marcas de uso em dicionários escolares brasileiros luciano pontes

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Marcas de uso em dicionários escolares Brasileiros

Antonio Luciano Pontes (UECE/UERNE)

Objetivos

• 1. Identificar se as páginas introdutórias dos dicionários manifestam um interesse explícito por este tipo de marcação e de que maneira o fazem.

• Esta informação permitirá saber se o autor seguiu ao longo do dicionário algum critério na hora de selecionar o número e o tipo das marcas que oferecem informações diastrática e diafásica, e se explicitou previamente os valores que elas comportam.

Objetivos

• 2. Categorizar os tipos de marcas presentes nos dicionários em análise e avaliar os valores que elas assumem no interior do verbete.

• 3. Verificar se as marcas utilizadas são as mesmas ou se elas se apresentam distintas nos dicionários analisados.

metodologia

• Dada a importância da função das marcas de uso, proponho-me partir da teoria lexicográfica para refletir sobre a presença das marcas sociolinguísticas nos dicionários escolares e

• observar qual a prática lexicográfica nos quatro dicionários escolares avaliados pelo Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) e adotados nas escolas de Ensino Fundamental:

metodologia

• FERREIRA, A. B de H.. Miniaurélio Século XXI. 5ª ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2010.

• AULETE, C.. Minidicionário contemporâneo da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2010.

• HOUAISS, A. e VILLAR, M. de S.. Minidicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2003.

• MICHAELIS. Dicionário escolar da Língua Portuguesa. São Paulo: Melhoramentos, 2008

FUNDAMENTOS TEÓRICOS

• A língua nos dicionários se apresenta heterogênea em várias dimensões: espaciais, sociais, temporais.

FUNDAMENTOS TEÓRICOS

• Essa diversidade determinará a existência de tipos de marcação expressa, em geral, pelo emprego de diferentes marcas de uso.

• Entendidas conforme Fajardo (1996-1997, p. 32):

“um tipo de informação que somente aparece sob condições especiais do lema, isto é, quando se dão “particularidades que restringem ou condicionam o uso das unidades léxicas”.

FUNDAMENTOS TEÓRICOS

• Fajardo (1996-1997): as marcas de uso se representam concretamente através de etiquetas ou rótulos, frequentemente em forma de abreviatura, localizadas antes da definição.

FUNDAMENTOS TEÓRICOS

• Cabré (1996) observa que, além de etiqueta ou rótulos para representar a marcação:

através de expressões restritivas dentro do texto da definição das palavras

ou em forma de notas adicionais.

FUNDAMENTOS TEÓRICOS

• As marcas de uso já fazem parte essencial da produção lexicográfica moderna. Registradas de forma adequada ou não, elas se apresentam, desde muito tempo, com uma boa frequência ou de forma acanhada, mas sempre aparecem nos dicionários de língua, sobretudo em dicionários escolares.

• Para Morales (2010, p. 385), as marcas sociolinguísticas constituem recursos que utilizam os dicionários para indicar ao usuário as restrições de uso que têm uma palavra (no caso dos dicionários de codificação) ou para ajudá-lo na compreensão de um texto (no caso dos dicionários de decodificação).

• Fiorin (1993,p.97), referindo-se à necessidade das marcas de uso em dicionários, afirma que:

• do ponto de vista descritivo, é preciso marcar os usos, porque não são universais para uma dada comunidade linguística;

• do ponto de vista pedagógico, como há normas sociais que regem os usos linguísticos, os alunos têm de aprendê-las.

• Nesta comunicação, pretendo analisar as marcas sociolinguísticas, de natureza diastrática e diafásica.

FUNDAMENTOS TEÓRICOS

• A diastrática compreende os traços que indicam restrições de uso quanto à raça, a etnia, diferenças de idade, classe socioeconômica, nível educativo, formação cultural, jargões profissionais, gíria, etc.

• Novoa (2005) inclui entre as informações diastráticas:

CATEGORIA DIASTRÁTICA

• a) informações sociolínguísticas pertencentes a um registro específico.

Registros específicos são aqueles utilizados por subgrupos da comunidade de fala, como estudantes, presos, viciados em drogas;

• Gíria de grupo > gíria comum > língua comum A gíria comum já se encontra bastante difundida

dentro da língua, mas ainda apresenta restrições de uso.

CATEGORIA DIASTRÁTICA

• b) a valoração social determinada pela comunidade de fala.

Nesse caso, as comunidades linguísticas determinam quais palavras são consideradas de prestígio e quais as vulgares.

CATEGORIA DIASTRÁTICA

• Outras vão mais além, porque ferem ou ofendem certos interlocutores, são os tabuísmos. Esses não podendo ser utilizados, devem ser substituídos por palavras que não sejam tão ofensivas, assim se recorre aos eufemismos.

• As marcas são: prestigioso (prest.), tabu (tabu), vulgar (vulg.), eufemismo (euf.). O nível comum não recebe marca alguma;

• prestigioso > eufemístico > [nível não marcado] > vulgar > tabu (Morales, 2003, 2010).

CATEGORIA DIASTRÁTICA

• c) a estratificação social, que diz respeito a um grupo de fatores como a educação, a profissão, o poder econômico. Esse último é responsável pelos estratos sociais diferentes: altos, médios e baixos. Os dois níveis extremos da pirâmide social são marcados pelas abreviaturas cult. (culto), pop. (popular).

• culto > [nível não marcado] > popular (Morales, 2003, 2010).

CATEGORIA DIASTRÁTICA

CATEGORIA DIAFÁSICA

• A categoria diafásica se relaciona com matizes da comunicação e as diferentes atitudes dos falantes no momento de interagir.

• A indicação dos estilos da língua se dá pelas formas de expressão de que os falantes dispõem, segundo seu interlocutor, o contexto comunicativo e, inclusive, o tema da conversação. A variação diafásica ou estilística se insere em um continuum que vai desde a fala esmerada (esm.) até a espontânea (espon.).

• esmerado > [nível não marcado] > espontâneo

• A ausência de marca significa uso geral.

Suporte teórico

• Trabalhos e pesquisas de cunho Metalexicográfico:

• Seco (1989), Fiorin (1993), Fajardo (1996-1997), Strehler (1997), Ávila (2000), Pérez (2000-2001), Fariñas (2001), Welker (2004), Novoa (2005), Monge ( 2007) e Morales (2010).

Linguagem de grupo

• Pó (cocaína)- bras. Gíria ( Au). • - infrm. (Houaiss) • - gíria (Mi) • não registra (Aur). Baseado - bras. Gíria ( Au) gíria ( Mi) infrm (Houaiss) bras giria ( Aur) Chocante ( muito bom ou bonito)- gíria (Mi) inform (Houaiss) Chiar (protestar, reclamar)- giria ( Aur) Michaelis não marca. Língua comum.

• Bronca(repreensão, censura):

Aur- Bras. Gíria, Au- pop, Mi-pop, Houaiss- infrm.

gamado (muito apaixonado):

Aur- Bras. Gíria, Au- pop, Mi- gíria, Houaiss- gíria.

Os autores não definem o termo gíria.

Valoração social

• Porrada- bordoada, cacetada. Aur. – não reg., Au- tabu, Mi- vulgar, Houiss- grosseiro.

• Houaiss define grosseiro (gros), como compreendendo os tabuismos, as palavras chulas, grosseiras ou ofensivas.

• Os demais não definem as categorias citadas acima

Analise de estilo

• Lábaro- bandeira. Huaiss ( formal), os demais não marcam.

• Cantada. Huaiss (informal), os demais marcam como pop.

• Dodói. • Xixi • Em certas ocasiões, o subjetivismo interfere na

avaliação das categorias, pelo que ocorre nas obras lexicográficas um alto grau de ambiguidade.

RESULTADOS PONTUAIS

• A forma mais comum de aparecer a variação social se dá através de marcas de uso.

• São raríssimos os casos em que a marcação se realiza por meio de enunciado dentro do segmento definição:

xixi- urina, em linguagem infantil.(Mi).

• Xixi- bras fam.(Au)

RESULTADOS PONTUAIS

• A marca infantil não indica informação diastrática, mas restrições de estilo. Trata-se da forma por meio de que os adultos se dirigem às crianças;

• As marcas infantil e familiar aparecem com a mesma função semântica:

• Nenem – familiar ( Aulete).

• Dodói- infantil ( Aulete)

• Xixi- familiar (Aulete)

RESULTADOS PONTUAIS

• Não se tem visto nos dicionários em estudo marcas que indiquem o uso das palavras por parte dos falantes segundo o sexo, como era de se esperar;

RESULTADOS PONTUAIS

• A marca vulgar produz ambiguidade, porque se utilizam diante de palavras relacionadas a órgãos sexuais, às práticas sexuais e insultos:

• Broxar – vulgar ( Mi)

• Bunda –vulgar ( Au)

• Bundão- vulgar ( Aulete)

• Broxar = vulgar (Mi), bras. Tabu (Au), Gros ( Houaiss)

• As categorias não se distinguem claramente

RESULTADOS PONTUAIS

• Tem existido certa incoerência no uso da marca pop. (popular), pois se tem atribuído também valores de informação diafásica:

• Babado- pop (Aur)

• informal (Houaiss)

• Cotó- pop ( Au)

• informal ( Houaiss)

• Os limites entre os microssistemas nem sempre são claros e as interferências entre elas são frequentes:

RESULTADOS PONTUAIS

• Os dicionários não informam sobre o valor pragmático das unidades especializadas, deixando de fora informações relativas a elas no que diz respeito ao uso temporal, geográfico, social, estilístico. Esse procedimento tem base nos pressupostos wusterianos no sentido de não considerar variação das unidades léxicas especializadas, entendidas como monossêmicas, isoladas de contextos reais de comunicação;

RESULTADOS PONTUAIS

• Os regionalismos são, com frequência, qualificados como vulgares, populares ou familiares.

• Baitola- Aur. não registra

• Reg (Nordeste) vulgar (Mi)

• N. E. Gír. Pej. (Au).

Houaiss não registra a palavra

Considerações finais

• A análise permiteentender que algumas marcas de uso se apresentam, nos dicionários em estudo, como categorias fluidas, sendo possível aparecerem superpostas a outra(s), assumindo múltiplas funções, de valores distintos. As marcas de uso estão presentes nos dicionários analisados, em uns mais, em outros menos. Elas também aparecem, ora sistematicamente, ora assistematicamente marcadas.

Considerações finais

• Observo que as marcas podem ocorrer, em geral, com abreviações.

• Os casos de omissões de marcas podem significar, para o usuário do dicionário, que o item lexical pertence ao uso geral da língua. Quando as marcas de uso estão presentes, posicionam-se precedendo à definição, já que pertencem ao primeiro enunciado, pois são informações que dizem respeito à palavra-entrada (SECO, 1989).

Considerações finais

• A ambiguidade terminológica entre as categorias utilizadas para a marcação de uso pode dever-se ao fato de a prática lexicográfica escolar não definir em termos precisos categorias como popular, vulgar e familiar, sendo usados de forma distinta entre os dicionários analisados.

Considerações finais

• Martínez (2005) vai na direção de Garriga, quando afirma que os resultados obtidos pela investigação linguística nem sempre tem tido eco no avanço da técnica lexicográfica.

Considerações finais

• Embora as disciplinas referidas já tenham apresentado contribuições efetivas a marcações lexicográficas, na prática, muitos dicionaristas continuam tendo por base suas intuições, impressões na hora de valorar o uso das unidades léxicas.

• Percebemos que os autores de dicionário sofrem a influência da Lexicografia Acadêmica.

Considerações finais

• Considerando tal situação, Fajardo (1996-1997) propõe uma revisão dos sistemas de marcas, reduzindo algumas desnecessárias ou repetitivas.

E para terminar...

• Fariñas (2001): as marcas de uso são imprescindíveis em um dicionário escolar. É através delas que se pode incluir o uso real da língua em uma obra eminentemente prescritiva.

REFERÊNCIAS

• CABRÉ, M. Teresa Castellví. Lexicología y variación: hacia un modelo integrado, Actas del V Simposio Ri-Term, 1996. Disponível em: http://www.riterm.net/actes/5simposio/cabre 4.htm.

• FAJARDO, A. Las marcas lexicográficas: concepto y aplicación práctica en la Lexicografía española. Revista de Lexicografía. V. III, 8-31,1996-1997.

• FARIÑAS, Luis F. Alzola. Las presentaciones de los diccionarios escolares. Breve historía de un elemento didáctico olvidado por las editorales, los profesores y los usuarios. Glosas Didáticas n.6, 2001, Disponível em: http://sedll.org/doces/publicaciones/glosas/n6/alzola.html.

REFERÊNCIAS

• FIORIN, José Luiz. Norma e Dicionário. In: ZAMBONIM, Divino João (org.). Estudos sobre Lexicografia. Ano VII, n.1. Araraquara: UNESP, 1993, p.93-104.

• GARRIGA,Cecílio. Las marcas de uso en los diccionarios del español. Revista de Inestigación Linguistica, n. 1, p.75-110, 1997.

• MONGE, Sergio Cordeiro. Diccionario de la Lengua Española Secundaria (DILES): Planta para su elaboración con algunos apuntes básicos de Metalexicografía. Káñina, xxxi (1), p.167-195, 2007.

REFERÊNCIAS

• MARTÍN, Maria Del Carmen. A. El diccionario en el aula. Granada: Universidad de Granada, 2000.

• MORALES, Humberto L. La marcación Sociolinguistica en la Lexicografía Dialectal. MARTÍN, R.M.C.; GRACIA, V.L (orgs.). In: De Moneda nunca usada. Estudios dedicados a José Maria Enguita Ultrilla. Zaragoza, Instituición Fernando el Católico, p. 385-392, 2010.

• NOVOA, Alberto Barahona. La marcación en la Lexicografía actual. Káñina, xxxi(1), p. 29-52, 2005.

REFERÊNCIAS

• PÈREZ, Bajo Elena. Diccionarios. Introducción a la historia de la Lexicografía del español. Gijón, Trea: 2000.

• PÉREZ, Rosario. La marca figurado en los diccionarios de uso. Revista de Lexicografía., v. VII, p.63-76, 2000-2001.

• SECO, Manuel. Estudios de Lexicografía española: Madrid, Paraninfo, 1987.

• WELKER, Herbert Andreas. Dicionários: Uma introdução à Lexicografia. Brasília: Thesaurus, 2004.

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