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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA
FACULDADE DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE
CLEZIO RODRIGUES DE CARVALHO ABREU
EXPOSIÇÃO A DESREGULADORES ENDÓCRINOS E SÍNDROME DOS
OVÁRIOS POLICÍSTICOS: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA
BRASÍLIA 2017
ii
UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA
FACULDADE DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE
CLEZIO RODRIGUES DE CARVALHO ABREU
EXPOSIÇÃO A DESREGULADORES ENDÓCRINOS E SÍNDROME DOS
OVÁRIOS POLICÍSTICOS: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA
Dissertação apresentada como requisito
parcial à obtenção do Título de Mestre em
Ciências da Saúde pelo Programa de Pós-
Graduação em Ciências da Saúde da
Universidade de Brasília
Orientadora: Angélica Amorim Amato
BRASÍLIA 2017
iii
AGRADECIMENTOS
O Deus, que me deu coragem, saúde e a certeza de que toda conquista é
mérito de quem a busca. Louvado seja o Teu Nome.
A Nossa Senhora Maria mãe de Jesus e minha mãe, que nunca me abandonou
e sempre intercedeu por mim.
A minha esposa Juliana e minhas filhas Anna Clara e Alice que sempre me
deram força e é o motivo de tudo isso.
Aos meus pais, Raimundo Abreu Raulino e Maria Rodrigues de Carvalho
Abreu, por serem os meus pilares e exemplos de honestidade e trabalho.
A minha orientadora, Professora Angélica Amorim Amato, por ser exemplo de
humanidade, paciência e carinho com o próximo. E por ter acreditado em mim.
Aos meus irmãos, que me apoiaram em todas as minhas empreitadas rumo ao
conhecimento.
Aos meus irmãos e irmãs em Cristo, que sempre intercederam por mim junto a
Jesus.
Ao meu eterno amigo, Beto que me mostrou o poder do conhecimento e foi o
maior incentivador no início da minha jornada acadêmica.
vi
RESUMO
Introdução: A síndrome dos ovários policísticos (SOPC) tem grande importância clínica, uma vez que sua prevalência vem aumentando e que apresenta implicações clínicas significativas, incluindo reprodutivas, metabólicas e psicológicas. Sua etiologia é complexa e multifatorial, e envolve fatores genéticos, ambientais e comportamentais. Dados de alguns estudos observacionais sugerem a associação entre a exposição a desreguladores endócrinos (DEs) e sua ocorrência. Objetivo: Analisar, por meio de revisão sistemática de estudos observacionais em humanos, se há associação entre a exposição a DEs e a ocorrência de SOPC. Método: Foi realizada busca, nas bases de dados PubMed/Medline, Web of Science, Scopus, Lilacs e Biblioteca Cochrane, de estudos observacionais em humanos que analisaram a associação entre a exposição a DEs e a ocorrência de SOPC, e publicados até maio de 2017, sem restrição de língua. A busca foi efetuada pela combinação de termos relacionados aos DEs e à SOPC. A qualidade metodológica dos estudos foi avaliada com a utilização da escala de Newcastle-Ottawa. Resultados: Foram identificados 145 artigos que atenderam aos critérios de busca; destes, 7 estudos atenderam aos critérios de inclusão. Estes estudos, de corte transversal ou caso-controle, incluídos nessa revisão, investigaram a relação entre a exposição ao bisfenol A, compostos organoclorados (bifenilas policloradas e pesticidas organoclorados), compostos perfluorado, hidrocarbonetos aromáticos policíclicos e ftalatos e a ocorrência de SOPC. Em geral, houve uma associação positiva entre a exposição a estes DEs e a ocorrência da síndrome, e os estudos foram considerados de qualidade metodológica média a elevada. Conclusão: Os dados da presente revisão sugerem a associação entre a exposição a DEs e a ocorrência de SOPC. Entretanto, todos os estudos incluídos foram observacionais e transversais, não sendo possível estabelecer relação de causalidade entre a exposição a DEs e a SOPC.
Palavras-chave: síndrome dos ovários policísticos; desreguladores
endócrinos; revisão sistemática.
vii
ABSTRACT
Backgroud: Polycystic ovarian syndrome (PCOS) is of major clinical
importance due to its increasing prevalence and its implications, including
reproductive, metabolic, and psychological disturbances. Its etiology is complex
and multifactorial, involving genetic, environmental and behavioral aspects.
Data from observational studies suggest an association between exposure to
endocrine dirsuptors (EDs) and the occurrence of PCOS. Objective: To
systematically review human observational studies addressing the association
between the exposure to EDs and PCOS. Methods: We searched
Pubmed/Medline, Web of Science, Scopus, Lilacs and Cochrane Library for
studies addressing the association between EDs and PCOS from inception until
May 2017, with no language restriction. The searched was performed by
combining search terms related to EDs and PCOS. The methodological quality
of studies was assessed using the Newcastle-Ottawa scale. Results: We
identified 145 citations and 7 met our inclusion criteria. The studies were cross-
sectional or case-controle studies and investigated the association between
bisphenol A, organochlorine compounds (polychlorinated bisphenyls and
organochloride pesticides), polycyclic aromatic hydrocarbons and phthalates
and PCOS occurrence. Overall, the studies indicated a positive association
between exposure to EDs and PCOS. Most studies were considered of medium
or high methodological quality. Conclusion: This systematic review indicates
an association between exposure to EDs and the occurrence of PCOS.
However, their cross-sectional design precludes establishing causality between
EDs and PCOS.
Keywords: polycystic ovarian syndrome; endocrine disruptors; systematic
review.
viii
LISTA DE FIGURAS
Figura 1. Modelo dos sistemas endócrinos visados por DEs...........................17
Figura 2. Estrutura química dos principais DEs e suas rotas de exposição...23
Figura 3. Via esteroidogênica...........................................................................28
Figura 4. Vias esteroidogênicas que levam à biossíntese de estradiol...........29
Figura 5. Sistema de Ferriman-Gallwey de pontuação do hirsutismo..............32
Figura 6. Imagem do ovário policístico obtida por equipamento de...................
ultrassom...........................................................................................................34
Figura 7. Fisiopatologia da SOPC - um círculo vicioso....................................37
Figura 8. O comprometimento da gonadotrofina..............................................39
Figura 9. Foliculogênese normal e defeito folicular na SOPC..........................41
Figura 10. Fluxo de seleção dos artigos da revisão sistemática......................48
ix
LISTA DE TABELAS
Tabela 1. Funções relacionadas aos receptores nucleares humanos..............26 Tabela 2. Escala de avaliação da qualidade metodológica...............................45 Tabela 3. Características dos estudos incluídos na revisão sistemática.........................................................................................................60
Tabela 4. Avaliação da qualidade metodológica dos estudos incluídos na
revisão sistemática, utilizando a escala de Newcastle-Ottawa..........................56
x
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
17OHP - 17 hidroxiprogesterona
5α R – 5-alfa-redutase
AA - alopecia androgênica
AES - Androgen Excess Society
AMH - hormônio inibidor Mulleriano
AUCGLU - área sob a curva de glicose
AUCINAS - área sob a curva de insulina
BPA - bisfenol A
C - controle
CRP - proteína C-reativa
CSMC - Centro Médico Cedars-Sinai
CV - cardiovascular
DHEAS - Sulfato de dehidroepiandrosterona
DHT - 5-alfa-dihidrotestosterona
E2 - 17-beta-estradiol
EPA - Environmental Protection Agency
FAI - índice de androgênios livres
FG - Ferriman-Gallwey
HoMA-IR - modelo de avaliação homeostática, resistência à insulina
HS - número de indivíduos com esteatose hepática
IL-6 - interleucina-6.
IMC - índice de massa corporal
LH - hormônio luteinizante
MAP2K1 = proteína quinase 1 ativada por mitógeno
MetS - síndrome metabólica
MS - espectrometria de massa
NIH - Instituto Nacional de Saúde
OCP - contraceptivo oral
OW - excesso de peso
PBDEs - ésteres polibrominados difenílicos
PCB - bifenilas policroradas
PCOM - morfologia do ovário policístico
xi
PI3K - 3-quinase de fosfoinositídeo
RIA - radioimunoensaio
SHBG - globulina de ligação hormonal sexual
SLD - diâmetro longitudinal do baço
SOPC - síndrome dos ovários policísticos
T - testosterona
xii
SUMÁRIO
RESUMO....................................................................................................... 5
ABSTRACT.................................................................................................... 6
LISTA DE FIGURAS ..................................................................................... 7
LISTA DE TABELAS ..................................................................................... 8
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ........................................................ 9
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................... 14
2 REVISÃO DA LITERATURA ...................................................................... 16
2.1DESREGULADORES ENDÓCRINOS...................................................... 16
2.1.1Bisfenol A............................................................................................... 17
2.1.2 Bifenilas policloradas e ésteres difenílicos polibromados.................... 18
2.1.3 Ftalatos................................................................................................. 20
2.1.4 Hidrocarbonetos aromáticos policíclicos............................................... 21
2.1.5 Pesticidas organoclorados.................................................................... 22
2.2 DESREGULADORES ENDÓCRINO E A REPRODUÇÃO
FEMININA......................................................................................................
24
2.2.1 Ovário.................................................................................................... 24
2.2.2 Receptores de esteroides sexuais...................................................... 25
2.2.3 Esteroidogênese no ovariana............................................................ 27
2.3 SÍNDROME DOS OVÁRIOS POLICÍSTICOS......................................... 29
2.3.1 Definição............................................................................................... 29
2.3.2 Critérios diagnósticos............................................................................ 29
2.3.3 Avaliação das características da síndrome dos ovários policísticos 31
2.3.3.1 Hiperandrogenismo clínico................................................................. 31
2.3.3.2 Hiperandrogenismo Bioquímico......................................................... 32
2.3.4 Ovários Policísticos............................................................................... 33
2.3.5 Oligo-anovulação.................................................................................. 34
2.4 Fatores relacionados à síndrome dos ovários policísticos..................... 35
2.4.1 Obesidade............................................................................................. 35
xiii
2.4.2 Nutrição/Exercício físico....................................................................... 36
2.4.3 Etnia/Raça............................................................................................. 36
2.4.4 Produtos químicos desreguladores endócrino...................................... 36
2.5 UMA VISÃO GERAL DA FISIOPATOLOGIA E DEFEITOS
MOLECULARES NA SÍNDROME DOS OVÁRIOS POLICÍSTICOS.............
36
2.5.1Hiperandrogenismo Ovariano................................................................ 38
2.5.2 Gonadotrofinas...................................................................................... 39
2.5.3 Insulina.................................................................................................. 39
2.5.4 Hiperandrogenismo Adrenal................................................................. 40
2.5.5 Disfunção Ovariana............................................................................... 40
3 OBJETIVOS................................................................................................ 42
3.1 Objetivo geral........................................................................................... 42
3.2 Objetivos específicos .............................................................................. 42
3.2.1 .............................................................................................................. 42
3.2.2 .............................................................................................................. 42
4 MÉTODOS ................................................................................................. 43
4.1 ELEGIBILIDADE...................................................................................... 43
4.2 BUSCA DOS ESTUDOS.......................................................................... 43
4.3 SELEÇÃO DOS ESTUDOS..................................................................... 44
4.4 COLETA DE DADOS............................................................................... 44
4.5 AVALIAÇÃO DA QUALIDADE METODOLÓGICA..................................... 45
5 RESULTADOS ........................................................................................... 47
5.1 Seleção dos Estudos............................................................................... 47
5.2 Característica dos Estudos...................................................................... 48
5.3 Resultados dos Estudos Individuais........................................................ 53
5.4 AVALIAÇÃO DA QUALIDADE METODOLÓGICA DOS ESTUDOS
INCLUÍDOS NA REVISÃO.............................................................................
55
5.5 Limitações dos Estudos Incluídos na Revisão......................................... 56
6. DISCUSSÃO.............................................................................................. 57
6.1 LIMITAÇÕES........................................................................................... 59
6.2 CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................................... 59
xiv
7 CONCLUSÃO............................................................................................. 61
8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................... 62
15
1 INTRODUÇÃO
A síndrome dos ovários policísticos (SOPC) é um distúrbio crônico com
impacto nas funções reprodutivas e metabólicas das mulheres acometidas. Afeta de
6 a 10% das mulheres em idade reprodutiva. As influências ambientais,
anormalidades da esteroidogênese ovariana e do desenvolvimento folicular
contribuem para a produção excessiva de androgênio ovariano e disfunção
ovulatória. Isso torna essa doença complexa e poligênica. Conforme definido pelos
critérios de diagnóstico de Rotterdam de 2003, a SOPC é caracterizada por
hiperandrogenismo, disfunção ovulatória e imagem de ovário policístico. O fenótipo
pode variar por raça e etnia e é exacerbado pela obesidade, além de ser muito difícil
de ser definido no período da perimenarca e perimenopausa.1, 2
Esta síndrome tem uma grande importância clínica. Ao longo dos anos, essa
patologia vem se tornando muito comum entre as mulheres em todo mundo, além
de apresentar implicações significativas e diversas, incluindo reprodutivas
(infertilidade, hiperandrogenismo, hirsutismo), metabólicas (resistência à insulina,
tolerância à glicose diminuída, diabetes mellitus tipo 2 e aumento do risco
cardiovascular), psicológicas (ansiedade e depressão) e piora da qualidade de vida,
além de gerar um impacto muito grande na economia mundial. Por exemplo, para
avaliar e fornecer cuidados às mulheres com SOPC nos Estados Unidos, são gastos
em média US$ 4,36 bilhões ao ano. 3, 4, 5
Estabelecer um diagnóstico de SOPC em adolescentes e mulheres na
menopausa mostra-se difícil e problemático. É central a apresentação do
hiperandrogenismo para adolescentes, enquanto que não há fenótipo consistente
em mulheres pós-menopausa. 4 A avaliação de mulheres com SOPC deve excluir
distúrbios alternativos de excesso androgênios e anovulação, como tumores
ovarianos ou adrenais, hipercortisolismo, hiperplasia adrenal congênita,
hiperprolactinemia e hipotireoidismo. Deve, também, incluir avaliação de fatores de
risco cardiovascular e distúrbios do humor.6, 7
Vários compostos químicos, considerados desreguladores endócrinos (DEs)
têm a capacidade de alterar a síntese, transporte e o metabolismo dos hormônios
sexuais femininos. Com isso, podem comprometer processos básicos no ovário e
levar a resultados adversos como anovulação, infertilidade, deficiência de
estrogênio e insuficiência ovariana prematura, entre outros. Esses conhecimentos
16
são originados de estudos com modelos animais experimentais e estudos
epidemiológicos que indicam a associação entre a exposição humana a DEs e a
ocorrência de SOPC. De acordo com a Agência de Proteção Ambiental
(Environmental Protection Agency, EPA) norte-americana, um DE é um composto
químico exógeno que interfere na síntese, secreção, transporte, metabolismo, ação,
ligação e eliminação de hormônios endógenos (andrógenos, estrógenos e
progestágenos). Considerando que estes hormônios são responsáveis pela
homeostase, reprodução e processos de desenvolvimento, a ação dos DEs
representa grande preocupação. 8, 9
Dados de estudos recentes indicam o papel do ambiente na patogênese da
SOPC (comer fruta com pericarpo, morar próximo de lixões, trabalha em uma
plantação e ambientes com ventiladores). Os fatores ambientais podem levar à
alteração da função ovariana por meio de mudanças na sinalização endócrina no
ovário.10 Entre os fatores ambientais, destacam-se os DEs, por sua interferência na
função endócrina. Considerando estes aspectos e o impacto epidemiológico e
clínico da SOPC, o presente estudo teve como objetivo revisar sistematicamente a
literatura com respeito à associação entre a exposição a DE e a ocorrência de
SOPC.
17
2 REVISÃO DA LITERATURA
2.1 DESREGULADORES ENDÓCRINOS
O processo progressivo de urbanização, industrialização e o aumento do
consumismo por parte da população mundial têm gerado um aumento da poluição
ambiental. Neste cenário, encontram-se os DEs, que têm afetado os animais
selvagens e também a saúde humana. O número destes produtos cresce a cada
ano e são identificados por diversas agências de controle ambiental, tornando-os
um dos maiores problemas de saúde pública no mundo. Embora possa haver
centenas ou mais substâncias químicas ambientais com atividade desreguladora
endócrina, algumas classes são mais comumente estudadas. 9
Os DEs interferem com a produção, secreção, metabolismo, transporte e
ação periférica de hormônios endógenos. Sua interferência com a ação hormonal
deve-se, sobretudo à ligação a receptores hormonais e, por meio desta ação,
podem desencadear dois tipos de resposta, representadas pelo efeito agonista, que
mimetiza a ação hormonal, ou pelo efeito antagonista, que impede a ligação do
hormônio natural ao seu sítio de ação. 11
Considerando a grande diversidade de mecanismos envolvidos nas
disfunções endócrinas resultantes da ação dos DE, EPA propôs uma definição mais
ampla para estes compostos. A agência descreve um DE como uma substância
exógena ou mistura que altera uma ou mais funções do sistema endócrino, bem
como a sua estrutura (Figura 1), causando efeitos adversos tanto no organismo
exposto como na sua prole. Muitos desses DEs podem interagir com o sistema
reprodutivo feminino e levar a alterações endócrinas no ovário, com impacto na
função reprodutiva. Entretanto, diversos aspectos da ação dos DEs sobre o sistema
reprodutivo carecem de esclarecimentos. 8, 9, 12
18
Figura 1. Modelo do sistemas endócrino visado por DEs. Esta figura ilustra que todos os principais órgãos endócrinos são vulneráveis à perturbação endócrina, incluindo o eixo HPA, os órgãos reprodutivos, o pâncreas e a glândula tireoide. Sabe-se também que DEs afetam sistemas metabólicos dependentes de hormônios e função cerebral.
9
2.1.1 Bisfenol A
O Bisfenol A (BPA) foi sintetizado pela primeira vez em 1891 e sua ação
estrogênica foi descoberta em 1936. Anualmente, o BPA é produzido mais que
qualquer outro produto químico, devido à sua utilização em uma ampla variedade de
produtos, como na fabricação de embalagens de alimentos (revestimentos em forma
de resinas), brinquedos e outras aplicações. 14 Com essa ampla utilização,
praticamente todos, humanos e outros animais, são expostos a ele continuamente.
Sob calor elevado, manipulação física ou uso repetitivo, os produtos com BPA em
sua composição podem liberá-lo na água e nos alimentos. Estudos mostram que
93% dos americanos têm uma quantidade mensurável de BPA na sua urina 15, o
que reforça a exposição contínua a este composto de ocorrência ubíqua no
ambiente. 15, 21
A via de exposição mais comum ao BPA é a oral/digestiva. Na circulação, é
encontrado predominantemente conjugado ao ácido glicurônico e é excretado por
via urinária. É detectado em diversos tecidos, especialmente no tecido adiposo, mas
também em estruturas e produtos secretórios relacionados ao trato reprodutivo,
como tecido mamário, leite materno, líquido amniótico e líquido folicular ovariano. A
19
eliminação da contaminação com BPA tem se revelado muito difícil. 16, 17, 18
Vários estudos documentam os efeitos do BPA nos sistemas orgânicos de
mamíferos em níveis considerados na faixa de segurança ou mesmo abaixo destes.
Embora a exposição a essas substâncias continue sendo uma questão crítica ainda
não resolvida é importante notar que variações individuais no metabolismo e
susceptibilidade a estes compostos devem ser levadas em consideração.
Atualmente, segundo a EPA, o nível de segurança de exposição ao BPA é fixado
em 50 μg/kg/d, enquanto que a dose diária tolerável recomendada pela Autoridade
Europeia de Segurança de Alimentos foi recentemente reduzida para 4 μg/kg/d.9, 19
Os mecanismos de ação desreguladora endócrina do BPA são diversos. Ele
é um difenilmetano formado por dois anéis de fenol ligados a dois grupos metila
(Figura 2). Esta estrutura fenólica possivelmente justifica a interação do BPA, e
também de seus metabólitos, com os receptores de estrogênio (ER) e o aumento da
expressão dos ER alfa e beta (ERα e ERβ) em diversos tecidos, incluindo o útero.
De fato, ensaios bioquímicos confirmaram a atividade do BPA via ER, embora sua
afinidade pelo receptor seja muito inferior à do 17b-estradiol (E2). 20, 21 O BPA pode,
ainda, inibir a atividade de estrogênios endógenos. 9; 22; 23 Há evidências do impacto
negativo do BPA sobre o crescimento folicular e esteroidogênese ovariana. 20, 21
Além disso, dados de estudos epidemiológicos indicam que a concentração sérica
de BPA é significativamente mais elevada em mulheres com SOPC quando
comparadas àquelas sem esta condição. Desde janeiro de 2012, feita por meio da
Resolução RDC n. 41/2011. Alguns países, inclusive o Brasil, optaram por proibir a
importação e fabricação de mamadeiras que contenham Bisfenol A, considerando a
maior exposição e susceptibilidade dos indivíduos usuários deste produto. 25
2.1.2 Bifenilas policloradas e ésteres difenílicos polibromados
As bifenilas policloradas (PCBs) são uma classe de produtos químicos
industriais existentes em várias formas e denominadas também de congêneres de
PCB. Os ésteres difenílicos polibromados (PBDEs) são estruturalmente
relacionados às PCBs e utilizados como retardantes de chama. Os PCBs foram
produzidos em massa a partir do final da década de 1920 e a produção comercial de
PBDEs começou no final da década de 1970. As PCBs, especificamente, podem ser
encontradas na alimentação, devida a contaminação da água e do solo, e são
20
compostos orgânicos amplamente utilizados em fluidos dielétricos, como aqueles
em transformadores, condensadores, refrigeradores, solventes e lubrificantes na
indústria. Por estarem envolvidos na interrupção de processos hormonais e
diminuição de parâmetros fisiológicos importantes para a saúde humana, foram
banidos em 1979. A principal característica dessas substâncias são os anéis
fenólicos emparelhados e os graus variáveis de cloração (Figura 2).
Essas misturas são usadas em uma ampla variedade de aplicações, incluindo
plásticos, borracha, resinas, papel, adesivos, retardadores de chamas, produtos de
estofados, colchões, roupas e tintas. A natureza variada do seu uso resultou em
contaminação ambiental generalizada, incluindo edifícios e escolas. Estes poluentes
orgânicos persistentes (POPs) têm potencial de bioacumulação e são armazenados
na gordura corporal, motivo dos efeitos adversos contínuos para a saúde. 24
As PCBs podem interromper a esteroidogênese folicular imitando hormônios
naturais. Estudos in vitro evidenciam que estas substâncias diminuem o crescimento
normal dos oócitos e diminuem também a síntese de progesterona. 25 Os
mecanismos implicados nestes efeitos são diversos e incluem efeitos sobre os
receptores de esteroides sexuais e sobre a atividade das enzimas envolvidas na
biossíntese destes hormônios. 26
Estudos observacionais indicam que os norte-americanos apresentam as
concentrações sanguíneas mais elevadas de PBDEs, em comparação com aqueles
que vivem em outras regiões do mundo. 15 Os PBDE consistem em
predominantemente três misturas de congêneres, pentaBDE, octaBDE e decaBDE.
Os dois primeiros foram proibidos na Europa e na Ásia, mas as misturas de
decaBDE continuam a ser amplamente utilizadas em nível mundial. Dos 209
congêneres possíveis, os cinco que representam mais de 90% da carga corporal
nos tecidos humanos são tetra BDE47, penta BDE99, -100, 153; e deca BDE209. 26,
27
Para avaliar a atividade das PCBs como DEs no ovário, vários estudos
usaram diferentes espécies e modelos experimentais. Nas células lúteas bovinas,
as PCB não alteraram a esteroidogênese basal, mas, foram capazes de diminuir a
secreção de progesterona estimulada por LH. Testes em suínos com uma
exposição de 2 dias à PCB 153 (50 e 100 ng/mL) mostraram diminuição da
secreção de progesterona e testosterona por células foliculares de ovário. Com uma
exposição mais longa, foi observado aumento da secreção de progesterona
acompanhado pela diminuição da secreção de testosterona e estradiol. Nas células
21
lúteas de suínos, a PCB 126 (5-100 ng/mL) diminuiu a secreção de progesterona,
enquanto o efeito da PCB 153 foi dependente do tempo de exposição. 9 Vários
estudos têm descrito a capacidade das PCBs em alterar a esteroidogênese no
ovário e sua possível associação a SOPC. 8, 28
2.1.3 Ftalatos
Ftalatos e ésteres de ftalatos são um grande grupo de compostos utilizados
como plastificantes e também com outras finalidades, encontrados em uma ampla
gama de produtos. Plásticos, revestimentos, cosméticos, tubos de ensaio, cloreto de
polivinila (PVC), estofados, panos de mesa, cortinas de chuveiro, pesticidas,
solventes e brinquedos para bebês são alguns destes produtos. São, ainda,
reconhecidos por sua atividade desregulador endócrina. Os ftalatos são utilizados,
em grande parte, para conferir flexibilidade aos plásticos e, devido às suas ligações
não covalentes com o material plástico, acabam sendo liberados no ambiente
(Figura 2). 29, 30 Os ftalatos também podem ser encontrados no ar, sedimentos, solo
agrícola e urbano, águas residuais e copos plásticos. O di-(2-etilhexil)ftalato (DEHP)
é o plastificante mais comumente usado em dispositivos médicos como tubos, sacos
de sangue e equipamento de diálise. O nível de exposição humana a diferentes
ftalatos e seus metabólitos é variável. Por exemplo, é de 0,71 a 4,6 μg/kg/dia para o
DEHP, 0,84 a 5,22 μg/kg/dia para o dibutilftalato (DBP), 0,26 a 0,88 μg/kg/dia para o
benzilbutilftalato (BBP) e 2,32 a 12 μg/kg/dia para o dietilftalato.9, 29, 31
Estudos em animais mostraram que a exposição aos ftalatos pode acelerar o
recrutamento de folículos primordiais e alterar e prejudicar o seu desenvolvimento,
crescimento e funcionalidade. A exposição específica ao DEHP (20 μg a 750
mg/kg/dia) in vivo durante 10 a 30 dias acelera o recrutamento de folículos
primordiais através de um mecanismo que envolve a via da fosfatidilinositol 3-
quinase (PI3K), um efeito mediado por seu metabólito monoetilhexilftalato (MEHP).
Coletivamente, diversos estudos fornecem evidências de que a exposição a certos
ftalatos afeta a foliculogênese ovariana. 9, 29
Foi demonstrado que o MEHP afeta a saúde do folículo ao induzir o estresse
oxidativo. O aumento dos níveis de espécies reativas de oxigênio interrompe a
expressão e atividade fatores com atividade antioxidante, como a enzima
superóxido dismutase 1 (SOD1) e glutationa peroxidase (GPX). Além disso, a
22
exposição ao MEHP (0,1 a 10 μg/mL) diminuiu a secreção de testosterona e
estrona, provavelmente devido à capacidade deste metabólito em inibir a expressão
de enzimas da via esteroidogênica. 8, 32, 33
Além disso, estudos epidemiológicos ligaram o MEHP e um metabólito de di-
isononilftalato (DiNP) com diminuição da produção de testosterona em homens e a
soma de DEHP e DiNP com puberdade tardia em mulheres. Isso demonstra a
atividade desreguladora endócrina de ftalatos em homens e mulheres e sua relação
com a SOPC. 33; 34
2.1.4 Hidrocarbonetos aromáticos policíclicos
Os hidrocarbonetos aromáticos policíclicos (HAP) são compostos orgânicos
compostos por vários anéis aromáticos. Podem ser formados durante a combustão
incompleta de substâncias que contêm carbono, como madeira, carvão, tabaco, de
erupções vulcânicas, queima de combustíveis fósseis, produtos de petróleo durante
a produção industrial, processamento de alimentos, operação de máquinas,
incluindo automóveis, aviões e navios.3 Os HAP são reconhecidos por sua
capacidade de se ligar ao receptor de aril hidrocarboneto (AhR), que controla uma
variedade de eventos de desenvolvimento e fisiológicos. Este receptor é um fator de
transcrição nuclear ativado por ligante presente nos tecidos ovarianos, incluindo
células de oócitos, granulosa e teca. Regula eventos como a neurogênese traqueal
e salivar, formação de ductos, metabolismo de toxinas, ritmos circadianos e
resposta à hipóxia. Desempenha, ainda, um papel fundamental na regulação do
crescimento folicular ovariano e esteroidogênese.35
Foi observado que a exposição, na vida intrauterina, a HAP resultou em
perda significativa de células germinativas. Esta evidência indica que os HAPs
podem reduzir o número de oócitos e estimular a apoptose do folículo através da via
AhR, além de induzir a insuficiência ovariana prematura e até a infertilidade. A ação
do HAP está implicada também na redução da expressão de ERα e diminuição dos
níveis de estradiol e progesterona. 8, 9
23
2.1.5 Pesticidas organoclorados
Os pesticidas são um grupo de agentes utilizados como inseticidas,
fungicidas, herbicidas e rodenticidas. São classificados, com base em sua estrutura
química, em organoclorados (por exemplo: diclorodifeniltricloroetano – DDT –,
lindano, endossulfam, aldrina, dieldrina, clordano e metoxicloro), organofosfatos (por
exemplo: paratiana, malatiana, diaznon, e glifosato), carbamatos (por exemplo:
carbaril, carbofurano e aminocarbe), piretróides (por exemplo: permetrina,
cipermetrina, deltametrina) e triazinas (por exemplo: atrazina). Podem influenciar
uma variedade de tecidos do sistema reprodutivo e impactar negativamente a
reprodução (Figura 2). 43
O DDT é um inseticida industrial e doméstico que tem característica de
contaminante ambiental. 3 A sua natureza sintética, características farmacocinéticas
(lipofílico, meia vida longa) e uso extensivo o tornaram um contaminante
proeminente, ainda que tenha trazido alguns benefícios com a sua utilização. Em
alguns países, o seu uso foi proibido, ou controlado, devido aos efeitos sobre o meio
ambiente e potenciais efeitos sobre a saúde humana. Várias doenças têm sido
associadas aos DDT e seus metabólitos. Tumores testiculares, câncer de
endométrio, câncer de pâncreas, diabetes mellitus tipo 2 foram associados ao
diclorodifenil-cloroetileno (DDE) e diclorodifenil-dicloroetano (DDD), que são
altamente lipofílicos e se acumulam na cadeia alimentar e no tecido adiposo. Este
depósito de armazenamento pode conter um grande reservatório desses DEs que
são liberados para o sangue, especialmente durante os períodos de perda de peso.9
A SOPC, especificamente, tem sido associada à exposição aos pesticidas,
especificamente p,p'-DDE. Estudos em animais indicam que essa substância pode
afetar a produção de esteroides sexuais, por meio da inibição da expressão da
enzima de clivagem de cadeia lateral do colesterol (P450scc).36, 37, 38
O mecanismo de ação clássico do estrogênio, um esteroide sexual, é a sua
ligação aos ERs. Esses receptores se ligam às sequências de elementos de
resposta de estrogênio ou a uma série de outros sítios de elementos de respostas
adjacentes aos genes diretamente responsivos aos estrogênios. Alguns pesticidas
organoclorados e seus metabólitos se ligam a ERs, iniciando uma cascata molecular
que, em última instância, modifica a expressão gênica. Estudos demonstraram que a
tetraclorodibenzo-p-dioxina (TCDD), um pesticida organoclorado, pode afetar
24
negativamente os ovários adultos. A exposição à TCDD causou redução do peso
do ovário, inibição da produção de estradiol e redução da maturação folicular e
ovulação em roedores. Além disso, alterou a expressão de várias enzimas e
receptores hormonais envolvidos na via de esteroidogênese ovariana em estudos
em animais e humanos. 39, 40
Figura 2. Estrutura química dos principais DEs e suas rotas de exposição. 2
25
2.2 DESREGULADORES ENDÓCRINOS E A REPRODUÇÃO FEMININA
2.2.1 Ovário
O ovário é uma importante parte do sistema reprodutor feminino. Assim como
os testículos no homem, o ovário é uma estrutura glandular relacionada com a
produção de hormônios e com a formação de células reprodutivas femininas
chamadas de oócitos. Sua atividade é regulada pelo hipotálamo e pela hipófise,
compondo o eixo hipotálamo-hipófise-ovário. A atividade do hipotálamo sobre a
hipófise é mediada pelo hormônio liberador das gonadotrofinas. Este estimula a
secreção gonadotrofinas, o hormônio folículo-estimulante (FSH) e luteinizante (LH)
pelos gonadotrofos que, por sua vez, atuam nos ovários. 2
Vários estudos indicam que os DEs podem afetar negativamente a produção
de esteroides sexuais femininos pelo ovário, produção das gonadotrofinas pela
hipófise e a ação dos esteroides em diversos tecidos. Isto, por sua vez, tem sido
associado a distúrbios reprodutivos, como a puberdade precoce, a infertilidade,
falência ovariana prematura / menopausa, endometriose, fibromas e desfechos
adversos da gravidez.9, 13
O ovário possui duas zonas distintas: o córtex e a medula. No córtex é
possível observar folículos em diferentes estágios de desenvolvimento e, após a
ovulação, um ou mais corpo lúteo dependendo da espécie. A medula ocupa uma
região central e fornece células intersticiais que formam a teca dos folículos. A
foliculogênese é o processo pelo qual os folículos mais imaturos (primordiais) se
tornam folículos pré-ovulatórios. O único oócito dos folículos primordiais, que
existem em um número finito, é cercado por uma única camada de células
somáticas achatadas conhecidas como células da granulosa.8 As células da
granulosa se ativam, adquirem morfologia cuboide e proliferam formando múltiplas
camadas ao redor do oócito, durante foliculogênese. A ativação folicular é
independente de gonadotrofina e é regulada por fatores de crescimento e citocinas
produzidos localmente. Além disso, durante este processo, o oócito cresce e as
células somáticas adicionais conhecidas como células da teca são recrutadas para
a estrutura folicular. Durante a progressão desse processo de desenvolvimento
folicular, as células somáticas desses folículos tornam-se dependentes de
gonadotrofinas. O FSH é a principal gonadotrofina requerida por estes folículos e
suas ações na gônada são controladas pela ativina, que promove as ações do FSH,
26
bem como pela inibina e folistatina, que as inibem. O antro é formado ao final da
foliculogênese, quando o folículo se encontra cheio de líquido é conhecido como
folículo antral. Após a estimulação adequada pelo LH, os folículos antrais são a
principal fonte de esteroides ovarianos.32 Após a ovulação ou a expulsão do oócito
do folículo, as células restantes da granulosa e da teca sofrem um processo de
diferenciação conhecido como luteinização. As células da granulosa e da teca
tornam-se células lúteas e a antiga estrutura folicular é agora conhecida como corpo
lúteo. Um corpo lúteo funcional produz progesterona, o hormônio necessário para
implantação bem sucedida e manutenção da gravidez. Se a fertilização não ocorrer,
o corpo lúteo sofrerá um processo de morte celular conhecido como luteólise ou
regressão do corpo lúteo. A interrupção do processo de foliculogênese e de
formação do corpo lúteo podem levar a desfechos reprodutivos adversos, tais como
anovulação, infertilidade, diminuição da fecundidade, deficiência de estrogênio e
insuficiência ovariana prematura. 8, 41
2.2.2 Receptores de esteroides sexuais
Os receptores de hormônios ovarianos (estrogênios, progestágenos e
androgênios), bem como receptores órfãos, o AhR e os receptores de
gonadotrofina, que se ligam LH e FSH, desempenham papéis importantes na
reprodução feminina. As funções biológicas dos estrogênios são principalmente
mediadas por dois receptores: ERα ou ESR1 e ERβ ou ESR2. Os dois subtipos ER
apresentam padrões distintos de expressão tecidual, especificidades de ligantes e
funções. 42 O ERα é expresso principalmente nas células intersticiais e sua principal
função é de regular a esteroidogênese nas células da teca no ovário. Em contraste,
ERβ é predominantemente expresso em células da granulosa, tendo como
principais funções a diferenciação de células de granulosa, maturação folicular e
ovulação. O receptor de androgênios (AR) é expresso em cada um dos 3 tipos de
células do ovário: células intersticiais da teca onde são produzidos androgênios,
células granulosas onde a testosterona é convertida em estrogênios, e as células
germinativas, os oócitos. 43
Um número crescente de contaminantes ambientais que são considerados
DEs podem influenciar a fisiologia do ovário. A maior parte dos estudos com o
objetivo de investigar essa influência concentrou-nos efeitos de DEs sobre os ERs,
27
AhR e AR. O AhR e o seu translocador nuclear associado (ARNT) estão
presentes em vários tipos de células ovarianas (oócitos, células de granulosa e
células de teca) tanto em roedores, primatas não humanos e humanos. Em geral, os
DEs se ligam ao AhR desencadeando a translocação nuclear e a formação de
heterodímeros AHR-ARNT. O complexo ativo AHR-ARNT liga-se ao elemento
responsivo na região promotora de genes regulados por AhR e, portanto, altera sua
transcrição. A ativação do AhR resulta em diminuição dos níveis de estradiol e
progesterona através da regulação negativa da expressão do ERα nos tecidos
ovarianos e do receptor de progesterona em células da granulosa folicular. 35; 44
Muitos DEs também interferem na função reprodutiva feminina ativando ou
antagonizando ER e outros receptores nucleares que podem apresentar efeitos
sobre a função ovariana, 20, 42, 45 como apresentado na Tabela 1.
RECEPTORES ABREVIAÇÃO FUNÇÃO FISIOLÓGICA LIGANTE ENDÓGENO
DESREGULADORES ENDÓCRINOS
Andrógenos AR Desenvolvimento sexual masculino
Testosterona Pesticidas Ftalatos Plastificantes Compostos polialogenados
Estrógenos ER α, β GPR30 (não nuclear)
Desenvolvimento sexual feminino
Estradiol BPA Dioxinas Furanos Hidrocarbonetos halogenados Metais pesados
Hormônios da tireóide TR α, β Metabolismo e frequência cardíaca
Hormônio da Tireóide
BPA Dioxinas Furanos PBDEs PCB Pesticidas Ftalatos Perclorados Fitoestrogênios
Progesterona PR Desenvolvimento sexual feminino
Progesterona BPC Fungicidas Herbicidas Inseticidas
Receptor de hidrocarboneto arilo
AhR Ritmo circadiano Metabolismo Neurogênese Desenvolvimento dos órgãos Resposta ao estresse
Desconhecido Dioxinas Pesticidas Herbicidas Flavonoides PCBs
PPAR gama PPARα, β, ϒ Homeostase lipídica Lipídeos e ácidos graxos
Organoestâneos BPA
Glicocorticoide GR α, β Desenvolvimento Metabolismo Resposta ao estresse
Cortisol Ftalatos BPA Arsênio
Tabela 1. Funções relacionadas aos receptores nucleares humanos. 13
28
2.2.3 Esteroidogênese no ovário
O folículo antral e o corpo lúteo são glândulas esteroidogênicas. Dentro do folículo,
a esteroidogênese requer uma cooperação mútua entre as células da teca e da
granulosa. As células da teca respondem à sinalização do LH, que é liberado pela
hipófise, com aumento da transcrição de genes que codificam as enzimas
necessárias para a conversão de colesterol em androgênios (androstenediona e
testosterona). As células de granulosa respondem à sinalização de FSH
aumentando a expressão de enzimas necessárias para a conversão de androgênios
derivados da teca em estrogênios (17β-estradiol e estrona). Todo esse processo é
dependente de colesterol, pois várias enzimas participam desse processo, como
observado na Figura 3. Na célula da teca, o colesterol é internalizado por receptores
de lipoproteínas ou sintetizado de novo. Uma vez no citoplasma, o colesterol é
transportado para a mitocôndria pela proteína reguladora esteroidogênica aguda
(STAR). Nas mitocôndrias, o colesterol é convertido em pregnenolona pela clivagem
da cadeia lateral de colesterol pelo citocromo P450 (CYP450scc, CYP11A1). A
pregnenolona difunde-se da mitocôndria para o retículo endoplasmático liso, onde
pode ser convertida em progesterona pela 3β-hidroxiesteroide desidrogenase
(HSD3B), ou para DHEA por 17α-hidroxilase-17,20-desmolase (CYP17A e
CYP17A1). Tanto HSD3B como a CYP17A1 catalisam a conversão de DHEA e
progesterona em androstenediona, respectivamente. A androstenediona pode ser
convertida em testosterona pela 17β-hidroxiesteroide desidrogenase (HSD17B)
dentro da célula da teca ou difundida na célula granulosa. Na célula de granulosa, a
aromatase (CYP450arom; CYP19A1) pode converter androstenediona em estrona e
a testosterona, em E2. Além disso, as células da granulosa podem converter
estrona em E2 através da ação de HSD17B. O E2 é a forma mais potente de
estrogênio na reprodução feminina. Contudo, após a sua síntese, E2 pode ser ainda
metabolizado em 2-hidroxiestradiol pela CYP1A1/2 e CYP3A4, ou a 4-
hidroxiestradiol pela CYP1B1. Essas modificações levam à inativação de E2. 8, 33, 35
A figura 3 apresenta esquematicamente a esteroidogênese ovariana.
29
Figura 3. Via esteroidogênica. Dentro do folículo, a esteroidogênese requer uma cooperação mútua entre as células da teca e da granulosa. As células da teca contem receptores de LH, que é liberado pela hipófise. As células da granulosa respondem a sinalização do FSH liberado pela mesma glândula. O metabolismo do colesterol no 17-β-estradiol e outros hormônios esteroides sexuais necessários, é feito por enzimas esteroidogênicas presentes nestas células.
33
Na Figura 4 é possível observar as etapas da esteroidogênese ovariana já
identificadas como alvo dos DEs. Estes efeitos dos DEs podem levar à redução da
fertilidade ou a uma variedade de outros problemas. Níveis normais de esteroides
sexuais são necessários para a fisiologia óssea, cerebral e cardiovascular. Níveis
alterados, por sua vez, estão relacionados ao desenvolvimento de doenças, como a
SOPC. 9, 46
30
Figura 4. Caminhos esteroidogênicos que levam à biossíntese de estradiol. Os X” vermelhos indicam os hormônios ou enzimas caracterizados como alvos dos DEs.
9
2.3 SÍNDROME DOS OVÁRIOS POLICÍSTICOS
2.3.1 Definição
A síndrome dos ovários policísticos é uma doença heterogênea e complexa
com importantes repercussões reprodutivas e metabólicas para as mulheres
acometidas. Oligo-anovulação, hiperandrogenismo e a presença de ovários
policísticos são alguns dos critérios usados para diagnosticar essa síndrome que
afeta de 6 a 10% das mulheres em idade reprodutiva. As influências ambientais,
anormalidades da esteroidogênese ovariana e do desenvolvimento folicular, e
alteração do padrão de secreção de gonadotrofinas contribuem para a produção
excessiva de androgênios ovarianos e disfunção ovulatória. Seu fenótipo pode
variar de acordo com a raça e a etnia e é difícil definir sua presença no período
perimenarca e perimenopausa, além de poder ser exacerbado pela presença de
obesidade.1, 2, 3
31
2.3.2 Critérios diagnósticos
Em 1990, o Instituto Nacional de Saúde (NIH) patrocinou um grupo de clínicos
e pesquisadores para elaborar um consenso para diagnóstico da SOPC. Este grupo
de estudo definiu a SOPC como uma síndrome caracterizada por
hiperandrogenismo clínico ou hiperandrogenemia, com oligo-anovulação, na
ausência comprovada de outras endocrinopatias que cursam com estas alterações
(hiperplasia adrenal congênita, tumores secretores de androgênios, síndrome de
Cushing, uso ou abuso de drogas androgênicas, disfunção da tireóide,
hiperprolactinemia).47
Um outro consenso, publicado em 2003 e conhecido como consenso de
Rotterdam (elaborado por pesquisadores principalmente europeus e americanos)
expandiu os critérios de diagnóstico para incluir pelo menos duas das seguintes
características: (i) hiperandrogenismo clínico ou bioquímico; (ii) oligo-anovulação;
(iii) imagem de ovários policísticos, excluindo as mesmas endocrinopatias
relacionadas no consenso anterior.7 Uma junta de peritos em SOPC recomendou
que os clínicos utilizassem os critérios de Rotterdam, mais recentes, para o
diagnóstico. Essa recomendação fez com que a prevalência de SOPC passasse de
6 para 10%. Este aumento é devido à expansão da síndrome para incluir mulheres
sem disfunção ovulatória documentada ou hiperandrogenismo, mas que possuem
imagem de ovários policísticos. Ainda segundo estes consensos, as mulheres com
SOPC apresentam maior risco de desenvolver anormalidades reprodutivas e
metabólicas que pode incluir infertilidade e diabetes mellitus do tipo 2. 2, 48
A presença de outras endocrinopatias, que acabam imitando a SOPC, deve
ser excluída, para o correto diagnostico dessa síndrome. Esses distúrbios incluem
hiperplasia adrenal não clássica, síndrome de Cushing, tumores produtores de
androgênios e androgênios exógenos. Além disso, deve-se excluir a disfunção
ovulatória de outras causas, incluindo disfunção da tireóide e hiperprolactinemia,
bem como a gravidez em mulheres em idade reprodutiva. 2, 47
32
2.3.3 Avaliação das características da síndrome dos ovários policísticos
O hiperandrogenismo pode ser clínico (hirsutismo), bioquímico
(concentrações séricas elevadas de androgênios) ou ambos.
2.3.3.1 Hiperandrogenismo clínico
O hirsutismo, caracterizado pela presença de pelos terminais em excesso em
áreas dependentes de androgênios, é uma das principais características do
hiperandrogenismo clínico. É muito importante distingui-lo da hipertricose, que é um
aumento difuso dos folículos capilares, com crescimento de pelos não terminais, em
áreas também não dependentes de androgênios. 49
O crescimento do cabelo sexual feminino e masculino é inteiramente
dependente das concentrações de andrógenos. Altas concentrações de andrógeno,
especificamente a testosterona, exacerba a conversão de testosterona em
diidrotestosterona pela 5α-redutase na unidade pilo sebácea. Com isso, ativação
dos receptores de androgênios na unidade pila sebácea leva à transformação de
pelos finos em pelos terminais. A presença de um número substancial de pelos
terminais no queixo, pescoço e região inferior da face, indica a presença de excesso
de androgênios. Da mesma forma, o crescimento excessivo na região lombar,
esterno, abdômen, ombros, nádegas, área perineal e face medial das coxas são
consideradas excesso androgênico. 2, 49
Em mulheres com SOPC, os fatores raciais que afetam a densidade inicial
das unidades pilosebáceas e sua capacidade de resposta aos androgênios e outros
hormônios podem resultar em diferenças na distribuição e densidade dos pelos. As
mulheres de ascendência europeia com SOPC tendem a ter um hirsutismo da linha
média mais marcado do que as mulheres de ascendência do Leste Asiático, mas
uma quantidade similar à dos afro-americanos. Consequentemente, as escalas da
avaliação do hirsutismo, como a escala modificada de Ferriman-Gallwey (Figura 5),
terão diferentes pontos de corte para diagnóstico do hirsutismo dependendo da
raça. 2, 50, 51
33
R. Hatch et al .: Am J Obstet Gynecol 140: 815-830, 1981
Figura 5. Sistema de pontuação do hirsutismo de Ferriman-Gallwey. A cada uma das nove áreas do corpo mais sensíveis aos androgênios é atribuída uma pontuação de 0 (sem cabelo) a 4 (francamente viril), de acordo com a quantidade de pelos, e essas pontuações separadas são somadas para fornecer um escore de hirsutismo hormonal. Valores acima de 8 são considerados
diagnósticos de hirsutismo. 49
2.3.3.2 Hiperandrogenismo bioquímico
As mulheres com SOPC também podem ser identificadas pelas
concentrações circulantes aumentadas de androgênios, principalmente quando
estão associados à disfunção menstrual, obesidade ou clitoromegalia, ou quando o
hirsutismo é grave, de início súbito e rapidamente progressivo. Os métodos mais
sensíveis para a medida mais precisa são os que incluem a extração de fosfolipídios
interferentes por cromatografia líquida e espectrometria de massa em tandem
(MS/MS), imunoquimioluminescência ou radioimunoensaio. 49, 50
34
2.3.4 Ovários policísticos
A sinalização do eixo hipotálamo-hipófise-ovário resulta na ovulação. O
crescimento dos folículos primordiais é independente da gonadotrofina. Os
receptores LH são expressos, no estágio pré-antral, levando à secreção de
androgênios pelas células tecais estimuladas por LH, que fornece um substrato para
a produção de estradiol nas células da granulosa. A ovulação é o resultado da
coordenação e interação da ação do LH, FSH, insulina, IGF-1, fator inibidor
Mulleriano, função enzimática esteroidogênica e outros fatores. Em mulheres com
SOPC, este processo é dificultado pelo desenvolvimento folicular anormal e a falha
aparente na seleção de um folículo dominante, que resulta em anovulação. Estudos
sugerem um defeito precoce na foliculogênese em mulheres com SOPC, que
precede o recrutamento folicular. A disfunção ovulatória na síndrome caracteriza-se
pelo aumento da ativação folicular, mas o crescimento destes folículos é
comprometido antes de seu amadurecimento. Assim, as mulheres com SOPC têm
uma proporção aumentada de folículos primordiais e um aumento correspondente
dos folículos de crescimento ativado (primário). 52, 53
A morfologia e o tamanho dos ovários podem ser avaliados por ultrassom;
com esta avaliação, a morfologia ovariana policística é definida pela presença de 10
ou mais folículos com o diâmetro de 2-8 mm, em torno de um núcleo denso de
estroma dispostos perifericamente ou espalhados. (Figura 6). Estes critérios
morfológicos foram atualizados em 2004 para a presença de 12 ou mais folículos
em cada ovário com 2-9 mm de diâmetro e / ou aumento do volume de ovário (> 10
mL) em pelo menos um ovário. O número de folículos de 2 a 5 mm correlaciona-se
positivamente com as concentrações séricas de androgênios, enquanto que o
número de folículos de 6 a 9 mm correlaciona-se negativamente com a insulinemia
de jejum e a concentração sérica de testosterona. 2, 54
35
Figura 6. Imagem do PCO obtida com o equipamento de ultrassom antigo (2001, painel esquerdo) e novo (painel direito de 2009). Pequenos folículos ≤ 2 mm de diâmetro (setas) podem ser visualizados e contados com o novo equipamento.
54
Com o desenvolvimento de novas tecnologias de imagem, há tendência de
modificação dos critérios para definir a presença de ovários policísticos. Muitos
acreditam que este valor do limiar do número do folículo deva ser aumentado, com o
resultado de uma melhor imagem do ovário. Especialistas recomendam uma média
de ≥ 25 folículos por ovário para diagnosticar a presença de ovário policístico.
Alguns autores argumentam, usando a análise de componentes principais, que o
número do folículo por ovário se correlaciona bem com hiperandrogenismo e,
portanto, é um bom marcador de substituição para o hiperandrogenismo ovariano.
Os ovários multifoliculares, vale ressaltar, podem ser um estágio normal de
desenvolvimento na adolescência e a fase adulta precoce. 2, 54
2.3.5 Oligo-anovulação
A SOPC é frequentemente, mas não exclusivamente, caracterizada por
disfunção ovulatória que resulta em oligo ou amenorreia, de acordo com o consenso
de Rotterdam de 2003. 7 De acordo com o relatório da Força tarefa da Sociedade
de Androgênios, cerca de 85% das mulheres com SOPC apresentam evidência
clínica de irregularidades menstruais. As pacientes com oligomenorreia possuem
intervalo entre períodos menstruais ≥ 35 dias e < 6 meses. A amenorreia, por sua
vez, é a ausência de sangramento vaginal durante pelo menos 6 meses. As
mulheres com oligo-ovulação podem apresentar sintomas mais leves e um fenótipo
menos grave em comparação com mulheres anovulatórias. A anovulação é
presumida pela concentração sérica de progesterona inferior a 3 a 4 ng/mL, na fase
36
lútea do ciclo menstrual. 7, 52, 55
As características clínicas da síndrome podem mudar ao longo do ciclo de
vida, desde a adolescência até a pós-menopausa. Em adolescentes,
oligoamenorreia, hirsutismo e obesidade estão entre os problemas clínicos mais
comuns. Para as mulheres em idade reprodutiva, a infertilidade anovulatória é uma
queixa principal. Para a mulher madura, a obesidade, a dislipidemia, a tolerância à
glicose prejudicada e o diabetes mellitus tipo 2 são problemas comuns relacionados
à SOPC.56
2.4 Fatores relacionados à síndrome dos ovários policísticos
2.4.1 Obesidade
A Organização Mundial da Saúde define excesso de peso e obesidade como
"acúmulo de gordura anormal ou excessivo que apresenta um risco para a saúde" e
classifica as pessoas com peso normal, excesso de peso e obesidade pelo índice
de massa corporal (IMC). O IMC é calculado pela razão entre massa corporal de um
indivíduo e o quadrado de sua altura (kg/m2). Para adultos, o IMC entre 18,5 e 24,9
é considerado indicador de peso normal; entre 25 e 29,9, de excesso de peso; de 30
ou superior, de obesidade. 56
A obesidade pode ter um impacto considerável no desenvolvimento da SOPC
em mulheres susceptíveis. Está associada ao aumento significativo dos problemas
metabólicos e dos fatores de risco para SOPC. 56 A obesidade está presente em 30-
75% das mulheres com SOPC. Estudos sugeriram que as mulheres com SOPC
estão em risco de doença hepática gordurosa não alcoólica. 57 As mulheres que são
obesas, com mais frequência, têm hiperandrogenismo grave (hirsutismo,
anormalidades menstruais e anovulação) do que as mulheres com peso normal e
SOPC. A obesidade está relacionada à resistência a insulina. O aumento da glicose
circulante provoca uma hiperinsulinemia rebote, devido ao aumento da glicose
circulante. O aumento da sinalização pela insulina interage com o aumento dos
níveis de LH para amplificar o defeito esteroidogênico. 56, 58
37
2.4.2 Nutrição e atividade física
Para reduzir a gravidade da expressão fenotípica da SOPC, a perda de peso
é provavelmente um elemento importante. Evitando a assim o impacto da obesidade
nessa síndrome. A modificação da dieta é uma parte importante de qualquer
programa de perda de peso, com a maioria dos estudos sugerindo que o exercício
isoladamente é inadequado para melhorar os sintomas relacionados ao fenótipo de
SOPC. 2
2.4.3 Etnia / raça
O SOPC é uma endocrinopatia comum em muitos grupos étnicos e raciais.
Dois genes (identificados pela primeira vez em uma associação genômica de
mulheres chinesas) foram replicados em mulheres de ascendência europeia. Essa
semelhança sugere um antigo traço evolutivo. Um exame da variabilidade racial
dessas variantes genéticas entre os bancos de dados genômicos publicamente
disponíveis fornece evidências de que as variações étnicas da SOPC são
fortemente determinadas pelos antecedentes genéticos em seres humanos.2, 59
2.4.4 Produtos químicos desreguladores endócrinos
Essas substâncias interferem com a produção, secreção, metabolismo,
transporte ou ação periférica de hormônios endógenos por meio de sua ligação a
receptores hormonais. Entre seus efeitos, estão a alteração da função ovariana por
meio de modificações da sinalização endócrina no ovário e no restante dos órgãos
reprodutivos. 11
2.5. UMA VISÃO GERAL DA FISIOPATOLOGIA E DEFEITOS MOLECULARES NA SÍNDROME DOS OVÁRIOS POLICÍSTICOS
A complexidade da fisiopatologia da SOPC reflete as interações entre os
fatores genéticos, metabólicos, fetais e ambientais - fatores que podem variar em
mulheres afetadas individualmente. Entre estes fatores, a secreção desordenada de
38
gonadotrofina, hiperandrogenismo, resistência à insulina e hiperinsulinemia,
disfunção ovariana e interrupção do desenvolvimento folicular são proeminentes. O
papel potencial desses fatores e suas ações estão representados na Figura 7. 56, 60
Figura 7. Fisiopatologia da SOPC - um círculo vicioso. O aumento da frequência de pulso e da amplitude do LH e a baixa no pulso de FSH são causados por defeitos neuroendócrinos. Isso leva a defeitos intrínsecos na produção de androgênios nos ovários. O metabolismo do cortisol pode ser alterado e com isso a produção excessiva de androgênios adrenais. Através da inibição da produção hepática de globulina ligadora de esteroides sexuais (SHBG), a resistência à insulina com hiperinsulinemia compensatória aumenta ainda mais a produção de androgênios ovarianos. O aumento da atividade nervosa simpática está associado com a obesidade, a resistência à insulina e os androgênios circulantes elevados.
2
Em mulheres saudáveis, as glândulas suprarrenais e os ovários secretam
androgênios em resposta ao ACTH e LH, respectivamente. A regulação do eixo
hipotálamo-hipófise-glândula alvo é muito importante para a atividade hormonal e
fisiológica. Predominantemente na pele, fígado e tecido adiposo, metade da
produção de androgênios decorre da secreção direta e metade das enzimas que
convertem perifericamente 17-cetoesteroides em androstenediona. O eixo
hipotálamo-hipófise não rege diretamente a produção de androgênio nas glândulas
adrenais e os fatores autócrinos e parácrinos intraglandulares também influenciam a
produção de androgênios em todo o corpo. Uma característica consistente da SOPC
é a secreção desordenada de gonadotrofina com LH normal-elevado, FSH normal-
39
baixo ou baixo e uma frequência persistentemente rápida de secreção de pulsos
de GnRH. 2, 46, 60
2.5.1 Hiperandrogenismo ovariano
O hiperandrogenismo e a anovulação são conhecidos por interagir com a
resistência à insulina na fisiopatologia da SOPC. A hiperinsulinemia parece interferir
com defeitos esteroidogênicos ovarianos, bem como mecanismos anovulatórios.
Embora a obesidade tenha papel agravante, a resistência à insulina parece ser uma
característica integral da SOPC, independentemente de outros fatores. 2
O hiperandrogenismo clínico e bioquímico de origem ovariana e/ou adrenal é
evidente na maioria dos pacientes com a síndrome (60 a 80%). O
hiperandrogenismo ovariano é atribuído principalmente a um defeito esteroidogênico
inerente da célula da teca e o aumento da insulinemia parece amplificar a
esteroidogênese. Os níveis reduzidos de FSH em relação aos de LH e fatores intra-
ovarianos também estão envolvidos (Figura 8). 56, 60
A regulação hormonal e defeitos de sinalização intracelular na SOPC
contribuem para aumentar a produção de androgênios. A sinalização LH está
associada ao aumento da biossíntese de androgênios da teca. O aumento da
atividade de PI3K e IPG na sinalização intracelular de insulina também estimula a
produção de androgênios na teca. Assim, o aumento da sinalização pela insulina
interage com o aumento dos níveis de LH para amplificar o defeito esteroidogênico.
A diminuição da ação do FSH reduz a atividade da aromatase em sinergia com o
hormônio anti-Mulleriano (AMH), que pode desempenhar esse papel diretamente,
ou indiretamente através da supressão do FSH. A atividade da aromatase reduzida
dificulta a conversão de androgênios em estrogênio, contribuindo para o excesso de
androgênio ovariano. O aumento dos níveis de AMH também pode atuar
diretamente nas células da teca para estimular a síntese de androgênios. Por sua
vez, o aumento dos níveis de androgênios perpetua a inibição da atividade da
aromatase (Figura 8). 2, 56, 58, 61, 62
40
Figura 8. A regulação hormonal intracelular e defeitos de sinalização em SOPC e a contribuição para aumentar da produção de androgênios. 58
2.5.2 Gonadotrofinas
O comprometimento do padrão de secreção das gonadotrofinas pode
contribuir para a produção excessiva de androgênios na SOPC. O aumento da
secreção de LH pode aumentar diretamente a síntese de androgênios na teca. No
entanto, foi sugerido que os níveis elevados de LH resultam de uma diminuição da
retroalimentação negativa sobre a secreção de LH, devido à ação excessiva dos
androgênios no eixo hipotálamo-hipófise. A diminuição da estimulação da
aromatase pelo FSH, por sua vez, resulta na diminuição da conversão de
androgênios para o estrogênio e agrava o excesso de androgênios nos ovários. Os
níveis de FSH relativamente reduzidos, em relação aos de LH, podem ter um papel
indireto neste processo. 46, 58
2.5.3 Insulina
Na SOPC, a insulina parece ser um fator desencadeante e que agrava a
desregulação da esteroidogênese celular da teca. Em células do ovário de
pacientes com a síndrome, a insulina parece atuar em sinergia com o LH para
estimular a síntese de androgênios. Um papel significativo da insulina na produção
de androgênios nas células da teca também é sugerido por estudos in vitro que que
mostram que este hormônio estimula a expressão da P450c17 (CYP17A1) e sua
atividade enzimática através do seu receptor nas células da teca. Esta ação da
insulina é mediada pela da via fosfoinositideo-3-quinase (PI3K) / proteína quinase B
(PKB), que é ativada em células da teca na SOPC. O aumento da insulinemia pode,
assim, ampliar ainda mais a síntese de androgênios.46, 54, 62, 63
41
2.5.4 Hiperandrogenismo adrenal
Evidências sugerem que o hiperandrogenismo adrenal, por desregulação da
CYP17A1, seja um traço geneticamente determinado na SOPC. 64 O aumento do
metabolismo periférico do cortisol também foi proposto para contribuir com o
hiperandrogenismo adrenal funcional. Em mulheres normais, as glândulas adrenais
e os ovários secretam andrógenos em resposta a ACTH e LH, respectivamente. No
hiperandrogenismo em indivíduos não obesos, os ovários e as glândulas
suprarrenais provavelmente sejam as principais fontes de produção excessiva de
andrógenos em mulheres com SOPC. A atividade de 5α-redutase no fígado e nos
tecidos periféricos (por exemplo, tecido adiposo) também podem aumentar a
conversão de testosterona em androgênio biologicamente mais potente,
diidrotestosterona (DHT). A atividade da 5a-redutase foi observada no tecido
folicular e estromal, indicando que essa isoenzima são expressa nos ovários
humano.65 Nesta configuração, o eixo hipotálamo-hipófise-adrenal pode ser
estimulado, levando ao aumento da produção de androgênios adrenais na SOPC. 58
2.5.5 Disfunção ovariana
A oligo-anovulação está presente em 70-80% das pacientes com SOPC e é
atribuída aos distúrbios da foliculogênese que caracterizam a síndrome. A
anovulação na SOPC é atribuída a distúrbios da foliculogênese que caracterizam a
síndrome. O defeito folicular na SOPC consiste em crescimento folicular acelerado e
distorção inicial das etapas subsequentes em direção à seleção do folículo
dominante. Os androgênios e a insulina têm menor importância durante a
foliculogênese. O equilíbrio entre FSH e AMH, regulado pelo relacionamento inverso
entre os dois hormônios, pode ser crucial para a atividade da aromatase no
momento da seleção do folículo dominante. O aumento da insulinemia induz a
expressão do receptor LH e luteinização prematura. A atenuação da capacidade de
resposta da FSH e a luteinização prematura da granulosa leva a distorção da
seleção do folículo dominante, levando à ao “aprisionamento folicular” (Figura 9). 24,
64
42
Figura 9. Foliculogênese normal e defeito folicular na síntese de SOPC. (A) Os estágios normais do desenvolvimento dos folículos ováricos, têm início com a formação de folículos primordiais e seu crescimento em folículos primários, folículos pré-antrais, folículos antrais, folículos pré-ovulatórios e folículo dominante. A seleção do folículo dominante culmina com a ovulação. O recrutamento inicial de folículos primordiais para entrar no crescimento é independente da FSH e é regulado por uma série de fatores de crescimento como GDF-9 e BMP-15. A regulação por parte do FSH acontece nos estágios subsequentes da foliculogênese em direção a seleção do folículo dominante. (B) Na SOPC, o excesso de androgênios proporciona o crescimento folicular inicial acelerado e o aumento de folículos pequenos. Os níveis reduzidos de fatores de crescimento, principalmente GDF-9 e BMP-15, ampliam a foliculogênese inicial. O excesso de folículos pequenos leva a níveis aumentados de AMH, interfere com a capacidade de resposta FSH folicular. As setas vermelhas indicam anormalidades foliculares na SOPC O aumento da insulina induz a expressão do receptor LH e Luteinização prematura. Com a seleção do folículo dominante prejudicada pode ocorrer a prisão folicular na SOP.
58
43
3 OBJETIVO
3.1 Objetivo geral
Investigar, por meio de revisão sistemática da literatura, se a exposição aos
desreguladores endócrinos está associada à ocorrência da SOPC em mulheres em
idade reprodutiva.
3.2 Objetivos específicos
3.2.1 Identificar os países em que foi investigada a associação entre a exposição
aos DEs.
3.2.2 Identificar os DEs associados à ocorrência de SOPC.
44
4 MÉTODOS
4.1 ELEGIBILIDADE
Após ser estabelecida a questão principal da revisão sistemática – “a
exposição aos desreguladores endócrinos está associada à ocorrência da SOPC
em humanos?”, foi utilizada a estratégia PICOS (população, intervenção,
comparação, desfechos e tipo de estudo) para nortear a busca de estudos
publicados e estabelecer os critérios de inclusão.
Desta forma, os critérios de inclusão foram:
(i) População: estudos clínicos (envolvendo humanos);
(ii) Intervenção (casos): mulheres com SOPC;
(iii) Comparação: mulheres sem SOPC;
(iv) Desfecho: concentrações de DEs em amostras biológicas;
(v) Tipo de estudo: estudos observacionais transversais, tipo caso-controle ou de
coorte.
Por meio desta estratégia, foram excluídos estudos envolvendo animais,
células ou in vitro; estudos que avaliaram outros desfechos ou apenas componentes
individuais que compõem os critérios diagnósticos da SOPC (ou seja, apenas oligo-
anovulação, hiperandrogenismo ou morfologia de ovários policísticos); revisões de
literatura, cartas, relatos de casos, resumos e opiniões pessoais.
4.2. BUSCA DOS ESTUDOS
A pesquisa foi realizada em maio de 2017 nas seguintes bases de dados
eletrônicas: Lilacs, MedLine/PubMed, Biblioteca Cochrane, Scopus e Web of
Science, por meio da combinação de termos de pesquisa relacionados à Síndrome
dos Ovários Policísticos ("Polycystic Ovary Syndrome" OR "Ovarian Syndrome,
Polycystic" OR "Syndrome, Polycystic Ovary") e DEs ("Endocrine Disruptors" OR
"Disruptors, Endocrine" OR "Endocrine Disrupting Chemicals" OR "Chemicals,
45
Endocrine Disrupting" OR "Endocrine Disruptor Effect" OR "Effect, Endocrine
Disruptor). Os resultados foram exportados para o software de gerenciamento de
referência EndNote® versão X7 (Thomson Reuters, Nova Iorque, EUA). Não houve
restrição de período da publicação ou língua.
4.3 SELEÇÃO DOS ESTUDOS
Os artigos identificados pela estratégia de busca foram avaliados,
inicialmente, pelos títulos e resumos, de forma independente, por dois revisores
(CRCA e CMR), obedecendo rigorosamente aos critérios da estratégia PICOS
descritos anteriormente. Os artigos assim selecionados foram lidos na íntegra
(textos completos) pelos dois revisores, com exclusão daqueles que não atendiam
aos critérios inclusão, também de forma independente. A inclusão dos artigos por
cada um dos revisores foi comparada e, quando havia divergência, um terceiro
revisor (AAA) foi convocado para realização de discussões e resolução da
divergências.
4.4 COLETA DE DADOS
Os seguintes dados foram extraídos dos estudos elegíveis, seguindo a
estratégia PICOS: dados do artigo (autor, referência, ano de publicação), dados
da população (país, período de avaliação/coleta de dados, idade, número amostral,
origem dos participantes e critérios de exclusão), dados da intervenção (DEs
estudados, amostra em que foi mensurado e método de medida), dados do
controle (não expostos ou menos expostos, definição de controle/como foi avaliada
a não exposição ou menor exposição e número de controles), dados do desfecho
(frequência da SOPC entre expostos e não expostos ou menos expostos, valor da
razão de chances ou risco relativo, variáveis de ajuste ou covariáveis), dados do
estudo (observacional de prevalência, caso-controle ou coorte).
A coleta de dados também foi realizada por dois revisores (CRCA e CMR) de
forma independente, os dados coletados comparados e divergências resolvidas por
discussão com o terceiro revisor (AAA).
46
4.5 AVALIAÇÃO DA QUALIDADE METODOLÓGICA
A avaliação da qualidade dos artigos incluídos neste estudo foi analisada com
o uso da escala de Newcastle-Ottawa, desenvolvida para avaliar a qualidade ou
risco de viés de estudos observacionais. 67 Esta escala contém oito itens que
analisam três aspectos dos estudos: seleção (definição dos casos, seleção dos
casos, definição dos controles e seleção dos controles), comparabilidade e
resultado ou desfecho.
Para cada item há uma série de opções em que aquela que reflete melhor a
qualidade é pontuada, e quanto maior a quantidade de pontos mais elevada é a
qualidade do estudo. No presente trabalho, as questões foram ajustadas para
investigar exposição e associação entre DEs e tendo como desfecho a SOPC, de
acordo com o item avaliado (Tabela 2). Cada ponto representa um item para
classificação de baixo risco de viés (cada ponto são representados por estrelas na
tabela de avaliação da qualidade, Tabela 4).
Tabela 2. Itens da avaliação da qualidade metodológica e sua pontuação, com base
na escala de Newcastle-Ottawa.
Seleção (máximo 4 pontos)
Definição dos casos 1 ponto se a presença de SOPC foi definida com base em critérios amplamente aceitos (critérios de Rotterdam ou do Instituto Nacional de Saúde)
Seleção dos casos 1 ponto caso a amostra seja verdadeiramente representativa da média na população alvo (amostragem aleatória) ou de alguma forma representativa (amostragem não aleatória, porém seleção a partir de casos consecutivos de SOPC em determinada unidade de assistência à saúde)
Definição dos controles 1 ponto se foi descrito claramente que os controles não apresentavam histórico de oligo-anovulação/SOPC
Seleção dos controles 1 ponto se foi descrito que os controles foram recrutados a partir de sujeitos da comunidade local
Comparabilidade (máximo 2 pontos)
1 ponto se houve ajuste adequado para idade e 1 ponto se houve ajuste adequado para o índice de massa corporal na seleção dos grupos ou análise estatística
Desfecho (máximo 1 ponto) 1 ponto caso a exposição a DEs tenha sido determinada por um método analítico validado e 1 ponto se foi usado o mesmo método de determinação para casos e controles.
47 DEs: desreguladores endócrinos; IMC: índice de massa corporal; SOPC: síndrome dos ovários policísticos.
Embora a estratégia de busca dos estudos (estratégia PICOS, descrita
acima) tenha definido a intervenção como a exposição aos DEs e o desfecho como
a ocorrência de SOPC, foram encontrados apenas estudos que selecionaram
mulheres com SOPC (casos) e mulheres saudáveis (controles) e avaliado a
exposição a DEs (desfecho). Assim, a escala foi adaptada a estes estudos, ou seja,
a seleção de casos e controles considerou a presença de SOPC e a exposição a
DEs foi considerada o desfecho (Tabela 2). Estudos com pontuação total de 7 a 8
foram considerados de alta qualidade metodológica ou baixo risco de viés, com
pontuação total de 5 a 6 foram considerados de qualidade metodológica média ou
risco médio de viés, e com pontuação total de 4 ou menos, de qualidade
metodológica baixa ou elevado risco de viés.
48
5 RESULTADOS
5.1 SELEÇÃO DOS ESTUDOS
Na fase de identificação, foram encontrados 146 artigos. Após a remoção das
duplicatas, restaram 89. Somente 12 artigos foram selecionados após a leitura dos
títulos e resumos, na primeira etapa. Após a leitura do texto completo dos artigos,
foram incluídos 6 artigos (Figura 10). Entre os 6 estudos excluídos, 4 analisaram
outro desfecho que não a SOPC 67-70 e 2 estimaram a exposição a DEs por meios
de métodos não confiáveis e que tiveram uma avaliação da qualidade muito baixa
na escala de avaliação. 39, 71
49
Figura 10. Fluxo de seleção dos artigos da revisão sistemática.
5.2 CARACTERÍSTICAS DOS ESTUDOS
Os 6 estudos incluídos totalizaram 520 participantes, entre casos e controles.
As características dos estudos incluídos estão descritas na Tabela 3. Dos artigos
selecionados, todos foram estudos transversais caso-controle, em que mulheres
com menor exposição a DEs foram comparadas àquelas com maior exposição.
Quatro estudos definiram a SOPC com base nos critérios de Rotterdam da
Sociedade Europeia de Reprodução Humana e Embriologia / Sociedade Americana
de Medicina Reprodutiva (ESHRE / ASRM).7 Dois estudos diagnosticaram a SOPC
com base nos critérios do Instituto Nacional de Saúde norte-americano.47
Artigos selecionados em bases de dados (Pubmed 30, Web of Science 55, Scopus 59, Cochrane 1, Lilacs 1)
(n = 146) (n = )
Artigos após remoção das duplicatas (n = 89)
Artigos selecionados (n = 12)
Artigos excluídos (n = 77)
Artigos incluídos (n = 6)
Artigos completos excluídos (n = 6) - outros desfechos (n = 4) - estimativa da exposição a DEs (n = 2)
50
Dos estudos selecionados, dois estudos foram realizados na China (Yang
et al., 2015 e Xu et al., 2011), um na Itália (Tarantino et al., 2013), um na Grécia
(Kandaraki et al., 2011), um na Turquia (Akın et al., 2015) e um nos Estados Unidos
da América (Vagi et al., 2014). A média de idade das participantes variou de 13 a 45
anos. Dos seis artigos incluídos na revisão, todos compararam os níveis dos
desreguladores endócrinos entre os casos e controles.
Em geral, nos estudos incluídos nesta revisão sistemática, foi observada
maior exposição a DEs, determinada pela medida de sua concentração no soro ou
urina, em mulheres com SOPC em relação àquelas sem a síndrome.
O BPA foi o DE mais frequentemente investigado, em cinco dos sete estudos,
e três deles encontraram associação entre a exposição a este composto e a
presença de SOPC. 68, 10, 23 Nos outros dois, esta associação não foi observada. 38;
34 As PCBs foram avaliadas em dois estudos selecionados e ambos observaram
associação com a SOPC. 38, 34 Dois estudos analisaram pesticidas organoclorados,
PFOA e PFOS, observaram que pacientes com SOPC apresentaram concentrações
plasmáticas significativamente maiores dessas substâncias em relação ao grupo
controle. 38, 34 Dois analisaram os ftalatos e seus metabólitos (DEP, DBP e DEHP).
38, 69 Apenas um analisou os HAP e encontrou associação significativa entre as
concentrações séricas destas substâncias e a presença de SOPC. 38
51
Tabela 3. Características dos estudos incluídos na revisão sistemática.
Autores, ano
País e período de
estudo
Desenho do
estudo
Objetivo do estudo
População de origem
N, idade Avaliação da exposição
Diagnóstico dos casos
Variáveis de ajuste
Resultados principais
Yang et al., 2015
China.
Agosto a outubro de 2012
Caso-controle
Investigar a associação entre poluentes orgânicos e SOPC
Centro de Reprodução, Terceiro Hospital da Universidade de Pequim
80 (50 casos e 30 controles)
Média de idade de 29,7 ± 3,2 anos (casos) e 30,6 ± 2,9 anos (controles
Soro
Cromatografia gasosa-espectrometria de massa
PCBs, pesticidas organoclorados, HAP e metabólitos, DEs fenólicos (incluindo BPA)
Critérios de Rotterdam de 2003
Concentração sérica de colesterol total e triglicerídeos, idade, educação e ocupação
Associações significativas entre a exposição a DEs e SOPC:
Σdl-PCBs = OR de 4,89 (IC de
95% - 1,81-13,2)
ΣPCBs = OR 3,81 (IC95%: 1,45-
10,0)
OCPs = OR de 4,89 (95% CI, 1,81-
13,2)
DDE = OR de 3,00 (IC 95%, 1,16-
7,73)
HAP = 3,00 (IC 95%, 1,16-7,73)
Tarantino et al. 2013
Itália
Novembro de 2009 a Outubro de 2011
Caso-controle
Investigar a associação entre a concentração sérica de BPA e inflamação de baixo grau, esteatose e HA em mulheres com SOPC
Hospital Universitário de Nápoles, Itália
60 (40 casos, 20 controles)
Média de díade de 26,2 ± 3,9 anos (controles) e 27,7 ± 6,8 anos (casos)
Soro
ELISA
BPA
Critérios de Rotterdam de 2003.
- As concentrações séricas de BPA foram significativamente maiores nos casos (0,7 ng/mL; 0,1 a 6,0) que em controles (0,1 ng/mL; 0,1 a 0,6), p<0,0001
52
Xu et al. 2011
China,
2010
Caso-controle
Investigar a associação entre a concentração sérica de ésteres de ftalatos e a SOPC
Não informado
34 (18 casos e 16 controles)
Média de idade de 25 ± 3,18 anos (casos) e 27,47 ± 3,78 anos (controles)
Soro
Cromatografia líquida de alto desempenho
DEP, DPB e DEHP
Critérios de Rotterdam de 2003
- A concentração sérica de DEP foi significativamente maior em mulheres com SOPC (0,45 ± 0,24 μg/mL) que nas mulheres do grupo controle (0,26 ± 0,1 μg/mL, p<0,008)
A concentração sérica de DBP foi significativamente maior em mulheres com SOPC (0,53 ± 0,15 μg/mL) que nas mulheres do grupo controle (0,41 ± 0,14 μg/mL, p=0,027)
Kandaraki et al. 2011
Grécia, 2011 Caso-controle
Comparar a concentração sérica de BPA entre mulheres com e sem SOPC
Hospital Universitário de Atenas
171 (71 casos e 100 controles)
Média de idade de 28,45 ± 4,80 anos (casos) e 32,43 ± 5,35 anos (controles)
Soro
ELISA
BPA
Critérios do NIH
- Concentração sérica de BPA significativamente superior nas mulheres com SOPC que nas mulheres do grupo controle, correlação significativa entre a concentração sérica de BPA e a presença e SOPC, por análise de regressão múltipla (r = 0,497, P <0,05).
Vagi et al. 2014
EUA, março de 2007 a maio de 2008
Caso-controle
Comparar a concentrações de DEs entre mulheres com e sem SOPC
Centro médico acadêmico urbano em Los Angeles, CA.
102 (52 casos e 50 controles)
Entre 18 e 45 anos.
Soro (BDPE, PCBs, pesticidas organoclorados, compostos perfluorinados), cromatografia líquida de alto desempenho e espectrometria de massa
Urina (BPA e metabólitos de ftalatos), cromatografia gasosa com diluição de isótopo-espectrometria de massa de alta resolução
Critérios do NIH
Idade, IMC, raça Mulheres com PCOS apresentaram concentração sérica mais elevada que perfluorinados e menor concentração de monobenzilftalato em comparação com mulheres do grupo controle
A análise de regressão logística indicou associação entre aumento da concentração sérica de perfluorinados e redução da concentração sérica de ftalatos (monobenzilftalato e mono-n-butilftalato) e a ocorrência de SOPC
53
Akın et al. 2015
Turquia, janeiro de 2011 a agosto de 2012
Caso-controle
Investigar a associação entre BPA e SOPC.
Clínica de Endocrinologia Pediátrica da Faculdade de Medicina da Universidade de Erciyes
173 (112 casos e 61 controles)
13 a 19 anos de idade
Soro
BPA
Cromatografia líquida de alto desempenho
Critérios Rotterdam de 2003
Idade, IMC, resistência à insulina, testosterona total
Aumento significativo da concentração sérica de BPA nas adolescentes com SOPC em comparação com as do grupo controle
O principal fator que determinou o aumento significativo no bisfenol A foi a presença de SOPC e não a obesidade
Na análise de regressão múltipla, a concentração sérica de BPA não se associou à presença de SOPC
DEs: desreguladores endócrinos; IMC: índice de massa corporal; SOPC: síndrome dos ovários policísticos; OCP: poluente organoclorado; PBDEs: éteres polibrominados difenílicos; PCB: bifenilas policlorada; BPA: Bisfenol A; NIH: Instituto Nacional de Saúde; DEP: dietilftalato; DBP: dibutilftalato; DEHP: dietilhexilftalato; ELISA: ensaio de imunoabsorção enzimática; OR: odds ratio ou razão e chances; Σ: somatório.
54
5.3 RESULTADOS INDIVIDUAIS DOS ESTUDOS
O estudo Yang et al. (2015) 38, conduzido no norte da China, encontrou
associação significativa entre as concentrações séricas de PCBs, pesticidas
organoclorados e HAP e a presença de SOPC. Neste estudo, foram investigados
outros DEs e, embora não tenham sido encontrados em maior concentração nas
participantes com SOPC, cabe destacar que a taxa de detecção destes compostos
foi no geral elevada; além de PCBs, pesticidas organoclorados e HAP (e seus
metabolitos), foram detectados também DEs fenólicos. A soma de todos os
congêneres de PCB (ΣPCBs) e de congêneres semelhantes a dioxina (Σdl-PCBs),
p,p'-DDE, pesticidas organoclorados e a soma de todos os HAP (ΣPAHs) foram
maiores nos pacientes com SOPC em comparação com o grupo controle. Neste
estudo, foi realizada análise de regressão logística para a associação entre a
presença de SOPC e a concentração sérica dos DEs investigados abaixo ou acima
da mediana da concentração encontrada nas mulheres estudadas. Esta análise foi
ajustada para a concentração sérica de triglicerídeos e colesterol total (no caso de
poluentes orgânicos lipossolúveis) e também para idade, nível educacional e
ocupação. Nesta análise, foi encontrado, para a soma de PCB, razão de chances de
3,81 (IC 95%, 1,45-10,0; para p,p-DDE, de 4,89 (IC 95%, 1,81-13,2); para HAPs, de
2,39 (IC 95%, 0,94-6,05). 38
Vagi et al. (2014)34 analisaram as amostras de soro e urina de 52 casos
(SOPC) e 50 controles. Encontraram em 50% das amostras das participantes a
presença de 6 PBDEs, 14 PCBs, 6 OCPs, 11 metabólitos de ftalatos, 4 compostos
perfluorados (PFCs) e BPA. Observaram associações entre SOPC e concentrações
séricas de sulfato de perfluorooctano (PFOS) e perfluorooctanoato (PFOA), bem
como de algumas PCBs. Especificamente, foram encontradas concentrações de
PFOA superiores em mulheres com SOPC (média geométrica de 4,1 μg/L) em
relação aos controles (média geométrica de 2,3 μg/L; p = 0,001), e superiores de
PFOS nos casos (média geométrica de 8,2 μg/L) em relação aos controles (4,9
μg/L; p = 0,01). Este mesmo estudo encontrou menores concentrações urinárias de
monobenzilftalato (mBzP) nos casos (média geométrica de 7,5 μg/g de creatinina)
que nos controles (média geométrica de 11,7 μg/g de creatinina; p = 0,02). A análise
regressão logística, controlando o índice de massa corporal, idade e raça, identificou
uma maior probabilidade de SOPC em indivíduos com maiores concentrações
55
séricas de PFOA e PFOS (razão de chances ajustada de 5,8 e 6,9,
respectivamente; p < 0,05) e com menor concentração urinária de mBzP e mono-n-
butilftalato (razão de chances ajustada de 0,14 e 0,25, respectivamente; p < 0,05).
Kandaraki et al. (2011) 68 mostraram que as concentrações séricas de BPA
são significativamente mais elevadas em mulheres com SOPC em comparação com
mulheres sem a síndrome (média da concentração sérica de BPA de 1,05 ± 0,56
nos casos e 0,72 ± 0,37 ng/mL nos controles, p <0,0001). Tanto os casos como os
controles foram divididos em dois subgrupos de acordo com o IMC, designados
como magras (lean, L, IMC < 25 kg/m2) e com excesso de peso (overweight, OW,
IMC ≥ 25 kg/m2). As pacientes do grupo SOPC-L, bem como SOPC-OW, foram
comparáveis em relação a idade e IMC com seus correspondentes grupos de
controle, C-L e C-OW, respectivamente. Em mulheres magras com SOP, os valores
de BPA foram significativamente maiores em comparação com controles magros
(1,13 ± 0,63 vs 0,70 ± 0,36 ng/mL, p <0,001). A mesma diferença foi observada nos
subgrupos obesos (0,96 ± 0,46 vs 0,72 ± 0,39 ng/mL, p <0,05). Quando a análise de
regressão múltipla foi realizada no grupo total utilizando BPA como variável
dependente, encontrou-se uma correlação significativa com a existência de SOPC (r
= 0,497, p <0,05).
Akın et al. (2015)10 verificaram que adolescentes com SOPC apresentaram
aumento significativo das concentrações séricas de BPA (média de 1,1 ng/mL; IC
95%: 1,0-1,2) do que os controles (média de 0,8 ng/mL, IC 95%: 0,6-0,9, p = 0,001).
Os autores realizaram análise de regressão múltipla para investigar a relação entre
a concentração sérica de BPA e a idade, IMC, resistência insulínica, concentração
sérica de testosterona total e presença de SOPC e observaram que o principal fator
que determinou o aumento significativo da concentração de BPA foi a presença de
SOPC (p=0,029), e não a obesidade. Além disso, observaram que a concentração
sérica de BPA foi significativamente correlacionada (p <0,05) com a testosterona
total (r = 0,52), a testosterona livre (r = 0,44), o sulfato de dehidroepiandrosterona (r
= 0,37) e o a pontuação no escore de Ferriman-Gallwey (r = 0,43).
O estudo de Tarantino et al. (2013)23 teve como objetivo principal descrever a
contribuição da concentração sérica de BPA, em mulheres com SOPC, para a
inflamação crônica e baixo grau (definida pela concentração sérica de proteína C
reativa, PCR, e interleucina-6, IL-6), esteatose hepática (definida por avaliação
ultrassonográfica) e hiperandrogenismo (definido pela concentração sérica de
testosterona, SHGB e índice de androgênios livres). O estudo foi incluído por ter
56
comparado a concentração sérica de BPA em mulheres com e sem SOPC. Com
relação a este aspecto, os resultados indicaram maior concentração de BPA em
mulheres com SOPC (mediana de 0,7 ng/mL) em relação àquelas sem a síndrome
(mediana de 0,1 ng/mL, p<0,0001). Entretanto, os autores observaram que as
mulheres com SOPC apresentavam IMC significativamente maior que as do grupo
controle e também correlacionaram significativa e positivamente a concentração
sérica de BPA ao IMC. Descreveram, ainda, que independentemente do peso
corporal, concentrações mais elevadas de bisfenol A em mulheres com SOPC foram
associadas com maiores níveis de resistência à insulina, esteatose hepática, índice
de androgênios livres, inflamação e tamanho do baço. Os autores compararam as
principais variáveis do estudo, nas mulheres com SOPC, de acordo com um ponto
de corte da concentração sérica de BPA, definida pelo valor do percentil 95 da
concentração de BPA apresentada pelas mulheres no grupo controle. Assim,
pacientes com SOPC e BPA sérico abaixo do percentil 95 foram definidas como
BPA- e aquelas com SOPC e BPA sérico acima do p95, como BPA+. Foi observado
que as mulheres com SOPC BPA+ apresentaram maior resistência à insulina,
hiperandrogenismo, aumento da prevalência de esteatose hepática, maior PCR, IL-6
e tamanho do baço do que as com SOPC BPA-.23
Xu et al. (2011)69 mostraram que entre as mulheres com SOPC, as
concentrações de DEP e DBP foram marcadamente superiores em relação às
observadas no grupo controle, mas nenhuma diferença foi observada em relação à
concentração de DEHP.
5.4 AVALIAÇÃO DA QUALIDADE METODOLÓGICA DOS ESTUDOS INCLUÍDOS
NA REVISÃO
O resultado da avaliação da qualidade metodológica dos estudos indicou que
a maioria apresentava baixo risco de viés (Tabela 4).
57
Tabela 4. Avaliação da qualidade metodológica dos estudos incluídos na revisão
sistemática, utilizando a escala de Newcastle-Ottawa.
ARTIGO SELEÇÃO COMPARABILIDADE EXPOSIÇÃO/DESFECHO TOTAL DE PONTOS
Akın et al. 2015 **** ** **
8 pontos
(boa qualidade)
Tarantino et al. 2013
**** ** **
8 pontos
(boa qualidade)
Xu et al. 2011
**** * ** 7 pontos
(boa qualidade)
Kandaraki et al. 2011 **** * ** 7 pontos
(boa qualidade)
Vagi et al. 2014 **** ** **
8 pontos
(boa qualidade)
Akın et al. 2015 **** ** **
8 pontos
(boa qualidade)
5.5 LIMITAÇÕES DOS ESTUDOS INCLUÍDOS NA REVISÃO
Entre as limitações apresentadas pelos estudos, destacadas pelos autores,
encontram-se o tamanho amostral reduzido, 11,25,36,40 a ausência de ajuste para
variáveis que podem influenciar a exposição aos DEs, como padrão de alimentação
40 e renda 40, o espectro limitado de DEs analisado 11,40, e a avaliação da exposição
aos DEs por sua medida em amostra biológica em único período de tempo.25,72
Com relação ao tamanho da amostra, Vagi et al. (2014)36 destacaram que a
associação entre a exposição a DE e desfechos metabólicos pode apresentar
relação dose-resposta não monotônica, e a análise de pequeno número de sujeitos
pode não permitir a observação de associações desta natureza. Destaca-se, ainda,
que o desenho dos estudos incluídos, observacional e transversal, limita determinar
relação de causalidade nas associações encontradas.
58
6 DISCUSSÃO
A presente revisão sistemática de estudos observacionais em humanos
sugere que há associação entre a exposição a DEs e a presença de SOPC. Esta
síndrome tem grande importância clínica e de saúde pública devido a sua elevada
prevalência e consequências para a saúde. Afeta uma em cada cinco mulheres em
idade reprodutiva e está associada a distúrbios reprodutivos, metabólicos e
psicológicos. 3,4
Considerando a grande diversidade de mecanismos envolvidos na atividade
de DEs, a Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA) propôs uma
definição mais ampla para essas substâncias.9 A agência descreve um DE como
uma substância exógena ou mistura que altera uma ou mais funções do sistema
endócrino, bem como a sua estrutura, com efeitos adversos tanto no organismo
exposto como na sua prole. Muitos desses DEs podem interagir com o sistema
reprodutivo feminino e pode levar a alterações endócrinas no ovário. 8,9, 12
Os estudos incluídos nesta revisão indicam associação de DEs diversos e a
presença de SOPC, especificamente BPA, PCBs, pesticidas organoclorados, os
perfluorados, HAP e os ftalatos. 10, 23, 34, 37, 38, 47, 68, 69
O BPA, analisado em quase todos os artigos, é usado para uma ampla
variedade de finalidades, como fabricação de embalagens de alimentos, brinquedos
e outras. Assim, praticamente todos são expostos continuamente a estes DEs. 22
Estudos epidemiológicos têm mostrado a interação dessa substância com o trato
reprodutivo feminino. O BPA tem atividade estrogênica e liga-se aos receptores ERα
e, em menor grau, ERβ, in vitro e in vivo. 22 Assim, pode mimetizar ou inibir a
atividade de estrogênios endógenos. Outro ponto muito interessante que conecta o
BPA com SOPC é a observação de que ele pode estimular a hiperandrogenemia no
ovário. Estudos com células de roedores mostram que o BPA é capaz de aumentar
a síntese de testosterona. 9,20, 21, 22
Os PCBs interferem com o crescimento normal de células de oócito,
diminuem os níveis de progesterona e estradiol e prolongam a atresia folicular.
Essas descobertas sustentam uma associação entre PCBs e SOPC.26 Eles tem a
capacidade de se acumular no ambiente, assim como na gordura corporal. Por
terem ações tireoidogênicas, estrogênicas e anti-androgênicas, são considerados
59
DEs. Do ponto de vista epidemiológico, este grupo de poluentes representa um
fator de risco significativo para a saúde reprodutiva feminina.9, 34
Presente nos tecidos ovarianos de células de oócitos granulosa e teca, os
receptores aril de hidrocarbonetos (AhR) são fatores de transcrição ativados por
ligantes. Esses receptores desempenham um papel fundamental na regulação do
crescimento folicular ovariano e esteroidogênese.8 Eles têm a capacidade de
diminuir os níveis de estradiol e progesterona através da regulação negativa da
expressão do ERα nos tecidos ovarianos e do receptor de progesterona em células
de granulosa folicular. Os HAPs estão entre os compostos ativos conhecidos por
afetar o desenvolvimento reprodutivo feminino ao se ligarem aos receptores AhR, o
que foi observado em roedores e humanos. A ativação do AhR no ovário fetal
humano in vitro reduz significativamente a proliferação de células germinativas.70
Após a exposição aos HAP, na vida intrauterina, foi observada uma perda
significativa de células germinativas de ovário de ovócitos. Esta evidência indica que
os HAPs podem reduzir o número de oócitos e estimular a apoptose do folículo
através da via de sinalização pelo AhR, além de induzir a insuficiência ovariana
prematura e até a infertilidade.35, 44
Os pesticidas organoclorados, especialmente o p,p'-DDE, no sistema
reprodutivo feminino, modificam a secreção de estrogênio e progesterona induzida
por FSH e regulam a expressão de enzimas esteroidogênicas, como CYP11A1, em
células do ovário. Os PAH, por sua vez, exercem efeitos de regulação negativa
sobre CYP11A1 e CYP19A1 em células da granulosa em luteinização. Essas
enzimas estão envolvidas no metabolismo de esteroides, o que poderia explicar a
esteroidogênese anormal (excesso de androgênio ou fenótipo de
hiperandrogenemia), observado em mulheres SOPC. 9, 45
Os ftalatos são um grande grupo de compostos utilizados como plastificantes
líquidos encontrados em uma ampla gama de produtos, incluindo plásticos,
revestimentos, cosméticos e tubos de ensaios.9 Os DEP, DBP e DEHP são
análogos de estrogênio e têm efeitos semelhantes. São dotados de grupos
aromáticos na sua estrutura e sua atividade estrogênica pode sensibilizar a hipófise
à ação do GnRH secretado pelo hipotálamo, resultando, assim, em aumento do LH,
entre outras ações. 9, 69
Cinco artigos pesquisaram a relação do BPA com a SOPC, e três
encontraram associação entre este DE e a presença de SOPC. 11,24,25 Tarantino et
al. (2013)23, entretanto, não ajustaram a comparação entre a concentração sérica de
60
BPA em mulheres com e sem SOPC para o IMC, e este ajuste seria importante
uma vez que no estudo as mulheres com SOPC apresentaram IMC
significativamente maior que as do grupo controle e que a concentração de BPA foi
associada significativamente ao IMC. Kandaraki et al. (2011)68, no entanto,
observaram que a associação entre a concentração sérica e a presença de SOPC
ocorreu independentemente do IMC, ou seja, foi observada tanto em mulheres com
SOPC e IMC normal quanto em mulheres com SOPC e sobrepeso. Além disso,
observaram associação positiva entre o BPA e a presença de SOPC por análise de
regressão múltipla. Akın et al. (2015)10 reproduziram os achados anteriores, porém
entre mulheres mais jovens (adolescentes).
Dois estudos não observaram diferenças nas concentrações séricas de BPA
entre mulheres com e sem SOPC. 38,34 Os resultados diferentes podem ser devidos
às características dos participantes e níveis de exposição ao BPA nas duas
populações. Além disso, devido à sua meia-vida curta, o BPA sérico não é
considerado um bom marcador de exposição. Por isso, a concentração sérica,
avaliada em um estudo caso-controle, pode não refletir a exposição a este poluente
durante o desenvolvimento da SOPC.
6.1 LIMITAÇÕES
A extensa pesquisa bibliográfica é o que dá força a essa revisão sistemática.
Usando uma estratégia de pesquisa abrangente em cinco bases de dados
populares (Lilacs, MedLine/PubMed, Biblioteca Cochrane, Scopus e Web of
Science), foram identificados, no entanto, somente 6 estudos que atenderam os
critérios de inclusão estabelecidos. Assim, este número reduzido de estudos limita
conclusões definitivas a respeito da associação entre os DEs e a SOPC. Apesar de
uma estratégia de pesquisa completa, podem existir estudos até então indisponíveis
que não foram incluídos nessa revisão sistemática.
O desenho dos estudos incluídos (observacional e transversal) não permite
estabelecer relação de causalidade para as associações encontradas. Embora a
condução de ensaios clínicos a este respeito seja inviável por razões éticas claras,
estudos prospectivos, que analisem o nível de exposição e acompanhem as
participantes para investigar o aparecimento de SOPC, poderiam contribuir para
definir esta questão.
61
Não se pode deixar de mencionar, ainda, as limitações da medida da
concentração de DEs em amostras biológicas como marcador da exposição a estes
compostos. A avaliação de sua concentração, no soro ou urina, em um único
momento, pode não refletir adequadamente a exposição, em razão de sua curta
meia-vida nestes líquidos biológicos. Além disso, os humanos estão expostos
simultaneamente a muitos DEs, com fontes em comum e com atividade aditiva,
sinérgica ou antagônica. Desta forma, a medida de um único DE pode não ser
significado direto da associação do DE medido com o desfecho estudado.
6.2 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Embora o número de estudos que avaliou a associação entre exposição a
DEs seja limitado e não permita estabelecer, em definitivo, uma associação entre
estes compostos e a SOPC, eles fundamentam a recomendação de reduzir a
exposição humana a estes compostos.
62
7 CONCLUSÃO
A presente revisão sistemática de 6 estudos caso-controle que investigaram a
associação entre a exposição a DEs, por determinação de sua concentração sérica
ou urinária, e a presença da SOPC, permite concluir que:
Há associação positiva entre a presença de SOPC e maiores concentrações
séricas e urinárias de DEs
Os países em que esta associação foi investigada foram China, EUA, Grécia,
Itália e Turquia, não sendo possível extrapolar os resultados para outras
populações.
Os DEs investigados foram BPA, PCBs, pesticidas organoclorados, HAP, ftalatos
e compostos perfluorinados.
63
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