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R E S U M O DesdeoséculoXIXquetemvindoaserdiscutidoseosítio/nomeStatio Sacra,mencio-
nadopelochamadoAnónimodeRavenanoséculoVII,localizadoentreosmunicipiadeOssó-
noba (Faro) e Balsa (perto de Tavira), pode ser relacionado com o sítio arqueológico da
QuintadeMarim.Aqui,noséculoXIX,foramdescobertosumavillaromanacomedifícios
principaisesecundárioseumvastocemitério.A interpretaçãodosesboçosrealizadospor
EstáciodaVeigaeSantosRocha,bemcomoasanálisesefectuadasaalgunsachados,legiti-
mam a conclusão de que podemos estar perante uma basílica paleocristã, de dimensões
consideráveis,naáreadaQuintadeMarim.AcomparaçãocomaIsola Sacra,pertodeRoma,
leva-nosaacreditarqueosítio/nomeStatio Sacraestarárelacionadocomumcemitério,um
centroreligioso,ouumaigreja,podendoosítiodaQuintadeMarimserenquadradoneste
contexto.
A B S T R A C T Since the19thcentury ithasbeendiscussed if theplace-name Statio Sacra,
mentioned by an anonymous geographer from Ravenna from the 7th century for a place
betweenthemunicipiaofOssonoba(Faro)andBalsa(nearTavira),canberelatedwiththe
archaeologicalsiteatQuintadeMarim.There,inthe19thcentury,havebeendiscoverednot
justaRomanvillasitewithmainandsecondarybuildings,butalsoanextensivecemetery.
Theinterpretationofhistoricalsketches,drawnbyEstáciodaVeigaandSantosRocha,as
wellastheanalysisofsomefinds,leadtotheconclusionthatwemustcountwithaconsider-
ableEarlyChristianbasilicaintheareaofQuintadeMarim.ParallelswiththeIsola Sacranear
Romemakebelieve that theplace-nameStatio Sacra relateswithan importantcemetery,a
religiouscentreorachurch,andthereforemostprobablystandsforthesiteofQuintade
Marim.
O sítio da Quinta de Marim (Olhão) na época tardo-romana e o problema da localização da Statio Sacra1
DEnnISGRAEn
REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 10. número 1. 2007, p. 275-288
Dennis Graen O sítio da Quinta de Marim (Olhão) na época tardo-romana e o problema da localização da Statio Sacra
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O sítio arqueológico de Quinta de Marim está localizado no extremo sul da província daLusitânia,ameiocaminhoentreosantigosmunicipia deOssonobaeBalsa,naactualEstradanacio-nal125,presumivelmenteumaantigavia,documentadaatravésdoachadodeummarcomiliáriodoséculoI,emBiasdoSul,quemarcavatalveza fronteiraentreosdoisterritóriosmunicipais(Mantas,1997a,p.299,1997b;RodrigueseBernardes,2003).EstáciodaVeigaeradaopiniãoqueo sítio podia ser identificado com a Statio Sacra, mencionada na Cosmographia do Anónimo deRavena,doséculoVII.LeitedeVasconcellos,poroutrolado, localizavaosítionoPromontorium Sacrum,istoé,noCabodeSãoVicente(Veiga,1887,p.390-391;Vasconcellos,1905,p.198;RoldánHervás,1975,p.269).AntonioTovarconsideravaqueonometinhatidoorigemnaAntiguidadeTardiaounaépocabizantina,pelofactode,emfontesmaisantigas,comooItinerarium Antoninum,o sítio ainda não vir catalogado. Jorge de Alarcão retomou recentemente esta ideia, tentandosustentá-la com novos argumentos (Alarcão, 2005, p. 301-303). Este arqueólogo — caso estejacorrectaatesedequeaorigemdonomeremetiaparaoperíodotardo-antigo/bizantino—acreditaqueoadjectivosacrapoderianestecasosignificar“imperial”e,portanto,remeterparaumsítiocomfunçãofiscal,umabasemilitarouumporto.Casosetratedeumastationosentidodeumaestaçãoviáriadoperíodoimperial(mutatio),onometeriacabimento,segundoAlarcão,seestivesserelacionadocomumsantuáriorural.
AsváriasconstruçõesdescobertasedesenhadasporEstáciodaVeiganaQuintadeMarim(Fig.1)têmsidointerpretadascomorestosdeumgrandecomplexodumavilla romana.C.TavaresdaSilvapôde,nofinaldosanos80doséculopassado,explorarumainstalaçãodeproduçãodegarumnovizinhoParquenaturaldaRiaFormosa,apoucosmetrosdaorlamarítima,localque
Fig. 1 OsítioromanodaQuintadeMarim(Olhão).EsboçodeEstáciodaVeiga(1877).
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forautilizadodesdeofimdoséculoIatéaofimdoséculoIII(Silva,SoareseCoelho-Soares,1992);aqui,apesardenãoterficadoarqueologicamenteprovado,poderáterexistidoumpequenoporto,destinadoàexportaçãodegarum.Contudo,tantoacronologiacomoasreduzidasdimensõesdosvestígioscontradizematesedoportobizantinopostuladaporAlarcão.
Maisrecentemente,estecomplexo,conhecidodesdeostrabalhosdeEstáciodaVeiga,masnova-menteaterradonoséculopassado,foianalisadojuntamentecomaconstruçãoabsidalsobadirecçãodoautordesteartigo(Graen,2004,2005a,2005b,Fig.2).Destemodo,pôdeserconfirmadaagrandeafinidadetipológicaecronológicaexistenteentreaedificaçãoabsidaleasduasconstruçõesdeMilreueSãoCucufate,atéaquiconsideradascomo“templos”.Alémdisso,porfaltadedocumentosquesustentassematesedeumsantuário,esobretudopelascomparaçõestipológicasdasconstruções,pôdesercomprovadaasuainterpretaçãocomomausoléu.Tambémaedificaçãoquadradacontíguaconsisteseguramentenummonumentosepulcral,talvezumaaediculaouumaespéciedetorresepul-cralpertencenteaoprimeiroperíodoimperial.Ambasasedificaçõesfuneráriaspertenciammuitoprovavelmenteaosdonosdavilla,situadaacercade50mdedistânciaanoroestedocomplexoanali-sado.Asuposiçãodequeaquiexistiaumsantuárioruralnaépocaromana,quejustificariaonomestatio sacra,nãopôde,porconseguinte,serconfirmadaatravésdainvestigaçãoarqueológica.
Também a interpretação dos outros edifícios explorados em 1877 é mais do que incerta.Observando algumas das estruturas arqueológicas desenhadas por Estácio da Veiga no esboçodesignadocomonúmero26D(Fig.3),sãovisíveisalgunsdetalhesquesuscitamdúvidasacercadasua interpretaçãocomobalneário (Santos,1972,p.264).noesboço, são reproduzidasdiversasestruturasquemostramumaoumaisabsides.Asestruturasabsidaissãoclaramentedesconecta-
Fig. 2 MausoléusdoproprietáriodavillaromanadaQuintadeMarim.Plantadoautor.
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Fig. 3 Plantan.º26D:umanecrópolecommausoléuspaleocristãos?EsboçodeEstáciodaVeiga(1877).
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dasentresieconsequentementenãopodempertenceràstermas,masaedifíciosindependentes.OedifíciomarcadocomJconfiguraumpentakonchosde4mx6maproximadamente,possuindoumnarthex noladoeste.Umaconstruçãoquaseidêntica(Fig.4)integraanecrópoledeS.Ciríaco,na7.ªmilhadaViaOstiense,nosarredoresdeRoma(Graen,2005,p.266,Fig.12).nointeriordesteedifício,foramencontradasduranteaescavaçãomaisdeumadúziadesepulturas,que,pormeiodemoedas,podemserdatadasdosséculosIVeVd.C.(Fornari,1906,p.134-135).Umoutroedifíciofuneráriosimilar(Fig.5),projectado,porém,comocella septichora,encontra-senumanecró-polepertodacatedraldePécs,naHungria (Fülep,1984,p.57).De igualmodo,esteedifício—tambémorientadooeste-lesteedatáveldoséculoIVouV—podeserconsideradocomoomauso-léudumbispo,umclérigooumártir,podendosersugeridasparaacella pentachora daQuintadeMarimumadataçãoeumainterpretaçãosimilares.
AsoutrasduasconstruçõesabsidaisqueseencontramdesenhadasnaplantadeEstáciodaVeigamaisalesteda cella pentachora,equesãomarcadascomasletrasA/BeC/D(comnarthex),podemserinterpretadasdomesmomodocomoedifíciossepulcrais.Construçõessimilaresexis-tememtodoo ImpérioRomano,porexemplopertodeS.SebastiãooudabasílicadosSantosMarcelinoePedroemRoma(Guyon,1987;Brandenburg,2004,p.265,Fig.3,268,Fig.6)ouemSopianae/Pécs(Fülep,1984,p.87),quedatamdemeadosefinaisdoséculoIVd.C.Segundoparece,temospelomenostrêsedifíciossepulcraiscomarquitecturarepresentativadoperíodopaleocris-tãonaQuintadeMarim,nãoobstanteaausênciadedadosarqueológicosmaisexactos.
Desdeasescavaçõesde1877queseconhecemdezassetelápidesfunerárias,algumasaindanãopublicadas,daQuintadeMarim(Santos,1972,p.249-261).Grandepartedelasfoidatada
Fig. 4 PlantadeummausoléupaleocristãonanecrópoledeS.CiríaconaViaOstiense,pertodeRoma,porF.Fornari.
Fig. 5 PlantadeummausoléunumanecrópolepaleocristãpertodeSopianae(Pécs,Hungria),porF.Fülep.
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Fig. 6 PlantadanecrópolepaleocristãnaQuintadeMarim:umabasílica?EsboçodeEstáciodaVeiga(1877).
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entreosséculosIIeIII,atravésdaanáliseepigráfica,estandorelacionadascomescravose liberti(Encarnação,1984,p.81-101,1991).Algunsdosepitáfiosexibemformulaçõesquesópodemtertidoumaorigemcristã.Olocalexactodadescobertadestaslápidespermanecedesconhecido.Umaltarfunerário,encontradoporocasiãodaconstruçãodeumarruamento,em1985,hojenomuseudaCidadedeOlhão,aponta,contudo,paraumalocalizaçãodanecrópolenaáreanorte.
CombasenumesboçodeEstáciodaVeigaeapartirdeanotaçõesdosdiáriosdeA.dosSantosRocha,épossívelreconstruiraexistênciadeumanecrópoleanortedestesítio.Odesenhoidentifi-cadocomo“n.º30A”,aindanãopublicado(Fig.6), realizadopor incumbênciadeEstáciodaVeigaeàguardadoMuseunacionaldeArqueologia,mostraumaáreaescavadaemformade“L”,naqualaparecemduasasasnaconstrução,umaaoesteeoutraa leste,assentesperpendicular-mente entre si. na parte mais longa, a oeste, estão registadas figuras redondas e trapezoidais,dispostasumassobreasoutrasemquatrofileiras,separadasentresipormuros,quepodem,comcertasegurança,serinterpretadascomocovasfunerárias.napontaanoroestedestaaladoedifício,regista-seumarranjodepedras,talvezumcalçamento.Adisposiçãodassepulturasdesenhadasnãopareceadequar-seàsconhecidaslápidespagãs,adequando-semelhoràorganizaçãoqueapre-sentamnasigrejasdoperíodopaleocristãodaregião.UmdosmelhoresexemplosdecomparaçãoofereceabasílicasituadajuntoàvillaromanadeTorredePalma(Alentejo),doséculoVI,àqual,noiníciodoséculoseguinte,foiadicionado,naperpendicularàlonganave,umedifício-anexoparaainstalaçãodeumbaptistério(Fig.7).Distribuídassobabasílica,encontram-setambémnumero-sas sepulturas (Almeida, 1972-1974, p. 103-112; Ulbert, 1978, p. 92-105; Schlunk e Hauschild,1978,p.172-175).Umasituaçãodeenterramentoanálogaconhece-se,porexemplo,nasnecrópo-
entreosséculosIIeIII,atravésdaanáliseepigráfica,estandorelacionadascomescravose liberti(Encarnação,1984,p.81-101,1991).Algunsdosepitáfiosexibemformulaçõesquesópodemtertidoumaorigemcristã.Olocalexactodadescobertadestaslápidespermanecedesconhecido.Umaltarfunerário,encontradoporocasiãodaconstruçãodeumarruamento,em1985,hojenomuseudaCidadedeOlhão,aponta,contudo,paraumalocalizaçãodanecrópolenaáreanorte.
CombasenumesboçodeEstáciodaVeigaeapartirdeanotaçõesdosdiáriosdeA.dosSantosRocha,épossívelreconstruiraexistênciadeumanecrópoleanortedestesítio.Odesenhoidentifi-cadocomo“n.º30A”,aindanãopublicado(Fig.6), realizadopor incumbênciadeEstáciodaVeigaeàguardadoMuseunacionaldeArqueologia,mostraumaáreaescavadaemformade“L”,naqualaparecemduasasasnaconstrução,umaaoesteeoutraa leste,assentesperpendicular-mente entre si. na parte mais longa, a oeste, estão registadas figuras redondas e trapezoidais,dispostasumassobreasoutrasemquatrofileiras,separadasentresipormuros,quepodem,comcertasegurança,serinterpretadascomocovasfunerárias.napontaanoroestedestaaladoedifício,regista-seumarranjodepedras,talvezumcalçamento.Adisposiçãodassepulturasdesenhadasnãopareceadequar-seàsconhecidaslápidespagãs,adequando-semelhoràorganizaçãoqueapre-sentamnasigrejasdoperíodopaleocristãodaregião.UmdosmelhoresexemplosdecomparaçãoofereceabasílicasituadajuntoàvillaromanadeTorredePalma(Alentejo),doséculoVI,àqual,noiníciodoséculoseguinte,foiadicionado,naperpendicularàlonganave,umedifício-anexoparaainstalaçãodeumbaptistério(Fig.7).Distribuídassobabasílica,encontram-setambémnumero-sas sepulturas (Almeida, 1972-1974, p. 103-112; Ulbert, 1978, p. 92-105; Schlunk e Hauschild,1978,p.172-175).Umasituaçãodeenterramentoanálogaconhece-se,porexemplo,nasnecrópo-
Fig. 7 BasílicapaleocristãdeTorredePalma(Alentejo).PlantasegundoF.deAlmeida.
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Fig. 8 BasílicapaleocristãdeMértola(Alentejo).PlantasegundoC.Torres.
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les das igrejas de Mértola (Alentejo, Fig. 8), Casa Herrera (Badajoz), Gerena (Sevilha) ou de ElGermo(Córdova)(SchlunkeHauschild,1978;Ulbert,1978;Torres,1993a;Maciel,1996,p.172--183;Schattner,1998,p.190,n.º284).Alémdisso,verificou-se,emtodososcemitérioseigrejas--necrópoles de maiores dimensões, datáveis dos séculos VI-VIII, que as mesmas mostram umaafinidadeconsiderávelcomsítiosromanos—oquetambémseaplicaàssepulturasdaspopulaçõesindígenasedosimigrantesgermânicos(Ebel-Zepezauer,2000,p.132;Flörchinger,1998,p.86-90).W.Ebel-Zepezauerdemonstrouinsistentementequeosedifíciosapenasdocumentadosemnecró-poleshispano-romanaseutilizadosduranteoperíododeocupaçãopossuíamumafunçãosagrada.Assepulturasconcentram-senestecontextoprimordialmentenocoro.Porisso,hámotivosparasuporque,emMarim,tambémestamosperanteumaigrejacomnecrópoledoperíodopaleocris-tão,dondeprovêmigualmente,porexemplo,ossete fragmentosde lápidescristãsdemármorebrancoqueEstáciodaVeigaregistounoinventáriodoMuseudoAlgarve2.AindaemMarim,as
Fig. 9 Reconstituiçãodasestruturasnoesboçon.º30AdeEstáciodaVeigacomoigrejapaleocristã,elaboradapeloautor.
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sepulturas parecem concentrar-se no coro —casoestejacorrectaa interpretaçãodequeaparteoesteelongadaconstruçãoconfiguramocorodabasílica.Paraanecrópolevisigóticade El Carpio del Tajo (Torrijos, Toledo), B.Sasse-Kunstobservouquetodasascovassãotrapeziformesequeaextremidademaislargadas mesmas se orienta a oeste e a estreita, aleste(Sasse,2000,p.9).Estaorientaçãoleste--oestenoprocessodeenterramentoétambémmuitovulgarnamaioriadassepulturasroma-nasdasigrejas-necrópolesdoSuldeEspanha.AstridFlörchingerrelacionao factodeestassepulturas estarem dispostas na direcção aleste com a propagação do Cristianismo naPenínsulaIbéricadesdeaAntiguidadeTardia(Flörchinger, 1998, p. 64)3. Também encon-tramos a mesma disposição leste-oeste emMarim.Dodesenhode1877pode-seconcluirque, ao que tudo indica, se achavam sob ascovas algumas sepulturas infantis, represen-tadasumpoucomaispequenasnodesenho.Contudo,ascriançasdesempenham,possivel-mente, segundo A. Flörchinger, uma função
próprianaleieclesiástica,sendoporissosepultadasseparadamenteouemregiõesespeciais(Flör-chinger,1998,p.77)4.EmMarim,duasdastrêssupostassepulturasinfantislocalizavam-seforadaigreja—casoareconstituiçãohipotéticadoesboçopormimapresentadaestejacorrecta(Fig.9).Aoquetudoindica,tratar-se-ádeumaconstruçãodivididanumanaveprincipaleemduaslaterais,comduplocoro.Asabsides,opostasumaàoutranasduasextremidades,sãomeramentehipotéti-cas,masocorremnamaioriadasconstruçõescontemporâneasdoSudoestedaPenínsulaIbérica5.Umvestígiodaconstruçãodestaigrejapoderiaserumcapitelquefoidescobertoháalgunsanosno sector norte da Quinta de Marim. Trata-se de um capitel elaborado esquematicamente, emfolhaplena,demármoredeTrigaches,cujaflorescênciadoábacosobreumlongocauleestámaisestilizadoqueotipoclássico,apresentandoaformaderamodeflores(Fig.10).Apeça,provavel-mente dos séculos VI ou VII, pode ser comparada com exemplares do Sul do Alentejo (Torres,1993a,p.47n.º17,1993b,p.100n.º31).Emúltimainstância,ocapitelmostra-nosquedevemosteremcontaque,emMarim,estamosperanteumaaparatosaconstruçãodoperíodobizantino--visigótico—sendomaisimportantenotarquesetrataaquideumaconstruçãosacra.Dasdesco-bertasnaQuintadeMarim,EstáciodaVeigaresgatoudiversasofertasfúnebres,nasuamaioriaartefactos metálicos6. Estas oferendas fúnebres são típicas das necrópoles do período tardo--romano/visigótico(séculosVIeVII),comomostramascomparaçõesdeinventáriossepulcraisdosudoestedaPenínsulaIbérica(Flörchinger,1998,p.7;Sasse,2000,p.59).
Assepulturas,descobertasecatalogadasnumesboço(Fig.11)porA.dosSantosRocha,em1894,encontram-seaproximadamentea200mdedistânciaaoestedanecrópoleencontradaporEstáciodaVeiga,peloquepertencemprovavelmente(tambémemconsequênciadapequenaquan-tidadedesepulturas)aindaaomesmocemitériotardo-romano/visigótico.Assepulturas,dasquais
Fig. 10CapiteldoséculoVI/VIId.C.,achadonaáreanortedaQuintadeMarim.
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existem esboços, orientam-se na direcção noroeste-sudeste. As quatro sepulturas consistiam emcovasrectangularesetrapezoidais,revestidasporargamassa(opus signinum?)ecom0,5mdeprofun-didade.Somenteduasdassepulturaspossuíamparedesladrilhadas,eopavimentoeraconstituídoapenasporterrabatida.Osmortosforamsepultadosprovavelmenteemurnasdemadeiraouemtábuas(Flörchinger,1998,p.74).Ospregosdeferroexumadosnassepulturas,bemcomoamaioriadosachadosacidentaisdessaáreapertencemcomcertezaaessasurnasdemadeira(MartínezSantaOlalla,1932,p.11;Sasse,2000,p.10).Todasassepulturascontinhamaindarestososteológicos7.
Emalgumassepulturas,encontravam-seumaespéciedeapoiosparaacabeça;comopodemseratestadasnoesboçodeEstáciodaVeiganassepulturasovais,marcadasem“L”.Semelhanteselementosecomposiçõesdepedraparaaestabilidadedacabeçasãotambémconhecidosemalgu-masoutrasnecrópoles(Gallartetal.,1991,Figs.12,13,22,23,26).Umasepulturafoicoberta,segundoasconstataçõesdeSantosRocha,comquatrolápides,comosepitáfiosviradosparabaixoefixadoscomargamassa;pode-seaquipartirdopressupostodequeaslápidesdeoutrossepulta-mentosforamreutilizadas.AsquatrolápidesmencionadasdevemserasduasestelasduplasdosséculosIIeIII,queestãonomuseudeFigueiradaFoz(Encarnação,1993-1994).AssepulturasdescobertasporSantosRochadatamseguramentedeumperíodomaisrecente.Talvezelastambémprovenhamdaépocaromano-visigótica,comoindicaoseuinventárioextremamenteparco(Flör-chinger,1998,p.79;Ebel-Zapezauer,2000;Sasse,2000,p.13).Emmuitasregiõesdo(ex-)ImpérioRomanopode-sereconhecer,duranteoséculoV,aabdicaçãodocostumedeseenterrarpessoascomobjectos,havendoporémumressurgimentodapráticanoséculoVI8.
OsítiodesepultamentodosservielibertidaQuintadeMarimlocaliza-seportantolongedosmausoléusdosdomini.PodemosdeduziraindaqueadescobertadasduaslápidesdeChrysantus e
Fig. 11SepulturasnaáreadaQuintadeMarim,esboçodeSantosRocha(1894).
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deFabia Macia (nomuseudaCidadedeOlhão)estáassociadaaumanecrópoleanortedavilla,próximadaestradaactual(eantiga?).Somentenoperíodopaleocristãoéqueossítiosdesepulta-mentoseagrupamnumagrandebasílicanazonanorte.Agora,conformeatradiçãocristã,unem-sedonoeservonamorte,anulando-seassim,pelomenosemrelaçãoaosepultamento,asbarreirassociais: somente a proximidade da eucaristia parece representar um critério importante para aescolhadosítiodesepultamento.
Voltamosagoraentãoàquestãocolocadanoiníciodesteartigo:osítiodaQuintadeMariméde facto idêntico ao sítio nomeado como Statio Sacra pelo Anónimo de Ravena entre Ossonoba eBalsa?Comoadescobertaaquidescritanosestáamostrar,há,noséculoVII—portanto,operíodo
Fig. 13PlantadaIsola Sacra pertodePortus/Ostia(Itália).
Fig. 12Sepulturacomapoioparaacabeça,nabasílicapaleocristãdeSantMartídeLleida(Espanha).
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emquesurgiuoescritodoRavenate—,umaconstruçãosacradedimensõessignificativasnaáreada(ex?-)villaromanadeQuintadeMarim,ligadaaumcemitériomaior,cujaexistênciasepoderepor-tarnahistóriaatéaoséculoII.
não há muitos sítios no Império Romano que levam o adjectivo “sacrum/sacra” nos seusnomes.UmdeleséporexemplooPromontorium Sacrum(CabodeSãoVicente),onde,noperíodopré-romano,jáexistiaumsantuário(Vasconcellos,1905;Barata,1997;Guerra,2002).OutrosítioaparecenumafontedoséculoVI(Procopius, De bello gothico I, 26).Trata-seaquidaIsolaSacra(iJeranh÷soς),ilhadoRioTibre,aoestedeRoma(Fig.13),naqualselocalizavam,naépocadeProcópio,nãosóanecrópoledoperíodoimperialdascidadesdePortuseOstia—agoraemgrandeparteasso-reada —, mas também edificações para cultos do período paleocristão, designadamente umagrandebasílicadedicadaaobispoemártirportuenseHipólito(PaniErmini,1979).Oadjectivosacraqualifica,portanto,nestecaso,umanecrópoleouumaigreja(Calza,1940,p.15;Baldassare,1996,p.4).OsparalelosentreaIsola Sacraeanecrópole-igrejanaQuintadeMarim,aquiapresen-tada,eadenominaçãoStatio Sacraparecem-menãoserobradoacaso,tantomaisqueestamosnomesmohorizontecronológico(séculosVIeVII).Estedeverásermaisumargumentoateremcontana identificação do sítio arqueológico da Quinta de Marim — que, no período tardo-romano/bizantino,deverátersidoumimportantecentroreligioso—comaStatio Sacra.
NOTAS
1 DennisGraen,Friedrich-Schiller-UniversitätJena, 4 Estahipótese,porém,nãopodesercomprovadapelaautora,pois,InstitutfürAltertumswissenschaften,KlassischeArchäologie, paraestefenómeno,elasómencionaanecrópoledeCasaHerrera;Fürstengraben1,D–07743Jena,Alemanha oachadopareceserúnico.Elaafirmaque“aprofusãodesepulturasE-mail:dennis.graen@gmx.de. infantisemigrejasnãoécorroboradanoutrasnecrópoles.Portanto,OpresentetextofoitraduzidoecorrigidoporMarceloCorreia oscontextosaquiapresentadosnãopodemserprovados”.daSilva(UniversidadedeJena),AnaPrataseFilipeHenriques 5 Paraareconstruçãohipotéticadoesboçode1877,orientei-mepelas(MuseudeCerrodaVila). BasílicasdeTorredePalma(Alentejo),Mértola(Alentejo),Casa
2 SegundodadosdoinventáriodeEstáciodaVeiga,foramachadas Herrera(Badajoz)eGerena(Sevilha),todaselasdatadasdosnaáreadocemitériocristãoquatrolápidesdoperíodo séculosVIeVII.paleocristãocomepitáfios.Estesepitáfios,porém,jánãosão 6 Osachadosencontram-senoMuseunacionaldeArqueologia,
localizáveis. edemomentoestãoaseranalisadaspeloautordesteartigo.3 Elacitaapenasumaúnicasepulturaquefoidispostanosentido 7 Algunsossoseobjectosdemetal,quehipoteticamentecoincidem
contrário,provenientedeGerena(Sevilha),querepresentaum comosdescritosacima,estãonomuseudeFigueiradaFoz.fenómenoinexplicáveleúnico.Assepulturasdispostasnosentido 8 Ofenómenofundamenta-senaexpansãodocristianismonodecorrernorte-sulevice-versa(13%dototal)formamumaexcepçãopela dosséculosIVeVenoaparecimentodosGermanosduranteosituaçãoarquitectónicaepelaorientaçãorelativamenteà séculoVI,queaindapraticavamessecostume(Bonomi,1964,p.169,construção. 1992,p.70;Riemer,1992,p.181;Flörchinger,1998,p.88).
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