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A INCIDÊNCIA DOS SINTOMAS DA SINDROME DE OVERTRAINING EM CORREDORES DE FUNDO
Lucydena do Socorro Lobão Marques
Aluna concluinte do CEDF/UEPA lucy_marques91@hotmail.com
Divaldo Martins de Souza Professor Doutor orientador do CEDF/UEPA
divaldodesouza@superig.com.br RESUMO A síndrome de overtraining promove alterações no desempenho físico e mental decorrente do desequilíbrio entre estresse e recuperação, apresentando variados sintomas. O objetivo deste estudo foi verificar a incidência dos sintomas da síndrome de overtraining em corredores de fundo, através da pesquisa de campo do tipo descritiva. A amostra contou com 65 corredores de ambos os gêneros, sendo 30 mulheres e 35 homens, na faixa etária de 25 a 45 anos. Foram utilizados os questionários POMS (Perfil de estado de humor) e SFMS (Questionário de sintomas clínicos de overtraining) e uma anamnese para o reconhecimento dos aspectos gerais do corredor. Os sintomas abrangem os aspectos fisiológicos, de rendimento, psicológicos, imunológicos, sociais e alimentares. Afetando a performace física e a saúde do corredor. Os dados obtidos no estudo foram analisados através da estatística descritiva para a caracterização da amostra e da estatística inferencial para comparação das prevalências (qui-quadrado) e das médias dos sintomas e dos perfis (análise de variância one way), adotando um nível de significância de p≤0,01. Os principais resultados observados apontam para níveis de tensão, depressão, raiva e vigor elevados, bem como, nos sintomas clínicos, os de rendimento, fisiológicos e psicológicos elevados na amostra. Palavras-chave: Treinamento; Corrida; Overtraining; Sintomas.
1 INTRODUÇÃO
A corrida de rua é um esporte que vem conquistando muitos adeptos no Brasil
e no mundo. Pois, é um esporte de baixo custo, de fácil execução e que é crescente
o número de competições durante o ano. Entretanto, é comum atletas e não atletas
excederem os limites de suas capacidades físicas e psicológicas frente ao desafio
de enfrentarem cargas exageradas de treinamento aliadas a períodos insuficientes
de recuperação (ROHLFS et al., 2005 apud SIMOLA, 2007).
Tendo em vista a teoria da supercompensação, muito utilizada pelos
treinadores para que se obtenham avanços no rendimento esportivo, a síndrome de
overtraining pode estar diretamente relacionada ao principio de sobrecarga
progressiva. Segundo Barbanti (1997), a teoria indica que as reservas energéticas
gastas durante o processo de contração muscular são refeitas ou repostas apenas
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no período de recuperação, ou seja, de descanso. Desta forma, se a reposição não
ocorrer na proporção igual à condição anterior ao exercício, caracterizará o
sobretreinamento.
A síndrome do overtraining se tornou um problema significativo e frequente no
esporte de alto rendimento, abreviando carreiras promissoras. Segundo Lehmann et
al. (1999), o overtraining pode ser definido como um desequilíbrio entre estresse e
recuperação, ou seja, grandes fatores estressantes com pouca recuperação. Dentre
as consequências dessa síndrome pode ser destacado a queda do desempenho e o
abandono da atividade como os principais fatores.
Verificar a incidência dos sinais e sintomas prevalentes da síndrome do
overtraining em corredores fundistas (corredores de longa distância) é o objetivo
deste estudo. Tendo em vista a descrição dos sintomas relacionados aos
marcadores e como a síndrome interfere nos aspectos físicos e mentais do corredor.
A popularização da prática esportiva fez com que aumentasse o número de lesões
associadas a essa modalidade. De acordo com Hino et al. (2009, p. 36) “os
indivíduos que a praticam, seja no âmbito competitivo ou recreativo, estão expostos
aos eventuais riscos associados”.
Em geral os corredores de fundo só respeitam as limitações físicas quando
seu corpo já não consegue ter o mesmo desempenho, no caso quando se expõe
aos excessos de treinamento provocando lesões. As lesões são condicionadas por
traumatismos de repetição das estruturas ósseas e tendinosas dos membros
inferiores e da coluna vertebral, resultando em fraturas de fadiga, além de lesões
dos tecidos moles (FEITOSA; MARTINS JÚNIOR, 2000).
Com um número crescente de praticantes de corrida de fundo, o estudo é de
grande relevância por alertar o número de incidência dos sintomas ocasionados pela
síndrome do excesso de treinamento e ser instrumento de investigação de
treinadores, profissionais de educação física e de outras áreas para o
monitoramento de seus atletas. Com o elevado número de competições durante o
ano, se faz necessário o planejamento dos treinos e provas; e sempre respeitando
os intervalos de recuperação para que o corredor evolua no esporte.
3
2 METODOLOGIA
O estudo se trata de uma pesquisa do tipo descritiva de abordagens
qualitativa e quantitativa. Realizada com corredores de fundo que participam de
grupos de corrida ou assessorias esportivas da cidade de Belém do Pará, de ambos
os gêneros, na faixa etária de 25 a 45 anos, apresentando pelo menos um ano
regular de atividade. A amostra foi constituída por 65 corredores escolhidos
aleatoriamente a partir do retorno do TCLE.
Foram avaliados na anamnese os hábitos gerais como: alimentação, horas
destinadas ao descanso e ao treinamento, se o treinamento é seguido fielmente, a
ocorrência de outras atividades além da corrida, frequência de treinamento, a média
de quilômetros por semana, a ocorrência de lesões, se o corredor fazia uso de
medicamentos, cigarro e se ingeria bebida alcoólica, além dos objetivos da pratica
esportiva pelo corredor. As perguntas presentes na anamnese foram do tipo abertas
e fechadas.
Outros instrumentos utilizados foram os questionários POMS (Perfil de Estado
de Humor) que avaliou os aspectos psicológicos e o questionário de sintomas
clínicos do overtraining (SFMS) é um método desenvolvido para quantificar os
sintomas iniciais do overtraining. Os dados foram coletados no período de 10 de
agosto a 25 de outubro de 2015.
A análise estatística do estudo foi realizada através do pacote estatístico
SPSS 22.0, onde se adotou a estatística descritiva para caracterização da amostra e
a estatística inferencial para a comparação dos dados. Os dados qualitativos foram
descritos através dos valores absolutos e relativos e sua comparação foi feita
através do teste do qui-quadrado, enquanto os dados quantitativos foram descritos
através da média aritmética e desvio padrão, e sua comparação foi feita através do
teste de análise de variância de um critério para a comparação dos níveis do perfil
de humor e dos sintomas do overtraining. Adotou-se um nível de significância de
p≤0,05 para a inferência estatística.
O estudo teve seu protocolo analisado e aprovado junto ao comitê de ética e
pesquisa em seres humanos do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde da
Universidade do estado do Pará, sob o número 1.163.696 de 31 de julho de 2015,
sendo iniciado somente depois desta aprovação.
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3 REVISÃO DE LITERATURA
3.1 A Corrida
A corrida é uma ação que se manifesta desde as civilizações mais antigas
seja por necessidade ou expressão, é o que sugerem registros arqueológicos que
comprovam sua ação. A prática da corrida trás consigo a presença da dor, da
superação, do risco ao fracasso e até a ocorrência da morte. Como é evidenciada na
lendária origem da maratona, a morte encerra a narrativa sobre um saldado que
percorreu mais de 35 km entre as cidades de Maratona e Atenas para avisar a
vitória dos gregos sobre os persas na guerra, isso ocorreu por volta do ano 490 a.C.
(OLIVEIRA, 2010, Apud GONÇALVES, 2011).
Segundo Mikahil e Salgado (2006) as corridas de rua surgiram e se
popularizaram na Inglaterra durante o século XVIII. Posteriormente, expandiram-se
para o restante da Europa e Estados Unidos. Pouco após a metade do século XIX,
por volta de 1970, a prática de corridas de rua aumentou bruscamente com o
chamado “Jogging Boom” baseada na teoria do médico norte-americano Kenneth
Cooper, que pregava a prática de corridas como fator de melhoria da saúde da
população.
O aumento no número de praticantes veio acompanhado de um aumento no
número de provas competitivas, inserindo definitivamente as corridas de rua no
contexto do Treinamento Desportivo. São fatores motivacionais que predominam
para o maior número de adeptos e também que garante a permanência destes.
Dentre os motivos mais apontados em pesquisas estão presentes a saúde como
primeira dimensão e em segundo o prazer da atividade.
Atualmente, o critério da Federação Internacional das Associações de
Atletismo (IAAF, 2005) define as Corridas de Rua, as chamadas provas de
pedestrianismo, como as disputadas em circuitos de rua, avenidas e estradas, com
distâncias oficiais variando de 5 a 100Km.
A prática de corrida por um longo período de tempo traz benefícios físicos e
mentais ao participante (MORGAN; COSTILL,1996, apud PEREIRA, 2010). Entre os
benefícios mais apontados por pesquisas então redução do percentual de gordura,
alívio do estresse do cotidiano, aumento da capacidade aeróbia, aumento da
disposição física, prevenção de doenças, melhoria da autoestima e ampliação do
circulo de amizades.
5
Segundo Oliveira 2010 (apud GONÇALVES, 2011), pertencer ao contexto
esportivo e se apresentar como ‘‘atleta’’ ou ‘’corredor’’ passou a ter um valor
simbólico e de superioridade física, disciplina e outros valores que, em geral, dão ao
individuo um lugar de respeito na comunidade.
3.2 Overtraining
A síndrome do overtraining pode ser definida como uma resposta ao estresse
provocado pelo treinamento devido o aumento das variáveis de intensidade e/ou
volume, e o tempo insuficiente para a recuperação. O overtraining é uma condição
complexa, caracterizada por um conjunto de sinais e sintomas, em resposta a um
planejamento inadequado do treinamento esportivo (DA CRUZ et. al., 2013).
O overtraining tem sido um fenômeno cada vez mais observado entre
corredores de fundo. De acordo com Baptista et al. (1999 apud SILVA et. al 2004)
estudos sugerem que o overtraining é caracterizado por uma disfunção do eixo
hipotálamo-hipófise, devido ao estresse repetitivo, de natureza física ou não, sendo
essa desordem neuroendócrina o fator principal de sua patogênese.
Diferentes termos têm sido usados para definir overtraining como: “overwork”,
“overreaching”, estafa (staleness), “burnout”, “overfatigue”, overtraining a longo e
curto prazo e outros. O overreaching ocorre na fase inicial ao overtraining devido ao
acúmulo do estresse do treinamento e de outros fatores que resultam em uma
diminuição da capacidade de rendimento e está associado à fadiga muscular ou
periférica, a qual é restaurada entre alguns dias a duas semanas. O overreaching
pode ainda ser entendido como parte do processo da supercompensação do
organismo que ocorre após dias de treinamento intenso.
Conhecer e identificar o overreaching e essencial, para que o treinador
manipule as variáveis do treinamento, a fim de proteger seu atleta contra as
adaptações negativas, já que, o overreaching pode se tornar uma fase positiva se for
planejado previamente (BUDGETT, 1990; HALSON; JEIKENDRUP, 2004; HALSON
et al., 2002 apud NUNES 2010).
No entanto, o overtraining pode ser caracterizado por uma fadiga centralizada
e sua recuperação pode demorar semanas ou meses. Atletas com overtraining
apresentam alterações fisiológicas, bioquímicas, imunológicas e psicológicas,
acompanhadas de uma redução da performance.
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Com a exigência cada vez maior do mundo esportivo por bons resultados e
conquistas faz com que os atletas excedam os limites de sua capacidade psicofísica,
acabando, na maioria das vezes, resultando em reações negativas ao treinamento e
provocando diferentes sintomas indesejáveis.
De acordo com Silva et. al. (1990), o estresse não pode ser considerado um
fator negativo já que ele é um elemento real e funcional absolutamente necessário
para que as respostas adaptativas positivas ao treinamento ocorram em ambientes
de esporte competitivo.
Segundo Smith (2003), as adaptações negativas do treinamento são
inevitáveis quando se negligencia a recuperação como parte fundamental e
integrante do processo de treinamento, se dando importância somente ao estresse
de treino propriamente dito levando a respostas negativas como queda no
desempenho do atleta.
3.2.1 Formas de Overtraining
De acordo com Israel (1976), o overtraining pode ser classificado de duas
formas, simpático e parassimpático. O tipo simpático ou clássico é caracterizado
pelo aumento da atividade do sistema nervoso simpático em repouso. O sistema
nervoso simpático provoca alterações básicas das funções do organismo, facilitando
a resposta motora ao estresse agudo ou à atividade física. Apresenta por um estado
hiperadrenérgico ou de hiperfunção da tireóide, é mais raro e tem sido observado
em esportes de força/potência.
A forma parassimpática é caracterizada pela predominância do tônus vagal ou
pela insuficiência adrenal no repouso ou durante o exercício é mais observado em
esportes de resistência, atletas de endurance. As demandas de estresse são
provocas não apenas pelo treinamento, também sendo influenciada pelo estado
emocional do atleta e fatores extras ao treinamento. Os sintomas predominantes
nesta forma são a frequência cardíaca e a pressão arterial aumentadas, longos
períodos de sono e depressão, e em ambas as formas, redução do desempenho.
3.2.2 Diagnóstico
Apesar de ter sido descoberta na década de 70 a síndrome de overtraining
pouco avançou, nos últimos anos, quanto às ferramentas para diagnostico do
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overtraining, apesar de vários marcadores bioquímicos, fisiológicos, imunológicos, e
psicológicos pesquisados (URHAUSEN; KINDERMANN, 2002).
Além da significativa lista de sinais e sintomas, não existem critérios
diagnósticos bem estabelecidos utilizados rotineiramente para se identificar e
impedir o overtraining (ROHLFS et al., 2004; CUNHA et al., 2006). Desta forma, o
monitoramento frequente da combinação de variáveis de rendimento, fisiológicas,
psicológicas, bioquímicas e imunológicas parece ser a melhor estratégia para avaliar
a adaptação do atleta ao treinamento e evitar a síndrome.
Alguns aspectos interferem para se obter um diagnostico preciso dessa síndrome,
como: 1) a variação intraindividual; 2) o volume excessivo e a intensidade de treinamento
afetando diferentemente cada organismo; 3) duas formas de overtraining simpática e
parassimpática com sintomas diferenciados; 4) os marcadores. Os marcadores do
overtraining são definidos como alterações físicas, fisiológicas ou das características
psicológicas associadas aos estímulos que precedem ou acompanham o
aparecimento do sobretreinamento (FRY A., KRAEMER W., 1997, Apud CUNHA,
2006) fisiológicos e bioquímicos apresentam características diferentes de acordo com o
esporte e são influenciados por aspectos psicológicos, sociais e culturais.
3.2.3 Formas de Verificação da Síndrome do Overtraining
Dentre as maneiras utilizadas para detectar e controlar os estágios do
overtraining no aspecto psicológico é possível mencionar alguns questionários, tais
como o POMS (Perfil dos Estados de Humor) e do Questionnaire standardisé de
surentraînement de Société Française de Médecine du Sport – SFMS recentemente
traduzido para o português.
A analise a partir do Perfil de Estados de Humor POMS – Profile of Mood
States (MCNAIR, et al., 1992) mede o estresse psicológico através de suas seis
escalas – tensão/ansiedade, depressão, raiva, vigor, fadiga e confusão mental.
Desta maneira, se constitui em uma das medidas mais completas para avaliar os
efeitos do estresse da carga de treinamentos e da recuperação em variáveis
psicológicas. Este instrumento contém 42 adjetivos que são avaliados numa escala
de 5 pontos correspondendo a (nada – 0, um pouco – 1, moderadamente – 2,
bastante – 3 e muitíssimo – 4) com a exceção dos adjetivos tranquilo, eficaz e
competente.
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O questionário de overtraining SFMS (Societe Francaise de Medicine du
Sport) (BRUN, 2003) foi desenvolvido para quantificar os sintomas clínicos iniciais da
síndrome do overtraining. Foi traduzido, adaptado e validado para a amostra
brasileira por Bara Filho et. al. em 2008. Este instrumento é capaz de medir os níveis
estresse e ajuda a avaliar o grau de sobrecarga em atletas submetidos a programas
de treinamento intenso, através de 54 perguntas agrupadas em seis escalas:
rendimento, fisiológicas, psicológicas, imunológicas, sociais e alimentares. A
avaliação ocorre numa pontuação de 4 pontos, (nunca – 0, às vezes – 1,
frequentemente – 2 e sempre – 3)
3.2.4 Sinais e Sintomas
A manifestação clínica da síndrome se dá através de um conjunto de sinais e
as alterações que são observadas pelo excesso de treinamento destacando - as
neuroendócrinas, imunológicas, bioquímicas e psicológicas (SANTOS, et al., 2006;
KELLMAN; GUNTHER, 2000; MANSO, 2005). As consequências, no entanto, vão da
ordem muscular, passando por problemas nas articulações, e resultam em malefícios no
sistema imunológico e no aspecto psicológico do corredor. Em casos extremos, pode
evoluir para o fenômeno do burnout, culminando com o abandono da prática
esportiva pelo atleta (WEINBERG; GOULD, 2001).
Os sinais mais evidentes em casos de overtraining são a fadiga crônica,
estagnação ou decréscimo de desempenho, infecções respiratórias e alterações de
humor. Para a identificação da síndrome, Fry et al. (1991, apud ALVES, 2006)
dividiram a variedade de sinais e sintomas em quatro categorias: 1) Fisiológicos; 2)
Psicológicos; 3) Neuroendócrinos ou Bioquímicos; e 4) Imunológicos. Entretanto,
com a manifestação de outros aspectos apontados pelos atletas foram agrupados
mais dois: 5) Parâmetros de desempenho e 6) Processamento de informação, que
são descritos no quadro 1.
A incidência do supertreinamento e sintomas no esporte variam de acordo
com a modalidade. Esportes que envolvem grandes cargas de treinamento
frequentemente demonstram maior número de resultados negativos, como as
modalidades de corridas, natação, futebol, ciclismo e remo. (DA CRUZ. et al., 2013)
9
QUADRO 1 - Marcadores, Sinais e Sintomas do Overtraining.
Fisiológico
Alterações na pressão arterial, alterações na frequência cardíaca
de repouso, durante o exercício e na recuperação. Frequência
respiratória aumentada. Consumo de oxigênio aumentado em
exercício submáximo. Massa gorda diminuída. Massa magra
aumentada. Anormalidade na onda T do eletrocardiograma
(ECG). Fadiga crônica. Taxa do metabolismo basal aumentada.
Psicológico e Comportamentais
Fadiga mental constante. Apetite reduzido. Distúrbios de sono
(hipo ou hipersonia). Depressão. Apatia geral. Autoestima
reduzida. Instabilidade emocional. Medo de competição.
Dificuldade de se concentrar no trabalho e nos treinamentos.
Desistência quando as metas são muito intensas.
Indicadores neuroendócrinos e
Bioquímicos
Proteína C-reativa elevada. Creatinaquinase elevada. Equilíbrio
de nitrogênio negativo. Concentração de uréia aumentada.
Produção de acido úrico aumentada. Disfunção hipotalâmica.
Níveis de glicogênio muscular deprimidos. Déficit de minerais (Zn
e Al). Hemoglobina diminuída. Testosterona livre diminuída.
Cortisol sérico aumentado. Glutamina plasmática diminuída.
Indicadores Imunológicos
Queixas de dor muscular e articular. Sensibilidade muscular.
Suscetibilidade e severidade aumentada de doenças, resfriados e
alergias. Cefaléia. Náusea. Distúrbios gastrointestinais.
Quantidade de células de defesa aumentada (linfócitos,
eosinófilos, neutrófilos, imunoglobinas – Iga). Edema de glândulas
linfáticas.
Indicadores de Desempenho
Desempenho diminuído. Capacidade de rendimento Maximo
diminuído. Tolerância a carga diminuída. Necessidade de
recuperação prolongada. Força muscular diminuída. Incapacidade
no cumprimento de metas.
Processamento de Informação
Perda de coordenação. Dificuldade de concentração. Capacidade
reduzida em lidar com grande quantidade de informação.
Capacidade reduzida de corrigir falhas técnicas. Repetição de
erros que foram previamente corrigidos.
(adaptado de Alves, 2006, p. 293)
De acordo Smith (2000) e Rogero (2003) estudos demonstram que os
sintomas de overtraining chegam a atingir 65% dos corredores de longa distância
em algum momento da sua carreira profissional, 50% dos jogadores de futebol
semiprofissional após uma temporada competitiva de cinco meses e 21% dos
nadadores da equipe nacional australiana durante uma temporada de seis meses.
Embora não exista indicação de que a síndrome cause danos irreversíveis ao
atleta, o risco de lesão, doenças ou retirada prematura do esporte é aumentado.
Kellmann (2002) afirma que para o controle desses fatores, o repouso ou
treinamento reduzido dentro do programa de treinamento durante algumas semanas
10
ou meses se tornam necessários para uma completa recuperação física e mental do
atleta.
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
O grupo amostral foi constituído por 65 sujeitos com idade de 32,63 ± 6,14
anos, com o mais jovem com 25 anos e o de mais idade com 45 anos, e tempo de
treinamento de corrida de 3,42 ± 2,61 anos, com o que treina a menos tempo com 1
ano e o que treina a mais tempo com 13 anos de treinamento. Destes sujeitos, 30
(46,2%) são do gênero feminino e 35 (53,8%) são do gênero masculino.
A tabela 1 mostra as características gerais da amostra relacionadas ao
treinamento e os hábitos frequentes dos sujeitos da amostra, coletados a partir da
anamnese constituída de 15 perguntas abertas e fechadas.
TABELA 1 - Características amostrais do treinamento e dos hábitos dos sujeitos
(valores absolutos e relativos) e comparação das prevalências (qui-quadrado).
Variável
Prevalência
Qui-quadrado
X2 p
Frequência semanal de treino 2 2/3 3 3/4 4 4/5 6 56,86
<0,01* 11
16,9% 5
7,7% 28
43,1% 5
7,7% 13
20,0% 2
3,1% 1
1,5%
Duração média de treino 30 a 60’ 60’ 60 a 90’ 90’ 2hs 70,15
<0,01* 28
43,1% 31
47,7% 2
3,1% 2
3,1% 2
3,1%
Já participou de competição? Não Sim 49,99
<0,01* 4 (6,2%) 61 (93,8%)
Está se preparando (comp.)? 18 (27,7%) 47 (72,3%) 12,94 <0,01*
Para qual competição? Círio ½ maratona Maratona Outras 73,06
<0,01* 20 (42,6%) 14 (29,8%) 2 (4,3%) 11 (23,4%)
Segue plano de treino? Não Sim As vezes 13,42
<0,01*
23 (35,4%) 33 (50,8%) 9 (13,8%)
Quilometragem semanal 5/10 10/15 15/20 20/30 30/40 40/50 +50 77,89
<0,01* 1
1,5% 14
21,5% 12
18,5% 28
43,1% 3
4,6% 5
7,7% 2
3,0%
Outra atividade paralela? Não Sim 49,99
<0,01* 4 (6,2%) 61 (93,8%)
Qual atividade? Musculação Nat/Cicl Nat/Mus/Cic Outras 284,5
<0,01* 36 (61,0%) 4 (6,8%) 4 (6,8%) 15 (25,4%)
Divisão das atividades (sem.) 3 vezes 5 vezes Todo dia Outra 58,23
<0,01* 29 (47,5%) 8 (13,1%) 7 (11,5%) 17 (27,9%)
Objetivo do treino C. Físico Q. Vida Perform. Saúde Outros 51,15
<0,01* 18
27,7% 11
16,9% 11
16,9% 10
15,4% 15
23,1%
Horas de sono 5 horas 5 a 6 horas 6 a 7 horas 7 a 8 horas 9,40
0,02* 8 (12,3%) 25 (38,5%) 18 (27,7%) 14 (21,5%)
São suficientes? Não Sim 0,14
0,71
31 (47,7%) 34 (52,3%)
11
TABELA 1 - Características amostrais do treinamento e dos hábitos dos sujeitos
(valores absolutos e relativos) e comparação das prevalências (qui-quadrado)
Continuação.
Variável
Prevalência
Qui-quadrado
X2 p
Número de refeições diárias 3 4 5 6 7 25,69
<0,01*
6 9,2%
18 27,7%
23 35,4%
17 26,7%
1 1,5%
Acompanhamento nutricional? Não Sim 12,94
<0,01* 47 (72,3%) 18 (27,7%)
Consome bebida alcoólica? 32 (49,2%) 33 (50,8%) 0,02 0,90
Fuma? 63 (96,9%) 2 (3,1%) 57,25 <0,01*
Uso atual de medicamento? 51 (78,5%) 14 (21,5%) 21,02 <0,01*
Qual medicamento? Anticonc. Vitamina Suplemento Outros 7,71
0,36 5 (35,7%) 2 (14,3%) 2 (14,3%) 5 (35,7%)
Já teve lesão de treino? Não Sim 0,75
0,39 36 (55,4%) 29 (44,6%)
Qual lesão? Tendinite Articular Outras 40,50
<0,01* 13 (46,4%) 10 (35,7%) 5 (17,9%)
Como se pode constatar na tabela 1, a discreta maioria dos sujeitos da
amostra considera que suas horas de sono são suficientes, é consumidor de
bebidas alcoólicas, jamais teve lesão no treinamento e entre os usuários de
medicamentos, a discreta maioria usa anticoncepcional.
A tabela 1 ainda mostra que a maioria significativa dos sujeitos da amostra
treina 3 vezes por semana, com duração de 30 a 60 ou 60 minutos, já participou de
competição, no momento está se preparando para competição, especialmente para
a corrida do círio, segue algum planejamento no treinamento, faz 20 a 30
quilômetros por semana, realiza alguma outra atividade paralela ao treino da corrida,
esta atividade é a musculação, por 3 sessões semanais, tem como objetivo no seu
treinamento o condicionamento físico, dorme 5 a 6 horas por noite,faz 5 refeições
diárias, não tem acompanhamento nutricional, não é fumante, não faz uso atual de
medicamento, e a lesão mais prevalente na amostra é a tendinite.
Em relação ao volume de quilômetros da amostra por semana, alguns
estudos epidemiológicos, que quantificaram os benefícios e riscos da corrida,
mostraram que corredores com distâncias semanais de 25 km ou mais faziam mais
visitas a consultórios médicos (por queixas), do que aqueles com distâncias
inferiores (MARTI et al., 1989 apud SOUZA et. al., 2014). Em outro estudo,
Fredericson e Misra (2007) mostraram que a partir de 64 km de corrida por semana,
a prevalência de lesões aumenta significativamente.
12
Quanto às horas de sono da amostra a maioria significativa dorme de 5 a 6
horas. De acordo um estudo publicado no journal of Clinical Investigation (2014, p.
30) descobriu que o tempo médio de sono para desportistas deve variar entre 8 a 10
horas. Com 6 horas de sono, se treina e não se dorme o suficiente, os músculos não
recebem estímulos que necessitam para crescer e se recuperar. Abaixo de 6 horas a
resistência do atleta reduzirá de 15 a 40%. Com isso, o tempo de sono dos
corredores da amostra é insuficiente para uma restauração das capacidades
fisiológicas e do treinamento.
A predominância da musculação como outra atividade praticada pelos
corredores tem o propósito de reduzir os danos de desgastes das estruturas
osteomusculares e prevenção de lesões como aponta o estudo Freitas e Rodrigues
Junior (2012), o treinamento resistido evita lesões e adquiri aptidões físicas como:
aumento da força e da massa magra, equilíbrio muscular e coordenação para uma
melhor utilização energética e técnicas de movimentos da corrida.
A tabela 2 mostra a prevalência amostral relativa às variáveis do Perfil do
Estado de Humor (POMS) nos sujeitos da amostra. As respostas dos sujeitos foram
para a pergunta “Como você tem se sentido ao longo dos últimos sete dias, incluindo
o dia de hoje?”, em relação a cada sensação apresentada. A análise dos índices
obtidos na pontuação POMS, nos seus seis atributos, Tenso, Depressão, Raiva,
Vigor, Fadiga e Confuso, numa comparação entre estes índices para verificar se há
alguma prevalência de um atributo sobre o outro.
TABELA 2 - Características descritivas das escalas do POMS (média ± desvio
padrão) e comparação das médias (ANOVA one way).
Escalas
Tenso Depressão Raiva Vigor Fadiga Confuso F P
Índices 4,46±3,78 2,34±3,55 2,52±2,35 15,26±4,53 4,75±4,56 1,08±1,34 138,79 <0,01*
Como se pode constatar na tabela 2, foram verificadas diferenças estatísticas
entre os atributos do perfil do estado de humor na amostra. Em que o atributo vigor
apresenta uma prevalência das demais escalas. Segundo Viana et. al. (2001, p. 79)
, vigor é caracterizado por estado energético, vigor físico e psicológico. Apresentado
pelos adjetivos: animado, energético, ativo, cheio de boa disposição e alegre. Ou
seja, apesar da amostra apresentar índices nos demais estados psicológicos, a
maioria significativa apresenta um estado mental saudável com a prática da corrida.
13
A tabela 3 mostra a prevalência amostral relativa aos sintomas do overtraining
nos sujeitos da amostra.
TABELA 3 - Prevalência amostral dos sintomas do overtraining nos sujeitos (valores
absolutos e relativos) e comparação das prevalências (qui-quadrado).
Variável
Prevalência
Qui-quadrado
X2 P
Meu nível de rendimento/minha forma tem piorado
Nunca As Vezes C/Frequência Sempre 34,83
<0,01*
17 (26,2%) 43 (66,2%) 5 (7,7%) ---
Não estou atento como antes 37 (56,9%) 24 (36,9%) 4 (6,2%) --- 25,51 <0,01*
Familiares e amigos percebem mudança no meu comportamento
39 (60,0%) 18 (27,7%) 1 (1,5%) 7 (10,8%) 51,62 <0,01*
Tenho sentido um aperto no peito 59 (90,8%) 4 (6,2%) 2 (3,1%) --- 96,59 <0,01*
Tenho sentido grande palpitação 55 (84,6%) 10 (15,4%) --- --- 31,15 <0,01*
Tenho sentido um nó na garganta 56 (86,2%) 8 (12,3%) 1 (1,5%) --- 82,74 <0,01*
Tenho sentido menos apetite 52 (80,0%) 9 (13,8%) 2 (3,1%) 2 (3,1%) 106,88 <0,01*
Tenho comido mais do que antes (um pouco compulsivamente)
22 (33,8%) 29 (44,9%) 12 (18,5%) 2 (3,1%) 25,65 <0,01*
Tenho dormido mal 18 (27,7%) 40 (61,5%) 6 (9,2%) 1 (1,5%) 55,68 <0,01*
Tenho ficado sonolento durante o dia
12 (18,5%) 39 (60,0%) 12 (18,5%) 2 (3,1%) 46,57 <0,01*
Os intervalos entre os treinos me parecem insuficientes (curtos)
32 (49,2%) 30 (46,2%) 3 (4,6%) --- 24,22 <0,01*
Meu desejo sexual tem diminuído 44 (67,7%) 19 (29,2%) 2 (3,1%) --- 41,20 <0,01*
Meu rendimento tem sido pior 27 (41,5%) 35 (53,8%) 2 (3,1%) 1 (1,5%) 55,55 <0,01*
Tenho ficado resfriado com freqüência
46 (70,8%) 16 (24,6%) 2 (3,1%) 1 (1,5%) 81,28 <0,01*
Tenho tido problemas de memória
44 (67,7%) 16 (24,6%) 4 (6,2%) 1 (1,5%) 70,94 <0,01*
Me sinto acima do peso 25 (38,5%) 28 (43,1%) 9 (13,8%) 3 (4,6%) 27,25 <0,01*
Sinto que estou cansado 17 (26,2%) 37 (56,9%) 9 (13,8%) 2 (3,1%) 42,26 <0,01*
Me sinto inferiorizado 55 (84,6%) 9 (13,8%) --- 1 (1,5%) 78,40 <0,01*
Tenho tido cãibras e dores musculares
39 (60,0%) 22 (33,8%) 4 (6,2%) --- 28,28 <0,01*
Tenho tido dores na cabeça 37 (56,9%) 22 (33,8%) 4 (6,2%) 2 (3,1%) 50,26 <0,01*
Tenho falta de entusiasmo 44 (67,7%) 16 (24,6%) 4 (6,2%) 1 (1,5%) 70,94 <0,01*
Tenho tido mal-estar ou desmaio 61 (93,8%) 4 (6,2%) --- --- 49,99 <0,01*
Tenho tido pouca segurança em mim mesmo
48 (73,8%) 16 (24,6%) --- 1 (1,5%) 53,20 <0,01*
Me sinto fraco e adoentado 55 (84,6%) 9 (13,8%) --- 1 (1,5%) 78,40 <0,01*
Tenho tido dores na garganta 44 (67,7%) 19 (29,2%) 1 (1,5%) 1 (1,5%) 76,48 <0,01*
Me sinto nervoso, tenso, inquieto 29 (44,6%) 31 (47,7%) 4 (6,2%) 1 (1,5%) 46,94 <0,01*
Tenho aguentado o treinamento com muita dificuldade
38 (58,5%) 23 (35,4%) 3 (4,6%) 1 (1,5%) 57,03 <0,01*
Em repouso, meu coração tem batido mais depressa que antes
59 (90,8%) 6 (9,2%) --- --- 43,22 <0,01*
No exercício, meu coração tem batido mais depressa que antes
47 (72,3%) 13 (20,0%) 4 (6,2%) 1 (1,5%) 82,39 <0,01*
Tenho ficado doente 49 (75,4%) 15 (23,1%) --- 1 (1,5%) 56,25 <0,01*
Tenho me cansado facilmente 41 (63,1%) 21 (32,3%) 2 (3,1 1 (1,5%) 65,89 <0,01*
14
TABELA 3 - Prevalência amostral dos sintomas do overtraining nos sujeitos (valores
absolutos e relativos) e comparação das prevalências (qui-quadrado). Continuação.
Variável
Prevalência
Qui-quadrado
X2 p
Tenho tido problemas digestivos
Nunca As Vezes C/Frequência Sempre 83,12 <0,01*
46 (70,8%) 17 (26,2%) 1 (1,5%) 1 (1,5%)
Tenho tido vontade de ficar na cama
22 (33,8%) 29 (44,6%) 13 (20,0%) 1 (1,5%) 27,00 <0,01*
Tenho tido menos confiança em mim mesmo
49 (75,4%) 15 (23,1%) --- 1 (1,5%) 56,25 <0,01*
Tenho me lesionado facilmente 54 (83,1%) 8 (12,3%) 3 (4,6%) --- 72,95 <0,01*
Tenho tido dificuldades para organizar minhas ideias
47 (72,3%) 16 (24,6%) 2 (3,1%) --- 50,34 <0,01*
Tenho tido dificuldades para concentrar nas minhas atividades esportivas
47 (72,3%) 16 (24,6%) 2 (3,1%) --- 48,95 <0,01*
Meus gestos técnicos têm piorado
50 (76,9%) 14 (21,5%) --- 1 (1,5%) 59,48 <0,01*
Tenho perdido a força e a raça 45 (69,2%) 18 (27,7%) 1 (1,5%) 1 (1,5%) 79,68 <0,01*
Tenho tido a impressão de que estou sozinho
57 (87,7%) 6 (9,2%) 1 (1,5%) 1 (1,5%) 137,28 <0,01*
Tenho dormido muito 43 (66,2%) 18 (27,7%) 4 (6,2%) --- 36,03 <0,01*
Tenho tossido muito 56 (86,2%) 8 (12,3%) --- 1 (1,5%) 82,74 <0,01*
Tenho sentido menos prazer na minha atividade esportiva
44 (67,7%) 20 (30,8%) 1 (1,5%) --- 42,86 <0,01*
Tenho tido menos prazer nas minhas horas de lazer
46 (70,9%) 19 (29,2%) --- --- 11,22 <0,01*
Tenho me irritado facilmente 30 (46,2%) 30 (46,2%) 4 (6,2%) 1 (1,5%) 46,82 <0,01*
Tenho tido baixa de rendimento na escola ou trabalho
42 (64,6%) 23 (35,4%) --- --- 5,55 0,02*
Os amigos têm achado que conviver comigo está ficando cada vez mais difícil
54 (83,1%) 9 (13,8%) 2 (3,1%) --- 73,51 <0,01*
As sessões de treino me parecem cada vez mais difíceis
43 (66,2%) 21 (32,3%) 1 (1,5%) --- 40,74 <0,01*
Sou o único responsável pela piora de desempenho esportivo
24 (36,9%) 20 (30,8%) 11 (16,9%) 10 (15,4%) 8,66 0,03*
Tenho sentido minhas pernas cansadas
22 (33,8%) 38 (58,5%) 3 (4,6%) 2 (3,1%) 54,45 <0,01*
Tenho perdido facilmente objetos pessoais
51 (78,5%) 13 (20,0%) 1 (1,5%) --- 62,89 <0,01*
Tenho sido pessimista, tenho pensado negativamente
45 (69,2%) 16 (24,6%) 2 (3,1%) 2 (3,1%) 75,86 <0,01*
Tenho emagrecido 30 (46,2%) 28 (43,1%) 4 (6,2%) 3 (4,6%) 40,17 <0,01*
Tenho me sentido menos motivado
48 (73,8%) 15 (23,1%) 2 (3,1%) --- 51,91 <0,01*
Na tabela 3 se pode ainda observar que a maioria significativa dos sujeitos da
amostra percebe que ás vezes seu rendimento tem piorado, que tem comido mais
que antes, que tem dormido mal e ficado sonolento durante o dia, que seu
rendimento tem sido pior, que se sente acima do peso, cansado, nervoso, tenso e
inquieto, com vontade de ficar na cama, irritado e com as pernas cansadas.
15
Dos onze sintomas descritos na tabela com significância para a síndrome de
overtraining, são apresentados quatro no aspecto fisiológico: dormido mal (61,5%),
sonolento durante o dia (60,0%), vontade de ficar na cama (44,6%) e pernas
cansadas (58,5%). No aspecto de rendimento três sintomas: rendimento piorado
(66,2%), rendimento tem sido pior (53,8%) e sentir cansado (56,9%). Dois sintomas
referentes a escala alimentar: ter comido mais do que antes (44,9%) e sentir acima
do peso (43,1%). O aspecto psicológico com apenas um: sentir nervoso, tenso,
inquieto com (47,7%); e também no social um: ter se irritado facilmente (46,2%).
TABELA 4 – Características descritivas das escalas dos sintomas clínicos do
overtraining (média ± desvio padrão) e comparação das médias (ANOVA one way).
Escalas
Rendimento Fisiológicas Psicológicas Imunológicas Sociais Alimentar F P
Índices 5,35±3,86 6,77±3,90 5,38±5,30 1,45±2,37 1,85±2,01 2,69±1,83 26,57 <0,01*
Como se pode constatar na tabela 4 foram verificadas diferenças estatísticas
entre os índices referentes às escalas dos sintomas clínicos do overtraining da
amostra. Sendo significativos nos aspectos fisiológicos, rendimento e psicológico. E
predominante dentre os sintomas apontados na média do atributo fisiológico,
seguidos dos atributos psicológicos e de rendimento.
5 CONCLUSÃO
Foi possível concluir com a pesquisa, que a amostra em sua grande maioria
apresenta disposição, energia e vigor para a realização da prática da corrida, quanto
a análise do POMS. Na análise do questionário de sintomas clínicos do overtraining
se percebeu que a amostra apresenta alguns sintomas da síndrome de overtraining
disponíveis em todas as categorias (de rendimento, fisiológicas, psicológicas,
imunológicas, sociais e alimentares) verificadas a partir das respostas às vezes,
frequentemente ou sempre.
Os resultados apontam uma predominância das médias desses sintomas no
marcador fisiológico, seguido do psicológico, de rendimento, alimentar, social e
imunológico. Dentre estes os principais sintomas estão relacionados com o sono dos
atletas apesar de uma maioria discreta, na anamnese, ter constatado que as horas
16
de sono são suficientes. O que pode ter afetado em alguma vez no segundo sintoma
predominante que foi o rendimento do atleta ter piorado.
De acordo com o objeto de estudo desta pesquisa que buscava analisar a
incidência dos sintomas da síndrome de overtraining, se pode afirmar que a amostra
apresenta indícios da síndrome com maioria significativa nos quesitos: rendimento
tem piorado, tem comido mais que antes, que tem dormido mal e ficado sonolento
durante o dia, que seu rendimento tem sido pior, que se sente acima do peso,
cansado, nervoso, tenso e inquieto, com vontade de ficar na cama, irritado e com as
pernas cansadas.
O overtraining e uma desordem que afeta um grande número de atletas por
isso, se faz necessário um planejamento de treinos, sistematização das provas e
monitoramento dos atletas. Para que se tenha o melhor desempenho do corredor no
momento certo da competição e que afaste a presença de sintomas indesejados.
THE IMPACT OF SYMPTOMS OF OVERTRAINING SYNDROME IN RUNNES LONG DISTANCE.
ABSTRACT The overtraining syndrome causes alterations to the physical and mental performance, which are caused by the imbalance between stress and recovery that may present many symptoms. The objective of this study was to determine the incidence of symptoms of overtraining syndrome in long distance runners by descriptive field research. The case counts with 65 runners during a year in their regular activities, both genders, the group consists with 30 women and 35 men, between the ages of 25 and 45 years old, the age average was 32,63 years old. It had been used the POMS questionnaire (Profile of mood states) and the SFMS questionnaire (overtraining questionnaire from the French Society of Sport Medicine) and also using anamnesis to recognize the overall aspects of the runner. The symptoms cover physiological aspects of performance, psychological, immunological, social and nutritious. That affects the physical performance and the health of the runner. Data from the study were analyzed using descriptive statistics to characterize the sample and inferential statistics to compare prevalence (chi-square) and the middle of the symptoms and profiles (one way analysis of variance), adopting a significance level of p≤0,01. The main results observed indicate stress levels, depression, anger and high force as well as in clinical symptoms, yield, physiological and psychological high in the sample. Keywords: Training; Race; Overtraining; Symptoms.
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