“agricultura urbana: desenvolvimento de uma unidade agroecológica comunitária”
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Enrico Calvette Conti
Agricultura Urbana: Desenvolvimento de uma Unidade Agroecológica
Comunitária
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao programa de Graduação em Agronomia
da Universidade Federal de Santa Catarina, como requisito parcial para a obtenção do
título de Engenheiro Agrônomo.
Orientador: Prof. Méd. Vet., M.Sc.
Antônio Carlos Machado da Rosa.
Florianópolis, 15 de Junho de 2009.
AGRADECIMENTOS
Agradeço e desejo paz no caminho de todos
Agricultura Urbana: Desenvolvimento de uma Unidade Agroecológica Comunitária
i
SUMÁRIO
AGRADECIMENTOS.................................................................................................................III
SUMÁRIO.....................................................................................................................................IV
LISTA DE ABREVIATURAS ....................................................................................................VI
LISTA DE ILUSTRAÇÕES......................................................................................................VII
LISTA DE TABELAS..................................................................................................................IX
RESUMO........................................................................................................................................X
1 DELIMITAÇÃO DO ASSUNTO................................................................................................1
2 OBJETIVOS GERAIS.................................................................................................................3
2.1 OBJETIVOS ESPECÍFICOS...........................................................................................................3
3 JUSTIFICATIVA .........................................................................................................................4
4 REVISÃO BIBLIOGRAFICA.....................................................................................................8
4.1 DESEQUILÍBRIOS NA SOCIEDADE DE CONSUMO.......................................................................8
4.2 DESEQUILÍBRIOS NA AGRICULTURA CONVENCIONAL..............................................................9
4.3 AGRICULTURA URBANA .......................................................................................................11
4.4 A AGROECOLOGIA COMO REFERENCIAL ................................................................................14
4.4.1 Alguns princípios da Agroecologia...............................................................................15
4.4.2 Praticas Agroecológicas...............................................................................................17
4.4.2.1 Adubação orgânica e manejo de solo...................................................................................17
4.4.2.2 Defensivos naturais.............................................................................................................18
4.4.2.3 Combinação e rotação de culturas.......................................................................................19
4.4.2.4 Reciclagem de resíduos orgânicos.......................................................................................19
4.4.2.5 Cobertura morta...................................................................................................................19
4.4.2.6 Integração com pequenos animais ......................................................................................20
5 METODOLOGIA.......................................................................................................................22
5.1 CONTEXTUALIZAÇÃO DO ESPAÇO BIOFÍSICO E SOCIOCULTURAL...........................................27
5.2 IDENTIFICAÇÃO DOS ASPECTOS SOCIOCULTURAIS ................................................................27
5.3 IDENTIFICAÇÃO DOS ASPECTOS BIOFÍSICOS...........................................................................27
5.4 DESENVOLVIMENTO DAS PRATICAS ......................................................................................27
5.4.1 Procedimentos de preparo das áreas............................................................................27
5.4.2 Recursos utilizados .......................................................................................................27
5.4.3 Cultivo em canteiros agroecológicos com cobertura de palha.....................................27
5.4.4 Cultivos em canteiros agroecológicos sem cobertura..................................................27
5.4.5 Plantio em parcela através de roçagem e leve descompactação..................................27
5.4.6 Cultivo em canteiro elevado de palha...........................................................................27
Agricultura Urbana: Desenvolvimento de uma Unidade Agroecológica Comunitária
i
5.4.7 Reciclagem de resíduos orgânicos................................................................................27
5.4.8 Cultivo de mudas em Viveiro........................................................................................27
5.4.9 Integração com aves......................................................................................................27
5.4.9.1 Criação de Codornas matrizes ............................................................................................27
5.4.9.2 Criação de codornas para acompanhamento dos índices zootécnicos..................................27
6 RESULTADOS E DISCUSSÃO................................................................................................27
6.1 ASPECTOS SOCIOCULTURAIS NO DESENVOLVIMENTO DA UAC.............................................27
6.2 ASPECTOS BIOFÍSICOS NO DESENVOLVIMENTO DA UAC.......................................................29
6.2.1 Avaliação das parcelas ...............................................................................................29
6.2.2 Recursos locais..............................................................................................................32
6.2.2.1 Árvores pioneiras................................................................................................................32
6.2.2.2 Cobertura morta...................................................................................................................33
6.2.2.3 Estercos...............................................................................................................................35
6.3 PRATICAS DESENVOLVIDAS E SEUS BENEFÍCIOS....................................................................37
6.3.1 Escalonamento dos cultivos..........................................................................................37
6.3.2 Semeadura direta nos berços de cultivo.......................................................................37
6.3.3 Produção de mudas em viveiro.....................................................................................38
6.3.4 Cultivo em Canteiros agroecológicos...........................................................................39
6.3.4.1 Beneficio ao solo.................................................................................................................40
6.3.4.2 Biodiversidade.....................................................................................................................41
6.3.4.3 Produção vegetal e segurança alimentar e nutricional..........................................................43
6.3.5 Plantio em parcela através de roçagem e leve descompactação .................................44
6.3.6 Cultivo em canteiro elevado de palha...........................................................................45
6.3.7 Reciclagem de resíduos orgânicos ...............................................................................46
6.3.8 Integração com aves......................................................................................................47
6.3.9 Criação de Codornas matrizes .....................................................................................49
6.3.10 Criação de codornas para acompanhamento dos índices zootécnicos.......................50
6.3.10.1 Evolução do peso corporal.................................................................................................51
6.3.10.2 Produção de ovos...............................................................................................................52
6.3.10.3 Consumo de ração.............................................................................................................54
6.3.10.4 Produção de excrementos..................................................................................................54
6.3.10.5 Integração na UAC............................................................................................................55
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS.....................................................................................................56
8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................................................................................58
9 ANEXOS......................................................................................................................................63
Agricultura Urbana: Desenvolvimento de uma Unidade Agroecológica Comunitária
v
LISTA DE ABREVIATURAS
AU – Agricultura Urbana
EMATER – Instituto de Assistência Técnica e Extensão Rural
FAO - Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
MDS – Ministério do Desenvolvimento Agrário e Combate a fome
PNUD – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
UAC – Unidade Agroecológica Comunitária
UFRRJ – Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
FIGURA 1 - DISTRIBUIÇÃO DA POPULAÇÃO RESIDENTE, POR GRUPOS DE
IDADE, SEGUNDO A SITUAÇÃO DE SEGURANÇA ALIMENTAR EXISTENTE NO
DOMICILIO – BRASIL - 2004.....................................................................................................................5
FIGURA 2 – QUANTIDADE DIÁRIA DE LIXO COLETADO – 2000....................................6
FIGURA 3 - OUTRAS CARACTERÍSTICAS DA AGRICULTURA MODERNA...............10
FIGURA 4 – A ESPIRAL DOS AGROTÓXICOS.....................................................................16
FIGURA 5 – CRIANÇAS DAS FAMÍLIAS ENVOLVIDAS ...................................................27
FIGURA 6 – ÁREA NO INICIO, COM GRANDE PRESENÇA DE GALHOS E CAPIM
CORTADO....................................................................................................................................................27
FIGURA 7 – PROCEDIMENTO BÁSICO DE RETIRADA DE ENTULHOS E GALHOS.27
FIGURA 8 – APARAS DE GRAMAS COLETADAS DE RESIDÊNCIAS VIZINHAS........27
FIGURA 9 – APLICAÇÃO DE ESTERCO SOBRE SOLO AFOFADO.................................27
FIGURA 10 – SEMEANDO NOS BERÇOS ABERTOS NA CAMADA DE COBERTURA27
FIGURA 11 – ÁREA ANTERIOR A MANEJO (ESQUERDA), APÓS MANEJO
CANTEIRO CIRCULAR SEM COBERTURA AO FUNDO (DIREITA).............................................27
FIGURA 12 – SOLO DESCOMPACTADO E COQUETEL DE SEMENTES (ESQUERDA),
BERÇOS JÁ PLANTADOS COM CAMADA DE HÚMUS (DIREITA)...............................................27
FIGURA 13 – CANTEIRO ELEVADO DE PALHA SOBRE ENTULHO.............................27
FIGURA 14 – INICIO DA COMPOSTAGEM DE RESÍDUOS ORGÂNICOS DAS
RESIDÊNCIAS E EXCREMENTOS DAS AVES COM ADIÇÃO DE SERRAGEM.........................27
FIGURA 15 – CONJUNTO DE QUATRO REPETIÇÕES DE QUATRO CODORNAS
CADA.............................................................................................................................................................27
FIGURA 16 – AFOFANDO SOLO DA PARCELA “CIMA” COM A ROCHA LOGO
ABAIXO........................................................................................................................................................30
FIGURA 17 – PISO DE CONCRETO SOB CAMADA DE SOLO DA PARCELA “BAIXO”
........................................................................................................................................................................30
FIGURA 18 – ÁRVORES PIONEIRAS DA ÁREA, APROVEITAMENTO DOS TRONCOS
E GALHOS, PRODUÇÃO DE COBERTURA MORTA E PRODUÇÃO DE CINZAS PARA
FERTILIZAÇÃO.........................................................................................................................................33
FIGURA 19 - COBERTURA MORTA EVITANDO A EXPOSIÇÃO DO SOLO E A
EMERGÊNCIA DE PLANTAS ESPONTÂNEAS, CONTRIBUINDO PARA UM SISTEMA
EQUILIBRADO E BIODIVERSO.............................................................................................................34
FIGURA 20 - COBERTURA DE APARAS DE GRAMA (ESQUERDA), COBERTURA DE
PALHA TRITURADA POR ROÇADEIRA (DIREITA).........................................................................35
FIGURA 21 – BANDEJAS COM MUDAS DESENVOLVIDAS..............................................39
FIGURA 22 – ESTÁGIOS NO DESENVOLVIMENTO DOS CANTEIROS
AGROECOLÓGICOS - INICIO, IMPLANTAÇÃO E EM PLENO DESENVOLVIMENTO...........40
FIGURA 23 - MINHOCOÇU (RHINODRILUS ALATUS) ENCONTRADO NA ÁREA.....41
FIGURA 24 – GRANDE DIVERSIDADE DE ESPÉCIES GARANTE EQUILÍBRIO NO
SISTEMA......................................................................................................................................................42
FIGURA 25 – RÚCULA E COUVE COLHIDAS DA UNIDADE E DISTRIBUÍDA ENTRE
AS FAMÍLIAS..............................................................................................................................................43
FIGURA 26 – GRANDE DIVERSIDADE DE ESPÉCIES NOS BERÇOS.............................44
FIGURA 27 – DESENVOLVIMENTO DAS ESPÉCIES CULTIVADAS NO CANTEIRO
ELEVADO DE PALHA...............................................................................................................................45
FIGURA 28 – COMPOSTAGEM EM AVANÇADO ESTAGIO DE DECOMPOSIÇÃO....46
FIGURA 29 – AVES CONSUMINDO PLANTAS ESPONTÂNEAS ARRANCADAS
MANUALMENTE DOS CULTIVOS........................................................................................................48
FIGURA 30 – CODORNAS ECLODINDO NA CHOCADEIRA ELÉTRICA.......................49
FIGURA 31 – GRÁFICO DA EVOLUÇÃO DO PESO CORPORAL DE CODORNAS
(MÉDIA) ENTRE OS 35 E 65 DIAS DE IDADE......................................................................................51
FIGURA 32 – GRÁFICO DA EVOLUÇÃO DA POSTURA DE CODORNAS DE ACORDO
COM A IDADE.............................................................................................................................................52
FIGURA 33 – GRÁFICO DO CONSUMO MÉDIO DE RAÇÃO POR CODORNA DOS 35
AOS 65 DIAS ...............................................................................................................................................54
FIGURA 34 – CRIADOURO MÓVEL COM CODORNAS SOBRE OS CANTEIROS
(ESQUERDA), CODORNAS CISCANDO O SOLO E COMENDO PLANTAS ESPONTÂNEAS
(DIREITA)....................................................................................................................................................55
LISTA DE TABELAS
TABELA 1 - MORADORES EM DOMICÍLIOS PARTICULARES, POR SITUAÇÃO DO
DOMICILIO, SEGUNDO A SITUAÇÃO DE SEGURANÇA ALIMENTAR EXISTENTE NO
DOMICILIO – BRASIL – 2004....................................................................................................................4
TABELA 2 – CRONOGRAMA DO DESENVOLVIMENTO DA UAC..................................23
TABELA 3 – ESTIMATIVAS DE CONSUMO SEMANAL POR FAMÍLIA E CONSUMO
ANUAL POR PESSOA DE ALIMENTOS DA UAC, SE ESTES ESTIVESSEM DISPONÍVEIS, EM
COMPARAÇÃO COM O CONSUMO PER CAPITA REAL NA REGIÃO SUDESTE SEGUNDO
IBGE (2003)..................................................................................................................................................27
TABELA 4 – RESULTADO DA ANALISE DE SOLOS DAS PARCELAS “CIMA” E
“BAIXO” PELO LABFER DA UFRRJ.....................................................................................................31
TABELA 5 – COMPARAÇÃO ENTRE ESTERCO DE DIVERSAS ESPÉCIES ANIMAIS
........................................................................................................................................................................37
TABELA 6 – DADOS DO ACOMPANHAMENTO DAS CODORNAS ENTRE OS 35 E 65
DIAS DE IDADE..........................................................................................................................................50
TABELA 7 - COMPARAÇÃO DA COMPOSIÇÃO DO OVO DE CODORNA E DE
GALINHA (EM %)......................................................................................................................................53
RESUMO
A Agricultura Urbana (AU) inclui diversas iniciativas que buscam o
aproveitamento dos espaços urbanos para vários fins. No atual contexto de
insustentabilidade da sociedade de consumo, praticas de Agricultura Urbana vem
demonstrando boas alternativas para melhoria de vários aspectos envolvidos, entre eles a
segurança alimentar e nutricional e qualidade de vida e do meio ambiente. Este trabalho
teve como objetivo principal identificar práticas de Agricultura Urbana através do
desenvolvimento de uma Unidade Agroecológica Comunitária (UAC). O trabalho foi
realizado em área incluindo rua e lotes abandonados na região metropolitana do
município de Niterói, no estado do Rio de Janeiro. Os principais aspectos biofísicos e
socioculturais envolvidos foram identificados, foi possível fazer um planejamento a curto
e longo prazo da UAC e as praticas desenvolvidas tiveram grande sucesso
individualmente, como na formação de um sistema interligado sustentável. Por fim, este
trabalho pode servir de embasamento para modalidades de Agricultura Urbana como esta.
Palavras-chave: Agricultura urbana, agroecologia, praticas
1 DELIMITAÇÃO DO ASSUNTO
Atualmente vivemos numa sociedade marcada pela avançada industrialização,
tecnologia e urbanização, e que suporta bilhões de pessoas na face do planeta terra. Este
contexto gerou um ambiente onde grande parte dos recursos naturais é explorada e a
maioria dos espaços onde a civilização tem acesso é modificada.
Além das diversas intervenções no ambiente este sistema também gera graves
distúrbios na sua própria sociedade, como: as guerras, a desigualdade social, o senso de
poder, a conturbada política, diversos distúrbios na saúde, nas relações de convivência e a
violência como um todo. Ate o mais básico das necessidades é negado para muitos,
gerando a FOME.
Como setor fundamental da sociedade, a agropecuária atual, é um dos principais
causadores de distúrbios. A agricultura moderna utiliza indiscriminadamente os recursos
naturais, além de gerar muitos resíduos, degradar os espaços, excluir famílias e criar
riscos à saúde de muitas pessoas. Muitas vezes em vez de garantir o acesso a comida,
gera somente mais fome pelo mundo.
Diante deste contexto de degradação, em meados da década de 80, surgiu o
conceito de sustentabilidade, que passou a ser utilizado com freqüência e propõe novas
dimensões nas áreas econômica, social e ambiental, objetivando a busca de uma nova
forma de desenvolvimento.
É dentro deste contexto que a Agricultura Urbana (AU) se encaixa. Esta atividade
é incentivada como forma de minimizar alguns desafios que fazem parte do atual cenário
de desenvolvimento como, por exemplo, o combate à insegurança alimentar e nutricional,
ocorrendo também uma contribuição significativa para a conservação da biodiversidade e
melhoria da qualidade de vida das cidades.
Na AU vários princípios da Agroecologia podem ser utilizados. Na pratica da
Agroecologia busca-se manter a agricultura uma atividade menos impactante possível, e
com melhores contribuições as populações, como um ambiente saudável, alimentos
saudáveis, equilíbrio das famílias e das relações entre todos os aspectos envolvidos.
Agricultura Urbana: Desenvolvimento de uma Unidade Agroecológica Comunitária
1
Para solidificar a contribuição da Agricultura Urbana para o desenvolvimento
sustentável, torna-se essencial o entendimento de seus princípios fundamentais, através
do conhecimento de suas potencialidades e limitações.
Neste sentido, este trabalho visa identificar práticas de Agricultura Urbana através
do desenvolvimento de uma Unidade Agroecológica Comunitária.
Uma Unidade Agroecológica Comunitária (UAC), é uma modalidade de
Agricultura Urbana, em que numa área restrita, dentro de zonas urbanas e periurbanas,
diversas praticas agroecológicas podem ser desenvolvidas a fim de criar um
agroecossistema o mais equilibrado possível, que traga benefícios no contexto em que se
insere.
Agricultura Urbana: Desenvolvimento de uma Unidade Agroecológica Comunitária
2
2 OBJETIVOS GERAIS
Identificar práticas de Agricultura Urbana através do desenvolvimento de uma
Unidade Agroecológica Comunitária.
2.1 Objetivos específicos
• Identificar aspectos biofísicos e socioculturais envolvidos no
desenvolvimento da Unidade Agroecológica Comunitária.
• Planejar o desenvolvimento da UAC.
• Implantar , acompanhar e avaliar as práticas utilizadas na UAC.
Agricultura Urbana: Desenvolvimento de uma Unidade Agroecológica Comunitária
3
3 JUSTIFICATIVA
Segundo a FAO (2008), atualmente mais de 900 milhões de pessoas encontram-se
em estado de desnutrição, situação agravada principalmente pela alta dos preços dos
alimentos ocorrida nos últimos anos.
Na América Latina e Caribe as estatísticas são bem agravantes, sendo que um em
cada dez habitantes sofre de desnutrição (FAO, 2008). Além disso, a grande proporção da
população, a de baixa renda, gasta entre 40% a 60% de seus baixos ganhos com
alimentação e quase 15% com saúde e remédios (DUBBELING E SANTANDREU,
2003).
No Brasil, os seguintes dados divulgados pelo IBGE (2006) também são base para
esta discussão. Há 72 milhões de brasileiros que se encontram em alguma situação de
insegurança alimentar, sendo a população da zona urbana os mais afetados (TABELA 1).
TABELA 1 - Moradores em domicílios particulares, por situação do domicilio, segundo a situação de segurança alimentar existente no domicilio – Brasil – 2004.
Moradores em domicílios particularesSituação de segurança alimentar
Total (pessoas)
(%)
Urbana (pessoas)
(%)
Rural (pessoas)
(%)
Total 181.428.807
100,0 150.529.088 100,0 30.899.719
100,0
Com segurança alimentar
109.190.429
60,2 93.721.824 62,3 15.468.605
50,1
Com insegurança alimentar
72.163.886 39,8 56.736.950 37,7 15.426.936
49,9
Leve 32.645.194 18,0 26.697.916 17,7 5.947.278 19,2 Moderada 25.596.991 14,1 19.561.233 13,0 6.035.758 19,5 Grave 13.921.701 7,7 10.477.801 7,0 3.443.900 11,1
Fonte: IBGE, 2006 (adaptação).
O mais agravante é a situação da população entre 0 e 17 anos. Neste caso, o senso
de 2006 realizado pelo IBGE, mostra que a metade sofre de alguma forma de insegurança
alimentar (FIGURA 1).
Agricultura Urbana: Desenvolvimento de uma Unidade Agroecológica Comunitária
4
FIGURA 1 - Distribuição da população residente, por grupos de idade, segundo a situação de segurança alimentar existente no domicilio – Brasil - 2004
Fonte: IBGE, 2006.
Segurança Alimentar e Nutricional é a realização do direito de todos ao acesso
regular e permanente a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente, sem
comprometer o acesso a outras necessidades essenciais, tendo como base práticas
alimentares promotoras de saúde que respeitem a diversidade cultural e que sejam social,
econômica e ambientalmente sustentáveis (PROJETO DE LEI ORGÂNICA DE
SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL, 2005).
Diante deste contexto desponta a Agricultura Urbana, sendo que sua função mais
estudada atualmente consiste na contribuição à segurança alimentar e nutricional das
populações (BOUKHARAEVA, 2005).
No Brasil, a Agricultura Urbana deve seu desenvolvimento recente à
modernização da agricultura, que provocou forte migração em direção às cidades e às
respectivas periferias a partir da década de 40, onde acabavam de alguma forma,
praticando agricultura. Mundialmente estima-se que 800 milhões de pessoas pratiquem a
Agricultura Urbana (op. cit.).
Agricultura Urbana: Desenvolvimento de uma Unidade Agroecológica Comunitária
5
Ao mesmo tempo estimativas afirmam que 15% dos alimentos consumidos nas
áreas urbanas do mundo são advindos da própria agricultura urbana, estimando-se que
haja um crescimento destas iniciativas durante a próxima década (BELLENDA, 2005).
No contexto do desequilíbrio ambiental, Dubbeling e Santandreu (2003), também
aprofundam a discussão em relação à agricultura urbana como beneficente da qualidade
do ambiente. Indicam que apenas 2% dos resíduos produzidos nas cidades são tratados
adequadamente, sendo a maioria não tratada ou tratada indevidamente. Além disso,
milhares de metros cúbicos de águas residuais são desperdiçados ou tratados por
processos custosos demais. Estes números refletem a potencialidade de estes resíduos se
transformarem em excelentes fontes de adubo, água para irrigação, além de outros
recursos para a Agricultura Urbana. Como exemplo, pode-se citar que entre 30 a 60%
destes resíduos produzidos nas cidades são de natureza orgânica, podendo ser
transformado em um ótimo recurso para a Agricultura Urbana. Na FIGURA 2, observa-se
que a região metropolitana do Rio de Janeiro produz mais de 3 mil toneladas diárias de
lixo, sendo grande parte deste de natureza orgânica.
FIGURA 2 – Quantidade diária de lixo coletado – 2000
Fonte: IBGE, 2000.
Assim a AU desponta como um grande movimento em prol da sustentabilidade
socioeconômica e ecológica. Através de iniciativas vários aspectos das nossas vidas
Agricultura Urbana: Desenvolvimento de uma Unidade Agroecológica Comunitária
6
podem ser trabalhados, retornando na forma de diversos benefícios. Ocorre uma melhora
na qualidade de vida e nas condições econômicas das pessoas envolvidas. Os benefícios
sociais são evidentes, como o aumento da solidariedade e união das pessoas e a formação
de pessoas mais conscientes (BELLENDA, 2005).
Nota-se ainda que um crescente número de governos locais e nacionais estão
promovendo a AU em resposta as questões alimentares, ambientais e de bem-estar das
populações (DUBBELING & SANTANDREU 2003).
Agricultura Urbana: Desenvolvimento de uma Unidade Agroecológica Comunitária
7
4 REVISÃO BIBLIOGRAFICA
4.1 Desequilíbrios na sociedade de consumo
Atualmente presenciamos a instauração mundial do modelo de desenvolvimento
capitalista na sociedade moderna, com suas estruturas econômicas e políticas. Este
modelo acaba gerando diversas implicações culturais, sociais, ambientais e econômicas
que repercutem principalmente na qualidade de vida das pessoas e no meio ambiente.
Este modelo de desenvolvimento tem como principal influencia o processo de
industrialização dos países subdesenvolvidos. Homogeneizou hábitos de consumo e
tecnologias de produção, independente dos aspectos regionais, culturais e ambientais.
Implementando assim um padrão único de desenvolvimento (MENEGETTI, 2005).
Também esta baseado no uso de energia fóssil não renovável e em sistemas de
produção, como os da agricultura, altamente demandantes de energia. Neste caso,
normalmente os recursos são transferidos de paises e classes mais pobres aos grandes
consumidores ricos, com conseqüente concentração de renda e riquezas. Enquanto uma
grande maioria não atinge o consumo necessário para satisfazer as necessidades básicas,
uma minoria composta pelas populações dos países ricos e uma classe privilegiada
minoritária dos países pobres, consome, esbanja, polui, e é responsável por mais de 80%
do consumo de recursos naturais no mundo (op. cit.).
Assim encontramos um planeta onde por toda parte há: tráfico de drogas e de
armas, o desemprego estrutural, a fome e a exclusão social, a violência e o terrorismo
internacional, a insustentabilidade de nossos estilos de vida individual e social e de
nossas relações com o mundo natural.
Ainda segundo Menegetti (2005) este desenvolvimento atual, mesmo sendo o
responsável pelo “crescimento econômico”, também é responsável pela geração de
desigualdades, concentração de renda, pobreza, com uma conseqüente degradação
irreparável dos recursos naturais.
Agricultura Urbana: Desenvolvimento de uma Unidade Agroecológica Comunitária
8
4.2 Desequilíbrios na agricultura convencional
Neste contexto de desequilíbrio sócio-eco-ambiental também se insere o modelo
agrícola e florestal atual, no qual sua principal característica é o uso indiscriminado dos
recursos naturais sem levar em conta a capacidade de suporte dos ecossistemas, e hoje é
uma das atividades com maior impacto nestes (GRAZIANO NETO, 1991).
Tal agricultura gera conseqüências ecológicas, energéticas, econômicas e sociais
negativas; que certamente levarão a insustentabilidade deste modelo. (ALTIERE, 2002).
Os principais resultados são: erosão dos solos, a poluição das águas e dos solos por
nitratos, fosfatos e agrotóxicos, a contaminação dos agricultores e dos alimentos, a
destruição das florestas, a diminuição da biodiversidade e dos recursos genéticos e a
destruição dos recursos não renováveis. (MENEGETTI, 2005).
Segundo Altiere (2002), os solos são um dos principais aspectos atingidos pela
agricultura moderna. Com a utilização intensiva de mecanização inadequada, o uso
indiscriminado de agrotóxicos, corretivos e adubos químicos solúveis, somados ao
monocultivo e a falta de práticas adequadas de combate à erosão, a maioria dos solos na
agricultura sofreu intensa degradação. Isto é caracterizado principalmente pela perda do
horizonte A, redução da matéria orgânica e da atividade biológica do solo.
Além dos solos degradados a agricultura moderna esgota diversos outros recursos
como a água e energia. Também é responsável pela geração de grandes quantidades de
resíduos que ao serem devolvidos ao ambiente contribuem significativamente para a
perda de biodiversidade (COMPANIONI, 1997).
Para a FAO (2007), o atual modelo agrícola é paradoxal: parece apresentar
grandes produções (principalmente de commodities), porem a fome atinge mais de 800
milhões de pessoas no planeta; aumenta cada vez mais o uso de insumos industrializados
(principalmente agrotóxicos e adubos sintéticos), mas a produtividade em si não varia;
apesar do conhecimento sobre alimentação e nutrição estar cada vez mais acessíveis à
todos, grande parte da população ainda não consegue ter segurança alimentar garantida.
Este modelo afirma gerar mais lucros, porem não melhorou as precárias condições sociais
dos pequenos agricultores familiares, por exemplo.
Agricultura Urbana: Desenvolvimento de uma Unidade Agroecológica Comunitária
9
A FIGURA 3 mostra as características da Agricultura moderna que criam grande
dependência dos agricultores, e que normalmente acabam expulsando-o do meio rural.
Este é o principal fenômeno que marcou o surgimento de legiões de indivíduos
desassistidos no meio urbano, que são freqüentemente vítimas da violência, desnutrição e
desemprego.
FIGURA 3 - Outras características da agricultura moderna
Fonte: FAO, 1989 (adaptação).
Neste contexto como aponta a FAO (1989), a busca pela sustentabilidade da
agricultura está direcionada na manutenção, a longo prazo, da qualidade e quantidade dos
recursos naturais dos agroecossistemas, conciliando a produtividade agrícola com a
redução dos diversos impactos ao meio ambiente e atendendo as necessidades sociais e
econômicas das comunidades rurais e urbanas.
Agricultura Urbana: Desenvolvimento de uma Unidade Agroecológica Comunitária
1
4.3 Agricultura Urbana
Agricultura Urbana é um movimento que envolve iniciativas como: cultivos ou
criação de animais, reciclagem de resíduos ou águas residuais com fins produtivos,
processamento e distribuição de uma ampla variedade de produtos alimentares e não
alimentares. Para isto utilizam-se recursos humanos e materiais, produtos e serviços que
se encontram na zona urbana, para então gerar novos recursos e situações mais
sustentáveis neste contexto (DUBBELING & SANTANDREU, 2003).
A agricultura urbana pode ser praticada em qualquer ambiente urbano ou
periurbano, independentemente se for diretamente no solo, em canteiros suspensos, em
vasos, ou em qualquer outro lugar possível (ROESE, 2003).
De acordo com Dubbeling e Santandreu (2003) vários espaços tipicamente
urbanos podem ser utilizados, como: as margens dos rios e vias, parques, terrenos não
edificáveis debaixo das linhas de alta tensão ou ao redor dos aterros sanitários.
Segundo Roese (2003) existem muitas maneiras e motivos para se praticar a
agricultura urbana, e diversas vantagens podem ser obtidas através dessa prática, dentre
elas citamos as mais comumente observadas:
• Produção de alimentos: incremento da quantidade e da qualidade de
alimentos disponíveis para consumo das pessoas envolvidas.
• Reciclagem de lixo: aproveitamento de resíduos orgânicos para a
produção de composto orgânico e resíduos inorgânicos para reaproveitamento em
parcelas de cultivo.
• Utilização racional de espaços: melhor aproveitamento de espaços
ociosos, evitando o acúmulo de lixo e entulhos e possíveis focos de transmissores de
doenças como o mosquito da dengue.
• Educação ambiental: as pessoas envolvidas direta e indiretamente por
iniciativas de AU têm acesso a maior conhecimento sobre o meio ambiente,
aumentando a consciência da conservação ambiental.
Agricultura Urbana: Desenvolvimento de uma Unidade Agroecológica Comunitária
1
• Desenvolvimento humano: aliada à educação ambiental e à recreação,
ocorre melhoria da qualidade de vida e prevenção ao estresse, além da formação de
lideranças e trocas de experiências.
• Segurança alimentar: através de cultivos e criações ecológicas de grande
diversidade obtêm-se produtos de alta qualidade nutricional para as pessoas
envolvidas com tais iniciativas.
• Desenvolvimento local: valoriza a produção local de alimentos e outras
plantas úteis, como medicinais e ornamentais, fortalecendo a cultura popular e
criando oportunidades para o associativismo.
• Recreação e Lazer: a agricultura urbana pode ser usada como atividade
recreativa/lúdica.
• Farmácia caseira: prevenção e combate a doenças através da utilização e
aproveitamento de princípios medicinais de plantas cultivadas.
• Formação de microclimas e manutenção da biodiversidade: com o
desenvolvimento de áreas agroecológicas em espaços urbanos há contribuições na
manutenção da biodiversidade, proporcionando sombreamento, odores agradáveis,
contribuindo para a manutenção da umidade, além de outras características
agradáveis.
• Escoamento de águas das chuvas e diminuição da temperatura: favorece a
infiltração de água no solo, diminuindo o escorrimento de água nas vias públicas, e
contribuindo para diminuição da temperatura, devido à ampliação da área vegetada.
• Diminuição da pobreza: através da produção de alimentos para consumo
próprio ou comunitário (em associações, escolas, etc.), e eventual receita da venda
dos excedentes.
• Atividade Ocupacional: proporciona ocupação de pessoas, evitando o
ócio, contribuindo para a educação social e ambiental, diminuindo a marginalização
dessas pessoas na sociedade.
• Renda: possibilidade de produção em escala comercial, especializada ou
diversificada, tornando-se uma opção para a geração de renda.
Agricultura Urbana: Desenvolvimento de uma Unidade Agroecológica Comunitária
1
Segundo o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (1996) em
torno de 800 milhões de pessoas estão engajadas na prática da agricultura urbana ao redor
do mundo, sendo a maioria delas habitantes de cidades asiáticas. Desses agricultores, 200
milhões são considerados produtores comerciais, empregando 150 milhões de pessoas em
tempo integral.
No Brasil, a recente modernização da agricultura provocou grande emigração do
campo em direção às zonas urbanas. Grande parte destas pessoas é excluída socialmente,
vivendo na miséria, em ambientes ecologicamente degradados. São pessoas que, em sua
maioria, perderam seu patrimônio cultural, não são alfabetizadas e são vítimas da
violência e da má nutrição. Muitas vezes são estas as pessoas que tomam iniciativas no
contexto de AU, em busca de melhorias na qualidade de suas vidas (BOUKHARAEVA,
2005).
A FAO (2008) está destacando a necessidade de políticas e planejamentos
específicos para administrar as questões ligadas à agricultura urbana, e enfatizando que
ela não deve ser desenvolvida em competição com a agricultura rural, mas deve se
concentrar em atividades nas quais ela tem uma vantagem comparativa, tal como na
produção de alimentos perecíveis, frescos.
Neste contexto o Ministério do Desenvolvimento Social (2009) esclarece que a
Agricultura Urbana faz parte do Programa Fome Zero¹, e que através de iniciativas do
tipo, há produção de alimentos de forma comunitária com uso de tecnologias de bases
agroecológicas em espaços urbanos e periurbanos ociosos. Com a mobilização
comunitária são incentivados há implantação de hortas, viveiros, lavouras, pomares,
canteiros de ervas medicinais, criação de pequenos animais, unidades de
processamento/beneficiamento agroalimentar e feiras publicas populares. Os alimentos
produzidos são destinados principalmente para autoconsumo, abastecimento de
restaurantes populares, cozinhas comunitárias e venda de excedentes no mercado local,
resultando em inclusão social, melhoria da alimentação e nutrição e geração de renda.
Sendo que 250.000 famílias já são atendidas por programas pilotos.
¹ Fome Zero é um programa do governo federal brasileiro que foi criado em 2003 para
combater a fome e as suas causas estruturais, que geram a exclusão social e para garantir a segurança
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1
alimentar de todos os brasileiros e brasileiras. As iniciativas do programa vão desde a ajuda financeira às
famílias mais pobres (com o cartão Bolsa Família) até a criação de cisternas no Sertão nordestino,
passando pela construção de restaurantes populares, a instrução sobre hábitos alimentares, a distribuição de
vitaminas e suplementos alimentares, o empréstimo de microcrédito para famílias mais pobres, entre
outras.
4.4 A agroecologia como referencial
Como ferramenta para fortalecimento da Agricultura Urbana, afim de minimizar
os distúrbios da atual sociedade, principalmente nos espaços urbanos, a Agroecologia se
faz como base para qualquer pratica a ser desenvolvida.
Os princípios básicos da agroecologia, que envolvem as mais diversas situações,
são: apoio aos requisitos sociais, consideração aos aspectos culturais, preservação dos
recursos ambientais, apoio à participação política dos envolvidos; favorecendo a
obtenção de resultados socioeconômicos favoráveis ao conjunto da sociedade. Tais
iniciativas visam, numa perspectiva de tempo de longo prazo, garantir melhorias no
presente como para as futuras gerações, em relação as questões ligadas à própria
agricultura como também a sociedade como um todo (CAPORAL E COSTABEBER,
2004).
Na agroecologia, os chamados agroecossistemas, são vistos como sistemas vivos
e complexos, que devem formar uma biosfera rica em diversidade, com vários tipos de
plantas, animais, microorganismos, minerais e infinitas formas de relação entre estes e
outros habitantes de todo o planeta Terra.
Segundo Altiere (2002) a agroecologia se baseia em tecnologias de processos,
onde se controlam mais as causas dos problemas e menos os sintomas, levando em conta
a natureza como modelo. Na natureza observamos a predominância de mais relações
positivas entre os organismos vivos do que negativas. As interações negativas
normalmente são observadas na agricultura convencional, enquanto que nos métodos
alternativos de agricultura buscam-se interações positivas que beneficiem o
agroecossistema.
Agricultura Urbana: Desenvolvimento de uma Unidade Agroecológica Comunitária
1
Em relação os solos, os sistemas agroecológicos têm demonstrado que é possível
produzir possibilitando a renovação natural destes, facilitando a reciclagem de nutrientes,
utilizando racionalmente os recursos naturais, e por fim, mantendo a biodiversidade, que
é fator importantíssimo para o solo (PAULUS, MULLER, BARCELLOS, 2000).
A Agroecologia engloba modernas ramificações e especializações, como a:
agricultura biodinâmica, agricultura ecológica, agricultura natural, agricultura orgânica,
sistemas agroflorestais entre outros.
Badgley et al. (2006) fizeram um amplo levantamento de dados documentados em
todo o mundo comparando a produtividade de sistemas convencionais, agroecológicos e
tradicionais e concluíram que a agricultura agroecológica pode sim abastecer toda a
população mundial, tanto local como globalmente.
A FAO (2007) enfatiza as contribuições da agricultura ecológica para a segurança
alimentar e nutricional da população mundial, a importância central de os agricultores
terem livre acesso às suas sementes crioulas e de variedade locais e também o papel
chave das organizações dos agricultores em trocar e divulgar conhecimentos
agroecológicos.
4.4.1 Alguns princípios da Agroecologia
De acordo com Paulus, Muller, Barcellos (2000) e Souza (2003) vários princípios
são abordados na pratica da agroecologia, como relatado a seguir.
Trabalha-se a conservação do solo ao invés de destruí-lo com arações e gradagens
sucessivas. Em vez de se eliminar os inços, aprende-se a trabalhar a parceria entre as
ervas e as culturas, entre as criações e as lavouras.
Nesta lógica não se considera os insetos como pragas, pois com plantas resistentes
e com equilíbrio entre as populações de insetos e seus predadores, eles não chegam a
causar danos econômicos nas culturas. Assim não se trata doença com agrotóxico, mas
busca-se fortalecer a planta para que esta não se torne suscetível ao ataque de doenças e
de insetos.
Agricultura Urbana: Desenvolvimento de uma Unidade Agroecológica Comunitária
1
Além disso os agrotóxicos contaminam as águas, envenenam os alimentos, matam
os inimigos naturais dos parasitas e contaminam quem os manuseia, além de
desequilibrar as próprias plantas, tornando-as mais suscetíveis. É comum que logo depois
de uma aplicação de agrotóxicos as plantas sofram ataques ainda mais fortes, fazendo
com que o agricultor acabe por usar venenos mais fortes ainda e entre no chamado espiral
dos agrotóxicos (FIGURA 4).
FIGURA 4 – A espiral dos agrotóxicos
Fonte: PAULUS, MULLER, BARCELLOS, 2000.
Também não se usa adubos químicos solúveis, pois este tipo de adubação é a
causa de dois problemas sérios: a morte de microorganismos úteis do solo e a absorção
forçada pela plantas. A planta acaba por absorver em altas concentrações os nutrientes,
resultando em desequilíbrio fisiológico e metabólico, com acumulo de aminoácidos livres
na seiva, prejudicando assim a formação de proteínas, deixando-a favorável ao ataque de
parasitas. Além disso as altas concentrações que se solubilizam na água do solo também
provocam a morte de grande parte dos microorganismos benéficos do solo.
Para uma nutrição adequada, é necessário que o solo seja fértil e biologicamente
ativo, com muita matéria orgânica e com diversas espécies vegetais, insetos e
microorganismos. Quanto mais matéria orgânica, mais vida tem o solo, melhor nutrida e
equilibrada é a planta que nele se desenvolve.
Por fim para a pratica da agroecologia deve-se conhecer cada vez mais os sinais
da natureza, assim pode-se tentar corrigir o desequilíbrio pela causa e não somente lidar
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1
com as conseqüências. Ou seja, a ocorrência de muitos insetos, ou determinado tipo de
erva nativa, pode indicar algum tipo de desequilíbrio ou alguma carência, que deve ser
entendida pelo praticante para este desenvolver as melhores praticas a fim de beneficiar o
sistema, ao invés de ir contra ele.
4.4.2 Praticas Agroecológicas
Conforme Francisco Neto (2002) e Souza (2003) existem diversas praticas
agroecológicas como as descritas nos próximos itens.
4.4.2.1 Adubação orgânica e manejo de solo
Dentro de sistemas agroecológicos utiliza-se a adubação orgânica que envolve
diversos recursos. Utiliza-se de grande variedade de materiais como: esterco curtido,
vermicomposto de minhocas, compostos fermentados, biofertilizantes enriquecidos com
micronutrientes, cobertura morta e materiais orgânicos em geral.
A utilização de materiais orgânicos como estes favorecem: o desenvolvimento da
biologia do solo, o fornecimento gradual de macro e micronutrientes como também
antibióticos naturais e substâncias de crescimento, a estruturação do solo, como também
sua conservação; além de serem materiais independentes das grandes indústrias
poluidoras.
Neste contexto a adubação verde é um processo que envolve o cultivo de plantas
rústicas e grandes formadoras de biomassa que com seu desenvolvimento ajudam no
acumulo de matéria orgânica rica em nutrientes como nitrogênio, fósforo, potássio,
enxofre, cálcio além de micronutrientes.
Neste processo as plantas ajudam a: descompactar o solo com suas raízes,
melhorar sua estrutura, absorver nutrientes que não conseguem ser absorvidos por outras
plantas e acumular estes nutrientes na sua biomassa. Com manejo podem ser
incorporadas ao solo ou utilizadas como cobertura morta, enriquecendo com matéria
orgânica o solo e a camada superficial, favorecendo a atividade biológica, liberando
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1
nutrientes gradativamente, protegendo o solo de interperes, como também pode servir de
alimento para animais.
Normalmente são utilizados para tal finalidade plantas rústicas e vigorosas como:
a mucuna (Mucuna aterrima), o feijão-de-porco (Canavalia ensiformis), crotalarias
(crotalaria sp.), feijão guandu (Cajanus cajan), milheto (Pennisetum glaucum), aveia
(Avena sativa), ervilhaca (Vicia sativa), e muitas outras. O manejo mais freqüente é o
corte da biomassa para formação de cobertura morta nos estágios de plena floração destas
plantas.
Já a adubação mineral baseia-se na utilização de compostos minerais naturais. São
compostos que fornecem de maneira lenta e gradual nutrientes as plantas, e não
provocam desequilíbrios como os adubos sintéticos solúveis. Os mais utilizados são: pó
de rochas, restos de mineração, entre outros. São muito utilizados para complementação
da adubação orgânica, pois podem compensar nutrientes que alguns compostos orgânicos
têm debilitação. Ao mesmo tempo alguns compostos minerais naturais são utilizados para
preparados usados como biofertilizantes. Estes adubos fornecem nutrientes como cálcio,
fósforo, magnésio, potássio e outros, em doses moderadas, conforme as necessidades da
planta.
4.4.2.2 Defensivos naturais
A utilização de defensivos naturais também é pratica essencial da agroecologia
que não permite a utilização de nenhum tipo de agrotóxico em seus cultivos e criações.
Basicamente estes compostos, quando utilizados nas plantas, têm como função principal
estimular o metabolismo destas. Geralmente são preparados pelo agricultor, não são
tóxicos e são de baixo custo.
Como exemplos podem-se citar: biofertilizantes enriquecidos, água de verme
composto, cinzas, soro de leite, enxofre, calda bordalesa, calda sulfocálcica, entre outros.
Normalmente estes defensivos só são utilizados em casos de muita necessidade, quando
mesmo em busca de equilíbrio no sistema, as plantas estejam sem resistência, ou não há
ocorrência de inimigos naturais, por exemplo.
Agricultura Urbana: Desenvolvimento de uma Unidade Agroecológica Comunitária
1
4.4.2.3 Combinação e rotação de culturas
Outro pratica muito importante na agroecologia é a combinação e rotação de
culturas. Este manejo é bastante eficiente uma vez que se cultivam plantas de diferentes
famílias, com diferentes necessidades nutricionais e diferentes arquiteturas de raízes, que
venham a se complementar.
Também existem plantas repelentes que quando utilizadas em consórcios podem
repelir insetos danosos, e plantas de ação alelopatica que evitam que certas outras plantas
se desenvolvam em sua volta.
Um exemplo típico de combinação é o consorcio entre leguminosas e gramíneas
que garante ao mesmo tempo a fixação de nitrogênio e produção de biomassa celulósica.
As próprias plantas espontâneas podem ser úteis nestas situações, pois são bem
adaptadas, retiram nutrientes de camadas profundas, colocando-os em disponibilidade na
superfície com produções de grandes volumes de biomassa.
4.4.2.4 Reciclagem de resíduos orgânicos
A reciclagem de resíduos orgânicos através da compostagem também é
considerada de suma importância na agroecologia, pois através deste processo materiais
orgânicos sofrem ação de microorganismos e outros organismos que os transformam em
componentes mais básicos que poderão fornecer nutrientes, além de outros benefícios ao
complexo sistema. Também, este material ao ser incorporado nas áreas de interesse, serve
como inoculante deste seres, favorecendo seu crescimento natural na área.
4.4.2.5 Cobertura morta
Deve-se ressaltar também a grande importância da formação de cobertura morta
em áreas com manejo agroecológico. Esta camada de matéria orgânica sobre o solo se
Agricultura Urbana: Desenvolvimento de uma Unidade Agroecológica Comunitária
1
degrada lentamente liberando nutrientes ao meio, além de proteger o solo do impacto
direto de gotas de chuvas e da incidência direta dos raios solares que podem provocar
lixiviação e superaquecimento respectivamente. Portanto favorece a recuperação do solo,
fornecendo nutrientes, protegendo a estrutura, além de favorecer a vida biológica nele.
Também pode-se citar o efeito desta na redução da germinação de sementes e emergência
de plantas espontâneas.
4.4.2.6 Integração com pequenos animais
A utilização de animais como parte integrada de agroecossistemas tropicais é
considerada essencial como prática agroecológica visando à transição para sistemas
sustentáveis, visto que seus dejetos através da compostagem geram matéria orgânica rica
em nutrientes que favorecem a fertilização das áreas a serem trabalhadas. Além disso
fornecem produtos de alta qualidade nutricional como o leite, ovos e carne, podendo
gerar fonte de renda constante (SOUZA et al. 2007).
Num experimento idealizado por Souza et al. (2007) na região serrana
fluminense, através da inserção de duas cabras e 50 galinhas poedeiras nas propriedades
de agricultores familiares, foi constatado que houve aumento da renda mensal do
produtor que integrava a produção vegetal com a produção animal em 658,41 reais,
representando um aumento em 42,89 % sobre o valor de 1535,00 reais mensais que eram
obtidos apenas com a produção vegetal. Ocorrendo assim uma melhor distribuição da
renda ao longo do ano que passa do valor de 1535,00 reais para 2193,41 reais/mês
durante 12 meses.
O mesmo autor ainda aponta que a integração com animais também proporciona
altos padrões de bem-estar animal e o melhoramento da infra-estrutura de ambiente da
propriedade. Também foi observado o interesse dos jovens na produção animal, o que
estimula a permanência deste junto à família; e a participação ativa da mulher neste
âmbito, valorizando ainda mais a sua contribuição na manutenção econômica da família.
Ainda no estado do Rio de Janeiro verifica-se que a demanda por produtos de
origem animal é bem elevada, inclusive sendo necessário importação de outros estados
como Minas Gerais (SOUZA et al. 2007).
Agricultura Urbana: Desenvolvimento de uma Unidade Agroecológica Comunitária
2
Para ilustração da importância da integração com animais para produção de
adubos orgânicos em sistemas de agricultura urbana cita-se o caso da cidade Kumasi em
Gana na África. Neste município avaliou-se a existência de 3.000 cabeças de boi, 30.000
ovelhas e 26.000 cabras na região metropolitana, além de granjas de frango e criações
caseiras de aves e outros pequenos animais como cotias, coelhos e caracóis. Neste caso
não existem dados disponíveis sobre a quantidade de estrume produzido por estes
animais, porém as estimativas que incluem a zona periurbana de Kumasi indicam uma
produção anual (matéria seca) de aproximadamente 34.000 t de esterco de aves criadas
confinadas, 54.000 t de esterco de ovelhas e cabras, e cerca de 12.000 t de esterco de
porcos (DRECHSEL et al., 2000).
No caso da avicultura integrada à sistemas de produção vegetal, esta tem
contribuído para o equilíbrio de diversos sistemas. Além dos subprodutos que contribuem
para a recuperação e manutenção da fertilidade do sistema, ajuda na redução da mão-de-
obra na capina e na compra de insumos para o controle de insetos, uma vez que estes são
inimigos naturais natos. Também contribui para a segurança alimentar e nutricional, em
outros casos para o incremento na renda, através de produtos como carne e ovos
(GOMES, 2007).
No contexto da Agricultura Urbana, a codorna (Coturnix coturnix japonica) vem-
se destacando, nos últimos tempos, como promissora criação de aves adaptada às
condições de exploração doméstica, por não demandar muito espaço físico. Como
também fornece excelentes produtos como seus ovos e sua carne, de grande valor
nutricional e excelente sabor (EMATER, 2009).
Além disso conforme EMATER (2009) a codorna apresenta características
atrativas como: o seu rápido crescimento e alcance da idade de postura, a sua elevada
prolificidade e o seu pequeno consumo de ração. Em anexo tabela com as principais
características zootécnicas das codornas (ANEXO 1).
Agricultura Urbana: Desenvolvimento de uma Unidade Agroecológica Comunitária
2
5 METODOLOGIA
Para realização deste trabalho foi feito planejamento das abordagens desejadas.
Primeiramente foi feita a identificação dos aspectos biofísicos e socioculturais do espaço
urbano de interesse para o desenvolvimento de uma Unidade Agroecológica Comunitária.
Com isso inicio-se a implantação das praticas agroecológicas. No decorrer do trabalho
eram feitas avaliações das praticas e do contexto geral da UAC a fim de contribuir para a
discussão dos resultados.
O desenvolvimento das praticas da Unidade Agroecológica comunitária seguiram
a seguinte cronologia:
1. Os canteiros agroecológicos com cobertura de palha e sem cobertura foram
implantados um por semana, a partir da segunda semana do inicio do desenvolvimento da
UAC ate a oitava semana.
2. As aves foram criadas em pinteiro nas duas primeiras semanas e então a partir
da terceira semana foram alocadas em galinheiro dentro da UAC.
3. Iniciou-se a criação de codornas matrizes a partir da segunda semana.
4. A reciclagem de resíduos orgânicos através da compostagem foi iniciada a
partir da terceira semana de implantação da UAC. Os resíduos orgânicos das residências
eram coletados diariamente, sendo parte oferecida para as aves diariamente e outra parte
armazenada. Este resíduo armazenado mais os excrementos das codornas em avaliação
eram adicionados a composteira semanalmente.
5. A produção de mudas em viveiro iniciou a partir da quinta semana de
trabalho na Unidade.
6. Os plantios em parcela através da roçagem e leve descompactação e o cultivo
em canteiros elevados de palha foram implantados na sexta semana.
7. A colheita iniciou-se a partir da quarta semana nos canteiros primeiramente
implantados. Colheitas eram realizadas de dois em dois dias, para abastecimento das
famílias.
8. Avaliação da criação de codornas no contexto da Agricultura Urbana iniciou a
partir da 7ª semana
Agricultura Urbana: Desenvolvimento de uma Unidade Agroecológica Comunitária
2
9. As codornas, após os procedimentos de avaliação, foram alocadas em viveiros
moveis a partir da 11ª semana.
Na TABELA 2 encontra-se cronograma das atividades realizadas no
desenvolvimento da UAC.
TABELA 2 – Cronograma do desenvolvimento da UAC
456789101112Identificaç
ão aspec
tos biofísicosXXXXXXXXXXXXIdentificaç
ão aspec
tos socioculturaisXXXXXXXXXXXXAcompanhament
o geral
da UACXXXXXXXXX
Semana 1 2
Agricultura Urbana: Desenvolvimento de uma Unidade Agroecológica Comunitária
2
XXXDesenvolvimento das praticas:XXXXXX2
- Integração
com avesXXXXXXXXXX3
- Criação
codornas matrizesXXXXXXXXXXXX4
- Compostagem
XXXXXXXXXX5
-
X X X
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2
Cultivo de
mudas em
viveiroXXXXX1
- Canteiros agroecológicos3 Ali
mentoUnidades/semana/famíli
a (media)Kg por
pessoa/a
no de
produtos
da UA
CKg per
capita/an
o real
segundo
Abóbora 1 (fruto com 1,000 kg) 10,400 1,250
Agricultura Urbana: Desenvolvimento de uma Unidade Agroecológica Comunitária
2
IBGE
(2003)1XXX6-
Outros
cultivos
agroecológicosXXXXX
XX7-
ColheitaXXXXXXXXX8- Codornas em avaliaçãoXX
XX9-
Codorna
s inseridas
na UACXXX
X
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2
5.1
Co
nte
xtu
ali
zaç
ão
do
esp
aço
bio
físi
co
e
soc
ioc
ult
ura
l
O
pres
ente
traba
lho
foi
dese
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2
2 Abobrinha 4 (fruto com 0,370 kg) 11,544 0,616
3 Alface 3 (pé com 0,200 kg) 6,240 0,672
4 Berinjela 3 (fruto com 0,345 kg) 10,764 0,380
5 Beterraba 3 (tubérculo com 0,180 kg) 5,616 0,443
6 Brócolis 2 (maço com 0,130 kg) 2,704 0,196
7 Cebolinha Verde 1 (maço com 0,110 kg) 1,144 nd
8 Cenoura 6 (tubérculo com 0,145 kg) 9,048 2,087
9 Couve 2 (maço com 0,105 kg) 2,184 0,094
10 Couve-flor 1 (cabeça com 0,555 kg) 5,772 0,286
11 Espinafre 2 (maço com 0,098 kg) 2,038 nd
12 Inhame 8 (tubérculos com 0,175 kg) 14,560 0,318
13 Mandioca 3 (tubérculos com 0,435 kg) 13,572 1,645
14 Maxixe 9 (fruto com 0,050 kg) 4,680 0,086
15 Milho Verde 6 (espiga com 0,179 kg) 11,170 0,338
16 Pepino 3 (fruto com 0,290 kg) 9,048 0,465
17 Pimentão Verde 2 (fruto com 0,125 kg) 2,600 0,563
18 Quiabo 15 (fruto com 0,013 kg) 2,028 0,499
19 Rabanete 8 (tubérculo com 0,030 kg) 2,496 nd
20 Repolho 0,5 (cabeça com 1,200 kg) 6,240 1,000
21 Rúcula 2 (maço com 0,075 kg) 1,560 nd
22 Salsão 1 (maço com 0,065 kg) 0,676 nd
23 Tomate 12 (fruto com 0,200 kg) 24,960 5,505
24 Tomate Cereja 30 (fruto com 0,017 kg) 5,304 nd
25 Vagem 50 (fruto com 0,015 kg) 7,800 0,332
Através desta comparação pode-se verificar que as estimativas de consumo de
produtos provindos da UAC pelas famílias seriam superiores ao consumo real segundo o
IBGE (2003). Assim demonstra-se a grande importância na cultura alimentar e, portanto
na segurança alimentar e nutricional das famílias, que a disponibilidade de grande
variedade e quantidade de alimentos como estes, teriam.
Como forma de envolvimento na Unidade, as famílias pretendem organizar-se
para dividir as tarefas. Foi decidido que seria feito revezamento das famílias para realizar:
a implantação dos cultivos, a manutenção das áreas cultivadas, o cuidado com os animais,
a coleta dos resíduos orgânicos, a irrigação, a colheita e a distribuição dos alimentos entre
as famílias.
Agricultura Urbana: Desenvolvimento de uma Unidade Agroecológica Comunitária
2
Sendo assim algum ou alguns representantes de uma família trabalham num dia
da semana, como por exemplo, na 2ª feira, na 3ª feira outra família trabalharia, na 4ª feira
outra família e na 5ª feira novamente a família que trabalhou na 2ª feira, seguindo assim
esta ordem, sendo domingo o dia de descanso ou de realização de mutirões para trabalhos
mais exigentes como a implantação de novas áreas.
6.2 Aspectos biofísicos no desenvolvimento da UAC
Para identificação dos aspectos biofísicos envolvidos no desenvolvimento da
UAC, foi feito avaliação das áreas a serem trabalhadas e dos recursos locais utilizados.
6.2.1 Avaliação das parcelas
Avaliada visualmente as áreas apresentaram grande quantidade de cobertura
morta composta principalmente por capim e galhos de plantas pioneiras. Além disto, foi
observada a grande quantidade de entulho na área por conta de ser uma área rodeada de
casas e muros que provavelmente contribuíram pelo acumulo deste.
Nas áreas onde foram desenvolvidos canteiros o solo apresentava profundidades
variando de 10 a 25 centímetros, característica muito comum em espaços urbanos. Na
parcela denominada “cima” a camada de solo termina numa rocha que impede a
penetração de qualquer raiz, mas demonstra sofrer erosão com o tempo, além de poder
ser triturada com ferramentas formando o chamado saibro (FIGURA 18). Na parcela
nomeada “baixo” a camada de solo também era pequena sobre um velho piso de concreto
(FIGURA 19).
Agricultura Urbana: Desenvolvimento de uma Unidade Agroecológica Comunitária
2
FIGURA 16 – Afofando solo da parcela “cima” com a rocha logo abaixo
FIGURA 17 – Piso de concreto sob camada de solo da parcela “baixo”
Além disso, visualmente, observou-se que a textura das áreas era
predominantemente media e possuía certa coloração escura, indicando presença de
matéria orgânica.
O resultado das analise de solo dessas duas parcelas encontra-se na .
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3
TABELA 4 – Resultado da analise de solos das parcelas “cima” e “baixo” pelo Labfer da UFRRJ
Cima Baixo Cima Baixo
Profund. 20 20 T (CTC) 12,76 12,06(cm) Cmolc / dm3 Na 0,016 0,009 V 91 83
Cmolc / dm3 % Ca 7,5 7,9 m 0 0
Cmolc / dm3 % Mg 4,0 2,1 n 0 0
Cmolc / dm3 %
K 0,04 0,05 pHágua 6,7 6,6Cmolc / dm3 1:2,5
H+Al 1,2 2,0 Corg 1,40 1,30Cmolc / dm3 %
Al 0,00 0,00 P 76 28Cmolc / dm3 mg/L
S (SB) 11,56 10,06 K 17 20Cmolc / dm3 mg/L
Conforme Camargo (2005) a interpretação dos resultados das analise de ambas as
parcelas são similares. Apresentavam acidez fraca não sendo necessária a aplicação de
corretivos como calcário. Apresentavam CTC (capacidade de troca de cátions) boa com
saturação de bases muito boa, sem presença de alumínio trocável (Al), além de altos
níveis de Cálcio (Ca), Magnésio (Mg) e de Fósforo (P). Estes níveis indicam que há
presença de tais nutrientes em quantidades favoráveis para cultivo de culturas anuais em
sistema irrigado como este. Porem foi observado que o nível de Carbono orgânico (Corg)
e de Potássio (K) estavam baixos para estes tipos de culturas.
Em relação aos níveis de Carbono Orgânico e Potássio grande parte dos manejos
e dos resultados alcançados foram no sentido de aumentar o nível de matéria orgânica do
solo e de nutrientes como o Potássio, favorecendo o desenvolvimento das plantas
cultivadas no sistema.
O trabalho nestas parcelas demonstrou que é possível trabalhar em condições
limitantes, como uma camada de solo mínima e solos com deficiências nutricionais, pois,
como exposto a diante, os plantios desenvolvidos nestas áreas tiveram bom
desenvolvimento além de um bom equilíbrio das condições gerais de um sistema como
este.
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3
6.2.2 Recursos locais
Vários recursos presentes na área e nas suas redondezas foram utilizados a fim de
otimizar as praticas desenvolvidas, e podem servir de base para manejos em outras áreas
inseridas em espaços urbanos semelhantes.
Entre os recursos utilizados que foram de grande importância para o
desenvolvimento da Unidade Agroecológica Comunitária estão as árvores pioneiras, a
cobertura morta e os estercos.
6.2.2.1 Árvores pioneiras
Como mencionado na metodologia a área apresenta grande ocorrência de árvores
pioneiras como o Sabia (Mimosa caesalpiniaefolia), o Marica (Mimosa bimucronata) e o
Pau jacaré (Piptadenia gonoacantha).
Estas árvores se estabeleceram na área durante a primavera e o verão passados e
chegaram a formar um bosque. Elas são vistas pelos moradores como grandes “pragas”
que ocupam rapidamente a área, possuem espinhos e são de muito difícil manejo. Além
de presentes nesta área, são espécies muito encontradas em lotes abandonados e outros
espaços urbanos da região.
Apesar de seu manejo ser realmente difícil, após as podas radicais realizadas em
fevereiro, toda essa matéria orgânica de grande valor serviu de cobertura morta para
grande parte da área. Esta matéria orgânica é rica em Nitrogênio uma vez que tais
espécies são fixadoras de nitrogênio. (LORENZI, 2002).
Além disso seu desenvolvimento é de grande valia, pois suas raízes favorecem a
descompactação do solo, fator presente em praticamente toda a área e típico de áreas
urbanas.
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FIGURA 18 – Árvores pioneiras da área, aproveitamento dos troncos e galhos, produção de cobertura morta e produção de cinzas para fertilização
No preparo das áreas seus troncos de maior diâmetro e seus galhos finos com
espinhos foram queimados e a cinza foi distribuída pelos canteiros, servindo como
composto fertilizante do solo. Os galhos de médio diâmetro e de formação mais ereta
foram utilizados como guias para plantas que necessitavam de tal, como a ervilha torta
roxa, pepino e tomates.
Assim, plantas como estas, típicas dos espaços urbanos, podem ser manejadas a
fim de obtermos mais recursos para sistemas de Agricultura Urbana.
6.2.2.2 Cobertura morta
No contexto urbano, muitas residências e inclusive comércios e indústrias não tem
nenhum tipo de triagem de resíduos. Em bairros residências, como o bairro de
Piratininga, por exemplo, verifica-se a ausência de separação de lixo orgânico do lixo
reciclável. E grande parte do material resultante de podas e cortes de plantas de jardins
também são ensacados e destinados à coleta de lixo comum (DUBBELING &
SANTANDREU 2003).
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Nas redondezas da área onde o projeto foi desenvolvido grande quantidade de
aparas de gramas são ensacadas e destinadas à coleta municipal de lixo. Como iniciativa,
estes resíduos foram recolhidos e utilizados na unidade ajudando principalmente na
recuperação do solo e evitando a sobrecarga dos aterros sanitários de lixo urbano.
Esta cobertura foi aplicada em todas as áreas de cultivo e também em todas as
áreas de circulação possível, pois estas áreas também devem ser conservadas a fim de
evitar a erosão e o maior desgaste delas. Com isso trabalha-se para que todos os espaços
da área estejam equilibrados.
A cobertura morta de aparas de grama tem grande papel no sistema, pois permiti
uma cobertura de matéria orgânica que se decompõe lentamente liberando nutrientes ao
meio, servindo também para proteger o solo do impacto direto de gotas de chuvas e da
incidência direta dos raios solares que podem provocar lixiviação e superaquecimento,
respectivamente. Portanto favorece a recuperação do solo, fornecendo nutrientes,
protegendo a estrutura, além de estimular a vida do solo. Também pode-se citar o efeito
desta na redução da germinação de sementes e emergência de plantas espontâneas
(PAULUS, MULLER, BARCELLOS, 2000).
FIGURA 19 - Cobertura morta evitando a exposição do solo e a emergência de plantas espontâneas, contribuindo para um sistema equilibrado e biodiverso
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3
Além disso as aparas de grama se demonstraram de fácil manipulação, pois se
apresentam em pedaços pequenos e com volume uniformemente distribuído, facilitando a
distribuição sobre os canteiros e a abertura de espaços para plantio, como também forma
uma cobertura uniforme e bem estável em relação a intempéries do tempo como ventos e
chuvas fortes.
A roçagem do capim, que ocupava as áreas inicialmente, também favoreceu a
formação de cobertura morta. Foi realizada periodicamente a fim de controlar o
crescimento exagerado que comprometesse o desenvolvimento das espécies cultivadas no
sistema, além de disponibilizar constantemente mais matéria orgânica de cobertura.
Também o fato de utilizar a roçadeira para triturar mais ainda o capim roçado
ajuda na uniformização desta cobertura facilitando seu manejo para abertura de berços e
ate para incorporação caso necessário.
FIGURA 20 - Cobertura de aparas de grama (esquerda), cobertura de palha triturada por roçadeira (direita)
6.2.2.3 Estercos
Como principal fonte de matéria orgânica para incorporação ao solo, foi utilizado
o esterco de cavalo, pois este foi doado em grande quantidade para o projeto.
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O esterco de cavalo utilizado apresentava bastante matéria fibrosa provinda da
alimentação rica em volumosos, principalmente de gramíneas, que era oferecida aos
cavalos. Além disso era misturado a restos de capim triturado e uma pequena parte de
serragem utilizada como cama nas baias.
Este se apresentava num estado semicurtido, pois ainda seus componentes não
estavam totalmente degradados, com muita matéria orgânica ainda no seu estado original.
Porem algumas porções já se apresentavam decompostas. Apesar disto o esterco de
cavalo nesta forma não apresenta altas concentrações de compostos que podem causar
prejuízos as plantas, como o aquecimento excessivo ou intoxicação, que outros estercos,
como o de galinha, podem provocar se aplicados desta forma em canteiros de cultivo
(GOMES et al., 2008).
Por fim todas estas características deste esterco favoreceram a melhora das
condições do solo. Demonstrou ser matéria orgânica de lenta degradação, estimuladora
de vida no solo, retentora de umidade, fornecedora de nutrientes, além de outros
benefícios mais (GOMES et al., 2008).
Na Unidade Agroecológica Comunitária também houve produção de esterco de
galinhas e codornas que foram direcionados a compostagem.
Ambos estercos possuem alta concentração de nutrientes porem de acordo com
Globo Rural (2007) estes variam conforme o nutriente. No que diz respeito ao nível de
fósforo, o esterco de codorna possui 4,4 % enquanto o de galinha possui 2,2 %. Em
relação ao potássio, o esterco de codorna tem em media 50% a mais do que o de galinha.
Já em relação ao Nitrogênio, o esterco de codorna possui menos do que o esterco de
galinha. Esses níveis podem variar dependendo da quantidade, da qualidade e do tipo de
ração fornecida para as codornas.
O uso destes na compostagem pode gerar composto de alta qualidade com
equilíbrio dos nutrientes de ambos.
Também outros animais têm grande potencial para serem inseridos na Unidade
Agroecológica Comunitária, pela capacidade de produção de alimentos de alta qualidade,
como também na produção de esterco para utilização como fertilizante. A seguir tabela
comparativa da composição dos principais nutrientes de excrementos de diversas espécies
como também do composto de lixo orgânico, para utilização na UAC (TABELA 4).
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TABELA 5 – Comparação entre esterco de diversas espécies animais
Espécie animal % Nitrogênio % Fósforo % PotássioCoelho 2.48 2.50 1.33Galinha 1.75 2,20 0.85Composto 1,20 1,40 0,50Cabra 0.97 0.48 0.65Porco 1.00 0.40 0.30Cavalo 0.60 0.25 0.50Vaca 0.50 0.30 0.45Fonte: Embrapa caprinos e ovinos
6.3 Praticas desenvolvidas e seus benefícios
6.3.1 Escalonamento dos cultivos
O escalonamento dos cultivos é essencial para garantir a produção de grande
diversidade de itens e quantidades suficientes para abastecer as famílias. Na implantação
dos cultivos foram utilizado os dados levantados sobre consumo das famílias para
planejar quais espécies seriam cultivadas.
Porem para estipular a quantidade de plantas de cada espécies necessárias para
alcançar a produção desejada, sugere-se a realização de estudos mais avançados sobre
escalonamento e planejamento dos cultivos para garantir o abastecimento continuo destas
famílias.
Neste período de estagio foram cultivadas as várias espécies desejadas, porem a
quantidade de plantas de cada espécie foi decidida de acordo com os espaços disponíveis
nos canteiros e nas outras áreas trabalhadas.
6.3.2 Semeadura direta nos berços de cultivo
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3
Foi adotado a semeadura direta, sem a produção da muda e transplantio, comum
na horticultura, pois assim iniciou-se o plantio nos canteiros o mais cedo possível
possibilitando o estabelecimento rápido das hortaliças e o aproveitamento do solo por
elas.
Apesar de 23 % das sementes não terem germinado ou germinadas e morrerem
bem jovens, o índice de germinação e estabelecimento destas sementes plantadas
diretamente nos berços foi bom (77%). Este dado foi a média de todos os canteiros
implantados.
Após verificado que as sementes não haviam germinado, da mesma forma eram
semeadas novamente outras sementes, algumas vezes da mesma planta ou de plantas
diferentes que melhor se adaptassem ao sistema encontrado no momento. Em alguns
casos foram plantadas estacas nos berços que haviam falhado, como por exemplo,
espinafre e manjericão.
Apesar da produção de mudas para os futuros plantios, algumas espécies
continuam a ser plantas através de semeadura direta, como: abobrinha, pepino, milho
verde, abóbora, ervilha torta roxa, feijão vagem, rabanete, beterraba, espinafre, entre
outras.
6.3.3 Produção de mudas em viveiro
Para continuidade do projeto optou-se pela construção de viveiro onde foram
cultivadas mudas das diversas espécies a serem plantadas na área. Com as mudas
desenvolvidas, o transplantio é feito direto nos berços, sendo mais rápido o
estabelecimento das plantas, pois já possuem estruturas desenvolvidas que possibilitam
seu crescimento nas condições dos canteiros (SOUZA, LEDO, SILVA, 1997).
Como a produção de alimentos pretende ser escalonada, a produção de mudas
deve ser planejada a fim de obter-se mudas em intervalos de tempo que favoreçam seu
plantio nos espaços desocupados e assim obter uma produção constante de grande
diversidade de hortaliças.
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3
O desenvolvimento das mudas cultivadas no período de estagio foi satisfatório,
sendo essencial à estrutura do viveiro que proporcionava uma menor incidência de
insolação, além de proteger do impacto direto das gotas de chuva e manter um
microclima favorável para o desenvolvimento destas. Além disso o húmus utilizado, se
demonstrou com características favoráveis para a formação das mudas, pois tinha boa
agregação e disponibilidade de nutrientes para o crescimento inicial das plantas,
principalmente de suas raízes (SOUZA, LEDO, SILVA, 1997).
Durante o período foram produzidas satisfatoriamente mudas de brócolis, couve-
manteiga, couve-flor, pimentão, tomate cereja, berinjela, alface crespo, rúcula, cebolinha
e feijão guandu.
FIGURA 21 – Bandejas com mudas desenvolvidas
6.3.4 Cultivo em Canteiros agroecológicos
Os canteiros desenvolvidos são a principal forma para cultivar as espécies de
interesse para esta UAC.
Através da descompactação, incorporação de esterco de cavalo, cobertura com
aparas de gramas, plantio direto de sementes e cobertura das mesmas com camada de
húmus; os canteiros desenvolvidos na unidade se demonstraram bem eficientes em
relação a diversos aspectos.
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3
FIGURA 22 – Estágios no desenvolvimento dos canteiros agroecológicos - inicio, implantação e em pleno desenvolvimento.
6.3.4.1 Beneficio ao solo
A estrutura do solo durante o período se manteve bem conservada graças ao
trabalho inicial de descompactação com leve incorporação de material orgânico e a
cobertura morta que o protegeu da chuva e da insolação. Além disso evitou-se ao máximo
a circulação por dentro dos canteiros, evitando assim compactação mecânica do solo.
A presença de organismo benéficos no solo também foi favorecida graças a
melhor estrutura do solo, com maior aeração e melhor hidratação, além da melhor
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4
disponibilização de matéria orgânica, fonte primaria de alimento para a vida do solo.
Também a proteção contra incidência direta de chuva e insolação, da cobertura morta,
evita efeitos danosos aos organismos que habitam o solo (ALTIERE, 2002).
Dentre os organismos observados estão minhocas, diplópodes, tesourinhas,
lacraias e ate um minhocoçu (Rhinodrilus alatus). Este ultimo é um oligoqueto (minhoca)
e pode chegar a mais de 60 cm de comprimento e diâmetro de até 1,5 cm (DRUMOND et
al, 2007).
FIGURA 23 - minhocoçu (Rhinodrilus alatus) encontrado na área
Para as plantas cultivadas, dentre os principais benefícios destes canteiros, foi a
conservação de umidade em toda a camada de solo atingida pelas raízes, como também a
proteção contra superaquecimento do solo e a liberação de nutrientes gradual. Também
pode-se correlacionar um possível aumento da interação de organismos do solo com as
plantas, como por exemplo, as micorizas (SOUZA, 2003, ALTIERE, 2002).
6.3.4.2 Biodiversidade
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4
Além da presença de organismo na camada de solo, a cobertura morta também
favoreceu a ocorrência de outros organismos que vivem na superfície do solo e no estrato
de vegetais cultivados, aumentando a biodiversidade e as interações ecológicas.
A grande diversidade de espécies cultivadas em consorcio também é um dos
princípios de uma agricultura mais ecológica. Com esta pratica pôde-se ver a interação
entre as plantas em relação à ocupação de espaço, aproveitamento do solo, dos nutrientes,
da água, da insolação, e etc. Esta interação entre as espécies também evitou a
monocultura, o que diminui a probabilidade de desequilíbrios como: o surgimento de
pragas e doenças, deficiências nutricionais, além de outros problemas relacionados à
simplificação dos agroecossistema (FRANCISCO NETO, 2002).
FIGURA 24 – Grande diversidade de espécies garante equilíbrio no sistema
Grande variedade e quantidade de hortaliças foram produzidas durante este
período inicial do projeto. Dentre os itens que foram colhidos e consumidos pelas
famílias durante este período estão: Rúcula, alface, couve, abobrinha, coentro, rabanete e
acelga. Sendo que já havia tomates, maxixes, quiabos e pepinos em formação nas plantas
cultivadas.
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4
6.3.4.3 Produção vegetal e segurança alimentar e nutricional
Dentro do contexto da AU sabe-se da importância da produção vegetal à favor do
meio ambiente, mas principalmente, para o bem-estar das pessoas garantindo maior
segurança alimentar e nutricional para estas. Assim a produção vegetal da UAC é
diretamente utilizada pelas famílias envolvidas.
Além disto, em certos momentos, a biomassa oriunda dos cultivos também era
manejada e acabava como cobertura morta.
Através do escalonamento da produção e da utilização de grande variedade pode-
se obter hortaliças suficientes para substituir aquelas que outrora eram compradas e que
possuíam risco de contaminação.
FIGURA 25 – Rúcula e Couve colhidas da unidade e distribuída entre as famílias
A tabela do ANEXO 3 expõe a composição das diversas espécies com potencial
para cultivo na área. Nota-se o grande valor nutricional destas, o que fortalece a
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4
importância de seu consumo para garantia de segurança alimentar e nutricional das
pessoas.
6.3.5 Plantio em parcela através de roçagem e leve descompactação
Também foram utilizados outros manejos para plantio na área. Estes manejos
foram bem adaptados de acordo com a situação do local onde foram aplicados.
O plantio com roçagem e leve descompactação teve grande funcionalidade,
aproveitando-se de uma área extensa que por sua forte compactação e inclinação não
permitia a elaboração de canteiros, o que também é muito comum em espaços urbanos.
Assim a descompactação localizada aliada à presença de esterco de cavalo
contribuíram para formação de um berço com quantidade suficiente de solo
descompactado, bem estruturado e com bastante matéria orgânica, favorecendo assim o
estabelecimento das raízes das plantas cultivadas.
FIGURA 26 – Grande diversidade de espécies nos berços
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4
A cobertura morta de capim roçado e bem triturado formou uma camada
considerável sobre a superfície da área. Contribuiu positivamente para varias
características do sistema como mencionado no item 6.2.2.2.
Nestes cultivos, foi dada prioridade a plantas mais robustas, assim estas poderiam
se adaptar as condições mais difíceis em comparação a plantas cultivadas em canteiros.
Como forma de promover melhorias no solo, o plantio de feijão de porco, por exemplo,
poderá contribuir para melhor descompactação do solo inclusive podendo servir de
adubação verde através do seu corte.
6.3.6 Cultivo em canteiro elevado de palha
O cultivo em canteiro elevado de palha sobre o entulho, através da utilização de
uma espessa camada de matéria orgânica, obteve grande aproveitamento da área. O
desenvolvimento nos estágios iniciais das plantas foi normal. Neste caso as plantas
utilizadas também tinham características mais robustas. Neste tipo de situação onde não
há presença de solo ou sua estrutura esta muito prejudicada esta pratica se demonstrou
bem viável.
FIGURA 27 – Desenvolvimento das espécies cultivadas no canteiro elevado de palha
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4
Uma curiosidade foi o fato de, mesmo com camada de matéria orgânica, os berços
implantados perdiam rapidamente sua umidade. Verificou-se então que por a área ser
bastante exposta a ventos, a alta camada de palha permitia a circulação destes fazendo
com que sua umidade dissipasse mais rapidamente. Porem com o desenvolvimento das
raízes e formação de solo na camada de palha, esta superaeração pode diminuir. Também
indica-se o plantio de espécies que sirvam de quebra-vento na área, já que a área é bem
exposta a ventos.
6.3.7 Reciclagem de resíduos orgânicos
O processo de compostagem se demonstrou bem eficiente, sendo essencial a
adição de serragem para ajustar a proporção de C:N, a aeração da pilha e a manutenção
de umidade adequada através de irrigação para o processo de compostagem, além do
revolvimento do conteúdo com certa freqüência (FRANSCISCO NETO, 2002). A
irrigação era necessária, pois a incidência de chuvas no período não era regular e a
insolação causava grande perda de umidade da pilha.
FIGURA 28 – Compostagem em avançado estagio de decomposição
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4
Não houve uma consistência na produção de resíduo orgânico residencial, pois
notou-se grande aproveitamento por parte das famílias que evitavam o desperdício. Além
disso grande parte do resíduo que acabava sendo produzido era fornecido as aves.
Assim a maior parte do resíduo destinado a compostagem eram os excrementos
das aves criadas no galinheiro e das codornas mantidas em observação. Este
procedimento é imprescindível para a utilização deste como adubo orgânico nos canteiros
de hortaliças. Com a adição de serragem, a proporção C:N fica num nível adaptado para
inicio dos processos de degradação dos compostos dos excrementos em nutrientes
absorvíveis pelas plantas.
Assim o composto produzido tem alta qualidade química, física e biológica e
pode ser utilizado diretamente nos cultivos, sendo importantíssimo para fornecimento de
nutrientes e outras condições necessárias para um bom desenvolvimento dos cultivos na
Unidade Agroecológica Comunitária.
6.3.8 Integração com aves
A criação de aves se iniciou com poucas aves por causa do alto custo para
aquisição destas. Contudo estes animais serão suficientes como matrizes para expansão
do plantel, a fim de atingir uma quantidade de aves que irão produzir alimentos de alta
qualidade nutricional, como ovos e carne, suficientes para o abastecimento das famílias
(SOUZA, 2007).
Esta integração com aves contribui fortemente para a produção de alimentos de
alta qualidade nutricional como o ovo. O ovo é reconhecidamente um importante
contribuinte para uma nutrição humana de qualidade. Na sua composição estão contidos
os principais nutrientes necessários ao desenvolvimento físico humano. Em crianças com
idade de até três anos o consumo diário de um ovo atende aproximadamente 50% das
necessidades de proteína. Desta forma o seu consumo está diretamente relacionado à
questão da segurança alimentar e nutricional (SANTOS & SCHLINDWEIN, 2007).
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4
Neste caso as aves criadas na Unidade apresentaram crescimento satisfatório, pois
em apenas dois meses se tornaram adultas e bem adaptadas ao ambiente da Unidade.
Como meta pretende-se ampliar o plantel, a partir destas matrizes, para 24 aves,
sendo que já foi doado um galo de outra linhagem para servir de reprodutor quando estas
aves estiverem na sua maturidade sexual. Assim pretende-se produzir um ovo por pessoa
por dia, ou seja, em media 16 ovos por dia, com as aves em 70 % de postura (GOMES,
2007).
Além disto o plantel será reposto por novas aves de acordo com o envelhecimento
destas. Com o descarte e renovação das aves pretende-se manter a produção constante e
ainda obter proteína animal de alta qualidade pelo consumo das aves descartadas.
Almoços comunitários com o consumo das galinhas abatidas podem representar um
evento social para o grupo.
O fornecimento dos resíduos orgânicos às aves demonstrou-se alternativa
eficiente, pois fornece maior diversidade à alimentação das aves, que neste sistema
estavam em cercado, limitando o espaço de circulação destas. Também verificou-se que
as plantas espontâneas retiradas por arranque manual e outras partes das plantas
cultivadas que não iam para o consumo das famílias, serviram como ótimo complemento
para a alimentação das aves.
FIGURA 29 – Aves consumindo plantas espontâneas arrancadas manualmente dos cultivos.
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4
Outra importância das aves no sistema são seus excrementos que periodicamente
eram raspados das áreas com maior concentração do galinheiro e adicionados a
composteira. Assim ao final do processo, obteve-se composto de alta qualidade para
utilização nas áreas, tornando o sistema mais auto-suficiente como discutido no item 8.9.
6.3.9 Criação de Codornas matrizes
Como alternativa de integração à Unidade Agroecológica Comunitária, a criação
de codornas foi analisada em diversos aspectos.
As aves do lote de matrizes, adquiridas inicialmente, atingiram maturidade sexual
em media com 60 dias de idade, sua produção de ovos era media, sendo 4 ovos por dia
das oito fêmeas, assim foram armazenados durante 12 dias, 48 ovos, que foram então
destinados à incubação.
A chocadeira construída para tal, demonstrou bom funcionamento. Através do
termostato ajustado manualmente conseguiu-se manter a temperatura do interior entre 37o
e 37,5o C. O ambiente interno foi mantido favorável para incubação através da
disponibilização da bandeja de água e da aspersão diária de água, junto à abertura gradual
de orifícios.
Dos 48 ovos incubados 33 eclodiram. Isso demonstrou uma porcentagem de
68,75% de taxa de eclosão.
FIGURA 30 – Codornas eclodindo na chocadeira elétrica
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4
6.3.10 Criação de codornas para acompanhamento dos índices zootécnicos.
Outro lote de codornas foi mantido em observação para analise: do consumo
diário de ração, produção de excrementos diário, ganho de peso diário e postura diária.
Este lote foi acompanhado durante o período de dia 8 de Maio ao dia 8 de Junho.
A seguir tabela com as medias dos dados coletados de acordo com a idade das
codornas (TABELA 6).
TABELA 6 – Dados do acompanhamento das codornas entre os 35 e 65 dias de idade.
Idade (dias)
Consumo de ração médio (g)
Peso corporal medio (g)
Peso excrementos medio (g)
Postura média (ovos)
35 20,8 128,1 19,1 0,0036 24,3 131,1 28,2 0,0037 27,1 131,7 25,1 0,0038 29,1 131,9 23,4 0,0039 29,4 132,6 23,1 0,0040 30,6 133,6 25,8 0,0041 28,6 133,6 29,6 0,0642 29,7 133,7 26,6 0,0643 32,0 133,7 25,9 0,0644 34,9 133,8 26,1 0,0045 27,3 136,8 28,6 0,0646 32,3 142,3 25,4 0,0647 34,7 143,0 26,4 0,0648 34,1 143,4 21,3 0,1349 33,4 143,6 22,7 0,0650 24,8 145,6 17,6 0,1351 21,9 147,1 16,4 0,1352 30,1 147,9 18,4 0,1953 27,4 148,6 21,8 0,2554 29,5 148,1 19,6 0,2555 23,7 148,8 19,4 0,2556 21,7 148,8 18,9 0,4457 20,4 148,9 20,0 0,5658 19,3 149,4 15,8 0,2559 25,9 148,8 22,4 0,4460 19,6 147,8 15,8 0,5061 24,7 150,0 20,2 0,3862 25,3 150,1 18,8 0,4463 26,2 150,1 18,9 0,3864 27,5 150,4 18,3 0,4465 27,5 150,6 18,8 0,50
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5
6.3.10.1 Evolução do peso corporal
A seguir gráfico demonstrando a evolução do peso corporal (media) durante o
período de observação (FIGURA 31).
Evolução do peso corporal de codornas (media) entre os 35 e 65 dias de idade.
115,0
120,0
125,0
130,0
135,0
140,0
145,0
150,0
155,0
35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46 47 48 49 50 51 52 53 54 55 56 57 58 59 60 61 62 63 64 65
Idade (dias)
Pes
o C
orp
ora
l M
edio
(g
)
FIGURA 31 – Gráfico da evolução do peso corporal de codornas (média) entre os 35 e 65 dias de idade
Através do gráfico, pode-se concluir que há um incremento do peso corporal das
codornas neste período, que em media passaram de 128,1 g para 150,6 g, ou seja,
engordaram em media 22,5 g.
Agricultura Urbana: Desenvolvimento de uma Unidade Agroecológica Comunitária
5
6.3.10.2 Produção de ovos
Já em relação à produção de ovos, o inicio da postura foi observado desde os 42
dias de idade, reforçando a característica de rapidez à atingir a maturidade sexual que as
codornas possuem.
Neste aspecto a produtividade da criação se demonstrou baixa levando em conta o
período inteiro, dos 35 dias aos 65 dias de idade. Tal fato tem grande ralação à época do
ano em que o experimento foi realizado. Os meses de Maio e Junho são meses de menor
fotoperíodo, o que afeta codornas criadas em sistemas caseiros sem iluminação artificial,
desestimulando o inicio da postura e a postura diária (ARIKI, 2000).
Para melhor ilustrar a taxa de postura das codornas o gráfico da FIGURA 32
mostra a evolução da postura de acordo com a idade das aves. Na ultima semana de
observação, observou-se a postura media de 0,5 ovos por ave, indicando assim que mais
codornas estavam em produção comparados com as primeiras semanas.
Postura de acordo com idade (ovos por codorna)
0,00
0,10
0,20
0,30
0,40
0,50
0,60
35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46 47 48 49 50 51 52 53 54 55 56 57 58 59 60 61 62 63 64 65
idade
po
stu
ra (
ovo
s p
or
cod
orn
a)
FIGURA 32 – Gráfico da evolução da postura de codornas de acordo com a idade
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5
Levando em conta que a postura destas codornas se mantenha num nível de 0,5
ovos por dia por codorna, já que a partir desta idade a tendência é que a postura se
mantenha num patamar, pode-se estimar que são necessárias 64 codornas em postura para
produção diária de 32 ovos, o que abasteceria as famílias com dois ovos por pessoa por
dia.
Os ovos de codorna têm excelente composição de nutrientes, e com o seu
consumo pode-se avigorar um alto nível de nutrição alimentar as famílias. A tabela a
seguir compara a composição de ovos de codorna e ovos de galinha, reforçando a sua
característica de ser mais protéico e menos gorduroso do que o ovo de galinha
complementando assim uma dieta rica em tais componentes ().
TABELA 7 - Comparação da composição do ovo de codorna e de galinha (em %).
Gema Albumen Ovo inteiro
Composição codorna
galinha codorna
galinha codorna
galinha
Água 48,20 48,09 87,36 89,90 73,78 74,72Proteína 19,30 16,16 11,18 9,41 13,23 12,00Gordura 30,00 34,10 0,00 0,00 10,83 12,30Carboidratos 0,70 X 0,67 X 1,03 XMinerais 1,80 1,65 0,79 0,69 1,13 0,98
Fonte: ARIKI, 2000
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5
6.3.10.3 Consumo de ração
Em relação ao consumo de ração, os dados coletados demonstraram uma
oscilação, com uma tendência central, do consumo diário por codorna no período
observado, como mostra a FIGURA 33.
Consumo medio de ração por codorna dos 35 aos 65 dias de vida
0,0
5,0
10,0
15,0
20,0
25,0
30,0
35,0
40,0
35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46 47 48 49 50 51 52 53 54 55 56 57 58 59 60 61 62 63 64 65
Idade (dias)
Co
nsu
mo
med
io p
or
cod
orn
a (g
)
FIGURA 33 – Gráfico do consumo médio de ração por codorna dos 35 aos 65 dias
Como foi observado uma tendência central nos dados, pode-se afirmar que neste
período analisado, as codornas consomem em media 24,5 gramas por dia por codorna.
Este consumo é relativamente baixo, de baixo custo e com relativo retorno em produtos
como os ovos e carne.
6.3.10.4 Produção de excrementos
Como característica marcante, foi observada a produção de excrementos das
codornas, como base para produção de composto de alta qualidade nutricional para
utilização na unidade agroecológica.
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Durante o período do experimento cada codorna produziu diariamente em media
21,9 g de excrementos. Caso sejam criadas 64 codornas, estas produzirão 1,4 kg de
excrementos por dia, e 42 kg por mês.
Tal esterco é adicionado a composteira. Somando-se aos resíduos orgânicos
domésticos e a serragem, houve uma produção considerável de composto para utilização
na unidade agroecológica conforme discutido no item 8.9.
6.3.10.5 Integração na UAC
Como forma de tornar a criação de codornas mais sustentável, optou-se pela
construção de um viveiro móvel que proporcionava contato direto das codornas com as
áreas de cultivo, principalmente as áreas onde já haviam sido feito colheitas. Nestas áreas
as codornas acabavam por comer os restos culturais e outros elementos como insetos e
larvas presentes no solo. Este procedimento enfim proporcionou ambiente mais saudável
para as codornas, pois permitia que estas procurassem seu próprio alimento, além de
poder fazer atos instintivos como o ato de ciscar, que eu outros casos é privado pelo uso
de gaiolas. Todas as codornas criadas na Unidade foram alocadas em viveiros como este
após o termino dos procedimentos realizados (FIGURA 34).
FIGURA 34 – Criadouro móvel com codornas sobre os canteiros (esquerda), codornas ciscando o solo e comendo plantas espontâneas (direita).
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7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho teve como objetivo principal identificar práticas de Agricultura
Urbana através do desenvolvimento de uma Unidade Agroecológica Comunitária.
Para desenvolvimento da UAC foram identificados os principais aspectos
biofísicos do espaço urbano utilizado, e os principais aspectos socioculturais da
comunidade envolvida.
O desenvolvimento de diversas praticas, baseadas na agroecologia, foram
implantadas e avaliadas de acordo com o contexto que a UAC esta inserida, ou seja,
como uma modalidade de Agricultura Urbana.
As praticas foram desenvolvidas com grande êxito, sendo que num sistema como
este a integração de diversas praticas contribui para sua sustentabilidade. Como exemplos
principais temos: a integração com pequenos animais onde seus excrementos servem de
fertilizantes para as áreas de cultivo, enquanto parte da produção serve de alimentos para
estes; e a reciclagem de resíduos orgânicos que diminui os impactos deste e o transforma
em recurso importantíssimo nos cultivos da Unidade. Neste contexto é reforçada a
importância do aproveitamento máximo dos recursos locais para construção de sistemas
como este.
Assim é possível afirmar que espaços urbanos como estes podem ser manejados,
utilizando os mais diversos recursos locais e praticas adaptadas, para formação de
sistemas com maior equilíbrio possível e que possam contribuir para melhorias no
contexto em que se inserem.
Neste caso os benefícios observados no desenvolvimento das praticas e de todo o
contexto da UAC, estão principalmente, melhorias na segurança alimentar e nutricional
das famílias envolvidas, como também melhorias no ambiente e na qualidade de vida, ou
seja no bem-estar humano em geral (GRUPO DE TRABALHO DA ESTRUTURA
CONCEITUAL DA AVALIAÇÃO ECOSSISTÊMICA DO MILÊNIO, 2005).
Para melhor planejar os cultivos na Unidade, foi sugerido um estudo de
escalonamento de produção, para garantir abastecimento continuo das famílias com
maior diversidade possível de alimentos provindos desta.
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Enfim o desenvolvimento da Unidade Agroecológica Comunitária através da
identificação dos principais aspectos envolvidos, do seu planejamento, da implantação e
avaliação das praticas teve grande importância no embasamento desta modalidade de
Agricultura Urbana.
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6
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9 ANEXOS
ANEXO 1 – Principais características zootécnicas das codornas
Peso do pinto ao nascer 10 gramasPeso da ave adulta fêmea 150 gramas - macho 120 gramasInício de postura 45 diasPeríodo de produção 10 mesesPercentagem de postura até 80%Ovos por ave por ciclo produtivo 250 a 300 ovosPeso médio do ovo 10 a 12 gramasPeríodo de incubação 16 diasIdade para abate 45 diasPeso médio de abate 120 gramasConsumo de alimento até o abate 500 gramas
Fonte: EMATER, 2009
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ANEXO 2 – Nomes científicos de todas as espécies cultivadas na UAC
Item n°
Nome vulgar Nome cientifico
1 Abóbora Cucúrbita moschata2 Abobrinha Cucurbita pepo
3 Alface Lactuca sativa
4 Berinjela Solanum melongena
5 Beterraba Beta vulgaris
6 Brócolis Brassica oleracea var. italica
7 Cebolinha Verde Allium pisfulosum
8 Cenoura Daucus carota
9 Coentro Coriadrum sativum
10 Couve Brassica oleracea
11 Couve-flor Brassica oleracea var. botrytis
12 Ervilha torta roxa Pisum sativum
13 Espinafre Tetragonia tetragonioides
14 Feijão branco Phaseolus vulgaris
15 Inhame Colocasia esculenta
16 Mamão Carica papaya
17 Mandioca Manihot esculenta
18 Maxixe Cucumis anguria
19 Melancia Citrullus vulgaris
20 Melão Cucumis melo
21 Milho Verde Zea mays
22 Pepino Cucumis salivus
23 Pimenta malagueta Solanum pseudocapsicum
24 Pimentão Verde Capsicum annuum
25 Quiabo Abelmoschus esculentus
26 Rabanete Raphanus sativus
27 Repolho Brassica olaracea
28 Rúcula Eruca sativa
29 Salsão Petroselinum crispum
30 Tomate Lycopersicon lycopersicum
31 Tomate Cereja Lycopersicon esculentum
32 Vagem Phaseolus vulgaris
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ANEXO 3 – Principais alimentos e suas composições nutricionais
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ALIMENTO
Valor Calórico
Carboidratos Proteínas
Gord.
Total Gord. Sat. Colesterol Fibra Tot.
Ca Fe
NaIN NATURA (Kcal) (g) (g) (g) (g) (mg) (g)
(mg) (mg)(mg)
Abóbora 40,00 9,80 1,20 0,30 nd nd 1,30 12,00 0,70 32,10Abobrinha 20,00 4,36 1,19 0,21 0,04 0,00 1,90 20,00 0,46 2,00Acelga 19,00 3,75 1,81 0,20 0,04 0,00 1,60 51,00 1,80 213,00Agrião 17,22 2,03 1,60 0,30 nd 0,00 1,47 180,00 3,14 12,00Aipo 16,00 3,66 0,75 0,14 0,04 0,00 1,50 40,00 0,40 87,00Alcachofra 79,00 16,70 2,60 0,20 nd nd 2,00 39,00 1,00 70,30Alface 16,00 2,30 1,20 0,20 nd nd 1,10 38,00 1,10 12,00Alho 149,00 33,10 6,37 0,50 0,09 0,00 2,10 181,00 1,70 17,00Alho Poró 61,00 14,20 1,51 0,30 0,04 0,00 2,50 59,00 2,10 20,00Almeirão 23,00 4,71 1,71 0,30 0,07 0,00 3,81 100,00 0,90 45,00Aspargo 23,00 4,55 2,29 0,20 0,05 0,00 2,10 21,00 0,87 2,00Batata 79,00 18,00 2,08 0,10 0,03 0,00 1,60 7,00 0,76 6,00Batata Doce Amarela 125,50 28,31 1,31 0,78 nd nd 1,10 43,00 2,40 ndBatata Doce Branca 89,00 20,00 1,90 0,10 nd nd 1,10 34,00 1,00 50,20Batata Doce Roxa 94,90 21,70 1,82 0,10 nd nd 1,10 40,00 0,90 36,60Berinjela 26,00 6,08 1,03 0,18 0,03 0,00 2,50 7,00 0,27 3,00Beterraba 43,00 9,57 1,62 0,17 0,03 0,00 2,80 16,00 0,80 78,00Brócolis 28,00 5,25 2,99 0,35 0,05 0,00 3,00 48,00 0,88 27,00Broto de Feijão 30,00 5,94 3,05 0,18 0,05 0,00 1,80 13,00 0,91 6,00Cará 118,00 27,90 1,54 0,17 0,04 0,00 4,10 17,00 0,54 9,00Cebola 38,00 8,64 1,17 0,16 0,03 0,00 1,68 20,00 0,22 3,00Cebolinha Verde 30,00 4,36 3,28 0,73 0,15 0,00 2,50 92,00 1,60 3,00Cenoura 43,00 10,10 1,04 0,19 0,03 0,00 2,60 27,00 0,50 35,00Chicória 21,00 2,90 1,60 0,30 nd nd 1,80 29,00 1,50 105,30Chuchu 24,00 5,41 0,90 0,30 tr 0,00 3,00 19,00 0,40 4,00Couve 50,00 10,00 3,31 0,70 0,09 0,00 3,00 135,00 1,70 43,00Couve Manteiga 25,00 4,50 1,40 0,10 nd nd nd 330,00 2,20 243,80Couve de Bruxelas 43,00 8,97 3,39 0,30 0,06 0,00 4,95 42,00 1,40 25,00Couve-flor 25,00 5,21 1,99 0,21 0,03 0,00 1,95 22,00 0,44 30,00Ervilha fresca 81,00 14,50 5,43 0,40 0,07 0,00 5,10 25,00 1,47 5,00Espinafre 22,00 3,51 2,87 0,35 0,06 0,00 2,70 99,00 2,71 79,00Gengibre 70,83 15,00 1,67 0,83 0,00 0,00 2,08 16,67 0,50 12,50Grão-de-bico 364,00 60,70 19,30 6,05 0,63 0,00 12,00 105,00 6,25 24,00Inhame 118,00 27,90 1,54 0,17 0,04 0,00 4,10 17,00 0,54 9,00Jiló 38,00 7,00 1,40 1,10 nd 0,00 1,20 22,00 1,00 ndMandioca 120,00 26,90 3,11 0,39 0,10 0,00 1,65 91,00 3,60 8,00Mandioquinha Salsa 104,00 24,90 0,80 0,20 nd nd 0,60 29,00 1,20 ndMaxixe 5,10 1,00 0,14 0,06 nd nd nd 3,00 0,04 ndMilho Doce 386,50 66,72 11,62 8,13 nd nd 2,70 9,00 0,32 3,00Milho Verde 129,00 27,80 3,30 0,80 nd 0,00 1,50 8,00 0,80 ndMoranga 18,50 2,70 1,87 0,06 nd nd 0,90 31,00 1,77 3,00Nabo 27,00 6,24 0,90 0,10 0,01 0,00 2,45 30,00 0,30 67,00Pepino 13,00 2,77 0,69 0,13 0,04 0,00 0,68 14,00 0,26 2,00Pimenta Malagueta 38,00 6,50 1,30 0,70 nd nd 1,50 14,00 0,45 7,00Pimentão Amarelo 27,00 6,33 1,01 0,21 0,03 0,00 2,30 11,00 0,46 2,00Pimentão Verde 27,00 6,44 0,89 0,19 0,03 0,00 1,73 9,00 0,46 2,00
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