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A Pluridimensionalizao de uma APRENDIZAGEM
que, sendo Futebolstica, uma EMERGNCIA
FUNCIONAL(mente) ESPECFICA, como Objecto de
Conhecimento Futebolstico-Cientfico!
Abordagem a uma Era Ps Futebol de Rua pela radiografia do
Talentizar, NUM Futebol que FORMA, no deforma.
Porto, 2008
Rita Santoalha de Almeida e Silva
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A Pluridimensionalizao de uma APRENDIZAGEM
que, sendo Futebolstica, uma EMERGNCIA
FUNCIONALmente ESPECFICA, como Objecto de
Conhecimento Futebolstico-Cientfico!
Abordagem a uma Era Ps Futebol de Rua pela radiografia do
Talentizar, NUM Futebol que FORMA, no deforma!
Monografia realizada no mbito da disciplinade Seminrio do 5. ano da licenciatura emDesporto e Educao Fsica, na opo deFutebol, da Faculdade de Desporto daUniversidade do Porto
Orientador: Professor Vtor Frade
Rita Santoalha de Almeida e Silva
Porto, 2008
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Santoalha, R. (2008). A Pluridimensionalizao de uma APRENDIZAGEM que,
sendo Futebolstica, uma EMERGNCIA FUNCIONALmente ESPECFICA,
como Objecto de Conhecimento Cientfico - Uma Abordagem a uma Era Ps
Futebol de Rua pela radiografia do Talentizar NUM Futebol que FORMA, no
deforma! Porto: R. Santoalha. Dissertao de Licenciatura apresentada Faculdade de Desporto da Universidade do Porto
Palavras-Chave: MUDANA DE PARADIGMA; FUTEBOL DE RUA
INTERACO; PERCEPAO; FUTEBOL FORMAL-RURAL; TALENTO.
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I
DEDICATRIA
Emissria de um Rei desconhecido
Eu cumpro informes instrues de alm
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QUANDO SE ADMITIR QUE UM MOVIMENTODESPORTIVO DESINSERIDO E
DESAJUSTADO DA RESPOSTA CORRECTA (MOVIMENTO AZELHA),POR MAIS SUOR QUE
EXIJA,UMA TEORIA
EQUE UMA PERCEPCOMENTALCORRECTA DUMA SITUAO J,(ANTES DO
GESTO)UMA PRTICA?
PARADIGMA PERDIDO
(FRADE, 1976)
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III
AGRADECIMENTOS
minha MEZINHAe ao meu PAIZINHO, minha IRMe ao meu IRMO,
por me ensinarem a gostar, por me ajudarem a CRESCER e por me
transmitirem exemplo de PERFEIO. H quem diga que a perfeio no
existe, mas sabem? Eu c no acredito nisso A perfeio est, para mim, na
entrega e no empenho, no esforo e na perseverana, no nimo e na vontade,
na coragem e no PERCURSO!! Ser perfeito assumir uma atitude construtiva
e, muito importante, aprendedora independentemente das circunstncias!! Ser
perfeito adaptar, antes ir adaptando, o saber ao fazer e o fazer ao saber!!
Vocs so Perfeitos e por isso eu sou FELIZ OBRIGADA Mam e Papporque a forma como me do, e vo dando, o muito que construram ajuda-me
muito a seguir o vosso exemplo
minha AVe LOLINHA, porque, em funo da emoo posta no mnimo
que fazem, espelharam os meus neurnios e potenciaram a ambio
SUPERIOR de imitar, num processo de singularizao natural, tudo o que
fazem. E, em cada sexta-feira dou comigo a pensar que afinal tenho outravez a bata do colgio, a bola debaixo do brao, a mochila costas eu atiro a
mochila para cima da cama onde dormem os deveres do dia seguinte e volto a
sentar-me ao vosso colo, feito de mimo e de mel!... NETA pequenina at ao fim
da vida!!!
s SANTOALHSSIMAS e aos meus PRIMINHOS queridos, por
enriquecerem a minha existncia e por serem smbolo de condominizaorural, por especializarem a rua da NOSSA av e por, assim, me deixarem
experimentar a natureza praxiolgica do meu FUTEBOL.
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IV
minha TRENGUINHA e minha FILHOTINHA. No sei como poderia
sobreviver sem as minhas AMIGAS. Mal, com certeza. Foram vocs, SEMPRE
vocs, a desligar o complicmetro que me pertence por natureza herdado-
adquirida e a potenciar, em funo de uma existncia em relao, a descoberta
de sentido que , hoje, eixo orientador e, acima de tudo, director da minha
entrega a esta NOSSA dissertao. Com vocs, da perfeio construo e da
construo descoberta tudo me pareceu OBRA!! 4638 , talvez, a
expresso mxima do que de vocs guardo e levo para todo o lado, onde quer
que eu v e sempre que volto, sempre que chego meu Portinho, onde
mergulha ainda intacta a memria da minha juventude, e as vejo receberem-
me com um sorriso ILUMINADO, volto sempre ao melhor de mim e sinto-meoutra vez com dezassete anos!!!
Ao MEU PROFESSOR, assim que sempre me refiro ao Professor Frade.
L em casa dizem do professor, ser o professor, s o professor, o meu DOLO!!
Eu no sei se essa a significao que cabe ao professor, no sei, sequer, se
a definio que tenho para esta significao corresponde verdadeira. Sei, s,
que do professor herdei o ser FIL-SOFA (amante da sabedoria, entenda-se) e o conhecimento do limite. Com o meu Professor aprendi a ser
especialista da no especializao e descobri que s conhecendo possvel
admitir fracturas, pensar para mudar e, enfim, evitar que os pr-conceitos
normalizem a originalidade e a criatividade de um processo que, caminhando
pelo questionar, ia ser aprendizagem verdadeira. Hoje sei, em funo de uma
experimentao GUIADA (obrigada Professor), que das ideias concretizao
vai um processo de construo que para no ser castrao deve ter sentidoeminentemente equilibrador!... Da assimilao, acomodao e
equilibrao tudo, mesmo tudo, deve ser REFLEXO. Se a vida, como o
JOGO, apresenta uma extrema sensibilidade s condies iniciais, ento,
obrigada meu Deus por sujeitares a minha existncia presena do Professor.
Adorava que o professor adorasse, como eu adoro, a perfeita imperfeio da
presente dissertao
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V
Aos meus Amigos, a todos eles, e de forma muito especial ao Braguinha, ao
Felgueirinhas e ao Dd, ao Nandinho (Festas) e ao Ricardo, ao Pi e ao
Aores, Vnia e Professora (Teresa Sardoeira) Foi com vocs que
aprendi o significado de palavras como ajuda, afecto, solidariedade,
generosidade, sensibilidade e, at, FELICIDADE.
Aos meus Entrevistados: Professor Bento, Professor Rui Pacheco, Professor
Miguel Lopes, Professora Marisa Gomes e Professor Guilherme, pela
disponibilidade evidenciada e pela forma apaixonada com que falaram de
FUTEBOL. As vossas palavras, cada uma, foram ponto de reflexo e
crescimento auto-hetero construdo.
Cada pessoa que passa na nossa vida, passa sozinha, porque cada pessoa
nica e nenhuma substitui a outra! Cada pessoa que passa na nossa vida
passa sozinha e no nos deixa s porque deixa um pouco de si e leva um
pouquinho de ns. Essa a mais bela responsabilidade da vida e a prova de
que as pessoas no se encontram por acaso.
(Charles Chaplin)
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ndice Geral
VII
ndice Geral
DEDICATRIA I
AGRADECIMENTOS III
NDICE GERAL VII
NDICE DE FIGURAS X
RESUMO XI
ABSTRACT XIII
RSUM XV
1 INTRODUO 1
2 - A Cincia da Experincia e a Experincia da Cincia:
Aproximao Etnometodolgica Natureza Praxiolgica do
Futebol 7
3 - Do cientificar ao palavrizar!!!E do palavrizar ao
cientificar!Uma espcie de conceptualizao futebolstico-
cientfica (re)equacionada 133.1. - O exaltar da INTERACO, invariante estrutural da estrutura
de rendimento doFUTEBOL para a (re)conceptualizao do
Futebol, do Jogo, do Jogar e da Equipa 25
3.2. - Da arte e da cincia do MOVIMENTAR-SEEm Futebol!!
Porque a energia S o cavalo E a informao que o
cavaleiro 38
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ndice Geral
VIII
3.3 - Dimensionalizar esteticamente o Futebol para reavivar um
gargalhar assente na FINTA, no TIMING e na VELOCIDADE da
Caosificao do Jogar 44
3.4 - A Pluridimensionalidade de uma inteligncia singular que,
sendo futebolstica, uma Emergncia FUNCIONAL(mente)
ESPECFICA (?)!!Do Maradona ao Pel e do Garrincha ao
Eusbio 60
4. - Uma vez que no se nasce jogador de Futebol! Trabalho,
MUITO trabalho!! Mas que Trabalho?!... 654.1 - Da (re)conceptualizao do Talento em Futebol,
Especificidade da estimulao PRECOCE e aoProblema do
ajustamento infantil 65
4.2. - A Construo de uma APRENDIZAGEM que requisita (por
ser futebolstica)! a cerebralizao do msculo ea
Corporalizao do crebro!! 76
4.3. - Para a Alfabetizao emocional: Desrobotizar asomatizao emocional de um saber que se adquire na aco 87
5. - Do Futebol de Rua s Escolinhas de Futebol e das
Escolinhas de Futebol ao Futebol de Rua NAS Escolinhas de
Futebol 95
5.1 - Do Brincar e do no Brincar Que influncia para o Jogar? 95
5.2. - Categorizar o Futebol de Rua Para melhor o poderFORMALIZAR!! Para um universo particular, contedos tambm
particulares:Uma abordagem formativa a uma era ps futebol de rua 101
5.2.1. - Para alm da fronteirizao vedada: A Complexidade da
Categorizao 101
5.2.1.1 - A importncia do existir do ESTADO DE ALMA Para a
espontaneidade do ser TALENTO!! Que se desenvolve
JOGANDO!! 105
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ndice Geral
IX
5.2.1.2 - A importncia de ter limo no bolso: Para VARIABILIZAR
qualitativamente a QUANTIDADE de RELAO COM BOLA!! 111
5.2.1.3 - A importncia capital de saber IMITAR bem o exterior
Para potenciar mais e melhor o interior!! Na construo de um
projecto de Talento! 120
5.2.1.4 - A muita importncia do RECORDE (superador) num
imaginrio que tem muito de COMPETIO 129
5.2.1.5 - Para desviar a hiperproteco contextualiazar, no
mandar!! Da AUTO-DESCOBERTA Descoberta Guiada: A
Descoberta Guiada como catalisador de uma aprendizagemtalentosa 138
6 - Uma Espcie de CONCLUSO Introdutria 145
7. Referncias Bibliogrficas 147
8. ANEXOS I
Anexo 1: Entrevista a Jorge Olmpio Bento I
Anexo 2: Entrevista a Miguel Lopes XVII
Anexo 3: Entrevista a Rui Pacheco XLV
Anexo 4: Entrevista a Marisa Gomes LXV
Anexo 5: Entrevista a Jos Guilherme Oliveira XLI
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ndice de Figuras
X
ndice de Figuras
Figura 1 Linha Quadrado e Cubo 30
Figura 2 Curva de Von Kock 31
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RESUMO
XI
RESUMO
O Futebol um fenmeno profundamente dependente do Mundo global. Por
este motivo, quando o Mundo muda, o Futebol reflecte essa mudana e, de
uma forma ou de outra, reclama, em cada momento, a racionalizao dos
processos propiciadores de desempenho talentoso. Este , em funo de uma
adaptabilidade conjecturada, tanto mais qualitativo quanto mais precocemente
for estimulado, no respeito pelo Futebol. O presente estudo procura
multidisciplinarizar a procura do conhecimento em exame, sem que isso
implique um afastamento da Especificidade que lhe prpria, no sentido de
contribuir para a resoluo dos possveis bloqueios epistemolgicos
dimanantes dos seguintes objectivos: (1) evidenciar que o futebol carece deuma mudana de paradigma; (2) (re)equacionar o quadro conceptual
futebolstico-cientfico de base; (3) apresentar o Futebol como um fenmeno
catico, auto-organizador, complexo e multifractalizador que carece de uma
abordagem sistmica; (4) inferir, de forma sustentada, acerca da existncia de
uma Inteligncia de Jogo; (5) tornar evidente a possibilidade de, pela
aprendizagem, cerebralizar o msculo e corporalizar o crebro; (6)
evidenciar que as emoes e os sentimentos so parte integrante daaprendizagem futebolstica; (7) averiguar a influncia que a prtica precoce de
Futebol tem na exponenciao de Talentos no Futebol; (8) identificar e
cientificar as prticas de infncia dos Talentos no Futebol; (9) compreender a
influncia das alteraes sociais na matriz gentica do Futebol; (10) evidenciar
que a racionalizao qualitativa do processo de formao torna exequvel a
reciclagem do Futebol de Rua pelas Escolas e Clubes de Futebol; (11) Definir
categorias formais-rurais. Como concluso destacamos a necessidade deentender profundamente o fenmeno para a operacionalizao de uma
Periodizao La Long assente na reciclagem do Futebol de Rua e, por isso,
preocupada em criar um jogar de qualidade, de realidade plural e adaptada
Especificidade de cada escalo, desencadeando a emergncia de uma
Inteligncia de Jogo.
Palavras-Chave: MUDANA DE PARADIGMA; FUTEBOL DE RUA
INTERACO; PERCEPO; FUTEBOL FORMAL-RURAL; TALENTO
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ABSTRACT
XIII
ABSTRACT
Football is a phenomenon highly dependent of the global world. For this reason
when the world changes Football reflects that change and in one way or
another it claims at each moment the rationalization of the processes matching
the talented performance. In function of a conjectured adaptability this is in such
a way more qualitative as more precociously it is stimulated, when it comes to
Football. The present study looks to multidisciplinate the search of knowledge in
examination, without implying the removal of the proper Specificity of an
identitary phenomenon, regarding the contribution to resolving the possible
epistemological blockades deriving from the following objectives: (1) to
evidence that football lacks a paradigm change; (2) to (re)equate the football-scientific conceptual picture bases; (3) to present Football as a chaotic, self-
organizing, complex and multifractionary phenomenon in need of a systemic
approach; (4) to infer, in a sustained way, about the existence of a Game
Intelligence; (5) to become evident the possibility of, by learning, cerebralizing
the muscle and corporalizing the brain; (6) to stand out that emotions and
feelings are integrant part of the footballistic learning; (7) to inquire the influence
that the precocious practice of Football has on the exponentiation of FootballTalents; (8) to identify and scientify the infancy practices of the Football Talents;
(9) to understand the influence of social alterations on Footballs genetic matrix;
(10) to evidence that the qualitative rationalization of the development process
becomes executable to recycle the Street Football by Football Schools and
Clubs; (11) to supply some practical orientations to the Football Training in the
Development scope by the definition of formal-rural categories. In conclusion
we detach the exponentiation of the Football Talent, the need to deeplyunderstand the phenomenon to the operationalization of La Longs
Periodization settled in the recycling of Street Football and for this reason
concerned in creating a quality playing, of plural reality and adapted to the
Specificity of each step, unchaining the emergency of a Game Intelligence.
Key-Words: PARADIGM CHANGE; STREET FOOTBALL INTERACTION;
PRECOCITY, STIMULATION; PERCEPTION.
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RSUM
XV
RSUM
Le Football est un phnomne dpendant du Monde Global. Ainsi, quand le
Monde change, le Football reflte ce changement et revendique, chaque
instant, la rationalisation des processus assortis laccomplissement
talentueux. Celui-ci est, en fonction dune adaptabilit conjecture, dautant plus
qualitatif quil est prcocement stimul, dans le respect du Football. La prsente
tude vise rendre multidisciplinaire la recherche de la connaissance en
examen, sans pour autant que cela implique un loignement de la Spcialit en
vue de contribuer la rsolution des blocages pistmologiques rsultants des
objectifs suivants: (1) mettre en vidence que le football a besoin dun
changement de paradigme; (2) (re)quationner le modle conceptuelfootballistique-scientifique de base; (3) prsenter le Football comme un
phnomne chaotique, auto organisateur, complexe et multi fractionnel qui
manque d un abordage systmique; (4) infrer, de forme soutenable, propos
de lexistence dune Intelligence de Jeu; (5) rendre vidente la possibilit de
crbraliser le muscle et corporaliser le cerveau par lapprentissage ;
rendre vident que les motions et les sentiments font partie de lapprentissage
footballistique; (7) enquter sur linfluence que la pratique prcoce de Football asur lexponentiation de Talentes;(8) identifier et scientifier les pratiques
denfance;(9) comprendre linfluence des modifications sociale sur la matrice
gntique du Football;(10) dmontrer que la rationalisation qualitative du
processus de formation rend excutable le recyclage du Football de Rue par les
coles et les Clubs de Football;(11) fournir quelques orientations pratiques pour
lentranement de Football au sein de la formation par la dfinition de catgories
formelles-rurales. En conclusion, nous faisons ressortir pour lexponentiation duTalent dans le Football, la ncessit de comprendre profondment le
phnomne pour loprationnalisation dune Priodisation La Longreposant
sur le recyclage du Football de Rue et donc, avec la proccupation de crer
un jeu de qualit, de ralit plurielle et adapte la Spcificit de chaque
niveau, menant lmergence dune intelligence de Jeu.
Mots-cls: CHANGEMENT DE PARADIGME; FOOTBALL DE RUE;
INTRACTION; PRCOCIT; STIMULATION
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INTRODUO
1
1 - Introduo
A ideia separada da aco gera conflito. Mesmo quando repetimos certas palavras de profunda
significao, vivemos, em geral, muito superficialmente; vivemos num mundo verbal, num mundode aces e emoes superficiais. A verdade deve estar antes de toda a verbalizao, toda
bizantinice, todo nominalismo
(Frade, 1985)
No universo desportivo j um lugar comum afirmar que o rendimento
competitivo multidimensional por serem vrios os factores que concorrem
para a sua efectivao.
Assim, como premissa inicial admite-se que o Futebol tem a marca daespecificidade e da complexidade.
O Futebol, sim o Futebol, , para a maioria dos adeptos, um jogo simples de
entretenimento enquadrado numa lgica de paixo clubista sem qualquer rigor
metodolgico ou universal.
De facto, fcil olhar para este fenmeno e ver uma simplicidade incrvel
na forma como se pode jogar, e aqui reiteramos, mais uma vez, na forma como
se pode jogar. O que realmente importa ganhar, todas as equipas entram em
campo para vencer, independentemente das possibilidades de cada uma, o
que elas querem sempre ganhar. O que move os praticantes, os
espectadores, os jornalistas, os dirigentes, os elementos das equipas tcnicas,
o que os tira do conforto das suas casas e os deixa feliz, o que os faz passar
pelo frio e perder a voz, o que os faz dar tempo, o que os leva ao Futebol a
simples vontade de ganhar, o sonho de um dia poder gritar ao mundo eu sou
campeo ou somos campees.
Ento, seguindo a lgica do ganhar, o futebol , sem mais, a busca de
caminhos para chegar vitria. Aparentemente o Futebol assim, simples.
Mas o que aparente quase sempre mente (Bento, 2005). E a incerteza e
imprevisibilidade das situaes, do resultado? E o jogador, a equipa? E a
defesa, o ataque? E as aces motoras, mentais? E a forma, o contedo?
nossa pretenso evidenciar que o Futebol necessita uma Mudana de
Paradigma, assente numa crise epistemolgica baseada em princpios
metodolgicos fragmentados, por apresentar mltiplas dimenses, que actuam
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INTRODUO
2
de forma convergente aquando da sua expresso, atravs de um princpio de
regulao recproca.
Boaventura Sousa Santos (1989) permite antever o aparecimento de um
quadro conceptual futebolstico-cientfico reequacinado, j no marcado pela
abrangncia totalitria de um conhecimento formatado num mtodo pronto-a-
vestir, mas sim fundado na humildade da valorizao do pormenor, da
especificidade, enfim, um mtodo pronto--medida das necessidades do
utilizador.
Procuraremos, para cumprir a valorizao da especificidade e da
complexidade futebolsticas inerentes ao nosso estudo, actualizar a
cientificidade do Futebol pela definio, bem, de um quadro conceptual debase.
Ao longo desta dissertao procuraremos evidenciar que o processo evolutivo
determinou uma configurao social baseada numa lgica de condomnio
fechado que teve como consequncia futebolstica alteraes profundas na
matriz gentica do Futebol.
No sentido de compreender a relao entre a condominizao da
sociedade e a desqualificao do Jogo e do Jogar, encontramos o Futebol derua, sua eclipsao, e posterior proliferao das Escolas de Futebol.
Da despontaneizao dos processos de formao urge a necessidade da
sua racionalizao. Ora, o Futebol o Jogo de situao por excelncia que, por
ser catico, complexo, auto-organizador e multifractalizador, requisita, por parte
do ser que joga, uma gesto permanente do instante assente na resoluo
momentnea de cada aqui e agora, sustentada numa inteligncia, por ser
futebolstica, Especfica, de operacionalizao fundamental, por requisitarconstantemente a relao do corpo com o exterior e deste com o corpo.
Face a esta requisio, a cerebralizao do msculo e a corporalizao
do crebro so uma imposio, sendo nossa inteno ao longo da dissertao
evidenciar que tal imposio tanto mais passvel de ser levada a efeito com
sucesso, quanto mais precocemente os indivduos so estimulados no domnio
considerado.
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INTRODUO
3
Com o intuito de cumprir a totalidade da racionalizao formativa proposta,
importa configurar a precocidade imanente ao Talento futebolstico a
exponenciar.
Assim, de igual forma, no sentido de compreender a relao (des)evolutiva
entre a eclipsao do Futebol de Rua e a proliferao das escolas de Futebol,
encontramos a necessidade de pensar a reciclagem do Futebol de Rua em
funo da criao desse Futebol nas prprias escolas e clubes de Futebol.
nossa inteno, com a realizao desta dissertao, outorgar, pelo
entendimento aprofundado do fenmeno, tal possibilidade, facilitando-a,
cientificando-a e extrapolando-a, num verdadeiro raciocnio lgico devidamente
estruturado e fundamentado.Face ao exposto, estabelecemos, para a presente dissertao, os seguintes
objectivos:
Evidenciar que o futebol carece de uma mudana de paradigma;
(Re)equacionar o quadro conceptual futebolstico-cientfico de base;
Apresentar o Futebol como um fenmeno catico, auto-organizador,
complexo e multifractalizador que carece de uma abordagem sistmica;
Inferir, de forma sustentada, acerca da existncia de uma Inteligncia deJogo;
Tornar evidente a possibilidade de, pela aprendizagem, cerebralizar o
msculo e corporalizar o crebro;
Evidenciar que as emoes e os sentimentos so parte integrante da
aprendizagem futebolstica;
Averiguar a influncia que a prtica precoce de Futebol tem na
exponenciao de Talentos no Futebol; Identificar e cientificar as prticas de infncia dos Talentos no Futebol;
Compreender a influncia das alteraes sociais na matriz gentica do
Futebol;
Evidenciar que a racionalizao qualitativa do processo de formao
torna exequvel a reciclagem do Futebol de Rua pelas Escolas e Clubes de
Futebol;
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INTRODUO
4
Fornecer algumas orientaes prticas para o treino do Futebol no
mbito da Formao pela definio de categorias formais-rurais.
Quanto estrutura, o presente estudo ser estruturado em sete pontos
fundamentais.
No primeiro, Introduo, pretendemos apresentar e justificar a pertinncia do
estudo, definir a abordagem sustentadora (a sistmica) e apresentar os
objectivos desta dissertao.
No segundo ponto, A Cincia da Experincia e a Experincia da Cincia:
Aproximao Etnometodolgica Natureza Praxiolgica do Futebol
justificaremos os motivos para a elaborao do presente estudo no seguir as
metodologias de investigao convencionais.No terceiro ponto, Do cientificar ao palavrizar!!!E do palavrizar ao
cientificar!Uma espcie de conceptualizao futebolstico-cientfica
(re)equacionada procuraremos explicitar que o Futebol carece de uma
mudana de paradigma assente numa crise epistemolgica, baseada em
princpios metodolgicos fragmentados, o que, como procuraremos explicitar,
se repercute na necessidade de reconfigurar o quadro conceptual futebolstico-
cientfico de base.No quarto ponto, Uma vez que no se nasce jogador de Futebol! Trabalho,
MUITO trabalho!! Mas que Trabalho?!... evidenciaremos a necessidade
do Talento ser entendido como uma construo que carece da cerebralizar o
msculo e corporalizar o crebro, e que tal carncia tanto mais susceptvel
de ser revertida com sucesso, quanto mais precocemente os indivduos so
estimulados em Especificidade.
No quinto ponto, Do Futebol de Rua s Escolinhas de Futebol e dasEscolinhas de Futebol ao Futebol de Rua NAS Escolinhas de Futebol
procuraremos definir categorias formais rurais, no sentido de facilitar a
reciclagem do Futebol de Rua pelas Escolas e Clubes de Futebol e ainda
evidenciar que a racionalizao dos processos de formao, quando baseada
em pressupostos qualitativos, permite fomentar a exponenciao de Talento no
Futebol bem como a edificao da pessoa Humana.
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INTRODUO
5
No sexto ponto, Uma espcie de CONCLUSO Introdutria, sero
apresentadas as concluses do presente estudo.
No stimo ponto apresentar-se- a totalidade das referncias bibliogrficas
mencionadas ao longo da dissertao.
No oitava ponto, Anexos, podem ser consultadas as transcries integrais
das entrevistas gravadas atravs de gravador udio Olympus VN-2100 PC,
tendo estas sido posteriormente revistas pelos respectivos entrevistados,
servindo de complemento ao que ser abordado ao longo deste estudo e
encontrando-se apresentadas por ordem cronolgica de realizao.
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2 - A Cincia da Experincia e a Experincia da Cincia: Aproximao
Etnometodolgica Natureza Praxiolgica do Futebol
A anlise do contedo muitas vezes uma falcia das cincias moles, ou uma insuficincia das
cincias moles, perante o determinismo das cincias duras. E portanto, h situaes em que a
anlise do contedo no funciona de todo
(Cunha e Silva, 2008)
O Futebol, apesar de frequentemente encarado como realidade inferior,
disciplina de importncia menor, desprezada, pouco vocacionada a despertar
pessoas para uma carreira acadmica como especialidade em investigao
consequente , no entanto, um objecto de estudo complexo em que umamultiplicidade de factos e de acontecimentos se do a ver ao mesmo tempo
(Frade, 1976), e cuja pertinncia de estudo de qualquer das facetas deste
fenmeno nos parece sempre justificada, desde que atenda definio, bem,
de uma epistemologia clara e adequada decifrao da realidade por
representao conceptual potencialnente praxiolgica. que A ideia separada
da aco gera conflito. Mesmo quando repetimos certas palavras de profunda
significao, vivemos, em geral, muito superficialmente; vivemos num mundoverbal, num mundo de aces e emoes superficiais. A verdade deve estar
antes de toda a verbalizao, toda bizantinice, todo nominalismo (Frade,
1976).
Face a este entendimento, urge a necessidade de adequar a maneira de
estudar o objecto emprico sua prpria natureza, pela adopo de uma
abordagem que evite os mtodos de anlise formal e se sustente no carcter
sistmico de tal adequao.Temos que, para ns, o ponto de partida de uma investigao constitui uma
questo decisiva e, no sentido de respeitar o carcter sistmico da adequao
em configurao, afastamo-nos da tradicional viso em funil, preferimos a
posio do outro extremos. Posio extrema por ser dos extremos que se tem
melhor perspectiva, e que da virtude mdia se tem divisa (Frade, 1976).
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Nesse afastamento, adoptamos a etnometodologia por considerarmos ser
capaz de atender natureza do assunto em estudo sem incorrer na falcia
das cincias moles (Maciel, 2008).
O Homem isolado uma abstraco e o Futebol separado uma realidade
assassinada, por exigir um contexto de sentido de cuja definio depende uma
certa unicidade fenomenal.
A Etenometodologia, por transgredir o que convencionalmente se faz em
Sociologia (Molnat, 2008), prope qualquer coisa mais que as investigaes
conduzidas pelos procedimentos de anlise formal (Garfinkel, 2001), pela
elaborao de uma srie de detalhes que lhe do um sentido prtico (Watson,
2001) assente na singularidade prtica dimanante do contexto singular queequaciona.
A Etnometodologia a pesquisa emprica dos mtodos que os indivduos
utilizam para dar sentido e, ao mesmo tempo, realizar as suas aces de todos
os dias, diferenciando-se, nisso, dos socilogos que geralmente consideram o
saber do senso comum como uma categoria residual. Os Etnometedlogos
tm a pretenso de estar mais perto das realidades correntes e, para isso,
trabalham com a hiptese que os fenmenos quotidianos se deformam quandoexaminados atravs da grande descrio cientfica (Coulon, 1995).
De facto, onde outros vm dados, factos, coisas, a etnometodologia v um
processo atravs do qual os traos da aparente estabilidade da organizao
social so continuamente criados (Garfinkel, 2006) e, assim, em vez de se
sustentar na hiptese de que os actores seguem regras, a etnometodologia
pe em evidncia os mtodos pelos quais os actores fabricam um mundo
racional no sentido de nele poderem viver (Coulon, 1995).Ser, portanto, de importncia capital observar como os actores de senso
comum produzem essa fabricao e como utilizam a linguagem como recurso.
Para Garfinkel (2006), uma palavra tem uma significao trasns-si-tuacional e
tem, tambm, um significado distinto em toda a situao particular em que
usada. A interrogao etnometodolgica sobre a linguagem provm,
precisamente, do reconhecimento da indicialiade das expresses da linguagem
ordinria. Segundo o mesmo autor (2006), as palavras s ganham o seu
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sentido completo no seu contexto de produo, quando so indexadas a
uma situao de intercmbio lingustico e, por isso, subentende uma funo
extrapoladora, a que muito etnometodlogos designaram de et caetera, capaz
de potenciar uma aceitao e compreenso comuns daquilo que se diz quando
as descries so consideradas evidentes, e mesmo que no sejam
imediatamente evidentes (Coulon, 1995). Daqui se subentende a necessidade
do complemento de demonstrao que pretendemos estar presente ao longo
de toda a dissertao.
Neste comprimento de onda, uma vez que o Futebol um fenmeno de
expresso plural, na qual cada jogo influncia e influenciado pelo Jogo
(Maciel, 2008), o nosso estudo, por ter objecto nesse Fenmeno, subentende ocomplemento demonstrativo enunciado e exige um entendimento lingustico-
cientfico que, em vez de menosprezar as expresses indicais, as estuda
profundamente com o intuito de as localizar e senso-comunizar. que,
tendo a linguagem quotidiana um sentido ordinrio que as pessoas no
sentem dificuldade para compreender (Coulon, 1995), a tentativa de limpar o
mundo das expresses indiciais, que uma tentativa de as substituir por
expresses objectivas, torna-se um tema de descrio e anlise ao invs deum esforo para resolver o problema (Benson & Hughes 1993 cit. por Coulon,
1995).
Ento, no sentido de resolver o problema, futebolizado, adoptamos, para o
nosso estudo, uma abordagem Etnometodolgica assente na convico de
que, tal como o mundo social, o Futebol accountable, por ser descritvel,
inteligvel, relatvel, analisvel, em funo da sua natureza praxiolgica e,
claro, do seu carcter eminentemente situacional.O mundo no dado de uma vez por todas. Ele realiza-se nos nossos actos
prticos do mesmo modo que o Futebol se realiza em cada construo auto-
hetero dirigida e em cada membrizao - e um membro no apenas uma
pessoa que respira e pensa. Um membro , tal como adverte Garfinkle (2006),
uma pessoa dotada de um conjunto de modos de agir, de mtodos, de
actividades, de savoir-faire, que a fazem capaz de inventar dispositivos de
adaptao para dar sentido ao mundo que a cerca. algum que, tendo
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incorporado os etnomtodos de um grupo social considerado, exibe
naturalmente a competncia social que agrega a esse grupo e lhe permite
fazer-se reconhecer e aceitar.
E o jogar , ou no, uma emergncia de fabricao operacionalizada no
sentido de os jogadores nele poderem viver?
O jogar aquilo onde ns queremos chegar, e estamos sempre a evoluir, a
nossa criao, a nossa emergncia. Isso o jogar e esse jogar tanto melhor
quanto melhor ns soubermos aquilo que queremos, quanto melhor os
jogadores perceberem aquilo que ns queremos e jogarem em funo desse
jogar e serem criativos nesse jogar (J. G. Oliveira, Anexo 5), ou seja, quanto
mais MEMBROS emanarem da singularizao da construo futebolsticafenomenal.
Desta maneira, a etnometodologiao do nosso estudo , antes de uma
opo, uma imposio determinada pela Natureza Praxiolgica do objecto de
estudo Fenomenal que nos atrevemos a (re)cientificar.
Atravs do estudo etnometodolgico, pretendemos, tal como coloca Fornel,
Ogien & Qur (2001), colocar nfase no empirismo e nas questes que
resultam do desenvolvimento da realidade concreta em estudo: o Futebol,sendo que, para isso, recorremos a fontes muito diversas, desde uma extensa
bibliografia composta por livros de diferentes temticas, programas televisivos
nacionais e internacionais, biografias relativas a temticas que consideramos
pertinentes para a abordagem em questo, artigos e entrevistas publicados na
imprensa e ainda comunicaes efectuadas por diferentes autores. A
informao providenciada por estes recursos foi, ainda, enriquecida com um
conjunto de cinco entrevistas abertas, realizadas propositadamente para estadissertao.
O critrio adoptado para a seleco dos entrevistados relaciona-se com os
motivos abaixo enunciados:
Jorge Olmpio Bento:Presidente do Conselho Directivo da Faculdade
de Desporto da Universidade do Porto, Autor de vrios livros no mbito da
Pedagogia do Desporto e Cronista do Jornal desportivo A Bola, tem
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pertinncia contributiva no sentido em que pensa e contacta com as
problemticas desportivo-cintficas constantemente actualizadas.
Miguel Lopes: Licenciado em Cincias do Desporto pela Faculdade de
Desporto da Universidade do porto, , actualmente, coordenador tcnico da
Escola de Futebol Dragon Force do Futebol Clube do Porto, a qual baseia a
sua configurao em quatro manifestaes fundamentais: Escola de Futebol,
Clinics, Road Shows e Campos de Frias, e manifesta preocupaes em se
adaptar ao progressivo desaparecimento do Futebol de Rua, o que, por si s,
justifica a pertinncia dos seus relatos.
Rui Pacheco:Ex-treinador dos escales de Formao do F.C. Porto e
actual Coordenador da Escola de Futebol Hernni Gonalves, confere, ao
presente estudo, a possibilidade de balizar as caractersticas das crianas que
frequentam, em potncia, as Escolas de Futebol.
Marisa Gomes:Licenciada em Cincias do Desporto pela Faculdade de
Desporto da Universidade do Porto e estando a frequentar a Licenciatura emNeurofisiologia na Escola Superior Tcnica do Porto, foi durante quatro pocas
coordenadora da Escola do Drago do Futebol Clube do Porto, tendo
posteriormente desempenhado o cargos de treinadora no escalo sub-13 do
mesmo clube. Com o curso de treinadora de Futsal nvel 1 e o nvel 2 de
Futebol, actualmente coordenadora tcnica do departamento de formao e
treinadora dos Juvenis do Futebol Clube da Foz. Dada a preocupao em
prover-se de Conhecimentos e Competncias Multidisciplinares, praticando-as,sem ignorar a importncia dos conhecimentos tericos, o seu contributo
respeita aquela que ser nossa preocupao premissial: Contextualizar a
Praxiologia do Fenmeno em estudo. A pertinncia da sua contribuio ,
ainda, justificada pelo trabalho (actual e passado, publicado e no publicado)
relativamente formao em Futebol e ao conhecimento global do fenmeno.
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Jos Guilherme Oliveira: Trabalho de vrios anos desenvolvido no
Futebol Clube do Porto como treinador nos escales de formao e actual
preparador fsico da Seleco Nacional de Futebol, aliada sua formao em
Cincias do Desporto, possibilita um contributo que associa teoria prtica de
algum que percorreu o Futebol desde a formao ao Rendimento Superior,
podendo assim cooperar no conhecimento dessa globalidade, relacionando
todo o processo.
Segundo Cunha e Silva (2008), a anlise do contedo muitas vezes uma
falcia das cincias moles, ou uma insuficincia das cincias moles, perante o
determinismo das cincias duras. E portanto, h situaes em que a anlise docontedo no funciona de todo. Corroborando com a opinio enunciada e
entendendo que o nosso estudo representa uma dessas situaes por atender
inteireza do fenmeno futebolstico, optamos, tal como Maciel (2008), por
utilizar os relatos dos nossos entrevistados, interconectando-os com os dados
recolhidos atravs das fontes supra descritas e que, conjuntamente, nos
permitem, ao longo da dissertao, inferir acerca da aplicabilidade ou no de
tais informaes para a problemtica em estudo. Atendendo, desta maneira, desquantificao pela qualitativao subjacente ao estudo etnomedolgico
em vigor.
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Do cientificar ao palavrizar!!!E do palavrizar ao cientificar!Uma espcie deconceptualizao futebolstico-cientfica (re)equacionada
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3 - Do cientificar ao palavrizar!!!
E do palavrizar ao cientificar!
Uma espcie de conceptualizao futebolstico-cientfica
(re)equacionada
Para alm do mundo objectivo da matria, que a cincia magistral a explorar, existe o mundo
subjectivo dos sentimentos, emoes e pensamentos
(Dalai Lama, 2006, p. 43)
Enquanto prtica social, o futebol tem uma histria, inclusivamente, uma geografia. Da, no se
tome por nico o que plural, e por plural o que nico. O futebol pr-existe ideia que dele se
tem. O problema est em saber, se as ideias que dele se tem, se lhe ajustam.
(V.M.d.C. Frade, 1990, p. 3).
O futebol atingiu, de acordo com Frade (2006) uma relevncia social enorme
a nvel planetrio e muito por culpa deste facto que a discusso acerca do
jogo j uma realidade cultural com mais presena e impacto no quotidiano
que muitas outras de domnios scio-politico-econmicos.
Assim, sabendo que o que confere cientificidade a um objecto de estudo a
forma como realizada a sua abordagem (Garganta, 2001), qualquerpretenso em aprofundar (logo cientificar), no sentido de potenciar evoluo,
um conhecimento que tem muito de especificidade (o do Futebol, entenda-se),
deve ter incio na definio, bem, de um quadro conceptual que base do
problema cientfico em estudo. Para alm disso, um ser humano no um
crebro embutido num crnio de um corpo. , sim, uma unidade psicofsica, um
animal que consegue percepcionar, agir intencionalmente, raciocinar e sentir
emoes, um animal utilizador de linguagem que no s meramenteconsciente, mas tambm autoconsciente (Srgio, 2003). Ento, importa
perceber que as questes conceptuais so questes respeitantes s nossas
formas de representao e que, por isso, quando se lida com problemas
empricos sem a adequada clareza conceptual - incapacidade de prestar a
devida ateno s estruturas conceptuais relevantes - estamos sujeitos a pr
problemas mal concebidos, e provvel que se siga uma investigao mal
orientada (Bennet & Hacker, 2003). No fundo, todo e qualquer quadro
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conceptual, quando considerado cientfico, deve cumprir, em rigor, uma mesma
funo explicativa (Sousa Santos, 1991), no confunditiva, sem, contudo, ter
a pretenso de dar uma explicao cabal de todas as coisas e que as
consegue transformar e modificar (J. O. Bento, Anexo 1). Para alm disso, a
cincia, sabendo que nenhuma forma de conhecimento , em si mesma,
racional, procura dialogar com outras formas de conhecimento deixando-se
penetrar por elas e, em funo dessa permisso, procura sensocomunizar-se
(Sousa Santos, 1991) entendendo, tal como Wittgenstein (1973, cit. Por Bennet
& Hacker, 2003, p. 40), que tudo o que se deixa dizer deixa-se dizer
claramente. S assim possvel imperativizar o desejo de Nietzsche (cit. por
Bennet & Hacker, 2003, p. 40) ao dizer que todo o comrcio entre os homensvisa que cada um possa ler na alma do outro, e a lngua comum a expresso
sonora dessa alma comum.
Contudo, um pensamento que sai do sujeito para se exteriorizar, mais no
do que um pensamento que se declara na LINGUAGEM (Serro, 2007) e, por
isso, todo o conhecimento autoconhecimento (Sousa Santos, 1991). A
cincia no descobre, cria, e o acto criativo protagonizado por cada cientista e
pela comunidade cientfica no seu conjunto tem de se conhecer intimamenteantes que se conhea o que com ele se conhece do real (Sousa Santos,
1991).
A linguagem (forma de representao) tem por funo significar o
pensamento, sendo que a palavra (quer dizer, um som) o signo de uma ou
vrias ideias. Isto , a linguagem, com as suas palavras e frases uma
representao daquilo que comea por existir sob uma forma no verbal
(Damsio, 2003b) e, sendo assim, dever existir um si no verbal e umconhecimento no verbal para os quais as palavras formao e equipa ou a
frase jogamos bem constituem as tradues apropriadas. Ou seja, o
fundamental para a nossa reflexo inicial no a linguagem cientfica, per si,
mas antes a sua capacidade de traduzir, com rigor, os factos representados
em palavras e em frases; a sua capacidade de classificar o conhecimento,
rpida e economicamente, sob a capa protectora de uma palavra; a
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capacidade, enfim, para exprimir construes imaginrias ou abstraces
remotas atravs de uma palavra simples e eficaz (Damsio, 2003b).
Assim, por exemplo, no futebol, toda e qualquer posse TEMPORRIA
potencia um conjunto alargado de interpretaes verbais de um mesmo
conceito que, para ser conceito cientfico, deve assegurar a presena
coincidente, no interior de uma comunidade cientfica, de um si no verbal que
precede e motiva tais interpretaes verbais.
No restam, j duvidas, ento, que secundarizao da linguagem
corresponde um primado da imagem (Damsio, 2003b) e que, por isso,
cincia importa assegurar, em cada momento, uma harmonia viva entre o que
conceptual e o que apreendido dessa conceptualizao, pois que asquestes conceptuais antecedem os assuntos da verdade e da falsidade. So
questes respeitantes nossa forma de representao, e no questes
respeitantes verdade ou falsidade de declaraes empricas (Bennet &
Hacker, 2003, p. 16).
Embora durante muito tempo tenha vigorado a ideia de que as teorias
cientficas reflectem o real, partindo-se do princpio de que a cincia se limitava
a dar voz aos factos, no isso que se verifica: a cincia contemporneaconstitui diversas ORIENTAES de anlise da realidade e, assim sendo,
revela-se permanentemente incapaz de descobrir a verdade de todo e qualquer
assunto conceptual sob investigao atravs da teoria e da experincia
(Bennet & Hacker, 2003). O trabalho dos cientistas a procura da verdade,
sabendo, contudo, que prprio da natureza da verdade ser contextual e
mutvel, depender do ponto de vista, e que as verdades de hoje so as
hipteses contestadas de amanh e, por isso, um cientista tem sempre aliberdade de introduzir novos conceitos se achar que os j existentes so
inadequados ou insuficientemente aperfeioados (Swain, 2002). Ou seja, o
mundo vai mudando e, porque o mundo muda, as cincias, se querem
continuar a reflectir e a ter um olhar que retrate o que se passa, tm que
procurar inventar novos conhecimentos, novos saberes, novos instrumentos,
novas perspectivas, novas e ideias e por isso que esse trabalho, esse labor
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de reflexo cientfica inesgotvel, inconclusivo, inacabado, est sempre a
caminho (J. O. Bento, Anexo 1).
Importa, neste comprimento de onda, imperativizar uma necessidade
futebolstico-cientfica: assegurar, em cada momento, que o conhecimento do
futebol vive de renovaes e se despede de qualquer pretenso possessiva
porque, para o bem ou para o mal, tudo se encontra em estado de mudana.
Nada fica como est, ns no buscamos a permanncia (Masatoshi Naito cit.
por Bento, 2004a, p. 88) e, por isso, no h uma verdade, existe um conjunto
de factos que necessrio analisar e extrair o seu significado: as hipteses
no podem nunca ser certezas sob o risco do fracasso, mas, de forma alguma
podemos desprezar um fragmento, por mais pequeno que seja ou maisinsignificante que parea. O puzzle to complicado que a mais insignificante
parcela pode impedir a sua decifrao. E o resultado nunca pode ser uma
posse (no deve ser uma gratificao em si mesmo), mas sim um crescimento,
uma evoluo. O conhecimento deixa de ser uma coisa acrescentada, uma
simples adio a outra que j existe; torna-se sim uma transformao
espiraloidal da estrutura original, tornando-se a cada passo o indivduo num
ser (Frade, 1976, p. 74). precisamente neste contexto de transformao espiraloidal que
introduzimos, aqui e agora, o conceito de paradigma, no futebol, sua
revoluo e (des)construo complexificadora.
Edgar Morin (2003), na sua obra introduo ao pensamento complexo, sugere
uma reflexo relacionada com o conhecimento cientfico. Refere, deste modo,
que o conhecimento opera por seleco de dados significativos e rejeio de
dados no significativos: separa (distingue ou desune) e une (associa,identifica); hierarquiza (o principal, o secundrio) e centraliza (em funo de um
ncleo de noes mestras). Estas operaes, que, como refere o autor,
utilizam a lgica, so comandadas por princpios supralgicos de organizao
do pensamento ou paradigmas. Princpios ocultos que governam a nossa viso
das coisas e do mundo sem que disso tenhamos conscincia.
Parafraseando Sousa Santos (1991), podemos afirmar hoje que as nossas
trajectrias de vida pessoais e colectivas (enquanto comunidades cientficas) e
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os valores, as crenas e os prejuzos que transportam so prova ntima do
nosso conhecimento, sem o qual as nossas investigaes laboratoriais ou de
arquivo, os nossos clculos ou os nossos trabalhos de campo constituiriam um
emaranhado de diligncias absurdas sem fio nem pavio. Tambm o nosso
entrevistado (J. O. Bento, Anexo 1), considera que ns vemos aquilo que
somos, porque ns vamos construindo a nossa identidade e a nossa identidade
construda por vrias peas: pela nossa racionalidade, que no a mesma,
no dever ser, de quando nascemos, a nossa espiritualidade, a nossa
afectividade, as nossas convices, os nossos princpios, os nossos ideias, os
nossos valores, a nossa concepo de deveres, a tica, a deontologia
Sendo assim, quando o sujeito se confronta com a existncia dos objectos deque os sentidos parecem ser testemunhas, levado a pr em questo a
existncia do prprio corpo, concebido como elemento do mundo exterior e
como intermedirio entre esse mundo e o sujeito que percebe. Ou seja, se
admitirmos, tal como Dalai-Lama (2006, pp. 68), que o mundo constitudo
por uma rede de realidades dependentemente originadas e inter-relcionadas,
dentro das quais causas dependentemente originadas produzem
consequncias dependentemente originadas segundo leis da causalidadedependentemente originadas, percebemos, facilmente, que tudo o que
fazemos ou pensamos afecta TUDO aquilo a que estamos ligados e, por isso,
mudar o nvel de percepo do OBJECTO implica, de modo directo, a mudana
do OBJECTO; mudar o nvel de percepo multiplica os objectos como um
espelho diablico (Barthes cit. por Frade, 1990).
Deste modo, se nos colocarmos do ponto de vista da exterioridade, obtemos
o sujeito, que percebe, e o mundo exterior. Os dois so considerados objectosobservveis e a percepo uma certa relao entre ambos que se trata de
descrever fazendo variar as condies nas quais decorre a observao.
Mas afinal, onde se passa a percepo?! Ao nvel do aparelho corporal, ou ao
nvel reflexivo de uma conscincia cuja existncia se afirma para explicarmos
no s que percebemos, mas que percebemos que percebemos ou a ambos
os nveis?!...
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A actividade perceptiva diz respeito totalidade perceptiva de um sujeito
encarnado e implicado num mundo. Assim, a percepo humana
determinada por um mundo de significaes inerente ao vivido perceptivo. De
facto, a percepo que um objecto assume na percepo depende do contexto
em que se encontra (um paraleleppedo na rua ou utilizado como uma arma de
lanamento pode ser o mesmo objecto mas no tem a mesma significao);
esta depende, tambm, da natureza fsica do ser humano: um trao qualquer
da realidade externa no sempre um sinal desencadedor de uma mesma
reaco para todos os seres humanos (Bennet & Hacker, 2003).
Ento, como se constituem as significaes?!... Quais os elementos
integrados para a constituio do mundo que o acto de sentir desdobra? Umavez que h formas internas ao sentir, de onde provm essas formas?! grande
a tentao, influncia da norma, de uma interpretao em termos biolgicos (e
j no meramente fisiolgicos). Contudo, se a percepo humana depende de
um universo de significaes, poder ela ser independente de um universo
social?!... H povos que no dispem de nomes para certas cores que ns
designamos: poderemos dizer que, de qualquer modo, as percebem tambm?!
Qual o papel da linguagem na percepo? Se fizermos da organizaoperceptiva um universo de formas fixas dadas a priori, como explicar a
transformao perceptiva, ou seja, a variao das percepes com a idade, as
transformaes sociais, as situaes, etc. ? Observa-se que a riqueza do
conhecimento depende da percepo, mas qual a relao exacta entre uma e
outra? Haver continuidade entre a percepo e a cincia?
Parece ser no sentido de descodificar as dvidas anteriores que Merleau-
Ponty (cit. por Frade, 1990) afirma que, resultando a complexidade dosproblemas aferentes percepo do seu carcter de processo global e
dependendo a percepo de um tratamento apropriado da informao, a
percepo , em si mesma, j um comportamento.
Constata-se, desta maneira, que a linguagem subjectiva por depender da
percepo e, contudo, quando procuramos analisar a linguagem, o instrumento
de que dispomos a prpria linguagem (Coughlan, 2002). Ou seja, a
linguagem no apenas uma maneira de trocarmos pensamentos, antes, o
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instrumento do pensamento que expressa mas tambm da forma quilo que
pensamos.
Assim, a natureza paradoxal da realidade percebida, at aqui evidenciada,
assenta num problema essencialmente epistemolgico que, procurando
conceptualizaes e compreenses coerentes, potencia, de modo real, uma
anlise fenomenolgica do conhecimento.
Fenomenologicamente, conhecer dizer o acto pelo qual um sujeito apreende
um objecto, ou seja, como o representa na conscincia.
Num conhecimento, um sujeito (o que conhece) e um objecto (o conhecido)
esto face a face. Mas para haver conhecimento no suficiente um sujeito e
um objecto, necessrio que entre eles se estabelea uma relao, umacorrelao (Sousa Santos, 1991), e, por isso, no h sujeitos sem os objectos
pelos quais eles so definidos, no h objectos sem os sujeitos para os
apreender, no h executantes sem coisas executadas (Dalai-Lama, 2006, p.
65).
Assim, por exemplo, os jogadores (que treinam) s o so em relao ao
treinador, e o treinador s treinador em relao aos jogadores, fora do treino
os jogadores deixam de ser jogadores e o treinador deixa de ser treinador. Otreinador s treinador porque os jogadores o determinaram como treinador, e
os jogadores s so jogadores porque o treinador os determinou como
jogadores.
De acordo com Kuhn (1975), o conhecimento realiza-se em trs momentos
essenciais:
1. -O sujeito sai da sua esfera, deixa de estar fechado na sua mente, abre a
vontade de conhecer;2. - O sujeito faz uma incurso pormenorizada para captar o mximo de
caractersticas do objecto;
3. -O sujeito regressa sua esfera enriquecido. Uma vez regressado a si,
forma-se na conscincia uma imagem ou representao do objecto.
A actividade do sujeito manifesta-se quando o sujeito sai da sua prpria
esfera e revela o desejo de querer conhecer o objecto, e quando o sujeito
regressa a si e constri a imagem ou representao mental do objecto. H
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receptividade quando o sujeito capta as caractersticas que o objecto
disponibiliza.
O conhecimento realiza-se, ento, seguindo uma lgica de sair de si. Assim
como no chega simular que se domina um aspecto, por exemplo o drible ()
porque este gesto somente faz sentido na harmonia com o contexto; no tem
valor em si mesmo (Bento, 2005) tambm no chega conhecer de Futebol
e, ento, Quem s sabe de desporto nem de desporto sabe (Bento, 2005), ou
antes Quem s sabe de Futebol nem de Futebol sabe (Frade, 2006).
De facto, tudo o que tem existncia e uma identidade, s o tem dentro da
rede total de tudo com que possa estar relacionado, ou potencialmente
relacionado. No existe nenhum fenmeno com uma identidade independenteou intrnseca.
E o mundo feito de uma rede de inter-relaes complexas. No podemos
falar da realidade de uma entidade discreta fora do contexto da sua esfera de
inter-relaes com o seu meio e outros fenmenos, incluindo a LINGUAGEM,
os CONCEITOS e outras convenes (Dalai-Lama, 2006, pp. 64).
A expresso trazemos a alma vestida , portanto, particularmente
interessante se a entendermos como uma aluso ao facto da nossa culturaestar atrelada ao modo de pensar binrio, ou pensamento linear, o qual estreita
e obscurece os nossos horizontes mentais, e assim nos impede de perceber
muitas das mudanas da realidade (Morin, 2003).
Ento, capital pensar fenomenologicamente o Futebol. A clebre frase
voltar s coisas mesmas, de Edmund Husserl, significa que o esforo
fenomenolgico implica suspender os preconceitos, as ideias prvias, as
teorias e, mediante essa disposio, observar os fenmenos tal como eles seapresentam nossa experincia imediata.
, portanto, caminho verdadeiro, como disse Hegel na sua lgica, o de
ultrapassar a tenso insolvel do transcendental e do emprico, da condio e
do condicionado.
Assim, uma vez que o desporto, e especificamente o futebol, no s
biolgico mas MUITO mais do que isso (Tani, 2005), necessrio ultrapassar
esta forma de ver as coisas complementando a interpretao quantitativa que
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lhe atribuda com uma interpretao qualitativa. que o rigor cientfico,
porque fundamentado no rigor matemtico, um rigor que quantifica e que, ao
QUANtificar, desqualifica, um rigor que, ao objectivar os fenmenos, os
objectualiza e os degrada, que, ao caracterizar os fenmenos, os caricaturiza
(Sousa Santos, 1991).
Ao interpretarmos a prestao de um jogador, por exemplo, temos
necessariamente que ter em conta as partes que o constituem assim como as
possveis relaes existentes entre elas e entre todas as componentes em
JOGO. Ou seja, ns no podemos perceber o jogador se no estivermos a
analisar o jogador no jogo. Do mesmo modo, ns no podemos perceber o jogo
na sua globalidade se no entendermos a deciso do jogador. No fundo, temque haver uma interaco entre jogo e jogador para percebermos aquilo que
est a acontecer e, por isso, ns no podemos perceber no que que estamos
a falhar, por exemplo no ataque, se no percebermos como que estamos a
defender (J. G. Oliveira, Anexo 5).
Segundo Kuhn, a cincia uma obra colectiva de uma comunidade cientfica,
a partir de paradigmas. Um paradigma um conjunto de teorias, regras,
metodologias, aceites por uma comunidade cientfica, construindo a sua formade ver o mundo, isto , de o interpretar.
O desenvolvimento da cincia realiza-se em duas fases, a Cincia Normal e a
Cincia Revolucionria.
A cincia Normal a cincia dos perodos em que um paradigma aceite
pela comunidade cientfica. A cincia Normal uma actividade de resoluo
de enigmas e, numa dada poca, a comunidade cientfica tenta resolver os
problemas que surgem no seio do paradigma dominante, de acordo com osprincpios e os modos de soluo j assimilados. Isto significa que os cientistas
so conservadores, isto , tm tendncia para evitar pr em causa o paradigma
em vigor. Assim se justifica que os cientistas tentem resolver os novos
problemas dentro do paradigma em vigor, contribuindo, ento, para a sua
confirmao e no para a sua refutao. De facto, em condies normais, o
cientista investigador no um inovador mas um solucionador de puzzles, e os
puzzles em que ele se concentra so precisamente aqueles que acredita
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poderem ser formulados e resolvidos pela tradio cientfica existente (Kuhn
cit. por Gleick, 2005, p. 63).
Pr em causa um paradigma equivale a pr em causa a percepo da
realidade que dele depende, e na qual todos ns fomos instrudos.
Deste modo, quando surge uma anomalia, um facto problema que no tem
soluo dentro do paradigma em vigor, uma nova cincia surge no seio de
outra que chegou a um beco sem sada (Gleick, 2005) e, por isso, a cincia
entra num perodo de crise. Desta crise pode resultar a reformulao do
paradigma ou o aparecimento de um novo paradigma (o paradigma
emergente), que acabe por substituir o anterior. Neste ultimo caso impe-se a
revoluo cientfica que consequncia de uma ruptura epistemolgicadependente de bloqueios epistemolgicos.
O novo paradigma, o tal paradigma emergente, redefine os problemas at
ento insolveis e d-lhes uma soluo convincente, e nesta base que se vai
impondo revoluo cientfica. No entanto, a substituio do paradigma no
rpida. O perodo de crise revolucionria em que o velho e o novo paradigma
se defrontam e entram em concorrncia pode ser bastante longo.
Dito isto percebe-se que a cincia cclica, est em constante progressoatravs de duas fases distintas, revelando que o desenvolvimento cientfico
ocorre atravs de descontinuidades e rupturas entre paradigmas, na medida
em que os paradigmas so incomensurveis, isto , no permitem qualquer
tipo de dialogo entre si e implicam sempre que quando se adopta um
paradigma se tem que rejeitar o outro.
Mas precisamente essa incongruncia que, quando muda o modo de um
cientista ver as coisas, torna possveis os mais importantes progressos (Gleick,2005).
Ora, No tratamento cientfico do Desporto podemos reflectir sobre questes
no ortodoxas no discurso da cincia Normal (Sobral, 1995). Assim,
considerando a diversidade, a extenso e interdependncia dos problemas no
Futebol, a primeira tarefa a que nos impomos, nesta dissertao, a de
assumir uma forma de ver e entender o Jogo e o Jogar, a formao e o formar,
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traduzida num saber que questiona a cegueira (Morin, 2003) do modelo
mental dominante.
O mesmo autor (2003) refere que vivemos sob o imprio dos princpios de
disjuno, de reduo e de abstraco, cujo conjunto ele denomina de
paradigma da simplificao. Descartes formulou este paradigma ao separar o
sujeito pensante (ego cogitans) e a coisa externa (res externa).
De facto, este o erro de Descartes: a separao abissal entre corpo e
mente, entre a substncia corporal, infinitamente divisvel, com volume, com
dimenses e com um funcionamento mecnico, por um lado, e a substncia
mental, indivisvel, sem volume, sem dimenses e intangvel; a sugesto de
que o raciocnio, o juzo moral e o sofrimento adveniente da dor fsica ouagitao emocional poderiam existir independentemente do corpo (Damsio,
2003a).
Nesta medida, o Futebol est, ainda, muito ligado a paradigmas que no so
muito sistmicos e esses paradigmas fazem com que ns estejamos sempre a
dividir as coisas. H diviso entre o tctico, o tcnico, o fsico, o psicolgico, h
diviso entre o ataque, a defesa, a transio. Contudo, s se compreende o
Jogo analisando-o na sua globalidade e, ento, em vez de proceder definiode fronteiras entre assuntos e conceitos futebolsticos, a cincia deve
considerar o Jogo em diferentes patamares que esto obrigatoriamente em
constante interaco. Isto , dentro do jogo h sub-dinmicas diferentes, por
sectores, inter-sectores ou em termos individuais, mas esto todas em
intereco umas com as outras e s percebemos realmente o Jogo quando
percebemos o Jogo com estas interaces e com estas sub-dinmicas
diferenciveis que se relacionam permanentemente (J. G. Oliveira, Anexo 5).Ou seja, o conhecimento tem avanado pela especializao e, nesta medida,
sendo conhecimento disciplinar, tende a ser um conhecimento disciplinado por
segregar uma organizao do saber orientada para balizar as fronteiras entre
as disciplinas e por rigorizar o conhecimento na proporo directa da
arbitrariedade com que espartilha o real (Sousa Santos, 1991).
Queremos com isto afirmar que o Desporto, no seu conjunto, tem finalidades
que o transcendem e para o interpretar preciso recorrer a uma srie de
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conhecimentos muito diversificados e plurais. Sem essa diversidade de
olhares, sem essa diversidade de anlise cai-se numa viso muito simplista,
numa viso muito reduzida. (J. O. Bento, Anexo 1). Portanto, o conhecimento
do futebol no se basta em si mesmo mas configura-se numa
interdisciplinaridade recorrente da sua complexidade fenomenal e, por isso, se
o rendimento desportivo condicionado por uma estrutura multifactorial de
elementos interagindo de forma complexa, s igualmente de forma complexa,
em cooperao interdisciplinar, ser possvel formular hipteses de
investigao de maior alcance, desenvolver mtodos de investigao novos e
complexos, mais efectivos, e abrir novas reservas de conhecimento (Marques,
2007).Nesta medida, uma vez que consideramos, tal como Bento (2004), que as
Cincias do Desporto tm pela frente uma larga panplia de perspectivas de
crescimento e desenvolvimento e admitimos, tal como Gleick, que a
incongruncia entre modos de ver as coisas que potencia os mais
importantes progressos cientficos, defenderemos, ao longo desta dissertao,
que so, hoje, muitos e fortes os sinais de que o modelo de cientificao
futebolstica atravessa uma profunda crise, essencialmente ao nvel daanlise do Jogo e das metodologias de Treino (J. G. Oliveira, Anexo 5).
Assim, defenderemos nesta dissertao: primeiro, que essa crise no s
profunda como irreversvel; segundo, que estamos a viver um perodo de
revoluo cientfica que se iniciou com Einstein e a mecnica quntica e no se
sabe ainda quando acabar mas; terceiro, que os sinais nos permitem to s
especular acerca do paradigma que emergir deste perodo revolucionrio mas
que, desde j, se pode afirmar com segurana que colapsaro as distinesbsicas em que assenta o paradigma dominante.
Em suma, estando as Cincias do Desporto a registar aquilo que Capra
(2005) designou de ponto de mutao, ou recorrendo designao de Kuhn.
(1962, cit. por Capra, 1996) verifica-se uma mudana de paradigma (Maciel,
2008), em funo de um Corpus de conhecimento que questiona a
simplificao paradigmtica NORMAL, e sabendo, por Gleick (2005), que
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muitas vezes uma revoluo tem um carcter interdisciplinar, ser nossa
preocupao, ao longo desta dissertao, multidisciplinarizar a procura do
conhecimento futebolstico-cientfico em estudo sem que isso implique um
afastamento da especificidade prpria de um fenmeno que, por ser antropo-
social-total (Maciel, 2008), essencialmente identitrio, no sentido de
contribuir, de algum modo, para a resoluo dos bloqueios epistemolgicos
actuais (essncia primeira da cincia revolucionria, lembre-se) e consequente
reformulao de um paradigma que, por ser futebolstico, complexo e
sistematizvel (passvel de abordagem sistmica, entenda-se).
Decidimo-nos, assim, a escrever este captulo devido nossa admiraopelas realizaes da cincia desportiva no sculo XX, e ao desejo de contribuir
para o tema futebolstico em estudo.
Nesta medida, esforar-nos-emos, ao longo das pginas seguintes, por
proporcionar uma representao clara do campo conceptual de cada um dos
conceitos problemticos subjacentes temtica da nossa dissertao.
3.1. - O exaltar da INTERACO, invariante estrutural da estrutura de
rendimento do
FUTEBOL para a (re)conceptualizao do Futebol, do
Jogo, do Jogar e da Equipa
Tudo aquilo que foi fragmento e enigma e horrvel acaso at que a vontade criadora
acrescente: Mas assim que eu queria! at que a vontade criadora acrescente: Mas assim que
eu quero! assim que eu quererei
(Atlan, H. , 2005, pp. 263)
O Futebol existe muito antes de pensarmos nele, o Futebol existe
independentemente de haver quaisquer pensamentos, o Futebol existe
concretamente. Ou seja, o Futebol pr-existe ideia que dele se tem (Frade,
1990, p. 3) e, por isso, o contexto de sentido de toda e qualquer
conceptualizao futebolisticamente cientfica deve partir do isolar daquilo
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que na NATUREZA DO JOGO DE FUTEBOL CONSTANTE E
FUNDAMENTAL.
Assim, se admitirmos, tal como G. Oliveira (2006), que o jogo de Futebol
uma UNIDADE colectiva por ter uma dinmica COLECTIVA originada pela
INTERAO de um conjunto de aspectos que esto relacionados, obtemos
imediatamente uma questo chave: saber como os jogadores agindo na
estrutura de rendimento so levados a interagir com os contedos da
actividade proposta (Frade, 1990, p. 4).
Conforme salienta Atlan (2003), nas actividades dos seres humanos
observam-se movimentos corporais associados a actividades mentais,
determinando na INTERaco, essa associao, uma causalidade imanente,da natureza em geral sobre ela mesma em cada um dos seus fenmenos e
dos seus indivduos, dependente de uma causalidade eficiente, pela qual as
coisas se produzem umas s outras numa cadeia infinita de causas e de
efeitos.
Para o mesmo autor, cada uma das causalidades enunciadas e auto-hetero
implicadas, profundamente diferente de incerteza, imprevisto e indeciso.
Entendemos a este respeito que, sendo o futebol um jogo de dinmicas cujainvariante estrutural a interaco, o jogar uma totalidade que resulta das
interaces dos jogadores e, por isso, no deve ser interpretado como um
somatrio de acontecimentos aleatrios porque se inscreve num contexto
colectivo.
Tal entendimento obriga-nos a caminhar no sentido de uma necessidade
CRIADORA. Isto , se o futebol associa movimentos corporais a
actividades mentais e se inscreve numa essncia eminentementecolectiva, transformando em cada momento cada aco numa
INTERaco, de que forma possvel operacionalizar (j potenciar) uma
interpretao colectiva capaz de antecipar a INTERaco e pr-
determinar as INTERaces futuras?
O jogo de futebol, pelas suas caractersticas estruturais e funcionais, pode ser
entendido como um confronto entre sistemas caticos determinsticos com
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organizao fractal (Gaiteiro, 2006). Olh-lo segundo esta perspectiva
sistmica reconhecer-lhe caractersticas como a complexidade, a auto-
organizao (potenciadora de auto-engendrao), o carcter catico e um
dimensionamento multifractal (Resende et. al., 2006 ).
Nesta medida, a Equipa um sistema catico determinstico por ser
caracterizada pela imponderabilidade e imprevisibilidade do seu
comportamento e, ainda assim, conter traos de regularidade e mesmo de
universalidade no seu Jogar. Ento, sendo sistema catico, a Equipa de
Futebol , obrigatoriamente, detentora de padres observveis e analisveis.
Na verdade, uma vez que a preciso imprecisa, tambm a previso
imprevisvel e, por isso, a previsibilidade d lugar probabilidade (Cunha eSilva, 1999). Isto , se o Jogar de uma Equipa de Futebol revela uma grande
dependncia do que acontece em cada instante, uma vez que qualquer
acontecimento que ocorra durante o jogo tem implicaes nos acontecimentos
que se seguem e pode modificar e alterar completamente a sequncia, a lgica
e o resultado do processo (Resende et. al., 2006), s podemos prever (antes
PROBABILIZAR) comportamentos se conhecermos os padres de aco
que constituem a essncia do Jogar da Equipa em anliseDe facto, uma equipa de futebol uma micro-sociedade que tem uma
cultura, que tem uma linguagem, que tem uma identidade e muitas outras
coisas prprias. Como tal deve ser entendida e tratada numa perspectiva de
fenmeno complexo (Oliveira, 2006).
Assim, assumindo a complexidade perspectivada, importa reconhecer, tal
como Cunha e Silva (1999), que um sistema complexo um sistema que no
pode ser caracterizado a partir da reunio das caractersticas e qualidades dassuas partes constituintes, e cujo comportamento no pode ser previsto a partir
das suas partes componentes. Pelo contrrio, uma vez que o Futebol o
desporto de situao por excelncia, dado que tende a criar situaes novas
continuamente, dando lugar a um estado constante de imprevisibilidade, a
ordem ou organizao de um todo (entenda-se uma equipa), ou sistema,
transcende aquilo que pode ser oferecido pelo conjunto das suas partes
quando esto consideradas isoladas umas das outras (Frade, 1976) e, por isso,
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probabilizar comportamentos no interior de um jogo de futebol implica
reconhecer a importncia da existncia de um Projecto (entenda-se um
Modelo de Jogo) criador e recreador capaz de assegurar, em cada momento,
uma auto-eco-organizao (Morin, 1990) que exponencia necessariamente
uma tomada de deciso que no abstracta, porque tem repercusses no
contexto onde se inscreve, mas INTERACTIVA porque, em jogo, a tomada de
deciso de um elemento potencia uma interpretao e ANTECIPAO pelos
demais elementos, condicionando, assim, o desenvolvimento futuro do sistema,
ou seja, as INTERaces (Gomes, 2006).
Parece, deste modo, que, havendo vrias formas de resolver os problemas
em jogo, a existncia de um projecto implica uma resoluo problemticasubordinada a uma determinada lgica criada, recriada e inventada durante o
processo de treino, porque o treino visa exactamente isso. Ns apetrechamos
os jogadores e a equipa para que eles consigam resolver os problemas que no
jogo se colocam de uma forma permanente, dentro de determinada forma de
resoluo desses problemas (Oliveira, 2006) e, por isso, o treino uma
aprendizagem que permite intencionalizar comportamentos pela
autonomizao do jogador e da equipa., quanto a ns, precisamente esta intencionalizao que confere Equipa
uma determinada padronizao ESSENCIAL (de essncia, entenda-se)
capaz de potenciar probabilizao.
Segundo Atlan (2003), um comportamento intencional produzido
causalmente num corpo complexo pelos efeitos integrados de comportamentos
no intencionais dos seus constituintes. Entendemos, a este propsito, que as
decises dos jogadores resultam dos dados contextuais mas sosobreconfiguradas por regras colectivas que os levam a optar por
determinadas escolhas em detrimento de outras, sendo que as interaces dos
jogadores expressam a INTENO individual que subjugada a um projecto
colectivo de jogo (Oliveira, 2004).
precisamente a este nvel que Paulo Cunha e Silva (in Maciel, 2008)
caracteriza a equipa como um mosaico fluido capaz de produzir um jogar
COMPLEXO (por ser, tambm ela complexa) por encerrar constituintes
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HETEROGNEOS, os jogadores, que se encontram inseparavelmente
associados.
Ento, uma vez que a equipa uma colectividade feita de singularidades
(Cunha e Silva, 2008), importa, aqui e agora, assegurar um entendimento do
todo que extrapole a homogeneidade dos seus constituintes porque, sendo um
todo, a equipa feita de partes e essas partes so fundamentais por serem
elas a assegurar, em cada momento, a descristalizao do todo, antes a
evoluo do todo pela capacidade de incorporao do NOVO, porque um
sistema saudvel (Capra, 2005) no uma realidade esttica mas sim um
sistema que evidencia flexibilidade face mudana, logo ABERTO e, por
isso, potencialmente livre e criativo.A este respeito, Cruyf (2002) considera que os senhores que mandam no
futebol nunca esto verdadeiramente interessados no jogador enquanto
indivduo, preferindo concentrar todas as atenes na equipa como um todo.
Contudo, uma equipa constituda por onze indivduos e cada um deles
merece ateno, uma equipa quando os jogadores dessa mesma equipa,
com o contributo do treinador, conseguem ser individuais e simultaneamente
colectivos e ser esse colectivo individual tambm. Ou seja, h umadiferenciao entre jogadores mas h um patamar superior que a equipa,
essa individualidade que a equipa (J. G. Oliveira, Anexo 5) e, por isso, o
aparente paradoxo de fazer evoluir o que de individual uma equipa tem para
fazer evoluir a prpria equipa fica desparadoxo quando descobrimos que o
individual no evolui pela individualidade das tarefas mas pela sua
colectividade. Ou seja, o indivduo evolui como indivduo NA equipa.
Ora vejamos, o senso comum leva-nos a considerar que os vrios objectosque observamos podem ter uma, duas, ou trs dimenses. Contudo, se formos
confrontados com a noo de uma dimenso no inteira, digamos 1.2 ou 2.3, o
mais natural que no nos demos imediatamente conta do que se trata.
Deste modo, se associar a ideia de uma dimenso a por exemplo, uma linha,
duas dimenses a um quadrado, e trs a um cubo (fig. 1), e analisarmos o que
se encontra por trs dessa noo intuitiva obtemos, certamente, algumas
concluses.
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Se dividirmos uma determinada linha em N partes idnticas, estaremos
indirectamente a obter N cpias da linha original reduzidas escala de = 1/N.
De forma semelhante, para um quadrado, se o dividirmos em N partes
semelhantes, estaremos desta vez a reduzi-lo escala de = 1/N ou seja, um
quadrado reduzido escala de 0.5, possuir um quarto da rea inicial. No caso
do cubo, raciocnio semelhante, leva-nos a concluir que, ao dividi-lo em Npartes iguais, estamos a reduzi-lo a uma escala de = 1/3N, permitindo-nos
estabelecer informalmente que = 1/DN em que D representa a dimenso do
objecto.
Olhemos agora para a figura 2. (curva de Von Koch) Imaginemos uma linha
que ao ser dividida em trs partes mantm as suas caractersticas de dimenso
1. No entanto, se substituirmos o seu tero mdio por dois segmentos de igual
tamanho ao segmento anterior (fig. 2.a), ficamos com uma figura que possui 4segmentos, cada um com 1/3 do comprimento original da linha. A relao com
o que dissemos anteriormente directa. Se reduzirmos esta figura a uma
escala () de 1/3, obteremos 4 segmentos idnticos (N) e teremos portanto D =
log4/log3 = 1.26 (fig. 3.b), tal como em fig. 3.c e 3.d em que D = log16/log9 e D
= log64/log27, respectivamente.
Figura 1 Linha, quadrado e cubo(Adaptado de Barnsley et. al., 1988, p. 29)
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Caminhando a este passo, entramos inevitavelmente na anlise fractal de
uma equipa de futebol. Etimologicamente Fractal provm do latim fractus que
significa fragmento ou irregular.Um fractal , de acordo com Paul Celle (2006), um padro geomtrico
irregular, que pode ser subdividido mas em que cada parte uma cpia mais
pequena do todo inicial. um padro geomtrico semelhante em todas as
escalas, da mais reduzida maior.
Uma das caractersticas dos fractais, a sua auto-semelhana. Como
podemos ver na imagem anterior, o conjunto total constitudo por pequenas
rplicas desse mesmo conjunto e basicamente neste princpio que assenta oconceito de auto-semelhana, ou seja, qualquer que seja a ampliao
considerada, obteremos sucessivas cpias do objecto inicial.
Para Paul Celle (2006) possvel distinguir dois tipos diferentes de auto-
semelhana: a exacta e a estatstica. No caso da curva de von Koch, a auto-
semelhana exacta uma vez que as rplicas que vamos obtendo, so de
facto perfeitas. Podemos no entanto, imaginar determinado tipo de figuras que
ao serem ampliadas apresentem uma auto-semelhana estatstica, ou seja,
Figura 2 Curva de Von Kock(Adaptado de Barnsley et. al., 1988, p. 30)
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uma semelhana que no sendo exacta, apresenta os mesmos padres, no
fundo, imagens que possuem as mesmas caractersticas em termos gerais.
Entendemos, neste comprimento de onda, que o Jogar de uma equipa de
Futebol possui uma auto-semelhana estatstica por ser identificado por
padres fractais que guiam a equipa dentro do contexto de variabilidade e
aleatoriedade do jogo.
Uma equipa um sistema sempre em construo. Os jogadores so as
partes que concorrem para a sua efectivao e so eles que, pela sua
evoluo, lhe conferem uma determinada identificao.
Sabemos, j, que o todo sempre superior soma das partes mas sem
as partes, sua constante evoluo, o todo no existe e, ento, os jogadores,para exprimirem toda a sua qualidade, tm que se exprimir em funo das
exigncias do prprio jogo, daquilo que est a acontecer. Para isso, os
jogadores tm que estar inseridos numa forma de ver o Jogo e de encarar o
Jogo que lhes permita exprimir as suas qualidades em termos individuais, em
conformidade com a equipa, e, para alm disso, a equipa tem que entender as
qualidades individuais dos jogadores de modo a permitir a maximizao da
qualidade dos jogadores e, consequentemente, da qualidade da equipa (J. G.Oliveira, Anexo 5). Ou seja, tem que haver uma relao muito grande entre
Jogador - Equipa e Equipa - Jogador.
O jogo de futebol desenvolvido por seres humanos que possuem corpo e
alma, e que esto sujeitos imprevisibilidade e diversidade do prprio jogo
(Valdano, 2002).
Assim, tal como o Ser Humano, tambm o jogador, no existe de uma forma
isolada, no se basta em si mesmo e a sua essncia nica acompanhada deuma existncia em relao. Ou seja, o homem, o jogador, no somente existe,
mas fundamentalmente, inter-existe e, ainda assim, esta existncia em
relao no anula a individualidade, mas, pelo contrrio potencia-a. Deste
modo, tal como o jogo, tambm os jogadores se tm como complexos. Ento,
num jogo que se apresenta complexo, com jogadores igualmente complexos, o
jogo no existe sem o jogador nem o jogador sem o jogo. Isto , os jogadores
fazem o jogo, dando-lhe sentido
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