produção e consumo, exigindo do poder público, da iniciativa
privada e da sociedade como um todo, uma visão mais ampla em relação a questão, e um maior
engajamento desses atores no desenvolvimento e aplicação de medidas como a coleta seletiva
do lixo e a reciclagem, capazes de produzir impacto positivo para a questão ambiental.
Quando perguntados sobre se a empresa desenvolve campanhas de educação em relação
à coleta seletiva do lixo e à reciclagem tanto os gerentes quanato os funcionários relatam que a
empresa não desenvolve ações nesse sentido como pode ser visto na fala de G1 quando diz que
a empresa “[...] ainda não tem essa consciência da coleta seletiva do lixo e da reciclagem’, F 5
“No tempo que estou aqui nunca vi nada especifico”, F 6 “Não que eu tenha visto, [...]
campanhas de todo mundo fazer um grupo não”. Embora fique evidente nesses discursos que a
empresa não desenvolve campanhas internas abordando a temática da coleta seletiva do lixo e
da reciclagem pode-se perceber que a preocupação de empresa com a coleta diferenciada do
82
lixo hospitalar é detectada pelos funcionários, o que fica evidente e sintetizado na seguinte
frase: F 5 “Só o que eu vi é que é separado lixo hospitalar e lixo comum”.
Na atualidade, o gerenciamento dos resíduos sólidos é parte fundamental no que diz
respeito as práticas de Responsabilidade Social Empresarial sendo a coleta seletiva e a
reciclagem etapas fundamentais desse processo. Pode desprender do que foi exposto por
gestores e funcionários que a empresa pesquisada salvo a questão da separação do lixo
hospitalar do lixo comum, não apresenta um projeto amplo de ações educacionais e ações
práticas quanto a coleta seletiva e a reciclagem do lixo. A ausência, que se percebe, de um maior
compromisso desses agentes em torno desta temática, não se coaduna com o atual momento
histórico de expansão da conscientização dos governantes, empresários e da população como
um todo, em torno dessas questões, campo este, em que o Brasil vem se destacando no cenário
mundial por seus expressivos índices de reciclagem (ETHOS, 2007). A Preocupação com a
coleta seletiva do lixo e a reciclagem é uma constante nas publicações deste Instituto, estando
presente nos Indicadores Ethos de Responsabilidade Social quando este trata do tema meio
ambiente, bem como, na terceira diretriz Ethos /Sebrae (ETHOS, 2003), que entre outras ações
orienta que a empresa realize iniciativas de educação ambiental em relação a coleta seletiva do
lixo e a reciclagem, medidas que quando utilizadas não apenas iram reduzir o impacto ambiental
como poderão gerar lucro e ganho de imagem para a empresa.
4.1.1.6 Plano de Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde (PGRSS)
A crescente preocupação com a questão da degradação ambiental, associada aos
resíduos sólidos e suas inter-relações com a saúde da população, tem provocado demandas da
sociedade, as quais pressionam as instâncias governamentais envolvidas com esta temática.
Estas têm respondido com a criação de uma forte legislação regulatória com vistas ao
gerenciamento adequado desses resíduos com base no conceito da responsabilidade
compartilhada que envolve a sociedade como um todo – cidadãos, governos, setor privado e
sociedade civil organizada (BRASIL, 2015).
Os resíduos de serviços de saúde – RSS, representa uma fração inferior a 2% do
montante dos resíduos residenciais e comerciais gerados diariamente, sendo que destes apenas
10 a 20% necessitam de cuidados especiais. Na atualidade os estabelecimentos de saúde têm a
obrigatoriedade de implementarem de forma adequada o Plano de Gerenciamento de Resíduos
de Serviços de Saúde (PGRSS), com o objetivo de minimizar os riscos sanitários e ambientais,
83
à melhoria da qualidade de vida e da saúde da população e ao desenvolvimento sustentável. A
implementação do PGRSS, encontra-se legalmente ancorado na RDC ANVISA Nº 306/04 e na
Resolução CONAMA Nº 358/05 (BRASIL, 2005). De acordo com definição da Agencia
Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA, o PGRSS é um:
Documento que aponta e descreve ações relativas ao manejo dos resíduos sólidos,
observadas suas características, no âmbito dos estabelecimentos, contemplando os
aspectos referentes à geração, segregação, acondicionamento, coleta, armazenamento,
transporte, tratamento e disposição final, bem como a proteção à saúde pública e ao
meio ambiente (BRASIL, 2015).
Quando confrontados com essa questão tanto os gestores quanto os funcionários são
unânimes em responder que, a clínica, tem sim, um plano de Gerenciamento de Resíduos de
Serviços de Saúde mesmo que isso se deva a necessidade do cumprimento de exigências legais
como fica explicito quando G 1 relata que, “estar documentado, [...] foi uma exigência da
Covisa” e F 1 “Tem, e é feito porque a Covisa... se não for feito a Covisa bate em cima”.
A afirmação tanto de gestores quanto de funcionários em relação a existência na
empresa de um plano de Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde encontra-se
ancorada na percepção do acondicionamento destes resíduos em recipientes apropriados e na
existência de uma empresa contratada que dá o destino final a esse material. Essa assertiva pode
ser percebida nas seguintes falas: G 1 “O que tem em relação ao plano de gerenciamento é
justamente essa empresa que vem coletar o lixo que tem de ficar separadinho para eles
levarem”; G 3 “Tem, se você for considerar que tem uma empresa terceirizada que passa aqui
para recolher esses itens que possam trazer alguma lesão aos manipuladores, essa preocupação
é permanente”; F 2 “Eu acho que tem, tem a parte que vem aquela caixinha que as pessoas
colocam as seringas. É tem uma caixa só pra isso, e vem o pessoal de uma empresa pegar”; F 4
“Fica tudo na caixinha apropriada e vai para um local apropriado”; F 7 “Na radiologia tem um
pessoal que vem pegar o químico existe um plano tem uma empresa que vem pegar esse
químico” e F 10 “, tem, exatamente como eu falei, os produtos daqui que a gente separa
direitinho, ai quando eles vem pegar eles dão um termo pra dizer que tão levando esse
material... ai eles dão o destino certo... isso ai a gente tem”.
O gerenciamento dos resíduos sólidos não se submete a uma legislação única, estando
sua regulamentação na dependência do local em que são gerados e de seu conteúdo. Por suas
peculiaridades os resíduos de serviços de saúde, por exigência do princípio da informação
ambiental devem ser armazenados em embalagens adequadamente identificadas como
84
infectantes e na existência de objetos perfurocortantes torna-se necessário que sejam antes
embaladas em sacos plásticos e acondicionadas em recipiente rígido, sendo o cumprimento
dessa exigência legal percebida no discurso tanto de gestores como dos funcionários
(FIORILLO, 2011).
Pode-se inferir do que foi exposto, que o conhecimento tanto de gestores quanto de
funcionários, da existência na unidade de saúde estudada, de um PGRSS está vinculado, entre
outros aspectos, a percepção de uma legislação a ser cumprida por força de uma forte
fiscalização dos órgãos governamentais. Essa preocupação com a coleta e destinação final dos
resíduos de serviços de saúde encontra-se contemplada em diversos documentos legais com
origem nas esferas Federal, Estadual e Municipal. Na esfera Federal é disciplinada pela RDC
Nº 306 de 7 de dezembro de 2004 do Ministério da Saúde que dispõe sobre o Regulamento
Técnico para o gerenciamento de resíduos de serviços de saúde. Fica definido no texto dessa
RDC, em seu artigo 3º que, “A vigilância sanitária dos Estados, dos Municípios e do Distrito
Federal, visando o cumprimento do Regulamento Técnico, poderão estabelecer normas de
caráter supletivo ou complementar, a fim de adequá-lo às especificidades locais” (BRASIL,
ANVISA, 2014).
Ainda disciplinando essas questões temos as normas regulamentadoras emitidas pelo
Ministério do Trabalho que estabelece diretriz básica para a implementação de medidas de
proteção à segurança e à saúde dos trabalhadores em serviço de saúde como se segue: – NR 7
– Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional – PCMSO; NR 9 – Programa de
Prevenção de Riscos Ambientais – PPRA; NR 32 – Segurança e Saúde no Trabalho em Serviços
de Saúde, bem como a Lei Federal Nº 12.305 que institui a Política Nacional de Resíduos
Sólidos, formando um amplo arcabouço regulatório em relação a essa temática (BRASIL,
2015).
4.1.1.7 Certificação ambiental.
Na atualidade torna-se crescente a importância de instrumentos de mercado como a
certificação ambiental, que destaca e diferencia a empresa dos demais concorrentes, agregando
valor à marca, e facilitando a introdução de novos produtos e serviços no mercado. Os gestores
da empresa pesquisada encontram-se em um estágio preliminar de contato com essa importante
ferramenta de gestão, fato este evidenciado na resposta negativa de G 1, quando afirma que a
empresa onde trabalha não tem qualquer diploma de certificação ambiental, na fala de G2, que,
85
além de confirmar a assertiva de G1, deixa transparecer que na sua percepção a certificação
ambiental é assunto para empresas de maior porte e na fala de G 3, quando relata não ter
informações quanto a certificação ambiental de sua empresa. Quando defrontados com essa
questão a maioria dos funcionários demonstraram ter um conhecimento ainda que superficial
em torno do tema e indo de encontro ao que foi relatado pelos gestores a maioria relatou
desconhecer que a empresa onde trabalham seja detentora de certificação ambiental.
O que se percebe em relação a temática certificação ambiental, é que, tanto gestores
como funcionários não alcançam essa questão em toda a sua amplitude e deixam transparecer
que a empresa onde trabalham, ainda não tem institucionalizado na sua rotina administrativa,
um Sistema de Gestão Ambiental (SGA), passível de certificação. Caminhando em sentido
contrário ao que expressou G 2 quando reportou que a certificação ambiental é para empresas
de maior porte, encontra-se na Norma Nacional - ABNT NBR 16001 – Responsabilidade
Social – Sistema de gestão (INMETRO, 2012), que “A Norma é aplicável a todos os tipos e
portes de organizações (pequenas, médias e grandes) e de todos os setores (governo, ONG’s e
empresas privadas)”, e na norma ISO 14001 que, segundo Barbieri (2011, p. 192), “[...] aplica-
se a qualquer organização que deseje (a) estabelecer, implementar, manter e aprimorar um
SGA; [...]”. Ainda dentro deste tema Teodoro (2002, p. 35) define gestão ambiental empresarial
como: [...] “o conjunto de práticas definidas e sistematizadas aplicadas por um determinado
empreendimento com a finalidade de reduzir e controlar impactos ambientais” e a
implementação dessas práticas independem do porte ou área de atuação da empresa que não
representam fatores impeditivos para que a mesma trabalhe no sentido de se adequar a um novo
tempo onde o paradigma da responsabilidade ambiental permeia as relações entre os diversos
agentes envolvidos na dinâmica empresarial. A busca pela certificação ambiental encontra-se
incorporada a esse paradigma, onde a empresa não só precisa desenvolver suas atividades
dentro dos princípios étnicos, como também, necessitam demonstra isso publicamente.
4.1.2 Questão ambiental na percepção dos clientes
4.1.2.1 Responsabilidade ambiental
Quando confrontados com a questão ambiental e instados a discorrer sobre o que
entendiam em torno do tema responsabilidade ambiental da empresa 11 entre os 14
entrevistados demonstraram ter uma percepção de que a empresa é detentora de
86
responsabilidades quanto à preservação do meio ambiente e associam de maneira consistente
essa responsabilidade a questão do correto manuseio do lixo, desde a sua geração, passando
pelo correto acondicionamento e destino final. Percebe-se ainda dentro da questão dos resíduos
uma preocupação com a responsabilidade da empresa com a coleta seletiva e a reciclagem,
como podemos evidenciar nos seguintes enunciados: C 1 “Descartar o lixo adequadamente,
não jogar em qualquer lugar, tem alguns que tem aqueles recipientes para colocar plástico,
livros, separadamente, mas infelizmente são poucas ainda”; C 4 “Com certeza tem que ter,
assim por exemplo tem aquelas coletas tudo separadozinho o lixo tudo organizadozinho, tem
que ter”; C 7 “Que a empresa seja de médio porte, pequeno porte elas deveriam proporcionar
sim a reciclagem porque é fundamental para o meio ambiente e C 8 “Porque tem clínicas
pequenas que deixam o lixo hospitalar no meio da rua provocando o risco das pessoas, daqueles
catadores de lixo se contaminarem”.
Afora essa preocupação com a questão dos resíduos, dois (02) dos clientes entrevistados
enfatizaram a questão da responsabilidade da empresa com a arborização como pode-se ver nos
seguintes trechos de suas falas: C 12; “ A empresa tem que preservar um monte de coisa,
limpeza e não cortar árvore pra ter mais ventilação e o ar ser melhor” e C 13 “É muito
importante a parte também ambiental em termo de vegetação que é outra coisa que as vezes pra
se construir um prédio de médio porte pequeno porte se faz algumas retiradas de arvores e não
se plantam”.
A percepção, por parte dos clientes entrevistados, da existência, de uma
responsabilidade das empresas com a questão ambiental, encontra-se em consonância com o
pensamento de estudiosos que nas últimas décadas vêm se debruçando sobre o tema RSE e seus
diversos desdobramentos, bem como, integra os princípios que norteiam as ações do Instituto
Ethos de Empresas e Responsabilidade Social (CARROLL, 1979; ETHOS, 2015; PORTER;
KRAMER, 2006). Face ao exposto, fica claro, a disseminação de um entendimento entre os
clientes de que a empresa tem responsabilidades ambientais, não obstante, um dos respondentes
ter declarado, que essa responsabilidade é da alçada das autoridades como pode-se deduzir da
sua fala quando se reporta a essa questão: “Eu acho que não. Não tem. Eu entendi. Eu acho que
é das autoridades. Isso”. Essa percepção vai de encontro ao pensamento dos teóricos da
economia neoclássica e está presente no trabalho de Friedman (1970), que respaldado na teria
da firma, defende que as ações de responsabilidade social propriamente dita não são da alçada
da empresa e sim de instituições como a Igreja e o Estado.
87
O número elevado de clientes que entendem que existe uma responsabilidade ambiental
das empresas provavelmente é reflexo do grande espaço que a questão ambiental vem
ocupando, nas duas últimas décadas, nas mais diversas mídias, tendo essa exposição
contribuído para que seus conceitos alcançassem uma grande penetração no meio da sociedade
como um todo.
4.1.2.2 Qualidade ambiental
As percepções, quanto ao compromisso da empresa com a qualidade ambiental vai ao
encontro do que foi evidenciado no tópico anterior, no que diz respeito a preocupação dessas
pessoas em relação a questão dos resíduos, coleta seletiva e reciclagem. Fica patente na fala dos
clientes que o foco de suas atenções quanto a qualidade ambiental, está direcionada para questão
do lixo, higienização e limpeza. Através das suas falas fica evidente ainda, que estes percebem
as ações desenvolvidas pela empresa pesquisada no intuito de manter a limpeza e uma adequada
coleta e destinação do lixo gerado nas suas dependências. Essa assertiva pode ser corroborada
pelos seguintes enunciados: C 4 “Sobre o lixo também tudo nos seus cantos nos cestinhos para
você não poluir não jogar as coisas assim fora”; C 9 “A empresa cuida do ambiente mantem o
ambiente limpo, quando a gente chega sempre tá limpo; C 10 “A gente ver que sempre tem uma
lixeira em cada departamento e tudo bem organizado isso eu pude perceber”; C 12 “Não vi lixo
em canto nenhum as lixeirazinhas em seus cantos adequados” e C 13 “Fiz muito fisioterapia e
achei lá muito asseado, muito cuidado, assepsia, higienização a gente chega ta sempre bem
arrumado sempre achei certinho”. Embora fique clara a preocupação da empresa com a questão
dos resíduos, alguns clientes chamam a atenção para o fato de não detectarem ações e práticas
direcionadas para aspectos importantes relacionados a essa temática, como a coleta seletiva e
a reciclagem, como pode-se ver nas seguintes falas: C 1” O básico que você encontra em
qualquer lugar, recipiente adequado pra você descartar o lixo. Não tem aquela coisa, coleta
seletiva, como eu já vi em outras clinicas” e C 9 “O lixo tem onde a gente colocar, mas não vi
aqui dentro se tem como separar. Os copos descartáveis em alguns lugares eles são reciclados
ai você percebe pela cor do copo quando eles são reciclados”. O foco das atenções dos clientes
na questão dos resíduos gerados pela empresa encontra respaldo na preocupação da comunidade
mundial para um dos grandes desafios dos centros urbanos na atualidade que é a busca de
alternativas para o correto gerenciamento da crescente produção de resíduos sólidos. Entre as
várias alternativas para lidar com esse desafio encontra-se a ampliação de programas de coleta
88
seletiva e a reciclagem que nos últimos anos vem ganhado apresenta um processo de expansão
no meio empresarial (ETHOS, 2015).
Com o objetivo de sintetizar as principais percepções dos gestores, funcionários e
clientes quanto aos seus entendimentos em relação a responsabilidade ambiental da empresa,
bem como suas percepções no tocante à presença de ações e programas de RSE na empresa
pesquisado foi elaborado o Quadro 7, a seguir:
Quadro 7 – Principais resultados encontrados – Meio ambiente
CATEGORIA – MEIO AMBIENTE
Entrevistados GESTORES FUNCIONÁRIOS CLIENTES
Subcategorias
Responsabilidade
ambiental
Percebem a
responsabilidade
ambiental das
empresas.
Foco na questão dos
resíduos.
Percebem a
responsabilidade
ambiental das
empresas. Foco na
questão dos resíduos.
Necessidade da
empresa prestar
serviços à comunidade.
Reciclagem
Arborização
Melhoria da qualidade
do ar.
Coleta seletiva
Entendem que as
empresas têm
responsabilidade com
o meio ambiente.
Foco na questão dos
resíduos.
Qualidade ambiental Percebem a questão da
qualidade ambiental.
Foco na questão dos
resíduos.
Percebem a questão da
qualidade ambiental.
Foco na questão dos
resíduos.
Percebem que a
empresa tem
preocupação com a
qualidade ambiental.
Foco na questão dos
resíduos. Cumprir
aspectos legais. Não
percebem ações
relacionadas a
reciclagem.
Proteção ambiental Ausência de projetos
de proteção ambiental
Ausência de projetos
de proteção ambiental
Não se aplica.
Consumo consciente Relatam a ausência de
políticas formais.
Preocupação pontual.
Negam a existência de
ações e programas de
consumo consciente.
Ações
individualizadas.
Não se aplica
Coleta seletiva e
reciclagem
Não há práticas de
coleta seletiva e
reciclagem, salvo a
separação do lixo
Não percebem práticas
de coleta seletiva e
reciclagem, salvo a
separação do lixo
Não se aplica
89
hospitalar do lixo
comum.
hospitalar do lixo
comum.
Gerenciamento de
Resíduos de Serviços
de Saúde (PGRSS)
Relatam a existência Percebem a existência Não se aplica
Certificações ambiental
Relatam que a empresa
não possui certificação
ambiental.
Não percebem que a
empresa possua
certificação ambiental.
Não se aplica
Fonte: Elaborado pelo autor (2015).
Uma síntese da análise, do tema ‘meio ambiente’, deixa claro que tanto gestores, como
funcionários e clientes percebem a responsabilidade ambiental das empresas, estando o foco
dessas preocupações centrado na questão da produção e destinação final dos resíduos/lixo, bem
como, evidencia que a empresa pesquisada encontra-se em um estágio preliminar de
aproximação com a responsabilidade ambiental empresarial, caracterizada por práticas e ações,
reativa as exigências legais.
4. 2 RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL E COMUNIDADE DE ENTORNO
Esta seção trata de aspetos da RSE envolvendo à empresa e à comunidade de entorno, e
procura identificar à partir dos discursos de gestores, funcionários e clientes a existência de
ações e programas de RSE direcionados pela empresa para esses stakerholder.
A responsabilidade social com a comunidade onde estar localizada a empresa, é uma
importante dimensão da RSE, e está contemplada no modelo tridimensional de Carroll (1979)
dentro da categoria, responsabilidade discricionária. Esta categoria da RSE ocupa o topo do seu
modelo piramidal e tem como principal característica, ser uma ação da empresa em benefício
da sociedade que está além das suas obrigações legais e pauta-se pela realização de ações
filantrópicas e envolvimento voluntário em programas de cunho social (CARROLL, 1979).
Tratando desse assunto o Instituo Ethos contempla essa dimensão da RSE dentro do tema
comunidade, com os indicadores 32 – Gerenciamento do Impacto da empresa na Comunidade
de Entorno, 33 – Relações com Organizações Locais, 34- Financiamentos da Ação Social e 35-
Envolvimento com a Ação Social (ETHOS, 2013).
90
4.2.1 Percepção de gestores e funcionários sobre RSE e a comunidade de entorno
4.2.1.1 Política de Relacionamento com a Comunidade de Entorno
Apesar de estar há aproximadamente duas década atuando no atual endereço, se
desprende da fala dos gestores e funcionários que a empresa pesquisada encontra-se em um
estágio bastante preliminar de conscientização quanto implantação de ações de RSE
direcionadas a comunidade onde está localizada, o que pode ser verificado no comentário de
G 1, “ A empresa está um pouco isolada, só aqui no cantinho dela”, ou esta preocupação aparece
de forma pontual e sem um caráter de institucionalização dessas ações na fala do G 3, quando
este relata que: “É intenção minha, fazer umas palestras junto com uma nutricionista já a partir
agora de março para que possamos prestar informações que posa ser útil para a coletividade”.
Quanto aos funcionários entrevistados, esses são unânimes em declarar que a empresa não
pratica uma política de relacionamento com a comunidade sendo que um desses funcionários
evoca o tempo de trabalho na empresa para dá ênfase a sua resposta como se segue: F 2” Nesse
tempo que estou aqui dentro, não. Vai fazer treze anos”.
Para o Instituto Ethos, o indicador de profundidade permite avaliar o estágio atual da
gestão da empresa em relação a determinada prática, e o estágio 1 desse indicador representa
um estágio básico de ações da empresa, no qual ela ainda se encontra em níveis reativo de
exigências legais. O indicador 33 – Relações com Organizações locais, preconiza que com
relação as organizações comunitárias, ONGs e equipamentos públicos (escola, postos de saúde
etc.) presente em seu entorno, as empesas necessitam conhecer as atividades dessas instituições
e responder pontualmente a eventuais pedidos de apoio para que possam ser classificadas no
estágio 1 desse indicador. Do que foi exposto fica evidente que a instituição pesquisada
encontra-se em um estágio de conscientização ainda preliminar em relação a essa temática, não
tendo ainda despertado para o entendimento de que práticas de RSE, como a filantropia
empresarial direcionada a comunidade onde desenvolvem suas atividades, são capazes de
proporcionar benefício público e bem estar social, proporcionando ainda um melhor ambiente
competitivo, além de ser um marketing empresarial com impacto positivo tanto para o público
interno como para o público externo, pela percepção de que a empresa está contribuindo
efetivamente para tornar o mundo um lugar melhor para se viver (PORTER; KRAMER, 2002).
91
4.2.1.2 Campanhas educacionais e/ou de interesse público – Projetos sociais
Como bem ficou demonstrado no item anterior a empresa ainda não despertou para a
importância do aprimoramento de um relacionamento mais estreito com a comunidade onde
está localizada, fato esse, que fica ainda mais evidente pela identificação de que a mesma não
desenvolve junto com organizações da comunidade de entorno campanhas educacionais e ou
de interesse público nem tampouco desenvolve projetos sociais de iniciativa própria como fica
patente nas respostas tanto de gestores como de funcionários quando afirmam que a empresa
não participa de ações neste sentido, entretanto pode-se perceber de algumas falas um
movimento, embora que ainda tímido, em direção da realização de ações de RSE destinadas a
comunidade, como pode-se desprender dos seguintes trechos das entrevistas; F 5 quando se
reporta que: “A única campanha direcionada a população e essa do outubro rosa” e F 3 “Todo
ano a gente quer ajudar o pessoal da LIGA, ai compra aquela camiseta pra ajudar a instituição.
Percebe-se no discurso de G 3, que este intui a importância da interação da empresa com a
comunidade quando relata: “Acho que a interação com a comunidade tem uma importância
muito grande uma vez que hoje somos o único prestador de serviço na área de ortopedia nessa
região toda, precisamos está mas integrado a comunidade”. Embora fique patente que a empresa
não esteja em um estágio avançado de envolvimento com ações e práticas de RSE, direcionada
à comunidade de entorno, percebe-se pela discurso de G 3, em relação a essa temática e pela
presença de ações como a participação em campanhas em prol da LIGA e da conscientização e
prevenção do câncer de mama feminino – outubro rosa, como demonstrado nas falas de F 3 e
F 5, que, embora não institucionalizada, a empresa desenvolve mesmo que de forma incipiente,
ações de responsabilidade social para a comunidade onde está inserida.
A participação proativa da empresa com a manutenção de projetos sociais próprios e a
participação em conjunto com entidades da comunidade em campanhas educacionais e ou de
interesse público é uma marca característica daquelas empresas que já assimilaram na sua
cultura organizacional os preceitos da RSE. Esta faceta da RSE encontra-se contemplada no
trabalho de Carroll (1979), integrando a categoria Responsabilidade discricionária do seu
modelo de responsabilidade social, como também é contemplada e no tema ambiente, dos
Indicadores Ethos de Responsabilidade social empresarial (ETHOS, 2013).
92
4.2.1.3 Avaliar reclamações com origem na comunidade de entorno
Quando questionados quanto a reclamações oriundas de indivíduos da comunidade em
relação a possíveis transtornos trazidos pela empresa com foco na questão do lixo e tráfego de
veículos ficou claro da análise dos discursos de funcionários e gerentes que a empresa consegue
lidar de modo satisfatório com essas questões, pois todas as respostas vão no sentido de deixar
evidente que a instituição nunca recebeu reclamações de pessoas da comunidade, salvo em
uma situação esporádica no início de seu funcionamento, como pode-se evidenciar das
seguintes falas G 2 “No início a gente tinha um funcionário que coletava o lixo e quando o lixo
era muito difícil de transportar ele queimava e ai tinha vizinhos que vinham reclamar, mas isso
foi resolvido”, G 1 “Nós temos um local com cadeado que guarda o lixo, foi exigido pela
Covisa”, G 3 “Em alguns aspectos nós somos bem privilegiados a gente tem estacionamentos
em duas áreas da clínica, ofertando quase oitenta metros de estacionamento. A clínica
acondiciona muito bem o lixo aqui na parte externa por exigência da própria Covisa”. F 2”
Nunca escutei reclamações sobre isso”, F 8 “Eu também moro bem próximo daqui e conheço a
empresa a um bom tempo, como paciente e agora como funcionaria... não, nenhuma
reclamação” e F 10 “O pessoal até elogia com o tratamento que a gente tem com o lixo e com
o estacionamento”.
4.2.1.4 Estimulo ao trabalho voluntário
O envolvimento com o trabalho voluntário envolve aspectos éticos e é uma das
premissas da RSE estando vinculada àquelas ações socialmente responsáveis que não estão
previstas em lei, tendo como característica o envolvimento da empresa com projetos que
caminhem no sentido de melhorar a qualidade de vida da comunidade onde está inserida.
Quando questionados em relação a essa temática tanto gestores como funcionários
demonstram perceber a importância do envolvimento da empresa no trabalho voluntário ao
mesmo tempo em que se ressentem da falta de estimulo nessa direção. Percebe-se da fala de G
3 que o mesmo intui a falta de um envolvimento maior da empresa essa questão, quando diz
que, “Nessa parte, a gente está devendo algo a sociedade”. Quanto aos funcionários há uma
percepção da falta de estimulo para o voluntariado. F 5 “Para mim nunca chegou esse estimulo”;
F 9 “Não tem incentivo”. A questão do trabalho voluntário como meio de inserção da empresa
na comunidade de entorno encontra-se na essência da dimensão discricionária do modelo de
93
RSE proposto por Carroll (1979), como também está contemplada no indicador 35 –
Envolvimento com a Ação Social, do Instituto Ethos que, no seu primeiro indicador de
profundidade, entre outras ações, aborda a questão da mobilização do trabalho voluntário dos
funcionários.
4.2.2 Relacionamentos com a comunidade de entorno – Percepção dos clientes
Nesta subseção analisa-se a percepção dos clientes quanto à realização por parte da
empresa, de ações de RSE, em parceria com organizações da comunidade de entorno, bem
como o desenvolvimento por parte da empresa de projeto social próprio. As respostas aos
questionamentos tratando desses temas foram bastante diretas, e 13 entre os 14 clientes
entrevistados relataram não terem conhecimento de ações e práticas da empresa que contemple
esses aspectos da RSE.
No Quadro 8, a seguir encontra-se uma síntese da análise das entrevistas de gestores,
funcionários e clientes, que teve como objetivo verificar a existência de ações e programas de
RSE direcionadas para a comunidade de entorno.
Quadro 8 – Principais resultados encontrados – Comunidade de entorno CATEGORIA – COMUNIDADE DE ENTORNO
Entrevistados GESTORES FUNCIONÁRIOS CLIENTES
Subcategorias
Política de
Relacionamento com a
Comunidade de
entorno.
Não há políticas de
relacionamento.
A empresa está isolada
da comunidade.
Necessidade de
interação da empresa
com a comunidade de
entorno.
A empresa não tem
uma política de
relacionamento com a
comunidade de
entorno.
Desconhecem ações de
RSE da empresa em
parceria com
organizações da
comunidade.
.
Campanhas
educacionais e/ou de
interesse público.
Relatam não haver
ações e práticas
direcionadas a essas
questões.
Ações pontuais –
Outubro rosa e
compras de camisetas
da LIGA.
Não se aplica
Projeto social próprio. A empresa não
desenvolve projeto
social próprio.
Não tem conhecimento
e ou não percebem que
a empresa tenha algum
projeto social próprio.
Não têm
conhecimento ou não
percebem que a
empresa desenvolva
projeto social próprio.
94
Avaliar reclamações
com origem na
comunidade de entorno.
Não há reclamações da
comunidade do
entorno relacionadas
ao funcionamento da
empresa.
Não recebe
reclamações da
comunidade.
Não se aplica
Estimulo ao trabalho
voluntário.
Não existe uma
política de estimulo e
promoção do trabalho
voluntário. Percebem a
falta de um maior
envolvimento com a
comunidade.
A empresa não
promove nem
incentiva o trabalho
voluntário. Ações
individualizadas,
Não se aplica
Fonte: Elaborado pelo autor (2015).
Percebe-se da análise das falas de gestores, funcionários e clientes, que apesar de
desenvolver ações pontuais de responsabilidade social direcionada a comunidade de entorno, a
empresa pesquisada, não pratica essas ações de forma institucionalizada. Isto demonstra, que a
empresa, encontra-se em um estágio inicial de conscientização em relação aos benefícios, para
a sociedade e para a instituição, decorrentes do desenvolvimento de práticas de
responsabilidade social direcionada para a comunidade onde está inserida.
4.3 RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL E PÚBLICOS INTERNO
Nesta seção, procura-se identificar práticas e ações de RSE direcionada ao público
interno, levando-se em consideração que no atual cenário da economia mundial as empresas
que adotam modelos avançados de RSE procuram uma gestão colaborativa e socialmente
responsável onde os funcionários passam a estar inseridos nas decisões estratégicas.
4.3.1 Percepção de gestores e funcionários em relação a responsabilidade social
empresarial e público interno
4.3.1.1 Mecanismos de participação
Ao serem questionados sobre os mecanismos de participação dos funcionários nos
processos decisórios, evidencia-se que, embora exista uma percepção por partes dos gestores
da importância de se ouvir a opinião destes stakerholders, com o objetivo de auxilia-los no
processo de gestão, a empresa ainda não tem institucionaliza uma política formal nesse sentido,
como pode-se identificar na fala dos gestores: G 1 “As coisas são feitas de forma esporádica
95
não existe nada documentado, ainda não”; G 2 “Geralmente as reuniões são aleatórias sem data
certa, não existe um calendário” e G 3 “As sugestões são feitas em pequenas reuniões setoriais”.
Pode-se supor que a ausência de uma política formal de gestão participativa, como ficou
plausível na fala dos gestores seja um fator que possa explicar a divergência de opiniões
presente nas respostas dos funcionários a essa questão já que 06 dentre os dez funcionários
entrevistados relatam haver reuniões com a gerência na qual podem externar suas opiniões e
oferecer sugestões e 04 funcionários afirmam não haver reuniões com esse objetivo. F 5 “A
gente se reúne as vezes semanalmente e mais por setores como recepção faturamento, mais por
setores e sinceramente é muito difícil serem acatadas” F 6 “Já existe, tipo assim, uma vez por
mês ela pega todo mundo e faz uma reunião para saber como é que tá e fala, vamos melhorar
isso, vamos melhorar aquilo, tá bom isso”; F8 “A empresa faz reuniões com a gente,
funcionários, praticamente semanalmente”; F 4” Pelos cinco meses que estou aqui, não. Não
tem reunião, nem coisa escrita nem nada” e F 10 “Não existe não. Tem assim, a gente as vezes
senta e conversa dois ou três e dá sugestão mas da empresa... não”. A importância do
funcionário e a responsabilidade da empresa para com esses stakerholders, encontra-se
explicitada no seguinte enunciado do Instituto Ethos:
O funcionário é um dos mais importantes stakeholders da empresa. Atuar de forma
socialmente responsável com o público interno significa mais do que respeitar os
direitos garantidos pela legislação. Isso é imprescindível, mas também é necessário
investir no seu desenvolvimento pessoal e profissional, assim como oferecer
sucessivas melhorias nas suas condições de trabalho. É preciso ainda respeitar as
culturas locais e manter um relacionamento ético e responsável com as minorias e
com as instituições que representam seus interesses (ETHOS, 2015).
A questão da gestão participativa estar contemplado no indicador 8 – Gestão
participativa, do Instituto Ethos e é uma das facetas da RSE direcionada ao público interno,
tendo como característica a possiblidade do envolvimento dos trabalhadores na solução dos
problemas organizacionais. De acordo com Naisbitt e Aburdene (1985), esse novo aspecto de
gestão empresarial, tem como premissa, que uma das principais funções do gerente é ser um
facilitador, que coordena e estimula pessoas inteligentes, com vontade própria, com potencial
criativo, capazes de trabalhar em equipe e adaptar-se a novos trabalhos, ambientes e situações
(ETHOS, 2013).
Pode-se concluir que a empresa pesquisada, ainda não tem incorporada as suas rotinas
administrativas, os pressupostos da gestão participativa, permitido o envolvimento efetivo do
seu público interno, na busca conjunta de soluções para os desafios organizacionais.
96
4.3.1.2 Valorizações da diversidade
Em um mundo em contínuo processo de globalização, o respeito e a valorização da
diversidade passa a representar um valor estratégico para as empresas que procuram se destacar,
dentro desse novo contexto mundial. Para o Instituto Ethos:
[...]a diversidade representa um princípio básico de cidadania, que visa assegurar a
cada um, condições de pleno desenvolvimento de seus talentos e potencialidades. Ao
mesmo tempo, a prática da diversidade representa a efetivação do direito à diferença,
criando condições e ambientes em que as pessoas possam agir em conformidade com
seus valores individuais (ETHOS, 2015).
Dentro dessa perspectiva, percebe-se da análise das falas dos gestores da empresa
pesquisada, que embora não operacionalizem uma política formal em relação a diversidade, a
não discriminação e a promoção da igualdade social, são sensíveis a essa questão e procuram
deixar claro que na hora da contratação de um funcionário, a competência para o cargo é o fator
preponderante, não havendo preconceitos quanto aos diferentes aspectos da diversidade.
Neste sentido, destaca-se os seguintes trechos das entrevistas: G 1 “Em relação aos
funcionários se você pode observar aqui não só trabalha loura, não só trabalha morena, tem uma
diversidade. O candidato é avaliado pelo currículo, pela capacidade, essas questões como a
orientação sexual, a cor da pele, nunca foi levada em conta não” e G 3 “A gente aqui tem uma
política de eficiência, então o nosso funcionário...não é considerado cor, raça, porque raça não
existe, o que importa é a eficiência”. Quanto aos funcionários, estes, indo ao encontro das
percepções dos gestores entendem não haver uma política formal no tocante as questões
envolvendo a diversidade ao mesmo tempo em que relatam não notarem discriminações por
parte da gerência na efetivação de suas contratações, sendo a competência para o cargo,
ressaltada como requisito para a contratação. F 2 “Não há rejeição, mais não existe uma política
formalizada não”; F “Bem uma política bem direcionada não tem. Mas eu não noto
desigualdade nas contratações”; F 7 “Se tem capacidade contrata não tem essas coisas, é mais
pela capacitação”.
Para o Instituto Ethos as questões relacionadas a diversidade devem ser encaradas pelas
empresas como quesito fundamental do seu compromisso social e estão contempladas nos
indicadores 11 – Valorização da Diversidade, 12 – Compromisso com a Não-Discriminação e
Promoção da Equidade Racial e 13 – Compromisso com a Promoção da Equidade de Gênero
(ETHOS, 2013). Do que foi exposto, desprende-se que embora não exista uma política formal,
97
documentada, de contratação de funcionários levando-se em consideração a valorização da
diversidade, a empresa, no momento da contratação pauta-se pela meritocracia, fato este, que
junto com a percepção da não discriminação, levando-se em consideração os diversos aspectos
relacionadas a diversidade é percebido e valorizado pelos funcionários.
4.3.1.3 Saúde, segurança e condições de trabalho
Quando inqueridos sobre que ações relacionadas a saúde, segurança e condições de
trabalhos são desenvolvidas pela empresa, destinadas aos funcionários, os gestores relatam
que a empresa tem ações que procuram cumprir as determinações legais oriundas do Ministério
do Trabalho, além de proporcionar um plano de saúde e promover a realização de palestras
relacionadas a primeiros socorros. Apesar dessas ações de RSE desenvolvidas em resposta às
demandas legais, o que percebe-se na análise dos discursos desses gestores, é que a empresa
pesquisada ainda não dispõe de uma política institucionalizada direcionada ao seu público
interno, que contemple esse importante aspecto da RSE, como pode-se perceber nas seguintes
falas: G 1 “[...] Mais não existe hoje algo documentado, bonitinho, que tenha essa preocupação,
até porque são recepcionistas, são ASGs... recepcionistas ficam muito tempo sentada,
digitando”, G 2 “Geralmente a gente trabalha do jeitinho correto né, que tem o Ministério do
Trabalho que vem aqui e exige o PPRA o PPR que são documentos que até sobre isso eles
querem esclarecimento” e G 3 “O Ministério do Trabalho vem sempre aqui e todas as sugestões
do Ministério do Trabalho foram atendidas, com relação a segurança tanto dos funcionários da
limpeza, para usar equipamentos adequados, botas, como na área da recepção fazemos a
prevenção da LER/DORT”. Quando da análise da percepção dos funcionários em torno dessa
temática, apenas 01 entre os 10 que foram entrevistados, se reportou ao benefício do plano de
saúde, sendo que os demais, convergindo para o que foi relatado pelos gestores procuram
destacar que a empresa não desenvolve ações formais relacionados a saúde, segurança e
condições de trabalho salvo aquelas necessárias para cumprir as exigências legais, como pode-
se ver nos seguintes enunciados: F 2 “Tem assim umas palestras que acho que é a Covisa que
exige, tipo assim, primeiros socorros, fora isso nada bem certo, aquilo certo, nada que seja
formal”, F 5 “Preocupações sinceramente não tem, segurança do trabalho não tem” F 10 “O
pessoal da segurança do trabalho, vem e dão palestra é periódico, não tem um calendário assim
especifico não”.
98
As questões relacionadas à saúde, à segurança e às condições de trabalho constituem
uma preocupação mundial e foi contemplada com a convenção nº 155 da Organização
Internacional do Trabalho (OIT), de 22 de junho de 1981 que dispõe sobre Segurança e Saúde
dos Trabalhadores e o Meio Ambiente de Trabalho. Em 2007, a Organização Mundial de Saúde
(OMS) aprovou o “Plano de Ação Mundial sobre a Saúde dos Trabalhadores”, que reforça a
necessidade de seus membros formularem uma política de saúde do trabalhador, considerando
as diretrizes dispostas nessa convenção.
O Brasil, enquanto estado membro da Organização das Nações Unidas, e signatário
dessa convenção, instituiu através do Decreto nº 7.602 de 7 de novembro de 2011, o Plano
Nacional de Segurança e Saúde no Trabalho que tem por objetivos a promoção da saúde e a
melhoria da qualidade de vida do trabalhador e a prevenção de acidentes e de danos à saúde
advindos, relacionados ao trabalho ou que ocorram no curso dele, por meio da eliminação ou
redução dos riscos nos ambientes de trabalho. Como importante aspecto da RSE direcionada ao
público interno a preocupação com a saúde, segurança e condições de trabalho é contemplada
na 2º diretriz do documento Ethos/Sebrae (2003) Responsabilidade Social Empresarial para
Micro e Pequenas Empresas – Passo a Passo, bem como Indicador 16 – Cuidados com a saúde,
segurança e condições de Trabalhos dos Indicadores Ethos de Responsabilidade Social
Empresarial (BRASIL, 2015; ETHOS, 2013).
De acordo com o que foi abordado, a empresa pesquisada, desenvolve ações de RSE
relacionadas à saúde, segurança e condições de trabalho, direcionadas a seus funcionários,
entretanto não avança em ações proativas, permanecendo em um estado de reatividade às
exigências oriundas da vasta legislação nacional, que trata da saúde, segurança e qualidade de
vida no trabalho.
4.3.1.4 Desenvolvimento e capacitação
Quando questionados quanto a ações de RSE envolvendo o desenvolvimento e a
capacitação dos funcionários, percebe-se que a empresa pesquisada ainda não despertou para a
importância dessa ferramenta de gestão como pode-se inferir das seguintes falas: G 1 “Não, já
se falou muito sobre isso, mais só ficou no papel. Eu acredito particularmente que em primeiro
lugar seria uma benfeitoria para a empresa’ G 3 “Podíamos usar o Sebrae mas até agora está só
no projeto”. Quanto aos funcionários há uma convergência de percepção com os gestores pois,
99
esses são unanimes em afirmar que a empresa onde trabalham não desenvolve uma política
direcionada ao desenvolvimento e capacitação do seu público interno.
A preocupação com uma política de desenvolvimento e capacitação de recursos
humanos encontra-se contemplada nos questionamentos do indicador 17 – Compromisso com
o Desenvolvimento Profissional e a Empregabilidade, dos Indicadores Ethos, demonstrando a
importância dessas ações, para as empresas, que na busca de alinhamento com os pressupostos
da responsabilidade social, não se limitam a cumprir a legislação trabalhista, e investem no
desenvolvimento, capacitação pessoal e profissional, alinhando seus interesses aos dos seus
funcionários.
4.3.1.5 Ações de RSE direcionadas a família do funcionário
Desprende-se da análise dos discursos de gestores e funcionários que a empresa
pesquisada ressente-se de uma política formal de maior amplitude direcionada às famílias de
seus funcionários, sendo a inclusão dos filhos como benificiários do plano de saúde a única
ação detectada nesse espectro da RSE, ficando claro, contudo na fala dos gestores uma
preocupação restrita ao cumprimento das obrigações legais, como sintetizado no comentário de
G 3, “No plano de saúde você inclui alguns dependentes, esse é o único benefício que eu
conheço. Tudo o que a legislação manda a gente faz rigorosamente”. Como no tópico anterior,
há em relação a essa temática uma convergência entre as falas dos gestores e funcionários como
pode-se deduzir das seguintes opiniões: F 1 “Se pra gente já tá difícil então pra os nossos
familiares...” e F 10 “O que eles têm é assim, para os familiares é um plano de saúde”.
4.3.1.6 Outras ações de RSE direcionadas ao público interno
Quando solicitados a se reportarem de maneira aberta sobre se percebiam alguma prática
de RSE direcionadas ao público interno além daquelas já tratadas até então na entrevista,
percebe-se que o Gestor 1 está consciente da ausência de uma política formal direcionada à
práticas socialmente responsáveis por parte da empresa onde trabalha, embora perceba
realizações pontuais e demonstre esperança de que a empresa caminhe no sentido de implantar
essas ações como pode-se ver do seguinte trecho de sua fala:
100
Na minha opinião particular, eu creio que se poderia fazer mais porque hoje a empresa
é um referencial aqui na zona norte muito conhecida, bem respeitada, tem um certo
tempo no mercado. Talvez essa pesquisa possa abrir os olhos dos sócios mas eu
acredito que o que está tendo hoje ainda é pouco, poderia ser mais, eu acredito que ela
tem condições para isso (G 1).
Ainda dentro dessa temática, chama a atenção a preocupação dos gerentes com a questão
do cumprimento das obrigações legais da instituição para com os seus funcionários, sintetizada
na fala de G 3 “A gente cumpre a legislação, cumpre a legislação do tribunal do trabalho, não
existe nada em atraso, obrigações sociais nada, todas elas com relação aos funcionários... se
cumpre a legislação”. Quando instigados a se reportarem também de maneira aberta em torno
das ações de responsabilidade social praticadas pela empresa onde trabalham, os funcionários
deixam transparecer nos seus discursos que os gestores da empresa de certa forma não estão
atentos para a importância do desenvolvimento e implantação de um programa de ações e
práticas de RSE destinada ao seu público interno como pode-se perceber da fala de F 2 “Eles
não têm uma visão disso ai, desde que estou aqui dentro é sempre a mesma coisa”.
Percebe-se, portanto, das falas de gestores e funcionários, que estes têm conhecimento
de aspectos relativos a importância de ações de responsabilidade social direcionada ao público
interno, ao mesmo tempo fica evidente que a empresa pesquisada encontra-se em um estágio
básico de RSE, caracterizado por reatividade as exigências legais.
4.3.2 Ações de responsabilidade social empresarial direcionada ao público interno –
Percepção dos clientes
Nas entrevistas realizadas com os clientes em torno da temática público interno, foram
abordados aspectos da RSE relacionados a diversidade, saúde, segurança e condições de
trabalho. Abordando a questão da diversidade estes demonstram perceber que a empresa
pesquisada não adota políticas discriminatórias no que tange à questão da diversidade no
momento da contratação de seus funcionários como pode-se desprender dos seguintes
enunciados: C 5 “Não tem discriminação. No meu ponto de vista não tem”, C 7 “Percebi que
há uma diversidade de etnia, cor, aqui é bem complexo, graças a Deus” C 11 “Eu acho que não
há discriminação em relação as contratações, porque assim, tá mesclado, tá misto tem tanto
jovens, como pessoas mais experientes” C 13 “Assim eu vejo muito essa diversidade pelas
cores, tem umas meninas morenas umas meninas mais...umas pessoas de mais idade, existe
assim uma certa diferença entre elas de raça, de cor, uma diversidade”.
101
Na abordagem do tema saúde, segurança e condições de trabalho, 01 dentre os 14
clientes entrevistados percebeu que a empresa destina um plano de saúde para os seus
funcionários e 11 desses clientes convergiram na assertiva de que a empresa oferece boas
condições de trabalho aos seus funcionários como pode-se de verificar nas seguintes falas: C 1
“As cadeiras, que isso conta muito, a recepção, a postura delas. Estão adequadas... e algumas
empresas relaxam muito nessa parte”, C 3 “A gente sente que eles se preocupam, existe uma
preocupação de aumentar as condições de trabalho, independente de cargo, desde a
coordenação, recepcionista, até a limpeza”, C 4 “Pelo que eu vejo ali na recepção eles têm
computadores essas coisas assim” e C 8” Achei as condições de trabalho adequadas pois eu
trabalho em recepção e entendo”.
Quanto a segurança do trabalho todos aqueles que de uma forma ou de outra falaram
sobre este tema, desviaram o foco para a questão da segurança no trabalho. Pode-se supor que
isso ocorra devido a uma percepção de falhas no sistema de segurança pública. C3 “O pessoal
aqui se preocupa muito com a segurança, aqui fechava as 20hs agora fecha as 19hs, prá diminuir
assaltos para os funcionários”, C 9 “Acho que a segurança melhorou mais ali na frente, porque
as vezes a gente saia de noite e tava tendo muito assalto lá na frente”.
A seguir, o Quadro 9, com a síntese, da análise das entrevistas que teve como objetivo
identificar ações e programas de RSE desenvolvidas pela empresa, direcionadas ao seu público
interno.
Quadro 9 – Principais resultados encontrados – Público interno CATEGORIA – PÚBLICO INTERNO
Entrevistados GESTORES FUNCIONÁRIOS CLIENTES
Subcategorias
Mecanismos de
participação
Não há política formal.
Reuniões pontuais por
setores ou individuais.
Aplicação de
questionários não
identificados.
Sete funcionários
relatam que embora
pontuais existem
reuniões. Três
funcionários relatam
não haver reuniões.
Não se aplica.
Valorizações da
diversidade
Não há política formal.
A competência para o
cargo é o fator
preponderante no
momento da
contratação.
Não percebem a
existência de uma
política formal.
Ressaltam a
capacitação para o
cargo como fator
preponderante na
contratação.
Percebem que a
empresa não pratica
políticas
discriminatórias em
relação a aspetos da
diversidade como
etnia, idade, gênero e
orientação sexual.
102
Saúde, segurança e
condições de trabalho
Ações pontuais.
Plano de saúde
Palestras sobre
primeiros socorros.
Preocupação em
cumprir as exigências
legais.
A segurança
proporcionada pela
instituição visando
coibir a ocorrência de
assaltos se sobrepôs ao
tema segurança do
trabalho.
Ausência de uma
política formal.
Plano de saúde.
Palestras sobre
primeiros socorros.
Objetivo de cumprir as
exigências legais.
Plano de saúde.
Condições de trabalho
adequadas.
Não há uma percepção
quanto a segurança do
trabalho e sim quanto a
questões de segurança
privada da instituição
visando evitar a
ocorrência de assaltos.
Desenvolvimento e
capacitação
Relatam não haver
ações relacionadas ao
desenvolvimento e
capacitação.
Relatam não haver
ações relacionadas ao
desenvolvimento e
capacitação.
Não se aplica.
Ações de RSE
direcionadas a família
do funcionário.
Restringe-se a cumprir
as obrigações legais.
Plano de saúde para os
dependentes
Percebem unicamente
a questão do plano de
saúde para os
dependentes.
Não se aplica.
Fonte: Elaborado pelo autor (2015).
Em síntese a análise do tema RSE e público interno demonstra que tanto gestores
quanto funcionários percebem uma carência de políticas formais de responsabilidade social da
empresa para o seu público interno, que limita-se, salvo algumas ações pontuais, ao
cumprimento da legislação trabalhista. Quanto aos clientes estes percebem aspectos da
diversidade e não discriminação no quadro de funcionários da empresa pesquisada bem como,
que esta proporciona condições de trabalho adequadas aos seus funcionários.
Com o intuito de facilitar a compreensão dos resultados encontrados na análise do
conteúdo dos dados coletados elaborou-se o Quadro 10, síntese dos quadros 7, 8 e 9 que em
última análise representa o resultado final deste trabalho.
Quadro 10 – Síntese final dos principais resultados encontrados ENTREVISTADOS GESTORES FUNCIONÁRIOS CLIENTES
CATEGORIAS
MEIO AMBIENTE Percebem a responsabilidade
ambiental e a qualidade
ambiental com foco na questão
dos resíduos. Relatam que a
empresa não participa de
projetos de proteção ambiental,
não tem políticas formais para o
consumo consciente, não possui
Percebem a responsabilidade
ambiental e a qualidade
ambiental com foco na questão
dos resíduos. Se reportam a
reciclagem, coleta seletiva,
arborização, melhora da
qualidade do ar e prestação de
serviços à comunidade.
Percebem que a
empresa tem
responsabilidade
com o meio
ambiente.
Percebem que a
empresa tem
103
certificação ambiental e não tem
políticas destinadas a coleta
seletiva e a reciclagem. Relatam
a existência de um PGRSS e que
separam o lixo hospitalar do
lixo comum
Percebem a ausência de projetos
de proteção ambiental, ações e
programas de consumo
consciente, ações relacionadas a
coleta seletiva e reciclagem e a
ausência de certificação
ambiental.
Percebem a existência de um
PGRSS e a separação do lixo
hospitalar do lixo comum.
preocupação com a
qualidade ambiental.
Foco na questão dos
resíduos.
Preocupação em
cumprir as
obrigações legais.
COMUNIDADE
DE ENTORNO
Não recebe reclamações
oriundas de pessoas da
comunidade. Percebem a
necessidade de uma interação da
empresa com a comunidade de
entorno. A empresa não
desenvolve ações de
relacionamento com a
comunidade, não desenvolve
projeto social próprio, não
desenvolve campanhas
educacionais e/ou de interesse
público e não desenvolve nem
estimula o trabalho voluntário
Não recebe reclamações
oriundas de pessoas da
comunidade. A empresa não
desenvolve ações de
relacionamento com a
comunidade. Não têm
conhecimento e ou não
percebem que a empresa tenha
algum projeto social próprio.
Não desenvolve campanhas
educacionais e/ou de interesse
público e não desenvolve nem
estimula o trabalho voluntário.
Desconhecem ou não
percebem a
existência de ações
de RSE da empresa
em parceria com
organizações da
comunidade bem
como que a empresa
desenvolva projetos
sociais próprios.
PÚBLICO
INTERNO Ausência de mecanismos
formais de participação.
Presença de reuniões pontuais e
aplicação de questionários não
identificados. Percebem a
questão da diversidade e a não-
discriminação.
Valorização da competência.
Palestras sobre primeiros
socorros. Cumprir as exigências
legais. Ausência de ações
relacionadas ao
desenvolvimento e capacitação.
Plano de saúde para
funcionários e dependentes.
Percebem a carência de ações de
RSE direcionado ao público
interno.
Reuniões como mecanismo de
participação citadas por 07
funcionários. Percebem a
ausência de uma política formal
em relação a questões como
diversidade, saúde segurança e
condições de trabalho,
desenvolvimento, capacitação e
família. Percebem a não-
discriminação nas contratações
e a diversidade no quadro de
funcionários.
Cumprir exigências legais.
Plano de saúde.
Ressentem-se de um olhar mais
atento da gerência para a
implementação de ações de
RSE.
Percebem que a
empresa não pratica
políticas
discriminatórias em
relação a aspetos da
diversidade como
etnia, idade, gênero e
orientação sexual.
Plano de saúde.
Condições de
trabalho adequadas.
Fonte: Elaborado pelo autor (2015).
Os resultados das percepções de gestores, funcionários e clientes no que diz respeito a
RSE e sua temática ambiental, convergem, e encontram-se em consonância com os conceitos
propagados pelo Instituto Ethos, conceitos estes que serviram de suporte para a análise dos
dados desta pesquisa. Tanto gestores como funcionários e clientes demonstram que entendem
a existência de uma responsabilidade empresarial em relação a questão ambiental, contudo, a
percepção dos gestores e clientes, encontra-se focada na problemática do correto manejo dos
resíduos, enquanto os funcionários além dessa questão, destacam outros importantes aspectos
da responsabilidade ambiental das empresas como a reciclagem, coleta seletiva, ações para a
104
comunidade, arborização e preservação da qualidade do ar. Ainda dentro da questão ambiental
gestores e funcionários relatam que a empresa onde trabalham não participa de projetos de
proteção ambiental, não tem políticas formais para o consumo consciente, coleta seletiva e
reciclagem. Tanto gestores como funcionários e clientes procuram deixar claro, que percebem,
a preocupação da empresa com o cumprimento das exigências legais no tocante a questão
ambiental.
Desprende-se da análise do tema comunidade que os gestores percebem a necessidade
de uma maior interação da empresa com a comunidade onde está localizada, e que procuram
realizar ações pontuais nessa direção, no entanto essa percepção ainda não se transformou em
ações institucionalizadas, pois tanto esses gestores como funcionários, relatam que a empresa
não desenvolve ações de relacionamento com a comunidade, não desenvolve projeto social
próprio, não desenvolve campanhas educacionais e ou de interesse público e não promove o
trabalho voluntário. A percepção dos clientes quanto a essa temática converge na direção do
que foi relatado por gerentes e funcionários. Do que foi exposto pode-se inferir que a empresa
pesquisada encontra-se em um processo preliminar de conscientização quanto a esses aspectos
da RSE.
Em relação as ações de RSE direcionadas para o público interno os resultados apontam
que tanto gestores como funcionários e clientes percebem que a empresa não pratica ações
discriminatórias relativas a diversidade. A participação dos funcionários nos processos
decisórios e de gestão da empresa ainda é incipiente, mas presente, e realizado através de
reuniões e aplicação de questionários não identificados, fato relatado pelos gestores e percebido
por uma parcela significativa dos funcionários. Apesar da empresa desenvolver algumas ações
pontuais, não indo muito além do cumprimento das exigências legais, os gestores deixam
entender que percebem a carência de ações de RSE destinada ao seu público interno ao mesmo
tempo em que os funcionários deixam transparecer que ressentem-se dessas ações. Quanto aos
clientes, estes destacam as adequadas condições de trabalho proporcionada pela empresa aos
seus funcionários.
Por fim, os resultados deste trabalho demonstram que gestores, funcionários e clientes
percebem que existe uma responsabilidade social das empresas com o meio ambiente, com a
comunidade de entorno e com o público interno ao mesmo tempo que deixam evidente, a partir
de suas falas, que a empresa pesquisada encontra-se em um estágio preliminar de
conscientização em relação a RSE. Depreende-se ainda que a empresa pesquisada encontra-se
em um processo evolutivo de conscientização em torno dos pressupostos da RSE, estando em
105
um momento de transição de um estágio básico, que caracteriza-se por ações e práticas de RSE
reativas as exigências legais, para um estágio intermediário onde embora mantendo uma postura
defensiva, já começa e encaminhar mudanças e avanços em relação à conformidade de suas
práticas.
106
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho teve como objetivo verificar o atual estágio de engajamento com a
Responsabilidade Social Empresarial, de uma empresa prestadora de serviços privados de
saúde, localizada na Zona Norte, da cidade do Natal/RN, por meio da percepção de gestores,
funcionários e clientes. As categorias de análise envolveram os temas meio ambiente,
comunidade de entorno e público interno. Como embasamento teórico para a consecução deste
trabalho buscou-se estudar a evolução histórica do conceito de RSE, seus principais modelos
explicativos e a penetração do conceito no meio empresarial brasileiro.
Na atualidade, os pressupostos da RSE permeiam o tecido social, fato este, decorrente
de uma ampla divulgação desse tema nas mais variadas formas de mídias como TV, jornais e
revistas, nas suas formas impressas e ou eletrônicas, com divulgação por meio de seus sites na
internet. Os resultados dessa pesquisa demonstraram que, gestores, funcionários e clientes da
instituição pesquisada, percebem, que existe uma responsabilidade das empresas para com o
meio ambiente, estando, essa percepção focada no adequado manejo dos resíduos/lixo, desde a
sua geração, até o seu destino final.
Muito embora, as práticas de RSE direcionadas ao meio ambiente sejam hoje adotadas
nos atuais modelos de gestão empresarial, a empresa pesquisada ressente-se dessa ferramenta
de gestão que, em última análise, propicia um marketing positivo e um diferencial, que, nesses
dias de acirrada competitividade empresarial não podem ser menosprezados. O comentário tem
como base os dizeres de gestores, funcionários e clientes que relatam a ausência e ou
desconhecem que a empresa participe de projetos de proteção ambiental, consumo consciente,
coleta seletiva, reciclagem ou que possua alguma documentação de certificação ambiental. A
afirmação por parte dos gestores da existência de um Plano de Gerenciamento de Resíduos de
Saúde (PGRSS), e a percepção dos funcionários da existência desse plano, prende-se como
deixam transparecer, à área de atuação da empresa e ao cumprimento das exigências legais.
A participação da empresa em ações proativas direcionadas à comunidade de entorno,
tanto de forma isolada, quanto em associação com organizações governamentais e não
governamentais, é uma importante premissa da RSE. Apesar de procurarem salientar que a
empresa tem uma grande aceitação por parte da comunidade onde encontra-se inserida , não
havendo relatos de reclamações em virtude de qualquer tipo de transtorno decorrente do seu
funcionamento, as respostas de gestores e funcionários, às questões envolvendo essa temática,
convergem no sentido de exporem que a empresa desenvolve ações pontuais de RSE , não
107
existindo portanto o desenvolvimento institucionalizado de ações de relacionamento com a
comunidade, campanhas educacionais e ou de interesse público e estímulo ao trabalho
voluntário. Indo na direção do que relataram gestores e funcionários, os clientes entrevistados
deixam transparecer que desconhecem e ou não percebem ações de RSE própria da empresa
ou em parceria com instituições da comunidade de entorno.
Tendo como pressuposto o fato de que a valorização do público interno é uma
importante ação de RSE, capaz de dotar a empresa que institui essas práticas de um diferencial
competitivo, fica claro, da análise das entrevistas, que a empresa pesquisada ainda se encontra
em um estágio preliminar de envolvimento com essas questões. Gestores e funcionários
percebem ações pontuais de RSE direcionadas pela empresa para o seu público interno, além
daquelas que objetivam ao estrito cumprimento das obrigações legais, porém fica evidente, que
a empresa não tem institucionalizada, ações que contemplem questões relacionadas à saúde e
segurança do trabalho, valorização da diversidade, gestão participativa, bem como um plano
de desenvolvimento e capacitação direcionado a esses stakerholders. Quanto aos clientes, estes
conseguem intuir através do contato com a empresa, que esta disponibiliza um plano de saúde
para os seus funcionários e não adota políticas discriminatórias em relação aos mais diversos
aspectos da diversidade.
Na atualidade, o processo de globalização avança sobre as diversas sociedades e impõe
um alto padrão de competitividade às organizações, que necessitam administrar seus negócios
com o pensamento voltado para à responsabilidade social e à sustentabilidade ambiental,
aceitando as diretrizes da RSE como objetivos intrínsecos a gestão empresarial.
Nesse contexto, este trabalho demonstra que gestores, funcionários e clientes da
empresa pesquisada, percebem que existe uma responsabilidade social e ambiental por parte da
empresa, ao mesmo tempo deixam evidente, a partir de seus discursos, que a empresa
pesquisada encontra-se em um estágio preliminar de conscientização em relação a RSE e seus
pressupostos.
Desse modo, foi possível verificar neste estudo, o atual estágio de engajamento da
empresa pesquisada com os princípios da RSE, a partir da percepção dos gestores, funcionários
e clientes, levando-se em consideração alguns aspectos dos temas Meio Ambiente, Comunidade
e Público Interno como proposto nos Indicadores Ethos de Responsabilidade Social
Empresarial na sua versão 2013.
Por meio da análise dos dados das entrevistas de gestores, funcionários e clientes, fica
evidente que a empresa, encontra-se em um estágio preliminar de engajamento com os
108
princípios da RSE, no qual, ações e práticas discricionárias não fazem parte dos objetivos
explícitos de gestão. O que evidencia-se da percepção dos diversos agentes entrevistados é que
a empresa desenvolve ações pontuais relacionadas a responsabilidade discricionária e
demonstra preocupação com questões éticas e com o cumprimento das suas obrigações legais.
Tendo como modelo os Indicadores Ethos, pode-se inferir que a empresa pesquisada,
encontra-se em um processo de transição de um estágio básico de engajamento com os
princípios da RSE, que caracteriza-se por ações e práticas reativas às exigências legais, para um
estágio intermediário no qual, mantem uma postura defensiva sobre os mais variados aspectos
da RSE, no entanto, começa avançar em ações e práticas que vão além dessas exigências.
Como limitação da pesquisa, é válido apontar o fato de que, por motivos de
disponibilidade, dentre os sócios proprietários da empresa, apenas aquele que exercia a função
de Sócio Gestor, no período em que foram realizadas as entrevistas, participou deste estudo.
Dada a limitação característica à pesquisa qualitativa de não permitir inferências do tipo
estatístico, sugere-se que trabalhos semelhantes a este, sejam realizados em outros
estabelecimentos de saúde do mesmo porte, com o objetivo de se estabelecer através da
comparação dos resultados, um perfil do engajamento desse setor da economia com as ações e
práticas de RSE.
Este estudo contribui para a produção de conhecimento em Ciências da Gestão, e para
um despertar da instituição pesquisada para a importância de se avançar na implementação de
ações e programas de RSE, que proporcionem uma melhoria da qualidade de vida da
comunidade na qual encontra-se inserida, bem como, traz contribuições como fonte de
pesquisa e dados para outros trabalhos acadêmicos.
109
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117
APÊNDICE A – ROTEIRO DE ENTREVISTA COM GESTORES E FUNCIONÁRIOS
UNIVERSIDADE POTIGUAR – UnP
PRÓ-REITORIA ACADÊMICA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO – PPGA
MESTRADO PROFISSIONAL EM ADMINISTRAÇÃO
Questões Norteadoras da Entrevista
Gestores/Funcionários
Tema: Meio ambiente.
1 – O que você entende por responsabilidade ambiental das empresas?
2 – Existe na empresa uma política de compromisso com a qualidade ambiental? Se sim,
poderia descrevê-la?
3- A empresa participa de projetos de proteção ambiental? Se positivo poderia descrevê-los?
4– A empresa desenvolve campanhas internas de educação para o consumo consciente de
água, energia e outros insumos?
5 – A empresa possui um Plano de Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde
(PGRSS)?
6– A empresa possui alguma certificação ambiental? Qual?
Tema: Comunidade.
7 – A empresa possui uma política de relacionamento com a comunidade onde está
localizada?
8 – A empresa desenvolve em conjunto com organizações da comunidade campanhas
educacionais e/ou de interesse público?
9– A empresa desenvolve algum projeto social próprio?
118
10 – Em algum momento você presenciou reclamações da comunidade relacionadas aso
seguintes motivos: a) excesso de lixo ou outras formas de poluição; b) transtorno causado
pelo excesso de tráfego de veículos e c) outros motivos?
11– A empresa estimula a participação de seus funcionários em trabalho voluntário?
Tema: Público interno.
12 - Existe na empresa, mecanismos para a participação dos funcionários com sugestões e
críticas? Se sim essas sugestões e/ou críticas são geralmente acatadas?
13 – Você tem conhecimento se a empresa possui politicas direcionadas a valorização da
diversidade e não discriminação e promoção da equidade racial?
14 – A empresa desenvolve ações relacionadas à saúde, segurança e condições de trabalho de
seus funcionários? Se sim, poderia falar sobre essas ações?
15– A empresa tem uma politica de desenvolvimento e capacitação direcionada aos seus
funcionários? Comente?
16 – A empresa oferece algum benefício social direcionado as famílias dos funcionários?
17 – A empresa possui ações de RSE direcionadas aso seus funcionários e que não foram
contempladas nas perguntas anteriores? Se sim, poderia falar sobre essas ações?
119
APÊNDICE B – ROTEIRO DE ENTREVISTA COM OS CLIENTES
UNIVERSIDADE POTIGUAR – UnP
PRÓ-REITORIA ACADÊMICA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO – PPGA
MESTRADO PROFISSIONAL EM ADMINISTRAÇÃO
Questões Norteadoras da Entrevista
Clientes
Tema: Meio ambiente
1- O que você entende por responsabilidade ambiental da empresa?
2 - Durante o seu contato com esta empresa (Clínica), você percebeu alguma forma de
compromisso da mesma com a qualidade ambiental? Se sim, poderia discorrer sobre o que foi
percebido?
Tema: Comunidade
3 - Você conhece alguma ação social desenvolvida por esta empresa em parceria com
organizações da comunidade? Se sim, poderia descrevê-la?
4 - Você tem conhecimento de algum projeto social próprio da empresa? Se sim, poderia
descrevê-lo?
Tema: Público interno
5 - Em seu contato com esta empresa, você percebeu no que se refere ao seu quadro de
funcionários, uma política de valorização da diversidade, da não discriminação e da promoção
da igualdade racial?
6 - Você conseguiu perceber algum tipo de preocupação desta empresa em relação à saúde,
segurança e condições de trabalho de seus funcionários? Poderia comentar?
7 - Além do que já foi perguntado, você conseguiu identificar alguma outra forma de ação de
responsabilidade social, direcionada pela empresa aos seus funcionários
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