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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
A atuação do Orientador Educacional diante da violência no espaço
escolar
Por: Renata de Cassia Oliveira de Lima
Orientador
Prof. Gení Lima
Rio de Janeiro
2012
2
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
A atuação do Orientador Educacional diante da violência no espaço escolar
Apresentação de monografia à AVM Faculdade
Integrada como requisito parcial para obtenção do
grau de especialista em...
Por: Renata de Cassia Oliveira de Lima
3
AGRADECIMENTOS
... A Deus e a meus amigos e
familiares pelo incentivo.
4
DEDICATÓRIA
...Dedico este trabalho a meu esforço
pessoal e a meu marido por ser sempre
meu companheiro.
5
RESUMO
Este estudo tem por objetivo trazer uma reflexão sobre a violência na
sociedade atual e suas consequências na escola. O assunto abordado possui
grande relevância, pois, nas últimas décadas é possível observar um aumento
significativo da violência que se apresenta em diferentes âmbitos da
sociedade, tais como a família, o trabalho e a escola.
Neste trabalho inicialmente descreverei brevemente o conceito de
violência e como ela se apresenta na escola. Porém conceituar violência é
muito difícil visto que, ações ou sentimentos geradores de violência podem ter
múltiplos significados dependendo da cultura, momento e condições nas quais
ela ocorre.
No segundo capítulo é abordado o papel da Orientação Educacional
dentro da escola, apresentado um breve histórico da profissão, suas funções e
em linhas gerais á sua relação com o corpo discente e docente da escola e
com as famílias dos alunos. Obviamente devemos ter em mente que cada
profissional irá construir suas relações no trabalho de maneira diferente, de
acordo com sua personalidade, suas experiências e vivências pessoais, porém
não deve deixar de desempenhar suas reais funções, sendo seu dever
conhecê-las profundamente para ter embasamento na tomada de decisões.
No terceiro capítulo são apresentadas sugestões que o Orientador
Educacional pode desenvolver para identificar e enfrentar o problema da
violência escolar de forma eficaz. Com a relação professor-aluno cada vez
mais desgastada, a ausência da família e pouca assistência do Estado, qual
será o papel do Orientador Educacional neste novo cenário que se apresenta
nas escolas.
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Por último a conclusão apresenta as considerações que eu cheguei a
respeito do tema pesquisado embasado na leitura dos autores que discorrem
sobre o tema e que apresentam a problemática sobre diferentes pontos de
vista. Esse trabalho se propõe, passando pelas mudanças históricas, refletir
sobre o novo lugar da escola face a crescente violência que existe na
sociedade, buscando apontar caminhos para que sejam enfrentados os
desafios trazidos pela função atual do Orientador Educacional diante dessa
problemática.
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METODOLOGIA
A pesquisa apresentada foi desenvolvida na abordagem bibliográfica,
seguindo a linha teórica acerca de escritores consagrados que dissertaram
sobre o assunto e pelos conhecimentos adquiridos ao longo da experiência
profissional e acadêmica que oportunizaram uma análise crítica e reflexiva
sobre a educação e o cotidiano escolar.
8
ÍNDICE
INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 9 CAPÍTULO I - A VIOLÊNCIA NA SOCIEDADE E SEUS REFLEXOS NA ESCOLA ........................................................................................................................................ 11
1.1 - Violência: Em busca de definições ..................................................................... 13 1.2 - Das violências ..................................................................................................... 17 1.3 - A violência nas escolas: causas e consequências ............................................... 21
CAPÍTULO II - A ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL E SEU PAPEL NA ESCOLA .. 26 2.1- Breve histórico da profissão ................................................................................ 26 2.2 - A Orientação Educacional nos dias atuais .......................................................... 30
CAPÍTULO III - A ATUAÇÃO DO ORIENTADOR EDUCACIONAL DIANTE DAS SITUAÇÕES DE VIOLÊNCIA NA FAMÍLIA .............................................................. 32
3.1 – Enfrentando o problema ..................................................................................... 32 3.2 - Enfrentando o problema da violência nas escolas a partir dos Direitos Humanos .................................................................................................................................... 36
CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................................... 39 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA .................................. Erro! Indicador não definido. BIBLIOGRAFIA CITADA ............................................................................................. 44
9
INTRODUÇÃO
A discussão sobre violência adquiriu grande importância nas últimas
décadas, passando a mobilizar sociólogos, pedagogos, filósofos, pais,
educadores, juristas, policiais, enfim, a sociedade em geral. O aumento da
violência na sociedade pode ser observado também na escola, baseada em
minhas experiências atuando durante uma década como educadora tanto na
Rede Privada quanto Pública de ensino, além da pesquisa bibliográfica
percebo o quanto é emergencial a discussão sobre o tema que a priori pode
parecer repetitivo. É importante refletir sobre este assunto para reavaliar
nossas práticas educacionais.
Para Levisky (2010) existe um tipo de violência desejável que colabora
para a estruturação do sujeito e da sociedade, destacando como parte deste
movimento o processo educacional que organiza condutas e pensamentos
através da ética, da moral, regras e normas, assim também ocorre com a
educação dos pais a seus filhos sendo a família também parte deste processo
civilização do sujeito para sua própria preservação e convívio coletivo. Mas não
é deste tipo de violência aceitável e até desejável que irei me referir neste
trabalho, mas sim da violência brutal, que ultrapassa os limites e os direitos
dos outros, subjugando-o e tornando-o vulnerável física e psicologicamente.
Como educadora, percebo que conhecer esta questão profundamente
é fundamental, pois, a escola não é um espaço isolado da sociedade , ao
contrário, ela esta totalmente imersa nessa problemática, pois recebe alunos
que possuem formações, valores cultura e vivências diferentes e que ao
conviverem no espaço escolar não deixam suas experiências do lado de fora.
A problemática apresentada nesta pesquisa é vivenciada no cotidiano não só
das escolas, mas de cada cidadão, não se restringindo a classes, espaços,
variando apenas de acordo com os conceitos de cada época.
10
A violência embora possa ser manifestada de diversas formas vem
ocupando os mais variados níveis, desestruturando instituições como a família,
além de fragilizar até destruir relações. A escola vem ocupando lugar de
diversas manifestações de violências seja como autora ou como vítima.
Em nossa sociedade com o passar dos anos, a consolidação dos
veículos de entretenimento de massa como a televisão e o cinema houve uma
banalização de situações de agressividade que Candau (1999) denomina
como “cultura de violência”, o que vem naturalizando a questão, tornando
comuns comportamentos como o bullying, por exemplo, que durante anos foi
ignorado e banalizado através de filmes que mostravam o agressor como
alguém imbecilizado, porém popular entre os colegas e a vítima como alguém
dotado de esperteza que utiliza subterfúgios cômicos para vingar-se.
Geralmente ao final destes filmes o agressor sempre é punido e a vítima
vingada e enaltecida, mas sabemos que na realidade as coisas não funcionam
assim. O aluno que sofre bullying e manifestações de intolerância (Serrano,
2000) tende a sofrer calado durante anos o que constitui uma agressão moral
e psicológica que causa nas vítimas traumas algumas vezes insuperáveis. Não
raro vemos jovens que chegam ao limite e respondem radical e brutalmente as
agressões e abusos sofridos.
Nesta perspectiva, este trabalho busca compreender alguns
determinantes da violência na sociedade contemporânea e o papel da
educação, sob a ótica do Orientador Educacional, diante de uma sociedade
violenta, na busca de reflexões e alternativas viáveis de tolerância e
convivência, tendo em vista que é impossível erradicar o problema, mas
buscando minimizar suas consequências no ambiente escolar.
11
CAPÍTULO I
A VIOLÊNCIA NA SOCIEDADE E SEUS REFLEXOS NA
ESCOLA
A violência humana, cada dia mais presente no cotidiano
contemporâneo, ignora nossos esforços para mantê-la distante e invade
nossas vidas diariamente. Discuti-la e refletir sobre essa problemática é uma
forma de compreendê-la para enfim combate-la de maneira eficaz. Para
Almeida (2010) a única alternativa é enfrentar a situação de violência de frente,
observá-la, disseca-la buscar entender suas origens e suas manifestações.
O crescimento da violência social consequentemente vem gerando um
aumento da violência escolar. A escola é um reflexo da realidade social e vive
um momento delicado, pois suas responsabilidades aumentaram e, no entanto
ela se depara com propostas de governo permeadas por demagogias que
apenas mascaram uma problemática maior.
Os instrumentos de violência de acordo com zaluar (1999) seriam
mudos, abdicariam do uso da linguagem que caracteriza as relações de poder,
baseadas na persuasão, influência ou legitimidade. Outros autores como
Adorno (1995), Oliveira (1995) entre outros também caracterizam a violência
como a negação do outro, ausência de compaixão e abuso de poder. Em todas
essas definições ressalta-se o pouco espaço existente para a argumentação,
para o diálogo dando lugar á brutalidade e muitas vezes á truculência.
Do ponto de vista institucional, a violência tem sido definida
como a afirmação de força física por imposição legal de armas,
ou jurídica, por imposição da norma que não é discutida nem
modificada aberta e democraticamente, o que lhe confere um
caráter de normatização, uma expressão excessiva ou
12
autoritária do poder que impede o reconhecimento do outro.
(ZALUAR, 1999, p. 01-02).
Tanto a violência física, que oprime pelo excesso de força corporal ou
armada, quanto à violência simbólica que exclui e domina por meio da
linguagem e da coerção psicológica estão presentes hoje na escola. A escola
já chegou a ser considerada como uma extensão do lar e atualmente na visão
de alguns é considerara um lugar perigoso principalmente nos locais onde
existem conflitos decorrentes do tráfico. Onde não há previsibilidade sobre o
que vai acontecer, um exemplo disso foi o ataque de um ex-aluno á Escola
Municipal Tasso da Silveira, localizada na Zona Oeste do Rio de Janeiro em
abril de 2011. A transmissão excessiva da mídia e o trauma causado pelo
ataque fomentaram na população um sentimento de medo e insegurança
acerca da incerteza da escola de proteger seus alunos. Segundo Lopes e
Gasparin (2003) existe uma espécie de “guerra” não declarada, onde tem-se
apenas perdedores, de um lado os professores pressionados pelo estresse
físico e psíquico a que estão submetidos de outro lado os alunos por estarem
expostos á violência e a insegurança que obviamente constitui uma barreira
nas situações de ensino-aprendizagem. A relação professor- aluno tem se
desgastado ao longo dos anos, a figura do professor parece muitas vezes
distante e repressora. Os autores destacam que:
... A presença mais intensa da violência, no cotidiano da
escola, tem aumentado a complexidade da relação
professor-aluno e tornado mais agudos os conflitos
próprios da relação. As dificuldades em gerir esses
conflitos revelam certa “crise” da relação e apontam que
os padrões tradicionalmente aceitos já não dão conta de
regular essa relação, estando esta sem sustentação na
sociedade. (IBIDEM, 2003, p. 295)
13
Mas enfim, o que é violência/ como definir o caráter violento de um ato
no meio escolar? Como reconstruir relações uma vez devastadas pelo medo e
pela falta de respeito? É o que discutiremos a seguir no decorrer do capítulo.
1.1 - Violência: Em busca de definições
Como definir um conceito que ao mesmo tempo em que é tão presente
é também tão abstrato? Vários estudiosos como filósofos, sociólogos,
pedagogos e autores como Candau (2000), Aquino (1996), Almeida (2010)
entre outros que foram consultados para a elaboração desta pesquisa,
enfatizam a complexidade no que se refere ao sentido exato do termo. A
definição encontrada no dicionário define o termo da seguinte maneira:
1- Qualidade de violento; 2- Qualidade do que atua com
força ou grande impulso, força, impetuosidade; 3- Ação
violenta; 4- Opressão, tirania; 5- Intensidade; 6- Veêmencia;7-
Qualquer força empregada contra a vontade, liberdade ou
resistência de pessoa ou coisa; 8- Constrangimento físico ou
moral, exercido sobre alguma pessoa para obriga-la a
submeter-se á vontade de outrem.( MICHAELIS, UOL
Dicionário virtual consultado em janeiro de 2012)
Embora as tentativas de definição do termo exprimam atribuições e
significados de tendências nitidamente negativas, ou seja, referem-se ao ato
de constranger ou subjugar física e moralmente o outro, Lopes e Gasparin
(2003) ressaltam que o termo “uso da força” suscita controvérsias acerca da
sua legitimidade contextual de sua utilização. Ainda buscando o sentido
etimológico do termo pesquisei sobre a origem do mesmo, violência vem do
latim “violentia” que significa violência, caráter violento ou bravio, força. O
verbo “violare” significa tratar com violência, profanar, transgredir. Tais termos
são referidos á vis que quer dizer vigor, força, potência, violência, emprego da
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força física, mas também quantidade, abundância, essência ou caráter de um
corpo para exercer alguma coisa. (ibidem, 2003, p. 20)
A palavra “vis” significa a força em ação, o exercício de um corpo para
exercer sua força e potência. Assim como um espermatozoide nada
violentamente em busca de ser o primeiro a alcançar o óvulo, podendo assim
fecunda-lo garantindo a sobrevivência da espécie, ou como um atleta que
busca violentamente superar os limites que seu corpo lhe impõe, para alcançar
mais vitórias e bater recordes. Nesses exemplos o termo violência não significa
algo necessariamente ruim, pelo contrário demonstra força vital, desejo de
vencer, de superar os demais, tendo como propulsor a própria força. Portanto
podemos considerar a ambiguidade deste termo como diz Aquino (1996) apud
Lopes e Gasparin (2003)
“o termo não implica exclusivamente uma conotação negativa.
Ou melhor, ele comporta uma ambivalência semântica digna
de interesse”. Por comportar significados tais como: “força”,
“vigor” ou “potência”, tal termo carrega, ao mesmo tempo,
conotações que podem ser positivas ou negativas. (LOPES E
GASPARIN, 2003, p. 296)
Devemos considerar ainda as contribuições de Costa (1984) apud
Lopes e Gasparin (2003) que estabelece uma diferença entre violência e
agressividade. A agressividade, segundo este autor, é um componente
natural (biológico) no ser humano e está ligada aos instintos de
sobrevivência. A violência por sua vez, é concebida como produto da cultura
e é definida como o emprego intencional da agressividade. Ou seja,
enquanto a agressividade é algo instintivo, portanto não intencional, a
violência no âmbito da interação dos seres humanos, para este autor,
somente se configura onde a agressividade é um instrumento do desejo de
destruição. Portanto nesse ponto de vista a, a violência é caracterizada pelo
seu caráter intencional, ou seja, uma ação agressiva passaria a ser violenta
15
quando fosse fruto de uma ação voluntária (LOPES E GASPARIN, 2003, p.
297).
Na comunidade internacional de direitos humanos, a violência é
compreendida como todas as violações dos direitos civis, políticos, sociais,
econômicos e culturais do indivíduo. Já a Organização Mundial de Saúde
(OMS) define violência como imposição de um grau significativo de dor e
sofrimento evitáveis. (ASBLATER, 2009). Mas como já citei anteriormente
os especialistas afirmam que o conceito é mais amplo e ambíguo do que
esta mera constatação de que violência é apenas a imposição de dor e
agressão cometida por uma pessoa contra outra.
Embora para os autores aqui citados e outros a violência apresente
um caráter ambíguo e por isso difícil de conceituar a definição predominante
no imaginário popular e que de fato nos incomoda é aquela que se refere as
ações violentas do indivíduo, por vezes até naturalizadas e justificadas,
como por exemplo as ações violentas de pais ou outros familiares dirigidas
ás crianças e adolescentes, justificadas em geral, como medidas
disciplinares, como forma de garantir a obediência e o respeito a adultos e a
autoridade dos pais. A violência neste sentido possui uma função
normatizadora, autoritária e coercitiva, a História apresenta inúmeras
situações onde a violência e castigos físicos forma impostos pelos
colonizadores aos povos dominados, ou governos ditatoriais que utilizam
ações violentas para coibir manifestações que lhe sejam contrárias. Soares,
D’ Araújo e Castro (1995) apud zaluar (1999) afirmam que:
A violência física (e não a simbólica) sempre foi empregada no
Brasil e no mundo, para forçar o consenso, defender a ordem
social a qualquer custo, manter a totalidade a ferro e a fogo.
(ZALUAR, 1999, p. 40)
Sem dúvida nos deparamos diariamente com inúmeras situações de
violência que ocorrem na sociedade, basta para isso assistirmos ao noticiário
16
ou lermos os jornais, e até mesmo em filmes, novelas e livros de ficção a
violência está presente. E por que não estaria, se como já mencionei a
agressividade é inerente ao ser humano? Podemos acreditar que a violência é
um mal dos séculos XX e XXI por causa das grandes guerras, que nunca antes
o homem foi tão cruel com seu semelhante e etc., porém apenas ao
folhearmos qualquer livro de História podemos constatar atos de violência tão
ou mais cruéis do que os cometidos atualmente. Então por que hoje esse tema
nos inquieta tanto? Segundo Almeida (2010) cada sociedade representa e
define a violência de uma maneira diferente de acordo com sua época. Não há
quem não identifique uma ação ou situação violenta, porém o conceito é difícil
de definir, visto que pode ter significados diferentes, dependentes da cultura,
momento e condições nas quais ocorrem. Na Idade Média, por exemplo, certos
atos violentos eram formas de demonstração de amor á Deus (LEVISKY,
2010) Atitudes como essa de autoflagelo e mutilação, embora ainda sejam
praticadas em algumas culturas, de um modo geral são inadmissíveis na
sociedade atual, para o bom senso do cidadão comum. Após pesquisar sobre
o tema na tentativa de encontrar uma definição sobre o conceito de violência
destaco o utilizado por Rocha (1996) apud Levisky (2010):
A violência, sob todas as formas de suas inúmeras
manifestações, pode ser considerada como uma vis vale dizer,
como uma força que transgride os limites dos seres humanos,
tanto na sua realidade física e psíquica, quanto no campo de
suas realizações sociais, éticas, estéticas, políticas e
religiosas. Em outras palavras, a violência, sob todas as suas
formas, desrespeita os direitos fundamentais do ser humano,
sem os quais o homem deixa de ser considerado como sujeito
de direitos e de deveres, e passa a ser olhado como um puro e
simples objeto. (LEVISKY, 2010, p. 6-7)
17
1.2 - Das violências
É comum nos depararmos com algumas situações de violência no
nosso cotidiano, elas estão presentes na sociedade e não podemos nem
conseguiremos negá-las, o que nos resta é tentar compreendê-las para
combatê-las da melhor maneira.
O fato de o ser humano ser instintivamente agressivo é um consenso
entre os estudiosos. Porém diferente de outros animais o homem tem a
possibilidade de mudar o destino original de suas energias instintivas. A
psicanálise tenta compreender porque alguns homens se tornam violentos
quais seriam os fatores inconscientes e/ou externos capazes de atenuar ou
exacerbar manifestações e situações violentas.
Almeida (2010), afirma que a personalidade é uma combinação
genética com as influências familiares iniciais e as circunstâncias posteriores
da vida de cada um. Segundo esta autora a índole de cada um expressa o
predomínio do amor ou do ódio na sua carga constitucional.
O temperamento é a expressão das intensidades e das
combinações das pulsões que vão determinar as
predisposições da personalidade, inclusive se será mais
amistosa ou mais agressiva. Mas a interferência do ambiente
pode reforçar ou modificar a correlação entre essas forças
instintuais e as características que se cristalizarão como
padrões de satisfação dos impulsos, ou seja, os meios (através
de quem ou do que) e os modos (as peculiaridades). O
ambiente exercerá essa influência decisiva sobre o indivíduo
durante toda a sua vida. (ALMEIDA, 2010, p. 18)
Klein (1982) apud Almeida (2010) chama de esquizaporanóide o modo
mais selvagem de administrar a própria destrutividade. O ego primitivo percebe
18
com intensa ansiedade, a ameaça de aniquilamento proveniente das pulsões
de morte e apela para as únicas defesas rudimentares de aniquilamento de
que dispõe para atenuar a sua agressividade. “Ou seja, para livrar-se da
ameaça de auto aniquilamento, dirige para o ambiente externo sua
agressividade”. (Ipsis verbis ALMEIDA, 2010 p. 20)
Grosso modo, em outras palavras, o indivíduo ataca para não ser
atacado e para isentar-se de culpa, nega que a ameaça venha dele mesmo.
Não é ele o agressor são os outros. Se o ambiente devolver as agressões ao
sujeito, reforçará suas fantasias esquizoparanoides e estará formando um
círculo vicioso regido pela lei de Talião “olho por olho, dente por dente” (ibidem,
2010) Para esse indivíduo são bem-vindas as retaliações de quem o atacou,
pois assim pode justificar a própria destrutividade. De acordo com a autora:
Seja por excessiva carga destrutiva, seja por insuficiências do
ambiente, ou mais frequentemente pela combinação de ambas
há casos em que o sujeito não consegue internalizar
suficientes experiências positivas que lhe permitam apaziguar
suas ansiedades em relação às ameaças destrutivas – suas e
daqueles que o cercam Vai prevalecer em sua personalidade
uma tendência para uma percepção esquizoparanoide do
mundo e da vida. O sujeito sente-se uma vítima perseguida e
ameaçada pelo outro, que é visto como um inimigo a ser
combatido. Torna-se uma pessoa desconfiada, acusadora,
beligerante e vingativa, em permanente atitude de ataque-
defesa. (ALMEIDA, 2010, p. 20-21)
A ineficácia das instituições públicas das minorias, a impunidade dos
poderosos, os impostos abusivos e mau uso do dinheiro público são fatores
que geram revolta e intensificam a agressividade da população. Essa violência
é descarregada no cotidiano e atinge quem não tem culpa. Como as crianças,
adolescentes, mulheres, negros e diversos representantes das minorias que
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são alvo constante de atos de violência. Podemos destacar a violência
cometida contra a infância e a adolescência que ocorrem no ambiente familiar.
Segundo Carvalho (2010) o século XX começa com uma taxa de 199
mil assassinatos de crianças e jovens. O mau trato infantil está presente, tanto
em países desenvolvidos como nos em via de desenvolvimento. Milhões de
crianças são agredidas ou torturadas em suas casas, escolas e instituições
estatais sendo de acordo com este autor a violência doméstica, na modalidade
de abuso físico a mais predominante.
Nas famílias promotoras de violência doméstica geralmente ocorre a
cumplicidade dos pais. Ainda de acordo com este autor a maioria dos
agressores é de pais biológicos e apenas 10% dos agressores físicos
apresentam perturbações psiquiátricas graves, 50% alcoolismo, 30%
desorganização familiar e 10% distúrbios de comportamento. (ipsis verbis
ALMEIDA, 2010 p.25).
Carvalho (2010) nos revela que existem quatro formatos mais comuns
de violência intrafamiliar: física, psicológica, negligência e sexual.
A violência física ocorre quando alguém causa ou tenta causar dano
por meio de força física, de algum tipo de arma ou instrumento que possa
causar lesões internas, externas ou ambas.
Violência psicológica inclui toda ação ou omissão que causa ou visa
causar dano á autoestima, á identidade ou ao desenvolvimento da pessoa.
Negligência é a omissão de responsabilidade de um ou mais membros
da família em relação ao outro.
Violência sexual é toda ação na qual uma pessoa, em situações de
poder, obriga á outra a realização de práticas sexuais, utilizando força física,
influência psicológica ou uso de armas ou drogas. (ibidem, 2010, p. 29)
20
Quando a criança ou adolescente sofre abusos no seio da própria
família, que deveria por obrigação e instinto protege-lo, torna-se um indivíduo
cujas referências de ética e moral tornam-se confusas e por viver em um
ambiente naturalmente agressivo pode vir como consequência a relacionar-se
com o ambiente externo também de forma agressiva, entrando num círculo
vicioso, onde deixa de ser o agredido para se tornar o agressor. (ALMEIDA,
2010)
A motivação constitui o fator principal e decisivo no êxito da ação de
todo e qualquer indivíduo ou empreendimento coletivo. Só com o acaso e a
sorte é que se aproxima relativamente a esse êxito, mas com muito menos
força. Não se compreende um administrador insensível ao problema da
motivação. Com este trabalho, visamos identificar e explicar as mais
importantes teorias e abordagens disponíveis, com as respectivas críticas,
ligações e inter-relacionamentos. Com tudo isso, tentamos propiciar uma visão
geral e abrangente dos aspectos positivos, negativos, conjunturais e
diferenciais destas teorias e abordagens, bem como a importância da
motivação para o trabalho.
A violência doméstica é uma das várias modalidades de
expressão de violência que a humanidade pratica contra suas
crianças e adolescentes, sendo as raízes desse fenômeno
associadas também ao contexto histórico, social, cultural e
político em que se insere e não pode ser compreendido
somente como uma questão decorrente de conflitos
interpessoais entre pais e filhos. Esse relacionamento
interpessoal também configura um padrão abusivo de
interação pai-mãe-filho; foi construído historicamente por
pessoas que, ao fazê-lo, revelam as marcas de sua história
pessoal no contexto da história socioeconômica, política e
cultural da sociedade Esses contextos, ou sistemas, estrutura
21
valores, distribui lugares, forma e socializa diferentes atores,
desenvolvendo ideologias. (CARVALHO, 2010, p. 33)
A problemática da violência intrafamiliar é tão extensa que poderia
render um estudo inteiro sobre ela e consequentemente se reflete na escola,
que ano após ano recebe crianças e adolescentes violentadas das mais
diferentes formas, traídos por aqueles que deveriam protegê-los. Esses jovens
chegam as escolas desorientadas, infelizes e sem referências positivas, muitos
são tão negligenciados que buscam referências e modelos em bandidos,
traficantes, assassinos e os elegem como seus heróis. Como esperar que um
jovem nessas condições não reaja violentamente as determinações e limites
que a escola impõe? Porém devemos ter em mente que as situações de
violência que acontecem na escola, não ocorrem somente por causa dos
jovens que sofrem abusos e violência intrafamiliar devemos também analisar
se o modelo de escola que oferecemos aos alunos também não é um
ambiente gerador de conflitos.
É esta relação de violência e escola que discutirei na última parte do
capítulo.
1.3 - A violência nas escolas: causas e consequências
A violência na escola e a indisciplina dos alunos tem sido um problema
amplamente debatido pelos profissionais dedicados a educação e ao estudo
dos comportamentos sociais. Muitas hipóteses têm sido levantadas em busca
de compreender os motivos que ocasionam essa problemática. Surgem como
possíveis causas a desestruturação da família, a falta de limites no
desenvolvimento infantil, a manipulação dos meios de comunicação e o
despreparo dos professores frente aos alunos indisciplinados.
22
Os pedagogos reforçam o pensamento de professores e estudiosos do
assunto, mostrando que a relação sadia entre família e filhos é fundamental
para o desenvolvimento psicossocial do educando junto á instituição escola.
O que pode ser considerado como violência na escola? Como um ato é
classificado como violento, agressivo e inadequado? Taille (1996) relata que a
pergunta no começo do século XX era por que as crianças obedecem?
Atualmente esta pergunta inverteu-se, é exatamente o contrário o
questionamento atual é porque as crianças não obedecem, nem a seus pais,
muito menos a seus professores? Exagero? Talvez! Não tenho tanta certeza
se antigamente as crianças obedeciam tanto assim como diziam meus avós e
se são tão mais desobedientes atualmente. Mas de fato algo mudou, e a
indisciplina e violência escolar são as queixas mais comuns o que ouvimos
comumente nos corredores e nas salas dos professores é apalavra “limite”. As
crianças hoje, não teriam limites, os pais não os imporiam, a escola não os
ensinaria, a sociedade não os exigiria, a televisão os sabotaria. (ibidem, 1996)
Segundo Taille (1996) o tema é delicado por diversas razões, inclusive
por sua complexidade e até ambiguidade. De fato o que é disciplina? O que é
indisciplina? Se entendermos disciplina como um conjunto de normas a
indisciplina de acordo com o autor poderá se traduzir de duas formas, a revolta
contra essas normas ou o desconhecimento delas. Devemos considerar
também aspectos que envolvem á própria escola como a relação professor-
aluno e a incapacidade da escola de atender o aluno que recebem hoje.
Portanto a indisciplina e a violência na escola podem ser atribuídas a
fatores externos e/ou fatores que envolvem a conduta do professore, suas
práticas pedagógicas e até mesmo práticas da própria escola que podem ser
excludentes.
De acordo com Szadkosky (2010) indisciplina escolar não pressupõe
movimentação de alunos, mostrar curiosidade e espírito inovador, mas sim se
23
indispor com as regras e limites solicitados pela escola para um saudável
convívio social no qual impere o respeito e a dignidade do ser humano.
Para Ives de La Taille (1996) disciplina é indispensável para que ocorra
aprendizagem. Mas disciplina tem sido comumente confundida com obediência
cega dos alunos que deveriam ficar quietos e sentados.
...Não raramente encontramos escolas obsoletas que exigem
que seus alunos fiquem mudos e sentados uns atrás dos
outros, sem olharem-se nos olhos e que ainda tenham no
professor, o detentor único do saber. Parece um pouco
repetitivo falarmos dessas escolas que parecem ser retratadas
no século XIX, no entanto, apesar de todas novas tendências,
muitas escolas continuam a retratar modelos tradicionais de
ensino.( SZADKOSKY, 2010, p. 48)
Hoje os alunos vivem em um mundo diferente, desafiador, com altas
tecnologias, têm um tipo de vida, rápido, dinâmico, moderno conhecem um
mundo através de um clique em seus smartphones e constantemente tem
falhado em manter o interesse desse aluno, e continua idealizando um modelo
de criança que não existe mais ou sequer existiu.
Dessa forma o aluno indisciplinado é aquele que se encaixa no
molde de uma criança ideal, e o indisciplinado é, ao contrário,
aquele cuja imagem aparece institucionalmente fora de foco.
Como sabemos ao primeiro se reserva tudo; ao segundo, seu
reverso narcísico – o império arbitrário da quase lei da
(psico)pedagógica hegemônica.( LAJOUNQUIÈRE, 1996, p.31)
A indisciplina escolar não envolve somente características encontradas
fora da escola como problemas sociais, sobrevivência precária, baixa
qualidade de vida, ou conflitos nas relações familiares. Aquino (1996) denuncia
que práticas excludentes da escola que por si só e pelo confronto com os
24
alunos produz a indisciplina e a violência e discute que a escola passa a
receber sujeitos não homogêneos vindos de diferentes histórias de vida com
experiência que muitas vezes são negadas pela escola.
Porém os problemas de violência nas escolas não estão relacionados
apenas a questão da indisciplina dos alunos, embora essa seja a questão mais
levantada pelos professores, principalmente por idealizarem um modelo de
aluno e de educação que não existe mais e por isso encontra-se por vezes
perdido e em dúvida sobre como desempenhar sua função e qual é seu papel
nesse novo cenário educacional, o professor assume a posição de vítima,
sente-se ameaçado, coagido e frustrado por não conseguir “controlar” os
alunos como outrora e julga que essa é sua principal função ao invés de
considerar o próprio ensino como tal (ibidem, 1996)
Porém além da indisciplina existe a violência física, verbal ou
psicológica nas escolas atualmente. E ela pode se apresentar sob diversas
formas como bullying, por exemplo, que é um assunto que vem sendo
amplamente discutido devido as consequências traumáticas e por vezes até
fatal desse tipo de agressão. O termo bullying de acordo com a ABRAPIA
(Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção á Infância e á
Adolescência) compreende todas as formas de atitudes agressivas,
intencionais e repetidas, que ocorrem sem motivação evidente, adotadas por
um ou mais estudantes contra outro(s) causando dor e angústia, e executadas
dentro de uma relação desigual de poder. Portanto atos repetidos entre iguais
(alunos) e o desequilíbrio de poder são as características essenciais que
tornam possível a intimidação da vítima (ipsis verbis SZADKOSKY, 2010, p.
51)
Existe ainda as agressões aluno x aluno frequentemente temos que
separar brigas nos pátios das escolas e até em salas de aula.. Essa violência
tão presente, atualmente, em muitas escolas assusta e preocupa os
educadores.
25
Segundo Szadkoski (2010) para o jovem é mais fácil agredir do que
conversar. Por não saber lidar com os seus sentimentos a agressão é mais
fácil de ser praticada.
Içami Itiba (1994) apud Szadkoski (2010) relata que na adolescência o
jovem se sente o dono da verdade, capaz de qualquer proeza. Age como se
fosse o mais inteligente, o mais poderoso, um indivíduo que só tem direitos,
jamais deveres, pode trocar disciplina, ponderação, preservação e humildade
por voluntariedade, impulsividade, risco e arrogância. Sobretudo se for um
jovem que cresceu sem boas referências familiares.
Além disso, tudo existem as escolas que funcionam em áreas
consideradas de risco, onde existe tráfico de drogas, truculência policial ,
violência doméstica, sendo alguns alunos inclusive já ingressos na vida
criminosa. Essas escolas tendem a apresentar maiores índices de violência,
evasão de alunos, professores licenciados e outros problemas. Mas será que o
olhar da escola para a comunidade e seus problemas e para os próprios
alunos pode reforçar o estigma social de marginalização e consequentemente
aumentar os índices de violência? Uma vez que tenta intimidar os estudantes,
normatizando-os e buscando uma homogeneização que vem se mostrando
impossível de alcançar.
Seja por um ou vários motivos o fato é que a violência e a indisciplina
estão cada vez mais presentes na escola e como Orientadores Educacionais
temos como uma de muitas funções a mediação de conflitos que nos leva a
constantes reflexões sobre como agir e o que fazer nessa escola que ao
mesmo tempo que mudou ao longo dos anos, modernizou teorias e práticas de
aprendizagem, parece perdida na construção das relações humanas,
buscando referências num passado que está longe de ser o ideal. O papel do
Orientador Educacional, suas funções e suas possíveis ações serão discutidos
no próximo capítulo.
26
CAPÍTULO II
A ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL E SEU PAPEL NA
ESCOLA
2.1- Breve histórico da profissão
Alguns autores que discorrem sobre o tema da Orientação Educacional
nos trazem a história desta, assim como a forma em que se encontra
atualmente.
Grinspun (2006) é uma das autoras brasileiras que mais se destaca no
estudo sobre a Orientação Educacional e na introdução de seu livro: A
Orientação Educacional: Conflitos de paradigmas e alternativas para a escola
(2006) ela situa o leitor na história da profissão, a qual sempre esteve ligada à
educação se analisarmos o surgimento de ambas percebemos que suas
histórias coincidem. Segundo a autora a concepção inicial da profissão era de
cunho psicológico.
A autora (ibidem, 2006), relata que a Orientação Educacional teve inicio
nos Estados Unidos em 1908 e era voltada unicamente para Orientação
Vocacional, possuindo um caráter aconselhador para os jovens no Ensino
Médio.
Em 1912, em Detroit, nos Estados Unidos começa a surgir uma
preocupação em relação à organização escolar, mas sua característica básica
ainda era atender à problemática vocacional e também social dos alunos e da
escola (ibidem, 2006)
No Brasil, segundo Grinspun (ibidem, 2006) a Orientação Educacional
surgiu seguindo o modelo norte americano e europeu. Seu surgimento ocorre
na década de 1920 no Liceu de Artes e ofícios de São Paulo, também com a
função de Orientação Vocacional. Já Mérici (1976) considera que a 1º
27
tentativas de Orientação Educacional no Brasil deve-se a Lourenço Filho que
quando diretor do Departamento de Educação do Estado de São Paulo criou o
serviço de Orientação Profissional e Educacional em 1931, que tinha como
maior objetivo, guiar o indivíduo na escolha de seu lugar social pela profissão.
Surgiram tentativas isoladas de Orientação, nos modelos americano e
europeu, sendo a pioneira a de Aracy Muniz Freire e Maria Junqueira Schmidt,
no colégio Amaro Cavalcante, no Rio de Janeiro, em 1934. (GRINSPUN, 2006)
Com a Reforma implementada por Gustavo Capanema, Ministro de
Getúlio Vargas, foram promulgadas as Leis Orgânicas do Ensino Industrial,
onde se encontram as primeiras referências explícitas a Orientação
Educacional nas escolas. De acordo com essa lei, a finalidade da Orientação
Educacional era a correção e encaminhamento dos alunos problema e de
elevação das qualidades morais (ibidem, 2006). Segundo a autora o Brasil foi o
primeiro país no mundo a ter a Orientação Educacional proclamada obrigatória
através de documento legal.
Grinspun (2006) chama atenção para o fato de a história e evolução da
profissão de Orientação Educacional, estar intimamente ligada à história do
Brasil. Seu surgimento na década de 1920 coincide com o aparecimento de um
movimento do Governo em prol da educação do povo, que numa tentativa de
abafar a grave crise social e política da época, visava dar educação para
todos. Nessa perspectiva, a educação teria função primordial além da
transmissão de saberes, ela representaria para o povo uma forma de ascensão
social.
De um lado, tínhamos o “interesse do governo” em promover a
escolarização de seu povo; do outro intelectuais, no poder,
assumindo as reformas educacionais em seus Estados. Foi
sendo configurado um ambiente propício à Orientação,
enquanto ela poderia tanto contribuir para a melhoria da
educação de seu povo, quanto ter um lugar certo nas reformas
28
que começavam a surgir no país, uma vez que os modelos
importados tinham tanta receptividade entre nós. (GRINSPUN,
2006, p. 23)
O surgimento do movimento escolanovista e o momento confuso que o
Governo atravessava na década de 1940, durante o governo de Getúlio
Vargas, que embora desejasse o apoio dos intelectuais voltados para a
educação, queria colocar em prática suas próprias ideias, contribuiu para
consolidar o terreno da Orientação Educacional. (GRINSPUN, 2006)
As leis orgânicas de 1942 e a regulamentação da profissão de
Orientação Educacional definem sua ação na área da Orientação Profissional
e sua função na escola.
O Orientador poderia ser considerado como “ajustador”, isto é
cabia a ele ajustar o aluno à escola, à família e a sociedade, a
partir de parâmetros eleitos por essas instituições como sendo
os de desempenho satisfatórios. (GRINSPUN, 2006, p. 24-25)
Através do artigo 10 da lei 5692/71 que instituiu a Orientação
Educacional como obrigatória nos estabelecimentos de ensino de 1º e 2º
graus. Através dessa lei a Orientação assume um papel fundamental, sendo a
área da Orientação Vocacional a mais privilegiada para atender os objetivos da
própria lei.
O que se pretendia, na realidade, era confirmar um ensino
profissionalizante, obrigatório que, através do aconselhamento
vocacional, ofereceria a oportunidade de escolha de uma
profissão futura, compatível com as necessidades do mercado
de trabalho...Seja qual fosse o caminho, a sinalização feita
pela Orientação Educacional daria credibilidade à escolha e à
decisões tomadas.(GRINSPUN, 2006, p.27)
29
Na década de 1980 o Orientador Educacional passa a buscar uma
identidade um referencial dentro do contexto mais democrático que começa a
surgir no país. Ele vai deixando as funções de psicólogo e facilitador na
aprendizagem e vai com o tempo assumindo com mais autoridade seu
compromisso político da e na escola. (GRINSPUN, 2006)
A produção acadêmica na área da Orientação Educacional vai sendo
ampliada numa dimensão mais crítica e questionadora e os orientadores
adotam uma função mais comprometida com as causas sociais. (ibidem, 2006)
Embora na década de 1980, os orientadores tenham começado a pensar,
discutir e refletir sobre sua profissão e a necessidade de assumir uma postura
mais crítica de seu papel na educação, a discussão acaba ficando só no
campo teórico pois, na prática não houveram grandes transformações e o que
se vê é o mesmo das décadas anteriores.
Na década de 1990 é extinta a Federação Nacional de Orientadores
Educacionais (ASFOE) para a formação de um sindicato único reunindo todos
os profissionais da educação. Essa unificação visava fortalecer os interesses
de os interesses de todos os trabalhadores da educação na luta e
reivindicação por seus direitos e por melhorias na educação, porém mais uma
vez não foi o que ocorreu, pelo contrário, houve segundo GRINSPUN (2006)
um enfraquecimento das associações de classe e uma fragilização da
identidade da Orientação Educacional. A autora (ibidem, 2006) atenta para a
necessidade de uma construção coletiva da profissão, unindo-se e integrando-
se aos sinais profissionais da educação e a criação de um espaço para
reflexão, estudo e reinvindicações. Atualmente existe no rio de Janeiro a
ASFOE (Associação Sul Fluminense de Orientação Educacional)
30
2.2 - A Orientação Educacional nos dias atuais
É importante analisarmos a história da Orientação Educacional para
compreendermos e refletirmos sobre sua situação atual. Para GRINSPUN
(2006), atualmente, a orientação possui um trabalho mais abrangente na
escola. Para ela o Orientador desempenha um papel mediador junto aos
demais educadores da escola, em busca de uma educação de qualidade.
Se anteriormente a ênfase era numa Orientação individual, hoje
valoriza-se o enfoque coletivo. Esse coletivo, segundo a autora (ibidem, 2006)
é composto por pessoas que devem pensar e agir a partir de questões
contextuais envolvendo contradições e conflitos, como realizações bem-
sucedidas.
Essas mudanças passam a surgir no início da década de 1990, quando
muitos acontecimentos trazem outros rumos a profissão, passando educação e
Orientação a andarem juntas sendo os orientadores na concepção da autora,
os “coadjuvantes da prática docente.” (ibidem,2006, p.31)
Atualmente o Orientador Educacional, no discurso de GRINSPUN
(2006) não exerce suas funções por ser uma profissão que existe pela
obrigatoriedade que é mais exigida de acordo com a lei 9394/96, mas,
...por efetiva consciência profissional, o orientador tem espaço
próprio junto aos demais protagonistas da escola para um
trabalho pedagógico integrado, compreendendo criticamente
as relações que se estabelecem no processo educacional.
(GRINSPUN, 2006, p.31)
A autora (ibidem, 2006) relata a importância de se desenvolver um
trabalho participativo e interdisciplinar dentro da escola. O trabalho deve ser
31
realizado em conjunto, promovendo a união do grupo. Ao contrário do que
vemos em algumas escolas que funcionam com grupos divididos e até mesmo
inimigos. Para Grinspun (2006) o trabalho deve ser em conjunto, integrado e
todos devem estar comprometidos com os resultados.
A Orientação que se pretende hoje deve estar voltada para o novo
tempo que a escola vive atualmente, em que a educação tem que lidar com o
real, com as perspectivas dessa nova realidade. A autora (ibidem, 2006)
aponta uma série de aspectos com os quais a Orientação Educacional deve
estar comprometida hoje. Porém destaca que o principal papel da Orientação
será:
Ajudar o aluno na formação de uma cidadania crítica, e a
escola, na organização e realização de seu projeto
pedagógico. Isso significa ajudar nosso aluno “por inteiro”: com
utopias, desejos e paixões... isto é, a Orientação trabalha em
favor da cidadania, não criando um serviço de orientação para
atender aos excluídos (de conhecimento, do comportamento,
dos procedimentos etc.) mas para atende-los, através das
relações que ocorrem (poder/saber, fazer/saber) na instituição
Escola. (GRINSPUN, 2006, p.33)
Segundo a autora, a Orientação faz parte da educação e por este
motivo deve pensar, hoje, nas dimensões sociais, culturais, políticas e
econômicas na qual ela acontece por esse motivo, devem-se definir as tarefas
de um orientador comprometido com as transformações sociais do momento
histórico no qual está inserido.
32
CAPÍTULO III
A ATUAÇÃO DO ORIENTADOR EDUCACIONAL DIANTE
DAS SITUAÇÕES DE VIOLÊNCIA NA FAMÍLIA
3.1 – Enfrentando o problema
As reflexões feitas nesta pesquisa sobre a problemática da violência
apontam para a complexidade do tema, o que se agrava quando esta violência
se apresenta na escola e a dificuldade em encontrar possíveis caminhos para
o enfrentamento da questão é grande, dada a sua abrangência. Contudo é
possível buscar ações e estratégias que envolvam todos os profissionais da
educação, sendo o Orientador Educacional o profissional mais capaz de criar
as condições necessárias para promover essas ações. Sendo ele um
profissional mediador e colaborador do processo educacional, que pode
conhecer o funcionamento da escola como um todo, podendo interferir em
questões que envolvem o aluno, o professor, a escola, a família e a
comunidade. O Orientador Educacional tem a possibilidade de entrar no
debate da violência escolar, buscando formas oportunas de intervenção por
mais complexo que este seja.
Schilling (2004) revela que há estudos indicando que a escola ainda é
um lugar protegido, de um modo geral, tendo em vista a dimensão da violência
social. É o local onde todas as pessoas estão, segundo a autora (ibidem,
2004), esta é a primeira vez na história do país que todas as crianças estão de
fato na escola e por isso seria de se esperar que os índices de violência
fossem maiores. O fato é que estes índices não são precisos, pois, nem todos
os casos de violência são denunciados, sendo resolvidos dentro da escola
muitas vezes através da mediação do Orientador Educacional.
33
Candau (2008) e Schilling (2004) destacam que mídia evidencia, talvez
até exageradamente, uma realidade diferente, porém pouco trabalhada do
ponto de vista educacional, mas que vem provocando a perplexidade e
preocupação entre educadores e pais.
Candau (2008) afirma que não se pode dissociar a questão da violência
na escola da problemática da violência presente na sociedade em geral e dos
fatores causadores da mesma. Mas não se pode reduzir a problemática a
questões relativas à desigualdade, exclusão social e criminalidade. Além dos
fatores externos, existem também os problemas internos, a violência que é
produzida dentro da escola.
Candau (2008) aponta como primeira estratégia de enfrentamento do
problema o uso de medidas de caráter policial, repressivo e punitivo. Spósito
(1998) apud Candau (2008) afirma que foi a partir dos anos 1980 que a relação
entre violência e segurança nas escolas se tornou uma questão visível nos
meios de comunicação social. A autora (ibidem, 2008) destaca a experiência
do Estado de São Paulo, onde o primeiro governo estadual eleito diretamente
no início da década de 1980, com a tentativa de articular segurança e
participação.
Admitia-se claramente a ideia de que as escolas precisavam
estar mais equipadas para enfrentar a onda de violência
urbana, pois grande parte dela vivia em condições de absoluta
precariedade. No entanto, parte dos temas mobilizadores
daquela conjuntura, decorria dos esforções para a
democratização da sociedade brasileira na luta contra o regime
autoritário. Assim, a proposta de maior segurança não poderia
estar dissociada de uma outra ideia central: criar outras
modalidades de interação da escola com seus usuários por
meio de novos canais institucionais e pelo aumento dos
espaços de participação. A ideia de participação consistiria,
assim, elemento importante capaz de neutralizar a violência
34
nas escolas, entendida, em grande parte, como expressão do
isolamento da instituição em relação aos usuários, a
denominada “comunidade” (SPÓSITO 1998 apud CANDAU
2008)
A necessidade de uma política social mais ampla já se mostrava
necessária na resolução da questão da segurança nas escolas. A autora relata
que a situação da segurança na escola foi sendo tratada como problema de
área de segurança pública e não como um desafio de natureza educativa.
Foram e são tratadas até hoje “soluções” típicas desta perspectiva como as
rondas escolares, a instalação de câmeras de segurança, alarmes, cercas,
muros e etc.
A escola vai se assemelhando a prisão, alunos são revistados na
entrada, são obrigados a assistir palestras sobre violência e criminalidade que
não dialogam com a necessidade e realidade do aluno que na escola sente-se
preso.
Há escolas que por não terem mais a centralidade do ensinar e
aprender, por não assumirem a realização do direito humano à
educação (condição para a concretização de outros direitos
humanos), parecem prisões. E, nas prisões, há rebeliões.
Situações frequentes e “normais” nas escolas até certo tempo
hoje ganham uma dimensão enorme. Clama-se por Polícia,
pela mediação da autoridade do Ministério Público, do
Judiciário. Parece que os conflitos não podem mais ser
tratados pedagogicamente. (SCHILLING, 2004, p.70)
Essa tendência de privilegiar o enfoque centrado na segurança e na
força policial que por vezes age brutalmente, distancia a escola de seu papel
central que é educar, ajudar a formar cidadãos, os professores se sentem
acuados e agem friamente com os alunos que consequentemente ficam mais
violentos pois, acreditam que ninguém se importa com eles.
35
Candau (2008) aponta outras possíveis soluções relacionadas à
perspectiva político-pedagógica, que embora seja mais difícil de ser
implementada é mais eficaz no enfrentamento da problemática da violência na
escola.
Uma dessas soluções seria o “resgate do aluno” como sujeito do
processo educativo, demonstrando que se preocupa com os estudantes e que
os profissionais que ali estão querem ajuda-los não somente com os deveres e
lições de casa. Do contrário não adianta colocar um exército na escola pois, o
aluno não pode ser visto como um inimigo a ser combatido.
Outra proposta para superara violência nas escolas sugerida por
Schilling (2004) seria a práticas participativas de diálogo nas diferentes
instâncias escolares. A autora destaca a importância de ouvir os discursos dos
indivíduos envolvidos no processo e que muitas vezes são ignorados.
Poder falar sobre o que nos acontece: professores, pais,
alunos, funcionários, pessoas da vizinhança, lideres locais. O
primeiro ponto, portanto, possível, é o de negar às separações,
os muros, as cercas eletrificadas, o temor excessivo do outro.
Muitas escolas já fizeram convites, reuniram, imaginaram a
educação loquaz. (SHILLING, 2004, p. 97)
A autora (ibidem, 2004) ainda destaca que não existe uma única
alternativa cada conjunto de estratégias deve ser pensado em relação a uma
realidade concreta e sua problemática. Para ela “tomar a palavra” significa criar
um saber sobre o outro e sobre si mesmo: falar a instituição e não mais ser
falado por ela.
É nessa perspectiva que deve estar pautado o trabalho do Orientador
Educacional, conhecendo profundamente a escola em que trabalha e seus
problemas o que só será possível através do diálogo e da escuta das falas
36
daqueles que fazem parte da escola. Nesse sentido o Orientador pode ajudar a
escola na interação de suas relações e seu projeto político pedagógico, de
modo que os sujeitos possam conviver de maneira mais integrada e crítica,
buscando estratégias para uma escola que aposte na paz.
Para Shilling (2004), o ponto de partida essencial é o trabalho
diagnóstico, detectando as várias dimensões da violência: a sociedade
econômica, a familiar, a institucional. “Reconhecer que estas acontecem em
vários lugares, com atores diversos. Que muitas delas se relacionam entre si,
apoiam-se e provocam-se mutuamente. Com base nesse reconhecimento é
possível criar respostas que serão, necessariamente, diversas” (ipis verbis
Shilling, 2004, p. 98)
3.2 - Enfrentando o problema da violência nas escolas a partir
dos Direitos Humanos
Atualmente tem se falado muito em Direitos Humanos na escola, é
impossível pensar numa educação que não esteja pautada na garantia dos
direitos do cidadão.
Candau (2008) afirma que para enfrentar uma cultura de violência,
consideramos ser necessário promover uma cultura de Direitos Humanos. A
autora relata que a preocupação com uma educação voltada para os Direitos
Humanos começou a surgir nos anos 1980 na América Latina, variando entre
os países de acordo com processos sociais nos diferentes contextos.
De acordo com Schilling (2004) começam a falar não mais em
“educação para os Direitos Humanos” e sim em “ educação em Direitos
Humanos”. Não se trata, porém, de ensinar um conteúdo que será usado em
algum futuro provável, mas sim de fazer com que as atitudes cotidianas
reflitam a prática aos Direitos Humanos.
37
Candau (2008) afirma que em primeiro lugar devemos romper com a
premissa de que a escola é um ambiente dissociado da realidade social. Para
ela essa dissociação impede que a educação em Direitos Humanos aconteça
de fato. Ao contrário de tentar promover o consenso, a quietude e a
passividade, a escola deveria estimular a indignação diante das violações dos
direitos, nesse sentido rebelar-se não significa estimular confusão ou gerar
conflitos, mas canalizar a agressividade não para seus pares mas sim para a
reinvindicação consciente de seus direitos.
A educação em Direitos Humanos favorece a capacidade de perceber
suas buscas concretas e cria espaços onde se socializa tais experiências, além
de construí-las e implementá-las.
Assim o cotidiano se transforma no lugar privilegiado de
reconhecimento da vida, de revelação das lutas e dos conflitos
diários que permitem liberar o potencial de vida presente em
cada pessoa, nos grupos sociais, no conjunto da sociedade, na
natureza. A educação em direitos humanos está referida
radicalmente a esta vontade de afirmação da vida. (CANDAU,
2008, p. 161)
Nesta perspectiva o Orientador Educacional precisa compreender e
promover práticas educacionais que valorizem e integrem professor, aluno e
comunidade. Os educadores não são meros técnicos, instrutores,
responsáveis unicamente de ensinar diferentes conteúdos, ao contrário eles
são profissionais e cidadãos mobilizadores de processos pessoais e grupais de
cunho cultural e sócio-político.
Para Schilling (2008) devem-se construir redes de apoio que lutem
contra a fragmentação, o isolamento, o medo.
São redes de resistência, redes necessariamente
democráticas, de proteção e realização de direitos. Que
38
compreendem que os direitos humanos são indivisíveis
realizam-se mutuamente, e que o direito à segurança, a uma
vida e a uma escola sem violência é uma construção que
envolve muitos parceiros e responsabilidades de muitos
setores. (SCHILLING, 2004, p. 98-99)
Para que ocorra de fato uma educação em direitos humanos é
fundamental que seja elaborado um trabalho um conjunto, envolvendo aluno,
professores, funcionários e comunidade. Embora não seja uma tarefa fácil,
pois exercer cidadania é muito difícil, sobretudo em um país como o nosso que
ainda possui resquícios da política ditatorial que foi praticada durante anos, e
na educação é diferente, mas é necessário lutar para que este quadro mude, e
em muitas escolas já podem ser observadas experiências bem-sucedidas no
que se refere à educação em Direitos Humanos, precisamos aprender
coletivamente a criar e vivenciar essas experiências democráticas.
Escola e sociedade civil, órgãos governamentais e
organizações não-governamentais devem somar esforços
nesta perspectiva. Lutar contra as causas estruturais da
violência e afirmar a vigência dos direitos humanos – civis,
políticos, sociais econômicos, culturais, ambientais,, etc.- no
nível das práticas sociais e culturais, constitui um elemento
fundamental para criar condições de desenvolvimento dos
processos de humanização e democratização da nossa
sociedade. (CANDAU, 2008, p.164-165)
Somente assim poderemos colaborar para diminuir as manifestações de
violência na escola, e favorecendo a afirmação, no dia a dia da sociedade e da
escola, desde a infância e os primeiros anos da escolarização de uma cultura
dos Direitos Humanos.
39
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho foi realizado com a finalidade de evidenciar a problemática
da violência escolar destacando as principais causas e consequências da
mesma assim como a atuação do Orientador Educacional face à esta realidade
que se configura nas escolas. Além de oferecer a oportunidade aos colegas
professores e principalmente Orientadores Educacionais de refletir sobre o
assunto abordado, que segundo os autores pesquisados e a opinião de quem
atua na escola é de grande importância para a melhoria do cotidiano escolar.
A pesquisa foi pautada em suportes teóricos que puderam proporcionar
uma visão ampla do assunto, oferecendo condições para a construção de uma
opinião crítica sobre o problema. Descreverei a seguir algumas considerações
e reflexões que construí durante a elaboração desta pesquisa.
Ao desenvolver este trabalho pesquisei muito sobre violência,
indisciplina, escola e sobre o papel do Orientador Educacional no espaço
escolar, pude comparar a opinião e os pontos de vista de diversos autores
sobre o tema que ao longo dos anos e com as transformações que tanto a
sociedade quanto a escola passaram, se constituiu numa problemática que
afeta diretamente o cotidiano escolar e a construção da aprendizagem e as
relações interpessoais dentro da escola.
Existem vários sentidos atribuídos a palavra violência que variam de
acordo com a cultura, a sociedade e época na qual são vivenciados. Devido a
esta variedade de significados muitos autores utilizam o termo “violências”.
Este termo parece apropriado para se referir as mais diversas formas de
violência que a escola vem convivendo em seu interior e em seu entorno.
Através da pesquisa realizada neste trabalho pude evidenciar que a violência
40
vai muito além da agressão física ou verbal, aliás, seria simplório demais
conduzir reflexões apenas sobre este enfoque.
A escola é uma célula da sociedade e não pode ser considerada
separada da mesma, não caracteriza-se apenas como vítima mas também em
muitas ocasiões reproduz e cria situações de violência.
Diante dessa realidade que se apresenta não podemos assumir uma
postura passiva ou derrotista face aos fatos. A violência que existe nas escolas
atualmente transforma a tarefa de educar num grande desafio que os
professores sentem cada vez menos vontade de encarar. Sentem-se
desmotivados ao chegar numa escola para dar aula e perceberem que estão
abandonados à própria sorte, que sua segurança não está garantida e que
podem ter seus bens depredados ou furtados. O aluno por sua vez também
não se sente motivado a estar numa escola que não o acolhe, que não o
compreende como um sujeito que pensa, sente e age então ele utiliza a
violência e a indisciplina como meio para rebelar-se contra um sistema que
insiste em excluí-lo.
Autores como Grinspun (2006) apontam o Orientador Educacional como
um profissional preparado para encarar este desafio que se apresenta no
cenário atual, trabalhando através de uma perspectiva transformadora e
comprometida com a formação do cidadão.
Não se trata de encarar o Orientador como um super-herói capaz de
solucionar todos os problemas, pois, isto além de utópico seria injusto
depositar todas as responsabilidades em um único profissional. Grisnpun
(ibidem, 2006) destaca a importância da construção de um trabalho integrado,
onde todos os profissionais estão envolvidos no processo pela busca de uma
solução.
Através da pesquisa bibliográfica foi possível compreender que o
Orientador Educacional é o profissional dentro da escola capaz com a
41
colaborar na elaboração e implementação dessa proposta, através de
discussões, argumentações, questionamentos e buscando reflexões sobre o
aluno na tentativa de compreendê-lo e ajuda-lo.
Schilling(2004) argumenta sobre a importância de se desenvolver um
trabalho de escuta, permitindo que se possa falar sobre o que acontece na
escola. Ela questiona:
Quem sabe um bom começo fosse desenvolver um trabalho de
escuta? Perceber, na trama da indisciplina, o que acontece
naquela família, naquela vizinhança, que repercute na escola?
Quem sabe um bom começo fosse uma escola que não
discriminasse? Quem poderia ser parceiro, aliado da escola
para esta tarefa? Com quem contamos internamente e
extremamente? ( SCHILLING, 2004, p. 100)
Tentando responder aos questionamentos da autora, acredito que quem
teria suporte para articular essas diferentes falas realmente seria o Orientador
Educacional. Se antes esse profissional estava limitado a ajudar os estudantes
a escolherem que carreira seguir, ou apenas “domar” os alunos indisciplinados
abafando as situações de conflitos, atualmente as funções do Orientador
Educacional dentro da escola apresentam-se de forma mais abrangente, este
profissional conquistou definitivamente seu espaço na escola e a passividade
não cabe mais a ele. O Orientador pode ser o profissional capaz de transpor as
barreiras impostas pelas forças e contradições do cotidiano escolar e que
podem interferir negativamente na aprendizagem como o problema da
violência.
Nesta perspectiva o orientador se configura como um articulador na
busca de soluções para enfrentar a questão, minimizando ou acabando com a
problemática na escola.
42
Candau (2008) aponta para duas principais soluções para o problema
da violência nas escolas, a segurança pública através do envolvimento da
polícia que muitas vezes age de forma truculenta e desta forma acaba
cerceando a liberdade do aluno assemelhando a escola à prisão, e a político-
pedagógica aportada na perspectiva de uma educação em Direitos Humanos.
Não podemos negar que em algumas escolas a problemática em
questão tornou praticamente impossível o desempenho das funções e que se
faz necessário o suporte da polícia para garantir a segurança de alunos,
professores e funcionários. Porém mesmo nessas escolas é essencial que o
problema seja tratado como uma questão educativa.
Não se trata de inserir mais um conteúdo no programa e ensiná-lo aos
alunos, não se podem ensinar valores sem de fato vivenciá-los. È necessário
trabalhar permanentemente a conscientização sobre a realidade, seria no
mínimo hipocrisia falar em Direitos Humanos quando a própria Instituição não
enxerga o aluno como um ser dotado de direitos e potenciais, quando o
inferioriza e estigmatiza. É impossível tentar transmitir valores como respeito e
tolerância quando isto não é vivenciado nas salas de aula e na escola como
um todo. Para que se possa ir além nesse processo de construção em Direitos
Humanos. O papel do Orientador é fundamental, atuando na articulação
dessas questões e na formação docente.
“Por ser transformadora da realidade, a prática, é criadora” (GRINSPUN,
2006) e por isso nem sempre se aproxima da teoria, mas ao longo do curso e
ao elaborar esta pesquisa pude concluir que é possível a criação de uma
Orientação Educacional voltada para a prática social e política, que luta por
uma sociedade mais democrática e igualitária.
As questões que foram abordadas neste trabalho sobre violência e
escola são muito complexas e afetam a dinâmica da aprendizagem. Porém,
não podemos assumir uma postura derrotista de conformismo ou fatalismo.
Diversos autores apontam caminhos para o enfrentamento dessa
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problemática, para a necessidade da elaboração de projetos e de envolvimento
de todos os profissionais.
É mais fácil cruzar os braços na sala dos professores, o caminho é difícil
e árduo, mas a recompensa certamente será a certeza de estar contribuindo
para a construção de uma escola melhor, um aluno mais crítico e consciente
de seus direitos e responsabilidades como cidadão e consequentemente de
uma sociedade mais justa e humana.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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45
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http://www.ims.uerj.br/nupevi/artigos_periodicos/contexto.pdf acesso em
janeiro de 2012.
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SUMÁRIO
FOLHA DE ROSTO ......................................................................................................... 2 AGRADECIMENTOS ..................................................................................................... 3
DEDICATÓRIA ............................................................................................................... 4
RESUMO .......................................................................................................................... 5
METODOLOGIA ............................................................................................................. 7
ÍNDICE ............................................................................................................................. 8
INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 9
CAPÍTULO I - A VIOLÊNCIA NA SOCIEDADE E SEUS REFLEXOS NA ESCOLA ........................................................................................................................................ 11
1.1 - Violência: Em busca de definições ..................................................................... 13
1.2 - Das violências ..................................................................................................... 17
1.3 - A violência nas escolas: causas e consequências ............................................... 21
CAPÍTULO II - A ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL E SEU PAPEL NA ESCOLA .. 26
2.1- Breve histórico da profissão ................................................................................ 26
2.2 - A Orientação Educacional nos dias atuais .......................................................... 30
CAPÍTULO III - A ATUAÇÃO DO ORIENTADOR EDUCACIONAL DIANTE DAS SITUAÇÕES DE VIOLÊNCIA NA FAMÍLIA .............................................................. 32
3.1 – Enfrentando o problema ..................................................................................... 32
3.2 - Enfrentando o problema da violência nas escolas a partir dos Direitos Humanos .................................................................................................................................... 36
CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................................... 39
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA .................................. Erro! Indicador não definido. BIBLIOGRAFIA CITADA ............................................................................................. 44
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