música livre na internet
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FACULDADE DE TECNOLOGIA E CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS – FATECS CURSO: COMUNICAÇÃO SOCIAL ÁREA: JORNALISMO
Música livre na internet A revolução que as novas mídias causaram no cenário musical
JÉSSICA RAPHAELA DE O. RIBEIRO 207590/76
Brasília, junho de 2011
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Jéssica Raphaela de O. Ribeiro
Música livre na internet A revolução que as novas mídias causaram no cenário musical
Monografia apresentada como um dos requisitos para conclusão do curso de Comunicação Social do UniCEUB – Centro Universitário de Brasília. Orientador: Profº. Severino Francisco
Brasília, junho de 2011
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Jéssica Raphaela de O. Ribeiro
Música livre na internet A revolução que as novas mídias causaram no cenário musical
Monografia apresentada como um dos requisitos para conclusão do curso de Comunicação Social do UniCEUB – Centro Universitário de Brasília. Orientador: Profº. Severino Francisco
Banca examinadora:
_________________________ Prof. Severino Francisco
Orientador
_________________________ Profª. Cláudia Busato
Examinadora
_________________________ Prof. Paulo Paniago
Examinador
Brasília, junho de 2011
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DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho aos artistas
que possuem o fabuloso dom de
transformar o mundo em poesia.
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AGRADECIMENTO
A Deus. Aos meus pais, José e Edilsa, e aos meus irmãos Pedro, Raphael e Maria Isabel, pelo carinho. Ao Rafael, por me acolher em meio às dificuldades. Aos meus sobrinhos Miguel Sena e Maria Raphaela, pelos sorrisos fáceis e sinceros. À Karolina, Cássio e Camila pelo companheirismo. Aos amigos que dão tom e melodia à vida. Ao meu orientador, professor Severino Francisco, por me ajudar a transformar o caos em conteúdo. À trupe do Teatro Mágico, pela poesia musicada que tanto me inspira.
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“Ter acesso é poder e o poder é a informação”
O Teatro Mágico, Xanéu nº5
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RESUMO
Este trabalho analisa a revolução que a internet causou no meio cultural. As novas
mídias criam novas possibilidades de acesso à cultura. Para muitos artistas, é a chance
de existir no mercado musical. A era dos grandes sucessos declina e dá espaço às
pequenas iniciativas. A pesquisa mostra como os artistas e a indústria fonográfica se
comportam diante das mudanças. O grupo multicultural O Teatro Mágico é um
exemplo de iniciativa que cresceu utilizando a web como ferramenta principal. Sempre
com o discurso de democratização da cultura, disponibiliza músicas gratuitamente na
rede.
Palavras-chave:
Cultura, música, internet, acesso à informação, O Teatro Mágico
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SUMÁRIO
1 – INTERNET: CARACTERÍSTICAS GERAIS ................................................................................ 11
1.1 – Real e virtual ................................................................................................................ 11
1.2 – Atualização .................................................................................................................. 12
1.3 – Tempo e espaço ........................................................................................................... 12
1.4 – Efeito Moebius ............................................................................................................ 13
1.5 – Os efeitos negativos ..................................................................................................... 13
1.6 – Interatividade e inteligência coletiva ............................................................................ 14
1.7 - Teoria do agendamento e Cauda Longa ........................................................................ 14
2 – A MÚSICA NA ERA DIGITAL ................................................................................................ 18
2.1 – Histórico ...................................................................................................................... 18
2.2 – O Napster e a revolução do consumo musical .............................................................. 20
2.3 - Novas formas de divulgação ......................................................................................... 21
2.4 – Artistas independentes ganham a rede ........................................................................ 22
2.5 – O novo modelo de artista............................................................................................. 23
2.5.1 - Música livre como divulgação ................................................................................. 24
2.5.2 - Puro amor pela coisa .............................................................................................. 25
2.5.3 - Novas prioridades do mercado ............................................................................... 26
2.5.4 - A grande mídia ....................................................................................................... 27
3 – A REALIDADE BRASILEIRA ................................................................................................. 28
3.1 - Reforma da Lei do Direito Autoral e crise do MinC ....................................................... 28
3.1.1 – Creative Commons ................................................................................................ 29
3.1.2 - Ecad ....................................................................................................................... 30
3.2 - Movimento Música para Baixar ................................................................................... 31
3.3 – Música online legalizada.............................................................................................. 32
4 – ESTUDO DE CASO: O TEATRO MÁGICO .............................................................................. 34
4.1 – Breve história .............................................................................................................. 34
4.2 – Atuação online ............................................................................................................. 36
4.3 - Produção colaborativa .................................................................................................. 37
4.4 – Inversão na Teoria do Agendamento ............................................................................ 39
4.5 – Música livre ................................................................................................................. 39
CONCLUSÃO ........................................................................................................................... 41
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................................ 43
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INTRODUÇÃO
O advento da internet trouxe uma nova realidade para a comunicação. Por ser
um meio democrático e interativo, ela possibilita que as pessoas deixem de ser apenas
consumidores de informação e se tornem também produtores.
Assim ocorre com a música há cerca de uma década. Antes, o reconhecimento só
era atribuído se grandes gravadoras acreditassem que seria lucrativo promover o
artista. Muitos músicos de qualidade foram marginalizados, não resistiram à pressão
da grande mídia.
Hoje a história mudou. Os artistas começaram a se autopromover,
independentemente de gravadoras. A internet ensejou a possibilidade de crescimento
da música não comercial. O que é prioridade não é o dinheiro gerado com a
“revelação” de um novo artista que estoura um single e sim a qualidade e o
reconhecimento pelo trabalho realizado. A rede ampliou a esfera musical.
A web possibilita a publicação de áudio, vídeos e imagens. Isso causou uma
revolução no meio artístico. A relação artista-público não precisa mais ser
intermediada pela mídia tradicional, é uma relação direta. Muitos artistas se tornaram
reconhecidos pelo público por meio da internet, enquanto o mass media nunca havia
citado tais nomes. A teoria do agendamento é colocada em xeque. Há ocasiões em que
a mídia alternativa é quem pauta a grande imprensa.
Essa mudança aconteceu por conta do compartilhamento de músicas na
internet. As pessoas trocam arquivos, repassam, baixam. Aqui entra a discussão sobre
direitos autorais, pois com essa forma de propagação, os músicos não recebem pela
autoria.
O capítulo 1 apresenta as principais características da internet e a forma como
elas afetam as relações humanas. O mundo passa por uma era em que o real e o
virtual se complementam. Isso transformou a comunicação social e promete ainda
provocar muitos efeitos na sociedade. São dispostas características como atualização,
alteração no tempo e espaço, relação entre público e privado, interatividade,
inteligência coletiva e variedade infinita de conteúdo.
No capítulo 2, o assunto é a música na era digital. Ele mostra como as
características expostas no capítulo anterior interferem no modo de produção e
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consumo cultural. Um histórico apresenta como o compartilhamento de arquivos foi
combatido pela indústria fonográfica. Grandes artistas se posicionaram contra e a
favor das novas possibilidades do mercado musical. E quem mais ganhou com os novos
recursos foram os músicos independentes. O texto do capítulo 3 traça um panorama
da situação brasileira na atualidade.
Por fim, o capítulo 4 mostra um estudo de caso do grupo multicultural O Teatro
Mágico. A trupe é composta por músicos, atores, artistas circenses, bailarinas. A ideia é
construir um sarau cultural no palco. Os integrantes optaram pela independência e
lutam pela democratização da informação. Todas as músicas são disponibilizadas
gratuitamente na internet. O grupo ganhou reconhecimento e hoje é um fenômeno na
web.
Para fins de análise, serão utilizados pesquisa bibliográfica e estudo de caso.
Primeiro virá o embasamento teórico para mostrar as características da internet e a
forma como ela afetou a cena musical. Depois, o estudo de caso promoverá uma
análise aprofundada de O Teatro Mágico, grupo que representa essa nova forma de
fazer cultura. Assim, o trabalho cumpre seu objetivo: o de analisar como as novas
mídias revolucionaram o cenário musical.
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1 – INTERNET: CARACTERÍSTICAS GERAIS
A internet é um meio de comunicação relativamente recente e, ainda assim,
grande parte da sociedade não se vê mais sem ela. Os processos de trabalho já foram
todos inundados pela rede. São poucas as áreas que resistem. A comunicação, então,
já foi submersa na web.
1.1 – Real e virtual
Inicialmente, o grande fascínio da internet era a possibilidade de viver duas
realidades, uma virtual e outra, de fato, real. Aquela contava com o cotidiano, a ideia
de que o usuário poderia ser o que ele quisesse. Poderia inventar um nome, uma
história, uma imagem, tudo a seu gosto, da forma como queria ser visto pelas outras
pessoas. Esse modelo logo foi perdendo o sentido. Os internautas perceberam quanta
falsidade e erros a web poderia acumular.
Agora, o fenômeno que a internet cria é outro. O real e o virtual se confundem.
Um se torna extensão do outro, e vice-versa. A pessoa pode elaborar uma festa, por
exemplo, a partir da internet. Lá, ela faz contatos, contrata os serviços, convida os
amigos. E parte assim de um plano virtual para o real. Por outro lado, ela pode fazer da
internet uma extensão dessa festa. Pode criar comunidades, álbuns, grupos com fotos,
conversas, fofocas e tudo mais relacionado ao evento. Vai do real para o virtual. E
assim perde-se esta linha que separava um do outro. Embora, em alguns casos ela
ainda permaneça, o grande fascínio hoje é essa junção.
No início, casos como esse que será citado assustavam um pouco. Hoje, são mais
do que comuns. Em uma empresa, os colegas de trabalho sentam-se um ao lado do
outro. Mas grande parte da comunicação é feita por meio da tela que fica a frente de
cada um. Observações mais discretas, conversas paralelas ou relacionadas ao trabalho,
compartilhamento de informações... tudo acontece nesse ambiente virtual. Ambiente
este que está inserido na realidade, que não deixa de ser real.
O virtual não se opõe ao real, como defende Pierre Lévy. “O virtual é como o
complexo problemático, o nó de tendências ou de forças que acompanha uma
situação, um acontecimento, um objeto ou uma entidade qualquer, e que chama um
processo de resolução: a atualização” (LEVY, 1996: 5).
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1.2 – Atualização
Essa atualização é inerente à internet. Por ser uma plataforma mais veloz, cria
novos tempos e espaços. Traz com ela o fato de estar sempre carregada de novas
informações. O desatualizado não tem lugar na rede.
Na comunicação, esse fato é mais do que comprovado. Um site que só tem
notícias do dia anterior perde sua função factual. E hoje, a internet é uma plataforma
muito factual e instantânea. O que ocorreu ontem, com certeza já foi falado ontem.
Sem novas informações, fica velho.
1.3 – Tempo e espaço
A virtualização também traz consigo a desterritorialização. Traz novos tempos e
espaços. Ela consegue unir pessoas do mundo todo a partir de um clique, cada uma em
seu tempo e espaço, e cria um novo ambiente. Isso não é uma característica única da
internet. A cada novo sistema de comunicação e transporte modifica-se o espaço
pertinente para as comunidades humanas. A construção de uma rede ferroviária dá a
impressão de aproximação física entre as cidades conectadas pelos trilhos. Assim
acontece com o automóvel, o transporte aéreo, o telefone etc. “Cria-se, portanto, uma
situação em que vários sistemas de proximidades e vários espaços práticos coexistem”
(LÉVY, 1996:10). Ao contrário do que muitos acreditam, a virtualização não anula a
mobilidade física. O aumento da comunicação e a generalização do transporte rápido
participam do mesmo movimento de virtualização da sociedade. Segundo Lévy, “as
pessoas que mais telefonam também são as que mais encontram outras pessoas em
carne e osso” (1996: 10).
Os sistemas de registro e de transmissão (tradição oral, escrita, audiovisual,
redes digitais) constroem ritmos, velocidades ou qualidades de história diferentes.
Com a internet, esses ritmos se tornam mais velozes, mais dinâmicos. Pelo fato de
servir de plataforma para diversas mídias, como áudio, imagem, vídeo, texto, gráficos
etc, ela traz uma mobilidade imensa à informação. Uma mesma notícia pode ser
retratada de várias formas em um só canal de comunicação.
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1.4 – Efeito Moebius
Segundo Pierre Lévy, outro caráter é associado à virtualização: a passagem do
interior ao exterior e do exterior ao interior. Ele denomina esse fenômeno de “Efeito
Moebius”. Público e privado, próprio e comum, subjetivo e objetivo, mapa e território,
autor e leitor etc. Tudo isso se confunde no espaço virtual.
Um jovem pode estar sozinho em seu quarto, com portas fechadas, e escrever
em seu blog sobre o que pensa a respeito do mundo. Sua visão, tão particular, se torna
pública. Ele pode ainda fazer uma crítica a um determinado político. Essa crítica pode
ser amplificada por outros internautas e repercutir de tal forma que tenha efeitos no
“mundo real”. Uma música autoral colocada para download na rede por uma banda
passa a ser reproduzida pelo público, colocando em questão o próprio e comum (logo
tratarei mais sobre a questão). Um jornalista coloca uma opinião pessoal em seu
microblog. Isso afeta sua posição como parte de uma empresa jornalística? É o
subjetivo e o objetivo se confundindo. E o autor e o leitor? Quem é quem em um
espaço onde todos podem produzir informação?
A linha se torna cada vez mais tênue. Segundo Pierre Lévy, “os limites não são
mais dados. Os lugares se misturam. As fronteiras nítidas dão lugar a uma fractalização
das repartições. São próprias as noções de privado e de público que são questionadas”
(1996: 11). É o “Efeito Moebius”.
1.5 – Os efeitos negativos
O que não se sabe ainda a respeito da internet são os efeitos negativos que
podem vir com ela. As consequências. Toda revolução traz degradações. Os meios de
transporte encurtaram as distâncias, mas destruíram grande parte do meio ambiente.
Qual será o preço a ser pago pela virtualização informacional?
Assim como a ecologia opôs a reciclagem e as tecnologias adaptadas ao desperdício e à
poluição, a ecologia humana deverá opor a aprendizagem permanente e a valorização das
competências à desqualificação e ao acúmulo de detritos humanos. (LÉVY, 1996: 11)
É claro que há consequências, mas a humanidade encontra uma forma de conter
os erros e aprimorar os acertos.
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1.6 – Interatividade e inteligência coletiva
A internet acentua um ponto que já é comum à sociedade. Nenhuma pessoa
sabe tudo, mas cada uma sabe um pouco sobre algo. Juntando as peças e unindo as
habilidades de cada um, cria-se o que Henry Jenkins, autor do livro Cultura de
Convergência, chama de inteligência coletiva. Esse termo, criado por Pierre Lévy,
mostra como o consumo de informação deixa de ser um processo individual para se
tornar coletivo. O jornalista, como produtor, já não é o único ser possuidor da
informação. Ela, agora, faz parte de um processo no qual o feedback é intrínseco. O
leitor palpita, critica, elogia, divulga a informação do profissional. O conhecimento
pertence a todos e cabe a cada um decidir o que fazer com ele.
A interatividade também é decisiva nesse processo. Além de interpretar a
mensagem e interiorizar a informação de acordo com seu ponto de vista, o receptor
pode opinar, dar voz à sua visão, tornar pública uma interpretação sua. Assim, cria-se o
debate.
Os meios de comunicação de massa perdem o monopólio sobre a notícia. Ela
repercute num plano no qual as pessoas discutem o assunto e ele é amplificado pela
web. E está cada vez mais difícil ignorar esses debates. Até as empresas já perceberam
que não dá mais para deixar passar a reação dos “receptores” da informação.
A inteligência coletiva só acontece quando os dois lados entendem tais
mudanças e trabalham em prol dela. “A inteligência coletiva pode ser vista como uma
fonte alternativa de poder midiático. Estamos aprendendo a usar esse poder em
nossas interações diárias dentro da cultura de convergência” (JENKINS, 2008: 30).
1.7 - Teoria do agendamento e Cauda Longa
Durante décadas, a mídia de massa e a indústria de entretenimento controlaram
o mercado musical. Juntas, decidiam o que seria sucesso. E assim, ganharam muito
dinheiro. Para um artista ser reconhecido pelo grande público, tinha que passar pelo
crivo dessas instituições. Se ficasse na peneira, continuaria atuando em seu nicho
limitado, até ser “descoberto” por alguma gravadora. Por muito tempo, a sociedade
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teve suas escolhas culturais controladas pelo que Maxwell McCombs e Donald Shaw
definiram como teoria do agendamento.
A capacidade dos media de influenciar a projeção dos acontecimentos na opinião pública
confirma seu importante papel na figuração da nossa realidade social, isto é, de um
pseudo-ambiente, fabricado e montado quase completamente a partir dos mass media,
(Maxwell McCombs e Donald Shaw, 1997).
No Brasil, no fim da década de 1990, a internet começou a se popularizar. Com
ela, vieram novas formas de comunicação, cada vez menos mediadas pela imprensa.
Diálogos instantâneos por meio de chats. Comunidades criadas a partir de interesses
em comum. Redes de relacionamento, como Orkut, Facebook, Twitter, blogs, Youtube,
entre tantas outras. Sites regionais, nacionais, mundiais, especializados, setorizados...
enfim, por nichos (segmentos). A informação tornou-se acessível. Ela estava toda ali,
bastava procurá-la.
Hoje, é impossível mensurar o número de informação contida na internet. Há
oferta de conteúdo para todos os tipos de assuntos e preferências, abordados pelos
mais diversos pontos de vista, e tudo isso sem grandes custos financeiros. Mas há
demanda para tanto conteúdo? Segundo Chris Anderson, a resposta é sim. Em seus
estudos, ele percebeu que sempre há procura pelas informações oferecidas na
internet. Ele chama este fenômeno de Cauda Longa.
Anderson concluiu tudo isso após analisar dados da Rhap-sody, empresa de
música online. Ele avaliou informações sobre preferências dos clientes. Quando as
colocou em gráfico, viu uma curva diferente de tudo que eu já tinha visto antes.
Começava como qualquer curva de demanda, classificada por popularidade. Lá no
topo, alguns grandes sucessos, baixados com muita frequência. Logo a curva
despencava, com as faixas menos populares. Porém, o mais interessante, é que ela
nunca chegava a zero. Anderson acrescentava mais e mais faixas, chegando a 400 mil,
mas sempre havia demanda. Já muito longe na curva, as faixas eram baixadas apenas
quatro ou cinco vezes ao mês, mas, ainda assim, não chegava a zero. “Em estatística,
curvas como essa são denominadas "distribuições de cauda longa", pois seu
prolongamento inferior é muito comprido em relação à cabeça” (2006: 10).
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A Cauda Longa nada mais é que escolha infinita. A distribuição abundante e
barata de conteúdo gera uma variedade farta, acessível e ilimitada. Na internet, o
público distribui-se de maneira tão dispersa quanto as escolhas (ANDERSON, 2006:
122).
Toda essa informação é variada, inclusive do ponto de vista de quem a produz.
Diferentemente das mídias tradicionais, a web possibilita que qualquer pessoa produza
conteúdo. Isso, porque houve a democratização das ferramentas de produção.
Quando as ferramentas de trabalho estão ao alcance de todos, todos se transformam
em produtores. Softwares auxiliam aqueles que não dominam a linguagem da
informática. É totalmente possível usar um programa para editar áudios e fazer
músicas e produzir web reportagens. Vídeos podem ser editados com facilidade.
Qualquer um pode abrir um blog e produzir conteúdo sem gastos diretos. E o mais
interessante é que essas ferramentas abrem espaço para a criação de novas formas de
entretenimento. Experimentação essa que quase não acontece na mídia tradicional.
Segundo Chris Anderson, ao mesmo tempo em que o computador possibilitou
que qualquer pessoa produza conteúdo, a internet democratizou a distribuição. Na
rede, todo mundo pode ser divulgador. “A Internet simplesmente torna mais barato
alcançar mais pessoas, aumentando efetivamente a liquidez do mercado na Cauda”
(2006: 39). Assim, a informação é amplificada.
Uma última força liga a oferta e a demanda: são os filtros da Cauda Longa. Eles
apresentam aos consumidores os novos produtos disponíveis. Essa peneira pode
assumir diversas formas, desde a busca pelo Google até as recomendações de sites,
passando pela propaganda boca a boca dos blogs e das redes sociais. “Só quando essa
terceira força, que ajuda as pessoas a encontrar o que querem nessa nova
superabundância de variedades, entra em ação é que o potencial do mercado da
Cauda Longa é de fato liberado” (ANDERSON, 2006: 75).
É claro que não se pode ignorar que o excesso de conteúdo na Cauda Longa
apresenta produtos de má qualidade. Mas também está cheia de bons trabalhos. Na
internet, lixo e ideias brilhantes coexistem. O que define a qualidade da informação
consumida, além do próprio consumidor, são os softwares de busca. O Google, por
exemplo, identifica nas buscas dos usuários os conteúdos mais procurados e assim vai
eliminando os ruídos.
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Com a enorme variedade de informação, a Cauda Longa possui inúmeros nichos.
Os hits que prevaleciam na década de 1990 já não têm a mesma força de outrora. É
inegável que eles ainda existem e possuem força na cultura de massa, mas, segundo
Chris Anderson, a cultura dominante está ficando relativamente menos popular,
enquanto as subculturas se tornam cada vez mais conhecidas. E, considerando que há
muito mais nichos do que hits, pode-se dizer que todos esses nichos em conjunto
constituem um mercado tão grande quanto o dos hits. Mesmo que nenhum dos
pequenos segmentos venda na mesma quantidade que o sucesso do momento, são
tantos os produtos de segmento que, como um todo, podem compor um mercado
capaz de rivalizar com o dos hits.
Hoje, nossa cultura é cada vez mais uma mistura de cabeça e cauda, hits e nichos,
instituições e indivíduos, profissionais e amadores. A cultura de massa não deixará de
existir, ela simplesmente se tornará menos massificada. E cultura de nicho já não será tão
obscura (ANDERSON, 2006: 123).
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2 – A MÚSICA NA ERA DIGITAL
2.1 – Histórico
Os anos 1990 foram uma das épocas mais lucrativas para as gravadoras musicais.
Artistas e mais artistas buscavam se tornar visíveis a produtores que tivessem
influência no mercado audiovisual. Essa era praticamente a única forma de ser artista
profissional. O mercado estava quente. Os produtores procuravam nomes que fossem
repetidos nas rádios e rostos conhecidos na tevê. Eram esses veículos que
impulsionavam as carreiras dos músicos.
A juventude começou a ser influenciada pela MTV. A emissora alcançou o auge
neste período e foi responsável por tornar artistas estrangeiros em unanimidades no
Brasil. Ao veicular videoclips, passou a inserir nomes como Spice Girls, Backstreet Boys,
Britney Spears, N-Synk, entre tantos outros que alcançaram grande sucesso no país.
Grupos brasileiros ganharam voz nas rádios e nos programas de domingo.
Houve uma época em que só havia um meio de lançar um álbum fonográfico de grande
sucesso: o rádio. Nada mais alcançava tantas pessoas com tanta frequência. Mas entrar na
lista de músicas a serem transmitidas não era fácil (...) No entanto, quando as músicas
transpunham as barreiras das emissoras, era alta a probabilidade de converter-se em
sucesso. Até que, na década de 1980, surgiu a MTV, que logo passou a ser a segunda
maneira de criar um hit. Sua capacidade para a divulgação de novas músicas era ainda
mais limitada, mas sua influência sobre uma geração foi inigualável. Para as gravadoras,
foram bons tempos. O mercado era tremendamente competitivo, mas era o negócio que
conheciam. Compreendiam suas regras e, observando-as, conseguiam garantir a
sobrevivência e prosperar. (ANDERSON, 2006: 69)
A tevê, assim como o rádio, queria hits. E isso nem sempre dependia do excesso
de exposição na mídia. Para ter uma música conhecida, o público precisava gostar. E
ao dizer público, refiro-me a grande massa, não a determinados nichos. A música tinha
que estar na ponta da língua de qualquer brasileiro, independentemente de idade,
sexo, etnia e localidade.
E assim seguiu-se toda a década de 1990. Cheia de artistas consagrados pelo
grande público. No entanto, apenas alguns músicos recolhiam a maioria das
recompensas econômicas. Essa visão está enraizada na Economia do Superstar
(Rosen). A teoria explica a concentração de renda na mão de poucos trabalhadores.
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Eles recebem enormes remunerações e dominam a atividade em que estão engajados.
Segundo os pesquisadores Felix Oberholzer-Gee e Koleman Strumpf, da Universidade
de Harvard, nos EUA, a música popular pode ser compreendida como um torneio, no
qual poucos artistas recebem a maioria das recompensas econômicas. Nessa teoria, os
músicos consideram o trabalho como uma loteria. Com alguma pequena chance, eles
se tornarão estrelas.
A indústria musical formou muitos “cantores de uma música só”. Se não criasse
um novo sucesso que movimentasse a multidão, o artista estava fadado ao
esquecimento. Eram os 15 minutos de fama profetizados por Andy Warhol.
Esse monopólio dos meios de comunicação de massa, incluindo as grandes
gravadoras, se deu muito tempo pelo fato de serem os únicos detentores de
informação com o poder de divulgá-la a uma enorme quantidade de gente. A parceria
entre a mídia e os produtores foi muito lucrativa. Uma era responsável por identificar
possíveis fenômenos musicais. A outra por divulgá-los para o grande público. Mas a
união deixava de lado um personagem muito importante: o artista. Segundo Chris
Anderson, não importava quão bom o músico era, “se não for sucesso é fracasso. Não
passou no teste econômico e, portanto, nunca devia ter sido produzido” (2006: 29).
Sem o apoio dessas duas instituições, ele estava fadado ao anonimato.
E muita gente boa ficou pelo caminho. Muita gente que, inclusive, se recusou a
modificar sua arte para que ela coubesse na fórmula do sucesso. O músico Leoni
acredita que esses meios de comunicação impediam a variedade de estilos e a
experimentação da arte. “Ao invés das rádios divulgarem a diversidade musical, os
artistas tinham que compor e arranjar as canções para caber em formatos pré-
existentes determinados pelos segmentos” (2010: 55).
O sistema de produção e distribuição de músicas, que atingiu proporções
gigantescas nessa época, gerou um modelo de negócios dependente de grandes hits.
Esse quadro começou a ser modificado com a ascensão da internet.
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2.2 – O Napster e a revolução do consumo musical
Foi em meio a esse cenário que um jovem americano de 18 anos criou uma
ferramenta que mudaria todo o rumo da produção musical da próxima década. O
estudante americano Shawn Fanning, da Northeastern University de Boston, nos
Estados Unidos, criou o Napster em junho de 1999. A partir daí, deu-se início a
revolução de compartilhamento de arquivos.
O primeiro software do Napster permitiu a troca de músicas em arquivo MP3
entre o estudante e seus colegas de quarto. O programa cresceu tanto que ultrapassou
os muros da universidade e se tornou uma empresa: o serviço ganhou 30 milhões de
usuários no primeiro ano. Em seu auge, janeiro de 2001, o Napster teve um pico de 8
milhões de usuários conectados ao mesmo tempo. A troca diária era estimada em 20
milhões de canções.
As dificuldades jurídicas não começaram muito depois do lançamento. Em
dezembro de 1999, a Recording Industry Association of America (RIAA) processou o
Napster por violação de direitos autorais e ao Copyright (que garante o direito de cópia
somente ao autor).
Dois anos mais tarde, o Napster não resistiu às ações e teve o serviço fechado
em março de 2001. Em dezembro de 2002, foi comprado pelo grupo Roxio, fabricante
de softwares para gravação de CD e DVD, e passou a vender músicas, respeitando os
direitos autorais.
O Napster não continuou com sua função inicial, mas causou uma revolução no
cenário musical do mundo todo. Segundo Leoni, a decisão das gravadoras de se opor à
nova forma de divulgação musical foi errada.
Quando o Napster tinha um bilhão de usuários, ao invés da indústria encontrar um meio
de usar essa ferramenta poderosíssima de congregação de consumidores do seu produto
e ganhar muito dinheiro, ela resolveu processar todo mundo para (...) não perder nem um
centavo do que faria vendendo CDs. Hoje todo mundo baixa música de graça e o CD não
sustenta nem as contas de telefone das gravadoras. (2010: 23)
Novas redes foram desenvolvidas, como eDonkey, FastTrack, KaZaA, Grokster e
Gnutella. Os usuários do Napster simplesmente aperfeiçoaram a troca, que evoluiu
para uma segunda geração, os chamados serviços peer-to-peer (par a par, em
português). O P2P é a troca direta entre usuários, ou seja, não necessita de uma
21
central. Assim, os internautas passaram a compartilhar músicas do próprio
computador com outras pessoas. O serviço cresceu e permanece até hoje. Além disso,
outras formas de compartilhamento de arquivos foram desenvolvidas e coexistem com
o P2P.
2.3 - Novas formas de divulgação
A discussão sobre o uso do Napster e do serviço P2P não ficou apenas na Justiça.
Os mais interessados na revolução também se movimentaram: os músicos. A
banda Metallica se declarou publicamente contra o serviço online. O baterista, Lars
Ulrich, moveu ações legais contra o software.
Em contrapartida, outros artistas uniram-se a favor da troca de arquivos. Na
mesma época, músicos defenderam a nova forma de consumo da arte. Este foi o caso
de Tom Morello, guitarrista da banda Rage Against The Machine. Quando a Sony,
proprietária legal dos direitos de suas músicas, utilizou a Lei dos Direitos Autorais do
Milênio Digital, que criminaliza não só a infração do direito autoral em si, mas também
a produção e a distribuição de tecnologia que evite o Copyrigh, para bloquear usuários
que compartilhavam faixas do álbum Renegades por meio do Napster, Morello
declarou-se ofendido. Após o incidente, anunciou que outras faixas em MP3 estariam
disponíveis para download no site da banda.
Outros grandes artistas seguiram o movimento pela música livre. A banda
Radiohead foi a que mais se sentiu livre para experimentar. Depois de demonstrar
forte tendência pelo compartilhamento de música online, ela decidiu criar um novo
sistema para vender suas músicas. Em 2007, lançou o sétimo álbum, In Rainbows, e o
colocou na internet com um detalhe que causou polêmica no cenário musical: quem
decidia o preço do CD era o próprio internauta. Isso mesmo, o público poderia pagar o
quanto quisesse pelo álbum, inclusive nada. Estratégia de marketing ou ideologia?
Talvez os dois. A questão é que um grupo reconhecido e respeitado por todo o mundo
tomou uma atitude, até então, defendida por bandas pequenas. Além disso, suscitou
discussões sobre as novas formas de utilizar o mercado.
Quase um ano depois, o grupo anunciou o resultado das vendas pelo sistema
“pague o quanto quiser”. Segundo a gravadora Warner Chappell, responsável pelo
álbum, a maior parte dos fãs optou por não pagar nada para fazer o download do
22
disco. No entanto, o In Rainbows gerou mais dinheiro do que o trabalho anterior da
banda, Hail To The Thief, de 2003. De acordo com reportagem da Folha de S. Paulo, o
download durou somente três meses e o CD ganhou o primeiro lugar nas paradas dos
EUA e do Reino Unido depois de seu lançamento físico. O grupo vendeu 100 mil cópias
da caixa de In Rainbows, que continha músicas extras. A gravadora concluiu que a
estratégia de lançamento foi um sucesso comercial.
A banda segue o caminho da experimentação e, volta e meia, solta alguma
novidade, como novos singles na rede e vídeos em parceria com artistas gráficos. Mas
não abandonou modo convencional da indústria da música. Em 2011, o grupo lançou o
álbum The King Of Limbs de forma tradicional.
2.4 – Artistas independentes ganham a rede
Ao lado dos grandes nomes que apoiam essa nova forma de propagação cultural,
estão os pequenos artistas. Inclusive aqueles rejeitados pela grande mídia, que uma
década antes não tinham oportunidade de mostrar o trabalho. Eles passaram a
disponibilizar seus arquivos musicais gratuitamente na internet. Essa foi a
oportunidade que encontraram de sair do anonimato estabelecido pelos filtros da
escassez econômica. O mercado invisível tornou-se visível (ANDERSON, 2006).
O grande benefício para os artistas independentes é o fato de que na internet
não há a intermediação de gravadoras entre músicos e fãs. “Os artistas sempre foram
patrocinados pelos fãs, mas tinham as gravadoras como intermediários. Os novos
modelos de negócio devem levar em consideração perder o pudor e buscar o público
de uma forma direta” (LEONI, 2010: 76). Foi isso que os músicos fizeram. Já que não
tinham as grandes produtoras para conseguir uma apresentação nos programas de
domingo, foram direto falar com o público.
Essa conversa exigiu o fortalecimento das redes sociais online. O site da própria
banda juntou-se com os sites de relacionamento nesse processo. Fotos, vídeos,
convites, conversas, tudo é válido para chamar a atenção do público. Este, por sua vez,
ganhou muito com o novo modelo de artista. Sem o pedestal, o ídolo se torna
acessível. É quase a sensação de uma amizade. Imagine poder falar diretamente com
os integrantes dos Beatles na década de 1960. Hoje, é isso que ocorre.
23
As oportunidades aos artistas menores se abriram porque, na rede, todo o poder
de escolha está na mão do usuário. Em meio a toneladas de informação, é ele que
decide o que quer consumir. Mas, primeiro, o músico precisa se tornar visível ao
internauta. Segundo Chris Anderson, a sociedade está saindo da Era da Informação e
entrando na Era da Recomendação. “Hoje, é ridiculamente fácil obter informações;
praticamente se tropeça nelas nas ruas. A coleta de informações não é mais a questão
— a chave agora é tomar decisões inteligentes com base nas informações” (2006: 75).
Quem gosta de música sempre quer conhecer novas canções. Esses métodos
revolucionários de adquirir cultura trouxeram alternativas para os ouvintes. Eles
puderam ter acesso a novidades. Por isso, cabe ao músico convencer o público sobre
seu produto. É necessário criar uma ligação entre oferta e demanda, apresentando aos
consumidores esses novos bens, agora disponíveis com mais facilidade.
A propaganda boca a boca dos blogs e das redes de relacionamento são
essenciais. É isso que “ajuda as pessoas a encontrar o que querem nessa nova
superabundância de variedades” (ANDERSON, 2006: 75).
Os novos formadores de preferências são os consumidores. É um trabalho de
formiguinha, mas que no fim pode dar bom resultado. Como diz Anderson, as formigas
têm megafones.
2.5 – Novo modelo de artista
Houve uma época em que para ser músico e ser reconhecido por isso bastava
chegar aos locais de show, às entrevistas, aos programas de rádio e televisão. A
internet criou a possibilidade do próprio músico batalhar diretamente pela visibilidade.
Seja na divulgação, na produção, na edição. Ele tem que estar no palco, mas também
precisa se mover na coxia. Ele aparece na tevê, mas também vai diariamente ao
escritório da banda. Ele dá autógrafos e entrevistas, mas também conversa com o
público nos sites de relacionamento.
Acabou o glamour de quem quer viver de música. Nessa nova era, “artista igual
pedreiro”, como define a banda de Cuiabá Macaco Bong. O trabalho vai muitas vezes
para o lado braçal mesmo. Carregar equipamento, montar tudo antes do show e
depois desmontar, por conta própria. Esse quadro ocorre principalmente com artistas
que estão iniciando a carreira e optaram – ou não – por fazê-la de forma
24
independente. Todos têm expectativas de que, com o reconhecimento do trabalho,
possam contratar profissionais e ter uma estrutura melhor.
Um ótimo exemplo de que trabalho duro pode levar ao sucesso é a banda
brasiliense Móveis Coloniais de Acajú. Além da sonoridade instigante, o grupo,
formado em 1998, trouxe um novo sistema de negócio. Eles se autoentitulam de
banda-empresa. Fazem da música sua matéria-prima. No palco, atuam como artistas.
No escritório, como web designers, editores de vídeo, produtores de eventos etc. Hoje,
o grupo já é reconhecido em todo o país e atribui o sucesso ao modelo de trabalho.
Um sistema que segue o mesmo padrão, mas entre grupos culturais, é o Circuito
Fora do Eixo. Bandas locais se juntam em coletivos e uma ajuda a outra nos shows, na
edição dos discos, na divulgação. O Fora do Eixo agrega todos os coletivos do país e
alguns da América Latina, que já somam mais de 70, com cerca de cinco mil bandas no
total. A comunidade foi criada em Cuibá, no Mato Grosso, em 2006. A ideia era
organizar artistas independentes longe dos grandes centros. Cinco anos depois se
tornou uma poderosa organização capaz de realizar mais de cinco mil shows ao ano,
em mais de cem cidades. O intercâmbio de artistas entre as cidades é o que move o
circuito. A rede agrega editora, produtora, bar, ONG, fundação etc.
2.5.1 - Música livre como divulgação
Mas será que dá para ganhar dinheiro e sobreviver de música dessa forma? A
resposta é sim. Inicialmente, com muitas dificuldades. À medida que a
profissionalização cresce, é totalmente possível. Divulgar músicas na internet e manter
sites atualizados, além do contato com o público, não é perda de tempo, e sim uma
estratégia de marketing. O objetivo é exatamente esse: publicidade. Ao ouvir a música
e ver um vídeo de determinada banda, o público se interessa pelos shows ao vivo e
pelo material físico (CDs e DVDs). Além do que, se gostarem do material, o
recomendam aos amigos.
Os artistas não abrem mão de seu direito autoral. Eles o usam da melhor forma
que encontram. E assim convertem essas alternativas em benefícios profissionais e
financeiros. Hoje, as únicas formas de se conseguir atingir algum público com sucesso
são a internet e os shows (LEONI, 2010).
25
2.5.2 - Puro amor pela coisa1
Mas o fato é que nem sempre o dinheiro importa. A internet abriu possibilidades
para que as pessoas façam o que gostam com um custo menor, muitas vezes até de
graça. Uma pessoa pode abrir um blog, por exemplo, e produzir conteúdo de
qualidade sem gastos diretos e sem esperar lucros, por puro prazer.
Com a música pode acontecer o mesmo. Conforme estudo feito por Oberholzer-
Gee e Strumpf, da Universidade de Harvard, a motivação dos músicos vai além dos
incentivos financeiros. Eles argumentam que os artistas desfrutam de
sua profissão. Eles têm prazer de criação e execução de música, além de gostarem do
estilo de vida. Aspectos como horários flexíveis e ausência de um chefe imediato
podem pesar na escolha.
Chris Anderson concorda com esse ponto de vista. Segundo ele, as pessoas estão
deixando de ser apenas consumidores passivos para atuar como produtores ativos. “E
o estamos fazendo por puro amor pela coisa” (2006: 45). Ele usa como exemplo os
autores de livros. As pessoas imaginam que todos eles escrevem com o intuito de se
tornar um best-seller e ficarem ricos. Mas a verdade é que a maioria sabe que não
aparecerá na lista dos mais vendidos e alguns nem pretendem isso. Nos Estados
Unidos, são publicados cerca de 200 mil exemplares por ano, 98% deles são não-
comerciais. Os autores sabem disso, e “preferem seguir suas paixões e aceitar que não
ganharão muito dinheiro. Muitos nada mais querem do que ser lidos por algum grupo
de afinidade – por seus pares ou por pessoas com interesses semelhantes” (2006: 53).
Como os artistas independentes povoam o meio e a ponta da Cauda Longa, têm
custos de produção e distribuição mais baixos, graças ao poder democratizante das
tecnologias digitais. Os aspectos financeiros são secundários. Em vez disso, as pessoas
criam por várias outras razões, como expressão, diversão, experimentação... A moeda
deixa de ser o dinheiro, mas tem tanto valor quanto ele. É a reputação. Ela pode ser
convertida em outras coisas de valor: trabalho, estabilidade, público e ofertas
lucrativas de todos os tipos.
1 ANDERSON, 2006: 45
26
2.5.3 - Novas prioridades do mercado
Mesmo que a criação não tenha fins lucrativos como prioridade, pode produzir
dinheiro. O item passa a ser não o produto de valor em si, mas a propaganda do
produto de valor, que neste caso são os próprios autores.
São necessárias alternativas ao mercado musical convencional. Ao disponibilizar
as músicas na internet de forma gratuita, o artista pensa em um modo de tornar aquilo
rentável. Por isso, muitos têm criado materiais especiais para venda. Um CD com
encarte diferenciado, DVD com material extra, camisetas, broches, toda criatividade é
válida nessa hora. Segundo Leoni, a oferta de algo exclusivo gera receita. “Não é
porque a música na internet é gratuita que não exista dinheiro a ser ganho” (2010: 80).
O verdadeiro carro chefe da música hoje são os shows. Com a queda na venda de
CDs, os espetáculos se tornaram o principal atrativo dos artistas. De acordo com a
pesquisa de Oberholzer-Gee e Strumpf, da Universidade de Havard, os concertos
tornaram-se a principal fonte de renda dos grandes músicos.
Como o preço efetivo do álbum cai próximo a zero, um número maior de consumidores
ficam familiarizados com as músicas, elevando a demanda por shows. Como estes
resultados, a renda proveniente da venda de complementos pode mais do que compensar
os artistas por qualquer dano que o compartilhamento de arquivos tenha trazido a sua
atividade. (OBERHOLZER-GEE E STRUMPF, 2009: 20)
O fato se comprova: em 2011, a banda irlandesa U2 bateu o recorde de maior
turnê da história. Mais de US$ 558 milhões em ingressos foram vendidos,
ultrapassando a marca dos Rolling Stones com A Bigger Bang Tour, entre 2005 e 2007.
A 360º Tour também foi a maior bilheteria de todos os tempos: 7 milhões de ingressos
vendidos em 110 shows. É o mercado dos espetáculos se mostrando cada vez mais
forte, tanto para grandes como para pequenos artistas.
Ainda segundo Oberholzer-Gee e Strumpf, a queda na venda de CDs não significa
que o mercado musical vai mal. Para os pesquisadores, a imprensa popular e alguns
especialistas em políticas públicas muitas vezes avaliam o compartilhamento de
músicas em um único núcleo do mercado. Ao avaliar as tendências da venda dos
álbuns, a indústria musical conclui que a distribuição gratuita de canções afeta
negativamente o mercado. Pode ser mais difícil para as gravadoras vender CDs hoje,
27
mas quando se amplia o foco, percebe-se o crescimento no número de espetáculos e
na compra de iPods, por exemplo. De acordo com o estudo de Harvard, a venda de
música nos Estados Unidos declinou 15% entre 1997 e 2007. Mas a indústria de shows
cresceu 5% e a venda de iPods, 66%.
Esses números não comprovam queda ou crescimento da indústria da música.
Mas mostram inegavelmente que nesse período ocorreu uma mudança tecnológica. As
pessoas saíram do CD player para o MP3 player. Essa novidade resultou em uma
transformação cultural. E deveria ser vista pelo mercado como novas oportunidades
de negócio. Quem a encarou dessa forma acompanhou as modificações de forma
positiva. Diferentemente do tradicional mercado musical que insiste em condenar esse
novo modelo de cultura.
2.5.4 - A grande mídia
O que também não pode ser desprezado é o valor da grande mídia hoje. Ela
perdeu peso nesta última década, mas ainda tem grande importância no cenário
musical. O que mudou é o fato de ser essencial para os músicos. Se souber usar a web,
ele consegue fazer público e crescer na carreira. Mas a mídia tradicional pode
impulsionar o artista. O uso do rádio, da tevê e da imprensa em geral ainda é a melhor
forma de chamar a atenção para o trabalho. Os músicos têm que aproveitar as
oportunidades para mostrar o que há de melhor, pois pode alcançar um público novo,
que ainda não conhecia suas obras.
É possível que os hits não mais dominem a sociedade e o comércio tanto quanto no século
passado, mas ainda exercerão impacto inigualável. E, em parte, isso se explica por sua
capacidade de atuar como fonte de cultura comum. (ANDERSON, 2006: 102)
Segundo Chris Anderson, a cultura de massa não deixará de existir, ela
simplesmente se tornará menos massificada. Pela primeira vez, a internet e a grande
mídia estão dividindo o palco.
28
3 – A REALIDADE BRASILEIRA
3.1 - Reforma da Lei do Direito Autoral e crise do MinC
Assim como em todo o mundo, o Brasil passou por mudanças culturais. A
internet transformou o cenário musical e criou uma nova forma de produção e
consumo de cultura. Tantas novidades exigem mudanças na legislação.
A reforma da Lei do Direito Autoral sempre causou polêmica no país. Mas as
discussões se potencializaram depois que a nova ministra da Cultura, Ana Hollanda,
que tomou posse em 2011, anunciou a revisão do anteprojeto da Lei, que prevê maior
acesso do consumidor à obra de autores e artistas. A legislação atual (9.610/98) é de
1998 e está defasada diante de novidades, como a distribuição de músicas na internet.
A revisão começou a ser debatida quando o cantor Gilberto Gil ocupou o cargo de
ministro, entre 2003 e 2008. A discussão se intensificou com o sucessor, Juca Ferreira.
O anteprojeto que cria a nova Lei do Direito Autoral é fruto de 80 reuniões setoriais,
sete seminários nacionais e do estudo da legislação de 20 países.
Segundo Ana Hollanda, a democratização da cultura não pode passar por cima
do direito autoral. A ministra, que tomou posse em 2011, afirma, em entrevista à
revista IstoÉ Dinheiro, que o direito do autor é uma conquista quase trabalhista. “Ter
sua profissão reconhecida como um trabalho que lhe dá direito sobre sua obra é uma
reivindicação muito forte da área cultural e criativa (...). Os autores, escritores e
mesmo cientistas têm de ter resguardados seus direitos” (2011).
Alguns artistas concordam com a ministra. Caetano Veloso publicou um artigo no
jornal O Globo no qual dizia “ninguém toca em nem um centavo dos meus direitos”
(2011). Na publicação, ele se mostra perdido em meio a nova realidade da internet e
defende que o princípio do direito de autor é límpido e é a ele que se agarra nesse
momento obscuro.
Críticas não faltaram à posição do cantor. Segundo o fundador do projeto
Software Livre Brasil, Marcelo Branco, declarações como a de Caetano Veloso
demonstram que ainda há muita confusão na discussão do direito autoral na internet.
Branco foi diretor da Campus Party Brasil, maior feira tecnológica do país, por três
anos, e, nas eleições de 2010, coordenou a estratégia nas redes sociais da atual
presidenta Dilma Rousseff. O especialista explica que não existe nenhum movimento
29
que obrigue autores a liberarem suas obras. Para ele, manifestações como a de
Caetano remetem ao Projeto de Lei 84/1999 do deputado Eduardo Azeredo (PSDB-
MG), que ficou conhecido como AI-5 Digital. A proposta quer punir e criminalizar com
até três anos de cadeia quem estiver baixando músicas pela internet. A questão é que
a revolução tecnológica pela qual o mundo passa exige mudanças na atual Lei do
Direito Autoral. Segundo Mascelo Branco, a nova legislação deve “admitir aos avanços
da internet e descriminalizar as práticas de compartilhamento de arquivo P2P”.
3.1.1 – Creative Commons
Alternativas para o direito autoral já se mostram concretas. Uma delas é o
Creative Commons. Essa é uma licença na qual o autor libera determinados usos de
sua obra. Em vez do Copyright, que defende “todos direitos reservados”, o símbolo
(CC) diz “alguns direitos reservados”. O Creative Commons é uma organização não
governamental sem fins lucrativos e foi criado em 2001 pelo advogado Lawrence
Lessig, professor da Universidade de Stanford. A ferramenta surgiu quando percebeu-
se que a internet possibilitou acesso universal a informações, seja educacional ou
cultural. O Copyright exige que todos os usos do produto tenham a permissão explícita
do autor, concedida antecipadamente. Mas o fato de alguns autores liberarem, por
conta própria, suas obras para determinados usos, fez surgir o Creative Commons. A
licença padroniza a forma como o licenciamento é feito, assim não é preciso procurar
um advogado toda vez que se queira utilizar, copiar ou reproduzir conteúdo na
internet. Neste caso, a opção de tornar a música disponível, por exemplo, é do próprio
autor.
O Creative Commons se mostrou mais forte no país quando, na coordenação de
Gilberto Gil, o Ministério da Cultura (MinC) colocou o selo no site institucional. Isso,
junto com as ações que o governo vinha tomando, demonstrou um avanço na posição
do país sobre o conteúdo online. Mas assim que a ministra Ana Hollanda assumiu o
cargo, o selo foi retirado do portal. Mesmo sendo algo simbólico, já que o conteúdo do
MinC é de domínio público, mostrou que a posição da ministra destoa do que tem sido
proposto até então.
30
As polêmicas movimentam grupos artísticos. Os contrários à posição da ministra
elaboram uma carta à presidenta Dilma Rousseff na qual demonstram
descontentamento com a atuação do ministério. E fazem isso por meio da própria
internet. Blogs, redes sociais, e-mails mobilizam a população para que assine a carta e
se posicione diante da questão.
3.1.2 - Ecad
O órgão responsável por arrecadar e distribuir os direitos autorais aos artistas é o
Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (Ecad). Ele é uma sociedade civil, de
natureza privada, mantida pela atual Lei do Direito Autoral. Administrado por nove
associações de música, tem sede na cidade do Rio de Janeiro. Dados da instituição
mostram que a arrecadação em 2010 foi de cerca de R$ 346,5 milhões.
O dinheiro é coletado das mais diversas formas – uso de músicas em filmes, na
tevê, no rádio, em festas, em bares, em lojas, em hotéis, em consultórios médicos... Só
um ambiente ainda se mantém obscuro para o Ecad: a internet. Com as novas formas
de produção participativa, os direitos do autor muitas vezes são ignorados. E como é
um universo de tamanho incalculável, como define a Teoria da Cauda Longa, dificulta o
trabalho dos fiscais do Ecad.
O órgão está atualmente na maior crise de sua história. Em 25 de abril de 2011, o
jornal O Globo publicou uma matéria intitulada “Procurando Coitinho”, na qual
denuncia o pagamento indevido de R$ 127,8 mil a Milton Coitinho dos Santos, um
desconhecido que, ao longo de dois anos, registrou como de sua autoria diversas
trilhas sonoras do cinema brasileiro. O criminoso registrou as composições por meio da
União Brasileira de Compositores (UBC). Brechas no sistema de cadastro teriam
facilitado a fraude. O jornal Folha de S. Paulo encontrou Coitinho em Bagé, no Rio
Grande do Sul. O dono do CPF é um motorista de ônibus que disse não saber tocar
nem gaita.
Depois disso, o jornal O Globo também noticiou novas irregularidades. De acordo
com documentos internos, em 2004, o Ecad teria transformado R$ 1,2 milhão de
crédito retido, valor arrecadado que não pôde ser distribuído por não estar bem
identificado, em receita para a própria empresa. Em 2006, uma família de São Paulo de
sobrenome Macedo teria tentado fraudar o sistema de distribuição do Ecad. No
31
suposto golpe, membros da família informaram ao órgão que haviam promovido bailes
de carnaval em que só tinham sido executadas músicas de sua autoria. O caso
provocou a demissão de 31 funcionários do escritório paulista, 17 por justa causa. Em
2008, uma funcionária do escritório pediu a uma instituição financeira a emissão de
vales-refeição para os funcionários. Entretanto, em vez de repassar o valor aos
trabalhadores, ela embolsou os R$ 750 mil. Até hoje o dinheiro não foi recuperado.
Além dessas, outras irregularidades colocaram o nome da instituição em
destaque. Por isso, duas Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs) investigarão o
Ecad. A proposta pelo senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) já foi aprovada no
Senado Federal. E a sugerida pelo deputado estadual André Lazaroni (PMDB-RJ)
ocorrerá na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. Membros da sociedade,
principalmente os envolvidos com atividades culturais, defendem a intervenção do
governo. A questão também será incluída no anteprojeto da nova Lei de Direitos
Autorais.
3.2 - Música para Baixar
MPB é um termo que abrevia um estilo musical, Música Popular Brasileira. Mas
ícones da produção independentes se apoderaram dele para criar um novo
movimento, o Música para Baixar. Artistas, produtores, ativistas da rede e usuários da
música se uniram em defesa da liberdade e da diversidade musical que circula na
internet.
O grupo extrapola fronteiras de gênero musical. Todos que vivem a nova
realidade cibernética são convidados a debater as inovações na economia do mercado
artístico. O MPB promove debates e ações em diversos estados brasileiros, sempre em
busca de alternativas. Ele defende a necessidade de discussões sobre temas como
economia solidária, flexibilização do direito autoral, software livre, cultura digital,
comunicação comunitária e colaborativa.
Nomes como Leoni, O Teatro Mágico, GOG, Nei Lisboa, Ellen Oléria, entre outros,
compõem o movimento. As críticas ao modelo de mercado atual são muitas. Para eles,
quem baixa música não é pirata, é divulgador. A legislação que defendem criminaliza a
prática de “jabá”, na qual artistas têm que pagar para ter visibilidade em tevê e rádio,
32
e assegura os direitos do autor, mas também a difusão livre e democrática da música.
Em manifesto, afirma que o MPB é uma forma de resistência a qualquer atitude
repressiva de controle da internet e a ameaças contra liberdades civis que impedem
inovações. “A rede é a única ferramenta disponível que realmente possibilita a
democratização do acesso à comunicação e ao conhecimento, elementos
indispensáveis à diversidade de pensamento” (2011).
Atualmente, o MPB está focado no Festival Internacional de Música Livre, que
ocorrerá no final de janeiro de 2012, dentro da programação do Fórum Social Mundial.
Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, será palco de um dos maiores movimentos pela
música independente. Haverá mostra musical e debates sobre as novas possibilidades
que integram a produção musical.
3.3 – Música online legalizada
Com a popularização dos MP3 players, como o iPod, as grandes empresas
buscaram forma de vender música pela internet. Internacionalmente, surgiram nomes
como iTunes. No Brasil, o modelo foi seguido por sites como iMusica e UOL Megastore.
Canções podem ser compradas com o pagamento médio de R$ 1,50. No entanto, o
sistema não conseguiu, até hoje, mobilizar o brasileiro, que continua baixando faixas
pelo sistema P2P. Outra alternativa é a assinatura de pacotes. Em portais como o
Sonora, a pessoa pode escolher um plano mensal. Com o valor de R$ 49,90 por mês,
por exemplo, o consumidor pode baixar 250 faixas e ouvir todas as músicas disponíveis
online.
Uma gravadora brasileira tem se destacado por manter uma posição diferente da
indústria musical. É a Trama. A empresa, comandada por André Szajman e João
Marcello Bôscoli (filho de Elis Regina e Ronaldo Bôscoli), abriu um novo mercado para
a cultura independente. Eles criaram um sistema no qual o download de música é
gratuito para quem baixa, e, ao mesmo tempo, é remunerado para o artista. A Trama
Virtual totalizou, em junho de 2011, 74.456 músicos cadastrados e 182.967 músicas
disponíveis para baixar.
Empresas apoiam a iniciativa, cedendo uma verba mensal a ser dividida entre
todos os downloads realizados durante o período. Por exemplo, se o recurso disponível
no mês for de R$ 10 mil e forem baixadas 100 mil faixas neste tempo, cada música
33
renderá R$ 0,10 ao artista. O músico pode resgatar o valor a partir do momento que
acumular R$ 50.
De acordo com a gravadora, entre abril de 2010 e março de 2011, a verba
disponível foi de R$ 318.900. O número de downloads foi de 6.249.226. O que equivale
a aproximadamente R$ 0,05 por música baixada. O valor é pequeno em relação ao
preço de músicas vendidas online. Mas se transforma em lucro para artistas
independentes, que já disponibilizariam o material de graça como forma de divulgar o
trabalho.
No Manifesto Trama, publicado no site da gravadora, Szajman e Bôscoli
defendem a relação saudável entre artistas, produtores, distribuidores, difusores e
consumidores. Para eles, interesses comerciais não podem definir a música. Deve
haver o artista e ao redor dele, um negócio. Não o contrário.
A tecnologia existe para servir a música e não o contrário. Acreditamos em novas e
tradicionais tecnologias, que criam novas maneiras de trabalhar, produzir, pesquisar, ver e
ouvir. A tecnologia digital (Internet, celular, TEVÊ, etc.) é a maior difusora de música da
história da humanidade, convergindo divulgação e consumo em tempo real. (Szajman e
Bôscoli, 2004)
A Trama Virtual estimula o movimento de transformação da indústria. A ideia é
investir no artista que cria sua própria obra e constrói uma carreira sustentável. Como
consequência, ocorre o incentivo à inovação e renovação das obras artísticas
brasileiras. E tudo isso tendo como base a tecnologia digital, que é uma facilitadora da
cultura, seja na criação, produção, interação, promoção e distribuição de música.
Ao lado da gravadora, a tevê Trama desenvolve um trabalho interessante. O
canal online transmite em tempo real tudo que ocorre nos estúdios da empresa. Há a
programação ao vivo, com pocket shows, entrevistas, gravações de músicas e
videoclipes; e o acervo, que segundo o site, recebe cerca de 1,5 milhão de visitas por
mês no Youtube.
34
4. ESTUDO DE CASO: O TEATRO MÁGICO
4.1 – Breve história
“Mas, espere! Por fim eu conseguia ler, uma
após outra, várias palavras que diziam:
‘Teatro Mágico: Entrada só para raros’”
O lobo da estepe - Hermann Hesse, 1955: 35
Foi a partir desse trecho do livro O Lobo da Estepe, de Hermann Hesse, que
Fernando Anitelli teve a ideia do nome para o grupo. O Teatro Mágico traz consigo a
essência de saraus culturais, nos quais diversas formas de arte são manifestadas no
mesmo evento por todos os participantes. O grupo é constituído de músicos, atores,
artistas circenses, poetas, dançarinas. “Tudo junto numa coisa só”, como Anitelli define
no site oficial. Mas toda a ideologia da trupe vem de antes, foi construída a partir de
experiências dos integrantes.
Fernando Anitelli nasceu em 1975, em Presidente Prudente, São Paulo. Criado na
cidade de Osasco, o ator, músico e compositor faz música desde os 13 anos. Foi no
curso de Comunicação Social que formou a primeira banda, chamada Madalena 19.
Foram quase dez anos de ensaios e apresentações de pequeno porte. Acompanhado
do pai, Odácio Anitelli, fazia algumas viagens nas quais sempre ficavam promessas de
contatos com grandes gravadoras e agentes de tevê. Essas notícias alimentavam
sonhos do grupo, que vivia a expectativa de serem premiados com contrato em uma
gravadora.
A espera completou cerca de oito anos. Após perder dinheiro na mão de pessoas
que diziam ter contatos, que os levariam a turnês no exterior, surge uma
oportunidade: uma gravadora aceitou gravar as músicas de Fernando. Seria a tão
esperada entrada no mainstream. Hoje, o cantor considera que cometeu dois erros: o
primeiro, esperar um contrato com gravadora; o segundo, assinar. Depois de algum
tempo no estúdio, o dono da empresa avaliou a música como “brasileira demais”. Na
época, a moda era o ska, e, portanto, a banda teria que refazer tudo. Sem entender a
visão do produtor, Fernando se recusa a modificar os arranjos. O dono da gravadora
cancelou o projeto. “Eles estavam preocupados com o dinheiro, só isso. Enquanto no
35
final da ponta tinha alguém preocupado em conceber uma música, uma
experimentação traduzida com poesias, arranjos e musicalidade” (ANITELLI, A Cultura na
Era Digital, 2009).
Mas o problema revelou-se ainda maior. Ao assinar o contrato com a companhia,
Anitelli cedeu todos os direitos das músicas que poderiam ser gravadas nos próximos
cinco anos. Foram cinco anos de silêncio. Segundo o irmão de Fernando, e hoje
produtor do artista, Gustavo Anitelli, todo o trabalho feito até então foi desperdiçado.
Isso criou as bases para o nosso pensamento, perseguimos por anos respostas para um
sistema engessado, onde os definidores da música são os atravessadores, negociantes de
terno e gravata. Foi a partir deste tombo que chegamos a seguinte conclusão:
Independência ou morte! Não vamos mais depender de contato de rádio, gravadora, tevê,
empresário. Chega, acabou, vamos começar a estabelecer um contato com um agente
somente, o público, é ele que importa, é ele quem interessa. (ANITELLI, Música Líquida,
2009)
Em 2003, a ideia de fazer o projeto multicultural foi concretizada. Assim nasceu
O Teatro Mágico. O grupo de Osasco criou uma nova estrutura artística. No palco,
violão, dança e poesia convivem em perfeita harmonia com malabarismos,
interpretações e melodias. A performance é inédita no Brasil. Nunca um grupo
experimentou tanto no palco, envolvendo tantos tipos de arte. Foi nesse ano que
lançaram o primeiro álbum, O Teatro Mágico: Entrada para Raros, todo gravado na
casa de um amigo, em Osasco. O título é uma referência ao best-seller do escritor
alemão Hermann Hesse. “Quando eu li sobre o Teatro Mágico do Hesse, percebi que
era justamente aquilo que eu gostaria de montar: um espetáculo que juntasse tudo
numa coisa só” (ANITELLI, O Teatro Mágico, 2011).
Em 2008, a trupe lançou o Segundo Ato. Álbum com uma linguagem mais crítica
do que o primeiro. Além disso, o grupo gravou dois DVDs. O elenco não é fixo, até hoje
cerca de 30 artistas passaram pelas apresentações. Administrado pelo escritório
dirigido por Gustavo Anitelli, a trupe optou por independência. Os integrantes
levantam claramente a bandeira da cultura livre e mantêm uma postura de
independência diante do mainstream musical. Nada de grande gravadora, grande
assessoria de imprensa, grande produtora. O grupo organiza tudo ao lado do seu
verdadeiro incentivador, patrocinador e produtor: o público. Assim, o CD é vendido a
preços populares (R$ 5 a R$ 15) e a distribuição das músicas é gratuita e livre pela
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internet. Inclusive, os próprios músicos pedem isso aos fãs. O grupo cresce e se torna
mais reconhecido a cada ano. Em 2009, foi eleito pelos leitores da Folha de S. Paulo
como o melhor show da atualidade no Brasil.
Os números de venda surpreendem. Em oito anos de estrada, a trupe vendeu
mais de 300 mil cópias de O Teatro Mágico: Entrada para Raros; 100 mil do Segundo
Ato; e mais de 100 mil DVDs. O número pode parecer pequeno perto da vendagem de
261 mil cópias do álbum Zezé di Camargo & Luciano (2008) da dupla sertaneja
somente em 2009, por exemplo. Mas ao considerar o fato do grupo ser independente
e autônomo, com a divulgação toda baseada na internet, em uma época na qual o
índice de CDs vendidos só diminui, percebe-se que o número é significativo.
Entretanto, o grande fenômeno está nos mais de cinco milhões de downloads. Na
Trama Virtual, O Teatro Mágico é o grupo mais baixado.
4.2 – Atuação online
Em entrevista ao blog A Cultura na Era Digital, Fernando Anitelli levanta um
aspecto já citado neste trabalho. “O artista tem que ficar frente a frente com o público.
Tem que fazer o trabalho de formiguinha” (2009). Hoje, a forma mais simples e
acessível de se colocar diante do público é a internet. Nela, o contato pode ser tão
direto quanto pessoalmente. Redes sociais ajudam a trupe a formar um vínculo forte
com os fãs.
No Teatro Mágico, os integrantes mais ativos possuem contas em sites como
micro blog Twitter, o Facebook e o Orkut. De acordo com o violinista do grupo,
Galldino, não há um mecanismo para essa comunicação, uma organização estipulada.
O que ocorre é que os indivíduos que participam do projeto estão naturalmente nas
redes sociais. O público os encontra e passa a se relacionar com eles. É tudo muito
intuitivo e cada qual lida com a rede do seu jeito.
O Twitter é o mais usado para uma conversa rápida com o público. O assunto
predominante é a própria trupe. Datas de apresentações, novidades sobre álbuns,
parcerias musicais, comentários sobre shows que passaram. Mas também é um espaço
usado para a troca de informações sobre os mais diversos assuntos. No caso de
@oteatromagico, muitas vezes os temas são relacionados à internet e cultura. Eles
apresentam reportagens, comentam polêmicas, pedem opinião dos seguidores,
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levantam a bandeira da música livre e criticam a indústria musical. O Twitter dos
integrantes são mais pessoais, mas sempre com essa veia política.
O Facebook e o Orkut formam uma espécie de comunidade da trupe. De acordo
com Galldino, o Orkut acabou se transformando em um fã clube. No Facebook, as
fotos ganham destaque. Pelo fato da marcação, na qual o dono da fotografia pode
relacionar quem está na imagem ao perfil da pessoa, muitos que tiram fotos com os
integrantes ligam à trupe. Assim, há um arquivo imenso de imagens do Teatro Mágico
ao lado dos fãs.
O grupo não tem canal oficial no Youtube. Mas uma rápida pesquisa no site
voltado para vídeos logo demonstra como o público se empenha em colocar gravações
de show, programas de tevê e reportagens.
E o site divulga informações oficiais e centraliza os conteúdos contidos nas redes
de relacionamento citadas acima. Todas as músicas estão disponíveis no portal. Se o
internauta preferir fazer o download é direcionado à Trama Virtual. Há também a loja
virtual. Além dos CDs e DVDs, encontra-se uma enorme variedade de camisetas e
adesivos. Ela se torna real nos shows do grupo. Fernando Anitelli sempre anuncia do
palco que os produtos estão à venda e deixa claro a necessidade da participação de
todos nesse processo. Afinal, mesmo que os shows tenham ganhado mais importância
no cenário musical, os álbuns ainda fazem parte do pacote. E com os valores
acessíveis, o público não deixa de comprar.
4.3 - Produção colaborativa
A produção colaborativa proposta pela internet é uma forma muito eficaz de
crescer na rede. As pessoas gostam de participar do processo de criação. Um exemplo
é a canção O que se perde enquanto os olhos piscam, que foi composta pelo líder do
grupo em parceria com os internautas pelo Twitter. Depois disso, o público pôde
acompanhar a gravação ao vivo pela web.
Em abril deste ano, Fernando Anitelli lançou seu primeiro CD solo, As Claves da
Gaveta. Eram músicas que ele havia composto há 15 anos e estavam jogadas na
internet. Durante todo o processo de produção do disco, o compositor atualizou o
público por meio de seu micro blog. Todas as novidades eram passadas diretamente
de ídolo para fã, sem a intervenção da mídia.
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Anitelli conseguiu tanta visibilidade para seu trabalho, que no dia do lançamento
o grande número de acessos tirou o site da Trama Virtual do ar. Além disso, ficou entre
os assuntos mais comentados no Twitter brasileiro. Para oficializar o lançamento, fez
uma apresentação ao vivo pela internet.
Na contracapa do novo álbum está o símbolo (CC). O cantor permite assim que a
obra seja copiada, compartilhada e remixada, mas resguarda o uso comercial. Com o
Creative Commons, o artista é quem que dá o rumo do produto. Para Anitelli, as
gravadoras deveriam oferecer aos músicos a opção de trabalhar com o selo. Segundo
reportagem de O Globo, grandes gravadoras já procuraram O Teatro Mágico, mas
sempre desistem diante da proposta de que os CDs custem entre R$ 5 e R$ 10.
Também baseando-se na idéia da produção participativa, o violinista Galldino
desenvolveu um projeto interessante, chamado Twitticas. A ideia é fazer um álbum
solo no qual a letra das canções caibam no limite de 140 caracteres do Twitter. Assim
como Anitelli, o compositor conta aos seguidores como está todo o processo de
produção e sempre pergunta aos internautas o que eles acham do projeto. Muito
desse diálogo ocorre por meio de twitcams, portal ligado ao Twitter que permite a
transmissão de imagem ao vivo. Galldino as faz com frequência. É um momento em
que apresenta as canções ao público e responde questões dos fãs.
Os recursos da internet dão aos artistas a possibilidade de saber imediatamente
a opinião do público. E para a trupe, isso é o que mais importa. Como define Galldino,
“sem público não existe nada” (Entrevista à autora, 2011). É uma extensão do grupo. A
ideologia adotada por eles é visível nos espetáculos. “Não existe essa coisa do artista
em cima do palco e o público distante, lá em baixo. Isso é uma coisa completamente
equivocada” (ANITELLI, Estúdio A, 2010). Palco e plateia se confundem. Tudo vira uma
coisa só. Desde o momento que eles se perdem entre os fãs até a hora de ler uma
poesia jogada por alguém que está assistindo a apresentação.
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4.4 – Inversão na Teoria do Agendamento
Depois de conquistar o público na internet e nos shows, O Teatro Mágico
conseguiu certo espaço e o respeito do mass media. É um exemplo de inversão da
Teoria do Agendamento. Além de apresentações em programas como Altas Horas, da
TV Globo, eles foram convidados a participar de um capítulo da novela Viver a Vida,
em 2010. O diretor Jayme Monjardim ouviu um disco do grupo e fez o convite. Poucas
bandas conseguem tal exposição em horário nobre da tevê brasileira.
Ainda assim, o grupo mantém discurso coerente e continua a criticar o “jabá”
pago por muitos que buscam espaço no rádio e na tevê. Galldino explica que a trupe
não é contra a grande mídia, mas a considera muito cara. “A internet é uma
plataforma livre e democrática. Demora, mas pouco a pouco, você pode reunir seu
próprio público e viver com sua arte” (Entrevista à autora, 2011).
4.5 – Música livre
A democratização da cultura é a maior bandeira defendida pelo Teatro Mágico.
Por isso, acredita na liberação das músicas online. Em entrevista ao jornal O Globo,
Fernando Anitelli argumenta que o modelo dominante no século XX dava muito poder
às gravadoras, pois o artista era obrigado a editar suas músicas com elas. Segundo a
ideologia da banda, o artista não perde nada ao liberar os áudios. É um erro considerar
o download musical como pirataria.
O fã não é pirata. A música é livre, não é caridade, não é doação, é acesso aos bens
culturais. A pirataria é pegar o seu trabalho e revender por um preço menor e aí a
sacanagem começa. E a gente tem a prova de que as pessoas baixam de graça na internet
e quando vão ao show compram o material, eles sabem que o músico precisa daquilo. (...)
Fã é o divulgador, o co-produtor que vai sempre nos ajudar num momento difícil. É o
público que vai dar sobrevida para o artista. A gente tem que valorizar justamente essa
ponta da cadeia produtiva e não a gravadora que tem um monte de dinheiro e está
interessada em fazer mais dinheiro. (ANITELLI, A Cultura na Era Digital, 2009)
E por isso o grupo coordena um movimento que tem tomado importância não só
na web, mas também nas discussões sobre direito autoral. É o Música para Baixar
(MPB). Eles propõem uma flexibilização na questão, mas sem que o autor perca o
direito autoral. O engajamento é tanto, que os integrantes da trupe chegam ao
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envolvimento político. O descontentamento com o Ecad é demonstrado com afinco
nas redes sociais. Além disso, participam de debates e defendem a investigação do
órgão responsável pela arrecadação e distribuição dos direitos autorais. O MPB busca
mecanismos de remuneração justas para o autor, mas é contra a “obscuridade”, como
define Galldino, na qual o órgão trabalha atualmente.
A rede foi e continua sendo decisiva na história do Teatro Mágico. Sem espaço
nas mídias tradicionais, o grupo busca lugar em meio a tantos bits e informações. Isso
mostra que é possível a construção de uma carreira sustentável a qual não seja
definida por hits que tocam incessantemente nas rádios.
O trabalho de qualidade precede o sucesso. O reconhecimento é o combustível
do artista que verdadeiramente luta pela arte. O Teatro Mágico faz isso sem
pretensões de se tornar o grupo mais ouvido do país. É a essência da arte que os
interessa.
A música não pode ser só um produto, ela é um presente de celebração, ela é algo muito
mais mágico e imaterial que estão imaginando. Então, tratar a música como um pedaço de
cadeira, que é um objeto que você usa, gasta e aquilo morre, está equivocado. (ANITELLI,
A Cultura na Era Digital, 2009)
E não usa apenas o discurso musical para fazê-lo. O faz de forma aberta. Levanta
a bandeira da democratização da cultura. Discute com a sociedade melhores formas de
acesso aos bens culturais e de condições de trabalho ao artista. Faz isso usando redes
sociais como plataforma e a voz como instrumento durante os shows. Isso demonstra
que a internet pode potencializar a cultura, assim como a cultura pode potencializar a
internet.
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CONCLUSÃO
A internet causou enormes mudanças no mercado musical. As novas tecnologias
criaram práticas sociais que não se adaptam ao modelo de negócio da música do
século XX. Os hits já não são tão populares e os nichos tão marginalizados. Nesta nova
era, todos convivem. O abismo entre o pop e o alternativo deixa de existir. A internet é
uma ponte que aproxima os dois. Aos poucos, eles entram em equilíbrio.
Muitos artistas, grandes e pequenos, já entenderam a nova dinâmica e todas as
possibilidades que ela traz. Eles aproveitam as oportunidades para sair do
convencional. Bandas pequenas descobriram que independência não é sinônimo de
pouco reconhecimento. Encontraram seu espaço em um mundo onde poucos
prosperavam, devido aos modelos vigentes até então. Os grandes que se mostraram a
favor do “novo” viram na web a chance de fazer algo que é essencial na cultura: a
experimentação.
O Teatro Mágico é um exemplo disso. A internet deu à trupe a possibilidade de
existir no mercado. Mantendo uma postura independente, o grupo multicultural leva
música, teatro, dança, arte circense para todos que se interessam. Tudo isso embasado
na luta pela democratização da cultura. Os integrantes ampliam o discurso do “meu”
para o “todos”. O que eles defendem não é apenas o dinheiro justo no fim do mês,
mas também os direitos da classe artística e o acesso livre da sociedade aos bens
culturais.
O público é que tem movido a internet e os novos modelos de mercado. E, aos
poucos, tem se dado conta disso. Hoje, as escolhas não são mais tão inconscientes
como antes. Os fãs já perceberam que tudo que acontece na esfera musical depende
deles. Mobilizam-se para que cultura de qualidade seja reconhecida. Já sabem seu
lugar nessa cadeia criativa.
A única parte que reluta em não aceitar as mudanças é a indústria musical. As
grandes gravadoras não aceitam perder o poder de outrora. Empresários não encaram
bem as mudanças e insistem em manter modelos retrógrados porque sabem
claramente que não lucrarão como em décadas passadas.
E ao contrário do que alegam os representantes da indústria cultural, a música
em si não caiu em desfavor. Nunca houve melhores tempos para artistas e fãs. O que
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caiu em descrédito foi o tradicional modelo de venda e distribuição de canções. E essa
foi só a primeira indústria fortemente afetada pela nova realidade. Outros ramos da
comunicação social já passam por mudanças, como jornalismo, publicidade, cinema,
tevê, e, inclusive, as próprias relações humanas.
Sendo a música uma forma de comunicação social, e sendo este um sistema
dinâmico, é questão de tempo para que novos modelos surjam. Claro que diversos
problemas advêm com a web, como o excesso de informação e a não garantia de
qualidade dos conteúdos. Mas, a partir de uma visão otimista na qual as ferramentas
são usadas de forma consciente, é possível vislumbrar bons prospectos para a
produção cultural.
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