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MESORREGIÃO OESTE DO PARANÁ: PROGNÓSTICO
INTRODUÇÃO
O estudo de diagnóstico sócio-econômico realizado para os municípios da
Mesorregião Oeste do Paraná permitiu a elaboração deste documento. Na linguagem técnica
de alguns ramos da ciência - especialmente a medicina - após um diagnóstico deve ser traçado
um prognóstico. Sob esta óptica, este documento representaria o prognóstico sócio-econômico
dos municípios estudados no diagnóstico.
Dentro das Ciências Sociais, porém, a relação diagnóstico - prognóstico toma uma
dimensão diferente da medicina. Nesta última, o paciente busca a consulta médica para ter um
claro diagnóstico de sua doença e um prognóstico adequado, que elimine a enfermidade por
completo e no menor tempo possível. Nas Ciências Sociais, o diagnóstico representaria o
apontamento de potencialidades adquiridas e de pontos de estrangulamento surgidos durante o
processo de interação da sociedade com o meio natural, ao longo de um período determinado.
O prognóstico, por sua vez, seria uma forma indicativa de amenizar os pontos de
estrangulamento verificados e de impulsionar as potencialidades adquiridas.
Neste sentido, este documento busca indicar perspectivas de desenvolvimento para a
Mesorregião Oeste do Paraná, porém, com o devido cuidado de não se constituir em um
prognóstico médico, no qual a doença prontamente diagnosticada, será tratada rapidamente,
com o medicamento mais apropriado, eliminando-a por completo. Neste trabalho são
construídos cenários, discutidas possibilidades e estabelecido limites para o desenvolvimento
sustentado desta porção do território brasileiro. Porém, as soluções não estão ao alcance
imediato da sociedade, tão pouco, dependem de um agente externo (remédio). Mas sim, de
várias ações integradas da sociedade regional, em conjunto com os governos estadual e
federal.
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2 PROCESSO DE POLARIZAÇÃO
O processo de polarização consolidou o Município de Cascavel como o principal pólo
regional. Em menor nível de centralidade, o Município de Foz do Iguaçu também é
considerado um pólo regional. Além destes, os Municípios de Medianeira, Marechal Cândido
Rondon, Assis Chateubriand e Palotina se consolidaram como sub-pólos regionais.
As causas deste processo de polarização foram discutidas no diagnóstico,
representando a soma de características da evolução sócio-econômica destes municípios.
Desta forma, cabe discutir se esta dinâmica terá continuidade e de que forma este processo
tenderá a ocorrer.
As forças que tornaram Cascavel o pólo regional de maior centralidade ainda estão
presentes e tendem a se manter. A sua centralidade, na área do agronegócio, é significativa,
desde a presença de plantas agroindustriais, passando pela comercialização, até o
desenvolvimento da oferta de serviços cada vez mais especializados nesta área. Porém, o que
tornou Cascavel mais polarizada foi o desenvolvimento de atividades diversificadas e com
elevado grau de complexidade, em nível regional. O comércio varejista é diversificado e
consegue atender a praticamente toda a demanda regional, sem necessidade de recorrência a
centros maiores, como Curitiba e São Paulo. O comércio atacadista também consegue atender
às necessidades de grande parte do comércio varejista regional, além de atender outras regiões
do Estado do Paraná e do País. O setor de serviços, porém, é o mais diversificado e
especializado da Região, englobando os serviços de atendimento a saúde; educação;
consultoria empresarial, nas mais diversas áreas; serviços financeiros, com a presença de
várias instituições, entre outros. No Município está concentrada uma quantidade elevada de
órgãos da administração pública estadual e federal.
O caso de Foz do Iguaçu já não permite um consenso quanto à continuidade do
processo de polarização. A evolução deste Município esteve, historicamente, ligada às fortes
intervenções governamentais e a fatores exógenos e, no momento atual, a dinâmica apresenta-
se fortemente ligada ao turismo e ao comércio fronteiriço. O comércio fronteiriço, dentro da
atual perspectiva, depende das ações de política econômica do Brasil, Argentina e Paraguai,
da evolução dos tratados do Mercosul e da constituição da ALCA. Desta forma, o futuro deste
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comércio fica fora da esfera de decisão regional, o que dificulta a formação de expectativa
sobre esta atividade no médio prazo. Já o turismo, apesar de depender de questões
macroeconômicas, como a taxa de câmbio, encontra maior poder de intervenção local em seu
desenvolvimento. Porém, os atrativos existentes ainda não são suficientes para manter o
turista por mais tempo na Região. O desafio de Foz do Iguaçu seria estabelecer, efetivamente,
uma programação turística com os demais municípios, principalmente os “lindeiros”, para que
esta atividade tivesse o devido impulso e dinamizasse a geração de emprego e renda.
Os municípios de Toledo, Medianeira, Marechal Cândido Rondon, Assis Chateubriand
e Palotina, apresentam dinâmica própria, dependente do agronegócio, com tendência de
manter a polarização sobre os municípios menores, com atividade econômica voltada para a
agricultura.
O processo de polarização existente e sua possível continuidade apontam para o
agravamento da situação dos municípios de menor porte. Porém, dentro destes municípios
existem duas classes distintas: a)aqueles que tendem a manter sua posição, por estarem
inseridos dentro da dinâmica do agronegócio regional; e b) aqueles que estão fora da dinâmica
do agronegócio, por seu território não permitir, integralmente, a agricultura moderna.
3 ASPECTOS ECONÔMICOS
Os aspectos econômicos da Mesorregião Oeste do Paraná podem ser tratados de forma
setorial. Porém, discutir separadamente a agropecuária, agroindústria e comercialização
agrícola, foge da organização da cadeia produtiva. Desta forma, este segmento é tratado aqui
como agronegócio. Os demais tópicos são a produção industrial (exceto a agroindústria), a
atividade comercial e a atividade de prestação de serviços.
Assim, esta seção divide-se em cinco partes na seqüência apresentada de assuntos,
sendo a última seção uma síntese dos aspectos econômicos gerais da Região.
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3.1 O Agronegócio.
A mecanização da agricultura tornou a Região uma referência em quantidade e
produtividade nas culturas de exportação, principalmente soja, milho e trigo. A
comercialização desta produção estabeleceu uma infra-estrutura de beneficiamento,
armazenagem e transporte desta produção. O desenvolvimento agroindustrial encontrou
ambiente propício ao seu crescimento e consolidação.
Algumas cadeias produtivas, dentro do agronegócio, são mais recentes, como a da
mandioca e da criação de peixes. Estas têm buscado condições de consolidação em
determinadas porções da Região. A cadeia produtora de aves obteve significativa expansão
recente na Região, com investimentos de cooperativas. As demais cadeias existentes
consolidaram-se e tem dinamizado a transformação industrial. A exceção fica com a atividade
de esmagamento de soja, que perdeu totalmente o dinamismo na Região.
Dentro deste quadro, as perspectivas apontam para a continuidade desta atividade
como fundamental fonte geradora de renda regional. Os municípios que se inserem
diretamente, em algum ponto desta cadeia, encontrarão condições para manter sua situação
atual. Porém, o processo de polarização tende a diferenciar os ganhos entre os participantes
desta dinâmica. Os municípios que concentram as unidades agroindustriais, tendem a absorver
maior parte dos ganhos do agronegócio. Em contrapartida, os municípios que apresentam
apenas atividades ligadas a agropecuária, mais especificamente à agricultura, tendem a
absorver uma parcela menor da renda gerada.
Os municípios menores têm diferentes graus de inserção na dinâmica do agronegócio.
Alguns têm maior parte de seu território dedicado à agricultura moderna e ainda possuem
alguma unidade agroindustrial. Outros não possuem unidades agroindustriais relevantes, mas
acabam tendo parte significativa de seu território cultivado com agricultura moderna. Existem
ainda, os municípios que não possuem unidade agroindustrial relevante e que possuem uma
pequena parte de seu território com a agricultura moderna.
Os municípios do último grupo são os que menos ganhariam com a continuidade do
processo de desenvolvimento do agronegócio. Nesse sentido, percebe-se que a dinâmica do
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agronegócio tende a criar impacto apenas na porção territorial da Região que é propicia a este
tipo de atividade. Este processo colabora para o aparecimento dos chamados vazios
econômicos. Os municípios integrantes destes vazios estariam fora desta dinâmica regional e
necessitariam de alternativas para a atividade econômica.
Estes municípios vêm atuando nas atividades de criação de aves e de pecuária leiteira,
fato que têm contribuído para amenizar seus problemas, mas ainda fica muito aquém das
necessidades colocadas. O que vem apontando com alternativa em outras regiões, com
características semelhantes é a agricultura e pecuária orgânica. No Oeste de Santa Catarina e
no Sudoeste do Paraná esta atividade ganhou um forte impulso com a organização dos
pequenos produtores em cooperativas, contando com o apoio dos governos municipais e de
órgãos governamentais, como a Emater.
A dinâmica econômica destes municípios dependerá da inserção destes nas atividades
do agronegócio que são possíveis, principalmente a criação de aves, a pecuária de leite e, em
menor grau, a suinocultura. Sendo ainda relevante o incentivo à produção orgânica, como
uma forte alternativa para o pequeno e médio produtor.
A perspectiva de continuidade do desenvolvimento do agronegócio, nos moldes atuais,
trás uma discussão importante para o futuro desta atividade e da Região. O impacto causado
pela modernização tecnológica da agricultura e por todo o desenvolvimento posterior do
agronegócio é um fato relativamente pouco discutido, mas que deverá tomar outra dimensão
num futuro próximo.
Os impactos ambientais percebidos trazem a seguinte questão: O processo de
desmatamento, juntamente com a aplicação de produtos químicos altamente prejudiciais à
fauna e a flora, até que ponto comprometeu o desenvolvimento da vida na região? Será que os
avanços econômicos compensam estas perdas e todo o processo em vigor? As atividades
agrícolas desenvolvidas até então não prejudicariam algumas vantagens competitivas que a
Região ainda possui?
O assunto toma outra perspectiva, quando se deixa a análise presente e se vislumbra o
horizonte de longo prazo. A discussão presente nos países centrais é que, a posse de água
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potável, de áreas de conservação da biodiversidade e de fontes de produção de energia
renovável representará uma vantagem competitiva sem precedentes. Neste sentido, a Região
Oeste do Paraná é altamente privilegiada, pois possui uma hidrografia abundante, incluindo o
Lago de Itaipu, possui também uma das maiores reservas de biodiversidade, que é o Parque
Nacional do Iguaçu e, ainda, possui a maior usina hidrelétrica do mundo, além de Salto
Caxias, no Rio Iguaçu. Desta forma, a questão que segue é quanto às condições que o atual
modelo de desenvolvimento sócio-econômico regional apresentaria para preservar estas
vantagens até o momento, no qual estas seriam decisivas para a sociedade local? O que tem
sido encaminhado em termos de conservação do solo e de reconstituição das matas ciliares
têm conseguido proteger as nascentes e as reservas de água da Região?
A preservação do Parque Nacional do Iguaçu tem sido realizada mais por ação da
esfera federal do que pela esfera regional. Será que a preservação da biodiversidade não é
importante para a Região? Caso seja importante, porque não se respeita a faixa de reservas
legais nas propriedades? Estas também são importantes para a manutenção de determinados
ecossistemas. Estas questões são mais bem discutidas na parte deste trabalho dedicado ao
aspecto ambiental.
Outro ponto que exige reflexão para a Região é quanto aos desdobramentos do
agronegócio brasileiro. A expansão recente da agricultura moderna para as regiões Norte,
Nordeste e Centro-Oeste do País tem colocado algumas questões sobre a continuidade do
processo de expansão desta atividade na região Oeste do Paraná. As regiões recentemente
ocupadas encontraram clima favorável, escala maior de produção, solo receptivo aos insumos,
portanto de fertilidade adaptável, dando margem a uma produtividade significativa,
comparável as alcançadas em regiões tradicionais, como o Oeste do Paraná.
Na direção desta expansão da agricultura, desenvolve-se a agroindústria, com a
instalação de plantas com maior escala de produção e, também, com tecnologia produtiva
mais evoluída. Empresas do ramo de alimentos, com sede na Região Sul do País, estão se
incluindo nesta dinâmica e têm implantado novas unidades produtivas nestas regiões e,
conseqüentemente, modificado a forma de atuar em sua região de origem. Esta modificação é
traduzida em estagnação dos investimentos produtivos, diminuição de escala de produção e
até mesmo total deslocamento dos investimentos para as novas regiões.
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Este processo pode indicar, no mínimo, um questionamento do agronegócio presente
na Região Oeste do Paraná e, também, na Região Sul do País. Existe a ameaça iminente de
dificuldades de expansão do agronegócio nesta Região? A resposta é que no médio prazo não
há indicação de que isto possa ocorrer.
3.2 A Indústria
A produção industrial, além da agroindústria, ocorre nos municípios com certo grau de
polarização. Cascavel é o que mantém maior diversificação na produção industrial, atingindo
nível considerável de ramos, porém, sem apresentar indústrias de grande porte. O mesmo
ocorre com Medianeira que, sendo um centro produtor da indústria alimentícia, obtém
destaque, também, na indústria de móveis e apresenta a existência de outros ramos industriais
relevantes.
O ponto que deve ser enfatizado aqui é o fato de não haver uma aglomeração
industrial, semelhante ao que ocorre em outras regiões, tais como o Valo do Itajaí, em Santa
Catarina e mesmo a Região Metropolitana de Curitiba. Algumas reivindicações realizadas
perante os governos estadual e federal, exigem destes uma atitude mais determinada para
garantir a instalação de indústrias de grande porte na Região. Estas iniciativas acabam por não
considerar limitações significativas para o atendimento destas reivindicações.
Inicialmente, pode-se colocar as limitações impostas pela Região não atender às
condições mínimas para a localização industrial, tais como: distância em relação aos
principais mercados consumidores, distância em relação às fontes de matéria-prima e ao
porto, estrangulamento em praticamente todos os modais de transporte e escassez de mão-de-
obra especializada na produção industrial.
Estas limitações são somadas à insuficiente organização dos municípios da Região
para a atração e instalação de indústrias. Percebe-se um conjunto de ações isoladas de alguns
municípios na busca de indústrias, o que implica em atomização do processo e ainda,
competição inter-municípios, o que leva a resultados não significativos e estabelece perda, via
custo de oportunidade, para toda a Região.
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Um processo de industrialização regional, desatrelado da sua produção agropecuária,
deverá seguir um tramite exaustivamente pensado e articulado, desde que se inicie pela
resolução dos estrangulamentos apontados inicialmente. A partir deste então é que se pode
empreender a atração responsável e mensurada de indústrias, que ainda estejam em
conformidade com os cuidados com a preservação das potencialidades naturais levantadas
anteriormente.
3.3 O Setor Comercial
Ao longo do tempo, este setor foi se concentrando nas cidades de Cascavel e Foz do
Iguaçu. Porém, com sensíveis diferenças entre as ações nas duas cidades. Em Cascavel,
desenvolveu-se um significativo comércio varejista, que atende uma parcela considerável da
demanda regional. No mesmo sentido, o comércio atacadista estruturou-se em diversos
segmentos, atendendo às necessidades dos demais centros varejistas da Região Oeste do
Paraná, de outras regiões do Estado e do País. A pergunta a ser feita é: como esta atividade
adquiriu vantagem competitiva estando longe dos centros produtores das mercadorias
vendidas? Ainda não se pode estabelecer uma resposta aceitável, mas o fato é que a
competitividade existe e estas empresas encontram-se em crescimento, tanto pelo aumento do
faturamento, quanto da área de abrangência.
Em Foz do Iguaçu, o comércio atacadista desenvolveu-se atrelado a dinâmica de
exportação e importação. As empresas constituídas, em sua grande maioria, realizam
comércio com a Paraguai e Argentina, aproveitando a vantagem de estar na fronteira com
estes países. Inclusive, nota-se a instalação de filiais de empresas de Cascavel, com o intuito
de aproveitar esta vantagem geográfica para o comércio exterior.
O tamanho da cidade de Foz do Iguaçu, bem como sua área de influência
proporcionou o desenvolvimento de uma rede comercial varejista importante. Esta
importância provoca sensível centralidade desta atividade no município e inibe a mesma nos
municípios vizinhos.
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Os municípios considerados sub-pólos, desempenham um papel importante quanto ao
comércio varejista. Estes funcionam como centro intermediário de comércio, atendendo a
necessidade de vários municípios menores, em itens de baixa complexidade. Porém, os itens
de maior complexidade acabam sendo buscados em Cascavel ou Foz do Iguaçu. Nesta mesma
direção, o comércio varejista nos municípios menores mantém uma demanda muito restrita,
que faz esta atividade ser economicamente pouco significativa.
O quadro atual do comércio varejista aponta para uma tendência em acentuar os
aspectos de polarização em relação a Cascavel e Foz do Iguaçu. Porém, percebe-se, também,
espaço para o crescimento do comércio nos centros intermediários, como Toledo, Marechal
Cândido Rondon, Palotina e Medianeira.
O quadro atual do comércio atacadista aponta para a polarização em Cascavel. Alguns
fatores provocaram a perda de dinâmica do comércio atacadista de Foz do Iguaçu. O principal
fator é que este depende de variáveis como taxa de câmbio e política de acordo de tarifas
alfandegárias, que fogem da espera de decisão regional. A sinalização da dinâmica que vêm
dos acordos comerciais com o Mercosul e das discussões da ALCA coloca Foz do Iguaçu
numa posição de fragilidade, não deixando claro os desdobramentos futuros destas atividades
comerciais com os paises fronteiriços.
3.4 O Setor de Prestação de Serviços
A polarização na prestação de serviços é ainda mais destacada que nos demais setores.
Cascavel e Foz do Iguaçu concentram grande parte dos serviços especializados, que são
ofertados na Região. O primeiro destaque pode ser dado por estes dois centros hospedarem os
principais órgãos da administração pública estadual e federal. Pode-se, também, destacar os
serviços da área da saúde e educação, bem como os serviços financeiros, de consultoria
empresarial e de profissionais liberais.
O setor de prestação de serviços apresenta, em Foz do Iguaçu, uma infra-estrutura
significativa para o atendimento do Turismo. Este setor enfrenta, na atualidade, alguns
problemas de viabilidade, mas sua potencialidade é um fato presente.
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Os setores de prestação de serviços em saúde, educação e turismo ganharão um espaço
maior de discussão neste trabalho. Porém, com as necessidades despertadas pelo processo de
globalização, observa-se uma tendência de crescimento da demanda de serviços em
consultoria empresarial, bem como a necessidade de serviços prestados por profissionais
liberais, como advogados, engenheiros, arquitetos, entre outros.
3.4.1 Turismo
A atividade turística regional contribui para o desenvolvimento dos municípios
promovendo transformações que podem alavancar a geração de empregos. A Região Oeste do
Paraná já atrai milhares de visitantes anualmente com as Cataratas do Iguaçu e com a Usina
de Itaipu.
Entretanto, é ainda incipiente uma dinâmica turística mais regionalizada,
considerando-se para isto o contexto histórico e geográfico em que cada município encontra-
se inserido. O que se verifica, são inúmeras diferenças presentes em cada região no que tange
às condições geo-econômicas, sociais e culturais, caracterizando um “Oeste do Paraná”
heterogêneo em sua constituição.
Um novo arranjo espacial, ou seja, uma nova maneira de assimilar o território deve
respeitar uma configuração ainda vinculada às atividades agrícolas e que não possui elevada
mobilização coletiva no sentido de permitir uma re-orientação para outras atividades que não
aquelas já realizadas, ou seja, há restrições a uma reconversão produtiva.
O desafio, neste sentido, está em permitir que os “lugares” ingressem em roteiros de
turismo regional, prolongando e densificando a rede de lugares com aptidões paisagísticas.
Cabe, mediante as especificidades regionais, a abertura de novas áreas “turísticas”
considerando atividades como: a pesca, parques temáticos, jogos e festivais, que enfatizem a
cultura e a gastronomia locais. Isto possibilitaria a valorização dos espaços locais, podendo se
constituir em uma importante fonte de renda para os municípios. Necessariamente, ocorre a
construção de uma nova territorialização, impondo novos recortes que, velhas territorialidades
não vislumbram em suas estruturas. Este, possivelmente, é o maior desafio a ser vencido nesta
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Região: construir um território turístico através de uma ligação afetiva com o lugar,
possibilitando para o Oeste do Paraná uma nova identidade, uma nova organização de seu
espaço.
Na região, o Reservatório da Usina Hidrelétrica de Itaipu, configura-se no “locus”
mais favorável para o desenvolvimento de atividades turísticas integradas. Abrangendo o lado
brasileiro (Foz do Iguaçu a Guaíra) são quinze municípios potencialmente aptos a desenvolver
áreas turísticas, principalmente vinculadas ao ecoturismo.
Cabe, efetivamente, o desenvolvimento de análises mais complexas para perceber o
real significado desta atividade econômica na dinâmica regional, agindo como um
instrumento para a melhoria da qualidade de vida da população.
4 ASPECTOS SOCIAIS
O atendimento nas áreas de saúde e educação concentra grande parcela dos gastos
públicos na área social. Porém, não se devem deixar para segundo plano os gastos com
assistência social, habitação popular e saneamento básico.
Neste sentido, esta seção será dividida em algumas sub-seções para tratar com mais
propriedade a abrangência de assuntos nela tratada.
4.1 Educação
O diagnóstico traçado nesta área apontou para alguns limites, mas, também, deixou
marcada a presença de potencialidades. O quadro atual da educação infantil, ensino
fundamental e ensino médio, encontra-se, ainda, em processo de reformulação e adaptação à
nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação, de dezembro de 1996. Esta Lei modificou as
competências das esferas governamentais, redefiniu os níveis de ensino, criou novos critérios
de financiamento, estabeleceu a necessidade de qualificação superior para os docentes, impôs
diretrizes quanto a indicadores de oferta de ensino, o que exigiu uma mobilização nacional.
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Na Região Oeste do Paraná, os municípios também tiveram que se adaptar a estas
novas diretrizes. Alguns pontos das mudanças criaram impactos, diretamente na forma de
organização dos municípios quanto a oferta da educação pública. A baixa relação de alunos
por professor impulsionou o fechamento de diversas escolas rurais. Este fato, provocou o
encarecimento do custo com transporte escolar dos municípios e impulsionou o processo de
urbanização, verificado nos últimos anos.
O processo de adaptação, ocorrido nos últimos anos, entre a oferta de responsabilidade
do Município e do Estado, aponta para um problema de relativa complexidade. Os municípios
ficaram com a responsabilidade de oferecer a educação infantil e as quatro primeiras séries do
ensino fundamental. O Estado ficou com a incumbência de suprir as quatro séries finais do
ensino fundamental e o ensino médio.
A criação do FUNDEF (Fundo de Valorização do Ensino Fundamental e Valorização
do Magistério) estabeleceu uma forma restrita de administração dos gastos com educação.
Este fundo direciona grande parte dos recursos, para o financiamento do ensino fundamental,
o que cria algumas reações por parte das esferas governamentais.
Nos municípios, o FUNDEF financia as ações com as quatro primeiras séries do
ensino fundamental, o que cria alguns problemas quanto ao atendimento do transporte escolar
e ao atendimento da educação infantil. O transporte escolar não pode ser custeado com os
recursos do fundo, o que limita a atuação das prefeituras. A educação infantil foi estendida
para a faixa etária de 0 a 6 anos, o que aumentou a necessidade de investimento em
instalações mais adequadas ao ensino, do que eram as antigas creches, sendo que, também
impulsionou a necessidade de contratação de profissionais, com nível adequado de
qualificação para atuar neste segmento. Como o transporte escolar e a educação infantil não
podem ser custeados com recursos do FUNDEF, os municípios acabam por não priorizar estes
segmentos, o que cria um problema processual na aprendizagem, sem contar outros problemas
sociais.
Na rede estadual, a criação do FUNDEF também causou modificações na oferta. A
atuação no ensino fundamental foi privilegiada, em detrimento do ensino médio. Percebe-se
esta ocorrência pelo fechamento dos cursos profissionalizantes de nível médio. A justificativa
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oficial seria a falta de demanda para estes cursos e, também, a criação dos cursos Pós-médios,
uma formação profissionalizante alternativa ao ensino superior.
Até este ponto discutiu-se a educação pública. Não que a oferta privada do ensino
nestes níveis seja irrelevante, mas que a preponderância da oferta pública é gritante na Região
Oeste do Paraná. A demanda por vagas na escola pública tem encontrado, em contrapartida,
uma oferta suficiente no ensino fundamental. Porém, a educação infantil, principalmente, nos
maiores centros, não consegue suprir as necessidades da população.
O ensino médio não registra falta de atendimento significativa. Porém, percebe-se que
a busca deste nível de ensino, principalmente nos municípios menores, tem sido difícultada
pela distância percorrida pelos alunos. As escolas estão nas sedes dos municípios, o que tende
a diminuir, consideravelmente, a procura por parte dos alunos.
Nos centros maiores, a dinâmica populacional, discutida anteriormente, estabeleceu a
necessidade de criação de vagas na educação infantil, ensino fundamental e médio. Esta
criação ocorre limitada pelos problemas de financiamento apontados, que acabam
privilegiando o atendimento ao ensino fundamental. Esta morosidade no atendimento e a
pressão por vagas acabam por impulsionar o atendimento privado de ensino.
O segmento que tem maior tendência de crescimento na rede privada é a educação
infantil, principalmente pela pequena quantidade de vagas oferecidas pela rede pública.
Percebe-se, também, uma tendência de crescimento ns oferta privada do ensino médio e,
inclusive, do ensino fundamental. Esta dinâmica encontra respaldo no processo de
polarização, pois a concentração maior de renda e população, em cidades como Cascavel,
aumentam a demanda por serviços na área da educação privada.
A dinâmica da educação superior ocorre por um processo diferente do tratado até
então. A maior parte das vagas oferecidas encontra-se na rede privada e não na esfera pública.
Sendo este um fenômeno recente na Região.
A consolidação da UNIOESTE (Universidade Estadual do Oeste do Paraná), enquanto
Universidade foi de fundamental importância para a Região. Ainda mais, com sua
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característica multi-campi, mantendo estrutura de oferta em Cascavel, Foz do Iguaçu, Toledo
e Marechal Cândido Rondon. Porém, a oferta de vagas no ensino de graduação demonstrou
ser insuficiente para o atendimento da demanda. Desta forma, houve a constituição de
inúmeras instituições privadas, oferecendo vagas pra suprir a elevada demanda existente.
Além do ensino público oferecido pela UNIOESTE, a Região conta, ainda, com um
campus da UFPR (Universidade Federal do Paraná), em Palotina e com uma unidade do
CEFET (Centro Federal de Ensino Tecnológico), em Medianeira.
Esta verticalização observada no ensino pode ter sido impulsionada por alguns
aspectos relevantes. Dentre vários, destacam-se: a) a exigência de qualificação superior para
os docentes da educação infantil e do ensino fundamental, que impulsionou a demanda por
graduação em pedagogia e, também, em todas as licenciaturas; e b) o processo de
globalização exigiu a presença de profissionais liberais e da área de gestão empresarial, o que
provocou a criação de inúmeros cursos na área de ciências sociais aplicadas, como
Administração e Direito.
O processo de expansão da oferta do ensino superior, por instituições privadas, criou
uma significativa concentração em Cascavel e Foz do Iguaçu, para depois iniciar a expansão
para os municípios médios, como Medianeira, São Miguel do Iguaçu, Toledo, Guaíra, Assis
Chateaubriand e Marechal Cândido Rondon.
O aumento de vagas realizado pelas instituições privadas de ensino, resolveu
momentaneamente a demanda reprimida que havia. Porém, a Região tem como desafio, a
criação de vagas para colocação destes profissionais no mercado de trabalho regional. Pois, o
não aproveitamento destes profissionais na Região, poderá impulsionar uma migração para
outras regiões do Estado, com maior capacidade de geração de emprego. Percebe-se que,
mesmo com uma criação restrita de vagas para os profissionais de nível superior, ocorre uma
adaptação dos empregadores em aumentar o grau de exigência de qualificação para a
ocupação de vagas, antes direcionadas ao profissional de formação em nível médio. Mas, este
processo ainda demonstra ser restrito e não adequado para o quadro de profissionais que estão
sendo formados.
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Dentro do quadro atual, englobando o ensino público e privado em nível superior,
verifica-se que a capacidade de qualificação seria suficiente para responder às necessidades de
desenvolvimento da Região. Esta capacidade independeria, inclusive, das necessidades de
criação de cursos em áreas diferentes das já existentes, pois a versatilidade das instituições
particulares proporcionaria o atendimento da demanda exigida. No caso das instituições
públicas, apesar de ainda serem criados novos cursos, o quadro é de retração dos
investimentos. Portanto, qualquer necessidade adicional de formação tende a ser suprida pela
área privada.
Como último ponto deste segmento, cabe discutir o ensino de pós-graduação. A
Região recebeu uma grande quantidade de vagas para cursos de pós-graduação lato sensu.
Estes cursos, têm como objetivo a formação profissional do indivíduo para atuação no
universo empresarial e público. A expansão de vagas da graduação exige a formação de um
número significativo de docentes, sendo necessário, portanto, a criação de cursos de pós-
graduação stricto sensu, fato que ainda encontra-se no horizonte de longo prazo para a
Região. Esta dificuldade poderá criar alguns pontos de estrangulamento na expansão
verificada no ensino superior.
4.2 Saúde
A dicotomia existente entre a saúde curativa e preventiva está presente na Região
Oeste do Paraná, tomando contornos semelhantes ao que ocorre no restante do País. Os
programas desenvolvidos na Região privilegiam a parte curativa, em detrimento da
preventiva. Esta prática, comum em outras áreas do País, cria sérias limitações para obtenção
de melhoria das condições de vida da população.
A infra-estrutura de saúde curativa da Região constitui-se numa complexa rede de
hospitais e clínicas nas mais diversas especialidades. Porém, a concentração destes serviços
em Cascavel é evidente. Em Foz do Iguaçu, a infra-estrutura atende às necessidades locais,
principalmente pelas especialidades e estrutura do Hospital Costa Cavalcanti. Municípios de
porte médio, como Toledo, ainda conseguem realizar um significativo atendimento local e
ainda outros municípios mais próximos.
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Esta visão geral fica bastante modificada, ao se separar o atendimento público do
atendimento privado. A rede de atendimento público, como na maior parte do País, não atende
de forma suficiente às necessidades da população. A concentração dos serviços em Cascavel,
Foz do Iguaçu e nos municípios médios, justificou a criação dos consórcios municipais de
saúde. Estes consórcios buscam organizar o acesso da população aos centros de atendimento.
Porém, os fracos laços de cooperação entre os municípios, aliados a uma estrutura sub-
dimensionada e concentrada são fatores impeditivos para o funcionamento adequado destes
consórcios e, conseqüentemente, do atendimento à população.
Portanto, a solução dos problemas de saúde vai além do alcance deste setor. A
articulação dos demais setores de serviços envolvidos no enfrentamento destes problemas, na
Região Oeste do Paraná é, em parte, fragmentada, setorizada e desarticulada, muito embora as
formulações legais, permitam uma ação integrada.
A intersetorialidade ganha, assim, especial importância no enfrentamento contínuo dos
problemas. Trabalhar intersetorialmente os problemas significa, num trabalho conjunto de
vários setores do governo e com a participação de organizações não governamentais,
identificar os principais problemas que incomodam uma comunidade, definir causas dos
problemas e unir todas as forças para enfrentar essas causas. Para isto, a integração regional é
prioritária, mas ainda encontra-se distante sua efetivação na Região Oeste do Paraná.
Estas soluções envolverão não somente ações típicas dos serviços de saúde, mas,
também, ações de saneamento, nutrição, educação ambiental, habitação, entre outros. Nesse
caso, os serviços governamentais de saúde, a comunidade e as organizações como: pastoral da
saúde, grupos ambientais e outros, deverão ser envolvidos na questão.
As migrações regionais ou mesmo internacionais, que favorecem a uma concentração
populacional nos centros urbanos, provocam um impacto muito grande no meio que as
recebem, gerando desequilíbrios ambientais, impactos na demanda de serviços públicos e na
distribuição de uso do solo. Na Região Oeste do Paraná, o contínuo crescimento demográfico
de cidades como Cascavel e Foz do Iguaçu, prejudica o atendimento às condições básicas de
vida da população, gerando dificuldades no atendimento de toda a demanda por serviços
públicos gerada.
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Apesar dos esforços empreendidos para melhoria do atendimento à saúde, verificados
nos últimos anos, os programas de saúde preventiva contam, ainda, com condições
insuficientes para estabelecer um padrão mínimo de qualidade de vida para a população
regional. Há uma falta de preocupação com questões básicas ligadas ao tratamento de esgotos,
coleta e depósito do lixo, habitação e alimentação, além dos problemas oriundos da forma de
produção agropecuária realizado na Região.
5 ASPECTOS AMBIENTAIS
A questão dos recursos ambientais e da ordenação do espaço regional possui, enquanto
cenário tendencial, uma configuração que pode ser traduzida pelos seguintes aspectos:
a) Com padrões de clima inalterados, a Região Oeste do Paraná deverá possibilitar o
contínuo aumento da produção agroalimentar, ampliando-se a necessidade de fomentar
ações voltadas a agroecologia. Os demais recursos naturais, em especial a flora,
tendencialmente ainda vêm sofrendo o efeito combinado da degradação dos solos e da
antropização, mesmo que atenuado pela parcial introdução de tecnologias eco-sensíveis
nas atividades produtivas e por medidas de caráter mais abrangente de controle ambiental;
b) A crescente urbanização e o aumento da demanda por água, decorrentes das atividades
industriais, num cenário de médio prazo, possivelmente serão atendidas pelas
potencialidades dos recursos hídricos regionais. Entretanto, para que isto seja
efetivamente viabilizado, deve-se atentar para programas específicos de controle da
poluição ambiental.
Diante deste quadro, considera-se necessário o zoneamento ecológico-econômico da
Região, orientando-a para a reorganização de seu meio rural e a modernização na busca de
uma agropecuária agroecológica; bem como para o processo de urbanização em sentido
amplo – nele incluídas as atividades produtivas das cidades e para a infra-estrutura econômica
e social. Estes são fatores capazes de “condicionar e impulsionar, em caráter permanente, o
desenvolvimento regional.” Para o estabelecimento de um cenário desejado são necessárias as
seguintes condições:
519
Otimização dos recursos hídricos – isto preconiza o gerenciamento integrado das
águas. Fator condicionante para a vida, sua disponibilidade é fortemente afetada pelo
desperdício e pela má utilização. Apesar de sua abundância, a Região Oeste ainda não
efetivou, à exceção da Itaipu Binacional, adequada institucionalização para o gerenciamento
das águas, tanto de superfície como subterrâneas, objetivando conduzir a um aproveitamento
ótimo do potencial e ao uso racional das águas. Cabe, nesta otimização, a obtenção de padrões
desejáveis de sustentabilidade hídrica, evitando o desperdício na agricultura e na indústria.
Conservação dos solos: isto sugere, fundamentalmente, a otimização da utilização
sustentável para fins produtivos dos solos, conforme suas aptidões (respeitando as diretrizes
de um zoneamento ecológico-econômico regional).
Ampliação da biodiversidade: como fonte permanente de riqueza e bem-estar,
envolvendo, de uma parte, a geração de conhecimento sobre a flora e a fauna e sua aplicação
produtiva. É fundamental a transformação nas práticas agropecuárias tradicionais, com a
introdução de tecnologias ecossensíveis, economicamente eficientes e compatíveis como um
modelo de organização da vida rural que articule e integre as atividades agro-silvopastoris.
Destaca-se, neste contexto, a recuperação, criação e manutenção das unidades de
conservação, localizadas em áreas representativas dos variados ecossistemas regionais,
identificadas com fundamento em estudos biogeográficos. O Parque Nacional do Iguaçu deve
ser reforçado em sua infra-estrutura e capacidade de pesquisa, criando-se unidades
complementares. A promoção do turismo ecológico pode constituir-se em fonte de renda
capaz de financiar a manutenção das áreas de preservação, bem como o esforço da pesquisa.
proteção e controle ambiental; constitui-se numa das formas mais eficazes para a
preservação e proteção dos mananciais, bem como para assegurar a boa qualidade da água.
Particularmente, são necessárias ações para proteção e renovação dos ecossistemas das bacias
hidrográficas, em particular das matas ciliares; racionalização da ocupação e do uso do solo,
bem como de seu manejo adequado, de forma a otimizar impactos indesejáveis sobre os
recursos hídricos, tais como erosão e assoreamento e proteção das nascentes das águas.
520
O esclarecimento da sociedade sobre os efeitos ambientais das atividades humanas,
através da educação ambiental, bem como o estímulo à participação comunitária em seu
controle, são imprescindíveis para as respostas da comunidade em relação a tais questões.
Portanto, o cenário aponta para a “urgência” na busca do necessário equilíbrio na
exploração dos recursos naturais, particularmente dos não renováveis. As necessidades
relacionadas ao desenvolvimento econômico vinculam-se a esta preservação e são
condicionantes do desenvolvimento industrial e agroindustrial, das opções energéticas, dos
grandes projetos de modernização agrícola, da infra-estrutura de transportes e do turismo e,
principalmente, da urbanização.
6 INFRA-ESTRUTURA DE TRANSPORTES
Com base no diagnóstico da infra-estrutura regional de transportes e suas demandas
em nível estadual, aliada a estudos de projeção de tráfego e movimentação de mercadorias,
entende-se que a Região precisa ser melhor atendida dentro dos programas governamentais
que prevêem prioridades de investimentos e de destinação de recursos públicos. A localização
geográfica, a distância de grandes centros de consumo (mercados e portos), e as
características dos produtos (commodities e produtos de baixo valor agregado), bem como a
precariedade atual e a escassez de investimentos futuros em rodovias de ligação regional,
podem fazer dos transportes um importante ponto de estrangulamento para o desenvolvimento
sustentado da Região, à medida em que implicar elevação dos custos de transportes e
repercutir na perda de competitividade regional, da produção local e do potencial de atração
de negócios.
O contraponto implicaria, então, em investimentos prioritários, de acordo com os
modais, considerados estratégicos:
- Ferroviário:
1) sejam incentivados novos investimentos ferroviários no Estado como forma de
reduzir o custo de transporte dos produtos, criando forças competitivas para a
produção estadual, evitando a evasão de parte desta para outros portos,
principalmente o Porto de São Francisco, concorrente mais próximo
geograficamente, e que esta seja, também, uma forma de se contrapor aos
521
investimentos de outros estados, conseguindo, desta forma, atrair/manter
cargas com origem em outros estados. Além do mais, a necessidade do
desenvolvimento da ligação ferroviária com o Porto, está tornando-se
premente;
2) sejam feitos os investimentos na correção dos estrangulamentos existentes;
3) seja construído o ramal da Ferroeste até Foz do Iguaçu e que haja a
continuidade da construção da ferrovia até Guairá;
- Rodoviário
4) seja revisto imediatamente o Planejamento de duplicação de rodovias
paranaenses, expresso no Programa Anel de Integração, e que nele faça
constar melhorias nas condições de tráfego das rodovias localizadas na parte
ocidental do Estado, com ênfase nas regiões de Campo Mourão e Cascavel;
5) sejam destinados recursos e desenvolvido Plano Diretor regional para melhor
diagnóstico das rodovias de interligação regional;
- Portuário:
6) o Porto de Paranaguá prossiga firmemente na rota da modernização, com a
conseqüente redução dos custos das operações portuárias, que é uma maneira
viável para se reduzir os impactos contrários do pedágio e de tendência de
aumento de outros custos associados ao transporte rodoviário;
7) aumento da capacidade de recepção e armazenagem no Porto para otimizar as
operações de descarga e as condições de comercialização das safras;
- Empresarial:
8) o desenvolvimento de empresas na área de logística agroindustrial, o que pode
viabilizar o aumento nas cargas de retorno, que implica em redução dos fretes
no escoamento da safra, e estruturas de armazenamento, para evitar os picos
de demanda concentrada em alguns meses do ano;
9) incorporação de tecnologia nos terminais e nos veículos.
As estratégias de desenvolvimento necessitam contar com uma adequada e eficiente
infra-estrutura de transportes para construir a competitividade regional. Os meios para se
atingir esse fim (o desenvolvimento) são a viabilização de custos menores na recepção de
522
matérias-primas e na distribuição dos produtos acabados e na movimentação de pessoas, com
os desdobramentos na melhor qualidade de vida e das viagens.
7 INTERVENÇÃO DO SETOR PÚBLICO
A atuação do setor público na Região Oeste do Paraná sempre foi preponderante para
os rumos do desenvolvimento regional. A atuação do governo federal, estadual e municipal,
provavelmente, deverá tomar um rumo diferente no futuro.
A intervenção municipal, na realidade do Oeste do Paraná, vem ocorrendo desde a sua
formação enquanto região. Porém exige-se um novo contorno para esta ação. As ações
isoladas tendem a não permitir que os objetivos sejam atingidos na integridade esperada.
Desta forma, o poder público municipal deverá buscar aliar às suas ações pontuais, ações
articuladas com os demais municípios, criando uma rede para potencializar o impacto destas
iniciativas.
A perspectiva traçada no cenário anterior esbarra em alguns problemas existentes. Os
pequenos municípios são altamente dependentes de transferências das outras esferas de
governo. Isto limitaria os recursos disponíveis para realizar qualquer intervenção, porém, este
fato seria um motivo a mais para ação de forma integrada, juntando os poucos recursos de
vários municípios em ações que beneficiariam o conjunto.
Os municípios maiores possuem um certo poder de geração de receitas próprias,
porém, a concentração de população nestes exige um gasto proporcionalmente maior que os
pequenos, para o atendimento dos serviços públicos. Este fato, também, demonstra a
necessidade de se buscar ações integradas, pois os problemas enfrentados pelos centros
maiores tendem a se agravar com o processo de polarização discutido anteriormente. Portanto,
criar dinâmica nos municípios médios e pequenos também é interessante para os centros
maiores, porque cria tendência de queda na atração, principalmente populacional, para estes
locais.
Os municípios “lindeiros” possuem recursos adicionais, vindos do recebimento de
royalties pela produção de energia elétrica da Usina de Itaipu. Neste sentido, o poder de
523
intervenção na esfera econômica e social, daqueles que recebem valor proporcionalmente
significativo, é maior que nos demais municípios. Assim, a forma de intervenção deve ser
articulada, para que estes recursos, de presença determinada, possam render, não apenas
benefícios imediatos para os que o recebem, mas, também, modificar as condições futuras dos
mesmos e daqueles municípios que estiverem com eles articulados.
A intervenção estadual na Região dependerá da transposição de algumas barreiras
existentes. Dentre as barreiras, destaca-se: a) a baixa representatividade política da Região na
Assembléia Legislativa e nos escalões do Executivo; b) falta de perspectiva de um programa
de incentivo às atividades do agronegócio; c) falta de política de incentivos ao turismo
regional; e d) ênfase no desenvolvimento da Região Metropolitana de Curitiba.
Dentro do quadro atual, o Governo Estadual não indica perspectivas de intervenção
efetiva na Região Oeste do Paraná, nem tão pouco, há indícios de que a Região desperte este
interesse num curto prazo. A campanha política, para os cargos do executivo e legislativo
estadual, não sinaliza melhora do quadro traçado anteriormente. Assim, coloca-se a
necessidade da sociedade regional criar mecanismos que permitam o direcionamento de ações
do Governo Estadual para a Região. Estes mecanismos dependem de um processo de
organização ainda incipiente na Região.
A intervenção federal na Região ocorreu por alguns fatores externos à própria
dinâmica regional. A localização privilegiada de fronteira impulsionou diversos
investimentos, como a construção da Ponte da Amizade e a pavimentação da BR 277, ainda
na década de 1960, além da instalação de vários órgãos públicos federais para garantir a
segurança e o funcionamento dos serviços na fronteira. A construção da Itaipu, na década de
1970, estabeleceu uma nova onda de investimentos federais que modificaram totalmente a
realidade regional.
Percebe-se, portanto, que as intervenções do Governo Federal, sempre ocorreram
como parte de um plano maior, traçado pelo interesse estratégico do País. O questionamento
que surge é se a Região ainda faria parte de planos estratégicos, que fomentassem uma nova
onda de investimentos federais na Região.
524
A resposta para esta pergunta passa por diversos pontos, tais como: as perspectivas de
retomada de ações com os países do Mercosul, as negociações de ingresso na ALCA, a
importância quanto à posição das fronteiras com os países do Cone Sul, a dificuldade do
governo federal em destinar recursos para investimentos e a prioridade de investimento em
outras regiões.
Prever o desenrolar destes pontos é uma tarefa pouco indicada para um cientista social,
mais adequada para as ciências ocultas. Porém, pode-se tomar alguns indicativos vindos da
experiência passada.
O Mercosul, ao promover um maior volume de comércio com os países membros,
dificultou as atividades comerciais desenvolvidas em Foz do Iguaçu, pois as transações
passaram a ocorrer diretamente com os centros produtores. Caso sejam restabelecidas as
negociações do Mercosul, que efetivamente crie uma área de livre comércio, haverá a
necessidade de toda uma reorientação da atividade econômica desenvolvida na fronteira. O
mesmo raciocínio deve ser realizado com as discussões de inserção do País na ALCA. A
região de fronteira deverá inserir-se na nova dinâmica e aproveitar sua localização geográfica
ou apenas apreciar o transporte da produção realizada em outras partes dos países? Percebe-se
que este não é apenas o desafio de Foz do Iguaçu e da Região Oeste do Paraná, mas também
de Ciudad de Leste, no Paraguai e Puerto Iguazu, na Argentina.
Outro ponto que deve ser enfatizado refere-se às prioridades do Governo Federal. O
conflito existente na Colômbia e a gigantesca fronteira deste País com a Amazônia, indicam a
necessidade de um maior volume de investimentos naquela Região. Além disso, as obras de
infra-estrutura nas áreas de energia e transporte para as regiões de expansão agropecuária e
agroindustrial têm dominado o orçamento da União. Neste sentido, haveria possibilidade da
Região Oeste do Paraná não ser contemplada por investimentos federais nos períodos futuros,
caso permaneça o quadro atual.
525
8 ORGANIZAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO
As iniciativas de desenvolvimento para a Região Oeste do Paraná devem ser buscadas
por mecanismos de participação da sociedade nas decisões descentralizadas de planejamento
e, buscando sempre o desenvolvimento integrado. Isto implica em responsabilidade política e
técnica para validação dos processos e formulações políticas para a Região.
Esta questão exige um amplo esforço de PARCERIA entre o Governo, em todos os
seus níveis, as empresas privadas e a sociedade organizada. Parceria que pressupõe, ademais,
uma nova abordagem para a estratégia regional, enfatizando mais as potencialidades que as
limitações, privilegiando o consenso sobre a confrontação e buscando, de um modo geral,
integrar as regiões periféricas no mesmo processo de transformação tecnológica, econômica,
social e cultural dos locais centrais, o que deverá elevar toda a Região a novos patamares de
desenvolvimento, no futuro próximo.
“Isto remete à necessidade cada vez maior de exercitar a capacidade criativa da
sociedade. Em economia de mercado, só é possível deter as tendências estruturais ao
centralismo econômico mediante ação política, a qual requer visão ampla do processo
social. Somente a vontade política 1pode evitar que a difusão da racionalidade
econômica venha transformar um tecido social diversificado num amálgama de
consumidores passivos. E essa vontade política entre nós é inseparável do federalismo.
O problema institucional maior que se coloca à sociedade brasileira é exatamente esse
de estimular a capacidade criativa em todos os segmentos, capacidade que entre nós
tem raízes regionais. Não se pode ignorar que à sombra do centralismo enraizado nos
longos períodos de governos ditatoriais o poder executivo foi ocupando mais espaço
no campo das decisões substantivas, diluindo a ordem federativa. Grande parte dos
dispêndios do governo federal já não decorre de autorização parlamentar, mas tem
origem no arbítrio das autoridades administrativas.” (FURTADO, 1999, p.53).
A vontade política deve embasar-se em critérios técnicos para que se estabeleçam
decisões coerentes e adaptadas à realidade regional. Para POLESE (1998, p. 109): “Para 1 Grifo nosso.
526
orientar os projetos de investimento público e maximizar os seus efeitos locais, a dimensão
das relações intersetoriais continua a ser uma referência útil. Regra geral, é bom concentrar
esforços em setores cujos efeitos multiplicadores maximizem a criação de rendimentos e de
empregos numa região.” O autor ressalta, entretanto, que é ilusório esperar desencadear,
através de uma política espacial de concentração dos investimentos públicos, uma nova
dinâmica local ou um processo autônomo de desenvolvimento. Reconhece-se, neste sentido,
a importância de fatores de produção mais qualitativos: espírito de empresa, coesão social,
capacidade de inovação, entre outros. Assim, investir em capital humano, implica em
despesas com educação, formação, bem como qualquer outra despesa que leve a um aumento
da produtividade (viagens, cuidado com a saúde, entre outros).
Dentro deste contexto, configura-se a necessidade da Região Oeste do Paraná,
aprimorar os mecanismos de organização para o desenvolvimento. A ampliação das
discussões empreendidas em organismos políticos existentes como AMOP, ACAMOP e
Conselho dos Municípios “Lindeiros”, torna-se primordial para as discussões sobre o
desenvolvimento presente e futuro da Região.
O trabalho de diagnóstico empreendido e as perspectivas traçadas neste prognóstico
necessitam passar por um processo amplo de discussão, pois a visão de um corpo de
pesquisadores acadêmicos pode conter certo purismo conceitual, que impeça o alcance de
determinadas potencialidades e de pontos de estrangulamento existentes.
Neste sentido, a constituição de um Fórum permanente, de discussão da realidade e
das perspectivas regionais, seria indispensável. Neste Fórum, as principais instituições,
públicas e privadas deveriam juntar-se para juntos buscarem as alternativas necessárias para o
tratamento dos problemas existentes e, também, de aproveitamento das potencialidades
presentes na Região.
A dificuldade em desencadear um processo amplo de discussão sobre a realidade
regional esbarra em inúmeros problemas, desde as “vaidades locais”, até as disputas políticas
por poder regional. Porém, acredita-se que, quanto mais tempo a Região postergar a
organização para o desenvolvimento, maiores serão as dificuldades enfrentadas pela
sociedade local.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FURTADO, C. O longo amanhecer. Reflexões sobre a Formação Econômica do Brasil.
São Paulo : Paz e Terra, 1999.
POLÈSE, M. Economia urbana e regional. APDR, Coimbra, 1998.
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