dissertação fabiane pereira 2013
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Universidade Federal do Par
Ncleo de Teoria e Pesquisa do Comportamento
Programa de Ps-Graduao em Teoria e Pesquisa do Comportamento
DISCRIMINAO AUDITIVO-VISUAL EM ADULTOS COM DEFICINCIA
AUDITIVA PS-LINGUAL E IMPLANTE COCLEAR
Fabiane da Silva Pereira
Belm/PA
2013
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Universidade Federal do Par
Ncleo de Teoria e Pesquisa do Comportamento
Programa de Ps-Graduao em Teoria e Pesquisa do Comportamento
DISCRIMINAO AUDITIVO-VISUAL EM ADULTOS COM DEFICINCIA
AUDITIVA PS-LINGUAL E IMPLANTE COCLEAR
Fabiane da Silva Pereira
Dissertao apresentada ao Programa de Ps-
Graduao em Teoria e Pesquisa do
Comportamento como requisito para obteno de
ttulo de Mestre.
rea de Concentrao: Psicologia Experimental.
Orientador: Dr. Olavo de Faria Galvo
Belm/PA
Maro de 2013
-
iii
Universidade Federal do Par
Ncleo de Teoria e Pesquisa do Comportamento
Programa de Ps Graduao em Teoria e Pesquisa do Comportamento
Discriminao auditivo-visual em adultos com deficincia auditiva ps-lingual e implante
coclear
Fabiane da Silva Pereira
Dissertao de Mestrado apresentada ao
Programa de Ps-Graduao em Teoria e
Pesquisa do Comportamento como requisito para
obteno do Ttulo de Mestre, sob orientao do
Prof. Dr. Olavo de Faria Galvo.
Banca Examinadora:
_____________________________________________
Prof. Dr. Olavo de Faria Galvo (Orientador)
_____________________________________________
Prof. Dr. Jos Claudio de Barros Cordeiro - HUBFS (Membro)
_____________________________________________
Prof. Dr. Thais Porlan de Oliveira UFMG (Membro)
Julgado em: 21.03.2013
Resultado: APROVADA
-
iv
Pereira, Fabiane da Silva, 1986-
Discriminao auditivo-visual em adultos com
deficincia auditiva e implante coclear /
Fabiane da Silva Pereira. - 2013.
Orientador: Olavo de Faria Galvo.
Dissertao (Mestrado) - Universidade Federal
do Par, Ncleo de Teoria e Pesquisa do
Comportamento, Programa de Ps-Graduao em
Teoria e Pesquisa do Comportamento, Belm, 2013.
1. Psicologia experimental. 2. Distrbios da
audio. 3. Implantes cocleares. 4. Testes de
equivalncia. I. Ttulo.
CDD 23. ed. 152.15
Dados Internacionais de Catalogao-na-Publicao (CIP)
Sistema de Bibliotecas da UFPA
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v
"Os mtodos da cincia tm tido um
sucesso enorme onde quer que tenham sido
experimentados. Apliquemo-los, ento, aos
assuntos humanos." (Skinner, 1994, p.19).
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educao especial.
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Agradecimentos
Este trabalho leva o meu nome como autora, mas no h como negar que foi um
trabalho de muitas mos e a isso quero agradecer com muita emoo a todos que, direta ou
indiretamente, contriburam para a sua realizao.
Agradeo minha famlia, meus lindos pais, Jane e Carlos, que sempre lutaram,
lutaram e lutaram para que nossos estudos sempre fossem nossa prioridade, e vocs
conseguiram! Amo vocs! Vocs so o que tenho de mais precioso. Obrigada por todo amor
e mimo dispensado, por respeitarem e compartilharem dos mesmos sonhos que eu. Aos meus
manos queridos, Fbio e Fagner, vocs so os companheiros que a vida me deu, e por mais
que a gente reclame, nosso amor eterno! Amo vocs! Aos meus sobrinhos, Gaby, Enzo e
Marcos, que foram minhas cobaias em todas as manipulaes desta pesquisa, vocs muito
me ensinam com tanto amor, tanto carinho, tanta pureza no olhar e no abraar. s minhas
cunhadas, Luciana e Eliene, vocs deixam nossa famlia mais colorida! Amo vocs! Minha
famlia o meu bem mais precioso, meu ninho, minha fonte de amor incondicional!
Agradeo minha av materna, Guiomar Dantas, por todo carinho e orgulho que
sinto no seu olhar ao ver nosso crescimento. minha av paterna, Dolores Barbosa (em
memria) e seu companheiro de vida, Raimundo (em memria), por todo o carinho, que
tanto marcaram minha infncia. Amo voc, vovs!
Agradeo ao meu orientador, Olavo Galvo, que no foi s um orientador acadmico,
mas foi um exemplo de cuidado, de renovao, de luta pelos seus ideais, de que a vida pode
mudar a qualquer momento, e temos que estar prontos pra levantarmos e fazer ainda mais
bonito. Vou sentir saudades de todos esses sete anos de convivncia diria, por todos os
abraos e carinhos que foram dispensados, de ver voc tocando sua gaita, contando suas
piadas...Voc um grande representante da cincia do comportamento no Estado do Par e
no Brasil, tenho muito orgulho de ter sido sua aluna e poder levar seu nome aonde quer que
eu v. Voc um grande homem e profissional. Obrigada!
Agradeo a Escola Experimental de Primatas que me acolheu como pesquisadora
voluntria, depois como pesquisadora de iniciao cientifica e continuou me acolhendo no
mestrado. Tantos amigos e colegas passaram pela EEP desde 2006, e agora, cheia de carinhas
novas, ainda me sinto privilegiada de fazer parte dessa equipe to coesa e to forte. Obrigada
por todos os ensinamentos, todos os churrascos, passeios, aniversrios, barzinhos,
casamentos, batizados, etc. Aos colegas que se tornaram amigos, muito obrigada!
Aos queridos, Ana Leda Brino (Ledoca) e Paulo Goulart! Obrigada por toda a
amizade desses anos e por terem contribudo para minha formao!
Agradeo aos atuais colegas de laboratrio: Ryan, Paulo Monteiro, Rodolfo,
Tamyres, Kenji e Juliana, vocs so lindos! Obrigada por fazerem dos momentos no
laboratrio mais divertidos, engraados e inesquecveis. Foram tantos bons momentos
vividos na EEP que me faltam as palavras para expressar o tamanho da minha alegria em
terminar esse trabalho e ter a certeza que ele de todos, fruto de tantas discusses e desejo
de ultrapassar as portas do laboratrio sem nunca sair de l! Acho que demos um primeiro
passo!
Agradeo Nicole (Nico, Nick, Monalisa, bonequinha) que foi mais do que uma
companheira de pesquisa, mais que uma amiga, foi a IRM que a vida no me deu pelos
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meios tradicionais, mas as contingncias que nos uniu foram to marcantes, que os meios
tradicionais ficam no chinelo. Obrigada por tudo, tudo e tudo! muito saber que temos uma
a outra, independente dos problemas, que possvel amar tanto algum como eu amo voc
e torcer pelo seu sucesso! Agradeo famlia Lobato por me adotarem como filha, de fato,
minha segunda famlia!
Agradeo aos alunos da graduao, pesquisadores voluntrios desta pesquisa,
Jssica, Iris, Jonas e Juliana. Em especial, querida Juliana (Xu), por ter ficado at o fim da
pesquisa e, que alm de companheira de pesquisa, se tornou uma amiga! Obrigada pelos
momentos de descontrao nos momentos mais tensos!
Agradeo ao Rafael Picano por ter atualizado o software especialmente para esse
trabalho, muito obrigada!
Ao Eduardo, pelo emprstimo dos equipamentos de som, que foram extremamente
importantes para a conduo da pesquisa e pelas discusses relevantes sobre o trabalho.
Aos participantes desta pesquisa, todos queridos, por toda contribuio e
disponibilidade em participar. Desejo que tenham um futuro cheio de sons.
Ao Louis, o macaco-prego que foi meu sujeito durante toda a minha graduao,
enquanto pesquisadora de iniciao cientifica. Meu filho me ensinou mais do que imagina
(se que imagina rs), foi um prazer trabalhar com voc!
Ao querido Dida, que sempre me recebeu com o fale Fabi to carinhoso em todos
os dias ao entrar no laboratrio, por cuidar de todos os animais e pelos papos furados que
tivemos durante todos esses anos.
Ao grupo ouvido binico do Bettina, os mdicos Ana Paula e Jos Claudio, por
abrirem as portas do hospital para a realizao deste trabalho, fonoaudiloga Cintia
Yamagushi, pelas discusses e apoio na pesquisa. Marcia, secretria do setor, que foi
muito solicita em todos os momentos que necessitei de informaes, pela simpatia e pela
competncia no trabalho.
s minhas amigas de infncia, Eliane (Lili) e Judilene (Ju), pelas alegrias ao longo
da vida!
s minhas queridas psi-amigas, Juliane (Juju), Luciana (Lu), Cindy (amgah), Cila
(Cileita) e Fabiane (xar), obrigada pelos psi-momentos de psi-descontrao, cada psi-
momento nosso uma renovao de psi-foras. Amo vocs!
Agradeo professora Alda, por sua valiosa orientao na prtica de ensino e turma
sou foda pelos momentos de diverso e aprendizado mutuo. Sucesso a todos!
Aos professores do mestrado, com os quais tive a honra de estudar, Olivia Kato,
Grauben Assis, Regina Brito, Carlos Barbosa, Romariz Barros e Emmanuel Tourinho. Que
orgulho pertencer a um programa de ps-graduao com esse nvel de ensino. Muito
obrigada! A todos que compem a equipe administrativa do PPGPTC, que sempre nos
atenderam da melhor maneira possvel.
E por fim, agradeo quele que me faz um bem inexplicvel, Deus! Voc est em
mim e nunca sair! Obrigada!
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ix
PEREIRA, Fabiane da Silva (2013). Discriminao auditivo-visual em adultos com
deficincia auditiva ps-lingual e implante coclear. Dissertao de Mestrado. Belm:
Programa de Ps-Graduao em Teoria e Pesquisa do Comportamento, Universidade
Federal do Par (106 p.).
RESUMO
A expectativa do usurio de implante coclear (IC) recuperar a sensibilidade auditiva e,
entender a linguagem oral. Considerando-se a reabilitao auditiva como pr-requisito para
o desenvolvimento das habilidades lingusticas, o objetivo deste estudo foi verificar o efeito
do treino do comportamento de ouvinte sobre o de falante nesse grupo. Participaram trs
adultos, com deficincia auditiva neurossensorial profunda, bilateral, ps-lingual, usurios
de IC, com tempo de privao auditiva (TPA) que variou de 5 meses a 23 anos. Os dados
foram coletados com um computador com tela sensvel e aplicativo para a programao das
rotinas de ensino e testes. O programa de ensino, com sete fases, apresentava questes de
escolha de acordo com o modelo. Fase 1) Pr-treino: para habituao, com tarefas auditivas-
visual atravs do fading out; 2) Pr-teste de nomeao de figuras e leitura que avaliou o
comportamento de falante e selecionou as palavras para ensino; 3) Ensino das relaes entre
palavras ditadas e figuras e 4) entre palavras ditadas e palavras escritas; 5) Teste de formao
de classes, relaes que no foram diretamente ensinadas; 6) Teste de generalizao auditiva;
7) Ps-teste de nomeao e leitura. Dois dos participantes aprenderam as relaes ensinadas
(Fases 3 e 4), com pseudopalavras e figuras abstratas relacionadas a elas, e demonstraram
formao de classes (Fase 5) e generalizao (Fase 6). Todos os participantes apresentaram
melhoras no comportamento de falante se comparado seus desempenhos nos pr e ps-testes
(Fase 7). A participante com maior TPA apresentou baixo desempenho no ensino (Fase 3).
Discute-se a necessidade de investigaes das variveis relacionadas com a falha no treino
como o estado de funcionamento do IC, s condies de uso, durao do treino, escolha dos
estmulos, etc. para estabelecer aprendizagem auditivo-visual em usurios de IC com longo
tempo de privao auditiva.
Palavras-chave: deficincia auditiva ps-lingual, equivalncia de estmulos; discriminao
auditivo-visual; implante coclear.
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PEREIRA, Fabiane da Silva (2013). Audio-visual discrimination in post-lingual deaf adults
users of cochlear-implant. Belm: Graduate Program of Theory and Research of Behavior.
Belm, Federal University of Par (106 p.).
ABSTRACT
The expectation of the cochlear implant (CI) user is recovering auditory sensitivity and
understands spoken language. Considering the auditory rehabilitation as a prerequisite for
the development of language skills, the aim of this study was to investigate the effect of
training on the behavior of the listener to speaker in this group, check the emergence of
relationships and the generalization to indirectly taught voice different frequency.
Participated of the study three adults with profound, bilateral, neurosensory hearing, loss
post-lingual, CI users, with time deprivation (TD) ranging from 5 months to 23 years. Data
were collected with a computer with touch screen and application programming routines for
the teaching and testing. The teaching program, with seven stages, had choice according to
the model. Phase 1) Pre-train for habituation, the participant with auditory-visual tasks by
fading out, 2) Pre-test naming and reading, to select 8 words for training, 3) Training of
relations between dictated words and figures; 4) Training of relations between dictated
words and written words; 5) Testing equivalence class, which were not directly taught; 6)
generalization testing, with the dictated words, with an adult male voice; 7) Post-test of
picture naming and word reading. Two of the three participants learned the tasks (Phases 3
and 4), and showed equivalence class (Phase 5) e generalization (Phase 6). All of the
participants improved their ability of speaking after the study (Phase 7). The performance of
the participant with 23 years of TD, which presented difficulties in oral language, was low,
indicating further investigation of the variables due to flaw on the training, or to the IC
operation, or inappropriate use of the device, etc. More studies are required to evaluate the
potential of the procedure adopted for the auditory rehabilitation of CI users.
Keywords: post-lingual deaf, stimulus equivalence, audio-visual discrimination; cochlear
implant.
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Sumrio
INTRODUO ..................................................................................................................... 9
Audio e deficincia auditiva ....................................................................................... 9
Implante Coclear .......................................................................................................... 12
Audio funcional e linguagem .................................................................................... 15
O comportamento simblico e o paradigma da equivalncia de estmulos.................. 16
Estudos com usurios de implante coclear usando o paradigma da equivalncia de
estmulos ....................................................................................................................... 17
MTODO ............................................................................................................................ 27
Participantes ................................................................................................................. 27
Equipamentos, Materiais e Condies de coleta de dados. .......................................... 30
Estmulos ...................................................................................................................... 31
Procedimento ................................................................................................................ 36
Delineamento geral .............................................................................................................. 36
Fase 1 Pr-treino ........................................................................................................ 38
Fase 2 Pr-teste de vocalizaes................................................................................ 41
Fase 3 Ensino das relaes entre palavras ditadas e figuras (AB) ............................ 44
Fase 4 Ensino das relaes entre palavras ditadas e palavras escritas (AC) ............. 46
Fase 5 Teste de formao de classes (BC/CB) .......................................................... 46
Fase 6 Teste de generalizao de frequncias de estmulos auditivos ...................... 47
Fase 7 Ps-teste de Vocalizaes .............................................................................. 48
RESULTADOS ................................................................................................................... 49
Fase 1 Pr-treino ........................................................................................................ 49
Fase 2 Pr-teste de vocalizaes................................................................................ 57
Fase 3 Ensino das relaes entre palavras ditadas e figuras (AB) ............................ 60
Fase 4 Ensino das relaes entre palavras ditadas e palavras escritas (AC) ............. 74
Fase 5 Teste de Formao de Classes........................................................................ 74
Fase 6 Teste de Generalizao de frequncias de estmulos auditivos ..................... 77
Fase 7 Ps-teste de vocalizaes ............................................................................... 79
DISCUSSO ....................................................................................................................... 83
REFERNCIAS .................................................................................................................. 89
ANEXOS ............................................................................................................................. 95
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9
Audio e deficincia auditiva
Os seres humanos ouvem quando o som transportado parcial ou totalmente pelo canal
auditivo externo at a membrana timpnica, atingindo-a e gerando vibraes mecnicas que
so conduzidas pelos ossculos do ouvido mdio at a cclea. Nela, clulas sensoriais captam
a vibrao, transformando-a em impulsos aferentes no sistema nervoso que se projetam para
os ncleos cocleares hemilaterais e da continuam em um complexo caminho com
ramificaes e realimentaes at o crtex temporal. A Figura 1 mostra um corte
longitudinal do sistema auditivo perifrico.
Fonte da imagem: www.shure.com.br/padrao/padrao.php?link=aplicsuport05
Figura . Sistema auditivo perifrico.
O sistema auditivo neurolgico um aparato para a conduo e processamento das
estimulaes advindas do sistema auditivo perifrico, e precisa ser convenientemente
estimulado para que as habilidades auditivas, como localizao sonora, reconhecimento,
compreenso, ateno seletiva, ateno dividida e memria auditiva sejam desenvolvidas.
Limitaes auditivas temporrias ou permanentes, bem como estimulao insuficiente,
podem prejudicar o desenvolvimento dessas habilidades (Arajo & Arajo, 2006). Testes
audiomtricos permitem medir os parmetros limiares auditivos e, eventualmente, o grau da
deficincia (Vieira, Macedo & Goncalves, 2007).
Uma em cada mil crianas nasce ou se tornar portadora de deficincia auditiva
profunda ou severa antes que o repertrio verbal seja desenvolvido. Outras 2 a 4 crianas em
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cada mil se tornaro portadoras de deficincia auditiva antes da idade adulta (Godinho,
Keogh & Eavey, 2003).
Dados brasileiros de 2010 revelam que 347.481 pessoas declararam no conseguir
ouvir, 1.799.885 declararam ter grande dificuldade em ouvir e 7.574.797 declararam que
apresentam alguma dificuldade na audio. Na regio norte, o Estado do Par o que
apresenta a maior incidncia de pessoas que declararam no conseguir ouvir de modo algum,
totalizando 11.501 dos entrevistados (IBGE, 2010).
A deficincia auditiva (DA) caracteriza-se como qualquer desordem na percepo de
estimulao sonora. categorizada pela Classificao Internacional de Doenas (CID 10)
nas categorias H90 a H90.8, classificada de acordo com a localizao do problema, como
condutiva, neurossensorial, mista, ou central. O comprometimento auditivo pode apresentar
vrios graus e atingir um ou ambos os ouvidos. Quanto ao perodo de estabelecimento, a DA
pode ser classificada como pr-lingual, quando a privao de sons est presente antes da
aquisio de repertrios verbais, ou como ps-lingual, quando a perda auditiva ocorreu aps
a aquisio de repertrios verbais (Bevilacqua, 1998; Mondelli & Bevilacqua, 2002;
Almeida-Verdu et al., 2008).
As perdas auditivas so categorizadas como discreta, quando os limiares auditivos
esto na faixa de 15 a 25 dB, leve, quando variam de 26 a 30 dB, moderada quando
encontram-se entre 31 a 50 dB, severa, quando variam de 51 a 70 dB e, por ltimo, profunda,
quando estes limiares esto acima de 70db.
A deficincia auditiva neurossensorial, que atinge quase 90% dos casos congnitos,
severa ou profunda aquela que decorre de leses nas clulas do rgo de Corti, no ouvido
interno, e/ou do nervo coclear e pode estar relacionada a causas pr-, peri- e ps-natais.
Vieira et al. (2007, pg. 45) cita como causas pr-natais: 1) herana gentica, 2) sndromes
genticas, 3) malformaes do ouvido interno, 4) infeces congnitas pelo vrus da rubola,
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citomegalovrus, herpes simples, toxoplasmose, e sfilis, 5) uso gestacional de substncias
teratognicas - talidomida, lcool, cocana e medicamentos ototxicos, 6) radioterapia no
primeiro semestre da gestao. Como fatores perinatais: 1) anxia, 2) prematuridade com
peso abaixo de 1500 gramas, 3) hiperbilirrubinemia, 4) traumatismos cranianos, 5) trauma
sonoro. E dos fatores ps-natais, os mais frequentes relacionam-se com hipotireoidismo e
diabetes, infeces virais (rubola, varicela-zoster, influenza, vrus da caxumba,
citomegalovirus, entre outros), labirintite e meningite bacteriana, encefalite e otite mdia
crnica.
Independentemente do grau, a DA causa dificuldades na comunicao de seus
portadores com a sua comunidade. Na infncia, por exemplo, pode gerar dificuldades
acadmicas, dficits na linguagem, leitura e outros transtornos comportamentais. Nos casos
em que a perda auditiva severa ou profunda o indivduo no percebe qualquer som da fala
em uma conversao padro (Brazorotto, 2008).
O desenvolvimento da linguagem e fala possui relao estreita com a audio, logo
a DA pode interferir em todo processo de aprendizagem que se relaciona aos aspectos
sonoros com os quais o indivduo no pode interagir. Qualquer perda auditiva pode gerar
prejuzos na percepo dos sons da fala, como pode ser visto na Figura 2. Muitos pacientes
tm indicao de aparelhos auditivos (AASI Aparelho de Amplificao Sonora
Individual), cuja funo amplificar os sons. Para pacientes com perdas neurossensoriais
severas e profundas, que no se beneficiam com esses aparelhos, indicado o uso do
implante coclear (IC), que permite ao seu usurio a sensao e percepo auditiva da fala
em todo o espectro de frequncia (propriedade acstica do som medida em Hertz, Hz), faixa
de frequncia dos sons graves aos agudos (Bevilacqua, 1998; Brazorotto, 2008).
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Fonte da imagem: http://palavradefonoaudiologa.blogspot.com.br/2011_08_01_archive.html
Figura 2. Exemplos do espectro de sons em um audiograma padro. A curva sombreada representa a rea a
qual pertence a maioria dos elementos da linguagem oral e os traos em cores referem-se aos graus de perda
auditiva. Em verde, perda auditiva leve, em azul, perda moderada, trao laranja representa a perda severa e em
vermelho, a perda profunda.
Implante Coclear
O implante coclear (IC) um dispositivo eletrnico inserido cirurgicamente no
ouvido interno, que substitui o rgo sensorial da audio localizado dentro da cclea (ver
Figura 3). Este rgo, conhecido como rgo de Corti, transforma a energia sonora em pulsos
eltricos conduzidos pelo nervo auditivo no qual o processamento neural da audio se inicia
(Clark, 1996; Bevilacqua, 1998).
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Fonte da imagem: http://www.hospitalflaviosantos.com.br/implante.php?id=319
Figura 3. Sistema auditivo e Implante coclear. Parte interna e externa do dispositivo.
O dispositivo tem um microfone que capta os sons do ambiente e um processador
que os transforma em sinais eltricos anlogos, codificados em ondas sonoras de rdio
frequncia. Uma antena os transmite para um receptor-estimulador, que fica sob a pele, que
os recebe, converte em sinais eltricos, e os transmite a filamentos de eletrodos que
estimulam as fibras nervosas, gerando sensao auditiva (Bevilacqua, 1998).
O IC tem sido apontado como um importante avano tecnolgico na rea da
audiologia e da computao, alm de ser considerado a primeira interface entre o crebro
humano e mquinas para recuperao de uma funo neuropsicolgica (Nicolelis, 2001).
Tambm tido como possibilitador de aquisio da linguagem oral receptiva e tambm da
produtiva para os indivduos, medida que eles passam a receber feedback dos sons que
produzem, facilitando, consequentemente, o estabelecimento de interaes e habilidades
acadmicas (Almeida-Verdu, 2004; Moret, Costa, & Bevilacqua, 2007).
O sucesso do IC possibilita ao usurio o acesso aos sons, no entanto, h um nmero
de condicionantes para o favorecimento da ocorrncia de audio apropriada. Variveis do
organismo, como a precocidade do implante; a tecnologia de codificao da fala, a
tecnologia de captao dos sons (Nascimento & Bevilacqua, 2005), o tempo de privao
auditiva, os procedimentos de reabilitao e ensino das habilidades receptivas e produtivas,
a interao e manuteno das habilidades de ouvir e falar de forma efetiva podem
potencializar a sua eficcia (Geers, 2006).
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Nascimento e Bevilacqua (2005) realizaram um estudo tipo coorte transversal com
quarenta adultos deficientes auditivos ps-linguais usurios de IC para avaliar o
reconhecimento da fala sob diferentes relaes entre sinal e rudo, o grau de dificuldade dos
usurios de IC em situaes com rudo e comparar os resultados com diferentes tipos de
implantes cocleares multicanais. Basicamente, os resultados mostraram que os usurios de
IC apresentaram rara dificuldade nas situaes de silncio e dificuldades ocasionais nas
situaes com rudo competitivo.
Bevilacqua, Moret, Costa Filho, Nascimento & Banhara (2003) realizaram outro
estudo comparando um grupo de 12 crianas com deficincia auditiva neurossensorial
devido a meningite e um grupo de 51 crianas com deficincia auditiva neurossensorial de
etiologias diversas, implantadas no perodo pr-lingual, com idade entre 1 a 10 anos. Os
resultados mostraram que no houve diferena estatisticamente significativa quanto ao
reconhecimento de palavras e fonemas e nos questionrios de avaliao das habilidades
auditivas e de linguagem entre os grupos estudados.
Frederigue e Bevilacqua (2003) realizaram um estudo clnico prospectivo com 7
adultos com DA ps-lingual usurios de IC Nucleus 24, objetivando promover a otimizao
da percepo da fala nos participantes atravs de uma avaliao do reconhecimento da fala
e da preferncia subjetiva em trs diferentes estratgias de codificao, SPEAK, CIS e ACE,
disponveis no sistema de IC. No foi verificada diferena estatisticamente significante entre
os diferentes tipos de estratgias de codificao, e, os autores concluram que a utilizao de
estratgias mltiplas de codificao da fala permite ao profissional clinico individualizar o
atendimento ao usurio de IC.
O IC possibilita ao seu usurio a habilidade da deteco, mas faz-se necessrio
primeiramente treino educacional para o desenvolvimento das habilidades auditivas
posteriores. O prognstico para os pacientes usurios de IC de que consigam, alm de
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escutar, compreender a linguagem oral. Para o desenvolvimento das habilidades lingusticas
necessrio o desenvolvimento das habilidades auditivas como pr-requisitos para a
comunicao, isto , antes da compreenso das palavras necessrio que o indivduo possa
detect-la (Hoshino et al., 2012).
Audio funcional e linguagem
A audio a via sensorial imprescindvel para a aquisio normal da linguagem
oral, para o desenvolvimento da comunicao oral e para o indivduo de forma global. A
etiologia dos distrbios de linguagem envolve, na maioria das vezes, a interrelao entre
vrios fatores (Schirmer, Fontoura & Nunes, 2004; Arajo & Matos, 2006).
A audio funcional ou processamento auditivo um termo utilizado para descrever
a forma como o Sistema Nervoso Central (SNC) organiza e interpreta as informaes
acsticas detectadas no ambiente. Ao nascer, o indivduo est apto a escutar, no entanto, a
audio funcional estabelece-se ao longo de experincias acsticas com significados. Uma
palavra pode ser detectada pelo ouvinte, mas no interpretada. S possvel estabelecer um
significado de uma palavra, bola, por exemplo, quando h relao entre a estimulao
sonora e o objeto concreto bola. A audio funcional deriva de uma complexa sincronia dos
vrios sistemas biolgicos - cerebral, auditivo, visual, motor, respiratrio, digestivo e outros
interagindo (Andrade, 1997).
A linguagem, que proporciona a interao entre os indivduos em um contexto
social, depende da audio funcional, necessria para permitir a associao entre os sons e
seus referentes, a consistncia na interao entre os estmulos auditivos e visuais e,
ultimamente, proporciona acesso simblico a objetos ausentes. Com base na comunicao
sonora, a linguagem permite que os indivduos se relacionem na maioria dos ambientes sem
perdas na transmisso da mensagem.
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O comportamento simblico e o paradigma da equivalncia de estmulos
A linguagem como um sistema simblico, composta por redes de relaes entre
estmulos, em especial, na linguagem falada, de estmulos sonoros.
Embora o comportamento simblico seja estudado em diversas especialidades, como
a lingustica, as cincias sociais, a neuropsicologia, cincias do comportamento, da sade,
etc., ainda no possui uma definio consensual. Alguns autores sugerem que se caracterize
por relaes entre estmulos arbitrariamente relacionados - smbolos e seus referentes- e
substituveis entre si - equivalentes. Assim, o smbolo e seu referente podem desempenhar
igual funo para controlar repertrios comportamentais do indivduo. O comportamento
simblico se baseia na caracterstica de substituilidade que smbolos e seus referentes
mantm, apesar de distintos entre si. Palavras, sons e outros smbolos, mantm uma relao
de substituilidade com os eventos concretos, objetos, etc., aos quais foram arbitrariamente
relacionados (Bates, 1979; Sidman, 1994; Barros, Galvo, Brino & Goulart, 2005).
As relaes entre smbolos e referentes so arbitrrias, definidas na histria das
prticas culturais. Embora smbolo e referente no guardem relaes de semelhana, tornam-
se equivalentes a partir das relaes sistemticas mantidas entre si e com o comportamento.
Considere-se um indivduo que atende abrindo a porta e recebe uma visita, por exemplo. O
som da campainha, um chamado de voz, o som de palmas ou, batidas na porta, embora
fisicamente diferentes, passam a ter o mesmo significado para o indivduo, tornando-se
equivalentes (Sidman, 1994).
O paradigma de equivalncia de estmulos, proposto a partir de Sidman e Tailby
(1982) demonstra empiricamente a formao das relaes comportamentais simblicas que
do suporte linguagem. O modelo experimental demonstra que o ensino direto de relaes
transitivas pode resultar na emergncia de relaes no treinadas diretamente. A
aprendizagem indireta proporciona a ampliao das relaes entre estmulos, isto , a
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formao de classes de estmulos, compostas por smbolos e eventos concretos,
consistentemente associados entre si.
Da perspectiva do paradigma da equivalncia no necessrio ensinar todas as
relaes relevantes. Assim, atravs do procedimento de pareamento ao modelo, o indivduo
passa a relacionar entre si estmulos sem que sua relao precise ser diretamente ensinada
(de Rose, 1998; Gomes, Varella & de Souza, 2010).
A aprendizagem de relaes entre estmulos como base para o surgimento de novas
relaes simblicas vem sendo objeto de pesquisa emprica por Cumming e Berryman
(1965), Sidman e Tailby (1982), De Rose, McIlvane, Dube, Galpin, e Stoddard (1988),
Schusterman e Kastak (1993), Sidman (1994), Catania (1999), Barros et al. (2005), Frank e
Wasserman (2005) entre outros pesquisadores. O presente trabalho se insere nessa tradio
de pesquisas da anlise do comportamento.
Estudos com usurios de implante coclear usando o paradigma da equivalncia de
estmulos
Tecnologia comportamental aplicada tem sido usada na pesquisa sobre o
desenvolvimento da audio funcional em implantados cocleares. O ensino programado de
relaes entre estmulos, efetuado atravs de procedimentos automatizados de escolha
condicional ao modelo, com feedback imediato para acertos, permite estabelecer repertrios
de relaes entre estmulos. Por exemplo, ao ouvir o nome de uma figura o indivduo obtm
pontos por escolher, dentre outras, a figura correspondente, ou, dentre outras, a palavra
escrita correspondente.
O procedimento de pareamento ao modelo ou escolha de acordo com o modelo
(matching-to-sample - MTS) permite automatizar o ensino de relaes de igualdade,
categoriais ou arbitrrias entre estmulos de vrias modalidades. Esse procedimento consiste
na apresentao de um estmulo-modelo (por exemplo, um som, uma figura ou uma palavra
-
18
escrita), que fica disponvel at ocorrer uma resposta do observador (por exemplo, um toque
sobre a tela do computador, pegar o estmulo ou repetir o som); aps a resposta de
observao, so apresentados estmulos de comparao para escolha. A relao correta,
definida pelo experimentador, pode ser 1) uma relao de igualdade (o modelo a figura de
uma ma e a comparao correta tambm a figura de uma ma); 2) uma relao
categorial (figura ma figura pra, categoria frutas) ou uma relao arbitrria artificial
ou convencionalmente estabelecida pela comunidade (som ma figura ma).
Respostas corretas so seguidas de consequncia para acerto, (pontos, msicas, gifs
animados, moedas, comida, etc.), e respostas incorretas so seguidas de consequncia para
erro (repetio da tentativa, tela preta, tela contendo a frase resposta errada, etc.) e um
intervalo entre tentativas, que pode variar em durao. A Figura 4 ilustra o procedimento de
escolha de acordo com o modelo realizado atravs do computador.
Figura 4. Exemplo de tentativa da tarefa de discriminao auditivo-visual. Na primeira tela apresentado um
som (tartaruga) pelo alto-falante do computador e concomitantemente um quadrado sobre o qual, o participante
deveria tocar caracterizando observao a estimulao sonora recebida. O toque sobre o quadrado libera a
apresentao das escolhas. Se o participante emitir a resposta correta, recebe feedback sinalizando acerto.
Aps a aprendizagem das relaes diretamente ensinadas, ou seja aps um critrio
de acertos ser atingido, o participante pode ser exposto a teste de formao de classes, que
consistem em verificar sem feedback a emergncia de relaes entre estmulos que no foram
diretamente ensinadas. Por exemplo, durante o ensino, foi ensinada a relao entre o som
tartaruga e a figura tartaruga, e tambm foi ensinada a relao entre o som tartaruga e
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19
a palavra escrita tartaruga. Aprendidas estas relaes, testa-se a emergncia sem treino,
que quer dizer, sem feedback e dicas, de novas relaes, de equivalncia, figura e palavra
escrita e palavra escrita e figura.
Com base em Sidman (1971), o fenmeno da equivalncia foi formalmente descrito
na matemtica, da seguinte forma: se A = B e A = C, ento B = C. O que Sidman descreveu
pioneiramente foi aps aprender a escolher B1 e C1 diante de A1, e B2 e C2 diante de A2, a
relao entre os Bs e os Cs, consistente com as relaes ensinadas emerge sem necessidade
de ensino direto. Esse fenmeno emprico embasa o paradigma da equivalncia de estmulos
como um processo bsico de aprendizagem.
Em um teste de equivalncia verifica-se, por exemplo, se aps o ensino das relaes
entre a palavra falada tartaruga e a figura de uma tartaruga e a palavra escrita tartaruga,
a relao entre a figura de uma tartaruga e palavra escrita tartaruga emergiria sem ensino
direto (Sidman & Tailby, 1982). Esse tipo de procedimento tem sido largamente utilizado
com sucesso e permite economia e eficincia no ensino e na aprendizagem de novos
repertrios (Almeida-Verdu & Bevilacqua, no prelo).
Aplicando-se o paradigma aos estudos com usurios de IC, e relacionando-se mais
de um estmulo visual ao mesmo estmulo auditivo, pode-se testar a emergncia de relaes
novas, no ensinadas diretamente, entre os estmulos visuais. O objetivo desses estudos
garantir que se estabeleam relaes entre o ouvir e o falar, em um modelo simplificado dos
comportamentos de ouvinte e de falante (Almeida-Verdu & Bevilacqua, no prelo).
Da Silva (2000) realizou o primeiro estudo com esta tecnologia comportamental com
implantados para investigar a aquisio de discriminaes condicionais entre estmulos
auditivos e visuais, e, adicionalmente, verificar se os participantes formariam classes de
equivalncia que inclussem estmulos auditivos e visuais.
-
20
O estudo foi realizado com quatro participantes, duas crianas pr-linguais e dois
adolescentes ps-linguais, portadores de deficincia auditiva neurossensorial profunda.
Inicialmente ensinou-se discriminaes condicionais visuais entre trs conjuntos de figuras
geomtricas no representacionais. Diante de uma figura, o participante deveria selecionar,
dentre outras, uma figura arbitrariamente relacionada primeira. Todos os participantes
demonstraram a aquisio das relaes condicionais sem dificuldades, como linha de base
para testes posteriores. Objetivando investigar se tons gerados diretamente na cclea do
participante relacionavam-se aos estmulos visuais, um novo estmulo visual foi inserido
linha de base e realizou-se um teste para verificar a emergncia de novas relaes. A relao
entre estmulos auditivos (tons gerados por computador e apresentados diretamente na
cclea) e visuais de um dos trs conjuntos foi estabelecida apenas pelos adolescentes e todos
os participantes formaram classes de estmulos visuais, demonstrando aprendizagem
simblica. As crianas mostraram dificuldade em detectar diferentes sons, assim como, em
relacionar tons a estmulos visuais. Estes dados, entretanto, foram pioneiros ao mostrar a
aprendizagem relacional entre estmulos visuais e auditivos em pessoas que fazem uso do
IC.
Almeida-Verdu (2004) realizou um estudo semelhante ao de da Silva (2000), no
entanto, utilizou estmulos lingusticos pelo processador da fala e no por pulsos eltricos
diretamente na cclea. O diferencial foi a adoo de um programa de ensino baseado em um
currculo (Barros, Galvo & McIlvane, 2003), no qual, iniciou-se com o ensino de tarefas
mais simples para ento a aquisio de tarefas mais complexas.
O ensino iniciou com a tarefa de discriminao condicional visual, no qual, era
apresentado um estmulo modelo composto, figura e som simultaneamente e, gradualmente,
a figura desaparecia com o emprego do procedimento de esvanecimento gradual, fading out
(Terrace, 1963) ficando apenas o estmulo auditivo disponvel, que se mostrou eficaz para
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21
produzir um repertrio de discriminao auditivo-visual em quatro crianas com surdez pr-
e ps-lingual. Uma das crianas com DA pr-lingual s apresentou bom desempenho no
teste de formao de classes aps mudanas no procedimento e a utilizao de palavras
conhecidas pela participante como modelo auditivo.
Huziwara (2006) realizou um estudo adaptado de da Silva (2000) e Almeida-Verdu
(2004) com seis crianas de 5 a 9 anos e com surdez pr-lingual. Como a da Silva (2000),
estabeleceram-se primeiramente as discriminaes condicionais e formao de classes com
estmulos visuais e, posteriormente a insero de estmulos auditivos. O procedimento de
ensino de fading out para o estabelecimento de discriminaes condicionais auditivo-visuais
foi realizado como em Almeida-Verdu (2004).
Inicialmente, como a da Silva (2000), foram ensinadas e testadas relaes
condicionais entre estmulos visuais. Todas as crianas aprenderam e formaram classes de
equivalncia de estmulos. Em seguida, foram ensinadas discriminaes auditivo-visuais
com os estmulos visuais de um dos conjuntos utilizados na primeira fase, ao qual era
sobreposto um modelo auditivo por estimulao eltrica na cclea. O componente visual do
modelo era gradualmente esvanecido ao longo de uma srie de tentativas, de modo a deixar
o participante sob controle apenas do estmulo auditivo apresentado como modelo. As seis
crianas aprenderam as discriminaes auditivo-visuais e cinco das seis incluram os
estmulos auditivos nas classes, demonstrando a aquisio de funo simblica com
estmulos auditivos em indivduos com surdez pr-linguais usurios de IC.
Gaia (2005), Golfeto (2010), Battaglini (2010) e Anastcio-Pessan (2011) buscaram
verificar se o ensino de relaes entre estmulos auditivos e visuais e a formao de classes
entre esses estmulos facilitaria o surgimento da nomeao de figuras e leitura de palavras.
Esses estudos adotaram um procedimento de ensino por excluso, que consiste no
aproveitamento de uma caracterstica comportamental, presente tambm em crianas
-
22
pequenas, de, diante de um problema de escolha entre duas alternativas para comparao,
escolher a alternativa nova para resolver o problema que se configura como novo, quando a
outra alternativa j conhecida j havia sido correta para outro problema. O uso deste
procedimento, segundo Almeida-Verdu e Bevilacqua (no prelo) tem sido promissor, visto
que um nmero menor de tarefas tem sido requerido do participante para se obter a
aprendizagem das relaes entre palavras ditadas, palavras escritas e figuras.
O estudo de Gaia (2005) objetivou descrever a evoluo do comportamento de ouvir
em crianas deficientes auditivas pr-linguais usurias de IC nos primeiros 26 meses aps o
implante. Realizaram-se trs avaliaes com intervalo de cinco meses e a cada avaliao
realizaram-se tarefas, atravs de um computador com apresentao de estmulos, com
registros de respostas dos participantes e sem fornecer pistas orofaciais, de reconhecimento
de palavras, nomeao de figuras e comportamento ecoico. Os resultados mostraram
aumento gradativo no desempenho das crianas na tarefa de reconhecimento de palavras,
mas de menor magnitude na nomeao e no comportamento ecoico. Embora os participantes
no atingissem o critrio absoluto de acertos, houve melhora progressiva nestas ltimas
tarefas. A autora sugere que os progressos apresentados pelas crianas indicam que iniciaram
o processo de aprendizagem da linguagem oral aps o IC, contudo, mas tambm sugerem a
necessidade de interveno educacional direcionada ao aceleramento e aperfeioamento dos
repertrios lingusticos dos usurios de IC, potencializando os benefcios oferecidos pelo
dispositivo.
Em trs estudos, Golfeto (2010) buscou desenvolver e avaliar procedimentos de
ensino para ampliar a compreenso e a inteligibilidade de comportamento de falante em
usurios de IC. No primeiro, ensinaram-se relaes condicionais auditivo-visuais dos tipos
palavras-figuras e palavras-palavras escritas com duas adolescentes com longo perodo de
privao auditiva. As duas participantes aprenderam as relaes auditivo-visuais e formaram
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23
classes com palavras convencionais e pseudopalavras. No segundo estudo, ensinaram-se as
mesmas relaes em pr-escolares e crianas em alfabetizao. Cinco dos sete participantes
aprenderam as relaes e demonstraram emergncia de formao de classes, comportamento
ecoico e nomeao, com escores mais baixos. E, por fim, no terceiro estudo, foram ensinadas
relaes entre sentenas ditadas e vdeos. As sentenas eram compostas por sujeito, verbo e
objeto. Os participantes aprenderam as relaes condicionais e produziram fala
compreensvel com sentenas. Os resultados indicam o potencial dos procedimentos de
ensino para a (re) habilitao de usurios de IC.
Buscando verificar se implantados cocleares pr-linguais aprenderiam relaes
condicionais auditivo-visuais, entre palavras ditadas e figuras, e entre figuras e palavras
escritas, Battaglini (2010) aplicou um teste de formao de classes, verificando se os
participantes relacionariam palavras escritas com figuras, e figuras com palavras escritas.
Em seguida, realizou um teste da nomeao de figuras e leitura de palavras. Por fim,
verificou a generalizao da aprendizagem, testando o pareamento auditivo-visual treinado
com voz feminina adulta, com voz masculina adulta e infantil. Duas das trs participantes
aprenderam as relaes condicionais palavras ditadas-figuras e figuras-palavras escritas, e
tambm apresentaram desempenho de formao de classes e generalizao da aprendizagem
para outras vozes de intensidades e frequncias diferentes. Uma delas apresentou
vocalizaes com correspondncia total palavra correta e a outra participante emitiu
vocalizaes sem nenhuma correspondncia (Experimento 1).
No Experimento 2, Battaglini (2010) programou consequncias diferenciais para as
respostas nas tentativas de excluso, que compem o ensino por excluso anteriormente
descrito. Participaram seis crianas com idades entre 5 e 9 anos, com surdez pr-lingual.
Com exceo de uma participante, todos aprenderam as relaes e mostraram a formao de
classes com os estmulos relacionados entre si direta ou indiretamente. No teste de
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24
generalizao, uma participante no demonstrou responder generalizado com voz masculina
de adulto. No teste de nomeao, a maioria dos participantes emitiu vocalizaes com
correspondncia parcial palavra correta.
Com o objetivo de verificar os efeitos de um programa sistemtico de fortalecimento
de repertrio de comportamento de ouvinte sobre o comportamento de falante, Anastcio-
Pessan (2011) estudou seis crianas com idade entre 11 e 14 anos, com deficincia auditiva
neurossensorial profunda bilateral pr-lingual usurias de IC, que foram expostas a um pr-
treino, seguido de um pr-teste que avaliou a percepo auditiva e o repertrio lingustico.
A diferena entre este estudo e os anteriores est na insero de ps-teste de nomeao e
leitura de palavras aps a concluso de cada tarefa. Os participantes foram capazes de
relacionar estmulos auditivos, palavras ditadas, com estmulos visuais, figuras com
palavras, e atestaram a formao de classes. Nos testes de nomeao e leitura, os dados
mostram variabilidade entre os participantes, no entanto, constatou-se melhora gradual ao
longo dos sucessivos ps-testes.
Com o objetivo de caracterizar os desempenhos envolvidos na leitura e na escrita de
crianas com DA nas sries iniciais do ensino fundamental, usurias de IC e AASI, Santos
(2012) realizou um estudo com 20 crianas de 6 a 12 anos, 12 usurias de IC e 8 usurias de
AASI. Foi utilizado o software ProgLeit para avaliao e ensino de leitura com trs tipos de
tarefas: seleo, composio e vocalizao. Os resultados mostraram que o grupo de usurios
de IC apresentou maior dificuldade, principalmente na realizao das tarefas de composio.
Ambos os grupos apresentaram maior facilidade nas tarefas de seleo de estmulos.
Citando um ltimo estudo que buscou verificar o efeito do ensino do comportamento
ecoico sobre a nomeao de figuras em quatro crianas deficientes auditivas pr-linguais
usurias de IC, Souza, Almeida-Verdu e Bevilacqua (no prelo) ensinou relaes
condicionais auditivo-visuais com palavras convencionais disslabas, e ensino do
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25
comportamento ecoico com pistas orofaciais. Em um pr-teste verificou-se que os
participantes apresentavam baixas porcentagens de acertos em nomeao e ecoico, contudo
todos os participantes aprenderam as relaes auditivo-visuais. Para dois participantes, a
melhora no desempenho de nomeao ocorreu aps o treino auditivo-visual e para outros
dois, somente depois do treino ecoico.
No Par, foi iniciado um programa de IC em 2010, com o Hospital Universitrio
Bettina Ferro de Souza (HUBFS) da Universidade Federal do Par sendo o primeiro hospital
da regio norte do Brasil a ser credenciado pelo Ministrio da Sade para realizar o
procedimento pelo Sistema nico de Sade (SUS). At o momento, aproximadamente 40
pacientes ps-linguais e pr-linguais beneficiaram-se da tecnologia.
A Escola Experimental de primatas (EEP) vinculada ao Ncleo de Teoria e Pesquisa
do Comportamento (NTPC) da UFPA, ao longo das ltimas dcadas vem estudando
processos comportamentais no desenvolvimento de repertrios complexos, que envolvem
relaes arbitrrias entre estmulos caractersticas do comportamento simblico. A EEP tem
buscado investigar e elaborar procedimentos de ensino gradual e facilitadores de repertrio
simblico envolvendo estmulos visuais e auditivos em primatas no humanos (Galvo,
Barros, Rocha, Mendona & Goulart, 2002) para gerar compreenso cientfica e tecnologia
de ensino eventualmente aplicvel a humanos com alguma atipicidade no desenvolvimento.
Este estudo surgiu como uma possibilidade de transladar os conhecimentos de
processos e tecnologia comportamental obtidos com as pesquisas com no humanos tambm
na EEP, para demandas humanas. Trata-se de uma pesquisa translacional, relacionando as
demandas sociais com os procedimentos descobertos no laboratrio. Sendo pioneira no
Estado do Par, ao longo da sua realizao o estudo esteve sempre sob avaliao, e
modificaes nos procedimentos adotados foram gradualmente inseridas para melhor
alcanar os objetivos.
-
26
O presente estudo se contextualiza no mbito das pesquisas com interface
educacional, como as anteriormente descritas, na tentativa de busca de melhoria a qualidade
lingustica dos implantados cocleares.
Buscou-se investigar os processos envolvidos na aprendizagem comportamental de
ouvir em implantados cocleares ps-linguais e possivelmente gerar tecnologia
comportamental para a reabilitao da funo auditiva e a aquisio de linguagem nessa
populao. Mais especificamente, o objetivo deste estudo foi avaliar as variveis de
procedimento envolvidas no treino de discriminaes auditivo-visuais com relaes
condicionais entre palavras ditadas, figuras e palavras escritas e verificar se o treino
facilitaria a emergncia de vocalizaes com correspondncia total e generalizaes para
outras frequncias de sons em deficientes auditivos ps-linguais usurios de IC.
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27
MTODO
Participantes
Participaram deste estudo trs adultos com DA ps-lingual usurios de IC. O
modelo do IC no foi uma varivel controlada neste estudo. Informaes mais detalhadas
sobre os participantes sero fornecidas na Tabela 1.
Claudio, nascido em 19/06/1967, 45 anos, ensino fundamental, adquiriu surdez
neurossensorial grave no ouvido esquerdo e severa no ouvido direito atravs de meningite
bacteriana em julho de 2011, no dia 07 de novembro do mesmo ano, submeteu-se a cirurgia
do IC e um ms depois, teve o dispositivo ativado, totalizando cinco meses de privao
auditiva. Este participante tambm faz uso de AASI.
Ana, nascida em 27/06/1967, 45 anos, ensino fundamental, perdeu a audio do
ouvido direito por causa desconhecida no ano de 2002 e cinco anos depois perdeu a audio
no ouvido esquerdo. Submeteu-se cirurgia do IC em 17 de agosto de 2011, tendo o
dispositivo ativado em outubro do mesmo ano, totalizando 9 anos de privao auditiva. Esta
participante tambm faz uso de AASI.
Rose, nascida em 25/04/1975, 36 anos, ensino fundamental, perdeu a audio aos
13 anos de idade depois de uma febre alta e convulso. Rose foi a primeira paciente mulher
submetida cirurgia do IC do HUBFS da UFPA. A participante submeteu-se cirurgia no
dia 26 de janeiro de 2011, totalizando 23 anos de privao auditiva. Esta participante deveria
fazer uso de AASI, mas relatou sentir fortes dores de cabea ao us-lo, e por isso, durante o
estudo no usou o aparelho de amplificao sonora.
-
28
Obteno de consentimento
O projeto desta pesquisa foi submetido ao Comit de tica em Pesquisa com Seres
Humanos do Instituto de Cincias da Sade da Universidade Federal do Par, sob o CAEE
0268. 0. 073. 000-12 e parecer 039/12 (Anexo 1). Foi realizado um contato inicial com os
coordenadores do projeto ouvido binico do HUBFS, para apresentao do projeto e
autorizao da visita ao Hospital para coleta de dados, alm de dados dos pronturios dos
participantes, formalizada por meio do Termo de consentimento da Instituio. Os
participantes foram indicados pela fonoaudiloga responsvel pelo projeto ouvido binico
do HUBFS.
Aps a seleo dos participantes, estes receberam as informaes sobre o projeto,
alm da leitura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) para formalizar o
aceite atravs da assinatura no documento (Anexo 2).
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29
Tabela 1. Caractersticas dos participantes: nome (fictcio), gnero, data de nascimento, tipo de deficincia auditiva, etiologia da surdez, tempo de privao auditiva (da surdez
at a ativao do implante), data da cirurgia do implante, idade auditiva (so mostradas duas datas: da ativao do implante at o momento inicial e final do estudo) e modelo
do implante coclear.
Nome Sexo D.N Tipo de DA Etiologia
Tempo de
Privao
auditiva
Data da
cirurgia
Idade
auditiva
Modelo do
IC
Rose F 25/04/75 Neurosenssorial
profunda Convulso 23 anos 26/01/11
1a3m
1a9m
Freedom
Claudio M 19/06/67
Neurosenssorial
grave/severa
bilateral
Meningite
Bacteriana 5 meses 07/11/11
4m
1a2m Nucleus 24
Ana F 27/06/67 Neurosenssorial
bilateral Gradual 9 anos 17/08/11
8m
1a3m Med el
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30
Equipamentos, Materiais e Condies de coleta de dados.
Foi utilizado um computador MSI Wind Top AE1900 com sistema operacional
Windows XP Home Edition, processador Intel Atom 230, monitor de 18,5 Polegadas,
Touch Screen, memria de 1GB DDR1 para apresentao dos estmulos visuais.
Para a programao das tarefas e registro das respostas dos participantes foi
utilizado o software EAM V. 4.0.04, desenvolvido por Druzio Capobianco, modificado
por Rafael Picano, que permitia ao experimentador programar as tarefas que requeria
dos participantes, assim como edit-las e reprogram-las de acordo com os objetivos de
cada fase do ensino.
O sistema de udio utilizado inicialmente foram caixas acsticas Philips com
blindagem magntica, conector 3,5 mm, som estreo, alimentao via USB, acopladas ao
computador para a emisso dos estmulos auditivos (Fase 1). Posteriormente, as caixas
acsticas foram substitudas por um monitor de referncia utilizado em estdios
profissionais, visto que possui alta fidelidade na reproduo de sons, com dimenso do
gabinete de 15,0 x 8,5 x 10,0 cm, com blindagem magntica. A resposta de frequncia
era de 45 Hz a 18 kHz, com sensibilidade de 88 dB, e frequncia de crossover de 2,5 kHz
(a partir da Fase 3).
Algumas sesses foram filmadas pela webcam do computador com um
microfone conectado, para registro das vocalizaes dos participantes.
As sesses experimentais das Fases 1 e 2 foram realizadas em uma das salas do
Hospital universitrio, especialmente destinada para esta finalidade, com autorizao do
setor de IC. A partir da Fase 3, as sesses experimentais foram realizadas em uma das
salas da Escola Experimental de Primatas (EEP).
-
31
Figura 5. Sala de coleta de dados: 1) Monitor de referncia de udio utilizado no estudo; 2) Teclado, mouse
e Monitor do computador utilizado no experimento.
Estmulos
Foram utilizados estmulos auditivos e visuais. Os estmulos auditivos eram
palavras faladas, e os estmulos visuais, figuras e palavras escritas. Os estmulos auditivos
foram previamente gravados em voz feminina adulta, em portugus, armazenados em
formato WAV e eram apresentados atravs de caixas de som ou monitor de referncia de
udio. Os estmulos visuais eram figuras disponveis on line e utilizadas no formato
JPEG. As palavras escritas foram apresentadas em letras maisculas, fonte Arial, tamanho
40, em formato JPEG. Os estmulos visuais eram apresentados em janelas quadradas
com cerca de cinco centmetros de lado, localizadas em nove possveis posies de uma
matriz 3 x 3, na tela de um monitor.
Na Fase 1 - pr-treino - eram apresentados alternadamente quatro estmulos
auditivos (Conjunto X: x1, x2, x3, x4), relacionados a quatro figuras (Conjunto Y: y1, y2,
y3, y4), e quatro palavras escritas (Conjunto Z: z1, z2, z3, z4) com alta probabilidade de
serem familiares ao participante (ver Tabela 2) facilmente discriminveis, e foram
utilizados somente nesta fase do treino.
Nas Fases 2 e 7 pr e ps-teste de vocalizao foram apresentados apenas
estmulos visuais, figuras e palavras escritas, para o participante vocalizar. Foram
apresentadas 32 figuras e 32 palavras escritas, sendo oito figuras e palavras escritas de
1
2
-
32
cada categoria silbica, isto , oito polisslabas, oito trisslabas, oito disslabas e oito
monosslabas (Tabela 3).
Nas Fases 3, 4 e 5, o Conjunto A reunia os estmulos auditivos, e tinha oito
elementos: a1, a2, a3, a4, a5, a6, a7, a8. O Conjunto B dos estmulos visuais figuras,
tambm composto por oito elementos: b1, b2, b3, b4, b5, b6, b7, b8, assim como o
Conjunto C, dos estmulos visuais palavras escritas: c1, c2, c3, c4, c5, c6, c7, c8. Os
estmulos utilizados com os participantes nestas fases podem ser vistos na Tabela 4, estes
estmulos foram escolhidos com base no desempenho de cada participante na Fase 2. Na
Fase 6 - teste de generalizao - utilizou-se os estmulos visuais das fases de ensino,
contudo, os estmulos auditivos foram apresentados na voz masculina adulta, Conjunto
A (a1, a2, a3, a4a5, a6, a7, a8) e os estmulos visuais, figuras e palavras escritas
correspondentes.
-
33
Tabela 2. Conjuntos de estmulos utilizados no pr-treino para cada participante.
Participantes
Estmulos do pr-treino (disslabas)
Auditivo Figura Escrito
Claudio, Ana
e Rose
/bola/ (X1)
(Y1)
BOLA (Z1)
/fogo/ (X2) (Y2)
FOGO (Z2)
/sino/ (X3) (Y3)
SINO (Z3)
/casa/ (X4) (Y4)
CASA (Z4)
Estmulos do pr-treino (polisslabas)
Rose
(Fase 1.2)
/abacaxi/ (X1)
(Y1)
ABACAXI (Z1)
/borboleta/ (X2) (Y2)
BORBOLETA (Z2)
/elefante/ (X3) (Y3)
ELEFANTE (Z3)
/tartaruga/ (X4) (Y4)
TARTARUGA (Z4)
A Tabela 3 mostra os estmulos que compuseram o pr-teste
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34
Tabela 3. Conjuntos de estmulos utilizados durante o pr-teste de nomeao de figuras e leitura de palavras.
Estmulos dos Testes de nomeao e leitura
POLISSILABAS TRISSILABAS DISSILABAS MONOSSILABAS
BICICLETA
JACAR
BOMBOM
FLOR
ABACAXI
BONECA
BON
LUA
RELGIO
CANETA
CARRO
TREM
COMPUTADOR
CAVALO
FACA
MO
TELEFONE
MACACO
LIXO
BOI
TARTARUGA
MARTELO
SAPO
PO
BORBOLETA
BALANO
SOF
CRUZ
ELEFANTE
SORVETE
SUCO
SOL
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35
A Tabela 4 mostra os estmulos que compuseram as Fases 3 e 4 e testes
subsequentes, escolhidos com base nos desempenhos dos participantes no pr-teste de
vocalizaes.
Tabela 4. Conjuntos de estmulos utilizados durante as rotinas de ensino e testes com cada participante.
Estmulos de linha de base Estmulos indefinidos
Auditivo
(A)
Figura
(B)
Escrito
(C)
Auditivo
(A)
Figura
(B)
Escrito
(C)
Cla
udio
1 /mo/
MO 5 /pafe/
PAFE
2 /carro/
CARRO 6 /duca/
DUCA
3 /cavalo/
CAVALO 7 /tiba/
TIBA
4 /abacaxi/
ABACAXI 8 /zigo/
ZIGO
Ana
e C
laudio
1 /mo/
MO 5 /pafe/
PAFE
2 /carro/
CARRO 6 /duca/
DUCA
3 /cavalo/
CAVALO 7 /tiba/
TIBA
4 /abacaxi/ ABACAXI 8 /zigo/ ZIGO
Rose
1 /sol/
SOL 5 */mo/
MO
2 */faca/
FACA 6 /sof/
SOF
3 /elefante/
ELEFANTE 7 /sorvete/
SORVETE
4 /relgio/
RELGIO 8 /bicicleta/
BICICLETA
2 /cavalo/
CAVALO 5 /abacaxi/
ABACAXI
* estes estmulos (faca e mo) foram modificados por cavalo e abacaxi.
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36
Os conjuntos de estmulos de Linha de Base e de Indefinidos foram selecionados
com base no desempenho dos participantes na Fase 2, Pr-teste de vocalizaes. Os
estmulos A5 (duca), A6 (pafe), A7 (tiba) e A8 (zigo) foram selecionados para
pertencerem ao conjunto de estmulos indefinidos, nomeados com base nos estudos de
Anastcio-Pessan (2011), no entanto, as correspondncias pictricas dos estmulos foram
elaboradas exclusivamente para este estudo.
Procedimento
Delineamento geral
O delineamento deste estudo foi baseado nos estudos de Almeida-Verdu (2004),
Battaglini (2010) e Anastcio-Pessan (2011). Os participantes foram expostos a uma
sequncia de tarefas que pode ser vista na Tabela 5.
Tabela 5. Sequncia geral do procedimento.
Sequncia Tarefas
1 Pr-treino
2 Pr-teste de vocalizaes
3 Ensino das relaes entre palavras ditadas e figuras (AB)
4 Ensino das relaes entre palavras ditadas e palavras escritas
(AC)
5 Teste de formao de classes (BC/CB)
6 Teste de generalizao (AB/ AC)
7 Ps-teste de vocalizaes
Procedimento geral
O procedimento geral foi o de pareamento ao modelo. O participante deveria
selecionar dentre estmulos de comparao o correspondente ao estmulo modelo. A
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Figura 6 ilustra as relaes a serem ensinadas e testadas. Os detalhes de cada fase sero
descritos a seguir.
Figura 6. Diagrama das relaes ensinadas e testadas neste estudo. As setas em preto indicam relaes
ensinadas. As setas em cinza indicam as relaes testadas.
O programa de ensino pretendia fortalecer as habilidades auditivas dos
participantes expondo-os a tarefas nas quais deveriam atentar aos estmulos sonoros e
escolher a figura ou palavra escrita correspondente. Posteriormente, seriam expostos a
testes de relaes derivadas das ensinadas, e ainda serem testados em suas habilidades de
falantes em tarefas de nomeao e leitura.
A Tabela 6 mostra, de maneira geral, a tarefa do participante em cada fase do
programa de ensino, o tipo de resposta exigida e o critrio para passagem de fase.
Consequncias para as respostas
Nas Fases 1, 3 e 4 foram apresentadas consequncias diferenciais (feedback)
para acerto e erro a cada tentativa. Em uma tentativa, se o participante emitisse a resposta
programada como correta, era apresentada uma figura com a frase voc acertou por trs
segundos e uma nova tentativa. Se o participante apresentasse resposta incoerente com a
programada, uma tela preta com a palavra Errado seguia sua resposta por trs segundos
e uma nova tentativa era apresentada. O critrio para passagem de fase foi manipulado ao
longo do treino, e as mudanas sero descritas ao longo da descrio do procedimento.
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Nas Fases 2, 5, 6 e 7 no foram apresentadas consequncias diferenciais para as respostas
do participante.
Tabela 6. Tarefas realizadas em cada fase do ensino, tipo de resposta requerida e o critrio em porcentagem
de acertos para passagem de fase.
Fase Tarefa Resposta Critrio
1 Pr-treino
Relacionar figuras, palavras
escritas e relacionar
palavras ditadas a figuras e
a palavras escritas.
Auditiva-
visual 90%
2 Pr-teste Nomear e ler Vocal -
3 Ensino AB Relacionar palavras ditadas
a figuras
Auditiva-
visual 90%
4 Ensino AC Relacionar palavras ditadas
a palavras escritas
Auditiva-
visual 90%
5
Teste de
Formao de
Classes
Relacionar figuras a
palavras escritas e palavras
escritas a figuras.
Visual 90%
6 Teste de
generalizao
Relacionar palavras ditadas
a figuras e palavras escritas
em voz masculina adulta
Auditiva-
visual -
7 Ps-teste Nomear e ler Vocal -
Fase 1 Pr-treino
O pr-treino teve como objetivo familiarizar o participante ao ambiente
experimental, ao computador de tela sensvel ao toque, s tarefas, e criar o repertrio de
relacionar estmulos auditivos a visuais para a realizao das tarefas futuras. Esse
repertrio se constituiu na linha de base a partir da qual foi possvel o ensino de
discriminaes condicionais auditivo-visuais envolvendo outros conjuntos de estmulos
visuais (figuras e palavras escritas) e conjuntos de estmulos auditivos.
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A Fase 1 foi composta por quatro blocos, totalizando 96 tentativas de pr-treino
como pode ser visto na Tabela 7. E a descrio de cada bloco feita a seguir.
Tabela 7. Sequncia de blocos e composio das tentativas durante o Pr-treino.
Bloco
Tipo
de
Tentativa
N de
tentativas Relaes
Destino
de
Acertos
Destino
de
Erros
Critrio
1 PMI
visual 24 y1, y2, y3, y4,
z1, z2, z3, z4
Bloco 2 Bloco 2
90% em
todos os
blocos
2
Auditivo-
visual
com
fading out
24 x1y1, x2y2, x3y3,
x4y4, x1z1, x2z2,
x3z3, x4z4
Bloco 3 Bloco 3
3 Visual-
visual 24
y1z1, z2y2, y3z3,
y4z4, z1y1, z2y2,
z3y3, z4y4
Bloco 4 Bloco 4
4 Auditivo-
visual 24
x1y1, x2y2, x3y3,
x4y4, x1z1, x2z2,
x3z3, x4z4
Fase 2 Bloco 1
Bloco 1 Pareamento ao modelo por identidade (PMI): No incio do bloco era
apresentada na tela do computador uma instruo ao participante: Ol! Seja bem-vindo
(a). Sua tarefa inicial ser escolher as figuras idnticas. Use o mouse ou toque sobre a
figura. Bom trabalho! Neste bloco foram apresentadas trs tentativas para cada figura e
trs tentativas para cada palavra escrita, totalizando 24 tentativas no bloco.
Bloco 2 - Pareamento auditivo-visual com esvanecimento (Fading out) do modelo
visual: O seguinte comando iniciava o bloco: Parabns! Voc completou a 1 fase.
Agora voc ouvir um nome e ver uma figura juntos, a figura desaparecer
gradualmente, preste ateno ao som. Bom trabalho!. Ento, era apresentado um
estmulo-modelo visual (figura ou palavra escrita) em uma das posies da tela do
computador e concomitantemente era apresentado o estmulo-modelo auditivo pelo alto-
falante de maneira que a palavra ditada era sobreposta ao modelo visual, o que denomina-
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se modelo composto, pela apresentao conjunta de dois estmulos diferentes, no caso,
um visual e um auditivo, como modelo.
Cada estmulo era apresentado em uma sequncia de trs tentativas, o
componente visual era gradualmente esmaecido pelo procedimento de fading out (ver
Figura 7), que comeava na primeira tentativa de cada estmulo e gradativamente
transformando-se em um quadrado laranja, at a terceira tentativa. O procedimento de
fading out foi utilizado com o objetivo de facilitar o controle do estmulo auditivo sobre
a resposta de seleo do estmulo visual (Terrace, 1963; Almeida-Verdu, 2004).
A Figura 7 ilustra o procedimento de esvanecimento atravs do Fading out.
Figura 7. Ilustrao do procedimento Fading out do componente visual do modelo. Na primeira sequncia
esquerda da ilustrao, observa-se o componente visual do modelo apresentado em 100% de nitidez,
simultaneamente ao componente auditivo, som casa, representado no balo; no segundo quadrante, o
componente visual est parcialmente esmaecido; e, por fim no ltimo quadrante, apresentado somente o
quadrado laranja e o componente auditivo do modelo.
Bloco 3 Pareamento entre palavras escritas e figuras: O bloco era iniciado com o
seguinte comando: Parabns! Voc completou a 2 fase. Vamos para a prxima fase.
Agora voc deve relacionar uma figura a uma palavra escrita e vice-versa. Continue
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prestando ateno. Bom trabalho! Aps a leitura do comando, eram apresentados dois
tipos de tentativas: 1) figura palavra escrita: uma figura era apresentada como estmulo-
modelo e o participante deveria selecionar a palavra escrita correspondente; 2) palavra
escrita figura: uma palavra escrita era apresentada como estmulo-modelo e o
participante deveria selecionar a figura correspondente.
Bloco 4- Pareamento auditivo-visual: O comando inicial do bloco era: Parabns!
Voc completou a 3 fase. Voc chegou ltima fase. Agora, ouvir um som e dever
escolher a figura ou palavra correta. Tenha ateno! Neste bloco, as tentativas eram
compostas por relaes puramente auditivo-visuais, isto , era apresentado um estmulo
auditivo e o participante deveria selecionar a figura ou palavra escrita correspondente.
Independentemente do nmero de acertos, o participante era exposto Fase 2,
pr-teste de vocalizaes. No entanto, para que o participante fosse exposto Fase 3,
ensino entre palavras ditadas e figuras, era necessrio que apresentasse um desempenho
de no mnimo de 90% de acertos. Caso no apresentasse, o participante era exposto ao
pr-treino novamente por at trs vezes, com alteraes nas posies e ordem de
apresentao dos estmulos. Se ocorresse do participante no atingir o critrio de
aprendizagem requerido depois das trs repeties, as estratgias de ensino para incluso
do participante nas tarefas seguintes seriam analisadas com base em avaliao do
desempenho apresentado. As estratgias de ensino adotadas nos casos que foram
necessrios sero descritas mais adiante.
Fase 2 Pr-teste de vocalizaes
O objetivo desta fase foi de avaliar o desempenho do comportamento de falante
dos participantes e selecionar oito palavras para comporem as rotinas seguintes, sendo
quatro palavras cujas vocalizaes tenham sido categorizadas como correspondncia total
e outras quatro que as vocalizaes tenham apresentado distores. Para aqueles
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participantes cujas todas as vocalizaes foram categorizadas como correspondncia
total, foram empregas pseudopalavras para comporem as rotinas de ensino e testes futuros
O pr-teste foi apresentado em dois blocos, um de nomeao de figuras e outro
de leitura de palavras. O desempenho vocal dos participantes foi gravado atravs de um
microfone. Foram apresentadas 32 figuras e 32 palavras escritas, sendo oito figuras para
cada diviso silbica, ou seja, oito polisslabas, oito trisslabas, oito disslabas e oito
monosslabas. O cuidado em subdividir os estmulos em categorias por nmero de slabas
do nome do estmulo recomendado porque estudos em audiologia mostraram que
usurios de IC possuem mais facilidades em discriminar e nomear palavras longas por
apresentarem mais dicas verbais para compreenso do significado (Spinelli, Fvero-
Breuel & Silva, 2001).
Cada figura ou palavra escrita ficava disponvel na tela por 5 segundos e o
intervalo de apresentao foi de 2 segundos. No houve consequncia para as
vocalizaes do participante. A descrio dos blocos feita a seguir.
Bloco 1 - Nomeao: O participante recebia o comando escrito na tela do computador:
Voc ver uma figura. Diga o nome da figura assim que ela aparecer da tela do
computador.. Ento, no centro da tela do computador, aparecia uma figura, que deveria
ser nomeada pelo participante.
Bloco 2 - Leitura: O participante recebia o seguinte comando pelo computador: Voc
ver uma palavra escrita. Quando estiver pronto, leia a palavra, por favor.. No centro
da tela do computador, a qual deveria ser lida pelo participante.
Avaliao das vocalizaes
As vocalizaes foram avaliadas por dois observadores, a prpria pesquisadora
e um observador independente e foram reavaliadas as discordncias at obter-se um
ndice de concordncia de 90%.
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O acordo entre os observadores foi baseado em Delgado e Bevilacqua (1999),
no qual, uma porcentagem das vocalizaes dos participantes era transcrita por um
observador independente para ser confrontada com a transcrio da experimentadora.
Kazdin (1982) sugere que a porcentagem mnima de vocalizaes transcrita pelo
observador independente seja de 25%, dessa porcentagem, o total de acordos ser
dividido pela soma dos acordos e desacordos, o resultado ser multiplicado por 100, este
clculo resultar na porcentagem de acordo entre os observadores. No mnimo 70% de
acordo necessrio para que a observao seja considerada fidedigna. Para assegurar uma
maior confiabilidade nos dados, o observador independente transcreveu todas as
vocalizaes.
O observador independente foi instrudo a ouvir a vocalizao e anotar cada
emisso vocal do participante, da maneira que compreender, podendo ouvir a mesma
vocalizao quantas vezes achasse necessrio. A frmula do clculo de fidedignidade,
segundo Kazdin (1982), pode ser vista na Figura 8.
F=acordos
acordos + desacordos 100
Figura 8. Clculo de fidedignidade entre observadores segundo Kazdin (1982).
Para avaliao das vocalizaes dos participantes, baseou-se em Anastcio-Pessan
(2011), e utilizaram-se quatro categorias: correspondncia total, correspondncia parcial,
emisso sem correspondncia e omisses:
a) Correspondncia total: as vocalizaes emitidas com correspondncia
ponto-a-ponto com o uso convencionado pela comunidade.
b) Correspondncia parcial: palavras vocalizadas com trocas fonmicas ou
quando o participante emitia todos os fonemas, contudo alterava o som de algum dos
fonemas em nasalao ou tonicidade.
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c) Sem correspondncia: vocalizaes de outra palavra que no possua
nenhum fonema em comum com a convencionada pela comunidade. Quando, por
exemplo, diante da figura de uma lua, o participante vocalizava sol.
d) Omisses: quando o participante no emitia nenhuma vocalizao aps a
apresentao da figura ou palavra escrita.
Fase 3 Ensino das relaes entre palavras ditadas e figuras (AB)
O objetivo desta fase era, alm de avaliar o comportamento de ouvinte dos
participantes, ensinar novas relaes condicionais entre palavras ditadas e figuras. Foi
realizado com a tarefa de escolha de acordo com o modelo, auditivo-visual, isto , quando
da apresentao de uma palavra falada, era requerida a seleo de uma figura
correspondente.
O estmulo auditivo era repetido com um intervalo de 1,5 segundos at que o
participante selecionasse o quadrado laranja e, caso o participante no emitisse a resposta
de observao, a tentativa era encerrada manualmente pela experimentadora, registrada
como erro e uma nova tentativa era iniciada. Os estmulos de comparao eram
apresentados simultaneamente em posies aleatrias na tela. O treino auditivo-visual
entre palavras ditadas e figuras teve quatro diferentes Blocos de tentativas:
Bloco 1 - Linha de base: Neste bloco, foram treinadas as relaes com estmulos de LB
isto , aqueles em que o participante apresentou correspondncia total no pr-teste de
vocalizaes (a1b1, a2b2, a3b3, a4b4). Foram apresentadas doze tentativas com essas
relaes, sendo trs tentativas para cada relao.
Bloco 2 - Sondas de excluso: Neste bloco, foram apresentadas quatro relaes
condicionais indefinidas (a5b5, a6b6, a7b7, a8b8). As tentativas eram compostas de um
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estmulo auditivo indefinido como modelo (A8, por exemplo) e de quatro estmulos-
comparao, trs estmulos de linha de base e um estmulo indefinido correspondente ao
modelo (B8, no caso do exemplo). Nesta condio, o participante poderia selecionar o
estmulo de comparao indefinido por meio de excluso das comparaes conhecidas ou
estabelecer uma relao direta entre os estmulos indefinidos. Foram apresentadas doze
tentativas, sendo trs tentativas para cada relao treinada.
Bloco 3 - Controle por novidade: As relaes de controle foram as mesmas do bloco de
LB (a1b1, a2b2, a3b3, a4b4). O estmulo-modelo sempre era pertencente linha de base
e os estmulos-comparao incluram trs figuras indefinidas e uma figura de linha de
base. Nessa situao, o participante deveria escolher a figura correspondente ao modelo,
rejeitando as figuras indefinidas. A escolha da figura de linha de base diante do modelo
de linha de base indicaria a manuteno da LB e permitiria descartar um possvel controle
pela novidade que pudesse ter sido estabelecido nas tentativas de sondas de excluso.
Foram apresentadas doze tentativas, sendo trs tentativas para cada relao treinada.
Bloco 4 - Aprendizagem: Neste bloco, o estmulo-modelo sempre era do conjunto de
indefinidos e os estmulos de comparao tambm. Foram apresentadas doze tentativas,
sendo trs tentativas para cada relao.
A Fase 3 foi composta por 48 tentativas de relaes condicionais auditivo-
visuais entre palavras ditadas e figuras (AB).
Os blocos de tentativas eram apresentados sucessivamente, independentes do
nmero de acertos, isto , no foi programado critrio para mudana de blocos. Caso o
participante apresentasse 100% de acertos nos Blocos 1, 2 e 3 e no apresentasse bom
desempenho no Bloco 4, o que era esperado nas primeiras sesses, as sesses seguintes
seriam compostas apenas de 24 tentativas das relaes indefinidas, sendo seis tentativas
para cada relao indefinida.
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O critrio de aprendizagem era de 90% de acertos em todos os blocos de
tentativas. A Tabela 8 mostra a sequncia dos blocos da Fase 3.
Tabela 8. Blocos de tentativas da Fase 3.
Bloco de
tentativa
N de
tentativas
Relaes
treinadas
Estmulos
modelo
Estmulos de
comparao
Linha de Base 12 A1B1; A2B2
A3B3, A4B4 LB Todos de LB
Sondas de
Excluso 12
A5B5, A6B6
A7B7, A8B8 Indefinido
Um Indefinido
e trs de LB
Controle por
novidade 12
A1B1, A2B2
A3B3, A4B4 LB
Um de LB e
trs indefinido
Aprendizagem 12 A5B5, A6B6
A7B7, A8B8 Indefinido
Todos
indefinidos
Fase 4 Ensino das relaes entre palavras ditadas e palavras escritas (AC)
O objetivo desta fase foi ensinar a relao entre palavras ditadas (A) e palavras
escritas (C). A tarefa dos participantes era selecionar dentre quatro palavras escritas a
correspondente ditada anteriormente. Os blocos e nmero de tentativas, esquema de
reforamento e critrio de passagem de fase foram os mesmos da fase anterior.
Fase 5 Teste de formao de classes (BC/CB)
Objetivo da fase foi avaliar se a extenso das funes discriminativas se
estenderia para as figuras e palavras escritas, isto , avaliar se o participante aps
selecionar uma figura e uma palavra escrita quando uma mesma palavra falada era
apresentada, relacionaria a figura e a palavra escrita sem treino direto.
Os estmulos utilizados foram os pertencentes ao conjunto de indefinidos, que
aps as fases de ensino, foram incorporados linha de base. Nos blocos de linha de base
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haviam consequncias programadas para as respostas e nos blocos de teste no haviam
consequncias programada. Foram apresentadas 40 tentativas, sendo 24 tentativas de teste
e 16 tentativas de linha de base em quatro blocos de tentativas. A Tabela 9 apresenta a
composio da sesso de teste de formao de classes.
Tabela 9. Composio dos blocos de tentativas durante o teste de formao de classes.
Blocos de
tentativas
N de
tentativas Relaes
Esquema de
reforamento Critrio
1. LB AB 8 A5B5; A6B6
A7B7; A8B8
CRF
90% em
todos os
blocos
2. Teste BC 12
B5C5; B6C6
B7C7; B8C8
Sem
consequncia
3. LB AC 8
A5B5; A6B6
A7B7; A8B8
CRF
4. Teste CB 12
C5B5; C6B6
C7B7; C8B8
Sem
consequncia
Fase 6 Teste de generalizao de frequncias de estmulos auditivos
O objetivo desta fase foi verificar a extenso do controle da aprendizagem
auditiva para outras frequncias do estmulo auditivo (voz masculina de adulto).
Utilizaram-se como estmulos auditivos as palavras pertencentes ao conjunto de
indefinidos durante o ensino, contudo, enunciadas com voz masculina de adulto,
denominado Conjunto A': a5; a6; a7 e a8. Para a realizao deste teste, a sesso
experimental foi apresentada em blocos. A Tabela 10 mostra as relaes testadas em cada
bloco.
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Tabela 10. Composio dos blocos de tentativas durante o teste de generalizao.
Blocos N de
tentativas Relaes testadas
Esquema de
reforamento Critrio
LB AB 4 A5B5; A6B6; A7B7; A8B8
Sem
consequncia
diferencial em
todos os
blocos
Sem critrio
para
passagem
de fase
TESTE
AB 12 A5B5; A6B6; A7B7; A8B8
LB AC 4 A5C5; A6C6; A7C7; A8C8
TESTE
AC 12 A5C5; A6C6; A7C7; A8C8
Foram apresentadas 32 tentativas, oito de linha de base e 24 de teste.
Independentemente do nmero de acertos, o participante era exposto fase seguinte.
Fase 7 Ps-teste de Vocalizaes
O objetivo do ps-teste foi verificar se aps a longa exposio aos estmulos
auditivos, os participantes apresentariam melhoras no desempenho de nomeao de
figuras e leitura de palavras. Apresentaram-se as mesmas 32 figuras e 32 palavras do pr-
teste com a mesma configurao. A avaliao das vocalizaes ocorreu da mesma forma
do pr-teste.
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RESULTADOS
Os resultados sero apresentados por fase e por participante. Os desempenhos
gerais dos participantes em cada fase realizada, sero apresentados na Figura 8, que ilustra
o desempenho dos participantes nas trs modalidades de respostas exigidas: vocais,
visuais e auditivo-visuais ao longo das fases.
De modo geral, todos os participantes apresentaram altos ndices de acertos nas
tarefas que exigiam apenas respostas visuais, de pareamento ao modelo por identidade
com os estmulos visuais.
Nas tarefas de vocalizaes, pr e ps-testes, os participantes Claudio e Ana
apresentaram alta correspondncia com a comunidade verbal, apresentando algumas
omisses, e, a participante Rose apresentou baixa correspondncia com a comunidade
verbal, especialmente, apresentou distores fonmicas e tnicas, contudo, seu
desempenho elevou-se no ps-teste.
Nas tarefas de discriminao condicional auditivo-visual com modelo composto
e esmaecimento do componente visual (Fading out), Claudio e Ana atingiram o critrio
de aprendizagem em uma sesso, enquanto que a participante Rose necessitou de mais
exposies, com desempenhos crescentes.
E, nas tarefas puramente auditiva-visuais, os participantes Claudio e Ana no
apresentaram grandes dificuldades em atingir o critrio de aprendizagem, tanto com os
estmulos convencionados quanto as pseudopalavras, contudo, a participante Rose
apresentou desempenho abaixo do critrio em muitas exposies fase, e por isso,
diversas modificaes procedimentais foram realizadas com o objetivo de estabelecer
condies facilitadoras de aprendizagem. Os detalhes sero descritos a seguir.
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Figura 8. Porcentagem mdia de acertos dos participantes em cada fase do estudo. As barras brancas correspondem a tarefas que exigiam respostas vocais de nomear e ler. As
barras em cinza a tarefas de pareamento ao modelo por identidade com estmulos visuais, e as barras pretas a tarefas envolvendo relaes auditivo-visuais.
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Fase 1 Pr-treino
A Figura 9 apresenta o desempenho geral dos participantes por bloco realizado
no pr-treino.
Figura 9. Porcentagem de acertos dos participantes ao longo dos blocos durante a fase do pr-treino. As
barras identificadas por PMI correspondem ao Bloco 1, pareamento ao modelo por identidade. As barras
identificadas por Fading out correspondem ao Bloco 2, de pareamento de identidade com modelo composto
e fading out do componente visual. As barras identificadas por PE-F/F-PE, indicam o Bloco 3, pareamento
entre palavras escritas e figuras e figuras e palavras escritas. E as barras identificadas como Au-Vi, indicam
o Bloco 4, pareamento auditivo-visual.
Participantes Claudio e Ana
Os participantes Claudio e Ana realizaram a Fase 1, Pr-treino, em uma sesso,
apresentando desempenho geral de 95,8% e 97,9% de acertos, respectivamente.
Aprenderam a tarefa de pareamento ao modelo por identidade e a tarefa de pareamento
ao modelo composto e o procedimento de fading out, alm disso, aprenderam a escolher
uma figura ou uma palavra escrita na
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