reabilitação neuropsicológica no processo de neuroplásticidade
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ANHANGUERA EDUCACIONAL S.A.
Faculdade Anhanguera Dourados
Curso de Psicologia
CARLOS HENRIQUE RIBEIRO DA SILVA
REABILITAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA NO PROCESSO DE NEUROPLASTICIDADE
DOURADOS 2011
i
CARLOS HENRIQUE RIBEIRO DA SILVA
REABILITAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA NO PROCESSO DE NEUROPLASTICIDADE
Monografia apresentada, como exigência parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Psicologia, na Faculdade Anhanguera de Dourados, sob a orientação do Prof. Ms, Roberto Padim Silveira.
DOURADOS 2011
ii
Este trabalho é dedicado a minha família que
esteve junto a mim em todos os momentos na realização deste curso.
iii
AGRADECIMENTOS
Aos meus pais, por seu amor e carinho.
Aos meus irmãos, pois sem eles nada seria possível.
Aos professores, pela demonstração dos caminhos.
iv
“Não considere nenhuma prática como imutável. Mude e esteja pronto a mudar novamente. Não
aceite verdade eterna. Experimente." (Skinner,1969)
v
RESUMO
SILVA, Carlos Henrique Ribeiro. Reabilitação Neuropsicológica no
processo da Neuroplasticidade. 15/12/2011. 48 p. Trabalho de Conclusão
de Curso de graduação em Psicologia – Faculdades Anhanguera de
Dourados, Dourados, 2011.
A Neuropsicologia constitui-se em uma disciplina que visa compreender os
aspectos comportamentais relacionados com o dinamismo do sistema
nervoso, como também as implicações nos processos cognitivo-comportamentais causadas por mudanças no sistema nervoso. Nossas vias
neurais possuem a capacidade de reorganizar-se, adaptando-se as situações
do meio, lesões e a novos repertórios comportamentais. Tal capacidade é denominada de neuroplasticidade. Neste contexto o processo de reabilitação
neuropsicológica procura, através da restituição, substituição e/ou
compensação de aspectos cognitivo-comportamentais, obter um reflexo de mesmo modo no córtex cerebral, fortalecendo as vias sinápticas que
mantinham a ação que está sendo recuperada. Para tanto a Neuropsicologia
utiliza-se de técnicas advindas dos modelos terapêuticos cognitivo-
comportamental e comportamental. Este presente trabalho busca então compreender alguns aspectos pertinentes a relação intrínseca entre o
processo de neuroplasticidade e a prática em reabilitação neuropsicológica.
Palavras-chave: Reabilitação neuropsicológica, Neuroplasticidade, Neuropsicologia, Comportamento.
vi
ABSTRACT
SILVA, Carlos Henrique Ribeiro. Neuropsychological Rehabilitation in the
process of neuroplasticity. 15/12/2011. 48 p. Completion of course work
in undergraduate psychology– Faculdades Anhanguera de Dourados,
Dourados, 2011.
Neuropsychology is in a discipline that aims to understand the behavioral
aspects related to the dynamism of the nervous system, as well as the implications for cognitive-behavioral processes caused by changes in the
adapting to the situations os the means, injuries and new behavioral
repertoires. Such an ability called neuroplasticity. In this context the process of neuropsychological rehabilitation demand, through the restoration,
replacement and compensation aspects of cognitive-behavioral, get a
reflection of the cerebral cortex in the same way, strengthening the synaptic pathways that kept the action that is being recovered. Neuropsychology uses
for both techniques were coming from therapeutic models of cognitive-
behavioral and behavioral. This article seeks to understand some aspects
relevant then the intrinsic relationship between the process of neuroplasticity and practice in neuropsyuchological rehabilitation.
Keywords: Neuropsychological Rehabilitation, neuroplasticity, Neuropsychology, Behavior.
vii
SUMÁRIO
AGRADECIMENTOS ...................................................................................... 3
RESUMO .................................................................................................. 5
Introdução ............................................................................................... 8
Capítulo 1 – Reabilitação Interdisciplinar ........................................................ 11
1.1. A Neuropsicologia ........................................................................... 11
1.2. Cognição e Comportamento nos processos neuropsíquicos ............................ 12
1.3. Métodos da Avaliação neuropsicológica .................................................. 15
1.4. Reabilitação Neuropsicológica ............................................................. 21
1.5. Técnicas comportamentais na reabilitação neuropsicológica ......................... 23
Capítulo 2 – Plasticidade neural ................................................................... 33
2.1. O processo de Neuroplasticidade ........................................................... 33
2.2. Aspectos do processo de neuroplasticidade ............................................... 35
Capítulo 3 – Comportamento e Neuroplasticidade ............................................. 40
3.1. Cognição e emoção ............................................................................ 40
3.2. Reflexo neural .................................................................................. 41
Capítulo 4 – Considerações Finais ................................................................. 44
Referências ............................................................................................ 47
8
Introdução
A Neuropsicologia se apresenta como um considerável avanço das
neurociências em relação a cuidados para com indivíduos portadores de
disfunções e lesões neurais, pois abrange os aspectos pertinentes a relação
de processos psico-cognitivos a aspectos neurológicos na constituição
humana (PONTES e HÜBNER, 2008), de modo que ao analisar o
comportamento do sujeito em trauma, possibilita o levante do estado e do
grau de comprometimento da lesão cerebral em relação ao comportamento e
percepção do indivíduo, cujo qual, implica numa construção mais eficaz do
diagnóstico como também da reabilitação do paciente (WILSON, et al, apud
PONTES e HÜBNER, 2008).
O processo de reabilitação refere-se em amplitude, a uma
reconstrução sobre a vertente pelo qual o paciente se encontra, sendo que
estão envoltos, a participação de familiares (representando os aspectos
sócio-comunitários) como também de uma equipe multiprofissional, que
buscam através de suas formações técnicas peculiares, o modo a proceder
diante da modificação comportamental do paciente perante o seu quadro
patológico, bem como a formulação de um diagnóstico pontual a fim de
enfrentá-la obtendo o quadro concreto do paciente. Deste modo os
profissionais terão o indivíduo como ser uno e passível de implicações de
inúmeras variáveis producentes do estado neuropsíquico vigente, e assim
poderão buscar a programação de um novo quadro, em que se aceita a
realidade que se encontra, e concebe através do processo, as adaptações
necessárias, para no fim, obter-se a qualidade de vida adaptada as
peculiaridades do quadro (PONTES e HÜBNER, 2008).
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Neste contexto faz-se necessário a maleabilidade do atendimento ao
processo de reabilitação, onde não existem nuanças inteiramente
independentes dentro do processo de adoecer, quanto mais iguais de um
paciente para o outro, tendo, portanto a necessidade de observar o paciente
de forma global, percorrendo o caminho do fenômeno pelo fenômeno,
colocando a prova as técnicas empregadas e a eficácia destas em pacientes
dispares, onde assim, se fará presente no processo de reabilitação o
raciocínio clínico para enfim abordar de forma precisa o paciente
(SIMONETTI, 2004; PONTES e HÜBNER, 2008).
É importante destacarmos que em momento algum propomos
abandonar técnicas que estão muito bem fundamentadas e de grande
relevância em tratamentos de pacientes com traumas neurais, mas que, no
entanto há a necessidade de tomar caso por caso para aplicação de técnicas
no tratamento de reabilitação.
Neste liame entre Reabilitação neuropsicológica e Neuroplasticidade,
objetivo levantar os aspectos teóricos que direcionam a prática, como
também apresentar a confluência do trabalho Neuropsicológico em
acessório, ou melhor, intrínseco a terapia neurológica a reabilitação de
lesões neurais.
A Neuropsicologia é uma disciplina que engloba as funções do sistema
nervoso conjunturalmente a processos psico-cognitivos e comportamentais.
O ser humano pensa, emociona-se, interage, fala, memoriza, processos
quais que são invariavelmente constituídos, processados e enviados pelo
sistema nervoso. Do mesmo modo que tais processos neuropsíquicos são
elaborados no sistema nervoso, estes influem de forma integra na
acomodação e desenvolvimento das áreas tanto do sistema nervoso central
como do sistema nervoso periférico.
A neuroplasticidade corresponde então ao processo em que o sistema
nervoso se engaja, após a ocorrência de lesões, interrupções e disfunções
neurais, para reabilitar-se, e encontrar novas maneiras de se reconectar e
proporcionar a forma mais assertiva e possível para retomar seu
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desempenho através da modificação estrutural e funcional. De forma mais
objetiva, a neuroplasticidade é a capacidade de o encéfalo compreender e
modificar as conexões sinápticas (Estrutural) lesadas a partir de eventos
estressores, como também a adaptação comportamental (Funcional) a tais
eventos, sendo estes processos a fim de proporcionar um epilogo
acomodativo em regiões não afetadas, para assim iniciar a reestruturação e
o reaparelhamento psicofísico, comportamental e social.
Desta maneira, a Neuropsicologia se apresenta a fim de discutir a
interação dos aspectos psicológicos no funcionamento do sistema nervoso,
como também o movimento deste em direção a psique humana. E deste
propósito o diálogo procurará compreender a via da influência da
reabilitação neuropsicológica no processo neuroplástico.
11
Capítulo 1 – Reabilitação Interdisciplinar
1.1. A Neuropsicologia
A Neuropsicologia então, quanto área que aborda a inter-relação dos
diversos processos componentes no sistema nervoso com a complexidade
das atividades mentais e comportamentais visando alcançar funções
corticais superiores, como as percepções e a memória, assume o papel de elo
entre os diversos sistemas terapêuticos neurocientíficos (LURIA, 1981;
CUNHA, 2000; PONTES e HÜBNER, 2008).
Neste sentido as atuações de diversas áreas das neurociências são de
assaz relevância para o atendimento multifacetado dentro do processo de
reabilitação abordando aspectos cognitivos, linguísticos, psicoterápicos e
neuroplásticos. E, neste último, despenderemos maior atenção: a
neuroplasticidade. A neuroplasticidade configura-se na capacidade que o
sistema nervoso possui em alterar padrões estruturais e funcionais de
acordo com ocorrências internas ou externas, traumas ou adaptações de
ambiente (HAASE e LACERDA, 2004).
Nosso sistema nervoso possui um dinamismo que ainda não
compreendemos, talvez nem ao menos superficialmente, adaptando-se
gradativamente as exigências impostas, tanto por eventos privados quanto
por eventos externos, ou seja, as conexões neuronais são realizadas de
acordo com as áreas estimuladas em nosso encéfalo. Se eventos privados,
como as emoções, os sentimento e pensamentos entram em ação, a área do
cérebro correspondente estimula-se e assim procede a sucessíveis ações
sinápticas, onde então, tais vias são estimuladas. No entanto, opondo-se ao
12
ideário localizacionista vigente anteriormente dentro da neurologia, estas
vias possuem contato com as demais áreas cerebrais. Por exemplo, o
sistema límbico se conecta a formação reticular que por sua vez mantém
conexão com o córtex pré-frontal tendo conexões diretas ao tronco encefálico
por onde tramitam diversas enervaduras direcionadas ao restante do corpo e
onde são integrados diversos reflexos somáticos, tendo essas áreas então
influências nos processos das emoções que são reguladas pelo sistema
límbico (FUENTES e cols., 2008; HAASE e LACERDA, 2004; PONTES e
HÜBNER, 2008; SKINNER, 1974).
1.2. Cognição e Comportamento nos processos neuropsíquicos
O estudo e a investigação da relação entre comportamento e processos
cerebrais advêm de longo tempo, desde muito antes de cristo pelos egípcios
até o interesse manifesto pelos astecas em cirurgias neurais (FUENTES e
cols., 2008). A atenção a cognição no indivíduo e sua interrelação com o
sistema nervoso também desperta interesse a muito tempo. Os processos
cognitivos racionais que configuram-se na percepção de variáveis,
planificação e execução futura de acordo com um objetivo pré-determinado,
propõe uma manifestação sináptica. (FUENTES e cols., 2008; FONSECA,
2008). De mesmo modo que as variáveis do meio que norteiam os processos
cognitivos, a ordenação de idéias e os pensamentos se modificam, as
conexões neurais se adaptam para enquadrar-se aos novos processos
racionais e interacionais (FONSECA, 2008; HAASE e LACERDA, 2004).
A Neuropsicologia estrutura-se então nesta transversalidade dos
aspectos cognitivo-comportamentais com a recíproca influência da atuação
do sistema nervoso. É tal encontro que alimentou a formulação das técnicas
de avaliação e reabilitação neuropsicológica. Planejar o decurso das diversas
ações, execuções e calcular seus prováveis efeitos, coordenando assim, sua
inibição ou sua realização, assim como transcrevê-las em símbolos, faz parte
dos processos superiores da cognição humana, disponibilizados pelo
13
desenvolvimento de nosso sistema nervoso (FONSECA, 2008; FUENTES e
cols., 2008).
O sujeito humano executa movimentos, anteriormente planejados, que
nenhuma outra espécie é capaz de realizar. Configurar pensamentos em
ação, atravessando um processo de analise de variáveis e identificação dos
caminhos possíveis exige uma aparelhagem neural que tenha inúmeras
conexões, atendendo assim, aos diversos processos que constituem um
pensamento – idéia – e sua concretização. A região pré-frontal do encéfalo é
responsável pelo raciocínio, por tal planejamento. No entanto ela conecta-se
as demais regiões cerebrais para concluir os processos psíquicos ali
manejados. Assim quando um sujeito irá realizar uma atividade motora,
como uma atividade física, ela é postulada na parte frontal do cérebro,
estimulando outras áreas límbicas que desencadearão sinapses em regiões
motoras, como as regiões reticulares, cerebelares, sistemas piramidais entre
outras, que executarão as ferramentas motoras necessárias para execução
do exercício (BARBIZET, 1985; FONSECA, 2008).
Desta forma o construto de um processo psíquico está diretamente
correlacionado a ações organicistas, a movimentos do sistema nervoso, que
permite a elaboração de processos superiores e execução posterior. Uma
disfunção em quaisquer umas das esferas – neurológicas ou psíquicas –
possivelmente acarreta uma falha sistêmica de acordo com a intensidade da
disfunção, sua causa e retardo no tratamento (FUENTES e cols., 2008).
Dentro de um panorama cognitivista uma disfunção pressupõe uma
causa primeira advinda de diversos pensamentos e crenças distorcidas, que
possuem a capacidade de moldar o humor e o comportamento do indivíduo,
deformando assim, sua percepção da realidade (ABREU e cols., 2004). Pode
entender-se por crenças, segundo Beck (1976 apud ABREU e cols., 2004), o
intento que possuímos em relação a nós mesmos e ao ambiente que nos
cerca, configurando assim, uma formação de valores que apresentamos
estruturados em nossa experiência pessoal. São a partir das crenças que
nascem os pensamentos e os posteriores comportamentos.
Conhecendo então a parilidade das ações psicológicas com os
processos neurológicos, as disfunções cognitivas levam a modificações
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neurais, como também déficits neuropsíquicos repercutem em alterações
cognitivas – comportamentais.
Por exemplo, se um indivíduo concentrado em alguma atividade
(estudando) leva um susto. As vias sensoriais são excitadas. Como estava
concentrado, sua percepção era de um ambiente relativamente tranquilo.
Seu sistema nervoso estava demandando sinapses para áreas pré-frontais e
giros laterais responsáveis por atividades finas.
A partir do momento em que leva o susto seu ambiente relativamente
tranquilo é desconfigurado por um elemento estressor. Imediatamente sua
percepção captura os sinais de tal mudança através das vias sensoriais
modificando assim o comportamento que o indivíduo mantinha. Esta
alteração demanda ao cérebro uma rápida mudança, onde ele deve estimular
então, vias de reação, acionar sistemas motores e liberação de hormônios
proporcionais a tais ações como a adrenalina. Ocorrendo tal modificação o
indivíduo então, encontra-se agora em um estado de alerta. Desta forma,
uma modificação ambiental provoca uma modificação comportamental
concomitantemente a uma modificação temporária neural. De mesmo modo
acontece com comportamentos, pensamentos disfuncionais ou déficits
neurológicos. Quanto maior for a alteração nestas esferas e quanto mais
duradora for, maior será o reflexo nas demais (ABREU e cols., 2004;
FONSECA, 2008; PONTES e HÜBNER, 2008).
Deste modo, a observação das modificações nas esferas psíquicas e
neurológicas é salutar, tendo em fim a eficaz discriminação do processo
neuropsicopatológico, a formulação de hipóteses diagnósticas, e concepção
precisa dos comportamentos apresentados pelo paciente. Além da
identificação concisa da disfunção, acrescenta-se à adjacência desta, a
construção de um plano de tratamento de igual eficácia e precisão (PONTES
e HÜBNER, 2008). O advento de um pensamento disfuncional que resulta
em um aumento substancial de estresse, leva ao sistema nervoso a
movimentar neurotransmissores que mantêm tal estado, há então uma
tendência estressora também no encéfalo. Tal processo patológico também
pode ocorrer por ordem inversa. Portanto, a identificação das crenças
centrais do paciente, como também a identificação dos distúrbios
15
neurológicos através das técnicas específicas da área, como os exames de
neuroimagem, são de grande relevância no diagnóstico. A utilização de
técnicas da terapia cognitiva-comportamental, viés cujo a Neuropsicologia
caminha, é de grande importância (ABREU, 2004; BECK, 1976 apud ABREU
e cols., 2004; FUENTES e cols., 2008).
1.3. Métodos da Avaliação neuropsicológica
Obtendo então, informações sobre o estado neurológico do indivíduo,
utiliza-se de técnicas cognitiva – comportamentais para identificar as
disfunções psicológicas que são reflexos (ou mesmo causas) da
disfuncionalidade neural (FUENTES e cols., 2008; HAASE e LACERDA,
2004; PONTES e HÜBNER, 2008). Segundo Anastasi e Urbina (2000 apud
FUENTES e cols., 2008), um teste psicológico constitui-se como “... uma
medida objetiva e padronizada...” de uma amostra comportamental do
sujeito, ou seja, um teste não poderá demonstrar toda gama de variações
comportamentais presente mais poderá analisar um comportamento
presente e relevante a partir de sua própria amostragem. Terá como
pressuposto a quantificação de comportamentos presentes em determinado
grupo controle; seu papel então será de identificar, nesses comportamentos,
diferenciações de comportamentos apresentados por um grupo-controle
integrante de determinada cultura e credor de características peculiares
(ABREU e cols., 2004; FUENTES e cols., 2008).
Sendo assim, as técnicas empregadas em uma avaliação só terão
validade dentro de um determinado contexto e um determinado objetivo.
Apenas um resultado não pode assegurar um psicodiagnóstico, muito menos
sua representação neural (FUENTES e cols., 2008; LOPES, 2006). A
Neuropsicologia visa identificar os comportamentos e pensamentos
desadaptativos que alteram padrões neurológicos de funcionamento, ou seja,
preocupa-se em identificar a extensão e o grau de impacto sócio-emocional,
comportamental e cognitivo causado por um dano sofrido no sistema
nervoso (LOPES, 2006; NAVATTA et al, 2009).
16
Por tanto a utilização de testes cognitivos comportamentais para a
realização da avaliação se faz de grande importância. Um dos métodos
utilizados para tal avaliação encontra-se nas técnicas de analise de perfil
baseadas na escala de Wechsler. Tal escala compreende na utilização de
onze subtestes, compilados em duas grandezas diferenciadas: verbal e de
desempenho. Na escala verbal, os testes compreendem a avaliação de
informação, compreensão, aritmética, semelhanças, amplitude de números e
vocabulário. No caso da escala de desempenho, os testes consistem em
Símbolo de números, completação de figura, desenho de cubos, organização
de figura e reunião de objetos (ANASTASI, 1977). Importante salientar que
tais testes são adaptativos aos conhecimentos da cultura cujo indivíduo está
inserido.
O primeiro item correspondente a informação, acomoda-se em vinte e
nove questões de conhecimentos gerais, os quais adultos tiveram
oportunidades de apreciar na cultura que estão inseridos; tem por objetivo
avaliar o nível intelectual que o indivíduo apresenta como também sua
orientação prática e seu contato com informações de seu meio. Danos no
córtex pré-frontal e mesmo no lobo occipital e no tronco encefálico (alteração
na percepção e nos sentidos) podem afetar a capacidade de armazenar e
interpretar conhecimentos (ANASTASI, 1977; FUENTES e cols., 2008;
FONSECA, 2008).
O exame seguinte correspondente a compreensão, em um grau
crescente de dificuldade na escala Wechsler, compreende a quatorze itens
onde o indivíduo deve responder o que deve ser feito em determinadas
situações, quais são as atitudes a serem seguidas, quais são os significados
de conteúdos conotativos. Tem por objetivo avaliar o julgamento prático e o
senso comum; alterações nos núcleos de base, no sistema límbico e na área
dorso lateral do lobo frontal podem causar alterações na compreensão de
processos discriminativos e no raciocínio, como também na memória de
curto prazo (ANASTASI, 1977; FUENTES e cols., 2008).
Observando o raciocínio e velocidade de resposta, temos o teste
aritmético que consistem em apresentar oralmente quatorze problemas
matemáticos de nível primário para o indivíduo responder sem uso de papel
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e lápis; lesões no córtex cerebral afetam o conhecimento e o raciocínio lógico-
matemático (ANASTASI, 1977; FUENTES e cols., 2008; FONSECA, 2008).
O item denominado semelhanças propõe a apresentação de treze
elementos onde o indivíduo deve demonstrar como duas coisas são
semelhantes; traumas em áreas secundárias que processam informações
que posteriormente serão utilizadas em mecanismos de memória, emoção e
motricidade acarretam dificuldades em parear objetos e situações
(ANASTASI, 1977; FUENTES e cols., 2008).
Ainda pelo viés da avaliação do raciocínio e memorização, a amplitude
de Números, apresenta oralmente uma série de três a nove números, que
devem de igual maneira, ser reproduzida em primeiro momento. Em um
segundo momento o indivíduo deverá reproduzir, de trás para frente, séries
de dois a oito números. Por fim, o item vocabulário, onde são apresentadas
quarenta palavras oral e visualmente, tendo o sujeito a incumbência de
oferecer o sentido a cada uma delas (ANASTASI, 1977).
Quanto a grandeza de desempenho, tem-se seu início com os símbolos
de números, compreende na utilização de nove símbolos que se
correspondem a nove números, e o indivíduo tem um minuto e trinta
segundos para parear os símbolos com seus números correspondentes.
A Completação de figura, constitui na apresentação de vinte e um
cartões com figuras que faltam alguma parte; a avaliação consiste em o
indivíduo responder quais são as partes faltantes de cada figura.
O desenho de cubos propõe a apresentação de cubos com os lados
pintados de vermelho, branco, e branco e vermelho, onde o testado terá de
montar figuras de dificuldade crescente. De mesmo modo o teste organização
de figura consiste em apresentar diversos cartões contendo figuras para que
o indivíduo os organize de modo a contar uma história. O último teste é a
reunião de objetos onde se deve reunir objetos pares, que se assemelhem ou
que detenham alguma correlação (ANASTASI, 1977).
Estes onze subtestes que foram propostos para avaliação do
coeficiente de inteligência, mensuram aspectos como memória curta e de
longo prazo, raciocínio, percepção sensório-espacial, psicomotor, intelectual,
capacidade de compreensão e capacidade de interpretação; a identificação de
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déficit em tais processos neuropsíquicos demonstra alterações no sistema
nervoso em regiões correspondentes, nas quais é interrompido o fluxo
sináptico (ANASTASI, 1977; FUENTES e cols., 2008).
Ainda, áreas afetadas por lesões podem não representar efetivamente a
localidade exata destas. Por exemplo, uma lesão no giro pós-central, que
representa a área somatossensorial – pressão, tato, dor, propriocepção –
provoca dificuldade sensorial no indivíduo, característica passível de
identificação nos subtestes da escala de Wechsler. No entanto, uma
alteração em um dos componentes tronco encefálico (ponte, bulbo,
mesencéfalo), onde perpassam dez dos doze pares de nervos cranianos, que
tem por função a regulação sensorial, motora, e visceral da cabeça e do
pescoço, pode interromper os processos na área somatossensorial,
apresentando assim, os mesmo sintomas (BARBIZET, 1985; FONSECA,
2008; FUENTES e cols., 2008).
A partir da escala de Wechsler - como também a de Binet - foram
disseminados os aspectos para avaliação clínica, pois, ela possibilita o
apontamento de três processos que auxiliam com grande valor o
procedimento diagnóstico: mensuração da quantidade de dispersão, análise
dos padrões de resultados e o cálculo do índice de deterioração (ANASTASI,
1977).
A dispersão é compreendida pelo grau de variação dos resultados do
indivíduo em relação a média obtida nos onze subtestes, ou seja, calcula-se
um desvio médio com tais parâmetros mediais do resultado obtido. Quanto
maior for o desvio médio maior serão os indicativos da presença de
neuropsicopatologias ou alterações neurais. Para tanto, tais indicativos
podem apresentar-se por aspectos diferenciados, como, por exemplo, a
diferenciação de idade. Wechsler desenvolveu o índice de deterioração para
compreender as perdas em subtestes que exigem características de
raciocínio rápido, motricidade, para outros que exigem memorização e
percepção sensorial. As diferenças apresentadas em tais áreas podem não
apresentar uma patologia, haja vista, o desempenho regular do indivíduo em
subtestes cujos aspectos avaliados são outros.
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Portanto, Wechsler discriminou os subtestes que avaliam
características duradouras - que se mantêm presentes mesmo com
mudanças de características biopsicológicas - de características provisórias,
que podem ser alteradas por múltiplos fatores formulando assim uma
margem de distanciamento, uma perda diferencial comparada a um grupo-
controle (ANASTASI, 1977).
A escala de Wechsler (como também a de Binet) foi de grande
relevância para o desdobramento de inúmeros testes cognitivos e de
avaliação de deterioração intelectual. Através de tais métodos pode-se obter
uma avaliação do estado neuropsicológico do sujeito em trauma, ou mesmo,
apresentar vestígios de efeitos que situações estressoras podem causar no
sistema nervoso. Testes como o Bender, Galveston, e a escala Rancho
(GOUVEA et al, 2009), podem oferecer a extensão do efeito neuropsicológico
após eventos estressores influentes ao sistema nervoso. Sendo assim, as
técnicas de neuroimagem também foram de alta relevância para a
construção diagnóstica em Neuropsicologia (ANASTASI, 1977; FUENTES e
cols., 2008).
Assim a avaliação procura identificar o grau de impacto, o quão a
interferência no sistema nervoso influenciou em processos cognitivo-
comportamentais, e como é possível reverter o quadro e/ou adaptar o
paciente a seu estado clínico e sua vida (BARBIZET, 1985; FUENTES e cols.,
2008; PONTES e HÜBNER, 2008; NAVATTA et al, 2009).
Os indicativos cognitivo-comportamentais de uma lesão neural, ou
mesmo de alguma interposição seja ela de ordem ambiental, social, orgânica
(referente a outras localidades do corpo) - denominadas de secundárias - que
afetem o sistema nervoso são por vezes evidentes como no caso das afasias,
dos delírios e apatias, portanto mais simples de serem identificadas. No
entanto, há indícios de alterações cognitivo-comportamentais que não se
apresentam de forma tão clara, como mudanças de comportamento e
sentimentos semelhantes a sintomatologia da depressão e irritabilidade
(BARBIZET, 1985; FUENTES e cols., 2008). Para tanto, uma avaliação
neuropsicológica devem conter não somente dados de testes cognitivo-
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intelectuais, tão pouco somente informações da localização das alterações
feitas pelos exames de neuroimagem (ressonância magnética e tomografia).
O profissional de Neuropsicologia deve compreender os aspectos
psicossociais e culturais do indivíduo, realizando assim uma avaliação
completa que atenda objetivos determinados para a futura reabilitação do
paciente (FUENTES e cols., 2008; PONTES e HÜBNER, 2008).
Tais objetivos consistem, segundo Fuentes e cols. (2008) em: auxilio
diagnóstico, onde o visa identificar qual o problema e de que forma ele se faz
presente no paciente e qual sua extensão; formulação prognóstica, a fim de
propor o direcionamento da reabilitação, sendo em um atendimento
multidisciplinar ou clínico, qual o impacto do evento na vida do paciente, a
influência do contexto na qual o indivíduo vive para o quadro clínico e quais
as técnicas mais eficazes para a recuperação do caso; orientação para o
tratamento, este objetivo é o de maior síntese à avaliação neuropsicológica,
pois, ao estabelecer a correlação entre as alterações psicocomportamentais
com as interfaces cerebrais proporcionam um cerco à patologia e seu
impacto, esquadrinhando e demarcando as desordens vigentes em ordem
hierárquica, contribuindo assim para a terapia das demais áreas integrantes
do tratamento multidisciplinar; auxilio para planejamento da reabilitação,
necessário em quaisquer quadros que influenciam no modo de vida do
paciente.
A avaliação neuropsicológica realiza um mapeamento dos déficits
comportamentais, cognitivos, emocionais e sociais, portanto identificando
recursos para reabilitar o paciente em tais esferas ou minimizar os danos
que nelas a desordem pode causar; seleção de paciente para técnicas
especiais, em casos que intervenções específicas a determinados traumas
podem afetar campos cognitivo-comportamentais, o profissional realizará
uma análise minuciosa discriminando pacientes nos quais a intervenção
proporcionaria maior quantidade de ganhos do que de perdas.
Desta maneira a avaliação mostra-se uma ferramenta indissociável do
processo de reabilitação neurológica para indivíduos que apresentem déficits
cognitivos e/ou para auxílio diagnóstico de casos de desordens
neuropsíquicas. A avaliação neuropsicológica atendendo a demanda de
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pacientes com interferências primárias ou secundárias no sistema nervoso,
visando o grau da extensão dessas nos âmbitos cognitivo e comportamental,
intervém ainda através de técnicas da terapia cognitivo-comportamental
proporcionando a reabilitação neuropsicológica do indivíduo (FUENTES e
cols., 2008).
1.4. Reabilitação Neuropsicológica
A reabilitação neuropsicológica consiste em proporcionar ao paciente
uma recuperação dos déficits cognitivo-comportamentais e auxiliar na
recuperação neural compondo estímulos ao processo de neuroplasticidade
(BARBIZET, 1985; FUENTES e cols., 2008). O cunho da prática em
reabilitação neuropsicológica deve atender ao ganho funcional que será
proporcionado ao indivíduo. As desordens cognitivas e comportamentais
influem no modo de vida do indivíduo, e a reabilitação consiste em
proporcionar caminhos para que ele retorne a sua rotina, ou mesmo adquira
novas perspectivas que atendam suas necessidades adaptativas referentes
ao quadro clínico (FUENTES e cols., 2008; HAASE E LACERDA, 2004;
LURIA, 1984).
Para tanto, um passo fundamental para a reabilitação encontra-se na
realização da anamnese durante a avaliação neuropsicológica. Colher
informações do meio sociocultural do paciente e de sua família, como
também identificar temas que o interessem, que estimulem sua
perseverança e disciplina no tratamento, e de algum modo lhe proporcionem
prazer (como por exemplo, técnicas que utilizem a música, para um paciente
que tenha familiaridade com o tema) farão com que haja um fluxo sináptico
maior e um direcionamento também maior da atenção do paciente para a
terapia proporcionando resultados mais rápidos (FUENTES e cols., 2008).
Deste modo, juntamente com o paciente e seus familiares, o
profissional irá elencar quais são as necessidades primeiras do paciente a
fim de iniciar os processos de restituição, substituição e compensação -
descritos por Zangwill (1947 apud HAASE e LACERDA, 2004) como
22
princípios a serem atendidos durante a reabilitação. A importância de
elencar juntamente com o paciente as necessidades primeiras dele, responde
a demanda de focar na funcionalidade o processo de reabilitação. O paciente
em mínimas condições de consciência irá demonstrar quais são suas
necessidades primeiras dentro do processo reabilitativo (FUENTES e cols.,
2008; LURIA, 1984).
Estas necessidades devem ser programadas como objetivos a serem
alcançados, dividindo em curto, médio e longo prazo. As atividades e tarefas
poderão ser estipuladas de forma mais clara, a fim de atingir resultados
maiores, nortear o tratamento e facilitar uma avaliação do alcance da
perspectiva dirigida ao tratamento. Escolhido os objetivos e após dispô-los
em ordem hierárquica, serão selecionados os métodos de intervenção
congruentes com a perspectiva formulada e assim estipular o cronograma
para a finalização. Segundo Fuentes e cols. (2008) os métodos interventivos
mais utilizados na prática em Neuropsicologia são o treino cognitivo, a
abordagem compensatória (um dos princípios descritos por Zangwill, (1947
apud HAASE e LACERDA, 2004)) e técnicas das duas abordagens utilizadas
simultaneamente.
A primeira consiste na identificação dos pontos cognitivos deficitários,
como o percepto-sensorial, a memória e raciocínio, e formulação de
exercícios sequentes. Entenda-se por exercícios, segundo a descrição da
Canadian Association of Occupational Therapists relatada por Sancler
Andrade (et al, FUENTES e cols., 2008, p. 385) como um conjunto de
atividades com um objetivo bem especificado e com aumento gradativo de
dificuldade, tomando como critério aspectos como velocidade de execução,
qualidade da função executada, os estímulos presentes durante o exercício,
entre outros.
Os exercícios consistiram em atividades com papel, lápis, jogos,
atividades com computador, pranchas com figuras, jogo de palavras e
quaisquer outros mecanismos direcionados aos objetivos que estimulem as
áreas cognitivas-neurais afetadas, contanto que tenham o caráter
generalizado, ou seja, que os processos desenvolvidos e estimulados através
dos exercícios possam ser utilizados em sua vida prática. Esta abordagem
23
ainda constitui-se em um grande aliado ao processo de neuroplasticidade,
pois, estimula as vias neurais à reorganização a fim de devolver as funções
possíveis de áreas lesadas criando novas conexões sinápticas (ABREU e
cols., 2004; FUENTES e cols., 2008).
A abordagem compensatória corresponde em reorganizar os hábitos
através das características e capacidades do paciente que se mantiveram
intactas, porquanto adaptadas para suprir as funções que foram afetadas. O
neuropsicólogo irá, juntamente com o paciente, procurar soluções práticas e
formular estratégias que substituam a característica perdida,
proporcionando recursos para que tais atividades sejam realizadas e/ou a
formulação de outras cujas funções deficitárias não sejam um empecilho.
Ferramentas fora do âmbito terapêutico podem ser utilizadas para auxiliar
no processo compensatório, como bloco de notas e objetos sinalizadores
(FUENTES e cols., 2008).
Algumas das ferramentas mais utilizadas nesta abordagem são: ensaio
e antecipação, que consiste em repetir em voz alta as atividades que precisa
realizar ou lembrar e depois testas os recursos disponíveis antes de efetivá-
la; estratégia de processamento, o paciente prioriza e planeja as atitudes a
serem tomadas etapa por etapa; e uso do ambiente externo, o indivíduo
treina suas habilidades desenvolvidas no tratamento em um ambiente que
lhe seja familiar ou dramatiza situações a fim de auxiliar o processo de
generalização das habilidades (FUENTES e cols., 2008).
1.5. Técnicas comportamentais na reabilitação neuropsicológica
Além de técnicas cognitivo-comportamentais utilizadas no tratamento
são utilizadas técnicas do behaviorismo skinneriano na reabilitação
neuropsicológica. Segundo Wilson (2003, apud PONTES e HÜBNER, 2008)
as técnicas comportamentais de modelagem, encadeamento de trás para
frente, reforçamento positivo, condicionamento operante e reversão de
hábitos são utilizadas constantemente. A utilização de técnicas behavioristas
na reabilitação neuropsicológica atende, de forma íntegra, o que diz respeito
24
a funcionalidade e os três princípios da reabilitação: restituição, substituição
e compensação. As técnicas são de grande variedade tanto para alteração de
comportamento como para a aquisição de novos, como também passível de
utilização em uma gama considerável de casos e, as tarefas e exercícios a
serem realizados são de fácil compreensão (HAASE e LACERDA, 2004;
PONTES e HÜBNER, 2008).
O processo de modelagem é extensivamente utilizado. Sua proposta é
da ampliação do repertório comportamental do paciente através da aquisição
de novas respostas a diferentes estímulos já evidenciados. Através da
avaliação o profissional compreenderá quais são os déficits de maior
relevância para o paciente, podendo assim intervir com a técnica de
modelagem de modo preciso e satisfatório (HAASE e LACERDA, 2004;
ABREU e cols., 2004).
A técnica consiste em estimular os comportamentos que desejam
serem adicionados ao repertório do indivíduo, ou seja, provoca-se uma
situação na qual uma das respostas possíveis ao evento seja o
comportamento pretendido. Cada vez que o sujeito emitir tal resposta ele
será estimulado, o contrário das demais respostas que não terão estímulos
algum, deste modo, fazendo com que o comportamento reforçado se repita.
Na aplicação desta técnica, as respostas desejadas vão sendo reforçadas de
acordo com seu surgimento. Assim, cada resposta aproximada ao
comportamento desejado também será reforçada, sendo denominado de
aproximação sucessiva. Quanto mais complexo o comportamento que se
deseja alcançar, maior o uso da aproximação sucessiva, tendo em vista o
grau de dificuldade e quantidade de processos envolvidos na obtenção do
comportamento (ABREU e cols., 2004).
Desta forma, através da modelagem com aproximações sucessivas, o
indivíduo então, tem a possibilidade de desenvolver não somente uma
resposta desejada, mais sim uma classe desta. Classe, segundo Skinner
(1974), corresponde a um conjunto de resposta que possuem características
em comum. Tendo em vista que em uma situação estressora no sistema
25
nervoso que afete uma determinada área, pode manifestar o reflexo em
outra, visto que o sistema nervoso trabalha para o mesmo comportamento
de diferentes pontos do córtex cerebral, podendo assim representar o déficit
de modo indireto, em outros processos mentais e comportamentais
(FUENTES e cols., 2008; HAASE e LACERDA, 2004; THIERS, 2005).
Reforçando uma resposta componente de uma classe, as demais serão
reforçadas, aumentando o repertório comportamental do sujeito e
contribuindo relevantemente ao processo de neuroplasticidade, quanto ao
fortalecimento de outras vias sinápticas para acessar as funções afetadas
(ABREU e cols., 2004; FUENTES e cols., 2008; HAASE e LACERDA, 2004;
THIERS, 2005).
Segundo Abreu (e cols., 2004) a modelagem terá maior sucesso se os
reforçamentos forem feitos apenas em comportamentos pertencentes às
classes que se deseja instituir, as quais foram previamente determinadas
juntamente com o paciente, aumentando assim o repertório de resposta,
adaptando o sujeito a nova situação e deixando suas atividades passíveis de
serem realizadas através de ações mais funcionais.
Uma técnica também bastante utilizada quanto ao desenvolvimento de
comportamentos pertencentes à mesma classe, é o encadeamento de trás
para frente, diferindo que, os comportamentos formam uma sequência de
estímulos, uma cadeia que a resposta deve ser enunciada em ordem uma
por vez e cada resposta seguinte reforça a próxima. Uma sequência
determinada de estímulos discriminativos produzirá determinadas respostas
que, por conseguinte reforçarão a produção das respostas futuras. Na
técnica de encadeamento de trás para frente, tal cadeia ocorre de trás para
frente, ou seja, opera-se no paciente a técnica iniciando o desenvolvimento
da cadeia comportamental pelo seu fim (ABREU e cols., 2004).
Auxiliar a desenvolver um processo comportamental de trás para
frente é de grande eficácia na aquisição de comportamentos complexos e que
demandam muitas ações. Segundo Maria Hübner (ABREU e cols., 2004),
aprender o processo de trás para frente faz com que os passos primeiros
26
sejam associados diretamente a conclusão do processo, ou seja, sem a
presença deles não será possível alcançar o resultado. Por exemplo,
arrumando a casa, sua última tarefa consiste em colocar o tapete; para
tanto, antes o chão teve de ser varrido e encerado. Na técnica de
encadeamento de trás para frente, o indivíduo irá começar a adquirir a
execução da tarefa de colocar o tapete; quando aprender tal tarefa passará a
seguinte que - dentro da cadeia é antecessor a colocar o tapete –
corresponde a encerar e, por conseguinte varrer. Deste modo quando o
indivíduo varrer o chão, tal ato se configurará em um estímulo para encerar
o chão e posteriormente colocar o tapete (estímulos aprendidos
anteriormente).
Uma técnica utilizada tanto na abordagem comportamental quanto na
cognitivo-comportamental, por ser à base de diversas outras técnicas e estar
em meio a inúmeros procedimentos é o reforçamento positivo. O
reforçamento positivo constitui-se em um evento que reforce a resposta
emitida a determinado estímulo, inserido independente do contexto
estímulo-resposta (SKINNER, 1938 apud ABREU e cols., 2004). Skinner
(1970) utiliza o termo reforçamento para deixar, de forma clara e concisa,
que o evento reforçador proporciona a repetição da resposta, ou seja, a
resposta após a ocorrência do reforçamento positivo tende a se repetir com
maior freqüência e de modo mais consistente.
A utilização do reforçamento positivo tem seu início no primeiro
contato do profissional com o paciente. O sujeito em estado de debilidade
física e psíquica tende a estimular-se, ante a qualquer possibilidade de
alívio, reabilitação ou reestruturação de seu quadro clínico, sendo então, a
figura do terapeuta um reforçador positivo por figurar na posição de agente
auxiliador (CUNHA, 2000; SKINNER, 1970). Para tanto o profissional deve
proporcionar a criação do vínculo com o paciente, para que este atenda a
metodologia proposta e que se sinta motivado ao seguimento do tratamento.
O paciente encaminhado a um atendimento neuropsicológico
encontra-se em condição aversiva devido a déficits neurais, por isso é de
27
sumária importante a obtenção do vínculo terapeuta-paciente, para que
realmente, este último, sinta-se motivado e que compreenda os efeitos que a
reabilitação neuropsicológica irá proporcionar na recuperação do sistema
nervoso (FUENTES e cols., 2008).
O reforçamento ocorre após cada passo atingido pelo paciente no
programa de reabilitação. No início do tratamento o reforçamento ocorre de
forma contínua. A cada resposta desejada emitida, o reforçador se faz
presente, sendo este qualquer evento que motive o indivíduo a repetir a
resposta – um gesto de afago, um estímulo verbal, a possibilidade de realizar
uma atividade que lhe dê prazer, entre outros – de mesmo modo utilizado na
técnica de modelagem, reforçando as aproximações ao comportamento
desejado (ABREU e cols., 2004). No entanto, para tornar o comportamento
mais consistente no repertório do indivíduo, a partir de um dado momento
do tratamento o reforçamento deve ser intermitente. O reforçamento
intermitente consiste em ora apresentar o reforçamento quando a resposta
for emitida e ora, mesmo com a emissão desta, o reforçamento ser extinto. O
reforçador então será inserido no conjunto estímulo-resposta entre
intervalos de tempo. Se a taxa de satisfação for maior que os intervalos onde
a resposta é executa sem reforço, o indivíduo tende a repetir de forma mais
incisiva e será mantida por períodos de longa duração (ABREU e cols., 2004;
SKINNER, 1970, 1974).
O reforçamento intermitente proporciona ainda, maior eficácia na
repetição de uma classe de respostas a partir da estimulação de apenas uma
delas. A técnica fará com que o sujeito emita respostas pares à estimulada a
fim de obter o reforçador (ABREU e cols., 2004).
A utilização do esquema de reforçamento contínuo, se em excesso,
pode ser prejudicial ao tratamento, tendo em vista que, o indivíduo pode
ficar dependente ao reforçamento para emitir o comportamento. Condiciona-
se o indivíduo para que o comportamento figure em seu repertório na
existência ou não da presença direta do reforçador. Se a interdependência do
comportamento ao estímulo ficar em evidência, o sujeito passa a sentir-se
28
incapaz de assumir o comportamento por sua vontade, sem a presença do
reforçador (SKINNER, 1974). De mesmo modo ocorre com as vias neurais
estimuladas pelo comportamento aprendido. Todo comportamento gera uma
gama de manifestações neurofisiológicas no indivíduo.
Tendo o comportamento sido condicionado a se apresentar somente na
presença do reforçador, a vias neurais também serão estimuladas somente
com a presença deste, pois do contrário, os processos neuropsíquicos
estarão em estados rebaixados sem a execução do comportamento por
ausência do reforço. Uma resposta comportamental emitida gera uma
resposta neurológica, cuja qual com a repetição da primeira, tende a
repetição e estimulação do conjunto de vias neuronais componentes da
produção do comportamento, sendo que, a não execução por falta do
reforçador causa a estagnação (ou mesmo o atrofiamento de acordo com o
caso) e o distanciamento do comportamento da classe de respostas
pretendidas (FUENTES e cols., HAASE e LACERDA, 2004; HEBB, 1949).
Segundo Madi (ABREU e cols., 2004), as contingências de
reforçamento positivo são de grande relevância para a aquisição de
consistência do comportamento, “são fundamentais para garantir o
fortalecimento de comportamentos, promover o aumento da variabilidade
comportamental e produzir sentimentos de autoestima e autoconfiança.”
(ABREU e cols., 2004, p. 53), sendo uma grande ferramenta para
desenvolvimento de processos neuropsicológicos. Durante a reabilitação o
terapeuta que mantêm-se atento as peculiaridades apresentadas pelo
paciente, dispõe então de reforçadores que possam existir no ambiente
natural, ofertando então continuidade ao processo replicado no espaço
terapêutico.
Outro método bastante utilizado na prática em reabilitação
neuropsicológica é denominado de reversão de hábitos. Este método consiste
na substituição de hábitos configurados em problemas, por novos hábitos
que não proporcionem prejuízo ao indivíduo. Para tanto se faz necessário o
conhecimento, por parte do paciente, do hábito a ser alterado, um reforço a
29
comportamentos específicos, os quais irão ocupar o lugar do hábito
indesejado e um alto grau de motivação (ABREU e cols., 2004).
O profissional, juntamente com o paciente, irá planejar a troca do
comportamento, o fazendo ter consciência do hábito a ser alterado e seus
efeitos, como também, o impacto do hábito a ser incorporado ao repertório
em substituição do anterior e suas prováveis consequências. Assim o
paciente em tratamento irá exercitar o novo comportamento, organizar um
treino contínuo para, além do espaço terapêutico e, discutir com o terapeuta
os problemas enfrentados e possíveis adaptações (AZRIN e NUNN, 1973 apud
ABREU e cols., 2004).
O primeiro passo na aplicação da técnica é aumentar o máximo
possível a consciência do paciente em relação ao comportamento que se quer
extinguir, sua freqüência e sua intensidade. O paciente aprende então a
atentar-se para a presença de tal comportamento no seu cotidiano,
fundamental para o desenvolvimento da técnica, pois, se o comportamento
fica mais evidente aos olhos do paciente, a este então, torna-se um
comportamento aversivo e gradativamente mais intolerável (ABREU e cols.,
2004).
Em seguida a tomada de consciência, um comportamento alternativo
ao anterior é introduzido no repertório do paciente. Tal comportamento é
escolhido adequadamente a imparidade do indivíduo, ou seja, leva-se em
conta sua dinâmica familiar, sociocomunitária e cultural, como também as
peculiaridades do hábito e seu surgimento (AZRIN e NUNN, 1973 apud
ABREU e cols., 2004).
Ainda segundo Azrin e Nunn (1973 apud ABREU e cols., 2004), após a
escolha do comportamento alternativo, deve-se realizar uma revisão de
inconveniência onde serão alçados os aspectos do comportamento aversivo
que mais lhe proporcionam sofrimento, e quais os benefícios que a mudança
para um novo comportamento irá proporcionar. Tal revisão tem por intenção
salientar os pontos mais problemáticos do comportamento que se deseja
alterar e os efeitos mais graves que ele enseja. A proposta então é de cunho
30
motivacional para que o paciente mantenha-se disposto a alteração do
comportamento aversivo.
A reversão de hábito dentro do processo de reabilitação
neuropsicológica se mostra de grande utilidade. Um indivíduo que sofreu
traumas no córtex e apresenta déficits em funções neurais superiores, deixa
de realizar atividades que antes estava propício a fazer, as quais, outras
regiões corticais guardam informações para sua execução. Um bom exemplo
é fornecido por Ramachandran (1993, 1998 apud HAASE e LACERDA,
2004), tratando-se de pacientes com membros amputados. As vias
sinápticas que enviavam informações para tais membros continuam a
trabalhar com estas, gerando assim sensações de dor, de imobilização,
sensações térmicas e de movimento.
Nestes casos, o processo neuroplástico, busca novas vias em áreas
similares do córtex cerebral para direcionar tais informações que eram
direcionadas ao membro amputado, configurando o processo de substituição
(HAASE e LACERDA, 2004). Para que tal processo tenha real eficácia
funcional é necessária a adaptação comportamental ao novo estado,
direcionando assim de forma mais direta as vias sinápticas para outras
ações que readaptem as ações que o membro realizava (HAASE e LACERDA,
2009; PONTES e HÜBNER, 2008). É neste âmbito que a reversão de hábitos
se faz mais relevante. Remover os hábitos que o paciente mantinha enquanto
possuía o membro e implantar novas formas de manejamento para
transformar sua vida mais funcional (ABREU e cols., 2004), eleva a taxa de
mobilidade do processo de neuroplasticidade estimulando assim, de forma
mais incisiva, as vias sinápticas que estão sendo alteradas (GOUVEA et al,
2009; HAASE e LACERDA, 2004; PONTES e HÜBNER, 2008).
O condicionamento operante também é utilizado de forma extensiva na
reabilitação neuropsicológica, sendo utilizado por Goodkin (1966, apud
PONTES e HÜBNER, 2008) em paciente com diferentes tipos de danos
cerebrais, degenerativos ou não, a fim de otimizar hábitos já presentes e
criar novos comportamentos adaptativos.
31
Tal técnica toma por base o comportamento operante, o
comportamento que é aprendido de acordo com o contexto no qual o
indivíduo esta inserido, aquele que não tem características filogenéticas, e
que depende dos diferentes estímulos por quais, o indivíduo atravessa,
sendo que a resposta a estes são novos estímulos para o aumento ou
diminuição da freqüência dele. Assim as consequências da resposta
apresentada intervêm no repertório do paciente reforçando a presença ou a
extinção do comportamento, o qual resultou do estímulo primeiro
(LARGURA, 2010).
O procedimento então consiste em apreender novos comportamentos a
estímulos que condicionem a uma resposta específica e que esta opere sobre
o comportamento, mantendo-o ou o extinguindo. O condicionamento
operante é a base para as demais técnicas comportamentais (LARGURA,
2010).
Dentro do processo de reabilitação neuropsicológica o profissional
tende a utilizar o condicionamento operante através de estímulos presentes
no cotidiano do paciente, mantendo assim constante os reforçadores para
além do espaço terapêutico. O indivíduo então, ante os estímulos que
permeiam seu ambiente, irá emitir o comportamento treinado juntamente
com o terapeuta. O comportamento emitido, então irá servir, como
reforçador para a continuidade da resposta no repertório do indivíduo
(LARGURA, 2010; PONTES e HÜBNER, 2008; HAASE e LACERDA, 2004).
Por exemplo, um sujeito que sofre um rebaixamento da libido por dano
causado na formação hipocampal (constituinte do sistema límbico, o qual
regula as emoções) não apresenta respostas satisfatórias com os estímulos
presentes em seu ambiente, e baixo desempenho das terapias
medicamentosas. Se este paciente possui interesse por música clássica,
quando a escuta, sente-se feliz e há uma estimulação das áreas límbicas, o
trabalho do condicionamento operante consistirá em proporcionar-lhe a
opção de manter o hábito de ouvir música atentando-se a ela. O estímulo,
neste caso, encontra-se na música clássica; a resposta/comportamento
32
adquirida é o hábito de ouvir música clássica; a consequência é a sensação
de bem estar e estimulação do sistema límbico; perceba que a própria
consequência do novo comportamento provoca seu aumento de frequência
(LACERDA, 2010; PONTES e HÜBNER, 2008).
Através das diversas técnicas behavioristas e cognitivo-
comportamentais, a Neuropsicologia obtém resultados satisfatórios no
processo de reabilitação. A influência do comportamento na disposição e nas
trocas sinápticas permite que, através das técnicas da Psicologia
comportamental, possa auxiliar o processo de readaptação/restituição,
substituição ou compensação em danos no sistema nervoso (HAASE e
LACERDA, 2004; PONTES e HÜBNER, 2008).
Mais do que apenas avaliar efeitos danosos ou procurar enquadrar
sintomas em quadros psicopatológicos, a avaliação neuropsicológica objetiva
observar as alterações psico-cognitivas derivadas da lesão compreendendo
como as funções lesadas e não lesadas se relacionam. Observe que, deste
modo, a avaliação neuropsicológica conglomera os saldos cognitivos
herdados pelo sistema nervoso após o trauma, não de forma quantitativa
pragmática, mais sim de um modo qualitativo, obtendo a leitura dos reais
efeitos comportamentais e perceptivos que o paciente sofre (THIERS, 2005).
Deste modo, como todo processo psicológico possui um reflexo neural,
uma manifestação sináptica demanda comandos as áreas correspondentes
no córtex, e nas demais regiões do sistema nervoso (HAASE e LACERDA,
2004).
33
Capítulo 2 – Plasticidade neural
2.1.O processo de Neuroplasticidade
O termo plasticidade foi introduzido, segundo Pia (1985, apud
FERRARI e cols., 2001) pelo fisiologista alemão Albrecht Bethe com o intuito
de descrever a maleabilidade do organismo ante as interferências ambientais
internas e externas que possa sofrer, através da ação convencionada de
vários órgãos subordinados ao sistema nervoso. Estudos anteriores a Bethe,
identificaram, de modo mais conciso, a propriedade neuroplástica do
sistema nervoso. Inicialmente acreditava-se que tal propriedade só era
correspondida em indivíduos muito jovens (NETO, 2004). No entanto foi nas
décadas de 80 e 90 que foi identificada a capacidade do sistema nervoso em
adaptar-se a circunstâncias de seu meio, sendo estas nocivas ou não, em
situações de aprendizagem e exercícios que envolviam processos de
raciocínio e memória (FERRARI e cols., 2001; NETO, 2004).
A lei de Hebb - ou a lei do aprendizado - desenvolvida pelo
neurocientista Donald Hebb (1949), propõe então que estes sítios neuronais
cooperativos são reforçados através da repetição de uma ação que os
representa, ou seja, quanto mais estes agrupamentos neurais são utilizados
mais fortes se apresentam e um número maior de sinapses é realizado.
Deste modo, considerando pacientes com lesões neurais, e dado que a
plasticidade do sistema nervoso contorna o trauma e busca conexões
próximas ao foco, encontramos a interação do sistema nervoso com o
comportamento e funções cognitivas (NICOLELIS et al, 2001; FUENTES e
cols., 2008).
34
O sistema nervoso então, segundo a Lei de Hebb (1949), funcionaria
como um modelo de contingencia respondente. Através do estímulo
executado constantemente e de forma regular e sincronizado as vias neurais
estariam sendo otimizadas e enquadramentos no percurso sináptico para o
alcance de comportamentos degenerados após as lesões seriam possíveis.
Ou seja, a capacidade de plasticidade do sistema nervoso consiste em um
processo de aprendizagem de novos caminhos para obtenção de resultados
que antes eram obtidos, como também aprendizado de novos caminhos para
diferentes funções que ainda existem e estão em diasquise, e a criação de
vias que proporcionem novos contextos cognitivo-comportamentais,
processos internos e externos, no repertório do indivíduo.
A aproximação das disciplinas de Neuroplasticidade, Neuropsicologia e
os pressupostos das terapias comportamentais e cognitivo-comportamentais
ocorrem a partir deste princípio da capacidade de aprendizagem do sistema
nervoso central e adaptação a novos comportamentos e situações
emocionais vividas (FUENTES e cols., 2008; HAASE e LACERDA, 2004).
O processo de neuroplasticidade envolve então aspectos ambientais
externos (comportamento, emoções, interações com o meio, entre outros),
como internos (traumatismo crânio encefálico, patologias degenerativas,
déficits hormonais, dano a membros do corpo) (FERRARI e cols., 2001;
HAASE e LACERDA, 2004), influindo assim, não somente em ações
involuntárias do encéfalo, mais também em funções superiores como o
raciocínio, a memória, simbolização e ajuste social (FERRARI e cols., 2001;
FUENTES e cols., 2008).
Neste processo de reorganização existem dois tipos de plasticidade:
plasticidade regenerativa e plasticidade sináptica. A primeira corresponde na
reestruturação dos axônios e dendritos danificados após uma lesão,
alterando a distribuição destes entre as diversas conexões envolvidas no
processo, cujo qual ocorre com maior facilidade em indivíduos jovens e no
sistema nervoso periférico, e em decorrência de estímulos externos que
excitam neurônios que iniciaram o processo da síntese protéica para assim
35
modificar o curso das sinapses; já a plasticidade sináptica satisfaz a
prerrogativa anterior da estimulação externa, no entanto configura-se na
diminuição ou no aumento do trânsito sináptico, de acordo, com tais
estímulos ambientais, como também regula a proliferação e a necrose das
células nervosas (FUENTES e cols., 2008).
2.2. Aspectos do processo de neuroplasticidade
A neuroplasticidade, segundo Kolb e Whishaw (1989, FERRARI e cols.,
2001), é observada através de três diferentes aspectos: o primeiro
corresponde às atividades metabólicas do sistema nervoso central e as
alterações destas resultantes de desajustes neurais.
O segundo mantém atenção nos processos neuroquímicos, observando
as alterações nas trocas sinápticas, sendo essas químicas ou elétricas, como
também a síntese dos neurotransmissores, os controladores destes na fenda
sináptica, sua frequência e a otimização da resposta pós-condução sináptica
decorrendo a processos de aprendizagem e estimulação (na terapia técnicas
como reforço positivo, modelagem e reversão de hábitos). Seria a ênfase no
processo de plasticidade sináptica descrito por Fuentes e cols. (2008).
O terceiro aspecto levantado por Kolb e Whishaw (1989, FERRARI e
cols., 2001) corresponde a modificações na topografia cortical e subcortical.
São as modificações estruturais que ocorrem nas conexões sinápticas,
através dos processos de regeneração e ramificação incidentes no corpo
neuronal (Axônio) ou em sua via transmissional (dendrito) – é a plasticidade
regenerativa também descrita por Fuentes e cols. (2008).
Estas três ações neuroplásticas podem ocorrer simultaneamente. As
lesões e/ou alterações no sistema nervoso podem atingir os níveis
metabólicos concomitante aos neuroquímicos e morfológicos, como também,
podem atingir separadamente e de modo impar a cada um destes. Por tal
motivo os autores Kolb e Whishaw (1989, FERRARI e cols., 2001)
36
examinaram os caracteres neuropsicológicos de forma dissociada seguindo
tais aspectos descritos.
No entanto no processo de reabilitação neuropsicológica é mais
enfático o estudo e atuação nos aspectos referentes aos processos
neuroquímicos e morfológicos, por estarem diretamente mais associados à
aquisição, desenvolvimento, adaptação e déficits comportamentais, enquanto
aspectos metabólicos assumem um caráter mais ostensivo a processos
filogenéticos e a organicidade (FUENTES e cols., 2008; HAASE e LACERDA,
2004).
O sistema nervoso sofre por constantes alterações nestes três aspectos
descritos a todo momento, adaptando-se ao ambiente no qual esteja
localizado através dos diferentes estímulos apresentados. Processos de
memorização, raciocínio, estimulação motora, ato reflexo e alterações
emocionais, de acordo com sua frequência modulam o sistema nervoso o
deixando mais propenso e mais apto a executar novamente as funções as
quais sofreram a inferência dos estímulos presentes (FERRARI e cols., 2001;
HAASE e LACERDA, 2004; PONTES e HÜBNER, 2008).
Todos os processos que resultam efeitos neurais ou que tem por causa
tais efeitos movimentam uma gama surpreendente de sítios neuronais, por
diversas vezes situados em localização oposta no córtex cerebral, como o
caso de alguns processos cognitivos e aspectos da motricidade que
envolvem, tanto funções do córtex pré-frontal quanto da região cerebelar
(FUENTES e cols., 2008; HAASE e LACERDA, 2004). Ou seja, uma lesão no
hemisfério esquerdo responsável pela maioria dos processos racionais finos,
pode afetar áreas no hemisfério direito, que é responsável pela maioria dos
processos de memorização sonora e, que é utilizado em diversas vezes em
eventos onde efeitos sonoros ativam respostas rápidas do indivíduo.
Sendo assim, os movimentos neurais são distribuídos a regiões
variadas do córtex cerebral, e determinados estímulos demandam
contingencias sinápticas relativas especificamente a tais regiões, mesmo esta
estando topograficamente distantes e que em sua essência tem por objetivo
37
regular também, outras funções que se diferem da executada. Quando Hebb
(1949) propôs dentro da lei de aprendizagem que se faz necessário um
treinamento com estimulações específicas para a ativação e potencialização
de determinados sítios neurais, e propunha ainda que tal estimulação fosse
sincrônica desenvolvendo assim, de modo mais eficaz, a comunicação
sináptica, procurava uma abordagem que atendesse esta grande variação
causal das funções neurais.
Tendo em vista, que há diferentes áreas que cooperam, nos diversos
processos do sistema nervoso e, que são necessários estímulos específicos
para ativação de cada conjunto neural, o processo de plasticidade neural
pode ocorrer a partir de outro ponto cortical ou subcortical que não o
danificado (FUENTES e cols., 2008; HAASE e LACERDA, 2004; FERRARI e
cols., 2001).
O próprio sistema nervoso central, após a ocorrência de uma lesão
procura reativar as funções perdidas mesmo sem estimulação em terapia
(obviamente com impacto imensamente menor do que em âmbito terapêutico
e sem estímulos determinados). Ele atravessa por processos de
supersensibilização que ocorre quando um feixe é atingido e os dendritos do
neurônio anterior buscam o enquadramento ao axônio do neurônio
posterior, de diasquise, que corresponde a uma depressão neural ocorrido de
forma sistêmica, consistindo no surgimento de um quadro clínico correlativo
a áreas distantes aquela que sofreu danos. Busca ainda reativar vias
aferentes que foram inibidas após a lesão (HAASE e LACERDA, 2004).
Tais processos iniciados pelo sistema nervoso após a ocorrência de
lesões sofrem a influência de aspectos do meio no qual o sujeito se situa. Os
estímulos de seu ambiente irão determinar o sucesso e a aceleração do
processo neuroplástico (caso a lesão seja passível de recuperação) e/ou de
adaptação das vias sinápticas a outras áreas do córtex cerebral (FERRARI e
cols., 2001; HAASE e LACERDA, 2004).
Em tratamento, o profissional irá, através da avaliação
neuropsicológica e a utilização de exames de neuroimagem, identificar quais
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são as vias possíveis de recuperação e/ou adaptação neurocomportamental,
e apresentar ao paciente, estímulos determinados a recuperar as funções
cognitivas perdidas e auxiliar a direcionar as conexões sinápticas para áreas
homólogas a área lesada ofertando continuidade das atividades que o
indivíduo exercia (HAASE e cols., 2001; PONTES e HÜBNER, 2008).
Este dinamismo neural que proporciona diversas conexões de áreas
antes consideradas opositoras e que possibilita adaptações morfofuncionais
desencadeia também, diversas conjunções comportamentais
intrinsecamente ligadas às alterações das diversas partes integradas do
cérebro, podendo estar presente em um mesmo processo nocivo,
comportamentos regulados pelo hemisfério contrário ao que inicialmente
apresentou o trauma. E desta forma, o sistema nervoso se reorganiza
cunhando novas conexões neuronais ao envolto do local onde ocorreu o
dano, ou mesmo aumentando e reforçando conexões já existentes e
frequentemente estimuladas por eventos externos (FUENTES e cols., 2008;
HAASE e LACERDA, 2004).
Objetivamente e de forma simplória, são estes os processos da
reconstituição sináptica. Perceba que em todos os discursos vinculados
acima, autores propõe a conexão entre as diversas áreas do sistema nervoso
e no câmbio constante entre estas. No entanto, não obstante deste viés, e
pressuposto dele, encontramos que não apenas as distintas localidades
neurais são interconectadas como também atuam simultaneamente em uma
mesma ação, como no ato de memorização, sonhar, ouvir ou ver. Conjuntos
de neurônios representantes de diversos micro-sistemas dentro do próprio
sistema nervoso trabalham em equipe para realização de uma única tarefa
(HEBB, 1949; NICOLELIS, 2001).
Sabendo da extensão existente nos processos neuropsicológicos,
questiona-se qual o papel do profissional nesse campo, no qual, de acordo
com as definições do Conselho Regional e Federal de Psicologia em 2004,
atribui às atividades do profissional, a realização do diagnóstico, bem como
no tratamento e nos demais aspectos que fazem parte do processo de
39
reabilitação, a priori utilizando-se da técnica de avaliação neuropsicológica,
que objetiva-se verificar o real quadro em que o paciente se encontra a fim
de buscar o melhor método para propiciar os estímulos necessários, que o
levem ao restabelecimento tanto cognitivo quanto neuroplástico (THIERS,
2005).
40
Capítulo 3 – Comportamento e Neuroplasticidade
3.1. Cognição e emoção
A atuação do neuropsicólogo dentro de um processo de reabilitação
procura não apenas encontrar sinais da lesão mais também avaliar as
habilidades que o sujeito apresenta em comparação as médias de
desempenhos apresentadas pelas testagens, observando assim os efeitos e a
natureza da lesão, tendo melhor base para um prognóstico onde a terapia
deve estar direcionada a buscar novas conexões neuronais para readaptar o
paciente ao novo estado, ou estimular o rebrotamento das terminações
nervosas, fortalecendo então, as vias de acesso das áreas afetadas (THIERS,
2005; HEBB, 1949; NICOLELIS et al, 2001).
Deste modo, aspectos emocionais podem acelerar ou retardar a
reabilitação e o trabalho neuroplástico do sistema nervoso. Comportamentos
privados, como a atenção, a formação de conceitos ou a linguagem influem
diretamente o modo que o paciente receberá o estímulo e quais reações
neuroquímicas irão desencadear e quais regiões nervosas irão ativar
(PONTES e HÜBNER, 2008; NICOLELIS et al, 2001). Por exemplo, a atenção
voluntária ou involuntária pode fazer com que o processo do pensamento do
sujeito migre para outras situações longe do trauma onde estimulem os
impulsos sinápticos das regiões afetadas, como também pode carregar o foco
do indivíduo para outros assuntos e premer o processo sináptico em regiões
de interesse curativo ou adaptativo.
Além dos aspectos internos cognitivos, a presença de psicopatologias é
fator de inexorável atenção dos profissionais, pois influem diretamente nos
41
aspectos bioquímicos, neurais, motivacionais e cognitivos do processo de
neuroplasticidade. O trauma modifica de forma intensa os processos
psicológicos do paciente, e a forma na qual ele relaciona-se com este,
impacta a reabilitação e, por conseguinte o processo da neuroplasticidade
(FUENTES e cols., 2008).
3.2. Reflexo neural
Todo processo afetivo desencadeia uma reação neuro-hormonal que
afeta o processo de reconstituição das conexões neuronais. Por exemplo, o
estado depressivo configura-se (numa perspectiva organicista) em um
hipofuncionamento dos neuroreceptores serotoninérgicos,
noradrenalinergicos e dopaminérgicos. Se uma falha no sistema límbico
depende de tais neurotransmissores para se reconectar e reorganizar-se, em
um estado depressivo, a regeneração encontrar-se-ia prejudicada, pois
esbarraria no rebaixamento funcional de tais neurotransmissores e, por
conseguinte um menor número de impulsos nervosos (FUENTES e cols.,
2008; HAASE e LACERDA, 2004; THIERS, 2005).
Após então, todas as variáveis serem consideradas, a reabilitação
neuropsicológica concomitante com a neuroplasticidade segue três ordens
que respeitam a Lei de Hebb (1949): a restituição, a substituição e a
compensação. A restituição ocorre somente quando a lesão é parcial, e
compreende em treinamentos que auxiliem na estimulação das zonas
afetadas a fim de restabelecer a condutibilidade do impulso nervoso.
A substituição proporciona uma adaptação comportamental, onde
comportamentos afetados são executados através de outros meios, onde o
aprendizado estimula a busca por conexões sinápticas em áreas
neurocorticais próximas, criando representações em outras regiões do
encéfalo. Já a compensação implica na utilização de outros mecanismos
que, de certa forma, herdem as funções da região afetada, ou seja, uma
reorganização funcional. Segundo Luria (1973, apud HAASE e LACERDA,
42
2004) qualquer processo ou atividade mental é constituinte de um sistema
com maior amplitude e complexidade. De tal forma, a compensação
ocorreria ao retorno, ao princípio desse sistema com maior grau de
complexidade e funcionalidade para reorganizar e criar novos contatos
sinápticos através de exercícios reabilitadores, onde estariam envolvidos os
aspectos cognitivos, emocionais e socioculturais (HEBB, 1974; HAASE e
LACERDA, 2004).
O comportamento então influi de modo direto na constituição,
topografia e funcionalidade do sistema nervoso, sendo esta interação
bilateral, tendo os aspectos nervosos papel de atuação recíproca no
repertório comportamental do sujeito (FERRARI e cols., 2001; FUENTES e
cols., 2008; HAASE e LACERDA, 2004; HEBB, 1974; PONTES e HÜBNER,
2008; THIERS, 2005). Skinner (1970) exalta que a constituição do
comportamento se dá através da relação estímulo-resposta, podendo ser
estas de diferentes graus enfáticos, sendo assim responsáveis pela
contingência que alteram as respostas vigentes e que criam novas respostas
a diferentes estímulos. Torna-se possível então a formulação de linhas de
base de comportamentos causados pelas diferentes dinâmicas neurais sendo
estas patológicas, traumáticas ou não (FERRARI e cols., 2001).
Obviamente, que para a presença de um comportamento, são
consideradas variáveis diversas, desde sociais até as fisiológicas. No entanto,
a possibilidade criada pela análise comportamental, compreendendo as
linhas de base comportamentais pareadas a investigação de aspectos
neurobiológicos subjacentes ao comportamento, possibilitando assim a
identificação da extensão dos danos neurocognitivos e comportamentais,
como também o direcionamento da reabilitação (FERRARI e cols., 2001;
PONTES e HÜBNER, 2008).
As conjecturas dos aspectos neurológicos – salientando a
neuroplasticidade – são exacerbadamente interconectadas as variáveis
comportamentais do que se pensava há tempos. Toda contingência
reforçadora modifica, mesmo em diferentes níveis de impacto, o repertório
43
comportamental do sujeito (SKINNER, 1970, 1974). O sistema nervoso então
busca adequar-se a esta nova resposta desenvolvida pelo indivíduo a
determinado estímulo, cujo qual é captado pelas vias neuronais percepto-
sensoriais e levado a diversas áreas do córtex cerebral para processamento
(FUENTES e cols., 2008; HAASE e LACERDA, 2004; NICOLLELIS et al,
2001), sendo neste âmbito o desenvolvimento do processo de
neuroplasticidade.
Das variadas áreas atuantes em um mesmo ato funcional, algumas
destas são hipersensibilizadas em relação a outras que compõe o processo,
de acordo com as características do estímulo recebido, das experiências
armazenadas nos sistemas límbicos, autônomos e no córtex pré-frontal, para
a emissão da respostas (FUENTES e cols., 2008; HAASE e LACERDA, 2004).
A questão da reabilitação neuropsicológica a partir destes conceitos,
corresponde a recuperar a execução da resposta neurocomportamental
perdida, sendo através da recuperação cognitivo-comportamental e da
influência desta na reestruturação das conexões sinápticas perdidas,
podendo ocorrer por substituição, restituição ou compensação, das vias
lesadas (BARBIZET, 1985; PONTES e HÜBNER, 2008).
Portanto, é de grande importância a avaliação neuropsicológica –
ferramenta principal do neuropsicólogo - na qual são observados os aspectos
cognitivos e comportamentais afetados, como também os processos mentais
que não foram afetados e os sistemas cooperativos que trabalham em prol
da reorganização neural, a fim de estimulá-los e reforçá-los ou ainda
encontrar novas conexões sinápticas e novas maneiras de estimulá-las,
adaptando-se assim, ao novo estado clínico do paciente (FUENTES, 2008;
PONTES e HÜBNER, 2008; NICOLELIS, 2001).
44
Capítulo 4 – Considerações Finais
Por décadas o processo de plasticidade neural foi delegado
exclusivamente para os primeiros anos de vida, sendo então possível
somente em indivíduos jovens (NETO, 2004), o que viria a destituir-se em
tempos seguintes – mais precisamente nas décadas de 80 e 90 por
pesquisadores como Kaas (1991), Sanes (1988) (apud NETO, 2004), também
Luria (1984) ( apud PONTES e HÜBNER, 2008) com a utilização de técnicas
cognitvo-comportamentais na reabilitação de indivíduos portadores de lesões
neurais pós-segunda guerra, propunha indícios do processo neuroplástico
em sujeitos adultos. Hebb (1949) em seus trabalhos a cerca do
funcionamento das conexões sinápticas, também pregava a reorganização
cortical através de processos de aprendizagem.
Tendo em vista os efeitos causados por lesões e/ou por modificações
neurais no comportamento do indivíduo, a Psicologia aproximou-se da
disciplina de Neurologia, constituindo assim, a Neuropsicologia buscando
compreender as relações das alterações no córtex cerebral com aspectos
cognitivos e comportamentais (BARBIZET, 1985; FUENTES e cols., 2008;
HAASE e LACERDA, 2004; LURIA, 1984; PONTES e HÜBNER, 2008).
Através dos estudos comportamentais pregados pelo behaviorismo de
Skinner (1970, 1974) e pelas postulações sobre cognição e comportamento
de pesquisadores como Aaron Beck nos anos 60 (apud ABREU e cols., 2004),
a Neuropsicologia encontrou modos de correlacionar aspectos readaptativos
comportamentais à plasticidade neural identificando à confluência de ambas
as disciplinas para a manutenção, extinção e constituição de novos
comportamentos dentro do repertório do indivíduo de acordo com o arranjo
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dos sítios neurais como também os efeitos funcionais e morfológicos dos
comportamentos no córtex e subcórtex cerebral (FUENTES e cols., 2008).
Sendo assim, a reabilitação neuropsicológica mostra-se como elemento
de grande importância para o processo de neuroplasticidade. É através do
estímulo que as trocas sinápticas desencadeadas pelas aquisições e
readaptações cognitivo-comportamentais, que o sistema nervoso procura
substituir, restituir ou compensar vias neurais danificadas por lesões.
Após a incidência de uma lesão no córtex cerebral, o indivíduo
encontra déficits relevantes em processos cognitivos como o raciocínio, a
memória, a propriocepção, sensorial e perceptual, como também em
processos emocionais. Neste contexto as vias neuronais buscam reconstituir
as tais funções perdidas. Através do processo de reabilitação
neuropsicológica o indivíduo pode então reativar as funções cognitivas
perdidas, recompor comportamentos e adquirir novas contingências
adaptativas que irão, por sua vez, estimular as vias neuronais para que
estas possibilitem, mesmo que por outros caminhos, a realização das
funções deterioradas.
Dependendo do grau da lesão, o sistema nervoso não poderá recuperar
exatamente as funções neurais e cognitivo-comportamentais anteriormente
dispostas ao indivíduo. No entanto, através da reabilitação neuropsicológica
o indivíduo poderá adequar novas funções, adaptando-as a substituir os
processos perdidos. No processo de reabilitação, como as ações do sistema
nervoso ocorrem sempre através de varias regiões atuando em conjunto, este
irá procurar área que atuavam pareadas e/ou homologas a área danificada
para através delas devolver as funções, ou estimular funções adaptadas na
direção da qual foi lesada.
A importância da reabilitação neuropsicológica na neuroplasticidade
encontra-se então otimizada quando pensamos que as técnicas utilizadas em
tratamento correspondem a demanda do indivíduo na supressão das suas
reais necessidades. A reabilitação neuropsicológica busca então auxiliar o
paciente a reencontrar suas atividades cotidianas, proporcionar a adaptação
46
às mudanças causadas pelas alterações neurais e encaminhar o indivíduo a
aquisição de novas perspectivas funcionais, comportamentais e cognitivas
em prol do bem estar psicológico, orgânico e social.
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Referências
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Práticas Clínicas. São Paulo: Roca, 2004. ANASTASI, Anne. Testes psicológicos. trad. Dante Moreira Leite. 2 ed. São Paulo: EPU, 1977. BARBIZET, J; DUIZABO, Ph. manual de Neuropsicologia. Trad. Silvia Levy e Ruth Rissin Jozef. São Paulo: Artes Médicas, 1985. CUNHA, Jurema A. org. Psicodiagnóstico. 5ª ed. Porto Alegre: Artes Médicas; 2000. FERRARI, Elenice A. de Moraes; e cols. Plasticidade Neural: Relações com o
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