revista nº 23
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1
REVISTA DA ACADEMIA SUL-BRASILEIRA DE
LETRAS
Jandir João Zanotelli (organizador)
Pelotas
Abril - 2012
No.23
2
REVISTA ACADEMIA SUL-BRASILEIRA DE LETRAS
Fundada em 9 de maio de 1970
Diretoria
Presidente: Olga Maria Dias Ferreira
Vice-Presidente RS: Maria Beatrz Mecking
Vice-Presidente SC
Vice-Presidente PR: João Darcy Ruggeri
Secretário: Wilma mello Cavalheiro
Tesoureiro: Marísia Ferreira Vieira
Conselho Editorial
Ângela Treptow Sapper
Jandir João Zanotelli (organizador)
Joaquim Moncks
José Clemente Pozenato
Lígia Antunes Leivas
Maria Alice Estrela
Maria Beatriz Mecking Caringi
Sérgio Oliveira
Wilma Mello Cavalheiro
__________________________________________ Revista da Academia Sul-Brasileira de Letras- N 23 (Abril
2012)
Pelotas: EDUCAT, 2012.
Semestral. 150 p.
ISSN 1809-5540 CDD B869.05
Letras – Periódicos. 2. Literatura – Periódicos.
__________________________________________ Sede: Rua 3 de Maio 1060 – Conj.403 –
Pelotas – RS– 96010-620
E-mail- jjzanotelli@ig.com.br
3
SUMÁRIO
Apresentação...................................................................5
EVENTOS.......................................................................7
POESIA ........................................................................33
Interrupção – Wilma Mello Cavalheiro....................33
Às margens de um rio – Luiz Gonzaga da Silva.......34
A bolha de viver – Joaquim Moncks........................37
Amar é bom! ...(mas dói!) – Miguel Russowsky......39
TROVAS......................................................................41
TROVAS HUMORÍSTICAS.......................................43
CONTOS E CRÔNICAS.............................................45
Trabalhar – Jndir João Zanotelli...............................45
Encontros – Jandir João Zanotelli............................49
Histórias – Ana Gouvêa...........................................53
Colhendo Flores do Lácio – Jorge Moraes..............60
Sede...ção ou Sedução? – Jorge Moraes ................65
Amanhã muda a lua, talvez a porca dê cria! – Jorge
Moraes...72
Família – Francisco de Azevedo..............................80
A solução - Maria Beatriz Meckiing......................84
Em Paz – Maria Beatriz Mecking ...........................84
Consolo – Maria Beatriz Mecking...........................85
Junção de Dois – Inalva Nunes Fróes......................86
4
ARTIGOS.....................................................................89
A Crítica segundo o autor novato – Joaquim Moncks89
Ditos populares – Jorge Moraes ................................93
A Ironia dos Eufemismos – Jorge Moraes..................97
Desculpar ou não? Eis a questão.- Jorge Moraes......103
ASBL – Estatuto Social...............................................113
ASBL – Cadeiras – Patronos – Titulares.....................131
5
APRESENTAÇÃO
É outono. No hemisfério Norte é
primavera
Tempo de Páscoa. Tempo de vida nova.
Por aqui as árvores ainda são liberadas de suas
folhas. O inverno se aproxima ameaçando
recordes históricos.
A alegria das festas de investidura de
novos acadêmicos dão texto e contexto para
nossos textos.
Em Florianópolis, no recanto sul da
maravilhosa ilha, Ribeiraõ da Ilha, a posse
aconteceu nas dependências do Lindo e bem
estruturado Ecomuseu de Nereu do Vale Pereira.
Ele, Augusto César Zeferino e Luiz Carlos
Amorim foram empossados, respectivamente
nas cadeiras 50, 14 e 19.
Todos, na liderança de Pilati, Júlio e
Nereu armaram um espaço paradisíaco para o
ritual das letras que a ASBL jamais esquecerá.
Outra posse está programada para este ano.
Duas cerimônias mais estão previstas para
13 de abril e 15 de maio.
6
No intervalo, a festa de aniversário, no dia
9 de maio. São 42 anos de ensaios, lutas e labor
pela palavra que é nosso dom e tarefa.
Enquanto choramos a ausência-presente
de Suelly Corrêa Gomes, e já neste início de
maio a de Valter Martins de Toledo, labutamos
em nossa tarefa da Palavra. Ela pode alimentar a
tantos espíritos, como nunca famintos de uma
fatia de Esperança.
Reiteramos a cada um o abraço fraterno
do Natal que se faz Páscoa e tempo de vida
apesar do desencanto ético que assola as plagas
de nosso país.
Jandir João Zanotelli
Coordenador.
7
EVENTOS
1. SESSÃO DE INVESTIDURA
REALIZADA NO DIA 18/11/2011,
EM FLORIANÓPOLIS / SC
C O N V I T E
A ACADEMIA SUL BRASILEIRA DE
LETRAS, por sua Presidente Olga Maria Dias
Ferreira, tem a satisfação de convidar V. Exa. e
Exma. Família para a Solenidade de Investidura
em sua Seção Catarinense, dos Escritores:
Augusto César Zeferino – Cad. 50 - Ocupante
anterior Hoyêdo de Gouvea Lins - Patrono
Virgílio Várzea.
8
Luiz Carlos Amorim – Cadeira 19 - Ocupante
anterior Lauro Junckes - Patrono Mário
Quintana.
Nereu do Vale Pereira – Cadeira 14 - Ocupante
anterior Lydia Mombelli da Fonseca - Patrono
Marcelino Antônio Dutra.
Local: Ecomuseu – Ribeirão da Ilha –
Florianópolis SC
Data: 18 de novembro de 2011, às 18h
telefone: 3237-8148 ou
ecomuseu@pousadadomuseu.com.br
Endereço do Ecomuseu: Rodovia Baldicero
Filomeno (dois quilômetros após a Praça da
Matriz do Ribeirão
www.pousadadomuseu.com.br
2. Discurso de posse do Acadêmico
Augusto César Zeferino
- Saúdo inicialmente a Senhora Presidente da
Academia Sul Brasileira de Letras, Dra. Olga
Maria Dias Ferreira, bem como os demais
Sócios aqui presentes.
9
- Saúdo em especial o Acadêmico Júlio Queirós,
autor do convite para a minha investidura neste
egrégio, bem como o Acadêmico José Isac
Pilati, Vice-Presidente/SC.
- Saúdo, também, meus colegas Nereu do Vale
Pereira e Luiz Carlos Amorim, que hoje
comungam desta investidura.
- Senhoras e Senhores:
O convite que me foi dirigido para
adentrar tão seleto grupo de intelectuais desta
Instituição me fez, de início, questionar sobre a
própria vida como enlace entre o espírito e o
intelecto.
Como acadêmicos, perseguimos o
reconhecimento pelo nosso trabalho, mesmo
sabendo que a glória do mundo é transitória -
SIC TRANSIT GLORIA MUNDI -, como diz
São Paulo em um de seus escritos.
Tratei, logo, de buscar respostas que me
mostrassem o caminho a seguir, para que o
espírito não viesse a sofrer, mas, sim, se
alegrasse com o exercício intelectual no novo
convívio, fortalecendo, ao mesmo tempo, a
minha vida familiar e de cidadão.
10
Buscamos, na vida, um caminho, e nesse
sentido devemos procurar seguir o caminho que
passa em frente à nossa morada – ele sempre nos
levará a algum destino. Essa caminhada nos dá
um sentido na vida.
E é nesse sentido que nos respaldamos em
Alceu Amoroso Lima que, ao tomar posse na
ABL em 1935, disse que as funções literárias da
Academia são complementares e de duas ordens:
a de tradição e de manutenção do que ficou de
bom, e a de criação e de renovação da cultura
nacional. Este pensamento nos mostra um
caminho a seguir. É lição permanente e atual.
Somos livres para escolher aquilo que
fazemos, acreditamos em idéias e ações, muitas
vezes estando elas além de nossa capacidade
física, intelectual e emocional, mas não
desistimos, vamos à busca de resultados para a
lenda que imaginamos. Alcançá-la é ponto de
honra, mas mesmo não a alcançando, ela terá
ajudado a iluminar o caminho que porventura
tenhamos percorrido, e algo terá sido realizado.
Ao buscar respaldo na plêiade de literatos
com vistas à escolha do patrono, pensei,
inclusive, na minha origem geo-espacial e social,
e optei por Virgílio Várzea. As razões afloraram
11
com clareza – Várzea nascera na Freguesia de
São Francisco de Paula de Canasvieiras -, vila
vizinha à minha comunidade – Praia dos
Ingleses, ambas vilas, então, de agricultores-
pescadores.
Virgílio Várzea, que nasceu em 06 de
janeiro de 1863 em Florianópolis e faleceu em
29 de dezembro de 1941 no Rio de Janeiro,
tendo, portanto, vivido 78 anos, trabalhou o mar
como poesia e prosa, e neste particular é
considerado o criador do marinhismo entre os
latino-americanos – seus escritos soam, às vezes,
como uma leve brisa que balouça o mar nas
cálidas noites enluaradas do outono ilhéu, outras
vezes se arvora de tempestade que varre a alma
em suas mais remotas lembranças.
Virgílio Várzes, que atuou firmemente no
movimento contra o conservadorismo
romântico, objetivando implantar a chamada
"Idéia Nova", ou seja, rompendo com o passado
e buscando a renovação estética do Realismo-
Naturalismo, movimento que atuou entre os anos
de 1883 e 1887, intitulado "Guerrilha Literária
Catarinense", foi patrono da cadeira 40 da
Academia Catarinense de Letras. Seu percurso
de marinheiro, treinado ainda menino, no qual
literalmente se lançou ainda aos 13 anos de
12
idade, e que expõe uma geografia universal, não
somente o levou a outras terras e a outros mares,
mas o levou, também, a outros campos de
atuação – foi poeta, escritor, jornalista e ativista
político. Sua vida e sua obra o colocam como se
no mar fora concebido.
O Dr. Hoyedo Gouvea Lins, meu ilustre e
saudoso colega do IHGSC, que me antecedeu na
Cadeira 50 desta Academia, autor de dezenas de
livros, transcendia a qualidade padrão de um ser
humano – sua quietude provocava a admiração,
pois era carregada da aura da sabedoria e da
elegância. E seus escritos eram, mesmo, como
dito em uma de suas obras, apropriados para a
luz do entardecer!
Ambas as personalidades me respaldam
para comungar deste sodalício, mas conto,
também, com a participação dos colegas. Nosso
trabalho só pode crescer com a comunhão de
todos. Não há lugar para corrida de um atleta só
– a união faz a força, diz o velho e cansado
adágio, porquanto precisamos seguir produzindo
como partes de um todo, para que a vida seja
plena de conquistas. O mundo precisa de sábios,
mas precisa muito da sua essência – o amor. Esta
é a chave para o sucesso do homem e da
humanidade como um todo.
13
Lembremos, finalmente, que a sociedade,
hoje, está a produzir uma questionável separação
entre ciências e humanidades, levando a crer que
―cada vez se sabe mais e mais sobre menos e
menos, quase tudo sobre quase nada‖, conforme
posto por Marcos Vinicios Rodrigues Vilaça,
quando de seu discurso de posse na presidência
da ABL. Isto nos lembra o conto de Hans
August Thofeham, quando o menino pergunta:
afinal o que é um sábio? Ouviu ele que havia
dois tipos de sábios: os especialistas que cada
vez sabem mais sobre menos coisas, até saberem
tudo sobre nada, e os enciclopedistas - que cada
vez sabem menos sobre mais coisas, até saberem
nada sobre tudo! E ao perguntar o que era um
Geógrafo, ficou feliz o menino, pois soube, no
contexto da resposta, que as flores precisam
continuar a crescer e as águas a correr!
Muito obrigado.
3. A PUC - Pontifícia Universidade Católica do
Rio Grande do Sul, através do Magnífico Reitor
Dr. Joaquim Clotet dá início as comemorações
de "Luiz de Miranda, 45 Anos de Poesia
14
(São Paulo,1967/Porto Alegre, 2012)", dia 23 de
abril, a partir das 17 horas, no Salão de Atos da
Faculdade de Arquitetura. Segue-se palestra do
Dr. Antonio Hohlfeldt sobre a obra do poeta.
Depois, João de Almeida Neto, a grande
voz do Rio Grande, canta quatro canções de
Miranda e poeta recita um dos seus poemas.
Após, segue o lançamento de "Salve Portugal", o
terceiro volume da coleção Luiz de Miranda da
EdiPUCRS.
Em setembro, sai o quarto volume da
coleção, com lançamento nacional de ―Amores
Amargos‖. Em outubro sai Miranda para inglês
ver: Antologia‖Luiz de Miranda‘Themes and
Poetry‖, ou seja ―Temas e Poemas de Luiz de
Miranda‖, ediPUCRS. Tradução e apresentação
de Eduardo Jablonski.
Haverá evento semelhante na Europa,no
mês de outubro, na Universidade das Illes
Balears, em Palma de Mallorca,
Espanha, coordenado pelo pensador e crítico Dr.
Perfecto Cuadrado, que faz uma Antologia
Poética de Luiz de Miranda, com apresentação e
tradução suas.
15
No mês de novembro será homenageado no V
Festival da Poesia, em Parnaíba, Piauí, onde será
saudado pelo poeta Diego Mendes Sousa.
Serão outorgadas Dez Comendas Poeta Luiz de
Miranda da Real Academia de Letras a
personalidades daqui e da Europa.
Será criado um Selo do Correio com a foto do
poeta e escrito Poeta Luiz de Miranda, 45 Anos
de Poesia.
Miranda participará de eventos em Santa Maria,
Pelotas, Santa Cruz e Uruguaiana, Rio de
Janeiro, Belo Horizonte, também haverá
comemorações na Argentina, Paraguai e
Uruguai.
4. DISCURSO DE OLGA MARIA DIAS
FERREIRA na posse de Inalva Nunes Fróes
"A Literatura, segundo definição de
Afrânio Coutinho, como toda arte, é uma
transfiguração do real, a realidade recriada
através do espírito do artista e retransmitida
16
através da língua para as formas, que são os
gêneros, e com os quais ela toma corpo e
nova realidade. Passa, então, a viver outra vida,
autônoma, independente do autor e da
experiência de realidade de onde proveio."
Em assim pensando, realizamos, nesta
noite,a festa da literatura, da recriação do real,
da vida e dos personagens. Festejamos o espírito
criativo do escritor, nas mais variada formas, em
todos os contextos. A palavra popular ou erudita
se expressa na criação do autor, expressando
sentimentos e emoções. Este o momento que
vivemos e festejamos.
A Academia Sul-Brasileira de Letras se
engalana e presta homenagem a mais uma
escritora a destacar-se no mundo artístico:
INALVA NUNES FRÓES.
INALVA, a empossanda de hoje, nasceu
em Bagé, sendo seus pais Alvérico Nunes e
Ercília Sains Nunes. Iniciando os estudos no
Colégio Salis Goulart, prosseguiu nos cursos
secundário e normal, desta feita no Colégio
Santa Margarida. Buscou a formação
universitária no Curso de Letras, licenciando-se
em Português e Francês, pela Universidade
Católica de Pelotas. Seguindo a jornada cultural,
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exerceu o magistério no Colégio Gonzaga,
Instituto de Educação Assis Brasil, Escola
Estadual Profª Sílvia Mello e na Escola Joaquim
Duval. Desempenhou, outrossim, as funções de
Supervisora Escolar, no colégio Salis Goulart,
Ao concluir o Curso de Pós-Graduação em
Metodologia da Pesquisa Educacional, tornou-se
especialista na área. Seu vasto currículo
apresenta, ainda, farta produção literária, onde se
encontram inúmeras crônicas publicada na
imprensa local e prêmios auferidos em
concursos. Consta também a participação na
coletânea de Contos da 1ª Oficina de Criação
Literária, sob o título ―Tarde demais para não
publicar.‖ Possui, obra de contos, no prelo e
publicou o livro ―Vida e Outras mulheres‖, em
que, segundo palavras textuais da escritora
pelotense, Hilda Simões Lopes, ―o universo
feminino é a matéria prima que Inalva Nunes
Fróes utiliza nos contos: dona de um texto
criativo, a autora instiga o leitor a percorrer as
perplexidades de suas personagens. Leva-nos,
assim às reflexões em torno ao papel da mulher
e,como não poderia deixar de ser, das demais
funções humanas na família e na sociedade.‖
Esta, meus caros amigos, a acadêmica que
adentra os umbrais da Academia Sul-Brasileira
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de Letras. Esta amante da letras e das artes veste
o manto do reconhecimento pelo mérito de seu
trabalho.
A sensibilidade de Inalva é extravasada na
pureza de seus contos. A vida em seu melhor
contexto é explorada e expressa nos mais nobres
sentimentos. A bravura é o ponto alto das
mulheres que ilustram o cotidiano. Desde a
emoção mais simples, ao mais complexo ideal
de sobrevivência, está a fortaleza de sua alma, na
grandeza dos ideais de justiça. Ler Inalva é
estabelecer um pacto de verdade, em que o
inverossímil parece forte demais para ser
abordado de forma serena. Inalva aborda a
obviedade dos fatos, a semelhança dos
contrastes, a fortaleza dos fracos.
Neste pauta, entendemos e apreciamos
sua arte, o acendrado amor à literatura, o
exemplo digno de uma verdadeira mestra.
Sejam-lhe, nesta noite de gala, ofertados
os galardões e louros da vitória. Ascender a uma
Academia de Letras é mais do que uma honra, é
Missão. Cumpre enaltecer seu nome, dentro da
rota traçada pela insigne Magda Costa, o
desempenho dos grandes escritores que nos
cercam e os que nos antecederam neste
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sodalício. Sirva-lhe, portanto, como estímulo
este momento, para que propicie aos pósteros a
magnitude de sua obra e outros livros venham,
para gáudio dos apreciadores assíduos da boa
leitura.
Sejas muito bem vinda, querida afilhada,
minha mais nova companheira, nesta Academia.
Que os céus te cubram de bênçãos, para que seja
feliz, cada vez mais, e, todos saibam
dimensionar tua verdadeira grandeza.
13/04/2012
5. Discurso de Inalva Nunes Fróes, por ocasião
de sua posse na ASBL – 13 de abril de 2012
Ilustres Acadêmicos
Excelentíssimas Autoridades presentes
Prezados Amigos
Queridos Familiares
É com muita honra e com a alma enlevada
que assumo a cadeira número 10 na
ACADEMIA SUL-BRASILEIRA DE LETRAS.
Entidade cultural que conta com insignes
escritores, autores de obras valiosas conhecidas,
20
tanto no âmbito da cidade como do estado, do
país e internacionalmente.
Agradeço, portanto, a indicação do meu
nome, através de minha madrinha, a competente
poeta e exímia sonetista Olga Maria Dias
Ferreira que muito tem contribuído para as letras
pelotenses e aprovação por parte dos demais
acadêmicos que compõem esta conceituada casa
de cultura.
No discurso de posse, nossa ilustre
presidente, declarou o seguinte: ― Dos mais
remotos sonhos, aos tempos que me acalentam
as tardes do agora, só existe espaço para a
literatura como um todo, em sua defesa e
aprimoramento. Assim sendo, seguirei minha
rota, decidida e firme, de levar a literatura às
ruas, o livro ao povo, a poesia a crianças, jovens
e idosos, a todos indistintamente.‖
Palavras sábias, objetivos dignos de uma
intelectual que sempre esteve preocupada com a
verdadeira sapiência.
Essa postura, adotada por todos
integrantes da Academia Sul - Brasileira de
Letras muito me empolgou e vem de encontro
com meus princípios pessoais e literários.
Asseguro que não medirei esforços e que
tudo realizarei para acompanhar, de maneira
21
positiva, esta caminhada no sentido de divulgar e
popularizar a cultura.
Reconheço grande responsabilidade ao
assumir a cadeira anteriormente ocupada pelo
saudoso Irmão Elvo Clemente na ACADEMIA
SUL-BRASILEIRA DE LETRAS, tendo como
patrono o grande poeta pelotense Francisco
Lobo da Costa.
Não poderíamos deixar de lembrar a
grande obra do saudoso Antonio João Silvestre
Mottin conhecido pelo nome religioso IRMAO
ELVO CLEMENTE que nasceu em Maróstica
(Itália) em 1921 e, com apenas três anos,
emigrou com a família para o Brasil.
Depois de licenciado (1948) concluiu
doutorado em Letras Clássicas na Pontifícia
Universidade Católica do Rio Grande do Sul
(1953) defendendo a tese ―Aspectos da vida e
obra de Francisco Lobo da Costa‖.
Fez concurso da cátedra Língua
Portuguesa na Pontifícia Universidade Católica
do Rio Grande do Sul com a tese ―O temporal e
o eterno na poesia de Paulo Corrêa Lopes”.
Atuou como professor e fundador de um
dos programas de pós-graduação da Faculdade
de Letras da Pontifícia Universidade Católica do
Rio Grande do Sul.
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Colaborador da imprensa gaúcha e crítico
literário ele foi também autor de mais de trinta
livros, dos mais variados temas.
Presidiu organizações ligadas à cultura do
Rio Grande do Sul, tais como o Conselho
Estadual de Cultura e a Academia Rio-
Grandense de Letras, além de ter sido integrante
da Academia Sul-Brasileira de Letras, da União
Brasileira de Escritores e da Associação Rio-
Grandense de Imprensa.
IRMÃO ELVO CLEMENTE tinha o dom
das línguas, deixou-nos vasta e variada produção
literária e conforme seu depoimento utilizava,
nas aulas de língua ou literatura, na
Universidade poemas do inspirado poeta Lobo
da Costa. Declarou também ― Como era
interessante e belo ouvir recitações do Lobo por
gente do povo, tanto na Capital quanto no
interior do Estado‖.
Apresento-vos, através de alguns versos
contidos no poema ―Aquele ranchinho‖ o poeta
Francisco Lobo da Costa que ocupou lugar de
destaque na literatura rio-grandense, pelo valor
de sua poesia e pela imortalidade de suas
composições.
“Tu me perguntas a história
Daquele triste ranchinho,
Que abandonado encontramos
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Coberto por negros ramos
Contou-me o velho moleiro
Há pouco menos de um mês.
(E continua a história
aguçando nossa curiosidade sobre o desenrolar
dos acontecimentos).
Este é um dos poemas mais conhecido da
população regional. Pessoas de todos os níveis
sociais recitavam, há alguns anos atrás, no
mínimo, algumas estrofes.
Os versos ficaram na memória do povo,
que embora já não lembrasse o nome do autor,
continuaram vivos como monumento cultural e
ficaram pertencendo ao folclore.
A perda da autoria, nessas condições, é
glória máxima a que um poeta pode aspirar. É a
certeza de que seu texto alcançou aquela
dimensão da linguagem que o torna um objeto
intocável e permanente, mesmo através da
transmissão oral.
Este ilustre poeta FRANCISCO LOBO
DA COSTA nasceu em Pelotas, Rio Grande do
Sul, no dia 12 de julho de 1853. Seu pai Antonio
Cardoso Costa era natural de Santa Catarina e
sua mãe Jacinta Júlia da Costa, da Bahia.
Em 1865, com doze anos de idade, exalta
em versos o feito das armas nacionais, por
24
ocasião da rendição da cidade de Uruguaiana,
ocupada pelos paraguaios. O poema é publicado
no jornal ―Eco do Sul‖ de Rio Grande.
Aos quatorze anos, os negócios do pai não
vão bem e emprega-se no cartório de Francisco
José das Neves, onde, espírito sonhador e já
voltado para a poesia, distrai-se do trabalho
desinteressante para rascunhar seus poemas.
No ano seguinte passa a trabalhar numa
agência do telégrafo, o que lhe disponibiliza
mais tempo para dedicar-se à leitura,
principalmente, dos grandes românticos
brasileiros. Compõe versos que vai publicando
na imprensa.
Em Rio Grande, a ARCÁDIA, jornal
literário que divulga novos talentos, publica seus
poemas.
Em 1869 deixa o telégrafo para dedicar-se
às letras. É uma decisão séria para um jovem de
dezesseis anos, destituído de recursos
econômicos.
Funda o jornal ―Castália‖, de breve
duração. Continua a publicar poemas na
―Arcádia‖, onde faz sua primeira tentativa de
ficção narrativa, o romance ―Heloisa‖.
25
Faz sua iniciação jornalística no JORNAL
DO COMÉRCIO que substituíra a Arcádia, cujo
proprietário viera para Pelotas.
Em 1871 sai do Jornal do Comércio para
fazer parte da redação do DIÁRIO DE
PELOTAS, transformado em centro de reuniões
dos republicanos e abolicionistas.
Por esse tempo, como poeta e jornalista,
freqüenta a sociedade, onde, conforme
comentários da época, apresentava-se ―modesto,
atraente, elegante e amável, despertava viva
simpatia‖. Possuía o dom de encantar,
principalmente, o público feminino
Desse contexto resulta o relacionamento
com a família de Saturnino Epaminondas Arruda
a que pertence a ― MARIA‖ de seus poemas,
segundo ―Morivalde Calvet Fagundes‖.
É nesse ano que morre sua mãe, perda da
qual se ressentirá para sempre. Dedica, então,
um grande afeto a sua pequena irmã
IDELVIRA. Tentando recuperar-se do golpe sofrido,
transfere-se para Rio Grande onde é recebido na
casa da família MELO.
Devotadas à poesia, REVOCATA
FIGUEIROA DE MELO e suas filhas
reconhecem o talento do poeta e dedicam-lhe
duradoura amizade
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Entra para a redação do ECO DO SUL,
em cujas oficinas imprime e edita o romance ―
ESPINHOS DA ALMA‖ e o livro de poemas
―ROSAS PÁLIDAS‖.
Compôs, também, outro livro,
―MARIPOSAS‖, inédito, segundo o Almanaque
Estatístico do Rio Grande do Sul ( 1889). Buscas
feitas desde o século passado não localizaram
esses dois livros de poemas.
No ano seguinte, desligando-se do Eco do
Sul, torna-se redator de O Investigador . Aí
anuncia a publicação de ―Romances da
Província” e “Tempestades no Lar” (drama),
obras que também se perderam. É desse ano o
ensaio “O jesuitismo”.
Em 1874 a Grinalda publica novos
poemas de Lobo da Costa que continua a
colaborar nos jornais de Pelotas, firmando sua
reputação literária.
Mais tarde, hospeda-se, por algum tempo,
na estância de Molhos, Uruguai, onde se
encontra com Maria, a musa inspiradora de seus
mais belos poemas de amor.
Embora lesse muito sobre variados temas
e autores, sentia necessidade de uma formação
mais sólida e sistematizada. Decide estudar
Direito em São Paulo, onde leva uma vida
desregrada e boêmia. Continua produzindo
27
versos e por influência de Carlos Ferreira, poeta
gaúcho, consegue publicar “Lucubrações”,
único livro de poemas editado pelo autor que
sobrevive, hoje, em exemplares raríssimos.
Com a saúde debilitada, volta ao Sul. Em
Pelotas, retoma suas atividades literárias.
Em janeiro de 1876, o jornal ECO DO
SUL registra a estréia da peça ―O Maçom e o
Jesuíta‖ em Rio Grande no teatro SETE DE
SETEMBRO. Primeira experiência do jovem
escritor no ramo da dramaturgia.
Em Pelotas é chamado a colaborar no
―Jornal do Comércio‖.
Funda ainda dois jornais literários ―
Lanterna‖ e ―Trovador‖, de existência efêmera.
Já há algum tempo, vinha se entregando
ao alcoolismo que domina sua alma sensível e
romântica. A jovem a quem amava, pertencente
à família de destaque na sociedade, afasta-se
dele, definitivamente.
Torna-se assíduo colaborador do
Progresso Literário, onde publica um dos seus
mais belos poemas, “À Beira-Mar”, os contos,
―A Cabana de Violetas‖, ―Fantasias de um
morto‖, e a crônica ―Sabatina‖.
Vai para Rio Grande mais uma vez e,
retornando a Pelotas retoma os trabalhos no
―Onze de Julho‖.
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Na luta política entre conservadores e
liberais, a imprensa promove campanhas
violentas. Os ataques excessivos do Onze de
Julho provocam a reação dos ofendidos que
decidem inutilizar a tipografia do Jornal.
Moncorvo Júnior e Lobo da Costa fogem para
Jaguarão onde continuam a editá-lo.
Encontra-se com a jovem Carolina
Augusta Carnal e casa-se com ela no dia 27 de
setembro de 1879. Desse casamento nasce uma
filha chamada Amanda.
Esta união não se mantém e, já separado
da esposa, permanece algum tempo em Arroio
Grande, na residência da família Araújo. Volta a
Jaguarão. Torna-se secretário de um grupo
teatral, acompanhando-o a Pelotas e Porto
Alegre.
Desliga-se do emprego e busca colocação
nos jornais da Capital. ―A Tribuna‖ de Marcos
Menezes Correia de Castro, aceita-o, mas pelos
escândalos que provoca, o jornal é destruído pela
população.
As desventuras não o afastam da poesia. O
jornal ―O Lábaro‖ recebe sua colaboração por
mais de dois anos.
Tem pronto um livro que se esforça,
inutilmente, para publicar e cujo destino ignora-
se ate hoje.
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Volta a Pelotas com a saúde
comprometida, mas a imaginação continua viva.
Escreve o ―episódio poético-dramático‖
Espinhos e Flores para a atriz Julieta dos
Santos, encenado no teatro Sete de Abril, pela
Associação Dramática, dirigida por Moreira de
Vasconcelos. Transfere-se para D. Pedrito e
redige, por algum tempo, ―A Fronteira‖,
colaborando também na ―Gazeta Pedritense‖.
Lança, então, seu melhor texto dramático “O
Filho das Ondas”, representado pela Sociedade
Dramática Tália Pedritense, com dezenas de
representações nos palcos de várias cidades do
Rio Grande do Sul.
Entre 1883 e 1885, vagueia entre Pelotas,
Bagé e Porto Alegre.
Já não pode trabalhar e, muito doente,
concorda com parentes e amigos que o
aconselham a tratar-se. Fiel a sua poesia,
compõe sempre e retribui com versos a atenção
das pessoas que o visitam na Santa Casa.
A cidade, consternada com sua situação,
mobiliza-se para auxiliá-lo. Ainda faz versos.
São os últimos frutos de sua criação. Quando
melhora, volta às ruas e aos mesmos hábitos.
Cada vez mais doente, o poeta retorna à
Santa Casa. Seu quarto torna-se um lugar de
peregrinação.
30
Trabalhou, ainda, num poema de
exaltação à gente farroupilha, um ambicioso
projeto que não pode concluir.
À tarde do dia 18 de junho de 1888, Lobo
da Costa sai do hospital sem destino certo.
Buscam-no, mas não o encontram. Cai uma
noite gelada e chuvosa de inverno.
Quando amanhece, um carroceiro entra
em Pelotas, ainda adormecida, com o corpo
inerte do poeta, encontrado ao relento, bem
próximo a rua Santa Cruz.
Desaparece mais uma estrela na
constelação do céu literário de nossa Princesa do
Sul, mas como toda estrela sua luz não se apaga.
Continua brilhando através de uma obra extensa:
romances, contos, crônicas, peças de teatro, em
sua maioria perdidas, e textos que produziu
como jornalista. Sem data precisa são os dramas
Os Amores de um Cadete, A Bolsa Vermelha e
Assunção ou a morte do Tirano Lopes em
Aquidaban.
A parte mais importante dessa obra, no
entanto, é constituída por centenas de poemas
que publicou nos jornais da Província.
Deve-se a Francisco de Paula Pires a
compilação da grande maioria desses poemas em
três livros póstumos: Auras do Sul, Dispersas e
Flores do Campo, Prosa e Verso. Desses livros
31
Mansueto Bernardi selecionou ―As Melhores
Poesias‖, que a Globo editou em 1927.
Morivalde Calvet Fagundes identifica no
poeta e prosador, várias facetas de sua produção
literária: lírica, épica, social, abolicionista,
democrata, satírica, nacionalista, regionalista,
pelotense, bucólica, indianista, folclorista,
religiosa, sonetista e epistolar.
Sua obra torna-se imortal por suas
características de permanência e universalidade.
Pode-se colocar em primeiro plano e
como motivadora da maioria de sua produção
lírica a palavra ―paixão‖.
Paixão pela mulher, representada em seus
versos, por flores humildes, açucena, lírio,
violeta ou camélia. No vocabulário predominam
flor e rosa, metáforas do amor ideal que em vão
procura.
Sentimento traduzido em suas palavras:
“Se és fada, acorda desse encanto
mágico,
Onde te engolfas a sonhar, mimosa!
Se és flor, reabre o vaporoso cálice
Aos beijos mornos deste amor que nasce”.
Amor não correspondido e algo
inalcançável transformaram-se em poemas
líricos belíssimos.
“ Jurei! Meu protesto selei-o com prantos
32
Chorados em noites de ausência sem fim
Não há quem me arranque do peito esse
afeto
Que és tu sobre a terra senhora de mim!”
Como todo poeta, fantasiou muito,
exagerando suas mágoas e sofrimentos do
coração. Nada se sabe ao certo, senão que amou
demasiadamente e o resultado de tanta paixão,
de tanto esbanjamento de amor, foi viver
sozinho e morrer solitário, talvez, por opção,
conforme seus versos:
“Adeus! Eu vou partir. Por que soluças?
Que eu te diga este adeus – manda o
destino!
Eu sou náufrago vil, sem norte ou guia.
Açoitado por ventos de agonia
Nas cavernas fatais do coração”.
Mas, o poeta não partiu, continua presente
através de seus versos no coração do povo e com
certeza, na alma, da ACADEMIA SUL-
BRASILEIRA DE LETRAS.
Agradeço a presença de todos!
Inalva Nunes Fróes
33
POESIA
INTERROGAÇÃO
Wilma Mello Cavalheiro
Meu Deus, quanta discórdia neste mundo
a humanidade embruteceu de vez,
a hipocrisia é um manancial sem fundo,
a luxúria exibe a sua nudez.
Será, Senhor, que o crime é oriundo
da ganância, da nossa pequenez,
da falta de um amor grande e profundo
que nos devolva a fé e a honradez?
Há um singular e desigual combate
entre o bem e o mal, que só abate
a quem perdeu a fé e segue andando.
Te peço, a covardia nunca nos arraste,
que cada homem encontre, neste embate,
a sua paz em sonhos velejando.
34
ÀS MARGENS DE UM RIO
Luiz Gonzaga da Silva
GOSTO DA BEIRA DE UM RIO.
AS MARGENS ME INSPIRAM A ESCREVER
SOBRE A VIDA, SOBRE OS
ACONTECIMENTOS QUE A ENVOLVEM.
AS ÁGUAS QUE CORREM TRANQÜILAS
OBJETIVANDO CHEGAR AO MAR
SÃO COMO A CORRERIA DO SER HUMANO
TENTANDO ALCANÇAR OS OBJETIVOS SONHADOS
E ALIMENTADOS PELA ESPERANÇA.
OS ENTULHOS TRAZIDOS
PELAS ENCHENTES
QUE TENTAM IMPEDIR
35
A PASSAGEM DAS ÁGUAS
SÃO COMO OS OBSTÁCULOS
QUE ENCONTRAMOS PELOS
CAMINHOS QUE TENTAM OBSTRUIR
A CONCRETIZAÇÃO DOS NOSSOS SONHOS.
É MUI SALUTAR O AR QUE SE RESPIRA
ÀSMARGENS DE UM RIO,
O MURMÚRIO DAS ÁGUAS
QUE PASSAM NOS INDUZ
A UMA PROFUNDA REFLEXÃO.
QUE SER PODEROSO CONSTRUIU
TODAS ESSAS MARAVILHAS?
QUE SABEDORIA ILIMITADA
CONSEGUIU PLANEJAR E EXECUTAR
TÃO ENTUSIAMANTE ESPETÁCULO?
QUE PODER EXTRAORDINÁRIO
ESTABELECEU OS LIMITES
36
PARA TUDO QUE EXISTE?
PARA AS ÁGUAS QUE DESCEM EM CASCATA
NOS EXTASIANDO O OLHAR,
AS ORLAS CILIARES QUE ENCANTAM
PELA DIVERSIFICAÇÃO DAS ESPÉCIES,
AS AVES QUE BUSCAM REFÚGIO
E SOBREVIVÊNCIA NAS ÁGUAS
E O SOM QUE EMITE OS SEUS CANTOS.
GOSTO DAS MARGENS DE UM RIO,
POIS É ALI QUE NA MEDITAÇÃO
CHEGO A CONCLUSÃO DE QUE
É MARAVILHOSO FAZER PARTE
DESSE IMENSO PROJETO
EXECUTADO POR DEUS.
37
A BOLHA DE VIVER
Joaquim Moncks
Um jovem professor de Literatura, em
sala de aula, tenta abordar a temática da Poesia,
e empolgado, faz pilhéria com os alunos do
ensino médio, todos muito temerosos com a
prova do vestibular. Dono da bola, pleno de
humor, toma um gole d‘água, e na maciota reza
a sua fala... O poema pode ser visto assim: um
maluco em meio a um jardim de muitas flores,
com uma bolha de sabão estalando nos lábios,
junto ao canudinho, e na outra mão, o caneco
amassado da infância... O lirismo é incomum e
inusitado. Sua função no mundo é a de propor o
encantamento, tal o arco-íris dentro da lépida
bolha de água e sabão: faceira, efêmera,
brilhante, a ponto de chamar a atenção para ela e
para a doidice de fazer pequenos sois de água e
sabão. Neste momento o esquálido jardineiro
utiliza pernas-de-pau – que é o que o liga à
realidade – e com elas fica mais alto do que os
arbustos. E de imediato, num repente, talvez
uma nesga de céu desça pra nos mostrar o arco-
da-velha ao alcance das mãos. Mesmo que se
38
queira guardar os rascunhos nas gavetas, a voz
poética foge para mostrar-se. Porque em Poesia,
o estado de espírito nunca será realmente
passado a limpo.Dentro e fora da bolha de
viver... Os alunos entreolham-se. No corredor,
ouve-se a sirene que anuncia o final da aula.
Alguns desataviados – uns poucos – em
algaravia, atropelam uns e outros, varando o
pátio da escola, direto para o jardim. É inverno.
Não há flores. Somente o busto de Castro Alves
e sua mão estendida aos inconformados...
– Do livro A POESIA SEM SEGREDOS, 2012.
39
AMAR É BOM!... (MAS DÓI!)
Miguel Russowsky
Amar é bom!... (mas dói). Tal como a seda,
agrada ao tato, alisa... e rompe à toa,
ave, sem galho fixo, na alameda,
ao menor dos zunzuns, se espanta e voa.
Amar é bom, mas dói!... Então conceda ,
mais tolerância caso o amor lhe doa!...
Nem vá dizer que a vida seja azeda,
quando alguém, a quem ama, lhe atraiçoa.
O amor é bom, mas...dói. Não interfira!...
Deixe que role ao Deus dará, sem juras!...
Promessas são prenúncios de mentira.
40
O amor é bom!... (mas dói). Assim são todos.
E os que não doem, nem causam penas duras,
são meras formações de húmus e lodos.
41
TROVAS
Na ternura desta hora
queria ter o direito
de colher a cor da aurora
para enfeitar nosso leito
Wilma Mello Cavalheiro
Bonança e paz sobre a terra,
é tudo o que eu peço a Deus,
para que as armas de guerra
virem peças de museus!
Aloísio Alves da Costa – Fortaleza CE
Quando eu grito: - Deus me acuda!
– que o peso entorta meus passos,
Deus não tira o peso, ajuda,
pondo mais força em meus braços!
Pedro Ornellas – S. Paulo – SP
42
Por este amor insensato
eu sei que o céu me condena,
mas a escolha de meu ato
eu troco por qualquer pena.
Alonso Rocha – Belém – Pará.
43
TROVAS HOMORÍSTICAS
Se o lobo mau fosse esperto,
não tinha pego o desvio.
Em vez da vovó, por certo,
um ―chapeuzinho‖ macio!
Lizete Johnson – Porto Alegre-RS
A vida é feita de escolhas,
os acertos festejamos...
O duro é virar as folhas
nas tantas vezes que erramos.
Milton Souza – Porto Alegre - RS
44
45
CONTOS E CRÔNICAS
HISTÓRIA CRÍTICA -TRABALHAR1
Jandir João Zanotelli
―Quem muito trabalha não tem tempo para
ganhar dinheiro‖. Se o trabalho se medisse pelo
dinheiro que dele resulta, pode-se dizer que
trabalham apenas os jogadores de futebol, os
atores de TV e os políticos. Os agricultores, os
criadores de gado, os produtores de alimento, de
tecidos, casas, estradas, energia, os professores,
não trabalham. Os banqueiros, os manipuladores
financeiros, os jogadores das bolsas de valores,
estes trabalham muito. Mais do que todos os
outros. Vê-se o que eles ganham. O exercício
dos serviços essenciais, saúde, educação,
segurança, não é trabalho.
Os imigrantes italianos, alemães, franceses,
japoneses... vieram para o Brasil para não mais
trabalhar para os outros. O feudalismo, onde o
Senhor explorava os servos da gleba, como
1 Os dois textos a seguir são das ―colunas‖ jornalísticas semanais
que a ASBL mantem.
46
semi-escravatura, findava na Europa ao longo da
primeira metade do século XIX. Os imigrantes
vêm para serem patrões, senhores de seu próprio
trabalho. “Esser paron...” E pensaram que o
trabalho enriqueceria. Era preciso trabalhar com
afinco, desde antes de o sol nascer até bem
depois do sol posto. As cicatrizes do trabalho
eram troféus a expor, como quem volta vitorioso
da guerra. O descanso era apenas uma pausa
para maior trabalho. Apenas para recuperar as
forças.
Depois veio a dolorosa lição: o dinheiro,
fruto de seu trabalho não fica com quem
trabalha. Fica com o intermediário que manipula
seu produto no mercado. E no mercado, quem
tem força não é quem produz ou comercia mas
os donos do setor financeiro.
E então o trabalho voltou a ser interpretado
pelos imigrantes e seus filhos como imposição
do Criador, castigo pelo pecado, redenção da
culpa... Foi Deus quem criou os homens com a
diversidade de vocações: criou alguns para
governar (deu-lhes sangue azul), outros para
rezar e pertencer à hierarquia da Igreja, e criou
os outros, a maioria, para trabalhar.
Marx ensinou que a essência do homem é o
trabalho. Não, porém, o homem transformado
em força de trabalho para o capital. O homem é
47
trabalho vivo: que tem necessidades, que arranca
da natureza o fruto ou produto para satisfazer
sua necessidade e que ao consumir o produto
refaz a vida como festa de ser. E isto em
comunidade. Em sociedade com os outros.
Porque o homem é essencialmente social.
No sistema capitalista implantado no
Ocidente, o fruto do trabalho era roubado por
alguns, limitando o trabalhador a ser mera força
de trabalho para o capital que se amontoa e se
reproduz a si mesmo. O capitalismo é a negação
do trabalho. É a efetivação e a louvação da
exploração do trabalho.
A superação da exploração do trabalho
aconteceria no socialismo e, ao final, no
comunismo. Aí ninguém mais seria explorado
em seu trabalho. Cada um daria tudo o que
pudesse e receberia tudo o de que necessitaria. O
tempo de trabalho seria diminuído. Haveria mais
tempo de lazer, de cultura, de liberdade. A
propriedade dos meios de produção seria do
Estado que cuidaria da necessidade de todos.
Esqueceu-se Marx que a propriedade,
privada ou coletiva não importa, é a fonte e raiz
de toda a exploração do homem pelo homem. E
os caminhos, ou descaminhos históricos para
esta meta, já os conhecemos. A denúncia da
exploração e dos mecanismos que levam a ela
48
permanecem, porém, uma grande lição histórica
desse pensador.
Não só de pão vive o homem... e muito
menos do pão permanentemente dado como
esmola. Jamais se pode negar um bocado de pão
ao faminto. Mas dar ao faminto o pão tirando-
lhe a dignidade é mais do que matá-lo. O pão
que o homem come e sacia sua fome sempre tem
o sabor de seu suor e da chuva que vem do alto.
Ou não é pão. É amargo demais o pão que só
tem gosto de suor. É insosso demais o pão que
só tem gosto de chuva. Pelo trabalho, o homem
semeia, colhe, cozinha, parte e reparte o pão. E
encontra o divino no humano que se faz
comunidade.
No Brasil, o trabalho que era a expressão da
liberdade e vitalidade dos índios, passou a ser
símbolo, e expressão de escravidão, de exclusão
e negação humana. Por isso, hoje, quem trabalha
não tem tempo para ganhar dinheiro. E, dizem e
repetem os meios de comunicação, o que
importa é ganhar dinheiro, enriquecer acima de
tudo e de todos. Assim fazem muitos políticos,
os bancos, os especuladores.
Festa do trabalho?
Do trabalho vivo. É preciso que seja.
49
ENCONTROS
Jandir João Zanotelli
Tivemos o 7º. Encontro mundial da
família Zanotelli. Dias 28 e 29 de janeiro
transcorrido. Foi em São Miguel do Oeste, SC.
A turma de Misiones e Las Perdizes da
Argentina, região do vinho e do gado. A turma
da Itália, especificamente de Cembra, pertinho
de Trento, com 26 pessoas e um coral magnífico
e que encheu o encontro com melodias antigas e
novas, burlescas e saudosas, de montanhas,
vales, amores e de fé. A missa inaugural foi toda
cantada por eles, numa comemoração dos
valores pelos quais os antepassados migraram e
os pósteros fundam suas esperanças. Um pouco
de ar para respirar vida comunitária e familiar.
Como todos insistiram, o encontro e o
sobrenome são apenas pretexto para o abraço,
para a felicidade de estar e prometer sempre
estar juntos. O esmero no acolhimento por parte
das lideranças municipais (Prefeito, Câmara de
Vereadores, e as mais diversas chefias) se fez
notável especialmente no alimento (churrasco de
costelão e porcos no rolete, feijoada etc), tudo
preparado pela comunidade que se integrou à
50
festa e lhe deu o sabor especial da região. E as
lideranças sublinhavam que aquela não era
apenas a festa dos Zanotelli e sim a festa e
proposta para todos as famílias de S. Miguel.
Num mundo em que esses valores
desmoronam e são substituídos pelo
individualismo, neo-liberal e consumista,
guardar a memória da solidariedade, da
participação, da fidelidade, da ajuda aos mais
fracos, da valorização do trabalho e do lazer que
se faz canção e oração, é algo que comove e
reanima.
Sem alardes nem protocolos, uma reunião
de família pode colocar a vida em seu devido
lugar. É então que a comunidade se mostra como
o espaço único, insubstituível da vida humana. E
o mundo globalizado, o mundo geral, o mundo
do anonimato, o mundo virtual da economia de
mercado, do individualismo liberado para o
nada, se mostra como o avesso do humano, da
felicidade real do viver.
Há muito tempo que a vida pública, a vida
laboral, a vida social, política e até religiosa se
destacou, se desvinculou, se alienou da família.
Muitos pensam que isto é o progresso, a
evolução natural das coisas.
Por outro lado a vida familiar de alguns
passou a determinar toda a vida política,
51
econômica e até cultural dos outros. E por mais
que se disfarcem as relações sociais,
empresariais e partidárias em ―familiares‖, o
sentido profundo da família parece proscrito,
banalizado, proibido. Manifestações de afeto, de
carinho, de saudade, e solidariedade parecem
demonizadas como atraso, descontrole, fraqueza
e superstição...
Família numerosa, como foi a dos nossos
pais e avós, especialmente entre os imigrantes,
era tida como bênção de Deus, como garantia da
força de trabalho e segurança da comunidade.
Passou, depois, a ser um peso inútil e até uma
irresponsabilidade, especialmente assim pensada
por aqueles que deveriam garantir lugar de
trabalho, educação e saúde.
No bojo, porém, dessa família numerosa,
medravam os valores que, desde sempre,
moldaram a humanidade do homem: a posse
comunitária e não a propriedade individual das
coisas; a ética da solidariedade, do auxílio
mútuo, especialmente ao mais fraco e
desamparado; não mentir como norma
fundamental; a fidelidade à palavra dada; não
explorar os outros... e nisto tudo a experiência da
transcendência não só como rito mas como
lastro existencial de ser. É verdade que nem
sempre estes valores valeram e valem em nossas
52
famílias. Mas eles são o ―dever ser‖ que mede o
agir, o fazer e o ser.
Pois bem, quando a família ―está em
liquidação‖ pelo preço mais barato possível, e
não estamos falando nos tipos sociológicos de
organização da família (nuclear, ampla ou
diminuta) e sim nos fundamentos de ser em
família, um encontro familiar que busca raízes
para alimentar a esperança, faz bem ao coração.
O encontro sempre faz bem.
A árvore genealógica dos Zanotelli, por
nós organizada com a colaboração de muitos,
evidencia a presença de mais de 10.000 pessoas
com este sobrenome ou vinculados a ele, no
Brasil. Desde Livo e Cembra na Região de
Trento, essa família migrou, a partir de 1874
para as mais diversas pátrias da terra: Austrália,
Canadá, EEUU, México, Argentina e no Brasil
localizou-se especialmente n Rio Grande do Sul
e Espírito Santo. Mas, sobrenome é apenas
pretexto.
Como membro da Academia Sul-
Brasileira de Letras tive a alegria de
experimentar o suculento sabor da palavra em
forma de dialeto, de canções e de muito abraço.
Desejo também a você, leitor, experiências de
viver e conviver assim.
53
HISTÓRIAS
Ana Gouvêa
A gente vai falando tanto e acaba se perdendo
entre os assuntos. Os textos idem... Histórias
quase autobiográficas de um casal, textículos de
uma adolescente gaúcha, contos aleatórios (ou
desabafatórios, se o Aurélio me permite o
neologismo), camisetas e gauchismos. Vamos
organizar as ideias?
Sou canoense, 35 anos, casada há 8, quase
cega há 24 (porque descobri aos 11 anos, antes
disso eu era só estabanada) e seria uma típica
guria de apartamento se não tivesse um pai
baiano que nos levasse á praia em julho. Larguei
emprego em Porto Alegre, deixei a proximidade
com a família e vim morar no interior da Bahia
por um amor que me amava platonicamente.
Nem tenta entender, adiante peregrinho.
Desde 2005 eu tento me adaptar a esta
vida de cidade pequena, ruas de terra e calor
intenso, sendo eu tão "cidade grande" e com
tanta vontade de civilização. Meu filho saciou
uma sede que eu não sabia que tinha, mas todas
as outras ânsias eu trato escrevendo. Isso ficou
54
claro no conto do Feijão de Andu, e quem me
conhece entendeu cada frase do Silêncio como
uma quase redenção. Enfim, eram só duas
linhas, desculpa, deixa eu transformar isso num
twit: "Canoense vivendo no interior da Bahia,
formada na UFPR, empresária, mãe, legalmente
cega e esporadicamente escritora."
A Julieta Cristina é uma guria de uns 22
anos, estabanada e com ímã pra gente de nome
esquisito. Tem um irmão mais novo pra
pentelhar seus momentos de diversão, a mãe se
comporta como uma gatora de 17 anos e a
cachorra, uma São Bernardo chamada Sinfonia,
transforma aem baba grande parte de seus
objetos de estimação. São 25 histórias curtas,
"Gramática" é uma das minhas prediletas. Juju
foi dormir na casa do namorado e...
Gramática
- Bom dia. Aqui é o Anacoluto, quem fala por
favor?
- Anacoluto? Aqui é a Antonomásia. Ah, vai te
catar, isso são horas de passar trote gramatical?
Putzgrila. Cinco e meia da manhã, primeira vez
que o Mário dorme aqui em casa e o telefone
nos acorda? Saco.
- Quem era, amor?
55
- Desculpa te acordar, paixão. Era um doido se
dizendo figura de linguagem...
- Anacoluto?
-É...Por quê?
- Cris, é o tio Anacoluto, que vai levar a gente
pra praia!
- Ai meu Zeus, eu esqueci! Desculpa, mas
vamos combinar que o nome dele não é muito
usual... E a ligação me pegou de surpresa, eu
tava dormindo tão gostoso!
- Isso me dá ideias! O que tu acha de a gente...
Triiiiiimmmmmmm
- Alô?
- Oi, aqui é a Eujácia, o Mário tá por aí?
- Bom dia, Dona Eujácia. É a Cris.
- Oi lindinha! Vocês já estão prontos? O Tuto
ligou há pouco, mas acho que se enganou, pois
me disse que alguém muito grosseiro atendeu.
- Capaz tia! Aqui o telefone não tocou...Bem, dá
10 minutos que a gente tá no jeito!
- Certo fofinha, já nos vemos!
Ufa, ainda bem que fiz as malas ontem. Ai,
xiriguidum, depois de uma noite perfeita vem
um findi na praia com o meu amor, que delírio!
- Bom dia, meninos! A mim, você pode chamar
tio Anacoluto, combinado Julieta Cristina?
- Certo, tio Anacoluto. E que belo anacoluto o
senhor construiu na frase, hein?
56
- Grande menina! Garanto: gostas de gramática.
- Verdade, gosto sim. Agora deixemos de
aliterações e vamos à praia?
- Chega de papo, vocês dois: já passei filtro solar
e quero tomar um torrão até o meio dia, já pro
carro!
- Isso mesmo, tia Eujácia. Tô tri nas pilha de
pegar umas ondinha.
- Assassino! Não destrate assim o pai Aurélio!
- Calma, tio Anacoluto, estou apenas
parafraseando um surfista amigo meu, é
brincadeira!
- Ufa. Então está certo. Sem mais onomatopéias,
todos pra dentro do vumvum!
Ai meus sais. Isso vai ser engraçado. Espero...
- Achei que era em Tramandaí, tio... Pra que
praia a gente vai?
- Julieta Cristina, isso foi quase uma alit...
- Chega, eu falei! Cris, a gente vai pro Cassino,
o Euclides gosta de espaço.
- Euclides? Esse eu não conheço, tia Eujácia.
- É o nosso cachorro, querida. Ele é um pouco
grande, por isso a gente deixa ele na casa da
praia, tem mais espaço.
- É, não se pode negar que ele tenha espaço no
Cassino...
-Bom,chegamos.
57
Pelamordedeus! Isso é uma casa de praia?
Parece um hotel-fazenda com faixa litorânea! Ó
só, tem até um bezerro ali na varanda! Ele tá
vindo pra cá. Credo, como corre!
-Socoooooooorrooooooooooooooooooo!!!
-Euclides,junto!
- Alguém anotou a placa? Uma jamanta me
atropelou.
- Bela metonímia, Julieta Cristina. Este é o
Euclides, nosso dog alemão. É um belo cão, não
é? Vem, garoto.
- Bonito sim, tio Anacoluto. E um belo
desenhista, olha que beleza de arte ele fez com
as patas na minha blusinha branca...
- Ora, esta menina está se revelando uma grata
surpresa! Acertou na ironia!
- Pois tu vês, tio, nem foi intencional. Eu devia
estar acostumada, a Sinfonia não é muito
diferente. Esses cuscos são a antítese do ―cão de
estimação‖... Tá, vou me trocar, vamos dar uma
volta na praia, Mário?
Feitoria. Biquininho novo, chinelinho
combinando, bloqueador solar...
- Tia Eujácia, passa protetor solar nas minhas
costas?
- Claro querida, chega aqui. Vou usar o meu, tá?
-Mááááário, tá pronto?
58
- Querida, o Mário foi na frente com o
Anacoluto, pediu pra você encontrá-los na praia.
Ai, ai, que maravilha... Tá, né, fazer o quê...
Aiiiii, e chega de eufemismos, prosopopéias e
catacreses. E que vá se catar o português correto.
Droga, cadê esse povo? Já tô caminhando há
uma hora e meia e nada deles. Legal, né? Pedem
pra gente se encontrar na praia... será que
alguém lembrou que a gente tá na praia do
Cassino, a maior do mundo? Onde tá o Google
Earth quando a gente precisa dele? Pera...
Google Earth... Eu deveria procurar pelo
bezerro, digo, cachorro. Como é mesmo o
nome? Pleonasmo? Não, merda, é nome de
gente, de algum livro daqueles que obrigam a
gente a ler no colégio... Escobar? Não, esse é o
corno da Capitu. Eurípedes? Não, essa é a
mulher do Orfeu. Ai, o Tony Garrido... Volta,
Cris, a hora do recreio é depois! Como é o nome
daquele potro? Demóstenes? Não, esse é meu
ex. Bela fonte de nomes esquisitos, a minha lista
de ex. Só o Mário se salva, mas a família dele
tem cada obra! Droga, não viaja guria, como é o
nome do cusco? É com E. Eustáquio?
Ermenegildo? Euzébio? Ercílio?
-Euclides,não!Isso!Euclides!
Aaaaaaaaaaaaaiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!
59
- Alguém anotou a placa? Acho que uma
jaman... Aaaaaiiiiii que dor nas costas!
- Amor, tá tudo bem?
- Morri e tô no céu, mas com as costas no
inferno. O que houve, Mário?
- O Euclides te achou na praia, pulou em ti e te
derrubou. Tu bateu a cabeça numa planonda e
desmaiou. Só não sei porque tu passou protetor
solar no corpo todo menos nas costas, tem até
bolhas de tanta queimadura!
- Eu passei sim! Na verdade, a tia Eujácia
passou o dela...
- Tia Eujácia???? Ela só usa óleo de côco!!
- O que mais pode acontecer, pelamordedeus?
-Jujuuuuuuuuuuuuuuuu!!
- Ai não. O Paulo Afonso nãooooooooooooo!!!!
60
COLHENDO “FLORES DO LÁCIO”
Jorge Moraes
À medida que a vivência se acumula na
brancura dos cabelos, e os músculos relutam em
obedecer ao nosso comando, tornando-se peças
que não mais se contraem, assim como a palidez
da face revela suspiros e ais, e os netos deixam
de ser crianças, as reflexões tornam-se mais
intensas. As noites são vertentes de sonhos a
transportar-nos por mananciais em que veleiros
jamais aportam nas praias ou ancoradouros.
Andamos sem rumo por ―Ceca e Meca‖. O
lugar das nossas quimeras, muitas vezes
inacessível, fica ―pra lá de Bagdá‖.
A alguns, a felicidade e as alegrias são tão
efêmeras, duram tão pouco, esvaem-se por entre
os dedos do tempo, e o próximo Natal começa
no dia subsequente ao anterior. O distante
cronológico está sensitivamente perto. O antes
agrega-se ao depois. Nossa vaidade, nosso
61
orgulho, nossas aspirações, às vezes são
esquecidos, preteridos. Louváveis os que não se
deixam abater, vivem e vestem-se ―à grande e a
francesa‖. Reúnem forças além das próprias
forças, e costumam ―meter uma lança em
África‖.
A vida é uma pugna constante. Sem
tréguas...não permite hesitações. Por natureza
somos insatisfeitos. Nascemos para dividir,
ceder, compartilhar. Na divisão, somamos afeto.
Ao ceder, conhecemos a reciprocidade.
Compartilhando, a multiplicidade torna-se una.
E quando somos felizes, mesmo
momentaneamente, defendemos a apologia de
que ―antes ser o segundo em uma aldeia que o
primeiro em Roma”. E o rio de nossa aldeia,
segundo Fernando Pessoa, é mais bonito que o
Tejo.
Edificamos ontem o teto que hoje nos
abriga. E almejamos, para o amanhã, uma
cadeira de balanço, à sombra da varanda, onde
sorveremos, em boa companhia, sob o murmúrio
do zéfiro, o mate das reminiscências. Ao final do
último ato, ao cessarem os acordes, com a
62
anuência do maestro, ‖sairemos à francesa‖,
quase imperceptível, de tal sorte que tenhamos
agradado ―a gregos e troianos”. Nem todos
assistem ao final do espetáculo. A tragédia e a
comédia ostentam a mesma máscara. Risos e
lágrimas brotam no mesmo leito. Revoga-se o
―jeitinho brasileiro‖.
Contudo, nem sempre se harmonizam o
ser e o querer. A semente lançada, por vezes
fenece, quem sabe até por falta da rega ou
desígnios imutáveis, e resta-nos tirar a cobertura
de um ―presente grego‖. Revela-se a sagacidade
de Odisseu na imponência ardilosa do ―cavalo
de Troia‖. Talvez seja esse o preço da solidão.
A idade não deve ser passaporte para o
incontestável, mas reconhecimento do legado e
respeito aos olhos turvos. Os ombros caídos, os
trôpegos passos não mais comportam a rigidez
da ―disciplina espartana‖, a precisão da
―pontualidade britânica” ou a ―arrogância
farisaica‖. Repudiam-se ―filas indianas‖.
Mesmo assim, não se lhes neguem o direito de
tentar, pois o eco dos sorrisos de descaso pode
ensurdecer ouvidos moucos. Prudência com
63
quem professa ―a Cascais nunca mais‖ ou ―de
Espanha, nem bons ventos, nem bons
casamentos”.
A juventude, entorpecida nas benesses da
matéria, não dimensiona os limites do provável,
do casuísmo, do acidental. Preocupa-se com a
morada, sem saber como proteger-se da
ventania. Os jovens contemplam o mar, mas
ignoram as borrascas e as procelas. Apregoam,
indiferentemente, que as mazelas da idade são
apenas engodos “para inglês ver‖. Não se
creem ter vocação a ―bom samaritano‖.
Tal qual Dario I, justificando ―ser
lembrado dos atenienses”, precisamos,
constantemente, realimentar manifestações de
fraternidade, de amor, de crescimento intelectivo
e espiritual, lembrando que mesmo aos
aquinhoados a vida não é um eterno ―negócio da
china‖, menos ainda sedutoras ―paisagens das
arábias”. Indiferente a nossas pretensões,
muitos conhecem as agruras de um ―corredor
polonês‖ ou o vilipêndio da “tortura chinesa‖,
e só se redimem quando chegam, humildemente,
aos patamares da ―pobreza franciscana‖. Aí
64
pode ser muito tarde. ―Inês é morta‖. De nada
vale inocentar-se declarando que ―isto pra mim
é grego‖.
O beijo que seduz pode levar à traição. A
vela que ilumina pode ser a causa da queima.
Com a agulha das recordações, vou
osturando os retalhos do passado. Assomam-se
aos olhos baços os versos líricos do vate
romântico Álvares de Azevedo: ―Beijaria até
uma caveira / Se espumante o ―madeira”
corresse. E se não o tiver, sorveria uma taça do
capitoso e borbulhante ―champanha‖ ou ainda
gordos goles de um autêntico ―porto‖. Enquanto
isso, dormitam empoeirados, num móvel
centenário, uma caixa de ―havanas‖ para
brindar nascimentos, uma bengala com punho de
madrepérolas e um legítimo ―panamá‖. ―A
media luz‖, inspirado em Gardel, nossa
imaginação troca passos com ilusão.
65
SEDE...ÇÃO ou SEDUÇÃO?
Jorge Moraes
A partir do momento que as transações
comerciais, prioritariamente, condicionaram-se a
sofisticados veículos de divulgação, atendendo
aos clamores do processo de globalização,
ficamos, mais do que nunca, atrelados aos
efeitos advindos de uma linguagem alicerçada na
criatividade. A ortodoxia não se coaduna com
quem objetiva conquistas.
Desde o folclórico carroceiro, a valer-se
de recursos parcos – e que ainda o faz nas
regiões periféricas – que divulgava seus
produtos através de rouquenhos brados e batidas
fortes numa tábua ao alcance do cabo de relho,
até as imagens tridimensionais, terminologia
científica e intrincados efeitos mirabolantes,
engendrados em berços virtuais, as estratégias
mercadológicas passaram por mudanças
imensuráveis.
66
A mensagem impressa, gráfica, sonora ou
televisiva, nem sempre respeitando princípios e
postulados gramaticais, prioriza, em espaços
físicos e temporais diminutos, conquistar,
principalmente por mecanismos solertes, um
público que sempre fez sua opção através da
espontaneidade. E poucos não alteraram seu
―modus acquirendi‖. Na limitação de nosso
julgamento, cremos que a falta de adesão
imediata ocorre por insensibilidade ao apelo,
desconfiança, conservadorismo ou defesa de sua
liberdade opcional.
Tomemos como ponto de partida as
campanhas publicitárias alardeadas pelas
indústrias e empresas cervejeiras. Durante
muitos anos, a embalagem convencional esteve
às mãos do mercado consumidor em garrafas de
600ml. No início dos anos 90, chega ao Brasil a
lata de alumínio. Fontes confiáveis afirmam que
em 2011, 30% do consumo de cerveja deu-se
através de embalagens metálicas de 269ml,
350ml e principalmente 473ml. Tendo-se como
referência a lata de 350ml, passou-se a
denominar, sem que haja deslize gramatical,
uma vez que o enfoque é substantivo, ―latinha‖ e
―latão‖. Naturalmente, se tivermos como opções
embalagens de 350ml e 473ml, a de menor
volume será considerada ―latinha‖.
67
O consumidor de cerveja, quando sozinho,
em grande parte, restringe-se a uma ou duas
latas, ou talvez a uma garrafa de 600ml. Os
comedidos satisfazem-se com a embalagem long
neck 355ml. Uma vez reunida a confraria, a
descontração, os petiscos, a sedução olorífera e
visual de bons cortes, o acompanhamento
musical, despertam nossa sensibilidade e
ingerimos, talvez, mais do que o recomendado.
Citem-se, dentre outras marcas de cerveja,
a alemã/holandesa Heineken com 330ml; as
uruguaias Patricia e Norteña, com 960ml; a
argentina Quilmes com 960ml; a belga Stella
com 960ml; a Bohemia Pilsen com 990ml.
Nossa indústria cervejeira, a buscar
inovações ao mercado, investe maciçamente,
também, na embalagem próxima a 1000ml, ou
seja quase um litro. E mais, as agências
publicitárias fundamentam expressivas
vantagens, classificando o litro como ―litrão‖.
Arrolando, como não poderia ser diferente,
múltiplas vantagens.
Não fora uma estratégia de venda, a levar-
nos a crer que um litrão possui mais líquido que
um litro, a denominação estaria completamente
inadequada. Isto porque se um ―litrão‖
aproxima-se de 1000ml, quanto terá o litro
convencional? E o curioso é que a prática não se
68
efetiva com outras embalagens. Não
empregamos um ―litrão‖ de leite, um ―litrão‖ de
água mineral, um litrão de azeite. E ainda que
tenham quase dois litros ou mais, embalagens de
refrigerante são chamadas de ―litrão‖. E hora de
nos perguntarmos qual é o volume exato de um
litro? Quem sabe, em breve, conheceremos o
―litrinho‖. Lembremos que as unidades de
medida (SI: Sistema Internacional) não podem
ser passíveis de flexões. E percebam como é
curioso – segundo a matemática Magda Sievert
– o ―litrão‖ possui menos volume que o ―litro‖,
nesse caso.
Talvez seja questionável sabermos se o
consumidor influenciou a mídia, ou por ela foi
influenciado?
Permitam-nos enfatizar que quando
desejamos aludir a espaços temporais reduzidos,
temos por vezo encontrar minutos com,
provavelmente, menos de sessenta segundos.
Caso nos convenha, diremos: Somente cinco
minutinhos nos separaram do fechamento da
porta.
Mudemos o foco de nossa análise. Temos
ouvido, frequentemente, alguns vocábulos e
construções bizarras e/ou jocosos, e uma vez
proferidos por comunicadores de notoriedade
artística, mesmo que cometam atrocidades ao
69
idioma pátrio, de pronto se tornam máximas
incontestáveis. Encontram guarida em torpes
seguidores, que os repisam, temendo, pelo
desuso, falta de identificação com os fluxos
vigentes.
Em alguns programas televisivos, que se
atêm a comentar nuances da intimidade de
personagens que habitualmente estão em
evidência, quer pelo glamour, quer pela
celeuma, quer pela competência, quer por
comportamentos desairosos ou conquistas
honoríficas, divulga-se a glorificação da
maternidade, afirmando que esta ou aquela atriz
está gravidíssima. Naturalmente, são programas
que possuem público fiel aos fuxicos que
envolvem os famosos.
Convém recordar que dois são os graus do
substantivo: aumentativo e diminutivo. Os
adjetivos fazem flexão em estruturas
comparativas e superlativas. Em o sendo
superlativos (grau máximo), apresentam-se
como absolutos e relativos. Sendo relativos,
podem ser de superioridade (analíticos ou
sintéticos) e de inferioridade. Quando absolutos,
classificam-se como analítico – A estátua é
muito bela. – ou sintéticos – A estátua é
belíssima. – Alguns adjetivos absolutos
sintéticos, considerados eruditos, vão buscar nas
70
vertentes grega e latina fundamentação radicular.
Dessa forma, teremos paupérrimo (pobre),
magérrimo ou macérrimo (magro), nigérrimo
(negro), dulcíssimo (doce). Predominam os
sufixos “imo” (facílimo), ―íssimo” (fortíssimo).
Os advérbios, mesmo classificados como
invariáveis, por vezes apresentam flexão:
pertinho, cedinho.
Algumas palavras, em se considerando o
enfoque sintático, mudam de categoria
gramatical (derivação imprópria). Examinemos a
palavra ―grávida‖ em: A grávida compareceu à
ginecologista. É óbvio que é substantivo
(sujeito), e mesmo o sendo, não aceita
aumentativo ou diminutivo. Não obstante, se a
empregarmos em: Maria está grávida, teremos,
agora, Maria como sujeito, e grávida evidencia o
estado qualificativo. Para que não tenhamos
dúvidas, podemos substituir, quem sabe, por
Maria está cansada. Entretanto, “cansada‖
aceitará os graus do adjetivo, inclusive
cansadíssima. Na colocação ―gravidíssima”
, à semelhança de outras palavras, tais
como ―morto‖, ―vítima”, o superlativo,
gramaticalmente, não encontra respaldo. Não
teremos mulheres mais ou menos grávidas que
outras, bem como não teremos mortíssimo. A
71
colocação “mortinho”, para o substantivo ou
adjetivo, enquadra-se nas liberdades afetivas.
Parece-nos, salvo que estejamos
equivocados, que ao afirmarem: Maria está
grávida! não possuem certeza plena. Recorrem,
destarte, ao superlativo, ainda que violentando a
castidade da língua pátria. Não faltarão, bem
sabemos apologistas dos exemplos ―Os menino
saiu daqui agorinha mesmo.‖ e ―Eles foi buscar
as marmita.‖, preconizados no livro Por uma
vida melhor. Segundo o professor Sírio
Possenti, ―trata-se de uma espécie de
experimento mental, para que fique mais clara a
relação entre fazer gramáticas que levam em
conta construtivamente certa tradição escrita e
cultural e fazer gramática que não incluam tais
elementos‖.
Nosso receio fundamenta-se na constante
descaracterização da racionalidade idiomática,
em beneficio de agravos que põem em risco a
visão lógica de nossos vocábulos e estruturas.
Não se aconselhe ou defenda, na prática trivial, o
preciosismo Machadiano, entretanto, não
cheguemos a afirmar que Maria tomou um litrão
de dois litros de refrigerante, ficando com o
ventre inchado como se estivesse gravidíssima.
72
“AMANHÃ MUDA A LUA, TALVEZ
A PORCA DÊ CRIA”
Jorge Moraes
Com a chegada do Natal e mudança de
ano, julgamos de bom alvitre, fazermos algumas
ilações a respeito de calendários. A contagem de
tempo baseia-se nos movimentos aparentes do
Sol e da Lua - para determinar as unidades do
dia, mês e ano.
O dia nasceu do contraste entre a luz solar
e a escuridão da noite. A periodicidade das fases
lunares gerou a idéia de mês. A repetição
alternada das estações, que variavam de duas a
seis, de acordo com os climas, deu origem ao
conceito de ano.
Os anos lunares têm que ser regulados
periodicamente, para que o início do ano
corresponda sempre a uma lua nova. A fim de
que os meses compreendessem números inteiros
de dias, convencionou-se o emprego de períodos
alternados de 29 e 30 dias. Mas como o mês
lunar médio resultante é de 29 dias e 12 horas,
73
isto é, mais curto 44 minutos e 2,8 segundos do
que o sinódico, adicionou-se, a partir de certo
tempo, um dia a cada trinta meses, com a
finalidade de evitar uma derivação das fases
lunares.
As origens do calendário Juliano
remontam ao antigo Egito. Foi estabelecido em
Roma por Júlio César no ano 46 a.C.. Adotaram-
se 365 dias, divididos em 12 meses de 29, 30 ou
31 dias. A diferença do calendário egípcio está
na introdução dos anos bissextos de 366 dias a
cada quatro anos. O esquema foi reformulado
para que o mês de agosto, nomeado em honra ao
imperador Augusto, tivesse o mesmo número de
dias que o mês de julho: homenagem a Júlio
César. Com o passar dos anos se registra um
adiantamento na data do equinócio da
primavera. Caso fosse mantido o calendário
Juliano, tê-lo-íamos em seis meses no início das
estações. Para evitar o problema, recomendou-se
ao papa Gregório XIII a correção.
O calendário Gregoriano demorou a ser
aceito, principalmente em países não-católicos.
Inicialmente, foi adotado por Portugal, Espanha,
Itália e Polônia. Nas nações protestantes da
Alemanha o foi no decorrer do século XVII. No
Egito e Japão entrou em vigor desde 1873. Na
China em 1912, no Brasil em 1582. Há países
74
que não o aplicam: Israel, Iran, Índia,
Bangladesh, Paquistão, Argélia. Na China a
adoção foi tão problemática que até gerou o dia
30 de fevereiro.
O calendário Gregoriano, usado na maior
parte do mundo, compreende 365 dias, mas a
cada quatro anos há um ano de 366 dias - o
chamado ano bissexto, em que o mês de
fevereiro passa a ter 29 dias. São bissextos os
anos cujo milésimo é divisível por quatro, com
exceção dos anos de fim de século cujo
milésimo não seja divisível por 400. No
calendário Gregoriano os anos começam a ser
contados a partir do nascimento de Jesus Cristo,
em função da data calculada, no ano 525 da era
cristã. E é mais provável que Jesus Cristo tenha
nascido quatro ou cinco anos antes, no ano 749
da fundação de Roma, e não no 753. Para a
moderna historiografia, o fundador do
cristianismo teria na verdade nascido no ano 4
a.C.
O calendário Gregoriano distingue-se do
Juliano porque: Omitiram-se dez dias (de 5 a 14
de Outubro de 1582). Corrigiu-se a medição do
ano solar, estimando-se que este durava 365 dias
solares, 5 horas, 49 minutos e 12 segundos.
Acostumou-se a começar cada ano novo em 1 de
Janeiro.
75
No Império Romano, a astrologia acabou
introduzindo, no uso popular, a semana de sete
dias (septimana, isto é, sete manhãs, de origem
babilônica). Os nomes orientais foram
substituídos pelos latinos, do Sol, da Lua e de
deuses equiparados aos babilônicos.
Com o cristianismo, o nome do dia do Sol
passou de Solis dies a Dominica (dia do Senhor,
Dominus) e o Saturni dies (dia de Saturno) foi
substituído por Sabbatum, dia do descanso
(santificado). O português adotou a
nomenclatura do latim litúrgico cristão, que
designou os dias por sua sucessão ordinal.
Para perfazer esses 365 ou 366 dias,
seis meses alternados teriam 31 dias (março,
maio, julho, setembro, novembro e janeiro) e os
outros teriam 30 dias (abril, junho, "sextilis",
outubro e dezembro), à exceção de fevereiro, na
época o último mês do ano, para o qual só
restaram 29 dias (e 30 dias nos anos bissextos,
os anos de 366 dias), tinha 31 dias, resolveu-se
igualar o número de dias de agosto, subtraindo 1
dia de fevereiro, que ficou com 28 ou 29 dias, e
se alterou a sequência dos meses de 31 dias
(outubro e dezembro teriam 31 dias, no lugar de
setembro e novembro). O mês de março era o
primeiro mês do ano. Observe, a esse propósito,
que SETEmbro era o sétimo mês. Só mais tarde
76
o mês de janeiro - mês do início do mandato dos
cônsules romanos - passou a ser o primeiro e não
o décimo-primeiro mês do ano. Isso definiu as
atuais regras dos meses com 31 dias (janeiro,
março, maio, julho, agosto, outubro e
dezembro), com 30 dias (abril, junho, setembro e
novembro) e com 28 ou 29 dias (fevereiro).
A origem do nome dos meses – Janeiro,
homenagem a Janus, deus de duas caras.
Fevereiro, homenagem a Februa, deusa das
purificações e dos sacrifícios. Março,
homenagem a Marte, deus da guerra. Abril, de
origem contraditória, sobressaindo a referência
ao "abrir" (germinar) das sementes. Maio,
também de origem polêmica, ora associado à
magistratura, ora associado à deusa Maia. Junho,
associado a Junius, antigo mês consagrado aos
jovens. Julho, homenagem a Júlio César.
Agosto, homenagem a César Augusto.
Diferentemente da crença popular, o nome
"bissexto" não teve origem no fato de anos
bissextos contarem 366 dias. A explicação é que
o dia complementar seria colocado entre o
sétimo e o sexto dia anteriores às "calendas de
março" (isto é, entre 23 e 24 de fevereiro - mês
que na época tinha 29 dias, normalmente), o que
fez denominá-lo "bissexto calendas" (em outras
palavras, dois "sextos dias" antes de março).
77
Os registros de datas, como conhecidos
hoje, somente foram organizados a partir do
Concílio de Nicéia, à época do Papa Silvestre I
(foi ele que inspirou o nome da Corrida de São
Silvestre e, nas folhinhas, é ele o santo do dia 31
de dezembro), inclusive no que diz respeito ao
dia de Natal e ao domingo de Páscoa.
E já que aludimos às “folhinhas”,
lembram como eram?
Outrora, pequenos estabelecimentos
comerciais: armarinhos, bazares, ferragens,
armazéns, funerárias, padarias, oficinas de
conserto de eletrodomésticos, expressavam
tradicionais votos natalinos e de novo ano
através de calendários, habitualmente
pendurados num preguinho nas portas de
madeira da copa ou da cozinha, com doze folhas
retangulares, em média 30 por 40 cm.
Predominavam, nas ilustrações, imagens
religiosas, paisagens bucólicas, jardins, castelos,
animais (gatos, cães, coelhos, cavalos, peixes),
crianças, casais de idosos, acervo gauchesco. As
estampas eram aproveitadas, no ano seguinte,
nas salas de aula, como material didático. Ao pé,
numa quadrícula, apareciam os dias,
observações e recomendações.
Tão logo tínhamos às mãos as esperadas
relíquias, marcávamos o dia semana em que
78
ocorreriam os aniversários e acontecimentos
festivos. Ao longo do ano, permitiam-nos
identificar o ―Santo do Dia‖, tomar ciência das
fases da Lua – fundamentais ao corte de cabelo,
à plantação, aos animais ―chegadinhos a dar
cria‖, (galinhas, porcos, vacas) e a mulheres ao
final da gestação. Alguns exemplares expunham
mensagens espirituais ou citações de pensadores
consagrados. Nas firmas comerciais –
escritórios, tínhamos os calendários de mesa.
Nas borracharias e em algumas
oficinas mecânicas, a divulgar óleos, pneus e
peças, fotos de sedutoras mulheres em vestes
sumárias ou desnudas constrangiam o ingresso
de respeitáveis e pudicas senhoras.
Calendários e agendas, publicados por
instituições religiosas, dentre elas as das Irmãs
Paulinas, tinham expressiva aceitação nos lares
católicos. Colecionava-se o Almanaque do
Pensamento.
Custos operacionais reduziram as
folhinhas, inicialmente, a três estampas, e daí
limitou-se a uma, com ou sem imagem. Alega-se
que os números maiores favorecem a
visualização. Afirmam os mais velhos que nas
folhinhas de hoje o tempo passa mais depressa.
As farmácias e drogarias divulgavam produtos
farmacêuticos através de pequenos almanaques.
79
Conservamos ainda, testemunhando a história,
registros dos laboratórios Sanifer, Silveira,
Kraemer (IZA), Catarinense (Renascim, Sadol),
– com a tradicional carta enigmática - Fontoura,
Inkas, Flora da Índia, Klein.
Posteriormente, surgiram os pequenos
calendários a serem guardados nas carteiras de
documentos, facilitando a consulta.
Poucos são os estabelecimentos que
ainda investem em folhinhas. Raros os
laboratórios que nos brindam com calendários.
Algumas empresas de grande porte presenteiam
clientes preferenciais, com luxuosas agendas.
É inevitável, já que as mudanças são
constantes, que também nossos registros
tivessem uma nova face. Entretanto, parece-nos
que, mesmo com a praticidade dos novos
calendários, inclusive virtuais, com o
desaparecimento das ―folhinhas‖, feneceram
dias de lembranças e de lirismo.
80
FAMÍLIA
(Trechos do livro "O arroz de palma" de
Francisco Azevedo.)
"Família é prato difícil de preparar. São
muitos ingredientes. Reunir todos é um
problema...
...Não é para qualquer um. Os truques, os
segredos, o imprevisível. Às vezes, dá até
vontade de desistir...
...Mas a vida... sempre arruma um jeito de
nos entusiasmar e abrir o apetite. O tempo põe a
mesa, determina o número de cadeiras e os
lugares. Súbito, feito milagre, a família está
servida.
Fulana sai a mais inteligente de todas.
Beltrano veio no ponto, é o mais brincalhão e
comunicativo, unanimidade. Sicrano, quem
diria? Solou, endureceu, murchou antes do
tempo. Este é o mais gordo, generoso, farto,
81
abundante. Aquele, o que surpreendeu e foi
morar longe. Ela, a mais apaixonada. A outra, a
mais consistente...
...Já estão aí? Todos? Ótimo. Agora,
ponha o avental, pegue a tábua, a faca mais
afiada e tome alguns cuidados. Logo, logo, você
também estará cheirando a alho e cebola. Não se
envergonhe de chorar. Família é prato que
emociona. E a gente chora mesmo. De alegria,
de raiva ou de tristeza.
Primeiro cuidado: temperos exóticos
alteram o sabor do parentesco. Mas, se
misturadas com delicadeza, estas especiarias,
que quase sempre vêm da África e do Oriente e
nos parecem estranhas ao paladar tornam a
família muito mais colorida, interessante e
saborosa.
Atenção também com os pesos e as
medidas. Uma pitada a mais disso ou daquilo e,
pronto: é um verdadeiro desastre. Família é prato
extremamente sensível. Tudo tem de ser muito
bem pesado, muito bem medido. Outra coisa: é
preciso ter boa mão, ser profissional.
Principalmente na hora que se decide meter a
colher. Saber meter a colher é verdadeira arte.
82
Uma grande amiga minha desandou a
receita de toda a família, só porque meteu a
colher na hora errada.
O pior é que ainda tem gente que acredita
na receita da família perfeita. Bobagem. Tudo
ilusão. Não existe Família à Oswaldo Aranha;
Família à Rossini, Família à Belle Manière;
Família ao Molho Pardo (em que o sangue é
fundamental para o preparo da iguaria). Família
é afinidade, é à Moda da Casa. E cada casa gosta
de preparar a família a seu jeito.
Há famílias doces. Outras, meio amargas.
Outras apimentadíssimas. Há também as que não
têm gosto de nada, seria assim um tipo de
Família Dieta, que você suporta só para manter a
linha. Seja como for, família é prato que deve
ser servido sempre quente, quentíssimo. Uma
família fria é insuportável, impossível de se
engolir.
Enfim, receita de família não se copia, se
inventa. A gente vai aprendendo aos poucos,
improvisando e transmitindo o que sabe no dia a
dia. A gente cata um registro ali, de alguém que
sabe e conta, e outro aqui, que ficou no pedaço
de papel. Muita coisa se perde na lembrança.
83
Principalmente na cabeça de um velho já meio
caduco como eu.
O que este veterano cozinheiro pode dizer
é que, por mais sem graça, por pior que seja o
paladar, família é prato que você tem que
experimentar e comer. Se puder saborear,
saboreie. Não ligue para etiquetas. Passe o pão
naquele molhinho que ficou na porcelana, na
louça, no alumínio ou no barro.
Aproveite ao máximo.
Família é prato que, quando se acaba, nunca
mais se repete."
84
A SOLUÇÃO
Maria Beatriz Mecking
Virou e revirou o jornal, ficou olhando-o
como se não o estivesse vendo. Nada havia
escrito para aquele dia, nem para o anterior.
Estavam cobrando dele algum texto. Apertou a
cabeça com as mãos, numa frustrada tentativa de
extrair-lhe alguma idéia. Não, a sua cabeça
parecia ter-se esvaziado. O toque do telefone
acordou-o daquela aflição. Fora de perigo,
repetiu. Fora de perigo! Tomou vorazmente o
caderno onde costumava fazer as suas anotações.
Estava salvo.
EM PAZ
Maria Beatriz Mecking
Afastou-se devagar. À medida que a
chuva apertava, seu passo tornava-se mais veloz.
‗Minha filha está protegida das intempéries,
nada pode lhe fazer mal‘. Lágrimas misturaram-
85
se às gotas que lhe banhavam o rosto. Na saída
do cemitério, procurou um táxi.
CONSOLO
Maria Beatriz Mecking
"Você não me ensinou a te esquecer."
Engulo o erro de concordância, a melodia se
espalhando pelo carro, penetrando-me pelos
poros, coração adentro. "Você não me ensinou a
te esquecer" – a frase sorrateira não me deixa,
me cobrindo com um véu de melancolia. Mudo
de rumo, enveredo para a casa em que um
menininho me espera sorridente. Ele me pega
pela mão e me escancara um mundo em que me
insinuo. E ali me perco, com gosto.
86
JUNÇÃO DE DOIS
Inalva Nunes Fróes
Os primeiros raios de sol despertaram a
dupla de um sono apaziguante. Dormiam
abraçados na mais perfeita harmonia de corpos
e alma. O espírito era singular, junção de dois,
entrelaçados nos emaranhados da emoção.
Sobressaltaram-se com o repentino
acordar, não do sono, mas da magia que se
instalara entre eles.
Ao nascer do dia, surgiam recordações de
fatos rotineiros que colocavam nuvens cinzentas
sobre suas cabeças inebriadas pelo novo
sentimento.
André cansara de ouvir – professor tem
que dar bom exemplo. Isso considerava verdade,
mas – não era um bom professor, mestre na arte
de ensinar?
Sabia que os alunos apreciavam suas
aulas, encantados com a facilidade que captavam
suas mensagens.
87
Desempenhava o papel de conselheiro e
amigo, em função da confiança que os jovens
lhe depositavam, procurando-o sempre que se
julgassem em apuros.
A profissão escolhera por vocação, nunca
desanimara em função do baixo salário,
continuava dando seu melhor e esperava usufruir
o – tudo de bom que a vida tem a oferecer.
Ele, moço solteiro, bonito, sarado, ouvia
só suspiros ao passar pelo corredor da escola.
Embora fosse campeão em sua categoria, João
passava o dia treinando entre valentões em meio
a brigas, socos e pontapés. Lutava utilizando
técnicas apropriadas e inteligentes aproveitando
as fraquezas do adversário a seu favor.
Quando fora do ringue, fugia de
confusões. Gostava de ler como forma de relaxar
os músculos enrijecidos pelo esforço físico
diário contra seus antagonistas e conflitos
internos sobre a repercussão, nos meios
esportivos, de sua preferência sexual.
Sabia separar o lado profissional de
questões amorosas. Os colegas, certamente,
duvidariam dessa posição. Poderiam, talvez,
confundir qualquer postura e atitude neste
sentido.
Observava os parceiros de trabalho e não
sentia atração física por eles. Aqueles homens
88
musculosos, alguns até serviam de modelo,
como ele próprio, e que tanto atraiam as
mulheres, não mexiam com sua libido.
André era seu refúgio, sua âncora, seu
descanso da labuta diária, seu equilíbrio no
universo. Discutiam política, trocavam livros,
comentavam filmes.
Assim, sobressaltados e deslumbrados
com esta primeira vez, não sabem o que fazer
com tanta profusão de sentimentos que afloram e
os emocionam.
Com lágrimas nos olhos, dão-se as mãos e
fazem uma promessa com o olhar.
A comunidade escolar foi surpreendida
pela manhã, quando André chegou, de carona
com o namorado.
O estádio quase veio abaixo, à tardinha,
no instante em que André foi buscar João com
um beijo de saudade.
89
ARTIGOS
A CRÍTICA SEGUNDO O AUTOR
NOVATO
Joaquim Moncks
Recebo, com alegria, esta interessante
mensagem de uma confreira do Recanto das
Letras sobre temática que me parece relevante a
merece uma reflexão mais funda. Resguardo o
nome da interlocutora para evitar mal-
entendidos.
"Caro escritor, já tive a oportunidade de ler alguns comentários seus em textos de outros recantistas, e lhe digo que a força de suas palavras,duras e incisivas, me retiram lágrimas. Bom, eu as enxuguei e queria dizer-lhe que, caso um dia você tenha um tempinho e paciência, me sentiria honrada em passar pelo fio de sua navalha. Melhor a dor a sangre frio que passar a vida recebendo pomada anestésica. Ninguém evoluciona com tapinhas nas costas. Obrigada.”.
– via e-mail pelo site do Recanto, em 27/10/2011.
Causa-me alguma estranheza que alguém
se emocione até as lágrimas com uma colocação
90
de análise crítica, ou seja, do mesmo eito ou
similar ―sentir‖ de quem lê uma peça poética –
em que há a participação da emocionalidade – e
daí se pode, naturalmente, entender a origem da
contingência capaz de causar a emoção. Porque
uma das funções da POESIA é emocionar o
receptor. A crítica literária é fruto de análise
racional sobre uma proposta emocional –
especialmente em textos de iniciantes ou novatos
– porque estes ainda se encontram no período
em que estão à busca dos elementos estéticos
conjunto de versos que dará origem ao
POEMA... São os NOVE ANOS que Horácio,
na antiguidade, dizia que era ―para guardar o
poema na gaveta‖, esperando a sua maturação,
para, então, PUBLICÁ-LO... Nessa fase o
criticado nem conseguem ver a Crítica como
ação intelectiva que lhe possa fazer crescer...
Para pessoas muito sensíveis, nessa fase, a
CRÍTICA pouco poderá ajudar, até porque o
autor não se dá conta de que, particularmente em
Poesia, não é o EGO quem escreve, e, sim o
ALTER EGO... E esta linguagem detalhista o
iniciante ainda não percebeu nem apreendeu,
porque simplesmente a desconhece. Eventual
dureza e incisividade não juízos críticos com
base na EMOÇÃO. No receptor do estudo
analítico sobre a sua peça poética ou prosaica,
91
em geral, os juízos analíticos (de quem cumpre o
ofício de escritor) são entendidos como uma
afronta ou interferência no processo pessoal de
criação e inventiva, e, usualmente, são mal
recebidos, mas, daí até provocar o choro, vai
uma grande distância. Denota, denuncia e
escancara que o criticado é apenas um
DILETANTE,
que escreve para alimentar o EGO e não para a
celebração da CONFRATERNIDADE entre os
de similar concepção do mundo e de condenação
ao pensar. A crítica literária será útil para quem
já passou por essa etapa primária de compulsão
do EGO e da necessária chamada de atenção
para si como vetor de compulsão criacional ou,
ainda, que faz da criação literária a introjeção de
terapia psíquica individual ou grupal, no caso de
associação ou grupos literários, objetivando
comportamentos dos sujeitos do processo ARTE
&
REALIDADE. Porém, aí o agente propulsor –
ANTÍTESE – impulsionando a criação e/ou ação
comportamental é o terapeuta e não o oficineiro
de Poesia, como é o meu caso. Ou seja, o que
atua na estimulação da produção do texto em
Poesia. A estética do Belo se dá pelo
aprimoramento dos elementos que a fazer fluir.
A provocação ou a instigação crítica não se
92
confunde com o gesto negligente e de certa
maneira desidioso e cúmplice do ―tapinha nas
costas‖. Isso é certo, verdadeiro, como bem
colocou a missivista... Todavia, este provocar
não pode ser tão tétrico a ponto de ―passar o
autor no fio da navalha‖... No processo de
aprimoramento literário, a lisonja e a conivência
não são métodos propícios ao aprimoramento
dos canteiros dos jardins do Belo. Também não
é menos verdade que ―cautela e caldo de galinha
não fazem mal a ninguém‖. E estas valem para
93
DITOS POPULARES – (Sentido conotativo) (1)
Jorge Moraes
É pelo dedo que se conhece o gigante!
Objetivamos, através de exposições
coloquiais, tendo como enfoque ―ditos
populares‖, utilizar alguns desses importantes,
indispensáveis e curiosos recursos linguísticos,
inseridos no contexto redacional, que
caracterizam a linguagem figurada ou
conotativa,
Sem delongas, colocamos a mão na
massa, evitando que o olho seja maior que a
barriga, comendo o mingau pelas beiradas, a
conduzir, cautelosamente, a proposta,
cozinhando-a em banho-maria. Do contrário,
estaremos sujeitos a privar-nos da azeitona da
empada, e embananado, a provar um angu de
caroço, a beber água por vinho.
Iniciamos, arrolando expressões em que
predominam vocábulos e ideias, vinculadas ao
corpo humano, algumas abrangendo
manifestações genéricas, e tantas outras fazendo
alusão a alimentos, corroborando que é pelo
94
estômago ou pela boca que se processa a
conquista.
Contudo, a tarefa, aparentemente fácil,
sem entraves, autêntica sopa no mel, ou quem
sabe verdadeiro mamão com açúcar, revela-se
uma batata quente às mãos, um pepino, a exigir
esforços para descascar o abacaxi, sob pena de
notarmos que, por vezes, dá crepe, perigando
que compremos gato por lebre, e sua existência
torne nula todos os esforços.
Assim sendo, quando o negócio desanda,
de nada vale, nem mesmo chorar as pitangas ou
ter pernas pra que te quero ante o leite
derramado. A saída, talvez, seja mandar tudo às
favas, a provar que a rapadura é doce, mas não é
mole. E embora pimenta nos olhos dos outros
seja refresco, não é prudente beber água na
orelha dos outros.
E com o intuito de vender o peixe, temos a
clara percepção e o cuidado de que é inviável
fazer-se a omeleta sem quebrar os ovos, uma vez
que o apressado come cru, e pode, por
imprudência, enfiar o pé na jaca. Exige-se,
destarte, cautela, pois o caldo pode entornar.
Entretanto, quem não arrisca, não petisca,
e a persistência atesta que é de pequeno que se
torce o pepino, e água mole em pedra dura, tanto
95
bate até que fura, desde que não se confundam
alhos com bugalhos.
A cada etapa desta salada de frutas, sem
passar do ponto, sem engrossar o caldo, bem
como tentando não encher linguiça, já que de
grão em grão a galinha enche o papo, o universo
se amplia.
Nosso patrimônio vocabular e linguístico,
manancial inesgotável pelas contribuições que a
ele se agregam, coloca-nos a faca e o queijo na
mão. Faz-se mister separar o joio do trigo, para
percebermos que a beleza não põe mesa e toda
farinha tem seu dia de araruta.
Mesmo na superficialidade dessa análise,
ocorrem-nos múltiplos ditos, contudo, sem ir
com sede ao pote, nem tirando doce da boca das
crianças, menos ainda juntando a fome com a
vontade de comer, predominam construções, a
enfatizar o negativismo do fato. Não é sem razão
que quem comeu e não gostou, lastimavelmente,
cospe no prato e procura alguém que pague o
pato ou seja o bode expiatório, isto se não estiver
nos ludibriando ao chorar de barriga cheia.
Em nossas variantes expressionais,
deparamo-nos com muitos que,
inconscientemente, só dizem abobrinhas, são
interlocutores de meia-tigela, vacilam e, por
imperícia, pisam no tomate, pisam na batatinha,
96
viajam na maionese. Outros, prolixos, escondem
a poeira do desconhecimento debaixo do tapete,
tentam puxar a brasa para a sua sardinha, o fogo
para o seu assado, a fim de que não se vá tudo
água abaixo: por que esquentar a água para
outros tomarem mate? Como decorrência,
empurram as dificuldades com a barriga, a julgar
que, com o tempo, as águas passadas não
movem moinhos e o que não mata, engorda.
Bem sabemos que quando as coisas
azedam há a iminência de provarmos do pão que
o diabo amassou. Ratifica-se a máxima de que
quem nunca comeu melado, quando come se
lambuza. Mesmo sob os limites da sardinha em
lata, contradiz-se o valor de preço de banana, e
nota-se que embaixo do arroz tem linguiça e
nem tudo é farinha do mesmo saco.
Já que ingressei como arroz de festa nesse
folguedo, e ainda existe muito café no bule, no
frigir dos ovos, cremos que a conversa tenha
chegado à cozinha, e mesmo com água na boca,
vamos saindo antes que tenhamos de ir plantar
batatas.
97
A IRONIA DOS EUFEMISMOS
Sabe-se que, sem imergirmos nos mares
da prolixidade ou do preciosismo, muitos
profissionais da área da saúde física e mental,
tais como sociólogos, psicólogos e talvez
filólogos, objetivando minimizar possíveis
sequelas, sempre procuraram, através de
recursos linguísticos, notadamente eufêmicos,
nominar situações e/ou pessoas que exijam
Nossa assertiva respalda-se, sobejamente,
―a priori‖, na película Reflexos da amizade,
protagonizada, entre outros, pelos
extraordinários Robin Williams e David
Duchovny. A essência da página
cinematográfica reside na amizade do deficiente
Pappas (Robin) com o estudante e, ao atingir a
maturidade, artista plástico Tom Warshaw
(Duchovny). No reencontro, passados longos
anos, afloram ternas e jocosas recordações de
tempos idos. Pappas, encanecido, tendo ciência
de suas limitações psíquicas, declara ao amigo,
até com ironia, orgulho e perplexidade, que em
1984 era tido como retardado, em 1987/8,
98
deficiente mental, em 2004, excepcional, e
acreditava que as classificações não tivessem
chegado a termo.
Percebe-se que, lastimavelmente, a
mudança ocorre apenas no campo semântico.
Quer-nos crer, salvo melhor juízo, que a
adjetivação, indiferente a quem merece cuidados
especiais, sensibiliza com brisas tênues, apenas
familiares e agentes diretamente envolvidos no
processo. As autoridades governamentais, em
todos os níveis, mantêm-se muito aquém do
esperado. Não fora a colaboração de denodados
empresários e líderes comunitários, bem como a
realização de campanhas associativas, os
entraves seriam bem maiores que o são. Deve-se
ter percepção e acurada sensibilidade, a fim de
que o eufemismo, por dourar excessivamente a
pílula, não caia na ironia ou no ridículo.
Lembremos que ―preto‖ é cor; negro é
raça. Tem servido de chacota, mesmo ante os
qualificados como tal, a indicação de ―afro-
descendentes‖, isto porque não retratam a
realidade sensitiva e podemos tê-los sem que
sejam pretos. Diriam os que ironizam as inócuas
ações metafóricas: nada mais do que ―lamúrias
flácidas para dormitar bovinos‖.
Mais intensamente nos últimos anos,
temos observado as campanhas e procurado
99
ajustar-nos aos padrões preconizados, sob pena
de estimularmos a alienação vocabular.
Respeitando-se algumas ―pérolas‖ que chegam
às raias da hilaridade, notamos que há um
abismo entre o desejar expressar-se e o
conseguir. Não vemos como demérito, quando
estivermos diante de um impasse na
comunicação escrita, consultar quem de direito o
sabe, ou crê.
Os canais televisivos têm divulgado, com
o respaldo publicitário da Operadora de
Telefonia OI, uma menina, com Síndrome de
Down, cujo comportamento não se diferencia
dos tidos e havidos como normais, até pelo
contrário. Os comunicadores valem-se de um
slogan – “SER DIFERENTE É NORMAL”. É
perceptível e inquestionável a intenção de
declarar que o considerado ―diferente‖ deve ser
visto, admitido, reconhecido e tratado como
―normal.
Partindo da aceitação do ―diferente‖ e não
há como negá-lo, pois a mensagem o revela,
talvez fosse, ainda que persistisse o
reconhecimento do ―diferente‖, aconselhável o
slogan “O DIFERENTE TAMBÉM É
NORMAL”. Cremos que todos o somos,
diferentes ou não.
100
Fomos assistir, à tarde, dia 7(sete) de
setembro, terça-feira, ao desfile das delegações
estudantis no município do Capão do Leão.
Mesmo com o advento da tecnologia e com as
conquistas virtuais, o rufar dos tambores, o
drapejar dos estandartes, herança, quem sabe,
que lembra incursões da Idade Média, ainda nos
levam às ruas à procura de orgulhosas exibições
pueris que se perderam no arreamento de nossos
lúdicos pavilhões.
Embora demonstrando incentivo a todas
as manifestações do evento, não nos pudemos
furtar de ver e demonstrar nossa preocupação
com os dizeres estampados em algumas
camisetas de alunos e educadores. Lia-se “O
NORMAL É SER DIFERENTE” –Caso
houvesse a omissão do artigo, ou seja,
“NORMAL É SER DIFERENTE” , não
implicaria alterações na proposta contextual.
Inicialmente julgamos que nossa
observação incorresse em erro visual ou
interpretativo. Lastimavelmente não o foi.
Comentamos com alguns professores, inclusive
de Língua Portuguesa – quem sabe nosso crivo
demonstrasse desacerto.
Partamos do princípio fundamental que
todos somos diferentes. Em assim o sendo,
“SER DIFERENTE É NORMAL”, nada mais
101
é do que o óbvio, não sei se o ―ululante‖ de
Nélson Rodrigues. Como consequência, somos
todos normais. Para chegarmos a essa inferência
precisaríamos de patamares de normalidade, o
que, evidentemente, não se ajusta ao objetivo
colimado. A proposta, louvável em sua intenção,
é a de que os alunos que necessitem de atenção
especial não fiquem alijados do contexto
coletivo.
A afirmação, exposta na indumentária, “O
NORMAL É SER DIFERENTE” leva-nos,
inevitavelmente à pergunta: e se não somos
diferentes, deixamos de ser normais? São
dispensáveis intrincados ou complexos
raciocínios para se evidenciar que,
matematicamente, a correspondência não é
biunívoca e inaplicável o princípio do
contraditório. Experimentemos proceder à
negativa: “O (A) NORMAL (NÃO) É SER
Parece-nos, e nos inclinamos à sapiência
dos doutos, que a normalidade não está no ser ou
não diferente. Da mesma forma, não vemos que
sejam imprescindíveis ―rótulos‖ para destacar
quem merece atenção especial.
E assim, meus amigos, graças ao poder
―miraculoso‖ dessas genialidades intelectivas, os
governantes, conscientes ou não, vêm
―minimizando‖, no papel, dores alheias. Os
102
pobres, num passe de mágica, tornaram-se
carentes. Só não o são em épocas eleitorais. O
incorreto e à margem da gramática ―pobríssimo‖
é humilhante, contudo, o irônico ―paupérrimo‖
tem ares de nobreza.
Enquanto divagávamos, o incentivo das
palmas estimulava cívica e patrioticamente
contorcionistas, balizas, porta-bandeiras,
músicos e demais partícipes. O lirismo das
harpas harmonizava-se ao estrondear dos
bombos, que marcavam a cadência. No palanque
oficial, crepitava a chama votiva de nossa
brasilidade. E embevecido, quase não
percebemos que a tarde envolvera-se no manto
do anoitecer.
103
DESCULPAR OU NÃO? EIS A QUESTÃO!
Mesmo que não estejamos em vigilância
constante, até porque nossos erros e deslizes são
tão ou mais graves que os praticados pelo
comum dos mortais, não podemos nos furtar de
fazer alguns comentários, em se considerando a
dedicação que nutrimos pelo pátrio idioma,
sobre uma mensagem exposta no centro de nossa
cidade.
Examinemos: “DESCULPEM O
TRANSTORNO, ESTAMOS
TRABALHANDO PARA O SEU
BENEFÍCIO!‖ Inicialmente atentemos ao fato
que a estrutura linguística compõe-se de duas
orações. A primeira oração, e a ordem pode ser
alterada, apresenta o verbo no imperativo
afirmativo, ou seja, “desculpem” (vocês). Ainda
que o pronome pessoal esteja omisso, o sujeito
não é classificado como ―oculto‖, já que está
intrínseco no verbo e, portanto, as mais
conceituadas gramáticas o classificam como
elíptico.
104
As formas imperativas – afirmativas ou
negativas – podem ou não ser cumpridas,
dependendo de nossas condições, conveniências
e uma multiplicidade de fatores. Na situação em
pauta, não vemos por que não o fazer, já que
afasta a ordem imperativa em nome da
apelativa.
Como se sabe, quem desculpa, o faz,
eximindo alguém. Destarte, somos levados a
personificar o transtorno. Onde encontrá-lo?
Talvez bem à frente – como entulho, caliça,
tapumes. Como ele reagirá ante nossas
desculpas? Difícil, não? Pois quem deve ser
desculpado ―somos nós‖, causadores do
transtorno.
Corrijamos então o deslize:
“DESCULPEM-NOS”. Já melhorou, ainda que
estejamos sendo induzidos à prática da
aceitabilidade. O sujeito continua sendo
―vocês‖, e deixamos de desculpar o transtorno.
Com a colocação do pronome ―nos‖ e a
consequente correção (desculpem a nós), exige-
se a presença de uma preposição, ou seja,
―DESCULPEM-NOS PELO
TRANSTORNO”. Percebe-se, agora, que
estamos, sob forma imperativa, solicitando que
sejamos desculpados por termos realizado ou
ainda operacionalizando, quem sabe obras, que
105
estão causando transtorno. É latente, mesmo ao
leigo, que a linguagem está se tornando, menos
complexa e adequada aos padrões gramaticais.
Ao menos, é nossa pretensão. E se desejássemos,
poderíamos ficar cingidos a essa oração, que,
por ser una, torna-se absoluta.
Temos por vezo explicar ou apresentar a
causa de ações que transgridam a regularidade.
Por vezes o motivo é plenamente dispensável,
podendo gerar, em face de incorreções
gramaticais, distorções interpretativas.
Diferenciar-se-á uma estrutura que exija
complemento, isto porque a oração principal não
se completa e a segunda, subordinada, com ou
sem conjunção, expõe o fator determinante.
Continuemos. Quando se lê
“TRABALHANDO PARA SEU
BENEFÍCIO!” Incorre-se noutra infração linguística que nos
leva a perguntar – benefício de quem? É óbvio
que se objetiva o nosso benefício. Quem sabe aí
esteja o porquê de sermos compelidos a
desculpar. Entretanto, mesmo os mais incautos
no idioma que Camões chorou no exílio,
reconhecem, de imediato, que o pronome ―seu‖
leva-nos a uma figura de linguagem que denota
ambiguidade.
106
Logo, conforme o registro, se o benefício
for para acentuar os inconvenientes do
transtorno, não nos parece recomendável que o
façamos. Deixaremos, dessa forma, de cumprir
com o pedido, isto porque queremos para nós o
benefício e não para o transtorno.
A ambiguidade poderia e deveria ser
desfeita, ainda que seja foneticamente menos
receptiva, ao usarmos „TRABALHANDO
PARA O BENEFÍCIO DE VOCÊ‖.
Como vêem, estamos num impasse
―shakespereano‖, desculpar ou não o transtorno,
―eis a questão‖, e se o fizermos, quem sabe, ele
se avolume com o benefício.
Embora devam ser respeitadas as
liberdades usuais, praticadas na linguagem
coloquial, referendadas pelo Ministério da
Educação, em nome da liberdade de expressão,
preconizando quem sabe quanto ―pior‖,
―melhor‖, não nos cabe o direito de com as
Universidades, Faculdades e intelectuais que
tornam insigne a ―Atenas Rio-grandense‖, dar
mostras de nossa incúria.
A IRONIA DOS EUFEMISMOS
Sabe-se que, sem imergirmos nos mares
da prolixidade ou do preciosismo, muitos
profissionais da área da saúde física e mental,
107
tais como sociólogos, psicólogos e talvez
filólogos, objetivando minimizar possíveis
sequelas, sempre procuraram, através de
recursos linguísticos, notadamente eufêmicos,
nominar situações e/ou pessoas que exijam
atenções diferenciadas.
Nossa assertiva respalda-se, sobejamente,
―a priori‖, na película Reflexos da amizade,
protagonizada, entre outros, pelos
extraordinários Robin Williams e David
Duchovny. A essência da página
cinematográfica reside na amizade do deficiente
Pappas (Robin) com o estudante e, ao atingir a
maturidade, artista plástico Tom Warshaw
(Duchovny). No reencontro, passados longos
anos, afloram ternas e jocosas recordações de
tempos idos. Pappas, encanecido, tendo ciência
de suas limitações psíquicas, declara ao amigo,
até com ironia, orgulho e perplexidade, que em
1984 era tido como retardado, em 1987/8,
deficiente mental, em 2004, excepcional, e
acreditava que as classificações não tivessem
chegado a termo.
Percebe-se que, lastimavelmente, a
mudança ocorre apenas no campo semântico.
Quer-nos crer, salvo melhor juízo, que a
adjetivação, indiferente a quem merece cuidados
especiais, sensibiliza com brisas tênues, apenas
108
familiares e agentes diretamente envolvidos no
processo. As autoridades governamentais, em
todos os níveis, mantêm-se muito aquém do
esperado. Não fora a colaboração de denodados
empresários e líderes comunitários, bem como a
realização de campanhas associativas, os
entraves seriam bem maiores que o são. Deve-se
ter percepção e acurada sensibilidade, a fim de
que o eufemismo, por dourar excessivamente a
pílula, não caia na ironia ou no ridículo.
Lembremos que ―preto‖ é cor; negro é
raça. Tem servido de chacota, mesmo ante os
qualificados como tal, a indicação de ―afro-
descendentes‖, isto porque não retratam a
realidade sensitiva e podemos tê-los sem que
sejam pretos. Diriam os que ironizam as inócuas
ações metafóricas: nada mais do que ―lamúrias
flácidas para dormitar bovinos‖.
Mais intensamente nos últimos anos,
temos observado as campanhas e procurado
ajustar-nos aos padrões preconizados, sob pena
de estimularmos a alienação vocabular.
Respeitando-se algumas ―pérolas‖ que chegam
às raias da hilaridade, notamos que há um
abismo entre o desejar expressar-se e o
conseguir. Não vemos como demérito, quando
estivermos diante de um impasse na
109
comunicação escrita, consultar quem de direito o
sabe, ou crê.
Os canais televisivos têm divulgado, com
o respaldo publicitário da Operadora de
Telefonia OI, uma menina, com Síndrome de
Down, cujo comportamento não se diferencia
dos tidos e havidos como normais, até pelo
contrário. Os comunicadores valem-se de um
slogan – “SER DIFERENTE É NORMAL”. É
perceptível e inquestionável a intenção de
declarar que o considerado ―diferente‖ deve ser
visto, admitido, reconhecido e tratado como
―normal.
Partindo da aceitação do ―diferente‖ e não
há como negá-lo, pois a mensagem o revela,
talvez fosse, ainda que persistisse o
reconhecimento do ―diferente‖, aconselhável o
slogan “O DIFERENTE TAMBÉM É
NORMAL”. Cremos que todos o somos,
diferentes ou não.
Fomos assistir, à tarde, dia 7(sete) de
setembro, terça-feira, ao desfile das delegações
estudantis no município do Capão do Leão.
Mesmo com o advento da tecnologia e com as
conquistas virtuais, o rufar dos tambores, o
drapejar dos estandartes, herança, quem sabe,
que lembra incursões da Idade Média, ainda nos
levam às ruas à procura de orgulhosas exibições
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pueris que se perderam no arreamento de nossos
lúdicos pavilhões.
Embora demonstrando incentivo a todas
as manifestações do evento, não nos pudemos
furtar de ver e demonstrar nossa preocupação
com os dizeres estampados em algumas
camisetas de alunos e educadores. Lia-se “O
NORMAL É SER DIFERENTE” –Caso
houvesse a omissão do artigo, ou seja,
“NORMAL É SER DIFERENTE” , não
implicaria alterações na proposta contextual.
Inicialmente julgamos que nossa
observação incorresse em erro visual ou
interpretativo. Lastimavelmente não o foi.
Comentamos com alguns professores, inclusive
de Língua Portuguesa – quem sabe nosso crivo
demonstrasse desacerto.
Partamos do princípio fundamental que
todos somos diferentes. Em assim o sendo,
“SER DIFERENTE É NORMAL”, nada mais
é do que o óbvio, não sei se o ―ululante‖ de
Nélson Rodrigues. Como consequência, somos
todos normais. Para chegarmos a essa inferência
precisaríamos de patamares de normalidade, o
que, evidentemente, não se ajusta ao objetivo
colimado. A proposta, louvável em sua intenção,
é a de que os alunos que necessitem de atenção
111
especial não fiquem alijados do contexto
coletivo.
A afirmação, exposta na indumentária, “O
NORMAL É SER DIFERENTE” leva-nos,
inevitavelmente à pergunta: e se não somos
diferentes, deixamos de ser normais? São
dispensáveis intrincados ou complexos
raciocínios para se evidenciar que,
matematicamente, a correspondência não é
biunívoca e inaplicável o princípio do
contraditório. Experimentemos proceder à
negativa: “O (A) NORMAL (NÃO) É SER
DIFERENTE”.
Parece-nos, e nos inclinamos à sapiência
dos doutos, que a normalidade não está no ser ou
não diferente. Da mesma forma, não vemos que
sejam imprescindíveis ―rótulos‖ para destacar
quem merece atenção especial.
E assim, meus amigos, graças ao poder
―miraculoso‖ dessas genialidades intelectivas, os
governantes, conscientes ou não, vêm
―minimizando‖, no papel, dores alheias. Os
pobres, num passe de mágica, tornaram-se
carentes. Só não o são em épocas eleitorais. O
incorreto e à margem da gramática ―pobríssimo‖
é humilhante, contudo, o irônico ―paupérrimo‖
tem ares de nobreza.
112
Enquanto divagávamos, o incentivo das
palmas estimulava cívica e patrioticamente
contorcionistas, balizas, porta-bandeiras,
músicos e demais partícipes. O lirismo das
harpas harmonizava-se ao estrondear dos
bombos, que marcavam a cadência. No palanque
oficial, crepitava a chama votiva de nossa
brasilidade. E embevecido, quase não
percebemos que a tarde envolvera-se no manto
do anoitecer.
113
ACADEMIA SUL-BRASILEIRA DE
LETRAS
ESTATUTO SOCIAL
Título I
Da Denominação, Sede, Símbolos e Abrangência
Art.1º - A ACADEMIA SUL-BRASILEIRA DE
LETRAS a qual utilizará a sigla ASBL e, doravante
neste Estatuto Social simplesmente como ASBL, com
objetivos culturais e educacionais é uma associação civil
sem fins econômicos, com duração por prazo
indeterminado, rege-se por este Estatuto Social e pelas
disposições legais atinentes, estando sediada na Rua 3 de
Maio, número 1060, conjunto 403, Pelotas – RS, com
foro neste município.
Art. 2º - São símbolos da ASBL:
a) O Brasão;
b) A Bandeira;
c) A Flâmula;
d) A Pelerine;
e) O Sinete.
Parágrafo único – Os símbolos da ASBL são
descritos de forma minuciosa no Regimento Interno.
Art. 3º - A ASBL, para fins de congregação de
114
associados acadêmicos, abrange os Estados do Rio
Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná
§ 1º – Em cada um dos Estados nominados
haverá uma seção da ASBL administrada por um vice-
presidente.
§ 2º - A Seção 1 será a do Rio Grande do Sul, a
Seção 2 será a de Santa Catarina, a Seção 3 será a do
Paraná.
TÍTULO II
Dos Objetivos
Art. 4º - São objetivos da ASBL:
a) Congregar literatos e intelectuais de sua área
de abrangência;
b) Incentivar a investigação, o desenvolvimento
das atividades culturais, a criação, elaboração e a
divulgação de obras literárias na região;
c) Instituir concursos, prêmios e outros
incentivos;
d) Manter intercâmbio e colaborar com as
entidades congêneres em âmbito local, regional,
nacional e internacional;
e) Associar-se e colaborar com instituições
educacionais públicas ou privadas no incentivo ao
ensino e aprendizagem da língua pátria.
TÍTULO III
Do Patrimônio
Art. 5º - O Patrimônio da entidade é constituído
de:
115
a)direitos de qualquer natureza suscetíveis de
serem apreciados economicamente;
b) bens imóveis e móveis;
c) biblioteca, fototeca, pinacoteca, hemeroteca e
demais recursos audiovisuais;
d) montante oriundo da contribuição do quadro
social;
e) doações e quaisquer rendas eventuais.
Parágrafo único – A biblioteca, cuja organização
e funcionamento serão regulados por Regimento Interno,
reúne em seu acervo livros, jornais, revistas, fotografias,
arquivos e museu adquiridos com recursos próprios ou
recebidos em doação; para constituição de seu acervo,
são priorizadas as obras dos acadêmicos, dos autores da
área de abrangência da ASBL.
TÍTULO IV
Da Organização Deliberativa e Administrativa
Art. 6º - A organização deliberativa e
administrativa da ASBL compreende:
a) a Assembléia Geral;
b) a Diretoria;
c) o Conselho Fiscal.
d) as Seções Estaduais
CAPÍTULO I
Dos Sócios
Art. 7º - A ASBL congrega as seguintes
116
categorias de associados:
a) Fundadores
b) Acadêmicos;
c) Beneméritos;
d) Honorários;
e) Correspondentes.
§ 1º - São associados Fundadores aqueles que
assinaram a Ata de Fundação da Academia Sul-
Brasileira de Letras, em 09 de maio de 1970.
§ 2º - São associados Acadêmicos os literatos
dos três Estados sulinos que, tendo, pelo menos, um
livro publicado em qualquer gênero literário e que,
apresentados por membro do sodalício, tenham o seu
ingresso aprovado pela Assembléia Geral.
§ 3º - São associados Beneméritos as pessoas
físicas ou jurídicas que prestarem relevantes serviços à
Academia, independentemente de naturalidade ou
nacionalidade, a juízo da Assembléia Geral.
§ 4º - São associados Honorários as pessoas
físicas ou jurídicas que se destacarem na difusão da
cultura, independentemente de naturalidade ou
nacionalidade a juízo da Assembléia Geral.
§ 5º - São associados Correspondentes as pessoas
físicas ou jurídicas, com residência ou sede fora do
município de Pelotas e que, constantemente trocarem
informações de interesse da ASBL e/ou da cultura, e
117
tiverem o nome aprovado pela Diretoria.
§ 6º - A proposição à Diretoria de nomes para
associado Benemérito, Honorário e Correspondente é
atribuição dos Sócios Acadêmicos, acompanhando a
indicação curriculum vitae e circunstanciada exposição
de motivos.
Art. 8º - O quadro de Associados Acadêmicos se
compõe de até 60 (sessenta) membros, cujas cadeiras
têm um patrono específico; o de sócios Beneméritos,
Honorários e Correspondentes não tem limite prefixado.
Parágrafo único – A Direção da
Academia cuidará de uma adequada distribuição de
vagas que contemple a representatividade dos três
Estados.
CAPÍTULO II
Dos Direitos e Deveres dos Associados
Art. 9º – São direitos dos associados de todas as
categorias:
a) Participar das atividades da Academia, utilizar
o seu patrimônio, freqüentar os espaços da sede, referir
em suas obras e publicações sua pertinência à entidade;
b) Sugerir, propor, discutir políticas e medidas
que visem ao engrandecimento do ASBL;
Art. 10 – São direitos dos associados
Acadêmicos:
a) Ocupar cadeira numerada do Quadro
118
Acadêmico;
b) Usar o sinete acadêmico;
c) Mencionar em suas obras o título de membro
da ASBL, referindo o número da cadeira que ocupa e o
nome do patrono, se assim desejar;
d) Votar e ser votado para os cargos eletivos da
ASBL, conforme as normas da entidade;
e) Ocupar cargos e desempenhar atividades nos
Departamentos, a convite do Presidente;
f) Representar a ASBL, quando autorizado para
isso, por procuração do presidente;
g) Vitaliciedade;
h) Renunciar à vitaliciedade.
Parágrafo único – O associado que perder a
cadeira na entidade conforme o disposto no parágrafo 3º
do Art. 12, não poderá, a partir de então, referir sua
pertinência à ASBL.
Art. 11 – São deveres dos associados de todas as
categorias:
a) Cumprir e fazer cumprir o Estatuto Social, o
Regimento Interno, as normas e deliberações da ASBL;
b) Contribuir para o bom nome da entidade;
c) Incentivar a cooperação com as entidades
congêneres e outras instituições culturais;
d) Zelar pela imagem e moralidade pública da
ASBL.
Art. 12 – São deveres dos associados
Acadêmicos, além dos especificados no artigo anterior:
a) Participar de reuniões, assembléias,
119
solenidades e eventos promovidos pela ASBL.
b) Pagar mensalmente, ou em outras modalidades
oferecidas pela Diretoria, as contribuições financeiras
estipuladas;
§ 1º - É condição para participar das Assembléias
Gerais, ordinárias ou extraordinárias, com direito a voto,
estar quite com a tesouraria.
§ 2º - O associado que não cumprir seus deveres
será submetido a julgamento por uma comissão,
designada pela Diretoria, e com atribuições estabelecidas
pelo Regimento Interno, garantidos ao acusado direito
de ampla defesa e de contraditório.
§ 3º São previstas as seguintes penalidades:
a) Advertência – Será aplicada ao
associado que infringir os deveres previstos nas letras a),
b, e c do Art. 11, e as letras a) e b) do Art. 12.
b) Suspensão - Será aplicada ao
associado que descumprir o previsto na letra d) do Art.
11 ou reincidir na infringência dos deveres para o que se
prevê pena de advertência.
c) Perda da cadeira – Será aplicada a penalidade
de perda da cadeira ao associado que, advertido e
suspenso, reincidir em suas faltas, bem como ao
associado condenado judicialmente por atos
considerados desabonatórios e indignos de participação
na Academia, assegurada a postulação de nova cadeira
no quadro.
120
§ 4º - As penas de advertência e suspensão são de
alçada da Diretoria; a aplicação da pena de perda da
cadeira proposta ao final do processo pela comissão
julgadora, é de competência da Assembléia Geral, sendo
que de qualquer penalidade será notificado o infrator
através de documento escrito expedido pela Diretoria.
CAPÍTULO III
Da Assembléia Geral.
Art. 13 – A Assembléia Geral, órgão soberano da
entidade, é constituída pelos associados acadêmicos em
pleno gozo de seus direitos estatutários.
Art. 14 – A convocação para as Assembléias
Gerais, com a especificação da ordem do dia, será feita
pelo Presidente, com antecedência mínima de 15
(quinze) dias, mediante edital afixado no local da sede
e/ou em órgão de divulgação, bem como através de
correspondência pessoal enviada a cada acadêmico,
comprovando-se a data de remessa pelo carimbo de
postagem.
Art. 15 – A Assembléia Geral Ordinária, bem
como a Extraordinária, serão abertas pelo Presidente ou
por seu substituto legal que, se assim o decidir a
Assembléia, passará a direção dos trabalhos ao
associado que for escolhido por maioria, convidando
auxiliares para o desempenho das tarefas inerentes à
reunião.
Art. 16 – As Assembléias Gerais funcionarão, em
121
primeira convocação, na hora marcada, com a presença
mínima de 20% dos acadêmicos com direito a voto e, em
segunda convocação, trinta minutos após a hora
marcada, com a presença mínima de 10% dos associados
habilitados.
Art. 17 – Para deliberar sobre a destituição do
Presidente ou a alteração dos Estatutos Sociais da
ASBL, a Assembléia especialmente convocada para este
fim, não poderá deliberar, em primeira convocação, sem
a maioria absoluta dos associados aptos a votar, ou com
menos de um terço nas convocações seguintes, exigindo-
se o voto concorde de, no mínimo 2/3 dos presentes.
Art. 18 – Nas Assembléias de caráter eletivo será
facultado o voto por correspondência aos acadêmicos
residentes fora da sede, sendo o assunto regulado pelo
Regimento Interno, vedada a modalidade de voto por
procuração.
Art. 19 – São atribuições da Assembléia Geral:
a) Eleger a Diretoria da ASBL e os integrantes
do Conselho Fiscal;
b) Aprovar o estatuto social e o regimento
interno, assim como suas modificações;
c) Apreciar, aprovando ou rejeitando o relatório
financeiro da Diretoria acompanhado de parecer do
Conselho Fiscal;
d) Apreciar, homologando ou rejeitando as
propostas de ingresso de novos associados acadêmicos,
bem como o de associados beneméritos e honorários,
122
mediante exposição de motivos exarada pela Diretoria;
e) Decidir pela aplicação ou não da penalidade
de perda da cadeira ao associado julgado conforme o
parágrafo 3º do Art. 12.
f) Destituir o Presidente com a concordância e o
quorum previstos no art. 17.
g) Decidir pela extinção da ASBL conforme o
disposto no Art. 35.
CAPÍTULO IV
Da Diretoria
Art. 20 – A Diretoria da ASBL compreende os
seguintes cargos e funções:
a) Presidente;
b) 1º Vice-presidente (RS);
c) 2º Vice-presidente (SC);
d) 3º Vice-presidente (PR);
e) Secretário Geral;
f) 1º Secretário (RS);
g) 2º Secretário (SC);
h) 3º Secretário (PR)
i) Tesoureiro Geral;
j) 1º Tesoureiro (RS);
k) 2º Tesoureiro (SC);
l) 3º Tesoureiro (PR).
§ 1º – A Diretoria contará ainda, para auxiliá-la,
com o Departamento de Imprensa e Relações Públicas,
bem como com os cargos de Diretor do Patrimônio e
outros que julgar necessários, todos os titulares de livre
123
escolha do Presidente e segundo normatização exarada
por ele.
§ 2º - Os cargos da Diretoria são eletivos,
conforme art. 19, a), havendo para cada cargo,
excetuado o de Presidente, um suplente que auxiliará o
titular em suas funções e o substituirá em seus
impedimentos.
§. 3º - O mandato da Diretoria é de 2 (dois)
anos.
Art. 21 – Compete à Diretoria:
a) Aprovar e pôr em prática as políticas a serem
implementadas pela Academia;
b) Decidir quanto aos valores e formas de
cobrança das contribuições financeiras dos associados
acadêmicos;
c) Auxiliar a presidência na administração da
entidade;
d) Apreciar a indicação de nomes para
associados acadêmicos, beneméritos, honorários
encaminhando os nomes aprovados à homologação da
Assembléia Geral;
e) Autorizar contratos de locação ou os que
implicarem comprometimento financeiro por parte da
ASBL;
f) Conceder licença ou aceitar a demissão de
associados, quando solicitadas por escrito pelo
interessado em documento com firma reconhecida;
g) Aprovar a admissão ou demissão de
funcionários com suas obrigações e salários
124
especificados;
h) Autorizar o ingresso de Associado
Correspondente.
Art. 22 – O Presidente será eleito pela
Assembléia Geral, para um mandato de 2 (dois) anos e
podendo ser reconduzido para um segundo mandato.
Parágrafo único – Em caso de vacância
do cargo de Presidente, com menos de 50% do mandato,
far-se-á nova eleição.
Art. 23 – Compete ao Presidente:
a) Escolher, empossar e dispensar os titulares de
Departamentos e de cargos não eletivos, dentre os
associados da ASBL;
b) Representar a ASBL ativa e passivamente,
judicial e extrajudicialmente, em todos os atos de
administração e gestão, podendo para tanto, quando
necessário, nomear procurador com poderes específicos
para representá-lo.
c) Assinar juntamente com o Tesoureiro os
documentos da tesouraria e especificamente os cheques
bancários;
d) Admitir e demitir funcionários;
e) Resolver ―ad referendum‖ da Diretoria, os
assuntos considerados de urgência, dando ciência aos
demais diretores na sessão imediata;
f) Convocar e dirigir a Assembléia Geral e os
atos solenes realizados pela entidade;
g) Convocar e presidir as reuniões de Diretoria;
h) Prestar contas de sua gestão através de
relatórios financeiros apreciados pelo Conselho Fiscal e
125
pela Assembléia Geral.
Art. 24 – Aos vice- presidentes, eleitos com o
presidente, e com igual mandato, compete:
a) Auxiliar o presidente no exercício de suas
funções;
b) Substituir o presidente em seus impedimentos
e concluir o mandato, em caso de vacância do cargo,
obedecida a ordem de precedência sucessivamente;
Participar das reuniões da Diretoria;
c) Organizar e executar o protocolo das
solenidades;
Presidir e administrar a Seção do respectivo
Estado, auxiliado por um Secretário e um Tesoureiro,
desenvolvendo as atividades da ASBL que melhor
julgar oportunas e relevantes, em representação do
Presidente.
Parágrafo único – A administração econômico-
financeira, a contabilidade e a prestação de contas das
atividades da Seção cabem ao Vice-Presidente.
Art. 25 – Compete ao Secretário Geral:
a) Assinar, com o Presidente os documentos
relativos à Secretaria;
b) Lavrar, em livro próprio, as atas de todas as
sessões da Diretoria;
c) Manter em dia os registros da entidade.
Art. 26 – Compete aos Secretários auxiliar o
Secretário Geral em suas atividades e manter em dia o
registro da respectiva Seção.
126
Art. 27 – Compete ao Tesoureiro Geral:
a) Assinar, com o Presidente, cheques e
documentos;
b) Conservar sob sua guarda os valores da
entidade;
Manter em dia os registros atinentes a seu cargo;
c) Manter em dia o registro de imóveis e móveis
da Academia.
Art. 28 – Compete aos Tesoureiros das Seções
auxiliar o Tesoureiro Geral fornecendo-lhe os dados para
a prestação geral de contas da ASBL e auxiliar o Vice-
Presidente em tudo o que diz respeito às atividades de
tesouraria na Seção à semelhança das tarefas exercidas
pelo Tesoureiro Geral em relação à ASBL.
Art. 29 - As funções de Diretor de Patrimônio, de
Assessor de Imprensa e de Relações Públicas serão
especificadas no Regimento Interno, de acordo com o
estabelecido no presente Estatuto Social.
CAPÍTULO V
Do Conselho Fiscal
Art. 30 – O Conselho Fiscal é composto por 3
(três) membros efetivos e 1 (um) suplente, tendo a
função de examinar os relatórios financeiros e contábeis
da Diretoria e das Seções, emitindo parecer para
encaminhamento à Assembléia Geral.
127
Parágrafo Único – A função de conselheiro fiscal
é prerrogativa dos associados acadêmicos, eleitos, pela
Assembléia Geral para um mandato de 2 (dois) anos.
CAPÍTULO VI
Das Seções estaduais
Art. 31 – Às seções estaduais compete:
a) Promover o congraçamento dos associados de
seus respectivos Estados e o entrosamento com os dos
demais Estados;
b) Indicar à Diretoria da ASBL nomes de
acadêmicos a serem apreciados pela Assembléia Geral,
para o preenchimento de cadeiras vagas.
c) Indicar, dentre os acadêmicos do respectivo
Estado, candidatos a Vice-Presidente, secretário e
tesoureiro para a Seção, e seus respectivos suplentes a
serem eleitos pela Assembléia Geral.
§ 1º - Respeitadas as normas do Estatuto Social e
do Regimento da ASBL, cada seção organizará seu
regimento interno;
§ 2º - Cada seção, além de participar das
atividades gerais da ASBL, administrará suas
atividades, mantendo contabilidade própria e arcando
com seu ônus financeiro.
TÍTULO V
Das Disposições Gerais e Transitórias
Art. 32 – A ASBL comemorará o aniversário de
128
sua fundação em 9 de maio, data em que serão
empossados os membros da Diretoria e do Conselho
Fiscal eleitos na Assembléia Geral.
Art. 33 – Os associados não respondem, nem
pessoal nem solidariamente, pelas obrigações contraídas
pela ASBL.
Art. 34 – Os associados acadêmicos poderão
requerer, por escrito , licença por um ano das atividades
da ASBL.
Art. 35 – A ASBL somente será extinta por
deliberação da Assembléia Geral Extraordinária,
convocada para este fim, com a presença de ¾ dos
associados acadêmicos em pleno gozo de seus direitos e
com votos favoráveis de, no mínimo, ¾ dos
participantes, destinando-se o patrimônio a outra
entidade congênere ou ao município em que estiverem
sediadas a sede da ASBL e suas respectivas seções na
proporção dos bens nelas localizados.
Art. 36 – As regras decorrentes deste Estatuto
Social serão disciplinadas pelo Regimento Interno ou
Interno e por resoluções da Diretoria.
§ 1º - A Diretoria elaborará o Regimento Interno
no prazo de 120 (cento e vinte) dias.
§ 2º – Na falta do Regimento, e os casos omissos
serão resolvidos pela Diretoria.
129
Art. 37 – O presente Estatuto Social, aprovado
pela Assembléia Geral, entrará imediatamente em vigor,
revogados as disposições em contrário e o Estatuto até
agora vigente, registrado sob o nº 1.280, a fls. 43v/44 do
Livro A5, em 12 de novembro de 1973, no Registro de
Pessoas Jurídicas em Rocha Brito Serviço Notarial e
Registral, de Pelotas.
Aprovado na Assembléia Geral de 06/12/2003 e
adequado às novas normas da legislação federal.
130
131
ASBL :CADEIRAS-PATRONOS-TITULARES
CADEIRA No.1
Patrono: Jorge Salis Goulart
Titular I: SADY MAURENTE AZEVEDO
Titular II: MARÍSIA DE JESUS F. VIEIRA
Endereço: G. Telles, 607/901 CEP 96010-310
fone (53) 33028943 - 91088139
E-mail: marisia.vieira@brturbo.com.br
CADEIRA No.2
Patrono:Francisca Marcant Gonçalves
Titular: MANOEL JESUS SOARES DA SILVA
Endereço: R. João Jacob Bainy, 266 – Pelotas RS
E-mail: manoel@ucpel.tche.br
132
CADEIRA No.3
Patrono: Manoelito de Ornellas
Titular: I- IVONE LEDA DO AMARAL
Titular II:
Endereço:
CADEIRA No.4
Patrono: Nelson Abott de Freitas
Titular: JOAQUIM MONCKS
Endereço:R. Lima e Silva, 116/401
CEP 90050-100 Porto Alegre RS
E-mail: joaquimmoncks@ig.com.br
CADEIRA No.5
Patrono: Érico Veríssimo
Titular: VALTER SOBREIRO JÚNIOR
Endereço: R. Prof. Araújo, 2149/102
CEP 96020-360 Pelotas RS
CADEIRA No.6
Patrono: Fernando Luis Osório
Titular: MÁRIO OSÓRIO MAGALHÂES
Endereço: Av. Domingos de Almeida 3030
CEP 96085-470 Pelotas RS
133
CADEIRA No.7
Patrono: Paula Correa Lopes
Titular: CATARINA SCHENINI CUNHA
Endereço: R.Vicente Lopes dos Santos, 200/301
CEP 90103-140 Menino Deus, P. Alegre RS –
cmarlowe@terra.com.br
CADEIRA No.8
Patrono: Francisco de Paula Pinto Magalhães
Titular: JOSÉ ANÉLIO SARAIVA
End: R. João da Silva Silveira, 211- Na. S. Fátima
CEP 96080-000 Pelotas RS
CADEIRA No.9
Patrono: Francisco Antônio Vieira Caldas Júnior
Titular: SUELLY CORRÊA GOMES
Endereço: R. Heinrich Hosang, 165/303
CEP 89012-190 Blumenau SC
CADEIRA No.10
Patrono: Francisco Lobo da Costa
Titular I: José Vieira Etcheverry
Titular II: IRMÃO ELVO CLEMENTE
Endereço:
134
CADEIRA No 11
Patrono: Álvaro José Gomes Porto Alegre
Titular: FELIPE ASSUMPÇÃO GERTUM
Endereço: Av. A A Assumpção, 9805
CEP 96090-240 Pelotas RS
CADEIRA No.12
Patrono: Marieta Mena Barreto Costa Amador
Titular: ANA LUIZA TEIXEIRA
Endereço: Av. Borges de Medeiros, 1141/193
CEP 90020—25 Porto Alegre RS
CADEIRA No. 13
Patrono: João Simões Lopes Neto
Titular: I - ÂNGELO PIRES MOREIRA
Titular II:
Endereço
CADEIRA No l4
Patrono: Aurora Nunes Wagner
Titular I:LYDIA MOMBELLI DA FONSECA
Titular II:
135
CADEIRA No.15
Patrono: Irajá Moraes Nunes
Titular: SÉRGIO OLIVEIRA
Endereço: R. Leonardo Colares, 137/101
CEP 96020-190 Pelotas RS
CADEIRA No 16
Patrono: Raul de Leôni
Titular I: IVO CAGGIANI
Titular II: LÍGIA ANTUNES LEIVAS
Endereço: R. Dr. Franklin Olivé Leite, 323
CEP 96055-520 Pelotas RS
Liluleivas@starmedia.com
loleivas@yahoo.com.br
CADEIRA No. 17
Patrono: Demerval Araújo
Titular: I -HARLEY CLÓVIS STOCCHERO
Titular: II -
Endereço:
CADEIRA No .18
Patrono Alberto Coelho da Cunha
Titular: RONALDO CUPERTINO DE MORAES
Endereço: R. Gen. Osório, 938
CEP 96020-000 Pelotas RS
136
CADEIRA No. 19
Patrono: João Cruz e Sousa
Titular I: Rondon Soares
Titular II: LAURO JUNKES
Endereço: R.Capitão Romualdo de Barros, 251.
CEP 88015-000(Carvoeira)Florianópolis SC
CADEIRA No. 20
Patrono: Maria Alzira Freitas Taques
Titular: ZENIA DE LEÓN (Licenciada)
Endereço: R. Bernardino Santos, 74
CEP 96080-030 Pelotas RS
CADEIRA No. 21
Patrono: Victor Russomano
Titular: JORGE MORAES
Endereço: R. Manoel Caetano da Silva, 16
CEP 96025-230 Pelotas RS
CADEIRA No.22
Patrono: Januário Coelho da Costa
Titular: CLÓVIS ALMEIDA ALT
Endereço: R. Cel. Alberto Rosa, 268
CEP 96010-770 Pelotas RS
137
CADEIRA No. 23
Patrono: Adalberto Guerra Duval
Titular: CLÓVIS P. ASSUMPÇÃO
Endereço: Av. 16 de Julho, 165
CEP 90550-220 Porto Alegre RS
CADEIRA No. 24
Pat:Antônio José Gonçalves Chaves
TitularI:HELOISAASSUMPÇÃO NASCIMENTO
Tit. II:MARIA BEATRIZ COSTA MECKING
Endereço: R. Vol.Pátria 1039/ 1203
CEP 96010-610
E-mail: costamecking@gmail.com
138
CADEIRA No.25
Patrono: Guilherme de Almeida
Titular: OSÓRIO SANTANA FIGUEIREDO
Endereço: R. Procópio Mena, 975
CEP 97300-000 São Gabriel RS
CADEIRA No. 26
Patrono: Ceslau Mario Biezanko
Titular: ANTENOR PEIXOTO DE CASTRO
Endereço: R. 15 de Novembro, 666/1110
CEP 96015-000 Pelotas RS
CADEIRA No. 27
Pat: Roberto Landell de Moura
Tit I: ENRIQUE SALAZAR CAVERO
TitularII:OLGA MARIA
DIAS FERREIRA
End: Gen. Neto, 625/302
Pelotas RS –CEP 96015-280
E-mail: olgadf@gmail.com.
139
CADEIRA No.28
Patrono: José Xavier de Freitas
Titular: MIGUEL RUSSOWSKI
CADEIRA No. 29
Patrono: Aureliano Figueiredo Pinto
Titular: FRANCISCO PEREIRA RODRIGUES
Endereço: R. Vasco Alves, 435
CEP 90010-410 Porto Alegre RS
CADEIRA No. 30
Patrono: Alberto Pereira Ramos
Titular: ANTÔNIO KLEBER MATHIAS NETTO
Endereço: R. Castro Alves, 950
CEP 25959-075 Teresópolis, RJ
140
CADEIRA No. 31
Patrono: Dionélio Machado
Titular: DANILO UCHA
Endereço: R. Lopo Gonçalves, 172
CEP 90050-350 Porto Alegre RS
CADEIRA No. 32
Patrono: Tristão Veloso Nunes Vieira(MárcioDias)
Titular: MARIA ALICE ESTRELA
Endereço: Largo Gomes da Silva, 3635/201
CEP 96020-240 Pelotas RS
CADEIRA No. 33
Patrono: José Vieira Pimenta
Titular I: JOSÉ BACCHIERI DUARTE
Titular II:
CADEIRA No. 34 A foto é de Sejanes Dornelles
Patrono: Josué Guimarães
Titular: JOSÉ TÚLIO BARBOSA
Endereço: Av. João Pessoa, 1784/803
CEP 90040-001 Porto Alegre RS
141
CADEIRA No. 35
Pat: Hipólito José da
Costa
Tit I: Edgar José Curvello
Titular II: ÂNGELA
TREPTOW SAPPER
Ender: Rua Paulo Alcides Porto Costa, 205 - Cep 96090-000
Email: angelatreptow@terra.com.br – Fone: 53-32264122
CADEIRA No. 36
Patrono: Juliné da Costa Siqueira
Titular I: PEDRO BAGGIO
Titular II: REYSINA VIANNA RAMOS
Endereço: R.Sinval Brauner Penteado, 52
Areal, Pelotas, CEP 96077-700
CADEIRA No. 37
Patrono: Antônio Gomes de Freitas
Titular I: MARIA AMÉLIA GONÇALVES HILLAL
Titular II
Endereço:
142
CADEIRA No. 38
Patrono: Ramiro Barcelos
Titular I: HUGO RAMIREZ
Titular II:
Endereço:
CADEIRA No. 39
Patrono: Arquimedes Fortini
Titular: PÉRICLES AZAMBUJA
Endereço: R.7 de Setembro, 1561
CEP 96230-000 Santa Vitória do Palmar RS
CADEIRA No. 40
Patrono: Darci Azambuja
Titular: ANSELMO AMARAL
Endereço: R. Gen. Osório, 2279
CEP 96230-000 Santa Vitória do Palmar RS
CADEIRA No. 41
Patrono: Mário Quintana
Titular: WILMA MELLO CAVALHEIRO
Endereço: R. Anchieta 3173/102
CEP 96015-420 - Pelotas RS
F: (53) 32255045
143
CADEIRA No. 42
Patrono: Oscar Bertholdo
Titular: JANDIR JOÃO ZANOTELLI
Endereço: R. Jaguarão, 643 CEP 96090-350 - Laranjal – Pelotas RS
E-mail: jjzanotelli@ig.com.br
fone (53-)32262662
CADEIRA No. 43
Patrono: Noemi Assumpção Osório Caringi
Titular: NAIR SOLANGE PEREIRA
FERREIRA
Endereço: General Telles, 358
CEP 96010-310 - Pelotas RS
E-mail: nspf@ig.com.br
CADEIRA No. 44
Patrono: Delminda Silveira
TitularI: CHEILA STUMPF
Titular II: JULIO DIAS DE QUEIROZ
144
CADEIRA No. 45
Patrono: Noemi Vale da Rocha
Titular: BLAU FABRÍCIO DE SOUZA
Endereço: Av. Juca Batista, 8.000, casa 114
Belém Novo, CEP 91.780-070 Porto Alegre RS
E-mail: blausouza@.c.povo.net
CADEIRA No. 46
Patrono: Magda Costa
Circe de Moraes Palma Monteiro
Tit:NEUSA MARILÚ DUARTE
End: Av. Independência, 1196
CEP 96300-000 - Jaguarão RS
CADEIRA No. 47
Patrono: Carlos Drummond de Andrade
Titular: LUIZ DE MIRANDA
Endereço: José do Patrocínio, 95/405
CEP 90050-001 Porto Alegre RS
CADEIRA No. 48
Patrono: Guilhermino Cezar
Titular: JOSÉ CLEMENTE POZENATO
Endereço: R. Conselheiro Dantas, 1290/301
CEP 95054-000(S.Família)Caxias do Sul RS
E-mail: pozenato@terra.com.br
145
CADEIRA No. 49
Patrono: Luiz Delfino
Titular I: PASCHOAL APÓSTOLO PÍTSICA
Titular II: JOSÉ ISAAC PILATI
Endereço: Largo Benjamim Constant 691/603
CEP88015-390 Florianópolis SC
E-mail: jipilati@matrix.com.br
CADEIRA No. 50
Patrono: Virgílio Várzea
Titular: HOYÊDO DE GOUVÊA LINS
Endereço: R. D. Joaquim, 132
CEP 88015-310 Florianópolis SC
CADEIRA No. 51
Patrono: Brasílio Itiberê
Titular: CLORIS CASAGRANDE JUSTEN
Endereço: R. Des. Otávio do Amaral 57/142
CEP 80730-400 Curitiba PR
CADEIRA No. 52
Patrono: Scharffenberg de Quadros
Titular: CLOTILDE DE QUADROS CRAVO
Endereço: R. XV de Novembro 1630
CEP 80050-000 Curitiba PR
146
CADEIRA No. 53
Patrono: Luiz Carlos Pereira Tourinho
Titular: IVO ARZUA PEREIRA
Endereço: Cons. Laurindo, 890/702
CEP 80060–100 Curitiba – Pr
Ivo@arzua.com.br
CADEIRA No. 54
Patrono: Oscar Joseph de Plácido e Silva
Titular: JOÃO DARCY RUGGERI
Endereço: R. Nestor Vistor, 227
CEP 80620-400 Água Verde – Curitiba - Pr.
E-mail: HYPERLINK mailto:ruggeri@uol.com.br
ruggeri@uol.com.br
CADEIRA No. 55
Patrono: João Cândido
Titular: LAURO GREIN FILHO
Endereço: Av. D. Pedro II, 571/701
CEP 80420-060 Curitiba -Pr
CADEIRA No. 56
Patrono: Assad Amadeo
Titular: LUÍS RENATO PEDROSO
Endereço: R. Carlos de Campos, 482/62
CEP 85540-110 Curitiba - Pr
147
CADEIRA No. 57
Patrono: Emílio de Menezes
Titular: ROZA DE OLIVEIRA
Endereço: R. João Negrão, 140/71
CEP 80010-200 Curitiba PR
E-mail: roza @ onda.com.br
CADEIRA No. 58
Patrono: Ruy Wachowicz
Titular: SEBASTIÃO FERRARINI
Endereço: R. XV de Novembro 1050
CEP 80060-000 Curitiba PR
CADEIRA No. 59
Patrono: Telêmaco Borba
Titular: TÚLIO VARGAS
Endereço: R. Coronel Dulcídio 1239/5
CEP 80250-100 Curitiba PR
E-mail: tulio@netpar.com.br
CADEIRA No. 60
Patrono: Ildefonso Pereira Correia
Titular: VALTER MARTINS DE TOLEDO
Endereço: Av. Pres. Getúlio Vargas,3737/33
CEP 80240-041 Curitiba – Pr
E-mail: v.toledo@terra.com.br
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