espaço aberto ao debate
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WORKSHOP DEBATE AVALIAÇÃO
DO IMPACTO SÓCIO·ECONÔMICO
DE PESQUISAS Página 4
EXPERIMENTO BRASILEIRO NO ESPAÇO
TEM APOIO DA FAPESP Página 6
ESPAÇO ABERTO AO DEBATE A partir de agora o Notícias FAPESP publicará, a cada edição, artigo
de uma personalidade, com o intuito de contribuir para o debate sobre a política e os rumos da Ciência e da Tecnologia, em nosso Estado e em nosso país.
Nossa intenção é levar, aos leitores deste informativo - em sua maioria, pesquisadores paulistas - , diferentes visões sobre C& T, diferentes opiniões e análises sobre esse vasto tema, elaboradas por políticos, administradores públicos, empresários, cientistas, engenheiros e outras personagens com poder de influência sobre a formulação de estratégias para o desenvolvimento científico e tecnológico do país.
Estamos começando com um artigo instigante do Governador Mário Covas - o que nos honra imensamente.
Francisco Romeu Landi DIRETOR PRESIDENTE
•••••••••••••••••••••••••••••••••••• ·sAÚDE
BUTANTAN VAI PRODUZIR VACINA CONTRA MENINGITE C
SENECIO 1922 Óleo sobre tela, Paul Klee
Instituto Butantan deverá começar a produzir até o final deste ano, em escala comercial e com tecnologia própria, uma vacina contra a meningite C. O produto é resultado de um projeto de pesquisa, apoiado pela FAPESP, que se estende ainda à vacina contra a meningite B. Esta última está em fase final de desenvolvimento, graças ao trabalho conjunto de três instituições: além do Butantan, o Instituto Adolfo Lutz e a Fundação Oswaldo Cruz.
N AuN
Experimento no espaço O diretor presidente e o dire
tor científico da FAPESP, professores Francisco Romeu Landi e José Fernando Perez, estarão em Cabo Canaveral, Flórida, no início de abril, para assistir ao lançamento no espaço do primeiro experimento científico brasileiro a bordo do ônibus espacial Columbia, da Nasa, na missão STS-83. A data marcada para o lançamento é 3 de abril, mas ela está sujeita a alterações por razões meteorológicas.
O experimento - cristalização em ambiente de microgravidade - se insere num projeto temático financiado pela FAPESP (R$180 mil) e coordenado pelo professor Glaucius Oliva, do Instituto de Física da USP em São Carlos. O objetivo do projeto é o desenvolvimento de novas drogas para o tratamento de doenças infecciosas parasitárias, em particular a Doença de Chagas. No espaço, com a gravidade praticamente ausente, vai se tentar o crescimento de melhores cristais de uma proteína do Tripanosoma cruzi (agente causador da doença), capazes de indicar o caminho para um medicamento mais potente e causador de menos efeitos colaterais contra o mal de Chagas.
Programa para Físicos A FAPESP e a Pan American
Association for Physics (PAFP) firmaram um convênio para o
financiamento conjunto de estágios de pós-doutoramento de pesquisadores brasileiros em instituições de pesquisa dos Estados Unidos e do Canadá. Esses estágios destinam-se a quem concluiu recentemente o doutorado e podem ter duração de até dois anos. A FAPESP concederá ao pesquisador um financiamento anual de US$13 mil, e a universidade ou laboratório hospedeiro financiará outro tanto.
A PAFP foi criada por iniciativa de um grupo de pesquisadores do Texas para promover, coordenar e facilitar interações entre cientistas no hemisfério ocidental e aperfeiçoar a formação de pesquisadores na América Latina. Atualmente, mais de 50 universidades norte-americanas são associadas à instituição e a PAFP busca a afiliação de instituições canadenses e latino-americanas, e de indústrias privadas de todo o hemisfério ocidental.
Regras mais rigorosas As regras da FAPESP para
pesquisadores que viajam ao exterior com projeto de fazer • pós-doutoramento tornaram-se mais rigorosas em dois aspectos: primeiro, exige-se uma manifestação mais explícita da instituição a que ele está vinculado, em São Paulo, acerca de sua absorção quando voltar ao Brasil; em segundo lugar, ficou decidido que, caso o pesquisador não retome ao país, ele deve reembolsar a FAPESP pelos recursos aplicados em sua bolsa.
Convênio em informática O departamento de pós-gra
duação do Instituto de Informática da Pontificia Universidade Católica de Campinas (PUCCAMP) realizou nos dias 1 O e 11 de março passados, com apoio da FAPESP e do CNPq, entre outras instituições, um workshop internacional com o
PESP
N
Instituto Fokus da Universidade Técnica de Berlim, na área de Sistemas de Informação. O evento, denominado "Enterprise Distributed Information Systerns - EDIS 97", produziu dois resultados imediatos: foi assinado logo no dia 11 um Convênio de Cooperação em Informática, entre a PUCCAMP e a Universidade Técnica de Berlim, e decidiu-se transformar o EDIS em simpósio internacional anual, a partir de 1998.
Crescimento nas bolsas A FAPESP concedeu, no ano
passado, 4.274 bolsas de estudos: 3.912 no país e 362 no exterior. O dispêndio correspondente foi de R$49,2 milhões. Em 1995, foram concedidas 2.963 bolsas, das quais 2.646 no país e 317 no exterior, com o dispêndio de R$ 24,7 milhões. Isso significa que o crescimento no número de bolsas, de um ano para o outro, foi de pouco mais de 44%.
Já o número de auxílios à pesquisa cresceu em cerca de 30%: em 1996 foram concedidos 3.847 auxílios, correspondendo a um dispêndio de R$ 78,5 milhões, contra 2.951 concedidos no ano anterior, com um dispêndio de R$ 45,8 milhões.
Novos Representantes Dois professores da UNI
CAMP foram eleitos, pelo Conselho Superior, representantes da FAPESP junto ao Conselho de Administração da Fundação José Pedro de Oliveira, de Campinas: Joseph Hogan, do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, como titular, e Ademar Romero, do Instituto de Física, como suplente. A Fundação, criada em 1981, é responsável pela preservação de uma reserva florestal de mais de 2,5 milhões de metros quadrados, em Campinas, aberta a pesquisas e estudos científicos.
Uma visão de ciência e tecnologia em três versões
Antes de ser Governador, eu já era engenheiro; e antes de engenheiro, um cidadão paulista. Entendo como uma honra o convite para inaugurar esta coluna. Sei da especial qualificação do público leitor, e creio ser capaz de imaginar as coisas que tal público desejaria ouvir de mim, como Governador. Peço, porém, que me leiam em três versões:
O Governador tem certeza da importância estratégica da ciência para o desenvolvimento. Sabe o quanto este Estado ganhou por antecipar-se, com universidades e institutos de pesquisa próprios. Orgulha-se da FAPESP, fundação pioneira e paradigma de tantas congêneres estaduais que lhe sucederam, muitos anos depois. E cumpriu a sua parte, garantin.: do a integridade financeira desse sistema, quando maior era a adversidade. Eleger prioridades nunca lhe fora tão penoso, mas comprometer o futuro tampouco teria sido um jeito sábio de superar conjunturas. O Governador fez, pela ciência, tudo o que lhe parecia estar ao seu alcance.
O Engenheiro deseja, com ênfase, que São Paulo fique mais forte o quanto antes, para enfrentar esta competição global em que estamos envolvidos. Preocupa-lhe a peleja dos seus colegas pelos postos de trabalho que poderão estar perdendo, aqui mesmo, para engenheiros que vivem do outro lado do mundo. Aflige-se ao ouvir dizer que a evasão escolar no nível de graduação,
Mário Covas*
nas universidades públicas estaduais, está crescendo. E além disso sabe que, nessas • coisas, o alcance do Governador é mais restrito, e que a mobilização da nossa elite intelectual é indispensável.
O Cidadão certo dia leu, no regimento da universidade, serem suas missões o ensino, a pesquisa e a extensão social do conhecimento; e gostaria de ter a certeza de que a distribuição de esforços, nessas três vertentes, está equilibrada. O cidadão acredita no cientista, pois o reconhece como alguém que está sempre à busca de verdades; e as vezes pensa que, por meio do saber, talvez pudesse mais o cientista que o homem comum, no exercício de uma solidariedade inteligente. Parece ser daí que emana, mais que de ou-
PESP
tras fontes, a legitimidade da autonomia universitária.
O Governador sabe que a FAPESP, sempre pioneira, já deverá estar se ajustando aos reclamos desses novos tempos. O Engenheiro, ansioso, torce para que no juízo dos pares da ciência haja mais espaço para as suas legítimas preocupações. O Cidadão quer ver, cada vez mais, o Governo ajudando a comunidade de ciência e tecnologia, e vice-versa.
Os três personagens desejam aos privilegiados leitores desta publicação sucesso nos seus projetas e sobretudo que os resultados deles possam alcançar a máxima vantagem social.
• Governador do Estado de São Paulo
para produção em larga escala -por ultrafiltração tangencial. Martha Tanizaki dá detalhes sobre essa fase: "O que ocorre é o seguinte: a endotoxina (LPS) tem baixo peso molecular, mas como é hidrofóbica tende a formar agregados de alto peso molecular. O método do Mérieux mandava ultracentrifugar o material, com o que o LPS depositava, enquanto o polissacarideo ficava no sobrenadante".
Em vez disso, os pesquisadores do Butantan usaram um detergente fisiológico ( deoxicolato de sódio) para desagregar a endotoxina, até transformá-la em monômeros de baixo peso molecular. O material foi concentrado por ultrafiltração tangencial (na qual os filtros são colocados em posição vertical), retendo-se o polissacarideo e perdendo-se no ultrafiltrado, além dos monômeros de endotoxina, as proteínas e ácidos nucléicos que se tornaram de baixo peso molecular pela ação da protease e da nuclease.
A grande vantagem do processo é que os sistemas de ultrafiltração tangencial, além de serem mais econômicos que as ultracentrífugas, são ao mesmo tempo mais flexíveis , porque permitem que se trabalhe em uma faixa bem ampla de volumes: o mesmo equipamento está projetado para trabalhar, por exemplo, numa faixa de 1 O a 100 litros. Um aumento ainda maior de escala pode ser obtido simplesmente aumentando-se o número de filtros.
Meta de crescimento Quando iniciar a produção
da vacina C, usando a mão-deobra de apenas três funcionários e utilizando o fermentador de que já dispõe - de 80 litros, com capacidade de processamento de 60 litros - , o Butantan pretende fabricar 20 mil doses do produto por semana. Isso significa pouco mais de 1 milhão de doses anuais, o que, em caso de uma epidemia, é insuficiente para atender a demanda mesmo no
Estado de São Paulo. Em 1990, por exemplo, foram aplicadas em todo o Estado 2,4 milhões de doses, na população de 3 meses a 6 anos, com uma cobertura de 92% desse grupo etário.
Mas está no projeto do Instituto a aquisição de um fermentador de 800 litros, o que pode aumentar a capacidade de produção em 1 O vezes - chegando-se a um volume suficiente até para suprir a demanda nacional, na eventualidade de um surto. Para se ter uma idéia, a Coordenação Nacional de Doenças Imuno-Preveníveis solicitou à Coordenação Nacional do Programa de Imunização, para 1997, a disponibilização de um total de 1 O milhões de doses de vacinas contra meningites A e C, prontas para uma eventual epidemia. "Elas estão aqui e até o momento, graças a Deus, não foi preciso usar nada", diz a coordenadora do Programa de Imunização, doutora Maria de Lourdes Maia.
O projeto de pesquisa das vacinas contra meningites C e B teve até agora um custo de aproximadamente R$300 mil, segundo o diretor do Instituto Butantan, professor Isaías Raw. Nesse total, cerca de R$60 mil foram finan-. ciados pela FAPESP. As outras fontes financiadoras são o Ministério da Saúde, a Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo e a FINEP, Financiadora de Estudos e Projetas através do PADCT, Programa de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico.Já o prédio . e os equipamentos para a produção das vacinas chegarão a um custo de cerca de R$1 milhão, boa parte deles financiada pelo PADCT.
SECRETA RIA DA CIÊNCIA TECNOLOGIA E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO
Notícias FAPESP é uma publicação mensal da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo.
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