universidade federal da paraÍba departamento … · obtenção do grau de bacharel em...
Post on 14-Jul-2018
221 Views
Preview:
TRANSCRIPT
UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA
Centro de Comunicação, Turismo e Artes
Departamento de Comunicação Social
Habilitação em Jornalismo
Ítalo Rômany de Carvalho Andrade
NEOCORONELISMO NAS ELEIÇÕES DE 2014: ANÁLISE DAS MARCAS
DISCURSIVAS FOLKCOMUNICACIONAIS
João Pessoa
2015
1
Ítalo Rômany de Carvalho Andrade
NEOCORONELISMO NAS ELEIÇÕES DE 2014: ANÁLISE DAS MARCAS
DISCURSIVAS FOLKCOMUNICACIONAIS
Monografia apresentada ao Curso de
Comunicação Social da Universidade Federal
da Paraíba, como requisito final para a
obtenção do grau de Bacharel em
Comunicação Social, habilitação em
Jornalismo.
Orientador: Prof. Dr. Severino Alves de
Lucena Filho
João Pessoa
2015
2
Ítalo Rômany de Carvalho Andrade
NEOCORONELISMO NAS ELEIÇÕES DE 2014: ANÁLISE DAS MARCAS
DISCURSIVAS FOLKCOMUNICACIONAIS
Monografia apresentada ao Curso de
Comunicação Social da Universidade Federal
da Paraíba, como requisito final para a
obtenção do grau de Bacharel em
Comunicação Social, habilitação em
Jornalismo.
Aprovado em: _____/_____/ 2015
BANCA EXAMINADORA
-----------------------------------------------------------------------
Prof. Dr. Severino Alves de Lucena Filho
Orientador
-----------------------------------------------------------------------
Profa. Dra. Suelly Maria Maux Dias
Examinadora
-----------------------------------------------------------------------
Profa. Dra. Zulmira Silva Nóbrega
Examinadora
3
Dedico este trabalho aos meus pais, por terem
me ensinado os grandes valores da vida.
4
AGRADECIMENTOS
Primeiramente a Deus, pela vida e por ter chegado até aqui!
À minha família, pela compreensão e incentivo durante os meus estudos.
Aos meus avós, que me ensinaram a viver através de seus ensinamentos enriquecedores.
Ao professor e orientador Severino Lucena, pela paciência nos nossos encontros e pelo
incentivo dado durante a carreira acadêmica. Um amigo que levo daqui por diante.
A Bento Júnior, modelo que me inspirou desde criança. Nesse ponto não tenho como esquecer
de Monteiro Lobato, que através de sua literatura infantil fez com que eu viajasse sem sair de
casa. Se concluo o curso de Jornalismo é porque devo muito aos dois.
Aos amigos que conheci na UFPB, em especial Marcelo Calabresi, Diógenes Freire, Juliny
Barreto e Richardson Gray. Esses anos não seriam os mesmos sem vocês!
Aos amigos da vida, em destaque Juliana Gondim, irmã que aprendi a conviver nos últimos
tempos e Edilza Detmering, meu “porre” da vida, companheira nas lutas e vitórias.
Aos professores de toda uma formação. Meu agradecimento profundo a cada um! Com
lembranças de Graça Bezerra, Maria da Graça, Ronilson Santos, Thaïs Barbosa, Ritinha,
Suelly Maux, Thiago Soares, Hildeberto Barbosa, Glória Rabay, Zulmira Nóbrega, Lourdes
Berruecos e Arnulfo Gómez.
Ao México e ao povo mexicano, por terem mudado minha visão de mundo!
Aos chefes que viraram amigos, a exemplo de Costa Filho, Jandira Santos, Jailma Simone e
Alberto Black.
A todas as demais pessoas que colaboraram de alguma forma para a minha formação
profissional.
5
El periodismo es una pasión insaciable que sólo
puede digerirse y humanizarse por su confrontación
descarnada con la realidad.
(GABRIEL GARCIA MÁRQUEZ)
6
ANDRADE, Ítalo Rômany de Carvalho. Neocoronelismo nas Eleições de 2014: Análise das
Marcas Discursivas Folkcomunicacionais. UFPB: Monografia (Bacharelado de Comunicação,
habilitação em Jornalismo). 70 p.
RESUMO
O presente trabalho aborda o processo histórico e social do regime coronelista durante a
República Velha (1889-1930) e suas conotações na atualidade através das marcas
folkcomunicacionais. O objetivo é elaborar o perfil do novo coronel a partir da manutenção
do poder sob uma mesma família, tendo como objeto de estudo o discurso proferido pelo
candidato Cássio Cunha Lima (PSDB) durante as eleições para o governo do Estado da
Paraíba, por meio do portal de internet da coligação, colhidos no período de 8 a 21 de
setembro de 2014. O método aplicado é o da teoria da Folkcomunicação, com foco no
Ativismo Midiático, e o da Análise Crítica do Discurso, onde é possível verificar a relação da
população de baixa renda com a eleição, a definição dos grupos marginalizados e as
características de um líder folk dentro do núcleo que domina. Discute-se ainda o Coronelismo
a partir das oligarquias e da influência dos coronéis no processo eleitoral, como também a
fundamentação do Neocoronelismo, abordados a partir dos conceitos e estudos relacionados
com o discurso político. Conclui-se que o Coronelismo ainda é uma prática vigente em nosso
país, dominando o poder não mais pela violência, mas sim pela personalidade construída na
população.
PALAVRAS-CHAVE: Coronelismo. Neocoronelismo. Folkcomunicação. Ativismo.
Nordeste. Poder.
7
ANDRADE, Ítalo Rômany de Carvalho. Neocoronelismo en las elecciones de 2014: Análisis
de las marcas discursivas folkcomunicacionales. UFPB: Monografía (Licenciado en
Comunicación, habilitación en Periodismo). 70 p.
RESUMEN
El presente trabajo aborda el proceso histórico y social del régimen coronelista durante la
República Vieja (1889-1930) y sus connotaciones en la actualidad a través de las marcas
folkcomunicacionales. El objetivo es elaborar el perfil del nuevo coronel a partir de la
manutención del poder bajo una misma familia, teniendo como objeto de estudio el discurso
proferido por el candidato Cássio Cunha Lima (PSDB) durante las elecciones para el gobierno
del Estado de Paraíba, por medio del portal de internet de la coligación, colectados en el
período de 8 a 21 de septiembre de 2014. El método aplicado es de la teoría de la
Folkcomunicación, con foco en el Activismo Mediático, y del Análisis Crítico del Discurso,
donde es posible verificar la relación de la población de poca renta con la elección, la
definición de los grupos marginalizados y las características de un líder folk dentro del núcleo
que él domina. Además, se discute la formación del Coronelismo a partir de las oligarquías y
de la influencia del coronel en el proceso electoral, como también la fundamentación del
Neocoronelismo, aborda a partir de los conceptos y estudios relacionados con el discurso
político. Con los resultados de los análisis, se constata que el Coronelismo todavía es una
práctica vigente en nuestro país, dominando el poder ya no por la violencia, sino por la
personalidad construida en la población.
PALABRAS CLAVE: Coronelismo. Neocoronelismo. Folkcomunicación. Activismo.
Noreste. Poder.
8
9
10
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ACD - Análise Crítica do Discurso
ACM – Antônio Carlos Magalhães
AD – Análise do Discurso
DEM - Democratas
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
FAC – Fundação de Ação Comunitária
Ideb – Índice de Desenvolvimento da Educação Básica
Ipea – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
PEN – Partido Ecológico Nacional
PM – Policia Militar
PMDB – Partido do Movimento Democrático Brasileiro
PMN – Partido da Mobilização Nacional
Pnad – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios
PP – Partido Progressista
PPS – Partido Popular Socialista
PR – Partido da República
PRB – Partido Republicano Brasileiro
PSB – Partido Socialista Brasileiro
PSC – Partido Social Cristão
PSD – Partido Social Democrático
PSDB – Partido Social Democrático Brasileiro
PSDC – Partido Social Democrata Cristão
PT – Partido dos Trabalhadores
PT do B – Partido Trabalhista do Brasil
PTB – Partido Trabalhista Brasileiro
PTN – Partido Trabalhista Nacional
Sabs- Sociedades de Amigos de Bairros
SDD - Solidariedade
Sindifisco-PB - Sindicato dos Servidores Fiscais Tributários da Paraíba
STF – Supremo Tribunal Federal
Sudene – Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste
11
TCE – Tribunal de Contas do Estado
TRE – Tribunal Regional Eleitoral
TSE – Tribunal Superior Eleitoral
UEPB - Universidade Estadual da Paraíba
12
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Concepção da Folkcomunicação........................................................................... 25
13
LISTA DE TABELAS
Tabela 1- Divisão dos textos do portal da coligação A Vontade do Povo por temáticas e
quantidades ............................................................................................................................... 60
14
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1- Abordagem geral das matérias a partir das porcentagens ...................................... 60
15
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 16
1.1 JUSTIFICATIVA .............................................................................................................. 18
1.2 PROBLEMÁTICA ............................................................................................................ 20
1.3 OBJETIVOS ...................................................................................................................... 22
1.3.1 Objetivo Geral ............................................................................................................... 22
1.3.2 Objetivos Específicos ..................................................................................................... 22
1.4 METODOLOGIA ............................................................................................................. 22
1.4.1 Procedimentos ................................................................................................................ 22
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ...................................................................................... 23
2.1 FOLKCOMUNICAÇÃO.................................................................................................... 24
2.1.1 Grupos Marginalizados ................................................................................................. 26
2.1.2 Ativismo Midiático ........................................................................................................ 27
2.2 CORONELISMO NO NORDESTE ................................................................................... 29
2.2.1 Formação Histórica ....................................................................................................... 29
2.2.2 Líder Político .................................................................................................................. 32
2.3 NEOCORONELISMO ...................................................................................................... 34
2.3.1 Famílias Oligárquicas no Nordeste .............................................................................. 37
2.4 DISCURSO ........................................................................................................................ 38
2.4.1 Análise do Discurso (AD) .............................................................................................. 38
2.4.2 Análise Crítica do Discurso (ACD) .............................................................................. 40
2.4.3 Discurso Político ............................................................................................................ 41
3 ANÁLISE DAS MARCAS DISCURSIVAS FOLKCOMUNICACIONAIS E
NEOCORONELISTAS .......................................................................................................... 44
3.1 TRAJETO POLÍTICO DO GRUPO CUNHA LIMA ........................................................ 44
3.1.1 Ronaldo Cunha Lima .................................................................................................... 44
3.1.2 Cássio Cunha Lima ....................................................................................................... 46
3.2 MARCAS FOLKCOMUNICACIONAIS .......................................................................... 48
3.2.1 Relação com os excluídos .............................................................................................. 48
3.2.2 Grupos Marginalizados ................................................................................................. 51
3.2.3 Caravanas ....................................................................................................................... 53
3.3 MARCAS NEOCORONELISTAS .................................................................................... 54
3.3.1 Críticas ao adversário ................................................................................................... 55
3.3.2 Apoios Políticos .............................................................................................................. 57
3.3.3 Tipo de Coronel ............................................................................................................. 59
3.3.4 Panorama Geral ............................................................................................................. 59
3.4 PERFIL DO NOVO CORONEL ........................................................................................ 62
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................. 65
5 REFERÊNCIAS .................................................................................................................. 68
16
1 INTRODUÇÃO
A cada dois anos, a população brasileira vai às urnas eleger os seus representantes nas
eleições. É um momento de reflexão e de mudanças, já que estamos escolhendo os rumos que
o país deve tomar a partir desse momento, levando em consideração as melhores propostas
que possam resolver problemas e trazer soluções. Entretanto, mesmo vivendo em uma
democracia, enfrentamos desafios que foram combatidos no passado e que continuam se
perpetuando de outras formas, iludindo principalmente os mais carentes, como o
Coronelismo, política controlada e comandada pelos coronéis no início do regime republicano
e que se enfeita nos dias de hoje de forma mais sutil; é o chamado Neocoronelismo
(neo=novo), objeto de estudo deste trabalho.
O escritor Ariano Suassuna (1990) exemplificou bem o conceito do que era o
Coronelismo, através da influência do poder e dos favores. No livro Auto da Compadecida, o
coronel Antônio Morais é temido por todos, inclusive pelos religiosos da cidade de Taperoá-
PB. João Grilo, personagem principal da obra, tenta convencer o padre a benzer o cachorro da
mulher do padeiro em latim. Quando a história chega aos ouvidos do padre João, ele recusa a
ideia, principalmente porque o Bispo está na cidade. João Grilo, então, decide mudar os fatos
e, para não perder o dinheiro que a mulher do padeiro prometeu, convence o padre ao afirmar
que o cachorro era, na verdade, de Antônio Morais. Na mesma hora, o sacerdote resolve
mudar de opinião.
Suassuna conseguiu definir o conceito do Coronelismo de uma forma bem cômica,
mas que na realidade ocorria muito pior, já que foi um fenômeno político e social contra o
processo da democratização, durante um tempo em que a sociedade era predominantemente
rural. Um exemplo era o voto de cabresto, onde os coronéis compravam votos para seus
candidatos, trocavam por bens materiais, pares de sapatos, óculos, alimentos, dentaduras,
tijolos etc., ou mandavam capangas para os locais de votação, com o objetivo de intimidar os
eleitores, principalmente aqueles que não sabiam ler e escrever ou dependiam desses coronéis.
As regiões controladas politicamente por esse regime eram conhecidas como currais
eleitorais.
[...] Completamente analfabeto, ou quase, sem assistência médica, não lendo jornais,
nem revistas, nas quais se limita a ver figuras, o trabalhador rural, a não ser em
casos esporádicos, tem o patrão na conta do benfeitor. E é dele, na verdade, que
recebe os únicos favores que sua obscura existência conhece. Em sua situação, seria
ilusório pretender que esse novo pária tivesse consciência do seu direito a uma vida
melhor e lutasse por ele com independência cívica (LEAL, 1986, p. 25).
17
De fato, os tempos do Coronelismo não existem mais, isso falando do conceito
propriamente dito. Entretanto, mesmo em pleno século XXI e com predominância1 de uma
sociedade urbana, o sistema “coronelista” funciona nos dias de hoje através do uso dos meios
de comunicação, das promessas falsas, da compra de votos por uma cesta básica ou por um
emprego. São os pobres deste país, principalmente a população do interior nordestino, os mais
marginalizados nesse processo.
A partir dessa questão, o gancho que este trabalho propôs perpassa por um tópico
dentro da teoria estudada por Luís Beltrão, na Folkcomunicação, que é o líder de opinião
como agente de comunicação social, líder folk ou ativista midiático (conceito que será
amplamente discutido no decorrer dessa monografia) e como o papel exercido pelo
“neocoronel” está ligado com as práticas desse tipo. Em outras palavras, como a audiência
folk, formada por grupos marginalizados da sociedade, percebe e se identifica com a postura
de tal candidato. As campanhas políticas veiculadas nos meios de comunicação têm esse
papel e são capazes de conquistar o eleitorado e fixar a imagem do postulante em suas
cabeças.
Dentro desse contexto, propusemos analisar as marcas discursivas dos “neocoronéis”,
através do portal da coligação “A Vontade do Povo”, representada pelo candidato ao Governo
do Estado da Paraíba Cássio Cunha Lima, nas eleições de 2014, a partir das características da
Folkcomunicação e do Ativismo Midiático.
A seguir apresentamos a justificativa de escolha da temática, como também sua
problemática, objetivos, além da metodologia que foi usada para a realização da monografia e
os procedimentos utilizados em cada etapa; no capítulo seguinte, abordamos a
Folkcomunicação e o Ativismo Midiático, discutindo essas teorias a partir de uma enfática
social; logo após, trazemos uma discussão histórica sobre o Coronelismo e o Neocoronelismo,
com enfoque na região Nordeste do país, fazendo uma contraposição entre o passado e o
presente, a partir dos exemplos que foram discutidos para esclarecer as diferenças entre o
sistema político antigo com as práticas neocoronelistas. Ainda nesse tópico discutimos
também a definição e o uso do discurso como elemento dos debates sociais e econômicos, a
partir das teorias da Análise do Discurso (AD) e da Análise Crítica do Discurso (ACD),
trazendo ao debate o uso das emoções no meio político.
1 Censo 2010: População urbana sobe de 81% para 84%. Disponível em:
<http://fernandonogueiracosta.wordpress.com/2010/11/29/censo-2010-populacao-urbana-sobe-de-8125-para-
8435/>. Acesso em: 15 out. 2014.
18
No capítulo três, analisamos o objeto de estudo da pesquisa, apresentando o perfil do
neocoronelista a partir da ênfase do líder folk, fazendo um contraponto com o histórico da
família Cunha Lima, como também da análise das falas de Cássio, debatendo os sentidos
presentes nos textos. As marcas discursivas folkcomunicacionais foram importantes para
entender o papel exercido por esse novo coronel e na elaboração de seu perfil com as
características marcantes da campanha. Por fim, as conclusões obtidas e uma avaliação geral
sobre a problemática do tema exposto.
1.1 JUSTIFICATIVA
O Nordeste Brasileiro, mesmo sendo uma região em crescimento, ainda enfrenta
problemas em diversas áreas, como, por exemplo, na educação.2 O Coronelismo, muitas vezes
vivido pela literatura como reflexo de um tempo não democrático dentro do Brasil, vive ainda
de forma mais sutil, através das gerações das famílias, dos meios de comunicação, do
clientelismo. Mudam-se somente os personagens, mas a história continua se prologando e
rodeando os mais pobres deste país.
Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea 2013),3 5,8 milhões de
nordestinos vivem abaixo da linha da pobreza extrema, sobrevivendo com a renda mensal de
até R$ 77, valor limite traçado pelo governo federal. Na Paraíba, por exemplo, 8,17% da
população está nessa situação. Já de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE 2011),4 o Nordeste concentra 52,7% do total de analfabetos do Brasil. O
estudo aponta ainda que 12,9 milhões de brasileiros com mais de 15 anos de idade não sabem
ler nem escrever. Destes, 6,8 milhões estão na região Nordeste, que tem taxa de analfabetismo
de 16,9%, quase o dobro da média nacional, de 8,6%.
Nesse contexto, a Folkcomunicação possibilitou ampliar os conteúdos e
conhecimentos acerca do tema proposto,
já que é uma teoria da comunicac ão, elaborada a partir da relação da teoria da
comunicac ão com a teoria social brasileira, e emerge no Brasil da década de 1960,
2 Norte e Nordeste têm 4 anos de atraso em relação ao Sul e Sudeste na educação. Disponível em:
<http://noticias.universia.com.br/atualidade/noticia/2013/04/17/1017495/norte-e-nordeste-tem-4-anos-atraso-em-
relaco-ao-sul-e-sudeste-na-educaco.html>. Acesso em: 16 out. 2014. 3 Nordeste é única região onde miséria caiu em 2013; Sudeste tem maior alta. Disponível em:
<http://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2014/11/06/nordeste-e-unica-regiao-onde-miseria-caiu-em-
2013-sudeste-tem-maior-alta.htm>. Acesso em: 23 nov. 2014. 4 Nordeste concentra 59% da população em extrema pobreza, diz IBGE. Disponível em:
<http://www1.folha.uol.com.br/poder/913829-nordeste-concentra-59-da-populacao-em-extrema-pobreza-diz-
ibge.shtml>. Acesso em: 23 nov. 2014.
19
num contexto sócio-politico de repressão, problemas sociais como baixa renda per
capita, alto indice de analfabetismo e, também, problemas relacionados a formac ão
jornalistica e a prática da profissão (AMPHILO, 2012, p.18-19).
Já o candidato ao Governo do Estado da Paraíba pelo PSDB, Cássio Rodrigues da
Cunha Lima, foi escolhido por dois motivos: primeiro, por ser um dos representantes políticos
da família dos Cunha Lima, a exemplo do seu pai, o ex-governador Ronaldo Cunha Lima, e
do Coronel Zé Cunha Lima,5 muito conhecido no município de Areia-PB por manter o
controle da cidade, elegendo deputados e prefeitos na região; segundo, por ser identificado na
Paraíba como uma liderança folk, devido ao seu prestígio em seu grupo político, pois “[...]
age motivado pelos seus interesses e do grupo social ao qual pertence na formatação das
práticas simbólicas e materiais das culturas tradicionais e modernas.” (TRIGUEIRO, 2008, p.
49). Cássio foi superintendente da Sudene,6 prefeito de Campina Grande, deputado federal,
senador e governador (cargo no qual foi cassado em 2007,7 por irregularidades cometidas
durante a campanha de sua reeleição, em 2006). Em 2014, foi novamente candidato ao
Governo da Paraíba, após romper politicamente com o então governador Ricardo Coutinho,
do Partido Socialista Brasileiro (PSB). O tucano8 acabou perdendo as eleições no 2º turno,
obtendo 47,39% dos votos válidos.
Pelo lado da política, podemos considerar que um ativista é aquele que luta por uma
causa. Mas, acima de tudo, é um líder que evoca em seu grupo sentimentos capazes de
levantar bandeiras, de criar ferramentas para lutar pelo propósito, de defender aquilo que
acreditam. Infelizmente, em boa parte dos casos, ao se elegerem em algum cargo, esses
mesmos líderes mudam, desistem do objetivo ou não conseguem o apoio que precisam.
O deputado estadual Toinho do Sopão, por exemplo, utilizava a sopa doada no Parque
Solon de Lucena, em João Pessoa, como forma de conquista de votos e o apoio dos
comerciantes informais do Centro, tornando-se líder dessa categoria.9 No final das contas,
5 Major Cunha Lima, o “barbado” de Areia. Disponível em:
<http://trilhasdeareia.blogspot.com.br/2010/02/major-cunha-lima-o-barbado-de-areia.html>. Acesso em: 22 out.
2014. 6 Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste. 7 TSE cassa mandato do governador da Paraíba, Cássio Cunha Lima. Disponível em:
<http://wh3.com.br/noticia/34317/tse-cassa-mandato-do-governador-da-paraiba-Cássio-cunha-lima.html>.
Acesso em: 16 out. 2014. 8 Tucano é o termo usado para os filiados do Partido Social Democrático Brasileiro, o PSDB. 9 ANDRADE, I. R. C; FEITOSA, Y. H. S. ; LUCENA FILHO, S. A. ; GADELHA, F. G.. SOPÃO DA
SOLIDARIEDADE: Elemento folkcomunicacional do ativismo social e político. In: XVI CONFERÊNCIA
BRASILEIRA DOS ESTUDOS DA FOLKCOMUNICAÇÃO E DESENVOLVIMENTO LOCAL, 2013,
Juazeiro do Norte. GT3: Conteúdos de Folkcomunicação Comunicação Científica, 2013. Disponível em:
<https://drive.google.com/folderview?id=0BykpCRHBEOq2MGhUSFRub1ZJU2M&usp=sharing&tid=0BykpC
RHBEOq2RjU2blFlVDUwNE0>. Acesso em: 11 jan. 2015.
20
acabou sendo eleito em 2010 como o mais votado das urnas, cujo mesmo feito político não
ocorreu em 2014, onde, ao tentar a reeleição, não conseguiu votos suficientes para continuar
no cargo. Uma de suas críticas foi a falta de apoio do governo com os seus projetos, por estar
na oposição.
Já a escolha da internet para análise dos textos do candidato Cássio Cunha Lima foi
devido ao crescimento desse meio de comunicação no Brasil. Segundo dados da Pesquisa
Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad 2013),10 um pouco mais da metade da população
já possui acesso à internet, fazendo com que ela seja um forte canal de informação e
entretenimento, depois da televisão. Além disso, é no portal oficial da coligação que o
internauta encontrava notícias, agenda de comícios, jingles da campanha, perfil do candidato,
entre outros, facilitando as relações entre o eleitor e o político.
O presente trabalho analisa as marcas discursivas do Neocoronelismo nas eleições de
2014, estudando as problemáticas do Nordeste a partir de uma ênfase histórica, social e
política, através das marcas folkcomunicacionais, partindo do pressuposto do Ativismo
Midiático. Com isso, este trabalho contribui com os estudos do Coronelismo no país, temática
pouco discutida em nossa sociedade nos dias de hoje. Além disso, a escolha se deu também
pelo gosto pessoal com o jornalismo político e sua função essencial na sociedade, o de
resgatar e entender os contextos sociais a partir de uma abordagem política, fugindo do
conceito da “politicagem”, ou seja, das brigas partidárias, das discussões sobre cargos em
governos, dos escândalos que envergonham uma sociedade etc. Jornalismo esse que ajudou
também na busca de informações sobre a temática exposta, na elaboração das análises e na
interpretação final obtida com os resultados deste trabalho. Nisso se configura sua
importância maior, que o justifica.
1.2 PROBLEMÁTICA
Quando falamos de Nordeste, principalmente na mídia, vem à mente o pau-de-arara, a
seca, o chão rachado, o analfabetismo e a imigração. É uma correlação que foi, por muitos
anos, imposta para a região, mesmo com a existência dos mesmos problemas no Sudeste, por
exemplo. Não podemos esquecer o preconceito existente com o sotaque (não pelo próprio
som, mas o que há por trás disso, ou seja, o processo histórico, cultural e econômico) e com a
10 Mais da metade da população tem acesso à internet, aponta a Pnad. Disponível em:
<http://tecnologia.uol.com.br/noticias/redacao/2014/09/18/mais-da-metade-da-populacao-tem-acesso-a-internet-
aponta-a-pnad.htm>. Acesso em: 23 nov. 2014.
21
presença dos “paraibas” nas ruas das cidades “sudestinas”. “O nordestino sofrerá muitos dos
preconceitos de que é vítima por estar associados a estas imagens e a estes tipos: o nordestino
será visto, quase sempre, como sendo um retirante, um flagelado ou um cangaceiro em
potencial.” (ALBUQUERQUE, 2007, p. 89).
Infelizmente, o nordestino ainda é mostrado nos noticiários como alguém que não tem
condições financeiras, que vive em casas de taipa, que não tem uma educação de qualidade,
entre outros. O que é visto é o anormal, o diferente, o que chama a atenção de todos. De
acordo com o ponto de vista defendido pelo sociólogo Bourdieu (1997, p.159), “o individuo
nada mais é do que o resultado de sua interação com o meio em que vive. Logo, se este
indivíduo reside em uma localidade desfavorecida, as chances de ascensão social do sujeito
serão muito reduzidas, restando a ele continuar a lógica do espaço.”
O Coronelismo foi um retrato social deste país. Entretanto, foi no Nordeste que ele se
ampliou e se fortaleceu, em uma época onde o meio rural predominava sobre o cenário
urbano, atuando “[...] no reduzido cenário do governo local. Seu habitat são os municípios do
interior, o que equivale a dizer os municípios rurais, ou predominantes rurais; sua vitalidade é
inversamente proporcional ao desenvolvimento das atividades urbanas, como sejam o
comércio e a indústria.” (LEAL, 1986, p. 251).
Quando retrocedemos no tempo e voltamos, por exemplo, para as décadas de 1910,
1920 e 1930, encontramos um outro cenário, em comparação com o de hoje, onde a
expectativa de vida, por exemplo, não passava dos 36 anos.11 E no passar do tempo, vemos
que determinados índices sociais melhoraram, porém diversos fatores socioeconômicos
continuam fazendo parte dos problemas, não só do Nordeste, mas do país inteiro.
Ao trazer à tona esta problemática, nossa proposta é discutir e ampliar o debate sobre a
temática no contexto folkcomunicacional, contribuindo com os avanços sociais através de um
processo histórico e ao mesmo tempo econômico, já que são elementos que estão ligados
diretamente.
11 Expectativa de vida ao nascer no Nordeste. Disponível em: <http://dssbr.org/site/2013/07/expectativa-de-
vida-ao-nascer-no-nordeste/>. Acesso em: 22 out. 2014.
22
1.3 OBJETIVOS
1.3.1 Objetivo Geral
Traçar o perfil do novo coronel tendo como suporte o processo discursivo
folkcomunicacional.
1.3.2 Objetivos Específicos
Promover um levantamento histórico sobre o Coronelismo no Nordeste;
Analisar as formas folkcomunicacionais e neocoronelistas utilizadas pelo candidato
Cássio Cunha Lima nas eleições de 2014;
Discutir a problemática a partir de uma abordagem política e econômica, que ainda
afeta a região Nordeste, contribuindo com os estudos sociais sobre a temática no país.
1.4 METODOLOGIA
1.4.1 Procedimentos
O presente trabalho se fundamenta basicamente através de pesquisa bibliográfica, feita
a partir do levantamento de referências teóricas já analisadas, e publicadas por meios
escritos e eletrônicos, como livros, artigos científicos, páginas de web sites.
Qualquer trabalho científico inicia-se com uma pesquisa bibliográfica, que permite
ao pesquisador conhecer o que já se estudou sobre o assunto. Existem porém
pesquisas científicas que se baseiam unicamente na pesquisa bibliográfica,
procurando referências teóricas publicadas com o objetivo de recolher informações
ou conhecimentos prévios sobre o problema a respeito do qual se procura a resposta
(FONSECA, 2002, p.31-32).
Sendo assim, ela foi desenvolvida nas seguintes etapas:
- Leitura e fichamento de livros e textos. Em relação à Folkcomunicação, trabalhamos
com Beltrão (1980) e Benjamim (2000), para entender melhor a teoria e conhecer os grupos
marginalizados, e com Trigueiro (2008), para auxiliar nos questionamentos sobre o Ativismo
Midiático; no Coronelismo, fizemos um “passeio” histórico na sua formação, desde as
Capitanias Hereditárias até chegar nos tempos do Neocoronelismo. Para ajudar nesse tópico,
23
buscamos autores como Barbalho (2007), Leal (1986), Martins (1981), Pang (1979) etc.; por
último, para compreender o conceito de discurso, através da Análise Crítica do Discurso,
pesquisamos Charaudeau (2007), Foucault (1999) e Orlandi (2005);
- Arquivamento dos principais textos retirados do site do candidato Cássio Cunha
Lima (www.cassio45.com.br), no período de 8 a 21 de setembro de 2014 (a escolha pelas
datas se deu por causa da proximidade com a data da realização do 1º turno das eleições, que
ocorreu no dia 5 de outubro). Como foram analisados somente os textos das manchetes
principais, outros meios e canais foram excluídos, a exemplo dos jingles, agenda, vídeos etc.;
- Análise crítica do discurso político do candidato escolhido e identificação das marcas
discursivas folkcomunicacionais. A estrutura usada foi a mesma de Trigueiro (2008), no livro
“Folkcomunicação e Ativismo Midiático”, colocando o titulo da matéria e o trecho do
discurso analisado, como no exemplo a seguir:
Título: Carreata: Cássio é aclamado como campeão de votos
Texto: “O povo nas ruas quer ver Cássio novamente governando a Paraiba e com
muito mais que um milhão de amigos”, destacou Ruy, entusiasmado, observando
que a vontade do povo está expressa, nas fotos, cartazes, faixas, e na divulgação do
número 45 e na longa fila de carros, que se formou na principal via de acesso à zona
sul (Portal do Candidato, 21 set. 2014).
- Elaboração do perfil do neocoronel, a partir dos resultados obtidos através da análise
do discurso, ou seja, as estratégias utilizadas para obtenção dos votos, o público-alvo etc.
Nesse caso, foram analisados a temática de cada notícia, ou seja, se foram sobre promessas,
ataques aos adversários, recebimento de apoios etc. No final, a elaboração de gráficos trouxe
um panorama mais abrangente do exercício desse novo coronel;
- Considerações finais com os resultados das análises.
24
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Na fundamentação teórica, buscamos compreender os conceitos e as teorias usadas
neste trabalho a partir de uma ênfase social. Em relação ao processo histórico, consideramos
importante, porém para situar a temática em um tempo cronológico, parte do processo de
construção da narrativa temporal, e não como análise para compreensão dos resultados
obtidos na pesquisa. Sendo assim, dividimos este capítulo nos seguintes tópicos:
Folkcomunicação, Coronelismo no Nordeste, Neocoronelismo, e, por último, Discurso.
2.1 FOLKCOMUNICAÇÃO
A Folkcomunicação surgiu a partir dos estudos do pesquisador Luiz Beltrão, através
da tese de doutorado intitulada “Folkcomunicação: um estudo dos agentes e meios populares
de informação de fatos e expressão de ideias”, defendida em 1967. Beltrão queria entender as
diversas formas de comunicação fora do sistema convencional. Ou seja, como cordéis, por
exemplo, eram usados em uma relação interpessoal no cotidiano. Nascia dessa forma uma
nova área de estudos da comunicação no Brasil, contribuindo com a valorização de elementos
antes esquecidos, abrangendo inclusive aqueles que não possuíam acesso aos meios de
comunicação de massa, já que ela “passa a estudar as brechas deixadas de lado pelos
investigadores de comunicação, que até então ignoravam ou não tinham percebido a função
dos comunicadores folk nas redes de comunicações cotidianas.” (TRIGUEIRO, 2008, p.35).
Benjamim (2000, p. 15) explica que a Folkcomunicação é uma relação mútua entre as
diversas manifestações da cultura popular e a comunicação de massa, em suas abordagens de
identificação com o meio e apropriação do folclore. Em outras palavras, o próprio Beltrão
(2001, p. 73) conceitua a Folkcomunicação como “um processo de intercâmbio de mensagens
através de agentes e meios ligados direta ou indiretamente ao folclore e, entre as suas
manifestações, algumas possuem caráter e conteúdo jornalistico.”
De fato, a Folkcomunicação é a interação entre cultura popular com o modo social,
econômico e político, através dos anseios de uma população que muitas vezes é esquecida
pela grande mídia; é o cordel, que simboliza as histórias folclóricas que passam de geração
em geração; são as rádios comunitárias (ou piratas) que muitas vezes levam informações às
áreas marginalizadas; são os “rolezinhos”, reuniões de jovens da periferia em grandes centros
comerciais. Enfim, qualquer forma de expressão popular pode ser considerada um elemento
folkcomunicacional.
25
Em outras palavras, a Folkcomunicação é, por natureza e estrutura, um processo
artesanal e horizontal, semelhante em essência aos tipos de comunicação
interpessoal já que suas mensagens são elaboradas, codificadas e transmitidas em
linguagens e canais familiares à audiência, por sua vez conhecida psicológica e
vivencialmente pelo comunicador, ainda que dispersa (BELTRÃO, 1980, p. 28).
Em um quadro, Benjamim (2000) concebe a Folkcomunicação da seguinte maneira:
Quadro 1 - Concepção da Folkcomunicação
TÓPICOS ÁREA DE ESTUDOS
1 A comunicação (interpessoal e grupal) ocorrente
na cultura folk.
Produção/Mensagem
2 A mediação dos canais folk para a recepção da
comunicação de massa.
Recepção
3 A apropriação de tecnologias da comunicação de
massa e o uso dos canais massivos por portadores
da cultura folk.
Produção
4 A presença de traços da cultura de massa
absorvidos pela cultura folk.
Recepção/Efeitos
5 A apropriação de elementos da cultura folk pela
cultura de massa e pela cultura erudita (projeção do
folclore).
Produção/Efeitos da mensagem
6 A recepção na cultura folk de elementos de sua
própria cultura reprocessados pela cultura de
massa.
Recepção/Efeitos
Fonte: BENJAMIM, Roberto Emerson Câmara. Folkcomunicação no contexto de massa. João Pessoa: Editora
Universitária/UFPB, 2000.
A partir desse quadro verificamos que a Folkcomunicação é abordada através das
relações existentes dentro de um mesmo grupo, sejam nas trocas de informações, no contato
realizado com o líder etc. Existe aí um intercâmbio de ideias, principalmente entre os meios
de comunicação de massa e a cultura folk, reconhecidos pela absorção de elementos que
pertencem a cada uma delas, como os modismos na linguagem verbal, influenciando no modo
de vida de cada grupo.
Dessa forma, para que exista de fato uma Folkcomunicação, são necessários alguns
elementos imprescindíveis, a exemplo de um mediador que faça a comunicação e a
apropriação da cultura folk, como também a presença de canais que possam transmitir as
mensagens folkcomunicacionais. No cordel os poetas populares são os líderes de opinião, que
exercem uma influência pessoal, mediando a aceitação ou rejeição do canal folk.
26
Isso faz com que a Folkcomunicação seja uma área abrangente, não só no Brasil, mas
em qualquer lugar onde exista uma comunicação interpessoal, transmitidos por gerações e
séculos, que perpassam todas as funções da comunicação, pois
preenche o hiato, quando não o vazio, não só da informação jornalística como de
todas as demais funções da comunicação: educação, promoção e diversão, refletindo
o viver, o querer e o sonhar das massas populares excluídas por diversas razões e
circunstâncias do processo civilizatório, e exprimindo-se em linguagem e códigos
que são um desafio ao novo e já vigoroso campo de estudo e pesquisa da Semiologia
(BELTRÃO, 1980, p.26).
2.1.1 Grupos Marginalizados
Estudar as crenças populares, os mitos, os desenhos e grafites espalhados pelos muros
das cidades grandes, entre outros elementos, é de fato um resgate cultural e social de setores
muitas vezes marginalizados pela sociedade. A Folkcomunicação é, acima de tudo,
expressões do cotidiano, impregnadas em grupos do meio social e econômico, divididos por
Beltrão (1980, p. 40) em três categorias:
1 Os grupos rurais marginalizados, sobretudo devido ao seu isolacionismo
geográfico, sua penúria econômica e baixo nível intelectual.
2 Os grupos urbanos marginalizados, compostos de indivíduos situados nos
escalões inferiores da sociedade, constituindo as classes subalternas,
desassistidas, subinformadas e com mínimas condições de acesso.
3 Os grupos culturalmente marginalizados, urbanos ou rurais, que representam
contingentes de contestação aos princípios, à moral ou à estrutura social vigente
(grifo do autor).
No primeiro grupo fazem parte os habitantes que não possuem acesso aos meios de
comunicação de massa ou os analfabetos, que em geral vivem em localidades distantes das
grandes cidades; no segundo, são indivíduos que possuem cargos que não se exige
especialização, como pedreiros, domésticas, garis. Também fazem parte os aposentados,
prostitutas, presidiários etc.; no último, encontramos líderes que são marginalizados por
contestarem as regras vigentes e estabelecidas, seja na religião, na sociedade ou na política,
como foram os cangaceiros.
Desse modo, os grupos excluídos possuem características diferentes, de acordo com a
localidade ou classe que pertencem. No meio urbano, por exemplo, os garis são vistos como
pessoas excluidas por trabalharem com o “imundo”, com o lixo. No final das contas são
“invisiveis” perante a sociedade.
27
Dentro desse contexto, buscamos encontrar esses grupos na análise dos textos dos
materiais recolhidos do portal do candidato Cássio Cunha Lima, como forma de saber o
público-alvo que o político buscava para conquista dos votos na eleição.
2.1.2 Ativismo Midiático
Um dos tópicos que os pesquisadores estudam dentro da área da Folkcomunicação é o
ativismo midiático ou líder folk. Esses termos foram essenciais para a compreensão dos
resultados que foram obtidos do material recolhido para análise dessa monografia.
O agente folk ou o agente-comunicador tem a capacidade de conhecer, conviver e
sensibilizar no meio popular, tendo seus conhecimentos alargados pelo seu contato fora do
grupo que participa. É a pessoa chave, o que transmite as ideias e os conceitos dentro do seu
“ninho”, tornando-se muitas vezes um ídolo, despertando a admiração e o respeito nas pessoas
que o cerca. Para Beltrão (1980, p.36), a “ascensão a liderança está intimamente ligada à
credibilidade que o agente-comunicador adquire no seu ambiente e à sua habilidade de
codificar a mensagem ao nivel do entendimento de sua audiência.”
No dicionário,12 a palavra ativismo significa uma “doutrina ou uma prática que
preconiza ação política vigorosa e direta.” De forma objetiva, o ativista midiático é aquele que
tem liderança dentro de um grupo, onde a comunicação utilizada é traduzida por seus ideais e
conceitos. No lado da política, por exemplo, podemos considerar um líder folk aquele que luta
por uma causa, mesmo que, em muitos casos, ao se eleger em algum cargo, esse mesmo
agente mude ou desista de seus ideais. “São individuos decididos a manter estruturas de
dominação e opressão vigentes ou revolucionar a ordem política e social em que se
fundamentam as relações entre os cidadãos [...]” (BELTRÃO, 1980, p.104).
Trigueiro (2008, p.47) conceitua o ativista como
[...] um militante que organiza, planeja a participação de outros nos movimentos,
que se posiciona a favor ou contra de determinada situação, domina diversos
conhecimentos, dá primazia a ações que comportam diferentes graus de definições, é
um propagador de ideias [...]
Se pudéssemos resumir o papel do ativista midiático em uma só palavra, ela seria
“propagadora”, pois o agente folk é aquele que possui os conhecimentos necessários para
transmitir as informações ao grupo, para que seja entendida e absorvida pela maioria, esta que
12 FERREIRA, A. B. H. Aurélio século XXI: o dicionário da Língua Portuguesa. 3. ed. rev. e ampl. Rio de
Janeiro: Nova Fronteira, 1999.
28
o concebe como um líder. Como falamos no item anterior deste capítulo, a Folkcomunicação
só pode existir se vários elementos funcionarem ao mesmo tempo, como a imagem e
organização do agente folk, pois o seu papel é “minimizar as divergências através dos
diálogos, gerar situações que possam viabilizar na estrutura social do seu grupo, as
interligações cirúrgicas dos vasos comunicantes, restabelecendo, na medida do possível, a
compreensão e a solidariedade” (TRIGUEIRO, 2008, p.55).
Citamos, como exemplo de líder folk, Frei Damião. Missionário, natural de Bolzano,
Itália, era um peregrinador, conhecido no Nordeste pelo seu carisma. Por exemplo, quando ele
chegava em um determinado lugar, “[...] por mais que pequena, sua fama de pregador e de
santo o antecede e a audiência se multiplica aos milhares, como gentes vindas de longe para
ouvi-lo, vê-lo e tocá-lo.” (BELTRÃO, 1980, p.138). Dentre as histórias que se escutam no
meio popular, Frei Damião (que levava milhares de pessoas às ruas para, principalmente,
escutar os seus sermões) quando andava, não tocava o chão; ele flutuava.
Há também ativistas midiáticos que usam meios de comunicação popular para
transmitir seus ideais e pensamentos, com o objetivo de “[...] manter atualizado o seu papel de
ator social no seu grupo de convivência, operando com as ofertas do mundo ficcional e do
mundo real midiatizados” (TRIGUEIRO, 2008, p. 108). É o exemplo do ex-deputado estadual
Toinho do Sopão, que se elegeu em 2010 por causa das sopas doadas por ele no Centro de
João Pessoa. Durante o seu mandato, utilizava pequenos quadrinhos de desenhos para mostrar
os diversos trabalhos que o deputado estava realizando em seu mandato legislativo.
Não importa se o líder folk seja religioso, político, cultural ou de outra área; para
identificá-lo, é preciso observar suas características de liderança e sua capacidade de
interpretar certas informações, transmitidas tanto por meios de folk quanto por veículos de
massa. E só existirá uma audiência folk se houver uma comunicação de retorno direto entre os
meios de comunicação de folk e a audiência dos líderes de opinião, que são caracterizados e
identificados pelos seguintes motivos:
1) Prestígio na comunidade, independentemente da posição social ou da situação
econômica, graças ao nível de conhecimentos que possui sobre determinado(s)
tema(s) e à aguda percepção de seus reflexos na vida e costumes de sua gente; 2)
exposição às mensagens do sistema de comunicação social, participando da
audiência dos meios de massa, mas submetendo os conteúdos ao crivo de ideias,
princípios e normas do seu grupo; 3) frequente contato com fontes externas
autorizadas de informação, com as quais discute ou complementa as informações
recolhidas; 4) mobilidade, pondo-se em contato com diferentes grupos, com os quais
intercambia conhecimentos e recolhe preciosos subsídios; e, finalmente, 5)
arraigadas convicções filosóficas, à base de suas crenças e costumes tradicionais, da
cultura do grupo a que pertence, às quais submete ideias e inovações antes de acatá-
29
las e difundi-las, com vistas a alterações que considere benéficas ao procedimento
existencial de sua comunidade (BELTRÃO, 1980, p.35).
Ao final, essas características foram importantes para entender o papel do ativista no
âmbito político, levando em consideração as marcas discursivas folkcomunicacionais
discutidas durante o decorrer desta pesquisa. Assim sendo, o carisma e a relação comunicativa
com a população, principalmente as marginalizadas pela sociedade, entre outros, são pontos
fundamentais encontradas em um ativista político, partindo da visão que o líder folk possui
em seu grupo. No meio popular, além de lutar por causas da população, é preciso que haja
uma identificação da sociedade com esse ativista. A retribuição vem de diversas formas,
principalmente pelo voto, mesmo que muitas vezes essa liderança popular não almeja, num
primeiro momento, se eleger em algum cargo. Por exemplo, no bairro do Castelo Branco, em
João Pessoa, “Kiko” é o responsável pelas principais festas do povoado, como do dia das
crianças. Ele organiza todos os eventos com o apoio dos pequenos comerciantes locais. Em
boa parte dos casos, o patrocinio é dado pelo esforço que “Kiko” tem para resolver problemas
da localidade, como, por exemplo, chamando as principais redes de televisão da cidade para
denunciar os descasos das autoridades no Castelo Branco. Entretanto, ele nunca se candidatou
a algum cargo politico. Mesmo assim, “Kiko” pode ser considerado um ativista social por
causa da influência nos habitantes da comunidade.
2.2 CORONELISMO NO NORDESTE
2.2.1 Formação Histórica
O romance literário “Gabriela, Cravo e Canela”,13 do escritor Jorge Amado (2001),
ocorre na cidade de Ilhéus, Bahia, em meados dos anos 1920, numa época onde a sociedade
era conservadora e a “honra” era a coisa mais valiosa que um homem ou moça deveriam
possuir. Nesse recinto, juntamente com o apogeu do cacau, surgem personagens
emblemáticos, a exemplo do coronel Ramiro Bastos, que devido ao seu poder econômico, se
torna um líder político na cidade, mandando e desmandando ao mesmo tempo, principalmente
através do tiro e do derramamento de sangue. Em um momento onde as oligarquias eram
donas das terras e cidades, o Coronelismo foi um sistema político onde a manutenção do
poder econômico sobrevivia através da corrupção, do clientelismo e do mandonismo. Figura
13 Primeira edição foi publicada em 1958.
30
encontrada em livros de literatura, o coronel fez parte do processo histórico da formação do
país, principalmente quando nos referimos a própria constituição do espaço geográfico e
social do Nordeste.
Já na peça teatral “Como Nasce uma Bicha da Peste”, texto escrito por Bento Júnior,14
a pequena cidade fictícia de Piruacú de Fora é comandada por duas famílias de coronéis. O
enredo começa a partir do nascimento de Tonhão Cabureto, filho (e orgulho) do temido
coronel Antônio Cabureto. Para manter o poder do município, Tonhão precisa seguir os
passos do pai para conseguir ser prefeito. Entretanto, o protagonista se apaixona pelo filho de
Mascarenhas Tejucupapo, principal rival da família Cabureto. Na comédia, Tonhão precisa
mostrar ao pai (que não desconfia que o filho é homossexual) que o importante é o amor e que
as brigas e rixas entre as famílias deveriam terminar para o bem da cidade.
No processo histórico do Coronelismo, a chamada “República Velha”, periodo que se
estende de 1889 a 1930, foi um momento muito conturbado no país, onde várias revoluções
surgiram, a exemplo da Federalista e da Revolta da Armada. Foi também uma fase conhecida
como a politica do “Café com Leite”, onde políticos dos estados de Minas Gerais e São Paulo,
grandes produtores do leite e do café, respectivamente, dominavam o cenário político do país.
Nessa encruzilhada de informações, o Coronelismo, sistema de governança de líderes locais,
tem sua criação, fortalecida pela intermediação das oligarquias, ou seja, "governo de poucos.”
(BOBBIO, 1998, p.835).
E para esse funcionamento do sistema oligárquico da Primeira República, foi
necessário criar uma
[...] relação entre o poder local e o poder regional, isto é, entre os coronéis e as
oligarquias. A fonte de poder dos coronéis se originava no latifúndio e na liderança
de uma vasta clientela e parentes diretos ou indiretos, enlaçados por empregos e
favores. Assim, os coronéis garantiam a chefia política local e/ou regional e a
capacidade de mobilização de correligionários, sobretudo para definir os resultados
das eleições (MORAES, 2005, p.293).
A partir dessa enfática, começamos a entender o que foi verdadeiramente o período do
Coronelismo. O Brasil era governado por uma oligarquia que possuía interesses pessoais e
econômicos pela busca do poder. A ideia, com a criação dos coronéis, era consolidar uma
maior influência, tanto do governo federal como estadual, em pequenas cidades e no meio
rural, pois o que interessava era “[...] fortalecer o poder local por intermédio de coronéis
comprometidos com os acordos políticos e eleitoreiros.” (COLUSSI, 1996, p.18). Na época,
14 Dirigido também por Bento Júnior, a peça teatral tem previsão de estreia para novembro de 2015. O texto
ainda não foi publicado.
31
para ser coronel, título criado durante a formação da Guarda Nacional, era preciso que o
mandatário tivesse uma certa quantidade de renda, além de um status social que pudesse
facilitar e ampliar os poderes e influência do governo federal.
Com base num levantamento feito a respeito da origem e posição social ocupada
pelos comandantes superiores, [...] dos 18 comandantes em questão, a esmagadora
maioria era composta por grandes proprietários de terras e escravos ou ricos
negociantes. Muitos ainda faziam parte do círculo familiar ou de amizade de figuras
ilustres e influentes no cotidiano da política provincial e, até mesmo, nacional
(GOLDONI, 2012, p. 62).
A Guarda Nacional, criada em 18 de agosto de 1831, durante o Império, tinha como
objetivo principal manter a ordem social do país. Mesmo com a sua decadência, o
Coronelismo continuou no regime republicano tendo, em princípio, os mesmos propósitos,
assumindo uma postura controladora e eleitoreira, já que era a partir desse sistema que o
governo perpetuava suas ações, de acordo com seus interesses pessoais, surgida a partir da
“[...] suposição de formas desenvolvidas do regime representativo a uma estrutura econômica
e social inadequada [...].” (LEAL, 1986, p.20).
O Coronelismo foi um processo de continuação do controle do poder, que foi
legalmente criada durante a Guarda Nacional, e que tem semelhanças inclusive com a
constituição das Capitanias Hereditárias,15 controle político no Brasil quando era dominado
por Portugal, criado pelo Rei D. João III, em 1534. Esse sistema tinha como objetivo proteger
o território das invasões dos estrangeiros, como também fortalecer o regime, dividindo a então
colônia em 15 faixas de terras, que foram entregues a homens de confiança. Entretanto, o
capitão donatário, título recebido pelo dono da capitania, era proibido de vender as terras e o
processo de posse era passado de pai para filho (daí o nome Capitanias Hereditárias). Ele era,
na verdade,
[...] um governador, subordinado às normas, à orientação e ao controle da
administração portuguesa, que também colocava alguns funcionários seus na
capitania e reservava para si algumas taxas, monopólios e a mais alta instância
judiciária. Quanto às terras da capitania, o donatário deveria distribuí-las
gratuitamente, em sesmarias, aos que tivessem condições de cultivá-las, e reservar
determinada área para uso seu e dos futuros titulares da donataria. Na realidade, as
“sesmarias” eram doadas aos poderosos, que nem sempre cultivavam (SALETTO,
2011, p.18).
15 Capitanias Hereditárias. Disponível em: <http://www.historiadobrasil.net/capitaniashereditarias/>. Acesso
em: 02 dez. 2014.
32
Ao se estudar o processo de formação do Coronelismo, é preciso fazer um histórico de
fatos anteriores que possuíram um papel fundamental para o seu funcionamento. Ao adentrar
no conteúdo das criações da Guarda Nacional e das Capitanias Hereditárias, vemos que o
Coronelismo foi uma continuação aperfeiçoada, já que absorvia elementos como a
permanência no poder através das famílias e a manutenção da ordem pública, por exemplo.
2.2.2 Líder Político
O coronel era o responsável por manter a ordem da localidade que vivia, como
também estreitar as relações do governo federal e estadual com o município. Na época da
eleição, por exemplo, como o voto era aberto, as pessoas eram obrigadas a votar no candidato
que o coronel local apoiava. Esse fato ficou conhecido como “voto de cabresto”, pois os
eleitores não tinham como reagir, já que o coronel usava, por exemplo, seus homens de
confiança (mais conhecidos como jagunços) para manter a ordem, inclusive usando a
violência. Ou então, para garantia da votação, o coronel usava do clientelismo, ou seja, troca
de favores, ou comprava e trocava os votos por dentaduras, alimentos, água etc.
[...] Não os desafiassem, não lhes ameaçassem as vastas propriedades, não lhes
tirassem a autoridade – e receberiam sua proteção em quaisquer circunstâncias. A
sua palavra era lei, mas não só lei: garantia de segurança, fosse no que tange a
financiamento, assistência ou liberdade mesmo para os que haviam violado a lei
civil ou penal, pois entre as suas funções estavam a provisão econômica, a da
previdência e a judicante (BELTRÃO, 1980, p. 175).
Mas o próprio coronel, para obter os poderes que possuía, recebia do governo certos
“agrados” para manutenção das oligarquias no município. Ou seja, ser da oposição significava
ter uma diminuição dos favores, atingindo também a figura que o coronel exercia para a
perpetuação do dominio politico, pois “sem a liderança do ‘coronel’ – firmada na estrutura
agrária do país -, o governo não se sentiria obrigado a um tratamento de reciprocidade, e sem
essa reciprocidade a liderança do ‘coronel’ ficaria sensivelmente diminuida.” (LEAL, 1986,
p.43). Mas ao mesmo tempo estar do outro lado representava também uma guerra política
pela conquista do poder, principalmente quando famílias inimigas disputavam as eleições,
pois “como, todavia, não é possivel apagar completamente as rivalidades locais, há sempre
‘coronéis oposicionistas, a quem tudo se nega e sobre cujas cabeças desaba o poder público,
manejado pelos adversários.” (LEAL, 1986, p. 254).
33
Nessa relação de favores, surge a chamada Política dos Governadores, “cujo elo
primário é a politica dos coronéis” (LEAL, 1986, p.244), que tinha como objetivo fortalecer
todo o sistema de poder controlado pelo regime coronelista. Por exemplo, ao apoiar tal
governador, o coronel tinha em troca envio de verbas para a cidade ou região que controlava,
aumentando a influência perante a população.
O resultado final do domínio dos votos pelos governadores, que decidem a
composição das câmeras federais e da eleição do Presidente da República, é o
compromisso que se estabelece entre o governo federal e os estaduais, com o
fortalecimento de todo o sistema, que vai assentar, em última análise, na estrutura
agrária do país (LEAL, 1986, p. 244).
Entre os exemplos de coronéis, citamos o caso de Padre Cícero, que, para muitas
pessoas, é um santo que realizou muitos milagres. Com o seu carisma e apoio político, fez
com que Juazeiro do Norte, cidade localizada no interior do Ceará, pudesse crescer
economicamente, “o que constitui seu maior milagre.” (BELTRÃO, 1980, p. 125). Com o
poder obtido na região, conseguiu, juntamente com a ajuda de chefes políticos, derrubar o
governo estadual, após romper com ele politicamente em 1914 (BELTRÃO, 1980, p. 126-
127).
Apesar da adoração, existem opiniões contrárias que definem o Padre como coronel
e como protetor de bandidos. Um líder messiânico, como Padre Cícero de Juazeiro
do Norte, Ceará (1870-1934), uma região que produziu muitos jagunços, tornou-se
célebre sobre os camponeses pobres e sobre os jagunços e cangaceiros. Foi ele quem
tentou armar Lampião para lançá-lo contra a Coluna Prestes. Ao contrário, porém,
de outros líderes messiânicos e de outros rebeldes, a rebeldia do Padre Cícero
circunscreveu-se ao interior da Igreja, suspenso de ordens. Fora dela, juntou
jagunços e coronéis, tornando-se ele próprio um poderoso coronel sertanejo que
chegou até depor o governador do Ceará (MARTINS, 1981, p. 61).
Outro exemplo, encontrado aqui na Paraíba, é o do Coronel Zé Cunha Lima, da cidade
de Areia, que ficou conhecido na região do Brejo por ter o poder e a influência de eleger
deputados e prefeitos, características que ainda são encontradas nos dias de hoje. Já o
fazendeiro e líder José Pereira Lima,16 conhecido como Coronel Zé Pereira, foi o responsável
por declarar a cidade de Princesa, em 1930, como território livre, tornando-a autônoma na
Paraíba.
Pang (1979) estruturou o Coronelismo em quatro tipos: familiocráticas, tribais,
colegiadas e personalistas. No primeiro tipo, se “incluia a familia em si, pessoas da mesma
16 Política Oligárquica da Paraíba – Revolta da Princesa. Disponível em:
<http://parahybaheroiversusantiheroi.blogspot.com.br/p/politica-oligarquica-da-paraiba.html>. Acesso em: 12
jan. 2015.
34
linhagem, parente por afinidade, afilhados de batismo ou de casamento e, às vezes, o povo
dependente do ponto de vista socioeconômico” (PANG, 1979, p.40); os tribais eram coronéis
patriarcas de um clã, que tinham o comando político de muitas outras famílias; nos
colegiadas, encontramos os coronéis que mantinham negócios políticos em comum acordo
com outros coronéis, sem haver disputas; por último, os personalistas eram aqueles que
tinham um carisma pessoal e que eram impossíveis de transmitir por herança.
2.3 NEOCORONELISMO
Com o declínio do Coronelismo a partir da década de 1930, durante o governo de
Getúlio Vargas, o coronel perdeu sua força política, fazendo com que esse sistema oligárquico
chegasse ao seu “fim”. Entretanto, muitas das características encontradas durante o regime
coronelista, a exemplo do controle do poder através das gerações, são encontradas ainda nos
dias atuais, funcionando como uma espécie de herança dos antepassados.
O conceito do Neocoronelismo foi usado neste trabalho como uma repaginação do que
foi o Coronelismo, praticada de forma mais sutil que antigamente, pois, por exemplo, ainda é
perceptível o uso de favores como a compra de votos. É o caso do deputado Tovar Correia
(PSDB), de Campina Grande, que foi detido nas eleições de 2014 após ser abordado com
cestas básicas e uma lista com nomes de eleitores.17
Porém, o uso do termo “Neocoronelismo” no Nordeste é criticado por Barbalho (2007,
p.31), pois, segundo ele,
o mesmo não se pode dizer quando o foco é o Nordeste, palco de políticas
desenvolvimentistas iniciadas nos anos 1950 e intensificadas durante o regime
militar, levando a industrialização aos grandes centros urbanos e a implantação de
relações capitalistas a zona rural. Essa dificuldade reflete-se, por exemplo, na criação
de outros termos, tais como “novo coronelismo” e “neo-coronelismo”, na tentativa
de atualizar o conceito.
Ou seja, com a industrialização e modernização dos grandes centros urbanos,
juntamente com o êxodo rural, o uso da palavra “neocoronelismo” não é adequada, pois o que
existe são resquícios do que foi o Coronelismo. A mesma situação é defendida por Carvalho
(1987, p.197), quando afirma que “o Estado, via políticas de desenvolvimento rural, unificou
17 Polícia Federal prende candidato a deputado estadual na PB. Disponível em:
<http://politica.estadao.com.br/noticias/eleicoes,policia-federal-prende-candidato-a-deputado-estadual-na-
paraiba,1571369>. Acesso em: 14 nov. 2014.
35
a nova natureza da terra não mais como mera ‘condição natural’ de produção, mas como
equivalente de capital.” Isso significa dizer que o meio rural, onde a atuação do coronel era
mais forte, perde seu valor político para se transformar em uma fonte de renda.
Efetivamente, como já foi discutido, o Coronelismo não existe mais, sendo
caracterizado nos dias de hoje como uma transição. Beltrão (1980, p. 175), por exemplo,
acredita que o novo coronelismo funciona pela
[...] desumanização, pelo desconhecimento dos liderados como pessoas: para esses
‘coronéis’, os quais também não se identificam por nomes ou titulos, mas
geralmente por siglas ou marcas, como gado, os seus interlocutores são igualmente
gado, gente indiferenciada, tipos, classes A, B ou C; não há ‘compadres’ nem
‘afilhados’, mas ‘consumidores’, ‘clientes’, ‘empregados’, ‘massa’ assexuada,
números ímpares, incolores, sem paixões e sem alma.
Dentro desse contexto, discordamos de Barbalho (2007) e de Carvalho (1987) por
entender que o Neocoronelismo ainda é uma prática vigente no país, reconstruído através de
um sistema político que visa o poder pelo poder, sem ter a preocupação com os principais
problemas existentes em cada região.
Em uma entrevista18 concedida ao portal Click PB, em 2007, o então governador da
Paraíba, Cássio Cunha Lima, usou o termo Neocoronelismo para conceituar o uso da mídia
em fins eleitoreiros. Na época, o tucano acusou o Sistema Correio de Comunicação, através
do proprietário Roberto Cavalcanti, de provocar sua cassação, fato que aconteceria dois anos
depois. Nas palavras do ex-governador, Neocoronelismo
é o que Roberto Cavalcanti pratica. É um coronelismo muito mais sofisticado, muito
mais requintado, porque utiliza dos meios de rádio, jornal, televisão e portal para
induzir a opinião pública, manipular a verdade e influenciar até na cabeça de
homens e mulheres de bem. Antigamente os coronéis atuavam nos currais eleitorais.
Hoje este coronelismo é muito mais sofisticado e é exatamente isso que acontece
hoje no Estado da Paraíba (CLICK PB, 2007)
Vimos que a formação do Coronelismo se deu por muitos fatores, principalmente por
causa das oligarquias que controlavam o poder desde a formação das Capitanias Hereditárias.
O coronel da Guarda Nacional tinha resquícios do Capitão Donatário, mas funcionando com
outros pensamentos em um regime diferente; o mesmo aconteceu na transição do Império
para a República, pois o Coronelismo havia se tornando um sistema político, com a intenção
de diminuir as distâncias entre o governo e a população, principalmente na época das eleições.
18 Cássio: “Sou vítima do Neocoronelismo do Correio.” Disponível em:
<http://www.clickpb.com.br/noticias/politica/Cássio-sou-vitima-do-Neocoronelismo-do-correio/>. Acesso em:
11 nov. 2014.
36
O Neocoronelismo, mesmo sendo criticado por certos autores, tem seu
reconhecimento, enquanto conceito, a partir da própria trajetória que o antecede. Infelizmente
ainda vemos casos de compra de votos, uso da mídia para favorecer certo candidato (inclusive
quando esse meio de comunicação pertence ao próprio político), troca de favores, manutenção
do poder através das gerações etc. Leal (1986, p.244), por exemplo, cita o papel dos partidos
políticos nessa nova conjuntura eleitoral já que se tornaram meros coadjuvantes, pois “quem
observa a multiplicidade de alianças, que se fizeram nas últimas eleições estaduais e
municipais, não pode deixar de verificar que os nossos partidos são pouco mais que legendas
[...] destinados a atender às exigências técnico-juridicas do processo eleitoral.”
A edição de setembro de 2012 da Revista Fisco,19 por exemplo, trouxe na capa uma
charge com o governador Ricardo Coutinho vestido de coronel; o titulo era “A ameaça do
Neocoronelismo.” O socialista estava sendo criticado pelo Sindicato dos Servidores Fiscais
Tributários da Paraíba (Sindifisco-PB) pela falta de diálogo com a categoria, da arbitrariedade
no governo, pelo desrespeito às leis e prejuízo aos poderes etc.
Nas eleições de 2014 aconteceram várias irregularidades. No dia anterior à votação,
dois homens foram detidos20 pela Polícia Rodoviária Federal, suspeitos de mediar compras de
votos no Agreste paraibano. No carro foram encontrados a quantia de R$ 27 mil, juntamente
com dezenas de “santinhos” da então candidata a deputada estadual Olenka Maranhão
(PMDB). Em outro caso, no sertão de Pernambuco, quatro pessoas foram presas por suspeita
de compra de votos no decorrer da votação.21 Segundo a Secretaria de Defesa Social do
Estado, 101 foram detidas, inclusive o prefeito de Verdejante, que foi encontrado com
aproximadamente R$ 10 mil, como também 12 quilos de material eleitoral. Já na eleição
presidencial, uma moradora do sertão baiano recebeu uma prótese para gravar imagens com a
então candidata à reeleição Dilma Rousseff, do Partido dos Trabalhadores (PT).22 Além dos
dentes novos, a eleitora também ganhou um fogão à lenha ampliado na semana da chegada da
presidente na cidade.
19 Neocoronelismo em evidência. Revista do Fisco, João Pessoa, a.43, edição extra, set. 2012, p.8-12.
Disponível em: <http://sindifiscopb.org.br/sites/default/files/uploads/noticia/16128/revistafiscolow.pdf>. Acesso
em: 12 jan. 2015. 20 Polícia Federal apreendem R$ 30 mil e prendem três pessoas em flagrante comprando votos na PB.
Disponível em: <http://www.folhadosertao.com.br/portal/abrir.noticia.asp?titulo=policia-federal-apreendem-
r%24-30-mil-e-prendem-tres-pessoas-em-flagrante-comprando-votos%2C-na-pb-veja-
foto&id=8816&offset=210>. Acesso em: 2 dez. 2014. 21 Prefeito de Verdejante, PE, é detido suspeito de compra de votos, diz PF. Disponível em:
<http://g1.globo.com/pernambuco/eleicoes/2014/noticia/2014/10/prefeito-de-verdejante-pe-e-detido-suspeito-de-
compra-de-votos-diz-pf.html>. Acesso em: 2 dez. 2014. 22 Sertaneja diz que ganhou próteses de gravar com Dilma para TV. Disponível em:
<http://www1.folha.uol.com.br/poder/2014/08/1504101-sertaneja-diz-que-ganhou-protese-antes-de-gravar-com-
dilma-para-tv.shtml>. Acesso em: 7 dez. 2014.
37
Portanto, a temática, por ser abrangente, tem ainda muito por discutir, dependendo da
área que esteja trabalhando.
2.3.1 Famílias Oligárquicas no Nordeste
A manutenção do poder entre os membros de uma mesma família, como já foi
discutido, era uma ação recorrente na época do Coronelismo. Nos dias atuais, as famílias
oligárquicas ainda possuem o domínio político no Nordeste, fazendo com que essa prática
neocoronelista seja uma das mais fortes na região.
É o caso da família Sarney, no Maranhão. Eleito deputado federal em 1958, José
Sarney governou o estado de 1966 a 1971 e acabou se tornando presidente da República no
ano de 1985, com a morte de Tancredo Neves.23 Em 1991, por não conseguir o apoio do
PMDB para disputar o senado, Sarney decide candidatar-se ao mesmo cargo no Amapá,
estado criado quando estava à frente da presidência.24 Já a sua filha Roseana Sarney foi
governadora do Maranhão por quatro mandatos.25
Sarney, que também foi repórter dos Diários Associados, é dono de diversos meios de
comunicação, a exemplo do O Estado do Maranhão. Na eleição de 2006, por exemplo, a
emissora TV Mirante, afiliada da TV Globo que pertence à família Sarney, foi acusada de
favorecer a candidatura de Roseana ao governo do Estado.26
Além disso, o Maranhão possui 161 escolas com nome dos Sarney, mostrando que o
sobrenome tem uma grande força no estado.27
Em outro exemplo, agora no Ceará, a família Alcântara, proveniente do ex-governador
Waldemar de Alcântara, domina várias cidades pequenas do estado, como São Gonçalo,
23 Sarney, o coronelismo e o lulismo. Disponível em: <http://www.marcovilla.com.br/2011/08/sarney-o-
coronelismo-e-o-lulismo.html>. Acesso em: 6 fev. 2015. 24 Após 54 dias ausente por internação, Sarney retorna ao Senado. Disponível em:
<http://g1.globo.com/politica/noticia/2013/09/apos-54-dias-ausente-por-internacao-sarney-retorna-ao-
senado.html>. Acesso em> 6 fev. 2015. 25 Roseana Sarney renuncia ao governo do Maranhão. Disponível em:
<http://www1.folha.uol.com.br/poder/2014/12/1560261-roseana-sarney-renuncia-ao-governo-do-
maranhao.shtml>. Acesso em: 6 fev. 2015. 26 Meios de comunicação entram em campanha no Maranhão. Disponível em:
<http://www1.folha.uol.com.br/poder/2014/12/1560261-roseana-sarney-renuncia-ao-governo-do-
maranhao.shtml>. Acesso em: 6 fev. 2015. 27 Maranhão tem 161 escolas com nome dos Sarney. Disponível em:
<http://oglobo.globo.com/brasil/maranhao-tem-161-escolas-com-nome-dos-sarney-4828090>. Acesso em: 6 fev.
2015.
38
comandada pelo grupo desde 1947.28 No Rio Grande do Norte, “o grupo oligárquico familiar
Rosado surgiu com o poder político local em Mossoró, com Jerônimo Rosado que deu origem
ao clã [...] que comanda o município há mais de meio século.” (SILVA, 2011, p.4).
O grupo liderado pelo ex-governador Antônio Carlos Magalhães (ACM) domina os
cargos políticos na Bahia desde 1971, quando ACM tornou-se deputado estadual em 1954.29
Atualmente o seu neto Antônio Carlos Magalhães Neto (DEM) é prefeito de Salvador.
2.4 DISCURSO
Neste tópico, trazemos para o debate a Análise do Discurso, para que se discuta
posteriormente a teoria da Análise Crítica do Discurso a partir de uma ênfase social da fala.
Por último, apresentamos as marcas encontradas frequentemente no discurso político, ponto
fundamental para entender os resultados recolhidos pela pesquisa.
2.4.1 Análise do Discurso (AD)
A palavra discurso muitas vezes é usada como uma expressão para relacionar com a
oratória que é feita para um público segmentado, ou também para generalizar as intenções e
as ideias de um determinado grupo. Por exemplo, no discurso politico a palavra “mudar”
aparece como um apelo emocional para conquista de votos. Porém, para a Análise do
Discurso (AD), o discurso não é como a comunicação e seus elementos (fonte, canal,
mensagem, codificação, decodificação etc.); consegue perpassar as definições que foram
impostas, transformando em um mesmo nível a emissão e recepção.
[...] Não se trata apenas de transmissão de informação, nem há essa linearidade na
disposição dos elementos da comunicação, como se a mensagem resultasse de um
processo assim serializado: alguém fala, refere alguma coisa, baseando-se em um
código e o receptor capta a mensagem, decodificando-a. Na realidade, a língua não é
só um código entre outros, não há essa separação entre emissor e receptor, nem
tampouco eles atuam numa sequência em que primeiro um fala e depois o outro
decodifica etc. Eles estão realizando ao mesmo tempo o processo de significação e
não estão separados de forma estanque (ORLANDI, 2005, p. 21).
28 Oligarquias municipais têm força no Ceará. Disponível em:
<http://www.opovo.com.br/app/opovo/politica/2012/01/24/noticiasjornalpolitica,2772552/oligarquias-
municipais-tem-forca-no-ceara.shtml>. Acesso em: 6 fev. 2015. 29 Antônio Carlos Magalhães morre aos 79 em SP. Disponível em:
<http://noticias.uol.com.br/ultnot/2007/07/20/ult23u456.jhtm>. Acesso em: 6 fev. 2015.
39
A Análise de Discurso tem como objetivo estudar o discurso, vendo não somente cada
palavra, mas também seu sentido e ideologia. Ou seja, cada discurso possui uma simbologia,
um caminho percorrido, uma intenção que são essenciais para entender o que existe por trás
do texto, seu significante e significado.30 A partir disso compreendemos melhor qual a função
do discurso estudado, fazendo uma abordagem histórica, semântica e ideológica. Assim
sendo, “o discurso não é simplesmente aquilo que traduz as lutas ou os sistemas de
dominação, mas aquilo por que, pelo que se luta, o poder do qual nós queremos apoderar.”
(FOUCAULT, 1999, p.10).
Na verdade, o discurso é o que liga os anseios do comunicador, do líder, até o
receptor, o público-alvo. É essencial na busca da compreensão entre os fatores da fala e do
entendimento. Na política, isso se sobressai, muitas vezes, interligado pelas formas de
comunicação e de canais utilizados no objetivo central, ou seja, na vitória. O discurso pode
ser considerado muito mais que o falar; são os recursos de persuasão, as marcas de uma
linguagem, juntamente com os significados existentes nelas, a partir da análise das estruturas
das construções ideológicas.
A AD, no meio linguístico, tem como função identificar a argumentação, os sujeitos
envolvidos, a subjetividade e a construção da realidade. Entretanto, cada discurso terá sua
própria identificação, dependendo da visão e da fala que é impregnada, pois é lançada “sem
que se tenha o total domínio dos efeitos que ela produzirá, mas com a suposição racional de
que ela será interpretada de diferentes maneiras.” (CHARAUDEAU, 2007, p.246).
No livro A ordem do discurso, Foucault (1999, p.8) faz uma indagação: “Mas o que há
de tão perigoso no fato de as pessoas falarem e de seus discursos proliferarem
indefinidamente? Onde afinal está o perigo?” Durante o decorrer da obra, o filósofo questiona
a relação do discurso com o poder. Ou seja, no meio social existe uma interdição e exclusão
de certos segmentos, pois são controlados socialmente. Infelizmente, a voz do pobre e
marginalizado poucas vezes são ouvidas pela sociedade, sendo “excluidas” do discurso social
e econômico.
O discurso nada mais é do que um jogo, de escritura, no primeiro caso, de leitura, no
segundo, de troca, no terceiro, e essa troca, essa leitura e essa escritura jamais põem
em jogo senão os signos. O discurso se anula, assim, em sua realidade, inscrevendo-
se na ordem do significante (FOUCAULT, 1999, p.49).
Em suma, o sentido atribuído pelo receptor em relação ao discurso vai depender da sua
interpretação. Sendo assim, o discurso nunca será fixo, pois cada compreensão e
30 Significante enquanto palavra e imagem; significado como valor ou sentido.
40
entendimento do corpo do texto em si terá um ponto de vista diferente em cada aspecto. É o
que a Análise do Discurso tenta buscar em sua teoria.
2.4.2 Análise Crítica do Discurso (ACD)
A Análise Crítica do Discurso (ACD) nasce a partir dos estudos da Análise do
Discurso, porém com uma ênfase mais social, baseada na semiose como processo de
significação, além da sua relação com outros signos, e que inclui tanto a linguagem visual
como a corporal, permitindo uma maior compreensão do sentido ideológico proposto pelo
autor, a partir de uma análise política e econômica (FAIRCLOUGH, 2005).
Ou seja, o discurso se torna importante como elemento da prática social. Na AD, por
exemplo, o objetivo é entender a fala a partir da língua e dos sentidos impostos encontrados
no texto, vendo-o como um todo em seu contexto, buscando entender a intenção do
comunicador ao emitir o discurso, além das interpretações feitas pelo receptor, tornando-se
assim superficial. Já na ACD, o objetivo central é compreender, através da abordagem sócio-
histórica, as relações de poder e de controle. Nesse sentido, a ACD se torna essencial para
entender os contextos econômicos de uma sociedade, além dos problemas existentes
encontrados no presente e os desafios que serão enfrentados no futuro.
A partir dessa enfática, as práticas sociais encontradas na ACD
nos permite combinar as perspectivas de estrutura e de ação – uma prática é, por um
lado, uma maneira relativamente permanente de agir na sociedade, determinada por
sua posição dentro da rede de práticas estruturadas; e, por outro, um domínio de
ação social e interação que reproduz estruturas, podendo transformá-las. Todas são
práticas de produção, arenas dentro das quais a vida social é produzida, seja ela
econômica, política, cultural ou cotidiana (FAIRCLOUGH, 2005, p.308).
A ACD, a partir da semiose, vai trabalhar em três etapas (FAIRCLOUGH, 2005,
p.309-310). Primeiro, busca entender as atividades sociais inseridas nas práticas estruturais
encontradas no discurso. Ou seja, a análise irá a procura das particularidades a partir da
língua. Por exemplo, como se comporta um vendedor de loja ou um governador a partir de
suas atividades; segundo, as representações que cada indivíduo irá produzir, a partir da
posição social que ocupa, fazendo, logo em seguida, uma contextualização do momento; por
último, o desempenho de posições particulares, buscando as posições determinadas pelas
práticas, pois “as pessoas de diferentes classes sociais, sexos, nacionalidades, etnias ou
41
culturas, com experiências de vidas diversas, produzem desempenhos distintos.”
(FAIRCLOUGH, 2005, p.310).
Assim, a ACD tem como objetivo (FAIRCLOUGH, 2005, p.312), enquanto ciência
social crítica, focalizar os chamados “perdedores”, ou seja, os marginalizados pela sociedade,
como os homossexuais, mendigos, negros, e assim por diante. Nesse aspecto, a Análise
Crítica do Discurso se encontra com a teoria da Folkcomunicação, pois, como dito no
primeiro tópico deste capítulo, seu propósito é estudar a comunicação que foge dos meios
convencionais, dando voz principalmente aos excluídos socialmente. As representações da
vida social são discutidas pela ACD a partir da ênfase do discurso. “A vida de pessoas pobres,
por exemplo, é representada nas práticas sociais do governo, da política, da medicina, de
ciência social, e os diferentes discursos, [...] correspondem às diversas posições dos atores
sociais” (FAIRCLOUGH, 2005, p.310).
Por isso que, quando se faz uma análise crítica do discurso, referente ao objeto de
estudo, é imprescindível identificar elementos como os meios de produção, as identidades e os
valores culturais que estão envolvidos numa relação de poder. Portanto, a fala precisa ser
estudada com mais profundidade, vendo o momento histórico como um processo social
material do discurso. Identificar o problema social e os obstáculos, além de refletir
criticamente sobre a temática, são os desafios da teoria da Análise Crítica do Discurso.
2.4.3 Discurso Político
No discurso político podemos encontrar promessas, mudanças, críticas, assim por
diante. Dentro de uma eleição, por exemplo, o discurso tem como objetivo convencer o eleitor
de que o melhor caminho para melhorar a vida da população é votar em tal político; durante
uma inauguração de uma obra importante, o discurso perpassa pela qualidade da construção e
sua funcionalidade no avanço social da região. No final das contas, a persuasão se torna
elemento essencial na aprovação do governo e na manutenção do poder. Cada discurso possui
uma finalidade, carregando consigo uma ideologia e a escolha de uma posição, partidária ou
não, como já foi discutido.
Charaudeau (2007) estuda o discurso político a partir do âmbito das emoções. Nesse
aspecto, segundo o autor, a persuasão também passa pelo uso emotivo do discurso, criando
uma representação social com o receptor, nesse caso o eleitor.
42
A relação entre esse sujeito e esse objeto se faz pela mediação de representações. É
pelo fato das emoções se manifestarem em um sujeito ‘em função de’ alguma coisa
que esse sujeito se faz representar enquanto tal. Digamos que seja por isso que essas
emoções podem ser ditas representacionais (CHARAUDEAU, 2007, p.241).
Além disso,
em uma perspectiva da análise do discurso, os sentimentos não podem ser
considerados nem como uma sensação, nem como um experimentado, nem como
expresso, pois, se de um lado, o discurso pode ser portador e desencadeador de
sentimentos e emoções, de outro, não é nele que se encontra a prova de
autenticidade do que se sente (CHARAUDEAU, 2007, p.241).
Desse modo, dentro do discurso político, o ethos se encontra como fator essencial na
busca de convencer o público-alvo. Constituído por Aristóteles na antiguidade, o ethos é
formado, não só pelo texto, mas também pela reputação do político, pelo tom de voz, pelas
expressões utilizadas durante o discurso (PLANTIN, 2008, p.112). Dessa forma, o carisma
proferido à população se torna algo sedutor, principalmente entre os excluídos da sociedade,
que muitas vezes só querem ser escutados, mesmo que diante dos problemas encontrados nas
localidades em que moram. “[...] O ethos consiste em um recurso usado para incitar a emoção
através do discurso e se refere, grosso modo, à construção de imagens de si. Ao lado do
pathos, ou seja, da paixão ou dos sentimentos, ele é o responsável por garantir a adesão dos
ouvintes.” (LIMA, 2009, p.43).
Vejamos, como exemplo, a morte do ex-candidato a Presidente da República Eduardo
Campos, ex-governador de Pernambuco, que faleceu no dia 13 de agosto de 2014, em um
acidente aéreo na cidade de Santos, São Paulo, durante a campanha presidencial.31 Eduardo,
então presidente do Partido Socialista Brasileiro (PSB), era um candidato desconhecido em
âmbito nacional, mesmo após a filiação da ex-ministra do Meio Ambiente no governo Lula
(2003-2010), Marina Silva, ao PSB (que depois veio a ser vice-presidente na chapa
encabeçada pelo socialista). As pesquisas eleitorais indicavam Eduardo em terceiro lugar,
com 9% dos votos, enquanto mostravam Dilma Rousseff (PT) em primeiro, com 38%, e
Aécio Neves (PSDB), em seguida, com 23%.32
Com a morte precoce do presidenciável no decorrer do processo eleitoral, além da
cobertura que os meios de comunicação fizeram em todo o país, as pessoas começaram a se
31 Eduardo Campos morre em Santos após queda do avião em que viajava. Disponível em:
<http://g1.globo.com/sp/santos-regiao/noticia/2014/08/eduardo-campos-morre-apos-queda-do-aviao-em-que-
viajava.html>. Acesso em: 30 nov. 2014. 32 Ibope: Dilma tem 38%, Aécio, 23%, e Campos, 9% das intenções de voto. Disponível em:
<http://eleicoes.uol.com.br/2014/noticias/2014/08/07/ibope-dilma-tem-38-aecio-23-e-campos-9-das-intencoes-
de-voto.htm>. Acesso em: 30 nov. 2014.
43
comover com a situação, fazendo com que a candidata que substituiu Eduardo, nesse caso
Marina, subisse nas pesquisas assumindo a primeira posição na disputa. Mesmo com a caída
da ex-ministra nas últimas semanas e a ascensão de Aécio, a morte precoce de Eduardo
Campos mudou todo o jogo, fazendo com que a eleição, antes atípica, tivesse outros
ingredientes que chamassem a atenção dos eleitores. Dilma, que antes do acontecimento
venceria as eleições no primeiro turno, acabou indo pro 2º round com o tucano Aécio, sendo
reeleita com uma margem apertada (51,64% contra 48,36%).
Nesse caso, o acontecimento não previsto em uma eleição e a morte de um candidato
cujo governo era bem avaliado em Pernambuco,33 mudaram o cenário político do país,
colocando a emoção, num primeiro momento, como elemento fundamental para ganhar as
eleições. Em seus discursos, Marina Silva usava o bordão de Eduardo (dito em entrevista ao
Jornal Nacional um dia antes da tragédia), “Não Vamos Desistir do Brasil”, para exaltar a
imagem do político, criando na população um sentimento de luto. Isso fez com que ela
disparasse em primeiro lugar nas pesquisas nas primeiras semanas. Entretanto, com a
desconstrução da imagem de Marina feita pelos seus adversários, a candidata acabou
deixando a disputa em terceiro lugar, com pouco mais de 22 milhões de votos. Ainda assim, a
socialista ficou em primeiro lugar na terra de Eduardo, Pernambuco, vencendo34 o PT com
48,05% dos votos, onde também Paulo Câmara (PSB), que também era desconhecido na
disputa pelo Governo do Estado, venceu as eleições no primeiro turno com 68%.35
Assim sendo, a emoção utilizada no discurso político foi fundamental para entender os
resultados da análise do discurso de Cássio Cunha Lima, estratégia usada inclusive pelo seu
pai, o ex-governador e poeta Ronaldo Cunha Lima, principalmente para conquistar os
eleitores de Campina Grande, reduto político da família.
33 Governo de Eduardo Campos é o mais popular do país, diz CNI/Ibope. Disponível em:
<http://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2013/07/25/eduardo-campos-cniibope.htm>. Acesso em: 30
nov. 2014. 34 Em PE, Dilma perde em votos, mas vence na maioria das cidades. Disponível em:
<http://g1.globo.com/pernambuco/eleicoes/2014/noticia/2014/10/em-pe-dilma-perde-em-votos-mas-vence-na-
maioria-das-cidades.html>. Acesso em: 30 nov. 2014. 35 Sob a lembrança de Eduardo Campos, PSB vence em PE. Disponível em:
<http://politica.estadao.com.br/noticias/eleicoes,sob-a-lembranca-de-eduardo-campos-psb-vence-em-
pe,1571816>. Acesso em: 30 nov. 2014.
44
3 ANÁLISE DAS MARCAS DISCURSIVAS FOLKCOMUNICACIONAIS E
NEOCORONELISTAS
Dividimos esse capítulo em três etapas: primeiro, fizemos uma abordagem política da
trajetória do grupo dos Cunha Lima, através das figuras de Ronaldo e Cássio; em seguida,
realizamos a análise crítica dos discursos encontrados nos textos do portal do candidato,
identificando as marcas discursivas folkcomunicacionais, com ênfase no ativismo midiático e
social; logo após, com o mesmo material, traçamos as atitudes neocoronelistas encontradas no
discurso do tucano. Com a junção das marcas encontradas, elaboramos o perfil do novo
coronel, discutindo o público-alvo, a relação com os grupos marginalizados, as críticas aos
adversários, os apoios políticos, as formas de comunicação utilizadas por Cássio, as
estratégias da campanha, entre outros.
3.1 TRAJETO POLÍTICO DO GRUPO CUNHA LIMA
3.1.1 Ronaldo Cunha Lima
Ronaldo José da Cunha Lima36 nasceu em Guarabira, Brejo da Paraíba, no dia 18 de
março de 1936. Filho do ex-prefeito de Araruna Demóstenes Cunha Lima e formado em
Ciências Jurídicas, Ronaldo foi casado com Maria da Glória Rodrigues da Cunha Lima, com
quem teve quatro filhos: Cássio Cunha Lima (senador), Ronaldo Cunha Lima Filho (atual
vice-prefeito de Campina Grande), Glauce Cunha Lima e Savigny Cunha Lima.
Durante sua trajetória política, Ronaldo foi vereador, deputado estadual, deputado
federal, senador e governador. Em 1969 foi eleito prefeito de Campina Grande, cargo que teve
que deixar após o mandato ser cassado pela ditadura militar. Em 1983 volta para a prefeitura
de Campina, onde constrói o Parque do Povo, local da realização do “Maior São João do
Mundo”, evento que acontece durante 30 dias nas festividades dos santos juninos. Assim,
Ronaldo consegue criar uma identidade forte com a cidade, frutos que recompensam a família
até os dias de hoje.
Independentemente das partes sinuosas de sua trajetória política, Ronaldo Cunha
Lima é quase um mito para significativa parcela da população
36 Ronaldo Cunha Lima construiu quase 50 anos de carreira política. Disponível em:
<http://g1.globo.com/pb/paraiba/noticia/2012/07/ronaldo-cunha-lima-construiu-quase-50-anos-carreira-
politica.html>. Acesso em: 10 dez. 2014.
45
campinense, perfil positivo em muito decorrente do papel de mentor e criador do
Maior São João do Mundo, de modo que a simbologia de grandiosidade do evento
acaba se confundindo com a imagem do político (NÓBREGA, 2014, p.126-127).
Em 1993, durante seu mandato de governador, tentou assassinar Tarcísio Burity, seu
antecessor no cargo.37 Após entrar no restaurante Gulliver, em João Pessoa, e se deparar com
Burity, Ronaldo disparou dois tiros. Um, atingiu a boca, e, o outro, no tórax. O ex-governador
conseguiu sobreviver, falecendo 10 anos depois, vítima de problemas cardíacos.
A tentativa de homicídio foi motivada por críticas que Burity teria feito a Cássio
Cunha Lima, então diretor da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene).
Ronaldo foi detido pela Polícia Federal, mas o caso nunca foi julgado pela Justiça. Em 2007,
às vésperas do Supremo Tribunal Federal julgar a ação penal, Ronaldo renuncia ao cargo de
deputado federal. Com isso, ele perdia o foro privilegiado e responderia ao crime como um
cidadão comum. Na época, o ministro do SFT Joaquim Barbosa disse que o fato era uma
vergonha para a justiça brasileira, “especialmente para com o Supremo Tribunal Federal.”38
Ronaldo também era conhecido como poeta, devido às suas obras literárias.39 Em
1994, assume a cadeira de número 14 na Academia Paraibana de Letras. Quando inaugurava
alguma obra, fazia versos no lugar dos discursos normais, como, por exemplo, na inauguração
do Parque do Povo: “Que este meu gesto marque/ O nascer de um tempo novo/ O povo pediu
o parque/ Eu fiz o Parque do Povo.” Em 1988 chegou a vencer o programa Sem Limite, da
Rede Manchete, após 10 rodadas respondendo em versos perguntas sobre a vida e obra do
poeta paraibano Augusto dos Anjos, levando nacionalmente o nome da cidade de Campina
Grande.
O ex-governador acabou falecendo em 7 de julho de 2012, por causa de um câncer no
pulmão que descobriu em 2011. Ronaldo conseguiu construir um espaço dedicado aos Cunha
Lima na Paraíba, através da sua relação e estratégias com os excluídos, referência que abrange
nos dias de hoje o restante da família no meio político.
37 Senado faz homenagem a ex-senador que atirou em rival. Disponível em:
<http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/senado-fara-homenagem-a-ex-senador-que-atirou-em-desafeto>. Acesso
em: 10 dez. 2014. 38 Ministro afirma que com renúncia do deputado Federal Ronaldo Cunba Lima ação penal não será
julgada pelo STF. Disponível em:
<http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=75737>. Acesso em: 11 jan. 2015. 39 Ronaldo Cunha Lima morre na Paraíba. Disponível em:
<http://g1.globo.com/pb/paraiba/noticia/2012/07/morre-ronaldo-cunha-lima-na-paraiba.html>. Acesso em: 10
dez. 2014.
46
Entretanto, para o historiador José Octávio, existia uma diferença na relação com a
população entre Ronaldo e Cássio.40 Segundo ele, o poeta era mais admirado pelos mais
humildes porque vivia nas ruas conversando com eles, diferentemente do filho, pois
Ronaldo Cunha Lima ligou-se às chamadas Sabs (Sociedades de Amigos de
Bairros), em Campina Grande. Era visto nas ruas e nos bares, conversando com o
povo, fato que o diferencia do filho, Cássio, que só é visto nas ruas de Campina
Grande durante as campanhas eleitorais, uma característica de político de classe
média. A base de Ronaldo em Campina é o bairro da Liberdade, que reúne pequenos
burgueses e populares. Cássio não tem o viés do pai. [...] Na sua administração, ele
era aconselhado a se aproximar do povo (VITRINE DO CARIRI, 2010).
3.1.2 Cássio Cunha Lima
Cássio Rodrigues da Cunha Lima nasceu no dia 5 de abril de 1963, na cidade de
Campina Grande, Paraíba.41 Filho do ex-governador Ronaldo Cunha Lima e formado em
Direito pela Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), Cássio iniciou sua trajetória política
como presidente do Centro Acadêmico de Direito da UEPB. Depois, foi eleito deputado
federal constituinte em 1986; dois anos depois é eleito prefeito de Campina Grande com
53.720 votos, sucedendo o seu pai no executivo municipal, estratégia que foi usada em sua
campanha eleitoral, como no jingle do candidato: “Plantar o grão/ Pra colher o milho/ Depois
do pai/ Sempre vem o filho/ Continuar por amor é a sina/ Francisco Lira,42 Cássio Cunha
Lima.” 43
Em 1995 é eleito deputado federal novamente, tornando-se vice-líder do seu partido na
Câmara. No ano seguinte, volta a ser eleito prefeito de Campina Grande, agora com 72.185
votos, onde é reeleito quatro anos depois com 71,35%. Em 2001, os Cunha Lima, que
dominavam a Prefeitura de Campina Grande desde 1983, brigam com o então governador Zé
Maranhão, do PMDB, e deixam o partindo, seguindo para o PSDB.44 Isso fez com que Cássio
ganhasse força política para disputar o Governo do Estado dois anos depois. Em um embate
acirrado com Roberto Paulino, o tucano leva a melhor no 2º turno com 889. 922 votos.
40 Oligarquias e populismo dominam política da Paraíba. Disponível em:
<http://www.vitrinedocariri.com.br/index.php?option=com_content&task=view&id=27809>. Acesso em: 12 jan.
2015. 41 Trajetória política retirada do portal do candidato Cássio Cunha Lima. Disponível em:
<http://www.cassiocunhalima.com.br/index.php/biografia>. Acesso em: 7 dez. 2014. 42 Vice-prefeito na chapa encabeçada por Cássio. 43 Ronaldo Cunha Lima: poeta, político, homem do povo. Disponível em:
<http://www.paraiba.pb.gov.br/52411/ronaldo-poeta-politico-homem-do-povo.html>. Acesso em: 10 dez. 2014. 44 Ronaldo Cunha Lima (1983 – 1988); Cássio Cunha Lima (1989 – 1992 e 1997 - 2002); Félix Araújo Filho
(1993 – 1996).
47
Em sua primeira gestão, Cássio é lembrado pela realização de programas sociais que
beneficiaram os mais carentes, a exemplo dos programas A Casa é Sua, onde quitou o saldo
devedor das casas de 55 mil famílias, e Leite da Paraíba, com a distribuição gratuita de leite e
pão para as famílias paraibanas. Já em 2006, o senador Zé Maranhão resolve disputar o
governo. Em uma das eleições mais disputadas da história, Cássio é reeleito com mais de um
milhão de votos, a maior votação que um político havia recebido na Paraíba. Entretanto, a
campanha do governador foi acusada de muitos escândalos. Entre eles, a distribuição irregular
de 35 mil cheques do programa de assistência social da Fundação de Ação Comunitária
(FAC). 45
A partir desse fato, Cássio começa a enfrentar dificuldades em seu governo, até que
em 2007 é cassado pelo Tribunal Regional Eleitoral da Paraíba (TRE-PB). Em 2009, o tucano
deixa o cargo após os recursos julgados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Em seu lugar
assume o então senador José Maranhão.
Em 2010, Cássio surpreende a todos quando decide apoiar o então prefeito de João
Pessoa, Ricardo Coutinho (PSB), ex-aliado de Maranhão, para o governo da Paraíba. O ex-
governador entraria na disputa pelo Senado. Ricardo vence as eleições no 2º turno, com
1.079.164 votos, tornando-se o governador com mais votos da história do estado,
ultrapassando a votação que o tucano obteve quatro anos atrás. Já Cássio é eleito senador com
1.004.183 votos.46 Entretanto, ele só assume o cargo em 8 de novembro de 2011, após o STF
entender que a Lei da Ficha Limpa47 não poderia atingir Cássio, já que ela só entraria em
vigor a partir das eleições municipais de 2012.
Já no mês de fevereiro de 2014, Cássio resolve romper politicamente com o
governador Ricardo Coutinho. Nas eleições, volta a disputar pela terceira vez o governo da
Paraíba. O tucano chegou a ficar em primeiro lugar no 1º turno da votação. Porém, com o
apoio dado pelo PMDB ao PSB, Ricardo vira a disputa, sendo reeleito com 52,61%.48
Entretanto, essa eleição foi muito importante para o grupo dos Cunha Lima. Cássio
conseguiu eleger seu filho, Pedro Cunha Lima, como deputado federal; Tovar Correia Lima,
genro do seu tio, e seu primo Bruno Cunha Lima, neto de Ivandro Cunha Lima, como
45 Eleição em xeque. Disponível em:
<http://www.istoe.com.br/reportagens/detalhePrint.htm?idReportagem=3245&txPrint=completo>. Acesso em: 7
dez. 2014. 46 Ricardo Coutinho é eleito governador na Paraíba. Disponível em: <http://noticias.r7.com/eleicoes-
2010/noticias/ricardo-coutinho-e-eleito-governador-na-paraiba-20101031.html>. Acesso em: 10 dez. 2014 47 Lei aprovada em 2010 que tem como objetivo impedir o político condenado de disputar cargos eletivos. 48 Ricardo Coutinho vence Cássio Cunha Lima e é reeleito governador da Paraíba. Disponível em:
<http://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/efe/2014/10/26/ricardo-coutinho-vence-Cássio-cunha-lima-e-e-
reeleito-governador-da-paraiba.htm>. Acesso em: 10 dez. 2014.
48
deputados estaduais. Além disso, já estão no poder o seu irmão Ronaldo Cunha Lima Filho
como vice-prefeito de Campina Grande, e Romero Rodrigues, primo, como prefeito da
mesma cidade. No Tribunal de Contas do Estado da Paraíba, o ex-deputado estadual Arthur
Cunha Lima é atual vice-presidente da corte. O poder se renova tendo o mesmo sobrenome.
Já Campina Grande se tornou o “curral eleitoral” de Cássio. Foi a única cidade
nordestina de grande porte em que o candidato Aécio Neves ganhou. O mesmo fato aconteceu
em 2010, com o então candidato José Serra, conquistando 43% dos votos.49 Com 263.489
eleitores, a terra do “Maior São João do Mundo” também deu a Cássio uma votação bem
expressiva: saiu vitorioso com 60,8%.
Cássio teve, em 2014, sua primeira derrota eleitoral. Entretanto, construiu uma base
sólida na política paraibana, a partir dos ensinamentos do seu pai, Ronaldo Cunha Lima, e da
identidade que Campina Grande criou com o poeta, e que continuará através das gerações. É
provável que daqui a alguns anos outros nomes da família disputem mais cargos, a exemplo
de Pedro Cunha Lima, perpetuando assim a manutenção do poder.
3.2 MARCAS FOLKCOMUNICACIONAIS
3.2.1 Relação com os excluídos
Ao romper politicamente com o governador Ricardo Coutinho, Cássio Cunha Lima
usou como motivo a falta de atenção do governo com os que mais precisavam. O tucano
criticava, por exemplo, o fechamento de escolas públicas e de delegacias na Paraíba.50 Daí
surge o nome da coligação da campanha “A Vontade do Povo”, ou seja, a vitória de Cássio
representava o retorno de ações populares que beneficiassem os paraibanos, principalmente os
mais carentes. Por exemplo, no dia 8 de setembro, o portal do candidato publica o seguinte
texto:
Título: Cássio lamenta números negativos da PB no Ideb51
Texto: Fazer um governo mais técnico para aperfeiçoar os serviços e atender melhor
os que mais precisam. Essas são duas das bases centrais do plano administrativo do
49 Em Campina Grande, ‘ilha tucana’ resiste no Nordeste. Disponível em:
<http://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/efe/2014/10/26/ricardo-coutinho-vence-Cássio-cunha-lima-e-e-
reeleito-governador-da-paraiba.htm>. Acesso em: 10 dez. 2014. 50 Cássio crítica fechamento de escolas na gestão de Ricardo. Disponível em:
<http://www.parlamentopb.com.br/Noticias/?cassio-critica-fechamento-de-escolas-na-gestao-de-ricardo-
16.07.2014>. Acesso em: 11 dez. 2014. 51 Índice de Desenvolvimento da Educação Básica
49
senador Cássio Cunha Lima (PSDB), candidato a governador do Estado pela
Coligação A Vontade do Povo (Portal do Candidato).
Nesse momento, o candidato resumia seu principal objetivo caso chegasse ao Palácio
da Redenção.52 Cássio, em seus discursos, prometia recuperar e melhorar certos serviços para
a população que, na visão do senador, estavam abandonados pelo atual governo. É o que se
confirma em outra matéria publicada no dia 9 de setembro.
Título: Prefeito de Bom Jesus e vereadores anunciam apoio
Texto: Segundo o prefeito, ele conversou com o senador em duas oportunidades.
“Vejo nele um homem com disposição para mudar o quadro político da Paraíba,
acabar com a perseguição aos prefeitos, respeitar os funcionários públicos e não
oprimir os pequenos agricultores que usam motocicletas”, declarou. Segundo
Roberto Baima, o município de Bom Jesus não recebeu benefícios do governo do
Estado por conta da sua posição politica. “Isso é um absurdo. O governo não pode
prejudicar a população de um munícipio por conta dos posicionamentos do
prefeito”, lamenta ele (Portal do Candidato).
Percebe-se que a estratégia da campanha é desconstruir a imagem de gestor de Ricardo
Coutinho. Ao mesmo tempo, Cássio assume o papel de “salvador dos oprimidos”, pois ele
seria o único que “traria” paz à Paraíba, através das suas ações políticas. Ricardo, quando
entrou no governo, cortou gratificações de funcionários, demitiu prestadores de serviços, entre
outros.53 Essas atitudes, segundo Cássio, trouxeram muitos problemas para o povo paraibano.
O tucano assume o papel de liderança política, e ao mesmo tempo “messiânica”, ao prometer
uma Paraíba mais justa.
Título: Cássio leva caravana a seis cidades do sertão
Texto: [...] os dois grupos politicos de Maturéia apoiam o tucano. “Estamos unidos
em torno da candidatura do senador Cássio Cunha Lima porque acreditamos na sua
capacidade de administrar e sabemos que ele fará um governo em defesa dos mais
pobres e mais humildes, como já provou a frente do Governo do Estado”, justificou
o prefeito Daniel Dantas. [...] Já no município de Juru o ex-prefeito Doutor Toinho
foi receber Cássio na entrada da cidade e realizou uma grande carreata juntamente
com seus amigos e correligionários. “Vamos lhe dar uma vitória esmagadora aqui
em Juru, porque o povo desta cidade acredita no seu trabalho”, disse Doutor Toinho
(Portal do Candidato, 10 set. 2014).
Título: Circuito volta ao Vale do Piancó e Itaporanga
Texto: Logo na sequência, a caravana do candidato da Coligação A Vontade do
Povo, que garante acabar com a perseguição na Paraíba e conciliar o governo com a
sociedade, vai passar por Caiana, Igaracy, Aguiar e Itaporanga [...] (Portal do
Candidato, 16 set. 2014).
52 Sede do governo estadual da Paraíba. 53 Governo de Ricardo Coutinho é denunciado ao Congresso Nacional. Disponível em:
<http://www.clickpb.com.br/noticias/politica/governo-de-ricardo-coutinho-e-denunciado-ao-congresso-
nacional/imprimir/>. Acesso em: 11 dez. 2014.
50
O papel de Cássio era servir a população mais carente, ao mesmo tempo trazer novos
tempos para a Paraiba, libertando ela do “Neocoronelismo” que havia se instalado por
Ricardo Coutinho, segundo o tucano. Em muitos trechos dos textos analisados, Cássio
criticava o atual governo, principalmente pela falta de respeito com os humildes.
Título: Cássio reúne milhares de lideranças na Capital
Texto: Emocionado, Cássio disse que as pessoas no interior do estado estão
assustadas com a perseguição do governo, com a apreensão de motos e com a
demissão em massa de funcionários comissionados do Estado. “O que se faz com
essas pessoas é um gesto desumano. Voltamos à década de 30. A Paraíba precisa de
um governo que promova a reconciliação do povo com a sociedade”, bradou o
senador do PSDB (Portal do Candidato, 18 set.2014)
Título: Governador impede mais um médico de trabalhar
Texto: “A Paraiba não tem dono; a Paraiba não é aceita mais cabresto, já acabou
esse tempo. Eu, com muita tranquilidade, estou pronto para servir ao meu povo e
não vai ser uma figura dessa qualidade que vai inibir, cercear e dificultar o meu
trabalho”, destacou o cirurgião que atua no funcionalismo público desde 1971
(Portal do Candidato, 17 set. 2014).
O interessante é que o senador Cássio falava que o “povo” não fazia parte da
“sociedade”, como se a primeira palavra não fosse sinônimo da segunda. Nesse caso, o
candidato generaliza os mais humildes como “povo”, e a “sociedade” como se fosse um
ambiente democrático onde pessoas tinham direitos e deveres iguais. A reconciliação, dita no
primeiro texto acima, mostra que, no fundo, Cássio gostaria de “quebrar” as atitudes do atual
governo, fazendo com que os mais carentes pudessem ter uma vida mais digna, onde não
fossem “perseguidos” e “maltratados”. Já no primeiro texto, a campanha do governador tenta
detalhar com palavras os gestos de Cássio perante o público, “humanizando” a figura do
tucano.
Em poucos textos, certas marcas do ativista midiático caracterizados por Trigueiro
(2008) são identificadas no discurso da coligação “A Vontade do Povo”, como, por exemplo,
o prestígio perante a comunidade, independentemente de quaisquer posições sociais. A
relação de Cássio com os mais pobres é identificada em outros momentos, se tornando o
público-alvo preferido do candidato.
Título: Cássio reúne multidões durante circuito de visitas
Texto: Logo na entrada da cidade, o senador e comitiva visitaram algumas
residências e não foram poucas as queixas da população sobre segurança, educação e
saúde. “Aqui na cidade de Mato Grosso os que possuem motos são vitimas da
perseguição do governo do Estado, que determina a apreensão das motos, alegando
falta de documentos”, revelou o agricultor José Bernardino da Silva (Portal do
Candidato, 12 set. 2014).
Título: Cássio anuncia o retorno do Cheque Moradia
51
Texto: Segundo Cássio, é preciso facilitar o acesso da casa própria às famílias de
baixa renda. “É por isso que vamos trazer de volta o Cheque Moradia, que foi um
programa muito bem sucedido que fizemos no nosso governo e que, infelizmente, o
atual governo acabou. Vamos trazer de volta, principalmente, para gradativamente
erradicar as casas de taipas e atender com prioridade as famílias que vivem em área
de risco”, respondeu (Portal do Candidato, 13 set. 2014).
Título: Cássio encerra em Paulista circuito de visitas
Texto: Quando teve a palavra, Cássio lembrou do programa Ciranda de Serviços,
criado em 2005 e que beneficiou mais de 500 mil paraibanos. “Fui o primeiro
governador da história de São Bento a ficar na rua ouvindo e atendendo a
população”, disse o senador. (Portal do Candidato, 12 set. 2014).
No primeiro texto acima, uma das estratégias utilizadas por Cássio é visitar diversas
casas para escutar as reclamações da população, como um gesto de aproximação do candidato
com o eleitor; no segundo, o candidato promete voltar com o programa de sua antiga gestão, o
Cheque Moradia, fazendo com que as pessoas de baixa renda tenham mais facilidade para
comprar uma casa; no último, Cássio traz outra promessa voltada novamente para os mais
humildes, o Ciranda de Serviços, onde o próprio governador comparecia nas cidades para
atender a população, levando serviços de várias secretarias, facilitando assim a comunicação
do governo com o povo.
Cássio nasceu em um âmbito político, tendo como professor o seu pai, Ronaldo Cunha
Lima. A relação popular criada com a população também veio dessa época, fortalecida pelos
programas sociais criados por ambos. Isso fez com que a população mais carente identificasse
em Cássio um líder político, capaz de resolver os problemas da comunidade. O candidato
assume essa postura na captação de votos, como foi mostrado durante o decorrer desse tópico.
3.2.2 Grupos Marginalizados
Já ficou claro, nas primeiras análises realizadas até o momento, que o público-alvo de
Cássio era os mais humildes do estado. Nesse tópico, entretanto, identificamos quem eram os
grupos marginalizados que o candidato buscava para conquista de votos, a partir da divisão
feita por Beltrão (1980).
Em diversos textos, o candidato Cássio dirige a palavra, principalmente, aos grupos
rurais, a exemplo dos habitantes que ainda vivem em casas de taipa.
Título: Cássio anuncia o retorno do Cheque Moradia
Texto: Segundo Cássio, é preciso facilitar o acesso da casa própria às famílias de
baixa renda. “É por isso que vamos trazer de volta o Cheque Moradia, que foi um
programa muito bem sucedido que fizemos no nosso governo e que, infelizmente, o
atual governo acabou. Vamos trazer de volta, principalmente, para gradativamente
52
erradicar as casas de taipas e atender com prioridade as famílias que vivem em área
de risco”, respondeu (Portal do Candidato, 12 set. 2014).
Título: Cássio reúne milhares de lideranças na Capital
Texto: [...] Cássio disse que as pessoas do interior do estado estão assustadas com a
perseguição do governo, com a apreensão de motos e com a demissão em massa de
funcionários comissionados do Estado. [...] “O que se faz com essas pessoas é um
gesto desumano [...]” (Portal do Candidato, 18 set. 2014).
A reclamação de agricultores e trabalhadores sobre a apreensão das motos é
constantemente encontrada nos textos do portal do candidato, fazendo, inclusive, com que a
temática saia do meio rural e venha para o urbano.
Título: Cássio realiza três comícios na grande João Pessoa
Texto: Mas o que deixou o governador abismado foi quando ele abordou o
problema da apreensão de motos que existe no interior da Paraíba e algumas pessoas
se manifestaram dizendo que, em Cabedelo, cidade portuária e próxima à capital do
Estado, o problema também existe. “Assim danou-se! Porque eu pensava que esse
problema estava restrito ao interior do Estado. Mas ele também chegou ao Litoral da
Paraiba também”, espantou-se o senador tucano (Portal do Candidato, 14 set. 2014).
Cássio, no texto acima, utiliza expressões do cotidiano nordestino, a exemplo do
“danou-se”, para se aproximar com mais naturalidade com a população. O uso de adjetivos
para expressar os gestos de Cássio é usado mais uma vez, como “abismado” e “espantado”.
Desde que assumiu o governo em 2011, Ricardo vem ampliando o número de blitzes na
Paraíba, através das campanhas da Lei Seca. Com isso, houve um aumento no número de
apreensões de motos, já que boa parte estão com os documentos vencidos. Desde então, os
motociclistas reclamam da atitude “arbitrária” do governador. Porém, durante as duas
semanas de análise, Cássio não promete resolver a questão dessas motos.
São também os grupos rurais as principais fontes encontradas nos textos da Coligação:
Título: Cássio reúne multidões durante circuito de visitas
Texto: “Aqui na cidade de Mato Grosso os que possuem motos são vitimas da
perseguição do governo do Estado, que determina a apreensão das motos, alegando
falta de documentos”, revelou o agricultor José Bernardino da Silva (Portal do
Candidato, 13 set. 2014).
Durante as duas semanas de análise dos textos, foi identificada, em relação aos grupos
urbanos, somente uma passagem sobre os aposentados e nada sobre os "culturalmente
marginalizados".
Título: Cássio lamenta números negativos da PB no Ideb
Texto: “Hoje, um PM quando vai para a reforma, ele é punido, castigado, essa é a
verdade, pois perde mais de 40% dos seus vencimentos. Isso porque o atual governo
53
acabou com a equiparação entre ativos e reformados que nós haviamos deixado”,
explicou o tucano, estendendo o exemplo de forma geral para aposentados e
pensionistas do Governo da Paraíba (Portal do Candidato, 8 set. 2014).
A campanha de Cássio, como foi percebida, não se preocupou em especificar as
promessas realizadas para os grupos marginalizados. Existe uma tentativa de conquista de
votos entre os moradores do meio rural, o que não é tão visível no urbano. O candidato
prefere fazer abordagens gerais, se preocupando com os mais carentes, sem identificar tais
grupos. Já em outros momentos, a campanha realiza passeatas como a Caminhada das
Mulheres. Entretanto, nos textos discutidos, nenhuma promessa é feita para elas. O que
aparece são críticas ao gestor Ricardo Coutinho.
Título: Cássio pede engajamento de todos
Texto: “Muito obrigado a todos vocês que nos acompanharam desde o Parque do
Povo até aqui em mais uma Passeata das Mulheres. Nós vamos entrar nessa
quinzena final de campanha com garra, coragem e determinação para que possamos
consolidar nossa vitória já no primeiro turno da eleição”, discursou o senador [...].
“Como se não bastasse ser perseguidor, esse governo que ai está é incompetente.
Deixou Campina, que sempre foi uma cidade pacata, se transformar numa das mais
violentas do Brasil. E pela primeira vez, nesses últimos 20 ou 25 anos, Campina
Grande pode ter a chance de receber a ação conjunta da prefeitura com o Governo
do Estado. Para isso, precisamos do engajamento de todos”, reiterou o candidato do
PSDB (Portal do Candidato, 20 set. 2014).
3.2.3 Caravanas
Entre as marcas folkcomunicacionais encontradas nos textos do portal do candidato
Cássio Cunha Lima, as caravanas, nome dado pela coligação para os eventos realizados em
várias cidades de uma mesma região da Paraíba, se torna um movimento social que tem como
fundamento aproximar a coligação “A Vontade do Povo” com a população em geral, como
também fortalecer os apoios políticos dos prefeitos.
Título: Cássio leva caravana a seis cidades do Sertão
Texto: “A Caravana da Vitória”, como está sendo batizada por Cássio a mobilização
que envolve várias cidades da mesma região, incluiu desta vez os municípios de
Matureia, Imaculada, Água Branca, Juru, Tavares e chegou ao fim em Princesa
Isabel, com um grande comício. [...] Já em Imaculada, Cássio foi recepcionado pelo
prefeito Dada Lustosa, que apoia a candidatura do senador, juntamente com um
grupo de vereadores. Cássio também conta na cidade com a solidariedade do ex-
prefeito Dedé Pereira. “Vamos marchar com Cássio por uma Paraiba unida e que
saiba respeitar os desejos da população”, disse Dada. [...] Em Água Branca, quem
recebeu a comitiva de Cássio foi o ex-prefeito Siduca, uma das lideranças da cidade.
(Portal do Candidato, 10 set. 2014).
Título: Cássio encerra em Paulista circuito de visitas
54
Texto: Faltando pouco mais de 20 dias para as eleições gerais, foi através das ruas
lotadas e decoradas de amarelo que, na noite dessa sexta-feira (12), em mais quatro
cidades do Alto Sertão receberam com festa a Caravana da Vitória do senador
Cássio Cunha Lima (PSDB), candidato a governador pela Coligação A Vontade do
Povo. [...] Passava das 23h40 quando Cássio chegou a Paulista para o último
comício da noite. O avançado da hora não impediu a população de ocupar as ruas e
fachadas de casas e prédios, numa demonstração de que a mensagem de mudança da
coligação “A Vontade do Povo” é bem-vinda em toda a Paraíba (Portal do
Candidato, 13 set. 2014).
No primeiro texto, o próprio senador batiza as mobilizações como “A Caravana da
Vitória”. Em cada cidade, Cássio é recebido por uma autoridade que o apoia, como forma de
mostrar na região qual o grupo político que estava junto com ele. Na cidade de Imaculada, o
prefeito Dada Lustosa é o anfitrião; em Água Branca, foi o ex-prefeito Siduca. E assim por
diante.
No segundo texto, o portal faz referência à alegria da população das cidades que estão
recebendo a comitiva do candidato, como a decoração das ruas com o amarelo, cor oficial da
coligação “A Vontade do Povo”. A Caravana da Vitória se torna um grande evento, fazendo
com que a população vá escutar Cássio como se fosse um show de música. É nessa
encruzilhada que Cássio vai se tornando, não só um ativista político, mas também um artista
que leva multidões à “loucura”, como no exemplo abaixo:
Título: Cássio é aclamado como campeão de votos
Texto: “O campeão chegou/ Cássio governador!”. Foi sob essa aclamação, que
Cássio Cunha Lima (PSDB), candidato ao governo da Paraíba comandou o início da
Carreata da Vitória, promovida pela Coligação A Vontade do Povo, neste domingo
(21), em João Pessoa. Ao lado dos companheiros de chapa [...], Cássio foi bastante
festejado como o futuro governador do Estado [...], observando que a vontade do
povo está expressa nas fotos, cartazes, faixas, e na divulgação do número 45 e na
longa fila de carros, que se formou na principal via de acesso à zona sul (Portal do
Candidato, 21 set. 2014).
3.3 MARCAS NEOCORONELISTAS
Como já foi abordado neste trabalho, as marcas neocoronelistas podem ser
encontradas de diversas formas. Trabalhamos com a manutenção do poder através das
famílias, neste caso com os Cunha Lima. A seguir, abordamos qual foi a tática utilizada pelo
senador Cássio durante as eleições para conquista dos votos, verificando as diferenças entre o
Coronelismo e o Neocoronelismo. As marcas discursivas folkcomunicacionais, discutidas no
tópico anterior, também fazem parte das estratégias utilizadas pelo tucano, além da construção
do perfil neocoronelista, incluída no gráfico com os resultados finais.
55
3.3.1 Críticas ao adversário
Uma das características do Coronelismo era a de criticar os adversários políticos.
Primeiramente, para enfraquecê-los perante o curral eleitoral; segundo, para ampliar os apoios
políticos na região. Entretanto, essa atitude não nasceu durante esse regime oligárquico, mas
se fortaleceu, pois as brigas partidárias entre os coronéis se intensificavam com o decorrer dos
tempos, chegando inclusive a matar o adversário caso o oposicionista acabasse com sua
honra, exemplo que aconteceu com Ronaldo Cunha Lima ao tentar assassinar o ex-governador
Burity; em outros casos, as disputas eram mais acirradas por causa da obtenção do apoio do
governo estadual, pois era uma forma de trazer mais obras e investimentos para seu curral
eleitoral.
[...] As correntes políticas municipais se digladiam com ódio mortal, mas
comumente cada uma delas o que pretende é obter as preferências do governo do
Estado; não se batem para derrotar o governo no território do município, a fim de
fortalecer a posição de um partido estadual ou nacional não-governista: batem-se
para disputar, entre si, o privilégio de apoiar o governo e nele se amparar (LEAL,
1986, p. 48-49).
Durante as análises dos textos do portal do candidato Cássio Cunha Lima, foram
encontradas diversas críticas ao gestor Ricardo Coutinho, utilizando inclusive do discurso que
o socialista era um neocoronel, como já foi abordado no tópico anterior. Na segurança, por
exemplo, o tucano criticava o aumento da violência, apontando diversos fatores que fizeram
com que a insegurança na Paraíba estivesse tão crítica.
Título: Cássio lamenta números negativos da PB no Ideb
Texto: Sobre a segurança pública, o candidato do PSDB relembrou que o efetivo da
polícia Militar, atualmente com cerca de 9.100 homens e mulheres, diminuiu ao
invés de aumentar para 15 mil, número ideal segundo especialistas da área.
Apontando a realização de concursos públicos como uma das alternativas para
resolução do problema, Cássio garantiu que além dos militares, os bombeiros,
policiais civis e agentes penitenciários serão valorizados no que diz respeito aos
vencimentos (Portal do Candidato, 8 set. 2014).
Título: Violência: Números oficiais justificam crescimento
Texto: Os números oficiais mostram o que todo mundo sente nas ruas. A Violência
e a insegurança são grandes e estão aumentando. O número de roubos cresceu 73%
no primeiro trimestre deste ano em comparação com o do ano passado. No
município de Campina Grande, a PM registrou um aumento de 19% nos roubos a
pessoa, 30% às residências e de 178% em transportes coletivos, segundo evidencia
um dos últimos guias eleitorais do Cássio Cunha Lima (PSDB), candidato ao
governo do Estado pela Coligação A Vontade do Povo (Portal do Candidato, 11 set.
2014).
56
Em outro momento, Cássio denunciou a perseguição do governo com os funcionários,
a exemplo do texto publicado no dia 19 de setembro, na qual o candidato trazia à tona a
demissão de uma funcionária pro-tempore porque estava com câncer.
Título: Atual governo demite servidora com câncer.
Texto: Sem nunca ter faltado um só dia ao trabalho na escola, Maria da Luz teve de
pedir licença médica, no final de abril de 2014, para se submeter a um tratamento de
câncer, mais especificamente uma neoplasia maligna. Para sua surpresa, em julho,
mesmo com a legislação trabalhista dando amparo e estabilidade provisória, a
servidores foi sumariamente afastada dos cargos e das funções, sem qualquer
processo administrativo. [...] Em 18 de agosto último, Maria da Luz ingressou com
uma ação judicial contra o Governo do Estado, em Guarabira. Recorrendo à Justiça
Gratuita, a servidora pede para ser indenizada pelo constrangimento e por ter seus
direitos atropelados por mera perseguição política, sem direito à defesa ou
comunicação prévia (Portal do Candidato).
Vale salientar que Cássio usou o discurso da funcionária, não só como crítica ao
governo, mas também como uso da emoção para barganhar votos. A história de uma
demissão, sem justa causa, como também a doença, foram usadas pelo candidato para
fortalecer a ideia de que Ricardo Coutinho era um gestor sem “coração”, ou seja, sem
piedade, ao mesmo tempo para criar a imagem que Cássio era o governante dos mais
humildes e opressivos. Assim sendo, essas características fizeram parte do discurso político
do ex-governador, diferentemente dos tempos do Coronelismo, onde a força bruta era usada
para ganhar as eleições.
As criticas ao “sem coração” Ricardo Coutinho são identificadas em outros trechos.
Título: Comícios gigantes em Itaporanga e Pedra Branca
Texto: Da presidente ao trabalhador rural, todos nós só temos apenas um voto. E
devemos usá-lo como a expressão maior do nosso compromisso com uma sociedade
mais justa, humana, para que o poder seja exercido, sobretudo, com solidariedade.
Por isso que julgo importante olhar, como primeira análise, para o comportamento e
prática política de quem está no governo. Tem gente que prefere ser temido do que
ser querido (Portal do Candidato, 17 set. 2014).
Título: Cássio: Quero criar um ambiente de diálogo, de paz.
Texto: Durante entrevista ao programa JPB 1ª Edição, das TVs Cabo Branco e
Paraíba, afiliadas da Rede Globo, [...] o senador Cássio Cunha Lima (PSDB) voltou
a criticar duramente a postura de intransigência e perseguição política da atual
gestão estadual. E destacou seu compromisso de reconciliar o governo com a
sociedade. “Chega de briga, quero criar um ambiente de diálogo, de paz”, afirmou o
candidato tucano (Portal do Candidato, 17 set. 2014).
A partir disso, verifica-se que Cássio Cunha Lima fez o uso do discurso emotivo como
ferramenta fundamental para chegar ao Palácio da Redenção, através das críticas construídas
57
para “danificar” a imagem do adversário. Mostra-se também que nos dias de hoje a
aproximação com os mais carentes é uma das características do Neocoronelismo no Nordeste,
apontadas consoante o discurso do político.
Em suma, a desconstrução da imagem do opositor, utilizada no sistema coronelista,
continua, não tão forte, mas como elemento de um embate eleitoreiro e político. Através dos
textos do portal da coligação “A Vontade do Povo”, verificou-se que, para diminuir a
exposição do governador e o uso da máquina pública para a reeleição, atacá-lo era
imprescindível para ganhar as eleições, fato que não ocorreu no final.
3.3.2 Apoios Políticos
O prestígio de Cássio perante as autoridades políticas era um fator muito importante
na campanha. Por causa das pesquisas que indicavam a vitória de Cássio no primeiro turno,54
diversos prefeitos romperam com Ricardo para apoiar o tucano, a exemplo da prefeita do
Conde, Tatiana Medeiros. Cássio ganha uma grande conjuntura de alianças para a eleição,
como o vice-governador Rômulo Gouveia (que briga com Ricardo após perder a vaga de
senador para o petista Lucélio Cartaxo), a ex-secretária de Finanças Aracilba Rocha, entre
outros. O candidato, em muitos momentos, agradece o apoio dado pelas lideranças políticas,
criando assim um vínculo eleitoreiro visando seu projeto pessoal.
Título: Cássio reúne multidões durante circuito de visitas
Texto: “A politica serve para isso, para unir e servir as pessoas. Quero agradecer
aqui ao prefeito Hugo e ao ex-prefeito Capuchinho pela compreensão em torno do
nosso projeto”, disse o senador Cássio (Portal do Candidato, 12 set. 2014).
Título: Cássio leva caravana a seis cidades do Sertão
Texto: No município de Tavares, Cássio tem o apoio do prefeito Ailton Suassuna e
do ex-candidato a prefeito Coco de Adálio. Os dois grupos políticos se uniram em
torno da candidatura do senador. “Em diversos municipios essa cena se repete, com
a união de todas as forças políticas em torno da nossa candidatura”, celebrou o
candidato do PSDB ao governo (Portal do Candidato, 11 set. 2014).
Como ocorria no Coronelismo, os apoios políticos eram importantes quando
chegavam as eleições. A partir das alianças era possível prever quem ganharia o pleito,
dependendo de quem apoiasse tal candidato. No Neocoronelismo percebe-se que tal prática
continua fazendo parte do meio político. Com o apoio de tal família ou grupo para um
54 Na pesquisa espontânea do Ipespe Cássio também tem ampla vantagem. Disponível em:
<http://paraibaonline.com.br/noticia/932626-na-pesquisa-espontanea-do-ipespe-cassio-tambem-tem-ampla-
vantagem.html>. Acesso em: 11 dez. 2014.
58
candidato, as chances dele ganhar aumentam. Ricardo, por estar no cargo, naturalmente teve o
apoio de muitos prefeitos. Cássio, mesmo na oposição, conseguiu reunir também um bom
número de lideranças ao seu lado. Verifica-se, nesse caso, que a força política dos Cunha
Lima ainda era muito forte, mesmo longe do governo.
Título: Grupo de 23 lideranças de Cabedelo anuncia apoio
Texto: Um grupo de 23 lideranças do município de Cabedelo, região metropolitana
de João Pessoa, anunciou em bloco apoio à candidatura do senador Cássio Cunha
Lima (PSDB), da Coligação A Vontade do Povo, na manhã desta quinta-feira, 11.
Ex-vereadores, suplentes e lideranças comunitárias entregaram um manifesto a
Cássio, justificando a adesão e formalizando pleitos em favor da cidade portuária
(Portal do Candidato, 11 set. 2014).
Título: Cássio reúne milhares de lideranças na Capital
Texto: O Ginásio do Clube Cabo Branco ficou pequeno para caber correligionários
do senador Cássio Cunha Lima, que participaram do Encontro de Lideranças
Políticas na tarde desta quinta-feira (18) que apoiam a chapa majoritária da
Coligação A Vontade do Povo. Prefeitos, ex-prefeitos, vereadores e líderes políticos
de todas as regiões do Estado se fizeram presentes ao Cabo Branco para manifestar
seu apoio à candidatura do senador ao governo e de Wilson Santiago ao Senado
Federal (Portal do Candidato, 18 set. 2014).
Título: Cássio leva caravana a seis cidades do Sertão
Texto: Já no município de Juru o ex-prefeito Doutor Toinho foi receber Cássio na
entrada da cidade e realizou uma grande carreata juntamente com seus amigos e
correligionários. “Vamos lhe dar uma vitória esmagadora aqui em Juru, porque o
povo desta cidade acredita no seu trabalho”, disse Doutor Toinho (Portal do
Candidato, 10 set. 2014).
Nesses três trechos, percebemos as formas que o portal do candidato Cássio Cunha
Lima usava para se referir aos apoios políticos. No primeiro, a intenção era exaltar as novas
forças políticas que estavam anunciando apoio ao senador. Vale salientar que Cássio teve
dificuldades em conquistar votos na grande João Pessoa e, por isso, ao receber esses apoios, o
tucano tinha como objetivo amenizar a diferença de votos que tinha com o governador
Ricardo Coutinho; no segundo, os apoios políticos eram mostrados para engrandecer os
eventos da campanha. A ideia era reunir, em um mesmo local, um grande número de
lideranças e correligionários para dizer que a campanha da coligação tinha força política,
mesmo estando fora do governo; no último, cada vez que Cássio chegava em uma cidade, era
recebido por um político que o apoiava, como acontecia nas caravanas realizadas pelo tucano.
Em geral, os apoios partidários foram fundamentais para Cássio, inclusive para
fortalecer sua campanha nos meios de comunicação. Faziam parte da coligação 14 partidos
(PSDB, PEN, PSC, PP, PTB, PR, PPS, PSDC, PSD, SDD, PMN, PT do B, PRB e PTN) que
deram a Cássio o maior tempo no guia eleitoral, com 7 minutos e 13 segundos, contra 5
59
minutos e 23 segundos da coligação A Força do Trabalho, encabeçada pelo governador
Ricardo Coutinho.
No final, percebe-se que os apoios recebidos foram fundamentais para que Cássio
chegasse ao 2º turno na frente. Entretanto, ao receber o apoio do PMDB, Ricardo consegue
adentrar em cidades que antes não estavam votando no governo, fazendo com que as “armas”
utilizadas por Ricardo fossem mais fortes, vencendo as eleições de 2014.
3.3.3 Tipo de Coronel
Dentre os tipos de coronéis citados por Pang (1979) e de acordo com os resultados da
análise do discurso, o candidato Cunha Lima tem semelhanças com os “familiocráticas” e
“personalistas”.
Em relação à primeira característica, a linhagem política dos Cunha Lima, a partir de
Ronaldo, vem crescendo com o decorrer dos anos. Esse clã que começou pelo poeta e que
continuou nas mãos de Cássio, se perpetua com outros nomes da família, a exemplo de Pedro
Cunha Lima, neto de Ronaldo, e de Romero Rodrigues, primo de Cássio. Portanto, o tucano é
incluído como um familiocrática, por causa da relação de poder através das gerações.
E personalista, por causa do carisma pessoal. Entretanto, nesse caso, a característica
que marcou o poeta Ronaldo foi passada para o filho, fazendo com que esse fator se tornasse
“hereditário”. Cássio age pela relação que tem com a população, criando uma identidade forte
com eles. Ronaldo era conhecido pelas conversas com as pessoas nos mercados ou áreas
periféricas; Cássio, pela execução de programas sociais. Portanto, esse tipo de coronel, a
partir do que já foi discutido, tem semelhanças com a atuação do ativista social e político.
3.3.4 Panorama Geral
Até agora, percebemos que o papel do novo coronel possui algumas similaridades e
diferenças com o antigo regime coronelista. Nesse tópico, trouxemos uma abordagem geral
sobre o que foi a campanha do candidato Cássio Cunha Lima a partir das temáticas de cada
texto publicado no portal da coligação A Vontade do Povo. Dessa maneira, identificamos as
ideias mais importantes que o tucano utilizou para atrair eleitores.
60
No total, durante as duas semanas de análise do material,55 foram publicados 49 textos,
sem levar em consideração as publicações referentes aos vídeos ou outros meios, a exemplo
das redes sociais. Abaixo segue como foi dividida as temáticas56 de cada nota informativa:
Tabela 1- Divisão dos textos do portal da coligação A Vontade do Povo por temáticas e quantidades
TEMÁTICA QUANTIDADE
Promessas 7
Críticas ao adversário 13
Caravanas/Eventos 14
Apoios Políticos 2
Campanha57 4
Gestão58 3
Outros59 6
Fonte: Próprio autor
O gráfico a seguir detalha, em porcentagens,60 os resultados dessa amostra:
55 8 a 21 de setembro de 2014. 56 As temáticas foram definidas a partir dos títulos de cada postagem. 57 Notícias relacionadas com a campanha, interna ou externa, a exemplo de convites para eventos, horários de
carreatas etc. 58 Notícias relacionadas com as ações desenvolvidas por Cássio na sua primeira gestão como governador, 2002-
2009. 59 Notícias que não se encaixam nas alternativas anteriores. 60 Com valores aproximados, totalizando 99,98%.
Gráfico 1- Abordagem geral das matérias a partir das porcentagens
Fonte: Próprio autor
61
No gráfico 1, ilustramos as porcentagens de cada temática discutida pelo candidato no
portal da coligação. A partir desses dados, verificamos como foi desenhado as estratégias
utilizadas por Cássio Cunha Lima nas eleições de 2014, mesmo que durante um pequeno
espaço de tempo.
Em geral, em uma sociedade preocupada com o futuro da sua localidade, as promessas
seriam muito importantes na decisão do voto. No caso do tucano, somente 14,28% dos textos
tinham como temática alguma proposta para a Paraíba. Na verdade, a campanha do candidato
se preocupou em atacar o adversário ou divulgar a agenda das caravanas, com 26,53% e
28,57% respectivamente.
Nessa conjuntura, percebemos que, para o novo coronel, o ataque aos adversários é
mais importante do que discutir ideias que possam transformar o estado. Além disso, as
propostas discutidas sempre vinham com alguma crítica ao governador Ricardo Coutinho,
como no exemplo citado abaixo, em relação à violência.
Título: Manzuá: Cássio critica desmonte de Segurança
Texto: Ainda na segurança pública, o candidato da Coligação A Vontade do Povo
anunciou que vai realizar concursos todos os anos para aumentar os quadros das
polícias Civil e Militar, que foram reduzidas na atual gestão. Quando Cássio deixou
o governo, a PM contava com 10.539 homens e a Polícia Civil com 2.136. Hoje, o
efetivo das polícias conta com 9.134 e 1.850, respectivamente (Portal do Candidato,
11 set. 2014).
Ou seja, em vez de se preocupar em discutir ações importantes para a Paraíba, Cássio
utilizava as críticas ao socialista como forma de mostrar à população que a atual gestão não
tinha cumprido as promessas feitas em 2010, e que o tucano era a opção mais segura para
trazer investimentos e melhorias. Como já foi abordado neste capítulo, a aproximação com os
humildes tinha também esse objetivo.
A quarta temática mais discutida nos textos da coligação A Vontade do Povo, com
12,24%, foram referentes as notícias que não tinham alguma relação com os outros temas ou
com o candidato Cássio Cunha Lima, como, por exemplo, depoimentos do candidato ao
Senado Wilson Santiago (PTB); em outros textos, Cássio respondia a denúncias feitas pelo
governador ou comemorava seu registro de candidatura, já que haviam muitas dúvidas se o
tucano era inelegível, por causa da Lei Ficha Limpa.
Título: Cássio comemora resultado no TSE: Agora é no voto
Texto: Visivelmente emocionado, o senador Cássio Cunha Lima (PSDB), candidato
a governador pela Coligação A Vontade do Povo, em sua primeira participação no
debate promovido pela TV Clube, na noite desta quinta-feira, 11, comemorou a
decisão instantes antes do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que parcialmente, por
62
maioria dos votos, aprovou o registro de sua candidatura. “O Tribunal Superior
Eleitoral acaba de confirmar o que eu sempre disse: sou elegivel”, celebrou Cássio
[...] (Portal do Candidato, 11 set. 2014).
Logo em seguida, com 8,16%, prevaleceram as notícias referentes à campanha do
candidato. Percebe-se que o portal de Cássio era a forma que os eleitores tinham para ficarem
sabendo da agenda do tucano. Já com 6,12%, a gestão no governo do Estado, quando Cássio
era governador, ficou em sexto lugar. Com isso, o tucano também tinha a preocupação de
mostrar aos eleitores as ações que foram realizadas por ele, no período de 2003 a 2009,
interrompidos pela cassação do mandato.
Título: Cássio destaca obras realizadas por seu governo
Texto: O candidato tucano ao Governo enumerou uma série de obras que fez em
João Pessoa e destacou o esgotamento sanitário em diversos bairros da cidade, o
abastecimento de água do Conjunto Valentina Figueiredo, a criação do Conjunto
Colinas do Sul e outras realizações. Cássio também lembrou a quitação de 55 mil
casas que estavam construídas em diversos conjuntos habitacionais de João Pessoa,
mas faltava o documento que dava ao inquilino a posse com a escritura do imóvel
[...]. Através de uma solução criativa, o Estado pagou o seguro e o inquilino passou
a ser o proprietário em definitivo do imóvel (Portal do Candidato, 14 set. 2014).
O interessante é ressaltar que, mesmo sendo uma das estratégias mostrar os apoios
políticos conseguidos pelo tucano, somente 4,08% dos textos faziam referência
exclusivamente a essa temática. Vale salientar que, nesse caso, foram contabilizados somente
as notícias referentes aos novos apoiadores da campanha. Nos textos sobre as caravanas, por
exemplo, sempre havia a figura de um líder político da cidade. Mesmo assim, durante o
período de análise dos textos do portal da coligação A Vontade do Povo, poucos foram os
novos aliados, mostrando assim as dificuldades em obter apoios quando se está na oposição.
A partir desse panorama geral, fica mais claro as estratégias utilizadas por Cássio para
ganhar as eleições. Em relação ao caso específico, o neocoronel prefere debater a imagem do
governo que discutir ideias e propostas para o futuro; prefere obter a atenção da população a
partir do carinho que conquistar votos através das promessas nas áreas da educação, saúde,
esportes etc. No final, mesmo tendo vencido a disputa no primeiro turno, Cássio perde as
eleições para o governo do Estado, regressando para o Senado Federal por mais quatro anos.
3.4 PERFIL DO NOVO CORONEL
A partir do que foi discutido neste capítulo, o perfil abaixo foi constituído a partir da
junção dos resultados das marcas discursivas folkcomunicacionais e neocoronelistas.
63
Cássio Cunha Lima foi concebido, nessa monografia, como um “coronel” a partir de
um fator importante do Neocoronelismo que é a manutenção do poder a partir das gerações da
família. Seu pai, o ex-governador Ronaldo Cunha Lima, também foi filho de políticos,
entretanto não chegou ao poder pelo sobrenome, já que seu pai, prefeito de Araruna, tinha
falecido quando ele era ainda muito jovem, tendo que sustentar a família trabalhando de
diversas formas em Campina Grande, como, por exemplo, de garçom. Mas a partir da
trajetória construída por Ronaldo, os Cunha Lima conseguiram se perpetuar na Paraíba,
através de outros nomes.
A relação de amor da população com Cássio se inicia a partir das ações populares que
Ronaldo tomou antes da vinda do filho para o meio político. O tucano conseguiu continuar o
movimento, criando programas sociais que pudessem abranger a maior parte dos mais
humildes da Paraíba. Essa foi a principal marca encontrada nos textos do portal do candidato.
Portanto, durante a eleição, o foco de Cássio foi buscar nos pobres e oprimidos a crítica maior
ao governador Ricardo Coutinho.
Em cada cidade que Cássio chegava, os textos mostravam que a população se
contagiava com as caravanas. Não se preocupavam nas promessas e sim na “liberdade” que
Cássio traria caso chegasse ao governo. Observa-se que o principal feito do tucano seria
acabar com as perseguições com os mais pobres, melhorando a vida de cada um.
A partir dos resultados obtidos, outra característica marcante desse novo coronel são
as críticas ao adversário. Cássio se preocupava mais em atacar o governo do que propor
medidas e estratégias que pudessem melhorar a vida da população.
Abaixo, segue o perfil do novo coronel:
Líder popular, preferindo ser amado que temido;
Conquista de votos a partir do carisma com a população de baixa renda;
Lider “messiânico”, prometendo trazer liberdade e justiça para o estado;
Líder político, com prestigio no grupo que domina;
Uso de emoções para sensibilizar a população;
Promessas de cunho popular, alcançando os mais carentes;
Na oposição, é um líder que busca, nas críticas, atingir o governo, mostrando à
população os erros da gestão, principalmente através do uso de emoções;
No governo, é um aliado político, um líder carismático;
64
Liderança política dentro da família, responsável por ampliar o domínio
político do estado através das gerações;
Busca pelo poder.
Ou seja, toda a preocupação do neocoronel se resume em uma única frase: busca pelo
poder. Para tanto, o uso da imagem se faz necessário para que o eleitor se sinta mais próximo
do candidato. O discurso emotivo é uma característica pertinente, conquistando votos
daqueles que não se apoquentam com o bem estar ou com os problemas existentes na
comunidade.
Outro fator importante é o uso da internet na consolidação de um projeto político,
principalmente através das redes sociais. Cresce cada dia as interações entre o eleitor e o
candidato, fazendo com que haja uma relação mútua que não existia, por exemplo, com a
televisão. Os laços são construídos e fidelizados a partir da intimidade proposta pelo político.
Assim sendo, o neocoronel domina, não mais pela violência, como se via na República
Velha, mas sim na construção intimista com a população, através do discurso emotivo, da
aproximação com o eleitor, do uso de meios de comunicação, principalmente da internet,
entre outros.
65
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
De certa forma, Cássio Cunha Lima construiu, através da figura do seu pai, uma
grande trajetória política, perpassando por vários cargos, desde deputado federal até
governador. Soube produzir, na população paraibana, um sentimento de carinho e de afeto,
principalmente com os mais humildes do estado, como foi verificado durante o decorrer deste
trabalho; criou uma identidade e uma personalidade que são marcas de poucos políticos na
Paraíba.
O Coronelismo ainda é um processo vigente em nosso país, mesmo com o avanço da
democracia e as fiscalizações rigorosas da Justiça, Em todas as eleições, infelizmente,
continuamos escutando casos de troca e compra de votos, corrupção, uso dos meios de
comunicação para favorecer certo candidato etc. Por isso, através deste trabalho, percebe-se
que esses casos, provenientes do regime coronelista, funcionam de forma sutil e às vezes
silencioso nos dias de hoje. Dessa forma, tenho que discordar de Barbalho (2007) e de
Carvalho (1987) quando afirmam que é errôneo usar o termo “Neocoronelismo” em relação à
região Nordeste.
O novo coronel é muito diferente do antigo, como na relação pessoal com a população.
Não temos mais os votos de cabresto, entretanto, os currais eleitorais continuam funcionando
como meros locais que dão força política ao regime. É o caso de Campina Grande, que
reverencia o tucano com boa parte dos votos.
Por isso, a Folkcomunicação foi importante na análise discursiva desse neocoronel. A
relação popular entre o líder e o povo é uma marca forte dos Cunha Lima e, portanto, a teoria
criada por Luiz Beltrão ajudou a perceber melhor a campanha da coligação A Vontade do
Povo, nome que fortalece esse vínculo. Além de ter posições neocoronelistas, Cássio é
identificado como um agente folk, dentro desse contexto social, segundo os estudos de
Trigueiro (2008).
Durante as duas semanas de análise do material do portal da candidatura, foram quase
escassas as promessas que realmente podiam mudar alguma coisa. Cássio prometia retornar
programas sociais que o atual governador havia abandonado, porém pouco discutia novos
rumos na educação, na saúde etc. A relação com os excluídos pela sociedade não é uma
crítica. Mas é preciso que haja investimentos concretos para que as pessoas possam melhorar
suas vidas sem se preocuparem se tal político é carinhoso ou não, fator esse, citado por Pang
(1979) como uma marca do neocoronel. Os votos são conquistados, não mais pela violência,
mas sim pela personalidade e pelo carisma construídos numa relação mútua com os eleitores.
66
A eleição de 2014 foi marcada por muitos embates e poucas propostas. De um lado,
Ricardo prometia cumprir em mais quatro anos o que não havia feito no primeiro governo
dele; Cássio, cumprir no mesmo período o que não fez em sete anos. Enquanto isso, a
população paraibana continuava em dúvida sobre em quem votar, em quem confiar. No final,
Ricardo venceu a disputa. Nas ruas, inclusive na imprensa, a vitória do socialista representava
o fim das oligarquias na Paraíba. Porém, para ganhar o pleito, Ricardo teve que adaptar o
discurso para que o PMDB, liderado pelo senador José Maranhão, o apoiasse. Sendo assim,
continuamos divididos em dois grupos. De certa forma, por não vim de um berço político,
Ricardo mostrou que não é preciso ter “sobrenome” para vencer as eleições. Isso mostra que
certas coisas vêm mudando na Paraíba. Mas não é só de discurso e de números que o estado
cresce. É preciso mais atenção com os paraibanos, tão esquecidos por nossos governantes.
Cássio, mesmo com todo seu prestígio político, não conseguiu repetir a vitória que
obteve no primeiro turno, perdendo assim sua primeira eleição. Entretanto, o tucano terá mais
quatro anos no Senado e ainda não se sabe o que fará no futuro.
No novo coronelismo o que importa é o resultado, não se preocupando com o início ou
desenvolvimento dos fatos, sendo motivado pela crítica aos adversários políticos; em suas
promessas, não traz soluções para os grupos marginalizados; prefere ser querido do que
temido; é o messias vestido de cordeiro.
Entretanto, podemos encontrar outras características do Neocoronelismo em outros
personagens. Nesta monografia, trabalhamos com a manutenção do poder através das
gerações, como foi o caso dos Cunha Lima. Isso vai depender da área que vamos estudar. Por
exemplo, tal político tem uma emissora de rádio. Ele vai ser candidato a prefeito da cidade
que está instalada esse meio de comunicação. A pergunta é: Como é que tal rádio vai se
comportar em relação ao seu dono? Será que ela será neutra no processo? A partir disso o
Neocoronelismo terá uma outra face.
Com este trabalho, a ideia foi contribuir com os estudos nessa área. Durante a pesquisa
de material bibliográfico, poucos foram os textos que tratavam sobre o assunto. Beltrão
(1980), por exemplo, traz um outro significado para o Neocoronelismo, relacionando-o com
as grandes marcas produtoras. Sendo assim, abrange-se o leque de opções que podem
esclarecer e ajudar a entender a temática.
Discutir as problemáticas sociais e políticas de uma região são importantes para
entender o atual cenário econômico do nosso país. A partir disso, podemos criar alternativas
que possam mudar essa situação, mecanismos que tragam mais rigorosidade ao processo.
Investir em educação, aumentar as fiscalizações, são exemplos de como podemos avançar na
67
democracia. O Coronelismo ainda é um retrato social da região Nordeste e é preciso que esse
regime possa se enfraquecer ainda mais. Isso, claro, depende também da população em querer
mudanças que possam trazer, realmente, novos caminhos. Houve, de certo modo, um novo
pensamento nas eleições de 2014, com a renovação de boa parte dos deputados, por exemplo.
É um ciclo que continua e é nosso dever fazer com que ele cesse suas atividades. A derrota de
Cássio, na Paraíba, é um exemplo disso.
Em relação aos objetivos propostos na introdução deste trabalho, foram realizados,
desde a análise das marcas discursivas folkcomunicacionais e neocoronelistas, até a
elaboração do perfil do novo coronel, processos que ajudaram a entender um pouco mais a
situação política, não só da Paraíba, mas também da região Nordeste como um todo, pois a
questão da manutenção do poder no âmbito familiar não é uma exclusividade do território
paraibano. No Maranhão, quem domina é a família Sarney; na Bahia, o grupo Magalhães
ainda possui influência no estado.
Vale salientar que os dados obtidos neste trabalho poderiam ser diferentes, caso
fossem usados outros canais, a exemplo da propaganda gratuita veiculadas na televisão e no
rádio. Ou, se o objeto de estudo fosse outro. Entretanto, teríamos que mudar o tipo de
neocoronelismo que estava sendo praticado. Se fossemos trabalhar com o governador Ricardo
Coutinho, as marcas discursivas seriam analisadas a partir do âmbito do uso da máquina
pública na eleição, prática usada recorrente por políticos que estão disputando a reeleição.
É provável também que no futuro o filho de Cássio, Pedro Cunha Lima, seja candidato
à Prefeitura de Campina Grande ou até mesmo ao Governo do Estado. O interessante seria
fazer uma comparação das marcas discursivas encontradas na eleição disputada por Pedro
com os resultados deste trabalho, para verificar se as atitudes e estratégias tomadas seriam as
mesmas.
Que a Paraíba possa avançar nos próximos anos, tornando-se “independente” de
qualquer grupo político. E que a população tenha mais consciência do voto. Não adianta ficar
reclamando de tal político durante quatro anos e na eleição subsequente votar nele. Acredito
que a Lei Ficha Limpa foi uma grande vitória da sociedade. Mas é preciso outros grandes
saltos para que tenhamos mais confiança na democracia.
Observa-se, portanto, que não estão esgotadas as possibilidades de investigação a
respeito do objeto pesquisado.
68
5 REFERÊNCIAS
ALBUQUERQUE Jr., Durval Muniz de. O preconceito contra o nordestino. In:
ALBUQUERQUE Jr., Durval Muniz de. Preconceito contra a origem geográfica e de
lugar: as fronteiras da discórdia. São Paulo: Cortez, 2007.
AMADO, Jorge. Gabriela, cravo e canela. 85. ed. Rio de Janeiro: Record, 2001.
AMPHILO, Maria Isabel. A Gênese da Folkcomunicação. RIF, Ponta Grossa/PR, Volume
10, Número 21, p.13-30, set./dez. 2012. Disponível em:
<http://www.revistas.uepg.br/index.php?journal=folkcom&page=article&op=viewFile&path
%5B%5D=1545&path%5B%5D=1092>. Acesso em: 8 fev. 2015.
ANDRADE, I. R. C; FEITOSA, Y. H. S.; LUCENA FILHO, S. A.; GADELHA, F. G.
SOPÃO DA SOLIDARIEDADE: Elemento folkcomunicacional do ativismo social e
político. In: XVI CONFERÊNCIA BRASILEIRA DOS ESTUDOS DA
FOLKCOMUNICAÇÃO E DESENVOLVIMENTO LOCAL, 2013, Juazeiro do Norte. GT3:
Conteúdos de Folkcomunicação Comunicação Científica, 2013. Disponível em:
<https://drive.google.com/folderview?id=0BykpCRHBEOq2MGhUSFRub1ZJU2M&usp=sha
ring&tid=0BykpCRHBEOq2RjU2blFlVDUwNE0>. Acesso em: 11 jan. 2015.
BARBALHO, Alexandre. Os modernos e os tradicionais: cultura política no Ceará
contemporâneo. In: Estudos de Sociologia, Araraquara, v.12, n.22, p.27-42, 2007. Disponível
em: < http://seer.fclar.unesp.br/estudos/article/viewFile/347/211>. Acesso em: 13 nov. 2014.
BELTRÃO, Luís. Folkcomunicação: a comunicação dos marginalizados. São Paulo: Cortez,
1980.
______. Folkcomunicação: um estudo dos agentes e dos meios populares de informação de
fatos e expressões de ideias. Porto Alegre: EDIPUC, 2001.
BENJAMIM, Roberto Emerson Câmara. Folkcomunicação no contexto de massa. João
Pessoa: Editora Universitária/UFPB, 2000.
BOURDIEU, Pierre. Efeitos de Lugar. In: ________(org) A miseria do mundo. Petrópolis,
RJ: Vozes, 1997.
CARVALHO, Rejane. Coronelismo e Neocoronelismo: eternização do quadro de análise
política do Nordeste? Recife: Caderno de Estudos Sociais, v.3, 1987, p.193-206. Disponível
em: < http://periodicos.fundaj.gov.br/CAD/article/view/1025/745>. Acesso em: 13 out. 2014.
CHARAUDEAU, Patrick. Pathos e discurso político. Trad. Emília Mendes. In:
MACHADO, Ida Lucia; MENZES, William; MENDES, Emília (orgs.). As emoções no
discurso. Rio de Janeiro: Lucerna, 2007.
COLUSSI, Eliane Lucia. Estado Novo e Municipalismo Gaúcho. Passo Fundo: EDIUPF,
1996.
69
FAIRCLOUGH, Norman. Análise Crítica do Discurso como Método em Pesquisa Social
Científica. In: WODAK; MEYER (orgs.). Methods of critical discourse analysys. Londres:
Sage, 2 ed., 2005, p.121-138. Disponível em:
<www.revistas.usp.br/linhadagua/article/download/47728/51460>. Acesso em: 29 nov. 2014.
FARIAS, Airton. Historia do Ceará: dos indios a geração cambeba. Fortaleza: Tropical
Editora, 1997.
FERREIRA, A. B. H. Aurélio século XXI: o dicionário da Língua Portuguesa. 3. ed. rev.
e ampl. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999.
FONSECA, J. J. S. Metodologia da pesquisa científica. Fortaleza: UECE, 2002. Disponível
em: < http://books.google.com.br/books?id=oB5x2SChpSEC&printsec=frontcover&hl=pt-
BR&source=gbs_ge_summary_r&cad=0#v=onepage&q&f=false>. Acesso em: 11 jan. 2015.
FOUCAULT, Michael. A ordem do discurso. São Paulo: Loyola, 5ª ed., 1999. Disponível
em: <http://projetophronesis.files.wordpress.com/2009/08/foucault-michel-a-ordem-do-
discurso-aula-inaugural-no-college-de-france.pdf>. Acesso em: 25 nov. 2014.
GOLDONI, Aline Cordeiro. Estabelecendo a ordem: a formação da Guarda Nacional e sua
importância na manutenção da ordem interna durante a guerra com o Paraguai (1864-1870).
In: Dossiê História Política do Brasil: historiografia, história e memória. Catalão:
Universidade Federal de Goiás, 2012.
LEAL, Vitor Nunes. Coronelismo, enxada e voto: o município e o regime representativo no
Brasil. 5. Ed. São Paulo: Alga-Omega, 1986.
LIMA, Helcira. O réu: um olhar vigilante. In: MILANEZ, Nilton; SANTOS, Janaina de Jesus
(org). Análise do discurso: sujeito, lugares e olhares. São Carlos: Claraluz, 2009.
MARTINS, José de Souza. Os Camponeses e a Política no Brasil, Petrópolis:
Vozes, 1981.
MORAES, José G. V. de. História Geral e Brasil. São Paulo: Atual Editora, 2005.
NÓBREGA, Zulmira. A festa do Maior São João do Mundo: Dimensões culturais da festa
junina na cidade de Campina Grande. João Pessoa: CCTA/UFPB, 2014.
ORLANDI, Eni Puccinelli. Análise de Discurso: princípios e procedimentos. 6. ed. –
Campinas: Pontes, 2005.
PANG, Eul-Soo. Coronelismo e Oligarquias -1889-1934: A Bahia na Primeira República
Brasileira. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1979.
PLANTIN, Christian. A argumentação: história, teorias, perspectivas. Trad. Marcos
Marcionilo. São Paulo: Parábola, 2008.
SALETTO, Nara. Donatários, colonos, índios e jesuítas: o início da colonização no Espírito
Santo. Vitória: Arquivo do Estado do Espírito Santo, 2011.
70
BOBBIO, Norberto. Oligarquia. In: BOBBIO, Norberto; MATTEUCCI, Nicola; PASQUINO,
Gianfranco (Orgs.). Dicionário de Política. Brasília: Universidade de Brasília, 1998.
Disponível em: <http://www.filoczar.com.br/Dicionarios/Dicionario_De_Politica.pdf>.
Acesso em: 10 jan. 2015.
SILVA, Adriana Elias da. Acumulação de riqueza e relações de poder: particularidades
sócio históricas do Rio Grande do Norte. In: V Jornada Internacional de Políticas Públicas,
São Luiz, 2011. Disponível em:
<http://www.joinpp.ufma.br/jornadas/joinpp2011/CdVjornada/JORNADA_EIXO_2011/DES
IGUALDADES_SOCIAIS_E_POBREZA/ACUMULACAO_DE_RIQUEZA_E_RELACOE
S_DE_PODER.pdf>. Acesso em: 6 fev. 2015.
SUASSUNA, Ariano. Auto da Compadecida. 25ª ed. Rio de Janeiro: Agir, 1990.
TRIGUEIRO, Osvaldo Meira. Folkcomunicação & ativismo midiático. João Pessoa:
Editora Universitária da UFPB, 2008, 162p.
top related