richard rorty stanford
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8/9/2019 Richard Rorty Stanford
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Richard Rorty
Texto original por Bjrn HambergThe Stanford Encyclopaedia of Philosophy
[http://plato.stanford.edu/entries/rorty]Traduo: Leonel Coutinho Afonso
Reviso: Profa. Leda Maria de MoraesReviso Tcnica: Prof. Paulo Roberto Margutti Pinto
A marca distinta e controversa do pragmatismo de Richard Rorty se expressa ao
longo de dois eixos principais. Um negativo um diagnstico crtico do que
Rorty considera os projetos que definem a filosofia moderna. O outro positivo
uma tentativa de mostrar como a cultura intelectual se pareceria, uma vez que
nos libertssemos das metforas que regem a mente e o conhecimento nas quais
os problemas tradicionais da epistemologia e metafsica (e de fato, na viso de
Rorty, a auto-concepo da filosofia moderna) esto enraizados. A parte central
da crtica de Rorty o ponto de vista provocativo presente em Philosophy and the
Mirror of Nature (1979, daqui em diante referido como PMN). Neste livro e nos
ensaios fortemente relacionados a ele reunidos em Consequences of Pragmatism
( 1982, daqui em diante referido como CP), o principal alvo de Rorty a idia
filosfica de conhecimento como representao, como um espelhamento mental
de um mundo externo mente. Oferecendo uma idia contrastante de filosofia,
Rorty procurou integrar e aplicar as conquistas notrias de Dewey, Hegel e
Darwin em uma sntese pragmatista do historicismo e naturalismo.
Caracterizaes e ilustraes de uma cultura intelectual ps-epistemolgica,
presente tanto no PMN (parte III) quanto no CP (xxxvii-xliv), so desenvolvidas de
forma mais rica em trabalhos posteriores, tais como Contingency, Irony, and
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Solidarity ( 1989, daqui em diante referido como CIS) e nos trs volumes de
artigos filosficos, Objectivity, Relativism, and Truth (1991, daqui em diante
referido como ORT); Essays on Heideger and Others (1991, daqui em diante
referido como EHO); e Truth and Progress(1998, daqui em diante referido como
TP). Nesses escritos, que abordam um territrio intelectual mais amplo que o
normal, Rorty oferece uma viso multifacetada e altamente integrada de
pensamento, cultura e poltica que o tornou um dos mais amplamente discutidos
filsofos que ainda escrevem.
1. Resenha Biogrfica
2. Contra a Epistemologia
3. Cultura Pragmatizada
4. Rorty e Filosofia
Bibliografia
Outros recursos na Internet
Entradas Relacionadas
1. Resenha Biogrfica
Richard Rorty nasceu no dia 4 de outubro de 1931 na cidade de Nova Iorque. Ele
cresceu, como ele narra em Achieving Our Country (1998, daqui em diante
referido como AC), na Esquerda reformista e anticomunista no meio do sculo
(AC 59), dentro de um crculo que combinava antistalinismo com ativismo social
esquerdista. Naquele crculo, nos diz Rorty, patriotismo americano, economia
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redistribucionista, anticomunismo e pragmatismo deweyano se relacionavam de
forma fcil e natural. (AC 61) Em 1946 Rorty foi para a Universidade de Chicago,
para um departamento de filosofia que na poca inclua Rudolph Carnap, Charles
Hartshorne e Richard McKeon, todos os quais foram professores de Rorty. Depois
de se graduar em 1949, Rorty continuou em Chicago para completar seu
mestrado (1952) com uma tese sobre Whitehead supervisionado por Hartshorne.
De 1952 a 1956 Rorty esteve em Yale, onde ele escreveu uma dissertao cujo
ttulo era The Concept of Potentiality. Seu supervisor era Paul Weiss. Depois de
completar seu Ph.d., seguido por dois anos no exrcito, Rorty recebeu sua
primeira indicao acadmica para trabalhar em Wellesley College. Em 1961,
depois de trs anos em Wellesley, Rorty mudou-se para a Princeton University
onde ele ficou at mudar para a Universidade de Virginia, em 1982, como
Professor Kenan de Humanidades. Rorty deixou a Universidade de Virginia em
1998, aceitando uma indicao para o Departamento de Literatura Comparativa
na Stanford University. No curso de sua carreira, Rorty recebeu vrios prmios
acadmicos e homenagens, incluindo um prmio da Sociedade Guggenheim
(1973-74) e um da Sociedade MacArthur (1981-1986). Ele apresentou vrias
palestras de prestgio, dando, entre outras, as palestras Northcliffe no University
College em Londres (1986), as palestras Clark no Trinity College em Cambridge
(1987) e as palestras Massey em Harvard (1997)
2. Contra a Epistemologia
2.1 Behaviorismo Epistemolgico
2.2 Antirepresentacionalismo
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2.3 Racionalidade, Cincia e Verdade
Na viso de Rorty, A epistemologia moderna no s uma tentativa de legitimar
nossa alegao de conhecimento do que real, mas tambm uma tentativa de
legitimar a prpria reflexo filosfica uma tarefa premente, por vrias razes,
uma vez que o advento da nova cincia gradualmente deu contedo para uma
idia de conhecimento obtido pela interrogao metdica da prpria natureza.
Porque o resultado desse tipo de interrogao, o conhecimento emprico terico,
to obviamente frutfero, e tambm carrega consigo normas incontroversas de
progresso, sua mera presena coloca um desafio de legitimao para uma forma
de pensamento e alegao de conhecimento que diferente dele. A
epistemologia cartesiana, na descrio de Rorty, feita para enfrentar esse
desafio. Ela ctica de uma maneira fundamental; Dvidas cticas de um tipo
Cartesiano, isto , dvidas que podem ser levantadas sobre qualquer conjunto de
qualquer tipo de alegaes empricas e portanto no podem ser aliviadas pela
experincia, so feitas sob encomenda para preservar de uma vez por todas um
domnio e um trabalho para a reflexo filosfica. O objetivo de Rorty no PMN
desestruturar as pressuposies que permitem que esse projeto de dupla
legitimao faa sentido.
2.1 Behaviorismo Epistemolgico
A convico bsica por trs do ataque de Rorty epistemologia
representacionalista feita no PMN a de que qualquer vocabulrio opcional e
mutvel. O livro informa, por exemplo, a genealogia (captulo um) e
desconstruo (captulo dois) do conceito de mente oferecido na primeira parte do
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livro, Our Glassy Essence. Essa convico historicista, no entanto, no ela
mesma um tema central do PMN, e ela s emerge para a discusso explcita na
seo final do livro, Philosophy, que a mais curta e, em alguns aspectos, a
menos desenvolvida de suas trs partes. O ncleo argumentativo do PMN
encontrado em sua segunda parte, Mirroring. Aqui, Rorty desenvolve e estende
um grupo diverso de argumentos notavelmente de Wilfrid Sellars, Willard Van
Orman Quine, Thomas Kuhn, Ludwig Wittgenstein e Donald Davidson em uma
crtica geral do projeto que define a epistemologia moderna, ou seja, as
concepes de mente, conhecimento e filosofia passadas pelos sculos XVII e
XVIII. A alegao chave de Rorty a de que a imagem kantiana de conceitos e
intuies se juntando para produzir conhecimento necessria para dar sentido
idia de teoria do conhecimento como uma disciplina especificamente filosfica,
distinta da psicologia. (PMN 168).
Segundo Rorty,
Isso equivalente a dizer que se ns no tivermos uma distino
entre o que dado e o que adicionado pela mente, ou entre o
contingente (porque influenciado por aquilo que dado) e
necessrio (porque est completamente dentro da mente e sob seu
controle), ento ns no saberemos o que contaria comoreconstruo racional do nosso conhecimento. Ns no saberemos
o que o objetivo ou mtodo da epistemologia poderiam ser. (PMN
168-9)
Epistemologia, na viso de Rorty, associada a uma imagem da estrutura da
mente trabalhando no contedo emprico para produzir em si mesma itens
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pensamentos, representaes que, quando as coisas vo bem, espelham
corretamente a realidade. Diminuir a fora dessa imagem em nosso pensamento
desafiar a idia de que a epistemologia seja a cartesiana tradicional, seja a
lingstica do sculo XX a essncia da filosofia. Para alcanar esse fim, Rorty
combina uma leitura do ataque de Quine a uma verso da distino entre
estrutura e contedo em Two Dogmas of Empiricism (1952), com uma leitura do
ataque de Sellars idia do dado em Empiricism and the Philosophy of Mind
(1956/1997). Na leitura de Rorty, apesar de nem Sellars nem Quine serem
completamente capazes de receber a influncia libertadora um do outro, eles
esto, na verdade, atacando a mesma distino ou grupo de distines. Enquanto
Quine lana dvidas sobre a noo de estrutura ou significado que a
epistemologia transformada lingisticamente colocou no lugar das entidades
mentais, Sellars, questionando a prpria idia do dado, atacou distino pelo
outro lado:
... Sellars e Quine evocam o mesmo argumento, um que sustenta a
igualdade entre as distines dado-versus-no-dado e necessrio-
versus-contingente. A premissa crucial desse argumento que ns
entendemos o conhecimento quando entendemos a justificao
social de crena, e portanto no temos necessidade de v-la comopreciso de representaes. (PMN 170)
O resultado final das crticas de Quine e Sellars aos mitos e dogmas da
epistemologia , como Rorty sugere, que ns vemos o conhecimento mais como
uma matria de conversao e prticas sociais do que como uma tentativa de
espelhar a natureza. (PMN 171) Rorty oferece uma explicao a essa viso:Explicando a racionalidade e a autoridade epistmica por referncia ao que a
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sociedade nos deixa dizer, ao contrrio de explicar o ltimo pelo primeiro, a
essncia do que eu chamarei de behaviorismo epistemolgico, uma atitude
comum a Dewey e a Wittgenstein.( PMN 174)
O behaviorismo epistemolgico no deixa espao para o tipo de legitimao
transcendente prtica que Rorty identifica como a aspirao da epistemologia
moderna. Pressupondo que as prticas epistmicas divergem, ou ao menos
podem divergir, no surpresa alguma que o comprometimento de Rorty com o
behaviorismo epistmico leve a cargas de relativismo ou subjetivismo. Na
verdade, muitos que compartilham o ceticismo historicista quanto a ambies
transcendentes da epistemologia crticos amigveis como Hilary Putnam, John
McDowell e Daniel Dennett so contra a idia de que no h restries para o
conhecimento exceto os conversacionais. Ainda assim, esse uma parte central
da posio de Rorty, repetida e elaborada mesmo recentemente, como no TP. De
fato, ele a evoca precisamente para defletir esse tipo de crtica. Em Hilary
Putnam and the Relativist Menace, Rorty diz:
Resumindo, minha estratgia para escapar das dificuldades auto-
referenciais nas quais o Relativismo vive se colocando mover
tudo da epistemologia e metafsica para a poltica cultural, desde
alegaes de conhecimento e apelos para a auto-evidncia a
sugestes sobre o que ns devemos tentar. (TP 57)
mais fcil ver que o behaviorismo epistemolgico diferente de outras formas
de relativismo e subjetivismo sob a luz da crtica de Rorty noo de
representao e s inmeras imagens filosficas que a cercam.
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2.2 Antirepresentacionismo
A posio duradoura de Rorty quanto ao relativismo e ao subjetivismo a de que
ambos so produtos do paradigma representacionalista. Apesar do tema ser
explcito em PM e CP ( Pragmatism, Relativism, Irrationalism ), com a
apropriao futura que Rorty faz de Davidson que sua crtica idia de
conhecimento como representao fica completamente elaborada (ORT
Introduction e Parte II). Partindo da crtica distino entre esquema e contedo
feita por Davidson (On the Very Idea of Conceptual Scheme) e da teoria daverdade como correspondncia (The Structure and Content of Truth), Rorty
capaz de dar suporte sua rejeio de qualquer posio ou projeto filosfico que
tente traar uma linha geral entre o que feito e o que encontrado, o que
subjetivo e o que objetivo, o que mera aparncia e o que real. A posio de
Rorty no a de que esses contrastes conceituais nunca tm aplicaes, mas
que tais aplicaes so sempre ligadas a contextos e interesses e que no h,
como no caso da mencionada noo de verdade, nada a ser dito sobre eles em
geral. O comprometimento de Rorty com a viso conversacionalista de
conhecimento deve portanto ser distinguida do subjetivismo ou do relativismo que,
como Rorty argumenta, pressupem as prprias distines que ele busca rejeitar.
Igualmente, o behaviorismo epistemolgico de Rorty no deve ser confundido
com um idealismo que afirma a primazia do pensamento ou linguagem com
respeito ao mundo no mediado, j que essa , tambm, uma posio podada
pela posio Davidsoniana de Rorty. Sob a luz da viso de verdade e significado
que Rorty apropria de Davidson, seu conversacionalismo no um problema de
dar prioridade ao subjetivo sobre o objetivo, ou ao poder da mente sobre a
restrio do mundo. Ao invs disso, ele o outro lado de seu
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antirepresentacionalismo, que nega que estejamos relacionados com o mundo em
outros termos que no sejam causais. Em outras palavras, Rorty argumenta que
ns no podemos dar qualquer contedo til para a noo de que o mundo, por
sua prpria natureza, racionalmente restringe escolhas de vocabulrio com o qual
lidar. (TP The Very Idea of Human Answerability to the World: John McDowells
Version of Empiricism).
2.3 Racionalidade, Cincia e Verdade
Atacando a idia de que ns devemos reconhecer a restrio normativa do
mundo sobre nossos sistemas de crenas se formos sujeitos racionais, Rorty
traou um grande nmero de crticas que levam as cincias, particularmente as
cincias naturais, como o ponto principal de referncia. Dois pontos gerais de
crtica so freqentemente levantados. O primeiro insiste que a cincia consiste
precisamente no esforo de aprender a verdade sobre como as coisas so
atravs de metodicamente nos permitirmos ter nossas crenas restringidas pelo
mundo. Sobre essa viso, Rorty est simplesmente negando a prpria idia de
cincia. O outro tipo de crtica procura ser interno: se a viso de cincia de Rorty
fosse prevalecer, os cientistas no se sentiriam mais motivados a continuar como
so; a cincia deixaria de ser a coisa til que Rorty acha que ela (veja, por
exemplo, Bernard Williams, Auto da Fe em Malachowski). No entanto, a viso de
Rorty sobre a cincia mais complicada do que ele mesmo s vezes mostra. Ele
diz: Eu tendo a ver a cincia natural como parte do negcio de controlar e prever
coisas, e como largamente intil para propsitos filosficos. (Reply to
Hartshorne, Saatkamp 32) Ainda assim ele passa uma boa parte do tempo
traando uma imagem alternativa das virtudes intelectuais que a boa cincia
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incorpora (ORT Parte I). Essa uma imagem que evita a noo de que a cincia
tem sucesso, quando tem, em virtude de estar em contato com a realidade de
uma maneira especial, o tipo de maneira que os epistemologistas, quando tm
sucesso, conseguem clarificar. especificamente nesse sentido que Rorty nega a
cincia como filosoficamente significante. A boa cincia pode ainda assim ser um
bom modelo de racionalidade, segundo Rorty, exatamente na medida em que a
prtica cientfica teve sucesso em estabelecer instituies que conduzem a uma
troca democrtica de vises.
A fora provocativa e contraintuitiva do tratamento que Rorty d racionalidade e
cincia em termos da tica conversacional inegvel. Por outro lado,
importante perceber que Rorty no est negando a existncia de qualquer uso
bona fidede noes como verdade, conhecimento e objetividade. Na verdade, o
argumento de Rorty o de que nosso uso ordinrio dessas noes sempre
negociam sue contedo e apontam para caractersticas particulares dos seus
variados contextos de aplicao. Seu prximo argumento o de que quando ns
abstramos para fora desses diferentes contextos e prticas em busca de noes
gerais, ns ficamos com hipotetizaes puras e abstratas incapazes de nos
prover com qualquer guia para a ao. O resultado final, segundo Rorty, que
ns simplesmente no temos um conceito de realidade objetiva que pode serevocado tanto para explicar o sucesso de alguns grupos de normas de garantia,
quanto para justificar que alguns grupos de padres superem outros. Talvez isso
fique mais claro no tratamento que Rorty d ao conceito de verdade. Com
respeito verdade, a retrica e a estratgia filosfica de Rorty realmente mudou
nas ltimas trs dcadas. Mesmo to tardiamente quanto em 1982 (no CP) ele
ainda tenta articular sua viso de verdade utilizando-se da famosa definio de
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William James em termos do que bom segundo a crena. Logo depois disso, no
entanto, Rorty comea a duvidar da utilidade de qualquer teoria da verdade, e
seguindo o caminho de Davidson, rejeita todas as tentativas de explicar a noo
de verdade em termos de outros conceitos. A viso madura que Rorty tem da
utilidade e significncia do conceito de verdade elaborada pela primeira vez em
Davidson, Pragmatism and Truth, em ORT. Expresses recentes so
encontradas na primeira de duas palestras sobre Espinosa proferidas na
Universidade de Amsterd em 1997, Is it Desirable to Love Truth?, no artigo Is
Truth a Goal of Inquiry? Donald Davidson versus Crispin Wright (TP), assim
como nas introdues de TP e PSH respectivamente. Nesses escritos Rorty
argumenta que enquanto a verdade tem vrios usos importantes, ela mesma
no tem um objetivo pelo qual ns possamos lutar, acima e alm de garantias ou
justificaes. Seu argumento no o de que a verdade redutvel a garantia,
mas que o conceito no tem nenhum contedo criterial profundo ou com
substncia. Quer dizer, s existem explicaes semnticas a serem oferecidas
para explicar por que o caso que uma dada sentena verdadeira somente
quando suas condies de verdade so satisfeitas. Ento, buscar a verdade, em
oposio a garantia, no aponta para uma linha de ao possvel, pois ns no
temos medida alguma de que estamos nos aproximando da verdade a no ser um
aumento de garantia. De fato, para Rorty, isso o que faz o conceito to til, demodo no coincidentemente anlogo bondade; ele garante que nenhuma
sentena pode ser analiticamente certificada como verdadeira em virtude de
possuir alguma outra propriedade. A atitude de Rorty perante o conceito de
verdade tem sido muito criticada, geralmente no domnio de que a prpria noo
de garantia, de fato o conceito de crena em geral, pressupe a noo de
verdade. No entanto, pode ser que ns possamos justificar essas conexes sem
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supor que a noo de verdade assim envolvida serve de suporte para as noes
de crena e garantia com qualquer contedo normativo substantivo prprio. De
fato, a idia de que nem o conceito de verdade, nem os de objetividade e
realidade, podem ser evocados para explicar ou legitimar nossas prticas
inferenciais e nossos padres de garantia, a essncia do conversacionalismo de
Rorty, ou behaviorismo epistemolgico.
3. Cultura Pragmatizada
3.1 Naturalismo
3.2 Liberalismo
3.3 Etnocentrismo
Assimilar o behaviorismo epistemolgico, segundo Rorty, significa que ns no
podemos mais construir a autoridade da cincia em termos de alegaes
ontolgicas. Apesar de muitos discordarem, isso no significa, para Rorty,
denegrir ou enfraquecer a autoridade da cincia. De fato, uma caracterstica
proeminente da cultura ps-metafsica e ps-epistemolgica de Rorty passar
pelo naturalismo darwiniano.
3.1 Naturalismo
Ser naturalista no sentido de Rorty,
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ser o tipo de antiessencialista que, como Dewey, no v quebras
na hierarquia de ajustes aos novos estmulos cada vez mais
complexos a hierarquia que tem amebas se ajustando a mudanas
de temperatura na gua no fundo, abelhas danando e jogadores de
xadrez dando xeque-mate no meio, e pessoas fomentando
revolues cientficas, artsticas e polticas no topo. (ORT 109)
Na viso de Rorty, tanto o pragmatismo de Dewey quanto o darwinismo nos
encorajam a ver vocabulrios como ferramentas a serem referidas em termos dos
propsitos particulares aos quais elas podem servir. Nossos vocabulrios, sugere
Rorty, no tm uma relao mais representacionalcom uma natureza intrnseca
das coisas do que o focinho dos tamandus ou a habilidade dos pssaros
jardineiros quando esto tecendo.(TP 48)
A avaliao pragmatista de vrias prticas lingisticamente carregadas requer um
grau de especificidade. Da perspectiva de Rorty, sugerir que ns poderamos
avaliar vocabulrios tendo em vista suas habilidades de desvelar a verdade seria
como pretender avaliar ferramentas por suas habilidades de nos ajudar a
conseguir o que queremos ponto final. Qual o melhor? O martelo, a serra ou a
tesoura em geral? Perguntas sobre a utilidade s podem ser respondidas, comoRorty sugere, uma vez que ns damos substncia aos nossos propsitos.
A apropriao pragmatista que Rorty faz de Darwin tambm ameniza a
significncia da reduo. Ele rejeita o tipo de naturalismo que implica em um
programa de reduo nomolgica ou conceitual a termos comuns em uma cincia
bsica como representacionalista. O naturalismo de Rorty ecoa com o
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habilidade de se identificar com outros, de pensar sobre os outros como nossos
semelhantes em maneiras moralmente relevantes. (EHO Parte III; CIS Parte III) O
liberalismo reformista, com seu comprometimento com a expanso de liberdades
democrticas em uma solidariedade poltica cada vez maior , na viso de Rorty,
uma contingncia histrica que no tem base filosfica e no precisa dela.
Reconhecer a contingncia desses valores e do vocabulrio no qual eles so
expressos, ao mesmo tempo em que se mantm os comprometimentos, a
atitude do ironista liberal. (CIS ensaios 3,4) Ironistas liberais tm a habilidade de
combinar a conscincia da contingncia de seu prprio vocabulrio avaliativo com
um comprometimento com a reduo do sofrimento em particular, com um
comprometimento com o combate crueldade. (CIS ensaio 4, ORT Parte III) Eles
promovem sua causa mais atravs de redescries do que de argumentos. A
diferena entre o discurso argumentativo e a redescrio corresponde diferena
entre proposies e vocabulrios. Mudana na crena pode ser resultado de um
argumento convincente. Uma mudana no que ns percebemos como candidatos
interessantes ao valor-verdade resultado da aquisio de novos vocabulrios.
Rorty identifica o romantismo com a viso de que o segundo tipo de mudana
mais significante. (CIS Introduction, ensaio 1).
A verso romntica feita por Rorty do liberalismo tambm expressa na distinoque ele traa entre o privado e o pblico. (CIS) Essa distino geralmente mal
interpretada implicando que certos domnios de interao ou comportamento
deveriam ser isentos de avaliao em termos moral, poltico ou social. No entanto,
a distino traada por Rorty tem pouco a ver com tentativas tradicionais de traar
linhas de demarcao desse tipo entre um domnio privado e um pblico
determinar por quais aspectos de nossas vidas ns temos e por quais ns no
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temos que responder publicamente. A distino de Rorty, ao contrrio, atinge os
propsitos dos vocabulrios tericos. Ns deveramos, enfatiza Rorty, estar
contentes em tratar as demandas de auto-criao e de solidariedade humana
como igualmente vlidas, e ainda assim eternamente incomensurveis. (CIS xv)
A viso de Rorty a de que ns deveramos tratar, de um lado, vocabulrios para
deliberaes sobre bens pblicos e arranjos sociais e polticos, e do outro,
vocabulrios desenvolvidos ou criados na busca de conquistas pessoais, auto-
criao e auto-realizao, como ferramentas distintas.
3.3 Etnocentrismo
O ironista liberal de Rorty, reconhecendo e de fato, afirmando a contingncia
de seus prprios compromissos, explicitamente etnocntrico. (ORT Solidarity or
Objectivity) Para o ironista liberal,
... uma conseqncia do antirepresentacionalismo o
reconhecimento de que nenhuma descrio feita do ponto de vista
do olhar divino, nenhum gancho celeste provido por alguma cincia
contempornea ou ainda por ser desenvolvida vai nos livrar da
contingncia de termos sido aculturados da maneira que ns fomos.
Nosso aculturamento o que faz de certas opinies vivas,
importantes, ou forosas, enquanto deixa outras mortas, triviais ou
opcionais. (ORT 13)
Ento o ironista liberal aceita que o liberalismo burgus no tem outra
universalidade seno aquela transiente e instvel que o tempo, a sorte e o esforo
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discursivo podem ganhar para ele. Essa viso parece, para muitos leitores, uma
verso do relativismo cultural. A verdade que Rorty no diz que o que
verdadeiro, o que bom e o que certo relativo para um ethnos particular, e
ento, nesse sentido, ele no um relativista. Mas a preocupao com o
relativismo, que ele nos deixa sem uma maneira racional de adjudicar o conflito,
parece se aplicar igualmente para a viso etnocntrica de Rorty. A resposta de
Rorty dizer que, em um sentido de racional, isso verdade, mas em outro
sentido no , e recomendar que ns larguemos o primeiro. A posio de Rorty
a de que ns no temos noo alguma de garantia racional que ultrapassa, ou
transcende, ou estabelece as normas que os intelectuais liberais tomam como
definidoras da discusso reflexiva, aberta e completa. quimrico, sustenta
Rorty, pensar que a fora ou atratividade dessas normas podem ser aumentadas
por um argumento que no as pressuponham. igualmente intil procurar acusar
de irracionalidade aqueles que no as levam a srio. A persuaso quanto a
diferenas to fundamentais s atingida, se que atingida, por comparaes
concretas de alternativas particulares, pela elaborada descrio e redescrio dos
tipos de vida aos quais as diferentes prticas conduzem.
4. Rorty e Filosofia
4.1 Respostas s Crticas
4.2 Reivindicao ao Pragmatismo
4.3 Filosofia Analtica
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O amplo escopo da desconstruo metafilosfica feita por Rorty, junto com um
gosto por metforas sem lastro e uma narrativa histrica rpida e ampla fizeram
com que Rorty ganhasse uma forte reputao como um filsofo anti-filsofos.
Enquanto seus escritos desfrutam de um alto grau de popularidade alm dos
limites da profisso, o trabalho de Rorty geralmente tratado com suspeita e
ceticismo dentro da filosofia acadmica.
4.1 Respostas s Crticas
Como ns vimos, em conexo com a atitude de Rorty perante a cincia,
particularmente o tratamento que ele d verdade e ao conhecimento que atraiu
ataques de filsofos. Enquanto uma grande variedade de filsofos criticou esse
ponto geral em uma grande variedade de maneiras, no muito difcil discernir
uma preocupao comum; a viso conversacionalista que Rorty tem da verdade e
do conhecimento nos deixa completamente incapazes de explicar a noo de que
uma viso razovel de como as coisas so uma viso convenientemente
restringida por como o mundo realmente . Essa crtica levantada contra Rorty
no somente do ponto de vista do realismo metafsico e cientfico do tipo que
Rorty espera que logo estaro extintos. Tambm expresso por pensadores que
tm alguma simpatia com a viso historicista de Rorty sobre o progresso
intelectual e com suas crticas das caractersticas kantianas a platonistas da
filosofia moderna. Frank B. Farrell, por exemplo, argumenta que Rorty falha em
compreender a viso de Davidson sobre esse ponto, e alega que a viso
conversacionalista que Rorty tem da restrio de crena uma viso distorcida e
sem-mundo da imagem davidsoniana de como ocorre a comunicao entre os
agentes. De maneira similar, John McDowell, enquanto critica tambm as vises
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de Davidson sobre a epistemologia, alega que a viso de Rorty da relao entre o
agente e o mundo como meramente causal desrespeita a noo de que nosso
prprio conceito de uma criatura com crenas envolve a idia de uma restrio
racional do mundo em nossos estados epistmicos.
No entanto, os crticos esto preocupados no s com o que eles vem como
uma viso errnea de crena, verdade e conhecimento, seja ela de natureza
relativista, subjetivista ou idealista. Uma razo importante para a alta temperatura
de uma grande parte do debate que Rorty inspirou a de que ele parece, para
alguns, rejeitar os prprios valores que so a base para qualquer articulao da
viso filosfica de verdade e conhecimento. Rorty um crtico do papel do
argumento no progresso intelectual, e descarta a prpria idia de teorias da
verdade, do conhecimento, da racionalidade e afins. Filsofos como Hilary
Putnam e Susan Haack tm cada vez mais focado nesse aspecto das vises de
Rorty. Haack, em particular, coloca crticas a Rorty ao longo dessas linhas em
termos morais; para ela, os esforos de Rorty em abandonar os conceitos bsicos
da epistemologia tradicional so sintomas de um cinismo vulgar, que contribui
para o declnio da razo e da integridade intelectual que Haack e outros
consideram caractersticos de muito do pensamento contemporneo. A carga de
irresponsabilidade intelectual , s vezes, levantada ou ao menos sugerida, emconexo com o uso que Rorty faz de imagens histricas. A leitura que Rorty faz
de Descartes e Kant em PMN tem geralmente sido desafiada, assim como seus
usos mais construtivos de Hegel, Nietzsche, Heidegger e Wittgenstein. O tipo de
apropriao de outros autores e pensadores feita por Rorty vai, s vezes, parecer
violentar as vises e intenes dos protagonistas. Rorty, no entanto, muito claro
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quanto razo retrica e aos limites acadmicos desses tipos de redescries,
como ele explica em The Historiography of Philosophy: Four Genres.
4.2 Reivindicao ao Pragmatismo
Um ponto particularmente polmico surgiu em conexo com a apropriao de
Rorty de filsofos anteriores; leitores proeminentes do pragmatismo americano
clssico expressaram grande reserva quanto a interpretao que Rorty faz de
Dewey e Peirce, particularmente, e do movimento pragmatista em geral.Conseqentemente, a colocao de Rorty sob o ttulo de pragmatista tem sido
contestada. Recentemente, as fortes alegaes de Susan Haack sobre esse
assunto tm recebido muita ateno, mas existem muitos outros. (Veja, por
exemplo, as discusses sobre Rorty em Thomas M. Alexander, 1987; Gary
Brodsky, 1982; James Campbell, 1984; Abraham Edel, 1985; James Gouinlock,
1995; Lavine, 1995; R.W. Sleeper, 1986; assim como os ensaios em Lenore
Langdorf e Andrew R. Smith, 1995.) Para Rorty, a figura chave do movimento
pragmatista americano John Dewey, ao qual ele atribui muitas de suas
doutrinas centrais. Em particular, Rorty encontra em Dewey uma antecipao de
sua prpria viso da filosofia como a idia que d suporte s cincias polticas, de
uma viso no ontolgica das virtudes de investigao, de uma concepo
holstica da vida intelectual humana e de uma concepo antiessencialista e
historicista do pensamento filosfico. Para ler Dewey dessa maneira, no entanto,
Rorty explicitamente separa o Dewey bom do mau. (Veja Deweys
Metaphysics, CP, 72-89, e Dewey between Hegel and Darwin, em Saatkamp, 1-
15.) Ele crtico do que ele considera a recada de Dewey na metafsica em
Experience and Nature, e no tem pacincia para a tentativa construtivista de
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Logic: The theory of Inquiry. Rorty, assim, faz um esquema de avaliao no
trabalho de Dewey o qual muitos estudiosos so contra. Lavine, por exemplo,
alega que o mtodo cientfico o conceito central de Dewey (Lavine 1995,44).
R.W. Sleeper sustenta que o objetivo de Dewey mais a reforma da metafsica e
da epistemologia do que sua eliminao (Sleeper 1986, 2, captulo 6).
O pragmatista do qual Rorty menos gosta Peirce, a quem ele considera como
sujeito tanto ao dualismo esquema-contedo quanto a um grau de cientismo.
Ento, no surpresa alguma que Haack, cujo prprio pragmatismo inspirado
por Peirce, considere a reestruturao do pragmatismo feita por Rorty literalmente
indigna do nome. A quebra essencial de Rorty com o pragmatismo fundamental;
na mente de Haack, ao se situar em oposio orientao epistemolgica da
filosofia moderna, Rorty acaba dispensando o prprio projeto que direcionou os
trabalhos dos pragmatistas americanos. Enquanto o pragmatismo clssico uma
tentativa de entender e criar uma estrutura nova que legitima a investigao
cientfica, sustenta Haack, o pragmatismo de Rorty (Haack faz questo de usar
aspas) simplesmente um abandono da prpria tentativa de aprender mais sobre
a natureza e as condies de adequao da investigao. Ao invs de nos ajudar
em nossas aspiraes de nos governarmos pelo pensamento racional, Rorty
enfraquece nossa flexibilidade intelectual e nos deixa ainda mais vulnerveis seduo retrica. Para Haack e seus simpatizantes, o pragmatismo de Rorty
perigoso, causando uma finalizao na razo, e portanto, na filosofia.
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4.3 Filosofia Analtica
Ainda assim, os impulsos fundadores da filosofia ocidental claramente se
expressam na preocupao fundamental de Rorty com a conexo entre o
pensamento filosfico e a busca da felicidade humana. A relao de Rorty com as
tradies da filosofia ocidental mais cheia de nuanas do que sua reputao
pode sugerir. Assim , tambm, a relao de Rorty com a filosofia analtica em
particular. Algumas vezes Rorty mostrado como um renegado, como algum
que passou por uma transformao que foi de um filsofo analtico bona fideparaoutra coisa, e sobreviveu para contar um conto de libertao do encantamento da
juventude. Essa imagem, no entanto, distorce tanto a viso de Rorty da filosofia
analtica quanto a trajetria de seu pensamento.
No meio dos anos 60, Rorty ganhou ateno por sua articulao do materialismo
eliminativo (cf., Mind-Body Identity, Privacy and Categories, 1965). Por volta da
mesma poca, ele tambm editou e escreveu uma longa introduo para um
volume chamado The Linguistic Turn(1967, relanado com uma nova introduo
em 1992). Apesar da introduo do volume de 1967 e de seus primeiros artigos
em filosofia da mente mostrarem Rorty adotando estruturas para problemas
filosficos que desde ento ele abandonou, estes escritos carregam, ao mesmo
tempo, a marca da atitude metafilosfica fundamental que fica explcita na
prxima dcada. No Prefcio de PMN, referindo-se a Hartshorne, McKeon,
Carnap, Robert Brumbaugh, Carl Hempel e Paul Weiss, Rorty diz,
eu tive muita sorte em ter esses homens como meus professores,
mas, para melhor ou pior, eu tratei todos como se dissessem a
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mesma coisa: que um problema filosfico era um produto da
adoo inconsciente de um grupo de pressupostos embutidos no
vocabulrio no qual o problema foi dito pressupostos que deveriam
ser questionados antes que o prprio problema fosse levado a srio.
(PMN xiii)
Essa maneira de colocar a lio, no entanto, parece deixar aberta a possibilidade
de que certos problemas filosficos eventualmente possam ser legitimamente
levados a srio isto , em aceitando-os no sentido de que eles precisam de
solues construtivas desde que os pressupostos que sustentam suas
formulaes apaream para uma devida inspeo crtica. Tomada dessa forma, a
atitude que Rorty expressa aqui seria mais ou menos a mesma de todos os
filsofos que diagnosticaram o trabalho de seus predecessores como uma mistura
de pseudo-questes e problemas genunos vagamente percebidos, problemas
que agora, com uma estrutura adequada de questes totalmente clarificadas,
podem ser tratados positivamente. Mas a fora total da lio que Rorty aprendeu
s emerge com a viso de que a noo de uma inspeo crtica adequada
ilusria. Para Rorty, legitimar os pressupostos nos quais um problema filosfico
tem suas bases seria estabelecer que os termos que ns precisamos para colocar
esse problema so obrigatrios, que o vocabulrio no qual ns o encontramos inescapvel em princpio. Mas a construo que Rorty faz da virada lingstica,
assim como sua proposta de eliminar o vocabulrio do mental, esto realmente
discordando da idia de que ns podemos ter esperana de construir um
vocabulrio definitivo para a filosofia. Mesmo em seu incio, a maneira como Rorty
trata a filosofia moldada pela convico historicista de que nenhum vocabulrio
inescapvel em princpio. Isso significa que o progresso em filosofia atingido
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menos por solues construtivas a problemas do que pela dissoluo teraputica
de suas causas, isso , atravs da inveno de novos vocabulrios pelo
lanamento de metforas novas e frutferas. (PMN Introduction; ORT Unfamiliar
Noises: Hesse and Davidson on Metaphor)
Manter que nenhum vocabulrio final tambm manter que nenhum
vocabulrio pode ser livre de pressuposies no tematizadas e, ainda assim,
opcionais. Dessa forma, qualquer esforo para desviar de um problema filosfico
fazendo com que tais pressupostos se tornem visveis est sujeito a seu prprio
desvio. Da mesma forma, o fato de que Rorty freqentemente se distancia dos
termos nos quais ele primeiramente estruturou argumentos e fez diagnsticos no
em si mesma razo alguma para impor sobre ele uma dicotomia temporal como
alguns fizeram. Pode ser que os primeiros trabalhos de Rorty, inspirados por uma
viso menos crtica, menos dialtica dos trabalhos de Quine e Sellars do que a
oferecida em PMN, so mais construtivos que teraputicos tanto em tom quanto
no jargo, e portanto, na perspectiva tardia de Rorty, errados em um sentido
importante. No entanto, o que agrupa todo o trabalho de Rorty, atravs do tempo
e dos temas, sua completa falta de f na idia de que existe um vocabulrio
ideal, um que contenha todas as opes discursivas genunas. Rorty chama essa
f de Platonismo (um tema importante em CIS). Que no existem formasinescapveis de descrio um pensamento que permeia o trabalho de Rorty
desde os anos 60 at suas articulaes teraputicas tardias do pragmatismo.
Essas caracterizaes de pragmatismo em termos do anti-fundacionismo (PMN),
do anti-representacionismo (ORT) e do anti-essencialismo (TP) so
explicitamente parasticas do esforo construtivo em epistemologia e metafsica, e
tem o propsito de chamar a ateno para as vrias maneiras que esses esforos
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continuam sob o feitio da f platnica em conceitos ideais e formas obrigatrias
de descries.
O uso que Rorty faz de Quine e Sellars para colocar seus argumentos
fundamentais contra a idia de filosofia como um projeto de legitimao do
conhecimento, assim como a articulao de sua crtica em termos de problemas
filosficos tipicamente analticos, contribuiu para uma impresso de PMN como
uma condenao interna da filosofia analtica como tal. Muitos alguns felizes,
outros desapontados leram PMN como uma demonstrao significante da
falncia de uma das duas maiores correntes da filosofia ocidental. Tais leitores
tiram apoio para essa viso tambm do fato de que muitos dos escritos de Rorty
desde PMN tm estado preocupados em mostrar as virtudes em pensadores
como Heidegger e Derrida. (EHO) Vinte anos depois, no entanto, parece melhor
no correlacionar a diviso analtico-continental com mensagem de PMN, ou com
Rorty. Em PMN, seu argumento central o de que a filosofia precisa de se libertar
das metforas da mente como um meio de aparncias, aparncias as quais a
filosofia precisa nos ajudar a separar entre as que so meras aparncias e as que
correspondem realidade. Rorty mostrou esse argumento em um vocabulrio que
foi desenvolvido por filsofos anglo-americanos (seja por nascimento,
naturalizao ou adoo tardia) no curso do meio-sculo que o precedeu. No necessrio, e provavelmente enganoso, ver a crtica de Rorty epistemologia e
aos pressupostos que fazem com que ela parea digna, como uma crtica de um
estilo filosfico particular ou um grupo de hbitos metodolgicos. Ao ler PMN
juntamente com os ensaios em CP (ver particularmente o ensaio 4,
Professionalized Philosophy and Transcendentalist Culture, ensaio 12,
Philosophy in America Today, e tambm Introduction), rapidamente se v que
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o alvo de PMN no uma escola ou um ramo aceito da disciplina chamada
Filosofia Analtica. Porque Rorty pensa que a filosofia no tem essncia, no
tem uma tarefa histrica que a define, falha ao definir um domnio especial de
conhecimento, e no , em resumo, um gnero natural (CP 226), ele no deixa
espao para esse tipo de crtica. Nem sua inteno faze-lo. Por volta da poca
da publicao de PMN, a viso de Rorty sobre esse assunto era de que a
filosofia analtica tem agora uma unidade somente estilstica e sociolgica (CP
217). Ele, ento, qualifica esse argumento da seguinte maneira: Ao dizer....[isso],
eu no estou sugerindo que a filosofia analtica uma coisa ruim ou est fora de
forma. O estilo analtico , penso eu, um bom estilo. O esprit de corpsentre os
filsofos analticos sadio e til. (CP 217) No entanto, enquanto Rorty
aparentemente no carrega preconceitos contra a filosofia analtica em particular,
a prpria razo para sua tolerncia sua viso antiessencialista e historicista da
filosofia e de seus problemas tem, para muitos crticos, sido um ponto de
objeo. Depois de seu pequeno elogio, Rorty continua:
Tudo que eu estou dizendo que a filosofia analtica se tornou, quer
ela queira, quer no, o mesmo tipo de disciplina que ns
encontramos em outros departamentos de humanidades
departamentos onde pretenses ao rigor e ao status cientfico somenos evidentes. A forma de vida normal em humanidades a
mesma daquela nas artes e nas belles-lettres; um gnio faz algo
novo, interessante e persuasivo e seus admiradores comeam a
formar uma escola ou um movimento. (CP 217-218)
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Isso est em perfeita concordncia com a atitude para com a noo de mtodo
filosfico que Rorty expressa 20 anos depois: Os assim chamados mtodos so
simplesmente descries de atividades adotadas por imitadores entusisticos de
uma ou outra mente original O que Kuhn chamaria o programas de pesquisa
os quais seus trabalhos desenvolveram. (TP 10) A crtica metafilosfica de Rorty
no , ento, direcionado para tcnicas ou estilos ou vocabulrios particulares,
mas para a idia de que problemas filosficos so algo alm das tenses
transientes nas dinmicas de vocabulrios contingentes em evoluo. Se sua
crtica tem um enfoque especfico contra a filosofia analtica, pode ser devido a
um resqucio duradouro de f em problemas filosficos como desafios intelectuais
perenes o qual qualquer pensador honesto deve se dar conta, e que podem ser
enfrentados por progressos na metodologia. O prprio Rorty, no entanto, no diz
em lugar algum que essa f parte da filosofia analtica. Ao contrrio, pareceria
que os filsofos analticos, pessoas como Sellars, Quine e Davidson, proveram
Rorty de ferramentas crticas indispensveis em seu projeto de ataque
legitimao epistemolgica que tem sido uma preocupao central em filosofia
desde Descartes.
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Filsofos Norte Americanos (Scott Moore, Baylor University)
[http://www3.baylor.edu/~Scott_Moore/American.html]
Pensamento Ps-moderno (University of Colorado, Denver, School of Education)
[http://www.cudenver.edu/~mryder/itc_data/postmodern.html]
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Entradas Relacionadas
Davidson, Donald | Dewey, John | liberalism | naturalism | postmodernism | pragmatism |
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