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UMA REVISO DA LITERATURA SOBRE O
COMPORTAMENTO DOS PREOS DO BITCOIN:
TRATA-SE DE UMA BOLHA ESPECULATIVA?
Eduardo Henrique Haddad Tress
Paulo Gilberto Teixeira Anastcio
Projeto de Graduao apresentado ao Curso
de Engenharia de Produo da Escola
Politcnica, Universidade Federal do Rio de
Janeiro, como parte dos requisitos
necessrios obteno do ttulo de
Engenheiro.
Orientador: Lus Alberto Melchades Leite
Coorientador: Renato Flrido Cameira
Rio de Janeiro
Dezembro de 2017
-
ii
Tress, Eduardo Henrique Haddad
Anastcio, Paulo Gilberto Teixeira
Uma Reviso da Literatura sobre o Comportamento dos
Preos do Bitcoin: Trata-se de uma Bolha Especulativa?/
Eduardo Henrique Haddad Tress e Paulo Gilberto Teixeira
Anastcio Rio de Janeiro: UFRJ/ Escola Politcnica, 2017.
XI, 79 p.: il.; 29,7 cm.
Orientador: Lus Alberto Melchades Leite
Coorientador: Renato Flrido Cameira
Projeto de Graduao UFRJ/ POLI/ Curso de
Engenharia de Produo, 2017.
Referncias Bibliogrficas: p. 72-79.
1. Bitcoin. 2. Criptomoeda. 3. Bolha. 4. Anlises
Economtricas. I. Leite, Lus Alberto Melchades et al. II.
Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ, Curso de
Engenharia de Produo. III. Uma Reviso da Literatura sobre
o Comportamento dos Preos do Bitcoin: Trata-se de uma
Bolha Especulativa?
-
iii
Dedicamos este trabalho a nossa famlia, colegas e professores, que tanto nos
apoiaram.
-
iv
AGRADECIMENTOS DE EDUARDO TRESS
Acredito que todos somos inteiramente construdos a partir de nossa formao
familiar e de nossas experincias, ento no seria possvel me tornar um Engenheiro
de Produo sem as influncias de pessoas queridas da minha vida.
Minha famlia construiu minha base, me ensinou a ser correto e responsvel, a
correr atrs de acertos e assumir meus erros, a compreender que no preciso ter bens,
mas ser o bem. Por isso, preciso agradecer a todos meus familiares e, principalmente,
minha me pela pessoa que me tornei. Ter o exemplo de uma pessoa tica e de exmio
profissionalismo no meu dia a dia, que se desdobrava para ser uma Me muito mais do
que atenciosa, amorosa e apoiadora ao longo dos anos me possibilitou aprender,
crescer e atingir meus objetivos.
Tambm gostaria de agradecer o apoio de meus amigos de faculdade, que
percorreram o complexo caminho do curso comigo, me acompanhando em diversos
trabalhos. Desde o incio, em Engenharia de Mtodos, David e Bruno me
acompanharam para que se somassem novos companheiros de jornada como Thiago,
Luiz, Bianca, Matheus, Israel, Caio e Leo. Como no poderia deixar de ser, precisava
terminar a faculdade apresentando uma monografia excepcional com meu parceiro
Paulo Gilberto! Um obrigado especial por me permitir encerrar essa longa caminhada
ao seu lado, um ltimo trabalho acadmico para fecharmos nossa histria na graduao
da UFRJ.
Aos professores, preciso aplaudir de p e me curvar pela enorme honra de ter
aprendido muito com vocs. Desde o meu primeiro encontro com a Engenharia de
Produo com o grandioso Luiz Antonio Meirelles (in memoriam), at o aprendizado em
divertidas e proveitosas matrias com os professores Renato Cameira, Adriano
Proena, dison Renato e Vincius Cardoso. Se me formo como um Engenheiro,
graas a profissionais como vocs. Muito Obrigado!
Um obrigado tambm especial aos orientadores desse projeto de graduao.
Agradeo a ateno dos professores Renato Cameira e Luis Melchades pelo tempo
despendido nos auxiliando com suas orientaes, sugestes de melhoria e diversas
leituras do texto. A participao de vocs foi fundamental para que nosso trabalho se
tornasse um Projeto Final do curso de Engenharia de Produo da UFRJ.
Um muito obrigado a todos que me ajudaram nessa jornada. Conto com todos
vocs para me tornar uma pessoa, um cidado e um profissional cada vez melhor!
-
v
AGRADECIMENTOS DE PAULO GILBERTO
Finalmente atravs deste trabalho materializo o fim de uma grande empreitada, cheia de alegrias,
tristezas e at quase desistncia. O mais importante dessa longa caminhada, alm do aprendizado, com
certeza foram as pessoas. Algumas j de outras caminhadas e outras conhecidas apenas na Universidade.
Em primeira instncia, agradeo muito a meus pais, Mauricio e Maria Cristina, que com todas suas
dificuldades prprias conseguiram me criar da melhor maneira possvel. Hoje entendo e agradeo por todos
os obstculos que Deus projetou em nossa famlia; foram todos para nosso crescimento. Agradeo tambm
a minha av, Maria Edith, e a minha tia, Maria Beatriz, que sempre se fizeram presentes de todo modo em
minha vida como grandes protetoras.
Em segunda instncia, venho agradecer a todos os meus amigos do peito que tornaram a
caminhada da vida mais prazerosa, sempre ajudando nos momentos de alegria e de tristeza. Gabriel
Richter, meu grande parceiro desde infncia, nossas conversas e horas de lazer com certeza contriburam
muito para um pouco do que sou hoje. Sua amizade realmente daquelas de se ter para sempre. Gabriel
Moraes, sua inteligncia e perspiccia se misturam de uma maneira capaz de tirar de todos uma boa risada.
Lucas Cotrim, apesar de no nos termos sado bem no comeo, nos tornamos primos-irmos para vida
toda. Voc vai longe garoto, confiamos todos em voc. Joo Pedro, descendente do inventor do telefone,
obrigado pelos seus momentos de seriedade e de brincadeira, sempre na medida certa. Rodrigo Mouro,
aquele que perde o amigo, mas no perde a piada, obrigado por me proporcionar tantas risadas. Jos
Baio, agradeo por todas as conversas enriquecedoras que tivemos, com toda certeza foram de grande
ajuda. Gabriel Moura, apesar de sumido, a intensidade das aventuras que vivemos fazem parecer que a
ltima vez que te vi foi ontem, muito obrigado por me fazer sentir assim. Bernardo Burnier, agradeo por ter
sido um dos caras que mais me fez rir na vida, at em excesso. Leonardo Assis, nos conhecemos mais
tarde, mas nas noites de academia nos tornamos irmos. Daniel de Bellis, Thoms Marinho, Lucas de la
Veja, Joo Braune, Pedro Oliveira, Gabriel Sobral, Bruno Heine e outros inacianos, obrigado por
completarem essa segunda famlia que jamais ser esquecida. Aos amigos do peito da faculdade, agradeo
muito ao Eduardo Tress - o gnio loiro - por nossas incontveis conversas sobre a vida. Foi uma honra
poder fazer este trabalho to importante contigo. Matheus Laveglia, desde aquela Cobal vi que podia contar
contigo para tudo, muito obrigado. David Beyda e Lior London, deixo aqui meu agradecimento por terem
aguentado todas as minhas piadas. Thiago, Luiz, Ian, Bruno, Diogo, Lucas e Daniel, obrigado por todas as
resenhas da faculdade.
Agradeo tambm a minha amiga, colega, familiar e eterna namorada que aceitou se juntar nessa
maluca caminhada. nas misteriosas equaes do amor que qualquer lgica ou razo pode ser
encontrada. Obrigado por tudo minha princesa, espero poder te dar um pouco da felicidade que voc me
d todos os dias.
ltimo, mas no menos importante, agradeo a todos os mestres que cruzaram em minha vida,
desde o colgio at a Universidade. Sua vocao em ensinar mesmo em meio a todas essas dificuldades
realmente um milagre. Em especial, aos professores de faculdade, agradeo ao Vincius, dison, Renato
Cameira, Eduardo Jardim, Adriano e Lus Alberto, por serem poos de inspirao no DEI e por terem
suportado minhas incontveis perguntas. Marcos Estellita, agradeo especialmente a ti por todo o incrvel
conhecimento e por todas as inmeras oportunidades que me deu na Universidade; serei eternamente
grato. Por fim, a minha grande e eterna professora, agradeo mais uma vez a ti me, a professora da minha
vida que todos os dias me d uma aula do que ser pura e bondosa.
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vi
Resumo do Projeto de Graduao apresentado Escola Politcnica/ UFRJ como parte
dos requisitos necessrios para a obteno do grau de Engenheiro de Produo.
Uma Reviso da Literatura sobre o Comportamento do Preo do Bitcoin: Trata-se de
uma Bolha Especulativa?
Eduardo Henrique Haddad Tress
Paulo Gilberto Teixeira Anastcio
Dezembro/2017
Orientador: Lus Alberto Melchades Leite
Coorientador: Renato Flrido Cameira
Curso: Engenharia de Produo
Esse trabalho tem como objetivo principal realizar uma reviso literria de artigos, livros,
revistas e notcias acerca da anlise sobre o Bitcoin; se de fato uma bolha especulativa
ou no. Ao longo do texto, o funcionamento da moeda ser apresentado e explicado, e
modelos economtricos e anlises qualitativas sobre variveis que influenciam o seu
valor sero utilizados a fim de apoiar o estudo.
Palavras-chave: Bitcoin, Criptomoeda, Bolha, Anlises Economtricas
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vii
Abstract of Undergraduate Project presented to POLI/UFRJ as a partial fulfillment of
the requirements for the degree of Industrial Engineer.
A Literary Review of Bitcoin's Price Behavior: Is it a Speculative Bubble?
Eduardo Henrique Haddad Tress
Paulo Gilberto Teixeira Anastcio
December/2017
Advisor: Lus Alberto Melchades Leite
Coadvisor: Renato Flrido Cameira
Course: Industrial Engineering
This work aims to carry out a literary review of articles, books, magazines and news
about the analysis of Bitcoin: whether it is actually a speculative bubble or not.
Throughout the text, the functioning of the currency will be presented and explained, and
econometric models and qualitative analysis about variables that influence its value will
also be used in order to support the study.
Keywords: Bitcoin, Cryptocurrency, Bubbles, Econometric Analysis
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viii
SUMRIO
1. INTRODUO ............................................................................................................................ 1
1.1 METODOLOGIA .................................................................................................................... 2
1.2 LIMITES ................................................................................................................................ 2
1.3 LIMITAES ......................................................................................................................... 3
1.4 MAPEAMENTO DA LITERATURA .......................................................................................... 4
2. HISTRICO DAS CRIPTOMOEDAS .............................................................................................. 5
3. DEFINIO E FUNCIONAMENTO ............................................................................................... 8
3.1 CONCEITOS BSICOS DO BITCOIN ....................................................................................... 8
3.2 RESUMO DO FUNCIONAMENTO DO BITCOIN ................................................................... 10
3.3 ESTRUTURA DE UM BLOCO ............................................................................................... 12
3.4 ESTRUTURA DAS TRANSAES ......................................................................................... 13
3.5 CHAVE PBLICA E PRIVADA ............................................................................................... 14
3.6 MINERAO ...................................................................................................................... 15
3.7 TROCO ............................................................................................................................... 16
3.8 TAXA .................................................................................................................................. 17
3.9 PROOF OF WORK ............................................................................................................... 18
3.10 BLOCO E CORRENTE DE BLOCOS ..................................................................................... 19
4. NATUREZA DO BITCOIN ........................................................................................................... 19
5. ACEITABILIDADE DO BITCOIN .................................................................................................. 24
5.1 ACEITABILIDADE DOS USURIOS ...................................................................................... 24
5.2 ACEITABILIDADE DOS GOVERNOS ..................................................................................... 27
5.3 RISCOS RELACIONADOS AO BITCOIN ................................................................................ 29
6. BITCOIN E BOLHAS .................................................................................................................. 32
6.1 DEFINIO DE BOLHA ESPECULATIVA ............................................................................... 33
6.2 VALOR FUNDAMENTAL ..................................................................................................... 37
6.3 MANIA DAS TULIPAS ......................................................................................................... 38
6.4 ANLISE ECONOMTRICA ................................................................................................. 40
6.5 RECORRNCIA DE BOLHAS NO BITCOIN ............................................................................ 43
7. DETERMINANTES DO PREO ................................................................................................... 45
7.1 MODELO DE REGRESSO .................................................................................................. 46
7.2 MODELO DOS TRS FATORES ............................................................................................ 48
7.3 MODELO DO CUSTO DE PRODUO ................................................................................. 50
7.4 MODELO DE PREDIO UTILIZANDO INTELIGNCIA ARTIFICIAL ...................................... 53
-
ix
7.5 MODELO DE POPULARIDADE ............................................................................................ 57
7.6 MODELO DE METCALFE ..................................................................................................... 61
7.7 RESUMO DE FORAS E FRAQUEZAS DE CADA MODELO ................................................... 65
8. CONCLUSES ........................................................................................................................... 69
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ................................................................................................... 72
-
x
ndice de Figuras
Figura 1: Infogrfico de Funcionamento do Bitcoin.. .................................................................. 11
Figura 2: Campos de um Bitcoin.. ................................................................................................ 12
Figura 3: Campos do Cabealho. ................................................................................................. 12
Figura 4: Campos de Transaes.. ............................................................................................... 13
Figura 5: Campos de Entrada. ..................................................................................................... 13
Figura 6: Campos de Sada.. ........................................................................................................ 14
Figura 7: Representao das Chaves do Bitcoin.. ........................................................................ 15
Figura 8: Construo Social de uma Bolha Especulativa. ............................................................ 34
Figura 9: Modelo Gartner Hype Cycle.. ....................................................................................... 35
Figura 10: Evoluo do preo das tulipas e sua posterior derrocada. ........................................ 40
Figura 11: Evoluo do preo da bolha de abril de 2013. ........................................................... 41
Figura 12: Evoluo do preo da bolha de novembro de 2013. ................................................. 42
Figura 13: Quadro sntese dos modelos apresentados e de suas respectivas propostas. .......... 45
Figura 14 - Variveis contribuintes para o modelo. .................................................................... 58
Figura 15: Comparao temporal entre preo do Bitcoin com lei de Metcalfe. ......................... 64
Figura 16: Comparao a partir do nmero de endereos entre preo do Bitcoin com lei de
Metcalfe. ..................................................................................................................................... 64
Figura 17: Quadro consolidador das foras e fraquezas de cada modelo. ................................ 66
-
xi
ndice de Tabelas
Tabela 1: Significncia estatstica do modelo de causalidade de Granger entre o preo do
Bitcoin e opinies de fruns. ....................................................................................................... 54
Tabela 2: Significncia estatstica do modelo de causalidade de Granger entre transaes de
Bitcoin e opinies de fruns. ....................................................................................................... 54
Tabela 3: Coeficiente de correlao de Pearson ......................................................................... 55
Tabela 4: Resultados experimentais da flutuao prevista de Bitcoin. ...................................... 56
Tabela 5: Resultados das regresses (coeficientes e erros padro). .......................................... 59
Tabela 6: Modelos construdos para ln(Google). ...................................................................... 60
-
xii
ndice de Equaes
Equao 1 Regresso do log do preo do Bitcoin. ................................................................... 47
Equao 2 Demanda do Bitcoin. .............................................................................................. 48
Equao 3 Regresso para o preo do Bitcoin. ........................................................................ 48
Equao 4 Regresso para o preo do Bitcoin com novas variveis. ....................................... 49
Equao 5 Regresso do log do preo do Bitcoin .................................................................... 51
Equao 6 Regresso do log do preo do Bitcoin sem variveis estatisticamente
insignificantes. ............................................................................................................................. 51
Equao 7 Preo da venda do Bitcoin em funo do custo marginal de minerao. .............. 52
Equao 8 Funo netoid de crescimento da rede ao longo do tempo. ................................. 62
Equao 9 Modelo de valor da rede a partir do nmero de endereos nicos participantes da
rede. ............................................................................................................................................ 63
Equao 10 Filtro aplicado ao nmero de pessoas adotando o ativo em um ms.................. 63
-
1
1. INTRODUO
Aps tornar-se assunto de diversos artigos e notcias, a criao e o xito das
criptomedas - especialmente do Bitcoin ainda uma verdadeira incgnita para muitos,
inclusive para os especialistas. Muito se questiona se de fato o Bitcoin uma bolha ou
um investimento ou ainda se uma moeda ou um ativo. Por conta de sua recente
popularizao e alta complexidade intrnseca, a bibliografia sobre o assunto ainda
escassa, polarizada e com poucas concluses sobre sua funo e efetividade.
Com base nessa ausncia de concluses fundamentadas, surgiu ento o
interesse de realizar um trabalho com o propsito de discutir e analisar se essa nova
tecnologia apenas uma bolha especulativa ou no. O texto est organizado da
seguinte forma: No Captulo 2, o histrico das criptomoedas explicitado, pois
importante compreender sua origem, estabilizao e ganho de popularidade no decorrer
dos anos. J no Captulo 3 sero descritas as principais caractersticas do Bitcoin, com
o objetivo de resumir seu funcionamento e principais conceitos que sero avaliados no
estudo da possvel bolha. O Captulo 4 descreve a natureza da criptomoeda, analisando
sua capacidade de atuao como moeda, ativo, commodity ou software com base em
especialistas da rea e no pblico-alvo. Os usurios e os comerciantes envolvidos com
o Bitcoin so analisados no Captulo 5, que examina a aceitabilidade atual da
criptomoeda entre o pblico e os governos, explicitando os riscos enfrentados. A partir
da elucidao sobre a utilidade do Bitcoin para o mercado, o Captulo 6 analisa a
presena de bolhas no mercado da criptomoeda a partir da comparao entre seu valor.
J o Captulo 7 transgride as anlises qualitativas de captulos anteriores e, com o
conhecimento sobre bolhas, promove anlises quantitativas de forma a identificar as
principais razes para a valorizao do Bitcoin e, a partir de diferentes hipteses,
compreender a formao de seu valor. Os fatores que resultam na valorizao do Bitcoin
indicam a presena de uma bolha especulativa ou de um investimento que se tornar o
futuro do mercado financeiro, o que ser analisado no Captulo 8. Por fim, o Captulo 8
compara as opinies descritas no decorrer do Projeto para alcanar a melhor anlise
sobre o valor e preo da moeda, verificando suas tendncias para os prximos anos a
fim de responder maior dvida relacionada ao Bitcoin: O Bitcoin apenas uma bolha
especulativa?
-
2
1.1 METODOLOGIA
De acordo com KOTHARI (1990), pesquisar consiste em um mtodo sistemtico
que enuncia o problema, formula hipteses, coleta dados e fatos, os analisa e, por fim,
alcana concluses na forma de solues para o problema formulado ou como
generalizaes para formulaes tericas. O presente projeto visa analisar, por meio
de pesquisas bibliogrficas de fontes secundrias, a inovao do Bitcoin de forma a
obter concluses sobre seu valor econmico. Para isso, foram consultados sites de
peridicos e de pesquisa para coletar o conhecimento de diversos autores e
pesquisadores do assunto. A principal fonte escolhida foi a base de peridicos da
CAPES, alm de pesquisas nos sites do Scholar Google e do Google, devido ao assunto
inovador estudado, que exige constante atualizao e aprimoramento. Por se tratar de
um objeto de estudo com cada vez mais exposio na mdia, transformando-se em
tendncia de investidores e interesse da sociedade em geral, sites de notcias tambm
foram consultados com frequncia.
Com o uso de todas as fontes secundrias, a finalidade da pesquisa bibliogrfica,
de acordo com LAKATOS (2003), colocar o pesquisador em contato direto com tudo
o que foi escrito, dito ou filmado sobre determinado assunto. Dessa forma, segundo o
autor, a pesquisa bibliogrfica no mera repetio do que j foi dito ou escrito sobre
certo assunto, mas o exame de um tema sob novo enfoque ou abordagem, chegando a
concluses inovadoras.
Quanto aos objetivos, trata-se de uma pesquisa exploratria, j que, assim como
descrito por GERHARDT & SILVEIRA (2009), seu objetivo proporcionar maior
familiaridade com o problema, a fim de torn-lo mais explcito ou poder, sobre ele,
construir hipteses. Alm disso, busca-se levantar dados economtricos relacionados
ao Bitcoin, sendo, por isso, considerada tambm uma pesquisa quantitativa bsica, j
que seus conhecimentos tornam-se teis ao avano dos estudos sobre a criptomoeda,
sem que esteja prevista uma aplicao prtica imediata.
1.2 LIMITES
Por consistir de uma pesquisa bibliogrfica, no se almeja praticar novos
princpios relacionados ao processo de minerao, programao, investimentos ou
estudar algum caso especfico. O estudo se limita a analisar o Bitcoin especificamente,
j que se trata de uma das criptomoedas pioneiras e de maior tendncia de adeso do
pblico em potencial. Dessa forma, a sua importncia se destaca perante as outras
-
3
criptomoedas por se encontrar mais desenvolvida, alm de adotar a tecnologia
inovadora do Blockchain.
Assim, moedas como Ethereum, Ripple e Litecoin so reconhecidas apenas
como parmetro para o objeto de estudo principal. Inovaes da bibliografia quanto a
novas tecnologias ou polticas para o Bitcoin tambm no so aprofundadas, j que se
visa identificar apenas as tendncias econmicas da criptomoeda j existente.
Apesar de consistir de um fator fundamental para o sucesso do Bitcoin, as
regulamentaes no so estudadas em profundidade nesse projeto, pois cada pas
possui vises diferentes sobre o assunto, o que tornaria o projeto demasiadamente
prolixo. Alm disso, muitas legislaes ainda no foram definidas, o que tornaria a
descrio tambm especulativa. Com isso, avaliam-se as regulaes j existentes
apenas para elucidar aspectos econmicos ligados ao Bitcoin e os impactos
decorrentes.
1.3 LIMITAES
Como reviso de literatura, a principal limitao do presente estudo a
necessidade de confiar nos dados e mtodos de outros pesquisadores. Ao utilizar
diversas fontes, no foi possvel validar cada pesquisa e suas concluses nem as
respectivas coletas de dados.
Outra limitao da pesquisa consequncia do aspecto inovador do Bitcoin, que
ao mesmo tempo em que atrai interesse, significa que no se encontra consolidado nem
possui vastos estudos histricos. Com isso, o material de estudo acadmico ainda no
se encontra significativamente estabelecido e ainda construdo, principalmente por
economistas e investidores da rea, o que pode gerar certa parcialidade. Esse setor
torna-se propcio para um estudo de literatura que pode auxiliar na compreenso do
novo negcio, porm, em contraponto, torna o estudo limitado a uma menor quantidade
de referncias.
Por outro lado, a inovao atrai maior ateno miditica e de potenciais usurios.
Ao consistir de um assunto recorrente e atual, novidades so apontadas em notcias
frequentemente, gerando um material por meio da Internet significativamente denso e
atualizado diariamente. Ao contrrio de estudos acadmicos, que so mais limitados, a
abrangncia de informaes de Bitcoin na rede acaba por criar limitaes no presente
estudo pelo motivo inverso, pois no possvel averiguar todos os pontos de vista desse
-
4
tipo de literatura. Dessa forma, torna-se necessrio limitar pesquisas e informaes a
sites de notcias importantes ou focados nas criptomoedas, buscando textos de
confiveis e de estudiosos, mesmo que no sejam artigos em peridicos ou livros.
1.4 MAPEAMENTO DA LITERATURA
Para KITCHENHAM (2004):
Uma Reviso Sistemtica de Literatura uma forma de
identificar, avaliar e interpretar todas as pesquisas disponveis que
so relevantes para uma particular questo de pesquisa, ou rea,
ou fenmeno de interesse.
O mapeamento da literatura do presente estudo se iniciou com a pesquisa pelo
objeto do estudo na base Web of Science. Com isso, foram encontrados 454 artigos
com a palavra Bitcoin em seu escopo, sendo carregados seus resumos para o software
Zotero de modo a facilitar o mapeamento. Dessa quantidade de textos, 8 revelaram ser
duplicatas.
A busca por artigos com Bitcoin em seu escopo revelou ser mais interessante do
que as demais palavras-chave envolvendo a criptomoeda. Ao verificar, por exemplo,
textos que citassem Satoshi Nakamoto, o criador do Bitcoin, encontram-se 65
resultados, mas que esto relacionados s demais criptomoedas alm de textos que j
citam o Bitcoin e foram includos no filtro anterior. Mapear por Criptomoeda tambm
tornaria a pesquisa significativamente abrangente, distanciando-se do objeto de estudo.
A partir disso, definiu-se um filtro inicial por onde seriam selecionados artigos
diretamente associados ao Bitcoin. Isso excluiu textos cujos enfoques fossem outras
criptomoedas ou teorias econmicas que apenas utilizavam o Bitcoin como meio de
comparao. Outros artigos em que eram propostas novidades e novas aplicaes para
Blockchain e Bitcoin tambm foram descartados, j que no seriam de interesse direto
no estudo econmico da criptomoeda j existente. Textos sobre as legislaes mundiais
e referentes ao campo do direito tambm foram desconsiderados, haja vista que o
enfoque principal do projeto consiste em seu valor econmico.
Assim, 110 artigos que referenciam Bitcoin e o analisam em termos gerais ou
econmicos foram filtrados. Com um maior nvel de detalhamento, buscou-se textos que
indicam estudos quanto a aspectos economtricos e referentes a bolhas. Isso revelou
-
5
34 artigos, apesar de 4 deles no possurem o texto completo liberados na Internet ou
na base de peridicos CAPES.
Nesse filtro, as palavras-chave identificadas nos resumos dos artigos foram:
bubble, regression, model, variables, volatility, speculative, asset, commodity. Esses
termos revelam um princpio de estudo economtrico da criptomoeda, conforme
desejado pelo presente estudo.
Aps uma leitura do resumo e da concluso desses artigos, eles foram
discriminados em trs nveis de importncia, sendo a leitura priorizada a partir disso.
Embora outros artigos, dentre os 110 filtrados, sejam tambm utilizados como
referncias para o projeto - principalmente nas caractersticas e definies gerais do
Bitcoin - os 30 artigos filtrados ao final constituram a base da coleta de dados para as
anlises quantitativas e consideraes finais.
Por meio desse mapeamento, almejou-se tornar possvel a leitura e estudo de
artigos relevantes envolvendo as caractersticas econmicas do Bitcoin. Somado a
informaes obtidas em sites de notcias e especializados na criptomoeda, o portflio
de textos levantado capaz de apresentar diversas opinies e hipteses quanto ao
Bitcoin, seu valor econmico, sua tendncia de bolha e seu significado para a nova
economia mundial.
Dessa forma, a pesquisa bibliogrfica se torna seno exaustiva, suficiente, de
forma a reduzir uma possvel tendenciosidade ao serem pesquisados apenas sites
referentes ao Bitcoin. Porm, considerando que os estudiosos do assunto sejam
aqueles interessados e investidores na criptomoeda, deve-se ressaltar a possibilidade
de enviesamento. Para isso, foram necessrias, alm de uma anlise crtica, buscas por
opinies de economistas eminentes que estivessem menos relacionados ao Bitcoin.
2. HISTRICO DAS CRIPTOMOEDAS
Desde a popularizao da Internet, a questo de como operar e realizar
transaes financeiras online sempre foi debatida. Durante o auge de expectativas
sobre a world wide web fim dos anos 80 e ao longo dos anos 90 um grupo apelidado
de cypherpunks comeou a discorrer sobre a criao de moedas digitais. Esse grupo
era composto por matemticos, criptgrafos e hackers que se preocupavam com o
anonimato, liberdade individual e privacidade.
-
6
David Chaum um exemplo de integrante desse grupo, sendo um dos primeiros
que trouxe as criptomoedas para discusso no ambiente acadmico. Sendo ele o
precursor desse debate, foi tambm o criador da primeira moeda digital conhecida, o
DigiCash. Posteriormente, a moeda foi vendida e utilizada para transaes bancrias
especficas. Outras tentativas tambm surgiram, como Hascash, E-gold e Bitgold,
porm nenhuma delas obteve xito.
O DigiCash j possua vantagens como anonimato, segurana e possibilidade
de efetuar micropagamentos a partir de centavos. Entretanto, os comerciantes no
estavam agradados com o anonimato, os governos odiavam a existncia de uma moeda
alternativa e os bancos se assustavam com a competio, alm de a Internet no ter
aderido ideia (BOWBRICK, 2003).
Alguns anos se passaram e ainda na dcada de 90 - mais precisamente em 1996
o assunto das criptomoedas tomou tal proporo que a NSA (Agncia de Segurana
Nacional dos EUA) divulgou um texto sobre o assunto: How to Make a Mint: the
Cryptography of Anonymous Electronic Cash. Em tanto o contedo do texto se
assemelha ao funcionamento do Bitcoin, que muitos costumam afirmar que a NSA nesta
poca estava prevendo a vinda do Bitcoin 12 anos depois. Tal contedo preconiza a
criao de um sistema que assegura que as transaes financeiras so possveis
atravs do uso de uma rede descentralizada e lista quatro pontos indispensveis para
sua existncia: privacidade, identificao do usurio, integridade da mensagem
(diretamente ligada ao problema de double-spending), e proteo contra negao futura
da transao.
Finalmente, em 2008, um desenvolvedor annimo sob o pseudnimo de Satoshi
Nakamoto revelou um artigo com o nome de Bitcoin. No ano seguinte, seu artigo j havia
sido colocado em prtica e o sistema de Blockchain j existia. A partir da, diversas
outras tentativas de moedas digitais apoiadas na tecnologia do Blockchain tambm
surgiram, como, por exemplo, Litecoin, Namecoin, Feathercoin e Peercoin. Algumas das
criaes posteriores ao Bitcoin existem e se valorizam at hoje, a exemplo do Altcoin,
porm no tanto como a pioneira.
A criao das criptomoedas coincidiu com a descrena em relao s instituies
financeiras e ao governo norte-americano durante a crise de 2009. Por isso, a rede das
moedas digitais comeou a receber maior quantidade de adeptos, que, insatisfeitos com
as autoridades, desejavam uma moeda descentralizada de ponta a ponta, sem que
fosse necessria a dependncia de nenhuma organizao.
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7
Entretanto, os efeitos da ausncia de uma figura central e do controle
governamental no so apenas positivos. Devido privacidade oferecida pelas
criptomoedas, muitos negcios ilegais passaram a ser executados por meio delas, como
trfico de drogas e armas. Assim como a deep web afetou a imagem da Internet, ao
serem noticiadas essas transaes ilcitas, grande parte da populao passou a
associar as moedas digitais criminalidade.
No blockchain, todas as transaes so documentadas publicamente, porm os
negociantes so mantidos em sigilo, o que dificultou o controle e a operao de
autoridades policiais. Os defensores das criptomoedas indicam que, caso haja a
converso de Bitcoin para moedas reais, o dinheiro torna-se rastrevel, identificando o
responsvel.
Outra polmica referente s criptomoedas ocorreu quando o site Mt. Gox fechou
em 2014. Aps declarar que estava sendo alvo de hackers, a maior casa de cmbio
decretou falncia, encerrando seu site. Estima-se que cerca de meio bilho de dlares
em Bitcoin no foi devolvido a seus respectivos donos, afetando a credibilidade das
criptomoedas desregulamentadas. Isso tambm fez com que os governos criassem
legislaes para proteger seus cidados nesse mercado virtual. Os adeptos das moedas
digitais apontaram que esse caso era mais um exemplo negativo de se confiar em
intermedirios para guardar e trocar dinheiro.
Apesar das polmicas passadas, no ano de 2017 o assunto do Bitcoin e das
criptomoedas tomou as mdias, fazendo com que a moeda chegasse a valer mais de
11.000 dlares no ms de novembro de acordo com o site BuyBitcoinworldwide.com.
Alguns pases, como por exemplo os Estados Unidos, apresentam regulaes prprias
para a moeda. J outros tratam o Bitcoin como um ativo, tendo assim a necessidade de
serem declarados no imposto de renda. Alguns, a exemplo de China e Rssia, alm de
no reconhecerem, tambm probem a comercializao da moeda.
Dessa forma, percebe-se que a valorizao do Bitcoin ocorreu em um pequeno
perodo de tempo apesar de seus ciclos de boom e de crises por conta de escndalos
de ilegalidades e falncias. Com a maior idade do software, seu pblico composto de
usurios e de mineradores tornam-se mais experientes, compreendendo as
caractersticas e limitaes do Bitcoin. Os conceitos bsicos da criptomoeda esto
dispostos no captulo a seguir sendo significativamente importantes para a
compreenso do estado atual e das tendncias do objeto estudado.
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8
3. DEFINIO E FUNCIONAMENTO
3.1 CONCEITOS BSICOS DO BITCOIN
Por conta de sua tecnologia disruptiva, torna-se necessrio estudar os conceitos
bsicos do Bitcoin. Comparam-se suas semelhanas com moedas reais e bancos,
enquanto so contrastadas as diferenas de uma moeda descentralizada em relao
economia j estabelecida na sociedade. Para isso, as inovaes e seus conceitos mais
importantes so descritos a seguir.
Satoshi: Como forma de homenagem a seu criador, corresponde unidade
bsica, que vale 10-8 Bitcoin.
Carteira: o nome dado coleo de pares de chaves criptogrficas pblicas
e privadas, cujas assinaturas identificam a propriedade de um valor em Bitcoins.
Estas so, geralmente, arquivos armazenados em computadores pessoais,
dispositivos mveis, servidores na Internet ou em QR codes impressos em papel.
Endereo de carteira: Para cada chave criptogrfica pblica, h um endereo
de carteira Bitcoin associado. So representados por um identificador entre 26 e
34 caracteres ASCII. Um exemplo de endereo
168nTVYNAKdHmoEiYKXcTZG34e6r7V83m7. Uma carteira pode conter vrios
endereos.
A carteira do Bitcoin o arquivo que guarda o par de chaves pblicas
(que toda a comunidade pode verificar) e privadas usadas na autorizao das
transaes. O endereo de Bitcoin formado a partir de uma codificao da
chave pblica, para represent-la de uma forma mais compacta.
Blocos: So a unidade bsica de funcionamento do Bitcoin. Eles so
responsveis pela emisso de moeda e processamento de transaes, sendo o
objetivo da minerao. Tambm contm uma coleo de transaes no
presentes em nenhum outro bloco, alm de informaes que identificam o seu
antecessor no blockchain.
Blockchain: O blockchain, ou cadeia de blocos, o registro publico imutvel de
todas as transaes j efetuadas na rede Bitcoin. Ele consiste em uma
sequncia de blocos, desde o chamado bloco genesis, que deu incio cadeia.
Este o banco de dados distribudo que utilizado.
Minerao: A minerao de blocos o processo atravs do qual as transaes
Bitcoin so verificadas e armazenadas no blockchain. Para isso, faz-se
necessrio o uso de computadores que se dediquem a busca por blocos, cuja
recompensa consiste em uma quantia determinada em Bitcoins.
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9
Transao: Uma transao Bitcoin a transferncia de valores entre chaves
criptogrficas. Mais especificamente, consiste em assinar uma transao de
propriedade do remetente com a chave pblica do destinatrio, dada pelo
endereo da carteira Bitcoin.
N da rede Bitcoin: Um n da rede Bitcoin um computador que executa uma
instncia de um servio que implementa o protocolo Bitcoin. Atravs dele,
possvel gerar e armazenar chaves criptogrficas, transmitir transaes e buscar
blocos.
Os ns se comunicam atravs da Internet, repassando transaes entre
si, fazendo com que todos tenham um registro completo e sincronizado de
operaes realizadas. Os ns verificam se as assinaturas esto corretas e
atualizam seus respectivos saldos associados s chaves criptogrficas
armazenadas localmente.
Hash criptogrfico: Funes de hash criptogrfico so especialmente teis
para verificar a consistncia de informaes, j que possuem a propriedade de
serem no-inversveis, ou seja, dado um valor de hash Fh, no e possvel obter
F sem gastar uma enorme quantidade de tempo de processamento.
SHA-256: SHA-256 uma funo de hash criptogrfico da famlia SHA-2,
publicada originalmente em 2001 pela National Security Agency (NSA). Ela
produz valores de sada com 256 bits de comprimento e largamente utilizada
pelo protocolo Bitcoin.
rvore de Merkle: Uma rvore de Merkle uma estrutura onde as folhas so
os dados a serem processados e os ns so os valores de hash de seus filhos.
Desta forma, a raiz da rvore um valor de hash de todos os dados presentes
na rvore. Esta estrutura apresenta a caracterstica de que, para verificar se um
determinado dado est presente em uma arvore com n folhas, apenas
necessrio realizar log(n) operaes.
Esses so os principais conceitos tcnicos do Bitcoin, sendo recorrentes em
qualquer anlise que se faa da criptomoeda. Compreender o blockchain e a minerao
o primeiro passo para analisar o modelo de negcio do Bitcoin. A economia, assim
como a regulao e suas tendncias, so consequncias de decises tomadas no nvel
desses conceitos.
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3.2 RESUMO DO FUNCIONAMENTO DO BITCOIN
A fim de compreender a relao entre os conceitos para o funcionamento do
Bitcoin, na Figura 1, identifica-se um infogrfico que ilustra e sintetiza as operaes
efetuadas no sistema.
Aps trocar em casas de cmbio especiais a moeda real pela criptomoeda, torna-
se possvel executar as transaes via Bitcoin. O software permite que se referencie o
usurio que receber o pagamento, sendo essa transferncia validada a partir dos
mineradores, que solucionam problemas computacionais e comprovam a veracidade da
transao, inserindo-a no registro pblico histrico do Bitcoin (Blockchain).
Com a transao registrada de forma pblica no blockchain e validada pelos
mineradores, o vendedor recebe o pagamento, o consumidor pode obter seu
produto/servio e o minerador adquire 25 bitcoins (em novembro de 2017) por seu
trabalho. Com isso, h controle descentralizado das trocas de moedas, sem a
necessidade de uma instituio financeira ou governamental gerenciando. De modo
resumido, esse o mtodo pelo qual o bitcoin tornou-se reconhecido e interessante
para diversos cidados desacreditados nas instituies financeiras.
Embora atualmente o Bitcoin seja mais utilizado como meio de investimento, seu
objetivo final consiste em ser uma moeda virtual. Dessa forma, para que seus aspectos
econmicos sejam estudados, deve-se compreender seu cdigo, as interaes dos
usurios e o conceito por trs da criptomoeda.
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Figura 1: Infogrfico de Funcionamento do Bitcoin. Fonte: ROHR (2014). Acesso em:
14/10/2017.
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3.3 ESTRUTURA DE UM BLOCO
Por serem a unidade bsica de um Bitcoin, essencial a compreenso das
estruturas dos blocos. Qualquer alterao ou melhoria no software se relaciona a essas
caractersticas fundamentais.
Um bloco contm informaes a respeito das transaes transmitidas atravs da
rede Bitcoin desde o ltimo bloco encontrado. Ele contm os campos explicitados na
Figura 2:
Campo Descrio Tamanho
Nmero Mgico1 Sempre 0xD9B4BEF9 4 bytes
Tamanho do Bloco Nmero de bytes at o fim do bloco 4 bytes
Cabealho 6 outros campos, descritos a seguir 80 bytes
Contador de Transaes Inteiro, positivo 1-9 bytes
Transaes Uma coleo no-vazia de transaes Varivel
Figura 2: Campos de um Bitcoin. Fonte: MACEDO (2014). p. 16.
Para o cabealho, h os campos descritos na Figura 3:
Campo Descrio Tamanho
Verso Verso do bloco 4 bytes
Hash do bloco anterior Hash de 256 bits do cabealho do bloco anterior
4 bytes
Hash da raiz de Merkle Hash de 256 bits, baseado em todas as transaes
32 bytes
Timestamp Segundos, desde a era Unix 2 32 bytes
Alvo Nmero alvo para o valor do hash 4 bytes
Nonce3 Nmero de 32 bits 4 bytes
Figura 3: Campos do Cabealho. Fonte: MACEDO (2014). p. 16.
1 Um nmero mgico identifica o tipo de informao que o segue.
2 Nmero de segundos desde a meia-noite de 1 de janeiro de 1970, em UTC.
3 Um nonce um nmero utilizado apenas uma vez em um dado contexto.
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Sendo assim, cada Bitcoin carrega informaes sobre si como o hash e o
tamanho do bloco para diferenci-los e torn-los facilmente rastreveis.
3.4 ESTRUTURA DAS TRANSAES
Aps o entendimento dos campos descritos em blocos, deve-se analisar tambm
o registro dos fluxos. A fim de se criar um blockchain com o registro de todas as
transaes da criptomoeda, h campos criptografados para essas transferncias.
As transaes apresentam os campos da Figura 4:
Campo Descrio Tamanho
Verso Verso do bloco 4 bytes
Contador de entradas
Inteiro positivo 1-9 bytes
Entradas Coleo de entradas Varivel
Contador de sadas Inteiro, positivo 1-9 bytes
Sadas Coleo de sadas Varivel
Expirao Se diferente de zero e menor que 0xFFFFFFFF, nmero do bloco ou timestamp que expira a transao.
4 bytes
Figura 4: Campos de Transaes. Fonte: MACEDO (2014). p. 17.
Detalhando a coleo de entradas, identificam-se os campos da Figura 5:
Campo Descrio Tamanho
Hash da transao anterior Hash duplo SHA-256 de uma transao anterior
32 bytes
ndice de sada ndice do registro de sada a ser utilizado na transao dada
4 bytes
Tamanho do script Tamanho do script do registro 1-9 bytes
Script Script para esta entrada Varivel
Nmero de sequncia Normalmente 0xFFFFFFFF, irrelevante se a expirao for igual a zero
4 bytes
Figura 5: Campos de Entrada. Fonte: MACEDO (2014). p. 17.
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J em relao coleo de sadas, os campos criptografados esto
representados na Figura 6:
Campo Descrio Tamanho
Valor Valor, em satoshis, a ser transferido 8 bytes
Tamanho do script Tamanho do script do registro 1-9 bytes
Script Script para esta entrada Varivel
Figura 6: Campos de Sada. Fonte: MACEDO (2014). p. 17.
Os campos de transao permitem com que os Bitcoins se inter-relacionem de
modo a constituir uma rede. Com isso, a criptografia permite que ocorram trocas entre
usurios, registrando corretamente, de forma annima, mas pblica, as transaes que
ocorrem no mercado.
3.5 CHAVE PBLICA E PRIVADA
Como h o anonimato dos usurios, so necessrias chaves pblicas e privadas
de forma a identificar as transaes. Enquanto as chaves pblicas so divulgadas
amplamente para que tenham transaes associadas a elas no mercado digital, as
chaves privadas so utilizadas apenas pelo usurio para administrar suas transaes
relativas s chaves pblicas.
Na Figura 7, h uma representao dessa operao em que se usa a chave
privada para assinar e validar a transao por parte do comprador. A chave pblica
utilizada para referenciar ambos os usurios, tornando-se o endereo identificado no
registro pblico do bloco. De forma criptografada para cada usurio, h a associao
entre ambas as chaves, porm, em nenhum momento a chave privada torna-se pblica.
Dessa forma, cada conta identificada por um endereo Bitcoin, obtido a partir
da sua chave pblica utilizando uma funo unidirecional. A partir dele, possvel
referenciar o usurio corretamente para que a transao seja executada. Para que a
autenticidade do dono da conta seja comprovada e a transao se confirme, a chave
privada necessria como assinatura digital (HERRERA-JOANCOMART, 2015).
Alm da validao entre os usurios interessados na transao, o software exige
tambm uma confirmao externa. Isso ocorre no momento em que essas transaes
so transformadas em blocos, inseridas no Blockchain e consideradas como vlidas por
outros mineradores. Esse processo de adio da transao ao registro pblico histrico
de todos os pagamentos efetuados chamado de minerao.
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Figura 7: Representao das Chaves do Bitcoin. Fonte: Adaptado de KHATWANI (2017).
Acesso em 26/11/2017.
3.6 MINERAO
Para que as transaes sejam confirmadas, preciso que haja mineradores que
as validem. Esse mtodo descentralizado e participativo de aprovao de compras,
vendas e transferncias consiste no diferencial do Bitcoin, pois ressalta a possibilidade
de autorregulao sem o uso de instituies governamentais, bancos e terceiros para
controlar a criptomoeda.
Mineradores so os programadores que validam e montam o Blockchain. Para
isso, eles associam as novas transaes a correntes j existentes de acordo com a
criptografia do Bitcoin. Essa criptografia identificada pelo hash especfico do bloco
montado, sendo possvel alterar apenas um nmero em seu cdigo, denominado nonce.
Com isso, o minerador pode calcular repetidos hashes do bloco, alterando apenas o
nonce a cada tentativa.
O hash dos blocos tem um tamanho pr-estabelecido de acordo com o nmero
de blocos a serem minerados e com o nmero de mineradores atuantes. De acordo com
a taxa de minerao, o Bitcoin altera o valor mximo do hash para aumentar ou reduzir
o esforo computacional de minerao. Para isso, assume-se que o bloco de Bitcoin
deve levar, em mdia, 10 minutos para ter seu nonce encontrado. Caso a taxa de
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minerao esteja elevada, reduz-se o tamanho mximo do hash, limitando as
possibilidades de codificao dos programadores.
Ao adicionar transaes para um bloco, um minerador gera um tipo especial de
transao de forma a indicar para a rede essa atividade para que seja enviado a ele o
prmio de minerao. Junto com todas as transaes registradas, geram-se nmeros
nonce aleatrios, que so unidos para executar a funo hash. Caso o valor do hash
esteja abaixo do valor alvo, o usurio anuncia que criou o bloco, transmitindo-o junto
com o nonce. Com isso, os outros usurios podem verificar o bloco ao executar a mesma
funo hash. (WANG & LIU, 2015)
A cada minerao bem sucedida, o minerador recebe 25 Bitcoins como forma de
recompensa operao. Esse valor deve ser reduzido pela metade assim que o nmero
de blocos ultrapassar 210 mil desde a ltima reduo para interromper a emisso de
moedas e, com isso, uma possvel inflao.
Alm de funcionar como mtodo de validar transaes sem a presena de uma
instituio governamental, banco ou terceiro, a minerao e sua recompensa motivam
a adeso de usurios ao Bitcoin. Alm do prmio por bloco (block reward), o minerador
tambm pode ser bonificado com o troco da operao caso ele no tenha sido
especificado por transaes e taxas.
3.7 TROCO
O fato de o Bitcoin ser uma moeda criptogrfica no significa que funcione como
papel-moeda com a existncia de carteiras que guardem dinheiro at sua transferncia.
Bitcoin no indica seu saldo por usurio, sendo a quantia de cada usurio identificada
por suas transaes apenas. Para usar as Bitcoins, o software gerenciador precisa
apontar uma transao especfica de onde as moedas foram recebidas.
Por exemplo, caso o usurio A receba trs moedas de Bitcoin (BTC) de um
usurio B, e mais duas moedas de Bitcoin de um usurio C, e queira usar quatro
moedas, o software do Bitcoin iniciar uma transao que identifica como "origem"
essas duas transaes anteriores, que somam 5 BTC. A moeda Bitcoin restante o
troco que tambm enviado com destino para o usurio A.
Essa ausncia de saldo por usurio evita que haja grande exerccio do sistema
em calcular todas as carteiras do mercado. Enquanto isso, ao se especificar a origem
das moedas, a verificao por parte do sistema se torna simples, identificando as
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transaes nas quais a moeda foi utilizada. Para que no haja transao dupla utilizando
a mesma moeda, o Bitcoin considera a ordem em que cada transao foi minerada,
invalidando a segunda operao.
O envio do troco no automtico, sendo gerenciado pelo software. Caso no
seja informada a transao de troco, a moeda restante seria transferida para o
minerador que inclui a transao no Blockchain. Isso significa que essa recompensa
pode se somar ao prmio por bloco e taxa de minerao.
3.8 TAXA
Diferente do troco, que pode se tornar um prmio para o minerador se a
transao no tiver sido identificada de forma correta, o recebimento da taxa indicado
de forma proposital pelos negociantes.
Para estimular o minerador a processar transaes, comum oferecer um
determinado valor em Bitcoins, conhecido como taxa. Ela dada pela diferena entre o
valor total das entradas e o valor total das sadas. No processo de busca de um novo
bloco, todas essas diferenas so somadas e enviadas a um endereo informado pelo
minerador.
TAYLOR (2013) indica que enquanto o prmio de minerao consiste em 25
Bitcoins, a taxa mdia declarada de um quarto de Bitcoin por bloco. Segundo o autor,
conforme o passar dos anos, o prmio tende a reduzir conforme indicado, enquanto as
taxas por transao aumentariam por conta do maior incentivo necessrio para os
mineradores. Com a maior quantidade de transaes, ser necessrio oferecer maior
bonificao para que haja prioridade na minerao.
Todos esses modos de bonificao por minerao acabam por criar um mercado
de grande concorrncia entre os mineradores para maximizar seu prmio ao atingir uma
maior frao de taxa de hash. Com isso, mineradores desenvolveram solues
sofisticadas como Bitcoin ASIC accelerators, pois buscam aumentar sua receita
elevando a taxa de soluo de hash (GHash/s), enquanto reduzem seus custos
operacionais de acordo com a eficincia de energia (GHash/J). (VILIM et al., 2016).
Dessa forma, percebe-se a formao de diferentes participantes e interaes na
rede de Bitcoin. Alm de usurios que buscam investir e comprar bens utilizando a
criptomoeda, existem mineradores que so bonificados tanto de forma automtica pelo
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software quanto pelos demais usurios de acordo com sua capacidade de comprovar a
transao e inseri-la no blockchain.
A recompensa por bloco, o troco e as taxas so mtodos de pagamento para
incentivar a economia colaborativa dos mineradores. Porm, por no haver uma
estrutura central que gerencie seus usurios/colaboradores, a criao de um sistema
autorregulatrio se torna fundamental.
3.9 PROOF OF WORK
Para que as mineraes confirmem as transaes e essas validaes possam
ser consideradas consensuais sem que haja reembolso e maiores imbrglios, foi
implementado o sistema proof of work.
O sistema proof of work, ou prova de trabalho, um modelo proposto por
DWORK & NAOR (1993), apresentado na 12a Conferncia Internacional de Criptologia,
em 1992. Originalmente, foi idealizado para combater o envio de e-mails indesejados
atravs da apresentao de prova de que certa quantidade de trabalho foi realizada, a
fim de que o destinatrio aceite a mensagem. Este sistema foi posteriormente
implementado em 1997, chamado Hashcash.
O sistema Proof of work no Hashcash foi implementado por meio da funo de
custo. Ela baseada nas descobertas, por parte de usurios, de colises de hash parcial
em todos 0 bits na k-bit string 0, em que k o tamanho de sada do hash. A partir de
problemas computacionais, exigido esforo computacional do cliente para resolver os
hashes de funes escolhidas aleatoriamente pelo usurio sem que o servidor se
beneficie do processo. A funo pblica e pode ser validada pelos demais clientes,
gerando maior segurana para todos, alm de haver registro de tempo para cada
transao e token, de forma a evitar que se comprem dois itens com a mesma moeda
(double-spending) (BACK, 2002). Dessa forma, o software e os usurios podem se
certificar da validade e legalidade da transao aps a funo de custo ser descoberta.
No Bitcoin, o Proof of Work implementado com o incremento de um nonce em
um bloco at que o valor encontrado gere um hash que comece com um nmero de
zero bits. Aps isso, no possvel modificar o bloco sem que o esforo computacional
seja refeito e, caso mais blocos estejam inseridos posteriormente na cadeia, todos os
hashes teriam que ser encontrados novamente, o que dificulta o sucesso de hackers
que teriam que refazer diversas operaes. Com a regra de um voto por CPU, a maior
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cadeia de blocos ser considerada a melhor Proof of Work, j que maior esforo
computacional foi necessrio para formul-la. (NAKAMOTO, 2008)
3.10 BLOCO E CORRENTE DE BLOCOS
As transaes de Bitcoins so validadas e registradas de acordo com o sistema
Proof of Work ao serem conectadas a blocos. Para serem atreladas aos blocos,
necessrio calcular o hash do respectivo bloco de forma a associ-lo ao blockchain,
uma corrente em que todas as transaes da moeda digital esto cadastradas.
Caso haja duas mineraes simultneas de um bloco, apenas o hash de um
bloco formado ser referenciado por transaes futuras, enquanto o outro ser
considerado um bloco rfo. Se alguma transao for includa apenas no bloco rfo,
ela deve ser novamente minerada, o que pode significar um perodo acima de 30
minutos antes de ser oficialmente agregada ao blockchain. Por isso, recomendvel
aguardar cerca de 6 novos blocos se juntarem corrente para que se confirme a
transao.
Esse processo evita o double-spending, em que um usurio poderia utilizar os
mesmos Bitcoins para duas transaes diferentes. Um usurio mal-intencionado, com
isso, seria obrigado a refazer no apenas o trabalho para computar o bloco original, mas
tambm todos os seguintes na sua corrente de blocos (KARAME et al., 2015).
Aps avaliar o funcionamento do Bitcoin e compreender as relaes entre os
usurios do software, torna-se fundamental compreender como o mercado, em sua
maioria, visualiza o Bitcoin e quais so as expectativas, pois a quebra dessas pode
ocasionar grandes perdas para os usurios e para a inovao. Enquanto os mineradores
percebem na criptomoeda uma oportunidade de receber dinheiro a partir da economia
colaborativa, os demais clientes a encaram por diversas perspectivas. De acordo com
o propsito identificado pela maioria de seus usurios, as tendncias do Bitcoin podem
se alterar. Por conta disso, interessante avaliar a natureza do Bitcoin de forma a definir
seus usos, suas limitaes, seu potencial e seu futuro.
4. NATUREZA DO BITCOIN
Muito se tem debatido sobre a verdadeira natureza do Bitcoin. At ento, o nico
consenso a que se chegou que a nova tecnologia preserva algumas caractersticas
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de naturezas diferentes. Segundo WANG & VERGNE (2017), estudos quantitativos
acerca do preo do Bitcoin demonstram que a moeda reside em um meio termo entre
um ativo financeiro e uma moeda, o que significa ento que o uso de teorias econmicas
sobre ativos financeiros e moedas relevante para seu entendimento. Essa afirmao
leva ento expectativa de que se a oferta do bem cresce, seu preo deve diminuir -
efeito esse esperado para uma moeda, segundo VASCONCELLOS (2006).
Os autores afirmam ainda que o Bitcoin tambm pode ser visto como uma
commodity. Vale ainda ressaltar que, apesar de dividirem caractersticas semelhantes,
possvel verificar algumas diferenas, como por exemplo, o fato de o Bitcoin ser uma
representao de valor enquanto uma commodity carrega consigo valor.
Para verificar se o Bitcoin considerado uma moeda ou um ativo, GLASER et
al. (2014) levanta a hiptese de que, se os usurios focam no aspecto de pagamento,
seria possvel identificar uma correlao significativa entre o nmero de novos
participantes e o volume da rede. Enquanto houvesse um uso maior da criptomoeda
como ativo financeiro, os clientes tenderiam a mant-la em seu portflio, sem que os
preos fossem influenciados por notcias negativas, mas apenas positivas, j que
estariam com um investimento mais arriscado de longo prazo.
Com a utilizao de regresses para formular modelos com fatores como trfego
do Wikipdia, volume de trocas, termos autorregressivos alm de controles temporais
de efeitos e retornos com lag at sete, o autor concluiu que h maior percepo do
Bitcoin como ativo por parte de seus usurios. Isso pode ser justificado devido
descoberta de que o ingresso de novos usurios modifica o volume trocado em cmbio,
mas no dentro do blockchain, o que significa que optam por manter suas criptomoedas
para valorizar. Essa poupana estimulada conforme h notcias positivas quanto ao
Bitcoin, enquanto se mantm estvel mesmo com a ocorrncia de eventos negativos
mundiais como roubos. Dessa forma, verifica-se o aspecto especulativo dos
investidores do Bitcoin, de acordo com GLASER et al. (2014).
Muitos entusiastas da criptomoeda declaram que seu valor consiste na confiana
depositada na sua estrutura descentralizada. Por isso, MAURER et al. (2013) apontam
que o Bitcoin, nesse caso, no se assemelha a uma commodity, cujo valor se deriva do
material do qual feito, mas de teorias de crdito de dinheiro. O investimento no Bitcoin
para obter liberdade e privacidade poderia ser identificado como um mtodo de obter
credibilidade pessoal, em que se estabelecem mltiplas relaes diretas e annimas.
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Da mesma forma, VELDE (2013) tambm aponta que no h valor intrnseco no
Bitcoin. Semelhante moeda fiduciria, seu valor derivado da confiana depositada
na aceitao do mercado e no governo, que substitudo pelas regras do software no
caso da criptomoeda. Uma moeda fiduciria, diferente de uma moeda fiat, no
declarada como oficial, o que significa que pode ser recusada como meio de pagamento.
Por isso, a aceitao de grande parte da populao se faz necessria para que se
obtenha valor.
KRUGMAN (2011) tambm considera o Bitcoin como moeda, revelando que se
trata de uma nova tentativa de estabelecer o padro-ouro em que a oferta de moeda
fixa sem ser influenciada por impresso de cdulas. Entretanto, em sua opinio, o
experimento das criptomoedas revela que o padro-ouro significativamente vulnervel
depresso, inflao e poupana exagerada.
J YERMACK (2013) opta por avaliar o Bitcoin no vis das propriedades
clssicas de uma moeda, que seriam: Meio de troca, Unidade de conta e Reserva de
valor.
Quanto primeira caracterstica, o autor indica que as transaes de Bitcoin so
raridades devido baixa adeso de comerciantes, do pequeno nmero de casas de
cmbio com baixa liquidez, da dificuldade de reter dinheiro seguro no software e a
impossibilidade de comprar em crdito. Em 2017, j so identificadas mais empresas
inseridas no sistema de criptomoedas (na poca do artigo referenciado, apenas a
Overstock havia aderido), maior nmero de casas de cmbio e novas possibilidades
de contratos por meio do Bitcoin. Como exemplo de novas adeses, tem-se a Dell
(HAMANN, 2014), Microsoft (IRRERA, 2017) e Paypal (ALVES, 2014), todas empresas
relacionadas ao setor de tecnologia. Entretanto, ressalta-se que o nvel de transaes
e de negociantes ainda consiste em um percentual significativamente baixo. J WOO et
al. (2013) explicam que, caso haja uma alta adeso, o Bitcoin favorvel nesse conceito
de moeda, pois seus custos de transao so inferiores por conta da falta de
necessidade de uma instituio intermediria.
Deve-se ressaltar que, de acordo com SCHEINKMAN & XIONG (2003), quando
os custos de transao so pequenos, o valor da bolha e o componente de volatilidade
extra so maximizados. Isso significa que, apesar de os baixos custos de transao do
Bitcoin serem uma vantagem como moeda, na perspectiva de ativo, isso pode motivar
a instituio de uma bolha. Como os custos so reduzidos, o volume de transao
dentro do mercado da criptomoeda significativamente elevado, gerando mais
transaes a partir de pequenas variaes de valor.
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Como unidade de conta, YERMACK (2013) levanta a variabilidade do valor da
criptomoeda, dificuldade ainda perceptvel em 2017. Por conta dela, no h segurana
em comparar preos em diferentes instantes de tempo com base em Bitcoin. Com isso,
fornecedores seriam obrigados a reavaliar seus preos em intervalos curtos de dias.
Alm disso, o autor relata que o alto custo de um Bitcoin, se comparado maioria de
produtos e servios, gera transtornos ao precificar as vendas, j que se torna necessrio
indicar cerca de quatro ou mais nmeros decimais.
A variabilidade da criptomoeda com uma crescente valorizao consiste em uma
tima razo para que se invista como ativo financeiro, porm tambm prejudicial para
a propriedade de reserva de valor. Com as flutuaes em seu preo, no possvel ter
certeza de que o valor do Bitcoin permanecer estabilizado, sem haver perdas para
consumidores em momentos futuros.
O Bitcoin valorizou nos ltimos anos e gera uma grande preocupao sobre ser
uma bolha, o que inibe sua propriedade de reserva de valor. Isso ressaltado medida
que muitos pesquisadores e economistas buscam definir o valor do Bitcoin, em termos
de suas correlaes com outros fatores econmicos e sua tendncia futura, gerando
ainda mtodos e opinies discordantes.
Percebe-se ento que o Bitcoin foi institudo com o propsito de se tornar uma
moeda alternativa que evitasse instituies financeiras e governamentais. Para seus
primeiros usurios, a descentralizao da moeda prometia retornar o poder financeiro
para as mos do cidado comum. Porm, enquanto no houver um grande nmero de
trocas e comerciantes atuantes na criptomoeda e seu valor sofrer significativas
variaes em curtos perodos de tempo, o Bitcoin no contm as principais propriedades
de uma moeda.
A variao do valor do Bitcoin atrai investidores, que o percebem como
oportunidades para lucrar em curtos perodos de tempo. Com isso, ao ser usado como
investimento, sua natureza se torna semelhante de um ativo financeiro. Muitos
usurios optam por comprar as criptomoedas para guard-las enquanto elas valorizam
conforme maior pblico adere a elas. Isso foi verificado por ATHEY et al. (2016), que, a
partir de estudos do Blockchain, indicaram que cerca de 65% dos usurios apenas
promoveram uma nica transao. Dessa forma, sabe-se que, ao contrrio de um
mercado comum em que as moedas so utilizadas como meio de troca, h um maior
percentual de aplicao financeira em uma inovao com valor cada vez maior.
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Essa valorizao constante motivou a crescente adeso de investidores, levando
o Bitcoin a variar de $8.000 dlares at $11.000 dlares em uma semana em novembro
de 2017 (CHENG, 2017b). Entretanto, essa volatilidade tambm se transforma em ponto
negativo para investidores comuns, j que possvel uma sbita desvalorizao, como
ocorreu logo aps a valorizao que levou ao pice de $11.155,20. Em 30 de novembro
de 2017, a criptomoeda perdeu mais de 20% de seu valor em 24 horas aps ter atingido
seu valor mximo com a quantidade mxima de usurios e ter seu nome mais
pesquisado do que Trump no Google na semana anterior (RAMNARAYAN, 2017). Isso
culminou em Lloyd Blankfein, presidente do Goldman Sachs, afirmando que algo que
se move 20% em um dia no parece ser uma moeda. um veculo de perpetuao de
fraude (MONAGHAN, 2017).
Essa volatilidade transforma a criptomoeda em um ativo financeiro de risco,
como uma ao ou commodity, em vez de assegurar a seus usurios propriedades de
reserva de valor e unidade de conta. Com isso, uma maior porcentagem da populao,
que aversa ao risco, vai evitar se inserir no mercado ou negociar por meio de Bitcoin,
j que sua inteno poderia ser apenas se utilizar de um meio de pagamento em vez de
investir. Com uma estrutura para se transformar em moeda, as elevadas expectativas e
especulaes ao seu redor reduzem essa natureza, transformando-a semelhante a um
ativo financeiro.
A denominao comum de commodity aponta que um bem pouco
industrializado, muitas vezes utilizado como matria-prima para produtos, indiferenciado
cujo preo determinado de forma semelhante livre concorrncia pela lei da oferta e
da demanda. Apesar de o Bitcoin no ser diferencivel, ele no carrega consigo valor,
o que levanta dvidas de diversos economistas sobre sua classificao como
commodity. Entretanto, pesquisadores apontam a criptomoeda como commodity
sinttica ou digital devido a suas regras internas de oferta e procura, o valor que carrega
e que a torna valiosa para investimento e sua utilizao similar ao ouro para
investimentos e controle de mercado (SELGIN, 2015).
Com naturezas diversas devido s disparidades entre seu propsito inicial e sua
utilizao atual, o Bitcoin deve ser encarado como uma nova tecnologia. O Blockchain
oferece diversos usos e aplicaes (pagamentos, contratos inteligentes, registro de
transaes), cada uma trazendo consigo seu prprio valor. A criptomoeda uma
alternativa para cidados desacreditados em suas instituies e para pases
subdesenvolvidos sem controle monetrio. Para investidores que preveem futuras
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oportunidades e valorizaes, o Bitcoin se torna tambm um ativo/commodity para ser
includo em carteiras de investimento.
Dessa forma, as diversas naturezas do Bitcoin atraem diversos tipos de
empreendedores, comerciantes e investidores. Com atuaes abrangentes, o valor para
a sociedade torna-se difcil de ser avaliado, enquanto as adeses so crescentes.
Analistas verificam que, como investimento, a criptomoeda torna-se cada vez mais
rentvel, enquanto muitos especialistas ressaltam que suas inovaes, melhorias e real
valor podem decepcionar aqueles que esto eufricos com a criptomoeda.
Aps se ter compreendido a mudana da natureza do Bitcoin para seus usurios
e as suas finalidades atuais, deve-se avaliar o real interesse da populao na
criptomoeda. A aceitabilidade do Bitcoin influenciada por seus investidores, que a
encaram como um ativo financeiro, e por possveis empresas de comrcio e cidados-
comum, que a desejam como uma forma alternativa de moeda. As anlises de
informaes quanto a novas adeses e dos riscos que afastam novos usurios auxiliam
na estimativa de sucesso que o Bitcoin pode atingir.
5. ACEITABILIDADE DO BITCOIN
Moeda, ativo, ao, commodity, o Bitcoin pode ser explorado com diversas
finalidades por diferentes perfis de pessoas. Porm, sua contnua valorizao e ateno
da mdia geram diferentes reaes quanto a cada tipo de apoiador e usurio da
criptomoeda. Com abrangncia mundial, o pblico potencial do Bitcoin significativo,
mas sua aceitabilidade varia conforme o interesse de cada usurio, de cada governo e
com a intensidade de cada risco identificado pelo cidado.
5.1 ACEITABILIDADE DOS USURIOS
A era da digitalizao permite que os produtos e servios estejam disponveis
para as populaes de todo o planeta Terra. O pblico potencial de um software como
o Bitcoin se aproxima do total de habitantes do mundo. Porm, isso no significa que a
sua natureza dbia nem sua prpria estrutura sejam capazes de atrair todos os cidados
para essa nova forma de moeda.
Com a gradual reduo de preos da tecnologia, a economia mundial se
aproveita de uma transformao digital. DIAMANDIS (2015) acredita que as empresas
exponenciais reagem em cadeia a 6Ds nessa nova era da informao, que so:
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Digitalizar (Tornar seus negcios digitais, reduzindo seus custos); Decepo (Por
crescerem exponencialmente, seu incio lento em comparao ao seu potencial);
Disruptivo (A nova tecnologia cria um novo mercado por sua efetividade e baixo custo);
Desmonetizar (Maior nmero de servios por custo prximo de zero); Desmaterializar
(Unificar diversas funcionalidades em apenas um aplicativo); Democratizar (Mais fcil
acesso a todos por conta do baixo custo, sem controle estatal ou institucional). A
fundao do Bitcoin consiste na democratizao dos servios, digitalizando o dinheiro
ao romper com a lgica dos bancos de modo a facilitar a prtica de diversos servios
por cada usurio com transaes virtuais, sem que haja cobrana de tarifas excessivas.
Seu crescimento se acelera medida que maior quantidade de pblico e comrcio o
aderem por conta de efeito de rede.
De acordo com RUMELT (2011), efeito de rede aumenta o valor de um produto
conforme h maior quantidade de usurios. Similar economia de escala, mas, em vez
de reduzir os custos do produtor, h maior interesse em pagar caro pelo servio. Esse
fator ocorre principalmente em mdias sociais ou negcios cujo modelo indica interaes
de ponta-a-ponta como o Bitcoin. Isso ocorre em decorrncia da criao de mais
possibilidades de interaes e atividades medida que o pblico adere.
Por conta disso, importante avaliar a aceitabilidade e a adeso ao software.
KRISTOUFEK (2013) comparou o nmero de pesquisas em sites como Wikipdia e
Google com o preo do Bitcoin entre 2012 e 2014 e validou que h correlao
bidirecional, pois tanto o preo incentiva o maior nmero de procura de informaes,
quanto essa pesquisa eleva o preo do Bitcoin se este estiver com tendncia positiva
de crescimento. Alm disso, o autor verifica que, caso a bolha tenha estourado e os
preos estejam reduzindo, esse aumento de procura tambm proporciona a maior
variao negativa, o que representa um ambiente propcio de bolha. KIM et al. (2016)
reiteram que comentrios positivos de usurios em comunidades relevantes de
criptomoedas afetam significativamente as flutuaes de preos de Bitcoin. Os autores
obtiveram melhores correlaes para o Bitcoin, apesar de terem testado para as demais
criptomoedas, por conta da maior quantidade de comentrios, respostas e
visualizaes.
Ao mesmo tempo em que o nmero de usurios cresce, muitos afirmam que a
aceitao da moeda est reduzindo. CHAPARRO (2017) informou que um grupo de
analistas da empresa Morgan Stanley gerou uma nota em julho de 2017 sobre a
aceitao virtualmente de zero da criptomoeda no que tange a comerciantes. O banco
aponta trs razes para a baixa aceitao apesar da elevada adeso: a primeira seria
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a tendncia a poupar por conta de sua valorizao de mercado, inibindo a tendncia a
consumir; outra razo seria a dificuldade de tornar as transaes rpidas e baratas ao
atingir largas escalas; por fim, no percebem que haveria incentivos suficientes para
que os comerciantes possam aderir a essa forma de pagamento.
J NAIR & CACHANOSKY (2017) apontam a existncia de polticas para que
haja maior nmero de transao e de utilidade para os usurios da criptomoeda,
principalmente para comerciantes. Segundo os autores, em 2016, ocorreram alguns
incentivos para os consumidores, com uma aplicao chamada Foldapp, que oferecia
20% de desconto para cada compra no Starbucks, j que comprava cartes de presente
no usados do site da empresa com desconto, repassando esse ganho em parte para
o consumidor.
WILLIAMS (2017) indica outras 5 grandes empresas que aderem ao Bitcoin de
forma direta: Overstock, DISH Network, Microsoft, Intuit e Paypal. Porm, apesar disso,
o autor ressalta que a volatilidade da criptomoeda, combinada com a possvel imposio
de regulao, ainda afasta muitos comerciantes do negcio devido incerteza gerada.
Mesmo com as incertezas e baixa aceitao atual, h especulaes de novas
adeses de multinacionais criptomoeda brevemente. Com boatos sobre a
incorporao do Bitcoin nas transaes da Amazon em setembro de 2017, em cerca de
um ms o preo da moeda passou de $3.874 para $5.678 (GREENE, 2017). Em
Novembro de 2017, novos rumores surgiram com a aquisio de trs domnios online
pela Amazon (amazonethereum.com, amazoncryptocurrency.com,
amazoncryptocurrencies.com), o que indicou certa tendncia da empresa de aderir
inovao, ao proteger o uso de domnios referentes a criptomoedas (KIM, 2017).
Em termos de mercado financeiro, em julho de 2017, a Comisso de Negociao
de Contratos Futuros de Commodities (CFTC), agncia independente do governo norte-
americano que regula mercado de futuros e opes, autorizou que uma plataforma de
trocas de criptomoedas (LedgerX LLC) fosse registrada como uma agncia de cmbio
oficial de derivativos acordados em criptomoedas (RUSSO, 2017). Essa regulao e
permisso para mercado de contratos envolvendo Bitcoin faz com que a moeda e sua
volatilidade influenciem ainda mais o mercado e a precificao e outros derivativos.
Alm disso, a maior bolsa de derivativos, a CME, por meio de seu presidente e
diretor executivo, Terry Duffy, anunciou a inteno de introduzir contratos de futuros de
bitcoins. Conforme o comunicado para a imprensa, Duffy acredita que o CME Group
um lar natural para esse novo veculo que apresenta aos investidores transparncia,
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descoberta de preo e capacidade de transferncia de riscos (CMEGROUP, 2017). De
acordo com CHENG (2017a), os limites de flutuao de preo sero especiais, sendo
de 7 e 13 por cento acima ou abaixo a estabelecidos previamente alm de prevenir
trocas alm da escala de 20%. Esse range similar ao permitido para ndices de aes
de futuros americanos, mas, segundo o autor, podem ser mais relevantes devido
famosa volatilidade da criptomoeda e pode reduzir as preocupaes do investidor sobre
operar em Bitcoin.
Essa crescente quantidade de participantes foi prevista por MAULDIN (2014) ao
discutir com Barry Silbert, fundador do Bitcoin Investment Trust. Foram descritas cinco
fases na adoo da criptomoeda, sendo elas: Fase de Experimentao (experimentos
de hackers e desenvolvedores com o cdigo); Fase de Early Adopters (Primeiros
investidores criando empresas com foco em Bitcoin); Fase de Venture Capital (Capitais
de risco passariam a investir no Bitcoin); Fase de Wall Street (Estimaram que em 2015
instituies e bancos investiriam na criptomoeda, o que ainda no ocorreu em 2017, j
que o presidente do Goldman Sachs, por exemplo, afirma que o Bitcoin no uma
moeda, mas uma modo de perpetuao de fraudes por conta de sua alta volatilidade
(MONAGHAN, 2017); Fase de adoo mundial de consumidores (momento de
popularizao da criptomoeda). Apesar de haver uma tendncia de maior adeso, ainda
em 2017 no houve a continuidade das fases de aceitao conforme planejado, o que
revela que as expectativas para o Bitcoin no se realizaram por enquanto.
5.2 ACEITABILIDADE DOS GOVERNOS
Apesar de ser a maior economia mundial, ressalta-se que no se deve verificar
a aceitabilidade do Bitcoin apenas na perspectiva dos Estados Unidos. Outros pases
receberam a criptomoeda com diferentes medidas e permisses. O governo chins, em
setembro de 2017, optou por proibir seus cidados de trocar criptomoeda em casas de
cmbio alm de ilegalizar a arrecadao de fundos de start-ups chinesas por oferta
inicial de moeda (ICO) (RAPOZA, 2017). Apesar desse banimento, que fez o preo do
Bitcoin cair de $5.000 para $3.000, com as regulaes favorveis ao Bitcoin, evitando
manipulao de mercados e limitando a oferta de novas moedas, nos Estados Unidos
e no Japo, o preo da principal criptomoeda voltou a crescer at superar $7.000 no
incio de novembro de 2017 (MOURDOUKOUTAS, 2017).
Assim como os Estados Unidos, o Japo tem uma participao significativa no
mercado de Bitcoin, consistindo em metade do volume global de trocas da moeda,
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enquanto os Estados Unidos compem um quarto. Alm disso, mais de 4.500 lojas no
pas permitem pagamentos por meio de Bitcoins (FUJITA & WONG, 2017). Esses dois
pases se anteciparam para regulamentar e aceitar a nova tecnologia e, com isso,
ofereceram oportunidades mais seguras para empreendedores e investidores.
De acordo com SMYTH (2017), as leis do Japo indicaram que qualquer cmbio
de moeda alternativa ou negcio de transferncia de dinheiro torna-se reconhecido
como mtodo legal de pagamento e deve ser supervisionado por regulaes da agncia
de servios financeiros. O autor tambm indica que a Austrlia deve adotar as mesmas
medidas para reduzir a lavagem de dinheiro e os riscos para os seus cidados nesse
mercado.
Contrrio a esses pases, o Reino Unido ainda no regulamentou o Bitcoin,
tratando-o como dinheiro privado. Cathy Mulligan, co-diretora do Centro de Pesquisa e
Engenharia de Criptomoeda do Colgio Imperial de Londres, embasa essa afirmao
com base na inexistncia de cobrana de VAT (imposto correspondente ao ICMS) no
valor do cmbio de Bitcoin para libra esterlina, mas apenas em sua comisso (REES,
2017). J o Bank of England entende que as criptomoedas so diferentes de moedas
como dlar e libra esterlina porque elas apenas atuam como dinheiro para um nmero
limitado de pessoas, apesar de teatros e mercados de cervejas artesanais j aceitarem
bitcoins no Reino Unido (INMAN, 2017).
Outro pas que considera o Bitcoin como dinheiro privado a Alemanha, cujo
ministro financeiro reconheceu sua capacidade de unidade de conta. Dessa forma, a
moeda identificada como um instrumento financeiro que pode ser usado em impostos,
taxas e trocas sendo submetido a regras do governo (CLINCH, 2013).
A Rssia assumiu posturas contraditrias em relao ao Bitcoin. De incio, houve
proibio de sua utilizao no territrio russo, mas, aps cerca de um ano, seu ministro
financeiro anunciou a regularizao das criptomoedas como securities (REUTERS,
2017). KHRENNIKOV (2017) enfatizou o interesse do pas nas criptomoedas ao revelar
que um dos conselheiros de Internet do presidente Vladimir Putin co-dono de uma
empresa que investiu cerca de 100 milhes de dlares em empreendedores de Bitcoin
russos a fim de adquirir uma parcela do market-share anteriormente da China.
No Brasil foi instituda uma comisso para analisar regras para operaes com
moedas virtuais em maio de 2017. Os parlamentares vo analisar a possibilidade de
incluso das moedas virtuais e dos programas de milhagem das empresas areas na
definio de arranjos de pagamento sob a superviso do Banco Central. (AGNCIA
https://www.cnbc.com/akiko-fujita/https://www.cnbc.com/hollie-wong/ -
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CMARA NOTCIAS, 2017). Com isso, pretende-se reduzir os riscos das criptomoedas
contra a estabilidade financeira da economia, proteger os usurios e evitar suas
atividades ilegais.
As preocupaes no que tange expanso do mercado de criptomoedas so
justificadas pelos governos dos pases. No apenas se insere uma nova moeda
impossvel de ser gerenciada pelo Estado, o que pode afetar significativamente a
economia, mas tambm existem diversos riscos aos quais seus cidados se submetem.
A regulao da criptomoeda permite com que se mantenha a soberania do Estado ao
mesmo tempo em que se protege a sua populao.
5.3 RISCOS RELACIONADOS AO BITCOIN
Enquanto apoiadores do Bitcoin enfatizam seu carter descentralizado e seu
valor fundamentado na confiana de seus usurios, nota-se que a aceitabilidade ainda
baixa. Essa insegurana quanto criptomoeda ocorre por conta principalmente da
variabilidade atual, que compromete sua propriedade de meio de troca e a f de
negociantes em sua estabilidade.
Para investidores interessados no risco e em seu retorno, o aumento do preo
do Bitcoin considerado uma valorizao merecedora de investimento. J para o
cidado comum e para o comrcio, que buscam maior segurana em suas transaes
financeiras e na manuteno de seus recursos, essa variao da criptomoeda
considerada perigosa, como a utilizao de uma moeda de um pas instvel.
Apesar das discordncias em relao ao uso e natureza do Bitcoin, as
discusses sobre o Bitcoin no so polarizadas entre investidores e comerciantes.
Outros riscos e desconfianas so ressaltados pelo pblico e identificados por diversos
pesquisadores da criptomoeda.
A descentralizao do Bitcoin atrai um significativo pblico que deseja reduzir
sua dependncia em relao a bancos e governos. Porm, as desvantagens dessa
caracterstica no devem ser desconsideradas. Sem uma autoridade central para
regular e acompanhar as transaes, muitos problemas podem ser ocasionados, como
ilegalidades, roubos ou ataques especulativos, que gerariam efeitos globais sem haver
modelos legislativos para mitigar e regulamentar essa rea (ROGOJANU & BADEA,
2014).
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HAMEED (2016) aponta o ataque de 51%, o problema de double-spending e
transaes poeira. Os mecanismos j existentes no Blockchain para garantir a
identificao e pagamento da transao so eficientes, mas acabam tornando as trocas
mais lentas, obrigando os usurios a esperarem por cerca de 10 minutos pela
confirmao. VELDE (2013) reitera que a obrigao de esperar 10 minutos ou at uma
hora para se assegurar que a transao foi validada no Blockchain acaba por limitar o
uso do Bitcoin como moeda, pois esta deve permitir trocas instantneas. As transaes
poeira eram consequncias de transferncias mnimas de 1 Satoshi, que aumentava
significativamente o Blockchain, tornando-o mais lento e ineficiente. J o ataque de
51% um temor de inmeros possveis clientes devido poltica descentralizada e, em
muitos lugares, desregulamentada. Por no haver uma organizao liderando e
representando o Bitcoin, caso mais da metade de mineraes e confirmaes se tornem
monopolizadas por um grupo de pessoas, esses mineradores seriam capazes de
controlar o mercado.
Outro fator que afasta possveis negociantes da criptomoeda a dvida sobre a
aceitao dos governos. Muitos acreditam que, assim que ocorrerem mais transaes
de Bitcoin, os pases tornaro ilegal a sua circulao. Diferentemente de um mercado
competitivo em que
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