izabel borges santos
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Pr-Reitoria de Ps-Graduao e Pesquisa
Stricto Sensu em Gerontologia
Trabalho de Concluso de Curso
OFICINAS DE ESTIMULAO COGNITIVA EM IDOSOS
ANALFABETOS COM TRANSTORNO COGNITIVO LEVE.
Braslia - DF
2010
Autora: Izabel Borges dos Santos
Orientadora: Dra. Lucy Gomes Vianna
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IZABEL BORGES DOS SANTOS
OFICINAS DE ESTIMULAO COGNITIVA EM IDOSOS ANALFABETOS COM
TRANSTORNO COGNITIVO LEVE.
Dissertao submetida ao Programa de Ps-
Graduao Stricto Sensu em Gerontologia da
Universidade Catlica de Braslia, como
requisito parcial para obteno do Ttulo de
Mestre em Gerontologia.
Orientadora: Dra. Lucy Gomes Vianna.
Braslia
2010
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Ficha elaborada pela Biblioteca da Universidade Catlica de Braslia - UCB
S237o Santos, Izabel Borges
Oficinas de estimulao cognitiva em idosos analfabetos com Transtorno
Cognitivo Leve / Izabel Borges Santos. 2010.
148 f. ; 30 cm
Dissertao (mestrado) Universidade Catlica de Braslia, 2010. Orientao: Lucy Gomes Vianna
1. Idosos Analfabetismo. 2. Cognio. 3. Memria. I. Vianna, Lucy
Gomes, orient. II.Ttulo.
CDU 613.98
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Dissertao de autoria de Izabel Borges dos Santos, intitulada Oficinas de estimulao cognitiva em idosos analfabetos com Transtorno Cognitivo Leve, apresentada como requisito parcial para obteno do grau de Mestre em Gerontologia da Universidade Catlica
de Braslia, em 24 de Junho de 2010, defendida e aprovada pela banca examinadora abaixo
assinada:
____________________________________________________
Prof Dra. Lucy Gomes Vianna
Orientador
Universidade Catlica de Braslia - UCB
____________________________________________________
Prof Dr. Vicente de Paula Faleiros
Universidade Catlica de Braslia - UCB
____________________________________________________
Prof Dra. Claudia Cristina Fukuda
Universidade Catlica de Braslia - UCB
____________________________________________________
Prof Dra. Carmen Jansen Cardenas
Suplente
Universidade Catlica de Braslia - UCB
Braslia
2010
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Dedicatria
A minha querida me Olga, hoje com 84 anos
e com tanta lucidez resgata da memria fatos e
vivncia dos seus onze filhos e nos faz viver
momentos do nosso inconsciente que ento
no sabamos existir.
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AGRADECIMENTOS
Agradeo a Deus... que est sempre ao meu lado dando-me fora e iluminando-me. Agradecer
neste momento entender a ddiva de Deus. uma forma de consolidar a importncia das
relaes construdas ao longo de uma histria de vida, onde muitas pessoas me foram
presenteadas, fazendo parte de uma construo. So seres preciosos que na minha vivncia e
memria permanecero.
A todo o corpo docente do programa de Ps Graduao em Gerontologia da Universidade
Catlica de Braslia, que compartilhou o seu saber. A meus colegas de mestrado, pelos
momentos inesquecveis que dividimos angstias, alegrias e crescimento.
A todos idosos desta pesquisa, participantes dos grupos que se comprometeram com a
construo de um trabalho, que sempre estiveram disponveis e mais que isto, felizes por
estarem colaborando.
A Secretaria de Sade do Distrito Federal que me proporcionou a liberao parcial de minha
carga horria de trabalho, dando-me oportunidade de crescer como profissional e ser um
agente na transformao junto aos outros profissionais e na atuao politizada e direcionada
em prol da populao idosa.
AGRADECIMENTOS ESPECIAIS
Ao meu esposo, Laudival Mizael e aos filhos Fernando e Vincius, que como fonte de vida
esto sempre ao meu lado, mostrando a cada instante, que o amor no se acaba com o passar
dos anos ou da distncia... gloriosamente se multiplica.
A meus queridos pais, Adelaudio () e Olga, por serem exemplos de fora, dignidade e honestidade e o forte elo intergeracional.
A querida orientadora Prof. Dra. Lucy Gomes, que com muito carisma, respeito e firmeza
soube direcionar e estimular o prosseguimento de cada fase da dissertao.
Por fim, as minhas amigas Neuza Matos, Maria Sueli e Mrcia Arajo. Quem tem um amigo tem um tesouro (Saint Exupery). De fato, minha vida privilegiada com tesouros diferentes e especialmente preciosos. Neuza, que me incentivou e de maneira incondicional me ajudou
em todas as etapas desta caminhada e atravs das nossas vivncias fez brilhar o meu olhar na
velhice. Sueli, fiel, companheira, um exemplo de perseverana. Mrcia, sempre humana e
sensvel ao prximo.
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Que rosto lindo eu vi hoje, rugoso, To fascinante qual o duma criana!
Continha o mesmo brilho radioso
(...) como se o amanh unisse o dia d' ontem
como se o amanh fosse a nossa essncia!
(...) Pois, uma ruga prmio incontestvel.
Eugnio de S. Vicente
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RESUMO
SANTOS, Izabel Borges. Oficinas de estimulao cognitiva em idosos analfabetos com
Transtorno Cognitivo Leve. 2010. 148 p. Dissertao de Mestrado em Gerontologia pela
Universidade Catlica de Braslia, Braslia - Distrito Federal, 2010.
Introduo: As oficinas de Estimulao Cognitiva para idosos analfabetos com Transtorno
Cognitivo Leve tema pouco explorado no Brasil. Objetivos: Analisar o desempenho
cognitivo de indivduos idosos analfabetos com diagnstico de Transtorno Cognitivo Leve
(TCL) antes e aps a realizao de Oficinas de Jogos e Brincadeiras de Estimulao
Cognitiva, adaptadas para uso em indivduos analfabetos; determinar o perfil scio-
econmico-demgraficos desses idosos; verificar a percepo dos idosos sobre sua memria e
identificar os benefcios e contribuies das Oficinas na percepo dos idosos. Material e
Mtodo: Trata-se de pesquisa social quantiqualitativa, utilizando o mtodo de pesquisa-ao
A amostra foi composta por 63 idosos ( 60anos) analfabetos com TCL, sendo 22 no Grupo Experimental (GE), que participaram das 10 Oficinas de Estimulao Cognitiva; Grupo
Controle 1 (GC1), com 21 idosos, que tiveram 10 palestras sobre a sade; e Grupo Controle
2 (GC2), com 20 idosos, nos quais no foi aplicada interveno alguma. Foram feitos os
seguintes testes: Miniexame do Estado Mental (MEEM), Memria de Lista de Palavras
(MLP), Fluncia Verbal (FV) e Teste Computadorizado de Ateno Visual (TCA). A anlise
dos dados foi do programa SPSS, Skewness, teste qui quadrado e mtodo de Bardin.
Resultados: Os idosos estudados tinham idade mdia de 72,8 7,16 anos, sendo 92% do
sexo feminino, do lar, vivos ou casados, sem aposentadoria prpria e com renda mdia de
um salrio mnimo. 82% dos idosos relataram piora da memria ao longo do ltimo ano,
havendo uma mudana significativa de sua percepo de forma positiva aps participao nas
dez oficinas e palestras (GE e GC1, respectivamente). Nos trs grupos, os comentrios dos
idosos sobre sua memria no pr-teste foram feitos de forma simples e pessimista. No ps-
teste, os participantes dos GC1 e GC2 mantiveram os mesmos esquecimentos, enquanto os do
GE se destacaram nas categorias: melhora na cognio, socializao/integrao, mudana nas
atividades de vida diria e satisfao com as oficinas. Os idosos do GE obtiveram maior
escore no MEEM, significativamente maior que os do GC2. Os idosos do GE obtiveram
significativamente maiores escores no item ateno e clculo do MEEM, no teste de MLP e
no teste FV. No TCA, no surgiu diferena significativa entre os trs grupos. Concluso: As
Oficinas oferecidas tiveram destaque na melhoria da cognio, da percepo positiva da
memria e da funcionalidade do idoso em tarefas simples; geraram aprendizagem,
socializao e integrao, assim como diverso e satisfao. Intervir com oficinas ou palestras
educativas em sade obteve-se o mesmo efeito no MEEM. As oficinas foram eficazes na
melhora da memria verbal de longo prazo e fluncia verbal. H necessidade de pesquisas a
fim de mensurar o tempo de permanncia dos benefcios encontrados.
Palavras chaves: Idoso analfabeto. Transtorno cognitivo Leve. Estimulao cognitiva.
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ABSTRACT
SANTOS, Izabel Borges. Cognitive stimulation Workshops for elderly illiterate people
with Mild Cognitive Impairment. 2010. 148 p. Dissertation in Gerontology from the Catholic University of Brasilia, Brasilia - Distrito Federal, 2010.
Introduction: The cognitive performance of elderly illiterate people with Mild Cognitive Impairment and
stimulation Workshops is a subject little explored in Brazil. The objectives of this study were: To analyze the
cognitive performance of elderly illiterate people with Mild Cognitive Impairment (MCI) before and after
Workshops of adapted Cognitive Stimulation Games, determine the socio-economic-demographic profile, verify
the perception of the elderly about their own memory and identify the benefits and contributions of the
workshops on the perception of the elderly. Material and Methodology: quantitative and qualitative social
research, using the action research methodology. The sample consisted of an Experimental Group (EG) n = 22
with 10 workshops, a Control Group 1 (CG1), n = 21 with lectures and a Control Group 2 (CG2), n = 20 without
intervention. Tests: Mini-Mental State Examination (MMSE), Word List Memory task (WLM), Verbal Fluency
(VF) and Computerized Visual Attention Test (CVAT). The analysis through SPSS, Skewness, chi square and
method of Bardin Results: The 63 elderly were mostly young old (average age 72.8 7,16 years old), female
92%, housewife, widowed or married, without their own retirement and with an average income of a minimum
wage. The 82% elderly reported worsening of memory over a year and their perception changed positively after
participating in the ten workshops and lectures (EG and CG1). Before the test, the elderly comments about their
memory were simple and pessimistic. After the test, CG1 and CG2 maintained the same forgetfulness but EG
stood out from the others in the following categories: improvement in cognition, socialization/integration,
changes in the daily life activities and satisfaction with the workshops. The EG had a higher score on the
MMSE, but was only significantly better than CG2. EG excelled in the item Attention and Calculation, from the
MMSE, in the WLM and in the VF. In the CVAT there was no significant difference. Conclusion: These
workshops were important in improving cognition, positive perception of the memory and the
elderly skills in simple tasks; they generated learning, socialization and integration, fun and
satisfaction. The same effect on the MMSE was obtained with the intervention of workshops and educational lectures on health. The workshops were effective in improving long-term verbal memory and verbal fluency. The
mnemonic difficulty persists in the EG and there is the necessity of carrying out further research in order to
measure how long these benefits will continue.
Keyword: Elderly Illiterate. Mild cognitive impairment. Cognitive stimulation.
-
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Distribuio dos 63 idosos analfabetos com TCL na UMT-DF, estudados nos
trs grupos, de acordo com a faixa etria..............................................................
60
Tabela 2 - Distribuio dos 63 idosos analfabetos com TCL estudados na UMT-DF, nos
trs grupos, de acordo com o estado civil..............................................................
62
Tabela 3 - Distribuio dos 63 idosos analfabetos estudados com TCL na UMT-DF, de
acordo com a renda econmica.............................................................................
63
Tabela 4 - Distribuio dos 63 idosos analfabetos com TCL estudados na UMT-DF, de
acordo com aposentadoria, penso e BPC.............................................................
64
Tabela 5 - Distribuio dos 63 idosos analfabetos com TCL estudados na UMT-DF, de
acordo com a profisso/ocupao..........................................................................
66
Tabela 6 - Relao intergrupos nas respostas pergunta Como est sua memria hoje? nos pr e ps-testes, em 63 idosos analfabetos com TCL, UMT-DF....................
75
Tabela 7 - Relao intergrupos nas respostas pergunta Voc acredita que sua memria pior do que a dos outros? nos pr e ps- testes, em 63 idosos analfabetos com TCL, UMT-DF..............................................................................................
76
Tabela 8 - Anlise dos itens do MEEM, pr e ps-testes, nos 63 idosos analfabetos com
TCL dos GE, GC1 e GC2, UMT-DF.....................................................................
89
Tabela 9 - Anlise das etapas do Teste de Memria de Lista de Palavras, nos pr e ps-
testes, nos 63 Idosos analfabetos com TCL dos GE, GC1 e GC2, UMT-DF........
92
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LISTA DE GRFICOS
Grfico 1 - Distribuio dos 63 idosos analfabetos com TCL na UMT-DF, de acordo
com a moradia e o arranjo familiar................................................................... 67
Grfico 2 - Respostas pergunta Como est sua memria hoje?, no pr e ps oficinas de 22 idosos analfabetos com TCL do GE, UMT-DF...................................... 69
Grfico 3 - Respostas pergunta Voc acredita que sua memria pior do que a dos outros? no pr e ps oficinas de 22 idosos analfabetos com TCL do GE, UMT-DF........................................................................................................... 70
Grfico 4 - Respostas pergunta Como est sua memria hoje? no pr e ps palestras de 21 idosos analfabetos com TCL do GC1, UMT-DF.................................... 71
Grfico 5 - Respostas pergunta Voc acredita que sua memria pior do que a dos outros? no pr e ps palestras de 21 idosos analfabetos com TCL do GC1, UMT-DF........................................................................................................... 72
Grfico 6 - Respostas pergunta Como est sua memria hoje? no perodo correspondente aos pr e ps-testes, em 20 idosos analfabetos com TCL do
GC2, UMT-DF.................................................................................................. 73
Grfico 7 - Respostas pergunta Voc acredita que sua memria pior do que a dos outros? no perodo correspondente aos pr e ps-testes, em 20 idosos analfabetos com TCL do GC2, UMT-DF......................................................... 74
Grfico 8 - Escore geral do MEEM, pr e ps testes, nos GE, GC 1 e GC2, nos 63
idosos analfabetos com TCL, UMT-DF.......................................................... 88
Grfico 9 - Escore geral da Memria de Lista de Palavras, nos pr e ps-testes, nos 63
idosos analfabetos com TCL dos GE, GC1 e GC2, UMT-DF.......................... 91
Grfico 10 - Escore geral da Fluncia Verbal, nos pr e ps-testes, em 63 idosos
analfabetos com TCL dos GE, GC1 e GC2, UMT-DF................................... 94
Grfico 11 - Variabilidade do tempo de reao visual (milissegundos), nos pr e ps-
testes, nos 63 idosos analfabetos com TCL nos GE, GC1 e GC2, UMT-DF... 96
Grfico 12 - Percentual de acertivas emitidas nos pr e ps-testes, nos 63 idosos
analfabetos com TCL dos GE, GC1 e GC2, UMT-DF..................................... 96
Grfico 13 - Percentual de Falsos Alarmes emitidas nos pr e ps-testes, nos 63 idosos
analfabetos com TCL dos GE, GC1 e GC2, UMT-DF..................................... 97
Grfico 14 - Tempo mdio de reao aos estmulos visuais pr e ps-testes, nos 63 idosos
analfabetos com TCL dos GE, GC1 e GC2, UMT-DF..................................... 98
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LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Resumo dos agrupamentos das categorias e subcategorias. Grupo
Experimental....................................................................................................... 77
Quadro 2 - Resumo dos agrupamentos das categorias e subcategorias. Grupo Controle 1.. 77
Quadro 3 - Resumo dos agrupamentos das categorias e subcategorias. Grupo Controle 2..
77
Quadro 4 - Categorizao dos comentrios dos idosos analfabetos com TCL no GE sobre
seu estado mnemnico aps as Oficinas de Estimulao Cognitiva, UMT-DF. 78
Quadro 5 - Categorizao dos comentrios dos idosos analfabetos com TCL no GC1
sobre seu estado mnemnico aps as palestras, UMT-DF.................................. 81
Quadro 6 - Categorizao dos comentrios dos idosos analfabetos com TCL no GC2
sobre seu estado mnemnico aps o perodo correspondente ao das Oficinas
de Estimulao Cognitiva e palestras, UMT-DF................................................ 82
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LISTA DE SIGLAS
AVDIs - Atividades Instrumentais de Vida Diria
AVDs - Atividades de vida diria
BCSB - Brief Cognitive Screening Battery
DA - Doena de Alzheimer
DCC - Declnio da Capacidade Cognitiva
EDG - Escala de Depresso Geritrica de Yesavage
FV - Teste de Fluncia Verbal
GC1 - Grupo Controle 1
GC2 - Grupo Controle 2
GE - Grupo Experimental
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica
INAF - Indicador Nacional de Alfabetismo Funcional
IQCODE - Informant Questionnaire of Cognitive Decline in the Elderly
MEEM - Miniexame do Estado Mental
NEUROPSI - Bateria Neuropsicolgica Abreviada
QPAF - Questionrio Pfeffer de Avaliao Funcional
TCA - Teste Computadorizado da Ateno Visual
TCL - Transtorno Cognitivo Leve
TCM - Teste Computadorizado da Memria
TEVA - Testes de Variveis de Ateno Visual
TRD - Teste do Desenho do Relgio
UMT-DF - Unidade Mista de Taguatinga - Distrito Federal
UNESCO - United Nations Educational Scientific and Culture Organization
UNIFESP - Universidade Federal de So Paulo
-
SUMRIO
1 INTRODUO................................................................................................... 15
1.1 JUSTIFICATIVA................................................................................................. 17
1.2 OBJETIVOS......................................................................................................... 20
1.2.1 Objetivo geral....................................................................................................... 20
1.2.2 Objetivos especficos............................................................................................ 20
1.3 HIPTESE............................................................................................................ 21
2 FUNDAMENTAO TERICA...................................................................... 22
2.1 ENVELHECIMENTO E ALTERAES FISIOLGICAS RELACIONADAS
COGNIO...................................................................................................... 22
2.2 ANALFABETISMO NA VELHICE: UMA REALIDADE NO BRASIL........... 27
2.3 TRANSTORNO COGNITIVO LEVE.................................................................. 30
2.4 FUNCIONAMENTO DA MEMRIA NO IDOSO............................................. 32
2.5 ESTIMULAO COGNITIVA E SUA REPERCUSSO NA VELHICE......... 37
2.6 TESTES DE AVALIAO COGNITIVA........................................................... 40
2.6.1 Miniexame do Estado Mental (MEEM)............................................................. 42
2.6.2 Teste de Memria de Lista de Palavras............................................................. 43
2.6.3 Teste de Memria de Figuras .......................................................... 43 2.6.4 Teste de Fluncia Verbal..................................................................................... 44
2.6.5 Teste do Desenho do Relgio (TRD)................................................................... 45
2.6.6 Escala de Katz: Atividades de Vida Diria (AVDs).......................................... 45
2.6.7 Atividades Instrumentis de Vida Diria (AIVDs)............................................. 46
2.6.8 Teste Computadorizado da Memria (TCM) e Teste Computadorizado da
Ateno Visual (TCA).......................................................................................... 46
2.6.9 Questionrio PFEFFER de Avaliao Funcional (QPAF)............................... 47
2.6.10 Informant Questionnaire of Cognitive Decline in the Elderly (IQCODE)..... 48
3 MATERIAIS E MTODOS............................................................................... 49
3.1 TIPO DE PESQUISA............................................................................................ 49
3.2 CUIDADOS TICOS........................................................................................... 50
3.3 PARTICIPANTES ................................................................................................ 50
3.4 LOCAL DAS OFICINAS, PALESTRAS E DOS TESTES................................. 52
3.5 OFICINAS............................................................................................................. 52
3.6 PALESTRAS......................................................................................................... 56
3.7 INSTRUMENTOS DE COLETA DE DADOS.................................................... 56
3.8 ANLISE DOS DADOS...................................................................................... 58
4 APRESENTAO DOS RESULTADOS E DISCUSSO DOS
RESULTADOS.................................................................................................... 59
4.1
APRESENTAO E DISCUSSO DOS DADOS SCIO-ECONMICO-
DEMOGRFICOS................................................................................................ 59
4.1.1 Histrico da Unidade Mista de Taguatinga Distrito Federal........................ 59
4.1.2 Caracterizao da amostra.................................................................................. 59
4.1.3 Faixa etria........................................................................................................... 60
4.1.4 Faixa sexo.............................................................................................................. 61
4.1.5 Estado civil............................................................................................................ 61
4.1.6 Renda econmica.................................................................................................. 62
4.1.7 Aposentadorias, penses e benefcio da prestao continuada........................ 63
-
4.1.8 Profisso/ocupao............................................................................................... 64
4.1.9 Moradia e arranjo familiar................................................................................. 66
4.2 APRESENTAO E DISCUSSO QUANTO A PERCEPO DA
MEMRIA............................................................................................................ 68
4.2.1 Grupo Experimental............................................................................................ 68
4.2.2 Grupo Controle 1................................................................................................. 71
4.2.3 Grupo Controle 2............................................................................... 73
4.2.4 Anlise geral da percepo da memria atual e em relao memria dos
outros.................................................................................................................... 75
4.3 COMENTRIO DOS IDOSOS SOBRE SEU ESTADO MNEMNICO PR
E PS OFICINAS................................................................................................. 77
4.4 APRESENTAO E ANLISE DOS TESTES APLICADOS........................... 88
4.4.1 Miniexame do Estado Mental (MEEM)............................................................ 88
4.4.2 Memria de Lista de Palavras............................................................................ 90
4.4.3 Fluncia Verbal.................................................................................................... 93
4.4.4 Teste Computadorizado de Ateno Visual...................................................... 95
5 CONCLUSES................................................................................................... 100
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS............................................. 103 APNDICE.......................................................................................................... 118
APNDICE A - Cronograma de Atividades das Oficinas de Estimulao
Cognitiva atravs de Jogos e Brincadeiras Adaptadas para Idosos Analfabetos... 118
APNDICE B - Cronograma das Palestras de Educao em Sade para Idosos
Analfabetos - Grupo Controle 1............................................................................. 119
APNDICE C - Estratgias de Estimulao Cognitiva para Idosos Analfabetos-
Tarefa de Casa - Grupo Experimental.................................................................. 120
APNDICE D - Comentrios dos Idosos sobre Estado Mnemnico - Grupo
Experimental, Controle 1 e 2................................................................................. 121
APNDICE E - Oficinas de Jogos e Brincadeiras Adaptadas para Idosos
Analfabetos............................................................................................................ 130
ANEXOS............................................................................................................... 144
ANEXO I - Aprovao do Comit de tica da FEPECS....................................... 144
ANEXO II - Cronograma de Atividades da Pesquisa............................................ 145
ANEXO III - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido................................. 146
ANEXO IV - Roteiro de Entrevista....................................................................... 148
-
15
1 INTRODUO
O processo de envelhecimento fase marcada por mudanas profundas que podem
culminar em doenas e incapacidades de naturezas diversas. Sabe-se hoje que certos dficits
de memria fazem parte do envelhecimento saudvel (YASSUDA et al., 2006).
Na velhice, frequentemente ocorrem alteraes em diferentes reas da cognio,
envolvendo ateno, percepo, memria, raciocnio, juzo, imaginao, pensamento e
linguagem. Indivduos com idade igual ou acima de 60 anos geralmente se queixam de
dificuldades com a memria e outras habilidades cognitivas, especialmente quando comparam
seu desempenho atual com o apresentado no passado. Alm das dificuldades em armazenar
informaes e resgat-las, referem ainda prejuzo ocupacional e social. Diante dessas
alteraes decorrentes da idade, ocorre autoabandono, perda da autoestima, isolamento da
sociedade e mesmo do ambiente familiar (SOUZA; CHAVES, 2005; AVILA; BOTTINO,
2006).
H interesse crescente em manter e at aumentar a capacidade cerebral dos idosos,
proporcionando estratgias concretas para mant-los aptos e flexveis (LAWRENCE, 2000).
Independente da relevante preocupao com o possvel progresso do declnio cognitivo
fisiolgico para a demncia, as queixas subjetivas que os idosos apresentam a respeito de seu
desempenho mnemnico so reais e devem ser acolhidas.
Atualmente, o idoso tem dificuldade para se adaptar s exigncias do mundo moderno.
Isso se deve, em parte, deficincia educacional dessa gerao, que viveu uma poca na qual
freqentar a escola era privilgio de poucos. Por esse motivo, ocorre alto ndice de
analfabetismo nesse grupo etrio, atingindo 5,1 milhes no Brasil. Existe ainda o
analfabetismo funcional, que abarca os indivduos com menos de 4 anos de estudo. Segundo
IBGE (2000), 59,4% dos idosos responsveis pelos domiclios no Brasil so analfabetos
funcionais (IBGE, 2000).
Para responder aos objetivos desta pesquisa, na presente dissertao foi realizada
reviso bibliogrfica dos seguintes temas: primeiro foi abordado o envelhecimento e as
alteraes fisiolgicas relacionadas cognio nessa etapa da vida, ressaltando-se a
repercusso do declnio cognitivo sobre a capacidade funcional global do idoso. A seguir
evidenciaram-se as definies de analfabetismo atualmente vigentes no Brasil, revisando-se
situao e progresso da alfabetizao dos idosos. Aps, apresentaram-se os aspectos
conceituais do Transtorno Cognitivo Leve (TCL) e as dificuldades de sua caracterizao e
diagnstico, bem como sua diferenciao com o declnio da cognio natural do
-
16
envelhecimento. Posteriormente, distinguiram-se os modelos de memria, bem como o
funcionamento e a combinao de subsistemas relatados por diversos autores. Na sequncia,
destacou-se a estimulao cognitiva como estratgia de ativao das funes cognitivas e
preveno de declnios cognitivos, bem como a melhora na qualidade de vida. Por ltimo,
abordou-se os instrumentos de avaliao cognitiva/funcional que colaboram na avaliao
ampla do idoso, usados em ambientes especializados e de ateno sade do idoso, tanto em
pesquisas nacionais quanto internacionais.
Esta pesquisa teve como objetivo principal analisar o desempenho cognitivo de idosos
analfabetos com TCL antes e aps a realizao de Oficinas de Jogos e Brincadeiras de
Estimulao Cognitiva Adaptadas, por meio de instrumentos de avaliao cognitiva. Outro
aspecto importante evidenciado foi a autopercepo dos idosos sobre sua memria, bem como
a percepo das contribuies das oficinas. O estudo foi realizado na Unidade Mista de
Taguatinga (UMT-DF), da Secretaria do Estado de Sade do Distrito Federal, que dispe de
servio de referncia para o atendimento de ateno sade do idoso e conta com equipe
multidisciplinar.
-
17
1.1 JUSTIFICATIVA
Nas ltimas dcadas, observou-se ntido envelhecimento demogrfico e, como
consequncia dessa transio, envelhecimento da populao mundial (SIQUEIRA, 2002).
Esse fenmeno j observado h algum tempo nos pases desenvolvidos, mas ocorre agora de
modo acelerado nos pases em desenvolvimento, incluindo o Brasil. caracterizado,
principalmente, pelos declnios das taxas de fecundidade e de mortalidade nas idades
avanadas tendo, como consequncia direta, mudana na estrutura etria da populao
(PEREIRA, 1995; HIGGS, 1997; CARVALHO; GARCIA, 2003).
Diversos estudos epidemiolgicos fazem projees que apontam para o aumento
crescente e contnuo do nmero de idosos no Brasil. Atualmente so 15 milhes de indivduos
com 60 anos ou mais (8,6% da populao) sendo que, em 2025 sero aproximadamente 34
milhes nessa faixa etria (dos quais 10,6% correspondero a idosos com 80 anos e mais), o
que colocar o Brasil na sexta posio com maior nmero de idosos no mundo (IBGE, 2000;
SCHOUERI, 2000; SOUZA; CHAVES, 2005). Essa alterao demogrfica deve-se tambm
s atuais conquistas mdico-tecnolgicas que tm possibilitado a preveno e cura de doenas
que antes eram consideradas fatais (SOUZA; CHAVES, 2005).
Alm do aumento no nmero de idosos, tambm h aumento da expectativa de vida,
que atualmente de 68,6 anos, sendo 2,5 anos a mais do que no incio da dcada de 90.
Estima-se que em 2020, a expectativa de vida no Brasil ser de 70,3 anos (IBGE, 2000).
No Brasil, as mulheres vivem, em mdia, oito anos a mais do que os homens. As
diferenas de expectativa de vida entre os gneros levaram, como consequncia, ao fato de
que em 1991, as mulheres correspondiam a 54% da populao de idosos, enquanto em 2000
passaram a 55,1%. Portanto, em 2000, para cada 100 mulheres idosas havia 81,6 homens
idosos (IBGE, 2000).
Envelhecer , portanto, processo natural que caracteriza etapa da vida do homem,
ocorrendo com mudanas fsicas, psicolgicas e sociais que acometem de forma particular
cada indivduo com sobrevida prolongada. a fase na qual, ponderando sobre a prpria
existncia, o indivduo idoso conclui que alcanou objetivos, mas que tambm sofreu perdas,
entre as quais a sade, que se destaca como um dos aspectos mais afetados (MENDES et al.,
2005).
Como resultado desse processo, observa-se que ao longo do avano cronolgico, o
corpo humano est submetido a situaes de sobrecarga funcional prolongada, podendo no
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18
reagir de modo adaptativo, levando ao desenvolvimento de processos patolgicos agudos e
predominantemente crnicos. As alteraes fisiolgicas que provm do envelhecimento
orgnico predispem ao surgimento de doenas crnico-degenerativas, as quais podem
comprometer a capacidade funcional. Alm disso, perdas neuronais podem iniciar processos
demenciais que dificultam o autocuidado e geram perda da autonomia e da independncia
(SCHOUERI, 2000).
Os idosos apresentam mais problemas de sade do que a populao geral. Mais da
metade dos idosos apresenta algum problema de sade (53,3%), sendo 23,1% deles
portadores de doenas crnicas (IBGE, 2000). Com o envelhecimento, so observadas
alteraes orgnicas e funcionais, decorrentes de mudanas nos mecanismos de homeostase
que so controlados pelos sistemas imunolgico, endcrino e nervoso, podendo levar a
dficits leves em pessoas que envelhecem normalmente. H indivduos que experienciam
menor declnio cognitivo que outros, sendo que essas diferenas individuais aumentam com o
avanar da idade. Mudanas radicais na habilidade mental da pessoa idosa podem indicar
comprometimento importante de sua sade (KAWAS, 2003).
A funo cognitiva marcada por diferenas individuais considerveis, podendo a
perda da eficincia cognitiva ser frequentemente compensada. Uma das manifestaes mais
frequentes desse declnio so as alteraes relacionadas com a memria (FERRARI, 1997).
A literatura sugere que no envelhecimento saudvel existe a possibilidade de compensao,
pelo menos parcial, dos dficits cognitivos (BACKMAN, 1989; BALTES; BALTES, 1990;
DUNLOSKY; HERTZOG, 1998). Segundo Yassuda (2006), pesquisas sobre intervenes
cognitivas apontam para os treinos da cognio e da memria, que podem aumentar as
habilidades cognitivas de idosos normais. Assim, o idoso saudvel capaz de aproximar seu
desempenho atual do seu desempenho mximo possvel, por apresentar plasticidade cognitiva.
Com o aumento da idade, existe tendncia de ocorrerem declnios cognitivos e
funcionais, condicionando diminuio da interao social e nas atividades fsicas e de lazer,
com conseqente decrscimo na qualidade de vida e na expectativa de vida ativa dos idosos.
Por isso, a implementao de programas de treino cognitivo relevante tanto para a melhora
e/ou manuteno das funes cognitivas quanto para manter boa qualidade de vida nos idosos
(GALLO; SCHOEN; JONES, 2000).
Frente a isso, postula-se a aplicao do exerccio de memria atravs de sua
estimulao/motivao, como mtodo teraputico na recuperao e/ou manuteno da funo
neural associada cognio (SOUZA; CHAVES, 2005). Acevedo (2007) refora que os
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treinos tm como objetivo maximizar as funes cognitivas e prevenir futuros declnios
cognitivos. Intervenes cognitivas podem contribuir para a funcionalidade cognitiva do
idoso, melhorando a qualidade de vida e o bem-estar psicolgico (IRIGARAY, 2009).
Justifica-se, portanto, realizao de oficinas de Estimulao Cognitiva atravs de jogos
e brincadeiras adaptados para idosos analfabetos com diagnstico de Transtorno Cognitivo
Leve, verificando-se o seu desempenho cognitivo antes e aps a realizao dessas oficinas.
Esta pesquisa foi realizada mediante atuao prtica e multiprofissional em unidade de
referncia de atendimento sade do idoso, vislumbrando contribuir e disponibilizar
assistncia diferenciada na rea da cognio, bem como melhoria na qualidade de vida dos
idosos, de suas famlias e da sociedade.
H necessidade de estudos especficos que beneficiem a populao idosa analfabeta,
tendo em vista as peculiaridades dessa parcela da populao, muitas vezes esquecida dentro
do contexto geral. Portanto, o presente estudo contribuir com informaes para a
compreenso dessa problemtica e a tomada de novas direes referentes ao atendimento
desse segmento social e usurio da UMT-DF. Trata-se de tema importante, que merece
aprofundamento principalmente por parte dos profissionais da rea de sade que trabalham
diretamente com essa clientela.
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1.2 OBJETIVOS
1.2.1 Objetivo geral
Analisar o desempenho cognitivo de indivduos idosos analfabetos com diagnstico de
TCL antes e aps a realizao de Oficinas de Jogos e Brincadeiras de Estimulao Cognitiva,
adaptadas para uso em indivduos analfabetos.
1.2.2 Objetivos especficos
1. Determinar o perfil scio-econmico-demogrfico dos idosos analfabetos estudados.
2. Verificar a autopercepo dos idosos analfabetos sobre sua memria antes e aps as
intervenes aplicadas.
3. Identificar a contribuio das Oficinas de Estimulao Cognitiva na percepo dos
idosos analfabetos.
4. Verificar o impacto das oficinas na estimulao cognitiva de idosos analfabetos
atravs dos testes de avaliao cognitiva.
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1.3 HIPTESE
As estratgias da Estimulao Cognitiva, atravs de jogos e brincadeiras adaptados
para indivduos idosos analfabetos, trabalham ateno, percepo, raciocnio, juzo,
imaginao, pensamento, linguagem e memria, levando a melhoria da cognio, detectvel
nos testes de avaliao cognitiva e na auto-percepo desses idosos analfabetos.
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2 FUNDAMENTAO TERICA
2.1 ENVELHECIMENTO E ALTERAES FISIOLGICAS RELACIONADAS
COGNIO
Reconhecendo-se a relevncia da temtica idoso, nos dias atuais parte-se para o
resgate histrico das discusses acerca do envelhecimento, bem como das alteraes
fisiolgicas, dando-se nfase s alteraes cognitivas.
O envelhecimento e a busca da longevidade so preocupaes que se destacaram em
toda a histria da humanidade. Na ltima dcada esse tema mereceu maior nfase, seja por
aumento da populao de idosos seja pela reduo gradativa da capacidade funcional desse
grupo etrio, o que traz para a sociedade a questo da insero social desse segmento
(PEIXOTO, 1998; PAPALO NETTO, 2007).
As concepes sobre velhice vm sendo construdas ao longo do desenvolvimento da
humanidade. Uma das primeiras representaes grficas do envelhecer, segundo Leme (2001,
p. 9), veio do Egito: o hierglifo que significa velho ou envelhecer, dos anos 2800-2700 a.C.,
que representa uma imagem humana deitada, com ideograma representativo de fraqueza
muscular e de perda ssea.
Para os gregos antigos, conforme Arajo e Carvalho (2005), a vida humana se
relaciona com o binmio matria e energia. Cada pessoa possua uma quantidade limitada de
matria e calor, para ser usada durante toda a vida. Com o passar dos anos, a matria e o calor
iam se dissipando. A velhice, portanto, era vista como a dissipao do calor at a total
diminuio da reserva calorfica, ocorrendo ento a morte.
Durante a idade mdia e at o sculo XVIII, os idosos eram pouco numerosos. A vida
era muito rdua e aqueles que sobreviviam tinham que contar com a solidariedade da famlia
ou com a caridade pblica de senhores feudais e da igreja (ALBUQUERQUE, 2005). Nesse
sentido, Mascaro (2004) comenta que a vida dos idosos continuou difcil no incio do
capitalismo e no sculo XIX durante a Revoluo Industrial. O destino dos mesmos era
depositado nas mos das famlias que podiam trat-los com benevolncia, como tambm
esquec-los, abandonando-os em hospitais e asilos.
J o sculo XX, no entanto, foi marcado por grandes avanos na cincia do
envelhecimento. Em parte devido ao crescente aumento do nmero de idosos, mas
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principalmente aos conhecimentos adquiridos por meio de estudos que se desenvolveram
desde os pioneiros Metchnikoff e Nascher, em 1903 e em 1909, respectivamente,
estabeleceram-se os fundamentos da gerontologia, estudo da velhice, e da geriatria (FREITAS
et al., 2002). Segundo essa mesma autora, at o aparecimento do trabalho de Warren, na
dcada de 30, a Gerontologia estava restrita aos aspectos biolgicos do envelhecimento e da
velhice, sendo mrito dessa pesquisadora delinear os primrdios da avaliao
multidimensional e a importncia da interdisciplinaridade.
Nas ltimas dcadas, de acordo com Camarano (2002), o crescimento da populao
idosa foi consequente a dois processos: alta fecundidade no passado, observada nas dcadas
de 50 e 60 e reduo da mortalidade na populao idosa.
O envelhecimento para Spirduso (2005) concebido como uma experincia
individual, tanto no aspecto de subjetividade como na perspectiva dos sistemas fisiolgicos,
com ndices de envelhecimento e compensao diferentes. Este processo marcado por
conjunto de traos morfolgicos, orgnicos e funcionais, agravados pelas doenas que
acometem os idosos. A diferenciao entre o fisiolgico e o patolgico difcil, pois esses
fenmenos guardam estreita relao (CARVALHO FILHO, 1997; JACOB FILHO; SOUZA,
2000).
Segundo Vieira e Glashan (1996), as modificaes que ocorrem nos diversos sistemas
levam reduo da reserva funcional, que compromete a homeostasia e, consequentemente, a
capacidade de adaptao s modificaes do meio. Esses autores ressaltam, ainda, a
necessidade de se conhecerem as principais alteraes observadas no idoso, a fim de fazermos
a distino dos efeitos da senescncia ou alteraes da senilidade.
Canineu (1997) declarou ser o sistema nervoso o centro regulador e ferramenta
indispensvel para a manuteno da homeostase com o envelhecimento. H alteraes
anatmicas e qumicas no encfalo e medula, como diminuio do volume celular. Essa perda
maior no crtex e menor no tronco cerebral, em que se localizam os centros reguladores da
homeostase.
A deficincia do sistema nervoso demonstrada por meio da falta de tolerncia s
modificaes de temperatura, com produo de hipotermia ou hipertermia, alm da
diminuio da sensibilidade de receptores responsveis pelo controle da presso arterial,
receptores cutneos e quimiorreceptores. Essa diminuio da conduo dos estmulos , em
parte, ocasionada por menor liberao dos neurotransmissores (OLIVEIRA; FURTADO,
1999).
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preciso considerar a diminuio da reserva funcional dos indivduos idosos, que
somada aos anos de exposio a inmeros fatores de risco, os tornam mais vulnerveis a
doenas. Eles so geralmente portadores de mltiplas enfermidades crnicas e incapacitantes
e, por isso, consumidores de grande parte dos recursos oramentrios destinados sade
(LOPES, 2002; PAPALO, 2002; KAWAS, 2003).
Assim, a capacidade funcional surge como novo paradigma relevante para o idoso. A
sade, dentro dessa nova perspectiva, passa a ser resultado da interao das dimenses fsica,
mental, independncia na vida diria, integrao social, suporte familiar e independncia
econmica, podendo, qualquer dessas funes, afetarem a capacidade funcional do idoso
(RAMOS, 2002; BRASIL, 2007).
Pesquisas atuais tm enfocado a memria, a ateno e os sistemas perceptivos, na
tentativa de compreender os diferentes transtornos observados na clnica geritrica. Os
avanos neuroanatmicos e as medidas neuropsicolgicas tm relacionado os sistemas
neuronais e as funes cognitivo-comportamentais. A plasticidade cognitiva e neuronal esto
presentes no curso de vida do adulto, havendo sua reduo associada idade (ABREU;
TAMAI, 2006).
Segundo Baltes e Baltes (1990), o envelhecimento deve ser interpretado, de forma
global, como associao entre ganhos e perdas, seguindo critrio de otimizao seletiva com
compensao, mostrando a existncia de plasticidade na velhice. Em conformidade com este
referencial, Stern (2002) defende a idia de que o indivduo tem potencial cognitivo
modificvel, referindo-se reserva cognitiva ou habilidade do indivduo para aperfeioar ou
maximizar o seu desempenho atravs da ativao de mecanismos compensatrios.
O crebro pode sofrer mudanas em sua organizao apresentada como
neuroplasticidade, principalmente na localizao de informaes especficas, em decorrncia
de vrios fatores, dentre eles, a aprendizagem. A neurognese refere-se formao de novos
neurnios, o que parece ocorrer durante toda a vida. No so todas as reas do crebro que so
beneficiadas com o nascimento de novas clulas, mas o hipocampo tem essa capacidade, que
a regio fundamental para a memria. A neuroplasticidade e a neurognese contribuem para
que o organismo se adapte s mudanas. Dessa forma, a aprendizagem em qualquer momento
da vida contribui para essas duas funes (GUIMARES, 2007).
A percepo, como conhecimento de uma informao do ambiente ou meio, a base
da cognio. Seu processamento rpido e se d pelos sentidos (viso, audio, tato, olfato e
propriocepo). As experincias individuais passadas tm grande influncia sobre a
percepo. A cognio a capacidade de adquirir e de usar informao com a finalidade de
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adaptar-se s demandas do meio ambiente. As funes cognitivas podem ser distintamente
divididas em: ateno, orientao, memria, organizao visuomotora, raciocnio, funes
executivas, planejamento e soluo de problemas. A capacidade de adquirir uma informao
envolve habilidades para processar essa informao ou a capacidade para entender, organizar
e integrar as informaes novas com experincias anteriores (LEZAK, 1995; VIEIRA, 2002;
ABREU; TAMAI, 2006).
Abreu e Tamai (2006) enfatizam ainda que a disfuno cognitiva (funcionamento
anormal ou prejudicado) pode afetar a capacidade funcional em todas as esferas da vida, seja
social, interpessoal, lazer, trabalho e atividades da vida diria. Neri (2006) refora que o
declnio cognitivo associado ao desconforto pessoal, perda da autonomia e aumento dos
custos sociais, apontando para a manuteno da cognio como indicador de qualidade de
vida na velhice e da longevidade.
Lopes e Bottino (2002) e Ventura e Bottino (2002) afirmam que o envelhecimento
acarreta declnio cognitivo normal que se pode apresentar desde a meia-idade, mas que
comum depois dos 70 anos. O dficit ou diminuio de habilidades cognitivas em indivduos
idosos, de acordo com La Rue (1992), exibe grande variabilidade individual no ritmo e
dimenso do seu declnio, especialmente em funo de fatores no intrinsecamente
dependentes da idade cronolgica.
igualmente consensual a noo de que o envelhecimento cognitivo normal
influenciado por processos de natureza gentico-biolgica e scio-cultural. O primeiro
determina declnio funcional sensorial e diminuio na velocidade de processamento da
informao, ambos associados a alteraes neurolgicas tpicas do envelhecimento. O
segundo determina desenvolvimento e manuteno das capacidades dependentes da
experincia, podendo ter ao compensatria em relao s perdas do envelhecimento
biolgico (BALTES, 1993 apud NERI, 2006). Dessa forma, o processo de envelhecimento
compreende modificaes e perdas evolutivas, sendo essas transformaes pautadas
geneticamente para cada espcie. Seu ritmo, durao e efeitos comportam diferenas
individuais e grupais, relacionando-se com os eventos de natureza gentico-biolgico, scio-
histrico e psicolgico (NERI, 2001; SILVA, 2005).
Horn e Cattell (1966, apud NERI, 2006) propuseram o modelo bifatorial de
inteligncia fluida e inteligncia cristalizada, que fundamenta o raciocnio da maior parte das
pesquisas sobre o desenvolvimento intelectual ao longo da vida. A inteligncia fluida reflete
as capacidades mentais primrias: raciocnio, memria, orientao espacial e velocidade
perceptual. Essas capacidades declinam com a idade, em funo das mudanas neurolgicas e
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sensoriais tpicas do envelhecimento, as quais afetam a velocidade do processamento da
informao. A inteligncia cristalizada relaciona-se com experincias, dependendo da
influncia da cultura e no diminui com a idade, a menos que ocorra declnio substancial nas
capacidades fluidas. Sua interao com capacidades e processos bsicos aperfeioa
capacidades mentais, tais como, compreenso verbal, fluncia verbal e raciocnio geral.
Nos ltimos 50 anos, o estudo do envelhecimento cognitivo humano progrediu
expressivamente, sabendo-se hoje que certos dficits de memria fazem parte do
envelhecimento saudvel (YASSUDA et al., 2006). Entretanto, a literatura sugere que no
envelhecimento saudvel a capacidade de reserva cognitiva pode ser mobilizada e at mesmo
melhorada por meio do treinamento (BACKMAN, 1989; BALTES, 1990; DUNSLOSKY;
HERTZOG, 1998).
O envelhecimento normal, e inclusive o cognitivo, um processo de mudanas que
comportam diferenas individuais, gerando uma etapa vital e pautada no reconhecimento de
que o transcurso do tempo produz efeitos no indivduo, que entra numa fase diferente das
vividas anteriormente, possuindo, ainda, uma realidade prpria e diferenciada, mas no menos
importante.
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2.2 ANALFABETISMO NA VELHICE: UMA REALIDADE NO BRASIL
O analfabetismo no Brasil realidade que acompanha o envelhecimento populacional.
O crescente nmero de idosos, especialmente de mulheres em contexto domiciliar, vem
seguido de aumento do nvel de escolaridade em diversos Estados do Brasil. O homem idoso
continua sendo mais alfabetizado que a mulher idosa. O conceito de analfabetismo torna-se
relevante medida que o analfabetismo funcional est presente entre os idosos com algum
nvel de escolaridade (IBGE, 2000).
A populao de idosos representa contingente de quase 15 milhes de pessoas com 60
anos ou mais de idade (8,6% da populao brasileira), sendo que as mulheres constituem a
maioria. Cerca de 8,9 milhes (62,4%) dos idosos so responsveis por domiclios e tm, em
mdia, 69 anos de idade, tendo estes em mdia 3,4 anos de estudo (IBGE, 2000).
Segundo dados do IBGE (1995; 1996), comentados por Garrido e Menezes (2002),
45,6% das mulheres idosas eram vivas, enquanto 79,1% dos homens idosos eram casados.
Nesses anos, 37% dos idosos se declararam analfabetos, havendo entre esses um excesso de
mulheres e de moradores em reas rurais. Em 1999, cerca de 65% dos idosos eram os
responsveis pela famlia e mais de 1/3 ainda se encontrava no mercado de trabalho, e quase
12% viviam sozinhos, havendo proporo maior de mulheres que homens nessa situao.
Camarano (2004) confirma que foram observados avanos nos nveis educacionais da
populao brasileira entre 1940 e 2000, aumentando a proporo de pessoas alfabetizadas,
bem como o nmero mdio de anos de estudo. A proporo de idosos alfabetizados teve
aumento significativo entre as mulheres. Quanto aos homens, o aumento foi de 59% e, entre
as mulheres, de 146%. Em 1940, 74,2% da populao idosa feminina eram analfabetas e, em
2000, essa frao caiu para aproximadamente 1/3. Apesar de os ganhos no perodo terem sido
mais significativos entre as mulheres, so os homens idosos que se encontram em melhores
condies de alfabetizao, sendo essa proporo de 68,9%, enquanto entre as mulheres de
63,45%.
Diante desse quadro, ainda reportando a Camarano (2004), h referncia que com
relao ao gnero, os homens continuam sendo, proporcionalmente, mais alfabetizados do que
as mulheres, j que at os anos 60 tinham mais acesso escola do que as mulheres. No caso
dos idosos responsveis pelo domiclio, os ndices tambm melhoraram no perodo de 1991 a
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2000, com aumentos significativos tanto na proporo de alfabetizados como no nvel de
escolaridade.
Na ltima dcada houve aumento significativo no percentual de idosos alfabetizados
no pas. Em 1991, 55,8% dos idosos declararam saber ler e escrever pelo menos um bilhete
simples, enquanto em 2000 esse percentual passou para 64,8%, o que representa um
crescimento de 16,1% no perodo. Os dados fazem parte do Perfil dos Idosos Responsveis
pelos Domiclios no Brasil, do IBGE (2000), mostrando que, apesar dos avanos, ainda
existem 5,1 milhes de idosos analfabetos no Brasil.
Os anos de escolaridade esto diretamente relacionados ao conceito de analfabetismo.
Existem basicamente trs definies de analfabetismo em uso no Brasil, comentados por
Amorim (2007): o da UNESCO, do IBGE e do INAF. Segundo definio da United Nations
Educational Scientific and Cultura Organization (UNESCO), analfabeta a pessoa incapaz
de ler e escrever e analfabeta funcional aquela que incapaz de utilizar suas habilidades de
leitura e de escrita nas necessidades prticas dirias de seu contexto social. Para o Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE), so analfabetas funcionais as pessoas com
menos de quatro anos de educao formal. Com base em seu levantamento, e considerando
que quatro anos de escolaridade no assegura o alfabetismo funcional, o Indicador Nacional
de Alfabetismo Funcional (INAF) classificou os sujeitos em quatro nveis quanto ao grau de
alfabetizao: analfabeto, aquele que no consegue realizar tarefas simples que envolvem
decodificao de palavras e frases; alfabetizado nvel rudimentar, o que consegue ler ttulos
ou frases, localizando uma informao bem explcita; alfabetizado nvel bsico, o que
consegue ler um texto curto, localizando uma informao explcita ou que exija uma pequena
inferncia; e o alfabetizado nvel pleno, aquele que consegue ler textos mais longos, localizar
e relacionar mais de uma informao, comparar vrios textos e identificar fontes.
Percebe-se que as definies de analfabetismo atualmente vigentes atendem a
propsitos essencialmente scio-econmicos, no levando em conta a grande heterogeneidade
de perfis de desempenho cognitivo evidenciada por estudos com populaes analfabetas
(AMORIM, 2007).
Quanto ao nmero de anos de estudo dos idosos responsveis pelo domiclio, o Censo
do IBGE (2000) revelou ainda mdia muito baixa, apenas de 3,4 anos (3,5 anos para os
homens e 3,1 anos para as mulheres). Comparando-se com o ano de 1991, houve aumento
nessa mdia em ambos os gneros, mas o crescimento relativo nas mulheres foi maior do que
nos homens, sendo de 29,2% e de 25,0%, respectivamente. Niteri, no Rio de Janeiro, e
guas de So Pedro, em So Paulo, tm a maior mdia de anos de estudo em idosos no pas,
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29
sendo de 8,2 e 7,3 anos, respectivamente, enquanto Novo Santo Antnio e Barra DAlcntara,
ambos no Piau, tm a menor mdia, com 0,2 anos.
Entre os estados brasileiros, a mdia de anos de estudos dos idosos responsveis por
domiclios bastante diferenciada: varia de 6,0 anos no Distrito Federal a 1,5 anos no
Maranho. J em algumas capitais, essa mdia muito superior. Em Florianpolis, por
exemplo, os idosos responsveis pelos domiclios tm, em mdia, 7,2 anos de estudo,
enquanto em Rio Branco essa mdia de 2,7. Dado curioso que nas Unidades da Federao
do Nordeste e do Norte, nas quais a populao rural tem maior expresso, a mdia de anos de
estudo nas capitais bastante superior. No estado do Maranho, a escolaridade mdia dos
idosos bastante inferior mdia encontrada na capital So Lus, sendo de 1,5 e 4,7 anos,
respectivamente (IBGE, 2000).
Segundo o IBGE (2000), quanto ao analfabetismo funcional, 59,4% dos idosos
responsveis pelo domiclio tinham, no mximo, 3 anos de estudo, resultado este influenciado
pela alta proporo de responsveis com 75 anos ou mais de idade, sendo analfabetos ou
analfabetos funcionais. Destes, 67,4% foram considerados analfabetos funcionais, sendo que
53,3% dos idosos no grupo de 60 a 64 anos tinham at 3 anos de estudos, Ainda assim, houve
significativa melhora no perodo intercensitrio, provavelmente resultado dos programas
federais de alfabetizao de adultos implementados nas ltimas duas dcadas.
Entre os estados brasileiros, o Maranho lidera com a maior proporo de analfabetos
funcionais (82,7%), enquanto o Rio de Janeiro tem a menor proporo (38,1%). Nos
municpios prximos das capitais verifica-se a mesma tendncia das Unidades da Federao,
ou seja, nas reas geogrficas mais desenvolvidas os nveis educacionais dos idosos so
melhores. Apesar dos avanos, a proporo de idosos com escolaridade mais alta ainda
pequena. Em 1991, 2,4% dos idosos tinham de 5 a 7 anos de estudo, enquanto em 2000, essa
proporo passou para 4,2%. Para aqueles que concluram pelo menos o ensino mdio, a
proporo passou de 7,5% para 10,5%, com aumento de 40% (IBGE, 2000).
A situao de analfabetismo pode, por si s, ser considerada fator limitante para a
sobrevivncia e para a qualidade de vida. As diferenas no nvel de alfabetizao entre os
gneros refletem a organizao social do comeo do sculo, que bloqueou o acesso escola
aos mais pobres e s mulheres. O amplo acesso aos meios de alfabetizao, alm da questo
de cidadania, poderia propiciar maior receptividade, por parte desses idosos, aos programas de
educao em sade e, tambm, proteo contra as disfunes cognitivas que os afetam com
frequncia (VERAS, 1994; TELAROLLI, 1996; FELICIANO et al., 2004).
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2.3 TRANSTORNO COGNITIVO LEVE
O envelhecimento da populao fenmeno mundial que tem efeito direto nos
sistemas de sade pblica. Uma das principais consequncias do crescimento deste segmento
o aumento da prevalncia das demncias, especialmente da Doena de Alzheimer
(HAMDAN; BUENO, 2005).
Canineu e Bastos (2002) referem que privilegiar o envelhecimento bem-sucedido
requer tambm avaliar e antecipar os fatores de risco para o declnio cognitivo, bem como
diagnosticar precocemente desvios que possam resultar em patologias na velhice. Inteligncia
produtiva, hbitos bem organizados de trabalho e modo de vida sadio minimizam as
deficincias progressivas do envelhecimento.
comum o aparecimento de queixas relacionadas s alteraes da memria, podendo
ser causadas por mltiplas situaes como: estresse, ansiedade, depresso ou at demncias.
Geralmente, pessoas acima de 60 anos tm dificuldades com a memria e outras habilidades
cognitivas (VENTURA; BOTTINO, 2002).
vila e Bottino (2006) afirmam que, com o envelhecimento frequentemente ocorrem
alteraes em diferentes reas da cognio, dependentes dos processos fisiolgicos que se
alteram com a idade. O declnio cognitivo tem incio e progresso variveis, relacionando-se
aos fatores educacionais, de sade, bem como ao nvel intelectual global e a capacidades
mentais especficas do indivduo.
Nos aspectos conceituais e na tentativa de apresentar atualizao sobre o Declnio da
Capacidade Cognitiva (DCC), Charchat-Fichman (2005) apontou para o fato de que, ao longo
das ltimas dcadas tm sido formuladas diferentes definies para caracterizar o DCC
durante o envelhecimento. As primeiras definies propostas objetivavam caracterizar o DCC
dentro dos limites de processo fisiolgico desta fase. Posteriormente, surgiram outros
sistemas de classificao diagnstica, como o Transtorno Cognitivo Leve (TCL) para
identificar indivduos com maior risco de desenvolver formas especficas de demncia.
A importncia do conceito subjacente ao termo TCL pde ser avaliada por meio de
estudos nos quais foi observada incidncia aumentada de demncia aps o diagnstico de
TCL (RUBIN et al., 1989; FLICKER et al., 1991; MASUR et al., 1994).
O TCL definido como o estado transitrio entre o envelhecimento normal e a
demncia, refletindo situao clnica na qual a pessoa apresenta queixas de memria e
evidncias de alteraes cognitivas que resultam em dificuldade para recordar nomes, nmero
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31
de telefones e objetos guardados, porm no satisfazendo os critrios para possvel ou
provvel Doena de Alzheimer (ZAINAGHI, 2006).
Segundo Gomes e Koszuoski (2005), para ser caracterizado como TCL o indivduo
deve preencher os seguintes critrios: ter queixa de memria confirmada por informante ou
familiar, ter funes cognitivas gerais preservadas e manter as atividades de vida diria. O
diagnstico de TCL tarefa complexa e ainda no bem sistematizada na populao de idosos.
Os quadros leves so frequentes, passando muitas vezes despercebidos, havendo necessidade
de distinguir entre manifestaes iniciais da doena e modificaes associadas com o
processo normal do envelhecimento (ENGELHARDT et al., 1998).
Para Petersen et al. (2001), uma das dificuldades no diagnstico de TCL reside na
constatao de que nem todas as pessoas identificadas iro desenvolver demncia. Alguns
desses indivduos iro ter deteriorao cognitiva progressiva, at a provvel ou possvel
Doena de Alzheimer, enquanto outros permanecero estveis.
As alteraes cognitivas podem comprometer o bem-estar bio-psico-social do
indivduo idoso, impedindo a continuidade de sua vida social de forma participativa, assim
como as interaes com os familiares em particular e com a sociedade em geral. A
Associao Americana de Psicologia e a Academia Americana de Neurologia recomendaram
que pessoas com TCL devem ser identificadas e monitoradas quanto progresso para
desenvolver Doena de Alzheimer (HAMDAN; BUENO, 2005).
Os indivduos identificados com TCL podero ser beneficiados por tratamentos em
estgio anterior manifestao plena da demncia. Para isso, se faz necessrio a escolha de
instrumentos de sensibilidade comprovada, auxiliados por longos perodos de observao
clnica, uma vez que os padres de declnio cognitivo podem variar entre os indivduos e,
tambm, por relatos do prprio paciente e de informantes (PETERSEN et al., 2001).
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2.4 FUNCIONAMENTO DA MEMRIA NO IDOSO
A memria desperta o interesse e a imaginao do homem desde a antiguidade.
Contudo, os primeiros estudos cientficos sobre o tema foram realizados h pouco mais de um
sculo (DALMAZ; ALEXANDRE NETTO, 2004). Filsofos tm especulado sobre a
memria por mais de 2000 anos, desde que Scrates props que os seres humanos tinham
conhecimento inato sobre o mundo (VILA, 2003).
Hoje, com os avanos das cincias biomdicas, se adquire razovel conhecimento
acerca dos mecanismos da formao da memria (SOUZA, 1996). Essa incrvel habilidade do
homem em adquirir, reter e usar informaes ou conhecimentos sobre si e o mundo, faz com
que a memria seja uma das mais importantes funes cognitivas (TOMAZ, 1993).
Segundo Ferrari (1997) e Yassuda e Canineu (2005), o envelhecimento traz mudanas
cognitivas, sendo mais frequentes dificuldades com o aprendizado e a memria. Nesse
perodo da vida, h um declnio maior para novos aprendizados e resoluo de problemas.
Tambm com o avanar da idade, h diminuio da habilidade de memorizao, recordao,
de adquirir e reter novos conhecimentos e informaes.
A memria a base para o desenvolvimento da linguagem, do reconhecimento das
pessoas e dos objetos vistos todos os dias, para que o homem saiba quem e tenha
conscincia da continuidade da prpria vida. Sem a memria, a cada dia, ou mesmo a cada
momento, estaramos comeando uma nova etapa, sem podermos nos valer do que
aprendemos anteriormente (YASSUDA, 2002).
Salthouse (1991) e Xavier (1993) concordam que a memria no corresponde a um
nico sistema, mas composta por sistemas em interao, formados por trs etapas (ou fases)
do processamento da informao, diferenciando-se entre si somente em sua nomenclatura.
So elas: codificao (ou registro da informao), reteno (ou armazenagem) e recuperao
(ou resgate). Elas esto presentes em todos os sistemas de memria, estreitamente ligadas e
com influncias mtuas. Com a idade avanada, o processo de codificao das informaes
torna-se mais lento e dispendioso.
Codificao trata-se da conduo de informao ao crebro, ou seja, de coloc-la na
memria. Esta etapa depende da percepo dos cinco sentidos (audio, tato, paladar, olfato e
viso) e da ateno, que por sua vez considerada mecanismo de filtragem limitador da
quantidade de dados adquiridos ou armazenados na memria. Cabe ressaltar que os fatores
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como fadiga, ansiedade e preocupao podem interferir neste processo (ATKINSON et al.,
1995; LASCA 2003).
Armazenagem consiste na conservao do conhecimento, mantendo a informao na
memria. Esta etapa reforada pela repetio ou pela associao.
Resgate refere-se ao acesso informao armazenada, tendo funo de relembrar os
dados arquivados e podendo sofrer interferncia de aes ocorridas entre o momento da
entrada de informao e o da recordao, que por sua vez, poder ser influenciada por fatores
internos como humor, motivao, necessidade e interesse, bem como externos, como local,
ambiente e pessoas presentes (COLOM, R; FLORES MENDOZA, 2001).
No sculo XX surgiram modelos tericos importantes sobre a memria. Entretanto, o
mais influente o estilo do processamento por nveis, proposto por Atkinson-Shiffrin (1968),
no qual o modelo estrutural sugere a existncia de trs sistemas de armazenamento de
informaes: Memria Sensorial, Memria de Curto Prazo e Memria de Longo Prazo.
Sternberg (2000) relata que estes modelos so hipotticos e no estruturas fisiolgicas
reais, servindo somente como modelo mental para compreender o funcionamento da
memria. Diversos autores, dentre eles Ferrari (1997) e Bueno e Oliveira (2004), adotaram a
estrutura de processamento em srie, no qual a diferena entre os tipos encontra-se nas regies
enceflicas, no tempo de armazenamento e durao de cada processo aps a aquisio da
informao. Portanto, a memria no envolve sistema nico, mas combinao complexa de
subsistemas.
Memria Sensorial o primeiro sistema responsvel pelo processo inicial da
informao advinda dos sentidos e sua codificao, retendo temporariamente as informaes.
Memria de Curto Prazo o segundo processo, denominada tambm de memria para fatos
recentes, recebendo as informaes j codificadas pelo mecanismo anterior e permanecendo
por alguns segundos ou minutos para que estas sejam utilizadas, descartadas ou mesmo
organizadas. E por ltimo, Memria de Longo Prazo possui tempo e capacidade de
armazenamento ilimitada, consistindo em trazer informaes retrgradas e pessoais (LGER
et al., 1989; STOPPE JUNIOR, A; LOUZ NETO, 1999).
Memria Sensorial corresponde ao registro inicial que fazemos da enorme quantidade
de informaes capitadas por nossos sentidos. Esse registro pode ser visual, auditivo, ttil,
olfativo, gustativo e proprioceptivo. Como sua durao de armazenamento curta, em torno
de um a cinco segundos, a informao precisa receber ateno ou interpretao a ser
transferida do armazenamento sensorial para a Memria de Curto Prazo sob a forma de
imagens, palavras ou nmeros, ou ser esquecida (BADDELEY, 1992; PINTO, 2003).
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Memria de Curto Prazo tem capacidade limitada, sendo que seu tamanho
determinado pela quantidade de itens que ela armazena durante o perodo de quinze segundos
a seis horas. descrita como o centro da conscincia humana, pois abriga os pensamentos e
as informaes, que depois podero ser ou no ser armazenados numa memria mais estvel
ou permanente (Memria de Longo Prazo). O esquecimento recorrente dos fatos, nesse
perodo, explica-se devido durao de tempo ser curta ou ento, a ateno ter sido pouca,
visto esta ser primordial para maior reteno desses conhecimentos (STUART-HAMILTON,
2002; IZQUIERDO; BEVILAQUA; CAMMAROTA, 2006).
Segundo Neri (2001), a Memria de Curto Prazo ainda subdividida em Memria
Primria e Memria Operacional, sendo em ambas as informaes armazenadas por
aproximadamente vinte segundos. A diferena entre elas est na maneira como o material
processado. A Memria Primria tem capacidade de manuteno de poucos itens e contm as
informaes recebidas que sero usadas imediatamente, como, por exemplo, reter um nmero
de telefone que ser usado a seguir. Essa memria tem capacidade limitada, mas pode ser
alargada no tempo e durar alguns minutos, sendo que essa extenso recebe o nome de
Memria Operacional (DER LINDER et al., 1998; DAMASCENO, 1999).
Memria Operacional trata-se do arquivamento temporrio da informao para o
desempenho de diversidade de tarefas cognitivas essenciais, como aprendizagem, raciocnio e
compreenso. Dessa forma, um objeto ou uma informao pode ser representada pela
Memria Primria e posteriormente sustentada pela Memria Operacional (BADDELEY,
2000). Porm, Engle et al. (1999) reforaram que, como sua durao curta, ser descartada
ou transformada em Memria de Longo Prazo, caso haja cargas afetivas ou mltiplas
repeties e associaes que ajudem a fixar. Memria Operacional afetada pelo
envelhecimento natural, sendo que a velocidade de processamento diminui com a idade (DER
LINDER et al., 1994; HERTZOG et al., 2003).
Memria de Longo Prazo a capacidade que se tem de manter informaes gravveis
por longos perodos de tempo. Essa memria tem como funo trs categorias de
informaes: armazenamento, recuperao e esquecimento, que necessitam da seletividade e
priorizao dos dados, ou seja, do mecanismo da ateno. Esse tipo de memria tem se
mostrado bastante estvel e menos atingida na velhice (HELENE; XAVIER, 2003).
O armazenamento da Memria de Longo Prazo afeta o indivduo em suas percepes
perante o mundo e o influencia na tomada de decises. A recuperao, como readquirir
informao depois de dcadas, assim como os limites da sua capacidade so desconhecidos. O
esquecimento , portanto, um processo fisiolgico importante que ocorre continuamente,
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filtrando aspectos irrelevantes ou estocando-os de modo que fiquem acessveis em sua forma
original (HAMDAN, 2003).
Estudos de dissociao envolvendo pacientes neurolgicos levaram Squire e Zola -
Morgan (1991) e Squire (1992) a proporem distino de sistemas de memria, segundo o
contedo a ser processado, diferenciando em Memria Implcita (no declarativa) e
Memria Explcita (declarativa), ambas consideradas como subdivises da Memria de
Longa Durao. Memria Implcita revelada quando a experincia prvia facilita o
desempenho numa tarefa que no requer a evocao consciente ou intencional daquela
experincia. Esse tipo de conhecimento inclui habilidades perceptuais motoras, cognitivas e
hbitos (como andar de bicicleta, nadar e digitar) (SCHACTER, 1987).
Memria Explcita refere-se s informaes que podem ser trazidas a conscincia por
meio de recordaes verbais ou imagens visuais. Ocorre quando a evocao reconhecida e o
indivduo tem acesso consciente ao contedo da informao, como a memria para fatos,
imagens, a lembrana de experincia passada ou a recordao do prprio nome (SCHACTER,
1987).
De acordo com Douglas e Spencer (2006), emoo, humor e motivao podem
influenciar o qu e o quanto lembrado. Cabe ressaltar que a Memria Explcita mais
sensvel aos efeitos do envelhecimento do que a memorizao realizada inconscientemente,
ou seja, memria implcita (YASSUDA, 2005).
Acredita-se que h dois subsistemas na Memria Explcita: Memria Episdica
(memria autobiogrfica) e a Memria Semntica. Memria Episdica composta de
lembranas que o sujeito possui acerca de si prprio e de sua vida, sendo responsvel pelo
armazenamento e recuperao de informaes pessoais, a exemplo: recordaes de
experincias ntimas e eventos associados h um tempo e/ou lugar em particular, como
lembranas da prpria formatura, de um filme ou de um rosto (EICH et al., 1994;
GAZZANIGA et al., 2002).
Memria Semntica uma das modalidades mnsicas que aparentam ser mais
resistentes aos efeitos do envelhecimento biolgico. Ela registra informaes verbais, como
nomes de pessoas ou lugares, descries de acontecimentos, conhecimentos gerais e de
linguagem como vocabulrios, significados e normas semnticas e sintticas ou de idiomas
(GREEN, 2000; BRUCKI, 2004).
O crebro estrutura em permanente construo, assim como as memrias do
indivduo, compreendida como conjunto de habilidades que possuem funcionamento
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cooperativo de diferentes modos do sistema nervoso central, porm sendo independentes,
proporcionando sensao de memria nica (XAVIER, 1996; NERI; YASSUDA, 2004).
De modo geral, as pesquisas demonstram que o envelhecimento da memria
compreende declnio e estabilidade. Alguns subsistemas, como Memria Semntica e
Memria Implcita, apresentam-se estveis at idades mais avanadas, enquanto outros, como
a Memria Operacional e a Memria Episdica, so afetados mais precocemente e
intensamente pelo envelhecimento cerebral. Alguns indivduos apresentam declnio cognitivo
expressivo, enquanto outros podem apresentar declnios insignificantes (CARVALHO, 2006).
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2.5 ESTIMULAO COGNITIVA E SUA REPERCUSSO NA VELHICE
notrio que durante o processo de envelhecimento normal, algumas capacidades
cognitivas diminuem naturalmente com a idade. O termo cognio apresenta diferentes
variaes conforme caracterizao de diversos autores. Abreu e Tamai (2006) referem a
cognio como capacidade de adquirir e de usar informaes com a finalidade de adaptar-se
s demandas do meio ambiente. As funes cognitivas podem ser distintamente divididas em:
ateno, orientao, memria, organizao visuo-motora, raciocnio, funes executivas,
planejamento e soluo de problemas. A capacidade de adquirir uma informao envolve
habilidades para processar essa informao ou a capacidade para entender, organizar e
integrar as informaes novas com experincias anteriores.
Bem elucidada por Yassuda (2006), a funcionalidade cognitiva de idosos est
relacionada sua sade e sua qualidade de vida, bem como, fator primordial no
envelhecimento ativo e longevidade. O bom funcionamento cognitivo importante para
autonomia e para capacidade de autocuidado dos idosos, influenciando as decises a respeito
da possibilidade do idoso continuar a viver com segurana e independncia (OMS, 2005).
A cognio , portanto, mais do que simplesmente aquisio de conhecimentos e,
consequentemente, melhor adaptao ao meio; , tambm, mecanismo de converso do que
captado para o nosso modo de ser interno. o processo pelo qual o ser humano interage com
os seus semelhantes e com o meio em que vive, sem perder sua identidade (LEZAK, 1995).
Para Vieira (2002), cognio o termo empregado para descrever toda a esfera do
funcionamento mental. Esse domnio implica habilidades de sentir, pensar, perceber, lembrar,
raciocinar, formar estruturas complexas de pensamento e capacidade de produzir respostas s
solicitaes e estmulos externos.
Santiago (2007) destacou que h forte influncia da escolaridade (analfabetismo) no
desempenho cognitivo. A educao pode contribuir na aquisio da reserva cognitiva,
havendo sugesto de que exposio estimulao cognitiva mais intensa e complexa pode
estar associada com maiores conexes sinptica (ABISQUETA-GOMES, 1999).
Segundo Dunlosky (1998), h declnio nas funes cognitivas, como memria,
ateno e funes executivas, mesmo em idosos no acometidos por doenas. Entretanto, para
a Organizao Mundial de Sade (2005), muitas vezes o declnio cognitivo ocasionado por
desuso, doenas, fatores comportamentais, psicolgicos e sociais, mais do que por
envelhecimento em si, podendo essas perdas ser compensadas por ganhos em sabedoria, em
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conhecimento e em experincia. Estudos mostram que, no envelhecimento saudvel, existe a
possibilidade de compensao de declnios cognitivos (BALTES; BALTES, 1990;
DUNLOSKY; HERTZOG, 1998).
Yassuda et al. (2006) mencionaram que os programas de treino cognitivo diferem em
relao durao, s estratgias e metodologia empregada, encontrando-se na literatura
grande diversidade em relao aos seus efeitos, sua generalizao para as tarefas no
treinadas e manuteno dos resultados a longo prazo. Em conformidade com estes dados,
Carvalho (2006) referiu que o treino da memria no envelhecimento saudvel e suas
implicaes para o bem-estar do idoso constituem tema praticamente inexplorado dentro da
perspectiva cientfica no Brasil. Como sugere a literatura, o treino de memria pode promover
mudanas no funcionamento cognitivo em idosos e colaborar para manter sua funcionalidade
e independncia (SOUZA e CHAVES, 2005; ALMEIDA, 2007).
As intervenes cognitivas so compostas por diferentes tipos de programas de treino,
que apresentam efeitos variveis e amplos no funcionamento cognitivo de idosos, mesmo em
idades avanadas (NERI, 2006).
Acevedo (2007) reforou que esses treinos tm como objetivo maximizar as funes
cognitivas e prevenir futuros declnios cognitivos. O engajamento em atividades de
estimulao cognitiva e em estilo de vida ativa socialmente tem efeito positivo na cognio e
na possibilidade de prevenir declnios cognitivos e demncia na velhice.
As oficinas de estimulao da cognio para idosos so importantes. Segundo
Zimerman (2000), estimular consiste em instigar, ativar, animar e encorajar. Estimulao
um dos melhores meios para minimizar os efeitos negativos do envelhecimento, levando os
indivduos idosos a viver com melhor qualidade de vida. Os jogos e as brincadeiras permitem
criar meios de manter a mente, as emoes, a comunicao e os relacionamentos em
atividade.
Yassuda et al. (2006), com o objetivo de verificar os efeitos de programa de treino de
memria episdica em 69 idosos saudveis aps quatro sesses, encontraram efeitos modestos
desse treino. No ps-teste, os idosos do grupo experimental apresentaram melhor desempenho
na recordao de texto e maior uso de estratgias de memria.
Souza e Chaves (2005), analisando o efeito da estimulao da memria sobre o
desempenho no Mini Exame do Estado Mental (MEEM) em 46 idosos saudveis brasileiros,
em treino de memria de oito sesses, observaram que a maioria dos participantes apresentou
aumento significativo nos escores do MEEM aps os treinos. Outros estudos tambm
realizados no Brasil por Lasca (2003) e Carvalho (2006), encontraram melhora no
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desempenho dos idosos em tarefas de memria. Carvalho (2006) mostrou que o treino
promoveu melhora na memria episdica e maior uso da estratgia treinada, indicando que
idosos no acometidos por doenas podem-se beneficiar desse tipo de interveno. O estudo
de Lasca (2003) objetivava avaliar os efeitos de um programa de treino de memria que
consistia em instrues sobre como categorizar duas listas de supermercado. Os participantes
foram avaliados no pr e ps-teste, sendo esse realizado sete dias aps o pr-teste.
Evidenciaram que o treino promoveu modesta melhoria nas habilidades de memria, embora
sem diferena estatisticamente significativa.
Irigaray (2009), objetivando verificar os efeitos de programa de treino de ateno,
memria e funes executivas na qualidade de vida e no bem-estar psicolgico de idosos,
encontrou diferenas significativas entre os grupos no pr e ps-teste, em relao ao
funcionamento cognitivo, qualidade de vida e ao bem-estar psicolgico. O grupo
experimental recebeu doze sesses de treino, envolvendo informaes sobre ateno,
memria, funes executivas, envelhecimento, instruo e prtica de exerccios. Aps o
treino, os idosos apresentaram melhor desempenho cognitivo, melhor percepo da qualidade
de vida e maiores ndices de bem-estar psicolgico. O autor concluiu que intervenes
cognitivas podem contribuir para a melhora da qualidade de vida e do bem-estar psicolgico
de idosos.
O estmulo para um bom funcionamento mental, fsico e social configura-se como
princpio para a promoo da sade de idosos. As oficinas para treinamento de memria so
estratgias importantes, uma vez que queixas de memria so frequentes neste grupo etrio.
Atividades mentais funcionam como fator de proteo no declnio cognitivo e algumas
estratgias de memorizao tm-se mostrado eficazes para melhorar a memria (ALMEIDA,
2007).
Frente a isso, postula-se a aplicao do exerccio da memria atravs de sua
estimulao/motivao, como mtodo teraputico na recuperao e/ou manuteno da funo
neural associada cognio (SOUZA; CHAVES, 2005).
Segundo Freire (2000), a velhice no implica necessariamente em doena e em
afastamento, possuindo o idoso potencial para mudanas e reservas inexploradas. Quanto
mais os idosos forem atuantes e estiverem integrados em seu meio social, menos nus traro
famlia e aos servios de sade. De maneira geral, os idosos tm importantes reservas para seu
desenvolvimento, que podem ser ativadas por aprendizagem, exerccios ou treinamento. Em
boas condies mdicas e ambientais, muitos idosos continuam a ter potencial para
desempenho em altos nveis e para adquirir conhecimentos tericos e prticos.
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2.6 TESTES DE AVALIAO COGNITIVA
Ao longo da vida mudanas ocorrem no crebro, exercendo papel importante na
cognio do idoso, frequentemente alterando sua funcionalidade. A avaliao
neuropsicolgica tem fornecido uma expressiva contribuio, sendo utilizada como auxlio na
identificao de padres de envelhecimento cognitivo normal e patolgico (YASSUDA,
2006; SANTIAGO, 2007).
Segundo Brasil (2007), o grupo dos mais idosos, muito idosos ou idosos em velhice
avanada (idade igual ou superior a 80 anos) vem aumentando de forma acelerada,
constituindo o seguimento populacional que mais cresce nos ltimos tempos. neste contexto
que a denominada avaliao funcional torna-se essencial para estabelecimento de diagnstico,
prognstico e julgamento clnico adequados sobre os tratamentos e cuidados necessrios as
pessoas idosas.
Avaliao funcional busca verificar em que nvel as doenas e agravos impedem o
desempenho das atividades de vida diria (AVDs) das pessoas idosas, permitindo o
desenvolvimento de planejamento assistencial adequado. Portanto, capacidade funcional,
independncia e autonomia da pessoa idosa surgem como novo paradigma de sade, proposto
pela Poltica Nacional de Sade da Pessoa Idosa (BRASIL, 2007).
De acordo com Loureno e Veras (2006), as avaliaes geritricas associadas s
informaes obtidas na histria clnica e no exame fsico tradicionais juntamente com aquelas
produzidas por conjunto de instrumentos especficos, permitem detectar incapacidades,
planejar cuidados prolongados, avaliar gravid
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