fernando pessoa

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FERNANDO PESSOA

"(...) construí dentro de mim várias personagens distintas entre si e de mim, personagens essas a que atribuí poemas vários que não são como eu,

nos meus sentimentos e ideias, os escreveria.Assim têm estes poemas de Caeiro, os de

Ricardo Reis e os de Álvaro de Campos que ser considerados. Não há que buscar em quaisquer

deles ideias ou sentimentos meus, pois muitos deles exprimem ideias que não aceito, sentimentos que

nunca tive."

Fernando Pessoa

Características Temáticas

Tensão sinceridade / fingimento.

Antissentimentalismo: intelectualização da emoção.

Nacionalismo: misticismo – Sebastianismo.

Fernando Pessoa – ele mesmo

Autopsicografia O poeta é um fingidor. Finge tão completamente Que chega a fingir que é dor A dor que deveras sente. E os que lêem o que escreve, Na dor lida sentem bem, Não as duas que ele teve, Mas só a que eles não têm.  E assim nas calhas de roda Gira, a entreter a razão, Esse comboio de corda Que se chama coração.

Palavras de Pórtico

Navegadores antigos tinham uma frase gloriosa: "Navegar é preciso; viver não é

preciso."

Quero para mim o espírito desta frase, transformada a forma para a casar com o que sou: Viver não é preciso; o que é necessário é

criar.

Não conto gozar a minha vida; nem em gozá-la penso. Só quero torná-la grande, ainda que

para isso tenha de ser o meu corpo e a (minha alma) e lenha desse fogo.

Mar Português

Ó mar salgado, quanto do teu salSão lágrimas de Portugal!

Por te cruzarmos, quantas mães choraram,Quantos filhos em vão rezaram!

Quantas noivas ficaram por casarPara que fosses nosso, ó mar!

Valeu a pena? Tudo vale a penaSe a alma não é pequena.

Como escrevo em nome desses três?... Caeiro, por pura e inesperada inspiração, sem saber ou sequer

calcular o que iria escrever. Ricardo Reis, depois de uma deliberação abstrata, que subitamente se

concretiza numa ode. Campos, quando sinto um súbito impulso para escrever e não sei o que.

Os Heterônimos

“Pus em Álvaro de Campos toda a emoção que não dou nem a mim nem a vida.”

Álvaro de Campos

Características

Decadentismo – cansaço, tédio, abulia.

Futurismo - o dinamismo da vida moderna.

Sensacionismo.

Pessimismo, vencidismo.

Lisbon Revisited

Não: não quero nada.Já disse que não quero nada.

Não me venham com conclusões!A única conclusão é morrer.

Não me tragam estéticas!Não me falem em moral!Tirem-me daqui a metafisica!Não me apregoem sistemas completos, não me enfileirem conquistasDas ciências (das ciências, Deus meu, das ciências!) Das ciências, das artes, da civilização moderna!

Ode triunfal

(...)

Como eu vos amo a todos, a todos, a todos,  Como eu vos amo de todas as maneiras,  Com os olhos e com os ouvidos e com o olfato  E com o tato (o que palpar-vos representa para mim!)  E com a inteligência como uma antena que fazeis vibrar! 

Eu podia morrer triturado por um motor  Com o sentimento de deliciosa entrega duma mulher possuída.  Atirem-me para dentro das fornalhas!  Metam-me debaixo dos comboios!  Espanquem-me a bordo de navios!  Masoquismo através de maquinismos!  Sadismo de não sei quê moderno e eu e barulho!

Poema em linha reta Nunca conheci quem tivesse levado porrada. Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo. E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil, (...)Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho, (...)

(...)Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado Para fora da possibilidade do soco; (...)Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia; Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!

 

Todas as cartas de amor sãoRidículas.Não seriam cartas de amor se não fossemRidículas. Também escrevi em meu tempo cartas de amor,Como as outras,Ridículas.

As cartas de amor, se há amor,Têm de serRidículas.

Mas, afinal,Só as criaturas que nunca escreveramCartas de amorÉ que sãoRidículas.

Tabacaria

Não sou nada.Nunca serei nada.Não posso querer ser nada.À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.(...)Janelas do meu quarto,Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é

(Come chocolates, pequena;Come chocolates!Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.(...)Fiz de mim o que não soubeE o que podia fazer de mim não o fiz.

Ricardo Reis

“Pus em Ricardo Reis toda a minha disciplina mental, vestida da música que lhe é própria”

Características

Estoicismo.

Epicurismo.

A odes horacianas.

Paganismo - crença em vários deuses.

Neoclacissismo.

Vem sentar-te comigo Lídia, à beira do rio.Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos Que a vida passa, e nao estamos de maos enlaçadas. (Enlacemos as mãos.) Depois pensemos, crianças adultas, que a vida Passa e nao fica, nada deixa e nunca regressa, Vai para um mar muito longe, para ao pé do Fado,

Mais longe que os deuses.

Desenlacemos as mãos, porque nao vale a pena cansarmo-nos. Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio. Mais vale saber passar silenciosamente E sem desassosegos grandes. Sem amores, nem ódios, nem paixões que levantam a voz, Nem invejas que dão movimento demais aos olhos,

Nem cuidados, porque se os tivesse o rio sempre correria, E sempre iria ter ao mar.

Amemo-nos tranquilamente, pensando que podíamos, Se quiséssemos, trocar beijos e abraços e carícias, Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro Ouvindo correr o rio e vendo-o.

“Pus no Caeiro todo o meu poder de despersonalização dramática”

Alberto Caeiro

Objetivismo

Ateísmo

Sensacionismo

Antimetafísico

Características

Verso livre, métrica irregular.

Linguagem simples.

Comparações simples e raras metáforas.

Sou um guardador de rebanhos.     O rebanho é os meus pensamentos     E os meus pensamentos são todos sensações.

    Penso com os olhos e com os ouvidos     E com as mãos e os pés     E com o nariz e a boca.      Pensar uma flor é vê-la e cheirá-la     E comer um fruto é saber-lhe o sentido.

Sou mesmo o primeiro poeta que se lembrou de que a Natureza existe. Os outros

poetas têm cantado a Natureza subordinando-a a eles, como se eles fossem Deus; eu canto a natureza subordinando-me

a ela, porque nada me indica que eu sou superior a ela, visto que ela me inclui, que

eu nasço dela.

O que nós vemos das coisas são as coisas.Por que veríamos nós uma coisa se houvesse outra?Por que é que ver e ouvir seriam iludirmo-nosSe ver e ouvir são ver e ouvir?O essencial é saber ver,Saber ver sem estar a pensar,Saber ver quando se vê,E nem pensar quando se vêNem ver quando se pensa.

Uma flor acaso tem beleza?Tem beleza acaso um fruto?Não: têm cor e formaE existência apenas.A beleza é o nome de qualquer coisa que não existeQue eu dou às coisas em troca do agrado que me dão.

Pastor Amoroso

Passei toda a noite, sem dormir, vendo, sem espaço, a figura dela,  E vendo-a sempre de maneiras diferentes do que a encontro a ela.   Faço pensamentos com a recordação do que ela é quando me fala,  E em cada pensamento ela varia de acordo com a sua semelhança.   Amar é pensar. E eu quase que me esqueço de sentir só de pensar nela. Não sei bem o que quero, mesmo dela, e eu não penso senão nela. 

Tenho uma grande distração animada. Quando desejo encontrá-la Quase que prefiro não a encontrar, Para não ter que a deixar depois. Não sei bem o que quero, nem quero saber o que quero.   Quero só Pensar nela. Não peço nada a ninguém, nem a ela, senão pensar.

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