sinopses 2012 - grupo especial do rio de janeiro
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SINOPSES DAS ESCOLAS DE SAMBA DO GRUPO
ESPECIAL DO RIO DE JANEIRO CARNAVAL 2012
DOMINGO – 19 DE FEVEREIRO DE 2012
1. RENASCER DE JACAREPAGUÁ
2. PORTELA
3. IMPERATRIZ LEOPOLDINENSE
4. MOCIDADE INDEPENDENTE DE PADRE MIGUEL
5. UNIDOS DO PORTO DA PEDRA
6. BEIJA-FLOR DE NILOPÓLIS
7. UNIDOS DE VILA ISABEL
SEGUNDA-FEIRA – 20 DE FEVEREIRO DE 2012
1. SÃO CLEMENTE
2. UNIÃO DA ILHA DO GOVERNADOR
3. ACADÊMICOS DO SALGUEIRO
4. ESTAÇÃO PRIMEIRA DE MANGUEIRA
5. UNIDOS DA TIJUCA
6. ACADÊMICOS DO GRANDE RIO
Organização: Thiago Vergete
Fonte: LIESA
BLOG DO VERGETE: www.blogdovergete.blogspot.com
RENASCER DE JACAREPAGUÁ
"O ARTISTA DA ALEGRIA DÁ O TOM NA FOLIA"
... No princípio criou Deus os céus e a terra.
E a Terra era sem forma e vazia...
E disse Deus: haja luz! E houve luz!
Gênesis Cap I,II e III
E de tudo que Deus criou, da luz surgiram as cores!
O G. R. E. S. Renascer de Jacarepaguá te convida a embarcar em uma colorida viagem
pelo universo das obras de Romero Brito.
Uma viagem que não tem fronteiras, início, meio e fim. É como um conto de fadas que
toca o coração, liberta a alma e concretiza nossos desejos.
A mente humana guarda sonhos, fantasias, loucuras e magias. É como uma abstrata
máquina que subindo e descendo, girando para todos os lados carrega milhares de
células que conferem ao homem dons divinais entre eles o poder de pensar e criar. E
Deus deu a ele a genialidade na arte de brincar com formas sem formas. Na arte de
transformar o insano em sano e de fazer surgir das mais fantásticas fantasias de sua
mente, formas que encantaram o mundo inteiro. Mente querida que não se rendeu a
infância sofrida.
O Criador o fez assim: moleque, maneiro, faceiro e arretado. Em suas mãos o abstrato
criou forma e as cores se transformaram na razão de sua vida!
Desembarcamos na história da arte ocidental, viajamos a barroca Itália do Mestre
Caravaggio que retratava o aspecto mundano dos eventos bíblicos, usando o povo
comum das ruas de Roma.
Ainda jovem, Romero recebeu de seu irmão, um jovem vendedor de enciclopédias, um
livro a respeito de Caravaggio, sequer havia ouvido falar do Mestre, mas se
impressionou com a violência de sua obra. Sua infância pobre nas favelas de Recife,
repletas de adversidades, poderia fazer de Romero o novo Caravaggio, o Caravaggio
Tropical, dores e dificuldades não faltariam para retratar, Romero era na verdade uma
dessas milhares de pessoas comuns que Caravaggio retratava em suas telas. Mas o que
faz uma pessoa comum? As circunstâncias? O cenário de sua vida? Ao escolher seu
estilo artístico, Romero nos apresenta uma grande lição de vida: não somos o que
temos, somos o que guardamos dentro de nós. Somos o que podemos contribuir para um
mundo melhor, das obras de Caravaggio teve a exata noção do que não queria retratar
em suas obras, se poderia influenciar o mundo e as pessoas com uma obra feliz, serena e
brilhante, por que iria compartilhar seus pesadelos?
Ainda na Europa sua inspiração viaja para Espanha de Pablo Picasso, o artista das
formas certamente é um traço reconhecido na obra de Romero. Picasso, o pai do
cubismo no mundo é um marco em suas obras.
Dizem que a propaganda é alma do negócio, mas no fundo a propaganda é uma nave
por onde uma obra navega e chega a muitos lugares. Quando um artista idealiza uma
obra, ela se limita a um espectador, alegra uma única vida, altera uma única história.
Uma obra que ilustra um produto, tem um poder de alcance inimaginável. As obras de
Romero transmitem alegria e através dos inúmeros produtos mundiais que carregam os
traços de Britto, esta arte isenta de ansiedade e medo rompeu fronteiras étnicas, sociais e
religiosas alcançando um número incalculável de vidas e de histórias.
É o início do ciclo publicitário de sua carreira onde Romero descobre que o infinito é
realmente intocável e sua obra abraça o mundo, chegando aos cinco continentes.
Dezenas de trabalhos publicitários, selos para a ONU e esculturas que tiraram do artista
o poder de perceber até onde pode chegar, embora tenha durante sua vida, criado sem a
pretensão de voos distantes, pois criou com a alma e com a emoção de ver uma vida ou
sorriso modificado. E neste aspecto, já é muito mais que um vencedor.
O mundo conhece Romero e ele está ou esteve nos maiores circuitos artísticos mundial.
Suas obras públicas ilustram várias cidades do mundo, inclusive sua doce e bela Miami.
A cidade que abriu as portas para suas obras e reconhece seu brilhantismo em quase
toda sua extensão territorial. Museus mundiais puderam apresentar a sua nação o
encanto das telas e peças deste artista. Romero de Brito chega à Cidade Luz, ao Museu
do Louvre em Paris, o mais visitado museu do mundo, onde nosso genuíno artista pôde
se encontrar com os maiores Gênios das artes plásticas do mundo que até então, viviam
apenas nas lembranças de sua infância.
Do alto do morro e de braços abertos o Corcovado recebe este artista que no maior
espetáculo da terra conta as maravilhas deste gênio modernista. É a capital do samba
que explode de felicidade e suas paisagens naturais vão ganhando as cores e a cara de
Romero. O Rio de Janeiro recebe agora um olhar carinhoso de Britto e a cidade do
samba da mulata e futebol aos poucos se rende.
Em 06 de outubro de 1963, quando o quarto exército invadia o Recife para uma luta
armada contra a revolta dos camponeses, nascia Romero de Brito, um garoto
pernambucano que aos 8 anos de idade chamava a atenção na escola onde estudava.
Além de decorar cadernos com desenhos coloridíssimos, passava horas no quintal de
sua casa criando. Sucatas, papelão e jornal serviam de suporte para suas pinturas. E ele
adorava ganhar de presente livros de arte. "Eu ficava ali sentado e copiava mestres da
pintura por dias e dias", lembra Romero Britto.
''Nasci com um dom, e quero dividir com todos''
Britto criou obras que invocam o espírito de esperança e transmitem uma sensação de
aconchego. Suas obras são chamadas, por colecionadores e admiradores, de "arte da
cura". Sua arte contém cores vibrantes e composições ousadas, criando graciosos temas
com elementos compostos do cubismo.
Nesta Noite a passarela branca vai se colorir de alegria, a Renascer abre as portas da
folia para contar a vida e arte de Romero de Brito esse mágico artista que aos 47 anos
contribui para a formação artística de milhares de jovens e vem chegando de mansinho
para encantar a Marquês de Sapucaí. Romero, que há mais de 20 anos mora em Miami é
Made in Brazil e a Renascer que é Especial, apresenta seu carnaval: O ARTISTA DAS
CORES DA O TOM DA FOLIA.
Carnavalesco: Edson Pereira
Pesquisa: Anderson Ferreira
PORTELA
"...E o povo na rua cantando. É feito uma reza, um ritual..."
Pequena Prece ao Senhor do Bonfim.
Salve, meu Pai Oxalá, Meu Senhor do Bonfim!
Senhor do branco, pai da luz.
Força divina do amor...
Epa Babá!
Meu pai, “... sou filha de Angola, de Ketu e Nagô
Não sou de brincadeira
Canto pelos sete cantos
Não temo quebrantos
Porque eu sou guerreira
Dentro do samba eu nasci,
Me criei, me converti
E ninguém vai tombar a minha bandeira.”
E venho a ti pedir sua benção e proteção, e pedir, também, licença aos meus padroeiros,
para conduzir a minha águia altaneira, o meu altar do samba, até a sua presença.
Sabe, meu senhor, sempre fomos muito festeiros, muito devotos, e gostaria muito que o
meu povo conhecesse o seu povo e a sua maneira de festejar, de reverenciar a sua
crença, a sua fé.
Por muitas vezes cantei a Bahia, agora chegou a hora de mostrá-la.
“... essa Bahia gostosa
Cheia de encanto e feitiço
Que deixa a gente dengosa
E a gente nem dá por isso”
Bahia que tem o dom de encantar.
Terra em que o branco e o negro, o sagrado e o profano, o afro e o barroco se misturam
e se tornam uma coisa só. No mar da Bahia, tudo e todos se misturam.
Bahia de vários corações... sagrados corações.
Terra de cores, cheiros e temperos.
Terra de festas e de fé, de santos e orixás.
Terra de samba.
Terra de amor e devoção.
A Bahia é festa o ano todo e o povo vai pra rua manifestar a sua fé.
“... E esse canto bonito que vem da alvorada.”
Alvoradas, missas, procissões, afinal “quem tem fé vai a pé”.
Novenas, flores, fitas, águas e perfumes.
Cortejos, fiéis e cânticos.
Velas, orações e adoração.
Gente que dança!
Tambores e atabaques, samba de roda, batucadas.
Comidas, pois festa sem comida não é na Bahia.
Gente que canta!
Canta pro santo, canta pro orixá. Canta para os dois ao mesmo tempo. É o sincretismo
se fazendo presente.
Louva a alegria, a liberdade, a esperança.
Gente que pula!
Pula como pipoca, como cordeiro, em blocos e trios. Transforma as ruas em um mar
branco, de paz.
Mar branco, mar vermelho, mar azul. Bahia é feita de mar, é feita de água.
Gente que louva!
Beatos, filhos-de-santo, padres, mães-de-santo, fiéis e iaôs, todos juntos num mesmo
ideal. Deuses e mortais, passado e presente.
Altares e terreiros, tudo é mistério. As divindades tão próximas e tão íntimas. O milagre
da cumplicidade com o sagrado.
A luz dos orixás refletida nos olhares.
“... Tem um mistério que bate no coração
Força de uma canção que tem o dom de encantar.”
É dia de festa na Bahia. Não importa como começou. Não importa se um dia tudo vai
terminar, pois o riso e o gesto já estão gravados na eternidade, no céu e no mar.
Bem aventurados todos aqueles que puderem ver a Bahia em festa.
E neste momento, meu Senhor, vejo que tudo aquilo que move o baiano: a fé, a alegria,
a esperança, a crença e a devoção, move também o meu povo, o portelense.
Um povo que nunca desiste, vive a sorrir e a festejar.
E que essa Bahia que é de Todos os Santos, seja a partir de então dos santos da Portela
também, que eles passem a fazer parte do seu panteão, estendendo sobre eles o seu
divino manto e nos conduza a um desfile triunfal sobre o altar do carnaval.
Bem aventurados aqueles que puderem ver a Portela em festa.
Afinal,
Sou Clara,
Sou Portela,
Sou Guerreiros,
Sou Amor!
Salve o manto azul e branco.
Amém!
Paulo Menezes
Enredo: Paulo Menezes e Marquinhos de Oswaldo Cruz
IMPERATRIZ LEOPOLDINENSE
“Jorge, Amado Jorge”
"Briguei pela boa causa, a do homem e a da grandeza, a do pão e a da liberdade, bati-me
contra os preconceitos, ousei as práticas condenadas, percorri os caminhos proibidos,
fui o oposto, o vice-versa, o não, me consumi, chorei e ri, sofri, amei, me diverti"
Jorge Amado (Navegação de Cabotagem, 1992)
Sinopse
Ave Bahia! Bahia Sagrada!
1912. A lua prateada banha o céu de axé...
Eis a coroa de Oxalá, o Senhor da Bahia!
Venha nos proteger, meu Senhor do Bonfim!
Vem do mar a esperança... Litoral de magia... Iemanjá! Oferendas à rainha do mar!
"Ela é sereia, é a mãe-d'água, a dona do mar, Iemanjá"
Velas bailam ao som do vento baiano. Veleiros, canoinhas e jangadas deixem-se levar.
"... cerca o peixe, bate o remo, puxa corda, colhe a rede
"Canoeiro puxa rede do mar..."
Jorge, Amado Jorge... Eis aqui sua história, vida e memória!
Vai, criança baiana, descubra os segredos dessa terra.
Jorge conheceu fazendas, ruas, vielas,
Becos e guetos, tipos e jeitos.
- Quem quer flores? Frutas? – grita o vendedor.
- Olha o acarajé! – oferece a velha baiana.
Águas de Oxalá! Venha ver a Lavagem do Bonfim!
As letras chegam num sopro. Um vento de liberdade em defesa do povo.
Ah... O Rio de Janeiro... Nova casa do rapaz escritor.
Graduado na vida e na universidade.
Na política, com o "coração vermelho", se engajou.
É a vida na capital. Amigos, papos e mulheres...
Ah... As Mulheres... Vida perfumada e sensual...
Bares e cabarés... Eis a malandragem, o primeiro livro: o "país do carnaval".
Primeiros romances. Romances da guerreira e apimentada Bahia, sua eterna paixão.
O ciclo do cacau, grande inspiração.
Viver nas areias da história e sonha em ser capitão
Um ideal. O valor do homem. O reconhecimento da valente alma do povo.
Vivência e personagens se confundem. Verdadeiros baianos traduzidos nos folhetins.
Onde está a liberdade?
Essa é a "Bahia de todos os santos" de toda gente! Gente brasileira.
Doce amor, doce flor Amiga, companheira, parceira de letras e caminhadas
Que o segue fielmente pelo "sem fim"do mundo.
Retornar a sua origem... Os passos rumo à alvorada da literatura.
Rumo à consagração: premiado e Amado. De farda e fardão.
Busca no tempero de Gabriela os sabores da vida. O aroma da crônica do interior.
A brisa que balança as madeixas da morena embala palavras ao encontro de Dona Flor.
Tieta do "chão dos prazeres", do agreste. Tereza Batista, "fonte de mel".
Mulheres e "milagres" do Nordeste.
Jogue a rede, pescador! Traga do mar de memórias as palavras inspiradoras.
Hoje o capitão é Jorge Amado. Capitão de sua navegação. "Navegação de Cabotagem".
Misticismo e miscigenação. Candomblé, alma desse chão.
Que Exu nos permita caminhar! "Se for de paz, pode entrar."
Okê Arô Oxossi! Salve todos os Orixás! Joga búzios, canta e reza!
Kaô Kabesilê! Kaô meu pai Xangô! Jorge é obá no Ilê Axé Opô Afonjá!
Ora iê iê Oxum! Mãe de Mãe menininha do Gantois, amiga na fé, axé!
È festa na ladeira do Pelô! É festa na Bahia! Fervilha a mestiça terra de Jorge!
A Magia dos filhos de Ghandi... É energia do sangue nordestino...
Tocam atabaques e alabês. O Pelourinho estremece! Vem descendo Ilê Aiyê!
É o tambor! É a força do ritmo! É o som do Olodum!
Venham, amigos queridos! Amada família do escritor, venha conosco cantar!
100 anos do nascimento de Jorge Amado... Comemora A Imperatriz Leopoldinense!
De alma e coração, vamos todos brindar ao mestre das letras!
Sentadas sob a sombra da copa de uma grande árvore, suas palavras vão para sempre
descansar...
Jorge, Amado Jorge...
Muito Obrigado!
Hoje, a ti canto e me declaro:
Sou mais um gresilense apaixonado!
MOCIDADE INDEPENDENTE DE PADRE MIGUEL
"Por ti, Portinari: Rompendo a tela, à Realidade"
Justificativa
Ao escolher Candido Portinari como tema, a Mocidade Independente vem celebrar um
dos maiores nomes da pintura brasileira no cinquentenário de seu desaparecimento.
Através de suas mais importantes obras, mostraremos a trajetória deste artista que acima
de tudo retratou em seus quadros e murais, a história, o povo e a vida dos brasileiros,
através dos traços fortes e vigorosos carregados de dramaticidade e expressão.
Esta homenagem escrita em forma de poema é a maneira mais digna
encontrada para festejar este mestre que além de pintar também foi poeta e que entre
outras manifestações artísticas soube tão bem ilustrar com seus desenhos os poemas de
Carlos Drummond de Andrade, seu grande amigo e parceiro na versão do livro "Dom
Quixote de La Mancha", de Miguel de Cervantes.
Por fim é a Mocidade Independente que se orgulha em levar para o desfile um pouco da
obra imortal de Portinari ao conhecimento do grande
povo, aquele que sempre foi a sua grande fonte de inspiração.
"Por Ti, Portinari, Rompendo a tela, a realidade"
Num voo mágico, viaja o samba, a conduzir meu povo feliz em seu viajante sonho.
Solto no universo garboso, prosa em verso, na fantasia a se tornar realidade, leva os
tambores da felicidade, para despertar o artista na morada celestial.
Ó mestre, ergueis do sono esse quadro vazio. Sua obra vive no cantar de nossa gente.
Põe nas tuas mãos o teu instrumento, tua tela hoje é o firmamento, que a arte se deixa
tingir o breu da noite, com um colorido de festa, a aquarela do carnaval.
Vai, reinventa mais um lúdico céu. Pinta por nós a nossa estrela, tu que pintaste tanto a
Mocidade, deixa a tua mão deslizar Independente.
Hoje, somos as tintas que envolvem as cerdas do teu pincel, e que, na mistura das cores,
por ti, Portinari, rompem a tela para a realidade e brilham no samba de Padre Miguel.
Hoje, uma moldura viva e humana enquadra a tua história na pista, e teu traço se refaz
nos pés, no passo do sambista, que vai riscar murais de sonhos e estampar retratos, cena
dos Brasis que tu desenhastes.
À luz da inspiração, vem fazer reluzir em nossa mente a cândida infância de tua
Brodowski querida, e reflorescer os campos com suor da lida, dos mestiços viris a lavrar
a ampla terra.
"Entre o cafezal e o sonho",
vem reunir retalhos e as lembranças coloridas, como as dos espantalhos a oscilar na
brisa, serenos sobre as plantações.
Hoje, é um tempo que não passa. Um turbilhão, um vento que sopra, que varre e traz
recordações, e que vem
devolver a ti a meninice.
UNIDOS DO PORTO DA PEDRA
“DA SEIVA MATERNA AO EQUILÍBRIO DA VIDA”
ORGANIZAÇÃO DE SETORES
Abertura: OS MAMÍFEROS.
Como inspiração, tomamos o cuidado materno como fonte de vida e desenvolvimento.
Do período Neolítico aos dias atuais a evolução dos mamíferos e a importância do leite
para a preservação das espécies dando todas as condições nutricionais aos novos
rebentos para um crescimento saudável e pleno.
Setor 1: O LEITE: A "FORÇA DA VIDA".
Recheados de simbolismos pontuarão a presença do leite como agregador de força, Fé e
Esperança em várias civilizações. Exemplificaremos ao mencionar algumas como A
Loba de Rômulo e Remo na fundação de Roma. Nas palavras de Moisés ,ao descrever a
nova Israel dos Judeus onde menciona rios de leite e mel.
Na mitologia greco-romana, o leite é fator de união entre o divino e o humano, entre o
mortal e o eterno e, além disso, o gerador de vida no céu e na Terra. Conta-se que Zeus,
em um de seus envolvimentos com mortais, no caso Alcmene, gerou Hércules – herói
famoso, principalmente por sua força. Tendo se afeiçoado a seu filho, quis que ele fosse
imortal. Para isso, levou-o sorrateiramente para ser amamentado por sua esposa, Hera,
enquanto ela dormia. O pequeno Hércules sugou o seio com tamanho ímpeto que este
continuou jorrando, mesmo depois do fim da amamentação. Do leite derramado no céu,
surgiu a Via Láctea e, daquele vertido sobre a terra, surgiu a flor-de-lis.
Na mitologia hindu, existem muitas histórias ligadas ao leite. Entre elas conta-se que
Manu, o pai de todos os homens, ganhou devido à sua inteligência o respeito do deus
Vischnu e, por isso, foi salvo do dilúvio universal. Em retribuição, Manu ofereceu um
bolo de leite coalhado, manteiga e creme de leite. Do bolo, nasceu Ida, mulher de
extraordinária beleza que despertou a atenção de Manu. Esta, para evitar o assédio que
se aproximava, transformou-se em uma vaca. Manu, percebendo a manobra,
transmutou-se em touro e a possuiu. Em seguida, em uma versão hindu da arca de Noé,
iniciou-se uma perseguição com diversas transmutações para
outros animais, sempre fêmeas e machos que, repovoaram a Terra após o grande
dilúvio.
Dos Egípcios, vem a Deusa Thueris representada por uma fêmea de hipopótamo que
através dos seus mamilos nutria de força seus seguidores. Para o povo da Mesopotâmia,
Ninharsa era uma divindade dedicada ao leite, seu poder concedia uma bênção especial
aos seus seguidores.
Para os Nórdicos ,uma vaca era venerada sob o nome de Audumla, cujo leite alimentou
o gigante Imir, pai de todos os deuses escandinavos. Coincidentemente na China temos
também uma vaca sagrada chamada Zing-Po ,que alimenta os signos do zodíaco estelar,
o que mostra a importância do leite como alimento tido como sagrado tanto no Ocidente
como para os Orientais.
Setor 2: A ORIGEM DOS DERIVADOS.
Abrindo cronologicamente a História buscaremos as origens dos derivados do leite
através das várias regiões do planeta e mostrando o início e a consolidação destes
produtos na gastronomia mundial. Líquidos lácteos fermentados, batidos e naturais,
queijos com as suas propriedades de textura e sabor, manteigas e cremes, todos muito
apreciados em suas culturas. A maioria das pesquisas históricas atribui a criação do
iogurte aos povos do período Neolítico da Ásia Central por volta de 6000 AC.
Diversas histórias mencionam a origem do queijo, mas a versão mais aceita pelos
historiadores é a do mercador árabe que, cansado e faminto após atravessar um deserto
asiático, tentou beber o leite de cabra que levava em seu cantil feito de estômago seco
de carneiro. Mas o que saiu do cantil foi apenas um líquido aguado e fino. Curioso com
o fato, abriu o cantil e encontrou uma massa branca que hoje sabemos que é a
coagulação do leite causado pelo coalho existente no estômago do carneiro. O viajante
faminto experimentou e, claro,gostou.
Os egípcios tiveram no leite e no queijo um importante alimento muito difundido,
podendo ser encontrado, inclusive, nas tumbas de seus reis.
Na Europa, eles foram introduzidos pelos gregos e os romanos tiveram papel
fundamental na distribuição desta iguaria, que servia para alimentar seus atletas e
soldados. Ainda na Europa, com as ordens religiosas, os queijos ganharam em qualidade
e padrões específicos.
A coalhada produzida mundialmente, com os diferentes tipos de leite de mamíferos
domesticados, principalmente de cabra, ovelha, búfala e vaca, ainda conserva as mais
diversas tradições culinárias na sua elaboração, difundidas através de migrações
continentais e intercontinentais das populações, desde milênios passados até os atuais
dias. Sua origem se confunde com a do queijo que se dá junto à pré-história, sendo
estimada desde aproximadamente 8.000 anos a.C, quando as ovelhas foram, pela
primeira vez, domesticadas, até por volta de 3.000 anos a.C. Então, através da
combinação leite, calor e bactérias, chegou-se à coalhada, tendo provavelmente sido
originada a partir dessa combinação "acidental", onde na Ásia Central, as tribos
nômades tinham o costume de carregar leite em suas viagens.
Em suma estes três produtos, coalhada, queijo e iogurte em combinação culinária,
geram uma incontável quantidade de iguarias como pães, bolos, molhos entre outros
alicerçando culturas e costumes.
Setor 3: A EXPANSÃO DE UM PRODUTO.
Do surgimento nos Bálcãs à disseminação por volta do terceiro milênio antes de Cristo
para o Egito, Assíria, Oriente, Pérsia, Índia e Mediterrâneo se dá através de guerras,
comércio ou expansão cultural e migratória.
É geralmente aceito entre os historiadores que o iogurte e outros produtos fermentados
lácteos foram descobertos acidentalmente como resultado de leite sendo armazenados
por métodos primitivos em climas quentes. Os descendentes dos povos que originam os
turcos, búlgaros, sírios, gregos, romenos e árabes, desde épocas remotas já conheciam a
preparação de alimentos fermentados, tais como iogurtes e coalhadas, reconhecendo a
boa digestibilidade e aroma desses alimentos.
Pastores começaram a prática da ordenha de seus animais, e as enzimas naturais nos
recipientes de transporte (estômagos de animais) o leite coalhado, essencialmente, faz o
iogurte. Ao contrario do leite a conservação do iogurte dura por mais tempo, pensa-se
que na prática as pessoas preferiam o gosto mais suave deste ao da coalhada e
,consumido de modo continuado, evolui ao longo dos séculos ainda antes de Cristo.
Setor 4: UMA BEBIDA LÁCTEA.
A evolução do "Iogurte" e suas variações nas antigas civilizações, seu uso como
alimento doce ou salgado, temperado ou acompanhante de pratos típicos e sua aplicação
também na medicina.
Depois das conquistas Alexandrinas e do Império Romano a combinação de culturas
forja uma derivação do "Modus Vivendi" de várias sociedades dando assim
prosseguimento à evolução e ao aprimoramento da gastronomia com essa miscigenação.
Por fim está gravado na história que Genghis Khan, o fundador do Império Mongol, e
seus exércitos viviam se alimentando de iogurte e com o expansionismo deste Império
mais uma leva de mudanças ocorre em grande parte do mundo civilizado entre os
séculos XII e XIII estendendo-se das Muralhas da China até o Mediterrâneo ,passando
por toda a Ásia até a Hungria.
Setor 5: EPOPEIA EUROPEIA.
Com as conquistas Otomanas as práticas alimentares destes se expandem pela Europa.
A assimilação de hábitos e costumes soma ao cotidiano europeu, novas possibilidades
de subsistência. Novamente a história se repete porém agora com novos atores. Desde a
queda de Constantinopla ,que dá fim ao Império Romano,a cultura muçulmana ganha
espaço desde o Mar Mediterrâneo até as penínsulas Itálica e Hispânica varrendo a
Europa Ocidental inteira, mas com ares de aglutinamento cultural em contraponto da
conquista armada.
Paradoxalmente a igreja Cristã reprimida também ajuda na disseminação dos
conhecimentos eclesiásticos e filantrópicos, claro, com os seus interesses, se manteve
viva na missão de proteger os pobres e oprimidos da barbárie do período feudal e dos
invasores. Mecanicamente usam as técnicas de subsistência a seu favor, assim
conquistando mesmo que de forma velada, mais cabeças para o seu rebanho mantendo a
hegemonia do poder da igreja principalmente nas soluções sobre a alimentação, já que,
para os desabonados, os laticínios como o iogurte, alguns grãos e a carne de animais de
pequeno porte constituíam a base da alimentação, e as criações de animais de grande
porte eram direcionadas em boa parte para as cortes dos grandes castelos europeus.
Seguindo os conhecimentos herdados da Antiguidade ,o Iogurte, mesmo que de forma
tímida, ganha espaço na manipulação alimentar das mesas como também evolui como
terapia medicinal incorporando-se e evoluindo como a própria civilização.
O desenvolvimento europeu nos séculos que seguiram às Grandes Navegações difunde
o prazer gastronômico e começa a traçar novos comportamentos no preparo de iguarias
cada vez mais sofisticadas.
Os molhos de iogurtes combinados às especiarias que vêm da Índia e do Oriente, as
sobremesas quentes e geladas resgatam do antigo Império Romano a combinação de
açúcar, frutas e mel em suas composições cuja base é o iogurte, sem contar a divulgação
cada vez maior das crenças do seu poder curativo, que ao longo dos tempos tem se
consolidado e estudado fazem com que este produto caseiro se torne mais divulgado e
apreciado no continente.
Setor 6: O ENVASAMENTO PARA CONSERVAÇÃO E TRANSPORTE.
A manipulação e a industrialização será a tônica deste segmento. Serão mostradas as
fases da evolução das embalagens e também das fábricas de Iogurte criadas na década
de 20 na Espanha, na França, onde daremos uma atenção especial, sua migração para as
Américas, na década de 30, principalmente nos Estados Unidos e, por fim, o alimento
conhecido no mundo inteiro.
O Iogurte mesmo que bastante difundido e apreciado era um produto produzido
artesanalmente, de forma doméstica para o consumo das próprias famílias até o
surgimento da primeira fábrica de iogurte que se deu na Espanha na década de 20 no
século XX. Estes iogurtes inicialmente eram embalados em garrafinhas de vidro e com
o passar do tempo foi substituído por recipientes de cerâmica, que agregava valor ao
produto envasado.
A chegada na América do Norte se dá no período da Segunda Guerra Mundial e
continua com a mesma filosofia que criou a primeira fábrica: Uma empresa familiar
cuidando de famílias.
Não poderia deixar de ser uma família mineira na década de 70, cujo Estado é
tradicionalmente produtor de laticínios, a primeira a buscar na Europa a forma de
fabricar e embalar o tradicional iogurte cremoso acrescido de polpa de morangos no
Brasil. Esta família também importa o pensamento original da empresa, assim
promovendo saúde e bem estar com dedicação de uma família para a família brasileira.
Logo o produto caiu no gosto popular pelo seu aroma, textura, paladar, embalagem
prática e atrativa, principalmente para o consumidor infantil. Exponencialmente
consolidou-se nos lares e mercados brasileiros dando assim o começo de uma história
de sucesso no universo alimentício nacional.
Setor 7: O ALIMENTO FUNCIONAL.
Dividido em Cosmética e Alimentícia este setor irá descortinar a vasta gama de
produtos voltados ao Bem Estar e potencializadores de Saúde.
Alimentos baseados em Iogurte com propriedades específicas são criados para a maior
performance e manutenção do corpo. Uma troca de cepa (bactéria) muda as
propriedades destes produtos lácteos. A criação destes só faz consolidar as propriedades
já conhecidas há milênios e hoje com a ajuda de novas tecnologias aliadas a talentosos
pesquisadores fornecem ao mercado produtos mais eficientes na promoção de saúde
ajudando o homem moderno a se cuidar mais. Podemos afirmar que o sentimento de
proteção e cuidado nos remete mesmo que de forma muito sutil aos cuidados da época
da amamentação quando recebíamos carinho, proteção física e biológica quando do ato
de mamar. Essa é a missão de muitos abnegados que ao longo dos anos dedicam suas
vidas para um bem maior, levar de forma inteligente e criativa as funcionalidades destes
laticínios para os lares promovendo equilíbrio físico em um mundo que exige de forma
extrema a capacidade humana. Muito ainda se pode criar nesse nicho para alcançar a
excelência do melhor viver e este novo horizonte se descortina trazendo esperança e
confiança nessa forma de nutrição. As aplicações destes compostos láticos transcendem
a alimentação e também é aplicado na indústria cosmética com produtos diferenciados
para a pele, cabelos e hidratação facial e o que mais vier.
O mais importante é não nos esquecermos de que mesmo para o simples deleite do
paladar, agrega valor nutricional à nossa vida corrida, tornando-a mais prazerosa e
saudável.
Roberto Szaniecki
Carnavalesco
BEIJA-FLOR DE NILOPOLIS
"São Luís - O Poema Encantado do MARANHÃO"
SINOPSE
Areias infindas das terras das palmeiras do meu país, depois do oceano, do areal
extenso, o horizonte imenso, onde a terra esboça luz. Upaon-Açu, solo sagrado, terra de
encantarias, onde vive em plena mata, a tribo dos homens nus. São guerreiros dos
cumes dos montes, dos vastos horizontes, onde canta o sabiá. São combatentes bravos,
que não se fizeram escravos do estalar do açoite dos que vieram te dominar.
Sem saber o que esperar, três Coroas te cobiçaram as riquezas, os relatos do Novo
Mundo inflamaram as paixões, por cidades de ouro puro a serem descobertas, de
fantásticos prazeres, ilusão hiperbólica dos seres, transformados em quimera bestial.
A França te fundou, Holanda te invadiu, mas Portugal conseguiu, por fim, te colonizar.
Mas para tanto, o que se deu foi um quadro medonho e triste, que, ao surgir, no mar se
achou. Abrindo as velas ao soprar das virações marinhas, surge espectro sombrio. Em
meio às brumas, desenha grande navio, que traz um canto funeral. Choro, amargura e
horror fazem do cúmulo da maldade, a mordaça da liberdade para triste multidão; o
navio da escravidão, ferida aberta nos mares, vem macular os ares de São Luís do
Maranhão.
Fatalidade atroz, envolve reis e rainhas, soberanos de selvas longínquas da majestade
dos leões. Ontem belos, livres e bravos, agora míseros escravos; sem luz, sem lar, sem
amplidões.
E a terra se desdobra, cresce, evolui, se renova, a ferro, fogo e escravidão. Mas nos
planos divinos, nos reinos cristalinos, nos píncaros da luz eterna, surge nova terra,
cultivada à força da oração.
Upaon-Açu, ressurge agora mística no poder dos voduns e ao som dos tambores de
Daomé, na manifestação dos antigos e na força do candomblé. Desse misticismo santo,
surge a alegria e o encanto das festas que te enfeitam, por vezes, como o Boi morto e
ressuscitado da negra mãe Catirina, celebração divina em meio a enfeitados casarões de
azulejos portugueses; teu folclore tem brilho farto, que à tua riqueza conduz.
Terra dos ludovicenses, Ilha do Amor e dos mitos da Fonte do Ribeirão, da terrível
serpente encantada, da lenda da praia do olho dágua, de Iná princesa, e do milagre de
Guaxenduba. Fala-se de uma sinhá incompreendida, que virou assombração, e no soar
da meia-noite, surge o espectro sinistro, ouvem-se o ranger de correntes, estalar de
açoites, seres sombrios como a noite, escravos arrastados em imenso turbilhão.
E a Sinhá Ana Jansen sofre agora, aprisionada em carruagem encantada por antigos
escravos seus, furiosos, desesperados, cortejo de celerados, esquecidos filhos de Deus.
E a cena só termina, quando o galo, na campina, anuncia o dia raiar.
São Luís, capital do Maranhão, terra de Alcione, de Joãozinho Trinta, de Zeca Baleiro,
de Rita Ribeiro, do Reggae Brasileiro, de Gonçalves Dias, de Ferreira Gullar e Josué
Montelo.
Vestindo a fantasia, vem celebrar nossa folia o fofão, o vira-lata, cruz-diabo, o corso do
meretrício e as cabrochas a brincar com os mascarados dos salões do Moisés.
Em meio a tanta festa reluz o Eldorado da bauxita, minério batizado pela Coroa que te
fundou e que desconheceu essa tua riqueza, que hoje é chama acesa para que possas
progredir; na luz dos céus incomparáveis do futuro que te aguarda, na imensidão, para te
consagrar, enfim, São Luís, pérola sagrada da Coroa encantada do glorioso Maranhão.
Laíla
Diretor Geral de Carnaval
Laíla, Fran Sérgio, Ubiratan Silva, Victor Santos e André Cezari
Comissão de Carnaval
Bianca Behrends
Pesquisa e Documentação Artística
UNIDOS DE VILA ISABEL
"Você Semba Lá... Que Eu Sambo Cá! O Canto Livre de Angola"
O Brasil e Angola são ligados por laços afetivos, linguísticos e de sangue. São irmãos
pela história que os une.
Desde a Antiguidade, já existiam bestiários que repertoriavam as estranhezas da fauna e
das características geográficas. Segundo o jesuíta Sandoval (1625), " Os calores e os
desertos da África misturavam todas as espécies e raças de animais, em redor de poços,
criando um ecossistema particular, capaz de engendrar hibridações monstruosas. Tal
circunstancia fazia da África, o continente de todas bestialidades, o território de eleição
do diabo."
As bestialidades de que falava tal escritor eram hipopótamos e rinocerontes, chacais e
hienas, zebras e girafas, avestruzes e palancas negras, entre outros.
A estranheza também era causada pela cor da pele de seus habitantes.
As regiões abaixo do deserto do Saara, chamadas de Ndongo e Matamba, eram
habitadas por dois povos distintos: os ambundos e os jagas. Os primeiros eram
excelentes ferreiros, cuja habilidade era muito apreciada. Os jagas, por sua vez, se
destacavam como guerreiros invencíveis, pois se exercitavam diariamente em local
apropriado a que chamavam de quilombo.
Na época da expansão marítima portuguesa, esses dois povos possuíam um soberano a
que chamavam de Ngola.
No século XVII, a região de Angola era governada por uma rainha chamada Njinga, que
era ambundo pela linhagem materna e jaga, pela paterna. Expressão do encontro de dois
grupos étnicos, que apesar de semelhantes, tinham organizações distintas, Njinga os
governou com sabedoria. A persistência do incômodo causado pelo seu sexo, entretanto,
levou-a a assumir um comportamento masculino, liderando batalhas pessoalmente e
vestindo de mulher seus muito concubinos, que faziam parte de seu harém.
Apesar da fama de Njinga ter sido construída na luta da resistência contra o domínio de
Portugal, entre os portugueses o reconhecimento de seu talento político e capacidade de
liderança surgiu a partir de seu desempenho como chefe de uma embaixada que o então
Ngola do Ndongo, enviou ao governador português, em 1622. Recebida com uma
pompa que deve tê-la
impressionado, Njinga também teria causado impacto entre os portugueses ao agir e
falar no mesmo idioma que o deles, como chefe política lúcida e articulada.
O interesse português era um só – mão de obra para outra colônia de além–mar, o
Brasil. Embora fossem ricos em minerais, em diamantes, nada disso os interessou. Pois
na época, o reino de Angola era o grande manancial abastecedor dos engenhos do
Brasil. Sem o açúcar, não havia o Brasil. Sem negros não haveria o açúcar. Sem Angola,
não havia negros. E, sem Angola não havia o Brasil.
Apesar da resistência de Njinga, o comércio era feito de modo avassalador. Os negros
cativos ficavam em barracões, que podiam acolher cerca de 5.000 almas, que eram
embarcadas rumo ao novo continente, em viagem longa, cuja duração podia ultrapassar
dois meses, dependendo das condições climáticas. O porto e partida era Luanda, o maior
centro de comércio escravagista africano. A cidade alcançara essa posição a partir do
momento em que os escravos passaram a ser embarcados diretamente para as colônias
americanas. Aproximadamente doze mil viagens foram feitas dos portos africanos para
o Brasil, para vender, ao longo de três séculos, quatro milhões de escravos, aqui
chegados vivos.
A despedida era simples. A cerimônia de batizado era na hora do embarque: - Seu nome
é Pedro; o seu é João; o seu, Francisco, e assim por diante. Cada viajante recebia um
pedaço de papel com um nome escrito. Então, um intérprete ironicamente dizia: "Sois
filho de Deus, a caminho de terras portuguesas, esquecei tudo que se relaciona com o
lugar de onde viestes, agora podeis ir e sede felizes".
A morte social despe o escravo de seus ancestrais, de sua família, e de sua
descendência. Retira-o de sua comunidade e de sua cultura. Ele é reduzido a um exílio
perpétuo.
E lá se vão, num navio abarrotado, sem alimentos adequados, sem sequer espaço para se
acomodarem. Levam na memória, os cantos, as danças, os ritmos, as tradições. Levam
Njinga e seu espírito combativo, a levam na memória, apesar das ordens para
esquecerem tudo....
Os navios negreiros aportavam no Cais do Valongo, longe do rebuliço da cidade. Alí os
escravos viviam em depósitos, a espera para serem comprados. Pois foi em 1779, por
ordem do Vice-Rei, marquês de Lavradio, que nesta região se localizaram o cais, o
mercado e as precárias instalações para abrigar os recém chegados.
Por ironia do destino, foi neste mesmo cais, que anos mais tarde, receberia em 3 de
setembro de 1843, a princesa Tereza Cristina, futura Imperatriz do Brasil, e também
mãe da princesa Isabel, aquela que terminaria de vez com o regime de escravidão. O
cais foi remodelado e uma cenografia decorativa escondia aos olhos reais as imagens da
pobreza extrema e a humilhação a que eram submetidos os recém chegados.
Presente em vários lugares em que houve a escravidão, a coroação de um rei e uma
rainha negra era uma forma de diminuir o sentimento de inferioridade social, assim
como as irmandades permitiam a reunião para reverenciar algum santo, mas sobretudo
como relacionamento social entre os escravos.
"Nesta santa irmandade se farão todos os anos hum Rey e huma rainha os quais serão de
Angolla, e serão de bom procedimento, e terá o rey tão bem seu voto em meza todas as
vezes que se fizer visto da sua esmolla avantajada." O titulo a que se dava era Rei do
Congo e a Rainha Njinga. A fama de Njinga atravessou os séculos e os mares, sendo
evocada em festas populares no Brasil. Mas antes de se alojar no imaginário popular, as
lições de Njinga foram muito provavelmente postas em prática na luta dos quilombolas
de Palmares.
Com o intuito de se divertirem, as irmandades aproveitavam-se das comemorações dos
dias dedicados a este ou aquele santo, para organizarem seus festejos. E era quase que o
ano inteiro, pois S. Pedro, S. João, Santo Antonio, o Espírito Santo e outros tantos mais,
se espalhavam no calendário. Tudo era oportunidade para comemorações festivas.
Na Festa do Divino, segundo Manuel Antonio de Almeida, embora os músicos fossem
muito apreciados pelo publico, ele considerava que eram desafinados e desacertados:
"Meia dúzia de aprendizes de barbeiro, negros, armados este, com um pistom
desafinado, aquele com trompa diabolicamente rouca formavam uma orquestra
desconcertada, porém estrondosa, que fazia as delicias dos que não cabiam ou não
queriam estar dentro da igreja. Mas era musica buliçosa, um convite aos jovens à
dança". Os instrumentos que usavam eram basicamente trombetas, trompas, cornetas,
clarinetas e flautas e os de corda – as rabecas, violões, tambores, bumbos e triângulos
também eram encontrados.
A festa reunia uma enorme economia e produção. Os fogos, no Campo de Santana, era a
maior atração. Depois as barracas, com comidas e bebidas, show de ginástica e muita
cantoria. A que fazia mais sucesso, entretanto, era
a barraca conhecida como Três Cidras do Amor, frequentada pela família e pelo
escravo, pela plebe e a burguesia. Era um salão um tanto acanhado. Num dos cantos
havia um teatrinho de bonecos com cenas jocosas e honestas. O conjunto de atrações
das Três Cidras do Amor era longo e variado. Peças como Judas em Sábado de Aleluia
eram encenadas. Depois do inicio do baile com valsas, as apresentações cada vez mais
se afastavam de uma pretensa seriedade, e a dança tradicional e eletrizante do povo
brasileiro assumiam o espaço, com os dançarinos bamboleando, cantando, requebrando-
se, ondulando as nádegas a externuar-se, e dando umbigadas. Os homens e as mulheres
que realizavam os indefinidos e inimitáveis requebros, umbigadas e movimentos
lascivos não nasceram nos ricos salões de baile, estavam nas ruas, reuniam-se nas festas
de largo, onde seus ritmos prediletos eram apresentados como atração e divertimento.
A junção dos violões, cavaquinhos e flautas já era praticada pelos músicos barbeiros,ou
como insistem alguns especialistas, havia sido realizada nos casebres populares do Rio,
mais precisamente na Cidade Nova.
Lá, destaca-se Tia Ciata, dando continuidade aos festejos que já aconteciam no Campo
de Santana, abandonado pelos festeiros após a Reforma do local. Tia Ciata nasceu em
Salvador em 1854, e aos 22 anos, trouxe da Bahia o samba para o Rio de Janeiro. Foi a
mais famosa das tias baianas, trazendo também o candomblé, do qual era uma ialorixá.
Na casa da Tia Baiana foi criado "Pelo Telefone", o primeiro samba gravado em disco,
no ano de 1916, assinado por Donga e Mauro de Almeida. Na sua residência ecoavam
livremente os batuques do samba e do candomblé.
Segundo Mary Karash, das danças escravas, como o lundu, capoeira e jardineira, a que
ficou conhecida no século XIX por "batuque" é a mais próxima do samba carioca
moderno.
O termo SAMBA, possuía uma clara origem angolana. O verbo kusamba, que
significava saltear e pular, provavelmente expressasse uma grande sensação de
felicidade.
Hoje,"O Samba é considerado como um produto da história social brasileira". De
acordo com o presidente do Iphan, "O gênero musical e coreográfico pode ser
considerado tanto como sendo próprio de comunidades culturais identificáveis
(executantes e brincantes inseridos em agrupamentos sociais de pequena escala) e
também no contexto da vida urbana, e da indústria cultural mediatizada. O vigor do
Samba enquanto gênero cultural encontra-se em sua plasticidade e capacidade de gerar
inúmeras variantes,
como o samba-de-roda, o samba carioca, o samba rural paulista, a bossa nova, o samba-
reggae e outros mais, em suas diversas interpretações."
Aqui na Vila Isabel, que é de Noel, e de Martinho, devemos a ele esta história. Ele que,
nos anos 70, fez sua primeira viagem ao continente negro e durante muitos anos foi a
ponte entre o Brasil e Angola, sendo considerado um Embaixador Cultural. Levou a
música brasileira como um presente ao povo amigo e irmão, através das vozes tão
brasileiras de Caymmi, João Nogueira, Clara Nunes e ainda Chico Buarque, Miúcha,
Djavan, D. Ivone Lara, entre outros. Três anos mais tarde, Martinho elaborou um
projeto trazendo a música angolana para os brasileiros, a que chamou de O Canto livre
de Angola.
Nosso samba.... seu semba ...por isso enquanto eu sambo cá.... você semba lá...
AUTORES DO ENREDO: Rosa Magalhães (Carnavalesca) & Alex Varela (historiador)
Mentor do enredo: Martinho da Vila
Bibliografia consultada:
ABREU, Martha. O Império do Divino. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999.
ALENCASTRO, Luis Felipe. O Trato dos Viventes. A Formação do Brasil no Atlântico
Sul. S. Paulo: Cia. das Letras, 2000.
KARASCH, Mary C. A Vida dos Escravos no Rio de Janeiro, 1808-1850. São Paulo:
Companhia das Letras, 2000.
LOPES, Nei. Kitabu. Rio de Janeiro: Editora Senac, 2005.
MARTINHO DA VILA. Kizombas, Andanças e Festanças. Rio de Janeiro: Léo
Christiano Editorial, 1992.
MOURA, Roberto. Tia Ciata e a Pequena África do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro:
Arquivo Público do Estado, 1992.
RODRIGUES, Jaime. De costa a costa: Escravos, Marinheiros e Intermediários no
trafico de Angola ao Rio de Janeiro. São Paulo: Editora Schwarcz, 2005.
SÃO CLEMENTE
"Uma aventura musical na Sapucaí"
A São Clemente tem uma espécie de dever: dever de sonhar, e sonhar sempre!
E assim nossa Escola se constrói em ouros e sedas,
Inventa palcos, cenários, para viver o seu sonho:
Lutar quando é fácil ceder, vencer o inimigo invencível, negar quando a regra é vender;
voar num limite improvável, tocar o inacessível chão!
(Do musical Homem de La Mancha, e da Poesia de Fernando Pessoa)
ENREDO: UMA AVENTURA MUSICAL NA SAPUCAÍ
Na escuridão do terceiro-sinal, foco de luz no mestre-maestro, delirantemente aplaudido
pela gente que vai assistir a aventura musical. Silêncio.
Prólogo: Seguindo o apito e a batuta, a orquestra no recuo do fosso ataca, e há música
encantadora no ar; é quando a cortina amarelo-negra abre-se lentamente! "Gatos" (Cats)
esgueiram-se na arquibancada/platéia, e vão evocando as "Memórias", refazendo a
História: "Senhoras e senhores, bem-vindos ao desfile do 'Teatro Musical Brasileiro'! E
por quê apaixona-se a São Clemente pelo início do teatro musicado no Brasil? Porque,
como ela, as operetas curtas daquele tempo eram satíricas, críticas e irreverentes. E
aproximavam o povão da mais fina arte! Influência francesa que gerou nos trópicos, um
'u-lá-lá' pra lá da malandragem. Mais ou menos 1850. bom humor era tudo, rapidez
rimava com qualidade, e, para quem entende, um pingo é letra: a parisiense nasceu na
Lapa, e ia da canção, do xote à valsa, da mazurca ao tango. Só no truque da ingênua
maliciosa, e o diabo que a carregue lá pra casa!".
Luz em resistência. Um astro vai descendo a alegórica escadaria de luzinhas piscantes,
acompanhado daquilo que secretamente nos bastidores chamamos da sua "Comissão de
Frente": lindíssimas vedetes, em maiôs cavados com franjas de diamantes falsos e
transparência sobre os seios, escoltadas por bailarinos, luxuosamente vestidos em
fraques. A vida é um "Cabaret". Ouve-se a voz do Mestre de Cerimônia: "Ora, se os
desfiles de Escolas de Samba são os maiores dos musicais de que se tem notícia, nada
melhor que esta grande aventura musical clementiana falar em ritmo de samba, de como
viveu e vive esse grande e longevo negócio, que reúne na ribalta, empresários, artistas,
técnicos: a tal gente do show business – Nós! Avante legítimas representantes
carnavalizadas desta verve, as Comissões de Frente, espetáculo à parte na Avenida,
quando sobem pernas, arrancam roupas, despertam o aplauso e o inesperado acontece: é
a Broadway tupiniquim! A abertura é mágica!".
O palco/passarela abre-se, e sobe o espetacular elevador com a sua montanha verdejante
onde "A Noviça Rebelde" rodopia, cantando para as suas crianças que a "Música, é
Divina Música": "Precisa de dinheiro para botar o bloco na rua, levantar cenários,
contratar estrelas, fazer figurinos, vender bilhetes e acender a rica luz: aí o prazer do
público é total, quando a beça Estrela seminua com cara de safadinha, faz biquinho e
começa solfejando os acordes".
Desce da escuridão do urdimento a magistral teia com a "Mulher Aranha", arrebatadora
Rainha e Madrinha da Companhia. Das laterais, no chão surgem as mulatas com o
estonteante figurino "Sopro de Purpurina". O primeiro setor de assentos, em suspense,
puxa o fôlego, sem acreditar na tamanha opulência flutuante sobre si. Confetes
prateados caem salpicados. A aracnídea está em êxtase, pendurada quase solta no
espaço, e declama coquete: "Leques de plumas abanam em glória a primeira das
grandes: Chiquinha Gonzaga! E o Brasil era cantado em prosa, verso e música em 1885,
com um pé no caipira e outro na cidade grande. Festa de São João, conversa de
botequim, prosa de malandro, vida de bairro, amor feliz. Artur Azevedo apareceu logo
depois, saindo através de uma cortina de gotas de vidro: adorava meter o pau (ui!) no
político-social, sem jamais esquecer "pernas à mostra e seios nus...". Igualzinho ao
carnaval! Olhar bem humorado, uma forma de ver a vida: temas alegres, língua
apimentada e um bububú no bobobó. Duplo sentido, para um povo cujo sexto sentido
avisava que de perto ninguém é normal".
Uma parede de elásticos brilhosos é atravessada por ritmistas, quando ouve-se a sirene:
- Teatro?, pergunta a "Bela". – Musical?, devolve a "Fera". – Sapucaí!, Exclamam os
dois juntos. Entre românticos balanços de flores, o casal avança na narrativa: "A cena, a
dança, a cantoria. Sopravam ventos de influência da Liberdade, América, numa
revolução cenográfica e coreográfica. Tiraram a orquestra, botaram a banda, e o público
exigia que arrancassem as meias daquelas pernas que eles queriam ver em pele. E veio a
fantasia musicada na Praça Tiradentes: era hora das estrelas de primeira grandeza dando
ataque e atraindo multidões, divas da pá virada em decotes abissais e rabo de penas
raras. Fila na porta, empurra-empurra e o ingresso a tapa: todos pagavam para ver a
belíssima e talentosa Loura falsa".
Do Balcão da Casa Rosada, envolta na fumaça de gelo-seco e construído do papelão e
compensado, "Evita" abre os braços. E, em vez de cantar "Não Chores por Mim
Argentina", inesperadamente faz seu tributo de amor ao musical brasileiro, porque o
espetáculo não pode parar (a não ser na frente do júri), e continua dobrando a esquina:
"Foi aí que o jogo avançou: girou a roleta do Cassino, porque o Brasil Pandeiro
esquentava seus tamborins e fazia os dados rolarem: todo o país queria Rosetá e em
1945 Walter Pinto mandava: "Canta Brasil". E não é que o país resolveu investir? A
maquinaria espetaculosa em efeitos de cena se tornou tão importante quanto as Estrelas.
Abre e fecha, sobe e desce, acende e apaga, ou dá ou desce! Deus é brasileiro, e do
limão estrangeiro fez-se uma limonada à tropicália, e o Brasil conhecia o Brasil. Deu tão
certo que o mito grego de Orfeu, quem diria, foi parar na favela brasileira; e a querida
senhora Pigmaleão armou sua barraca de feira por aqui. Com Carlos Machado o musical
brasileiro alcança sucesso internacional".
Uma gaiola espelhada é trazida pelo ciclone do "Mágico de Oz" e dentro está a menina
Dorothy. Guardas com cassetetes de strass batem no pobre Homem de Lata. "Os
Miseráveis" surgem pelas laterais, tentando socorrer. Parte triste da História, tentam
calar os Musicais Brasileiros: " A língua do Zé-Povinho estava afiada e fazia anedotas
com a vida dos poderosos. Tudo devidamente amordaçado pela censura, que fez a
cortina fechar pelos idos dos 60. Proibido proibir deu nó em pingo d'água e fez a tigresa
(Sonia Braga) estrelar e deixar todo mundo de cabelo (Hair) em pé, tal a força deste
libelo, que duas vezes o Brasil aclamou seduzido por tanta qualidade ideológica e
musical. Acordes para os hippies. Faça humor, não faça a guerra, nós temos um sonho:
deixe o sol entrar! Foi uma Roda-Viva para os brasileiros, cuja profissão sempre foi a
esperança. Como Calabar resistiram, a Gota d'água no oceano da incompreensão".
Deitada numa lua de paetês surge "Vitor ou Vitória". A indecifrável fala sobre gays,
machões e lembranças musicadas: "Nisso jogaram gliter. Anunciada a era de Aquarius,
houve o rompimento, a mudança, a fuga dos padrões e a busca do novo. Deboche de
músculos másculos, pernas cabeludas, cílios postiços e saltos altos. Foi com os Dzi
croquetes que devolvemos à Europa o que dela tínhamos recebido um século antes: o
vigor do teatro musicado, desta feita, andrógino. Mas isso era só um lado da moeda.
Faltava um pedaço, aquela marca de pegador do brasileiro, do machão que não é Mané.
E a sacada da Ópera do Malandro foi fazer do Brasil um bordel, quando o homem
brasileiro assumiu de vez sua vocação para o cantar, dançar e interpretar. No rodopio
dos 80 e 90, do conteúdo político partimos para revisitar os mitos de nossa música
popular. Ganhou o samba, que viu de novo Assis Valente, as Irmãs Batista e Elizeth
Cardoso, revividas e exaltadas em grandes montagens; a música popular brasileira virou
fio condutor de uma torrente de paixões".
Todo o elenco internacional de imorredouros personagens, para sempre em nossos
corações, estão em cena. Entraram Arlequins, Pierrots e Colombinas para receberem
calorosos a carroça brasileira dos Saltimbancos, que fez cantar gerações seguidas de
crianças, e "Sassaricando, e o Rio inventou a Marchinha...". O flash, a emoção do
sassarico, porque sem sassaricar, esta vida é o "ó"! Maria Escandalosa junto com a
Galinha e o Jumento, brasileiríssimos, cantam "Yes, Nós temos Bananas". Pós
modernos, falam da virada do terceiro milênio.: O Brasil e o mundo, a aldeia global
fazendo prosperar abaixo da linha do Equador o que antes era reserva de Nova York,
Las Vegas, Paris e Londres: o trânsito de diretores, produtores, autores, a festa das
platéias brasileiras. O mistério extraordinário do musical: Raia equilibrava-se na
pequena Loja dos Horrores; esfregávamos os olhos para saber se era verdade que a
mesma Bibi que cantava o pequeno pardal Piaf, também se rasgava nas entranhas ao
cantar os fados de Amália; Marília podia ser Dalva de Oliveira ou Elis, ou todas Elas
por Ela; e agora José Mayer é o definitivo Violinista no Telhado.
Grande dança final, com toda a companhia executando impecavelmente a marcação
coreográfica e o canto afinado do Samba-Enredo. Ciclorama da vida, mágica do Teatro,
entretenimento profissional apaixonado. A fagulha que restará eterna. Milhares de
microlãmpadas formam palmeiras artificiais, orgulhosas de serem simulacros. Micos
leão- dourados de acetato caem pendurados. "Deus lhe pague": "Dizer que conseguimos
copiar de maneira impecável as montagens estrangeiras é pouco: damos um passo à
frente, vamos além da virtuose técnica, adicionamos à perfeição deles o chica-chica-
boom da gente bronzeada que faz pulsar o já montado, de maneira diferenciada. Há um
quê de povo renovador em nós".
Epílogo: surge o Fantasma da Ópera voando a bordo de seu colossal lustre de cristal.
Por trás da mascara misteriosa, há uma lágrima verde-amarela, de amor a esta gente
incansável que monta Musicais. São os sonhadores: "Musicais são janelas para o
imaginário de um povo, cuja qualidade é viver no País das Maravilhas. Que a Ópera de
Paris seja a Marquês de Sapucaí e que o fantasma vague em nossas memórias,
reafirmando o direito ao sonho. Mascaradas, faces de papel em desfile, é chegada a
hora. Avante brincantes do mundo do carnaval musical, pois não há, no mundo dos
humanos, gente parecida contigo. Vai ter fim a infinita aflição, e o mundo vai ver uma
flor brotar, do impossível chão!".
Feliz é a São Clemente, que da grandeza deste gênero faz o seu carnaval. Feliz meu
samba, que sai pela vida em alegria incontida, nessa maravilhosa aventura musical.
Revoada de graças translúcidas parte em direção ao pôr-do-sol, no infinito. O perfil de
Carmem Miranda vai beijando Renato Russo, até desaparecer no Black-out.
Cai o Pano.
Fábio Ricardo
São Clemente 2012
Pesquisa: Tânia Brandão e Marcos Roza
UNIÃO DA ILHA DO GOVERNADOR
"DE LONDRES AO RIO: ERA UMA VEZ... UMA ILHA..."
Argumento
"Once upon a time", ou "ERA UMA VEZ"... é a forma mais popular, desde 1380, de
iniciar histórias em língua inglesa. E se tornou convencional na abertura de narrativas a
partir de 1600, da mesma forma que terminam com um: "E VIVERAM FELIZES
PARA SEMPRE". Prevalecem em contos de fadas para crianças e na tradição oral de
recontar mitos, fábulas e folclore.
A cada quatro anos o mundo se une para o grande momento do esporte e para celebrar a
paz. A cidade anfitriã faz em sua abertura uma representação artística de sua história e
sua cultura. No ano de 2012, Londres será a sede desse evento.
A União da Ilha fará uma versão bem carioca e carnavalesca dessa festa. E também uma
contagem regressiva para os jogos olímpicos do Rio de Janeiro.
Em vermelho, branco e azul, as mesmas cores do Reino Unido, a Ilha falará da Ilha que
sambará ao batuque da Ilha. Saint George, padroeiro da Inglaterra, estará ao lado de São
Sebastião do Rio de Janeiro, ambos padroeiros da nossa escola.
O fogo que atravessou nosso último carnaval nos uniu, assim como o fogo olímpico une
as nações. Superamos as dificuldades, assim como cada atleta supera seus limites para
atingir o pódio.
Era uma vez uma Ilha feita de alegria e muito samba que vai contar histórias de outra
Ilha. Incendiando a avenida misturando irreverência e tradição, vamos acender a pira
com o fogo da paixão e transformação. Foi dada a partida! A festa vai começar!!!
Sinopse
... Onde vivia um povo valente e guerreiro. Um dia, apesar de ser defendida com
bravura, um grande império a conquistou. O imperador invasor fundou uma cidade que
cresceria até se tornar uma das mais importantes do mundo.
Capital de um país e depois de um reino que se tornaria unido. Sua história é feita de
reis e rainhas, príncipes e princesas, e de heróis errantes.
Nobres cavaleiros cruzaram terras para defender a sua fé. Vestidos e armados com as
armas de um santo guerreiro e com sua cruz estampada na bandeira, seguiram em sua
saga de bravos, pondo sob as patas de seus fiéis ginetes o mais temível dragão.(1)
Nesta terra, a fantasia e a realidade se confundem. Em sua tradição, narram contos onde
espadas são encantadas e cálices são sagrados. Histórias de távolas redondas, fiéis
escudeiros e magos a serviço de um só Rei.
Nos palcos encenam histórias de amores impossíveis, comédias, dramas e tragédias.
Onde nesta noite de verão, há somente uma questão: ser ou não ser? Nas ambições por
um trono, até as "rosas" guerreiam. (2)
Em uma era dourada, conquistaram os mares e a Coroa aliou-se a corsários e piratas em
busca de inesgotáveis tesouros. Dominaram por séculos boa parte do planeta.
Lançaram, sob a ótica da ciência, um novo olhar sobre fatos naturais e a todo vapor se
tornaram condutores revolucionários, pondo o progresso nos trilhos e no campo do
pensamento. Publicaram temas que nos deram arrepios e nos levaram a um delirante
país das maravilhas.
Seus artistas brilharam nas telas e sob as luzes da ribalta. Com swing (3) encurtaram
medidas, mudaram comportamentos e deram uma chance à paz e ao amor.
Inventaram com a bola nos pés a nossa maior paixão.
Hoje convidam a todos para um encontro onde pessoas do mundo inteiro mostram o que
é superação, exaltando a cultura de paz. Saudemos aqueles que ultrapassam seus limites
e dentre esses os nossos patrícios que sempre nos enchem de orgulho.
Era uma vez... A nossa Ilha, onde também vive um povo valente e guerreiro, que
defende com bravura a sua bandeira. Que todo ano vem para conquistar o coração de
um lugar que cresceu até se tornar um dos mais importantes da terra e que em breve será
o próximo anfitrião. A Ilha é a pista para esse sonho aterrissar e a porta de entrada das
nossas vitórias.
Nessa grande paródia carnavalesca, vamos adiantar os ponteiros do relógio e imaginar
que a festa é aqui e agora. Acender a chama da paixão, incendiar de alegria toda a
cidade e renovar as esperanças.
Contos de fadas são como o carnaval, e sempre nos levam ao imaginário, sendo assim,
esta história não poderia terminar diferente: "E viveremos felizes para sempre".
Alex de Souza
Carnavalesco
(1) Referência á oração de São Jorge, Padroeiro da Inglaterra.
(2) Citações ás peças de Willian Shakespeare. O maior dramaturgo de língua inglesa.
(3) Swinging London foi uma expressão utilizada nos anos 60 para descrever a
vanguarda londrina. Swinging representaria algo com arrojo, moderno, etc.
ACADÊMICOS DO SALGUEIRO
"Cordel Branco e Encarnado"
(Cheio de poesia, imaginação e encantamento) apresenta:
Cordel Branco e Encarnado
Minha "fia", meu senhor
Deixa eu me apresentar
Sou poeta e meu valor
Vai na avenida passar
Basta imaginação
Um "cadim" de inspiração
Que eu começo a versar
Vou cantar a minha arte
Que nasceu bem lá distante
Num lugar que hoje é parte
Da nossa origem errante
Vim das bandas da Europa
Nas feiras, a boa trova
Era demais importante!
Foi assim que o mar cruzei
Na barca da encantaria
Chegou por aqui um Rei
Com bravura e poesia
Carlos Magno de França
Dele eu trouxe tal herança:
Meu reinado e fidalguia
E veio toda a nobreza
Que um dia eu imaginei
Rainha, duque, princesa
E até quem eu não chamei:
Um medonho de um dragão
Irreal assombração
Dessa corte que eu sonhei
Também tem causo famoso
Que nasceu lá no Oriente
De um tal misterioso
Pavão alado imponente
Que cruza o céu de relance
Dois jovens, e um só romance
Vencendo o Conde inclemente
Todas essas histórias
Renasceram no sertão
Onde vive na memória
O eterno Lampião
E não teve um brasileiro
Que de Antônio Conselheiro
Não tivesse informação
Pra viajar no meu verso
É preciso ter "corage"
Vai que um bicho perverso
Surge que nem "visage"?
Nas matas sertão afora
Lobisomem, caipora
Que medo dessas "image"!!
Mas pra que esse rebuliço?
Rezar é a solução!
Valei-me meu "padim" Ciço!
Vá de retro, tentação!
Nossa Senhora eu não quero
(Tô sendo muito sincero)
Cair nas garras do cão!
E não é que meu santo é forte?
Cheguei ao céu divinal
É tamanha a minha sorte
A minha vitória afinal
É cantar com alegria
Fazer verso todo dia
Na terra do carnaval
Vem chegando a tal hora
Da minha alegre partida
Saudade, palavra agora
Tem posição garantida
Mas não se avexe meu irmão
Que hoje a coroação
Acontece é na avenida
Lá vem ele a flanar
Por esse sertão sonhado
Um grande rei popular
Da corte do Sol dourado
Patativa do Assaré!!
Receba com muita fé
Um cordel branco e encarnado
E agora eu vou sem medo
Fazer festa "de repente"
Vai nascer um samba-enredo
Pra animar toda a gente
Afinal, não sou melhor
Muito menos sou pior
Só um poeta diferente!
Renato Lage, Márcia Lage, Departamento Cultural
Nobre compositor-trovador,
Eis aqui o nosso Cordel Branco e Encarnado que você vai transformar em samba de
grande inspiração. Este enredo é a nossa forma de louvar a todos os poetas populares
deste imenso, rico e tão maravilhoso país. A fantástica história do cordel unida à energia
"furiosa" da nossa bateria, dos versos e melodias com aquele tempero valente que só
você sabe criar, é a receita de um carnaval pra cabra nenhum botar defeito.
É "nóis", oxente!!!
ESTAÇÃO PRIMEIRA DE MANGUEIRA
"Vou Festejar! Sou Cacique, Sou Mangueira."
Tudo começou na África, num tempo em que eu era ainda moço e minha tribo estava a
mercê do perigo e os sacerdotes cuidavam de expulsar com reza forte as vibrações de
má sorte que rondavam nossa morada.
Lembro-me que os mensageiros da morte vieram de longe, do outro lado das águas,
talvez, não tivessem sequer no corpo o bronze da nossa pele, não tinham os lábios
carnudos, eram estranhos em tudo! E até mesmo esses detalhes que constroem a nossa
face, neles eram diferentes. Juro que inocente, pensei até em disfarce.
Conduzido pela dor, fui levado prisioneiro ao traiçoeiro Negreiro, o reino da apatia. Lá,
sujeito às doenças e a fome que habitavam aquele porão sombrio, caí no mais denso e
frio estado de melancolia.
E era como um açoite, a escuridão da noite, toda vez que ela chegava. E eu sofria
pesadelos, acordava assustado. Ainda na inocência, confundia a luz da vidência com as
trevas dos maus presságios.
Ao desembarcar, os pés feridos, descalços, vi quando o sal do oceano espalhou-se sobre
o chão molhado desenhando uma linda concha do mar e, ouvi a voz de Iemanjá me
falar: este "Mundo" é o teu "Novo" lar! Prepara-te, o teu futuro te reserva coisas lindas,
surpresas te virão ainda.
Já em terra firme, nos primeiros anos depois que saí da minha terra, suportei a mão
pesada da escravidão e as feridas da solidão.
Certa vez, escondido pelo breu da noite, resolvi caminhar na mata. Eu já andara
bastante. Com a respiração ofegante, parei pra descansar um instante.
E o sono foi me apagando, a cabeça meio tonta, eu já nem me dava conta do perigo de
dormir longe da senzala, do povo da minha tribo, sem a proteção de um abrigo.
E ali sonhei meu destino. No sonho um guerreiro caçador, o cacique dos índios,
passeava naquelas terras e me viu sentado sob uma tamarineira que ele havia plantado
no seu tempo de menino.
Sentou-se ali, ao meu lado, desenhou com seu arco, no chão, uma pequena flecha e, com
amabilidade, perguntou a minha idade, quis saber em que cidade eu havia nascido.
E eu, me sentindo à vontade lhe falei dos deuses iorubás, da minha terra natal, do
cordão umbilical, do rio da minha aldeia.
E ele, com calma, me falou do poder das folhas e das raízes que transformam em
cicatrizes ferimentos e mordeduras de aranhas e de serpentes; dos banhos quentes de
algumas ervas e sementes, que curam até os doentes de alma.
Ao voltar pra senzala era como se meu coração tivesse fala. O Rio de Janeiro era o meu
novo terreiro e nas batucadas, nas festas, na alegria das ruas, nas brincadeiras do povão,
encontrei meu destino e enganei a solidão.
Quando o Entrudo chegava uma maravilha de ruídos invadia as ruas, um barulho
encantador que contrastava com a sujeira reinante. Divertidas batalhas com limão de
cera, água e farinha branca atiradas sobre os participantes aconteciam a todo instante.
Zé-pereira, bumbos, rostos e bumbuns de negros azucrinando nas praças e no passeio
público, zombando, se divertindo, enquanto a viola chorava e espinoteava espantando a
tristeza. E tudo era instrumento, flauta, violões, pandeiros, latas, gaitas, frigideiras de
ferro, caixotes e trombetas. Instrumentos sem nome, inventados subitamente no delírio
da improvisação, do ímpeto musical, na força do sentimento.
Já que batucar na cozinha Sinhá não deixava, o nosso canto ecoava nas senzalas e
invadia as ruas. Aliás, na rua do Ouvidor, na rua Direita ou no Largo de São Francisco
tudo era canto e os sons sacudiam e movimentavam as vestimentas de cores vivas,
ardentes, dançando e tateando os corpos que exalavam o doce perfume da alegria.
A elite fazia biquinho e implicava, chamava nossa festa de selvagem e brutal e que o
verdadeiro carnaval estava nos salões da nobreza de Paris e Veneza.
Discriminada e com as autoridades policiais no encalço, a turma dos descalços e
descamisados tratou de arrumar um jeitinho para continuar festejando.
Com um olho no padre e outro na missa lutamos dançando, dançamos rezando e
rezamos cantando. As festas, celebrações e procissões dos brancos, agora, serviam
como máscaras e disfarces. Por trás delas festejávamos nossas entidades sagradas e
batucávamos até o sol raiar.
Organizados em Cordões carnavalescos, cantadores e dançarinos, palhaços, a morte, os
diabos, os reis, as rainhas, as baianas, os morcegos e os índios também entraram na
dança e colocaram a polícia pra dançar.
No noturno da Praça Onze, ali mesmo na nossa "Pequena África", os desfiles do Pastoril
e dos Maracatus em louvor à Ciata D'Oxum, a tia-mãe-baiana dos festejos, se tornaram
a sensação e os luxuosos Ranchos cantadores, dominados pelos negros e castanhos,
rompiam a massa colorida em grande animação. Para matar a sede dos cantadores e dos
berradores, os refrescos de coco, os gelados de abacaxi e limão. Para a fome, bolos de
fubá, pé-de-moleque, alcaçuz, tapioca, manauê e feijoada no caldeirão.
Mascarada, a elite branca se esbaldava no luxo dos salões, nos desfiles dos corsos e das
grandes Sociedades. O povo negro e pobre, barrado no baile burguês, continuou dono
das ruas e vielas como legítimos senhores da folia.
Música, fanfarra, préstito, maxixe e, finalmente, de semba se fez samba. Abençoadas
por Nossa Senhora do Rosário, na Festa da Penha, as negras suspendiam as saias
rodadas e dançavam, nos requebros das ancas, no arranco das umbigadas. Enquanto os
senhores rezavam na parte alta das escadarias, na parte de baixo, a sensualidade era
religiosa, o ritmo dos batuques era sacerdotal e feiticeiro. Ali desaguavam os cantos e as
melodias de todo o povo brasileiro e os compositores da primeiríssima geração de
sambistas, testavam a popularidade do seu cancioneiro.
O tempo passou. A cidade se transformou em uma selva de pedra onde a "Onça" reinava
absoluta e era a principal atração. "Vejam todos presentes, olha a empolgação, este é o
Bafo da Onça que eu trago guardado no meu coração". Até que um dia, um "Cacique"
bamba entrou na folia e dividiu a tribo do samba sem vacilação. "Foi lá no fundo do seu
quintal que o samba pegou moral e agitou a massa, e o povo voltou a cantar e sorrir,
caciqueando aqui e ali, abrindo o coração pro amor".
De repente as ruas esvaziaram-se! Será que a "Onça" vacilou, foi beber água de cheiro e
se afogou?! Até mesmo o bravo "Cacique" parecia cansado das batalhas de confetes e
desanimou! Para onde teria ido a alegria? Onde estaria a espontaneidade que
transformava cem pessoas saídas de um bairro em quinhentas, em mil, sem ninguém se
conhecer?
Mas o samba é eterno, não tenho medo de responder! Ele até pode agonizar, mas jamais
irá morrer! A "Onça" marcou bobeira e não mais saiu da toca, mas o "Cacique",
malandro, mudou de oca, foi fazer morada à sombra de uma tamarineira e ali no
subúrbio da Leopoldina, abençoado por Oxossi, o pagode ecoou vindo do "Fundo do
Quintal" e embalado por banjos, repiques, tantãs e pandeiros conquistou o Brasil inteiro.
"Batam palmas, gritem, soltem a voz. Pra manter o pique só depende de nós"!
O carnaval, a partir daí, não terminava mais na quarta-feira de cinzas. Quase sem
querer, ele se fragmentou em diversas festas nos lares das famílias simples, em
animadas rodas de samba, em batuques sobre mesas de bares, confirmando que a tribo
do samba ainda queria apito, sem necessariamente o pau ter que comer!
Isso tudo já faz muito tempo. Hoje eu chego com o vento e volto aos pés da velha
tamarineira, sento-me novamente ao lado do guerreiro e de Oxossi em saudação ao meio
século de história do Cacique de Ramos. Nós somos as raízes e o Cacique é o tronco
desta árvore que deu frutos como Jorge Aragão, Almir Guineto, Arlindo Cruz, Dicró,
Mauro Diniz, Zeca Pagodinho, Luis Carlos da Vila e Neguinho da Beija-Flor, entre
outros nomes, além da dindinha Beth Carvalho um bendito fruto feminino entre tantos
homens.
Salve a tribo dos bambas; esse "Doce Refúgio" de pagodeiros e malandros no bom
sentido da palavra.
A tribo que bate tambor e faz ecoar o surdo de primeira pra saudar a sagrada tamarineira
e confirmar que o bom samba também mora em Mangueira.
Afinal, "onde eu cheguei, nem um mortal chegou, modesta parte nessa arte, Deus me
consagrou e o meu canto ecoou por todo universo, até em Marte o meu samba fez
sucesso!"
Por tudo isso vou festejar, pois sou Cacique, sou Mangueira!
Bibliografia:
1) Cacique de Ramos – Uma História que deu Samba.
Autor: Carlos Alberto Messeder Pereira.
2) Blocos.
Autor: João Pimentel.
3) Almanaque do Carnaval.
Autor: André Diniz
4) Ogundana – O Alabê de Jerusalém.
Autor: Altay Veloso.
UNIDOS DA TIJUCA
"O DIA EM QUE TODA A REALEZA DESEMBARCOU NA
AVENIDA PARA COROAR O REI LUIZ DO SERTÃO"
"Quero ser lembrado como o sanfoneiro que amou e cantou muito seu povo, o sertão,
que cantou as aves, os animais, os padres, os cangaceiros, os retirantes,
os valentes, os covardes, o amor."
Luiz Gonzaga
Toca a sanfona porque a festa vai começar!
Abre e fecha esse fole que a comitiva vai chegar
A Avenida é a estrada que leva sertão adentro
E ninguém que aqui está esquecerá esse momento
De lembrar que, em noite de estrela, nasceu um rei no sertão
Que virou majestade de tanto ensinar o baião
Andando e cantando a história de seu povo
Cem anos depois, ele vai ser coroado de novo
Convidamos reis e rainhas pra mostrar que desde menino
Luiz Gonzaga, o Lua, já tinha de astro o destino
Mostrava o sorriso e a alegria, cantava e dava lição
Mas lá no fundo guardava saudade no coração
Senhoras e senhores, o roteiro dessa viagem
Leva a terras distantes, onde um povo de coragem
Desafia a seca e a poeira, do barro ganha a vida
Esculpe a terra, tece a renda, de sol a sol nessa lida
No mercado, montam a banca e é bonito de se ver
E de tudo que há no mundo, nele tem para vender
Cores, cheiros, sabores da cultura nordestina
Lá se compra toda a sorte dessa vida Severina
Segue o comboio real, vai cruzando o caminho
No lombo do burro, chega às terras de Vitalino
O mestre da escultura, que todo mundo copia
Bonecos que contam a vida, as coisas do dia a dia
Mas pra conhecer o sertão, é preciso ter coragem
Atravessar a caatinga, seguir em frente a viagem
Pedir benção, rezar com fé, ser beato, ser romeiro
E reunir com toda a tropa, lá na Missa do Vaqueiro
Senhores, rainhas e reis, o Rei do Baião anuncia
Que, depois de tanta reza, vai crescer a valentia
É pegar a beira do rio, é ser Lampião e Corisco
Pra conhecer a beleza do Vale do São Francisco
Andar pela margem pra ver a vida que brota dos rios
O Velho Chico crescendo, com água que vem dos baixios
A cana, os frutos, o gado, o canto do passarinho
Cantar a saudade do rei, desse tempo de menino
Toca a boiada, vaqueiro! Segue em guarda o cangaço
Que cada afluente que corre do Velho Chico é um braço
Desce pro sul até ver carrancas que trazem a sorte
A cara feia que espanta não deixa ter medo da morte
"Simbora" que vem a noite, é hora de ver balão
Que as festas já começaram, tem "arraiá", tem quentão
São José foi no plantio, na colheita é São João
A quadrilha já tá pronta, vai ter forró e baião
E a sanfona anima o povo, todos vão se apresentar
Pra comitiva real, ao som do fole brincar
Bumba meu boi, maracatu, frevo, pagode e reisado
E tudo que precisar pra gente ficar animado
Foi cantando pelo sertão que Gonzaga virou rei
De tanto cantarem junto, sua canção hoje é lei
Da poesia na praça, da valentia e coragem
Sua lição ganha as rádios, difunde sua mensagem
Nas estações onde passa, vai contando sua vida
Espalha alegria e raça, hoje ganha a Avenida
E a Tijuca agora brinca e pra todo o mundo diz
Que a estrela de Gonzaga no céu descansa feliz.
Isabel Azevedo- Ana Paula Trindade - Simone Martins- Paulo Barros
ACADÊMICOS DO GRANDE RIO
"Eu Acredito em Você! E Você?"
Na manhã do dia 07 de Fevereiro de 2011 o G.R.E.S Acadêmicos do Grande Rio viu a
história de seu carnaval tomar novos rumos. Um incêndio destruía o que estava
construído para o desfile que se aproximava, bem como, toda sua estrutura de Barracão
e acervo de vinte e três anos de história. Naquele dia, parecíamos não termos nada. A
cena era de destruição e o sentimento era o de perda. Do Barracão, só os destroços de
um carnaval transformado em cinzas, antes da quarta-feira.
Na mesma semana havia um ensaio na quadra da Escola. A comunidade estava triste. A
Escola não estava feliz, mas há nisso um enorme porém: ninguém naquele ensaio
deixou de cantar! Ali, entre as lágrimas e o canto da comunidade, surgia o sentimento
que serviria de inspiração para o enredo do Carnaval que propomos agora. O povo de
Caxias havia entendido antes de todos nós, o que era preciso fazer. A comunidade
ensinava aos que haviam se abatido com o incidente, o que era necessário ser realizado:
era preciso superar!
A sinopse que apresentamos agora é fruto do sentimento compartilhado a partir do
momento em que fomos obrigados a superar uma adversidade imposta. Ela traduz um
momento particular da Escola, mas revela também que o ato de superar é pertinente e
recorrente junto à vida do homem. Debruçados sobre as histórias de alguns deles,
descobrimos incríveis exemplos que nos obrigam a acreditar na força em reerguesse
após o adverso.
É por isso que eu acredito em você!
E você?
EU ACREDITO EM VOCÊ!
E VOCÊ ?
(Histórias de Superação)
"A nossa maior glória não reside no fato de nunca cairmos, mas sim, em levantarmo-nos
depois de cada queda." (Confúcio).
Não me peça para desistir. Acredito, sigo em frente porque só sei caminhar! Não me
desanimo: caio, levanto, a volta por cima hei de dar. A força não está em mim: Para
quem do céu herdou a promessa, a vitória é coisa certa; a questão é esperar. Por entre as
nuvens os anjos se puseram a anunciar: "não te desespera, não deixa o desânimo tomar
conta de ti, tira os olhos das dificuldades e coloca-os em mim.
Com a palavra, o céu desce a terra. Das alturas, rica fonte de entusiasmo: a direita do
pai, a me guiar, aquele que ao enfrentar o adverso, foi grato exemplo da importância de
aprender a superar. Com os olhos fitos nos céus, sinto o calor luminoso que rompe a
barreira das nuvens que outrora foram de tempestade. Me banho junto às águas de
bonança que seguem após a revolta das marés. Me conforto, ganho ânimo, e um novo
carnaval assim eu faço: tudo o que renasce com maestria, todo aquele que enfrenta e
vence o que lhe desafia, faz crescer o que imagino, para construir um carnaval.
Na perda do amor que se foi, faço hora para o que virá. Se a saúde fizer despedida,
espero ela voltar. Não há medo, vício, ou preconceito, que eu não possa
enfrentar. Enfrento a perda e a dor, venço o medo com sabedoria, rimo a piada com o
que não tem graça, lhe conto um conto, de sabedoria popular: Não tema o que lhe
parece "maior", não te desespere diante ao que lhe parece impossível. Precisamos, dia-
a-dia, enfrentar e derrubar nossos temidos gigantes!
Por isso vos digo como exemplo a lhe ofertar: Se o som for sepultado em meus ouvidos,
faço melodia e canção no silêncio que habita a imaginação. Se na escuridão meus olhos
me lançarem, solto a voz para multidões, faço do canto, luz para iluminar.
Quando a dor me castigar, faço dela o incentivo para o entalhe mais perfeito da beleza
de um altar. Se pobre eu nascer, se a vida me bater, se a dor me esmagar; abro sorriso ao
adverso, luto de peito aberto, para as luzes da ribalta me consagrar! Se a vida me testar,
tirar-me o que julgo precisar, se a firmeza das mãos me faltar, o dom de Deus
resplandecerá e uma orquestra surgirá.
Na busca por superar, topo aceitar o desafio: Vou suar a camisa, correr distancias
longas, meu corpo está posto à prova; certamente, eu chego lá! Quero um lugar no
pódio, quero os louros da vitória, quero mérito por superar. Cambaleei, enverguei, não
desisti, e exemplo me tornei!
Na luta pela conquista, sou herói, sou atleta! Recebo sopro divino, corro em linha reta,
corro atrás de bola, um fenômeno surgirá. Alço as velas do meu barco e lavo minhas
dores nas águas do azul que tinge o mar. Em águas cristalinas nado com a força de um
tubarão, faço o mundo avançar em braçadas. Saltando próximo as nuvens, com os pés
no chão, ou sobre rodas, o que me guia é a superação!
Na história do homem sobre a terra, exemplos ei de dar: Quando um homem ajuda um
homem, não há dor coletiva que ele não possa curar. Avança o dia, avança a
noite. Corre o tempo, a tristeza fica pra trás. O que se expandiu junto a uma manhã que
explodiu, hoje é página virada, "rosa desbotada," que ninguém mais viu.
O que se destruiu, se reconstruiu. Onde o "preto" não era "branco," onde o "branco" não
era "preto", levantou-se a voz da nova ordem a anunciar a união. Dando a mão a um
irmão, tijolo por tijolo, lágrima por lágrima, erguemos um bem precioso, reconstruímos
uma Nação.
O vento sopra a bandeira verde e amarela e faz o exemplo de seus filhos brilharem em
nossos olhos. São "Joãos" "Marias," "Silvas," "moleques" que correm descalços,
trabalhadores do asfalto, gente que luta, gente que vence. São mulheres que rompem as
barreiras das limitações. São homens que vencem a "seca" e o "pau de arara,"para
ocupar, quem sabe, o mais alto posto no comando da Nação. Jovens que ultrapassam os
barracos da cidade. Mães que fazem da luta prova de superação. Homens e mulheres
que levantam a poeira do chão, guerreiros que batem samba na palma da mão; a baiana
que gira, o sorriso da velha-guarda, o passista que risca o chão, a bateria que marca o
pulsar do coração, gente que "enverga mas não quebra", gente que vem a ser o
significado mais claro e puro para o nome SUPERAÇÃO!
Cahê Rodrigues – Carnavalesco
Pesquisa e texto: Leandro Vieira, Lucas Pinto e Cahê Rodrigues
Dedico este enredo a todos os profissionais, artistas e voluntários que juntos
reconstruíram o carnaval de 2011, levando para o Sambódromo carioca um desfile de
garra, dedicação, amor, amizade, união e superação.
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