obra em fortaleza
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OBRA EM FORTALEZA Projeto para Intervenção Urbana na Cidade de Fortaleza
MUROS: Territórios Compartilhados (agosto de 2012)
A cidade cresce a partir de sua relação significante econômico-político-
social, traçando linhas e planos de espraiamento, onde cada indivíduo é um ponto
capaz de tecer novas linhas de significação sobre o construído. As mudanças de ordem
político-econômica e cultural que o Neoliberalismo, a partir da expansão do mercado
de consumo de bens e serviços, foi determinante no estabelecimento da relação
indivíduo-tempo-espaço nas cidades na contemporaneidade. O crescimento
populacional e, consequentemente, espraiamento da malha urbana das capitais
brasileiras articulam o crescimento e a ocupação do solo, que passam a não ser
contingenciadas por um conjunto estruturado de ações e equipamentos públicos,
gerando um descompasso e desigualdade. Em Fortaleza, como afirma a pesquisadora
sobre geografia urbana, Sharon Dias:
“(...) a falta de políticas públicas [...}, ocasionou a segregação do espaço urbano que hoje se caracteriza dentro da cidade. Fortaleza passou a concentrar áreas específicas para atender os interesses e as necessidades das classes abastadas concomitantemente ao adensamento populacional em outras áreas sem infraestrutura adequada para a população[...].”¹
A segregação do espaço, na criação de zonas, na especulação imobiliária em áreas
“nobres”, na verticalização como alternativa a ocupação do solo da cidade, no
adensamento populacional, na mudança da tipologia de habitação (horizontal >
vertical), que a metrópole foi delineada. O geógrafo Sérgio F. Jr, relata que:
“Com a crescente metropolização de Fortaleza, e os consequentes aumentos populacional (local e migrante) e produtivo, as áreas não urbanizadas ou pouco ocupadas são então incorporadas para a necessária expansão, revalorizando o capital nelas investido. Ou seja, este crescimento demográfico e espacial no município provoca a necessidade de novos terrenos e imóveis, cuja existência dependerá da incorporação (pelo capital) e sua posterior transformação formal e funcional: o loteamento e a construção; bem como a infraestrutura agregada.”²
Neste movimento de expansão da cidade, de espraiamento e verticalização, alguns
problemas são acobertados pelo aspecto de acabamento (de técnica - de coisa
acabada, em aproximação a processos fabris de construção, a partir da concepção de
projeto que visa um “sujeito médio” - recorrendo a relações antropométricas e
ergonômicas como fator de projeto) e por uma durabilidade do construído (da solidez
que ter uma casa própria proporciona, algo “imóvel”).
A construção civil, área que vem crescendo nos últimos anos, vem
modificando a paisagem das cidades na execução de “obras” e na criação de “obras
especiais de arte”. “Obra”, em engenharia, está ligada a realização de trabalho e/ou
ação, em execução de construção. O termo está relacionado, historicamente, a “obra
de arte” e, especificamente, “obra especial de arte”, que se refere ao trabalho
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o
realizado por artífices, na construção de equipamentos públicos que permitem
melhorias no fluxo de pessoas na cidade (pontes, viadutos, passarelas etc.), ou que
alteram fluxos (barragens, açudes, diques etc.), ou de estruturas de contenção (muros
de sustentação). Já em arte o termo “obra”, vem sendo progressivamente substituído
pelo termo “trabalho”, pela ligação que o vocábulo estabelecia anteriormente com
“obra-prima”, calcado na qualidade técnica e na relação aurática que o artista ou
artesão (filiado a um mestre) estava vinculado. Com a desmaterialização da obra, na
contemporaneidade, o corpo passa a estabelecer uma relação com o processo de
construção do trabalho, para além do trabalho tecnicamente acabado, como era visto
anteriormente, e “trabalho” volta a se ligar a “processo”, que se dá pelo esforço físico
e intelectual (artisticamente estabelecido, neste caso), na criação de algo, onde o
artista é o sujeito que produz para outro sujeito, ambos sujeitos incorporados.
Percebe-se uma articulação entre o vocábulo “obra”, embora que para fins diversos,
apontam para o “processo”. Em engenharia, as obras públicas e privadas, verticais ao
plano da cidade, alteram a percepção do tempo, pelo cortinamento da paisagem e
pela relação com as faixas de iluminação solar. No campo da visualidade o caráter
fenomenal, atrelado à percepção e a experiência, passa a dialogar com o espaço
construído diverso, em interação.
Os métodos construtivos utilizados, hoje, também seguem a lógica de
mercado. As estruturas de concreto armado são calculadas a partir de uma validade,
cinquenta a cem anos, após esse prazo as estruturas precisam ser testadas
periodicamente. A durabilidade do concreto também é alterada pelos fatores de
corrosão externos, que decorrem da “evolução” e crescimento da cidade (intempéries
e poluição atmosférica, por exemplo). As cidades que experimentam um crescimento
expresso, com uma rápida verticalização, na verdade, apresentam a possibilidade de
grandes colapsos. Se pensada por estes pontos, erigir cidades, por esses métodos, é
estabelecer um sistema de estruturas caóticas e autodegenerativas pela própria ação
de uso do solo urbano.
OBRA EM FORTALEZA surge dessa relação entre a cidade, a construção
(obra/processo) e os métodos construtivos (meios) a partir de uma análise do quão
caótico pode ser o crescimento de uma cidade, se forem incontingenciados aspectos
como crescimento e ocupação. O trabalho segue o curso dos processos de construção
pública e das pesquisas em arte. O trabalho proposto para o “Muros: Territórios
Compartilhados”, surgiu de um trabalho anterior, livro de artista, PROJETOS DE
ARQUITETURA, apresentado em maio de 2012 no SP ESTAMPA, onde investigava a
relação entre o trabalho gráfico, penetrabilidade e a relação com a escala humana. O
trabalho era constituído por uma série de vinte estampas de xilogravuras sobre papel
milimetrado, onde a imagem apresenta estruturas que não seguem a práxis de
“projeto”, de algo a ser construído, gerando uma tensão. A proposta, a partir deste
edital, é a execução de um dos projetos (imagens) em xilogravura de grandes
dimensões, realizada em módulos com a dimensão aproximada de 2,20m x 2,20m.
Os módulos serão construídos em chapas de compensado de pinus multilaminado
(1,10 x 2,20m cada chapa, material utilizado para tapume em obras), que será gravado
com a utilização de formões, goivas e serra tico-tico. As gravuras serão impressas com
tinta offset sobre papel em tiragem manual. A estampa será fixada sobre o muro com
uma mistura de cola PVA com água, a imagem será recortada de forma a não
estabelecer mais uma relação com o papel, mas com o novo suporte, o muro,
passando a integrar a paisagem do lugar proposto. Será estabelecido um evento, no
lugar proposto, a partir de uma performance, onde o artista, vestido como um
operário de construção (macacão, botas e capacete) isolará a área com cones e fita, e
iniciará a obra-trabalho no espaço escolhido.
O Estoril, construção de 1920, construído incialmente em taipa (técnica
vernácula de construção) e de múltiplos usos (de cassino, na década de 1920; espaço
de festas, durante a Segunda Guerra; espaço democrático de discussão, nos anos de
1950), hoje, após uma série de intervenções municipais, se tornou um espaço que foi
reconstruído seguindo as técnicas da alvenaria e do concreto, e mantem-se de pé
estabelecendo uma relação entre a memória do lugar e a preservação da paisagem
inicial. O trabalho proposto para o muro indicado ainda propõe a articulação da
durabilidade de uma estrutura gráfica sobre a ação marinha, nas mesmas condições
durante a estada do trabalho (um mês), com uma estrutura de concreto e alvenaria. O
muro tem, aproximadamente, 2,8 x 11,2 m, para o trabalho serão realizados 3
módulos construídos a partir de duas folhas de compensado (totalizando 2,20 x 2,20m)
com a imagem apresentada anteriormente, variando apenas pela rotação vertical, de
forma a integrar um conjunto.
ESPECIFICAÇÃO DO PONTO DE AÇÃO
Rua dos Tabajaras, 397, Praia de Iracema, Fortaleza/CE
(fonte: GoogleMaps)
Estoril
MURO
(parte detrás)
FACHADA
especificação do muro
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PROPOSIÇÃO = ESTAMPA + AÇÃO
PLANO DE CORTE DA CHAPA DE COMPENSADO (a ser gravada)
(2,20 X 2,20m, ao total)
apresentação esquemática do projeto
NOTAS:
¹ DIAS, Sharon D. de A. A Produção do Espaço Urbano e a Questão Habitacional em Fortaleza-CE: o caso
das comunidades Lagoa da Zeza e Vila Cazumba. In: ENCONTRO NACIONAL DE GEÓGRAFOS: crise, práxis
e autonomia – espaços de resistências e de esperanças. Anais... Porto Alegre, 2010.
²FUCK Jr., Sérgio Cesar França. Urbanização, Periferização, Especulação Fundiária e Imobiliária.
In:SEMINÁRIO DO MESTRADO ACADÊMICO EM GEOGRAFIA. Anais... Fortaleza, 2000.
lista dos materiais para execução do trabalho
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