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este artigo traça uma breve história da indústria têxtil no brasil e sua crescente ParticiPação no mercado
internacional. o grande Potencial de atuação no comércio exterior faz do
setor têxtil um Poderoso segmento industrial, considerando matéria-Prima, variedades de tecelagem e acabamentos aliadas a modernas
técnicas emPresariais.
No imaginário popular, a história da indústria têxtil do
Brasil começou com a chita, “tecido ordinário de algodão
e estampado em cores”, segundo definição do dicionário
brasileiro Aurélio. Afinal, a chita estampada com desenhos de flores
e cores aberrantes, incluindo o vermelho-encardido, surgiu na Índia
e chegou ao Brasil com os portugueses para vestir primeiramente os
negros escravos, depois os trabalhadores rurais nos engenhos de cana-
de-açúcar, mais tarde os colonos nas fazendas de café, lá adiante as
meninas nas festas juninas e até os pequenos e grandes personagens da
nossa literatura. Por isso, a chita incorporou-se na cultura nacional e
representa um pouco da alegria, malícia e arte faceira da nossa gente.
Mas a história da indústria têxtil no Brasil é muito mais antiga,
tendo começado com os índios que habitavam a terra brasileira milha-
res de anos antes da chegada dos europeus ao País, a partir de l.500. E
foi a necessidade de produzir seu próprio tecido para vestir o seu povo
que fez surgir, há mais de 200 anos, as primeiras fábricas do nosso par-
que industrial, que se desenvolveu influenciado pela mistura das cul-
turas nativas, européias e negras. Embora muito jovem, se comparada
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com a tradição milenar das indústrias têxteis da Europa e Ásia, a força
do setor têxtil brasileiro é exatamente a valentia da sua juventude, pois
permitiu que conquistasse posições que o igualam aos grandes produ-
tores históricos.
Não por acaso, o Brasil já tem o sexto maior parque têxtil do
mundo, é o segundo no ranking mundial na produção de denim e o
terceiro na de malharia. Emprega atualmente mais de 1,5 milhão de tra-
balhadores, sendo o segundo maior empregador da indústria de trans-
formação. Hoje já temos 30 mil empresas produtoras de fibras naturais
e químicas, de fiações, de tecelagens, de confecções e de moda ponti-
lhando o mapa do Brasil.
Todos esses segmentos concentram sua representação na Associa-
ção Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (ABIT), onde discutem
em conjunto as necessidades e as estratégias do setor brasileiro, permi-
tindo de forma inédita no mundo uma integração completa entre todos
os elos da cadeia têxtil, incluindo o setor varejista. Por isso mesmo,
os compradores internacionais chegam em número cada vez maior ao
Brasil para conhecer a moda brasileira e se surpreendem quando visi-
tam as nossas fábricas, tão modernas e com a mesma tecnologia de
algumas poucas no mundo. Ficam fascinados com o olhar singular e
o jeito do brasileiro para criar padrões, estampas, misturar texturas e,
principalmente, modelar as peças.
Organizadas principalmente para atender esse grande mercado
consumidor interno, as indústrias têxteis e de confecção brasileiras
estão ampliando sua participação no mercado internacional. Muitos
empresários já atuam no comércio exterior, outros fortaleceram suas
posições já conquistadas e milhares estão se capacitando para também
ultrapassar as fronteiras nacionais rumo ao grande e potencial mercado
mundial.
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Ainda assim, sabemos que a ampliação da participação brasileira
nos negócios externos, mesmo com o fim do Acordo de Têxteis e de
Vestuário no fim de 2004, certamente não será fácil e nem será emprei-
tada de curto prazo. Não desconhecemos que o mapa-múndi têxtil tem
se estruturado em torno de acordos de preferência comercial junto aos
principais mercados consumidores dos Estados Unidos, União Européia,
Canadá e Japão.
Portanto, para não perder a competitividade, o jovem setor brasi-
leiro deverá usar, mais do que nunca, toda sua fibra e criatividade para
obter seus próprios acordos e ainda superar as contradições e dificul-
dades intrínsecas da economia brasileira. O esforço e o talento dos pro-
fissionais, dos trabalhadores e empresários brasileiros da cadeia têxtil e
de confecção estão ajudando a escrever uma história de sucesso e per-
mitindo que o Brasil entre na moda através de sua cultura, suas cores e
sua alegria. A coragem e otimismo de enfrentar os desafios e enxergar
sempre onde estão as oportunidades também são características daque-
les que compõem este setor.
Indústria Têxtil - Gaspar - SC
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a força que brota da terra e da tecnologia
A força do setor têxtil e de confecção brasileiro nasce literalmente
da terra, no plantio e no cultivo do algodão, em cadeia, pelos campos
do interior do País. Para isso os cotonicultores nacionais investiram
durante anos em avanços tecnológicos e em maquinário para transfor-
mar o Brasil num dos maiores produtores mundiais, colhendo hoje 1,3
milhão de toneladas de fibra anualmente. Assim, desde 2001 o setor
têxtil brasileiro se tornou auto-suficiente para o seu consumo de fibra
natural, absorvendo cera de �00 mil toneladas de algodão e exportando
o excedente. Enquanto isso, o governo, o setor privado e a área acadê-
mica desenvolvem em conjunto pesquisas tecnológicas para melhora-
mento contínuo da qualidade do algodão brasileiro, já considerado um
dos melhores do mundo.
Por conta da incorporação pela indústria têxtil brasileira de moder-
nas tecnologias e a utilização de matérias-primas de origem química, o
Brasil desponta também como importante produtor de fibras artificiais
e sintéticas, focadas nas especialidades que agregam valor aos produtos
com elas fabricados.
Contando com grande disponibilidade de matérias-primas, as fia-
ções e tecelagens brasileiras avançaram. Estão entre as oito maiores
do mundo na produção de tecidos e, de acordo com o Instituto de
Estudos e Marketing Industrial (IEMI), já produz mais de 1,312 milhão
de toneladas por ano. O Brasil desenvolve produtos de alto valor agre-
gado, desde tecidos inteligentes até lã fria, alcançando os mercados
mais exigentes do mundo. Por isso, várias tecelagens brasileiras parti-
cipam anualmente de feiras internacionais como a Texworld e Premiére
Vision, consideradas as maiores do cenário mundial. Não por acaso, em
2005, o Brasil foi o país-tema das edições primavera-verão e outono-
inverno da Texworld.
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No segmento de confecção, a linha de cama, mesa e banho é a
locomotiva que puxa boa parte do volume de confecção brasileira
exportada, já se tornou referência internacional e o Brasil está entre
os cinco maiores produtores mundiais. Só para os Estados Unidos são
exportadas por ano �0 milhões toalhas de banho e o País tem produção
suficiente para exportar muito mais, particularmente agora que não há
mais limitação de cotas. Empresas no Brasil atendem pedidos de todo
o mundo e são destaques na Heimtextil, na Alemanha, e na Market
Week, em Nova Iorque, as maiores “vitrines” desse segmento no mer-
cado internacional.
Além de ser o segundo maior produtor de índigo do mundo, a
indústria brasileira também se especializou no design e no acabamento
para a confecção de jeanswear. Hoje esse segmento é responsável por
grande parte das exportações brasileiras de vestuário e fornece tanto
para marcas de renome que atendem um público de maior poder aqui-
Indústria - Linhas - Gaspar - SC
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sitivo, quanto para grandes lojas de departamento com marca própria
ou private label. Como conseqüência, diversas grifes mundiais famosas
de jeanswear têm uma pitada brasileira nos produtos, sejam o denim ou
mesmo o design e a confecção realizada aqui.
o sol, a mulher e a sedução do biquíni
Oito mil quilômetros de costa, com sol o ano todo, bronzeando
e tornando ainda mais belas as mulheres brasileiras, constituem, no
nosso país, os fatores fundamentais na inspiração para desenvolver os
biquínis mais desejados de todo o mundo. A sensualidade, a ginga e a
alegria das nossas mulheres, aliadas ao design e estampas diferencia-
das, conferem à moda praia nacional identidade única, hoje procurada
e copiada internacionalmente. Só no ano passado, as exportações de
moda praia cresceram mais de �0% e o crescimento não foi só em
volume, mas também em preço médio das peças, o que demonstra cla-
ramente que o Brasil está vendendo muito mais do que confecção de
biquínis. Está vendendo moda com marca nacional.
Assim como a moda praia, a sensualidade e a qualidade também
são características fundamentais do lingerie brasileiro, que conquista
cada vez mais o mercado internacional. Empresas brasileiras fornece-
doras de importantes lojas no mundo também estão exportando para
grifes famosas da Europa e Estados Unidos e as vendas externas cresce-
ram 1�,5% nos dois últimos anos. A moda íntima brasileira, com fortes
pólos de confecção, emprega atualmente 32 mil pessoas, a maioria for-
mada por costureiras que produzem �00 milhões de peças por ano. Hoje
o governo já contabiliza seis mil empresas atuando na área, que juntas
respondem por �,6% do faturamento total de vestuário no Brasil.
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Como a população brasileira é jovem, com grande número de
crianças e adolescentes na faixa entre zero e 16 anos, o segmento da
confecção infantil tem destaque no Brasil. O desenvolvimento da moda
infantil no País vem atraindo a atenção dos compradores pelo caráter
criativo e qualidade das peças. Por isso mesmo, a cada edição, as fei-
ras infantis do Brasil recebem mais compradores internacionais, o que
possibilitou que algumas marcas brasileiras já tenham showroom e até
lojas próprias na Europa e Ásia. O segmento de Fitness brasileiro, muito
ligado à moda praia, é outro que vê crescer sua participação no exte-
rior, assim como o da moda masculina, que já representa atualmente
35% do faturamento total do vestuário brasileiro.
a brasilidade no glamour das Passarelas
Embora as feiras internacionais, missões comerciais e rodadas de
negócios sejam importantes oportunidades para aumentar as exporta-
ções de têxteis e de confeccionados brasileiros, as semanas de moda
realizadas no Rio de Janeiro e em São Paulo estão sendo decisivas para
consolidar a imagem da moda nacional. Com mais de 50 desfiles e rea-
lizada há 10 anos, a São Paulo Fashion Week, por exemplo, é a quinta
maior semana de moda do mundo, bastante visitada também por com-
pradores externos e que, na sua última edição, teve a cobertura de �0
veículos da imprensa internacional. O Fashion Rio, com quatro anos de
existência e quase 40 desfiles na última edição de junho de 2005, já é
um importante evento que movimenta o setor e atrai grandes redes de
varejo, que também realizam compras no Fashion Business, um evento
de negócios realizado junto com o glamour da moda.
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As semanas de moda representam, portanto, o topo de uma pirâ-
mide, mas na base dessa grande estrutura estão milhares de confecções,
centenas de tecelagens e fiações, a disponibilidade de toneladas e tone-
ladas de algodão, seda, lã, fibras sintéticas e artificiais, movidas pelo
talento e esforço de centenas de milhares de mulheres e homens. Uma
indústria que tem sucesso porque utiliza tecnologia de ponta está organi-
zada com métodos empresariais modernos, tem escala na produção, custo
competitivo e capital compatível com uma atividade intensiva em capital.
É, principalmente, criativa na produção de tecidos de qualidade e padro-
nagens brasileiras e, por isso, conseguiu resgatar por inteiro o legado
dos nossos antepassados, uma herança que assegura o sucesso em nosso
artesanato e em toda a moda inspirada na riqueza da cultura nacional.
associação fortalece o setor
A Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (ABIT)
começou a ser organizada por um grupo de industriais em 1�5� e fun-
ciona com o atual nome desde 1��0, quando encarou o desafio de
promover e desenvolver de forma sustentável e sustentada a cadeia
produtiva de têxteis e confeccionados. Para isso, o trabalho da ABIT se
concentra hoje nas áreas de Comércio Exterior, Negociações Internacio-
nais, Fortalecimento da Confecção Nacional, Reforma Tributária e Tra-
balhista e Promoção da Cadeia Têxtil, através do programa Texbrasil de
incentivo às exportações.
No comércio internacional concentram-se as áreas de comércio
exterior, trabalho que a entidade desenvolve em conjunto com os órgãos
responsáveis do governo federal. Para tanto, a ABIT monitora os fluxos
mundiais de comércio de têxteis e confeccionados e coordena processos
de antidumping e salvaguardas. Na área de negociações internacionais
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o setor acompanha e participa de todos os fóruns internacionais (OMC,
Alca, Mercosul, União Européia, Comunidade Andina, México) e realiza
estudos de tarifas, lista de preferências e propostas internacionais.
Fortalecer a confecção nacional é outro tema estratégico para
o Brasil ganhar cada vez mais mercados. Nesta área, empresários,
governo e institutos acadêmicos estão desenvolvendo estudos, pesqui-
sas e alguns pilotos para os Arranjos Produtivos Locais e para as Pla-
taformas Produtivas de Alto Desempenho. Como nesses estudos estão
apontadas reformas necessárias para o sistema de tributação e leis tra-
balhistas. Essa é, portanto, outra área focada pela ABIT. A entidade
tem apresentado ao governo freqüentemente sugestões embasadas em
estudos e projeções e tem mantido encontro com o corpo técnico dos
ministérios para análise conjunta das soluções.
Por fim, a ABIT tem avançado no mercado internacional e irá dar
prosseguimento ao Programa Texbrasil, em parceria com a Agência
de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil). O objetivo
do Programa agora é aumentar o número de empresas exportadoras,
treinando-as e capacitando-as para o comércio exterior. A Associação
quer ampliar as oportunidades de negócios internacionais através do
Texbrasil. Para tanto, estão sendo feitas parcerias com vários sindicatos
do setor e unidades do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas
Empresas (Sebrae) em todo o Brasil, bem como com redes de varejo
internacional e câmaras de comércio.
O programa Texbrasil foi criado em 2000 e nos últimos quatro anos
conseguiu resultados além das expectativas. Realizando 21� palestras
com a participação de 21 mil empresários, incentivando e patrocinando
a visita de 302 jornalistas internacionais ao Brasil e coordenando a
participação do setor brasileiro em cerca de �0 feiras internacionais, o
Texbrasil, dentre outros resultados, aumentou em �0% as exportações
de têxteis brasileiros, fez crescer em 34% o número de países de destino
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e aumentou em �6% a quantidade de empresas exportadoras. Até o
momento R$ �0 milhões foram investidos entre o apoio da Apex-Brasil
e a contrapartida das empresas, obtendo-se um resultado de US$ �5�
milhões em negócios realizados. Em razão dessas conquistas é que a
ABIT obteve novo convênio com a Apex-Brasil estimado em mais de
R$ 24 milhões de investimentos, sendo a meta brasileira do setor a de
chegar a US$ 4 bilhões em exportações até 200�.
Perfil do setor têxtil e de confecção brasileiro
6º maior produtor têxtil do mundo
Auto-suficiência em algodão, com produção de 1,3 milhão de toneladas
Produz �,2 bilhões de peças de vestuário/ano
2º maior produtor mundial de índigo
3º maior produtor mundial de malha
5º maior produtor mundial de confecção
�º maior produtor mundial de fios e filamentos
�º maior produtor mundial de tecidos
30 mil empresas instaladas
Empregada 1,5 milhão de trabalhadores
US$ 25 bilhões de faturamento (2004)
US$ 2,0� bilhões em exportação (2004)
US$ 656 milhões de superávit na balança comercial do setor (2004)
2� Faculdades de Moda
5ª maior Semana de Moda do mundo
Josué gomEs da silVa
Presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (ABIT)
www.abit.org.br
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