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MECANOTERAPIA STRAIGHT WIRE DE 4.a GERAÇÃO:
A BIOMECÂNICA INTELIGENTE INTERATIVA AUTO-LIGANTE
AUTOR: CELESTINO NÓBREGA
I- INTRODUÇÃO
A eficiência de um sistema de forças pode ser mensurada de várias formas. Em se tratando de
Ortodontia, espera-se que os movimentos ortodônticos sejam realizados dentro do menor espaço de
tempo possível, sem que haja qualquer prejuízo biológico ou que se abram precedentes para que isto
aconteça.
Assim sendo, o controle absoluto sobre as propriedades físicas dos materiais empregados nos
diversos componentes do sistema de forças em questão (aparelho ortodôntico fixo), se faz tão
fundamental quanto o conhecimento profundo sobre a questão biológica que envolve o movimento
dentário. A fusão entre os conceitos primordiais da física e da biologia tem norteado o ortodontista
no sentido de se produzir sistemas de forças eficazes. Leve-se em conta que todos os fenômenos
biológicos conhecidos apresentam fundamentação na Física Clássica, e alguns na Física Quântica.
Há basicamente duas teorias pairando ao redor das movimentações dentais, ambas bastante
explanadas por diversos autores desde a década de 40: a do fluxo sangüíneo e a do efeito Piezo-
elétrico. Por um lado, quando o periodonto de sustentação é comprimido, todos os componentes do
mesmo, quer sejam pertencentes ao mecanismo hidráulico ou mecânico, serão imediatamente
atingidos e estimulados a diferentes reações. Os componentes vasculares serão estimulados à
diapedese, uma vez que o endotélio reage às forças de compressão aumentando os espaços
intercelulares, permitindo o extravasamento de elementos do meio intravascular para o
extravascular. Este fenômeno precede todos os sinais clássicos da reação inflamatória. Pode-se
afirmar que na biomecânica tradicional, a movimentação ortodôntica é fruto de uma reação
inflamatória (muitas vezes não só inicialmente aguda). Por outro lado, a compressibilidade óssea
característica do tecido ósseo alveolar e o princípio da conservação de energia, fazem com que seja
possível a movimentação dentária, desde que os fatores limitantes de ordem geral e local sejam
respeitados (tais como o grau de calcificação do osso alveolar, fatores hormonais reguladores do
turnover ósseo, a localização do elemento a ser movimentado, a amplitude e o tipo de movimento,
etc.).
Muitos trabalhos científicos têm sido elaborados de forma consistente, orientando o
ortodontista na compreensão de propriedades físicas inerentes a cada uma das etapas de tratamento.
Assim, a flexibilidade de determinadas ligas conhecidas como superelásticas tem proporcionado a
experiência da aplicação de forças de baixa magnitude desde o primeiro arco ortodôntico inserido
nos brackets. Atualmente não há a maior dificuldade no controle sobre esta propriedade. No entanto,
pouca preocupação tem sido creditada ao gerenciamento das forças de atrito, que pode ser
considerado como o grande empecilho na aplicação de forças biologicamente aceitáveis pelo
periodonto. Veremos no decorrer deste trabalho que a biomecânica Straight Wire de 4.a geração
prima exatamente por este controle, onde a utilização de artifícios metálicos ou elastoméricos para a
preensão de arcos ortodônticos junto aos brackets está completamente descartada, exatamente por
motivos biológicos e mecânicos.
Desde a época da introdução do aparelho Edgewise por ANGLE 1, ligaduras tem sido
aplicadas, sendo aceitas como a melhor maneira de fazer com que as propriedades físicas dos arcos
sejam aplicadas aos trilhos dos acessórios. Historicamente, a maneira mais antiga de fazê-lo era
através do uso de finos filamentos de material precioso. Estes logo foram substituídos pelos finos
fios de ligas de aço, que entre outras vantagens óbvias, de certa forma mostrava melhores atributos
elásticos. Uma grande mudança ocorreu em meados dos anos 60 nos Estados Unidos da América, e
no início dos anos 80 no Brasil, quando vários fabricantes captaram as vantagens de componentes
elásticos, inicialmente introduzidos na forma do conhecido Alastik R . Estes se tornaram
extremamente populares, tanto para pacientes quanto para os clínicos, por suas cores vibrantes e seu
uso relativamente simplificado.
Algumas observações importantes devem ser feitas considerando-se os mecanismos
tradicionais de amarração dos arcos. Primeiramente que, pouco importando que tipo de material seja
utilizado para esta finalidade (se metálico ou elástico), o fato é que sempre ocorrerá um aumento
substancial na força de atrito e ao mesmo tempo diminuição da distância interbracket. Em segundo
lugar, não importando o quão hábil seja o clínico, sempre haverá certa necessidade de consumo de
um precioso tempo na aplicação destes. Outro impasse que não pode deixar de ser citado é a
precurssão do potencial declínio periodontal, causado pela presença de um material que facilmente
absorve e acumula material biológico irritante aos tecidos moles e duros.
A ineficiência biomecânica das ligaduras elásticas individuais desabona a sua aplicação, que
infelizmente tem sido corriqueira entre a maioria dos ortodontistas, sendo inclusive ensinada por
experimentados profissionais aos clínicos menos experientes. Esta afirmação será justificada no
decorrer deste trabalho.
II – EVOLUÇÃO DA BIOMECÂNICA STRAIGHT WIRE CONVENCIONAL PARA A
INTERATIVA AUTO-LIGANTE
Os brackets auto-ligantes não são exatamente uma novidade na ortodontia. Eles foram
primeiramente descritos por STOLZBERG 2 na Alemanha no ano de 1.935. Muitos desenhos tem
sido patenteados desde então, mas poucos alcançaram sucesso comercial ou mesmo ampla aplicação
clínica. Do passado mais recente, pode-se mencionar: Edgelock (Ormco), Activa (A Company) e
Time (Adenta). Muito embora eles não estejam sendo correntemente utilizados, influenciaram na
geração de sistemas auto-ligantes hoje aplicados com freqüência, tais como Speed (Orec), Damon 2
(Ormco) e In-Ovation (GAC), desenvolvidos na virada do século XX para o atual.
Figura 1: Bracket auto-ligante interativo- In-ovation R R
GAC.
Devido aos avanços na fabricação de acessórios
auto-ligantes no que diz respeito à robustez e facilidade de
uso, os mesmos tem crescido em popularidade. Estes novos
sistemas estão sendo constantemente melhorados pelos
fabricantes, efetivamente nos assegurando de que estes conceitos vieram para ficar.
No Brasil, os acessórios pré-ajustados utilizados a partir de meados dos anos 80 seguiam a
fórmula proposta por ANDREWS 3, numa era aqui intitulada com “Ortodontia Straight Wire de 1.a
geração”, onde o autor reuniu características intrínsecas aos acessórios a partir de seus estudos em
modelos estáticos que exibiam a então denominada oclusão ideal.
Em seguida, no decorrer dos anos 90, a prescrição proposta por ROTH 4 encontrou um
terreno fértil na necessidade de sintonia da biomecânica com a questão funcional das articulações
temporo-mandibulares (ATMs). Basicamente seu árduo trabalho se iniciou com reproduções
pantográficas de movimentação mandibular em modelos de gesso pós-tratamento em sistemas Denar
e Stuart. Ficou então claramente estabelecido que algumas modificações nos torques preconizados
por ANDREWS 3 fossem necessárias. Assim, o referido autor propôs alterações ligadas à
necessidade de torque anterior superior mais expressivo para que a guia anterior guardasse equilíbrio
com o correto posicionamento condilar, bem como com a integridade no estado e posição do disco
articular. Além disso, entre outras modificações, o torque de caninos foi modificado para que
houvesse facilidade do movimento condilar, em excursão lateral em norma frontal no lado de
trabalho (durante lateralidade), chamado de side shift. Chegava então o aparelho Straight Wire à sua
“2. a geração”.
A “3 a geração” da aparatologia fixa Straight Wire tomou vulto quando EPSTEIN 5
incorporou aos aparelhos pré ajustados na prescrição Roth as benesses da técnica proposta por
GIANELLY 6.
NÓBREGA 7 descreve-a como uma variação da técnica Straight Wire que se utiliza de
acessórios ortodônticos com duas dimensões diferenciais de slots num mesmo conjunto. Assim, em
ambas as arcadas brackets com slots 0,018” X 0,025” são aplicados aos incisivos centrais e laterais,
enquanto que aos caninos, aos pré molares e aos molares, os de slots 0,022” X 0,028”.
Os dois tamanhos de slots representam uma série de vantagens distintas para mecânica de
tratamento.
O sistema 0,022” oferece mais opções na seleção de tamanhos de arcos. Com o uso de arco
de diâmetros inferiores aos slots, pode-se facilitar o livre deslizamento do arco através do mesmo, o
que fornece um sistema com menor fricção ou retenção nas asas do bracket. A possibilidade de usar
arcos mais fortes e rígidos na mecânica de tratamento também pode ser um benefício. Esses arcos
mais rígidos permitem manter dentes verticalizados durante a mecânica de fechamento de espaço e
retração. Uma desvantagem nítida é encontrada quando se preenche o slot (trilho) do acessório.
Arcos retangulares de aço de espessura máxima tornam-se marcadamente reduzidos em
flexibilidade, limitando severamente a habilidade em adicionar torque efetivo a estes arcos.
O sistema 0.018” propõe um diferente conjunto de benefícios . Se por um lado há menor
gama de opções na escolha da dimensão dos arcos, pode-se preencher o slot mais facilmente. A
capacidade de preencher-lo permite que se utilize completamente a programação ou prescrição
embutida no bracket. Com a introdução de aparelhos pré- ajustados, o foco se moveu para
fabricação de brackets personalizados que efetuem o posicionamento dentário específico.
Anteriormente, dependia-se de modificações nos arcos em forma de dobras de primeira, segunda
ou terceira ordens para detalhar o posicionamento dos dentes.
Estas características pré-programadas dos brackets ortodônticos só podem ser totalmente
notadas se o slot destes for totalmente preenchido. Pode-se preencher o slot tanto no sistema 0.018”
quanto no 0.022”; no entanto, pode-se certamente preencher mais facilmente e mais precocemente
durante o tratamento os slots no conjunto 0.018” . Isso trás a vantagem do controle precoce de
torque nos dentes anteriores. O controle sobre os torques é essencial no posicionamento preciso dos
dentes anteriores e em casos de tratamento com extração , durante a retração. Durante a retração,
ocorre aplicação de torque anterior lingual de coroa ou torque vestibular de raiz. A habilidade em se
manter o torque anterior resistirá a este movimento indesejado. Quando este movimento indesejado
de “subtorque” dos anteriores ocorre, há dificuldade do mesmo ser corrigido nos estágios finais, ou
ainda o caso poderá requerer tempo de tratamento adicional.
O sistema aqui descrito tira vantagem dessas diferenças no tamanho dos slots. Preenchendo-os
precocemente no tratamento com uma prescrição que mantenha o torque maxilar anterior é um dos
benefícios primários deste sistema. Outra vantagem do preenchimento do slot 0.018” é o controle
sobre os incisivos inferiores. Durante o fechamento de espaço no arco mandibular, há um vetor que
tende a lingualizar os anteriores. O preenchimento preserva a posição destes dentes e minimiza o
indesejado torque lingual de coroa. O uso de elásticos de Classe II modifica a posição dos incisivos
inferiores. O mesmo mecanismo ajuda a proteger sua inclinação. A protração dos dentes posteriores
também envolve a estabilização do segmento anterior do arco, e o preenchimento do slot nos permite
manter os incisivos em suas posições corretas. Caracteristicamente, a protração dos dentes
posteriores resulta em retração exagerada dos dentes anteriores. Isto é efetivamente controlado com
o sistema Bi Dimensional.
De acordo com KUFTINEC 8 ,uma das vantagens dos acessórios de um ponto de contato era sua
habilidade de promover livre deslizamento dos dentes posteriores durante o fechamento de espaço. A
limitação das forças friccionais nos fornece um sistema de fechamento de espaço mais rápido. O
modo diferencial no permite usar um arco 0.018” como o maior diâmetro, criando assim, um espaço
livre de 0.04” no .slot 0.022 “ nos brackets de caninos e pré-molares. Há um sistema de livre
deslizamento durante a retração de caninos, retração anterior ou protração posterior , enquanto se
mantém simultaneamente o torque anterior.
III – A 4.a geração do Sistema Straight Wire
Para que princípios ortodônticos básicos sejam respeitados, a biomecânica aqui
proposta se apóia numa tríade composta pelos seguintes pilares (ou aqui denominados de três
princípios fundamentais da biomecânica inteligente interativa) :
1. Utilização de brackets auto-ligantes interativos.
2. Aplicação da Técnica Bi-Dimensional.
3. Compreensão e aplicação racional de Arcos compostos por “ligas inteligentes”.
O fator modificador entre a 3. a e a 4. a gerações do sistema discutido, reside no uso racional dos
acessórios auto-ligantes, especialmente dos interativos.
Segundo KUFTINEC, M. M. e ELTZ, M. 9, acessórios interativos são aqueles que
apresentam habilidade dupla para atuação tanto ativa quanto passiva, como por exemplo In-Ovation
(GAC). Assim, o clip é arquitetado de forma a oferecer certa flexibilidade (devido a seu especial
tratamento térmico e sua composição à base de Cromo e Cobalto), atuando ativamente em dentes
que merecem maior amplitude de movimentação, ou ainda passivamente quando fios de menor
calibre são aplicados em específicas situações.
A maioria dos brackets auto-ligantes sobreviventes às exigências do mercado apresenta uma
trava vestibular metálica encaixada, que pode ser aberta ou fechada, eliminando assim a necessidade
de uma ligadura externa, elástica ou metálica. Em qualquer tipo de acessório auto-ligante o arco é
posicionado e contido junto ao trilho. O modo como o arco é mantido no slot é o diferencial entre os
vários tipos de brackets auto-ligantes atuais, pois pode haver interação entre acessório/arco ou não.
Naqueles onde o clip é inativo (sempre passivo), o tipo de movimento dentário, sua direção,
amplitude, fatores limitantes ou mesmo a atividade biológica, são determinados pela decisão do
clínico pela troca de arcos cada vez mais resilientes ao longo da mecanoterapia. Nos acessórios
compostos pelo clip ativo, o terceiro componente (além do acessório e do arco) entre em ação.
Haverá interatividade do mesmo não somente com o arco ortodôntico, mas também com o próprio
bracket. As vantagens deste sistema tríplice podem ser resumidas da seguinte maneira:
1. Baixo nível de atrito no sistema totalmente pré-ajustado
Comparado a outros meios de ligação, o sistema auto-ligante reduz o atrito de deslizamento
entre fio e acessório por mais de 50%, dependendo do tipo de material e desenho empregado nos
mesmos. Comparando-se o atrito cinético entre o pior e o melhor cenário, (digamos numa situação
quando o clip estiver passivo com o uso de arco de aço, comparado ao uso de bracket cerâmico com
fio de Níquel Titânio atado com ligaduras elastoméricas), a fricção seria por volta de 80% maior no
segundo caso.
2. Maior flexibilidade inter-bracket
Devido ao fato de os acessórios auto-ligantes interativos serem mais estreitos que os
convencionais, um segmento mais longo dos arcos funciona como conexão entre os dentes, sendo
forças mais amenas então produzidas.
No passado, quando os aparelhos fixos com acessórios do tipo Edgewise eram amplamente
utilizados, a pequena distância inter-brackets era uma grande vantagem, uma vez que o único tipo de
liga disponível para a construção de arcos ortodônticos era o aço extremamente rígido da série 300
(associação de Cromo-Níquel entre outros metais). Este fato justificava o uso de acessórios de corpo
simples. Isto, no entanto, trazia dissabores biomecânicos quando da necessidade de uma alavanca
eficiente do tipo intra-bracket, por motivo óbvio.
Quando a técnica Straight Wire se tornou viável, a preferência pela pequena distância inter-
brackets teve sua vez, pois uma grande deflexão entre os dentes era esperada para que os fios
flexíveis (tal como o NiTi convencional ou austenítico) atuassem a contento. Portanto, acessórios de
corpo duplo com grande distância entre as aletas de ligação eram preferencialmente utilizados,
mesmo porque a alavanca interna era, do ponto de vista físico, mais eficiente. Tal preferência
prevaleceu até a chamada “3.a geração” dos aparelhos Straight Wire (acessórios pré-ajustados
conforme a receita Roth, com torque na Base, slots diferenciais – técnica bidimensional).
Atualmente, com a possibilidade do uso de brackets auto-ligantes interativos, a eventual
ineficiência inter-bracket na geração de uma alavanca de momento de força reduzido, é
completamente suplantada pelo clip ativo. Assim, acessórios auto-ligantes interativos (como por
exemplo In-ovation R – GAC) de tamanho reduzido, tornam-se duplamente eficientes, tanto na
questão inter como intra-brackets.
VOUDOURIS 10 ressalta que tal fato viabiliza não somente o movimento auto-cinético
antero-posterior, como também o vertical.
O “movimento auto-cinético antero-posterior” é aquele gerado num sistema livre de fricção
entre acessórios ortodônticos e arcos iniciais de nivelamento, onde há uma grande liberdade de
deslize entre fio e slot. A força oriunda de elementos musculares, tais como Orbicular Labial
superior e inferior, e Mentoniano promoverá um movimento dentário livre e orientado para distal.
Tal fato pode ser observado quando o sistema interativo é aplicado e rapidamente ocorre o
alinhamento e nivelamento dos dentes.
Figuras 2, 3 e 4: Diagrama demonstrando a dificuldade de deslize de arcos de nivelamento no sistema com brackets convencionais - observar tendência de vestibularização do segmento anterior do arco, originando overjet.
Figuras 5, 6 e 7: demonstrando a facilidade de deslize de arcos de nivelamento inteligentes no sistema com brackets auto-ligantes interativo - observar tendência de deslizamento distal do segmento posterior do arco, favorecendo o posicionamento ideal de caninos.
O “movimento auto-cinético vertical” é causado pela ação indireta de músculos da
mastigação por sobre os segmentos de arcos ortodônticos que ligam um acessório a outro, graças à
grande distância inter-brackets. Esta ação causará uma vibração no sistema, que proporcionará um
grande ganho biológico na questão de revascularização naqueles pequenos pontos de isquemia no
ligamento periodontal em todo e qualquer tipo de movimentação dentária ortodôntica.
3. Momento rotacional mais eficiente
Momento rotacional é definido como um sistema binário de forças, onde as mesmas se
apresentam com igual magnitude e direção, porém com sentidos contrários, separadas por um fulcro
rotacional com braços de igual dimensão.
Em se tratando de correção de giroversões, um sistema de ligação deformante, como é o caso
das ligaduras elastoméricas, sempre apresentará baixa eficiência. No sistema interativo não haverá
possibilidade nem mesmo necessidade de sobrecorreção, pois o fulcro do movimento se localizará
no próprio bracket, e não no centro oclusal da coroa (como no tradicional sistema binário composto
pelo uso de ligaduras elásticas em corrente por vestibular e ao mesmo tempo lingual).
4.Facilidade de higienização oral
O sistema proposto não emprega rotineiramente ligaduras elásticas individuais, as quais
apresentam grande possibilidade de decomposição hidrolítica com liberação de componentes
químicos quase sempre não biocompatíveis. Mesmo a ligadura metálica apresenta certo índice de
aderência de detritos alimentares e placa bacteriana, além da tendência de causar pequenos
ferimentos e cortes na mucosa que podem ser posteriormente contaminados. A operação do sistema
auto-ligante não requer o trabalho de uma atendente auxiliar. Portanto, o aparelho se torna simples e
limpo, onde a higiene oral é melhorada.
5. Alta eficiência de tratamento durante as trocas de arcos
A motivação original no desenvolvimento dos acessórios auto-ligantes foi a economia de
tempo com a aceleração do processo manual de trocas de arcos. VOUDOURIS 10 reportou uma
redução no tempo de troca de arcos (remoção-inserção) em seu protótipo interativo, que norteou a
futura construção dos Brackets In-ovation R. O mesmo autor lembra que, para tal ato, não se faz
necessária a presença de técnico auxiliar para que se acelere o processo. O tempo calculado tem sido
reportado como mais de 80% mais curto em relação aos acessórios tradicionalmente ligados.
O sistema em si, onde arcos extremamente flexíveis com baixo módulo de Elasticidade estão
preenchendo completamente os trilhos, permite ao clínico que estenda o intervalo entre as consultas
em 8 a 10 semanas. Assim, abre-se a possibilidade de casos serem tratados em um ano, ou menos.
Observe as figuras a seguir, que mostram um típico caso que requer quatro exodontias de primeiros
pré-molares, com necessidade de ancoragem máxima.
Figuras 8, 9 e 10: Notar que o efeito de ancoragem recíproca, aliado ao efeito de “autocinese antero-posterior” elimina a necessidade de Arco Transpalatino e Lingual.
A rápida retração dos caninos, que se encontram inicialmente em posição de infra-vestíbulo-
versão, se dá pelo livre deslize distal dos arcos de nivelamento. Este, por sua vez, ocorre graças ao
bom gerenciamento do fator atrito ligado à Técnica Bi-dimensional, onde os slots dos acessórios dos
incisivos apresentam dimensões reduzidas em relação aos dos demais dentes. A fricção entre arco e
trilho do acessório é substancialmente menor na região posterior, o que imprime ao sistema forças de
menor intensidade, com amplitude apenas suficiente para promover discreta compressão capilar
(permitindo a diapedese inicial inerente à “Teoria do Fluxo Sangüíneo”). Assim, uma vez o atrito
estático inicial vencido, o movimento dos caninos com vetor final distal e extrusivo se faz presente,
sem que haja a menor necessidade de se atachar dispositivos auxiliares de nivelamento na região
posterior, tais como ligaduras elásticas em corrente ou mesmo molas de Ni-Ti. O sistema mostra-se,
do ponto de vista biomecânico, extremamente eficiente inclusive na questão que tange os princípios
da ancoragem. Além do mais, exibe uma arquitetura limpa onde não se faz absolutamente necessária
a presença de auxiliares que dificultam a própria higienização oral, como por exemplo amarrilhos
metálicos conjugados, ganchos de pressão, ligaduras elásticas individuais, ligaduras metálicas, Barra
Trans-palatina, Arco lingual e etc.
IV – BIOLOGIA DA REMODELAÇÃO ÓSSEA NA BIOMECÂNICA INTELIGENTE
INTERATIVA AUTO-LIGANTE - IAL
Devido ao baixo nível de forças aplicado ao longo do tratamento, a microcirculação ao redor
das raízes não é comprometida. Dois fenômenos biológicos devem ser descritos: o da remodelação
óssea e o da integridade da superfície radicular.
Em termos de remodelação, um tipo diferente de reabsorção óssea é observado. De acordo
com REITAN 11, nos sistemas tradicionais ligados, onde níveis de força aplicados necessários para
que haja movimentação ortodôntica se encontram na ordem de centenas de gramas, ocorrem três
fases:
• O movimento inicial devido à compressão do ligamento periodontal
• O período de hialinização no ligamento periodontal
• O movimento dental causado pelo processo de reabsorção minante, amplamente mediado
pela presença de Oxigênio, trazido pela reabertura da rede capilar.
KING e cols. 12 Descrevem que com a aplicação de forças contínuas de baixa magnitude, o
processo se caracterizará então pela reabsorção óssea frontal no lado de pressão sobre a raiz, onde o
suprimento de Oxigênio não é seriamente comprometido, permitindo atividade osteoclástica
adjacente ao ligamento periodontal. Ao mesmo tempo, o lado de tensão é preparado para, dentro de
um período de poucos dias, iniciar o depósito de tecido osteóide. Com o sincronismo entre os dois
fenômenos, um novo e remodelado alvéolo é formado, contribuindo para o visível movimento
radicular fluido.
A raiz radicular responde de maneira análoga. Entre vários fatores que possibilitam a reabsorção
radicular, o mais citado é o binômio intensidade de força e sua duração. Devido à curta duração do
tempo de tratamento com a biomecânica IAL, forças são aplicadas durante um curto período de
tempo, diminuindo a possibilidade de reabsorção radicular.
A biomecânica representada pelo sistema proposto, defende a tese de que se houvesse ausência
total de forças de atrito estático e dinâmico, a força a ser aplicada poderia ser na ordem de 30 gramas
por elemento dental, em média. O fato é que os sistemas tradicionais que se valem de ligaduras
(elásticas e/ou metálicas) não podem ser denominados inteligentes. Tenta-se movimentar
inicialmente dentes apinhados, amarrando-se os arcos aos brackets. Por analogia, seria como se
atássemos as pernas de uma atleta maratonista e o pedíssemos para correr o mais rápido possível! Ou
ainda, como se um automóvel com um potente propulsor trabalhasse com os freios de
estacionamento acionados! Obviamente haveria um maior consumo de combustível, além do grande
desgaste das peças do motor envolvidas com o processo. O mesmo pode acontecer se imaginarmos o
aparelho ortodôntico fixo convencional como um simples gerador de forças. A necessidade de
geração de forças que superam o atrito estático inicial podem sobrecarregar o sistema biológico,
impondo uma reação inflamatória aguda de grande duração, que demandará num excessivo tempo de
reparação tecidual.
Aliando-se as vantagens do controle sobre o atrito proposto pelos acessórios auto-ligantes e pela
técnica bidimensional à utilização racional das “ligas inteligentes” (tais como as ligas de Ni-Ti
acrescidas de Cobre, e aos arcos tenso-ativos com transformação martensítica reversível), o resultado
redunda na menor necessidade de força e de tempo já experimentada pela Ortodontia até os dias de
hoje. Este fato é possível pela ausência do grande “ladrão” de forças oriundas de um sistema
biomecânico ortodôntico: o atrito. Se o mesmo for anulado, ou mesmo minimizado, o nível de forças
necessário para a movimentação dentária é consistentemente menor.
O uso de forças ortodônticas contínuas, no sentido lacto da palavra, se faz na prática impossível.
Na biomecânica tradicional, a força decresce rapidamente devido a dois fatores principais:
• A gradual diminuição da distância entre dois pontos (como, por exemplo, durante o
fechamento de diastemas) leva fatalmente ao declínio dos níveis de força aplicados – o
uso de molas e elásticos implica na relação diretamente proporcional entre magnitude de
força e distância entre os pontos de aplicação da mesma.
• A perda de eficiência de devolução energética típica das ligas convencionais, onde a
resiliência é uniforme ao longo do tempo. Quanto maior a distância inicial entre o arco
ortodôntico e o fundo do trilho do acessório, tanto maior será a deflexão necessária.
Assim que o arco readquire paulatinamente sua conformação original, decresce o nível de
força aplicada ao sistema.
Figura 11: Gráfico comparativo: intensidade de força aplicada X tempo decorrido – sistema convencional (vermelho) / sistema interativo (verde). Observar faixa de força útil (azul).
No sistema interativo aqui proposto, o inverso pode ocorrer. O almejado nível contínuo de forças
é uma realidade, mesmo havendo diminuição da distância entre os pontos de aplicação de força,
graças à interatividade entre o clip dos acessórios e o arco composto por ligas inteligentes. Estes, por
sua vez, apresentam resiliência inversamente proporcional à distância entre os pontos envolvidos
com a aplicação de força (ou seja, entre o arco ortodôntico e o fundo do slot).
Figura 12, 13 e 14: Fios inteligentes: intensidade de devolução de energia intrínseca inversamente proporcional à distância entre a conformação original do arco e o fundo do slot do acessório (quanto menor a deformação, maior a devolução).
V - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. ANGLE, E.H. Classification of malocclusion. Dent. Cosmos, 41:248-64, 1899.
2. STOLZBERG, J. The Russel attachment and its improved advantages. Intl. J.
Orthod. Dent. Children. 1935; 9: 837-840.
3. ANDREWS, L.F. The six keys to normal occlusion.Am.J.Orthod.,63:296-309,
1972.
4. ROTH, R.H. Electromyographic study during orthodontic therapy. Master of
Science Thesis. Chicago, Loyola University School of Dentistry, 1962.
5. EPSTEIN, M.B. Benefits and rationale of different bracket slot sizes. Clinical
Impressions. 1998; Vol 7, No. 3; 16-23.
6. GIANELLY, A.A. A bidimensional edgewise technique. J. Clin. Orthod.,1985;
19:418-421.
7. NÓBREGA, C. J. P. N. Técnica da dimensäo diferencial de slots: uso do sistema
ortho-benefícios e razões para o uso de dimensões diferentes de slots de
braquetes. Rev. clin. ortondon. dental press;1(5):83-91, out.-nov. 2002.
8. KUFTINEC, M.M. Effects of edgewise treatment and retention on mandibular
incisors. Am. J. Orthod. Dentof. Orthop. 1975; 68:316-322.
9. KUFTINEC, M.M. & ELTZ, M. NY Interactive Self-Ligation Technique.
Syllabus. GAC International. 2004.
10. VOUDOURIS, J.C. Seven clinical principles of Interactive Twin mechanisms. J.
Clin. Orthod. 1997; 31: 55-65.
11. REITAN, K. Clinical and histologic observations on the tooth movement during
and after orthodontic treatment. Am. J. Orthod., 1967; 53:721-745.
12. KING, J.G., FISHLSWIGER, W. The effect of force magnitude on extractable
bone resorptive activity and cemental cratering in orthodontic tooth movement. J.
Dent. Res. 1982; 61: 775-779.
VI – LEGENDAS Figura 1: Bracket auto-ligante interativo- In-ovation R R GAC. Figuras 2, 3 e 4: Diagrama demonstrando a dificuldade de deslize de arcos de nivelamento no sistema com brackets convencionais - observar tendência de vestibularização do segmento anterior do arco, originando overjet. Figuras 5, 6 e 7: demonstrando a facilidade de deslize de arcos de nivelamento inteligentes no sistema com brackets auto-ligantes interativo - observar tendência de deslizamento distal do segmento posterior do arco, favorecendo o posicionamento ideal de caninos. Figuras 8, 9 e 10: Notar que o efeito de ancoragem recíproca, aliado ao efeito de “autocinese antero-posterior” elimina a necessidade de Arco Transpalatino e Lingual. Figura 11: Gráfico comparativo: intensidade de força aplicada X tempo decorrido – sistema convencional (vermelho) / sistema interativo (verde). Observar faixa de força útil (azul). Figura 12, 13 e 14: Fios inteligentes: intensidade de devolução de energia intrínseca inversamente proporcional à distância entre a conformação original do arco e o fundo do slot do acessório (quanto menor a deformação, maior a devolução).
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