empreender por necessidade
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EMPREENDER POR NECESSIDADE:
“O Virador”- estudo de caso em São João da Boa Vista; São Paulo.
MARIA CRISTINA SASSARON PAVANI CORRÊA
2012
EMPREENDER POR NECESSIDADE:
“O Virador”- estudo de caso em São João da Boa Vista; São Paulo.
Monografia apresentada à Universidade Federal de São João
del Rei como parte das exigências do curso de Pós Graduação
em Educação Empreendedora, para a obtenção do título de
“Especialista”.
Orientador
Prof. MÁRCIO EDUARDO SILVEIRA
“Todas as informações contidas neste trabalho são de inteira responsabilidade do autor”
SÃO JOÃO DEL REI
MINAS GERAIS – BRASIL
2012
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO JOÃO DEL REI
UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL
NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA – NEAD
CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM EDUCAÇÃO EMPREENDEDORA
EMPREENDER POR NECESSIDADE:
“O Virador”- estudo de caso em São João da Boa Vista; São Paulo.
FOLHA DE APROVAÇÃO
ALUNA: MARIA CRISTINA SASSARON PAVANI CORRÊA
PROFESSOR ORIENTADOR: MARCIO E. SILVEIRA Aprovado em: ____ de _______________ de ___________ Banca examinadora Prof. _______________________________________________________ Instituição: NEAD – UNIVERSIDADE FEDERAL SÃO JOÃO DEL REI Assinatura: __________________________________________________ Prof. _______________________________________________________ Instituição: NEAD – UNIVERSIDADE FEDERAL SÃO JOÃO DEL REI Assinatura: __________________________________________________ Prof. _______________________________________________________ Instituição: NEAD – UNIVERSIDADE FEDERAL SÃO JOÃO DEL REI Assinatura: __________________________________________________ SÃO JOÃO DEL REI - MG MAIO / 2012
AGRADECIMENTOS:
Inicialmente lançando reconhecimentos à família; à própria infância e adolescência
viradoras (por veemente necessidade), onde houve convivência com personagens que “deram
aula” de sobrevivência; aos “Viradores” que direta ou indiretamente inspiraram e
participaram desse trabalho; aos tantos professores por fazerem a diferença; à Universidade
Aberta do Brasil (polo SJBV-SP) por encurtar distâncias; ao estado de Minas Gerais e à
Universidade Federal de São João del Rei - núcleo de coordenação do curso, colegas de
classe, tutores Luiz A. Cruz e Cléia M. Silva e orientador Márcio E. Silveira, que
oportunizaram a empreitada. Ao Professor Doutor “Bezamat de Souza Neto” por
desacortinar o mundinho deste trabalhador que geralmente empreende às canhotas.
“Bizuca”, ao desenformá-lo, lança mão da palavra “Virador” com que o denomina, e
tempera com poesia esta quase transgressão!
CORRÊA, M. C. S. P. EMPREENDER POR NECESSIDADE: “O Virador” - estudo de caso
em São João da Boa Vista; São Paulo. Monografia (Especialização em Educação
Empreendedora) – Universidade Federal São João del Rei, MG. p. 33. 2012.
RESUMO: Esta monografia analisa um empreendedorismo adaptado à dura realidade
brasileira, assim como a árdua trajetória do “Virador”, um profissional mirado pelas lentes
capitalistas como sendo um empreendedor desqualificado pelo excesso de pragmatismo, com
atividades às vezes paralegais, digno de permanecer nos “terreiros” da sociedade. Aqui,
pretende-se penetrar ao universo deste público peculiar pouco visível às políticas públicas,
por vezes tão abandonado que parece ter sido “criado por lobos”. É um profissional
comumente denominado autônomo, roceiro, fazedor de “bicos”, pequeno comerciante,
trabalhador “por conta”; de tão corriqueiro ainda é pouco vislumbrado nos meios
acadêmicos, e empreende por suplicante necessidade, contudo empreende. Esbrange seus
“tentáculos” para melhorar a condição social da comunidade adjacente, e para isso é mais
eficiente que manuais de auto ajuda, por ser ele mesmo sua própria auto ajuda . O trabalho
aponta também uma reflexão para que educadores estejam mais translúcidos em relação a seu
alunado, levando-o a extravasar o “demoninho virante” adormecido em si: sua criticidade,
iniciativa, autonomia, criatividade, protagonismo, “coopetição”, sustentabilidade e outras
características básicas, na longa e sonolenta gestação escolar. Trata-se de uma perspectiva
educacional includente, com real possibilidade de ascensão social a ser conquistada pelos
entes envolvidos, ao gerar potenciais empregadores em vez de meros ocupantes de empregos.
O tema é abordado em detalhes pelo pesquisador “Professor Doutor Bezamat de Souza Neto”
como um estilo de sobrevivência escancarado na sociedade brasileira, onde tem se debruçado
com aprofundamento e seriedade devidos. O termo “Virador” contempla indivíduos que
conseguem dar um desvio súbito na rota original de suas vidas, de forma perpendicular,
melhorando sua condição financeira e sociocultural, e consequentemente da família a que
pertencem, valendo-se empiricamente das características carregadas de ônus e bônus deste
“empreendedorismo adaptado”, e dos talentos especiais que possuem em alguma área
profissional específica. O Virador geralmente é também um fazedor.
Palavras chave: Educação Empreendedora / Empreendedorismo por necessidade / “Virador”.
LISTA DE TABELAS:
TABELA 1: Sexo; tipo de necessidade desencadeante ao empreendedorismo;
apoio familiar; auxílio escolar; percurso anterior..............................................
26
TABELA 2: Apoio Governamental e envolvimento emocional com o empreendimento.....................................................................................................
26
TABELA 3: Localidade de atuação...................................................................
26
TABELA 4: Formalização (CNPJ) .....................................................................
26
SUMÁRIO:
RESUMO.............................................................................................................. I
LISTA DE TABELAS.......................................................................................... II
1 INTRODUÇÃO............................................................................................. 7
2 REVISÃO DA LITERATURA..................................................................... 12
2.1 Educação Empreendedora e o Virador”................................................. 12
2.2. O que mais existe sobre o assunto ............................................................ 15
3 DESCRIÇÃO DO PROBLEMA E OBJETIVOS DA PESQUISA........... 20
3.1 Objetivo geral.............................................................................................. 20
3.2 Objetivos específicos.................................................................................... 20
4 METODOLOGIA........................................................................................... 21
4.1 Tipo de pesquisa.......................................................................................... 21
4.2 Objeto de estudo e amostragem................................................................. 21
4.3 Coleta dos dados.......................................................................................... 22
5 ANÁLISE DE DADOS:................................................................................. 23
5.1 Análise dos resultados encontrados em relação aos objetivos e ao
referencial teórico já existente...........................................................................
23
5.2 Dados obtidos sobre a amostragem pesquisada........................................ 25
5.3 Análise dos resultados encontrados, expressos em tabelas....................... 26
6 CONCLUSÃO................................................................................................. 27
6.1 Sugestões para futuras pesquisas............................................................... 28
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................. 30
ANEXOS............................................................................................................. 31
7
1. INTRODUÇÃO:
Levando-se em conta o atual contexto sociocultural e econômico do País, e o grau de
escolarização formal da grande maioria populacional, a proposta do famoso “bom jeitinho
brasileiro” torna-se bem mais realista que o empreendedorismo tradicional, formando com
ele um dualismo binário (mas talvez possam se amalgamar em algum ponto futuro).
O empreendedorismo por necessidade trata-se de um importante “meio de vida”, uma
forma de provisão individual e familiar. Tem o foco empreendedor na distribuição equitativa,
e não na concentração de riquezas, dando um viés libertador a comunidades politicamente
esquecidas.
Para o Brasil realmente galgar seu posto merecido na economia internacional: pelo
tamanho “continental”, pela extensa faixa litorânea, localização geográfica, condições
climáticas favoráveis a energias renováveis, população multicultural e outros, realmente há
necessidade de estimular nos educandos formados primordialmente em escolas públicas,
postura empreendedora (mesmo que adaptada) desde tenra idade.
O professorado necessita lapidar em si mesmo, postura inerente a um ideal de
educação ao empreendedorismo, para que possa realizar esta empreitada, instrumentalizando
assim os trabalhadores futuros para geração de renda de forma autônoma e associativa,
criando empregos e movendo a economia local.
É possível despertar características voltadas a este empreendedorismo social, que
requer sumariamente autonomia, iniciativa, criatividade, protagonismo, criticidade,
sustentabilidade e “coopetição”, dentre outros requisitos básicos. Os bancos escolares ainda
não se comprometeram em remodelar-se para atender a esta demanda.
Muitos destes empreendedores adaptados atuais obtiveram pouco auxílio ao longo do
período escolar, necessitando adquirir “na raça” e por ensaio e erro, parte desses requisitos
empreendedores primordiais, pois se trata daquela criatura que transcende o simples
caminhar natural e passa a “nadar compulsoriamente na ocasião em que sente a água tocar-
lhe as nádegas”.
O indivíduo que foi educado para ser autônomo é aquele pragmático, um fazedor
mesmo com pouco auxílio; o ser humano que demonstra grande iniciativa corre atrás de
oportunidades, não aguardando baterem-lhe à porta; alguém criativo o bastante, procura algo
novo, alguma lacuna que se transformará num nicho de mercado.
A pessoa protagonista atua ativamente na comunidade onde vive, criando com
naturalidade uma rede de relacionamentos a gerar empoderamento (alarga a parcela de poder
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daquele grupo); quem tem desenvolvida sua criticidade, não se deixar levar por espertalhões,
se afasta de dívidas impagáveis, age com raciocínio lógico, evitando rompantes emocionais.
Um estilo de vida sustentável requer equilíbrio (responsabilidade social) num
pentágono onde primeiramente, novas relações com o planeta buscam qualidade às formas de
vida nele presentes; em segundo lugar, os impostos, se bem aplicados, estarão a beneficio do
País; em terceiro plano, há que se atuar paralelamente na comunidade circundante; em quarto
lugar, os colaboradores necessitam atenção especial; por fim, uma parcela de vantagens deve
logicamente atingir o “Virador” e familiares.
Na elucidação do termo “coopetição”, tem-se algo que compreende uma modalidade
empreendedora onde a eficiência torna-se coletiva: cooperar na rede de relacionamentos para
competir fora dela, um novo paradigma comercial que sugere inovações técnicas,
econômicas e gerenciais, transcendendo o lucro financeiro em si, ditado pelo neoliberalismo,
e focando o lucro social: perder individualmente hoje para ganhar coletivamente amanhã.
Coopetição compreende “Arranjos Produtivos Locais”, formulando novas políticas
para estar compatíveis com o mercado, criando outros modelos de trabalho, produção e
produtos; se ajustando às exigências de um comércio planetário, sem arcar sozinhos com
custos (e incertezas) vultosos acarretados por tal empreitada.
Nos “Arranjos Produtivos Locais”, cada ente contribui para o grupo, com suas
competências essenciais: sua diferenciação, talento ou vocação. É um caminho mais seguro
para empreendedores se desenvolverem numa concorrência acirrada e de avançada
tecnologia. Segundo consta do Caderno Impresso “Educação Empreendedora e Redes de
Cooperação”, (2011, p. 12):
Por mais paradoxal que pareça, a competição atual aponta para a
cooperação entre os vários atores. E hoje, adiantamos, cooperar para
competir é o mote e a palavra é coopetição. E disso tudo surge uma nova
visão do empreendedorismo, na medida em que o comportamento
empreendedor dos atores é que vai ditar os rumos e apontar caminhos, como
veremos.
Obviamente, nem todo empresário se faz suficientemente empreendedor, há os casos
em empresas familiares com sucessão hereditária, e também pessoas desavisadas; contudo
para o empresário que pouco empreende o risco de falência é imenso, potencialmente maior,
por ele apresentar baixo grau de envolvimento com o empreendimento em questão.
O empreendedor por necessidade não é obviamente inferior ao empreendedor por
oportunidade (tradicional), e igualmente, pode atuar em qualquer área mercadológica, o
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diferencial é que ele geralmente dispõe de bem menos apoio financeiro e conhecimentos
teórico-administrativos, e mesmo assim consegue dar um revés em sua vida, passando a tocá-
la com a maior autonomia possível, vencendo percalços.
O “Virador” é aquela pessoa a qual jamais chegou aos ouvidos a expressão “ócio
digno”, sendo que ócio somente se torna digno à elite neoliberal, para o pragmático fazedor é
uma verdadeira “ indigna vagabundagem” (segundo os olhares “evoluídos”).
Ele não se economiza, nem desiste diante das adversidades (que surgirão com
certeza), driblando os obstáculos em vez de esconder-se deles, para tentar aproximar-se ao
máximo de seu sonho: mais que uma utopia, é uma espécie de “vedanta” relacionada ao
pentágono anteriormente citado.
Interpretando um dos principais especialistas no assunto a ser abordado, e o teórico
primordial ao qual se pretende aprofundar para elaboração esta pesquisa: “Souza Neto”, o
empreendedor social brasileiro é um “Virador”, no sentido de quem “se vira” com ginga,
agilidade, resiliência, improvisação e solidariedade ao clã.
O “Virador” não se adequa ao modelo acrítico importado do estrangeiro e abordado
por diversos cursos na área de empreendedorismo, cursos estes que o vêem de forma
enviesada, pelo fato de não se enquadrar geometricamente à sua cartilha, onde alguém parece
ter nascido predestinado a tal, numa diagramação com “veia empreendedora” inata. O teórico
“Souza Neto” esclarece (2008, p.19):
Tentaremos então contribuir com especificidades que contextualizem o nosso
virador – que tanto pode ser um artesão, um camelô, um dono de uma
bodega qualquer, um autônomo, um desempregado ou um assalariado sem
carteira, enfim, aquele que “se vira” – que difere, por razões sócio-histórica
e cultural, dos clássicos tipos – conforme o modelo taxionômico do
pensamento empreendedor – do hemisfério norte. Caminharemos no sentido
de que nenhuma tipologia é suficientemente completa a ponto de cobrir
todos os tipos de empreendedores. Cada caso pode ser considerado único.
Entretanto, elas provêem uma base para a compreensão dos pontos de
apoio, bem como dos valores e do pensamento dos empreendedores, e as
linhas para a compreensão da consistência comportamental geral desses
atores, na medida em que devemos contextualizar o ambiente ao qual aquele
está inserido.
Complementando os estudos teóricos com uma pesquisa de campo transversal a ser
realizada com doze empreendedores sociais no Município de São João da Boa Vista - SP,
pretende-se aqui descobrir peculiaridades relacionadas a eles, e compará-las à revisão
bibliográfica, através de observações em loco, entrevistas detalhadas e questionários de
coleta de informações (anexos 1 e 2).
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Encontramos pequenos empreendimentos distribuídos no entorno de qualquer quintal,
empregando mão de obra familiar e comunitária, e oferecendo a muitos jovens sua chance da
primeira empreitada profissional (sem exigência de experiência anterior).
São pontos comerciais que oferecem treinamento em serviço, e facilitam a vida da
população circundante numa intimidade serena; questões que somente se tornam realidade
graças à coragem (e à generosa dose de loucura) destes quase heróicos “Viradores”, visto que
recebem rareado apoio do poder público durante todo seu trajeto.
A dádiva em “toneladas” vinda das políticas públicas nas três esferas, é a famosa e
temida burocracia, que evita tratamento desigual aos desiguais (aquela democrática
equidade), onde microempreendedores carecem conhecimentos administrativos globais que
não têm como possuir.
As esferas governamentais se recusam a correr riscos com o “Virador”, exigindo
garantias que nem sempre ele consegue fornecer; todavia quando, com virações sucessivas
este público evolui, ou ao menos se mantém atuante no mercantilismo do séc. XXI, saltam
(esganadamente) em busca dos resultados tributários.
Um trabalhador autônomo que se estabelece, montando seu pequeno negócio num
canto improvisado, e após determinado tempo inicia a regularização da empresa para sair da
informalidade, se depara com uma gama de passos a ser percorridos; e ao conseguir por fim o
CNPJ, surgem-lhe rotinas novas.
Formalizando a empresa, há documentações mensais a serem entregues, que requerem
gastos extras com variados impostos e taxas; e despesas com os serviços de um contador de
confiança, pois passa a receber boletos para depósito bancário de inúmeros sindicatos e
outras entidades, que para os mais ingênuos se tornam verdadeiras extorsões.
Apenas uma guia enviada com pequeno erro de cálculo, ou inadvertidamente por um
sistema e não outro (tipo SIMPLES) aos órgãos coletores de impostos e taxas, mesmo
estando paga, gera multa sobre multa (enquanto circula burocraticamente) que pode
endividar e macular o nome do empreendedor.
Os órgãos coletores de impostos geralmente não tratam o “Virador” como verdadeiro
cliente que o é. Muitas instituições bancárias, inclusive públicas, caem como “abutres” a
atormentar o novo portador de CNPJ, tentando levá-lo a crer na imprescindibilidade de se
contrair dívidas, para poder estar atuante.
Aqui, procura-se respostas para questões que possam desanuviar o “habitat” do
empreendedor social, como: Ramo empresarial que administra e tempo estimado;
necessidades que o desencadearam; principais dificuldades e sucessos enfrentados;
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características suas que levam ao bom desempenho ou atrapalham o empreendimento;
porcentagem estimada da renda do empreendimento em relação à renda familiar total.
Serão observadas as horas semanais trabalhadas, funções exercidas, auxílio familiar
(estilo de vida ecológico); o grau de escolaridade, e se obtiveram professores que
contribuíram em sua formação empreendedora; o percurso empreendedor - outras tentativas
(etnografia); a saída da informalidade (se ocorreu) e após quanto tempo; apoio
governamental (cursos, financiamentos, incentivos municipais); como o “Virador” julga que
a escola pode auxiliar na formação empreendedora; discorrer livremente sobre o
empreendimento.
Espera-se também com a pesquisa, para a sensibilização do público leitor, justamente
fazer com que após a leitura, se passe a direcionar o olhar com atenção mais esmerada ao
empreendedor social, conseguindo a partir de então, melhor compreendê-lo; gerando pouco a
pouco, uma cultura de valorização deste “esteio” de comunidades carentes.
Almeja-se que os leitores ajam em relação ao público “Virador”, a partir da humilde
contribuição deste material, da mesma maneira que geralmente ocorre durante uma visita a
um espetáculo circense, onde fica-se com o olho direito nas atrações do palco e com o olho
esquerdo nas adjacências da tenda, capturando cada detalhe que obviamente encontra-se
alheio ao espetáculo em si, não devendo ser explicitado ao público desatento, sendo que este
acaba por perder o melhor da festa, lá nos bastidores.
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2. REVISÃO DA LITERATURA:
2.1 Educação Empreendedora e o “Virador”:
Souza Neto (2008) deu origem a esta “viagem” ao dialogar com tantos outros
teóricos, para situar o “Virador” como aquele trabalhador que “se vira” para ganhar a vida
com engenhosidade. Aqui o autor estuda amostragens de produtores rurais, pequenos
comerciantes e prestadores de serviço em periferias e favelas. Trata-se do empreendedor por
necessidade de sobrevivência, em contrapartida ao tradicional empreendedor por
oportunidade de negócios.
O autor discorre sobre o surgimento do termo empreendedorismo em esferas formais
na literatura especializada de influência estrangeira, e cita pesquisas sérias como o Global
Entrepreneurship Monitor (GEM) que chegou a situar o Brasil em 1º lugar mundial em
empreendedorismo por necessidade e 16º em empreendedorismo por oportunidade, gerando
certo alvoroço e desconforto nos meios acadêmicos.
A capacidade de assumir riscos calculados foi encontrada pelo autor em toda a
literatura especializada, como uma das principais características do empreendedor, contudo
ele próprio não dá a esse e outros perfis importância exagerada, pois crê que não há um perfil
clínico de empreendedor.
Muitos dos traços empreendedores são inúteis e enganosos por serem limitados
diante da diversidade de “Viradores”, que iniciam perplexidades produtivas, habitando os
subterrâneos econômicos e são seres muitas das vezes considerados “atrasados”, que pouco
merecem o olhar dito acadêmico por serem “incapazes” segundo certos manuais.
O autor prefere deixar que o “Virador” e sua comunidade falem, explicando por si
mesmos as regras de seu universo social, pois até mesmo o empreendedor tradicional assume
na literatura caráter transdisciplinar.
Cada área acadêmica enfoca o empreendedorismo segundo suas próprias convicções;
que numa abordagem mais ampla, extrapola o âmbito econômico e torna-se uma visão de
mundo ou estilo de vida, todavia os métodos para discorrê-lo costumam apresentar o mínimo
de subjetividade ou poesia, tentando assim induzir a maior credibilidade.
De acordo com o autor, há o mito romântico e estereotipado do homem de poder e
sucesso, estampado em capas de revistas especializadas, que povoa o universo
empreendedor: com “disposição para o trabalho, energia e engenhosidade, alegria de se
exercitar, com maximização de lucros”, dentre outros mirabolantes e inalcançáveis atributos.
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Segundo o teórico, o homem que age por necessidade, qualquer que seja ela, passa a
inventar outros programas vitais, e galga status mais racional, transcendendo o impulso da
necessidade em si, pois como fruto de seu meio tem desenvolvimento contínuo, sendo que
condições econômicas, socioambientais e políticas propiciam ou não o surgimento e
crescimento do “Virador”.
Provavelmente há sim um ambiente que propicie o empreender, e segundo o
“Processo Visionário de Filion”, a aquisição de autoconhecimento deve ser contida nele, pois
seu empreendimento torna-se uma extensão de si próprio: o que se sabe fazer melhor será o
seu diferencial, sua “marca”.
A rede de relações do “Virador” inclui família, contatos sociais e material teórico; o
direcionamento de tempo para conhecer aspectos fundamentais do setor em que se pretende
atuar; a capacidade “contaminativa” de suas idéias e envolvimento passional; canalizando
energia para atingir objetivos, trarão solo fértil ao ambiente citado.
O método alemão de Criação de Empresas e Formação de Empresários / Competência
Econômica pela Formação de Empreendedores (CEFE) procura promover, sustentar e
expandir negócios, num treinamento participativo com simulações do dia a dia, num aprender
fazendo ou prática refletida; desenvolvendo e fortalecendo a competência empreendedora,
tornando comunidades menos amorfas.
O método trata-se de um fio condutor para clarear objetivos e especializar o futuro
empreendedor a fim de alcançá-los, diminuindo o grau de incertezas. A princípio, ao facilitar
a atividade empreendedora, propicia-se desenvolvimento econômico.
O ICCAPE – Instituto Centro de Capacitação e Apoio ao Empreendedor em parceria
com o CEFE, desenvolve projetos no Brasil com as devidas adaptações às peculiaridades de
cada localidade atendida e faz adequações às expectativas dos beneficiários, com jogos e
dinâmicas de grupo, confecção de planos de negócios, planejamento de ações a longo prazo,
explicitação da interdependência dos vários atores institucionais numa determinada
localidade a interagir com o empreendedor.
Interagem banqueiros, poder público e entidades promotoras de desenvolvimento
(tipo SEBRAE, agências municipais de desenvolvimento), contudo muitas capacitações
chegam num pacote pedagógico fechado e com todas as implicações que isso possa gerar.
Os relatórios de pesquisa GEM investigam a relação entre o fomento do
empreendedorismo e o desenvolvimento econômico, e estudam mecanismos de
empreendimentos por necessidade e também por oportunidade.
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Constatou-se que locais com níveis de desenvolvimento baixo, pequena cobertura em
seguridade social e mercado de trabalho pouco dinâmico, tendem a apresentar taxas maiores
de empreendedorismo por necessidade, alavancando economias locais devido a seu notável
potencial; todavia, a regra nem sempre se aplica ao empreendedorismo tradicional.
O GEM aponta no Brasil, grande potencial empreendedorístico. Empreender na
condição brasileira é algo tão diverso, que cada caso centra-se nele mesmo; são perfis e
fronteiras se entrelaçando numa plasticidade infinda.
Por meios discretos numa espiral, esquemas de assimilação sofrem acomodações, e
aí encontra-se o cerne de como muitos brasileiros de classes populares passam a evoluir
“empreendedologicamente”, visto que o foco não encontra-se naquele que empreende, mas
em como empreende, e traços típicos desse pessoal podem ser treináveis e repetíveis,
passíveis então dessa evolução (e educação).
O autor pesquisado enfatiza que o “por que” empreender ainda carece alforriar-se de
olhares ditos teóricos e adquirir a brasilidade de “porteira fechada”, com direito a
peculiaridades locais e traços cosmopolitas.
Na alma desse brasileiro às “avessas”, por vezes sobrevivente macunaímico,
considerado indolente por não ter no trabalho um fim em si, mas um meio de sobrevivência,
há obstáculos que impedem ventos modernosos ao País pela perspectiva de pensadores do
hemisfério norte. Contrasta-se com o nosso “Virador” nesse cenário, de forma absolutista
(país pobre deve ser máquina de trabalho rústico).
De acordo com o teórico, o homem ibérico costuma ser avesso ao trabalho braçal, seu
status e dignidade se relacionam mais ao ócio que à ocupação, preferindo contemplar a
produzir, buscando “enricar” por outros braços e mãos calejadas (o sul).
Os Jesuítas inseriram o brasileiro (gentalha) ao mundo do trabalho de forma senhoril;
e com o negro surge o escravo de aluguel, pois é a ele que se ensina ofícios, por seu desvalor
(do ofício), e hoje o negro ainda carrega esse fardo sem compadrio numa sociedade
amplamente desigual que segue competindo em desigualdade de condições (cérebros fortes
se sobressaindo a braços fortes).
Com plena consciência de si, o “Virador” persiste na luta por sobrevivência e se auto
inclui na sociedade racional excludente; improvisa para suportar a imposição social e superar
normas tradicionais. Não é apenas a condição econômica do país que leva-o a essas
alternativas de ocupação, mas fatores que ainda necessitam mais estudos, todavia em nossa
sociedade, trabalho por necessidade é algo histórico. Eis aí o traço irrequieto do “Virador”.
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Esclarece o autor que a capacidade de gerar o próprio emprego é uma libertação, e
tática de experiências exitosas por parte do “Virador”, independente de opiniões
constrangidas da elite neoliberal, por tê-lo como indisciplinado.
O “Virador” abusa dessa atividade meio, e mesmo “pisando descalço” pode
incorporar algumas das artificialidades acadêmicas aqui e acolá, com algum treinamento,
capacitação, vinhetas na mídia; contanto que sejam numa perspectiva libertadora, pois já
encontra-se bastante amarrado por si só.
2.2 O que mais existe sobre o assunto:
Maslow (1988) criou a pirâmide das necessidades, onde há uma hierarquia:
primeiramente devem ser satisfeitas as necessidades fisiológicas de um indivíduo (água, ar,
alimento, repouso); para posteriormente se satisfazer as necessidades de segurança (abrigo,
recuo diante do perigo); de amor e participação (pertencimento, vida social); de estima (ser
reconhecido); de realização (alcançar os objetivos almejados); de conhecimento e
compreensão (curiosidade, pesquisa); e no topo piramidal há as necessidades estéticas (busca
pelo belo).
Todas as necessidades citadas são consideradas básicas por Maslow, porém se
manifestam hierarquicamente, com a primordial satisfação daquelas de ordem inferior.
Satisfeita uma necessidade, imediatamente surgem outras, até se alcançar o topo da pirâmide.
Segundo ele, o comportamento humano pode ser motivado pela satisfação dessas
necessidades biológicas, sem contudo estar apenas relacionado a privação, necessidade e
reforçamento.
Olave & Amato Neto (2001) analisam a necessidade das micro e pequenas empresas
atuarem associativamente, com possibilidade de troca e ajuda mútua para sobrevivência e
competitividade, num mercado de mudanças rápidas que aceleram a obsolência, com muita
flutuação de mercado e diluição de fronteiras, tensões políticas, trabalhistas e legislativas,
onde os custos de transação, por vezes vão além ao custo de produção.
Alguns requisitos essenciais para o nascimento e desenvolvimento de redes
empresariais são a cultura de confiança; de competências essenciais de cada parceiro; cultura
da tecnologia de informação, vital para a implantação e desenvolvimento de redes flexíveis.
Combinar diferenciação (vocação / talento), custo reduzido de operações, devido à
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otimização dos recursos, habilidades individuais que a ação conjunta possibilita, é o mote
nesse modelo organizacional.
Abreu (2002) propõe um método de ação que desenvolva “Redes Dinâmicas em
Aglomerados (clusters)” para empreendedorismo artesanal na região de São João Del Rei,
MG; inicia-se pelo aproveitamento de oportunidades locais, para formação de arranjos
setoriais e territoriais do público empreendedor, aplicando pressupostos da pesquisa-ação
com tomada de conhecimento da realidade para então modificá-la.
Fatores históricos e contemporâneos incrementam os aglomerados produtivos na
atividade artesanal; ganhos em escala devido a intercâmbios, alianças e parcerias propiciam
uma rede dinâmica e flexível que multiplica esforços e disparam ganhos; fortalecem os atores
envolvidos e são fonte de empregos, salários e impostos, porém requerem instrumentos
articulatórios que façam face à dinâmica do sistema capitalista.
Souza Neto (2003), com a história do pensamento empreendedor, usa o termo francês
“entrepeneur” para designar aquele que inova, detecta oportunidades e faz compras para
revenda, visando lucro e correndo riscos. O comportamento empreendedor, de tão complexo,
tornou-se campo de estudos transdisciplinares.
O pioneiro em capacitar tais comportamentos foi MC Clelland; que detectou valores
socioculturais e religiosos (inspirado por Max Weber) sobre atitudes empreendedoras e
padrão de excelência internalizado, novidade para a época.
Segundo Souza Neto (2003), MC Clelland relacionou progresso econômico à cultura
da necessidade de realização, onde se alcança conquistas difíceis ou façanhas, sendo
“fazedor” pelo poder, por amor, reconhecimento ou lucro. Criou bases para treinamento da
motivação ao êxito, aplicável em situações empresariais, embora crê ser o espírito
empreendedor aplicável em qualquer esfera do mundo social.
No Brasil, o termo surgiu nos meios acadêmicos para nomear estudos sobre criação
de negócios e também para um público trabalhador: administradores, técnicos, políticos,
microempresários e até desempregados. Surgiu também de atividades ligadas a programas
governamentais conectadas a órgãos públicos trabalhistas e ações sociais.
Filion (2004) salienta que estudantes universitários têm consciência de que um
emprego não explorará todo seu potencial se não lhe permitir ser intraempreendedor – agindo
como se a empresa fosse dele; porém necessitam de um plano de trabalho ou negócios, que
lhes dê pontos de referência para checagens e avaliações, para “ler” o mercado e usar
gerenciamento e marketing.
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Estudando erros e garantindo acertos de forma sistêmica, o intraempreendedor auxilia
no desenvolvimento de produtos, na prestação de serviços ou criação de empresas, e abrange
coerência pessoal com equilíbrio vital (A sua idéia é compatível com o seu estilo de vida?).
Usar novas tecnologias faz a diferença, mas o espírito empreendedor que inicia
mudanças, assume riscos e inova, lança a divisa entre fracasso e sucesso.
O agrupamento em cooperativas, interação com pessoas em torno de diferentes
atividades (network), traz o fiel da balança entre independência e necessidade de
comunicação, entre exigir de si próprio e delegar tarefas de forma harmônica, trata-se do
sistema de vida ecológico unindo sucesso e felicidade na avenida empreendedora escolhida.
Aprender continuamente e acumular experiências na área pretendida, para detectar
oportunidades e nichos de negócios, enfatizando a concepção e visão de projetos com
sistemas de acompanhamento e supervisão; ser generalista e planejar a longo prazo; tomar
decisões estratégicas circulando informações; e saber selecionar colaboradores, são boas
características para o microempreendedor, porém analisar os clientes e diversificá-los,
acompanhando o volume de negócios e rentabilidade, é vital para se avançar.
O trabalhador autônomo, assim como o tecnoempreendedor (inventor) geralmente só
recebe ajuda ocasional, e o agir sozinho privilegia a relação com os clientes e a ecologia
pessoal. Disciplina, gestão e aprendizagem constante mantêm sua motivação e produtividade;
ele opta pela modalidade ou é empurrado a ela devido ao estreitamento do mercado.
O terceiro setor (sem fins lucrativos), detêm empreendedores engajados criando
programas e inovando, para preencher lacunas governamentais. Optar pela ética, economia
sustentável e responsabilidade social em vez da esperteza, faz a diferença no balanço dos
resultados.
Silva & Souza Neto (2006) enfocam o terceiro setor também como fonte de diversas
iniciativas empreendedoras, pois sempre um novo conhecimento gera novas idéias, que
geram novos negócios. Abordam um caso envolvendo moradores e ex-moradores de rua,
numa iniciativa social com o objetivo de gerar trabalho e renda, e contribuem para melhor
compreensão sobre como se efetiva o empreendedorismo alavancado pela sociedade
organizada.
A Associação dos Catadores de Papel, Papelão e Material Reaproveitavel de Belo
Horizonte, é analisada a partir de conceitos da Teoria da Firma, assim como o espírito
empreendedor de seus principais gestores e os impactos socioeconômicos decorrentes, numa
análise racional, levando em conta não só as expectativas de resultados, mas o contexto
social que foca a defesa de minorias, do meio ambiente e dos direitos humanos.
18
As associações nascem de um ato político alavancado por pessoas com valores,
convicções e motivações que potencializam oportunidades, rompendo com a prática
meramente assistencialista governamental para colocar o setor público também como
parceiro dos empreendedores.
Souza (2006) analisa como os empreendedores participam de processos de formação
em empreendedorismo, e como transferem para a prática os novos conhecimentos adquiridos
em gestão; estuda suas demandas por qualificação e como valorizam novas competências,
que auxiliados pelo SEBRAE, participam de um programa de fortalecimento da capacidade
empreendedora através de treinamentos.
Os resultados do trabalho apontaram que a capacitação para empreender com
qualidade, que traz conteúdos de interesse e utilidade prática, é bastante valorizada pelos
cursistas, por trazer ganhos financeiros aos negócios, e por fortalecer sua autonomia,
confiança e auto-realização, principalmente em relação ao público feminino.
O foco da pesquisa empírica centra-se em como esse público está aprendendo a
empreender, e discutir estratégias educacionais que instrumentalizem o trabalhador a
conquistar cidadania econômica e bem estar social para si e sua comunidade.
Silva (2007) vem delinear o percurso do empreendedorismo no Brasil e situa o
“Virador” neste contexto, colhendo uma amostra desse trabalhador na cidade de Santa Rita
do Sapucaí, MG, para melhor compreendê-lo.
Seu método constitui-se em colher a amostragem por indicações imparciais e
convidá-los a relatar sua experiência em empreender, num questionário com treze questões.
Os resultados foram expressos em tópicos.
As informações mais relevantes sobre a conclusão de sua pesquisa, é que os
“Viradores” entrevistados (majoritariamente femininos) estavam empreendendo com a
necessidade de agregar renda à família, suplementando para aquisição de bens, e não apenas
sobrevivendo. Concluiu também que os entrevistados não se sentiam discriminados
(incomodados) por serem trabalhadores informais.
Dornelas (2008) ressalta que ao identificar, avaliar e implementar novas
oportunidades de negócios, as ideias (que nem sempre precisam ser únicas) devem ser
compatíveis com as janelas de oportunidades (elas sim acabam sendo únicas), para que sejam
transformadas num produto ou serviço.
Para as ideias florescerem e se tornarem oportunidades, deve-se priorizar o ambiente
empreendedor; ao diagnosticar uma oportunidade tentadora, faz-se necessário analisar o
19
mercado, o retorno financeiro, as vantagens competitivas, o comprometimento da equipe de
trabalho e questões socioambientais.
Para criação de banco de oportunidades, deve-se registrar as ideias / oportunidades
ainda não implantadas; estipular um tempo para que a equipe possa trabalhar, identificando
potenciais oportunidades; promover eventos diversos para geração de novas ideias; oferecer
reconhecimentos à equipe quando elas surgem; despender recursos financeiros para fomento
de projetos e sua viabilidade; criar estratégias de avaliação de ideias / oportunidades e
premiar as mais viáveis.
Souza Neto (2009), ao analisar Max Weber, constata que este tinha razão em afirmar
que muito da diferença no desenvolvimento econômico encontra-se na cultura. As esferas
culturais racionais são diversas e com as devidas especificidades, que levam a dominar ou ser
dominado, conforme um controle mais ou menos racionalizado do mundo.
É numa tensão constante da revolução de consciência, que se consegue conquistas ou
se obtém obstáculos a impedir uma população de se tornar “moderna”, como o caso de nosso
empreendedorismo social, considerado ainda “retrógrado”.
A ideia protestantista da profissão como vocação dignificante, atrela-se ao
desempenho diferencial como um fim em si, para maior eficiência. Exige-se coerência nos
valores em locais distintos, implicando uma prática social uniforme que pouco condiz com o
“se virar”, mais inclinado ao catolicismo. O poder de crítica de si próprio e das tradições em
que se está envolto, talvez constituiria essa modernidade que se contrapõe ao nosso “atraso”.
Perante o relatado na revisão bibliográfica, esse trabalho se justifica para referendar
tópicos existentes, incluir outros e analisar contraposições. A teoria abrange a origem do
termo empreendedorismo, o estilo “virador”, a pirâmide de necessidades, vantagens de
cooperativas e seus métodos de ação, o intraempreendedor, tecnoempreendedor e terceiro
setor, o ramo empresarial compatível com estilo de vida, cursos de formação, análise de
amostragem, idéias compatíveis com janelas de oportunidade, a cultura fazendo diferença no
desenvolvimento econômico. A fatia pesquisada transversalmente em campo foca apenas o
profissional “Virador”.
20
3. DESCRIÇÃO DO PROBLEMA E OBJETIVOS DA PESQUISA:
O intuito principal da pesquisa é aprofundar um pouco mais os conhecimentos
relacionados ao cotidiano do profissional “Virador”, para que ao menos uma parcela dos
educandos de escolas públicas, passem a beneficiar-se de uma educação voltada ao
empreendedorismo.
3.1 OBJETIVO GERAL:
Desvendar parte dos meandros do empreendedorismo social (por necessidade), e
consequentemente, também algumas sinuosidades relacionadas ao profissional “Virador”,
analisando a pertinência da educação formal em abranger o empreendedorismo.
3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS:
3.2.1 Proceder a um aprofundamento teórico (pesquisa bibliográfica) sobre
empreendedorismo como fonte de renda e subsistência, principalmente relacionado à
modalidade social;
3.2.2 Realizar pesquisa de campo transversal com uma amostragem de empreendedores por
necessidade no Município de São João da Boa Vista, S.P. (12 “Viradores”);
3.2.3 Adentrar o universo dessa amostragem para descobrir peculiaridades como: ramo
empresarial e duração do empreendimento; necessidades que os levam a empreender nesta
região específica; principais dificuldades e sucessos; características pessoais que auxiliam ou
atrapalham o empreendimento; porcentagem estimada de renda do empreendimento em
relação à renda familiar total; horas semanais trabalhadas, funções que desempenha,
recebimento de auxílio familiar; grau de escolaridade e influência de professores, percurso
empreendedor – outras tentativas; saída (ou não) da informalidade; apoio governamental, e
outras peculiaridades;
3.2.4 Comparar os dados obtidos na coleta de dados com aqueles encontrados no referencial
teórico, e traçar um paralelo entre eles, na tentativa de enriquecê-los.
21
4- METODOLOGIA:
4.1 Tipo de pesquisa:
O trabalho foi desencadeado por estudos iniciados com duas disciplinas relacionadas
ao curso “Educação Empreendedora”: Pedagogia Empreendedora, e Educação
Empreendedora e Redes de Cooperação, onde surge o pragmático empreendedor social, com
as mais variadas “fazeções”.
Houve posterior aprofundamento teórico, aprimorando a temática do
empreendedorismo; portanto, parte desta monografia se constitui em pesquisa bibliográfica,
incluindo principalmente títulos relacionados ao empreendedorismo por necessidade.
Para a coleta de dados, foi realizada uma pesquisa de campo transversal, no período
de outubro a dezembro de 2011, com uma amostragem de doze “Viradores” do Município de
São João da Boa Vista, SP.
A pesquisa se constituiu em visitas aos estabelecimentos dos empreendedores e afins
(previamente agendadas), com utilização de observações sistemáticas, entrevistas e
preenchimento de questionários pelo pesquisador (anexo 1), para esclarecer peculiaridades
referentes a essa modalidade de trabalho.
Todos os participantes assinaram uma autorização (anexo 2), onde foram esclarecidos
os objetivos do projeto, e receberam garantias de manutenção de sigilo sobre a identidade dos
voluntários. Para sua privacidade, os mesmos não serão identificados, excluindo-se quaisquer
danos financeiros ou de outra natureza.
A escolha da amostragem se deu pelo critério de intimidade do pesquisador para com
os “Viradores”, elencados no círculo de vizinhança e amizade, pessoas conhecidas,
estabelecimentos freqüentados cotidianamente por ele, assim como por grau de parentesco.
4.2 Objeto de estudo e amostragem:
Procurou-se desvendar o perfil do “Virador”: ramo empresarial e tempo de atuação;
necessidades que o levaram a empreender; dificuldades e sucessos; características positivas e
negativas; porcentagem de renda do empreendimento relacionada à renda familiar geral;
horas trabalhadas, funções, auxílio familiar; escolaridade e contribuição de professores.
22
Verificou-se o percurso empreendedor; saída da informalidade (se ocorreu); algum
apoio governamental (cursos, financiamentos, incentivos municipais); como julga que a
escola pode auxiliar na formação empreendedora; envolvimento emocional com o
empreendimento.
O universo da amostragem se constituiu de 12 “Viradores” com idades variando entre
25 e 67 anos; 75% do sexo masculino e 25% feminino; atuando em prestação de serviços,
produção com venda e apenas vendas de produtos; com tempo de atividade entre 3 a 53 anos.
4.3 Coleta dos dados:
Os dados foram coletados inicialmente por intermédio de observações sistemáticas
com anotações em forma de rascunho, no próprio ambiente de trabalho dos voluntários;
sucedendo-se pelas entrevistas, sendo que os dados mais significativos foram vinculados ao
questionário (vide anexos), os dados restantes foram memorizados ou anotados à parte,
também em forma de rascunho.
Parte dos dados coletados através das observações sistemáticas, entrevistas e através
do questionário, não puderam ser tabulados em termos de porcentagem devido à diversidade
de opiniões dos “Viradores”. A parcela principal e mais significativa para a pesquisa, dentre
aqueles itens não tabulados, foi devidamente descrita no capítulo 5 desta monografia.
Os dados que foram tabulados estão codificados em tabelas próprias (figura 1),
também expostos no capítulo 5, e indicam as porcentagens relacionadas à coleta realizada
junto ao grupo de entrevistados – os 12 “Viradores” que aceitaram participar da pesquisa.
23
5 – ANÁLISE DE DADOS:
5.1 Análise dos resultados encontrados em relação aos objetivos, e ao referencial
teórico já existente:
Objetivando desvendar o empreendedorismo social e o “Virador”, através de pesquisa
de campo transversal com uma amostra de 12 indivíduos no Município de São João da Boa
Vista, SP, apurou-se que 25% atuam em localidades tanto rurais quanto urbanas; 25% em
urbana central; 42% em urbana periférica; 8% são etinerantes (sem ponto fixo). Foi
constatado, como já consta do material teórico, o quanto esse público é diverso entre si, com
inúmeras peculiaridades; Souza Neto (2008).
Constatou-se que nesta região específica, a maioria empreende por necessidade de
sobrevivência e subsistência: geração de renda familiar, coincidindo com o apurado na
pesquisa bibliográfica, Souza Neto (2008); e onde as necessidades se manifestam
hierarquicamente, com a primordial satisfação daquelas de ordem inferior; Maslow (1988).
Apurou-se também outras necessidades: de realização pessoal e financeira – ambição
(mudança de classe social); e a busca de autonomia correndo riscos calculados, conforme já
encontrado na pesquisa bibliográfica, embora fossem necessidades diversas das aqui
encontradas.
O sexo dos voluntários desta pesquisa é predominantemente masculino, e na pesquisa
bibliográfica estudada, há predominância do sexo feminino, a necessidade predominante lá
foi de agregar renda à família, suplementando para aquisição de bens; Silva (2007).
Dos entrevistados, 58% já tiveram outras tentativas empreendedoras e 42% trabalham
no primeiro empreendimento, contam com idades variando entre 25 e 67 anos; atuando em
prestação de serviços, produção com venda e apenas vendas; com tempo de atividade entre 3
a 53 anos, sendo três quartos dos entrevistados, do sexo masculino. Nas entrevistas, todos
afirmam que analisar os clientes e diversificá-los, acompanhando o volume de negócios e a
rentabilidade, é vital para se avançar; Filion (2004).
A escolaridade vai do fundamental incompleto (4ª série) ao superior completo; 33%
receberam auxílio de professores por vias indiretas e 67% nunca receberam; diretamente não
houve apoio. Conforme a pesquisa bibliográfica, cursos de capacitação são valorizados por
eles, mas carecem de estratégias educacionais que o instrumentalizem; Souza (2006).
24
As características pessoais que auxiliam o empreendedor (segundo entrevista) são:
garra, assiduidade, determinação, adaptabilidade, força de vontade, liderança, honestidade,
conhecimento técnico, disposição ao trabalho árduo, objetividade, inquietude, fé e esperança,
persistência, gentileza, tranqüilidade, sociabilidade, animação, responsabilidade, pensamento
positivo, calma e paciência, amabilidade, organização, e sistematização (propensão ao
trabalho metódico).
As características que o atrapalham são: dificuldade em delegar funções, as
administrativas e com mudanças tecnológicas, estresse, ingenuidade, timidez, ansiedade,
irritabilidade, insegurança, nervosismo, impaciência. Na literatura há características
empreendedoras positivas similares às elencadas, todavia as depreciativas, apesar dos
próprios “Viradores” julgá-las importantes para tomada de consciência, são pouco citadas e
bem vagas; Souza Neto (2008).
A porcentagem de renda do empreendimento em relação à renda familiar total varia
de 50 a 100%. A carga horária semanal varia de 40 a 80 horas, em polivalência de funções:
tanto técnicas, quanto administrativas; 83% recebem contribuição familiar no
empreendimento e 17% atuam individualmente. Os dados reforçam o alto índice de
necessidade de sobrevivência e subsistência dos “Viradores”, encontrado na literatura; Souza
Neto (2008).
Do grupo analisado, 25% são formalizados (com CNPJ) desde o início, 25% se
legalizaram posteriormente, 17% estão tentando regularizar, 17% pretendem continuar na
informalidade, 8% voltaram à informalidade, 8% utilizam CNPJ de firma anterior.
Apoio governamental: empréstimo no banco do povo - 17%; procuraram auxílio e
não consideraram viável -33%; nunca procuraram auxílio algum (portanto, não obtiveram) -
50%. Segundo o material teórico, a consciência leva a conquistas ou traz obstáculos para um
povo ser “moderno”, como nosso empreendedorismo social “retrógrado”; Souza Neto (2009).
Todo o grupo julga que a escolarização formal deve auxiliar ao empreendedorismo de
alguma maneira, embora não saiba exatamente como; 67% está satisfeito e orgulhoso perante
seu empreendimento, 25% aparenta resignação e 8%, apreensão por risco iminente de
falência. De acordo com a literatura, o fato das micro e pequenas empresas poderem atuar
associativamente possibilita trocas e ajuda mútua para sobrevivência e competitividade, há
ganhos em escala devido a intercâmbios, alianças e parcerias, que propiciam uma rede
dinâmica e flexível que multiplica esforços e disparam ganhos; Olave & Amato Neto (2001);
Abreu (2002).
25
5.2 Dados obtidos sobre a amostragem pesquisada:
Dentre os “Viradores” pesquisados, 75% empreendem por absoluta necessidade de
sobrevivência e subsistência; e 25% declararam outras necessidades: de realização pessoal e
financeira (ambição) e busca de autonomia profissional, correndo riscos calculados.
As dificuldades se relacionam principalmente ao convívio com clientes e
colaboradores, tributos, grau elevado de responsabilidade e desgaste físico, administração,
falta de apoio técnico e financeiro, perdas ou medo de perder o que investiu. Os sucessos
estão relacionados e ao lucro monetário (mudança de classe social), melhorias à família,
autonomia e independência, liberdade por ser o próprio patrão, reconhecimento social.
Características positivas elencadas: garra, assiduidade, determinação, adaptabilidade,
força de vontade, liderança, honestidade, conhecimento técnico, disposição ao trabalho
árduo, objetividade, inquietude, fé e esperança, persistência, gentileza, tranqüilidade,
sociabilidade, animação, responsabilidade, pensamento positivo, calma e paciência,
amabilidade, organização, sistematização (propensão ao trabalho metódico).
Características negativas apontadas pelo grupo: dificuldade em delegar funções,
dificuldades administrativas e com mudanças tecnológicas, estresse diante de problemas
novos, ingenuidade, timidez, ansiedade, irritabilidade, insegurança, nervosismo, impaciência.
A porcentagem de renda do estabelecimento aplicada à família varia de 50 a 100%; a
escolaridade vai do fundamental incompleto (4ª série) ao superior completo. São atuantes em
localidades tanto rurais quanto urbanas: 25%, urbana central: 25% , urbana periférica: 42%,
etinerante (sem ponto fixo): 8%. A carga horária semanal varia de 40 a 80 horas, em
polivalência de funções: tanto técnicas, quanto administrativas.
Dos entrevistados, 83% recebem contribuição familiar no empreendimento (alguns
têm funcionários também) e 17% atuam individualmente. Deles, 33% receberam auxílio de
professores por vias indiretas e 67% nunca obtiveram apoio; diretamente não houve nenhum
caso relatado de contribuição no ensino regular (0%).
Diante do grupo em estudo, 58% já tiveram outras tentativas empreendedoras
(infrutíferas) e 42% trabalham no primeiro empreendimento; 25% são formalizados (com
CNPJ) desde o início; 25% se legalizaram posteriormente; 17% estão tentando se regularizar
(dizem); 17% pretendem continuar na informalidade, sentindo-se confortáveis assim; 8%
voltaram à informalidade por questões administrativas; 8% utilizam CNPJ de firma anterior.
Apoio governamental: empréstimo no banco do povo - 17%; procuraram auxílio e não
consideraram viável -33%; nunca procuraram auxílio algum (portanto, não obtiveram) - 50%.
26
A totalidade dos entrevistados (100%) julgam que a escolarização formal pode
auxiliar o empreendedorismo; 67% demonstram satisfação e orgulho (integridade) perante
seu empreendimento, 25% demonstram resignação e 8% demonstram apreensão por risco
iminente de falência.
5.3 Análise dos resultados encontrados, expressos em tabelas:
Tabela 1: Sexo; tipo de necessidade desencadeante ao empreendedorismo; apoio familiar;
auxílio escolar; percurso anterior:
Masculino Feminino 75% 25%
Necessidade de sobrevivência Outras necessidades 75% 25%
Apoio familiar Atuação individual 83% 17%
Outras tentativas (infrutíferas) Primeiro empreendimento 58% 42%
Auxílio escolar indireto Nenhum auxílio (mesmo que indireto) 33% 67%
Auxílio escolar direto Viabilidade de apoio empreendedor escolar 0% 100%
Tabela 2: Apoio Governamental e envolvimento emocional com o empreendimento:
Tabela 3: Localidade de atuação:
Rural e urbana Urbana central Urbana periférica Etinerante (sem ponto fixo)
25% 25% 42% 8% Tabela 4: Formalização (CNPJ): Formalizados
desde o início
Formalização posterior
Tentando se formalizar
Informal Voltou à informalidade
Utiliza CNPJ
de empresa anterior
25% 25% 17% 17% 8% 8%
Financiamento Banco do Povo
Procurou auxílio, porém não considerou viável
Nunca procurou auxílio
17% 33% 50% Satisfação e orgulho Resignação Apreensão pelo risco
iminente de falência 67% 25% 8%
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6 – CONCLUSÃO:
O objetivo geral do curso “Educação Empreendedora” (educar para se empreender),
pode ser considerado amplamente alcançado, devido à aquisição de aprendizagens
específicas na área de empreendedorismo social e todo seu pragmatismo, não contempladas
em cursos relacionados especificamente à pedagogia tradicional.
No ano de 2011, valendo-se dos conhecimentos adquiridos neste curso,
principalmente relacionados ao empreendedorismo por necessidade, ao alfabetizar uma turma
de seis anos de idade, trabalhou-se conceitos ligados ao tema, de maneira transversal,
desenvolvendo características empreendedoras positivas.
O tema foi explorado principalmente nas aulas de arte, educação física, e durante o
desenvolvimento da função semiótica (jogo simbólico, faz-de-conta). Ao utilizar brinquedos
tradicionais e sacos com sucata, brincou-se de montar inúmeros empreendimentos como: lava
rápido, salão de beleza, fazendinha, sorveteria, creche, mercadinho e outros.
Dentre as características pessoais, o poder de liderança, estima pessoal, autonomia,
“coopetição”, iniciativa, respeito irrestrito à diversidade, protagonismo, dentre outras, foram
incentivadas e reforçadas num espírito de brincadeira e nas atividades diárias, sendo que os
alunos mais “levados” durante as aulas tradicionais (contudo não os “desajustados”), foram
justamente os que se sobressaíram nestas atividades.
Ainda não haviam sido estudadas as características negativas, que segundo os
próprios “Viradores”, os depreciam. São elas: timidez, ansiedade, dificuldade em delegar
funções, estresse, ingenuidade, dificuldades administrativas e com mudanças tecnológicas,
irritabilidade, insegurança, nervosismo, impaciência.
Obviamente, parte dessas características negativas são passíveis de estudos em sala de
aula, em qualquer faixa etária, principalmente para tomada de consciência das mesmas por
parte dos educandos (autoconhecimento), facilitando então, a possibilidade de evitá-las,
inibi-las ou até mesmo extingui-las (lembrando-se que crianças “levadas” se sobressaem).
Atitudes e estratégias simples durante o próprio decorrer das aulas podem fazer a
diferença para que crianças e adolescentes adquiram o autoconhecimento e a confiança
necessária para gerar no futuro, o seu próprio “ganha pão”, que possivelmente passará a
estender também aos “seus”, como já o fazem diversos pais (de alunos) “Viradores”.
Devido à quantidade de material teórico sobre empreendedorismo social, que passou a
ser publicada, a lógica aponta para um novo olhar a este público miscelâneo: futuramente
poderá ser ele a dominar os holofotes do mercantilismo em sociedades em desenvolvimento.
28
O “Virador”, com personalidade irrequieta, todo “godê”, não aceita cabresto de
coronelismo; é consciente de si e luta autonomamente, improvisando contra a imposição
social. Ao atuar por necessidade de sobrevivência, detém a capacidade de gerar o
próprio emprego e se liberta desta elite neoliberal que tenta enquadrá-lo num molde
preconfeccionado.
O olhar (passional) para o empreendedorismo social, até então quase despercebido,
passou a assumir um caleidoscópio de possibilidades; e a responsabilidade do professor para
contribuir nesse processo é imensa, totalmente pertinente, possibilitando a formação de uma
sociedade mais apta em competir equilibradamente e com menor desigualdade.
Durante as entrevistas com os “Viradores”, ao serem levados à reflexão sobre seu
histórico empreendedor, vários deles expuseram seus sentimentos em algum momento do
diálogo, devido a tamanha carga emocional impregnada no seu “negócio”, demonstrando
assim, extremo orgulho para com “sua cria”.
Ante os entrevistados, a maioria manifestou sensação de abandono pelas políticas
públicas: há Agências de Desenvolvimento; Bancos do Povo; SEBRAE; existem cursos
específicos, contudo a inadequação à prática cotidiana e às peculiaridades desses
trabalhadores ainda impera.
Constatando-se que os “Viradores” praticamente não receberam educação escolar
voltada ao empreendedorismo, e que sentem a deficiência teórica emperrando parte do
empreendimento que dirigem, então a escola pública necessita espanar os resquícios da época
ditatorial, onde a passividade do alunado era premiada.
Talvez o cotidiano escolar possa ser o melhor fortalecedor para as futuras “fazeções”
do empreendedor social, pois assim como a prática sem apoio teórico algum, não vai além da
“fazeção”, nossa teoria em sala de aula, se não atinge um objetivo prático, não passa também
de mera “falação”.
6.1 Sugestões para futuras pesquisas:
De acordo com os resultados alcançados neste trabalho, pode-se citar as seguintes
sugestões para futuras pesquisas nesta área:
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6.1.1 Pesquisar as condições em que alguns “Viradores” mais rudimentares se encontram,
após terem se estabelecido como “Empreendedores individuais”, adquirindo seu CNPJ
(mudanças positivas e negativas ocorridas com a formalização).
6.1.2 Analisar se as necessidades dos “Viradores” se modificam ao longo do tempo de
empreendimento, passando de necessidade de sobrevivência a outras mais elevadas,
baseando-se na “Pirâmide das Necessidades” (Maslou, 1988). Avaliar se as condições de
gênero (masculino / feminino) interferem nos tipos de necessidades que desencadeiam o
empreendedorismo num determinado grupo social.
6.1.3 Pesquisar “Viradores” que não foram bem sucedidos, e acabaram por abandonar o
empreendimento (tipo falência), relacionando-se à educação formal (escolaridade) e a
presença ou ausência de cursos específicos (de profissionalização).
30
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ABREU J. C., Estratégia e Oportunidades Locais: um estudo sobre rede dinâmica em aglomerados de empreendedores de base artesanal. 349 f. Tese (doutorado) COPPE/ UFRJ, Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 2002. ANDRADE M. J. N.; GUIMARÃES B. M. M.; DAMIANO G. A., Metodologia de Pesquisa em Educação. Núcleo de Educação a Distância, Comissão Editorial – NEAD- UFSJ, São João Del Rei, 2011. DORNELAS J. C. A., Empreendedorismo Corporativo. Como ser empreendedor, inovar e se diferenciar na sua empresa. Rio de Janeiro, RJ, Brasil, Elsevier, p. 85 – 99, 2008. FILION L. J.; DOLABELA F. (Orgs.), Boa Idéia! E agora? São Paulo, Cultura Editores Associados, p. 17 - 29, 2004. MASLOW A., Teoria Humanista. In: PILETTI N., Psicologia Educacional, Ed. Ática Didático, p. 67- 70, 1988. OLAVE M. E. L. & AMATO NETO J., Redes de Cooperação Produtiva: uma estratégia de competitividade e sobrevivência para pequenas e médias empresas. In: Gestão & Produção, v. 8, n. 3, p. 289-303, dez. 2001. SILVA M. S., O “virador”: estilo de sobrevivência do empreendedor brasileiro. Revista Científica da FAI, Santa Rita do Sapucaí, MG, Brasil, v. 7, n.1, p. 62 – 71, 2007. SILVA G. M.; SOUZA NETO B., Reflexões ao entorno de uma rede de mercado de empreendimentos de base social e a Teoria da Firma: o caso ASMARE. In: XIII. SIMPEP, Bauru, SP, Brasil, 2006. SOUZA M. B., Educação e Empreendedorismo. Qualificação de empreendedores no Arranjo Produtivo Local de Tobias Barreto/SE. Revista da Fapese, v. 2, n.2, artigo 7, p. 109-128, Sergipe, Brasil, jul./ dez. 2006. SOUZA NETO B.; CARDOSO M. E., Pedagogia Empreendedora. Núcleo de Educação a Distância, Comissão Editorial – NEAD- UFSJ, São João Del Rei, 2010. SOUZA NETO B., Revista EMPREENDEDOR, nº 109, p. 51-52, Novembro de 2003. SOUZA NETO B., Contribuições e elementos para um metamodelo empreendedor brasileiro: O empreendedorismo de necessidade do “virador”. Ed. Blucher Acadêmico. São Paulo, S.P., Brasil, 2008. SOUZA NETO B., Max Weber e o “espírito” do empreendedorismo brasileiro. Revista de Gestão e Empreendedorismo, v. 1, n. 1, p. 21-29, 2009. SOUZA NETO B., Educação Empreendedora e Redes de Cooperação. Núcleo de Educação a Distância, Comissão Editorial – NEAD- UFSJ, São João Del Rei, 2011.
31
ANEXO 1
Autorização: Eu, _______________________________________________________________________, CPF nº ___________________________________, autorizo a realização da pesquisa
relacionada ao empreendedorismo, proposta de acordo com os seguintes termos: O projeto
tem como tema “EMPREENDER POR NECESSIDADE: o “Virador”. Trata-se de uma
pesquisa de campo transversal para coleta de dados relacionados ao empreendedorismo
social, para a aquisição do título de especialista pela UFSJ - MG. O estudo empregará o
método da entrevista durante visita ao estabelecimento, com aplicação de questionário. Não
haverá danos financeiros ou de qualquer outra ordem ao voluntário, e sua identidade será
mantida em sigilo e privacidade.
São João da Boa Vista, SP, ________/________/ 2011. Assinatura do voluntário: ___________________________________________________________
32
ANEXO 2
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO JOAO DEL-REI
UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL- POLO S.J.B.V.
CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM EDUCAÇÃO EMPREENDEDORA
MARIA CRISTINA SASSARON PAVANI CORRÊA
Coleta de informações para análise de dados sobre o empreendedorismo por necessidade:
Amostragem de “Viradores” no Município de São João da Boa Vista, SP.
“Virador” nº __________ Ramo empresarial: ___________________________________________________________ Tempo de atuação:___________________________________________________________ Necessidades que desencadearam o empreendimento: _______________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ Principais dificuldades e sucessos neste percurso: __________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ Quais de suas características levam ao bom desempenho ou atrapalham o empreendimento? ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ Porcentagem estimada da renda do empreendimento em relação à renda total da família: ___________________________________________________________________________
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Horas semanais trabalhadas, funções desempenhadas e auxílio familiar: _________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ Grau de escolaridade: _________________________________________________________ Houve professores que contribuíram para a formação empreendedora?__________________
___________________________________________________________________________ Percurso empreendedor (outras tentativas): ________________________________________ ___________________________________________________________________________ Saída da informalidade (se ocorreu) quando e como :________________________________ ___________________________________________________________________________ Apoio governamental (cursos, financiamento, incentivos municipais): __________________ ___________________________________________________________________________ Como julga que a escola pode auxiliar na formação empreendedora?___________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ Discorra sobre seu empreendimento: _____________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________
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