sombras de um gato preto
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Julia Cordeiro´
Sombras
PretogatoDE um
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Sombras de um gato preto
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“Algumas coisas são grandes demais para serem vistas. Algumas emoções enormes demais para serem sentidas”
Niel Gaiman
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SUMARIO´
Sorrio........................................................................ 6Segunda.................................................................. 7O Dia........................................................................ 8Casulo Vermelho................................................. 9Fuga........................................................................ 10Ele Vem.................................................................. 11Beleza..................................................................... 12Seca......................................................................... 13Perfeição................................................................ 14És Tu........................................................................ 15Éle de Luar............................................................. 16O Encontro É Também Despedida............... 17Nevermore............................................................ 18Pó.............................................................................. 19Samba-blues......................................................... 20Flores da vida....................................................... 21Sabiá........................................................................ 22A Queda................................................................. 23Aldravias................................................................ 24
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SORRIO
Sorrio por que sou rio Sou mar, sou correntezaFluo e não me prendo
Não sou represaSou meu, e caço a liberdade como presa.
Sorrio porque sou rio em que navegasSou o mar em que exploras,
A correnteza que te levaE tua nau por mim desliza lentamente Vai de ponta a ponta contracorrente
Se assim eu permitir.
Me navega, me leva, me seja Só não tente me ter como certeza
Pois de certeza, nem mesmo a morte E se por sorte, resolvo te abrigar, Te lembras, navegante, rio sou,
E a outras naus hei de levar.
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segunda
Primeiro, conto os segundosSegundo, preferia que mil vidas tivesse
e que por mil vezes me dissesseQue me odeia e não mais me quer ver
Do que este silêncioQue por mil vezes me mataA cada segundo que conto.
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o dia
Hoje os raios do sol me beijaram o rosto ao me acordar
Minhas paredes desejaram coisas boasHoje sorri ao levantar
Já de malas prontas, vou-me emboraPegar o trem azul, expresso pra felicidadeMas tenho que buscar o mais importante
E ela mora do outro lado da cidadeHoje as aves seguem cantandoO vento me esvoaça os cabelos
E tudo é belo pelo caminho no qual vou andandoHoje os barquinhos deslizam pelas águas
Os gatinhos brincam na janelaHoje as moças se enamoram por certos rapazes
Hoje a manhã é belaLogo segurarei sua mão
Logo serei só dela.
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casulo vermelho
Minha casa já foi de ter cháHoje eu nem casa tenho.
Onde moro é só um lugarUm lugar que não é meu
E nada meu tem.
Um casulo vermelhoque de outro alguém é
Alguém esse que só visita de quando em vez
Aqui é quente, mas solitárioNem sempre tem de tudo no armário
Como os chás que já tiveE que ainda os tenho num passado
onde ninguém vive.
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fuga
Fugindo do caosMinha mente viaja além do fio da navalha
E a paisagem tão belaAs nuvens baixas, montanhas altas
As casinhas coloridas na beira da estrada
A natureza anda tão paradaAnda tanto e tão sem rumoque nas cidades desaparece
E cresce o caos
Do qual eu venhoE não mais me detenho, fujo
Me curoNão sou o caos
Nessa paisagem, seiEu sou rei.
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ele vem
Ele vemTemo.Tremo, arrumo, escondoLimpo, esqueço, descompromissoEle vemE traz com ele tantas novas históriasTemo.Sonho, suspiro, esperoEle vemTemo.Tempo que passa e faz morreraqueles que já vieram,Ele vem.E vem pra todosMas não há o queTemer.
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beleza
A beleza da flor está em mimA beleza das nuvens, do pôr-do-sol, da lua cheiaDo céu estrelado, do cheiro de chuvaDas árvores imensas, das cores, dos povos, das crençasDas vozes, das melodias, dos rios, dos mares e de seus encontrosDas montanhas, das serras, dos campos, dos animaisDos desenhos, das pinturas ou das artes taisToda beleza que há, há em mimE há beleza em tudo aquilo que existe e que conheçoE tudo aquilo que desconheçoNem se quer existe.
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seca
Penso que o jardim silvestre padeceuForam-se as pétalasFoi-se o aromaO jardim secou, o jardineiro morreuMas descansa.Nessa seca nada vinga nãoE sei muito bem fazer chover no sertãoMas a água é salgadaE evapora antes de beijar o chão
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perfeição
Que loucura a sensação de poder contemplar a tiOs cabelos finos, tão suaves ao ventoDeslizam tão doces entre meus dedosOs olhos que selam tu’alma e protege-a de mimMas que me fitam estranhamente a noiteE estranhamente a noite é bom.Os lábios que, pelos deuses!, moviam-se e proferiam meu nomeE arrancaram-me suspiros quando moldavam tão ternos sorrisos.Te possuir é transcenderÉ ser tu, o universo, o tempo, o espaço e tudo que háE tudo aquilo que não é, mesmo sendo infindoNão se compara ao desejo que tenho de ti.
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és tanto
És tanto para umsó
Queria sóMe quebrar em milhões
Pra poderTe apreciar tanto quanto
pode haverbeleza em teu
ser.
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éle de luar
A luaLinda
Lembra oslábios
LânguidosQue leram teus
lábiosE selaram teus
OlhosQue logo me
OlharamTeus olhos: Que luas!
Tão nuasQue me eramSinceridade.
Falsa
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O encontro é também despedida
Ela o viue se apaixonou duas, ou três vezes antes de partirAgora, ali estáA abraçar fantasmas,olhando naqueles olhos de vidrobeijando sacos plásticose se esquentando em peles de borracha.
Restou tudo, mas tudo, póDisseram que quando se olha muito tempo para o abismo,O abismo te olha de voltaPó dela,Pobre delaUma moça tão sóQue nada além dos sonhos tem.
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nevermore
Palavras que cortam como o frio,Ela me disse “Jamais”.Por sobre a neve, dormiPensando na vida que vem, na vida que foi.Olhei pra o mar e a vi,Tão belo aquele sabor.Fui do céu ao inferno,Perdido e louco tentando não sentir dor.Preso em grades de marfim,Quis escrever uma históriaPeguei aquelas memóriasNaquele céu, luzes estranhasCores vistas jamaisEram deuses ou estrelas?Fiz um pedido mesmo assim.
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pó
A minha poesia acabouAs palavras se foram, a chuva levouEssa chuva salgada que vem lá de cima,Que lava e queima a menina,Que vai e volta nas secas de meu sertão.
A minha poesia acabouNão há mais o que falarSe não sobre o vazio, o que é triste e o que é feioPor que é tudo que vejo, e no que creioÉ o que restou pra me abraçar.
A minha poesia acabouEsqueci como rimarFoi a água que apagou minha alma, corpo e minhas letrasSó não aquilo que existe aqui.
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samba-blues
Poetiza, meu bem, a minha dorPoetiza, que é bom falar de amor.
Mas se o amor é daquele espinho em florPoetiza, que acaba esse rancor.
Só não chore agora, que tá azulE se quiser ir embora, tá tudo cool Vou te bater no meu liquidificadorLiquidifica, meu bem, a minha dor
Me tira desse poçoÔ poço fundo, fundo poço
Estou no fundo do poçoE que desgosto: minha sede é de amar!
E pra consumar a amargura eu vou repoetizar
Poetiza, meu bem, a minha dorPoetiza, que é bom falar de amor.
Mas se o amor é daquele espinho em florPoetiza, que acaba esse rancor.
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Flores da vida
Esses dias estive pensandoNas flores da vida que vamos plantandoE agora eu sei:Chamei de amigo quem me nada éPlantei árvores com trilhos no péPra meu jardim decorar.
E aqueles momentos cheios de preocupação, os desabafos,Nunca foram, nem nada mais são.As palavras de carinho, um dia proferidasNunca, na verdade, foram ditas.A diversão, o abraço apertado...Apenas sonho, imaginação.As pessoas ao meu redor nada mais eram do que sombras
Esses dias estive pensandoNas flores da vida que vamos plantandoE agora eu sei queNada vivido, na verdade viviQue estou acorrentada lá e aquiTudo foi areia em minhas mãos
E meu jardim padeceCinza.
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sabiá
Muié! Eu só me sinto sóQueria ser um laço, pra num nó
Ficar juntim de tu
Muié! De mim tu num tem dó?Me deu uma bilôra e virei esquimó
Só pra dar beijinho em tu
Muié! Vamo fazer um fíDeixar o mundo inteiro todo lindo
Chei dos nossos guri
Muié! Eu não sou doutôNão te garanto viagem, carro, luxo
Mas garanto o meu amô.
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a queda
Meus passos estão mais fortes agoraO frio não me assusta mais.Me sinto confortável quando estou sóConsigo encarar meu reflexo,E nesse deserto isso é tudo o que tenho.
Tua alma me visitou noite passadaFoi doce comigo, e me tratou bemPor um segundo me salvou do penhascoMas logo em outro, me jogou.Tudo bem, agora eu sei que a queda livre não me mataTalvez por que embora seja uma queda, ainda é livre...
Me jogaste do penhasco, e ainda assim agradeci.E de toda alma lhe sou grata.Aprendi que queda alguma me mataE que após morrer tantas vezes, a morte venci.E agora sigo o caminho do qual desisti.
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aldravia
souvitrolamúsica
tocaem
mim
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Aldravias
teverteteré
ser
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aldravias
semti
senti-mesem
sentido
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Em memoria de Júlia Cordeiro.
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