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PARCERIA TÉCNICA
AVANTE EDUCAÇÃO E MOBILIZAÇÃO SOCIAL
Gestora institucionalMaria Thereza Oliva Marcílio
Coordenação Mônica Martins SamiaRita Margarete Moreira Santos
AutoriaAndrea Mendes AlvesEliane Fátima MoraesFabíola Margeritha Costa Bastos Jana FragataLilian GalvãoMônica Martins SamiaRita Margarete Moreira SantosRosana Silva Moreira
OrganizadorasFabíola Margeritha Costa Bastos Fátima Regina Cerqueira Leite Beraldo
Revisão técnicaMaria Thereza Oliva Marcílio
Grupo de Trabalho Nossa Rede Educação InfantilAdriana Souza da PurificaçãoAlessandra Santos do NascimentoAlessandra Seixas AraújoAlexsandro da Rocha MeloAline Cristina de J. SantosAline Maria Santos FerreiraAna Cristina Couto S. da SilvaAna Paula M. MassarentiAna Paula Silva SantosAndréa Batista de Oliveira SantanaCarla Cristina dos Santos de JesusCarla Dória F. da CostaCarla Patrícia Teixeira Góes BarbosaCarla Valéria Castro
Christianne Barretto Navarro de Brito CarvalhoConsuelo Almeida MatosCristiane Brito ValenteCrisvânia Duarte Passos PintoDaniela de Oliveira Maria SantosDaniela Silva CruzDenize Reimão de S. NadyerElaine Letícia Pinto Cerqueira NeriElielza Oliveira Costa de SousaEvânia Cerqueira da Silva SodréGilmária SantosGleide de Araújo SantosIsa de Jesus CoutinhoIslana de Oliveira SilvaIvanei Silva SantosIvete Rodrigues dos Santos da SilvaJeane Leal da Silva RodriguesJussiara Pinheiro VieiraKarla Cristina Brito ChavesLindalva dos Reis AmorimMaiza Maciel ChavesMarcia Maria Leone LimaMaria Cecília Santana T. FreitasMaria de Fátima CastroMaria Gabriela White Santos GarridoMaria José dos Santos JunqueiraMarília Moreira C. Liberato de MattosMicaela Balsamo de MelloPatrícia Guimarães PaimPlautila Souza NevesPriscila Gonçalves CerqueiraRoberta Messias CostaRoberta P. Souza do CarmoRúbia Nara A. de SouzaSandra Cristina Santos de MonteSirlaine Pereira Nascimento dos SantosSolange Mendes SerraSueli Cristina Gouveia FerreiraSuzana Conceição DóriaTelma C. da CunhaVanessa Maria Magalhães FonsecaVânia Maria P. de AlmeidaWendy Castro Rosa Roman
Revisão de estilística e ortográficaAndréa da Silva Oliveira
Projeto Gráfico e Editoração KDA Design
IlustraçãoLuiz Augusto Gouveia
FotografiasAcervo da Secretaria Municipal da Educação de SalvadorRuth Hirte
CARTA DO SECRETÁRIO
Prezadas/os educadoras e educadores,
É com imensa alegria e satisfação que a Secretaria da Educação Municipal (SMED) compartilha com
a comunidade educativa os materiais pedagógicos do Projeto Nossa Rede Educação Infantil. Esses
materiais foram construídos com as mãos da nossa Rede, e têm como fios e tramas as utopias e o
trabalho das/os educadoras/es de Salvador, em favor da reinvenção da escola como espaço de
aprendizagem para todas as crianças de zero a cinco anos e onze meses de idade. A publicação do
Referencial Curricular Municipal para Educação Infantil e dos Materiais Pedagógicos, a realização
da Formação Continuada de Profissionais deste segmento e o Monitoramento da Qualidade do
Atendimento, compõem o escopo desse Projeto. Tudo isso para transformar a nossa realidade
educacional e a vida dos estudantes.
A urdidura desse Projeto dar-se-á, sobremaneira, nas conexões que aproximam os profissionais e os
interligam em nome de aprimorar a educação pública. Assim, chega às suas mãos o Referencial
Curricular Municipal para a Educação Infantil de Salvador, as Orientações para a Gestão das
Instituições da Educação Infantil: dimensões pedagógicas e administrativas, as Orientações
Pedagógicas para professoras/es da Pré-Escola, as Pranchas para profissionais de 0 a 3 anos, as
Agendas das Crianças, o Álbum do Desenvolvimento para crianças de 0 a 1 ano, os Portfólios para
crianças de 2 a 5 anos, os Álbuns de Experiências para crianças de 4 a 5 anos e o Kit para as Famílias.
Esses materiais assumem como ponto de partida os conhecimentos teóricos e práticos das/os
educadoras/es e as experiências das famílias sobre o cuidar e o educar, e visam subsidiar a atuação
dos profissionais da Educação Infantil, considerando a importância de uma prática educativa
integrada. Com esse Projeto, a SMED reafirma o compromisso com a Educação Pública Municipal,
tendo em vista a construção de um currículo que garanta às crianças condições de aprendizagem,
respeitando-as como sujeitos sociais e de direitos, capazes de pensar e agir de modo participativo,
criativo e crítico.
Toda essa mudança não se faz sem o empenho, implicação e tomada de decisão de todos os
profissionais nas diferentes instâncias: SMED/DIPE, GRE e Unidades Educacionais. Trabalhando em
rede, vamos mantendo o diálogo aberto e avançando em direção à excelência na Educação Infantil.
Está em nossas mãos a tecitura de cenários pedagógicos comprometidos com a aprendizagem das
crianças soteropolitanas.
Desejamos a todos um excelente ciclo pedagógico!
Guilherme Cortizo Bellintani
Secretário Municipal de Educação de Salvador
APRESENTAÇÃO
Com grande satisfação, entregamos a vocês, professoras/res da Educação Infantil da Rede Muni-
cipal de Salvador, o resultado do belíssimo trabalho de construção coletiva, que resultou nestas
Orientações Pedagógicas. Esta construção, contou com a participação ativa de representantes,
tanto de professoras/es como de coordenadoras/es e gestoras/es de todas as Gerências Regionais
de Educação que, em rodas de conversa, refletiram, analisaram, sugeriram desde a concepção até a
avaliação do material produzido. Vale registrar que essa avaliação do que foi produzido se estendeu
para além das rodas, chegando ao grupo de trabalho, instituído para acompanhamento do
processo de elaboração da totalidade dos materiais.
O resultado de todo esse envolvimento e compromisso não poderia ser outro: vocês têm em mãos,
um material inovador e que tem “a cara da Rede”, por ter sido elaborado de forma colaborativa,
considerando a experiência acumulada, além de estar alinhado às orientações nacionais e às teorias
e práticas reconhecidas por especialistas da área.
Este documento, organizado em três volumes, traz orientações para as/os professoras/es,
abordando tanto aspectos do desenvolvimento infantil como modos de organizar a rotina,
sugerindo atividades e orientando a prática, tendo como documento norteador o Referencial
Curricular Municipal para a Educação Infantil de Salvador. Vale notar, também, que este Referencial
foi construído de maneira semelhante trazendo, portanto, a marca e a assinatura de todos que
fazem a Educação Infantil na Rede. Ambos – Orientações Pedagógicas e Referencial –, inspiram-se
nas Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Infantil, cuja leitura e apropriação devem servir
de base para sua implementação.
O volume I traz orientações sobre os Campos de Experiência: Bem-estar, Autonomia, Identidade e
Interações; Brincadeiras e Imaginação; Relação com Natureza, Sociedade e Culturas.
Estamos certos de que vocês farão deste um instrumento útil e valioso para o desempenho de suas
atribuições e responsabilidades como organizadoras/es do espaço e do tempo e interlocutoras/es
privilegiadas/os das crianças. Sabemos que ser professora/or é tarefa da maior complexidade, pois
requer múltiplos conhecimentos, sintonia com o tempo presente, entendendo o passado e
olhando para o futuro, o desconhecido onde as crianças viverão. Sabemos, também, que, além de
complexa, é uma tarefa que exige sensibilidade, pois a matéria-prima são as vidas das crianças, dos
aprendizes e, para intervir em vidas, é necessário delicadeza, ciência e arte. Temos a certeza que
todas/os vocês, como protagonistas que são, saberão usar este material com responsabilidade e
criatividade. Que ele seja um guia para uma escuta apurada e respeitosa das crianças, que
possibilite encantamentos e que seja uma referência para lidar com as surpresas do cotidiano.
Avante - Educação e Mobilização Social
SU
MÁ
RIO BEM-ESTAR, AUTONOMIA, IDENTIDADE E INTERAÇÕES
COMEÇANDO A CONVERSA
NA AÇÃO
O bem-estar na dimensão da saúde
Autonomia
Construção da identidade e conhecimento de si
Interações
Referências
BRINCADEIRA E IMAGINAÇÃO
COMEÇANDO A CONVERSA
NA AÇÃO
Brincadeiras e jogos
Jogos simbólicos
Papel da/o professora/or: desconstruir para construir...
Preparar os espaços e materiais
Que materiais e objetos irão compor o espaço para brincar?
O papel das/os professoras/es enquanto as crianças brincam
O que observar enquanto as crianças brincam ou jogam?
Refletir, interpretar a observação e planejar as próximas ações.
Referências
RELAÇÃO COM A NATUREZA, SOCIEDADE E CULTURA
COMEÇANDO A CONVERSA
NA AÇÃO
Mundo Social
Natureza e Sustentabilidade
Diversidade Cultural
Referências
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COMEÇANDO A CONVERSA
O contexto social, econômico e cultural em que a criança está inserida influencia o seu
desenvolvimento, suas interações e aprendizagens. Considerando que a infância é um período em
que se desenvolve grande parte das potencialidades humanas e que a criança passa parte do seu
dia nas instituições de Educação Infantil, é fundamental observarmos se este ambiente
proporciona-lhe bem-estar, por meio de oportunidades de convivência saudável e de participação,
favoráveis à construção da sua identidade e autonomia.
Neste mesmo sentido, devemos ficar atentos ao desenvolvimento integral da criança,
compreendendo que este envolve os aspectos biológicos do corpo e dos cuidados com a saúde,
assim como a dimensão afetiva, de forma que ela se sinta envolvida e segura, favorecendo, assim,
o seu bem-estar.
Para tal, a/o professora/or, inicialmente, precisa observar o nível de envolvimento das crianças,
organizar os ambientes e planejar situações pedagógicas que favoreçam o bem-estar. Mas, o que
representa o estado de bem-estar? Como perceber se as crianças estão se desenvolvendo
integralmente?
Segundo Laevers (2014), se intencionamos descobrir como cada criança está progredindo em um
ambiente, é preciso, em primeiro lugar, avaliar até que ponto as crianças se sentem à vontade, se
expressam com autenticidade e demonstram vitalidade e autoconfiança. Se isso está acontecendo
é porque seu bem-estar emocional
está bom, e também, que “suas ne-
cessidades físicas, de carinho e afeto,
de segurança e clareza de reconhe-
cimento social, a necessidade de se
sentir competente, de ter um sentido
para a sua vida de valores morais,
estão sendo atendidos.” (p. 59) Ainda
conforme esse autor, um segundo
critério ligado a esse bem-estar refe-
re-se à necessidade de o adulto criar
um ambiente repleto de desafios que
favoreçam o envolvimento.
CONTINUANDOA CONVERSA
Para Laevers (2014, p. 157): “O bem-
estar indica que uma criança está bem
emocionalmente. Quando podemos
observar esse estado de espírito em
diversas situações, podemos deduzir
que a pessoa está em harmonia com
seu meio.O que também indica que a
pessoa dispõe da competência e das
atitudes necessárias para lidar com seu
ambiente de forma positiva e, em
decorrência disso, suas necessidades
básicas são atendidas”.
Perguntei para o meu pai: "Pai, onde é que ocê nasceu?"
Ele então me respondeu que nasceu lá em Recife.
Mas seu pai que é o meu avô
era filho de um baiano que viajava no sertão.
(Eu - Palavra Cantada)
BEM-ESTAR, AUTONOMIA, IDENTIDADE E INTERAÇÕES
7Orientações Pedagógicas para
Professoras/es da Pré-EscolaVOLUME I
Diante disso, nós professoras/es devemos nos questionar sem-
pre: estamos promovendo o bem-estar da criança? Ela se mostra
positivamente envolvida com as situações que lhe são propostas?
No que diz respeito à autonomia, também é importante ficarmos
atentas/os e avaliarmos se estamos garantindo experiências que
“possibilitem situações de aprendizagem mediadas para a
elaboração da autonomia das crianças nas ações de cuidado
pessoal, auto-organização, saúde e bem-estar”. (BRASIL, 2010, p.
26). Entendemos, aqui, autonomia como a liberdade do sujeito
para tomar decisões, pela disposição de fazer escolhas e dirigir
suas próprias ações, ou seja, desenvolver ações com autonomia
significa fazer escolhas, ter vontade própria e atuar como sujeito
de direitos.
A construção da identidade, por sua vez, é um pro-
cesso de reconhecimento das singularidades que
caracterizam cada sujeito, tem início quando nasce-
mos e só termina no final da vida. Está intimamente
relacionada aos tipos de interações sociais e culturais
que a criança vivencia – no que se refere às relações
com as pessoas e os ambientes. Por isso, estas inte-
rações devem valorizar as diferenças entre as próprias
crianças, e entre elas com as outras pessoas, respei-
tando sua individualidade.
Considerando que a construção da identidade e da
autonomia está relacionada aos processos de socia-
lização, é importante destacar que é por meio das inte-
rações sociais que a criança amplia os laços afetivos e
enriquece seu repertório de forma a valorizar as dife-
renças. Por isso, ao interagirmos com as crianças e ao
planejarmos as situações pedagógicas devemos nos
questionar: estamos respeitando e valorizando a crian-
ça como sujeito social, que traz as suas marcas culturais, considerando o diálogo, a afetividade e o
respeito à diversidade, como componentes relevantes do seu projeto pedagógico?
Sendo assim, oportunizar que a criança construa a sua identidade implica em contribuir para que
ela conheça seus próprios desejos, preferências e conheça suas capacidades e limites,
considerando o ambiente em que está inserida.
Partindo dos pressupostos dialogados até aqui, convidamos você, professora/or, para refletir
sobre ações pedagógicas que oportunizem a criança a construir sua identidade, interagindo de
forma autônoma em um ambiente que promova o bem-estar e envolvimento.
8 VOLUME I
CONTINUANDOA CONVERSA
Para saber mais sobre
autonomia consulte o
Referencial Curricular
Municipal para
Educação Infantil de
Salvador.
Orientações Pedagógicas paraProfessoras/es da Pré-Escola
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9 VOLUME I
NA AÇÃO
Você, professora/or, pode estar se perguntando: como melhorar os níveis de bem-estar e
envolvimento das crianças? Por isso, convidamos você a pensar em diversas experiências que
sejam próprias do mundo lúdico e do imaginário da criança, que promovam bem-estar, saúde,
construção da identidade e da autonomia, respaldadas por valores éticos e colaborativos. Pensou?
Agora, conheça um inventário com dez tipos de iniciativas que favorecem o bem-estar e o
envolvimento das crianças, elaborado por Laevers e Heylen (2003), a partir de uma diversidade
de experiências vivenciadas por professoras/es. Estes pontos podem inspirar você a planejar
ações pedagógicas e organizar um ambiente que favoreçam o bem-estar, o desenvolvimento
da autonomia e o envolvimento das crianças nas instituições de Educação Infantil da Rede
Municipal de Salvador.
Dez pontos de ação:
Reorganizar a sala de aula em cantinhos ou áreas mais atraentes.
Verificar os materiais que estão nesses cantos ou áreas e substituí-los, caso necessário,
por outros mais adequados.
Introduzir novos materiais e atividades não convencionais.
Observar as crianças, descobrir seus interesses e atividades que atendam a estas
orientações.
Dar apoio às atividades em andamento, estimulando iniciativas e enriquecendo as intervenções.
Ampliar as possibilidades de livre iniciativa e apoiá-las com regras e acordos pertinentes.
Explorar o relacionamento com cada criança, e entre elas, tentando aprimorá-los.
Introduzir atividades que ajudem as crianças a explorar as relações, sentimentos e valores.
Identificar crianças com problemas emocionais e formular intervenções sustentáveis.
Identificar crianças com necessidades específicas e planejar intervenções que as
estimulem a se envolver em atividades nas quais encontram mais dificuldade. (LAEVERS;
HEYLEN, 2003 In: LAEVERS. Fundamentos da Educação Experiencial: Bem-estar e
envolvimento na Educação Infantil, 2014, p. 162).
Ainda, a partir desses dez pontos de ação, você pode elaborar pequenos planos de mudança! Com
um ou dois pontos, articule-os com seus pares e realize mudanças promotoras do bem-estar em
todos os participantes do processo educativo.
Orientações Pedagógicas paraProfessoras/es da Pré-Escola
10 VOLUME I
O BEM-ESTAR NA DIMENSÃO DA SAÚDE
A Organização Mundial de Saúde (OMS) define saúde como: [...] um estado de completo bem-
estar nos aspectos físico, mental e social. Em outras palavras, saúde não é apenas a ausência de
doenças e, sim, um bem que pertence ao indivíduo e à coletividade. É, também, relacionada com a
qualidade de vida da sua comunidade e de sua família. A legislação brasileira deixa claro que a
saúde é um direito de todos e um dever do Estado (Constituição Federal, artigo 196), a ser
garantida por meio de políticas sociais e econômicas. Indiretamente, portanto, a legislação está
falando da higiene e da educação. (Higiene e segurança nas escolas. Brasília, 2008, p. 21)
Segundo Maranhão (2010), as instituições de Educação Infantil devem preocupar-se com a saúde
e o bem-estar das crianças, pois apesar de haver diversos documentos publicados no Brasil que
norteiam as políticas públicas de educação, saúde e justiça social, o entendimento sobre o que
significa essa dimensão ainda precisa ser ampliado. Também, ainda há controvérsias sobre a
organização, as atitudes e os procedimentos necessários para sua efetivação com a participação
da criança. Considerando estes desafios, é imprescindível dialogarmos sobre o conceito de saúde.
Assim, é importante refletir como a dimensão da saúde é entendida na instituição em que você
atua. Como são realizados os cuidados corporais dados às crianças? Como esses cuidados são
compartilhados com as famílias?
A criança até cinco anos requer cuidados específicos com a sua alimentação. Crescer consome
energia: 32% das necessidades calóricas de um recém-nascido são destinadas ao crescimento. Por
isso, a dieta da criança deve ter qualidade, quantidade, frequência e consistência adequadas para
cada idade. Para crianças com até 6 meses de idade, o leite materno exclusivo é o melhor alimento
(Brasília, 2002).
Sabemos, também, que na Educação Infantil, os momentos de cuidados essenciais não podem ser
considerados como ações pedagógicas menos valiosas e sim serem mediados e cuidadosamente
planejados pelos profissionais, com a participação das crianças, quando possível. Limpar o nariz,
escovar os dentes, tomar banho, usar o vaso sanitário ou a troca de roupa e calçados são situações
valiosas para ajudar as crianças a se tornarem autônomas.
Bastante comuns nas instituições de Educação Infantil são os relatos sobre as crianças não
gostarem da escovação dos dentes. Assim, uma ação simples é promover experiências em que
adultos e crianças escovem os dentes ao mesmo tempo. Observar a sua/seu professora/or
escovando os dentes é um momento de aprendizagem lúdica para a criança.
Outra sugestão é incluir na rotina do seu grupo momentos de cuidado com o corpo e higiene
pessoal com prazer e alegria. Você já pensou, também, em conversar com a/o gestora/or da
instituição de Educação Infantil que você atua para realizar parceria com as unidades básicas de
saúde presentes no bairro onde está localizada a sua instituição? Esta é uma boa estratégia!
Orientações Pedagógicas paraProfessoras/es da Pré-Escola
11 VOLUME I
AUTONOMIA
As situações cotidianas são partes importantes do currículo da Educação Infantil, especialmente
porque são ótimos contextos para o desenvolvimento da autonomia, por meio de experiências
habituais, como: higiene pessoal, o ato de vestir-se, alimentar-se, e apropriar-se do seu corpo.
Outras experiências que contribuem para o desenvolvimento da autonomia estão relacionadas às
vivências relativas à linguagem corporal, que dão à criança a oportunidade de tomarem
consciência de suas possibilidades, limites e de desenvolver habilidades que as deixem cada vez
mais autônomas na interação do seu corpo com o espaço.
Dessa forma, a rotina e os espaços e materiais devem incentivar a criança a expressar seus desejos,
atuar, engajar-se, coparticipar dos processos educativos, ocupando um lugar protagonista no
cotidiano da instituição.
Para isso, você, professora/or pode propor situações que envolvam as crianças, como por exemplo,
que elas participem do planejamento e desenvolvimento da rotina do seu grupo; da arrumação
dos ambientes; da organização dos seus pertences pessoais ao chegar à instituição, titulando um
lugar só dela, o seu cantinho. E, nesse espaço, preservar seus objetos produzidos no/a CMEI/escola,
seus pertences e brinquedos trazidos de casa, como um jogo ou uma boneca, na intenção da
partilha com os amigos ou somente para amenizar a ausência de casa. Esta participação da
criança requer que brinquedos, livros e outros objetos estejam ao seu alcance, as prateleiras e
móveis sejam da altura das crianças.
CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE E CONHECIMENTO DE SI
Os primeiros dias da criança na instituição de Educação Infantil podem ser desafiadores para ela e
um rico momento para você, professora/or, começar a entender a sua história. Neste momento, a
criança está saindo do seu ambiente familiar para retornar ao convívio com outras crianças, ou
mesmo, iniciar a convivência com crianças e adultos não conhecidos dela. Assim, a partir da escuta
das crianças, você deverá organizar espaços, tempos e materiais considerando suas preferências e
experiências. Esta organização é oportuna para que você, professora/or, participe do simbolismo e
do imaginário da criança, iniciando um vínculo afetivo que possibilite aflorar na criança o
sentimento de pertença ao ambiente. Nos Álbuns de Experiências da Pré-Escola, tem situações que
favorecem o conhecimento de si, pelas crianças. No Álbum do Grupo 4, 1º semestre, há uma
proposta que convida as crianças a pensarem sobre suas preferências. Enquanto que, no 2º
semestre, elas são convidadas a falarem sobre seu jeito de ser. Já no Álbum de Experiências do
Grupo 5, do 1º semestre, o poema Identidade, de Pedro Bandeira, instiga as crianças a olharem
para si mesmas.
Orientações Pedagógicas paraProfessoras/es da Pré-Escola
12 VOLUME I
Compreendendo as relações parentais, a composição dos dife-
rentes grupos humanos com os quais as crianças interagem, as
afinidades e prazeres dela, a/o professora/or deve planejar si-
tuações que lhes permitam conhecerem umas as outras, visan-
do promover o seu bem-estar e a aquisição da consciência da
sua própria identidade.
Neste sentido, você pode organizar com as crianças uma expo-
sição sobre as características pessoais do grupo e pedir que elas
tragam um paninho de quando eram bebê, uma roupinha,
sapatinho, utensílios, brinquedo, livro; podem, também, cons-
truir com sua família um símbolo – desenho, escultura, bor-
dado, pintura etc. – que represente as suas preferências.
Piferrer afirma, também, que a criança adquire a consciência da
sua identidade “mediante a análise das próprias características pessoais com relação às dos
demais: menino, menina, ruivo, moreno, alto, baixo, gordo magro [...] as coisas que gosto, as
coisas que me desagradam [...].” (2008, p. 117) Então, que tal, professora/or, organizar situações
que instiguem estas análises?
A construção da individualidade da criança, no con-
vívio escolar, é fator primordial para que ela se sinta
feliz, respeitada e segura, pois trazendo a sua histó-
ria de vida para partilhar com o grupo, ela se sente
parte dele. Nos Álbuns de Experiências da Pré-
Escola, há vivências que mostram para as crianças a
importância da cultura afro-brasileira, por exemplo.
Outras experiências que constam nestes álbuns
provocam as crianças a dialogarem com o espaço da
cidade de Salvador, buscando que elas o valorizem e
se sintam valorizadas por pertencer a ele.
A investigação da origem do nome, também pode
ser excelente situação. Qual criança não se interes-
saria em saber e conhecer a história do seu nome?
Esta investigação pode ser uma oportunidade para
a criança entender o porquê do seu nome. Se há um
sentido afetivo, se é uma herança familiar passada
de geração para geração. A/O professora/or pode,
junto com as crianças, fazer painéis usando fotos,
relatos sobre a origem do nome das crianças.
CONTINUANDOA CONVERSA
Piferrer (2008), defende
que, para as crianças
adquirirem a consciência da
sua própria identidade é
importante elas
identificarem as suas
semelhanças e diferenças
com os demais.
CONTINUANDOA CONVERSA
De acordo com as Diretrizes
Curriculares Nacionais para
Educação Infantil, as práticas
pedagógicas devem promover “o
conhecimento de si e do mundo,
por meio da ampliação de
experiências sensoriais,
expressivas, corporais, que
possibilitem movimentação
ampla, expressão da
individualidade e respeito pelos
ritmos e desejos dela”.
(BRASIL, 2010, p. 25).
Orientações Pedagógicas paraProfessoras/es da Pré-Escola
13 VOLUME I
A/O professora/or, também, deve ficar atenta/o para a aquisição da criança de sua identidade na
dimensão social e, neste sentido, é importante propor que a criança reflita sobre os grupos
humanos a que pertencem: “que lugar ocupo na minha família? Quais são os familiares com os
quais me relaciono mais? Qual o trabalho de meu pai? Quem são meus amigos? Que
responsabilidades tenho em minha casa, no/a CMEI/escola, na casa dos avós? Que normas e bons
costumes devo cumprir para viver em sociedade?” (PIFERRER, 2008, p. 117). O/A professora/or
pode, também, propor estas questões às crianças e junto com elas, escolher uma boa estratégia
para registro das respostas e compartilhamento entre o grupo.
Os modos de vida de outros tempos e povos também são temas que despertam interesse das
crianças e são importantes para a construção de conceitos, imagens e representações positivas
sobre diversas culturas e os diversos povos existentes em espaços e tempos diferentes.
Ao analisarmos o panorama da nossa cidade, é possível observar que Salvador é um município
com características marcantes em sua diversidade cultural e de etnia. Sendo assim, realizar
projetos relacionados à diversidade cultural – fomentando o respeito a estas diferentes
manifestações – assim como aqueles que promovem o conhecimento das diferentes regiões da
cidade e suas características diversas, são formas de ampliar o repertório cultural das crianças e de
promover sua inserção às identidades da cidade, para que ela construa, progressivamente, uma
noção da sua identidade enquanto pessoa e cidadã soteropolitana.
Algumas situações que podem ser desenvolvidas com as crianças são: investigar sobre as festas
populares, os diferentes locais de trabalho dos pais e avós das crianças, os hábitos, costumes e
tradições de grupos humanos com os quais as crianças convivem; que existiram no passado; que
vivem em locais distantes das crianças são temas que proporcionam a valorização das diferentes
etnias e a compreensão de que hábitos e costumes variam no tempo e nos espaços onde os grupos
humanos vivem.
INTERAÇÕES
A qualidade da mediação da/o professora/or, em favor do bem-estar, da autonomia e da
construção da identidade da criança é fundamental.
Como sabemos o desenvolvimento da autonomia não se restringe a ajudar a criança a vestir-se,
alimentar-se, escovar os dentes ou calçar os sapatos. Investir na construção da autonomia da criança
implica em promover ricas interações educativas, visto que ter autonomia consiste em ter
oportunidade para atuar no mundo em que vive, argumentar, ouvir seus pares e ser escutada. Estes
pressupostos orientam os três volumes das Orientações Pedagógicas para Professores da Pré-Escola.
Em sua prática, certamente, você já deve ter se posicionado na altura da criança para ouvi-la e
interagir com ela. O contato visual, o famoso “olho no olho”, estimulando a interação e
transmitindo a ela a mensagem de “estamos juntos” e de que você valoriza sua fala e sua presença,
Orientações Pedagógicas paraProfessoras/es da Pré-Escola
14 VOLUME I
é fundamental. O texto sobre linguagem corporal, destas Orientações Pedagógicas para
Professoras/es da Pré-Escola, pode apoiar você, professora/or, a interagir com as crianças nos
momentos das brincadeiras, mediando para provocar o desenvolvimento delas.
Você considera importante que a/o professora/or se distancie e observe a forma como
interage com suas crianças?
Como você promove a escuta de suas crianças?
É importante estabelecer uma relação de diálogo, e partir disso, criar abertura para o exercício
cotidiano de escutar a criança, entendendo a escuta para além de ouvir a voz dos sujeitos.
Entendemos "que desvelando o real, subvertendo a aparente ordem natural das coisas, as crianças
falam não só do seu mundo e de sua ótica de crianças, mas também do mundo adulto, da
sociedade contemporânea." (KRAMER, 2007, p. 17).
Como temos respeitado as iniciativas das crianças? Reconhecemos os seus interesses?
Temos dado espaço para experimentarem, interagirem, permitindo-lhes determinar a
maneira como realizam uma ação? Como estamos promovendo o protagonismo da
criança em situações que exijam a construção coletiva de regras e a solução de conflitos?
As crianças, por meio da mediação do adulto, aprendem a identificar e nomear sen-
sações, tais como: fome, sede, dor, frio, cansaço, dentre outras. Aprendem, também,
como realizar os procedimentos para recuperar o bem-estar físico e mental alterado por
essas sensações. Como você tem mediado esses processos educativos com suas crianças?
As reflexões e sugestões, trazidas pelos autores, dos textos sobre os diversos campos de
experiências são no sentido de ajudar a pensar em boas interações para a construção de um
ambiente que provoque envolvimento, e, portanto, o bem-estar das crianças. Além disso, esses
autores estiveram atentos para trazer contribuições em favor da construção da identidade, do
conhecimento de si e da autonomia pelas crianças. Consulte-os.
A chegada da criança na instituição de Educação Infantil pode se configurar como uma boa
estratégia para conhecer e revelar quem é a criança, sua família, sua origem, ajudando assim, toda a
equipe para o desenvolvimento de um trabalho seguro, focado na criança e em suas subjetividades.
Uma ação importante é a entrevista inicial por meio de um questionário, conhecida também por
anamnese. Um conjunto de questões que busca investigar a origem da criança (concepção,
gestação, parto, primeiros anos de vida) com foco na saúde, sono, alimentação, educação,
sociabilidade, relações afetivas familiares. A anamnese é o primeiro registro da história da
criança na Instituição e a partir dela, alguns objetivos de trabalho poderão ser dimensionados e
bem planejados.
Orientações Pedagógicas paraProfessoras/es da Pré-Escola
15 VOLUME I
Em sua instituição como é realizado o processo de anamnese?
Como as crianças e as famílias são recepcionadas na ocasião da matrícula? Quais perguntas
iniciais ajudam a revelar a criança?
Qual a participação da família na construção das memórias da história de vida da criança?
Outra rica situação envolvendo crianças de diferentes idades e grupos distintos é a assembleia ou
roda de conversa, para dialogar sobre um tema ou uma situação-problema e juntos criarem
hipótese e soluções para o referido problema, expressando, verbalmente, seus desejos, dizendo o
que pensam. Nesse sentido, você deve planejar desafios e propor diversas situações investigativas
e envolventes, como por exemplo:
Planejar, junto com as crianças, e decidir a divisão das funções e fazeres da rotina da instituição
(divisão dos utensílios do lanche, marcação de calendário etc.), visando exercitar e favorecer a
sua autonomia.
Planejar situações focadas no diálogo para as crianças socializarem suas hipóteses, sentimentos,
relatarem passeios de final de semana ou férias, ou, ainda, compartilharem pesquisas realizadas
em casa com seus familiares. É um momento valioso para dar voz a criança.
Planejar e organizar ambientes, escutando e considerando a opinião das crianças. Nesse
ambiente rico, as crianças identificarão seus interesses e adotarão responsabilidades sentindo-
se agentes sociais e parte integrada da ação e do planejamento. Terão a oportunidade e
possibilidade de se sentirem ativas, participativas, e assim, exercerão a sua autonomia.
O texto sobre linguagem verbal, destas Orientações Pedagógicas para Professoras/res da Pré-
Escola, traz outras considerações sobre rodas de conversa, considerado outro caminho para o
desenvolvimento da autonomia e construção da identidade das crianças.
Além do que já foi abordado, é importante que você, professora/or, reflita sobre a necessidade de
assumir uma postura atenta, que seja engajada/o e afetuosa/o, reconhecendo que a criança
carrega em si um universo de possibilidades, além da composição de sua pequena história de vida.
A implicação afetiva da/o professora/or envolve considerar as pequenas coisas do cotidiano como,
por exemplo, as gentilezas como indícios da percepção da existência e estabelecimento de
respeito pelo outro. (ZAGURY, 1993).
Para além do desafio da mediação e condução da complexidade dos processos educativos da
primeira infância, também é importante que você professora/or, reencontre a sua criança interior.
É tempo de resgatar a leveza, a espontaneidade, a curiosidade, a surpresa. É tempo de ter prazer
no exercício profissional. É tempo de criar ou recriar nossos projetos de vida e felicidade. As
crianças esperam por nossos sorrisos.
Orientações Pedagógicas paraProfessoras/es da Pré-Escola
16 VOLUME I
REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Diretrizes Curriculares Nacionais de
Educação Infantil. Brasília: MEC, SEB, 2010.
FARIA, Ivan Dutra; MONLEVADE, João Antônio Cabral. Higiene, segurança e educação. Brasília:
Universidade de Brasília, 2008. 75 p.
LAEVERS, Ferre. Fundamentos da educação experiencial: Bem-estar e envolvimento na educação
infantil. São Paulo: Est. Aval Educ. 2014.
(LAEVERS; HEYLEN, 2003. In: LAEVERS. Fundamentos da Educação Experiencial: Bem-estar e
envolvimento na Educação Infantil, 2014, p. 162).
PIFERRER, Rosa T. Descoberta do ambiente natural e sociocultural Arribas. In: LLEIXA, Teresa e
colaboradores. Educação Infantil: Desenvolvimento, Currículo e Organização Escolar. Porto Alegre:
Artmed, 2008.
RINALDI, Carla. Diálogos com Reggio Emilia. Escutar, investigar e aprender. São Paulo: editora Paz e
Terra, 2012.
SALVADOR. Secretaria Municipal de Educação. Referencial Curricular Municipal para Educação
Infantil de Salvador. Salvador, 2015.
VIGOTSKI, L. S. A formação social da mente. São Paulo: editora Martins Fontes, 2000.
CONSULTE TAMBÉM:
REVISTA NOVA ESCOLA. In:<http://rede.novaescolaclube.org.br/planos-de-aula/self-service-mirim>.
Acesso em 30 set. 2015.
______. In: <http://rede.novaescolaclube.org.br/planos-de-aula/rotina-do-1o-ano>. Acesso em 30 set.
2015.
______. In: <http://rede.novaescolaclube.org.br/planos-de-aula/nao-ao-preconceito>. Acesso em 30
set. 2015.
OLIVEIRA, Bianca. Comunicação com os pais na Educação Infantil. Disponível em:
<http://gestaoescolar.abril.com.br/comunidade/comunicacao-pais-educacao-infantil-dialogo-escola-
779816.shtml>. Acesso em: 30 set. 2015.
Orientações Pedagógicas paraProfessoras/es da Pré-Escola
17 VOLUME I
COMEÇANDO A CONVERSA
Afinal, qual criança não brinca? Se não brinca algo está fora do lugar...
Brincar é uma linguagem universal e uma manifestação natural da infância, mas se é um ato
espontâneo por que cada vez mais ouvimos falar sobre este tema? Por que tantas pesquisas e livros
vêm sendo escritos sobre o assunto? Será que estamos garantindo este direito a nossas crianças? O
que podemos perceber é que a brincadeira vem perdendo um espaço de tempo significativo no
cotidiano de instituições de Educação Infantil e mesmo no próprio universo familiar. As diversas
pesquisas que buscam enfatizar a importância do brincar e a formação de docentes nesta área têm
o intuito de resgatar a relevância do brincar como elemento da cultura da infância. Nesta
perspectiva, compreendemos que brincar muitas vezes pode ser explorado em parceria com
outras linguagens.
A ideia é que a/o professora/or perceba cada vez mais a
potência do brincar e pense em propostas e situações
cotidianas que incluam a brincadeira ao explorar os
diversos campos de experiências e linguagens apresen-
tados no Referencial Curricular Municipal para Educação
Infantil de Salvador (2015). Assim, de maneira signifi-
cativa, o brincar ganha espaço nos currículos das institui-
ções de Educação Infantil.
O livro Casa Redonda, de (PEREIRA, 2013), traz uma
experiência através da qual o brincar é parte fundamental
do currículo do/a CEMEI/escola, relatando um pouco desta
experiência e explicando como lidar com o produto do
pensamento, da imaginação e criatividade da criança.
Acho que o quintal onde a gente brincou é maior que a
cidade. A gente só descobre isso depois de grande. A gente
descobre que o tamanho das coisas há que ser medido pela
intimidade que temos com as coisas. Há de ser como
acontece com o amor. Assim, as pedrinhas de nosso quintal
são sempre maiores que as outras pedras do mundo. Justo
pelo motivo da intimidade [...].
(Manoel de Barros)
BRINCADEIRA E IMAGINAÇÃO
Para aprofundar o
conhecimento sobre a
diversidade de linguagens
na infância, o livro As cem
linguagens da criança, que
relata experiências e
concepções de educação nas
escolas de Reggio Emila, é
uma excelente fonte.
(EDWARDS,1999).
CONTINUANDOA CONVERSA
Orientações Pedagógicas paraProfessoras/es da Pré-Escola
18 VOLUME I
Para alguns autores, como Vygotsky (2003), a criança não brinca por puro instinto, mas é a forma
que ela encontra para tentar entender o mundo, os papéis sociais e suas relações. Como ensina
Winnicott (1975), o brincar é a vivência criativa da procura do eu. Ao vivenciar o mundo de faz de
conta como adultos, é que as crianças tentarão entender, interpretar, significar e ressignificar o
mundo em que vivem e, para isso, terão como ponto de partida sua experiência de vida. O jogo
simbólico ou faz de conta é instrumento para a criação da fantasia, que é necessária para leituras
de mundo não convencionais.
No mundo contemporâneo, os meios tecnológicos são possi-
bilidades de brincar e consideramos esse um tema bastante
desafiador para as/os professoras/es. Por isso, é importante que
estejamos atentos a isso e nos questionemos, sem juízo de
valor, sobre essa nova condição do brincar.
Será que a televisão e uso de jogos em tabletes, computadores
e celulares podem ser considerados brincadeiras? Essa é uma
questão polêmica, no entanto, grande parte dos estudiosos
defende que o brincar não deve ser secundarizado ou limitado
a jogos eletrônicos, mas deve ser ressignificado para opor-
tunizar novas experiências e descobertas, já que é promotor do
desenvolvimento. (CHAVES, 2014).
Devemos considerar que, muitos desses brinquedos tecnoló-
gicos envolvem uma única criança, o que impede a interação,
no entanto, sabemos que o “jogo humano requer a capacidade de se relacionar com diferentes
parceiros e com eles comunicar-se por meio de diferentes linguagens, para criar o novo e tomar
decisões." (OLIVEIRA, 2011, p. 163).
Como poderíamos, então, incluir e contemplar a tecnologia no cotidiano das instituições de
Educação Infantil? Podemos apresentar jogos de computadores que tenham um caráter educativo
interessante, por exemplo. Enfim, são questões a serem observadas, questionadas e refletidas por
todos os profissionais que atuam na Educação Infantil. Mas não se pode negar a existência desta
tecnologia no dia a dia das crianças, por isso, é fundamental que as/os professoras/es) reflitam
sobre como lidar com ela dentro do cotidiano das instituições. Você pode aproximar as crianças
dessa linguagem da tecnologia através de diferentes mídias como gravadores, câmeras de vídeos,
câmeras de fotografia digitais e não só do computador. Em relação ao computador, podemos
pesquisar não só sites, mas programas que permitam às crianças criarem desenhos, cores, recortes
em fotos etc. Converse com a equipe de seu/sua CMEI/ escola e encontre os caminhos possíveis
para explorar a tecnologia em sua instituição.
CONTINUANDOA CONVERSA
Leia mais sobre o faz
de conta no capítulo,
O Papel do Brinquedo
no Desenvolvimento,
no livro: A Formação
Social da Mente.
(VYGOTSKY, 2003).
Orientações Pedagógicas paraProfessoras/es da Pré-Escola
19 VOLUME I
NA AÇÃO
BRINCADEIRAS E JOGOS
Assim, sabendo-se que ao brincar a criança passa a
compreender as características dos objetos, seu
funcionamento, os elementos da natureza e os fatos
sociais, vamos mergulhar no universo do brincar e
pensar em ações pedagógicas que ampliem as
oportunidades de imaginação na Educação Infantil.
No Brasil, usamos a palavra brincar e jogar, enquanto na
maioria dos outros países, há uma só palavra para estes
dois termos. Porém, o jogo também é compreendido
como uma maneira de brincar, e chamado de brinca-
deira, muitas vezes.
As brincadeiras são livres, com muitas possibilidades de temas e atuações. Elas abrem as portas
para imaginação e oportuniza a criança estabelecer relações entre seu mundo interno (suas
referências e vivências) e o mundo exterior (o convívio com o outro, os espaços, materiais etc.).
Os jogos pressupõem que existam jogadores, que ganham, empatam ou perdem. Traz um senso
de diversão unido ao desafio da competitividade. São atividades mais estruturadas, com objetivos
e muitas vezes um caminho a percorrer marcado por começo, meio e fim. Geralmente, possuem
regras que são de conhecimento comum dos integrantes do grupo ou são dirigidas por alguém
que as conheça. As regras podem ser interpretadas de maneiras diferentes, por grupos distintos, e
assim, possuírem diversas variantes.
Como você permite que as crianças alterem ou criem as regras de um jogo ou de uma brincadeira
tradicional? Já pensou em questionar as regras de alguma brincadeira ou de um jogo com o seu
grupo? Nos Álbuns de Experiências da Pré-Escola, dos grupos 4 e 5, 1º e 2º semestres, há propostas
envolvendo jogos e brincadeiras, como por exemplo, pés de lata, boliche, bola de gude, baralho e
bingo. Durante a ação do brincar, fique atento (a), caso alguma criança não concorde com uma
regra ou queira criar uma nova e explore essa situação com o grupo.
Ao realizar a proposta do Álbum de Experiências da Pré-Escola do G4, 2º semestre, sobre
brincadeira de bola de gude, por exemplo, é importante perguntar para as crianças se elas
conhecem outras regras desta brincadeira ou se já brincaram de outro jeito e se querem substituir
uma das regras da brincadeira proposta.
Algumas regras podem não fazer sentido para determinado grupo de crianças ou mesmo não
serem aceitas e isso deve ser considerado. A/O professora/or pode conversar com as crianças e
juntos, mudar ou inventar novas regras. Seria uma maneira das crianças desenvolverem seu senso
crítico, raciocínio lógico e inteligência.
Orientações Pedagógicas paraProfessoras/es da Pré-Escola
20 VOLUME I
Você pode propor às crianças que pesquisem mais
sobre determinada brincadeira, que investiguem
com as famílias, na internet e em livros sua ori-
gem, regras e variações das brincadeiras. Essa
pesquisa pode fazer parte de uma proposta
que envolva todo o grupo e a comunidade. No
Álbum de Experiências da Pré-Escola do G5, 2º
semestre, há uma sugestão de pesquisar brin-
cadeiras de origem africana e há, também, no
Álbum de Experiências da Pré-Escola do G4, 1º
semestre, uma proposta para as crianças pesqui-
sarem e construírem diferentes tipos de amarelinha
para brincar.
Ao pesquisar uma brincadeira com seu
grupo, envolva as famílias das crianças no
resgate deste saber popular. Sugira que
elas façam entrevistas com seus avós e
pais; que pensem junto com o grupo nas
perguntas que farão e no que querem
descobrir. Alguns familiares podem ir à
escola contar como brincavam. Crianças
que possuem familiares de outras cida-
des e regiões, que possam contribuir com
esta pesquisa, enriqueceriam ainda mais
esse momento. Nas Orientações Pedagó-
gicas para Professoras/es da Pré-Escola
(2015), no volume III, no texto sobre lin-
guagem verbal, encontram-se sugestões
para organizar uma entrevista, como, por
exemplo, a importância de elaborar um
convite e planejar as perguntas com o
grupo previamente.
No CMEI CSU Pernambués, as
crianças mostraram interesse
em descobrir um pouco mais
sobre a amarelinha. Assim,
pesquisaram relatos de quem
antigamente jogava usando
moedas e gostaram muito de
descobrir que esta brincadeira
tem nomes variados, como
por exemplo, pula-macaca.
CONTINUANDOA CONVERSA
Para conhecer mais
brincadeiras tradicionais, você
pode encontrar ótimas
sugestões no livro: A Arte de
Brincar, de Adriana Friedmann
(2004), e no livro: Giramundo,
de Renata Meirelles (2007).
NA REDE
Orientações Pedagógicas paraProfessoras/es da Pré-Escola
21 VOLUME I
JOGOS SIMBÓLICOS
O jogo simbólico, conhecido também como faz
de conta acontece a partir da imaginação e
criatividade das crianças. Através do faz de conta,
a criança assume papeis, constrói fantasias, cria
cenários e explora com muita criatividade visões
da realidade. Por isso, o faz de conta é uma
brincadeira inesgotável para as crianças, com
possibilidades infinitas de atuação em que se
alternam ordens estabelecidas e se criam outras.
Na hora do faz de conta, a criança não necessaria-
mente irá se apoiar na funcionalidade real dos
objetos, mas através da imaginação um pedaço
de pano pode virar um chapéu, uma vassoura
pode virar um cavalo ou um pente viraria um
microfone. É um momento em que a criança tem que ter plena liberdade para executar suas ações
e suas fantasias. É importante que, em algumas situações, as/os professoras/es entrem na
brincadeira e ofereçam alguns recursos criativos como caixas de papelão, tecidos, brinquedos de
casinha, fantasias, sapatos de adultos e outros materiais.
As crianças gostam muito de explorar espaços que geram muitas possibilidades de brincar e
imaginar situações do cotidiano como, por exemplo, espaços com mesinhas com copinhos,
panelinhas, talheres e pratinhos; outro com mesa com teclado de computador, telefone de
brinquedo ou que não funcione mais e um bloquinho com canetas e outros materiais. Escritórios,
cozinha, quarto, pizzaria, lavanderia, marcenaria, oficina mecânica e hospital podem ser
inspiradores para a organização dos espaços nas instituições.
Que tal montar um hospital para consertar os bonecos do/a CMEI/escola? Ou uma oficina para
consertar os carrinhos? Nas Orientações Pedagógicas para Professoras/es da Pré-Escola (2015),
volume II, no texto sobre linguagem matemática, encontram-se possibilidades de organizar
ambientes e disponibilizar diversos materiais para compor espaços sociais, como: feirinha, mercado,
consultório médico, salão de beleza e outros com os seus respectivos materiais, como por exemplo,
balança, calculadora, dinheiro de brinquedo, fita métrica, computador, relógio e outros.
PAPEL DA/O PROFESSORA/OR: DESCONSTRUIR PARA CONSTRUIR...
Ao brincar a única regra será não perder de vista a criança. Qualquer ação na instituição, deve
sempre partir dessa regra. O ponto de partida, então, passa a ser a percepção da criança e não a
imposição da/o professora/or. É necessário romper com antigos modelos que têm como
Orientações Pedagógicas paraProfessoras/es da Pré-Escola
fundamento a imposição e o raciocínio lógico do adulto. A criança precisa ser protagonista de suas
ações e ter a possibilidade de brincar e se expressar de diferentes maneiras. No Álbum de
Experiências da Pré-Escola, do G5, 2º semestre, há uma proposta interessante envolvendo uma
votação com crianças para saber quais são seus jogos preferidos.
Diante disso, podemos nos questionar: se tudo parte da criança, qual é o papel da/o professora/or?
Se as atividades não são pré-elaboradas pelos adultos que funções lhe cabem agora? Não existe
planejamento? O que a/o professora/or faz enquanto as crianças brincam? Qualquer lugar é lugar
de brincar? Como organizar os espaços para o brincar?
Alguns (mas) professoras/es podem ficar confusos sobre a sua função diante do brincar e,
pensando nisso, vamos refletir sobre seu papel antes, durante e depois do brincar.
PREPARAR OS ESPAÇOS E MATERIAIS
O espaço é o retrato da relação pedagógica. Nele é que o nosso conviver vai sendo registrado,
marcando nossas descobertas, nosso crescimento, nossas dúvidas. O espaço é retrato da relação
pedagógica porque registra, concretamente, através de sua arrumação (dos móveis) e organi-
zação (dos materiais) a nossa maneira de viver esta relação.
Para garantir que a linguagem do brincar esteja presente de forma potente nas instituições de
Educação Infantil, sugerimos aqui que o próprio espaço comunique esta ideia. Por exemplo, um
espaço cheio de carteiras e cadeiras amontoadas
comunica uma ideia equivocada de que apenas
sentadas em cadeiras, as crianças se desenvolvem.
Além disso, desconsidera a necessidade da criança se
movimentar no espaço. Já uma sala arejada, com es-
paços livres, sem prioridades para mesas e carteiras,
comunica a possibilidade de um corpo livre que
tenha liberdade de se expressar e manifestar de
diferentes formas.
Como são os espaços na sua instituição? Quais mate-
riais, móveis e objetos preenchem estes espaços?
Que mudanças podem ser feitas para que os espaços
se tornem ambientes acolhedores para as crianças?
As crianças têm acesso aos materiais? Os espaços
possuem uma flexibilidade que permite o desenvol-
vimento das diversas linguagens? Esses espaços
possibilitam explorar a criatividade e imaginação?
CONTINUANDOA CONVERSA
No Referencial Curricular
Municipal para a Educação
Infantil de Salvador (2015), você
encontra boas referências sobre
organização dos espaços,
tempos e materiais. Pesquisar
nos livros indicados nesta
proposta pode trazer inspiração
para pensar nos espaços de sua
instituição.
22 VOLUME IOrientações Pedagógicas para
Professoras/es da Pré-Escola
23 VOLUME I
As crianças precisam de um espaço que, mesmo simples, gere
possibilidades de criação. Que convoque para experiências
e vivências desafiadoras e que ofereça às crianças diversas
possibilidades de brincar, encenar, cantar, se movimentar e
outras. Estas manifestações não precisam ocorrer juntas,
todos os dias, mas a/o professora/or pode organizar o espaço
a cada dia de uma maneira diferente pensando em propostas
que as contemplem. Algumas propostas de brincadeiras, que
aparecem nos Álbuns de Experiências para Crianças da Pré-
Escola, G4 e G5, 1º e 2º semestres, acompanhadas de canti-
gas de roda, de trava-línguas, de poemas rimados são opor-
tunidades para as crianças cantarem e se movimentarem. No
texto sobre linguagem verbal, no volume III, das Orientações
Pedagógicas para Professoras/es da Pré-Escola (2015), as
autoras sinalizam para necessidade de que a interação das
crianças com textos de tradição oral deve iniciar pelo brincar
com eles, a partir deles.
Uma forma de organizar os espaços para gerar possibilidades
diversas de manifestações durante o brincar é organizá-lo por
cantos (conhecidos também como cantinhos). Cada canto
pode sugerir uma brincadeira ou algumas possibilidades de
brincadeiras utilizando linguagens diversas.
Outras possibilidades de materiais para brincar:
tecidos em tamanhos diversos que podem virar fantasias, cabanas, toalhas e o que mais a
imaginação permitir. Alguns tecidos já podem estar amarrados sugerindo tetos de cabaninhas
e criando outros ambientes dentro do espaço da sala.
Caixas de papelão de diversos tamanhos, pequenas e grandes com cortes e aberturas diversas,
em que as crianças possam entrar e representar: trens, carros, barcos. Podem também fazer
construções, empilhar etc.
Pedacinhos de madeira, palito de sorvete coloridos, pedrinhas ou peças de blocos para brincar
de construções.
Chocalhos, apitos, pandeiros e outros instrumentos que estiverem disponíveis ou que possam
ser confeccionados pelas próprias crianças para explorar diferentes sons.
Fantoches, marionetes e bonecas. Desenhos das crianças podem ser utilizados para criar
cenários para estas brincadeiras.
Terras de diferentes tonalidades.
CONTINUANDOA CONVERSA
Reflexões para muitas das
questões levantadas neste
texto, podem ser
encontradas nos livros:
Educação Infantil: muitos
olhares, organizado por
Zilma Oliveira (2007);
Qualidade em Educação
Infantil, de Lina Iglesias
Forneiro (1998); Quem
educa quem?, de Fanny
Abramovich (1985).
Orientações Pedagógicas paraProfessoras/es da Pré-Escola
Construções e desenhos no chão com gravetos, pedras
e folhas.
Bacias de água com temperaturas diferentes.
Bacias de água com funis, potes com capacidades diferen-
tes e furos de diâmetros diversos. A água pode ser tingida
com anilina ou gelatina colorida.
Gel de cabelo ou espuma de barbear sob uma mesa.
Bolas (podem ser de meias) de diferentes tamanhos com
cestos em diferentes alturas e formatos.
Sagu tingido com guache.
Fios de lã em panelinhas e pratinhos.
É importante ressaltar que as propostas de exploração desses
materiais não devem ser dirigidas. A criança, com sua imagina-
ção e criatividade, é que irá determinar o que pode acontecer.
São os espaços que permitirão enredos com a participação
em duplas, trios ou grupos. O importante é que, junto com os
materiais, estes espaços sejam de desafios, de descobertas,
de possibilidades e que permitam estabelecer muitas e va-
riadas relações.
QUE MATERIAIS E OBJETOS IRÃO COMPOR O ESPAÇO PARA BRINCAR?
Devemos pensar em materiais e disponibilizá-los nos diversos espaços das instituições a fim de
contribuir para a formação de crianças curiosas, questionadoras e que se interessem pela exploração,
investigação e experimentação. Assim como os espaços, os materiais também devem ser escolhidos
com intenções pedagógicas claras para a/o professora/or. O espaço e os materiais comunicam às
crianças diversas potencialidades do brincar e favorecem o brincar livre.
As instituições de Educação Infantil devem oferecer outras possibilidades às crianças, além dos
brinquedos de plástico. Devem, também, criar situações favoráveis à aproximação da criança com
elementos da natureza possibilitando-lhe perceber o mundo, através da exploração de seus sentidos.
Nesta perspectiva, é interessante selecionar materiais que não sejam necessariamente comprados
e nem facilmente descartáveis para algumas brincadeiras, como: pedras, folhas secas, folhas de
cores diferentes, flores, conchas, gravetos, pedacinhos de troncos de árvores, rolos de papelão –
24 VOLUME I
CONTINUANDOA CONVERSA
Para Wallon (1986), o
grupo social é
indispensável à criança,
não somente para sua
aprendizagem social, mas
também para o
desenvolvimento da
tomada de consciência de
sua própria
personalidade. A
confrontação com os
companheiros a permite
constatar que é uma entre
outras crianças e que, ao
mesmo tempo, é igual e
diferente delas. Pesquise
mais sobre este autor.
Orientações Pedagógicas paraProfessoras/es da Pré-Escola
25Orientações Pedagógicas para
Professoras/es da Pré-EscolaVOLUME I
como de alumínio e papel higiênico –, colher de pau, funis e vasilhas de tamanhos diversos, pentes
de formatos variados, bobs de cabelo etc. As famílias podem ser convocadas para auxiliar nessa
tarefa com doações e coletar na natureza e assim presenteariam as crianças com um bonito cesto e
caixa com novos materiais.
Os materiais reaproveitáveis, por possuírem uma rica gama de formatos, texturas e cores,
também podem se apresentar como um meio para potencializar as investigações. É bom,
portanto, que estejam sempre bem limpos e se organizados por cores ou categorias podem se
tornar muito mais atrativos.
A maneira como esses materiais são apresentados às crianças também é um aspecto interessante a
ser considerado. Os materiais organizados, bem-cuidados, separados por cores, tamanhos ou
formas serão sempre muito mais atrativos do que bagunçados dentro de uma sacola ou caixa.
Podemos organizá-los dentro de recipientes, a fim de não estarem sempre disponíveis e também
pensar em um rodízio deles entre grupos diferentes do/a CEMEI/escola. Porém, quando
apresentados às crianças devem ser bem-ofertados, comunicando um prazer e um cuidado maior
ao manuseá-los. Nas Orientações Pedagógicas para Professoras/es da Pré-Escola (2015), volume II,
no texto sobre linguagem musical, sugere-se a realização de oficinas de construção de brinquedos
e instrumentos sonoros, ressaltando que esta proposta contempla outros campos de experiências,
inclusive brincadeira e imaginação.
O PAPEL DAS/OS PROFESSORAS/ES ENQUANTO AS CRIANÇAS BRINCAM
Durante o brincar, a/o professora/or deve refletir bastante sobre seu papel em mediar conflitos e
problematizar sobre o cuidado com os materiais e o espaço. A sua postura deve sempre respeitar
muito a voz das crianças. Nada é aleatório no repertório de brincadeira, cada criança traz todo seu
interior e cotidiano em forma de símbolos para o brincar. A/O professora/or deve observar
atentamente e deixar que o brincar revele, através dos seus olhos, o raciocínio infantil e o
encantamento da infância. Deve lembrar que esses momentos não podem ser regulamentados por
regras ou imposições de comportamento, pois as crianças criam seus próprios regimentos a partir da
realidade percebida por elas. Inclusive, há de ter cuidado para não atrapalhar a criança, valorizando o
seu brincar, respeitando seus ritmos e capacidades, além do seu próprio modo de ver o mundo.
Além de observar, a/o professora/or pode entrar na brincadeira e auxiliar dando asas à imaginação
das crianças e apresentando algumas sugestões: e se você colocasse aquela capa? Acho que
alcançaria o telhado nesta casa! A onça não gosta desta comida, vamos pegar outra para ela em
outro potinho! Será que ela também não está com sede? Ela correu muito... Algumas intervenções
e provocações no sentido de estimular às crianças a irem além são interessantes. O papel da/o
professora/or durante a ação das crianças não se resume apenas à observação, apesar desta ter
grande importância.
26 VOLUME I
Quando valorizamos o brincar e nos disponibilizamos a compreender toda sua potencialidade,
podemos perceber que o brincar espontâneo e livre pode ser muito revelador. Mas, para isso
acontecer é importante garantir a escuta das crianças, observar os corpos que nem sempre falam
com palavras e letras, mas que tanto dizem ao usar todos os sentidos para descobrir e ressignificar
o mundo dentro de cada um deles.
Observar como as crianças brincam, como se relacionam consigo e com o outro, em
agrupamentos diferentes permite-nos entender que cada indivíduo é único, portanto cada grupo
também será único. Observá-las brincando, oportuniza ao a/o professora/or conhecer a
personalidade de cada criança na vida coletiva. Por isso, é essencial que você observe as crianças
diariamente, identificando quais características o grupo assume enquanto grupo e como cada
criança se manifesta no individual e no coletivo, sempre valorizando a diversidade. Ler o ato de
brincar é uma tarefa que pede um olhar sensível por parte da/o professora/or, um olhar que se
deixa envolver pelo que vê e tenta decifrar o que está por trás de cada gesto ou ação.
Ao nos entregarmos de coração aberto a essa contemplação, algo diferente acontece dentro de nós:
somos tocados através de algo tão simples e tão complexo e, enquanto isso acontece, podemos ter
diante de nossos olhos grandes revelações das crianças participantes e do universo infantil.
O QUE OBSERVAR ENQUANTO AS CRIANÇAS BRINCAM OU JOGAM?
Uma estratégia a ser adotada para ampliar o conhecimento de um grupo ou de determinada
criança é observá-la em situações diversas, com outros adultos, na entrada ou na saída da
instituição ou ainda em festas e eventos.
O registro da observação pode ser feito com fotografias e/ou com um caderno e lápis na mão.
Pode-se começar descrevendo os participantes, como se relacionam em pares ou no todo, como
lidam com conflitos, com sua própria autonomia, como argumentam com os colegas e que papéis
assumem. Ou ainda qual característica de personalidade está mais presente, demonstram-se
líderes, práticos, objetivos, mediadores, pensativos, muito imaginativos etc. Anote como é cada
criança, como se comporta, se brinca sozinha, se brinca com outras crianças, se não brinca, quais
suas habilidades, quais suas dificuldades, quais suas preferências ou interesses, quais são suas
necessidades ou que temas sugeriu para as brincadeiras de faz de conta. Uma prática interessante
é anotar as falas das crianças.
No Portfólio das crianças, você encontra os seguintes instrumentos que podem ser preenchidos a
partir das suas observações e anotações descritas neste material: Como percebo a sua interação
com o brincar (G4, 1º semestre); Como percebo sua interação com a brincadeira e a imaginação
(G4, 2º semestre); Como percebo a sua interação ao brincar: a brincadeira como afirmação da vida
Orientações Pedagógicas paraProfessoras/es da Pré-Escola
27 VOLUME I
(G5, 1º. semestre) e Como percebo a sua interação ao brincar, ex-
pressão de sua compreensão de mundo e organização interna
(G5, 2º semestre).
Registrar com frequência o comportamento das crianças é uma
maneira de ter acesso ao raciocínio infantil, buscar entender seus
interesses e a maneira que pensam, além de ajudar para acom-
panhar o desenvolvimento de cada uma e registrar suas memórias.
Esses registros podem ir para os Portfólios, sendo compartilhados
com as famílias.
REFLETIR, INTERPRETAR A OBSERVAÇÃO E PLANEJAR AS PRÓXIMAS AÇÕES.
Compartilhar com outros (as) educadores (as) suas observações, dúvidas, descobertas,
experiências e inquietações, pode ser muito proveitoso, pois traz outros olhares para enriquecer
seu trabalho. A reflexão sobre observações comentadas anteriormente será o ponto de partida
para guiar as ações futuras a serem realizadas com o grupo de crianças.
A partir dessa análise, é possível pensar em atividades lúdicas dirigidas apropriadas para cada
grupo específico, que podem ser aplicadas como desafios cognitivos que desequilibram as
estruturas mentais das crianças com o intuito de promover avanços em seu desenvolvimento ou
serem feitas com propósitos claros de dar acesso a conhecimentos específicos como matemáticos,
linguísticos, científicos, históricos, físicos etc.
Por exemplo, ao ser observado que um determinado grupo precisa de mais apoio para ampliar a
compreensão sobre o sistema de numeração é possível pensar em propostas de ir ao mercado ou
quitanda com dinheiro ou organizar um bazar na instituição, além das propostas sinalizadas nas
Orientações Pedagógicas para Professora/es da Pré-Escola (2015), volume II, no texto sobre
linguagem matemática. E ainda, ao observar a dificuldade de algumas crianças em interagir com
outras, podemos recorrer ao repertório de brincadeiras e jogos tradicionais em que a participação
seja fundamental para o desenvolvimento do brincar.
Garantir tempo e espaço para brincar é permitir que a criança tenha a oportunidade de debater,
expor o que pensa, criticar, inventar novas maneiras de representar o mundo, criar espaços de
expressões de suas ideias e de materialização das mesmas, sendo assim consideradas como
sujeitos que constroem seu crescimento nas constantes relações com os outros e o meio no qual
estão inseridas.
CONTINUANDOA CONVERSA
No livro, O Brincar no
cotidiano da criança,
de Adriana Friedmann
(2006), você pode
encontrar mais sobre a
questão da observação
e registro das crianças
durante suas ações.
Orientações Pedagógicas paraProfessoras/es da Pré-Escola
28 VOLUME I
REFERÊNCIAS
ABRAMOVICH. Fanny. Quem educa quem? São Paulo: Summus Editorial, 1985.
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Brinquedos e brincadeiras de
creches: manual de orientação pedagógica. Brasília: MEC/SEB, 2012.
CHAVES, I.C.G. Tecnologia na Infância: um olhar sobre as brincadeiras das crianças. 23f. Trabalho de
Conclusão de graduação em Pedagogia. Universidade Estadual de Maringá, 2014. Disponível em:
<http://www.dfe.uem.br/TCC-2014/IsabelleC.G.Chaves.pdf>. Acesso: 28 mar. 2015.
EDWARDS, Carolyn (Org.). As cem linguagens da criança. Porto Alegre: Artmed, 1999.
FORNEIRO, Lina Iglesias. A organização dos espaços na Educação Infantil. In: ZABALZA, Miguel.
Qualidade em Educação Infantil. Porto Alegre: Artmed, 1998.
FRIEDMANN, Adriana. O brincar no cotidiano da criança. São Paulo: Editora Moderna, 2006
PEREIRA, Maria Amelia Pinho. Casa Redonda: uma experiência em educação.
São Paulo: Editora Livre, 2013.
GOBBI, Marcia. Múltiplas Linguagens de Meninos e Meninas e a Educação Infantil. Anais do I
Seminário Nacional: Currículo em movimento – Perspectivas Atuais. Belo Horizonte, 2010.
LOPES, Karina Rizek; MENDES, Roseana Pereira; FARIA, Líbia Barreto (Orgs.). Livro de estudo: Módulo
II. Vitória Brasília: MEC. Secretaria de Educação Básica. Secretaria de Educação a Distância, 2005.
______. Livro de estudo: Módulo III. Vitória Brasília: MEC. Secretaria de Educação Básica. Secretaria de
Educação a Distância, 2006.
MEIRELLES, Renata. Giramundo e outros brinquedos e brincadeiras dos meninos do Brasil. São
Paulo: Editora Terceiro Nome, 2007.
OLIVEIRA, Zilma M.R. Educação Infantil: fundamentos e métodos. São Paulo: Cortez, 2011.
______. Livro de estudo. V. 2, unidade 5. Módulo II: imaginação e criatividade. São Paulo: Editora
Cortez, 2001.
______. Livro de estudo. V. 2, unidade 7. Módulo III: brincar e corpo. São Paulo: Editora Cortez, 2002.
VIGOTSKI, Lev Semenovich. A Formação Social da Mente: o desenvolvimento dos processos
psicológicos superiores. Tradução José Cipolla Neto, Luís Silveira Menna Barreto, Solange Castro
Afeche. 6.ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
WALLON, Henri. O papel do outro na consciência do eu. In: WEREBE, M.J.G.; NADEL-BRULFERT, J.
Henri Wallon. São Paulo: Ática, 1986, p. 168-178.
CONSULTE TAMBÉM:
Brasil. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Referencial
curricular nacional para a Educação Infantil. Ministério da Educação e do Desporto, Secretaria de
Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1998.3v.: il. Disponível em:
<http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/volume3.pdf>. Acesso em 19 de jul. 2015.
Instituto C&A. Assim se organiza o ambiente, filme 06. Série Paralapracá. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=kxKVFhK3Vl0>. Acesso em: 19 jul. 2015.
___________. Assim se Brinca, filme 01. Série Paralapracá. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=En2Z2RnY0po>. Acesso em: 19 jul. 2015.
INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL. Povos indígenas no Brasil. Disponível em:
<http://pibmirim.socioambiental.org/. Acesso em: 19 jul. 2015.
Orientações Pedagógicas paraProfessoras/es da Pré-Escola
29 VOLUME I
COMEÇANDO A CONVERSA
A curiosidade e o desejo de explorar e conhecer o mundo físico e social são características da
criança desde o seu nascimento. Nesse sentido, a instituição de Educação Infantil deve ser um
espaço favorável à diversidade de experiências que possibilitem a investigação e a elaboração de
novos questionamentos. Todavia, isto não quer dizer que as crianças devam se apropriar dos
conhecimentos historicamente construídos pela humanidade, mas que se aproximem deles, tendo
a oportunidade para elaborar e expressar suas hipóteses, elaborar novas perguntas, confrontar
pontos de vista com seus pares sobre o mundo social e natural e suas relações, por meio de
diferentes linguagens.
Assim, a mediação da/o professora/or deve fomentar novas descobertas e questionamentos, além
de favorecer relações ético-culturais, regadas com afeto, amorosidade e respeito à diversidade.
Para tanto, é fundamental que você, professora/or,
observe as crianças em diferentes momentos: o
que conversam entre si; os interesses e desejos; os
questionamentos; as hipóteses etc. Nesse sentido,
os textos sobre brincadeira e imaginação e lingua-
gem corporal, das Orientações Pedagógicas para
Professoras/res da Pré-Escola, podem ajudar.
Para além do desafio da mediação dos processos
educativos da primeira infância, a/o professora/or
tem o desafio de reencontrar a sua criança interior.
É tempo de resgatar a leveza, a espontaneidade, a
curiosidade, a surpresa, de ter prazer na prática
profissional, criar e/ou recriar os projetos de vida e
felicidade! É importante lembrar que as crianças
esperam por nossos sorrisos, por nossos espantos
diante do mundo.
É importante, também, que você, professora/or, se questione sobre como o seu grupo de crianças
percebe a rua, o/a CMEI/escola, o bairro, a praça, a família, o trânsito; como elas se relacionam com
Será que no futuro haverá flores?
Será que os peixes vão estar no mar?
Será que os arco-íris terão cores?
E os passarinhos vão poder voar?
(Toquinho)
RELAÇÃO COM A NATUREZA, SOCIEDADE E CULTURAS
Orientações Pedagógicas paraProfessoras/es da Pré-Escola
CONTINUANDOA CONVERSA
No livro, Educação Infantil: pra que
te quero? (CRAIDY; GLÁDIS, 2001),
você encontrará considerações
sobre o desenvolvimento infantil e
suas relações com o contexto
histórico e sociocultural em que a
criança está inserida.
30 VOLUME I
NA AÇÃO
Tendo como foco a criança dos 4 aos 5 anos, ávida para descobrir
o mundo, é importante refletir sobre a intencionalidade de de-
senvolver projetos com elas.
O projeto revela opção por uma postura pedagógica que permite
a/o professora/or organizar as experiências a serem exploradas
pelas crianças, que contemplem o respeito às ideias delas e, ao
mesmo tempo, o aprofundamento do processo investigativo, a
partir do próprio interesse das crianças, mediado por você,
professora/or. Para isso, é importante ficar atenta/o à relação que
as crianças estabelecem entre as suas descobertas e o mundo.
Os temas a serem investigados pe-
lo grupo de crianças podem “nas-
cer” das próprias vivências infan-
tis, por meio de instigantes per-
guntas ou afirmações elaboradas
por elas, sobre a comunidade on-
de vivem ou sobre o contexto his-
tórico e social presente em nossa
cultura ou em outra. Assim, você
precisa estar sensível à curiosidade
da criança.
O art. 9º das Diretrizes
Curriculares Nacionais
para Educação Infantil
(BRASIL, 2009) orienta
que as práticas
pedagógicas que
compõem a proposta
curricular da Educação
Infantil devem garantir
experiências que
promovam a interação,
o cuidado, a
preservação e o
conhecimento da
biodiversidade e da
sustentabilidade da
vida na Terra, assim
como o não
desperdício dos
recursos naturais.
CONTINUANDOA CONVERSA
CONTINUANDOA CONVERSA
O livro, Projetos
Pedagógicos na
Educação Infantil
(BARBOSA; HORN,
2008), pode ajudar a
pensar em projetos na
Educação Infantil.
Orientações Pedagógicas paraProfessoras/es da Pré-Escola
as pessoas, animais, plantas e objetos que fazem parte do seu entorno; o que elas sentem
diante do barulho do trovão, por exemplo; como participam dos eventos e acontecimentos da
sua comunidade.
Estes questionamentos, além de proporem reflexões, inspiram algumas possibilidades para as
crianças investigarem, descobrirem e elaborarem novos questionamentos sobre a natureza, a
cultura e a sociedade.
Lembre-se, professora/or, de que cada criança percebe o mundo de forma diferente e que os
sentimentos, as construções do pensamento e as expressões corporais são únicos.
Vale a pena lembrar que os contextos educativos devem
possibilitar interlocução entre as diferentes linguagens.
Tão importante quanto à clareza da/o professora/or
sobre a sua intencionalidade ao realizar uma pro-
posta de investigação junto às crianças é proble-
matizar a realidade e organizar um ambiente rico
em possibilidades de interações.
E, nesse sentido, os Álbuns de Experiências para
Crianças da Pré-Escola trazem oportunidades
para aguçar a curiosidade das crianças, a fim de
construir com elas projetos investigativos, tendo
como foco a natureza e a sociedade.
Assim, ao planejar, é necessário considerar as situa-
ções de aprendizagem em relação aos eixos eleitos para
este campo de experiência: Mundo Social, Natureza e
Sustentabilidade e Diversidade Cultural. Estes eixos serão
apresentados de forma separada, porém, nas situações contextualizadas eles se entrelaçam.
MUNDO SOCIAL
Ao considerar que é imprescindível estabelecer uma parceria com a comunidade para investigar sobre
seus grupos organizados, as famílias e a história das crianças, é importante que você, professora/or,
conheça a comunidade em que a instituição está inserida e as potencialidades e possibilidades que a
vida em sociedade oferece. Para isso, uma sugestão é utilizar o roteiro a seguir:
31 VOLUME I
Feira Cultural ou semana cultural
Feira de Rua ou Mercado Municipal
Grupos de teatro, musical,
coletivos culturais
Griôs (homens e mulheres sábias,
guardiões de memórias, histórias,
músicas, narrativas, dentre outros
saberes da comunidade).
Festivais
O que existe na comunidade?Existência
Sim Não Informações relevantes (descrição)
O Projeto: Abarés do Brasil,
desenvolvido pela educadora
Josimeire Batista, da Escola
Municipal Francisca de Sande,
teve como objetivo conhecer
e valorizar a cultura africana e
indígena, promovendo o
reconhecimento da
identidade étnica.
NA REDE
Orientações Pedagógicas paraProfessoras/es da Pré-Escola
Envolver as crianças em uma dinâmica de par-
ticipação e investigação em torno de um te-
ma pode tornar o processo de aprendizagem
significativo para elas. O planejamento de um
projeto, com as crianças, para investigar os
“lugares para brincar” no bairro onde a ins-
tituição de Educação Infantil está inserida po-
de ser uma boa situação. Apoiadas e acompa-
nhadas pela/o professora/or, e em parceria
com as famílias e grupos organizados da co-
munidade, as crianças podem investigar pra-
ças, jardins, quadras, ou outros espaços ade-
quados para brincadeiras e chegarem a possí-
veis conclusões:
32 VOLUME I
O que existe na comunidade?Existência
Sim Não Informações relevantes (descrição)
CONTINUANDOA CONVERSA
“A função da escola complementa-se com
as funções educativas atribuídas a outras
instituições da comunidade, como por
exemplo, a família, o município, as
associações culturais e converte-se em um
elemento a mais que participa da educação
do homem”.
(PIFERRER, 2008, p. 109).
Festas
Torneios esportivos
Debates e palestras
Concursos
Cursos
Oficinas
Outros. Quais?
Parcerias com Universidades
Parcerias com Centros Culturais,
Bibliotecas e ou Instituições Religiosas
Integração com movimentos populares,
Associações de moradores etc.
Integração com Conselho Tutelar
ou demais Conselhos
Orientações Pedagógicas paraProfessoras/es da Pré-Escola
Existências de “lugares para brincar” adequados. Assim poderão ser planejadas, com as
parcerias já citadas, brincadeiras e confecção de brinquedos para serem exploradas nestes
espaços. A lista de brincadeiras e brinquedos pode ser elaborada com a participação das
pessoas mais velhas da comunidade, contrapondo à indústria do brinquedo, que incentiva a
criança consumir produtos lançados no mercado.
Não existência de “lugares para brincar” adequados ou condições inadequadas dos “lugares”
encontrados. É possível propor para as crianças realizarem campanhas mobilizadoras na
comunidade para reivindicação de construção ou manutenção de “lugares para o brincar”,
mobilizando a Prefeitura Bairro ou outro representante do poder público local.
Para ampliar o olhar das crianças, neste processo de investigação,
uma possibilidade é convidá-las a conhecer também, por meio da
internet, de livros etc., quais são os “lugares” que crianças de ou-
tras localidades da nossa cidade, do nosso país e/ou do mundo,
brincam. O site <http://territoriodobrincar.com.br> pode ser uma
boa fonte de consulta.
Explorar o seu entorno possibilita a criança conhecer mais o lugar
em que vive, os papéis sociais das pessoas com quem convive e
construir ideias sobre o modo de vida da sua comunidade e situar-
se no mundo.
A observação, investigação e discussão sobre o entorno da ins-
tituição, mesmo focada em um aspecto, neste caso, nos “lugares
para brincar”, poderá ajudar a criança a fazer comparações e descrições dos lugares, das paisagens e
das regras ou condições presentes no bairro como, por exemplo: horário de funcionamento de alguns
locais, horário e local para descartar o lixo, lugar onde os moradores vão buscar suas correspondências,
o porquê do carteiro não entregar correspondência em sua resi-
dência (situação vividas por crianças de algumas localidades de
Salvador), onde os carros podem estacionar, se há faixa de pedestre,
ponto de ônibus, ciclovia, posto médico etc.
Outra possibilidade de investigação é observar o espaço interno da
instituição de Educação Infantil, realizando um comparativo com os
espaços do/a CMEI/escola e o da casa de cada criança. Posteriormente,
as crianças, apoiadas pela/o professora/or, podem organizar rodas de
conversa, discutindo as organizações dessas instituições educativas, o
que encontram em comum e de diferente. Os desdobramentos de um
projeto que envolve dois espaços sociais: a instituição de Educação
Infantil, a escola e a casa dependerão do interesse das crianças e o que
elas observam e sinalizam como possíveis mudanças.
33 VOLUME I
1
2
CONTINUANDOA CONVERSA
Para conhecer mais sobre
essa temática, consulte o
livro: Crianças como você
– Uma Emocionante
Celebração da Infância
no Mundo (BARNADAS;
KINDERSLEY, 2009).
Orientações Pedagógicas paraProfessoras/es da Pré-Escola
34 VOLUME I
Ainda com a ideia de despertar interesse e curiosidade por compreender o mundo social, formulando
perguntas, interpretações e opiniões próprias e compreender o mundo social, aprendizagens previstas
neste campo de experiência, outra ação possível é convidarmos as crianças para refletirem sobre sua
interação nos espaços da instituição.
Podemos iniciar com um convite às crianças, para que observem e apreciem os espaços da Instituição. A
sala onde passam boa parte do tempo, a área externa e outros espaços... Esta é uma forma simples e
muito potente delas se sentirem parte do ambiente, com possibilidade de intervir nele.
Esta ação é um exemplo de como é possível realizar pequenos planos de mudança, originando , com
as crianças, vivências promotoras do protagonismo infantil. O exercício pode ser pautado nos quatro
passos do Design for Change (Desenho para a Mudança), um movimento global, inspirado pela indiana
Kiran Bir Sethi, que aposta na ideia de que todos podem ser agentes de mudanças e propõe 4 passos
para efetivar as ações:
Esta é outra forma de estruturar projetos com a
participação ativa das crianças. Seguindo esses
passos, elas podem, efetivamente, sentir o mundo
social e natural, criar formas de interação que
promovam mudanças, buscando os conhecimen-
tos e apoios necessários, aprendendo a planejar,
executar e compartilhar. Nesta última etapa, as tec-
nologias são grandes aliadas e as aprendizagens
sobre o seu uso como ferramenta de mobilização e
mudança são potencializadas.
Nos Álbuns de Experiências da Pré-Escola, há mú-
sicas, cantigas populares, brincadeiras do cancio-
neiro infantil que podem oportunizar às crianças
experimentem situações e ser o mote para projetos
que explorem os espaços geográficos da instituição
e de seu entorno.
A partir da participação efetiva e afetiva das crianças com o tema investigado, muitas ações poderão ser
desencadeadas e podem inspirar outras investigações, conforme as peculiaridades de cada contexto e
do interesse das crianças e da/o professora/or. É importante que as crianças participem ativamente do
planejamento e da realização das etapas de investigação. Fundamental, também, é que as rodas de
conversa e assembleias sejam os espaços para as crianças e adultos envolvidos relatarem suas impres-
sões, descobertas e hipóteses, compartilharem sugestões para solucionar a situação-problema encon-
trada, confrontarem suas ideias e tomarem decisões, coletivamente.
SENTIR | IMAGINAR | REALIZAR e | COMPARTILHAR as mudanças que desejam.
Orientações Pedagógicas paraProfessoras/es da Pré-Escola
Design for Change estimula adultos
e crianças, para que acreditem e façam
acontecer a inspiração deixada por Gandhi:
“Podemos ser a mudança que desejamos
ver no mundo”.
Para saber mais, acesse:
<http://www.dfcbrasil.com.br>;
<http://criativosdaescola.com.br/;
http://brasil.ashoka.org/escolas-transformadoras>.
CONTINUANDOA CONVERSA
35 VOLUME I
Para as rodas de conversa, recomendamos a leitura do
texto sobre linguagem verbal das Orientações Peda-
gógicas para Professores da Pré-Escola. Nele, você en-
contra importantes considerações sobre a roda de con-
versa. Os textos sobre linguagem visual e linguagem
musical, também contribuem para enriquecer as possi-
bilidades de investigação, ampliando o olhar das
crianças sobre o mundo.
Situações como estas oportunizam à criança conviver
em grupo, compreender diferentes papéis das pessoas
e instituições, exercitar a liderança e a autonomia para
dialogar e interagir com o mundo a sua volta. Também,
contribuem para que as crianças se desenvolvam cui-
dando do ambiente em que vivem. Para aprofundar
suas reflexões sobre estes temas, recomendamos a lei-
tura do texto sobre eles nas Orientações Pedagógicas
para Professores da Pré-Escola, mais especificamente, o
texto: Bem-estar, Autonomia, Identidade e Interações.
Que tal propor às crianças que produzam maquetes a
partir da imaginação delas, utilizando revistas, caixas, tampas, tingindo areia, misturando cola com
areia, tinta? Fique atenta/o! Antes de propor para elas a construção de maquetes, é importante levá-las
a um local público para apreciar uma. Considerando que nesta
faixa etária dos 4 aos 5 anos as crianças ainda estão exercitando
as escolhas pessoais, é importante oferecer contextos para que
cada criança se sinta autora de suas criações. Assim, a produção
de maquetes, além de proporcionar que as crianças explora-
rem os elementos da natureza ou manufaturados, também
pode aproximá-las das noções de espaço, distância e tamanho.
No texto sobre linguagem matemática, que faz parte destas
Orientações Pedagógicas para Professores da Pré-Escola, você
encontra outras sugestões que podem auxiliar nesta situação
com maquetes.
As sugestões apresentadas constituem-se em ricas situações
para interação entre as crianças, à medida que possibilitam
tomar decisões e fazer escolhas, coletivamente. Pois, é nesta
faixa etária que nascem as regras de convivência, porque a
criança já é capaz de negociar diante das situações-problema
que vivencia, expressando pontos de vista e fazendo trocas, práticas importantes para desenvolver a
autonomia e a cooperação.
CONTINUANDOA CONVERSA
O livro Rodas de Conversa: uma
análise das vozes infantis na
perspectiva do círculo de
Bakhtin (ALESSI, 2014), também
pode ajudar a pensar em rodas
de conversa como um espaço de
partilha e confronto de ideias,
no qual a criança “é desafiada a
participar do processo, tendo o
direito de usar a fala para
expressar suas ideias, emitir
opiniões e expressar sua forma
de ver o mundo.” (Idem, p. 51).
Orientações Pedagógicas paraProfessoras/es da Pré-Escola
CONTINUANDOA CONVERSA
Para Tiriba (2010), a
criança que tem contato
com a natureza,
demonstra mais harmonia
no ser, no brincar, no criar,
no viver a vida com
alegria, situando-se e
reconhecendo o mundo a
sua volta com mais
plenitude e confiança.
36 VOLUME I
Além disso, essas situações contribuem para o exercício
da escuta entre as crianças e entre elas e os adultos, à me-
dida que lhes oportunizam escutar as hipóteses e as opi-
niões dos colegas, argumentar contra ou a favor, decidin-
do detalhes sobre os encaminhamentos que serão dados
ou sobre os materiais a serem usados; sobre divisão das
responsabilidades ou o que cada criança produzirá etc.
NATUREZA E SUSTENTABILIDADE
A/O professora/or pode observar ou incentivar a relação e interesse
das crianças pelos elementos e seres vivos no ambiente da própria
instituição de Educação Infantil ou nos arredores, principalmente, se
nestes espaços houver terra, canteiros, jardins, árvores. Observar o
que é de interesse delas é de fundamental importância. As crianças de
4 a 5 anos gostam de manusear terra, areia, água. Também, chamam
sua atenção: os formigueiros, as borboletas, o nascimento dos ani-
mais, a chuva, o calor do sol etc. Neste caso, você, professora/or, pode
oferecer às crianças instrumentos e recursos diversos que possam
mobilizar ainda mais a sua curiosidade e registrar a investigação em
andamento: lupas, microscópio para observar insetos e pequenos
elementos da natureza, binóculo para observar detalhes da flora em
uma árvore, usar a máquina fotográfica para registrar observações
diárias e acompanhar algum processo de transformação.
Ao propor uma investigação ou acolher o interesse das crianças para investigar sobre animais e/ou
outro tema, Harlan e Rivkin (2002, p. 95) alertam que animais de todos os tamanhos e condições
chamam a atenção das crianças. Elas ficam fascinadas e desejam tocá-los e cuidar deles. “Porém
algumas crianças toleram pouco, animais que rastejam ou picam.” Então, é importante que as
experiências pro-postas às crianças, possam suavizar o sentimento de insegurança de algumas delas.
Estar atenta/o aos sentimentos e aos interesses das crianças é fundamental para proporcionar
envolvimento, melhores interações e, assim, seu bem-estar.
Uma investigação sobre como as plantas nascem pode ser desen-volvida por meio da criação de uma
horta ou de um jardim suspenso, usando garrafas plásticas arrecadadas pelas crianças, de maneira que
elas possam observar, levantar hipóteses e registrar suas des-cobertas. Para que isso aconteça, cabe
a/ao professora/or escutar as crianças sobre o que já sabem e o que querem aprender, oferecendo-lhes o
contato com diferentes materiais (vídeos, internet, livros, revistas...) e que aguce ainda mais a
curiosidade. Registrar as perguntas que elas fazem sobre o tema também é uma boa estratégia para
que sejam pensadas e planejadas novas intervenções.
CONTINUANDOA CONVERSA
A coleção, Cuidar Bem
(MURTA, 2009) tem
diversas sugestões
interessantes sobre
novas perspectivas para
a compreensão do ser
humano e do seu papel
no planeta.
Orientações Pedagógicas paraProfessoras/es da Pré-Escola
Outra possibilidade é um projeto para acompanhar o
crescimento de uma planta escolhida pelas crianças.
Elas podem pesquisar sobre suas características,
desenvolvimento (por meio de raiz, sementes
etc.), condições ideais para seu crescimento e
formas de cuidar.
A investigação sobre plantas de propriedades
medicinais – ou as usadas na alimentação co-
tidiana – oferece possibilidades interessantes
para as crianças. Com o apoio da/o profes-
sora/or, podem conhecer mais os saberes
comunitários presentes no seu entorno, assim
como se aproximarem do conhecimento cien-
tífico, entrevistando, por exemplo, um (a) Griô,
um (a) médico (a) ou até um (a) nutricionista, com a
intenção de descobrir sobre a cura das doenças por
meio das ervas ou do seu valor nutricional.
Lembre-se, ao planejar situa-
ções de aprendizagem, de que
as crianças precisam ter opor-
tunidade de estabelecer cone-
xão entre os elementos (plan-
tas, animais, ar, água, condi-
ções atmosféricas, rochas e
corpo humano) básicos do am-
biente em que estão inseridas.
Dica: não perder o momento presente!
Estava sol, a chuva começou a cair. As crianças se inquietam,
querem tocar os pingos de chuva... Há barulhinho sendo produ-
zido. Há som! Esta se configura uma grande oportunidade de
observação e experimentação. Com a linguagem musical, por exemplo, podemos reproduzir os sons,
ouvir uma música que faça relação com a chuva, com as águas. Já com a linguagem visual, por exemplo,
poderão ser vivenciados muitos elementos dessa temática. A observação e produção de desenhos, a
apreciação de imagens, quer sejam foto-gráficas ou de obras produzidas por artistas, é excelente recurso
peda-gógico, pois se constitui base para o exercício do desenho de observação.
37 VOLUME IOrientações Pedagógicas para
Professoras/es da Pré-Escola
A partir da observação das
crianças, nos momentos de
intervalo, simulando plantio e
mexendo na terra,
demonstrando satisfação pela
interação com as outras crianças
e com o contato direto com a
natureza, as/os professoras/res e
a coordenadora pedagógica do
CMEI União Boca do Rio,
desenvolveram o projeto Horta
Viva: semeando conhecimentos.
NA REDE
CONTINUANDOA CONVERSA
O livro Ciências na Educação
Infantil, de Rivkin e Harlan
(2002) é leitura recomendável
como apoio para planejar
boas situações, considerando
que: “Quando oferecemos
experiências instigantes às
crianças pequenas,
alimentamos sua capacidade
natural e humana de
conhecer.” (RIVKIN e
HARLAN, 2002, p. 22).
38 VOLUME I
Diariamente os meios de comunicação nos trazem notícias sobre o planeta Terra e as novas descobertas
que envolvem o Universo: as viagens espaciais, as fotografias tiradas do espaço, a descoberta sobre
novos planetas. Enfim, são assuntos que devem ser trazidos para as rodas de conversa, partindo de uma
notícia de jornal ou até mesmo de um noticiário, em vídeo, apresentado em um jornal local. Iniciativas
como estas poderão suscitar questionamentos, afirmações e desejos das crianças que desencadeiem
novos projetos investigativos.
Outra proposta interessante é a construção de um terrário, que
possibilita às crianças, de uma forma bastante lúdica, a reali-
zarem descobertas e elaborar novas questões sobre os recursos
naturais da Terra e a relação entre os diferentes seres vivos. O re-
gistro de perguntas e afirmações das crianças, antes e após a
investigação, possibilita novas aprendizagens.
Outra investigação que pode interessar às crianças é sobre o
corpo humano: por que precisamos cuidar do nosso corpo?
Oferecer, nesta investigação, a possibilidade de conhecerem
pessoas que leem, escrevem, brincam usando o corpo de forma
diferente e como elas se superam diariamente. Conhecer lin-
guagens como: libras e braile, também são perspectivas que um projeto que tem o corpo como tema
poderá oferecer. É importante lembrar que cada grupo pode demandar questões que promovam
encaminhamentos e investigações diversas, a depender de cada contexto.
Os materiais reutilizáveis também são um problema presente nas cidades, de um modo geral, e pode
ser discutido com as crianças a partir de situações observadas na própria instituição de Educação
Infantil e na rua onde se encontra a instituição. Uma maneira de enriquecer essa discussão é pesquisar
junto aos órgãos públicos da nossa cidade como está sendo realizada a coleta seletiva do lixo e qual o
destino dele. As crianças podem ser convidadas a expressarem suas ideias sobre o que observam do
local onde moram, oferecendo sugestões, realizando reinvindicações que permitam promover
transformações em seu entorno.
DIVERSIDADE CULTURAL
As paisagens culturais como: danças típicas, festas, gastronomia, lendas, crenças, moda, formas de
organização social, moradia do seu bairro ou da sua comunidade, bem como de outros povos, são
temas interessantes para as crianças de 4 e 5 anos. Além disso, a valorização/reflexão da cultura familiar
e a cultura da comunidade amplia o sentido ético e estético das crianças para a vida e para questões que
envolvem a preservação do nosso patrimônio cultural e ambiental.
Promover na instituição de Educação Infantil ou em diferentes espaços do bairro encontros para diálogo
e apresentação dos grupos culturais e brincantes, também pode ser potencializador de descobertas e de
aprendizagens para as crianças. Isso, porque, promover situações para as crianças conhecerem diferentes
Orientações Pedagógicas paraProfessoras/es da Pré-Escola
Na Coleção Cuidar Bem,
citada anteriormente, há
orientações sobre a
construção do terrário.
CONTINUANDOA CONVERSA
39 VOLUME I
costumes e estilos de vida é muito importante. Uma opção é planejar e
realizar rodas de conversas com familiares, crianças e pessoas recém-
chegadas de outras cidades ou países. As descobertas e novos
questionamentos podem ser socializados em murais, por
exemplo. O fundamental é que as crianças possam
perceber diferentes costumes e estilos de vida: as
festas realizadas em sua comunidade; as festas
populares da nossa cidade que sua comunidade
ou família participam; as festas que ocorrem
em outros bairros da nossa cidade e que não
pertencem ao bairro onde vivem. Conhecer
e comparar diversos estilos de vida e
registrar suas descobertas usando vários
recursos poderá aguçar a curiosidade
das crianças tornando-as mais atentas
ao mundo no qual vivem e convivem.
Realizar visitas a museus e espaços
culturais, dentro e fora do bairro,
também, é excelente oportunidade
para as crianças analisarem, compa-
rarem, distinguirem, reconhecerem-
se e diferenciarem-se.
É muito importante que a/o profes-
sora/or, ao final das experiências pro-
postas às crianças, realize uma roda de
conversa incentivando-as a falar do seu
sentimento ao participarem da proposta:
o que foi desafiador, o que descobriram e o
que estão pensando agora. Este momento
do cotidiano das crianças possibilita que elas se
revelem para o grupo e, ao mesmo tempo, per-
cebam sua identidade, os seus gostos, os diferentes
estilos de vida, sem perder o foco de respeito ao outro,
cultivando um olhar sensível para o mundo.
Nos Álbuns de Experiências da Pré-Escola, há situações que
favorecerão desdobramentos em benefício da exploração do mundo
social, de reflexões sobre natureza e sustentabilidade, diversidade cultural,
bem como contribuirão para suscitar curiosidades, desejos de aprender mais sobre
determinados temas.
Ainda, é importante lembrar, que vivemos mergulhados em uma constante relação entre mundo social
e natural. Estar sempre atento a tudo que envolve essas relações, pensando e agindo no mundo, e em
Orientações Pedagógicas paraProfessoras/es da Pré-Escola
Uma simples caixa surpresa pode
desencadear experiências investigativas
lúdicas e ricas em aprendizagens. Foi o que
fez a/o professora/or Luana Vidal Borges,
no CMEI Adilson de Souza Gallo, com
crianças de 5 anos. O Projeto Infância e
Cultura suscitou investigações, a partir de
objetos que cada criança coletou nos finais
de semana, e trouxeram às segundas-
feiras. Os objetos eram trazidos para o
grupo, como um símbolo de algo vivido
por cada criança em seu contexto. Ao
longo do ano, muitos objetos foram
levados para a caixa. A partir de perguntas
formuladas pelo grupo sobre o objeto,
ampliaram-se os repertórios das crianças e
da/o professora/or. Algumas descobertas
foram: a história do Parque São
Bartolomeu (Barragem); a origem da Festa
de Labatut; brincadeiras que as crianças
conheciam e levantamentos sobre outras
que desejavam conhecer; conhecimento
sobre a arte do grafite. Além disso, as
crianças ainda tiveram oportunidade de
assistir a uma apresentação do Cortejo
Afro (Instituto Oyá).
NA REDE
40 VOLUME I
especial no encontro diário com o grupo de crianças, é importante para que possamos contribuir para
uma sociedade mais justa e feliz, por meio da formação de pessoas que possam se relacionar com o
todo pela ética do cuidado.
Além disso, professora/or, é necessário que você assuma uma postura de pesquisadora/or da natureza e
da sociedade, junto com as crianças. Uma/um professora/or curiosa/o, mobilizada/o pela problematização
e pela leitura do mundo, é um diferencial no processo de construção de aprendizagens pelas crianças.
REFERÊNCIAS
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Zerinho ou um, 2013.
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Curitiba: editora UFPR, 2014.
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mundo. Tradução Mario Vilela. São Paulo: Ática, 2009.
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Educação Infantil. Brasília: DF, MEC, 2009.
CRAIDY, C.; KAERCHER G. E. Educação Infantil: Pra quê te quero? Porto Alegre: Artmed, 2001.
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MURTA, A. Coleção Cuidar Bem. São Paulo: editora Peirópolis, 2009.
PIFERRER R. T. Educação Infantil Desenvolvimento, Currículo e Organização Escolar. Porto Alegre:
Artmed, 2008.
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de Janeiro: PUC/RJ, Capes, 2009.
RIVKIN. S; HARLAN, J. D. Ciências na educação infantil. Uma abordagem integrada. Porto Alegre:
Artmed, 2002.
TIRIBA, Léa. Crianças da Natureza. Currículo em movimento. Brasília, MEC/SEB: 2010. Disponível em:
<http://portal.mec.gov.br/index.phd>. Acesso em: 20 jul. 2015.
CONSULTE TAMBÉM:
SOUSA, Maurício. O mundo social e a diversidade cultural, geográfica e histórica. Fascículo 2.
Disponível em: <http://www.turmadamonica.com.br>.
NÚCLEO DE ESTUDOS E PESQUISAS EM SIMBOLISMO, INFÂNCIA E DESENVOLVIMENTO. Disponível em:
<http://revistaescola.abril.com.br/>. Textos e vídeos sobre natureza e sociedade>.
SÉRIE PARALAPRACÁ. Assim se explora o mundo. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=3xgJRKUK-l0>.. Filme 05..
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