desastres naturais no brasil: sinais de mudanças climáticas?
Post on 25-Jul-2015
249 Views
Preview:
DESCRIPTION
TRANSCRIPT
DESASTRES NATURAIS NO BRASIL:
SINAIS DE MUDANÇAS CLIMÁTICAS?
Pedro Ivo Mioni Camarinha
Monografia de qualificação de
Doutorado do Curso de Pós-Graduação em
Ciência do Sistema Terrestre, do Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais,
apresentada como requisito parcial para a
obtenção do título de Doutor em Ciência do
Sistema Terrestre.
São José dos Campos
2012
1
1 Introdução
Dentre os diferentes tipos de eventos extremos da natureza que podem desencadear
os desastres naturais, aqueles que estão relacionados ao clima e tempo1 têm chamado a
atenção nas últimas décadas. Tem sido observado um crescente aumento do número de
desastres envolvendo estes fenômenos (Alcántara-Ayala, 2002; IPCC, 2007a; IPCC,
2012), preocupando sociedades por todo o mundo. Esta preocupação aumenta ainda
mais devido as evidências de que estes desastres estão relacionados, ao menos em parte,
às mudanças climáticas antrópicas que já se iniciaram devido ao aquecimento global e
que, por sua vez, estão relacionadas com a emissão de gases de efeito estufa (GEE) e
mudanças na cobertura da terra (IPCC, 2007a).
Segundo Rodriguez et al. (2009) e Guha-Sapir (2011), o número de desastres
naturais (de todos os tipos) têm crescido exponencialmente desde os meados do século
passado. Dados globais indicam que as ocorrências passaram de 200 por ano na década
de 1980, para 300 na década de 1990, atingindo uma média anual de 387 no período de
2000 – 2010, principalmente devido a expansão urbana e crescimento populacional,
onde a ocupação das áreas de risco se faz presente. O que chama a atenção é o fato de
76% do total destes desastres serem de origem hidrológica, meteorológica ou
climatológica, o que corresponde a 45% do total de número de mortes e 79% das perdas
econômicas causadas por desastres naturais (WAHLSTROM, 2009). Para o ano de
2008, duas bases de dados diferentes, uma proveniente do Centre for Research on the
Epidemiology of Disasters (CRED) e outra do Munich Re Data Service NATHAN -
apresentados por Rodriguez et al. (2009) e Gall et al. (2009), respectivamente -
indicaram uma proporção ainda maior, onde os desastres relacionados ao tempo e clima
corresponderam a 90% do total observado naquele ano, mesma porcentagem observada
por Guha-Sapir (2011) para o ano de 2010.
Esta tendência está de acordo com o previsto pelo 4º Relatório do Painel
Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, 2007a,b), que já apontava em 2007
um aumento na frequência e magnitude de eventos extremos como ondas de calor e frio,
1 Desastres relacionados ao clima e tempo: refere-se aos desastres climatológicos (provenientes de eventos
de longa duração, processos atmosféricos de meso e macro-escala, como ondas de calor), hidrológicos (provenientes
de alterações no ciclo da água, como cheias) e meteorológicos (decorrentes de eventos de curta duração, processos de
micro e meso-escala, como tempestades).
2
ciclones tropicais, tempestades severas, chuvas torrenciais e consequentes inundações,
ao redor de todo o mundo, devido ao aquecimento global.
Por outro lado, as variáveis socioeconômicas, institucionais e geoambientais de
cada região geográfica e os diferentes tipos de organizações sociais também possuem
um papel importantíssimo para a compreensão de como estes eventos extremos podem
desencadear em desastres. São essas características que determinarão as condições que
cada sociedade tem para receber e suportar, ou não, os impactos causados pelos eventos
extremos. Esta visão se torna mais clara ao pensar que todas as nações do mundo estão
susceptíveis, mesmo que em graus e tipos diferentes, a serem atingidos por eventos
extremos e, contudo, são os países em desenvolvimento e com alto índice de pobreza os
mais impactados.
McBean & Rodgers (2009) ressalvam que o número de vítimas dos desastres
(independente de sua natureza) para cada 100.000 habitantes é muito mais elevado em
países com alta densidade populacional e com pouca habilidade econômica para
responder aos impactos causados pelos desastres. O banco de dados globais de desastres
EM-DAT (Emergency Events Database) aponta que no período de 1900-2006 mais de
70% dos desastres ocorreram em países em desenvolvimento. Estas características
refletem as vulnerabilidades inerentes aos processos de crescimento populacional e
expansão urbana desordenada que expõem, cada vez mais, os sistemas humanos
ao risco. O Relatório Especial do IPCC (2012) tem enfoque nos riscos dos eventos
extremos e desastres naturais e indica que no período de 1970-2008, 95% das mortes
causadas por desastres ocorreram em países em desenvolvimento (IPPC, 2012).
Normalmente, os países em desenvolvimento, sobretudo os mais pobres,
apresentam grande escassez em medidas preventivas, sistemas de monitoramento e
alerta, preparação e treinamento da população em situações de emergência, além de
outras muitas deficiências em infraestrutura para as situações pós-desastre (resposta e
reconstrução). Todas estas vulnerabilidades, juntamente com a grande exposição ao
risco devido a um processo de ocupação territorial mal planejado (em áreas costeiras,
em regiões declivosas, em planícies inundáveis, etc.) e o uso degradante do solo,
favorecem para que estes países sofram, todos os anos, ao serem alvos de eventos
extremos que resultam em desastres (Alcántara-Ayala, 2002).
3
Os eventos extremos de curta duração como tempestades, chuvas torrenciais e
cheias dão condições para que, em um curto período de tempo, uma grande quantidade
de pessoas seja atingida, deixando-as desabrigadas/desalojadas e causando altos índices
de morbidez e mortalidade. Neste aspecto, as decorrentes inundações bruscas (flash
floods) são consideradas como um dos mais destrutivos destes eventos (Marengo, 2009;
Mcbean & Rodgers, 2009). Já os eventos extremos de longa duração, como longos
períodos de estiagem que induzem grandes secas, causam escassez na produção de
alimentos e consequente fome prolongada, levando a migração da população ou até
mesmo o colapso de comunidades locais (Mcbean & Rodgers, 2009), aumentando ainda
mais as disparidades socioeconômicas.
O Brasil, sendo um país em desenvolvimento e com características geográficas
peculiares e dimensões continentais, apresenta elevado grau de vulnerabilidade a
eventos extremos. Por um lado, a grande extensão do território brasileiro, localizado em
regiões tropicais, faz com que o país seja afetado por diferentes tipos de eventos
extremos climáticos que se desenvolvem na América do Sul e são altamente
influenciados por anomalias de temperatura da superfície do mar (TSM) no Oceano
Pacífico tropical (El Niño e La Niña), ou no Atlântico tropical e subtropical
(MARENGO, 2009). Por outro lado, as características socioeconômicas e institucionais,
a ocupação desordenada em centros urbanos, a falta de planejamento para o uso do solo
e escassez em setores de infraestrutura favorecem ainda mais a ocorrência dos desastres.
Diante deste complexo cenário de variáveis físicas e sociais, vem sendo constatado
aumento de desastres naturais no Brasil nos últimos anos. Dentre os mais significativos
pode-se citar o período prolongado de escassez de chuva em 2001, no Nordeste; o sem
precedente furacão Catarina no Sul, em 2004; a grande seca da Amazônia em 2005; as
intensas chuvas e inundações no Sul, em 2008 (sobretudo atingindo o Vale do Itajaí); o
inverno chuvoso de 2009 seguido das fortes chuvas no verão de 2010, no Sudeste
(sobretudo atingindo o Vale do Paraíba), bem como no verão de 2011 atingindo a
Região Serrana do Rio de Janeiro, entre outros. Seriam os desastres naturais que vêm
ocorrendo no Brasil, sinais das mudanças climáticas?
Para responder a esta questão, os itens seguintes deste trabalho apresentam diversas
informações e definições necessárias para compreender as relações existentes entre
clima, sociedade e ambiente, a fim de que possam ser tiradas conclusões a respeito dos
4
desastres naturais do Brasil e os efeitos que já estão evidenciados das mudanças
climáticas.
2 Desastres naturais: Conceitos e Definições
Valores anormais de um estado climático médio observado ao longo do tempo
são comumente chamados de "eventos extremos". Estes eventos ocorrem em escalas
temporais que variam de horas, dias e até mesmo milênios, sendo que os mais
importantes para as atividades humanas são os extremos de curto prazo (relacionados
com o tempo) e os de médio prazo (relacionados com o clima), pois são eventos com
potencial para causar impactos significativos (MARENGO, 2009). Os eventos extremos
de tempo e clima são também um aspecto integral da variabilidade climática, e sua
frequência e intensidade podem variar de acordo com a mudança climática (Marengo et
al. 2009a), seja ela natural (como El Niño e La Niña), ou induzida pelas ações
antrópicas. Ao se deslocarem para locais onde há qualquer tipo de atividade humana,
estes eventos criam uma condição de perigo (inundações, deslizamentos, entre outros)
que, dependendo das vulnerabilidades existentes, podem impactar seriamente sobre os
mesmos, ocasionando um desastre.
Para o termo “desastre natural” podem ser encontradas várias definições na
literatura. Algumas delas estabelecem limites mínimos de prejuízos financeiros que
devem ser causados e/ou uma quantidade mínima de pessoas atingidas para que os
impactos de um evento extremo caracterizem um “desastre” (Burton et al. 1978).
Entretanto, esta definição perde o sentido quando são levados em consideração os
diferentes níveis de preparação e estruturação das sociedades. Normalmente, nações
mais ricas apresentam uma robustez maior para responder rapidamente e sem grandes
dificuldades aos prejuízos financeiros ou humanos, enquanto outras nações mais
fragilizadas podem demorar anos ou décadas, podendo até mesmo entrar em colapso.
Diante dessa diversidade de conceitos, neste trabalho a definição utilizada será
baseada em Alexander (1993) e Tonbin & Montz (1997), em que os desastres naturais
são conceituados como: o resultado de eventos naturais intensos ou extremos que
atingem qualquer sistema social que não seja capaz de refleti-los, absorvê-los e/ou
amortecê-los, causando impactos significativos para a conservação do equilíbrio social,
econômico, físico, psicológico ou ambiental, sendo difícil a recuperação para a condição
5
existente antes da ocorrência do tal evento. Seus impactos dependerão das
vulnerabilidades existentes para cada indivíduo, propriedade ou grupo social atingido.
Entende-se por vulnerabilidade as características intrínsecas de um elemento e que
representa a propensão e/ou predisposição para que ele seja afetado adversamente
(IPCC, 2012). Na área de desastres, vulnerabilidade refere-se às situações e
características de uma pessoa ou grupo social que dificulte ter capacidade para
antecipar, lidar, resistir e responder aos efeitos adversos de um evento físico (Wisner et
al., 2004). Alguns tipos de vulnerabilidades são apresentados por Aysan (1994), como
se segue: econômica (falta de acesso a recursos/materiais); social (desintegração de
padrões sociais), organizacional (falta de um Estado forte e estruturas institucionais);
atitudinal e motivacional (falta de consciência pública); política (acesso limitado ao
poder e representação, corrupção); cultural (crenças e costumes), física (construções
frágeis e indivíduos fracos). De fato existem vários tipos de vulnerabilidade para os
sistemas humanos, mas Alcántara-Ayala (2002) ressalva que todas elas podem se
enquadrar nos quatro tipos principais: social, econômico, político e cultura. Já o termo
vulnerabilidade natural é utilizado para se referir a susceptibilidade de uma região ser
atingida por um determinado evento extrema natural e está muito ligada à localização
geográfica (Alcántara-Ayala, 2002). É necessário haver uma sobreposição entre a
vulnerabilidade natural e humana para que seja estabelecida a condição para a
ocorrência de desastres naturais (Figura 1).
Figura 1 - Componentes que levam a um desastre natural. Fonte: Alcátara-Ayala (2002)
6
Adger (2006) ressalta que vulnerabilidade para as mudanças climáticas também
está relacionada com as características do sistema e suas funções a respeito da
exposição, sensibilidade/percepção e capacidade adaptativa para estas mudanças.
A identificação das vulnerabilidades existentes, a nível local e regional, é
imprescindível, principalmente para que as mesmas sejam contornadas. Como ressalta o
IPCC (2012), a severidade dos impactos causados pelos extremos climáticos depende
fortemente do nível de exposição e das vulnerabilidades para cada um destes extremos.
No contexto de desastres naturais também se faz importante a definição do termo
resiliência, que é definida pelo IPCC (2012) como: a capacidade de um sistema e seus
componentes em antecipar, absorver, acomodar, ou se recuperar dos efeitos de um
perigo natural de uma maneira oportuna e eficiente, garantindo designadamente a
preservação, restauração e reorganização ou melhoria de suas estruturas essenciais, bem
como suas funções básicas que mantém o sistema em equilíbrio. Este termo também
aparece na literatura como o oposto da vulnerabilidade, com a diferença que a
resiliência está ligada diretamente com a capacidade de recuperação e da perpetuação
dos sistemas atingidos e, principalmente, de haver recombinações das estruturas e
processos envolvidos nos desastres e a renovação do sistema a partir das novas
oportunidades que são criadas após os impactos (Folke, 2006). Neste sentido, a
resiliência está diretamente relacionada com a capacidade adaptativa (Smit e Wandel,
2006) e permite um desenvolvimento contínuo que deve interagir com as mudanças
observadas.
3 Desastres Naturais no Brasil
Desastres relacionados a Eventos Extremos de Tempo.
Dentre os eventos extremos relacionados ao tempo que atingem o Brasil, os
extremos de precipitação são os mais preocupantes. São fenômenos caracterizados pela
alta velocidade com que se desenvolvem e se deslocam, muita vezes surpreendendo as
populações atingidas e causando inundações bruscas e movimentos de massa
(deslizamentos de encostas). Estes dois fenômenos correspondem aos perigos naturais
que ocasionam os mais frequente tipos de desastre natural do país, com 59% e 14% das
ocorrências entre 1900-2006, respectivamente (Marcelino, 2007).
7
Na grande maioria dos casos, as inundações bruscas ocorrem quando há
precipitações de grande volume de água, concentradas em um curto período de tempo
(> 25mm/h) (Doswell, 1996). Com a rápida saturação das camadas mais rasas do solo
ou atingindo grandes superfícies impermeabilizadas (como áreas urbanas, estradas,
sistema de drenagem etc.), grande parte deste volume precipitado não consegue se
infiltrar e se desloca superficialmente para os corpos d’água, elevando seus níveis.
Entretanto, a região onde ocorre a inundação pode ser divergente de onde ocorreu a
precipitação. Nestes casos, regiões à montante de um determinado local recebem a
chuva, de forma que o volume precipitado é acumulado à jusante, naqueles rios que
possuem mais contribuintes e nas partes mais planas dos vales. São estes os locais que,
normalmente, são mais impactados e, também por isso, a importância do monitoramento
em tempo real dos níveis fluviométricos. No Brasil é muito comum encontrar cidades
que se desenvolveram às margens de grandes rios, o que as torna altamente vulneráveis
a este tipo de fenômeno, principalmente aquelas mais próximas a regiões de serra, pois
são onde os efeitos chegam com maior rapidez (ex: Vale do Itajaí, Região Serrana do
Rio de Janeiro, Vale do Paraíba, entre outros). É importante ressaltar que as inundações
também podem ser favorecidas devido a uma estação ser mais chuvosa, onde os eventos
extremos não são mais chuvas torrenciais, mas sim, acumuladas (neste caso, são
considerados eventos extremos de clima). As inundações são responsáveis por perdas
econômicas de grande impacto, destruindo/danificando residências, comprometendo
bens de consumo, favorecendo a transmissão de doenças, sua força de arrasto pode
acarretar em mortes, além de um grande impacto potencial para as áreas agrícolas que
são inundadas.
Já os deslizamentos de terra são fenômenos mais pontuais, tanto na escala temporal
quanto na espacial. O peso da água precipitada que e se infiltra no solo causa uma
sobrecarga, além de alterar características geotécnicas do solo que podem desestabilizar
a encosta. Com a sobrecarga e o fluxo d’água subsuperficial, as condições de equilíbrio
(atrito estático) podem ser vencidas, fazendo com que parte da encosta ceda (Maciel,
2007). Declives acentuados e solos rasos (pouco espessos) são mais suscetíveis a este
fenômeno. A população atingida normalmente ocupa estes locais, por opção
(condomínios de alto padrão com vista privilegiada) ou exclusão (população
marginalizada, favelas), exatamente sob as encostas que cedem, ou logo abaixo das
8
mesmas. Em casos muito extremos, é possível que ocorram as chamadas “corrida de
detritos” (ou “corrida de lama”), onde o volume de água é tão grande que os leitos das
vertentes cedem, fazendo com que a água e solo se comportem como um fluído viscoso,
com imensa força de devastação e que podem levar árvores e rochas conforme se
deslocam. Um exemplo deste fenômeno ocorreu no início de 2011, atingindo a Região
Serrana do Rio de Janeiro, considerado o maior desastre climatológico e geotécnico do
Brasil, com 890 mortes e cerca de 35mil pessoas desabrigadas (ABMS, 2011).
É importantíssimo ressaltar que para estes dois tipos de desastres, existem outros
fatores deflagradores ligados aos processos antrópicos que são de extrema importância
para a ocorrência dos desastres. Para as inundações, os principais fatores são: a
devastação das matas ciliares dos rios, a supressão da mata nativa próxima as nascentes
e o uso degradante do solo, que favorecem para que uma quantidade maior de
sedimentos chegue até os corpos d’água. Este processo causa o assoreamento dos rios,
diminuindo a espessura da sua calha e, consequentemente, sua vazão, facilitando a
ocorrência das inundações.
No caso dos movimentos de massa, cortes irregulares das encostas, processos
erosivos na base dos taludes, sistemas de drenagem de águas pluviais mal planejados e,
principalmente, a sobrecarga devido a construções em áreas de risco são os principais
indutores, pois aumentam a instabilidade das encostas.
Além dos desastres causados pela água precipitada em eventos extremos, o Brasil é
atingido por tempestades severas e vendavais que também trazem prejuízos para a
sociedade através da força do vento e de raios (muitas vezes estes eventos também
causam inundações e escorregamentos). Nestes casos, as ações antrópicas não
interferem, pelo menos diretamente, como indutores dos perigos naturais que podem
levar até a condição de desastre. No Brasil, as tempestades e vendavais (somente
considerados os efeitos do vento e raios), causam prejuízos de menor escala,
relacionados com destelhamento de residências, quedas de postes e árvores e, quando
mais severos, afetam a rede de distribuição de energia elétrica, causando interrupções na
distribuição, raramente causando mortes (Castro, 2002). Se acompanhado de granizo,
carros e construções também sofrem avarias, tendo potencial também de ferir pessoas.
Raramente no Brasil estes eventos causam impactos ao ponto de serem considerados
desastres. Entretanto, mesmo que uma única vez, o Brasil foi alvo de um ciclone
9
tropical do Atlântico Sul, com ventos atingindo velocidades de um furacão de categoria
1, popularmente e erroneamente chamado de “Furacão Catarina”. Não havendo
precedentes na história, o ciclone atingiu a região Sul do país surpreendentemente em
Março de 2004, causando grandes prejuízos. Segundo os dados do Departamento
Estadual da Defesa Civil de Santa Catarina apresentados por Cunha et al. (2004), cerca
de 1.500 imóveis foram destruídos, 39.000 foram danificados, 2.600 pessoas ficaram
desabrigadas, sendo que outras 27.500 foram desalojadas, havendo apenas 3 mortes e
cerca de 500 feridos, além da devastação de plantações de diversas culturas. As
estimativas do prejuízo total causado pelo ciclone chegaram a 1 bilhão de dólares
(Pezza & Simmonds, 2005). Na mesma época do ano (Março) de 2010, um segundo
ciclone tropical – batizado de “Anita” - foi oficialmente documentado próximo a costa
brasileira, no Atlântico Sul. Entretanto, não se aproximou tanto do continente ao ponto
de causar impactos. Esta tempestade tropical alertou novamente os meteorologistas,
cientistas e a sociedade como um todo sobre este novo tipo de evento extremo
observado na região e que traz altíssimo potencial de destruição, principalmente devido
à falta de estruturação contra eventos deste tipo.
Desastres Relacionados a Eventos Extremos do Clima.
Os eventos extremos de clima no Brasil que causam desastres são aqueles que se
desenvolvem em médio prazo, onde o excesso ou déficit de precipitação podem causar
inundações graduais (cheias) ou “secas”, respectivamente. Estes eventos são
caracterizados por anomalias no regime de precipitação sazonal, acompanhados por
relativas altas de temperatura devido a anomalias de TSM no Oceano Pacífico (El Niño
e La Niña), ou no Atlântico Tropical ou subtropical (MARENGO, 2009). Nos últimos
anos, destacaram-se alguns eventos na Amazônia, como a grande seca em 2005, as
enchentes de 2008, a segunda maior cheia já registrada do Rio Negro, em 2009
(Tomasella at al. 2010), sendo que a maior delas ainda está correndo em 2012; além dos
recorrentes casos de secas e cheias no Nordeste e Sul do país.
Do ponto de vista meteorológico, a “seca” é definida por um período anômalo de
estiagem prolongada, causando redução sustentada das reservas hídricas existentes
(Campos, 2008). Entretanto, algumas outras definições são encontradas na literatura,
como apresenta Magalhães e Glantz (1992), referindo-se à acentuada redução dos totais
10
pluviométricos anuais da região; sendo que uma “grande seca” (evento extremo) ocorre
quando os totais anuais de chuvas não atingem 50% das normais climatológicas para
uma fração significativa de uma determinada região. Contestando esta ideia e utilizando
o Semi-Árido do Nordeste como exemplo, Nobre e Melo (2001) afirmam que mesmo
em anos nos quais os totais pluviométricos anuais são próximos à média histórica, a
distribuição temporal das chuvas durante a estação chuvosa pode afetar
substancialmente os recursos hídricos e a agricultura. Nestes casos, a pluviometria
diária é bem distribuída temporalmente e causa pouco escoamento superficial, ou então
períodos de estiagem prolongados intercalam-se com episódios de precipitações mais
intensas, mantendo-se a média.
Já na visão socioeconômica, a seca, na condição de evento extremo e oferecendo
perigo a sociedade e suas atividades, depende muito mais das vulnerabilidades dos
grupos sociais afetados que das condições climáticas (Castro, 2002). Consenso entre as
definições é que nas secas há a diminuição da disponibilidade de água devido à falta ou
má distribuição das chuvas, diminuição considerável da umidade do solo, aumento da
evapotranspiração, efeitos estes que podem trazer grandes prejuízos socioeconômicos
para as populações e atividades humanas das regiões atingidas.
No Brasil, o setor da agricultura é altamente impactado com este tipo de evento, de
modo que as atividades agrícolas podem chegar a ser devastadas. Este cenário piora
ainda mais em algumas regiões onde há alta degradação e empobrecimento e
degradação do solo (como no Semi-Árido do Nordeste). Quando há persistência da
redução da precipitação nestas áreas, lagos e rios chegam a secar e aqueles que
“sobrevivem” têm sua vazão drasticamente diminuída. Com isso, o abastecimento de
água potável é reduzido, dificultando as opções de conservação e, havendo o consumo
para a manutenção vital, as reservas de água potável podem se esgotar (Marengo, 2009).
Em casos extremos, sobretudo em regiões mais pobres, a dependência econômica da
agricultura é tão grande (vide o Nordeste) que pode haver migração para outras regiões.
Outro setor altamente impactado no Brasil é o de geração de energia, devido ao
fato de 90% de nossa matriz ser proveniente de fontes hidrelétricas. O verão e outono de
2001, por exemplo, teve uma queda drástica no volume de chuva precipitado, fazendo
com que houvesse redução significativa dos rios no Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste
do Brasil e, consequentemente, diminuiu a capacidade de produção energética. Com o
11
verão extremamente quente e seco, o consumo de energia foi elevado devido ao
aumento do uso de ar condicionado e sistemas de refrigeração, fazendo com que os
níveis dos reservatórios destinados a produção de energia elétrica diminuíssem
(Cavalcanti & Kousky, 2004). Iniciou-se então uma crise energética que forçou o
governo a tomar medidas drásticas de racionamento de energia, para que não houvesse
interrupção no fornecimento de energia do país. Além destes impactos, os períodos de
seca estabelecem condições propicias para a ocorrência de incêndios, embora a maioria
das causas iniciais destes incêndios esteja relacionada a ações e práticas antrópicas
(Castro, 2002).
O Brasil também sofre com as inundações graduais, que ocorrem quando há o
transbordamento dos limites normais de um córrego, rio ou outro corpo de água, ou o
acúmulo de água sobre áreas que não são normalmente submersas, ao longo de uma
estação chuvosa (IPCC, 2012). As principais causas de inundações deste tipo para o
Brasil estão relacionados com regimes de longa duração da precipitação ou, em casos
mais raros, com a ruptura de barragens (embora neste último caso as inundações se
propagam rapidamente, suas causas devem-se ao acúmulo de água durante períodos
chuvosos). Assim como as inundações rápidas, também são afetados por condições de
drenagem da bacia, tais como níveis de água nos rios, características e condições do
solo (conteúdo de umidade e distribuição vertical), urbanização e a existência de diques,
barragens e reservatórios (Bates et al., 2008). Mudanças físicas no clima mudam muitos
dos fatores que afetam a inundações (por exemplo: temporalidade, distribuição e
magnitude da precipitação, teor de umidade do solo e vegetação) e, consequentemente,
podem alterar as características das inundações. Obras de engenharia, tais como diques
e reservatórios de regulação de fluxo e alterações no uso da terra também podem afetar
nas ocorrências de inundações graduais. Por conseguinte, a avaliação das causas das
mudanças na cheias é complexa (IPCC, 2012).
4 Eventos Extremos e as Mudanças Climáticas no Brasil
As mudanças climáticas devido ao aquecimento global podem influenciar nos
extremos de clima e tempo alterando sua frequência, intensidade, distribuição espacial,
duração, sincronismo entre eventos e resultar em condições extremas até mesmo nunca
12
antes observadas (IPCC, 2012). As mudanças em extremos podem estar ligadas a
alterações na média, variância e/ou forma da distribuição de probabilidade de ocorrência
dos mesmos (Figura 2), mas identificá-las não é uma tarefa simples.
Figura 2 – Efeitos das mudanças na distribuição de extremos, exemplos para a temperatura. Diferentes mudanças em distribuições de temperatura e seus efeitos sobre os valores extremos das distribuições: (a) os efeitos de uma simples mudança de toda a distribuição para um clima mais quente, (b) os efeitos de um aumento da variabilidade de temperatura, sem mudança na média, (c) efeitos de uma forma alterada da distribuição que, neste exemplo, assimetria para a parte mais quente da distribuição. Fonte: IPCC, 2012.
No quarto relatório (AR-4) publicado pelo IPCC (2007a), foram apresentadas
evidências de alterações na frequência e magnitude em eventos extremos, a partir de
dados observacionais desde 1950. Entretanto, o grau de confiabilidade a respeito de
como estas mudanças e suas tendências ocorrem a nível global e, principalmente,
regional depende diretamente da qualidade, quantidade e da disponibilidade dos dados
históricos para avaliar cada tipo de extremo em específico (IPCC, 2012). A análise mais
complexa é a da precipitação extrema, devido ao baixo grau de correlação com os
eventos de precipitação (Marengo et al. 2009). Assim, estimativas confiáveis de
tendências em eventos de precipitação extrema são possíveis somente para regiões com
redes densas, que permaneçam estáveis ao longo do tempo. Para o Brasil, a
disponibilidade de dados varia conforme as regiões, tanto em qualidade quanto a sua
distribuição espacial. A costa Leste do país, onde se concentra a maior parte da
população, possui uma boa base de dados, enquanto no Centro-Oeste e grande parte da
Amazônia os dados são mais escassos (detalhes em Groisman et al. 2005). Além disso,
o número de estudos que avaliam historicamente as mudanças climáticas e eventos
extremos de clima e tempo para o Brasil é relativamente pequeno, destacando-se
Liebmann (2001), Carvalho (2002), Vincent et al. (2005), parte de Groisman et al.
(2005), Haylock et al. (2006) e Marengo et al. (2009b).
13
O aquecimento global pode interferir na ocorrência de eventos extremos devido à
aceleração do ciclo hidrológico e da dinâmica da água na atmosfera. Durante os últimos
50 anos, o Brasil teve um aquecimento médio de 0,7 ºC, valor este mais elevado que a
melhor estimativa do aumento médio global fornecido pelo IPCC (2007a), de 0,64 ºC.
Esta variação da temperatura na superfície não acontece de forma homogênea, de forma
que há locais com incrementos maiores ou onde se manteve estagnada. No Brasil as
variações observadas entre 1979-2005 estão apresentadas na Figura 3 (IPCC,2007a).
Figura 3 – a) Mudanças de temperatura da superfície de 1901 a 2005 e b) Mudanças de temperatura da superfície de 1979 a 2005. Tendência linear sazonal MAM, JJA, SON e DJF da temperatura de 1979 a 2005 (°C por década). Tendências significantes no nível 5% são indicadas por “+”. Fonte: IPCC (2007a).
Este aumento de temperatura faz com que uma maior quantidade água seja
evaporada, aumentando os níveis de umidade na atmosfera. Além disso, pela relação de
Clausius-Capeyron, um acréscimo na temperatura aumenta a pressão de saturação do
vapor d’água, o que permite que mais umidade se acumule (Wentz, 2007). Com o
aumento da pressão de saturação do vapor e mantendo constantes os demais fatores,
mais processos dinâmicos podem ocorrer e, consequentemente, acarretar em eventos
extremos com maior frequência e intensidade (Marengo, 2009; IPCC, 2012; Wentz,
2007).
Devido à variabilidade do incremento da temperatura na superfície, há também
mudanças nos fluxos de umidade. Consequentemente, regimes sazonais de precipitação
e o total de chuva acumulado anualmente também podem sofrer mudanças. Groisman
(2005), por exemplo, encontrou evidências significativas a respeito de mudanças no
regime anual de precipitação e extremos para três regiões do Brasil durante o século
14
XX, conforme apresentado na Figura 4. Através dos dados utilizados, a média das
chuvas consideradas muito fortes representam 0,3% das chuvas anuais e são eventos
com intensidade acima de 100, 95 e 120mm respectivamente, com período de retorno de
3 a 4 anos. Para as três regiões, houve um aumento significativo de ocorrência das
chuvas muito fortes. No Nordeste houve um aumento de 40% no período relativo a
1900-2001, mas todo esse aumento ocorreu na primeira metade do século XX. Para as
outras regiões destaca-se o aumento sistemático principalmente a partir de 1940, onde
São Paulo obteve um aumento de 58%.
Figura 4 - Precipitação anual (linhas sólidas) e frequência de chuvas extremas (linhas tracejadas) ao longo de três regiões do Brasil, Uruguai e Argentina e áreas adjacentes no Paraguai (regiões hachuradas no mapa). Fonte: Groisman (2005).
Para o Brasil existem outros estudos que analisaram as alterações nos extremos de
chuva durante o século XX. Vicente e Nunes (2004), por exemplo, observaram que em
Campinas (SP) o número de dias com fortes chuvas (>50 mm/h) tem aumentado
consideravelmente, passando de aproximadamente 12 dias/ano nas décadas de 60 e 70,
para mais de 25 dias/ano na década de 80 e 90 Um padrão similar também foi
encontrado para a região metropolitana de Curitiba (PR). Nessa região os índices de
precipitação demonstram uma mudança comportamental a partir da década de 70, com
uma elevação significativa no número de dias com precipitações acima de 40 mm/h
(Silva e Guetter, 2003). Em Santa Catarina, também foi observado um aumento
considerável de inundações bruscas a partir da década de 90, quando os registros
15
ultrapassaram a média de 23 casos/ano para o período 1980-2003 (Marcelino et al.,
2004). Porém, o IPCC (2012) afirma que, embora existam estudos locais baseados em
observação e argumentos físicos plausíveis a respeito de como o aquecimento global
(antrópico) pode interferir nas mudanças nos extremos de chuva, ainda faltam
evidências concretas para identificar o quanto destas alterações é atribuído à
variabilidade natural e o quanto é devido à emissão de GEE, principalmente a nível
regional.
No caso das inundações rápidas e deslizamentos de terra, as incertezas são devidas,
principalmente, as interferências antrópicas no meio ambiente como agentes
deflagradores, que tem grande contribuição para a ocorrência dos mesmos. Desta forma
o IPCC (2012) afirma que existem poucas evidências para avaliar se as mudanças
climáticas são responsáveis pelo aumento na freqüência e magnitude dos desastres . Por
mais que haja a probabilidade (nível médio de confiança) do aquecimento global
antrópico contribuir para aumento dos extremos de precipitação, ainda há uma escassez
de dados históricos e atuais, e também espacialmente, para que haja evidências mais
significativas quanto aos desastres.
O IPCC (2012) também afirma que há pouca confiança a respeito de alterações
observadas nas tendências de secas para a América do Sul, em parte devido à falta de
dados e, em parte devido a algumas inconsistências. No caso da Amazônia, por
exemplo, embora tenham ocorrido repetidas secas intensas nas últimas décadas,
nenhuma tendência em particular foi relatada. No AR-4 já havia sido apontado que não
é provável que a influência antrópica nas mudanças climáticas tenham contribuído para
o aumento de secas a partir da segunda metade do século XX, devido aos mesmos
motivos a respeito dos dados, além das incertezas existentes sobre os feedbacks entre a
superfície-atmosfera e as interferências causadas pelas alterações do uso e cobertura do
solo (IPCC, 2012). Por outro lado, as mudanças nos padrões de temperatura e
precipitação global, tanto para as observações quanto simulações de modelos, tem sido
coerente com a compreensão teórica da resposta hidrológica ao aquecimento global,
onde as regiões úmidas tornam-se mais úmidas e regiões secas tornam-se ainda mais
secas em um mundo em aquecimento (Held e Soden, 2006). Resumidamente, o IPCC
(2012) indica que devido às alterações observadas nos padrões de temperatura e
precipitação (não exatamente para todas as variáveis que estabelecem a situação de
16
seca) há um nível médio de confiança a respeito das mudanças climáticas (antrópicas)
estarem aumentando a ocorrência e magnitude das secas a nível global. Além disso,
para análises em regiões individuais, as incertezas são ainda maiores, caracterizando um
nível baixo de confiança. Para as inundações graduais, as incertezas e evidências
apresentadas pelo IPCC (2012) são praticamente as mesmas que para as secas,
adicionando-se as interferências causadas por obras de engenharias que podem tanto
favorecer quanto conter as inundações graduais (diques e reservatórios) e interferências
no meio ambiente (mudanças no uso e cobertura da terra, principalmente) que não
aparecem claramente nos registros históricos ao ponto de poder diferenciar as análises
para estes casos.
Consenso na comunidade científica é que as alterações na ocorrência de eventos
extremos da precipitação no Brasil (tanto eventos severos, máximas e déficits hídricos)
possuem fortes ligações com as variações na média da temperatura da superfície do mar
(TSM), principalmente do Atlântico Norte e Pacífico Equatorial (Haylock et al. 2006)
decorrente tanto dos eventos ENSO ou anomalias na TSM em anos sem estes eventos,
as quais não possuem evidências claras sobre suas causas. Por exemplo, as grandes
secas na Amazônia em 1925-26, 1982-83 e 1997-98 estiveram fortemente relacionadas
com intensos eventos ENSO, sendo que a grande seca de 2005 não. Para este caso,
Marengo et al. (2008) encontraram evidências de que a seca esteve ligada a anomalias
nas diferenças na TSM entre o Atlântico Tropical Norte e Sul, que chegou a ser de
1,2°C, e possivelmente relacionada à oscilação interdecadal da TSM no Atlântico Norte.
Porém, Trenberth e Shea (2006) estudaram a intensa temporada de furacões, que
também ocorreu em 2005 no Atlântico Norte, e afirmam que pelo menos 0,5°C das
anomalias recordes na TSM neste oceano devem-se ao aquecimento global ocorrido
durante o último século, o que indica, mesmo que indiretamente, que parte destes
extremos relacionados a estas anomalias da TSM possuem interferências das mudanças
climáticas antrópicas.
5 Discussão: Desastres x Mudanças Climáticas no Brasil
Diante do conteúdo apresentado anteriormente, é possível notar que ainda existem
muitas incertezas a respeito das relações entre as mudanças climáticas antrópicas e os
17
eventos extremos de clima e tempo que podem desencadear a situação de desastre
natural. Existe uma boa argumentação teórica a sobre o aumento destes eventos e da
resposta hidrológica ao aquecimento global, e existe consistência desta relação em
regiões com longos registros de dados. A maioria das incertezas apontadas pelo IPCC
(2012) é a nível global e tornam-se ainda maiores para a escala continental e regional.
Para o Brasil, estas evidências não estão nítidas devido ao fato de algumas regiões,
como o Centro-Oeste e Norte do país, não possuírem uma boa base de dados em tempo
e espaço. Além disso, o Brasil possui um histórico recente de crescimento populacional
e econômico que ainda faz parte de seu processo de desenvolvimento, fato este que
induz muitas alterações quanto ao uso e cobertura do solo que estão intimamente ligadas
aos processos que compõem as situações de desastres.
Por outro lado, existem estudos que apresentam constatações bem evidenciadas de
mudanças climáticas que ocorreram durante o último século, sobretudo que favorecem o
aumento de eventos extremos (e.g. Groisman, 2005). Porém, ainda não está claro o
quanto destas mudanças é devido às ações antrópicas que interferem na composição da
atmosfera (emissão de GEE e mudanças da cobertura do solo). Ou seja, mesmo que
analisando somente a parte física (clima e tempo) dos desastres naturais, ainda não seria
possível atribuir a causa dos desastres às mudanças climáticas antrópicas.
Esta análise se torna ainda mais dificultosa para as inundações bruscas e
deslizamentos de terra. Por um lado, os desastres causados por estes tipos de perigos
naturais dependem exclusivamente de eventos severos relacionados às chuvas, os quais
possuem as maiores incertezas devido ao baixo grau de correlação com os eventos de
precipitação (Marengo et al. 2009). Por outro lado, existem muitas interferências devido
a processos antrópicos que alteram o ambiente e favorecem a ocorrências destes
fenômenos, os quais não estão bem documentados e tornam a análise ainda mais
complexa. Esta sobreposição de fatores climáticos e alterações no ambiente (e.g.
assoreamento dos rios, impermeabilização de grandes áreas, sobrecargas em encostas,
processos erosivos, etc.) têm ocorrido juntamente aos processos de expansão urbana
que, devido às grandes diferenças sociais, tem exposto populações ao risco, sendo esta
exposição um dos principais fatores causais da ocorrência dos desastres (alta
confiabilidade) (IPCC, 2012).
18
Assim como as inundações rápidas, as ocorrências de inundações graduais (cheias)
também sofrem interferências antrópicas causadas no ambiente. Entretanto, para estes
casos, existem fortes relações, bem evidenciadas, com os eventos ENSO, além de
oscilações da TSM no Atlântico Norte em anos sem eventos ENSO. Estas mesmas
relações também estão evidenciadas para as ocorrências das secas que ocorrem no
Brasil. Porém, nestes casos, para tomar proporções de um “desastre natural”, as secas
dependem diretamente das características sociais e econômicas das populações afetadas.
A partir destes argumentos, portanto, ainda não é possível atribuir as causas dos
desastres naturais que vêm ocorrendo no Brasil diretamente às mudanças climáticas
antrópicas. Porém, tem sido observadas alterações quanto aos eventos extremos de
clima e tempo que tornam os cenários mais suscetíveis aos desastres naturais (ex:
regiões secas tornando-se ainda mais secas, maior número de eventos severos, aumento
da magnitude dos mesmos etc.). Entretanto, a componente humana ligada à causalidade
dos desastres está melhor evidenciada nos processos sociais que determinam a
exposição da população e suas atividades ao risco e suas vulnerabilidades do que na
componente climática. Ou seja, por mais que os padrões climáticos se mantivessem
inalterados no Brasil, devido às questões socioeconômicas e institucionais, que expõem
uma parcela da população ao risco e, também, devido à contínua degradação ambiental,
haveria o aumento da ocorrência dos desastres.
Além disso, muitos desastres ocorridos no Brasil, sobretudo os que envolvem
eventos extremos de tempo, poderiam ter sido evitados ou minimizados se houvesse um
melhor gerenciamento dos riscos existentes (por exemplo, mapeamento das áreas
vulneráveis e retirada da população em risco), bem como a expansão da rede de
monitoramento e alerta de eventos severos articulados com a Defesa Civil, além de
muitas outras políticas públicas e investimentos que podem ser implementadas caso
houvesse a identificação das vulnerabilidades em nível local e regional. Aliás, com
exceção do caráter único do Ciclone Catarina que atingiu o Sul do País em 2004, cada
localidade e região possui um histórico de desastres que sofreu ao longo de seu
desenvolvimento (mesmo que não seja na mesma frequência e magnitude atual), ao
ponto de ser possível estabelecer medidas preventivas e de preparo no longo prazo.
Como exemplo pode-se destacar o caso do maior desastre natural climático-
geotécnico ocorrido no Brasil, na Região Serrana do Rio de Janeiro, no início de 2011.
19
Nos últimos 25 anos esta região já tinha sido atingida por episódios notórios de
inundações e deslizamentos de terra em 1987, 1988, 1999, 2000, 2003 e 2007 e, ainda
assim havia grande parte da população residindo em áreas de risco, tanto nas encostas
declivosas quanto na base dos morros (UFSC, 2011). Esta contínua ocupação em áreas
de risco mesmo após alguns desastres representa a baixa resiliência local, ao ponto que
o conhecimento adquirido com o histórico dos desastres não foi aproveitado. Para o
desastre de 2011, uma frente fria estacionada no litoral da região Sudeste foi
responsável pelos altos índices pluviométricos, que segundo o INMET chegou a
182,8mm em Nova Friburgo. Esta frente fria estava associada à Zona de Convergência
do Atlântico Sul (ZCAS), canal de umidade e calor originário da área tropical da
Amazônia (GEBRIM, 2011). Ou seja, além da falta de políticas públicas para diminuir a
exposição ao risco da população que se manteve nas áreas vulneráveis por décadas, foi
observada a falta de articulação entre sistemas de previsão, monitoramento e alerta que
poderiam ter sido acionados, pois, muito provavelmente, teria sido identificada a
probabilidade de ocorrência destes eventos extremos. O intrigante é que estas
vulnerabilidades estavam presentes em uma das regiões histórica e economicamente
mais importantes do Estado do Rio de Janeiro (Petrópolis, Teresópolis e Nova Friburgo
principalmente) e do país, fato este que traz preocupações com outras regiões que não
são tão visadas e tem menos capacidade (vulnerabilidade econômica) para
investimentos nestes setores.
De qualquer forma, as evidências anteriormente citadas referentes aos eventos
extremos, bem como as definições e exemplos apresentados mostram que tanto a
exposição ao risco, as vulnerabilidades, a capacidade de recuperação e resiliência
caracterizam os desastres naturais, fundamentalmente, como uma “construção social”, a
partir de escolhas e limitações sociais (IPCC, 2012). Isto é importante de ser ressaltando
em países como o Brasil ao invés de simplesmente atribuir as causas dos desastres à
“naturalidade” dos eventos, pois o déficit educacional e o acesso ao conhecimento
dificultado por parte de grande parte da população não permite essa sensibilidade.
Consequentemente não há cobrança da sociedade sobre os governos e instituições,
atrasando o processo adaptativo. Esta elucidação, portanto, é capaz de trazer
explicitamente o reconhecimento dos elementos políticos, econômicos, social, cultural,
20
físico e psicológico ou qualquer outro determinante de risco a respeito de como são
“gerados” os impactos extremos que levam até a situação de desastre.
Portanto, os desastres naturais que ocorrem no Brasil não são apenas sinais de
mudanças climáticas antrópicas (mesmo havendo pouca confiabilidade, conforme
apresentado), mas representam, acima de tudo, sinais da necessidade de mudanças de
paradigmas na forma de reconhecer estes eventos e, principalmente, de como as políticas
públicas deve tratá-los. Por fim, seguindo esta linha de raciocínio e as evidências científicas
de intensificações das mudanças climáticas futuras (IPCC, 2007a,b), o gerenciamento dos
riscos existentes se faz ainda mais importante e deve ser tratado com caráter emergencial no
Brasil, uma vez que várias regiões do país apresentam diferentes vulnerabilidades a eventos
extremos, independente das mudanças climáticas ocorrerem ou não.
Referências Bibliográficas
ABMS – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE MECÂNICA DO SOLO. 2011. Região Serrana do Rio de Janeiro: Lições de nossa maior tragédia. Disponível em: <www.abms.com.br> Acessado em: 08 de maio de 2012. ADGER, W. N. 2006. Vulnerability. Global Environmental Change, v. 16, n. 3, pp. 268-281. ALEXANDER, D. (1993). Natural Disasters. New York. Chapman & Hall. 633p. BATES, B.C., KUNDZEWICS, Z.W.; WU, S.; PALUTIKOF, J.P. 2008: Climate Change and Water. Technical Paper of the Intergovernmental Panel on Climate Change. IPCC Secretariat, Geneva, Switzerland, 210 pp. CAVALCANTI, I. F. A., KOUSKY, V. 2004. Drought in Brazil During Summer and Fall 2001 and Associated Atmospheric Circulation Feature, Climanalise, 2(1). 1-10. CAMPOS, J. N. B.; STUDART, T. M. C. 2008. Secas no Nordeste do Brasil: origens, causas e soluções. Universidade Federal do Ceará. CARVALHO, L. M. V.; JONES, C.; LIEBMANN, B. 2002: Extreme precipitation events in southeastern South America and large-scale convective patterns in the South Atlantic convergence zone. Journal of Climate, 15, 2377–2394 CASTRO, A. L. C. Glossário de Defesa Civil: estudos de riscos e medicina de desastres. Ministério da Integração Nacional. Secretaria Nacional de Defesa. Brasília – DF, 2002, 3° Edição, 283 p CUNHA, G. R. da; PIRES, J. L. F.; PASINATO, A. 2004. Uma discussão sobre o conceito de hazards e o caso do furacão/ciclone Catarina. Passo Fundo: Embrapa Trigo, 2004. 13 p. Disponível em: < http://www.cnpt.embrapa.br/biblio/do/p_do36.htm> Acesso em: 9 de maio de 2012.
21
DOSWELL, C. A.; BROOKS, H. E., MADDOX, R. A. 1996. Flash food forecasting; an ingredients-based methodology. Weather and Forecasting. v. 11, p. 560-580. EM-DAT – Emergency Events Database. The OFDA/CRED International Disaster Database. Disponível em: <www.em-dat.be> Acessado em: 06 de maio de 2012. FOLKE, C. 2006 Resilience: The Emergence of a Perspective for Social-Ecological Systems Analyses. Global Environmental Change 16: 253-267. GALL, M.; BORDEN, K.A.; CUTTER, S.L. 2009. When do losses causes? Six fallacies of natural hazards loss data. Bulletin of the American Meteorology Society. vol. 90, p. 799-809. GEBRIM, S. Frente fria no litoral da região, associada a ondas de calor, resulta em altos índices pluviométricos. 2011. Disponível: <http://www7.cptec.inpe.br/noticias/noticia/15778> Acessado em: 17 de Maio de 2012. GROISMAN. P. Y.; KNIGHT. R. W.; EASTERLING. D. R.; KARL, T. R.; HEGERL, G. C.; RAZUVAEV, V. N. 2005. Trends in intense precipitation in the climate record. Journal of Climate. 18. 1326– 1350. GUHA-SAPIR, D.; VOS, F.; BELOW, R.; PONSERRE, S. 2011. Annual Disaster Statistical Review 2010: The Numbers and Trends. Bruxelas: CRED. 42p. HAYLOCK, M. R. ; PETERSON, T. C. ; ALVES, L. M. ; AMBRIZZI, T. ; ANUNCIAÇÃO, M. T. ; BAEZ, J. ; BARROS, V. R. ; BERLATO, M. A. ; BIDEGAIN, M. ; CORONEL, G. ; CORRADI, V. ; GARCIA, V. J. ; GRIMM, A M. ; KAROLY, D. ; MARENGO, J. A. ; MARINO, M. B. ; MONCUNILL, D. F. ; NECHET, D. ; QUINTANA, J. ; REBELLO, E. ; RUSTICUCCI, M. ; SANTOS, J. L. ; TREBEJO, I. ; VINCENT, L. 2006. Trends in total and extreme South American rainfall 1960-2000and links with sea surface temperature. Journal of Climate, Estados Unidos, v. 19, n. 8, p. 1490-1512. HELD, I.M.; SODEN, B.J. 2006: Robust responses of the hydrological cycle to global warming. Journal of Climate, 19(21), 5686-5699. HEWITT, K. 1997. Regions of Risk: A Geographical Introduction to Disasters. Essex, United Kingdom:Longman. INTERGOVERNMENTAL PANEL ON CLIMATE CHANGE - IPCC (2007a). Climate Change 2007: The Physical Science Basis. Contribution of Working Group I to the Fourth Assessment Report of the Intergovernmental Panel on Climate Change Solomon, S., D. Qin, M. Manning, Z. Chen, M. Marquis, K. B. Averyt, M. Tignor and H. L. Miller Eds., Cambridge University Press, Cambridge, United Kingdom and New York, NY, USA, 996 pp. INTERGOVERNMENTAL PANEL ON CLIMATE CHANGE - IPCC. (2007b). Climate Change 2007: Impacts, Adaptation and Vulnerability. Contribution of Working Group II to the Fourth Assessment Report of the Intergovernmental Panel on Climate Change, M. L. Parry, O. F. Canziani, J. P. Palutikof, P. J. van der Linden and C. E. Hanson, Eds., Cambridge University Press, Cambridge, UK, 976 pp. INTERGOVERNMENTAL PANEL ON CLIMATE CHANGE – IPCC. 2012: Managing the Risks of Extreme Events and Disasters to Advance Climate Change Adaptation. A Special Report of Working Groups I and II of the Intergovernmental Panel on Climate Change [Field, C.B., V. Barros, T.F. Stocker, D. Qin, D.J. Dokken, K.L. Ebi, M.D. Mastrandrea, K.J. Mach,
22
G.-K. Plattner, S.K. Allen, M. Tignor, and P.M. Midgley (eds.)]. Cambridge University Press, Cambridge, UK, and New York, NY, USA, 582 pp. LIEBMANN, B.; JONES, C.; CARVALHO, L. M. V. 2001. Interannual variability of daily extreme precipitation events in the state of Sao Paulo, Brazil. Jourmal of Climate, 14, 208–218. MACIEL FILHO, C.L. 2007. Introdução à Geologia de Engenharia. 3ª Edição. CPRM/Editora da UFSM. MAGALHÃES, A. R., E M. H. GLANTZ. 1992: Socioeconomic impacts of climate variations and policy responces in Brazil. United Nations Environment Program (UNEP), Secretariat for Planning and Coordination State of Ceara (SEPLAN), Esquel Brasil Foundation, 155 pp. MARCELINO, E. V.; GOERL, R. F.; RUDORFF, F. M. 2004. Distribuição espaçotemporal de inundações bruscas em Santa Catarina (Período 1980-2003). In: Anais do Simpósio Brasileiro De Desastres Naturais, 2004. Florianópolis. GEDN/UFSC. p. 554-564 MARENGO J. A.; NOBRE, C.; TOMASELLA, J.; OYAMA, M.; SAMPAIO, G.; CAMARGO, G.; ALVES, L.; OLIVEIRA, R. 2008. The drought of Amazonia in 2005. Journal of Climate. v.21, p.495-516. MARENGO, J. A. 2009. Impactos de extremos relacionados com o tempo e o clima - Impactos sociais e econômicos. Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. Boletim do Grupo de Pesquisa em Mudanças Climáticas –GPMC, n.8, Edição Especial. 5p. MARENGO, J.A.; SCHAEFFER, R.; PINTO, H.S.; ZEE, D.M.W. 2009a. Mudanças climáticas e eventos extremos no Brasil. Rio de Janeiro: FBDS. MARENGO, J. A.; JONES , R.; ALVES, L. M.; VALVERDE, M. C. 2009b. Future change of temperature and precipitation extremes in South America as derived from the PRECIS regional climate modeling system. International Journal of Climatology. Published online in Wiley InterScience (www.interscience.wiley.com) DOI: 10.1002/joc.1863 MCBEAN, G.; RODGERS, C. 2009. Climate Hazards and Disasters: the need for capacity building. Wiley Interdisciplinary Reviews, v.1, n.6. p. 871-884. PEZZA. A. B. ; SIMMONDS. I. 2005. The first South Atlantic hurricane: Unprecedented blocking. low shear and climate change. Geophysical Research Letters. v. 32. p. 10.1029/2005GL0. RODRIGUEZ, J., F. VOS, R. BELOW, AND D. GUHA-SAPIR. 2009. Annual Disaster Statistical Review 2008 - The numbers and trends. Centre for Research on the Epidemiology of Disasters (CRED). Disponível em: <www.em-dat.be> Acessado em: 05 de Maio de 2012. SILVA, M. E. S.; GUETTER, A. K. 2003. Mudanças climáticas regionais observadas no estado do Paraná. Terra Livre, ano 19, v. 1, n. 20, p. 111-126. SMIT, B., WANDEL, J. 2006. Adaptation, adaptive capacity and vulnerability. Global Environmental Change 16 (3), 282–292.
23
TOMASELLA, J.; BORMA, L. S.; MARENGO, J. A.; RODRIGUEZ, D. A.; CUARTAS, L. A.; NOBRE, C. A.; PRADO, M. C. R. 2010. The droughts of 1996-1997 and 2004-2005 in Amazonia: hydrological response in the river main-stem. Hydrological Processes. Published online in Wiley Online Library (wileyonlinelibrary.com) DOI: 10.1002/hyp.7889 TONBIN, G. A. 2004. Natural Hazards: explanation and integration. Nova Iorque, The Guilford Press. 388p. UFSC - UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA. Centro Universitário de Estudos e Pesquisas sobre Desastres. Diretrizes em redução de riscos de desastres: região serrana do Rio de Janeiro. Florianópolis: CEPED UFSC, 2011. VINCENT, L.A., T.C. PETERSON, V.R. BARROS, M.B. MARINO, M. RUSTICUCCI, G. CARRASCO, E. RAMIREZ, L.M. ALVES, T. AMBRIZZI, M.A. BERLATO, A.M. GRIMM, J.A. MARENGO, L. MOLION, D.F. MONCUNILL, E. REBELLO, Y.M.T. ANUNCIAÇÃO, J. QUINTANA, J.L. SANTOS, J. BAEZ, G. CORONEL, J. GARCIA, I. TREBEJO, M. BIDEGAIN, M.R. HAYLOCK, D. KAROLY. 2005. Observed trends in indices of daily temperature extremes in South America 1960-2000. Journal of Climate, 18, 5011-5023 VICENTE, A. K.; NUNES, L. H. Extreme precipitation events in Campinas, Brazil. TERRÆ, v.1, n.1, p.60-62, 2004 WAHLSTRÖM M. 2009. (Assistant Secretary-General for Disaster Risk Reduction and Special Representative of the U.N. Secretary-General for the implementation of the Hyogo Framework for Action)—quoted. Addressing the Challenge: Recommendations and Quality Criteria for Linking Disaster Risk Reduction and Adaptation to Climate Change. DKKV Publication Series, 38:5. WENTZ, F. J. 2007. How Much more rain will global warming bring? Science 317, p. 233-237 WISNER, B., BLAIKIE, P.; CANNON, T.; DAVIS, I. 2004: At Risk, Natural Hazards, People’s Vulnerability and Disasters. Routledge, London, UK
top related