rastreio preliminar da suscetibilidade/resistÊncia do rafeiro do alentejo À leishmaniose canina

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A Associação de Criadores do Rafeiro do Alentejo e alguns dos seus criadores, atentos aos mais diversos aspetos relacionados com a raça, colaboraram com a Universidade de Évora no trabalho de investigação que passamos a apresentar. Fica a informação para todos aqueles com interesse na raça que futuramente serão apresentados resultados já mais avançados.

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RASTREIO PRELIMINAR DA SUSCETIBILIDADE/RESISTÊNCIA DO RAFEIRO DO ALENTEJO À LEISHMANIOSE CANINA

Introdução

O Rafeiro do Alentejo é uma raça antiga da região do Alentejo. Como muitos molossoseuropeus, acredita-se que tenha descendido dos cães corpulentos do Tibete e migradopara a Península Ibérica, trazidos por alguns nómadas na pré-história ou pelos romanos.Atualmente, é um cão popular em Portugal, com o registo anual de 200 a 500exemplares, sendo utilizado para guarda e companhia.A leishmaniose canina (LCan) é uma doença muito importante na atualidade pelo seucaráter zoonótico, a sua alta prevalência e variabilidade de sinais clínicos, devido àmultiplicidade dos seus mecanismos patogénicos e à variabilidade das respostasimunitárias (Corrales et al, 2006).Em Portugal, a leishmaniose canina prevalece de forma esporádica por todo o país,considerando-se endémica a região de Trás-os-Montes e Alto Douro, a sub-região daCova da Beira, o concelho da Lousã, a região de Lisboa e Setúbal, o concelho de Évora eo Algarve (Onleish, 2010). O primeiro estudo de seroprevalência realizado na região doAlentejo apresentou o distrito de Évora com uma prevalência de 3,7% (Semião-Santos etal, 1995) e, mais recentemente, com prevalências na ordem do 9% (Onleish, 2009;Semião-Santos, dados não publicados, 2011). O baixo registo de LCan no Rafeiro doAlentejo, a par de resultados de estudos realizados noutras raças Ibéricas autóctones,que aponta para uma maior resistência à infeção por Leishmania infantum (Solano-Gallego et al, 2000), fundamenta a realização deste estudo preliminar, enquadrado numtrabalho mais abrangente, para avaliação da suscetibilidade/resistência do Rafeiro doAlentejo à LCan.Outro objetivo deste estudo consiste na análise hematológica, prosseguindo para oestabelecimento da variação da gama fisiológica da raça, relevante para a respetiva

Material e Métodos

Colheram-se asseticamente 2 mL de sangue venoso para tubo com EDTA e 5mL para tuboseco, a 30 canídeos da raça Rafeiro do Alentejo, com idades entre 1 e 6 anos, a viver naregião do Alentejo e registados na Associação de Criadores do Rafeiro do Alentejo,aparentemente saudáveis, sem sinais clínicos da doença.Hemograma completo: realizado em contador hematológico MS 4A-5, (Melet SchloesingLaboratoires, França).Hematócrito (direto): centrifugação a 300g, 5 min (Haematokrit 20, Hettich, Alemanha).Fibrinogénio: Estimativa da concentração, por diferença da concentração proteica entresoro e plasma, realizada em refratómetro clínico (Zuzi, Auxilab, Espanha).Teste de aglutinação direta (DAT) para L. infantum: o antigénio utilizado para a realizaçãodo teste foi preparado a partir de uma estirpe de Leishmania infantum, seguindo oprocedimento descrito por Harith et al (1989). O teste foi realizado de acordo com omesmo estudo. As amostras com título ≥ 1/320 foram consideradas positivas.Retestagem: Duas amostras com títulos marginais (1:160) foram retestadas comincorporação de ureia no diluente sérico.Análise estatística: Realizada com recurso ao software SPSS 18. Foi efetuada uma análisedescritiva e um estudo de correlação entre leucócitos, neutrófilos, monócitos, linfócitos,eritrócitos e plaquetas.

ResultadosEm 3 dos 30 animais testados (10%) foram detetados anticorpos anti-Leishmania (títulos≥1:320). Numa de duas amostras retestadas o título aumentou para 1:320, passando a

Alves I (1), Pereira MA (2), Veloso LB (3), Santos-Mateus D (2), Santos-Gomes G (2), Semião-Santos S (3), Martins L (3,4)(1) Clínica Veterinária de Reguengos de Monsaraz; (2) Centro de Malária e Doenças Tropicais, Instituto de Higiene e Medicina Tropical – Universidade Nova de Lisboa; (3) CDI/LEISH/ICAAM – Instituto de Ciências Agrárias eAmbientais Mediterrânicas – Universidade de Évora; (4) Departamento de Medicina Veterinária – Universidade de Évora.

estabelecimento da variação da gama fisiológica da raça, relevante para a respetivaavaliação clínica (Latimer et al., 2003; Benjamin, 1978) de forma a saber secomparativamente a outras raças, a inter-relação paramétrica pode apresentarvariações significativas.

ReferênciasBenjamin, Maxime M. (1978) Outline of veterinary clinical pathology, chapter 5 - Normal Blood Values, p.42-47Corrales G, Moreno R. (2006) Leishmaniosis canina: Manejo clínico y situatión actual em España, c.1 – Introducción, p.7Harith AE, Slappendel RJ, Reiter I, Van Knappen F, De Korte P, Huigen E, Kolk AHJ. (1989). Application of a direct agglutination test for detection ofspecific anti-Leishmania antibodies in the canine reservoir. J. Clin. Microbiol., 27:2252–2257.Latimer KS, Mahaffey EA, Prasse KW. (2003) Clinical Pathology, chapter 13 – Quality control, test validity and reference values ,4th Edition, p.331-342;Onleish (site http://www.onleish.org/ consultado a 30 Jan 2012)

Semião-Santos, S.J., Harith, A.E., Ferreira, E., Pires, C.A., Sousa, C., and Gusmão R. (1995). Évora district as a new focus for canine leishmaniasis inPortugal. Parasitology Research,81:235-239.Solano-Gallego L., Llull, J., Ramos G., Riera C., Arboix M., Alberola J., Ferrer L. (2000). The Ibizian hound presents a predominantly cellular immuneresponse against natural Leishmania infection. Veterinary Parasitology, 90(1-2):37-45

DiscussãoNeste estudo preliminar, realizado com cães da raça Rafeiro do Alentejo,observou-se uma prevalência de anticorpos anti-leishmania de 13,3%, superior àencontrada na população canina do distrito de Évora (Onleish, 2009). Contudo,todos os animais avaliados se apresentaram visivelmente saudáveis. A prevalênciaagora observada, associada à ausência de sinais clínicos da doença, aponta para anecessidade de se aumentar a amostra e de se efetuarem novos estudos, paraavaliação imunológica, verificando se o Rafeiro do Alentejo apresenta um padrãode resistência semelhante ao Podengo de Ibiza (Solano e Gallego et al, 2000), comresposta celular, sem progressão para leishmaniose, ou uma suscetibilidade similarà de animais de raça indeterminada, com uma resposta tipicamente humoral edesenvolvimento da sinais clínicos de Lcan. O desenvolvimento do estudopermitirá, igualmente aumentar a informação na vertente hematológica, ao níveldos diferentes estados fisiológicos, nomeadamente etários (Latimer et al., 2003;Benjamin, 1978), com interesse fundamental para a avaliação laboratorial destesindivíduos.

≥1:320). Numa de duas amostras retestadas o título aumentou para 1:320, passando ataxa de seroprevalência para 13.3% (4/30). Os resultados hematológicos encontram-seexpressos na tabela I, com médias dentro dos valores citados por Benjamin et al 1978.Observou-se correlação fortemente positiva entre linfócitos e monócitos e fortementenegativa entre linfócitos e neutrófilos (nível de significância α = 0.01), o que indicia umrelacionamento linear entre estes parâmetros. Contudo, os leucócitos apresentamcorrelação negativa, significativa, com linfócitos, monócitos e eosinófilos. Para um nível designificância de α=0.05, observou-se correlação entre quase todos os parâmetros, àexceção de eritrócitos e plaquetas (tabela II). Pressupõe-se existir relação entre fatoreshematológicos. O fibrinogénio apresentou um valor médio de 2,333 g/L, com um desviopadrão de 0,8164, uma mediana de 2 e uma variância de 0,667.

Tabela I. Análise descritiva de alguns parâmetros hematológicos.

Tabela II. Correlação estatística entre elementos figurados do sangue.

Agradecimentos: Os autores agradecem à Associação de Criadores do Rafeiro do Alentejo e aos proprietários dos animais testados, por toda a disponibilidade , e ao Programa Ciência, no âmbito do contrato 2008-UE/ICAAM05 (FCT, Lisboa).

* Correlação é significativa ao nível 0,05 (“2-tailed”).

** Correlação é significativa ao nível 0,01 (“2-tailed”).

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