a antiguidade tardia em textos - pensamento e literatura - andré bueno
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8/14/2019 A Antiguidade Tardia em Textos - Pensamento e Literatura - Andr Bueno
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Pensamento e Literatura
. A Herana do Mundo Antigo- O pensamento pago e seupapel filosfico na Antiguidade Tardia.
. O Elo entre dois mundos: Santo Agostinho- m te!to"re#e so"re o autor $ue construiu a ideologia crist daidade m%dia.
. Os pensadores dos &tempos som"rios&- Os continuadores
do pensamento cristo aps Santo Agostinho' durante aantiguidade tardia.
http://antiguidadetardia.blogspot.com/2008/02/herana-do-mundo-antigo.htmlhttp://antiguidadetardia.blogspot.com/2008/04/o-elo-entre-dois-mundos-santo-agostinho.htmlhttp://antiguidadetardia.blogspot.com/2008/04/os-pensadores-dos-tempos-sombrios.htmlhttp://2.bp.blogspot.com/__tpvm2sAn44/R_OyrSSTGGI/AAAAAAAAAEs/xTVGi-htaSM/s1600-h/CodeAlexandrinusFol65vExplLuke.jpghttp://antiguidadetardia.blogspot.com/2008/02/herana-do-mundo-antigo.htmlhttp://antiguidadetardia.blogspot.com/2008/04/o-elo-entre-dois-mundos-santo-agostinho.htmlhttp://antiguidadetardia.blogspot.com/2008/04/os-pensadores-dos-tempos-sombrios.html -
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. E!egetas menores gregos dos s%cs. #-#i- por Moreschini( Morelli.
. Historiografia )rega *rist- por Moreschini ( Morelli
. Outros Escritores da Antiguidade Tardia- por +.,onder
. A Era das in#ases ,/r"aras no Ocidente- por Moreschini( Morelli
. A 0iteratura dos 1einos 1omano-,/r"aros do Ocidente-por Moreschini e Morelli
.Os Escritores da )/lia- por Moreschini ( Morelli
. Os Escritores do 1eino 2isigodo- por Moreschini (Morelli
A Herana do Mundo Antigo
O grande 3 est/ morto.
43lutarco 4567-895' ;a defeco dos or/culos.
A id%ia de $ue a
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*a"eria aos monges guardar essa rel$uia' tarefa a $ue se
entregariam a um s tempo com =elo e ignorBncia. *onseguiram
sal#/-la' % certo' da destruio "/r"ara $ue se seguiu @ $ueda do
ia do
pensamento antigo mantinha-se intocada' oculta e es$uecida a no
ser por a$uelas almas piedosas $ue no refCgio dos mosteiros
copia#am-lhe as formas. Mesmo estes copiadores dedicados
mantinham-se indiferentes ao seu conteCdo' perdidos no deleite
das iluminuras ou no fer#or das preces.
3or de= s%culos a semente do sa"er permaneceu em som"ras'
en$uanto se discutia o se!o dos an>os' e foi necess/rio $ue os
humanistas do 1enascimento fi=essem tremer o mundo para $ue'
redesco"erta' ela #oltasse a germinar. 3o"re e' pode ser $uestionada em mais de um
aspecto.
;A FAT1EGA A METAIS
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Muito distantes esta#am >/ os anos da )r%cia *l/ssica' onde
surgiram os grandes sistemas filosficos' especialmente os de
Scrates' 3lato e Aristteles' considerados seus maiores
e!poentes. A con$uista macedJnica difundiu a cultura de Atenas
pelo mundo antigo' esta"elecendo uma ponte entre esta e os no#os
e mais florescentes centros como 3%rgamo' Antio$uia e Ale!andria.
;esse contato surge a cultura helenstica $ue' em"ora
imensamente tri"ut/ria ao pensamento grego' ter/ caracteres $ue
lhe so estranhos.
K >/ no perodo helenstico $ue' a par das escolas fundadas por3lato e Aristteles' surgem no#as correntes filosficas como o
epicurismo' o estoicismo e o ceticismo. Ale!andria transformara-se
no maior centro de intercBm"io comercial e espiritual do Oriente'
unindo todas as correntes oriundas dos diferentes po#os $ue o
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$uestes so colocadas ao paganismo ocidental: o sentimento de
degenerao le#a a um profundo pessimismo em relao ao futuro'
a um senso aguado da fragilidade humana' e a id%ia da morte
torna-se o"sessi#a.
A esta sede de so"renatural $ue germina#a' nem a religio romana
- com seu culto oficial ou a crena nos pe$uenos deuses dom%sticos
-' nem as correntes filosficas $ue at% ento ha#iam predominado -
o epicurismo e o estoicismo - eram capa=es de satisfa=er.
,usca#a-se um ;eus $ue se pudesse amar' $ue protegesse nesse
mundo e ao mesmo tempo garantisse a sal#ao eterna. Os romanos#olta#am-se de no#o para o Oriente' de onde >/ irradia#a o #igor
intelectual $ue mantinha o udasmo e do cristianismo' $ue mantinham-se
intransigentes em mat%ria de f%.
Essa o"cecante preocupao com o destino da alma' a e!ig?ncia de
sua sal#ao' penetra' corno no poderia dei!ar de ser' a filosofia'
$ue >/ perdera ali/s grande parte do seu 3restgio. Tam"%m a' amaioria e os maiores filsofos do perodo eram orientais de
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nascimento e' im"udos da$uele mesmo misticismo' dedica#am-se
cada #e= mais @ especulao metafsica. A filosofia transformara-se
gradati#amente em %tica e religio' a"andonando o esprito de
in#estigao $ue a caracteri=ara.
Em resposta a essas no#as e!ig?ncias - $ue su"stituem o ideal do
santo ao do s/"io' a meditao da morte @ da #ida' a aspirao de
;eus @ contemplao do mundo - surgem outras #ertentes
filosficas' como o estoicismo romano' a escola >udaico-
ale!andrina' o neopitagorismo' $ue tendem a desen#ol#er suas
especulaes religiosas so" a autoridade dos grandes filsofos
antigos' particularmente 3lato e 3it/goras' numa mescla $ueguarda#a poucas semelhanas com as doutrinas originais.
3ressionados pela e!panso crist' os defensores do paganismo'
cu>o campo de ao esta#a sendo progressi#amente estreitado'
mo"ili=aram deuses e filsofos ilustres para a defesa de sua causa'
permanecendo' contudo' no campo da antiga cultura e do #elho
politesmo. Ela"oraram assim uma sistemati=ao de toda filosofia
religiosa pag - o neoplatonismo. O conflito entre essas duasconcepes 4paganismo e cristianismo seria marcado a um s
tempo pela ao 1ecproca e pela assimilao de elementos
doutrinais.
EOS ;ESE SE OS*AM
O neoplatonismo % a Cltima escola filosfica do mundo antigo.
Surgiu no s%culo
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Os neoplatJnicos representa#am o mundo como emanao da fora
di#ina' pro#eniente de um a"soluto inalcan/#el 4no. O primeiro
passo dessa emanao era o mundo da ra=o' o mundo espiritual
das id%iasL o segundo' era o mundo ps$uico' da almaL e o Cltimo
era o mundo material. *ada passo representa#a uma $ueda
sucessi#a da fora pro#eniente do no e por esse moti#o ao mundo
material s chega#a um p/lido refle!o de sua lu=. A mat%ria seria'
portanto' fonte de todo o mal' a"soluto no ser' e o descenso dos
seres encontra a seu Cltimo limite' cessando a decad?ncia. 3or
outro lado por%m' o mundo corpreo % #i#ente e seu #erdadeiro ser
% a alma $ue' por sua nature=a' tende a retomar @ fonte original
4no. 1einicia-se desse modo o ascenso at% $ue se atin>a o pontode partida e o crculo se feche.
Os neoplatJnicos coloca#am em cada fase da emanao os deuses e
os demJnios das religies orientais e grecoromanas' dando #ida a
um sincretismo comple!o e fant/stico' Cltima etapa do
desen#ol#imento da religio e da filosofia antigas. A mstica' a
adi#inhao' os >e>uns e as preces' le#ados at% o ?!tase com o fim
de &fundir-se& com o no' tinham tam"%m muita importBncia' ealgumas dessas pr/ticas seriam adotadas pelos cristos'
particularmente pelos eremitas.
Em"ora #encido' o neoplatonismo so"re#i#eu' de certa forma' ao
seu prprio tempo. 2/rios de seus temas foram fonte de inspirao
para os primeiros pensadores cristos. A caracteri=ao do no
en$uanto simplicidade' autosufici?ncia' infinitude e a"soluta
li"erdadeL sua identificao como causa primeira e "em supremo
de onde tudo pro#%m e do $ual depende' apro!ima#a-se
surpreendentemente da id%ia crist de ;eus.
Outros temas ainda refora#am essa pro!imidade: a Fature=a
entendida como #estgio do sa"er di#inoL a presena do no na
humanidade e sua #iso como lu= interior $ue recomenda#a o
&*onhece-te a ti mesmo&L a alma como possuidora de duplanature=a - intelecti#a e sensiti#a - etc. 3or tais semelhanas' era
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comum passar-se dos filsofos neoplatJnicos @s Escrituras' a tal
ponto $ue certos autores chegaram a considerar o neoplatonismo
uma antecipao pag do cristianismo.
Esse portanto o #erdadeiro legado $ue o mundo medie#al rece"eu
diretamente dos Antigos. ma sntese refinada so" certos aspectos'
mas tam"%m empo"recida. Fo #asto tra"alho de amalgamar tantas
correntes de pensamento' de tingi-las com um misticismo e uma
religiosidade $ue lhe eram estranhos' de adapt/-las a
circunstBncias completamente di#ersas da$uelas em $ue foram
originalmente criadas' o neoplatonismo despo>ou o pensamento
cl/ssico de algumas caractersticas preciosas. A refle!o >/ no eraem si filosfica mas metafsicaL o homem e a nature=a >/ no eram
o centro das especulaes' mas apenas intermedi/rios em um
processo de conhecimento $ue tinha no no sua origem e seu
o">eti#o CltimoL a mat%ria' o mundo natural' no eram seno fonte
de todo erro' de todo mal' de todo pecado...
Antes mesmo $ue o cristianismo triunfasse e $ue o grande
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personalidade indi#idual do homem 4e @ sua li#re #ontade a
responsa"ilidade pelo mal e pelo "em' pelo pecado e pela
redeno. Assegura#a-se assim a possi"ilidade de sal#ao e refCgio
eterno da alma' oferecida por um ;eus preocupado com as
de"ilidades' sofrimentos e aspiraes de suas criaturas.
3or outro lado' o cristianismo apresenta#a-se como re#elao de
#erdades so"renaturais' $ue no resulta#am das refle!es humanas'
e em"ora conti#esse uma concepo da #ida e do destino do
homem garantida pela re#elao di#ina' no podia afirmar-se como
filosofia. O conteCdo do E#angelho era um sa"er de sal#ao e no
de conhecimento pois a rigor dispensa#a' para ser compreendido eaceito' o au!lio de $ual$uer filosofia.
;esde muito cedo' uma dupla atitude desenhou-se entre os padres
da a: uns re>eitaram em "loco a herana dos filsofos pagosL
outros esforaram-se para sal#ar dela tudo o $ue poderia ser
preser#ado sem dano para a autoridade da re#elao. Esta Cltima
postura foi gradati#amente fortalecendo-se @ medida $ue os
cristos #iam-se o"rigados a tomar posio em face da sa"edoriapag' fosse para com"at?-la' a"sor#?-la ou utili=/-la na formulao
do dogma e na defesa da f%. *oloca#a-se assim o grande pro"lema
das relaes entre f% e ra=o $ue iria permear todo o perodo
medie#al.
*ompelidos' na luta contra o paganismo e as heresias' ao esforo
de formulao conceitual do dogma' os escritores cristos dos
primeiros s%culos recorreram aos instrumentos de $ue dispunham
4pensamento helenstico' tratando de utili=ar a filosofia a fim de
aprofundar o conhecimento das Sagradas Escrituras ou para
resistirem com a sua a>uda @s in#estidas dos ad#ers/rios $ue dela se
#aliam nos ata$ues ao cristianismo.
A patrstica pode ser caracteri=ada como uma tentati#a de
apresentar o cristianismo como doutrina no oposta @s #erdadesracionais do pensamento hel?nico. 3artindo do pressuposto de $ue
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a sa"edoria pag era o"ra da ra=o e' en$uanto tal' tam"%m uma
o"ra de ;eus' os Santos 3adres utili=aram a filosofia a ser#io da
f%' tentando ela"orar uma filosofia crist.
As caractersticas do pensamento patrstico decorrem das
circunstBncias histricas em $ue surgiu. A doutrina ela"orada
difundiu-se no am"iente cultural do helenismo durante o
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Compreender para crer, cr para compreender
Aurelius Augustinus nasceu em Tagaste' Fumdia 4atual Arg%lia'
pro#ncia romana da Qfrica do Forte' em 8 de no#em"ro de 5.
e= seus primeiros estudos em Madaura e Tagaste' e os superiores
em *artago' tornando-se gram/tico e retor.
;espertou para a filosofia aos 8U anos' ao ler Hortensius' de *cero'
o"ra ho>e perdidaL seu dese>o de encontrar uma doutrina a um s
tempo religiosa e racional apro!imou-o do mani$uesmo' corrente
$ue a"raou por no#e anos. 3osteriormente' desiludindo-se'
atra#essou uma fase in$uieta e "re#e' marcada pela descrena.
Em"ora no tenha estudado nos melhores centros da %poca 4Atenas
e Ale!andria' conseguiu sucesso na carreira de professor de
retrica' lecionando em sua cidade de origem' em *artago' 1oma e
Milo' onde atingiu o /pice da carreira por #olta de U' ocupando
o cargo de orador oficial da *orte. Sua passagem por esta cidade
mudaria drasticamente o rumo de sua #ida.
At% ento' Agostinho manti#era-se distante do cristianismo apesar
dos constantes apelos de sua me' crente fer#orosa. O caminho
para a con#erso te#e incio $uando' le#ado por uma curiosidade
liter/ria' Agostinho dei!ou-se sedu=ir pelo neoplatonismo cristo
$ue os sermes de Am"rsio' "ispo de Milo' lhe re#elaram.
;o contato com essas no#as id%ias produ=iu-se em Agostinho uma
intensa e profunda luta espiritual' fruto do conflito entre os #alores
cristos e a #ida #oltada para os pra=eres do mundo $ue at% ento
le#ara. A forma como encontrou a resposta para suas in$uietaes
foi determinante para a posterior construo de sua imensa o"ra.
Em suas *onfisses' ele nos conta $ue' tomado de grande angCstia
e depresso' retirara-se para o >ardim de sua resid?ncia' clamando
a ;eus $ue lhe mostrasse o #erdadeiro caminho para a sal#ao. Eis$ue de sC"ito ou#iu um canto infantil $ue repetia: &Toma e l?L
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a filosofia pag fosse possuidora.
Os filsofos $ue Agostinho desapossou foram principalmente os
neoplatJnicosL como no lesse grego -lngua mais culta da %poca -
te#e $ue ater-se @s tradues latinas de certas o"ras de 3lotino e
de 3orfrio feitas por M/rio 2ictorino. Tam"%m em traduo latina'
leu as *ategorias' de Aristteles' mas no te#e acesso @
indispens/#el introduo de 3orfrio.
a=endo uma leitura crist desses filsofos' Agostinho coroou os
esforos intentados pelos Santos 3adres. Ao morrer 46' aps ter-
se dedicado por mais de 6 anos @ a' dei!ou uma sntesefilosfica $ue predominaria durante s%culos no pensamento
ocidental.
;O T1A,A0HO ;
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seminais& e destinadas a se desen#ol#erem atra#%s dos tempos.
;essa forma' por e#oluo' se originaram: da mat%ria "ruta todos
os animais e at% o corpo do primeiro homem. Essa #iso implica $ue
todo o uni#erso % dotado de capacidade e#oluti#a ainda $ue essa
e#oluo' em #irtude das &ra=es seminais&' no apresente um
aspecto ino#ador propriamente ditoL ao criar o mundo &de uma s
#e=&' ;eus cria#a tam"%m o seu futuro.
Ainda "aseando-se na re#elao' Agostinho afirma#a $ue a criao
se deu fora do tempoL mundo e tempo &comearam& uma #e= $ue
;eus' como imut/#el' no poderia estar su"metido @ mudana
implcita na pree!ist?ncia do tempo:*riastes todos os tempos e e!istis antes de todos os tempos 4 ...
Fo hou#e tempo nenhum em $ue no fi=%sseis alguma coisa' pois
fa=eis o prprio tempo. 4*onfisses' Xa. ;eus por%m est/
acima de todos os seres e acima de sua prpria ordem' sendo' nessa
medida' transcendente como >/ afirmara 3lotino.
;entro dessa ordem hier/r$uica' e!istem tr?s funes de
e!cel?ncia crescente $ue correspondem a tr?s g?neros de criaturas:
o ser dos corpos inanimados 4p. e!.: pedraL o #i#er dos seres #i#os
sem ra=o 4p. e!.: animais irracionaisL o compreender das
criaturas espirituais como o homem. Fo se pode' contudo' possuir
uma dessas funes sem reunir as precedentes mas a posse de uma
no acarreta o"rigatoriamente a das seguintes' donde uma
gradao ascendente das criaturas:
;essas tr?s coisas: o ser' a #ida' a intelig?ncia' a pedra tem o ser' oanimal a #ida' mas sem $ue a pedra tenha' % claro' a #ida' nem o
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animal a intelig?nciaL mas $uem tem a intelig?ncia tem tam"%m'
sem dC#ida nenhuma' o ser e a #ida. 4;o li#re ar"trio.
Assim como 3lato' #ia tam"%m no homem um microcosmo onde
reprodu=-se toda a hierar$uia do uni#erso: o homem % composto de
esprito' alma e corpo' sendo uma alma racional ser#ida por um
corpo terrestre. Este' no entanto' contrariamente @ afirmao
platJnica' no representa a priso ou tCmulo da alma. K essencial
por%m o"ser#ar $ue todo corpo % inferior a $ual$uer alma' pois a
ordem % ontolgica e no moral' fundando-se na nature=a e no no
m%rito.
En$uanto criatura pri#ilegiada' a alma de $ue o homem % dotado
desdo"ra-se em tr?s faculdades $ue correspondem @s tr?s pessoas
da Santssima Trindade: a memria' a intelig?ncia ou sa"edoria e a
#ontade. ;e todas essas faculdades' a mais importante % a #ontade'
inter#indo em todos os atos do esprito e constituindo o centro da
personalidade humana.
O SA,E1 ;OS SEFT
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ela "usca tam"%m compreender e nesse mo#imento % ultrapassada
pela intelig?ncia $ue su"sistir/ eternamente. A f%' em"ora
purificante' % transitria' pois a$uele $ue sa"e >/ no precisa crer.
Mas $ual seria o fundamento do conhecimento humano7 Fa tradio
platJnica' o mundo sens#el' en$uanto mero refle!o do mundo das
id%ias' no poderia ser fonte de #erdadeiro conhecimento.
Agostinho' entretanto' considera#a a percepo da apar?ncia ao
menos como ponto de apoio para a certe=a' afirmando: &Eu sei $ue
isto me parece "rancoL limito-me @ minha percepo e encontro
nela uma #erdade $ue no me pode ser negada&. Muito diferente
seria afirmar apenas: &
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transitoriedade. S em ;eus e nas coisas $ue esto em ;eus
podemos' segundo Agostinho' encontrar o #erdadeiro
conhecimento' uma #e= $ue ;eus % "ondade' sa"edoria e #erdadeL
esses no so apenas seus atri"utos.
As id%ias' formas origin/rias' ra=es est/#eis e imut/#eis das coisas'
esto contidas na mente di#ina e no nascem nem morrem' mas
tudo o $ue nasce e morre % por elas formado. As id%ias no so
criaturasL antes participam da Sa"edoria eterna' mediante a $ual
;eus criou o mundo e $ue % id?ntica a ele. Assim' conhecer
#erdadeiramente seria #oltar-se para as id%ias' onde se funda a
nature=a das coisas e os >u=os #erdadeiros $ue delas formamos.
O acesso a essas #erdades eternas no % totalmente #edado ao
homem em funo de sua dupla nature=a: se ele possui um corpo'
este est/ su"ordinado a uma alma $ue' pela sua prpria nature=a'
guarda maior semelhana com ;eus. Mesmo assim' a humanidade
no pode' por si s' alcanar esse conhecimento perfeitoL %
necess/ria a inter#eno di#ina.
EM ,S*A ;O MEST1E
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#erdadeira compreenso. A ati#idade cogniti#a por e!cel?ncia
consistiria em conferir o $ue se #?' l?' escuta e sente com a
#erdade intelig#el $ue est/ na sua prpria alma' apresentada por
;eus.
Assim' no % poss#el $ue se ensine a #erdade a outrem pois' al%m
de sua "usca ser um ato de #ontade e logo uma ati#idade
indi#idual' ela s pode ser encontrada no ntimo de cada um'
consultando a$uele a $uem Agostinho denomina &Mestre
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a$uisio do conhecimento segundo a teoria agostinianaL estaria
tam"%m intimamente #inculada ao li#re-ar"trio humano e @
prpria sal#ao.
1E;EFPO 3E0A )1AA
O homem nasceu perdido' pois o pecado original desYuiu nossa
li"erdade' impedindo-nos de dei!ar de pecar ainda $ue o pecado
no se>a necess/rio. 3ara Santo Agostinho' ao contr/rio do $ue
ocorria na tradio platJnica' ;eus' $ue % tam"%m ,ondade' no
pode ser causa do mal. O mal seria' em realidade' uma
transgresso da lei di#ina' um pecado cu>a responsa"ilidade recai
e!clusi#amente so"re o li#re-ar"trio humano:
3rocurei o $ue era a maldade e no encontrei uma su"stBncia' mas
sim uma per#erso da #ontade des#iada da su"stBncia suprema - de
2s' Z ;eus - e tendendo para as coisas "ai!as. 4*onfisses' 2
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fato como conse$]?ncia do a"andono dos costumes e di#indades
tradicionais por parte dos romanos em fa#or do cristianismo. Em
defesa deste' Agostinho escre#eu A cidade de ;eus' onde
e!amina#a os pro"lemas da histria das sociedades e sua relao
com a di#ina pro#id?ncia' pretendendo demonstrar $ue os
acontecimentos $ue afligiam a seus contemporBneos tinham um
significado particular $ue se funda#a' em Cltima instBncia' na
predestinao di#ina.
1etoma nessa o"ra' so" enfo$ue cristo' a antiga id%ia de $ue o
homem % cidado de duas cidades: a de seu nascimento e a cidade
de ;eus. E!plicitando o sentido religioso dessa distino >/ sugeridaanteriormente por S?neca e Marco Aur%lio' o hiponense a atri"ua @
dupla nature=a humana: o ^homem' como corpo e esprito' seria a
um s tempo cidado deste mundo e da cidade celestial' di#idindo
suas atenes entre os interesses terrenos 4centrados no corpo e os
ultraterrenos 4pertencentes @ alma:
;ois'Amores fi=eram duas cidades: a terrena f?-la o amor de S< ate
ao despre=o de ;eusL a celeste' f?-la o amor de ;eus at% aodespre=o de si. 4A cidade de ;eus' X
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A cidade terrena % o reino do ;ia"o e de todos os homens maus' ao
passo $ue a celestial % a comunho dos redimidos neste mundo e no
futuro. Santo Agostinho' contudo' no considera#a essas duas
cidades como #isi#elmente separadasL eram cidades msticas'
espirituais e encontra#am-se mescladas em toda a #ida terrena'
separando-se apenas no u=o inal. K necess/rio' portanto' cautela
ao aplicar-se essa teoria aos fatos histricos >/ $ue' segundo o
hiponense' as instituies humanas no podem de modo algum
identificar-se precisamente com nenhuma das duas cidades: a
a no % o mesmo $ue o reino de ;eus e tampouco o go#erno
secular % id?ntico aos poderes do mal.
O aparecimento da a teria marcado um momento decisi#o para
o desen#ol#imento do plano de sal#ao di#ina pois a partir de
ento a unidade da esp%cie passou a significar a unidade da f%
crist so" a direo da a. Entretanto' nada nos permite afirmar
$ue para Agostinho o Estado de#esse transformar-se em simples
&"rao secular& da$uela. Suas id%ias $uanto @s relaes entre os
poderes temporal e espiritual no so claras mas' sem dC#ida'inserem-se na tradio caracterstica desen#ol#ida pelos
pensadores cristos da %poca patrstica' implicando uma
organi=ao e direo duais da sociedade humana em interesse das
duas grandes classes de #alores $ue de#eriam ser conser#ados.
Os interesses espirituais e a sal#ao eterna esta#am so" a guarda
da a e forma#am a instBncia particular do ensino' dirigida pelo
cleroL os interesses temporais ou seculares e a preser#ao da pa='
da ordem e da >ustia correspondiam @ guarda do go#erno ci#il'
constituindo os fins $ue de#eriam ser alcanados mediante os
esforos dos magistrados. Entre am"as as ordens' clero e
magistrados ci#is' de#eria pre#alecer um esprito de mCtua
cola"orao' limite este $ue s poderia ser ultrapassado
legitimamente em caso de emerg?ncia $ue ameaasse com a
anar$uia no plano temporal ou com a corrupo' no espiritual.
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Apesar da indefinio' pensa#a-se $ue essas ocasies e!-
traordin/rias no destruam o princpio de $ue am"as as >urisdies
de#eriam permanecer in#ioladas' respeitando cada uma os direitos
ordenados por ;eus para a outra. Essa concepo' conhecida comoY
Ydoutrina das duas espadas&' con#erteu-se em tradio aceita
durante toda a Alta
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transitrio e do eterno.
Agostinho foi um homem da Antiguidade' mas sua o"ra dominou a
cultura medie#al' garantindo os dois princpios fundamentais da
especulao desse perodo: o lao entre f% e ra=o e o uso da
dial%tica na teologia. Sua concepo de uma comunidade crist'
>unto a uma filosofia da histria $ue a compreendia como ponto
culminante do desen#ol#imento espiritual do homem' $ue unia
Estado e a na luta pela pure=a da f%' enrai=ou-se no
pensamento cristo' predominando durante grande parte da
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seguida' dos te!tos dos Santos 3adres' escritores cristos dos
primeiros s%culos' cu>a autoridade era unanimemente aceita.
inalmente' dos te!tos antigos progressi#amente cristiani=ados.
Esses di#ersos te!tos continham um sa"er $ue de#eria ser
apropriado e transmitido' como ensinara Santo Agostinho' e
compunham o principal legado $ue os pensadores medie#ais
puderam rece"er do mundo antigo' transformando-se os mosteiros
em seus deposit/rios.
K certo $ue o mona$uismo latino % uma importao relati#amente
tardia' se comparado ao seu cong?nere oriental' >/ organi=ado nos%culo
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discorrer consigo mesmo.
Os te!tos eram in#ocados para ser#ir a uma #erdade $ue eles no
poderiam esgotar' mas para o esclarecimento do $ual poderiam
contri"uir. Eram um caminho para a sa"edoria e' em"ora seus
conteCdos de#essem ser superados' permaneciam como um
preliminar indispens/#el @ refle!o.
Fo se limita#a por%m' a ati#idade intelectual' a copiar e #enerar
os te!tosL a / ressaltado' o
paradigma da filosofia medie#al at% o s%culo X
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$uase imposs#el o estudo:
Os tempos so to confusos para nsD 3ode-se pensar em escre#er
so" os golpes do inimigo' $uando se #? serem de#astados' diante de
ns' cidades e campos' $uando % preciso fugir atra#%s dos perigos
do mar e $ue o prprio e!lio no #os coloca ao a"rigo de toda a
apreenso7
;urante muito tempo o Ocidente #i#eria so" o signo do medo: medo
da fome' da destruio' da morte tra=ida pelo inimigo ou pelos
animais fero=es $ue #aguea#am pelos lugares desertos e in#adiam
por #e=es os campos culti#adosL medo das pestes' dos elementosnaturais $ue arruina#am as colheitas' dos sa$ues e #iolaes dos
&"/r"aros&L e' por fim' um medo so"renatural da noite' da tentao
e do pecado $ue colocaria a perder a Cnica certe=a do homem
cristo medie#al - a de $ue tinha uma chance de encontrar' no
reino de ;eus' uma #ida sem medo.
A o"ser#ao no rece"ia' portanto' nenhum encora>amento e
mesmo nos mosteiros' onde se go=a#a de uma relati#a segurana etran$]ilidade' a Fature=a parecia muito mais fonte de desgraas
$ue de sa"edoria. O conhecimento pree!istia na alma humana' mas
necessita#a de iluminao di#ina para tornar-se intelig#el para o
homem' como afirmara Agostinho' o $ue recomenda#a muito mais a
contemplao' o di/logo mudo com o Mestre / perdida' destruda pela
de#astao $ue fe= ruir o prprio / $uase desconhecida - e mesmo as tradues latinas
apresenta#am o"st/culos: algumas' como a do Timeu de 3lato
4feita por *alcdio no s%culo
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;esgraado se>a o nosso tempo' pois o estudo das letras pereceu
entre ns e >/ no se encontra ningu%m $ue possa tradu=ir por
escrito os acontecimentos presentes.
Muitos por%m perse#eraram' tradu=indo' comentando' especulando
ou meramente multiplicando com as pacientes 'pias as poucas
o"ras dispon#eis. So acusados de falta de originalidade' de
mostrarem um pensamento est%ril. Mas' o $ue poderia ser mais
original $ue de"ruar-se atentamente so"re esses escritos'
#ertendo-os de uma lngua desconhecida para outra $ue >/ poucos
compreendiam' acrescentando-lhes coment/rios $ue atuali=a#amsuas pro"lem/ticas' especulando so"re as formas de pensar' so"re
os tipos de ci?ncias e!istentes' so"re a criao do mundo' en$uanto
ao seu redor' esse mesmo mundo parecia chegar ao fim7
2/rios desses tra"alhos foram sucessi#amente perdidos' mas alguns
e!emplos do $ue deles nos chegaram so suficientes para a#aliar a
grande=a da tarefa a $ue esses homens se propuseram e a
importBncia #ital $ue ti#eram no pensamento cristo ocidental.
OS MOF)ES [A1EZ0O)OS\
*onsiderado por muitos &o Cltimo romano e o primeiro escol/stico&'
,o%cio 4V6-55 no foi um homem da a. *ontudo' foi
considerado por seus psteros como um cristo' tornando-se um
m/rtir da f% por ter sido e!ecutado so" acusao de magia. Sua
o"ra inclui tradues e coment/rios a o"ras lgicas cl/ssicas e
alguns opCsculos de teologia. oi atra#%s dele $ue os medie#ais
conheceram' ainda $ue com certos traos neoplatJnicos' os
tratados lgicos de Aristteles $ue constituram' durante muito
tempo' o Cnico conhecimento $ue se te#e dos escritos do grande
filsofo antigo' >/ $ue sua fsica' metafsica e %tica s seriam redes
co"ertas a partir de meados do s%culo X
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modelo de e!plicao precisa e minuciosa' acompanhada de largas
digresses' $ue seria amplamente difundido no ensino medie#o.
;e suas o"ras pessoais' a mais apreciada e comentada foi a
*onsolao da filosofia' escrita na priso' e uma das principais
fontes do platonismo medie#al. Algumas de suas definies' como a
de eternidade entendida en$uanto &posse inteiramente simultBnea
e perfeita de uma #ida intermin/#el& ou a de "eatitude como
&estado $ue de#e sua perfeio @ reunio de todos os "ens&'
atra#essariam todo o perodo.
,o%cio influenciou so"remaneira os pensadores posteriores' $uercomo e!emplo' $uer como incitao @ in#estigaoL ser#iu de
#eculo @ lgica aristot%lica e @ parte da cosmologia e teologia
platJnicasL ela"orou uma significati#a classificao das ci?ncias e
ainda legou a definio da filosofia como amor da sa"edoria.
Ao lado de ,o%cio' *assiodoro 4VV-5V6 pode ser considerado um
dos fundadores do pensamento medie#al propriamente dito.
uerendo tam"%m dar a conhecer a seus contemporBneos aproduo do pensamento grego' fundou na *al/"ria o monast%rio
de 2i#arium 4555' onde foram produ=idas #/rias cpias de o"ras
cl/ssicas' $ue se difundiram pelo Ocidente. Ela"orou um programa
de estudos para seus monges' sistemati=ado na o"ra
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Se esses pensadores' $ue pouco se tinham distanciado do mundo
antigo' guarda#am ainda certos traos do perodo anterior'
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importante Histria eclesi/stica do po#o ingl?s' e atri"ui-se ainda a
ele a utili=ao do nascimento de *risto como marco inicial da
nossa era.
/ em Teodoreto de *iro' a cu>a produo intermin/#el
no correspondia uma ade$uada ri$ue=a de id%ias' mas uma
not/#el repetiti#idade. O menor significado da produo e!eg%tica
crist no s%culo 2 de#e-se tam"%m ao fato de ela ter-se perdido em
grande parte' o $ue nos impede de reconstruir os perfis desses
escritores com suficiente segurana. 3or isso' tam"%m seremoso"rigados a apresentar pouco mais $ue um magro repertrio de
notcias.
A;1
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2
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Es$uio tal#e= se destinasse @ liturgia.
Es$uio dedicou-se tam"%m ao coment/rio dos li#ros prof%ticos: co-
mentou unto' %
interessante por$ue nos informa so"re a maneira como o autor
procedia em seu tra"alho: ;i#iso em est$uios dos do=e profetas
de
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por #olta da metade do s%culo 2. Esta parece ser sua correta
colocao cronolgica' em"ora outras tenham sido propostas 4foi
um outro AmJnio' $ue #i#eu mais tarde' o autor de um *oment/rio
ao He!ameron e de uma o"ra contra os monofisitas. O de
Ale!andria a $uem nos referimos de#eria ser identificado com um
AmJnio cu>o nome aparece fre$]entemente como autor de inter-
pretaes em #/rias *atenas e!eg%ticas do Antigo e do Fo#o
Testamento. E citado por algumas o"ser#aes so"re os Salmos e
so"re ;aniel' estas Cltimas mais numerosas' $ue deri#am
pro#a#elmente de um coment/rio propriamente dito $ue se perdeu'
ou de um ciclo de homilias dedicadas @$uele te!to prof%tico. ma
parte not/#el dessas % dedicada @ histria de Su=ana e' no todo'elas re#elam um consider/#el interesse pelo conteCdo formal do
li#ro. Mais amplo e mais rico % o *oment/rio ao E#angelho de oo'
formado de esclios $ue se encontram nas *atenas. Ele se
apresenta $uase como um coment/rio completo' e parece ser um
slido tra"alho de e!egese. AmJnio e!aminou tam"%m e!plicaes
$ue considera#a e$ui#ocadas e procurou esta"elecer o conteCdo
dogm/tico do te!to' para re>eitar #/rios erros doutrinais.
ragment/rios e em parte pass#eis de reconstruo a partir das*atenas so outros dois tra"alhos de e!egese: o *oment/rio aos
Atos dos Apstolos e as Anotaes so"re a primeira epstola de
3edro.
*om a passagem do s%culo 2 ao 2
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pro#eni?ncia diferente' colocadas uma aps a outra $uase como se
formassem uma corrente. O autor dessas catenas preferiu comentar
cada passagem do te!to ""lico selecionado dirigindo-se aos
comentadores $ue o precederam' escolhendo de cada um deles os
coment/rios relati#os' reunindo-os e acrescentando s o nome do
autor.
Al%m disso' go=a de um crescente sucesso uma outra forma liter/ria
$ue >/ ha#ia comeado h/ tempos' a das &3erguntas e 1espostas&
so"re pro"lemas de conteCdo religioso' $uase sempre dogm/tico e
e!eg%tico. Tam"%m esse g?nero liter/rio passar/ a ter importBncia
fundamental no sistema cultural "i=antino. A e!egesepredominante continua a ser a alegrica' depois $ue os crit%rios do
literalismo e da crtica histrica se esgotaram.
31O*Z3
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a primeira ha#ia atingido dimenses e!cessi#as. Fesse coment/rio'
ele no cita mais as opinies dos e!egetas precedentes' mas as
resumeL ainda $ue a estrutura no se>a mais a da catena' continua
a ser um coment/rio $ue' na ess?ncia' reCne e!egeses alheias. A
*atena propriamente dita' da $ual % deri#ado o *oment/rio' no
chegou at% nsL da segunda redao rece"emos' em grego' apenas
um fragmento relati#o a )n 8-8V' desco"erto pelo cardeal Mai.
Outras catenas compiladas por 3rocpio so:
- uma So"re os $uatro li#ros dos 1eis e so"re os dois li#ros dos
3aralipomenos' $ue se perdeu $uase inteiramente' com e!ceo dealgumas citaesL
- uma So"re
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su"stancialmente po"res de conteCdo: cont?m elogios da retrica e
da filosofia' consolaes de amigos' recomendaes >unto aos
poderosos e outros temas an/logos.
O0a' &na#egador da India&' depois de
ter reali=ado uma #iagem $ue o le#ou ao *eilo' para onde sedirigira como mercador. Fa #erdade' seu prprio nome' *osma' %
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sim"lico' por$ue de#e ser relacionado ao grego bosmos' ou se>a' o
mundo $ue ele ha#ia descrito em sua o"ra. Mas nem o nome de
*osma nem o so"renome de &ulg/-la ulgar na e!presso' $ue ignora at% a sinta!e corrente&.
*osma tornou-se famoso por sua o"ra geogr/fica' $ue tem o nome
de Topografia crist: no % uma o"ra geogr/fica em sentidocientfico' mas de e!egese da cosmografia ""lica. O escritor' de
fato' polemi=a com os gegrafos' os astrJnomos e os matem/ticos
pagos' e se remete @s cosmografias de Mois%s e dos escritores
sagrados.
3ortanto' a terra' sustenta ele com "ase no primeiro e no segundo
li#ro da Escritura' no % uma esfera' mas um disco' e essas
afirmaes so demonstradas mais amplamente no terceiro e no
$uarto li#ro. O $uinto li#ro cont%m um resumo da histria ""lica e
tam"%m um comp?ndio da ci?ncia ""lica de sua %poca' en$uanto
trata dos propsitos e dos conteCdos da Escritura. Os cinco li#ros
seguintes t?m o o">eti#o de eliminar as dificuldades e as dC#idas
$ue os primeiros ha#iam suscitado o se!to se fi!a na grande=a do
solL o s%timo na durao do c%uL o oita#o no cBntico de E=e$uias' o
rei de ud/' e no eclipse solar mencionado por
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testemunhos dos padres. Segue-se uma inesperada descrio das
"ele=as da ilha de Tapro"ana 4*eilo. Tal#e= esse d%cimo primeiro
li#ro se>a e!trado de uma &descrio da terra&' $ue *osma ha#ia
escrito e $ue ele mesmo *
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a""ada celeste' ao altoL acima e!iste o reino dos c%us' incor-
rupt#el e eterno. Essa doutrina das duas condies parecia ter
deri#ado' em Cltima an/lise' da escola e!eg%tica de Antio$uia' e'
mais precisamente' da contemporBnea a nosso escritor' a escola
nestoriana de Fsi"e.
A e!egese de *osma parece muito simplista se comparada @ de per-
sonalidades "em mais cultas e mais profundas $ue a sua' contudo
e!istiu tam"%m uma e!egese do te!to sagrado mais humilde e
simples' por$ue dela no se ser#iram apenas os eruditos e os
religiosos' mas tam"%m os incultos e as pessoas de pouco esprito
critico' $ue da#am importBncia ao mara#ilhoso. 3or isso a o"ra de*osma encontra' tam"%m nesse Bm"ito' uma >ustificao.
E*MWF
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*omentario so"re o Apocalipse e precedido de um pref/cio em $ue
o autor' referindo-se @s autoridades dos 3adres precedentes'
defende a canonicidade e a autenticidade do Apocalipse'
fre$]entemente contestada no Oriente.
AF;1K ;E *ESA1K
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3or MO1ES*H
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id%ias $ue nos acontecimentos $ue a"alaram a a do s%culo / aos 96 anos mudou-se para *onstantinopla' onde
permaneceu pelo resto de sua #ida' a no ser para fa=er uma
#iagem @ 3alestina.
1esidindo em *onstantinopla' escre#eu uma Histria da a' $ue
se propJs continuar em 89 li#ros a o"ra homJnima de Eus%"io' at% o
ano 95L esta foi concluda por seu autor em . ;efensor
entusiasta do arianismo mais radical' ilostrgio esta#a con#encidode $ue os maiores cristos de sua %poca ha#iam sido' precisamente'
os arianos A%cio de Antio$uia e EunJmio de *=icoL $ue Atan/sio
le#ara a a @ runa e $ue a #erdadeira ortodo!ia era a dos
anomeus.
Sua histria' infeli=mente' chegou at% ns fragment/ria. Esta#a
ainda completa nos tempos de cio' $ue lou#a seu estilo
re$uintado e elegante' mas o"ser#a como o relato de ilostrgio
est/ em contradio com o dos outros historiadores da a' na
medida em $ue ele e!alta#a todos os arianos' ao passo $ue acusa#a
e insulta#a os ortodo!os' de modo $ue' conclui cio' &sua histria
no % tanto uma histria' $uanto uma cele"rao dos hereges e
uma a"erta acusao e ofensa aos ortodo!os&.
SZ*1ATES
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Temos poucas informaes so"re esse historiador. Fasceu e cresceu
em *onstantinopla' onde passou tam"%m os Cltimos anos de sua
#ida. 3ro#a#elmente nunca saiu de *onstantinopla para se informar
melhor so"re os fatos narrados. Funca fala de seu oficio. Os
manuscritos do a ele o so"renome de &escol/stico&' $ue
normalmente % entendido como &procurador legal& ou tam"%m
como &>urista&.
*om certe=a no pertence ao clero da capital' em"ora tenha
rece"ido de um &homem de ;eus&' de nome Teodoro' a inspirao
para escre#er sua o"ra. Segundo alguns estudiosos' esse Teodoro
teria sido um encarregado oficial do imperador' $uase umsuperintendente dos ar$ui#os' nomeado entre os integrantes da
comisso $ue de#ia ocupar-se da redao do *ode! Theodosianus'
dese>ado pelo imperador Teodsio
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, OS *1u=o so"re as fontes $ue emprega.
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SOGMEFO
;e Salamanes Hermas So=Jmeno 4este teria sido seu nome comple-
to' segundo as notcias de cio temos tam"%m poucas
informaes. uando esta#a escre#endo sua Histria da a' ele
era 4assim nos informa scholastibos' ou se>a' como Scrates'
ad#ogado ou >urisconsulto' em *onstantinopla. *ontudo' no era
origin/rio da capital' mas do pe$ueno #ilare>o de ,et%lia' pr!imo
da antiga cidade dos filisteus' )a=a' onde nascera por #olta do ano
de U6 de uma famlia de antiga f% crist' con#ertida graas aos
milagres do famoso anacoreta Hilario' cu>a #ida % narrada por
erJnimo.
A A Ha' durante o
perodo entre e `.
A Histria da a % narrada em no#e li#ros' a comear do ano do
terceiro consulado de *%sar *rispo e *onstantino 49' e de#eria
ter chegado' segundo o pro>eto' ao d%cimo s%timo consulado do
imperador Teodsio l
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A o"ra de So=Jmeno $uer ser uma narrao dos acontecimentos
posteriores a *onstantino' $ue interpreta segundo a f% ortodo!aL
mas' em"ora o tema e o ttulo se>am an/logos aos de Eus%"io'
So=Jmeno no % um #erdadeiro continuador do "ispo de *esar%ia'
por$ue % um leigo e considera a histria da a com crit%rios
profanos' no religiosos' e no retoma as concepes de Scrates.
Ele tem diante da histria da a o mesmo comportamento $ue
teria diante de $ual$uer histria' de $ual$uer Estado: no dese>a
desco"rir' como fi=era Scrates' a presena de ;eus nos
acontecimentos $ue narraL os "ispos no so apenas os homens da
religio' mas tam"%m os homens $ue fa=em a histria da$uelestempos.
O pro?mio da o"ra de So=Jmeno foi considerado um dos momentos
de maior consci?ncia metdica demonstrada por um historiador
antigo' de#ido' so"retudo' ao interesse dedicado aos documentos
de ar$ui#o e @ #alori=ao deles. ;e fato' So=Jmeno no s declara
$ue % necess/rio praticar a autpsia das fontes' como' no fundo' >/
afirmara Scrates 4e' naturalmente' outros antes deles' em"ora ahistoriografia antiga no tenha sido muito sens#el a esse crit%rio'
$ue muitas #e=es permanecia apenas uma enunciao terica' mas
e!pe tam"%m $uais so as normas a ser seguidas para uma
a#aliao crtica dessas fontes.
, SZ*1ATES E SOGMEFO
*omo Scrates se ocupou do perodo 65-R' So=Jmeno de 9R
4ou 8' somos instados a perguntar so"re as relaes recprocas
entre as duas o"ras.
3ode-se notar $ue' por longos trechos' a narrao dos dois historia-
dores caminha lado a lado' $uer concordem' $uer discordem em
relao a detalhes. So"re uma e#entual depend?ncia de um escritor
do outro' >ulgou-se #er em So=Jmeno o imitador. Trata-se' por%m'de uma imitao $ue tem finalidades "em precisas' ou se>a' #isa
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mais @ di#ersificao $ue @ repetio. So=Jmeno ser#iu-se da o"ra
de Scrates como modelo' conferindo-a com os documentos'
ampliando-a e corrigindo-a' na medida em $ue recorreu at% @s
mesmas fontes empregadas por Scrates' @s #e=es apro#eitando-as
com mais amplitude. ;iferentemente de Scrates' $ue em geral a
cita' So=Jmeno no menciona a fonte principal' mas nomeia os $ue
fornecem notcias de car/ter su"sidi/rio. / se disse $ue Scrates %
prdigo no emprego de documentos' $ue reprodu= literalmente' ao
passo $ue So=Jmeno enfati=a a narrao histrica propriamente
dita. Ao contr/rio de Scrates' por outro lado' ele elimina o mais
poss#el as dataes cronolgicas precisas. Fo con>unto' a o"ra de
So=Jmeno manifesta uma seculari=ao da histria da aL aomesmo tempo' ele mostra' mais $ue Scrates' um relati#o interesse
pelos acontecimentos da parte ocidental do imp%rio'
acontecimentos $ue considera' se>a como for' segundo a
perspecti#a de um "i=antino. A seculari=ao da histria e#idencia-
se ainda mais' na medida em $ue So=Jmeno dedica uma ateno
especial @ legislao imperial' $ue precisamente na$ueles anos era
reunida e organi=ada criticamente no *ode! Theodosianus. A
histria de So=Jmeno % contemporBnea' pode-se di=er' @pu"licao deste' e o *ode! podia muito "em ter fornecido ao
historiador todas as leis $ue ele precisasse consultar.
* O EST
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TEO;O1ETO ;E *
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Ser#e de ap?ndice a esse li#ro o Tratado so"re a di#ina e santa
caridade' $ue dese>a demonstrar $ue ha#ia sido o amor por ;eus
$ue encora>ara e tornara os ascetas capa=es de seus feitos.
Tradicionalmente essa o"ra costuma ser datada do ano .
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acontecimentos do sagrado snodo de Fic%ia' ou mais simplesmente
Histria do *onclio de Fic%iaL mais recentemente' Histria da
a.
A o"ra de )el/sio % constituda de tr?s li#ros' e no nos informa
tanto so"re o conclio de Fic%ia $uanto so"re a histria da a no
Oriente so" *onstantino. O primeiro li#ro narra a #ida de
*onstantino' dos primeiros anos de seu principado at% sua #itria
so"re 0icnio em 9. O segundo % dedicado @ histria do conclio
de Fic%ia' e o terceiro' $ue no chegou at% ns inteiro' narra#a' se
for correto o $ue cio nos di=' o restante da #ida de *onstantino
at% seu "atismo e sua morte em V.
;esde a %poca de cio' )el/sio % criticado como escritor "anal e
de estilo po"reL contudo' do ponto de #ista histrico' sua o"ra pode
ostentar o m%rito de ter tido acesso a fontes $ue desconhecemos
ou $ue no so mais acess#eis. Fas passagens em $ue ele segue
escritores $ue ainda podemos ler' como Eus%"io' Scrates e
Teodoreto' podemos #erificar $ue )el/sio se ser#e delas sem
acrescentar nenhuma considerao pessoal' mas muito ao p% daletra' colocando uma citao aps a outra de maneira
a"solutamente montona e ornando-a de em"ele=amentos
e!teriores' sem nenhuma medida.
GA*A1
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pro#a#elmente era irmo do prprio 3rocpio. Escre#endo a
"iografia do monofisita Se#ero de Antio$uia' de $uem foi aluno' ele
nos informa so"re seus primeiros anos. Seu discipulado ocorre por
#olta do ano U5' em Ale!andria' onde se dedicou aos estudos
liter/rios e retricos e participou das discusses so"re os pro"lemas
teolgicos. Em UV comeou seus estudos >urdicos e passou a
fre$]entar a famosa escola de direito em ,eritoL em seguida' em
R9' transferiu-se para *onstantinopla' onde foi &retor&' ou se>a'
orador' e &escol/stico&' isto %' ad#ogado. Em *onstantinopla
con$uistou um certo renome e' por fim' foi designado "ispo de
Mitilene' na ilha de 0es"os. *omo tal' ele participou em 5` do
snodo de *onstantinopla' $ue condenou os monofisitas' entre os$uais Se#ero de Antio$uia 4Gacarias se afastara' portanto' de seu
mestre.
A A H
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uma defesa do prprio mestre monofisita' acusado de #/rias faltas'
entre as $uais se inclua a de paganismo. Outras "iografias so a
2ida de o original grego ainda conser#amos. A mais famosa
% a ;iscusso em pol?mica com os filsofos a propsito da criao
do mundo' um di/logo' escrito em ,erito e ali am"ientado. Fele'
Gacarias defende a doutrina crist da criao do mundo reali=ada
por ;eus' em um de"ate com um discpulo do neoplatJnico
ale!andrino AmJnio' $ue' seguindo a doutrina da$uela escola
filosfica' considera#a $ue o mundo fosse co-eterno a ;eus.
A ;iscusso contra os mani$ueus' suscitada pela condenao $ue o
imperador ustiniano reali=ara em 59V contra a$uela seita' em
contrapartida' chegou at% ns fragment/ria.
TEO;O1O 0E
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redu=indo-as a apenas uma' $ue fornecesse uma narrao mais
clara' mais agrad/#el no plano retrico' e mais confi/#e8. A
Histria da a di#idida em tr?s partes 4 o ttulo foi dado pelos
modernos' por$ue Teodoro a chamou simplesmente Histria da
a' foi tradu=ida em latim pelo monge EpifBnio' do monast%rio
de 2i#arium' so" a super#iso de *assiodoro' e te#e muito sucesso
na a
continuar os tr?s historiadores do s%culo 2' ento considerados
con>untamente' Scrates' So=Jmeno e Teodoreto. Teodoro 0eitor
no % nomeado e E#/grio pro#a#elmente no o conhece' pois afirma
$ue desde a metade do s%culo 2 no e!istira mais nenhum
historiador.
E#/grio % um ortodo!o rigoroso: pro#inha de uma regio 4a de Apa-
m%ia na Sria fiel ao dogma de *alcedJnia e hostil ao patriarca
Se#ero de Antio$uia' $ue era monofisita. A narrao % um pouco
proli!a' mas ampla e e!tensa' e o estilo % agrad/#el' tendendo aum tom arcai=ante' uma #e= $ue o ideal estilstico de E#/grio %
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TucdidesL conse$]entemente' o #oca"ul/rio % escolhido com
cuidadoL mesmo cio o aprecia#a. Fo segundo e no terceiro li#ro'
ele se ser#e da Histria da a de Gacarias' $ue ainda podia ler
no original grego. 3ara a parte no estritamente crist' ele se
"aseia em historiadores profanos' como 3rocpio de *esar%ia'
retomado muito amplamente' e oo' o 1etor' ou se>a' oo
Malala' de $ue falaremos da$ui a pouco. E#/grio tam"%m foi lido e
retomado pelos historiadores "i=antinos.
,ASI0a' &separado&' pois
era monofisita. Siraco de nascimento' parece ter sido
contemporBneo mais #elho de ,aslio de *ilcia. Tam"%m ele'
segundo cio' teria escrito uma Histria da a' em de= li#ros.
Os cinco primeiros li#ros iam de 9R 4final da histria de Scrates'
So=Jmeno e Teodoreto @ %poca do imperador Geno 4V-R8. Es-
critos em estilo claro e #ariado' go=aram de certo apreo. Alguns
fragmentos de sua Histria foram conser#ados pelos historiadores
"i=antinos' ao $ue parece >/ desde Teodoro 0eitor.
OPO MA0A0A
2amos concluir o e!ame da historiografia eclesi/stica com algumas
informaes so"re um autor $ue' rigorosamente' no seria um
historiador' mas um &cronologista&: pertenceria' portanto' a umg?nero liter/rio 4a cronografia $ue >/ ha#ia sido culti#ado pela
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mais antiga historiografia crist' mas $ue foi um tanto o"scurecido
pela historiografia propriamente dita' e por fim #oltou ao auge na
era "i=antina.
oo' origin/rio de Antio$uia' onde e!ercia a profisso de retor 4e
como tal conheceu E#/grio Escol/stico' rece"eu o so"renome de
&Malala&' $ue em siraco significa#a' precisamente' &retorY. Esse
so"renome le#a-nos a pensar $ue ele no pertencia @ populao
grega de Antio$uia' mas @ siraca. Algumas aluses de car/ter
auto"iogr/fico informam-nos $ue oo #i#eu na metade do s%culo
2
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AMar. Esta"eleceu-se finalmente em 1oma' tal#e= por #olta de
U. Atra#%s de uma carta de congratulaes escrita por 0i"Bnio'
sa"emos $ue em R9 >/ pu"licara parte de sua histria.
Ao registrar a histria contemporBnea' Amiano usou suas prprias
anotaes e as de outras pessoas' "em como todos os relatos
escritos dispon#eis 4#er Eun/pio. Escre#eu cuidadosamente' numlatim &liter/rio&' re"uscado e tpico do fim do ulgamentos por traio' usurpaes. *omo Herdoto' fe=
digresses so"re os assuntos $ue o interessa#am - descries de
pro#ncias romanas e po#os estrangeiros' indisciplina no e!%rcito'
desonestidade dos ad#ogados' ci?ncias populares 4adi#inhaes'hierglifos egpcios' arco-ris' eclipse' terremoto' construo de
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m/$uinas de guerra. O resultado % muito rico e agrad/#el de lerL
mas Amiano % tam"%m not/#el como historiador'
e!traordinariamente e!ato e imparcial: por isso' critica#a seu heri
uliano e registra#a atos $ue fa=em honra a pessoas de $uem no
gosta#a. Omitiu a histria religiosa por $uestes de segurana ou'
tal#e=' por no ser cl/ssicaL era pago' mas reprimia suas crenas
pessoais e limita#a suas crticas @ cristandade aos des#ios das
prprias normas da moralidade crist. Amiano comeou seu
tra"alho onde T/cito parara' numa homenagem ao mestre' e dentre
os Cltimos historiadores $ue escre#eram em latim' % o Cnico $ue
pode ser comparado a ele: no estilo e na ordenao do material'
T/cito % "em superior' mas Amiano o ultrapassa em amplitude eimparcialidade.
ASF
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semana' principais cidades do unto' formam a maior fonte de
histria social de seu tempoL e tam"%m uma ode ao casamento'
montada com trechos de 2irglio' para competir com outra' com-
posta por 2alentiniano aneiro de R` d.*.' *laudiano >/ ha#ia iniciado sua
mais importante encomenda po%tica' uma apologia de Estilico' em
seu poema so"re o terceiro consulado de Honrio. ;essa %poca at%
6 d.*.' % poss#el estudar as disputas polticas da corte ocidental
atra#%s de suas poesias. *laudiano usa' de modo not/#el' a
in#ecti#a no poema *ontra 1ufino' escrito em duas partes e
pro#a#elmente recitado em RV' aps o assassinato de 1ufino. A
)uerra )ildJnica 4)ildonicum "ellum' %pico histrico so"re a
re#olta de )ildo' conde da frica' #em em seguidaL em RR'
escre#e *ontra Eutrpio' um ata$ue ao eunuco Eutrpio' ministro-
chefe de Arc/dio' e uma das mais sel#agens denCncias >amaisescritas. Fo ano 66' foi recitado o So"re o consulado de EstilicBo
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4e' as 2idas dos
sofistas 4posteriores a R` d.c.' narrao das #idas &santas& de
intelectuais e literatos neoplatJnicos. Em 8' Eun/pio pu"licou
uma #erso moderada da Histria' $ue estendia a narrati#a at% o
ano 6 d.c.
ESK,
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para o Egito' onde ficou preso por uns tempos. Tornou-se "ispo de
*esar%ia por #olta de 8' e $uando se inflamou a contro#%rsia
so"re o arianismo' por #olta de 8R d.*.' Eus%"io ligou-se ao
origenista Qrio e tornou-se um importante ariano moderado' como
Eus%"io de Ficom%dia. Fo *onclio de Fic%ia' em 95 d.*.' tomou
posio a fa#or de um compromisso' mas sem sucessoL foi
finalmente persuadido a unir-se @ maioria $ue condenou Qrio. Fo
ano de 5' esta#a no *onclio de Tiro $ue condenou Atan/sio.
Eus%"io era amigo de *onstantino' a $uem lou#ou num discurso no
>u"ileu desse mesmo ano. ;epois da morte de *onstantino 4V'
Eus%"io escre#eu um panegrico' 2ida de *onstantino' fonte impor-
tante - em"ora nem sempre confi/#el so"re e#entos do seu reinado.A o"ra mais importante de Eus%"io % a Histria da a' $ue
a"rangia desde os primeiros tempos at% os acontecimentos
contemporBneos 4apro!. 9 d.*.. Fessa o"ra' ele fa= um uso com-
pleto' ainda $ue pouco crtico' de muitos documentos $ue foram'
assim' preser#ados. O primeiro imperador cristo aparece em sua
o"ra como o ponto culminante da histria. 1ufino de A$uil%ia
tradu=iu a Histria da a para o latim' e continuou-a de modo a
a"ranger os acontecimentos at% o ano R5 d.*. Outros tra"alhos deEus%"io incluem: 3reparao para o E#angelho' $ue re>eita#a a
filosofia gregaL ;emonstrao do E#angelho' coment/rios ""licos
"aseados no 2elho TestamentoL *ontra Hi%roclesL e uma *rJnica
4tradu=ida para o latim e continuada por erJnimo.
ET1Z3o estilo simples e muito claro fe= dela' durante
s%culos' um li#ro de te!tos para iniciantes do estudo do latim.
Eutrpio era gaul?s' pro#a#elmente de ,ordeau!' e tra"alhou no
Oriente. Escre#eu a sntese $uando diretor dos redatores pC"licos
na corte de 2alente: em V8NV9 go#ernou a Qsia' mas foi forado'
por seu sucessor esto' a se aposentar. 0ogo depois foi nomeadopor Teodsio < prefeito pretoriano da
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SIMA*O 4Smmachus 4apro!. 6-apro!. 69 d.*.' literato.
uinto Aur%lio Smaco' apesar de seu nome' era um aristocrata de
nascimento ilustre e porta-#o= do Senado romano da d%cada de `6
at% sua morteL era considerado por seus contemporBneos um orador
eminente e um estilista da prosa romana. Os panegricos em honra
de 2alentiniano < e )raciano 4`R-V6' apresentados na corte
4onde Smaco conheceu AusJnio em nome do Senado' foram
recompensados com sua nomeao como go#ernador da Qfrica
4V. Fo °elo& $ue se seguiu @ morte de 2alentiniano 4V5' S-maco mante#e estreitas relaes com personagens influentes na
corte' mas ocupou apenas os cargos tradicionais de sua classe: foi
prefeito ur"ano 4U e' apesar de seus elogios ao usurpador
M/!imo' foi cJnsul em R8. Sua correspond?ncia oficial como
prefeito ur"ano so"re#i#eu' e % a principal fonte de informaes
so"re os de#eres de um funcion/rio graduado na condio de lder
do Senado' >ui= de apelao em 1oma e no sul da
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e!teriores' so de leitura cansati#a.
Smaco era um senador medianamente ricoL mesmo assim' era
propriet/rio de grandes e!tenses de terra na Siclia e na Qfrica'
al%m de #inte herdades em 1oma e no sul da e considera-se $ue ele
foi prefeito pretoriano da
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A Era das inas'es ()rbaras no Ocidente
O pro"lema dos "/r"aros surge no s%culo 2 com uma urg?ncia $ue asituao da era de Teodsio' concluda em R5' no permitia
entre#er. Mas foram e!atamente as grandes in#ases' $ue se
iniciaram em 6`-6U e se sucederam' #ertiginosas' durante todo o
s%culo' $ue caracteri=aram a #ida do mundo mediterrBneo'
particularmente no Ocidente de lngua latina. Fa realidade' depois
da fragorosa derrota romana em Adrianpolis 4em VU' o imp%rio
>/ comeara a #acilar' adotando' por um lado' a diplomacia' dando
o ttulo de &aliados& aos "/r"aros e aceitando-os dentro dasfronteiras. At% mesmo os intelectuais se #iram em uma posio de
incerte=a: para alguns deles' os "/r"aros representa#am uma fora
no#a a ser canali=ada e ma!imamente desfrutada. 3ara outros' eles
no eram nada al%m de sinJnimo de destruio.
A partir do s%culo 2' fica "astante claro $ue as hordas dos in#asores
tinham fora suficiente para dominar 4e oprimir e $ue os cidados
romanos no tinham escolha. 3erdidas a Espanha' a )/lia e a
Qfrica' apenas a
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So #inculados @ figura do "ispo de Hipona os nomes de Orsio'
M/rio Mercator' uod#ultdeus e Tron 3rspero.
O1ZS
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Aparece um Mercator na epstola 8R de Agostinho 4dat/#el do ano
8U: ele teria escrito um ensaio contra os pelagianos e tam"%m
teria compilado uma s%rie de testemunhos escritursticos contra
a$ueles hereges. 3ro#a#elmente a compilao de testemunhos
antipelagianos pode ser identificada com o Hpomnesticon contra
3elagianos et *aelestianos 4Memorial contra os seguidores de 3el/-
gio e de *el%stio' $ue nos foi transmitido entre as o"ras
agostinianas. Mercator escre#eu outros #olumes' #oltados a refutar
a heresia de 3el/gio e de *el%stio e escritos em *onstantinopla.
0em"remos $ue *el%stio e uliano de Eclano tinham encontrado
refgio >ustamente na$uela cidade' onde "usca#am o apoio do
imperador Teodsio / suficientementee!austi#a' e escre#eu o ;e haeresi"us 4cf. p. 58`. ;epois $ue a
Qfrica foi in#adida pelos #Bndalos' uod#ultdeus refugiou-se na
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citaes dos autores cl/ssicos pro#?m de 0actBncio e' mais uma
#e=' de Agostinho' mas a $uarta %cloga de 2irglio e a Eneida
rece"em um tratamento completamente no#o.
TI1OF 31ZS3E1O
3ro#eniente da A$uitBnia' Tron 3rspero endereou ao "ispo de
Hipona' >unto com Hil/rio de 3oitiers' duas cartas 4as de numero
995 e99`' referentes ao chamado &semipelagianismo&. oi assim
definido' em tempos recentes' a atitude da$ueles $ue no
concorda#am com a total condenao de 3el/gio por parte de
Agostinho. Esses crticos do pensamento agostiniano sustenta#am'
entre outras coisas' $ue a graa de ;eus % concedidaproporcionalmente aos merecimentos do homem' conceito
inaceit/#el para Agostinho. Muitas o"ras de 3rspero foram escritas
na inteno de defender Agostinho dos ata$ues dos semipelagianos.
1ecordemos' por e!emplo' o 3ro Augustino responsiones ad capitula
o"iectionum )allorum calumniantium e o 3ro Augustino
responsiones ad capitula o"iectionum 2incentianarum 41espostas
em fa#or de Agostinho aos captulos das o">ees dos gauleses $ue
o critica#am e de 2icente de 0%rins. 3elo termo &gauleses&entendam-se letrados de Marselha. 3or outro lado' no 3ro Augustino
responsiones ad e!cerpta )enuensium' 3rspero refuta dois
pres"teros geno#eses $ue tinham e!trado trechos do ;e
praedestinatione sanctorum e do ;e "ono perse#erantiae de
Agostinho 4dedicados ao prprio 3rspero' mas deturpando seu
significado. *ontra oo *assiano' normalmente considerado o
fundador da corrente dos semipelagianos 4p. 59U' 3rspero
escre#eu' em -' um tratado so"re A graa de ;eus e so"re o
li#re-ar"trio contra os escritores de &collationeSY 4entenda-se por
collationes &con#ersaes&.
A E!egese dos Salmos 4 E!positio 3salmorum: do 58866 ao S< 85 O %
>ustamente uma compilao das e!plicaes e!tradas das
E!plicaes dos Salmos de Agostinho. 3or sua #e=' o 0i#ro das
sentenas e!tradas das o"ras de Santo Agostinho 4Sententiarum e!operi"us Sancti Augustini deli"aratarum li"er' uma s%rie de R9
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sentenas' pretende ser uma summa da teologia de Agostinho.
3rspero tam"%m escre#eu composies po%ticas com propsito de
ensino. Fo carme em he!Bmetros dirigido A sua mulher' ele rela-
ciona as cat/strofes da )/lia in#adida pelos "/r"aros' para depois
passar a e!ortar a consorte' em dsticos' a #i#er uma #ida de
penit?ncia' dedicando-se @s coisas de ;eus. O longo carme
intitulado Acharistoi 4Os ingratos' ou se>a' &os inimigos da graa&'
narra condenaes infligidas aos pelagianos e sua o"stinao' al%m
do ressurgimento dessa heresia na forma do neopelagianismo. K de
impressionar a correo m%trica e prosdica de 3rspero em um
momento em $ue a lngua falada desen#ol#ia-se sempre em direoaos ritmos $uantitati#os. a= refer?ncia @ o"ra homJnima de
erJnimo' a *rJnica 4escrita em tr?s redaes e pu"licada em 55'
mas demonstra originalidade' por%m' no cuidado com $ue trata as
heresias e os dogmas. A principal fonte para a parte $ue se refere a
esses temas de#e ter sido o tratado So"re as heresias' de Agostinho.
O *HAMA;O ;E TO;AS AS )EFTES
Fo am"iente da discusso entre agostinianos e &semipelagianos&' si-tua-se uma o"ra anJnima' dotada de "ons dotes liter/rios' $ue
pretende e!aminar O chamado de todas asgentes 4;e #ocatione
gentium. O autor da o"ra' $ue atualmente $uase todos concordam
em identificar com 3rspero' o autor da *rJnica' e!aurido pelas
discusses entre os defensores do li#re ar"trio e os paladinos da
graa de ;eus' $uer encontrar uma soluo $ue satisfaa as duas
partes em disputa. A o"ra' $ue #olta a percorrer as #/rias etapas da
histria sagrada' foi escrita por #olta da metade do s%culo 2.
H
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Sua o"ra d/ se$]?ncia @ de erJnimo' recomeando no ano em $ue
o Estridonense parou 4VU e chegando at% o ano de `U. Os
acontecimentos le#ados em considerao so so"retudo os
acontecimentos da histria da a 4as heresias: arianismo'
priscilianismo e mani$uesmo' chegando at% os fenJmenos naturais
4ter^ remotos' eclipses' cometas etc.. Essa o"ra % muito
importante para a reconstruo da histria da Espanha no s%culo 2.
ES*1unto % redu=ida'
completamente centrada na relao entre a a e os "/r"aros'sem demonstrar interesse algum pelas relaes entre os "/r"aros e
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o imp%rio' $ue' por seu lado' foram muitas #e=es concreti=adas em
acordos e tratados.
A lngua' mesmo com certas tend?ncias populari=antes do falar co-
mum' % a das camadas cultas cartaginesas do s%culo 2. O escritor'
mesmo repleto de pomposidade retrica e presa da proli!idade'
consegue ser um narrador eficiente.
2/ ha#iam o">etado aos nicenos. A o"ra
@ $ual 2iglio de Tapso se refere % o ;i/logo contra os arianos' os
sa"elianos e os fotinianos' no $ual discutem Atan/sio' Qrio' Sa"%lio'
tino e 3ro"o' $ue fa= as #e=es de >ui= 4*ontra Arianos'
Sa"ellianos et 3hotinianos dialogus' Athanasio' Ario' Sa"ellio'
3hotino et 3ro"o iudice interlocutori"us. A o"ra re#ela um "om
conhecimento das contro#%rsias religiosas' mesmo das contro#%rsias
do s%culo anterior' e "oas $ualidades liter/rias.
A fama de 2iglio de Tapso foi imensa na
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;1A*F
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dedicada a cantar Os lou#ores de ;eus' em he!Bmetros. O primeiro
li#ro' $uase integralmente ocupado pela narrao da criao do
mundo' % uma composio de epop%ia ""lica e pertence ao g?nero
liter/rio culti#ado na mesma %poca de ;racJncio' mesmo $ue em
outros am"ientes' por SedClio' *l/udio M/rio 2itrio' *ipriano )alo.
Ao lado dessa epop%ia ""lica' % percept#el uma segunda
importante fonte de inspirao' ou se>a' o hino' considerado como
instrumento para cantar os lou#ores de ;eus. O li#ro dos Salmos
constitua o modelo para todos os poetas cristos $ue se dedica#am
@ hinologia. *ontudo' ao lado da inspirao crist' ;racJncio' poeta
e retor $ue era' tam"%m se inspirou largamente na poesia pag e'
naturalmente' em seus principais representantes' isto %' 2irgilio'O#dio e 0ucano.
3OETAS A1u=o do Senhor 4Ad la#ium elicem de
resurrectione mortuorum et de iudicio ;omini em he!Bmetros. A
origem africana do poema aparece no nome do destinat/rio' um
poeta $ue #i#eu em *artago nos tempos do rei Trasamundo 4R`-59.
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As in#ases "/r"aras $ue se desencadearam na )/lia na primeira
d%cada do s%culo 2 e $ue le#aram @ constituio dos reinos
romano-"/r"aros' dei!ando' como Cnica ilha de ci#ili=ao romana'
a pro#ncia 4isto %' a 3ro#ena' na parte meridional da regio' no
ti#eram no plano social cultural a mesma efic/cia desastrosa $ue
te#e a in#aso da Qfrica. Elas pro#ocaram' % certo' de#astao e
runa' mas esses efeitos desastrosos no foram gerais e imediatos
em todos os $uadrantes. Os "/r"aros con$uistaram a )/lia aos
poucos e' assim' mesmo sendo ine#it/#el o surgimento de
contrastes entre o elemento romano-g/lico pree!istente' e isso
entre as camadas mais ele#adas' e o elemento in#asor' de origem
germBnica' 4a tanto pag como crist continuou a so"re#i#er e seconser#ou um "om n#el artstico' graas tam"%m @ presena de
numerosas escolas de retrica. A situao' contudo' parece mais
fa#or/#el na primeira metade do s%culo 2. Mais tarde' at% mesmo a
)/lia entra em um perodo de decad?ncia econJmica e cultural. oi
fundamental o florescimento do mona$uismo. Os con#entos 4por
e!emplo' os de Marselha' 0%rins' e Saint-Honor% foram centros
culturais de importBncia capital.
OPO *ASS
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oo *assiano tam"%m conhecia perfeitamente o latim e o grego
4coisa muito mito rara em seu tempo. Escre#eu o ;e institutis
coeno"iorum ET octo principalium #itiorum capitalium remediis 4As
instituies dos cen"ios e os rem%dios para os oito #cios capitais'
em 89 li#ros. Os primeiros $uatro li#ros nos do importantes
notcias so"re a #ida mon/stica 3alestina e no Egito' da $ual oo
*assiano fora testemunha.
As collationes 4con#ersaes' por sua #e=' recolhem as
con#ersaes de *assiano e do amigo germano com famosos
fundadores de cen"ios. ... oo cassiano % um escritorsofisticado e' em seu estilo' emprega' com muita moderao' os
meios da retrica $ue aprendeu >/ na idade adulta. Mas no se tem
nele um latim artificial' no natural. O narrar' simples e agrad/#el'
e a instantaneidade da e!presso fa=em de oo *assiano um dos
maiores escritores latinos do s%culo 2.
3or MO1ES*H
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relaes recprocas e de relaes com o Oriente' torna-se
&nacional&. Fo por$ue e!prima conscientemente a pertin?ncia a
determinado lugar' mas por$ue peculiar @$uele reino e
intimamente ligada a suas circunstBncias. Al%m disso' figuras como
a de )regrio Magno pertencem dora#ante @
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o"rigou ulg?ncio e outros `6 "ispos catlicos a irem para o e!lio
na Sardenha. Em *agliari' por fim' ulg?ncio de 1uspe pJde fundar
um mosteiro' >unto com alguns amigos seus' e e#angeli=ou a regio.
3or outro lado' ele permanecia como ponto de refer?ncia para os
"ispos da Qfrica' $ue o solicita#am como /r"itro de contro#%rsias
dogm/ticas. Fo ano de 585' Trasamundo o chamou a *artago para
$ue ele discutisse pu"licamente com os telogos do lado ariano. A
#itria lhe #aleu um no#o e!lio na Sardenha' em 58V. A morte de
Trasamundo e a sucesso ao trono do tolerante
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2andalos Arrianos 4Salmo contra os #Bndalos arianos' $ue parece
"em colado ao 3salmus contra paLtem ;onati' de Sto. Agostinho.
*om efeito' o "ispo de Hipona % o mestre indiscutido de ulg?ncio
de 1uspe' o modelo $ue ele $uer seguir.
3or seus escritos antipelagianos' ulg?ncio de 1uspe passou a ser
conhecido na
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rac =o pela $ual essa atri"uio foi posta recentemente em
dC#ida. *ontudo' mesmo $ue essa #ida no se>a aut?ntica'
realmente e!istiu um errando' di/cono de *artago' $ue mante#e
contatos com ulg?ncio de 1uspe. 3or #olta do ano 55' errando
de *artago teria sido en#ol#ido na contro#%rsia dos Tr?s *aptulos'
$ue a"ordaremos ao falar de acundo de Ermiana.
errando de *artago escre#eu uma ,re#e coletBnea de cBnones
4,re#iatio canonum' ou se>a' uma e!posio sistem/tica de direito
eclesi/stico com "ase em numerosos conclios gregos e africanos'
dos $uais reuniu uma s%rie de e!tratos e resumos.
Tam"%m chegaram at% ns sete cartas' $ue so claramente "re#es
tratados em forma de carta. As duas primeiras t?m ulg?ncio de
1uspe como destinat/rio e lhe apresentam algumas perguntas e
dificuldades de car/ter dogm/tico. Fas tr?s cartas posteriores'
errando de *artago trata pessoalmente de alguns pro"lemas de
conteCdo an/logo ao dos escritos de ulg?ncio de 1uspe 4so"re as
duas nature=as de *risto' contra as posies dos arianos' so"re o
fato de $ue *risto pertence @ santa e indi#is#el Trindade. Maissignificati#as so as duas Cltimas. A se!ta carta e!pe o parecer de
errando de *artago' $ue lhe fora solicitado pelos di/conos
romanos 3el/gio e Anatlio' $ue #em em defesa da doutrina dos
Tr?s *aptulosL mas ele refuta o monofisismo. A s%tima carta %
continuao de uma carta anterior' en#iada por ulg?ncio de 1uspe
a um pouco conhecido conde 1egino' e e!pe como se de#e
comportar em guerra o comandante respeitoso da f% crist.
A*F;O ;E E1M
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*onstantinopla para maiores informaes.
Fo fim do ano 55' ou em princpios do ano 55' o imperador
ustiniano' para acalmar a posio dos monofisitas' apresentara
uma e!posio da reta f%' ao termo da $ual se impunha o an/tema
@ pessoa e aos escritos de Teodoro de Mopsu%stia' de Teodoreto de
*ira e a seus escritos contra *irlo de Ale!andria e o sm"olo de
Kfeso' e @ carta' igualmente #oltada contra *irlo e o sm"olo
ef%sio' en#iada pelo "ispo Hi"a de Edessa ao persa Mari. ;ado $ue
comumente os an/temas de um edito eram chamados &captulos&'
so indicados' nesse caso' com o termo &Tr?s *aptulos& as pessoas
e os escritos punidos com o an/tema. Ainda uma carta imperial'datada do dia 5 de maio de 55' en#iada ao $uinto conclio
ecum?nico de *onstantinopla' $ue foi inaugurado >ustamente
na$ueles dias' pedia a ateno dos 3adres para as figuras de
Teodora de Mopsu%stia' Teodoreto de *iro e Hi"a de Edessa.
3ois "emD *hegado a *onstantinopla' acundo de Ermiana aplica-se
a escre#er um li#ro Em defesa dos Tr?s *aptulos' $ue ainda no
esta#a concludo $uando chegou @ capital do
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mostra $ue' a#aliado pela perspecti#a da m%trica cl/ssica' como
ainda se podia fa=er em certa medida `6 anos antes para ;racJn-
cio' ele % muito defeituoso.
Mencionemos apenas outros tr?s personagens ligados aos
acontecimentos dos Tr?s *aptulos. Trata-se de 0i"erato de
*artago' 2itor de Tunnuna e 3rim/sio de Hadrumeto. 0i"erato de
*artago tentou enfrentar o pro"lema "uscando suas origens nos
conflitos $ue' 866 anos antes' ha#iam oposto nestorianos e
euti$uianos. Escre#eu' portanto' entre os anos 555 4ano em $ue
morreu o papa 2iglio e 55` 4ano em $ue morreu Teodsio' o
patriarca de Ale!andria' um *omp?ndio da causa dos nestorianos e
da causa dos euti$uianos. 2tor de Tunnuna foi um dos $ue seopuseram @ condenao dos Tr?s *aptulos e por essa ra=o foi
e!ilado pela autoridade imperial ali pelo ano 555. Escre#eu uma
*rJnica uni#ersal' apesar de se tratar de um te!to dedicado
so"retudo @ histria da a. 3rim/sio de Hadtumeto'
diferentemente de 2tor de Tunnuna' cedeu @s presses da
autoridade imperial e renunciou @ oposio $ue fi=era ao decreto
imperial so"re os Tr?s *aptulos. ;e#emos a ele um *oment/rio ao
Apocalipse' no $ual se #?em muitas citaes do coment/rio an/logodo donatista TicJnio' $ue se perdeu. 3rim/sio seleciona
atentamente na o"ra de TicJnio a$uilo $ue lhe parece imune @
heresia donatista.
FI0
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Fascido em 1oma' por #olta do ano V5' de famlia muito no"re'
,o%cio te#e' graas aos des#elos do senador uinto Aur%lio M?mio
Smaco' uma acurada educao' $ue ele tal#e= tenha aperfeioado
ainda mais indo para Ale!andria do Egito' para a escola do
neoplatJnico AmJnio.
Eram os anos nos $uais a
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godos' e o elemento romano' entre os it/licos ortodo!os e os godos
arianos' o e$uil"rio se rompeu. Teodorico passou a temer uma
aliana entre o elemento latino da
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e!plicitamente crists fossem espCrias.
Esse m%todo de pes$uisa foi a"andonado' h/ no muito tempo. ,o-
%cio % um leigo perfeitamente cristo' profundamente con#icto de
sua f%. O neoplatonismo fornecia' no s%culo 2
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$uadr#io.
Fesse n#el de pes$uisa est/ includa a o"ra so"re Os fundamentos
da aritm%tica' "aseada em um tratado do pago FicJmaco de
)erasa 4s%culos
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programa gigantesco' $ue teria desestimulado $ual$uer pessoa e
$ue nem ele prprio conseguir/ completar: tradu=ir para o latim e
comentar as o"ras de Aristteles e as de 3lato.
Mencionemos apenas a traduo e o coment/rio das *ategorias de
Aristteles 4o coment/rio tem duas redaes: a primeira' mais
sucinta' do ano 586-588 e a segunda' mais ampla' do ano 585-58`L
a traduo e o coment/rio dos AnalticosL a composio de um
tratado So"re os silogismos categricos e de um So"re os silogismos
hipot%ticosL a traduo dos Tpicos de Aristteles' um coment/rio a
eles e um coment/rio aos Tpicos de *ceroL a traduo dos Elencos
sofsticos e a composio de um tratado So"re diferenas tpicas.K' como se #?' um con>unto impressionante de tratados lgicos.
AS O,1AS TEO0Z)
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se>am "oas pelo simples fato de e!istirem' mesmo $ue no se>am
"oas segundo a su"stBncia7 4uomodo su"stantiae in eo $uod sint
"onae sint cum non sint su"stantialia "ona.
Ainda de#emos recordar com grande considerao o tratado *ontra
Wuti$ues e Festrio 4*ontra Eutchen et Festorium' $ue constitui
uma das mais significati#as 4e seguramente uma dos mais originais
contri"uies ocidentais @ definio da cristologia. Mas nem mesmo
a$ui ,o%cio se #incula @ tradio eclesi/stica em sentido estrito:
ele pressupe como ratificadas as decises dos conclios do s%culo
2' $ue deli"eraram so"re o pro"lema' e no retoma as discusses
da$uelas assem"l%ias. O $ue ele pretende % discutir a #alidade dasoluo da a para a $uesto das duas nature=as e de uma s
pessoa em *risto do ponto de #ista filosfico. 3ortanto' ele
e!amina os conceitos de &nature=a& e de &pessoa&' apresentando'
portanto' as heresias de Festrio e de Wuti$ues' e por fim situa
entre os dois erros' um contr/rio ao outro' as #erdades da f% crist.
ma Cltima o"ra' dedicada @ e!posio de Af% catlica 4;e fide
catholica' % mais simples e intelig#el' de car/ter e!positi#o' e poresse moti#o foi durante muito tempo considerada como no sendo
da la#ra de ,o%cio' mas a dC#ida no % "em fundamentada. A
simplicidade de a"ordagem deri#a do fato de $ue a pe$uena o"ra
pretende ser uma esp%cie de e!posio do sm"olo da f%.
*om essas o"ras ,o%cio re#elou ser um cristo informado e atento.
2aleu-se da ci?ncia filosfica em funo da f%' e isso fe= com $ue
suas o"ras fossem lidas com muita ateno na
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a"sol#io. Essa moti#ao confere @ o"ra uma atmosfera
particular: o leitor se d/ conta de $ue a$ui ,o%cio &no fa=
literatura& no pior sentido do termo' mas fala pelos outros e por si
mesmo. Ele $uer encontrar a consolao $ue a filosofia % capa= de
pro#er' por$ue so"re ele pesa uma condenao @ morte $ue est/
para ser ratificada. A pergunta $ue algu%m se fa= imediatamente %
naturalmente esta: por $ue a consolao da filosofia e no a
consolao da religio ou da f%7
Esse % o pro"lema $ue se nos apresenta. Se ele no se apresentou a
,o%cio' de#emos e#identemente seguir sua atitude fundamental e
aceitar o fato de $ue tam"%m a filosofia' e no e!clusi#amente af%' parecia a um cristo ser capa= de &consol/-lo&' ou se>a' de dar
resposta a suas $uestes fundamentais: o por$u? do mal no mundo'
por $ue ;eus permite $ue um inocente se>a perseguido' $ual seria a
funo ou at% mesmo se e!iste o li#re-ar"trio humano' se ;eus
inter#inha 4como depois #eremos $ue realmente o fa= em defesa
do "em a$ui na terra. E#identemente ,o%cio acredita#a $ue a
filosofia fosse capa= de dar uma resposta a todos esses pro"lemas'
e para ela se #olta e dela a o"t%m. A pergunta de por $ue afilosofia e no a religio' podemos responder o"ser#ando $ue a
filosofia em $ue ,o%cio se inspira no decorrer da *onsolatio %'
su"stancialmente' a filosofia religiosa' sntese de neoplatonismo e
de f% crist' $ue desde alguns s%culos fora aceita pelos intelectuais
cristos. oi dessa filosofia $ue ,o%cio se apro!imou' tra=endo sua
contri"uio pessoal. Em segundo lugar' ele se apro!imou dela em
sua posio de leigo' com a forma mentis do leigo e no do homem
da a. 3or fim 4e tal#e= se>a este o ponto mais importante' os
pro"lemas $ue ,o%cio te#e de enfrentar eram pro"lemas
essencialmente filosficos' para os $uais no e!istiam o"ras de
escritores cristos' mas uma #asta literatura especfica' cu>os
componentes remonta#am ao helenismo' melhor ainda' a 3lato e a
Aristteles. 3ortanto' era lgico $ue ,o%cio e!aminasse todos esses
pro"lemas en$uanto filsofo' tanto mais $ue em suas o"ras
anteriores' nos Opuscula Theologica' o escritor enfrentaraen$uanto filsofo' isto %' de um ponto de #ista leigo e com
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grandes satisfaes' para depois passar a uma considerao da
insta"ilidade e da #olu"ilidade da fortuna' $ue reina no mundo: o
s/"io no de#e admirar-se com as repentinas #ira#oltas da sorte'
nem de#e confiar aos "ens e!ternos' nem mesmo aos mais no"res
deles' como o dese>o de glria' a prpria felicidade' #isto $ue
e!atamente a glria % a coisa mais caduca e a mais ilusria.
;epois $ue esses dois primeiros li#ros apresentaram esses argu-
mentos consolatrios de tipo tradicional' deri#ados da filosofia
estica e da filosofia cnica' no terceiro li#ro' a ilosofia comea a
e!plicar a ,o%cio $ue ele no tem moti#os para lamentar a prpria
des#entura' agora' por%m' partindo de urna considerao glo"al douni#erso. Trata-se de distinguir o #erdadeiro "em' $ue no coincide
com os "ens materiais' limitados e insuficientes' mas com ;eus.
ma #e= esta"elecido $ue ;eus % o sumo "em' de#e-se a#aliar a
#erdadeira nature=a da$uilo $ue os homens chamam "em e mal'
para concluir $ue os maus $ue alcanam sucesso na #ida' na
realidade' no passam de infeli=es' por$ue' mesmo $uerendo-o'
no podem reali=ar o "em' dado $ue no o conhecem 4li#ro
$uarto. E $ue
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