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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
O RURAL E URBANO: reflexões sobre a relação campo-cidade
Autora: Bernardete Dolores Turmina1
Orientadora: Silvia Regina Pereira2
Resumo: O presente artigo é resultado dos estudos desenvolvidos durante a participação no Programa de Desenvolvimento Educacional-PDE, oportunizado aos docentes da rede pública do Paraná. O objeto de estudo teve como público alvo, 17 alunos do terceiro ano B, período noturno, do Ensino Médio do Colégio Estadual Dr. Arnaldo Busato - Ensino Fundamental e Médio, do Município de Cruzeiro do Iguaçu-Paraná. A proposta pautou-se numa ação pedagógica que teve como foco principal a compreensão da relação existente entre o meio urbano e o meio rural e entre o campo e a cidade. O recorte espacial considerado foi o município de Cruzeiro do Iguaçu-PR, de porte pequeno, onde predomina a agricultura, atividade que interfere na evasão de jovens, os quais vão em busca de melhores condições de vida e trabalho em cidades maiores. Por meio das reflexões realizadas, buscamos compreender as concepções e apreensões dos alunos sobre o rural, o urbano, o campo e a cidade, bem como, apresentar as possibilidades para que eles se reconheçam como sujeitos que têm uma história e um conhecimento prévio do mundo. Dessa forma, eles poderão compreender melhor a sociedade em que vivem e se perceberem como integrantes da mesma. A relevância do tema comprovou-se por atender ao objetivo de possibilitar, aos alunos melhores informações sobre o rural e o urbano e a relação campo-cidade. A metodologia se efetivou, através da aplicação de questionários, visita de campo e pesquisa científica. Essa intervenção na escola contribuiu para a mudança do olhar dos alunos, em relação aos espaços estudados, e assim, eles puderam enxergar novas perspectivas e possibilidades de vida nas pequenas cidades.
Palavras-chave: Rural/urbano. Cidade/campo. Ensino de Geografia. Cidades
pequenas.
Introdução
O presente estudo relata os resultados obtidos durante a Implementação do
Projeto apresentado,como requisito básico, para participar do Programa de
Desenvolvimento Educacional-PDE, oportunizado aos docentes da rede pública do
Paraná e desenvolvido no Colégio Estadual Dr. Arnaldo Busato – Ensino
Fundamental e Médio, no Município de Cruzeiro do Iguaçu, Núcleo Regional de
1 Professora de Geografia da Rede Pública do Estado do Paraná. Artigo apresentado como requisito
para a conclusão do Programa de Desenvolvimento Educacional-PDE 2 Professora Drª Sílvia Regina Pereira - UNIOESTE - Francisco Beltrão-PR.
Educação de Dois Vizinhos–PR, tendo como público alvo, os alunos do terceiro ano
B, período noturno, do Ensino Médio.
A implementação do projeto foi subsidiada pela Produção Didática
Pedagógica, aplicada no transcorrer do terceiro semestre do Programa de
Desenvolvimento Educacional e teve como referencial as Diretrizes Curriculares
(DCEs) da Rede Pública de Educação Básica, do Estado do Paraná, além de
algumas bibliografias que abordam a temática em pauta. A proposta de trabalho se
constituiu em refletir, junto com os alunos, a partir de um diagnóstico, realizado
através de questionário pré-elaborado, as dicotomias em relação ao rural/urbano e
campo/cidade. Eles, muitas vezes, consideravam que enquanto permanecessem no
campo e/ou cidades pequenas, não teriam oportunidades e/ou perspectivas de
crescimento pessoal e profissional. A partir dessa constatação, oportunizamos
visitas de campo, levantamento dos aspectos geográficos e socioeconômicos do
município e o estudo de referenciais teóricos sobre a temática.
Nosso objetivo, por meio deste artigo, é apresentar algumas possibilidades
para que os alunos se reconheçam como sujeitos, os quais têm uma história, um
conhecimento prévio do mundo, tornando-os capazes de compreenderem a
sociedade em que vivem e se sentirem parte integrante da mesma. Dessa forma,
eles poderão construir um conhecimento sistematizado e cientificamente produzido,
e com isso, obter subsídios para sua melhor formação e desempenho.
A aplicação do projeto, bem fundamentado e com propriedade, trouxe
benefícios para toda escola, e em especial, aos alunos envolvidos na
Implementação Pedagógica, pois ao estimularmos a compreensão e a reflexão,
possibilitamos um melhor aprendizado sobre o tema campo/cidade e rural/urbano,
bem como em relação às expectativas que os mesmos possuíam sobre esses
espaços. Possibilitamos uma análise dos processos de mudanças que ocorreram
pós-revolução industrial, por meio de estudos bibliográficos, apresentação de vídeos
e fotos, entre outros recursos didáticos, visando a um melhor aprendizado sobre os
diferentes espaços e as condições econômicas oferecidas em ambos. Nesse
sentido, contribuímos, para que os alunos compreendessem que é possível
permanecer no campo e ter uma formação profissional voltada para novas
atividades dentro do espaço rural.
A proposta apresentada foi desenvolvida em 32 (trinta e duas) aulas, divididas
em três unidades. Na UNIDADE I-Trabalho de Campo, aplicamos um questionário,
aos alunos, e realizamos um trabalho de campo para identificar e analisar as
características e origens das atuais configurações das paisagens do município em
pauta. A UNIDADE II-Exercícios de Fotointerpretação de Imagens Orbitais Locais,
possibilitou a utilização de diversos recursos pedagógicos disponíveis na escola,
como a Fotointerpretação de imagens orbitais, obtidas pela Internet. E por meio da
UNIDADE III-Fundamentação Teórica, apresentamos os referenciais teóricos sobre
o tema, por meio de textos impressos, livros, além de outros recursos tecnológicos e
estimulamos os mesmos a produzirem um texto crítico referente à realidade
urbano/rural do município.
O desenvolvimento da proposta, com as respectivas atividades, oportunizou,
aos alunos, novas conceituações e reflexões necessárias à compreensão da
existência de políticas públicas voltadas, tanto para o campo, como para a cidade. E
nessa perspectiva, foi possível ampliar suas informações e conhecimentos sobre o
rural, o urbano, o campo e a cidade, no contexto em que vivem (pequena cidade),
obtendo condições para avaliar as perspectivas pessoais e profissionais nesse e
noutros espaços. Com isso, desenvolveu-se uma visão crítica sobre essas duas
realidades, as quais estão presentes e são determinantes na vida de cada um deles.
Fundamentos Teóricos - Contextualização do cenário rural e urbano no Brasil
É necessário compreender a contextualização e a relação existente entre o
campo e a cidade, o rural e o urbano, no Brasil, visto que, o cenário econômico vem
sendo influenciado de forma direta, pois, tanto a economia rural, quanto a economia
urbana já não apresentam predominâncias agrícolas e/ou industriais
respectivamente. Isso nos remete a algumas reflexões com base em teóricos que
discorrem sobre o assunto.
O meio rural, há algumas décadas, era concebido, de acordo com Endlich,
(2011, p. 23) como um meio onde “[...] a sobrevivência só é possível com muito
trabalho, e que este trabalho, possibilitaria somente o mínimo necessário para
sobreviver”. Essa autora reforça ainda, que alguns autores consideravam os
agricultores, como homens sem inteligência técnica, e que por serem, desta forma,
serviriam apenas para realizar trabalhos árduos, o que poderia justificar a opção dos
mesmos pela agricultura.
Com o passar dos anos, essa visão foi modificada, em virtude do
desenvolvimento de políticas públicas, as quais na tentativa de conter o êxodo rural
propiciaram o processo de modernização da agricultura, bem como, dos processos
agrícolas. Dessa forma os agricultores foram se modernizando, e passaram de
simples lavradores a empresários, estabelecendo vários ramos de atividades em
suas propriedades. A modernização das atividades agrícolas possibilitou o
surgimento de um novo cenário econômico. Em consonância com a atividade
agrícola, outras atividades, começaram a ser desenvolvidas no campo, contribuindo
para o processo de industrialização da agricultura e, por conseqüência o campo
passa a ser visto como uma “empresa rural”.
De acordo com Werner (2004, p.234):
Com o passar dos anos, o desenvolvimento da empresa acompanha os ciclos de desenvolvimento da família. Os conflitos que emergem acompanham o desenvolvimento familiar e da empresa. Os membros da família que participam da empresa poderão assumir um papel ativo dentro do processo de decisão tanto de ações estratégicas como de redefinição de estruturas de propriedade. A empresa será influenciada pelas mudanças dos ciclos familiares, além de estar sob constante influência dos fatores externos a ela, como mudanças no ambiente em que estão inseridas.
Segundo Elesbão, Silva e Santos (2007), as condições do desenvolvimento
rural induziram a um “novo” modelo de agricultura, caracterizado pela aplicação de
“estratégias empresariais complexas”. Essas estratégias são marcadas pelo
exercício da função comercial, juntamente com a função produtiva e obriga o
produtor rural a adquirir competências no que se refere, sobretudo, à gestão de seu
empreendimento e ao controle de um sistema que associa diversas atividades.
Esse modelo de agricultor-empresário foi influenciado pelo processo de
industrialização na agricultura, com base na adoção de sistemas intensivos de
produção e integração aos sistemas agroindustriais, os quais visavam ao aumento
da eficiência das empresas rurais (ELESBÃO; SILVA; SANTOS, 2007).
O processo de industrialização da agricultura possibilitou o surgimento do
conceito de “empresa rural”, a qual possibilitou a contenção da migração para as
cidades, uma vez que se originaram, de acordo com Batalha (2000), as chamadas
estruturas de governança das empresas familiares. A agricultura se modernizou e
possibilitou o surgimento de empresas familiares, cujo gerenciamento, passa a ser
exercido geralmente por um membro da própria família. Dessa forma, o campo,
passa a ser concebido como uma alternativa viável, de maior rentabilidade
econômica, possibilitando assim, a permanência da família no campo.
Esse contexto aproxima, ainda mais, o campo e a cidade, uma vez que, a
industrialização dos processos agrícolas, propicia a urbanização do campo. A partir
desse novo cenário, as pessoas que antes migravam do campo para cidade, agora
passam a migrar da cidade para o campo, ou seja, a “urbanização do campo” se deu
em detrimento da “ruralização das cidades” (JACINTO; MENDES, 2012).
Dessa forma, em consonância com Jacinto e Mendes (2012, p. 14), pode-se
afirmar que “[...] o processo de industrialização da agricultura tem eliminado
gradativamente a separação entre a cidade e o campo, entre o rural e o urbano,
unificando-o dialeticamente. Isto quer dizer que campo e cidade, cidade e campo
formam uma unidade contraditória”.
Wanderley (2000, p. 223) enfatiza esta ideia ao afirmar que:
Existe um continuum rural-urbano, isto é, uma relação que aproxima e integra esses dois pólos e, diante das semelhanças e continuidade, não ocorre a destruição de particularidades, justificando a negação do fim do rural. Ainda a vertente do continuum ressalta a mudança das relações entre dois espaços, tornando-os cada vez mais próximos e deixando de ser opostos, porém, não preconiza o fim das áreas rurais.
Nesse sentido, é preciso compreender a relação entre rural e urbano e
entender o rural para além do campo e o urbano para além da cidade, já que esses
espaços se opõem e se complementam, ao mesmo tempo. Para que essa
compreensão seja possibilitada, é importante reconhecer que a Geografia, enquanto
disciplina curricular fornece todas as ferramentas necessárias para a apreensão do
espaço geográfico, bem como, da relação entre o meio rural e o meio urbano, com
suas semelhanças e diferenças.
O Ensino da Geografia na interpretação do rural, do urbano, do campo e da
cidade
O ensino da Geografia ao contemplar o espaço geográfico, no qual estamos
inseridos, precisa oportunizar conhecimentos e reflexões que
estabeleçam/evidenciem as relações existentes entre o rural e urbano e o campo e
cidade, a fim de que sejam apreendidos os conceitos de região, paisagem, espaço,
território, sociedade e natureza, entre outros. E para isso, apresentamos, na
sequência, algumas contribuições de estudiosos sobre o assunto, as quais poderão
fundamentar o trabalho do docente e proporcionar ao aluno significativas reflexões.
Segundo Lefebvre(1974), a Geografia, enquanto disciplina curricular
contempla o espaço geográfico como seu objeto de estudo, entendido como o
espaço produzido e apropriado pela sociedade. Já Santos (1996, p. 26), destaca que
ele é composto pela inter-relação entre sistemas de objetos– naturais, culturais e
técnicos – e sistemas de ações – relações sociais, culturais, políticas e econômicas.
Evidencia-se que, no âmbito escolar, o conhecimento da disciplina de
Geografia ocorre pela análise e compreensão dos diferentes conceitos existentes, a
partir do cotidiano dos alunos, com a intenção de compreender as relações entre
espaço global e espaço local (CASTELLAR; MORAES; SACRAMENTO, 1999).
Em relação ao espaço geográfico, ele é entendido como independente do
sujeito que o constrói, mas os estudos geográficos são indissociáveis das ações
humanas, mesmo sendo objetos naturais. Além disso, o espaço geográfico “[...] é
considerado como um conjunto indissociável de que participam de um lado, certo
arranjo de objetos geográficos, objetos naturais e objetos sociais, e de outro, a vida
que os preenche e os anima” (SANTOS, 1996, p. 26). Esse autor ainda enfatiza que,
através do espaço geográfico, o homem pode criar novas possibilidades, modificar a
natureza e, assim, transformar seu espaço de acordo com sua organização e
produção.
No ensino de Geografia, os conteúdos campo/cidade e rural/urbano, são
complexos para serem tratados com os alunos do Ensino Fundamental e Médio.
Dessa forma é importante refletir sobre a abordagem, a ênfase e a metodologia
adotadas pelo docente para explorar essas temáticas, bem como a interação e a
participação dos alunos nos momentos de debates sobre esses assuntos. Por isso é
relevante levar em conta que “O conteúdo meio urbano é abordado ao longo do
Ensino Fundamental e Médio, com complexidade crescente, considerando as
diferentes escalas geográficas e a linguagem cartográfica” (SEED, 2008, p. 77, grifo
do autor).
No que tange à contribuição do ensino da Geografia, ela possibilita aos
alunos uma leitura e interpretação do espaço, bem como, a compreensão das
distintas relações que são estabelecidas entre os homens e entre os elementos
espaciais. Assim, ao analisar o espaço vivenciado pelos alunos, eles poderão
apreender a importância real e concreta desta disciplina, fazendo com que a mesma
se torne mais interessante e dinâmica (CASTELLAR; MORAES; SACRAMENTO,
1999).
Para tanto, é preciso que se construa, com o aluno, um amplo raciocínio
geográfico, para que ele entenda a Geografia em toda sua dimensão. De acordo
com Castellar, Moraes e Sacramento (1999, p. 251), é preciso considerar que:
Construir um raciocínio geográfico implica, do ponto de vista do professor, ajudar a desenvolver no aluno um raciocínio espacial que o leve a identificar, analisar e correlacionar os diferentes fenômenos que se apresentam no espaço, que se modifica e deve ser entendido pelos movimentos e interferências do homem. Dessa maneira, pensar conceitualmente em Geografia é interpretar e compreender a dinâmica espacial, associando-a às diferentes estruturas, formas e produções que tanto a sociedade quanto a natureza constroem.
No que diz respeito à contribuição da Geografia para a discussão sobre o
tema campo/cidade e rural/urbano, vale ressaltar que o mesmo, quando abordado
de modo amplo, dinâmico e eficaz, poderá proporcionar uma reflexão a respeito das
expectativas e possibilidades que o campo e a cidade podem oferecer ao educando,
sobre seu crescimento pessoal e profissional. Conforme apresenta Pinheiro, (2001,
p.94), “[...] a geografia, na sua trajetória escolar, sempre desempenhou um papel
importante na formação das pessoas”.
Ainda referente ao tema campo e cidade, rural e urbano, contempla-se que
“[...] a reflexão sobre as categorias campo, cidade, rural, urbano é um ponto de
convergência de muitos pensadores contemporâneos, contudo, essas análises vêm
sendo feitas sob perspectivas muito diferenciadas” (NUNES; PINTO, 2009, p. 2).
Com relação à temática e ao recorte espacial do presente estudo, Moura
(2009), destaca que os pequenos municípios totalizam uma parcela significativa do
território nacional e estadual, muito deles são voltados à produção agropecuária e
abrigam um significativo contingente populacional. Possibilitamos, aos alunos, não
só entendimento sobre a relação campo-cidade na cidade pequena, mas também
em outros contextos espaciais, como a cidade média e a grande.
Vale ressaltar que um dos objetivos do ensino da Geografia é fazer com que o
educando entenda a organização espacial, estimulando o desenvolvimento de um
raciocínio que seja mais crítico, no que diz respeito à construção e à transformação
das múltiplas análises espaciais. Além disso, a Geografia visa letrar espacialmente o
educando, para que ele possa compreender os conceitos de região, paisagem,
espaço, território, sociedade e natureza, através da linguagem cartográfica
(CASTELLAR; MORAES; SACRAMENTO, 1999).
Desse modo, o ensino da Geografia deve contemplar o espaço geográfico
como um todo, e cabe, ao docente, estimular o aluno a refletir sobre seu espaço e
as possibilidades e perspectivas que o campo e a cidade podem lhe proporcionar.
Procedimentos Metodológicos - Intervenção Pedagógica na escola
Para que a proposta fosse desenvolvida foram implementadas algumas
estratégias de apresentação do assunto. Inicialmente realizamos uma inaugural para
a direção, equipe pedagógica, professores, funcionários e alunos do 3º ano. Na
oportunidade foi introduzido o assunto, destacando os objetivos e metodologias,
explicitando todos os passos que seriam desenvolvidos.
Na primeira etapa do desenvolvimento do projeto, após a ambientação do
assunto com alunos, realizamos a pesquisa diagnóstica, a coleta de dados com a
turma que participaria da implementação e a aplicação de um questionário
(elaborado previamente) com 10 perguntas objetivas e subjetivas. O questionário
possibilitou-nos fazer um levantamento referente ao perfil, de cada aluno e à área do
município de Cruzeiro do Iguaçu-PR, na qual ele reside, bem como averiguar o nível
de conhecimento prévio sobre o tema pertinente.
Com base na Questão 1, obtivemos os resultados diagnósticos sobre o perfil
de cada aluno e a área de residência. Do total de alunos (17), 13 residem na área
urbana e somente 4 na área rural. Na Questão 2, visamos identificar a atividade
econômica da família do aluno e a área da residência. Há uma diversidade de
atividades econômicas, tais como: comerciantes, funcionários públicos, funcionários
de indústria têxtil, motoristas. Quase todas as famílias residem em área urbana,
apenas 3 residem na área rural e têm como atividade econômica a agricultura.
O resultado das Questões 3 e 4 se reportam ao conhecimento que estes
possuem com relação às áreas urbana e rural do município. Dentre os alunos que
participaram da pesquisa, 3 alunos responderam que conhecem toda a área rural e
urbana, 3 diserram não conhecer e 11 destacaram que conhecem parcialmente.
A Questão 5, estava vinculada à indicação de um fator próximo à residência
que fosse considerado mais importante. Assim, 5 alunos ressaltaram a existência de
boa vizinhança, 7 consideraram importante a tranquilidade e a segurança, 2
indicaram a proximidade da escola e 3 alunos apontaram a existência de área de
lazer.
Na Questão 6, o aluno deveria descrever o espaço geográfico, onde está
localizada sua casa. Diante desse questionamento, 8 alunos destacaram as casas
(moradias), 3 indicaram a área de campo com cultivo, 2 a área rural de pequenas
propriedades e 4 alunos ressaltaram a boa oferta de pequenos comércios.
Por meio da Questão 7, foi possível identificar o deslocamento dos alunos
para outra cidade maior. Dos 17, 9 responderam que se deslocam para ir a hospitais
e demais órgãos públicos, 6 para fazer compras e 2 alunos apenas para passear.
A Questão 8, solicitava que o aluno indicasse uma ação que poderia ser
implementada nas cidades de pequeno porte com vista à permanência da população
jovem. Do total de alunos, 50% consideraram importante trazer novas indústrias e
50% destacaram que é preciso incentivar o comércio local e os pequenos
produtores, pois na concepção, dos mesmos, tudo isso possibilitaria a permanência
dos jovens nas pequenas cidades. Com relação ao campo e à cidade, abordada na
Questão 9, obtivemos as seguintes respostas: 12 alunos consideram que a cidade
oferece maiores oportunidades, 3 acreditam que a qualidade de vida no campo é
melhor que na cidade e 2 afirmam que os valores morais prevalecem mais em
cidades de pequeno porte.
As respostas da Questão 10 indicam onde os alunos desejariam residir, após
o término do Ensino Médio. Do total de alunos, 3 desejariam residir na área urbana
de Cruzeiro do Iguaçu; 4 gostariam de residir numa cidade um pouco maior, como
Dois Vizinhos, Pato Branco ou Francisco Beltrão; 5 alunos consideram importante
permanecer, no mesmo lugar que residem atualmente, e 5 gostariam de morar em
cidade grande, como Curitiba, São Paulo, Joinville.
Durante a apresentação das respostas do referido questionário, os alunos
teceram inúmeros comentários sobre os resultados, o que nos possibilitou investigar
as noções, anseios e desejos, dos mesmos, em relação à mudança de vida,
evidenciando os aspectos positivos e negativos.
No que diz respeito à aula de campo, realizada no perímetro urbano da
cidade de Cruzeiro do Iguaçu-PR e na área rural circunvizinha, ela contribuiu para o
estudo do meio, pois os alunos puderam verificar as diferentes formas de ocupação,
os estilos de vida e as relações socioeconômicas em ambos os espaços. Os alunos
fotografaram as áreas visitadas e destacaram as áreas que mais chamaram sua
atenção. Assim, por meio desse registro, eles puderam ilustrar as discussões em
sala, ressaltar as analogias entre a organização espacial da cidade e do campo,
relacionando as mudanças encontradas no Loteamento Bertoldo, área que foi
desmembrada do espaço rural recentemente.
Na segunda etapa do projeto realizamos uma aula interativa no laboratório de
Informática. Nessa atividade a turma foi estimulada a identificar elementos, na área
rural e urbana do município de Cruzeiro do Iguaçu-PR, através da imagem de
satélite, e com isso, destacar pontos chaves para a interpretação. Indicamos alguns
pontos que deveriam ser localizados, como por exemplo: o Colégio Estadual
(situado em área urbana) e a Agroavícola Cruzeiro (localizada em área rural). Isso
possibilitou aos alunos, o entendimento e o reconhecimento da distribuição dos
elementos na imagem de satélite.
Durante o desenvolvimento, das diversas etapas do Projeto de Intervenção
Pedagógica, os alunos foram conduzidos a refletir sobre os motivos que os levam a
criar expectativas de que uma vida melhor é possível, somente em cidades grandes
e a desconsiderarem as possibilidades existentes no campo. Todas essas reflexões
foram baseadas em referenciais teóricos e informações, o que possibilitou, aos
mesmos, compreenderem cientificamente o assunto em pauta, e também, outros
intrínsecamente ligados à questão, como as políticas assistencialistas, as políticas
públicas, os movimentos sociais, as atividades econômicas, as condições de saúde,
emprego e movimento dos trabalhadores sem terra. Além disso, propomos uma
pesquisa online guiada, no site <http://educador.brasilescola.com/estrategias-
ensino/as-funcoes-das-cidades-brasileiras.htm>.
Os alunos pesquisaram sobre os aspectos geográficos do Município de
Cruzeiro do Iguaçu--PR, bem como, levantaram informações no site do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística, no site da Prefeitura Municipal de Cruzeiro do
Iguaçu-PR (www.cruzeirodoiguacu.pr.gov.br) e usaram o aplicativo Google Maps.
Em seguida a turma foi dividida em dois grupos, e por meio de desenhos,
representaram a paisagem do município, destacando a área rural e a urbana. Esses
desenhos foram posteriormente expostos, no saguão do Colégio e explanados para
as demais turmas do Ensino Médio e Fundamental. Com base nos dados contidos,
nos textos sobre Reforma Agrária e Reforma Urbana, os alunos produziram textos
evidenciando a relação entre ambas. Alguns vídeos também foram assistidos, em
sala de aula, por meio da Televisão Pendrive.
Ao término da implementação, os alunos elaboraram um mapa conceitual
para sistematizar o conhecimento, no qual utilizaram os conceitos abordados nas
oficinas, como: rural, urbano, campo, cidade, atividades econômicas, cidades
pequenas, interdependência campo\cidade. Cada grupo fez sua explanação,
explicando e justificando a escolha do tema.
Por meio da sistematização do trabalho desenvolvido por eles, os alunos
passaram a ter uma visão mais crítica e apreenderam novos conceitos sobre o rural
e o urbano. Eles evidenciaram que o campo e a cidade não podem ser considerados
como áreas isoladas, e/ou independentes. Esses espaços distinguem-se em muitas
características como paisagísticas e de infraestrutura, mas por outro lado, se
complementam e se interpenetram.
Considerações Finais
O trabalho desenvolvido por meio do Projeto de Intervenção na Escola,
durante o período da Implementação, centrou-se em oportunizar, aos alunos
envolvidos, uma melhor compreensão sobre a relação campo/cidade e rural/urbano.
Os estudos realizados e a metodologia empregada possibilitaram-lhes contextualizar
esses conhecimentos. A aplicação do projeto foi norteada por meio das discussões,
trabalhos realizados em sala de aula e aula de campo, com o intuito de levar os
alunos a identificar novas perspectivas e possibilidades de vida nas pequenas
cidades.
Através das atividades realizadas e da sistematização de todo trabalho, ficou
evidente que a relação campo/cidade e rural/urbano, baseada na realidade
socioeconômica dos pequenos municípios, apresenta características e desafios
próprios que precisam ser trabalhados de maneira positiva e de forma peculiar,
possibilitando assim, uma nova concepção.
Consideramos que o envolvimento e a dedicação dos alunos, durante todo o
período da Implementação da Proposta, foram positivas, pois o tema tratado, de
forma mais figurativa dentro da geografia, provocou grande interesse pelo conteúdo,
com relevante participação, mediante as atividades concretas vinculadas ao objetivo
proposto. Isso os levou a compreenderem a relação campo-cidade, na vida de cada
sujeito, e quais perspectivas que podem ter no âmbito profissional. Além disso,
possibilitou-lhes refletir como agir/interferir sobre sua realidade, tendo em vista as
inúmeras mudanças evidenciadas nesses espaços.
Diante das reflexões tecidas no transcorrer da implementação, foi possível
entender que o ensino de Geografia é capaz de possibilitar aos alunos, condições
para a indagação, a elaboração e a compreensão de diferentes conceitos sobre o
rural e o urbano, o campo e a cidade, bem como, possibilitou ter uma visão mais
crítica, abandonando os velhos paradigmas e evidenciando novos conceitos.
Assim pode-se, também, apresentar aos professores interessados na
temática, essas formas diferenciadas de trabalhar tais conteúdos, a fim de melhorar
o aprendizado e oportunizar que cada aluno construa conhecimentos, conceitos e
valores, a partir dos espaços e dos contextos com os quais vivencia, ou que estejam
mais próximos da sua realidade.
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