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UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA
PRÓ-REITORIA DE ENSINO
COLÉGIO DE APLICAÇÃO – COLUNI
PRÁTICAS ESCOLARES: DESAFIOS DAS CIÊNCIAS HUMANAS
BOLSISTA: Bárbara de Oliveira Barbosa
ORIENTADOR: Allain Wilham Silva de Oliveira
VIÇOSA
MINAS GERAIS - BRASIL
2016
UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA
PRÓ-REITORIA DE ENSINO
COLÉGIO DE APLICAÇÃO – COLUNI
PRÁTICAS ESCOLARES: DESAFIOS DAS CIÊNCIAS HUMANAS
BOLSISTA: Bárbara de Oliveira Barbosa
ORIENTADOR: Allain Wilham de Oliveira
Relatório Final apresentado à Universidade
Federal de Viçosa, como parte das exigências do
PIBIC-EM/CNPq/UFV, referente ao período de
agosto/2015 a julho/2016.
.
VIÇOSA
MINAS GERAIS - BRASIL
AGOSTO/2016
COLÉGIO DE APLICAÇÃO – COLUNI
RESUMO
A partir do ano do ano de 2008, com a introdução da filosofia e sociologia como
disciplinas obrigatórias no Ensino Médio brasileiro, estabeleceu-se um novo contexto na
área do ensino das ciências humanas. Dessa forma, qual seria o papel dessas novas
disciplinas na construção de saberes e de novas práticas em relação ao eixo das ciências
humanas? Como ensinar o espaço como uma construção social nesse novo contexto
escolar? A fim de responder a estes questionamentos, o presente trabalho buscou
realizar uma análise dos novos desafios a partir da introdução destas disciplinas na
grade de conteúdos do ensino no Colégio de Aplicação COLUNI (Viçosa, Minas
Gerais). Para isso, foi realizado um grupo focal, integrado por alunos da referida
instituição, direcionado à promoção de uma discussão sobre o tema. As discussões
elaboradas no grupo focal tiveram como eixo principal os seguintes questionamentos:
Ao longo de sua formação acadêmica e pessoal, o que as disciplinas de sociologia e
filosofia agregaram junto as disciplinas de geografia e história?; Qual a sua opinião a
cerca do projeto de interdisciplinaridade dos conteúdos? e; Você acha que a geografia se
aproxima mais da sociologia ou da filosofia? A partir dos dados obtidos, foi possível
concluir a grande importância da filosofia e sociologia na formação, tanto pessoal
quanto acadêmica, do estudante. Isso pode ser explicado pelo fato de que as mesmas,
em especial a sociologia – na forma como é apresentada nas escolas atualmente -, abrem
espaço para a realização de debates entre os alunos e o professor a fim de proporcionar
o surgimento de novas ideias a respeito de um determinado tema. Ademais, a partir do
trabalho com temas recorrentes no cotidiano, estas disciplinas contribuem para o
desenvolvimento de uma reflexão a cerca de aspectos presentes na realidade social na
qual os estudantes estão inseridos, de forma a possibilitar a formação de um senso
crítico e identidade pessoal e social nos mesmos. Portanto, foi possível observar que a
introdução das disciplinas de filosofia e sociologia no currículo escolar do Ensino
Médio se concretizou como um grande avanço nos estudos das Ciências Humanas, haja
vista que permitiu uma maior dinamização da mesma.
Data: ___/___/____
______________________________ ___________________________
Assinatura do Orientador(a) Assinatura do(a) Bolsista
Sumário 1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS ................................................................. 5
2. OBJETIVOS .............................................................................................. 6
2.1 Objetivo geral ...................................................................................... 6
2.2 Objetivos específicos ........................................................................... 6
3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS .............................................. 6
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES ............................................................. 8
4.1 Dimensão conceitual ............................................................................ 8
4.2 Dimensão procedimental ................................................................... 12
4.3 Dimensão atitudinal ........................................................................... 13
4.4 Dimensão relativa ao docente ............................................................ 17
5. INÍCIO DE UM DEBATE ...................................................................... 22
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................... 24
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1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS
A obrigatoriedade do ensino de filosofia e sociologia no ensino pela lei nº 11.684,
de 2 de Junho de 2008, traz uma interferência em toda estrutura escolar, em especial no
eixo das ciências humanas e suas tecnologias. Através da qual dá-se o acréscimo de uma
forma de interpretar a realidade social das disciplinas obrigatórias de Historia e Geografia,
que de uma forma reduzida trabalhavam conteúdos sociais pelo viés tempo-espaço.
Na vida cotidiana da realidade do Colégio de Aplicação (COLUNI), surge a
questão da pesquisa com a introdução das novas disciplinas sociologia e filosofia no ano de
2009. Assim, passou a ser indispensáveis para a escola enfrentar novos desafios e abrir-se a
novas possibilidades no eixo das ciências humanas e suas tecnologias. Dessa forma, qual
seria esse papel na construção de saberes e de novas práticas a respeito da disciplina
Geografia? Como ensinar o espaço como uma construção social nesse novo contexto
escolar?
Na prática escolar, assim, subjazem condicionantes sociopolíticos que configuram
diferentes concepções de homem e de sociedade e, consequentemente, diferentes
pressupostos sobre o papel da escola, aprendizagem, relações professor-aluno, técnicas
pedagógicas e etc.
Desse modo, a prática escolar deve ser alvo de uma reflexão sobre o processo
ensino-aprendizagem, abordando questões como: De que maneiras podem aprofundar o
estudo das humanidades para melhor formação do educando, com auxilio das
interpretações da realidade trazidas por novas disciplinas no eixo e, consequentemente,
apresentar uma reflexão pragmática acerca do planejamento escolar e da sua relação com
as estratégias pedagógicas utilizadas pelo professor no seu desempenho em sala de aula
para a formação eficiente de um aluno critico, capaz de interpretar o seu mundo ou espaço-
tempo?
Inicialmente, a presente pesquisa tinha como objetivo analisar os desafios
encontrados pela disciplina de geografia a partir da introdução da filosofia e sociologia na
grade curricular do Ensino Médio. Entretanto, no decorrer do trabalho, percebeu-se que o
referido contexto representa uma nova perspectiva não apenas para a área da geografia,
mas sim para o eixo das ciências humanas de forma geral, o que alterou a lógica inicial da
pesquisa.
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2. OBJETIVOS
2.1 Objetivo geral
Investigar os desafios da área das ciências humanas a partir da introdução
obrigatória das disciplinas de filosofia e sociologia no Ensino Médio a partir de
uma pesquisa no Colégio de Aplicação (COLUNI).
2.2 Objetivos específicos
Promover uma discussão entre alunos do Ensino Médio em um grupo focal, acerca
da contribuição da filosofia e sociologia em suas respectivas formações: acadêmica,
pessoal e social;
Analisar e relacionar os dados obtidos no grupo focal ao contexto de ensino atual e
à realidade vivenciada pelos estudantes.
3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Este trabalho é uma ação no chão da escola, ou seja, no local onde o trabalho
escolar é empreendido. Assim, a participação do aluno bolsista e educando de ensino
médio, teve uma importância precisa no estabelecimento de um diálogo entre os sujeitos do
processo de ensino-aprendizagem do conhecimento escolar nas disciplinas do eixo das
ciências humanas e suas tecnologias.
Inicialmente, foi realizado um preparo que se consistiu em leituras sobre o tema,
pesquisas sobre a aplicação das ciências humanas no Ensino Médio e sobre a metodologia
a ser trabalhada.
Nesse sentido, o seguinte trabalho foi embasado na análise das discussões
realizadas por um grupo focal composto por alunos do Ensino Médio do Colégio de
Aplicação (COLUNI), localizado na cidade de Viçosa-MG sobre o questionamento da
importância das disciplinas de filosofia e sociologia em suas determinadas formações
individuais, bem como a contribuição das mesmas no melhor entendimento das disciplinas
de geografia e história no contexto acadêmico e social.
O método de análise utilizado foi o grupo focal em decorrência do fato de que este
mecanismo permite uma maior interação, enunciação e interpretação das opiniões advindas
dos participantes sobre o tema proposto. Por meio dessa metodologia, os estudantes
inseridos no debate tiveram a oportunidade de expressar suas opiniões e interagir uns com
os outros de forma oportuna e com construção de conhecimentos. Portanto uma das etapas
7
do trabalho foi pesquisar como realizar a atividade utilizando a técnica do grupo focal. Esta
etapa foi desenvolvida com a contribuição de estagiários do curso de geografia, juntamente
com o orientador, a fim de desenvolver um estudo do modo de comportamento do grupo
focal.
O grupo focal se constitui da escolha de membros integrantes da mesa de discussão
e de um mediador. Os membros devem ser escolhidos a partir de um critério que explore a
capacidade dos mesmos de interagir com o tema proposto e promover uma argumentação
que seja relevante aos objetivos da pesquisa. Dessa forma, foi realizada uma reunião entre
os membros do projeto em que foi escolhido o mediador do grupo focal e foram propostos
os tópicos principais a serem discutidos no mesmo:
a) Ao longo de sua formação acadêmica e pessoal, o que as disciplinas de
sociologia e filosofia agregaram junto as disciplinas de geografia e história?
b) Qual a sua opinião a cerca do projeto de interdisciplinaridade dos conteúdos?
c) Você acha que a geografia se aproxima mais da filosofia ou da sociologia?
Em seguida, foram escolhidos os participantes do grupo focal. Essa escolha foi
embasada ressaltando os objetivos da pesquisa de relacionar as opiniões de alunos do
Ensino Médio da rede de ensino pública, que se propunham a estabelecer um debate acerca
das questões propostas. Já em relação a seleção dos alunos integrantes do grupo, a escolha
passou por uma análise da professora de sociologia, por meio da qual selecionamos nove
alunos da terceira serie que contavam com bom rendimento global, ou seja, um bom
aproveitamento em todas as disciplinas.
A partir da seleção dos integrantes do grupo focal, o debate foi realizado, gravado
em áudio e posteriormente transcrito para as devidas análises. Vale ressaltar que na
aplicação do grupo focal houve a participação de estagiários da área de geografia.
A partir da obtenção dos dados do grupo focal, iniciou-se a etapa de análise dos
mesmos. O método de pesquisa utilizado nessa análise foi o qualitativo, que se refere à
avaliação e interpretação dos fenômenos observados. O objetivo principal dessa análise foi
observar as opiniões dos alunos mediante o questionamento proposto, bem como
interpretar as discussões e vivências pessoais dos estudantes.
Em seguida, as informações foram separadas em categorias de acordo com os
núcleos temáticos que deram suporte aos argumentos citados. Perante essa organização, foi
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possível uma análise mais profunda das bases de construções das argumentações propostas
ao longo do debate.
A fim de organizar as análises, serão ressaltadas ao longo do trabalho quatro
vertentes principais dos conteúdos:
I. Conceitual: que se refere ao que se deve saber, relacionada aos conceitos,
fatos e ideias compreendidas;
II. Procedimental: que se refere ao que se deve saber fazer, relacionada à
vivência e à execução de atividades;
III. Atitudinal: que se refere ao que se deve ser, relacionada às ações associadas
a um determinado contexto, à moral, ao juízo e aos ideais do indivíduo.
IV. Relativo ao docente: que se refere ao contexto dos professores, sua
metodologia de ensino e sua relação com os alunos, escola ou Estado.
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
4.1 Dimensão conceitual
A dimensão Conceitual está tradicionalmente relacionada aos conteúdos
apreendidos no contexto da sala de aula combinados ao conteúdo prévio adquirido pelo
aluno. A junção de todas essas formas de conhecimento, possibilitando um complexo de
novas informações associadas umas às outras, dá origem a uma rede de conceitos repleta
de significado.
A partir da determinação da dimensão conceitual do conteúdo, as discussões
sucedidas no grupo focal puderam ser desmembradas, de forma a ressaltar o conceito
supracitado. Classificando, pois, os conteúdos das falas dos alunos, têm-se:
a) Importância da sociologia com o estudo das estruturas de poder:
O conceito de poder, de acordo com por Marx Weber (1991): Poder significa toda
probabilidade de impor a própria vontade numa relação social, mesmo contra
resistências, seja qual for o fundamento dessa probabilidade. A partir dessa concepção,
pode-se afirmar que o poder se constitui como um fenômeno social e não individual, a
partir do momento em que sua característica principal é ser um componente da relação
social.
Estabelecendo uma relação entre estes parâmetros e a conjuntura social
contemporânea, o Estado Brasileiro atual se constitui como uma República Federativa
9
Presidencialista, formada pela União, Estados, Distrito Federal e Municípios, em que o
exercício do poder é atribuído aos órgãos distintos e independentes, submetidos a um
sistema de controle para garantir o cumprimento das Leis e da Constituição, isto é,
submetidos a um sistema de legitimidade. Nessas circunstâncias, a disciplina de sociologia
constrói junto aos alunos um conhecimento crítico a respeito da conjuntura política,
econômica e social a qual está sujeita o Brasil. A partir daí, torna-se uma via importante na
construção de conhecimento acerca de alguns conceitos estudados pela geografia política e
populacional.
b) Importância da sociologia na desconstrução da História dos fatos políticos:
A expressão “História dos fatos políticos” refere-se ao método de ensino de história
nas escolas do Brasil durante o século XX, principalmente, em que os livros didáticos
traziam conceitos extremamente positivistas dos acontecimentos históricos brasileiros, de
forma a exaltar os “grandes homens” e seus “grandes feitos”. Nesse sentido, os alunos
eram incentivados a decorar nomes e datas, ao invés de construírem a partir da discussão
dos conceitos da história, suas respectivas formações ideológicas e sociais.
A partir desse conceito, a disciplina de sociologia se constitui como uma forma
alternativa de analisar a história, uma vez que tem como característica a possibilidade da
apresentação de novas visões a respeito de um determinado tema. No Colégio de Aplicação
– COLUNI - isso se tornou possível devido ao formato dinâmico da qual as aulas de
sociologia se apresentam, formato este que permite a promoção de discussões entre os
alunos e o professor, de forma a incentivar o entendimento real (com espaço para a
apresentação de dúvidas e discussões sobre as mesmas) dos conteúdos apresentados, em
detrimento do formato tradicional das aulas.
c) Importância da sociologia na análise da formação do povo brasileiro e na criação
de senso de identidade pessoal:
A formação do povo brasileiro pode ser explicada por diferentes vertentes de
pensamentos sociológicos, dentre as quais se destacam Caio Prado Júnior (1907-1990),
Sérgio Buarque de Holanda (1902-1982), Florestan Fernandes (1920-1995) e José de
Souza.
De acordo com Caio Prado Júnior, em Formação do Brasil Contemporâneo (1942),
a história brasileira é contada do ponto de vista da produção, distribuição e consumo da
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riqueza. Para esse historiador, a formação do Brasil se deu de fora para dentro, tendo o país
se estruturado como fornecedor de produtos tropicais.
Já Sérgio Buarque de Holanda, autor da obra Raízes do Brasil (1936), adotava o
referencial weberiano para analisar o Brasil colonial e acreditava que a mestiçagem teve
papel central na construção da identidade nacional, além de enfatizar a necessidade da
transformação social, como meio de superação do passado de favorecimentos pessoais
originários das oligarquias rurais.
Em concordância com Caio Prado Júnior, Florestan Fernandes entendia o Brasil
colônia estruturado como uma economia exportadora de produtos que, mesmo após sua
emancipação, manteve-se dependente de uma metrópole. De mesmo modo, de acordo com
Florestan, a escravidão se projetou como um fenômeno social que tem ressonância na
organização social da sociedade brasileira até os dias atuais.
A partir do estudo da formação do povo brasileiro é possível entender algumas
práticas e ideologias que estão arraigadas na sociedade brasileira e, somente por meio
dessa observação é provável a criação de um senso de identidade que vai além do senso
comum. Analisando as bases sob as quais se consolidou o Brasil, é evidente a relação entre
conceitos importantes da geografia com quadros nacionais históricos estudados pela
sociologia, como a industrialização brasileira e a população e o crescimento populacional
do país.
O processo de industrialização do Brasil, tema que é estudado tanto pela área da
sociologia quanto pela geografia econômica, se deu em um período histórico em que o país
passava por grandes mudanças nos âmbitos sociais, econômicos e políticos. Dentre essas
mudanças, vale ressaltar a expansão do trabalho remunerado, a Abolição da Escravidão
(1888), a vinda de emigrantes europeus, a Proclamação da República (1889) e o declínio
da produção cafeeira. A partir dessa conjuntura, juntamente com o fato de o território ter
sido uma colônia de exploração, a industrialização no espaço brasileiro é considerada
tardia, haja vista que apresentou quase um século de atraso em relação aos países europeus.
Já o estudo do crescimento populacional, analisado tanto pela disciplina da
sociologia como pela geografia, se enquadra em uma área do conhecimento denominada
Fenômenos Sociais, explicada por Paulo Nunes (Economista pela Universidade Nova de
Lisboa, professor universitário nas áreas da economia e da gestão, gestor e consultor de
empresas):
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A expressão Fenômenos Sociais designa os fenômenos que decorrem da vida
social e do comportamento humano, tais como os fenômenos econômicos
(desemprego, crescimento econômico, inflação, riqueza e sua distribuição),
demográficos (crescimento populacional, emigração e imigração, distribuição
por faixas etárias), sociológicos, políticos, históricos, etc. Todos estes fenômenos
sociais constituem o objeto de estudo das Ciências Sociais que os estudam a
partir de diferentes perspectivas. (NUNES, 2016)
A partir daí, é possível associar o crescimento populacional do Brasil à etapas diretamente
relacionadas ao contexto político, econômico e social sob o qual vivia o país.
d) Importância da sociologia no entendimento de geopolítica e globalização:
Um dos principais temas estudados em Geopolítica na atualidade é a globalização,
que compreende um processo econômico e social, estabelecendo uma integração entre os
países e as pessoas do mundo todo. Esse processo torna possível a dispersão e o
conhecimento dos aspectos culturais de cada sociedade através da relação entre pessoas,
governos e empresas de diferentes partes do mundo.
A partir desses conceitos, pode-se traçar um elo entre Geopolítica e Sociologia, já
que esta está diretamente relacionada ao estudo do meio social de uma determinada
comunidade e as características da sociedade que compõe determinado Estado.
e) Importância da sociologia com o estudo de democracia e corrupção:
De acordo com a sociologia, o conceito de democracia tem sua base na origem
(grega) da palavra: ”demo” + “kratos” = “povo” + “governo”, o que imprime a
participação do povo, independentemente de suas condições sociais, econômicas ou
étnicas, nas decisões da comunidade.
Em relação à participação do povo na comunidade, a democracia divide-se em dois
tipos:
1. Democracia Direta: em que os cidadãos têm o livre direito de expressão e
discussão de suas ideias em assembleias ou reuniões, sem a intervenção de intermediários.
Esse tipo de democracia costuma ser aplicável somente em territórios pequenos.
2. Democracia Indireta ou Representativa: em que os cidadãos escolhem, por meio
de eleições, representantes que irão tomar as decisões públicas pela comunidade,
entretanto, existem referendos e plebiscitos em que os cidadãos podem votar contra ou a
favor de temas de interesse público. Esse tipo de democracia é vigente na maioria dos
governos democráticos.
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A palavra corrupção, de origem latina (“corruptos”, que significa “quebrar em
pedaços”, isto é, decompor ou deteriorar algo) pode ser determinada como o ato de
corromper algo ou alguém visando à obtenção de lucros ou vantagens em determinadas
situações.
O entendimento dos conceitos ressaltados de democracia e corrupção torna-se
importante no momento em que os mesmos são realidades vivenciadas e discutidas pela
sociedade brasileira, que, por outro lado, é regida por um governo democrático. A partir
dessa ideia, é possível estabelecer uma relação entre os conceitos de democracia e
corrupção com a formação do espaço geográfico, definido pela professora Simone Aguiar
como:
O espaço geográfico é aquele que foi modificado pelo homem ao longo da
história. Que contém um passado histórico e foi transformado pela organização
social, técnica e econômica daqueles que habitaram ou habitam os diferentes
lugares ('o espaço geográfico é o palco das realizações humanas). (AGUIAR,
2013)
A partir do momento em que um dos papeis da geografia é o estudo do espaço
geográfico construído em um território e, no caso deste trabalho, no território brasileiro,
observa-se a contribuição da disciplina de sociologia no desenvolvimento de conceitos
importantes à geografia social e política.
4.2 Dimensão procedimental
A dimensão procedimental está relacionada a procedimentos, hábitos, técnicas e
métodos vivenciados e apreendidos pelo indivíduo, de forma que o mesmo se torne capaz
de reconhecer e aplicar as etapas de determinado projeto a fim de alcançar certo objetivo.
Com base na determinação do conceito da dimensão procedimental, é possível
associá-la a alguns conteúdos das falas dos alunos no contexto do grupo focal. Têm-se,
pois:
a) Importância da filosofia, que deu origem às outras disciplinas:
Toda grande descoberta científica é ao mesmo tempo um passo em frente no
desenvolvimento filosófico da visão de mundo e da metodologia. Afirmações
filosóficas baseiam-se em conjuntos de fatos estudados pelas ciências e também
no sistema de proposições, princípios, conceitos e leis. As conquistas das
ciências especializadas são resumidas em afirmações filosóficas. Geometrias
euclidianas, a mecânica de Galileu e Newton, que influenciaram as mentes dos
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homens ao longo dos séculos, foram grandes conquistas da razão humana, que
desempenhou um papel significativo na formação de visões de mundo e de
metodologia. Uma revolução intelectual foi produzida pelo sistema heliocêntrico
de Copérnico, que mudou toda a concepção da estrutura do universo, ou a teoria
da evolução de Darwin, que teve um impacto profundo em ciências biológicas
em geral e toda a nossa concepção do lugar do homem na natureza. O brilhante
sistema de Mendeleiev de elementos químicos aprofundou a nossa compreensão
da estrutura da matéria. A Teoria da relatividade de Einstein mudou a nossa
noção da relação entre matéria, movimento, espaço e tempo. A mecânica
quântica revelou até então o desconhecido mundo das micropartículas da
matéria. A teoria da atividade nervosa superior evoluiu por Sechenov e Pavlov
aprofundou a nossa compreensão das bases materiais da atividade mental, da
consciência. A cibernética revelou novos horizontes para a compreensão dos
fenômenos de interações de informação, os princípios de controle em sistemas
vivos, em dispositivos tecnológicos e na sociedade, bem como os princípios de
feedback, o sistema homem-máquina, e assim por diante. (MARIANI, 2013)
A partir de um conhecimento histórico a cerca das origens da filosofia, é possível
afirmar que, somente a partir dos conceitos definidos pelos filósofos antigos, foi possível a
construção das demais áreas do conhecimento. Dentre estas áreas se encontra a geografia,
que tem seu nome originado na Grécia (“geo” = terra + “graphos”= escrever, ou seja, uma
ciência que descreve o Planeta e os fenômenos que nele ocorrem), pelo filósofo
Erastóstenes, por volta de 300 a.C.
b) Auxílio da filosofia na interpretação de textos densos (carregados, de difícil
interpretação):
O estudo dos conteúdos destinados à disciplina de filosofia exige uma maior
concentração do aluno, bem como disposição do professor, uma vez que é necessária a
leitura de obras grandes, densas (de muito conteúdo) e compostas de um vocabulário
diferenciado, associado a escritos de origem antiga e com termos específicos da ciência.
Portanto, por meio da leitura constante de textos de filosofia, a capacidade de concentração
e interpretação do aluno é melhorada, o que implica em benefícios diversos à vida
acadêmica do indivíduo. Isso pode ser explicado pelo fato de que todas as áreas do
conhecimento, o que inclui a geografia e história, têm como pré-requisito a capacidade de
compreensão e interpretação de textos, sejam estes nas diversas formas as quais podem se
apresentar.
4.3 Dimensão atitudinal
A Dimensão Atitudinal pode ser definida como um conjunto de ideais captados
pelo indivíduo de modo a fazê-lo analisar, refletir e reagir de determinadas maneiras
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perante determinadas situações. Essa dimensão pode também ser definida como uma série
de normas, valores ou juízos adquiridos pelo indivíduo durante a sua formação.
Perante a definição do conceito geral da Dimensão Atitudinal, os discursos dos
alunos no contexto do grupo focal puderam ser determinados e organizados, de forma a
extrair suas principais ideias, tais quais:
a) Importância da sociologia no auxílio do entendimento de algumas questões, no
questionamento das mesmas e na construção e desconstrução de pensamentos:
A grade de conteúdos da disciplina de sociologia prevê o estudo de questões que
colaboram com a aproximação, investigação e reflexão a cerca das teorias das Ciências
Sociais no cotidiano dos alunos, como instrumento de reflexão crítica sobre alguns pontos
a sociedade. Alguns dos principais autores que contribuem para esse tipo de re-flexão são
Émile Durkheim, com o estudo do fato social; Max Weber, com suas ideias a cerca da ação
social; e Karl Marx, com suas análises a cerca do trabalho e classes sociais.
De acordo com Émile Durkheim, a sociedade condiciona a vida dos indivíduos de
forma a criar condutas que devem ser seguidas por todos. Nesse sentido, o meio social é
desenvolvido por normas sociais denominadas por Durkheim como fatos sociais que, por
sua vez, têm como características principais serem exteriores, isto é, são formados
independentemente da vontade do indivíduo; e coercitivo o que significa que devem ser
seguidos por todos os indivíduos da sociedade e, muitas vezes, é seguido
inconscientemente.
Já no caso de Max Weber, o indivíduo é o foco principal do estudo, haja vista que
as ações do mesmo determinariam os rumos do processo de mudança social. Em suas
análises, Weber criou o conceito de “ação social”, que é explicado por ele como “qualquer
ação realizada por um sujeito em um meio social que possua um sentido determinado por
seu autor”. Para que a ação social seja possível, é necessário que o autor estabeleça uma
comunicação com seu interlocutor a fim de obter a resposta esperada.
Para Karl Marx, as transformações sociais são explicadas por meio da relação entre
forças sociais, isto é, entre classes distintas. No estudo de Marx, as classes fundamentais da
sociedade capitalista são a burguesia e o proletariado, a partir das quais as transformações
históricas e sociais ocorreriam, haja vista que se encontram sempre em lados opostos e
defendendo interesses distintos na sociedade.
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Tendo como exemplo os autores acima especificados, a sociologia se preocupa com
a análise de teorias a respeito das transformações ocorridas no meio social. Dessa forma, é
possível observar a importância da apresentação dessa disciplina no Ensino Médio e a
contribuição da mesma nos estudos direcionados à geografia humana de um modo geral.
b) Importância da sociologia na análise de questões como a escravidão:
Apesar de o termo “escravidão” ser tradicionalmente remetido a um contexto
remoto, existe, na atualidade brasileira, situações análogas a escravidão que são, muitas
vezes, despercebidas e marginalizadas pela população. De acordo com a primeira edição
do ranking lançado pela Walk Free Foundation (ONG internacional que se coloca a missão
de identificar países e empresas responsáveis pela escravidão moderna), o Brasil se
encontra na 94ª posição em um índice dos 162 países com os piores indicadores de
trabalho escravo do mundo. Além disso, de acordo com o índice, 29 milhões de pessoas
vivem em condição análoga à escravidão no mundo (vítimas de trabalho forçado, tráfico
humano, trabalho servil derivado de casamento ou dívida, exploração sexual e exploração
infantil). Apesar da posição que o Brasil ocupa nesse ranking, tendo, de acordo com
pesquisas, um número estimado de 200 mil pessoas em situações análogas à escravidão, o
país é considerado um exemplo no que se refere às iniciativas com finalidade de erradicar
o trabalho escravo moderno.
Com o intuito de entender melhor essas questões, o trabalho da sociologia torna-se
bastante importante na formação, tanto acadêmica, quando pessoal dos alunos, haja vista
que a disciplina tem como um de seus principais focos realizarem discussões a cerca da
conjuntura social na qual se encontra o país.
A partir da análise de um mapa divulgado pelo MTE (Movimento do trabalho e
emprego), IBGE, a maior concentração de trabalhadores escravizados resgatados no Brasil
é encontrada nas áreas de expansão da fronteira agrícola nacional, atingindo, em especial,
partes das regiões Norte, Centro Oeste e Nordeste. Logo, vale ressaltar que a questão da
'escravidão moderna' está diretamente relacionada à situação econômica nacional
direcionada à exploração da mão de obra e obtenção de lucro, tema que é também
discutido na área da geografia econômica e social.
c) Diálogos e discussões proporcionados pelo estudo da filosofia e sociologia:
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De acordo com o programa de conteúdos de sociologia apresentado pelo professor
César Augusto Venâncio da Silva para a Escola Estadual de ensino médio e fundamental
Michelson Nobre da Silva, as vertentes principais da disciplina são:
Representação e comunicação, que se refere à capacidade do aluno de identificar,
analisar e comparar os diferentes discursos sobre a realidade: as explicações das
Ciências Sociais, amparadas nos vários paradigmas teóricos, e as do senso comum.
Produzir novos discursos sobre as diferentes realidades sociais, a partir das
observações e reflexões realizadas;
Investigação e compreensão, que se refere à capacidade do aluno de construir
instrumentos para uma melhor compreensão da vida cotidiana, ampliando a “visão
de mundo” e o “horizonte de expectativas”, nas relações interpessoais com os
vários grupos sociais. Construir uma visão mais crítica da indústria cultural e dos
meios de comunicação de massa;
Contextualização sociocultural, que se refere à capacidade do aluno de
compreender e valorizar as diferentes manifestações culturais de etnias e segmentos
sociais, agindo de modo a preservar o direito à diversidade, enquanto princípio
estético, político e ético que supera conflitos e tensões do mundo atual.
Compreender as transformações no mundo do trabalho e o novo perfil de
qualificação exigida, gerados por mudanças na ordem econômica. Construir a
identidade social e política, de modo a viabilizar o exercício da cidadania plena, no
contexto do Estado de Direito, atuando para que haja, efetivamente, uma
reciprocidade de direitos e deveres entre o poder público e o cidadão e também
entre os diferentes grupos.
A partir dessas vertentes, é possível elaborar uma proposta geral no que diz respeito
ao ensino da sociologia nas escolas de ensino médio. O ponto principal dessa proposta
seria promover a discussão entre alunos e professores a cerca de temas do cotidiano e
temas da realidade atual, que, muitas vezes, não são discutidos em ambientes não
acadêmicos.
Já a filosofia estimula os alunos a uma frequente discussão acerca das divergentes
opiniões de filósofos que formularam teorias sobre questões como a racionalidade, a
experiência, o ser e a essência do homem. Estes temas se configuram como questões de
grande valor na sociedade, haja vista que um dos principais objetivos do homem, com a
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elaboração constante de novas teorias científicas a respeito da vida, é desvendar os
mistérios de sua existência, o que ganha novas proporções com a disciplina de filosofia.
Portanto, as discussões em sala de aula proporcionadas pelas disciplinas sociologia
e filosofia se configuram como um meio de possibilitar uma maior interação dos alunos
com os acontecimentos recorrentes na sociedade, bem como dar base ao surgimento de
novas opiniões e visões críticas que confirmem (ou entrem em conflito) com as teorias
formuladas por estudiosos das áreas. Entretanto, essas discussões não se limitam somente
aos territórios da filosofia e sociologia, mas se abrangem por todas as outras áreas do
conhecimento em um ambiente acadêmico no qual os estudantes estão inseridos.
d) Opiniões adversas que compõem o COLUNI, ciências políticas (estudo da
estrutura, das mudanças de estrutura e dos processos de governo) e compreensão da
situação política atual nacional e global:
É impossível negar a importância das disciplinas de filosofia e sociologia na
formulação de discursos que são construídos a partir de diferentes bases das ciências
sociais e, dessa forma, possuem características diferenciadas. A partir de uma análise das
ideologias defendidas pelos alunos do Colégio de Aplicação - COLUNI é possível perceber
os diferentes embasamentos sociais citados, de forma a ressaltar a importância da
promoção de discussões sobre variados assuntos nos colégios. A partir dessas discussões, o
entendimento da situação social, econômica e política pela qual o Brasil está passando se
tornam mais dinâmica, de forma a dar espaço as variadas opiniões tanto dos alunos quanto
dos professores. A partir dessa ideia, com o objetivo de formar cidadãos mais conscientes,
informados e críticos, é imprescindível a apresentação de conteúdos relacionados á
sociologia e à geografia humana e, dessa forma, proporcionar uma base no conhecimento
para que os alunos tenham a possibilidade de desenvolver suas próprias opiniões a partir de
argumentos com embasamentos válidos.
4.4 Dimensão relativa ao docente
A Dimensão do conteúdo relativa ao docente engloba todas as questões que
envolvem o professor, suas ideologias e seus métodos de ensino, além da organização da
disciplina e a relação da instituição (escola) com o docente ou com o Estado.
18
Por meio da determinação da dimensão relativa ao docente, é possível realizar um
levantamento dos assuntos discutidos no grupo focal que estão relacionados a esse
conceito. São estes:
a) Complexidade na exposição dos conteúdos de filosofia (prós e contras):
Durante a discussão dos alunos desenvolvida no grupo focal, podem-se perceber as
opiniões divergentes em relação à introdução da filosofia na grade curricular do ensino
básico associado ao grau de complexidade dos conteúdos da disciplina. A partir dessa
ideia, as opiniões divergiram no sentido que de alguns estavam em concordância com a
ideia de que o ensino de filosofia deve ser estruturado de forma gradual, de modo que a
introdução da disciplina para crianças seria apropriada, enquanto outros acreditavam que a
introdução da disciplina somente no ensino médio, como ocorre na maioria das escolas
brasileiras, seria compensado pela maturidade já adquirida pelo aluno nessa etapa da vida,
de forma que o mesmo teria uma maior facilidade no desenvolvimento da matéria.
De acordo com os PCN (Parâmetros Curriculares Nacionais), um dos objetivos da
escola é a formação de indivíduos pensadores críticos autônomos, isto é, com plena
capacidade de pensar, questionar e refletir a cerca do conhecimento que está sendo
apreendido, de forma a construir ideias próprias em relação a diversos temas, e não
somente absorvê-los de forma passiva.
Em associação a essa ideia, encontra-se o pensador norte-americano Matthew
Lipman, que propõe a iniciação do estudo de filosofia para crianças sob o argumento de
que o ensino básico oferece um espaço diferenciado bastante propício ao desenvolvimento
do “pensar bem”, um pensar reflexivo, criativo e autônomo. Lipman desenvolveu uma
série de projetos relacionados ao ensino de filosofia para crianças, dentre os quais se
destaca “Filosofia para Crianças - Educação para o Pensar” e a criação da IUPC (sigla, em
inglês, que significa Instituto para o Desenvolvimento da Filosofia para Crianças), uma
entidade que auxiliou na divulgação e implantação do projeto em diversos países.
Podemos esperar que filosofia para crianças dê frutos numa sala de aula
heterogênea, onde estudantes falem sobre uma variedade de experiências e
estilos de vida, onde se explicitem diferentes crenças na importância das coisas, e
onde uma pluralidade de maneiras de pensar, em vez de serem depreciadas,
sejam consideradas inteiramente valiosas. Na aula de filosofia para crianças
aceitam-se os argumentos procedentes do pensador meticuloso com o mesmo
respeito dispensado aos que apresentam seu ponto de vista de modo rápido e
articulado. (LIPMAN, 2001)
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b) Suposta grade de conteúdos iniciais do estudo de filosofia para crianças
Um problema recorrente nas escolas brasileiras tradicionais é a falta de interesse dos
alunos no aprendizado dos conteúdos gerais. Isso ocorre devido a pouca participação dos
mesmos durante as aulas, acarretando em um aprendizado descontextualizado e entediante.
Nesse sentido, a base filosófica inicial, para alunos do ensino fundamental, seria construída
com o objetivo de provocar discussões e fazer as crianças questionarem, analisarem
criticamente e divergirem (quando for o caso) das opiniões e conceitos pré-estabelecidos.
c) Ensino precário e falta de preparação dos professores de filosofia e sociologia em
escolas públicas:
Um dos argumentos utilizados para defender o ensino transversal da filosofia (que
trata de temas que expressam conceitos e valores básicos à democracia e à cidadania e
obedecem a questões importantes e urgentes para a sociedade contemporânea) nas escolas,
em detrimento ao ensino disciplinar (que trata de disciplinas reconhecidas pela instituição)
refere-se à estruturação precária na formação dos professores, bem como a educação
deficiente das escolas (falta de material, professores, infraestrutura inadequada ao ensino,
etc.).
A partir dessa situação surgem opiniões contrárias à introdução da disciplina de
filosofia no ensino básico, uma vez que a mesma seria ineficaz em decorrência do fato de
que os professores não estariam preparados o suficiente para lidar com as questões
relacionadas à inserção das crianças no mundo da filosofia.
d) Falta de incentivo do Estado à programas de capacitação de professores, planos
de carreira, melhores salários:
De acordo com uma reportagem veiculada no site Uol, no dia 03/10/2013, o Brasil
se encontra na 21ª posição no ranking lançado pela Varkey GEMS sobre o Índice Global
de Status de Professores, o que comprova a ideia de que a profissão é bastante
desvalorizada no Brasil. Essa desvalorização, entretanto, não se deu de forma repentina,
haja vista que o histórico do país em relação a esse tratamento da profissão é antigo. Foi
somente no século XX que o Brasil consolidou o ensino fundamental nas escolas e abriu
espaço para estudantes advindos de diversas realidades socioeconômicas. Nesse contexto,
foi necessária uma maior demanda de docentes para preencher os novos cargos de trabalho,
o que acarretou na contratação de professores com baixos níveis de formação e
especialização, o que contribuiu para desvalorizar ainda mais a profissão. Isso explica a
20
atual realidade brasileira, em que o aumento gradativo do salário do professor está
associado ao nível do ensino (básico, fundamental, médio ou superior) no qual o mesmo
exerce seu cargo.
Além disso, um ponto que favoreceu a diminuição da procura por cargos
relacionados à docência está relacionado aos baixos salários associados a esse tipo de
profissão. De acordo com uma reportagem publicada no site época, no dia 15/02/2016, que
relaciona o salário médio inicial do profissional brasileiro com a sua determinada
profissão, os professores de filosofia e sociologia do Ensino Médio no estado de Minas
Gerais têm como salário médio inicial, respectivamente, cerca de R$1256,00 e R$1133,00,
enquanto no mesmo estado um engenheiro agrônomo, por exemplo, tem como salário
médio inicial cerca de R$ 4280,00.
A junção da falta de preocupação do Estado com iniciativas que possibilitem uma
maior capacitação dos professores aos baixos salários correspondentes à área faz com que
a profissão seja ainda mais desvalorizada. Nesse sentido, algumas disciplinas são deixadas
em segundo plano, como filosofia e sociologia, de forma a tornar ainda mais difícil o
acesso dos estudantes às mesmas.
e) Estudo da filosofia e sociologia com ênfase nas questões ideológicas que estão
sendo passadas pelo professor, e as que estão sendo formadas pelo aluno:
Os sujeitos da enunciação são como bem o lembra Orlandi (1983), não apenas
seres individuais, com pensamento e capacidade próprios, mas também e
sobretudo seres sociais que, como tal, partilham com outros sujeitos da
comunidade à qual pertencem (no caso, comunidade científica) pontos de vista,
atitudes e comportamentos que passam a funcionar como convenções. Enquanto
agentes, os sujeitos impregnam com seu 'eu' as atividades que constroem;
enquanto participantes de um grupo social, aderem aos princípios que os unem e
aceitam (na maioria das vezes de forma inconsciente) as convenções que os
caracterizam. Tal subjetividade, pois, não prescinde do social, antes o pressupõe
como parte integrante do próprio sujeito: as comunidades interpretativas
determinam a produção do discurso (enunciação-1) e suas formas de expressão,
bem como os modos de reação aos estratagemas usados no momento de criação
do sentido pela compreensão (enunciação 2, 3 etc.). (Um fazer persuasivo: o
discurso subjetivo da ciência). (CORACINI, 1991, p. 191).
É possível afirmar que todo discurso, por mais científico que seja, é subjetivo. Isso
se dá pelo fato de que o enunciante é um sujeito social, isto é, está inserido em uma
comunidade que tem como base ideias e conceitos comuns aos seus membros, o que
acarreta no fato de que todos os discursos enunciados por um indivíduo estará carregado de
21
uma forte influência derivada do seu convívio social. Essa influência pode se estabelecer
no sentido de confirmação do senso comum ou no sentido de negação do mesmo, de forma
a construir as ideias pessoais do indivíduo.
A partir dessa análise é possível perceber que, durante as aulas, o professor
exprime, até mesmo de forma não proposital, suas ideias pessoais. Esse fato deve se
constituir como causa de grande preocupação, haja vista que, em um contexto de Ensino
Médio, em que os alunos estão em uma fase crucial para a formação identitária como
sujeitos sociais críticos, é imprescindível valorização do professor como um meio de
transmissão dos conteúdos e de promoção de debates, no sentido de incentivar a
formulação pessoal de opiniões entre os alunos e elucidar as dúvidas advindas desse
processo.
Durante as discussões entre alunos do Ensino Médio do Colégio de Aplicação -
COLUNI, no grupo focal, foram notáveis os ressalves realizados a cerca da influência da
metodologia utilizada pelo docente no crescimento dos alunos ao longo do ano junto à
disciplina. Em relação a disciplina de filosofia, principalmente, o educador que constrói os
conceitos junto aos alunos de forma gradual e utilizando como base das aulas discussões
relacionadas ao tema para, por fim, realizar uma conclusão geral do assunto, é melhor
conceituado na visão dos educandos do que o educador que meramente emite sentenças
sem concatenação e não promove discussões com os alunos. Isso pode ser explicado pelo
fato de que o primeiro modelo de professor apresenta o conteúdo de uma forma mais
didática e convida os alunos a uma maior interação durante as aulas, de modo a chamar a
atenção dos mesmos para promover a organização do aprendizado de forma conexa. Já o
segundo modelo de professor não tem como maior preocupação a elaboração gradual e
coletiva do aprendizado, mas sim a exposição dos conteúdos, o que faz com que as aulas se
tornem excessivamente conceituais, de modo a não chamar tanto a atenção dos jovens
alunos.
f) A questão da interdisciplinaridade entre os conteúdos de sociologia, geografia,
filosofia e história:
Nos parâmetros do ensino atual, um método muito utilizado pelos docentes é o de
abandonar a ideia do aluno como mero receptor da informação e introduzir o mesmo como
um participante ativo do processo de aprendizagem. Dessa forma, com o objetivo de
construir um elo entre conteúdos pertencentes a diferentes disciplinas, mas que possuem
22
uma base em comum torna-se importante a questão da interdisciplinaridade. A ideia da
interdisciplinaridade dos conteúdos no ambiente escolar é muito importante tendo vista
que, na maioria das vezes, a educação tradicional restringe o estudo de determinados temas
às disciplinas específicas, apesar de muitos dos mesmos terem ocorrido em momentos
históricos, econômicos e sociais bastante parecidos. Portanto, a interdisciplinaridade se
concretiza como uma forma de associar temas estudados por diferentes matérias, de forma
a possibilitar um melhor aprendizado ao aluno. Essa ideia é construída por meio do diálogo
entre os docentes de modo a tornar o aprendizado mais didático, sem a sobreposição de
conteúdos.
Na área da geografia há uma grande abertura à entrada desse método de ensino,
uma vez que a mesma se relaciona diretamente com a sociologia por meio do estudo de
temas como ética e análise de mercado, por exemplo, além do estudo do espaço social e
geográfico.
Durante as discussões no grupo focal, foi destacada pelos alunos a ideia de que, na
maioria das vezes, o aprendizado de filosofia nas escolas tradicionais é restrito, isto é,
recoberto pelo estudo de temas muito definidos e sem a abertura para uma discussão mais
profunda. Já com a disciplina de sociologia, os alunos relataram a apresentação dos
conteúdos de forma mais palpável e com a abertura de espaço para análises e discussões a
cerca dos temas.
5. INÍCIO DE UM DEBATE
Em decorrência da introdução da filosofia e sociologia como disciplinas
obrigatórias da grade curricular do Ensino Médio brasileiro, no ano de 2008, percebeu-se o
surgimento de novas possibilidades à área das ciências humanas. Neste contexto, o
presente trabalho buscou realizar uma análise dos novos desafios do eixo das ciências
humanas a partir da incorporação das citadas disciplinas. Em uma ideia inicial, o trabalho
tinha como fim analisar a perspectiva da introdução da filosofia e sociologia no ensino
médio na visão da geografia, porém, no decorrer do projeto, se tornou perceptível que o
referido contexto não apresentou novos desafios somente à geografia, mas a toda a área das
ciências humanas.
A pesquisa foi desenvolvida no Colégio de Aplicação - COLUNI por meio da
realização de um grupo focal direcionado à promoção de uma discussão sobre o tema entre
23
alunos no Ensino Médio da referida instituição de ensino. Os dados obtidos nesta discussão
serviram de base para a elaboração do trabalho.
Em um balanço das informações obtidas no grupo focal, foi possível perceber que
as disciplinas de sociologia e filosofia são de grande importância na formação, tanto
pessoal quanto acadêmica, do estudante. Isso pode ser explicado pelo fato de que as
mesmas, em especial a sociologia – na forma como é apresentada nas escolas atualmente -,
abrem espaço para a realização de debates entre os alunos e o professor a fim de
proporcionar o surgimento de novas ideias a respeito de um determinado tema. Além disso,
as mesmas contribuem para a formação de um senso crítico e identidade pessoal e social
nos estudantes, haja vista que estes se encontram em um ambiente e faixa etária propícios a
isso.
Dessa forma, o objetivo geral do trabalho foi alcançado e a pesquisa é relevante no
sentido de que dá espaço para a realização de outros trabalhos na área. Isto porque a
mesma abre portas para projetos de modificação do sistema de ensino das Ciências
Humanas (no Ensino Médio) com o propósito de dar fim ao estilo tradicional e
ultrapassado das aulas que a educação brasileira está acostumada, e ampliar a inserção de
propostas que tenham como base a dinamização das aulas.
No contexto do COLUNI, que é uma instituição de Ensino Médio da rede pública
federal, esta pesquisa é relevante uma vez que o colégio recebe estudantes na faixa etária
de 14 a 18 anos de toda a região que, em sua maioria, começam a morar sozinhos e,
portanto, dão inicio a vida adulta precocemente. Dessa forma, os alunos têm a necessidade
da criação de um senso de responsabilidade e independência, além de um pensamento
crítico e identidade pessoal. Portanto, a conexão das disciplinas relacionadas às ciências
sociais tem uma grande importância no contexto no qual o colégio e os estudantes estão
inseridos, o que torna a presente pesquisa pertinente.
Em relação às dificuldades verificadas na realização do trabalho, destacam-se a
complexidade na análise das opiniões apresentadas no grupo focal e dificuldade na
organização do projeto em si. A primeira está relacionada com a questão da análise dos
dados de forma objetiva, o que exigiu bastante esforço, uma vez que também sou uma
estudante da instituição na qual a pesquisa foi realizada e, dessa forma, tive o obstáculo de
me manter imparcial na interpretação das informações. Além disso, a realização do
24
trabalho exigiu bastante pesquisa a respeito dos temas tratados no grupo focal, o que se
constituiu como um obstáculo a ser superado ao longo do desenvolvimento do projeto.
Já a segunda dificuldade se relaciona com os problemas na organização e
sequenciamento das ideias a serem trabalhadas no decorrer do projeto. Este problema
poderia ser resolvido com um planejamento e exposição de todos os passos a serem
trabalhados durante a pesquisa no início do projeto, de forma que eu pudesse estar mais
situada sobre as etapas da mesma e, dessa forma, pudesse me organizar melhor.
Vale ainda ressaltar que o COLUNI, escola que propõe a ideia de um colégio de
aplicação cujos objetivos devem incluir projetos de pesquisa, administração e formação
profissional, deveria desenvolver um pensamento de forma a reorganizar sua matriz
curricular a fim de ampliar, diversificar e flexibilizar, seu quadro de disciplinas. Para isto
seria indispensável relacionar os ganhos advindos por meio da introdução da filosofia e
sociologia na escola.
Por fim, a conclusão deste trabalho se constitui apenas como um “início de debate”,
haja vista que o mesmo se apresenta como uma contribuição para futuras pesquisas, ou
mesmo material para elaboração de detalhamentos intelectuais mais profundos do fato
estudado. Portanto, a presente pesquisa abre caminhos para a elaboração de outros projetos
que busquem a construção de um ensino médio mais dinâmico e inclusivo.
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25
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