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Anais do X Encontro de Geógrafos da América Latina – 20 a 26 de março de 2005 – Universidade de São Paulo
O TURISMO EM FOZ DO IGUAÇU NA VISÃO DOS ESTUDANTES: UM ESTUDO DE PERCEPÇÃO AMBIENTAL
Marta Bertin1
O presente texto trata da percepção do meio ambiente como subsídio de análise
para estudos pertinentes ao espaço geográfico, sob a ótica de adolescentes, faixa etária que
merece atenção de todas as áreas do conhecimento, entre elas, da ciência geográfica. Cada
indivíduo, com sua percepção, com sua subjetividade, cria a sua imagem de um
determinado ambiente, mas, se um grupo de pessoas observa o mesmo espaço/lugar,
apesar das individualidades existentes, haverá uma concordância em muitos dos aspectos,
pois somos membros de uma mesma espécie, e vemos os objetos e os atores
dinamizadores do nosso ambiente vivencial sob uma ótica humana.
As percepções dos seres humanos são influenciadas por variáveis socioambientais,
que englobam a cultura; o processo cognitivo e a escala de valores; as interações e
processos fisiológicos, mais especificamente os sentidos, e o ambiente físico e construído –
espaço/território. Desta forma, filtros culturais e individuais interferem em nossas
percepções diariamente. Neste sentido, a consciência individual de cada ser humano está
constantemente recebendo novas informações do ambiente, sejam elas positivas ou
negativas.
A Percepção do Meio Ambiente
A percepção do meio ambiente, no dizer da geógrafa Lívia de Oliveira2 ou percepção
ambiental3 para os demais pesquisadores, é um novo campo de investigação científica, que
a partir de 1970 passa a ter por interesse o estudo de como as pessoas percebem o seu
redor, o seu meio ambiente, passando este a ser vislumbrado por diversas ciências como:
Antropologia, Psicologia, Biologia, Ecologia, Arquitetura e Urbanismo, entre outras e, em
especial, pela ciência geográfica.
1 Faculdade União das Américas – Uniamérica martabertin@uniamerica.br 2 Geógrafa que, na década de 1970, introduziu e divulgou os estudos de percepção do ambiente no Brasil. A Psicologia adotada por ela, para fundamentar e definir a percepção foi a de Jean Piaget, por considerar a teoria cognitiva genética a mais abrangente e mais adequada aos estudos espaciais geográficos. A abordagem psicológica piagetiana foi adotada para explicar as noções de atividade perceptiva e conhecimento, Oliveira, 2001). 3 Pelo fato da percepção ambiental criticar as correntes neopositivista e neomarxista e, de preconizar a priorização das percepções, representações, atitudes e valores dos homens em geral, esses estudos foram incluídos em um grande movimento que recebeu, na década de setenta, o nome de “geografia humanística”.
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De acordo com OLIVEIRA (1983, p.1) “meio ambiente é tudo o que rodeia o Homem,
quer como indivíduo, quer como grupo, tanto o natural como o construído, englobando o
ecológico, o urbano, o rural, o social e mesmo o psicológico”. O meio ambiente é constituído
de elementos naturais, e construídos pelo homem e de relações entre eles, estabelecendo
entre os elementos um caráter de interação. Todas estas nuances do meio ambiente estão
ligadas à percepção que o indivíduo tem do mesmo, pois a primeira questão que se coloca é
a de como percebemos o mundo que nos rodeia.
A percepção do meio ambiente, que vem se destacando como uma das áreas que
oferece bons direcionamentos para, com maior consistência, se tentar aprofundar o
entendimento da interação que se processa entre os indivíduos e seu ambiente, se
fundamenta no entendimento de que a vivência dos seres humanos com seu meio está
instruída pela percepção.
A partir desta orientação, CAPEL (1973, p.80) comenta que: “ao se valorizar a
experiência e vivência humana, toda investigação sobre percepção ambiental ou do espaço
geográfico deve ter como ponto de partida concreto o meio real e os homens que nele
habitam, fontes dos fenômenos, e de onde se deve obter os dados a serem analisados”.
Por esta razão, a análise geográfica deve considerar a experiência humana, já que o
conhecimento se adquire pelas experiências temporais, espaciais e sociais das pessoas. A
este respeito NOGUEIRA (1994, p.63) comenta que: “A Geografia, assim, não deve
esquecer o conhecimento oriundo da experiência dos homens, pois cada um antes de se
fazer classe é um indivíduo, tendo uma história particular e real a ser observada”.
Nesse sentido, cabe frisar que os estudos em percepção do meio ambiente em nível
internacional desenvolveram-se a partir de 1971, com a criação do Grupo de Trabalho sobre
a Percepção do Meio Ambiente, pela União Geográfica Internacional (UGI) e por meio do
programa MAB (Man and Biosphere), lançados pela UNESCO. Esse último abrange
diferentes áreas de concentrações temáticas, entre elas o Projeto MAB-13, que trata da
percepção da qualidade ambiental. Um grande avanço tem início com este projeto - a
inclusão do homem na biosfera, tomando em consideração a parcela do imponderável que
existe na mente humana.
O grupo da UGI previa uma série de estudos internacionais comparativos sobre os
riscos do meio ambiente e os lugares e paisagens valorizadas. Assim, o que está em
questão, segundo AMORIM FILHO (1999, p.141): “são os sentimentos de indiferença, de
afeição ou de aversão do homem pelos lugares com os quais tem alguma forma de contato.
Sentimentos e valores que, seguramente, têm um papel importante na formação de juízos
de valor, de atitudes e, em última análise, de ações sobre esses lugares e paisagens”.
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As pesquisas iniciadas nessa década apresentavam e ainda apresentam um amplo
leque de interesses de estudos em relação ao meio ambiente, mas conforme ressalta
OLIVEIRA (2001, p.14): a preocupação precípua não era com o porquê, mas com o como
(...). Embora a questão básica da percepção do meio ambiente seja a tentativa contínua de
compreender e explicar as complexas inter-relações entre Homem e a biosfera, sempre
permanece a questão de como um grupo cultural percebe, quer como indivíduo quer como
grupo, o seu meio ambiente.
Portanto, na maioria das vezes, predominam as respostas subjetivas, com base em
interesses e necessidades mais imediatas, mais prementes, mais prioritárias.
Ênfases foram e ainda são dadas às pesquisas realizadas por autores sobre: riscos
ambientais (pragas e praguicidas), paisagem valorizada, qualidade de vida, percepção
urbana, responsabilidade de planejadores, legisladores e administradores (ambientais). Da
mesma forma, temas candentes não foram deixados de lado como: espaço e lugar,
topofilia/topofobia/topocídio, educação ambiental e percepção geográfica do turismo, tão em
moda e tão necessária, (OLIVEIRA, 2001, p.18).
Ao longo da história da ciência geográfica, as interações do homem com o ambiente
sempre interessaram aos geógrafos. Independentemente do nível de desenvolvimento de
cada sociedade, as interações são sempre de caráter íntimo e permanente, mas podem ser
mais ou menos intensas dependendo da tradição cultural, que desempenha importante
papel na determinação do comportamento das pessoas em relação ao seu ambiente.
Apesar de contínuas durante toda a vida, as relações variam através do tempo e entre
regiões e culturas.
Para RABUSKE (1999, p.67, p.83): “o homem é um ser, cujo comportamento é
organizado pela sua cultura (...). Contudo, a nossa cultura está em crise e como sintomas
podemos apontar: a insatisfação psicológica, a criminalidade, o consumo de álcool e de
drogas, as tensões sociais, o desnível econômico norte-sul, o perigo duma guerra atômica.
(...) parece que a nossa cultura atravessa uma crise; um período especialmente difícil e que
impõe uma mudança de mentalidade”.
A este respeito, MACHADO (1988, p.2) assegura que “cada ser humano é único,
sem precedente e não repetível e por isso cada pessoa percebe, sente e compreende
diferentemente o mesmo meio ambiente”. Para a referida autora, esta variabilidade humana
implica uma variedade de experiências que reforçam a “necessidade de um estudo maior do
homem e do seu meio ambiente na sua forma mais fundamental: na interação de ambos”.
Nesta interação há “uma contínua permuta e influência mútua entre o mundo exterior e o
mundo interior (...) sempre interligados no funcionamento de um organismo humano; eles
interagem e evoluem juntos”.
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A autora (1998, p.1) chama a atenção para o fato de que: “a percepção tornou-se
uma palavra-chave no estudo da interação homem-meio ambiente, pois do contato direto,
contínuo e prolongado com um território desenvolve percepções individuais que se
transformam em determinantes valiosos na avaliação ambiental”.
A interação entre homem e meio acontece por meio dos sentidos que levam às
sensações e, em conseqüência, à percepção. Na maior parte das vezes, utilizam-se os
sentidos para entrar em contato com o meio físico: eles reforçam mútua e constantemente,
com a contribuição da inteligência, e assim se equilibra o processo mental realizando num
determinado momento e lugar. Assim, os sentidos são como as antenas para a captação do
mundo exterior e colhem não só do meio, mas também do íntimo do indivíduo. Sem a
percepção, os seres humanos estariam ligados ao ambiente apenas fisicamente.
Contribuições são expostas por RABUSKE (1999, p.72-73) ao elucidar que: “no
nosso conhecimento, colaboram percepções sensoriais. Recolhemos impressões sensíveis.
Com isto o mundo exterior não apenas age sobre nós, mas penetra na luz da consciência.
(...) No homem o conhecimento sensível sempre é atravessado, assumido e elaborado pelo
conhecimento intelectivo, que perfaz o conhecimento propriamente humano”.
Para TELES (1993, p.148-149) perceber é conhecer, através dos sentidos, objetos e
situações; é organizar interiormente os elementos levados pelos sentidos a partir do mundo
exterior. Mas segundo o referido autor, “cada homem vive mais em função de seu mundo
interior, do que em função da realidade objetiva. Muitas vezes o que uma pessoa sente,
pensa e imagina, depende mais de sua experiência interior do que dos fatos e
acontecimentos objetivos”.
Significa dizer que as pessoas percebem de acordo com sua ótica individual, isto é,
percebem de acordo com sua personalidade, refletindo sempre sua natureza, seus anseios,
experiências e desejos. Novamente, levando-se em conta as considerações de MACHADO
(1988, p.32), a autora alerta que as experiências incluem “tanto as positivas e agradáveis de
paisagens e lugares, como experiências repulsivas, negativas e desagradáveis”.
As informações que recebemos do ambiente podem ser inspiradas, determinadas e
alteradas pelo sentimento, e isto explica: “porque raramente diferenciamos entre pessoas,
lugares, paisagens ou coisas, até que tenhamos um interesse pessoal sobre eles (...).
Vemos, ouvimos, sentimos, tocamos tudo aquilo que estimula nossos sentimentos, mas
percebemos somente o que nossa mente seleciona através da atribuição de significados. A
percepção é, então, altamente seletiva, exploratória, antecipadora, MACHADO (1988, p. 39,
p. 44).
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Um outro aspecto que nos últimos anos está sendo considerado e discutido nos
estudos envolvendo a percepção é o da cognição ambiental. A este respeito, CASTELLO
(1999, p.154) contribui dizendo que: “as pessoas não ficam restritas a uma percepção
unicamente sensorial. Passam a processar em suas mentes aquilo que é percebido através
de suas sensações e progressivamente passam a adquirir uma compreensão sobre o
ambiente que as cerca, encaminhando-se então o registro de suas percepções para o nível
cognitivo, para a inteligência. Pode-se, mesmo, falar em uma cognição ambiental”.
Para MACHADO (1998, p.2), “a cognição é o processo mental mediante o qual, a
partir do interesse e da necessidade, estruturamos e organizamos nossa interface com a
realidade e o mundo, selecionando as informações percebidas, armazenando-as e
conferindo-lhes significado”.
Para MACHADO (1998, p. 3) e para SOUZA (1998, p.17) o processo de cognição
ambiental, compreende: a percepção direta (imediata e multisensorial) na qual o indivíduo
obtém informações presentes no ambiente, de forma seletiva; a construção de uma
representação mental4 específica e momentânea do ambiente, através do processamento
cognitivo interno; a avaliação ambiental, em que o indivíduo avalia e descreve as qualidades
do ambiente; e a geração de condutas e ações ambientais”, etapas finais5 do processo.
PERCEPÇÃO DIRETA
PROCESSAMENTO COGNITIVO
AVALIAÇÃO AMBIENTAL GERAÇÃO DE
CONDUTA AMBIENTAL Atitudes &
Expectativas
AÇÃO AMBIENTAL
Quadro 1 – O Processo de Cognição Ambiental
FONTE: Processo de cognição ambiental proposto por SOUZA, C.de, organizado por
BERTIN, M.
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4 Tal informação carrega as informações recebidas, e selecionadas, na etapa anterior, assim como informações prévias inerentes àquele indivíduo (aqui há a presença de ‘filtros’ culturais, sociais e individuais que influenciarão a representação final). 5 O indivíduo, após perceber o ambiente, processa as informações recebidas com aquelas que lhe são internas, forma sua representação e avalia-a de acordo com seus valores e expectativas, determinando diretrizes para o seu comportamento ambiental, (op, cit, p. 18).
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A experiência vivida – a vivência – torna-se a base para a compreensão da
percepção das pessoas com o seu ambiente, seja ele urbano ou não urbanizado, pois
exercitam um reconhecimento das condições ambientais por meio de seus processos
cognitivos, como nos é elucidado por Vicente Del Rio.
Os indivíduos experimentam sensações que lhes são transmitidas através dos
estímulos sensoriais, contudo, não as restringem a uma percepção unicamente sensorial,
passam sim a processar em suas mentes aquilo que é percebido, e progressivamente
passam a adquirir uma compreensão sobre o meio que os cerca, encaminhando então o
registro de suas percepções para o nível cognitivo, para a inteligência.
Assim, DEL RIO (1999, p.3) enfatiza que:
A percepção é como um processo mental de interação do indivíduo
com o meio ambiente que se dá através de mecanismos perceptivos
propriamente ditos e, principalmente, cognitivos. Os perceptivos são
captados por meio dos sentidos, destacando-se a acuidade visual.
Os cognitivos compreendem a contribuição da inteligência, uma vez
que a mente não funciona apenas a partir dos sentidos e nem
recebe essas sensações passivamente, mas sim inseridas de
motivações, humores, necessidades, conhecimentos prévios,
valores, julgamentos e expectativas.
Conceitualmente, percepção e cognição são variáveis chaves para os geógrafos
interessados nos estudos da percepção ambiental ou do meio ambiente, correspondendo,
ambas, a importantes processos mentais, através dos quais o indivíduo sente, percebe,
interpreta e toma decisões acerca de seus sentimentos.
Percepção e cognição são termos usados com diferentes conotações no decorrer da
história. Pela necessidade de rigor metodológico e para fins de comparação, GOLD (1980,
p.63) argumenta que:
Cognição é o processo psicológico por meio do qual o ser humano
obtém, armazena, usa e opera informações. Inclui sentimento,
percepção, memória, julgamento, decisão, ajustamentos e muitos
outros processos mentais relacionados à experiência e ao
comportamento. Percepção, como termo mais específico, é a função
psicológica que habilita o indivíduo a transformar o estímulo sensor
em experiências coerentes e organizadas.
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Numa sociedade heterogênea como a que vivemos, as pessoas participam de
diferentes grupos que, apesar de se inter-relacionarem, nem sempre têm os mesmos
interesses e as mesmas idéias, uma vez que cada grupo social procura alcançar objetivos
específicos.
Vale salientar que a percepção está condicionada não apenas por fatores como a
memória, experiência pessoal, aprendizado, cultura, sentidos, sistemas simbólicos, como
também pelas expectativas e aspirações, pelas informações e pelos estímulos atuais
gerados pelo contexto social mais abrangente.
É exatamente por isso que a análise da percepção, como forma de se conhecer o
meio ambiente, se torna importante, pois com a introdução de variáveis culturais e pessoais
é que se modificam as noções de meio ambiente único, com características próprias. No
momento em que considerarmos a individualidade do espaço de cada pessoa e
acrescentarmos a ele a percepção da sociedade, conseguir-se-á introduzir uma nova e
importante noção no contexto do planejamento.
Há várias formas de se investigar como as pessoas percebem o ambiente com o
qual interagem, seja através de informações verbais ou não-verbais, ou de sistemas
simbólicos, isto é, de convenções ou rituais que adotam em sua prática social, ou ainda,
através dos seus sentidos. Enfim, é preciso investigar o modo pelo qual as pessoas
percebem o espaço ou o meio ambiente em que vivem em relação a si próprias.
Além das variáveis que atuam no processo de percepção, torna-se relevante
conhecer a imagem formada pelos elementos espaciais memorizados e simbólicos. Como já
fora mencionado, a percepção é um dos mecanismos mais importantes na relação do
homem com o seu ambiente, pois é inegável que exista diferença entre uma cena descrita e
uma cena experimentada/vivida. Ou seja, as percepções vão muito além da simples
compreensão dos esquemas mecânicos de comportamentos existentes.
Neste sentido, CHAUI (2000, p.123) comenta que: “a percepção envolve a nossa
vida social, isto é, os significados e os valores das coisas percebidas decorrem de nossa
sociedade e do modo como nela as coisas e as pessoas recebem sentido, valor ou função”.
Domínios da Imagem: Representação Visual e Mental
O mundo das imagens apresenta-se em dois domínios: imagens como
representações visuais e imagens de nossa mente. Para SANTAELLA; NÖTH (2001, p.15):
“o primeiro domínio refere-se aos desenhos, pinturas, gravuras, fotografias e as imagens
cinematográficas e televisivas. Imagens são consideradas como objetos materiais, signos
que representam o nosso meio ambiente visual. O segundo é visto como imaterial, as
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imagens aparecem como visões, fantasias, imaginações, esquemas, modelos ou, em geral,
como representações mentais”.
Tanto o primeiro como o segundo não existem separados, pois estão
inextricavelmente ligados já na sua gênese. Na realidade não há imagens como
representações visuais que não tenham surgido de imagens mentais na mente daqueles
que as produziram, do mesmo modo que não há imagens mentais que não tenham alguma
origem no mundo concreto dos objetos visuais.
O que irá unir esses dois domínios são os conceitos de signo e de representação.
Em suas definições é que reencontramos os dois domínios da imagem: o seu lado
perceptível e o seu lado mental, unificados estes em um terceiro, que é o ‘signo ou
representação’, (Id., 2001).
As representações pautadas de caráter social, estabelecidas por Serge Moscovici,
equivalem a um conjunto de princípios construídos interativamente e compartilhados por
diferentes grupos, que através delas compreendem e transformam a realidade, REIGOTA
(2001, p.68).
Ao apresentar novas possibilidades, a representação social centra seu olhar na
tentativa de recuperar um sujeito que, através de sua atividade e relação com o objeto-
mundo, constrói tanto o mundo como a si próprio. Inseridas neste contexto estão as
dimensões cognitiva, afetiva e social, as quais encontram sua base na realidade social, com
a qual nos deparamos, GUARESCHI; JOVCHELOVITCH (1995, p.20).
Já no que concerne à representação geográfica, essa se fundamenta na relação do
espaço social (real) com o imaginário e com as suas simbologias. Essas representações
existem em função da dinâmica constante da realidade.
Com base nas considerações acima, concebe-se o espaço enquanto lugar de
referência, de produção, de desenvolvimento da vida cotidiana. Uma fonte de imagens que,
além de expressar a sociedade, é referência na construção de linguagens, de significados,
de idéias, de pensamentos e de ações.
Sendo o espaço geográfico o lugar apropriado pela sociedade – espaço para
obtenção de recursos, de vida – é, conseqüentemente, lugar de conflitos, lutas, disputas e
conquistas, PINHEIRO (2000, p.64). A sociedade, na relação com o espaço geográfico,
construído/desconstruido, expressa significados e assimila mudanças a cada instante.
A possibilidade de transformação do espaço pelos grupos sociais está condicionada
pelo contexto espacial dado, vivido, concebido e construído, que forma a consciência do
mundo nos sujeitos sociais.
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Em nosso dia-a-dia, encontramos inúmeras formas de produção de imagens. Como
um forte exemplo a ser citado tem-se a televisão, veículo propulsor de imagens e idéias.
“Nossa experiência e nossos ‘eus’ são socialmente construídos e são sobredeterminados
por uma gama variada de imagens, discursos e códigos, o que torna importante aprender a
interpretar essas imagens, analisando tanto a forma como elas são construídas e operam
em nossas vidas, quanto o conteúdo que elas comunicam em situações concretas”
(KELLNER, 1995, p.107).
O estoque de imagens armazenadas que circula é intenso, seja veiculado pela
televisão, nas ruas, ou já interiorizado pelas pessoas. Essa somatória de imagens produz
nas pessoas a visão que estas têm da realidade.
Assim, CAPEL, citado por NOGUEIRA (1994, p.64), faz sua argumentação
enfatizando que: “imagem é o resultado de informações recebidas individualmente para
cada indivíduo, de informações indiretas mais ou menos confiáveis de dados e de sistemas
de valores por meio cultural ou manipulado pelos meios de massa”.
Ao estabelecer-se uma relação entre os adolescentes das duas últimas décadas,
percebe-se que esses foram desafiados a entrarem na vida adulta preparados para produzir
e consumir. Os ritos de passagem envolvem basicamente o crescer sob a influência de
informações desconexas e fragmentadas dos meios de comunicação, com grande apelo à
aquisição de bens materiais.
É importante ressaltar que esses adolescentes foram as crianças que cresceram
assistindo à televisão e não poderia ser diferente que viessem a possuir uma subjetividade
de massa. A subjetividade está marcada pelo simbolismo dos meios de comunicação de
massa, em que se lida mais com os signos, as imagens, do que com as coisas. Há uma
preferência da imagem ao real, pois tais meios de comunicação fabricam um hiper-real mais
atraente que a realidade cotidiana “desinteressante”.
Diante deste enfoque, surge a necessidade de compreender como se realiza o
processo de elaboração da imagem mental, apresentado por LE SANN (1992, p.44) no
Quadro 2.
Quadro 2 - Processo de Formação da Imagem Mental
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Anais do X Encontro de Geógrafos da América Latina – 20 a 26 de março de 2005 – Universidade de São Paulo
FONTE: Baseado em LE SANN, J.G, e organizado por BERTIN, M.
Espaço real percebido Percepção (tato, visão, olfato, audição).
Gravação FILTROS( afetividade, vivência, capacidade de observação).
Imagem Mental memorizada Imagem Mental selecionada Solicitação FILTRO (nível de compreensão do pedido). Imagem Mental ativada (evocação) FILTROS (nível de linguagem, qualidade gráfica, capacidade psicomotora).
Espaço real apresentado Representação (oral, pictorial, corporal), (fala, desenho, movimento).
Comunicação
Na formação de uma imagem mental, o sujeito percebe os elementos do espaço por
meio de seus sentidos e fixa essa percepção numa imagem mental, oriunda de fatores que
lhe são próprios, tais como seus laços afetivos com relação ao objetivo real apresentado,
sua vivência e sua capacidade de observação. Assim, diversos sujeitos, frente ao mesmo
objeto real apresentado, produzirão imagens mentais diferentes, que serão armazenadas e
gravadas (LE SANN, 1992, p.43).
Face a um estímulo externo ou interno, o sujeito seleciona na memória a imagem
mental correspondente ao seu entendimento, o que resulta em um nível de compreensão
que constitui um tipo de filtro. A autora acima citada ainda esclarece que a imagem ativada
corresponde à evocação (base da comunicação).
Concernente à comunicação externa da evocação, ela se apresenta de diversas
maneiras. É importante ressaltar que, independentemente do modo de comunicação
escolhido, a representação da imagem mental ativada corresponde ao objeto real percebido.
Possivelmente, o nível de linguagem do sujeito, a qualidade gráfica de seus desenhos e sua
capacidade psicomotora constituem filtros entre sua evocação e sua representação.
Ressalvas quanto à formação da imagem são referenciadas a ZAMORANO et al
(1982, p.123) ao argumentar que:
O processo realidade-imagem é, por si, muito complexo, se
considerar que nem todos os homens que vivem num mesmo meio
possuem características iguais: os sentidos, a memória, a
sensibilidade, podem ter grau de desenvolvimento diferente; da
mesma maneira, as condições socioeconômicas e os valores
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culturais são paisagens que são traduzidas em certo
comportamento.
O estudo da percepção humana faz-se necessário nas investigações geográficas,
sobretudo para entender as relações entre o homem e o meio ambiente. É pela percepção
que o ser humano forma em sua mente uma imagem real do meio, e é justamente esta
imagem que vai influenciar em suas decisões e em seu comportamento.
Assim, “se a Geografia é uma das ciências sociais que tem o homem como sujeito de
suas reflexões, não pode deixar de vê-lo como indivíduo que constrói sua própria imagem
das coisas em função de suas percepções”, NOGUEIRA (1994, p.63-64).
Ainda, conforme a autora, “essas imagens, os homens constroem pouco a pouco, e
sua visão do mundo, seus valores, vão formando-se a partir delas, o que o homem sabe do
espaço é adquirido a partir do que ele vê e percebe”.
A percepção que os seres humanos têm do meio ambiente encontra-se impregnada,
pois, das lembranças carregadas na memória e que fazem parte do seu imaginário. Mas,
mesmo os aspectos que não lembramos deixam suas marcas em nossas imagens mentais,
já que a memória não necessita ser consciente para influenciá-las, LOWENTHAL (1982,
p.140).
Essas imagens mentais vinculam a idéia de imagens subjetivas de um indivíduo a
determinadas áreas geográficas. Contudo, essa imagem, ao focalizar essencialmente a
preferência por lugares, é tida como mapa mental (BUNTING; GUELKE, 1979, p. 438). À
medida que as pessoas se locomovem pelo espaço, vão criando, através de processos
perceptivos, seus mapas mentais.
Os mapas mentais traduzem também uma atitude frente aos espaços onde os
indivíduos se movem, influenciados por sentimentos, mitos, emoções e principalmente
valores. Permitem a identificação do que significa o lugar, de como se estabelecem códigos
de orientação, propiciando ao investigador descobrir o que há, como chegar e, o que é mais
importante, se a pessoa está onde desejaria estar.
Normalmente, os mapas mentais são construídos pelas pessoas desde a infância,
tendo como ponto de referência o local onde vivem. Assim, em um primeiro momento, seus
mapas resultam do tipo de socialização e dos padrões culturais que lhe são inculcados, de
tal forma que venham a entender o significado dos diversos lugares que compõem seus
espaços e como podem se locomover para alcançá-los.
À medida que as pessoas se locomovem por diferentes locais, vão criando novos
mapas mentais em conformidade com o seu grupo e com a significação que esses mapas
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podem ter para elas. Obviamente, tais mapas também são afetados pelas sensações e
experiências agradáveis ou desagradáveis que os lugares propiciam às pessoas que os
idealizam.
Em síntese, os mapas mentais são formados pelos elementos físicos pertencentes
ao contexto sociocultural de cada pessoa, e se impõem como os mais característicos da
paisagem rural ou urbana. Assim, o processo de conhecimento de um espaço é, em parte,
influenciado pela experiência de cada um.
Percepção de Adolescentes quanto ao Espaço e o Mundo Vivido
A fim de melhor conhecer o adolescente, optou-se pela teoria cognitivista de Jean
Piaget (1896-1980). Considerando que o desenvolvimento é um processo contínuo que tem
início desde o nascimento (também antes dele), e que as conquistas de cada etapa são
essenciais ao desenvolvimento das etapas subseqüentes, considerou-se importante analisar
os aspectos principais do desenvolvimento do pensamento, afetividade e a dimensão social,
desde o nascimento, podendo assim acompanhar a construção do homem, segundo Piaget.
A história do desenvolvimento da criança é uma evolução através de uma série de
estágios, começando no nascimento com respostas sensoriomotoras simples, congênitas, e
culminando na adolescência, num modo de funcionamento maduro, no qual a memória de
atividades dominadas anteriormente orienta agora as tentativas atuais do sujeito, para
alcançar seus objetivos e solucionar problemas.
Piaget caracterizou o desenvolvimento por progressões que culminaram na
capacidade de ‘operações formais’, que ele considerou típica do pensamento do
adolescente e do adulto.
Existem, portanto, dentro do desenvolvimento da criança e do adolescente, seis
estágios ou períodos propostos por PIAGET (2001, p.15):
... o estágio dos reflexos, ou mecanismos hereditários, assim como
também das primeiras tendências instintivas (nutrições) e das
primeiras emoções; o estágio dos primeiros hábitos motores e das
primeiras percepções organizadas, como também dos primeiros
sentimentos diferenciados; o estágio da inteligência senso-motora
ou prática (anterior à linguagem), das relações afetivas elementares
e das primeiras fixações exteriores da afetividade. Estes três
primeiros estágios constituem o período da lactância (até por volta
de um ano e meio a dois anos, isto é, anterior ao desenvolvimento
da linguagem e do pensamento). O quarto estágio da inteligência
intuitiva, dos sentimentos interindividuais espontâneos e das
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relações sociais de submissão ao adulto (de dois a sete anos, ou
segunda parte da ‘primeira infância’). O quinto estágio das
operações intelectuais concretas (começo da lógica) e dos
sentimentos morais e sociais de cooperação (de sete a onze-doze
anos). O sexto estágio das operações intelectuais abstratas, da
formação da personalidade e da inserção afetiva e intelectual na
sociedade dos adultos (adolescência).
O último estágio - o das operações formais - permite ao adolescente alcançar seu
nível mais elevado de desenvolvimento cognitivo, quando estarão habilitados a refletir
acerca de proposições, e sobre seus resultados, devido à possibilidade de aplicar raciocínio
lógico a todas as classes de problemas.
O adolescente, com as operações formais completamente desenvolvidas, tem o
equipamento estrutural cognitivo para pensar ‘tão bem quanto’ os adultos, mas não se pode
afirmar que esta condição ‘seja tão boa’ quanto a do pensamento do adulto (VALENCIANO,
2001, p.29).
Graças à sua personalidade em formação, o adolescente coloca-se em igualdade
com seus mais velhos, mas sente-se outro, diferente deles, pela vida nova que o agita.
Porém, a adaptação à sociedade dar-se-á fazer quando o adolescente, de reformador,
transformar-se em realizador.
“A fase da adolescência representa um período de luta, de aprimoramento não só
físico como psicológico” (MIELNIK, 1984, p.14). Durante a adolescência, expande-se
consideravelmente o acervo cultural do indivíduo, quer pela aquisição de conhecimentos e
experiências escolares, quer devido ao acesso a materiais adultos de informação e
distração. Livros, revistas, cinema, televisão, internet, atuam, sem dúvida, desde muito cedo,
nas vidas de muitas crianças, mas é na adolescência que a compreensão mais profunda do
seu conteúdo e a percepção de suas qualidades formais se desenvolvem plenamente.
“Os adolescentes, em seus raciocínios, não se prendem mais unicamente a dados
brutos, já são capazes de manipular enunciados e suposições” (OLIVEIRA; MACHADO,
1975, p.35). É uma fase de aproximação do indivíduo com o objetivo primordial da vida
humana - a integração social no grupo.
O pensamento formal permite o enriquecimento das capacidades mentais de
generalização, de abrangência de idéias. Essa capacidade de abstração que possibilita a
reflexão e a generalização a partir de hipóteses é o que leva ao questionamento, à
contestação e à rebeldia frente à autoridade, outra característica dos adolescentes. Por isso
é que questionam a sociedade, a religião, a política, a escola e a família.
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Anais do X Encontro de Geógrafos da América Latina – 20 a 26 de março de 2005 – Universidade de São Paulo
O adolescente raciocina com abstrações que simbolizam não apenas quantidades,
mas também qualidades; é capaz de situar-se no tempo, de adquirir a idéia do passado
histórico e principalmente de antecipar o futuro através de expectativas e projetos.
“Pretende inserir-se na sociedade dos adultos por meio de projetos, de programas
de vida, de sistemas muitas vezes teóricos, de planos de reformas políticas ou sociais”
(PIAGET, 2001, p. 63). Estes projetos de vida são ricos em detalhes e muito abrangentes,
pois o indivíduo percebe uma vida inteira pela frente, dispondo dela conforme seus desejos
e sonhos.
Ao abordar a questão da afetividade, Piaget reconheceu a importância dos
aspectos afetivos e diz que “existe um paralelo constante entre a vida afetiva e a intelectual
e esse paralelismo se seguirá no curso de todo o desenvolvimento, da infância à
adolescência” (Ibid., p.22).
A adolescência tem seus poderes redobrados e os mesmos perturbam tanto a
questão afetiva, quanto a questão do pensamento, porém, posteriormente, os fortalecem. O
autor complementa dizendo que a afetividade e a inteligência são indissociáveis e
constituem os dois aspectos complementares da conduta humana.
É importante ressaltar que são comuns as oscilações de sentimentos e de
comportamentos entre os adolescentes. Complementando este pensamento, VALENCIANO
(2001, p.40) afirma que:
Ao mesmo tempo em que aparentam superioridade frente aos
adultos, mostrando-se agressivos, insolentes, etc., revelam-se
carentes, com medo, evidenciando a dificuldade que têm em lidar
com a grande ebulição interna que estão vivenciando. (...) fase em
que tudo se transforma com muita rapidez, gerando emoções
contraditórias, os adolescentes mudam com facilidade, passando de
um estado imediato e infeliz para outro repleto de euforia e crédito
em suas potencialidades.
O estudo da adolescência é uma conquista das ciências contemporâneas, visando
compreender esse processo de passagem e a possibilidade de interação entre as gerações.
O papel do adolescente, numa sociedade em constante processo de
transformação, vem sendo abordado por educadores e outros especialistas interessados em
analisar essa etapa da vida, em que perdemos a inocência e forjamos boa parte da
estrutura, para enfrentar os desafios do mundo adulto.
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Anais do X Encontro de Geógrafos da América Latina – 20 a 26 de março de 2005 – Universidade de São Paulo
Neste sentido, a necessidade por estudos que abrangessem a compreensão dos
lugares e/ou espaços vividos por crianças e adolescentes pertenceram às novas
perspectivas de investigação e de relações com as demais ciências, entre elas a Psicologia,
no bojo do processo de renovação pelo qual a ciência geográfica passou em meados de
1950 a 1970, tornando-se na atualidade oportuno investigar a percepção de adolescentes a
respeito da influência do “turismo” em Foz do Iguaçu, município essencialmente voltado a
esta atividade econômica.
Metodologia
Como instrumento de investigação para a pesquisa, em um primeiro momento foi
entregue aos estudantes um questionário contendo quatro variáveis de investigação quanto
ao perfil do adolescente (idade, sexo, local de moradia e tempo de moradia) e três
perguntas que serviram como subsídio para averiguar o nível de compreensão dos
estudantes quanto ao turismo, entre elas: O que você entende por turismo?; Qual a
importância do turismo para você? e Quais impactos o turismo reflete em Foz do Iguaçu6?
Por meio dos conceitos podemos compreender de maneira mais adequada as
percepções, as subjetividades dos indivíduos diante do seu ambiente, e assim dizendo, do
seu espaço vivido.
Num segundo momento, passou-se para as representações correspondentes aos
“mapas mentais”. Solicitou-se aos estudantes que fizessem um desenho, representassem
graficamente o município, de acordo com a pergunta que segue: Como você representaria
graficamente Foz do Iguaçu?
Destaca-se a priorização do caráter qualitativo para a análise perceptiva das
representações, evidenciadas com alguns exemplos de elementos, pois o interesse maior é
a qualidade e o conteúdo, em detrimento da representatividade estatística.
No que diz respeito a metodologias quanto ao uso de mapas mentais, recorreu-se à
observação, inicialmente, mesmo por apresentar-se em número reduzido, de alguns autores
que utilizaram este recurso, entre os quais destacam-se CAPEL (1973), GOULD e WHITE
(1974), NOGUEIRA (1994, 2001) e KOZEL TEIXEIRA (2001). De valiosa importância, seus
métodos propiciaram um arcabouço maior para compreensão quanto à aplicação e
interpretação das representações gráficas – os mapas mentais.
6 Esta última pergunta teve como intenção diagnosticar efeitos positivos e/ou negativos
relacionados ao turismo.
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Anais do X Encontro de Geógrafos da América Latina – 20 a 26 de março de 2005 – Universidade de São Paulo
Diante das inquietações expostas e, com o intuito de atingir os objetivos propostos
na presente pesquisa, optou-se pela metodologia proposta por KOZEL TEIXEIRA (2001),
que enfatiza os mapas mentais como representação do vivido.
A interpretação e análise das representações correspondentes aos mapas mentais
foram organizadas conforme as seguintes tipologias:
- Interpretação quanto a forma de representação dos elementos na imagem: Ícones
ou formas de representação gráfica através de desenhos; Letras, ou seja, palavras
complementando as representações gráficas.
- Interpretação quanto a distribuição dos elementos da imagem: Representação da
imagem em perspectiva; Representação da imagem em forma circular; Representação da
imagem em forma de quadros; Representação da imagem de maneira dispersa;
Representação de imagens isoladas.
- Interpretação quanto a especificação dos ícones: Representando elementos da
paisagem natural: os ícones inerentes aos elementos naturais existentes no ambiente como
rios, sol, nuvens, árvores, jardins, arco-íris e flores; Representando elementos da paisagem
construída: relaciona-se ao tecido urbano construído pelo homem, evidenciando as
representações através de prédios, casas, praças, banco de praças, parques, pontes,
mirante, equipamentos industriais, equipamentos comerciais (hotéis, lojas), equipamentos
de transporte (estradas, terminal de ônibus); Representação de elementos móveis:
destacam-se os meios de transporte como carros, ônibus, caminhão, barco, helicóptero;
Representação de elementos humanos: personagens distintos como crianças nos parques,
assaltantes, mendigos, turistas, geralmente relacionados a abordagens sociais.
- Apresentação de outros aspectos ou particularidades: Símbolos turísticos;
Contrastes urbanos; Coleta de lixo; Presença de animais; Aspectos sociais.
Análise e Alguns Resultados
O universo de análise é composto pelos cento e vinte (120) adolescentes, 63 do
sexo feminino e 57 do sexo masculino, das instituições públicas e particulares, escolhidos
aleatoriamente, seguindo-se o perfil das variáveis: idade, sexo, local de moradia e tempo de
moradia em Foz do Iguaçu, que como de praxe, serviram para caracterizar os indivíduos da
pesquisa.
De acordo com os dados obtidos nos inquéritos e por compreender uma amostra de
estudantes de 7ª série, com idades variando entre 12, 13 e 14 anos, aqueles com idade
igual a 13 anos somaram 96 casos (80%). Desta somatória, 50 indivíduos são do sexo
feminino, compreendendo 26 de instituições públicas e 24 das particulares; 46 do sexo
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masculino, sendo 15 e 31 indivíduos de escolas públicas e particulares, respectivamente, o
que demonstra nestes casos a regularidade dos adolescentes em relação à série
freqüentada.
Quanto a procedência dos estudantes, diagnosticou-se que das doze (12) regiões
classificadas de acordo com a Prefeitura Municipal de Foz do Iguaçu, onze (11) foram
mencionadas, ficando de fora apenas a região rural do município (R12), tornando-se
enriquecedor à análise das representações gráficas, e que reflete um pouco a realidade
socioeconômica destes estudantes.
Referindo-se ao tempo de moradia dos estudantes, 54,16% sempre residiram no
município, sendo 45,83% com treze (13) anos e 8,33% com quatorze (14) anos. Mesmo que
estes adolescentes não tenham, em intensidade, as mesmas capacidades críticas dos
adultos, por sempre pertencerem à cidade, estão sujeitos a visualizarem e a apreenderem
situações do dia-a-dia.
Dando prosseguimento, no que se refere ao “universo de análise”, passamos à
análise e interpretação dos três questionamentos a respeito do entendimento, da
importância e dos possíveis impactos originários do turismo, na percepção dos
adolescentes.
Ao observarmos como os adolescentes de ambos os sexos conceituam o turismo,
tanto os das instituições públicas como das particulares, detectou-se unanimidade em ao
ressaltar em que entendem o turismo como a oportunidade de conhecer os lugares,
culturas, belezas, e passear.
Ainda a este respeito, torna-se oportuno enfatizar que, em se tratando das questões
relacionadas ao fenômeno, há uma valiosa participação dos cursos de turismo existentes
em duas instituições particulares e em uma estadual, em trabalhos e pesquisas nas escolas.
A presença de uma biblioteca especializada em turismo transformou-se em um referencial
para os alunos, não só do nível superior mas também do ensino médio e fundamental.
Diante da importância do turismo para os adolescentes, verificou-se que na opinião
feminina há equilíbrio nas respostas. Entre as estudantes das instituições públicas, 66%
enfatizaram que através do turismo pode-se conhecer melhor as cidades, contra 43% das
instituições particulares. O inverso de opiniões ocorreu quando as mesmas referiram-se ao
turismo como incentivo e crescimento para a cidade, com 43% e 54%, respectivamente. Em
relação à importância do turismo dada pelos estudantes do sexo masculino, o incentivo e o
crescimento para a cidade foi o que recebeu maior indicação, 76% dos estudantes das
instituições públicas, contra 59% das instituições particulares, que mencionaram ser a
oportunidade de conhecer melhor as cidades.
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Anais do X Encontro de Geógrafos da América Latina – 20 a 26 de março de 2005 – Universidade de São Paulo
Em relação aos possíveis impactos que o turismo tem refletido em Foz do Iguaçu,
na opinião feminina de ambas instituições: são as transformações causadas pelo
desenvolvimento da cidade, no que diz respeito à economia e ao trabalho que aparecem
com maior destaque, 57% e 46% das indicações públicas e particulares, respectivamente.
Destacaram-se também a dependência da cidade em relação ao turismo e à grande
visitação pelos turistas, menções que condizem com a realidade do município face ao
processo de desenvolvimento, que nos últimos 30 anos tem-se efetuado.
Ao ressaltar a opinião masculina, verificou-se que os impactos do turismo
mencionados estão relacionados ao desenvolvimento que este causa na economia e na
oferta de trabalho para a população que vive na cidade e até mesmo nas cidades vizinhas,
reforçado da mesma forma pela grande visitação de turistas que certamente contribuem
financeiramente para o acréscimo das divisas do município.
Mas situações negativas foram relatadas quanto a morte e a sujeira. Mesmo que
na opinião masculina não tenha aparecido a menção dependência da cidade quanto ao
turismo, a este respeito, é ilustrativo ressaltar que, diante das dificuldades que o setor tem
enfrentado, principalmente na última década, e aliado a implicações de ordem política,
econômica e social, em Foz do Iguaçu houve um aumento no índice de criminalidade.
Diante do que foi exposto, é evidente que em se tratando da visão de
adolescentes, muito das reais condições deixam de ser expressas. Contudo, mesmo sendo
uma faixa etária com pouca experiência de vida, esses estudantes vivem situações
resultantes do fenômeno social - o turismo em seu dia-a-dia. Crescer ouvindo falar em uma
cidade que possui como carro-chefe de sua economia o turismo, pode ter interferido nas
respostas dos inquéritos. No entanto, averiguou-se que retratar sobre esta temática é muito
complexo face às suas peculiaridades em todas as suas formas.
As respostas às indagações foram reforçadas por meio dos mapas mentais, onde
relatou-se a real situação que o município vem enfrentando diante das crises econômicas
dos últimos anos, tanto no Brasil, como nos países vizinhos (Argentina e Paraguai).
A tipologia referenciada como: Apresentação de outros aspectos ou particularidades
(Símbolos turísticos; Contrastes urbanos; Coleta de lixo; Presença de animais; Aspectos
sociais.), foi a que demonstrou com maior fidelidade o momento em que passa Foz do
Iguaçu.
Em relação aos ‘símbolos turísticos’, evidenciou-se ao longo da pesquisa que os
estudantes mencionaram com maior regularidade certos pontos turísticos, como é o caso
das Cataratas do Iguaçu, localizadas dentro do Parque Nacional, a Ponte Internacional da
Amizade, o Marco das Três Fronteiras e a Usina de Itaipu; esta última que, recentemente,
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Anais do X Encontro de Geógrafos da América Latina – 20 a 26 de março de 2005 – Universidade de São Paulo
dezembro de 2002, proporcionou o ‘espetáculo de luzes’, ou seja, a iluminação da Usina
durante a noite com a visitação realizada nas sextas-feiras, exceto na última sexta, face à
grande procura do espetáculo, aproximadamente 4.000 pessoas, quando o máximo
permitido eram 700.
Diante do sucesso dos espetáculos, a Usina retomou as apresentações nas quintas
(as 20:30 e 21:30 horas) e nas sextas-feiras (20:30 horas), a partir do dia 20 de fevereiro
(2003), com um público de no máximo 600 pessoas. Ao público dos municípios Lindeiros
são cobrados R$ 3,00 reais ou 2kg de alimentos, aos turistas R$ 6,00 reais e crianças até
10 anos, e idosos acima de 65 anos com comprovação não pagam ingressos.
A entrada na Usina até dezembro de 2002 era franca a todos os visitantes. A partir
deste ano, ingressos são cobrados como forma de arrecadação a campanhas sociais, como
exemplo o “Fome Zero” do governo federal. Esta iniciativa vem ao encontro de programas
como forma de dinamizar o turismo em todos os municípios lindeiros.
A cobrança de ingressos a esses pontos turísticos à população local nunca foi
questionada, mas sim o seu alto custo à comunidade receptora. Essa questão fez com que
reduzisse a procura dos visitantes locais e entre eles estudantes com condições
socioeconômicas desfavoráveis. Para solucionar esse dilema, as autoridades locais,
juntamente com o IBAMA, resolvera, realizar cobrança dos ingressos de maneira
diferenciada, ou seja, turista da região que abrange os municípios lindeiros, turista nacional
e estrangeiros.
Foram demonstrados nas representações dois lados do município, o da paz,
caracterizado pelos ambientes naturais, e aquele que envolve a violência, a esse respeito
cabe lembrar que o elemento humano aparece como principal promotor dos problemas
urbanos.
A preocupação de manter a cidade ecologicamente limpa, com a presença de
lixeiras pela cidade é fruto de um trabalho de conscientização que vem sendo realizado
pelas instituições de ensino municipais, estaduais e particulares, com a ajuda de outros
órgãos competentes, mediante promoção da Prefeitura Municipal. Este trabalho de
conscientização tem por objetivo a implantação, no ano de 2002 e funcionamento em 2003
(março/abril), da coleta seletiva e reciclagem do lixo em todo o município.
A ‘presença de animais’ nas imagens mentais tornou-se bastante intensa, visto que
o município apresenta diferentes lugares a serem visitados que possuem diversas espécies
da nossa fauna. Entre eles, o Parque das Aves, com vários viveiros onde se desenvolve um
trabalho reconhecido de educação, pesquisa e conservação ambiental.
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Anais do X Encontro de Geógrafos da América Latina – 20 a 26 de março de 2005 – Universidade de São Paulo
O Zoológico Municipal - Bosque Guarani tornou-se um exemplo de recuperação de
uma área que, antes degradada, foi transformada em um espaço de lazer, educação
ambiental e turismo. O Refúgio Biológico Bela Vista é hoje uma área de preservação
permanente que tem por objetivo a proteção da fauna e flora, pesquisas e reprodução de
animais.
No entanto, problemas com os animais tornaram-se freqüentes nas Cataratas do
Iguaçu, pois os visitantes começaram a alimentá-los, tornando-os dependentes desse
alimento; houve a perda do instinto de caça. Neste sentido, precauções de defesa foram
implantadas, com a aplicação de multas a quem desrespeitar qualquer ordem.
Não só de aspectos positivos o turismo está repleto, mas de implicações quanto as
questões que envolvem o social, e é nesta perspectiva que a pesquisa ressalta maior
importância, como as implicações sociais são percebidas por estes adolescentes?
Pelas imagens representadas, pode-se perceber que o turismo não está
conseguindo manter-se como o carro chefe da economia e como o berço de sustentação
quanto a empregos para a população. Assim, num período de aproximadamente oito anos,
percebe-se que o município vem enfrentando problemas sérios de desemprego,
ocasionando um aumento considerável de trabalhadores na economia informal, como
demonstra a primeira representação: contrabandistas de cigarros tentando fugir da
fiscalização aduaneira do lado brasileiro. Para tentar solucionar esse problema, em
novembro de 2002 foram construídas duas guaritas para o combate ao contrabando de
cigarros, e que ficariam sob os cuidados da Polícia Federal. No entanto, o que se pode
verificar nos primeiros meses foram as guaritas vazias.
Outro problema é o aumento de mendigos pelas ruas, principalmente nas
proximidades de pontos turísticos, na tentativa de conseguirem a atenção e esmola dos
turistas. Da mesma forma, assaltos domiciliares e a bancos tem sido corriqueiros, como
também o aumento da criminalidade.
Diante dessa última característica, é oportuno destacar que a cidade tornou-se um
foco de atração de assaltantes de outras regiões do Paraná como de outros estados,
principalmente de Santa Catarina, que utilizam como escudos os marginais da própria
localidade.
As informações coletadas mediante a análise dos dados mostraram-se satisfatória
pela riqueza das visões representadas pelos adolescentes que fizeram parte da amostra.
Pode-se averiguar que apesar de pertencerem a uma faixa etária em constantes
transformações, foram capazes de demonstrar consciência quanto as implicações, sejam
elas positivas ou negativas que o turismo, entendido nesta pesquisa como ‘prática social’ ou
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‘fenômeno social’ engendra em especial à sociedade iguaçuense e demais sociedades que
dependem desse tipo de prática.
Outro fator que contribuiu para a riqueza das análises deu-se em função dos vários
lugares de origem dos entrevistados. Moradores de áreas carentes de infra-estrutura e com
problemas conjunturais, como aqueles com condições mais propícias, refletiram situações
semelhantes quanto as realidades existentes no município, mesmo sabendo que cada
sujeito apresente características que lhe são próprias em relação ao seu laço afetivo, sua
vivência e capacidade de análise, independente das condições socioeconômicas e culturais.
Cada lugar, área de vivência ou mundo vivido possui sua especificidade, que
influenciará nas percepções de cada ser humano. Esse lugar de desenvolvimento da vida
cotidiana é concebido como uma infindável fonte de imagens que expressam a sociedade,
tornando-se referência na construção de idéias, ações e valores.
O real, expresso pelos mapas mentais ou imagens mentais, é a conseqüência da
apropriação do espaço enquanto lugar de obtenção e produção de imagens, transformados
e condicionados pela sociedade, resultando em lugares de lutas, conflitos e disputas que
interferem na subjetividade de cada sujeito. Entretanto, são esses espaços apropriados que
se tornam os lugares com que as pessoas estabelecem suas relações, sejam elas positivas
ou negativas.
Nas imagens reveladas pelos adolescentes nesta pesquisa, está clara a existência
de sentimentos topofílicos quanto aos atrativos turísticos do município e a influência
evidente do turismo para o desenvolvimento da cidade e região.
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