os desafios da escola pÚblica paranaense na … · conhecer o lugar onde mora significa...
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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
OS CAMINHOS DO NOSSO DIA A DIA: A IMPORTÂNCIA DE
CONHECER O LUGAR ONDE VIVEMOS
Lúcia Korczovei Lemes1
Marcos Clair Bovo2
RESUMO: Desde os primórdios, o homem se desloca sobre a superfície da Terra em busca de um lugar que possa garantir a sua sobrevivência. Estudar e conhecer o lugar onde mora significa compreender as relações que ali acontecem e sua relação entre escalas global, regional e local. É neste sentido, que o presente artigo tem por objetivo apresentar os resultados referentes ao desenvolvimento das habilidades de orientação e localização no espaço geográfico a partir do conceito de lugar destacando os lugares percorridos pelos educandos no dia a dia. Para que o estudo do lugar tenha significado, é necessário desenvolver no educando certas habilidades espaciais tais como: de orientação, de localização e de representação. Para o desenvolvimento desta pesquisa utilizamos: textos de livros, revistas e jornais, charges, tiras, histórias em quadrinhos, imagens impressas, bússola e outros. Dentre os resultados alcançados destacamos a aprendizagem significativa envolvendo a observação, a análise, a criticidade e a compreensão do lugar como espaço real de vida das pessoas contribuindo com a sua consciência espacial e possibilitando a proposição de práticas pedagógicas no saber de cada educando. Desta forma permitiu ensinar e ver a realidade direta com a formação da cidadania por meio da sua mediação, ao explorar os conteúdos, os saberes dos diferentes lugares, a partir de determinados procedimentos contribuindo para essa formação do cidadão.
Palavras chave: Espaço geográfico. Lugar. Orientação. Educando.
INTRODUÇÃO
O presente artigo tem por finalidade discorrer sobre a experiência inerente ao
conceito de lugar a partir das habilidades de orientação e localização dos educandos
no dia a dia.
Desde os primórdios, o homem se desloca sobre a superfície da Terra em
busca de um lugar que possa garantir a sua sobrevivência. Mas, ao longo da
1 Professora do PDE da área de Geografia da Secretaria de Educação do Estado do Estado do Paraná. 2 -Professor adjunto do colegiado de Geografia da Universidade Estadual do Paraná – Campus de Campo Mourão. Orientador do PDE.
existência do ser humano, muitas transformações ocorreram na superfície terrestre
provocadas pelas ações do trabalho que colocaram em risco a vida no planeta,
comprometendo a sobrevivência de gerações futuras.
Todo lugar está repleto de vínculos afetivos e de relações históricas,
econômicas, sociais e naturais; nenhum lugar é considerado neutro. Estudar e
conhecer o lugar onde mora significa compreender as relações que ali acontecem e
sua relação entre escalas maiores do global para o regional e para o local.
Portanto, estudar o lugar é algo desafiador e instigante para as aulas de
Geografia, despertando no aluno a investigação do lugar e que o torne agente do
processo da construção do conhecimento.
Vários são os significados atribuídos à palavra lugar. Sendo assim, lugar para
Geografia refere-se ao espaço que vivemos e conhecemos, onde trabalhamos,
estudamos e outros. O conceito de lugar se relaciona à nossa identidade, com o
qual criamos vínculos e demonstramos o quanto esses lugares são importantes para
nós.
E um desses lugares é a nossa própria moradia; pois é nela que
estabelecemos nossas primeiras relações com pessoas mais próximas e a partir daí
construímos e conquistamos nosso lugar no mundo, que mais tarde incluiremos
outros lugares. Como também uma pessoa pode viver muitos anos em um lugar e
não conseguir estabelecer vínculos com ele.
Cada lugar tem uma história que o compõe. Nenhum lugar surgiu e surge do
nada, ele é resultado da sociedade que ali vive e produz sua história através das
relações sociais e de trabalho que aí se estabeleceram.
O lugar permite ao ser humano expressar o conflito e a cooperação, as
criações e as transformações impostas por forças locais, regionais e mundiais.
Devemos então compreender o lugar como um espaço vivido e construído ao longo
do dia a dia pelos indivíduos, seus interesses e o mundo.
Então parafraseando Santos (2005, p.163), o mundo oferece as
possibilidades e o lugar às ocasiões. Assim, o lugar não é passivo, mas
“globalmente ativo”. Isso porque, ele tem autonomia e força.
Diante das considerações iniciais sobre o conceito de lugar o presente artigo
tem por objetivo desenvolver habilidades de orientação e localização no espaço
geográfico a partir do conceito de lugar destacando os lugares percorridos pelos
educandos no dia a dia.
O LUGAR, NOSSOS CAMINHOS E O MUNDO SE FUNDEM DIANTE DE NOSSOS
OLHOS
O objeto de estudo da Geografia é o espaço geográfico, espaço esse que
sofreu intensas transformações a partir da construção da sociedade humana. A
natureza e a sociedade humana possuem suas dinâmicas bem diversas, as quais
estão integradas na construção desse espaço.
O papel da escola e da Geografia é formar cidadãos críticos capazes de atuar
na sociedade em que vivem, de participar da construção e reconstrução do espaço
geográfico, sendo necessário saber interpretar, refletir, analisar e comparar as
informações obtidas e construir conceitos próprios. Para Santos (1997).
O espaço é formado por um conjunto indissociável, solidário e também contraditório, de sistemas de objetos e sistemas de ações, não considerados isoladamente, mas como quadro único no qual a história se dá. No começo era a natureza selvagem, formada por objetos naturais, que ao longo da história vão sendo substituídos por objetos técnicos, mecanizados e, depois, cibernéticos, fazendo com que a natureza artificial tenda a funcionar como uma máquina (SANTOS, 1997, p. 27).
Para que tenha significado, o estudo do espaço vivido e percebido deve ser
relacionado a outros espaços contíguos e mais distantes. Os elementos que
compõem os espaços não podem ser analisados como prontos e acabados, mas
dinâmicos e em constantes transformações, possibilitando assim uma visão global.
Segundo Cavalcanti (2005, p.189) “a atividade humana é produtora, por meio
dela o homem transforma a natureza e a constitui em objeto de conhecimento
(produção cultural) e, ao mesmo tempo, transforma a si mesmo em sujeito de
conhecimento”.
Em meados do século XX, com a Geografia Humanística o conceito de lugar
ganha destaque trazendo a dimensão afetiva e subjetiva para os estudos relativos
ao espaço. Com a nova ordem mundial, a partir da vertente crítica da Geografia, o
conceito de lugar é ressignificado, pois até então estava ligado à noção de
localização absoluta e à individualidade das porções do espaço. Passando a ser
discutido com o processo de globalização econômica, considerando de algum modo
seus aspectos subjetivos, destacando potencial político dos lugares e suas relações
com espaços, próximos e/ou distantes.
A dimensão mais próxima que o educando conhece é meio que vive e este é
o ponto de partida para estudar, analisar e compreender o espaço, pois é ali que
acontecem os fatos do dia a dia, podendo a partir deste conhecimento, interagir para
que possa viver mais dignamente.
Santos (2001, p.37) afirma que:
[...] em um mundo em que tudo está globalizado, e as informações ultrapassam fronteiras, o lugar assume contornos importantes. O processo de globalização impõe uma lógica que fragmenta os espaços para além das divisões políticas e administrativas, torna-se indispensável analisar de um modo crítico qual é o novo lugar que se atribui aos velhos lugares, pois os lugares são a reprodução, num determinado tempo e espaço, do global, do mundo.
Dentro da concepção histórico-dialética, o conceito de lugar pode ser
considerado no contexto do processo de globalização. Compreender a globalização
requer analisar a particularidade dos lugares, e o que há de específico nessas
particularidades, deve ser encarado como mundialidade, ou seja, um problema local
deve ser analisado como problema global, pois atualmente há um deslocamento (no
sentido de des-locar) das relações sociais.
Segundo Cavalcanti (2008, p.90):
O lugar por meio de manifestação da globalização sofreria, nesse entendimento os impactos das transformações provocadas pela globalização, conforme suas particularidades e em função de suas possibilidades. A eficácia das ações em nível global estaria assim na dependência da possibilidade de sua materialidade nos lugares.
Diante desta análise podemos perceber que no local há uma resistência ao
fenômeno da globalização e de suas consequências, pois é aí que se manifesta a
identidade, o coletivo, o subjetivo. Na análise de Carlos:
O lugar se produz na articulação contraditória entre o mundial que se anuncia a especificidade histórica do particular. Deste modo o lugar se apresentaria como o ponto de articulação entre a mundialidade em constituição e local enquanto especificidade concreta, enquanto momento. Só é possível o entendimento do mundo moderno a partir do lugar na medida em que este for analisado num processo mais amplo (1993, p.303).
O professor ao ensinar Geografia precisa esclarecer que todos os
acontecimentos do mundo ocorrem em uma dimensão espacial e que o espaço é
resultado das ações humanas, podendo ser analisado a partir de várias dimensões
da realidade: cultural, econômica, política, demográfica e socioambiental. Para
Santos (1996, p. 67).
A ação é próprio homem. Só o homem tem ação, porque só ele tem objetivo, finalidade [...] As ações resultam de necessidades, naturais ou criadas. Essas necessidades: materiais, imateriais, econômicas, sociais,
culturais, políticas, morais, afetivas é que conduzem os homens a agir e levam as funções.
O geógrafo Yi-Fu Tuan chama a atenção para a diferenciação entre
espaço e lugar, distinguindo os dois conceitos da seguinte maneira:
Na experiência, o significado de espaço frequentemente se funde com o de lugar. “Espaço” é mais abstrato do que “lugar”. O que começa como espaço indiferenciado transforma-se em lugar à medida que o conhecemos melhor e o dotamos de valor (...) se pensamos no espaço como algo que permite movimento, então lugar é pausa; cada pausa no movimento torna possível que localização se transforme em lugar (2008, p. 89).
É importante abordar que: desde que nascemos, passamos a frequentar
diferentes lugares, tais como: nossa casa, casa de parentes e amigos, a rua e bairro
onde moramos, a escola, lugares de lazer (clubes, parques, praças, etc), outros
bairros da cidade, entre outros. Nos vários lugares que frequentamos no dia a dia
convivemos com pessoas diferentes e essa convivência reforça nossa ligação com o
lugar que vivemos com o qual passamos a nos identificar e demonstrar o quanto
esses lugares são importantes para nós.
Como salienta Carlos (1996 p. 21-22):
O lugar só pode ser compreendido em suas referências que não são específicas de uma função ou de uma forma, mas de um conjunto de sentidos e usos. Assim, o lugar permite pensar o viver, o habitar, o trabalho, o lazer enquanto citações vividas, revelando, no nível do cotidiano, os conflitos que ocorrem ou ocorreram no mundo.
Em nosso dia a dia se deslocamos para lugares diferentes. Por
exemplo, saímos de casa para passear, para ir à escola, para ir à igreja, para visitar
um parente ou um amigo, para fazer compras, para trabalhar, para ir ao cinema, etc.
Durante o percurso entre os lugares, precisamos nos orientar e nos
localizar de maneira correta. Para isso, podemos utilizar alguns pontos de
referência. Por exemplo, fica mais fácil encontrar uma residência onde queremos
chegar se soubermos que ela está localizada próxima a algum ponto de referência,
como em frente a uma igreja, ao lado de uma farmácia ou perto de uma escola.
Para que o estudo de lugar tenha significado, é necessário desenvolver
no educando certas habilidades espaciais tais como: de orientação, de localização e
de representação. Muitos apresentam dificuldades em descrever caminhos e
lugares, apontando através de gestos os pontos de referências mais conhecidos
sem recorrer aos pontos cardeais.
Parafraseando Cavalcanti (1998, p. 94), é verdade que essa dificuldade não
os impede de se locomoverem, na prática cotidiana, no bairro, em lugares mais
conhecidos ou que, apontem as direções quando solicitados, a pouca utilização
dessa referência no dia a dia, principalmente para quem vive na cidade (embora
exista uma série de outras referências espaciais), não reduz sua importância para
aumentar as comunicações “espaciais” com os indivíduos, pois estes são pontos de
referência universais. Segundo Cavalcanti (1998, p. 95) “Além disso, essa referência
é extremamente importante para o conhecimento geográfico, já que faz parte de sua
linguagem e é com base nela que podem ser explicados diversos fenômenos
naturais e sociais do ponto de vista espacial”.
Por serem universais, esses pontos de referência podem potencializar a
capacidade de compreensão das informações sobre diferentes lugares do mundo,
de análises geográficas e de leitura de mapas cientificamente elaborados.
Ao observar os astros, o ser humano definiu os referenciais geográficos de
localização que originaram o sistema de coordenadas geográficas imposto pela
necessidade histórica e social. A partir do estudo dos pontos cardeais é importante
desenvolver as habilidades de orientação espacial como a descentralização e
reversibilidade e a noção de lateralidade desenvolvida desde a infância.
Conforme explicam Almeida e Passini apud Cavalcanti (1998, p. 95), essas
habilidades são interdependentes:
[...] descentralização [...] consiste na passagem do egocentrismo infantil para um enfoque mais objetivo da realidade, através da construção de estruturas de conservação que permitem à criança ter um pensamento mais reversível. Isso ocorre porque ela começa a considerar outros elementos para localização espacial e não apenas sua percepção ou intuição sobre os fenômenos (1989, p. 34).
O lugar está estruturado na relação do “eu” com o “outro” é palco da nossa
história de vida. A leitura do mundo começa pela leitura do lugar. O ensino da
Geografia e a aprendizagem envolvem a observação, a análise, a criticidade e a
compreensão, pois o que se aprende sem que haja compreensão não é tido como
verdadeiro.
O estudo da Geografia desempenha importante papel em nossa trajetória de
compreender as transformações e as relações que ocorrem ao nosso redor e em
outros lugares. “Hoje, certamente mais importante que a consciência do lugar é a
consciência do mundo, obtida através do lugar” (SANTOS, 2005, p. 161).
MÉTODOLOGIA
O presente artigo é resultado das ações desenvolvidas do projeto de
intervenção didático pedagógico que teve por base na pedagogia histórico–crítica
utilizando o método histórico dialético, sendo este desenvolvido em uma turma de 6º
ano em uma escola estadual do município de Mamborê.
A primeira etapa constituiu em pesquisas bibliográficas realizadas pela
professora pesquisadora a fim de oferecer subsídios de conhecimento sobre: o que é
espaço geográfico; a noção de conceito de lugar a partir do local onde o educando
vive e os referenciais de localização e orientação no lugar através dos pontos
cardeais. Nesta etapa realizou-se um estudo do conceito científico de lugar,
valorizando os conhecimentos que os educandos já apresentavam.
Na segunda etapa foi elaborado o material didático-pedagógico com atividades
referentes ao estudo de lugar, na orientação e na localização que permitiram ao
educando construir seu conhecimento de lugar considerando as diferentes escalas
de análise: local, regional e global. Permitindo também ao educando se locomover e
se localizar com mais segurança no lugar onde vive.
A terceira etapa constituiu no desenvolvimento das atividades na escola em
conjunto com os educandos, ou seja, na implementação do projeto. Para o
desenvolvimento do estudo sobre o lugar, orientação e localização a partir do local
em que se vive, foram utilizados os seguintes recursos didáticos: textos de livros,
revistas e jornais, charges, tiras, histórias em quadrinhos, trechos de filmes (de
animação e documentários), imagens impressas, bússola e outros.
ANÁLISE DOS RESULTADOS
A partir do estudo de conceito de lugar, das noções de orientação e
localização no lugar onde vivemos, apresentamos a análise dos resultados de
algumas atividades desenvolvidas na sala de aula, no pátio e entorno da escola.
A atividade 1 tem como tema “Conhecendo o Lugar”. Essa atividade prática
tem como apoio o uso de dicionários para conhecer o conceito de lugar e a
construção de seu próprio conceito.
Após entenderem que a palavra lugar tem vários significados não se referindo
apenas ao local, os educandos foram incentivados a elaborar o próprio conceito de
lugar. A partir do conhecimento adquirido, apresentamos o conceito de lugar na
concepção de alguns educandos:
Educando A: Lugar é onde eu moro.
Educando B: Lugar é onde vivemos e estudamos.
Educando C: Lugar é uma localidade, um sítio, uma rua, uma fazenda, onde
brinco.
Diante dessas definições percebemos que os lugares não são iguais. Cada
lugar tem suas próprias características que estão relacionadas aos elementos
naturais (relevo, clima, vegetação, solo) e aos elementos culturais de seus
habitantes (religião, alimentação, modo de se vestir, festas). É comum então
encontrarmos semelhanças e diferenças entre os lugares, pois eles foram
organizados de acordo com a história das sociedades humanas que os construíram
e os transformaram constantemente.
Dando continuidade na discussão do conceito do conceito de lugar por meio
das figuras 1, 2 e 3 lançamos as seguintes questionamentos: a) Quais são esses
lugares? b) Existem diferenças entre esses lugares? c) Quais são essas diferenças?
Figura 1 - Que lugar é esse?
Foto: Arquivo Pessoal: LEMES, L.K. 2013.
Figura 2 - Que lugar é esse?
Foto: Arquivo Pessoal: LEMES, L.K. 2013.
Figura 3 - Que lugar é esse?
Foto: Arquivo Pessoal: LEMES, L.K. 2013.
Após a identificação dos diferentes lugares representados nas figuras 1, 2 e 3
percebemos que este está carregado de significados, é o meio em que vive, mas é
também o ponto de partida para estudar, analisar e compreender o espaço. Partindo
deste conhecimento poderá interagir para que possa viver mais dignamente.
Demonstra-se a figura 4 como um dos educandos compreende o lugar onde vive.
Figura 1 – Ilustração do lugar onde vive
Fonte: Material produzido por educando do 6º Ano
Para Santos (1997, p.314), “Cada lugar é, a sua maneira, o mundo”. Partindo
dessa concepção os educandos tiveram a oportunidade primeiramente de contar em
sala para seus colegas e para a professora como é o lugar onde moram. Sabemos
que o educando é único, mas ele é também o resultado de suas relações
econômicas, sociais, culturais e políticas. Então quando ele se reconhece e
compreende o que o envolve, o lugar passa a ser sua continuidade.
Diante dessa perspectiva, os educandos passaram então a ilustrar como é
seu dia, tendo como título: Um dia no lugar onde moro.
O lugar é o resultado das relações humanas, como as pessoas se
apresentam nesse lugar a partir dessas relações levam a demonstrarem a
importância do lugar na produção da própria história.
Ao traçarem os primeiros traços da história em quadrinhos foi possível
perceber o quanto essa atividade foi interessante, pois ao mesmo tempo em que se
sentiram importantes, esse o momento foi propício para entender o quanto essa
atividade fez demonstrarem o sentimento de apego que eles têm com o lugar onde
moram. Por mais humildes que as moradias são ninguém ficou constrangido em
apresentar o trabalho final para os colegas.
A partir do estudo do texto “O lugar e a saudade” por meio da análise da
poesia “Canção do Exílio” e da letra da música “Asa Branca”, os educandos
reconheceram o termo migração e identificaram as suas causas. Foram então
orientados a entrevistar um morador e questionar sobre os motivos dessa migração
e sobre o sentimento saudade.
Mesmo sabendo que a migração ocorreu para melhorar as condições de vida,
o sentimento de apego e afeição pelo lugar onde antes viviam está presente em sua
memória por toda a sua existência. Quantas vezes já ouvimos as pessoas dizerem:
Ai, que saudade daquele lugar! Como gostaria de voltar no lugar onde passei minha
infância! Cito então um pequeno trecho da Canção do Exílio e da letra da música
Asa Branca:
"Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá; As aves, que aqui gorjeiam, Não gorjeiam como lá. Nosso céu tem mais estrelas, Nossas várzeas têm mais flores, Nossos bosques têm mais vida, Nossa vida mais amores. Não permita Deus que eu morra, Sem que eu volte para lá;(...) Canções do Brasil. Antologia organizada por Laura Bacellar. São Paulo: Scipione. 2003. (Coleção Palavra da gente; v. 4. Poesia).
Quando olhei a terra ardendo Qual a fogueira de São João Eu preguntei a Deus do céu, ai Por que tamanha judiação Eu preguntei a Deus do céu, ai Por que tamanha judiação
Que braseiro, que fornalha Nem um pé de prantação Por falta d'água perdi meu gado Morreu de sede meu alazão [...].
Disponível em:http://letras.mus.br/luiz-gonzaga/47081/ .Acesso em: 08 set. 2013
Em relação ao lugar onde já viveram, percebemos que os conteúdos dessas
entrevistas ressaltam melhorias nas condições de vida a partir da busca de um novo
emprego, sendo notável também o apego em relação ao lugar e a infância
manifestada por meio da saudade.
Para finalizar a discussão referente ao lugar buscamos a compreensão de
orientação a partir do lugar onde vive, a se localizar na sala de aula, no pátio e
arredores da escola.
Observando a posição do Sol no lugar onde mora e depois no pátio, os
pontos cardeais foram localizados a partir do exercício que consiste em esticar o
braço direito na direção do nascer do Sol (Leste) e o braço esquerdo na direção do
pôr do Sol (Oeste), tendo à frente a direção Norte e nas costas a direção Sul.
Foi a partir daí que identificaram todas as direções. Logo todos perceberam
que haviam determinado os principais pontos de referência utilizados no processo
de orientação.
Em nosso dia a dia nos deslocamos para lugares diferentes e durante o
percurso feito, precisamos nos orientar e se localizar de maneira correta e para isso
utilizamos alguns pontos de referência. Partindo dessa orientação e do quarteirão
da escola, foram determinando alguns pontos de referência próximos a ela.
Todos os alunos puderam observar: a praça, a papelaria, as farmácias, o
terminal rodoviário, a capela mortuária, o cartório eleitoral, o mercado, o posto de
saúde, a estação de rádio, as lojas são pontos de referência que garantem a
segurança necessária para se deslocarem com facilidade onde vivem (figura 5 e 6).
Figura 5 – Pontos de referência.
:
Fonte: Imagem cedida pela autora
Figura 6 – Pontos de referência.
Fonte: Material produzido pelo educando C.
Diante desta atividade todos perceberam a importância de conhecer o lugar
onde se vive a partir dos caminhos do nosso dia a dia.
Quando nós observamos e conhecemos bem os lugares, compreendemos
melhor a realidade que nos cerca.
Há de se considerar também que no Grupo de Trabalho em Rede – GTR,
realizado com os professores cursistas de Geografia, as considerações e
contribuições feitas pelos mesmos, nos oportunizou há conhecer um pouco mais
sobre a amplitude que o tema propicia. Os relatos apresentados fazem-nos acreditar
cada vez mais na importância de discutir o tema Lugar dentro do aspecto geográfico,
visando à valorização em escala local, regional e global. E dentro desta perspectiva,
percebe-se que muito dos educadores tem esta mesma preocupação.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este artigo é resultado de parte das pesquisas, reflexões e implementação da
unidade didática produzida durante o Programa de Desenvolvimento de Educação-
PDE 2013-2014, que permitiram apresentar o conceito de lugar a partir dos
caminhos do nosso dia a dia.
Aprender a ler e a escrever é um ato que deve partir da interpretação do
lugar, do cotidiano, do mundo da criança, da nossa casa, da escola, da igreja, da rua
que moramos. Sendo assim, o lugar deixa de ser um espaço simples e qualquer,
para se tornar uma construção socioespacial.
No ensino da Geografia é fundamental que a aprendizagem envolva a
observação, a análise, a compreensão e a criticidade, pois o que se aprende sem
que haja compreensão não é tido como verdadeiro. Desta forma, a Geografia nos
ensina a dialogar com o mundo, a observar e a entender o conjunto de movimentos
que dão sentido ao mundo que vivemos.
REFERÊNCIAS
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