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ISSN 1982-1166
EDITOR
Centro Universitário Padre Albino
CONSELHO EDITORIAL
Editora-ChefeVirtude Maria SolerFaculdades Integradas Padre Albino - Catanduva-SP.
Editores
Alessandra MazzoEscola de Enfermagem de Ribeirão Preto – Universidade de São Paulo – USP, Ribeirão Preto-SP.Antonio Carlos de AraujoFaculdades Integradas D. Pedro II, São José do Rio Preto-SP.Ilza dos Passos ZborowskiFaculdades Integradas Padre Albino – Catanduva-SP.Luciana Bernardo MiottoFaculdade Integrada Metropolitana de Campinas – METROCAMP – DEVRY BRASIL, Campinas-SP.Maria Regina Lourenço JaburFundação Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto – Funfarme.
Bibliotecária e Analista Técnico Marisa Centurion StuchiFaculdades Integradas Padre Albino – Catanduva-SP.
FUNDAÇÃO PADRE ALBINO
Conselho de AdministraçãoPresidente: Antonio HérculesDiretoria AdministrativaPresidente: José Carlos Rodrigues Amarante
Gestor Educacional Administrativo: Antonio Carlos de Araujo
FACULDADES INTEGRADAS PADRE ALBINO
Diretor-Geral: Nelson JimenesCoordenador Pedagógico: Antonio Carlos de Araujo
CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEMCoordenadora de Graduação: Maria Cláudia Parro
Rua dos Estudantes, 225Parque Iracema
Catanduva-SP - BrasilCEP. 15809-144
Fone: (17) 3311-3331
E-mail: revistaenfermagem@unifi pa.com.br
Indexada: Base de Dados de Enfermagem - BDENF - BIREME
A é uma publicação com periodicidade semestral, editada pelo Curso de Graduação em Enfermagem das Faculdades Integradas Padre Albino.
Catanduva, SP Cuid Enferm. Volume 11 Número 2 p. 153-308 julho/dezembro 2017 Semestral
CONSELHO CIENTÍFICOAna Paula Girol – Bióloga – Faculdades Integradas Padre Albino (FIPA), Catanduva - SP.Anamaria Alves Napoleão – Enfermeira – Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), SP.Antonio Chizotti - Sociólogo - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), SP.Bethania Ferreira Goulart – Enfermeira - Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), Uberaba-MG. Cristina Arreguy-Sena – Enfermeira - Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), MG.Flaviana Vieira – Enfermeira - Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Goiás (UFG), Goiânia-GO. Gilson Luiz Volpato - Biólogo - Instituto de Biociências de Botucatu, Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP), Botucatu-SP.Helena Megumi Sonobe – Enfermeira - Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto – Universidade de São Paulo (USP), SP.Isabel Cristina Belasco – Enfermeira – Universidade Federal do Sul da Bahia – UFSB, BA.Ítalo Rodolfo Silva – Enfermeiro - Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), RJ.Jane Cristina Anders – Enfermeira – Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Florianópolis-SC.Johis Ortega - Enfermeiro - Escuela de Enfermeria y Ciências de La Salud, Universidad de Miami, USA.José Carlos Amado Martins - Enfermeiro - Escola Superior de Enfermagem de Coimbra, Portugal.Josefi na Gallegos Martínez - Enfermeira - Facultad de Enfermería de La Universidad Autónoma de San Luis Potosí, México. Josimerci Ittavo Lamana Faria – Enfermeira – Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (FAMERP), SP.Lúcia Marta Giunta da Silva – Enfermeira – Sociedade Benefi cente Israelita Brasileira Albert Einstein (SBIBAE) – Faculdade de Enfermagem do Hospital Israelita Albert Einstein, São Paulo-SP.Luciana Bernardo Miotto – Socióloga - Faculdade Integrada Metropolitana de Campinas – METROCAMP-DEVRY BRASIL, SP.Lucieli Dias Pedreschi Chaves – Enfermeira - Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto – Universidade de São Paulo (USP), SP.Magda Fabbri Isaac Silva – Enfermeira – Centro Universitário Barão de Mauá, Ribeirão Preto – Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto – Universidade de São Paulo (HCFM-USP), SP.Manoel Santos – Psicólogo – Faculdade de Filosofi a Ciências e Letras de Ribeirão Preto – Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (USP), SP.Márcia Bucchi Alencastre – Enfermeira – Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto – Universidade de São Paulo (USP) e Faculdade de Educação São Luís de Jaboticabal, SP.Maria Auxiliadora Trevizan - Enfermeira - Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto – Universidade de São Paulo (USP), SP.
Maria Cristina de Moura-Ferreira – Enfermeira - Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Uberlândia (FAMED-UFU), MG.Maria de Fátima Farinha Martins Furlan – Enfermeira – Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (FAMERP), SP.Maria Helena Larcher Caliri - Enfermeira - Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto – Universidade de São Paulo (USP), SP.Maria Elena Echevarría Guanilo – Enfermeira - Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Florianópolis-SC.María de los Ángeles Rodríguez-Gázquez – Enfermeira - Universidad de Antioquia y de la Universidad de Sevilla Medellín, Antioquia – Colombia.Maria José Bistafa Pereira - Enfermeira - Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto – Universidade de São Paulo (USP), SP.Maria Luiza Nunes Mamede Rosa – Farmacêutica e Bioquímica – Faculdade de Medicina de Barretos, SP.Maria Manuela Frederico Ferreira - Enfermeira - Escola Superior de Enfermagem de Coimbra, Portugal.Maria Tereza Cuamatzi Peña - Enfermeira – Faculdad de Estúdios Superiores Zaragoza da Universidad Nacional Autónoma de México, México.Margarida Maria da Silva Vieira – Enfermeira - Universidade Católica Portuguesa, Porto - Portugal.Mariza Almeida Silva – Enfermeira – Universidade Federal da Bahia (UFBA), Salvador-BA.Marli Villela Mamede - Enfermeira - Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto – Universidade de São Paulo (USP), SP.Mary Elizabeth Santana – Enfermeira – Universidade Federal do Pará (UFPA), Belém do Pará-PA.Myeko Hayashida - Enfermeira - Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto – Universidade de São Paulo (USP), SP.Rosemary Aparecida Garcia Stuchi – Enfermeira – Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, Diamantina-MG.Sara Mendoza-Parra – Enfermeira - Facultad de Enfermería, Universidad de Concepción, Concepción – Chile. Simone Albino da Silva - Escola de Enfermagem da Universidade Federal de Alfenas (UNIFAL), MG. Simone Perufo Opitz – Enfermeira – Universidade Federal do Acre (UFAC), Rio Branco-AC.Simone Roque Mazoni – Enfermeira - Universidade de Brasília, DF.Sinval Avelino dos Santos – Enfermeiro - Universidade Paulista (UNIP), Ribeirão Preto – SP e Faculdade de Educação São Luís de Jaboticabal, SP.Wilson Cañon Montañez – Enfermeiro - Universidad de Santander (UDES), Colômbia. Yolanda Dora Martinez Évora – Enfermeira - Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto – Universidade de São Paulo (USP), SP.
NÚCLEO DE EDITORAÇÃO DE REVISTAS
Os artigos publicados na são de inteira responsabilidade dos autores.• É permitida a reprodução parcial desde que citada a fonte• Início de circulação: dezembro de 2007 / Circulation start: December 2007• Data de impressão: dezembro 2017 / Printing date: December 2017
Componentes do Núcleo:Marino Cattalini (Coordenador)Marisa Centurion Stuchi Virtude Maria Soler
CuidArte enfermagem / Faculdades Integradas Padre Albino, Curso de Graduação em Enfermagem. - - Vol. 11, n. 2 (jul./dez. 2017) - . – Catanduva: Faculdades Integradas Padre Albino, Curso de Enfermagem, 2007-
v. : il. ; 27 cm Semestral. ISSN 1982-1166 1. Enfermagem - periódico. I. Faculdades Integradas Padre Albino. Curso de
Graduação em Enfermagem. CDD 610.73
C966
ISSN 1982-1166
SUMÁRIO / SUMMARY / CONTENIDO
EDITORIAL
LA TRANSFERENCIA DE LOS RESULTADOS DE INVESTIGACIÓN Y LA GENERACIÓN DE BIENESTAR SOCIALMaría de los Ángeles Rodríguez Gázquez ...............................................................................................................158
ARTIGOS ORIGINAIS / ORIGINAL ARTICLES / ARTÍCULOS ORIGINALES
PREFERÊNCIA DE VIA DE PARTO E EXPERIÊNCIA PRÉVIA DE DORES EM PUÉRPERAS ATENDIDAS EM UMA MATERNIDADEPREFERENCE OF DELIVERY PATHS AND PREVIOUS PAIN EXPERIENCE OF NEW MOTHERS ATTENDED AT A MATERNITYPREFERENCIA DE VÍA PARTO Y LA EXPERIENCIA PREVIA DE DOLORES EN PUÉRPERAS ATENDIDAS EN UNA MATERNIDAD Simone Roque Mazoni, Emilia Campos de Carvalho, Christiane Inocêncio Vasques, Luciana Braz de Oliveira Paes, Aline Cristina de Poli ....................................................................................................................................................162
IMUNOTERAPIA COM CÉLULAS T-CAR: BIOENGENHARIA CONTRA A LEUCEMIA LINFOBLÁSTICA AGUDACAR-T CELLS IMMUNOTHERAPY: BIOENGINEERING AGAINST ACUTE LYMPHOBLASTIC LEUKEMIAINMUNOTERAPÍA CON CÉLULAS T-CAR: BIOINGENIERÍA CONTRA LA LEUCEMIA LINFOBLÁSTICA AGUDALisandra Juliani Martho, Giovanna Rosa Degasperi, Christiane Aparecida Badin Tarsitano ..........................................168
MODELO DE PARKINSON POR LESÃO UNILATERAL INDUZIDA PELA 6-HIDROXIDOPAMINA: ANÁLISES COMPORTAMENTAIS E IMUNO-HISTOQUÍMICASPARKINSON MODEL FOR UNILATERAL INJURY INDUCED BY 6-HYDROXIDOPAMINE: BEHAVIORAL AND IMMUNOHISTOCHEMISTRY ANALYSISMODELO DE PARKINSON POR LESIÓN UNILATERAL INDUZIDA POR 6-HIDROXIDOPAMINA: ANÁLISIS COMPORTAMENTALES E INMUNO-HISTOQUÍMICASCarolina Sabadoto Brienze, Ana Carolina Marin Comini, Juliana Chaves Garcia, Maria Clara Artiaga, Mariana Penitenti Oliveira, Melina Mizusaki Iyomasa-Pilon, Helena Ribeiro Souza, Lucas Ribeiro de Azevedo, Ana Paula Girol ................174
PROTEÍNA ANEXINA A1: ALVO TERAPÊUTICO NOS PROCESSOS INFLAMATÓRIOSANNEXIN A1 PROTEIN: THERAPEUTIC TARGET IN INFLAMMATORY PROCESSESPROTEÍNA ANEXINA A1: OBJETIVO TERAPÉUTICO EN LOS PROCESOS INFLAMATÓRIOSRodolfo Teruo Takaoka, Nathália Dias Sertório, Karen Laiza Sales, Kassiele Beatriz Pinto, Ana Paula Girol ..................180
COMPARAÇÃO ENTRE OS ÍNDICES DE SÍFILIS NA GESTAÇÃO E SÍFILIS CONGÊNITA NA REGIÃO DE CATANDUVA-SPCOMPARISON BETWEEN SYPHILIS INDEXES IN GESTATION AND CONGENITAL SYPHILIS IN CATANDUVA-SP AREACOMPARACIÓN ENTRE LOS ÍNDICES DE SÍFILIS EN LA GESTACIÓN Y SIFILIS CONGÉNITA EN LA REGIÓN DE CATANDUVA-SPLuciana Sabatini Doto Tannous, Carolina Jodas Pansiera, Manuela de Paula Ribeiro, Marília Storion de Oliveira, Natalia Cocenzo Contiero ................................................................................................................................................187
Catanduva, SP Cuid Enferm. Volume 11 Número 2 p. 153-308 julho/dezembro 2017 Semestral
A METODOLOGIA Q NA INVESTIGAÇÃO EM ENFERMAGEM: FUNDAMENTOS, ADEQUAÇÃO E OPORTUNIDADESTHE Q METHODOLOGY IN NURSING RESEARCH: FUNDAMENTALS, ADEQUACY AND OPPORTUNITIESLA METODOLOGÍA Q EN LA INVESTIGACIÓN EN ENFERMERÍA: FUNDAMENTOS, ADECUACIÓN Y OPORTUNIDADESSusana Miguel, Sílvia Caldeira ..............................................................................................................................193
STREPTOCOCCUS AGALACTIAE EM GESTANTES DA CIDADE DE CAMPINAS-SPSTREPTOCOCCUS AGALACTIAE IN PREGNANT WOMEN FROM THE CITY OF CAMPINAS-SPSTREPTOCOCCUS AGALACTIAE EN GESTANTES DE LA CIUDAD DE CAMPINAS-SPJessica Aparecida Paiva, Taina Zanini Silva, Patricia Alves Ferreira, Águeda Cleofe Marques Zaratin, Rosana Francisco Siqueira dos Santos .............................................................................................................................................198
EDUCAÇÃO PERMANENTE: TECNOLOGIA PARA A PREVENÇÃO DO ERRO DE MEDICAÇÃOPERMANENT EDUCATION: TECHNOLOGY FOR THE PREVENTION OF MEDICATION ERROREDUCACIÓN PERMANENTE: TECNOLOGÍA PARA LA PREVENCIÓN DEL ERROR DE MEDICIÓNRenata Prado Bereta Vilela, Valéria Castilho, Marli de Carvalho Jericó, Josimerci Ittavo Lamana Faria ........................203
DADOS EPIDEMIOLÓGICOS DA HANSENÍASE NO MUNICÍPIO DE CATANDUVA, 2001-2016HANSENIASIS EPIDEMIOLOGICAL DATA IN THE MUNICIPALITY OF CATANDUVA, 2001-2016DADOS EPIDEMIOLÓGICOS DE LA HANSENÍASE EN EL MUNICÍPIO DE CATANDUVA, 2001-2016Gabriela Garcia Agra Naufal, Letícia Galbier Ricetto Pegorari, Thaís Kestenbaum, Rafaela Marega Frigério Lopes ........209
O ENFERMEIRO NA ATENÇÃO À PESSOA COM INCONTINÊNCIA ANALTHE NURSE IN ATTENTION TO THE PERSON WITH ANAL INCONTINENCEEL ENFERMERO EN LA ATENCIÓN A LA PERSONA CON INCONTINENCIA ANALBruna Laponez da Silveira, Franciele Catarucci, Gilmara Menezes Macedo, Luzia Dantas Cunha, Vanessa Cristina Romano, João Junior Gomes ..............................................................................................................................................215
AMBIÊNCIA HOSPITALAR: FORTALECIMENTO DA INTERAÇÃO ENSINO-SERVIÇOHOSPITAL AMBIENCE: STRENGTHENING TEACHING-SERVICE INTERACTIONAMBIENTACIÓN HOSPITALARIA: FORTALECIMIENTO DE LA INTERACCIÓN ENSEÑANZA-SERVICIOLedinéia Benedito da Silva, Grasiele Cristina Lucietto, Angélica Pereira Borges, Vagner Ferreira do Nascimento, Lucieli Dias Pedrechi Chaves, Josué Souza Gleriano .................................................................................................................223
ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NO PROGRAMA HIPERDIA: RELATO DE EXPERIÊNCIA EM ESTÁGIO SUPERVISIONADONURSING ASSISTANCE IN THE HIPERDIA PROGRAM: EXPERIENCE REPORT DURING SUPERVISED STAGEASISTENCIA DE ENFERMERÍA EN EL PROGRAMA HIPERDIA: RELATO DE EXPERIENCIA EN ETAPA SUPERVISADAMaria Alcineide do Nascimento, Sandra Cristina Bezerra de Almeida, Ionar Cilene de Oliveira Cosson, Jaçamar Aldenora dos Santos ..........................................................................................................................................................231
FRATURAS E IMOBILIZAÇÕES EM ORTOTRAUMATOLOGIAFRACTURES AND FIXTURES IN ORTHOTHERUMATOLOGYFRACTURAS Y INMOVILIZACIONES EN ORTOTRAUMATOLOGIADébora de Azevedo, Virtude Maria Soler................................................................................................................239
A PERCEPÇÃO DE ENFERMEIROS DA ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA SOBRE O CONCEITO E PRÁTICA DA AVALIAÇÃOTHE PERCEPTION OF THE FAMILY HEALTH STRATEGY NURSES ON THE EVALUATION CONCEPT AND PRACTICELA PERCEPCIÓN DE ENFERMEROS DE LA ESTRATEGIA SALUD DE LA FAMILIA SOBRE EL CONCEPTO Y PRÁCTICA DE LA EVALUACIÓNJosué Souza Gleriano, Grasiele Cristina Lucietto, Juliana Benevenuto Reis, Verônica Modolo Teixeira, Lucieli Dias Pedrechi Chaves ..............................................................................................................................................................248
RELATOS DE CASOS / CASE REPORT / INFORMES DE CASO
TRATAMENTO ALTERNATIVO PARA HÉRNIA DE HIATO VOLUMOSA: RELATO DE CASOALTERNATIVE TREATMENT FOR BIG HIATUS HERNIA: CASE REPORTTRATAMIENTO ALTERNATIVO PARA HELNIA DE HIATOS VOLUMINOSA: INFORME DE CASOGilberto Borges Brito, Thiago Sivieri, Nazir Elias Chalela Ayub, Roberto Lazilha Faleiros, Diego Rodrigo Dametto ........258
OBSTRUÇÃO INTESTINAL POR FITOBEZOAR EM PACIENTE PÓS-OPERATÓRIO DE CIRURGIA BARIÁTRICA: RELATO DE CASOBOWEL OBSTRUCTION DUE TO PHYTOBEZOAR IN PATIENT AFTER BARIATRIC SURGERY: CASE REPORTOBSTRUCCIÓN INTESTINAL POR FITOBEZOAR EN PACIENTE POST-OPERATÓRIO DE CIRUGÍA BARIÁTRICA: INFORME DE CASOGilberto Borges Brito, Thiago Sivieri, Shinhiti Morita, Nazir Elias Chalela Ayub, Roberto Lazilha Faleiros, Diego Rodrigo Dametto .............................................................................................................................................................263
ARTIGOS DE REVISÃO / REVIEW ARTICLES / ARTÍCULOS DE REVISIÓN
A EPISIOTOMIA DE ROTINA É UMA PRÁTICA BASEADA EM EVIDÊNCIA?IS ROUTINE EPISIOTOMY AN EVIDENCE BASED PRACTICE?LA EPISIOTOMÍA DE ROTINA ES UNA PRÁCTICA BASADA EN EVIDENCIA?Leides Barroso de Azevedo Moura, Luiza Neves Teles Prieto, Maria Auxiliadora de Souza Gerk ..................................269
PROTOCOLO DE PREVENÇÃO PARA GESTANTES: INFECÇÃO NEONATAL PRECOCE POR ESTREPTOCOCOS DO GRUPO BPREVENTION PROTOCOL FOR PREGNANT WOMEN: EARLY NEONATAL INFECTIONS BY B GROUP STREPTOCOCCI PROTOCOLO DE PREVENCIÓN PARA EMBARAZADAS: INFECCIÓN NEONATAL PRECOZ POR ESTREPTOCOCOS DEL GRUPO BFelipe Zucareli Santana, Carolina Nascimbeni Rodrigues Cruz, Gabriel Alcala Souza e Silva, Guilherme Bento de Carvalho, Carolina Ciattei de Paula, Mauro da Silva Casanova ................................................................................................279
EFICÁCIA DAS INTERVENÇÕES DE ENFERMAGEM NA SOBRECARGA DA FAMÍLIA DA PESSOA COM ESQUIZOFRENIA: REVISÃO DE LITERATURAEFFECTIVENESS OF NURSING INTERVENTIONS ON FAMILY OVERLOAD OF PEOPLE WITH SCHIZOPHRENIA: LITERATURE REVIEWEFICACIA DE INTERVENCIONES DE ENFERMERÍA EN LA SOBRECARGA DE LA FAMILIA DE LA PERSONA CON ESQUIZOFRENIA: REVISIÓN DE LA LITERATURATiago Casaleiro, Paulo Seabra, Sílvia Caldeira ........................................................................................................287
ARTIGO DE ATUALIZAÇÃO / UPDATE ARTICLE / ARTÍCULO DE ACTUALIZACIÓN
ALOPECIA FRONTAL FIBROSANTE: UMA ATUALIZAÇÃOFIBROSING FRONTAL ALOPECIA: AN UPDATEALOPECIA FRONTAL FIBROSANTE: UNA ACTUALIZACIÓNJanaina Cappi Moraes Braz, Marilda Aparecida Milanez Morgado de Abreu ...............................................................294
RESENHA / REVIEW / CRÍTICA
A IMPORTÂNCIA DA UTILIZAÇÃO DO CHECK-LIST DE PARTO SEGURO NA REDUÇÃO DE RISCOS OBSTÉTRICOS E PUERPERAISTHE IMPORTANCE OF USING SAFE BIRTH CHECK-LIST IN OBSTETRIC AND PUERPERAL RISK REDUCTIONLA IMPORTANCIA DE LA UTILIZACIÓN DEL CHECK-LIST DE PARTO SEGURO EN LA REDUCCIÓN DE RIESGOS OBSTÉTRICOS Y PUERPERALESJane Klicia Avelino Sant’ Ana, Paloma Oliveira Leite, Renata Prado Bereta Vilela, Fernanda Aparecida Novelli Sanfelice, Janaina Benatti de Almeida, Márcia Cristina Ayres Alves .........................................................................................300
NORMAS PARA PUBLICAÇÃOSTANDARDS PUBLISHING / NORMAS DE PUBLICACIÓN .........................................................................................304
Editorial2017 jul.-dez.; 11(2): 158-160158
ISSN 1982-1166
Editorial
LA TRANSFERENCIA DE LOS RESULTADOS DE INVESTIGACIÓN Y LA GENERACIÓN DE BIENESTAR SOCIAL
María de los Ángeles Rodríguez Gázquez*
Comprender y aprovechar la relación del conocimiento científi co con el bienestar social, ha sido siempre la mayor preocupación de la investigación en el mundo1. Son las habilidades para investigar y aplicar este conocimiento las que caracterizan las sociedades, y es a través de ellas que se promueve la actitud innovadora y el mejor aprovechamiento de las grandes oportunidades que el cambio tecnológico nos ofrece2; pero somos conscientes, además, de las consecuencias que pueden acarrear no asumir el conocimiento nuevo para realizar un cuidado más efi ciente3. Dependemos cada vez más de la fuente de riqueza inagotable de la innovación en enfermería y del reto que representa para la formación de los futuros enfermeros y para la práctica del cuidado con excelencia4.
Actualmente, en el sector académico se observa una transformación que, aunque no es tan rápida como se desearía, sí es ejemplo de una creciente vitalidad: es cada vez más frecuente el desarrollo de investigaciones más complejas en las que participan también enfermeros que ejercen la práctica clínica y comunitaria. Hay que afi anzar la simbiosis entre estos dos colectivos que son diferentes y tienen mucho qué aportar: distintos porque la comunidad científi ca acostumbra a anteponer el rigor metodológico en la investigación de la urgencia de la sociedad para la aplicación de ese conocimiento que se necesita, mientras que las instituciones de salud buscan la efi ciencia, es decir, obtener los mejores resultados con los mínimos recursos. En este sentido, es indispensable que la academia asuma un papel más protagónico en la investigación y en la innovación, comprometiéndose con la transformación del conocimiento científi co en mejoría en la forma en que se brinda el cuidado.
Como la generación de conocimiento es un proceso acumulativo debido a la necesidad de la continuidad en los procesos de investigación desarrollados por el sector académico con y para las instituciones y organismos de salud, se posibilita la innovación que redunda en la mejoría de la calidad de vida, contribuyendo, de esta manera a la construcción de un mundo más justo y de una sociedad más participativa.
Un trabajo importante en la transferencia del conocimiento, a través de la actividad de difusión, ha sido el realizado por revista CuidArte-Enfermagem. Los artículos publicados en sus páginas, son fruto especialmente de la investigación realizada por los profesores junto a sus estudiantes de pregrado y posgrado, que aportan una frescura intelectual. Los alumnos han quedado unidos a sus docentes por los lazos invisibles y perdurables de la afi ción común, la fantasía y el deseo de aprender. Apostar por nuevas generaciones de científi cos exige garantizar la continuidad y desarrollo de la labor de investigación, en la que nos jugamos factores esenciales para construir un futuro mejor. De ahí el especial apoyo y sincero estímulo que debemos a quienes dedican lo mejor de sus vidas a la investigación y al aprovechamiento del potencial de la innovación para mejorar la calidad del cuidado, mostrando que el impacto futuro del conocimiento depende de las ideas, de la creatividad y del empeño de involucrarse con el cambio de la ciencia en el mundo.
* Enfermera, Doctora en Salud Pública. Profesora de la Facultad de Enfermería de la Universidad de Antioquia (Medellín, Colombia). Contato: maria.rodriguezg@udea.edu.co1 Salter KL, Kothari A. Knowledge ‘Translation’ as social learning: negotiating the up take of research-based knowledge in practice. BMC Med Educ. 2016; 16:76.2 Williams PM. Integration of health and social care: a case of learning and knowledge management. Health Soc Care Community. 2012; 20(5):550-60.3 Karamitri I, Talias MA, Bellali T. Knowledge management practices in health care settings: a systematic review. Int J Health Plann Manage. 2017; 32(1):4-18.4 McSherry R, Douglas M. Innovation in nursing practice: a means to tackling the global challenges facing nurses, midwives and nurse leaders and managers in the future. J Nurs Manag. 2011 Mar; 19(2):165-9.
Catanduva, SP Cuid Enferm. Volume 11 Número 2 p. 153-308 julho/dezembro 2017 Semestral
Editorial 2017 jul.-dez.; 11(2): 158-160 159
A TRANSFERÊNCIA DE RESULTADOS DE INVESTIGAÇÃO E A GERAÇÃO DE BEM-ESTAR SOCIAL
María de los Ángeles Rodríguez Gázquez
Compreender e aproveitar a relação do conhecimento científi co com o bem-estar social sempre foi a principal preocupação da pesquisa no mundo1. São as habilidades para investigar e aplicar esse conhecimento que caracterizam as sociedades, e é por meio disso que é promovida a atitude inovadora e o melhor uso das grandes oportunidades que as mudanças tecnológicas nos oferecem2; mas também estamos conscientes das consequências que podem resultar em não se adotar novos conhecimentos para realizar cuidados mais efi cientes3. Dependemos cada vez mais da fonte de riqueza inesgotável de inovação na Enfermagem, do desafi o que representa para a formação de futuros enfermeiros e para a prática de cuidados excelentes4.
Atualmente, no setor acadêmico há uma transformação que, embora não tão rápida como se deseja, é um exemplo de vitalidade crescente: pois, é cada vez mais frequente o desenvolvimento de investigações mais complexas em que também participam os enfermeiros que exercem a pratica clínica e comunitária. Devemos fortalecer a simbiose entre esses dois grupos que são diferentes e têm muito a contribuir: diferente porque a comunidade científi ca geralmente coloca o rigor metodológico na investigação da urgência da sociedade para a aplicação desse conhecimento, enquanto as instituições de saúde buscam efi ciência, ou seja, obter os melhores resultados com os mínimos recursos. Nesse sentido, é essencial que a academia assuma um papel mais importante na pesquisa e na inovação, comprometendo-se em transformar o conhecimento científi co em melhoria na forma como o cuidado é fornecido.
Como a geração de conhecimento é um processo cumulativo devido à necessidade de continuidade nos processos de pesquisa desenvolvidos pelo setor acadêmico com e para instituições e organizações de saúde, é possível a inovação que melhora a qualidade de vida, contribuindo, dessa forma, para a construção de um mundo mais justo e uma sociedade mais participativa.
Um trabalho importante na transferência de conhecimento, através da atividade de disseminação, é realizado pela revista CuidArte-Enfermagem. Os artigos publicados em suas páginas são fruto da pesquisa realizada pelos professores junto a seus alunos de graduação e pós-graduação, e fornecem um frescor intelectual. Os alunos foram unidos aos seus professores pelos laços invisíveis e duradouros do hobby comum, da fantasia e do desejo de aprender. Apostar em novas gerações de cientistas exige garantir a continuidade e o desenvolvimento do trabalho de pesquisa, no qual desempenham-se fatores essenciais para construir um futuro melhor. Daí o apoio especial e o encorajamento sincero que devemos àqueles que dedicam a melhor de suas vidas à pesquisa e a aproveitar o potencial da inovação para melhorar a qualidade do cuidado, mostrando que o impacto futuro do conhecimento depende de ideias, criatividade e compromisso para se envolver com a mudança de ciência no mundo.
THE TRANSFER OF RESEARCH RESULTS AND THE GENERATION OF SOCIAL WELFARE
María de los Ángeles Rodríguez Gázquez
Understanding and harnessing the relationship between scientifi c knowledge and social welfare has always been the main concern of research worldwide. It is the skills to investigate and apply this knowledge that characterize societies, and it is right through them that is promoted the innovative attitude and the best use of the great opportunities that technological changes offer us; but we are also aware of the consequences that may result from the lack of new knowledge adoption to carry out more effi cient care. We depend more and more upon the source of inexhaustible wealth of nursing innovation and upon the challenge that it represents for the future nurses training and for excellent care practice. There is, currently, in the academic area a transformation that, although not as fast as one would wish, is an example of an increasing vitality: it is increasingly frequent the development of more complex investigations in which clinical and community nurses also participate. We must strengthen the symbiosis between these two groups that are different and have much to contribute: different because the scientifi c community usually places the methodological rigor in the investigation of the urgency of society for the application of that knowledge, while Health institutions seek effi ciency, that is, obtain the best results with the minimum resources. In this sense, it is essential that the academy assumes a more relevant role in research and innovation, committing itself to transform scientifi c knowledge into improvement in the way care is provided.
Once the generation of knowledge is a cumulative process due to the need for continuity in the research processes developed inside the academic area with and for health institutions and organizations, it is truly possible the innovation that improves the quality of life, thus contributing to the construction of a fairer world and a of more participatory society.
Editorial2017 jul.-dez.; 11(2): 158-160160An important task in knowledge transfer, through the dissemination activity, has been carried out by the journal
Cuidarte Enfermagem. The articles published in its pages are the result of the research carried out by the teachers along with their undergraduate and postgraduate students, who provide an intellectual freshness. The students have been united to their teachers by the invisible and lasting bonds of common hobby, fantasy and learn desire. Betting on scientist new generations requires guaranteeing the continuity and development of the research work, in which we represent essential factors to build a better future. Hence the special support and sincere encouragement that we owe to those who dedicate the best of their lives to research and to harness the potential of innovation to improve the quality of care, showing that the future impact of knowledge depends upon ideas, creativity and commitment to get involved with the change in a world.
Preferência de via de parto e experiência prévia de dores empuérperas atendidas em uma maternidade2017 jul.-dez.; 11(2): 162-167162
PREFERÊNCIA DE VIA DE PARTO E EXPERIÊNCIA PRÉVIA DE DORES EM PUÉRPERAS ATENDIDAS EM UMA MATERNIDADE
PREFERENCE OF DELIVERY PATHS AND PREVIOUS PAIN EXPERIENCE OF NEW MOTHERS ATTENDED AT A MATERNITY
PREFERENCIA DE VÍA PARTO Y LA EXPERIENCIA PREVIA DE DOLORES EN PUÉRPERAS ATEUDIDAS EN UNA MATERNIDAD
* Enfermeira. Doutora em Ciências. Professora adjunta do Departamento de Enfermagem da Faculdade de Ciências da Saúde – Universidade de Brasília (UnB). Brasília-DF, Brasil. Contato: simazoni@unb.br** Enfermeira. Professora sênior da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto – Universidade de São Paulo (USP). Ribeirão Preto-SP, Brasil. Contato: ecdcava@usp.br*** Enfermeira. Professora adjunta do Departamento de Enfermagem da Faculdade de Ciências da Saúde – Universidade de Brasília (UnB). Brasília-DF, Brasil. E-mail: chvasques@unb.br**** Enfermeira Obstetra. Professora mestre do curso de Enfermagem das Faculdades Integradas Padre Albino, Catanduva-SP, Brasil. Contato: luciana_brazsp@hotmail.com ***** Enfermeira Obstetra do Hospital Escola Padre Albino, Catanduva-SP, Brasil. Contato: aline_depoli@yahoo.com.brArtigo extraído da tese de doutorado “Elaboração e validação do diagnóstico de enfermagem Dor de Parto” apresentada à Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, Centro Colaborador da Organização Mundial de Saúde (OMS) para o Desenvolvimento da Pesquisa em Enfermagem, SP, Brasil. Orientadora: Emília Campos de Carvalho.
ResumoIntrodução: Vários fatores pessoais, culturais e sociais atuam como determinantes na escolha do parto, assim como infl uenciam na dor. Nas tomadas de decisão devem ser respeitados os sentimentos e desejos da mulher. Objetivo: Verifi car a preferência de via de parto e a experiência prévia de dores de puérperas atendidas em uma maternidade. Método: Estudo descritivo com abordagem quantitativa realizado com 55 puérperas com idade igual ou superior a 18 anos. A pesquisa ocorreu por meio de levantamento de prontuários e entrevistas. Utilizou-se a estatística descritiva para análise dos dados de perfi l sociográfi co, procura pelo atendimento, experiências de dores, antecedentes reprodutivos e de perfi l obstétrico. Resultados: Acerca da preferência de parto, aproximadamente 89% (n=49) das puérperas preferiram a via vaginal. À entrevista, 81,8% (n=45) afi rmaram que a dor associada ao trabalho de parto foi a experiência mais intensa já sentida. Conclusão: Embora a dor associada ao trabalho de parto tenha sido a experiência mais intensa relatada pela maioria, a preferência pelo parto vaginal foi prevalente entre as entrevistadas.
Palavras-chave: Parto. Dor. Parto e dor de parto. Cesárea. Parto obstétrico. Parto normal. Trabalho de parto.
AbstractIntroduction: Several personal, cultural and social factors play a role as determinants in the choice of childbirth, as well as infl uence pain. In decision-making, woman feelings and desires must be respected. Objective: To verify the preference of delivery path and the previous pain experience of new mothers attended at a maternity. Method: It is a descriptive study with quantitative approach, performed with 55 new mothers aged 18 years or older. The research was carried out through the collection of medical records and interviews. Descriptive statistics were used to analyze data about sociographic profi le, search for care, pain experiences, reproductive history and obstetric profi le. Results: Regarding the preference of delivery path, approximately 89% (n = 49) new mothers preferred the vaginal route. At the interview 81.8% (n = 45) stated that pain associated with labor was the most intense experience ever felt. Conclusion: Although the pain associated with labor was the most intense experience reported by the majority, the preference for vaginal delivery was prevalent among the interviewees.
Keywords: Childbirth. Ache. Labor and delivery pain. Cesarean section. Obstetric delivery. Normal birth. Delivery labor.
ResumenIntroducción: Varios factores de personales, culturales y sociales actúan como determinantes en la elección del parto, así como infl uyen en el dolor. En las tomas de decisión deben respetarse los sentimentos y deseos de la mujer. Objetivo: Verifi car la preferencia de via de parto y la experiencia previa de dolor de puérperas atendidas em una maternidad. Método: Estudio descriptivo con un enfoque cuantitativo realizado con 55 madres mayores de 18 años. La investigación se llevó a través de levantamiento de registros y entrevistas. Se utilizó estadística descriptiva para el análisis de los datos de perfi l sociográfi cos, la demanda de atención, experiencias de dolor, historia reproductiva y el perfi l obstétrico. Resultados: Sobre la preferencia de parto, aproximadamente 89% (n = 49) de las puérperas preferían la via vaginal. En la entrevista el 81,8% (n = 45), declaró que el dolor associado con el trabajo de parto fue la experiencia más intensa reportada por la mayoría. Conclusión: A pesar de que el dolor associada con el trabajo de parto fue la experiencia más intensa reportada por la mayoría, la preferencia por el parto vaginal fue frecuente entre las entrevistadas.
Palabras clave: Parto. Dolor. Parto y dolor de parto. Cesárea. Parto obstétrico. Parto normal. Trabajo de parto.
Simone Roque Mazoni*, Emilia Campos de Carvalho**, Christiane Inocêncio Vasques***, Luciana Braz de Oliveira Paes****, Aline Cristina de Poli*****
1632017 jul.-dez.; 11(2): 162-167Preferência de via de parto e experiência prévia de dores empuérperas atendidas em uma maternidade
INTRODUÇÃO
Compreender as experiências de dores, os fatores
psicoemocionais e socioculturais da mulher e de sua
preferência de via de parto à tomada de decisão para a
resolução do mesmo, tem sido o desafi o da ciência, ainda
gerando controvérsias que contribuem para as altas taxas
de cesáreas1,2.
Em um estudo transversal realizado em uma
maternidade pública brasileira, autores encontraram que
o parto por via vaginal foi desejado por mais da metade
de mulheres submetidas à cesariana também, atribuíram a
experiência negativa ou positiva da vivência e organização
da assistência do serviço à preferência e forma como a
via de parto é decidida3. Em outros dois estudos, autores
concluíram que a maioria das mulheres prefere o parto
vaginal devido a fatores pessoais, culturais e sociais,
embora nem todas o estejam realizando2,4.
Dentre os principais fatores que atuam como
determinantes para preferência pelo parto normal estão
a recuperação pós-parto mais rápida, experiência prévia
desta via e acesso às informações e orientações acerca
de riscos e benefícios das modalidades de parto durante
a assistência pré-natal3. As opções pela cesárea por parte
de gestantes envolvem evitar a dor e o sofrimento, às
informações limitadas e compreendidas pela mulher,
crenças de menores riscos materno-fetal e otimização do
próprio procedimento com possibilidades de agendamento
e laqueadura5.
A dor associada ao trabalho de parto também
apresenta signifi cado positivo para as mulheres2,4,
sendo estes modulados pelo medo, preocupações e
interpretações sensoriais e socioculturais; podem sinalizar
a dor como prazer, representações de vida e “maternagem”
que propulsionam o protagonismo da mulher na resolução
do nascimento por via natural1.
Considerando a necessidade de melhor
compreensão do fenômeno doloroso associado à via
de parto, pressupõe-se que as experiências de dores
são complexas, subjetivas e que mesmo em situação
do nascimento não estejam infl uenciando a preferência
de ambas as modalidades. Para tanto, delineamentos
de estudos quantitativos e qualitativos que descrevam
experiências quanto aos tipos de dores, no que diz respeito
ao processo de nascimento, preferências de partos e
tomadas de decisão, poderão contribuir para o fomento de
práticas multiprofi ssionais que viabilizem o aumento das
taxas de partos por via vaginal e menores riscos materno-
infantil, advindos de cesáreas desnecessárias.
OBJETIVO
O presente estudo teve por objetivo verifi car a
preferência da via de parto e a experiência prévia de dores
em puérperas atendidas em uma maternidade.
MÉTODO
Trata-se de um delineamento de estudo do tipo
descritivo com abordagem quantitativa acerca de 55
puérperas que em trabalho de parto foram admitidas com
dor em uma maternidade pública de um hospital-escola
localizado no interior paulista, no Brasil.
A amostra foi por conveniência e coletada no
período de 20 de dezembro de 2011 a 22 de fevereiro de
2012. Foram entrevistadas puérperas com idade igual ou
superior a 18 anos em unidade de alojamento conjunto,
independente da paridade e resolução de via de parto.
Consideraram-se como critérios de inclusão, puérperas
que foram admitidas em trabalho de parto com dor e
dilatação cervical igual ou superior a quatro centímetros,
idade gestacional igual ou superior a 28 semanas, gestação
única e tópica, com feto vivo e situação longitudinal.
Como critérios de exclusão, embora não havendo,
consideraram-se mulheres que não apresentaram registro
de: diagnóstico de ruptura uterina; duas cesarianas
anteriores; diagnóstico de desproporção cefalopélvica,
hemorragias obstétricas, sofrimento fetal, hipertensão
induzida pela gestação e não controlada, frequência
cardíaca fetal não tranquilizadora e/ou mecônio, portadoras
de HIV com operação programada, paciente sob analgesia
peridural, raquianestesia ou bloqueios combinados raqui-
peridural no trabalho de parto e quando na solicitação da
retirada do estudo pelo consenso da própria puérpera.
O projeto foi submetido à apreciação do Comitê
de Ética em Pesquisa da Faculdade de Medicina local e
aprovado sob registro n° 34/08.
O instrumento de coleta de dados foi estruturado
para obtenção de dados relativos ao perfi l sociográfi co,
procura pelo atendimento obstétrico, experiências prévias
de dores, antecedentes ginecológicos e reprodutivos e
de perfi l obstétrico segundo gestação atual, incluindo
preferências de vias de parto. A obtenção de respostas
164de percepção sensorial fundamentara-se na percepção
de intensidade das dores associadas ao trabalho de parto
comparada às demais dores já sentidas. A entrevista foi
realizada entre 3 e 12 horas após o parto com puérpera
em unidade de alojamento conjunto.
Informações foram coletadas e armazenadas
utilizando-se o aplicativo Microsoft Excel for Windows,
versão 2007, com técnica da dupla digitação para verifi cação
de possíveis erros de transcrição e, posteriormente, os
dados foram analisados por meio de programa estatístico
Statistical Package for the Social Sciences (SPSS), versão
17.0 para Windows.
Para a descrição do perfi l da amostra, foram
calculadas as medidas de tendência central médias,
medianas e de dispersão, desvios-padrão para idade
e renda familiar. A análise do estudo foi por estatística
descritiva com a distribuição de frequências para o perfi l
sociográfi co da amostra, procura pelo atendimento
obstétrico, experiências prévias de dores, assistência
obstétrica, antecedentes reprodutivos, de perfi l obstétrico
segundo a gestação atual e preferência de via de parto.
RESULTADOS
Das cinquenta e cinco mulheres entrevistadas, 34
(61,8%) declararam-se de raça branca/caucasiana e 21
(38,2%) afrodescendente. A idade mínima variou entre 18
e 38 anos (média = 25,3 anos; desvio-padrão = 5,3 anos).
Considerando os extremos de vida reprodutiva, 9 (16,4%)
tinham idades entre 18 e 19 anos pertencendo ao grupo
de adolescentes; 43 (78,2%) pertenciam ao grupo etário
intermediário e 03 (5,4%) ao extremo de idade de 35 anos
ou mais (Tabela 1).
A maioria, 48 (87,3%), afi rmou ter companheiro e
que o mesmo residia junto. Predominou a ocupação do lar
em 41 (74,5%) das entrevistadas, seguido de 13 (23,7%)
trabalhadoras e 1 (1,8%) desempregada. No que tange
à escolaridade, esta variou entre o ensino fundamental
incompleto e médio completo; 19 (31,7%) completaram o
ensino médio, 12 (21,9%) não o completaram; 11 (20%)
estudaram até o ensino fundamental e 13 (23,6%) não o
completaram (Tabela 1).
A renda familiar mínima aproximada em Reais
variou entre 134 e R$4.500 (média = 1383,80 reais;
desvio-padrão = 841,30 reais). Três (5,4%) parturientes
afi rmaram ter rendas familiares de até R$500; 19 (34,5%)
entre R$500 e 1.000 reais; 25 (45,5%) entre 1.000 e
2.000 reais; 6 (11%) parturientes referiram rendas entre
2.000 e 3.000 reais, 2 (3,6%) parturientes referiram renda
familiar aproximada em 4.500 reais (Tabela 1).
Tabela 1 - Perfi l sociográfi co das participantes segundo raça, idade, esta-do conjugal, ocupação, escolaridade e renda familiar
Todas as parturientes sentiram dor durante o
trabalho de parto. Das 55 puérperas entrevistadas, 29
(52,7%) relataram ter vivenciado a primeira gestação.
Aproximadamente 89% (n = 49) das puérperas
manifestaram a preferência de parto por via vaginal
(Tabela 2).
Quanto à percepção da intensidade das dores,
81,8% (n = 45) das puérperas afi rmaram que a dor
associada ao trabalho de parto foi a mais forte já sentida
e aproximadamente 91% destas relataram a preferência
pelo parto normal. Seis (10,8%) entrevistadas afi rmaram
ser a enxaqueca ou cefaleia, seguida de 3 (5,5%) cólica
renal e uma citação de dor proveniente de cistite como a
experiência de dor mais intensa já sentida (Tabela 2).
Preferência de via de parto e experiência prévia de dores empuérperas atendidas em uma maternidade2017 jul.-dez.; 11(2): 162-167
165Tabela 2 - Perfi l das participantes segundo experiência prévia de dores e preferência da via de parto
DISCUSSÃO
A dor é um fenômeno considerado como físico
(objetivo) e individual (subjetivo) ou psicossomático6. Todas
as puérperas referiram ter sentido dor durante o trabalho
de parto, embora manifestadas em durações diferentes,
independente da via de nascimento experimentada e
52,7% vivenciavam sua primeira gestação.
No que se refere à dor no trabalho de parto
como fator de exposição e critério de inclusão para as
entrevistadas, no presente estudo buscou-se validar
a autoavaliação da intensidade de dor observada
e comparada às demais dores já sentidas como
experiência primeira às primíparas ou de (re)experiência
às participantes multíparas. Sabe-se que variáveis de
atenção, mnemônicas, de cognição e motivacionais podem
afetar diretamente a dimensão sensorial, assim como os
aspectos hedônicos e experimentais da dor percebida7.
Considerando estes aspectos, ressalta-se também aqui,
a entrevista recente à experiência de dor no trabalho de
parto, isto é, de 3 a 12 horas após o nascimento como um
fator interveniente, para tanto, tendo sido utilizado como
estratégia mnemônica para a avaliação da experiência
de dor e que hipoteticamente poderia afetar o relato da
preferência de via de parto.
A memória da dor do parto após dois, um e cinco
anos do nascimento e de sua associação com o uso de
analgesia epidural, foi pesquisada por meio de um estudo
longitudinal no qual os pesquisadores encontraram que a
memória da dor do parto diminuiu durante os períodos
de observações, mas não em mulheres com experiência
negativa de parto. As mulheres submetidas à analgesia
epidural relataram maiores escores de dor em todos os
momentos, sugerindo que estas se lembraram com maior
evidência de seus picos de dores vivenciados8.
Quando nos referimos acerca das dores em geral,
há um dilema nas medidas derivadas de autoavaliação
e que se limita à natureza subjetiva. À medida que são
baseadas na percepção do paciente, a dor é infl uenciada
por outros fatores e diversos estudos registram que o
fenômeno é percebido como menos intenso quando a
pessoa se apresenta em estado de distração7.
Um estudo com abordagem qualitativa encontrou
a sensação dolorosa citada em todos os discursos,
entretanto, mostrando a dor como necessária ao
nascimento da criança, aliada à justifi cativa de percepção
negativa do parto6. Identifi ca-se que a dor do parto
faz parte de um processo natural, sendo um fenômeno
importante à dinâmica do nascimento, pois revela a força
da mulher e de seu empoderamento9. Essa experiência
pode variar em sentimentos que vão do sofrimento ao
prazer10-12, sendo imperativo que a equipe multiprofi ssional
considere a visão de mundo da cliente e os signifi cados do
nascimento para tomadas de decisão que respeitem os
sentimentos e desejos da mulher11.
A experiência positiva pode ser um fator
importante para a preferência do parto vaginal, e esses
aspectos incluem desde a atenção pré-natal, informações,
acolhimento até o acompanhamento no trabalho de parto
e nascimento12,13. Um estudo em que todas as primíparas
tiveram seus partos por via vaginal, mostrou relatos de
dores intensas em cerca de 70% das entrevistadas, mas
quase 95% delas se autoavaliaram como satisfeitas ou
muito satisfeitas com os desfechos do parto14. Estudo
similar identifi cou que independentemente do tipo de
parto, as mulheres mostraram o mesmo tipo de satisfação
em relação à resolução do nascimento15.
Nossa pesquisa evidenciou que quase 82% das
puérperas vivenciaram a dor no trabalho de parto como
a experiência dolorosa mais intensa ao longo da vida,
independente da via de resolução do nascimento atual.
Apesar das variações metodológicas, estudo que buscou
escalonar diferentes tipos de dores existentes, comparadas
entre si e investigadas por meio de diferentes métodos
psicofísicos, identifi cou em pacientes ambulatoriais que os
tipos de dores de maior intensidade (tanto no método de
estimação de magnitudes como no de emparelhamento
2017 jul.-dez.; 11(2): 162-167Preferência de via de parto e experiência prévia de dores empuérperas atendidas em uma maternidade
166
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intermodal de comprimento de linhas) foram a dor no
câncer, dor por infarto do miocárdio, dor na AIDS, dor por
cólica renal, dor no parto e de fi bromialgia16. Na presente
pesquisa, seis puérperas afi rmaram ser a enxaqueca ou
cefaleia, seguida de três, cólica renal e uma citação de
dor proveniente de cistite ter sido a dor mais intensa já
sentida.
É importante relembrar que a maioria de puérperas
tenha relatado que a dor associada ao trabalho de parto
seja a experiência dolorosa mais intensa percebida e
89% de todas as entrevistadas relataram a preferência
da via vaginal, evidenciando que a experiência de dor de
forma isolada poderia não ser um fator que infl uencie a
preferência da via de parto. Vários estudos mostram
que o parto vaginal é o tipo de parto que apresenta
maior preferência das mulheres5,13, entretanto, no setor
privado predomina a preferência pelo parto cesáreo13,14.
Em um estudo desenvolvido no Hospital das Clínicas da
Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo,
autores identifi caram que a vivência anterior do parto não
exerceu infl uência na expectativa do processo de escolha5.
Por outro lado, um estudo qualitativo realizado no último
trimestre gestacional identifi cou que a dor pode infl uenciar
o comportamento da gestante a partir do medo e se tornar
a gênese de outros sentimentos aversivos ao processo de
nascimento1.
Outros estudos descrevem que existem sim
fatores que interferem no processo de escolha e eles
podem estar relacionados aos eixos institucionais,
individuais e coletivos14, envolvendo os aspectos biológicos,
psicológicos, sociais e culturais14,17. Entres os fatores
individuais, encontram-se a possibilidade de vivenciar o
marco da maternidade1,10-12, rápida recuperação, menor
risco de hemorragia, mais seguro para gestação não
complicada e experiências anteriores positivas para o parto
vaginal1,13. Para a preferência de parto cesáreo, encontram-
se a idade avançada, desejo da laqueadura, história clínica
da mulher, medo de complicações decorrentes do parto
vaginal e da dor13,18,19. A infl uência institucional e coletiva é
descrita acerca do poder médico e da família, da ausência
dialógica na atenção pré-natal e pelo fator socioeconômico
e cultural12,14,17,18.
Embora na pesquisa todas as puérperas tenham
vivenciado experiências recentes de dores no trabalho de
parto e consideradas como intensas para maioria delas, a
preferência pelo parto vaginal foi relatada também pela
maioria, mostrando no presente estudo que a experiência
da dor nesta população não seria um fator que interferiu na
preferência da via de parto. Por outro lado, não podemos
descartar que o signifi cado positivo do nascimento e
maternidade possam estar envolvidos à preferência para
o momento e nesse sentido ter atenuado o signifi cado do
fenômeno doloroso à memória episódica, tão recente e
presente para a experiência atual.
Embora a pesquisa ateve-se em considerar que
todas as puérperas tenham apresentado experiência
recente de dor no trabalho de parto, vivenciada no
nascimento atual, o estudo limitou-se à inobservância da
resolução de parto dessas participantes. Portanto, mais
estudos devem ser propostos e desenvolvidos no sentido
de verifi car variáveis que interfi ram tanto no processo
de preferência como decisório da via de realização do
nascimento.
CONCLUSÃO
Embora a dor associada ao trabalho de parto tenha
sido vivenciada como a mais intensa relatada pela maioria
das participantes do estudo, a preferência pelo parto
vaginal foi prevalente entre as puérperas. A experiência de
dor não interferiu na preferência da via de nascimento das
participantes na presente pesquisa, entretanto, deve-se
considerar que existem fatores descritos na literatura e o
fenômeno doloroso inerente ao parto apresenta-se como
expressão subjetiva e complexa, devendo, portanto, ser
melhor explorado.
Além disso, destaca-se que ainda há grande
contraste entre a preferência do parto normal e os altos
índices de cesarianas no Brasil, aspecto importante e que
justifi ca a investigação por meio de novos estudos.
Preferência de via de parto e experiência prévia de dores empuérperas atendidas em uma maternidade2017 jul.-dez.; 11(2): 162-167
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Recebido em: 16/06/2017Aceito em: 24/09/2017
2017 jul.-dez.; 11(2): 162-167Preferência de via de parto e experiência prévia de dores empuérperas atendidas em uma maternidade
168 Imunoterapia com células T-CAR: bioengenharia contraa leucemia linfoblástica aguda2017 jul.-dez.; 11(2): 168-173
IMUNOTERAPIA COM CÉLULAS T-CAR: BIOENGENHARIA CONTRA A LEUCEMIA LINFOBLÁSTICA AGUDA
CAR-T CELLS IMMUNOTHERAPY: BIOENGINEERING AGAINST ACUTE LYMPHOBLASTIC LEUKEMIA
INMUNOTERAPÍA CON CÉLULAS T-CAR: BIOINGENIERÍA CONTRA LA LEUCEMIA LINFOBLÁSTICA AGUDA
* Graduada em Ciências Biológicas, Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), Campinas-SP. Contato: lisandramartho@gmail.com**Doutora em Fisiopatologia Médica. Docente do curso de Ciências Biológicas, Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), Campinas-SP.***Doutora em Biologia Celular. Docente do curso de Ciências Biológicas, Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), Campinas-SP.
ResumoIntrodução: Uma atual abordagem da imunoterapia do câncer baseia-se na modifi cação genética de linfócitos T, através da expressão de uma molécula de superfície capaz de atuar como um receptor específi co. Tal molécula foi intitulada Receptor Antigênico Quimérico (CAR) e tem a função de reconhecer antígenos presentes em células tumorais para redirecionar o ataque linfocitário. Desenvolvido como um tratamento para a Leucemia Linfoblástica Aguda (LLA) do tipo B, o receptor CAR expresso pela célula modifi cada atua especifi camente no reconhecimento do CD19, principal cluster de diferenciação da linhagem linfoide B. Ao reconhecer o antígeno, o sítio interno da molécula transmite um sinal de ativação do ataque citolítico, o qual atinge apenas a célula-alvo e promove sua eliminação com baixa toxicidade. Objetivo: Descrever a manipulação e funcionamento da imunoterapia com Células T-CAR no tratamento da LLA do tipo B e destacar os benefícios desta técnica para os pacientes. Método: Estudo de revisão bibliográfi ca a partir de artigos de bases de dados online PubMed e do Portal Capes, no período de 2011 a 2017 e livros acadêmicos correlacionados. Conclusão: Com as técnicas de engenharia genética, a imunoterapia com Células T-CAR proporcionou melhora signifi cativa na qualidade de vida dos pacientes de ensaios clínicos devido à baixa agressividade do tratamento e alta especifi cidade contra a célula tumoral, atingindo taxas próximas de 95% de remissão completa da doença. Os resultados indicam novas oportunidades de avanço no tratamento da LLA e outras neoplasias.
Palavras-chave: Biotecnologia. Terapia genética. Receptor antigênico quimérico. Hematologia. Oncologia.
AbstractIntroduction: A current approach to cancer immunotherapy is based on the genetic modifi cation of T-lymphocytes by the expression of a cell surface molecule able to act as a specifi c receptor. Such molecule has been called Chimeric Antigen Receptor (CAR) and has the function of recognizing antigens in tumor cells to redirect the lymphocyte attack. Developed as a treatment for Acute Lymphoblastic Leukemia (ALL) type B, the CAR-receptor expressed by the modifi ed cell acts specifi cally on the recognition of CD19, the major differentiation cluster of lymphoid B lineage. After antigen recognition, the molecule internal site transmits a signal of cytolytic attack activation, which reaches only the target cell, therefore promoting its elimination with low toxicity. Objective: To describe manipulation and functioning of immunotherapy with CAR-T cells on the treatment of type B ALL and to highlight the benefi ts of this technique for the patients. Method: Bibliographic review study based on articles from online databases PubMed and Capes Portal from 2011 through 2017 and correlated academic books. Conclusion: With genetic engineering techniques, CAR-T Cells immunotherapy provided signifi cant improvement in life quality of clinical trials patients, due to low treatment aggressiveness, as well as high specifi city against tumor cells, with disease complete remission rates near to 95%. The results point out new opportunities for advancement in the treatment of ALL and other neoplasms.
Keywords: Biotechnology. Genetic therapy. Chimeric Antigen Receptor. Hematology. Oncology. ResumenIntroducción: Actualmente, uno de los enfoques en inmunoterapia para cáncer es la modifi cación genética de linfocitos T a través de la expresión de moléculas de superfi cie capaces de actuar como receptor específi co. Estas moléculas se llaman Receptor Antigénico Quimérico (CAR) y su función es reconocer antígenos presentes en las células tumorales direccionando el ataque linfocitario. El receptor CAR fue desarrollado para el tratamiento de Leucemia Linfoblástica Aguda (LLA) tipo B y se expresa en la célula modifi cada para actúar específi camente en el reconocimiento de CD19, principal marcador de diferenciación del linaje de linfocitos B. Cuando es reconocido el antígeno, el sitio interno de la molécula trasmite una señal de activación para iniciar el ataque citolítico, atacando de forma específi ca a las células cancerígenas y promoviendo la eliminación de éstas con baja toxicidad. Objetivo: Describir la manipulación y funcionamiento de la inmunoterapia con células T-CAR en el tratamiento de LLA tipo B y mostrar los benefi cios de la técnica en los pacientes. Método: Estudio de revisión bibliográfi ca de artículos científi cos de los años 2011-2017 en bases de datos on-line y libros académicos relacionados. Conclusión: Gracias a las técnicas de ingeniería genética, la inmunoterapia con células T-CAR proporcionó una mejora signifi cativa en la calidad de vida de los pacientes participantes de ensayos clínicos, debido a la baja agresividad del tratamiento y a la alta especifi cad del mismo contra las células tumorales. Siendo la tasa de remisión completa de la enfermedad de aproximadamente un 95%. Los resultados muestran nuevas oportunidades de avances en el tratamiento de la LLA y en otras neoplasias.
Palabras clave: Biotecnología. Terapia genética. Receptor antigénico quimérico. Hematología. Oncología.
Lisandra Juliani Martho*, Giovanna Rosa Degasperi**, Christiane Aparecida Badin Tarsitano***
1692017 jul.-dez.; 11(2): 168-173Imunoterapia com células T-CAR: bioengenharia contraa leucemia linfoblástica aguda
INTRODUÇÃO
Os avanços em imunologia, engenharia genética
e processamento de células são fatores estimulantes
para o desenvolvimento de novas técnicas de tratamento
contra o câncer, como a imunoterapia com Células
T-CAR. Trata-se de uma terapia celular adotiva capaz de
redirecionar o combate às células cancerígenas através
do reconhecimento antigênico, dispensando a restrição
do complexo principal de histocompatibilidade (MHC).
Atualmente, o método é uma poderosa ferramenta contra
tumores e leucemias1,2.
A leucemia linfoblástica aguda (LLA) é um tipo
de câncer altamente incidente em crianças de 3 a 7 anos
de idade3, ocorrendo, anualmente, três novos casos a
cada 100 mil indivíduos4. Dentre estes, cerca de 15%
não alcançam a cura da doença e 25% dos pacientes
apresentam recidiva após o tratamento de primeira linha3,4.
Em adultos, a incidência de LLA consiste em apenas 15%
de todas as leucemias agudas, atingindo especialmente
pacientes acima dos 70 anos de idade. Porém, a taxa de
cura constitui somente 5% dos casos3,5.
Atualmente, a quimioterapia é considerada o
principal tratamento contra a LLA. Apesar de convencional,
o método é altamente inespecífi co, o que afeta tanto
células tumorais quanto células saudáveis do organismo.
Desta forma, pode levar ao desenvolvimento de diversos
efeitos colaterais e deixar sequelas permanentes3,6.
Com base no atual cenário terapêutico do câncer
e nos índices alarmantes da LLA, foi intensifi cada a busca
por novas opções de tratamentos. A terapia com Células
T-CAR tende a substituir ou reduzir o uso dos tratamentos
convencionais, uma vez que os efeitos colaterais da
tecnologia T-CAR podem ser revertidos, proporcionando
uma melhor qualidade de vida aos pacientes. Além disso,
o tratamento se mostrou altamente efi caz nos ensaios
clínicos, com taxas de até 94% de remissão completa da
doença1,7,8.
Esta revisão tem o propósito de descrever
o processamento de células T-CAR in vitro e seu
funcionamento após infusão em circulação sistêmica de
pacientes com LLA de linhagem B, bem como destacar
os benefícios da técnica em comparação aos métodos de
tratamentos convencionais.
MÉTODO
Foi realizado o levantamento da literatura
disponível sobre imunoterapia com Células T-CAR aplicadas
no tratamento da LLA de linhagem B, através do PubMed
e do Portal Capes no período de 2011 a 2017, bem como
livros e periódicos de base científi ca ou acadêmica.
Cenário terapêutico atual contra a leucemia
linfoblástica aguda
A LLA é um tipo de câncer que acomete células
hematológicas, levando a disfunção de precursores
linfoides e consequente proliferação clonal desordenada9,10.
A doença pode acometer linhagens linfocitárias distintas,
sendo elas do tipo T ou B, e são diferenciadas com base
em marcadores específi cos expressos nas membranas
celulares, conhecidos como Clusters de diferenciação
(CD). Apenas 15% dos casos de LLA correspondem à
linhagem dos linfócitos T, enquanto que a maioria acomete
a linhagem B, equivalendo a 85% dos casos. Devido à
grande incidência, marcadores específi cos de linhagem
B constituem grandes alvos de estudos para abordagens
terapêuticas. Um exemplo de marcador de linhagem B é
o CD19, expresso durante todo o processo de maturação
celular11,12.
Os tratamentos contra as leucemias visam reduzir
a quantidade de células tumorais, podendo ter objetivo
curativo ou paliativo3,6. O método mais utilizado atualmente
é a quimioterapia, que consiste na administração de
fármacos com ação tóxica ao ciclo celular, inibindo a
síntese de DNA13. Todavia, além de agir sobre células
tumorais, os quimioterápicos também atingem tecidos
normais com alto índice de renovação por divisão mitótica,
como medula óssea, folículos pilosos, mucosa do sistema
digestivo e células germinativas13,14.
Em associação com a quimioterapia, pode ser
utilizada a radioterapia, visando a eliminação de células
leucêmicas na medula óssea ou em órgãos infi ltrados.
O método consiste na aplicação de raios X e raios Gama
sobre a região afetada, danifi cando a estrutura do DNA, o
que leva a morte celular. Contudo, a radiação pode atingir
células saudáveis presentes nas proximidades da região
irradiada13.
Ao atingir células normais, os métodos se
170caracterizam por serem altamente inespecífi cos e
acarretam diversos efeitos colaterais indesejados ao
paciente, desde imediatos, como pancitopenia, náuseas,
queda de cabelos e mal-estar, até efeitos tardios como
infertilidade, sequelas no sistema nervoso central e
mutagênese6,13.
Os tratamentos com quimioterápicos também
podem incluir depressão de função e hipoplasia da
medula óssea, o que resulta em leucopenia e debilidade
imunológica, tornando o paciente severamente susceptível
a infecções. Além disso, podem afetar a capacidade
do organismo de eliminar células neoplásicas, o que
facilita a disseminação do câncer15. Ainda, as lesões
no DNA causadas pelos tratamentos podem levar ao
desenvolvimento de uma neoplasia secundária6.
A imunoterapia com células T-CAR
Com base no cenário atual do tratamento contra
o câncer, pesquisas foram desenvolvidas em busca de
novas abordagens terapêuticas signifi cativamente efetivas
e com reações de menor agressividade ao paciente.
Dentre elas, a imunoterapia foi escolhida por muitos
grupos de pesquisadores, em decorrência da descoberta
de que o sistema imune pode ser ativado por estímulos
externos para destruir células tumorais de forma efi caz.
A metodologia se embasa na modifi cação da resposta
imunológica natural para combater a patologia16-18.
A imunoterapia tem sido considerada uma forma
de tratamento promissora contra o câncer, apresentando
alta seletividade, alto potencial curativo e baixa toxicidade.
Em 2013, a técnica ganhou o prêmio Breakthrough of
the Year pela revista Science19 destacando, entre outras
técnicas, a imunoterapia celular através da modifi cação
genética de células T com receptores antigênicos
quiméricos, conhecidas como células T-CAR, do inglês
Chimeric Antigen Receptor T Cells, método que tem
apresentado resultados signifi cativos.
Receptores antigênicos quiméricos (CAR) são
composições sintéticas capazes de captar sinais para
otimizar a capacidade destrutiva dos linfócitos utilizando
os mecanismos do Receptor de Célula T (TCR)7,20.
Desta forma, a molécula é capaz de atuar como um
TCR específi co, reconhecendo antígenos de superfície
presentes em células neoplásicas. O CAR é manipulado in
vitro e, posteriormente, expresso na superfície de linfócitos
T CD8+ autólogos. Com o reconhecimento do antígeno-
alvo, a cascata de ataque celular é ativada e redirecionada
exclusivamente contra a célula leucêmica, o que garante
grande especifi cidade no tratamento independentemente
da restrição do MHC21-24.
O alvo ideal para o ataque das células T-CAR seria
um antígeno produzido por células tumorais e ausente
em células saudáveis. Estes marcadores são altamente
raros, mas existem alternativas viáveis, como a utilização
de um antígeno que, além de ser expresso pela célula
cancerígena, seja expresso por uma linhagem de células
com função dispensável, como é o caso das Células B7.
Desta forma, a terapia T-CAR contra LLA visa antígenos
presentes em células de linhagem B, considerando que a
maioria dos casos corresponde a este grupo. As pesquisas
desenvolvidas incluem como o principal alvo o CD19, que
é encontrado em quase todas as patologias de células B,
tais como a LLA, a leucemia linfoide crônica e linfomas
não-Hodgkin7,22,25.
Bioengenharia na manipulação do CAR
As moléculas CAR são receptores membranares
híbridos formados por diferentes sítios responsáveis por
funções específi cas no tratamento, sendo eles um domínio
citoplasmático, um transmembranário e um extracelular. A
complexidade estrutural da molécula manipulada confere
ao linfócito o sistema de sinalização necessário para a
reprogramação do ataque citolítico26.
O domínio extracelular é proveniente de
uma cadeia simples do fragmento variável (scFv) de
anticorpos monoclonais específi cos e tem como função
o reconhecimento do antígeno-alvo. Neste contexto,
o domínio corresponde ao anti-CD19. A variação de
domínios extracelulares é responsável pela especifi cidade
do tratamento, modifi cando a afi nidade dos Linfócitos
T para o reconhecimento de um antígeno específi co na
superfície de uma célula21,22,25. O domínio intracelular
provém de cadeias de CD3ζ constituintes do TCR natural
com a função de receber sinais de ativação, o que o
caracteriza como domínio de sinalização ou ativação do
ataque. As duas regiões estão interligadas por um domínio
transmembranar intermediário composto por CD8,
responsável por transduzir os sinais do anticorpo externo
para o CD3ζ no interior da célula21,22,25.
Durante as pesquisas no desenvolvimento do
Imunoterapia com células T-CAR: bioengenharia contraa leucemia linfoblástica aguda2017 jul.-dez.; 11(2): 168-173
171CAR, a molécula foi reestruturada por três gerações de
acordo com a presença de domínios de coestimulação
(DCE) na região intracelular. A adição de DCE amplia a
capacidade replicativa da célula T-CAR e intensifi ca a
ação de regressão tumoral. Os CARs construídos na
primeira geração não incluem DCE, apresentando a cadeia
CD3ζ como única sinalização. Na segunda geração foi
incorporado um DCE derivado de moléculas como CD28 ou
CD137. A combinação de dois ou mais DCE constitui o CAR
de terceira geração7,22,23,27. A composição da molécula em
suas diferentes gerações está representada na Figura 1.
Figura 1 - Representação da molécula CAR na superfície celular em dife-rentes gerações. Os CARs apresentam um domínio extracelular de reconhe-cimento, um transmembranar de transdução e um intracelular de ativação. Na primeira geração, a molécula não dispõe de sítios de coestimulação; na segunda geração, apresenta apenas um sítio coestimulatório, enquanto na terceira pode apresentar dois ou mais. Adaptado de Maude et al.7.
Figura 2 - Processo de manipulação do Receptor Antigênico Quimérico. A) Obtenção da sequência gênica de interesse: A partir de esplenócitos imunizados contra o CD19, são obtidas as regiões codifi cantes dos compo-nentes moleculares do CAR. Ainda, esplenócitos e células de mieloma são utilizados na formação de um hibridoma, do qual é isolada a região codifi -cante do anticorpo contra o CD19. Os fragmentos obtidos são amplifi cados e fundidos através de PCR, formando um RNA de interesse. B) O RNA de interesse é incorporado a um vetor lentiviral. C) Linfócitos T CD8+ são co-letados do paciente via aférese. In vitro, o lentivirus entra em contato com a célula, transduzindo sua sequência gênica. Com a ação da transcriptase reversa, o RNA é transcrito em DNA, integrando-se ao genoma da célula hospedeira, que passa a produzir o receptor sobre sua membrana, poden-do ser chamado agora Linfócito T-CAR. O Linfócito T-CAR é reinfundido na circulação sistêmica do paciente
Para a produção do CAR, são utilizados métodos
de manipulação genética in vitro. Os componentes
moleculares são obtidos a partir de esplenócitos
previamente imunizados contra o antígeno-alvo, dos
quais são isoladas as regiões do mRNA que codifi cam as
proteínas de interesse para a engenharia da molécula,
como o CD3ζ, o CD8 e o CD28. O domínio extracelular
do CAR é obtido através da criação de um hibridoma, do
qual são isoladas as regiões que codifi cam o fragmento de
anticorpo contra o cluster-alvo. Em seguida, são realizadas
sucessivas reações de PCR, a fi m de amplifi car e fundir os
mRNAs, formando a sequência codifi cante de interesse1.
A construção genética é, então, incorporada
a vetores virais do tipo lentivirus, responsáveis pela
tecnologia de transferência gênica. Os vetores são
produzidos em células de empacotamento, onde
incorporam a sequência de interesse que, posteriormente,
podem ser inseridas através de transdução viral em
linfócitos T CD8+ obtidos por aférese do paciente. O RNA
é transcrito na forma de DNA devido à atividade da enzima
viral transcriptase reversa, integrando-se no genoma da
célula hospedeira de maneira estável, o que permite que
os efeitos terapêuticos perdurem por longo prazo7,27,28. A
Figura 2 esquematiza o processo de bioengenharia da
molécula CAR, sua incorporação no linfócito T ex vivo e o
processo de reinfusão da célula modifi cada.
Efeitos adversos da terapia com células T-CAR
Ocasionalmente, pacientes tratados com células
T-CAR podem apresentar sintomas adversos que, todavia,
são reversíveis e mais brandos quando comparados com
os efeitos das terapias convencionais. Os principais efeitos
constatados foram aplasia de células B, síndrome de
liberação de citocinas e toxicidade neurológica.
A Aplasia de Células B (ACB) consiste na ausência
ou diminuição no número de células B circulantes. É
um processo decorrente do ataque dos linfócitos T-CAR
contra células normais que também expressam o CD19.
Todavia, uma pequena população de células progenitoras
de linhagem B é encontrada na medula óssea após
o tratamento, garantindo que as células B normais
possam ser renovadas após a morte das células T-CAR
no organismo¹. Ainda, o paciente pode receber infusões
de imunoglobulinas isoladas por via intravenosa, evitando
assim o comprometimento imunológico29.
A síndrome da liberação de citocinas (SLC) é um
efeito decorrente da ativação de linfócitos T caracterizado
pela produção excessiva de citocinas, como interferon-γ e
interleucina-6, que podem levar a ativação de macrófagos,
causando quadros infl amatórios e febris. Por outro lado,
2017 jul.-dez.; 11(2): 168-173Imunoterapia com células T-CAR: bioengenharia contraa leucemia linfoblástica aguda
172a SLC pode ser um marcador de qualidade do tratamento,
indicando que o linfócito T foi ativado corretamente.
Além disso, este efeito pode ser controlado através de
imunossupressão com corticoides como Tocilizumab,
sem que haja prejuízo na expansão das células T-CAR ou
redução de sua ação no organismo30,31.
Por sua vez, a toxicidade neurológica é um efeito
relatado em cerca de 40% dos pacientes nas primeiras
semanas após o tratamento, com manifestações através
de afasia, alucinações e delírios. O mecanismo de
desenvolvimento dos sintomas ainda não foi claramente
defi nido e carece de pesquisas aprofundadas, a fi m de
determinar meios de prevenção e contenção do quadro.
No entanto, após a redução dos sintomas, os pacientes
analisados não apresentaram prejuízo neurológico
permanente32,33.
Ensaios clínicos: efi cácia e perspectivas
A tecnologia de Células T-CAR contra a LLA se
mostrou efi caz nos estudos publicados. As pesquisas
tiveram início com testes pré-clínicos in vitro e em modelos
animais e, posteriormente, foram registradas as primeiras
fases dos ensaios clínicos com humanos voluntários34.
A efi cácia do tratamento com células T-CAR
contra a LLA em humanos vem se mostrando positiva nos
ensaios clínicos, com taxas de quase 95% de remissão
completa (RC) da doença. De acordo com Wei et al.29,
a transferência celular adotiva com T-CAR apresentou
taxas de 94,7% de RC em pacientes tratados por um mês
nos ensaios clínicos de fase II. Maude et al.7 registraram
taxas de 90% de RC em pacientes adultos e pediátricos,
com respostas duradouras que dispensam a necessidade
de terapias adicionais. Ainda, outros autores relatam
considerável incidência de RC em ensaios clínicos, como
Davila et al.35 com uma taxa de 88% em um grupo de
16 adultos com LLA, bem como Lee et al.8 que obtiveram
70% de RC em um grupo de 20 crianças e jovens adultos
com a doença.
A terapia contra o CD19 também apresentou
efeitos benéfi cos quando aplicada em outros fenótipos
leucêmicos, como a leucemia linfoide crônica (LLC), na
qual foram registradas taxas de 45% de RC por pelo
menos quatro anos7,36.
As terapias celulares adotivas através do CAR
ainda estão em processo de pesquisa, tanto para avaliar
sua efi cácia quanto analisar a possibilidade de efeitos
inesperados tardios. É preciso estabelecer um protocolo
padrão para o acondicionamento e a infusão celular, bem
como métodos de controle de toxicidade29.
CONCLUSÃO
As complicações decorrentes dos tratamentos
convencionais e a incidência da leucemia linfoblástica
aguda, especialmente em crianças, constituíram
infl uências importantes para as pesquisas de novas
abordagens terapêuticas antitumorais, dentre as quais
a imunoterapia com Células T-CAR apresentou grande
destaque nos últimos anos. A atuação do método sobre
as células leucêmicas mostrou resultados signifi cativos
nos ensaios clínicos abordados neste estudo, com altas
taxas de remissão completa da doença, o que indica uma
oportunidade de avanço no tratamento desta e de várias
outras neoplasias.
Os avanços na engenharia genética foram bastante
trabalhados para a manipulação do CAR, levando em
consideração que diversos ramos de pesquisa atualmente
visam à engenharia de células como forma de expandir
as perspectivas na área da saúde. O desenvolvimento
de terapias que possibilitam um tratamento mais efetivo
contra células cancerígenas é um assunto inovador, que
visa substituir ou reduzir o uso de quimioterápicos e
radiações. Os estudos estão em andamento até o presente
momento.
Apesar dos efeitos colaterais constatados, a
Tecnologia de Células T-CAR apresenta maior benefício
quando comparada com os métodos de tratamento
convencionais, uma vez que os efeitos relatados são
reversíveis. A qualidade de vida dos voluntários dos
ensaios clínicos teve melhora signifi cativa decorrente da
baixa agressividade do tratamento e da alta especifi cidade
contra a célula tumoral, o que torna o assunto instigante
para pesquisadores das áreas de imunologia, oncologia e
biotecnologia. Acredita-se que, em alguns anos, a terapia
celular adotiva com Células T-CAR poderá favorecer um
grande número de pacientes em decorrência de seu alto
potencial curativo.
AGRADECIMENTOS
As professoras Dra. Christiane Ap. B. Tarsitano e
Dra. Giovanna R. Degasperi, pela orientação na elaboração
Imunoterapia com células T-CAR: bioengenharia contraa leucemia linfoblástica aguda2017 jul.-dez.; 11(2): 168-173
173do presente trabalho, além da perseverança e confi ança
para tal. Ao Dr. Renato C. S. Branco, pela elaboração das
imagens apresentadas neste trabalho, bem como força e
incentivo durante as pesquisas. Ao professor Dr. Stephen
Hyslop pela revisão do conteúdo apresentado em língua
inglesa.
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2017 jul.-dez.; 11(2): 168-173Imunoterapia com células T-CAR: bioengenharia contraa leucemia linfoblástica aguda
174 Modelo de Parkinson por lesão unilateral induzida pela 6-Hidroxidopamina: análises comportamentais e imuno-histoquímicas2017 jul.-dez.; 11(2): 174-179
MODELO DE PARKINSON POR LESÃO UNILATERAL INDUZIDA PELA 6-HIDROXIDOPAMINA: ANÁLISES COMPORTAMENTAIS E IMUNO-
HISTOQUÍMICAS
PARKINSON MODEL FOR UNILATERAL INJURY INDUCED BY 6-HYDROXIDOPAMINE: BEHAVIORAL AND IMMUNOHISTOCHEMISTRY ANALYSIS
MODELO DE PARKINSON POR LESIÓN UNILATERAL INDUZIDA POR 6-HIDROXIDOPAMINA: ANÁLISIS COMPORTAMENTALES E INMUNO-HISTOQUÍMICAS
* Acadêmicas do curso de Medicina das Faculdades Integradas Padre Albino (FIPA) de Catanduva-SP.**Bióloga e técnica dos Laboratórios de Histopatologia e Imuno-histoquímica e Multidisciplinar das Faculdades Integradas Padre Albino (FIPA) de Catanduva-SP.***Bióloga, mestranda do Programa de Pós-Graduação em Genética, área de concentração Biologia Celular e Molecular, da Universidade Estadual Paulista (UNESP), de São José do Rio Preto-SP.****Biólogo, mestre em Ciências da Saúde pela USP de Ribeirão Preto e doutorando em Genética pela UNESP de São José do Rio Preto.*****Bióloga, mestre em Morfologia pela UNIFESP, doutora em Genética, área de concentração Biologia Celular e Molecular e pós-doutora em Imunomorfologia pela UNESP de São José do Rio Preto-SP. Coordenadora do curso de Biomedicina das Faculdades Integradas Padre Albino (FIPA). Professora (nível I) das disciplinas de Biologia Celular, Histologia e Em-briologia das FIPA e docente da Pós-Graduação em Genética, UNESP de São José do Rio Preto-SP. Contato: anapaulagirol@hotmail.comTrabalho desenvolvido nos laboratórios de Histopatologia, Imuno-histoquímica e Multidisciplinar das Faculdades Integradas Padre Albino (FIPA), Catanduva-SP.
ResumoIntrodução: A doença de Parkinson é uma doença neurodegenerativa crônica complexa que afeta o sistema dopaminérgico e atinge cerca de 3% da população mundial acima de 50 anos. Clinicamente, a doença de Parkinson não é diagnosticada antes da manifestação dessas difi culdades locomotoras, o que contribuiu para o diagnóstico tardio da doença e a dominância de modelos animais de estudos baseados nessas características. Embora o uso de modelos animais seja limitado em diversos aspectos, devido às diferenças genéticas, anatômicas e funcionais entre murinos e humanos, muito do nosso conhecimento a respeito da patofi siologia da doença é devido ao uso destas ferramentas. Objetivos: Estabelecer modelo de estudo da doença de Parkinson, reprodutível e validado por testes comportamentais e imuno-histoquímicos. Método: O modelo murino de lesão unilateral induzida pela 6-hidroxidopamina (6-OHDA) foi realizado por meio de cirurgia estereotáxica para administração intracranicana, no feixe medial do encéfalo anterior (MFB). A toxina foi infundida a uma taxa de 1uL/min, e a cânula foi deixada no lugar por 3 min antes da retirada. Para limitar os danos nos neurônios noradrenérgicos, cloridrato de desipramina (10 mg/kg, i.p) foram administrados 30 min antes da injeção de 6-OHDA. Os animais controles foram submetidos ao mesmo procedimento estereotáxico, mas com solução salina. A validação do modelo foi feita por meio de testes comportamentais, sensoriomotores, sensíveis às diferenças sutis da função dos gânglios basais. Os testes comportamentais foram complementados pela análise imuno-histoquímica de tirosina hidroxilase, a enzima responsável síntese de dopamina. Resultados: Os testes comportamentais mostraram comportamento letárgico para os ratos do grupo 6-OHDA em relação ao grupo controle e a quantifi cação dos neurônios reativos a tirosina hidroxilase confi rmou o modelo de Parkinson proposto devido a menor quantidade de neurônios no núcleo da substância negra do hemisfério cerebral lesionado em comparação ao núcleo não lesado do outro hemisfério. Conclusão: O estabelecimento de um modelo de Parkinson nos nossos laboratórios permitirá o desenvolvimento futuro de diversos estudos sobre essa condição clínica. Palavras-chave: Doença de Parkinson. Doença crônica. Testes laboratoriais.
AbstractIntroduction: Parkinson's disease is a complex chronic neurodegenerative disease, damaging the dopaminergic system and affecting about 3% of the world population over 50 years. Clinically, Parkinson's disease is not diagnosed prior to the manifestation of these locomotor diffi culties, thus contributing to the late disease diagnosis and to the dominance of animal models of studies based on these characteristics. Although the use of animal models is limited in several aspects due to genetic, anatomical and functional differences between murine and human, much of our knowledge about the pathophysiology of the disease is due to the use of these tools. Objectives: To establish Parkinson's disease study models, reproducible and validated by behavioral and immunohistochemical tests. Method: The murine model of unilateral lesion induced by 6-hydroxydopamine (6-OHDA) was performed by stereotactic surgery for intracranial administration in the medial bundle of the forebrain (MFB). The toxin was infused at a rate of 1µL/ min, and the cannula was left in place for 3 min prior to withdrawal. To limit damage to noradrenergic neurons, desipramine hydrochloride (10 mg/kg, i.p) was given 30 min prior to 6-OHDA injection. Control animals were submitted to the same stereotaxic procedure, but with saline solution. Model validation was made through behavioral, sensorimotor tests, sensitive to subtle differences of basal ganglia function. Behavioral tests were complemented by immunohistochemical analysis of tyrosine hydroxylase, the enzyme responsible for dopamine synthesis. Results: The behavioral tests showed lethargic behavior for the 6-OHDA group rats in relation to the control group, and the quantifi cation of tyrosine hydroxylase reactive neurons confi rmed the Parkinson's proposed model due to the smaller number of neurons in the black substance nucleus of the injured cerebral hemisphere in comparison to the uninjured nucleus of the other hemisphere. Conclusion: The establishment of a Parkinson's model in our laboratories will allow the future development of several studies on this clinical condition. Keywords: Parkinson disease. Chronic disease. Laboratory test. ResumenIntroducción: La enfermedad de Parkinson es una enfermedad neurodegenerativa crónica compleja que afecta al sistema dopaminérgico y alcanza cerca del 3% de la población mundial por encima de 50 años. Clínicamente, la enfermedad de Parkinson no se diagnostica antes de la manifestación de esas difi cultades locomotoras, lo que contribuyó al diagnóstico tardío de la enfermedad y la dominación de modelos animales de estudios basados en esas características. Aunque el uso de modelos animales es limitado en diversos aspectos, debido a las
Carolina Sabadoto Brienze*, Ana Carolina Marin Comini *, Juliana Chaves Garcia*, Maria Clara Artiaga*, Mariana Penitenti Oliveira*, Melina Mizusaki Iyomasa-Pilon**, Helena Ribeiro Souza***, Lucas Ribeiro de Azevedo****, Ana Paula Girol*****
1752017 jul.-dez.; 11(2): 174-179Modelo de Parkinson por lesão unilateral induzida pela 6-Hidroxidopamina: análises comportamentais e imuno-histoquímicas
diferencias genéticas, anatómicas y funcionales entre murinos y humanos, mucho de nuestro conocimiento acerca de la patofi siología de la enfermedad es debido al uso de estas herramientas. Objetivos: Establecer modelos de estudio de la enfermedad de Parkinson, reproducibles y validados por pruebas conductuales e inmuno-histoquímicos. Método: El modelo murino de lesión unilateral inducida por la 6-hidroxidopamina (6-OHDA) fue realizado por medio de cirugía estereotáxica para administración intracraneal, en el haz medial del encéfalo anterior (MFB). La toxina fue infundida a una tasa de 1uL/min, y la cánula fue dejada en el lugar por 3 min antes de la retirada. Para limitar los daños en las neuronas noradrenérgicas, el clorhidrato de desipramina (10 mg / kg, i.p) se administró 30 minutos antes de la inyección de 6-OHDA. Los animales controles fueron sometidos al mismo procedimiento estereotáxico, pero con solución salina. La validación del modelo fue hecha por medio de pruebas conductuales, sensoriomotores, sensibles a las diferencias sutiles de la función de los ganglios basales. Las pruebas de comportamiento se complementaron con el análisis inmuno-histoquímico de tirosina hidroxilasa, la enzima responsable de síntesis de dopamina. Resultados: Las pruebas comportamentales mostraron comportamiento letárgico para las ratas del grupo 6-OHDA en relación al grupo control y la cuantifi cación de las neuronas reactivas a la tirosina hidroxilasa confi rmó el modelo de Parkinson propuesto debido a la menor cantidad de neuronas en el núcleo de la sustancia negra del hemisferio cerebral lesionado en comparación con el núcleo no dañado del otro hemisferio. Conclusión: El establecimiento de un modelo de Parkinson en nuestros laboratorios permitirá el desarrollo futuro de diversos estudios sobre esa condición clínica.
Palabras clave: Enfermedad de Parkinson. Enfermedad crónica. Prueba de laboratorio.
INTRODUÇÃO
A doença de Parkinson (DP) é uma doença
neurodegenerativa crônica complexa que afeta o sistema
dopaminérgico e atinge cerca de 3% da população
mundial acima de 50 anos1. A condição incapacitante
é associada principalmente à perda progressiva de
neurônios dopaminérgicos na substância negra e o
desenvolvimento de inclusões neuronais, denominadas
corpos de Lewy, em áreas corticais e subcorticais do
encéfalo2. Suas principais manifestações físicas são a
bradicinesia (lentidão anormal dos movimentos), rigidez,
instabilidade postural e tremores. Clinicamente, a DP não
é diagnosticada antes da manifestação dessas difi culdades
locomotoras, o que contribuiu para o diagnóstico tardio
da doença e a dominância de modelos animais de
estudos baseados nessas características. Entretanto,
a DP inclui outras manifestações não motoras como
insônia e outras anormalidades do sono (que afetam
60-98% dos pacientes), distúrbios gastrointestinais
(70% dos pacientes), ansiedade e depressão (40% dos
pacientes), apatia, anedonia e demência, que impactam
profundamente a qualidade de vida dos pacientes3,4.
O modelo murino de lesão unilateral induzida pela
6-hidroxidopamina (6-OHDA) recebe particular interesse.
Devido a sua similaridade estrutural com a dopamina,
a 6-OHDA é captada pelos transportadores ativos de
dopamina (DAT) e desempenha atividade neurotóxica
altamente específi ca sobre os neurônios dopaminérgicos5.
Porém, uma vez que o composto não atravessa a barreira
hemato-encefálica, a execução da cirurgia estereotáxica é
necessária para administração intracranicana da 6-OHDA
no feixe medial do encéfalo anterior (MFB)6. O dano tóxico
promovido pelo composto promove o desequilíbrio na
transmissão de dopamina entre os hemisférios cerebrais,
afetando as vias mesoestriatal, com função motora, e
mesocorticolímbica, de função cognitiva4.
Enquanto nosso conhecimento da DP ainda é
rudimentar, o desenvolvimento de modelos de estudo
animal, utilizando abordagens genética e o uso de toxinas
específi cas, possibilitaram nosso conhecimento dos
mecanismos patofi siológicos da doença e permitem o teste
de novas terapias4. Considerando que fatores ambientais
e a suscetibilidade genética atuam no surgimento e
desenvolvimento da doença, possivelmente os modelos de
resultado futuro mais promissor sejam os que combinam
modelos que consideram estas duas abordagens7.
Embora o uso de modelos animais seja limitado
em diversos aspectos, devido às diferenças genéticas,
anatômicas e funcionais entre murinos e humanos, muito
do nosso conhecimento a respeito da patofi siologia
da DP é devido a estas ferramentas. O aprimoramento
dos modelos de estudo, atualmente, busca incorporar
estas características na avaliação dos animais, visando o
desenvolvimento de regimes terapêuticos mais efi cientes.
MATERIAL E MÉTODO
Animais
Ratos Wistar obtidos na Unidade Didática de
Pesquisas Experimentais (UDPE-FIPA), pesando entre 250
e 300g, foram mantidos em gaiolas com água e ração
ad libidum, em sala com temperatura controlada (24
± 1 ºC). Após a cirurgia os animais permaneceram em
gaiolas individuais. Os experimentos foram aprovados pela
Comissão de Ética no Uso de Animais de Experimentação
(CEUA) das Faculdades Integradas Padre Albino (FIPA)
(Protocolo nº. 16.08.23-03).
176Cirurgia de estereotaxia
Para a realização das cirurgias estereotáxicas os
animais foram anestesiados com injeção intraperitoneal
de 0,2 ml/100g de ketamina e 0,05 ml/100g de xilasina.
Também, 30 minutos previamente às cirurgias, os
animais receberam injeção intraperitoneal de 10 mg/kg
de desipramina, droga utilizada para limitar os danos nos
neurônios noradrenérgicos.
Para indução do MP, foi realizada uma
microinjeção, através de uma agulha dental presa à guia
do aparelho estereotáxico, de 8 μg 6-OHDA diluído em 4
μL de 0,1% de ácido ascórbico8, seguindo as coordenadas:
-4,4 mm ântero-posterior a partir do bregma, +1,2 mm
lateral e -8,2 mm dorso-ventral a partir da pia-máter9,
visando atingir o MFB (Figura 1). Para as microinjeções
foi utilizada uma seringa Hamilton de 10 µL conectada a
uma cânula PE-10 na agulha dental de injeção (16 mm)
A microinjeções foram feitas em um período de 2 minutos
utilizando-se uma bomba de microinjeção (Insight, Modelo:
EFF 311, Brasil), sendo a agulha removida do encéfalo do
animal 1 minuto após o término da injeção para evitar o
refl uxo do líquido perfundido. Ao fi nal das intervenções
cirúrgicas os animais foram tratados com 0,1 ml/100g de
Banamine (analgésico, antitérmico e anti-infl amatório) e
0,05 ml/100g de Flotril (antibiótico).
Foram utilizados cinco animais para indução do
MP (grupo 6-OHDA) e mais cinco animais para o grupo
controle, sendo que este recebeu na cirurgia de esterotaxia
microinjeção de 0,1% de ácido ascórbico (grupo Veículo).
Figura 1 - Coordenadas estereotáxicas da cirurgia de indução do MP: Imagem do “plate 70”, seta indica local próximo das coordenadas -4,4 mm ântero--posterior a partir do bregma, +1,2 mm lateral e -8,2 mm dorso-ventral a partir da pia-máter, núcleo MFB10
Testes comportamentais
Diversas medidas comportamentais (independente
do estímulo por drogas específi cas) permitem o estudo
da efi cácia da indução dos modelos murinos2. O teste
escolhido foi o “Teste do cilindro de Schallert”. O teste
do cilindro é utilizado para avaliar o uso espontâneo dos
membros dianteiros durante o comportamento exploratório
e possibilita a detecção de assimetrias do suporte postural
enquanto o animal está levantado sobre as patas traseiras
(Figura 2A)11. Para isso, uma semana após a cirurgia de
indução do MP, o animal em teste foi posicionado dentro
de um cilindro transparente de 20 cm de diâmetro e 30 cm
de altura (Figura 2B) que encoraja a exploração vertical.
A duração da análise do comportamento do animal dentro
do cilindro foi de 30 minutos ou até que se atingissem 20
levantamentos. A proporção de contatos com a parede do
cilindro realizados com os membros dianteiros foi anotada
e determinada pela análise do percentual de uso do
Modelo de Parkinson por lesão unilateral induzida pela 6-Hidroxidopamina: análises comportamentais e imuno-histoquímicas2017 jul.-dez.; 11(2): 174-179
177
Figura 2 - Teste do cilindro de Schallert. A) Animal levantado sobre as patas traseiras com ambos membros dianteiros apoiados na parede do cilindro12; B) Ilustração esquemática do teste (Disponível em http://sbfnl.stanford.edu/images/cylinder.gif); C) Vista superior do animal evidenciando apoio da cauda (Disponível em http://blog.globalhealthportal.northwestern.edu/wp-content/uploads/2012/08/Screen-Shot-2012-07-05-at-11.17.58-PM-300x275.png); D) Animal pré-lesionado apoiado em ambas as patas (*= pata não lesionada, + = pata lesionada) e lesionado pela indução com 6-OHDA, apoiado somente na pata contralateral13
Tabela 1 - Modelo de tabela utilizado para anotação do uso dos membros no teste do cilindro de Schallert
membro afetado (Tabela 1). Segundo a literatura, durante
a exploração de superfícies verticais, um animal intacto
tipicamente se apoia igualmente sobre os dois membros
dianteiros. Entretanto, após a lesão unilateral, os animais
passam a depender mais fortemente do membro dianteiro
intacto/ileso12. Foram realizados quatro testes em cada
animal, sendo um por semana.
Perfusão e coleta do encéfalo
Após realizadas as cirurgias e os testes
comportamentais, os animais foram novamente
anestesiados intraperitonealmente com 0,2 ml/100g
de ketamina e 0,05 ml/100g de xilasina e, após a
confi rmação da anestesia profunda, foram perfundidos
transcardiacamente com solução tampão fosfato salina,
0,01M (PBS, pH 7.4) para lavagem do cérebro seguida por
solução de paraformaldeído 4% (PFA) em 0,2 M de PB
para fi xação do tecido. Os cérebros foram removidos, pós-
fi xados em formol a 10% e processados para inclusão em
parafi na e microtomia.
Análises imuno-histoquímicas
Os estudos imuno-histoquímicos foram realizados
em secções de 5 µm das amostras dos grupos. Para
confi rmação do MP, foi realizada reação de imuno-
histoquímica para tirosina-hidroxilase (TH) (Merck, USA)
diluído na proporção 1:1.000 em solução tampão de fosfato
(BSA) a 1%. Os cortes foram preparados em lâminas
gelatinizadas e após a recuperação antigênica e o bloqueio
2017 jul.-dez.; 11(2): 174-179Modelo de Parkinson por lesão unilateral induzida pela 6-Hidroxidopamina: análises comportamentais e imuno-histoquímicas
178foram incubados em 2 horas com o anticorpo primário
em câmara úmida em temperatura ambiente. Feito isso,
os cortes foram novamente lavados e incubados com o
anticorpo secundário biotinilado (kit Zymed Invitrogen)
e, a seguir, em substrato diaminobenzidina (DAB)
(kit Zymed Invitrogen) para revelação, contracorados
com Hematoxilina e montados. Procedemos à análise
quantifi cando os neurônios reativos para TH no núcleo da
substância negra.
Análise dos dados
Os resultados foram expressos como média ±
EPM. Alterações na ventilação foram avaliadas por análise
de variância (ANOVA) para medidas repetidas seguida pelo
teste de múltiplas comparações de Bonferroni. Valores de
p<0,05 foram considerados signifi cativamente diferentes.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
As análises comportamentais que consideraram
os levantamentos com cada um dos membros no “Teste
do cilindro de Schallert” evidenciaram comportamento
letárgico para os ratos do grupo 6-OHDA em relação
ao grupo Veículo (Figura 3). Embora não tenha sido
observada diferença estatística signifi cativa, o que se
deve a maior variação encontrada nos animais 6-OHDA,
nossos resultados estão de acordo com os encontrados na
literatura12,13.
Figura 3 - Média de levantamentos por minuto realizados pelos animais
Figura 4 - Imuno-histoquímica para TH. Grupo controle (veículo), (A) nú-cleo da substância negra intacta e (B) lesada com reatividade para TH. Grupo 6-OHDA, (C) núcleo da substância negra intacta com reatividade para TH e (D) lesada sem reatividade para TH
Na sequência dos nossos estudos e para validação
dos resultados, os testes de comportamento foram
complementados pela análise imuno-histoquímica da TH,
a enzima responsável síntese de dopamina. A ausência
de imunomarcação nos neurônios reativos a TH confi rmou
o MP evidenciando a morte dos neurônios no núcleo da
substância negra do hemisfério cerebral lesionado (Figura
4D) em comparação ao núcleo não lesado do outro
hemisfério (Figura 4C) e aos núcleos dos hemisférios
cerebrais lesados (Figura 4B) ou não (Figura 4A) dos
animais do grupo veículo. A injeção de 6-OHDA provoca
a ausência praticamente completa de corpos celulares ao
redor do local de administração no cérebro dos animais14.
A ausência de células TH positivas nas regiões cerebrais
A9 e A10 é indicativa de degeneração acentuada, uma
vez que estas regiões são profundamente afetadas na DP.4
CONCLUSÃO
Nossos resultados confi rmam a indução do
MP, por meio de alterações comportamentais e imuno-
histoquímicas importantes. A validação do modelo de
Parkinson abre possibilidades interessantes para novas
pesquisas que busquem o melhor entendimento da
doença, na busca por alternativas terapêuticas.
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2017 jul.-dez.; 11(2): 174-179Modelo de Parkinson por lesão unilateral induzida pela 6-Hidroxidopamina: análises comportamentais e imuno-histoquímicas
Recebido em: 15/04/2017Aceito em: 21/09/2017
180 Proteína anexina A1: alvo terapêutico nosprocessos infl amatórios2017 jul.-dez.; 11(2): 180-186
PROTEÍNA ANEXINA A1: ALVO TERAPÊUTICO NOS PROCESSOS INFLAMATÓRIOS
ANNEXIN A1 PROTEIN: THERAPEUTIC TARGET IN INFLAMMATORY PROCESSES
PROTEÍNA ANEXINA A1: OBJETIVO TERAPÉUTICO EN LOS PROCESOS INFLAMATÓRIOS
*Acadêmico do sexto ano do curso de Medicina das Faculdades Integradas Padre Albino (FIPA) de Catanduva-SP.**Médica graduada pelo curso de Medicina das FIPA.***Biomédicas graduadas pelo curso de Biomedicina das FIPA.**** Bióloga, mestre em Morfologia pela UNIFESP, doutora em Genética, área de concentração Biologia Celular e Molecular e pós-doutora em Imunomorfologia pela UNESP de São José do Rio Preto-SP. Coordenadora do curso de Biomedicina das Faculdades Integradas Padre Albino (FIPA). Professora (nível I) das disciplinas de Biologia Celular, Histologia e Em-briologia das FIPA e docente da Pós-Graduação em Genética, UNESP de São José do Rio Preto-SP. Contato: anapaulagirol@hotmail.com
ResumoIntrodução: A infl amação é uma importante resposta do hospedeiro contra agentes invasores. Contudo, precisa ser regulada para não causar danos nos tecidos e órgãos. Entre os mediadores anti-infl amatórios está a proteína Anexina A1, uma proteína de 37kDa que apresenta sítios de ligação ao cálcio e aos fosfolipídios de membrana e está envolvida na inibição das sínteses de eicosanoides e fosfolipase A2, induzidas por glicocorticoides. A ANXA1 é amplamente distribuída no organismo, especialmente em células relacionadas aos processos de defesa. Esta proteína exerce diferentes funções e pode ser relacionada a várias condições patológicas, como câncer e doenças autoimunes, além dos processos infl amatórios. Por essa razão, termo “anexinopatias” tem sido usado para defi nir as doenças humanas nas quais os níveis anormais de anexina contribuem para a patogênese. Objetivo: Diante da importância da ANXA1, o objetivo deste trabalho foi realizar uma revisão sobre o papel da proteína em processos infl amatórios. Método: Pesquisa bibliográfi ca realizada em sites especializados (SciELO, Bireme, Lilacs, Pubmed). Resultados: Após a descoberta de que a atividade biológica da ANXA1 poderia ser reproduzida pelos primeiros aminoácidos da porção N-terminal da proteína (peptídeo Ac2-26), tornou-se uma prática comum o uso dessas moléculas em modelos experimentais de infl amação aguda, crônica e sistêmica, o que permitiu o melhor entendimento dos mecanismos de ação da proteína em diferentes condições clínicas. Outro aspecto importante na biologia da ANXA1 tem sido o estudo do seu mecanismo de ação na superfície celular. Estudos indicam que a ANXA1 e os seus peptídeos miméticos ligam-se a uma classe específi ca de receptores transmembrana acoplados a proteína G, os receptores para peptídeos formilados (nFPR), o que conduziu a novas investigações sobre relações funcionais e moleculares entre a ANXA1 e a família de receptores FPR no desenvolvimento de doenças. Conclusão: A proteína ANXA1 é um potente mediador anti-infl amatório, sendo amplamente distribuída no organismo e fortemente envolvida no processo saúde-doença. Portanto, a ANXA1 é um importante alvo terapêutico para o desenvolvimento de novas estratégias no combate aos processos infl amatórios.
Palavras-chave: Infl amação. Anexina A1. Peptídeo mimético. Ac2-26. FPR.
AbstractIntroduction: Infl ammation is an important host response against invading agents. However, it must be regulated to avoid causing damage to tissues and organs. Among the anti-infl ammatory mediators there is the protein A1 Annexin, a 37kDa protein which exhibits calcium and phospholipid membrane binding sites and is involved in inhibition of glucocorticoids induced synthesis of eicosanoid and phospholipase A2. ANXA1 is widely distributed in the body, especially in defense processes related cells. This protein exerts different functions and may be related to several pathological conditions such as cancer and autoimmune diseases, beyond infl ammatory processes. Therefore, the term "annexinopathy" has been used to defi ne human disease in which abnormal levels of annexin contribute to pathogenesis. Objective: Given the importance of ANXA1, the aim of this work was to perform a review about the role of this protein in infl ammatory processes. Method: Bibliographic research carried out in specialized sites (SciELO, Bireme, Lilacs, Pubmed). Results: After the discovery that the biological activity of ANXA1 could be reproduced by the fi rst amino acids of the N-terminal protein portion (Ac2-26 peptide), it has become a common practice the use of these molecules in experimental models of acute, chronic and systemic infl ammations, which allowed a better understanding of the protein action mechanisms in different clinical conditions. Another important aspect in the ANXA1 biology has been the study of its action mechanism on the cell surface. Studies indicate that ANXA1 and its mimetic peptides bind to a specifi c class of G protein coupled transmembrane receptors, the formylated peptides receptors (nFPR), leading to further investigations about functional and molecular relationships between ANXA1 and FPR family receptors in the development of diseases. Conclusion: The ANXA1 protein is a powerful anti-infl ammatory agent, being widely distributed throughout the body and strongly involved in the health-disease process. Therefore, ANXA1 is an important therapeutic target for the development of new strategies to fi ght the infl ammatory processes.
Keywords: Infl ammation. Annexin A1. Mimetic peptide. Ac2-26. FPR. ResumenIntroducción: Una infl amación es una importante respuesta del huésped contra los agentes invasores. Sin embargo, debe ajustarse para no dañar los tejidos y los órganos. Entre los mediadores anti-infl amatorios está una proteína Anexina A1, una proteína de 37kDa que se presentan en el calcio y los fosfolípidos de la membrana y se encuentra en la inibición de las síntesis de eicosanoides y fosfolipasa A2, induzidas por glicocorticoides. A ANXA1 é amplamente distribuida en el organismo, especialmente en las células relacionadas con los procesos de defensa. Esta proteína ejerce diferentes funciones y puede ser relacionada a varias condiciones patológicas, como cáncer y enfermedades autoinmunes, además de los procesos infl amatorios. Por esta razón, el término "anexinopatias" se ha utilizado para defi nir las enfermedades humanas en las que los niveles anormales de anexina contribuyen a la patogénesis. Objetivo: Ante la importancia de la ANXA1, el objetivo de este trabajo fue realizar una revisión sobre el papel de la proteína en procesos infl amatorios. Método: Búsqueda bibliográfi ca realizada en sitios especializados (SciELO, Bireme, Lilacs, Pubmed). Resultados: Después del descubrimiento de que la actividad biológica de la ANXA1 podría ser reproducida por los primeros aminoácidos de la porción N-terminal de la proteína (péptido Ac2-26), se ha convertido en una práctica común el uso de estas moléculas en modelos experimentales de infl amación aguda, crónica y sistémica, lo que permitió el mejor entendimiento de los mecanismos de acción de la proteína en diferentes condiciones clínicas. Otro aspecto importante en la biología de la ANXA1 ha sido el estudio de su mecanismo de acción en la superfi cie celular. Los estudios indican que la ANXA1 y sus péptidos miméticos se unen a una clase específi ca de receptores transmembrana acoplados a la proteína G, los
Rodolfo Teruo Takaoka*, Nathália Dias Sertório**, Karen Laiza Sales***, Kassiele Beatriz Pinto***, Ana Paula Girol****
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receptores para péptidos formados (nFPR), lo que condujo a nuevas investigaciones sobre relaciones funcionales y moleculares entre la ANXA1 y la familia de receptores FPR en el desarrollo de enfermedades. Conclusión: La proteína ANXA1 es un potente mediador anti-infl amatorio, siendo ampliamente distribuida en el organismo y fuertemente involucrada en el proceso salud-enfermedad. Por lo tanto, la ANXA1 es un importante objetivo terapéutico para el desarrollo de nuevas estrategias en el combate a los procesos infl amatorios.
Palabras clave: Infl amação. Anexina A1. Peptídeo mimético. Ac2-26. FPR.
INTRODUÇÃO
A infl amação é uma reação do hospedeiro a
injúrias nos tecidos e tem o propósito fi siológico de
restaurar a homeostase do tecido. No entanto, a infl amação
não controlada ou não resolvida pode levar a danos nos
tecidos, dando origem a um grande número de doenças
infl amatórias crônicas, incluindo síndromes metabólicas e
patologias autoimunes com eventual perda de função do
órgão1,2.
Além disso, sinais de infl amação persistentes não
resolvidos não são apenas típicos de doenças infl amatórias
crônicas, mas também aparecem como característica
subjacente de uma variedade de doenças humanas,
incluindo a doença de Alzheimer, a aterosclerose, doenças
cardiovasculares e câncer2.
Nos últimos anos tem ocorrido um avanço no
entendimento dos mecanismos anti-infl amatórios que
operam no organismo para suprimir a reação infl amatória,
assegurando a homeostasia1. O organismo, seguido de
um insulto infl amatório, constrói uma rápida e coordenada
resposta: os leucócitos são ativados e transmigrados para
o tecido circundante, em direção ao local da infl amação3.
Na fase inicial da resposta infl amatória ocorre a liberação
de diversos mediadores pró-infl amatórios, tais como
quimiocinas e moléculas de adesão2. No entanto, devido à
ação dos leucócitos extravasados ser altamente prejudicial
ao organismo, é crucial que o processo infl amatório seja
mantido sob controle e de maneira tempo-dependente3.
Entre os mediadores anti-infl amatórios, particularmente
a proteína endógena Anexina A1 (ANXA1), o primeiro
membro caracterizado da superfamília das anexinas, atua
para limitar o processo infl amatório4-7 .
Diante da importância da ANXA1 no equilíbrio da
resposta infl amatória, os objetivos desta revisão foram
descrever a ANXA1, suas ações na resposta infl amatória e
possibilidades terapêuticas.
MÉTODO
O trabalho foi elaborado por compilação de
dados obtidos de pesquisa bibliográfi ca realizada em
sites especializados (SciELO, Bireme, Lilacs, Pubmed). Os
descritores usados para obtenção de artigos científi cos
foram: Infl amação, Anexina A1, peptídeo mimético, Ac2-
26, FPR.
Anexina A1
A ANXA1, antigamente designada lipocortina 1,
é uma proteína de 37 kDa que exibe sítios de ligação ao
cálcio e aos fosfolipídios de membrana, e está envolvida
na inibição das sínteses de eicosanoides e fosfolipase A2
(cPLA2), induzidas por glicocorticoides, o que confere
propriedades anti-infl amatórias a esta proteína22-7.Treze
membros da família das anexinas foram descritos e
clonados em mamíferos e, em humanos, o gene ANXA1,
está localizado na região cromossômica 9q12-9q21.24.
Estruturalmente, as anexinas compreendem dois
domínios, uma pequena região N-terminal, que varia
em comprimento e composição e, um domínio central
formado por quatro a oito repetições de uma sequência
de 70 a 80 aminoácidos, altamente conservada4-7.
Dois sítios de ligação ao cálcio são expressos na região
convexa de cada repetição. Essa região faz face à
membrana celular, enquanto a região côncava, com o
domínio N-terminal, permanece livre para interagir com
as proteínas citosólicas8. O domínio N-terminal é único
para cada membro da superfamília, confere as atividades
e funções específi cas das anexinas e contém sítios para
processos pós-traducionais, tais como, fosforilação,
glicosilação e proteólise6-10. A representação esquemática
da estrutura primária e o arranjo tridimensional da ANXA1
são mostrados na Figura 1.
182Figura 1 - (A) Representação esquemática da estrutura primária da proteína ANXA1, com destaque do sítio ativo anti-infl amatório (peptídeo Ac2-26). (B) Ilustração do arranjo tridimensional dessa proteína8
Fonte: Rescher, Gerke8Rescher, Gerke8
Uma importante característica da ANXA1, que
também é compartilhada por outros membros da família, é
a habilidade para alterar a conformação durante a ligação
aos cátions de cálcio10. Na presença de concentrações
de cálcio ≥ a 1 mM a ANXA1 é reestruturada, o que
permite uma ligação fosfolipídica, em particular aos ácidos
fosfolipídicos, por meio das regiões do domínio central.
Essa interação ocorre concomitantemente ao rearranjo
da região N-terminal, o que expõe seus aminoácidos ao
ambiente extracelular e gera a forma ativa da proteína4,10.
A ANXA1 é amplamente distribuída no organismo
e pode ser encontrada em diversos tipos celulares como
células endoteliais, epiteliais dos pulmões, intestinos,
estômago, mama, rins e sinoviócitos4,10-14, e também em
células estromais, como os fi broblastos14,15. No entanto, a
expressão da ANXA1 tem sido observada especialmente
em células relacionadas aos processos de defesa como
neutrófi los2,12,16,17,18; mastócitos15,17-19, eosinófi los20,
monócitos e linfócitos18,21,22.
Após a identifi cação da ANXA1 como um
mediador endógeno das ações anti-infl amatórias dos GCs,
o papel desta proteína nos processos infl amatórios tem
sido extensamente explorado por diversos pesquisadores.
Revisões da literatura têm evidenciado amplitude nos
aspectos da biologia da ANXA1, que desempenha
atividades desde o sistema nervoso central23 até o imune
adaptativo9,21,22,24. Devido ao fato de exercer múltiplas
funções em diferentes sistemas, entre elas, a fusão de
membranas, fagocitose, proliferação e apoptose2,8,25 a
ANXA1 também pode ser relacionada a várias condições
patológicas, como câncer e doenças autoimunes4,26,27,
além dos processos infl amatórios. O termo “anexinopatias”
tem sido usado para defi nir as doenças humanas nas
quais os níveis anormais de anexina contribuem para a
patogênese28.
ANXA1 nos processos infl amatórios
A ANXA1, endógena ou exógena, regula as
atividades das células imunes inatas, em particular o
processo de geração de mediadores pró-infl amatórios e
de transmigração4,10. Esses efeitos garantem que níveis
sufi cientes de ativação celular sejam alcançados, mas não
excedidos, o que proporciona a homeostase do processo
infl amatório.
O desenvolvimento de uma linhagem de
camundongos defi cientes para o gene ANXA1 contribuiu
para melhorar o entendimento da proteína nos processos
infl amatórios29. Pesquisas desenvolvidas com esse modelo
animal mostraram o aumento da expressão da COX-
2 e da cPLA2 no pulmão e no timo. Esse fato sugeriu
que as enzimas induzíveis COX-2 e cPLA2 podem ser
indiretamente afetadas pela deleção do gene ANXA130,31.
Outros estudos com camundongos defi cientes para a
ANXA1 também demonstraram expressão exacerbada
da COX-2 em macrófagos após estímulo com CGs32 e nos
tecidos cartilaginoso e ósseo durante o desenvolvimento
esquelético33. Ainda, no mesmo modelo animal, o aumento
na expressão da COX-2 foi demonstrado na medula
espinhal durante episódios dolorosos34, indicando que a
ANXA1 está relacionada à modulação da dor nociceptiva.
No modelo experimental de artrite induzida
por antígeno, camundongos defi cientes para a ANXA1
desenvolvem doença articular severa35. A resposta
infl amatória foi caracterizada por aumentos da migração
celular para o líquido sinovial e expressão de RNAm das
citocinas IL-1β, TNF-α e IL-6, o que indicou a regulação
endógena da ANXA1 na expressão de mediadores pró-
infl amatórios. A exacerbação da resposta infl amatória, com
aumento na liberação de citocinas, também foi observada
na peritonite experimental induzida por zimosan em
camundongos defi cientes para ANXA136.
Proteína anexina A1: alvo terapêutico nosprocessos infl amatórios2017 jul.-dez.; 11(2): 180-186
183Após a descoberta de que a atividade biológica
da ANXA1 poderia ser reproduzida pelos primeiros
aminoácidos da porção N-terminal da proteína (peptídeo
Ac2-26), ou por alguns peptídeos menores, tornou-
se uma prática comum o uso dessas moléculas em
modelos experimentais de infl amação aguda, crônica e
sistêmica2,5,6.
A administração de LPS em camundongos
defi cientes para a ANXA1 conduziu a letalidade em 48 horas,
entretanto, a aplicação da proteína exógena recuperou o
fenótipo normal dos animais37. O efeito protetor da ANXA1
exógena, associado ao processo isquêmico por reperfusão,
foi observado por meio da redução do dano tecidual no
miocárdio, no cérebro e nos rins2,4,15,38.
Em leucócitos polimorfonucleares (PMNs)
inativos, a ANXA1 encontra-se localizada no citoplasma,
entretanto, pode ser rapidamente mobilizada para a
superfície celular, de maneira cálcio-dependente, após
adesão dos leucócitos às monocamadas endoteliais.
Análises de microscopia intravital de vasos infl amados, in
vivo, limitaram o local de ação da ANXA1 em leucócitos
aderentes e, a administração da ANXA1 exógena ou de
seus peptídeos derivados, reduziu a adesão e migração
dos leucócitos no endotélio das vênulas pós-capilares39.
Uma das hipóteses formuladas para o entendimento
do mecanismo pelo qual a ANXA1, na superfície celular,
inibe a adesão dos neutrófi los é conhecida como hipótese
do destacamento. De acordo com esse modelo, a ANXA1
na superfície celular interage com seu receptor, o que leva
a um aumento na concentração intracelular de cálcio e a
quebra da L-selectina25,40.
Além da adesão dos neutrófi los ao endotélio
das vênulas pós-capilares como o evento principal na
externalização da ANXA1 na membrana plasmática desses
leucócitos4,6,7,11, um processo de proteólise também pode
ser observado25. As análises de microscopia eletrônica
indicaram a predominância de ANXA1 intacta (37 kDa)
na superfície celular de neutrófi los aderentes, enquanto
os transmigrados mostraram maior quantidade de ANXA1
clivada (33 kDa) intracelular11. Indicações para a síntese de
novo da proteína nas células extravasadas também foram
observadas11, e esse evento, pode estar correlacionado
aos efeitos pró-apoptóticos da ANXA1. Na membrana
plasmática dos neutrófi los, a ANXA1 age de maneira
autócrina/parácrina para reduzir o extravasamento
celular8,11. A Figura 2 mostra a expressão alterada da
ANXA1 durante o processo de transmigração do neutrófi lo.
Figura 2 - Mobilização e clivagem da proteína ANXA1 na transmigração dos neutrófi los durante o processo infl amatório11
Estudos mostraram que a proteinase 3 (PR3)
colocaliza-se com a ANXA1 em PMNs sendo a enzima
responsável pela clivagem da região N-terminal da
proteína em três sítios: Alanine11, Valine22, e Valine3641.
Contudo, a relevância funcional da clivagem da região
N-terminal da ANXA1 gerou dúvidas sobre esse processo
ser um mecanismo homeostático, limitando a função
biológica da proteína, ou um passo de ativação, levando
à liberação de peptideos miméticos bioativos derivados da
região N-terminal, de modo que a proteína pudesse agir
como um pró-fármaco7,11,41.
Para elucidar essa questão foram desenvolvidos
experimentos com uma forma mutante da ANXA1
resistente a PR3 nos três locais de clivagem, denominada
SuperANXA141. Os resultados dessa investigação
mostraram que a SuperANXA1 exibe excelentes
propriedades antimigratórias em processos infl amatórios
de longa duração, indicando que a clivagem da ANXA1 não
é um pré-requisito para a efi cácia biológica, mas sim, um
evento catabólico.
Uma investigação recente em modelo de artrite
induzida por soro K/BxN42 mostrou que a administração
diária da Super ANXA1 acelerou a resolução do processo
infl amatório e propiciou melhor preservação tecidual, em
comparação com a ANXA1, sendo benéfi ca na modulação
da infl amação articular.
Outro aspecto importante na biologia da ANXA1
tem sido o estudo do seu mecanismo de ação na superfície
Proteína anexina A1: alvo terapêutico nosprocessos infl amatórios 2017 jul.-dez.; 11(2): 180-186
184celular. A observação que a ANXA1 e os seus peptídeos
miméticos ligam-se a uma classe específi ca de receptores
transmembrana acoplados a proteína G, os receptores
para peptídeos formilados (nFPR)43 revolucionou o campo
de pesquisa da ANXA1. Este estudo fundamental permitiu
novas investigações nas relações funcionais e moleculares
entre a ANXA1 e a família de receptores FPR.
Receptor FPR/ALX
Várias investigações indicam que a ação
regulatória da ANXA1 sobre a migração transendotelial
leucocitária, pode ser mediada pelo FPR2,40,44,45.
A família FPR apresenta divergência evolutiva
signifi cante em espécies de mamíferos, com notável
expansão diferencial de genes em murinos. Em
camundongos a família de genes FPR é complexa,
está localizada no cromossomo 17 e compreende sete
membros. Enquanto, em humanos, apenas três tipos de
receptores foram encontrados e incluem, FPR1, FPR2/ALX
(também conhecido como FPRL-1) e FPR3 (antigamente
designado como FPRL-2). Os receptores fpr1 e fpr2 de
roedores (anteriormente designados Fpr-rs1 e Fprs-rs2)
correspondem, respectivamente, ao FPR1 e FPR2/ALX em
humanos, com os quais compartilham homologias de 77
e 76%44-46.
Embora os FPRs sejam classicamente conhecidos
por agirem como receptores quimiotáticos, regulando a
migração leucocitária, eles são expressos em populações
celulares diversas e ativados por uma variedade de ligantes
endógenos e exógenos que provocam respostas biológicas
diferentes, tais como lipoxina A4 (LXA4), amiloide sérica A
(SAA) e ANXA144-48.
Figura 3 - As moléculas pró-infl amatórias, fMLP e SAA (verdes) ligam-se a FPR1 e FPR2, respectivamente, para induzir e amplifi car as respostas infl ama-tórias. Os ligantes anti-infl amatórios endógenos (azuis), ANXA1 e LXA4 interagem apenas com o FPR2, enquanto os agonistas sintéticos, Ac2-26 e Cpd43, são ligantes anti-infl amatórios para FPR1 e FPR2. Cpd43, composto 43; fMLP, N-formil-metil-leucil-fenilalanina; LXA4, lipoxina A4; SAA, amiloide sérica A46
A ANXA1 ativa somente o receptor FPR2/ALX, já
o peptídeo Ac2-26, in vitro, ativa todos os três receptores
da família FPR. No entanto, tais respostas são bloqueadas
por antagonistas não seletivos dos receptores FPRs, os
antagonistas Boc1 e Boc2, por meio da inibição do fl uxo
de cálcio induzido pela ANXA1 em PMNs44.
A função do receptor FPR nas ações antimigratórias
da ANXA1 e dos seus peptídeos derivados também foi
demonstrada com o uso de camundongos defi cientes
para o FPR na peritonite, na microcirculação mesentérica
após isquemia-reperfusão e no edema de pata induzido
por carragenina44. A colocalização ultraestrutural da
ANXA1 com o receptor Fpr-rs2 (fpr2) foi demonstrada em
neutrófi los de camundongos induzidos à peritonite aguda,
indicando que a ação anti-infl amatória da ANXA1 pode
ser mediada pelo receptor Fpr-rs248,49. Em outra pesquisa
realizada no modelo de uveíte induzida por endotoxina
(EIU) em ratos50 e com células do epitélio pigmentar da
retina (ARPE-19) ativadas pelo lipopolissacarídeo (LPS) a
inibição da liberação de mediadores infl amatórios ocorreu
após ativação dos receptores FPR2 pela ANXA1 endógena
translocada e o peptídeo mimético Ac2-26.
A expressão do receptor FPR2 pode estar
intimamente relacionada com a expressão da ANXA1.
O tratamento com dexametasona aumenta a expressão
proteica da ANXA1 e do FPR2/ALX em monócitos. A
hipótese proposta é que os GCs, primeiramente, promovem
rápida mobilização da ANXA1 na superfície celular onde o
Proteína anexina A1: alvo terapêutico nosprocessos infl amatórios2017 jul.-dez.; 11(2): 180-186
185receptor está localizado por mecanismos não-genômicos.
Em seguida, levam ao aumento da expressão dos genes
ANXA1 e FPR2 por mecanismos genômicos11,44.
Os mecanismos moleculares responsáveis
pela mobilização da ANXA1 para a superfície celular
são dependentes do tipo celular. A proteína pode ser
externalizada pela exocitose dos grânulos de gelatinase
dos neutrófi los ou após ativação o sistema transportador
cassete ligante do ATP (ABC-transporter) nos macrófagos11.
O acesso da ANXA1 endógena aos receptores
de membrana pode, ainda, depender de processos de
fosforilação que possibilitam a translocação da proteína do
citoplasma para a superfi cie celular10,23,51. Mecanismos não
genômicos, mas que requerem as vias proteína quinase
C (PKC), fosfatidilinositol 3-quinase (PI3K) e proteína
quinase ativadora de mitógeno (MAPK) foram observados
em células pituitárias folículo estelares humanas, nas
quais, os GCs e o LPS induziram a fosforilação da ANXA1
em serina e translocação da proteína recém-fosforilada
para a superfície celular51. Curiosamente, a dexametasona
não teve nenhum efeito sobre a fosforilação da ANXA1 em
tirosina51.
Os processos de fosforilação são, portanto,
essenciais para o acesso da ANXA1 endógena aos
receptores de membrana, após translocação. Modifi cações
pós-traducionais também foram observadas, in vivo, no
fígado de camundongos durante o processo infl amatório52
e estão relacionadas a resolução da resposta infl amatória.
CONCLUSÕES
A ANXA1 é um potente mediador anti-infl amatório
que participa ativamente de várias vias celulares e
moleculares no controle do processo infl amatório. Os
efeitos protetores da ANXA1 em diversos modelos
experimentais e condições patológicas, sugerem esta
proteína como um alvo potencial para novas terapias,
especialmente relacionadas aos processos infl amatórios.
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Recebido em: 16/03/2017Aceito em: 24/07/2017
Proteína anexina A1: alvo terapêutico nosprocessos infl amatórios2017 jul.-dez.; 11(2): 180-186
187Comparação entre os índices de sífi lis na gestação e sífi liscongênita na região de Catanduva-SP 2017 jul.-dez.; 11(2): 187-192
COMPARAÇÃO ENTRE OS ÍNDICES DE SÍFILIS NA GESTAÇÃO E SÍFILIS CONGÊNITA NA REGIÃO DE CATANDUVA-SP
COMPARISON BETWEEN SYPHILIS INDEXES IN GESTATION AND CONGENITAL SYPHILIS IN CATANDUVA-SP AREA
COMPARACIÓN ENTRE LOS ÍNDICES DE SÍFILIS EN LA GESTACIÓN Y SÍFILIS CONGENITA EN LA REGIÓN DE CATANDUVA-SP
*Doutora em Pediatria, docente titular da disciplina de Pediatria no curso de Medicina das Faculdades Integradas Padre Albino (FIPA) e Coordenadora da Unidade Materno-Infantil do Hospital-Escola Padre Albino, Catanduva-SP. Contato: luciana_sabatini@terra.com.br**Acadêmicas do curso de Medicina das Faculdades Integradas Padre Albino (FIPA).
ResumoIntrodução: A meta proposta pela OMS para casos de Sífi lis congênita é de 0,5 casos para mil nascidos vivos. O índice brasileiro não se enquadra em tal meta apesar de ser uma moléstia infectocontagiosa passível de prevenção e tratamento. A Sífi lis materna tem aumentado nas últimas décadas, o que levou à ascensão do índice de Sífi lis congênita, considerada uma das principais causas de morte neonatal. Objetivos: Avaliar o aumento da incidência de Sífi lis em gestantes e comparar a incidência de Sífi lis materna e congênita entre os primeiros semestres de 2014, 2015 e 2016, além de realizar levantamento epidemiológico das gestantes no referido período estudado. Métodos: Estudo descritivo, transversal, analítico retrospectivo realizado a partir da coleta de dados referentes a prontuários de gestantes atendidas no setor da maternidade de um hospital universitário no interior de São Paulo. Considerou-se os testes não-treponêmicos (VDRL) materno e do recém-nascido como parâmetros classifi catórios de Sífi lis materna e provável Sífi lis congênita, respectivamente. Ademais, foram avaliadas variáveis como idade materna, via de parto, óbito fetal, e se a gestante pertencia ao Sistema Único de Saúde ou a um plano particular. Resultados: Foram avaliadas 3000 gestantes, com um total de 2985 nascidos vivos (NV) e 15 natimortos (0,5%). A média de idade foi de 25 anos de idade (com variação de 12 anos até 49 anos). Observou-se parto cesáreo em 72% dos nascimentos, e parto vaginal em 28%. Do total de gestantes, 70% eram provenientes da rede pública de saúde e 30% da rede particular. Observou-se aumento progressivo do índice de Sífi lis materna, obtendo-se os valores de 19,5, 22 e 26 casos de Sífi lis materna/1000 NV nos períodos avaliados de 2014, 2015 e 2016, respectivamente. Evidenciou-se um aumento de 35% de Sífi lis materna no período de 2016 em relação ao período de 2014. Notou-se uma queda na transmissão vertical quando comparado o 1º semestre de 2014 (73,6%) com o mesmo período de 2015 (54,5%), porém elevou-se novamente em 2016 (63%). Quanto aos casos de Sífi lis congênita confi rmados por VDRL, obtiveram-se valores de 14,5, 12 e 16 casos/1000 NV nos referentes períodos de 2014, 2015 e 2016, respectivamente. Conclusão: Apesar das estratégias de saúde pública e dos protocolos preconizados pelo Ministério da Saúde, os números de Sífi lis materna e congênita continuam a crescer, conforme demonstrado por este estudo. Portanto, evidenciou-se a necessidade de um melhor entendimento da incidência desta moléstia infectocontagiosa nos diferentes níveis socioeconômicos da população em geral e a implantação de medidas estratégicas mais específi cas e efi cazes no controle desta doença, principalmente nos grupos socialmente mais vulneráveis, além das gestantes e os recém-nascidos.
Palavras-chave: Sífi lis materna. Sífi lis gestacional. Sífi lis congênita. Triagem sífi lis.
AbstractIntroduction: The target proposed by World Health Organization (W.H.O.) for congenital Syphilis cases is 0.5 cases per 1000 live births. Despite of Syphilis being an infectious-contagious disease that is preventable and treatable, the Brazilian index doesn't meet this goal. Maternal Syphilis has been increasing in recent decades, leading to the increase of congenital Syphilis rate, considered one of the most important causes of neonatal death. Objectives: To assess the increase of Syphilis incidence in pregnant women and to compare the maternal and congenital syphilis rates in the fi rst half of 2014, 2015 and 2016, besides of conducting an epidemiological survey of the pregnant women during the related periods. Material and methods: It is a descriptive, cross-sectional, analytical and retrospective study performed through the data collected from medical records of the pregnant women which were attended at the maternity Department of a University Hospital in São Paulo state countryside. Maternal and newborn non-treponemal (VDRL) tests were both considered as classifi catory parameters of maternal syphilis and probable congenital Syphilis, respectively. Furthermore, variables such as maternal age, delivery path, fetal death and whether pregnant woman belonged to Unifi ed Health System or to a private healthcare plan were assessed. Results: Three thousand pregnant women were assessed, with a total of 2985 live births and 15 stillborn (0,5%). The mean age was 25, (ranging from 12 to 49 years). We detected C section in 72% of the deliveries, whereas 28% were normal birth. Out of all the women, 70% belonged to public health care (SUS) and 30% belonged to private health care system. There was a progressive increase of maternal Syphilis index, obtaining the values of 19.5, 22, and 26 cases of maternal Syphilis per 1000 live births, during the evaluated period of 2014, 2015 and 2016, respectively. There was a 35% increase of maternal syphilis in 2016 period when compared to the 2014 rate. We observed also a decrease in vertical transmission when we compared the fi rst half of 2014 (73.6%) with the same period of 2015 (54.5%), however this rate increased again in 2016 (63%). As for congenital Syphilis cases, confi rmed by VDRL, values of 14.5, 12, and 16 cases/ 1000 livebirths were obtained for the referred periods of 2014, 2015, and 2016, respectively. Conclusion: Despite the public health strategies and the Ministry of Health protocols, the maternal and congenital Syphilis rates keep still increasing, as demonstrated by this study. Therefore, we demonstrated the need of a better understanding on the incidence of this infectious-contagious disease inside the different social-economic levels of the population in general, as well as the implementation of more specifi c and effective strategical measures in the control of this disease, especially inside the most socially vulnerable groups, besides of the pregnant women and newborns.
Keywords: Maternal syphilis. Congenital syphilis. Syphilis screening. Gestational syphilis.
Luciana Sabatini Doto Tannous*, Carolina Jodas Pansiera**, Manuela de Paula Ribeiro**, Marília Storion de Oliveira**, Natalia Cocenzo Contiero**
188 Comparação entre os índices de sífi lis na gestação e sífi liscongênita na região de Catanduva-SP2017 jul.-dez.; 11(2): 187-192
ResumenIntroducción: La meta propuesta por la OMS para casos de sífi lis congénita es de 0,5 casos para mil nacidos vivos. El índice brasileño no se encuadra en tal objetivo apesar de ser una molestia infectocontagiosa susceptible de prevención y tratamiento. La Sífi lis materna ha aumentado en las últimas décadas, lo que llevó al ascenso del índice de Sífi lis congénita, considerada una de las principales causas de muerte neonatal. Objetivos: Evaluar el aumento de la incidencia de Sífi lis en gestantes y comparar la incidencia de sífi lis materna y congénita entre los primeros semestres de 2014, 2015 y 2016, además de realizar levantamiento epidemiológico de las gestantes en el referido período estudiado. Métodos: Estudio descriptivo, transversal, analítico retrospectivo realizado a partir de la recolección de datos referentes a prontuarios de gestantes atendidas em el sector de la maternidad de un hospital universitário en el interior de São Paulo. Se consideraron lãs pruebas no treponémicas (VDRL) materno y del recién nacido como parâmetros clasifi catorios de Sífi lis materna y probable Sífi lis congénita, respectivamente. Además, se evaluaron variables como edad materna, vía de parto, muerte fetal, y si la gestante pertenecía al Sistema Único de Salud o a un plano particular. Resultados: Se evaluaron 3000 gestantes, com un total de 2985 nacidos vivos (NV) y 15 nacimientos (0,5%). El promedio de edad fue de 25 años de edad (convariación de 12 años hasta 49 años). Se observó un parto cesáreo en el 72% de los nacimientos, y el parto vaginal en un 28%. Del total de gestantes, el 70% provenía de la red pública de salud y el 30% de la red privada. Se observó un aumento progresivo del índice de Sífi lis materna, obteniéndos elos valores de 19,5, 22 y 26 casos de Sífi lis materna / 1000 NV em los períodos evaluados de 2014, 2015 y 2016, respectivamente. Se evidenció un aumento del 35% de Sífi lis materna en el período de 2016 conrelación al período de 2014. Se notó una caída en la transmisión vertical en comparación con el primer semestre de 2014 (73,6%) con el mismo período de 2015 54,5%), pero se elevo nuevamente en 2016 (63%). Encuanto a los casos de Sífi lis congénita confi rmados por VDRL, se obtuvieron valores de 14,5, 12 y 16 casos / 1000 NV en los correspondientes períodos de 2014, 2015 y 2016, respectivamente. Conclusión: A pesar de lãs estrategias de salud pública y de los protocolos preconizados por El Ministerio de Salud, los números de sífi lis materna y congénita continúan creciendo, como demuestra este estudio. Por lo tanto, se evidencio la necesidad de um mejor entendimiento de la incidencia de esta molestia infectocontagiosa en los diferentes niveles socioeconómicos de la poblaciónen general y la implantación de medidas estratégicas más específi cas y efi caces en el control de esta enfermedad, principalmente en los grupos socialmente más vulnerables, además de las gestantes y los recién nacidos.
Palabras clave: Sífi lis materna. Sífi lis gestacional. Sífi lis congénita. Síntesis de sífi lis.
INTRODUÇÃO
Sífi lis é uma doença infectocontagiosa causada
pela bactéria gram-negativa, de morfologia espiral,
denominada Treponema pallidum. O tempo médio de
incubação, período subclínico até o surgimento dos
primeiros sinais e sintomas é de, em média, vinte dias.
A partir do contágio, a doença é dita como recente e
subclassifi cada em primária, secundária e latente, quando
se apresenta com até um ano de evolução. Após um ano
decorrido, a Sífi lis passa a ser classifi cada como tardia1.
A transmissão de Sífi lis ocorre por intermédio do
contato íntimo, transfusão de sangue e via placentária.
Este tipo de transmissão, também designada como
transmissão vertical, ocorre, sobretudo, quando a grávida
se encontra no período recente da doença e entre as 16ª
e 28ª semanas de gestação. A taxa de transmissão nos
períodos primário e secundário da doença (Sífi lis recente)
varia entre 70% e 100%. Já para o período terciário da
doença (Sífi lis tardia), a taxa de transmissão é reduzida
para aproximadamente 30%. Caso ocorra a transmissão
para o feto, há o desenvolvimento de Sífi lis Congênita2,3.
O Ministério da Saúde (MS) preconiza que o teste
sorológico de triagem para detecção da Sífi lis (Venereal
Disease Research in Laboratory - VDRL) seja realizado
no primeiro e terceiro trimestres da gestação. A Sífi lis
na gestação é considerada quando há evidência clínica
de Sífi lis e/ou sorologia não treponêmica reagente, com
qualquer titulagem, mesmo na ausência de resultado
de testes treponêmicos, realizada no pré-natal ou no
momento do parto ou curetagem. Assim que houver
positividade do Teste Não Treponêmico e/ou Treponêmico
deve-se iniciar o tratamento imediato não só da gestante,
como de seu parceiro4,5.
Por se tratar de um problema de saúde pública,
a Sífi lis Congênita passou a ser classifi cada como uma
Doença de Notifi cação Compulsória desde 1986. Para
maior controle de sua transmissão vertical, em 2005, a
Sífi lis na Gestação também passou a ser de Notifi cação
Compulsória6. Em 2006, o MS, visando reduzir a incidência
de Sífi lis Congênita, implantou o programa de saúde “Rede
Cegonha” que, em seu aspecto do pré-natal, oferece teste
rápido não treponêmico para triagem da Sífi lis materna7.
A região das Américas apresenta a segunda maior
prevalência de Sífi lis na gestação. No Brasil, o número de
casos notifi cados de Sífi lis Gestacional tem aumentado a
cada ano em todas as regiões do país. Assim como os
casos de Sífi lis Congênita que alcançou a incidência de 6,5
casos para cada 1000 nascidos vivos em 2015 comparado
à taxa de 4,7 casos no ano de 20138-11.
Ainda que a Sífi lis seja uma doença passível
de prevenção e tratamento, em sua forma congênita é
considerada como uma das principais causas de morte
neonatal12. Logo, tendo em vista que o Brasil ainda não
se encontra dentro da meta estipulada pela Organização
Mundial da Saúde (OMS) que objetiva ser menor que 0,5
caso para cada 1000 nascidos vivos2, e tendo em mente
189o fato da maternidade do Hospital Padre Albino (HPA)
atender gestantes de toda a região de Catanduva-SP,
além das gestantes referenciadas de todo o estado de São
Paulo, o levantamento da incidência da Sífi lis Materna e
Sífi lis Congênita se fez essencial para nos situar quanto à
realidade do cenário atual desta importante e alarmante
doença.
OBJETIVOS
Objetivo Geral
Avaliar o aumento da incidência de Sífi lis em
gestantes atendidas na maternidade do Hospital Padre
Albino em Catanduva-SP, durante o primeiro semestre
de 2014 e nos períodos equivalentes dos anos de 2015
e 2016.
Objetivos Específi cos
Comparar a incidência de Sífi lis Materna e Sífi lis
Congênita e as possíveis alterações nestes índices entre
o período do primeiro semestre de 2014 com os períodos
equivalentes nos anos seguintes, de 2015 e 2016.
Realizar levantamento epidemiológico das
gestantes com Teste Não Treponêmico (VDRL) reagentes
atendidas na maternidade do Hospital Padre Albino,
Catanduva-SP no referido período estudado.
MÉTODO
A pesquisa é do tipo descritiva, transversal,
analítica retrospectiva. Os dados demográfi cos e
epidemiológicos coletados correspondem aos períodos
de primeiro de janeiro de 2014 a 30 de junho de 2014,
primeiro de janeiro de 2015 a 30 de junho de 2015 e
primeiro de janeiro de 2016 a 30 de junho de 2016. As
variáveis avaliadas foram a idade materna, a via de parto
cesárea ou vaginal, óbito fetal, e se gestante pertencia
ao Sistema Único de Saúde (SUS) ou era conveniada
a um plano particular. Estes dados foram coletados a
partir de prontuários médicos do setor da Maternidade
do HPA, no município de Catanduva-SP. Assim também
foram coletados os dados epidemiológicos referentes às
sorologias de VDRL maternos realizados no momento
da internação das gestantes, bem como os VDRL dos
recém-nascidos. Após a coleta das informações, realizou-
se a análise estatística descritiva e inferencial dos dados
coletados nos três períodos considerados neste estudo e
foram comparados quanto ao aumento da incidência de
Sífi lis Materna e Sífi lis Congênita na população estudada
usando o programa estatístico Excel 2016.
Fizeram parte dos critérios de inclusão todas
as gestantes que deram à luz na Maternidade do
HPA, independentemente do tipo de plano de saúde,
particulares ou SUS. Após o cálculo da incidência total
de Sífi lis Materna e Sífi lis Congênita, foram estratifi cados
os casos em gestantes provenientes do SUS e gestantes
provenientes dos atendimentos médicos particulares e
convênios que apresentaram Sífi lis durante a gestação.
Foram introduzidos no estudo todos os recém-
nascidos vivos que nasceram na Maternidade do HPA no
respectivo período do estudo.
RESULTADOS
No presente estudo foram avaliadas 3.000
gestantes atendidas na Maternidade do HPA, com um
total de 2.985 recém-nascidos vivos (NV) sendo que 15
bebês foram natimortos (0,5%). As gestantes tinham em
média 25 anos de idade (com variação de 12 anos até 49
anos), a via de parto cesariana foi realizada em 2/3 dos
nascimentos (72%) e a via vaginal em apenas 28%, talvez
essa diferença seja justifi cada pelo fato da maternidade
em questão ser referência em gestantes de alto risco
(Tabela 1). A maioria das gestantes, aproximadamente
70%, era proveniente da rede pública de saúde e 30% da
rede particular e convênios.
Tabela 1 - Análise das características demográfi cas das gestantes internadas no HPA
Comparação entre os índices de sífi lis na gestação e sífi liscongênita na região de Catanduva-SP 2017 jul.-dez.; 11(2): 187-192
190Ao analisarmos a incidência de Sífi lis nas
gestantes que deram à luz na Maternidade do HPA,
observa-se um aumento progressivo dos casos de Sífi lis
do primeiro semestre de 2014 para o primeiro semestre
de 2016. Durante o primeiro semestre de 2014 nasceram
vivos 967 bebês e 19 destas mães apresentaram VDRL
positivo, sendo notifi cadas com Sífi lis na Gestação. Esses
dados nos mostram que para cada 1000 recém-nascidos
vivos tiveram 19,5 casos de Sífi lis Materna. A taxa de
transmissão vertical foi de 73,6%, ou seja, 14 bebês
vieram com VDRL positivo, uma incidência de 14,5 recém-
nascidos com Sífi lis Congênita para cada 1000 nascidos
vivos. Essa incidência torna-se maior no primeiro semestre
de 2015, quando chega a 22 casos de gestantes com Sífi lis
para cada 1000 nascimentos de bebês NV e 12 destes
bebês nasceram com Sífi lis Congênita, uma transmissão
vertical de 54,5%.
Os dados referentes ao primeiro semestre de 2016
servirão para nos alarmar ainda mais sobre a epidemia de
Sífi lis que assola nossa região, pois a incidência de Sífi lis
na gestação foi ainda maior, com 26 casos para cada 1000
nascidos vivos (Tabela 2), evidenciando um aumento
de 35% dos casos de Sífi lis em gestantes de 2014 para
2016. Mesmo ciente desses números já elevados em 2014,
observa-se um aumento mais expressivo dos casos de
Sífi lis em gestantes entre 2015 e 2016 quando comparado
com o aumento entre 2014 e 2015, fato preocupante, pois
nos remete a questionar a efetividade e a adesividade
desta população às medidas de saúde pública para
prevenção da Sífi lis.
Quanto à transmissão vertical da Sífi lis, notamos
uma queda quando comparamos o 1º semestre de 2014
(73,6%) com o mesmo período de 2015 (54,5%), porém
se eleva novamente em 2016 (63%). Tal fato pode estar
relacionado com a falta de penicilina que sofremos em
2015, porém mais estudos deverão ser realizados que
corroborem para essa afi rmativa.
Ainda em relação à população de gestantes
estudadas, cerca de 70% pertenciam ao SUS e 30% eram
provenientes do atendimento prestado por convênios
médicos ou particulares. Todos os casos notifi cados de
Sífi lis nas gestantes atendidas na Maternidade do HPA
pertenciam ao SUS. Não foi notifi cado nenhum caso
de Sífi lis Materna ou Sífi lis Congênita nas gestantes de
particulares e/ou convênios. Mais uma vez teremos que
questionar o atendimento às gestantes no SUS, sua
adesividade ao pré-natal, o tratamento adequado desta
gestante e do parceiro diante da Sífi lis para melhorar esses
nossos índices.
Com o presente estudo conseguimos verifi car
o aumento da incidência de Sífi lis nas gestantes e nos
recém-nascidos em nossa maternidade, sendo que as
variáveis que poderiam estar direta ou indiretamente
relacionadas a esse aumento expressivo merecem ser
investigadas e diagnosticadas para adotarmos estratégias
mais específi cas de controle desta doença, principalmente
nos grupos populacionais socialmente mais vulneráveis,
que são os mais afetados pela Infecção Treponêmica e
que mais se benefi ciariam destas intervenções.
DISCUSSÃO
A Sífi lis permanece como um relevante
problema de saúde pública no Brasil e em outros países,
Tabela 2 - Incidência de gestantes com sífi lis na gestação e incidência de recém-nascidos com sífi lis congênita
Comparação entre os índices de sífi lis na gestação e sífi liscongênita na região de Catanduva-SP2017 jul.-dez.; 11(2): 187-192
191principalmente os da América Latina. Tendo em vista que se
trata de uma moléstia infectocontagiosa com transmissão
vertical, torna-se necessário uma intervenção imediata
para reduzir ao máximo a possibilidade de contágio fetal e
suas complicações13.
Dados epidemiológicos recentes chamam atenção
para o aumento da incidência tanto Materna quanto
Congênita da Sífi lis, o que pode ser apontado como uma
falha na qualidade da assistência ao pré-natal, apesar das
diversas ações estabelecidas ao longo do tempo pelo MS,
como o uso de protocolos de atendimento especifi co às
gestantes com diagnóstico de Sífi lis estabelecido em todo
território nacional, na tentativa de combater esse avanço13.
Quando não diagnosticada e/ou não tratada
adequadamente, a Sífi lis Congênita pode resultar em
prematuridade, desenvolvimento de sintomas da doença
no bebê com complicações severas, além de aborto
espontâneo, natimorto e morte perinatal14. O não
diagnóstico correto é uma limitação na comparação dos
dados, já que difi culta a inclusão de casos de abortamento
por Sífi lis. Em base de dados nacionais, casos de abortos e
natimortos por Sífi lis Congênita são subnotifi cados, o que
limita uma análise mais precisa15.
A meta estabelecida pela OMS é de 0,5 casos de
Sífi lis Materna para cada 1000 nascidos vivos. Segundo o
boletim epidemiológico de 2016 divulgado pelo MS, entre
os anos 2014 e 2015 houve um aumento da Sífi lis em
gestantes brasileiras de 20,9%8. Tal evidência se confi rma
com os resultados obtidos neste estudo, o qual registrou
um aumento de 16% da Sífi lis Materna no período
equivalente e foi piorando esses índices para 23% de 2015
para 2016.
A incidência de bebês com Sífi lis Congênita no
Brasil em 2015 foi de 6,5 casos para cada 1000 nascidos
vivos (NV), ou seja, 13 vezes maior do que o preconizado
pela OMS e 170% a mais do que registrado em 2010,
antes desta epidemia11. Em nossa região, esses valores são
ainda mais assustadores, pois nossa incidência em 2014
foi de 14,5 casos para cada 1000NV, caiu para 12 casos
em 2015 e aumentou novamente em 2016, chegando a
16 casos para cada 1.000 nascidos vivos. Esses dados nos
colocam 32 vezes acima do idealizado pela OMS, seguindo
a tendência epidemiológica nacional11.
Conforme foi confi rmado por nota informativa
emitida pelo MS em 201516, o desabastecimento nacional
de penicilinas, em decorrência da falta de matéria-prima
específi ca para a sua produção no mercado global, poderia
justifi car a falha no tratamento adequado para Sífi lis,
acarretando o aumento na incidência desta moléstia no
período subsequente, em 2016, e contribuído para elevar
casos de Sífi lis Materna e, por conseguinte, elevar o
número de casos de Sífi lis Congênita.
No Brasil, os casos registrados de Sífi lis em
gestantes nos últimos cinco anos foram de 3,7 para 11,2
casos a cada 1.000 NV, um aumento de 202%. Ao longo
de 2013 a taxa de detecção da doença em mulheres
grávidas era de 7,4 infectadas para cada 1.000 NV. Já
em 2014, apenas nos primeiros seis meses, a taxa de
detecção foi cerca de 9,7 casos em gestantes para cada
1.000 NV17. Em nosso serviço, os dados obtidos são ainda
mais alarmantes, pois no primeiro semestre de 2014
tivemos 19,5 casos de Sífi lis Materna para cada 1000NV;
em período semelhante de 2015 esse número foi para 22
gestantes que deram à luz em vigência da Sífi lis para cada
1.000 NV, e no respectivo período de 2016 tornou-se ainda
mais alarmante, chegando à incidência de 26 casos para
cada 1.000 NV.
Ao compararmos as incidências de Sífi lis Materna
na gestação e Sífi lis Congênita notamos um expressivo
aumento na incidência de Sífi lis nas gestantes quando
comparados com o aumento de Sífi lis Congênita no mesmo
período de avaliação. Uma limitação específi ca deste
estudo foi o difícil acesso aos prontuários de gestantes
com assistência médica particular, sendo necessária uma
busca pelos casos de notifi cação compulsória registrados
pela Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH)
do HPA para confi rmação de que não houve diagnóstico
de Sífi lis nas gestantes provenientes dos atendimentos
particulares e/ou convênios. Esse fato também gera
preocupação com esta população específi ca de gestantes,
pois podemos estar diante de subnotifi cações por falhas
na investigação diagnóstica para Sífi lis nas mesmas, uma
vez que nem sempre os protocolos são seguidos à risca
por profi ssionais da rede privada de atendimento à saúde.
CONCLUSÃO
Para 2016, o governo brasileiro trabalha com a
projeção de que as notifi cações de Sífi lis em gestantes
cheguem a quase 42 mil casos no país, enquanto as
infecções por Sífi lis Congênita deverão superar 22 mil casos
Comparação entre os índices de sífi lis na gestação e sífi liscongênita na região de Catanduva-SP 2017 jul.-dez.; 11(2): 187-192
192entre menores de um ano15. Em razão deste crescimento
epidemiológico alarmante dos casos de Sífi lis é necessário
um atual e melhor entendimento sobre a sua incidência
nos diferentes níveis socioeconômicos da população em
geral e, mais especifi camente, nas gestantes atendidas
não apenas na rede pública de saúde, onde os protocolos
já são estabelecidos pelo MS, mas também sejam
igualmente exigidos nas redes particulares/convênios, em
todas as regiões do Brasil.
Apesar das atuais políticas de saúde pública
e das estratégias utilizadas, esses números continuam
crescendo cada vez mais e acometendo um grande
número de bebês, conforme demonstrado neste trabalho.
Não obstante a isso, ainda temos que lidar com a falta
de abastecimento da Penicilina Cristalina e/ou Penicilina
Procaína usadas no tratamento de escolha para os bebês
que nascem com Sífi lis.
Enfi m, estamos diante de uma doença descrita
pela primeira vez há 500 anos, porém que ainda nos
desafi a e está cada vez mais em evidência nos dias de
hoje.
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Recebido em: 15/03/2017Aceito em: 29/07/2017
Comparação entre os índices de sífi lis na gestação e sífi liscongênita na região de Catanduva-SP2017 jul.-dez.; 11(2): 187-192
1932017 jun.-dez.; 11(2): 193-197A metodologia Q na investigação em enfermagem:fundamentos, adequação e oportunidades
A METODOLOGIA Q NA INVESTIGAÇÃO EM ENFERMAGEM: FUNDAMENTOS, ADEQUAÇÃO E OPORTUNIDADES
THE Q METHODOLOGY IN NURSING RESEARCH: FUNDAMENTALS, ADEQUACY AND OPPORTUNITIES
LA METODOLOGÍA Q EN LA INVESTIGACIÓN EN ENFERMERÍA: FUNDAMENTOS, ADECUACIÓN Y OPORTUNIDADES
* Estudante do Doutoramento em Enfermagem do Instituto de Ciências da Saúde, Universidade Católica Portuguesa. Mestre em Gestão dos Serviços de Saúde, Especialista em Enfermagem Médico-Cirúrgica, Licenciada em Enfermagem. Contato: susanasamiguel@gmail.com** Doutora em Enfermagem. Mestre em Bioética, Especialista em Enfermagem de Saúde Infantil e Pediátrica, Licenciada em Enfermagem.
ResumoIntrodução: A metodologia Q visa explorar e compreender a riqueza dos fenômenos humanos subjetivos. Enquanto método, é mista e congrega os pontos fortes das dimensões qualitativas e quantitativas, utilizando um conjunto distinto de princípios psicométricos e operacionais. Objetivo: Explorar e descrever a metodologia Q, contextualizar e discutir a sua utilização e adequação na investigação em enfermagem, em particular no estudo de fenômenos subjetivos. Materiais e Métodos: Estudo teórico-refl exivo, baseado na literatura científi ca e análise crítica dos autores. Resultados: Metodologia com vasta aplicação em diversos contextos, desde o meio hospitalar, educação em enfermagem, cuidados de saúde primários, saúde pública e lares. Permite estudar diversos tipos de participantes em simultâneo, conhecendo a perspetiva subjetiva dos diversos intervenientes. Conclusão: A metodologia Q tem sido usada na investigação em enfermagem a nível internacional para o estudo de fenômenos subjetivos, em diferentes contextos. É um tipo de metodologia que permite integrar procedimentos qualitativos e quantitativos, facilitando a compreensão de repostas humanas subjetivas referentes ao processo de saúde/doença.
Palavras-chave: Pesquisa em enfermagem. Pesquisa metodológica em enfermagem. Metodologia Q. Q-Sort.
AbstractIntroduction: The Q methodology seeks to explore and understand the richness of subjective human phenomena. As a method, it’s mixed and brings together the strengths of the qualitative and quantitative dimensions, using a distinct set of psychometric and operational principles. Objective: To explore and to describe the Q methodology, as well as to contextualize and discuss its utilization and its adequacy for the investigation in nursing, especially in the study of subjective phenomena. Materials and Methods: It is a theoretical-refl exive study, based on the scientifi c literature and on the critical analysis of the authors. Results: Methodology with wide application in different contexts, from the hospital environment, nursing education, primary health care, public health and nursing homecare. It allows to study simultaneously several types of participants, knowing the subjective perspective of the different intervenient. Conclusion: The Q methodology has been used in nursing research at an international level to study subjective phenomena in different contexts. It is a type of methodology that allows the integration of qualitative and quantitative procedures, facilitating the understanding of subjective human responses regarding the health/disease process.
Keywords: Nursing research. Nursing methodology research. Q methodology. Q-Sort.
ResumenIntroducción: La metodología Q pretende explorar y comprender la riqueza de los fenómenos humanos subjetivos. Como método, es mixta y congrega los puntos fuertes de las dimensiones cualitativas y cuantitativas, utilizando un conjunto distinto de principios psicométricos y operativos. Objetivo: Explorar y describir la metodología Q, contextualizar y discutir su utilización y adecuación en la investigación en enfermería, en particular en el estudio de fenómenos subjetivos. Materiales y Métodos: Estudio teórico-refl exivo, basado en la literatura científi ca y análisis crítico de los autores. Resultados: Metodología con amplia aplicación en diversos contextos, desde el medio hospitalario, educación en enfermería, atención de salud primaria, salud pública y hogares. Permite estudiar varios tipos de participantes al mismo tiempo, conociendo la perspicacia subjetiva de los diversos actores. Conclusión: La metodología Q ha sido utilizada en la investigación en enfermería a nivel internacional para el estudio de fenómenos subjetivos, en diferentes contextos. Es un tipo de metodología que permite integrar procedimientos cualitativos y cuantitativos, facilitando la comprensión de las respuestas humanas subjetivas referentes al proceso de salud/enfermedad.
Palabras clave: Investigación en enfermería. Investigacíon metodológica en enfermería. Metodología Q. Q-Sort.
Susana Miguel*, Sílvia Caldeira**
194 A metodologia Q na investigação em enfermagem:fundamentos, adequação e oportunidades2017 jun.-dez.; 11(2): 193-197
INTRODUÇÃO
A investigação permite o desenvolvimento de
evidência científi ca necessária à fundamentação dos
cuidados de enfermagem. Os enfermeiros participam em
investigação e, consequentemente, no desenvolvimento do
conhecimento de enfermagem, procurando desenvolver,
aperfeiçoar e ampliar o conhecimento científi co. Têm a
responsabilidade de implementar uma prática baseada
na evidência, garantindo que as pessoas são cuidadas
de acordo a melhor prática esperada e assegurando que
os cuidados e os tratamentos recebidos têm por base o
melhor conhecimento e o uso efi ciente dos recursos.
Ao longo dos anos o conhecimento em enfermagem
tem emergido a partir de estudos que assentam numa
abordagem qualitativa ou quantitativa, utilizada de
forma individual ou combinada. Porém, novas formas de
estudar os problemas têm vindo a evidenciar-se como, por
exemplo, o uso de métodos mistos (mixed methods), cujos
estudos permitem aos investigadores, incluindo na área de
enfermagem, explorar um fenômeno com maior detalhe
e estudar os fenômenos mais complexos e subjetivos1.
Também a metodologia Q foi, recentemente, considerada
um método misto2.
Os métodos de investigação utilizados em
enfermagem têm origem em outras disciplinas do
conhecimento. Nomeadamente, e entre os métodos
de natureza qualitativa, o método fenomenológico ou
fenomenologia teve a sua origem na fi losofi a, a etnografi a
é originária da antropologia, e a “grounded theory” ou
teoria fundamentada nos dados é uma metodologia que
surgiu das ciências sociais3. Ao focar a investigação em
enfermagem, decorridos mais de trinta anos, Dennis4
já tinha mencionado que o investigador nesta área do
conhecimento dispõe de várias ferramentas metodológicas
que incluem pesquisas, estudos experimentais ou quase-
experimentais, métodos etnográfi cos e uma variedade
de abordagens descritivas. Acrescenta que o uso da
metodologia Q poderia melhorar a riqueza das alternativas
para o desenvolvimento do conhecimento em enfermagem.
Esta refl exão tem como questão principal: será a
metodologia Q adequada ao estudo da investigação em
enfermagem? Assim, pretende-se explorar e descrever a
metodologia Q, contextualizar e discutir a sua utilização
e adequação na investigação em enfermagem, em
particular no estudo de fenômenos subjetivos. Para
tal, foram pesquisados diferentes estudos em bases de
dados internacionais que utilizaram esta metodologia,
foi consultada literatura teórica e foi realizada formação
específi ca sobre a metodologia.
MÉTODO
O uso da Metodologia Q em investigação
A metodologia Q surgiu em 1935, por William
Stephenson, físico e psicólogo, através de uma publicação
científi ca na revista Nature. Surgiu com um potencial
inovador ao propor a adaptação de um método de análise
fatorial de Charles Spearmen com o objetivo de estudar
a associação entre uma série de variáveis mensuráveis5.
Stephenson criou a metodologia Q com vista ao estudo
dos fenômenos humanos subjetivos6. O grande impulso
do uso desta metodologia prendeu-se com o crescente
desenvolvimento de software específi co de recolha e
tratamento de dados5. Várias têm sido as áreas na
investigação onde a metodologia Q tem sido usada,
desde a indústria, a educação, a política, a sociologia
ou a antropologia7. Partindo de opiniões e experiências
individuais, a metodologia Q visa explorar e compreender
a riqueza dos fenômenos humanos subjetivos4.
Este método compreende dimensões qualitativas e
quantitativas, utilizando um conjunto distinto de princípios
psicométricos e operacionais que, conjugados com
aplicações estatísticas de técnicas correlacionais e análise
fatorial, fornece resultados a partir de um procedimento
sistemático e rigorosamente quantitativo para examinar
componentes subjetivos do comportamento humano8.
A metodologia Q permite a investigação em
enfermagem de fenômenos subjetivos e qualitativos
de forma mais estruturada6, e parece oferecer algumas
vantagens, na medida em que a identifi cação de opiniões
dos participantes de uma forma fi ável tem o potencial de
ajudar os enfermeiros na procura de uma prática baseada
na evidência e em resposta às reais necessidades dos
pacientes9.
Procedimentos metodológicos e software
A construção de uma boa questão de investigação
deve ter em conta a natureza do próprio método, deve ser
mantida simples, clara, concisa, direta, e só deve conter
uma proposição5. Watts e Stenner5, tendo por base os
estudos de Curt (1994), apresentam duas maneiras de
195estruturar a questão de investigação, particularmente para
a utilização da metodologia Q. A primeira refere que a
questão de investigação deve focar-se num dos seguintes
itens:
a) representação do assunto (leva os
participantes a refl etirem sobre como determinada
questão ou tópico é percebido no seio de um
grupo, instituição ou cultura);
b) compreensão do assunto (sugere
um foco mais pessoal, num período de tempo
específi co);
c) conduta em relação ao assunto
(procurar respostas a um assunto subjetivo,
que pode ser feito em relação a determinado
assunto ou ao que constitui um comportamento
adequado).
A segunda forma de defi nir a questão de
investigação envolve as seguintes categorias: causas e
razões; defi nições; reações, respostas ou políticas. Estamos
perante uma estrutura temporal de “antes, durante e
após”. Os autores consideram que o foco da questão de
investigação será em aspetos como “what makes someting
happen”(o que fez com que algo aconteça), “what it is like
right now” (como é esse fenômeno atualmente), ou “what
we should do about it” (o que podemos fazer em relação
a isso). Este tipo de questão de estrutura da investigação
aproxima-se das necessidades de investigação em
enfermagem, considerando a subjetividade e complexidade
dos fenômenos habitualmente em estudo. Assim, são
necessários métodos de pesquisa que combinem um
suporte teórico e uma componente prática para fornecer
contribuições para cuidados de enfermagem mais seguros
e próximos das reais necessidades da pessoa em todas
as suas dimensões, que a metodologia Q disponibiliza10.
Percebida a construção da questão que irá orientar o
estudo, importa compreender as várias etapas da aplicação
da metodologia Q.
A realização de um estudo com esta metodologia
engloba cinco passos fundamentais11,12.
Figura 1 – Etapas da metodologia Q
Fonte: adaptado e traduzido de Miguel et al.10
Construção do concourse
O concourse resulta da confl uência de informação
em torno do tema em estudo, que deve confi gurar-se com
uma lista de declarações e pode ter origem em diferentes
fontes13, tais como: revisão da literatura, entrevistas, focus
group, narrativas escritas, revisão por pares ou questionários.
2017 jun.-dez.; 11(2): 193-197A metodologia Q na investigação em enfermagem:fundamentos, adequação e oportunidades
1961. Desenvolvimento da amostra Q (Q sample ou Q set)
Depois de criar uma lista representativa de
declarações, que podem ter por base as diferentes fontes
(concourse), o próximo passo é condensar essa lista,
procurando retirar declarações duplicadas e reduzir a
ambiguidade. O produto fi nal é a amostra Q (Q sample).
2. Seleção do P set
Ao conjunto de participantes denomina-se P
sample ou P set, aos quais é apresentado o conjunto
de declarações (Q sample), e são eles que irão ordenar
as afi rmações em função do grau de concordância. Os
participantes deverão, numa primeira fase, dividir os
itens em três categorias: concorda, discorda e neutros5,7.
Posteriormente, cada participante deverá ordenar
as afi rmações de acordo com uma instrução (que
normalmente representa o ponto de vista, atitude, ou
seja, o fenômeno em estudo). A metodologia Q tem como
vantagem o fato de permitir estudar diferentes pessoas
com diferentes origens5 e que podem integrar o mesmo
Q Sample, como por exemplo, doentes e enfermeiros,
professores e estudantes, enfermeiros e outros grupos
profi ssionais. Assim, o investigador poderá ter diferentes
perspectivas sobre um mesmo fenômeno subjetivo.
3. Q sorting
Esta fase consiste na ordenação de um conjunto
de cartões pelos participantes. Os cartões são numerados
aleatoriamente e contêm afi rmações que o participante
deve ordenar em função do grau de concordância que
representa o ponto de vista/opinião sobre o tema em
estudo. É um meio de capturar a subjetividade de forma
confi ável, científi ca e experimental5,7.
4. Análise e interpretação
Por fi m, a análise e interpretação dos dados é
realizada através do uso de software específi co já disponível
no mercado como, por exemplo: o Flash Q, (com acesso
gratuito e que permite a utilização em vários idiomas –
usado para fazer a recolha dos Q sort online); o Q Assessor
(permite realizar todo o processo, com subscrição);
ou o PCQ for Windows (compatível com Windows, com
subscrição)5. Em termos estatísticos é realizada a análise
fatorial que permite revelar as potenciais associações
entre as variáveis mensuráveis5.
RESULTADOS
A metodologia Q na investigação em enfermagem
McKeown e Thomas8 defi nem a subjetividade
como a comunicação de uma pessoa sobre um ponto de
vista relacionado com qualquer questão de importância
social ou pessoal. Os desenvolvimentos teóricos e de
investigação nos últimos anos levaram à procura de novas
e melhores formas de estudar a subjetividade e, neste
sentido, a metodologia Q parece ser uma abordagem
promissora e adequada também à enfermagem. Trata-se
de um método misto que congrega os pontos fortes das
abordagens qualitativas e quantitativas.
Esta metodologia tem por base o pressuposto
de que os fenômenos subjetivos são transmissíveis e
acessíveis à análise sistemática9. Embora seja, muitas
vezes, confundida com métodos quantitativos, fornece
ao “investigador qualitativo” ferramentas poderosas para
investigar as diversas experiências e percepções subjetivas
dos participantes14. Pode ser utilizada para estudar
diferentes fenômenos subjetivos, tais como atitudes,
opiniões, percepções, perspetivas ou crenças.
Na literatura analisada, esta metodologia foi
aplicada anteriormente em diferentes contextos, a saber,
educação em enfermagem, meio hospitalar, cuidados de
saúde primários, saúde pública ou lares. Pelo descrito,
evidencia-se a transversalidade da metodologia Q naquela
que é a sua aplicação a diferentes participantes.
Como pontos fortes desta metodologia são
realçados: a combinação de métodos qualitativos e
quantitativos na abordagem dos fenômenos subjetivos12;
o uso de amostras de participantes pequenas, reduzindo
também os custos4. Porém, o tempo necessário para
aplicar esta metodologia (Q sorting) pode ser considerado
como um aspecto menos positivo12. A metodologia Q é,
deste modo, uma metodologia completa que engloba um
conjunto de procedimentos, uma estrutura fi losófi ca e
uma teoria2.
A metodologia Q pode ser uma mais-valia na
área de enfermagem, em que o foco é o ser humano e os
fenômenos subjetivos inerentes às respostas no processo
de saúde/doença, não raras vezes difíceis de mensurar.
Por exemplo, a metodologia Q parece ser adequada para
A metodologia Q na investigação em enfermagem:fundamentos, adequação e oportunidades2017 jun.-dez.; 11(2): 193-197
197os estudos de validação de diagnósticos de enfermagem
relacionados com focos subjetivos, melhorando o nível
de evidência e fornecendo aos enfermeiros indicadores
clínicos para o raciocínio clínico e para o planejamento de
intervenções10.
CONCLUSÃO
A metodologia Q não tem origem na enfermagem,
mas nos últimos anos tem tido um grande crescimento
e impacto em diferentes áreas da enfermagem a nível
internacional, permitindo estudar diferentes fenômenos,
em diferentes grupos populacionais e com diferentes
situações clínicas. O fato de permitir investigar um
mesmo fenômeno sob diferentes perspectivas, por
exemplo, na ótica do doente e/ou prestador de cuidados
e dos profi ssionais, acrescenta valor ao conhecimento de
enfermagem.
A metodologia Q pode dar um forte contributo
em diferentes contextos onde operam enfermeiros,
desde o contexto hospitalar, ao âmbito da educação em
enfermagem, aos cuidados de saúde primários ou mesmo
ao nível da saúde pública, melhorando o potencial dos
enfermeiros para a prática baseada em evidências, para
uma melhor qualidade dos cuidados de enfermagem.
Apesar de esta metodologia ser constituída por
etapas simples, é fundamental que haja uma correta
apropriação dos conceitos e terminologias que lhe são
inerentes. A sua implementação poderá, como se tem
verifi cado noutros países, ser um fator promotor do
desenvolvimento da profi ssão e do conhecimento de
enfermagem.
Confl ito de interesses: os autores declaram que
não há confl ito de interesses.
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Recebido em: 01/04/2017Aceito em: 24/08/2017
2017 jun.-dez.; 11(2): 193-197A metodologia Q na investigação em enfermagem:fundamentos, adequação e oportunidades
198 Streptococcus agalactiae em gestantes dacidade de Campinas-SP2017 jul.-dez.; 11(2): 198-202
STREPTOCOCCUS AGALACTIAE EM GESTANTES DA CIDADE DE CAMPINAS-SP
STREPTOCOCCUS AGALACTIAE IN PREGNANT WOMEN FROM THE CITY OF CAMPINAS-SP
STREPTOCOCCUS AGALACTIAE EN GESTANTES DE LA CIUDAD DE CAMPINAS-SP
* Biomédicas pela Faculdade Integrada Metropolitana de Campinas - DEVRY - METROCAMP.** Possui graduação em Educação Física pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (1986), mestrado em Educação Física pela Universidade Estadual de Campinas (1996) e doutorado em Biologia Funcional e Molecular pela Universidade Estadual de Campinas (2001). Atualmente é professora da DEVRY-METROCAMP, atuando nas disciplinas de Bioquímica, Gestão Laboratorial, Metodologia da Pesquisa Científi ca e Trabalho de Conclusão de Curso. Tem experiência na área de Biologia Geral, com ênfase em Biologia Geral, atuando princi-palmente nos seguintes temas: lipoproteins, smoking, cholesterol, antibodies e cholesteryl ester.*** Graduada em Ciências Biológicas pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas. Possuiu mestrado e doutorado em Ciências de Alimentos pela Universidade Estadual de Campinas. Atualmente é professora titular da DEVRY-METROCAMP, ministrando as disciplinas de microbiologia básica, microbiologia clínica, imunologia e estágio supervisionado em microbiologia e imunologia clínica. Atuou 17 anos no Instituto de Tecnologia de Alimentos no departamento de Microbiologia, onde participou de projetos de pesquisas, organização de cursos, gerência do laboratório e auditoria da qualidade.
ResumoIntrodução: Em 1938, ao ser relacionado a três casos de sepse puerpural, o Streptococcus agalactiae passou a ter sua importância reconhecida em doenças humanas, principalmente no período neonatal. Os Estreptococos beta hemolíticos do grupo B (EGB) pertencem a família Estreptococcaceae, são cocos gram-positivos, anaeróbios facultativos, não produtores de catalase, homofermentadores e produtores de hemolisinas. O trato gastrintestinal é o principal reservatório do Streptococcus agalactiae, podendo colonizar também o trato geniturinário. Nas mulheres coloniza a vagina e o reto. A colonização vaginal ocorre de 10 a 35% nas mulheres grávidas e, dessa porcentagem, 60% das mulheres colonizadas são portadoras intermitentes. Entre os recém-nascidos expostos a esse patógeno, 50 a 75% tornam-se colonizados. É infecção grave e causadora de meningite, sepse neonatal, aborto séptico, endometrite, pielonefrite, sepse puerpural e ruptura prematura de membranas, dentre outras infecções perinatais. Objetivo Geral: Verifi car a prevalência de Streptococcus agalactiae em gestantes na fase pré-natal na cidade de Campinas, durante o período de junho de 2015 a julho de 2016. Material e Método: Estudo quantitativo, retrospectivo e de corte transversal, desenvolvido por meio de dados de um Laboratório de Medicina Diagnóstica (setor de Microbiologia) localizado em Campinas-SP. Resultados: Foram avaliados os resultados de 2.597 gestantes, das quais,1.286 apresentaram resultados negativos durante o 2° semestre de 2015 (49,52%) e 129 (4,96%) resultados positivos. No 1° semestre de 2016, 1.311 (50,48%) pacientes apresentaram resultados negativos, enquanto 210 (8,08%) resultados positivos. Conclusão: Como pode ocorrer a transmissão entre patógeno e feto pelo contato de secreções ou ruptura de membrana aminiótica, recomenda-se triagem e rastreio desse microrganismo no período gestacional.
Palavras-chave: Streptococcus agalactiae. Sepse neonatal. Gestantes. Neonatos.
AbstractIntroduction: In 1938, when fi rst related to three cases of puerperal sepsis, the Streptococcus agalactiae became to have recognized its importance in human disease, especially in the neonatal period. The group B beta hemolytic streptococci (GBS) belong to Estreptococcaceae family, being gram-positive cocci, facultative anaerobes, not catalase producers, homofermenters and hemolysin producers. The gastrointestinal tract is the main reservoir of Streptococcus agalactiae, that may also colonize the genitourinary tract. In women, it colonizes the vagina and the rectum. The vaginal colonization occurs in 10-35% of pregnant women and 60% of the colonized women are intermittent carriers. Among the newborn exposed to this pathogen 50 to 75% become colonized. It is a serious infection that causes meningitis, neonatal sepsis, septic abortion, endometritis, pyelonephritis, puerperal sepsis and premature membranes rupture, among other perinatal infections. Objective: To verify the incidence of Streptococcus agalactiae in pregnant women from the city of Campinas, in the prenatal stage, during the period from June 2015 to July 2016. Material and Method: It is a quantitative, retrospective and cross-sectional study, developed through data from a Laboratory of Diagnostic Medicine (Microbiology sector) located in Campinas-SP. Results: We evaluated the results of 2,597 pregnant women, 1286 of which presented negative results during the second semester of 2015 (49.52%), while 129 (4.96%) were positive. In the fi rst half of 2016, 1311 (50.48%) patients presented negative results, while 210 (8.08%) had positive results. Conclusion: Once transmission between pathogen and fetus can occur through secretions contact or amniotic membrane rupture, it is recommended to trace and screen this microorganism in the gestational period.
Keywords: Streptococcus agalactiae. Neonatal sepsis. Pregnant women. Neonates.
ResumenIntroducción: En 1938, al ser relacionado con tres casos de sepsis puerpural, el Streptococcus agalactiae pasó a tener su importancia reconocida en enfermedades humanas, principalmente en el período neonatal. Los estreptococos beta hemolíticos del grupo B (EGB) pertenecen a la familia Estreptococcaceae, son cocos gram-positivos, anaeróbios facultativos, no productores de catalasa, homofermentadores y productores de hemolisinas. El tracto gastrointestinal es el principal reservorio del Streptococcus agalactiae, pudiendo colonizar también el tracto genitourinario. En las mujeres coloniza la vagina y el recto. La colonización vaginal ocurre de 10 a 35% en las mujeres embarazadas y, de ese porcentaje, el 60% de las mujeres colonizadas son portadoras intermitentes. Entre los recién nacidos expuestos a ese patógeno, del 50 al 75% se han colonizado. Es una infección grave y causante de meningitis, sepse neonatal, aborto séptico, endometritis, pielonefritis, sepse puerpural y ruptura prematura de membranas, entre otras infecciones perinatales. Objetivo General: Verifi car la incidencia de Streptococcus agalactiae en gestantes en la fase prenatal en la ciudad de Campinas, durante el período de junio de 2015 a julio de 2016. Material y Método: Estudio cuantitativo, retrospectivo y de corte transversal, desarrollado por medio de datos de un Laboratorio de Medicina Diagnóstica (sector de Microbiología) ubicado en Campinas-SP. Resultados: Se evaluaron los resultados de 2597 gestantes, de los cuales, 1286 presentaron resultados negativos durante el segundo semestre de 2015 (49,52%) y 129 (4,96%) resultados positivos. En el 1er semestre de 2016, 1311 (50,48%) pacientes presentaron resultados negativos, mientras que 210 (8,08%) resultados positivos. Conclusión: Como puede ocurrir la transmisión entre patógeno y feto por el contacto de secreciones o ruptura de membrana aminiótica, se recomienda tamizaje y rastreo de ese microorganismo en el período gestacional.
Palabras clave: Streptococcus agalactiae. Sepse neonatal. Las mujeres embarazadas. Neonatos.
Jessica Aparecida Paiva*, Taina Zanini Silva*, Patricia Alves Ferreira*, Águeda Cleofe Marques Zaratin**, Rosana Francisco Siqueira dos Santos***
1992017 jul.-dez.; 11(2): 198-202Streptococcus agalactiae em gestantes dacidade de Campinas-SP
RESULTADOS
Antes de ser reconhecido como patógeno humano,
o Streptococcus agalactiae teve grande importância na
medicina veterinária por ser o agente causador da mastite
bovina. Todavia, em 1938, ao ser relacionado a três casos
de sepse puerperal, o Streptococcus agalactiae passou a
ter sua importância reconhecida em doenças humanas,
principalmente no período perinatal. Atualmente, é
considerada uma grave infecção causadora de meningite,
sepse neonatal, aborto séptico, endometrite, pielonefrite,
sepse puerperal e ruptura prematura de membranas,
além de outras infecções perinatais. Ao reconhecer esse
problema, em 1996, o Center for Disease Control (CDC)
publicou um relatório de normas e recomendações com a
fi nalidade de prevenir as doenças perinatais causadas por
Streptococcus agalactiae1.
Os estreptocococos beta hemolíticos do grupo
B (EGB), pertencentes a família Estreptococcaceae,
apresentam como características serem cocos gram-
positivos, anaeróbios facultativos, não produtores de
catalase, homofermentadores (fermentam a lactose
produzindo ácido láctico), além de produtores de
hemolisinas2.
Sua parede celular é composta primariamente
por peptideoglicano, no qual são inseridos diversos
carboidratos, ácidos tecoicos, lipoproteínas e antígenos
proteicos de superfície (Streptococcus em geral). Pelo fato
de apresentar carboidrato antigênico de superfície celular,
é classifi cado sorologicamente no sistema de grupamento
de Lancefi eld. O EGB apresenta o antígeno B que é
composto por ramnose-glicosamina fi xado a camada de
peptideoglicano. O sistema de grupamento de Lancefi eld
é baseado no polissacarídeo encontrado na parede celular
do Estreptococos beta-hemolítico, dividido em grupos A,
B, C, F e G de seres humanos, ou em ácidos lipoteicoicos
da parede celular de Estreptococos do grupo D e espécies
de Enterococcus3.
Por produzirem hemolisinas quando presentes
em meio enriquecido com sangue, esses microrganismos
podem ser classifi cados em alfa-hemólise (lise parcial das
hemácias), beta-hemólise (lise total das hemácias) e gama
(ausência de hemólise)2.
O trato gastrintestinal é o principal reservatório
do Streptococcus agalactiae, podendo colonizar também
o trato geniturinário. Nas mulheres, esse microrganismo
coloniza a vagina e o reto. A colonização vaginal ocorre de 10
a 35% nas mulheres grávidas e, dessa porcentagem, 60%
das mulheres colonizadas são portadoras intermitentes3.
Geralmente, a colonização por EGB em gestantes
é assintomática, causando infecções urinárias em 3% a
4% de gestantes durante a gestação. No Brasil, a taxa
de colonização encontrada em gestantes varia de 5% a
25%, podendo apresentar maior prevalência em mulheres
gestantes com idade inferior a vinte anos e com baixo nível
de escolaridade. Mundialmente, esta taxa de colonização
por Streptococcus agalactiae varia de 3% a 45%4.
Entre os recém-nascidos que foram expostos
ao Streptococcus agalactiae (EGB), 50% a 75% tornam-
se colonizados. De todas as mães portadoras do
microrganismo, a porcentagem de recém-nascidos que
irão desenvolver doença invasiva de início precoce varia
de 1% a 2%4.
A colonização pelo trato gastrointestinal é mais
frequente que a colonização através do trato geniturinário,
podendo se apresentar na forma crônica, intermitente ou
transitória. A transmissão de Streptococcus agalactiae para
o recém-nascido pode ocorrer de várias maneiras, sendo
a mais comum a transmissão vertical no trabalho de parto
causada pela ruptura das membranas ou contato com
secreções maternas.
A frequência de colonização pelo EGB durante
a gravidez é variável de acordo com as diferenças
socioculturais, geográfi cas e com as metodologias
bacteriológicas empregadas5.
A doença fetal por EGB pode ocorrer de forma
precoce ou tardia, dependendo do início da sintomatologia.
A de início precoce ocorre logo após o nascimento e
representa 85% das infecções neonatais causadas por
EGB, causando manifestações clínicas desde as primeiras
horas de vida até o sétimo dia de nascimento, com média
de 20 horas. A incidência varia de 0,7 a 3,7/1000 nascidos
vivos, sendo que a apresentação clínica inicial em 89%
dos casos é sepse com ou sem pneumonia. A meningite
também pode ocorrer em 10% dos recém-nascidos com
infecção precoce6.
O risco de neonatos apresentarem infecção
precoce é de dez a quinze vezes maior em recém-nascidos
prematuros. Isso ocorre porque o neonato apresenta
menor concentração de imunoglobulina IgG e imaturidade
anatômica e bioquímica, fazendo com que ocorra a
200multiplicação mais rápida do Streptococcus agalactiae,
causando maior evolução da doença1.
A doença de início tardio que afeta recém-nascidos
com idade maior que sete dias, podendo ocorrer até os
três meses de vida, tem como principal manifestação
clínica a meningite com incidência de 0,5 a 1,8/1000
nascidos vivos6.
O CDC validou em 2010 uma diretriz baseada
nas evidências existentes de prevenção perinatal por GBS
e reforçou as recomendações de triagem universal no
terceiro trimestre de gestação, uniformizando, também, os
métodos laboratoriais para a detecção do GBS. A principal
medida para a prevenção da infecção por EGB é identifi car
e tratar profi laticamente as gestantes, evitando problemas
puerperais, principalmente, infecção neonatal precoce1.
Esse protocolo envolve coleta de amostras de
swab vaginal e retal colocados em caldo Todd-Hewitt com
10 ug/mL de ácido nalidíxico e 15 ug/ml de colistina e
10 mg de extrato de levedura, incubado durante 18
a 24 horas. Após a incubação, o caldo é semeado em
ágar sangue e incubado durante 18-24 horas. As placas
serão incubadas novamente por mais um dia se não for
detectado nenhum estreptococo do grupo B. Se positivo,
são identifi cados pelo teste de CAMP3.
O teste de CAMP visa a identifi cação do
Streptococcus agalactiae. As cepas produtoras desse
microrganismo produzem o fator CAMP que atua
sinergicamente com a β-hemolisina produzida pelo
Staphylococcus aureus em ágar sangue, fazendo com
que ocorra a formação de uma “seta” no meio de
cultura. Em seguida, é realizado o teste de sensibilidade
aos antibióticos: clindamicina, eritromicina, ampicilina,
penicilina e vancomicina3.
Em 1970, ocorreram os primeiros casos de
doença estreptocócica em recém-nascidos, com uma taxa
de mortalidade em até 50% dos casos. Esses dados foram
demonstrados em pesquisas realizadas nos Estados Unidos
da América. Em 1980, a taxa de mortalidade neonatal
diminuiu em 15%. Em 1990, a redução da mortalidade
atingiu de 4 a 6%6.
Tal fato ocorreu por causa do rastreamento e
profi laxia com antibióticos em gestantes colonizadas pelo
Streptococcus agalactiae horas antes do parto. Por conta
dos esforços de pesquisadores, médicos, organizações
profi ssionais e políticas da saúde, foi proposto em 1996
um protocolo de condutas do CDC. Esse protocolo de
profi laxia contra a doença estreptocócica era composto
de duas estratégias. A primeira consistia no rastreamento
universal de todas as gestantes entre a 35a. e 37a. semana
de gestação e o uso de antimicrobianos paras as gestantes
portadoras do S. agalactiae, no momento do trabalho de
parto. A segunda era baseada na identifi cação de fatores
de riscos obstétricos durante o trabalho de parto. Dentre
eles, a febre intraparto, tempo de ruptura das membranas
amnióticas superior ou igual a 18 horas, trabalho de
parto antes da 37a. semana de gestação, infecção do
trato urinário causado por Streptococcus agalactiae
durante a gestação ou doença estreptocócica em recém-
nascidos anteriores. Esses fatores de risco determinam
no momento da internação o uso de antibióticos como
medida preventiva6.
A American Academy of Pediatrics propôs o
rastreamento universal da colonização pelo EGB de todas
as gestantes como forma mais efetiva de prevenir a sepse
causada por esse microrganismo. Em 2002, o CDC validou
esse protocolo de prevenção da infecção perinatal causada
pelo EGB. Depois de ter sido proposto e implementado esse
rastreamento houve uma redução de 33% na incidência
da doença invasiva de início precoce nos EUA6.
OBJETIVO
Este estudo teve por objetivo verifi car a
prevalência de Streptococcus agalactiae em mulheres
gestantes, na fase pré-natal, na cidade de Campinas-SP,
durante o período de junho de 2015 a julho de 2016. Com a
realização deste trabalho, espera-se que os dados obtidos
contribuam positivamente para a prevenção e profi laxia
do Streptococcus agalactiae em mulheres gestantes, ao
fornecer estatísticas atuais sobre a prevalência do mesmo.
MÉTODO
Estudo retrospectivo, com abordagem
quantitativa e de corte transversal. Baseou-se em dados
de um Laboratório de Medicina Diagnóstica (setor de
Microbiologia) localizado em Campinas-SP, referência
para a região Metropolitana. A fi nalidade foi analisar
a prevalência de Streptococcus agalactiae em 2.597
pacientes mulheres gestantes, em qualquer faixa etária
e idade gestacional, durante o período de junho 2015 a
julho 2016. Não houve acesso a quaisquer informações
Streptococcus agalactiae em gestantes dacidade de Campinas-SP2017 jul.-dez.; 11(2): 198-202
201adicionais sobre as pacientes, pois a pesquisa se restringiu
à existência ou ausência do microrganismo. Os dados
foram organizados com base em análise descritiva e
univariada. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética
em Pesquisa sob número 59923316.6.0000.5374.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
As amostras das gestantes para o rastreio do
Streptococcus agalactiae foram coletadas da região
vaginal/anal, sendo somente 3 (três) da região anal. Ao
realizar o levantamento estatístico dos resultados dessas
pacientes,1.286 apresentaram resultados negativos
durante o 2° semestre de 2015 (49,52%) e 129 (4,96%)
apresentaram resultados positivos durante o mesmo
período. No 1° semestre de 2016, 1.311 (50,48%)
pacientes apresentaram resultados negativos, enquanto
210 (8,08%) apresentaram resultados positivos (Gráfi co
1).
Gráfi co 1 – Relação das pacientes atendidas/positividade durante o perío-do de junho de 2015 a julho de 2016
Gráfi co 2 – Relação de positividade do EGB nas regiões vaginal/anal e somente anal durante o período de 13 meses
Estes dados estão de acordo com os resultados
apresentados em vários estudos em diferentes regiões do
país. No Brasil, o primeiro estudo sobre EGB em gestantes
foi realizado em Porto Alegre-RS, na década de 1980,
onde a taxa de colonização era de aproximadamente 25%,
semelhante aos relatados em outros países7. Durante o
período de 2003 a 2004, em São Luiz, Maranhão, a taxa
de prevalência em mulheres brancas foi de 27,6%, e em
grupos de não brancas 17,5%. As amostras foram coletadas
da região vaginal e retal, porém não foram encontradas
relações sócio demográfi cas8. Estudo desenvolvido entre
2009 e 2010 em São Paulo avaliou 30 gestantes, cujas
amostras vaginal e retal foram submetidas ao meio seletivo
Todd Hewitt com prevalência de colonização em 17,4%9.
Pesquisa com 273 amostras de pacientes no terceiro
trimestre de gestação em um hospital universitário no
sul do Brasil encontrou prevalência de colonização pelo
EGB de 21,6%, correspondendo a 59 pacientes, dentre as
quais, 27 apresentaram positividade vaginal e anal10.
A frequência de colonização pelo EGB durante
a gravidez depende de fatores associados a diferenças
socioculturais e raça11, idade12, localização geográfi ca13;
metodologia empregada14, doenças sexualmente
transmissíveis15, entre outros.
Obtivemos no presente estudo a frequência de
colonização de 13,05%, um resultado que condiz com os
dados apresentados na literatura científi ca, que refere taxa
de colonização variando ente 10% a 30%, de ocorrência
na vagina ou no reto6,13.
Para as diferentes regiões de coleta (vaginal/anal)
tivemos a maior positividade para a região vaginal/anal
(336); as 3 amostras apenas da região anal apresentaram
resultados positivos.
Em relação ao segundo semestre de 2015, o
primeiro semestre de 2016 apresentou maior quantidade
de amostras/pacientes e um aumento signifi cativo de
positividade.
Desta forma analisando todo o período da
pesquisa, 335 amostras evidenciaram o crescimento do
Streptococcus agalactiae, portanto, consideradas positivas,
e em 2.262 amostras não foi observado o crescimento
do patógeno. O índice de prevalência encontrado foi de
13,05%.
CONCLUSÃO
Embora a prevalência de colonização pelo
Streptococcus agalactiae durante a gravidez seja variável,
obtivemos um resultado de 13,05% que condiz com
2017 jul.-dez.; 11(2): 198-202Streptococcus agalactiae em gestantes dacidade de Campinas-SP
202outros estudos analisados. Segundo a literatura científi ca,
aproximadamente 10 a 30% das gestantes são colonizadas
por EGB na vagina ou reto.
No trabalho de parto pode ocorrer a transmissão
entre patógeno e feto pelo contato de secreções ou ruptura
de membrana aminiótica, sendo de extrema importância
a profi laxia intra-partal.
Por apresentar diversas complicações e até mesmo
morte, o CDC recomenda que mulheres gestantes realizem
rastreio em fase pré-natal para triagem do patógeno pelo
método de cultura, a fi m de evitar infecções. A triagem e
o rastreio desse microrganismo resulta em uma prevenção
mais efi caz.
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Recebido em: 18/09/2017Aceito em: 24/10/2017
Streptococcus agalactiae em gestantes dacidade de Campinas-SP2017 jul.-dez.; 11(2): 198-202
2032017 jul.-dez.; 11(2): 203-208Educação permanente: tecnologia para aprevenção do erro de medicação
EDUCAÇÃO PERMANENTE: TECNOLOGIA PARA A PREVENÇÃO DO ERRO DE MEDICAÇÃO¹
PERMANENT EDUCATION: TECHNOLOGY FOR THE PREVENTION OF MEDICATION ERROR
EDUCACIÓN PERMANENTE: TECNOLOGÍA PARA LA PREVENCIÓN DEL ERROR DE MEDICIÓN
¹ Manuscrito extraído da dissertação de mestrado intitulada “Erro de Medicação: o custo e o impacto das tecnologias preventivas na cadeia medicamentosa”, apresentada ao Progra-ma de Mestrado em Enfermagem da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (FAMERP). Dissertação completa disponível em: http://bdtd.famerp.br/bitstream/tede/363/2/renatapradobvilela_dissert.pdf* Enfermeira, Mestre em enfermagem, docente do curso de Medicina da Faceres, São José do Rio Preto-SP. Contato: renata_bereta@hotmail.com. ** Enfermeira, Livre docente em Enfermagem. Professor Associado da Escola de Enfermagem da EE/USP, São Paulo-SP. Contato: valeriac@usp.br*** Enfermeira, Doutora em Enfermagem. Docente do Departamento de Enfermagem Especializada da FAMERP, São José do Rio Preto-SP. Contato: marli@famerp.br **** Enfermeira, Doutora em Enfermagem. Docente do Departamento de Enfermagem Especializada da FAMERP, São José do Rio Preto-SP. Contato: josifaria@famerp.br
ResumoIntrodução: Educação permanente é caracterizada como uma tecnologia leve e na área da saúde pode ocorrer sob a forma de treinamento. Objetivo: Caracterizar os treinamentos relacionados à prevenção do erro de medicação em um hospital de ensino do interior de São Paulo e verifi car a participação da equipe de enfermagem. Método: Estudo descritivo-exploratório, documental, retrospectivo (2011 a 2013), pelo qual foram analisadas planilhas de treinamento disponibilizadas pelo Serviço de Enfermagem, contendo dados coletados pelo Centro Integrado de Educação Permanente em Saúde. Resultados: Foram oferecidos 112 treinamentos relacionados aos processos de trabalho inerentes à medicação. A participação dos enfermeiros foi superior à dos profi ssionais de nível técnico e o principal eixo temático abordado e com maior participação da equipe de enfermagem foi “processo de medicação”. Conclusão: A instituição campo de estudo ofereceu muitas oportunidades de treinamentos relacionados à prevenção do erro de medicação e com temas diversifi cados. Contudo, evidenciou-se a necessidade de investimentos em estratégias visando aumentar a média de participação dos profi ssionais de enfermagem.
Palavras-chave: Segurança do paciente. Erros de medicação. Educação continuada. Indicadores de qualidade em assistência a saúde. Enfermagem.
AbstractIntroduction: Permanent education is characterized as a light technology and in the health area can occur in the form of training. Objective: To characterize the training related to the prevention of medication error in a teaching hospital of São Paulo countryside and to verify the participation of the nursing team. Method: It is a descriptive-exploratory, documental, retrospective study (from 2011 through 2013), through which we analyzed training sheets provided by the Nursing Service, containing data collected by the Integrated Center of Permanent Education in Health. Results: 112 trainings related to the work processes inherent to the medication were offered. The participation of the nurses was superior to that of the professionals of technical level, being "medication process" the main thematic axis approached, also with the greater participation of the nursing team. Conclusion: The study host institution offered many training opportunities related to medication error prevention and with diversifi ed topics. However, we noticed the need for investments in strategies directed to increase the participation average of nursing professionals.
Keywords: Patient safety. Medication error. Education continuing. Quality indicators. Health care. Nursing.
ResumenIntroducción: La educación permanente se caracteriza como una tecnología ligera y en el área de la salud puede ocurrir en forma de entrenamiento. Objetivo: Caracterizar los entrenamientos relacionados a la prevención del error de medicación en un hospital de enseñanza del interior de São Paulo y verifi car la participación del equipo de enfermería. Método: Estudio descriptivo-exploratorio, documental, retrospectivo (2011 a 2013), por el cual fueron analizadas planillas de entrenamiento disponibilizadas por el Servicio de Enfermería, conteniendo datos recolectados por el Centro Integrado de Educación Permanente en Salud. Resultados: Se ofrecieron 112 entrenamientos relacionados con los procesos de trabajo inherentes a la medicación. La participación de los enfermeros fue superior a la de los profesionales de nivel técnico y el principal eje temático abordado y con mayor participación del equipo de enfermería fue "proceso de medicación". Conclusión: La institución campo de estudio ofreció muchas oportunidades de entrenamientos relacionados a la prevención del error de medicación y con temas diversifi cados. Sin embargo, se evidenció la necesidad de inversiones en estrategias para aumentar la media de participación de los profesionales de enfermería.
Palabras clave: Seguridad del paciente. Errores de medicación. Educación continua. Indicadores de calidad de la atención de salud. Enfermería.
Renata Prado Bereta Vilela*, Valéria Castilho**, Marli de Carvalho Jericó***, Josimerci Ittavo Lamana Faria****
204 Educação permanente: tecnologia para aprevenção do erro de medicação2017 jul.-dez.; 11(2): 203-208
INTRODUÇÃO
A educação permanente pode ser entendida
como uma tecnologia na área da saúde, pois a defi nição
do termo “tecnologia” em saúde não se restringe apenas
a equipamentos, esta compreende certos saberes
constituídos para a geração e utilização de produtos
e para organizar as relações humanas, por meio das
quais são prestados a atenção e cuidados a saúde da
população1,2. As tecnologias podem ser categorizadas
em duras, representada por equipamentos; leve-duras,
incluem os saberes estruturados (normas, protocolos) e,
por fi m, as leves, expressas pela comunicação, relações e
vínculos1. A educação permanente é caracterizada como
uma tecnologia leve.
Atualmente, é relevante para as instituições
de saúde a necessidade de oferecer oportunidade de
capacitação aos profi ssionais que as integram por meio de
uma educação refl exiva e participativa3. Esta afi rmação vai
ao encontro do preconizado pela Portaria GM/MS nº 1996,
de 20 de agosto de 2007, que dispõe sobre as diretrizes
para a implantação da Política Nacional de Educação
Permanente em Saúde4.
A educação permanente em saúde pode
acontecer em forma de treinamento em serviço que visa
o desenvolvimento do senso crítico do profi ssional e o
prepara para os desafi os das situações que emergem no
ambiente de trabalho5.
É desenvolvida no hospital por meio de
treinamento de pessoal, objetivando o desenvolvimento
técnico-prático do profi ssional. Na equipe de enfermagem
o enfermeiro como multiplicador da aprendizagem
participa da capacitação e, via de regra, dissemina o
que apreendeu aos seus colaboradores nas unidades
assistenciais, tornando-se educador na sua equipe5.
O processo de educação permanente em saúde
ainda valoriza práticas reprodutivas e tecnicistas. Este
enfoque em alguns momentos é importante, no entanto,
a preponderância das ações educativas pautadas neste
modelo leva à preservação em detrimento da inovação
e transformação6. Tal fato propicia o desinteresse dos
profi ssionais da saúde.
Nas instituições de saúde, a segurança do
paciente relacionada, principalmente, ao erro de
medicação, observa-se uma prática rígida congruente à
cultura punitiva inversa ao ideal, que é a valorização da
prevenção por meio de uma cultura educativa7.
A prevenção do erro de medicação é tema de
grande relevância na atualidade e buscar formas para
sua prevenção é uma necessidade inquestionável. Desta
forma, esta pesquisa objetivou analisar os treinamentos
relacionados à prevenção do erro de medicação em um
hospital de ensino do interior de São Paulo e verifi car
a participação da equipe de enfermagem nesses
treinamentos.
MÉTODO
Estudo descritivo-exploratório, documental,
quantitativo e retrospectivo referente ao período de 2011
a 2013. O campo de investigação foi um hospital de ensino
de nível quaternário, de capacidade extra (720 leitos),
que presta atendimento a pacientes do Sistema Único de
Saúde (SUS) e convênios; atende mais de dois milhões
de habitantes, com média de 46.000 atendimentos/mês,
localizado no interior paulista.
Os treinamentos na área da saúde podem ser
organizados por profi ssionais do Centro Integrado de
Educação Permanente em Saúde (CIEPS) ou das unidades
específi cas. Os organizados pelo CIEPS geralmente são
disponibilizados a todos os profi ssionais de enfermagem
da instituição e é nomeado de treinamento geral. Os
organizados nas unidades específi cas, com objetivos
direcionados às necessidades de aprendizagem dos
profi ssionais que ali atuam, serão denominados, neste
estudo, como treinamento específi co.
Para a caracterização dos treinamentos
relacionados à prevenção do erro de medicação foram
coletados dados junto ao CIEPS da instituição campo
de estudo, no período de 2011 a 2013, somente após
a autorização formal da instituição e do Comitê de Ética
em Pesquisa (parecer nº 325.938), sendo coletados em
junho de 2014. Todos os treinamentos são documentados
por essa unidade. Os responsáveis pelo treinamento
preenchem um formulário contendo dados sobre o
planejamento e o entregam junto com as listas de
presença dos participantes. Esses documentos possibilitam
caracterizar os treinamentos quanto ao seu tema, objetivo,
método, forma de avaliação do resultado, número de
aulas, quantidade de horas de treinamento, quantidade
de participantes e função na instituição e unidades que
participaram dos treinamentos.
205Para o cálculo da média da porcentagem de
profi ssionais de enfermagem (auxiliares/técnicos de
enfermagem e enfermeiros) que participaram dos
treinamentos, foram utilizados os treinamentos gerais,
que possibilitam obter uma visão geral da participação. O
cálculo se deu da seguinte forma: encontrou-se a média
de participação de profi ssionais de enfermagem por
curso por intermédio do número de participantes dividido
pelo número de treinamentos. A seguir, calculou-se a
porcentagem média de adesão, uma vez que o quadro de
pessoal de enfermagem da instituição campo de estudo
totalizava 1.642 profi ssionais em 2011, 1.689 em 2012 e
1.778 em 2013, média de 1.703 no período de estudo.
Os treinamentos que abordaram erro de
medicação eram de enfoques diferenciados, assim,
agrupou-se em eixos temáticos, os quais foram intitulados
como: “bomba de infusão” treinamentos relacionados ao
manuseio correto destes equipamentos, “cuidados com
um tipo específi co de droga” cuidados de enfermagem
com um determinado tipo de medicamento, “higiene de
mão” relacionado a prática de higienização das mãos,
“identifi cação do paciente” relacionado a prática e
conferência de identifi cação do paciente, seja esta por
pulseira ou placa de identifi cação, “mais de um eixo” o
treinamento tinha vários enfoques relacionados aos erro
de medicação, “notifi cação” relacionado a notifi cação dos
erros de medicação, “processo de medicação” atualização
referente a qualquer atividade para o preparo ou
administração de medicação, “segurança na medicação”
utilização de alguma tecnologia para a prevenção do erro
de medicação, “Sentinelas em Ação” programa específi co
de teleconferência que aborda algum tema sobre
segurança na medicação.
RESULTADOS
No período estudado, a instituição ofereceu 565
treinamentos de temas diversos. Destes, 112 (19,8%)
estavam relacionados ao erro de medicação (Tabela 1) e
apresentou variação de 27 (24,1%) em 2011 a 51 (45,5%)
em 2012. Destes, 66 (58,9%) foram desenvolvidos em
unidades específi cas e 46 (41,1%) treinamentos gerais;
totalizando 625 aulas, média de seis aulas por treinamento,
572 horas, média de 55 minutos por aula, 5,10 horas
por treinamento. Entre os participantes, 6.804 (69,3%)
eram auxiliares/técnicos de enfermagem, 1.570 (16,0%)
enfermeiros e 1.442 (14,7%) eram de outra categoria
profi ssional, totalizando 9.816 participantes.
Tabela 1 – Caracterização dos treinamentos sobre erro de medicação de 2011 a 2013, São José do Rio Preto, 2016
A distribuição dos eixos temáticos abordados
nos treinamentos sobre erro de medicação (Tabela 2)
aponta que a maioria abordou o processo de medicação
(17,0%) e o programa “Sentinelas em Ação” (17,0%).
Quanto ao eixo “processo de medicação”, foi mais
abordado no ano de 2013 (9; 47,4%) e teve somente um
(5,3%) treinamento geral, os outros 18 (94,7%) foram
treinamentos específi cos. O eixo “Sentinelas em Ação” foi
abordado prevalentemente no ano de 2012 (18; 94,7%),
todos os treinamentos (100%) foram gerais.
2017 jul.-dez.; 11(2): 203-208Educação permanente: tecnologia para aprevenção do erro de medicação
206Tabela 2 - Distribuição dos eixos temáticos dos treinamentos sobre erro de medicação de 2011 a 2013, São José do Rio Preto, 2016
Tabela 3 - Distribuição dos eixos temáticos dos treinamentos sobre erro de medicação segundo a participação dos profi ssionais de enfermagem de 2011 a 2013, São José do Rio Preto, 2016
Entre 2011 a 2013, o campo de estudo contava
com média de 1.703 profi ssionais de enfermagem,
sendo 1.411 (82,9%) de nível técnico e 292 (17,1%) de
nível superior. Entre os treinamentos gerais que foram
oferecidos a todos os profi ssionais de enfermagem da
instituição, 5.301 (63,3%) profi ssionais participaram, com
uma média de 115,2 profi ssionais por treinamento, sendo
1.014 (19,1%) enfermeiros e 4.287 (80,9%) auxiliares/
técnicos de enfermagem. Cada treinamento foi ministrado,
em média, para 115,2 (6,9%) dos profi ssionais de
enfermagem; destes 22 (7,5%) enfermeiros e 93,2 (6,6%)
profi ssionais de enfermagem de nível técnico.
A distribuição dos eixos temáticos dos
treinamentos sobre erro de medicação segundo a
participação dos profi ssionais de enfermagem (Tabela 3)
mostra que o treinamento que contou com maior número
de participantes foi do eixo higiene de mãos (2.497,0;
47,1%). No entanto, o que teve uma porcentagem de
participação em relação a toda equipe de enfermagem da
instituição foi do eixo processo de medicação (49,6%). Em
2012, um número maior de profi ssionais de enfermagem
participou dos treinamentos (2.239; 42,2%), porém, o ano
que apresentou um maior índice de participação da equipe
de enfermagem nos treinamentos foi 2011 (13,2%).
DISCUSSÃO
O erro de medicação é um problema que deve
ser tratado de forma séria pelos profi ssionais e instituição
de saúde. Deve-se realizar um trabalho preventivo com
base em medidas educativas para obtenção de resultados
positivos5. Pesquisa qualitativa realizada com profi ssionais
da área de atendimento pré-hospitalar móvel, demonstrou
que a capacitação prévia promove segurança para o
profi ssional tomar as condutas apropriadas durante o
atendimento8.
Estudo qualitativo que analisou a conformação
do processo de capacitação profi ssional de enfermeiras de
Unidade de Terapia Intensiva (UTI) aponta que capacitações
em enfermagem valorizam as questões técnicas e
padronização de atividades9, corroborando com dados
deste estudo, pois os treinamentos estavam relacionados
a técnicas, cuidados e práticas de enfermagem. Essas
capacitações são infl uenciadas pelas transformações da
Educação permanente: tecnologia para aprevenção do erro de medicação2017 jul.-dez.; 11(2): 203-208
207sociedade e pelas mudanças na natureza e processo de
trabalho. A pesquisa supracitada demonstrou ainda que,
quando a capacitação é desenvolvida pelas enfermeiras,
refl ete na melhoria do serviço prestado9.
Além de benefícios para a qualidade e melhoria
no serviço prestado9, capacitação é um investimento
enquanto o erro de medicação é um desperdício. O primeiro
estudo a avaliar a utilização do recurso adicional associado
com os eventos adversos a medicamentos aponta que há
um potencial custo de US$5,6 milhões ao ano10. Estudo
quantitativo que objetivou avaliar erros de medicação
com antineoplásicos quanto à frequência, gravidade e
custos, aponta custo potencial de US$ 126,353.52 ao
ano11. Enquanto pesquisa quantitativa sobre o custo da
rotatividade da equipe de enfermagem em hospital de
ensino calcula que o custo com orientação e treinamento
no período investigado foi de US$ 3,138.36 ao ano.
Profi ssionais devem ser desenvolvidos e o treinamento é
uma fonte lucrativa, pois enriquece o patrimônio humano
da instituição12. Nesse sentido, é possível afi rmar que
o custo de treinamentos é signifi cantemente inferior
ao do erro de medicação, reiterando os benefícios do
investimento na prevenção.
Esta pesquisa evidenciou que apesar da instituição
promover treinamentos para a prevenção do erro de
medicação a participação da equipe de enfermagem foi
baixa. Estudo qualitativo que teve como objetivo identifi car
os fatores decorrentes da jornada de trabalho que afetam
a qualidade da assistência de enfermagem ressalta em
seus resultados que a sobrecarga de trabalho implica
na falta de tempo para descansar, refl etir, organizar e
aprender13. Portanto, pode-se atribuir que um dos fatores
da não participação aos treinamentos pela equipe de
trabalho seja a sobrecarga de trabalho, uma vez que,
para participar do treinamento, o profi ssional terá que se
ausentar da atividade laboral por um período.
Outro motivo para a baixa participação da
equipe de enfermagem pode ser atribuída à característica
práticas reprodutivas e tecnicistas. Este fato pode ser
justifi cado pelo estudo qualitativo que objetivou conhecer
que concepções educativas permeiam as propostas de
educação permanente em saúde no Estado do Rio Grande
do Sul13. Não promover a inovação e a transformação pode
tornar a participação na capacitação desinteressante para
o profi ssional.
Todavia, para ter êxito nos treinamentos
desenvolvidos é necessário planejamento, que pode
ocorrer em etapas, sendo: diagnóstico da situação, a
decisão quanto às estratégias para a solução, a implantação
da ação e da avaliação e controle dos resultados das ações
planejadas14.
O diagnóstico da situação é entendido como
a identifi cação do que um colaborador ou um grupo
necessita aprender, no sentido de preencher a lacuna
existente entre o êxito presente e o nível de êxito que é
solicitado14. Com base nesta pesquisa, sugere-se que os
colaboradores da equipe de enfermagem participem desta
etapa, uma vez que poderão ajudar a identifi car as reais
necessidades e os seus interesses. Na decisão quanto a
estratégia para a solução, deve-se fazer planejamento a
partir das informações oferecidas pela primeira etapa, que
é trabalhada de forma adequada para que os diferentes
objetivos sejam atingidos14. Nessa etapa é muito importante
pensar em novas ferramentas pedagógicas que tornem os
treinamentos mais atrativos, dinâmicos e participativos. A
terceira etapa, denominada implantação da ação, tem a
função de garantir que os procedimentos não se desviem
dos objetivos planejados14. Considera-se importante que
tanto o organizador como quem ministra o treinamento
esteja ciente dos objetivos propostos e envolvidos com
o assunto. Por fi m, a última etapa deve identifi car, obter
e proporcionar informação útil e descritiva sobre algo
que está sendo julgado, promovendo sua compreensão,
determinando o seu valor ou mérito, tendo em vista a
tomada de decisões e a solução de problemas14. Percebe-
se que a ultima etapa é extremamente importante para
saber se o trabalho atingiu o esperado, assim, ela deve ser
realizada sistematicamente.
Observa-se que os treinamentos devem ser
sistematicamente planejados e executados a fi m de
atingirem seus objetivos. Pode ser acrescida uma
característica importante da equipe de enfermagem,
pois, geralmente, os treinamentos acontecem durante a
jornada de trabalho, o que pode gerar sobrecarga tanto
do profi ssional que se ausenta como da equipe que fi ca
em campo. A organização do trabalho é essencial, dessa
forma, deve fazer parte desse processo, uma vez que
essa sobrecarga possa gerar desinteresse em participar
do treinamento, bem como, falta de atenção durante a
participação.
2017 jul.-dez.; 11(2): 203-208Educação permanente: tecnologia para aprevenção do erro de medicação
208Ademais, esta pesquisa contribui para a refl exão
do enfermeiro gestor uma vez que não é sufi ciente apenas
oferecer treinamentos, mas estes devem ser planejados,
implementados e avaliados. A equipe de enfermagem pode
e deve participar de todo o processo. É importante utilizar
ferramentas pedagógicas atrativas e que estimulem a
participação, e sempre facilitar essa participação evitando
a sobrecarga de trabalho durante os treinamentos. Pois,
mais importante que o número de treinamentos é a
qualidade, participação e o envolvimento dos profi ssionais.
CONCLUSÃO
Os treinamentos e capacitações são importantes
para a equipe de enfermagem no que tange às questões
de prevenção do erro de medicação. Pode-se observar
que houve uma quantidade signifi cante de treinamentos
sobre a temática, tanto em nível geral como treinamentos
específi cos para as unidades hospitalares. A temática foi
bem diversifi cada buscando captar a prevenção do erro de
medicação em toda sua essência.
Houve signifi cante quantidade de horas e
aulas. No entanto, a participação dos profi ssionais de
enfermagem mostrou-se baixa. Sugere-se maior controle
da participação da equipe e envolvimento por parte dos
enfermeiros no que se refere à sua participação, além de
promover e supervisionar a aplicação do que foi proposto
nos treinamentos. Visto que a capacitação é mais
vantajosa em termos de qualidade e custos que o erro de
medicação.
AGRADECIMENTOS
Agradecemos ao Grupo de Pesquisa – Gestão de
Serviços de Saúde e de Enfermagem (GESTSAÚDE) pela
contribuição.
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Recebido em: 16/07/2017Aceito em: 27/09/2017
Educação permanente: tecnologia para aprevenção do erro de medicação2017 jul.-dez.; 11(2): 203-208
2092017 jul.-dez.; 11(2): 209-214Dados epidemiológicos da Hanseníase no municípiode Catanduva, 2001-2016
DADOS EPIDEMIOLÓGICOS DA HANSENÍASE NO MUNICÍPIO DE CATANDUVA, 2001-2016
HANSENIASIS EPIDEMIOLOGICAL DATA IN THE MUNICIPALITY OFCATANDUVA, 2001-2016
DADOS EPIDEMIOLÓGICOS DE LA HANSENÍASE EN EL MUNICÍPIO DECATANDUVA, 2001-2016
*Acadêmicas do curso de Medicina das Faculdades Integradas Padre Albino (FIPA).**Dermatologista, doutora em Medicina pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas, professora da disciplina de Dermatologia das Faculdades Integradas Padre Albino (FIPA), Catanduva-SP. Contato: rafaelafrigerio@hotmail.com
ResumoIntrodução: A Hanseníase, doença causada por Mycobacterium leprae, é um desafi ante problema de saúde pública, por conta de sua condição infectocontagiosa, impacto socioeconômico e repercussão psicológica, advinda das deformidades e incapacidades físicas frequentes no processo do adoecimento. Objetivo: Devido à importância que os indicadores epidemiológicos possuem para contribuir com a avaliação dos programas de controle da Hanseníase em determinado local, este estudo teve como objetivo analisar as tendências dos indicadores e dados epidemiológicos da Hanseníase nos indivíduos residentes no município de Catanduva-SP entre os anos 2001-2016, atendidos no Hospital-Escola Emilio Carlos. Método: Estudo observacional transversal do tipo descritivo. Resultados: No período e local selecionado foram detectados 217 novos casos de Hanseníase, dentre esses, 106 casos foram multibacilares (48,84%) e 111 paucibacilares (51,15%), com prevalência do sexo masculino (n= 118; 54,37%) em comparação ao sexo feminino (n=99; 45,62%). A forma clínica mais prevalente foi tuberculoide com 85 casos dentre os casos novos, chegando ao percentual de 39,17%, enquanto que a forma virchowiana aparece em segundo lugar (n=78; 35,94%), seguida da indeterminada (n=32; 14,74%) e dimorfa (n= 22; 10,13%). Houve oscilação e tendência ao declínio ao longo dos anos, tanto do coefi ciente de detecção de casos novos, como coefi ciente de prevalência. Conclusão: As informações apresentadas permitem visualizar perspectiva em evolução favorável, assim como necessidade de continuar com empenho na realização das ações estratégicas e manutenção da atenção integral à pessoa com Hanseníase e/ou sequelas.
Palavras-chave: Epidemiologia. Hanseníase. População.
AbstractIntroduction: Leprosy, a disease caused by Mycobacterium leprae, is a challenging public health problem, due to its contagious condition, socioeconomic impact and psychological repercussion due to deformities and frequent physical inabilities in the illness process. Objective: Due to the importance of epidemiological indicators to contribute to the evaluation of leprosy control programs in a specifi c location, this study aimed to analyze the trends of leprosy indicators and epidemiological data in individuals living in the municipality of Catanduva-SP between the years from 2001 through 2016, attended at the Emilio Carlos School Hospital. Method: It is a cross-sectional observational study of the descriptive type. Results: A total of 217 new leprosy cases were detected in the selected period and site, 106 of which were multibacillary (48.84%) and 111 paucibacillary (51.15%), with a prevalence of males (n = 118; 54, 37%) compared to females (n = 99; 45.62%). The most prevalent clinical form was the tuberculoid one, with 85 cases among the new cases, reaching 39.17%, while the Virchowian form appears in second place (n = 78; 35.94%), followed by the indeterminate form (n = 32; 14.74%) and the dimorph (n = 22; 10.13%). There was oscillation and tendency to decline over the years, both for the coeffi cient of new cases detection and for prevalence coeffi cient. Conclusion: The presented information allows to visualize a favorable evolution perspective, as well as the need to continue with commitment in carrying out the strategic actions and maintenance of integral care to the person with leprosy and/or sequelae.
Keywords: Epidemiology. Leprosy. Population.
ResumenIntroducción: La lepra es un desafío problema de salud pública, debido a su condición infecciosa, el impacto socioeconómico y la repercusión psicológica, derivada de las deformidades e incapacidades físicas frecuentes en el proceso de la enfermedad. Objetivo: Debido a la importancia que los indicadores epidemiológicos poseen para contribuir con la evaluación de los programas de control de la Hanseniasis en determinado local, este estudio tuvo como objetivo analizar las tendencias de los indicadores y datos epidemiológicos de la Hanseniasis en los individuos residentes en el municipio de Catanduva-SP entre los años 2001-2016, atendidos en el Hospital-Escuela Emilio Carlos. Método: Estudio observacional transversal del tipo descriptivo. Resultados: En el período y lugar seleccionado se detectaron 217 nuevos casos de Hanseniasis, entre los cuales 106 casos fueron multibacilares (48,84%) y 111 paucibacilares (51,15%), con prevalencia del peso, sexo masculino (n = 118, 54,37%) en comparación con el sexo femenino (n = 99; 45,62%). La forma clínica más prevalente fue tuberculoide con 85 casos de los casos nuevos, llegando al porcentaje del 39,17%, mientras que la forma virchowiana aparece en segundo lugar (n = 78, 35,94%), seguida de la indeterminada (n = 32, 14,74%) y dimorfa (n = 22, 10,13%). Hubo oscilación y tendencia al declive a lo largo de los años, tanto del coefi ciente de detección de casos nuevos, como coefi ciente de prevalencia. Conclusión: Las informaciones presentadas permiten visualizar perspectiva en evolución favorable, así como necesidad de continuar con empeño en la realización de las acciones estratégicas y mantenimiento de la atención integral a la persona con Hanseniasis y / o secuelas.
Palabras clave: Epidemiología. La lepra. Población.
Gabriela Garcia Agra Naufal*, Letícia Galbier Ricetto Pegorari*, Thaís Kestenbaum*, Rafaela Marega Frigério Lopes**
210 Dados epidemiológicos da Hanseníase no municípiode Catanduva, 2001-2016 2017 jul.-dez.; 11(2): 209-214
INTRODUÇÃO
A Hanseníase, doença causada por Mycobacterium
leprae, é um desafi ante problema de saúde pública,
por conta de sua condição infectocontagiosa, impacto
socioeconômico e repercussão psicológica, advinda
das deformidades e incapacidades físicas frequentes no
processo do adoecimento1,2.
Apesar dos esforços do Ministério da Saúde e
instituições internacionais de saúde para sua eliminação
mediante estratégias e ações programáticas, a transmissão
ativa da doença continua presente em território brasileiro3.
As três últimas décadas testemunharam notáveis
avanços e progressos no controle da Hanseníase devido à
disponibilidade ampla e gratuita de sólida quimioterapia na
forma de poliquimioterapia (PQT), boas estratégias, forte
colaboração com importantes parceiros e compromisso
político de países onde a Hanseníase é endêmica4. No
ano 2000, foi alcançada a eliminação da Hanseníase
como problema de saúde pública global, defi nida
pragmaticamente como uma prevalência registrada de
menos de um caso de Hanseníase por 10.000 habitantes
no mundo1. Mais de 16 milhões de pacientes foram
diagnosticados e tratados desde a introdução da PQT
durante as três últimas décadas4.
Em 2014, 94% dos pacientes notifi cados com
Hanseníase eram habitantes de 13 países: Bangladesh,
Brasil, República Democrática do Congo, Etiópia, Índia,
Indonésia, Madagascar, Mianmar, Nepal, Nigéria, Filipinas,
Sri Lanka e República Unida da Tanzânia4.
Entre os anos de 2000-2005 a Organização Mundial
de Saúde (OMS) elaborou a estratégia “Esforço fi nal para
eliminar a Hanseníase como problema de saúde”, com o
propósito de eliminar a Hanseníase como problema de
saúde pública no âmbito nacional4. Durante esse período
a prevalência da Hanseníase no Brasil decresceu de 4,71
no ano de 2000 para 1,48 em 2005, estabelecendo um
grande avanço para atingir as metas preconizadas5.
Duas estratégias consecutivas ocorreram
posteriormente. Durante a “Estratégia global para aliviar
a carga da Hanseníase e manter as atividades de controle
da Hanseníase” (período do plano: 2006-2010), as taxas
de prevalência brasileiras oscilaram entre 1,41 (ano de
2006) e 1,58 (ano de 2010)4,5.
Em seguida, ocorreu a “Estratégia global
aprimorada para redução adicional da carga da
Hanseníase” (período do plano: 2011-2015), durante a
qual o Brasil apresentou diminuição na prevalência de 1,54
(2011) para 1,01 (2015), colocando-o bem próximo das
metas da OMS4,5.
O Brasil tem registrado decréscimos nos
coefi cientes de incidência e de prevalência da Hanseníase
de caráter promissor, sendo em 2015 registrados 28.761
casos novos, com uma taxa de incidência de 14,07 e de
prevalência de 1,01, valores bem próximos da meta de
eliminação da Hanseníase. Enquanto isso, Mato Grosso,
Tocantins e Maranhão são os estados de maior prevalência
da doença em âmbito nacional com respectivas taxas de
prevalência: 7,75, 4,2 e 3,76, permanecendo como áreas
de importante manutenção da transmissão5-7.
Em São Paulo, no ano de 2015 foram registrados
1212 casos novos, com coefi ciente de incidência de 2,73, de
prevalência de 0,23 e coefi ciente de detecção em menores
de 15 anos de 0,24. Esses dados colocam o estado de São
Paulo em terceiro lugar no ranking dos estados brasileiros
com as menores taxas de prevalência no ano de 2015,
atingindo a meta da OMS e fi cando abaixo somente do Rio
Grande do Sul (0,1) e Santa Catarina (0,16)5,6.
Diante dos esforços para cumprir as metas
estabelecidas e melhorar a condição de saúde da
população, o monitoramento e acompanhamento de
indicadores epidemiológicos globais, nacionais, estaduais
e municipais tornou-se fundamental para sustentar os
avanços epidemiológicos, assim como detectar possíveis
abordagens necessárias.
OBJETIVO
O objetivo do estudo foi analisar as tendências
dos indicadores e dados epidemiológicos da Hanseníase
nos indivíduos residentes no município de Catanduva-SP
entre os anos 2001-2016, atendidos no Hospital-Escola
Emilio Carlos.
MÉTODO
Trata-se de um estudo observacional transversal
do tipo descritivo, referente aos pacientes catanduvenses
atendidos no ambulatório de Hanseníase do Hospital Emilio
Carlos de Catanduva-SP, durante o período de 2001 a 2016.
Os dados coletados foram obtidos através de prontuários
e documentações fornecidas pelo Posto de Saúde I,
provenientes das fi chas de notifi cações compulsórias,
211que consistem em um formulário padronizado com
informações sociodemográfi cas e clínicas preenchidas por
profi ssionais de saúde. Para este trabalho as variáveis
computadas foram: número de novos casos anuais e
dentre estes, divisão por sexo, faixa etária simplifi cada
em maiores ou iguais e menores de 15 anos de idade,
classifi cação operacional das lesões em multibacilares
ou paucibacilares, classifi cação das formas clínicas em
indeterminada, tuberculoide, dimorfa e virchowiana.
Também foram computados os casos prevalentes anuais.
Foram excluídos os registros com erro de diagnóstico,
duplicidades e com códigos incompatíveis do município
avaliado.
Os dados populacionais foram obtidos no Instituto
Brasileiro de Geografi a e Estatística (IBGE), com base no
censo e estimativa da população de Catanduva durante os
anos de 2001 a 20168.
RESULTADOS
A partir dos dados analisados, pode-se observar
que, no período de 2001 a2016, foi registrado um total de
217 casos novos de Hanseníase em indivíduos residentes
do município de Catanduva.
Como mostrado no Gráfi co 1, houve um declínio
na detecção de casos novos ao longo dos anos. O maior
registro ocorreu no ano de 2001(n=28; 12,90%), e o
menor registro em 2015 (n=1; 0,46%).
Gráfi co 1 - Total de casos novos de Hanseníase observados no período de 2001 a 2016
Ainda dentre os novos casos, a divisão por
sexo se defi niu com prevalência do sexo masculino (n=
118; 54,37%) em comparação ao sexo feminino (n=99;
45,62%).
Dentre o intervalo de anos analisados, ocorreu
um caso de Hanseníase em indivíduo menor de 15 anos,
no ano de 2001. Todos os demais foram diagnosticados
em indivíduos maiores ou iguais a 15 anos.
Em relação à quantidade de lesões foram
computados 106 casos multibacilares (48,84%) e 111
paucibacilares (51,15%).
A forma clínica mais prevalente foi tuberculoide
com 85 casos dentre os casos novos, chegando ao
percentual de 39,17%, enquanto que a forma virchowiana
aparece em segundo lugar (n=78; 35,94%), seguida
da indeterminada (n=32; 14,74%) e dimorfa (n= 22;
Gráfi co 2 - Distribuição percentual de acordo com as formas clínicas de Hanseníase
10,13%), como mostra o Gráfi co 2.
Para o cálculo da taxa de incidência e prevalência
foram utilizadas as instruções presentes no Quadro 1, em
conjunto com dados populacionais anuais fornecidos pelo
censo anual do IBGE8.
2017 jul.-dez.; 11(2): 209-214Dados epidemiológicos da Hanseníase no municípiode Catanduva, 2001-2016
212Quadro 1 – Indicadores de monitoramento do progresso da eliminação da Hanseníase enquanto problema de saúde pública
No Gráfi co 3 é possível observar que o coefi ciente
de detecção anual de casos novos por 10.000 habitantes,
ao longo da série analisada, apresentou oscilação entre
níveis muito alto e baixo, com oscilação e uma tendência
ao declínio ao longo dos anos, atingindo em 2015 o menor
valor, 0,83/10.000.
Através do Gráfi co 4, observamos que o coefi ciente
de prevalência se manteve entre os níveis médio e baixo,
também com tendência ao declínio.
Gráfi co 3 – Incidência da Hanseníase no município de Catanduva entre 2001 e 2016
Gráfi co 4 – Prevalência da Hanseníase no município de Catanduva entre 2001 e 2016
Em relação aos reingressos, ocorreram três em
2015 e seis em 2016. Os demais anos não apresentam
esse registro.
DISCUSSÃO
A situação epidemiológica da hanseníase no Brasil
é considerada heterogênea devido à grande variação do
coefi ciente de prevalência nas várias regiões do país9.
O coefi ciente de detecção anual de novos casos
tem como objetivo medir força de morbidade, magnitude
e tendência da endemia. Os dados epidemiológicos
apresentados apostam uma tendência à redução de
novos casos diagnosticados anualmente, como pode ser
observado no Gráfi co 310.
Nota-se que o coefi ciente de incidência que em
2015 atingiu o menor valor (0,83 por 100 mil habitantes),
parâmetro classifi cado como baixo, volta a subir em 2016
(5,8 por 100 mil habitantes), retornando ao patamar de
parâmetro médio. Medidas de revisão diagnóstica podem
ser necessárias para rever se a causa dessa queda é
resultado da efi cácia do programa implantado ou carência
diagnóstica.
Realizando um panorama entre Brasil, estado de
São Paulo e Catanduva no ano de 2015 é possível observar
o bom desenho catanduvense em relação aos parâmetros
comparados. Em 2015 o Brasil detinha uma taxa de
incidência de 14,07, enquanto São Paulo apresentava
incidência de 2,73 e Catanduva de 0,83, por 100 mil
habitantes.
O coefi ciente de prevalência tem como objetivo
medir a magnitude da endemia em determinado território10.
Porém, esse parâmetro deve ser analisado com cautela,
pois a Hanseníase é uma doença crônica com período de
incubação de anos. Além das diferenças epidemiológicas,
as informações apresentadas permitem visualizar
problemas operacionais que revelam a necessidade de
maior empenho dos estados na implementação das ações
Dados epidemiológicos da Hanseníase no municípiode Catanduva, 2001-2016 2017 jul.-dez.; 11(2): 209-214
213estratégicas previstas no Pacto pela Vida, PAVS e PAC-
Mais Saúde, para melhoria da atenção integral à pessoa
com hanseníase e ou com sequelas da doença11. Portanto,
as alterações tanto em taxa de prevalência, quanto taxa
de incidência tendem demorar a se alterar mediante
melhorias no setor da saúde para controle da doença.
Esse motivo reforça ainda mais a necessidade de manter
vigília e programas de atuação ativos e efi cazes contra a
Hanseníase7,12,13.
Catanduva passou a atingir a meta da OMS de
menos de um caso por 10 mil habitantes de coefi ciente de
prevalência no ano de 2006 (0,85 por 10 mil habitantes),
sustentando esse avanço por mais um ano e voltando
a sair dessa faixa preconizada em 2008 e 2009 (ambos
com 1,13 por 10 mil habitantes). A partir de 2010 e até
os dias atuais, Catanduva se mantém dentro da meta da
OMS. Em 2016, Catanduva obteve um valor de 0,99 por
10 mil habitantes, com grande infl uência de seis casos
reingressos, ou seja, indivíduos que tiverem a doença
anos atrás, foram tratados e curados e são novamente
diagnosticados com Hanseníase. Nos demais anos houve
apenas três reingressos no ano de 2015, os quais não
entram em casos novos, pois estes são defi nidos como
casos nunca antes diagnosticados4,10.
Analisando em paralelo Brasil, São Paulo e
Catanduva, temos que as taxas de prevalência foram,
respectivamente, de 1,01; 0,23 e 0,41 por 10 mil
habitantes5,6. O coefi ciente de detecção em menores de 15
anos, prioridade da política atual de controle da Hanseníase
no país, por indicar focos de infecção ativos e transmissão
recente, deve ser monitorado com rigor devido à meta
estabelecida no PAC-Mais Saúde11. Catanduva apresentou
um único caso dentre os anos avaliados, o qual ocorreu
em 2001, em uma criança de seis anos de idade, sexo
feminino. Isso indica bom controle na disseminação da
doença pelo município, contribuindo para os avanços em
progressão.
Dentro os casos novos, 118 (54,37%) ocorrem no
sexo masculino e 99 (45,62%) no sexo feminino.
A classifi cação operacional dos casos de
Hanseníase é baseada no número de lesões cutâneas:
paucibacilar (PB) até cinco lesões de pele; e multibacilar
(MB) mais de cinco lesões de pele14. Essa classifi cação é
realizada por meio de critérios clínicos (história clínica e
epidemiológica e exame dermatoneurológico). Quando
disponível a baciloscopia, o seu resultado positivo
classifi ca o caso como MB, porém o resultado negativo
não exclui o diagnóstico clínico da Hanseníase e também
não classifi ca obrigatoriamente o doente como PB.
Essa divisão é utilizada para auxiliar na decisão do tipo
de tratamento poli quimioterápico e também avaliar
se os casos estão sendo diagnosticados precocemente
(predominância de paucibacilares) ou tardiamente
(predominância de multibacilares)10. No presente trabalho
a classifi cação operacional de lesões foi registrada em
106 casos multibacilares (48,84%) e 111 paucibacilares
(51,15%), indicando miscelânea da gravidade da doença
no momento do diagnóstico.
A forma de maior prevalência foi a forma
tuberculoide (n=85; 39,17%), que se caracteriza como uma
forma de contenção da multiplicação bacilar (paucibacilar)
e cuja característica clínica é de máculas variando de
hipocrômicas a eritematosas, bem delimitadas, hipo/
anestésicas15-17. Em segundo lugar, a predominância foi
da forma virchowiana (n=78; 35,94%), expressa a forma
clínica grave, de susceptibilidade ao bacilo (multibacilar),
com multiplicação, infi ltração e disseminação sistêmica da
doença. Na pele têm-se placas eritematosas infi ltradas,
mal delimitadas, tubérculos e nódulos, madarose, lesões
de mucosas, com alteração de sensibilidade16,18.
A forma indeterminada (n=32; 14,74%) é
caracterizada por áreas de hipo/anestesia com manchas
hipocrômicas. É considerada a primeira manifestação clínica
da Hanseníase, podendo evoluir com cura espontânea,
desenvolver-se, ou, ainda, ser um estágio transitório
para os demais espectros clínicos da doença. E, por fi m,
a forma dimorfa (n=22; 10,13%) contou com a minoria
dos casos, sendo caracterizada por uma instabilidade
imunológica (multibacilar), com manifestações clínicas na
pele, nos nervos e no comprometimento sistêmico, que
variam entre os espectros da Hanseníase virchoviana e
tuberculóide16,18.
CONCLUSÃO
Os indicadores epidemiológicos – casos novos
anuais, coefi ciente de detecção anual de novos casos na
população geral e coefi ciente de prevalência – indicaram
redução no diagnóstico da Hanseníase no município de
Catanduva-SP ao longo dos anos de 2001 a 2016, salvo
algumas oscilações. O comportamento desses coefi cientes
2017 jul.-dez.; 11(2): 209-214Dados epidemiológicos da Hanseníase no municípiode Catanduva, 2001-2016
214pode indicar a redução da transmissibilidade da doença,
visto que houve apenas um caso, dentre todos os anos,
em menor de 15 anos, e o coefi ciente de detecção elevado
entre menores de 15 anos nos países endêmicos assinala
continuidade da transmissão do bacilo e inconsistência
das atividades de controle1,4,9. Porém, as estratégias de
combate à Hanseníase devem permanecer em ação, com
busca ativa de casos, diagnóstico precoce, tratamento
medicamentoso e também orientação para toda a
população, uma vez que com frequência, as pessoas
afetadas pela Hanseníase são vítimas de estigma e
discriminação. Isso tem impacto negativo no acesso ao
diagnóstico, no resultado do tratamento ou na atenção,
além de afetar o funcionamento social. O estigma é uma
causa importante de atraso do diagnóstico, o que facilita a
transmissão da infecção nas famílias e nas comunidades4.
O propósito da Estratégia Global para Hanseníase
2016-2020 é a detecção e tratamento precoces para evitar
incapacidades e reduzir a transmissão da infecção na
comunidade4.
Por fi m, as informações apresentadas permitem
visualizar perspectiva em evolução favorável. Este fato,
provavelmente, está relacionado à aplicação de estratégias
para detecção precoce da Hanseníase, como as campanhas
públicas, o exame de contatos intradomiciliares, fácil
acesso da população ao serviço de controle de Hanseníase,
apresentando-se medidas efi cazes na melhor adesão ao
tratamento e controle da doença, assim como necessidade
de continuar com empenho na implementação das ações
estratégicas e manutenção da atenção integral à pessoa
com Hanseníase e/ou sequelas.
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Recebido em: 26/07/2017Aceito em: 24/09/2017
Dados epidemiológicos da Hanseníase no municípiode Catanduva, 2001-2016 2017 jul.-dez.; 11(2): 209-214
215O enfermeiro na atenção à pessoacom incontinência anal 2017 jul.-dez.; 11(2): 215-222
O ENFERMEIRO NA ATENÇÃO À PESSOA COM INCONTINÊNCIA ANAL
THE NURSE IN ATTENTION TO THE PERSON WITH ANAL INCONTINENCE
EL ENFERMERO EN LA ATENCIÓN A LA PERSONA CON INCONTINENCIA ANAL
*Enfermeira, pós-graduada em Estomaterapia, membro da Comissão de Curativos da Prefeitura Municipal de Nova Lima.**Enfermeira, pós-graduada em Docência em Saúde, Saúde da família. Pós-graduada em Estomaterapia pela Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (FAMERP), São José do Rio Preto-SP. Docente no SENAC, Catanduva-SP. Contato: francielecatarucci@hotmail.com***Enfermeira Nefrologista. Pós-graduação em Dermatologia pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) e em Estomaterapia pela Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (FAMERP), São José do Rio Preto-SP.**** Enfermeira, pós-graduada em Urgência e Emergência e Enfermagem do Trabalho pela PUC-Goiás. Estomaterapeuta pela Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (FAMERP), São José do Rio Preto-SP. *****Enfermeira, pós-graduada em Saúde da família. Pós-graduada em Estomaterapia pela Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (FAMERP), São José do Rio Preto-SP. Docente no SENAC, Catanduva-SP. ******Mestre em Promoção em Saúde, Doutorado em Ciências da Saúde, Coordenador da Pós-Graduação Enfermagem em Estomaterapia da FAMERP, São José do Rio Preto-SP.
ResumoIntrodução: Incontinência anal representa um sintoma decorrente de uma alteração funcional no mecanismo de defecação, com perda involuntária pelo reto, tanto de gases como fezes líquidas ou sólidas, pela incapacidade fi siológica de manter controle sobre o armazenamento e expulsão das fezes, em tempo e/ou locais inadequados. Problema geralmente sub-relatado pelo paciente pode gerar insegurança, perda da autoestima, angústia, depressão, transtornos físicos, mentais e sociais. As atribuições dos enfermeiros na atenção a incontinência anal vêm sendo discutidas e regulamentadas pelos Conselhos de Enfermagem. Objetivo: Apresentar dados sobre incontinência anal, publicados a partir de 2010, e destacar a importância da atenção à pessoa com esse sintoma. Método: Estudo de revisão da literatura científi ca, desenvolvido no período de setembro de 2016 a fevereiro de 2017, com publicações das bases de dados Lilacs, SciELO e Bireme, nas línguas portuguesa e inglesa. Resultados: Dos 20 artigos selecionados, 12 (60%) referiam o papel do enfermeiro na incontinência anal; cinco (25%) abordavam a orientação alimentar e a dieta, quatro (20%) o biofeedback, quatro (20%) o uso de irrigação para solucionar o sintoma, três (15%) a autogestão do cuidado, três (15%) a avaliação da incontinência anal, três (15%) exercícios para o soalho pélvico, dois (10%) a gestão da função intestinal e dois (10%) a eletroestimulação. A Incontinência anal ainda recebe pouca atenção na assistência de enfermagem, em publicações científi cas, nas sociedades médicas e em eventos científi cos brasileiros e internacionais. O enfermeiro deve utilizar estratégias individuais contribuindo para uma intervenção mais efetiva junto aos profi ssionais de saúde. É importante reduzir custos fi nanceiros, o número de internações hospitalares e melhorar a assistência a essa clientela. Conclusão: As ações e intervenções de enfermagem devem possibilitar ao paciente uma assistência participativa e ativa no processo de cuidado, levando-se em consideração a sua real necessidade, visando melhorar a confi ança, segurança e autonomia pessoal.
Palavras-chave: Enfermagem. Eliminações. Assistência. Incontinência anal.
AbstractIntroduction: Anal incontinence represents a symptom arising from a functional alteration in the defecation mechanism, with involuntary leaking from the rectum of both gases as well as liquid and solid stools, due to the physiological inability to maintain control over stool storage and expulsion, in inappropriate time and/or locations. It is a problem usually sub-reported by the patient, that can generate insecurity, loss of self-esteem, distress, depression, as well as physical, mental and social disorders. Nurses duties in the attention to anal incontinence have been discussed and regulated by the Nursing Councils. Objective: To present data on anal incontinence, published since 2010, and to highlight the relevance of attention to the person with this symptom. Method: It is a scientifi c literature review study, developed from September 2016 through February 2017, with publications from the Lilacs, SciELO and Bireme databases, in Portuguese and English. Results: Considering the 20 selected articles, 12 (60%) reported the role of the nurse in anal incontinence; fi ve (25%) addressed dietary and dietary guidance, four (20%) the biofeedback, four (20%) the irrigation use to solve the symptom, three (15%) the care self-management, 3 (15%) the evaluation of anal incontinence, three (15%) the exercises for the pelvic fl oor, two (10%) the management of intestinal function and two (10%) the electrical stimulation. Anal incontinence still receives little attention in nursing care, in scientifi c publications, in medical societies and in Brazilian and international scientifi c events as well. The nurse should use individual strategies contributing to a more effective intervention along with health professionals. It is important to reduce fi nancial costs and the number of hospital admissions as well as to improve the assistance for this clientele. Conclusion: Nursing actions and interventions should allow the patient a participative and active assistance in the care process, taking in account his real need, aiming to improve confi dence, security and personal autonomy.
Keywords: Nursing. Eliminations. Assistance. Anal incontinence.
ResumenIntroducción: La incontinencia anal representa un síntoma derivado de una alteración funcional en el mecanismo de defecación, con pérdida involuntaria por el recto, tanto de gases como heces líquidas o sólidas, por la incapacidad fi siológica de mantener control sobre el almacenamiento y expulsión de las heces, en tiempo y tempo y/o lugares inadecuados. El problema generalmente sub-reportado por el paciente puede generar inseguridad, pérdida de la autoestima, angustia, depresión, trastornos físicos, mentales y sociales. Las atribuciones de los enfermeros en la atención a la incontinencia anal vienen siendo discutidas y reguladas por los Consejos de Enfermería. Objetivo: Presentar datos sobre incontinencia anal, publicados a partir de 2010, y destacar la importancia de la atención a la persona con ese síntoma. Método: Un estudio de revisión de la literatura científi ca, llevada a cabo a partir de 09 2016 hasta febrero 2017, con la publicación de las bases de datos Lilacs, SciELO y BIREME, en portugués e Inglés. Resultados: De los 20 artículos seleccionados, 12 (60%) referían el papel del enfermero en la incontinencia anal; (25%) abordaban la orientación alimentaria y la dieta, cuatro (20%) el biofeedback, cuatro (20%) el uso de riego para solucionar el síntoma, tres (15%) la autogestión del cuidado, tres (15%), la evaluación de la incontinencia anal, tres (15%) ejercicios para el suelo pélvico, dos (10%) la gestión de la función intestinal y dos (10%) a la
Bruna Laponez da Silveira*, Franciele Catarucci**, Gilmara Menezes Macedo***, Luzia Dantas Cunha****, Vanessa Cristina Romano*****, João Junior Gomes******
216 O enfermeiro na atenção à pessoacom incontinência anal2017 jul.-dez.; 11(2): 215-222
INTRODUÇÃO
A continência anal é mantida pela integridade
estrutural e funcional da unidade neuromuscular anorretal
e do pavimento pélvico, nomeadamente continência e
defecação1,2, porém, qualquer alteração na sua anatomia
ou fi siologia leva a incontinência1. Outros fatores como
o funcionamento do esfíncter anal e dos músculos do
pavimento pélvico, sujeitos a refl exos neurais locais e
espinhais que, por sua vez, são modifi cados por inputs
somáticos do tronco cerebral e do lobo frontal, estão
envolvidos neste processo1.
Segundo Yusuf et al.3, o termo incontinência anal
(IA) é utilizado para englobar tanto a perda involuntária
de material fecal quanto de gases. A incontinência fecal ou
anal não retrata uma doença, mas um sintoma resultante
de uma ou, na maioria das vezes, várias alterações
que resultam no desenvolvimento da incontinência.
Caracteriza-se por perda da capacidade voluntária de reter
o conteúdo intestinal4. É defi nida como uma alteração
no mecanismo de defecação, caracterizada pela perda
involuntária tanto de gases como fezes líquidas ou sólidas
pelo reto, notada pela incapacidade fi siológica de manter
controle sobre o armazenamento e expulsão das fezes em
locais socialmente adequados5. Segundo a International
Continence Society, caracteriza qualquer perda involuntária
de fezes sólidas, líquidas ou de gases nas últimas quatro
semanas6.
A IA leva a constrangimento e isolamento social,
fazendo com que a maioria dos pacientes evite a ajuda
profi ssional, escondendo o problema de suas famílias
e de seus médicos. Por isso, é denominada de “afl ição
silenciosa”7.
As atribuições dos enfermeiros na atenção a IA
vêm sendo discutidas e regulamentadas pelos Conselhos
de Enfermagem. É importante ressaltar que, recentemente,
após consulta recebida pelo Conselho Regional de
enfermagem-CE, o Conselho Nacional de Enfermagem
emitiu parecer (04/2016), no qual reconheceu como
electroestimulación. La incontinencia anal todavía recibe poca atención en la asistencia de enfermería, en publicaciones científi cas, en las sociedades médicas y en eventos científi cos brasileños e internacionales. El enfermero debe utilizar estrategias individuales contribuyendo a una intervención más efectiva junto a los profesionales de la salud. Es importante reducir los costos fi nancieros, el número de internaciones hospitalarias y mejorar la asistencia a esta clientela. Conclusión: Las acciones e intervenciones de enfermería deben posibilitar al paciente una asistencia participativa y activa en el proceso de cuidado, teniendo en cuenta su real necesidad, con el objetivo de mejorar la confi anza, la seguridad y la autonomía personal.
Palabras clave: Enfermería. Eliminaciones. Asistencia. Incontinencia anal.
atividade do Enfermeiro Estomaterapeuta, as técnicas de
cinesioterapia, eletroestimulação, biofeedback, utilização
de cones e pessários vaginais8.
Em relação aos conceitos e a fi siopatologia, na
IA existem vários mecanismos que podem estar afetados:
a motilidade intestinal, o volume e a consistência fecal,
o grau de consciência mental, o tônus esfi ncteriano
anal e a integridade da inervação neuronal9. Assim, tem
etiologia variável e, quaisquer condições ou patologias que
alterem esses mecanismos, a exemplo, diabetes, doenças
autoimunes, síndrome do cólon irritável ou diarreia, podem
vir a causar esse problema5.
A IA surge normalmente após uma lesão
traumática esfi ncteriana, sendo raros os casos de etiologia
congênita. Na mulher há um predomínio do trauma
obstétrico como etiologia. Além disso, várias intervenções
anorretais podem levar a incontinência, como a
esfi ncterotomia, a fístulotomia, a hemorroidectomia ou
a dilatação anal9. A prática do sexo anal entre homens
muitas vezes pode ser traumática e contribuir para a IA.
A utilização anal na atividade sexual com a entrada do
pênis ou de qualquer objeto estranho como vibradores ou
garrafas, dentre outros objetos, contrariam a anatomia e
a fi siologia da musculatura do reto, cuja função específi ca
é a expulsão das fezes10.
De acordo com a International Continence Society,
a IA pode ser classifi cada em incontinência por urgência
quando ocorre o desejo de uma evacuação muito forte e
o acesso ao toalete deve ser realizado urgentemente; ou
incontinência passiva, em que fezes impactadas combinadas
com fraqueza do esfíncter anal resultam em vazamento de
fezes, geralmente sem percepção ou sensação8.
A partir dos quatro anos, a IA não deve ser
considerada normal ou própria da idade. O impacto
altamente negativo no desempenho pessoal, levando a
diversos transtornos físicos, econômicos, psicológicos,
emocionais, sexuais e sociais, causados pela IA interfere
no bem-estar social e na qualidade de vida1.
217O tratamento do distúrbio deve ser tanto quanto
possível dirigido à causa e sempre focado no doente como
ser individual, mas com a utilização de uma variedade
de estratégias. Entre elas: modifi cação de hábitos,
terapia farmacológica, cinesioterapia do assoalho pélvico,
biofeedback, neuromodulação (estimulação percutânea
do nervo tibial) e tratamento cirúrgico (reparação do
esfíncter, neo-esfíncteres, transposição muscular dinâmica,
esfíncteres artifi ciais e colostomia)1.
Dados internacionais de prevalência da IA
mostram índices que vão de 1,9% até 21,3% da população,
que se elevam com o aumento da idade7,11. Entretanto,
a real prevalência pode ser subestimada, em função do
constrangimento que o sintoma causa. Em um estudo
realizado nos serviços de saúde de Porto Alegre-RS, foi
evidenciada a prevalência de 3,9%, sendo que em 60%
dessas pessoas, a condição interferia signifi cativamente
na qualidade de suas vidas12.
Embora seja difícil avaliar a prevalência de IA
na população, são referidos valores de 1,4 a 20% para
pessoas com idade superior a 40 anos. Os estudos
clínicos têm demonstrado que esse tipo de sintoma é mais
frequente em pessoas do sexo feminino, porém em vários
trabalhos epidemiológicos não se confi rmou existir essa
diferença entre os sexos8.
Considerado relevante, este estudo tem como
propósito apresentar dados sobre essa temática e
contribuir para a ampliação de conhecimentos.
OBJETIVO
Apresentar dados sobre IA, publicados a partir de
2010 e destacar a importância da atenção à pessoa com
esse sintoma.
MATERIAL E MÉTODO
Estudo descritivo de revisão da literatura,
realizado no período de setembro de 2016 a fevereiro de
2017, com publicações a partir de 2010, de acesso livre,
nas línguas portuguesa e inglesa, nas bases de dados
Lilacs, SciELO e Bireme, pelos descritores: enfermagem,
assistência, eliminações e incontinência anal.
Para classifi car os artigos, utilizou-se o método de
análise temática de Minayo13, desdobrado em: pré-análise,
exploração do material, tratamento dos resultados obtidos
e interpretação.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram identifi cados 71 artigos, dos quais 20
foram selecionados. Do montante de artigos, 12 (60%)
referiam o papel do enfermeiro na IA, 5 artigos (25%)
versaram quanto à orientação alimentar e dieta, 4 (20%)
o biofeedback, 4 (20%) trouxeram dados sobre irrigação, 3
(15%) sobre a auto gestão do cuidado, 3 (15%) relataram
exercícios para o assoalho pélvico, 3 (15%) destacaram a
importância da avaliação da incontinência fecal, 2 (10%)
fi zeram referência a gestão da função intestinal e 2 (10%)
a eletroestimulação.
Os dados obtidos na classifi cação dos artigos são
apresentados como considerações sobre a IA; estratégias
e cuidados assistenciais de enfermagem na incontinência
anal.
Considerações sobre a IA
A IA - incapacidade de conter as fezes dentro do
reto, pode causar grande constrangimento e queda da
qualidade de vida, devido ao isolamento social que pode
impor à pessoa que apresenta esse sintoma.
Fisiologicamente, durante o ato de defecar, os
nervos relaxam os músculos e provocam retifi cação do
ângulo anorretal, a distensão do reto causa relaxamento
do esfíncter. Resultante de uma anormalidade desse
processo, a IA pode ter várias causas14. Esta disfunção
pode trazer consequências físicas, incluindo lesões de pele,
infecções urinárias, alterações nutricionais e inatividade
física; signifi cativos custos econômicos, referentes ao
uso de proteção, diagnóstico, cuidados especializados,
reabilitação e medicamentos; e mudanças psicossociais,
relacionadas à perda de independência, isolamento social
e impacto emocional3.
A continência é um processo inconsciente,
controlada por vias neurais da medula, mas também sujeita
ao desejo consciente. A sensação retal é importante para
avisar a chegada de fezes para o reto e, normalmente, o
indivíduo com sensibilidade normal é capaz de perceber
a chegada do material fecal no reto com 20 mmHg. Se
a sensibilidade anal está diminuída, serão necessários
volumes de fezes maiores para se perceber o desejo de
defecar, podendo levar à perda involuntária das fezes15.
A IA é um sintoma bastante comum podendo
ocorrer em qualquer faixa etária, embora predominante em
idosos. Frequentemente assumida como situação normal,
O enfermeiro na atenção à pessoacom incontinência anal 2017 jul.-dez.; 11(2): 215-222
218no entanto, é um sintoma presente entre as pessoas mais
velhas e sua epidemiologia ainda não é bem descrita na
literatura12. Apesar de não ser uma doença fatal, associa-
se a uma elevada morbilidade e envolve os doentes numa
grande ansiedade e vergonha1. Pela incapacidade da
pessoa manter o controle fi siológico do conteúdo intestinal
em local e tempo socialmente adequados, torna-se uma
situação clínica impactante, na qual a pessoa geralmente
se isola e se deprime, e não procura ajuda, mesmo sendo
uma condição com potencial tratamento16.
O número de doentes com esse problema tende
a aumentar como consequência da longevidade humana
e tem grande importância por afetar a qualidade de vida.
Não ameaçante à vida, embora atinja a pessoa na sua
autoestima e identidade, pode resultar em depressão e
isolamento progressivo14, contribuindo, portanto, para
sentimentos angustiantes, transtornos físicos, mentais e
sociais, acarretando sofrimento.
Em termos etiológicos, a IA pode dividir-se em
quatro categorias: danos do esfíncter, alterações das
características das fezes, distúrbios neuromusculares e
alterações da compliance e sensibilidade retal17. Possui
etiologia multifatorial, razão pela qual não existe um
tratamento universal, devendo ser individualizado para
cada caso18. Representa a segunda causa mais comum
de institucionalização e as mulheres parecem ser mais
suscetíveis, devido às lesões traumáticas relacionadas ao
parto. Associam-se aos problemas predisponentes para a
incontinência uma série de condições clínicas que podem
afetar os mecanismos de funcionamento intestinal19.
O aumento do peso intra-abdominal na gravidez
e as lesões dos tecidos do assoalho pélvico ocasionadas
pelo parto são frequentemente associados à redução da
força dos músculos do assoalho pélvico (FMAP), podendo
resultar em disfunções, como a incontinência urinária (IU)
e a IA20,21.
Resultante do enfraquecimento e/ou destruição
total ou parcial da musculatura pélvica, a IA pode associar-
se a: neuropatia do nervo pudendo; alterações do ângulo
anorretal (com a idade, se torna mais obtuso); sequelas de
trauma cirúrgico ou consequentes doenças infl amatórias4.
Dessa forma, pode decorrer de distúrbios neurológicos,
como acidente vascular hemorrágico, esclerose múltipla,
neuropatia diabética, demências, infl amação, infecção,
diarreias, doenças autoimunes, síndrome do cólon irritável,
doenças infl amatórias intestinais, proctite de radiação,
impactação fecal, relaxamento do assoalho pélvico, abuso
de laxantes, fármacos ou envelhecimento, fraqueza ou
perda do tônus da musculatura retal ou anal, gerando
incontinência21. Em idosos, é possível observar situações
de impactação fecal, fator que pode causar laceração do
músculo e incontinência por extravasamento19,22.
Quanto à classifi cação da IA, embora não haja
consenso, no Brasil, tem-se utilizado a classifi cação
baseada no Índice de Incontinência Anal (IIA), que inclui
as características e frequência das perdas, o uso de
protetores e o impacto na qualidade de vida. Seus escores
variam de zero (continência perfeita) a vinte (incontinência
total) e suas faixas de 0 a 7, 8 a 13 e 14 a 20 correspondem,
respectivamente, às categorias leve, moderada e grave23.
Pode ser sensorial ou motora. Na incontinência sensorial,
ocorre perda fecal sem a autopercepção, enquanto, na
incontinência motora, a pessoa percebe o desejo para
evacuar, mas não consegue impedir a perda. Quanto à
classifi cação pelo tipo de material perdido, a incontinência
pode ser para fezes líquidas, pastosas ou sólidas e
também para fl atus24. No que concerne esta classifi cação,
deve-se ter em conta que se a entrevista focar apenas
nas questões fi siopatológicas do problema, pode ocorrer
uma subvalorização da classifi cação, pois os doentes
fi cam particularmente ansiosos com a imprevisibilidade
dos episódios, comprometendo severamente as suas
atividades25.
Acerca do quadro clínico, caracteriza-se pela
incapacidade de retenção fecal voluntária. Em suas
fases iniciais, a incapacidade é para gases e fezes
líquidas (incontinência parcial), e nos casos mais
avançados, quando há perda de fezes formadas, são
chamados de incontinência total. A história clínica é de
grande importância, pois permite estabelecer o grau
da incontinência e o quanto ele prejudica as atividades
cotidianas do enfermo. Devem-se questionar o tempo e o
modo de aparecimento da IA, se há consciência da vontade
evacuatória, urgência defecatória e as características das
fezes, além da frequência de sua ocorrência5.
O diagnóstico da IA envolve a inspeção da região
perineal que pode demonstrar a presença de fezes ou
lesões. A inspeção estática do ânus permite a observação
da forma do canal anal, a presença de cicatrizes e/ou a
existência de algum grau de hipotonia anal esfi ncteriana.
O enfermeiro na atenção à pessoacom incontinência anal2017 jul.-dez.; 11(2): 215-222
219A inspeção dinâmica do canal anal pode evidenciar o
prolapso mucoso, a procidência retal ou, até mesmo, o
abaulamento perineal. O toque retal permite avaliar a
tonicidade dos músculos esfi ncterianos e sua capacidade
de contração, para fechamento e abertura anal. A
retossigmoidoscopia, defecograma, eletromanometria
anorretal, ultrassonografi a endoanal, eletroneuromiografi a
do nervo pudendo, ressonância magnética do canal anal
e, por vezes, cinedefecografi a, complementam os dados
investigatórios4. Estes exames podem defi nir o grau de
enfraquecimento ou ruptura muscular, assim como a
integridade da inervação e dos músculos do períneo. O
exame proctológico e avaliação complementar dos cólons
ajudarão a defi nir outras alterações26.
Inúmeras formas de terapia são descritas, que
variam desde as medidas higieno-dietéticas, drogas
constipantes, até cirurgias complexas14. O tratamento se
dá de acordo com sua etiologia, podendo ser cirúrgico,
não-cirúrgico e medicamentoso. A maioria dos enfermos
com IA é tratada com medidas conservadoras, de acordo
com a etiologia e as condições físicas. A indicação cirúrgica
varia segundo a causa da IA, intensidade dos sintomas e
das condições físicas e operatórias do paciente. Técnicas
de esfi cteroplastias para reconstrução da musculatura
anorretal e anoplastias são utilizadas para correção5.
A reabilitação da musculatura do assoalho pélvico
pela Estimulação Elétrica Nervosa Transcutânea (TENS) é
um método fácil e muito utilizado no tratamento da IA. É
realizada por meio de uma corrente de baixa intensidade
aplicada no nervo tibial posterior por impulsos elétricos
com uma frequência entre 0 a 20 Hz45.
Para aumentar a consistência das fezes ou reduzir
a motilidade do cólon, em relação aos fármacos que podem
afetar a continência fecal, citam-se: betabloqueadores,
nitratos, antagonistas dos canais de cálcio, inibidores da
receptação da serotonina, sildenafi l, antibióticos como
cefalosporinas, penicilinas e eritromicina; laxantes,
digoxina, orlistato, metformina, entre outros1.
Em todos os casos de IA, alguns cuidados são
importantes como a melhora da consistência das fezes,
melhora da efi ciência da evacuação (esvaziamento do
reto), alterações de hábito de higiene e, se necessário,
a diminuição da velocidade do trânsito intestinal. Quando
todas as outras formas de tratamento tiverem falhado
ou forem inviáveis, a colostomia permanece uma técnica
segura e efi caz para o tratamento da IA27.
Estratégias e cuidados assistenciais de enfermagem
na IA
Surpreendentemente, a IA recebe ainda pouca
atenção assistencial, em publicações científi cas e nas
sociedades médicas. Constata-se a inexistência ou raras
apresentações sobre a incontinência fecal nos eventos
científi cos brasileiros e internacionais. A incontinência
urinária, ao contrário, é valorizada pelas sociedades
médicas, inclusive foi comemorada em 14/03/2010 como
“Dia Mundial da Incontinência Urinária” em várias capitais
do Brasil12.
Pelo fato de a IA ser uma alteração na saúde capaz
de provocar estresse de origem intrapessoal, interpessoal e
transpessoal nos indivíduos, ela é capaz de gerar mudanças
no estilo de vida daqueles que a possuem em decorrência
do medo de se expor em público, e isso justifi ca o impacto
dessa anormalidade sobre a qualidade de vida. Apesar
de a incidência da IA ser coerente com evidências da
literatura, o caráter valorativo negativo retratou a forma
de enfrentar uma das síndromes geriátricas que requer, do
ponto de vista da atuação do enfermeiro, a necessidade de
redimensionar as possibilidades de condutas terapêuticas
para auxiliar os participantes a enfrentá-las para que o
processo de envelhecimento ocorra de forma ativa28.
A dermatite associada à incontinência (DAI) é
uma manifestação clínica de lesões de pele associadas
à umidade, comum em pacientes com IA e/ou urinária.
Trata-se de uma infl amação de pele que ocorre em
consequência do contato da pele perineal, perigenital,
perianal e adjacências com a urina e as fezes. As lesões
causadas pela DAI caracterizam-se por erosão da epiderme
e aparência macerada da pele29.
A IA é prejudicial à pele. Enzimas e bactérias
intestinais podem enfraquecer a integridade do tecido
e causar dano. As fezes líquidas estão associadas a
maior teor de irritantes para a pele, má absorção de
nutrientes, comprometimento da nutrição do paciente e
maior probabilidade de DAI, principalmente em pacientes
internados. Os efeitos secundários do contato da pele
com a incontinência são hiper-hidratação e maceração do
tecido, bem como elevação da temperatura na região, em
razão de dispositivos de contenção (fraldas) e produtos
aplicados ao tecido para higienização30. A prevalência das
O enfermeiro na atenção à pessoacom incontinência anal 2017 jul.-dez.; 11(2): 215-222
220dermatites associadas a situações de incontinência está
aproximadamente entre 5% e 41%29.
Entre as pessoas que apresentam IA, o uso de
fraldas é comum para minimizar os constrangimentos
decorrentes desta síndrome geriátrica. Entretanto, o seu
uso, quando feito de forma inadequada, pode elevar
a riscos da ocorrência de lesões cutâneas e úlceras por
pressão. Diante disso, cabe ao profi ssional da saúde
orientar as pessoas com IA e/ou seus cuidadores para a
necessidade de trocas regulares, mudanças de decúbito,
uso de cremes e pomadas, entre outros cuidados28.
Quanto às possibilidades terapêuticas utilizadas
para a abordagem da IA, a orientação para que seja
realizada a modifi cação nos hábitos alimentares tem como
objetivo restabelecer um trânsito intestinal compatível com
o controle das eliminações intestinais por meio do controle
da frequência e da consistência das fezes. Cabe também
ao profi ssional enfermeiro conhecer e avaliar o uso de
medicações que possam contribuir com o aparecimento
da IA, tais como os ß bloquedores, os nitratos, os
antagonistas dos canais de cálcio, os inibidores da
recaptação de serotonina, o sildenafi l, alguns antibióticos,
laxantes, digoxina, orlistato e metformina, entre outras, e
orientar aqueles que as utilizam a minimizar seus efeitos
adversos para o surgimento da incontinência anal28.
O apoio social aos portadores de IA efetivado por
meio da disponibilidade de suporte, de redes sociais, de
relações sociais e da interação social é importante por
minimizar danos emocionais causados pelo comportamento
de se isolar em resposta à presença do problema. Facilitar
o acesso à informação e ao suporte interpessoal, para
pessoas em processo de envelhecimento e, por isso,
susceptíveis à IA, e criar estratégias para melhorar a
comunicação, constituem estratégias adequadas ao
enfrentamento do acompanhamento destas pessoas30.
A difi culdade ou recusa de falar sobre a IA devido
ao possível constrangimento ou por considerá-la como
um distúrbio inerente ao processo de envelhecimento,
difi culta o trabalho da equipe de saúde no que tange a sua
identifi cação, bem como ao seu controle e tratamento. Se,
por um lado, o conhecimento da equipe de saúde sobre
a ocorrência da incontinência anal entre a população
pode ser subnotifi cado, por outro, o reconhecimento dela
enquanto síndrome geriátrica possibilita aos profi ssionais
de saúde redimensioná-la no mundo daqueles que estão
em processo de envelhecimento e contribuir de forma
efetiva na manutenção da qualidade de vida daqueles que
têm idade ≥ 65 anos30.
As pessoas incontinentes também devem ser
orientadas quanto às possibilidades de tratamento:
conservadores, da fi sioterapia, do biofeedback e de
cirurgias, a exemplo da esfi ncteroplastia, ou seja, a
criação de um neoesfíncter ou a construção de uma
colostomia. A contribuição desta investigação está no fato
de: 1) possibilitar a elaboração de um diagnóstico sobre o
processo do envelhecimento e a incidência da IA em grupo
socialmente contextualizado, a partir de uma abordagem
na atenção primária à saúde realizada em domicílio; 2)
conhecer as concepções de pessoas com idade ≥ 65
anos sobre uma das síndromes geriátricas e como elas
percebem o surgimento de seu impacto sobre os aspectos
social, econômico, relacional e pessoal no processo de
envelhecimento ativo e 3) elencar subsídios para refl exões
do profi ssional enfermeiro para as condutas terapêuticas
passíveis de ser operacionalizadas na atenção primária
à saúde com vistas a contribuir para que o processo do
envelhecimento ocorra com autonomia, saúde, segurança
e participação social28.
No cuidado especializado da IA deve-se seguir
mundialmente um consenso, frequentemente atualizado,
que envolve nomenclatura, pesquisa, ensino e cuidado em
geral, determinado pela International Continence Society8.
Para Duelund-Jakobsen et al.31, o gerenciamento
conservador por enfermeiros especializados leva a bons
resultados e pacientes satisfeitos. Reforça ainda o fato
de que o tempo necessário para a primeira consulta de
enfermagem é crucial para assegurar não apenas uma boa
compreensão do problema, mas também o cumprimento
do tratamento. Enfermeiros treinados diagnosticam e
gerenciam outros problemas do assoalho pélvico, muitas
vezes relacionados à IA, como dor pélvica ou constipação.
Segundo Norton et al.19, a intervenção do
enfermeiro melhora a IA, a qualidade de vida do paciente e
é signifi cativamente melhor do que um folheto informativo
sozinho, com melhorias sustentadas em um ano. Incluindo
conselhos práticos sobre hábitos intestinais, dieta,
medicação antidiarreica e exercícios do assoalho pélvico.
Existe um interesse crescente nos modelos de
saúde que incorporam novos papéis para enfermeiros
como gerentes de cuidados. O conceito de enfermeiros
O enfermeiro na atenção à pessoacom incontinência anal2017 jul.-dez.; 11(2): 215-222
221especializados desenvolveu-se em um esforço para fornecer
a mais alta qualidade de atendimento. Especialistas
em enfermagem foram treinados pela primeira vez na
Europa no início da década de 1980 e desde então foram
amplamente aceitos por muitos países32.
Os enfermeiros são os profi ssionais de saúde
que lidam mais intimamente com os problemas de
manejo intestinal, estão envolvidos em cuidados práticos,
apoiando, educando e aconselhando pacientes, suas
famílias e cuidadores em longo prazo19.
Assim, envolver a pessoa e a família/cuidadores
de forma centralizada no planejamento de cuidados
individualizados e explorar estratégias de autogestão,
melhoram a qualidade de vida e os resultados obtidos na
reabilitação32.
Além disso, os enfermeiros podem avaliar e fornecer
informações valiosas, associando uma série de estratégias
para apoiar os pacientes e melhorar sua qualidade de vida,
que incluem: conselhos dietéticos, exercícios do assoalho
pélvico, biofeedback, irrigação, estimulação percutânea do
nervo tibial e técnicas cognitivas para diminuir a ansiedade
e promover o enfrentamento positivo33.
Em relação à irrigação, Espadinha e Silva34
evidenciaram de uma forma muito clara, que o enfermeiro
é o profi ssional que mais informa sobre esta técnica,
demonstrando papel fundamental na reabilitação.
Em alguns casos de fl acidez da musculatura
do assoalho pélvico há a indicação de programas de
fortalecimento que compreendem a cinesioterapia,
eletroestimulação e biofeedback. Este cuidado, em
todo o mundo, permeia uma interface entre algumas
profi ssões como o enfermeiro especialista, fi sioterapeutas,
ginecologistas e urologistas8.
Embora altamente apreciado por pacientes
e outros profi ssionais de saúde, poucos estudos
investigaram o sucesso e a efi cácia dos serviços liderados
por enfermeiros especializados. Apesar da ampla aceitação
e atuação de enfermeiros especializados, seus papéis são
muitas vezes mal defi nidos e seus recursos, portanto, não
são totalmente reconhecidos31.
A modifi cação dos hábitos intestinais irregulares
é muitas vezes essencial para o tratamento da IA. O
objetivo é estabelecer um trânsito intestinal previsível,
com frequência e consistência de fezes mais fáceis de
controlar. Estes hábitos têm que ser bem caracterizados
e as mudanças são conseguidas através da educação do
doente, otimização alimentar e hidratação. O doente deve
ser encorajado a excluir alimentos associados ao problema,
a aproveitar o refl exo gastrocólico, defecando após as
refeições, a assegurar privacidade e a disponibilizar tempo
para ir ao banheiro35.
Portanto, o enfermeiro tem um papel muito
importante na educação, orientação e assistência do
paciente com IA. É responsável pelo plano de cuidados,
objetivando evitar complicações e, consequentemente,
melhorar a qualidade de vida. É fundamental esclarecer
dúvidas que o paciente venha a ter sobre a doença ou o
tratamento, personalizar os cuidados conforme a realidade
psicossocial, econômica e as habilidades pessoais. Assim
como, aperfeiçoar a equipe de enfermagem sobre o assunto.
CONCLUSÃO
A incontinência anal é uma situação clínica que
interfere diretamente na qualidade de vida, uma vez
que, geralmente, a pessoa se isola e se deprime. Ante as
consequências e o risco para a qualidade de vida, bem
como o impacto negativo para as pessoas que apresentam
esse sintoma, a enfermagem está diretamente ligada a
todos os tipos de cuidados, em especial às necessidades
fi siológicas, incluindo o manejo intestinal, devendo
promover a prevenção, promoção, o tratamento e a
reabilitação.
A abordagem da IA deve ser individualizada,
abrangente e estruturada. A história clínica detalhada e
o exame físico cuidadoso contribuem para identifi car a
causa da incontinência, sendo essencial para o paciente.
A escolha do tratamento deve ser guiada pela história do
doente, pelos achados ao exame físico e primeiramente
pela resposta às medidas conservadoras. Posteriormente,
outras técnicas mais invasivas podem ser necessárias.
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Recebido em: 12/07/2017Aceito em: 29/09/2017
O enfermeiro na atenção à pessoacom incontinência anal2017 jul.-dez.; 11(2): 215-222
223Ambiência hospitalar: fortalecimento dainteração ensino-serviço 2017 jul.-dez.; 11(2): 223-230
AMBIÊNCIA HOSPITALAR: FORTALECIMENTO DA INTERAÇÃO ENSINO-SERVIÇO
HOSPITAL AMBIENCE: STRENGTHENING TEACHING-SERVICE INTERACTION
AMBIENTACIÓN HOSPITALARIA: FORTALECIMIENTO DE LA INTERACCIÓN ENSEÑANZA-SERVICIO
*Enfermeira pela Universidade do Estado de Mato Grosso. Campus Tangará da Serra, Mato Grosso, Brasil. Contato: leidy_benne@hotmail.com**Enfermeira. Mestre em Enfermagem. Docente Assistente da Universidade do Estado de Mato Grosso. Campus Tangará da Serra, Mato Grosso, Brasil. Integrante do Núcleo de Pesquisa e Extensão em Política, Planejamento, Organização dos Serviços de Saúde (NPEPS). Contato: gralucietto@gmail.com***Enfermeira. Mestre em Enfermagem. Docente Assistente da Universidade do Estado de Mato Grosso. Campus Tangará da Serra, Mato Grosso, Brasil. Integrante do Núcleo de Pesquisa e Extensão em Política, Planejamento, Organização dos Serviços de Saúde (NPEPS). Contato: angelica.borges@unemat.com****Enfermeiro. Doutorando em Bioética pelo Centro Universitário São Camilo. Mestre em Terapia Intensiva. Docente Assistente da Universidade do Estado de Mato Grosso. Campus Tangará da Serra, Mato Grosso, Brasil. Integrante do Núcleo de Pesquisa e Extensão em Política, Planejamento, Organização dos Serviços de Saúde (NPEPS). Contato: vagnershon@hotmail.com.*****Enfermeira. Livre-docente. Professora Associada da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo. Contato: dpchaves@eerp.usp.br******Enfermeiro. Mestre em Saúde Coletiva. Docente Assistente da Universidade do Estado de Mato Grosso. Campus Tangará da Serra, Mato Grosso, Brasil. Integrante do Núcleo de Pesquisa e Extensão em Política, Planejamento, Organização dos Serviços de Saúde (NPEPS). Coordenador do projeto Ambiência na Saúde: sinestesia, cor e arte. Contato: josuegleriano@unemat.com
ResumoIntrodução: Ambiência consiste na qualifi cação do espaço construído por meio de atitudes e recursos que provocam estímulos sensoriais benéfi cos às pessoas favorecendo a humanização do ambiente hospitalar. Objetivo: Conhecer, na percepção dos profi ssionais de saúde, o conceito de ambiência hospitalar e a contribuição do projeto de extensão na linha de ambiência para o fortalecimento da interação ensino-serviço. Material e Método: Trata-se de um estudo de abordagem qualitativa, descritivo-exploratório, realizado em um hospital público em Tangará da Serra-MT. Os sujeitos da pesquisa foram profi ssionais de enfermagem e médicos do serviço hospitalar, sendo cinco enfermeiros e dois médicos. Os dados foram coletados utilizando questionário semiestruturado. O material empírico foi categorizado e analisado à luz da análise de conteúdo. Resultados: Evidenciou-se que a essencialidade da ambiência hospitalar é parcialmente reconhecida pelos profi ssionais, porém entendem que incluir as ações humanizadas em sua prática fortalece o conceito de ambiência hospitalar. Observou-se que a ambiência construída na integração ensino-serviço transforma a rotina hospitalar ao traduzir formas de educação em saúde. A vivência do projeto demonstra a necessidade de manutenção dos espaços de escuta, acolhimento e vínculo visto que são ações que contribuem para a construção da ambiência. Conclusão: Espera-se com este estudo contribuir para melhor adequação do espaço hospitalar com a prestação da assistência humanizada de enfermagem ao paciente, incentivando a equipe de enfermagem a refl etir mediante aos problemas observados na realidade e sempre estar redescobrindo estímulos para dar continuação na ambiência hospitalar.
Palavras-chave: Relações comunidade-instituição. Humanização na assistência. Ambiente de instituições de saúde.
AbstractIntroduction: Ambience consists in qualifi cation of constructed space through attitudes and resources causing benefi cial sensorial stimuli to the people, favoring the humanization of hospital environment. Objective: To know, in the perception of health professionals, the concept of hospital ambience and the contribution of the extension project in the ambience line to strengthening the teaching-service interaction. Material and Method: It is a study with qualitative, descriptive-exploratory approach, carried out in a public hospital of Tangará da Serra-MT. The subjects of the research were nursing professionals and doctors of the hospital service, being fi ve nurses and two doctors. Data were collected using a semi-structured questionnaire. The empirical material was categorized and analyzed in the light of content analysis. Results: It was pointed out that the essentiality of the hospital ambience is partially recognized by professionals, but they understand that including humanized actions in their practice strengthens the concept of hospital ambience. We observed that the ambience built in the teaching-service integration changes the hospital routine when translates education forms in health. The experience of the project demonstrates the need to maintain the listening, welcoming and bonding spaces, since they are actions that contribute to the ambience construction. Conclusion: It is hoped that this study will contribute to a better adequacy of hospital space with the provision of humanized nursing care to the patient, encouraging the nursing team to refl ect through the problems observed in the reality and always rediscovering stimuli to continue the hospital ambience.
Keywords: Community-institutional relations. Humanization of assistance. Health facility environment.
ResumenIntroducción: Ambientación consiste en la califi cación del espacio construido por medio de actitudes y recursos que provocan estímulos sensoriales benéfi cos a las personas favoreciendo la humanización del ambiente hospitalario. Objetivo: Conocer, en la percepción de los profesionales de salud, el concepto de ambiente hospitalario y la contribución del proyecto de extensión en la línea de ambientación para el fortalecimiento de la interacción enseñanza-servicio. Material y Método: Se trata de un estudio de abordaje cualitativo, descriptivo-exploratorio, realizado en un hospital público en Tangará da Serra-MT. Los sujetos de la investigación fueron profesionales de enfermería y médicos del servicio hospitalario, siendo cinco enfermeros y dos médicos. Los datos fueron recolectados utilizando un cuestionario semiestructurado. El material empírico fue categorizado y analizado a la luz del análisis de contenido. Resultados: Evidenció que la esencialidad del ambiente hospitalario es parcialmente reconocida por los profesionales, pero entienden que incluir las acciones humanizadas en su práctica fortalece el concepto de ambiente hospitalario. Observó que el ambiente construido en la integración enseñanza-servicio transforma la rutina hospitalaria al traducir formas de educación en salud. La vivencia del proyecto demuestra la necesidad de mantenimiento de los espacios de escucha, acogida y vínculo, ya que son acciones que contribuyen a la construcción del ambiente. Conclusión: Se espera con este estudio contribuir a la mejor adecuación del espacio hospitalario con la prestación de la asistencia humanizada de enfermería al paciente, incentivando al equipo de enfermería a refl exionar mediante los problemas observados en la realidad y siempre estar redescubriendo estímulos para dar continuación en el ambiente hospitalario.
Palabras clave: Relaciones comunidad-institución. Humanización de la atención. Ambiente de instituciones de salud.
Ledinéia Benedito da Silva*, Grasiele Cristina Lucietto**, Angélica Pereira Borges***, Vagner Ferreira do Nascimento****, Lucieli Dias Pedrechi Chaves*****, Josué Souza Gleriano******
224 Ambiência hospitalar: fortalecimento dainteração ensino-serviço2017 jul.-dez.; 11(2): 223-230
INTRODUÇÃO
A estrutura física hospitalar tem passado por
mudanças nos últimos tempos devido à preocupação
emergente com o bem-estar dos usuários. Isto repercute
nas instalações e na terapêutica em saúde. Atualmente,
o foco está na qualidade do ambiente hospitalar e na
preocupação em distanciar o aspecto hostil e institucional
que sempre predominou neste tipo de edifi cação1.
Este novo foco inclui a humanização dos
ambientes hospitalares, que tem como interesse essencial
o bem-estar físico e psicológico do usuário alinhado à
interação do espaço físico com valores humanos, dando
ênfase a centralidade no ser humano para direcionar a
concepção do projeto arquitetônico2. Assim, a ambiência
consiste na qualifi cação do espaço construído por meio de
atitudes e recursos que provoquem estímulos sensoriais
benéfi cos as pessoas, utilizando-se da integração interior/
exterior como peça fundamental para a humanização do
ambiente hospitalar.
Destaca-se que a ambiência é um dos eixos da
Política Nacional de Humanização (PNH), entendida como
um método dado ao espaço físico, social, profi ssional e
de relações interpessoais, relacionada com a assistência
à saúde, devendo, portanto, favorecer uma atenção
acolhedora, resolutiva e humana3,4.
É possível favorecer o debate sobre humanização
do cuidado por meio da organização da ambiência que em
sua concepção prevê a valorização das tecnologias que
integram o serviço de saúde e os componentes estéticos
ou sensíveis apreendidos pelos órgãos do sentido, como,
por exemplo, a luminosidade, os ruídos e a temperatura
do ambiente, a relação entre usuários, trabalhadores e
gestores, e as reações, além dos sons, aromas, texturas,
ventilação e intensidade luminosa diferenciada, cores e
formas diversas1.
Segundo as diretrizes da PNH, o hospital deve
promover uma “ambiência acolhedora e confortável”
garantindo ao usuário atendimento efi ciente3. No Brasil,
percebe-se um forte discurso sobre a humanização
hospitalar, porém não se tem certeza da sua utilização,
visto que esse termo pode ser usado tanto para se
caracterizar uma estrutura física, quanto para avaliar a
assistência prestada à comunidade.
No contexto brasileiro, as iniciativas relativas à
ambiência hospitalar são percebidas como ferramentas
que podem propiciar melhora na condução do modelo
assistencial, particularmente, na assistência pediátrica, a
fi m de tornar a experiência hospitalar menos angustiante
e traumática para as crianças por meio de intervenções
terapêuticas que colaborem na ação assistencial5.
Diante do exposto, oportunizou-se a integração
ensino-serviço através de um projeto de extensão,
permitindo a inserção de alunos em um cenário real de
atenção à saúde para explorar uma lacuna de conhecimento
existente tanto na universidade como no serviço de saúde
que é a ambiência hospitalar.
O estreitamento das relações entre universidades
e serviços de saúde favorece ambas as instituições,
possibilita aos trabalhadores dos serviços a educação
permanente, o frequente intercâmbio de conhecimentos,
como também fomenta estratégias de reorientação
da formação, representando uma oportunidade para
melhorias estruturais nas instituições. O refl exo desses
avanços tem impacto na qualidade da assistência6.
Assim, considerando esse conjunto de aspectos,
desenvolveu-se esse estudo com objetivo de conhecer,
na percepção dos profi ssionais de saúde, o conceito
de ambiência hospitalar e a contribuição do projeto de
extensão na linha de ambiência para fortalecimento da
interação ensino-serviço.
MATERIAL E MÉTODO
Trata-se de um estudo de abordagem qualitativa,
do tipo descritivo, exploratório, realizado em um hospital
público da região sudoeste do estado de Mato Grosso, que
integra campo de práticas de ensino, pesquisa e extensão
do curso de Enfermagem da Universidade do Estado de
Mato Grosso (UNEMAT).
Desde 2015, nesse hospital, docentes e discentes
do referido curso desenvolvem projetos alinhados a PNH,
vinculados ao Programa de Extensão em Saúde (PROEXTS)
e ao Escritório de Qualidade para Organizações de Saúde
(EsQualOS), que possuem como um dos objetivos inserir
acadêmicos, principalmente dos primeiros semestres, nas
práticas de extensão, visto que normalmente os projetos
destinam-se para as funções práticas da enfermagem
clínica, requerendo um prévio saber das disciplinas
específi cas.
Todos os projetos aplicados na interação ensino-
serviço propuseram formação aos extensionistas nas
225áreas de atuação, no intuito de descobrirem as diferentes
habilidades nos processos de comunicação, exposição da
informação e organização hospitalar.
O projeto de extensão “Ambiência na Saúde:
sinestesia, cor e arte”, apresentado nesse estudo, integrou
o plano de trabalho de um edital de fomento que previa
a interface entre extensão e pesquisa da Fundação de
Amparo à Pesquisa do Estado de Mato Grosso (FAPEMAT).
Para compor o grupo de participantes do estudo
foram estabelecidos como critérios de inclusão na pesquisa
ser profi ssional de saúde de nível superior do campo
de estudo, de preferência médico ou enfermeiro, atuar
diretamente e diariamente com o paciente, que estivesse
atuando no mínimo há seis meses na instituição. Foi
critério de exclusão estar ausente da instituição à época
da coleta de dados por qualquer tipo de afastamento.
A coleta de dados foi realizada no segundo
semestre de 2016, a partir do contato com os profi ssionais
por meio de uma visita pessoal, utilizando-se a entrevista
individual, gravada e guiada por um roteiro composto
por questões acerca do perfi l profi ssional, conceito da
ambiência, o uso da ambiência na prática profi ssional,
capacitações por parte da instituição para a incorporação
da humanização no processo de trabalho e avaliação do
projeto de extensão. O fechamento da amostra ocorreu
segundo o critério de saturação teórica de informações7.
Para preservar a identidade dos sujeitos, estes foram
identifi cados alfanumericamente pelos códigos E1 a E5
para enfermeiros e M1, M2 para médicos.
O material empírico transcrito na íntegra,
posteriormente foi categorizado e analisado à luz da análise
de conteúdo8. Emergiram três categorias: “conceito e
importância da ambiência na percepção dos profi ssionais”,
“o impacto da ambiência para a humanização da
assistência”, “a repercussão dos projetos de extensão na
ambiência hospitalar”.
A pesquisa respeitou os aspectos éticos, de
acordo com a Resolução nº 466/2012, sendo apreciada
pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da
Universidade do Estado de Mato Grosso (CEP/UNEMAT),
com parecer de aprovação nº 1.698.782 e CAAE:
54953816.0.0000.5166.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Participaram da pesquisa cinco enfermeiros e
dois médicos, na faixa etária de 31 a 59 anos, tempo de
formação entre 9 meses e 11 anos entre 2 a 8 anos de
atuação na instituição hospitalar.
Conceito e importância da ambiência na percepção
dos profi ssionais
O ambiente hospitalar deve propiciar conforto,
bem-estar e a interação entre usuários, família e equipe;
proporcionar o acolhimento, favorecer o estabelecimento
de vínculo entre os envolvidos, além de possibilitar
o resgate de valores de solidariedade, respeito e
corresponsabilidade com o outro, visando uma abordagem
terapêutica integral, digna e exitosa. Para tal, é essencial
que o ambiente hospitalar esteja adequado em aspectos
fundamentais de iluminação, cor e conforto higrotérmico
para possibilitar a confortabilidade do ambiente9.
Para os profi ssionais a concepção de ambiência
na saúde perpassa desde a estrutura física adequada até
aspectos mais amplos do conceito de ambiência, como o
oferecimento de atenção acolhedora, resolutiva e humana.
Acredito que seja a adequação de todo o espaço estrutural [...]. (M1)[...] engloba vários aspectos como a estrutura/espaço físico, o tratamento ao paciente, tipos de profi ssionais[...] é o conjunto que forma o ambiente e deixa-o de forma digna para prestar um atendimento adequado ao paciente. (M2)Ambiência é o tratado que a gente dá para o espaço hospitalar tanto social, interação, qualidade física para o atendimento. (E4)[...] signifi ca todo o local desde o piso até a parede, de que forma que os móveis estão dispostos, de que forma que a gente realiza o procedimento dentro do ambiente hospitalar considerando o ambiente o local a ser oferecido a assistência. (E5)
A PNH refere-se ao espaço físico, entendido como
ambiente social, profi ssional e de relações interpessoais,
fator estruturante nas narrativas dos profi ssionais para o
alcance da promoção do conforto, bem-estar, acolhimento
dos usuários e seus familiares. Porém, é necessário que
na descrição dessa concepção possa ser identifi cado como
se dá o processo terapêutico no âmbito da ambiência,
que requer do profi ssional um referencial e mudanças na
valorização dos espaços sociais do hospital como proposta
de induzir conexões entre os sujeitos que ali estão.
Nesse sentido, a estrutura física, o capital humano
e as relações sociais do espaço de trabalho, aspectos que
caracterizam o conforto, a subjetividade e o processo de
trabalho, são elementos que interferem no tratamento do
usuário9.
Há uma uniformidade nas narrativas sobre a
Ambiência hospitalar: fortalecimento dainteração ensino-serviço 2017 jul.-dez.; 11(2): 223-230
226importância da ambiência em saúde para o desempenho
de atividades terapêuticas e acreditam que um ambiente
agradável propicia o acolhimento e conforto dos usuários,
interfere na recuperação destes, permite melhorias na
relação profi ssional-usuário e entre as equipes, além de
proporcionar a humanização do cuidado.
É extremamente importante [...] uma estrutura bacana que seja adequada para aquela situação acaba interferindo diretamente na recuperação do paciente. (E3)Tem mais conforto para o paciente, ele se sente mais acolhido, as relações melhoram, até mesmo a relação interequipes[...]. (E4)Porque tem no hospital um público que é 80% composto de idosos e crianças, faixas etárias que precisam de maior humanização no cuidado, então é fundamental que o ambiente seja mais acolhedor possível. (M2)
Percebe-se pela própria organização do trabalho
nesse ambiente pesquisado e das responsabilidades que
cabem aos profi ssionais enfermeiros que esses atentam à
dimensão da estrutura e do layout, enquanto os médicos
sinalizaram para o público atendido.
Para os profi ssionais de enfermagem a assistência
humanizada não depende apenas da estrutura física do
hospital, mas também de questões de organização e gestão do
serviço, bem como da relação entre profi ssional-profi ssional;
profi ssional-gestão; profi ssional-usuário e família10.
O conceito de ambiência citado pelos participantes
segue primordialmente dois eixos: o espaço que visa a
confortabilidade focada na privacidade e individualidade
dos usuários e o espaço como ferramenta facilitadora
da organização do trabalho conforme a política de
humanização. Entretanto, no que refere ao espaço de
encontros entre os sujeitos, terceiro eixo apresentado na
política, os profi ssionais não conseguiram visualizar como
a ambiência proporcionaria a articulação desse sujeito na
tentativa de promover espaços de cuidado.
A produção de subjetividades envolve o encontro
de sujeitos (usuários, trabalhadores e gestores) que
utilizam do espaço para agir e refl etir sobre o processo
de trabalho bem como para estabelecer ações a partir
da integralidade e da inclusão1. Ou seja, uníssono aos
princípios da PNH, o hospital deve cuidar dessa conexão
de sujeitos, propiciando, além da informação das rotinas
hospitalares e do processo de trabalho, o uso da relação
interpessoal para buscar a integridade física e psicológica,
com fi m último nas pessoas internadas11.
Desperta refl exão que a construção da ambiência
na área hospitalar é necessária a partir do conhecimento
e respeito às características e valores que fomentem a
promoção do bem-estar, que seja capaz de minimizar
o processo burocrático reducionista e rotineiro que
se caracteriza por um espaço frio e hostil. Assim, a
combinação e o equilíbrio entre os eixos estruturais
da PNH podem ascender um ambiente acolhedor aos
usuários e profi ssionais, favorecendo o processo de cuidar
e a produção de saúde.
O impacto da ambiência para a humanização da
assistência
A necessidade de humanizar o ambiente
hospitalar para melhorar o cuidado pode suscitar esforços
no sentido de amenizar o cotidiano da internação. No
caso dos edifícios hospitalares, a arquitetura pode ser um
instrumento terapêutico ao contribuir para o bem-estar
físico e recuperação do usuário com a criação de espaços
que, além de acompanharem os avanços da tecnologia,
desenvolvam condições de convívio mais humanas12.
Nos trechos a seguir, os profi ssionais enfatizam a
importância do ambiente para a humanização:
[...] tendo uma boa ambiência, prestando um bom ambiente para o paciente, é muito mais fácil de ter um atendimento humanizado. (E2)[...] interfere diretamente na recuperação do paciente se ele está doente. A humanização está totalmente inserida na saúde porque se o ambiente que o paciente está inserido não é adequado, bem higienizado, bem arejado, tudo vai refl etir na recuperação do indivíduo estando então com défi cit na humanização [...]. (E3)[...] prestar uma assistência humanizada não basta só a relação com o paciente, mas também precisa [...], oferecer um bom ambiente pra ele ser atendido, conforto, então tudo isso se relaciona pra um atendimento humanizado. (M1)[...] acredito que tratando a pessoa de forma humanizada, a resposta tanto da gente pra ele e dele para o tratamento também vai ser melhor. (E5)
A humanização no ambiente de saúde ainda
é uma discussão recente. A solidariedade, a empatia, a
comunicação, o atendimento digno e a defesa de direitos
como aspectos imprescindíveis do cuidado são estratégias
que conduzem a uma forma humanizada que refl ete no
processo saúde-doença-cuidado, incluindo a constante
de harmonia nas relações entre profi ssionais, gestores e
usuários, visando o cuidado integral do usuário4.
Identifi cou-se que os profi ssionais compreendem
a ambiência inserida na sua prática por meio da relação
com a comunicação entre a equipe e a prestação da
assistência:
Ambiência hospitalar: fortalecimento dainteração ensino-serviço2017 jul.-dez.; 11(2): 223-230
227[...] tento fazer da melhor forma possível dentro daquilo que é oferecido pelo sistema que eu trabalho hoje [...] o paciente já esta debilitado se a gente atender mal já fi ca complicado pra ele, prejudicando muito esse indivíduo, mas eu acredito [...]. (E3)[...] se o sistema funcionasse de forma correta, se a estrutura física fosse compatível com o número de funcionários a gente conseguiria lhe dar melhor com essa situação e evitaria até os confl itos que a gente tem, tanto com cliente, quanto com a equipe interpessoal. (E4)
A equipe de enfermagem é apontada pelos
profi ssionais como facilitadora do processo de humanização
no ambiente hospitalar. Entretanto, ressaltam que o
inadequado dimensionamento do pessoal de enfermagem
fragmenta a gestão do cuidado.
É perceptível nas narrativas que o
dimensionamento profi ssional é um fator explicativo
para a baixa na ação de humanização e colaboração
para melhora da ambiência, porém, perpassa por
alguns atributos tais como odor, luminosidade, atenção,
organização do ambiente, que não dependem apenas do
profi ssional de saúde.
[...] acho que se tivesse um maior quantitativo de profi ssionais melhoraria bastante [...]. (E3)[...] hoje a grande difi culdade é o quantitativo, então às vezes a sobrecarga de trabalho acaba infl uenciando na própria humanização. (E4)[...] devido a quantidade de profi ssionais não temos muito tempo para oferecer um atendimento totalmente humanizado, na sala de estabilização a gente consegue fazer isso de forma mais concisa, já em alguns locais é um pouco mais complicado, pela difi culdade às vezes de abordar o paciente. (E5)
Para cuidar de forma humanizada, o profi ssional
da saúde, principalmente o enfermeiro que presta
cuidados mais próximos ao usuário, deve ser capaz
de entender a si mesmo e ao outro, ampliando a
legitimidade na consciência dos valores e princípios
que norteiam a sua ação. Neste contexto, respeitar
o usuário é componente primordial para a prática de
cuidados humanizados10.
O tempo de convívio com a mesma equipe
proporciona vínculo profissional e fomenta o
relacionamento afetivo que favorece ou possibilita
a troca de diálogos entre os profissionais com maior
frequência4. Observou-se que no caso desse serviço
há troca de informações que tendem a proporcionar,
na subjetividade profissional, resultado melhor
para a assistência e colaborar para a ambiência
hospitalar.
Nesse sentido, os profi ssionais são cientes que a
ambiência é essencial para ações de atenção nas diversas
áreas de trabalho, além de favorecer a construção da
relação de confi ança e compromisso dos usuários com
as equipes e com os serviços oferecidos, o que pode
contribuir para a valoração da atitude profi ssional.
É... assim... eu converso com as meninas, as meninas entendem o que eu falo, devido ao tempo de trabalho que temos juntas, e assim expõem o que elas entenderam, se elas não entenderam perguntam de novo, e dessa forma trocamos muitas informações [...]. (E5)[...] principalmente quando você tá assim trabalhando junto com um colega há muito tempo, com certeza a comunicação é bem melhor, acaba que temos ideias parecidas e assim podemos lutar para um melhor atendimento, buscando melhorias focando na ambiência... tá sempre perguntando: “- Você já fez isso? Vamos fazer junto? Agora, vamos fazer o que?”, “O que você acha sobre isso?”. Tudo assim, dentro junto, numa boa interação! (E2)
A ambiência, enquanto espaço de encontro
entre sujeitos, apresenta-se como um dispositivo que
potencializa e facilita a capacidade de ação e refl exão das
pessoas envolvidas nos cuidados prestados. Percebe-se
que o vínculo criado com a equipe, pelo tempo de trabalho
em conjunto, gerou afi nidade e possibilitou a produção
de novas subjetividades. Nesse espaço de conexão pode-
se aumentar a efi ciência funcional por permitir afi nar as
relações de coleguismo e amizade, possibilitando uma
troca de conhecimento sobre a humanização13.
A repercussão do projeto de extensão na ambiência
hospitalar
Os projetos de extensão universitária no hospital
caracterizam o processo educativo, cultural e científi co
que articula o ensino e a pesquisa de forma indissociável,
viabilizando relações para transformar o ambiente
hospitalar em um local menos traumatizante, promovendo
assim uma interação humanizada e acolhedora entre a
equipe multidisciplinar e entre equipe-usuário, inserindo
a universidade nas atividades da instituição hospitalar14.
Na instituição onde ocorreu a pesquisa, o projeto
em execução intitulado “Ambiência na Saúde: sinestesia,
cor e arte” tem contribuído para a execução de uma
assistência que se apropria de espaços físicos, de sujeitos
e do ambiente no intuito de promover a valorização do ser
humano no ambiente hospitalar.
O projeto parte de um referencial que integra a
ação da PNH e possui como objetivo inserir acadêmicos,
principalmente dos primeiros semestres, nas práticas de
extensão, visto que normalmente os projetos destinam-
Ambiência hospitalar: fortalecimento dainteração ensino-serviço 2017 jul.-dez.; 11(2): 223-230
228se para as funções práticas da enfermagem clínica,
requerendo um prévio saber das disciplinas específi cas.
Sua aplicação na interação ensino-serviço propôs
formação aos extensionistas nas áreas de atuação, no
intuito de descobrirem as diferentes habilidades nos
processos de comunicação, exposição da informação e
organização hospitalar.
Na avaliação dos profi ssionais, o projeto teve
efeitos positivos, avaliado como inovador para o serviço
de saúde, destacando-se narrativas acerca das ações
criativas, de simples realização e de baixo custo que
podem ser inseridas em qualquer espaço. Sinalizaram
ainda que essas ações despertam motivação e vontade
pessoal em realizar atividades que repercutem no processo
assistencial das suas práticas.
[...] é visível a expressão alegre dos pacientes, após a realização das atividades, às vezes o paciente está com uma autoestima baixa, uma depressão, está sozinho, então precisa de uma pessoa animada para tirar ele dessa situação. (E4)[...] tudo que fazer de bem pro hospital faz bem pro paciente também, então esse projeto teve um impacto muito grande tanto para nós quanto para os pacientes. (E1)[...] os acompanhantes comentam com nós que depois da brincadeira, do conto, da lembrança de uma data importante ele e seu fi lho se sentiram bem melhor no ambiente hospitalar. (E3)Quando chega o acadêmico com um sorriso, nós percebemos que o paciente já se sente melhor, porque hospital tem um clima pesado [...] então, tendo esse tipo de iniciativa, é ótimo. (M2)
Dentre as atividades do projeto de extensão
“Ambiência na Saúde: sinestesia, cor e arte”, destaca-se
a elaboração de murais comemorativos que trouxeram
repercussões positivas sinalizadas nas narrativas dos
profi ssionais. Além de proporcionarem um espaço
diferencial na aparência do hospital, os murais têm
oportunizado conforto, motivação e alegria, tanto para
a equipe de saúde quanto aos clientes hospitalizados,
incluindo também os acompanhantes e visitantes que
frequentam o ambiente e circulam onde os murais estão
fi xados, o que pode ser visualizado nos trechos a seguir.
A gente tem uma avaliação bem positiva dos murais, principalmente por parte dos usuários, eles fi cam cobrando a próxima data comemorativa [...]. (E2)Eu acho que dá um UP! no hospital [...] deixa o paciente mais acolhido, mais protegido e em casa, além de serem educativos, pois alguns transmitem através das informações pelos murais problemas que são da saúde [...]. (E3)
As diferentes formas de estabelecer a comunicação
em saúde devem ser resgatadas no eixo da formação de
futuros profi ssionais15. Os murais comemorativos fornecem
comunicação e informação referentes ao ambiente
externo, pois resgatam datas folclóricas, sobre prevenção
e acompanhamento de condições de saúde, além de datas
de valorização dos profi ssionais que atuam no ambiente
hospitalar, os quais, muitas vezes, passam despercebidos,
conforme citado a seguir.
Muitas vezes a gente nem tem conhecimento daquela data, muitas vezes com o cartaz a gente faz refl exões por conta da data [...]. (E1)Às vezes eu vejo, me deparo com uma informação e a gente acaba indo buscar mais informação, a maioria delas muito esclarecedoras. (M1)porque os murais nos levam a lembrar daquela data em especial, porque às vezes a gente cai dentro de uma rotina hospitalar de plantão e esquece, fi camos anestesiados e não lembramos das datas comemorativas importantes para as instituições de saúde [...]. (E5)
O projeto de ambiência, em específi co no
conceito da sinestesia, tem transformado o espaço
hospitalar na integração entre equipes e usuários. Os
profi ssionais expressaram motivação, reconhecimento e
valorização pelas homenagens das datas comemorativas.
Esses espaços tornam-se encontros de sujeitos, criam
sítios sinergéticos de ações de troca de experiência, de
recordações ou contemplação13.
[...] Os murais tem agregado bastante valor para nós também. (E3) Eu não achei que eles iam dar atenção, principalmente a equipe, mas quando colocaram o primeiro, eles tiraram foto, comentavam que legal, interessante, davam sugestões, ideias, se sentiam valorizados e também os pacientes gostaram bastante [...]. (E5)Acho que teve uma grande diferença porque muitos profi ssionais, por exemplo o pessoal do raio X, os médicos acham que são esquecidos, então quando vê um mural montado em homenagem ao seu dia, isso é muito bacana e traz uma sensação de reconhecimento, são bem humorados, bonitos, coloridos, realmente traz uma mudança muito grande para o ambiente. (M2)
O reconhecimento e respeito dos valores e
características presentes na rotina e espaços de execução
dos processos assistenciais são necessários, visto que
identifi cam a forma de promover o bem-estar e desfazer o
mito de que o hospital é um lugar frio e hostil1. A construção
da ambiência contribui para o avanço qualitativo das
discussões acerca da humanização, pois na sua concepção
pressupõe a valorização de tecnologias que compõem o
serviço de saúde.
A organização desse projeto foi pensada a partir
do pressuposto de que as atividades desenvolvidas
nesse espaço hospitalar poderiam amenizar os efeitos da
internação hospitalar, tanto no aspecto físico quanto no
aspecto psicológico, o que despertou nos profi ssionais
Ambiência hospitalar: fortalecimento dainteração ensino-serviço2017 jul.-dez.; 11(2): 223-230
229uma consciência refl exiva.
Contudo, é por meio da vivência lúdica que
podemos contribuir para que a angústia do usuário internado
diminua signifi cativamente. A proposta da ambiência
hospitalar deve ter os seus objetivos compreendidos em
uma dimensão mais ampla do que simplesmente divertir
os usuários. Nesse sentido, é importante que, ao criar a
ambiência, se conheçam e respeitem os valores culturais e
sociais referentes à privacidade, autonomia e vida coletiva
da comunidade em que se está atuando, construindo
ambiências acolhedoras e harmônicas que contribuam
para a promoção do bem-estar16.
Quando se concebe nova ambiência, pode-
se desencadear um processo de refl exão das práticas e
modos de operar naquele espaço, contribuindo para a
construção de novas situações. Os sujeitos envolvidos
nessa refl exão podem transformar seus paradigmas, e a
ambiência passa a ser um dos dispositivos no processo
de mudança. Assim, as áreas de trabalho, além de mais
adequadas funcionalmente, deverão também proporcionar
espaços vivenciais prazerosos17.
CONCLUSÃO
Observou-se que os profi ssionais entendem que
incluir as ações humanizadas em sua prática fortalece
o conceito de ambiência hospitalar e reconhecem a
importância das ações do projeto de extensão e do
fomento à proposta da PNH na ambiência hospitalar.
Porém, percebe-se que a ambiência na relação profi ssional-
usuário, em geral, ainda é pouco valorizada quando parte
das ações que são de responsabilidade dos profi ssionais.
Cabe ressaltar que os resultados desta pesquisa
proporcionaram a refl exão acerca da importância da
extensão estar inserida como componente curricular dos
cursos de graduação em enfermagem, a fi m de permitir
reestruturar a lacuna existente entre universidade e
comunidade.
Portanto, a ambiência construída nessa integração
ensino-serviço transformou a rotina hospitalar ao traduzir
formas de educação em saúde e um instrumental para os
espaços de valorização do sujeito, o que poderá auxiliar na
redução do conceito popular de que o serviço público é de
baixa qualidade na humanização.
Faz-se necessário o entendimento por parte
da gestão dos serviços da importância de qualifi cação
profi ssional nos aspectos da PNH e do monitoramento
da satisfação do usuário/profi ssionais com o ambiente de
serviço.
O trabalho retrata a necessidade da adequação do
dimensionamento de profi ssionais no hospital, visto que a
sobrecarga de trabalho da equipe resulta em ações menos
humanizadas. E conclui que apesar da questão estrutural
do hospital não ser a almejada, ações simples como
murais informativos possuem resultados signifi cativos na
ambiência dos hospitais.
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Recebido em: 24/06/2017Aceito em: 27/10/2017
Ambiência hospitalar: fortalecimento dainteração ensino-serviço2017 jul.-dez.; 11(2): 223-230
231Assistência de enfermagem no programa hiperdia:relato de experiência em estágio supervisionado 2017 jul.-dez.; 11(1): 231-238
ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NO PROGRAMA HIPERDIA: RELATO DE EXPERIÊNCIA EM ESTÁGIO SUPERVISIONADO
NURSING ASSISTANCE IN THE HIPERDIA PROGRAM: EXPERIENCE REPORT DURING SUPERVISED STAGE
ASISTENCIA DE ENFERMERÍA EN EL PROGRAMA HIPERDIA: RELATO DE EXPERIENCIA EN ETAPA SUPERVISADA
*Acadêmicas do curso de Bacharelado em Enfermagem da Universidade Federal do Acre (UFFAC), Rio Branco-AC, Brasil.**Enfermeira. Bacharel em Enfermagem pela UFAC, Doutora em Ciências, Professor Adjunto II do curso de graduação de Bacharelado em Enfermagem – UFAC, Rio Branco-AC, Brasil. Contato: ionarcosson@uol.com.br***Enfermeira. Bacharel em Enfermagem, Mestre em Ciências pela Universidade Federal de São Paulo, Escola Paulista de Enfermagem. Professora Assistente II do curso de graduação de Bacharelado em Enfermagem da Universidade Federal do Acre (UFFAC), Rio Branco-AC, Brasil. Contato: jacamaraldenora@bol.com.br
ResumoIntrodução: O programa Hiperdia cadastra, atende e acompanha portadores de hipertensão arterial e/ou diabetes mellitus pela rede ambulatorial do Sistema Único de Saúde. Destina-se ao tratamento dessas condições crônicas que envolvem um leque muito amplo de doenças e agravos, especialmente cardiovasculares. Objetivos: Relatar a experiência de Estágio Supervisionado na Atenção Básica em Saúde, realizado por acadêmicas de enfermagem em uma unidade de referência, no município de Rio Branco-Acre, no período de abril a junho de 2015; traçar um paralelo entre as ações assistenciais realizadas e as preconizadas pelo Ministério da Saúde, quanto ao programa Hiperdia. Material e Método: Trata-se de um relato de experiência que utilizou como técnica de coleta de dados o diário de campo e a observação participativa nas atividades clínicas e gerenciais da unidade. Resultados: Evidenciou-se a ausência de uma assistência qualifi cada pelo enfermeiro quanto à atuação de forma efetiva e direta no programa, assim como ausência de educação continuada e permanente para os técnicos de enfermagem, pouca busca ativa dos faltosos e acompanhamento domiciliar, como também pouca informação verbal ou visual ao público alvo, estando, portanto, em desacordo com o preconizado pelo Ministério da Saúde, pactuado no caderno do programa Hiperdia. Conclusão: Perceberam-se falhas na comunicação do enfermeiro com o cliente e a família, não contribuindo para acompanhamento integral e longitudinal dos pacientes com fatores de risco e, consequentemente, para a emancipação do usuário do sistema, considerando-se que é de posse de informações que a pessoa se integra ao processo saúde/doença, especialmente por conhecer atitudes e meios que lhe proporcionem melhor qualidade de vida, adoção de medidas preventivas de doenças e de possíveis complicações futuras.
Palavras-chave: Assistência de enfermagem. Hiperdia. Sistema Único de Saúde. Enfermeiro. Educação.
AbstractIntroduction: The Hiperdia program registers, attends and accompanies patients with arterial hypertension and / or diabetes mellitus through the outpatient network of the Unifi ed Health System - SUS. It is intended for the treatment of these chronic conditions that involve a very wide range of diseases and complications, especially cardiovascular diseases. Objectives: To report the experience of Supervised Internship in Health Primary Care, carried out by nursing students in a reference unit, in the municipality of Rio Branco - Acre, from April to June 2015; to draw a parallel between the assistance actions carried out and those recommended by the Health Ministry regarding the Hiperdia program. Material and Method: This is an experience report that used as data collection technique the fi eld diary and the participative observation in the clinical and managerial activities of the unit. Results: We detected the absence of a qualifi ed care by the nurse regarding the effective and direct intervention in the program, as well as the absence of continuous and permanent education for the nursing technicians, little active search of the absentees and home monitoring, as well as lack of verbal or visual information to the target audience, being, therefore, in disagreement with the Health Ministry recommendation, agreed in the Hiperdia program booklet. Conclusion: We perceived failure in nurses communication with the client and the family as well, not contributing to the integral and longitudinal follow-up of patients with risk factors and, consequently, to the emancipation of the system user, considering that it is well known that the individual becomes integrated into the health/illness process, especially for knowing attitudes and means that provide him a better quality of life, adoption of measures preventive of diseases and of possible future complications as well.
Keywords: Nursing care. Hyperdia. SUS. Nurse. Education.
ResumenIntroducción: El programa Hiperdia registra, atiende y acompaña portadores de hipertensión arterial y/o diabetes mellitus por la red ambulatoria del Sistema Único de Salud - SUS. Se destina al tratamiento de estas condiciones crónicas que involucran un abanico muy amplio de enfermedades y agravios, especialmente cardiovasculares. Objetivos: Comunicar la experiencia de Etapa Supervisada en la Atención Básica en Salud, realizada por académicas de enfermería en una unidad de referencia, en el municipio de Rio Branco - Acre, en el período de abril a junio de 2015; trazar un paralelo entre las acciones asistenciales realizadas y las preconizadas por el Ministerio de Salud, en cuanto al programa Hiperdia. Material y Método: Se trata de un relato de experiencia que utilizó como técnica de recolección de datos el diario de campo y la observación participativa en las actividades clínicas y gerenciales de la unidad. Resultados: Se evidenció la ausencia de una asistencia califi cada por el enfermero en cuanto a la actuación de forma efectiva y directa en el programa, así como ausencia de educación continuada y permanente para los técnicos de enfermería, poca búsqueda activa de los faltos y acompañamiento domiciliar, como también poca la información verbal o visual al público objetivo, estando, por lo tanto, en desacuerdo con lo preconizado por el Ministerio de Salud, pactado en el cuaderno del programa Hiperdia. Conclusión: Se percibieron fallas en la comunicación del enfermero con el cliente y la familia, no contribuyendo para acompañamiento integral y longitudinal de los pacientes con factores de riesgo y, consecuentemente, para la emancipación del usuario del sistema, considerando que es de posesión de la información que la persona se integra al proceso salud / enfermedad, especialmente por conocer actitudes y medios que le proporcionen mejor calidad de vida, adopción de medidas preventivas de enfermedades y de posibles complicaciones futuras.
Palabras claves: Asistencia de enfermería. Hiperdia. SUS. Enfermero. Educación.
Maria Alcineide do Nascimento*, Sandra Cristina Bezerra de Almeida*, Ionar Cilene de Oliveira Cosson**, Jaçamar Aldenora dos Santos***
232 Assistência de enfermagem no programa hiperdia:relato de experiência em estágio supervisionado2017 jul.-dez.; 11(1): 231-238
INTRODUÇÃO
Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNTs)
ameaçam a saúde e o desenvolvimento das nações, pois
geralmente são incapacitantes, ocasionam sofrimentos e
custos materiais diretos aos pacientes e seus familiares,
além de causarem forte impacto fi nanceiro sobre o sistema
de saúde1. Um grande desafi o para as equipes de Atenção
Básica em Saúde (ABS) é a atenção dada às doenças
crônicas, atualmente prevalentes, multifatoriais com
coexistência de determinantes biológicos e socioculturais,
cuja abordagem, para ser efetiva, deve envolver as
diversas categorias profi ssionais das equipes de saúde,
exigindo o protagonismo dos indivíduos, suas famílias e
da comunidade2.
A Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) e o
Diabetes Mellitus (DM) são DCNTs de grande magnitude
e alvo de criteriosa investigação da Pesquisa Nacional de
Saúde (PNS)3. Representam importantes fatores de risco
para o agravamento das doenças cardiovasculares e uma
das principais causas de morbimortalidade na população
brasileira. Repercutem negativamente na qualidade
de vida e tendem a aumentar nos próximos anos, não
somente pelo envelhecimento da população e à crescente
urbanização, mas principalmente pelo estilo de vida
pouco saudável adotado pela população brasileira4. Tais
doenças levam frequentemente à invalidez parcial ou total
do indivíduo, com graves repercussões para o paciente, a
família e a sociedade. A abordagem em conjunto dessas
morbidades se deve a possibilidade da associação entre o
DM e a HAS ser da ordem de 50%, requerendo na grande
maioria dos casos, o manejo dessas patologias num
mesmo paciente, considerando-se que a prevalência da
hipertensão em diabéticos é, ao menos, duas vezes maior
do que na população em geral5.
Doenças crônicas de grande impacto
epidemiológico, a HAS e o DM têm elevado custo para o
serviço de saúde. A HAS é uma condição clínica multifatorial
caracterizada por níveis elevados e sustentados de
pressão arterial (PA) (PA ≥ 140/90 mmHg). Associa-se,
frequentemente, às alterações funcionais e/ou estruturais
dos órgãos-alvo (coração, encéfalo, rins e vasos
sanguíneos) e às alterações metabólicas, com aumento do
risco de eventos cardiovasculares fatais e não fatais. É um
grave problema de saúde pública no Brasil e no mundo,
variando a sua prevalência no Brasil entre 22% e 44%
para adultos (32% em média), chegando a mais de 50%
para indivíduos com 60 a 69 anos e 75% em indivíduos
com mais de 70 anos6.
A elevação crônica da pressão arterial é motivo
de grande estudo no campo científi co. A compreensão da
fi siopatologia da HAS é importante, pois ajuda a orientar
quais ações de saúde devem estar voltadas para a
prevenção ou promoção de saúde. A interação entre fatores
genéticos e ambientais determina o desenvolvimento
da doença; escassez de ações de saúde voltadas para
o controle da HAS e a falta de adesão ao tratamento
conduzem ao aparecimento de complicações em órgãos
ricamente vascularizados, denominadas lesões de órgão-
alvo, predispondo a pessoa a cardiopatia hipertensiva,
doença coronária, doença cerebrovascular, nefropatia
hipertensiva, retinopatia hipertensiva, aortopatia e doença
arterial periférica6.
As ações de promoção e prevenção da saúde têm
como alvo medidas de controle dos fatores, como excesso
de peso, consumo excessivo de sal e uso inadequado de
álcool, sendo a Atenção Básica a grande responsável pelas
ações de controle individual e coletivo. O acompanhamento
integral e longitudinal dos pacientes com fatores de
risco para HAS é essencial, devendo proporcionar uma
verdadeira mudança do estilo de vida, por meio de
orientações médicas, como restrição sódica, dieta Dash
(Dietary Approaches to Stop Hypertension) perda de peso,
moderação do consumo etílico, interrupção do tabagismo
e exercícios regulares6. A fi nalidade da linha de cuidado da
HAS é fortalecer e qualifi car a atenção à pessoa com essa
doença em todos os pontos de atenção7.
Quanto ao DM, estima-se que, mundialmente,
afete 347 milhões, sendo que mais de 80% das mortes
ocorrem em países de baixa e média renda. O DM possui
alta incidência na população brasileira, revelando-se
como um problema de grande importância social e para
a saúde pública do país8. Doença caracterizada pelo
comprometimento do metabolismo da glicose, resulta
em hiperglicemia crônica e divide-se em Diabetes Tipo
1, Tipo 2, gestacional e outros tipos específi cos. O DM
tipo 1 caracteriza-se pela destruição das células beta do
pâncreas (geralmente causada por processo autoimune),
levando ao estágio de defi ciência absoluta de insulina,
sendo necessária a administração da insulina para
prevenir cetoacidose, coma e até a morte. O DM tipo
2332 caracteriza-se pela resistência à ação da insulina e a
defi ciência da insulina manifesta-se pela incapacidade de
compensar essa resistência. Outros tipos de Diabetes são
menos frequentes, e podem resultar de defeitos genéticos
da função das células beta e da ação da insulina, doenças
no pâncreas exócrino, infecções, efeito colateral de
medicamentos, dentre outros9.
O DM exige um acompanhamento regular e
sistêmico por uma equipe multiprofi ssional de saúde que
ofereça os recursos necessários para que a pessoa possa
manejar a patologia e manter o autocuidado necessário
para evitar o agravo da doença10.
Dessa maneira, a educação em saúde constitui a
base para o manejo e o domínio da enfermidade1. O DM e a
HAS são responsáveis por alta mortalidade e hospitalização
no Sistema Único de Saúde (SUS) e representam, ainda,
mais da metade do diagnóstico primário em pessoas com
insufi ciência renal crônica, submetidas à hemodiálise11.
Esse processo de morbidade resulta em consequências
humanas, sociais e econômicas de grandes proporções,
além de grande impacto econômico, notadamente nos
serviços de saúde, com crescentes custos do tratamento
da doença e, sobretudo, das complicações12. O maior
custo, entretanto, é para portadores, suas famílias, amigos
e a comunidade, considerando que o impacto na redução
de expectativa e qualidade de vida é considerável10.
Diante deste cenário, o Ministério da Saúde
vem adotando várias estratégias e ações para reduzir
o ônus das doenças cardiovasculares na população
brasileira como as medidas antitabágicas, as políticas
de alimentação e nutrição e de promoção da saúde com
ênfase na escola, além das ações de atenção à HAS e o DM,
notadamente na rede básica de saúde. Dentre as ações,
o sistema informatizado de cadastro e acompanhamento
de portadores na rede básica de saúde, o SIS-Hiperdia-
sistema informatizado de gestão clínica que permite
cadastrar e acompanhar os portadores de HAS ou DM,
atendidos na rede primária do Sistema Único de Saúde
(SUS), gera informações para os gerentes locais, gestores
das secretarias municipal, estadual e Ministério da Saúde
(MS). Esse programa promove ainda a reorientação da
assistência farmacêutica pelo fornecimento contínuo e
gratuito de medicamentos, além do monitoramento das
condições clínicas de cada usuário do sistema6.
No Brasil, os desafi os do controle e prevenção da
HAS e suas complicações são, sobretudo, das equipes de
ABS, cujos profi ssionais têm importância primordial nas
estratégias de prevenção, diagnóstico, monitorização e
controle da HAS, cujo foco é o princípio fundamental da
prática centrada na pessoa e, consequentemente, envolver
usuários e cuidadores, em nível individual e coletivo, na
defi nição e implementação de estratégias de controle à
hipertensão7.
Nesse contexto, o enfermeiro é imprescindível,
pois a educação em saúde é um instrumento fundamental
para qualifi car a assistência do paciente e da família, e
enquanto processo, objetiva capacitar indivíduos ou
grupos para contribuir na melhoria das condições de vida
e saúde da população pelo estímulo e a refl exão crítica
das causas dos seus problemas, bem como das ações
necessárias para a sua resolução13,14, assim, investir na
prevenção é decisivo não só para garantir a qualidade
de vida como também para evitar a hospitalização e
consequentes gastos, especialmente quando se considera
o alto grau de sofi sticação tecnológica da medicina
moderna5.
O Sistema Informatizado de Cadastramento e
Acompanhamento de Hipertensos e Diabéticos, denominado
Sis-HIPERDIA, intitulado Hiperdia, foi implantado no ano
de 2001 pelo MS. O Plano de Reorganização da Atenção aos
portadores de HAS e DM, com ênfase na Atenção Primária
a Saúde (APS) no país é resultado de parcerias com várias
sociedades cientifi cas, entidades de pacientes com essas
patologias, com os 27 estados brasileiros e o Distrito
Federal e com 5.563 municípios através de representações
do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (CONASS)
e do Conselho Nacional de Secretários Municipais de
Saúde (CONASEMS). Este plano prioriza a confi rmação
dos casos suspeitos, a elaboração de protocolos clínicos
e treinamento de profi ssionais de saúde, a garantia da
distribuição gratuita de medicamentos anti-hipertensivos,
hipoglicemiantes orais e insulina NPH, além do cadastro e
acompanhamento desses pacientes13.
A organização da estrutura de uma rede de
atenção à HSA e DM é fundamental para atendimento
efi ciente e efi caz na reorganização do SUS. O modelo de
redes de atenção deve estar sempre pactuado e integrado,
promovendo reestruturação e a ampliação do atendimento
resolutivo e de qualidade na rede pública de serviços de
saúde14.
Assistência de enfermagem no programa hiperdia:relato de experiência em estágio supervisionado 2017 jul.-dez.; 11(1): 231-238
234A estratégia e-SUS faz referência ao processo de
informatização qualifi cada do SUS em busca de um SUS
eletrônico. A coordenação do programa Hiperdia municipal
de Rio Branco-AC, em conjunto com gestores da Secretaria
Municipal de Saúde (SEMSA) utilizam o programa em nível
municipal, coletando informações para alimentar o banco
de dados interno*.
Diante do exposto, o presente estudo tem como
objetivos: relatar a experiência de Estágio Supervisionado
obrigatório na Atenção Básica, realizado por acadêmicas de
enfermagem em uma unidade de referência, no município
de Rio Branco-AC, no período de abril a junho de 2015;
traçar um paralelo entre as ações assistenciais realizadas
e as preconizadas pelo MS, quanto ao programa Hiperdia.
Assim, o propósito expor e refl etir sobre a dinâmica do
grupo Hiperdia na Unidade de Referência de Atenção
Primária (URAP).
MATERIAL E MÉTODO
Trata-se de um relato de experiência vivenciado
por acadêmicas do 7° período do curso de graduação
em enfermagem em uma UBS, por ocasião de atividades
teórico-práticas desenvolvidas em campo de Estágio
Supervisionado pela Universidade Federal do Acre (FAC),
localizada em Rio Branco-AC, no período de abril a junho
de 2015.
A abordagem metodológica foi qualitativa, a
técnica do tipo observação participativa, e o instrumento o
diário de campo, possibilitando acompanhar os pacientes.
A análise dos dados foi realizada pelo método comparativo
e analítico entre o que foi observado no serviço oferecido
aos usuários do programa, as atribuições da equipe
multiprofi ssional e a logística estabelecida pelo MS.
O cenário da pesquisa ocorreu na Unidade de
Referência de Atenção Primária (URAP), localizada no primeiro
distrito do município de Rio Branco-AC, referência para as
Unidades de Saúde da Família (USF) Elpídio e USF Platilde.
Essas duas unidades abrangem 21 áreas, cada uma contendo
sete Agentes Comunitários de Saúde (ACS), totalizando 28
pessoas, sendo que cada ACS acompanha 150 famílias.
A URAP atende a 48 mil famílias, cuja média é
de sete pessoas/família. É referência nos arredores da
unidade, assim como para os bairros: Tancredo Neves,
Defesa Civil, Montanhês, Jorge Lavocard, Xavier Maia,
Adalberto Sena, Wanderley Dantas e Vila Nova. Serve
também de referência para outros municípios pela
infraestrutura e qualidade no atendimento aos usuários.
A estrutura da unidade é privilegiada, pois todas
as salas são climatizadas e com espaços adequados para
o atendimento a todos os usuários que apresentem ou não
difi culdades de locomoção. Funciona doze horas por dia
e busca atender a todos os pacientes que necessitem de
um atendimento básico de saúde por consultas médicas,
consultas de enfermagem e visitas domiciliares.
Há um laboratório de análises clínicas que funciona
na própria unidade, além do Laboratório Central de Saúde
Pública (LACEN) e do Centro Avançado de Diagnóstico
e Imagem (CADI) que realiza as ultrassonografi as
(USG), constituindo-se de ferramentas essenciais para
um diagnóstico confi ável. Os agendamentos para as
realizações de exames para o LACEN e CADI são feitos na
sala de regulação.
A unidade é referência em atenção primária,
contando com clínico geral, cirurgião (pequena cirurgia),
pediatra, ginecologista, fi sioterapeuta, psicólogo,
assistente social, educador em saúde. Desenvolve o
programa de Hiperdia, programa de crescimento e
desenvolvimento da criança, programa de tabagismo,
consultas de enfermagem, pré-natal, exame Preventivo do
Câncer do Colo do Útero (PCCU) e planejamento familiar.
Na coleta de dados seguiu-se o plano de ação
elaborado para o Estágio Supervisionado na ABS, que
estabelece que o acadêmico participe das atividades de
todos os setores da unidade de saúde, a qual destina
às quartas-feiras o atendimento na sala do Hiperdia,
oportunidade utilizada no atendimento aos usuários
do programa e integração com a equipe de saúde. As
atividades realizadas no diário de campo continham o
registro do fl uxograma, das equipes que compõem o setor,
do espaço físico, mobiliário, os tipos de impressos, da
rotina, da qualidade do atendimento, acertos e defi ciências
do serviço prestado, além do perfi l dos usuários.
Na primeira semana realizou-se a observação
do espaço físico, sendo mensuradas portas, janelas e
a sala onde é realizado o atendimento dos usuários do
Hiperdia. Foi verifi cada a acessibilidade aos portadores
com difi culdade para deambular (usuários em cadeira
de rodas), a existência e condições das paredes, teto,
* Informação verbal da enfermeira responsável pela área técnica de Hipertensão Arterial e Diabetes Mellitus, da Secretaria Municipal de Saúde (SEMSA), Rio Branco-AC.
Assistência de enfermagem no programa hiperdia:relato de experiência em estágio supervisionado2017 jul.-dez.; 11(1): 231-238
235assoalho, depósito de lixo comum e hospitalar, pia para
higienização das mãos, climatização e instalações elétricas
e hidráulicas. Oportunidade, também, de conhecer
os funcionários do setor, os impressos utilizados no
atendimento e o local de armazenamento de dados.
As semanas seguintes foram dedicadas ao
atendimento aos usuários, onde as consultas eram
previamente agendadas, com início às sete horas da
manhã, destinando-se a pré-consulta para atendimento
médico e a livre demanda, agendamento de consulta,
renovação de receitas médicas, atualização do mapa
pressórico, testes de glicemia e verifi cações da pressão
arterial para simples conferência do usuário, totalizando
aproximadamente 47 pacientes atendidos às quartas-
feiras semanalmente. Também foram realizadas as
pré-consultas, medidas antropométricas, entrevistas,
preenchimento dos formulários de cadastro ao programa
e de acompanhamento clínico e orientações ao paciente
e familiar.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A experiência de observação na sala do programa
Hiperdia da unidade de saúde caracterizou-se num
processo rico e complexo de aproximação da realidade,
possibilitando conhecer e aprender sobre objetivos e
metas e traçar um paralelo entre as ações estratégicas
preconizadas pelo Ministério da Saúde e o cotidiano da
unidade.
Durante a vivência foi possível acompanhar a rotina
das atividades realizadas pela equipe multiprofi ssional,
observar o fl uxo do serviço e a estrutura física do local,
a forma de armazenamento de dados e os respectivos
encaminhamentos do programa Hiperdia.
Quanto ao espaço físico da sala do programa
Hiperdia, o mesmo encontrava-se dentro dos padrões
regulamentados pela RDC 50 da ANVISA, que normatiza
estabelecimentos de saúde. Também, não foram
encontrados pontos em desacordo com a lei, capazes de
prejudicara assistência prestada, ou seja, o mobiliário,
climatização, acessibilidade e a estrutura física permitem
às pessoas trabalharem de forma segura e confortável,
oferecendo atendimento de qualidade ao usuário.
Na unidade, após a confi rmação do diagnóstico,
o paciente é encaminhado para a sala do programa
Hiperdia, para inclusão no Sistema de Cadastramento e
Acompanhamento de Hipertensos e Diabéticos, onde se
preenchem formulários de adesão ao programa: cartão
de hipertenso ou diabético, mapa de curva pressórica
e glicêmica, cadastro de inclusão na unidade básica,
cadastro ao programa nacional do Hiperdia e fi cha de
acompanhamento.
Os dados pessoais, socioeconômicos e de saúde
da pessoa são coletados através de entrevista e resultados
da avaliação física, que são transcritos manualmente para
material impresso, devido à falta de sistema de informação
computadorizado, deixando o atendimento lento e sujeito
a falhas e ao critério humano. O preenchimento manual
dos formulários está em desacordo com o plano de
implantação do programa que, na sua origem, seria um
sistema integrado e informatizado, desde sua origem na
unidade básica até o Ministério da Saúde. A não utilização
do sistema integrado causa falha no preenchimento do
formulário, variando desde a omissão, repetição ou erros
de dados, acarretando prejuízo ao usuário e a equipe
multiprofi ssional, pois estudos realizados afi rmam que
a qualidade da informação é recurso primordial para a
tomada de decisões, uma vez que através dela pode-se
chegar o mais próximo possível da realidade, traçar perfi l,
detectar problemas e agir em prol da resolução15. Essas
informações possuem uma dimensão política e estratégica
para os processos decisórios na área da saúde16, pois o
artigo 41, da Resolução do COREN nº. 311/2007 (Código
de Ética dos Profi ssionais de Enfermagem) reafi rma
essa posição, estabelecendo que compete a equipe de
enfermagem, prestar informações, escritas e verbais,
completas e fi dedignas, necessárias para assegurar a
continuidade da assistência17.
A equipe multiprofi ssional é atuante nas suas
diversas categorias. O atendimento inicial acolhedor e
realizado pelo técnico de enfermagem, propicia a formação
de vínculo afetivo entre a equipe multiprofi ssional e
os usuários; os técnicos de enfermagem também são
responsáveis por preencher os formulários de adesão ao
programa, realizar as medidas antropométricas, aferir
a pressão arterial, realizar o exame de glicemia capilar,
agendamento do retorno e orientações diversas.
O programa conta com um médico, clínico geral
que reserva um dia por semana para as consultas por
atendimento exclusivo aos usuários, estabelecendo o
diagnóstico clínico, instituindo o tratamento adequado,
Assistência de enfermagem no programa hiperdia:relato de experiência em estágio supervisionado 2017 jul.-dez.; 11(1): 231-238
236avaliando também a necessidade da doação do aparelho
glicosímetro ao paciente. Também direciona o fl uxo
para outros profi ssionais da equipe multiprofi ssional
conforme a necessidade do paciente, tais como psicólogo,
fi sioterapeuta, nutricionista, educador físico, dentista,
dentre outros.
O trabalho da equipe multiprofi ssional é
imprescindível e possibilita realizar após as avaliações
e ações a interdisciplinaridade, pois permite traçar
conjuntamente as ações necessárias para a recuperação
e manutenção da saúde dos usuários, portadores dessas
doenças18. O trabalho em equipe nas unidades é um dos
principais instrumentos de intervenção, pois as ações
e práticas se estruturam a partir da equipe, ao mesmo
tempo em que ocorre neste tipo de trabalho em saúde, a
ampliação do objeto de intervenção, para além do âmbito
individual e clínico19.
Nos contextos assistenciais em ABS o trabalho do
enfermeiro deve ser dinâmico, interativo e integrado às
demais equipes, conforme preconiza o programa. Nesse
sentido, percebeu-se pouca atuação do enfermeiro no
programa Hiperdia, observando-se a ausência de educação
permanente ou continuada para técnicos de enfermagem,
falta de busca ativa dos faltosos e acompanhamento
domiciliar, como também pouquíssima informação verbal
ou visual ao público alvo, estando assim, em desacordo o
Ministério da Saúde, no que está pactuado pelo caderno do
Hiperdia, o qual defi ne as atribuições de cada profi ssional
inserido no programa.
A educação em saúde nas Estratégias de Saúde
em Família (ESF) ainda ocorre permeada de contradições e,
para compreendê-la, o profi ssional de saúde, especialmente
o enfermeiro, precisa considerar as novas formas de
relações sociais e as necessidades de saúde da população,
com vistas a superar as práticas limitadas ao ensinamento
de comportamentos saudáveis. O enfermeiro tem papel
fundamental, pois além de coordenar toda a equipe de
enfermagem, ainda atua em funções administrativas e de
gerenciamento, é cuidador, educador, atua no ensino e
na pesquisa19 com atribuições tanto no controle como na
prevenção, através da educação em saúde20.
Dentre as muitas atribuições e saberes científi cos
e tecnológicos adquiridos na graduação de enfermagem,
destaca-se a informação, o poder da educação de
transformar vidas, reverter diagnósticos, prevenir novas
patologias ou complicações dos agravos já existentes.
A educação é uma das ações prioritárias incluídas no
processo de trabalho da equipe, uma vez que o educar e
o cuidar devem ser recíprocos, promovendo desta forma
uma permuta de conhecimentos, é uma troca de saberes
entre o sujeito e o profi ssional, atuando como prática
transformadora21. Considerando que a mesma é a base da
prevenção e a forma mais efi caz, barata e gratifi cante de
tratar esses agravos, é importante, pois engloba, além da
educação para a saúde, a reorganização das comunidades
e da rede básica4.
A busca pela melhor qualidade na atenção a
saúde dos usuários, exige dos profi ssionais competências
técnicas em suas atuações de modo que a qualifi cação
seja adequada e seguida de capacitações tornando o
profi ssional da saúde apto para atuar em todos os níveis de
atenção. O enfermeiro é reconhecido por ser o interlocutor
e o principal agente catalisador das políticas e programas
voltados para a saúde coletiva, em especial para a ESF22.
Especifi camente sobre a saúde pública, a autonomia
do enfermeiro torna-se mais expressiva por meio do
atendimento à população nas consultas de enfermagem e
nas atividades de educação em saúde no âmbito individual
e coletivo23.
O enfermeiro deve compreender que o processo
de trabalho não se restringe a atuação sobre doenças e
agravos, mas que é necessário dar condições a pessoa, a
família e a comunidade para conquistarem saúde biológica,
psicológica, espiritual, social e ambiental24.
Ao promover um processo educativo como o
empoderamento e, estando capacitado para desempenhar
o papel de educador em saúde, o enfermeiro pode levar
o usuário a uma refl exão sobre sua condição, ajudando-o
a desenvolver conhecimentos, habilidades, atitudes e
autoconhecimento necessários para assumir efetivamente
a responsabilidade com as decisões acerca de sua saúde.
Desta forma, o empoderamento é um recurso a ser utilizado
pelo enfermeiro na promoção da saúde, requerendo do
profi ssional um diálogo com a comunidade na qual está
inserido, de modo a identifi car suas particularidades e
necessidades para adequar sua conduta e assim alcançar
seus objetivos25.
Assim, é importante estimular e motivar o indivíduo
a refl etir sobre seus interesses e necessidades, além de
torná-lo autônomo para o cuidado a sua saúde sendo
Assistência de enfermagem no programa hiperdia:relato de experiência em estágio supervisionado2017 jul.-dez.; 11(1): 231-238
237capaz de superar problemas cotidianos, ao tomar decisões
adequadas para lidar com a doença. O enfermeiro, dentre
os que trabalham na área da saúde, é capacitado para
desenvolver atividades de promoção à saúde e prevenção
de doenças, podendo contribuir, signifi cativamente para a
transformação do modelo assistencial26.
Tornou-se evidente a importância da educação
em saúde e a presença ativa e efetiva do enfermeiro
no programa Hiperdia, pois de posse das informações
pertinentes ao processo saúde/doença, pode promover a
melhoria da qualidade de vida de usuários, familiares e da
comunidade.
Para Fracolli e Alvim de Castro27 a importância
das inovações em termos das tecnologias de educação
e formação profi ssional, contribui para a formação de
um profi ssional mais autônomo, mais participativo, mais
envolvido com o compromisso e com a responsabilidade
social, seja ela expressa na relação com o indivíduo ou com
o coletivo, necessita de relações de ensino-aprendizagem
mais emancipatórias e críticas. A inserção precoce e crítica
dos alunos para ações de cunho teórico-prático junto aos
serviços ABS se confi gura em uma ação muito próxima do
horizonte almejado para o ensino da enfermagem e para
o SUS.
CONCLUSÃO
A falta de especifi cidade do papel do enfermeiro
fi cou evidente na divisão de tarefas com a equipe de
enfermagem, pois se perceberam com o desenvolvimento
do estudo poucas ações e estratégias do enfermeiro na
sala do programa Hiperdia conforme preconizado pelo
Ministério da Saúde, embora desenvolva atividades que
atendem parcialmente as necessidades da microárea onde
desenvolve as atividades profi ssionais.
Determina as normas de implementação do
Hiperdia que o enfermeiro tenha papel de articulador de
ações e disseminador de informações, considerando que
a educação em saúde é um alicerce a ser fi rmado nos
setores de saúde para minimizar agravos decorrentes da
HAS e DM. A promoção da saúde e prevenção de doenças
contribuem para o atendimento de excelência ao usuário
e buscam alcançar perfi s profi ssionais orientados pelas
necessidades da população, em cada realidade regional e
em cada nível de complexidade.
A ausência destas ações contribui para a
descontinuidade das ações de enfermagem focadas
no autocuidado e emancipação do sujeito e da família,
prejudicando o processo de trabalho do enfermeiro na
atenção básica em saúde.
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Recebido em: 20/07/2017Aceito em: 23/09/2017
Assistência de enfermagem no programa hiperdia:relato de experiência em estágio supervisionado2017 jul.-dez.; 11(1): 231-238
FRATURAS E IMOBILIZAÇÕES EM ORTOTRAUMATOLOGIA
FRACTURES AND FIXTURES IN ORTHOTHERUMATOLOGY
FRACTURAS Y INMOVILIZACIONES EN ORTOTRAUMATOLOGIA
* Acadêmica do curso de graduação em Enfermagem das Faculdades Integradas Padre Albino (FIPA), Catanduva-SP, Brasil.** Enfermeira. Doutora. Professora do curso de graduação em Enfermagem das Faculdades Integradas Padre Albino (FIPA), Catanduva-SP, Brasil. Contato: virmariasoler@gmail.com
ResumoIntrodução: Fratura caracteriza-se pela ruptura da continuidade do osso e perda da integridade da estrutura esquelética. Imobilização é utilizada para controlar ou abolir movimentos de um membro fraturado e obtenção do reparo da lesão, sendo importante a sua efi cácia. Objetivos: Apresentar o número de atendimentos realizados no ambulatório de ortopedia de um hospital-escola do interior paulista, durante três meses, e relatar os principais tipos de imobilizações (talas/gessos); caracterizar o perfi l sociográfi co dos sujeitos; apresentar as principais dúvidas, difi culdades e problemas relatados pelos pacientes e/ou acompanhantes em relação à imobilização; elaborar um folheto explicativo com orientações/esclarecimentos quanto aos cuidados durante a imobilização, atendendo à prerrogativa do Processo de Enfermagem. Material e Método: Estudo descritivo realizado por meio de um instrumento semiestruturado com perguntas abertas e fechadas. Resultados: Participaram 100 pessoas, destes, 54% do gênero masculino e 46% feminino, 27% compareceram ao serviço acompanhados, 31% tinham ensino médio completo, 54% recebiam um salário mínimo. Na avaliação do atendimento, orientações e esclarecimentos dos serviços ortopédicos a maioria considerou ótimo e bom, 35% regular, 4% ruim; quanto às orientações sobre a fratura e a imobilização a maior parte foi esclarecida, enquanto 19% não. Dados clínicos: 57% receberam tratamento conservador, 22% cirúrgico e 21% tratamento cirúrgico e imobilização. Das 102 fraturas atendidas, 51,9% eram de membros superiores, 43,1% de membros inferiores, 2,9% coluna e 1,9% quadril. Quanto ao fl uxo, 70% retorno ambulatorial, 30% procedentes de outro hospital-escola. Conclusão: Foi possível obter dados informativos quanto ao serviço de ortotraumatologia, indicadores para melhoria assistencial e elaborar o folheto de orientações.
Palavras-chave: Ambulatório de ortopedia. Fraturas. Imobilizações. Orientações.
AbstractIntroduction: Fracture is featured by rupture of bone continuity and loss of skeletal structure integrity. Immobilization is performed to control or abolish movements of a fractured limb and obtain injury repair, being relevant its effectiveness. Objectives: To present the number of visits performed at the orthopedic clinic of a school hospital in São Paulo countryside during three months, and to report the main types of immobilizations (splints/plasters); to characterize the subjects sociographic profi le and to present the main doubts, diffi culties and problems reported by patients and/or companions regarding the immobilization; to elaborate an explanatory folder with guidelines/clarifi cations about the care during immobilization, according to the prerogative of the Nursing Process. Material and Method: It is a descriptive study, carried out using a semi-structured instrument with open and closed questions. Results: The study included a total of 100 people, 54% male and 46% female; 27% were accompanied, 31% had completed high school, 54% received just a minimum wage. In the evaluation of care, guidelines and clarifi cations of the orthopedic services, the majority considered them as outstanding or good, 35% as regular and 4% bad; as for the guidelines on fracture and immobilization, most were clarifi ed, although 19% were not. Clinical data: 57% received conservative treatment, 22% surgical and 21% surgical treatment and immobilization. 51.9% of the 102 fractures treated were of upper limbs, 43.1 of lower limbs, 2.9% of spine and 1.9% of hip. In terms of fl ow, 70% were outpatient returns, 30% were coming from another school hospital. Conclusion: It was possible to obtain informative data about the ortho-traumatology service, indicators for care improvement and to elaborate the guidelines booklet.
Keywords: Orthopedic outpatient clinic. Fractures. Fixedassets. Guidelines.
ResumenIntroducción: La fractura se caracteriza por la ruptura de la continuidad del hueso y la pérdida de la integridad de la estructura esquelética. La inmovilización se utiliza para controlar o suprimir movimientos de un miembro fracturado y obtener la reparación de la lesión, siendo importante su efi cacia. Objetivos: Presentar el número de atendimientos realizados en el ambulatorio de ortopedia de un hospital-escuela del interior paulista, durante tres meses y relatar los principales tipos de inmovilizaciones (tallas/yesos); caracterizar el perfi l sociográfi co de los sujetos; presentar las principales dudas, difi cultades y problemas relatados por los pacientes y/o acompañantes en relación a la inmovilización; elaborar un folleto explicativo con orientaciones/aclaraciones en cuanto a los cuidados durante la inmovilización, atendiendo a la prerrogativa del proceso de enfermería. Material y Método: Estudio descriptivo realizado por medio de un instrumento semiestructurado con preguntas abiertas y cerradas. Resultados: Participaron 100 personas, de éstas, el 54% del género masculino y 46% femenino, el 27% asistieron al servicio acompañados, 31% tenían enseñanza media completa, 54% recibían un salario mínimo. En la evaluación de la atención, orientaciones y aclaraciones de los servicios ortopédicos la mayoría consideró óptimo y bueno, 35% regular, 4% malo, en cuanto a las orientaciones sobre la fractura y la inmovilización la mayor parte fue aclarada, mientras que el 19% no. Datos clínicos: 57% recibieron tratamiento conservador, 22% quirúrgico y 21% tratamiento quirúrgico e inmovilización. De las 102 fracturas atendidas, 51.9% eran de miembros superiores, 43.1de miembros inferiores, 2.9% columna y 1.9% cadera. En cuanto al fl ujo, el 70% retorno ambulatorio, el 30% procedente de otro hospital-escuela. Conclusión: Fue posible obtener datos informativos en cuanto al servicio de ortotraumatología, indicadores para mejoramiento asistencial y elaborar el folleto explicativo.
Palabras clave: Ambulatorio de ortopedia. Fractura. Inmovilizaciones. Orientaciones.
Débora de Azevedo*, Virtude Maria Soler**
239Fraturas e imobilizações emortotraumatologia 2017 jul.-dez.; 11(2): 239-247
240 Fraturas e imobilizações emortotraumatologia2017 jul.-dez.; 11(2): 239-247
INTRODUÇÃO
Fratura é uma lesão traumática, cuja carga de
alta magnitude imposta ao osso acontece por meio das
forças de tensão, cisalhamento, compressão, curvamento
e torção, atuando juntas ou separadas. Em uma análise
mecânica, fratura representa a perda da capacidade óssea
de transmitir dentro da normalidade a carga durante o
movimento, decorrente da perda da integridade da
estrutura esquelética1. Problema de saúde pública de
alta incidência e custo socioeconômico elevado para o
sistema de saúde, confi gura-se como causa de morbidade
e mortalidade2.
O tecido ósseo é um dos poucos que consegue
reparar-se sem a formação de uma cicatriz fi brosa, e
apesar da capacidade regenerativa do tecido, este processo
biológico pode falhar e as fraturas se consolidarem em
posições anatômicas desfavoráveis, apresentarem atraso
na consolidação ou ainda possibilitarem o desenvolvimento
de pseudo-artrose ou não-união3.
Os traumatismos que incidem sobre os ossos com
forças superiores a sua capacidade de deformação são as
causas mais frequentes de fraturas. Isso ocorre, sobretudo,
em quedas, pancadas e acidentes, mas há também fraturas
por impactos mínimos ou até espontâneas, denominadas
fraturas patológicas, as quais se devem a um anormal
enfraquecimento dos ossos, devido à osteoporose ou a
tumores ósseos4.
Quando o osso é quebrado, as estruturas
adjacentes também são afetadas resultando em edema
de tecidos moles, hemorragia para dentro dos músculos e
articulações, luxações articulares, rompimento de tendões,
laceração de nervos e lesão de vasos sanguíneos. Assim,
as principais queixas são: dor, incapacidade de mexer o
membro e deformidade, que podem variar segundo a
localização e o tipo de fratura5.
As fraturas podem ser fechadas ou expostas. Na
fratura fechada pode haver pouco ou nenhum movimento
ou deslocamento dos ossos quebrados sem penetração no
tecido superfi cial. Já na fratura exposta há comunicação
com o meio externo por meio de uma lesão de partes
moles, podendo haver morbidade signifi cativa e ser,
inerentemente preocupante, uma vez que a barreira
protetora da pele do corpo é quebrada e o potencial de
contaminação alto6. Caracteriza emergência ortopédica
e no tratamento de consolidação evita-se a ocorrência
de infecção7. Ambos podem ser graves se não forem
tratados adequadamente. Os sinais e sintomas são
deformidade, sensibilidade pontual, edema e dor durante
a movimentação ativa e passiva8, e o tratamento cirúrgico
ou conservador.
O conhecimento anatômico e a visualização
radiológica possibilitam a imobilização somente na região
da fratura, que pode ser proximal, medial ou distal,
preservando-se e deixando-se livres as articulações para
os movimentos necessários durante o período em que
o paciente estiver com a imobilização gessada. Nesse
contexto, a equipe deve realizar as orientações necessárias
ao paciente e seus familiares9.
A imobilização é um ato técnico executado para
controlar ou abolir os movimentos de um membro ou
de outra qualquer região, para o alívio e consequente
tratamento das lesões que incomodam o paciente,
objetivando a cura de certas fraturas, luxações e entorses.
Também poderá ser utilizada para prevenir o agravamento
das lesões traumáticas em fase aguda; facilitar os
procedimentos pré-hospitalares, essencialmente os de
levantamento e transporte da vítima; facilitar a hemostase;
diminuir ou controlar a dor; favorecer o processo de cura
de certas zonas feridas ou doentes; evitar os efeitos das
contraturas musculares e prevenir ou corrigir as posições
viciosas9.
Na execução da imobilização gessada é importante
a sua efi cácia, assim dois aspectos são fundamentais:
a utilização de materiais de baixo volume, destinados à
proteção/almofadamento da região lesada, diminuindo
assim o espaço entre a zona afetada e o material gessado,
e a técnica utilizada para a imobilização10.
Os materiais utilizados na imobilização devem
proteger e almofadar o local contribuindo para a
preservação da integridade dos tecidos adjacentes,
como para a sua comodidade e deverão ser de estrutura
compacta, mas com alguma elasticidade em todos os
sentidos, permitindo boa adaptação às zonas menos
regulares, ter características antialérgicas para uma boa
tolerância. Serem hidrófugos (preservar a umidade),
sempre que possível, e preferencialmente de origem
vegetal, assim como a manga de algodão em malha
de jérsei, considerada um dos materiais que melhor
satisfazem a esses requisitos. Quanto ao material gessado,
este poderá apresentar-se em forma de placas, talas, e
241ligaduras, sendo esta a forma usual da sua aplicação10.
A “conformação” é a manobra que melhor satisfaz
os requisitos de efi ciência e conforto na imobilização
gessada convencional/clássica, mesmo em fase aguda de
traumatismo, levando em conta o estado edematoso em
que o membro eventualmente se apresenta. Quando de
grau moderado, ela será levada a efeito em toda a sua
plenitude. Nas de grau elevado, será realizada apenas
de forma insinuada. Realizada no início, contribuirá
para aumentar o grau de efi ciência e, simultaneamente,
a preparação da zona para que a imobilização seja
substituída por outra defi nitiva, quando reunidas as
essenciais condições de acentuada regressão do estado
edematoso e ausência de risco de desmontagem da
redução óssea10.
Na imobilidade prolongada pode haver aderência
e rigidez, alterando as pontes cruzadas, assim como a
elasticidade das fi bras de colágeno e a movimentação
passiva é utilizada com cautela para melhorar a amplitude
de movimento e o retorno do membro à funcionalidade11.
Pode haver dor em nível ósseo, articular e de tecidos
moles difi cultando a reabilitação e a melhora da função
do membro por completo. Dessa forma, é necessário que
o foco da fratura seja protegido independente do tipo
de tratamento adotado, tanto para evitar uma refratura
(trauma ou estresse excessivo) como para possibilitar
a sua consolidação e proteger os tecidos moles depois
da abordagem cirúrgica ou até mesmo em casos de
tratamento conservador12.
Após um período de proteção, menor possível
respeitando-se a consolidação, é fundamental iniciar a
mobilização precoce, onde se coloca carga gradativa no
membro. O que pode ser justifi cado pela estimulação, a
produção de líquido sinovial nas articulações (diminuindo a
rigidez), a manutenção do comprimento e força muscular
e a consolidação em menor tempo. A mobilização e carga
gradativa precoce, além de manterem e melhorarem a
condição do membro, evitam complicações12.
A pessoa, normalmente, apresenta-se perturbada
física e psicologicamente após um traumatismo com
consequente fratura; muitas vezes desconhece a situação
física em que se encontra; poderá estar em dúvida
quanto ao grau e por quanto tempo se apresentará com
incapacidade (mesmo que apenas temporariamente).
Dessa forma, as intervenções deverão ser seguras e a
comunicação da equipe de enfermagem efi caz, prudente
e continuada, procurando identifi car junto ao paciente e a
família, as dúvidas, preocupações e possíveis problemas
sociais.
O paciente poderá apresentar-se com palidez,
sudorese fria, razão para se proceder à avaliação das
tensões arteriais. A dor deverá ser controlada ou mesmo
suprimida. Também, regionalmente, deve-se averiguar
a existência de lesões dérmicas, referenciando-as e
protegendo-as. A zona afetada será lavada, realizada a
assepsia, prevenindo o agravamento das lesões existentes
e o aparecimento de outras10. Estes e outros cuidados são
essenciais.
Na perspectiva de continuidade dos cuidados,
é fundamental o preparo para o retorno da pessoa ao
lar pela promoção do autocuidado, mesmo existindo
limitações, melhorar a capacidade funcional e motivá-lo/
responsabilizá-lo para o restabelecimento do seu estado
de saúde e progressão para atividades cotidianas13.
A Resolução COFEN Nº 422/2012 normatiza a
atuação dos profi ssionais de enfermagem nos cuidados
ortopédicos e procedimentos de imobilização ortopédica.
Pelo Art. 1º a assistência de enfermagem em Ortopedia
e os procedimentos relativos à imobilização ortopédica
poderão ser executados por profi ssionais de Enfermagem
devidamente capacitados. Prescreve o Art. 2º que os
cuidados e procedimentos a que se refere esta Resolução
deverão ser executados no contexto do Processo de
Enfermagem, atendendo-se às determinações da
Resolução COFEN nº 358/200914.
O enfermeiro tem papel importante em todos os
períodos do tratamento relacionado à imobilização por
fraturas, entorses e luxações, tanto nas fases de tratamento
clínico quanto cirúrgico, quando necessários. Dentre os
profi ssionais, a enfermagem está geralmente próxima do
paciente/família, portanto deverá olhar apuradamente e
identifi car quaisquer riscos ou complicações precoces. A
prática clínica nessa área evidencia de modo geral, falta de
orientações claras e precisas ao paciente e família. Assim,
o propósito deste estudo é obter dados que possibilitem a
melhoria da assistência.
OBJETIVOS
Apresentar o número de atendimentos realizados
no ambulatório de ortopedia de um hospital-escola do
Fraturas e imobilizações emortotraumatologia 2017 jul.-dez.; 11(2): 239-247
242interior paulista, durante três meses, e relatar os principais
tipos de imobilizações (talas/gessos); caracterizar o perfi l
sociográfi co dos sujeitos, apresentar as principais dúvidas,
difi culdades e problemas relatados pelos pacientes e/
ou acompanhantes em relação à imobilização; elaborar
um folheto explicativo com orientações/esclarecimentos
quanto aos cuidados durante a imobilização, atendendo à
prerrogativa do Processo de Enfermagem.
MATERIAL E MÉTODO
Pesquisa descritiva, realizada num hospital-
escola de Catanduva-SP, com pessoas de ambos os
sexos, em tratamento para fraturas e/ou imobilizações.
Pacientes menores de idade foram representados pelos
respectivos responsáveis. Os dados foram coletados por
um instrumento semiestruturado com perguntas abertas
e fechadas, contendo perfi l sociográfi co, dados clínicos
e avaliação do atendimento e das orientações fornecidas
pela equipe de trabalho no setor.
Os participantes e/ou responsáveis foram
previamente esclarecidos e assinaram ao Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). O projeto foi
avaliado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) das
Faculdades Integradas Padre Albino (FIPA), Catanduva-SP,
liberado sob nº. 68713017.8.0000.5430.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A sequência estabelecida no instrumento de
coleta de dados foi utilizada para apresentar os resultados.
Caracterização sociodemográfi ca
Participaram 100 pessoas de ambos os sexos,
54% do gênero masculino, 46% feminino, atendidas no
ambulatório de ortotraumatologia, no período de junho a
agosto de 2017. Destes, 27% vieram aos atendimentos
com acompanhantes. Quanto aos vínculos empregatícios,
44% estavam empregados e 56% não trabalhavam ou
eram aposentados. A maioria, 94%, residia em zona
urbana, enquanto 6% em zona rural, sendo que, uma
pequena parte, 8%, residiam sozinhos, 61% junto a uma
ou até três pessoas, 29% de quatro a sete pessoas e 2%
conviviam com mais de dez pessoas, pois eram moradores
de Instituições de Longa Permanência (ILPI). Houve
prevalência de convívio familiar de um a três indivíduos
por moradia.
Quanto à religião, predominou a católica,
representada por 61%, evangélica 28%, testemunhas
de Jeová 5%, espírita 4%, budista 1% e judeu 1%.
Sobre a escolaridade, 25% referiram ensino fundamental
incompleto, 13% ensino fundamental completo, 12%
ensino médio incompleto, 31% ensino médio completo, 4%
curso superior incompleto, 4% curso superior completo, e
11% eram menores. Acerca da renda dos participantes:
nenhuma renda 8%, um salário mínimo 54%, de um a
três salários mínimos 35%, de três a seis salários mínimos
3%. Predominaram pessoas de nível médio e baixo valor
socioeconômico.
O analfabetismo e a baixa escolaridade encontrada
no estudo contribuem para a vulnerabilidade social,
levantando a hipótese de que o não acesso à informação
e o défi cit de conhecimento geral podem interferir na
manutenção de uma vida saudável. Devido à relação entre
escolaridade e saúde, indivíduos com maior instrução têm
maior preocupação com a saúde, melhor capacidade de
recuperação e hábitos higiênicos mais saudáveis15.
O Gráfi co 1 apresenta a idade e o sexo dos
participantes do estudo.
Fraturas e imobilizações emortotraumatologia2017 jul.-dez.; 11(2): 239-247
243Gráfi co 1 – Idade e sexo dos participantes do estudo
Prevaleceram pessoas com faixa etária entre 50
a 64 anos, num total de 24 pacientes; 15 pessoas tinham
idade igual ou superior a 65 anos.
O número de casos de fraturas de fêmur em
idosos no Brasil, a exemplo de outros países, é alto,
atingindo principalmente mulheres, com custos fi nanceiros
e sociais. Políticas públicas de saúde visam a controlar os
fatores predisponentes para esse evento e devem ser
implementadas, diante da expectativa de vida e aumento
signifi cativo da população idosa nos próximos anos por
doenças e fatores de risco relacionados à idade16. Dentre
os fatores que vêm sendo responsabilizados pelo aumento
do risco de quedas e fraturas na população de idosos
encontra-se o uso de medicamentos, pois provocam
sonolência, alteram o equilíbrio, a tonicidade muscular e/
ou provocam hipotensão17.
As fraturas em crianças são um importante
problema de saúde pública e o tratamento conservador
destas deverá ser sempre preferido, quando possível.
Aquela fratura que não obtém o resultado esperado ou
não é indicada para tratamento conservador deve ser
orientada para estabilização cirúrgica. Nesta faixa etária,
a taxa de incidência de fraturas é superior nos rapazes,
atingindo o seu pico no início da adolescência para ambos
os sexos, ocorrendo mais frequentemente no antebraço
distal. O tratamento depende da idade, tipo de fratura e
desvio da mesma18. No estudo, 19 pessoas tinham idade
até 20 anos, sendo 12 do gênero masculino.
As lesões, traumas e mortes causados por
acidentes e violência geram altos custos econômicos,
sociais e emocionais. Gastos com internações, terapêutica e
reabilitação, previdência, dias de afastamento do trabalho,
anos potenciais de vida perdidos, danos psicológicos
às vítimas e seus familiares, são altamente onerosos,
principalmente pelo fato de que a grande concentração
de atingidos são indivíduos jovens, em idade produtiva19.
Avaliação do atendimento - orientações e
esclarecimentos
Sobre a avaliação do atendimento ao paciente,
os dados compõem a Tabela 2. Houve prevalência de
atendimento considerado ótimo e bom. Porém, 35%
consideraram o atendimento regular e 4% ruim. É
importante trabalhar esse valor e entender as causas que
infl uíram para esses resultados.
Fraturas e imobilizações emortotraumatologia 2017 jul.-dez.; 11(2): 239-247
244Gráfi co 2 – Avaliação do atendimento segundo os participantes do estudo
Gráfi co 3 – Orientações sobre os cuidados, sinais e sintomas decorrentes das fraturas e/ou imobilizações, cuidados em domicílio e localização dos servi-ços de atendimento
É fundamental que os pacientes façam
avaliações dos atendimentos auxiliando a que a qualidade
assistencial seja conhecida, implementada e aprimorada
continuadamente.
Segundo os dados obtidos, 36% referiram terem
sido orientados pelo médico, 22% pela enfermagem, 22%
por ambos (médico e enfermagem) e 19% não haviam
recebido orientações. O fato de o paciente não receber
orientações e esclarecimentos pode comprometer a
efi cácia do tratamento e o grau de satisfação individual.
A falta de orientações pode acarretar danos ao
paciente e ao tratamento, especialmente quando houver
sinais fl ogísticos, como dor constante, parestesia, edema,
difi culdade de mobilidade do membro, hipertermia ou
calafrio, palidez cutânea, manchas, odor fétido ou
quaisquer outras alterações. Nestes casos, o paciente
deverá procurar uma unidade de saúde imediatamente
para intervenções corretas. Desta forma, deverá estar
bem orientado quanto aos cuidados com a fratura e a
imobilização e quais serviços de saúde procurar.
Dados clínicos
Etiologicamente as fraturas apresentam-se de
formas variadas, o segmento acometido varia de acordo
com o tipo de trauma e gravidade da lesão. O trauma
pode acontecer por acidente automobilístico, quedas,
semiafogamentos, acidentes de trabalho, queimaduras,
soterramentos, ferimentos por arma branca, queda sobre
objeto pontiagudo, lesão por projétil de arma de fogo,
dentre outros20.
Foram realizados 22% de tratamentos cirúrgicos,
57% tratamentos conservadores (tala ou gesso), 21%
tratamentos cirúrgicos e imobilizações com tala ou gesso,
78% tratamentos com talas, gessos e tipoia americana,
e 22% sem imobilizações. O tratamento conservador das
fraturas é prevalente, mesmo com as inovações de técnicas
cirúrgicas, cabendo ao médico optar pelo tratamento
mais indicado, obedecendo aos princípios básicos
em traumatologia, redução, manutenção da redução,
obtenção da consolidação e recuperação funcional. No
Fraturas e imobilizações emortotraumatologia2017 jul.-dez.; 11(2): 239-247
245
Gráfi co 4 – Valor atribuído a dor pelos participantes do estudo
tratamento conservador se colocam imobilizações com
o uso de aparelho gessado e órtese que proporciona
bons resultados. Entretanto, a pseudoartrose poderá
ocorrer como uma complicação proveniente de conduta
conservadora21.
As cirurgias de fraturas precisam de efi ciência na
estabilização e até compressão nos fragmentos dos ossos,
dependendo do local anatômico do osso fraturado e o
tipo de fratura. Enquadram-se conceitos biomecânicos e
biológicos na escolha do melhor método e do sistema de
osteossíntese a ser utilizado. Atualmente existem novas
técnicas de redução direta e fi xação rígida, mudadas
para fi xação interna com estabilidade relativa e redução
indireta com preservação do tecido ósseo em volta do
osso fraturado22.
Quanto ao fl uxo, 70% caracterizaram retorno
ambulatorial, 30% pacientes na primeira consulta,
encaminhados de outro hospital-escola. O setor
de ortotraumatologia ambulatorial é dividido em
especialidades: mão, ombro/cotovelo, coluna, quadril,
trauma infantil, pé, trauma e tumor ósseo. Durante o
dia são realizadas aproximadamente 120 consultas de
segunda a sexta-feira das 06h30min às 17h, podendo ser
estendido o horário, se houver necessidade.
As fraturas proporcionam, além das lesões,
sentimentos de preocupação, medo, insegurança,
sensação de dependência, dentre outras emoções. Nesse
quesito, 29% referiram insegurança, 28% satisfação, 22%
medo, 17% contentamento, e 1% tristeza, 1% cansaço,
1% apreensão, e 1% negou alterações em decorrência da
fratura.
Independente do tipo de tratamento a ser
submetido, o paciente com fratura, contusão, entorse
e luxação mostra-se apreensivo e ansioso. O paciente
cirúrgico percebe a hospitalização como uma alteração
do seu cotidiano, responsável por afetar seus hábitos e
costumes, por afastá-lo do convívio de seus familiares
e amigos, bem como da sua rotina de trabalho. Esses
fatores contribuem para gerar estresse e ansiedade, sendo
transtornos potencializados pelo medo do desconhecido
e pela falta de informações sobre sua condição e os
procedimentos aos quais será submetido23. Assim, é
necessário que o enfermeiro conheça as expectativas do
paciente e família, ofereça orientações sobre as normas e
rotinas do local, disponibilizando-se a esclarecer dúvidas
quando necessárias, visando a diminuir a ansiedade e o
estresse e quaisquer outros sentimentos negativos.
O quadro álgico, infl amatório e o edema
acontecem concomitantemente a inúmeras lesões nos
tecidos moles. Como mecanismo de defesa, a dor sinaliza
o potencial risco para outros danos teciduais. Em um nível
mais simples, a transmissão de informações ligadas à dor,
da periferia ao córtex, basicamente depende da integração
dos três níveis do sistema nervoso central como medula
espinhal, tronco cerebral e a parte anterior do cérebro24.
O edema acontece pelo aumento da permeabilidade das
vênulas, proteínas plasmáticas e leucócitos, que migram
para dentro do local da lesão. A dor pode ocorrer em
repouso, com a movimentação ativa ou até mesmo na
aplicação de tensão específi ca à estrutura com lesão25.
Em relação a esse aspecto, o Gráfi co 4 apresenta
dados sobre a dor.
Do montante de sujeitos, 37% negaram dor e
os demais referiram dor em níveis variados. Destes, 40%
atribuíram valor entre 5 a 10 e haviam sido avaliados pelo
médico por ocasião da consulta, portando prescrição para
tratamento da dor. A dor é considerada o quinto sinal vital,
importante como a temperatura, pulso, pressão arterial e
respiração, devendo ser avaliada nos ambientes clínicos26.
No Gráfi co 5 estão disponibilizados os dados
referentes ao local onde ocorreu a fratura.
Fraturas e imobilizações emortotraumatologia 2017 jul.-dez.; 11(2): 239-247
246Gráfi co 5 – Local lesionado devido às fraturas
No período do estudo, 102 fraturas foram
registradas, pois haviam pacientes com mais de uma
fratura. As fraturas de membros superiores obtiveram
51,9%. O membro superior é rico em detalhes e
funcionalidade, podendo ser dividido em articulações
principais: complexo do ombro, cotovelo, antebraço,
punho e mão. Os acometimentos traumáticos podem,
além de interferir na funcionalidade normal, gerar
alterações causando dor, diminuição da mobilidade,
fraqueza muscular, instabilidade e compensações e,
inclusive acarretar sequelas permanentes27.
Fraturas de membros inferiores totalizaram
43,1%. Esse tipo de fratura tem o potencial de causar
prejuízos tanto à saúde física e emocional, como também
impossibilitar a realização de atividades laborais, sociais e
de lazer e impacta de forma negativa a qualidade de vida
pessoal28.
Um dos objetivos do estudo consistiu em elaborar
um folheto explicativo sobre intervenções e cuidados no
período de tratamento das fraturas e imobilizações para
o serviço de ortotraumatologia. Nesse sentido, os dados
obtidos possibilitaram a construção do mesmo, devendo
ainda ser submetido à avaliação dos responsáveis pelo
serviço.
CONCLUSÃO
Dos 100 participantes do estudo, 102 fraturas
foram contabilizadas e os resultados obtidos podem ser
utilizados como indicadores para a melhoria da qualidade
assistencial, além de subsidiarem processos de melhoria
para pacientes imobilizados por fraturas ósseas. Os
valores atribuídos à assistência prestada foram positivos,
embora para 35% dos pacientes, regular e 4% ruim; 19%
alegaram falta de orientações.
Quanto aos sentimentos, destacaram-se
insegurança e satisfação. Circunstâncias envolvendo
fraturas e imobilizações denotam vulnerabilidade
e dependência de familiares, sendo, às vezes,
potencializadas, à medida que a pessoa se vê incapaz
para o autocuidado. Evidencia-se a importância da equipe
de enfermagem no trabalho integrado junto às equipes
médicas e demais profi ssionais da área da saúde, pois é
essencial acolher o paciente e os familiares com cuidados
humanizados, incluindo esclarecimentos e orientações
planejadas, participativas, concorrendo para a identifi cação
e recuperação dos agravos que, por vezes, em ortopedia,
desenvolvem-se por um processo lento e demorado.
As fraturas têm o potencial de causar prejuízos
tanto à saúde física e emocional, como também
impossibilitar a realização de atividades laborais, sociais e
de lazer. Além das consequências sociais, economicamente
o trauma pode apresentar consequências importantes, uma
vez que as lesões podem ocasionar a morte, incapacidade
temporária ou permanente da vítima.
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Aceito em: 26/09/2017
Fraturas e imobilizações emortotraumatologia 2017 jul.-dez.; 11(2): 239-247
248 A percepção de enfermeiros da estratégia saúde da família sobre o conceito e prática da avaliação2017 jul.-dez.; 11(2): 248-256
A PERCEPÇÃO DE ENFERMEIROS DA ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA SOBRE O CONCEITO E PRÁTICA DA AVALIAÇÃO
THE PERCEPTION OF THE FAMILY HEALTH STRATEGY NURSES ON THE EVALUATION CONCEPT AND PRACTICE
LA PERCEPCIÓN DE ENFERMEROS DE LA ESTRATEGIA SALUD DE LA FAMILIA SOBRE EL CONCEPTO Y PRÁCTICA DE LA EVALUACIÓN
* Enfermeiro. Mestre em Saúde Coletiva. Docente Assistente da Universidade do Estado de Mato Grosso. Campus Tangará da Serra, Mato Grosso, Brasil. Integrante do Núcleo de Pesquisa e Extensão em Política, Planejamento, Organização dos Serviços de Saúde (NPEPS). Contato: josuegleriano@unemat.com** Enfermeira. Mestre em Enfermagem. Docente Assistente da Universidade do Estado de Mato Grosso. Campus Tangará da Serra, Mato Grosso, Brasil. Integrante do Núcleo de Pesquisa e Extensão em Política, Planejamento, Organização dos Serviços de Saúde (NPEPS). Contato: gralucietto@gmail.com*** Enfermeira. Mestre em Enfermagem. Docente Assistente da Universidade do Estado de Mato Grosso. Campus Tangará da Serra, Mato Grosso, Brasil. Integrante do Núcleo de Pesquisa e Extensão em Política, Planejamento, Organização dos Serviços de Saúde (NPEPS). Contato: ju.benevenuto@hotmail.com****Enfermeira. Mestranda pelo Programa de Pós-Graduação em Enfermagem Fundamental da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, veronica_mo-dolo@hotmail.com*****Enfermeira. Livre-docente. Professora Associada da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo. Contato: dpchaves@eerp.usp.br
ResumoIntrodução: Muito se fala sobre avaliação em saúde, e ela continua sendo objeto no cenário nacional e internacional. Objetivo: Em face da relevância do contexto da avaliação este estudo buscou caracterizar a percepção de enfermeiros da atenção básica acerca da compreensão da avaliação em saúde em seu cotidiano de trabalho. Material e Método: Trata-se de uma pesquisa descritiva, de abordagem qualitativa, desenvolvida em um município localizado no sudoeste do estado de Mato Grosso. O campo de estudo foi composto por 26 unidades de saúde da família e participaram 31 enfermeiros que coordenam as equipes multiprofi ssionais da Estragégia de Saúde da Família. Os dados foram coletados através da técnica de grupo focal e um questionário autoaplicável para delineamento do perfi l profi ssional. Para análise e interpretação, foram construídas narrativas submetidas à análise de conteúdo e que resultou nas categorias: o conceito e signifi cado da avaliação e o contexto da avaliação na atenção básica. Resultados: Os perfi s dos enfermeiros são: sexo feminino com faixa etária de 25 a 45 anos, estatutárias e com formação em escolas públicas. As narrativas apresentaram duas vertentes para a avaliação: a primeira colocou a avaliação como um processo que deve ser percorrido por etapas, e está intrínseco durante todo o processo de trabalho, e a segunda apontou a avaliação como etapa fi nal. Conclusão: É prudente repensar a inserção desses enfermeiros como articuladores na cogestão da política da atenção básica e do cenário de campo dos serviços.
Palavras-chave: Avaliação em saúde. Avaliação de serviços de saúde. Gestão em saúde.
AbstractIntroduction: There is much talk about evaluation in health, and it continues to be an object on the national and international scene. Objective: Considering the relevance of the evaluation context, this study aimed to characterize the perception of primary care nurses about the understanding of assessment in health in their daily work. Material and method: This is a descriptive research, with qualitative approach, developed in a municipality located in the southwest of Mato Grosso state. The fi eld of study was composed of 26 family health units, with the participation of 31 nurses, who coordinated the multi-professional teams of the Family Health Strategy. Data were collected through the focal group technique and through a self-administered questionnaire to delineate the professional profi le. For analysis and interpretation, we constructed narratives that were submitted to the content analysis that resulted in the categories: The concept and the meaning of the evaluation and The context of the evaluation in the primary care. Results: The profi le of the nurses, are female with an age range from 25 to 45 years, statutory workers and trained in public schools. The speeches presented two aspects in terms of evaluation: the fi rst placed the assessment as a process that must be followed in stages, and is intrinsic throughout the work process, and the second pointed out the evaluation as a fi nal step. Conclusion: It is wise to rethink the inclusion of these nurses as articulators in the co-management of both primary care policy and service fi eld scene.
Keywords: Health evaluation. Health services research. Health management.
ResumenIntrodución: Muy se habla sobre evaluación en salud, y ella sigue siendo objeto en el escenario nacional e internacional. Objetivo: En vista de la relevancia del contexto de la evaluación, este estudio tuvo como objetivo caracterizar la percepción de enfermeros de la atención básica acerca de la comprensión de la evaluación en salud en su cotidiano de trabajo. Material y Método: Se trata de una investigación descriptiva, de abordaje cualitativo, desarrollada en un municipio ubicado en el suroeste del estado de Mato Grosso. El campo de estudio fue compuesto por 26 unidades de salud de la familia y participaron 31 enfermeros que coordinan los equipos multiprofesionales de la Estrategia de Salud de la Familia. Los datos fueron recolectados a través de la técnica de grupo focal y un cuestionario auto aplicable para delineamiento del perfi l profesional. Para el análisis e interpretación, se construyeron narraciones que fueron sometidas al análisis de contenido que resultó en las categorías: El concepto y signifi cado de la evaluación y el contexto de la evaluación en la atención básica. Resultados: El perfi l de los enfermeros, son del sexo femenino con rango de edad de 25 años a 45 años, estatutarios y con formación en escuelas públicas. Las palabras se presentaron dos vertientes para la evaluación: la primera colocó la evaluación como un proceso que debe ser recorrido por etapas, y es intrínseco durante todo el proceso de trabajo, y la segunda apunta la evaluación como etapa fi nal. Conclusión: Es prudente repensar la inserción de esos enfermeros como articuladores en la cogestión de la política de la atención básica y del escenario de campo de los servicios.
Palabras clave: Evaluación en salud. Investigación en servicios de salud. Gestión en salud.
Josué Souza Gleriano*, Grasiele Cristina Lucietto**, Juliana Benevenuto Reis***, Verônica Modolo Teixeira****, Lucieli Dias Pedrechi Chave*****
249A percepção de enfermeiros da estratégia saúde da família sobre o conceito e prática da avaliação 2017 jul.-dez.; 11(2): 248-256
INTRODUÇÃO
Dentre as dimensões do trabalho do enfermeiro,
destacam-se a assistência, o ensino, a pesquisa e a
gerência. Segundo a Lei n° 7.498/1986, é privativo
ao enfermeiro ações relacionadas ao planejamento,
organização, coordenação, execução e avaliação dos
serviços de enfermagem¹. Assim, a enfermagem vem
assumindo, cada vez mais, espaços no setor da saúde,
em contexto nacional e internacional, tendo papel decisivo
e pró-ativo na identifi cação de necessidades de cuidado,
promoção e proteção da saúde dos indivíduos².
Ao considerar que o enfermeiro já vem
desempenhando a gestão de programas de saúde,
percebe-se que a dimensão gerencial do seu trabalho
transforma-se segundo o contexto socioeconômico
de cada época, o modelo clínico de atenção à saúde
predominante, as demandas de saúde da população, o
quantitativo e a qualifi cação dos recursos humanos de
enfermagem disponíveis, da política de saúde, da própria
inserção do enfermeiro no cenário de saúde e do sistema
de saúde vigente3.
O delineamento da atuação profi ssional deve-
se pautar em um projeto político-legal cada vez mais
coerente com os princípios e diretrizes do Sistema Único
de Saúde (SUS)4,5.
Neste sentido, destaca-se que, entre 2003 e 2008
o Ministério da Saúde (MS) criou o Projeto de Expansão
e Consolidação da Saúde da Família (PROESF) aliado a
Política Nacional de Avaliação na Atenção Básica em Saúde,
que foi uma estratégia para institucionalizar a avaliação em
uma perspectiva descentralizada6. Em 2006, foi aprovado
o Pacto pela Saúde que veio como nova diretriz política
para promover um processo de negociação permanente
entre os gestores, para favorecer a implementação de
ações políticas prioritárias, substituindo as estratégias
anteriormente adotadas7.
No ano de 2011 o Pacto pela Saúde foi aprimorado
com o Decreto n° 7508/11 que regulamenta aspectos da
lei n° 8080/908, que se fundamenta nos princípios do SUS,
tendo ênfase nas necessidades prioritárias da população,
na melhoria do acesso aos serviços de saúde, no
fortalecimento da regionalização e na defi nição das redes
de atenção à saúde, como também o aprimoramento dos
mecanismos de governança e qualifi cação dos processos
de pactuação tripartite.
Nessa perspectiva, de diretrizes políticas e
estratégias de atenção, a gestão dos sistemas de saúde
é permeada por processos decisórios, os quais podem
ser benefi ciados e qualifi cados pela avaliação que se
torna fundamental para favorecer a busca por resultados
desejáveis. Entretanto, no âmbito do SUS, embora a
avaliação seja um pressuposto previsto desde a Norma
Operacional Básica 93 (NOB/SUS 01/93), ainda não
é utilizada em toda sua potencialidade, sendo pouco
incorporada ao processo de trabalho, tanto no contexto
dos serviços quanto dos sistemas de saúde3.
Em que pese o reconhecimento da avaliação como
relevante instrumento de gestão, seu uso articulado à
tomada de decisão ainda não está totalmente incorporado
aos sistemas e serviços de saúde. Embora a cultura da
avaliação ainda não esteja totalmente consolidada no
Brasil e os processos avaliativos sejam incipientes, seu
desenvolvimento é entendido como um instrumento
fundamental para a gestão, estando, inclusive, presente
nas diretrizes políticas brasileiras7. O Decreto nº 7508/11,
que é a maior normatização legal no âmbito do sistema de
saúde brasileiro, preconiza a utilização da avaliação como
recurso para melhoria dos serviços de saúde8.
Em uma linha do tempo percebe-se que a
avaliação mesmo sendo pauta constante de vários
documentos norteadores do SUS, somente em 2000
há a criação da Coordenação de Acompanhamento e
Avaliação da Atenção Básica e posteriormente em 2011
o Departamento de Monitoramento e Avaliação do SUS
(DEMAS), que estabeleceu a criação de um “Sistema de
Avaliação para a Qualifi cação do SUS” composto pelo
Programa Nacional de Melhoria do Acesso e da Qualidade
da Atenção Básica (PMAQ-AB) e o Índice de Desempenho
do Sistema Único de Saúde (IDSUS), tendo como
objetivo produzir informações para o desenvolvimento e
qualifi cação do SUS.
Essas iniciativas estão voltadas à produção
de informação com profundidade, para subsidiar
gerenciamento dos programas de saúde, favorecer a
análise de desempenho, além de contribuir com a defi nição
de ajustes em políticas públicas de saúde já instituídas. O
enfoque nacional do PMAQ-AB e do IDSUS favorece um
diagnóstico amplo, porém, difi culta a tomada de decisão
descentralizada e o ajuste dos programas em diferentes
contextos, sendo isso uma lacuna no movimento de
250avaliação em nível local, que busca alcançar níveis mais
profundos de entendimento da organização dos serviços,
pois o SUS busca um fortalecimento da gestão local e
estimula o desenvolvimento de governabilidade territorial,
sendo que avaliações mais locais seriam ferramentas
importantes6.
É necessário pontuar que há limites nas iniciativas
das ações desenvolvidas pelo Ministério da Saúde no
âmbito do fomento do Monitoramento e Avaliação do
SUS: 1) a ausência ou insufi ciência da explicitação das
diretrizes políticas e da defi nição estratégica que orientam
a avaliação; 2) fragmentação e decorrente diversidade
de orientações que presidem os processos de avaliação,
impedindo que possam ser úteis à uma ação coordenada; 3)
ênfase em variáveis relacionadas a processo; e 4) avaliações
de resultados pontuais e/ou espacialmente restritas9.
Cabe, então, na função dos gestores e
coordenadores que interligam as redes de atenção à
saúde e o papel local do responsável técnico das unidades
de saúde, o elo constante com as reais problemáticas do
território de saúde, que precisam ser conectados no intuito
de sinalizarem um discurso operante sobre o processo de
avaliação e suas potencialidades para defi nir os caminhos
do sistema local de saúde.
É necessário perceber como a avaliação tem sido
apresentada e compreendida na perspectiva de quem
recebe o processo de avaliação. A incorporação por parte
da gestão ou dos órgãos fi scalizadores para a avaliação
em saúde precisa pertencer à rotina dos serviços, para que
não cause estranhamento e desconforto nos processos de
avaliação.
Em face da relevância do contexto da avaliação
este estudo teve como objetivo caracterizar a partir
da percepção de enfermeiros da atenção básica a
compreensão acerca da avaliação em saúde em seu
cotidiano de trabalho.
MATERIAL E MÉTODO
Trata-se de pesquisa descritiva, de abordagem
qualitativa, desenvolvida em um município localizado
no sudoeste do estado de Mato Grosso, que no ano de
2016 acelerou exponencialmente o processo de expansão
da atenção básica chegando a 100% de cobertura10. O
campo de estudo foi composto por 26 unidades de saúde
da família. Participaram enfermeiros que coordenam
as equipes multiprofi ssionais da Estratégia Saúde da
Família (ESF). Foram critérios de inclusão: profi ssionais
enfermeiros, coordenadores das equipes de ESF. Os
critérios de exclusão: estar ausente da unidade à época
da coleta de dados por qualquer tipo de afastamento.
Considerando o proposto, 31 enfermeiros atenderam aos
critérios.
Os dados foram coletados no período de
novembro a dezembro de 2016 pelos pesquisadores
responsáveis pelo estudo, utilizando a técnica de grupo
focal e um questionário autoaplicável para delineamento
do perfi l profi ssional. O questionário foi submetido a
um pré-teste, contempla itens relativos ao sexo, idade,
vínculo profi ssional, cargo exercido, ano de conclusão da
graduação e pós-graduação, tempo de trabalho na saúde
da família e experiência na gestão. A técnica de grupo
focal11,12, foi realizada com a presença de um moderador e
um observador, utilizando cinco questões norteadoras: “O
que signifi ca para você avaliação?”; “Você utiliza, no seu
serviço, a avaliação como instrumento de desempenho
de seus profi ssionais?”; “Você percebe no seu serviço a
avaliação, por parte de órgãos competentes, como diretriz
para melhorar as práticas?”; “Para você, como se constrói
a cultura de avaliação na atenção básica?; “Qual a sua
percepção sobre avaliação na atenção básica?”.
Para favorecer a participação do maior número
de enfermeiros, foram realizados quatro encontros,
com média de oito participantes por encontro, em dias
e horários consensuais entre os membros. Os encontros
duraram cerca de 40 minutos, foram audiogravados e
posteriormente transcritos na íntegra, sendo o material
submetido à leitura exploratória para apropriação da
totalidade do conteúdo e, após, foi realizada a leitura
exaustiva para apreender em profundidade o teor do
material.
Para análise e interpretação, foram construídas
narrativas13. Os núcleos argumentais de cada narrativa
foram analisados, realizando-se, em seguida, comparação
entre as narrativas, para identifi car as diferenças e
semelhanças entre elas, os quais foram submetidos à
análise de conteúdo na vertente representacional temática
de Bardin14, alicerçada nas fases de pré-análise, análise
e exploração, tendo emergido do material empírico,
as seguintes categorias: 1) O conceito e signifi cado da
avaliação; 2) O contexto da avaliação na atenção básica.
A percepção de enfermeiros da estratégia saúde da família sobre o conceito e prática da avaliação2017 jul.-dez.; 11(2): 248-256
251O projeto atende aos pressupostos da
Resolução 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde15
e foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa, CAAE
(51340215.0.0000.5166- UNEMAT).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Participaram do estudo 31 enfermeiras
responsáveis técnicas de unidades de saúde, 45,2%
na faixa etária de 25 a 34 anos, 74% graduação em
instituições públicas, 100% com vínculo estatutário,
56,9%, com especialização. Percebe-se predominância
para a especialização lato sensu na área de gestão em
saúde e que 19% possuem mais que uma especialização.
Nota-se que há enfermeiras que tiveram experiência na
gestão municipal da coordenação da atenção básica e/ou
da secretaria de saúde (Tabela 1).
Tabela 1 – Perfi l dos participantes do estudo frente a faixa etária, vínculo profi ssional, ano de conclusão da graduação, tempo de atuação na saúde da família, especialização lato sensu e experiência em gestão, em um município do sudoeste do estado de Mato Grosso, 2016
O setor saúde possui uma forte característica
para a feminilização, e para a ESF o trabalho de nível
superior segue essa mesma particularidade16,17. A
equipe de enfermagem brasileira é formada quase que
integralmente por mulheres, contudo tem crescido o
contingente masculino na profi ssão18. Na saúde da família
tem se percebido na esfera do trabalho uma feminilização,
talvez porque esse profi ssional assuma os papéis tidos
como de cuidadores, considerados socialmente femininos
e inferiores hierarquicamente no campo da saúde19.
O conceito e signifi cado da avaliação
A ampliação do número de inciativas ligadas às
políticas públicas que ampliaram os direitos dos cidadãos
brasileiros, a partir dos anos de 1990, despertou o
interesse para a avaliação20, principalmente pelo escopo
econômico e político dos serviços e programas de saúde21,
produzindo impacto em relação à organização e provisão
dos serviços com a implantação da ESF22.
As enfermeiras compreendem a avaliação como:
“[...] essencial para medir o que se sabe sobre o assunto [...] e é uma ferramenta de início e de conclusão capaz de realizar um planejamento”.
A avaliação, como um processo inerente ao
serviço, faz parte da operacionalização das atividades de
um programa ou, do próprio serviço de saúde, além de
ser um processo contínuo que deve ser desenvolvido no
decorrer das ações programáticas do serviço23.
Nas narrativas das enfermeiras desse estudo
apresentaram-se duas vertentes para a avaliação. A primeira
colocou a avaliação como um processo que deve ser
percorrido por etapas, intrínseco ao processo de trabalho e,
a segunda apontou a avaliação como etapa fi nal do trabalho.
Notou-se que durante as exposições houve sinalização de
concordância entre algumas enfermeiras, na interação
das narrativas das outras participantes. Frequentemente
quando havia discordância algumas enfermeiras chegaram
a interromper a fala da outra participante para questionar
sobre o que se estava abordando. As divergências deram-se
na conceituação de avaliação como um processo contínuo
ou de etapa fi nal do trabalho.
“A gente faz avaliação... até porque não é só no fi nal de uma atividade que se avalia, isso deve ser contínuo na nossa prática, se não, não seríamos coordenadoras das unidades, concordam? [...] e também tem a autoavaliação, essa eu tento sempre fazer com minha equipe, até porque precisamos fazer projetos, dar conta das ações que são pedidas pela secretaria. [...] ela é então contínua”.
“É, hoje mesmo estava pensando sobre isso, fazemos tanto e não avaliamos sempre [...] a avaliação deve ser feita no fi nal de um trabalho e vai dizer se a gente conseguiu, ou não, alcançar o que pretendíamos. [...] parece ser uma ferramenta necessária para a nossa prática, mas nem sempre dá certo de fazer”.
A percepção de enfermeiros da estratégia saúde da família sobre o conceito e prática da avaliação 2017 jul.-dez.; 11(2): 248-256
252A avaliação é definida como um processo
contínuo e sistemático24, e na compreensão da maior
parcela das participantes é um método utilizado
para mensurar ou acompanhar um determinado
processo.
Algumas enfermeiras julgaram que a avaliação
é capaz de subsidiar informações do desempenho dos
profi ssionais no trabalho. Duas profi ssionais sinalizaram
que a avaliação pode ser interpretada tanto positivamente
como negativamente. Três profi ssionais em dois
momentos diferentes apontaram que o monitoramento
é a fase que levanta dados para construir o perfi l do que
se deve avaliar.
A avaliação é um caminho para o monitoramento
das ações cotidianas e a sua não operacionalização
contínua sinaliza a incapacidade de redirecionar as ações
para atingir os objetivos previstos no planejamento,
portanto deixará de contribuir para a melhoria das
estratégias planejadas25.
Abreu et al.26 citam Shadish et al.* para
demonstrar que uma abordagem avaliativa ideal deve
indicar para o campo da avaliação a descrição e a
justifi cativa de certas práticas que podem levar a tipos
particulares de resultados. Portanto, é necessário no
primeiro plano explicitar as atividades, os processos
e os objetivos da avaliação; em segundo explicitar as
relações entre as atividades avaliativas, os processos e os
objetivos que essas atividades facilitam e por último testar
empiricamente as proposições formuladas com a intenção
de identifi car aquelas que confl itam com a pesquisa
avaliativa e com o conhecimento já sedimentado sobre a
avaliação.
Ao solicitar que os grupos escolhessem, dentre
as palavras insegurança, medo, ansiedade, susto e crítica,
consenso de duas palavras que representassem o
signifi cado da avaliação, as palavras insegurança e medo
foram consensuadas.
Os profi ssionais de saúde têm demonstrado a
necessidade de avaliar os resultados de suas práticas27.
Contudo, é necessário compreender que a avaliação
como prática deve ser “introjetada” ou “vivenciada”
pelos atores institucionais, no sentido de incorporação à
rotina das organizações de saúde, sendo entendida como
uma demanda interna de acompanhamento de todo o
processo28.
A avaliação no sentido de integração e vivência
deve ser capaz de infl uenciar o comportamento, ou seja,
um modelo orientado para a ação, ligando necessariamente
as atividades analíticas às de gestão das intervenções
programáticas7, o que se presume, conforme apontou o
signifi cado da avaliação pelas enfermeiras, que o ato de
vivência contínua do processo não acontece na prática
local, o que pode resultar no signifi cado de avaliação
aferido por elas.
É necessário compreender que a avaliação além
de ser um instrumento político media-se por relações
de poder que buscam modifi car/infl uenciar a direção e
velocidade da atenção à saúde29, que tem se confi gurado
em alguns espaços como uma política da gestão municipal
limitadora do trabalho coletivo30 e, que não se deve ignorar
a responsabilidade de quem a conduz. É interessante
e fundamental para a minimização do expressado
pelas enfermeiras, que se reforce a implementação de
mecanismos que assegurem a participação democrática
formando um elo de cogestão na comunicação entre a
avaliação e o seu processo enquanto conteúdo simbólico
nas ações de rotina dos serviços de saúde.
Assim, “o objetivo da avaliação não é outro senão
a identifi cação, a avaliação e a correção de situações
potencialmente melhoráveis31.” Não pode ser utilizada
apenas para demonstrar os problemas, nem propor
soluções para os problemas detectados, deve ser capaz
de produzir um campo de mudanças apropriadas que
conduzam à melhoria da organização dos serviços31.
O contexto da avaliação na atenção básica
Na prática profi ssional das enfermeiras, notou-se
que é escasso o uso da avaliação como ferramenta no
seu processo de trabalho e na coordenação do processo
de trabalho da equipe. Das 31 enfermeiras participantes
48,38% omitiram-se a responder ou expressar como
realizam a avaliação na perspectiva de promover o
desempenho no serviço de saúde.
Segundo as enfermeiras as avaliações feitas são
pontuais, em reuniões de equipe focadas nos problemas
apresentados nas demandas oriundas do gestor municipal.
Não há um processo institucionalizado de avaliação e
monitoramento nas unidades.
* Shadish WRJr, Cook TD, Leviton LC. Foundations of program evaluation. Newbury Park, CA: Sage; 1991.
A percepção de enfermeiros da estratégia saúde da família sobre o conceito e prática da avaliação2017 jul.-dez.; 11(2): 248-256
253“[...] a gente até faz reuniões, mas é só para passar informes, ou de vez enquanto discutir um caso específi co. [...] eu uso a discussão de caso mais com o agente comunitário de saúde e o médico durante as consultas ou no tempinho que dá. [...] sei que é necessário, mas não dá tempo, eles 'secretaria de saúde' só querem saber de produção, fechar a unidade para reunião parece um crime aqui”.
Ao serem indagadas sobre o uso da avaliação pela
gestão como instrumento para direcionar os trabalhos para
as unidades, todas as participantes se expressaram, sendo
possível perceber descompasso entre a coordenação da
atenção básica e as enfermeiras.
“[....] olha até usam, porém é só para saber se a gente está batendo a meta, [...] só que vejo como impositivo bater a meta, pois só querem saber da produção do que está pactuado, os números falam mais e ai você quer fazer algo que demanda um tempo de planejamento fi ca complicado porque você perdeu o tempo de consultar ou classifi car paciente [...], nesses anos que estou aqui como enfermeira, poucas foram as vezes que houve um debate para juntos planejar alguma coisa, [...] até porque vive mudando a coordenação, cada um que entra quer fazer de um jeito, [...] e tem que bater a meta né?, porque se não você vai ser cobrado”.
É percebível que a atenção à saúde tem sido
focalizada, pelas narrativas das enfermeiras, na tendência
em repetir o velho modelo de atendimento centrado na
consulta de pronto atendimento, como um processo de
medicalização da saúde e da vida. Castanheira et al.32,33
apontam para a necessidade de mudanças que consigam
alterar o próprio processo de trabalho e seus múltiplos
arranjos organizacionais.
Uma das mudanças que precisa ser realizada é
na extensa quantidade de informações registradas nas
rotinas dos serviços de saúde, que pouco se produz de
forma sistemática, na análise da situação de saúde ou para
a defi nição de prioridades e a reorientação de práticas20, o
que faz por desvalorizar espaços de criatividade e fomento
da promoção de saúde.
Uma estratégia para fomentar a avaliação como
ferramenta operacional do cotidiano das unidades de
saúde é a concepção de avaliação de qualidade29, proposta
por Donabedian (1980, 1993), cujos componentes básicos
são: estrutura, processo e resultado. Esses componentes
permitem uma melhor sistematização do processo de
avaliação34.
Nota-se pela verbalização das enfermeiras que a
avaliação não resulta, de fato, como campo estratégico de
comunicação que abrange o seu real objetivo. Entende-se que
a gestão tem adotado um caráter mais prescritivo, burocrático
e punitivo que subsidiário do planejamento e gestão.
“[...] agora vieram com esse tal de PMAQ que eu ainda nem sei o que é, mas tive que assinar o termo que estou de acordo, até agora não vieram falar como vai ser, [...] mas, tem também atividades que eu quero fazer e não posso, porque o médico ou eu vou ter que parar de consultar, e parar de consultar é um prejuízo imenso para os dados de produção”.
A gestão ainda não incorporou de forma uniforme
o conceito de liderança para suas práticas, servindo-
se de instrumento normatizador30. Há uma dimensão
expressa que não se constituiu, ainda, a avaliação como
um instrumento de suporte ao processo decisório nem
de formação dos sujeitos que, em tese, deveriam estar
envolvidos (profi ssionais de saúde, gestores e usuários do
sistema de saúde).
O processo decisório constituído sequencialmente
por suas etapas e uma avaliação contínua seria capaz de
incorporar a essas profi ssionais o discurso à gestão das
ações que realmente são cogentes ao perfi l das unidades.
Por isso, é imprescindível que na extensão da
multidimensionalidade da avaliação seja necessário
delimitar rigorosamente o que se concebe como avaliação
da qualidade e, qual será o lugar da avaliação qualitativa
como um dos seus componentes35.
No caso brasileiro a institucionalização da cultura
avaliativa a partir do projeto Avaliação para Melhoria da
Qualidade da Estratégia Saúde da Família (AMQ) foi uma
das medidas indutoras para a avaliação em saúde na
atenção básica8,23,24,36.
Nesse sentido, não é meramente atribuir a
avaliação para o campo da gestão, e se desresponsabilizar
dessa ação. A própria AMQ faz a corresponsabilidade
da equipe enquanto organizadora da avaliação para
a organização do processo de trabalho e da atenção
integral à saúde. Notou-se que a não apropriação da
cultura de avaliação corresponde a não inter-relação
entre o profi ssional e a gestão, o que é fundamental
para o consenso linear dos padrões compreendidos como
avaliativos pela gestão. As poucas reuniões com a gestão
e a ausência de um grupo de análise de situação no
município foram apontadas como fragilidades.
“[...] aqui não tem essa cultura de sentar e discutir a situação de saúde, a gente tem que produzir isso sozinho, muitas das vezes nem a respostas dos relatórios voltam para a gente, [...] se tivesse um grupo para fazer isso seria mais fácil né?[...] outro problema é o sistema de informação que não conversa nem com ele mesmo, imagina com a gente, [...] é mesmo, esse é um grande problema aqui, como fazer avaliação se a gente não tem um sistema de informação confi ável”.
A percepção de enfermeiros da estratégia saúde da família sobre o conceito e prática da avaliação 2017 jul.-dez.; 11(2): 248-256
254A gestão do serviço de saúde tem na dimensão
da função administrativa o papel de conciliar interesses
individuais, corporativos e coletivos, e frente a essa
complexa dimensão que o campo nem sempre se
convergem20, para as melhoras práticas da gestão.
É primordial que a gestão em saúde tenha como a
produção de decisões o desencadeamento do processo
de intermediação e implementação das políticas37, o que
faz parte do conjunto de atividades desempenhadas pelos
gestores do sistema e das equipes de saúde. Diante desse
aspecto cabe à gestão instrumentalizar e fomentar a cultura
avaliativa24, e aos serviços, aqui compreendidos como a
interação da gestão com o profi ssional, se responsabilizar
em exercê-la38.
Incorporar a avaliação ao sistema de saúde
é institucionalizar a capacidade de responder às
necessidades em saúde; acompanhar os efeitos das
intervenções; identifi car e corrigir problemas; enfi m,
retroalimentar equipes de saúde, gestores, políticos e
comunidades21, buscando impulsionar mudanças na forma
como os serviços e as práticas de saúde se organizam.
Caberá então à gestão produzir no campo da
avaliação respostas para as perguntas colocadas por
aqueles que vivenciam o objeto avaliado20 e, nesse
caso a avaliação será importante para a refl exão que
quanto mais um sistema de saúde for orientado pela
atenção primária à saúde, e que essa seja resolutiva,
melhores são os níveis de saúde da população, maior
é a satisfação dos usuários e menores os gastos com
esse sistema39.
A gestão em saúde orientada por processos
de decisão e avaliação é transversalizada e, para se
estruturar em mecanismos inovadores torna-se necessário
compreender como a atenção básica se conecta com os
outros níveis e qual a sua capacidade de fortalecimento3.
Constata-se que os processos de avaliação
ainda são muito incipientes e não têm sido incorporados
às práticas dos serviços de saúde, em todo o território
brasileiro37. Sendo necessário, à institucionalização da
cultura de avaliação da atenção básica como aspecto
inerente ao processo de implantação do novo pacto
federativo, considerado para a construção de métodos que
auxiliem os gestores a qualifi car os processos e as práticas
de monitoramento e avaliação no âmbito da gestão do
SUS, infl uindo de maneira positiva na tomada de decisão27.
Quando as enfermeiras expressaram o campo
da construção da cultura da avaliação na atenção básica
percebeu-se que há uma corresponsabilidade maior para
que o gestor assuma essa função, porém reconheceram
que as demandas do serviço e as atividades que fazem
parte do processo de trabalho nas unidades são resultados
que devem ser avaliados e reavaliados, tendo a equipe
como foco no processo de discussão.
“[...] É, parte da gestão colocar a cultura da avalição, eles precisam se instrumentalizar, para entender o que estão fazendo lá, e saber cobrar corretamente, [...] nisso sei que a gente falha muito, as nossas ausências de pedir reuniões e encontros de planejamento, faz com que eles fi quem sempre só cobrando produção, [...] é mesmo, nós nunca nos posicionamos enquanto grupo para mudar, acho que estou também precisando saber sobre a avaliação na atenção básica, até para saber se o que faço é o que realmente será avaliado”.
O campo da gestão, macroesfera, e da gerência,
na internalidade das unidades, é um espaço de articulação,
interação, participação e decisão3, interação que se
ausenta nesse ambiente mostrado no estudo. O espaço da
unidade de saúde pode ser desencadeador de uma ampla
conexão para a tomada de decisão, para além da própria
unidade, chegando até a gestão municipal. Por isso, não
se trata apenas de uma constatação, mas é importante
contextualizar que para o fomento da “cultura avaliativa”
requer-se a qualifi cação da capacidade técnica, que deve
absorver pontos de vista específi cos na produção de um
movimento que conduza a um forte diálogo capaz de gerar
novos padrões de cultura frente à capacidade pedagógica
de produzir aprendizagens21.
A percepção das enfermeiras sobre a avaliação
na atenção básica, diz respeito a avaliação estruturada na
perspectiva de mostrar caminhos para certifi car serviços
de qualidade em consonância com os princípios do sistema
de saúde brasileiro. É interessante que grupos apontaram
que a avaliação na atenção básica tem como foco o
usuário e que a partir desse foco deve ser mensurada a
resolutividade dos serviços.
“[...] na atenção básica a avaliação mostra o que podemos alcançar e avançar no serviço, de forma que fortalece os programas e também responsabiliza as equipes pelo que estão fazendo, [...] acho ainda difícil de entender, não sei se é porque eu não sei quais são os limites que eles falam da avaliação, mas sei que a atenção básica é a base do programa de saúde no município agora, porque antes não era. [...] Se ela avaliação’ fosse mais bem divulgada ou aplicada pela gestão acho que a gente faria e levaria mais a sério, até porque saberíamos como fazer [...] alguém aqui sabe quais são os instrumentos que medem ou que avaliam a gente?”.
A percepção de enfermeiros da estratégia saúde da família sobre o conceito e prática da avaliação2017 jul.-dez.; 11(2): 248-256
255Atenta-se para a refl exão de uma dimensão da
dinâmica do poder, dos confl itos e do contexto produzido
pelo conjunto de atores que estão interligados em uma
organização20 e, nesse conjunto os diferentes atores
principalmente o enfermeiro, por consolidação da sua
formação, possui um papel essencial para o processo de
compreensão dos novos arranjos institucionais, necessário
no campo estratégico atual da gestão em saúde.
Assim, a avaliação no setor de saúde brasileiro,
nem sempre adota modelos avaliativos já consagrados na
literatura, sendo um fator limitante ao desenvolvimento
do campo da saúde em nosso país e um desafi o para o
desenvolvimento de novos modelos22.
Existem fortes indícios e evidências sobre a
necessidade de se investir na institucionalização da cultura
de avaliação e o desempenho dos serviços de saúde
está fortemente associado à sua estrutura40,41. Deve-se
compreender que os aspectos, tanto do monitoramento
quanto da avaliação, podem ser concebidos e
compreendidos na representação de como se constituem
esses espaços de produção de serviços frente ao contexto
das dinâmicas de sua organização induzidas pela gestão
local.
CONCLUSÃO
É necessário compreender que a avaliação a
partir da compreensão da vivência do ator que é avaliado
contribui para a dimensão estratégica da gestão para
possíveis canais de informação na produção de um
processo sistemático e sistematizado à luz da realidade
local, ao aproximar do campo da decisão os diversos
atores que compõem a organização dos serviços de saúde.
Se considerarmos o cenário encontrado a partir
dessa pesquisa, o enfermeiro tem desempenhado a
função de coordenador das unidades de saúde. Porém,
pelas condições encontradas do modelo clínico proposto
pela gestão municipal e pela forma como a organização
das demandas foi apresentada, a qualifi cação para o uso
da avaliação como ferramenta do processo de trabalho
fi ca comprometida pela ausência de interlocução entre os
organizadores do cuidado e os que operacionalizam essa
organização.
É prudente repensar a inserção desses
enfermeiros como articuladores na cogestão da política
da atenção básica e do cenário de campo dos serviços.
Como já experienciaram na formação o que esse modelo
propõe, resta fomentar os espaços do uso de ferramentas
tecnológicas e de práticas de saúde aplicadas, associadas
ao aspecto gerencial do trabalho. Essa pode ser uma das
estratégias para a ampliação da cultura de avaliação.
Retomando o cenário de que a avaliação surgiu
no contexto da preocupação dos gestores dos serviços de
saúde em todo o mundo no que se refere à limitação de
recursos, frente a atual conjuntura política e econômica
que assola o Estado brasileiro, incumbe-nos reafi rmar
nesse espaço a necessidade de aproximação do conceito
da avaliação in loco, mais próxima da realidade local para
o seu fortalecimento não como ação de repasse ou de
gratifi cação por desempenho ou função de pactuação, mas
como uma cultura de fortalecer o SUS como estratégia
política e direcionadora de um pensamento universal da
extensão da política de saúde brasileira.
O processo de refl exão dos conceitos utilizados
na avaliação pode desencadear a identifi cação dos
seus limites e das potencialidades de alcance que ela
poderá trazer no fortalecimento do SUS e da profi ssão
de enfermagem. Portanto, o processo que julgamos
estratégico é o participativo. Sugere-se a replicação desse
estudo no contexto atual da nova Política Nacional da
Atenção Básica (PNAB), por trazer pressupostos diferentes
no campo de atuação da atenção básica.
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Recebido em: 24/05/2017Aceito em: 19/08/2017
256 A percepção de enfermeiros da estratégia saúde da família sobre o conceito e prática da avaliação2017 jul.-dez.; 11(2): 248-256
258 Tratamento alternativo para hérnia dehiato volumosa: relato de caso2017 jul.-dez.; 11(2): 258-262
TRATAMENTO ALTERNATIVO PARA HÉRNIA DE HIATO VOLUMOSA: RELATO DE CASO
ALTERNATIVE TREATMENT FOR BIG HIATUS HERNIA: CASE REPORT
TRATAMIENTO ALTERNATIVO PARA HELNIA DE HIATOS VOLUMINOSA: INFORME DE CASO
* Professor Doutor Chefe da Enfermaria de Cirurgia Bariátrica e Metabólica da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto-SP.**Fellow do Serviço de Cirurgia Bariátrica e Metabólica do Hospital de Base da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto-SP. Contato: nazirchalela@gmail.com*** Cirurgião Geral pela Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto-SP.**** Residente do 2° ano de Cirurgia Geral da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto-SP.Trabalho realizado na Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto, São José do Rio Preto-SP.
ResumoIntrodução: A hérnia paraesofágica é uma patologia rara, no qual ocorre herniação de estruturas abdominais através do hiato esofágico do diafragma. Os sintomas mais comuns incluem disfagia, refl uxo, regurgitação e suas complicações são principalmente sangramento, respiratórias, obstrução e volvo gástrico. Quanto ao diagnóstico, a seriografi a e a endoscopia são preconizadas, sendo a cirurgia o tratamento defi nitivo. Objetivo: Relatar um caso de Hérnia de Hiato classifi cada como paraesofágica, volumosa, na qual a pessoa foi submetida a um tratamento alternativo terapêutico para este tipo de enfermidade. Material e Método: Estudo de relato de caso, retrospectivo, guiado por análise de prontuário médico e revisão da literatura. Resultados: No tratamento da hérnia de hiato foi feita a adaptação de materiais, tornando uma cirurgia, a priori, de alto custo/benefício, numa relação custo/benefi cio baixa, já que se obteve o mesmo objetivo usando o pericárdio bovino (média de R$ 80,00) ao invés da tela Proceed® (média de R$ 3.000). Conclusão: O pericárdio bovino pode ser uma opção de baixo custo, além de boa disponibilidade, fácil manejo e bons resultados no pós-operatório.
Palavras-chave: Hérnia de hiato. Hérnia paraesofáica. Pericárdio bovino.
AbstractIntroduction: Paraoesophageal hernia is a rare pathology in which abdominal structures are herniated through the esophageal hiatus of the diaphragm. The most common symptoms include dysphagia, refl ux, regurgitation and its complications are mainly bleeding, dyspnea, obstruction and gastric volvulus. Regarding the diagnosis, seriography and endoscopy are recommended, being surgery the defi nitive treatment. Objective: To report a case of a large paraoesophageal hernia, where the patient was submitted to an alternative therapeutic treatment for this kind of disease. Material and Method: Retrospective case report study based on medical record analysis and on literature review. Results: For the treatment of hiatal hernia, materials were adapted, making a priori on in a high cost/benefi t surgery, but with a low cost/benefi t ratio, since the same goal was obtained using the bovine pericardium (mean cost of R$ 80.00) instead of the Proceed® screen (average cost of R$ 3.000). Conclusion: The bovine pericardium can be a low-cost option, besides the good availability, easy handling and good postoperative results.
Keywords: Hiatus hernia. Paraoesophageal hernia. Bovine pericardium.
ResumenIntroducción: La hernia paraesofágica es una patología rara, en el cual ocurre herniación de estructuras abdominales a través del hiato esofágico del diafragma. Los síntomas más comunes incluyen disfagia, refl ujo, regurgitación y sus complicaciones son principalmente sangrado, respiratorio, obstrucción y volvo gástrico. En cuanto al diagnóstico, la seriografía y la endoscopia son preconizadas, siendo la cirugía el tratamiento defi nitivo. Objetivo: Informar un caso de hernia de Hiato clasifi cada como paraesofágica, voluminosa, en la cual la persona fue sometida a un tratamiento alternativo terapéutico para este tipo de enfermedad. Material y método: Estudio de relato de caso, retrospectivo, guiado por análisis de prontuario médico y revisión de la literatura. Resultados: En el tratamiento de la hernia de hiato se hizo la adaptación de materiales, haciendo una cirugía, a priori, de alto costo/benefi cio, en una relación costo/benefi cio baja, ya que se obtuvo el mismo objetivo usando el pericardio bovino (promedio de R$ 80,00) en lugar de la pantalla Proceed® (promedio de R$ 3.000). Conclusión: El pericardio bovino puede ser una opción de bajo costo, además de buena disponibilidad, fácil manejo y buenos resultados en el postoperatorio.
Palabras clave: Hernia de Hiato. Hérnia paraesofáica. Pericardio bovino.
Gilberto Borges Brito*, Thiago Sivieri*, Nazir Elias Chalela Ayub**, Roberto Lazilha Faleiros***, Diego Rodrigo Dametto****
259Tratamento alternativo para hérnia dehiato volumosa: relato de caso 2017 jul.-dez.; 11(2): 258-262
INTRODUÇÃO
Hérnia de hiato pode ser defi nida como a
herniação de elementos da cavidade abdominal para dentro
do mediastino ou do tórax através do hiato esofagiano
do diafragma. Podem ser classifi cadas como hérnia por
deslizamento ou tipo I e hérnias paraesofágicas (divididas
em tipo II, III e IV). As hérnias tipo I são caracterizadas
pelo deslocamento da junção gastroesofágica para cima
do nível do hiato do diafragma. Neste tipo de hérnia
ocorre deslizamento da cárdia e o restante do estômago
permanece em seu alinhamento longitudinal. Dentre as
paraesofágicas, ocorre uma herniação do fundo gástrico
pelo hiato esofágico, nas hérnias tipo II, permanece
a junção gastroesofágica abaixo do hiato. Na hérnia
tipo III ou mista, ocorre tanto deslizamento da cárdia
como herniação do fundo gástrico; já a hérnia tipo IV é
caracterizada pela presença de outros órgãos, além do
estômago, no saco herniário como: cólon, baço, pâncreas
ou intestino delgado1,2.
Estima-se que a grande maioria (95%) das
hérnias de hiato é do tipo I e apenas 5% são do tipo
paraesofágica3,4, enquanto as hérnias paraesofágicas são
um tipo incomum e afetam adultos mais velhos com idade
mediana entre 65-75 anos5,6.
O tratamento cirúrgico eletivo está indicado em
casos sintomáticos nos quais estão relacionados: refl uxo
gastroesofágico, disfagia, saciedade precoce, vômitos e
anemia7. O reparo cirúrgico de emergência é necessário
em pacientes que apresentam complicações como
volvo gástrico, sangramentos incontroláveis, obstrução,
estrangulamento, perfuração gástrica ou comprometimento
respiratório8. O reparo cirúrgico pode ser transabdominal
(aberto ou laparoscópico) ou transtorácico, variando de
acordo com a preferência e o treinamento do cirurgião9,10.
Apesar de haver maior chance de recidiva da
hérnia, o método minimamente invasivo ganhou espaço
pela diminuição da morbimortalidade do procedimento,
uma vez que a maioria dos pacientes com grandes
hérnias tem idade superior a 65 anos e apresentam
várias comorbidades. Detalhes técnicos como remoção
completa do saco herniário, realização de fundoplicatura
total, fi xação do estômago à parede abdominal ou ao
pilar diafragmático são defendidos por vários autores
para tentar atingir os melhores resultados, mas sem
comprovação científi ca11.
Ocorre que o hiato diafragmático não é recoberto
por peritônio, é atravessado pelo esôfago, que não possui
camada serosa e está em constante movimentação com a
respiração e esta região também está em contato direto
com o fundo gástrico. Por esses motivos, há preocupação
quanto ao risco potencial de retração, levando a disfagia,
e de erosão ou penetração de próteses colocadas nesta
área. As características de uma prótese ideal para essa
região seriam: rápida integração tecidual, mínima retração,
ausência de aderência a vísceras ocas e boa transparência
para fi xação segura11.
O reparo do defeito do hiato esofágico é uma das
etapas mais críticas da correção de hérnias paraesofágicas
e durante o procedimento cirúrgico pode-se usar telas
sintéticas absorvíveis (poligalactina e ácido poliglicólico),
telas sintéticas não absorvíveis (polipropileno,
politetrafl uoroetileno) ou materiais biológicos como os
autoenxertos, aloenxertos e xenoenxertos (ex. pericárdio
bovino).
Os portadores de grandes hérnias de hiato têm
alto risco para recidiva, associado ou não à recidiva de
refl uxo, mesmo quando adequada técnica operatória é
empregada. O uso de próteses para diminuir as recidivas
tem sido motivo de investigação por vários grupos,
procurando encontrar um modelo que reforce a hiatoplastia
sem expor o paciente aos riscos de erosão ou fi brose ao
redor do esôfago que causaria disfagia11.
OBJETIVO
Relatar um caso de Hérnia de Hiato classifi cada
como paraesofágica, volumosa, na qual a pessoa foi
submetida a um tratamento alternativo terapêutico para
este tipo de enfermidade.
RELATO DO CASO
Paciente F.B., masculino, 72 anos de idade,
aposentado, com histórico de poliomielite na infância,
cadeirante, hipertenso, ex-etilista e ex-tabagista. Relatava
procedimento cirúrgico prévio em joelho, porém negava
outras cirurgias. Atendido no ambulatório da cirurgia geral
pela primeira vez com queixa de dispneia leve associada
à pirose e sensação disfágica de trajeto, trazendo
consigo Tomografi a Computadorizada (TC) de tórax
demonstrando hérnia gástrica hiatal de deslizamento, de
aproximadamente 4,8 cm, com estômago em mediastino
260posterior. Solicitado, ambulatorialmente, Serigrafi a
esôfago-estômago-duodeno (Figura 1) e Endoscopia
Digestiva Alta (EDA), que confi rmaram presença da
hérnia de hiato. Decidido realizar tratamento cirúrgico
eletivo com colocação de tela de Proceed®. Durante o
seguimento, aguardando o risco cirúrgico e a realização
do procedimento, de forma aguda, paciente deu entrada
no setor de urgência e emergência com quadro de
náuseas, vômitos e difi culdade alimentar. Realizado TC de
abdome na urgência, que confi rmou diagnóstico de hérnia
diafragmática paraesofágica encarcerada (Figuras 2A e
2B). Em caráter de urgência, foi indicado procedimento
cirúrgico, sendo realizada laparotomia exploradora em que
se constatou o estômago viável com antro encarcerado
em hiato esofágico alargado. Feita redução manual sem
intercorrências, com preservação do órgão e, em seguida,
hiatoplastia com plicatura com pericárdio bovino no local
para reforço, visto que no momento não havia a tela de
Proceed®. Realizado fundoplicatura a Nissen fi xando as
bordas do estômago com pontos separados com Ethibond
2.0 deixando o envolvimento do esôfago frouxo. Paciente
foi encaminhado à UTI no pós-operatório, onde evoluiu de
forma assintomática, quadro clínico permaneceu estável
por quatro dias, recebendo alta da terapia intensiva para o
setor de enfermaria e no 5º dia de pós-operatório recebeu
alta hospitalar assintomático. Em acompanhamento
ambulatorial, retornou com boa evolução clínica e
mantendo quadro assintomático. Submetido a nova
Seriografi a para estudo radiológico de pós-operatório,
apresentou resultado satisfatório (Figuras 3A, 3B, 3C).
Figura 1 – Seriografi a esôfago estômago duodeno realizada antes da cirurgia
Figura 2 – Tomografi a Computadorizada Abdominal com contraste oral e venoso, realizada antes do procedimento cirúrgico
DISCUSSÃO
A hérnia paraesofágica é uma patologia incomum,
representa 5% das hérnias hiatais, nela ocorre herniação
de estruturas abdominais através do hiato esofágico
do diafragma12. Os sintomas mais comuns incluem
disfagia, refl uxo, regurgitação e suas complicações são
principalmente sangramento, obstrução, respiratórias
e volvo gástrico13. Hérnias paraesofágicas afetam mais
comumente a população idosa entre 65 e 75 anos, sendo
a indicação de correção cirúrgica em casos refratários ao
tratamento sintomático ou na vigência de complicações12,13.
A correção profi lática ainda não é consenso, no entanto,
pacientes com risco cirúrgico contra indicativo ao
procedimento não são submetidos à cirurgia, visto que
a taxa de mortalidade por reparo eletivo fi ca em 1,4%
contra 1,1% da probabilidade de desenvolver sintomas
agudos14. No caso clínico apresentado, o perfi l do paciente
se enquadra nessas situações, em que um idoso que já
Tratamento alternativo para hérnia dehiato volumosa: relato de caso2017 jul.-dez.; 11(2): 258-262
261
Figura 3 – Seriografi a realizada ambulatorialmente 60 dias após o procedimento cirúrgico
estava em seguimento por hérnia hiatal tipo II12,13, com
programação cirúrgica pela refratariedade dos sintomas,
teve correção de urgência por complicação, obstrução.
Por já estar em acompanhamento, paciente
possuía investigação diagnóstica com EDA e
seriografia, além de tomografia tórax e abdome,
realizadas na investigação primária e durante quadro
de urgência. Em conformidade com a literatura que
preconiza além da endoscopia e seriografia, história
clínica detalhada13.
As hérnias podem ter a correção realizada por via
abdominal ou torácica, mas não há consenso para qual a
melhor via de abordagem13,15. Usa-se tela seletivamente
para reforço em reparos de hérnias grandes, lesão de fi bras
do diafragma ou excesso de tensão13. Nossa programação
para o paciente seria laparotomia com colocação de tela
de politetrafl uoretileno, Proceed®, para reforço da falha,
dado o defeito herniário ser grande.
Como o paciente teve de ser submetido à cirurgia
de urgência, realizou-se laparotomia exploradora com
redução manual do antro gástrico encarcerado, hiatoplastia
com plicatura de pericárdio bovino no local, já que no
momento não havia a tela Proceed®, e fundoplicatura à
Nissen. No pós-operatório imediato o paciente necessitou
de cuidados intensivos em UTI por dois dias com boa
evolução. Recebeu alta hospitalar no quinto dia de
internação, quando sua função intestinal retornou, em
conformação com recomendação da literatura12,13. Durante
seguimento ambulatorial por sessenta dias, apresentou-se
assintomático e seriografi a realizada ao fi m desse período
confi rmou ausência de recidiva herniária.
Considerando os resultados obtidos, o pericárdio
bovino mostrou-se como uma opção de baixo custo, boa
disponibilidade e fácil manejo, fornecendo bons resultados
na reparação de falha hiatal. Sendo uma alternativa viável
em relação ao custo-benefício quando há necessidade
de plicatura de tela nas hérnias hiatais e estando em
conformidade com a literatura, já que tanto as telas
permanentes quanto as biológicas demonstraram ser
efi cazes na redução de recorrências herniária16,17.
CONCLUSÃO
O presente relato retrata um caso incomum,
que foi o encarceramento de uma hérnia de hiato
volumosa, no qual foi realizada uma cirurgia de urgência
sendo necessária a adaptação de materiais, frente a um
procedimento cirúrgico que geralmente apresenta alto
custo/benefício devido ao uso da tela de Proceed®.
Através da utilização do pericárdio bovino, obteve-se
uma relação custo/benefício relativamente mais baixa
e, mesmo com a utilização de um material de um custo
reduzido, obtiveram-se bons resultados no pós-operatório,
pois o paciente apresentou boa evolução clínica e
acompanhamento ambulatorial assintomático.
O reparo de hérnia de hiato volumosa é um grande
desafi o, e apesar das novas tecnologias instituídas, com
diversos materiais sintéticos e biológicos, o pericárdio bovino
pode ser uma opção de baixo custo, pela boa disponibilidade,
fácil manejo e bons resultados no pós-operatório.
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Recebido em: 26/09/2017Aceito em: 24/10/2017
Tratamento alternativo para hérnia dehiato volumosa: relato de caso2017 jul.-dez.; 11(2): 258-262
263Obstrução intestinal por fi tobezoar em pacientepós-operatório de cirurgia bariátrica: relato de caso 2017 jun.-dez.; 11(2): 263-267
OBSTRUÇÃO INTESTINAL POR FITOBEZOAR EM PACIENTE PÓS-OPERATÓRIO DE CIRURGIA BARIÁTRICA: RELATO DE CASO
BOWEL OBSTRUCTION DUE TO PHYTOBEZOAR IN PATIENT AFTER BARIATRIC SURGERY: CASE REPORT
OBSTRUCCIÓN INTESTINAL POR FITOBEZOAR EN PACIENTE POST-OPERATORIO DE CIRUGÍA BARIÁTRICA: INFORME DE CASO
* Professor Doutor Chefe da Enfermaria de Cirurgia Bariátrica e Metabólica da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto-SP.** Fellow do Serviço de Cirurgia Bariátrica e Metabólica do Hospital de Base da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto-SP.*** Cirurgião Geral pela Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto-SP.**** Residente do 2° ano de Cirurgia Geral da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto-SP.Trabalho realizado na Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto, São José do Rio Preto-SP. Contato: nazirchalela@gmail.com
ResumoIntrodução: Fitobezoares, compostos por aglomerados de fi bras vegetais, embora raros, são conhecidos por causar obstrução mecânica do trato digestivo. Possuem sua incidência aumentada em pacientes submetidos a cirurgias abdominais, principalmente as gástricas, como a bariátrica. Inicialmente pode se tentar o tratamento clínico para abdome agudo obstrutivo. Nos casos de refratariedade o tratamento cirúrgico está indicado. Objetivos: Relatar um caso raro de um paciente com cirurgia bariátrica prévia, submetido a tratamento cirúrgico de urgência por abdome agudo obstrutivo por fi tobezoar; alertar sobre as características clínicas dessa obstrução em pacientes submetidos à cirurgia bariátrica para possibilitar um diagnóstico mais precoce. Material e Método: Relato de caso, retrospectivo baseado na análise de prontuário médico e revisão de literatura. Conclusão: Apesar de rara, a obstrução do intestino delgado por fi tobezoares pode ocorrer no pós-operatório de by-pass gástrico em Y-de-Roux, sendo o exame clínico e os exames de imagem em associação a história alimentar, de grande importância para o diagnóstico e resolução do quadro.
Palavras-chave: Cirurgia bariátrica. Fitobezoar. Obstrução intestinal.
AbstractIntroduction: Phytobezoars, composed of vegetal fi bers agglomerates, although rare, are known to cause mechanical obstruction of the digestive tract. They show an increased incidence in patients submitted to abdominal surgeries, mainly gastric, such as bariatric surgery. Initially, clinical treatment for acute obstructive abdomen may be attempted. In cases of lack of response, the surgical treatment is suggested. Objectives: To report a rare case of a patient with previous bariatric surgery, submitted to emergency surgical treatment for obstructive acute abdomen by phytobezoar; to alert about the clinical characteristics of this obstruction in patients submitted to bariatric surgery to enable an earlier diagnosis. Material and Method: It is a retrospective case report, based on medical record analysis and on literature review. Conclusion: Although rare, small intestine obstruction due to phytobezoars may occur in the postoperative phase of Roux-Y gastric bypass, being of great importance for the diagnosis and resolution of this condition the clinical examination, as well as imaging examinations in association with food history.
Keywords: Bariatric surgery. Phytobezoar. Bowel obstruction.
ResumenIntroducción: Fitobezoares, compuestos por aglomerados de fi bras vegetales, aunque raros, son conocidos por causar obstrucción mecánica del tracto digestivo. Ellos tienen su incidencia aumentada en pacientes sometidos a cirugías abdominales, principalmente las gástricas, como la bariátrica. Inicialmente se puede intentar el tratamiento clínico para el abdomen agudo obstructivo. En los casos de refractariedad el tratamiento quirúrgico está indicado. Objetivos: Informar un caso raro de un paciente con cirugía bariátrica previa, sometido a tratamiento quirúrgico de urgencia por abdomen agudo obstructivo por fi tobezoar y alertar sobre las características clínicas de esta obstrucción en pacientes sometidos a la cirugía bariátrica para posibilitar un diagnóstico más precoz. Material y Método: Relato de caso, retrospectivo basado en el análisis de prontuario médico y revisión de literatura. Conclusión: A pesar de rara, la obstrucción del intestino delgado por fi tobezoares puede ocurrir en el postoperatorio de by-pass gástrico en Y-de-Roux, siendo el examen clínico y los exámenes de imagen en asociación a la historia alimentaria, de gran importancia para el diagnóstico y la resolución del cuadro.
Palabras clave: Cirugía bariátrica. Fitobezoar. Obstrucción intestinal.
Gilberto Borges Brito*, Thiago Sivieri*, Shinhiti Morita*, Nazir Elias Chalela Ayub**, Roberto Lazilha Faleiros***, Diego Rodrigo Dametto****
264 Obstrução intestinal por fi tobezoar em pacientepós-operatório de cirurgia bariátrica: relato de caso2017 jun.-dez.; 11(2): 263-267
INTRODUÇÃO
Bezoares são coleções de fi bras ou resíduos
mal digeridos que se acumulam no trato gastrointestinal
e podem ser classifi cados de acordo com o material
que os constituem, como por exemplo, tricobezoares
(fi os de cabelo), farmacobezoares (medicamentos) e os
fi tobezoares (compostos por fi bras de vegetais e frutos)1,2.
Apesar de raros, são conhecidos por causarem obstrução
mecânica do trato digestivo3,4.
Dentre os bezoares, os fi tobezoares são os mais
frequentemente encontrados e têm como principais fatores
de risco pacientes submetidos a cirurgias abdominais
prévias, principalmente as gástricas, como a bariátrica
que, associada às modifi cações dietéticas impostas por
este tipo de cirurgia, aumenta a predisposição à formação
de fi tobezoar devido a fatores como menor mobilidade
gástrica, perda de função pilórica e hipoacidez5. O hábito
alimentar, incluindo baixa ingesta hídrica, mastigação
insufi ciente e ingestão excessiva de alimentos com alto
teor de fi bras, tem se mostrado um importante fator de
risco3,6.
O quadro clínico de obstrução intestinal por
fi tobezoar pode variar de assintomático a sintomas
inespecífi cos de abdome agudo obstrutivo, tornando o
diagnóstico um desafi o na prática clínica7,8. A anamnese
e o exame físico são importantes para o diagnóstico,
entretanto, exames complementares como tomografi a
computadorizada de abdome são necessários para o
diagnóstico defi nitivo que, muitas vezes, é feito apenas no
intraoperatório9,10.
O objetivo do tratamento é a resolução do quadro
obstrutivo. Inicialmente o tratamento clínico pode ser efi caz,
entretanto, um procedimento cirúrgico, frequentemente,
torna-se necessário10. Como complementação do
tratamento, uma correta orientação nutricional e medidas
dietéticas visam não apenas prevenir novos casos, como
também evitar recorrências de obstrução intestinal por
fi tobezoares em pacientes previamente submetidos a
cirurgias gastrointestinais11.
OBJETIVOS
Relatar um caso raro de uma paciente jovem, com
história de cirurgia bariátrica pregressa, apresentando
quadro de abdome agudo obstrutivo por fi tobezoar,
submetida a laparotomia exploradora com enterotomia
para retirada do fi tobezoar. Alertar sobre as características
clínicas dessa obstrução em pacientes submetidos à
cirurgia bariátrica para possibilitar um diagnóstico mais
precoce.
MATERIAL E MÉTODO
Trata-se de um estudo retrospectivo baseado na
análise de prontuário médico e revisão de literatura.
RELATO DO CASO
Paciente L.A.D., 39 anos, feminino, sem
comorbidades, admitida na unidade de urgência e
emergência, com quadro de dor abdominal difusa, pior
em região de mesogastro, de moderada intensidade, em
cólica, com irradiação para dorso, associada a náusea
e vômitos de início há 24 horas da entrada ao hospital.
Tinha história prévia de cirurgia bariátrica (By-pass
Gástrico em Y-de-Roux) há cinco anos. Ao exame físico,
apresentava-se em bom estado geral, sinais vitais estáveis,
porém com abdome distendido, com ruídos hidroaéreos
presentes e aumentados, doloroso a palpação e sem dor
à descompressão brusca abdominal. Solicitados exames
laboratoriais que se mantinham dentro da normalidade.
Realizada rotina radiológica de abdome agudo (Figura 1),
evidenciando presença de distensão de alças de delgado,
empilhamento de moedas e níveis hidroaéreos. Submetida
à tomografi a computadorizada de abdome (Figura 2)
que evidenciou distensão de todo intestino delgado
com provável ponto de obstrução no íleo distal, sendo
visualizada imagem “esponjosa” intraluminal sugestiva de
fi tobezoar, hipótese essa que foi reforçada com o relato
da paciente ter ingerido bagaço de laranja dias anteriores
ao quadro. Paciente foi então submetida à laparotomia
exploradora com achado de massa intraluminal móvel no
íleo distal (20 cm da válvula ileocecal) sugestiva de bezoar.
Realizada enterotomia (Figura 3) com retirada do bezoar,
seguida do fechamento da alça em dois planos. A paciente
evoluiu bem no pós-operatório com boa aceitação da dieta
e teve alta hospitalar no 3º dia de pós-operatório.
265Figura 1 – Rotina radiológica de abdome agudo: presença de distensão de alças de delgado com empilhamento de moedas e alguns níveis hidroaéreos, sendo sugestivo de obstrução intestinal - setas brancas
Figura 2 – Tomografi a de abdome: distensão de todo intestino delgado com provável ponto de obstrução no íleo distal com imagem “esponjosa” intraluminal (circulado em branco) sugestiva de fi tobezoar
Obstrução intestinal por fi tobezoar em pacientepós-operatório de cirurgia bariátrica: relato de caso 2017 jun.-dez.; 11(2): 263-267
266 Estratégias e métodos didáticos utilizados por docentes noEnsino Superior em Enfermagem2017 jan.-jun.; 11(1): 114-121
Figura 3A – Presença de massa intraluminal, localizada no íleo distal (20 cm da válvula ileocecal), sendo possível visualizar a desproporção do delgado antes e após a massa. Figuras 3B e 3C - Enterotomia e visualização do bezoar. Figura 3D - Fibras da laranja responsáveis pela obstrução
DISCUSSÃO
As obstruções intestinais são patologias cirúrgicas
comuns, podendo ser de causa extrínseca ou intrínseca,
levando a interrupção da passagem de conteúdo pelas
alças intestinais. As causadas por bezoares são raras,
representando 0,4 - 4% do total de obstruções mecânicas
do delgado1,2,4,7.
O fi tobezoar é o subtipo mais comum de bezoar1,3
e muitos fatores estão envolvidos na sua formação, como
a cirurgia gástrica prévia, pois pode causar distúrbios de
motilidade gástrica secundária a vagotomia, alterando o
esvaziamento gástrico e reduzindo a secreção de ácido
gástrico, assim como por promover exclusão pilórica.
Outros fatores como ingestão de alimentos ricos em
fi bras, mastigação inefi ciente e alteração da motilidade
intestinal também apresentam papel importante na
fi siopatologia1,3,4,7. O paciente foi submetido a cirurgia
bariátrica (By-pass em Y de Roux) cinco anos antes e
relatou ingesta de laranja dias antes da obstrução, o que
convergem com os dados encontrados na literatura.
O quadro clínico das obstruções causadas por
bezoares não difere das outras causas de obstrução
mecânica, o que difi culta o diagnóstico etiológico inicial1,3-5.
Os pacientes apresentam um quadro abrupto ou subagudo
de dor abdominal acompanhada de distensão, náusea,
vômitos, anorexia e constipação1,3,5. A história clínica
deve buscar fatores de risco para a obstrução e dados
que possam direcionar a etiologia1,5, principalmente em
pacientes com história prévia de cirurgias gastrointestinais.
O paciente apresentava dor em mesogastro com irradiação
para dorso, náusea e vômitos de início há 24 horas, dados
semelhantes a outros encontrados na literatura1,3,5.
Embora o diagnóstico de obstrução intestinal seja
eminentemente clínico, o uso de exames complementares
de imagem muitas vezes se faz necessário para confi rmar
o diagnóstico, além de permitir identifi car o local de
obstrução e avaliar complicações, ajudando a determinar
o tratamento1,5. A radiografi a simples e a tomografi a
de abdome são os exames mais práticos e úteis. O
primeiro pelos achados compatíveis com obstrução
(nível hidroaéreo e distensão de alças) e o segundo por
permitir a melhor identifi cação do local de obstrução e
diferenciar as diferentes causas de obstrução intestinal1,2,5.
A ultrassonografi a também pode ser útil em detectar a
causa em 88%-93% das obstruções ileais induzidas por
bezoar, porém é operador dependente1,2,7. O paciente foi
submetido a radiografi a de abdome com sinais sugestivos
de obstrução e, após, tomografi a com provável localização
de obstrução em íleo terminal. Dados estes associados à
história prévia de cirurgia bariátrica e ingesta recente de
bagaço de laranja direcionaram a possibilidade de abdome
agudo obstrutivo por fi tobezoar como principal hipótese
diagnóstica.
A maioria dos bezoares do intestino delgado
estão localizados à 50-70 cm da válvula ileocecal, local
em que a alça é mais estreita e a motilidade intestinal
é mais lenta, além de ocorrer grande absorção de água,
favorecendo o endurecimento do bezoar e difi cultando sua
progressão1,3,7.
O tratamento inicial das obstruções por bezoares
não difere das outras etiologias, sendo o primeiro passo
a descompressão intestinal/gástrica e a correção de
267Estratégias e métodos didáticos utilizados por docentes noEnsino Superior em Enfermagem 2017 jan.-jun.; 11(1): 114-121
distúrbios hidroeletrolíticos1. A abordagem cirúrgica se
faz necessária nos bezoares de intestino delgado2,7. A
exploração abdominal aberta ou laparoscópica pode ser
realizada1. A fragmentação manual seguida de ordenha
pode ser tentada e quando há falha, pode-se realizar
extração do bezoar por enterotomia ou mesmo ressecção
segmentar na presença de complicações (perfuração
ou necrose)1,2. O paciente foi submetido à laparotomia
exploradora com localização do bezoar em íleo terminal e
realização de enterotomia para extração do bezoar.
CONCLUSÃO
Apesar de rara, a obstrução do intestino delgado
por fi tobezoares pode ocorrer no pós-operatório de
gastroplastias como by-pass e reconstrução em Y-de-
Roux, sendo o exame clínico e os exames de imagem em
associação a história alimentar, de grande importância
para o diagnóstico e resolução do quadro.
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Aceito em: 24/10/2017
269A episiotomia de rotina é uma práticabaseada em evidência? 2017 jul.-dez.; 11(2): 269-278
A EPISIOTOMIA DE ROTINA É UMA PRÁTICA BASEADA EM EVIDÊNCIA?
IS ROUTINE EPISIOTOMY AN EVIDENCE BASED PRACTICE?
LA EPISIOTOMÍA DE ROTINA ES UNA PRÁCTICA BASADA EN EVIDENCIA?
* Enfermeira. Doutora em Ciências da Saúde. Professora adjunto IV do Departamento de Enfermagem da Universidade de Brasília, Distrito Federal, Brasil. E-mail: leidesm74@gmail.com ** Enfermeira graduada pela Universidade de Brasília. Contato: luiza_ntp@hotmail.com*** Enfermeira. Doutora em Ciências. Professora associada da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Campo Grande-MS.
ResumoIntrodução: A episiotomia, uma incisão perineal utilizada para ampliar o canal de parto, é um procedimento cirúrgico realizado sem o consentimento livre e esclarecido da mulher. Objetivo: Explorar as evidências científi cas publicadas na literatura em português que fundamentam a prática da episiotomia durante a assistência aos partos. Método: O presente artigo apresenta uma revisão integrativa de literatura com avaliação dos artigos segundo o nível de evidência e a indexação dos periódicos em que foram publicados. Realizou-se busca em base de dados da Scientifi c Electronic Library Online (SciELO), Base de Dados de Enfermagem (BDENF) e Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) para o período de 2004 a 2015. Resultados: Foram selecionados 13 artigos após aplicação dos critérios de inclusão e exclusão da amostra. Os resultados apontam uma maior frequência de pesquisas com abordagem qualitativa (46%), autores principais do sexo feminino (92%), da enfermagem (70%), periódicos indexados na enfermagem com Qualis B1 (46%), com nível 4 de evidência científi ca (92%). Conclusão: A realização da episiotomia como rotina nos serviços de saúde deve ser vista com cautela e novos estudos devem oferecer as bases epistemológicas e epidemiológicas com evidências contra procedimentos que não contemplem a Prática Baseada em Evidência e os direitos humanos das mulheres.
Palavras-chave: Episiotomia. Violência contra a mulher. Enfermagem baseada em evidencia. Educação em saúde.
AbstractIntroduction: Episiotomy, a perineal incision used to enlarge the birth canal, is a surgical procedure performed without the woman's free and informed consent. Objective: To explore the scientifi c evidences published in the literature in Portuguese language which support the practice of episiotomy during parturition care. Method: The present study conducted an integrative literature review with the evaluation of the articles according to the evidence level and to the indexation of the periodicals in which they were published. A search was made in the database of the Scientifi c Electronic Library Online (SciELO), Nursing Database (BDENF) and Latin American and Caribbean Literature in Health Sciences (LILACS) for the period from 2004 through 2014. Results: We selected a total of 13 articles by the application of sample inclusion and exclusion criteria. The results point out a higher frequency of research with a qualitative approach (46%), female main authors (92%), nursing (70%), nursing indexed journals with Qualis B1 (46 %), with level 4 of scientifi c evidence (92%). Conclusion: The practice of episiotomy as a routine in health services should be observed with caution and new studies should offer the epistemological and epidemiological bases with evidence against the use of surgical procedures that do not contemplate Evidence-Based Practice and the human rights of women.
Keywords: Episiotomy. Violence against women. Evidence-based nursing. Health education.
ResumenIntroducción: La episiotomía, una incisión perineal utilizada para ampliar el canal de parto, es um procedimento quirúrgico realizado sin el consentimiento libre y esclarecido de la mujer. Objetivo: Explorar las evidencias científi cas publicadas em la literatura en portugués que fundamentan la práctica de la episiotomía durante la asistencia a los partos. Método: El presente artículo presenta una revisión integrativa de literatura con evaluación de los artículos según el nivel de evidencia y la indexación de los periódicos en que fueron publicados. Se realizó una búsqueda en base de datos de la Scientifi c Electronic Library Online (Scielo), Base de Datos de Enfermería (BDENF) y Literatura Latinoamericana y del Caribe em Ciencias de la Salud (LILACS). Resultados: Se seleccionaron 13 artículos después de la aplicación de los criterios de inclusión y exclusión de la muestra. Los resultados apuntan a una mayor frecuencia de investigacion es con abordaje cualitativo (46%), autores principal es del sexo femenino (92%), de la enfermería (70%), periódicos indexados en la enfermería con Qualis B1 (46%), con nivel 4 de evidencia (92%). Conclusión: La realización de la episiotomía como rutina en los servicios de salud debe verse con cautela y nuevos estúdios deben ofrecer las bases epistemológicas y epidemiológicas con evidencias contra procedimientos que no contemplen la práctica basada en evidencia y los derechos humanos de las mujeres.
Palabras clave: Episiotomia. Violência contra la mujer. Enfermeria basada en la evidencia. Educación em salud.
Leides Barroso de Azevedo Moura, Luiza Neves Teles Prieto**, Maria Auxiliadora de Souza Gerk**
270 A episiotomia de rotina é uma práticabaseada em evidência?2017 jul.-dez.; 11(2): 269-278
INTRODUÇÃO
A episiotomia é uma incisão realizada no períneo
para ampliar o canal de parto. Esta incisão afeta várias
estruturas do períneo, como vasos sanguíneos, músculos
e tendões, responsáveis pela sustentação de órgãos,
pelo controle urinário e fecal, possuindo ainda relações
signifi cativas com o clitóris. A lesão provocada pela
episiotomia traz a possibilidade de incontinências urinária
e fecal graves, dispareunia e perda da sensibilidade,
além de prolapso de órgãos1. A episiotomia é a única
operação realizada sem o consentimento da paciente e,
muitas vezes, sem ao menos informá-la sobre as possíveis
indicações, os riscos que envolvem o procedimento,
possíveis benefícios e complicações2. Menor ainda é o
acesso da mulher à informação com relação a tratamentos
alternativos, contrariando, assim, os princípios da Saúde
Baseada em Evidências2,3.
Historicamente, partejar faz parte das atividades
do universo simbólico considerado “feminino”, tendo
sido partilhado por mulheres que exerciam este papel
na comunidade, conhecidas como comadres, curandeiras
ou parteiras. O parto não era visto como atividade
médica, sendo este profi ssional solicitado em casos de
intercorrências. Entretanto, descobertas no campo da
assepsia, controle de patógenos, anestesia e tecnologias
cirúrgicas fi zeram com que o ambiente hospitalar passasse
a ser percebido como uma geografi a mais adequada para
a realização do parto. No Brasil, a partir da década de 40
do século passado, inicia-se o processo de intensifi cação
da hospitalização do parto, com consequente aumento
de intervenções, medicalização do cuidado, controle do
período gestacional e do parto pelos profi ssionais de
saúde. Por conseguinte, o ambiente privado e familiar de
vivência do parto foi, gradativamente, substituído pelo
ambiente público e institucionalizado. Verifi cou-se uma
redução do protagonismo feminino e o estabelecimento
de uma condição de submissão da parturiente em relação
às intervenções realizadas "em nome do que é científi co"4.
Na contemporaneidade, o tema da humanização
do parto e do nascimento tem sido incluído na agenda
de pesquisa nacional, ainda que a hospitalização e o
intervencionismo continuem sendo consideradas as
características predominantes na assistência ao parto no
Brasil5. O Ministério da Saúde divulgou que a realização
de cesáreas aumentou de 38% no ano 2000 para 52,3%
em 20106. Se comparado às taxas mundiais, o número
de cesáreas no setor suplementar de saúde no Brasil é
superior a vários países como Portugal, Austrália e Estados
Unidos (30%), México (33%) e Eslováquia, Suécia e
Noruega (14-18%)5.
Sobre a episiotomia, a pesquisa “Nascer no Brasil”7
denota que este procedimento foi realizado em mais de
50% das parturientes do estudo e em aproximadamente
75% das primíparas, todas consideradas como de risco
obstétrico habitual. Complicações importantes podem ser
reduzidas pelo cuidado obstétrico apropriado e pelo uso
adequado de tecnologias. Em contrapartida, tecnologias
ou intervenções desnecessárias trazem prejuízos à
saúde da mulher e da criança7. Em 1996, a Organização
Mundial da Saúde (OMS) publicou um material com base
em 218 estudos desenvolvidos em diversos países, onde
a episotomia foi classifi cada na categoria das práticas
“frequentemente utilizadas de modo inadequado”8.
A presente pesquisa teve como objetivo explorar
a literatura acerca do nível de evidência das publicações
apresentadas na literatura especializada, que abordam
diretamente o procedimento da episiotomia durante a
assistência aos partos vaginais. Será realizada uma análise
sob a ótica da violência institucional na atenção obstétrica
a respeito da prática de um procedimento cirúrgico, que
apresenta potencial para violação da integridade física,
psicológica, emocional, sexual e intelectual da mulher.
Esta violência caracteriza-se pela apropriação indevida
pelo profi ssional do corpo da mulher, bem como do estado
de saúde e de todo seu processo reprodutivo, por meio de
tratamentos não humanizados, excesso de medicalização
e pela visão patológica de processos naturais como o
parto. Tal fato ocasiona a perda da autonomia e prejuízo
à capacidade de decidir de forma livre e consciente sobre
seu corpo e sexualidade, com consequências negativas
para a qualidade de vida das mulheres9.
MÉTODO
Trata-se de uma revisão integrativa de literatura10
que avaliou e classifi cou os artigos selecionados quanto ao
Nível de Evidência Científi ca e a tabela Qualis do Conselho
Técnico Científi co de Ensino Superior (CTC-ES) da CAPES
para os periódicos em que os artigos foram publicados. A
base teórica utilizada para analisar os artigos foi adotada
a partir do conceito de Saúde Baseada em Evidência
271(SBE)3, Violência Baseada em Gênero (VBG)11 e Violência
Obstétrica (VO)12.
SBE é uma abordagem que faz uso dos
instrumentos da Epidemiologia Clínica, da metodologia
científi ca, da estatística e da informática, privilegiando
desenvolver o conhecimento, a pesquisa e a atuação
baseada em evidência. Assim, os profi ssionais da saúde
dispõem da melhor informação para a tomada de decisões
nesse campo. Essa prática busca integrar a experiência
clínica às melhores evidências científi cas disponíveis,
levando em conta a segurança nas intervenções e a ética
em todas as ações. SBE é a arte de analisar e diminuir a
incerteza durante a tomada de decisões em saúde3.
Nesse contexto, a revisão sistemática e a revisão
integrativa são os métodos que se destacam. Com a
fi nalidade de garantir uma prática assistencial, baseada
em evidências, a revisão integrativa tem se mostrado uma
ferramenta importante para a Enfermagem, sendo possível
sintetizar os conhecimentos acerca de determinado assunto
e implementar uma prática profi ssional ancorada em
preceitos éticos e científi cos. Nesse sentido, compreender
o signifi cado da Prática Baseada em Evidência (PBE)
promove a construção do pensamento crítico refl exivo e
possibilita que as intervenções sejam mais efetivas13.
Na Enfermagem, a prática profi ssional
pautada na lógica da SBE contribui para a autonomia,
o autoconhecimento, o amadurecimento da identidade
profi ssional e para a qualidade da assistência prestada.
Entretanto, é possível que o profi ssional não perceba
o ambiente assistencial como espaço privilegiado de
pesquisa, perdendo oportunidade de gerar conhecimentos
e refl exões a respeito do cuidado prestado, deixando
de contribuir para a construção de uma assistência de
excelência13.
A questão norteadora dessa pesquisa foi: A prática
da episiotomia de rotina, segundo artigos publicados
no Brasil, é baseada em evidência científi ca? Para tanto
realizou-se uma revisão integrativa por intermédio do
descritor controlado “episiotomia” dos Descritores em
Saúde (DECS) da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS).
Foram testados outros descritores, mas os resultados
não atenderam à pergunta da pesquisa e aos critérios de
seleção defi nidos.
Na seleção dos artigos, os critérios de inclusão
foram: artigos contendo o termo “episiotomia” no
título; publicados em português; com qualquer tipo de
delineamento; indexados nas bases de dados da Scientifi c
Electronic Library Online (SciELO), Base de Dados de
Enfermagem (BDENF) e Literatura Latino-Americana e
do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS); disponíveis
na íntegra e publicados no período de janeiro de 2004 a
dezembro de 2015. Os critérios de exclusão foram: artigos
escritos em outras línguas, artigos que não apresentassem
a episiotomia como foco central da pesquisa, capítulos de
livros, revisões de literatura, trabalhos de conclusão de
cursos e teses de mestrado e doutorado.
Figura 1 – Diagrama do processo de seleção de artigos segundo método do estudo
Fonte: autoras.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram selecionadas e avaliadas treze publicações
que cumpriram os critérios de inclusão e exclusão
previamente defi nidos.
Dos treze autores principais dos artigos
selecionados, 70% (N=9) são profi ssionais da Enfermagem,
15% (N=2) da Medicina e 15% (N=2) da Fisioterapia.
Interessante notar também que o sexo feminino
representou 92,3% (N=12) dos autores principais. Dentre
as abordagens metodológicas identifi cadas nas pesquisas
observou-se que 46% (N=6) foram estudos qualitativos,
38% (N=5) foram quantitativos, 8% (N=1) de método
misto e 8% (N=1) opinião de especialista. Mais da metade
dos estudos, 54% (N=7), foram publicados antes do ano
de 2010 (Tabela 1).
Os resultados desta revisão contrastam com o
de revisão anterior14, publicada em 2006, que analisou a
produção científi ca desde a década de 1980 até o ano
de 2005. O estudo chamava atenção para o número
A episiotomia de rotina é uma práticabaseada em evidência? 2017 jul.-dez.; 11(2): 269-278
272reduzido de publicações sobre a temática da episiotomia
pelos profi ssionais com formação em Enfermagem, para o
número reduzido de autores do sexo feminino e escassez
de estudos que tivessem a visão da mulher acerca do
assunto episiotomia como principal foco da pesquisa.
Tabela 1 – Publicações selecionadas segundo ano, autor, formação e sexo do autor principal e delineamento da pesquisa
Fonte: Autoras
Os artigos foram classifi cados quanto à qualidade
da evidência científi ca segundo categorização da Agency
for Healthcare Research and Quality (AHRQ) que propõe:
nível 1, metanálise de múltiplos estudos controlados;
nível 2, estudo individual com desenho experimental;
nível 3, estudo com desenho quase-experimental como
estudo sem randomização com grupo único pré e pós-
teste, séries temporais ou caso-controle; nível 4, estudo
com desenho não-experimental como pesquisa descritiva
correlacional e qualitativa ou estudos de caso; nível 5,
relatório de casos ou dado obtido de forma sistemática, de
qualidade verifi cável ou dados de avaliação de programas;
nível 6, opinião de autoridades respeitáveis baseada na
competência clínica ou opinião de comitês de especialistas,
incluindo interpretações de informações não baseadas em
pesquisas, opiniões reguladoras ou legais15.
Dentre as publicações analisadas 31% (N=4)
foram publicadas em periódicos classifi cados, na categoria
Enfermagem, com Qualis A2 e 46% (N=6) com Qualis
B1. As revistas que apresentaram uma maior proporção
de publicações, de acordo com os critérios de seleção da
pesquisa foram: Revista Brasileira de Enfermagem, Escola
Anna Nery e Revista Enfermagem UERJ, cada uma com
dois artigos publicados. Quanto ao nível de evidência,
verifi cou-se uma maioria absoluta (92%, N=12) de
delineamento de estudos com desenho não-experimental
do tipo pesquisa descritiva, utilizando estatística descritiva
e/ou inferencial com análise correlacional e, também,
estudos qualitativos exploratório e descritivos. O Qualis
Capes e nível de evidência dos artigos foram descritos na
Tabela 2.
A episiotomia de rotina é uma práticabaseada em evidência?2017 jul.-dez.; 11(2): 269-278
273Tabela 2 – Qualis Capes dos periódicos em que os artigos foram publicados e nível de evidência
Fonte: Autoras
O acesso a evidências científi cas atualizadas é
um dos pressupostos fundamentais para que a prática
do cuidado de enfermagem seja realizada com qualidade
e rigor científi co. A busca por informações em bases de
dados científi cas se faz necessária na Enfermagem, sendo
suporte para o exercício da profi ssão, nas diversas áreas de
atuação. A comunidade científi ca da Enfermagem precisa
manter a garantia da qualidade na prática profi ssional,
pautada em conhecimentos científi cos, gerando
reconhecimento e valorização da enfermagem, enquanto
profi ssão autônoma com corpo de conhecimentos
próprio, atualizando continuamente seus conhecimentos,
utilizando de forma competente as tecnologias, investindo
em educação permanente e aprofundada a respeito das
ciências humanas e da saúde16. Assim, a profi ssão avança
na produção de novos diagnósticos, planos e protocolos
de cuidado com abordagem específi ca, mas também com
enfoque interdisciplinar e interprofi ssional.
Uma PBE envolve a delimitação de um problema, a
investigação e avaliação crítica das evidências disponíveis,
a aplicação destas na prática e análise dos resultados,
integrando três elementos: i) A melhor evidência - advinda
de pesquisa clínica relevante com foco no paciente e na
melhoria das avaliações diagnósticas, dos indicadores de
prognóstico e tratamento, da reabilitação e da prevenção.
Os achados de pesquisas clínicas podem substituir as
condutas anteriormente aceitas e oferecer informações
mais seguras, acuradas e efi cazes, que podem ser baseadas
em estabelecimento de protocolos. ii) Habilidades clínicas
- advindas da capacidade de sistematizar conhecimentos
clínicos e experiências na identifi cação do estado de
saúde e diagnóstico, além de identifi car os riscos de
cada indivíduo e os possíveis avanços nas intervenções
planejadas; iii) Preferências do paciente - uma vez que
recomenda que os valores, expectativas e preocupações
do cliente sejam ponderados no cuidado e compete ao
profi ssional agregá-los às decisões clínicas, quando úteis
e relevantes17.
Por se tratar de um procedimento cirúrgico
invasivo, sem fundamentação teórica que sustente os
possíveis benefícios da intervenção, torna-se inviável
a realização de Estudos Clínicos Randomizados sobre
a episiotomia. Entretanto, a realização de pesquisas
utilizando métodos não invasivos, que substituam este
procedimento, deve ser amplamente incentivada no meio
acadêmico, nos cenários de prática do ensino-serviço e na
dinâmica da atuação nas redes de atenção à saúde das
mulheres.
Na presente pesquisa não foram detectados
estudos com nível de evidência fornecido pelas revisões
sistemáticas com meta-análise (Nível I) que poderiam,
em muito, contribuir para o estado de arte da questão
da episiotomia e a inadequação da manutenção de sua
indicação nos procedimentos de rotina do parto.
Finalmente, quanto aos temas centrais abordados
nos artigos analisados, foram identifi cadas e elencadas as
seguintes categorias temáticas: Percepção das mulheres
e relações de poder (46%, N= 6 artigos); Identifi cação
de fatores associados à episiotomia e os critérios de
indicação utilizados (31%, N= 4 artigos); Mensuração e
caracterização da dor relacionada à prática da episiotomia
(15%, N=2 artigos) e um editorial com opinião de
especialista sobre a temática. Os estudos foram discutidos
segundos essas categorias.
A episiotomia de rotina é uma práticabaseada em evidência? 2017 jul.-dez.; 11(2): 269-278
274Percepção das mulheres e relações de poder
Os estudos18-23 que abordaram a temática da
percepção das mulheres acerca da prática da episiotomia
evidenciaram principalmente a falta de informação das
mesmas e as relações de poder que envolvem este
procedimento. Os autores apresentaram a falta de
informação e conhecimento da mulher a respeito do
procedimento como um ponto em comum. Nesse sentido,
a assimetria de poder de informação entre cliente e
profi ssionais de saúde e o acesso restrito a uma educação
que permita a “agência” feminina são apresentados como
elementos basilares, que difi cultam a reivindicação da
mulher na participação da decisão sobre o procedimento
da episiotomia e no exercício de sua autonomia.
A esse respeito, as pesquisas trazem depoimentos
que elucidam a falta de informação das mulheres com
relação ao processo fi siológico do parto, sobre os limites
e possibilidades anatômicas relacionadas ao próprio
corpo e ao processo de decisão acerca do procedimento
da episiotomia. Fica evidente a omissão da educação em
saúde por parte dos profi ssionais em orientar as mulheres
acerca do parto e as indicações, riscos e possíveis
benefícios consequentes da episiotomia. O acesso restrito
à informação qualifi cada impede que a mulher exerça seus
direitos no processo de parir e que participe da decisão
sobre as intervenções realizadas em seu próprio corpo.
Nessa perspectiva da não autonomia e não agência
pode-se constatar o privilégio e poder para um grupo -
os profi ssionais de saúde - em detrimento do outro - as
mulheres parturientes.
Em uma sociedade com resquícios patriarcais,
ainda se observa a ideia de inadequação ou incapacidade
do corpo feminino, tornando-o impróprio ao parto
vaginal ou difi cultando esse processo, sendo justifi cada
a intervenção do profi ssional obstetra e das tecnologias
hospitalares para garantir um desfecho positivo ao
parto. Esta ideia confere liberdade de atuação, decisão
e poder a estes profi ssionais, uma vez que as mulheres
não são consideradas detentoras do conhecimento sobre
a capacidade fi siológica do próprio corpo de parir, bem
como desconhecem seus direitos e tendem a tornarem-
se submissas nos processos de decisão profi ssional.
Na prática, parece ser possível inferir que as mulheres
parturientes absorvem a concepção hegemônica de que
apenas os profi ssionais detêm o direito de decidir. Essa
cultura de desempoderamento da mulher naturaliza a
violência contra a intelectualidade e capacidade emocional
de protagonizar o processo de parir. Entretanto, novas
pesquisas baseadas nas teorias das VBG podem contribuir
com uma melhor elucidação dessa “dominação”11.
Os estudos descrevem que acontece uma inversão
de papeis e uma ampliação de autoridade em favor dos
profi ssionais, que passam a ser os agentes ativos no
processo de parir, assumindo um protagonismo às custas
da “docilização” e submissão da parturiente. Todo esse
processo contribui para o ciclo vicioso da relação desigual
de poder entre profi ssionais e pacientes e infl uencia na
decisão de escolha do tipo de parto19,21.
Apesar de diversos estudos contraindicando
a episiotomia de rotina2,7,8 ainda é bastante comum
a prática sem qualquer indicação clínica. Isso mostra
uma tendência dos profi ssionais em permanecerem
arraigados a práticas empíricas, pautadas por evidências
contraditórias ou mesmo contrárias à realização da
episiotomia. Um agravante a este ponto é o fato dos
profi ssionais não oferecerem informações baseadas em
evidências ou mesmo explicação sobre o procedimento às
suas clientes. As mulheres que relatam ter algum tipo de
informação a respeito da episiotomia tiveram como fonte
as amigas e os familiares que viveram a experiência. Essa
falta de informação limita ainda mais o poder de decisão
dessas mulheres, uma vez que, sem o conhecimento das
implicações e das evidências científi cas que amparam
cada procedimento, elas não terão requisitos para
escolher ou opinar a respeito da conduta clínica. Algumas
mulheres relatam a consciência de que a episiotomia
era desnecessária e preferiam que não fosse realizada,
entretanto, não sentiram segurança para exigir isso do
profi ssional22.
A episiotomia de rotina sem o consentimento
livre e esclarecido viola os direitos sexuais e reprodutivos
das mulheres, apresentando-se como violência ligada
às assimetrias baseadas em gênero. Espera-se que a
assistência do profi ssional da saúde respeite o parto
como acontecimento fi siológico e sexual, tendo a mulher
como agente e protagonista de sua história obstétrica,
estimulando a sua participação de forma ativa. É essencial
que os profi ssionais façam uso de novas formas de cuidado
não invasivas, baseados em evidência, para substituir esse
procedimento. É premente que a formação profi ssional não
A episiotomia de rotina é uma práticabaseada em evidência?2017 jul.-dez.; 11(2): 269-278
275priorize o ensino do procedimento cirúrgico da episiotomia,
a fi m de que se desenvolvam novas tecnologias de cuidado
e se ampliem a consciência e capacitação dos profi ssionais
da saúde para que a proteção do períneo seja uma prática
incorporada às rotinas da assistência ao parto vaginal23.
É sabido e esperado que a mulher tenha o direito
de participar da escolha e autorização dos procedimentos
que serão realizados em seu corpo durante a assistência
prestada. Entretanto, durante o parto a mulher sofre
iatrogenias e negligências, frutos da violência institucional
e da transgressão de seus direitos. Evento que deveria
ser focado no cuidado e respeito à mulher, transforma-se
em momento de medo, desrespeito, insegurança, abuso
de poder e violação de seu direito à integridade moral,
psíquica e física.
Uma pesquisa recente24 mostrou que 25% das
mulheres, que pariram por parto vaginal, foram vítimas
de algum tipo de violência durante a assistência ao
trabalho de parto e parto. Isso evidencia que muitas
mulheres desconhecem ou não fazem valer seus direitos,
sendo submissas ao sistema e ao profi ssional de saúde,
principalmente em momentos de medo e fragilidades
como a gestação, parto e puerpério. A visão biomédica, o
controle social fragilizado, a ideia da gravidez como doença,
a visão do parto como perigoso, ausência de autonomia,
incredulidade na capacidade fi siológica e no poder do
corpo feminino, acarretam nas mulheres o cerceamento do
exercício da cidadania, difi cultando a evolução e mudança
social tão necessárias nesse contexto25.
Identifi cação de fatores associados à episiotomia e
os critérios de indicação utilizados
Quanto a frequência e fatores associados, os
estudos26-29 apontam ausência de parto vaginal anterior
como principal fator para indicação e realização de
episiotomia. Esclarecem26 ainda que não encontraram
relação importante entre idade gestacional, duração do
trabalho de parto, período expulsivo prolongado (maior
que 30 minutos), uso de indutores como misoprostol ou
ocitocina, alterações no batimento cardíaco fetal, presença
de mecônio, partos durante os turnos matutino ou noturno,
Apgar e peso do recém-nascido. Alguns dados contrastam
com o resultado de outra pesquisa28 que conseguiu associar
a realização da episiotomia à idade gestacional inferior
a 37 semanas, peso e Apgar do recém-nascido. Dados
positivos com relação à assistência ao parto, prestada
por enfermeiras obstetras, foram encontrados em estudo
nesta temática29, uma vez que as taxas de episiotomia
(11,2%), mesmo em primíparas, estão em acordo com o
que seria aceitável pelo Ministério da Saúde6, entre 10%
e 30%. Esses resultados sugerem que o restante das
episiotomias realizadas não possuem qualquer indicação
clínica e sustentação científi ca, apoiadas apenas nas
indicações de De Lee30, um obstetra que em 1920 trouxe o
conceito do parto como processo patológico e a realização
de episiotomia de rotina para aliviar a mulher do esforço
durante o período expulsivo prolongado, preservar a
musculatura do assoalho pélvico, aliviar a tensão do
assoalho pélvico no cérebro do bebê e prevenir prolapso
uterino, laceração de quarto grau, além de restabelecer
as características virginais da vagina. De Lee defendeu
isso sem apresentar evidência científi ca que pautasse
suas sugestões de indicação, uma vez que não existiam
pesquisas científi cas que as confi rmassem. Entretanto,
seus argumentos foram aceitos e a episiotomia ganhou
status de procedimento de rotina, baseada apenas na
opinião pessoal deste obstetra14. Estudo de 200527 sugere
que se faz necessário rever as práticas e intervenções
durante a assistência ao parto, levando em consideração
as evidências científi cas atuais disponíveis para condutas
individualizadas. Além disso, é preciso considerar a própria
necessidade de se ampliar a humanização do cuidado31.
Mensuração e caracterização da dor relacionada à
prática da episiotomia
A dor perineal pode estar relacionada a trauma,
principalmente no último período do trabalho de parto,
o expulsivo. Caracterizado por prejuízo à integridade da
região perineal produzido por lesão cirúrgica, na forma da
episiotomia, ou espontânea como laceração. A episiotomia
e a episiorrafi a são os procedimentos que provocam
maiores desconfortos no período pós-parto. A dor perineal
após o parto é uma sequela comum ao processo de parir
e é caracterizada como fenômeno agudo e considerada a
morbidade mais frequente no puerpério, trazendo sintomas
como alteração do padrão de sono, falta de apetite, queda
da libido, irritabilidade aumentada, défi cit de concentração
e restrição motora, comprometendo aspectos da saúde
biopsicossocial da mulher.
A presença da dor pode ser prejudicial ao
A episiotomia de rotina é uma práticabaseada em evidência? 2017 jul.-dez.; 11(2): 269-278
276autocuidado da mulher e à assistência ao recém-nascido,
atrasando a recuperação da puérpera, infl uenciando
na sua autoestima e prejudicando a adaptação ao novo
contexto de vida e familiar. Essa sensação dolorosa não é
valorizada pelas mulheres, familiares e profi ssionais; por
diversas vezes, a mulher não chega a verbalizá-la; nesse
momento, a assistência ao recém-nascido é prioridade.
Por outro lado, a ausência dessa dor é considerada como
fator de encorajamento ao retorno precoce às atividades
diárias da puérpera e família, fazendo-se questionar o
uso rotineiro da episiotomia que ocasiona consequências
prejudiciais ao assoalho pélvico, bem como para a saúde
biopsicossocial materna e ao contexto familiar32.
Duas pesquisas realizadas com puérperas em
instituições publicas de saúde32,33 realizadas por intermédio
de entrevistas semiestruturadas utilizaram uma escala
numérica e o Questionário McGill34 para mensurar e
caracterizar a dor em pacientes submetidas a episiotomia.
Os resultados foram semelhantes no que diz respeito a
avaliação da dor pelas mulheres, com média 530 e 4.233
de score na escala numérica de dor, sendo considerada
de moderada intensidade. Quanto à caracterização
da dor, os termos “latejante”, “que repuxa” e “ardida”
foram encontrados nos resultados de ambos os estudos,
informando ainda que as atividades de sentar, deitar e
deambular estariam prejudicadas pela dor causada pela
episiotomia32,33.
Opinião de especialistas
Foi identifi cado um texto de especialistas que
reforça a importância da prática baseada em evidências
e o processo de mudança na práxis profi ssional como
atividade meio para que ocorra a substituição das
práticas baseadas em condutas ultrapassadas, tidas
como “verdades”, pela produção de evidências. Os
autores apresentam um relato histórico do surgimento
da episiotomia e suas indicações iniciais, que ainda é
modelo seguido e lecionado pela obstetrícia brasileira
como procedimento estabelecido e amplamente aceito. O
trauma perineal, a dor e as possíveis complicações seriam
justifi cados pelos benefícios que o procedimento traria;
entretanto, há algumas décadas, estudos vêm mostrando
dados que contradizem tal afi rmação. A difi culdade
em abandonar esta prática vem do fato dela ainda ser
ensinada durante a formação acadêmica e realizada como
rotina nos ambientes das instituições de saúde, tornando-
se hábito na assistência desses profi ssionais, mesmo
reconhecida como prática que deva ser desestimulada.
Os autores concluem que é essencial uma transformação,
uma mudança de paradigmas, visando práticas baseadas
em evidência35.
CONCLUSÃO
Muito se fala sobre a humanização da assistência,
entretanto, ainda existe um longo caminho na consolidação
de uma PBE para que seja possível alcançar a excelência
na humanização do cuidado.
O estudo identifi cou uma maior proporção de
publicação por parte de mulheres profi ssionais de saúde,
especialmente por enfermeiras. Entretanto, verifi cou-se
uma escassez de estudos com maior nível de evidência
e publicações em revistas com Qualis Capes de maior
indexação (A1 e A2). Como limitação, a pesquisa
apresentou a não inclusão de estudos publicados em
outras línguas, como a inglesa e a espanhola.
Aspectos biopsicossociais da mulher precisam ser
considerados, ao se tratar de assistência à gestação, parto
e pós-parto. Entendendo que cada mulher tem o direito
de ser tratada de acordo com sua individualidade, os
profi ssionais de saúde devem disponibilizar informações,
oferecer seus conhecimentos técnico-científi cos,
estabelecer diálogo com a cliente, oferecer práticas
alternativas e não impor qualquer tipo de procedimento
durante a assistência sem que exista o consentimento livre
e esclarecido da mulher.
Para que o profi ssional consiga oferecer assistência
humanizada e de qualidade é preciso disponibilizar
informações necessárias para que a mulher participe do
seu projeto terapêutico, decidindo juntamente à equipe as
possíveis intervenções a serem realizadas durante a assistência
prestada, respeitando sua autonomia enquanto cidadã.
Faz-se necessário a realização de estudos com
maior nível de evidência sobre práticas não invasivas
alternativas à episiotomia, bem como práticas integrativas
à saúde durante o pré-natal e ênfase em educação
perinatal. Esses estudos podem subsidiar a necessidade
e a viabilidade da substituição da episiotomia por práticas
baseadas em evidências com efi cácia comprovada que
respeitem a integridade física e os direitos humanos da
mulher.
A episiotomia de rotina é uma práticabaseada em evidência?2017 jul.-dez.; 11(2): 269-278
277É imperativo o abandono de costumes arraigados
e práticas baseadas em hábitos, sendo urgente a
interrupção das violências obstétricas e violências
baseadas em gênero na atenção à saúde da mulher. A
realização da episiotomia como rotina nos serviços de
saúde deve ser vista com cautela e novos estudos devem
oferecer as bases epistemológicas e epidemiológicas com
evidências contra procedimentos que não contemplem a
PBE e os direitos humanos das mulheres.
Confl itos de interesse: as autoras declaram
que não houve confl itos de interesse.
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A episiotomia de rotina é uma práticabaseada em evidência? 2017 jul.-dez.; 11(2): 269-278
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2792017 jul.-dez.; 11(2): 279-286Protocolo de prevenção para gestantes:infecção neonatal precoce por estreptococos do grupo B
PROTOCOLO DE PREVENÇÃO PARA GESTANTES: INFECÇÃO NEONATAL PRECOCE POR ESTREPTOCOCOS DO GRUPO B
PREVENTION PROTOCOL FOR PREGNANT WOMEN: EARLY NEONATAL INFECTIONS BY B GROUP STREPTOCOCCI
PROTOCOLO DE PREVENCIÓN PARA EMBARAZADAS: INFECCIÓN NEONATAL PRECOZ
POR ESTREPTOCOCOS DEL GRUPO B
* Acadêmicos do curso de Medicina das Faculdades Integradas Padre Albino (FIPA), Catanduva-SP.** Médicos residentes do Programa de Ginecologia e Obstetrícia das Faculdades Integradas Padre Albino (FIPA), Catanduva-SP.***Docente do curso de Medicina das Faculdades Integradas Padre Albino (FIPA), Catanduva–SP. Contato: casanova_mauro@hotmail.com
ResumoIntrodução: A infecção neonatal por estreptococos do grupo B vem sendo um tema de preocupação geral dos especialistas por causa da importante relação entre a morbimortalidade de recém-nascidos. Objetivo: Realizar uma atualização geral sobre o Estreptococo B e promover uma discussão sobre a validade científi ca, os melhores métodos de rastreio universal e a profi laxia intraparto. Método: Estudo de revisão científi ca. Resultados: A prevalência de colonização materna relatada em diferentes localidades do Brasil aponta um valor variante entre 14,6 a 21,6% e, caso haja colonização da gestante, a transmissão vertical ao recém-nascido ocorre em 50% dos casos. Para redução da quantidade de casos de RN infectados e suas complicações, os especialistas se dividem entre: rastreio de todas as gestantes entre 35 e 37 semanas, e a utilização de fatores de risco. As duas estratégias têm seus benefícios e prejuízos, e em ambas deve-se realizar a antibioticoterapia profi lática quando necessário. Utiliza-se prioritariamente a Penicilina G e caso não seja possível, utiliza-se ampicilina. Ainda, se houver reação alérgica às duas anteriores, preconiza-se a utilização de cefazolina, clindamicina ou vancomicina. Conclusão: Não é possível eliminar todos os casos de doença neonatal precoce pelo Estreptococo Beta hemolítico do grupo B, sendo assim, recomenda-se o rastreio de todas as gestantes entre 35 e 37 semanas realizando a cultura vaginal/endoanal, com armazenamento e etiquetação desta de maneira adequada.
Palavras-chave: Estreptococo do grupo B. Cultura vaginal/endoanal. Profi laxia intraparto. Prevenção de doenças.
AbstractIntroduction: Neonatal infection by B group streptococci has been a topic of general concern for specialists, due to the important relationship with newborn morbi-mortality. Objective: To carry out a general update on B Group Streptococcus and to promote a discussion about scientifi c validity, the best methods of universal screening and intrapartum prophylaxis. Method: It is a scientifi c review study. Results: The prevalence of maternal colonization reported in different Brazil locations indicates a variant value between 14.6% and 21.6%, and in case of colonization of the pregnant woman, the vertical transmission to the newborn occurs in 50% of the cases. To reduce the number of cases of infected newborns and their complications, the specialists are divided between: screening of all pregnant women between 35 and 37 weeks, and the use of risk factors. Both strategies have their benefi ts and losses, and in both cases prophylactic antibiotic therapy should be performed when necessary. G Penicillin is used primarily and if this is not possible, ampicillin is used. Also, if there is an allergic reaction to the two previous ones, the use of cefazolin, clindamycin or vancomycin is advocated. Conclusion: It is impossible to eliminate all cases of early neonatal disease due to B Group Beta Hemolytic Streptococcus, so it is recommended to screen all pregnant women between 35 and 37 weeks of gestation by performing the vaginal/endoanal culture, with proper storage and labeling of it.
Keywords: Group B streptococcus. Vaginal/endoanal culture. Intrapartum prophylaxis. Disease prevention.
ResumenIntroducción: La infección neonatal por estreptococos del grupo B viene siendo un tema de preocupación general de los especialistas debido a la importante relación entre la morbimortalidad de recién nacidos. Objetivo: Realizar una actualización general sobre el Estreptococos B y promover una discusión sobre la validez científi ca, los mejores medios de rastreo universal y la profi laxis intraparto. Método: Estudio de revisión científi ca. Resultados: La prevalencia de colonización materna reportada en diferentes localidades de Brasil apunta un valor variante entre el 14,6 a 21,6% y, si hay colonización de la gestante, la transmisión vertical al recién nacido ocurre en el 50% de los casos. Para reducir la cantidad de casos de RN infectados y sus complicaciones, los especialistas se dividen entre: seguimiento de todas las gestantes entre 35 y 37 semanas, y la utilización de factores de riesgo. Las dos estrategias tienen sus benefi cios y pérdidas, y en ambas se debe realizar la antibioticoterapia profi láctica cuando sea necesario. Se utiliza prioritariamente la Penicilina G y si no es posible, se utiliza ampicilina. Además, si hay reacción alérgica a las dos anteriores, se preconiza la utilización de cefazolina, clindamicina o vancomicina. Conclusión: No es posible eliminar todos los casos de enfermedad neonatal precoz por el EGB, por lo tanto, se recomienda el seguimiento de todas las gestantes entre 35 y 37 semanas realizando la cultura vaginal / endoanal, con almacenamiento y etiquetado de manera adecuada.
Palabras clave: Estreptococo del grupo B. Cultura vaginal / endoanal. Profi laxis intraparto. Prevención de enfermedades.
Felipe Zucareli Santana*, Carolina Nascimbeni Rodrigues Cruz*, Gabriel Alcala Souza e Silva*, Guilherme Bento de Carvalho**, Carolina Ciattei de Paula**, Mauro da Silva Casanova***
280Protocolo de prevenção para gestantes:
infecção neonatal precoce por estreptococos do grupo b2017 jul.-dez.; 11(2): 279-286
INTRODUÇÃO
O Estreptococos β-hemolítico do grupo B (EGB)
também denominado Streptococcus agalactiae, vem,
desde 1970, sendo motivo de alerta para os profi ssionais
da saúde com importantes relações entre morbidade e
mortalidade de recém-nascidos (RN)1.
A colonização por EGB em recém-nascidos ocorre
de dois modos principais: contato durante a passagem
no canal de parto ou de forma ascendente em casos
de prolongada ruptura prematura de membrana (RPM),
sendo fator determinante para a transmissão, a presença
do micro-organismo no trato genital materno.
Caso haja efetiva colonização no RN, a infecção
pode ser classifi cada em: precoce (primeira semana de
vida) ou tardia (7 dias a 3 meses após o nascimento). A
infecção de início precoce é a mais prevalente somando
85% das infecções por EGB, e ocorre devido à transmissão
vertical (TV), podendo se manifestar por meio de: sepse,
pneumonia ou meningite2.
Além da infeção no RN, o EGB também pode
causar infecção na gestante ocasionando complicações
como: corioamnionite, endometrite, infecção do trato
urinário e sítio cirúrgico3,4.
A prevalência de colonização materna relatada em
diferentes localidades do Brasil aponta um valor variante
entre 14,6 a 21,6%5-9.
Caso haja colonização da gestante, a transmissão
vertical ao RN ocorre em 50% dos casos. A taxa de
incidência de infecção de início precoce por EGB vem
diminuindo graças ao rastreio realizado nas gestantes que
ocorre entre 35-37 semanas e a consequente profi laxia
intraparto nas gestantes que tiverem resultado positivo ou
indefi nido no rastreio, ou que já tenham um fi lho infectado
pelo estreptococos10.
A incidência que era de 1,8 /1000 nascidos vivos
em 1990 passou para 0,32/1000 nascidos vivos em 2003,
de acordo com dados norte-americanos11,12. Além desses
dados, as mais recentes diretrizes do Centers of Disease
Control and Prevention (CDC) sobre o tema, publicadas
no fi nal de 201013, também preconizam essa conduta de
rastreio e profi laxia intraparto através, principalmente,
de informações baseadas nas evidências científi cas
disponíveis e, na insufi ciência destas, em opiniões de
especialistas. Estas recomendações foram aprovadas
e também publicadas, em 2011, pelo American College
of Obstetricians and Gynecologists (ACOG), além de
outras importantes entidades científi cas como: American
Academy of Pediatrics (AAP), American College of Nurse-
Midwives (ACNM), American Academy of Family Physicians
(AAFP) e American Society for Microbiology (ASM)13,14.
Entretanto, mesmo com os dados e as diretrizes
do CDC, o Brasil não segue o protocolo americano, e
como o Ministério da Saúde não preconiza o exame em
nenhuma parturiente, ele demonstra seguir as diretrizes
do protocolo britânico que conduz a profi laxia intraparto
somente nas gestantes que possuírem algum dentre estes
fatores de risco seguintes: trabalho de parto prematuro;
mais de 18h de bolsa rota (ruptura da bolsa); gestação
anterior com bebê que desenvolveu a infecção; e infecção
de urina por EGB na gestação (mesmo que tratada)15-17.
Sendo assim, o objetivo deste estudo foi realizar
uma atualização geral sobre o Estreptococos B e promover
uma discussão sobre a validade científi ca, os melhores
métodos de rastreio universal e a profi laxia intraparto.
MATERIAL E MÉTODO
Este estudo constitui-se de uma abordagem
crítica da literatura especializada desenvolvida por meio
de consulta a livros e artigos científi cos datados de
1985 até 2017, selecionados através de busca na base
de dados LILACS/SciELO, MEDLINE/Biblioteca Cochrane
e UpToDate. A busca nas bases de dados foi realizada
utilizando as terminologias cadastradas nos Descritores
em Ciências da Saúde criados pela Biblioteca Virtual em
Saúde desenvolvidos a partir do Medical Subject Headings
da U. S. National Library of Medicine, que permite o uso
da terminologia comum em português, inglês e espanhol.
Os descritores utilizados na busca foram: estreptococo do
grupo B, cultura vaginal/endoanal e profi laxia intraparto.
Os critérios de inclusão para os estudos encontrados
foram descrição de estratégias de prevenção da infecção
neonatal precoce pelo estreptococo do grupo B. Logo em
seguida, buscou-se estudar e compreender os principais
meios de rastreio e profi laxia intraparto para redução
da morbimortalidade neonatal relacionada às infecções
causadas pelo EGB.
DISCUSSÃO
Manifestações no RN
As infecções neonatais, causadas pelo EGB, que
281abordaremos são as de início precoce (primeira semana
de vida) que em 90% dos casos ocorrem nas primeiras 24
horas pós-parto. A instalação e evolução do quadro clínico
são rápidas podendo levar ao óbito neonatal antes que
o diagnóstico etiológico seja estabelecido. As principais
manifestações dessas infecções neonatais são: pneumonia
(54%), sepse sem foco (27%) e meningite (15%)18.
A taxa de transmissão vertical por parturientes
colonizadas pelo EGB é bastante alta e ocorre em 50% dos
casos. Mesmo que apenas 1 a 2% dos RN desenvolvam
a infecção, quando esta se manifesta, até 20% dos
RN evoluem para óbito e, dentre os sobreviventes, a
frequência de sequelas é estimada entre 15 a 30%. Nota-
se também que 70% dos casos acometem RN com idade
gestacional ≥ 37 semanas, entretanto a mortalidade é
maior entre os prematuros, especialmente abaixo de 33
semanas nos quais a taxa de letalidade atinge 30% em
comparação com 2 a 3% entre os RN a termo19.
A estratégia de rastrear e identifi car as gestantes
colonizadas pelo EGB tem como objetivo instituir a
profi laxia intraparto reduzindo a TV da bactéria e a
infecção neonatal consequentemente.
Rastreio
Na intenção de identifi car as gestantes colonizadas
pelo EGB realiza-se a cultura vaginal e endoanal entre 35
e 37 semanas. Esta é a forma de rastreio preconizada
pelas diretrizes do CDC. Para esta forma de rastreio, deve-
se fazer inicialmente um swab no introito vaginal sem
utilização de espéculo. A amostra deverá ser colhida da
vagina inferior, introduzindo o swab por cerca de 2 cm,
fazendo movimentos giratórios por toda a circunferência
da parede vaginal. Posteriormente, deve-se fazer um swab
endoanal introduzindo levemente (em torno de 0,5 cm)
no esfíncter. Pode-se utilizar um mesmo swab em lados
diferentes, ou dois swab diferentes, um para cada coleta
(vaginal e anal). Além disso, deve-se identifi car os meios
de transporte com os respectivos locais de coleta (vaginal
e anal) e explicitar que se trata de uma cultura para EGB20.
O valor preditivo positivo desse modo de rastreio está
entre 95 e 98% quando é realizado em até cinco semanas
antes do parto13. Estudos demonstraram que apenas
50% das mulheres com cultura positiva para EGB no
terceiro trimestre gestacional mantinham-se colonizadas
imediatamente antes do parto. Além disso, 8,2% das
mulheres não identifi cadas como colonizadas no momento
do rastreio apresentaram cultura positiva imediatamente
antes do parto, mostrando uma falha no rastreio por
cultura vaginal/endoanal para EGB21.
Outra forma de rastreio é a utilização de fatores
de risco a qual identifi ca aproximadamente 67% das
parturientes colonizadas pelo EGB21. Dentre os fatores de
risco anteparto destacam-se: raça negra, história de RN
anterior com sepse de início precoce por EGB e bacteriúria
por EGB na gestação em curso. Já os principais fatores
de risco intraparto são: trabalho de parto ou ruptura de
membranas abaixo de 37 semanas, mais de 18h de bolsa
rota (ruptura da bolsa) e temperatura intraparto acima de
38º22. A presença desses fatores aumenta em 6,5 vezes
a chance do RN apresentar sepse de início precoce pelo
estreptococos B23.
Há, ainda, técnicas de biologia molecular com
base na reação em cadeia da polimerase (PCR) que se
demonstraram superiores à cultura. Porém, seus elevados
custos e a necessidade de equipamento próprio limitam a
utilização dessas técnicas24.
Tendo em vista essas formas de rastreio, notamos
que a sepse neonatal de início precoce reduziu em 50 a
69% quando utilizado o método de fatores de risco. Quando
utilizada a cultura vagina/endoanal, a redução observada
foi de 80 a 90%. Portanto, nota-se, em primeiro lugar,
que nenhuma das modalidades de rastreio preveniu todos
os casos de sepse neonatal de início precoce por EGB.
Em segundo lugar, que a forma mais efi ciente comprovada
é a do rastreio sistemático vaginal/endoanal em 35 e 37
semanas como preconizado no CDC25.
2017 jul.-dez.; 11(2): 279-286Protocolo de prevenção para gestantes:infecção neonatal precoce por estreptococos do grupo b
282Figura 1 – Algoritmo para rastreio de gestantes colonizadas pelo EGB e indicação da profi laxia intraparto da infecção neonatal precoce pelo estreptococco do grupo B1,14
* Exceto para casos de gestantes com RN anterior infectado com EGB ou Bacteriúria por EGB na gestação atual, nos quais sempre deve-se realizar a profi laxia intraparto.
Profi laxia intraparto
Uma vez realizado o rastreio, será avaliada a
necessidade da realização da profi laxia intraparto, a
qual diminui a transmissão vertical do EBG por reduzir
a colonização do RN, conferindo o máximo possível de
proteção contra a doença de início precoce. É indicado
realizar antibiótico profi laxia após o início do trabalho de
parto ou no momento da ruptura de membranas em todas
as gestantes que tiveram cultura de secreção vaginal/
endoanal positiva para EGB. A efi cácia dessa profi laxia é
estimada em torno de 25 a 30% reduzindo em 10% a
mortalidade. A única exceção para realizar o tratamento
durante a gestação é a infecção urinária por EGB1.
O EGB é sensível especialmente aos antibióticos
beta-lactâmicos. Os agentes antimicrobianos amplamente
usados são a penicilina G e a ampicilina. A penicilina G
(intravenosa), por apresentar passagem transplacentária,
é o antibiótico de escolha para a profi laxia intraparto
para gestantes colonizadas por EGB. A possibilidade da
infecção neonatal precoce por EGB diminui a partir de
duas horas após sua administração. Além disso, possui
baixo custo e apresenta amplo espectro de ação para
cocos gram-positivos, com pouca resistência microbiana.
Deve ser administrada na dose de 5.000.000 UI IV no
ataque, seguida de 2.500.000 a 3.000.000 UI IV de
quatro em quatro horas até o nascimento. A ampicilina é
a primeira alternativa à penicilina, na dose de 2 g IV no
ataque seguido de 1 g de quatro em quatro horas até o
nascimento13,14.
Caso haja risco para anafi laxia da gestante devido
ao uso de penicilina ou cefalosporinas, os principais
antibióticos utilizados são: cefazolina, clindamicina e
vancomicina. Devido às crescentes taxas de resistência do
EGB à eritromicina, a droga não é mais uma alternativa
aceitável para profi laxia intraparto da doença. A cefazolina
permanece como o antibiótico recomendado para profi laxia
em gestantes alérgicas à penicilina, com baixo risco para
anafi laxia, sendo utilizado na dose de 2 g IV no ataque, a
seguir 1 g IV de 8 em 8 horas até o parto1.
Nos casos de alto risco para anafi laxia (história
de anafi laxia, angioedema, insufi ciência respiratória
ou urticária) deve-se realizar um teste de indução da
resistência à clindamicina. Se o teste resultar negativo, a
clindamicina pode ser empregada na dose de 900 mg IV
de 8 em 8 horas até o parto. No entanto, quando os testes
de sensibilidade não foram realizados ou os resultados não
estiverem disponíveis no momento do parto, a vancomicina
é a droga recomendada para profi laxia intraparto na
presença de alto risco para alergia à penicilina e deve ser
utilizada na dose 1 g IV de 12 em 12 horas até o parto1.
Em nossa instituição (FIPA) situada em
Catanduva-SP e na maternidade de nosso hospital
(Hospital Padre Albino) recomenda-se a utilização desse
esquema proposto em nosso protocolo uma vez que todos
antibióticos citados estão disponíveis para uso.
Protocolo de prevenção para gestantes:infecção neonatal precoce por estreptococos do grupo b2017 jul.-dez.; 11(2): 279-286
283Figura 2 – Algoritmo proposto para as recomendações de profi laxia intra-parto da infecção neonatal precoce pelo estreptococco do grupo B1,14
Figura 3 – Algoritmo para profi laxia intraparto da infecção neonatal precoce pelo EGB na presença de TPP1,14
Existem alguns casos que devem ser
individualizados na indicação da profi laxia intraparto
devido aos seus riscos maiores ou menores de infecção do
RN pelo EGB. Dentre esses casos temos: trabalho de parto
prematuro (TPP), a rotura prematura de membrana (RPM)
e a cesárea eletiva.
Trabalho de parto prematuro
A partir do momento em que uma paciente é
diagnosticada em TPP deve-se fazer coleta de cultura
vaginal/endoanal para EGB e iniciar a quimioprofi laxia.
Caso haja progressão para o trabalho de parto verdadeiro
a profi laxia deve ser continuada até o parto. Uma vez que
o trabalho de parto não progrediu, deve-se descontinuar
a profi laxia e verifi car o resultado da cultura pedida
anteriormente. Sendo esta positiva ou não disponível
antes do trabalho de parto verdadeiro, a profi laxia deve ser
feita no intraparto. Por outro lado, se a cultura apresentar
resultado negativo, não se deve realizar a profi laxia e
indica-se repetir a cultura caso a gestação alcançar 35 a
37 semanas1,13,14.
Ruptura prematura de membrana
Quando há o diagnóstico de RPM em gestantes
com idade gestacional < 37 semanas, recomenda-se
a coleta da cultura vaginal/endoanal para EGB e iniciar
antibioticoprofi laxia para prevenção da infecção neonatal
precoce. Caso a paciente entre em trabalho de parto deve-
se continuar os antibióticos até o momento do parto. Uma
vez não havendo progressão para o trabalho de parto, e a
conduta escolhida for a expectante, recomenda-se manter
a profi laxia para EGB por 48 horas e suspender após.
Neste período, deve ser checada a cultura para EGB, se
esta for positiva ou não disponível antes do trabalho de
parto, deve-se realizar a profi laxia intraparto. Por outro
lado, se o resultado da cultura for negativo, e o intervalo
entre essa e o trabalho de parto for menor ou igual a cinco
semanas, não há necessidade de colher nova cultura, nem
realizar profi laxia intraparto. Se este intervalo for maior
que cinco semanas, a recomendação é repetir a cultura se
a gestação alcançar 35 e 37 semanas1,13,14.
2017 jul.-dez.; 11(2): 279-286Protocolo de prevenção para gestantes:infecção neonatal precoce por estreptococos do grupo b
284Figura 4 – Algoritmo para profi laxia intraparto da infecção neonatal pre-coce pelo estreptococo do grupo B, na presença de RPM pré-termo1,14
Figura 5 – Recomendações para profi laxia intraparto da infecção neona-tal precoce pelo estreptococo do grupo B13,14
Cesárea eletiva
Quando a paciente for submetida a uma cesárea
eletiva realizada em gestação a termo, antes do início
do trabalho de parto, e com membranas corioamnióticas
íntegras, não se recomenda a profi laxia intraparto para
EGB, independente do estado da colonização da gestante
ou idade gestacional. Destaca-se que as gestantes com
cesárea eletiva devem realizar triagem para EGB entre
35 e 37 semanas, pois pode haver trabalho de parto
prematuro ou ruptura das membranas e, nestes casos,
deverá ser instituída a profi laxia para EGB como dito
anteriormente13,26.
CONCLUSÃO
Diante do cenário apresentado até aqui, vemos
que não é possível eliminar todos os casos de doença
neonatal precoce pelo EGB. Sendo assim, baseado nas
evidências científi cas disponíveis e na insufi ciência destas,
na opinião de especialistas, recomenda-se através de
nosso estudo aqui descrito, o rastreio de todas as gestantes
entre 35 e 37 semanas realizando a cultura vaginal/
endoanal, com armazenamento e etiquetação desta de
maneira adequada. De acordo com o resultado da cultura,
defi ne-se a necessidade da profi laxia intraparto a ser
realizada. Se a cultura se mostrar negativa, não se realiza
profi laxia independente dos fatores de risco intraparto.
Assim como em casos de colonização ou bacteriúria por
EGB em gestação anterior (exceto se houver indicação
Protocolo de prevenção para gestantes:infecção neonatal precoce por estreptococos do grupo b2017 jul.-dez.; 11(2): 279-286
285de profi laxia na gestação atual) e cesárea eletiva sem
complicações. Caso a cultura se mostre positiva, ou
indefi nida até o momento do parto, deve-se fazer a
profi laxia. Assim como em casos de bacteriúria por EGB
em gestação atual, recém-nascido prévio com infecção
por EGB, ou caso haja RPM ≥ 18 horas, parto com < 37
semanas, ou temperatura intraparto ≥ 38ºC.
Esta profi laxia intraparto deverá ser feita com
penicilina G na dose de 5.000.000 UI IV no ataque, seguida
de 2.500.000 a 3.000.000 UI IV de quatro em quatro horas
até o nascimento. A ampicilina é a primeira alternativa à
penicilina, na dose de 2 g IV no ataque seguida de 1 g de
quatro em quatro horas até o nascimento. Caso haja risco
para anafi laxia da gestante devido ao uso de penicilina
ou cefalosporinas, os principais antibióticos utilizados são:
cefazolina, clindamicina e vancomicina. Nos casos de alto
risco para anafi laxia deve-se realizar um teste de indução
da resistência à clindamicina. Se o teste for negativo, a
clindamicina pode ser empregada na dose de 900 mg IV
de 8 em 8 horas até o parto. Todavia, se negativos ou
não disponíveis no momento do parto, a vancomicina é a
droga recomendada para profi laxia intraparto na presença
de alto risco para alergia à penicilina e deve ser utilizada
na dose 1 g IV de 12 em 12 horas até o parto.
Deste modo, acreditamos que este protocolo
contempla a melhor e mais atual estratégia para a
prevenção da infecção neonatal precoce por estreptococo
do grupo B e é, portanto, um modelo que deve ser seguido
já que visa, de maneira humanizada, o melhor tanto para a
gestante quanto para o recém-nascido, buscando sempre
a máxima prevenção possível e a melhor qualidade de vida
para ambos.
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Recebido em: 20/03/2017Aceito em: 08/09/2017
Protocolo de prevenção para gestantes:infecção neonatal precoce por estreptococos do grupo b2017 jul.-dez.; 11(2): 279-286
287Efi cácia das intervenções de enfermagem na sobrecarga da famíliada pessoa com esquizofrenia: revisão de literatura 2017 jul.-dez.; 11(2): 287-292
EFICÁCIA DAS INTERVENÇÕES DE ENFERMAGEM NA SOBRECARGA DA FAMÍLIA DA PESSOA COM ESQUIZOFRENIA: REVISÃO DE LITERATURA
EFFECTIVENESS OF NURSING INTERVENTIONS ON FAMILY OVERLOAD OF PEOPLE WITH SCHIZOPHRENIA: LITERATURE REVIEW
EFICACIA DE INTERVENCIONES DE ENFERMERÍA EN LA SOBRECARGA DE LA FAMILIA DE
LA PERSONA CON ESQUIZOFRENIA: REVISIÓN DE LA LITERATURA
*Enfermeiro especialista em saúde mental e psiquiatria, estudante de doutoramento, Instituto de Ciências da Saúde – Universidade Católica Portuguesa. Contato: tcasaleiro@gmail.com **Doutor em Enfermagem, Professor Auxiliar Convidado, Instituto de Ciências da Saúde – Universidade Católica Portuguesa, Lisboa.***Doutora em Enfermagem, Professor Auxiliar Convidado, Instituto de Ciências da Saúde – Universidade Católica Portuguesa, Lisboa.
ResumoIntrodução: A esquizofrenia é uma perturbação mental grave que por estar associada a incapacidades tem impacto na vida das pessoas e dos seus familiares que, frequentemente, assumem o papel de cuidadores informais. Embora a evidência científi ca seja ainda limitada, cuidar de um familiar com doença mental parece promover a sobrecarga do cuidador. As intervenções familiares podem ajudar a reduzir a sobrecarga do cuidador na fase aguda da doença e interessa conhecer a efi cácia das intervenções do enfermeiro especialista em saúde mental nesse contexto. Objetivo: Identifi car a efi cácia das intervenções do Enfermeiro Especialista em Enfermagem de Saúde Mental, na sobrecarga da família da pessoa com esquizofrenia internada em serviço de agudos, quando comparada com as intervenções dos enfermeiros generalistas. Material e Método: Revisão de literatura baseada em pesquisa de artigos na plataforma EBSCOhost - Research Databases, nas línguas inglesa e portuguesa, publicados entre 2000 e 2016. Resultados: Estimou-se a efi cácia da intervenção familiar na diminuição da sobrecarga objetiva e subjetiva dos familiares da pessoa com esquizofrenia, realizada por enfermeiros especialistas em saúde mental, quando comparadas com intervenções por enfermeiros não especialistas. A intervenção familiar mostra-se uma estratégia efi caz para a diminuição da sobrecarga do cuidador da pessoa com esquizofrenia. Conclusão: A intervenção com foco na família deve incluir uma abordagem educativa e de suporte.
Palavras-chave: Enfermagem de saúde mental. Intervenções familiares. Sobrecarga do cuidador. Esquizofrenia. Cuidador.
AbstractIntroduction: Schizophrenia is a serious mental disorder which, due to its association to disabilities, has an impact on the life of the patients and on their relatives as well, who often take on the role of informal caregivers. Although the scientifi c evidence is still limited, caring for a relative with mental disorders can lead to caregiver overload. Family interventions can help in reducing caregiver overload in the acute phase of the disease and it is of interest to know the effectiveness of the interventions of the Mental Health Specialist Nurse in this context. Objective: To identify the effectiveness of Mental Health Specialist Nurse interventions on overloaded family of the patient with schizophrenia, hospitalized in acute service, when compared with the intervention of generalist nurses. Material and Methods: Literature review, based on articles research in EBSCOhost - Research Databases platform, in English and Portuguese, published between 2000 and 2016. Results: We estimated the effectiveness of family intervention in reducing the objective and subjective overload of relatives of patients with schizophrenia when performed by mental health specialist nurses when compared with interventions by not specialist nurses. Family intervention appeared as a relevant strategy for overload reduction of caregivers of patients with schizophrenia. Conclusion: The family focused intervention should include an educational and supportive approach.
Keywords: Mental health nursing. Family interventions. Burden. Schizophrenia. Caregiver.
ResumenIntroducción: La esquizofrenia es un trastorno mental grave que puede conducir a una discapacidad y tiene un impacto en la vida de la persona con esquizofrenia y sus familiares que a menudo asumen el papel de los cuidadores no profesionales. El cuidado de una persona con esquizofrenia puede dar lugar a la carga del cuidador. Aunque la evidencia científi ca es limitada, las intervenciones familiares parecen ayudar a reducir la sobrecarga en la fase aguda de la enfermedad y se necesita más conocimiento sobre la efectividad de las intervenciones de la enfermería en Salud Mental, en este contexto. Objetivo: Identifi car la efectividad de las intervenciones del enfermero en Salud Mental en la sobrecarga del familiar cuidador de la persona con esquizofrenia hospitalizada en un servicio de agudos, en comparación con el cuidado por el enfermero no especializado. Material y Método: Revisión de la literatura basada en artículos de investigación en la plataforma EBSCOhost - Research Databases, en inglés y portugués, publicados entre 2000 y 2016. Resultados: Se estima la efi cacia de la intervención familiar en la reducción de la carga objetiva y subjetiva del familiar que cuida de la persona con esquizofrenia realizada por enfermeros especializados en salud mental, en comparación con las intervenciones de los enfermeros no especialistas. La intervención familiar se asume como una intervención efectiva en la carga del cuidador de la persona con esquizofrenia. Conclusión: La intervención centrada en la familia debe incluir un enfoque educativo y de suporte.
Palabras clave: Enfermería de salud mental. Intervenciones familiares. Carga del cuidador. Esquizofrenia. Cuidador.
Tiago Casaleiro*, Paulo Seabra**, Sílvia Caldeira***
288 2017 jul.-dez.; 11(2): 287-292Efi cácia das intervenções de enfermagem na sobrecarga da família
da pessoa com esquizofrenia: revisão de literatura
INTRODUÇÃO
A esquizofrenia é uma perturbação mental grave
caracterizada por alterações do pensamento, da memória,
da perceção e da emoção e pode conduzir a alterações
do funcionamento e, consequentemente, baixa qualidade
de vida1. Estima-se uma prevalência ao longo da vida de
cerca de quatro indivíduos por cada mil habitantes e um
risco de desenvolver a doença ao longo da vida, de sete
indivíduos por cada mil habitantes2. A doença manifesta-
se de forma distinta em cada pessoa, com sintomas
específi cos e com diferentes necessidades de cuidados3.
A pessoa com esquizofrenia e a sua família têm diferentes
contatos com os serviços de saúde mental, comunitários
ou hospitalares, ao longo de todo o processo de doença
e ao longo da vida, onde os enfermeiros especialistas de
saúde mental desenvolvem a sua ação.
Esta doença tem um forte impacto em nível
social e ocupacional, sendo que a maioria das pessoas
com esquizofrenia requer apoio formal ou informal
nas atividades de vida diárias4. Com a introdução dos
psicofármacos, em meados do século XX, iniciou-se um
processo de desinstitucionalização da pessoa com doença
mental. Este fenômeno implicou uma adaptação das
famílias que passaram a assumir um papel de cuidadores5.
Os sintomas da esquizofrenia, tanto positivos
como negativos, estão mais presentes na fase aguda
da doença e podem levar ao internamento hospitalar
em unidade de agudos3. Estes sintomas aumentam a
percepção de sobrecarga nos familiares5 e o sofrimento
associado à vivência da doença infl uencia os processos
familiares6. O internamento numa unidade de agudos
é uma experiência causadora de stress, tanto para a
pessoa com doença mental, como para os familiares, com
repercussões na dinâmica familiar7.
O cuidador informal de uma pessoa com
esquizofrenia precisa de apoio tanto para desempenhar
o seu papel de cuidador como para o seu próprio bem-
estar, uma vez que pode experienciar isolamento, medo,
ansiedade, com impacto signifi cativo na sua qualidade
de vida8. Um estudo clássico de Hoenig e Hamilton, em
1966, aborda o impacto e as consequências de cuidar de
uma pessoa com esquizofrenia, denominando-o burden
(traduzido na literatura em português como sobrecarga).
Considera-se que existe um componente objetivo de
sobrecarga, que engloba os efeitos na saúde física e mental,
na economia e na vida diária, e um componente subjetivo,
que diz respeito à experiencia vivida do cuidador5,9. Entre as
causas da sobrecarga encontram-se a “sintomatologia da
esquizofrenia, ausência de apoio social, preocupações com
o futuro, alterações na vida social, cuidados diários, fase
inicial da esquizofrenia, mudanças na rotina, preconceito,
fatores sociodemográfi cos e fatores socioeconômicos,
como as difi culdades fi nanceiras”10. Por outro lado, é
reconhecido que a interação familiar tem evolução no
decurso da doença e no número de reinternamentos. Os
padrões de comunicação e funcionamento familiar tanto
podem contribuir para o agravamento da doença, como
podem surgir como fator protetor. A doença mental tem,
tendencialmente, um efeito negativo no funcionamento
familiar11.
A maior parte dos estudos desenvolvidos têm se
centrado na infl uência que a sobrecarga familiar possui na
evolução da doença da pessoa com esquizofrenia e não
tanto na experiência do cuidador5,9. No entanto, já existe
evidência que as intervenções familiares realizadas por
profi ssionais de saúde têm impacto positivo na melhoria
do ambiente familiar, nos mecanismos de coping e na
redução da sobrecarga5,9. Adicionalmente, as intervenções
familiares aumentam a percepção de suporte social,
autoefi cácia e satisfação com o tratamento9. Porém, os
familiares de pessoas com esquizofrenia referem não
só a falta de informação e de acompanhamento por
profi ssionais de saúde mental12, mas também insegurança
na gestão da doença13.
As revisões sistemáticas de literatura acerca dos
efeitos da intervenção familiar (programas psicossociais,
grupos de aconselhamento para membros da família,
terapia familiar, grupos educacionais para familiares,
terapia de grupo para familiares) centralizam-se
principalmente nos resultados relacionados com a pessoa
com esquizofrenia, número de recaídas e internamentos. A
evidência sobre o efeito em longo prazo desta intervenção
não é forte, tanto na sua forma continuada ao longo do
tempo14, como na sua forma mais breve, com número de
sessões reduzidas15. A maior parte dos estudos foca-se na
intervenção familiar a nível comunitário14,15.
A intervenção centralizada no cuidador faz parte
da intervenção familiar8. A literatura sobre o efeito de
intervenções cujo objetivo é o cuidador é limitada, mas
promissora8. A psicoeducação e os grupos de apoio
289mostraram benefícios na satisfação, qualidade de vida e
na experiência do cuidador8. Em 2013, foi levada a cabo
uma revisão sistemática de literatura sobre o efeito de
uma intervenção familiar psicoeducativa para irmãos de
pessoas com doença mental grave16, na qual se apurou
apenas um estudo experimental, com uma amostra
pequena e com evidência não conclusiva quanto à efi cácia,
tanto no bem-estar e qualidade de vida dos irmãos, como
no número de recaídas e internamentos das pessoas com
doença mental.
Considerando que a família é um elemento
importante na vida da pessoa com esquizofrenia, é
essencial que ela seja alvo da atenção dos enfermeiros nos
vários momentos do processo da doença16. A intervenção
familiar é uma intervenção autônoma de enfermagem
com grande pertinência nos serviços de Saúde Mental
e Psiquiatria12,17,18. Um estudo qualitativo sobre a
comunicação entre enfermeiros e famílias de pessoas com
doença mental em Portugal revela que a comunicação se
resume à obtenção de dados ou encaminhamento para
outros profi ssionais6.
Os aspetos que os cuidadores informais consideram
melhorar a sua experiência dos serviços sociais e de saúde
são: o estabelecimento de uma relação de confi ança com
os prestadores de cuidados de saúde; a valorização da sua
identidade e experiência como cuidadores; o envolvimento
e tomada de decisão partilhada; a provisão de informação
clara e compreensível; o acesso aos cuidados de saúde6.
Assim, partindo destes referenciais em que se
evidenciam os resultados de intervenções realizadas por
múltiplos profi ssionais, consideramos relevante olhar para
esta tipologia de abordagem, numa lógica comparativa.
Este estudo tem como objetivo identifi car a efi cácia das
intervenções do Enfermeiro Especialista em Enfermagem
de Saúde Mental, na sobrecarga da família da pessoa
com esquizofrenia internada em serviço de agudos,
quando comparada com as intervenções dos enfermeiros
generalistas.
MATERIAL E MÉTODO
Revisão de literatura baseada na questão: Qual é
a efi cácia das intervenções do Enfermeiro Especialista em
Enfermagem de Saúde Mental, na sobrecarga do cuidador
famíliar da pessoa com esquizofrenia internada em serviço
de agudos, quando comparado com as intervenções
realizadas pelo enfermeiro não especialista?
A pesquisa foi realizada com artigos da
plataforma EBSCOhost - Research Databases que inclui:
CINAHL Complete, MEDLINE Complete, Nursing &
Allied Health Collection: Comprehensive, Database of
Abstracts of Reviews of Effects, Cochrane Central Register
of Controlled Trials, Cochrane Database of Systematic
Reviews, MedicLatina. A consulta das bases de dados
decorreu entre 6 e 12 de junho de 2016, com os seguintes
descritores e estratégia de pesquisa conjugada: [mental
health nursing OR psychiatric nursing OR enfermagem
psiquiátrica OR enfermagem saúde mental] AND [family
or caregivers or família or cuidadores] AND [schizophrenia
or esquizofrenia] NOT [community or comunidade] NOT
[Children or Crianças].
Na pesquisa eletrônica foram tidos em conta os
seguintes limitadores: existência de texto completo, textos
em português ou inglês.
A questão de investigação baseada no formato
PICOS ajudou na construção dos critérios de inclusão
e de exclusão dos artigos: Intervenção em famílias de
pessoas com esquizofrenia (population), Intervenção por
enfermeiros especialistas em saúde mental ou psiquiátrica
durante o internamento de agudos (intervention),
Comparação com cuidados pelo enfermeiro não especialista
(comparator), Efeitos da intervenção familiar na sobrecarga
do cuidador familiar (outcome), estudos experimentais ou
quase-experimentais (study-type). Os critérios de exclusão
defi nidos foram: Estudos com população infantil, Estudos
em settings comunitários, estudos descritivos e revisões
de literatura, estudos anteriores ao ano 2000 (após
uma primeira pesquisa exploratória este foi o período
determinado).
Foram identifi cados 334 artigos na pesquisa inicial.
Após leitura de títulos e resumos, foram selecionados sete
artigos para leitura integral, dos quais foram excluídos cinco
artigos (um porque a população incluía famílias de pessoas
com outras doenças mentais que não a esquizofrenia,
os outros quatro porque a intervenção do enfermeiro
especialista iniciava-se em contexto de cuidados em fase
aguda, mas continuava em setting comunitário). Foram
incluídos dois artigos na revisão.
RESULTADOS
Um dos dois estudos incluídos é português,
Efi cácia das intervenções de enfermagem na sobrecarga da famíliada pessoa com esquizofrenia: revisão de literatura 2017 jul.-dez.; 11(2): 287-292
290publicado na Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde
Mental, no qual se implementa um programa multifamiliar
psicoeducacional a 10 familiares. O outro estudo é
iraniano, publicado no Journal of Psychiatric Nursing
and Mental Health Nursing, no qual é implementado um
programa multifamiliar psicoeducacional a 35 familiares.
As características dos estudos estão descritas no Quadro
1.
Quadro 1 – Síntese dos artigos selecionados
DISCUSSÃO
No desenvolvimento das abordagens
psicoeducativas, tem sido investigada a relação que existe
entre as características da família (avaliação da resposta
emocional do familiar-cuidador: os comentários críticos, o
envolvimento emocional, hostilidade e ambiente caloroso)
e os efeitos que têm na pessoa com doença mental23,24.
Há evidência que em famílias com emoção expressa
elevada há maior número de recaídas e reinternamentos.
Desta constatação, desenvolveram-se intervenções
familiares variadas: intervenções em grupos de familiares,
intervenções com uma família e intervenções com grupos
de família25. As intervenções com uma família têm se
revelado mais efi cazes na gestão da doença, mas têm sido
poucos os estudos com foco nos familiares25,26.
Quanto às intervenções especifi camente
realizadas em cada abordagem e analisadas nesta revisão,
é possível notar que no estudo de Fallahi et al. existe um
menor número de sessões, com um total de 8 horas de
contato20, relativamente ao estudo de Pinho e Pereira,
com um total de 10,5 horas de contato19. No primeiro
estudo, a componente é essencialmente psicoeducativa,
com transmissão de informação e partilha de experiências
sobre a esquizofrenia e gestão da doença. No segundo
estudo, foi prevista não só a abordagem psicoeducativa
mas também houve abertura para a expressão de emoções
e partilha de experiências. O termo psicoeducação tem
sido discutido, na medida em que são valorizados não só
2017 jul.-dez.; 11(2): 287-292Efi cácia das intervenções de enfermagem na sobrecarga da família
da pessoa com esquizofrenia: revisão de literatura
291os aspetos cognitivos, mas também o suporte emocional.
A psicoeducação engloba os dois aspetos e tem como
objetivo não só contribuir para a aprendizagem acerca
da doença e de formas de gerir os problemas cotidianos,
mas também diminuir o stress da família e providenciar
a mobilização de recursos sociais25. Segundo o Guideline
Development Group do National Institute for Health and
Care Excellence, a psicoeducação passa a ser nomeada
education and support8. Esta terminologia dá indicações
para os programas a serem desenvolvidos com cuidadores
de pessoas com esquizofrenia, nos quais se complementam
os aspetos educativos e de suporte.
Os resultados das intervenções dos estudos
foram avaliados com diferentes instrumentos que se
focam em diferentes aspetos. Em Pinho e Pereira19, revela-
se uma diminuição da sobrecarga objetiva, clinicamente
signifi cativa. Em Fallahi et al.20, para além do componente
objetivo, também se identifi cou diminuição signifi cativa
da sobrecarga fi nanceira e do impacto nas atividades
diárias, no lazer e bem-estar da família, nas relações, na
saúde física dos membros da família e na saúde mental
do cuidador e membros da família20. Somente o estudo de
Pinho e Pereira refere a sobrecarga subjetiva, e a redução
desta com a intervenção19. Um dos estudos excluídos da
revisão, por ter como população famílias de pessoas com
esquizofrenia após alta de unidade de agudos, demonstra
que um programa psicoeducativo conduziu a uma redução
da sobrecarga familiar27. Outro estudo revelou que o apoio
à família por enfermeiros especialistas conduziu a uma
manutenção do funcionamento familiar e do bem-estar da
família26.
Os resultados desta revisão apontam para a
efi cácia dos programas psicoeducacionais na diminuição
da sobrecarga, quando realizados por enfermeiros
especialistas, em comparação com os cuidados prestados
por enfermeiros generalistas.
Através dos estudos referidos não é possível
afi rmar o motivo pelo qual existe diminuição de sobrecarga,
o que pode indicar futuras perspectivas de investigação.
Algumas questões podem ser adiantadas, como por
exemplo, se o efeito está relacionado com a informação
transmitida, com o fato de ser uma intervenção com
grupos multifamiliares ou se por ser permitida a troca
de experiências. Por outro lado, a efi cácia pode dever-se
à relação terapêutica que se pode estabelecer na tríade
enfermeiro, pessoas com doença mental e família.
Quando comparamos os dois estudos é
importante atender às diferenças culturais. Sendo um
estudo desenvolvido em Portugal e outro no Irã, existem
diferenças culturais signifi cativas e que não podem ser
ignoradas neste contexto clínico. Porém, as diferenças
étnicas e sociais na percepção da sobrecarga parecem
estar ainda pouco estudadas5.
Na análise dos artigos para esta revisão,
identifi cou-se um estudo islandês que pode contribuir para
a discussão sobre a importância do suporte emocional26.
Este estudo demonstrou que duas a cinco sessões de
conversa terapêutica breve (STC - Short Therapeutic
Conversation) com as pessoas com doença mental e os
familiares, revelavam aumento da percepção de suporte
familiar (cognitivo e emocional), por parte dos familiares,
embora esse aumento não se revelasse nas pessoas com
doença mental. Revelou, também, que o funcionamento
familiar se manteve ao longo do internamento em serviço
de agudos26.
O enfermeiro especialista em saúde mental,
compreendendo que os processos de saúde e doença
mental afetam toda a estrutura familiar, deve promover
a saúde mental de toda a família. A abordagem familiar
implica a mobilização de si próprio, enquanto recurso
terapêutico, para estabelecer uma relação de ajuda tanto
com a pessoa com esquizofrenia, como com o seu familiar
com necessidade de cuidados. De fato, o enfermeiro
generalista também pode mobilizar estes aspetos na sua
prática, no entanto, o enfermeiro especialista aprofunda
a abordagem, numa perspectiva sistêmica, favorecendo o
bem-estar dos familiares, diminuindo a sobrecarga.
CONCLUSÃO
A prestação de cuidados especializados em
Enfermagem de Saúde Mental acompanha a pessoa
com doença mental e a sua família nos mais variados
contextos. Esta revisão permitiu identifi car que existem
poucos estudos sobre a intervenção com foco no cuidador
da pessoa com esquizofrenia, no momento de agudização
da sua doença, período no qual são mais evidentes os
sintomas e o nível de sobrecarga. A evidência, ainda
que limitada, aponta para o benefício das intervenções
familiares na diminuição da sobrecarga do cuidador.
Existe, então, necessidade de estudos mais robustos e
Efi cácia das intervenções de enfermagem na sobrecarga da famíliada pessoa com esquizofrenia: revisão de literatura 2017 jul.-dez.; 11(2): 287-292
292com métodos semelhantes para se poder avaliar melhor
a efi cácia e a efi ciência das intervenções, em particular
por enfermeiros especialistas. Estes estudos seriam um
contributo importante para a refl exão sobre o nível de
competências necessárias para a intervenção.
Encontram-se algumas limitações nesta revisão
de literatura, uma vez que a pesquisa não esgotou todas
as bases de dados e alguns trabalhos de investigação não
publicados em forma de artigo não foram considerados,
assim como outra literatura cinzenta. Não obstante, a
publicação científi ca ser maioritariamente publicada na
língua inglesa, a exclusão de outros idiomas limitou a
revisão.
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Recebido em: 15/06/2017Aceito em: 24/10/2017
2017 jul.-dez.; 11(2): 287-292Efi cácia das intervenções de enfermagem na sobrecarga da família
da pessoa com esquizofrenia: revisão de literatura
294Alopecia frontal fi brosante:
uma atualização2017 jul.-dez.; 11(2): 294-298
ALOPECIA FRONTAL FIBROSANTE: UMA ATUALIZAÇÃO
FIBROSING FRONTAL ALOPECIA: AN UPDATE
ALOPECIA FRONTAL FIBROSANTE: UNA ACTUALIZACIÓN
*Médica Residente de Dermatologia do Hospital Regional de Presidente Prudente/ Universidade do Oeste Paulista. Contato: janacappi@hotmail.com**Chefe do Departamento de Dermatologia do Hospital Regional de Presidente Prudente/ Universidade do Oeste Paulista. Doutorado em Ciências – Universidade Federal de São Paulo.
ResumoIntrodução: Alopecia frontal fi brosante (AFF) é uma doença cicatricial linfocítica primária, atualmente conhecida como espectro do líquen plano pilar, entidade que tem sido subdividida atualmente em: AFF, líquen plano pilar clássico e síndrome de Graham-Little. Objetivo: Descrever a alopecia frontal fi brosante, sua repercussão clínica e formas de tratamento. Material e Métodos: Trata-se de uma pesquisa de atualização, a fi m de contextualizar profi ssionais de saúde com relação a essa doença, no intuito de realizar o diagnóstico precoce, realizar tratamentos efetivos e reduzir a progressão da doença. Artigos originais, de revisão e relatos de caso, obtidos da plataforma de pesquisa Pubmed (US National Library of Medicine / National Institute of Health) e Scielo (Scientifi c Eletronic Library Online) foram selecionados para elucidar tal doença, devido ao alto impacto negativo na qualidade de vida dos pacientes acometidos. Resultados: Os resultados tratam de aspectos epidemiológicos, fi siopatológicos, etiológicos, clínicos, diagnósticos, histopatológicos e tratamento. Conclusão: A atualização de informações a respeito da AFF torna-se uma ferramenta útil para que profi ssionais de saúde possam reconhecer a doença precocemente e instituir um tratamento efi caz, a fi m de reduzir a progressão da doença. Sugerem-se novos estudos em análise etiopatogênica e terapêutica.
Palavras-chave: Alopecia. Cabelo. Menopausa.
AbstractIntroduction: Fibrosing frontal alopecia (FFA) is a primary lymphocytic cicatricial disease, currently known as spectrum of lichen planus pillar, entity that has been currently subdivided in: FFA, classic lichen planus pillar, Graham-Little syndrome. Objective: To describe fi brosing frontal alopecia, its clinical repercussion and forms of treatment. Material and Method: It is an update research, directed to contextualize health professionals in relation to this disease, to perform an early diagnosis and effective treatments, as well as to reduce the progression of the disease. We used original articles, review articles and case reports, obtained from the PubMed (National Library of Medicine) and Scielo (Scientifi c Electronic Library Online) research platforms to elucidate this disease, due to the high negative impact in the quality of life of affected patients. Results: The results cover epidemiological, pathophysiological, etiological, clinical, diagnostic, histopathological and treatment aspects. Conclusion: Updating information about FFA becomes a useful tool for health professionals to recognize the disease early and to institute an effective treatment in order to reduce the progression of the disease. We suggest new studies in etiopathogenic and therapeutic analysis.
Keywords: Alopecia. Hair. Menopause.
ResumenIntrodución: Alopecia frontal fribrosante (AFF) es una enfermedad cicatrizante linfocítica primaria, actualmente conocida como el espectro del liquen plano pilar, se divide en AFF, liquen pilar clásico y síndrome de Graham-Little. Objetivo: Describir la alopecia frontal fi brosante, repercusión y tratamiento. Material y Métodos: Es una búsqueda de actualización para los profesionales de la salud, con intención del diagnóstico precoz, tratamiento efi caz y disminuir la progresión de la enfermedad. Se utilizó en esta revisión artículos originales, revisiones y informes de casos de los sitios web Pubmed (US National Library of Medicine / National Instituteof Health) e Scielo (Scientifi c Eletronic Library Online). Resultados: Los resultados tienen aspectos epidemiológicos, fi siopatológicos, etiológicos, clínicos, diagnósticos, histopatológicos y del tratamiento. Conclusiones: Acerca de la actualización de las informaciones sobre AFF es muy importante para los profesionales de la salud reconocer el inicio de la enfermedad y hacer el tratamiento efi ciente, a fi n de disminuir el desarrollo de la enfermedad. Necesitan nuevos estudios acerca de etiopatogenia y terapéutica.
Palabras clave: Alopecia. Pelo. Menopausia.
Janaina Cappi Moraes Braz*, Marilda Aparecida Milanez Morgado de Abreu**
295Alopecia frontal fi brosante:uma atualização 2017 jul.-dez.; 11(2): 294-298
INTRODUÇÃO
A alopecia frontal fi brosante (AFF) é uma doença
cicatricial linfocítica primária que se caracteriza pela perda
de cabelos terminais e/ou velus na região frontotemporal,
associada a eritema perifolicular e hiperqueratose
folicular, além de sintomas inespecífi cos como prurido e
tricodinia1. Trata-se de uma doença atualmente conhecida
como espectro do líquen plano pilar, entidade que tem
sido subdividida atualmente em: AFF, líquen plano pilar
clássico, síndrome de Graham-Little2,3 e que tem se
tornado cada vez mais comum do que se acreditava ser
anteriormente. Descrita pela primeira vez por Kossard, em
1994, inicialmente foi considerada uma doença exclusiva
de mulheres na pós-menopausa4,5, no entanto, nos últimos
anos, foi evidenciada diferentes formas de apresentação
em homens e em mulheres na idade fértil 6-9, muito embora
ainda prevaleça mais frequente em mulheres, com média
de idade de 56 anos10,11.
Devido ao impacto negativo provocado na
qualidade de vida dos pacientes acometidos, torna-
se importante conhecer as características da doença. A
atualização de informações a respeito da AFF cria uma
ferramenta valiosa para que profi ssionais de saúde possam
evidenciar a doença precocemente. Contudo, o objetivo do
presente estudo foi descrever os achados mais recentes
e relevantes sobre a AFF, a fi m de iniciar o tratamento
precocemente e minimizar a progressão da doença.
MATERIAL E MÉTODO
Trata-se de um estudo de atualização sobre a
AFF. A pesquisa buscou evidenciar a doença quanto aos
aspectos: epidemiológicos, fi siopatológicos, etiológicos,
clínicos, diagnósticos, histopatológicos e tratamento.
A busca foi realizada nas plataformas de pesquisa
Pubmed (US National Library of Medicine National
Institutes of Health) e SciELO (Scientifi c Electronic Library
Online), utilizando-se as palavras-chave: Alopecia, Cabelo
e Menopausa, sendo que estas palavras deveriam constar
no título ou no resumo das publicações.
Foram considerados artigos originais, relatos de
caso e artigos de revisão, selecionando-se as publicações
com as informações mais recentes e relevantes sobre o
escopo. Os manuscritos selecionados são originalmente
escritos na língua espanhola, inglesa e/ou portuguesa.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Defi nição e aspectos clínicos
A AFF é um tipo de alopecia cicatricial linfocítica
primária que afeta a região frontotemporal do couro
cabeludo. Esta perda capilar ocorre em uma distribuição
semelhante a uma banda, que geralmente varia de 01
a 08 centímetros de diâmetro2,3,12. Muitas vezes, um
pequeno número de cabelos isolados é poupado dentro
da banda de alopecia, confi gurando o chamado "sinal
de cabelo solitário”10. Semelhante ao líquen plano pilar
clássico, os folículos eritematosos e hiperqueratósicos
são frequentemente encontrados na periferia de áreas
de alopecia, podendo ainda, ser evidenciada área de
hipopigmentação na região acometida, assim como
prurido ou tricodinia10,13,14.
O envolvimento de locais além do couro cabeludo,
como as áreas periauricular, parietal ou occipital, pode
acompanhar a distribuição clássica da AFF. Evidencia-
se, também, o acometimento de sobrancelhas e cílios,
antes mesmo da perda capilar, embora esses eventos
sejam incomuns10,15. Alguns pacientes podem, ainda,
apresentar pápulas foliculares ásperas na região facial,
com predileção pela área temporal10,11,16. Em relatos de
homens com AFF, observou-se que a manifestação mais
comum é o acometimento da região da barba10,12.
Pacientes com AFF também podem desenvolver
a perda de cabelo em áreas diferentes do couro cabeludo
e do rosto, visto que a perda de cabelo corporal, axilar ou
púbica, já foi documentada10.
Epidemiologia
A maioria dos casos tem sido relatada em países
da Europa e da América do Norte, enquanto que poucos
casos têm sido descritos em países da Ásia17. No Brasil,
não há dados concretos que evidenciem a real incidência
e prevalência da doença.
Etiologia e patogênese
A etiologia ainda permanece obscura. O fato
de ter surgido recentemente, aumenta a possibilidade
de envolvimento de fatores ambientais ao processo
autoimune, tais como o uso disseminado de cosméticos,
amplamente difundido nos dias atuais18. Com relação à
patogênese, parece ser pouco compreendida. O infi ltrado
infl amatório linfocitário do istmo e do infundíbulo
296capilares com o acometimento do bulge e destruição
das steam-cells parecem ser a chave para o dano capilar
permanente, repercutindo em uma alopecia cicatricial do
ponto de vista clínico. Recentemente, descobriu-se que
o TGFβ1 (transforming growth factor beta-1) promove
fi brose, diferenciando fi broblastos quiescentes e células
epiteliais de miofi broblastos, aumentando assim, a matriz
extracelular. Novas investigações têm demonstrado que o
PPARγ (peroxisome proliferator- activated receptor gamma)
é um regulador negativo dos eventos fi bróticos induzidos
pelo TGFβ11. Em contrapartida, a deidroepiandrosterona
(DHEA) é um hormônio imunomodulador essencial para
as funções do PPARγ e se encontra reduzida em alguns
processos caracterizados por fi brose. Embora a alopecia
cicatricial se desenvolva mais no período pós-menopausa,
em que ocorre menor produção da DHEA e relativa
resposta de alguns casos ao tratamento antiandrogênio,
ainda necessitamos de mais estudos para se estabelecer
melhor essa relação causal11,16,19.
Diagnóstico
Clinicamente, há perda de cabelos tanto terminais
quanto velus, em banda, na região frontotemporal,
associada a eritema e descamação na placa de alopecia,
assim como sintomas inespecífi cos no couro cabeludo,
como tricodinia e prurido1. A dermatoscopia do couro
cabeludo também pode evidenciar achados adicionais,
tais como: eritema perifolicular, hiperqueratose
folicular, redução dos óstios foliculares e ausência de
pelos velus, sendo este achado muito importante para
elucidação diagnóstica20,21. A biópsia do couro cabeludo,
embora seja um procedimento invasivo, pode contribuir
signifi cativamente com o diagnóstico através do exame
histopatológico. Para isso, o material deve ser coletado
de uma área ainda portadora de cabelo, com sinais
clínicos de doença ativa, como infl amação, eritema
perifolicular e hiperqueratose folicular, ao passo que áreas
de alopecia completa devem ser evitadas22,23. Os achados
histopatológicos são: dermatite de interface, envolvendo o
infundíbulo folicular e o istmo (queratinócitos necróticos,
vacuolização da camada basal, infi ltrado linfocítico denso
do tipo banda), que frequentemente poupam o epitélio
interfolicular, perda de glândulas sebáceas na doença
de longa data, fi brose perifolicular em torno do istmo e
do infundíbulo capilares e tratos fi brosos verticais que
substituem os folículos nos estágios fi nais da doença24,25.
Com relação aos principais diagnósticos
diferencias da AFF, podemos citar: alopecia androgenética,
lúpus eritematoso cutâneo discóide, alopecia areata,
pseudopelada de Brocq, alopecia de tração e alopecia
cicatricial centrífuga24,26.
Tratamento
Assim que o diagnóstico da AFF é estabelecido,
as opções de tratamento devem ser cuidadosamente
explicadas ao paciente. Como a perda de cabelos pode
causar um distúrbio psicológico importante, é necessária
uma abordagem empática para a comunicação dessa
informação. Uma boa relação médico-paciente é
fundamental e imprescindível. É importante que o paciente
seja orientado quanto à ausência de cura para a AFF e
quanto à evolução imprevisível, porém o tratamento se faz
necessário a fi m de melhorar os sintomas e tentar impedir
a progressão da doença.
Dentre as opções terapêuticas, os
corticoesteróides tópicos ou intralesionais são comumente
utilizados como terapia de primeira linha para a AFF, no
entanto, apresentam resultados limitados. O melhor
regime de corticoterapia tópica ainda é desconhecido.
Podem ser utilizados os de alta potência, duas vezes ao
dia, nas áreas de doença ativa. No momento em que a
atividade da doença diminui, deve-se reduzir lentamente a
frequência de aplicação27,28.
A atrofi a cutânea é um efeito adverso potencial dos
corticoesteróides tópicos, todavia, o couro cabeludo lesado
é menos propenso a desenvolver atrofi a cosmeticamente
signifi cativa, quando comparado a áreas normais27.
Com relação aos corticoesteróides intralesionais,
a triancinolona parece ser a droga de escolha. O objetivo
é inibir a infl amação por meio da administração de
corticoesteróides diretamente no local da infl amação na
derme, podendo ainda serem administrados nos locais
de perda de sobrancelhas. O regime utilizado também
permanece incerto. A desvantagem da terapia com
corticoesteróides intralesionais, em comparação com a
terapia tópica, é a dor no momento da aplicação. No entanto,
a maioria dos pacientes parece ter boa tolerância, ainda
que os resultados sejam variáveis9,10,29,30. Os inibidores da
calcineurina, bem como o minoxidil, apresentam-se como
opções coadjuvantes no tratamento1.
Alopecia frontal fi brosante:uma atualização2017 jul.-dez.; 11(2): 294-298
297Na maioria das vezes, a terapia tópica não é
sufi ciente e há necessidade de se associar medicações de
uso sistêmico. Os antimaláricos, como a hidroxicloroquina
e o difosfato de cloroquina, têm sido utilizados com
frequência. A hidroxicloroquina é um agente não
imunossupressor com propriedade imunomoduladora. A
dose recomendada é de 5 mg/Kg/dia. Parece ser bem
tolerada, porém a taxa de resposta varia amplamente entre
os pacientes, sendo que a maioria não tem alcançado a
remissão completa da doença30.
Dentre outras alternativas, a fi nasterida, na dose
de 2,5 mg/dia, por 12-18 meses, ou a dutasterida 0,5
mg/dia, por 12 meses, também são alternativas boas e
viáveis1.
Com o intuito de tratar a AFF, a pioglitazona
poderá assumir papel relevante no futuro. Seu mecanismo
terapêutico parece ser a atuação no PPARγ (peroxisome
proliferator-activated receptor gamma), que é um regulador
negativo dos eventos fi bróticos na AFF31,32. A isotretinoína,
na dose de 20-40 mg/Kg/dia, parece ser outra medicação
promissora na melhora das pápulas foliculares e ásperas
na região facial da região temporal, porém, ainda carece
de estudos mais contundentes33,34.
CONCLUSÃO
O presente estudo fornece uma atualização de
informações a respeito da AFF, tornando-se uma ferramenta
útil para que profi ssionais de saúde possam reconhecer a
doença precocemente e instituir um tratamento efi caz, a
fi m de reduzir a progressão da doença.
Sugerem-se novos estudos com o intuito de
esclarecer a etiopatogenia, visto que pouco se conhece
a respeito das relações causais da doença, assim como
estudos com enfoque terapêutico, uma vez que todos os
tratamentos atuais se restringem a medidas de redução
do avanço da AFF.
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Recebido em: 13/07/2017Aceito em: 24/11/2017
298Alopecia frontal fi brosante:
uma atualização2017 jul.-dez.; 11(2): 294-298
300 2017 jul.-dez.; 11(2): 300-303A importância da utilização do check-list de parto seguro
na redução de riscos obstétricos e puerperais
A IMPORTÂNCIA DA UTILIZAÇÃO DO CHECK-LIST DE PARTO SEGURO NA REDUÇÃO DE RISCOS OBSTÉTRICOS E PUERPERAIS
THE IMPORTANCE OF USING SAFE BIRTH CHECK-LIST IN OBSTETRIC AND PUERPERAL RISK REDUCTION
LA IMPORTANCIA DE LA UTILIZACIÓN DEL CHECK-LIST DE PARTO SEGURO EN LA
REDUCCIÓN DE RIESGOS OBSTÉTRICOS Y PUERPERALES
*Acadêmicas do curso de Medicina da Faceres, São José do Rio Preto-SP.** Enfermeiras, mestres, docentes da disciplina de Programa de Integração Comunitária (PIC) do curso de Medicina da Faceres, São José do Rio Preto-SP. Contato: renata_bereta@hotmail.com*** Enfermeira, especialista, docente da disciplina de Programa de Integração Comunitária (PIC) do curso de Medicina da Faceres, São José do Rio Preto-SP.
ResumoIntrodução: O check-list de parto seguro permite investigar aspectos da assistência ao parto. É concebido como uma ferramenta para melhorar a qualidade dos cuidados disponibilizados às gestantes durante o trabalho de parto e pós-parto. Objetivo: Apresentar uma análise crítica sobre a importância da utilização do check-list do parto seguro para a redução dos riscos obstétricos e puerperais. Método: Resenha crítica, realizada após a seleção de textos sobre a importância da utilização do check-list de parto seguro para a redução dos riscos obstétricos e puerperais para o binômio mãe/bebê. A análise apreendeu os textos em sua completude, a leitura sistemática, o resumo e a análise crítica, baseada em referências atuais e em conclusões de pesquisadores atuantes nessa área. Resultados: Em todos os estudos compilados nesta resenha observou-se que a utilização do check-list de parto seguro é satisfatório para manter a qualidade e a segurança no trabalho de parto e pós-parto, tanto para a gestante, puérpera e recém-nascido. Conclusão: Conclui-se que o check-list é indicado para melhorar a qualidade e a segurança na assistência prestada, diminuindo assim os riscos obstétricos e puerperais, bem como as complicações deste momento.
Palavras-chave: Segurança do paciente. Protocolos. Obstetrícia. Parto obstétrico. Complicações do trabalho de parto. Trabalho de parto.
AbstractIntroduction: The safe birth checklist allows to investigate delivery care aspects. It is designed as a tool to improve the quality of care provided to pregnant women during labor and postpartum. Objective: To present a critical analysis about the importance of using the safe birth checklist to reduce obstetric and puerperal risks. Method: It is a critical review, carried out after a selection of texts on the importance of using the safe birth control checklist to reduce obstetric and puerperal risks for the mother/baby binomial. The analysis seized the texts in their completeness, systematic reading, summary and critical analysis, based on current references and on conclusions of researchers working in this area. Results: In all the studies compiled in this review, we observed that the use of the safe delivery checklist is satisfactory to maintain quality and safety in labor and postpartum, for pregnant and postpartum woman, as well as for newborn. Conclusion: We conclude that the check list is indicated to improve the quality and the safety of the care provided, thus reducing the obstetric and puerperal risks, as well as the complications of this moment.
Keywords: Patient safety. Protocols. Obstetrics. Delivery obstetrics. Obstetrics labor Complication. Labor obstetric.
ResumenIntroducción: El check-list de parto seguro permite investigar aspectos de la asistencia al parto. Es concebido como una herramienta para mejorar la calidad de los cuidados disponibles a las gestantes durante el trabajo de parto y posparto. Objetivo: Presentar un análisis crítico sobre la importancia de la utilización del check-list del parto seguro para la reducción de los riesgos obstétricos y puerperales. Método: Reseña crítica, realizada después de la selección de textos sobre la importancia de la utilización del check-list de parto seguro para la reducción de los riesgos obstétricos y puerperales para el binomio madre / bebé. El análisis aprehendió los textos en su completitud, la lectura sistemática, el resumen y el análisis crítico, basado en referencias actuales y en conclusiones de investigadores actuantes en esta área. Resultados: En todos los estudios compilados en esta reseña se observó que la utilización del check-list de parto seguro es satisfactorio para mantener la calidad y la seguridad en el trabajo de parto y posparto, tanto para la gestante, puérpera y recién nacido. Conclusión: Se concluye que el check-list es indicado para mejorar la calidad y la seguridad en la asistencia prestada, disminuyendo así los riesgos obstétricos y puerperales así como las complicaciones de este momento.
Palabras clave: Seguridad del paciente. Protocolos. Obstetricia. Parto obstétrico. Complicaciones del trabajo de parto. Trabajo de parto.
Jane Klicia Avelino Sant’Ana*, Paloma Oliveira Leite*, Renata Prado Bereta Vilela**, Fernanda Aparecida Novelli Sanfelice**, Janaina Benatti de Almeida**, Márcia Cristina Ayres Alves***
301A importância da utilização do check-list de parto seguro na redução de riscos obstétricos e puerperais 2017 jul.-dez.; 11(2): 300-303
Anteriormente, o trabalho de parto era realizado
por parteiras que eram mulheres desprovidas de
formação técnica ou acadêmica. Essa prática ocasionava
às parturientes muitas complicações durante o parto e
puerpério, podendo também levar a óbitos materno e
fetais. Com o passar do tempo, os avanços científi cos e a
busca pela redução dessas altas taxas de mortalidade no
parto e puerpério, se fez necessária a institucionalização
dos procedimentos cirúrgicos-obstétricos, tornando-os
intra-hospitalares. Com isso, esta rotina hospitalar levou
a uma melhor assistência prestada a esta parturiente1,2.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima
que anualmente são realizados aproximadamente 130
milhões de partos; destes, em média 303.000 (0,2%)
resultam em morte materna, 2,6 milhões (2,0%) de
natimortos e outros 2,7 milhões (2,1%) de recém-
nascidos (RN) vêm a óbito nos primeiros 28 dias após o
nascimento. Essas mortes normalmente são de etiologia
evitável, muitas vezes associadas a má qualidade dos
cuidados assistenciais ao parto3.
Para minimizar esses riscos assistenciais, a OMS,
em 2004, lançou o programa de Aliança Mundial para
Segurança do Paciente; em 2007 lançou o tema “Cirurgias
seguras salvam vidas” recomendando a utilização do
check-list em momentos importantes do ato cirúrgico.
Este check-list é uma ferramenta útil para reduzir eventos
adversos nos hospitais, contudo, sua execução ainda é
um desafi o, devido a sua implementação recente. Nesse
sentido, há a necessidade de estudos acadêmicos sobre o
benefi cio de sua utilização4.
O check-list ou a lista de verifi cação foi desenvolvida
pelo Ariadne Labs, em uma parceria do Brigham and
Women’s Hospital com a Harvard T.H. Chan School of Public
Health e supervisão da fundação Bill & Melinda Gates.
É, comprovadamente, uma ferramenta de baixo custo
e simples utilização, proporcionando tanto na cirurgia
obstétrica, como em outras áreas cirúrgicas, melhoras nas
práticas realizadas pela equipe, resultando em cenários
favoráveis a saúde das parturientes e seus fi lhos3,5.
O Ministério da Saúde (MS), em 2013, lançou o
Anexo 03 das Portarias 2.095 e 1.377, “Protocolo para
cirurgia segura”. Em dezembro de 2015, o MS anunciou a
Lista de Verifi cação para o Nascimento Seguro. Esse check-
list foi usado em plano piloto em nove países da África e
da Ásia, com resultados signifi cativos. Com base nessa
evolução, em 2015 o Hospital Cinco de Outubro (HCO)
implantou o Protocolo de Cirurgia Segura e, no início de
2017, anexou-lhe itens de verifi cação para atuar na cirurgia
obstétrica segura, promovendo o envolvimento da equipe
multidisciplinar e a adesão de boas práticas de segurança
perioperatória, cuidados maternos e perinatais3,6-8.
O Check-list do Parto Seguro da OMS (WHO
Safe Childbirth Checklist) permite investigar aspectos que
abrangem a assistência ao parto de risco habitual e da cesárea
e foi concebido como uma ferramenta para melhorar a
qualidade dos cuidados disponibilizados às gestantes prestes
a dar à luz. A “Lista de Verifi cação” é uma lista organizada
de atividades assistenciais e práticas ao nascimento, que
tem como alvo os riscos relacionados ao intraparto, além das
principais causas de mortes das mães, dos natimortos e dos
neonatos que ocorrem em instalações de cuidados de saúde
ao redor do mundo. Cada item dela é uma ação crítica que,
se perdida ou não realizada, pode gerar danos graves para a
mãe, o recém-nascido, ou ambos3.
O protocolo de verifi cação identifi ca quatro pontos
de pausa correspondentes a um período específi co no
período normal de trabalho de um profi ssional de saúde.
Os dois primeiros correspondem ao ante parto, sendo eles:
primeiro, quando a mãe é admitida (admissão); segundo,
compreende o momento pouco antes de expulsar (ou
antes da cesariana). Os dois segundos condizem ao pós-
parto: sendo o terceiro o período compreendido dentro
de uma hora após o nascimento (logo após o parto) e o
quarto descrito como: antes da mãe e do recém-nascido
terem alta. Estes pontos de pausa permitem que os
profi ssionais da saúde responsáveis pela realização do
parto façam suas "verifi cações", as quais podem proteger
a mãe e o RN contra complicações perigosas3.
Dessa forma, o protocolo de segurança do parto
versa sobre o cumprimento dos itens que envolvem o
manejo do partograma, de antibióticos para o parto normal
ou cesáreo, da conduta na ruptura das membranas, do uso
do sulfato de magnésio, do uso de anti-hipertensivos, do
uso da ocitocina, do estímulo ao acompanhante no parto,
do manejo do sangramento antes e depois do parto,
da amamentação, dos alertas aos sinais de perigo na
assistência a mãe e ao neonato, do esvaziamento vesical
da puérpera, da monitorização e do uso de antibióticos
para o neonato e do manejo da alta pós-parto entre
outros6.
É essencial que um único membro da equipe lidere
o processo da Lista de Verifi cação. Esta pessoa, designada
como coordenadora da Lista de Verifi cação, é responsável
por marcar os boxes da lista e, frequentemente, será
um enfermeiro circulante, podendo ser qualquer médico
que participe da operação, sendo este o encarregado
da verifi cação de tal protocolo em todas as fases
compreendidas nesta lista. Assim, durante a fase "logo
após o nascimento", o assistente de parto deve verifi car
se a mãe não está sangrando de forma anormal ou não
tem uma infecção e se ela começou a amamentar e se fez
contato pele a pele. No decorrer da fase "antes da alta",
o assistente de nascimento deve confi rmar que a mãe e
o RN permaneceram nas instalações pelo menos 24 horas
após o parto, a pressão arterial da mãe é normal e o bebê
está se alimentando bem4.
Em cada fase, o coordenador da Lista de Verifi cação
deve ter permissão para confi rmar com o cirurgião e demais
membros da equipe se as tarefas foram completadas
antes de seguir adiante. Em um primeiro momento se faz
necessária a confi rmação verbal com o paciente (quando
possível) sobre sua identidade, o procedimento realizado
e se há o consentimento para tal procedimento. Em se
tratando de uma cesariana, o coordenador confi rmará
visualmente que o sítio operatório foi marcado (se isto
for aplicável) e revisará verbalmente com o profi ssional
de anestesia o risco de perda sanguínea do paciente,
difi culdades com as vias aéreas e alergias e também se uma
verifi cação de segurança dos equipamentos anestésicos e
medicamentos foi concluída. Idealmente, o cirurgião estará
presente, já que pode haver complicações4,6.
Após isso, a equipe fará uma pausa imediatamente
antes da incisão cutânea para confi rmar em voz alta que
a operação está correta e se é o paciente, como também
o local correto que será realizado o procedimento; então,
todos os membros da equipe revisarão verbalmente uns
com os outros os elementos críticos de seu plano para a
operação, usando as questões da Lista de Verifi cação como
guia. Também confi rmarão que antibióticos profi láticos
foram administrados. Com o término do processo cirúrgico
do parto, a equipe revisará em conjunto a operação
que foi realizada, haverá a conclusão das contagens de
compressas e instrumentos e a etiquetagem de qualquer
amostra cirúrgica obtida. Com o objetivo de evitar eventos
adversos provenientes de iatrogenia4.
Somam-se algumas razões para a ocorrência de
complicações na assistência ao parto, destacando-se a falta
de comunicação e distração da equipe multiprofi ssional, falta
de treinamentos para equipe, baixa qualidade da atenção
à saúde prestada, a não conferência da identifi cação do
paciente e de materiais durante a assistência, entre outros,
o que constituem indicadores importantes para elevar a
propensão de erros na assistência aos partos, podendo
levar também a eventos adversos como infecções e até
mesmo óbito materno-fetais9,10.
No Brasil, a segurança do paciente é prejudicada
por problemas relacionados à escassez de recursos
humanos e materiais, falta de qualifi cação, carga de
trabalho excessiva, absenteísmo e evasão profi ssional, fruto
de questões estruturais, políticas, econômicas e culturais.
Além disso, os meios de comunicação entre os membros
da equipe de parto rotineiramente relatam as condições de
trabalho nos hospitais públicos, com consequentes erros e
falhas na assistência ao paciente. A saúde do paciente deve
ser prioridade, portanto há a necessidade de protocolos que
estabeleçam medidas de segurança, com posterior avaliação
dos efeitos causados por sua efetivação. Nesse sentido, é
necessário melhorar o trabalho em equipe, aumentar a
qualidade da comunicação entre os profi ssionais da saúde,
realizar educação continuada em saúde acerca da temática,
para que os erros sejam abordados de forma abrangente, e
toda e qualquer preocupação com a segurança do paciente
seja discutida11-13.
O impacto gerado pela ocorrência de complicações
no Brasil é preocupante para o Sistema Único de Saúde
(SUS), por acarretar o aumento na morbidade, na
mortalidade, no tempo de tratamento dos pacientes e nos
custos assistenciais, além de repercutir em outros campos
da vida social e econômica do país. Erros normalmente
ocorrem, mas podem ser minimizados com formação
adequada e comunicação efi caz, por meio de um sistema
de contínua educação sobre segurança, em que as ações
dos profi ssionais da equipe envolvida sejam revisadas por
meio do protocolo de verifi cação (check-list), objetivando
a prevenção dos erros antes que aconteçam. Assim, com
tal redução, haverá, consequentemente, a minimização
dos alarmantes números de óbitos ocasionados no período
pré-parto e puerpério, colaborando para uma melhor
saúde materno-fetal, visto que esta é uma prioridade para
todos os membros da equipe de saúde12,14.
302 2017 jul.-dez.; 11(2): 300-303A importância da utilização do check-list de parto seguro
na redução de riscos obstétricos e puerperais
Um estudo realizado no interior de São Paulo com
57 profi ssionais da equipe de enfermagem que objetivou
descrever o perfi l dos profi ssionais de enfermagem que
atuam na assistência de enfermagem durante o trabalho
de parto, parto e pós parto imediato e identifi car os
procedimentos que estes realizam segundo a preconização
da Confederação Internacional de Parteiras, descreve
alguns critérios para a avaliação do check-list utilizado
nas salas de parto e instituído pela OMS. A implantação
do Protocolo enfrentou difi culdades, com resistência das
equipes, ironizando sua implantação, desacreditando nos
resultados, julgando atraso no processo. Porém, com a
intensifi cação dos treinamentos e a segurança na aplicação
do check-list, percebeu-se redução do riscos materno-
fetais devido à aceitação e participação de todos, obtendo-
se excelentes resultados após sua efetiva execução15.
Protocolos garantem, também, ao recém-
nascido, a redução de complicações, reduzindo então a
morbimortalidade materno-fetal16,17.
Conclui-se que a implantação de protocolos de
segurança com medidas para reduzir a ocorrência de
eventos adversos são apoiados pela garantia da segurança
para pacientes e profi ssionais da saúde. Eles incentivam a
participação e adesão ao protocolo de parto seguro com a
fi nalidade de obter resultados satisfatórios e que garantam
o bem-estar no pré-parto e puerpério.
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303A importância da utilização do check-list de parto seguro na redução de riscos obstétricos e puerperais 2017 jul.-dez.; 11(2): 300-303
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Formatação do Artigo: a formatação deverá obedecer às
seguintes características: impressão e confi guração em folha A4
(210 X 297 mm) com margem esquerda e superior de 3cm e
margem direita e inferior de 2cm. Digitados em fonte Times New
Roman tamanho 12, espaço 1,5 entrelinhas, com todas as páginas
numeradas no canto superior direito. Devem ser redigidos em
português. Se for necessário incluir depoimentos dos sujeitos,
estes deverão ser em itálico em letra tamanho 10, na sequência
do texto. Citação ipsis litteris usar aspas na sequência do texto.
Autoria, Título e Subtítulo do Artigo: apresentar o título do
trabalho (também em inglês e espanhol) conciso e informativo,
contendo o nome dos autores (no máximo 6). No rodapé, deverá
constar a ordem em que devem aparecer os autores na publicação,
a maior titulação acadêmica obtida, fi liação institucional, onde
o trabalho foi realizado (se foi subvencionado, indicar o tipo de
auxílio, nome da agência fi nanciadora) e o endereço eletrônico.
Resumo: deverá ser apresentado em português, inglês
(Abstract) e espanhol (Resumen). Deve vir após a folha de rosto,
tipo informativo, limitar-se ao máximo de 250 palavras e deverá
conter: objetivo do estudo, procedimentos básicos (seleção dos
sujeitos, métodos de observação e análise, principais resultados e
as conclusões). Redigir em parágrafo único, espaço simples, fonte
10, sem recuo de parágrafo.
Palavras-chave: devem aparecer abaixo do resumo, conter
no mínimo 3 e no máximo 6 termos que identifi quem o tema,
limitando-se aos descritores recomendados nos Descritores em
Ciência da Saúde (DeCS) e apresentado pela BIREME na forma
trilingue, disponível à página URL: http://decs.bvs.br. Apresentá-
los em letra inicial maiúscula, separados por ponto. Ex: Palavras-
chave: Enfermagem hospitalar. Qualidade. Saúde.
Tabelas: as tabelas (fonte 10) limitadas a cinco no conjunto,
devem ser numeradas consecutivamente com algarismos
arábicos, na ordem em que forem citadas no texto, com a inicial
do título em letra maiúscula e sem grifo, evitando-se traços
internos horizontais ou verticais. Notas explicativas deverão ser
colocadas no rodapé das tabelas. Seguir Normas de Apresentação
Tabular do IBGE. Há uma diferença entre Quadro e Tabela. Nos
quadros colocam-se as grades laterais e são usados para dados
e informações de caráter informativo. Nas tabelas não se utilizam
as grades laterais e são usadas para dados analisados.
Ilustrações: qualquer que seja o tipo de ilustração, sua
identifi cação aparece na parte superior, precedida da palavra
designativa (Desenho, Esquema, Fluxograma, Fotografi a, Gráfi co,
Mapa, Organograma, Planta, Quadro, Retrato, Figura, Imagem,
entre outros), seguida de seu número de ordem de ocorrência
no texto, em algarismos arábicos, travessão e do respectivo
título. As legendas devem ser claras. Para utilização de ilustrações
extraídas de outros estudos, já publicados, os autores devem
solicitar a permissão, por escrito, para reprodução das mesmas.
As autorizações devem ser enviadas junto ao material por
ocasião da submissão. Figuras coloridas não serão publicadas.
As ilustrações deverão ser enviadas juntamente com os artigos
em uma pasta denominada fi guras, no formato BMP ou TIF com
resolução mínima de 300 DPI. A revista não se responsabilizará
por eventual extravio durante o envio do material.
Abreviações/Nomenclatura: o uso de abreviações deve ser
mínimo e utilizadas segundo a padronização da literatura. Indicar
o termo por extenso, seguido da abreviatura entre parênteses, na
primeira vez que aparecer no texto. Quando necessário, citar apenas
a denominação química ou a designação científi ca do produto.
Citações no texto: devem ser numeradas com algarismos
arábicos sobrescritos, de acordo com a ordem de aparecimento no
texto. Quando o autor é novamente citado manter o identifi cador
inicial. No caso de citação no fi nal da frase, esta deverá vir antes
do ponto fi nal e no decorrer do texto, antes da vírgula. Exemplo
1: citações com numeração sequencial “...de acordo com vários
estudos”1-9. - Exemplo 2: citações com números intercalados “...
de acordo com vários estudos”1,3,7-10,12. Excepcionalmente pode ser
empregado o nome do autor da referência como, por exemplo, no
início de frases destacando sua importância.
305Normas para publicação 2017 jul.-dez.; 11(2): 304-306
Agradecimentos: deverão, quando necessário, ocupar um
parágrafo separado antes das referências bibliográfi cas.
Referências: as referências devem estar numeradas
consecutivamente na ordem que aparecem no texto pela primeira
vez e estar de acordo com o “Estilo Vancouver” Requisitos
Uniformes do Comitê Internacional de Editores de Revistas
Médicas (International Committee of Medical Journal Editors –
ICMJE). Disponível em: http://www.nlm.nih.gov/bsd/uniform_
requirements.html e também disponível em: http://www.bu.ufsc.
br/ccsm/vancouver.html traduzido e adaptado por Maria Gorete
M. Savi (Coordenadora) e Helena Schmidt Burg. Os títulos dos
periódicos devem ser abreviados pela lista de abreviaturas de
periódicos da Index Medicus (base de dados Medline), que pode
ser consultado no endereço: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/entrez/
query.fcgi?db=journals sendo que coloca-se um ponto após o
título para separá-lo do ano. Exemplos: N Engl J Med. 2013. Para
abreviatura dos títulos de periódicos nacionais e latino-americanos,
consulte o site: http://portal.revistas.bvs.br eliminando os pontos
da abreviatura, com exceção do último ponto para separar do
ano. Exemplos: Femina., Rev Bras Reumatol., Rev Bras Hipertens.
Utilizar preferencialmente referências com menos de cinco anos
de publicação. Incluir também referências internacionais na
discussão, principalmente de textos publicados em periódicos
científi cos internacionais ou, se forem periódicos publicados no
Brasil, que sejam também indexados em bases internacionais.
EXEMPLO DE REFERÊNCIAS
Devem ser citados até seis autores, acima deste número, citam-
se apenas os seis primeiros autores seguidos de et al.
Livro Baird SB, Mccorkle R, Grant M. Cancer nursing: a comprehensive textbook. Philadelphia: WB. Saunders; 1991.
Capítulo de livroPhillips SJ, Whisnant JP. Hypertension and stroke. In: Laragh JH, Brener BM, editors. Hypertension: pathophysiology, diagnosis and management. 2nd ed. New York: Raven Press; 1995. p. 465-78.
Agência governamental como autorMinistério da Saúde (BR), Secretaria de Atenção à Saúde, Política Nacional de Humanização da Atenção e Gestão do SUS. Acolhimento e classifi cação de risco nos serviços de urgência. Brasília: Ministério da Saúde; 2009.
Autor (pessoa física) e organização como autoresVallancien G, Emberton M, Harving N, van Moorselaar RJ; Alf-One Study Group. Sexual dysfunction in 1,274 European men suffering from lower urinary tract symptoms. J Urol. 2003; 169(6):2257-61.
Artigo de periódico com mais de 6 autoresParkin DM, Clayton D, Black RJ, Masuyer E, Friedl HP, Ivanov E, et al. Childhood leukaemia in Europe after Chernobyl: 5 year follow-up. Br J Cancer. 1996; 73:1006-12.
Trabalho apresentado em congressoLorenzetti J. A saúde no Brasil na década de 80 e perspectivas para os anos 90. In: Mendes NTC, coordenadora. Anais do 41º Congresso Brasileiro de Enfermagem; 1989 set 2-7; Florianópolis, Brasil. Florianópolis: ABEn – Seção SC; 1989. p. 92-5.
Documentos jurídicosBrasil. Lei nº. 7.498, de 25 de junho de 1986. Dispõe sobre a regulamentação do exercício da enfermagem e dá outras providências. Diário Ofi cial da República Federativa do Brasil, 26 jun 1986. Seção 1, p.1.
Tese/DissertaçãoLipinski JM. A assistência de enfermagem a mulher que provocou aborto discutida por enfermeiros em busca de uma assistência humanizada [dissertação]. Florianópolis (SC): Programa de Pós-Graduação em Enfermagem/ UFSC; 2000.
Artigo em formato eletrônicoPolgreen PM, Diekema DJ, Vandeberg J, Wiblin RT, Chen YY, David S, et al. Risk factors for groin wound infection after femoral artery catheterization: a case-control study. Infect Control Hosp Epidemiol [Internet]. 2006 Jan [citado em 5 jan. 2007]; 27(1):34- 7. Disponível em: http://www.journals.uchicago.edu/ICHE/ journal/issues/v27n1/2004069/2004069.web.pdfAlves Júnior L, Rodrigues AJ, Évora PRB, Basseto S, Scorzoni Filho A, Luciano PM, et al. Fatores de risco em septuagenários ou mais idosos submetidos à revascularização do miocárdio e ou operações valvares. Rev Bras Cir Cardiovasc [Internet]. 2008 [citado em 06 out. 2016]; 23(4):550-5. Disponível em: http://www.scielo.br/ pdf/rbccv/v23n4/v23n4a16.pdf
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