apresentação para décimo primeiro ano, aula 44

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Este excerto pertence ao capítulo III. A pretexto da visita/ida/chegada de Vilaça a Santa Olávia, temos em boa parte do capítulo uma série de informações acerca da educação de Carlos, que, mais do que narradas na 3.ª pessoa, nos surgem comentadas pelas personagens.

Além do momento que temos no trecho reproduzido na Antologia (180-181) — correspondente à chegada de Vilaça e imediata preparação para o jantar (que é muito mais cedo do que o procurador julgava) —, teremos outras peripécias que visam mostrar o tipo de educação de Carlos, contrastada com a de Eusebiozinho.

Ao jantar, ficamos a saber que Carlos ainda não sabia latim, mas consegue lidar com animais, fala inglês com o preceptor e tinha brigado com outros rapazes.

Vai seguir-se a cena em que, orientado por Brown, Carlos faz exercícios num trapézio, impressionando Vilaça, que ouvirá também o desconsolo do abade Custódio por Carlos não saber o catecismo.

Ao serão, com a presença das irmãs Silveira[s], ficam evidentes as diferenças entre Eusebiozinho e Carlos. Eusebiozinho tem prendas típicas da educação convencional (recita poemas ultra-românticos) mas, molengão e frágil, não aguenta as brincadeiras/tropelias de Carlos (cuja irreverência e «atraso» nas matérias tradicionais chocam D. Ana Silveira).

No parágrafo nas linhas 12-23, predomina o discurso indirecto livre. Para nos apercebermos das características desta maneira de reproduzir o diálogo, completa com o que corresponderia nos outros modos de relato do discurso:

Discurso directo:

— Vossa Senhoria, diz «mimos e mais mimos»? Coitadinho dele, que foi educado com uma vara de ferro! Se eu fosse a contar ao sr. Vilaça! Não tinha a criança cinco anos já dormia num quarto só, sem lamparina; e todas as manhãs, zás, para dentro de uma tina de água fria, às vezes a gear lá fora... E outras barbaridades.

Se não se soubesse a grande paixão do avô pela criança, havia de se dizer que a queria morta. Deus me perdoe, [eu, Teixeira,] cheguei a pensá-lo... Mas não, parece que é o sistema inglês. Deixa-o correr, cair, trepar às árvores, molhar-se, apanhar soalheiras, como um filho de caseiro.

E depois o rigor com as comidas! Só a certas horas e de certas coisas... E às vezes a criancinha, com os olhos abertos, a aguar! Muita, muita dureza. — desiludiu o Teixeira, muito grave, muito sério, Vilaça. / disse / retorquiu o Teixeira, muito grave, muito sério, desiludindo Vilaça.

Discurso indirecto:

Mas o Teixeira, muito grave, muito sério, desiludiu Vilaça, retorquindo-lhe que Carlos não era mimado e que o coitado fora educado com uma vara de ferro. Disse ainda que se fosse a contar a Vilaça como fora a educação de Carlos este se surpreenderia muito.

directo > indirecto livre

• Vossa > Sua

• diz > dizia

• foi > tinha sido

• eu > ele• me perdoe > lhe perdoe

• cheguei > chegara

• é > era

• deixa-o > deixava-o

Não é discurso indirecto puro [gramatical]: • ausência do «que» e ausência [de reforço] dos

verbos introdutores («E outras barbaridades.»)• manutenção de marcas de oralidade ou

idiossincrasias da linguagem («mimos e mais mimos»; «coitadinho»; «senhor administrador»; «zás»; ...)

• manutenção de pontos de interrogação, de exclamação; de reticências

• manutenção de tempo («Deus lhe perdoe», por «Deus lhe perdoasse»)

O trajeto de Pedro da Maia, como o de Carlos da Maia e o de Eusebiozinho são fortemente condicionados por fatores educativos. Crescendo na Inglaterra, Pedro escapa, por vontade da mãe, à influência pedagógica da sociedade inglesa e é confiado ao padre Vasques;

no tempo de Carlos, parece prolongar-se ainda este tipo de educação, quando observamos o comportamento e o aspeto físico de Eusebiozinho, em Santa Olávia. E, contudo, Afonso da Maia, como que procurando afastar de Carlos os estigmas que haviam destruído Pedro, adota um modelo educativo britânico regido pelo precetor Brown:

em vez do latim e da cartilha defendidos pelo abade Custódio, a educação de Carlos privilegia agora o exercício físico e o contacto com a natureza, o que confere à criança um vigor que contrasta com a debilidade de Eusebiozinho.

Entretanto, o que a ação d’Os Maias acaba por mostrar é que nem essa educação supostamente saudável foi capaz de levar Carlos a uma existência fecunda e produtiva.

Algumas das personagens d’Os Maias [...] reclamam a explicação da hereditariedade, ainda que por vezes em termos ambíguos. O desastroso trajeto de vida de Pedro da Maia pode ser explicado pela educação recebida, mas ele deve-se também à presença, no seu temperamento, de elementos psico-somáticos herdados da família Runa.

A fraqueza física, os abatimentos, a melancolia são, assim, efeitos de uma herança biológica que parece não afetar Carlos, como se neste se tivesse recuperado (também devido à educação) a tal força dos Maias;

e contudo, apesar disso, Carlos acaba por ser envolvido numa relação amorosa condenada ao fracasso, [...] como se essa outra raça, que é a dos Maias enquanto família antiga e poderosa, fosse incapaz, afinal, de contrariar a força de um destino que a transcende.

trajeto | fatores | aspeto | adota

c c c p

precetor | ação | afetar

p c c

Deixam de se escrever as consoantes mudas (ou não articuladas) nos grupos ct, pt, cç, entre outros.

Muito característica do estilo de Eça é a hipálage, figura de estilo em que se transferem caracterizações humanas para as partes do corpo, para tecidos ou vestidos, para objectos, etc. (Vê também a definição no glossário da Antologia, p. 297.) Por exemplo, em

«Carlinhos, arreganhando para Eusebiozinho um lábio feroz»,

o adjectivo «feroz» reporta-se, no fundo, a Carlinhos, mas, gramaticalmente, serve de atributo a «lábio».

• cigarro pensativo• cigarro lânguido• sobrancelhas meditativas• lábios devotos• mão pacificadora• sedas impúdicas• braço concupiscente• braços pasmados• sala séria de tons castos• leito de ferro virginal

• as tias, fazendo as suas meias sonolentas [vs. meias, sonolentas]

• lenta humidade das paredes fatais do Ramalhete

• chá respeitoso

• o peixe austero

• as lojas loquazes dos barbeiros

• saias ligeiras e ilegítimas

• raspar espavorido dos fósforos

Da parte de Afonso há um optimismo posto ao serviço da educação de Carlos que é coerente com a renovação da natureza e a paz. Algumas das personagens em torno de Afonso e de Carlos estarão cépticas relativamente às teorias educativas de Afonso, mas não parecem prejudicar muito o espírito de que Afonso está imbuído. Ao contrário, as notícias acerca de Maria Monforte talvez possam nublar o ambiente geral.

TPC

Continuar a avançar em Os Maias.

Ir revendo gramática.

Quem fez «Carta ao Padre» e não me entregou reformulação talvez o pudesse fazer ainda (juntando o original).

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