prevalÊncia do diabetes mellitus e tolerÂncia...
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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA Faculdade de Ciências da Saúde
Programa de Pós-graduação em Ciências da Saúde
Geraldo Ferreira de Oliveira
PREVALÊNCIA DO DIABETES MELLITUS E TOLERÂNCIA DIMINUÍDA À GLICOSE NA POPULAÇÃO INDÍGENA,
ENTRE 18 E 69 ANOS DE IDADE, DA ALDEIA JAGUAPIRU, DOURADOS-MS, BRASIL
Brasília - DF 2009
UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA
Geraldo Ferreira de Oliveira
PREVALÊNCIA DO DIABETES MELLITUS E TOLERÂNCIA DIMINUÍDA À GLICOSE NA POPULAÇÃO INDÍGENA,
ENTRE 18 E 69 ANOS DE IDADE, DA ALDEIA JAGUAPIRU, DOURADOS - MS, BRASIL
Brasília - DF
2009
Dissertação apresentada como requisito parcial para a obtenção do grau de mestre em Ciências da Saúde pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde da Universidade de Brasília. Orientador: Prof. Dr. Luiz Augusto Casulari Roxo da Motta
Ficha catalográfica
Oliveira, Geraldo Ferreira.
Prevalência do diabetes mellitus e tolerância diminuída à glicose na
população indígena, entre 18 e 69 anos de idade da aldeia Jaguapiru,
Dourados-MS, Brasil. / Geraldo Ferreira de Oliveira.
Brasília, 2009.
112p. : il.
Dissertação de mestrado. Programa de Pós-Graduação em Ciências da
Saúde, Universidade de Brasília, Brasília.
1. diabetes mellitus 2. tolerância diminuída à glicose 3. indígenas
4. hipertensão 5. índios sul-americanos.
Geraldo Ferreira de Oliveira
Prevalência do diabetes mellitus e tolerância diminuída à glicose na população
indígena, entre 18 e 69 anos de idade da aldeia Jaguapiru, Dourados -MS, Brasil
Dissertação apresentada como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Ciências da Saúde pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde da
Universidade de Brasília.
Aprovado em 13 de julho de 2009 BANCA EXAMINADORA
Prof. Dr. Luiz augusto casulari Roxo da Motta- Presidente
Universidade de Brasília
Prof. Dr. Maurício Gomes Pereira
Universidade de Brasília
Profa. Drª Mariângela Ribeiro Resende
Universidade Estadual de Campinas- SP
Ao meu pai, Imídio (in memorian),
Pelo exemplo de ponderação e serenidade
À minha mãe, Maria,
Por ensinar-me o valor do trabalho e da perseverança
Ao meu filho Rubens (in memorian),
Por revelar-me a beleza de se viver e celebrar intensamente cada instante da vida
Ao meu filho, Henrique,
Por mostrar-me a diversidade humana e preencher duplamente nosso coração paterno
À minha esposa, Regina,
Pela colaboração inestimável, pelo estímulo diuturno e o exemplo de
perseverança com que enfrenta os obstáculos.
Ao Prof. Dr. Luiz Augusto Casulari Roxo da Motta
Pessoa de grande conhecimento, amigo e atencioso.
Pelos valiosos ensinamentos que me permitiram alçar novos caminhos no campo da
pesquisa científica.
AGRADECIMENTOS
Aos acadêmicos de Medicina, da Liga de Diabetes, da Universidade Federal da
Grande Dourados pela colaboração.
Ao indígena Salvador Sanches pela contribuição durante as visitas
Ao Pólo Indígena de Dourados da Fundação Nacional de Saúde pelo fornecimento
de dados
Aos indígenas participantes do estudo pelo carinho que nos receberam
RESUMO
Avaliou-se a prevalência de diabetes mellitus e tolerância diminuída à glicose nos
indígenas com idade entre 18 e 69 anos, da aldeia Jaguapiru, Dourados, MS.
Estudou-se uma amostra aleatória de 606 indígenas, 268 homens e 338 mulheres.
Os dados foram coletados por meio do formulário, do exame clínico, da dosagem da
glicemia capilar e do teste oral de tolerância à glicose, quando necessário.
Excluíram-se as mulheres grávidas, usuários de corticóide e residentes não
indígenas da aldeia e seus descendentes. A prevalência de diabetes foi de 4,5% e
de 2,2% para a tolerância diminuída à glicose, com maior frequência entre as
mulheres. A obesidade estava presente em 14,2% dos homens e em 30,8% das
mulheres. A prevalência da hipertensão foi de 29,7% entre todos os participantes e
de 67,5% entre os indivíduos diabéticos e com tolerância diminuída à glicose. A
prevalência de diabetes mellitus e tolerância diminuída à glicose na população entre
18 e 69 anos, da aldeia Jaguapiru, é inferior à da população brasileira. Contudo a
freqüência de obesidade foi maior que a apresentada na população brasileira. A
prevalência da hipertensão arterial foi semelhante à da população brasileira, não
havendo diferença entre os sexos.
As mulheres indígenas têm maiores riscos de ter obesidade e diabetes do que os
homens.
Palavras-chave: Indígenas; diabetes mellitus; tolerância diminuída à glicose;
hipertensão; índios sul-americanos.
Abstract
To evaluate the prevalence of diabetes mellitus and impaired glucose tolerance in
indigenous aged 18 and 69 years, the community Jaguapiru, Dourados, MS. A
simple random sample was drawn from the first 349 numbers of a ballot box
containing the official figures for all 1,255 homes in the community. Pregnant women
and users of corticosteroids were excluded. There were measurements of capillary
blood glucose with glucometer and testing of oral tolerance to glucose when needed.
The sample of 606 Indians (268 men and 338 women) representing 10.5% of the
population of the community. The prevalence of diabetes was 4.5% and impaired
glucose tolerance of 2.2%, with higher frequency among women. Obesity was
present in 14.2% of men and 30.8% of women. The prevalence of hypertension was
29.7% among all participants and 67.5% among diabetic and impaired glucose
tolerance. In relation to the Brazilian population, the prevalence of diabetes mellitus
and impaired glucose tolerance were less than that the obesity was higher and
hypertension was similar.
Key words: Indigenous; diabetes mellitus; impaired glucose tolerance;
hypertension; South American Indians.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1. Localização de Dourados.......................................................................30
Figura 2 - Localização da reserva indígena de Dourados.....................................31
Figura 3 - Distribuição das glicemias na população indígena de Jaguapiru entre 18 e 69 anos, em Dourados, MS, 2008............ ....................................................... 43
Figura 4 – Distribuição das glicemias por faixa etária e sexo ...............................60
Figura 5 - Glicemias normais (abaixo de 99 mg/dl) e alteradas (acima de 99 mg/dl) na amostra de 606 indígenas da aldeia Jaguapiru, entre 18 e 69 anos, em Dourados, MS,2008................................................................................................................61
.
.
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Distribuição da população da aldeia Jaguapiru entre 18 e 69, por sexo e faixa etária, Dourados, MS, 2008...............................................................32
Tabela 2 – Valores considerados pela Sociedade Brasileira de Cardiologia, pela V Diretrizes Brasileira de Hipertensão Arterial, 2006, Campos do Jordão, SP...............................................................................................................................41
Tabela 3 - Diabéticos conhecidos e desconhecidos na população de 18 a 69 anos da aldeia Jaguapiru, Dourados, MS, 2008....................................................44
Tabela 4 - Tolerância diminuída à glicose entre os indígenas da aldeia Jaguapiru segundo sexo e idade, Dourados, MS, 2008.......................................45
Tabela 5 - Freqüências de glicemia de jejum normal, glicemia de jejum alterada tolerância diminuída à glicose e diabetes mellitus em relação à faixa etária e sexo dos indígenas da aldeia Jaguapiru, Dourados,MS, 2008............................46
Tabela 6 - Número de pessoas por sexo e idade que participaram do estudo de prevalência do diabetes mellitus e tolerância diminuída à glicose na aldeia Jaguapiru, Dourados, 2008.....................................................................................47
Tabela 7 - Indicadores sócio-econômicos, segundo o sexo, relacionados aos resultados das glicemias dos indígenas participantes do estudo da aldeia Jaguapiru, em Dourados, MS, 2008.......................................................................48
Tabela 8 - Indicadores sócio-econômicos familiares relacionados aos resultados das glicemias dos indígenas participantes do estudo da aldeia Jaguapiru, em Dourados, MS, 2008.......................................................................50
Tabela 9 - Média do peso e altura em relação aos valores glicêmicos dos indígenas por sexo e faixa etária da aldeia de Jaguapiru, Dourados,MS, 2008.........................................................................................................................52
Tabela 10 - Distribuição do índice de massa corpórea (IMC) em relação às variações de glicemia dos indígenas do sexo feminino da aldeia Jaguapiru, Dourados- MS, 2008.................................................................................................53
Tabela 11 - Distribuição do índice de massa corporal (IMC) em relação às variações da glicemia dos indígenas do sexo masculino da aldeia Jaguapiru, Dourados-MS, 2008..................................................................................................54
Tabela 12 - Fatores de risco cardio-metabólicos entre os indígenas da aldeia Jaguapiru, Dourados, MS, 2008..............................................................................56
Tabela 13 - Correlação da glicemia com as variáveis clínicas e antropométricas dos indígenas entre 18 e 69 anos da Aldeia Jaguapiru, Dourados, MS, 2008....58
Tabela 14 – Distribuição das glicemias de jejum em relação ao sexo e idade entre os indígenas da aldeia de Jaguapiru, Dourados, MS, 2008.......................59
Tabela 15 - Glicemia de jejum alterada entre os 606 indígenas segundo o sexo e a idade, na aldeia Jaguapiru, Dourados, MS, 2008............................................62
LISTA DE ABREVIATURAS
ADA- American Diabetes Association CIMI- Conselho Indigenista Missionário CONEP- Comissão Nacional de Ética em Pesquisa CNPq- Conselho Nacional de Pesquisa DPP- Diabetes Prevention Research Group DSEI- Distrito Sanitário Especial Indígena FUNAI- Fundação Nacional do Índio FUNASA- Fundação Nacional de Saúde HIPERDIA- Programa de Diabetes e Hipertensão IDF- International Diabetes Federation IMC- Índice de Massa Corpórea ISA- Instituto Sócio Ambiental MS- Mato Grosso do Sul MT- Mato Grosso ONG- Organização Não Governamental SBH- Sociedade Brasileira de Hipertensão SBC- Departamento de Hipertensão da Sociedade Brasileira de Cardiologia SPI- Serviço de Proteção ao Índio UFGD- Universidade Federal da Grande Dourados UKPDS- United Kingdom Prospective Diabetes Study UNIGRAN- Centro Universitário da Grande Dourados WHO- World Health Organization
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................... 15
1.1 Diabetes mellitus.............................................................................. 15
1,2 Os indígenas..................................................................................... 21
1.3 Justificativa........................................................................................ 27
2 OBJETIVOS........................................................................................... 29
2.1 Geral................................................................................................ 29
2.2 Específicos....................................................................................... 29
3 POPULAÇÃO E MÉTODOS................................................................. 30
3.1 Casuística........................................................................................ 30
3.1.1 Local............................................................................................. 30
3.1..2 População do estudo.................................................................. 32
3.1..2.1.Amostra.................................................................................... 33
3.1.2.2 Critérios de inclusão ................................................................ 33
3,1,2,3 Critérios de exclusão................................................................ 33
3.1.2.4 Análise crítica dos riscos e benefícios..................................... 34
3.1.3 Questões éticas........................................................................... 35
3.1.4 Coleta de dados.......................................................................... 36
3.2 Procedimento................................................................................... 36
3.2.1 Visitas........................................................................................... 36
3.2.2 Equipamentos.............................................................................. 38
3.2.2.1 Dosagem de glicemia......................................................... 38
3.2.2.2 Antropometria.................................................................... 39
3.2.2.3 Pressão arterial................................................................ 40
3.3 Análise estatística............................................................................ 41
4 RESULTADOS....................................................................................... 42
4.1 Prevalência de diabetes e tolerância diminuída à glicose............... 42
4.1.1 Dados demográficos................................................................... 46
4.1.2 Indicadores sócio-econômicos.................................................... 47
4.1.3 Fatores de risco cardiometabólicos............................................ 51
5 DISCUSSÃO..........................................................................................
5.1 Diabetes e tolerância diminuída à glicose.....................................
5.2 Fatores de risco cardiometabólicos..............................................
5.3 Fatores de risco para o desenvolvimento do diabetes..................
5.4 Diabetes e hipertensão arterial.....................................................
5.5 Tabagismo....................................................................................
5.6 Indicadores sócio-econômicos.......................................................
63
63
66
68
71
73
74
6 CONCLUSÕES...................................................................................... 76
7 REFERÊNCIAS...................................................................................... 77
8 ANEXOS................................................................................................ 87
15
1 INTRODUÇÃO
1.1 DIABETES MELLITUS
O diabetes mellitus compreende um grupo heterogêneo de distúrbios
metabólicos de etiologias variadas, resultante da deficiente secreção de insulina
pelas células beta pancreáticas, da resistência periférica à insulina, ou de ambas,
marcado pela presença de hiperglicemia crônica, e alterações no metabolismo das
proteínas e gorduras (CHACRA et al., 2000; FORTI et al., 2006).
A prevalência do diabetes mellitus alcança proporções epidêmicas nos países
desenvolvidos e em desenvolvimento e, pelos altos custos envolvidos no seu
controle e no tratamento de suas complicações, tornou-se crescente problema de
saúde pública (WINER et al., 2004).
Em 1985 o mundo abrigava aproximadamente 30 milhões de diabéticos. Dez
anos depois 135 milhões de pessoas eram acometidas pela doença. Atualmente,
existem mais de 246 milhões de diabéticos, nos cinco continentes, sendo que
aproximadamente 90% são diabéticos tipo 2 e 10% diabéticos tipo 1 (KING et al.,
1998; IDF, 2007). A Federação Internacional de Diabetes (IDF) estima que em 2025,
haverá, no mundo, 300 milhões de diabéticos. Os países com maior número de
diabetes serão a Índia com mais de 57 milhões, a China com aproximadamente 37
milhões e os Estados Unidos com mais de 21 milhões. Calcula-se que o Brasil terá
naquela data 11,6 milhões de diabéticos (IDF, 2007). Cerca de 197 milhões da
16
população mundial tem tolerância diminuída à glicose e esse contingente abrigará
420 milhões em 2025 (HOSSAIN et al., 2007).
Nos países industrializados o crescimento do número de diabetes ocorre na
faixa etária acima de 65 anos. Nos países em desenvolvimento, são mais
acometidas as pessoas entre 45 e 65 anos, período de maior produtividade do
indivíduo (WILD et al., 2004). Em algumas localidades a incidência de diabetes
mellitus tipo 2, entre crianças e adolescentes, tem aumentado de forma assustadora
( HOSSAIN et al., 2007).
No estudo multicêntrico realizado em nove capitais brasileiras, entre os anos
de 1986 e 1988, verificou-se prevalência de 7,6% de diabetes e de 7,8% de
tolerância diminuída à glicose, entre pessoas de 30 a 69 anos de idade, e de 17,4%
no grupo entre 60 e 69 anos de idade. Aproximadamente a metade dos pesquisados
portadores de diabetes mellitus desconhecia sua condição e cerca de 20% não
faziam nenhum tratamento (MALERBI et al., 1992).
Posteriormente, em estudo na população urbana de Ribeirão Preto, realizado
nos anos de 1996 e 1997, a prevalência de diabetes mellitus e tolerância diminuída
à glicose foram respectivamente de 12,1% e 7,7%, na faixa etária de 30 a 69 anos, e
de 22,1% e 11,3% na população entre 60 e 69 anos de idade (TORQUATO et al.,
2003).
Na pesquisa realizada no interior do estado do Rio de Janeiro, a prevalência
de diabetes mellitus aumentou de 2,1%, na faixa de 18 a 29 anos, para 18,3% na
faixa etária acima de 70 anos de idade (SOUZA et al., 2003).
Na população adulta de uma comunidade rural brasileira, Silva e
colaboradores (2008) relataram prevalência de diabetes mellitus de 3,4%.
17
Entre 3 de março e 7 de abril de 2001, o Ministério da Saúde realizou a
Campanha Nacional para a Detecção do diabetes mellitus, mensurando a glicemia
capilar em voluntários, acima de 40 anos, atendidos nos centros de saúde de todo o
Brasil. Foram realizados aproximadamente 22 milhões de testes de glicemia capilar
sendo considerados anormais 15,7% desses exames. Seis por cento tinham
diagnóstico prévio de diabetes. Nem todos os indivíduos com glicemia capilar
alterada realizaram teste oral de tolerância à glicose para confirmação do
diagnóstico (GEORG et al., 2005).
O aumento da prevalência do diabetes mellitus tipo 2 está ligado ao
crescimento da obesidade, que triplicou nos últimos 20 anos, onde, predomina o
estilo de vida ocidental, com baixa atividade física e alimentação rica em calorias. O
alto risco de diabetes associado à obesidade pode estar ligado à resistência à
insulina e à síndrome metabólica. Cerca de 60% dos diabéticos tipo 2 são obesos
(HOSSAIN et al., 2007). Mais de 1,1 bilhão de adultos em todo o mundo estão com o
peso acima do normal e em torno de 312 milhões são obesos (HASLAM et al.,
2005).
Estudos epidemiológicos em 75 comunidades, de 35 países em
desenvolvimento, mostraram que o diabetes mellitus é raro nas regiões onde o
tradicional estilo de vida foi preservado. Todavia, indivíduos dessas comunidades
que migraram para os Estados Unidos e incorporaram o estilo de vida americano
tem alta prevalência de diabetes mellitus tipo 2 (HOSSAIN et al.,.2007).
O diabetes mellitus produz redução da expectativa de vida que é maior
quanto mais precoce for o acometimento. Está entre as principais causas de
insuficiência renal, amputação de membros inferiores, cegueira e de doenças
cardiovasculares no Brasil (BRASIL, 2001). Frequentemente, está associada a
18
outros fatores de risco para doenças cardiovasculares como obesidade, hipertensão
e dislipidemia (WINER et al., 2004). O risco relativo (RR) para a mortalidade total em
pacientes diabéticos de ambos os sexos é de aproximadamente 3 (RR = 3). É
considerada como a quinta causa de mortes nos países desenvolvidos do ocidente.
A doença cardiovascular é responsável pela maior parte da morbimortalidade. Em
comparação com a população geral o risco é cinco vezes maior para infarto agudo
do miocárdio, duas vezes para acidente vascular encefálico e quinze vezes para
amputação de membros inferiores. Complicações microvasculares, como neuropatia,
retinopatia e nefropatia são frequentes. Em regiões desenvolvidas, o diabetes
mellitus é a principal causa de Insuficiência renal terminal e de cegueira em pessoas
acima de 65 anos de idade (WHO, 2007). Dados da Organização Mundial de Saúde
revelam que 2,9 milhões de mortes foram atribuídas ao diabetes mellitus tipo 2, no
ano de 2000, correspondendo a 5,2% da mortalidade global (WHO, 2002).
Estima-se que os custos diretos para o tratamento do diabetes variem de
2,5% a 15% dos gastos nacionais em saúde, dependendo da prevalência local de
diabetes e da complexidade do tratamento disponível. E os custos indiretos podem
exceder os diretos. O diabetes mellitus apresenta, também, carga adicional à
sociedade, em decorrência da perda de produtividade no trabalho, aposentadoria
precoce e mortalidade prematura (WHO, 2007). Cálculos de 2007, nos Estados
Unidos, estimaram o custo médio anual do tratamento de um paciente diabético em
US$11.744 frente a US$ 2.699 de um não diabético (ADA, 2008).
Significativa parcela dos diabéticos tipo 2 tem poucos sintomas ou é
assintomática e, por isso, o diagnóstico clínico é feito tardiamente quando as
complicações macrovasculares e microvasculares já estão presentes. No estudo
UKPDS, verificou-se que, no momento do diagnóstico de diabetes tipo 2, cerca de
19
50% dos pacientes já apresentavam alguma complicação. Desses,
aproximadamente 18% apresentavam alteração no eletrocardiograma e 21%
evidências de retinopatia (UKPDS 1998; STRATTON et al., 2000).
O risco elevado de infarto agudo do miocárdio e acidente vascular encefálico
precede o diagnóstico clínico de diabetes tipo 2 (SAYDAH et al., 2001).
Estudos sugerem que a deterioração da célula beta se inicie até 15 anos
antes do diagnóstico clínico de diabetes mellitus tipo 2, e tenha sua capacidade
secretora diminuída em cerca de 50% no momento do diagnóstico. Os resultados
desses estudos indicam a necessidade de diagnóstico precoce e intervenções
adequadas para evitar o aparecimento das alterações cardiovasculares (UKPDS
1998; SAYDAH et al., 2001).
O mecanismo pelo qual o diabetes mellitus acelera a aterosclerose e
desencadeia os eventos clínicos parece ser multifatorial incluíndo anormalidades na
glicemia, nas lipoproteínas e na pressão arterial (PYROLA et al., 1987). O melhor
controle da glicemia, da hipertensão arterial e da obesidade reduz as complicações
macro e microvasculares do diabetes mellitus (UKPDS, 1998).
Mudanças no estilo de vida, com dieta saudável e atividade física regular
retardam a evolução de tolerância diminuída à glicose para diabetes mellitus franco
(DIABETES PREVENTION RESEARTCH GROUP, 2002).
Diabetes mellitus era doença rara entre a população nativa das Américas até
o início do século XX. A partir de 1940 iniciaram-se os relatos de casos de diabetes
na comunidade indígena norte americana (WEISS et al.,1984; YOUNG,1993;
YEATES, 2006). Hoje, sabe-se que a prevalência de diabetes mellitus na população
indígena da América do Norte supera aquela reportada para a população geral. Mais
20
de 50% da população acima de 35 anos dos Índios Pima é diabética (GOHLDES et
al., 1993).
Em comunidades indígenas mexicanas, Alvarado-Osuna e colaboradores
(2001) relataram prevalência de 4,4% de diabetes mellitus na população adulta dos
índios otomíe. Na tribo Pima, de Sonora, Ravussin e colaboradores (1994)
descreveram prevalência de 6,3% para homens e 10,5% para mulheres.
Diabetes mellitus estava presente em 27,9% dos adultos indígenas havaianos
integrados à sociedade local (KAHOLOKULA et al., 2008).
Na Austrália, o diabetes mellitus representa sério problema de saúde para a
população indígena devida à sua prevalência mais elevada que na população não
indígena, e ao início mais precoce da doença e de suas complicações micro e
macrovasculares (AUSTRALIAN INSTITUTE OF HEALTH AND WELFARE, 2005).
Entre os novos casos de diabetes em jovens de 10 a 18 anos, 11% são de diabetes
tipo 2, sendo seis vezes mais freqüentes em criança indígenas em relação às não
indígenas (CRAIG et al., 2007).
A primeira referência de diabetes em grupos indígenas no Brasil ocorreu nos
anos 70, detectado nos índios Caripuna e Palikur, no Amapá (COIMBRA et al.,
2003). Em estudo realizado com 72 índios Yanomámi foi encontrada apenas uma
glicemia acima de 200 mg/dl (BLOCH et al., 1993). Diversos estudos relatam o
aumento de prevalência de diabetes tipo 2, obesidade e doença cardiovascular em
vários grupos indígenas. (SANTOS & COIMBRA JR, 1996; TAVARES et al., 1999;
VIEIRA-FILHO, 1981; 1996).
A transição epidemiológica e a emergência de morbimortalidade relacionada
às doenças crônicas não transmissíveis foram atribuídas às alterações no estilo de
21
vida desses povos e tem exigido atenção, treinamento e recursos especiais para
ações de prevenção, diagnóstico e tratamento. (SANTOS & COIMBRA JR., 1996).
A cidade de Dourados localiza-se no centro-sul do estado de Mato Grosso do
Sul, na região centro–oeste do Brasil, possui uma população de 187.601 habitantes
(BRASIL, 2008 a) e, no cadastro do programa de diabetes, há 2.680 pacientes
inscritos. Baseando-se na prevalência de 7,6% de diabetes na população brasileira,
o município de Dourados teria 14.256 indivíduos diabéticos.
1.2 OS INDÍGENAS
Estudos arqueológicos não conseguiram definir com precisão o período da
primeira leva migratória da população advinda da Ásia para a América do Norte.
Vestígios da presença do homem no continente americano levam a acreditar que o
homem habitou essa região há mais de dez mil anos. Aos poucos essas populações
migraram para a América do Sul, ocupando todo o continente. Desenvolveram
diferentes formas de organização política e social (BRASIL, 2008 b).
Quando os portugueses chegaram ao litoral brasileiro, havia, possivelmente,
entre 5 e 10 milhões de indígenas espalhados por todas as terras que formariam o
território brasileiro (BRASIL, 2008 b).
O processo de colonização levou à extinção de muitas sociedades indígenas
em consequência do contato direto e indireto com os colonizadores, pelo contágio
de doenças trazidas por eles ou das lutas para subjugar e escravizar os indígenas
(BRASIL, 2008 b).
22
Atualmente, vivem nas aldeias indígenas brasileiras, 460 mil índios
distribuídos em 225 sociedades, com sistemas sociais e políticos próprios, vivendo
em aldeamentos, postos indígenas ou missões religiosas, perfazendo 0,25% da
população brasileira. E, aproximadamente, 190 mil índios vivem nas periferias dos
centros urbanos de todas as regiões brasileiras. As reservas indígenas demarcadas
ocupam cerca de 12% do território brasileiro (BRASIL, 2007).
Algumas sociedades indígenas ainda se mantêm relativamente isoladas,
outras estão inseridas na economia de mercado (INSTITUTO SÓCIO
AMBIENTAL(ISA), 2008).
Estima-se que 60% dos indígenas residam na região centro-oeste e norte do
país, onde se concentram 98,7% das terras indígenas (BRASIL, 2008 c).
Na região centro-oeste do país, encontra-se Mato Grosso do Sul, que divide
fronteiras com os estados de São Paulo, Paraná, Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso
e com dois países, ao sul com o Paraguai e a oeste com a Bolívia.
As nações indígenas do Mato Grosso do Sul ainda mantêm seus costumes,
tradições e sua língua nativa mesmo sendo forte a influência da civilização moderna.
São formadas pelos Kadiwéu, Guató, Terena, Atikum, Ofayé, Kinikinawa, Caiuá e
Guarani, que somam mais de 38 mil indígenas, em seu território (BRASIL, 2008 d).
Em 1925 foi criado o Parque Indígena de Dourados, idealizado pelo major
Nicolau Horta Barbosa, para abrigar 400 a 500 índios das etnias Terena, Guarani e
Caiuá, em uma área de 3.600 hectares (GRESSLER e SWENSSON, 1988). Hoje, a
reserva é formada por duas aldeias: a Jaguapiru e a Bororó. O último censo
constatou a presença de 11.560 indígenas nas duas aldeias. Por esse contingente é
considerada a reserva mais populosa do país (BRASIL, 2008 c).
23
Três etnias foram agrupadas e confinadas na Reserva de Dourados: Caiuá,
Guarani e Terena. Os Caiuás do tronco linguístico tupi-guarani encontravam-se
dispersos nas bacias dos rios Dourados, Brilhante, Ivinhema e Amambaí, no sul do
estado do Mato Grosso do Sul. A etnia Guarani pertence ao subgrupo Nhandeva e
ocupava as áreas das bacias dos rios Iguatemi, baixo Ivinhema e as margens do rio
Paraná, também no sul do Mato Grosso do Sul. A etnia Terena pertence ao tronco
Aruaque. Chegou ao Mato Grosso do Sul no início do século XVII proveniente do
chaco paraguaio (INSTITUTO SÓCIO AMBIENTAL, 2008).
A Reserva Indígena de Dourados localiza-se a 5 km da zona urbana, e sofre
com sobreposição de etnias e com o grande adensamento populacional, com áreas
insuficientes para o desenvolvimento da agricultura tradicional. A assistência técnica
e o fornecimento de insumos agrícolas são insuficientes e tardios. Geralmente estão
disponíveis após o período de plantio. Essas condições desestimulam aqueles que
se aventuram na atividade produtiva. A maior parte de sua força de trabalho busca
seu sustento na construção civil da cidade, nas pequenas indústrias artesanais, nas
fazendas e usinas sucroalcooleiras da região. Grande parte das mulheres
permanece na aldeia cuidando das crianças e dos afazeres domésticos. Uma
pequena parcela trabalha nas escolas e centros de saúde da aldeia.
A proximidade da cidade de Dourados, o rápido e intenso contato e
convivência com seus habitantes contribuíram para a deterioração de sua
organização sócio-econômica, mudança de hábitos alimentares e de consumo,
degradação do meio ambiente com total desaparecimento das matas nativas e dos
animais silvestres e consequente comprometimento das atividades de subsistência
(GRESSLER e SWENSSON, 1988).
24
A assimilação de hábitos e costumes da população envolvente não implicou
em aumento da miscigenação, pois é raro o casamento entre índios e não índios,
dentro das aldeias da Reserva de Dourados.
A assistência médica aos indígenas era disponibilizada de maneira
descontextualizada das realidades socioculturais e do perfil epidemiológico dos
diversos grupos indígenas
As missões religiosas levaram às comunidades indígenas os primeiros
cuidados de saúde. A criação do Serviço de Proteção ao Índio (SPI), no início do
século XX, tornou os cuidados à saúde indígena obrigação dessa agência
governamental. Posteriormente, a Divisão de Saúde da Fundação Nacional do Índio
(FUNAI) assumiu essa tarefa. Mas a falta de planejamento integrado, carência de
infraestrutura, preparo inadequado do profissional de saúde para atuar em
comunidades culturalmente distintas tornou esse modelo ineficiente
(CONFALONIERI, 1989).
No início da década de 90, do século passado, a concepção do atual modelo
dos serviços de saúde indígena, foi extensamente discutida no âmbito da
Conferência Nacional de Saúde e da II Conferência de Saúde dos Povos Indígenas
com participação ativa das organizações indígenas e profissionais de saúde que
atuavam com essas populações. Buscava-se um modelo de prestação de serviços
de saúde adequado às áreas indígenas, integrado ao Sistema Único de Saúde
(SUS) (ATHIAS & MACHADO, 2001).
Em 1998, o governo federal tomou a decisão política de implantar o modelo
de Distrito Sanitário Indígena Especial (DSEI) (ATHIAS & MACHADO, 2001).
Atualmente as ações de saúde curativa e preventiva na aldeia de Dourados
estão sob a responsabilidade da Fundação Nacional de Saúde (FUNASA),
25
coordenadas pelo Distrito Sanitário Especial Indígena de Campo Grande (MS), que
delegou a coordenação financeira e administrativa à Organização não
Governamental (ONG) Missões Caiuás (BRASIL, 2008 c).
O confinamento na reserva de pequena dimensão territorial, o crescimento
populacional verificado nas duas últimas décadas, as condições sanitárias
insatisfatórias, pela pouca presença de fossas sépticas, levando o acúmulo de
dejetos nas proximidades das moradias, a persistência em usar água de poços rasos
e sem filtrar, favoreceram a proliferação das doenças parasitárias que ainda vicejam
entre os indígenas da aldeia Jaguapiru (OLIVEIRA, 2004). Mas, um processo de
mudanças paulatinas está sendo comandado pela FUNASA, que está levando água
potável canalizada a todas as residências da aldeia Jaguapiru. A implantação da
rede elétrica domiciliar está em fase final de instalação. Moradias de alvenaria estão
sendo entregues, a distribuição de cestas básicas de alimentos foi reativada. A
melhora da assistência médica tem contribuído para a diminuição da desnutrição e
da mortalidade infantil.
A mortalidade infantil na aldeia Jaguapiru está em 23 por mil nascidos vivos,
situando-se próximos ao índice brasileiro. Essas melhorias justificam a mudança
epidemiológica que está ocorrendo na aldeia Jaguapiru, onde a desnutrição e as
doenças infecciosas e parasitárias foram superadas pelas doenças crônico-
degenerativas como causa de morte dos indígenas (BRASIL, 2008 d).
A aldeia Jaguapiru abriga 5.727 indígenas, ocupando 1.255 moradias. Entre
18 e 69 anos de idade são 1.286 mulheres e 1.292 homens (BRASIL, 2008 d).
Nessa população da aldeia Jaguapiru, existem 29 diabéticos e 300
hipertensos cadastrados no Centro de Saúde da FUNASA. Houve aumento da
26
prevalência da obesidade entre a população de índios terenas, que são mais
sedentários (BRASIL, 2008 e).
É contrastante o pequeno número de estudos na área da saúde nas
comunidades indígenas brasileiras com a quantidade de trabalhos no campo da
antropologia. Um enorme horizonte se abre nas ciências da saúde para a pesquisa
médica nas comunidades indígenas para traçar o perfil epidemiológico, planejar
ações básicas de saúde e orientar ações preventivas.
Um dos objetivos desta pesquisa é reunir informações úteis para a
implantação de medidas apropriadas na prevenção da obesidade, na detecção
precoce do diabetes mellitus, no controle metabólico adequado e na prevenção das
complicações crônicas do diabetes, no âmbito da reserva indígena de Dourados.
27
1.3 JUSTIFICATIVA
Como problema crescente de saúde pública o diabetes mellitus tem elevado
custo social e econômico e grande potencial reconhecido para a prevenção. O
diagnóstico precoce e o tratamento adequado, com medidas simples e eficientes
como a mudança do estilo de vida, proporcionam grande redução das complicações
crônicas (WINER et al., 2004; IDF, 2008).
O levantamento multicêntrico realizado nos anos de 1986 e 1987, com a
dosagem de mais de 20 mil glicemias, mostrou a prevalência de 7,6% de diabetes
mellitus na população adulta urbana no Brasil, sendo que 46,5% desses
desconheciam a sua condição e 22,3% das pessoas anteriormente diagnosticadas,
não faziam qualquer tipo de tratamento (MALERBI et al., 1992)
O impacto do diabetes mellitus em algumas populações demanda a criação
de estratégias voltadas aos indivíduos de alto risco e a implementação de cuidados
especiais àqueles que historicamente foram alijados das atenções básicas de saúde
(KING et al., 1999). O aumento da incidência de diabetes na faixa de 18 a 69 anos,
por sua vez, justificou a realização do rastreamento como uma abordagem de saúde
pública.
A baixa escolaridade, as condições de extrema pobreza, as dificuldades com
a língua e a pouca disponibilidade de profissionais de saúde com conhecimento de
seus hábitos e de suas tradições contribuem para a desinformação sobre o diabetes,
suas complicações agudas e crônicas, e a importância de sua prevenção no seio da
comunidade indígena. A busca tardia dos serviços de saúde especializados em
28
tratamento de diabetes, como o Programa Hiperdia, da cidade de Dourados, onde o
pesquisador desempenha suas funções, acolhe esses indígenas tardiamente, com
perdas visuais significativas, nefropatia incipientes ou já instaladas, doenças
cardiocirculatórias e neuroartropatias em estágios irreversíveis.
Esses dados reforçam a necessidade e importância das ações preventivas e
educativas de controle do diabetes que permitam o atendimento integral e
multiprofissional nos serviços de saúde à população acometida.
Isso posto, justificou-se a intenção do presente estudo em detectar a
prevalência de diabetes mellitus e tolerância diminuída à glicose na população entre
18 e 69 anos de idade da aldeia Jaguapiru, definindo a sua intensidade no quadro
das doenças crônicas que afetam esta população. Resultados obtidos permitirão a
implantação de planos e ações estratégicas na prevenção e controle do diabetes,
impedindo ou retardando as complicações crônicas e diminuindo os custos do
tratamento.
29
2 OBJETIVOS
2.1 GERAL
Identificar a prevalência de diabetes mellitus e de tolerância diminuída à
glicose na população indígena, entre 18 e 69 anos de idade, da aldeia Jaguapiru, no
município de Dourados (MS).
2.2 ESPECÍFICOS
Delinear as condições sócio-econômicas da população entre 18 e 69 anos de
idade, da aldeia Jaguapiru.
Avaliar os fatores de risco preponderantes relacionados ao desenvolvimento
do diabetes mellitus e da tolerância diminuída à glicose na população estudada.
30
3 POPULAÇÃO E MÉTODOS
3.1 CASUÍSTICA
3.1.1 Local
Foram avaliados indígenas entre 18 e 69 anos de idade, residentes na aldeia
Jaguapiru, em Dourados, Mato Grosso do Sul.
Dourados está localizada ao sul do estado de Mato Grosso do Sul, a 224 km
da capital do estado, Campo Grande (figura 1). É a segunda cidade mais populosa
do estado, onde em 4.086 km2 residem 187,601 habitantes e está a 480 metros do
nível do mar (BRASIL, 2008 a).
Figura 1. Localização de Dourados
O Parque Indígena de Dourados foi criado em 1925, com área de 3.600
hectares, para abrigar 400 a 500 índios das etnias Terena, Guarani Nhandeva e
31
(Kaiowá) Caiuá (GRESSLER, SWENSSON, 1988). Hoje, a reserva abriga as aldeias
Jaguapiru com 5.727 habitantes e Bororós com 5.833 indígenas, perfazendo um
total de 11.560 indígenas nas duas aldeias (BRASIL 2007b, 2008a). Localiza-se nos
limites da zona urbana da cidade de Dourados (figura 2).
Figura 2 - Localização da reserva indígena de Dourados .
Pela proximidade da zona urbana, os indígenas tem fácil acesso à cidade de
Dourados facilitando a assimilação dos hábitos ocidentais.
A assistência médica está a cargo da Fundação Nacional de Saúde
(FUNASA), em convênio com a ONG Missão Caiuá. Existem três centros de Saúde
e o Hospital Porta da Esperança voltado para o atendimento primário e secundário
da população indígena local (BRASIL 2008 c).
Reserva indígena
Fonte:www.dourados.ms.gov.br
Dourados
32
3.1.2 População do estudo
Trata-se de um estudo transversal sobre a prevalência do diabetes mellitus e
tolerância diminuída à glicose realizado na aldeia indígena Jaguapiru pertencente à
reserva indígena de Dourados. Foram selecionados seiscentos e trinta e dois
adultos, sendo que dezenove mulheres estavam grávidas, uma participante fazia
uso de glicocorticóide, quatro deles mudaram-se para local desconhecido, e dois
desistiram entre o convite e o retorno para a dosagem da glicemia capilar. A amostra
foi composta de 606 indígenas, entre 18 e 69 anos de idade, que representam
10,5% da população total da aldeia, residentes em 349 casas, escolhidas
aleatoriamente, perfazendo 27,8% das casas situadas na aldeia Jaguapiru. A
população da aldeia é composta na sua maioria por indivíduos jovens (BRASIL,
2008).
Tabela 1 – Distribuição da população da aldeia Jaguapiru entre 18 e 69 anos de idade, por sexo e faixa etária, Dourados, MS, 2008
Faixa etária
(anos)
Sexo Feminino n %
Masculino n %
Total n %
18-29 647 50,3 584 45,2 1231 47,8
30-39 284 22,1 338 26,1 622 24,1
40-49 187 14,5 171 13,2 358 13,9
50-59 108 8,4 136 10,5 244 9,4
60-69 60 4,6 63 4,9 123 4,8
18-69 1286 49,9 1292 50,1 2578 100
Fonte: Polo indígena de Dourados
33
3.1.2.1 Amostra
Uma amostra aleatória simples foi obtida por meio da anotação dos números
oficiais de todas as 1.255 casas da aldeia Jaguapiru, em um pedaço de papel, que
foi dobrado e colocado em uma urna. Os primeiros 349 números retirados foram as
residências escolhidas. Quando não houve indivíduos que preenchessem os
critérios de inclusão nas casas determinadas, realizou-se novo procedimento
aleatório como descrito acima. O cálculo formal do tamanho mínimo da amostra foi
realizado, pelo programa EPi Info 2000 com base na prevalência de 7,6% de
diabetes mellitus na população adulta brasileira.
3.1.2.2 Critérios de Inclusão
Foram incluídos na pesquisa homens e mulheres não grávidas, entre 18 e
69 anos de idade, moradores das 349 casas selecionadas dentro da aldeia
Jaguapiru.
3.1.2.3 Critérios de Exclusão
34
Foram excluídas:
.
� Mulheres grávidas.
� Pessoas que faziam uso de glicocorticóides.
� Indivíduos não indígenas e seus descendentes residentes na aldeia
Jaguapiru.
3.1.2.4 Análise Crítica dos Riscos e Benefícios
Conforme determinam as boas normas de biossegurança, foram usados
materiais descartáveis e, após uso, foram recolhidos em frascos apropriados para o
recebimento de material perfurocortante e impregnados com secreções humanas.
Antes de descartados em lixo hospitalar foram autoclavados para não contaminarem
o meio ambiente.
Para evitar a contaminação dos participantes do estudo com
microorganismos patogênicos, foram estimulados e orientados sobre a maneira
correta de limpeza das mãos, com água e sabão.
Para a punção da polpa digital foram usadas lancetas com 0,6 mm diâmetro
e lancetador com disparador automático e calibrado conforme a espessura da pele.
Após a retirada da gota de sangue capilar, utilizou-se algodão esterilizado para a
hemostasia.
O pesquisador e a equipe de colaboradores usaram luvas descartáveis
durante o procedimento da coleta do sangue e a realização da dosagem da glicemia
capilar.
35
Todos os diabéticos com diagnóstico já estabelecido e os detectados
durante a pesquisa terão atendimento preferencial, pelo pesquisador, no Programa
de Diabetes e Hipertensão (Hiperdia) do município de Dourados.
3.1.3 Questões Éticas
Na fase de elaboração do projeto foram realizadas visitas aos caciques e
capitães da aldeia Jaguapiru para explicar os objetivos da pesquisa, seus benefícios,
a participação livre e voluntária, os métodos e procedimento. Solicitou-se a anuência
das lideranças, por escrito (ANEXO A).
O projeto foi submetido à apreciação do Comitê de Ética em Pesquisa do
Centro Universitário da Grande Dourados – UNIGRAN (ANEXO B) e, aprovado pela
Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP) (ANEXO C). Após aprovação,
nessa instância, foi enviado ao Conselho Nacional de Pesquisa (CNPq), para
emissão de parecer do mérito técnico científico, que se expressou favorável ao
desenvolvimento da proposta de pesquisa (ANEXO D). Posteriormente,
encaminharam-se os pareceres e a concordância das lideranças indígenas à FUNAI
para a obtenção da autorização para o ingresso do pesquisador e colaboradores, em
terras indígenas. Somente após essa autorização deu-se início ao estudo (ANEXO
E).
36
3.1.4 Coleta de Dados
O estudo ocorreu de agosto de 2007 a julho de 2008 e foi dividido em seis
etapas: treinamento dos participantes, visita às famílias, coleta de dados e avaliação
clínica, dosagem de glicemia capilar de jejum e teste oral de tolerância à glicose,
quando necessário, entrega dos resultados e encaminhamento dos participantes
com glicemia alterada ao serviço de referência em tratamento de diabetes.
O estudo contou com a colaboração dos acadêmicos da Liga de Diabetes
Mellitus, da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD). No primeiro contato
explicitaram-se os objetivos e a intenção da pesquisa, em português e na língua
guarani (ANEXO F).
Os sujeitos que concordaram em participar da pesquisa, assinaram o termo
de consentimento livre e esclarecido (ANEXO G).
Em posse do consentimento assinado, foi preenchido o formulário (ANEXO
H), realizadas as medidas antropométricas e aferição da pressão arterial. Na mesma
data, os participantes foram orientados sobre a data da próxima visita e da
necessidade de jejum de doze horas para a dosagem da glicemia capilar.
3. 2 PROCEDIMENTO
3.2.1 Visitas
37
As residências sorteadas para fim do levantamento de diabetes mellitus e
tolerância diminuída à glicose foram visitadas pelo pesquisador e por uma equipe de
seis estudantes da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade Federal da
Grande Dourados, que pertencem à Liga de Diabetes. Esses estudantes foram
treinados previamente pelo próprio pesquisador, para a realização da coleta de
dados e dosagem da glicemia capilar.
A primeira visita domiciliar foi realizada pelo pesquisador e colaboradores
para explicar aspectos relacionados ao diabetes, suas complicações, os benefícios
do diagnóstico e tratamento precoces, da importância do estudo e dos
procedimentos relacionados à pesquisa.
Aos sujeitos que se enquadraram nos critérios de inclusão e concordaram
com a pesquisa foi lido e explicado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido,
impresso em português e traduzido por um intérprete para o guarani, e assinado
pelos participantes. Foram informados da inexistência de ônus aos participantes e da
liberdade de desistência em qualquer fase do levantamento. Explicou-se, ainda, a
necessidade de 12 horas de jejum para a realização da glicemia capilar, na noite
anterior à segunda visita ao domicílio, da equipe da pesquisa.
Na visita, os participantes do estudo, responderam a um formulário com
informações sobre condições sócio-econômicas, hábitos alimentares, atividades
físicas, consumo de bebida alcoólica e cigarro, sexo, idade, peso, ocupação e
história pessoal e familiar de diabetes mellitus, nível educacional e condições de
saúde.
A idade dos indígenas da amostra foi considerada de acordo com o registro
de identificação da Fundação Nacional do Índio (FUNAI).
38
Na segunda visita da equipe de pesquisadores ao domicílio, depois de
constatado o jejum de 12 horas, dosou-se a glicemia capilar. Indivíduos com ou sem
história de diabetes, com glicemia capilar acima de 199 mg/dl no rastreamento, ou
com diagnóstico prévio de diabetes foram considerados diabéticos. Os sujeitos com
glicemia capilar de jejum entre 126 mg/dl e 199 mg/dl submeteram-se a nova
dosagem de glicemia capilar, em outra oportunidade. Foram considerados
diabéticos, se a glicemia de jejum, na segunda dosagem estivesse acima de 125
mg/dl. Glicemia entre 100 mg/dl e 125 mg/dl, eram submetidos ao teste oral de
tolerância à glicose e valores abaixo de 100 mg/dl foram considerados normais.
Os participantes não diabéticos com glicemia capilar entre 100 mg/dl e 125
mg/dl foram submetidos ao teste oral de tolerância à glicose, com 75 g de glicose
anidra, e testados 2 horas após com glicemia capilar. Foram classificados segundo
os critérios da American Diabetes Association (GENUTH at al. 2003):
� diabéticos - glicemia às 2 horas acima de 199 mg/dl;
� tolerância diminuída à glicose - glicemia às 2 horas entre 140 mg/dl e 199
mg/dl;
� não diabéticos - glicemia às 2 horas abaixo de 140 mg/dl.
3.2.2 Equipamentos
3.2.2.1 Dosagem de Glicemia
39
O exame de glicemia capilar foi realizado utilizando-se o glicosímetro (Accu-
Chek®) com tira reagente de leitura rápida (glicose-oxidase) da Roche Diagnóstico.
Para a punção escolheu-se a polpa digital de um dos dedos de qualquer uma das
mãos que estivesse livre de calosidades ou lesões contaminadas. Após a lavagem
das mãos com água e sabão, usou-se algodão embebido em álcool a 70% para anti-
sepsia do local da punção.
3.2.2.2 Antropometria
O peso foi aferido em balança digital para adultos da marca Filizola, peso
limite 180 kg, LED luminoso, bivolt com bateria, estrutura tubular, com base de
borracha antiderrapante e capacidade até 180 kg/100 g. A altura foi medida em
estadiômetro portátil, Sanny, de estrutura de alumínio, com capacidade de aferição
mínima de 0,80 m e máxima de 2,20 m.
Os procedimentos padrão de medida seguiram o protocolo para a
antropometria da Organização Mundial de Saúde (WHO 1995).
A altura foi considerada em centímetros e o peso em kilogramas.
A balança foi nivelada em superfície plana. O indivíduo foi posicionado na
parte central com o mínimo de roupa, sem sapatos e retirados os objetos de bolso.
Verificado o valor indicado até 100 g.
Para medir a estatura foram retirados os sapatos, bonés e presilhas do
cabelo.
40
Os participantes, em pé, foram posicionados de costas junto ao suporte de
metal, descalços, braços ao longo do corpo, joelhos não flexionados, pernas
paralelas e justapostas e a cabeça posicionada no plano de Frankfurt. A barra do
estadiômetro foi comprimida sobre os cabelos fazendo-se a leitura em centímetros
sem arredondamento.
O índice de massa corpórea (IMC) foi calculado de acordo com a equação
de Quetelet: peso em kg dividido pelo quadrado da altura em metro (IMC = kg/m2)
(GARROW at al. 1985).
A circunferência abdominal foi aferida com fita métrica inelástica. O
participante estava em pé e a fita posicionada no ponto médio entre a borda inferior
da última costela e a parte superior da crista ilíaca. As medidas foram registradas em
centímetros sem arredondamento. Considerou-se normal circunferência abdominal
até 90 cm para homens e até 80 cm para mulheres (IDF 2007).
3.2.2.3 Pressão Arterial
A pressão arterial foi aferida com esfigmomanômetro aneróide, adulto com
fecho de metal – Becton Dickinson. Utilizou-se o braço direito com o participante
sentado, após repouso de dez minutos. Foram tomadas duas medidas, sendo o
valor final a média aritmética das medidas. Valores normais foram baseados nas
recomendações da V Diretrizes Brasileiras de Hipertensão Arterial, realizado em
2006 pela Sociedade Brasileira de Cardiologia, considerando-se valores da tabela 1
(SBC, 2008).
41
Tabela 2 – Valores considerados pela Sociedade Brasileira de Cardiologia, pela V Diretrizes Brasileira de Hipertensão Arterial, 2006, Campos do Jordão, SP
Classificação Pressão arterial sistólica
(mm Hg)
Pressão arterial diastólica
(mm Hg)
Ótima < 120 <80
Normal < 130 <85
Limítrofe 130-139 85-89
Fonte : http://departamentos.cardiol.br/dha/vdiretriz/04-diagnostico.pdf
3. 3 ANÁLISE ESTATÍSTICA
As variáveis qualitativas foram representadas por freqüência absoluta (n) e
relativa (%) e as quantitativas por média, desvio padrão (dp), mediana e valores
mínimo e máximo.
A prevalência de diabetes mellitus e tolerância diminuída à glicose foram
calculadas e acompanhadas de intervalos com 95% de confiança (IC 95%).
A presença de associação entre variáveis qualitativas foi avaliada pelos
testes do Qui-quadrado ou Exato de Fisher (FLEISS, 1981). Essa análise foi utilizada
para estudar a associação entre os portadores de diabetes mellitus, de tolerância
diminuída à glicose e algumas variáveis de interesse (condições sócio-econômicas,
hábitos alimentares, história familiar de diabetes, IMC, circunferência abdominal e
hipertensão arterial). A análise da variância de Kruskal-Wallis (FLEISS, 1981) foi
utilizada para comparar o índice de massa corpórea dos grupos com diabetes
mellitus,com tolerância diminuída à glicose, glicemia de jejum alterada e normal.
42
As análises de correlação entre variáveis foram realizadas pelo coeficiente de
correlação de Pearson e aplicou-se o teste bicaudado para verificação da
significância do achado. A correlação foi dita nula quando igual a zero, fraca quando
maior que zero e menor que |0,3|, regular quando entre |0,3| inclusive e |0,6|, forte
quando entre |0,6| inclusive e |0,9|, muito forte quando entre |0,9| inclusive e |1,0| e
plena ou perfeita quando igual a |1,0 (CALLEGARI-JACQUES, 2003).
O nível de significância adotado foi de 0,05 ( α = 5%) e níveis descritivos (p)
inferiores a esse valor foram considerados significantes.
4 RESULTADOS
4.1 PREVALÊNCIA DE DIABETES E TOLERÂNCIA DIMINUÍDA À GLICOSE
Dos 632 participantes que preencheram os critérios de inclusão, quatro foram
excluídos por mudança para endereço desconhecido, dois desistiram, dezenove
estavam grávidas e uma participante estava em uso crônico de glicocorticóide.
Na figura 3, observa-se que a prevalência de diabetes mellitus foi menor que
o índice de glicemia de jejum alterada, mas superior à taxa de tolerância diminuída
à glicose.
43
82%
4,5%
2,14%
11,4%
Glicemia de jejum alterada n= 69
Tolerância diminuída à glicose n=13
Diabéticos n=27
Euglicêmicos n=497
Figura 3 - Distribuição das glicemias na população indígena de Jaguapiru entre 18 e 69
anos de idade, Dourados -MS, 2008
A prevalência de diabetes ajustada para idade foi de 0,81% entre 18 e 29
anos para 12,8% na faixa etária de 60 a 69 anos.
Dos 15 diabéticos com diagnóstico estabelecido somente um estava com
glicemia controlada.
Apenas um paciente diabético fazia uso de insulina.
Na tabela 3, observa-se que entre os diabéticos houve predomínio das
mulheres, sendo que quase a metade dos participantes diabéticos desconhecia sua
condição.
44
Tabela 3 - Diabéticos conhecidos e desconhecidos na população de 18 a 69 anos de idade da aldeia Jaguapiru, Dourados- MS, 2008
Idade
Mulheres diabéticas
Homens diabéticos
Total
A* B# n ( %) n (%)
A* B# n ( % ) n ( %)
A* B# n ( %) n (%)
18- 29 - 2(18,1) - - - 2 (16,6)
30-39 1 (8,3) 1(9,1) - - 1 (6,6) 1 (8,3)
40-49 4 (33,3) 1 (9,1) 1 (25) - 5 (33,3) 1 (8,3)
50-59 4 (33,3) 5 (45,5) 2 (50) 1 (100) 6 (40,0) 6 (50)
60-69 3 (25) 2 (18,2) - - 3 (20,0) 2 (16,7)
Total
12(52,2)
11(47,8)
3(75)
1 (25)
15(55,6)
12 (44,4)
A* Conhecidos B# Desconhecidos
Na tabela 4, verifica-se que o maior percentual de tolerância diminuída à
glicose localiza-se na faixa etária entre 50 e 59 anos, no sexo feminino.
45
Tabela 4 – Tolerância diminuída à glicose entre os indígenas segundo o sexo e idade, da aldeia Jaguapiru, Dourados -MS, 2008
Idade
Mulheres Homens Total Tolerância diminuída à glicose n (%)
Tolerância diminuída à glicose n (%)
Tolerância diminuída à glicose n ( %)
18- 29 1 ( 0,3) - 1 (0,16)
30-39 2 (0,59) 1 (0,38) 3 (0,5)
40-49 1 (0,3) 1 (0,38) 2 (0,33)
50-59 6 (1,78) 1 (0,38) 7 (1,16)
Total 10 (2,96) 3 (1,12) 13 (2,16)
Verifica-se na tabela 5, que a glicemia de jejum alterada distribuiu-se por todas
as faixas etárias, no entanto apresentou menor frequência na faixa etária de 60 a 69
anos de idade para ambos os sexos. A tolerância diminuída à glicose foi mais
prevalente entre as mulheres de 50 a 59 anos de idade e o diabetes mellitus
distribuiu-se por todas as faixas etárias no sexo feminino. Contudo, nos homens
apenas nas faixas etária de 40 a 49 anos e de 50 a 59 anos de idade foram
constatados indivíduos com diabetes mellitus.
Tabela 5 - Frequências de glicemia de jejum normal, glicemia de jejum alterada tolerância diminuída à glicose e diabetes mellitus em relação à faixa etária e sexo dos indígenas da aldeia Jaguapiru, Dourados - MS, 2008
Idade
Glicemia de jejum normal
Glicemia de jejum alterada
Tolerância diminuída à glicose
Diabetes
Mellitus
46
Diabetes mellitus- 95% intervalo de confiança (IC)- 2,82 a 6,18 Tolerância diminuída à glicose- IC- 2,138 a 2,42
4.1.1 Dados Demográficos
Conforme apresentado na tabela 6, entre os 606 participantes incluídos, a
idade média foi de 36±13 anos e as mulheres foram predominantes em relação aos
homens.
Tabela 6 - Número de pessoas por sexo e idade que participaram do estudo de prevalência do diabetes mellitus e tolerância diminuída à glicose na aldeia Jaguapiru - Dourados, 2008
Sexo
Idade (anos) Feminino
Masculino
Total
(anos) Feminino Masculino Feminino Masculino Feminino Masculino Feminino Masculino
18-29
126 101 8 8 1 - 1 -
30-39
75 55 7 7 2 1 2 -
40-49
32 27 8 9 1 1 5 1
50-59
29 25 9 6 5 1 9 3
60-69
8 19 3 4 1 - 6 -
Total 270 227 35 34 10 3 23 4
47
n % n % n %
18-29
136 40,2
109 40,7
245 40,4
30-39
86 25,4
63 23,5
149 24,6
40-49
46 13,6
38 14,2
84 13,9
50-59
52 15,4
36 13,4
88 14,5
60-69
18 5,3
22 8,2
40 6,6
Total 338 55,8 268 44,2 606 100
4.1.2 Indicadores Sócio-Econômicos
A tabela 7 apresenta o nível de escolaridade dos indígenas. Pode-se
observar que, entre os não diabéticos, a maioria deles tinha ensino fundamental
incompleto, com percentual semelhante entre homens e mulheres. Entre os
participantes diabéticos ou com tolerância diminuída à glicose também ocorreu maior
quantidade de pessoas com ensino fundamental incompleto. No entanto, o
percentual de mulheres diabéticas e com tolerância diminuída à glicose não
alfabetizadas foi significativamente maior em relação àquelas não diabéticas
(p<0,05).
Não se verificou participantes diabéticos ou com tolerância diminuída à
glicose com nível educacional médio ou superior, enquanto parcela significativa dos
participantes com glicemias normais declarou ter concluído o ensino médio ou
superior (p < 0,05) Não houve diferença entre o percentual de homens e mulheres
não alfabetizados.
Na tabela 7 percebe-se que a maioria dos homens trabalhava como
empregados no comércio ou lavoura de cana de açúcar da região, enquanto entre
48
as mulheres pequena parcela estava empregada nos Centros de Saúde ou Escolas
da Reserva Indígena ou como doméstica na cidade de Dourados. A maioria delas
dedicava-se aos afazeres domésticos. Pequeno contingente de homens dedicava-se
aos cuidados de suas próprias lavouras de subsistência. Entre os aposentados não
houve diferença significativa entre homens e mulheres.
Na comunidade indígena Jaguapiru a alimentação é pobre em carnes, leite e
derivados, frutas, legumes e verduras e rica em farinha, bolachas, macarrão, fubá,
mandioca e arroz. O leite era ingerido diariamente por 10% dos indígenas. A carne
estava presente, ao menos em uma refeição, para 16,5% dos indígenas
pesquisados. Apenas 15,3% dos participantes informaram a presença de frutas e
4,3% de legumes e verduras nas refeições diárias.
Tabela 7 - Indicadores sócio-econômicos, segundo o sexo, relacionados aos resultados das glicemias dos indígenas participantes do estudo da aldeia Jaguapiru, em Dourados- MS, 2008
Indicadores
Diabéticos e tolerância diminuída à glicose
Não diabéticos
49
Masculino
n(%)
Feminino n(%)
Masculino
n(%)
Feminino n(%)
Escolaridade
Alfabetizados
fundamental incompleto 5(71,4) 19(79,1) 159(64,4) 168(63.4)
médio ou superior - - 54(21,8) * 37(14)
fundamental completo 2(28,6) 5(20,8) 23(9,3) 24(9,0)
médio incompleto - - 11(4,4) 36(13,6)
Total alfabetizados 7(100) 24(72,7) † 247(94,6) 265(86,9)
Não alfabetizados
Total não alfabetizados - 9(27,3) 14(5,4) 40(13,1)
Ocupação
Assalariado 4(57,1) 6(18,2) 174(66,7) 62(20,3)
Autônomo 3(42,9) 27(81,8) 75(28,7) 227(74,4)
Aposentado - - 12(4,6) 16(5,3)
*p = 0,0003 em relação aos diabéticos e intolerantes . † p = 0,0001 em relação às não diabéticas
Na tabela 8 verifica-se que a maioria dos participantes do estudo pertencia a
famílias com rendimento menor que um salário mínimo mensal. Não se observa
diferença significante entre o numero de pessoas não diabéticas que viviam com
menos de um salário-mínimo e aquelas com diabetes ou tolerância diminuída à
glicose (X2 = 5,58; p > 0,05).
Quase a totalidade das moradias contava com a energia elétrica e houve
associação estatisticamente significante entre diabéticos e não diabéticos (X2 = 15,2;
p <0,0004). Contudo, a grande maioria recebia água potável canalizada fornecida
pela FUNASA e não houve diferença significativa entre diabéticos e não diabéticos
(X2 = 0,208; p > 0,05).
50
Tabela 8 - Indicadores sócio-econômicos familiares relacionados aos resultados das glicemias dos indígenas participantes do estudo da aldeia Jaguapiru, Dourados- MS, 2008
Indicadores
Diabéticos e
Tolerância diminuída à
glicose
n = 40 (%)
Não diabéticos
n = 566 (%)
Renda
familiar
(salário mínimo)
< 1 28 (70) 375 (66,3)
1 a 2 10 (25) 138 (24,4)
2 a 3 - 27 (4,8)
3 a 4 - 11(1,9)
> 5 - 6 (1,1)
Bolsa família 2 (5) 9 (1,6)
Iluminação
com energia elétrica 33 (82,5) 544 (96,1)
sem energia elétrica 7 (17,5) 22 (3,9) *
Água para consumo
Fornecida FUNASA
Poço raso
39(97,5) 537(94,9)
1(2,5) 29(5,1)
* p<0,0004 em relação aos diabéticos e com tolerância diminuída à glicose
4.1.3 Fatores de Risco Cardiometabólicos
Conforme apresentado na tabela 9, os homens que tinham glicemia de jejum
alterada apresentavam maior peso (p < 0,05) do que aqueles com glicemia normal,
diabetes mellitus e tolerância diminuída à glicose, mas as alturas foram semelhantes
51
entre os quatro grupos. Contudo, não se observou diferença significativa entre as
mulheres dos quatro grupos em relação ao peso e altura.
Tabela 9 - Média do peso e altura em relação aos valores glicêmicos dos indígenas por sexo e faixa etária da aldeia de Jaguapiru, Dourados - MS, 2008
Masculino Feminino
Faixa etária
n
Peso (kg)
Altura(cm)
n
Peso (kg)
Altura(cm)
52
Glicemia jejum
alterada
18-29 8 75,3 ± 17,4 170,1 ± 5,7 8 60,5 ± 8 155,4 ± 4,4
30-39 7 93,2 ± 23,4* 168,8 ± 6,4 7 77,5 ± 14,9 157,2 ± 5,9
40-49 9 83,3 ± 22,6 165,9 ± 8,1 8 70,9 ± 10,3 156,2 ± 4,9
50-59 6 75,9 ± 16,2 163,8±11,2 9 71,2 ± 7,4 152,2 ± 4,4
60-69 3 75,6 ± 10,4 166,2 ± 5,5 4 73,6 ± 1,5 156,8 ± 5,4 Tolerância diminuída à glicose
18-29 - - - 1 82 154
30-39 1 68,5 153 2 79,2 ± 0,4 157,8 ± 1,8
40-49 1 68 154 1 68 140,5
50-59 1 82 172 5 59,4± 13 150 ± 3,5
60-69 - - - 1 73,5 147
Diabetes
mellitus
18-29 - - - 1 75 161
30-39 - - - 2 81,3 ± 20,9 159,5 ± 2,1
40-49 1 93 177,5 5 81,3 ± 20,9 159,5 ± 2,1
50-59 3 71 ± 1 161,3 ± 3,2 9 77 ± 12,2 151,2 ± 3,4
60-69 - - - 6 62 ± 20,8 147,8 ± 6,9
Glicemia normal
18-29 101 70,5 ± 10,8 168,9 ± 7,2 126 61,2 ± 11 155,2 ± 5,7
30-39 55 75,2 ± 13,4 167,9 ± 5,8 75 70,8 ± 15 156 ± 5,8
40-49 27 74,3 ± 10,6 166,2 ± 6,3 32 67 ± 11,3 153,7 ± 5
50-59 25 71 ± 9,6 165,1 ± 5,1 29 68,9 ± 13,2 150 ± 4,5
60-69 19 72,4 ± 12,2 159,3 ± 6,4 8 59,4 ± 8,3 151,9 ± 5,9
Total 268 73,5 ± 13,1 167 ± 7,1 338 66,4 ± 13,1 154,4 ± 5,7
* p<0,05 em relação aos outros grupos
Conforme apresentado na tabela 10, maior numero de mulheres diabéticas e
com tolerância diminuída à glicose apresentaram IMC > 30 kg/m2 e houve
associação estatística significante entre a tolerância diminuída à glicose e os outros
grupos (p < 0,05). Observa-se, ainda, que apenas um terço das mulheres
pesquisadas apresentaram IMC < 25 kg/m2.
53
Tabela 10 - Distribuição do índice de massa corpórea (IMC) em relação às variações de glicemia dos indígenas do sexo feminino da aldeia Jaguapiru, Dourados- MS, 2008
IMC (kg/m2)
Glicose de jejum alterada
Tolerância diminuída à glicose
Diabetes
mellitus
Glicose normal
Total
n % n % n % n % n %
≥ 30 13 37,1 6 60* 12 52,2 73 27,1 104 30,8
≥25 e ≤29,9 15 42,9 1 10 10 43,5 96 35,5 122 36,1
< 25 7 20 3 30 1 4,3 101 37,4 112 33,1
Total 35 100 10 100 23 100 270 100 338 100
*p = 0,003 em relação aos demais grupos
Verifica-se na tabela 11, que entre os participantes do sexo masculino, com
diabetes mellitus e tolerância diminuída à glicose não havia obesidade, mas esse
grupo apresentou maior percentual de indivíduos com sobrepeso em relação ao
grupo com glicemia de jejum normal (p = 0,02).
Conforme apresentado nas tabelas 10 e 11, a obesidade (IMC ≥ 30 kg/m2) foi
mais frequente entre as mulheres em relação aos homens.
Tabela 11 - Distribuição do índice de massa corporal (IMC) em relação às variações da glicemia dos indígenas do sexo masculino da aldeia Jaguapiru, Dourados- MS, 2008
IMC
(kg/m2)
Glicose de jejum alterada
Tolerância diminuída à glicose
Diabetes
mellitus
Glicose normal
Total
54
n % n % n % n % n %
≥ 30 10 29,4 - - - - 28 11,9 38 14,2
≥ 25 e < 30 16 47 3 * 100 4 † 100 95 41,8 118 44
< 25 8 23,5 - - - - 104 45,8 112 41,8
Total 34 100 3 100 4 100 227 100 268 100
Teste de Kurskall-Wallis * p < 0,02 em relação à glicose normal † p < 0,006 em relação à glicose normal
Observa-se na tabela 12 que nos indivíduos diabéticos a presença de
hipertensão foi significativamente maior que nos indivíduos com glicemia de jejum
normal, glicemia de jejum alterada e tolerância diminuída à glicose (p< 0,05). Quanto
ao sobrepeso não houve diferença significativa entre os quatro grupos. Encontrou-se
maior percentual de obesos no grupo dos diabéticos em relação aos demais grupos
participantes (p= 0,02). Nota-se que somente uma participante diabética do sexo
feminino apresentou circunferência abdominal abaixo de 80 cm e os quatro
participantes diabéticos do sexo masculino apresentaram circunferência abdominal
acima de 90 cm, índices significativamente superiores aos demais grupos (p < 0,05).
Verifica-se na mesma tabela, que não houve associação estatisticamente
significante entre a história familiar de doença hipertensiva e a presença de diabetes
mellitus ou tolerância diminuída à glicose (p = 0,25). Enquanto a história familiar de
diabetes mellitus foi estatisticamente significante nos indivíduos com tolerância
diminuída à glicose, nos diabéticos e naqueles com glicemia de jejum alterada em
relação ao grupo com glicemia normal (p = 0,02).
Não se encontrou associação estatística entre o hábito tabagístico e a
presença de diabetes mellitus e tolerância diminuída à glicose nos indígenas
pesquisados (p > 0,05).
55
Tabela 12 - Fatores de risco cardio-metabólicos entre os indígenas da aldeia Jaguapiru, Dourados - MS, 2008
Indicadores
Glicose de
jejum alterada n=69 (%)
Tolerância diminuída à glicose
n =13 (%)
Diabetes
mellitus n= 27(%)
Glicose normal
n= 497 (%)
Hipertensão arterial
Presente 24(34,8) 5(38,5) 22 (81,5)* 129 (26)
Ausente 45 (65,2) 8(61,5) 5 (18,5) 368 (74)
Obesidade Presente 18 (26,5) 3 (23) 12 (44,4) † 100 (20,1)
56
Ausente 51 (73,9) 10 (76,9) 15 (55,5) 397 (79,9)
Sobrepeso
Presente 31 (44,9) 4 (30,7) 14 ( 51,9) 191 (38,4)
Ausente 38 ( 55) 9 ( 69,2) 13 ( 48,1) 306 (6,6)
Cintura abdominal
(masculino)
> 90 cm 23 ( 33,3) 3 (23) 4 (100)‡ 80 (16)
≤ 90 cm 11 (15,9) - - 147 (29,6)
Cintura abdominal
(feminino)
> 80 cm 30 (43,5) 8 ( 61,5) 22 (81,5)‡ 199 (40)
≤ 80 cm 5 (7,2) 2 (15,3) 1 (3,7) 71 (14,3)
História familiar de doença
hipertensiva
Presente 34 (49,3) 8 (61,5) 19 (70,3) 260 (52,3) Ausente 35 (50,7) 5 (38,5) 8 (29,6) 237 (47,7)
História familiar de Diabetes
mellitus
Presente 26 (37,7) § 4(30,7) 9 (33,3) 110 (22,1)
Ausente 43 (62,3) 9(69,2) 18(66,6) 387(77,9)
Tabagismo
Presente 14 (20,3) 1(7,7) 3(11,1) 97(19,5)
Ausente 55(79,7) 12(92,3) 24(88,9) 400(80,5)
* p< 0,05 em relação aos demais grupos; † p< 0,022 em relação aos outros grupos; ‡ P< 0,007 em relação aos demais grupos; § em relação ao grupo com glicemia normal
Na tabela 13 são apresentados os coeficientes de correlação de Pearson
entre a glicemia e as variáveis clínicas e antropométricas. Entre os participantes
diabéticos do sexo masculino houve correlação positiva forte entre a glicemia e o
índice de massa corpórea e o peso, e fraca correlação positiva entre a glicemia e a
circunferência abdominal. Entretanto, entre as mulheres, a correlação entre diabetes
e tolerância diminuída à glicose frente ao IMC e ao peso foi negativa.
Nas mulheres diabéticas houve correlação positiva regular entre glicemia e
pressão diastólica, e fraca com a pressão sistólica. Entre os homens a correlação foi
negativa.
57
No grupo dos participantes com tolerância diminuída à glicose, do sexo
masculino, observa-se muito forte correlação da glicemia com a pressão diastólica e
o índice de massa corpórea. No entanto, entre as mulheres, a correlação foi
negativa. Quando classificamos as mulheres por faixa etária, verifica-se que há
correlação positiva regular (r = 0,34) entre o IMC e a idade até 40 anos e acima de
40 anos a correlação é fracamente negativa (r = -0,10).
Tabela 13 - Correlação da glicemia com as variáveis clínicas e antropométricas dos indígenas entre 18 e 69 anos da Aldeia Jaguapiru, Dourados - MS, 2008
Glicemias Variáveis
Jejum normal
Feminino Masculino
n= 270 n=227
Jejum alterada
Feminino Masculino
n= 35 n=34
Tolerância diminuída à glicose
Feminino Masculino
n= 10 n=3
Diabetes mellitus
Feminino Masculino
n= 23 n=4
58
† IMC = índice de massa corporal;‡ = circunferência abdominal * estatisticamente significante A correlação foi dita nula quando igual a zero, fraca quando maior que zero e menor que |0,3|, regular entre |0,3| inclusive e |0,6|, forte entre |0,6| inclusive e |0,9|, muito forte quando entre |0,9| inclusive e |1,0| e plena ou perfeita quando igual a |1,0|
Na tabela 14 verifica-se que dos participantes pesquisados a maioria
apresentou glicemia de jejum abaixo de 100 mg/dl e, em relação aos homens, a
parcela da população feminina com glicemia > 99mg/dl foi significativamente maior
(p = 0,001).
Tabela 14 – Distribuição das glicemias de jejum em relação ao sexo e idade entre os indígenas da aldeia de Jaguapiru, Dourados - MS, 2008
Idade (anos)
Mulheres Homens Total Glicemia (mg/dl)
≤ 99 > 99 n % n
Glicemia (mg/dl) ≤ 99 > 99g/d n % n %
Glicemia (mg/dl) ≤ 99 > 99 n % n %
Pressão sistólica r 0,12
* 0,04 0,14 0,11 -0,43 -0,1 0,31 -0,32
Pressão diastólica r 0,2
* 0,07 -0,03 -0,15 -0,22 0,91 0,21 -0,004
IMC† r 0,2 * 0,13
* 0,12 0,03 -0,56 0,97 -0,28 0,83
CA‡ r 0,18 0,07 0,05 -0,04 -0,37 -0,99 -0,36 0,21
Peso r 0,14 0,1 0,12 -0,04 -0,55 -0,79 -0,22 0,66
59
80
100
120
140
%
18- 29 126 20,8 11 1,8 101 16,6 8 1,3 227 37,4 18 3,1
30-39 75 12,4 11 1,8 55 9 9 1,5 130 21,5 20 3,3
40-49 32 5,9 14 2,3 27 4,5 10 1,6 59 9,7 24 3,9
50-59 29 4,8 24 4 25 4,1 10 1,6 54 8,9 35 5,8
60-69 8 1,3 8 1,3 19 3,2 4 0,7 27 4,5 12 2
Total 270 44,6 68 11,2* 227 37,4 41 6,8 497 82 109 18
*p=0,001 em relação aos homens
Na figura 4, apresentamos a distribuição de homens e mulheres por faixa
etária de acordo com as glicemias acima ou abaixo de 99 mg/dl. Observa-se que
quanto maior é a faixa etária, maior é a frequência relativa de glicemias acima de 99
mg/dl, em ambos os sexos. A maioria das mulheres da faixa etária entre 50 a 59
anos apresentou glicemias acima de 99 mg/dl.
60
Masculino ≥100mg/d
Masculino ≤ 99mg/dl
Feminino ≥ 100mg/d
Feminino ≤ 99mg/dl
Masculino ≥100mg/d
Masculino ≤ 99mg/dl
Feminino ≥ 100mg/d
Feminino ≤ 99mg/dl
Na figura 5, observam-se as glicemias alteradas e normais dos 606 indígenas
de ambos os sexos, e verifica-se que a faixa de idade de 50 a 59 anos abriga o
maior contingente de indivíduos com glicemias alteradas. Entretanto, observa-se a
presença de glicemias alteradas, em percentual expressivo, entre os jovens de 18 a
29 anos de idade.
FIGURA 4 – Distribuição das glicemias por faixa etária e sexo
61
37.8%
3.1% 3.3%
21.5%
3.9%
9.8%5.8%
8.9%
2.0%4.5%
0%
5%
10%
15%
20%
25%
30%
35%
40%
glicemia normal n=497
glicemia acima de 99mg/dln=109
18-29anos
30-39anos
40-49anos
50-59anos
60-69anos
Figura 5 - Glicemias normais (abaixo de 99 mg/dl) e alteradas (acima de 99
mg/dl) na amostra de 606 indígenas da aldeia Jaguapiru, entre 18 e 69 anos, em Dourados - MS, 2008
Conforme mostrado na tabela 15, o número absoluto de indígenas com
glicemia de jejum alterada entre homens e mulheres foi semelhante, no entanto as
mulheres representavam 55,7% do total de participantes, indicando que foi
estatisticamente significante o percentual de homens em relação às mulheres com
glicemia de jejum alterada (p < 0,05).
62
Tabela 15 - Glicemia de jejum alterada entre os 606 indígenas segundo o sexo e a idade, na aldeia Jaguapiru, Dourados - MS, 2008
Idade (anos)
Mulheres (n=338) Homens (n=268) Total (n=606) Glicemia jejum
alterada n %
Glicemia jejum alterada n %
Glicemia jejum alterada n %
18- 29 8 (2,4) 8 (3) 16 ( 2,6)
30-39 7 (2) 8 (3) 15 (2,5)
40-49 8 (2,4) 8 (3) 16 (2,6)
50-59 9 (2,7) 6 (2,2) 15 (2,5)
60-69 3 (0,9) 4 (1,5) 7 (1,2)
Total 35 (10,4) 34 (12,7)* 69 (11,4)
* p< 0,05 em relação as mulheres
63
5 DISCUSSÃO
A primeira limitação de nosso trabalho provém do fato da população masculina
da amostra ser menor que a população feminina, num contingente em que a
população masculina é maior que a feminina. Isso decorreu da ausência dos
homens, nas moradias visitadas, por encontrarem-se a trabalho nas fazendas da
região. A segunda restrição diz respeito a não realização do teste de tolerância à
glicose em alguns participantes escolhidos aleatoriamente entre àqueles com
glicemia de jejum abaixo de 99 mg/dl.
5.1 DIABETES E TOLERÂNCIA DIMINUÍDA À GLICOSE
No presente estudo verificou-se que o diabetes mellitus e a tolerância
diminuída à glicose estavam presentes, respectivamente, em 4,5% (95% intervalo de
confiança (IC) 2,82% a 6,18%) e 2,2% (95% intervalo de confiança (IC) 2,13% a
2,14%) da população indígena, da aldeia Jaguapiru, entre 18 e 69 anos. Essa
prevalência é inferior à encontrada no estudo multicêntrico brasileiro, realizado entre
1986 e 1988, que foi de 7,6% e 8,7%, respectivamente (MALERBI et al., 1992). O
mais provável para essa diferença seja a alimentação com menor ingesta de calorias
e o estilo de vida dos índios da aldeia Jaguapiru em relação à população brasileira
64
estudada por Malerbi e colaboradores (1992). Contudo, em comunidades indígenas
do alto Xingu, nenhum caso de diabetes mellitus foi observado entre 201 indígenas
de ambos os sexos e com idade acima de 20 anos, onde foi relatado 8 (4,6%) casos
de glicemia de jejum alterada (GIMENO et al., 2007), índice inferior ao da presente
pesquisa e do estudo brasileiro (MALERBI et al.,1992).
Não obstante, a prevalência na aldeia estudada foi semelhante à prevalência
de 3,4% para diabetes mellitus encontrada em uma comunidade rural brasileira
(SILVA et al., 2008) e aos 2,2% relatados na comunidade Terena da aldeia de Buriti,
em Mato Grosso do Sul (SAAD, 2005).
No entanto, foi muito superior ao encontrado na aldeia Xavante de
Sangradouro-Volta Grande (MT), na qual se relatou a presença de somente cinco
casos de diabetes tipo 2 entre 590 indígenas (VIEIRA-FILHO, 1996) e na
comunidade Yanomámi na qual foi encontrado apenas um caso da doença em uma
população de 72 indígenas adultos (BLOCH et al.,1993).
É possível que a ampla variação da prevalência de diabetes mellitus e
tolerância diminuída à glicose nas diversas populações estudadas seja devido a
fatores genéticos e ambientais característicos de cada comunidade.
Isso também ocorre nas populações indígenas de outros países. Por
exemplo, os dados obtidos neste estudo são semelhantes aos 4,4% de diabetes
mellitus tipo 2 encontrados nos índios Otomíe, no México (ALVARADO-OSUNA et
al., 2001), mas inferiores aos 6,7% encontrados em comunidades aborígines
australianas (CHITTLEBOROUGH et al., 2006) e muito abaixo da prevalência em
várias comunidades indígenas norte-americanas (HOSSAIN et al., 2007; PAVKOV et
al., 2006).
65
Contudo, em comunidades indígenas do Havaí, Nacapoy e colaboradores
(2008) descreveram diferentes taxas de prevalência de diabetes mellitus que
variaram conforme o grau de integração à cultura ocidental, variando de 10% para
os indígenas isolados a 27,9% para os aculturados, índices muito superiores aos
desse trabalho.
Casulari e colaboradores (2007) estudaram jovens brasilienses que foram
submetidos ao tratamento quimio e radioterápico para leucemia linfoblástica aguda
na infância. Eles não observaram sobrepeso ou obesidade nessas crianças,
diferentemente dos congêneres em países desenvolvidos. Mas, tinham também
níveis sanguíneos elevados de leptina caracterizando a resistência a esse hormônio,
como descrito nos pacientes de paises desenvolvidos. Isto é, a radioterapia dirigida
ao sistema nervoso central tinha alterado a fisiologia dos neurônios hipotalâmicos
envolvidos na ação da leptina. Os autores sugeriram que a baixa ingesta calórica
dos pacientes brasileiros em relação àquelas dos paises mais desenvolvidos
explicaria a ausência de obesidade nos pacientes avaliados. Isso evidencia a
influência de fatores ambientais no desenvolvimento da obesidade. Essa frequência
variando de 10% para os indígenas isolados a 27,9% para os aculturados, do
trabalho no Havaí corrobora o trabalho acima (NACAPOY et al., 2008).
Na aldeia Jaguapiru, as prevalências de diabetes mellitus e tolerância
diminuída à glicose entre as mulheres foram de 6,8% e 2,9%, respectivamente,
maiores e estatisticamente significantes em relação aos 1,5% e 1,1% dos homens,
diferentemente de tribo indígena mexicana onde não houve diferença (ALVARADO-
OSUNA et al., 2001). Essa diferença deve-se provavelmente à atividade braçal dos
homens e ao menor grau de obesidade em relação às mulheres.
66
A prevalência de diabetes mellitus aumentou de 0,81% entre os participantes
com 18 a 29 anos para 12,8% na faixa etária de 60 a 69 anos semelhante ao
descrito por Souza e colaboradores na cidade de Campos dos Goytacazes, Rio de
Janeiro (SOUZA et al., 2003). Isso sugere que o envelhecimento da população
associa-se ao aumento da frequência de diabetes (WILD et al., 2004) também na
população indígena.
5.2 FATORES DE RISCO CARDIOMETABÓLICOS
No presente trabalho a média de peso dos homens foi de 73,3 kg e das
mulheres de 66,1 kg, médias superiores às encontradas, de 57,4 kg para o sexo
masculino e de 50,4 kg para o sexo feminino, em tribos do Alto Xingu (GIMENO et
al., 2007).
A média de altura dos homens foi de 166,9 cm e nas mulheres 154,14 cm,
superiores às dos Guarani-M’byá de 1,58 cm e 1,45 cm, respectivamente
(CARDOSO et al., 2001), e semelhantes às descritas por Saad (2005) de 1,67 cm e
1,54 cm para homens e mulheres, respectivamente.
Entre as mulheres da aldeia Jaguapiru, 30,8% apresentaram IMC acima de
29,9 kg/m,2 índices superiores aos 10,9% de uma comunidade rural, em Minas
Gerais (SILVA et al., 2008), aos 12,5% dos indígenas do Alto Xingu (GIMENO et al.,
2007), aos 18,3% do estudo de indígenas australianos (CHITTLEBOROUGH, 2006)
e aos 18,7% descritos na aldeia Buriti (SAAD, 2005). Entre os homens, IMC ≥ 30
kg/m2, foi encontrado em 14,2% frente a 1,4% relatado na comunidade rural mineira
67
(SILVA et al., 2008), aos 18,2% na comunidade do Alto Xingu (GIMENO et al., 2007)
e 11,6% encontrado na comunidade terena de Buriti (MS) (SAAD, 2005). Na
comunidade Xavante de São José (MT) 24,6% dos homens e 41,3%% das mulheres
eram obesos (GUGELMIN, et al., 2001). Entre os moradores da comunidade
indígena Parkatêjê (PA), a prevalência da obesidade em adultos do sexo masculino
foi 1,7% e, de 12,5% entre as mulheres (CAPELLI et al., 2001), índices inferiores aos
do presente estudo. No entanto, diferentemente do encontrado na aldeia Jaguapiru,
o IMC mais elevado, no sexo feminino, concentrou-se na faixa etária de 50-59 anos
(CAPELLI et al., 2001).
Nos indígenas avaliados, no grupo masculino a circunferência abdominal
acima de 90 cm foi encontrada em 44% e entre as mulheres 76% apresentavam
circunferência abdominal superior a 80 cm. Provavelmente, devido ao trabalho
braçal, em lavouras do entorno da aldeia, os homens, em relação às mulheres, tem
menor percentual de circunferência abdominal acima do estipulado como normal
pela Federação Internacional de Diabetes (IDF, 2005). Esses dados mostram que o
limite de 90 cm para homens e 80 cm para mulheres para a circunferência
abdominal, classifica como portadores de fatores de risco cardiometabólicos grande
contingente da população indígena da aldeia Jaguapiru. Nas mulheres o percentual
foi semelhante e nos homens foi significativamente superior aos 6,5% encontrados
no estudo nos Guarani-M’byá do estado do Rio de Janeiro (CARDOSO et al., 2001).
68
5.3 FATORES DE RISCO PARA O DESENVOLVIMENTO DO DIABETES
Atualmente, é largamente conhecido o papel da resistência à insulina como
elo entre a obesidade central, diabetes mellitus, hipertensão arterial e tolerância
diminuída à glicose (MCKEOWN et al., 2004; PARKS et al., 2000). Vários estudos
mostraram que o risco para o desenvolvimento de diabetes mellitus tipo 2 está
estreitamente ligado à presença e duração de sobrepeso e obesidade, e 90% dos
diabéticos apresentam sobrepeso ou obesidade (MUST et al., 1999; ADA, 2008). Em
estudo prospectivo, com 114.281 enfermeiras, nos Estados Unidos, acompanhadas
de 1976 a 1990, Colditz e colaboradores (1995) verificaram relação altamente
positiva entre o IMC e o risco para diabetes tipo 2. Esse risco aumentou a partir do
IMC de 22 kg/m2, tornando-se altamente significante acima de 25 kg/m2. Raghupathy
e colaboradores (2007), também observaram associação entre o aumento do IMC e
a prevalência de diabetes mellitus, em adultos jovens do sul da Índia. Em indivíduos
com elevado IMC e resistentes à insulina a qualidade e a quantidade dos
carboidratos ingeridos constituem importante fator preditor de diabetes mellitus tipo
2, doenças cardiovasculares e dislipidemia (WILLETT et al., 2002). Na comunidade
indígena Jaguapiru a alimentação é pobre em carnes, frutas, legumes e verduras e
rica em cereais refinados como arroz, farinha, bolachas, macarrão e fubá.
No presente estudo o IMC estava acima de 25 kg/m2 em 98,7% dos
diabéticos e em 70% dos indígenas com tolerância diminuída à glicose concordando
com os resultados descritos por Hossain e colaboradores (2007). A obesidade
estava relacionada ao aumento de 2,2 vezes o risco para o desenvolvimento de
diabetes mellitus semelhante ao relatado por Colditz e colaboradores (1995), e por
Torquato e colaboradores (2003), no estudo de Ribeirão Preto.
69
Nos indígenas diabéticos do sexo masculino houve correlação positiva forte
entre a glicemia e o IMC e entre a glicemia e o peso. No entanto, a correlação foi
fracamente positiva entre a glicemia e a circunferência abdominal. O número de
indígenas diabéticos do sexo masculino foi muito pequeno para validade estatística.
Entre as mulheres indígenas diabéticas a correlação entre a glicemia e o IMC
foi negativa. Verificou-se que no total das participantes o IMC aumentou até os 40
anos e decresceu após essa faixa etária, e que 83,4% das mulheres diabéticas
estavam na faixa etária acima de 40 anos, o que poderia explicar a ausência de
correlação positiva entre a glicemia e o IMC. Resultados concordantes com os
apresentados por Gugelmin e colaboradores (2001) nos Xavantes da comunidade
São José (MT). É possível que a diminuição do IMC com a idade e a correlação
negativa, possa refletir maior preocupação da mulher com a doença, com a sua
alimentação e com a qualidade de vida. Em um grupo de aborígines australianos
diabéticos adaptados ao estilo de vida ocidental o retorno ao modo de vida
tradicional de sua comunidade, promoveu diminuição significativas nos níveis de
triglicerídeos e glicemia, menor resistência à insulina e perda de peso (O’DEA,
1984).
Entre as mulheres diabéticas e com tolerância diminuída à glicose 88,2%
tinham circunferência abdominal maior que 80 cm e, entre os homens diabéticos e
com tolerância diminuída à glicose, todos apresentavam circunferência abdominal
acima de 90cm, semelhante aos índices relatados por Cardoso e colaboradores
(2001). Atualmente, sabe-se que a adiposidade intra-abdominal é a que apresenta
maior impacto sobre a resistência à insulina (HARMELEN et al., 1998; GIORGINO et
al., 2005). Acredita-se que o tecido adiposo visceral expresse maior número de
receptores aos glicocorticóides e maior sensibilidade às catecolaminas estando mais
70
susceptíveis à lipólise (FRAYN, 2000; GIORGINO et al., 2005), e que os ácidos
graxos livres liberados na circulação porta tenha papel fundamental na fisiopatologia
da resistência à insulina (WAJCHENBERG, 2000; TIMAR et al., 2000).
Dados do NHANES, de 2003 e 2004, estimam que 39,3% dos diabéticos
americanos desconhecem sua doença (ADA, 2008). No presente estudo 44,4% dos
diabéticos desconheciam sua condição de portadores da doença, semelhante aos
46% encontrado no estudo multicêntrico brasileiro (MALERBI et al.,1992).
Todos os diabéticos conhecidos estavam em tratamento, um usava insulina e
os demais hipoglicemiantes orais. A glicemia de jejum estava dentro de valores
normais em um único paciente. Dos doze pacientes recém diagnosticados, um foi
pelo teste oral de tolerância à glicose e onze apresentaram glicemia de jejum acima
de 125 mg/dl, confirmada em nova dosagem, em outra oportunidade.
A história familiar de diabetes mellitus é descrita como importante fator
preditor de risco para o desenvolvimento de diabetes tipo 2 (MEIGS et al., 2000) e,
no presente trabalho, foi referida em 33,3% dos diabéticos e em 30,7% dos
indivíduos com tolerância diminuída à glicose. Crispin e colaboradores (2006), no sul
do Brasil, reportaram, entre 644 diabéticos tipo 2, ao menos um familiar de primeiro
grau afetado pela doença, em 76,6% dos participantes, havendo predominância de
história materna. Bjornholt e colaboradores (2000), entre 1.947 homens
noruegueses, acompanhados por 22,5 anos, verificaram 143 casos de diabetes tipo
2, com risco relativo (RR) de 3,96 para os participantes com história familiar de
diabetes em relação aos que não possuíam passado familiar de diabetes tipo 2.
Dados do Framinghan Offspring Study mostram que, quando ambos os pais
são diabéticos, o risco para os descendentes desenvolverem diabetes tipo 2 é 6,1
maior, e que quando apenas um dos pais é portador de diabetes tipo 2 o risco
71
aumenta de 3,4 a 3,5 vezes, quando comparado aos indivíduos em que nenhum dos
pais é diabético (FEINLEIB et al., 1975). Em estudo realizado em São Paulo, na
década de 90, Sucasas e colaboradores (1998), entrevistando 116 pacientes
diabéticos, constataram história familiar de diabetes mellitus em 71,5% dos
participantes. Em 2.310 chineses diabéticos tipo 2, de Hong Kong, Lee e
colaboradores (2000) reportaram que em 36% dos participantes havia pelo menos
um genitor ou irmão portador de diabetes mellitus tipo 2 semelhante ao percentual
encontrado na aldeia Jaguapiru. Não se verificou diferença entre a história familiar
materna e paterna entre os indígenas dessa aldeia.
Vários estudos sugerem que o estresse psicológico desempenha um
importante papel no desenvolvimento do diabetes mellitus (SURWIT et al., 1992;
ROSMOND et al., 2000; AGARDH et al., 2003). Os indígenas da aldeia Jaguapiru,
confinados em uma pequena extensão de terras degradadas e sem a tecnologia
necessária para retirar da terra seu sustento, estão expostos a alto risco de estresse,
que resultou, em 2008, em 34 suicídios de índios da etnia guarani e kaiowá no Mato
Grosso do Sul (CIMI, 2009).
5.4 DIABETES E HIPERTENSÃO ARTERIAL
. A hipertensão arterial tem alta prevalência e elevado impacto na
morbimortalidade da população mundial. Aproximadamente 1 bilhão de pessoas
são portadores de hipertensão arterial e cerca de 7,1 milhões morrem, anualmente,
em decorrência de suas complicações (CHOBANIAN et al., 2003). Nos Estados
72
Unidos aproximadamente 50 milhões de pessoas possuem hipertensão arterial.
Apenas 34% mantêm os níveis pressóricos controlados de acordo com os critérios
atuais, setenta por cento têm diagnóstico confirmado e 59% seguem o tratamento
(HAJJAR et al., 2003). Estima-se que, no Brasil, 30 milhões de pessoas sejam
hipertensas, cerca de 30% da população adulta e 5% de crianças e adolescentes
(CORRÊA et al., 2005; SBH, 2008), índices semelhantes aos 29,7% de hipertensos,
na população adulta, encontrados na presente pesquisa.
O diabetes mellitus é considerado um fator de risco independente para
doença cardiovascular e, frequentemente, está associado à obesidade e hipertensão
arterial. Vários estudos demonstram que a população diabética tem maior
prevalência de hipertensão arterial e dislipidemia (GERSTEIN et al., 2005; KAHN et
al., 2005). Dados do United Kingdom Prospective Diabetes Study (UKPDS) (1998)
revelaram que uma redução de 10 mmHg na pressão arterial sistólica implica em
uma redução de 12% na ocorrência de qualquer complicação relacionada ao
diabetes mellitus tipo 2, inclusive doença cardiovascular.
Em 333 pacientes diabéticos tipo 2, na cidade do Rio de Janeiro, Oliveira e
colaboradores (2007) relataram prevalência de hipertensão arterial de 81,8%. Em
um estudo multicêntrico, no Rio Grande do Sul, com 733 paciente diabéticos tipo 2, a
hipertensão arterial estava presente em 77,6% dos homens e em 83,3% das
mulheres (PICON et al., 2007), similar a 81,5% encontrado na aldeia Jaguapiru, no
presente trabalho.
Pavkov e colaboradores (2006) descreveram hipertensão em 77% dos
indígenas adultos diabéticos da tribo Pima. Na aldeia Jaguapiru, a associação de
diabetes e tolerância diminuída à glicose com hipertensão arterial foi de 67,5%.
73
Possivelmente, ambos os grupos indígenas, com fatores genéticos diversos, estejam
experimentando mudanças semelhantes nos hábitos alimentares e no modo de vida.
A hipertensão arterial estava presente em 29,7% dos participantes, sem
diferença estatística entre os sexos, superior aos 4,8% descritos por Cardoso e
colaboradores (2001), em índios Guarani-Mbyá, no litoral do Rio de Janeiro, e aos
11,1% dos terenas da aldeia Buriti (MS) (SAAD, 2005) e inferior aos 37,7% relatado
por Gimeno e colaboradores (2007) no Alto Xingu.
5.5 TABAGISMO
Não há consenso da relação direta entre tabagismo e diabetes mellitus, mas
alguns estudos prospectivos mostraram aumento da prevalência de diabetes mellitus
entre os fumantes (RIMM et al., 1995; UCHIMOTO et al., 1999). Shimakata e
colaboradores (1989) demonstraram que o cigarro aumenta a concentração de
gordura abdominal. Na presente pesquisa 10% dos indígenas diabéticos e com
tolerância diminuída à glicose, e 19% daqueles com glicemia normal declararam-se
tabagistas, índice inferior aos 51% referido no estudo realizado na aldeia Buriti
(SAAD, 2005), e semelhante aos 14,9% encontrado na população brasileira
(BRASIL, 2007 e). Nessa pesquisa não se verificou relação entre hábito tabagístico
e alteração da glicemia. A maior presença de fumantes entre os indígenas com
glicemia normal deve-se, provavelmente, à grande facilidade dos jovens em
74
assimilar os hábitos e costumes da população envolvente e a maior prevalência de
tolerância diminuída à glicose e diabetes mellitus acima da faixa etária de 50 anos.
5.6 INDICADORES SÓCIO-ECONÔMICOS
O percentual de não alfabetizados foi significativamente maior entre os
diabéticos e com tolerância diminuída à glicose em relação aos não diabéticos,
dados concordantes com a descrição de Malerbi e colaboradores (1992).
Não foi evidenciada associação entre renda familiar e diabetes mellitus e
tolerância diminuída à glicose neste estudo. Provavelmente porque as condições de
vida na aldeia e a renda familiar entre os indígenas não tenha a discrepância
observada nas sociedades modernas, em outras comunidades. Por exemplo, o
rendimento mensal familiar declarado foi menor que um salário mínino em 64,6%
das famílias pesquisadas, entre um e dois salários 24,5% e apenas 9,9% recebiam
acima de dois mínimos. Saad (2005) relatou renda per capita abaixo de meio salário
mínimo em 70% dos indígenas da aldeia Buriti, entre meio e um salário para 26,1%
e 3,75% acima de um salário mínimo.
Na atual pesquisa, foi constatado que 12,5% dos participantes não foram
alfabetizados, e cerca de 66,3% deles não ingressaram no ensino médio, e somente
15% completaram o ensino médio ou faculdade. Os dados sobre a escolaridade da
comunidade terena, de Buriti, avaliada por Saad (2005) indicam 69,6% com zero a
quatro anos de estudo, taxas semelhantes às da aldeia Jaguapiru.
75
A prevalência de diabetes mellitus tipo 2 tem aumentado mundialmente
devido ao envelhecimento da população, a urbanização, a inatividade física e ao
aumento da obesidade. Estima-se que, em 2030, aproximadamente 4,4% da
população mundial será diabética (WILD et al., 2004). Os dados apresentados aqui,
em relação a uma aldeia indígena, sugerem que esses fatores são realmente
importantes para o aumento da prevalência de diabetes mellitus tipo 2 na população
indígena.
Em resumo, a prevalência de diabetes mellitus e tolerância diminuída à
glicose na população entre 18 e 69 anos de idade, da aldeia Jaguapiru, foi inferior à
da população brasileira. Há marcante predominância de diabetes entre as mulheres.
A obesidade e a hipertensão são frequentes nessa comunidade, mas o risco para
obesidade nas mulheres é mais elevado que nos homens. .
Os indígenas vivem confinados em pequena extensão de terra, insuficiente
para o plantio de culturas de subsistência, e os assalariados percebem baixa
remuneração no trabalho braçal nas fazendas da região. A alimentação é pobre em
proteínas, frutas, legumes e verduras e rica em carboidratos refinados. Não tem
estrutura física adequada à prática esportiva para os jovens e falta oportunidade de
trabalho para as mulheres.
Podemos sugerir para aos indígenas dessa aldeia orientações nutricionais,
estimulando o consumo de cereais integrais, frutas e verduras, e incentivo da prática
de atividades físicas com o objetivo de produzir enorme impacto na prevenção do
diabetes mellitus tipo 2 e no melhor controle clínico e metabólico daqueles que já
desenvolveram o diabetes mellitus..
76
6 CONCLUSÕES
De acordo com os dados apresentados neste trabalho, conclui-se que a
prevalência de diabetes mellitus e tolerância diminuída à glicose na população entre
18 e 69 anos de idade, da aldeia Jaguapiru, é inferior à da população brasileira. A
prevalência de diabetes mellitus foi maior entre as mulheres.
A maioria da população estudada não concluiu o ensino fundamental. e
pertencia a famílias com rendimento menor que um salário mínimo mensal.
O IMC dos indígenas avaliados, na aldeia Jaguapiru, foi superior ao
observado na população brasileira. O risco para obesidade nas mulheres é mais
elevado que nos homens.
A prevalência da hipertensão arterial foi similar à da população brasileira, sem
diferença entre os sexos.
História familiar de diabetes mellitus, hipertensão arterial e obesidade foram
os principais fatores de risco relacionados ao desenvolvimento de diabetes mellitus.
Os controles glicêmico e pressórico dos indígenas com diagnóstico
estabelecido de diabetes e hipertensão arterial são inadequados.
77
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96
Parecer mérito técnico científico Prezado Pesquisador:
Informamos que na data de 30/01/2008 a Coordenação do Programa de Pesquisa em Saúde (COSAU/CNPq) encaminhou, por correio convencional, o parecer de mérito técnico científico referente ao projeto “Prevalência do Diabetes Mellitus e Tolerância diminuída à glicose na população indígena entre 18 e 69 anos da aldeia Jaguapiru, Dourados (MS), Brasil, 2007". Abaixo transcrevemos o parecer do consultor ad hoc. "PESQUISADOR: GERALDO FERREIRA OLIVEIRA PROJETO: “Prevalência do Diabetes Mellitus e Tolerância diminuída à glicose na população indígena entre 18 e 69 anos da aldeia Jaguapiru, Dourados (MS), Brasil, 2007”. PARECER DO CONSULTOR AD HOC :FAVORÁVEL A presente proposta tem como objetivo identificar a prevalência de Diabetes mellitus e de tolerância diminuída à glicose na população entre 18 e 69 anos, da aldeia Jaguapiru, reserva indígena de Dourados. O diabetes é importante causa de morbidade e mortalidade nos dias atuais, sendo responsável por alterações microvasculares resultando em insuficiência renal crônica, cegueira e amputação de membros inferiores de causa não traumática; e alterações macrovasculares resultando em infarto agudo do miocárdio e acidente vascular cerebral frequentemente. Como a doença pode acometer indivíduos mais jovens, suas complicações aparecem numa fase produtiva da vida, interrompendo carreiras promissoras, causando grandes perdas familiares e prejuízos à nação. Por isso, muitos países desenvolvidos preocupados com a questão e reformulando os cuidados com os diabéticos. Estudos têm demonstrado que as alterações micro e macrovasculares iniciam-se muitos anos antes dos sintomas e sinais clínicos que permitem o diagnóstico. Por isto, conforme já mencionado na presente proposta de estudo, o diagnóstico precoce, a educação em diabetes, a formação de equipes multidisciplinares, a capacitação e o treinamento de profissionais para lidarem com o diabetes podem reduzir os custos do tratamento e minimizar perdas na capacidade produtiva dos diabéticos. O projeto em questão apresenta grande importância clínica e epidemiológica, dentre outros aspectos. Sabe-se que atualmente existem aproximadamente 246 milhões de diabéticos no mundo e que a prevenção constitui ferramenta de grande interesse no controle deste problema de saúde pública mundial. Projeções assustadoras com relação ao aumento da incidência desta doença têm sido divulgadas como uma conseqüência do estilo de vida moderno, obesidade, sedentarismo, alimentação altamente calórica e longevidade da população. Em comunidades indígenas norte-americanas a prevalência de diabetes mellitus tem superado a detectada na população geral. No Brasil a prevalência do diabetes mellitus é pouco investigada no meio indígena, justificando assim o estudo proposto. Além do mais, sabe-se que o diagnóstico precoce e o tratamento adequado, com medidas simples e eficientes como a mudança do estilo de vida, proporcionam
97
grande redução das complicações crônicas. Portanto, não há dúvida de que há necessidade de implantação de ações preventivas e educativas de controle do diabetes que permitam o atendimento integral e multiprofissional nos serviços de saúde à população acometida. Os resultados obtidos poderão nortear importantes estratégias na prevenção e controle do diabetes, impedindo ou retardando as complicações crônicas e diminuindo os custos do tratamento. Cumpre também ressaltar que a metodologia que será empregada está adequada para responder o objetivo proposto. Não se percebeu qualquer aspecto que possa ferir a ética ou a cultura desta população alvo de estudo. Não há qualquer risco ou prejuízo para os indivíduos que serão estudados apenas benefícios. Além do mais a proposta está bem elaborada sob todos os aspectos e conta com um coordenador com formação adequada. Considerando o exposto acima, somos a favor do desenvolvimento da proposta acima". Att., MARCOS VINICIO BORGES MOTA ANALISTA EM C&T CNPq/CGSAU/COSAU/CA-SN TEL. 61 2108-9771 FAX 61 2108-9875 mvinicio@cnpq.br
101
ANEXO F – Concordância do intérprete da língua Guarani para acompanhamento das
visitas domiciliares na Aldeia Jaguapiru
104
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Título do projeto
“Prevalência do Diabetes mellitus e tolerância diminuída à glicose na população indígena entre 18 e 69
anos na Aldeia Jaguapiru de Dourados (MS)”
Médico responsável: Geraldo Ferreira de Oliveira
Inscrição no Conselho Regional de Medicina- CRM-MS- 1184 CPF: 34119922634
RG: M/ 332314 SSP MG
Profissão: Médico endocrinologista e docente da Universidade Federal da Grande Dourados
Endereço: Rua João Vicente Ferreira,1789, Centro
CEP: 79800-000
Telefone: 67- 99713070 e 34217171
Objetivo da pesquisa:
O senhor(a) está sendo convidado(a) a participar da pesquisa para verificar a presença de
(Diabetes) açúcar alto no sangue nos adulto entre 18 e 69 anos de idade na Aldeia Jaguapiru em
Dourados –MS.
Para estes objetivos serão necessários:
Conhecer o tipo de alimentação, atividades físicas, uso de bebida alcoólica e cigarro. idade,
peso, altura, circunferência abdominal, local de trabalho, nível de estudo, condições de saúde e
presença de diabetes pessoal ou familiar.
Aos que concordarem em participar do estudo será solicitado que permaneçam em jejum por
um período de 12 horas ( das 7 horas da noite até às 7 horas da manhã seguinte).
Dos participantes que estiverem em jejum será coletada uma gota de sangue da ponta do dedo
e colocado sobre uma fita que dá, imediatamente, o resultado do açúcar no sangue. Os participantes
que tiverem resultado entre 100 mg% e 199 mg% vão beber um copo de água com açúcar e colher
uma gota de sangue, por punção na ponta do dedo, após 2 horas.
Todos os participantes do projeto serão medidos e pesados na própria moradia.
Os participantes que tiverem açúcar acima do normal serão encaminhados ao Ambulatório de
Diabetes (no PAM- Posto de Assistência Médica) onde serão atendidos pelo próprio pesquisador.A
medicação será fornecida pelo serviço público local..
As entrevistas serão lidas pelo entrevistador para os adultos participantes do projeto.
Benefícios
Fazendo o diagnóstico precoce (cedo) do Diabetes o tratamento será iniciado rapidamente
evitando o aparecimento das complicações da doença - dor nas pernas, feridas de cicatrização
demorada, perda da visão, derrame cerebral e infarto do coração-
O resultado será apresentado à FUNAI e FUNASA
Garantias
Os participantes poderão ter acesso a todas as informações referentes aos seus exames,
esclarecimentos quando solicitados e o direito de retirar o consentimento no momento que desejarem.
Não haverá coleta de sangue na veia e nem transporte deste material para fora da aldeia.
105
Os dados fornecidos entrarão na estatística geral e não serão publicados os dados pessoais.
Todos os dados específicos dos participantes não serão publicados e serão mantidos em segredo.
Realização dos exames necessários sob responsabilidade do pesquisador sem custo.
Se necessária hospitalização, o transporte será providenciado pelo pesquisador sem custo à
família.
As fitas usadas serão colocadas em coletores de material perfurocortante e, após
autoclavadas(esterilizadas) serão descartadas em lixo Hospitalar
CONSENTIMENTO
Eu.............................................................................................................................
Declaro estar ciente dos objetivos da pesquisa, e concordo em participar da pesquisa
intitulada: “Prevalência do diabetes mellitus e tolerância diminuída à glicose na população indígena
ente 18 e 69 anos da Aldeia Jaguapiru de Dourados (Ms), Brasil.”
Ficou claro que a minha participação será sem custo e que tenho garantias de acesso aos dados
obtidos, assim como o direito de retirar o meu consentimento em qualquer momento sem perda de
qualquer benefício que tenha conseguido, ou meu atendimento no serviço público local”.
Data................................ ....................................................
Participante
Data................................ ...................................................
Testemunha
Data................................ ....................................................
Responsável pelo projeto
106
NHOMBOATY OUHONDIVE (Em Guarani)
Ojehái tembiaporã rehe-gwa
“Mba’asy omoheiêva tugwy hata eterei avahwera apyte-pe 30 há 69 ro’y ogwerekova
pa’û-me tekoha Jaguapiru pegwa, Dourados (MS) Brasil, 2007”.
Onhangaretova pohano rehegwa -Geraldo Ferreira de Oliveira
Kwtía meiêha jeikoha pygwa pohanhohara kwéra tekombonha
CRM- MS- 1184 CPF 34119922634 RG: M/ 332314 SSP MG
Mba’apo pohanoha rehe-gwa há oporombe’eva mba’evo-pe petẽ’ renda-pe tava Dourados-pe.
CEP- 79800000 Inimbo nhe’ẽ : 67-99713070 há 3421-7171
Opamba’e Oheka Kwaa
Ohexa kwaa mba’asy tugwy omohe’ẽva ôiva tugwy-rehe kente kakwa ogwerekoa 30 há 69
ro’y-rehe, tekoha jagwapiru-pegwa ô’va Dourados, MS- pe.
Upe vl’e rehegwa iporã jaikwaa tembi’u oje’uva, jaikwaa va’rrâ mba’ixagwe tembi’u-pa
iporã já’u, nhembosaraiha-yupi. Ererou’u-pa háiva’e terá pety iporã ereikwaa mbovy ro’y
erereko há nde pohyiha há nde pukukwe ave eremba’apoha-pe.
Eremonhe’ẽ kwaa-pa kwatia, neresãi para1e nde re1yi pa’û-my ndaipori para’e hugwy
he’va’e.
Ojejapoya va’e
Oikese va’e ko nhembo’ e’py pe tekotevẽ oiko mba’eve ho’u e’y reheve 12 horas peve, 7
hora pyhare-gwi 7 hora pyhare vê peve.
Upe okaru e’y reheve oiko va’e-gwi ojepe’a va’erâ miximi hugwy ikwã apy-gwi, upe
hugwy omoi va’erã fita-rehe há pya’e ojekwaa va’erã hugwy he’ẽ ramo.
Ugwỉ oiko va’e upe nhembo’e pype otopa ramo hese 100 mg% há 199 mg% hoy’u va’erã
petẽ’. Copo y asuka reheve há mokoỉ hora rire oipe’a jevy va’erã mixỉxi hugwy. Entéro ugwỉ
oike va’e gwive upe tebiapo-pe ojehexa va’erã ipohyikwe upe oikoha-py voi.
Há ugwỉ oike va’e upe tembiapo=pe ojetopa ramo hugwy rehe he’ẽ va’e ojereraha va’erã
onhepohano hagwã-py FUNASA-pe.
Tekoha jagwapiru pygwa, upe-pe onhenhangareko va’erã hese mba’asy rekaha voi
unhangareko va’erã hese. sapy’a py’a ome’ẽ va1erã pohã ixupe. Upe oikoha-py voi
onhepohano va’erã. Pohanohara kwéra ome’ẽ va’erã pohã há tembi1urã ave upea ojapo
va’erã pohanohara kwéra ruvixa. Ko ojehái va’ekwe omonhe’ẽ va’erã tenonde-pe. Kakwaa-
gwe oike va1e ko tembiapo-pe. Onheme’ẽ va’erã ixupe kwéra ko ijapo pyre ojehái va1e
huarani-pe karái nhe’-gwi ombohasa va’e gwarani-py oiko va’erẽ mba’asy reka há ndive, há
pytygwỡha kwéra onhondive ogwata va’erã.
Omba’apo va’ekwéra
Mba’e kwaaha ojepo va’erã gwembiapo pyharevete, hugwy he’ ỉ va’e pya’e voi oipohano
va’erã opyta va’erã mba’asy rekaha pogwy-py tesãiha reuda-py FUNASA-py ugw ẽ ỉ oiko
va1e Jaagwapiru-py. mierkule-mne 13 hora-py há ojehwaa ramo mba’asy tetyma rasy terá
kuru vai ndokwera sevei va’e há ndahesa pysovéi va1e mba’asy ome’ẽ va’e inhakãi-rehe há
reika-gwi omano va’e há py’a rasy.
Upea rehe´gwa onhemombe’u va’erã FUNAI-pe há FUNASA-pe ave.
107
Omoỉ porá nhe’ẽ
Ugwỉ oiko va’e oikwaapa va’erã entéro mba’e oiko va’e gwive há upe ojeja´po va’e hese ave
onhemombe’u ramo há ojohu porá ramo há hesãise ramo ave.
Mba’asy rekaha oiru kwéra ndive oipytygwo va’ era mba’asy rekaha kwéra ndive oiko va’e-
pe ugwỉ mba’asy ojetopa va’e rehe-gwa onhemoombe’u va’erã ava kwéra-pe môo-pa oiha
mba’asy tugwy omohe’ẽ va’e, onhepohano hagwã. Nonheme’ẽ mo’ãi tugwy ojepe’a tajygwe-
gwi mba’eve xigwa nosé mo’ã, ava kwéra oikoha-gwi. Ugwỉ fita ojeporu va’ekwe
onhmboatypa va’erã ojejavyky e’ỹ hagwã-pe.
Pohanoha renda-pe ỡi va’e mba’eryru-pe onhemỡimba va’erã.Ugwỉ onheme’ẽ mbyre oipyhy
va’e ani onhenombe’u tẽi.
Entéro onheme’ẽ pytygwỡ hara-pe ani onhemombe1u oiko nhemiha-pe, há ojetopa va’e
gwive ojere:raha va’erã FUNAI-pe FUNASA-pe entéro ugwỉmba’asy rekaha otopava tugwy
he’ẽ, tonhemombe’u íxupe mba’exa pa ikatu oiko há ojere-raha va’erã nhepohano há-ty
renda-pe FUNASA-pe, jeikoha Jagwapiru pegwa onhepohano hagwã upéa opyta va1erã
mba’asy rekaha pohwy-pe.
Entéro tesãi rehe-gwa ojapova, ugwỉ va’e opyta va’erã mba1asy rekaha pogwy-pe ugwỉ
ojapova natekotevẽ, ojepy’apy.
Ohota ramo opyta nhepohano hayty renda-pe, ỡi mbata mba’eryru upẽa ave opyte va’erã
mba’asy rekaha pó gwy-pe ugwỉ va’e-rehe ani ojepy’a-py he’yi kwéra.
Ugwỉ ojeporu va’ekwe onhemỡi va’erã nhongatuha-pe pono hyakwã upei omoheudapa rire
omỡi va’erã yty ryru-pe ỡi va1e nhepohano renda-pe.
Erejohu porã ramo
Ere xe _________________________________________________________ Emombe’u
erenhopytygwỡseha ko tembiapo-pe, há ere ape dime ereihese ramo erenhopytyhwỡ tee
hagwã, nde pu’aka hagwã ko mba’asy tugwy omohe’ẽ va’e-rehe heta eterei ỡi ava kwera
apyte-pe ugwỉ iogwereko va’e 30 há 69 r0’y apyte-pe ko jeikoha Jagwapiru-pe, Dourados
(MS) Brasil, 2007.Peikwaa porãpa ko xe ajapose va’e ko1ã mba’e rei ete ojejata há ajapoya
voi ugwỉ omỡi va’e xe pó-pe va’e rehe, upéixa xe há’e ojohu porá va’e-pe gwive ko’ã mba’e
ajapota voi atopa-ma xe rembiaporã xe anhangarekota entéro mba’apoha-uipi
Jasrehegwa___________________ ojapova__________________________________
mombe’uha ____________________ tembiapo-rehe
0nhangarekova’e ______________
109
FORMULÁRIO
PREVALÊNCIA DO DIABETES MELLITUS E TOLERÂNCIA DIMINUÍDA À GLICOSE NA POPULAÇÃO INDÍGENA ENTRE 18 E 69 ANOS DE IDADE DA
ALDEIA JAGUAPIRU DE DOURADOS - MS, BRASIL, 2008.
Nome ___________________________________________________________ Idade __________________________ Data de nascimento _________ Sexo ( ) feminino ( ) Masculino Endereço:___________________________________________________________
Ocupação ____________________________________
Escolaridade :
A - Sem alfabetização B- I grau incompleto C- I grau completo D- II grau
incompleto E- II grau completo F- III grau completo F- III grau incompleto G-
especialização
Nº de pessoas que residem no domicílio:____
1( ) 2( ) 3 ( ) 4 ( ) 5( ) Mais de 5( ) Renda familiar: Por gentileza, gostaria de saber sua renda(dinheiro)mensal ou toda a soma de
salários da família?
Salário total R$_____________________________________________________
Não sabe__________________________________________________________
Não tem rendimento ________________________________________________
Tipo de moradia:
1.Tijolo com reboco ( ) 2. Tijolo sem reboco ( ) 3.Madeira ( )
4.Sapé e madeira ( )
Outros ___________________________________________________________
Forração do Piso Não tem ( ) Cimento( ) Piso frio( ) Qual o número de cômodos ( peças) da casa? _________________________________ 1( ) 2( ) 3 ( ) 4 ( ) 5( ) Mais de 5( )
110
Recursos Iluminação a) Não existe b) Motor a diesel c) Elétrica Eletrodomésticos presentes ___________________________________________________________________ Uso da água e do solo Água para uso doméstico: Água encanada presente ( ) ausente( ) Água de poço presente ( ) ausente( ) Filtro de água presente ( ) ausente( ) Destino dos dejetos : Fossa ( ) Latrina ( ) Vala aberta ( ) No ambiente( ) Outros______________________________________ Lixo a) Coleta pública( destacar número de vezes)____________________________ b) Queima o lixo ___________________________________________________ c) No ambiente ___________________________________ Cultura de subsistência______________________________________________ Alimentação Como é a alimentação do senhor? (tentar fazer a pessoa recordar o dia anterior) Número de refeições por dia ________________________________________________- Tipo de alimentos ( perguntar os alimentos componentes que predominam) a) Hidrato de carbono b) Proteína c) Lipídeos d) Verduras e frutas ________________________________________________ Responsável pelo inquérito ______________________________data__/___/____
111
FICHA DO PACIENTE
Valor da PA _______ x _________ mmHg Fatores de Risco Peso __________Kg Altura __________cm IMC __________Kg/m²
Exercício Físico: sim ( ) não ( )
Tabagismo atual: sim ( ) não ( )
Bebida alcoólica: sim ( ) não ( )
Diabete: sim ( ) não ( )
Hipertenso sim ( ) não ( )
Uso regular de medicação sim ( ) não ( )
Medicamento em uso, dose total diária: mg _____________________________________________________________ Antecedentes familiares Diabetes sim ( ) não ( ) Hipertensão sim ( ) não ( ) Infarto agudo do miocárdio (IAM) sim ( ) não ( ) Exames Glicemia capilar de jejum : ___________________________ mg/dl Teste oral de Tolerância à glicose, após 2 horas _______________mg/dl Medicamento prescrito, dose diária: Data: Médico responsável:
112
ANEXO I –
Documentos números 1 e 2 referentes à distribuição da população indígena de Dourados por Faixa etária
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