+museu notícias | setembro 2015

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A NÃO PERDER...

A NÃO PERDER

5 SETEMBRO10H00 | Visita guiada ao Castelo de PalmelaPonto de encontro - Igreja de Santiago14H30 | Visita guiada ao Centro Histórico - vila de PalmelaPonto de encontro - Chafariz de D. Maria I

Visitas orientadas por voluntário do Museu Municipal de PalmelaFrequência gratuita. Duração: 1h30 Limite de inscs.: 15 (até às 12h de 3 setembro)Inscs.: patrimonio.cultural@cm-palmela.pt | 212 336 640Org.: Câmara Municipal de Palmela e Dr. António Lameira

17 SETEMBRO | 15H00ESPAÇO DE TRANSMISSÕES MILITARES, CASTELO DE PALMELADia das Transmissões MilitaresO Museu Municipal assinala o Dia das Transmissões Militares. Celebra-se o aniversário da criação, em Lisboa, a 17 de Setembro de 1873, do primeiro Serviço Telegráfico Militar de caráter permanente, bem como a inaugura-ção da primeira Rede Telegráfica Militar, em Portugal.Visita guiada ao Espaço de Transmissões Militares (Castelo de Palmela), seguida de atividade lúdico-pedagógica, que visa o contacto com um ou mais meios e formas de comunicação abordados na visita.

Limite de inscs.:15 (até às 12h de 15 setembro)Inscs.: patrimonio.cultural@cm-palmela.pt| 212 336 640 Frequência gratuita. Duração: 2h00Org.: Câmara Municipal de Palmela

nº 42 setembro 2015

notícias do Museu Municipal de Palmela

Centro histórico de Palmela.

MUSEUS PARA UMA SOCIEDADE SUSTENTÁVEL

As Jornadas Europeias do Património, iniciativa anual do Conselho da Europa e da União Europeia, assinalam-se no último fim-de-semana deste mês. Aderindo ao convite ende-reçado pela entidade coordenadora nacional - a Direção-Geral do Património Cultural - o Município de Palmela, através do Museu Municipal, associa-se às Jornadas que, por coin-cidirem com a data da Feira Medieval de Palmela, serão celebradas no dia 3 de Outubro.Este ano, dedicadas ao Património Industrial e Técnico, as JEP pretendem sensibilizar os cidadãos para a proteção dos diversos legados patrimoniais presentes no nosso quotidiano, e a olhar esses legados como marcas do engenho e da criatividade do passado, que devem potenciar o progresso, enquadrando-o num mundo sustentável.Neste sentido, o Museu Municipal organiza, em parceria com uma das empresas em-blemáticas da economia vitivinícola do concelho, a Adega Xavier Santana, Sucessores e Lda., uma visita orientada a um acervo - composto por uma colecção de tanoaria e um conjunto de instrumentos laboratoriais - que ilustra diferentes níveis de conhe-cimento entre o «saber-fazer» de um ofício em extinção e a aplicação do método analítico, base da «vinificação moderna».

«A primeira coisa que me entregaram quando vim para cá foi o machado – que era maior que eu. Pronto, a gente ia naquele trabalho nas valas, depois íamos cavar vinha, descaldeirar - que era cortar as ervas que estavam encostadas à cerca -, pôr a vinha à ripa (…) Andei com o charrueco a lavrar as vinhas. Mas os primeiros anos como era novo “andei à beiça”, chamávamos nós à “beiça do animal”, e depois pas-sei a andar a guiar o animal, a guiar o charrueco para lavrar as vinhas (…). Depois espetaram-me no rancho dos rapazes. Também há ranchos de rapazes - éramos uns quatro ou cinco ranchos de rapazes e havia ranchos dos homens. Depois quando ti-nha os meus dezasseis, dezassete anos, fui para o rancho dos homens. (…)Durante a trasfega de vinho trabalhava muito mais gente [na adega] – é quando se apanha nas vinhas para ser trasfegado aqui nas adegas. Depois aquilo vai a curtir. Tem de ferver dentro dos depósitos; chamava-se os lagares. Depois era fervido, pas-sava para outros depósitos que se chamam… chamávamos nós a mãe! Iam para a mãe e ali estava até ser limpo [sensivelmente até março]. Depois tinha que ser tirado da mãe (…) fazer aguardente, fazer álcool, chegou-se a fazer álcool puro. (…) Homens, trabalhámos 50 pessoas lá, na minha época. Havia pessoal efetivo e depois havia pessoal que ia dar uma ajuda, que saíam do rancho com o capataz. O chefe lá da adega dizia: ó maioral, amanhã mande-me cá tantas pessoas! Íamos lá para a adega ajudar os que lá estavam efetivos.»

António Cunha Fernandes, 78 anos, Pinhal Novo, 2013

Carreta para transporte de uva, Quinta do Anjo. Autor: José Artur Leitão Bárcia. Início do século XX. Museu Municipal de Palmela.

notícias do Museu Municipal de Palmela

nº 42 setembro 2015

PEÇA DO MÊS

Designação: Taça com representação de figura humana sentada. | Proveniência: Castelo de Palmela (Galeria 4/U.E. 10) | Inventário: CAST.PALM.93.181 (MATRIZ 1993.01.474) | Matéria: Cerâmica | Cronologia: Finais do século X - Inícios do século XI | Dimensões: Altura – 70 mm / Ø – 232 mm

Taça islâmica, em cerâmica, decorada a verde e manganês, notável pela sua originalidade iconográfica, com a representação de figuração humana, que contraria aparentemente algumas restrições/orientações do Islão, relativas à representação do homem. Estas restrições são pouco lineares, se atendermos que no al-Andaluz são frequentes as cerâmicas califais que revelam decoração antropomórfica e que também, o Corão é omisso no que respeita à aplicação da figura humana nas artes decorativas. Trata-se de uma forma aberta, que apresenta bordo extrovertido, com lábio semicircular e uma carena muito baixa, mas bem demarcada na base do corpo, rematada por pé, curto, em anel. A pasta é rosada (Munsell, 5YR.7/3), bem depurada, registando nas suas componentes a presença de partículas micáceas e quartzíticas. A superfície externa está revestida por vidrado de chumbo, amarelo-esverdeado melado (Munsell 5Y.7/4) e no interior, encontra-se esmaltada a branco (Munsell 5YR.8/1), decorada a verde e manganês, onde exibe uma figura masculina sentada de perfil, com vestuário longo, o braço e a mão esquerda (?) em evidência, com o dedo indicador esticado. A figura surge acompanhada por um cantil, de formato peculiar, que nos remete para o ima-ginário do viajante e da peregrinação e à esquerda, por uma jarra ou gomil (o “jarro da vida”), que parece estar seguro pela mão direita. Próxima da jarra, surge ainda uma haste incompleta, cuja interpretação é difícil, por incidir no ponto de fractura do fragmento, mas que ainda assim, nos sugere a presença estilizada de um motivo floral (rematado por uma flor-de-lótus?) ou de um instrumento musical. No bordo, sobre o lábio observam-se alguns pingos de vidrado negro-violeta, solução decorativa comum noutras formas abertas de cronologia califal.Formalmente, o exemplar de Palmela partilha algumas analogias com outras peças provenientes de Silves e de Mértola, datadas respectivamente dos séculos VIII-IX e X-XI. Porém, encontra vincadas afinidades icono-gráficas com uma tigela do século X, proveniente do Irão Oriental, exposta no Museu das Belas Artes de Lyon (Fernandes, 1999:85; 2004:154-162 e 2011:22). A simbologia desta peça é transmitida pela riqueza dos atributos desenhados, o Kaftan cintado, o tamborete ou banco e o emolduramento da figuração num nicho (possivelmente representando o mirhāb), definindo assim, uma mensagem aparentemente invocadora de uma autoridade religiosa e respeitável do Islão, que importava difundir nos gestos do quotidiano islâmico. Alguns investigadores defendem que a taça de Palmela reproduz a imagem de uma governante Omíada, de um chefe ou mesmo de um homem-santo – o «senhor do trono», que é justamente, uma das designações mais frequentes a Alá no Corão - (Zozaya, 2011: 11-13 e Fernandes, 2011: 22) muito próxima, aliás, do documentado nas representações conhecidas do califa Um’awiyya (Fernandes, 1999:90).Apesar das cerâmicas decoradas a verde e manganês serem frequentemente associadas a importações de Cór-dova ou do Magreb, no caso da taça de Palmela, estaremos muito provavelmente, perante uma produção re-gional do Gharb al-Andalus, realidade que os exames químicos realizados ao exemplar nos parecem corroborar.

BIBLIOGRAFIAFERNANDES, I. C. F. (2004) - O Castelo de Palmela: do Islâmico ao Cristão, Lisboa/Palmela: Edições Colibri /Câmara Municipal de Palmela. | IDEM (1999) – «Uma Taça Islâmica com Decoração Antropomórfica Proveniente do Cas-telo de Palmela», in Arqueologia Medieval, n.º 6. Porto: Edições Afrontamento, pp. 79-99. | IDEM (2011) – «Tigela com Figura Humana Sentada», in GÓMEZ MARTÍNEZ, S. (Coord.) – Os Signos do Quotidiano. Gestos, Marcas e Sím-bolos no Al-Ândaluz. Catálogo da exposição., Mértola: Campo Arqueológico de Mértola / Edições Afrontamento, p. 22. | IDEM (2012) – «Palmela Medieval e Moderna: a leitura arqueológica», in FERNANDES, I. C. F. e SANTOS, M. T. (coord.) (2012) – Palmela Arqueológica no contexto da região Interestuarina Sado – Tejo. Palmela: Município de Palmela, pp.111-134. | FERNANDES, I. C. F. e SANTOS, M. T. (2008) - Palmela Arqueológica. Espaços. Vivências. Poderes. Roteiro de Exposição. Palmela: Câmara Municipal de Palmela/Museu Municipal, pp. 43-47. | ZOZAYA, J. (2001) – «Símbolos», in GÓMEZ MARTÍNEZ, S. (Coord.) – Os Signos do Quotidiano. Gestos, Marcas e Símbolos no Al-Ândaluz. Catálogo da exposição. Mértola: Campo Arqueológico de Mértola / Edições Afrontamento, pp. 11-21.

Fotografia: Bruno Damas, 2014

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nº 42 setembro 2015

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