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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO
UNIVERSIDADE ABERTA DO SUS
CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM SAÚDE INDÍGENA
REGIÃO MATA ATLÂNTICA – TURMA II
Projeto de Implantação da Qualidade como Forma de Melhoria na
Prestação dos Serviços de Saúde na Aldeia Velha
Autor (a): Brunna Santos Braz
Trabalho de Conclusão de Curso
apresentado ao Curso de Especialização
em Saúde Indígena, da Universidade
Federal de São Paulo.
Orientadora:Prof.(a)Dra Ana Paula
Clemente
SÃO PAULO
2017
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Projeto de Implantação da Qualidade como Forma de Melhoria na
Prestação dos Serviços de Saúde na Aldeia
AUTORA: BRUNNA SANTOS BRAZ
Trabalho de Conclusão de Curso
apresentado ao Curso de Especialização
em Saúde Indígena, da Universidade
Federal de São Paulo.
Orientadora: Prof. (a) Dra Ana Paula
Clemente
SÃO PAULO
2017
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RESUMO
O objetivo deste trabalho é expor o problema de hipertensão que acomete a
população na microárea de atuação (Aldeia Velha) a partir de levantamentos realizados
na aldeia, e a importância da implantação da qualidade no ambiente de trabalho a qual
nos permite, através de uma análise, identificar e descobrir suas raízes, remetendo-nos
ao método mais eficaz para solução do mesmo. Com isso, é possível atingir a excelência
na prestação dos serviços de saúde no atendimento da principal doença identificada. O
acompanhamento dos costumes da população levanta as evidências da(s) causa(s) das
falhas no resultado final, deixando de forma clara a necessidade de elaboração de
estratégias de intervenção a partir de palestras que visem orientar sobre a questão da
alimentação saudável e a importância de seguir as prescrições médicas de forma
rigorosa, além de manter o acompanhamento permanente e regular através de consultas
mensais.
Palavras-chave: Qualidade, HAS, processo, evidências, resultado final.
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RESUMEN
El objetivo de este trabajo es exponer el problema de hipertensión que acomete a la
población en la microárea de actuación (Aldea Velha) a partir de levantamientos
realizados en la aldea, y la importancia de la implantación de la calidad en el ambiente
de trabajo la cual nos permite, a través de un análisis , Identificar y descubrir sus raíces,
remitiéndonos al método más eficaz para la solución del mismo. Con ello, es posible
alcanzar la excelencia en la prestación de los servicios de salud en la atención de la
principal enfermedad identificada. El seguimiento de las costumbres de la población
plantea las evidencias de la causa de las fallas en el resultado final, dejando de forma
clara la necesidad de elaborar estrategias de intervención a partir de charlas que orienten
sobre la cuestión de la alimentación saludable y la La importancia de seguir las
prescripciones médicas de forma rigurosa, además de mantener el seguimiento
permanente y regular a través de consultas mensuales.
Palabras clave: Calidad, HAS, proceso, evidencia, resultado final.
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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
AIS – Agentes Indígenas de Saúde
CASAIS – Casas de Saúde Indígena
DCNT – Doenças Crônicas Não Transmissíveis
DSEI – Distrito Sanitário Especial Indígena
EMSI – Equipe Multidisciplinar de Saúde Indígena
FUNAI – Fundação Nacional do Índio
FUNASA – Fundação Nacional de Saúde
HAS – Hipertensão Arterial Sistêmica
IMC – Índice de Massa Corporal
MAIC – Ministério da Agricultura Indústria e Comércio
OMS – Organização Mundial de Saúde
PA – Pressão Arterial
PSFI – Programa de Saúde da Família Indígena
SasiSUS – Subsistema de Atenção à Saúde Indígena
SESAI – Secretaria Especial de Saúde Indígena
SIASI - Sistema de Informação da Atenção à Saúde Indígena
SPI – Serviço de Proteção ao Índio
SUCAM – Superintendência de Campanha de Saúde Pública
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LISTA DE QUADROS
Quadro 1 – Organograma SESAI....................................................................................24
Quadro 2 - População da Aldeia Velha, Dezembro 2016................................................24
Quadro 3 – Número de Casos de Hipertensos de Aldeia Velha, 2016...........................25
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LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Mapa dos Distritos Especiais de Saúde Indígena – DSEIs.............................26
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SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO.........................................................................................................08
2. OBJETIVOS..............................................................................................................13
2.1 Objetivo Geral.........................................................................................................13
2.2 Objetivos Específicos..............................................................................................14
3. METODOLOGIA.....................................................................................................14
4. RESULTADOS ESPERADOS.................................................................................20
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................21
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................22
7. ANEXOS.....................................................................................................................24
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1. INTRODUÇÃO
No ano de 1500, época em que colonizadores portugueses atracaram no sul da
Bahia, índios tupiniquins e tupinambás já habitavam o litoral baiano. No primeiro
contato entre nativos e colonizadores foi estabelecida uma relação de escambo.
Entretanto, no decorrer do tempo os colonos tornaram mais efetivas as tentativas de
escravizar os povos locais, atitudes estas que provocaram reações de resistência
culminando em batalhas. Os conflitos aliados às doenças trazidas, como por exemplo,
epidemias de varíola, foram dizimando a população indígena do Extremo Sul da Bahia,
na segunda metade do século XVI. Grande parte dos índios sobreviventes foi reunida,
através de expedições denominadas de descimentos, em aldeamentos missionários de
ordens religiosas com intuito de facilitar a inserção dos mesmos na sociedade civil. O
projeto de implantação de aldeamentos visava ofertar uma solução articulada nos
quesitos de dominação e do trabalho indígena, e tornou-se um dos alicerces da política
indigenista no Brasil colonial.
Esse processo foi intensificado especialmente no século XVIII, ocasionando
uma série de transformações através do contato com outros grupos indígenas,
missionários, negros e a sociedade arredor. Porém, após a criação da Lei de Terras ou
Lei nº 601, de 18 de setembro de 1850, sancionada por D. Pedro II, a qual estabelecia a
compra como sendo o único meio de adquirir terras públicas, inicializou-se a extinção
gradativa dos aldeamentos. Aliado a esse fato, as populações indígenas foram sendo
desqualificadas devido ao processo de miscigenação, justificando assim a abolição dos
aldeamentos.
Atualmente, a Bahia possui povos indígenas inseridos na região do sertão
nordestino ao norte e na região sul do estado. No extremo sul da Bahia encontram-se
comunidades da etnia Pataxó os quais o convívio com a sociedade é uma relação
estável, porém ainda há conflitos por disputa de terras os quais proporcionam uma
expectativa de futuro incerto quanto às áreas ocupadas pelas comunidades, pois ainda
não são demarcadas.
Grande parte dos indígenas que vivem nessa região do extremo sul da Bahia, são
provenientes da aldeia Barra Velha, também chamada de “aldeia mãe”, que foi palco de
muitas lutas pela conquista e reconhecimento da terra, desde sua origem em 1861, hoje
reconhecida e homologada como terra indígena do complexo Barra Velha. Uma das
lutas que o povo pataxó enfrentou foi no ano de 1951, conhecida como a “Revolta dos
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caboclos”, mas para os pataxós é conhecida como o “Fogo de 51”, episódio esse
violento e injustificado das policias das cidades de Porto Seguro e Prado, no qual a
aldeia de Barra Velha que era o único abrigo do povo pataxó naquela época, foi
incendiada totalmente, dando origem a outras aldeias devido a migração da população
na tentativa de fuga, como por exemplo Boca da Mata, Meio da Mata, Pé do Monte e
Coroa Vermelha. Aos indígenas, sem terras e sem ter onde morar, não houve outra
alternativa, além de migrar e integrar-se aos municípios vizinhos, ocultando sua origem,
hábitos e costumes tradicionais (PEREIRA,2013).
Independentemente das efetivações das demarcações das terras indígenas sua
relação com outros povos é inevitável, por isso os seus costumes, hábitos e tradições
têm se perdido no tempo. Hábitos alimentares saudáveis de ingerir produtos naturais
provenientes do próprio plantio, da caça e pesca se tornaram cada vez mais raros, e no
lugar destes foram incorporadas as comidas industrializadas, deteriorando assim cada
vez mais a saúde dos povos indígenas.
O início do desenvolvimento da política de saúde para os povos indígenas se deu
com a criação do Serviço de Proteção ao Índio (SPI), em 20 de junho de 1910, através
do Decreto nº 8.072, pois visava integrá-los a sociedade nacional e prestar assistência à
sua população. O SPI era um órgão público fundado durante o governo do presidente
Nilo Peçanha, e teve Marechal Rondon como seu primeiro diretor. Era parte constituinte
do Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio (MAIC), sendo extinto e substituído
em 1967 pela Fundação Nacional do Índio (FUNAI). A FUNAI foi criada pela Lei no
5.371, de 05 de dezembro de 1967, sendo o órgão indigenista oficial do Estado
brasileiro com o propósito de gerenciar e cumprir as políticas indigenistas do Governo
Federal, além de identificar, delimitar, demarcar, regularizar e registrar as terras
ocupadas pelos índios, visando a garantia dos direitos e promoção de estratégias
direcionadas ao desenvolvimento sustentável.
A Fundação Nacional de Saúde (FUNASA) é um órgão do Ministério da Saúde
criado pela Lei no 8.029, de 12 de abril de 1990, resultado da união da Fundação de
Serviços de Saúde Pública (FSESP) e da Superintendência de Campanha de Saúde
Pública (SUCAM). O Ministério da Saúde no ano de 1991 ficou encarregado de
coordenar as ações de saúde designadas aos povos indígenas, instituindo os Distritos
Sanitários Especiais Indígenas – DSEI, como base da organização dos serviços de
saúde.
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Devido à política de descentralizar o atendimento, foi criada a Lei nº 9.836 de 24
de setembro de 1999, também conhecida como Lei Arouca, devido à atuação do
Deputado Sérgio Arouca na sua aprovação. Essa lei criou uma relação entre as
prefeituras e entidades da sociedade civil, restringiu a ação direta do Estado e implantou
34 Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEIs) tornando-os unidades gestoras de
saúde das equipes que assistem aos indígenas. O DSEI atua como parte de um
subsistema que articula com o Sistema Único de Saúde (SUS) e desenvolve suas ações a
partir das seguintes condições, deve considerar os conceitos de saúde e doença da
população e os aspectos intersetoriais, o processo de planejamento das ações é
construído coletivamente e deve ter participação do controle social formalizado em
todos os níveis de gestão.
A FUNASA foi responsável pela assistência à saúde indígena até o ano de 2010,
quando o governo transferiu esta incumbência diretamente ao Ministério da Saúde
devido à dificuldade de gestão e atendendo as antigas reivindicações da população
indígena. Esse processo culminou na criação da Secretaria Especial de Saúde Indígena
(SESAI), em outubro de 2010, com a missão de reformular a gestão e atenção da saúde
indígena no âmbito do Subsistema de Atenção à Saúde Indígena, articulado com o SUS
(SasiSUS).
A área de estudo em questão será o DSEI Bahia com foco no município de Porto
Seguro. O DSEI Bahia possui o apoio de 9 Polos Base (Euclides da Cunha, Ibotirama,
Ilhéus, Itamaraju, Juazeiro, Pau Brasil, Paulo Afonso, Porto Seguro e Ribeira do
Pombal), abrangendo 30 municípios (Abaré, Alcobaça, Angical, Banzaê, Belmonte,
Buerarema, Camacã, Camamú, Cocos, Curaça, Euclides da Cunha, Glória, Ibotirama,
Itajú do Colônia, Itamaraju, Muquém do São Francisco, Ilhéus, Pau Brasil, Paulo
Afonso, Porto Seguro, Prado, Quinjigue, Ribeira do Pombal, Rodelas, Santa Cruz
Cabrália, Santa Rita de Cássia, Serra do Ramalho, Sobradinho, Una e Utinga), 72
aldeias e 18 etnias em um total de 27.740 indígenas cadastrados (Atikum, Fulni-ô,
Kaimbé, Kambiwá, Kantarurê, Kiriri, Paiaia, Pataxó, Pataxó hã hã hãe, Pankararé,
Pankararú, Pankarú, Truká, Tumbalalá, Tupinambá, Tuxá, Xakriabá e Xukuru-kariri
(DSEI BAHIA/2015). O Dsei Bahia está localizado na cidade de Salvador, sendo
considerada uma das cidades mais populosas, capital do estado, a 720 km de distância
do Polo de Porto Seguro e encontra-se na região Nordeste do país. A Bahia tem
território cuja área total é de 564 692,669 km2, fazendo fronteira com os estados de
Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Piauí (norte), Tocantins, Goiás (oeste), Minas Gerais e
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Espírito Santo (sul). O clima é tropical na região litorânea e semi-árido no interior, com
vegetação mangues no litoral, floresta tropical e caatinga (interior e semi-árido) e
cerrado. Os rios que cortam o estado são Jequitinhonha, São Francisco, Paraguaçu,
Carinhanha, de Contas, Itaperucu, Grande, Pardo e Capivari. Principais recursos
naturais são: ouro, cobre, magnesita, manganês, cromita, sal-gema, barita, chumbo,
urânio, minério de ferro, prata, cristal de rocha e zinco. A economia gira em torno do
turismo, agropecuária, pesca e caça.
O DSEI desenvolve um conjunto de ações de saúde de atenção básica,
articulando com o Sistema Único de Saúde para encaminhamentos das demandas de
referência e contra-referência. Nessa região a primeira referência são os hospitais
municipais Hospital Professor José Maria de Magalhães Neto e Hospital Deputado Luiz
Eduardo Magalhães, enquanto que a segunda referência é o Hospital João Alves/SE,
Sta. Casa de Misericórdia de Feira de Santana e Itabuna e a terceira referência é o
Hospital Irmã Dulce em Salvador.
Os territórios distritais são definidos a partir de critérios técnicos-operacionais e
geográficos, além de relações políticas, cultural e distribuição geográfica tradicional de
cada povo, o que por muitas vezes não coincide com limites de municípios e estados
onde estão localizadas as terras indígenas. Além dos DSEIs, a estrutura de atendimento
conta com postos de saúde, com os polos base e as Casas de Saúde Indígena (CASAIS).
Trata-se de um modelo de organização de serviços, orientado por um espaço etno-
cultural dinâmico, geográfico, populacional e administrativo bem delimitado que
contempla um conjunto de atividades técnicas, que visa medidas racionalizadas e
qualificadas de atenção à saúde, promovendo a reordenação da rede de saúde e das
práticas sanitárias e desenvolvendo atividades administrativo-gerenciais necessárias à
prestação da assistência com controle social.
O controle social tem papel importante na formulação, acompanhamento e
avaliação das políticas de saúde. Um ponto importante é a participação da população
nas tomadas de decisão administrativas, para que as ações de saúde sejam voltadas para
a realidade da população local. Cabe ao controle social fiscalizar essas ações no âmbito
municipal, estadual e federal, através do conselho local e distrital. A população indígena
também tem direto a participar do controle social, direito este garantido por lei, na qual
garante a participação da população indígena nos Conselho Nacional de Saúde e nos
Conselhos Municipais e Estaduais. A participação da população no Controle Social
evidencia a capacidade que a sociedade tem de intervir nas políticas públicas,
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colaborando com a formulação de prioridades e elaboração do plano de ação a serem
desenvolvidas a nível municipal, estadual e federal. Levando em consideração que
atende as necessidades específicas de acordo com a realidade local, o que tende a
refletir nas condições de saúde de cada população.
Mesmo sendo um instrumento de participação popular para as reivindicações da
população, na comunidade o controle social se faz de forma tímida, poucas são as
reuniões para articulação e planejamento das ações juntamente com a comunidade e
principalmente com os funcionários do pólo base local. É preciso que a comunidade
tenha consciência sobre a importância deste instrumento para que possa fortalecê-lo
cada vez mais e fazer valer as leis voltadas para a melhoria da assistência à população.
O Conselho Distrital é composto por usuários, funcionários e gestores ele é de
grande relevância para a formulação das ações de saúde das comunidades, pois participa
diretamente do planejamento do Plano Distrital, que é um instrumento norteador para a
execução das ações técnicas e financeiras do DSEI. Estes tem o compromisso de
planejar a aplicação dos recursos, pactuar metas, fiscalizar e avaliar como as ações estão
sendo desenvolvidas, além de verificar a prestação de contas dos gestores no que diz
respeito ao orçamento utilizado pelo DSEI nas ações de saúde.
O conselho distrital tem maior atuação em comparação ao local, várias são as
ações de articulação junto ao DSEI – BA que aos poucos vem colaborando de forma
positiva nas comunidades. Porém, por ter participação de diversas etnias de várias
localidades da Bahia a maior dificuldade reinante é com os custeios com passagens,
estadias e alimentação dos conselheiros para a realização das reuniões. Devido à
mudança na gestão do DSEI no ano de 2016, houve a falta de articulação da nova
gestora prejudicando as reuniões do conselho, mesmo diante desse quadro os
conselheiros tem se articulado entre si para manterem um diálogo mais próximo com a
gestão atual e assim poder desenvolver suas atividades competentes.
O Polo Base funciona como uma unidade para a primeira referência a partir das
demandas das equipes de saúde alocadas nas comunidades. Encontra-se localizada no
município de Porto Seguro e sua abrangência atende as aldeias do município de Porto
Seguro, Santa Cruz Cabrália e Belmonte.
A aldeia Velha foi declarada terra indígena de direito permanente do povo
pataxó no início de 2011, porém ainda não é homologada, com 2.010 hectares de área
total, sendo que a maior parte do território é de mata nativa e uma área de manguezal de
10 km de extensão. A atividade principal é o artesanato, mas muitos vivem da
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agricultura, pesca e outros prestam serviços à rede de turismo da região. No início da
retomada dessa terra indígena eram aproximadamente 60 (sessenta habitantes),
atualmente a população encontra-se com 904 (novecentos e quatro habitantes) com
cerca de 350 famílias. A mesma compõe uma das seis terras indígenas pataxó do
extremo sul da Bahia e uma das mais de trinta aldeias, sendo distribuídas entre os
municípios de Prado, Porto Seguro, Santa Cruz Cabrália e Belmonte.
O entendimento da história, cultura e crença dos povos indígenas da região,
junto ao contato direto visando entender seus costumes, auxilia no trabalho dos
profissionais de saúde. Na comunidade podem ser encontrados especialistas tradicionais
como pajés, rezadores, raizeiros, benzedores, parteiras dentre outros. Há relatos de
experiências com benzedeiras que diagnosticavam crianças com “espinhela caída” e as
rezavam com galhos de guiné e arruda, curando-as assim sem sequer utilizar
medicamentos.
Como forma de melhoria e o intuito de atingir a excelência na prestação dos
serviços de saúde no que tange o objetivo de agir sobre as doenças crônicas não
transmissíveis que acometem a população de Aldeia Velha, como a hipertensão arterial
como doença de maior prevalência nessa comunidade, será implantada o sistema de
qualidade no ambiente de trabalho visando descobrir a causa raiz dos problemas
elencados através de um levantamento de campo realizado. Através dos relatos e do
acompanhamento dos pacientes acometidos pela HAS nessa comunidade é perceptível
para a EMSI, que através das mudanças dos hábitos alimentares, socioeconômicos e
estilo de vida, que foi crescente o numero de pessoas acometidas pela HAS nessa
comunidade. A aldeia em destaque em nosso estudo é uma aldeia urbanizada e essa
facilidade do acesso a produtos industrializados, que se deu consumo excessivo de
produtos com alto teor de sódio, gorduras saturadas e outros produtos que aos poucos
foram inseridos e assim deixando cada vez mais a comunidade vulnerável a doenças que
acometem o sistema cardiovascular.
Houve casos do diagnostico tardio da hipertensão arterial nessa comunidade, por
falta de sintomatologia e assiduidade do acompanhamento pós diagnostico da doença,
acarretando complicações graves para alguns indígenas da Aldeia Velha e tornando-se
para EMSI um grande desafio para o combate e controle da doença. A conscientização
que a hipertensão arterial é uma doença que pode sim ser controlada, através das
mudanças no estilo de vida, alimentação saudável, ingesta hídrica e uso correto das
medicações. Essas ações de conscientização são realizadas com frequência pela EMSI
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com auxílio da nutricionista e farmacêutica do poló base indígena de Porto Seguro, que
têm sido de grande relevância para a comunidade no que tange o tratamento e controle
das doenças, em destaque a HAS.
No Brasil foram realizados poucos estudos em relação à hipertensão arterial nas
comunidades indígenas, o que pode ser observado durante o estudo realizado. Segundo
PIERIN et al, 2015 a população indígena brasileira sofreu um impacto perceptível,
resultante da interação do índio com a sociedade não indígena, que comprometeu sua
saúde. A industrialização e urbanização, o que acarretou em alterações nos seus hábitos
de vida, na cultura, no êxodo rural e consequentemente o aumento das DCNT, dentre
elas as cardiovasculares.
A interação da equipe de saúde com a comunidade indígena de atuação, em
destaques: caciques, lideranças, pajé, benzedeira, anciões é de suma importância para
obter discernimento e elaborar estratégias para que suas medidas de tratamento andem
em paralelo com a cultura, crenças e tratamentos tradicionais indígenas. Dessa forma,
pode-se evitar a resistência à medicina fundamentada nos métodos científicos, e se for o
caso adotar a biomedicina como método tático, pois nesse ramo a medicina caminha
paralelamente às formas de intervenção tradicionais utilizados pelas comunidades,
métodos esses com resultados comprovados cientificamente serem eficazes. Há diversos
métodos tradicionais adotados onde pode se constatar a cura do indivíduo, porém essa
eficácia entra em choque com a medicina uma vez que são empíricos.
2. OBJETIVOS
2.1 OBJETIVO GERAL
Desenvolver o planejamento de estratégias que visem colaborar com a
diminuição dos casos de hipertensão sistêmica. Para isso será realizado um
levantamento estatístico na área de atuação (Aldeia Velha), e será planejado ações que
visem a implantação da qualidade na prestação dos serviços de saúde. Dessa forma, a
equipe multidisciplinar de saúde indígena visa prestar um atendimento de qualidade,
com maior eficiência, almejando garantir a excelência da prestação dos serviços tendo
em vista a satisfação do paciente e a melhor forma de alcançar suas metas e objetivos.
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2.2 OBJETIVO ESPECÍFICO
Promover e participar de campanhas relacionadas ao diagnostico e ao tratamento
da hipertensão arterial;
Proporcionar acompanhamento anual especializado aos hipertensos, afim de
tornar o tratamento a essa DCNT mais eficaz;
Elaborar intervenção a outros problemas de saúde que acometem os pacientes
com hipertensão arterial.
3 METODOLOGIA
3.1 O CONTEXTO DA INTERVENÇÃO
Para a realização deste trabalho foi realizado uma investigação por meio de
análises documentais referentes aos problemas que mais acometem a população
indígena da área de atuação, causas e consequências do problema supramencionado por
meio de considerações de cunho histórico e conceitual. Inicialmente, realizou-se uma
pesquisa bibliográfica sobre a história da população indígena, sobre a sua colonização e
a interferência de povos não indígenas na base de sua alimentação. Posteriormente, o
tema qualidade foi estudado com o intuito de efetuar uma análise sobre os
procedimentos adotados para prestação de um serviço de excelência. O entendimento da
história, cultura e crença dos povos indígenas da região, auxilia no trabalho dos
profissionais de saúde. Com isso, será possível driblar uma das barreiras mais difícil de
transpor que é a cultura e crença desses povos as quais entram em conflito com os
métodos de intervenção da EMSI. Foram utilizadas como base de dados bibliografia
impressa (livros) e virtual (revistas e periódicos digitais) entre outros, como análise
qualitativa elaborada relacionada ao tema de interesse e com a finalidade de englobar
informações de publicações cientificas, onde se buscou condensar informações que
possibilitasse o alcance dos objetivos propostos (BEUREN, 2008).
Esse estudo, cuja natureza é uma pesquisa aplicada ao cenário de ação dos
profissionais de saúde, sendo este: Aldeia Velha. Com isso, buscam-se soluções para
problemas concretos enfrentados pela equipe multidisciplinar, atendendo às exigências
da vida cotidiana, indicando alternativas para sua resolução. Para isso, utilizaremos as
ferramentas da qualidade, ou seja, realizaremos o mapeamento do processo e faremos o
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levantamento de indicadores que nos apontem o verdadeiro problema a ser enfrentado
para a DCNT estudada.
A prevenção primária à hipertensão arterial sistêmica é a principal terapêutica no
combate aos fatores de riscos. Nesse processo, o enfermeiro está na linha de frente
como facilitador, buscando empregar técnicas ou medidas que levam a promoção da
educação em saúde, o exercício do auto-cuidado, com a finalidade de conservar
controlada a pressão arterial e também uma assistência de enfermagem mais
humanizada.
A hipertensão não tem cura, mas possui tratamento para ser controlada. Os
problemas identificados pela EMSI são:
1- A falta de sintomas dificulta a identificação da doença, pois o paciente não
procura o posto de saúde por não saber ser portador da DCNT;
2- A necessidade de acompanhamento dos profissionais de saúde para evitar o
abandono do tratamento por parte do paciente causa uma carga excessiva de
trabalho;
3- A falta de conscientização da população para a gravidade da doença leva as
pessoas a não procurarem tratamento ou abandonar o mesmo;
4- O sedentarismo é fator contribuinte para aumento da PA;
5- O consumo de produtos industrializados com alto índice de sódio coopera e
dificulta o tratamento da hipertensão;
6- O consumo excessivo de álcool.
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Ação Recursos Produtos Resultados Indicador Metas Prazos Responsável
Palestras
Cartolina
Sala de Aula
Quadro
Retroprojetor
Computador
Evitar o aumento do
número de casos de
hipertensão
Conscientização da
população sobre os
riscos das DCNT
100%
Evitar o abandono do
tratamento ou uso
incorreto dos
medicamentos
6 meses
Equipe
Multidisciplinar
Disponibilizar 2
dias da semana
para caminhada
2 horas/semana Diminuição dos fatores
de risco
Melhoria na qualidade
de vida dos hipertensos
5,0%/semana Controle das DCNTs
3 meses
Equipe
Multidisciplinar
Convocar
membros da
comunidade para
realizar oficinas
Lideranças
Anciões
Disseminação de
conhecimento cultural
do povo indígena local
para a EMSI
Qualificação dos
profissionais
100%
Aliar o conhecimento
científico à cultura
indígena
3 meses
Equipe
Multidisciplinar
Reuniões com
usuários de álcool
e seus familiares
1 vez ao mês Aconselhar e orientar
quanto aos riscos do
uso dessa droga em
relação a sua saúde
Melhoria na qualidade
de vida dos usuários
100%
Diminui os efeitos que
essa droga causa na
saúde, vida social e
familiar
6 meses
Equipe
Multidisciplinar
-
4. RESULTADOS ESPERADOS
Através dos estudos realizados, balizados nas ferramentas da qualidade, visamos
intervir nos fatores de risco que contribuem para desencadear as doenças crônicas não
transmissíveis, em especial os casos de hipertensão arterial sistêmica para que se possa
diminuir, controlar ou anular as mesmas.
Atingir as metas esperadas não significa necessariamente que um serviço de
qualidade foi prestado, pois é necessário atender as expectativas e necessidades dos
pacientes de forma eficiente, ou seja, não somente eficaz. A satisfação do
cliente/paciente decorrente não somente da solução do seu problema, mas sim de um
atendimento humanizado resultante da visão holística da EMSI. O planejamento e a
forma de organização dos profissionais de saúde no ambiente de trabalho estão
diretamente relacionado com o alcance dos objetivos e metas.
Conseguir um alinhamento estratégico através da liderança, onde toda a equipe
caminha junto de forma coesa e uniforme, é um indício que cada integrante entende o
seu papel e a sua importância, sendo consciente de que todos possuem a mesma missão
independente do seu cargo.
Em analise situacional da saúde em aldeia Velha através de instrumento
institucional sala de situação do ano de 2016 que é preenchido mensalmente, em relação
às doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) a hipertensão arterial acometi 48
indivíduos de uma população de 904 pessoas, podendo-se verificar que em sua maioria
são pessoas na faixa etária entre 35 a 80 anos de idade e em sua maioria do sexo
feminino, obesas, hábitos alimentares inadequados e que não praticam atividade física
de nenhuma natureza. O contato com os não indígenas é uma das portas de entrada para
o agravo da problematização da saúde dessa população, pelo acesso a alimentos
industrializados, uso abusivo de álcool e drogas, fatores esses que trazem uma perda
cultural significativa para essa população.
Adesão ao programa do HIPERDIA é baixo, para que se tenha um
acompanhamento regular e uma assistência de qualidade a esse grupo. Com isso mesmo
em tratamento medicamentoso, a PA desses indivíduos está sempre descompensada e
assim a EMSI tento que realizar visitas domiciliares e busca ativa dos faltosos
mensalmente. Sempre realizamos palestras de prevenção e conscientização do agravo da
hipertensão e outras doenças, para que esses pacientes que fazem o acompanhamento
tenham um compromisso com seu auto-cuidado e saúde.
-
Em alguns relatos de pacientes durante essas palestras e até mesmo no momento
da consulta do hiperdia e que é a reclamação e insatisfação da maioria é que nem
sempre há medicamentos suficientes para todos os pacientes e que isso os deixam
desanimados para voltarem ao posto mensalmente e muitos acabam comprando ou
adquirindo esses medicamentos na farmácia popular do bairro, que encontra-se situado
ao lado da aldeia, acarretando o não comparecimento a unidade.
Analisando os dados estatísticos levantados, constatou-se a doença crônica não
transmissível (DCNT) que mais acometia a população de Aldeia Velha, sendo a mais
comum e em ordem de maior incidência: hipertensão arterial. A DCNT não têm causa
específica, sendo doença de longa duração e, geralmente, de progressão lenta,
ocasionada por múltiplos fatores relacionados que se desenvolvem ao longo da vida.
A hipertensão arterial sistêmica (HAS) é caracterizada por níveis elevados e
sustentados da pressão arterial (PA) ≥ 140/90 mmHg. Os valores de pressão arterial em
indivíduos acima de 18 anos classificam-se em :
Ótima: Pressão sistólica < 120 e Pressão diastólica < 80 Normal:Pressão sistólica < 130 e Pressão diastólica: < 85 Limítrofe:130-139 e Pressão diastólica:85-89 Hipertensão estágio 1: Pressão sistólica: 140-159 e Pressão diastólica: 90-99 Hipertensão estágio 2: Pressão sistólica: 160-179 e Pressão diastólica: 100-109 Hipertensão estágio 3: Pressão sistólica: = 180 e Pressão diastólica = 110 Hipertensão sistólica isolada: Pressão sistólica: = 140 e Pressão diastólica: < 90
Indivíduos que se encontram nos estágios 1, 2 ou 3 necessitam de tratamento,
devendo se dirigir ao posto de saúde de sua área para início do mesmo e controle da PA.
O aumento da taxa de incidência de doenças como a hipertensão arterial e suas
consequências é que se faz necessário um estudo para que se encontrem soluções
plausíveis e necessárias para resolução desses e dos demais problemas de saúde pública
que assolam as comunidades indígenas.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Conclui-se diante das evidências no resultado final do processo que faz-se
necessário ações além da consulta, detecção e prescrição de medicamentos. O
acompanhamento é aliado da equipe multidisciplinar de saúde indígena, bem como a
orientação através do conhecimento transmitido à população por meio de palestras,
campanhas, etc., e prevenção da HAS tendo como norteador para combate os fatores
contribuintes para o desencadeamento das mesmas.
-
Os profissionais da EMSI com foco no cuidado, essencial para profissão, no
decorrer do tempo vêm reunindo esforços para garantir a qualidade dos serviços
prestados à população indígena de modo a se ter uma assistência contínua e
humanizada. Mas, a conscientização e o comprometimento de todos da equipe
multidisciplinar é de suma importância para alcançar os resultados esperados.
-
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BARROSO, et al., Influência da atividade física programa na pressão arterial de idosos
hipertensos sob tratamento não-farmacológico. Revista Associação de Medicina
Brasileira. p. 328-333. Goiás, 2008. Disponível em:
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S010442302008000400018&script=sci_abstract&t
lng=pt
Acessado em: 28/01/2017
BEUREN, I. M. e cols. Como elaborar trabalhos monográficos em contabilidade. Atlas,
São Paulo, v 1, n 3, p. 10-25, 2006.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretária de Politicas de Saúde. Departamento de
Ações Programáticas Estratégicas. Plano de reorganização da atenção à hipertensão
arterial e diabetes mellitus: hipertensão arterial e diabetes mellitus. Brasilia, DF,
2001. Disponível em: http://www.brasil.gov.br/saude/2015/04/hipertensao-atinge-mais-
de-30-milhoes-de-pessoas-no-pais
Acessado em: 25/01/2017.
DÓREA, E. L., LOTUFO, P.A. Epidemiologia da hipertensão arterial sistêmica. 3
ed. Rio de Janeiro. pag. 210, 2004.
KOCHAR, M. S.; WOODS, K. D. Controle da pressão arterial: para enfermeiras e
demais profissionais de saúde. 2 ed. São Paulo, pag. 317, 1990.
PEDREIRA, Hugo P. da Silva. Aldeia Velha, “nova na cultura”: Reconstituição
territorial e novos espaços de protagonismo entre os pataxós. Caderno de Arte e
Antropologia UFBA. Ed. 2. pag. 31-42. Salvador, 2013.
PIERIN, A. M. G., SANTOS, B., FERREIRA, A. A., FILHO, Z. A. S. Artigo de
Revisão: Prevalência de hipertensão arterial em indígenas no Brasil. Rev. Esc.
Enferm. USP; 49 (6):1016-1026. São Paulo, 2015. Disponível em:
http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v49n6/pt_0080-6234-reeusp-49-06-1016.pdf
Acessado em: 01/02/2017
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S010442302008000400018&script=sci_abstract&tlng=pthttp://www.scielo.br/scielo.php?pid=S010442302008000400018&script=sci_abstract&tlng=pthttp://www.scielo.br/pdf/reeusp/v49n6/pt_0080-6234-reeusp-49-06-1016.pdf
-
SMELTZER, S. C, BARE, Brunner & Suddarth: tratado de enfermagem médico-
cirúrgica. 9 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2002.
7. ANEXOS
Quadro 1
FONTE: PORTAL DA SAÚDE
-
Quadro 2
Fonte: Sala de situação da Aldeia Velha/2016
Idade Sexo Masc. Fem. Total
< 6m 04 05 09 6< 1ano 03 02 05
1ano 17 07 24 2anos 09 11 20 3anos 10 12 22 4anos 09 06 15
5 a 6anos 20 21 41 7 a 8 anos 18 27 45
9 anos 19 08 27 10 a 11 anos 30 18 48 12 a 14 anos 25 25 50 15 a 17 anos 30 36 66 18 a 19 anos 33 19 52 20 a 24 anos 47 47 94 25 a 49 anos 169 124 293 50 a 59 anos 26 20 46 >60 anos 25 22 47 Total 494 410 904
-
Quadro 3
Doenças Número de casos
Hipertensão Arterial Sistêmica 48 Fonte: Sala de situação da Aldeia Velha/2016
FIGURA 1
FONTE: PORTAL DA SAÚDE/2014
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