linguagem e tecnologia - apostila-bio
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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS
CURSO: CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
Elaborada pela professora Mestra Rosangela do Nascimento Costa
EMENTA: EMENTA: Linguagem, processos comunicativos, formas e tecnologias. Práticas de
leitura e interpretação de textos. Tipos e gêneros textuais. Produção de textos: planejamento,
estrutura (microestrutura – coesão e macroestrutura – coerência) e construção (clareza, concisão,
progressão). Aspectos gramaticais da produção de textos.
LINGUAGEM, TECNOLOGIAS E PRODUÇÃO TEXTUAL
Discente: ____________________________________________________________
Quirinópolis
2015
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SUMÁRIO
1 Linguagem, língua, signo e fala ................................................................................................. 4 1.1 Signos Verbais e Signos Não-Verbais........................................................................................ 4
1.2 Língua ....................................................................................................................................... 4 1.3 Elementos Estáveis e Instáveis da Língua .................................................................................. 5
1.4 Fala ........................................................................................................................................... 6 1.5 Língua Falada e Língua Escrita ................................................................................................. 6
2 Variedade e Unidade da Língua Portuguesa ............................................................................. 7 ATIVIDADE DE APRENDIZAGEM: ............................................................................................ 8
3 Os Níveis de Linguagem ............................................................................................................. 8 4 TEXTO E TEXTUALIDADE.................................................................................................. 10 4.1 O que é texto ........................................................................................................................... 10 4.2 O que é textualidade ................................................................................................................ 10
4.2.1 Coerência e coesão ............................................................................................................... 11 4.2.2 Os fatores pragmáticos da textualidade ................................................................................. 13
5 Coesão e Coerência – Devem - se distinguir ? ......................................................................... 15 5.1 Os Elementos de Transição – Conectivos ................................................................................ 15
5.2 Como analisar a coesão ........................................................................................................... 16 5.3 Coesão Referencial .................................................................................................................. 17
5.4 Coesão Recorrencial ................................................................................................................ 17 5.5 Coesão Sequencial .................................................................................................................. 17
5.5.1 Sequenciação por conexão .................................................................................................... 18 Atividades coesão textual .............................................................................................................. 18
6 Reformulando a noção de coerência ........................................................................................ 19 6.1 As estruturas Cognitivas .......................................................................................................... 19
6.1.1 modelos cognitivos globais ................................................................................................... 19 Atividades Coerência .................................................................................................................... 20
7 O Parágrafo .............................................................................................................................. 21 ATIVIDADE DE APRENDIZAGEM: ....................................................................................... 23
7.1 A PARAGRAFAÇÃO NO/DO TEXTO DISSERTATIVO ................................................. 24 7.2 FORMAS DISCURSIVAS DO PARÁGRAFO ....................................................................... 25
8 O PARÁGRAFO COMO UNIDADE DE COMPOSIÇÃO ........................................................ 25 8.1 Parágrafo-padrão ..................................................................................................................... 25
8.2 Importância do parágrafo......................................................................................................... 26 8.3 Extensão do parágrafo ............................................................................................................. 26
8.4 Tópico frasal ........................................................................................................................... 27 8.4.1 Diferentes feições do tópico frasal ........................................................................................ 28
8.5 Outros modos de iniciar o parágrafo ........................................................................................ 29 8.5.1 Alusão histórica .................................................................................................................... 29
8.5.2 Omissão de dados identificadores num texto narrativo .......................................................... 30 8.5.3 Interrogação ......................................................................................................................... 31
8.6 Tópico frasal implícito ou diluído no parágrafo ....................................................................... 31
9 Como desenvolver o parágrafo ................................................................................................ 31 9.1 Enumeração ou descrição de detalhes ...................................................................................... 32 9.2 Confronto ................................................................................................................................ 32
9.3 Analogia e comparação ........................................................................................................... 33 9.4 Citação de exemplos ................................................................................................................ 34
9.5 Causação e motivação ............................................................................................................. 36 9.5.1 Razões e consequências ........................................................................................................ 37
9.5.2 Causa e efeito ....................................................................................................................... 38 9.6 Divisão e explanação de ideias "em cadeia" ............................................................................. 39
3
9.7 Definição ................................................................................................................................ 40 Exercícios ..................................................................................................................................... 51
10 Gêneros de texto, o que é isso? ............................................................................................... 53 10.1 Qual a diferença entre texto e gênero de texto? ...................................................................... 54
11 As diversas formas de texto.................................................................................................... 54 11.1 Resumo ................................................................................................................................. 54
11.1.1 Sublinhado: ........................................................................................................................ 55 11.1.2 Esquema: ............................................................................................................................ 55
9.1.3 Resumo: ............................................................................................................................... 55
11.2 RELATÓRIO NARRATIVO, DESCRITIVO E DISSERTATIVO .................................. 55 11.2.1 Objetivos ............................................................................................................................ 56 11.2.2 Estrutura ............................................................................................................................. 56
11.2.3 Introdução .......................................................................................................................... 56 11.2.4 Desenvolvimento ................................................................................................................ 57
12 Diretrizes para elaboração de resumos, resenhas e artigos Científicos ................................ 58 12.1 DIRETRIZES PARA ELABORAÇÃO DE RESUMOS, SÍNTESES E SINOPSES............... 59
12.2 DIRETRIZES PARA ELABORAÇÃO DE RESENHAS ...................................................... 60
13 DIRETRIZES PARA ELABORAÇÃO E APRESENTAÇÃO DE ARTIGO CIENTÍFICO
..................................................................................................................................................... 61 13.1 Elementos Pré-Textuais ......................................................................................................... 61
13.2 Acerca dos Títulos dos Artigos Científicos ............................................................................ 62 13.3 Acerca dos Agradecimentos .................................................................................................. 62
13.4 Acerca da Autoria dos Artigos Científicos ............................................................................. 62 13.5 Acerca do Resumo Acadêmico e do Abstract ........................................................................ 62
13.6 Elementos Textuais ............................................................................................................... 63 13.7 A Introdução ......................................................................................................................... 63
13.8 O Desenvolvimento ............................................................................................................... 63 13.9 A Conclusão do Artigo .......................................................................................................... 64
13.10 Elementos Pós-Textuais ...................................................................................................... 64 14 Referências .............................................................................................................................. 64
15 CONCLUSÃO ......................................................................................................................... 64
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1 Linguagem, língua, signo e fala
Na origem de toda atividade comunicativa do ser humano está a linguagem, que é a
capacidade de se comunicar por meio de uma língua. Língua é um sistema de signos convencionais
usados pelos membros de uma mesma comunidade. Em outras palavras: um grupo social
convenciona e utiliza um conjunto organizado de elementos representativos.
1.1 Signos Verbais e Signos Não-Verbais
Considera-se que os sinais ou signos classificam-se em dois tipos: os signos verbais e os
signos não verbais.
Os signos verbais são as palavras que constituem uma língua. Por exemplo:
QUANDO REDIGIMOS UM TEXTO, NÃO DEVEMOS MUDAR O REGISTRO, A NÃO
SER QUE O ESTILO O PERMITA. ASSIM, SE ESTAMOS DISSERTANDO - E NESSE TIPO DE
REDAÇÃO, USA-SE, GERALMENTE, A LÍNGUA PADRÃO-, NÃO PODEMOS PASSAR DESSE
NÍVEL PARA OUTRO, COMO A GÍRIA, POR EXEMPLO.
Os signos não verbais referem-se à qualquer outro signo que não seja a palavra falada ou
escrita. Esses signos são criados com desenhos, sons, cores etc.
Considera-se que uma linguagem não é um simples amontoado de signos, mas um conjunto
de signos que se relacionam entre si, de forma organizada, formando um sistema. Quando os signos
se organizam, afirma-se que eles constituem uma linguagem. Por isso, é possível falar em
linguagem do trânsito, linguagem da matemática, linguagem dos gestos, linguagem da música e
outras.
1.2 Língua
A língua é um tipo de linguagem; é a única modalidade de linguagem que utiliza palavras.
Observe um fragmento do romance ―Gabriela, cravo e canela‖ em quatro versões. O
romance escrito em português por Jorge Amado, foi traduzido para inglês, italiano e espanhol, entre
outras línguas.
- Trecho do romance “Gabriela, cravo e canela” em Português
Naquele ano de 1925, quando floresceu o idílio da mulata Gabriela e do árabe Nacíb, a
estação das chuvas tanto se prolonga além do normal, e necessário, que os fazendeiros, como um
bando assustado, cruzavam-se nas ruas a perguntar uns aos outros, o medo nos olhos e na voz:
-Será que não vai parar?
Trecho do romance “Gabriela, cravo e canela” em Inglês
In that year of 1925, when the idyll of the mulatto girl Gabriela and Nacíb
the Arab began, the rains continued long beyond the proper and necessary season. Whenever
two planters met in the street, they would ask each other, with fear in their eyes and voices:
―How long can this keep up?‖
Linguagem é todo sistema organizado de
signos que serve como meio de comunicação entre os indivíduos.
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Trecho do romance “Gabriela, cravo e canela” em Espanhol
En aquel año de 1925, cuando floreció el idilio de la mulata Gabriela y del árabe Nacib, la
estación de las lluvias habíase prolongado más allá de lo normal y necessario, a tal punto que los
plantadores, como un rebaño asustado, al entrecruzarse en las calles se perguntaban unos a otros,
con miedo en los ojos y en la voz:
- ¿No parará nunca?
O português, o inglês e o espanhol são línguas diferentes. Cada povo utiliza determinada
língua para se comunicar.
1.3 Elementos Estáveis e Instáveis da Língua
A língua é um fenômeno dinâmico e apresenta os seguintes elementos:
ELEMENTOS ESTÁVEIS - São estáveis as características básicas de cada língua.
Graças à essa estabilidade no tempo, consegue-se entender hoje, ainda que com alguma
dificuldade, um texto escrito há muito tempo em uma língua conhecida. O fato de um
brasileiro de Porto Alegre comunicar-se com um brasileiro de Manaus sem dificuldades,
por exemplo, demonstra a estabilidade da língua no espaço geográfico.
ELEMENTOS INSTÁVEIS - São os elementos da língua que se modificam no tempo e
no espaço. Em relação à modificação no tempo considera-se que há termos que deixam de
ser empregados ou passam a ser empregados em um só sentido, sem contar as palavras
novas que se incorporam à língua, enriquecendo-a. Televisor, por exemplo, é uma palavra
que só passou a fazer parte do vocabulário no início de 1931, quando esse aparelho foi
inventado. O mesmo observa-se com o celular. Destaca-se que também ocorrem mudanças
no espaço, no local em que se emprega a língua. Dessas mudanças surgem diferenças que
no entanto, não chegam à impossibilitar a comunicação entre falantes da mesma língua que
vivam em locais diversos. Vale ressaltar que a gíria consiste no exemplo mais evidente da
instabilidade da língua.
Leia o fragmento:
Me olhando assim, cara? Eu relaxei numa boa e fechei os olhos, ela começou a levar um
som em inglês que num sacava, cara, era um lance da gente se falar sem se falar que durou até
o céu ficar pretão.
No texto acima identifica-se a presença de várias gírias. Observa-se que as gírias variam
de acordo com o período, pois as gírias de uma época não servem para outra, pela rápida
modificação que sofre. Há também gírias que são empregadas apenas em determinadas regiões,
principalmente em Estados e países mais desenvolvidos.
Língua é a linguagem verbal utilizada por
um grupo de indivíduos que constituem uma comunidade.
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1.4 Fala
A seleção brasileira feminina de vôlei conquistou importante título em um torneio
internacional. Veja como três jornais noticiaram o fato:
Seleção derrota EUA e fica com título
Brasil bate EUA e ganha torneio de vôlei
Brasil mata EUA e ganha título histórico
Comparando os textos, conclui-se:
a) Os três títulos tratam do mesmo assunto; b) Os três redatores empregaram o mesmo código: a língua portuguesa; c) Os redatores obedeceram às regras de funcionamento do português, como qualquer
falante da língua que deseje comunicar-se adequadamente. Apesar dessas semelhanças, os textos não são iguais, porque cada emissor empregou a
língua a sua maneira, com seu estilo próprio, individual.
Cada usuário da língua faz uso individual do código. A essa utilização pessoal, particular da
língua, dá-se o nome de fala. ATIVIDADE DE APRENDIZAGEM:
Qual a distinção entre Língua, Linguagem, Signo e Fala?
Boa sorte!
1.5 Língua Falada e Língua Escrita
A língua falada mantém uma profunda vinculação com as situações em que é usada. A
comunicação oral normalmente se desenvolve em situações em que o contato entre os interlocutores
é direto: na maioria dos casos, eles estão em presença um do outro, num lugar e momento que, por
isso, são claramente conhecidos. Dessa forma, quando conversam sobre determinado assunto,
elaboram mensagens marcadas por fatos da língua falada. O vocabulário utilizado é fortemente
alusivo: o uso de pronomes como eu, você, isto, isso, aquilo ou de advérbios como aqui, cá, já,
agora ou lá, possibilita indicar os seres e fatos envolvidos na mensagem sem nomeá-los
explicitamente.
Na língua escrita, a elaboração da mensagem requer uma linguagem menos alusiva. O uso
de pronomes e certos advérbios, eficientes e suficientes na língua falada, obedecem à outros
critérios, pois essas palavras passam principalmente a relacionar partes do texto entre si e não mais
a designar dados da realidade exterior. Em seu lugar, são utilizadas formas de referência mais
precisas, como substantivos e adjetivos, capazes de nomear e caracterizar os seres.
Assim, a língua escrita demanda um esforço maior de precisão: devem-se indicar datas,
descrever lugares e objetos, bem como identificar claramente os interlocutores no caso de
representação de diálogos. Toda essa elaboração gera textos cuja compreensão não depende do
lugar e do tempo em que são produzidos ou lidos: como a língua escrita busca ser suficiente em si
mesma, redator e leitor não precisam mais da proximidade física para que a mensagem se transmita
satisfatoriamente.
Não pense, entretanto, que qualquer uma dessas duas formas de língua é melhor ou pior do
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que a outra: são apenas diferentes, cada uma delas é apropriada à uma determinada forma de
comunicação.
Até agora, tem-se falado da diferença essencial entre a língua escrita e a língua falada. Dessa
diferença se originam outras, igualmente importantes e em alguns casos, tão significativas que se
pode mesmo falar na existência de dois códigos distintos: o código falado e o código escrito, cada
um com suas regras próprias de funcionamento. Entre elas destaca-se:
A língua falada se concretiza por meio da emissão dos sons da língua, os fonemas. Na
escrita, utilizam-se as letras, que não mantêm uma correspondência exata com os fonemas: há letras
que representam fonemas diferentes (a letra x, por exemplo, em exame, xadrez e sintaxe); há
fonemas representados por mais de uma letra; há até casos em que a letra não representa nenhum
fonema (h em homem, por exemplo). Fatos como esses fazem com que a ortografia se torne
complexa; ora, é óbvio que essa questão afeta diretamente o manejo da língua escrita, tendo
reduzida influência sobre o código falado.
O código oral conta com elementos de expressividade que o código escrito não consegue
reproduzir com muita eficiência. Destaca-se a acentuação e a entonação, capazes de modificar
completamente o significado de certas frases e que só são parcialmente recuperáveis por certas
construções da língua escrita. Há, por exemplo, várias formas de falar a palavra sim, podendo-se até
atribuir-lhe significação oposta à usual.
Na escrita, o que se pode fazer são construções do tipo:
―Sim!‖, disse ela, alvoroçada.
―Sim...‖, respondeu uma voz debilitada. ―Sim?‖, irrompeu, indignado.
―Sim!‖, observou ele, com profunda ironia.
Além disso, a língua utiliza a pontuação para sugerir certas características da língua falada.
Não se deve esquecer, entretanto, que a pontuação tem antes de tudo uma função organizadora dos
enunciados, permitindo uma disposição das ideias de forma lógica. Essa função antecede uma
eventual tentativa de reproduzir de forma escrita a melodia própria da língua falada.
O uso de algumas estruturas gramaticais é bastante diferente nos dois códigos. Enquanto a
língua falada utiliza exclamações e onomatopeias e produz frases muitas vezes inacabadas ou com
rupturas de construção, a língua escrita desenvolve frases mais logicamente construídas, evitando a
repetição de termos, comum durante a fala. Além disso, certos tempos verbais (como o pretérito
mais-que-perfeito simples: cantara, bebera e sentira, por exemplo) e certas construções (com o
pronome relativo cujo, por exemplo) são praticamente exclusivos da língua escrita. (Texto de Ulisses Infante. Do texto ao texto. São Paulo. Ed. Scipione.)
2 Variedade e Unidade da Língua Portuguesa
O conceito de língua é bastante amplo, englobando as manifestações da fala, com suas
incontáveis possibilidades. Dentro desse extenso universo, há também variações que não são
decorrentes do uso individual da língua, mas sim, de outros fatores. Esses fatores podem ser:
geográficos, sociais, profissionais e situacionais.
a) Geográficos: há variações entre as formas que a língua portuguesa assume nas diferentes regiões
em que é falada. Basta pensar nas evidentes diferenças entre o modo de falar, por exemplo, de
um lisboeta (natural ou habitante de Lisboa) e de um carioca ou na expressão de um gaúcho em
contraste com a de um paraense. Essas variações regionais constituem os falares e os dialetos;
ATIVIDADE DE APRENDIZAGEM:
Escreva um texto argumentativo expositivo,
dizendo por que a escrita veio depois da fala. Boa sorte!
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b) Sociais: o português empregado pelas pessoas que têm acesso à escola e aos meios de instrução
difere daquele empregado pelas pessoas privadas de escolaridade. Algumas classes sociais,
assim, dominam uma forma de língua que goza de prestígio, enquanto outras, são vítimas de
preconceito por empregarem formas menos prestigiadas. Cria-se, desta maneira, uma
modalidade de língua – a norma culta -, que deve ser adquirida durante a vida escolar e cujo
domínio é solicitado como forma de ascensão profissional e social. O idioma é, portanto, um
instrumento de dominação e discriminação. Também são socialmente condicionadas certas formas de língua que alguns grupos
desenvolvem a fim de evitar a compreensão por parte daqueles que não pertencem ao grupo. O
emprego dessas formas de língua proporciona o reconhecimento fácil dos integrantes de uma
comunidade restrita, seja um grupo de estudantes, seja uma quadrilha de contrabandistas. Assim
se formam as gírias, variantes linguísticas sujeitas à contínuas transformações;
c) Profissionais: o exercício de certas atividades requer o domínio de certas formas de língua
chamadas línguas técnicas. Abundantes em termos específicos, essas variantes têm seu uso
praticamente restrito ao intercâmbio técnico de engenheiros, médicos, químicos, linguistas e
outros especialistas;
d) Situacionais: em diferentes situações comunicativas, um mesmo indivíduo emprega diferentes
formas de língua. Basta pensar nas atitudes assumidas em situações formais (um discurso numa
solenidade de formatura, por exemplo) e em situações informais (uma conversa descontraída
com amigos). Em cada uma dessas oportunidades, emprega-se formas de língua diferentes,
procurando adequar o nível vocabular e sintático ao ambiente linguístico em que o sujeito se
encontra.
Quando o uso da língua abandona as necessidades estritamente práticas do cotidiano
comunicativo e passa a incorporar preocupações estéticas, surge a língua literária. Nesse caso, a
escolha e a combinação de elementos linguísticos subordinam-se à atividades criadoras e
imaginativas. Código e mensagem adquirem uma importância elevada, deslocando o centro de
interesse para aquilo que a língua é em detrimento daquilo para que ela sirva. (Texto de Ulisses Infante. Do texto ao texto. São Paulo. Ed. Scipione.)
ATIVIDADE DE APRENDIZAGEM:
1) Pesquise e identifique as regiões das respectivas linguagens:
a) Ei. Bichim.. Isso é um assalto... Arriba os braços e num se bula nem faça fumaça...
b) Arrebola o dinheiro no mato e não faça pantim, se não enfio a pexeira no teu bucho e boto
teu fato de fora. Perdão meu Padim Ciço, mas é que eu tou com uma fome da moléstia...
c) Ô sô, prestenção... Isso é um assarto, uai... Levanta os braço e fica quetin quié mió procê...
Esse trem na minha mão tá chei de bala... Mió passá logo os trocados que eu num tô bão
hoje... Vai andando, uai!... Ta esperando que, sô ??
d) Ô guri, fica atento báh... Isso é um assalto... Levanta os braço e te aquieta, tchê!...
e) Não tente nada e cuidado que esse facão corta uma barbaridade, tchê... Passa as pilas pra cá!
E te manda a lá cria, senão o quarenta e quatro fala.
3 Os Níveis de Linguagem
Para que se efetue a comunicação é necessário haver um código comum. Diz-se, em termos
mais gerais, que é preciso ―falar a mesma língua‖: o português, por exemplo, enquanto língua
materna. Mas trata-se de uma língua portuguesa ou de várias línguas portuguesas? O português do
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Maranhão é o mesmo português do Rio Grande do Sul? Não está cada um deles sujeito à influências
diferentes – linguísticas, climáticas, ambientais? O português de um médico é igual ao de seu
cliente? O ambiente social e o cultural não determinam a língua? Estas questões levam à
constatação de que existem níveis de linguagem. O vocabulário, a sintaxe e mesmo a pronúncia
variam segundo esses níveis.
Inicialmente se distingue a língua escrita da língua falada. Admitem os linguistas que no
interior da língua falada existe uma língua comum, conjunto de palavras, expressões e construções
mais usuais, língua tida geralmente como simples, mas correta. A partir desse nível tem-se em
ordem crescente do ponto de vista da elaboração, a linguagem cuidada (ou tensa) e a linguagem
oratória. E no sentido contrário, da informalidade, tem-se a linguagem familiar e a linguagem
informal ou ―popular‖.
Língua Falada Língua Escrita
Linguagem
Oratória Discursos, Sermões
Linguagem literária, cartas e
documentos oficiais. Linguagem Cuidada Cursos, Comunicações Orais
Linguagem Comum Conversação, Rádio, Televisão. Comunicações escritas
comuns.
Linguagem
Familiar Conversação informal “não-elaborada”
Linguagem descuidada,
incorreta, linguagem literária
que procura imitar a língua
falada.
Essas distinções são um pouco fluidas, uma vez que se estabelecem segundo critérios heterogêneos.
A distinção linguagem popular/linguagem cuidada, por exemplo, apoia-se num critério
sociocultural, ao passo que a distinção linguagem informal/linguagem oratória se apoia, sobretudo,
numa diferença de situação. O mesmo indivíduo não empregará a mesma linguagem ao fazer um
discurso e ao conversar com os amigos num bar.
Ademais, na expressão oral, as incorreções gramaticais são geralmente em função de
restrições materiais: dificilmente poderá um comentarista esportivo manter uma linguagem cuidada
ao descrever e comentar uma partida de futebol ao vivo.
De modo geral, a linguagem cuidada emprega um vocabulário mais preciso, mais raro, e
uma sintaxe mais elaborada que a da linguagem comum. A linguagem oratória cultiva os efeitos
sintáticos, ritmos e sonoros e utiliza imagens.
As linguagens familiar e popular recorrem às expressões pitorescas, à gíria e muitas de suas
construções são tidas como ―incorreções graves‖ nos níveis de maior formalidade.
A língua escrita é geralmente, mais elaborada que a língua falada. Aí os níveis são menos
numerosos e diretamente relacionados com o condicionamento sociocultural.
Os vocabulários próprios de determinadas regiões, determinadas profissões, ciências ou
técnicas levam ainda à definição de outros níveis, segundo critérios diferentes. Vê-se, então, que a
noção não é muito precisa. O essencial é ter consciência desses níveis de linguagem na medida em
que determinam o bom funcionamento da comunicação. Tentar adaptar a própria linguagem à do
interlocutor já é efetuar um ato de comunicação.
É difícil imaginar como um professor daria suas aulas se não empregasse uma linguagem
acessível às crianças; entretanto, a preocupação de levar os alunos à utilização da linguagem
comum obriga o mestre a recorrer a uma linguagem um pouco mais trabalhada que a de seus
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ouvintes, tanto no vocabulário quanto na sintaxe. A comunicação envolve, neste caso, uma
reelaboração.
Texto de Francis Vanoye. Usos de Linguagem.)
4 TEXTO E TEXTUALIDADE
COSTA VAL, M. G., Redação e Textualidade.
S. Paulo, Martins Fontes: 1991.
4.1 O que é texto
Para se compreender melhor o fenômeno da produção de textos escritos, importa entender
previamente o que caracteriza o texto, escrito ou oral, unidade linguística comunicativa básica, já
que o que as pessoas têm a dizer umas às outras não são palavras nem frases isoladas, são textos.
Pode-se definir texto ou discurso como ocorrência linguística falada ou escrita, de qualquer
extensão, dotada de unidade sociocomunicativa, semântica e formal.
Antes de mais nada, um texto é uma unidade de linguagem em uso, cumprindo uma função
identificável num dado jugo de atuação sociocomunicativa. Tem papel determinante em sua
produção e recepção uma série de fatores pragmáticos que contribuem para a construção de seu
sentido e possibilitam que seja reconhecido como um emprego normal da língua. São elementos
desse processo as peculiaridades de cada ato comunicativo, tais como: as intenções do produtor; o
jogo de imagens mentais que cada um dos interlocutores faz de si, do outro e do outro com relação
a si mesmo e ao tema do discurso; e o espaço de perceptibilidade visual e acústica comum, na
comunicação face a face. Desse modo, o que é pertinente numa situação pode não o ser em outra. O
contexto sociocultural em que se insere o discurso também constitui elemento condicionante de seu
sentido, na produção e na recepção, na medida em que delimita os conhecimentos partilhados pelos
interlocutores, inclusive quanto às regras sociais da interação comunicativa (uma certa ―etiqueta‖
sociocomunicativa, que determina a variação de registros, de tom de voz, de postura, etc.).
A segunda propriedade básica do texto é o fato de ele constituir uma unidade semântica.
Uma ocorrência linguística, para ser texto, precisa ser percebida pelo recebedor como um todo
significativo. A coerência, fator responsável pelo sentido do texto, será estudada no próximo item.
Finalmente, o texto se caracteriza por sua unidade formal, material. Seus constituintes
linguísticos devem se mostrar reconhecivelmente integrados, de modo a permitir que ele seja
percebido como um todo coeso.
De acordo com o conceito adotado, um texto será bem compreendido quando avaliado sob
três aspectos:
a) o pragmático, que tem a ver com seu funcionamento enquanto atuação informacional e
comunicativa;
b) o semântico-conceitual, de que depende sua coerência;
c) o formal, que diz respeito à sua coesão.
4.2 O que é textualidade
Chama-se textualidade ao conjunto de características que fazem com que um texto seja um
Atividade de Aprendizagem:
Escreva um texto narrativo, no qual são criadas
situações que simulem fatos que necessitem usar níveis de
linguagem diferenciados
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texto, e não apenas uma sequência de frases. Beaugrande e Dressler (1983) apontam sete fatores
responsáveis pela textualidade de um discurso qualquer: a coerência e a coesão, que se relacionam
com o material conceitual e linguístico do texto, e a intencionalidade, a informatividade, a
aceitabilidade, a situacionalidade, a informatividade e a intertextualidade, que têm a ver com os
fatores pragmáticos envolvidos no processo sociocomunicativo.
4.2.1 Coerência e coesão
A coerência resulta da configuração que assumem os conceitos e relações subjacentes
à superfície textual. É considerada o fator fundamental da textualidade, porque é responsável
pelo sentido do texto. Envolve não só aspectos lógicos e semânticos, mas também cognitivos, na
medida em que depende do partilhar de conhecimento entre os interlocutores.
Um discurso é aceito como coerente quando apresenta uma configuração conceitual
compatível com o conhecimento de mundo do recebedor. Essa questão é fundamental. O texto não
significa exclusivamente por si mesmo. Seu sentido é construído não só pelo produtor como
também pelo recebedor, que precisa deter os conhecimentos necessários à sua interpretação. O
produtor do discurso não ignora essa participação do interlocutor e conta com ela. É fácil verificar
que grande parte dos conhecimentos necessários à compreensão dos textos não vem explicita, mas
fica dependente da capacidade de pressuposição e inferência do recebedor.
Assim, a coerência do texto deriva de sua lógica interna, resultante dos significados que sua
rede de conceitos e relações põe em jogo, mas também da compatibilidade entre essa rede
conceitual – o mundo textual – e o conhecimento de mundo de quem processa o discurso.
A coesão é a manifestação linguística da coerência; advém da maneira como os conceitos e
relações subjacentes são expressos na superfície textual. Responsável pela unidade formal do texto,
constrói-se através de mecanismos gramaticais e lexicais.
Entre os primeiros estão os pronomes anafóricos, os artigos, a elipse, a concordância, a
correlação entre os tempos verbais, as conjugações, por exemplos. Todos esses recursos expressam
relações não só entre frases e sequências de frases dentro de um texto.
Já a coesão lexical se faz pela reiteração, pela substituição e pela associação. A reiteração se
dá pela simples repetição de um item léxico e também por processos como a nominalização (ex.: a
retomada, através de um substantivo cognato, da ideia expressa por um verbo, como em
adiar/adiamento ou promover/promoção). A substituição inclui a sinonímia, a antonímia, a
hiponímia (quando o termo substituído representa uma parte ou um elemento e o substituidor
representa o todo ou a classe – ex.: carroça/veículo), e a hiperonímia (quando o termo substituído
representa o todo ou a classe e o substuidor uma parte ou elemento – ex.: objeto/caneta).
Finalmente, a associação é o processo que permite relacionar itens do vocabulário pertinentes a um
mesmo esquema cognitivo (por exemplo, se falamos aniversário, podemos em seguida mencionar
bolo, velinha, presentes, e esses termos serão interpretados como alusivos ao mesmo evento).
A coerência e a coesão têm em comum a característica de promover a interrelação
semântica entre os elementos do discurso, respondendo pelo que se pode chamar de conectividade
textual. A coerência diz respeito ao nexo entre os conceitos e a coesão, à expressão desse nexo no
plano linguístico. É importante registrar que o nexo é indispensável para que uma sequência de
frases possa ser reconhecida como texto. Entretanto, esse texto nem sempre precisa estar explicito
na superfície do texto por um mecanismo de coesão gramatical. Vejamos um exemplo:
(1) O Pedro vai buscar as bebidas. A Sandra tem que ficar com os meninos. A Tereza
arruma a casa. Hoje eu vou precisar da ajuda de todo mundo.
Uma fala como (1) é perfeitamente aceitável, tem coerência, faz sentido. Entretanto não
apresenta marcadores sintáticos específicos que denotem sua coesão. O nexo entre as frases se
constrói não no nível gramatical, mas no nível semântico-cognitivo.
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Por outro lado, uma sequência de frases interligadas por marcadores linguísticos de coesão
que não correspondessem a relações efetivas estabelecidas na estrutura lógico-cognitiva subjacente
não seria um texto. É possível forjar artificialmente um exemplo para ilustrar (normalmente, a
competência textual intuitiva impede que as pessoas produzam sequências desse tipo):
(2) No rádio toca um rock. O rock é um ritmo moderno. O coração também tem ritmo. Ele é
um músculo oco composto de duas aurículas e dois ventrículos.
Em (2), a presença de recursos coesivos interfrasais (a recorrência deitem lexical assinalada
por artigo definido, o articulador também e o pronome ele) não é suficiente para garantir
textualidade à sequência, já que ela não funciona como um todo significativo coerente.
Entretanto, é inegável a utilidade dos mecanismos de coesão como fatores da eficiência do
discurso. Além de tornar a superfície textual estável e econômica, na medida em que fornecem
possibilidades variadas de se promover a continuidade e a progressão do texto, também permitem a
explicitação de relações que, implícitas, poderiam ser de difícil interpretação, sobretudo na escrita.
Nas sequências (3) e (4) abaixo, por exemplo, o nexo é facilmente recobrável pelo leitor,
embora não manifesto na superfície:
(3) A máquina parou. Está faltando energia elétrica.
(4) Choveu. O chão está molhado.
O mesmo não acontece, porém, com as frases de (5a) a (5f). Nestes casos, se a relação
pretendida não vier expressa, o recebedor poderá atribuir ao enunciado sentido diferente do que o
autor queria, sobretudo se, não se tratando de produção oral, não for possível depreender as
intenções do produtor através da entonação. Veja-se:
(5a) Paulo saiu. João chegou.
(5b) Paulo saiu assim que João chegou.
(5c) Paulo saiu, João chegou.
(5d) Paulo saiu, porque João chegou.
(5e) Paulo saiu, apesar de João ter chegado.
(5f) Se Paulo saiu, João deve ter chegado.
Casos similares a (3) e (4) foram estudados por Isenberg (1986), que os interpretou como
possibilidades de ―textualização‖ entre frases assindéticas. O primeiro exemplifica a textualização
por ―conexão causal‖ (a máquina parou porque está faltando energia elétrica) e o segundo, por
―interpretação diagnóstica‖ (pode-se verificar que choveu pelo fato de o chão estar molhado).
Ao contrário, os exemplos (5b-f), inspirados em Garcia (1977: 18-20, 262-264), não podem
dispensar a conjunção, porque o nexo conceitual entre as informações é, digamos, mais frouxo e,
portanto, de processamento não imediato. Há diferentes possibilidades de articulação e, por isso, a
opção por uma delas precisa ser explícita.
Além disso, os recursos coesivos, quando presentes, devem obedecer a padrões prévios,
caso contrário seu emprego será percebido como ―infração textual‖, tornando ―irregular‖ a
sequência em que ocorrem. Alguns dos princípios que orientam o emprego desses recursos serão
lembrados mais adiante.
Resumindo o que foi dito, o fundamental para a textualidade é a relação coerente entre as
ideias. A explicitação dessa relação através de recursos coesivos é útil, mas nem sempre obrigatória.
Entretanto, uma vez presentes, esses recursos devem ser usados de acordo com regras específicas,
sob pena de reduzir a aceitabilidade do texto.
13
4.2.2 Os fatores pragmáticos da textualidade
Entre os cinco fatores pragmáticos estudados por Beaugrande e Dressler (1983), os dois
primeiros referem-se aos protagonistas do ato comunicativo: a intencionalidade e a aceitabilidade.
A intencionalidade concerne ao empenho do produtor em construir um discurso coerente,
coeso e capaz de satisfazer os objetivos que tem em mente numa determinada situação
comunicativa. A meta pode ser informar, ou impressionar, ou alarmar, ou convencer, ou pedir, ou
ofender, etc., e é ela que vai orientar a confecção do texto. (...)
O outro lado da moeda é a aceitabilidade, que concerne à expectativa do recebedor de que o
conjunto de ocorrências com que se defronta seja um texto coerente, coeso, útil e relevante, capaz
de levá-lo a adquirir conhecimentos ou a cooperar com os objetivos do produtor.
Grice (1975, 1978) estabelece máximas conversacionais, que seriam estratégias
normalmente adotadas pelos produtores para alcançar a aceitabilidade do recebedor. Tais estratégias
se referem à necessidade de cooperação (no sentido de o produtor responder aos interesses de seu
interlocutor) e à qualidade (autenticidade), quantidade (informatividade), pertinência e relevância
das informações, bem como à maneira como essas informações são apresentadas (precisão, clareza,
ordenação, concisão, etc.). Mas é possível que, deliberadamente, o produtor queira apresentar um
texto que desrespeite alguma(s) dessas máximas. Tal intenção, reconhecida pelo recebedor, ganhará
função significativa e resultará em efeito de sentido importante no jogo interativo. É o que Grice
chama de ―implicatura conversacional‖: o recebedor prefere supor que a infração aos princípios
conversacionais seja intencional e tenha alguma significação do que simplesmente aceitar que seu
interlocutor possa produzir um discurso impertinente e sem sentido.
Charolles (1978:38) afirma que, em geral, o recebedor dá um ―crédito de coerência‖ ao
produtor: supõe que seu discurso seja coerente e se empenha em captar essa coerência, recobrindo
lacunas, fazendo deduções, enfim, colocando a serviço da compreensão do texto todo conhecimento
de que ele dispõe.
Assim, a comunicação se efetiva quando se estabelece um contrato de cooperação entre os
interlocutores, de tal modo que as eventuais falhas do produtor são percebidas como significativas
(às vezes, o sentido do texto está na sua aparente falta de sentido – cf. a piada), ou são cobertas pela
tolerância do recebedor. A margem de tolerância é tanto maior quanto mais conhecido é o assunto e
mais informal é a situação. O produtor sabe da existência da tolerabilidade e conta com ela, assim
como conta com a capacidade de pressuposição e inferência do recebedor. Essa ―cumplicidade‖ do
recebedor para com o texto é que possibilita que a produção não seja tarefa excessivamente difícil e
tensa e, assim, viabiliza o jogo comunicativo.
O terceiro fator de textualidade, segundo Beaugrande e Dressler (1983), é a
situacionalidade, que diz respeito aos elementos responsáveis pela pertinência e relevância do texto
quanto ao contexto em que ocorre. É a adequação do texto à situação sociocomunicativa.
O contexto pode, realmente, definir o sentido do discurso e, normalmente, orienta tanto a
produção quanto a recepção. Em determinadas circunstâncias, um texto menos coeso e
aparentemente menos claro pode funcionar melhor, ser mais adequado do que outro de
configuração mais completa. Servem de exemplo as inscrições lacônicas das placas de trânsito,
mais apropriadas à situação específica em que são usadas do que um longo texto explicativo ou
persuasivo que os motoristas sequer tivessem tempo de ler.
A conjunção dos três fatores já mencionados resulta numa série de consequências para a
prática comunicativa.
Em primeiro lugar, é importante para o produtor saber com que conhecimentos do
recebedor ele pode contar e que, portanto, não precisa explicitar no seu discurso. Esses
conhecimentos podem advir do contexto imediato ou podem preexistir ao ato comunicativo. Assim,
uma informação aparentemente absurda como o exemplo a seguir, extraído de Elias (1981: 45), fará
sentido para quem souber que Maria sofre de problemas gástricos de fundo nervoso e que passa mal
sempre que come tensa, preocupada com o horário:
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(6) Maria teve uma indigestão embora o relógio estivesse estragado.
Daí vem a noção de coerência pragmática, ou seja, a necessidade de o texto ser reconhecido
pelo recebedor como um emprego normal da linguagem num determinado contexto.
Outra consequência da conjugação desses três fatores de textualidade é a existência dos
diversos tipos de discurso. A praxe acaba por estabelecer que, numa dada circunstância, tendo-se
em mente determinada intenção ilocucional, deve-se compor o texto dessa ou daquela maneira.
Assim, há convenções que regem o funcionamento da linguagem na interação social e que
determinam, especificamente, qual o tipo particular de discurso adequado a cada ato comunicativo.
Essa questão é da maior importância para quem trabalha com o ensino de redação, pois vem daí o
fato de que a textualidade de cada tipo de discurso envolve elementos diferentes. O que é qualidade
num texto argumentativo formal poderá ser defeito num poema, ou numa estória de suspense, ou
numa conversa de botequim, por exemplo. .
O interesse do recebedor pelo texto vai depender do grau de informatividade, de que o
último é portador. Esse é mais um fator de textualidade apontado por Beaugrande e Dressler (1983)
e diz respeito à medida na qual as ocorrências de um texto são esperadas ou não, conhecidas ou não,
no plano conceitual e no formal. Ocorre que um discurso menos previsível é mais informativo,
porque a sua recepção, embora mais trabalhosa, resulta mais interessante, mais envolvente.
Entretanto, se o texto se mostrar inteiramente inusitado, tenderá a ser rejeitado pelo recebedor, que
não conseguirá processá-lo. Assim, o ideal é o texto se manter num nível mediano de
informatividade, no qual se alternam ocorrências de processamento imediato, que falam do
conhecido, com ocorrências de processamento mais trabalhoso, que trazem a novidade.
Para mim, o texto com bom índice de informatividade precisa ainda atender a outro
requisito: a suficiência de dados. Isso significa que o texto tem que apresentar todas as informações
necessárias para que seja compreendido com o sentido que o produtor pretende. Não é possível nem
desejável que o discurso explicite todas as informações necessárias ao seu processamento, mas é
preciso que ele deixe inequívocos todos os dados necessários à sua compreensão aos quais o
recebedor não conseguirá chegar sozinho.
Beaugrande e Dressler (1983) falam ainda de um outro componente de textualidade: a
intertextualidade, que concerne aos fatores que fazem a utilização de um texto dependente do
conhecimento de outro(s) texto(s). De fato, "um discurso não vem ao mundo numa inocente
solitude, mas constrói-se através de um já-dito em relação ao qual ele toma posição". Inúmeros
textos só fazem sentido quando entendidos em relação a outros textos, que funcionam como seu
contexto. Isso é verdade tanto para a fala coloquial, em que se retomam conversas anteriores,
quanto para os pronunciamentos políticos ou o noticiário dos jornais, que requerem o conhecimento
de discursos e notícias já divulgadas, que são tomados como ponto de partida ou são respondidos.
Há aqui uma questão interessante que não é mencionada pelos autores. É que o mais
frequente interlocutor de todos os textos, invocado e respondido consciente ou inconscientemente, é
o discurso anônimo do senso comum, da voz geral corrente. Assim, avaliar a intertextualidade, em
sentido lato, pode significar analisar a presença dessa fala subliminar, de todos e de ninguém, nos
textos estudados1. Por outro lado, como esse discurso é de conhecimento geral, pode-se também
considerá-lo como informação previsível e avaliar sua presença como elemento que faz baixar o
grau de informatividade. Foi essa a minha opção na análise de redações que apresento adiante.
Relacionando os conceitos de texto e textualidade, poder-se-ia dizer, em princípio, que a
unidade textual se constrói, no aspecto sociocomunicativo, através dos fatores pragmáticos
(intencionalidade, aceitabilidade, situacionalidade, informatividade e intertextualidade); no aspecto
semântico, através da coerência; e, no aspecto formal, através da coesão.
É possível, no entanto, repensar esse arranjo, se se considerar que a informatividade e a
intertextualidade dizem respeito, também, à matéria conceitual do discurso, na medida em que
lidam com conhecimentos partilhados pelos interlocutores. Ao mesmo tempo que contribuem para a
1 Para maior aprofundamento, ver Koch (1986) e Guimarães (1986).
15
eficiência pragmática do texto, conferindo-lhe interesse e relevância, esses dois fatores também se
colocam como constitutivos da unidade lógico-semântico-cognitiva do discurso, ao lado da
coerência. Assim, poder-se-ia situá-los a cavaleiro, parte no plano sociocomunicativo, parte no
plano semântico-conceitual. Foi dessa maneira que os considerei neste trabalho.
5 Coesão e Coerência – Devem - se distinguir ?
As noções de coesão e coerência costumam ser abordadas pelo campo da linguística como
fatores que garantem a textualidade, aquilo que diferencia um texto de uma mera sequência de
palavras. A distinção entre os dois conceitos não é unânime na área há um intenso debate sobre as
inter-relações que conectam esses dois termos, havendo inclusive quem defenda se tratar de um só
fator da textualidade.
Há autores que distinguem dois níveis de análise, correspondendo a coesão e coerência,
embora a terminologia possa ser diferente; outros não distinguem e outros ou fazem referência a
apenas um desses fenômenos ou estudam vários de seus aspectos sem qualquer rotulação .
A coesão e a coerência textuais constituem níveis diferentes de análise. Isso porque pode
haver um sequenciamento coesivo de fatos isolados que não têm condição de formar um texto. Por
outro lado, também pode poder haver textos destituídos de coesão mas cuja textualidade se dá no
âmbito da coerência.
A coerência de um texto é facilmente deduzida por um falante de uma língua, quando não se
encontra nenhum sentido lógico entre as proposições de um enunciado oral ou escrito. É a
competência linguística, tomada em sentido amplo, que permite a esse falante reconhecer de
imediato a coerência de um discurso. A competência linguística combina-se com a competência
textual para possibilitar certas operações simples ou complexas da escrita literária ou não literária:
um resumo, uma paráfrase, uma dissertação a partir de um tema dado, um comentário a um texto
literário, etc.
O sistema linguístico está organizado em três niveis: O semântico, o léxico – gramatical, e o
fonológico – ortográfico. Os significados estão codificados como formas e realizadas como
expressões, porém a coesão é obtida através da gramática e parcialmente através do léxico.
5.1 Os Elementos de Transição – Conectivos
A manutenção do tema em uma redação é fundamental para a progressão textual. O
conhecimento de certos termos de transição - conhecidos como conectivos - ajudam a fazer esta
progressão de forma clara, coesa e coerente. Entretanto, há um meio termo para o uso destes
articuladores: não se deve iniciar cada frase com um, mas também não se deve ignorá-los. O redator
deve ter bom senso para perceber quando é necessário usá-los e estabelecer as relações textuais,
sem deixar o texto cansativo – ou seja, exige certa sutileza que só com leitura e treino se adquire. E
lembre-se de que não se escreve um texto bem articulado e uno sem os termos de transição.
Nesse sentido, considera-se que é fundamental saber a ideia que cada um destes conectores
quer passar, visando a utilização adequada. Alguns são para somar uma informação, outros para dar
ênfase, outros são para opor ideias e assim por diante. Abaixo, segue uma lista de alguns destes
termos e suas respectivas funções:
1. ADIÇÃO: e, nem, também, não só... mas também.
2. AFETIVIDADE: felizmente, pudera, ainda bem (que).
3. AFIRMAÇÃO: certamente, com certeza, indubitavelmente, de fato, por certo.
4. ALTERNÂNCIA: ou... ou, quer...quer, seja...seja.
5. CAUSA: porque, já que, visto que, graças a, em virtude de, por (+infinito).
6. COMPARAÇÃO: com, assim como.
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7. CONCESSIVO: mesmo que, ainda que, embora, posto que.
8. CONCLUSÃO: em suma, em síntese, em resumo, logo, portanto, por fim.
9. CONDIÇÃO: se, caso, desde que, a não ser que, a menos que.
10. CONSEQUÊNCIA: com efeito, assim, consequentemente, de modo que, de
sorte que, de forma que, de maneira que.
11. CONTINUIDADE: além de, ainda por cima, bem como, outrossim, também;
12. DÚVIDA: talvez, provavelmente.
13. ÊNFASE: até, até mesmo, no mínimo, no máximo, só.
14. EXCLUSÃO: apenas, exceto, menos, salvo, só, somente, senão.
15. EXPLICAÇÃO: a saber, isto é, por exemplo, pois, porque, porquanto, ou seja.
16. FINALIDADE: para que, afim de que, para (+ infinito).
17. INCLUSÃO: inclusive, também, mesmo, até.
18. OPOSIÇÃO: mas, porém, contudo, entretanto, todavia, mesmo que, apesar de
(+infinito), pelo contrário, ao contrário, diversamente.
19. PRIORIDADE: inicialmente, antes de tudo, acima de tudo, em primeiro lugar.
20. PROPORÇÃO: à medida que, à proporção que, quanto mais, quanto menos.
21. RESTRIÇÃO: apenas, só, somente, unicamente.
22. RETIFICAÇÃO: aliás, ou melhor, digo, retificando.
23. TEMPO: antes, depois, já, posteriormente, quando, logo que, assim que, toda
vez que, enquanto.
OBS: Não é demais lembrar que o contexto onde estiver o texto é que reservará a noção que
se quer dar ao mesmo. A expressão das ideias, portanto, do pensamento, é que irá determinar quais
os elementos mais indicados e que devem ser utilizados para que de fato seja transmitida uma
mensagem clara.
ATIVIDADE DE APRENDIZAGEM:
Pesquise um texto, relacionado à sua área de estudo. Após a definição
do texto, leia-o atentamente, destacando os elementos de coesão textual.
Após destacá-los, classifique-os.
5.2 Como analisar a coesão
Para sistematizar o conceito de coesão Halliday e Hasan (1976) propõem a distinção dos
mecanismos coesivos em cinco categorias, divididas de acordo com o modo como os itens lexicais
e gramaticais relacionam-se com o texto e no texto: referência, Substituição, elipse, conjunção e
coesão lexical.
Para se obter a coesão, é importante a escolha de conectivo adequado para expressar as
diversas relações semânticas, o mesmo conectivo pode expressar relações semânticas diferentes,
pois é preciso saber reconhecê-las. Embora a omissão de conectivos, será admissível, quando a
relação semântica estiver bem clara para evitar ambiguidade (a não ser que seja intencional).
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Os mecanismos de coesão introduzem os argumentos e organizam sua retomada na
sequência do texto: são realizados por um subconjunto de unidades que chamarmos de anáforas
esse procedimento concorrem, portanto, sobretudo para a produção de um efeito de estabilidade e
de continuidade.
A coesão relaciona-se com o modo como os componentes do universo textual conectam-se
numa relação de dependência para a formação de urna sequência linear. Em outras palavras, a
coesão diz respeito aos processos de sequêncialização que asseguram urna ligação linguística entre
os elementos da superfície textual.
5.3 Coesão Referencial
Pode ser caracterizada pela alta repetição do texto falado e é perceptível com facilidade isso
acontece para facilitar o sentido da fala.
Certos itens na língua que tem função de estabelecer referência, ou seja, não são
interpretados semanticamente por um sentido próprio, mas referem-se a alguma coisa necessária a
sua interpretação.
O leitor/alocutário relaciona determinado signo a um objeto tal como ele percebe dentro da
cultura em que vive. A coesão referencial pode ser obtida por substituição e por reiteração.
A proforma (elemento gramatical representante de uma categoria), ligada na substituição,
podem ser pronominais, verbais, adverbiais, numerais e exercem função de pró – sintagma, pró –
constituinte, ou pró – oração.
Analisando a reiteração que se baseia na repetição de expressões no texto, ou a recorrência
de termos, produz o que se chama de coesão sequencial parafrástica. Nessa repetição, um novo
sentido vai sendo impresso à palavra que está sendo repetida. Não é, portanto, uma repetição pura e
simples, mas adquire um novo significado, pois vai contribuindo para intensificar os diferentes
efeitos.
Manifesta-se também através da anáfora (algo que será dito posteriormente)
E também o estabelecimento das referências pode se dar tanto pela referência endofórica
(entre elementos do próprio texto) como pela referência exofórica (entre elementos do texto e
outros dados da realidade exterior – situação).
Podemos então citar alguns exemplos:
Carla e André namoram há um ano. Eles se conheceram no segundo colegial (endofórica).
Você se arrependerá por não ter feito aquela prova anterior (exóforica).
5.4 Coesão Recorrencial
Caracteriza-se pela repetição de algum tipo de elemento anterior que não funciona, a
exemplo do caso da coesão referencial, como uma alusão ao mesmo referente, mas como uma
―recordação‖ de um mesmo padrão. Ela pode aparecer de várias formas:
a) A recorrência de termos: Rosa falava, falava, falava...
b) O paralelismo, que consiste na recorrência da mesma estrutura sintática: Pão no
forno, água na garrafa e fruta na geladeira não alimentam.
c) A paráfrase, que se refere à recorrência de conteúdos semânticos, marcada por
expressões introdutórias como, isto é: Ela não compareceu, ou seja, sumiu.
d) Recursos fonológicos, ou sons, caso da rima: A bola não ficou triste, a bola alegre
resiste.
5.5 Coesão Sequencial
É estabelecida por elementos que fazem o texto progredir, a partir da conexão por eles
operacionalizada. Esses elementos são os conectivos, termos que estabelecem uma relação
semântica a partir do sentido que expressam. Esse tipo de mecanismo de coesão se refere ao
desenvolvimento textual propriamente dito, ora por procedimentos de manutenção temática, com o
emprego no mesmo campo semântico, ora por meio de processos de progressão temática.
A progressão temática pode realizar-se por meio da satisfação de compromissos textuais
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anteriores ou por meio de novos acréscimos ao texto.
5.5.1 Sequenciação por conexão
Está interdependência semântica ou programática é expressa por operadores do tipo lógico,
operadores discursivos e pausas.
Os operadores do tipo lógico podem estabelecer relações de:
Disjunção, Condicionalidade, Causalidade, Mediação, complementação, e restrição ou
delimitação.
Já os operadores do discurso, podem ser, por exemplo, de: Conjunção, Disjunção,
contrajunção, conclusão, explicação e comparação.
Atividades coesão textual
1. Nestas questões, apresentamos alguns segmentos de discurso separados por ponto final. Retire o
ponto final e estabeleça entre eles o tipo de relação que lhe parecer compatível, usando para isso os
elementos de coesão adequados.
a) O solo do Nordeste é muito seco e aparentemente árido. Quando caem as chuvas, imediatamente
brota a vegetação.
b) Uma seca desoladora assolou a região Sul, principal celeiro do país. Vai faltar alimento e os
preços vão disparar.
c) Inverta a posição dos segmentos contidos na questão 2 e use o conectivo apropriado:
Vai faltar alimento e os preços vão disparar. Uma seca desoladora assolou a região sul, principal
celeiro do país.
d) O trânsito em São Paulo ficou completamente paralisado dia 15, das 14 às 18 horas. Fortíssimas
chuvas inundaram a cidade.
2. Estas questões apresentam problemas de coesão por causa do mau uso do conectivo, isto é, da
palavra que estabelece a conexão. A palavra ou expressão conectiva inadequada vem em destaque.
Procure descobrir a razão dessa impropriedade de uso e substituir a forma errada pela correta.
a) Em São Paulo já não chove há mais de dois meses, apesar de que já se pense em racionamento de
água e energia elétrica.
b) As pessoas caminham pelas ruas, despreocupadas, como se não existisse perigo algum, mas o
policial continua folgadamente tomando o seu café no bar.
c) Talvez seja adiado o jogo entre Botafogo e Flamengo, pois o estado do gramado do Maracanã
não é dos piores.
d) Uma boa parte das crianças mora muito longe, vai à escola, com fome, onde ocorre o grande
número de desistências.
3. Os parágrafos apresentados a seguir têm problemas estruturais devido à falta de coesão entre as
orações que os constituem. Procure reescrevê-los fazendo apenas as alterações necessárias para
eliminar os problemas identificados.
a) Embora ele seja conhecido por todos e apesar de conviverem com João há dez anos ninguém
sabe se ele gosta de futebol.
b) Depois que surgiu a internet, a impressão que se tem é de que o mundo diminuiu de tamanho,
não no sentido literal, apenas porque as distâncias parecem não existir mais.
c) Fiquei decepcionado com os resultados do jogo e quando meu irmão me disse que eu não iria
poder sair com ele aquela noite.
d) Escutamos uma pessoa forçando a janela da sala e um barulho.
4. Na elaboração dos períodos, a mesma palavra foi utilizada várias vezes. Reescreva-os utilizando-
se de outros mecanismos coesivos que não seja a repetição.
a) Eu falei com ele que você não queria que os pintores ficassem trabalhando o dia todo porque eles
não sabem que o silêncio é indispensável para que você possa se concentrar e trabalhar.
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b) Muitos alunos confessaram que não haviam estudado a matéria que caiu na prova de Matemática
que foi marcada para aquele dia pelo professor que a elaborou.
c) Pediram que eu devolvesse o filme que me foi emprestado pela biblioteca da escola no fim do
bimestre que passou para que ele pudesse ser emprestado a outro aluno.
6 Reformulando a noção de coerência
É a harmonia das informações. É ligar as ideias de forma linear e sequencial de modo à
formar um texto equilibrado. Portanto:
Coloque apenas as ideias que interessam;
Selecione os tópicos mais importantes e procure detalhá-los;
A coerência é o oposto da imprecisão e das ideias soltas, sem qualquer ligação entre
elas.
A palavra chave da coerência é lógica. À clareza, à concisão e à coerência acrescenta-se mais três elementos de suma importância
para a comunicação escrita: musicalidade, leitura e elegância.
Os fatores de coesão são os que dão conta da estruturação da sequência superficial do texto,
e os de coerência, os que dão conta do processo do texto, emitindo uma análise mais profunda do
mesmo.
Deste modo, um texto não é em si, coerente ou incoerente, ele é o objetivo principal para um
leitor/alocutário numa determinada situação, pois sabemos que texto exige um pouco de
conhecimento e modernismo.
A coerência opera dois níveis de aquisição de conhecimentos: razão e experiência. Nela
distingue-se dois tipos de conhecimento: o declarativo e o procedimental.
Conhecimento declarativo: é aquele dado por sentenças e preposições, que organizam os
conhecimentos a respeito de situações, eventos e fatos do mundo real e entre as quais se
estabelecem relações do tipo lógico como de generalização, especificação, causalidade etc.
Conhecimento procedimental: é aquele dado pelos fatos ou convicções num determinado
formato, para um uso determinado. Tal conhecimento, armazenado na memória episódica através de
determinados modelos globais, é culturalmente construído através da experiência e trazido na
memória ativa.
Esses conhecimentos determinam a produção de sentido e consequentemente a coerência, e
estão armazenados na memória em estruturas cognitivas:
6.1 As estruturas Cognitivas
Trata-se de uma constelação de conhecimentos armazenados, na memória semântica e na
memória episódica, em unidades consistentes, porém não monolíticas ou estanques. Embora não
exaustiva dos conceitos, distingue-se como primários e secundários.
As estruturas cognitivas mudam através dos processos de adaptação: assimilação e
acomodação. A assimilação envolve a interpretação de eventos em termos de estruturas cognitivas
existentes, enquanto que a acomodação se refere à mudança da estrutura cognitiva para
compreender o meio. O desenvolvimento cognitivo consiste de um esforço constante para se
adaptar ao meio em termos de assimilação e acomodação.
6.1.1 modelos cognitivos globais
Entre os modelos cognitivos globais, os frames funcionam como um tipo básico auxiliar na
compreensão de textos. São modelos globais que contêm o conhecimento do senso comum sobre
um conceito central, por exemplo: Natal, viagem aérea, estabelecem quais as coisas que, em
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princípio, são componentes de um todo, mas não estabelecem entre eles uma ordem ou sequência
(lógica ou temporal).
A teoria dos frames foi proposta por Minsky,dentro de uma perspectiva cognitiva, e como o
próprio titulo da obra o indica, trata-se de um mecanismo de armazenagem de conhecimento por
computadores, ou seja, como representar o conhecimento na linguagem artificial de forma que se
aproxime da linguagem natural .
Atividades Coerência
EMBALADA (autor desconhecido)
Oi que lá vinha pelo rio uma pedra boiano
em riba dessa pedra, três navegador
um deles era cego, nada enxergando
o outro não tinha braço, pois o trem cortou,
mas deles o terceiro era o mais sem-vergonha,
pois estava nuzinho como Deus criou
eis que chegando adiante o cego num berreiro
olhando para o fundo, "olha um tostão" gritou
e ouvindo isso o tal que era aleijado
metendo a mão no fundo o tostão apanhou
e o tal que estava nu tendo o tostão tomado
mais que ligeirinho no bolso guardou...
EXERCÍCIOS
01. No poema popular há 4 erros de coerência. Encontre-os:
a)..................................................................................................
b)..................................................................................................
c)..................................................................................................
d)..................................................................................................
02.Há também 3 erros de coesão. Encontre-os:
a)...................................................................................................
b)...................................................................................................
c)...................................................................................................
03.Dizer se há erro de coerência ou coesão nas orações abaixo:
a) Uma seca desoladora assolou a região sul, principal celeiro do país. Vai faltar alimentos e os
preços vão disparar. (...............................................)
b) Paulo comprou um carro. O freio esta pifado. Assim que ele desceu a serra de São Vicente, um
boi atravessou a estrada e ele teve que dar uma freada brusca (.......................)
c) Carlos ganha um salário mínimo por mês. Como dia 15 de outubro foi o seu aniversário, ele deu
uma grande festa a seus amigos e gastou todo o salário do mês, ou seja, 900 reais. (..........)
d) A partir do mês de agosto os Estados Nordestinos vão exportar maçãs para a Argentina.
(..........................................)
04.Dizer se há erro de coesão ou coerência:
a) Como Joana não sabia ler, comprou um livro (Erro de coerência)
b) Paulo falou a verdade, ninguém acreditou (Erro de coesão)
c) O acidente foi provocado pelo cego que dirigia (..................................)
21
d) O rapaz comeu um bolo, ficou doente (................................)
e) Cheguei lá já era tarde (....................................)
f) Vamos o sul hoje (...................................)
g) Entrei saí logo (......................................)
h) Deus fez o mundo em um dia e descansou sete (.......................................)
i) Falei a verdade ele não entendeu (.................................................)
j) Mário pegou um avião e foi resolver um problema em São Paulo. Como a estrada estava muito
ruim, Mário começou a sentir-se mal.(...........................................)
m) Pedro precisa de dinheiro tem muitos filhos criar (..............................................)
n) Jonas não tem dinheiro comprou uma fazenda com mil cabeças de gado e começou a exportar
computadores. (.................................................)
o) Macela estava grávida. Sentindo-se muito mal o marido foi internado rapidamente e teve um
robusto filho.(..........................................)
p) Carlos não estuda, tira notas boas na escola (........................................)
q) Cheguei, todos tinham saído (................................................)
r) Como é fresquinho o continente africano. No Saara o rio Nilo corre suavemente. (................)
s) Como Carlos não tinha caneta começou a escrever um belo poema (....................................)
t) Um grupo de alunos chegou e começaram o trabalho (................................)
u) Quando José morreu, convidei todos os meus amigos e fomos lá comemorar a sua partida.
(..................................................)
7 O Parágrafo
Ninguém chega à escrita sem antes ter passado pela leitura. Mas leitura aqui não significa
somente a capacidade de juntar letras, palavras, frases. Ler é muito mais que isso. É compreender a
forma como está tecido o texto. Ultrapassar sua superfície e aferir da leitura seu sentido maior, que
muitas vezes passa despercebido a uma grande maioria de leitores. Só uma relação mais estreita do
leitor com o texto lhe dará esse sentido. Ler bem exige tanta habilidade quanto escrever bem.
Leitura e escrita complementam-se. Lendo textos bem estruturados, podemos apreender os
procedimentos linguísticos necessários a uma boa redação.
Numa primeira leitura, temos sempre uma noção muito vaga do que o autor quis dizer. Uma
leitura bem feita é aquela capaz de depreender de um texto ou de um livro a informação essencial.
Tudo deve ajustar-se a elas de forma precisa. A tarefa do leitor é detectá-las, a fim de realizar uma
leitura capaz de dar conta da totalidade do texto.
Por adquirir tal importância na arquitetura textual, as palavras-chave normalmente aparecem
ao longo de todo o texto das mais variadas formas: repetidas, modificadas, retomadas por
sinônimos. Elas pavimentam o caminho da leitura, levando-nos a compreender melhor o texto.
Além disso, fornecer a pista para uma leitura reconstrutiva porque nos levam à essência da
informação.
Após encontrar as palavras-chave de um texto, devemos tentar reescrevê-lo, tomando-as como
base. Elas constituem seu esqueleto.
Muitas vezes temos dificuldades para chegar à síntese de um texto só pelas palavras-chave.
Quando isso acontece, a melhor solução é buscar suas ideias-chave. Para tanto é necessário
sintetizar a ideia de cada parágrafo. Um parágrafo padrão inicia-se por uma introdução em que se encontra a ideia principal
desenvolvida em mais períodos. Segundo a lição de Othon M. Garcia em sua Comunicação em prosa
moderna (p. 192), denomina-se tópico frasal essa introdução. Depois dela, vem o desenvolvimento e
pode haver a conclusão. Um texto de parágrafo:
“Em todos os níveis de sua manifestação, a vida requer certas condições dinâmicas
22
, que atestam a dependência mútua dos seres vivos. Necessidades associadas à alimentação,
ao crescimento, à reprodução ou a outros processos biológicos criam, com frequência, relações
que fazem do bem-estar, da segurança e da sobrevivência dos indivíduos matérias de interesse
coletivo”.
FERNANDES, Florestan. Elementos de sociologia teórica 2. ed. São Paulo: Nacional, 1974, p. 35.
Neste parágrafo, o tópico frasal é o primeiro período (Em .... vivos). Segue-se o desenvolvimento
especificando o que é dito na introdução. Se o tópico frasal é uma generalização, e o desenvolvimento constitui-se de especificações, o
parágrafo é, então, a expressão de um raciocínio dedutivo. Vai do geral para o particular: Todos devem
colaborar no combate às drogas. Você não pode se omitir. Se não há tópico frasal no início do parágrafo e a síntese está na conclusão, então o método é
indutivo, ou seja, vai do particular para o geral, dos exemplos para a regra: João pesquisou, o grupo
discutiu, Lea redigiu. Todos colaborando, o trabalho é bem feito.
23
Noções de Parágrafo (Comunicação e Socialização)
Lembre-se o leitor como se fez gente: sua casa, seu bairro, sua escola, seus amigos. A
comunicação foi o canal pelo qual os padrões de vida de sua cultura foram-lhe transmitidos, através
do qual aprendeu a ser ―membro‖ de sua sociedade – de sua família, de seu grupo de amigos, de sua
vizinhança, de sua nação. Foi assim que adotou a sua ―cultura‖, isto é, os modos de pensamento e
de ação, suas crenças e valores, seus hábitos e tabus. Isso não ocorreu por ―instrução‖, pelo menos
antes de ir para a escola: ninguém lhe ensinou propositadamente como está organizada a sociedade
e o que pensa e sente a sua cultura. Isso aconteceu indiretamente, pela experiência acumulada de
numerosos pequenos eventos, insignificantes em si mesmos, através dos quais travou relações com
diversas pessoas e aprendeu naturalmente a orientar seu comportamento para o que ―convinha‖.
Tudo isso foi possível graças à comunicação. Não foram os professores na escola que lhe ensinaram
sua cultura: foi a comunicação diária com os pais, irmãos e/ou amigos, na casa, na rua, nas lojas, no
ônibus, no jogo, no botequim, na igreja, que lhe transmitiu as qualidades essenciais da sociedade e a
natureza do ser social.
Contrariamente ao que alguns pensam, a comunicação é muito mais do que os meios de
comunicação social. Esses meios são tão poderosos e importantes na vida atual, que as vezes se
esquece que eles representam apenas uma mínima parte da comunicação total.
Alguém fez, uma vez, uma lista dos atos de comunicação que um homem qualquer realiza
desde que se levanta pela manhã até a hora de deitar-se, no fim do dia. A quantidade de atos de
comunicação é simplesmente inacreditável, desde o ―bom-dia‖ à sua mulher, acompanhado ou não
por um beijo, passando pela leitura do jornal, à decodificação de números e cores dos ônibus, que o
leva ao trabalho. O pagamento ao cobrador, a conversa com o companheiro de banco, os
cumprimentos aos colegas no escritório, o trabalho com documentos, recibos, relatórios, as reuniões
e entrevistas. A visita ao banco e as conversas com seu chefe, os inúmeros telefonemas, o papo
durante o almoço, a escolha do prato do menu, a conversa com os filhos no jantar, o programinha de
televisão, o diálogo amoroso com sua mulher antes de dormir, e o ato final de comunicação num dia
cheio dela: ―boa-noite‖.
A comunicação confunde-se, assim, com a própria vida. Somente se percebe a sua essencial
importância quando, por um incidente ou uma doença, se perde a capacidade de se comunicar. A
comunicação é uma necessidade básica da pessoa humana, do homem social. (Texto de Juan Díaz Bordenave)
ATIVIDADE DE APRENDIZAGEM:
Analisando o texto acima ―Comunicação e socialização‖ observe que no primeiro
parágrafo, o desenvolvimento segue três etapas:
a) uma introdução, que vai de ―Lembre-se o leitor...‖ até ―... de sua nação‖. É o ponto em que o
autor apresenta o assunto: a aquisição da cultura via comunicação.
b) um desenvolvimento, que vai de ―Foi assim que...‖ até ―... para o que ‗convinha‘‖. Nessa
altura, o autor expõe como o cotidiano comunicativo forma o ser social.
c) uma conclusão, que vai de ―Tudo isso foi possível...‖ até o final. O autor explicita sua
colocação: é a comunicação cotidiana que transmite à criança os valores sociais.
Prezado estudante, considera-se que o desenvolvimento desse parágrafo pode servir de
modelo para muitos dos seus próprios parágrafos. Note como a sequência lógica
introdução/desenvolvimento/conclusão permite uma exposição clara e precisa dos aspectos
discutidos. Nesse sentido, a sua tarefa é: Elabore um parágrafo, devidamente estruturado, conforme
orientações acima. O tema é: ―A importância da leitura e da escrita‖.
24
7.1 A PARAGRAFAÇÃO NO/DO TEXTO DISSERTATIVO
(Partes deste capítulo foram adaptados/tirados de PACHECO, Agnelo C. A dissertação. São Paulo:
Atual, 1993 e de SOBRAL, João Jonas Veiga. Redação: Escrevendo com prática. São Paulo: Iglu,
1997)
O texto dissertativo é o tipo de texto que expõe uma tese (ideias gerais sobre um
assunto/tema) seguida de um ponto de vista, apoiada em argumentos, dados e fatos que a
comprovem.
―A leitura auxilia o desenvolvimento da escrita, pois, lendo, o indivíduo tem contato com
modelos de textos bem redigidos que, ao longo do tempo, farão parte de sua bagagem
lingideiaística; e também porque entrará em contato com vários pontos de vista de intelectuais
diversos, ampliando, dessa forma, sua própria visão em relação aos assuntos. Como a produção
escrita se baseia praticamente na exposição de ideias por meio de palavras, certamente aquele que lê
desenvolverá sua habilidade devido ao enriquecimento linguístico adquirido através da leitura de
bons autores.‖
No texto acima temos uma ideia defendida pelo autor:
TESE/TÓPICO FRASAL: ―A leitura auxilia o desenvolvimento da escrita.‖Em seguida o autor
defende seu ponto de vista com os seguintes argumentos:
ARGUMENTOS:
(1)―...lendo o indivíduo tem contato com modelos de textos bem redigidos
que ao longo do tempo farão parte de sua bagagem linguística e, também, porque entrará em
contato com vários pontos de vista de intelectuais diversos, ampliando, dessa forma, a sua própria
visão em relação aos assuntos.‖
E por fim, comprovada a sua tese, veja que a ideia desta é recuperada:
CONCLUSÃO: ―Como a produção escrita se baseia praticamente na exposição de ideias por meio
de palavras, certamente aquele que lê desenvolverá sua habilidade devido ao enriquecimento
linguístico adquirido através da leitura de bons autores.‖
Observe como o texto dissertativo tem por objetivo expressar um determinado ponto de
vista em relação a um assunto qualquer e convencer o leitor de que este ponto de vista está correto.
Poderíamos afirmar que o texto dissertativo é um exercício de cidadania, pois nele o indivíduo
exerce seu papel de cidadão, questionando valores, reivindicando algo, expondo pontos de vista,
etc.
Pode-se dizer que:
A paragrafação com tópico frasal seguido pelo desenvolvimento é uma forma de organizar o raciocínio e
a exposição das ideias de maneira clara e facilmente compreensível. Quando se tem um plano em que os tópicos
principais foram selecionados e dispostos de modo a haver transição harmoniosa de um para outro, é fácil redigir.
O TÓPICO FRASAL DO PARÁGRAFO: geralmente vem no começo do parágrafo, seguida de
outros períodos que explicam ou detalham a ideia central e podem ou não concluir a ideia deste
parágrafo.
25
O DESENVOLVIMENTO DO PARÁGRAFO: é a explanação da ideia exposta no tópico frasal.
Devemos desenvolver nossas ideias de maneira clara e convincente, utilizando argumentos e/ou
ideias sempre tendo em vista a forma como iniciamos o parágrafo.
A CONCLUSÃO DO PARÁGRAFO encerra o desenvolvimento, completa a discussão do assunto
(opcional)
7.2 FORMAS DISCURSIVAS DO PARÁGRAFO
A) DESCRITIVO: a matéria da descrição é o objeto. Não há personagens em movimento (atemporal).
O autor/produtor deve apresentar o objeto, pessoa, paisagem etc, de tal forma que o leitor consiga
distinguir o ser descrito.
B) NARRATIVO: a matéria da narração é o fato. Uma maneira eficiente de organizá-lo é
respondendo à seis perguntas: O quê? Quem? Quando? Onde? Como? Por quê?
C) DISSERTATIVO: a matéria da dissertação é a análise (discussão).
ELABORAÇÃO/ PLANEJAMENTO DE PARÁGRAFOS
a) Ter um assunto
b) Delimitá-lo, traçando um objetivo: o que pretende transmitir?
c) Elaborar o tópico frasal; desenvolvê-lo e concluí-lo
8 O PARÁGRAFO COMO UNIDADE DE COMPOSIÇÃO
8.1 Parágrafo-padrão
O parágrafo é uma unidade de composição constituída por um ou mais de um período, em
que se desenvolve determinada ideia CENTRAL, ou NUCLEAR, a que se agregam outras,
SECUNDÁRIAS, intimamente relacionadas pelo sentido e logicamente decorrentes dela.
Trata-se, evidentemente, de uma definição, ou conceito, que a prática nem sempre confirma,
pois, assim como há vários processos de desenvolvimento ou encadeamento de ideias, pode haver
também diferentes tipos de estruturação de parágrafo, tudo dependendo, é claro, da natureza do
assunto e sua complexidade, do gênero de composição, do propósito, das idiossincrasias e
competência (COMPETENCE) do autor, tanto quanto da espécie de leitor a que se destine o texto. De
forma que esse conceito se aplica a um tipo de parágrafo considerado como padrão, e padrão não
apenas no sentido de modelo, de protótipo, que se deva ou que convenha imitar, dada a sua eficácia,
mas também no sentido de ser frequente, ou predominante, na obra de escritores — sobretudo
modernos — de reconhecido mérito. Tal critério nos leva, por conseguinte, a resistir à tentação de...
de... tentar sistematizar o que é assistemático, quer dizer, de procurar características comuns e
constantes em parágrafos carentes de estrutura típica. Isso, todavia, não nos impede de apontar e/ou
comentar exemplos tanto dos que, fugindo à norma, se distinguem pela eficácia dos recursos de
expressão e do desenvolvimento de ideias, quanto dos que, também atípicos — mas atípicos por
serem produto da inexperiência ou do arbítrio inoperante —, denunciam desordem de raciocínio
(incoerências, incongruências, falta de unidade, hiatos lógicos, falta de objetividade e outros
defeitos) e, por isso, revelam-se ineficazes como forma de comunicação.
26
8.2 Importância do parágrafo
Indicado materialmente na página impressa ou manuscrita por um ligeiro afastamento da
margem esquerda da folha, o parágrafo facilita ao escritor a tarefa de isolar e depois ajustar
convenientemente as ideias principais da sua composição, permitindo ao leitor acompanhar-lhes o
desenvolvimento nos seus diferentes estágios.
Como unidade de composição "suficientemente ampla para conter um processo completo de
raciocínio e suficientemente curta para nos permitir a análise dos componentes desse processo, na
medida em contribuem para a tarefa da comunicação‖, o parágrafo oferece aos professores
oportunidades didáticas de aproveitamento, em certa medida, mais eficaz do que todo o contexto de
uma composição, pelas razões que apontaremos em tópicos subsequentes.
8.3 Extensão do parágrafo
Tanto quanto sua estrutura, varia também sua extensão: há parágrafos de uma ou duas linhas
como os há de página inteira. E não é apenas o senso de proporção que deve servir de critério para
bitolá-lo, mas também, principalmente, o seu núcleo, a sua ideia central. Ora, se a composição é um
conjunto de ideias associadas, cada parágrafo — em princípio, pelo menos — deve corresponder a
cada uma dessas ideias, tanto quanto elas correspondem às diferentes partes em que o Autor julgou
conveniente dividir o seu assunto.
É, pois, da divisão do assunto que depende, em grande monta, a extensão do parágrafo,
admitindo-se, por evidente, que as ideias mais complexas se possam desdobrar em mais de um
parágrafo.
É verdade, como já assinalamos, que idiossincrasias pessoais nem sempre levam em
consideração esse critério, do que resulta, muitas vezes, uma paragrafação arbitrária: a ideia-núcleo
fragmentada em grupos de linhas que do parágrafo só têm a disposição tipográfica, como se pode
ver no seguinte exemplo:
Consideremos, por ora, apenas as dez primeiras linhas. Trata-se de um trecho descritivo,
27
passível de nova disposição tipográfica, pois, na realidade, encontramos nele matéria para apenas
um parágrafo e não cinco.
Se o núcleo do parágrafo de dissertação e de argumentação é uma determinada ideia, se o da
narração é um incidente (episódio curto), o da descrição é ou deve ser um quadro, i. e., um
fragmento de paisagem ou ambiente num determinado instante, entrevisto de determinada
perspectiva.
Ora, o núcleo dessas dez linhas é o amanhecer, entrevisto de certa perspectiva; esse é o seu
quadro , a que, em princípio, deveria corresponder um só parágrafo, admitindo-se apenas que a
primeira linha se isolasse das restantes como uma espécie de introdução posta em realce com o
propósito de enunciar, de saída, o aspecto geral da paisagem. Na realidade, "Estávamos em plena
seca" nada mais é do que uma espécie de subtítulo de toda a narrativa, a que o Autor dá o nome de
"O bebedouro‖.
Dando ao trecho essa disposição tipográfica em pequenos blocos, o Autor fracionou o que já
era um fragmento da paisagem, separando das ideias secundárias correlatas a ideia-núcleo de
"amanhecer", cuja característica principal é o cambiar de cores e luzes (crepúsculo fulvo, claridade
de incêndio, pretidão da noite, luz mais viva, assomo de Sol, ausência de nuvens) e o delinear-se
gradativo do perfil da paisagem (contorno da floresta, silhueta das montanhas, ramaria seca das
árvores).
Entretanto, as linhas 11, 12 e 13 correspondem realmente a um parágrafo, pois seu núcleo já
não é o amanhecer, mas a "floresta despida", focalizada mais de perto, com outra perspectiva. Se,
nas dez linhas iniciais, o que o Autor pretendeu realçar foi a impressão visual da paisagem, a sua
intenção nas três seguintes foi traduzir-lhe a repercussão emotiva: "a floresta completamente
despida... era de uma eloquência trágica‖.
As restantes (14 a 19) deveriam por sua vez agrupar-se num só parágrafo: seu quadro ainda
é o amanhecer, mas o propósito do Autor é, agora, traduzir não as impressões visuais e sim as
predominantemente auditivas (trinado, zumbir, silêncio, gemidos, crocitar).
Estamos vendo assim que não é apenas o núcleo (no caso da descrição, o quadro) que
justifica a paragrafação, mas também a perspectiva em que se coloca o Autor e a prevalência das
impressões (visual, no primeiro parágrafo; auditiva, no último, de acordo com a estruturação que
estamos propondo).
Em certos casos específicos, a brevidade do parágrafo decorre da própria natureza do
assunto. É o que acontece nos diálogos, nas cartas comerciais, nos sumários, conclusões, instruções
ou recomendações (parágrafos geralmente numerados), na redação oficial de um modo geral
(ofícios, avisos, editais, etc.) e nos propriamente ditos parágrafos, itens e alíneas de leis e decretos.
8.4 Tópico frasal
Em geral, o parágrafo-padrão, aquele de estrutura mais comum e mais eficaz — o que
justifica seja ensinado aos principiantes —, consta, sobretudo na dissertação e na descrição, de duas
e, ocasionalmente, de três partes: a introdução , representada na maioria dos casos por um ou dois
períodos curtos iniciais, em que se expressa de maneira sumária e sucinta a ideia-núcleo (é o que
passaremos a chamar daqui por diante de Tópico frasal), o desenvolvimento, isto é, explanação
mesma dessa ideia-núcleo; e a conclusão , mais rara, mormente nos parágrafos pouco extensos ou
naqueles em que a ideia central não apresenta maior complexidade.
Constituído habitualmente por um ou dois períodos curtos iniciais, o tópico frasal encerra de
modo geral e conciso a ideia-núcleo do parágrafo. E, como vimos em 2. Voe, 2.0 uma generalização
, em que se expressa opinião pessoal, um juízo, se define ou se declara alguma coisa. É certo que
nem todo parágrafo apresenta essa característica: algumas vezes a ideia-núcleo está como que
diluída nele ou já expressa num dos precedentes, sendo apenas evocada por palavras de referência
(certos pronomes) e partículas de transição (ver 4.4.4). Mas a maioria deles é assim construída.
Pesquisa que fizemos em muitas centenas de parágrafos de inúmeros autores permite-nos afirmar
com certa segurança que mais de 60% deles apresentam tópico frasal inicial. Essa proporção vem
28
sendo ainda confirmada praticamente todos os dias em nossas aulas, principalmente particulares,
quando damos como exercício aos nossos alunos a tarefa de estudar a estrutura de parágrafos por
eles mesmos escolhidos nas mais variadas fontes (livros, editoriais da imprensa diária, artigos de
revista).
É provável que tal estrutura, predominante também em muitas línguas modernas, todas indo-
europeias, todas marcadas pela herança greco-latina, decorra de um processo de raciocínio
dedutivo. De fato, que é o tópico frasal, quando inicial, se não uma generalização a que se seguem
as especificações contidas no desenvolvimento? esse modo de assim expor ou explanar ideias é, em
essência, o método dedutivo: do geral para o particular . Quando o tópico frasal vem no fim do
parágrafo — e neste caso é, realmente, a sua conclusão —, precedido pelas especificações, o
método é essencialmente indutivo: do particular para o geral.
Se a maioria dos parágrafos apresenta essa estrutura, é natural que a tomemos como padrão
para ensiná-la aos nossos alunos. Assim fazendo, haveremos de verificar que o tópico frasal
constitui um meio muito eficaz de expor ou explanar ideias. Enunciando logo de saída a ideia-
núcleo, o tópico frasal garante de antemão a objetividade, a coerência e a unidade do parágrafo,
definindo-lhe o propósito e evitando digressões impertinentes. É isso que se vê no seguinte exemplo
de Gilberto Amado: O Brasil é a primeira grande experiência que faz na história moderna a espécie humana
para criar um grande país independente, dirigindo-se por si mesmo, debaixo dos trópicos.
Somos os iniciadores, os ensaiadores, os experimentadores de uma das mais amplas,
profundas e graves empresas que ainda se acharam em mãos da humanidade. Os
navegadores das descobertas que chegaram até nós impelidos pela vibração matinal da
Renascença, cumpriram um feito que terminava com o triunfo na luz da própria glória; belo
era o país que descobriam, opulenta a terra que pisavam, maravilhoso o mundo que em
redor se desdobrava; podiam voltar, contentes, que tudo para eles se cumprira. (Três livros,
p. 332)
O primeiro período — grifado, aliás, pelo próprio Autor, com a intenção de mostrar que se
trata de ideia central do parágrafo — constitui o tópico frasal, que traduz uma declaração sobre o
Brasil como país independente. O rumo das ideias a serem desenvolvidas já está aí traçado:
seria desconcertante se o Autor não explanasse, justificando, fundamentando , nas linhas
seguintes, o que anunciou nas três primeiras. O seu propósito já está definido. Se o Autor julgasse
oportuno fazer digressões, o próprio tópico frasal o controlaria, impedindo-o de ultrapassar certos
limites, além dos quais elas se tornariam descabidas, e forçando-o a voltar antes do fim ao mesmo
rumo de ideias que tomara no princípio.
Na hipótese de o trabalho ter sido composto à base de um plano ou esquema, mais ou menos
minucioso, pode o conteúdo do parágrafo já estar aí previsto como um dos seus itens, até mesmo na
sua forma definitiva de tópico frasal, se não for muito extenso. Assim sendo, na redação final,
poderá o autor limitar-se a desenvolver cada um desses itens do seu plano, com o que estará
garantida a coerência entre as diferentes partes da composição. Demais, a presença do tópico
facilita o resumo ou sumário, bastando para isso destacá-lo de cada parágrafo.
Por isso tudo, principalmente por ser um excelente meio de disciplinar o raciocínio,
recomenda-se aos principiantes que se empenhem em seguir esse método de paragrafação, até que
maior desenvoltura e experiência na arte de escrever lhes deixem maior liberdade de ação.
8.4.1 Diferentes feições do tópico frasal
Admitindo-se como recomendável essa técnica de iniciar o parágrafo com o tópico frasal,
resta-nos mostrar algumas das suas feições mais comuns. Há vários artifícios, que a leitura dos bons
autores — contemporâneos de preferência — nos pode ensinar. Conhecê-los talvez contribua para
abreviar aqueles momentos de indecisão que precedem o ato de redigir as primeiras linhas de um
parágrafo, pois, com frequência, o estudante não sabe como começar. Ora, o tópico frasal lhe
facilita a tarefa, porque nele está a síntese do seu pensamento, restando-lhe fundamentá-lo.
a) Declaração inicial — Esta é, parece-nos, a feição mais comum: o autor afirma ou nega
alguma coisa logo de saída para, em seguida, justificar ou fundamentar a asserção,
29
apresentando argumentos sob a forma de exemplos, confrontos, analogias, razões, restrições
— fatos ou evidência, processos de explanação que veremos a seguir em 2.0. Vivemos numa época de ímpetos. A Vontade, divinizada, afirma sua preponderância, para
desencadear ou encadear; o delírio fascista ou o torpor marxista são expressões pouco
diferentes do mesmo império da vontade. À realidade substituiu-se o dinamismo; à
inteligência substituiu-se o gesto e o grito; e na mesma linha desse dinamismo estão os
amadores de imprecações e os amadores de mordaças (...) (Gustavo Corção, dez anos , p.
84)
O Autor abre o parágrafo com uma declaração sucinta, que, no caso, é uma generalização
("Vivemos numa época de ímpetos"), fundamentando-a a seguir por meio de exemplos e
pormenores (delírio fascista , torpor marxista, império da vontade, dinamismo, gesto e grito ,
imprecações são termos que sugerem a ideia de ímpeto).
As vezes, a declaração inicial aparece sob a forma negativa, seguin-do-se-lhe a contestação
ou a confirmação, como faz Rui Barbosa no trecho abaixo:
b) Definição — Frequentemente o tópico frasal assume a forma de uma definição. E método
preferentemente didático. No exemplo que damos a seguir, a definição é denotativa, L E .,
didática ou científica (ver 5. Ord., 1.3):
Estilo é a expressão literária de ideias ou sentimentos . Resulta de um conjunto de dotes
externos ou internos, que se fundem num todo harmônico e se manifestam por modalidades
de expressão a que se dá o nome de figuras (Augusto Magne, Princípios..., p. 39).
c) Divisão — Processo também quase que exclusivamente didático, dadas as suas características
de objetividade e clareza, é o que consiste em apresentar o tópico frasal sob a forma de
divisão ou discriminação das ideias a serem desenvolvidas: O silogismo divide-se em silogismo SI MPLES e silogismo composto (isto é, feito de
vários silogismos explícita ou implicitamente formulados). Distinguem-se quatro espécies
de silogismos compostos (...) (Jacques Maritam. Lógica menor, p. 246)
Via de regra, a divisão vem precedida por uma definição, ambas no mesmo parágrafo ou em
parágrafos distintos.
8.5 Outros modos de iniciar o parágrafo
Além do tópico frasal, há outros — na verdade, inúmeros — meios de se iniciar o parágrafo,
pois tudo depende das ideias que inicialmente se imponham ao espírito do escritor, das associações
implícitas ou explicitas, da ordem natural do pensamento e de outros fatores imprevisíveis. Todavia,
alguns deles podem ser devidamente caracterizados, como os seguintes, para servirem de exemplo
aos principiantes, até a posse da autonomia de expressão, até atingirem sua maioridade estilística.
8.5.1 Alusão histórica
Recurso que desperta sempre a curiosidade do leitor é o da alusão a fatos históricos, lendas,
tradições, crendices, anedotas ou a acontecimentos de que o Autor tenha sido participante ou
testemunha. É artifício empregado por oradores — principalmente no exórdio — e por cronistas,
que, com frequência, aproveitam incidentes do cotidiano como assunto não apenas de um parágrafo
mas até de toda a crônica.
30
No exemplo seguinte, Rui Barbosa tira grande partido da alusão a uma tradição americana
— a do Sino da Liberdade — para tecer considerações sobre a importância da justiça e do poder
judiciário na vida política de um povo:
Conta uma tradição cara ao povo americano que o Sino da Liberdade, cujos sons
anunciaram, em Filadélfia, o nascimento dos Estados Unidos, inopinadamente se fendeu,
estalando, pelo passamento de Marshall. Era uma dessas casualidades eloquentes, em que a
alma ignota das coisas parece lembrar misteriosamente aos homens as grandes verdades
esquecidas (...). (R. B., op. cit., p. 41)
O padre Manuel Bernardes é, entre os clássicos da língua, quem talvez com mais habilidade
e mais frequência se serve desse recurso. Em sua nova floresta, obra cuja leitura é ainda hoje
motivo de prazer, oferece-nos inúmeros e excelentes exemplos, como o seguinte: Orando uma vez Demóstenes em Atenas sobre matérias de importância, e advertido que o
auditório estava pouco atento, introduziu com destreza o conto ou a fábula de um
caminhante que alquilara [alugara] um jumento e, para se defender no descampado da força
da calma [calor], se assentara à sombra dele, e o almocreve [condutor ou proprietário de
bestas de carga para aluguel] o demandara para maior paga, alegando que lhe alugara a
besta mas não a sombra dela. (Nova floresta, "Curiosidade").
Nesse trecho — que vem a calhar pois nele já se reconhece desde Demóstenes o mérito
desse recurso à alusão —, a anedota, além de despertar a curiosidade do leitor, prepara-lhe também
o espírito para o desenvolvimento das ideias que se seguem. Todo o parágrafo constitui uma espécie
de introdução ao capítulo onde o Autor condena o vício da curiosidade e a mania das novidades.
João Ribeiro, em Floresta de exemplos — obra em que, não só pelo título mas também pela
técnica da narrativa, se nota clara influência da Nova floresta — favorece-nos com grande número
de exemplos, muitos de imitar pelos principiantes. A maior parte das suas crónicas-narrativas abre-
se com um parágrafo encabeçado por uma alusão histórica (anedota, lenda ou episódio real ou
imaginário):
Na floresta vizinha de Cenci Assisa, no tempo de São Francisco de Assis, tal foi a
maravilha das prédicas do santo, que os animais, perdendo a ferocidade dos instintos,
abraçavam as leis divinas que governavam o mundo. (Floresta de exemplos, "O novo
Esopo")
Aqui também o Autor usa o parágrafo, todo ele constituído pela alusão, como introdução à
narrativa inspirada na tradicional astúcia da raposa.
8.5.2 Omissão de dados identificadores num texto narrativo
Não encontramos outra expressão menos rebarbativa para designar essa técnica de iniciar
um parágrafo de tal modo que a atenção do leitor se mantenha suspensa durante largo tempo,
técnica que consiste em omitir certos dados necessários a identificar a personagem e apreender a
verdadeira intenção do autor. É um artifício, um truque, em geral eficaz nas mãos de um cronista ou
contista hábil. Veja-se o exemplo: Vai chegar dentro de poucos dias. Grande e boticelesca figura, mas passará despercebida. Não terá fotógrafos à espera, no Galeão. Ninguém, por mais afoito que seja, saberá prestar-
lhe essa homenagem epitelial c difusa, que tanto assustou Ava Gardner. Estará um pouco
por toda parte, e não estará em lugar nenhum. Tem uma varinha mágica, mas as coisas por
aqui não se deixam comover facilmente, ou, na sua rebeldia, se comovem por conta própria,
em horas indevidas, de sorte que não devemos esperar pelas consequências diretas do seu
sortilégio. (Carlos Drummond de Andrade, Fala, amendoeira , p. 121)
O Autor anuncia um fato, de chofre, mas não nos fornece nenhuma indicação clara sobre a
personagem de que se trata, mantendo o leitor na expectativa, não apenas até o fim do parágrafo,
mas até o fim da própria crônica. É processo muito eficaz para prender a atenção, mas exige certa
habilidade, sem a qual o autor acaba tentando, a seu modo, tapar o sol com a peneira ou esconder-se
deixando o rabo de fora.
31
8.5.3 Interrogação
As vezes, o parágrafo começa com uma interrogação, seguindo-se o desenvolvimento sob a
forma de resposta ou de esclarecimento:
Sabe você o que é manhosando? Bem, eu lhe explico, que você é homem de asfalto,
e esse estranho verbo só se conjuga pelo sertão nordestino.
Talvez o amigo nem tenha tempo para manhosar, ou quem sabe se dorme tanto, que
ignora esse estado de beatitude, situado nos limites do sono e da vigília. O espírito está
recolhido, mas o ouvido anda captando os sons, que não mais interferem, todavia, com a
quietude, com a paz interior. Nesses momentos somos de um universo de sombras, em que
o nosso pensamento flutua livre, imitando aquele primeiro dia de Criação, quando a
vontade de Deus ainda era a única antes de separadas as trevas e a luz. (...). (Dinah Silveira
de Queiroz, "Manhosando" In : Quadrante 2, p. 109)
Como artifício de estilo, a interrogação inicial frequentemente camufla um tópico frasal por
declaração ou por definição, como no exemplo supra. Seu principal propósito é despertar a atenção
e a curiosidade do leitor. Se D.S.Q. tivesse começado com a definição inicial de "manhosando",
grande parte do interesse do parágrafo seguinte estaria prejudicada. Admitamos que dissesse:
"Manhosar é ficar naquele estado de beatitude, situado nos limites do sono e da vigília." Seria uma
definição meio didática, inadequada ao clima da crônica e, além de tudo, insatisfatória, pois,
segundo a Autora, "manhosar" é mais do que a sua simples definição nos pode sugerir. Então, lança
ela mão desse artifício de interrogar primeiro o leitor para ir dando depois as respostas "aos
pouquinhos" a fim de prender-lhe a atenção, espicaçada desde a primeira linha.
8.6 Tópico frasal implícito ou diluído no parágrafo
Conforme já assinalamos em 1.4, a maioria dos parágrafos tidos como padrão (cerca de 60%
deles) se iniciam com uma declaração sumária, declaração de ordem GER AL , seguindo-se as
especificações, os dados particulares , do que resulta uma estrutura que, em linhas gerais, reflete o
processo de raciocínio dedutivo (do geral para o particular; ver 4. Com., 1.5.1 e 1.5.2, e 6. Id.,
1.5.2.1). Quando ocorre o contrário (tópico frasal no fim), o desenvolvimento das ideias segue,
também em linhas gerais, o método indutivo. Mas não são raros os casos em que o tópico frasal está
implícito ou diluído no parágrafo, sendo este, então, constituído apenas pelo desenvolvimento
(detalhes, exemplos, fatos específicos), e constituído de tal forma que se possa deduzir (ou induzir)
claramente a ideia nuclear. E o que se observa no seguinte exemplo: "O Grande São Paulo — isto é, a capital paulista e as cidades que a circundam — já
anda em torno da décima parte da população brasileira. Apesar da alta arrecadação do
município e das obras custosas, que se multiplicam a olhos vistos, apenas um terço da
cidade tem esgotos. Metade da capital paulista serve-se de água proveniente de poços
domiciliares. A rede de hospitais é notoriamente deficiente para a população, ameaçada por
uma taxa de poluição que técnicos internacionais consideram superior à de Chicago. O
trânsito é um tormento, pois o acréscimo de novos veículos supera a capacidade de dar solução de urbanismo ao problema. Em média, o paulista perde três horas do seu dia para ir
e voltar, entre a casa e o trabalho." (De um editorial do Jornal do Brasil.)
A ideia-núcleo desse parágrafo (o tópico frasal nele diluído ou implícito) não é "o Grande
São Paulo... já anda em torno da décima parte da população brasileira", mas a série de fatos que
refletem os seus graves problemas urbanos . Explicitado no início, o tópico frasal poderia assumir a
seguinte feição: "Graves problemas urbanos enfrenta o Grande São Paulo." Posta no fim, essa
declaração viria naturalmente introduzida por uma partícula conclusiva (portanto, assim, por
conseguinte) ou frase de transição equivalente. ("Esses são alguns dos graves problemas urbanos
que enfrenta o Grande São Paulo.")
9 Como desenvolver o parágrafo
Desenvolvimento é a explanação mesma da ideia principal do parágrafo. Há diversos
processos, que variam conforme a natureza do assunto e a finalidade da exposição; mas, qualquer
32
que seja ele, a preocupação maior do autor deve ser sempre a de fundamentar de maneira clara e
convincente as ideias que defende ou expõe, servindo-se de recursos costumeiros tais como a
enumeração de detalhes, comparações, analogias, contrastes, aplicação de um princípio, regra ou
teoria, definições precisas, exemplos, ilustrações, apelo ao testemunho autorizado, e outros.
Os exemplos que a seguir comentamos talvez ajudem o estudante a estruturar o seu
parágrafo de maneira mais satisfatória. Mas, advirta-se, nossos ocasionais comentários valem
menos do que os modelos que apresentamos.
9.1 Enumeração ou descrição de detalhes
O desenvolvimento por enumeração ou descrição de detalhes é dos mais comuns. Ocorre de
preferência quando há tópico frasal inicial explícito, como no exemplo já citado de Aluísio Azevedo
(2. Voc., 2.0):
É um parágrafo descritivo bastante bom. Note-se a ideia-núcleo, expressa no tópico frasal
inicial (em itálico) e desenvolvida ou especificada através dos pormenores: as pedras, os lampiões,
as paredes, as folhas, etc. São detalhes que tornam mais viva a generalização "era um dia abafadiço
e aborrecido". (O trecho pode servir de modelo para exercícios do mesmo gênero: basta mudar o
quadro da descrição e seguir o mesmo processo de desenvolvimento.)
9.2 Confronto
Processo muito comum e muito eficaz de desenvolvimento é o que consiste em estabelecer
confronto entre ideias, seres, coisas, fatos ou fenômenos. Suas formas habituais são o contraste
(baseado nas dessemelhanças), e o paralelo (que se assenta nas semelhanças).
A antítese é, de preferência, uma oposição entre ideias isoladas. A analogia, que também faz
33
parte dessa classe, baseia-se na semelhança entre ideias ou coisas, procurando explicar o
desconhecido pelo conhecido , o estranho pelo familiar (ver 2.3, a seguir).
Exemplo clássico de desenvolvimento por confronto e contraste é o paralelo que A. F. de
Castilho faz entre Vieira e Bernardes: Lendo-os com atenção, sente-se que Vieira, ainda falando do céu, tinha os olhos nos seus
ouvintes; Bernardes, ainda falando das criaturas, estava absorto no Criador. Vieira vivia
para fora, para a cidade, para a corte, para o mundo, e Bernardes para a cela, para si, para o
seu coração. Vieira estudava graças a louçainhas de estilo (...); Bernardes era como essas
formosas de seu natural que se não cansam com alinhamentos (...) Vieira fazia a
eloquência; a poesia procurava a Bernardes. Em Vieira morava o gênio; em Bernardes, o amor, que, em sendo verdadeiro, é também gênio (...). (Apud Fausto Barreto e Carlos de
Laet, Antologia nacional , p. 186).
E um parágrafo sem tópico frasal explícito , pois a ideia-núcleo é o próprio confronto entre
Vieira e Bernardes. O Autor poderia iniciar o parágrafo com um tópico frasal mais ou menos nestes
termos: "Vejamos o que distingue Vieira de Bernardes" ou "Muito diferentes (ou muito parecidos)
são Vieira e Bernardes". Mas seria inteiramente supérfluo, pois essa ideia está clara no
desenvolvimento.
Exemplo, também muito conhecido, de parágrafo com desenvolvimento por é o de Rui
Barbosa sobre política e politicalha:
Política e politicalha não se confundem, não se parecem, não se relacionam uma com a
outra. Antes se negam, se excluem, se repulsam mutuamente (tópico frasal). A política é a
arte de gerir o Estado, segundo princípios definidos, regras morais, leis escritas, ou
tradições respeitáveis. A politicalha é a indústria de o explorar a benefício de interesses
pessoais. Constitui a política uma função, ou conjunto das funções do organismo nacional:
é o exercício normal das forças de uma nação consciente e senhora de si mesma. A
politicalha, pelo contrário, é o envenenamento crônico dos povos negligentes e viciosos
pela contaminação de parasitas inexoráveis. A política é a higiene dos países moralmente
sadios. A politicalha. a malária dos povos de moralidade estragada. (Apud Luís Vianna Filho, op. c it., p. 32)
Vê-se logo pelo tópico frasal que se trata de um contraste, e não propriamente de um
paralelo ou confronto (como no exemplo de Castilho), pois o que o Autor ressalta entre política e
politicalha é o seu antagonismo e não a sua identidade. Ora, o valor do contraste — de que a
antítese é a figura típica — reside precisamente na sua capacidade de realçar certas ideias, pela
simples oposição a outras, contrárias. (Rever 1. Fr., 1.6.7 a 1.6.7.3.)
9.3 Analogia e comparação
A analogia é uma semelhança parcial que sugere uma semelhança oculta, mais completa. Na
comparação, as semelhanças são reais, sensíveis, expressas numa forma verbal própria, em que
entram normalmente os chamados conectivos de comparação (como, quanto, do que, tal qual),
substituídos, às vezes, por expressões equivalentes (certos verbos como "parecer", "lembrar", "dar
uma ideia", "assemelhar-se": "Esta casa PARE CE um forno, de tão quente que é."). Na analogia, as
semelhanças são apenas imaginárias. Por meio dela, se tenta explicar o desconhecido pelo
conhecido , o que nos é est ranho pelo que nos é familiar ; por isso, tem grande valor didático. Sua
estrutura gramatical inclui com frequência expressões próprias da comparação (como, tal qual,
semelhante a, parecido com, etc. Rever 1. Fr., 1.6.8). Para dar à criança uma ideia do que é o Sol
como fonte de calor, observe-se o processo analógico adotado pelo Autor do seguinte trecho: O Sol é muitíssimo maior do que a Terra, e está ainda tão quente que é como uma enorme
bola incandescente, que inunda o espaço em torno com luz e calor. Nós aqui na Terra não
poderíamos passar muito tempo sem a luz e o calor que nos vêm do Sol, apesar de
sabermos produzir aqui mesmo tanto luz como calor. Realmente podemos acender uma
fogueira para obtermos luz e calor. Mas a madeira que usamos veio de árvores, e as plantas
não podem viver sem luz. Assim, se temos lenha, é porque a luz do Sol tornou possível o
crescimento das florestas. (Oswaldo Frota Pessoa. Iniciação à ciência , p. 35)
34
Sol tão quente , que é como uma enorme bola incandescente é, quanto à forma, uma
comparação, mas, em essência, é uma analogia: tenta-se explicar o desconhecido (Sol) pelo
conhecido (bola incandescente), sendo a semelhança apenas parcial (há outras, enormes, diferenças
entre o Sol e uma bola de fogo).
No trecho seguinte, o Autor torna mais clara a ideia de "paixão da verdade", estabelecendo
uma analogia com a de "cachoeiras da serra":
O tópico frasal (primeiro período) assume a forma gramatical de uma comparação, mas o
desenvolvimento se faz por analogia. Na primeira parte do parágrafo, que vai até "espuma", o Autor
descreve, em linguagem parcialmente metafórica, os "borbotões d'água". Este é o primeiro termo da
analogia, o termo conhecido, familiar, através do qual se vai tornar mais clara a ideia do segundo, o
desconhecido, o menos familiar: "a paixão da verdade", "a convicção do bem". Como se vê, a
semelhança aparente é parcial, mas oculta uma outra mais completa, concebida apenas como
abstração e não como realidade sensível. E é isso exatamente o que distingue a analogia da
comparação, como já assinalamos. Note-se ainda que, entre o termo desconhecido e o conhecido, o
Autor aponta somente as semelhanças, e não os contrastes ou diferenças. Por isso é analogia. A esse
tipo de analogia chamavam os retóricos "comparação oratória", que não se deve confundir com a
"comparação poética" (metáfora, símile). São distinções mais ou menos bizantinas — é certo —
pois, na realidade, comparação e analogia são em geral consideradas, se não como sinônimas, pelo
menos como equivalentes.
No seguinte trecho, ainda de Rui Barbosa, não há, legitimamente, analogia nem
comparação, nem contraste mas simples paralelo ou confronto: Oração e trabalho são os recursos mais poderosos na criação moral do homem. A oração é
o íntimo sublimar-se da alma pelo contato com Deus. O trabalho é o inteirar, o desenvolver,
o apurar das energias do corpo e do espírito, mediante a ação contínua sobre si mesmos e
sobre o mundo onde labutamos. (Antologia nacional , p. 128)
Não há comparação porque lhe falta a estrutura gramatical peculiar (como, parece, semelha,
etc.); não é analogia porque a aproximação entre "oração" e "trabalho" não se baseia numa
semelhança, e, ipso facto , não há um termo mais conhecido com o qual se tenta explicar como
menos conhecido ; não ocorre tampouco nenhum contraste porque não se assinala qualquer
oposição de sentido entre os dois termos. O que existe, portanto, é um paralelo ou confronto.
9.4 Citação de exemplos
Para sermos coerentes, deveríamos incluir este caso na categoria do desenvolvimento por
35
analogia. Entretanto, a explanação por exemplo(s) pode assumir duas feições típicas: uma
exclusivamente didática, e outra, digamos, literária. Na primeira, a citação de exemplos não
constitui, propriamente, o desenvolvimento, mas uma espécie de comprovante ou elucidante. Nesse
caso, assume uma forma gramatical típica gradas a certas partículas explicativas peculiares (por
exemplo, ex. g.; v. g.). E, como todos reconhecem, um processo eminentemente didático. Na
maioria das vezes, segue-se, uma definição denotativa (i .e ., didática ou científica, em oposição à
conotativa ou metafórica, que não admite aposição de exemplo), à enunciação de um princípio,
regra ou teoria, ou, ainda, a uma simples declaração pessoal. Vejamos um exemplo, didático e
muito a propósito: Analogia é um fenômeno de ordem psicológica, que consiste na tendência para nivelar
palavras ou construções que de certo modo se aproximam pela forma ou pelo sentido,
levando uma delas a se modelar pela outra. Quando uma criança diz fazi e cabeu, conjuga
essas formas verbais por outras já conhecidas, como dormi e correu. (Rocha Lima,
Português no colégio , 1º ano, p. 94)
A definição de analogia restringe-se, como não podia deixar de ser, ao âmbito
exclusivamente linguístico. O exemplo (fazi, cabeu), que o Autor, para maior realce, deixou num
parágrafo à parte, é tão evidente por si mesmo, que pode prescindir das partículas ou expressões
próprias ("como, por exemplo"). Mas no trecho seguinte julgou oportuno fazê-lo, e no mesmo
parágrafo:
As consoantes duplas, dobradas ou geminada s constituíam, em latim, dois sons distintos,
assim, uma palavra como, por exemplo, gutta pronunciava-se gut-ta; lia-se os-s u, carru
proferia-se car-ru ; os-su. (Ibid. , p. 45)
No parágrafo abaixo, o Autor desenvolve o tópico frasal (resignação e sobriedade dos
bandeirantes) através de exemplos mais literários do que propriamente didáticos:
Como as caravanas do deserto africano, a primeira virtude dos bandeirantes é a resignação,
que é quase fatalista, é a sobriedade levada ao extremo. Os que partem não sabem se voltam
e não pensam mais em voltar aos lares, o que frequentes vezes sucede. As provisões que levam apenas bastam para o primeiro percurso da jornada; daí por diante, entregues à
ventura, tudo é enigmático e desconhecido. (João Ribeiro, História do Brasil , p. 225)
O leitor sente a diferença entre os dois tipos de desenvolvimento: o exemplo que chamamos
"literário" (por falta de melhor termo) raramente admite a introdução daquelas partículas que lhe
são peculiares, como se pode ver no trecho de João Ribeiro.
Em muitos casos, a enumeração de exemplos confunde-se com a enumeração de detalhes.
No trecho seguinte, em que Eça de Queirós evoca a virilidade física de Antero de Quental, o
desenvolvimento da ideia-núcleo faz-se ao mesmo tempo por detalhes e por exemplos, não sendo
muito fácil distinguir uns dos outros:
Toda esta alma de Santo [Antero] morava, para tornar o homem mais estranhamente
cativante, num corpo de Alcides [sobrenome patronímico de Hércules]. Antero foi na sua
mocidade um magnífico varão (tópico frasal constituído por dois períodos de sentido
equivalente). Airoso e leve (detalhe), marchava léguas (exemplo geral), em rijas
caminhadas (exemplo específico) que se alongavam até à mata do Bussaco: com a mão seca
e fina, de velha raça (detalhe), levantava pesos (exemplo específico) que me faziam gemer
a mim, ranger todo, só de o contemplar na façanha; jogando o sabre para se adestrar
(exemplo) tinha ímpetos de Roldão (detalhe por comparação), os amigos rolavam pelas
escadas, ante o seu imenso sabre de pau, como mouros desbaratados: — e em brigas que fossem justas o seu murro era triunfal (detalhe). Conservou mesmo até à idade filosófica
este murro fácil: e ainda recordo uma noite na rua do Oiro, em que um homem carrancudo,
barbudo, alto e rústico como um campanário, o pisou, brutalmente, e passou, em brutal
silêncio... O murro de Antero foi tão vivo e certo, que teve de apanhar o imenso homem do
lajeado em que rolara...
36
(Notas contemporâneas. Col. Nossos Clássicos, Agir, v. 9, p. 83)
As vezes, a enumeração de exemplos não serve de esclarecer, mas de provar uma
declaração, teoria ou opinião pessoal, como ocorre habitualmente nos estudos filosóficos, na análise
estilística e em todo trabalho de pesquisa de um modo geral:
Todo de antítese é o estilo do padre Antônio Vieira. Eis aqui três exemplos, com as
antíteses sublinhadas:
a) "Com razão comparou o seu evangelho a divina providência de Cristo a um tesouro
escondido no campo. U M A coisa é a que todos veem na superfície; outra a que se oculta
no interior da terra, e, O NDE ME NOS se imaginam as riquezas, ali depositadas. (...);
b) ................................. ;
c) ................................. ;
(José Oiticica, MANU AL DE EST ILO , p. 111)
Quando cada exemplo é muito extenso ou extensa é a série deles, e se lhes quer dar maior
realce, é costume abrir-se parágrafo para cada um, como se faz no trecho citado, de que omitimos,
por desnecessários à nossa argumentação, os exemplos b) e c) além de parte de a), no qual, diga-se
de passagem, o Autor deixou de assinalar a antítese entre superfície e interior da terra.
9.5 Causação e motivação
Legitimamente, só os fatos ou fenômenos físicos têm causa ; os atos ou
atitudes praticados ou assumidos pelo homem têm razões, motivos ou explicações, da
mesma forma, os primeiros têm efeitos , e os segundos, consequências. Não cremos que seja
linguagem adequada perguntar quais foram os de ato praticado ou atitude assumida por alguém; dir-
se-á certamente "quais as consequências ou o(s) resultados (s )" . E comum ouvir-se: "Está vendo o
resultado do que você fez?" ou "Viu as consequências da sua atitude (ou do que você fez)?" Quem
diria "efeito" ou "efeitos" em lugar de "consequências" ou de "resultado(s)"? Similarmente, dever-
se-á perguntar qual foi o MOT IVO ou RAZ ÃO (e não a causa) que levou alguém a agir desta ou
daquela forma: "Qual o motivo (ou razão) da sua atitude?" Embora possa dizer "qual a CAUS A da
sua atitude?", "sente-se" que não se deve, que, pelo menos, não é comum. Tampouco se dirá que "o
MOT IVO da dilatação dos corpos é o calor" ou que "RAZ ÃO da queda dos corpos é a atração
exercida pelo centro da Terra". Dir-se-á, sem dúvida, "causa", pois trata-se de fatos ou fenômenos
físicos.5 É certo, entretanto, que a palavra "causa", dado o seu sentido mais amplo e mais claro, se
emprega também para explicar outros fatos que não apenas os da área das ciências exatas, das
ciências naturais ou físico-químicas; as ciências ditas sociais ou humanas (história, sociologia,
política e outras) dela se servem com a mesma acepção. E assim que se fala em "causas históricas"
ou "causas políticas": "Quais foram as causas da Guerra do Paraguai?" "Quais são as causas do
congestionamento das cidades modernas?"
Mas, além disso, é preciso estar alerta para não confundir "causa" (ou motivo) com "efeito"
(ou consequência), tomando uma coisa pela outra. Dizer, por exemplo, que o analfabetismo de
cerca de 30% dos brasileiros é a causa do subdesenvolvimento do Brasil é dar como causa o que é,
na verdade, efeito. Tampouco se deve confundir causa com outras circunstâncias (simples
antecedentes — post hoc, ergo propter hoc —, condições ocasionais, casuais ou propícias, mas não
causais , o momento em que ocorre o fato com a causa desse fato). Seria absurdo dizer que a
chegada de D. João VI ao Brasil em 1808 foi a causa da fundação da Imprensa Régia ou da criação
da Biblioteca Nacional.
Há que se distinguir ainda as causas remotas ou subjacentes das imediatas. A grande
depressão de 1929-30 teria sido uma das causas remotas ou subjacentes da Segunda Grande Guerra.
(Para outras informações a respeito de causa, ver 4. Com., 2.2.5.)
Baseados nessas distinções, que podem parecer ao leitor tão bizantinas quão sibilinas, mas
na verdade não são, vamos mostrar a seguir como se desenvolve um parágrafo por apresentação de
razões ou motivos e por indicação de causas . São dois processos muito comuns de
37
desenvolvimento ou explanação de ideias, isto porque não apenas a curiosidade inata do espírito
humano mas também o seu estado de permanente perplexidade em face do mundo objetivo o levam
a querer saber sempre a causa ou o motivo de tudo quanto o cerca, cerceia, alegra ou aflige. Não
será exagero dizer que o homem vive a maior parte dos seus dias querendo saber por que as coisas
acontecem. O modo e o tempo dos atos e dos fatos parecem preocupá-lo menos do que a causa ou
motivo deles.
9.5.1 Razões e consequências
O desenvolvimento de parágrafo pela apresentação de razões é extremamente comum,
porque, não raro, as razões, os motivos, as justificativas em que se assenta a explanação de
determinada ideia se disfarçam sob várias formas, nem todas explicitamente introduzidas por
partículas explicativas ou causais, confundindo-se muitas vezes com detalhes ou exemplos.
No seguinte trecho, extraído de trabalho de aluno, as razões são indicadas de maneira
explícita:
Tanto do ponto de vista individual quanto social, o trabalho é uma necessidade, não só
PORQUE D IGN IF IC A o homem e o provê do indispensável à sua subsistência, mas também
PORQUE lhe evita o enfado e o desvia do vício e do crime.
A declaração inicial, contida na primeira oração (que é o tópico frasal) seria inócua ou
gratuita, porque inegavelmente óbvia, como verdade reconhecida por todos, se o Autor não a
fundamentasse, não a desenvolvesse, apresentando-lhe as razões na série das orações explicativas
(ou causais?) seguintes.
Carlos Drummond de Andrade apresenta no trecho abaixo uma série de razões ou
explicações para a sua declaração inicial, sem indicá-las expressamente como tais:
E sina de minha amiga penar pela sorte do próximo, se bem que seja um penar jubiloso
(tópico frasal). Explico-me. Todo sofrimento alheio a preocupa, e acende nela o facho da ação, que
a torna feliz. Não distingue entre gente e bicho, quando tem de agir, mas, como há inúmeras
sociedades (com verbas) para o bem dos homens, e uma só, sem recurso, para o bem dos animais, é
nesta última que gosta de militar. Os problemas aparecem-lhe em cardume, e parece que a escolhem
de preferência a outras criaturas de menor sensibilidade e iniciativa (...)
(F AL A , AME NDOE IR A , p. 178)
A declaração inicial fundamenta-se nas duas razões ou motivos que se lhe seguem: é sina de
minha amiga penar pela sorte do próximo PORQUE todo sofrimento alheio a preocupa, porque não
distingue gente de bicho... As razões não estão suficientemente introduzidas por meio de partículas
cujas próprias (porque, em virtude de, por causa de...), mas são facilmente subentendidas como tais.
Mas o Autor não expressa apenas os motivos: indica também as consequências; o período
final "os problemas aparecem-lhe em cardume, e parece que a escolhem de preferência a outras
criaturas..." enuncia certamente duas consequências (não seria cabível dizer aqui "efeitos" pois
trata-se de atos, atitudes ou comportamento humano) do penar da amiga do Poeta pela "sorte do
próximo". É como se dissesse: "preocupa-se tanto com a sorte do próximo, que os problemas lhe
aparecem em cardume". Normalmente, entretanto, os parágrafos desenvolvidos por apresentação de
razões já têm enunciada(s) a(s) consequência(s) no tópico frasal.
Não é raro confundirem-se razões com pormenores descritivos, o que facilmente se explica.
Se faço uma declaração a respeito de alguém ou alguma coisa e considero necessário justificá-la ou
38
fundamentá-la para que mereça fé, apresento a seguir alguns detalhes característicos que
justifiquem a minha opinião ou impressão. Querendo provar que a cidade do Rio de Janeiro
continua a ser a capital do povo brasileiro, embora já não seja a capital oficial do País, Augusto
Frederico Schmidt apresenta, após a declaração inicial em que expressa a sua opinião, uma série de
pormenores que funcionam como razões convincentes: Esta Cidade já não é mais a capital oficial do País, mas continua sendo a capital do povo
brasileiro, quer queiram, quer não. E a capital política, embora as Câmaras (alta e baixa)
estejam em Brasília, de onde nos vêm, diluídos e distantes, amortecidos e mudados, os ecos
das agitações parlamentares. Aqui funcionou o Brasil; aqui encontrou a sua síntese, o seu
centro de gravidade, esse complexo que é o nosso País unificado e íntegro. Aqui, ainda
hoje, está a capital brasileira, sensível, viva, martirizada, crivada de setas como o seu
próprio padroeiro. Nas ruas, nas casas, nos locais de encontro concentra-se a mais
politizada das populações brasileiras. Aqui se sente, em profundidade, o desabar das terras
que os nossos maiores constituíram em Nação. Aqui se ouve mais nitidamente o ruído das
raízes do Brasil irem sendo pouco a pouco arrancadas. É um singular, um constrangedor
espetáculo. Todas as mudanças são tristes quando significam não apenas novas folhagens
ou florações, mas a grande mudança do essencial, da alma, a transmutação do que deveria ser permanente em nós. (A. F. Schmidt, Prelúdio à revolução , p. 131)
Com exceção dos dois últimos períodos, os demais, a partir do segundo, são, de fato, razões
com que o Autor fundamenta a declaração de que o Rio de Janeiro continua sendo a capital do povo
brasileiro.
A apresentação de razões é processo típico da argumentação propriamente dita, isto é,
daquela variedade de composição em prosa ou de exposição oral, cuja finalidade é não apenas
definir, explicar ou interpretar (dissertação) mas principalmente convencer ou persuadir. Ora, só
convencemos ou persuadimos quando apresentamos razões . Se os fatos provam, as razões
convencem. Mas os fatos quase sempre constituem as verdadeiras razões; é com eles que
argumentamos mais frequentemente. Um folheto de propaganda que se limite a descrever o
funcionamento de uma enceradeira faz apenas explanação ou descrição. Explica mas não convence.
Só nos convence a partir do momento em que começa a mostrar as vantagens do objeto: o preço, as
facilidades de pagamento, a facilidade do manejo, a resistência e a qualidade do material, o seu
acabamento, etc. Isso são fatos e são razões , ou são razões porque são fatos. Grande parte do que
escrevemos ou dizemos é essencialmente argumentação, pois, mesmo explicando, explanando ou
interpretando, estamos sempre procurando convencer.
9.5.2 Causa e efeito
Parece ter ficado claro no tópico 2.5 que o desenvolvimento do parágrafo por apresentação
de razões e consequências ocorre quando se trata de justificar uma declaração ou opinião pessoal a
respeito de atos ou atitudes do homem , e que se deve falar em relação de causa e efeito, quando se
procura explicar fatos ou fenômenos , quer das ciências naturais, quer das sociais.
O seguinte parágrafo mostra-nos o que é desenvolvimento por indicação de causa e efeito,
partindo deste para aquela: Pressões nos líquidos — A pressão exercida sobre um corpo sólido transmite-se
desigualmente nas diversas direções por causa da forte coesão que dá ao sólido sua rigidez.
Num líquido, a pressão transmite-se em todas as direções, devido à fluidez. Um líquido
precisa de apoio lateral do vaso que o contém, porque a pressão do seu peso se exerce em
todas as direções. Se um corpo for mergulhado num líquido, experimentará o efeito das
pressões recebidas ou exercidas pelo líquido. (Irmãos Maristas, Física, v. I, p. 536)
Note-se que as causas estão claramente indicadas por partículas próprias (por causa de,
devido a, porque), forma comum, posto que não exclusiva desse processo de explicação ou de
demonstração. A exposição nesse trecho faz-se a partir do efeito para a causa; no primeiro período,
por exemplo, a transmissão desigual da pressão exercida sobre um corpo sólido é o EFEITO da
forte coesão que dá ao sólido a sua rigidez. O período final, por sua vez, é uma inferência ou
conclusão, vale dizer, uma generalização, decorrente dos fatos anteriormente indicados.
No exemplo a seguir, o desenvolvimento faz-se a partir da causa para o efeito:
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Os foguetes — Tais engenhos são movidos pela força da reação (generalização, tópico
frasal). Assim, quando um moleque solta um foguete-mirim ou um busca-pé em festas
juninas, a pólvora química encerrada no tubo ou no cartucho queima rapidissimamente,
praticamente num átimo. Da combustão de tal pólvora resultam gases que determinam
pressão alta dentro do tubo. A força da ação atira continuamente os gases para fora do tubo.
Então, uma força de reação , igual e oposta ação, é exercida sobre o tubo pelos gases. Destarte o foguete-mirim sobe. E conceito EIR ADO pensar que os gases empurram o ar,
produzindo a força. No vácuo, os foguetes funcionam melhor. (Id . Ibid. ., p. 441)
Note-se: a combustão da pólvora provoca (causa) o aparecimento de gases, e estes
determinam (causam) a pressão dentro do tubo; a pressão provoca (causa) a eliminação dos gases
(ação); esta provoca (causa) uma força de reação , que, por sua vez, faz com que o foguete suba
(causa a sua ascensão). A subida do foguete é efeito dessas causas.
No parágrafo abaixo, enuncia-se primeiro o efeito, enumerando-se em seguida as causas: Cinco ações ou concursos diferentes cooperaram para o resultado final [a abolição da
escravatura]: L Q , a ação motora dos espíritos que criavam a opinião pela ideia, pela
palavra, pelo sentimento, e que a faziam valer por meio do Parlamento, dos MEET INGS ,
da imprensa, do ensino superior, do púlpito, dos tribunais; 2 Q , a ação coercitiva dos que se propunham a destruir materialmente o formidável aparelho da escravidão, arrebatando os
escravos ao poder dos senhores; 3e, a ação complementar dos próprios proprietários [...];
45, a ação política dos estadistas [...]; 5P, a ação dinástica. (J. Nabuco, Minh a formação , p.
227)
O parágrafo poderia ter assumido feição mais banal ou mais didática, partindo do efeito —
"a escravidão foi abolida pela ação motora... ou porque a ação motora... etc." — onde a causa: "as
causas da abolição da escravatura foram: Ia..., 29..., etc."
A indicação das causas ou razões antes dos efeitos ou consequências é em essência um
processo de raciocínio dedutivo, ao passo que o inverso implica raciocínio indutivo.
9.6 Divisão e explanação de ideias "em cadeia"
Frequentemente, o Autor, depois de enunciar a ideia-núcleo no tópico frasal, divide-a em
duas ou mais partes, discutindo em seguida cada uma de per si , para o que poderá servir-se de
alguns dos processos já referidos, principalmente da enumeração de detalhes e exemplos e da
definição (ver tópico seguinte), pondo tudo no mesmo parágrafo ou em parágrafos diferentes, se a
complexidade e a extensão do assunto o justificarem.
Para nos dar ideia das manifestações concretas da vocação literária, Alceu Amoroso Lima
adota o critério da divisão da ideia-núcleo em diferentes partes, definindo-as sucessiva e
sucintamente no mesmo parágrafo: A vocação literária é sempre concreta. Manifesta-se como tendência, não só à atitude geral,
mas ainda a este ou àquele gênero de atitude. Entre as inúmeras posições possíveis (e neste
terreno as classificações chegam às maiores minúcias), há cinco a marcar bem nitidamente
inclinações diferentes do gênio criador — o lirismo, a epopeia, o drama, a crítica e a sátira.
O lirismo é a expressão da própria alma. A epopeia, a representação narrativa da vida. O
drama, a representação ativa dela. A crítica, o juízo sobre a criação feita. E a sátira, a caricatura dos caracteres (...) (A. A. Lima, Estética literária , p. 99)
No resto do parágrafo (omisso na transcrição), o Autor retoma a mesma ideia-núcleo,
dividindo-a, segundo novo critério, em lirismo, epopeia e crítica, e conclui com algumas
considerações sobre os gêneros literários.
No exemplo seguinte, o mesmo Autor destina um parágrafo à divisão e outros, sucessivos,
mas não transcritos aqui, a cada uma de suas partes:
De várias espécies são as condições susceptíveis de influir sobre a literatura. Podemos
mencionar quatro ordens principais de condições desse gênero — geográficas, biológicas,
psicológicas e sociológicas .
Esse parágrafo encerra apenas a ideia-núcleo, cuja complexidade justifica venha a ser
desenvolvida em outros, um ou mais para cada uma das partes em que o Autor a dividiu. Assim é
que só as condições geográficas— como diz o Autor — vão ser desenvolvidas em três longos
parágrafos, ocorrendo o mesmo com as demais.
40
Esse processo de expor a ideia-núcleo num parágrafo isolado e fazer o desenvolvimento em
outros, sucessivos, é muito comum nas explanações alongadas, pois juntar tudo num só não apenas
prejudica a clareza mas também impede se dê o necessário relevo a outras ideias decorrentes da
principal.
Portanto, se os fatos, exemplos, detalhes, razões que constituem o desenvolvimento
merecem destaque, dada a sua relevância, é sempre recomendável destinar-lhes parágrafos
exclusivos. Isso se faz, tomando cada um desses elementos do desenvolvimento como tópico frasal
de outros parágrafos. É o que nos mostra A. A. Lima, ao tratar dos fatores sociológicos, por
exemplo, incluídos no parágrafo anteriormente transcrito como uma das "condições susceptíveis de
influir sobre a literatura": Os fatores sociológicos , enfim, influem de modo inequívoco sobre o movimento e as
instituições literárias (tópico frasal constituído pelo que era , no parágrafo da ideia - núcleo
de toda a explanação , apenas u m dos elementos do desenvolvimento ). Foi Bonald, creio,
o primeiro sociólogo a chamar formalmente a atenção sobre esse aspecto da literatura como
"expressão da sociedade". Sendo a literatura atividade tipicamente humana e o homem um
ser naturalmente social, não pode a literatura deixar de ter aspecto acentuadamente social. Manifesta-se esse societismo literário do modo direto e indireto. (O autor prossegue
mostrando esses dois modos de manifestar-se o societismo literário .) (Id . ibid. . , p. 167)
Mas esse parágrafo sugere ainda outro, em que o Autor mostra as diferentes espécies de
fatores sociológicos:
Esses fatores sociológicos, em sua dupla modalidade, são de quatro tipos principais:
históricos , culturais , políticos e econômicos. (Id . Ibid. p. 168)
Desencadeiam-se assim, pelo mesmo processo, novos parágrafos sugeridos pelo que contém
a ideia-núcleo: o Autor vai destinar um ou mais deles a cada um dos tipos de fatores sociológicos,
começando por defini-los ou caracterizá-los:
Os fatores históricos influem na literatura pelo simples fato de não existir esta fora do tempo (tópico frasal cuja ideia-núcleo é uma das especificações indicadas no parágrafo
anterior). Incorpora-se o passado no presente, como também o futuro, sob a forma de
rememorações, tradições e aspirações. O artista vive no tempo, e o problema da herança é
sempre um dos primeiros a se apresentar em seu esforço criador. (seguem-se outros
detalhes e exemplos com que o autor justifica a sua declaração inicial.) (Id . Ibid., p. 168)
Esse é, sem dúvida, um processo muito eficaz — e, por isso, muito comum — de se
desenvolver determinada ideia rica de implicações. O raciocínio funciona "em cadeia", as ideias se
vão desenrolando umas das outras como que "em espiral", e a explanação se vai alargando e
aprofundando cada vez mais. O método fertiliza a própria imaginação, fazendo com que de uma
ideia surjam outras, numa espécie de explosão em cadeia.
Em suma: a explanação de ideias por esse processo consiste em tomar os fatos, detalhes,
exemplos, razões contidos no desenvolvimento de um parágrafo e transformá-los, todos ou apenas
alguns, de preferência na mesma ordem, em ideias-núcleos de outros, e assim sucessivamente.
9.7 Definição
O desenvolvimento por definição — que pode envolver também outros processos, como a
descrição de detalhes, a apresentação de exemplos e, sobretudo, confrontos ou paralelos — é muito
frequente na exposição didática:
Os dois tropos ou figuras de designação mais comuns — "as duas figuras polares do estilo",
como as chama R. Jakobson — são a metáfora e a metonímia. A primeira consiste em dizer
que uma coisa (A) é outra (B), em virtude de qualquer semelhança percebida pelo espírito
entre o traço característico de A e o atributo predominante, o atributo por excelência, de B,
A metonímia consiste em designar uma coisa (A) pelo nome de outra (B), em virtude de
uma relação não de semelhança ou similaridade mas de contiguidade, de interdependência
real entre ambas.
41
Se a clareza o recomenda, não é raro, no estilo didático pelo menos, alongar-se a definição
em verdadeira descrição ou justaporem-se-lhe alguns exemplos.
Com frequência, a definição exerce o papel de justificativa, constitui uma razão de
declaração expressa no tópico frasal. No seguinte exemplo, a definição conotativa de "martírio" e de
"suicídio" poderia vir expressamente introduzida por uma conjunção explicativa (pois , porque): Na verdade, o mártir não despreza a vida. Ao contrário, valoriza-a de tal modo que a torna
digna de ser oferecida a Deus. Martírio é oblação, oferecimento, dádiva; suicídio é
subtração e recusa. O mártir é testemunha de Cristo; o suicida será testemunha de Judas.
(G. Corção, dez anos , p. 248)
Aí, o tópico frasal, constituído pelo primeiro período — de que o segundo é apenas um
reforço —, vem desenvolvido pelas definições (metafóricas) de "martírio", "mártir", "suicídio" e
"suicida" e simultaneamente pelo contraste ou confronto entre esses quatro termos, dois a dois.
São esses os processos mais comuns de desenvolvimento do parágrafo. Haverá certamente
outros, mas difíceis de distinguir e classificar, pois o raciocínio, ainda que sujeito a dois métodos
básicos — a indução e a dedução —, não pode ser bitolado em moldes rígidos e esquemáticos. É
certo, entretanto, que os outros processos ou são variantes desses ou resultam da conjugação de
vários deles.
Mas o que nos parece incontestável — e a longa prática do magistério disso nos convenceu
— é o valor didático do estudo do parágrafo como uma unidade de composição. Na realidade da
sala de aula, onde se encontram por vezes mais de quarenta alunos, é difícil corrigir e comentar ao
mesmo tempo, com relativo proveito, mais de duas ou três composições, a menos que o professor se
limite a assinalar apenas errinhos gramaticais de acentuação, grafia, regência e concordância. A
estrutura da frase e a ordenação das ideias só podem ser ensinadas, transcrevendo-se trechos no
quadro-negro. Mas que trechos? Fragmentos apenas? Só os trechos que apresentem certo caráter de
individualidade podem oferecer margem a comentários razoáveis no que respeita à organização das
ideias e à sua expressão eficaz. Ora, o parágrafo, dada a sua relativa extensão e a sua feição de
unidade de composição, permite-nos transcrição no quadro-negro para comentários adequados.
Tomando-o como uma espécie de composição em miniatura, é possível ensinar aos alunos como
fazer uma descrição ou dissertação (o parágrafo de narração tem outras características que devem
ser exploradas de forma diversa; ver adiante 3.2). Pode haver descrições ou dissertações
constituídas apenas por um parágrafo. Mas, ainda que assim o fosse, pode-se ensinar com relativa
facilidade a ordenar os vários parágrafos de uma composição através de exercícios de planejamento.
Um dos exercícios de maior rendimento didático que conhecemos, e de que nos servimos
habitualmente, consiste em tomar apenas o tópico frasal de determinado parágrafo e pedir aos
alunos que o desenvolvam segundo determinado processo. Em seguida — tudo no quadro-negro —
transcreve-se o desenvolvimento do parágrafo original para que os alunos façam o confronto.
Variante desse processo é o que consiste em apresentar determinado modelo de parágrafo,
principalmente de descrição, mostrar como se faz o seu desenvolvimento e, em seguida, dar outro
tópico frasal para que seja desenvolvido da mesma forma; feito isso, o professor transcreve então no
quadro-negro o restante do parágrafo. Do confronto entre o que os alunos fizeram e o que está
transcrito no quadro, resultam ensinamentos memoráveis. Se a sala dispõe de quadro-negro
espaçoso, ou de mais de um, o melhor é que todo o exercício seja aí feito.
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Exercícios
1. Desenvolva também estes tópicos frasais dissertativos:
a) A prática do esporte deve ser incentivada e amparada pelos órgãos públicos.
b) O trabalho dignifica o homem, mas o homem não deve viver só para o trabalho.
c) A propaganda de cigarros e de bebidas deve ser proibida.
e) O direito à cultura é fundamental a qualquer ser humano.
2. Desenvolva os tópicos frasais seguintes, considerando os conectivos:
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a) O jornal pode ser um excelente meio de conscientização das pessoas, a não ser que ...
b) As mulheres, atualmente, ocupam cada vez mais funções de destaque na vida social e
política de muitos países; no entanto ...
c) Um curso universitário pode ser um bom caminho para a realização profissional de uma
pessoa, mas...
d) Se não souber preservar a natureza, o ser humano estará pondo em risco sua própria
existência, porque...
e) Muitas pessoas propõem a pena de morte como medida para conter a violência que existe
hoje em várias cidades; outras, porém ...
f) Muitos alunos acham difícil fazer uma redação, porque ...
g) Muitos alunos acham difícil fazer uma redação, no entanto ...
h) Um meio de comunicação tão importante como a televisão não deve sofrer censura, pois
...
i) Um meio de comunicação tão importante como a televisão não deve sofrer censura,
entretanto ...
j) O uso de drogas pelos jovens é, antes de tudo, um problema familiar, porque ...
l) O uso de drogas pelos jovens é, antes de tudo, um problema familiar, embora ...
3.Grife o tópico frasal de cada parágrafo apresentado. Não deixe de observar como o autor
desenvolve.
a) ―O isolamento de uma população determina as características culturais próprias. Essas sociedades
não têm conhecimento das ideias existentes fora de seu horizonte geográfico. É o que acontece na
terra dos cegos do conto de H.G. Welles. Os cegos desconhecem a visão e vivem tranquilamente
com sua realidade, naturalmente adaptados, pois todos são iguais. Esse conceito pode ser
exemplificado também pelo caso das comunidades indígenas ou mesmo qualquer outra comunidade
isolada.‖ (Redação de vestibular)
b) ―O desprestígio da classe política e o desinteresse do eleitorado pelas eleições proporcionais são
muitos fortes. As eleições para os postos executivos é que constituem o grande momento de
mobilização do eleitorado. É o momento em que o povão se vinga, aprovando alguns candidatos e
rejeitando outros.
Os deputados, na sua grande maioria, pertencem à classe A. É com os membros dessa classe que os
parlamentares mantêm relações sociais, comerciais, familiares. É dessa classe com a qual mantêm
maiores vínculos, que sofrem as maiores pressões.
Desse modo, nas condições concretas das disputas eleitorais em nosso país, se o parlamentarismo
não elimina inteiramente a influência das classes D e E no jogo político, certamente atua no sentido
de reduzi-la.‖ (Leôncio M. Rodrigues)
4. Apresentamos a seguir alguns tópicos frasais para serem desenvolvidos na maneira sugerida.
a) Anacleto é um detetive trapalhão. (por enumeração de detalhes: forneça a descrição física e
psicológica do personagem).
b) As novelas transmitidas pela televisão brasileira são muito mais atraentes que nossos filmes. (por
confronto)
c) As cidades brasileiras estão se tornando ingovernáveis. (por razões)
d) Há três tipos básicos de composição: a narração, a descrição e a dissertação. (por análise) e) Nunca diga que algum ser humano é uma ilha: tudo que acontece a um semelhante nos
atinge. (por exemplificação)
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ATIVIDADE DE APRENDIZAGEM:
10 Gêneros de texto, o que é isso?
Gêneros de texto são as variadas formas que as pessoas e as organizações utilizam para se
comunicar, para orientar, ordenar, interagir. Segundo Mikhail Bakhtin 2003), o autor mais citado
quando se trata de gêneros textuais, a prender a falar e a escrever significa aprender a construir
textos, porque não nos comunicamos por meio de frases isoladas. E também não nos comunicamos
por meio de redações, narrações, descrições (mais da escola que da vida), e sim por meio de textos.
Jean-Paul Bronckart, outro autor que trata de gêneros de texto, afirma que [...] os textos são produto da linguagem em funcionamento permanente nas formações
sociais: em função de seus objetivos, interesses e questões específicas, essas
formações elaboram diferentes espécies de textos, que apresentam características
relativamente estáveis (justificando-se que sejam chamados de gêneros de texto
(BRONCKART, 2004, p. 137) (grifo do autor).
São realmente inúmeros os ―objetivos, interesses e questões específicas‖ que a sociedade
necessita satisfazer. E, para cada objetivo a ser satisfeito, a sociedade, as pessoas selecionam o
gênero de texto apropriado. Assim, por exemplo, os jornais, para expressar sua opinião, servem-se
do gênero editorial. Para informar fato novo, utilizam o gênero notícia. Um cidadão busca obter
junto a um órgão público o que julga ser seu direito por meio do gênero requerimento. Já se o
objetivo for registrar o que ocorre de importante durante uma reunião de pessoas seleciona-se o
gênero ata, ou memória de reunião. E as empresas, para se comunicarem a fim de atingir variados
objetivos podem e servir das cartas, dos e-mails, etc. Enfim, quando necessitamos alcançar
algum propósito comunicativo, escolhermos o gênero de texto adequado para aquele propósito.
E por que, para atingir esses – e outros variados propósitos comunicativos –servimo-
nos dos gêneros de texto? Para responder a essa indagação, o apoio vem novamente de Bakhtin: Se os gêneros do discurso [de texto] não existissem e nós não os dominássemos, se
tivéssemos de criá-los pela primeira vez no processo do discurso, de construir livremente e
pela primeira vez cada enunciado, a comunicação discursiva seria quase impossível.
(Bakhtin, 2003, p. 283)
Em outras palavras, quem necessita de se comunicar não precisa, a cada vez, inventar a
roda‖. Se não existisse essa relativa padronização, teríamos dificuldade de nos comunicar, tanto por
escrito como na linguagem oral. É por isso que existem os gêneros de texto. Para facilitar a vida de
quem quer se comunicar. Ao passar os olhos em um texto, mesmo antes de começar a sua leitura, o
leitor já vai antecipando sua expectativa sobre o gênero de texto, observando a superestrutura, os
contextualizadores e outros elementos linguísticos e não linguísticos. Depois, essa expectativa vai
se confirmando, por meio da leitura, pelo estilo do texto e pelo modo de utilização da linguagem.
Assim acontece com todos os gêneros de texto: ata, notícia, carta, convite, e-mail, conto,
romance, etc.
Após ter selecionado o gênero de texto adequado para o propósito que se quer satisfazer,
tem-se um conjunto de informações que auxiliam e orientam na elaboração do texto. Essas
informações compreendem desde a estrutura do texto global (pré-texto, texto, pós-texto) até as
estratégias linguísticas (como escrever o texto) e os mecanismos de textualização (como
organizar o texto) próprios do gênero. Isso tudo porque as pessoas têm guardadas em suas
memórias coletivas as informações sobre os gêneros de texto que lhes são conhecidos. Bronckart
denomina de arquitexto essa memória coletiva: ―O arquitexto é constituído pelo conjunto de
gêneros de textos elaborados pelas gerações precedentes, tais como são utilizados e eventualmente
reorientados pelas formações sociais contemporâneas.‖ (BRONCKART, 2004, p.100) (Grifo do
Elabore um texto com 4 parágrafos: 1 para
introdução; 2 para o desenvolvimento e 1 para conclusão.
Tema: Sustentabilidade: um sonho possível.
54
autor).
Disso se depreende que aprender a escrever significa também conhecer, entre outras
coisas, os gêneros de texto. E se depreende também que, se solicitarmos a alguém que elabore
determinado texto, somente conseguirá atender ao que lhe foi solicitado se conhecer aquele gênero.
10.1 Qual a diferença entre texto e gênero de texto?
Textos são unidades concretas, produtos finais, orais ou escritos. Gêneros de texto são
modelos abstratos, protótipos que orientam a produção de textos. A carta de Pero Vaz de Caminha é
um texto que pertence ao gênero carta. O Hino Nacional Brasileiro é um texto que pertence ao
gênero hinos. Uma receita específica que ensina como fazer churrasco é um texto que pertence ao
gênero receita culinária.
Sob o aspecto didático, e com base nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), tem-se
hoje que ser proficiente em linguagem, ou, dito de maneira um tanto simplória, saber português,
significa dominar, cada vez, mais gêneros de texto.
Significa saber produzir e ―decifrar‖ cartas, relatórios, notícias, contratos, leis, bulas, avisos,
contos, romances e outras centenas de gêneros que acompanham as pessoas em todas as esferas de
suas atividades e em todos os momentos de suas vidas.
11 As diversas formas de texto
11.1 Resumo
―Resumo é a apresentação concisa dos pontos relevantes de um texto em sequência de frases
articuladas. (...) O tema principal vem na primeira frase. Use a terceira pessoa do singular, com
verbo na voz ativa, de prefer6encia em frases afirmativas. (...) Num resumo, é necessário decidir o
que é fundamental e o que é acessório. É a procura da ideia principal.(...) Como o resumo é uma
operação de síntese, pressupõe uma análise que decompõe o texto, possibilitando agrupar os
elementos semelhantes e distinguir os que são diferentes‖.
(Fonte: Nadólskis, 2004)
Passos a seguir num resumo:
1) Ler o texto e procurar palavras desconhecidas;
2) Reler;
3) Sublinhar; 4) Esquematizar; 5) Resumir.
OBS: O resumo não deve ultrapassar a 20% do texto original.
Exemplo:
Aprender a escrever é, em grande parte, se não principalmente, aprender a pensar, aprender
a encontrar ideias e a concatená-las, pois, assim como não é possível dar o que não se tem, não se
pode transmitir o que a mente não criou ou não aprovisionou. Quando nós, professores, nos
limitamos a dar aos nossos alunos temas para redação sem lhes sugerirmos roteiros ou rumos para
fontes de ideias, sem, por assim dizer, lhes ―fertilizarmos‖ a mente, o resultado é quase sempre
desanimador: um aglomerado de frases desconexas, mal redigidas, mal estruturadas, um acúmulo de
palavras que se atropelam sem sentido e sem propósito; frases em que procuram fundir ideias que
não tinham ou que foram mal pensadas ou mal digeridas. Não podiam dar o que não tinham,
mesmo que dispusessem de palavras-palavras, quer dizer, palavras de dicionário, e de noções
razoáveis sobre a estrutura da frase. É que palavras não criam ideias; estas, se existem, é que,
forçosamente, acabam corporificando-se naquelas, desde que se aprenda como associá-las e
concatená-las, fundindo-as em moldes frasais adequados. Quando o estudante tem algo a dizer,
55
porque pensou, e pensou com clareza, sua expressão é geralmente satisfatória.
(GARCIA, O. M. Comunicação em prosa moderna. 6 ed. Rio de Janeiro: Getúlio Vargas, 1977, p. 275)
11.1.1 Sublinhado:
Aprender a escrever é, em grande parte, se não principalmente, aprender a pensar, aprender
a encontrar ideias e a concatená-las, pois, assim como não é possível dar o que não se tem, não se
pode transmitir o que a mente não criou ou não aprovisionou. Quando nós, professores, nos
limitamos a dar aos nossos alunos temas para redação sem lhes sugerirmos roteiros ou rumos para
fontes de ideias, sem, por assim dizer, lhes ―fertilizarmos‖ a mente, o resultado é quase sempre
desanimador: um aglomerado de frases desconexas, mal redigidas, mal estruturadas, um acúmulo de
palavras que se atropelam sem sentido e sem propósito; frases em que procuram fundir ideias que
não tinham ou que foram mal pensadas ou mal digeridas. Não podiam dar o que não tinham,
mesmo que dispusessem de palavras-palavras, quer dizer, palavras de dicionário, e de noções
razoáveis sobre a estrutura da frase. É que palavras não criam ideias; estas, se existem, é que,
forçosamente, acabam corporificando-se naquelas, desde que se aprenda como associá-las e
concatená-las, fundindo-as em moldes frasais adequados. Quando o estudante tem algo a dizer,
porque pensou, e pensou com clareza, sua expressão é geralmente satisfatória.
11.1.2 Esquema:
Aprender a escrever = aprender a pensar
Não se transmite o que não se criou ou guardou
Temas sem roteiro = mau resultado
Não bastam palavras e conhecimentos gramaticais
Se pensar com clareza, a expressão é satisfatória
9.1.3 Resumo:
Aprender a escrever é aprender a pensar, encontrar ideias e ligá-las. Só se pode transmitir o
que a mente criou ou guardou. Se o professor dá o tema e não sugere roteiros, o resultado é
desanimador, mesmo que o aluno tenha as palavras e conhecimentos gramaticais. Se pensar com
clareza, a expressão será satisfatória.
(Fonte: NADÓLSKIS, Hêndricas. Comunicação Redacional Atualizada. 10ª ed. São Paulo: Saraiva,
2004.)
Agora, o aluno deve parafrasear o trecho acima, ou seja, reescreve-lo com suas palavras
sema alterar o sentido original.
11.2 RELATÓRIO NARRATIVO, DESCRITIVO E DISSERTATIVO
Exposição geral de uma pesquisa, desde o planejamento às conclusões, incluindo os
processos metodológicos empregados. Deve ter como base a lógica, a imaginação e a precisão e ser
expresso em linguagem simples, clara, objetiva, concisa e coerente. Tem a finalidade de dar informações sobre os resultados da pesquisa, se possível, com detalhes,
para que eles possam alcançar a sua relevância. São importantes a objetividade e o estilo, mantendo-se a expressão impessoal e evitando-se
frases qualificativas ou valorativas, pois a informação deve descrever e explicar, mas não pretender
convencer. Selltiz (1965:517) aponta quatro aspectos que o relatório deve abranger:
56
1) Apresentação do problema ao qual se destina o estudo. 2) Processos de pesquisa: plano de estudo, método de manipulação da variável
independente (se o estudo assumir a forma de uma experiência), natureza da atmosfera,
técnicas de coleta de dados, método de análise estatística.
3) Os resultados.
4) Consequências deduzidas dos resultados.
Relatório é a exposição feita a partir da análise de um fato, acontecimento ou fenômeno que
apresenta soluções para um problema.
11.2.1 Objetivos
Providenciar o registro do trabalho executado, de modo que toda a informação possa ser
aproveitada posteriormente;
Apresentar e discutir informações e ainda fornecer recomendações que possam guiar os
responsáveis nas tomadas de decisões e definições;
Manter os demais membros da organização informados sobre investigações, ocorrências,
etc.
Tipos de Relatórios
Relatórios de Estudos e Relatórios de Relatório de Atividades:
Pesquisa: Ocorrência:
- de Visitas;
- técnico; - de Manutenção;
- de Viagem;
- de Experiências; - de Acidentes.
- de Trabalho;
- de estágios.
- de Produção.
11.2.2 Estrutura
O grau de complexidade de cada uma das partes do relatório depende diretamente das
informações que serão apresentadas. Como um estudo, o texto deve ser escrito em terceira pessoa.
11.2.3 Introdução
A introdução, preferencialmente titulada, deve apresentar claramente: O objetivo, a finalidade que se pretendeu ou pretende alcançar com o trabalho que foi ou que será
desenvolvido.
Exemplificando: ―O objetivo deste trabalho consiste em apresentar conclusões sobre...‖
―Este projeto objetiva explicitar o processo utilizado em ...‖
É importante ressaltar que a introdução deve despertar o interesse imediato do leitor – leigo
ou especialista – a fim de orientá-lo quanto à verdadeira natureza do assunto. Para tanto seria
interessante fazer referências a questões que se relacionem com o assunto em pauta ou que o
tenham diretamente provocado ou sugerido, essa postura evidencia a relevância do estudo. Outro
ponto interessante é deixar claro se as conclusões apresentadas são definitivas ou se constituem
apenas subsídios com dados preliminares ou provisórios
57
11.2.4 Desenvolvimento
Ë o relato da experiência ou do trabalho. Pode aparecer titulada como
DESENVOLVIMENTO ou discriminada em três tópicos:
a) Método
É o caminho adotado para o desenvolvimento do trabalho, porém não compreende apenas a
indicação dos procedimentos adotados na apuração e análise dos fatos, mas também a própria descrição
da experiência ou pesquisa e aparelhagem e material empregados. Consiste essencialmente numa típica
descrição de processo, feita em ordem lógica ou cronológica. Neste tópico devem constar:
Materiais, ferramentas, instrumentos e equipamentos utilizados no trabalho;
Tempo de execução que compreende a referência ao período de tempo exigido para
a realização do trabalho ( podem constar apenas as datas de início e fim, ou então,
em caso de trabalho mais complexo, um cronograma com as várias fases do
processo.
Custos. Este item é opcional, porque nem sempre é necessário calcular os custos
de um trabalho. Caso surja a necessidade dos cálculos, devem ser considerados:
materiais empregados, equipamentos e horas-homem trabalhadas, multiplicadas
pelo tempo de execução.
A redação desse tópico deve enunciar o assunto objetivamente:―O método adotado consistiu
em ...”
b) Resultados
O resultado é o efeito, a consequência que se visava ou se visa alcançar – o que realmente se
apurou ou pretende apurar. Pode ser também o ganho e ou o produto.
c) Discussão
A discussão é a interpretação dos resultados – da investigação, da experiência ou do trabalho
– e a indicação da sua importância e consequências. Alguns autores incluem os resultados neste
tópico.
O estilo desta parte é essencialmente argumentativo, trata-se de convencer pela apresentação
de razões que são os próprios fatos obtidos e interpretados. O parágrafo inicial deve ser bastante objetivo. Sugestões:
“O principal interesse destas experiências reside no fato de que...”
“A interpretação dos resultados é...”
d) Características do desenvolvimento
Apresentação objetiva de fatos, de modo a constituírem fortes argumentos
para as recomendações e conclusões;
Caracterizar-se pela exatidão das definições e das descrições através da utilização
de vocabulário técnico; Seguir o encadeamento lógico e objetivo de ideias; Observar o uso dos elementos correlacionais (coesão – coerência); Documentar ou ilustrar, quando necessário, com gráficos, mapas, tabelas, figuras em
58
lugar adequado ou em apêndices.
e) Conclusão
Nesta parte é retomada a ideia-núcleo do relatório. A conclusão pode consistir em:
a) Uma série de inferências a partir dos fatos apresentados, discutidos e interpretados. Nesse
caso, aparece com frequência em forma verbal própria:
―Conclui-se, assim, que... ou Conclui-se, portanto, que... ou conclui-se, em vista do
exposto, que... :
b) Na repetição, em outros termos, do que já tenha sido apresentado na introdução; c) Na retomada de conclusões parciais já apresentadas nos tópicos do Desenvolvimento.
f) Outras partes que, eventualmente, podem compor o relatório:
Agradecimentos
Muitos trabalhos de pesquisa sob forma de relatório, quando recebem subvenção ou
patrocínio de instituições, ou ainda, auxílio de pessoas da área técnica específica, podem trazer,
logo após a conclusão, os agradecimentos do autor.
Apêndices e anexos
Os relatórios podem conter apêndices e anexos, constituídos por gráficos, mapas, tabelas,
dados estatísticos e outras espécies de documentação, além das que possam ser inseridas no próprio
texto. Os anexos têm paginação própria, não sequêncial à do relatório.
Bibliografia
Todo trabalho que exija pesquisa deve ser acompanhado de referências bibliográficas que
são feitas de acordo com as convenções, levando-se em consideração as normas adotadas pela
ABNT.
12 Diretrizes para elaboração de resumos, resenhas e artigos Científicos
Nos últimos anos o número de artigos científicos publicados por brasileiros cresceu
significativamente: ―19% entre 2004 e 2005: passou de 13.313 para 15.777. Contudo, não foi
suficiente para tirar o país da 17ª posição mundial. A explicação é clara: todos cresceram com o
Brasil; alguns menos, como Rússia (5%), outros mais, como a China (29%) e a Índia (21%).‖ .
Apesar de o número de artigos ser relativamente alto, ele não tem o reflexo esperado na geração de
riquezas. Isso porque produção científica não se converte em produtos e serviços. Enquanto no
Brasil a cada trinta artigos existe um registro de patentes, nos EUA a cada artigo publicado há dois
registros de patentes. A Unicamp (Universidade de Campinas), em São Paulo, é a instituição com
mais pedidos no país, tendo ultrapassado recentemente a Petrobrás.
O aumento significativo de publicações nos últimos anos deve-se à rigidez que a Capes
(Coordenação de Aperfeiçoamento de Nível Superior) aplicou na avaliação dos cursos de mestrado
e doutorado que obrigou os programas a criarem meios para a publicação dos trabalhos realizados
pelos alunos: sem cobrança e sem avaliação, a tese ficava na prateleira.
O presente artigo pretende discutir o artigo científico como resultado do trabalho de
59
pesquisa científica. Uma das dificuldades do estudante brasileiro é a de redigir relatórios objetivos e
consistentes dos trabalhos de pesquisa realizados. Não queremos com isso dizer que se resolve o
problema da produção científica apenas a partir dos modelos de artigos. São várias as aplicações de
guias e modelos. Nosso pensamento sem eles estagnaria. Mas, o pensamento cristaliza-se também
se transformamos os guias e modelos em camisas de força. Quando se trata do trabalho intelectual o
cuidado deve ser redobrado. Qualquer tentativa de enclausurar o pensamento, o entendimento, o
estudo, a interpretação, a crítica, irá resvalar no oposto: na falta de criatividade. Se a linha de
produção fechada já exauriu suas possibilidades produtivas na ―indústria pesada‖, na produção de
ideias, no aprendizado e principalmente na pesquisa essa lógica nunca deveria ter sido assumida
como possibilidade.
As diretrizes aqui apresentadas devem ser entendidas como um modelo didático e
circunstancial. Didático porque uma resposta a solicitações de diversos alunos em cursos de
graduação e pós-graduação no sentido de terem um modelo referencial. Circunstancial porque
acreditamos que muito em breve a nossa própria prática docente irá suscitar novos modelos. Esse é
o motivo pelo qual não pretendemos substituir quaisquer outros modelos apresentados por outros
professores, mas, tão somente, acrescentar as presentes diretrizes ao debate atual acerca do tema.
12.1 DIRETRIZES PARA ELABORAÇÃO DE RESUMOS, SÍNTESES E SINOPSES
Primeiramente devemos diferenciar aqui um resumo de estudo de um resumo acadêmico ou
abstract4, que é um resumo feito pelo próprio autor e colocado nas primeiras páginas de um artigo,
uma monografia, uma dissertação ou uma tese. Trataremos do abstract na discussão sobre o artigo
científico, nas próximas páginas. No momento trataremos do resumo como um instrumento de
estudo e um auxiliar à leitura e compreensão de textos.
Um resumo aplica-se sempre aos textos. Um resumo é uma apresentação sempre mais curta
do conteúdo de um texto. Não é apropriado falar do resumo do pensamento de um autor. Deve-se
falar ou escrever a síntese do pensamento de um autor. Devemos pedir um resumo de um texto
como um todo e a síntese do pensamento de um determinado autor contida em um determinado
texto ou obra, assim é mais apropriado.
Deve-se diferenciar a síntese de um resumo porque a síntese busca a apresentação do
pensamento de um autor de forma lógica buscando partir dos elementos mais simples do mesmo,
criando as condições para a compreensão do essencial daquele pensamento. Ex.: podemos dizer
sinteticamente que, o pensamento de Marx parte da mercadoria enquanto elemento mais
representativo da sociedade capitalista e, por isso mesmo, rica em determinações. A partir dos
elementos constitutivos e contraditórios que compõem o fenômeno ―mercadoria‖, a saber, capital e
trabalho, o referido autor demonstra a contradição fundamental que explica a essência mesma das
modernas sociedades capitalistas industriais. Com isso busca apanhar a realidade em suas múltiplas
determinações. Essa é uma síntese das ideias econômicas de Marx contidas em ―O Capital‖, tomo I,
volume I.
Uma síntese não é fácil de ser compreendida por não iniciados naquele pensamento,
exatamente porque expõe em poucos conceitos o essencial de uma doutrina. O objetivo da síntese é
trazer presente ao debate, rapidamente, o pensamento daquele autor. É uma composição rápida dos
elementos constitutivos de uma doutrina. Academicamente não é apropriado solicitar uma síntese
de um texto. Deve-se solicitar o resumo de um texto. É mais apropriado solicitar a síntese de uma
doutrina ou do pensamento de determinado autor. Por outro lado, uma sinopse (do latim Synopsis:
igual forma em grego sym, junto; opsis, vista: vista de conjunto) diferentemente da síntese, visa
apresentar em conjunto uma obra ou uma doutrina. A síntese é a obra vista de baixo para cima, dos
conceitos mais simples para os mais complexos. A sinopse é a obra vista de cima para baixo, é uma
apresentação mais panorâmica do pensamento de determinado autor, ou uma visão de conjunto, de
determinada doutrina. Senão vejamos: Freud a partir da análise do desenvolvimento da sexualidade
infantil, notadamente de filhos e filhas com os pais, sistematiza uma série de observações empíricas,
60
às quais denominou ―Complexo de Édipo‖, e, a partir da sexualidade como centro gerador,
estabelece que esse complexo está na base de diversas neuroses que se manifestam na vida adulta,
impedindo que os indivíduos se relacionem de forma plena e satisfatória nas diversas relações que
experimentam durante a vida. A esse conjunto denominou psicanálise. Isso é uma síntese. Vejamos
agora: Freud, fundador da psicanálise, realiza em sua obra uma análise das bases da sexualidade
humana, além de criar as condições para a compreensão do inconsciente através da análise dos
sonhos. No conjunto de sua obra estabelece as bases para o entendimento da angústia do homem
moderno diante de sua própria existência. Isso é uma sinopse. Tanto a síntese quanto a sinopse são
formas auxiliares no momento de elaboração de resumos e de resenhas.
Um resumo pode trazer em sua abordagem tanto uma síntese como uma sinopse das ideias
do autor, isso dependerá do objetivo a que se destina o resumo. Em geral os resumos acadêmicos
(Abstract), devem conter uma síntese das ideias do autor. Uma síntese, neste caso, presta-se melhor
que a sinopse para compor o abstract.
O resumo é um grande instrumento de estudo, na medida em que, é o meio ideal para
registrar nossas leituras durante um curso de graduação ou pós-graduação. Neste caso, devem-se
estruturar os resumos seguindo-se o seguinte esquema:
Citação bibliográfica do texto lido de acordo com a ABNT (NBR 6023), com
inclusão do número de páginas do texto que está sendo resumido.
Caso seja longo, e estruturado em capítulos o texto a ser resumido, descrever a
organização dos capítulos e os temas abordados pelos mesmos. Em se tratando de
um texto curto descrever apenas o tema abordado pelo autor.
Descrição clara do problema abordado pelo autor no texto.
Descrição das conclusões apresentadas pelo autor (ideias centrais) e os argumentos
por ele utilizados.
Um resumo não deve conter um julgamento crítico das ideias do autor (mesmo sendo um
abstract elaborado pelo próprio autor do texto). O resumo deve ao máximo ser fiel na descrição das
ideias e na argumentação do autor. O objetivo é de registro e não de julgamento. Um resumo deve,
necessariamente, ser bem mais curto que o texto original, seu objetivo é servir de memória do texto
lido. A sugestão é que um resumo de estudo também tenha um tamanho de 400 palavras ou 3800
caracteres com espaço (considerando-se um texto escrito em times new roman 12, com
espaçamento de 1,5).
Quando utilizado com o objetivo de ajudar na qualidade da leitura de um texto, visa outro
propósito, pelo maior cuidado com as palavras e com a ideia geral provocado pela escritura. Neste
caso é possível solicitar-se em um curso / disciplina que o estudante faça um resumo com algum
detalhamento, fixando-se também, em algo que vai além dos argumentos que busca o encadeamento
das ideias e figuras de apoio, busca as premissas, a compreensão das metáforas através do conjunto.
Assim sendo, o tamanho do resumo pode variar e ser maior que o padrão sugerido, pois, se
pretendem maiores detalhes. É preciso se aproximar, dar um zoom nos detalhes buscando captar a
expressão do significado do texto como um todo.
12.2 DIRETRIZES PARA ELABORAÇÃO DE RESENHAS
A resenha é um resumo com um comentário crítico. A resenha ideal, também como um
resumo, é sempre curta. A resenha terá sempre que ser escrita por outra pessoa, que emitirá um
julgamento crítico acerca das ideias e conclusões contidas no texto. Um bom julgamento dependerá
sempre da capacidade de ser fiel às ideias e aos argumentos apresentados pelo autor do texto
original; deste modo, a primeira parte de uma resenha seguirá sempre o mesmo modelo estabelecido
para o resumo. Para uma boa resenha estabelecemos os seguintes passos: Citação bibliográfica do texto lido de acordo com a ABNT (NBR 6023), com
inclusão do número de páginas do texto que está sendo resenhado.
61
Caso seja longo e estruturado em capítulos, o texto a ser resumido, descrever a
organização dos capítulos e os temas abordados pelos mesmos. Em se tratando de
um texto curto descrever apenas o tema abordado pelo autor.
Descrição clara do problema abordado pelo autor no texto.
Descrição das conclusões apresentadas pelo autor (ideias centrais) e os argumentos
por ele utilizados.
Julgamento crítico das ideias e da argumentação do autor. Podemos observar que uma resenha segue o mesmo caminho do resumo apenas
acrescentando-se um julgamento crítico no final.
Entretanto, uma resenha pode prescindir do resumo se o texto já é conhecido pelo público
alvo, podendo o autor da resenha apenas expressar a sua opinião crítica sobre o pensamento do
autor contido no texto. Do ponto de vista didático, o professor pode e deve especificar qual a forma
e o conteúdo que pretende quando solicita uma resenha aos seus alunos. Caso não o faça cabe aos
alunos solicitar esclarecimento sobre o objetivo do pedido e pactuar claramente o resultado
esperado. Se o objetivo é um seminário, uma discussão em sala, um debate, a resenha pode
prescindir do resumo atendo-se apenas no comentário crítico. Do mesmo modo, resenhas destinadas
a revistas temáticas onde o público geralmente conhece o texto original como dever de ofício, as
resenhas veiculam somente o julgamento crítico do texto.
Quanto à questão do tamanho da resenha, não podemos ser tão objetivos quanto o do
resumo. Uma resenha pode conter apenas uma lauda e estar resenhando um texto de 500 páginas. O
tamanho da resenha deve ser determinado sempre pelo espaço disponível para a sua divulgação. Em
se tratando de uma resenha acadêmica com o objetivo de cumprimento de exigência de uma
disciplina é sempre de bom tom que o professor da mesma determine claramente com os seus
alunos o tamanho esperado. O mais importante é que o autor da resenha consiga expressar com
clareza e segurança a avaliação crítica que ele faz do pensamento do autor expresso no texto. Caso
ele utilize outras ideias do mesmo autor, mas, que não estão presentes naquela obra, deixar isso bem
claro para evitar incompreensões por parte de quem ler a resenha.
13 DIRETRIZES PARA ELABORAÇÃO E APRESENTAÇÃO DE ARTIGO CIENTÍFICO Um artigo científico (NBR 6021 e NBR 6022 da ABNT) é um tipo de relatório de pesquisa
elaborado com o objetivo de tornar público o resultado de uma pesquisa num periódico
especializado. Um artigo deve ser estruturado com os elementos textuais, a saber, introdução
(descrevendo a temática a ser tratada e o problema central da pesquisa realizada, além de como
foram desenvolvidas a metodologia e as técnicas de pesquisa) desenvolvimento (descrevendo as
principais ideias e os argumentos) e conclusão (contendo uma síntese tema-problema-resultados e o
possível efeito multiplicador das formulações alcançadas pela pesquisa).
Como o objetivo do artigo é a divulgação em revista científica, em geral com limitação de
espaço, o tamanho do artigo deve sempre ser menor que um relatório monográfico (monografia),
situando-se entre 57.000 a 95.000 caracteres. Em um texto escrito em times new Roman 12, com
espaçamento de 1,5; isso será equivalente, em média, em papel A4, a um total de 15 a 25 páginas.
Um artigo científico tem sua estrutura composta dos seguintes elementos: elementos pré-
textuais e elementos textuais e elementos pós-textuais.
13.1 Elementos Pré-Textuais
São os elementos que antecedem o texto propriamente dito. São importantes porque
compõem informações que tangenciam o texto e que se fossem colocadas diretamente no texto
iriam interferir na compreensão da temática desviando o leitor das informações essenciais. São eles:
Cabeçalho:
Título do Artigo
62
Nome do(s) autor(es), com alinhamento à direita
.Currículo dos autores em nota de pé de página
Agradecimentos (opcional)
Resumo
13.2 Acerca dos Títulos dos Artigos Científicos
Um título de um artigo científico deve ser preferencialmente temático, ou seja, buscar
exprimir o conteúdo do artigo, seja em termos do tema em se tratado pelo artigo, em termos de
exprimir o problema de pesquisa que gerou o artigo, seja o próprio ponto de vista do autor acerca
dos resultados da pesquisa ou de sua investigação temática. Entretanto, mesmo se tratando de um
artigo científico, há espaço para o exercício da criatividade e da inventividade no momento de
construir o título. As metáforas, os silogismos, as comparações são processos que podem chamar a
atenção do leitor para aspectos do texto que na linguagem direta você poderia parecer maçante ou
repetitivo. Pode-se perder um pouco na linearidade, mas, ganhar-se na graça e na arte. Pode-se
perder na objetividade, mas, atrair o leitor através da imagem metafórica. Portanto, a regra geral diz
que o título de um artigo científico deve ser temático, mas, a criatividade, desde que não se
distanciando demasiadamente do tipo de texto em questão, será sempre um meio de cativar os olhos
do leitor.
13.3 Acerca dos Agradecimentos
Os agradecimentos são pessoais e não caberia aqui nenhuma observação. Afinal a quem
cabe decidir a quem agradecer e a quem cabe decidir o que realmente foi decisivo na consecução
daqueles objetivos? Somente ao autor. Entretanto, apenas algumas observações. Alguns autores,
principalmente os concluintes de cursos de especialização, de mestrado e de doutorado,
transformam a secção de agradecimentos em um verdadeiro rol de agradecimentos, agradecem a
Deus, aos pais, aos tios, aos irmãos, ao querido marido, aos filhos, aos amigos, e até, já vimos isso
concretamente, aos inimigos. Entendemos que é um momento emocionante, devemos a muitos,
mas, se agradecemos a todos, banalizamos tanto os agradecimentos, que não estamos agradecendo a
ninguém. Portanto, apenas sugerimos que cada um seja capaz de organizar um pequeno critério a
fim de estabelecer a separação dos agradecimentos pela vida em geral, dos agradecimentos àqueles
que concretamente contribuíram para a realização intelectual daquela obra.
13.4 Acerca da Autoria dos Artigos Científicos
Um artigo científico, claro, deve ser sempre assinado pelo seu autor. Entretanto, há uma
tendência crescente tanto de revistas de divulgação científica, quanto de instituições de indexação
de revistas, que os artigos sejam assinados coletivamente pelas pessoas que participaram da
pesquisa que sustenta a produção do artigo. Trata-se de um reconhecimento de que a produção do
conhecimento é sempre um processo coletivo. As universidades, apesar de continuarem a exigir
assinatura individual nas dissertações de mestrado e nas teses de doutorado, reconhecem a
supremacia da produção coletiva em comparação à produção individual, na medida em que, a
maioria das pesquisas em andamento é assumida por grupos de pesquisa. Também os institutos de
apoio à pesquisa, cada vez mais, dão preferência em subsidiar grupos de pesquisa e não pesquisas
individuais. Ora se reconhecemos que a pesquisa é uma atividade de grupo, a divulgação da
pesquisa deve ser assumida preferencialmente pelo grupo que a realizou. Claro que no caso em que
um artigo seja efetivamente produzido por uma iniciativa individual o autor deve assinar
individualmente.
13.5 Acerca do Resumo Acadêmico e do Abstract
O resumo é um importante instrumento da escrita acadêmica, pois, através dos resumos
podemos decidir a oportunidade de ler ou não um texto integral. Os programas de especialização
stricto senso exigem a inclusão de um resumo e alguns a sua tradução para o inglês, o abstract, nas
63
primeiras páginas do texto integral de uma dissertação ou tese (ver norma NBR 6028 da ABNT).
Neste caso o resumo é feito pelo próprio autor e deve conter em torno de 400 palavras ou 3800
caracteres com espaço (considerando-se um texto escrito em times new Roman 12, com
espaçamento de 1,5), com os quais se contextualiza o problema de pesquisa, a metodologia
utilizada, os principais resultados e a conclusão do estudo, bem como, três ou quatro palavras-chave
para indexação científica de busca setorial.
Em se tratando de resumo, a ser apresentado nas primeiras páginas de um artigo,
monografia, dissertação ou tese, devem-se seguir as seguintes diretrizes para uma boa apresentação:
o resumo deve preceder o texto, e estar escrito na mesma língua deste; deve incluir
obrigatoriamente um resumo em português, no caso de artigos em língua estrangeira publicados em
periódicos brasileiros; o resumo deve ser redigido em um único parágrafo, com espaçamento entre
linha simples e sem recuo de parágrafo; o resumo deve conter em seu primeiro parágrafo, o assunto
tratado, situando-o no tempo e no espaço; o resumo deve conter os objetivos, os métodos, os
resultados e as conclusões do trabalho e ser escrito, como já falamos expressamos acima com no
máximo 400 palavras.
13.6 Elementos Textuais
Constituem o texto propriamente dito: introdução, desenvolvimento, e conclusão. Nos
tópicos seguintes discutiremos cada um deles.
13.7 A Introdução
A introdução é como a sala de visitas de uma casa. Tomar muito cuidado com as primeiras
palavras escritas. Ali o leitor decidirá se continuará ou não a leitura. Deve conter claramente já nas
primeiras linhas o tema do artigo, sua contextualização teórico-histórico-geográfica. Se for o caso,
explicitar o problema prático que gerou a pesquisa, a sua construção enquanto problema de
pesquisa, ou seja, o problema circunstanciado em sua empiria (constituição empírica) e em sua
teoria: o objeto de pesquisa. Descrever as principais questões de pesquisa e o seu desenvolvimento
em ideias centrais e secundárias. Descrever a organização estrutural do texto em partes, capítulos e
subcapítulos, permitindo que o leitor, vislumbre o que encontrará se decidir pela continuidade da
leitura. Deve-se buscar convencer o leitor pela opção de continuar a leitura sem, entretanto,
prometer o que não se poderá cumprir.
Do ponto de vista da estrutura lógica do texto, a introdução é o primeiro elemento textual,
porém, do ponto de vista cronológico deve ser o último a ser escrito, exatamente para ser possível
retratar com propriedade tanto a estrutura do texto quanto a síntese das ideias defendidas pelo autor.
Lembre-se que você já apresentou um resumo nas páginas iniciais, nesse momento você deverá
apresentar uma síntese.
Finalmente apresentam-se também breves palavras de como o artigo é concluído. Não há
nenhum problema, lembre-se que você estará escrevendo um artigo científico e não uma novela
policial. Aqui você poderá dizer já na introdução que quem matou foi o mordomo, o essencial será
você apresentar as provas no desenvolvimento e a articulação final, o encadeamento entre as
evidências que provam que foi o mordomo como um ápice em sua conclusão.
13.8 O Desenvolvimento
Aviso aos navegantes: nunca, mas, nunca escrevam depois da introdução do seu artigo:
Desenvolvimento. O desenvolvimento é o corpo de texto do seu artigo. Ele é composto pelas partes,
capítulos e parágrafos do seu texto. Mas o título das partes e dos capítulos é que comporão o
desenvolvimento do artigo (Ver Exemplo de Organização dos Elementos Textuais de Um Artigo
Científico).
O desenvolvimento é o lugar de tratar da explicitação do problema que gerou a pesquisa, do
aprofundamento das questões de pesquisa que permitiram o surgimento ideias e as argumentações.
Os capítulos podem e devem ser organizados dos elementos mais simples para os mais complexos
64
permitindo ao leitor o acompanhamento do eixo de argumentação que levará à afirmação contida na
ideia ou nas ideias centrais.
A depender da complexidade do tema o autor poderá decidir pela subdivisão em partes ou
em capítulos. Em se tratando de um artigo baseado em uma pesquisa é importante descrever a
metodologia e as técnicas utilizadas no planejamento e execução da pesquisa.
É no desenvolvimento, em sua estruturação em capítulos que o autor do artigo desenvolverá
o debate das ideias e apresentará os resultados da pesquisa organizando sistematicamente a
discussão para o desfecho de sua conclusão.
13.9 A Conclusão do Artigo
A conclusão de um artigo científico é o momento de retomada dos elementos anunciados na
introdução e desenvolvidos nos capítulos, e deve ser clara e concisa. O autor deve retomar os
elementos essenciais abordados, as ideias principais, a articulação dos argumentos e apresentar de
forma direta a opinião do autor.
Além de destacar os resultados obtidos pode, ao mesmo tempo, conter elementos de
autocrítica onde o autor aponta lacunas não preenchidas nos procedimentos de pesquisa,
possibilidades de novas pesquisas ou estudos, enfim, múltiplas possibilidades de dar seguimento ao
trabalho realizado.
13.10 Elementos Pós-Textuais
Alguns artigos podem incluir também elementos pós-textuais, como bibliografias,
apêndices, anexos, tabelas, gráficos. Em se tratando de artigos curtos, exceto a bibliografia
pensamos que o mais prático, principalmente para facilitar a leitura, é incluir esses elementos no
próprio corpo do texto.
14 Referências
É muito importante incluir a lista de textos (livros, artigos impressos, artigos eletrônicos,
etc.) efetivamente citados no final do artigo. Esta lista de textos usados na elaboração do artigo,
deve conter somente os textos que foram lidos e que serviram de base para a elaboração do artigo,
tendo sido citados no corpo do artigo (na forma de citação literal, ou na forma de paráfrase). O
nome recomendado para esse tópico é referências; no caso de conter apenas referências de livros
(mas não de artigos eletrônicos, por exemplo), podem ser denominado referências bibliográficas.
15 CONCLUSÃO
Como anunciamos na introdução, as diretrizes apresentadas são mais uma contribuição para
o avanço do estudo e da pesquisa em nossas instituições de ensino e pesquisa. Entendemos que o
momento da produção de conhecimento deve ser um processo contínuo do ―que fazer‖ da educação
em geral. Estudar, pesquisar, escrever, publicar como passos de um mesmo processo que se assim
assumido o resultado final será sempre o melhor: a produção e transmissão de conhecimento.
Para finalizar, um alerta de que a busca de clareza e de simplicidade, devem sempre nortear
o processo de produção desde um simples resumo, de uma resenha e principalmente de um artigo
científico. Aquilo que não puder ser expresso de forma clara e simples é porque não foi
compreendido com profundidade pelo estudante ou pelo pesquisador e, portanto, não se deixará
transmitir com clareza. A elaboração de um artigo é o momento em que o pesquisador assume o
papel de autor de suas ideias. A simplicidade e a clareza na exposição das ideias é função direta da
profundidade na compreensão dos conceitos estudados ou dos fenômenos pesquisados.
O objetivo da pesquisa científica é a publicação. Os cientistas, estudantes, pesquisadores em
geral, são avaliados atualmente não por suas habilidades, mas, por suas publicações. O que quer a
sociedade da informação é que toda atividade humana converta-se em conhecimento e a pesquisa é
a atividade por excelência de produção de conhecimento. É através do artigo científico e de sua
publicação que o conhecimento enquanto resultado da atividade humana ganha valor, torna-se bem
de consumo, converte-se em riqueza social.
65
Referências
APOLINÁRIO, Fábio. Dicionário de Metodologia Científica: um guia para a produção do
conhecimento científico. São Paulo: Atlas, 2004.
DEMO, Pedro. Ciência. Ideologia e poder: uma sátira às Ciências Sociais. São Paulo: Atlas,
1998.
SANTOS, Boaventura de Souza. Um discurso sobre as ciências. São Paulo: Cortez, 2003.
UFPR / IPARDES. Normas para apresentação de documentos científicos: periódicos e artigos
de periódicos. Vol. 4. Curitiba: Editora da UFPR, 2002.
16 MAPA CONCEITUAL
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Exemplo de aplicação de mapa conceitual.
A teoria a respeito dos Mapas Conceituais foi desenvolvida na década de 70 pelo
pesquisador e navegador norte-americano Joseph Novak, com vistas à facilitar a administração, ao
nível de Comando e Estado Maior, de uma companhia de navegação. Ele define mapa conceitual
como uma ferramenta administrativa, para organizar e representar o conhecimento, de forma geral,
sendo basicamente um aperfeiçoamento do conhecido organograma, somente que, bastante, e muito
detalhado, com fins de ser utilizado em trabalho de equipe e/ou em colegiado.
O então chamado mapa conceitual, foi originalmente baseado na teoria da aprendizagem
significativa de David Ausubel. A aprendizagem pode ser dita significativa quando uma nova
informação adquire significado para o aprendiz através de uma espécie de ‗ancoragem‘ em aspectos
relevantes da estrutura cognitiva preexistente do indivíduo. Na aprendizagem significativa há uma
66
interação entre o novo conhecimento e o já existente, na qual ambos se modificam. À medida que o
conhecimento prévio serve de base para a atribuição de significados à nova informação, ele também
se modifica. A estrutura cognitiva está constantemente se reestruturando durante a aprendizagem
significativa. O processo é dinâmico; o conhecimento vai sendo construído.
Podemos dizer que mapa conceitual é uma representação gráfica em duas ou mais
dimensões de um conjunto de conceitos construídos de tal forma que as relações entre eles sejam
evidentes. Os conceitos aparecem dentro de caixas enquanto que as relações entre os conceitos são
especificadas através de frases de ligação nos arcos que unem os conceitos. As frases de ligação têm
funções estruturantes e exercem papel fundamental na representação de uma relação entre dois
conceitos. A dois conceitos, conectados por uma frase de ligação chamamos de proposição. As
proposições são uma característica particular dos mapas conceituais se comparados a outros tipos de
representação como os mapas mentais.
Técnica de construção de Mapas Conceituais
Uma possível técnica de construção de um mapa conceitual pode seguir as seguintes etapas:
a) ter, antes, uma boa inteligencia inicial cuja resposta estará expressa no mapa geográfico
construído;
b) escolher um conjunto de conceitos (palavras-chave) dispondo-os no final do espaço onde
o mapa será elaborado;
c) escolher um conceito para estabelecimento da(s) relação(ões) entre eles;
d) decidir qual o par e escrever uma frase de ligação para esse par de conceitos escolhido;
e) a repetição das etapas c) e d) tantas vezes quanto se fizer necessário (em geral até que
todos os conceitos escolhidos tenham, ao menos, uma ligação com outro conceito).
Resumidamente, os conceitos se relacionam da seguinte forma:
"conceito" - verbo - "conceito".
Podendo um mesmo conceito estar relacionado a diversos outros.
White e Gunstone,1997, propõem uma seqüência de etapas que auxiliam a construção de um
mapa conceitual:
• Escreva os termos ou conceitos principais que você conhece sobre o tópico selecionado.
Escreva cada conceito ou termo em um cartão.
• Revise os cartões, separando aqueles conceitos que você NÃO entendeu. Também coloque
de lado aqueles que NÃO ESTÃO relacionados com qualquer outro termo. Os cartões restantes são
aqueles que serão usados na construção do mapa conceitual.
• Organize os cartões de forma que os termos relacionados fiquem perto uns dos outros.
• Cole os cartões em um pedaço de papel tão logo você esteja satisfeito com o arranjo. Deixe
um pequeno espaço para as linhas que você irá traçar.
• Desenhe linhas entre os termos que você considera que estão relacionados.
• Escreva sobre cada linha a natureza da relação entre os termos.
• Se você deixou cartões separados na etapa 3, volte e verifique se alguns deles ajustam-se
ao mapa conceitual que você construiu. Se isto acontecer, assegure-se de adicionar as linhas e
relações entre estes novos itens.
Avaliação de mapas conceituais
A ideia principal do uso de mapas na avaliação dos processos de aprendizagem é a de
avaliar o aprendiz em relação ao que ele já sabe, a partir das construções conceituais que ele
conseguir criar, isto é, como ele estrutura, hierarquiza, diferencia, relaciona, discrimina e integra os
conceitos de um dado minimundo em observação, por exemplo.
Isso significa que não existe mapa conceitual ―correto‖. Um professor e/ou administrador
nunca deve apresentar aos alunos o mapa conceitual de um certo conteúdo e sim um mapa
conceitual para esse conteúdo segundo os significados que ele atribui aos conceitos e às relações
significativas entre eles. Da mesma maneira, nunca se deve esperar que o aluno e/ou
aprendizes/pares, apresentem na avaliação o mapa conceitual ―correto‖ de um certo conteúdo. Isso
não existe. O que o irão apresentar é o seu mapa e o importante não é se esse mapa está certo ou
não, mas sim se ele dá evidências de que estejam aprendendo significativamente o conteúdo.
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A análise de mapas conceituais é essencialmente qualitativa. O apresentador, ao invés de
preocupar-se em atribuir um escore ao mapa traçado pelos participantes, deve procurar interpretar a
informação dada pelo interessado no mapa a fim de obter evidências de aprendizagem significativa.
Explicações do interessados, orais ou escritas, em relação a seu mapa facilitam muito a tarefa do
orientador nesse sentido.
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